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Insight empreendedor

A Eldorado Brasil é a indústria de celulose mais tecnológica e de maior produtividade do mundo. A


empresa construiu sua história alicerçada nos princípios do ESG, tendo a sustentabilidade como um
dos seus pilares fundamentais. Por isso, se tornou a principal referência no setor.
Esse case de sucesso nasceu a partir de um insigth que os irmãos Joesley e Wesley Batista,
acionistas majoritários da J&F, controladora da Eldorado, tiveram em 2009, ao sobrevoarem a
região de Três Lagoas, indo para uma propriedade rural da família, em Ilha Solteira (SP).
Os irmãos Batista viram uma fábrica de celulose que estava em operação e, imediatamente, seu
espírito empreendedor associou que o setor poderia ser uma boa alternativa de diversificação para o
grupo, que na época já contava com uma empresa de produção de eucalipto, matéria-prima para o
segmento.
A Florestal Brasil havia sido criada algum tempo antes. A empresa tinha um viveiro de eucalipto em
Andradina (SP), a 43 quilômetros de distância de Três Lagoas, e áreas cultivadas na região. Parte de
sua produção seria destinada para abastecer as caldeiras das unidades de abate e processamento da
JBS, outra empresa controlada pela J&F e, o excedente seria colocado à venda no mercado para a
utilização como lenha ou biomassa.
A ideia de Joesley e Wesley foi de aproveitar o eucalipto e verticalizar a produção, com uma
indústria de celulose. Muito interessados no negócio e na sua potencialidade, mas sem nenhum
conhecimento técnico do setor, os irmãos buscaram informações e foram atrás de um dos maiores
especialistas em celulose no país e o responsável pelo projeto da fábrica que avistaram em Três
Lagoas, o engenheiro Carlos Monteiro.
Ele tinha mais de três décadas de experiência no setor. Era diretor de um dos principais grupos do
segmento e havia planejado e estartado as plantas mais recentes em operação no país. Profissional
consagrado, Monteiro revela que foi o desafio que o motivou a embarcar no projeto. “Foi muito
fácil aceitar. As pessoas gostam de desafio, e, um desse tipo, é muito gratificante. Começar um
projeto do zero”, recorda.
Diretor técnico-industrial desde a fundação da Eldorado Brasil, Monteiro se lembra da conversa
marcante com um dos acionistas. “Em janeiro de 2010, fui conversar com o Joesley, em São Paulo.
Fiz a entrevista e as coisas que mais me chamaram a atenção foi que eles não tinham conhecimento
praticamente nenhum do setor, mas tinham um empreendedorismo muito arraigado, muito forte. Ao
mesmo tempo, uma simplicidade para tratar das coisas que não tinha visto em nenhuma outra
empresa”.
Registro 01
Monteiro foi o primeiro funcionário contratado pela Eldorado. Ele iniciou suas atividades em 4 de
fevereiro de 2010. Mesmo sem espaço físico próprio, utilizando uma sala, na sede da JBS, em São
Paulo, ele começou a delinear o projeto.
Um dos primeiros desafios foi a montagem da equipe. A atual gerente de Desenvolvimento
Organizacional, Maria de Fátima Garcia, ingressou na empresa em março de 2010, e ajudou a
conduzir o processo de atração e seleção de pessoas para a companhia. Além de contratar
profissionais que estariam à frente do projeto, também empregava os futuros líderes de áreas, para
quando a fábrica partisse.
A equipe foi montada do zero. O headcount foi formado a partir de um seleto grupo de profissionais
contratados do mercado, com base nos mais elevados parâmetros técnicos e comportamentais. O
quadro foi complementado depois por jovens, de Três Lagoas e região. Em parceria com
instituições como Serviço Nacional da Indústria (Senai), essa mão de obra local foi capacitada.

