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ENCICLOPÉDIA
de BÍBLIA,
TEOLOGIA
FILOSOFIA
êt
hagnos
R.N. Champlin, Ph.D.
ENCICLOPÉDIA
de BÍBLIA,
TEOLOGIA
& FILOSOFIA
VOLUME 5
I aE d iç ã o , 1991 • 2000 e x e m p l a r e s
2a E d i ç ã o , 1993 • 2000 e x e m p l a r e s
3a E d i ç ã o , 1995 • 4500 e x e m p l a r e s
4aE d iç ã o , 1997 • 5000 e x e m p l a r e s
5a E d i ç ã o , 2001 • 3000 e x e m p l a r e s
6 a E d i ç ã o , 2002 • 3000 e x e m p l a r e s
7a E d i ç ã o , 2004 • 3000 e x e m p l a r e s
8a E d i ç ã o , 2006 • 2000 e x e m p l a r e s
9a E d i ç ã o , 2008 • 3000 e x e m p l a r e s
10a E d i ç ã o , 2011 • 3000 e x e m p l a r e s
11a E d i ç ã o , 2013 • 3000 e x e m p l a r e s
D ir e it o s R e s e r v a d o s
A v. J a c in to J ú lio , 27 SP
• São P a u lo ,
C ep 04815-160 • T e l: (11) 5668-5668
hagnos w w w .h a g n o s . c o m . b r I e d i t o r i a l @h a g n o s . c o m . b r
1. Formas Antigas
fenício (semítico), 1000 A.C. grego ocidental, 800 A.C. latino, 50 D.C.
1 r p
2. No* Manuscritos Grego« do Novo Testamento
Wn <P v
3. Formas Modernas
PPPP PPPP PPpp PP
Reprodução Artística de
Darrell Steven Champlin
p
P (CÓDIGO SACERDOTAL) hebraico de períodos posteriores.
Essa é uma das alegadas múltiplas fontes O outro termo pode ser encontrado somente no
informativas do Pentateuco. A letra P, que a designa livro de Isaías, em conexão com a palavra forquilha
corresponde à palavra inglesa priestly, «sacerdotal». (vide), pois ambos os implementos eram usados na
Nesta enciclopédia, ao aludir nos comentários sobre agricultura. Essas pás para grãos eram feitas de
essa fonte, usei a sigla P(S). «P» representa sua madeira, o que as diferenciavam daquelas outras,
designação em inglês e em alemão; e «S» fala sobre usadas para fins cerimoniais. Com base no texto de
sua designação em português. Isaías 28:17, alguns estudiosos chegaram à conclusão
de que, no hebraico, havia um verbo que teria o
Os estudiosos datam essa alegada fonte informativa significado de «varrer junto com», embora isso seja
em algum tempo após o exílio babilónico, ou seja, muito difícil de comprovar. Ambos os vocábulos para
após 535 A.C., fazendo da mesma uma compilação «pá», provavelmente eram substantivos hebraicos
bastante tardia, por parte de algum autor desconheci primários, cujos únicos cognatos remotos acham-se
do, interessado na casta sacerdotal e suas funções. £ no árabe, no aramaico cristão e no cóptico. Essa
de se presumir que o sacerdócio oficial da época palavra, «pá», aparece em nossa versão portuguesa em
designado elaborou as práticas rituais dos judeus, Mat. 3:12e Luc. 3:17, como tradução do termo grego
tornando-as obrigatórias para todos os judeus; e, a ptúon que indica muito mais um «forçado»,
fim de emprestar a isso uma maior força, incluíram provavelmente correspondente ao termo hebraico
essas práticas no que, finalmente, veio a tornar-se o mizreh, que aparece em Isaías 30:24 e Jeremias 15:7,
nosso Pentateuco. Quanto a maiores detalhes sobre mas que a nossa versão portuguesa traduz, respectiva
essa teoria, ver o artigo geral J.E.D.P.(S-).
Desnecessário é dizer que essa questão tem suscitado mente, por «forquilha» e por «pá». A palavra grega
intensas disputas, porquanto põe em dúvida tanto a ptúon também acha-se nos livros apócrifos gregos da
integridade do Pentateuco quanto a autoridade Septuaginta.
mosaica. Usos Figurados: 1. O ato de usar a pá, que em
português, chama-se «padejar», é usado simbolica
mente na Bíblia para indicar o ato de derrotar e
P (MANUSCRITO) dispersar o inimigo (Isa. 41:16). 2. Padejar às portas
de uma cidade indica derrotar e dispersar um inimigo
Essa é a designação do manuscrito também que esteja às fronteiras do país (Jer. 15:7). 3. Também
conhecido como 024, atualmente localizado em está em foco a obra julgadora de Cristo, que separará
WolfenbQttel, na Alemanha Ocidental. Data do
os bons dos maus (Mat. 3:12), ou a mesma operação,
século VI D.C., e pertence ao tipo de texto bizantino. feita por Deus (Jer. 15:7; Isa. 30:24). 4. Os medos e os
Contém os quatro evangelhos. persas foram executores de certos juízos terrenos de
Deus (Jer. 41:2). 5. O simbolismo também é usado
P(2) (MANUSCRITO) para indicar a dispersão da nação de Israel, em face
de seus pecados (Eze. 36:19). 6. Em um sentido geral,
Esse manuscrito também é chamado P(apr), uma Deus é quem submete a seu crivo os atos de todos os
sigla que indica que o mesmo contém o livro de Atos, homens, a fim de testar a qualidade dos mesmos (Isa.
as epístolas paulinas e o Apocalipse. Mas também é 30:28).
designado P 025. Acha-se em Leningrado, na União
Soviética. Seu título completo é Codex Porphyrianus.
Os eruditos datam-no como pertencente ao século IX PAARAI
D.C.
No hebraico, «bocejo». Nome de um dos poderosos
Esse é um dos poucos manuscritos unciais (escritos guerreiros de Davi, e que foi juntamente com ele para
com letras maiúsculas do alfabeto grego) que contêm o exílio, quando esse ungido de Deus fugia de Saul.
o livro de Apocalipse. O Apocalipse é um dos menos Ver II Sam. 23:25, onde ele é chamado de «arbita».
confirmados livros do Novo Testamento, em manus Em I Crô. 11:37, seu nome é grafado de maneira mais
critos antigos. Além do texto mencionado, esse correta, isto é, Naarai. Ele viveu na época de Davi,
manuscrito contém um comentário de Eutálio sobre o cerca de 1000 A.C. Há quem pense que seu nome, no
livro de Atos e sobre as epístolas paulinas. O grego em hebraico, significa «revelação de Yah» (forma
que foi escrito é o koiné (vide), com alguma mistura abreviada de Yahweh).
de variantes. Trata-se de um palimpsesto, ou seja,
havia algo escrito nele, originalmente, que então foi
apagado para que recebesse o texto que agora nele se
encontra. PAATE-MOABE
No hebraico, «governador de Moabe». Esse foi o
PÀ nome de uma proeminente família da tribo de Judá.
Nada menos de dois mil oitocentos e doze de seus
Nas páginas do Antigo Testamento, duas palavras descendentes voltaram do cativeiro babilónico e
hebraicas diferentes são traduzidas por «pá», a saber: passaram a residir em Jerusalém (ver Esd. 2:6; Nee.
1. Yaim, «pás». Essa palavra, sempre no plural, 7:11). Esse grupo retomou à Terra Prometida em
ocorre por nove vezes. Por exemplo: Êxo. 27:3; 38:2; companhia de Zorobabel. O trecho de Nee. 7:11 fala
Núm. 4:14; I Reis 7:40,45; Jer. 52:8. em dois mil oitocentos e doze descendentes de
2. Rachath, «pá». Esse termo ocorre somente em Paate-Moabe. Outros duzentos e um descendentes de
Isaías 30:24. Paate-Moabe voltaram à Palestina em companhia de
O primeiro desses vocábulos refere-se a um Esdras (ver Esd. 8:4). Vários homens haviam-se
implemento cerimonial, empregado na remoção das casado com mulheres estrangeiras durante o cativeiro,
cinzas e dos restos dos holocaustos oferecidos nos e então foram forçados a divorciarem-se delas,
altares do tabernáculo e do templo de Jerusalém. Na quando Israel renovou o seu pacto com Yahweh (ver
qualidade de objetos de uso cerimonial, o termo Nee. 10:14). Hassube, que pertencia a esse clã, é
parece ter sido de origem semita ocidental; há mencionado como um dos reconstrutores das mura
cognatos que se encontram no judeu-aramaico e no lhas de Jerusalém (Nee. 3:11).
1
PACATIANA - PACIFICADOR
PACATIANA como um dos aspectos do fruto do Espírito, ou seja,
uma qualidade espiritual que o Espírito cultiva no
No hebraico, «pacifica». Esse era o nome de uma crente. Com base nesse ensino, aprendemos que a
provinda da Ásia Menor cuja capital era Laodicéia. A paciência autêntica é uma virtude espiritual, de que o
província nunca é citada no Novo Testamento; mas homem espiritual é dotado. Sendo esse o caso, será
sua capital o é (ver Col. 2:1; 4:13,15,16; Apo. 1:11). um produto de um crescente desenvolvimento
Nos fins do século III D.C., esse território foi espiritual, conforme é sugerido e ilustrado na segunda
dividido em vários segmentos, sete ao todo. Dois seção, acima.
desses segmentos tomaram-se a Frigia Prima (a oeste) IV. Deus é o Pai da Paciência
e a Frigia Secunda (a leste). A primeira dessas
continuou também a ser chamada de Pacatiana. Deus nos tolera, tal como devemos tolerar ao
próximo. A paciência divina abrange todos os
homens. Não fora isso, e todos pereceríamos (ver II
PACIÊNCIA Ped. 3:9; Sal. 86:15). A paciência de Deus é
Esboço: reiteradamente ilustrada na história da nação de
Israel (ver Exo. 34:6; Núm. 14:18; Sal. 86:15; Jer.
I. Definições 15:15). Isso aplica-se ao seu trato com os homens, em
II. Considerações Bíblicas Gerais todas as coisas (ver Rom. 9:22).
III. Um dos Aspectos do Fruto do Espírito
IV. Deus é o Pai da Paciência V. A Paciência de Cristo
V. A Paciência de Cristo Jesus Cristo deixou-nos o grande exemplo de
VI. O Que nos Ensina a Paciência? paciência, visto que ele percorreu a sua carreira
terrena com alegria e paciência (resistência) (ver Heb.
I. Definições 12:1,2). Ele deixou um notável exemplo de paciência
A paciência é aquela qualidade habitual de em sua vida terrena (ver Mat. 27:38-44; Mar.
suportar os testes e as circunstâncias testadoras, sem 15:28-32; Luc. 23:35-39; Sal. 22:1 ss). Os crentes
queixume. Também é a tolerância diante das falhas deveriam seguir esse exemplo, mesmo nos casos em
alheias; uma tranqüila espera por algum aconteci que sofrem contradição e oposição da parte de
mento, que venha alterar as circunstâncias incômo homens ímpios (ver Sal. 37:1,73; Pro. 3:31; 23:17;
das. Trata-se da capacidade de esperar por mudan 24:1; Jer. 12).
ças, sem demonstrar ansiedade exagerada. VI. O Que Nos Ensina a Paciência?
Na Bíblia vê-se certa variedade nessa virtude da Mudanças vitais podem ocorrer em nossas vidas
paciência. Assim, o trecho de Sal. 40:1 expõe a quando suportamos a disciplina do Senhor (ver Heb.
paciência no sentido de esperar por alguma mudança. 12:5-13). Todas as coisas contribuem juntamente,
O próprio Senhor é paciente com os homens e os seus visando ao nosso bem (ver Rom. 8:28). Até mesmo as
caprichos (ver Núm. 14:18; Êxo. 34:6; Sal. 86:5; Jer. provações devem ser toleradas com alegria (Tia. 1:2
15:15). No Novo Testamento, a paciência usualmente ss). A paciência é companheira de outras virtudes
envolve as noções de longanimidade sob as provações, cristãs, como a bondade e a benignidade (Rom. 2:4).
resistência, constância em face da oposição. O termo Está vinculada à fé e à esperança (Heb. 6:11,12), e
grego upomoné, cujo sentido literal significa «resistên também ao amor (I Cor. 13:4). Cumpre-nos continuar
cia sob (algum peso)», usualmente envolve esses labutando com toda a paciência, tal como um
significados. Ver Rom. 5:3,4; 15:4; II Cor. 6:4; Col. agricultor planta e espera com paciência, antes de
1:11. poder fazer, jubilosamente, a sua colheita (Tia.
H, Considerações Bíblicas Gerai» 5:7,8).
I. A paciência consiste da persistência neotesta-
mentária, em face dos obstáculos. Procura alcançar
uma obra perfeita (ver Tia. 1:4), e assim conseguirá PACIFICADOR
fazer, se persistir. No presente ela já produz frutos Mat. 5:9: Bem-aventurados os pacificadores,
(ver Luc. 8:15), ajudando-nos a percorrer o curso de porque eles serão chamados filhos de Deus.
nossas vidas, tendo em mira o prêmio da vida eterna Os pacificadores. Não somente os dotados de
(ver Heb. 12:1). natureza pacífica (Tia. 3:15), nem os que aceitam a
2. A paciência espera pela salvação de Deus (ver paz sem protesto ou que preferem a paz ao desacordo,
Lam. 3:26), sendo necessária no tocante à obtenção nem os que têm paz na alma, com Deus, como
de nossa herança (ver Heb. 6:12 e 10:36). explicou Agostinho, e nem os que amam a paz
3. Existe certo fortalecimento espiritual que nos (Grotius, Wetstein), mas aqueles que promovem
infunde paciência (ver Col. 1:11). ativamente a paz e procuram estabelecer a harmonia
4. A paciência é um dos aspectos do fruto do entre inimigos. O sentimento aqui referido é mais
Espírito (ver Gál. 5:22); portanto, é cultivada por ele. nobre que o de Rom. 12:18, que diz: «Se possível,
quanto depender de vós, tende paz com todos os
5. Ela é obtida através do desenvolvimento homens».
espiritual.
Serão chamados filhos de Deus. Significa mais do
6. Uso dos meios de desenvolvimento espiritual: que reconhecimento. Está em foco a realidade de ser
a. A oração (ver Efé. 6:18). alguém filho de Deus. (Ver Rom. 8:17,28-32; I João
b. A meditação visando à iluminação (ver Efé. 3:2). O conceito implica em participação na herança
1:18). dos santos (Efé. 1:13,14), e, assim sendo, trata-se de
c. O estudo (ver I Tim. 4:13). filhos adultos, como Cristo, revestidos da plenitude e
d. A santificação (ver I Tes. 4:3). divindade de Cristo (Efé. 1:23; II Cor. 3:18; II Ped.
e. O viver segundo a lei do amor ou das boas 1:4).
obras (ver I João 5:7). Os rabinos também davam grande valor aos
f. O uso dos dons espirituais (ver Efé. 4:8 e ss). pacificadores. Hilel, famoso rabino contemporâneo
de Jesus, escreveu: *Sê dos discípulos de Aarão,
m . Um dos Aspectos do Fruto do Espirito amando a paz e seguindo a p a z» (Aboth 1:2). Tais
O trecho de Gál. 5:22 encerra essa virtude cristã seriam os filhos de Deus. O V,T. emprega esse termo,
2
PACIFICADOR - PACIFISMO
«filhos de Deus», referindo-se aos anjos ou aos seres antigamente. As religiões e mitologias antigas
divinos (J6. 38:7), e algumas vezes também a pessoas inevitavelmente faziam de seus deuses cabeças de
piedosas, seres humanos que são objetos do amor forças armadas, e a capacidade militar sempre foi
especial de Deus (Deut. 32:6). Aqueles que buscam a glorificada. No entanto, desde remota antiguidade os
paz amando os seus inimigos agem segundo o próprio homens aguardam, com anelo, por uma era áurea de
Deus, e por isso são filhos de Deus em sentido paz, pelo que o espírito do pacifismo tem conseguido
verdadeiro. (Ver Mat. 5:44,45). A paz é uma das rebrilhar, mesmo em meio aos mitos.
virtudes .cardeais da ética cristã. O exclusivismo dos c. Os hebreus estavam longe de ser pacifistas. A
judeus era e é bem conhecido, e já se tornara história da conquista da Terra Prometida é um relato
proverbial antes dos dias de Jesus. O discípulo—au de intensa beligerância. Os reis de Israel estavam
têntico—do reino não é aquele que odeia, mas aquele constantemente em guerra. Não obstante, os profetas
que ama os seus inimigos. Isso faz do exclusivismo hebreus sonhavam com um período futuro em que as
uma impossibilidade na ética cristã. Jesus deu a sua espadas seriam transformadas em relhas de arados
vida a fim de trazer a paz universal no sentido mais (ver Isa. 2:4; Joel 3:10; Miq. 4:3). Naturalmente, para
lato possível, tanto na terra como nos lugares que isso suceda, é mister pensar em uma grande
celestiais. (Ver Efé. 2:14-16 e Col. 1:20). Agostinho intervenção divina na história da humanidade.
Jouvou altamente à sua própria genitora, Mônica, d. No seio da Igreja cristã. O serviço militar foi
quando escreveu: «Ela mostrou ser uma pacificadora repelido por muitos cristãos antigos, até o começo do
tal que, de ambos os lados ouvindo as coisas mais chamado Corpus Christianum, sob o imperador
amargas...nunca deixou transparecer algo, para um Constantino. Dali por diante, os teólogos cristãos
ou para outra, senão aquilo que contribuísse para sua passaram a utilizar os critérios de Aristóteles quanto a
reconciliação» (Confissões ix.21). Haveria aplicação uma guerra justa, cristianizando a questão. Agosti
para algumas Mônicas hoje em dia na igreja. Suas nho e Tomás de Aquino foram os principais
adversárias formam multidões. Lê-se acerca de intérpretes desses critérios.
Richard Dobden que, ao ser-lhe mencionado que e. No tempo da Reforma Protestante. Os anabatis-
talvez adquirisse tanta fama a ponto de ser sepultado tas eram protestantes. Indagavam eles: «Visto que
na abadia de Westminster, replicou que esperava que seremos moldados à imagem de Cristo, como
isso nunca lhe acontecesse, porque «Meu espírito não poderíamos combater ao inimigo com a espada?»
descansaria em paz entre aqueles homens de guerra».
£ uma tragédia que até mesmo muitos líderes cristãos f. Os quacres concordavam com os anabatistas, em
sejam respeitados por serem homens contenciosos, e seu pacifismo.
que os grandes guerreiros do mundo são feitos seus g. Tratados em favor do pacifismo foram
heróis. produzidos por vários filósofos, desde Desidério
Erasmo (1469-1537) até Emanuel Kant (1724-1804).
h. O chamado Iluminismo (vide) produziu vários
PACIFISMO pensadores que defenderam a posição do pacifismo. A
Esboço: obra de William Penn: «An Essay Towards the
Present and Future Peace of Europe», foi um notável
1. O Termo e suas Definições escrito sobre o assunto.
2. Alguns Informes Históricos i. No século X IX , quando foram organizados
3. A Bíblia e o Pacifismo diversos movimentos em prol da paz, esse ideal
4. O Ideal e sua Praticabilidade atingiu muitos países. Os anabatistas, os menonitas,
1. O Termo e Suas Definições os quacres, os batistas alemães ou dunkers, além de
A raiz da palavra portuguesa «pacifismo» é o latim, outros grupos religiosos evangélicos, esposaram a
pacificus, «pertinente à paz». Essa palavra latina causa do pacifismo. Muitos jovens fugiam da Europa,
combina o latim pax, «paz», e facere, «fazer». Em um a fim de escapar do serviço militar obrigatório,
sentido geral, um pacifista é alguém que se opõe à emigrando principalmente para os Estados Unidos da
violência, em qualquer de suas manifestações, com o América e para o Canadá.
intuito de resolver divergências, sejam elas pessoais, j. Os movimento» pacifistas continuaram no século
coletivas, nacionais ou internacionais. Todavia, mais X X , chegando mesmo a aumentar muito em seu
recentemente, esse vocábulo passou a indicar não número, especialmente na América do Norte e na
somente àqueles que não concordam com as guerras, Europa. Porém, ao mesmo tempo em que essas
mas até mesmo com o serviço militar. Um arbítrio organizações floresciam e faziam uma propaganda
pacifico é o ideal dos pacifistas. vocifera, as forças militares do mundo iam-se
No idioma inglês, o termo apareceu pela primeira preparando para as devastadoras conflagrações da
vez no Oxford English Dictionary, em 1905. A Primeira Grande Guerra e da Segunda Guerra
maioria dos pacifistas não combate o uso de forças Mundial, respectivamente em 1914-1918 e 1939-1945.
policiais na preservação da boa ordem, dentro de um Os lideres militares chegaram a denunciar os tratados
país qualquer; mas eles se opõem ao uso de meios unilaterais dos pacifistas como acordos ingênuos e
militares violentos na solução de disputas internacio sem sentido real. Quando a Alemanha começou sua
nais. marcha de conquista, viu-se que a guerra era mais
poderosa que o pacifismo, e muitos pacifistas tiveram
2. Alguns Informes Históricos de confessar a sua ingenuidade.
a. Aristóteles acreditava que a guerra é ocasional 1. A consciência religiosa. Os movimentos pacifis
mente necessária, a fim de corrigir injustiças que, tas serviram ao menos para que muitas pessoas
doutra sorte, nunca seriam corrigidas. Talvez seja religiosas organizassem melhor seus pensamentos
engenhoso pensar que homens iníquos, que nada sobre a questão. Na América do Norte, os objetores
fazem senão piorar cada vez mais, não podem ser conscientes não são tratados como criminosos,
freados de outra maneira. Ver o artigo chamado podendo escapar ao serviço militar, embora possam
Critérios de uma Guerra Justa. ser empregados em situações mais pacíficas, em apoio
b. Os povos antigos eram guerreiros tribais. E às atividades militares. De fato, uma das alternativas
desde então não mudou muita coisa na guerra, exceto tem sido servir nas forças militares, mas não
que as armas se tornaram muito mais letais do que transportar armas. Durante a Segunda Guerra
3
PACIFISMO - PACOM
Mundial, muitos pacifistas norte-americanos servi autoridades civis.
ram até mesmo em zonas de combate, dirigindo
veículos, servindo no corpo médico, mas sem brandir Alguns dos primeiros pais da Igreja, como Hipólito,
armas. E muitos desses pacifistas foram decorados Tertuliano e Lactâncio, eram pacifistas, parcialmente
por bravura. porque o serviço no antigo exército romano envolvia
3. A Btblia e o Pacifismo ritos pagãos. Porém, Clemente de Alexandria estava
convencido de que um soldado que se convertesse ao
Se usarmos somente o Antigo Testamento, dificil cristianismo tinha o direito de permanecer como tal.
mente poderemos defender o pacifismo, a menos que Tenho traçado a história dessa questão no segundo
destaquemos a esperança profética, em consonância ponto, acima. Basta dizer que a Bíblia tem sido
com as predições proféticas acerca do milênio e do variegadamente interpretada. O trabalho de Agosti
estado eterno. De fato, pessoalmente perturba-me a nho e Tomás de Aquino sobre a questão de uma
maneira como Deus é apresentado no Antigo guerra justa, teve o seu efeito. E é assim que a Nova
Testamento, como o Senhor de Exércitos, encabeçan Enciclopédia Católica, vol. X, pág. 856, assevera: «O
do forças selvagens que matam e mutilam povos pacifismo absoluto é irreconciliável com a doutrina
inteiros. Os deuses daquele período quase inevitavel católica tradicional». Lutero e Calvino reconheceram
mente eram apresentados como dirigentes que a necessidade de guerrear, sob determinadas circuns
ordenavam não só a guerra, mas também o tâncias, e quase todos os grupos protestantes têm
extermínio de populações inteiras, excetuando as retido esse ponto de vista. O reformador Zwínglio foi
mulheres, por razões óbvias. Um dos dez mandamen morto durante uma batalha. Mas os anabatistas, os
tos ordena: «Não matarás» (Exo. 20:13). Mas esse waldenses e os quacres condenam qualquer forma de
mandamento nunca fez parar algum exército. atividade militar.
Quando nos volvemos para o Novo Testamento, 4. O Ideal e Sua Praticabilidade
então podemos achar textos de prova tanto em favor Não há que duvidar que matar é errado; também é
do pacifismo quanto em favor do militarismo. Por
certo que o Sermão da Montanha, proferido por um erro quando uma nação envia propositalmente
suas forças armadas para matarem pessoas de outra
Jesus, conforme se vê em Mat. 5:29 e seu contexto, nação! Também ninguém duvida que a guerra é um
serve de base do pensamento pacifista. Além disso, dos mais profundos males que o homem já inventou.
temos no Novo Testamento uma clara expressão da lei Ainda recenteme ate, li sobre uma experiência perto
do amor (vide), que condena a violência. Entretanto, da morte (ver o artigo a respeito), durante a qual um
quando Comélio, o centurião romano, converteu-se homem entrou nos primeiros estágios da morte, e viu
ao cristianismo, ele não foi forçado a mudar de os rostos de todos aqueles que tinham sido mortos,
profissão (ver Atos 10:47). Ademais, em Rom. 13:2 e
seu contexto, temos o ensino que nos manda obedecer quando ele havia sido um soldado que atuou no
às forças civis; e isso, naturalmente, envolve o serviço Vietnã. A guerra constitui uma imoralidade, com as
suas matanças, as suas mutilações, os seus rancores.
militar.
Um amigo meu, que serviu durante a guerra da
Ver Rom. 13:1. Coréia, contou-me que os soldados são ensinados a
Este versículo tem sido usado em apoio ao serviço odiar, a fim de que possam desincumbir-se melhor de
militar prestado por crentes. Naturalmente, não há sua missão de matar. Um dos dez mandamentos
nenhurtia relação direta com o que aqui é dito com proíbe que um homem mate a seus semelhantes; mas
essa idéia surgida apenas recentemente na história da Israel não hesitava em matar em massa. Para mim, o
igreja cristã. Não obstante, poder-se-ia dizer que este ideal é claro. Quem pode matar, se é que ama? O
versículo dá mais apoio à idéia da militância, já que amor é um dos principais princípios bíblicos, sendo a
quase todos os governos civis requerem o serviço essência mesma da espiritualidade (ver I João 4:7 ss).
militar dos seus cidadãos. Por outra parte, a história demonstra que homens
É interessante observarmos que os crentes em geral, ímpios e seus exércitos em nada se deixam
através da.história da igreja, não têm sido pacifistas. impressionar por esse ideal. Isso significa que a
Não obstante, os pacifistas têm alguma razão em seu guerra torna-se uma necessidade, para proteger uma
respeito pela vida humana, que pode ultrapassar seu nação ou um povo. Assim, se o ideal é claro, é óbvia
senso de dever para com as obrigações dos cidadãos a também a praticabilidade (e necessidade) histórica da
seu governo. Certamente é errado matar. E certamen guerra. Os pacifistas britânicos sempre tiveram muita
te é um erro moral de proporções gigantescas um país força. Mas, tanto na Primeira quanto na Segunda
enviar homens para conquistar a outro. Não se pode Guerras Mundiais eles se deixaram convencer diante
negar que a violência e a guerra são males próprios da da premente necessidade de guerrear, a fim de fazer
humanidade. É possível que a melhor solução para o frente a gigantescas forças malignas. Quanto a mim,
crente, nessa conjuntura, seja que ele não se deve se tivesse de ser convocado ao serviço militar, eu
recusar a servir no exército de seu país, mas, no caso tomaria o caminho intermediário: não me recusaria a
de alguma guerra injusta, se recuse a pegar em armas. servir, contanto que não pegasse em armas. Para
Poderia servir no corpo médico, como motorista de mim, isso constitui um ideal pessoal; mas, como é
caminhão, ou fazendo qualquer outra coisa não óbvio, se todos os homens seguissem esse ideal, forças
diretamente ligada à função precípua de liquidar o malignas de potências estrangeiras não poderiam ser
inimigo. Caso esse outro serviço se torne impossível detidas. No tocante à questão, pois, que cada
para ele, resta-lhe o outro único recurso de apelar indivíduo examine a sua própria consciência e ache a
para a sua consciência, fazendo o que lhe parecer resposta mais apropriada para si mesmo, que os
melhor; porquanto, esta passagem do décimo terceiro outros deveriam respeitar. O pacifismo é um ideal que
capítulo da epístola aos Romanos não nos fornece será atingido durante o milênio (vide). No momento,
qualquer orientação definida acerca dessa questão. porém, não é muito prático, em um mundo como o
Não há tal orientação porque Paulo não estava nosso. (AM E H NTI, em Rom. 13:3, P)
considerando a eventualidade das exceções, quando
escreveu esta seção de sua epistola aos Romanos.
Antes, opunha-se ele à iniqüidade, e não escrevendo PACOM
alguma constituição que governasse todas as ações Esse termo é usado para designar o nono mês do
dos crentes no tocante à sua atitude para com as ano, em III Macabeus 6:38. Ver Calendário.
4
PACÔMIO - PACTO
PACOMIO (SANTO) pacto abraâmico, quando os primitivos cristãos
Pacômio foi o fundador do estilo de vida monástica. começaram a dizer que esse sinal não era necessário à
No Egito, ele fundou nove mosteiros, além de dois salvação (Atos 15). A Igreja cristã entrou em estado
conventos para mulheres. A ordem religiosa por ele de turbilhão por esse motivo, por um longo período de
fundada continuou existindo até o século XI D.C. A tempo, visto que a circuncisão era um grande montão
festa religiosa em sua memória é celebrada a 14 de de pedras, uma nobre coluna que assinalava o pacto
maio. Ver o artigo Monasticismo. feito entre Deus e Abraão. Mas, se era o sinal desse
pacto, não era o próprio pacto. E foi isso que Paulo e
outros líderes cristãos logo compreenderam.
PACTO Ver os dois artigos: Pacto* e Alianças. Deus escolheu Israel, e impôs acordos, acompa
Entre outras formas de linguagem antropomórfica nhados por certas bênçãos, sob a condição dos
nas Escrituras, encontramos o termo pacto. A palavra acordos serem observados. Esses pactos foram
é usada para designar a maneira de Deus tratar com o estabelecidos em períodos históricos críticos, isto é,
homem e de entrar em alianças com ele; ou então com Noé, com Abraão, com Moisés e com Davi. Isso
somente entre seres humanos. No primeiro caso, há posto, toda a teologia judaica estava envolvida no
um uso antropomórfico; no segundo, um uso literal. conceito de pactos. Destarte, poderíamos afirmar que
O termo hebraico envolvido é berith, que significa o Antigo Pacto é a súmula do relacionamento
«corte». Como o sentido de pacto deriva-se desse verbo diversificado de Deus com o povo de Israel.
não é bem claro. Talvez deva-se ao costume de 4. Nos Profetas Posteriores. Escritores sagrados
compartilhar de alimentos, em uma refeição, por como Oséias, Jeremias, Ezequiel e Moisés, no livro
ocasião do estabelecimento de um pacto, nos dias de Deuteronômio, fazem uso do conceito de pacto a
antigos. Porém, também conjectura-se de que o termo fim de expressar algumas de suas principais idéias.
hebraico envolvido esteja relacionado às idéias de Em Oséias 6:7; 8:1; Jeremias 11:1 ss, e 34:18, lemos
«algemas», de «decidir», de «aquinhoar», mediante que Israel quebrou sua aliança com Deus. Disso
diversas conjecturas etimológicas. Ou então «cortar resultou um intenso sofrimento.
um acordo» era simplesmente uma expressão idiomá 5. No Novo Testamento. O vocábulo grego
tica para «estabelecer um acordo». diathéke é usado com os sentidos de pacto e
O vocábulo diathéke, usado no Novo Testamento, é testamento. No grego helenista, era comum essa
o termo grego que significa pacto ou testamento. Essa palavra ter o sentido de «testamento». O nono capítulo
é a palavra envolvida no titulo «Novo Testamento», da epístola aos Hebreus retém a idéia de testamento.
que alguns estudiosos prefeririam ver alterado para Um testamento, para que entre em vigor, requer a
Novo Pacto. morte do testador (Heb. 9:16). Porém, o conceito de
1. Na terminologia religiosa, temos os acordos pacto é o sentido mais freqüente vinculado à palavra
formais estabelecidos entre Deus e o homem, dos grega diathéke. Todo o debate que se vê nos
quais há diversos, no Antigo Testamento. Ver os comentários, em torno dessa questão é uma perda de
detalhes abaixo. A teologia cristã distingue entre o tempo, visto que ambos os lados estão com a razão,
antigo e o novo pactos. O primeiro repousa sobre a lei até onde cada um deles vai. O oitavo capítulo de
mosaica, e o segundo sobre a graça divina, por meio Hebreus trata longamente da idéia neotestamentâria
do sangue de Cristo. Paulo ensinava que o primeiro de pacto, afirmando enfaticamente que o antigo pacto
pacto foi ultrapassado pelo segundo. Segundo o foi substituído pelo novo (Heb. 8:13). A salvação da
islamismo, a esses dois pactos, foi adicionado um alma é um dos resultados do novo pacto, conforme o
terceiro, final, por meio da aliança estabelecida entre contexto dessa passagem mostra claramente.
Deus e Maomé. 6. Considerações Teológicas. Devemos levar em
2. Na teologia, a palavra «pacto» é usada para conta o livre-arbítrio humano e o amor de Deus. Há
designar alguma interpretação particular da doutrina pessoas necessitadas. Deus amou o mundo de tal
cristã. Ver o artigo sobre a Teologia do Pacto ou maneira que promoveu sua vontade misericordiosa
Teologia Federal. Uma aplicação especial desse através de pactos. Deus dá tudo aos homens, e
vocábulo encontra-se no título pacto do meio espera-se que os homens dêem tudo a ele. Por sua
caminho, que se refere a certa prática da Nova parte, Deus sempre se mostra leal, constante e
Inglaterra, mediante a qual crianças eram admitidas imutável (Êxo. 34:6). Mas o homem mostra-se
ao batismo se tivessem pais simpáticos à Igreja, vacilante. Contudo, o sistema funciona no caso do
embora não fossem membros qualificados. novo pacto, porque o Espírito de Deus atua a fim de
3. Inspiração por Fatores Sociais. Na primitiva garantir a transação. O pacto com Deus, no Antigo e
sociedade israelita, nômade ou seminômade, os no Novo Testamentos é retratado como um casamento
pactos entre os homens e seus vizinhos eram (Osé. 2:22), devido à intimidade do relacionamento
necessários à sobrevivência. Assim, os vizinhos entre Israel ou a alma individual (conforme o caso), e
cortavam acordos uns com os outros, usualmente Deus. O pacto com Deus é descrito como um acordo
erigindo algum sinal visível do pacto estabelecido, inscrito no coração (Jer. 31; Eze. 36:37; Heb. 8:10).
como uma coluna ou um monte de pedras, com o Diz esta última referência: «Porque esta é a aliança
acompanhamento de votos e sacrifícios, além de uma que firmarei... Nas suas mentes imprimirei as minhas
refeição da qual participavam aqueles que tinham fei leis, também sobre os seus corações as inscreverei...»
to o pacto. Visto que a segurança de que os homens E o resultado disso aparece logo adiante: «...e eu serei
mais precisam é a da paz com Deus, as relações com o o seu Deus, e eles serão o meu povo». O novo pacto
Ser divino eram tidas como acordos ou pactos. Era opera com tão magníficos resultados porque Deus
questão séria alguém agir de modo contrário às atua, e o homem, nesse processo, vai sendo
estipulações de um pacto humano, com a quebra de espiritualizado. Nisso é que consiste a nossa salvação.
votos e o desprezo a colunas ou montões de pedras, O alvo final da salvação é a participação na imagem
com tudo que esses sinais externos representavam. de Cristo (II Cor. 3:18), é a participação na própria
Portanto, em certo sentido, o pecado consiste em natureza divina (II Ped. 1:4).
romper o pacto com Deus, desprezando seus sinais
externos. Consideremos os conflitos causados por
causa da circuncisão (que vide), que era o sinal do ••• •••
5
PACTO, TEOLOGIA DO - PACTOS
PACTO, TEOLOGIA DO usado nas ofertas rituais, significava simbolicamente
A chamada Teologia do Pacto ou Teologia Federal a perpetuidade e a fidelidade. Essa prática parece ter
surgiu nos fins do século XVI, aparentemente de sido comum entre os povos orientais, e não somente
forma independente, entre os reformados do oeste da em Israel.
Alemanha, os puritanos ingleses e certos teólogos
escoceses. Essa teologia retrata Deus como quem
trata com os homens por meio de dois pactos, um das PACTO NOVO Ver Novo Testamento
obras e outro da graça. Sob o primeiro deles, Deus Ver também Pactos, seção VI, Novo Pacto.
teria oferecido a vida eterna aos homens, com base na
obediência. Mas esse pacto foi quebrado por Adão, e
Deus alterou o seu plano, estabelecendo o pacto da PACTOS
graça, sob o qual a salvação é dada mediante a graça Esboço:
divina, através da fé. Essa doutrina recebeu impulso I. Definição e Caracterização Geral
na Confissão de Westminster, tendo sido muito
apreciada entre certos calvinistas. Ver o artigo sobre o II. Os Pactos Enumerados
Calvinismo. Na Confissão de Westminster, o pacto da III. Os Pactos e Cristo
graça é visto em operação em três períodos latos: IV. Pacto Abraâmico
antes da lei, durante a vigência da lei, e durante o V. Pacto Davídico
ministério do evangelho. O puritanismo da Nova VI. Novo Pacto
Inglaterra enfatizava essa doutrina, encontrando I. Definlçio e Caracterização Geral. Ver sobre Pacto.
aplicação para a mesma não somente no campo da fé
religiosa, mas também em contextos sociais e H. Os Pactos Enumerados
políticos. 1. O pacto edênico (ver Gên. 1:26-28). Esse pacto
O pacto das obras passou por vários estágios de condicionava a vida do homem em seu estado de
aplicação, dentro do contexto histórico do Antigo inocência.
Testamento. Esses estágios foram com Adão, Noé, 2. O pacto adâmico(ver Gên. 3:14-19). Esse pacto
Abraão e, finalmente, com o povo de Israel, quando condicionava a vida do homem após a queda,
se tornou um pacto nacional. As partes envolvidas dando-lhe a promessa da redenção.
eram Deus e Adão (bem como os seus descendentes). 3. O pacto noaico (ver Gên. 9:1 e ss). Esse pacto
A promessa consistia na vida eterna; e a condição era estabeleceu o princípio do governo humano.
a obediência. O fracasso do pacto das obras exigiu o 4. O pacto abraâmico (ver Gên. 15:8). Esse pacto
estabelecimento de um novo pacto (que vide). Por sua diz respeito à fundação física e espiritual de Israel,
vez, o pacto da graça tem dois aspectos: há um impondo condições aos que quisessem pertencer ao
aspecto relativo a Deus, pelo que poderia ser Israel espiritual.
intitulado de pacto da redenção. Os participantes, 5. O pacto mosaico (ver Êxo. 19:25; 20:1-24:11 e
pelo lado divino, são o Pai e o Filho. A condição foi a 24:12-31:18). A lei foi dada, supostamente como
perfeita obediência do Filho, mediante o seu meio de vida, mas terminou por ser o motivo da morte
sofrimento, levando sobre si as conseqüências do e da condenção.
pecado humano. A promessa é a salvação de todos os 6. O pacto palestiniano (ver Deut. 28—30). Esse
crentes, por meio da obra expiatória de Cristo. O prometeu a restauração de Israel no tempo devido.
segundo aspecto diz respeito ao homem. Nesse caso, 7. O pacto davídico(ver II Sam. 7:8-17). Esse pacto
os lados envolvidos são Deus e o homem. A promessa estabeleceu a perpetuidade da família e do reino
é a vida eterna. A condição é a fé em Jesus Cristo, davídico, cumprido em Cristo como Rei (ver Mat. 1:1;
como a única obra requerida da parte do crente (João Luc. 1:31-33; Rom. 1:3). Isso inclui o reino milenar
6:29). (B CHA E) (ver II Sam. 7:8-17; Zac. 12:8; Luc. 1:31,33; Atos
Esta teologia contrastada com Dispensacionalismo. 15:14-17; I Cor. 15:24), que tipifica o reino eterno de
Ver o artigo sobre Dispensação, Dispensacionalismo, Cristo.
III, 1 e 2. 8. O novo pacto. Esse repousa sobre a obra
sacrificial e sacerdotal de Cristo, tendo por fito
Ver os artigos sobre Teologia Federal e Doia garantir a bênção eterna e a salvação para os homens.
Homens, Metáfora dos. Apesar dos homens não poderem produzir nada que
esse pacto exige, por si mesmos, a verdade é que ele
está condicionado à fé e à outorga da alma nas mãos
PACTO DE SAL de Cristo. O trecho de Heb. 10:19 — 12:3 é,
essencialmente, uma descrição de como esse novo
Era costume que aqueles que estabeleciam um pacto é melhor.
acordo usarem de sal em uma refeição conjunta ou em É o pacto mosaico que está em foco no trecho de
algum ritual. Ver Núm. 18:19; II Crô. 13:5. Segundo Heb. 8:6, contrastado com o novo. Fazia exigências
as evidências indicam, esse costume originou-se da impossíveis aos homens, transformando-os em escra
observação que o sal tem a capacidade de dar maior vos. Mas não era capaz de dar-lhes a força para vive
sabor aos alimentos e de preservá-los, o que pode rem à altura dessas exigências. Portanto, o pacto
simbolizar aquilo que se deve esperar dos pactos baseado na lei estava condenado ao fracasso. No novo
firmados, isto é, força, preservação, fidelidade, sem pacto foi dada a lei do Espírito de Deus que opera no
qualquer mescla com decadência ou hipocrisia. A lei coração e em que as operações íntimas do Espírito
judaica, em seu aspecto cerimonial, exigia o uso do sal garantem o cumprimento das condições. Daí vem o
em todas as ofertas de manjares; e é possível que fosse sucesso desse novo pacto.
usado sal em todos os demais tipos de oferendas. Ver
Lev. 2:13. Apesar de que certas ofertas eram UI. Os Pactos e Cristo
consumidas no altar dos holocaustos, a maioria das Cristo, sua substância (Isa. 42:6; 49:8).
oferendas tinha uma porção que era entregue aos Cristo, seu mediador (Heb. 8:6; 9:15; 12:24).
sacerdotes, para ser consumida. E o sal fazia parte Cristo, seu mensageiro (Mal. 3:1).
necessária da dieta. Disso proveio o fato que o sal, Estabelecido com:
6
PACTOS
Abraão (Gên. 15:7-18; 17:2-14; Luc. 1:72-75; israelitas são, finalmente, julgados de maneira
Atos 3:25; Gál. 3:16). definida e pública. Não precisamos mais do que
Isaque (Gên. 17:19,21; 26:3,4). lembrar a Segunda Guerra Mundial, quando os
Jacó (Gên. 28:13,14 com I Crô. 16:16,17). nazistas também perseguiram aos judeus, para ter
Israel (Êxo. 6:4; Atos 3:25). uma prova disso. Assim também acontecerá no
Davi (II Sam. 23:5; Sal. 89:3,4). futuro, conforme lemos nos trechos de Deut. 30:7;
Renovado sob o evangelho (Jer. 31:31-33; Rom. Isa. 14:1,2; Joel 3:1-9; Miq. 5:7-9; Ageu 2:22; Zac.
