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By: R.Munguambe

Narrador

Tudo começou com simples palavras de uma mãe preocupada com o comportamento em que
a sua filha estava tendo. Zabela vivia inundada em lágrimas sem dizer qual era o mal que a
afligia. Nunca aceitou se abrir para a sua mãe e nem a ninguém. Depois de diversas tentativas
flustadas, a sua mãe disse para Zabela que aos filhos que se esquivam dos conselhos dos seus
pais perdem-se e não atinam com os caminhos desta vida.

De Infância pobre e única menina da família e linda, Zabela viu-se assediada por todos que
cruzaram seus caminhos. Até mesmo o seu professor Alfredo. Aos 16 anos, engravidou do seu
primo mais velho e tomada pela vergonha do incesto foge rumo à Lourenço Marques na busca
por uma vida melhor sem ela nunca desconfia que aquele era o começo da sua desgraça.

Cena 1

Zabela, flora, Armando, Narrador

Zabela se encontrava varrendo a sala quando Armando discutia com a sua esposa flora. Flora
era bem confusa e brigava por tudo e por nada. Ela o atira com comida, o agredia sem razão
nenhuma.

Zabela

Coitado do seu Armando. Só são insultos quando volta ao seu lar. Te atiram com a comida.
Isso me da pena. Flora, o Armando é bastante charmoso, ainda muito novo, por isso espanta-
me que continue guardado a dona Flora.

Flora:
Não se meta na minha conversa com o meu marido ouviste?
Armando
Pára com isso, Flora. A menina não fez mal algum em dizer apenas a verdade.
Flora
Você trás a sua amante, e ainda sempre a defendeu nessa casa como se ela fosse sua
mulher? Francamente, mandinho.
Armando:
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Você está é obcecada. Zabela é apenas uma adolescente. Você acha.

Flora:
Acho mesmo! Você me paga desgraçado! Ah vai!
Armando:
Você é maluca, isso sim! Sabe de uma coisa? Você está é obcecada, oh! Obsessão é doença
Flora! É doença, eu vou-te internar em um manicómio!
Flora:
há? Eu? Por sua causa eu não sou feliz no meu lar sua vagabunda!
Zabela:
Eu? Eu não fiz nada!
Flora:
Até que não, porque não me entra na cabeça que esta fulana ande perdida dos pais!
Zabela:
Pare por favor!
Flora:
Esta mulher é sim a tua amante Mando! Não tens vergonha? Esta tua bondade era mesmo de
se espantar! Se assim, não é, porque insistes para que fique aqui? Todos os dias, essa daí só
sabe tomar banho e arrastar barriga de um lado para outro como uma galinha a por os ovos.
Se vocês brincam comigo, ponho-vos na linha.
Zabela:
Ohm?
Flora:

Se engravidaram onde se engravidaram, e agora acham que encontraram um esconderijo aqui


na minha casa? Mande-lhe de volta para a casa dos seus pais! Antes que a rache a cabeça com
um machado! Antes que lhe rebente essa abóbora com que ela anda a pavonear-se!

Armando:

Mulher faz favor! Como teria coragem eu de meter uma amante aqui em casa? Não achas que,
se fosse minha amante, teria sido fácil deixar lhe na casa dos meus familiares? Ou alugar uma
casa algures para ela? Andas todos dias a mandar vir comigo antes que haja motivo pra tal, que
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tipo de mulher julgas ser. Achas que é assim que as suas mulheres tratam os seus maridos?
Porque é assim flora? Um monstro diante de pessoas estranhas!

Zabela:

Ai que lindo. Um homem lindo e charmoso como esse devia ser tratado como um trofeu
comparado a si. – Não sei o que ele viu nessa mulher ela sussurra dando costas ao casal.

Flora:

Sua sacana, hoje vais dizer-me que tipo de soro deste ao meu marido para ele ter coragem de
encher-me de porrada desde que vieste para esta casa. Quero partir- te a cara, até descobrires
o caminho de volta a tua terra.

Zabela:

Não fiz nada eu! Se você não...

Flora:

Vou deixar-te marcas para o resto da sua vida! (flora parte para violência e se senta na barriga
dela. Zabela grita de dor e desmaia)

Armando:

Pára com isso, flora! Pára! Viste o que fizeste? Ah! Você é uma assassina! Zabela acorda, acorda
Zabela! Zabela. Eu te mato flora, ah vou! Zabela, por favor acorda! Armando carrega Zabela e
sai de cena. Flora vai atrás.