A escolha da cidade
Desde o início, o projeto da Eldorado foi pensado para Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. O
município e o estado reuniam as condições ideais para a instalação de uma fábrica de celulose sob a
ótica da localização, logística, infraestrutura, condições climáticas e de solo, além do ambiente
institucional.
Três Lagoas está próxima ao maior mercado consumidor do país, São Paulo, e a uma distância
razoável dos principais terminais portuários do sudeste (Santos, SP) e do sul (Paranaguá, PR e São
Francisco do Sul, SC). Possui acesso aos três modais que podem movimentar grandes quantidades
de carga: rodoviário, ferroviário e hidroviário (hidrovia do Paraná).
Como um dos maiores municípios de Mato Grosso do Sul, a cidade já possuía uma boa
infraestrutura pública (saúde, educação e segurança, etc) e privada (supermercados, farmácias e
hotéis, etc) para receber um empreendimento deste porte.
Além disso, tinha boa disponibilidade de terras, então, subaproveitadas em outras atividades
econômicas, principalmente a pecuária. Essas áreas poderiam ser utilizadas para o cultivo do
eucalipto e também para a instalação do site da empresa.
As condições do solo, mais arenoso, e do clima, tropical quente e úmido, com temperatura média de
24 °C e estações bem delimitadas de chuva no verão e seca no inverno, também se mostraram ideais
para o plantio do eucalipto.
A boa disponibilidade hídrica do município, cortado por vários rios, como o Paraná e o Sucuriú,
também foi outro fator importante na opção pela cidade. A água é insumo fundamental na produção
de celulose, sendo utilizada em várias etapas do processamento, da limpeza da matéria-prima,
passando pelo cozimento até a lavagem e o branqueamento.
Com vocação para o agro, Mato Grosso do Sul ainda tinha uma tradição e aceitação da dedicação de
grandes áreas a uma mesma atividade, seja na pecuária (bovinocultura) ou na agricultura (soja,
milho, cana, etc). Também havia um esforço institucional dos poderes públicos voltado a
diversificar a base econômica do estado, visando aumentar a geração de empregos, a circulação de
recursos nas cidades e a arrecadação das prefeituras e do governo.
A empresa precisava, entretanto, de melhorias da infraestrutura viária para a instalação do
empreedimento e conversou o município e o estado nesse sentido e, também para assegurar os
benefícios fiscais previstos em lei.
Superados os entraves, a área escolhida para abrigar a planta foi a fazenda Vera, às margens do rio
Paraná, a cerca de 40 quilômetros de Três Lagoas. No dia 15 de junho de 2010, quando o município
completou 95 anos, foi lançada a pedra fundamental da fábrica.

Aquisições e madeira
Em meio ao processo de contratação de colaboradores, o design do site foi avançando. Quase que
simultaneamente, menos de seis meses após a contratação de seu primeiro colaborador, a Eldorado
já tinha relacionado o que precisa comprar. Na lista havia também madeira, para atendera
necessidade da planta assim que iniciasse a operação.
Toas as compras de máquinas e equipamentos foram feitas ainda em 2010. Em agosto, por exemplo,
foram adquiridos os turbogeradores que fariam a operação autossuficiente de energia e em
novembro foram firmados os contratos com os principais fornecedores para a aquisição dos
equipamentos industriais.
Essas aquisições representaram um marco para o projeto, pois simbolizavam mais uma etapa no
caminho de sua concretização. Ao mesmo tempo, o investimento representava uma quebra de
paradigmas para os acionistas.
“Eles nunca haviam construído uma grande indústria, com uma fábrica de celulose. Na maior parte
das vezes faziam aquisições. No setor de celulose o investimento é alto, estamos falando de bilhões
de reais, valores que dariam para construir dezenas de frigoríficos. O dinheiro era muito diferente.
O capital é intensivo, tanto que poucas empresas conseguem entrar. Então, qualquer compra era
sempre muito cara e havia questionamentos. Foi necessário muito jogo de cintuara para explicar e
fazer as aquisições”, recorda o diretor industrial.
Na área florestal, além da aquisição das máquinas para o plantio e colheita, ainda havia outro
desafio a ser superado. A planta precisava de uma quantidade expressiva de madeira para sua
partida e depois para assegurar sua operação. Sem seu maciço florestal ainda formado, mesmo com
a incorporação da Florestal Brasil, a Eldorado foi ao mercado para comprar eucalipto.
Todos os contratos de aquisição futura foram na modalidade de madeira em pé, ou seja, caberia a
empresa fazer a colheita e o transporte. Uma das principais compras na época, foi da Duratex, que
estava fazendo um desinvestimento em suas florestas plantadas.
Dos 8,8 milhões de metros cúbicos de eucalipto adquiridos até dezembro de 2012, quando houve a
partida da fábrica, 3,8 milhões vieram de São Paulo, além de um pequeno volume de Minas Gerais.
Para reduzir os custos, parte dessa mdeira foi transportada por hidrovia. Quando a fábrica começou
a operar, o volume era suficiente para abastecê-la por três anos. O processo de compra de madeira
continou nos anos seguintes, ao mesmo tempo em que crescia a área própria cultivada, atualmente
em 250 mil hectares.