11:27; Heb. 8:8-10,13). 14:1-3 e Mat. 15:40,45. As hordas que invadirão a
Cumprido em Cristo (Luc. 1:68-79). Palestina, provavelmente antes do fim do século
Confirmado em Cristo (Gál. 3:17). atual, provocando assim a apocalíptica batalha de
Ratificado pelo sangue de Cristo (Heb. 9:11-14; Armagedcm. aprenderão a veracidade dessa provisão
16:23) do pacto abraâmico. Israel será libertada por uma
É um pacto de paz (Isa. 54:9,10; Eze. 34:25 ; 37:36). intervenção divina miraculosa, apesar de sabermos
Ê inalterável (Sal. 89:34; Isa. 54:10; 59:21; Gál. que essa nação será cercada por um adversário
3:17). impossível de ser derrotado de outro modo. Reco
É eterno (Sal. 111:9; Isa. 55:3; 61:8; Eze. 16:60-63; nhecendo então o caráter divino dessa estrondosa
Heb. 13:20). vitória, Israel, como nação, voltar-se-á finalmente
Todos os santos estão interessados no mesmo (Sal. para Deus e seu Cristo, a saber, o Senhor Jesus, e
25:14; 89:29-37; Heb. 8:10). tornar-se-á uma nação verdadeiramente cristã.
Os ímpios não se interessam pelo mesmo (Efé. 2:12). 7. «Na tua descendência serão abençoadas todas as
Bênçãos vinculadas ao mesmo (Isa. 56:4-7; Heb. nações da terra...» Essa é a sétima e última provisão
8 : 10- 12). do pacto abraâmico. Nessa provisão cumprir-se-á o
Deus é fiel ao mesmo (Deu. 7:9; I Reis 8:23; Nee. 1:5; grande propósito evangélico de Deus, por intermédio
Dan. 9:4). de Cristo, o Filho de Abraão (ver Gál. 3:16 e João
Deus jamais se olvida do mesmo (Sal. 105:8; 111:5; 8:56-58). Esta sétima provisão revela-nos, mais
Luc. 1:72). especificamente, o que se tencionou revelar no trecho
Lembremo-nos do mesmo (I Crô. 16:15). de Gên. 3:15, no tocante ao «descendente da mulher»,
Cautela contra nos esquecermos do mesmo (Deu. que é Jesus Cristo. O Filho de Abraão seria o
4:23). Redentor da humanidade, e isso retrata a missão do
Pleiteio-o em minhas orações (Sal. 74:20; Jer. 14:21). Messias, em sua inteireza, incluindo até mesmo o seu
Punição para quem o despreza (Heb. 10:29,30). segundo advento e todos os seus gigantescos efeitos.
Essa bênção, que é prometida aos filhos de Abraão,
IV. Pacto Abraâmlco não respeitará distinções de nacionalidade, mas
O pacto abraâmico conta com sete porções distintas antes, terá um caráter universal, atingindo todos os
(ver os trechos de Gên. 12:1-4; 13:14-17; 15:1-7 e verdadeiros regenerados. Os acontecimentos do dia de
17:1-8): Pentecoste ilustraram o começo do cumprimento
1. Abraão tornar-se-ia uma grande nação: a. issose dessa promessa (ver Atos 2:5-11). O alvo final dessa
cumpriria em sua posteridade natural, «como o pó da bênção é a total transformação dos crentes segundo a
terra» seria o seu número (ver Gên. 13:16 e João 8:37), imagem moral e metafísica de Cristo e, mediante isso,
e isso fala da nação literal de Israel, b. Teria a participação dos remidos na própria natureza
cumprimento e está sendo cumprido na sua divina, que é o alvo real do destino da humanidade
posteridade espiritual. Nesse sentido, todos os salva, bem como o mais elevado conceito que se
homens regenerados são filhos de Abraão. O seu conhece entre os homens (ver Rom. 8:29; II Cor. 3:18;
número seria «como as estrelas do céu» (ver João 8:39; II Ped. 1:4; Efé. 1:23 e 4:13).
Rom. 4:16,17; 9:7,8; Gál. 3:6,7,29). Quanto a isso, V. Pacto Davidi co
não haveria qualquer distinção de raça. c. Também O Pacto Davídico, é referido em II Sam. 7:4-17
teria cumprimento em Ismael, isto é, nas nações (vide). Suas previsões principais são as seguintes:
árabes (ver Gên. 17:18-20). 1. Teria continuação uma casa davidica, isto é,
2. A bênção de Deus estaria sobre ele e os seus posteridade e família.
descendentes: a. em sentido temporal ou material 2. Haveria um trono, isto é, autoridade real.
(ver Gên. 13:14,15,17; 15:18; 24:34,35). b. Mais 3. Haveria um reino, isto é, uma esfera de governo.
particularmente, em sentido espiritual, o que visa a 4. Esse governo e reino se estenderiam para sempre.
vida eterna, conferida aos remidos (ver Gên. 15:6; 5. A obediência era exigida; e por causa da
João 8:56; Gál. 3:13,14 e Rom. 4:1-5). desobediência, por parte dos descendentes de Davi,
3. A exaltação do próprio Abraão, porquanto sobreveio a punição divina, a linhagem real foi
haveria de ser grande e famosa figura da história — e interrompida e aparentemente até se perdeu no
isso lhe daria um grande nome. Naturalmente, mundo para sempre. Não obstante, a promessa é que
Abraão é um dos nomes universais da história ela seria permanente, conforme vemos em II Sam.
humana. 7:15. devido às misericórdias de Deus.
4. Através dele seriam dadas diversificadas bênçãos 6. Salvação universal, dos judeus e dos gentios,
para muitos (ver Gál. 3:13,14). pelo «Rei» (ver Rom. 15:12).
5. Um favor divino especial seria conferido àqueles 7. O rei legítimo foi coroado de espinhos e
que fossem bondosos para com Abraão. Por crucificado; mas ainda haverá de reinar. Essa foi
implicação, provavelmente está em vista a nação de justamente a promessa e a afirmação de Pedro, na
Israel; e, por extensão, está em vista o grupo dos passagem de Atos 2:30. Esse pacto, confirmado por
regenerados, que são filhos espirituais de Abraão (ver juramento de Deus, e renovado a Maria (ver Luc.
Gên. 12:3). 1:26-38), pelo anjo Gabriel, é imutável (ver Sal.
6. O desfavor divino se voltaria contra todos 89:30-37). O Senhor Deus ainda entregará esse trono
que amaldiçoassem a Abraão, com as implicações ao Salvador ressurrecto (ver Luc. 1:31-33; Atos
que aparecem no ponto 5, acima. A própria história 2:29-32 e 15:14-17).
do mundo confirma isso, porquanto tem acontecido, VI. Novo Pacto — Ver o artigo separado sobre o
invariavelmente, que aqueles que maltratam aos Novo Testamento.
7
PADÀ (PADÀ-ARÃ) - PÃES ASMOS
PACTOS DE WESTPHALIA batismo de adultos, e não com o batismo de infantes.
Posteriormente, os infantes batizados eram represen
Ver Weatphalla, Pacto« de. tados por um padrinho e uma madrinha, e não por
testemunhas, que tinham o dever de declarar a
dignidade do batizando. O pano de fundo histórico da
PADÀ (PADÀ-ARÀ) questão parece ter raizes em costumes judaicos
quanto ao batismo de convertidos ao judaísmo. Nesse
No hebraico, «planície de Arã* Essas palavras
apontam para a área da alta Mesopotâmia, em redor caso, as testemunhas deixavam-se ficar do lado de
de Harã, rio acima da junção entre os rios Eufrates e fora do ambiente cercado por cortinas, onde o próprio
Harbur (ver Gên. 25:20; 28:8; 31:18). As tribos batizando imergia-se na água. Eles citavam passagens
da lei de Moisés, que afirmavam as obrigações
conhecidas como os arameus (da área de Arã) foram
mencionadas, pela primeira vez, até onde vão os assumidas pelos convertidos por ocasião do batismo.
registros históricos, pelo rei assírio Salmaneser I, em Tertuliano (Sobre o Batismo-, Cap. 18) fala-nos
cerca de 1300 A.C. Em seguida, essas tribos araméias sobre as testemunhas. Sua explicação (feita em cerca
ocuparam o território de Alepo até às margens do rio de 192 D.C.), não descreve quais eram os deveres
Eufrates, e até mesmo mais além, um fato que dessas testemunhas; mas pelo menos, com base nessa
permaneceu até dentro da era cristã. circunstância, podemos supor que era uma prática
Abraão residiu nessa região antes de migrar para o que já havia sido estabelecida por algum tempo, que
sul, para a Palestina. Mais tarde, da Palestina enviou ele julgou não precisar de qualquer esclarecimento.
um servo seu para buscar noiva para Isaque, seu filho, Na história da Igreja antiga, os próprios pais da
dentre as jovens de Padã-Arã, onde tinham ficado criança atuavam como padrinhos; mas essa prática foi
alguns parentes seus. Mais tarde ainda, Jacó fugiu da proibida por ocasião do concílio de Mainz, em cerca
Palestina para Padã-Arã, sentindo-se ameaçado de de 813 D.C. Dentro da comunidade anglicana, desde
morte por seu irmão gêmeo, Esaú, e permaneceu com 1661, um menino tem dois padrinhos e uma
seu sogro, Labão, durante longo tempo, no mínimo madrinha, ao passo que uma menina ganha duas
vinte anos. Ver Gên. 25:20 quanto ao nome dado à madrinhas e um padrinho, embora isso possa incluir
região natal de Rebeca; e, em Gên. 28:2-7, Padã-Arã os próprios pais da criança. Na Igreja Católica
aparece como lugar onde residia Labão. Oséias Romana, os padrinhos são vistos como pessoas que
chamou a área de «terra da Síria» (Osé. 12:12). O contraíram um íntimo relacionamento espiritual uma
distrito em foco é uma extensa planície, circundada com a outra, com o resultado que (pelo menos em
de montanhas. alguns lugares) fica vedado o casamento entre os
afilhados dos mesmos padrinhos. Membros de ordens
religiosas não podem atuar como padrinhos, visto
PADEIRO Ver os artigos sobre Artes e ofícios e Pão. que, algumas vezes, estes são solicitados a cuidar de
questões seculares, em favor dos afilhados, o que não
é permitido para pessoas que seguem ordens
PADOM religiosas.
No hebraico, «redenção», «livramento», «resgate».
Esse foi o nome de um dos netinins (vide), os servos do
templo, que formavam a classe mais baixa em Israel, PÃES ASMOS
excetuando somente os escravos. Eles voltaram a fim
de servir, uma vez mais, no templo reconstruído, Há uma palavra hebraica e uma palavra grega que
terminado o cativeiro babilónico. Padom era um precisamos levar em conta neste verbete, a saber:
deles. Ver Esd. 2:44 e Nee. 7:47. Ele viveu por volta 1. Matstsah, «bolos sem fermento». Esse vocábulo
de 536 A.C. O nome Padom veio a designar um clã em ocorre por quarenta e duas vezes: Gên. 19:3; Éxo.
Israel. 12:8,15,17,18,20,39; 13:6,7; 23:15; 29:2,23 ; 34:18;
Lev. 2:4,5; 6:16; 7:12; 8:2,26; 23:6; Núm. 6:15,17,19;
PADRES NEGROS E IRMÃS NEGRAS 9:11; 28:17; Deu. 16:3,8,16; Jos. 5:11; Juí. 6:19-21; I
Sam. 28:24; II Reis 23:9; I Crô. 23:29; II Crô. 8:13;
São chamados assim os que seguem a regra de St° 30:13,21; 35:17; Esd. 6:22 e Eze. 45:21.
Agostinho (ver o artigo), embora seu verdadeiro título
seja Cânones e Canonesas Regulares de St° Agos 2. Ázumos, «bolos sem fermento». Essa palavra
tinho. As congregações monásticas que seguem essa grega é utilizada por nove vezes no Novo Testamento:
regra vieram à existência no fim do século XI D.C. O Mat. 26:17; Mar. 14:1,12; Luc. 22:1,7; Atos 12:3;
20:6; I Cor. 5:7,8.
termo «negro» lhes foi dado como adjetivo, devido à
cor de sua vestimenta. (E) O pão asmo, ou melhor, o bolo asmo, é apenas a
massa feita sem o emprego de fermento. Na
preparação do pão caseiro, um pouco de massa
fermentada, do pão preparado anteriormente, era
PADRINHO, MADRINHA misturado com a massa nova, para então ser levado ao
Esses são os nomes do homem e da mulher que forno. Mas o pão asmo não levava essa mistura de
representam a criança, por ocasião da cerimônia de massa já fermentada. O pão asmo, pois, é associado
seu batismo, na Igreja Católica Romana. Eles aos elementos ingeridos durante a refeição da páscoa,
comprometem-se em ser os guardiães espirituais da aquela festividade religiosa que comemorava o livra
criança. Seu dever é instruírem ativamente a criança, mento do povo de Israel da servidão no Egito.
cuidando para que ela cumpra seus votos por Somente pão sem fermento podia ser consumido
procuração, tomados durante a cerimônia de batismo. durante os sete dias que se seguiam à festa da Páscoa
Em algumas culturas, esse ofício inclui ajuda também (ver Êxo 12:15-20; 13:3-7).
quanto a outras questões, não relacionadas à fé Alguns estudiosos pensam que a festa dos pães
religiosa, de tal modo que os padrinhos tomam-se asmos (por sete dias), que se seguia à Páscoa,
uma espécie de pais secundários. No caso de batismo originalmente havia sido uma festa ligada à colheita
de adultos, as pessoas envolvidas não são padrinhos, da cevada, que, posteriormente, teria sido transmu-
mas testemunhas. De fato, foi assim que esse costume tada para a festa da Páscoa. Finalmente, a proibição
começou. Em outras palavras, tudo começou com o do uso de fermento ter-se-ia tomado mais escrupulo
PÃES ASMOS - PAFOS
samente observada. Assim, um israelita que comesse de efa de flor de farinha, ou seja, a farinha de trigo da
pão fermentado, durante aqueles dias, seria cortado, melhor qualidade. Usualmente, esse pão era servido
isto é, excluído do acampamento de Israel. aos hóspedes, mas, principalmente, aos reis (Gên.
Quando consumiam pão sem fermento, os israelitas 18:6; I Reis 4:22). Os pães eram postos sobre a mesa
estavam relembrando a precipitação com que haviam existente no Santo Lugar, um sobre o outro,
abandonado o Egito, e tudo quanto de mal o mesmo formando duas pilhas de seis pães cada uma. Os pães
representava, o que sucedeu por ocasião do êxodo, em ficavam expostos sobre essa mesa durante uma
meio a grandes prodígios divinos, desde algum tempo semana e, então, eram removidos e consumidos pelos
antes, e ainda por muito tempo depois. Naquela sacerdotes, no recinto do santuário (Lev. 24:5-9).
oportunidade, as mulheres hebréias não tinham tido Seria considerado um sacrilégio se alguém, que não
tempo para preparar a massa, esperando que a fosse sacerdote, comesse dos pães da proposição (I
mesma fermentasse; antes, tinham levado a massa Sam. 21:2,3; Mat. 12:4), porquanto esses pães eram
fermentada em separado, em suas sacolas, quando de considerados pães «sagrados» (I Sam. 21:6). Os doze
sua precipitada fuga do Egito. Mas, ao chegarem ao pães da proposição representavam as doze tribos de
deserto, enquanto viajavam em direção à Terra Israel (Lev. 24:8). Os sacerdotes coatitas estavam
Prometida, foram cozendo pão com fermento. Isso é encarregados da confecção dos pães da proposição e
o que fazem as mulheres beduínas no deserto, até os dos cuidados com os mesmos (I Crô. 9:32).
nossos próprios dias. Ao comer o «pão da amargura», Os «bolos» dos pães da proposição significam,
o povo de Israel relembrava a negra noite do Egito, e literalmente, na opinião de alguns estudiosos, «bolos
assim começava um período em que só se comia pães traspassados», porquanto eles eram perfurados,
asmos, um período comemorativo de sete dias. provavelmente para permitir um cozimento mais fácil
Simbologia dos Pães Asmos. Visto que o fermento e uniforme. Não há qualquer indício de que os pães da
representa o pecado (ver, por exemplo, I Cor. 5:8), o proposição eram cobertos por alguma peça de pano,
pão sem fermento, naturalmente, representa a ou eram postos sobre alguma peça de pano. Os pratos
ausência do pecado, ou seja, a sinceridade do crente. usados em conexão com a mesa dos pães da
Escreveu o apóstolo: «Lançai fora o velho fermento, proposição podem ter s:do usados para ali serem
para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem postos os pães; as colheres eram usadas para pôr
fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, incenso sobre os pães; a» taças serviam para o vinho
foi imolado. Por isso celebremos a festa, não com o das libações. Os pires para o incenso permitiam que
velho fermento, nem com o fermento da maldade e da uma agradável fragrância permanecesse no Lugar
malícia e, sim, com os asmos da sinceridade e da Santo durante a semana inteira. O que restasse de
verdade» (I Cor. 5:7,8). tudo, porém, era queimado sobre o altar de bronze, a
cada sábado (Lev. 24:7-9), juntamente com o que não
fosse comido dos pães da semana anterior. Os doze
PÃES DA PROPOSIÇÃO pães da proposição representavam a unidade nacional
(cf. I Reis 18:31,32; Eze. 37:16-22).
No hebraico há duas expressões diferentes, lechem
maareketh, «pães do arranjo», e lechem panim, «pães Quando o tabernáculo era transportado, durante as
da presença ou do rosto». No grego, ártoi tès jornadas dos israelitas pelo deserto, a mesa dos pães
prothéseos, «pães da exposição». No hebraico, sob da proposição era levada, juntamente com seus
uma forma ou outra, a expressão ocorre em Exo. pratos, recipientes de incenso, as taças e as galhetas
25:30; 35:13; 39:36; Núm. 4:7; I Sam. 21:6; I Reis (Núm. 4:7). Incenso puro era posto sobre a mesa,
7:58; I Crô. 9:32; 23:29; II Crô. 4:19; 13:11 e Nee. provavelmente em taças de ouro, sobre os pães
10:33. No Novo Testamento, a expressão grega (Josefo, acima).
aparece em Mat. 12:4; Mar. 2:26; Luc. 6:4 e, com Nos livros históricos do Antigo Testamento, a
leve transposição na ordem das palavras, isto é, primeira menção aos pães da proposição diz respeito a
próthesis tõn árton, em Hebreus 9:2. Davi, em Nobe. Davi e seus homens satisfizeram a
Ao falar sobre os pães da proposição, entretanto, as fome com o pão sagrado, visto estarem todos eles
Escrituras utilizam-se de quatro descrições designati cerimonialmente puros (I Sam. 21:6). Todos os
vas distintas, no Antigo Testamento: 1. «pães da evangelhos sinópticos mencionam essa ocasião (Mat.
proposição» (Exo. 25:30); 2. «doze pães» (Lev. 12:4; Mar. 2:26; Luc. 6:4). No templo de Salomão,
24:5-7); 3. «mesa da proposição» (Núm. 4:7); e4. «pão havia uma mesa especial, recoberta de ouro, onde
contínuo da proposição» (II Crô. 2:4). A primeira ficavam expostos os pães da proposição (I Reis 7:48).
dessas designações fala sobre o «pão da face» ou «pão No templo restaurado houve uma taxa com vistas ao
da presença». Há um paralelo na expressão assíria serviço da casa de Deus, incluindo o necessário para
akalpanu. A segunda dessas designações refere-se ao os pães da proposição (Nee. 10:32). Quando Tito
pão como um memorial. A terceira, ao pão como uma destruiu o templo de Jerusalém, em 70 D.C., ele levou
exposição permanente. E a quarta dessas expressões a mesa dos pães da proposição, juntamente com
como um arranjo ou arrumação, ou seja, sobre a mesa outros despojos, para a cidade de Roma. Sua gravura
onde aqueles pães ficavam expostos. Essa variedade pode ser vista no Arco de Tito, em Roma, que retrata
de nomes, aplicada aos pães da proposição, indica a o cortejo triunfal em comemoração da vitória dos
importância que esses pães tinham, dentro do romanos sobre os judeus. Ver também sobre o
cerimonial do tabernáculo e do templo de Jerusalém. Tabernáculo.
Da mesma maneira que o azeite era importante para
que o candeeiro produzisse luz, e assim como o PAFOS
incenso era elemento imprescindível para o altar do Havia duas cidades com esse mesmo nome na parte
incenso, assim também, esse terceiro móvel, a mesa, sudoeste da ilha de Chipre. Os estudiosos, para
tinha como elemento indispensável os doze pães da distingui-las, vieram a chamá-las de Velha Pafos e
proposição, dentro do simbolismo da religião revelada Nova Pafos. A Velha Pafos, atualmente assinalada
aos hebreus. pela moderna cidade de Konklia, era um povoado
Os pães da proposição eram doze e não levavam fenício e santuário religioso de grande antiguidade,
fermento em sua fórmula (o que é confirmado por situada ligeiramente para o interior da costa
Josefo, Anti. 3:6,6). Cada pão era feito de um quinto marítima. — Ficava cerca de dezesseis quilô
9
PAFOS - PAGÃOS, DESTINO DOS
metros a suleste da Nova Pafos. Essa cresceu como PAGÃOS, DESTINO DOS
porto da Velha Pafos, depois que os romanos Esboço:
anexaram ao seu império a ilha de Chipre, em 58 A.C. I. Definição
A Nova Pafos tomou-se a sede do govemo romano II. Uma Questão de Justiça
local, tendo sido reconstruída essencialmente através
de fundos enviados pelo imperador, porquanto fora III. Podemos Levar-nos por Demais a Sério
severamente danificada por um terremoto, em 15 IV. A Provisão da Descida de Cristo ao Hades
A.C. Foi então chamada Augusta, em honra ao seu V. A Provisão do Mistério da Vontade de Deus
benfeitor, tendo sido adornada com muitas magnifi- VI. A Severidade do Julgamento
centes edificações do estilo romano. I. Definlçio
Originalmente, sua fama devia-se principalmente De acordo com uma definição lata, um pagão é
ao fato de ter sido um centro da adoração a Afrodite qualquer indivíduo que não aceitou o evangelho de
(Vênus). Afrodite era a deusa grega do amor, e a Cristo e nem se deixou transformar segundo a imagem
adoração a ela era considerada questão séria no de Cristo (o que acontece com todos os regenerados),
mundo antigo. A razão de Pafos ser o centro do culto mesmo que tal pessoa viva em um país civilizado e
a Afrodite é que havia um mito associado ao nominalmente cristão, e mesmo que ela seja religiosa.
nascimento dela, que a ligava a Pafos. Os gregos eram Mas, de acordo com uma definição mais estrita, os
um povo de fértil imaginação. Contava-se, pois, que pagãos são aqueles que vivem em condições
Afrodite nascera da espuma do mar, tendo flutuado primitivas, que nunca tiveram oportunidade de ouvir
até Chipre em uma concha, que terminou aportando o evangelho cristão, o que significa que nunca se
perto de Pafos. O festival religioso mais importante da converteram e nem foram salvos. Em qualquer desses
ilha era a afrodisia, que durava três dias, durante a dois sentidos, os pagãos sãcJ a grande maioria dos
primavera. O arqueólogo De Cesnola descobriu o que seres humanos, tanto no passado quanto no presente.
pensou ser o templo de Afrodite, em Nova Pafos. Em conseqüência de seu grande número, o destino
Dispunha de um recinto de cerca de 210 m x 164 m. deles é uma questão séria para nós, merecendo a
Um segundo grande abalo sísmico afetou o lugar em nossa consideração.
cerca de 76 D.C.; houve ainda um terceiro, no século
IV D.C., o que pôs fim ao lugar como povoação de II. Uma Questão de Justiça
qualquer importância. A modema aldeia de Baffa Alguns teólogos (e também cristãos de todas as
marca o antigo lugar da Nova Pafos. denominações) pensam que o Senhor não faz injustiça
Foi em Nova Pafos que Paulo conheceu o procônsul alguma aos pecadores quando permite que eles
Sérgio Paulo (ver Atos 13:6,7,12), em sua primeira pereçam em seus pecados. Esses pensam que não há
viagem missionária. Foi ali, igualmente, que teve um qualquer problema teológico se incontáveis milhões
choque com o mágico Elimas (ver Atos 13:6-11). O de pessoas chegam a perecer e sofrer as agonias de um
■ministério de Paulo envolveu a ilha inteira, e ele inferno eterno, simplesmente porque nunca ouviram o
visitou as várias sinagogas judaicas do lugar. A evangelho. Eles apelam para o primeiro capítulo da
conversão do governador do lugar, Sérgio Paulo, epístola aos Romanos, como texto de prova de sua
naturalmente foi um grande avanço na vitória da fé opinião. Tal atitude, entretanto, é uma afronta ao
cristã na ilha. Sérgio Paulo serviu como procônsul próprio caráter de Deus. Deveríamos lembrar que o
romano entre 46 e 48 D.C. Uma inscrição com seu oposto da injustiça não é a justiça, e, sim, o amor.
nome foi descoberta em Pafos. Isso equivale a dizer que a justiça de Deus nunca
subsiste sem o acompanhamento do amor e da
misericórdia. O primeiro capítulo da epístola aos
Romanos fala sobre uma justiça nua; em outras
PAGÃO (PAGANISMO) palavras, fala sobre o que Deus poderia fazer, se ele
Essa palavra pode ser um simples sinônimo de quisesse fazê-lo. O que ele poderia fazer seria deixar
Nações (vide). Porém, em um sentido mais restrito, o os pagãos perecerem, sem qualquer testemunho; e
termo adquire reverberações religiosas e culturais ainda assim ele continuaria sendo justo. Porém, a
depreciativas. Um dos usos da palavra é aquele que começar pelo terceiro capitulo de Romanos, Paulo
declara pagãos todos quantos não seguem as grandes mostra que a justiça de Deus, afinal de contas, não é
fés monoteístas, o judaísmo, o islamismo e o uma justiça nua, ainda que, como um argumento
cristianismo. Por outro lado, os judeus podem lógico, possamos pensar a respeito dela como algo
considerar pagãos aos seguidores de todas as outras separado da provisão de amor de Deus. Porém, o
religiões; e nisso serem secundados por islamitas e próprio evangelho é a negação de uma justiça nua da
cristãos. parte de Deus. Portanto, declaro enfaticamente que
Segundo o uso cristão primitivo, um «pagão» era envolve uma questão moral e ética de vulto se os
alguém envolvido na adoração idólatra. A raiz dessa pagãos chegarem a morrer sem qualquer testemunho
palavra é latina, pagus, «país», de onde se derivou a do evangelho. Além disso, constitui uma questão
idéia de algo cru e não-civüizado, em contraste com os moral importante se não houver para eles uma
citadinos sofisticados. Porém, modernamente, esse provisão adequada, visto que Deus amou ao mundo
vocábulo quase sempre tem reflexos religiosos. Os de tal maneira, e que Cristo morreu pelos pecados de
cristãos antigos usavam o termo latino paganus, todos os homens (João 3:16; I João 2:2).
(interiorano), aludindo àqueles que se recusavam a Deus quer que todos os homens sejam salvos (I
converter-se ao cristianismo, e permaneciam em suas Tim. 2:4). Um apóstolo afirmou que Deus amou a
religiões idólatras, grega ou romana. Talvez o termo todos os homens; um outro disse que Cristo morreu
fosse usado a princípio, pelos cristãos, em um sentido por todos os homens; ainda um outro asseverou que
religioso devido ao fato de que os habitantes das áreas Deus quer que todos os homens sejam salvos. No
rurais durante muito tempo estiveram infensos à entanto, os homens resolvem que eles podem
mensagem do evangelho, pelo que foram deixados no interpretar essas declarações enfáticas como se elas
«paganismo», ao passo que, nas cidades, o cristia nada significassem. Em seguida, falam sobre uma
nismo obteve desde o começo fortes centros de justiça divina nua, que faz o evangelho fracassar em
expressão. muito, quanto aos seus propósitos, que faz o amor de
10
PAGÃOS, DESTINO DOS
Deus tornar-se ineficaz, e que leva o poder de Cristo a solução para isso. Conforme ensina Pedro, o
perder muito de sua potência de salvar. Não há algo evangelho foi pregado até mesmo àqueles que estão no
de errado com um evangelho assim? Tal evangelho hades, a fim de que possam obter uma vida
constitui más novas para os homens, e não boas abençoada no Espírito, o que envolve a própria vida
novas. O Novo Testamento tem coisas melhores a divina (ver I Pedro 4:6).
dizer do que isso, se ao menos estivermos dispostos a IV. A Provisio da Descida de Cristo ao Hades
ouvi-lo. Sem o ministério de Cristo no hades, o evangelho
Os homens dizem que Deus não está sob qualquer deixaria de atingir a fatia maior da humanidade. Ê
obrigação de salvar àqueles que nunca ouviram o sabido que o evangelho sempre foi uma mensagem
evangelho. Também dizem que Deus não tem muito localizada, desde a antiguidade até hoje.
obrigação de providenciar para que todos os homens Milhões de criaturas humanas jamais terão oportuni
ouçam o evangelho. No entanto, o Novo Testamento dade de ouvi-la. Acresça-se a isso que as pessoas que
existe por causa do fato de que Deus auto-obrigou-se a só conhecem a teologia da Igreja Católica Romana, e
interessar-se pela salvação de todos os homens. Um das igrejas protestantes e evangélicas (as quais, no
outro argumento falaz é aquele que nega o intuito Ocidente, originaram-se da Igreja Católica Romana,
universal de Deus. Alguns pensam que está tudo certo pelo menos historicamente falando) ficam surpreendi
se Deus tomou providências quanto à salvação de das quando descobrem ^ue as Igrejas Orientais (que
alguns, mas não quanto à salvação das massas. vieram dos quatro grandes patriarcados de Jerusalém,
Porém, isso contradiz as assertivas dos apóstolos, que Alexandria, Antioquia e Constantinopla, e que se
mostram claramente o intuito e a provisão universais desenvolveram nas Igrejas Ortodoxas Orientais)
de Deus. ensinam que há uma oportunidade bem maior para os
Um outro argumento falaz é aquele que se refere a homens, com resultados muito mais amplos, do que
uma punição inferior, como se isso solucionasse o se espera no mundo ocidental. Ofereço provas sobre
problema. Os pagãos que nunca ouviram o evangelho, isso no artigo intitulado Descida de Cristo ao Hades:
obviamente têm menos oportunidades; e, se têm Perspectiva Histórica e Citações Significativas. Esse
menos oportunidades, continua esse argumento, artigo demonstra como a Igreja cristã histórica tem
então é lógico que eles também receberão um encarado a missão de Cristo no hades, com muitas e
julgamento menos severo. No entanto, esse tipo de úteis citações, que ilustram a teologia envolvida.
raciocínio não concorda com todos os fatos do Paralelamente, há um artigo geral sobre a Descida de
evangelho. Devemo-nos preocupar em reconhecer as Cristo ao Hades. Orígenes afirmava que ensinar que o
verdadeiras dimensões da missão de Cristo, não juízo divino é apenas retributivo é aceitar uma
aceitando qualquer idéia que importe em falha, por teologia inferior. O trecho de I Pedro 4:6 declara
parte da missão de Cristo, mesmo que tal falha abertamente que os homens serão julgados a fim de
signifique apenas que certos homens sofrerão menos poderem viver no Espírito, conforme Deus faz. Isso
no inferno do que outros. importa em uma vida bendita, e será conseguida
Esse evangelho é pequeno demais. O tipo de através do julgamento. A leitura dos dois artigos
evangelho que segue as linhas do raciocínio acima é citados oferece a posição deste autor sobre a questão,
pequeno demais para ser o verdadeiro evangelho do a qual conta com o apoio de largos segmentos da
Novo Testamento. Esse evangelho truncado tem Igreja cristã histórica. Há um evangelho maior e mais
sobrevivido bem na teologia cristã ocidental. No amplo do que muitas pessoas supõem, cujas mentes só
entanto, sempre foi rejeitado pela Igreja oriental. conhecem a teologia chamada ocidental.
Muitas heresias consistem em visões parciais da V. A Provisào do Mistério da Vontade de Deus
verdade, embora haja aquelas que consistem em A passagem de Efésios 1:9,10 mostra-nos que
acréscimos feitos à revelação bíblica. Ora, esse Deus, finalmente, fará todas as coisas girarem em
raciocínio nos apresenta uma visão parcial da verdade torno de Cristo, formando uma unidade. Essa é a sua
do evangelho. vontade, vontade essa que envolve, finalmente, o que
m . Podemos Levar>nos por Demais a Sério ele realizará. Outrossim, essa vontade de Deus estava
Muitos crentes supõem que se nós não atingirmos oculta em mistério, tendo sido revelada por Paulo na
os perdidos, e dentro do período de vida em que eles epístola aos Efésios. Isso significa que aquilo que
viverem na terra, então eles estão automaticamente Deus tenciona fazer com todos os homens não era
condenados, sem qualquer remédio. Porém, o conhecido nos tempos do Antigo Testamento; e nem
evangelho real ensina-nos que Cristo fez provisão para mesmo no Novo Testamento, enquanto Paulo não o
os perdidos no hades, onde eles estão sendo revelou. Mas vemos, para nossa imensa satisfação,
castigados, tendo levado o evangelho até àquele lugar que a vontade de Deus abrange todos os homens, e
espiritual. Ver o artigo sobre a Descida de Cristo ao que conseguirá realizar uma vasta e universal
Hades. A citação feita abaixo, pelo teólogo batista harmonia. Ver os artigos separados sobre a Restaura
A.H. Strong, ilustra como até mesmo homens ção e sobre o Mistério da Vontade de Deus. Afirmo,
inteligentes podem levar-se por demais a sério: alicerçado sobre os ensinamentos de largos segmentos
«A questão se os pagãos nunca serão salvos, se não da Igreja cristã histórica, de que há um ministério do
lhes apresentarmos o evangelho, não é uma questão Logos nos ciclos da eternidade, que ainda jaz no
tão séria quanto aquela outra, isto é, se nós mesmos futuro; e que também ali (já no ministério celestial de
seremos salvos, se não lhes dermos o evangelho». Cristo) grandes coisas serão feitas em favor de todos
Essa declaração de Strong é curiosa, para dizermos os homens.
o mínimo. Os pagãos estão perdidos. Mas, podería Todavia, isso não fará todos os homens tornarem-se
mos nos perder, se não cumprirmos o nosso dever remidos, no sentido evangélico. Todavia, todos os que
para com os pagãos. Isso faz de nós importantes não forem salvos, serão restaurados. Os remidos serão
demais. Não é solução melhor pensarmos na tríplice aqueles poucos que participarão da natureza divina
missão de Cristo: na terra, no hades e no céu? O que (ver II Ped. 1:4), por haverem sido regenerados; e os
poderíamos fazer, com nossos minúsculos e incons restaurados serão os demais homens. Isso só poderá
tantes esforços, para evitar que milhões e milhões de redundar em bem para toda a espécie humana. De
pessoas não morram sem ouvir o evangelho? O Novo fato, pode-se esperar uma tremenda glória, em
Testamento, entretanto, assegura-nos que há uma resultado disso, porquanto será a realização do Cristo
11
PAGÃOS, DESTINO DOS - PAI
cósmico. Solicito do leitor que examine o artigo idioma que era usado pela dinastia sassânida, entre os
intitulado Restauração, onde esse evangelho completo séculos III e VII D.C., ou seja, da época da derrubada
é apresentado. Também quero relembrar o leitor, a dos partas até à conquista islâmica. A escrita pahlavi
esta altura, que a teologia ocidental tem truncado o era um alfabeto derivado de uma forma posterior do
evangelho. Mas a Igreja oriental, demonstrando aramaico ou siríaco.
possuir uma sabedoria superior, quanto a esse Esse idioma tornou-se o meio de comunicação
particular, dispõe de uma visão mais completa e quando chegou ao poder a dinastia sassânida, sob
superior daquilo que, finalmente, será realizado pela Ardashir I (cerca de 224 A.C.), uma dinastia que
missão de Cristo. continuou governando até que os islamitas conquista
Portanto, torna-se claro que a questão do destino ram a Pérsia (em 651 D.C.). Alguma literatura em
final dos pagãos tem uma solução boa, e até mesmo pahlavi sobreviveu até hoje, quase toda tendo algo a
gloriosa, embora não se possa jamais comparar com a ver com os livros sacros do zoroastrismo (vide).
glória dos remidos que, repetimos, disporão da Porções das obras chamadas Dadhastan i Meno-
própria natureza divina. Ora, isso é exatamente o que ghkhrad, «Doutrina da Sabedoria Celeste», e Ardagh
poderíamos esperar da parte do amor de Deus, pois Viraz-Namagh, «Visão de Ardagh Viraz», contêm
Deus é amor. Isso é precisamente o que poderíamos ensinamentos de Zoroastro. A vida lendária de
esperar do evangelho e da missão de Cristo. Ver o Ardashir I é relatada na obra Kamamak-i Ardashir-i
artigo separado sobre os Gentios. Papakan. Além disso, a obra chamada Denkard
aborda questões cosmológicas, além de lendas
VI. A Seriedade do Jolgamento religiosas de variegados tipos. Shapur I (241-270
O Fator Tempo. Efé. 1:9,10 fazem bastante claro D.C.) encorajou a tradução das principais obras do
que a restauração de todos os seres inteligentes, para zoroastrismo para o sânscrito e para o grego.
ser realizada, necessitará de alguns ciclos (eras) da
eternidade futura. Sendo-que o julgamento é um dos PAI
instrumentos que restaura (I Ped. 4:7), deve também No hebraico, ab, palavra que ocorre por cerca de
entrar nestes ciclos. Acredito, portanto, que o seiscentas e oitenta vezes, desde Gên. 2:24 até Mal.
julgamento ocupará um tempo bastante prolongado, 2:10. No grego, pater, que ocorre por cerca de
dentro dos ciclos da eternidade. Cada alma será trezentas e sessenta vezes, desde Mat. 2:22 até Ano.
punida o bastante para efetuar sua restauração. 14:1.
Todavia, o propósito do julgamento é operar o bem
dos julgados, não meramente puni-los. A punição é Esboço:
um elemento do julgamento, não sua totalidade. O I. Significados
fato de que o julgamento poderá durar um tempo II. Referências Bíblicas e Significados
prolongado na eternidade futura aumenta nosso III. O Pai e a Família
conceito sobre sua seriedade. Mas seria um erro nos I. Significado*
rebaixar para uma teologia inferior declarando que o A palavra grega, pater, está relacionada à raiz que
julgamento não é restaurador, afirmando que é significa «nutridor» ou «protetor». Porém, no uso
meramente punidor. Também, sendo que os restaura comum, havia muitas aplicações do vocábulo, como
dos perdem a redenção (participação na natureza ao pai de uma pessoa, ao chefe de um clã ou nação, ao
divina, II Ped. 1:4), que é o destino verdadeiro do ser cabeça espiritual dos mesmos, ou a um líder
humano, a restauração em si é um julgamento, espiritual, ou a alguém que ajudava a outrem para
considerado comparativamente com a redenção dos conseguir um significativo avanço espiritual, como o
redimidos. Neste sentido, o julgamento será eterno. originador de alguma organização, filosofia ou
Todavia, não devemos rebaixar a obça magnifica do religião; e também era usado como titulo de honra e
Restaurador que é também o Redentor. respeito, incluindo os nomes Pai, Filho e Espírito
Ver o artigo sobre Restauração, Observações Santo, da triunidade divina, ou então, Deus como o
Preliminares, especialmente pontos 3, 4 e 5. Pai dos seres humanos e de outros seres inteligentes.
D. Referendas Bíblicas e Significados
PAGIEL Consideremos os onze pontos abaixo:
No hebraico, «encontro com El (Deus)». Esse era o 1. Pai, no sentido imediato (Gên. 19:31; 44:19); 2.
nome de um filho de Ocrã. Pagiel foi chefe da tribo de um ancestral próximo ou remoto (I Reis 15:11; II Reis
Aser, ao tempo do êxodo (ver Núm. 1:13; 2:27; 7:72; 14:3; Núm. 18:2; Sal. 45:16); 3. o fundador de uma
10:26). Ele viveu em cerca de 1440 A.C. Ajudou tribo ou nação (Gên. 10:21; 17:4,5); 4. o iniciador de
Moisés a fazer o censo dos israelitas. alguma profissão ou arte (Gên. 4:20); 5. o iniciador de
uma fé, ou o principal exemplo da mesma (Rom. 4:1),
como Abraão, o pai dos fiéis; 6. o criador (Jó 38:28;
PAGODE Deus é o criador dos homens e dos anjos, e também é
A derivação dessa palavra é incerta. Talvez venha o Pai deles, segundo se vê em Isa. 63:16; Efé. 3:14,15;
do sânscrito, but, «ídolo», e kadah, «casa», ou e também é o criador das estrelas, o «pai das luzes»,
bhagavati, «divino». A palavra portuguesa pagode conforme se lê em Tia. 1:17); 7. um benfeitor (Jó
aponta para as torres ou templos religiosos do 29:16; Isa. 22:21); 8. o Messias, como o eterno
extremo Oriente. Usualmente, os pagodes têm um benfeitor e cabeça da raça espiritual, o Pai eterno
formato piramidal e são muito ornamentados. Ver o (Isa. 9:6); 9. algum grande mestre (I Sam. 10:12), ou
artigo geral intitulado Templos. líder espiritual (II Reis 2:12; 5:13); 10. um primeiro
ministro, ou conselheiro-mor (Gên. 45:8); 11. um
relacionamento íntimo, que chegue a corromper, é o
PÀHLAVI (PÀLAVD pai de alguns (Jó 17:14).