Cena 2

No prostibulo da Penina

Penina, Maria e Zabela

Penina se encontra já sentada a fumar um cigarro quando Maria entrou com a Zabela.
Apresentou-lhe como prima. A conversa foi do ritmo mais lento até ganhar conforto.

Penina:
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Oh! Prima que surpresa agradável, que surpresa agradável! Que diabo vos trouxe aqui a esta
hora? Sentem-se, sentem-se. Maria baixe o volume deste rádio, está tão alto que não podemos
entender de vens com essa donzela. Olá moça!

Zabela:

Oh! Você fala xindindindi!

Maria:

Donde esperas tu que eu venha prima! Do serviço.

Penina:

Coitadinha, como te chamas?

Zabela:

Eu me chama Zabela! (ela responde baixinho, mistura de medo e respeito)

Maria:

Eu já vou prima, fica a cuidar bem da minha menina! Ei de vir buscá-la logo que se conseguir
emprego no bairro da Polana!

Penina:

Ai, não! Fica um pouco mais para bebermos algumas cervejas.

Maria:

Não obrigada prima. Quem sabe no outro dia. É tarde, ainda posso esbarrar-me com bandidos.
Adeus Zabela! Ei de mandar chamar te logo que conseguir algo para si! Não fiques
desesperada, está bem filha?

Narrador

Maria foi se embora, logo a seguir Penina mostrou-lhe o seu quarto, pequeno, com uma esteira,
manta e uma toalha pendurada na cadeira. Ao amanhecer ela não sabia o que fazer, estava
pensando pois estava pasma toda casa ainda estava adormecida até o sol estar bem alto.

Cena 3
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Ginoca, Cidália, Zabela, Nina, Penina

Toca a música de José Guimarães. Todas moças entram arrumadas. O cenário é de um


prostíbulo. Cestas de roupas, espelhos, maquiagem, turbantes. Elas entram dançando
arrumando a roupa e varrendo o seu quarto felizes e radiantes.

Cidália

Prima Zabela, tu estás sempre radiante. Conta lá como mesmo tu vieste parar aqui.

Zabela olhou para Cidália ainda com um sorriso no rosto. Cheirou a sua peça de roupa e se
sentou ao lado da Cidália. As outras continuaram arrumando suas coisas e varrendo.

Zabela

Bem, a hstória é meio longa mas... mas irei fazer um breve resumo. Quando menina fui vítma
de tudo e de todos homens de onde eu morava. O meu pai era a única pessoa que compreendia
tudo o que eu sentia e ele sofria junto de mim. Nunca pensei que o meu crescimento me traria
grande sofrimento e me trouxe. A minha mãe… ela sorri tímida e brincando com a peça de
roupa. A minha mãe tentava ter uma conversa de mãe para filha e eu não conseguia-me abrir.
Eu olhava ela como se fosse a minha inimiga e fui crescendo. Sofri assédio sexual por toda
minha infância até quando acabei engravidando do meu primo. Sangue do meu sangue. E o
resto vocês sabem como termina.

Nina

A, isso é muito triste…

Zabela

É sim. Mas bola pra frente. Ela se levantou e meteu o vestido no cesto.

Ginoca:

Sócia parece que tiveste uma noite de vacas gordas! Vi te com o seu pito Inglês. Aqui hora é
que aquele marinheiro se foi embora!

Nina:
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Ya, de facto ontem saiu-me a sorte muito grande. O Inglês foi lá pela meia-noite quando o
acompanhei um pouco, voltei com o marinheiro. O tipo acaba de sair esta madrugada. Sabes
até me dói a região lombar de tanto movimento copulatório... E tu como foi? Vi-te na fara, no
Musunguru, pegadinha ao seu soldadinho, claro!

Ginoca:

Coitada de mim!... Não deu certo. Como sabes, aqueles soldados com o bolso furado... Mal lhe
suguei alguns copos, deixei-o a ver navios e regressei com o Manuna, que também estava lá
na fara. Como o gajo recebeu ontem á noite, não havia outro homem além dele no mundo. Ai,
como o dinheiro vira a cabeça às pessoas! Neste preciso momento, o pobre homem continua
estatelado ali no quarto. Não sei a que horas é que o tipo vai voltar a si!