Pioneirismo

Além do time diferenciado e motivado, outro componente importante na equação de sucesso da


Eldorado foi sinergia com seus fornecedores. Em 2010, quando o projeto começou a ser
desenvolvido havia um Gap de alguns anos no setor. Sem novas fábricas existia uma defasagem
tecnológica.
A Eldorado lançou um desafio aos seus parceiros. Abriu concorrência e exigiu o desenvolvimento
de novas tecnologias, da implementação de soluções inovadoras e da quebra de paradigmas. Não
bastava o estado da arte, era necessário ir além.
Houve uma provocação pessoal dos irmãos Batista ao diretor técnico-industrial e a sua equipe para
apresentar diferenciais em relação a concorrência. “Veio deles [irmãos Batista]. Me perguntaram:
Monteiro o que podemos fazer ai de maior. Não tinha nem tecnologia para fazer 1,5 milhão de
toneladas por ano na época, mas nós queremos ser a maior linha única do mundo. Você topa? Claro,
vamos correr o risco! Eles gostam de risco, eu também. Então casou bem essa parte ai”, recorda o
diretor técnico-industrial.
O desafio prontamente obteve um resposta. A construção da fábrica se tornou um marco para o
setor. Foi feita em um prazo recorde, 24 meses. Em fevereiro de 2011 foi iniciada a construção dos
prédios e instalações no site e, em maio começaram a chegar e a ser montados os primeiros
equipamentos. O primeiro acendimento da caldeira de biomassa ocorreu em junho de 2012 e em
novembro do mesmo ano foi feito o primeiro cozimento. No dia 12 de dezembro de 2012, ocorreu a
inauguração oficial.
“Eu orei muito. Conseguimos. Conseguimos não somente dar a partida na fábrica, mas a fábrica
estava toda pronta. Como tínhamos planejado, pronta para operar”, lembra o diretor técnico-
industrial.
Como pedido pelos acionistas, a fábrica tinha características excepcionais. É a maior produtora de
celulose em uma única linha de processamento do mundo e ainda tem o maior forno de cal do
mundo, com capacidade de 15.700 metros cúbicos por dia.
Outro grande diferencial foi o próprio site da fábrica. Em indústrias similares, do setor químico,
havia a preocupação somente com o sistema de produção, não havia um cuidado com a qualidade
do ambiente de trabalho. A Eldorado mudou esse conceito.
A fábrica é limpa, organizada, bem cuidada, ajardinada, sem vazamentos e sem odores fétidos. A
indústria, que em dezembro de 2012 completa 10 anos de operação, está com sua estrutura física tão
nova quando na sua partida. Esse ambiente de trabalho contribui para manter constantemente
estimulado e motivado o colaborador da empresa.
“Como uma indústria química, a previsão é que ao longo dos anos, a planta se degradasse e a
produção caísse, mas na empresa ocorre o contrário. Suas instalações continuam praticamente como
novas, e sua produção não para de aumentar”, analisa Monteiro.
Mas a Eldorado não foi pioneira somente nestes aspectos, a relação da companhia com seu time foi
alçada a outro nivel. Alinhado diretamente com os acionistas, estão sendo trabalhados com toda a
equipe, desde o auxiliar de limpeza a diretoria, conceitos e ensinamentos de neurociência e física
quântica.
Enquanto a física quantica aborda com os colaboradores questões como o poder da mente
subconsciente, do pensamento positivo e da energia de cada um, a neurociência foca em aspectos
como autoconhecimento e autogestão, facilitando o desenvolvimento de equipes de trabalho e da
tomada de decisões, entre outros.
Nesta década a Eldorado tem caminhado sempre na dianteira do setor. Mais que a cultura pelo
simples desempenho, o clima organizacional e o prazer de trabalhar na empresa se refletem na
própria remuneração da equipe. Anualmente, na discussão da data base das categorias, em vez do
pagamento de um bônus – pratica usual do mercado, a Eldorado remunera pelo cumprimento de
metas de produtividade. Desde a partida da planta sempre são superadas, o que resulta em um
“Prêmio” expressivo para o time.
Além da vocação, a Eldorado precisou algumas vezes, na sua história, de muita união e resiliência
de sua equipe para superar difuldades que se apresentaram. A maior parte durante a construção da
planta e depois nos primeiros anos de atividade.
Um dos primeiros obstáculos foi a escassez de mão para a construção da planta, provocada por um
aquecimento do setor da construção civil em razão das obras dos estádios e infraestrutura para a
Copa do Mundo de 2014. Depois, já com a execução da estrutura física em curso, ocorreram três
paralisações dos operários.
A medida que os entraves eram superados e a obra avançava, o interesse pelo projeto foi crescendo,
a ponto de, por duas vezes, quase ter sido adquirido por grupos concorrentes. Em uma delas,
detalhes da planta tiveram que ser revelados para que o interessado formulasse a proposta.
Nenhuma prosperou, entretanto.
No primeiro ano de operação o desafio foi outro, a curva de aprendizado do time. “Apesar de
sermos a caçula do mercado nos fizemos uma das partida mais rápidas da época. Com oito meses de
operaçaõ já estavamos produzindo em um patamar equivalente ao de 1,5 milhão de toneladas.
Normalmente se leva mais de um ano para fazer isso, conseugimos esse recorde exatamente pela
experiência e motivação da equipe. Eles toparam o desafio e com muita vontade venceram e até
hoje vivem assim, de desafio em desafio, de meta em meta”.
Monteiro acredita que a confiança que os acionistas depositaram desde o início do projeto na
equipe, empoderando o time seja outro fator para explicar o sucesso da Eldorado ao longo dos anos.
“Eu sempre tive muito apoio e muita liberdade para trabalhar. Eles sempre me deram muita
liberdade para colocar em pratica tudo o que tinhamos planejado. Além disso, sempre foram muita
muito rápidos e incisivos na toma de decisões. Isso também fez uma diferença incrível, muito
grande”, recorda.