Originalmente, esse nome persa significava parto, m. OPai e a FamlUa
alguém que nascera na Pártia. A Pártia era um antigo Temos apresentado um artigo separado sobre o
reino no que atualmente é o nordeste do Irã. Essa assunto, intitulado Família. Naquele artigo transpa
palavra foi aplicada pelos persas àquele dialeto de seu recem a posição, a autoridade e os deveres de um pai,
PAI - PAIS APOSTÓLICOS
no que concerne aos seus familiares. Esses deveres são o cristianismo institucionalizado. Embora Paine
sociais, psicológicos e espirituais. Há três coisas que tenha sido acusado de ser um ateu, a sua posição
um pai deve a seus filhos: exemplo, exemplo, teológica real era o deísmo (vide).
exemplo. O pior erro que um pai pode cometer é Se muitos opunham-se a ele amargamente, outros o
conhecer os ensinos espirituais das Escrituras elogiavam efusivamente. No tocante a questões
Sagradas e deixar de transmiti-los a seus filhos. O políticas, ele foi uma figura de proa no despertamento
artigo sobre a Família expõe a história dessa unidade da oposição norte-americana aos ingleses, pois muito
fundamental da sociedade humana, incluindo o papel encorajou à revolução que resultou na independência
do pai, no seio da familia. da nação norte-americana. Seu livro, intitulado
O pai da família era o principal mestre de sua Crisis, era lido por oficiais das forças armadas,
família e precisava levar a sério os seus deveres. Suas infundindo-lhes coragem. Terminada a guerra da
instruções incluíam tanto alguma profissão como a independência, Paine passou algum tempo na
educação religiosa (Deu. 4:9; 6:7; 31:13; Pro. 22:6; Europa. Então retornou aos Estados Unidos da
Isa. 28:9). Ele exercia poder absoluto sobre seus América, e logo estava envolvido em novas controvér
familiares e os disciplinava segundo essa autoridade sias. Seu livro, The Age o f Reason, havia ganho para
(Pro. 13:24; 19:18; 22:15; 23:13). Através das ele muitos adversários. Durante alguns anos, ele viveu
autoridades constituídas, ele tinha o poder de em sua fazenda, no estado de Nova Iorque. Ali faleceu
determinar a punição capital (Deu. 31:18). Um filho e ali foi sepultado, a 8 de junho de 1809.
desobediente, por exemplo, arriscava-se a perder a Em 1819, porém, seus ossos foram levados à
própria vida. O Talmude Babilónico oferece um Inglaterra por William Cobbett. Ali, entretanto,
sumário dos deveres dos pais: circuncidar seus filhos; foi-lhe recusado o sepultamento, e seus ossos foram
remi-los; ensinar-lhes a lei; encontrar esposa para espalhados pela ilha.
eles; prover instruções quanto a alguma profissão ou Paine era amante da liberdade, e poucas coisas têm
negócio; ser um guia geral e autoridade sobre os sido mais vigorosas, nos Estados Unidos da América
filhos, mesmo depois de se casarem. do Norte, do que esse sentimento e convicção.
Os deveres das mães, as instruções apostólicas para Washington, Franklin e outras figuras norte-ameri
a família toda, e outras questões dessa natureza, canas liderantes prestaram tributo a Paine, devido a
aparecem no artigo geral sobre a Família. seus esforços em prol das colônias norte-americanas e
em favor da independência daquele país do hemisfério
norte; mas as igrejas fundamentalistas nunca o
PAI, CASA DO perdoaram.
Esse era um título conferido às famillas que havia
entre os israelitas (Jos. 22:14). Comparar com Jos. PAIS
7:14,16-18. A palavra casa indica o lugar de
residência de uma família, vinculada à palavra Pai. A Ver Familia. Ver também Paternidade (Materni
combinação significa uma propriedade da família em dade).
foco(Gên. 12:1,31; I Sam. 18:2). Porém, a expressão
também pode indicar as pessoas que residem naquela PAIS ANTENICENOS
casa (Gên. 46:31; Êxo. 12:3), no sentido mais lato,
incluindo os servos e os escravos, e não os membros O termo paia da Igrtja, é usado para designar os
imediatos da familia. A expressão indica também as primeiros líderes e escritores da Igreja pós-apostólica.
divisões principais de cada uma das doze tribos de Gregório o Grande, da Igreja Ocidental, usualmente é
Israel (Núm. 3:15,20), ou mesmo cada uma das tribos tido como o último da série (faleceu em 604). Esse
inteiras (Núm. 17:2). título envolve as conotações de ortodoxia, honra e
No Novo Testamento, a palavra «casa» pode indicar aprovação por parte da Igreja, já que estabeleceram a
um /ar (Atos 7:20), o templo de Jerusalém (João 2:16), Igreja e a levaram à maturidade, como um pai faz
ou o céu (João 14:2). Nesta última referência, com os seus filhos. Essa lista, porém, inclui nomes
aprendemos que a casa do Pai tem muitas moradas, cuja ortodoxia tem sido desafiada, usualmente porque
isto é, muitos lugares de residência. Isso posto, a sua influência foi grande e essencialmente benéfica, a
expressão alude à pluralidade dos céus e dos lugares despeito das variações dogmáticas. Os pais antenice-
celestiais, uma doutrina comum judaica e que, sem nos foram aqueles que viveram antes do concílio de
dúvida, refletia essas verdades. Comparar isso com a Nicéia (ver o artigo), em 325 A.C. Os mais antigos
expressão paulina, lugares celestiais (Efé. 1:3), acerca deles foram os pais apostólicos (ver o artigo), que
da qual examinar o NTI, nessa referência. Ver viveram na época dos apóstolos ou imediatamente
também Efé. 1:20; 2:6 e 3:10, onde o conceito é depois, como P apias, Clem ente de Roma, e que
reiterado. presumivelmente estavam em posição de falar como
autoridades, visto terem vivido tão perto das origens da
Igreja. Seguem-se então os apologistas do século II
PAI-NOSSO D .C ., que deixaram escritos como A Pregação de
Ver sobre Oraçio do Senhor. Pedro, a apologia de Quadrato, escrita em Atenas em
125 D.C., apresentada a Adriano, na esperança de
melhorar as condições da Igreja cristã. Aristides (147)
PAINE, THOMAS pertence a esse grupo, o qual se dirigiu ao imperador
Suas datas foram 1737-1809. Ele foi um escritor Antônio. Houve também Aristo de Pella, na Peréia, o
inglês e depois norte-americano que expressou vários qual procurou m ostrar que as profecias judaicas
pontos de vista radicais sobre questões políticas e tinham predito a vinda de Jesus Cristo. Justino Mártir
religiosas, que lhe causaram uma vida cercada de foi o maior dos primeiros apologistas (ver o artigo).
controvérsias. Suas idéias foram expressas em suas
obras (com títulos em inglês): Common Sense; The
Rights o f Man e The Age o f Reason. Para o PAIS APOSTÓLICOS
cristianismo, a última dessas obras é a mais Termo usado para aludir a vários lideres cristãos do
importante. Na verdade, essa obra repudia a Bíblia e final do século I D.C. até meados do século segundo,
PAIS APOSTÓLICOS - PAIXÀO
bem como aos seus escritos. Quase todos esses pais próprios evangelhos ou manipulando a tradição oral.
foram gentios, talvez discípulos dos apóstolos, ou B arnabé lança mão do evangelho canônico de
intimamente relacionados ao círculo apostólico. Seus Mateus, e Papias nos dá valiosas informações sobre
escritos caracterizavam-se pela simplicidade literária, Mateus e Marcos. Quanto a idéias completas sobre o
sinceridade e convicção religiosa. Naturalmente, tais cânon, ver o artigo sobre esse assunto.
obras não fazem parte do Novo T estam ento, mas 5. Teologia: Há alusão a várias doutrinas comuns
revelam grande interesse pelo Novo Testamento e suas ao Antigo e ao Novo T estam entos: Deus como
doutrinas, que aquelas personagens promoviam em criador, red en to r e juiz. C onhecim ento de Deus
face das perseguições, heresias e cismas. através de C risto, o qual é o Salvador e o Filho de
O term o foi cunhado por J.B . Cotelier, que Deus. Expiação por meio do sangue (I Cie. 7:4). Uma
publicou uma edição dos escritos dos pais, em Paris, antiga fórmula trinitariana em Clemente: «...como
em 1672; e a L.T. Ittig, que usou precisamente essa Deus vive, como Jesus Cristo vive, como o Espírito
expressão, em sua edição de Leipzig, desses escritos, Santo vive...» (42:3). Inspiração de obras escritas pelo
em 1699. Espírito Santo (42:3; 63:2). Inácio também escreveu
1. Escritos dos pais apostólicos: um a antiga fórm ula trin ita ria n a (M ag. 13:1),
a. E pistolas de C lem ente de Roma, a prim eira mencionando o nascimento virginal de Cristo (Efé.
escrita em Roma, em cerca de 95 D.C., e a segunda, 18:2; 19:1) e a ressurreição (Mag. 9:1). A teologia de
um serm ão, originado em Roma, em cerca de 140 C lem ente, Inácio e Policarpo repousava sobre a
D.C., ou em Alexandria, mas que não é considerada tradição apostólica; mas, nos escritos de Clemente,
de autoria genuína de Clemente. sente-se forte tradição pagã clássica, sobretudo no
b. Sete cartas de Inácio de A ntioquia, escritas tocante a fórmulas éticas. As epístolas de Inácio e II
q uando se encam inhava ao m artírio em Roma, Clemente usam terminologia gnóstica, mesmo não
d u ran te o reinado de T rajano (98-117 D .C .). São sendo obras gnósticas. O judaísm o exerceu forte
cartas dirigidas aos efésios, aos magnesianos, aos influência na epístola de Barnabé, no Didache e no
tralianos, aos romanos, aos filadelfianos, aos esmir- P astor de H erm as. A grande om issão que se nota
nenses e a Policarpo. nessas obras é qualquer compreensão adequada ou a
c. Carta de Policarpo aos filipenses (cerca de 135 expressão da doutrina da graça, de Paulo.
D.C.). 6. No tocante à Igreja p rim itiva: Os apóstolos
d. O Martírio de Policarpo (escrito em cerca de 160 estavam desaparecendo, e a autoridade repousava
D.C.). agora sobre os bispos e diáconos, cujos deveres são
e. A Didache, ou Ensino dos Doze Apóstolos, obra definidos no Novo Testamento. Temos nessas obras
de autoria composta, a começar em cerca de 90 D.C., vislumbres dos primórdios da organização eclesiásti
provavelmente escrita na Síria. ca, que transcendem a formas conhecidas no Novo
Testamento. As Escrituras do Novo Testamento, em
f. Epístola de Bamabê, de autoria desconhecida, de sua original form a canônica, são consideradas
cerca de 130 D.C. autoritárias, juntamente com o Antigo Testamento.
g. O Pastor de Hermas, de Roma, escrita em cerca Pouca atenção é dada aos estritos problemas sociais,
de 150 D.C. embora sejam ressaltados os deveres oessoais e éticos,
h. Carta de Diogneto, de cerca de 129 D.C. dos indivíduos e igrejas locais. O Didache dá grande
i. Citações de Papias, de Herápolis, cerca de 125 atenção a questões relativas à adoração, incluindo as
D.C. ordenanças, algo não m uito comum nos dem ais
escritos dos pais da Igreja. (AM C GR Z)
2. Características: São de antiga data, geralmente
ortodoxas, defendendo a fé cristã, a m aioria
endereçada a cristãos. Abordam questões práticas, as PAIS DA IGREJA, ÉTICA DOS
relações entre a Igreja e o estado, princípios éticos
gerais, as ordenanças da Igreja, com uma elevada Ver sobre Ética Patrística.
concepção da pessoa de Cristo, além do tema comum
escatológico. Foram obras escritas em grego, sem PAIXÃO, MtJSICA DA
exceção.
Cânticos solenes narram a história da paixão de
3. Contribuição: Esses escritos nos dão a primeira Cristo. Isso teve início no século VIII D.C. Aí pelo
visão extrabíblica da Igreja primitiva, de seus líderes, século XII D.C., já se desenvolvera uma forma de
organização, fé e ensinamentos. Preenchem o hiato música para ser usada durante a missa. Várias dessas
entre o Novo T estam ento e a m oral form al que se antigas melodias têm sido preservadas até os nossos
desenvolveu na Igreja, algum tem po mais tarde. próprios dias. Na Alemanha, depois da Reforma
Conferem-nos nossa primeira visão da formação do (vide), a música era separada da liturgia. Foi assim
cânon do Novo Testamento. que essa música atingiu sua mais magnificente
4. Relação para com a Bíblia e o cânon expressão na Paixão de São Mateus, de Bach.
neotestamtntário: Quase certamente, quando citam o Composições musicais de vários tipos foram criadas
Antigo Testamento, usam a Septuaginta. As citações para a Semana Santa, muitas delas partindo de peças
incluem livros que não fazem parte do cânon hebreu. e produções teatrais medievais que destacavam
Mas o material assim citado é reputado Escritura. mistérios religiosos, retratando os sofrimentos de
Quanto ao Novo Testamento, Clemente mostra que Cristo. Daí surgiram vários oratórios. Os mais
ele reconhecia uma primitiva coletânea de livros que famosos oratórios são os de Shuta, Handel, Bach,
haviam adquirido autoridade, a saber, as epistolas de Haydn e Beethoven. O Messias, de Handel, e o Monte
Paulo, Hebreus, e provavelmente, o livro de Atos. das Oliveiras, de Beethoven, são exemplos notáveis.
Inácio conhecia e usava uma coletânea das epístolas
de Paulo. Policarpo usava todas as treze epístolas
paulinas, excetuando Filemom, e talvez, também, I
Tessalonicenses e T ito. Ele aludia a epístola aos PAIXÃO, OFlCIOS DA
Efésios como Escritura (12:1). Vários dos pais da Esses ofícios são comemorações da paixão de Cristo
Igreja conheciam e usavam os evangelhos, mas nem nos Ofícios Canônicos, que foram inicialmente
sem pre sabem os’ se eles estavam usando os desenvolvidos pelos padres passionistas (cerca de 1775
14
PAIXÃO DE CRISTO - PALÁCIO
D.C.), e que atualmente são largamente usados às Tobíades, têm sido encontrados pelos arqueólogos em
sextas-feiras, durante o período da quaresma, ou em suas escavações. Herodes mandou construir um
outras ocasiões solenes. palácio na torre de Hananel, à qual reconstruiu com o
nome de Torre de Antônia (vide). E também mandou
construir um outro palácio, que recebeu o nome de
PAIXÃO DE CRISTO (Semana da Paixão) Torre de Fasael. Esta pode ser vista até hoje, em suas
ruínas. Josefo descreve como Herodes apreciava viver
A derivação do termo paixão, neste caso, é a na suntuosidade (Guerras 5:6,4). Herodes também
palavra latina passie, de pati, «sofrer». Nada tem a ver tinha palácios em Maquero, Heródium e Jericó.
com o moderno uso da palavra, sobretudo na
linguagem romântica. O termo aplica-se aos sofri II. Tipos de Palácios
mentos especiais de Cristo antes e durante a sua
crucificação. Inerente ao vocábulo há a idéia da 1. Residências Reais. As famílias reais e os
expiação assim obtida pelo Senhor. Essa palavra tem principais oficiais do governo ocupavam esses
tido seu sentido ampliado, para incluir os sofrimentos complexos. Naturalmente, eram bem fornidos com
dos mártires, que participam assim nos sofrimentos servos. Ver II Crô. 8:11; 9:11; II Reis 7:9.
de Cristo (ver Fil. 3:10; I Ped. 4:13). O Domingo da 2. Principais Edifícios Públicos. Nessa classe, os
Paixão é o quinto domingo da quaresma (vide); e a especialistas incluem o palácio de Acabe, em Jezreel
Semana da Paixão é aquela que antecede à Semana (ver I Reis 21:1); o palácio do rei assírio, em Nínive
Santa. O período de duas semanas, desde o domingo (Naum 2:6); os palácios de vários governantes
da paixão até às vésperas da páscoa, é chamado de babilónicos, na cidade de Babilônia (II Reis 20:18;
«tempo pascal». Dan. 4:4); e o palácio dos governantes persas, em
Na Literatura. A Paixão de Cristo é a longa Susã (Esd. 4:14).
quádrupla narrativa, dos evangelhos, que descreve os 3. Os Principais Edifícios de Alguma Fortaleza ou
eventos da paixão de Cristo. Cidadela. Esses ficavam na maioria das capitais das
nações: em Jerusalém (Isa. 32:14); em Samaria (Amós
3:10,11); em Damasco, como o de Ben-Hadade
(Amós 1:4); em Tiro (Isa. 23:13); na Babilônia (Isa.
PALÁCIO 25:2); em Edom (Isa. 34:13); em Gaza, Amom,
Esboço: Bozra, Asdode e Egito (Amós 1:7,12; 3:9).
I. Caracterização Geral A função de um palácio, como parte integrante de
uma fortaleza, é salientada em trechos como
II. Tipos de Palácios I Crô. 29:1,19; Nee. 1:1; 2:8; Est. 1:2. Outras
III. Características de Palácios de Vários Lugares escrituras falam sobre seus jardins, pátios, complexos
IV. Usos Figurados de edifícios, decorações suntuosas, colunas, etc. Ver
I. Caracterização Gorai Esd. 7:7,8; Can. 8:9; Eze. 25:4; Dan. 9:45.
As diversas palavras hebraicas traduzidas nas H l. Características de Palácios de Vários Lugares
linguas modernas por «palácio» também podem ser 1. Em Israel. Supõe-se que o palácio-fortaleza de
traduzidas de várias outras maneiras, como «cidade Saul, em Gibeá, era uma construção bastante
la», «fortaleza», «lugar alto», «casa», «templo»... Isso austera, um edifício de pedra, com o aspecto de um
posto, esses vocábulos não transmitem, necessaria quartel militar. O palácio de Davi em Hebrom
mente aquilo que entendemos por um «palácio», a provavelmente também era um lugar rústico. Mas o
saber, uma augusta e luxuosa residência, com muitos palácio que ele construiu em Jerusalém, que ele
aposentos, ou um lar particular de riqueza incomum. conquistou dos jebuseus e então embelezou, sem
Mas, como é óbvio, essas idéias também podem fazer dúvida, já era um palácio suntuoso. Hirão, de Tiro,
parte daqueles termos porquanto, na verdade, os enviou-lhe cedros, carpinteiros, artesãos e outros
povos antigos tinham palácios no sentido moderno da operários especializados para garantir o resultado (ver
palavra. E o significado bíblico mais comum é alguma II Sam. 5:11). O palácio de Salomão caracterizava-se
residência suntuosa de algum rei ou importante figura por considerável grandiosidade, adornado com
pública. muitas pinturas, ouro e prata, uma sala grande que
A arqueologia tem ilustrado amplamente a continha um trono de ouro, decorada com a melhor
existência e o esplendor de alguns desses palácios. E arte fenícia. Esse palácio foi chamado de casa da
assim tem ficado provado que os palácios de Israel floresta do Líbano, porque suas colunas, estruturas
diferiam em bem pouco dos palácios dos povos do teto, etc., foram construídas com cedro provenien
circunvizinhos. Alguns palácios, na realidade, eram te do Líbano (ver I Reis 7:2 ss). Dispunha de uma
fortalezas, como o palácio de Saul, em Gibeá. muralha circundante com três fileiras horizontais de
Podemos pensar que o mesmo era parecido com o pedra, reforçadas por uma fileira de traves de
palácio de Davi, que a arqueologia encontrou em madeira, como proteção contra abalos sísmicos. O
Jerusalém (ver II Sam. 5:7-9). Salomão também tinha trecho de I Reis 7:9 informa-nos que foram usadas
o seu próprio palácio, construído com a ajuda de pedras valiosas na construção. Onri e Acabe
operários estrangeiros especializados (ver I Reis construíram palácios quase equivalentes. Jeremias
7:1-12). Esse palácio era chamado de «casa da floresta aludiu a diversos segmentos desse palácio, como «casa
do Líbano», por causa das colunas de cedro que ali de inverno», «átrio da guarda», etc. (ver Jer. 36:20,22;
havia. Construído em torno de um pátio central, tinha 37:21; 38:6). Esse complexo, porém, foi destruído por
um espaçoso salão de espera, uma sala do trono Nabucodonosor. Demos outros detalhes a respeito na
(ricamente decorada com ouro), apartamentos reais, primeira seção, acima, que ilustram o que acabamos
um harém e aposentos para servos. Havia uma de dizer.
entrada que dava para o pórtico sul do templo de 2. No Egito. Todos os Faraós do Egito (de trinta
Jerusalém. dinastias) tiveram seus luxuosos palácios. As escava
Uma outra importante estrutura desse tipo era o ções arqueológicas têm comprovado amplamente a
palácio de Acabe e Jeroboão, na cidade de Samaria. natureza suntuosa daquelas edificações. Elas foram
Esse palácio, juntamente com os palácios de vários retratadas em relevos tumulares e nas mais diversas
governadores persas, em Laquis, e as residências dos obras de arte. O palácio de Meremptá, filho de
15
PALÁCIO - PALAVRA DA VERDADE
Ramsés II (cerca de 1230 A.C.), foi desenterrado. PALAL
Embora tal palácio tivesse sido destruido em um No hebraico, «Deus julga». Esse era o nome de um
incêndio, sobrou o bastante para exibir as suas dos filhos de Uzai. Ele foi contado entre aqueles que
riquezas. Continha pinturas afresco; paredes de retomaram do cativeiro babilónico e ajudaram na
tijolos; teto de madeira; uma sala do trono no fim de reconstrução das muralhas de Jerusalém (Nee. 3:25).
um átrio com colunata. Essa sala era sustentada por Sua época girou em tomo de 445 A.C.
seis gigantescas colunas de pedra calcária branca,
com cerca de 7,60 m de altura. As portas foram
confeccionadas em bronze. Por igual modo, o palácio PALANQUIM
de Amenhotepe III, em Taber, foi escavado, e objetos No hebraico, applryon. Esse vocábulo, que só se
ali encontrados terminaram em exibição em vários encontra em Can. 3:9, é de significação incerta.
museus. Um outro notável palácio é o de Amenhotepe Parece referir-se a uma espécie de cadeira transportá
IV (1385 A.C.). Foi construído em Aquetaten, em vel. A Mishnah (vide) opina que essa palavra indica
Amama. As famosas cartas de Tell el-Amama (vide) um leito nupcial, ou mesmo um coche aberto, em
foram achadas ali. O palácio de Atom era um dos ambos os casos, transportáveis. Várias traduções dão
edifícios que faziam parte de um complexo. Uma coche ou leito nupcial.
dupla muralha circundava esse palácio. A rainha
Nefertite (esposa de Atom) tinha o seu próprio Há especulações a respeito, que chegam a pensar
palácio. E também havia luxuosas residências de altos que esse artigo ilustra a pessoa de Cristo e seus ofícios;
oficiais do governo, nesse mesmo complexo. mas isso é exagerar o sentido do texto. Tal objeto foi
construído em cedro do Líbano, e, sem dúvida, era
3. Na Mesopotâmia. Os assírios e os babilônios altamente ornamentado.
dispunham de esplêndidos palácios. O palácio de
Sargão II (772 A.C.), como o de seu filho,
Senaqueribe, foram escavados, onde os arqueólogos PALAVRA DA VERDADE
encontraram evidências de sua luxuosa decoração
artística e de seu mobiliário. O palácio de Ver João 17:17.
Nabucodonosor (século VI A.C.), representou outro Q u a l é o papel da Palavra de Deus, neste trecho
triunfo arqueológico. O palácio de Nabucodonosor II bíblico? Exatamente aquilo que já pudemos encontrar
estava adornado com tijolos esmaltados, com no sexto e no oitavo versículos deste mesmo capítulo,
artísticas linhas geométricas. Motivos decorativos a saber:
favoritos, nesse palácio, eram os touros e os dragões 1. Não se trata de uma referência às Escrituras do
em alto-relevo, sobre tijolos coloridos. Um outro A.T., embora essas Escrituras contenham a «palavra»
extraordinário palácio era o de Mari, que data de aqui mencionada, posto que de forma um tanto
cerca de 1700 A.C. Trata-se de um tremendo imperfeita ou incompleta.
complexo de construções, cobrindo nada menos que 2. Por semelhante modo, não se trata de uma
61 mil metros quadrados! Ali havia apartamentos referência às Escrituras do N.T., as quais, quando
reais, edifícios administrativos e até lugares especiais Cristo proferiu tais palavras, ainda não existiam, e
para os escribas trabalharem. O palácio era adornado nem mesmo quando foi completado este quarto
com murais artisticamente trabalhados, alguns dos evangelho, ainda não havia «cânon» formal do N.T.,
quais até hoje permanecem em condições relativa apesar de que esse «cânon» já estava em seus
mente boas. Esses murais ilustram todas as fases da primeiros estágios, nos evangelhos e em algumas das
vida da época, com cenas de vida secular e religiosa. epístolas paulinas.
Também não podemos esquecer os palácios dos 3. Pelo contrário, a Palavra de Deus, neste caso, é
monarcas persas, em Persépolis, quase sempre aquela mensagem divina relativa a Jesus Cristo — a
extravagantes. Os palácios de Susã foram escavados, mensagem messiânica; a mensagem de que Cristo veio
provendo excelentes exemplos da elevada cultura da da parte do Pai, a fim de realizar uma missão
época. Neemias serviu em um desses palácios, como específica, que Cristo é o «Logos» eterno, o «Logos»
copeiro real. Ver também Dan. 8:2. encarnado, o «Logos» pós-encarnado (o que é
4. Em Creta. Imensos labirintos foram encontrados subentendido nas diversas afirmativas de Cristo de
em Cnossos, pelos arqueólogos. Nesses labirintos há que voltaria «para o Pai»). Trata-se, pois, da
muitos aposentos. Tais lugares ilustram a antiga mensagem cristã central, o «evangelho», no dizer de
cultura minoana, conferindo-nos muitos espécimes da João Gill (in loc.). Trata-se da mensagem que esse
arte antiga. «evangelho» anuncia aos homens — Jesus é o Cristo, o
Filho de Deus, e a fé em Cristo resulta na vida eterna
IV. Usos Figurados (ver João 20:30,31). Trata-se da mensagem mesma
Os filhos dos justos são comparados com palácios, que o Senhor Jesus trouxe aos homens, a qual foi
em Sal. 144:12. O próprio céu é descrito como o profetizada e pintada incompletamente nas páginas
palácio de Deus (Sal. 45:15). Para vários profetas, os do A.T., concernente à pessoa de Cristo, posterior
palácios eram símbolos dos excessos reais (ver Amós mente cristalizada no N.T. Portanto, trata-se da
1:5). Certo hino cristão alude a como Cristo deixou os mensagem essencial do N.T. referente a Cristo,
seus «palácios de marfim» para vir a este mundo de embora isso tenha sido dito antes que os documentos
misérias. Isso refere-se ao tema do segundo capítulo do N.T. houvessem sido vazados em forma escrita.
da epistola aos Filipenses, a encarnação e a
humilhação que isso significou para o Logos. E aí Aspectos da Verdade
temos um reflexo do amor de Deus. As riquezas do 1. É a verdade de Deus, que se acha em Cristo, que
céu foram derramadas sobre a humanidade, e os transforma as vidas humanas e opera tão grande
homens humildes foram beneficiados. Nos sonhos e glória.
nas visões, um palácio serve para enfocar a riqueza 2. É a verdade que milita contra a incredulidade
da entidade humana, os píncaros de seu ser e de suas dos judeus, que negavam a autoridade do Messias,
potencialidades, em contraste com uma adega ou embora eles proclamassem todo o tempo terem a
porão, que fala sobre seu passado primitivo e verdade absoluta nos ritos, cerimônias e exteriorida-
selvagem. des do A.T.
16
PALAVRA - PALAVRA DE DEUS
3. Ela milita contra toda a incredulidade humana, N.T., ainda não havia sido completada. É impossível
João 3:17 e ss. que essa expressão se refira aos documentos
Essa verdade, pois, pode tornar um homem santo, neotestamentários, em todo ou em parte, exceto que
pode santificá-lo, pode separá-lo deste mundo; e essa «palavra de Cristo» posteriormente veio a ser
assim acontece não porque se trata de uma palavra escrita, tornando-se uma coleção concreta, tomando a
meramente escrita e, sim, de uma mensagem viva, forma de nosso atual Novo Testamento. O apóstolo
soprada na alma pela atuação do Espírito Santo, que dos gentios referia-se à sua mensagem, isto é, à
a usa como instrumento, e que através dela instrui aos mensagem concernente ao Senhor Jesus Cristo.
homens, transformando-os segundo a perfeita santi^ O pregador que se transforma em um mero
dade de Deus. A Palavra de Deus escrita, em face do político, e prega doutrinas políticas, erra crassamen
fato de que descreve essa verdade de Cristo, pode te, pois ocupa-se com essas questões, em vez de
servir de instrumento que expõe ante os homens qual anunciar ao Senhor Jesus Cristo. Além disso, ficar
é a verdade de Deus; e por isso mesmo tem papel perenemente pregando «contra alguma coisa», como
preponderante na transformação da alma do crente. contra o modernismo ou o mundanismo, é ter uma
(Ver o artigo separado sobre Santificação). mensagem unilateral, não sendo tal prédica o
cumprimento da Grande Comissão, que menciona
especificamente tanto o evangelismo como o ensino de
PALAVRA DA VIDA todas as ordens do Senhor Jesus, para serem
1. A alusão não é às Escrituras do A.T., e, menos praticadas por seu povo, e tudo centralizado em torno
ainda ao Novo Testamento, que ainda não recebera a da pessoa de Cristo. Já perdeu o seu chamamento e a
forma de coletânea, pois muitos de seus livros ainda sua visão o pregador que não mais está «centralizado
não haviam sido registrados, quando Paulo escreveu em Jesus Cristo», em sua pregação, porquanto não
essas palavras. mais percebe com clareza qual seja a sua responsabili
2. Quase todas as expressões do N.T. que incluem o dade.
vocábulo «palavra», são de cunho evangélico. Isto é,
referem-se ao «evangelho», de diferentes maneiras. PALAVRA DE DEUS
(Veja-se isso amplamente ilustrado em Efé. 6:17 no
NTI, sob o titulo «A Palavra de Deus»). Em Fil. 2:16 1. Essa expressão, algumas vezes, aponta para o
pois, Paulo se refere à mensagem de salvação que ele A.T., mas nunca para o Novo Testamento, porquanto
pregava. a formação do cânon neotestamentário, só teve lugar
3. Fil. 2:16 pode ser comparado ao trecho de João após estar completo, como um documento escrito.
6:68, que se refere a «palavras de vida eterna». 2. Usualmente, nas páginas do N.T., essa
4. Podemos notar como a palavra do evangelho, expressão indica «a mensagem oral do evangelho» (ver
que traz «vida» é vinculada à metáfora da luz (Fil. I Ped. 1:25). Isso também se patenteia em Rom.
10:17.
2:15). Assim também, em João 1:4, temos a «vida»
espiritual, que se deriva da vida física, através do 3. A palavra de Cristo, também, pode indicar
processo da «iluminação» do Espírito. aquele corpo de doutrinas e de conceitos que
circundam a pessoa de Cristo, em seus ensinamentos,
5. Aprendemos que as palavras de Cristo e o em suas instruções, etc., que algumas vezes têm algo a
evangelho, produzem vida através da iluminação. ver com a moralidade e a conduta de nosso viver
6. Biologicamente, nada pode existir sem luz. Esse diário.
é um fato científico. Espiritualmente, nenhuma vida 4. Examinar as seguintes expressões paralelas:
poderia existir sem a iluminadora palavra da vida.
Esse é um fato espiritual. a. Palavra de promessa, em Rom. 9:9
b. Palavra de fé, em Rom. 10:8
7. Por essas mesmas razões é que Jesus é, c. Palavra da verdade, em Efé. 1:13
pessoalmente, intitulado «vida» (ver João 14:6) e «luz» d. Palavra de Cristo, em Col. 3:16
(ver João 1:9). e. Palavra de justiça, em Heb. 5:13
8. A «vida» aqui referida é, naturalmente, a vida f. Palavra de profecia, em II Ped. 1:19
eterna. (Ver o artigo sobre Vida Eterna). A vida g. Palavra da vida, em I João 1:1
eterna é a salvação (ver o artigo). 5. A Palavra é vivificada pelo Espírito, tomando-se
9. Se é o evangelho que traz vida aos homens, quão assim uma força impulsionadora para o bem (ver
importante é a sua propagação! (Ver Rom. 10:14). Heb. 4:12). A maioria dos usos neotestamentários é
de natureza evangelística, tendo alguma referência ao
evangelho pregado pelos apóstolos, à nova fé
PALAVRA DE CRISTO religiosa, a qual, posteriormente, assumiu forma
Rom. 10:17: Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela escrita no N.T. Algo como esse uso, provavelmente, é
palavra de Cristo. o que está em pauta no presente texto. Esse vocábulo
O sentido dessa citação de Paulo (Isa. 53), pois, é aponta para a espiritualidade, para sua criação e
que está em foco a mensagem concernente a Cristo, o desenvolvimento.
evangelho cristão, embora isso não signifique que o Ê mister esclarecer aqui que os «dois gumes» da
A.T. tenha sido completamente eliminado, porque é Espada do Espírito não são a «lei» e o «evangelho»,
claro que Paulo, com freqüência, citou esses porquanto tal interpretação é totalmente contrária à
documentos do A.T., em apoio às suas afirmativas; e mensagem do N.T. Não obstante, a lei condena, e isso
isso significa que, mui provavelmente, ele incluía, tem seu devido valor, para levar os homens a se
nessa expressão, a idéia da tradição messiânica e entregarem a Cristo.
profética do A.T. como parte integrante da «palavra A idéia de que a Palavra de Deus é uma espada foi
de Cristo». Mais especificamente ainda, Paulo aludia tomada por empréstimo da interpretação rabínica.
à mensagem do evangelho, que ele mesmo e outros Por exemplo, o comentário dos rabinos (a Midrash),
cristãos primitivos pregavam, e não às Escrituras do diz com respeito ao trecho de Sal. 45:3: «Cinge a
A.T., as quais também, e com toda a razão, poderiam espada no teu flanco, herói...» que: «Isso se refere a
ser chamadas de «palavra de Deus». Visto que, Moisés, que recebeu a Tora, que se assemelha a uma
quando o apóstolo escreveu, a coletânea sagrada do espada». (Rabino Judá, 150 D.C.). E acerca da
17
PALAVRA DO SENHOR
«espada de dois gumes», que figura em Sal. 149:6, o poder). Dessa forma, não somente as palavras, mas
comentário rabínico diz: «Essa é a Tora, escrita e também as ações que elas representam, devem ser
oral». E a versão da Septuaginta traduz o trecho de levadas em consideração. Talvez essa idéia transpare
Isa. 11:4, que diz, «...ferirá a terra com a vara de sua ça claramente em um texto bíblico como Salmos 35:20,
boca...», como «...com a espada de sua boca...» (Isso que diz: «Não é de paz que eles falam; pelo contrário,
pode ser confrontado ainda com o trecho de II Tes. tramam enganos contra os pacíficos da terra». A
2 :8 ). importância desse conceito da vinculação entre um
pensamento e seu poder, ou ação, ficará mais clara à
medida que avançarmos na discussão sobre a Palavra
PALAVRA DO SENHOR de Deus, tanto no Antigo quanto no Novo
Ver o artigo separado sobre Verbo. Testamentos.
Por detrás do conceito de palavra, dentro da B. No Grego. Os termos gregos lógos e rêma foram
expressão «Palavra do Senhor», destaca-se um ambos usados pelos tradutores da Septuaginta,
importante vocábulo hebraico e dois vocábulos quando eles encontravam a palavra hebraica dabar.
gregos, a saber, respectivamente, dabar, lógos e No entanto, no idioma grego, no decorrer dos séculos,
rêma, que teremos de considerar um por um. A nbas esses vocábulos passaram por um desenvolvimento
as palavras gregas são usadas como tradução de inteiramente independente e diferente um do outro.
dabar, na Septuaginta; e, além disso, essas palavras Assim, lógos passou por todo um leque de
gregas são usadas como sinônimos virtuais nas significações, indo desde «memória», passando por
páginas do Novo Testamento. «cômputo», «cálculo», «prestação de contas», «consi
Esboço: deração», «razão», «narrativa», «fala», e daí até
I. Os Vocábulos «palavra». Por sua vez, desde o princípio, rêma teve o
A. No Hebraico significado de «declaração», com todas as suas
B. No Grego possíveis ramificações. Esse vocábulo indicava a
II. A Palavra no Antigo Testamento palavra como algo distinto de atos, ainda que,
A. A Palavra e a Revelação paradoxalmente, preservasse em seu bojo um elemen
B. A Palavra e os Primeiros Profetas to ativo, até que os gramáticos chegaram a adotá-lo
C. A Palavra e a Profecia como o termo que significa verbo (a palavra ativa), em
distinção ao substantivo. No entanto, apesar de suas
D. A Palavra e a Lei Mosaica origens e histórias tão diversas, essas duas palavras
E. A Palavra nos Salmos foram usadas, mais ou menos, como sinônimos, tanto
III. A Palavra Dentro da Filosofia Grega na Septuaginta quanto no Novo Testamento. E a
A. A Introdução proporção ou freqüência de uso também é interessan
B. Heráclito te. Rêma é usada, na Septuaginta, quase três vezes
C. Os Filósofos Sofistas mais que lógos. Em proporções quase idênticas em
D. Platão Juizes e Rute. Daí por diante, o termo lógos começa a
predominar. £ duas vezes mais usado que rêma entre
E. Aristóteles I Samuel e Cantares; e é quase oito vezes mais
F. O Estoicismo comum, nos escritos proféticos, do que lógos. E,
G. O Helenismo então, quando chegamos ao Novo Testamento, lógos
1. Os Mistérios preserva a sua superioridade numérica, onde aparece
2. O Hermeticismo na proporção de quatro para um, em relação a rêma
H. Filo (cerca de trezentas vezes contra setenta vezes).
I. Conclusão Entretanto, no tocante à significação precisa, na
IV. A Palavra no Novo Testamento maioria dessas instâncias é muito difícil se fazer
A. Uso Geral qualquer distinção entre essas duas palavras.
1. Neutro H. A Palavra no Antigo Testamento
2. A Palavra e a Realidade A. A Palavra e a Revelação. No Antigo Testamento,
3. Negativo a palavra é o meio supremo por intermédio do qual o
4. Sentidos Específicos Criador torna conhecidos, diante de suas criaturas,
tanto a sua própria pessoa quanto a sua vontade.
B. Uso Especial Uma conseqüência disso é que a religião ensinada na
1. O Antigo Testamento Bíblia, mormente no Novo Testamento, é primaria
2. A Palavra a Indivíduos mente uma religião para ser percebida com os
3. A Palavra de Jesus ouvidos, e não para ser apreciada com os olhos. Daí
4. A Palavra Sob a Forma do Evangelho provém a importância dos atos de ouvir e aten4er, nas
5. Jesus Como a Palavra de Deus Escrituras Sagradas. Todavia, não devemos correr dai
a. Apocalipse 19:13 para pensar que a religião bíblica seja, intrinsecamen
b. I João 1:1 te, verbal ou abstrata. A Palavra divina, em distinção
à mera palavra humana, é co-extensiva com aquilo
c. João 1:1 ss. que ela afirma ou representa. E daí segue-se,
I. O« Vocábulo« logicamente, que o seu atributo mais importante é a
A. No Hebraico. A raiz dbr deu, no hebraico, tanto veracidade. «Agora, pois, ó Senhor Deus, tu mesmo és
o substantivo quanto o verbo correspondente. A Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido
etimologia é obscura, mas muitos hebraístas dizem a teu servo este bem» (II Sam. 7:28). «Santifica-os na
que, por detrás dessa raiz temos a idéia de «aquilo que verdade; a tua palavra é a verdade» (João 17:17).
está por detrás». Se essa opinião está com a razão, No sentido que acabamos de verificar, nessas duas
então devemos pensar no pano de fundo de alguma passagens citadas, uma do Antigo, e outra do Novo
questão, ou seja, o significado ou conteúdo concep Testamento, a verdade não aparece como mera idéia
tual. Desde o começo, parece que esse vocábulo abstrata, porquanto traz consigo o sentido de
hebraico envolvia tanto um elemento noético (o fidelidade e de confiabilidade. Portanto, a lição que
pensamento) quanto um elemento dinâmico (o isso nos ensina é que aquilo que ele diz é veraz. Se a
PALAVRA DO SENHOR
referência de alguma declaração divina ainda é primeiro dos profetas da nação de Israel, foi chamado
futura, então devemos pensar que certamente o que para seu ministério por Yahweh(cf. I Sam. 3 :1 » ). E,
Deus disse haverá de ter cumprimento. E isso, por sua quando ele expressou sua prontidão para ouvir,
vez, implica na força da palavra. Toda declaração foi-lhe dada uma mensagem, que deveria anunciar a
divina envolve o poder de fazer com que aquilo que foi quem de direito. O processo foi exatamente o mesmo,
dito se torne uma realidade. Exemplificando, de em I Sam. 15:10 ss, onde foi anunciada a palavra de
acordo com aquela afirmativa de Jesus, os crentes são julgamento contra Saul. Ora, Saul foi rejeitado pelo
realmente santificados mediante a Palavra de Deus. Senhor por haver rejeitado a sua palavra. Essa
Acresça-se a isso que, no Antigo Testamento, lemos tradição profética, iniciada por Samuel, o que
acerca de palavras vazias ou enganosas. Essas não também deu início às escolas de profetas (vide), foi
contam com a força do Espirito de Deus, ou, em continuada, de forma soberba por Natâ, por Elias,
outras palavras, não foram ditas por Deus. Mas, por Eliseu e por Micaías. Durante todo o período de
quando Deus fala, a palavra falada intervém vida deles, a palavra do Senhor vinha aos profetas e
ativamente nas atividades humanas. Isso posto, a era por eles declarada. E, então, visto que tal palavra
Palavra de Deus é histórica, não apenas no sentido de não era vazia, mas era impulsionada pelo poder de
que registra os acontecimentos históricos, e, sim, Deus, cumpria-se infalivelmente, sob a forma de
naquele sentido dinâmico que ela faz a história. Isso perdão, de salvação ou de juízo. Assim sendo, a
nos é ensinado desde o primeiro capítulo de Gênesis, verdadeira diferença entre um profeta e um falso
que mostra que a criação foi feita mediante a palavra profeta é que este último não tem qualquer palavra
proferida por Deus. Lemos por repetidas vezes, que, realmente, proceda de Deus, mas antes, apenas
naquele capítulo: «Disse Deus...» E essa verdade do espirito imaginativo e inventivo do homem; e os
também transparece em uma passagem como Isaías próprios acontecimentos se encarregam de demons
40:26, que alude à criação das coisas, destacando a trar a falsidade da profecia e, em conseqüência, do
criação das estrelas: «Quem criou esta? coisas? profeta. A verdadeira palavra do Senhor acontece.
Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas «Assim diz o Senhor: Eis que trarei males sobre este
bem contadas, as quais ele chama pelos seus lugar, e sobre os seus moradores, a saber, todas as
nomes...» E a história inteira do povo de Israel, no palavras do livro que leu o rei de Judá» (II Reis 22:16).