Nina:

O quê? Ó Angelina, se a Penina descobrir que o Manuna está aqui em casa hás-de pagar as
favas... É melhor ires sacudi-lo e ajudá-lo a ir-se embora. Lembras-te do que aconteceu com a
Carlota Catapau na semana passada por causa do homenzinho dela? A Penina diz que não quer
moluenes a dormir aqui!

Zabela:

Estou aqui. Cai feito um patinho nas tramoias daquela lambisgoia da Maria. Virei merenda de
todos homens famintos.

Ginoca e Nina caem no riso

Ginoca:

Tu te tornaste uma de nós.

Zabela:

Fui uma boba sabe. Aquela mulher me dá uns nervos que ingeku nito musapata.

Nina:

Todas nós fomos enganadas então trate logo de se conformar! Porque o dia só está a começar.

Penina entra
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Parabéns, minhas queridas… como foi a pescaria?

Zabela:

Cadê aquela malandra da Maria? Aquela vaca me paga. E você Penina um dia me paga…

Penina:

Escuta aqui menina! Não me irrites tá? Sabes que irrita-me ver te a fingir que não fazes mal a
uma mosca? Andas a fazer-me perder dinheiro! Não vês como vivem as tuas primas aqui?

Nina:

Eh! Comemos do bom e de melhor, vestimos maningue bem!

Zabela:

Vocês gostam de ganhar dinheiro, vivendo desta maneira. Eu não. Estou aqui por ser uma
tonta. Tu devias deixar-me sair. irritada

Penina:

Tu nunca iras sair daqui. Quem pensas que vai pagar o que comeste e bebeste? E o quarto
onde dormiste todos estes dias? Primeiro passa cá duzentos e cinquenta escudos, depois disso
podes ir à tua vida. De outro jeito, tire o cavalinho da chuva!

Zabela:

Por favor, tenha piedade de mim, mãe! Não tenho familiares aqui em Lourenço Marques. Não
tenho para onde ir, nem como lhe pagar. Deixe-me partir! penosa

Penina:

Claro que sei que não tens dinheiro. (risos) Tive pena de ti e escondi-te aqui da polícia, dei-te
de comer e de vestir... E é assim como me agradeces? Tu ais me pagar tim-tim, por tim-tim.

Zabela

Zabela dá uma tapa na cara da penina. Futseke você. Não me ameaça tá bom… não me ameaças
você.

Penina:
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Hoje estás a cuspir no prato onde comeste menina! Nunca fui insultada dessa forma, que azar
meu! chocada

Zabela:

Nunca combinamos que para viver aqui eu tinha de fazer tudo o que as outras meninas fazem.
Eu não vim para esta cidade para isso! Como o azar teima em perseguir me, meu Deus!

Penina sai toda raivosa.

tu me pagas sua mendiga. Me pagas cada escudo que me deves…

Zabela:

Que raiva. Que raiva meu Deus, e agora? Tenho medo de ser presa. Menti para aqueles
polícias.

Cena 4

Cidália, Zabela, Bento

Um barrulho se espalha do lado de fora. Muitos passos acelerados invadem a casa e Cidália
alerta Zabela do perigo.

Cidália:

Ouviu isso Zabela? Os malditos militares estão aqui! Eu vou me embora daqui e tu é melhor
fazer o mesmo.

Zabela:

Mas... Vai pra onde?

Cidália:

Vou à baixa da cidade caçar clientes!

Narrador
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Um barrulho estranho se ouve de lá fora. Batem nas portas dos diferentes quartos, forçam as
fechaduras e entram. Um filho da mãe entrou no quarto. Nesse instante Zabela até se mijou
toda pelas pernas abaixo de pavor. Ele é um, autêntico gorila.

Bento:

Ola Maria. Hoje vamos ter uma grande paródia, não é?

Zabela:

Ah! Me larga, me larga seu monstro... Socorro! (tosse) você fede. De certeza se eu acendo um
fosforo, é capaz de pegares fogo ai!

Bento:

Ah! Vamos Maria, facilita ai!

Zabela:

Não é Maria, eu! E deixa eh,. Êh!