Inovação no DNA

Desde a concepção do projeto, a Eldorado Brasil já era tecnológica, inovadora e estava na


vanguarda do setor de celulose. O arrojo e o comprometimento da equipe, a parceria com
fornecedores que desenvolveram novas máquinas, equipamentos e sistemas e a ousadia e confiança
dos acionistas e da diretoria, ajudam a explicar porque a empresa é uma das mais modernas do
mundo e referência em produtividade e gestão.
Um dos fatores primordiais para atingir esse “estado da arte” é o seu time de colaboradores.
O mix da criatividade da juventude com o conhecimento dos mais experientes, somado a
incorporação dos valores da Eldorado, herdados do grupo J&F, moldou um quadro altamente
comprometido com o desempenho da empresa, que se desafia constantemente e busca de forma
obstinada aprimorar processos e otimizar ao máximo a performance da aparelhagem na indústria e
no campo.
O diretor técnico-industrial, Carlos Monteiro, acredita que o auto desafio do time seja um dos
grandes diferenciais da Eldorado. “Acho que esse é o grande mote da empresa. Meu desafio é
justamente motivar as pessoas. Não deixar a poeira acentar. Sempre digo a todos, se você não vive
de aspirações, você não cria um futuro”.
Para estimular ainda mais a proatividade de seu estafe, a companhia criou em 2016 o programa
Inovar. A cada ciclo, os colaboradores têm a oportunidade de apresentar ideias que possam melhorar
desde o desempenho do seu setor até o rendimento da empresa como um todo. As propostas com
viabilidade técnica e econômica são implementadas e o autor ganha reconhecimento institucional,
empoderamento e ainda uma bonificação financeira. Em seis temporadas, algumas sugestões já
possibilitaram retorno de milhões de reais para a companhia.
Desde a partida, a inteligência artificial (IA) esteve muito presente no dia a dia da indústria. Em
várias etapas do processo de produção da celulose as decisões da operação são tomadas pelo
sistema, sempre com base em uma série de critérios e preceitos. Essa automatização simplifica o
controle dos procedimentos, minimiza erros e potencializa o desempenho.
A partir de 2016 seu uso foi ainda mais disseminado, com o uso de suas análises no Programa de
Controle de Ativos da companhia. A equipe da área passou por treinamentos específicos, para que a
partir das leituras de desempenho feitas pelos computadores tivesse o diagnóstico preciso de quais
os limites de funcionamento, do melhor momento para a manutenção e de quais peças ou máquinas
deveriam ser trocadas.
Houve redução direta dos custos com esse tipo de serviço e ainda ampliação do tempo de
funcionamento, o que refletiu também em ganho de rendimento.
Com toda essa tecnologia embarcada e um time preparado para utilizar da melhor maneira possível
essas ferramentas, a Eldorado passou a aprimorar cada etapa do seu processo produtivo. Um destes
melhoramentos é o da miscelânea feita com vários tipos de madeira, para que durante o processo de
cozimento para a liberação da celulose se obtenha o máximo de desempenho das matérias-primas.
Utilizando sempre a tecnologia como aliada do ser humano, a Eldorado, ano a ano vem batendo seu
recorde de produção. O volume de celulose que processa atualmente, 1,8 milhão de toneladas, já é
20% superior ao design de sua planta, que era de 1,5 milhão de toneladas. Esse alto rendimento, fez
com que a empresa atingisse em 10 anos a produção prevista inicialmente para 11, 16,5 milhões de
toneladas.

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