Antigo Testamento, reforça esse conceito, com muitos A palavra proferida por Deus, sob a forma de
lances. E um importante ponto, nessa conexão, que profecia, não pode haver resistência eficaz. «Assim,
não deveríamos esquecer, é que, por meio da pois, morreu (Acazias), segundo a palavra do Senhor,
Septuaginta, a força do termo hebraico dabar é que Elias falara...» (II Reis 1:17).
refletida nos termos gregos lógos e rêma. C. A Palavra e a Profecia. Aquilo que pode ser
percebido desde as primeiras profecias que se
B. A Palavra e o« Primeiro« Profetas. Visto que, encontram no Antigo Testamento, pode ser visto, já
como já vimos, a revelação de Deus, verifica-se em sua expressão clássica, nos grandes profetas
primariamente, por meio de sua palavra falada, em escritores, de Oséias e Amós em diante. No caso de
Israel desenvolveu-se o ofício ímpar dos profetas, os alguns desses profetas, eles também se utilizaram da
porta-vozes de Deus. Um profeta é alguém a quem é fórmula: «Palavra do Senhor, que foi dirigida a...»
dada a Palavra do Senhor, e então ele declara essa (Osé. 1:1). Essa fórmula, usada por diversos dos
palavra, quase impulsivamente, como se não pudesse profetas escritores, serve de epítome da compreensão
retê-la consigo. «Quando pensei: Não me lembrarei do que seja uma profecia. O que o profeta disse ou
dele e já não falarei no seu nome, então isso me foi no escreveu era precisamente aquilo que Deus lhe estava
coração como fogo ardente, encerrado nos meus dizendo, e, por seu intermédio, anunciando às
ossos; já desfaleço de sofrer, e não posso mais» (Jer. pessoas em geral. Um profeta, pois, era chamado por
20:9). Assim, não mais podendo conter-se, Jeremias Deus para o seu trabalho profético (ver Isa. 6; Jer. 1 e
abriu a boca e prorrompeu em profecias, à medida Eze. 1).
que a palavra do Senhor lhe vinha, pelo Espírito de
Deus. A palavra do Senhor era calcada sobre o profeta,
Muitos estudiosos têm afirmado, e com toda a como uma responsabilidade pessoal, de tal modo que
razão, que a Palavra de Deus, por muitas vezes, é até podia ser chamada de «peso», embora a nossa
conferida ao profeta em meio a manifestações versão portuguesa prefira traduzir isso por «senten
místicas. (Ver sobre Misticismo). Isso, sem dúvida, é ça»; ver Isa. 13:1; Eze. 12:10; Osé. 8:10; Naum 1:1;
incontestável, pois, desde os primeiros profetas de que Hab. 1:1; Zac. 9:1; 12:1; Mal. 1:1, etc. Outra
temos notícia, na Bíblia, até os maiores luminares maneira de ensinar essa responsabilidade pessoal do
entre eles, como Isaías, Jeremias e Ezequiel, eles profeta é quando o Senhor põe suas palavras na boca
sempre aparecem como homens visionários. Portanto, de um profeta. Ilustremos com o caso de Jeremias.
há um aspecto plástico na profecia, que, com «Depois estendeu o Senhor a mão, tocou-me na boca,
freqüência, faz imagens e sinais acompanharem as e me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas
predições e declarações extáticas, uma garantia extra palavras» (Jer. 1:9). E também: «Tu, pois, cinge os
de que a palavra proferida certamente terá o seu teus lombos, dispõe-te, e dize-lhes tudo quanto eu te
cumprimento, conforme foi «visto». Por outra parte, é mandar; não te espantes diante deles, para que eu não
deveras significativo que, desde o começo, em todas te infunda espanto na sua presença» (Jer. 1:17).
as revelações divinas o aspecto oral é o aspecto Noutras ocasiões, a palavra dita pelo Senhor e
predominante. O âmago da profecia é o fato de que entregue ao profeta, aparece sob a forma de um rolo
Deus fala ao profeta e através dele. De fato, isso vinha que ele precisava comer, a fim de que, digerindo-a, a
acontecendo desde os primeiros patriarcas de Israel, entendesse e transmitisse fielmente aos seus ouvintes.
conforme se vê, por exemplo, em Gên. 22:1 e 46:2. «...abre a boca, e come o que eu te dou. Então vi, e eis
Mas Moisés é que pode ser devidamente considerado que certa mão se estendia para mim, e nela se achava
o protótipo de todos os profetas que se sucederam. o rolo de um livro... Ainda me disse: Filho do homem,
«Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do come o que achares; come este rolo, vai e fala à casa
meio da sarça, o chamou, e disse: Moisés, Moisés! Ele de Israel. Então abri a boca, e ele me deu a comer o
respondeu: - Eis-me aquil» (Exo. 3:4). rolo. E me disse: Filho do homem, dá de comer ao teu
Samuel, considerado o último dos juizes e o ventre, e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te
PALAVRA DO SENHOR
dou. Eu o comi, e na boca me era doce como o mel» E o livro de Deuteronômio ainda expõe com mais
(Eze. 2:9—3:3). Ora, tudo isso garantia que a palavra clareza esse ponto de vista. Esse livro, com todo o seu
de um profeta chamado por Deus fosse certeira, de tal conteúdo, começa com estas palavras: «São estas as
modo que, quando ela se cumpria, o povo tomasse palavras que Moisés falou a todo o Israel...» (Deu.
conhecimento de que um profeta estivera entre eles. 1:1). Essas palavras ele havia recebido da parte de
«Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são Deus e as transmitiu ao povo de Israel. £ dentro desse
casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles livro de Deuteronômio que Moisés se chama de
um profeta» (Eze. 2:5). «profeta», ao dizer: «O Senhor teu Deus te suscitará
Visto que a palavra não era do profeta, mas um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante
— do Senhor, por isso mesmo ela era dotada de um a mim: a ele ouvirás» (18:15). Isso indica que as
poder irresistível, o mesmo poder com que Deus criou palavras que ele transmitia ao povo, fazia-o como um
o Universo, meramente por haver falado: «disse profeta, e essas palavras consistiam em uma revelação
Deus...» Por isso mesmo é que Deus diz que aquilo profética. A palavra estava ali mesmo, sem necessida
que ele proclamava, teria cumprimento, mesmo de de alguém rebuscá-la no mar ou em terra (ver Deu.
porque ele via todas as coisas, do principio ao fim. 30:11 ss). Em outras palavras, o que Moisés dizia era
«Quem anunciou isto desde o princípio, para que o um autêntica palavra profética, entregue e recebida.
possamos saber, antecipadamente...» (Isa. 41:26). Na Quando a lei mosaica é corretamente compreendida,
maioria das vezes, por conseguinte, na intermediação então, não a aceitamos como mero código de
dos profetas, a profecia assumia a forma de regulamentos externos. Pelo contrário, ela faz parte da
predição—de livramento, de bênção, de juízo, etc., Palavra de Deus, recebida e entregue como qualquer
porquanto o Senhor é o Deus do tempo. Essa palavra outra revelação divina. Se, tecnicamente, a lei
profética, pois, confronta o homem com uma pertence aos sacerdotes e a predição aos profetas, isso
advertência solene, com uma promessa segura ou não forma uma antítese final. Afinal, o próprio
com um mandamento incondicional, meramente por Jeremias, em cujo livro (18:18) se encontram aquelas
ser a palavra dita por Deus, que assim age com base palavras, «...porquanto não há de faltar a lei ao
em sua retidão, veracidade e graça. Em face disso, sacerdote, nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao
ninguém pode se mostrar desatento para com uma profeta...», tanto era profeta quanto era sacerdote! A
palavra dita por Deus e ficar isento de culpa. Essa é a lei é Palavra de Deus, tanto quanto as profecias
conclusão claríssima do Novo Testamento: «...como bíblicas!
escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande E. A Palavra nos Salmos. Embora o saltério nada
salvação? a qual, tendo sido anunciada inicialmente nos apresente de novidade, no tocante à nossa
pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a compreensão acerca da Palavra de Deus, contudo,
ouviram; dando Deus testemunho juntamente com enfoca certas coisas. A poesia é uma das formas
eles, por sinais, prodígios e vários milagres, e por mediante as quais Deus achou por bem nos revelar a
distribuições do Espírito Santo, segundo a sua sua vontade. A relação entre os Salmos e a criação
vontade» (Heb. 1:3,4). «Se eu não viera, nem lhes (Sal. 33) e entre os Salmos e a lei mosaica(Sal. 119) é
houvesse falado, pecado não teriam; mas agora não um ponto especialmente enfatizado. No Salmo 119,
têm desculpa do seu pecado» (João 15:22). E há «palavra» é um termo significativamente empregado
muitas declarações semelhantes a essas, no Antigo e como alternativ a p ara «lei», «m andam entos»,
no Novo Testamentos! «estatutos», «preceitos», etc. — Tal como se vê
D. A Palavra e a Lei Mosaica. Alguns eruditos têm no livro de Deuteronômio, os Salmos salientam a
feito a distinção entre a profecia e a lei. Para tanto qualidade profética intrínseca da lei. Ao assim fazer,
eles gostam de basear-se em Jeremias 18:18, onde se talvez os Salmos nos forneçam a melhor descrição
lê: «...porquanto não há de faltar a lei ao sacerdote, isolada da «palavra», na Bíblia inteira—uma descri
nem o conselho ao sábio, nem a palavra ao profeta...» ção que pode ser aplicada não meramente à lei
Mas, à luz do ensino bíblico, porém, isso é mais mosaica, como também às Sagradas Escrituras, em
fantasioso do que real. Os profetas declaram a sua inteireza. Assim, a palavra de Deus prevalece no
vontade e a palavra de Deus à sua própria época; mas céu (Sal. 119:89). Ela também é luz que nos alumia o
fazem isso dentro do contexto e à base da vontade e da caminho (vs. 105); proporciona vida (vs. 160);
palavra de Deus para o seu povo de todos os séculos, podemos confiar nela totalmente (vs. 42); podemos
isto é, a revelação da lei. Assim, se é verdade que a fazer nossa esperança depender dela (vs. 74); requer
palavra profética vem ao profeta e ao povo com de nós a obediência (vs. 57); deve ser entesourada no
grande potência e força de convicção, isso não é coração (vs. 11); é doce para o paladar espiritual dos
menos verdade no caso da lei. Afinal de contas, justos (vs. 103); e produz tanto deleite como quando
Moisés foi o primeiro e o maior de todos os profetas. A alguém encontra um rico despojo (vs. 162). A língua
lei, dada por Deus a Moisés, e, através deste, a todo o dos justos haverá de falar de acordo com a Palavra de
povo de Israel, é a palavra de Deus, tanto quanto a Deus (vs. 172). Acima de tudo, a Palavra de Deus é o
profecia. Na verdade, Deus utiliza-se de vários alvo não somente da fé e da esperança, mas também
métodos para tornar conhecida a sua vontade: lei, do amor de todos os remidos. E justamente porque a
história, poesia, profecia, evangelho—sem que al lei de Deus é a Palavra de Deus que o salmista,
guém tenha o direito de dizer que este ou aquele expressando-se de modo totalmente contrário ao que
método é mais condizente com a revelação divina do faria o legalismo, pôde clamar: «Quanto amo a tua
que qualquer outro método igualmente usado por lei! £ a minha meditação todo o dia» (Sal. 119:97)!
Deus. Por semelhante modo, tanto as duas tábuas da m . A Palavra Dentro da Filosofia Grega
lei (os dez mandamentos) quanto os preceitos e A. Introdução. £ preciso reconhecer que, paralela
estatutos do resto do Pentateuco têm igual valor como mente ao desenvolvimento da doutrina bíblica da
revelação divina: «Veio, pois, Moisés e referiu ao povo Palavra de Deus, no Antigo Testamento, dentro da
todas as palavras do Senhor e todos os estatutos; filosofia grega também estava havendo um desenvolvi
então todo o povo respondeu a uma voz, e disse: Tudo mento do lógos, posto que de natureza diversa. Isso
o que falou o Senhor, faremos» (£xo. 24:3). Nossa sucedeu assim porque Cristo Jesus é «...a verdadeira
atitude deve ser idêntica à dos israelitas, nessa luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem»
oportunidade. (João 1:9). Além disso, visto que o Novo Testamento
20
PALAVRA DO SENHOR
foi escrito tendo como pano de fundo o helenismo, é particular do ser humano. Todavia, no estoicismo
necessário que examinemos toda essa questão, posterior, o lógos foi sendo crescentemente identifica
embora de forma breve. Que significação a idéia da do com a natureza. Essa fusão da ordem racional e
«palavra» foi adquirindo no mundo helenista? O dos poderes vitais criava um entendimento panteísta.
desenvolvimento do pensamento grego, quanto a isso, G. O Helenismo
foi-se desdobrando de acordo com duas linhas 1. Os Mistérios. O vocábulo lógos encontrou um uso
mestras. O lógos é: 1. o poder noético de aquilatar as religioso especial, dentro das religiões misteriosas
coisas, ou seja, o conteúdo racional sobre as orientais. O santo lógos era considerado alguma
coisas; 2. uma realidade metafísica que se vai revelação ou doutrina sagrada. Por meio do lógos,
expandindo gradualmente, até chegar ao conceito de pois, haveria a ligação com a deidade. Em algumas
um ser cosmológico, um representante da divindade. instâncias, o lógos era o equivalente aos próprios
B. Heráclito. A principal contribuição de Heráclito mistérios, e um indivíduo que se iniciasse era
foi que ele via, no lógos, a interconexão entre homem chamado de lógos de Deus. O lógos também indicava
e homem, entre homem e Deus, e, finalmente, entre as orações como um caminho até Deus. O lógos
toda a existência e Deus. O lógos tanto é a palavra também ensinaria o indivíduo tanto a orar quanto a
como a mensagem transmitida pela palavra, o seu adorar corretamente.
conteúdo. No lógos estão embutidas tanto a fala 2. O Hermeticismo. Uma significativa característi
quanto a ação correspondente. O lógos envolve a ca, quanto a esse ponto, é que o deus Hermes
eterna ordem por detrás das coisas, como uma lei personificava o lógos. Estava em foco uma personifi
cósmica e eterna, e também a base da psique cação genuína e não uma encarnação. O princípio por
humana. Em última análise, não está em foco alguma detrás de todas as coisas, portanto, era identificado
palavra proveniente de fora do homem e, sim, a com uma divindade popular. Hermes foi escolhido
palavra imanente no homem. No entanto, estranha com base no fato de que ele era tido como o
mente, para Heráclito, o olho, e não a audição, seria o mensageiro dos deuses, o mediador, e tomava
instrumento principal de captação do lógos, por parte conhecida dos homens a vontade dos deuses. Também
do homem. havia um elemento racional, porquanto um conheci
mento secreto seria desvendado por Hermes. Hermes,
C. Os filósofo« Sofistas. Entre os pensadores à raiz dpssa idéia, personificava o princípio mais
sofistas, a palavra era concebida como algo mais amplo da vida. Todas essas idéias, inevitavelmente,
intimamente associado à mente do homem. O lógos, aproximavam-se do panteísmo. A relação entre o
para eles, era a faculdade racional que está por detrás lógos e Deus era tema de muitas especulações. Deus
da fala e do pensamento. Como tal, seria indispensá seria o pai do lógos; e o lógos procederia de Deus.
vel para a vida política e cultural de todos os povos. Uma outra linha de pensamento, entretanto, dizia
Além disso, também desempenharia um papel que o lógos é a imagem de Deus, ao passo que o
importantíssimo na pedagogia. No entanto, eles homem seria a imagem do lógos. Porém, a despeito de
afastaram-se da idéia do lógos como um princípio algumas similaridades verbais, essas idéias estão bem
dotado de proporções cósmicas, reduzindo-o a apenas pouco relacionadas à doutrina neotestamentária de
uma faculdade humana. Jesus Cristo como o Verbo ou Palavra de Deus.
D. Platio. Embora Platão seguisse as diretrizes do H. FUo. Para esse pensador judeu (vide), a palavra
pensamento dos filósofos sofistas sobre o lógos, não se lógos era muito importante. Ele a usou de muitas
mostrava defensor de um tão grande individualismo maneiras diferentes, de tal modo que é quase
para a «palavra» quanto eles. Para ele, o lógos seria impossível falar de uma doutrina do lógos, nos
muito mais do que a faculdade racional individuali escritos de Filo. A grande dificuldade que ele
zada. Antes, haveria um lógos comum, alicerçado, em enfrentava, como sucedia a todos os demais
última análise, sobre a concordância que há entre as pensadores não-cristãos, era manter harmônicas entre
palavras e as coisas. O lógos tanto derivar-se-ia das si as suas convicções judaicas e as idéias da filosofia
coisas quanto as interpretaria. Não seria meramente grega. Assim, os eruditos modernos estão divididos,
uma opinião, um ponto de vista particular. Visto que sem saber se, para Filo, o lógos era um conceito
combinaria o pensamento, a palavra e a coisa assim predominantemente grego ou predominantemente
concebida e expressa, seria mais amplo que a judaico. Até onde vai o lógos divino, parece que as
faculdade individual da razão, sendo uma realidade raízes desse conceito são judaicas, mas que o
maior do que essa faculdade. desenvolvimento do mesmo foi tremendamente
E. Aristóteles. Aristóteles manifestou entender a influenciado pelo pensamento grego.
dupla natureza do lógos: seria palavra e compreensão, O lógos de Deus, ou lógos divino, não seria o
por um lado e, por outro lado, o resultado da palavra próprio Deus. Seria apenas uma das obras de Deus.
e da compreensão. O indivíduo proferiria a palavra; Porém, também seria a imagem de Deus e o agente da
mas, em certo sentido, suas ações também seriam criação, o que já importa em uma contradição, pois
controladas pela palavra. E, visto que o lógos uma criatura não pode ser o criador. Filo identificava
conduziria à ação, a «palavra» poderia ser considera o lógos com o cosmos noético. Mas serviria de
da como a origem das virtudes peculiares ao ser intermediário entre o Deus transcendental e o
humano. homem. No lógos estariam embutidos os lógoi, ou
F. O Estoicismo. Os filósofos estóicos voltaram à seja, as idéias individuais. O próprio lógos, entretan
idéia do lógos como um princípio cósmico. No lógos, to, era mais do que um mero conceito. Filo
pois, expressar-se-ia a ordem racional do mundo, a personificava o lógos. Ele dizia que o lógos é filho de
razão cósmica. Assim sendo, o lógos poderia ser Deus. A herança judaica de Filo, entretanto,
tomado diretamente como Deus, ou Zeus. O lógos resguardou-o tanto de deificar o lógos quanto de
seria o germe (no grego, lógos spermatikós), que se conceber um imanentismo total de Deus, o que já
desdobraria na forma de formas orgânicas ou seria equivalente ao panteísmo. De fato, o lógos, para
inorgânicas. E também seria o lógos orthós, a lei, que ele, parecia um elo conveniente entre o Deus criador e
transmitiria conhecimento aos homens. Todas as o mundo que ele criou.
coisas procederiam do lógos, e retomariam ao lógos. I. Conclusio. Visto que o Novo Testamento
O lógos geral tomaria forma consciente no lógos apresenta Jesus Cristo como o Verbo encarnado de
21
PALAVRA DO SENHOR
Deus, sentimo-nos fortemente tentados a buscar Testamento, o termo lógos pode também revestir-se
paralelos desse conceito bíblico no mundo grego ou de sentidos particulares, derivados de sua significação
helenista, como se as idéias gregas fossem as fontes de básica. Assim sendo, dar um lógos é prestar contas,
onde João extraiu o seu entendimento acerca do lógos ou a alguém, ou, mais comumente, nas páginas da
ou Verbo de Deus. Fazer tal coisa, entretanto, é Bíblia, a Deus (Mat. 12:36; Rom. 14:12). Lógos é
ignorar as diferenças decisivas entre o pensamento vocábulo que também pode significar «base» ou
grego e o pensamento bíblico e neotestamentário. «razão», conforme se vê, por exemplo, em Atos 10:29.
Poderíamos sumariar essas diferenças quanto a Tema ou assunto, parecem ser os sentidos da palavra
quatro pontos principais: 1. a compreensão grega lógos, em Atos 8:21. Do ponto de vista espiritual, o
sobre o lógos é racional e intelectual; a compreensão conceito de prestação de contas é o mais importante
bíblica é teológica; 2. o pensamento grego chegava a dentro dessa categoria.
dividir o lógos único em muitos lógor, o Novo B. Uso Especial
Testamento, por sua parte, reconhece somente um 1. O Antigo Testamento. Em um grupo inteiro de
Lógos, o Mediador entre Deus e o homem, Jesus versículos do Novo Testamento, o verbo légo, «dizer»,
Cristo; 3. para os gregos, o lógos deveria ser ou os substantivos lógos/rêma, «palavra», referem-se
concebido inteiramente fora da consideração de ou à palavra de revelação do Antigo Testamento ou ao
tempo; mas Jesus Cristo, o Verbo eterno, assumiu próprio Antigo Testamento, na qualidade de Palavra
singularidade histórica quando se encarnou, ou seja, escrita de Deus. Um interessante ponto a observar,
veio viver dentro do tempo; 4. para os gregos, o lógos nessas referências bíblicas, é que, algumas vezes, a
tenderia para ser identificado com o mundo, de tal «palavra» é descrita como a de algum autor humano e
maneira que o mundo seria o filho de Deus; mas o outras vezes, como a do Cristo preexistente e outras
Lógos da Bíblia é o Filho unigénito do Pai, um ser vezes, como a de Deus. Além disso, também seu uso é
divino-humano distinto da criação, conhecido entre os indefinido, «foi dito», ou expressão similar. E mesmo
homens como Jesus de Nazaré. À luz dessas quatro quando a ênfase recai sobre o orador ou escritor
distinções fundamentais, aqueles paralelos óbvios, humano, não resta dúvida nenhuma de que o mesmo
dos quais falamos acima, são reduzidos à insignificân é um porta-voz de Deus, de tal modo que embora o
cia material. homem esteja falando, Deus é o originador real das
IV. A Palavra no Novo Testamento palavras ditas, no Antigo Testamento. A «palavra»,
A. Uso Geral sem importar se alguma declaração isolada, se um
1. Neutro. Embora, no Novo Testamento, lógos/ livro inteiro, é palavra tanto do homem quanto de
rêma seja um importante vocábulo teológico, também Deus. O conceito que o Novo Testamento faz do
pode ser usado em um sentido geral. Em algumas Antigo Testamento, como também o conceito que o
instâncias, o sentido geral pode ter uma significação Novo Testamento faz de si mesmo e de sua
teológica toda própria; mas, em outros casos, essa mensagem, é a noção bíblica fundamental da Palavra
significação reveste-se de um caráter inteiramente do Senhor. Se a expressão «palavra do Senhor» (no
neutro. Assim sendo, esse termo, no singular ou no grego, lógos toü kuríou) nunca é empregada no Novo
plural, pode denotar aquilo que já ocorreu, no Testamento, nessa conexão, para isso parece haver
passado (Mar. 7:29). O ato de falar também pode ser uma razão especial. Pois, no Novo Testamento, kúrios
distinguido do ato de escrever uma carta (II Cor. é um título do próprio Jesus Cristo, pelo que
10:10). Mas, é digno de nota que a palavra escrita expressões como «palavra do Senhor» ou «palavras do
também transmite a palavra (vs. 11). Além disso, o Senhor» facilmente poderiam passar por expressões
vocábulo «palavra» pode indicar uma notícia ou um dominicais. E mesmo quando estão sendo feitas
rumor, ou mesmo a narrativa contida em um livro citações do Antigo Testamento, essas expressões não
(Atos 1:1). E nem mesmo é necessário que haja um são usadas como uma fórmula introdutória, embora a
discurso inteligível; pois as palavras podem ser palavra grega kúrios, com um verbo, possa ser usada
proferidas em língua extática, tanto quanto com o dentro das próprias passagens citadas, conforme se
entendimento (I Cor. 14:19). Qualquer coisa que se vê, por exemplo, em Romanos 12:19. A maneira geral
diga pode ser lógos ou rêma. como o Novo Testamento se refere ao Antigo
2. A Palavra e a Realidade. Um interessante uso do Testamento, como a Palavra de Deus, deixa claro,
vocábulo lógos é aquele que indica uma palavra vazia, além de qualquer dúvida possível que, tanto a
em distinção à realidade ou a uma ação. Isso é algo mensagem do Antigo Testamento como também os
teologicamente impossível, quando a referência é à versículos individuais são reputados como divinamen
palavra divina. Porém, a fala humana pode consistir te dados e divinamente autoritários. O quanto isso é
apenas em fala, destituída de qualquer substância ou plenamente endossado pode ser visto com base no fato
realidade. A linguagem jactanciosa da sabedoria de que, em alguns poucos versículos do Novo
humana cabe dentro dessa categoria (ver I Coríntios Testamento é difícil dizer se há ali uma referência à
1—4). Por igual modo, a profissão de amor, sem as palavra do Antigo Testamento ou à mensagem do
demonstrações correspondentes (ver I João 3:18; cf. Novo Testamento (cf. Heb. 4:12 e Efé. 6:17).
Tia. 2:14 ss). 2. A Palavra a indivíduos. No Novo Testamento, tal
3. No Mau Sentido. As palavras podem ser não como no Antigo Testamento, encontram-se exemplos
somente vazias e sem poder, mas também maldosas. de pessoas a quem foi dada alguma palavra ou
O trecho de Efésios 4:29 alude a uma linguagem mensagem da parte de Deus. Assim sendo, a rêma de
«torpe»; I Tessalonicenses 2:5 menciona palavras de Deus veio a Simeão(ver Luc. 2:29). Outro tanto é dito
«bajulação»; II Timóteo 2:17 compara as palavras a respeito de João Batista (ver Luc. 3:2). Entretanto é
ditas pelos heréticos a uma excrescência maligna; II significativo que, embora os apóstolos tivessem sido
Pedro 2:3 fala sobre «palavras fictícias»; e Tiago 3:2 especificamente encarregados do ministério de prega
reconhece solenemente que quase todas as pessoas ção, essa fórmula comum do Antigo Testamento não
ofendem em suas palavras. Paulo, em I Coríntios 1—4 aparece mais depois do evangelho de João. Conforme
nada de bom tem a dizer sobre as palavras ditadas diz o próprio Novo Testamento, a lei e os profetas
pela sabedoria humana, porquanto nelas não há nem vigoraram até João (Mat. 11:13). Se, dali por diante,
verdade e nem poder. não lemos mais que a palavra de Deus veio a alguém,
4. Sentidos Específicos. Nas páginas do Novo isso não significa, naturalmente, que a palavra de
22
PALAVRA DO SENHOR
Deus foi retirada, e nem que toda a maneira da qualquer fórmula única de citação; mas, a despeito de
revelação divina tenha sido drasticamente alterada. A toda a variedade, manifesta-se a mais plena confiança
razão é outra; é que agora a Palavra de Deus veio, em de que as afirmações citadas são autênticas, tendo
toda a sua plenitude, na pessoa de Jesus Cristo. Falar, sido fielmente transmitidas (ver Luc. 1:1-4; Atos
desde então, a uma palavra de Deus que tivesse vindo, 1:21,22). De fato, em algumas instâncias, até o
por exemplo, para Paulo ou para Pedro, seria falar de aramaico original foi preservado (como em Mar. 5:41
uma maneira inteiramente contrária à mensagem do e 7:34), embora nos evangelhos escritos, originalmen
Novo Testamento. Agora, já foi proferida a palavra te, em grego, dirigidos, principalmente, a leitores de
definitiva. Disso dá testemunho o trecho de Hebreus fala grega. Por conseguinte, quando alguma declara
1:1,2: «Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e ção do Senhor Jesus aparece em qualquer situação,
de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes ela tem toda a força e a autoridade de um clamor
últimos dias falou pelo Filho, a quem constituiu profético, como «Assim diz o Senhor».
herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez o A autoridade das declarações do Senhor Jesus
universo». Todos os demais são comissionados para também foi sentida por seus ouvintes originais. Se
pregarem a palavra de Deus, e quaisquer orientações alguns se sentiram ofendidos, e outros julgaram-no
especiais que precisam receber, lhes são dadas por louco, chegando até a tentar impedi-lo disto ou
meio de uma visão, de um anjo, do Espírito Santo, ou, daquilo, a razão dessas atitudes é que ficaram
então, da parte do próprio Senhor Jesus. perturbados por sua palavra, que lhes parecia
É mister salientar que a fórmula profética do ameaçadora (cf. Mat. 15:12; João 10:20). Mas, todos
Antigo Testamento, que se faz ausente em todo o os ouvintes de Jesus parecem ter reconhecido, com
Novo Testamento, depois do evangelho de João, espanto, que ele falava com toda autoridade, e não
também aplica-se ao Senhor Jesus. Assim, embora como os escribas (Mat. 7:28). As palavras de Deus
ninguém tenha proferido a Palavra com tanta produziam sobre as pessoas o mesmo impacto que a
autoridade, nunca lemos no Novo Testamento que a sua presença e pessoa. Por isso mesmo, Jesus disse
palavra veio a Ele, como, por exemplo, veio a João. que se envergonhar de suas palavras era envergonhar-
Uma voz manifestou-se por ocasião de seu batismo, e se dele, e vice-versa (ver Mar. 8:38). As palavras
também por ocasião da transfiguração, mas essa voz proferidas por Jesus têm um poder dinâmico e
dirigiu-se ao povo, e não ao próprio Senhor Jesus. autoritário. Tal como a palavra do Antigo Testamen
Essa voz era uma confirmação e não uma comissão. to, elas são eficazes. Por meio da palavra de Jesus, os
Visto que, sem a menor dúvida, Jesus é o Profeta enfermos eram curados, os pecadores arrependidos
supremo, maior até mesmo do que Moisés, só eram perdoados, os mortos eram ressuscitados. E,
podemos chegar à conclusão de que essa fórmula podemos acrescentar, eram e são. Pois, «passará o
veterotestamentária foi evitada, no caso dele, de modo céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão
proposital. A relação entre Jesus e Deus Pai, e (Mat. 24:35).
também entre Jesus e a Palavra de Deus transcende
tão completamente o que poderia ser dito sobre os A palavra de Deus realiza aquilo que ela diz (cf.
profetas que, falar sobre alguma palavra dada a Jesus Gên. 1:1 ss). Da mesma forma que a palavra do
seria totalmente impróprio. Conforme ver-se-á mais Antigo Testamento (ver Isa. 40:8), as palavras ditas
adiante, o âmago da mensagem do Novo Testamento por Jesus são eternas e potentes. O apóstolo João, à
é que a Palavra de Deus veio com Jesus, e não a ele ou sua maneira, frisa a mesma verdade. No evangelho de
por intermédio dele. Sua identidade com Deus e com João, as palavras de Jesus são palavras de vida eterna
a revelação de Deus situa todo o conceito da Palavra (ver João 6:68). Elas são «espírito e vida» (João 6:63).
de Deus debaixo de uma nova luz, inteiramente Têm a mesma autoridade que as palavras já
inédita e sem igual, «...o Verbo era Deus... e o Verbo registradas nas Escrituras Sagradas (João 2:22 e
sfrfez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de 5:47). Se os homens tiverem de ser salvos, terão de
verdade, e vimos a sua glória, glória como do aceitar as palavras de Jesus (João 12:48), guardando-
unigénito do Pai» (João 1:1,14). as (João 8:51) e permanecendo nelas (João 8:31).
Além disso, essas palavras não eram apenas do
3. A Palavra de Jesus. Embora não se possa ler, no homem Jesus, porquanto ele estava escudado no
Novo Testamento, que a palavra de Deus veio a Jesus, mandamento de Deus Pai, no tocante ao que ele
conforme é dito sobre profetas e outros homens de deveria dizer e falar...... .. a palavra que estais ouvindo
Deus, o Novo Testamento, com freqüência, refere-se à não é minha, mas do Pai que me enviou» (João 14:24).
prédica ou às declarações de Jesus, chamando-as de Por isso mesmo, rejeitar a Jesus e às suas palavras
«palavra de Deus». Assim, Jesus aparece como sujeita o homem à condenação. E será a palavra
pregador da palavra (ver Mar. 2:2). Jesus mencionou proferida por Jesus, se tiver sido rejeitada, que julgará
aqueles que dão ouvidos à palavra de Deus e a põe em aos incrédulos, no julgamento final. «Quem me rejeita
prática (Luc. 8:21). Na parábola do semeador, a e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a
semente é a palavra (Mat. 13:18-23). Com muito própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no
maior freqüência, o Novo Testamento registrou aquilo último dia» (João 12:48).
que Jesus disse, como declarações de le tu i (cf. Mar. 4. A Palavra sob a Forma do Evangelho. Os
10:22). Nessa conexão, são usados os vocábulos vocábulos gregos lógos e rêma não somente são
gregos lógos e rêma. E, quando chegamos ao livro de aplicados às palavras proferidas pelo Senhor Jesus.
Atos e às epístolas, ocorrem fórmulas como «a palavra Esses vocábulos também podem denotar a mensagem
(rêma) do Senhor» (Atos 11:16), «palavra (lógos) do inteira do evangelho, isto é, tudo quanto Jesus «disse»
Senhor» (I Tes. 4:15), e «palavras do Senhor Jesus» e «fez». Nesse sentido, encontramos especialmente
(Atos 20:35). £ digno de atenção que quando Paulo três expressões, a saber: «o lógos de Deus», «o lógos do
apelou para certa declaração, proveniente do Senhor, Senhor» e «o lógos». As expressões mais comuns
em I Cor. 7:10, esse apóstolo considerou que essa dentre essas três, são a primeira e a terceira. Mas, em
declaração se revestia de autoridade conclusiva, e isso várias passagens do livro de Atos (como em Atos 6:4),
em relação com sua própria opinião apostólica, como o lógos não é alguma declaração de Jesus, mas antes,
alguém que também tinha o Espírito de Cristo. é a mensagem a respeito dele. E, se o Antigo
A Igreja primitiva, como é óbvio, sentia-se em Testamento também pode ser mencionado nessa
liberdade para citar essas afirmações, sem aderir a conexão, isso deve-se ao fato de que a palavra e as
23
PALAVRA DO SENHOR
realizações de Jesus foram um cumprimento do próprio Senhor Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus,
Antigo Testamento (cf. Atos 17:11). que se fez homem, por ocasião de sua encarnação. A
A incumbência dos apóstolos, como ministros da Palavra é Jesus, e Jesus é a Palavra. Consideremos três
Palavra, consistia em falar, proclamar, ensinar e passagens-chaves, nessa conexão:
magnificar a palavra de Deus (Atos 4:29; 13:5,48; A. Apocalipse 19:13. Essa equiparação aparece em
18:11). As epistolas paulinas oferecem amplas Apocalipse 19:13, onde «...o Verbo de Deus...» é o
evidências do mesmo uso (cf. I Tes. 1:6; II Tes. 3:1; Itítulo designativo do Cristo exaltado e glorificado.
Cor. 14:36; II Tim. 2:9; Col. 1:25 ss e Efé. 1:13). E aEsse é o nome desconhecido, mas também já
«palavra», referida em I Pedro 1:23 e Tiago 1:21, conhecido. Essa é a base do exercício da espada, por
envolve a mesma significação. Um ponto digíio de parte do Jesus glorificado. O Cristo que tinha esse
atenção é que a palavra grega rêma raramente ocorre título é o mesmo Cristo que morreu e ressuscitou, e
com esse sentido, embora haja boas instâncias em agora está vivo para todo o sempre. Por igual modo, o
Hebreus 6:5; I Pedro 1:25 e Efésios 5:26. Diz I Pedro título «o Verbo (Palavra) de Deus» não aparece
1:25: «...a palavra do Senhor, porém, permanece isolado do evangelho cristão, porquanto, nesse mesmo
eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi livro de Apocalipse, esse título já havia aparecido em
evangelizada». conexão com o testemunho cristão, e o Senhor Jesus é
Sob a forma de evangelho, a «palavra» possui os a Testemunha fiel e verdadeira. Nenhuma explicação
atributos e a autoridade de uma palavra definida, particular é dada ali a esse título; mas, no contexto
enviada por Deus. Essa palavra é a palavra da cruz, geral tal explicação é perfeitamente desnecessária, tal
da reconciliação, da graça, da vida e da verdade. como quando aparece o titulo de «Cordeiro», aplicado
Quando os apóstolos pregavam a palavra, faziam-no a Jesus, nenhuma explicação se fez necessária. Ficam
somente como ministros de Cristo. Por essa razão, implícitas a deidade e a eternidade do Verbo de Deus,
Paulo não ousava corrompê-la. Isso garantia a sua Jesus Cristo (cf. Apo. 19:16).
autenticidade. A palavra também é a fonte de B. I Joio 1:1. Há uma equiparação similar, em I
autoridade e de poder. Homens podem contestar as João 1:1, embora, ali, com o Jesus encarnado. Assim,
palavras de outros homens; mas ninguém pode a Palavra da vida foi vista, ouvida e tocada pelos
contradizer a Palavra de Deus. Sendo palavra de apóstolos. Intrinsecamente, a referência poderia ser à
Deus, ela reveste-se de um poder vital. A palavra é o mensagem do evangelho; mas os verbos usados
poder de Deus (I Cor. 1:18). Ela não está presa (II sugerem a pessoa viva de Jesus Cristo, o Verbo que
Tim. 2:9). Ela faz a sua própria obra, cortando como tomou carne. Essa idéia tem o apoio das palavras «O
uma espada (Heb. 4:12; cf. Efé. 6:17, onde o original que era desde o princípio», nesse primeiro versículo da
grego diz rêma), regenerando (I Ped. 1:23) e epístola. E também das palavras «com o Pai», no
reconciliando (II Cor. 5:19). Na qualidade de palavra segundo versículo, sem falarmos na similaridade geral
da vida ou da salvação, a palavra não meramente faz dessa passagem com o versículo de abertura do
menção a essas coisas, mas também transmite vida e evangelho de João. Todo encontro com a Palavra é um
salvação. encontro com a Pessoa de Jesus Cristo.
Parte da eficácia da palavra de Deus consiste em C. Joio 1:1 ss. A equiparação mais plena e
impulsionar as pessoas para que reajam favoravel definitiva deve ser vista com os primeiros versículos do
mente a ela, quando a ouvem. Na verdade, a palavra evangelho de João. Essa equiparação nos conduz
de Deus pode ser aceita ou rejeitada. Pode ser diretamente à esfera da cristologia, de tal maneira
guardada ou negligenciada. Assim, o verbo «receber» que, aqui, apenas algumas observações devem ser
é usado, com freqüência, em combinação com o suficientes. Em primeiro lugar, João exprimiu a
substantivo lógos (ver Atos 8:14; I Tes. 1:6; Tia. convicção neotestamentária comum de que Jesus é o
1:21). Está em pauta muito mais do que a apreensão coração da Palavra; e, além disso, ele levou ainda
ou o assentimento intelectuais. Ouvir a palavra é mais adiante a questão. Não somente Jesus é a
confiar nela (ver Atos 4:4). Por isso mesmo, a palavra Palavra, ou Verbo; mas também o Verbo é eterno e
de Deus opera nos crentes (I Tes. 2:13). «...a palavra preexistente, juntamente com Deus. E Jesus, por
de Deus, a qual, com efeito, está operando conseguinte, é o Verbo encarnado, que veio participar
eficazmente em vós, os que credes», diz essa da história humana. Isso posto, aquilo que é dito nas
referência bíblica. Além disso, a obediência também Escrituras sobre o Senhor Jesus, é dito, igualmente,
faz parte do ato de recebimento da palavra de Deus sobre o Verbo de Deus. E essa é a grande razão que
(cf. Tia. 1:22; I Ped. 2:7,8). Mediante a sua explica por que motivo o termo «lógos» não reaparece
obediência, ou a sua desobediência, um homem pode mais no evangelho de João, depois que termina o
glorificar ao Senhor (ver Atos 13:48), ou pode prólogo. Por semelhante modo, é por isso que nunca
blasfemar (Tito 2:5) da palavra do Senhor. Em tudo se lê que Jesus falou a palavra. Jesus é a própria
isso, — também o papel desempenhado pelo Espírito Palavra de Deus, e a Palavra de Deus é Jesus. Em
Santo reveste-se de suprema importância; porém, isso segundo lugar, a declaração sobre o Verbo, no
já nos conduziria a um aspecto diferente do assunto, evangelho de João, não consiste em alguma abstração
que é impossível cobrirmos no presente contexto. ou personificação especulativa. O autor sagrado não
5. Jesus como a Palavra de Deus. A «palavra» é a parte de um conceito teórico sobre o lógos, que, em
Palavra de Deus. Ela inclui tudo aquilo quanto Jesus seguida, ele tivesse transferido para a pessoa de Jesus
disse e ensinou. Mas também inclui a doutrina a de Nazaré. Bem pelo contrário, João começa por
respeito de Jesus, e tudo quanto está ligado a essa Jesus, ouve a palavra de Deus, em toda a sua
doutrina, ou seja, todos os aspectos da doutrina plenitude, na pessoa Dele, aprende a sua glória, e
cristã. Nessa qualidade, trata-se de Deus que fala aos assim sente-se compelido a afirmar que Jesus é o
homens por intermédio do Espírito de Deus. A Verbo, o Filho unigénito de Deus, e por conseguinte,
«palavra» é a palavra de Deus (compreendida tanto o próprio Deus. E isso porque, em Jesus Cristo, o
como o objetivo quanto como um genitivo subjetivo), Verbo tomou-se carne. Em terceiro lugar, o versículo
continuamente pregada ou anunciada. O ponto para inicial do evangelho de João parece ser uma alusão
onde convergem todas essas diferentes linhas de intencional à passagem de Gênesis 1:1. O ponto
pensamento, bem como o clímax da doutrina bíblica salientado é que, no começo mesmo de Gênesis, Deus
sobre a Palavra de Deus, é que a Palavra de Deus é o acha-se presente, a «falar» por meio do Verbo, através
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PALAVRA DO SENHOR - PALESTINA
de quem todas as coisas foram feitas. £ como se João PALESTINA
estivesse interpretando, cristologicamente, o trecho de
Gênesis 1:1 ss. Dessa forma, João foi capaz até Esboço
mesmo de sugerir a idéia da nova criação, de natureza I. Nome
espiritual, por intermédio do Verbo, Jesus Cristo. A II. Geografia e Topografia
ênfase sobre os aspectos pessoal e histórico da Palavra III. Esboço de Informes Históricos
ou Verbo de Deus, no evangelho de João, naturalmen IV. Clima, Flora e Fauna
te, ultrapassa àquilo que diz o primeiro capítulo de V. A Ocupação Humana
Gênesis. Mas, dessa maneira, consegue-se salientar a VI. Suprimento de Água e Agricultura
inter-relação existente entre a palavra de Deus, em VII. Regiões e Divisões
ambos os Testamentos, e a base final da autoridade e
do poder da palavra, na qualidade de Palavra de VIII. Arqueologia da Palestina
Deus. Finalmente, em quarto lugar, a declaração do IX. Usos Figurados
evangelho de João não tem paralelo, a despeito de X. Mapas Ilustrativos
todas as conexões sugeridas e de todas as influências I. Nome
que os estudiosos tenham procurado encontrar, como, O nome Palestina figura por quatro vezes na Bíblia:
por exemplo, do lógos helenista, da sabedoria judaica £xo. 15:13; Isa. 14:29,31 e Joel 3:4. Essa designação
e da legislação rabínica, sobre os conceitos do Novo geográfica é de origem bastante tardia. Deriva-se dos
Testamento. filisteus (peleste), um povo não-semita, proveniente
Em face do exposto, percebe-se que o verdadeiro da região do mar Egeu, que veio a estabelecer-se em
intuito do autor do evangelho de João é a grande número ao longo das planícies costeiras do
apresentação do Verbo ou Palavra de Deus. Mas, em Mediterrâneo oriental, durante o reinado de Ramsés
última análise, para ele, como para todos os demais III, do Egito (cerca de 1190 A.C.). Essa região mais
apóstolos que escreveram, essa é a apresentação do tarde veio a ser conhecida pelo nome de Filistia (ver
próprio Jesus, encarnado e ressurrecto, em toda a sua Joel 3:14), pelo que esses dois termos, Palestina e
graça e verdade. Jesus Cristo é o eterno Verbo de Filistia, sem dúvida, são cognatos. Daí derivou-se
Deus, o próprio Deus. Ver também o artigo intitulado também o adjetivo pátrio, filisteus, como translitera-
Lógos. ção de uma palavra grega. Até onde é possível sondar,
foi Heródoto, grande historiador do passado, quem
primeiro empregou essa tradução grega. No latim, a
PALAVRA QUE EXPRIME CONHECIMENTO região chamava-se Palestina. Porém, foi somente já
Trata-se de alguma palavra ou expressão que no século II D.C., que o nome Palestina tomou-se a
declara a verdade sobre alguma circunstância, em designação oficial da área; mas até mesmo então
contraste com declarações como «creio», «suponho», também indicava a planície a sudoeste da Fenícia. E
«penso», etc. Para exemplificar, se eu disser: «O daí, passou finalmente a designar a totalidade da
mundo é redondo», terei dito uma palavra que região que hoje se conhece como Palestina. O nome
exprime conhecimento, quando falei em «redondo», mais antigo dessa região era terra de Canaã. Esse
porquanto nisso há uma inegável verdade. (F) último nome parece derivar-se do vocábulo humano
que significa «pertencente à terra da púrpura
vermelha». Esse termo continuou sendo usado até o
século XIV A.C., sem dúvida como referência aos
PALAVRAS DO NOVO TESTAMENTO cananeus ou fenícios, que comerciavam com corantes
Palavra de Cristo (ver Rom. 10:17 no NTI quanto a púrpura-avermelhado, fabricados a partir das con
notas expositivas sobre a expressão «palavra de chas do Murex, das costas do Mediterrâneo. Tanto as
Cristo». Ver também sobre «palavra do Senhor», isto cartas de Tell el-Amama (vide) quanto os egípcios
é, de Cristo, em Atos 13:38,44,49; 16:32 e 19:10, além chamavam por esse nome toda a região a oeste da
de I Tes. 1:8 e 4:15). A expressão «palavra de Deus» é Síria.
de emprego mais freqüente, mas, nas páginas do N.T.
usualmente significa a mesma coisa que «palavra de Um outro nome eminentemente bíblico é Terra
Cristo». (Ver exemplos disso em Atos 4:31; 6:2; 11:1; Santa (ver Zac. 2:10), embora somente nessa
18:11; 19:20; I Cor. 14:36; II Tim. 2:9). Outras referência apareça o nome, em todo o Antigo
expressões também são usadas, como «palavra da Testamento. Talvez esse seja o seu apelativo mais
promessa» (ver Rom. 9:9), «palavra de reconciliação» comum, hoje em dia. Nos tempos helenísticos, Judéia
(ver II Cor. 5:19), «palavra da verdade» (ver II Cor. era usado para indicar a área inteira, visto que para
6:7), «palavra da vida» (ver Fil. 2:16), ou simplesmente ali voltaram os judeus (mormente da tribo de Judá),
«palavra» (ver Fil. 1:14). Todas essas variegadas após o cativeiro babilónico, ao passo que outros
referências aludem à «mensagem acerca de Cristo», o hebreus, em virtude do anterior cativeiro assírio, há
«evangelho», o qual, por ter vindo da parte de Deus, é muito haviam sido espalhados entre nações pagãs,
a mensagem de esperança aos homens. Trata-se da perdendo para sempre a sua identidade. Na verdade,
palavra do «Senhor», que o declara Senhor; e é a as reivindicações de judeus modernos de que
palavra «da vida» e «da verdade», incluindo os muitos procedem de outras tribos, que não as de Judá,
ensinamentos apostólicos que surgiram em redor da Benjamim e Levi, não podem ser comprovadas. Um
mensagem evangelística. Nessas expressões bíblicas, outro nome para essa região é «Terra de Israel», ou,
entretanto, não há qualquer alusão às Escrituras do mais simplesmente ainda, «Israel» (ver I Sam. 13:19).