Como o português que aprendera com o professor Alfredo não a levava a lado nenhum, foi uma
luta de mudos. Zabela bateu-se, mordeu, beliscou, arranhou, deu coices e transpirou a valer,
mas o homem não largou!

Zabela:

Me deixa eu. Eu não é Maria, afinal é o quê? Eu não é Maria…

Porra, despacha-te lá! Outros homens diziam, a espera da sua vez para dormirem com a Zabela.
Em fim Zabela de tanto esforço que tinha feito desmaia. Foi estuprada. De Blosa rasgada,
calcinha no chão. Quando amanheceu, a casa parecia um cemitério, ela estava de luto. Zabela
chorava que não parava.
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Cena 5

Cidália, Nina, Ginoca,

Zabela:

Mil homens passaram por mim! Fui estuprada por um exército. Só escaparam as que foram
para baixa da cidade. A minha pepeca ficou pepecuda. Está um girassol.

Cidália:

Prima Zabela, estás a perder o seu rico tempo, a forma em que comecei foi pior...eu saí de
casa depois que o meu padrasto me estuprou. A minha mãe matou o meu pai legítimo para
ficar com aquele desgraçado. O vagabundo comeu e se lambeu. Quando é assim, prima, já
não há o que fazer. É só aceitar o facto e seguir o caminho que acaba de ser desbravado.

Nina:

É isso mesmo primosa.

Cidália:

E tu o que esperas? Até que os soldados já fizeram de ti o que quiseram fazer e nem se quer
deixaram nenhum tostão para curares as mágoas.

Nina:

O mundo voltou- te as costas minha irmã. O melhor é ignorares a voz do coração e continuares.
A vida é uma escola. Ela ensina, mas nós nunca aprendemos. Tu prima Zabela, só perdes tempo
com esses escrúpulos. Conhecias os soldados que invadiram o seu quarto?

Zabela:

É obvio que não. Deus me livre!

Nina:

Alguma vez os tinha visto em algum lugar? Para que não te seja penoso no momento em que
um gajo estiver a arfar em cima de ti, imagina como se estivesses com o Nando.

Ginoca:
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Para nos distrairmos, nós até comemos amendoim torrado. Dessa forma evitas vender o teu
coração, não manchas a tua alma. Eles apenas brincam em cima de um tronco qualquer.

Nina:

Na verdade, outra forma de tirares vergonha é bater uma média de cerveja. Verás como esse
truque funciona. O que se quer é dinheiro menina. Caso não, vais morrer desgraçada nessa
cidade.

Toca música no fundo

Ginoca:

Vês como vivemos? Comemos e bebemos do bom e do melhor, vestimo-nos maningue bem
e levamos a vida que queremos.

Zabela:

Achas que levas a vida que querem? Se estão a viver numa boa. Então como explicas o dinheiro
que ganham vá sempre nas mãos da Penina?

Cidália:

Ok, então o problema é teu Zabela! Toma a decisão que quiseres tomar. Mas amanhã não digas
que não te avisei.

Ginoca:

Alguma de nós vai se fartar de te alimentar, com esse mesmo dinheiro que dizes que
conseguem por meios abomináveis.

Nina:

Na falta do melhor, o pior serve. Eu abro e comem! A uni vó?

Zabela:

o que posso fazer, digam lá!

Cidália:

Tome essa média, e vai vestir que vamos trabalhar.


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CENA 6

Narrador, Penina, Zabela, Bento

Narrador:
Depois da média, Zabela entrou a fundo nessa vida de prostituta. A cada cliente com que ela
dormia, ela fingia ser o Nando. Dessa forma ela trabalhava à noite toda. Num belo dia de chuva
ela conheceu Gaspar onde se apaixonou e engravidou do mesmo. Explusa pela menina ela foi
morar com o seu marido. Mas como o azar teimava em persegui-la o seu casamento durou
pouco estragado por um velho cliente da Zabela.

Penina:

Você é uma vadia desgraçada. Coitada! Veja só. Foi engravidada e abandonada com um filho
pra criar! (Risos fumando um cigarro)

Zabela:

Estou necessitada. Dona Penina. Posso voltar?

Penina:

Nem pensar! Você é que procurou essas consequências, agora arque com elas.

Zabela:

Mas...

Penina:

Mas nada... Va embora antes que eu chame a polícia.