Antigo ou do Novo Testamento, embora contenham Finalmente, em Heb. 11:9, lemos sobre a «terra da
elas, em forma escrita, a mensagem falada. Pelo promessa». Costumamos falar sobre a «Terra Prome
contrário, em Col. 3:16, temos uma alusão à tida», que se tornou símbolo de todas as coisas e
mensagem dada por Deus, e que os apóstolos e outros aspirações boas e celestes. O título «Terra Santa» foi
cristãos primitivos saíram a pregar oralmente. muito comum durante a Idade Média.
Posteriormente, essa «palavra» tomou forma escrita II. Geografia e Topografia
no N.T., apesar do que, nenhuma das referências à £ motivo de admiração verificar quão pequeno é o
«palavra», no próprio N.T., sob qualquer de seus território da Palestina, levando-se em conta o
outros títulos, alude a esse fato. gigantesco impacto histórico e cultural que o mesmo
PALESTINA
tem exercido sobre a civilização. Em números do nível do mar. E o mar Morto, propriamente dito, é
redondos, a Palestina tem ISO km de norte a sul, e uns bastante profundo; seu fundo fica a 396 m abaixo de
70 km de largura, em média. Conforme é fácil de sua superfície, tornando esse o lugar mais baixo à face
calcular, a Palestina é bem menor que o estado do planeta. Na verdade, tudo isso faz parte da falha
brasileiro de São Paulo. Seu comprimento, de norte a geológica que percorre daí até o mar Vermelho e entra
sul, tornou-se proverbial dentro da frase «de Dã a na parte oriental da África.
Berseba», lugares esses que assinalavam seus extremos 4. A Palestina Oriental. Temos aí um extenso platô,
norte e sul, respectivamente. Foi durante os governos a maior parte do qual mantém-se a uma altitude de
de Davi e Salomão que Israel atingiu suas maiores mais de 900 m. Essa área incluía localidades como
proporções territoriais. Então as suas fronteiras Basã, Gileade e Moabe. Está dividida por quatro rios:
estendiam-se até às margens do Eufrates e até às o Iarmuque, o Jaboque, o Arnom e o Zerede. Os dois
fronteiras com o Egito, embora isso incluísse povos primeiros são tributários do Jordão. Mas o Arnom e o
tributários. Na época, a população não ultrapassaria Zerede deságuam diretamente no mar Morto. Ao sul
a casa dos dois milhões de habitantes, incluindo do mar Morto fica a Arabá, rica em cobre, que se
somente os israelitas; e talvez chegasse aos três espraia até Eziom-Geber, no extremo norte do mar
milhões, se fossem contados os povos tributários. Vermelho.
A Palestina é dividida em duas partes iguais, de Elevações de Alguns Picos e Locais Notáveis:
norte a sul, por uma linha de colinas que, na verdade,
consiste na continuação dos montes do Líbano, da Monte Hermom, 3050 m; monte Catarina, no
Síria-Líbano. No seu extremo norte, essa cadeia Sinai, 2460 m; Jebel Mousa, no Sinai, 2145 m; Jebel
montanhosa tem alguns poucos picos que se et-Tyh, no Sinai, 1312 m; Jebel er-Ramah, 915 m;
aproximam dos mil metros de altitude. Ao descer Hebrom, 824 m; monte das Oliveiras, 774
para o sul, já no distrito da Galiléia, essa serra é m; Safete, 762 m; monte Gerizim, 732 m; Damasco,
intercalada por várias planícies. Entre essas está a 667 m; monte Tabor, 533 m; passo de Zefate, 438 m;
famosa planície de Esdrelom, ou Jezreel. Também há deserto de et-Tyh, 427 m; Nazaré, 250 m; planície de
colinas, mais baixas, mais ao sul, já dentro dos Esdrelom, 140 m; lago de Tiberiades, 26 m abaixo do
distritos da Judéia e da Iduméia. Em Jerusalém, a nível do mar; a Arabá, em Cades, 28 m abaixo do
altitude é de cerca de 760 m, pois a cidade encontra-se nível do mar; o mar Morto, 375 m abaixo do nível do
em um platô, no alto das colinas da região. Também mar; o fundo do mar Morto, 771 m abaixo do nível do
há colinas na área de Samaria, embora mais baixas, mar.
com vales espaçosos. Da extremidade norte das m . Esboço de Informes Históricos
colinas de Samaria, segue um espigão na direção Para relatar tudo, teríamos de começar pela
noroeste, até à planície costeira de Sarom, com seu pré-história e entrar no relato bíblico inteiro.
ponto culminante no monte Carmelo, cujo sopé é Portanto, damos aqui apenas um breve sumário, em
banhado pelas águas do mar Mediterrâneo. A parte forma de esboço.
oriental da Palestina consiste em um longo platô, que
vai desde o monte Hermom, ao norte, até o monte Por razões geográficas, a terra da Palestina servia
Hor, em Edom, ao sul. como caminho obrigatório para os povos que
passavam do ocidente para o sul; e as forças militares,
Quatro Areai Distintas em expansão, naturalmente escolhiam essa rota.
1. A Planície Marítima. Essa planície vai desde o Assim sendo, grande parte de sua história é uma
rio Leontes, ao norte, a oito quilômetros ao norte de interminável crônica de invasões e conquistas. No
Tiro, até o deserto para além de Gaza, ao sul. O entanto, foi em meio a essa situação sempre perigosa
monte Carmelo, entretanto, interrompe esse vale. A que o propósito divino levou a Palestina a desempe
partir do Carmelo para o sul, até Jope, a região é nhar um papel tão crucial na história. Por muitas e
conhecida como planície de Sarom; e então como muitas vezes, os habitantes da Palestina, além do
Sefelá, desde Jope até o ribeiro de Gaza, na direção fluxo de fronteiras causado por conflitos intensos, têm
sul. Mais ao sul ainda, fica a área conhecida como sido sujeitados às imposições de potências estrangei
planície da Filístia. ras, algumas distantes dos estreitos limites da região.
2. Cadeia Central. Conforme foi dito acima, as Como característica geral, podemos afirmar que o
montanhas do Líbano internam-se Palestina adentro; princípio da cidade-estado conferiu alguma estabili
e nos distritos da Galiléia, da Samaria e da Judéia há dade à área.
extensões mais baixas dessa cadeia. A Alta Galiléia 1. Antes da Idade do Bronze. Não se sabe muita
dispõe de certo número de colinas, algumas das quais coisa sobre esses tempos, apesar das investigações
entre 600 e 900 m de altura, ou mesmo pouco mais, e arqueológicas. Contudo, desde os tempos neolíticos
outras chegando até os 1200 m de altitude. Abaixo houve ali povoados representando um período cru e de
damos as altitudes dos principais montes e colinas da baixa cultura. O décimo capítulo do livro de Gênesis
Palestina. A Baixa Galiléia forma um triângulo informa-nos que Canaã descendia de Cão; e esse é o
malfeito, limitado pelo mar da Galiléia e pelo rio primeiro informe bíblico acerca da Palestina (ou terra
Jordão, até Bete-Seã, a leste, e pela planície de de Canaã). Canaã era filho de Sidom, o que nos
Esdrelom, a sudeste. Colinas mais baixas são mostra que havia aí sangue fenício. A Tabela das
encontradas ali. O monte Tabor chega a 562 m, e o Nações mostra-nos como esses povos espalharam-se.
monte Gilboa a 502 m de altitude. A planície de 2. Idade do Bronze Antiga (começando em 3000
Esdrelom intercepta a região central. Ao sul dessa A.C.). Esse período foi marcado por sucessivas
área há muitos wadis (vide). O monte Gerizim chega invasões de povos semíticos, que ocuparam a região
aos 869 m de altura, onde ficava a cidade de Samaria. da Palestina. Em cerca de 1900 A.C. (mas outros
De Betei a Hebrom, na Judéia, a serra continua e pensam em data bem posterior), Abraão representa
chega à altura de 670 m. Betei está a uma altitude ria uma migração semítica para essa área. Tutmés
média de 792 m; Belém, a 778 m; Hebrom, a 927 m. III, do Egito (cerca de 1480, ou um pouco mais
3. O Vale do Rio Jordão. Na verdade, esse vale é tarde), veio a dominar a área. Esse domínio foi
uma profunda e longa garganta. Desde a altitude de interrompido pelas invasões dos nômades habiru da
518 m, no monte Hermom, vai descendo rapidamente Mesopotamia, como também pelos poderes dominan
na direção do mar Morto, que já fica a 375 m abaixo tes sucessivos dos amorreus, vindos do Líbano, e dos
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hititas, da Anatólia. A XIX Dinastia egípcia terras do império macedônico, após a sua morte. Foi
(1304-1181 A.C.), porém, reconquistou a Palestina. ele quem expulsou os persas da Palestina, a qual,
Os filisteus, um dos «povos do mar» (do mar Egeu, depois, passou a ser governada pelos ptolomeus, do
sem dúvida), tomaram conta das costas marítimas da Egito (até 198 A.C.), e, então, pelos selêucidas, da
Palestina. Os arameus estabeleceram-se na Palestina, Mesopotâmia e do sul da Anatólia.
vindos do deserto da Síria, que lhe fica ao norte. E o 9. A Revolta dos Macabeus. Em 168 A.C., Judas
povo de Israel, ao libertar-se da servidão egípcia, fez Macabeu (ver o artigo intitulado Hasmoneanos) e seus
uma grande excursão na Palestina, tornando-se então irmãos revoltaram-se contra o poder dos selêucidas.
o povo predominante. Os estudiosos datam a Antíoco IV Epifânio havia tentado helenizar o
conquista israelita entre 1500 e 1225 A.C., o mais judaísmo, e isso criou mais agitação do que alguém
tardar. seria capaz de controlar. A liberdade religiosa dos
3. O Período dos Juizes. Esse período tem sido judeus foi obtida, após muito derramamento de
datado entre 1400 A.C. até 1150 A.C., o mais tardar. sangue, em 164 A.C. Mas essa independência foi
Se essa data posterior for aceita, isso já nos leva à mantida apenas pelo espaço de setenta e nove anos.
Idade do Ferro. Na época, os ganhos territoriais de 10. A Era Romana. As coisas desintegraram-se
Israel foram alternadamente desafiados e confirma perigosamente sob os governantes macabeus, na
dos, enquanto os israelitas procuravam dominar os Judéia. É que os macabeus haviam perdido a visão
povos por eles conquistados, mas que se rebelavam. A dos propósitos originais da revolução. E os romanos
fé dos hebreus consolidou-se em torno da adoração a intervieram para impor a sua ordem. Pompeu ocupou
Yahweh, embora com períodos de apostasia. Emergiu a Palestina, em 63 A.C., e esta tomou-se um
daí uma notável fé monoteista, que estava destinada a protetorado romano.
exercer efeitos duradouros sobre a espiritualidade do 11. Herodes, o Grande. Ele era um rei vassalo
mundo. nativo, responsável diante do senado romano pela sua
4. Os Reis de Israel. O período dos juizes cedeu administração. Foi em sua época que nasceu o Senhor
lugar aos reis, a começar por Saul. A monarquia Jesus. E foi por causa de suas ameaças que a santa
adquiriu maior ímpeto com Davi e atingiu seu ponto família precisou descer ao Egito. Ele reinou sobre a
culminante de glória com Salomão. A partir de então Judéia de 37 A.C. a 4 D.C.
as datas podem ser fixadas com exatidão. A era áurea 12. Os Procuradores Romanos. Dificuldades ad
de Salomão fica entre 961 e 922 A.C. Nesse tempo, ministrativas logo tomaram necessário Roma gover
Israel atingiu o máximo de sua extensão territorial, e nar a Palestina mediante governadores ou procurado
Salomão desfrutou de um período pacífico e próspero, res. Isso significava que, doravante, Roma estaria
que ele usou para impressionar os países em derredor. governando a região diretamente. Os judeus, entre
No entanto, após a sua morte, a unidade da nação tanto, ressentiam-se diante de qualquer forma de
viu-se quebrada, e o norte e o sul tomaram-se países govemo estrangeiro, sobretudo diante de um govemo
distintos: Israel e Judá. Os artigos sobre Israel e Judá direto. E a revolta, que se ocultava nos corações de
expõem detalhes completos sobre essa questão e sobre todos os judeus, acabou vinda à tona. Os zelotes
& história de ambas essas nações, até o final das (vide), desempenharam um papel liderante nisso.
mesmas. O tempo dos reis cobre as Idades do Ferro I, 13. A Destruição do Ano 70 D.C. Finalmente, foi
II e III. Depois disso, temos o período helenístico. mister que os romanos fizessem intervenção militar, a
5. O Cativeiro Assírio. A nação do norte, Israel fim de controlar a rebelião. Sob as ordens de Tito (que
(cuja capital era Samaria), chegou ao seu fim quando mais tarde veio a tomar-se imperador de Roma), os
os assírios, sob as ordens de Sargão II, destruíram exércitos romanos invadiram Jerusalém, executaram
praticamente tudo ali, levando os sobreviventes para a a milhares de judeus e arrasaram até o nível do chão o
Assíria. Isso ocorreu em cerca de 721 A.C. Esse foi o magnificente templo de Herodes.
fim da história do reino do norte, Israel. A moderna 14. Destruição e Deportação. Os rebeldes judeus
nação de Israel compõe-se, essencialmente de Judá, conseguiram recuperar-se, e a rebelião ferveu de
embora com vestígios de todas as outras tribos. novo. Dessa vez, o imperador reinante, Adriano,
Senaqueribe, sucessor de Sargão, assaltou e reduziu precisou pôr fim definitivo à questão. Isso ocorreu em
Judá; mas aos babilônios coube terminar a tarefa. Ver 132 D.C. Então ele começou a esvaziar a Palestina de
o artigo Cativeiro Assírio. judeus, dando início à Grande Dispersão, que se
6. O Cativeiro Babilónico. Nabucodonosor, rei da estendeu de 135 a 1920 D.C., quase dezoito séculos! A
Babilônia, destruiu tudo quanto pôde em Judá, e Jerusalém foi dado um nome pagão, Aelia Capitolina,
deportou os sobreviventes para a Babilônia. Isso teve e tomou-se uma colônia romana. Aos judeus foi
lugar em cerca de 587 A.C. Ver o artigo intitulado proibido de se aproximarem da cidade, exceto em
Cativeiro Babilónico. suas peregrinações. Os centros judaicos de erudição e
7. O Retomo de Judá a Jerusalém. Um pequeno cultura foram transferidos p ara lugares como a
remanescente voltou a Jerusalém, começando cerca de Galiléia, a Babilônia, a colonia norte-africana de
cinqüenta anos depois da deportação para a Cairuan e a Península Ibérica.
Babilônia. Isso sucedeu quando a Pérsia controlava a 15. Influência Bizantina-Cristã. Quando o império
região, pois os babilônios tinham sido derrotados romano metamorfoseou-se no império bizantino, e
definitivamente pelos persas. Ciro, o Grande, depois que Constantinopla tomou-se a sua nova
conquistara e anexara ao seu império tanto a capital (cristã), em 330 D.C., automaticamente a
Babilônia quanto a Palestina, ao seu já gigantesco Palestina transformou-se em uma importante provín
império, em cerca de 539 A.C. Nos dias de Esdras e cia cristã-bizantina, uma espécie de posto avançado
Neemias, a cidade de Jerusalém foi reconstruída e a da Igreja Católica Oriental. Os patriarcados cristãos
adoração a Yahweh foi renovada. Um novo templo que então dominavam o cristianismo organizado eram
(mas bem mais modesto que o de Salomão) veio à Roma, Alexandria, Constantinopla, Antioquia e
existência, e o judaísmo conseguiu reequilibrar-se, Jerusalém. Somente Roma ficava na parte ocidental
após ter sido quase extinto. do império; os outros quatro centros ficavam na
8. Alexandre, o Grande, e os Monarcas Selêucidas. porção desse império.
Alexandre conquistou grande parte do mundo então 16. Assaltos Persas. Em 614 D.C., Jerusalém foi
conhecido e deixou que seus generais governassem as saqueada pelos persas, e quase todos os habitantes da
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cidade foram deportados. Mas o imperador Heráclio estranha em tudo isso foi que os exércitos árabes
encabeçou uma cruzada contra os persas e restaurou mostraram ser aliados denodados e eficazes dos
na Palestina o domínio cristão, em 628 D.C. britânicos, nessas campanhas militares. Naturalmen
17. Assaltos Islâmicos. A Palestina não conseguia te, eles pensavam que a Palestina ficaria nas mãos
descansar da guerra, e as invasões árabes (de mistura deles. Os ingleses passaram a exercer o controle sobre
com várias restaurações, mediante as diversas a Palestina mediante um mandato da Liga das
cruzadas; vide) se processaram durante um longo Nações. E os conflitos árabe-judeus começaram
período. O califa Ornar (‘Umar) I conseguiu tomar terminada a Primeira Grande Guerra. A divisão das
Jerusalém, em 638 D.C., e a Palestina e a Síria terras palestinas entre árabes e judeus não deixou
viram-se assim separadas por longos séculos do ninguém feliz, provocando a contenda.
governo do império romano-bizantino. Foi edificada 22. Imigrações Judaicas. Os judeus começaram a
primeiramente a mesquita de el-Aksa, em Jerusalém; retornar a sua terra, em cumprimento de antigas
e, então, no século VII, no local onde estivera o profecias bíblicas. Em 1935 (um ano extraordinário),
famoso templo de Jerusalém, foi construída a mais de sessenta mil judeus voltaram à Terra
mesquita de Omar. Desde então, Jerusalém tem sido Prometida. E os árabes começaram a agitar-se, pois
uma cidade sagrada para os judeus, para os cristãos e viam o que estava sucedendo. Os judeus continuavam
para os árabes. Conforme alguém já observou; chegando de várias partes do mundo. Entre 1939 e
«Jerusalém é sagrada demais para seu próprio bem!»
1944, cem mil judeus chegaram à Palestina.
18. O Domínio Muçulmano. Esse domínio foi
representado por diversas dinastias, entre os séculos 23. Segunda Guerra Mundial. Foi durante esse
VII e XVI de nossa era. Várias cruzadas cristãs foram período que o povo de Israel sofreu sua prova mais
efetuadas entre os séculos XI e XIII D.C., na tentativa excruciante, desde os dias do cativeiro babilónico,
especialmente na Europa, devido às perseguições
de recapturar Jerusalém. E o poder trocou de mãos nazistas, que ceifaram cerca de seis milhões de
por várias vezes, entre cristãos e islamitas. judeus, na mais séria tentativa moderna de extermínio
19. Os Turcos Otomanos. Pelos fins do século XVI, de uma raça! Terminada a Segunda Guerra Mundial,
os turcos otomanos haviam conquistado todas as porém, passado o pesadelo, grandes massas de judeus
terras possuídas pelos árabes, no Oriente Próximo e retornaram à Palestina. Os conflitos continuaram,
Médio, incluindo a Palestina, que passaram a fazer entretanto, em torno da problemática questão de
parte do enorme império otomano. Naturalmente, os como dividir as terras entre judeus e árabes
turcos otomanos acabaram convertendo-se ao isla- palestinos. A influência norte-americana tem sido
mismo, o que significa que surgiu um novo estado crítica; mas a questão parece estar longe de ser
islâmico, composto por outra etnia. E quando os solucionada.
turcos otomanos capturaram o Egito, em 1517, eles 24. Estados Árabe e Judeu Independentes. O
também obtiveram o controle sobre Jerusalém, bem mandato britânico chegou ao fim, e, a 14 de maio de
como sobre as santas cidades islâmicas de Meca e 1948, as Nações Unidas aceitaram a declaração de
Medina. Durante quatro séculos, a Palestina perma independência do estado de Israel. Um grande
neceu sendo uma província de importância apenas acontecimento havia tido lugar, mais do que muitos
relativa do império otomano. Napoleão tentou políticos seculares puderam perceber. Mas estou certo
alterar essa situação, em 1799, mas não obteve êxito! de que o presidente norte-americano, Harry Truman,
20. Dos Fins do Século X IX à Primeira Grande um bom evangélico batista, sabia exatamente o que
Guerra. Um movimento nacionalista árabe começou a estava sucedendo. Israel era novamente, uma nação
tomar forma nas províncias árabes do império oficial, independente, e no seu próprio território da
otomano, com extensões pela Síria-Líbano. Uma Palestina!
força opositora foi o Movimento Sionista Mundial, A dispertio, iniciada em 135 D.C., havia sido
encabeçado por judeus, cuja finalidade era pôr revertida. Os estudiosos da Bíblia, ao redor do
novamente Israel na Palestina. mundo, saltaram de alegria e admiração. Lembro-me
21. Durante a Primeira Grande Guerra. Árabes e de como o pastor de minha igreja batista, bem como
judeus colaboraram com os aliados, com o propósito toda a irmandade, vibraram diante da noticia. E,
de liberar a Palestina dos turcos. Em uma das durante algum tempo, a Igreja cristã foi varrida em
pouquíssimas vezes que assim aconteceu na história, todas as direções por um zelo profético. Os clamores
árabes e judeus estiveram combatendo lado a lado. dos céticos, que diziam que os judeus haviam
Terminada a guerra, as forças aliadas, Inglaterra e produzido um autocumprimento das profecias,
França, foram as potências encarregadas de decidir o soavam ridículos. Os judeus praticamente não haviam
que fazer com a Palestina e as áreas adjacentes. exercido controle sobre os poderes em entrechoque,
Muitas promessas conflitantes foram feitas. Na que tornaram tudo aquilo possível, exceto que eles se
porção costeira da Síria, a França sentiu-se na agitavam por detrás dos bastidores. E foi o exército
liberdade de estabelecer um centro administrativo britânico quem armou o palco para essa vitória!
que, finalmente, haveria de determinar seu estado. À Entretanto, as atividades terroristas dos árabes
Grã-Bretanha cabia exercer autoridade similar em palestinos nunca cessaram. Forças das Nações Unidas
outras áreas. Em novembro de 1917, um mês antes de foram enviadas ao local dos conflitos, tentando
Jerusalém capitular diante do Gen. Edmund Allenby, controlar a situação, mas parece que coisa alguma se
foi publicada a Declaração de Balfour, em Londres. tem mostrado eficaz.
Essa declaração prometia, da parte dos ingleses, «um 25. A Guerra dos Seis Dias. Tal como nos dias da
lar nacional para o povo judeu», na Palestina. Essa antiguidade, várias nações circunvizinhas aliaram-se
declaração incluía uma vaga previsão de que os contra Israel. Mas, a 5 de junho de 1967, Israel
direitos de outros povos interessados seriam salva atacou seus adversários; e em apenas seis dias foi
guardados. A vitória sobre os turcos foi alcançada no capaz de esmagar as forças combinadas do Egito, da
outono de 1917, e foi assinado um armistício, a 30 de Jordânia e da Síria. Isso deu a Israel a oportunidade
outubro de 1918. Houve ainda mais combates, mas, de tomar conta da parte antiga de Jerusalém, com a
finalmente, o mês de setembro de 1918 viu o fim do área do templo, juntamente com outros, territórios,
poder turco sobre a Palestina, ficando os ingleses aumentando substancialmente os territórios ocupados
encarregados de pôr o lugar em ordem. A parte por Israel na Palestina. Aqueles dias são inesquecíveis
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PALESTINA
para este co-autor e tradutor, pois poucas semanas um mínimo de vegetação. Há, contudo, arbustos
antes recebera um poderoso derramamento do anãos, alho, junipeiro e alguma vegetação desértica
Espirito Santo, depois de ter passado um ano e meio típica, com muitos tipos de flores selvagens.
vendendo literatura evangélica entre judeus da Quanto à fauna, há animais de porte médio, como
cidade do Rio de Janeiro, Brasil! o gato do mato, o gato selvagem, a hiena listrada, o
26. Uma Previsão Profética. Finalmente, IsraeJ lobo, o mangusto, o chacal e algumas espécies de
haverá de triunfar em sua luta. Porém, dias raposas. Os animais de porte pequeno incluem o
negríssimos estão à sua espera. A Terceira Guerra morcego, muitas espécies de pássaros, a pomba, o
Mundial verá a Rússia e seus satélites invadirem corvo, a coruja, a avestruz, a cegonha, a garça, o
Israel, somente para serem derrotados pelas forças ganso selvagem, a perdiz, a codorna e muitas outras.
aliadas do Ocidente. Quando a sobrevivência de Israel Cerca de cem espécies de aves habitam na Palestina
estiver muito ameaçada, Jesus será visto em forma como residentes ou passam por ali, em suas
corpórea entre as forças de Israel, e a maré virará ao arribações. Atualmente é raro o aparecimento de
contrário. A intervenção divina terá lugar, e Israel espécies como o leopardo, o urso sírio e o crocodilo.
proclamar-se-á uma nação cristã. Se eu entendo Os peixes ocorrem em grande variedade, nos rios e
corretamente a profecia biblica, uma outra guerra no lago da Galiléia. Há cobras, quase todas elas
mundial (a quarta), terá de ferir-se. A China será o não-venenosas; abundantes também são os cágados, o
poder opositor, e os Estados Unidos da América e a camaleão, o lagarto, os escorpiões, etc.
União Soviética novamente se aliarão. Nessa quarta V. A Ocupação Humana
guerra o mundo será reduzido a cinzas, e então a Esta enciclopédia tem artigos sobre todos os nomes
Fênix-Israel levantará a cabeça entre as nações. locativos da Bíblia. Há cerca de seiscentos e vinte e
Seguir-se-á o milênio. Então Jerusalém tornar-se-á a dois desses locais, somente na parte ocidental do
capital religiosa e política do mundo. Uma nova e Jordão, o que nos dá uma idéia do enorme número de
grande força religiosa emergirá no mundo, e um novo lugares mencionados nas Escrituras. Além dos nomes
cristianismo produzirá, segundo creio, uma nova locativos mencionados na Bíblia, há aqueles que têm
revelação, com uma nova coletânea de livros sido fornecidos pela arqueologia, que incluem as listas
sagrados, um novo Novo Testamento; e, então, os de Tutmés III, Setos I, Ramsés II e Sesonque I. A
homens poderão dizer novamente: «Vi, pessoalmente, primeira enciclopédia cristã (a de Eusébio), chamada
as grandiosas obras de Deus». Ver o artigo separado Onomasticon, como também aquela de Jerônimo, são
intitulado, — Profecia: Tradição da e a Nossa valiosas fontes informativas sobre localidades. A
Época. arqueologia tem feito uma grande contribuição
IV. CUma, Flora e Fauna quanto a essa questão. O Dr. Edward Robison
A terra de Israel, embora tão minúscula, é bastante identificou cento e setenta e sete lugares (em cerca de
diversificada, com as montanhas, vales e desertos. E o 1838); e o Fundo de Exploração da Palestina localizou
resultado disso é que o clima também é muito quatrocentos e trinta e quatro lugares (em cerca de
variável. O monte Hermom, com seus 3050 m de 1865). E Conder ajuntou a isso mais cento e quarenta
altitude, fica coberto de neve no cimo. Dali o terreno e sete nomes.
desce sob a forma de uma garganta até 393 m abaixo Alguma forma de vida urbana já existia na
do nível do mar. Mas há também um quentíssimo Palestina desde nada menos de cerca de 8000 A.C.,
deserto. Na região montanhosa, as temperaturas são conforme a arqueologia tem sido capaz de demonstrar
modificadas, e, de outubro a abril, ventos ocidentais até agora. O vale do Jordão vem sendo habitado desde
carregam chuvas torrenciais. Porém, ventos que a pré-história remota. Cerca de setenta lugares dali
sopram do deserto trazem um calor tórrido (ver Jó datam de antes de 5000 A.C. A planície costeira, ao
1:19; Jer. 18:17). A grosso modo, podemos falar em sul do Carmelo, tem contado com povoações desde
duas estações a cada ano: o inverno, que é chuvoso e tempos pré-históricos. Porém, um pouco mais para o
úmido (de novembro a abril); e o verão, que é quente e norte, no vale de Sarom e na Alta Galiléia, antes havia
sem chuvas (de maio a outubro). densas florestas, que limitavam bastante a ocupação
A Palestina jaz à margem de um dos grandes humana. Entretanto, na Baixa Galiléia e na Samaria
desertos do mundo, o qual se faz sentir por meio de as evidências dão conta de uma ocupação humana
ventos secos e poeirentos. O deserte vai descendo na generalizada. A parte que fica ao sul de Jerusalém não
direção do mar, e então há uma área úmida com cerca era uma área favorável, devido a condições climáticas.
de cem quilômetros de largura. O vale do Jordão, com Na Transjordânia, a arqueologia tem desenterrado
suas baixas altitudes, torna-se quase insuportável- grandes fortalezas, como as de Petra, Bozra e Tofé.
mente quente durante os meses de verão; mas, Cidades importantes desenvolveram-se ao longo das
durante o inverno, é delicioso, bastante parecido com rotas comerciais. Entre elas podemos citar Berseba,
o sul do estado da Califórnia, nos Estados Unidos da Hebrom, Jerusalém, Betei, Siquém, Samaria, Megi-
América, ou com outros lugares de clima semitropi- do, Bete-Seã e Hazor.
cal. A porção leste da garganta do Jordão praticamen VI. Suprimento de Agua e Agricultura
te desconhece chuva. Assim, o clima da Palestina é O Nilo faz o Egito ser o que é. Sem esse rio, aquele
mais variegado do que qualquer outra área do mundo território seria desértico, um ermo por onde somente
de dimensões similares. os nômades passariam. A água é fonte de vida.
Flora e Fauna. Há três regiões florais distintas na Conforme já vimos, na Palestina há áreas onde as
Palestina: 1. oeste (área do Mediterrâneo), um lugar chuvas são abundantes durante os meses de inverno
dotado de árvores, arbustos de folhagem perene, (ver ponto IV, primeiro parágrafo). Mas, no verão, as
muitas flores e prados. Amendoeiras, oliveiras, chuvas rareiam. E isso exigiu a criação de um sistema
figueiras, amoreiras e videiras medram nessa faixa. 2. de cisternas e de irrigação. Por isso mesmo, uma fonte
O vale do Jordão é subtropical, com muitas espécies de água sempre foi de capital importância na
de árvores, palmeiras, sicômoros, figueiras, carva Palestina. A palavra hebraica 'ain, «fonte», aparece
lhos, nozes, peras, álamos, salgueiros, acácias, em combinação com setenta nomes locativos na
oliveiras bravas, mostarda, etc. Há muitas e Palestina. Bir, «poço», é outra palavra hebraica que
variegadas espécies de flores. 3. O deserto (no sul). O aparece em combinação com cerca de sessenta nomes
Neguebe e a área de Berseba têm poucas árvores e locativos. O Jordão é o único verdadeiro rio da
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Palestina; mas seus modestos tributários também são do mesmo fica a planície de Aser, que se estende por
uma importante fonte de água potável. Há muitos quarenta quilômetros até à antiga Escada de Tiro.
ribeiros alimentados pelas águas derretidas das neves; Nesse local, as colinas da Galiléia chegam até bem
esses, naturalmente, produzem água por algum perto das costas marítimas. Para suleste fica o vale de
tempo, mas logo secam quando o clima muda, e então Jezreel e a planície de Esdrelom. Amplia-se por cerca
no lugar dos mesmos nada mais resta senão wadis. Os de quarenta e oito quilômetros, para o interior, tendo
trechos de I Reis 17:7; Jó 24:19; Joel 1:20 e Sal. 126:4 apenas dezenove quilômetros de largura, em seu
referem-se a essa situação. A invenção da argamassa trecho mais amplo. Uma estrada importante passava
permitiu a instalação de cisternas. Oferecemos um por ali, ligando o Egito a Damasco, na Síria. Várias
artigo separado a respeito, que ilustra a importância cidades importantes achavam-se ao longo dessa rota,
das cisternas nos países de clima seco. Em cerca de como Megido, Jezreel e Bete-Seã (ver Juí. 5; 7:1; I
1300 A.C., já se usavam largamente as cisternas. As Sam. 31:12). Ao sul do monte Carmelo fica a planície
pessoas que vivem em áreas desérticas ou nas de Sarom. Cinco notáveis cidades filistéias existiam
proximidades sabem a suprema importância da «água ali: Ecrom, Asdode, Asquelom, Gate e Gaza. Mais
armazenada». Naturalmente, hoje em dia usam-se para leste ficava a Sefelá, uma espécie de zona
grandes reservatórios. Mas o método humilde de tampão entre Israel e os filisteus. Nos tempos antigos,
armazenar água, na antiga nação de Israel, era o uso as colinas da região eram densamente arborizadas,
de cisternas. E esse foi um importante fator na rápida principalmente com sicômoros (ver I Reis 10:27; II
colonização das terras altas da Judéia. Apesar das Crô. 1:15 e 9:27).
cisternas praticamente em nada contribuíram para a A Regiio Montanhosa Central. Essa região cobre
irrigação, certamente facilitou a criação de gado, pelo cerca de trezentos e vinte quilômetros, desde o norte
que também grande parte das riquezas da Palestina da Galiléia até o Sinai. Muitas formações montanho
girava em torno de animais domesticados. Além das sas juntam-se para formar uma espécie de baixa serra
cisternas, havia reservatórios primitivos, feitos con montanhosa. Temos ai o coração geográfico de Israel.
forme as indicações dadas em Can. 7:4. A necessidade A região montanhosa eleva-se a um pouco mais que
de água chegou mesmo a ser uma lição moral, pois 900 m de altitude, em seu ponto mais elevado, em
existe tal coisa como a água espiritual, bem como as Hebrom. A oeste, o declive das colinas, na direção do
necessidades espirituais da alma humana, que podem Mediterrâneo, é suave. A leste, a descida na direção
ressecar-se devido à sede espiritual (ver Deu. 8:7-10; do vale do Jordão é mais abrupta. As terras dessa área
11:10-17; Jer. 2:13; 14:22). Assim, viver perto de não são muito férteis, e dependem de fontes e poços,
águas vivas (ou correntes) constituía uma grande para irrigação; mas grande parte da região é
vantagem. E ter acesso às águas vivas espirituais é desértica. As colinas em tomo da Judéia (ver
aquilo de que precisa a alma sedenta (ver João 4:7 ss). Sal. 125:2) formam uma massa compacta, o que
A agricultura depende de água de modo absoluto. facilitava a defesa militar da região. Ao norte de
Isso posto, em qualquer região onde inexistem bons Jerusalém ficam as colinas do território de Efraim,
sistemas de reservatórios de água, um bom regime bastião de defesa do reino do norte, Israel. Trata-se
pluvial (ou, pelo menos, neves que se derretam) é de uma espécie de planalto dissecado, com cumes
essencial à vida das plantas, dos animais e dos seres isolados, como os montes Gerizim e Ebal. Termina ao
humanos. A população rural da Palestina central norte no monte Gilboa, onde acaba o coração
consistia em pequenos proprietários de terras. A geográfico da Palestina. As colinas dessa área são
cevada era mais importante do que o trigo, na bastante modestas. Ali ficavam localizadas cidades
Palestina, porque podia ser cultivada com pouca como Gibeá, Salém, Siquém e Sicar. Ao norte da
chuva, o que já não sucede no caso do trigo. Além planície de Esdrelom espraia-se a Galiléia, dividida
desse produto, muito importante era o cultivo da naturalmente em Baixa Galiléia (ao sul), e Alta
videira e da oliveira. A videira medrava principalmen Galiléia (ao norte). Ali as colinas elevam-se a nada
te na área do Carmelo, enquanto que a oliveira era menos de 900 m de altitude, abrigando certo número
plantada principalmente na Galiléia e no território de de bacias. Essa área é excelente para as lides
Efraim. A seca, porém, trazia o endividamento e a agrícolas. O monte Carmelo eleva-se ligeiramente
servidão, com seu labor servil e forçado (ver I Sam. mais de 600 m, mas está situado em uma região
8:16; 22:7; 25:2). A vida pastoril era uma atividade circunvizinha de baixa altitude, já perto do mar. Por
proeminente na Transjordânia e no Neguebe. Os isso mesmo, forma uma elevação impressionante,
poços artificiais, e alguns poucos oásis permitiam apesar de não estar em grande altura. A serra do
uma agricultura muito limitada no deserto e em certas Carmelo tem apenas cerca de oito quilômetros de
áreas desérticas. largura, embora chegue mesmo a interromper a
planície costeira, dividindo-a em planície da Filístia e
VII. Regiões e Divisões planície de Sarom, separadas das terras costeiras
1. Regiões estreitas da Fenícia. E a serra do Carmelo também
Até mesmo um país pequeno, como é o caso da forma uma barreira entre a planície de Sarom e a
Palestina, se tiver uma natureza variegada (como é o planície de Esdrelom, ficando assim de través da
caso ali) pode ser dividido em regiões e sub-regiões, histórica rota comercial entre o Egito e a Mesopotâ-
pelo que aquilo que aqui dizemos está sujeito a mia. Ver o artigo geral intitulado Estradas.
revisões e objeções. Não obstante, na Palestina há A Garganta do Rio Jordão. Essa vale, que 6 uma
algumas regiões naturais óbvias, que podemos falha geológica natural, estende-se por cerca de cem
mencionar. A seção X .l deste artigo apresenta um quilômetros, quase cortando a Palestina ao meio. Ao
mapa ilustrativo dessas regiões. Falando em termos norte temos os lagos de Hulé e da Galiléia, com
bem genéricos, temos na Palestina as seguintes colinas laterais, notavelmente o monte Hermom (ver
regiões naturais: a. a planície costeira; b. a região Deu. 3:9), em cuja área o rio Jordão tem suas
montanhosa central; c. a garganta do rio Jordão; d. o cabeceiras. As águas desse rio cortaram rochas
platô da Transjordânia; e. o deserto. basálticas que em tempos imemoriais bloqueavam a
A Planície Costeira. Essa planície estende-se por grande depressão que começa daí por diante. Uma
cerca de cento e noventa quilômetros, desde as garganta foi formada no caminho para o mar da
fronteiras do Líbano até Gaz. O monte Carmelo Galiléia, que fica a 183 m abaixo do nível do mar. Não
interrompe esse tipo de paisagem, no norte. Ao norte muito abaixo, em seu curso, o rio Iarmuque aumenta
30
PALESTINA
as águas do Jordão. Abaixo disso, o vale alarga-se, à esse deserto sul que causou essa associação de idéias.
medida que o rio desce para o mar Morto. Entre o O povo de Israel nunca conseguiu manter um bom
mar da Galiléia e o mar Morto, ficam a planície de controle sobre as terras ao sul de Berseba. Somente
Bete-Hã e o vale do Jordão. O que sucede nesse vale é por breves períodos o Neguebe esteve sob o domínio
que as colinas da região precipitam-se abruptamente de Israel. Edom tinha nessa região predomínio muito
até àquilo que não é tanto um vale, mas um grande maior. As terras prometidas a Abraão estendiam-se
buraco na superfície da terra. Às margens do mar do rio Nilo ao rio Eufrates, envolvendo essa área
Morto, a elevação é de 375 m abaixo do nível do mar; sulista; mas os israelitas nunca tornaram isso uma
e o fundo desse mar fica a 771 m abaixo do nível do realidade palpável.