Zabela:

Ai que azar, até essa cafetina recusou-me. O que eu faço, meu Deus? Ai meu Deus, só me
faltava esse bêbado vir importunar-me! Meu senhor...eu já lhe disse que não quero nada
contigo!

Bento:
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di...dizes que não... quê... Queres nada comigo. Tu...não. O é? Escuta...eu (arrotou).vai dizer
isso a outra gente... Não a mim. Ok? Eu quero-te-... Então prooonto. Faz alguma coisa. me
beija.

Zabela:

Escuta, senhor! Já faz tempo que lhe disse que tenho marido. Deixe-me em paz.

Bento:

Marido, marido, swa ntiru wayini, é qual esse? Hás-de partir dessa sem conseguires um
homem como eu... É bom pensares no assunto... Até porque chega perto de mim que quero
arrancar-te um beijo.

Zabela:

Sai de mim você...seu bêbado fedorento.

Bento:

Chega por quê ficas longe de mim. Como se estivéssemos num velório, vamos curtir a vida
enquanto ainda há tempo. A vida é urgente.

Zabela:

Se continua a brincar, eu vou dizer ao meu marido.

Bento:

Futseke, meu marido, meu marido swa yini. Escuta minha flor, já há muito que estava a sua
procura, e agora não te vou deixar escapar.

Zabela:

Seu Sacana larga o meu braço, me larga! Já falei para me largar, pára de me envolver nos seus
braços como se eu fosse a sua abóbora.

Bento:
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Sua Puta merda, estou cansado de gente da sua laia. Fugiram da enxada em Gaza e vieram
apinhar-se aqui em Lourenço Marques. Bamboleiam as ancas, petulantes como se fossem
gente! Abandonaram os vossos maridos lá na terra para virem vender corpo na cidade! Dizes
que tens filho... Sabes quem é o pai? Já que toda cidade já mijou nesse penico.

Zabela (acerta uma bofetada na cara do beto) lave essa boca para falar assim de mim! Sou uma
mulher honesta, e digna de ser respeitada. Não insultes a minha honra! (Zabela sai. Bento fica
ainda inconformado e sai seguindo a ela chamando-a de Maria)

Cena 7
Cidália, Zabela, Nina, Angelina, Sara
Cidália entra no palco e arruma suas coisas. Ela canta e dança. Zabela sobe ao palco correndo
para os braços da sua amiga Cidália nervosa e chorando. A sua amiga larga o que fazia para
atendê-la.
Zabela:

Amiga, obrigada por me receber aqui no Mutlhotlhomana. Meus anjos da guarda, voltaram a
abandonar-me. Meus espíritos estão de costas voltadas para mim. Até parece haver algum
espirito mau que teima em atazanar mina vida.

Cidália:

Coitada. E o Gaspar?

Zabela:

Ele largou-me. Me deu um pontapé na bunda. O mundo desabou para mim. Perdi o lar, não
tinha para onde ir.

Cidália:

A casa está aqui amiga. O que se mais pode fazer Zabela. Quando necessário vamos trabalhar
alternadamente. Onde cabe uma, podem caber duas.

Narrador:
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Zabela reergueu a sua vida trabalhando como prostituta. Nessa altura conheceu jovens
naturais da Manhiça, que foram dar-lhe a informação da morte do seu pai e da ida do Nando
as minas da Africa do Sul de vez. Zabela conseguia muito dinheiro no Mutlhotlhomana. No
vasco da Gama o álcool e a dança tinham o seu reino. O lugar era frequentado por muitos tugas
e Ingleses. É para lá que todas mulheres de Mutlhotlhomana iam. Para além da mola que iam
desencantar na baixa da cidade em bares e cabarés como Pinguim e o Aquário.

Angelina:

Nesta caça ao homem e ao dinheiro, é frequente haver alguns choques entre nós. Muitas vezes
guerreámo-nos por coisas sem sentido.

Nina:

Podia acontecer chegar um táxi com dois brancos e três de nós correrem ao seu encontro.

Zabela:

Nesses casos, acotovelámo-nos e muitas vezes a coisa acaba em briga.

Sara:

Depois você já ontem você me roubaste o meu Inglês, hoje estás a arrancar-me o marinheiro!
Vamos resolver este assunto aos punhos.

Zabela:

Ó Sara procura outro lugar e morrer. Não quero ser acusada de homicídio por tua causa. Eu
vou rebentar o focinho.