mar, tornando-o o lugar de maior depressão à face do 2. Divisões
planeta. Isso posto, o grande buraco natural conta Aqui estudaremos como o povo de Israel dividiu o
com duas grandes massas de água: o mar da Galiléia, território da Terra Prometida, uma divisão que nada
ao norte, e o mar Morto, ao sul. E o largo vale da tinha a ver com regiões naturais, sobre as quais
Arabá (que fica ao sul do mar Morto) resulta de uma acabamos de discutir. Três principais períodos
falha geológica disfarçada. Tudo isso faz parte de um históricos proveram divisões políticas da área do
sistema ainda maior de falhas geológicas naturais, mundo: a. entre os tempos patriarcais e Moisés; b. a
que atravessam o Oriente Próximo e penetra até certo invasão da Palestina, após a saída de Israel do Egito;
ponto do continente africano. A Arabá estende-se por c. a Palestina na época de Jesus, sob o domínio
cerca de cento e sessenta quilômetros até chegar ao romano. Temos ilustrado os dois primeiros itens (a. e
golfo de Àcaba, onde a área é pleno deserto. b.) no primeiro mapa apresentado abaixo, na seção
O Platô da Transjordânia. A leste do rio Jordão, décima. As palavras escritas em letras graúdas
elevam-se colinas, formando uma cadeia que segue a representam os reinos que Israel encontrou quando
direção norte-sul. Nesse lado, a paisagem é bastante invadiu a Palestina, no século XIII A.C. Os nomes em
diferente do que no lado ocidental. Conforme têm letras menores (mas ainda grandes) indicam a
dito alguns estudiosos, a paisagem é «muito outra». A localização das tribos de Israel, depois que o território
história mostra-nos que os habitantes dessa área foi dividido entre elas. Em letras ainda de corpo
oriental também eram bastante diferentes em sua menor, há alguns poucos nomes locativos, a fim de
aparência e expressão. No começo da história de que o leitor possa localizar mais facilmente certos
Israel, foi ocupada pelas duas tribos e meia do leste do detalhes. O território da Palestina, na época de Jesus,
Jordão (ver Núm. 31:1-27). Para o norte, temos a quando Herodes era o rei vassalo que governava a
Galiléia; para o sul, Moabe, que se estende até um Judéia, e daí até o ano 30 D.C., é ilustrado no
pouco abaixo do mar Morto. Os montes formam um segundo mapa apresentado na décima seção deste
estreito cinturão de colinas, bem irrigadas. Esse artigo.
cinturão varia entre 65 e 80 quilômetros de largura,
jazendo entre o deserto, na Gor (para oeste) e o VIU. Arqueologia da Palestina
deserto da Arábia (para leste). Os picos mais elevados A despeito de suas minúsculas dimensões, o
ficam a oeste, dando frente para o vale do Jordão. Em território da Palestina é aquele que mais intensamente
Gileade, os montes e suas florestas eram quase tão tem sido vasculhado pelas explorações arqueológicas.
proverbiais quanto os cedros do Líbano. Nessas O artigo chamado Arqueologia demonstra isso
florestas era produzido o famoso bálsamo de Gileade. amplamente. Essa ciência moderna tem conseguido
Pastos frutíferos tornaram-se a possessão das tribos confirmar a existência de mais de cinqüenta dos
de Rúben e Gade (ver Núm. 32:1). Ao sul de Gileade antigos monarcas de Israel. Locais pré-históricos têm
ficava Moabe. Ainda mais para o sul ficava Edom. O sido desenterrados (entre 4500 e 3000 A.C., ou seja, a
que ali predomina é uma espécie de longa e estreita era calcolítica). Primitivas culturas palestinas, como
faixa de terras bem irrigadas, que formam uma aquela de Teleilat Ghassul, ao norte do mar Morto
espécie de tampão que separa o resto do território do (perto de Jericó), têm sido regularmente elucidadas.
temível deserto, mais para oriente. Essa área sempre As casas de tijolos de barro eram humildes, embora
representou uma ameaça para o povo de Israel. Ali ricamente adornadas com pinturas murais e outros
houve muitos conflitos e muitas trocas de terras. Na labores artísticos. Algumas surpreendentes pinturas
época de Salomão, toda a região acabou sob o afresco têm sobrevivido até hoje, provenientes daquele
controle rígido de Israel; mas essa situação não remoto período. A idade do Bronze (cerca de 3000 a
perdurou por longo tempo. 2000 A.C.) tem sido iluminada mediante descobertas
O Deserto. As regiões adjacentes a Israel eram o de antiqüíssimos povoados cananeus, como os de
Líbano, nas costas marítimas, a oeste da Síria, no Megido, Jericó e Ai. A idade do Bronze Média (cerca
extremo norte do território de Israel. A oriente ficava de 2000 a 1500 A.C.), biblicamente considerada, teve
o grande deserto da Arábia. Para oriente das início na Palestina com a chegada de Abraão na Terra
montanhas do Líbano fica o oásis de Damasco, em Prometida. Na época, a região era densamente
meio a uma região essencialmente desértica, o que já arborizada, embora esparsamente habitada. Têm
fica no canto nordeste da Palestina. Essa área servia sido descobertas muitas evidências arqueológicas
de portão de entrada para forças invasoras. Para ilustrando a era dos patriarcas, que tendem por
leste, além da Transjordânia, — o deserto é confirmar muitos detalhes do relato bíblico, acerca
muito vasto, servindo de fronteira da Palestina, ao dos quais os céticos expressavam dúvidas. Uma
longo de seu costado oriental. Essa área, que em eras notável característica desse período eram as cidades
remotas foi local de regular atividade vulcânica, é fortificadas, dotadas de altas muralhas, valados e
desolada e selvática, com muitas cavernas e elevações construções gigantescas, cujo intuito era desencorajar
estéreis. Servia de abrigo para os fora-da-lei e para os invasores. A idade do Bronze Moderna (1500 a
grupos minoritários. — Alguns poucos corajosos 1200 A.C.), do ponto de vista bíblico é muito
nômades trafegavam por ali. Ao sul da Palestina, importante porque foi nesse período que a Palestina
havia mais desertos. Esse deserto servia de limite da foi invadida pelos israelitas, vindos do Egito. A data
Judéia ao sul e a suleste. Tribos do deserto vagueavam mais recuada desse evento, calculada pelos estudio
por ali, e vez por outra atuavam com hostilidade, sos, é cerca de 1400 A.C., e, 1300 A.C. o mais tardar.
invadindo Judá. No idioma hebraico, as palavras que Ê realmente admirável o quanto os arqueólogos têm
significam «sul» e «crestado» vêm da mesma raiz; e foi podido recuperar dessa época, incluindo (quase
31
PALESTINA - PALEY
certamente) o altar de Josué (vide). Muitas cidades e 7. As peregrinações dos patriarcas, que buscavam
povoados, mencionados em conexão com essa uma cidade melhor, falam acerca da nossa peregrina
invasão, têm sido desenterrados pela arqueologia. ção terrestre, que haverá de terminar quando formos
Assim, sabemos agora que Jericó foi edificada sobre o cidadãos do céu. Ver Heb. 11:16.
mesmo local onde já tinham existido outras três 8. Os quarenta anos de vagueação pelo deserto,
cidades. A quarta cidade foi aquela que ruiu diante de simbolizam aqueles que hesitam e que não entram na
Josué. Ai, Betei e Laquis foram conquistadas pelos posse imediata de seus direitos espirituais, ou que
israelitas; e estão entre os lugares escavados pela deixam de cumprir os seus elevados propósitos, por
arqueologia moderna. As descobertas arqueológicas serem por demais preguiçosos ou temerosos.
são por demais numerosas para serem aqui mencio X. Mapas Ilustrativo«: Ver a seguir.
nadas. Pedimos ao leitor que examine o artigo geral 1. As Divisões da Palestina Entre Abraão e Moisés
intitulado Arqueologia. Todavia, podemos mencionar
aqui localidades como Bete-Seã, Taanaque, Megido, As palavras em letras mais graúdas, neste mapa,
Gezer, Bete-Semes, Samaria, Gibeá, Dibir, Hazor indicam os reinos que Israel encontrou ao entrar na
e, naturalmente, Jerusalém. Terra Prometida. Aquelas um pouco menores
indicam as localizações das tribos de Israel, após a
IX. Usos Figurados conquista. Palavras em letras ainda menores indicam
A Palestina arrebata e galvaniza a imaginação de alguns lugares importantes na Palestina.
homens do mundo inteiro, apesar de ser tão pequena. (Esse mapa é adaptado da RSV, mapas 1 e 3).
Judeus, cristãos e árabes cultos sabem tanto acerca 2. As Divisões da Palestina nos Dias de Jesus
dessa região que ela é, praticamente, uma segunda
pátria de todos eles, embora eles mesmos estejam Temos aqui a divisão que prevaleceu durante os
dispersos pela face do planeta. Até os filhos pequenos tempos do reinado de Herodes e posteriormente, até
de famílias evangélicas sabem muita coisa sobre a 30 D.C.
Palestina, com sua história e monumentos. A Igreja (Esse mapa é adaptado da RSV, mapas 10 e 11).
Católica Romana está começando a despertar para a 3. As Regiões da Palestina
necessidade de ensinar às massas populares, cada vez (Esse mapa é adaptado da ND, pág. 924).
menos satisfeitas com as informações parciais e Bibliografia. ALB AM ANET BA B A LIIB ID IOT
dosadas que lhes são ministradas pelo clero. Os ND UN YO Z
islamitas são um povo que segue um livro sagrado, o
Alcorão; e grande parte do mesmo está alicerçada
sobre o Antigo e o Novo Testamentos. Eles mantêm PALEY, WILLIAM
controle sobre a área onde os patriarcas hebreus
foram sepultados. Portanto, é apenas natural que a O CLÁSSICO ARGUMENTO
Palestina tenha adquirido certas significações simbó DO RELÓGIO
licas. William Paley (1743-1805) foi um filósofo moral e
teólogo britânico. Sua maior contribuição foi realiza
1. A conquista da Terra Santa, por parte de Israel, da na literatura ética. No seu tratado, Natural
veio a representar qualquer empreendimento nobre e Theology (1802), ele desenvolveu uma analogia de
inspirador. Israel precisava pôr os pés sobre a Terra Deus com um fabricante de relógios, que se tornou
Prometida, onde puseram os pés, a terra tornou-se famosa. Esta analogia apresento a seguir:
deles. Ver Deu. 11:24,25. Ainda recentemente (na • •• •••
década de 1970), israelitas marcharam sobre os Ao atravessar um caminho, suponhamos que eu
territórios ocupados, em um gesto simbólico, invocan tropeçasse em uma pedra. E então que alguém me
do Deus como testemunha, para que confirmasse os perguntasse como aquela pedra veio a aparecer ali.
ganhos deles na Palestina. Essa conquista territorial Nesse caso, eu poderia responder que, a menos que eu
também pode simbolizar a obtenção da vida eterna, soubesse algo em contrário, deve ter sido posta ali
que segue à escravidão ao pecado. desde sempre, e não seria muito fácil mostrar o
2. De Dã a Berseba indicava a extensão da absurdo de minha resposta.
Palestina conquistada, de norte a sul, pelo que
também veio a representar a gama inteira de alguma Mas, suponhamos que eu tivesse encontrado um
coisa. VerJuí. 20:1; I Sam. 3:20; II Sam. 3:10; I Reis relógio no chão, e que alguém me indagasse como o
4:25. relógio viera parar naquele lugar; nesse caso,
dificilmente eu pensaria na resposta dada no caso
3. A travessia do rio Jordão aponta para a transição anterior — que, a menos que eu obtivesse alguma
da morte física, que nos conduz a uma vida súperior, prova em contrário, aquele relógio deveria ter estado
celestial. ali desde sempre. Todavia, por que razão a resposta
4. Sião é metáfora de qualquer grande centro de que serviria para o caso de uma pedra, não serviria
empreendimento espiritual. Os mórmons chamam a para o caso de um relógio? Por esta razão, e por
cidade de Salt Lake de Sião, por ser o centro da nenhuma outra, a saber, que ao passarmos a
atividade e da cultura deles. Sião também simboliza a inspecionar o relógio, perceberemos (o que não
habitação de Deus, e, por extensão,, os céus que os poderia ser descoberto na pedra) que suas diversas
crentes antecipam. Ver Sal. 76:2. partes foram feitas e reunidas para um determinado
5. A dispersão (o exílio assírio, o exílio babilónico e propósito, como, por exemplo, que foram formadas e
a grande dispersão judaica de 135 D.C.) representa os ajustadas de tal maneira para produzir movimento,
recuos ocasionados pelo juízo divino. E o retomo de movimento esse regulado de tal maneira a marcar as
Judá, representa os resultados do arrependimento e diversas horas do dia; que, se as diversas partes do
da restauração. E uma outra maneira de expressar a relógio tivessem formatos diferentes daqueles que têm,
idéia são os contra-ataques do reino, após alguma fossem de dimensões diferentes do que são, ou
grande derrota. tivessem sido dispostas em outra posição, ou em outra
6. As instituições hebréias são emblemas dos ofícios ordem qualquer, então, ou nenhum movimento seria
e realizações de Cristo. Isso constitui a essência da registrado pela máquina, ou não haveria utilidade
mensagem da epístola aos Hebreus, no Novo para o relógio, segundo encontramos agora. Conside
Testamento. rando algumas de suas partes componentes mais
PALEY, ARGUMENTO DO RELÓGIO
óbvias, bem como as suas respectivas funções, todas linguagem atribuir a qualquer lei o papel de causa
as quais tendem para obter um único resultado: eficiente e operativa do que quer que seja. Toda lei
vemos uma caixa cilíndrica que contém uma mala pressupõe um agente, pois é apenas o modo pelo qual
elástica em espiral, que devido ao seu esforço de esse agente age; subentende poder, pois é a ordem
expandir-se, faz o mecanismo funcionar... Também segundo a qual esse poder atua. Sem esse agente, sem
observamos que as rodas da engrenagem foram feitas esse poder, ambos os quais são distintos dela, a lei
de bronze, a fim de não se enferrujarem; e que as nada faz e nada é.
molas são feitas de aço, pois nenhum outro metal é VIII. E finalmente, o nosso suposto observador
tão elástico; e que na face superior do relógio foi também não poderia abandonar a sua conclusão, e
posto urft vidro, material empregado em nenhuma assim perder a confiança em sua verdade, se lhe fosse
outra porção do relógio, porquanto se tivesse sido dito que ele nada sabia sobre a questão. Pois a
empregado em seu lugar qualquer substância que não verdade é que ele sabe bastante para o seu argumento
fosse transparente, as horas não poderiam ser — ele conhece a utilidade do objeto — ele conhece a
verificadas a menos que se abrisse o mecanismo. Uma subserviência e a adaptação dos meios ao fim
vez — observado — esse mecanismo... fica clara a colimado. Uma vez que sejam reconhecidos esses
inferência que reputamos inevitável; aquele relógio pontos, a sua ignorância sobre os outros pontos, as
deve ter tido um fabricante; que deve ter havido, §m suas possíveis dúvidas sobre os demais pontos, jamais
algum tempo, num lugar ou noutro, um artífice ou poderão afetar a segurança de seu raciocínio. A
artífices que formaram o relógio com o intuito que consciência de que pouco sabe não requer que ele
nele encontramos; os quais compreenderam a desconfie daquilo que já sabe.
maneira de fabricá- o, tendo traçado o desígnio de seu
emprego. Continuação do Argumento
I. Segundo entendo, essa conclusão de maneira Suponhamos, em seguida, que a pessoa que
alguma ficaria debilitada se jamais tivéssemos visto encontrou o citado relógio, após algum tempo, viesse
antes um relógio; se jamais tivéssemos conhecido um a descobrir que, em adição a todas as propriedades
artífice capaz de fabricar um desses aparelhos; e se que ele vinha observando até ali, o relógio possuísse a
fôssemos inteiramente incapazes de executar pessoal inesperada propriedade de, no decurso de seus
mente uma obra dessa envergadura... movimentos, vir a produzir um outro relógio
II. E nem, em segundo lugar, como compreen semelhante a ele mesmo... qual seria o efeito dessa
do, seria invalidada a nossa conclusão, se algumas descoberta sobre a sua conclusão anterior?
vezes o relógio funcionasse mal ou raramente se I. O primeiro efeito seria o de aumentar a sua
mostrasse exato na marcação das horas... pois não é admiração pelo invento, e também o de aumentar a
mister que um mecanismo seja perfeito a fim de ficar sua convicção sobre a grande habilidade do
demonstrado o desígnio com que foi feito: ainda inventor...
menos necessário se torna isso quando a única II. Ele refletiria que embora o relógio estivesse ali à
pergunta é se foi feito com qualquer desígnio. sua frente — em certo sentido — o fabricante do
III. E nem, em terceiro lugar, seria necessário dar relógio fosse ele mesmo, no decurso de seus próprios
qualquer foro de incerteza ao argumento, ainda que movimentos, seria algo muito diferente em sentido do
descobríssemos algumas poucas partes no relógio, caso em que, por exemplo, um carpinteiro é o
para as quais não víssemos qual a sua utilidade dentro fabricante de uma cadeira; o autor de sua invenção, a
do quadro geral; ou mesmo que houvesse algumas causa da relação entre suas partes componentes e o
partes acerca das quais não pudéssemos atribuir seu emprego. No que diz respeito a isso, o primeiro
qualquer utilidade... relógio não teria sido causa, de forma alguma, do
segundo relógio, pelo menos não no sentido de que foi
IV. E nem, em quarto lugar, qualquer indivíduo, o autor da constituição e da ordem, ou das partes
em sua mente sã, haveria de pensar que o relógio, contidas no novo relógio, ou dessas mesmas partes,
com seu complicado mecanismo, — poderia ser mediante a ajuda e a instrumentalidade daquilo que
explicado pela declaração de que deveria ser alguma foi produzido...
combinação fortuita de materiais; e que qualquer
outro objeto que tivesse sido encontrado no lugar do III. Embora não seja agora mais provável que o
relógio, devesse ter contido alguma configuração relógio individual, que fora encontrado pelo nosso
interna ou outra; e que essa configuração poderia ser suposto observador, tenha sido feito imediatamente
a estrutura mais exibida, a saber, todas as partes pelas mãos de um artífice, todavia, essa alteração de
componentes do relógio, embora em uma estrutura forma alguma modifica a conclusão de que um
diferente. artífice foi originalmente empregado na produção de
um relógio, tendo concentrado a sua atenção nesse
V. Nem, em quinto lugar, o inquiridor haveria de mister. O argumento baseado no desígnio permanece
obter mais satisfação, se lhe respondêssemos que assim inalterado. Os sinais de desígnio e de invenção
existem nas coisas certo principio de ordem fortuita não serão atribuídos agora de forma diferente do que
que dispôs as partes componentes do relógio em sua eram antes... Estamos agora indagando qual a causa
forma e situação presentes. E isso porque jamais teria dessa subserviência a um uso, aquela relação para
visto um relógio fabricado por efeito desse princípio com uma finalidade, que já observamos no relógio à
de ordem; e nem mesmo poderia formar idéia do nossa frente. Nenhuma resposta será dada a essa
sentido desse principio de ordem, distinto da pergunta com a réplica de que um relógio anterior o
inteligência de um fabricante de relógios. produziu. Pois não pode haver plano sem um
VI. Em sexto lugar, ele ficaria surpreendido se planejador; nem invenção sem um inventor; nem
ouvisse dizer que o mecanismo do relógio não pode arranjo sem alguém capaz desse arranjo; nem
servir de prova de simulacro, mas tão somente de subserviência e relação para com um propósito, sem
motivo para induzir a mente a assim pensar. alguém que possa traçar esse propósito; nem meios
VII. E não menos surpreso ficaria se fosse apropriados a uma finalidade, e execução na
informado de que o relógio que tinha nas mãos nada realização dessa finalidade, sem que essa finalidade
mais era senão o resultado das leis de natureza tenha sido contemplada, ou sem que os meios tenham
metálica. Porquanto trata-se de uma perversão da sido adaptados à mesma Arranjo, disposição de
33
PALEY, ARGUMENTO DO RELÓGIO
partes, subserviência dos meios a uma finalidade, de sua construção e de seus movimentos, é que deve
relação de instrumentos para com um determinado ter tido um artífice como causa e autor de sua
uso — tudo subentende a presença de inteligência e de construção, o qual compreendeu seu mecanismo e
mente. Por conseguinte, ninguém pode acreditar traçou o desígnio de sua utilização. Essa conclusão é
racionalmente, que um relógio insensível, inanimado, invencível. Um «segundo» exame nos apresenta uma
do qual se originou o relógio à nossa frente, tenha sido nova descoberta. O relógio é encontrado, no decurso
a causa apropriada do mecanismo que tanto de seus movimentos, a fim de produzir outro relógio
admiramos nele — como se verdadeiramente houvesse similar a ele mesmo; e não somente isso, mas
construído o instrumento, disposto em ordem as suas percebemos nele certo sistema ou organização,
diversas partes, dado a cada uma o seu papel, separadamente calculado para obter esse propósito.
determinado a ordem, ação e dependência mútua das Que efeito produziria essa descoberta, ou que efeito
mesmas, e houvesse combinado os seus diversos deveria produzir sobre nossa inferência anterior? Que
movimentos, para obtenção de um único resultado... efeito teria, senão, além de tudo que já foi dito,
IV. E nem se ganha coisa alguma levando a aumentar em muito a nossa admiração pela
dificuldade um passo mais adiante, isto é, supondo-se habilidade que foi empregada na construção de tal
que o relógio à nossa frente foi produzido por outro mecanismo?
relógio, este por um outro ainda, e assim indefinida Ou, em vez disso, todos esses fatos nos fariam
mente. Nosso retroceder, até esse ponto, não nos leva voltar para a conclusão oposta, a saber, que nenhuma
mais perto, em qualquer grau de satisfação, às arte ou habilidade de qualquer espécie foi envolvida
origens do assunto. Pois a invenção, dessa maneira, na construção do relógio?... Poderia esta última
continuaria sem explicação. Ainda haveríamos de conclusão ser mantida sem que se caísse no maior dos
procurar um inventor. Pois essa suposição nem supre absurdos? Não obstante, isso é o ateísmo.
e nem dispensa uma mente planejadora. Se a Avaliação do Argumento de Paley, à Base do
dificuldade fosse diminuindo à medida que fôssemos Desígnio:
retrocedendo e recuássemos indefinidamente havería O argumento de Paley é criticado à base do fato de
mos de exauri-la...Não há diferença alguma quanto que se alicerçou em um tipo de universo mecânico de
ao ponto em questão... entre uma série e outra; entre conformidade com a ciência do século XVII, o qual
uma série que é finita, e uma série que é infinita. Uma ficou eliminado pelo conceito darwiniano do mundo,
corrente, composta de um número infinito de elos não que postula um universo orgânico, em desenvolvimen
pode sustentar-se mais do que uma corrente feita de to crescente, e não em uma máquina estática, sujeita
um número finito de elos. às leis fixas da mecânica. A evolução darwiniana
...Aumentando-se o número de elos, por exemplo, explica o artífice do argumento de Paley em termos da
de dez para cem, de cem para mil, etc., não nos seleção natural, procurando dessa maneira eliminar
aproximaremos, em grau algum, da solução, e nem a função do Deus de Paley; contudo, o que a «seleção
haverá a menor tendência para a autossustentação... natural» imaginada por Darwin não consegue fazer, e
Isso se assemelha extraordinariamente com o caso que que ainda não foi explicada, é a adaptação da razão
temos à frente. A máquina, que estamos inspecionan humana à ordem cósmica. Porque a seleção natural se
do, pela sua própria construção demonstra invenção e restringe a explicar a preservação da vida. Conforme
desígnio. A invenção deve ter tido um inventor; o assevera William Sorley: «Se continuamos aferrados à
plano deve ter tido um planejador; e isso sem teoria da evolução, e rejeitarmos a teologia ordinária,
importar se a máquina se derivou imediatamente de contudo teremos de admitir que existe certa
outra máquina, ou não. Essa circunstância não altera adaptação (que não pode ser explicada pela seleção
o caso... Um inventor continua sendo necessário. natural) entre a nossa razão e a ordem cósmica real,
Nenhuma tendência é percebida, nenhuma aproxi um desígnio maior do que qualquer desígnio que;
mação é feita da diminuição dessa necessidade. Paley jamais imaginou. E não" é apenas quanto ao
Continua a mesma coisa, em cada sucessão dessas intelecto somente, mas também quanto à moralidade
máquinas; uma sucessão de dez, de cem ou de mil; tal do universo de valores intrínsecos, que devemos
como sucede numa série, assim também sucede na asseverar a existência de certa adaptação entre as
próxima: uma série finita, tanto quanto uma série nossas mentes e a ordem universal»
infinita... Sem a menor diferença, invenção e desígnio Informação extraída de W. R. Sorley, Moral Values
continuam inexplicados pela mera multiplicação dos and the Idea o f God (Cambridge: Cambridge
casos.
University Press, segunda edição, 1921), pág. 326.
A pergunta n io consiste de «como é que o primeiro
relógio veio à existência?...Supor que assim é • •• • ••
equivale a supor que não faria diferença se tivéssemos Opinião do Autor desta Enciclopédia
encontrado uma pedra ou um relógio. Na natureza do Eu aprecio esta breve avaliação, mas não vai longe
caso, as qufestões metafísicas dessa pergunta não têm o bastante. Paley pensava que havia uma diferença
lugar; pois no relógio que estamos examinando entre a pedra na qual tropeçara e o relógio, no que diz
podemos ver invenção e desígnio; finalidade e respeito à nossa necessidade de explicar o «desígnio»
propósito; meios adaptados a um fim, e também das coisas. Mas — na realidade, não há diferença. A
adaptação a esse propósito. E assim, a pergunta que pedra é tão maravilhosa quanto o relógio e possuída de
se destaca irresistivelmente em nossos pensamentos é: um desígnio tão imenso, que Paley, em sua época, não
«De onde se deriva essa invenção e desígnio?» O que poderia ter imaginado sequer uma parte diminuta
se busca é a mente que tencionou, a mão adaptadora, dele. Encontrar uma pedra exige uma explicação
a inteligência por meio da qual essa mão foi acerca de um Artífice. Note também que o que
orientada. Essa pergunta, essa exigência, não pode chamamos de coisa inanimada não pode ser pensado
ser abalada pelo número crescente ou pela sucessão de como o produto de uma seleção natural. O seu
substâncias... É inútil, portanto, atribuir uma série desígnio não tem sido produzido por algum longo
de tais causas, ou alegar que tal série possa ser levada processo de evolução, mas é real e demanda que
de volta até o infinito... procuremos alguma razão suficiente para ele. A razão
V. ...A conclusão que é sugerida pelo primeiro nos leva de volta a Deus, o Grande Artífice. Então,
exame feito no relógio, acerca de seu funcionamento, que negócio é este de solucionar, supostamente, o
PALHA - PALHOÇAS
«problema do desígnio», pela mera produção das tijolos.
palavras mágicas, seleção natural, mesmo no que diz Em Gênesis 24:32, a nossa versão portuguesa diz
respeito aos organismos vivos? Como, podemos «forragem». No entanto, no vs. 25 do mesmo capítulo,
perguntar, — funciona — a seleção natural, que Rebeca respondeu a EÍiezer: «Temos palha e muito
inteligência está atrás dela? Pode ser que funcione por pasto...», onde a palavra «palha» é a mesma que ali é
acaso? Leva mais fé para aceitar isto do que para traduzida por «forragem». Tal tradução reflete a
aceitar o conceito de um Grande Artífice. No dúvida de alguns estudiosos, se estaria em foco a mera
máximo, a expressão «seleção natural» pode implicar palha, ou forragem para os camelos. Para que serviria
meramente em como funciona a Mente Divina, a palha para os camelos? Nossa versão portuguesa,
em determinada parte da natureza. — É a seleção pois, não se mostra coerente consigo mesma, quanto a
natural sem-mente? Que maravilhosas coisas a falta esse particular.
de mente ativa tem produzido! Os homens pensantes Outro trecho duvidoso, quanto ao que estaria em
reconhecerão que o conceito intitulado seleção foco, é o de Isaías 11:7, onde se lê: «...o leão comerá
natural, nos leva ao Artífice, e não para longe Dele. palha como o boi». No entanto, sabe-se que o boi não
Logicamente, sabemos que a seleção natural opera come palha. Por esse motivo, alguns estudiosos têm
neste mundo, apesar de eventos caóticos e cataclísmi preferido pensar que, nessa passagem de Isaías,
cos produzirem mudanças imediatas, pulos para a deve-se pensar antes no «feno», o que significa que o
frente e para trás. Ainda está aberto ao questiona termo hebraico teben daria a entender tanto a «palha»
mento sério, mesmo no terreno cientifico, se este quanto o «feno», apesar do fato de que muitas versões
conceito pode explicar a origem do homem, como nós traduzem por «feno» uma outra palavra hebraica, isto
o conhecemos. Que a seleção natural opera no mundo é, chatsir, em Provérbios 27:25 e Isaías 15:6. Nossa
de outras maneiras, não nos resta dúvida. Mas para versão portuguesa só traduz essa palavra por «feno»
pedir a mim que creia nela como «não pensante» é na primeira dessas duas referências.
demais. Isto é tomar um passo para trás na explicação
de um «porquê» do desígnio e não um passo em Usos Figurado«: 1. A palha é algo pequeno e sem
direção desta explicação. valor. Com base nessa circunstância, a palavra é
usada p ara indicar aquilo que é d o u trin ário e
espiritualm ente d estituído de valor, como o falso
ensino (Jer. 23:28). 2. O malfeitor também pode ser
PALHA considerado como se fosse palha, po rq u anto será
No hebraico, precisamos considerar três palavras, e reduzido a nada (Sal. 1:4; Isa. 33:11; Mat. 3:12). 3.
no grego, duas: Cristo é aquele que separa o trigo da palha, no sentido
1. Teben, «palha». Termo que ocorre por dezessete espiritual, pois ele é o supremo Juiz (Mat. 3:12; Luc.
vezes, conforme se observa, por exemplo, em Gên. 3:17). 4. O crente, quando for julgado quanto às suas
24:25,32; Êxo. 5:7,10-13,16,18; Juí. 19:19; I Reis obras, precisa enfrentar a possibilidade de suas obras
4:28; Jó 41:27; Isa. 11:7; 65:25. serem consumidas como palha sem valor (I Cor. 3:12
2. Mathben, «palha». Esse vocábulo figura apenas ss). 5. A palha e partículas de poeira representam as
por uma vez, em Isaías 25:10, onde o profeta prediz nações que negligenciam os princípios espirituais
um futuro muito triste para os moabitas: «Moabe (Dan. 2:35). (G I ID)
será trilhado no seu lugar, como se pisa a palha na
água da cova da esterqueira». Essa palavra hebraica
poderia ser traduzida, mais acertadamente, por
«resíduos vegetais». PALHOÇAS, TENDAS
3. Qash, «palha». Outra palavra hebraica, que No hebraico, «nkkoh, «palhoça», palavra usada por
aparece por dezesseis vezes: Êxo. 5:12; 15:7; Jó 13:25; trinta e uma vezes. Por exemplo: Gên. 33:17; Lev.
41:28,29; Sal. 83:13; Isa. 5:24; 33:11; 40:24; 41:2; 23:42,43; Nee. 8:14-17; Jon. 4:5. Em nossa Bíblia
47:14; Jer. 13:24; Joel 2:5; Oba. 18; Naum 1:10 e portuguesa a palavra é traduzida como «palhoça»,
Mal. 4:1. «tenda», «tendas de ramos», etc. Indicava algum
4. Kaláme, «palha». Esse vocábulo grego ocorre abrigo tosco, feito de ramos de árvores e arbustos
apenas por uma vez em todo o Novo Testamento, em I (Gên. 33:17), como proteção contra a chuva, a geada
Cor. 3:12. e o calor. Nessas estru tu ra s m uito simples, os
5. Ãchron, «palha seca». Term o grego usado israelitas celebravam a festa dos tabernáculos (que
somente em Mat. 3:12 e Luc. 3:17. vide) (Lev. 23:42,43). Em tais abrigos foi que Jacó
h abitou, em seu retorno às fronteiras da terra de
A palha é o refugo do grão peneirado, as cascas, Canaã, em razão do que o lugar foi chamado Sucote
etc. No oriente, usualmente esse material é queimado (G ên. 33:17), a form a p lural daquela palavra
p ara im pedir que o vento o sopre de volta ao grão hebraica. Q uando da festa dos tabernáculos, os
limpo (Jó 21:18; Sal. 1:4; 35:5; Isa. 17:13; Sof. 2:2). israelitas usavam essas palhoças, mas não viveram em
Em Isaías 5:24 temos uma palavra diferente, que, palhoças durante seus anos passados no deserto. No
literalm ente, significa «erva seca». Em Jer. 23:38 deserto eles viviam em tenda, que o hebraico chama
temos a palavra que significa «palha». E em Daniel de ohel. (V er Gên. 4:20; Êxo. 16:16). Porém , ao
2:35 temos a palavra aramaica que significa «palha». ocuparem a Terra Prometida, os israelitas começaram
Na Palestina havia mais palha de cevada do que a construir edificações mais permanentes. Além disso,
palha de trigo, porquanto a cevada era usada como na Palestina havia madeira em abundância para tais
forragem de cavalos, de burros e do gado vacum, além construções, como tam bém p ara a feitura de
do que a grande maioria do povo comum consumia palhoças, por ocasião da festa dos tabernáculos, ao
pão de cevada. Sem dúvida, também havia palha de passo que no deserto não havia madeira suficiente.
espelta. Não há certeza, entre os estudiosos, se a As palhoças foram usadas por Jacó (Gên. 33:17),
palha mencionada em Exodo 5:7-18 era palha de por Jonas (Jon. 4:5), pelos soldados, nos campos de
cevada, palha de espelta, ou apenas de ervas batalha (II Sam. 11:11), pelos vigias que cuidavam
selvagens, porque os filhos de Israel eram forçados a dos campos (Jó 27:18), nas quais eles se protegiam das
apanhar no campo o que pudessem, a fim de usarem intempéries, ou nas quais abrigavam seus animais.
para reforçar a massa de barro usada no fabrico de Essas palhoças eram feitas de salgueiros, de oliveiras,
35
PALI MPSE STO - PALTI
de murteiras, de palmeiras e de árvores de ramos bem das formando bosques, embora também possam ser
copados (Lev. 23:40; Nee. 8:15). (G HA ID S) vistos espécimes isolados.
Heródoto referiu-se à palmeira como produtora de
pão, mel e vinho; mas é provável que, no caso do
PALIMPSESTO «vinho», ele aludisse à aguardente araca. Com base
nessa circunstância, é possível que algumas referên
Essa palavra é transliteração do grego palímpses- cias veterotestamentárias a «vinho» sejam, na
tos, que vem de pálin, «novamente», e pseein, verdade, a essa bebida forte; e também o «mel» nada
«esfregar», «apagar», ou seja, «raspado novamente». tenha a ver com o mel de abelhas. Josefo também
Esse é o nome que se dá a algum manuscrito escrito mencionou a existência de bosques de palmeiras.
sobre um pergaminho que já havia sido usado para Esse bosques existiam na área do mar da Galiléia, no
nele escrever-se alguma outra coisa. A escrita anterior vale do Jordão, perto de Jerusalém e no monte das
foi removida, e um novo texto foi escrito sobre tal Oliveiras. Certo bosque de palmeiras, perto de Jericó,
pergaminho. A razão do novo uso desse material de espraiava-se por cerca de onze quilômetros.
escrita é que o mesmo era muito caro.
Uma palmeira precisa de cerca de trinta anos para
Vários manuscritos do Novo Testamento são amadurecer; mas, uma vez desenvolvida, ela é
palimpsestos. Dentre esses destaca-se o Codex duradoura, sendo capaz de viver por duzentos anos.
Ephraemi Rescriptus, atualmente em Paris, França. Essa espécie tem uma estranha forma de polinização.
Quanto a informações detalhadas sobre esse manus Algumas palmeiras produzem somente gametas
crito, ver o artigo Manuscritos, Novo Testamento, masculinos, enquanto outras só produzem gametas
III.5. Outros palimpsestos são antigos evangelhos femininos. Por isso, nos tempos antigos, os cultivado
traduzidos para o siriaco, encontrados no monte res cortavam inflorescências masculinas e pendura-
Sinai, formando o papiro P(2), que também contém o vam-nas nas árvores femininas, a fim de garantir a
livro de Atos, as epístolas paulinas e o Apocalipse. polinização.
Referências Bíblicas. No Antigo Testamento há
trinta e duas menções à palmeira, em suas três formas
PALINGENESIA hebraicas: tamar, tomer e timmorah: Êxo. 15:27;
Essa palavra, transliteração do grego, pálin, Lev. 23:40; Núm. 33:9; Deut. 34:3; Juí. 1:16; 4:5; II
«novamente», e génesis, «nascimento», significa «novo Crô. 3:5; 28:15; Nee. 8:15; Sal. 92:12; Can. 7:7,8;
nascimento». Esse é um dos vários vocábulos usados Joel 1:12; Jer. 10:5; I Reis 6:29,32,35; 7:36;
para indicar a idéia da reencarnação (vide). II Crô. 3:5; Eze. 40:16,22,26,31,32,37; 41:18-20,
Frouxamente usado, o termo pode significar qualquer 25,26. E no Novo Testamento, por duas vezes é
tipo de regeneração ou novo nascimento. A palavra empregada a palavra grega, phoíniks: João 12:13;
equivale a regeneração, derivada do latim, regenera- Apo. 7:9.
re. No seu uso científico, essa palavra indica a As referências em I Reis aludem às decorações do
transformação ou metamorfose de certos insetos. tabernáculo, que empregavam a figura de palmeiras;
em II Crô. 3:5 e 28:15 há menção a Jericó, a cidade
das palmeiras; em Sal. 92:12 a palmeira aparece
PALLIUM como símbolo de inflorescência; em Can. 7:7,8 está
Essa palavra é usada, sem transliteração, na em foco a beleza e frutificação da mulher, enquanto
linguagem ritual da Igreja Católica Romana. Signifi que o fruto da palmeira aparece como símbolo de seus
ca «capa». Está em foco uma espécie de faixa seios; nas referências do livro de Ezequiel temos as
arredondada de lã branca, com pendentes, conferida visões desse profeta quanto ao futuro templo ideal,
pelo papa aos arcebispos, como símbolo da jurisdição com enfeites sob o formato de palmeiras. Quanto ao
deles. Novo Testamento, — o trecho de João 12:13
menciona palmas em conexão com a entrada triunfal
de Jesus em Jerusalém. Esse evento é a inspiração do
chamado Dia de Ramos, da Igreja Católica Romana
PALMA DA MÃO (vide). Em Apo. 7:9, a palmeira é símbolo de vitória.
Ver o artigo sobre Pesos e Medidas. A palmeira possui uma raiz profunda, em busca de
água no subsolo; e assim ela resiste bem em lugares
áridos. É devido a esse detalhe que a palmeira serve de
PALMEIRA símbolo de prosperidade e vida, segundo se vê em Sal.
92:12. Por muitas vezes, seu nome era aplicado a
No hebraico, tamar; no grego, pholniks. Há muitas outras coisas, como Tamar, nome de uma mulher (II
espécies de palmeiras. Nas Escrituras, quando se lê Sam. 13:1), ou nome de uma localidade (Eze. 27:19;
sobre a palmeira, usualmente trata-se da tamareira, 48:28).
cujo nome científico é Phoenix dactylifera. Essa
espécie de palmeira pode chegar a mais de 24 m de
altura. Seu tronco termina em um leque de ramos que
se assemelha a muitos braços em atitude de petição. PALMO
Por isso, sua aparência é pitoresca. Sua seiva pode ser Ver sobre Pesos e Medidas.
preparada como uma bebida forte, conhecida pelo
nome de araca, e seus frutos, as tâmaras, são muito
nutritivos e de fácil digestão. Por esse motivo, esse
fruto tradicionalmente sempre foi muito procurado, PALTI
tendo-se tornado um importante item do comércio No hebraico, «Yahweh liberta». Esse foi o nome de
internacional. Nem mesmo as suas sementes perdem- duas personagens que figuram nas páginas do Antigo
se; pois, uma vez trituradas, são usadas como Testamento:
forragem de animais, especialmente no caso dos 1. Um filho de Rafu. Palti foi um dos doze espias
camelos. As palmas são usadas para tetos, em cercas, enviados por Moisés a investigar o estado da terra de
cestos, esteiras e vários outros artigos de uso caseiro. Canaã. Ficou entendido que Moisés agiria em
Na Palestina, as palmeiras geralmente são encontra conformidade com o relatório deles. Palti representa
36
PALTIEL - PAMPSIQUISMO
va a tribo de Benjamim, e deu um rejatório negativo, que «todas as coisas são cheias de deuses», deva ser
secundado por nove outros (ver Núm. 13:9). compreendida poeticamente. Talvez ele tenha apenas
2. Palti, filho de Laís, um benjamita. Esse foi o querido dizer que a matéria é dotada de propriedades
homem a quem Saul deu como esposo a Mical, tais que é possível que o desenvolvimento de todas as
mulher de Davi, quando este precisou fugir para coisas tenha partido de alguns poucos elementos
escapar com vida, e de quem ela foi tirada, quando básicos, como a água, a terra, o fogo e o ar. Teríamos
Davi obteve novamente o poder. Ver I Sam. 25:44; II então um hilozoismo mecânico. Porém, se um
Sam. 3:15. Palti ficou desolado; Mical não voltou de princípio psíquico realmente opera na matéria, então
bom grado a Davi. Finalmente, Davi percebeu que o isso já nos apresenta um hilozoismo pampsiquista.
que tinha feito era um erro. Uma total alienação entre 2. Aristóteles. O mundo material responde a Deus;
Davi e Mical parece ter sido o que, finalmente, se a todas as coisas são conferidos vida e movimento,
instalou entre os dois. O trecho de II Sam. 3:15 exibe através do amoroso Impulsionador Primário. Isso
uma forma variante do nome, Paltiel. poderia envolver uma expressão poética que suben
tende processos mecânicos, embora tal afirmação
também possa ser entendida em termos de pampsi
PALTIEL quismo. Aristóteles talvez advogasse um hilozoismo
mecânico.
No hebraico, «livramento de El(Deus)», ou, então, 3. Giordano Bruno. Ele ensinava claramente o
Deus liberta. Esse apelativo ocasionalmente foi usado pampsiquismo. A unidade básica de todo o seu
como forma alternativa de Palti; mas também houve sistema é a mônada, que é dotada de sua própria
um príncipe da tribo de Issacar, com esse nome. Ele energia e forma de vida. As almas e os deuses seriam
era filho de Azã(ver Núm. 34:26). Ajudou a Eleazar e formas superiores de vida. Deus é a Grande Mônada,
Josué na distribuição dos territórios da parte ocidental e tudo vive nele e para ele. Temos aí uma espécie de
do rio Jordão quando as dez tribos, em meio a muitas panteísmo (vide).
batalhas, apossaram-se daquela área. O tempo foi
cerca de 1440 A.C. 4. Campanella. Ele criou uma elaborada e
graduada realidade, onde cada nível é concebido
como participante das qualidades de conhecimento,
poder e amor.
PALTITA 5. Leibnitz. Ele desenvolveu uma monadologia
No hebraico, «nascido em Bete-Pelete», um lugar onde cada unidade tem a sua própria consciência,
da parte sul do território de Judá (Jos. 15:27). Essa é apetites e sentimentos. As mônadas da matéria crassa
uma forma variante do nome Palti. Era o nome seriam sonolentas, embora isso não signifique que
gentílico de Helez, chefe da sétima divisão do exército elas estejam mortas.
de Davi (ver II Sam. 23:26). Ele é chamado 6. Maupertius. Ele falava em termos de partículas,
«pelonita», em II Crô. 11:27; 27:10. Deve ter vivido de que se comporiam todas as coisas. E até as
em torno de 1000 A.C. menores dessas partículas teriam consciência, aversão
e memória.
7. Goetke. Ele utilizou-se da monadologia de
PALU Leibnitz a fim de emprestar uma base filosófica à sua
No hebraico, «distinguido». Esse foi o nome de um idéia de que todas as coisas são dinâmicas e
dos filhos de Rúben (Gên. 46:9; Êxo. 6:14; Núm. esforçam-se por subir na escala do ser.
26:5,8). Talvez o Pelete de Núm. 16:1 seja a mesma 8. Schelling. Ao tentar evitar o dualismo, ele
pessoa. O trecho de Núm. 26:5 mostra-nos que seus sugeriu que a natureza inteira está viva, ainda que
descendentes tornaram-se um clã em Israel, os certos elementos estejam «domentes». Mas todos os
paluítas. elementos da natureza participariam da consciência.
9. Schopenhauer. Todas as coisas possuem vida e
vontade irracional, pelo que dificilmente elas podem
PAMPSIQUISMO ser inanimadas em qualquer sentido. Antes, todas as
Essa palavra vem do grego pan, «tudo», e psuché, coisas teriam algum nível de consciência.
«alma». O vocábulo indica que todas as coisas são 10. Fechner. Falamos sobre matéria, e à natureza
possuidoras de alma, de algum elemento imaterial, chamamos de realidade externa. Mas, ainda segundo
usualmente incluindo a idéia de algum nível de ele, todas as coisas teriam vida e alma.
inteligência. Esse termo pode ser comparado à 11. Lotze. Ele ensinava uma monadologia que
palavra hilozoismo, «matéria viva», uma matéria que edifica a realidade a partir da base de um continuo
tem em si mesma princípios de vida. Alguns filósofos psíquico de almas.
têm uma interpretação pampsiquista do hilozoismo
(vide), e não uma interpretação mecanística. Tales de 12. Kozlov. Ele desenvolveu um sistema de
Mileto afirmava que todas as coisas estão «cheias de pampsiquismo, chamando-o por esse nome.
deuses», o que soa muito com o pampsiquismo. De 13. W. Wundt. Ao considerar a natureza básica da
acordo com esse ponto de vista, não há tal coisa como realidade, chegamos mais perto da verdade se
matéria inanimada, embora possa haver formas de aceitarmos a posição pampsiquista, e não depender
vidas ativas e altamente inteligentes; mas estaria vivo mos da idéia mecânica do universo.
o próprio humilde átomo, ainda que dormente. E de 14. W.K. Clifford. Para ele, a natureza consiste em
átomos é que todas as coisas se compõem. Alguns «ejeções», constituídas por «produtos do pensamento».
estudiosos têm exposto essa idéia como necessária a 15. Charles Peirce. Os mistérios da matéria são
qualquer teoria da evolução. Se a matéria é viva, melhor explicados em termos do pampsiquismo do
então não é preciso qualquer grande salto de fé para que em termos mecânicos. A lei tem um caráter
crer-se que a matéria viva poderia ter progredido até formador de hábitos que subentende em mente.
formas elevadas de vida, com altas expressões de 16. William James. Em seu desejo de vincular a
inteligência. consciência humana ao divino, ele sugeriu que o
Idéias dos Filósofos: pampsiquismo pode ser uma doutrina verdadeira. A
1. O Hilozoismo. Talvez a declaração de Tales de posição dele parece ter um pampsiquismo pluralista.
PANAÉTIO - PANENTElSMO
17. A.N. Whitehead. Ele fazia dos sentimentos uma de uma fonte, ou a fim de guardar comestíveis, etc.
categoria universal, que todas as coisas possuiriam,
pelo que também defendia certa forma de pampsi-
quismo. PANELAS DE CARNE
18. Hartshome. Ele criou uma doutrina denominada No hebraico, sir basar. A expressão inteira ocorre
societismo, de acordo com a qual em cada entidade do somente em Exo. 16:3. Estão em foco ali as grandes
universo há certo grau de consciência, o que nos panelas usadas para cozinhar carne. Essas panelas
remete ao pampsiquismo. também podiam ser usadas para ferver água ou para
lavagens.
PANAÉTIO DE RODES Antes do êxodo, os israelitas trabalhavam dura
mente no Egito; mas também tinham muitas coisas
Suas datas foram 180-110 A.C. Ele foi um filósofo boas para comer, incluindo a carne preparada nessas
grego do período estóico médio. Nasceu na ilha de panelas. Presumimos que os judeus comiam carne de
Rodes. Educou-se em Pérgamo e Atenas, onde foi vários animais, domésticos ou caçados; e o peixe
discípulo de Caméades, e depois associado dele. Ele também era chamado «carne», entre os judeus. Seja
ensinou em Roma e obteve notoriedade e influência como for, uma vez no deserto, eles relembraram a
no círculo de Cipião, o Moço. Após a morte deste, dieta abundante de carne, contrastando isso com a
Panaétio voltou a Atenas e tomou-se cabeça da frugal alimentação que recebiam no deserto. Portan
escola estóica dali. Cícero muito ficou devendo a ele, to, a expressão «panelas de carne» adquiriu o sentido
em termos de idéias e expressões! metafórico de desejar algum luxo ou condição
Idéias: vinculado a um estado pecaminoso, ou, pelo menos, a
1. De modo geral, Panaétio foi um estóico do tipo um estado espiritual desvantajoso, como era conti
romano; mas acabou abandonando a cosmologia do nuarem eles escravizados no Egito. Portanto, aquele
sistema e começou a ensinar ciclos repetidos de anelo, na verdade, era uma estupidez, era não
destruição de todas as coisas, por meio do fogo. entender o que Deus estava fazendo com eles.
Parece que essa foi uma das idéias de Caméades que A arqueologia tem mostrado que as panelas de
Panaétio acabou adotando. carne do Egito eram vasos de bronze cofn três pernas.
2. Panaétio, a exemplo da maioria dos estóicos O mais provável, entretanto, é que havia muitos tipos
romanos abandonou a apatia dos gregos e, em seu e tamanhos de panelas. Esse utensílio também é
lugar, pôs a tranqüilidade mental, juntamente com a usado simbolicamente para indicar a cidade de
maneira de pensar dos epicureus. Ele salientava quão Jerusalém (Eze. 11:3), e também representa a avareza
importante é a obtenção da felicidade, pelo que (Miq. 3:3) e a vingança imediata (Sal. 58:9).
ensinava certa forma de eudemonismo (vide). Dentro As «panelas» usadas no santuário de Israel eram
desse sistema, a tranqüilidade mental reveste-se de caldeirões fundos, feitos de bronze (ver Êxo. 38:3; I
capital importância. Nós, os crentes, também não nos Reis 7:45; II Reis 4:38-41; 25:14; II CrÔ. 4:11,16;
devemos preocupar com aquelas coisas que estão fora 35:13). Também eram usados para abluções (Sal.
de nosso controle, mas devemos fazer aquelas coisas 108:9) e seus formatos eram adaptados para tirar
que estão dentro de nosso alcance, de uma maneira água das cisternas (II Sam. 3:26).
fiel, confiando na providência do Logos, que faz
correta e justamente todas as coisas.
3. A razão humana, para Panaétio, participaria da
razão divina do Logos, o que subentende a doutrina PANENTElSMO
de um humanismo universal, visto que a natureza Ver o artigo geral sobre Deus, III. 12. A raiz grega
humana transcende à natureza dos animais. O desse vocábulo é pan, «tudo», e theós, «deus»,
homem atua com base em dois tipos de razão: a significando, assim, «tudo está em Deus» ou «Deus
teórica e a prática. Este último quase sempre é o tipo está em tudo». Tal palavra pode significar que tudo
mais útil, aquele tipo de razão que precisamos faz parte de Deus, ou que Deus está em todas as
enfatizar. coisas, embora ele não seja todas as coisas. Isso posto,
Escritos: Sobre o Dever; Sobre a Providência; Sobre deve-se fazer a diferença entre este termo e aquele
o Bom Animo; Sobre as Escolas Filosóficas. Mas, outro, panteísmo (vide). Todas as coisas estão dentro
dessas obras dispomos apenas de fragmentos. do Ser de Deus, de acordo com o panenteísmo,
embora Deus não consista na totalidade das coisas. O
panenteísmo afirma a auto-identidade de Deus como
PANAGUE, CONFEITOS independente das coisas particulares que existem, em
O sentido dessa palavra, no hebraico, pannag, é separado ou consideradas em sua totalidade. Assim,
incerto. Aparece em Eze. 27:17, que fala sobre o Deus pode existir necessariamente, embora todas as
comércio de Tiro e seus produtos. Nossa versão coisas existam de forma contingente. Esse conceito
portuguesa traduz esse termo por «confeitos». De fato, procura reconciliar os motivos legítimos do panteísmo
quase todos os eruditos pensam estar em foco algum ordinário (Deus é, simplesmente, de facto, a
tipo de bolo. Talvez fosse feito de algum cereal tipo totalidade eterna das coisas, e o pensamento extemo
milho. Bolos assim são atualmente chamados dhura, que as outras coisas em nenhum sentido fazem parte
na Palestina. A tradução siríaca verte a palavra de seu ser). O panenteísmo admite que em Deus há
hebraica por «painço», o Panicum miliaceum. algo independente dos particulares, mas também
Presumivelmente, certas massas comestíveis eram assevera que esse algo é apenas a «essência» de Deus,
feitas desse cereal. cuja natureza inteira também inclui os acidentes,
cada um dos quais é a integração de todos os seres
acidentais, em um dado estado do universo.
PANELA Idéias dos Filósofos Sobre a Questito:
Tradução errada de uma palavra hebraica, kad, 1. Krause. Ele foi o primeiro a usar o termo para
«jarra de barro», usada por dezoito vezes no Antigo indicar que o mundo é uma criação finita dentro do
Testamento (por exemplo, I Reis 17:12,14,16; 18:23), Ser infinito de Deus. O todo é um organismo divino,
e que no Oriente Próximo era usada para tirar água onde co-existem o superior e o inferior. O panen-
PANFlLIA - PANTAENO
teísmo usualmente diz que o ser existe mediante razão». Hegel identificava o racional com o real, e
relações orgânicas. fazia de tudo uma parte da Razão divina. Assim
2. Fechner. Ele foi tanto um pampsiquista (ver sendo, o seu sistema era panlogístico. Outro tanto se
sobre o Pampsiquismó) quanto um panenteísta. Ele dá com o estoicismo, dentro do qual o Logos, a Razão
cria que a totalidade da existência, incluindo a divina, é a base de todo o ser, e seu controle. De
chamada matéria inanimada, de alguma maneira tem acordo com esses sistemas, a lógica (a teoria do
sensibilidade. Todas as coisas seriam componentes da pensamento) coincide com a ontologia (a teoria do
expressão mais elevada do ser. O Ser divino inclui ser).
todos os demais seres como partes constituintes, tal
como as células de um organismo fazem parte desse
organismo, embora o ser seja maior que cada uma de PANO DE UNHO
suas células. No grego, sindón, «pano de linho». O termo grego
3. Whitehead. Para ele, a deidade seria bipolar, em aparece por cinco vezes: Mat. 27:59; Mar. 14:51,52;
sentido tanto absoluto quanto relativo. O homem é 15:46 e Luc. 23:53. Com a exceção da referência em
imortal, por causa desse relacionamento. Ele vive a Marcos 14:51,52, todas as outras menções desse
imortalidade de Deus, posto que de maneira finita. vocábulo se referem à mortalha de linho na qual o
4. Hartshome. O Ser divino é bipolar, tendo corpo morto de Jesus foi envolvido, após haver sido
aspectos absolutos e relativos. E o todo forma uma retirado da cruz, no dia de sua crucificação. No
união orgânica, da mesma maneira que um entanto, em Marcos 14:51,52 é mencionado o
organismo inclui a totalidade de suas células. surgimento de um jovem, coberto unicamente com
5. Iqbal. Ele foi um filósofo oriental que defendia a um lençol, no trajeto entre o local da detenção de
posição panenteísta, embora sem empregar o Jesus, o jardim do Getsêmani, e a casa do sumo
vocábulo. sacerdote. Ao colocarem a mão sobre o jovem, ele
fugiu, despido. Muitos estudiosos acham que isso é
PANFtLIA uma alusão velada e pitoresca a Marcos, autor do
segundo evangelho ou amanuense de Pedro, que seria
Essa palavra deriva-se do grego, onde significa «der o verdadeiro autor desse evangelho. A noite do
toda raça». Esse é o nome de um antigo país ou julgamento de Jesus pode ter sido uma tioite muito
província da Àsia. Em tempos remotos, chamava-se quente, quando Marcos dormia. Ao despertar, talvez
Mopsósia. Estava limitado a oeste pela Lícia e parte por ouvir o ruído de uma pequena multidão que
da Asia; ao norte pela Galácia; a leste pela Cilicia e prendera Jesus, e que passava, ele saiu à rua como
parte da Capadócia; e ao sul pelo mar de Panfília, ou estava. Levado pela curiosidade, ou pelo senso de
seja, uma porção do mar Mediterrâneo. Ver Ptolomeu confraternização, Marcos acompanhou Jesus durante
L.5, cap. 5. Era parte do que hoje é o centro-sul da algum tempo, até que foi obrigado a fugir desnudo,
Turquia, no mar costeiro. Evidências de natureza talvez por temer ser preso também.
lingüística indicam que o país contava com uma
população etnicamente mista. A cidade principal,
Ataléia, provavelmente foi um centro de operações do
apóstolo Paulo. Essa cidade foi fundada por Ãtalo II, PANO DE SACO
de Pérgamo, depois de 189 A.C., com a ajuda de Ver sobre Saco (Pano de Saco).
colonos gregos. Mas também dispunha de outras
cidades, como Aspendo, uma base naval dos persas; e
Side, fundada por colonos eólios; e também Perge.
A Panfília passou do domínio persa para a órbita PANSOMATISMO
grega, sob o governo dos reis selêucidas. Naturalmen Esse é o termo que se aplica à idéia de Kotarbinski,
te, com a expansão romana, passou para o controle de que toda entidade sensível é um corpo. Ele
dos romanos. E a organização política romana deu à advogava a doutrina que diz que todo objeto é uma
Panfília uma área maior do que tivera anteriormente. coisa, ou física ou sensível. A essa doutrina ele
Nos dias do apóstolo Paulo, a Panfília não era chamou de reísmo ontológico, ou somatismo, tendo
apenas uma província regular, porquanto o impera rejeitado o termo «materialismo».
dor Cláudio unira a Panfília à Lícia, envolvendo,
provavelmente, uma boa porção da Pisídia, nesse
amálgama. Foi através da Panfília que Paulo e PANTAENO
Bamabé chegaram, pela primeira vez, à Asia Menor, Ver os artigos separados sobre Alexandria,
tendo partido da ilha de Chipre. Ele e Bamabé Teologia de; Clemente de Alexandria e Origenes. Não
velejaram rio Cestro acima, até Petga (ver Atos se sabe de suas datas exatas, embora saiba-se que ele
13:13). O trecho de Atos 2:10 indica que havia muitos floresceu em tomo do ano 200 D.C. Ele foi um dos
judeus nessa província, sendo provável que eles principais mestres de Clemente de Alexandria, o qual,
tivessem uma sinagoga em Perge. Os dois missioná por sua vez, foi professor de Origenes, e foi um dos
rios cristãos, finalmente, deixaram essa área, através primeiros mestres da Escola Catequética Cristã, de
de seu porto marítimo principal, Atalia. Anos mais Alexandria, no Egito. Eusébio informa-nos que ele fez
tarde, Paulo passou de navio ao largo das costas da uma viagem missionária à Índia, onde permaneceu
Cilicia e da Panfília (ver Atos 27:5). A igreja fundada durante algum tempo; porém, não possuímos
em Perge é a única da região a ser mencionada nas qualquer detalhe sobre essa fase de sua vida. A
páginas do Novo Testamento, no século I da era expressão «escola alexandrina» refere-se a qualquer
cristã. Porém, a história eclesiástica revela-nos que, uma das tradições intelectuais associadas àquela
no tempo das perseguições movidas por Diocleciano cidade, de origem pagã, judaica ou cristã. Pode-se
(304 D.C.), havia ali nada menos de doze outras dizer que essa escola teve suas origens em cerca de 310
congregações cristãs. A.C., quando Ptolomeu Soter fundou uma escola e
uma biblioteca no lugar. Em 642 D.C., Alexandria foi
capturada pelos islamitas, quando então, para todos
PANLOGISMO os efeitos práticos, chegou ao fim a escola
Essa é uma palavra grega que significa «tudo é alexandrina. A biblioteca dali (ver sobre Alexandria,
39
PÂNTANOS - PANTEÍSMO
Biblioteca de) tomou-se um gigantesco centro de a. O hilozoísmo (vidè) pode ser interpretado como
coletâneas de livros. Ao ser, finalmente, incendiada, uma variação do panteísmo, contanto que façamos da
continha setecentos mil volumes, um número declaração de Tales, «todas as coisas estão cheias de
fantástico para o mundo antigo, um depósito de deuses», como algo mais do que uma declaração
tesouros literários incalculáveis, quase tudo perdido poética. Essa forma tem sido denominada panteísmo
nas chamas. hilozoísta.
À medida que se foi expandindo a escola b. Parmênides referia-se ao mundo como absoluto e
alexandrina, foi incluindo eruditos pagãos, judeus e imutável, e se considerarmos divino a esse absoluto,
cristãos. Filo foi representante dos judeus; os filósofos então teremos nessa idéia uma forma de panteísmo.
neopitagoreanos e neoplatônicos representavam os Para ele as mudanças são ilusórias, razão pela qual
pagãos; e Pantaeno, Clemente e Orígenes representa sua forma de panteísmo é apodada de acósmica.
vam os cristãos. Houve empréstimos de conceitos e c. Heráclito pensava que o fogo é a essência de
adaptações de conceitos para servirem aos sistemas todas as coisas, e por isso considerava o fogo divino. O
particulares de cada um. — Quanto às idéias dos fogo atuaria sobre todas as coisas, produzindo
cristãos alexandrinos, ver os artigos mencionados mudanças nas mesmas. Esse tipo de panteísmo tem
acima. sido chamado de panteísmo imanentístico.
d. O estoicismo pensava que o Logos é o fator
PÂNTANOS controlador de todas as coisas, e do Logos é que se
No hebraico, gege. Esse termo hebraico, que só derivariam todos os seres. O Logos é Razão Divina. O
ocorre em Eze. 47:11 e Isa. 30:14 (com a forma geb, mundo da razão (Logos) seria imanente nos homens.
em Jer. 14:3), indica água estagnada, repleta de vida Todas as coisas procedem do Logos; todas as coisas
animal e plantas aquáticas. Por causa do clima acabam retomando ao Logos, através de grandes
geralmente seco da Palestina, há bem poucos ciclos. O Logos seria o fogo universal, e uma grande
conflagração assinalaria o fim de cada ciclo. Esse tipo
pântanos naquela região do mundo. E os poucos de panteísmo tem sido apodado de panteísmo estóico.
pântanos ali existentes podem ser achados em tomo
do mar Morto. O lugar citado na referência do livra e. O neoplatonismo usou o conceito das emanações
de Ezequiel fica no vale do Sal, nas proximidades do a fim de explicar como o Logos cria todas as outras
mar Morto. Ao predizer a mudança da sorte de Israel, coisas; contudo, no seu sentido mais estrito, não teria
aquele profeta declarou que tais pântanos seriam havido criação, mas, tão-somente, emanações. A
deixados como depósitos de sal, para serem matéria seria atenuada pelo Ser divino, não sendo
escavados. algo separado e distinto dele. A essa idéia dá-se o
Algumas traduções também traduzem as palavras nome de panteísmo emanacionista. Durante a Idade
hebraicas bitstsah e tit por pântano. Mas é melhor Média, as formas estóica e neoplatônica de panteísmo
ocasionalmente encontraram defensores. Erígena,
traduzi-las por «lama», «lamaçal». Ver bitstsah em Jó Averóis e o misticismo da cabala judaica (vide) são
8:11; e ííí em II Sam. 22:43; Jó 41:30; Sal. 69:14; Jer. exemplos disso. Nicolau de Cusa (vide) e Giordano
37:6; Miq. 7:10; Zac. 9:3 e 10:5. As referências do Bruno (vide) deram ao panteísmo suas próprias
livro de Jó provavelmente referem-se aos alagadiços distorções. Boehme parece ter seguido uma espécie de
do Egito, ao longo do rio Nilo.
panteísmo acósmico. Spinoza, com sua doutrina do
aspecto dual, tinha um panteísmo monista. Hegel
chamou seu tipo de panteísmo de panteísmo
PANTEÍSMO acósmico. Para ele, as mudanças eram apenas
Esboço: aparentes, porquanto tudo faz parte do Grande
1. Definição Planejador. Porém, é melhor dizer-se que, em sua
2. O Panteísmo no Ocidente filosofia, o mundo não está perdido em Deus, mas os
dois conceitos coexistem formando uma indissolúvel
3. O Panteísmo no Oriente unidade. Goethe misturava o panteísmo hilozoísta
4. O Panteísmo na Igreja Cristã com o panteísmo estóico. O sistema de Hegel da
5. O Panteísmo e a Ética Razão Absoluta, que opera através das tríades, é uma
1. Definição forma de panteísmo. Ele mesclava elementos do
Essa palavra vem do grego, pau, «tudo», + theós, panteísmo estóico, com o panteísmo monista e com o
«deus», dando a entender que «tudo é Deus». De panteísmo acósmico. F.H. Bradley e Josiah Royce, em
acordo com o panteísmo, Deus é o cabeça da seus tipos de idealismo, ensinaram um panteísmo
totalidade, e o mundo é o seu corpo. A forma absolutista, monista.
adjetivada, «panteísta», foi cunhada pela primeira vez 3. O Panteísmo no Oriente
por John Toland, em 1705. Por sua vez, Fay atacou a As Escrituras do hinduísmo (Vedas e Upanisha-
filosofia de Toland, e usou a forma nominal, das) identificam o «eu» interior do homem com o
«panteísmo». E, desde então o termo tem sido divino, e entendem que as coisas deste mundo são
continuamente usado. Naturalmente que há várias ilusórias. Shankara chamava o mundo de sonho, e
formas de panteísmo, discutidas neste artigo, mais encontrava a realidade somente em Brahman, pelo
abaixo. Também deve-se distinguir o paateísmo do que ensinava um panteísmo acósmico. Ramanuja
panenteísmo (vide). O panteísmo é uma espécie de afirmava um panteísmo emanatístico. O mundo seria
monismo, que identifica a mente e a matéria, e que o corpo de Brahman. O budismo, em seus vários
pensa que a unidade é divina. E assim, o finito e o representantes, tem tomado diferentes posições, como
infinito tomam-se uma e a mesma coisa, embora acabamos de descrever. Chih-i, no budismo chinês,
diferentes expressões de uma mesma coisa. O considera a existência ordinária ilusória, encontrando
universo (toda a existência e todos os seres) passa a ser a única realidade na Mente Pura, o que significa que
auto-existente, sem começo, embora sujeito a também defende um panteísmo acósmico. O sufismo
modificações. Como é óbvio, também não terá fim. (um movimento dentro do islamismo) também
Concebidos como um todo, todos os seres e toda a defende um tipo monístico de panteísmo.
existência é Deus, de acordo com o panteísmo. 4. O Panteísmo na Igreja Cristã
2. O Panteísmo no Ocidente A tendência dos místicos, do Oriente ou do
PANTEÍSMO - PÀO
Ocidente, cristãos ou não-cristãos, é o de usar quentes.
expressões que pareçam panteístas, visto que uma das Devemos atribuir aos antigos egípcios a primazia
principais categorias do misticismo é aquela da no uso do ferm ento para o fabrico do pão. Os
unidade de Deus. Porém, a maioria dos místicos não estudiosos têm especulado que o processo foi
tem a mesma paciência dos teólogos sistemáticos, e, descoberto por puro acaso, quando células de
assim sendo, não requerem definições. Ver o artigo fermento silvestre caíram sobre a massa, antes desta
geral sobre o Misticismo. Seja como for, o ser levada ao forno. Mais tarde, descobriu-se que um
cristianismo tem um dualismo que separa Deus de sua pouco de massa podia ser usado como iniciador do
criação, de forma radical, e usualmente defende a processo de fermentação, para a próxima massa a ser
idéia da criação dentro do tempo. O conceptualismo preparada; e, desse modo, pão feito com fermento era
fala sobre a criação como um conceito da mente guardado para esse propósito. Algumas vezes, os
divina, realizado dentro do tempo, embora admitindo romanos usavam um fermento feito de suco de uvas e
a eterna existência da mente divina. Origenes de trigo selvagem, que funcionava bem porque o suco
afirmava que a criação é um ato eterno de Deus, e isso de uvas continha fermento das cascas das uvas. A
pode significar que ele não acreditava em um começo espuma que se forma na cerveja também é uma fonte
no sentido absoluto do termo, mas antes, em uma de fermento, e os antigos celtas da Grã-Bretanha
interminável transição de uma forma de criação para usavam essa fonte no fabrico do pão. Lá pelo começo
outra. Não obstante, não identificava o mundo com do século XVIII D.C., foi identificado o organismo do
Deus, e nem chamava o mundo de divino, pelo que ele fermento, e assim começou a indústria de ferm entos
não era panteísta. Visto que, no cristianismo, Deus é artificiais. Ora, um dos subprodutos da cerveja é o
concebido como um Ser pessoa, não podendo ser ele fermento de que acabamos de falar, e os padeiros não
concebido como idêntico à sua criação, conceitos demoraram a utilizar-se do mesmo. Atualmente,
panteístas são reputados manifestações do ateísmo, quase sempre, uma dona-de-casa que queira fazer pão
visto que não nos fornecem um conceito de Deus caseiro pode esperar sucesso, agradando à sua
correspondente à idéia cristã do que Deus deve ser. família. Um desastre ocasional pode ser perdoado.
Ver o artigo geral sobre Deus, seções III. Conceitos de
Deus, e IV. O Conceito Bíblico de Deus. Tal como nos idiomas modernos, a palavra pão,
5. O Panteísmo e a Ética tanto no hebraico como no grego, significava mais do
qye esse artigo da alimentação. Assim, em Luc. 11:3,
O cristianismo ortodoxo frisa, com base na ética, a por exemplo, a palavra parece indicar toda espécie de
pessoa divina-humana. O panteísmo salienta a alimento, embora, em outros trechos bíblicos, estejam
relação parte-tudo, e perde de vista a relação eu-tu de em foco todos os artigos de p ad aria e p astelaria.
um Deus pessoal. Várias formas de panteísmo podem Todavia, também se deve pensar no próprio pão, feito
enfatizar o livre-arbítrio humano ou o determinismo de trigo, de cevada ou de centeio, embora, conforme o
divino, mas não do mesmo modo como faz o
cristianismo, que concebe Deus como uma pessoa. conhecem os entre nós, o pão não era um artigo
Palavras como amor, dever, bom, destino, assumem comum nos antigos países do Oriente. Usualmente, a
significados diferentes, no panteísmo e no cristia palavra significa pães mais em formato de bolo.
nismo. A Bíblia deixa de ser o principal manual sobre 1. Substâncias usadas no fabrico do pão. O melhor
a ética—para nada dizermos sobre o único manual da pão era feito de farinha de trigo (Juí. 6:19; II Sam.
ética. Doutrinas como a da missão remidora de Cristo 1:24; I Reis 4:22), bem amassada (Gên. 18:6; Lev.
não são interpretadas, pelo panteísmo, segundo os 2:1), ou então um pão mais pop u lar era feito de
moldes cristãos tradicionais, e a redenção tem muito cevada (Juí. 7:13; João 6:9-13).
mais a ver com os atos éticos dos homens, em sua 2. M odo de preparação do pã o . O cereal era
natureza e em suas expressões. esfarinhado de vários modos. Em seguida, a massa
era amassada em gamelas de couro ou de madeira,
quando a farinha era misturada com água e fermento.
Permitia-se que a massa tufasse, por bastante tempo,
PÀO talvez até por uma noite inteira (Mat. 13:33; Luc.
No hebraico, lechem, palavra usada por mais de 13:21 e Osé. 7:6), pois o ferm ento antigo era um
duzentas e trin ta vezes no A ntigo T estam ento, pouco de m assa já ferm entada, e não era como os
tratando-se de pão comum, sem falar nos pães asmos, modernos fermentos químicos são, de ação rápida. Os
etc. No grego temos ártos, que aparece em quase cem pães asmos, todavia, não requeriam o uso de
trechos diferentes, oitenta por cento ou m ais nos fermento. Esses eram chamados «doçuras» (ver Gên.
quatro evangelhos, desde Mat. 4:3,4 até Heb. 9:2. 18:6; 19:3; Êxo. 12:39 e I Sam. 28:24). Q uando a
m assa já estava ferm entada, então era levada ao
No hebraico, lechem, que também significa, em forno, que podia ser público ou particular. Havia
termos gerais, «alimento» ou «sustento». Esse vocábulo padeiros profissionais desde a antiguidade (Osé. 7:4;
aparece no Antigo Testamento por mais de duzentos e Jer. 37:21). Ver também o artigo sobre Forno. Um
oitenta vezes, desde Gên. 3:19 até Mal. 1:7, sendo, tipo de forno era uma escavação feita no meio de um
portanto, uma palavra comumente usada ali. No dos aposentos principais de uma casa, talvez com 1,20
Novo Testamento, ártos, palavra grega que ocorre por m a 1,50 de profundidade e 0,90 m de lado. Esse tipo
noventa e sete vezes, desde Mat. 4:3,4 (que cita Deu. de forno era forrado com uma espécie de cimento, ou
8:3) até Apo. 20:2. então com pedras. O fogo era aceso no fundo do
Nem sempre o pão foi leve e fofo conforme o forno. Q uando ficava suficientem ente aquecido,
conhecemos hoje em dia. De fato, foi somente a partir podia cozer grande variedade de alimentos. Durante
dos últimos cem anos que os panificadores têm usado os dias frios de inverno, o mesmo forno era usado para
regularmente, o fermento, para tufar o pão. Antes aquecer a casa. Um outro método consistia em uma
disso, era preciso ter muitos anos de prática para que cavidade rasa, onde eram aquecidas algumas pedras,
alguém fizesse um bom pão, além de uma pitada de no fogo ali feito. Uma vez quentes, as pedras eram
boa sorte. Os padeiros misturavam cereais esmiga removidas e a cavidade era limpa. A massa era posta
lhados com água, e então a massa era cozida sobre nessa cavidade aquecida, onde, por muitas vezes, era
pedras quentes ou sobre fornos primitivos. Outras deixada a noite in teira, pois o processo era lento.
vezes, a /nistura era cozida ao ar livre, sobre cinzas Nesse processo, tam bém podia ser usada a areia.
41
PÃO - PÃO, O PARTIR DO
Também havia panelas especialmente feitas com essa era uma espécie de agradecimento pelos cuidados
finalidade, de barro, de ferro ou de ouros metais. providenciais de Deus, como devolução simbólica de
Essas panelas eram postas sobre pequenas fogueiras. parte daquilo que fora provido pela bondade de Deus.
De outras vezes, eram feitas fornalhas ou lareiras nas A mesa dos pães da proposição é um tipo de Cristo
casas, as quais eram usadas p ara cozinhar toda como o Pão da Vida, aquele que sustenta os homens,
espécie de alimentos, bem como para aquecer o meio espiritualmente falando (I Ped. 2:9 e Apo. 1:6). Esse
ambiente durante o inverno. Finalmente, havia o pão pão p refigura o grão de trigo (João 12:24),
de cinzas. Era feita uma fogueira no chão. Quando o pulverizado no moinho dos sofrimentos (João 12:27) e
solo estava bem quente, o pão era posto ali, e então sujeitado ao fogo do julgamento divino, em lugar dos
coberto com cinzas e brasas. Esse método, porém, homens (João 12:32-33). b. O pão do céu, o maná,
deixava a crosta do pão sa tu rad a de cinzas e era, literalmente falando, a provisão divina, simboli
partículas de madeira queimada. O pão precisava ser zando os cuidados de Deus pelos homens, em sua
virado ao contrário, pois, do contrário, ficava cozido jornada durante a vida terrena, similar à subsistência
apenas em um dos lados. O trecho de Oséias 7:8 diz de alguém no deserto, c. Além disso, Cristo é nosso
que Efraim era «um pão que não foi virado», o que pão espiritual, descido do céu (João 6). Ver o artigo
significa que não era bem p rep arad o —um lado separado sobre Jesus como o Pão da Vida. — Ver
cozido, e outro cru. Isso refere-se ao estado espiritual tam bém sobre a Transubstanciação. d. O pão do
de Efraim, onde sua espiritualidade era mesclada com agape, ou seja, a refeição memorial da Igreja, que
idolatria e corrupção. No Novo Testamento há uma comemora o sacrifício de Cristo (Mat. 26:26 e I Cor.
expressão similar, que lhe corresponde: «...tendo 11:23 ss). e. O pão da aflição, que indica a
forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder» sobrevivência com base em ração escassa, em períodos
(II Tim. 3:5). Entretanto, um Targum judaico sobre o de escassez (I Reis 22:27; Isa. 30:20). f. O pão da
trecho de Oséias também sugere estar em pauta a tristeza ou do trabalho árduo (Sal. 127:2), que indica
idéia de juízo do cativeiro. Isso significaria que antes o sustento obtido através do trabalho exaustivo, g. O
de Efraim ter chegado à maturidade, povos pagãos pão de lágrimas, que indica a condição de tristonha
haviam-no tomado e comido, ou seja, levaram-no à lamentação (Sal. 80:5). h. O pão da iniqüidade, ou do
destruição. Historicamente, foi precisamente isso que engodo (Pro. 4:17; 20:17), que simboliza a extrema
aconteceu, quando a Assíria levou o reino do norte iniqüidade do indivíduo — que vive como que
para o exílio, em 722 A.C. alim entando-se do pecado, e cujo sustento vem
através da fraude e de p ráticas enganadoras e
3. Tipos de pão. a. Bolos chatos e finos, misturados desonestas, i. A Palavra de Deus é comparada ao pão
com azeite, o que corresponderia, mais ou menos às da vida diária, sendo a provisão para as necessidades
nossas «pizzas», b. Uma espécie de panqueca feita de espirituais do homem (Mat. 4:4). j. O lançar o próprio
trigo e azeite, que era a forma usualmente usada nas pão sobre as águas (Ecl. 11:1), provavelm ente
ofertas de manjares, também chamadas ofertas de refere-se ao costume dos egípcios de lançarem semen
cereais, c. Bolos de mel (Êxo. 16:31). d. Bolos de uvas tes sobre as águas rasas, das inundações do rio Nilo.
ou de uvas passas (Osé. 3:1; Can. 2:5). e. Um tipo de Parecia ser uma insensatez, mas a semente germina
pão m uito macio, tipo pudim (II Sam. 13:6-9). f. va, e o resultado final era o pão. Isso sim boliza a
Havia também «massas folhadas», provavelmente nossa generosidade com outras pessoas, o que, pelo
aprendidas pelo povo de Israel no Egito, cujos menos para alguns, pode parecer uma tolice, pois
padeiros eram famosos por sua arte (K eil, A rch ., pode parecer uma dilapidação de recursos materiais.
2:126). Com a passagem do tempo, entretanto, a semente
4. Um artigo da alimentação dos povos antigos. O assim lançada germ ina, havendo um abun d an te
pão fazia parte da alimentação diária dos antigos retorno para esse tipo de ação. 1. O pão agradável,
(I Reis 11:8). Sara apressou-se para preparar pão comido secretamente, refere-se a prazeres secretos e
para os visitantes (Gên. 18:1-6). Aos trabalhadores, ilícitos (Pro. 9:17). m. Pão e água, alude às coisas
nos campos, era dado pão como alimento (Rute 2:14). necessárias p ara o sustento do corpo físico, os
Nas campanhas militares, servia-se pão também aos alimentos básicos (Isa. 3:1; Mat. 6:11). n. O pão dos
soldados (I Sam. 16:20). Os viajantes levavam pão hom ens, aludido em Eze. 24:17, refere-se aos
para a viagem (Gên. 21:14; 45:23; Juí. 19:19). Jesus alimentos comuns. (FRI I 1B NTI PRI S)
multiplicou pães e peixes para as multidões (Mat.
14:13-21); e chegou a reiterar o m ilagre (M at.
15:32-39). Era costumeiro o cabeça de uma família
iniciar uma refeição tomando um pão, dando graças PÃO, O PARTIR DO
ao Senhor, partindo-o em pedaços e distribuindo-os No Novo Testamento, a expressão aparece em Luc.
entre os membros de sua família, algo que foi imitado 24:35; Atos 2:42; Mar. 8:6; 14:22; Mat. 14:19; I Cor.
quando da Ceia do Senhor (Mat. 26:26). 10:16 e 11:24. Consideremos estes pontos:
5. Pão usado em ritos religiosos. Além dos 1. Está em foco, basicamente, o costume hebreu do
sacrifícios de animais, havia ofertas de cereais, sob a pai de uma fam ília agradecer pelo pão, parti-lo e
form a de pães ou bolos cozidos ao forno, em uma distribuir os fragmentos aos membros de sua família.
panela ou em uma orelha (Lev. 2:4-10,14-16. Ver Esse costume r;fletiu-se, pelo menos em parte, nos
também Lev. 24:5, quanto aos doze pães postos sobre ritos da Páscoa e da Ceia do Senhor. O Manual das
a mesa dos pães da proposição, no Lugar Santo, Ordens de Qumran ordena que o sacerdote estenda as
referidos em Êxo. 40:23 e Heb. 9:2). Pães eram as mãos sobre o pão e o vinho, em um a bênção
usados nas ofertas pacíficas (Lev. 7:12), nas ofertas comunitária, antes do início do banquete da Páscoa.
das primícias (Núm. 15:17-20). E, naturalmente, o O Didache tem algo semelhante, no contexto cristão.
pão fazia parte das cerimônias da páscoa. Com base 2. Ao multiplicar os pães para os cinco mil homens,
nessa festa, a Ceia do Senhor foi instituída, como Jesus partiu os pães e ordenou que os mesmos fossem
símbolo de seu corpo (Mat. 26:26; I Cor. 11:23,24). distribuídos (João 6:9). Nisso, ele apresentava-se
Ver os significados dessas ofertas no item abaixo, usos sim bolicam ente como a provisão espiritual dos
simbólicos. homens, mediante o seu corpo partido. Essa refeição
6. Usos simbólicos, a. O uso religioso do pão, singela também serviu de antecipação do banquete
conforme descrito no ponto 5, acima, antes de tudo, messiânico, referido em João 6:53 ss.
42
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
3. No trecho de Atos 2:42, o pão refere-se, particularidades:
provavelm ente, à Ceia do Senhor, efetuada com A Orientação Espiritual de Joio é Mística, e Nio
relativa freqüência. Ou então, refere-se às refeições de Sacramental.
comunhão, sem alusão formal à Ceia do Senhor. Ou
então pode ser que cada refeição, entre os crentes Dentre os quatro evangelhos, o de João é o mais
primitivos de Jerusalém, fosse tomada informalmen místico e o menos sacramental; assim sendo, apesar
te, nos lares, em comemoração da Ceia do Senhor. do evangelho de João ser o mais usado, provavelmente
4. As passagens de I C oríntios 10:16 e 11:20ss. é o menos compreendido dos quatro. Notemos que no
apontam para refeições comunitárias que incluiam a trecho de João 1:29-34, o lugar onde poderíamos
celebração da Ceia do Senhor. Posteriormente, essa esperar a história do batismo de Jesus, por João
Batista, não há qualquer menção ou descrição sobre o
refeição foi sim plificada p ara o simples rito que
envolve o pão e o vinho, com a descontinuação da batismo em água, conforme se lê nos demais três
evangelhos. Obviamente, se trata da mesma cena, e é
refeição por toda a comunidade. Ver os artigos sobre indubitável que devemos compreender ali que Jesus
Pão da Vida, Jesus como o e Transubstanciação . ( B I foi batizado por João Batista; porém, não há qualquer
NTI) alusão à própria cena do batismo. No entanto,
encontramos nesse trecho a menção específica do
batismo do Espírito Santo, em que Jesus aparece
PÃO DA VIDA, JESUS COMO tanto como o Cordeiro de Deus quanto como o Filho
«En soa o pio da vida...» (João 6:35). de Deus. Nessa seção do evangelho de João, pois, o
batismo é de natureza mística, e não-sacramental.
«Quem comer a minha carne e beber o meu sangue
tem a vida eterna...» (João 6:54). Ainda mais surpreendente que essa instância é a
«...isto é o meu corpo...isto é o meu sangue...» daquela outra passagem onde poderíamos esperar
(Mateus 26:26,28). uma descrição sobre a instituição da Ceia do Senhor
ou eucaristia, a saber, João 13:1-20. Pois, apesar de
«...o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê ser evidente que essa passagem se refere à páscoa,
em mim, jamais terá sede...» (João 6:35). sendo paralela aos trechos de Mat. 26:7-30; Mar.
«Assim como o Pai, que vive, me enviou, e 14:17-26 e Luc. 22:14-39, contudo, nem ao menos há
igualmente eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alusão à instituição da Ceia do Senhor, ao passo que
alimenta, por mim viverá» (João 6:57). lemos ali uma longa descrição da cerimônia do
«Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, lavapés, que os demais evangelhos nem mencionam,
também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo» e que poderíamos julgar comparativamente sem
(João 5:26). importância, em relação à Ceia do Senhor. Não
«...os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os obstante, nesse trecho do evangelho de João, nos é
que a ouvirem, viverão» (João 5:25). ensinada uma verdade mística, o que também era
Em torno desses versículos gira o ensino de Jesus muito característico do autor do quarto evangelho; e
como o Pão da Vida. Crentes sinceros têm atribuído por causa dessa verdade mística, essa passagem
aos mesmos grande variedade de interpretações, e obviamente se revestia de grande importância para o
muitíssimas disputas se têm originado de tais seu autor sagrado.
explicações. Parece que uma das dificuldades da Poderíamos asseverar, por conseguinte, que o autor
interpretação deriva-se do fato de que a mensagem do quarto evangelho nem ao menos registra ou
central que essas passagens procuram nos transmitir é descreve um evento tão importante como foi a
muito mal compreendida pela igreja cristã, sendo instituição da Ceia do Senhor, ao passo que os outros
algumas vezes totalmente desconhecida e, ocasional três evangelistas lhe conferem um tão conspícuo
mente, até mesmo combatida. Por causa dessas lugar? Não, isso não seria verdade, pois o sexto
condições, apesar de que certas porções da idéia capítulo do quarto evangelho encerra o registro sobre
correta do que aqui é ensinado são retidas por uma ou essa instituição da Ceia; no entanto, foi escrito não
outra denominação, com algumas variações, contudo, para descrever um sacramento e, sim, para servir de
a própria idéia, em sua inteireza e majestade, é expressão acerca de uma elevada doutrina mística.
percebida apenas em parte, obscuramente. Essa Devemos observar, por igual modo, que nesse sexto
profunda idéia do cristianismo, que «Jesus, como o capítulo do evangelho de João não há qualquer
Pão da Vida», oferece aos homens, está contida nas descrição acerca do modus operandi da cerimônia da
Escrituras de forma dispersa. As alusões a esse Ceia do Senhor, porquanto isso não se revestia de
conceito aparecem no evangelho de João; em alguns importância, aos olhos do autor sagrado; pelo
trechos das epístolas paulinas, sobretudo no oitavo contrário, nos é exposto, com abundância de
capítulo da epístola aos Romanos e no primeiro pormenores, o sentido espiritual retratado por essa
capítulo da epístola aos Efésios; em II Coríntios 3:18 e cerimônia; e esse sentido espiritual é uma profunda
em II Pedro 1:4. verdade mística.