Sara:

Sou de Magude, se é que nunca to te segredando. Não me meças com palmos.

Nina:

Sabemos disso Sarifa! Relaxa tá bom?

CENA 8
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Catarina, Zabela, Gonçalves, Narrador

Narrador:

A vida da Zabela voltou a se acertar. Comprou uma casa própria. O seu filho estava a crescer
bem. Mas tudo voltou a mudar quando um português de nome Gonçalves intrometeu-se na
sua vida. mesmo casado a engravidou. A esposa do portuga descobriu e foi brigar. Mas
Gonçalves tratou logo de manda-la fechar a boca.

Catarina:

Estou farta disso. Fartinha. Estás a trair me com essa preta de meia tigela. Prostituta ainda
mais. Mas que coragem é essa meu Deus? Isso é humilhação. Trocada por uma preta.

Gonçalves:

Se estás farta do dinheiro de Moçambique, vou-te empacotar para Lisboa.

Catarina

O quê… deves teres fritado os miolos eh…

Gonçalves

Experimente para ver… ah experimente catarina.

Catarina dá uma chapada na cara do Golçalves para impor respeito

Não me ameaces tu. Não me ameaces. eu sou a tua mulher... como se já não bastasse tu
trair-me com essa fulana e ainda está enfeitiçada por ela…

Gonçalves

oh mulher... tiveste a corragem de encher a tua mão na minha cara? Eu vu encher-te de


porrada Catarina...

Catarina

chega disso Gonçalves. Estou farta de sempre ser deixada no segundo plano. O que tu
queres, deixar-me louca?

Gonçalves
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Cala-te já. Já te disse que se estiveres farta do dinheiro de Moçambique, vou-te empacotar
para lisboa imediatamente no próximo navio que vier ao cais…

Inconformada, Catarina olhou para seu marido e saiu enfurecida. Gonçalves sorriu e abanou a
cabeça.

Mulheres… sempre a mesma estória… Gonçalves sorriu e abanou a cabeça.

Narrador:

Zabela teve um filho mulato, mas isso custou-lhe o emprego. Foi demitida porque teve um filho
mulato e a sua patroa achava que fosse filho do seu Marido Neves. Coitado do seu Patrão. Há
pessoas que nascem já com a sua sina. Mas no caso da Zabela penso que os azares eram
resultado de algum feitiço. Foi demitida por ter tido um filho mulato.

Zabela:

O que aconteceu comigo, fez-me lembrar o que as pessoas costumam dizer em relação as
patroas brancas. Dizem que elas tem medo de mulheres negras, pois consideram que nós
temos remédios que fazem com que os seus maridos se interessem por nós.

Cena 9
Zabela, Narrador
Narrador:

Tempo depois, Zabela reencontra o Armando, que lhe apresenta como o seu Tio materno. Não
tardou e plantou chifres no Gonçalves e engravidou do Armando. Como consequência, ela teve
um filho mais preto que um carvão. As orelhas, o nariz, a boca, tudo era do Armando.

Zabela:

Gonçalves deu me uma surra das boas antes mesmo de sair da maternidade e me largou.

Narrador:
Então ela decidiu procurar o Armando, mas ele desmentiu de pé junto que aquele não era o
seu filho. Mais uma vez, Zabela perdia tudo que tinha, e com três filhos no colo. Pensou em
voltar para casa da Penina, mas não podia voltar. Pois a sua saída de lá tinha sido turbulenta.
Pensou em voltar para Manhiça, mas o medo falou mais alto. Então a solução foi voltar para
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Muthothomana mais uma vez. Dizem que onde come um comem dois. Todo mundo conhece
Zabela em tudo que é prostíbulo. Toca música de Aniano Ntamele (swi tsakisa Mbilo yaku

Zabela
Tenho 5 filhos, cada um com o seu pai. Uns são mulatos, outros são pretos. Quando olho para
eles muitas vezes, não consigo conter lágrimas. A mamã sempre aconselhou a cuidar de mim
mesma. A cuidar da minha juventude. Ela sempre me pediu para aceitar os conselhos dos mais
velhos. Dizia ela que essa era a forma de evitar os caminhos da perdição.
Narrador
Pobre Zabela fez ouvidos de mercador! Não percebeu o amor que os seus pais tinham por ela.
E agora? Que vida é essa?

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