Na tentativa de descobrir e lançar luz sobre o O evangelho de João, portanto, aborda tanto o
assunto, examinaremos os seguintes particulares: batismo como a Ceia do Senhor de maneira mística, e
1. A orientação espiritual de João é mística, e não* não sacramental.
sacramental. Modo de Expressão de Joio
2. O modo de expressão de João. A fim de ilustrar a natureza da pessoa de Cristo,
3. As interpretações centrais do sexto capítulo do bem como a sua relação para com o mundo, mais do
evangelho de João: a interpretação simbólica, a que os outros evangelistas, o apóstolo João se utiliza
sacramental e a mística. de termos simbólicos. É João quem chama o Senhor
4. A Ceia do Senhor, em seu «símbolo» e na Jesus de «a Luz», «a Àgua», «o Pão», «o Pastor» e «a
«verdade simbolizada». Porta». E embora o evangelho de João não lance mão
5. Indicações existentes no sexto capítulo do da expressão específica, «Este é o meu corpo» (em que
evangelho de João sobre a veracidade da interpretação Cristo se referiu ao pão da Ceia) contudo, no sexto
«mística». capítulo do mesmo é óbvio que uma terminologia
Passemos, pois, à exposição de cada uma dessas assim seria perfeitamente apropriada (ver João
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
6:54,55). Todavia, esse pão (que simboliza o corpo) é «provação à fé», e não um artigo de fé, supormos que,
declarado como algo que desceu do céu (ver João por algum meio misterioso, enquanto Jesus estava
6:32,58), o que mostra que, antes de tudo, não está sentado entre seus discípulos, inteiro e vivo, eles
em vista alguma alusão ao corpo fisico de Jesus; antes, tivessem participado de seu corpo e de seu sangue de
ele se refere a um tipo celestial de «pão», a um maneira literal.
princípio espiritual, a uma comunicação e participa b. A Interpretaçio Sacramental
ção mística na vida divina, o que, na realidade, é um I. Teoria da consubstandaçio. Lutero não se
conceito transcendental, e não uma idéia sacramen
tal. sentia satisfeito com a interpretação protestante
ordinária, a interpretação simbólica, pensando ele
Por semelhante modo, quando falamos na «água», que as vigorosas palavras de Jesus, «Isto é o meu
devemos ter em mente a infusão da vida espiritual, corpo...», exigem uma interpretação mais profunda e
recebida mediante a fé, e não algum elemento completa do que isso. Lutero também não se satisfazia
sacramental. Isso fica demonstrado pelo fato de que a com a explanação de Tomás de Aquino que
grande passagem joanina sobre a «água da vida» (o afirma que há alguma alteração substancial nos
quarto capítulo do evangelho de João), que nos elementos do pão e do vinho, de tal modo que, em
fornece maiores detalhes sobre a significação tencio alguma maneira mística, mas perfeitamente real, o
nada acerca dessa «água», é registrada em um trecho pão e o vinho tornam-se verdadeiramente, no corpo e
totalmente separado do capítulo que versa sobre o no sangue de Cristo. Por essa razão é que Lutero criou
batismo do Senhor Jesus. Ali a «água da vida» figura essa doutrina que veio a chamar-se de «consubstan-
como a comunicação do Espirito Santo à alma ciação».
humana (ver João 4:23,24), em que essa água «mana»
como uma fonte eterna, uma ação contínua e Essa doutrina preserva a presença de Cristo, «com»
toda possessiva, e não uma ação momentânea, como e «em» os elementos, embora não requeira qualquer
se verifica no caso de qualquer rito. Além disso, modificação real nos próprios elementos do pão e do
deve-se notar que no trecho de João 7:39 o próprio vinho. Conforme o ponto de vista luterano, os
autor sagrado interpreta o símbolo da água, ao dizer: elementos permanecem exatamente o que são, mero
«...Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam pão e mero vinho, sem qualquer modificação ou
de receber os que nele cressem...» Torna-se evidente, transferência de substância. Antes, através de algum
portanto, que vocábulos como «pão», «água», «porta», processo místico, a «presença» do corpo e do sangue
etc., são expressões que indicam elevadíssimas de Cristo é preservada, «em, em volta e sob» os
verdades espirituais, místicas quanto à sua natureza, elementos nào-modificados do pão e do vinho. Ora,
e não sacramentais. Fica suposto com razão, neste isso cria um «dualismo», pois duas substâncias
sexto capítulo do evangelho de João, segundo distintas são misturadas, embora não intrinsecamente
acredito, que o «sangue» de Cristo, que é «...verda misturadas. Essa explicação pretende nos levar a crer
deira bebida...» (João 6:55), tem um sentido que há uma espécie de «amassar ambos as
equivalente ao atribuído à «água», nos capítulos substâncias em uma única massa», mas que, ao
quarto e sétimo do evangelho de João, e que mesmo tempo, ambas as substâncias continuam
abordamos aqui a transmissão da vida divina, por distintas e independentes. Dentro da designação
intermédio do Espírito Santo. «consubstanciação», pois, a primeira parte, «con»
(«com»), significaria que a substância do corpo e do
O modo de expressão do evangelho de João, sangue é unida à substância do pão e do vinho,
portanto, é místico, e não-sacramental. embora não se deva pensar que tomaram aquelas o
Interpretações Centrais do Sexto Capitulo do lugar destas últimas.
Evangelho de JoSo Alguns estudiosos evangélicos têm rejeitado essa
a. A Interpretaçlo Simbólica noção porque ela parece requerer a onipresença do
A maioria dos intérpretes protestantes concorda corpo e do sangue de Cristo, o que, sem dúvida, é uma
sobre o fato de que neste sexto capítulo do evangelho idéia monstruosa. No entanto, de acordo com
de João, há uma alusão à eucaristia ou Ceia do conceitos teológicos e filosóficos mais refinados, que
Senhor, apesar disso não ser explicitamente declara empreguem a idéia dos «universais» de Platão, ou o
do. Mas esses intérpretes (exceto os luteranos) elemento místico da descrição aristotélica sobre o que
ordinariamente manuseiam essa passagem do mesmo é uma substância, não somos forçados a imaginar
modo que o fazem com Mat. 26:26. Nesse caso, o qualquer corpo ou sangue literais, como se os mesmos
«corpo» (aqui é o «pão») nada tem a ver com o corpo tivessem características de onipresença. A maioria dos
literal de carne e ossos de Jesus, se estamos falando eruditos luteranos, entretanto, tem abandonado essa
sobre o beneficio espiritual e a transmissão real que se explicação, porque não há como alguém demonstrar
destacam neste capítulo; antes, esse «corpo» oú «pão» tal coisa, sendo um conceito que necessita de pura fé
é a infusão da vida espiritual, sendo meramente para que seja aceito. Outrossim, tal conceito está
simbolizado pelo corpo literal de carne, que foi alicerçado sobre a especulação, e não sobre qualquer
partido e alquebrado por nós. Similar é a explicação realidade implícita nas Escrituras.
que se deve dar em relação ao «sangue». O sangue, D. Teoria da transubstanciação. Essa é a
que foi verdadeiramente derramado, é o símbolo do explicação fUosófica-teológica de Tomás de Aquino,
Novo Pacto, bem como tudo quanto isso representa na que se tornou a maneira usual da Igreja Católica
vida espiritual dos crentes. A expiação exige o Romana explicar o sentido da declaração de Cristo:
sacrifício real do corpo, bem como o derramamento »Isto é o meu corpo...» Depende das descrições
do sangue; mas isso foi um ato efetuado de uma vez filosóficas aristotélicas acerca de «substância», bem
para sempre, que jamais pode ser repetido. E o como das explanações de Platão sobre o «universal».
benefício que isso produz para os homens — a vida Por causa disso, pessoas filosoficamente destreinadas
eterna — é perpétuo, ainda que o próprio ato da não têm podido compreender muito exatamente o que
expiação não tenha sido perpétuo. Notemos, além a «transubstanciação» procura dizer. É quase
disso, que o Senhor Jesus proferiu as palavras «isto é o impossível ter a idéia certa do que essa doutrina
meu corpo...» enquanto ainda vivia fisicamente; pelo significa, se primeiramente não *ivermos algum
que também parece-nos lógico supor que ele falava entendimento sobre certos aspectos da metafísica de
em termos simbólicos, porquanto se torna uma Platão e Aristóteles. Aqueles que estudam a história
44
PÃO DA VIDA, JESUS COMO
eclesiástica sabem que, a começar pelos pais gregos qualquer tipo de teste químico e científico, chegando
da igreja Justino, Clemente e Origenes de Alexandria, mesmo ao exame da estrutura atômica do pão e do
e continuando com Agostinho e chegando até os vinho; e, após o rito, podemos sujeitar o pão e o vinho
tempos de Tomás de Aquino (1250 D.C.), a teologia aos mesmos testes. E mesmo que os dois testes
cristã vem sendo expressa pelo veículo da filosofia produzam resultados exatamente idênticos, podemos
platônica. Pelo tempo de Tomás de Aquino, e dizer que a «substância», aquele elemento místico, foi
especialmente no caso dele, a ênfase se alterou para alterado, porquanto os testes científicos podem
modos aristotélicos de expressão, ao passo que os examinar meramente os «acidentes». Se imaginásse
modos platônicos de expressão não foram totalmente mos testes científicos ainda mais complexos e exatos,
abandonados. Quando surgiram controvérsias acerca mesmo no número de milhares deles, e depois de tudo
da abordagem filosófica da teologia, empregada por não descobríssemos qualquer diferença no pão e no
Aquino, para dar solução à pendência, o papa Leão vinho, antes e depois do rito, não precisaríamos ficar
XIII pronunciou-se em favor de Tomás de Aquino e a perturbados com isso, pois nos preocuparíamos
sua filosofia se tornou a expressão oficial da doutrina meramente com a substância dos elementos, e não
da igreja romanista. E foi desse contexto que se com os seus acidentes, e a ciência jamais poderá dizer
desenvolveu a explicação sobre a eucaristia que tomou ou descrever qualquer coisa sobre a substância, rr.as
o nome de «transubstanciação». somente sobre os acidentes dos elementos.
Abaixo temos nma tentativa de declarar, de forma A Debilidade desta Teoria pode ser Declarada
breve, o que essa idéia ensina. Acredita-se que a Como Segue:
substância ou «essência» do pão e do vinho é 1. Alguns pensam que foi criada uma mera
‘suplantada’ pela substância do corpo de Cristo. especulação filosófica, pois essa questão jamais
Essa «substância», entretanto, nada tem a ver com os poderá ser examinada, — mas deve ser sempre
«acidentes» do pão e do vinho. Os «acidentes» são aceita pela fé ou rejeitada pela fé. É possível
todas aquelas características que, de um modo ou de que alguma forma de «substância» misteriosa
outro, podem ser sentidas pelos cinco sentidos, ou tenha sido criada, mas nunca podemos estar certos de
percepção dos sentidos. Assim, pois, tudo que há a que ela é mais do que imaginária.
respeito do pão e do vinho que pode ser tocado, visto, 2. A sua maior fraqueza, entretanto, até onde
pesado, testado quimicamente (pois os testes quími
cos são apenas extensões complexas da percepção dos interessa a pessoas biblicamente treinadas, é que não
existe qualquer explicação dessa natureza dada nas
sentidos), é chamado de «acidentes». Portanto, tudo
Escrituras, e que, apesar dessa teoria ser engenhosa,
quanto podemos saber cientificamente, acerca desses aristotélica, platônica e aquiniana, a verdade é que
elementos, são apenas os seus «acidentes». Por outro ela não é joanina, e nem evangélica.
lado, a «substância» desses elementos é aquilo que
compõe o pão e o vinho reais, que dão apoio aos meros 3. Se os elementos do pão e do vinho têm sua
acidentes. Ê nesse ponto que invocamos Aristóteles e substância alterada para a substância do corpo e do
Platão para que nos ajudem a compreender o que é sangue de Cristo, então, segundo algumas pessoas
«substância». De conformidade com a discussão pensam, e com razão, o pão e o vinho se tornam
aristotélica sobre o que é substância, ele fala de uma objetos próprios de adoração; e isso é repugnante para
espécie mística de elemento, que subjaz e dá apoio aos os crentes, porque seria uma forma disfarçada de
acidentes. Não se trata de algum elemento que possa «idolatria», ou, pelo menos, tenderia nessa direção.
ser percebido, em qualquer sentido, pela percepção 4. Outros estudiosos salientam que essa idéia não
dos sentidos humanos, a despeito do que é tem qualquer base nos ensinos patristicos (isto é, não
perfeitamente real. se acham nos escritos dos primeiros pais da igreja e.
Isso não é totalmente diferente da doutrina de John poderíamos acrescentar, nem em parte alguma dos
Locke que fala sobre «algo que não sei o que é». Para escritos apostólicos), não passando de uma criação*
ele, as coisas se compõem de «qualidades primárias», posterior, não sendo, portanto, obrigatória para a fé.
ITI. Uma idéia alternativa para a consuiwtanciaçio
coisas tais como peso, extensão no espaço, estrutura e a transubstanciação e que procura permanecer
atômica, etc., e secundárias, tais como cor, odor,
dentro da categoria da interpretação sacramental,
paladar, etc., que não são necessárias para a existên porque, à semelhança de outras teorias afirma que o
cia das coisas, ao passo que as qualidades primárias o corpo e o sangue de Cristo são recebidos de alguma
são. Porém, além das qualidades primárias e forma real no ato da participação dos elementos,
secundárias, existe aquela outra coisa, «algo que não consiste da simples asserção de que «de alguma
sei o que é», que também faz parte da substância das maneira, não sabemos dizer como», a verdade é que
coisas. E por essa razão é que Aristóteles falava em isso realmente acontece — o corpo e o sangue de
uma espécie de coisa, «algo que não sei o que é», um Cristo se fazem presentes no pão e no vinho, quando
elemento místico, que seria a «substância» das coisas. do rito da Ceia do Senhor. Os defensores dessa
Já Platão se referia ao «universal», que é uma espécie alternativa não tentam explicar a questão com
de existência própria do outro mundo, separada e qualquer esclarecimento, mas fazem da situação
distinta dos objetos físicos, mas segundo a qual os inteira um objeto da mais pura fé, sem a necessidade
objetos físicos são feitos e da qual eles parti de quaisquer descrições teológicas ou filosóficas.
cipam, como uma espécie de realidade inferior. Conforme se vê, essa terceira posição procura
Assim, pois, no rito da eucaristia, de conformidade preservar, à semelhança das duas primeiras, o sentido
com a teoria da «transubstanciação», nenhum dos literal das palavras de Cristo: Isto ê o meu corpo...,
acidentes dos objetos físicos se modifica, mas é a embora também afirme que não existe qualquer
«substância» que se altera. Esse elemento místico, que explicação satisfatória que se possa dar a respeito,
não é percebido por qualquer sentido humano, mas dentro do nosso presente estado de conhecimento.
que é a porção mais real de todos os objetos, é Ordinariamente, em paralelo com todas as
substituído pela «substância» do corpo e do sangue de interpretações «sacramentais», fica suposto que a
Cristo, isto é, essa substância é «transferida» para o participação física dos elementos do pão e do vinho, é,
pão e o vinho. Dessa idéia, portanto, é que se deriva o ao mesmo tempo, o recebimento literal de Cristo e das
termo «transubstanciação». E assim, segundo essa bênçãos que ele proporciona, especialmente da
teoria, antes que o rito tenha lugar, podemos realizar bênção da salvação, porquanto tal rito é encarado
45
PÀO DA VIDA, JESUS COMO
como necessário para a salvação, se não é mesmo a possível, de tal maneira que se tornam participantes
única coisa necessária para a salvação. da natureza divina, segundo também aprendemos em
c. A Interpretação Mística passagens neotestamentárias como II Ped. 1:4; Rom.
Essa interpretação afirma que aquilo que João dizia 8:29 e Efé. 1:23. Sendo participantes da natureza
nessa passagem não é que os benefícios se derivam da divina, os crentes participam da essência ou
participação nos elementos do pão e do vinho substância literal do ser de Jesus Cristo. Em outras
(conforme assevera o ponto de vista sacramental) e, palavras, são feitos seres dotados da mesma natureza
sim, se deriva da «realidade simbolizada» por esse que ele, superiores aos próprios anjos, «filhos de
rito. Essa realidade simbolizada é tudo quanto Cristo Deus» autênticos, tal como Cristo Jesus é o Filho de
significa para a alma. O verdadeiro pão e o verdadeiro Deus, filho por força da participação real na natureza
vinho são os benefícios que sobrevêm à alma dos divina, e não apenas de nome, ou por motivo de
homens, e não alguns elementos recebidos pelo corpo, consideração.
mediante a ingestão. O verdadeiro pão é o «pão Segundo creio, isso é o que ensina o sexto capitulo
celestial», aquele pão que vem do céu, o que é do evangelho de João. No entanto, cumpre-nos
reiterado por sete vezes neste sexto capítulo do prosseguir com a explicação.
evangelho de João (ver João 6:33,38,41,42,50,51 e 58). A eucaristia ou Ceia do Senhor é o «símbolo»; e essa
E isso significa que o pão espiritual é a transmissão da total transformação segundo a imagem de Cristo (a
vida proveniente do céu, tudo quanto foi feito através conseqüente participação na vida divina e eterna) é a
de Cristo em sua vida, expiação e ressurreição, bem realidade simbolizada. A Ceia do Senhor consiste na
como através do ministério atual de seu Espirito participação de um elemento físico — o pão e o vinho
Santo, o qual transforma os homens segundo a — pelo corpo físico. Simboliza a participação de um
imagem de Cristo, conduzindo-os assim à glória, não elemento celestial e místico por parte da alma, o que
envolvendo meramente a transação da eucaristia ou não ocorre apenas ocasional e temporariamente e,
Ceia do Senhor, sem importar quaisquer benefícios sim, contínua e eternamente. O pão dos céus,
que esse rito possa conferir aos homens. O sangue de portanto, é a vida de Cristo no homem, mediante o
Cristo é que satisfaz a todos os anelos espirituais, e que uma pessoa não somente viverá eternamente, mas
isso não pode ser reduzido aos estreitos limites do ato também possui a vida eterna, que é uma espécie de
simbólico da Ceia do Senhor. Trata-se, portanto, de vida — a vida de Deus, em Cristo — e não apenas a
uma transação celestial, acima, além, separada, mas existência de duração eterna.
simbolizada pelo rito da Ceia do Senhor. Os trechos de João 5:25,26 e 6:57 nos ensinam algo
A eucaristia ou Ceia do Senhor, conforme é sobre essa «vida eterna». Essa vida é necessária e
normalmente observada, se caracteriza pelas seguin independente. Essas são as únicas passagens, em todo
tes particularidades: o N.T., onde essa doutrina é ensinada diretamente.
1. Ela é sacramental (seu valor é recebido mediante Existem muitos níveis de vida, começando pelos
a participação no próprio rito). animais unicelulares, os mais simples de todos. Dai
2. Ela é ocasional (sua participação ocorre em um vamos passando para formas mais complexas de vida,
momento ou outro). como a dos insetos, a dos vertebrados, etc., até
chegarmos ao homem. Ao chegarmos ao homem,
3. Ela é temporal (precisa ser repetida, e os seus encontramos uma forma de vida muito complexa, que
benefícios só se tornam válidos mediante a repetição). já encerra em si mesma tanto o elemento físico como o
Porém, aquilo que é simbolizado pela eucaristia ou espiritual, pois, na realidade, o homem é um ser
Ceia do Senhor é a realidade espiritual que devemos espiritual, não muito inferior em estatura aos anjos,
procurar enxergar neste texto. E suas particulari embora, temporariamente, exista aprisionado em um
dades, em contraste com as da posição descrita corpo físico. Subindo ainda mais na escala da criação
acima, são: inteligente, chegaremos a outros seres espirituais, de
1. Essa realidade é mística — é infusão mística do estatura superior à do homem, seres que são puros
Espírito de Deus em toda a personalidade do espíritos e intelectos. Entre os próprios anjos existem
indivíduo, através dos méritos de Cristo, recebidos vários níveis de existência, pois podemos subir aos
mediante a fé (ver João 6:35). Isso importa em arcanjos. Ora, todos esses seres são dotados de uma
comunhão mística com Cristo; e, ao utilizarmos aqui «modalidade» qualquer de vida, e nisso as vidas
o adjetivo «mística» não queremos dar a entender diferem, embora muitos desses seres sejam «imortais»,
«irreal», mas antes, algo que inclui alguma comunica e. por conseguinte, possuem vidas «intermináveis». E
ção verdadeira com o ser divino, um contacto então, no pináculo mesmo da hierarquia da vida,
autêntico com Deus, que é a definição mais básica do eleva-se Deus.
misticismo (vide), segundo a filosofia.
2. Essa realidade é contínua — essa comunicação, Somente Deus é verdadeiramente Imortal, no
contacto e enchimento místicos com o Espírito de sentido de que somente d e possui vida em si mesmo,
Deus não ocorre somente através da eucaristia, mas derivada de si mesmo. Pois todos os demais seres
antes, é uma experiência contínua, para todos os possuem uma vida «derivada» ou dependente. Por
crentes verdadeiros. Poderíamos dizer mesmo que o conseguinte, somente Deus tem uma vida «indepen
crente espiritual está envolvido em uma eucaristia dente». Outrossim, somente Deus possui a vida
mística e espiritual contínua, do que o rito literal da «necessária», isto é, não fora a sua graça, nenhuma
Ceia do Senhor serve de símbolo vívido. Porém, aquilo outra vida poderia existir. Somente Deus «não pode
que Deus faz nas pessoas e pelas pessoas, ele o faz deixar de existir». Todos os outros seres pertencem a
continuamente, e isso leva os crentes à transformação uma categoria em que a sua não existência é
segundo a imagem moral e metafísica de Jesus Cristo. perfeitamente concebível para sempre.
Assim, pois, esses versículos do evangelho de João,
3. Essa realidade é eterna — o resultado dessa citados acima, ensinam a doutrina da vida «necessá
comunicação constante com o ser divino, através do ria» e «independente» de Deus. Contudo, ensinam-nos
Espírito Santo (ver João 7:38,39) é que os homens são uma doutrina ainda mais extraordinária. E essa
tptalmente transformados segundo a imagem de doutrina é que Jesus Cristo, «na qualidade de
Cristo,, tornando-se verdadeiramente participantes da homem», quando de sua encarnação, tendo-se então
«substância» de Cristo, no sentido mais literal tornado o homem representativo, recebeu esse tipo de
46
PAO DA VIDA, JESUS COMO
vida «necessária» e «independente». £ verdade que ele observar certos particulares:
já a possuía como o Filho de Deus; mas, como a. Além da mensagem geral expressa por este sexto
homem, recebeu-a de Deus Pai. (O trecho de João capítulo do evangelho de João, considerado como um
5:26 diz-nos expressamente que a Jesus Cristo foi todo, devemos voltar a atenção para os versículos
«dada» essa modalidade de vida). 32,33,38,41,50,51 e 58, que falam acerca do *pão
celeste». Não se trata do corpo físico de Cristo, e nem
E os trechos de João 5:25 e 6:57 dizem-nos qüe de qualquer «substância» mística desse corpo, e, sim,
Cristo tem o poder e a autoridade para conferir essa de tudo quanto Cristo significa para os remidos — ele
forma de vida aos outros homens também. Para essa é o seu alimento espiritual. Quando o redimido é
exata finalidade é que todo esse quarto evangelho foi assim alimentado, ele é transformado segundo o
escrito — a outorga e o recebimento desse tipo de vida modelo da imagem do Filho, moral e metafisicamente
divina, vida essa que nem mesmo os anjos, por mais falando.
elevados e majestáticos que eles sejam, jamais
possuirão. Por essa mesma razão é que a Bíblia b. Devemos dar atenção especial ao versículo
declara que os crentes se tornam a plenitude de cinqüenta e sete. O Filho de Deus recebeu essa vida
Cristo, aquele que preenche a tudo em todos (ver Efé. necessária e independente da parte de Deus Pai. Ele a
1:23). Ora, isso jamais foi atribuído aos anjos, recebeu mediante a comunicação espiritual, e não
conforme é aqui atribuído aos crentes. Os homens, através de qualquer sacramento de que tivesse
por conseguinte, se tornam verdadeiramente «imor participado, estando ainda em sua peregrinação
tais», no mesmo sentido em que o próprio Deus é terrena. Exatamente da mesma maneira, os crentes,
imortal, isto é, «não podem deixar de existir». Os por intermédio de Cristo, recebem a transmissão
crentes também recebem vida em si mesmos, são dessa mesma vida, por parte de Cristo, sem a interven
auto-existentes, tais como o são Deus e Deus Filho. ção de qualquer meio sacramental. — O versículo
Ora, essa é a eucaristia celestial, através da qual tudo cinqüenta e sete deste sexto capítulo do evangelho de
quanto Cristo é, em seu ser essencial, é transferido aos João, pois, compreendido corretamente, parece exigir
remidos. E a eucaristia terrena, ou cerimônia da Ceia a interpretação mística para toda essa passagem.
do Senhor, é tão-somente o sinal simbólico dessa c. O *modus operandi» dessa transmissão de vida
profundíssima realidade. A realidade espiritual é a aparece no versículo trinta e cinco. Aqueles que «vêm»
«realidade simbolizada», que precede, transcende e a Jesus participam do pão da vida, e nunca mais
perdura infinitamente para além do mero símbolo. sentem fome espiritual. Aqueles que «crêem» partici
A transubstandaçio espiritual — Isso é que o pam da «bebida espiritual» que mitiga para sempre a
presente texto nos ensina, ou pelo menos, podemos sua sede. A «vinda» a Jesus consiste na. entrega total
lançar mão desse vocábulo a fim de expressar a da alma nos braços de Cristo. Ora, a Ceia do Senhor
mensagem do mesmo. Através dessa «transubstancia- simboliza essa verdade; e a participação em seus
ção espiritual», portanto, o ser de Cristo é insuflado elementos, de uma maneira correta, e com a atitude
no ser do homem, havendo então a modificação de certa, é então uma parte integrante dessa entrega;
substância, vindo assim o homem a participar da mas a própria Ceia do Senhor não é essa entrega.
natureza ou substância divina. Aquilo que é Outrossim, o beber da «água da vida» (conforme a
normalmente chamado de «transubstanciação», por definição de João 7:38,39) é o ministério realizado no
tanto, se arrasta na direção dessa elevadíssima idéia homem interior do crente por parte do Espírito Santo.
bíblica, ainda que errônea e imperfeitamente. Ele como que emana continuamente no interior do
crente individual, sempre transformando-o mais de
E a Ceia do Senhor, visto que contém os emblemas acordo com Jesus Cristo. Portanto, trata-se de uma
do corpo e do sangue de Cristo, de sua expiação fonte que borbota do interior, e o resultado final é a
realizada em favor dos homens, que é verdadeiramen «vida eterna», isto é, um tipo de vida, a vida divina, e
te o instrumento que leva a essa modificação celestial, não apenas uma existênc.ia sem fim.
serve de «sinal simbólico» de todo esse processo.
Reduzir o ensino do sexto capitulo do evangelho de Em minha opinião, isso é o que o sexto capítulo do
João somente ao «sinal simbólico», ou supor que a evangelho de João procura nos transmitir, sendo uma
concretização da realidade simbolizada se verifica dentre três ou quatro das mais profundas passagens
através da participação em uma mera ordenança ou espirituais de todo o N.T. E essas outras passagens,
sacramento, e não misticamente — através de tudo igualmente profundas, normalmente abordam o
quanto o Espírito Santo opera no homem interior, mesmo tema. (Ver o oitavo capítulo da epístola aos
como o agente divino transformado — é compreender Romanos e o primeiro capitulo da epístola aos
pouquíssimo e equivocadamente desse texto tão Efésios). O primeiro capítulo do evangelho de João é
profundo. igualmente profundo e inclui os temas de «luz»e dos
«filhos de Deus», o mesmo assunto aqui ventilado;
Indicações Existentes no Sexto Capitulo do porém, aborda essa questão de um ponto de vista
Evangelho de Joio diferente, sob a forma de símbolos e proposições.
Sobre a Veracidade da Interpretação Mística «...Seu divino poder nos tem dado tudo quanto é
O sexto capítulo do evangelho de João, considerado necessário para a vida e a piedade, através do nosso
em sua inteireza, fala acerca de tudo quanto Deus faz pleno conhecimento daquele que, mediante a sua
nos homens, pelos homens e com os homens, por glória e excelência, nos chamou para si mesmo.
intermédio de Jesus Cristo, que é a nutrição espiritual Através dessas é que ele nos tem doado as suas
total do homem, e o seu princípio de vida. Isso preciosas e gloriosas promessas, a fim de que, por
ultrapassa a qualquer coisa que possa ser ensinada meio delas, depois de terdes vós escapado da
pela própria Ceia do Senhor, embora a eucaristia seja corrupção que está no mundo, por causa de seus maus
um vívido sinal simbólico de toda aquela concretiza desejos, possais vir a participar na natureza divina».
ção divina. Fica salientada, por conseguinte, a (II Ped. 1:3,4, conforme a tradução inglesa de
perfeita operação realizada pelo Espirito Santo, Williams, aqui vertida para o português).
através da total existência da alma, até à sua completa O vocábulo grego aqui traduzido por «natureza» é a
glorificação. E, novamente, a Ceia do Senhor, por si mesma palavra regularmente traduzida por «essên
somente, não pode significar tudo isso, embora cia», «substância» ou «ser», indicando a natureza
simbolize toda essa verdade. Cumpre-nos, todavia, essencial, em contraste com as meras características
47
PÃO DA VIDA - PAPA, PAPADO
adquiridas. A sua forma verbal é o termo grego universal. Esse vocábulo vem do latim bárbaro,
ordinário que significa «gerar» ou «produzir». Por papatia, com base na palavra latina papas, «pai».
conseguinte, manuseamos aqui com a natureza Essa palavra também pode referir-se à sucessão dos
essencial de alguma coisa, quando empregamos essa papas e à administração ou governo que eles exercem
palavra. Não existe conceito espiritual mais elevado sobre a Igreja Católica Romana. Quando escrita com
do que esse, o qual fala sobre homens que passam a inicial maiúscula, essa palavra indica o sistema
participar da própria natureza divina, sendo esse o governamental católico romano (o governo por meio
tema central em tomo do qual gira a mensagem do dos papas).
sexto capítulo do evangelho de João. João Scotus A história revela que tem havido um desenvolvi
Erigena (877 D.C.) percebeu o verdadeiro alcance mento gradual do ofício papal e de seus poderes,
dessa doutrina e a ensinou, ainda que, infelizmente, começando pela própria invenção do conceito. Esse
não muitos mestres evangélicos modernos tenham desenvolvimento gradual, porém, não parece coisa
tido o mesmo profundo discernimento. estranha para a Igreja Católica Romana, cuja teologia
A participação na natureza divina pelos filhos será diz que a doutrina cristã evolui com a passagem do
de modo finito, enquanto o Pai participa nesta tempo, e que o Novo Testamento representa apenas
natureza infinitamente. Durante toda a eternidade um estágio inicial dessa evolução. Por sua vez, os
esta participação dos filhos será continuamente grupos protestantes e evangélicos relutam em
aumentada, mas o finito nunca alcançará o reconhecer qualquer doutrina que não seja especifica
infinito. A glorificação será um processo eterno. mente ensinada e descrita nas páginas do Novo
Referências e Idéias Testamento. Naturalmente, essa idéia é um dogma,
1. Participação na divindade, II Ped. 1:4 não sendo algo requerido pelo próprio Novo
Testamento.
2. Participação na plenitude de Deus, Efé. 3:19
3. Participação na natureza e atributos de Cristo, Visto que a questão do papado nunca aparece no
Col. 2:10 próprio Novo Testamento, é mister que ela seja
examinada sobre bases históricas e teológicas, como
um desenvolvimento gradual que requereu séculos
para chegar ao que é hoje.
PÃO DIÁRIO II. Desenvolvimento Histórico
Esse é um dos elementos constitutivos da oração do 1. Começando pelo apóstolo Pedro, que encabeça a
Pai Nosso. lista dos papas, de acordo com a Igreja Católica
Romana, o papado teria começado nas distinções e na
autoridade maior desse apóstolo em relação aos
PÃO DO ALTAR demais apóstolos. Isso com base em Mat. 16:18 ss,
P&o especialmente preparado para ser usado no uma passagem extremamente controvertida. Temos
Ceia do Senhor, ou sem fermento (no Ocidente e na preparado um artigo detalhado sobre o assunto,
Igreja da Armênia) ou com fermento (no Oriente). No intitulado Fundamento da Igreja, Pedro como. Ver
anglicanismo, o uso de pão sem fermento foi revivido também Fundamento da Igreja, Cristo como; e
no século XIX. O termo «hóstia» é usado para indicar Chaves, o artigo inteiro, sobretudo a seção II, As
esse tipo de pão. (E) Chaves e Pedro. Os intérpretes protestantes e
evangélicos insistem em que os trechos de Mat. 18:18
e João 20:22,23 estendem a todos os apóstolos os
PAPA, PAPADO mesmos privilégios que foram dados a Pedro, em
Mat. 16:18,19. As chaves do reino (o privilégio de
Esboço: abrir a entrada do reino de Deus—uma realidade
I. Termos e Definições espiritual, e não alguma organização eclesiástica—
II. Desenvolvimento Histórico aos homens) foram outorgadas a todos os apóstolos, e
III. Opiniões Divergentes Sobre o Papado não somente a Pedro. Ver o artigo geral sobre Pedro
IV. A Lista dos Papas (Apóstolo), que aborda todos os detalhes concernen
tes à sua pessoa, ao seu ofício e à sua possível posição
de bispo da igreja cristã de Roma. Ver também os
I. Termo« e Definições artigos intitulados Sucessão Apostólica e Perdão de
O termo papa vem diretamente do latim, papas Pecados pelos Apóstolos.
(derivado do grego, pappas), «pai». Esse vocábulo, em
seu uso mais antigo, referia-se a qualquer bispo Pedro, Bispo de Roma? Papa? Essa questão de
importante ou notável, como Cipriano, que foi assim Pedro ter sido bispo de Roma foi adequadamente
intitulado. Na Igreja oriental, era um titulo aplicado ventilada no artigo Pedro (Apóstolo), pelo que esse
ao bispo de Alexandria. A palavra grega, pappas, até material não é aqui reiterado. Basta ser dito aqui que
hoje é aplicada aos «padres» da Igreja Ortodoxa um apóstolo, sem importar onde tivesse residido, pelo
Oriental. Mas o papa, atualmente, é especificamente, menos teria exercido a autoridade de bispo ou pastor
o cabeça da Igreja Católica Romana. Ele também tem naquela área. É inútil tentar reduzir a autoridade de
o titulo de Vigário de Cristo, ou seja, «substituto de Pedro, em Roma, a menos do que isso. E a tradição
Cristo»; e, como tal, é considerado o chefe da Igreja de que ele passou seus últimos anos de vida em Roma
universal, alguém que retém nas mãos o poder de é muito sólida, na história e nos escritos dos pais da
Cristo, podendo exercê-lo à face da terra. Outro titulo Igreja. Mas, o ter sido ele bispo de Roma não é a
do papa é Pontifex Maximus, «chefe construtor de mesma coisa que ter sido ele o primeiro papa, no
ponte». A idéia desse título é que ele é o grande sentido que a teologia católica romana dá a esse
intermediário entre Deus e os homens, servindo de titulo. A esmagadora maioria dos conceitos que
uma espécie de ponte. A tradição católica romana faz envolvem o papado surgiu posteriormente, algumas
do papa o sucessor de Pedro e possuidor das Chaves vezes séculos mais tarde que os dias de Pedro, sem
(vide). qualquer sanção bíblica ou nos escritos.
O Papado. Esse termo indica o oficio, a dignidade e Pedro Nunca Foi Papa no Sentido de João Paulo II.
a jurisdição do papa, o bispo de Roma, que teria O dogma católico romano, a bem da verdade, não diz
poder sobre todos os bispos, em sua liderança que a significação do primado petrino manifestou-se
PAPA, PAPADO
desde o começo com a pujança que adquiriu reforçou o prestigio de Roma como defensora da.
posteriormente. Ninguém pode provar que Pedro, ou ortodoxia.
mesmo os primeiros bispos de Roma, atuavam 4. Roma imperial, naturalmente, reconhecia mais
conforme o fizeram os papas medievais e contemporâ os bispos cristãos de seu próprio território do que os
neos. A estatura do papado, segundo os teólogos bispos cuja jurisdição ficava fora de sua esfera de
católicos romanos mesmo admitem, foi crescendo mui influência romana. Isso se verificou antes mesmo da
gradualmente, tendo sido sancionada por Deus conversão de Constantino ao cristianismo, um fator
mediante um processo evolutivo, até que chegou à sua que tendeu por exaltar ainda mais ao bispo de Roma.
atual magnitude. A explicação deles é que a Igreja, 5. O imperador Aureliano, em 274 D.C., decidiu
em expansão, a cada período histórico, contou com que as propriedades cristãs de Antioquia ficariam na
um papado à altura das circunstâncias. Diferentes dependência das decisões dos bispos de Roma e da
períodos históricos tenam requerido diferentes tipos Itália. Essa intromissão imperial teve por base apenas
de papado, o que explica um oficio papal cada vez um sentimento bairrista, e não que ele reconhecesse o
mais abrangente e de maior autoridade. primado de Pedro, pois nem cristão ele era.
Naturalmente, os teólogos protestantes e evan 6. Cipriano, bispo de Cartago (200-258 D.C.), o
gélicos vêem nessa explicação apenas uma tentativa maior eclesiástico do século III D.C., falou enfatica
de justificação para uma excrescência extrabiblica, mente da supremacia de Roma sobre o resto da
autopromovida; mas os teólogos católicos romanos, Igreja.
como é natural, nada vêem de estranho nessa idéia 7. Comélio, bispo de Roma (251-253 D .C.), foi
evolutiva que envolve não somente o papado, mas capaz de depor bispos rivais. Estava crescendo a
toda a organização eclesiástica da Igreja Católica prepotência dos bispos de Roma.
Romana. Somente mediante essa evolução a Igreja 8. A conversão de Constantino (no início do sec. IV
poderia ter-se tornado uma entidade universal e um D.C.) obviamente em muito contribuiu para aumentar
poder mundial. o prestígio dos bispos de Roma. Talvez tenha sido
Voltando, porém, à questão de Pedro, deve-se então que começou o papado, ainda incipiente, posto
admitir que ele, pelo menos, foi bispo de Roma, cuja que ainda teria de haver muita evolução histórica para
palavra exigia respeito em qualquer dos segmentos da que o papado, como ele surgiu na Idade Média em
Igreja cristã de sua época, tanto por ser ele bispo na diante, realmente viesse a caracterizar-se.
capital do império romano, quanto, muito mais 9. A Cidade de Deus, obra escrita por Agostinho,
ainda, por ter sido ele um apóstolo de Cristo! foi uma defesa da supremacia da Igreja sobre o
Pedro e Paulo. A declaração de Paulo, em Gál. 2:7, Estado, aumentando o prestígio dos bispos de Roma.
que o evangelho lhe fora confiado para o beneficio dos Foi a partir daí que a Igreja organizada começou a
povos gentílicos, e que o mesmo evangelho fora envolver-se pesadamente em questões seculares, no
confiado a Pedro para o benefício dos judeus, pode ser governo, etc., fatores esses que se tornaram ainda
interpretada como indicação de que esses dois mais preponderantes durante o período da Idade
apóstolos de Cristo destacavam-se acima dos demais, Média. Agostinho foi bispo de Hipona, no norte da
em seus respectivos ministérios. Ãfrica, a começar em 396 D.C. Essa idéia choca-se
2. O Caso de Policarpo. Policarpo foi discípulo do diretamente com a doutrina de Cristo, que disse:
apóstolo João, e veio a tornar-se bispo de Esmima. «Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é
de Deus» (Mat. 22:21).
Ver o artigo separado sobre ele. A páscoa era
celebrada em datas diferentes, na Igreja oriental e na 10. O Concílio de Calcedôma (451), presidido
Igreja ocidental. Então Policarpo foi a Roma (uma por legados do papa Leão I, manifestou-se claramente
viagem longa), a fim de conferenciar com o então em favor da supremacia espiritual de Roma.
bispo de Roma, Aniceto (bispo entre 155 e 166 D .C.), Seiscentos e trinta bispos estiveram presentes, vindos
a respeito da questão. Os dois não chegaram a um de toda parte do mundo então conhecido. Eles
acordo, e o costume asiático continuou a ser seguido concordaram unanimemente diante da assertiva:
pela Igreja oriental, enquanto Roma continuou a agir «Aquilo em que Leão acredita, nós todos acreditamos;
a seu modo. De acordo com a teologia católica anátema seja aquele que crer de modo diferente.
romana, o incidente prova que o «papa», mesmo Pedro falou pela boca de Leão». Leão I, o Grande,
então, tinha autoridade para além de sua própria bispo de Roma entre 440 e 461 D.C., é considerado
região. Mas, se a jurisdição papal era universal, por por muitos historiadores e estudiosos o primeiro
que a Igreja oriental não atendeu a Aniceto e nem lhe verdadeiro papa no sentido moderno do termo.
prestou obediência? O que o incidente realmente A partir de Leio I, o papado, já bem arraigado, não
prova é que então o bispo de Roma só exercia fez outra coisa senão aumentar o seu poder, religiosa e
jurisdição sobre sua própria área, tal como cada bispo secularmente falando. Degraus importantes nessa
exercia jurisdição sobre sua própria região. Aniceto ascensão foram os pontificados de Leão I (440-461),
foi consultado por Policarpo somente devido ao Gregório VII (1073-1085) e Inocente III (1198-1216).
prestígio de que já gozava a igreja em Roma, a capital 11. Gregório VII (1073-1084). Os historiadores
do império. consideram que o pontificado de Gregório VII
marcou a passagem da chamada Idade das Trevas
3. Os Gnósticos e os Montanistas. Eles desagrada para um aspecto mais sorridente da Idade Média. Ele
ram à corrente principal da cristandade, devido aos impôs muitas reformas na Igreja Católica, Seu poder
seus pontos de vjsta doutrinários e às suas práticas, secular e político era tanto que ele chegou a
em muito diferentes do usual. E, visto que o grande excomungar o imperador Henrique IV, da Alemanha
poder opositor a eles foi Roma, isso fortaleceu a causa (1056-1106), decretando que os seus súditos estavam
romanista desde cerca de meados do século II D .C., isentados de lhe prestar lealdade. Henrique IV foi
aos olhos do resto da cristandade ortodoxa. Pedro não forçado a submeter-se, declarando-se arrependido, e
havia sido testemunha em favor da doutrina cristã precisou comparecer em pleno inverno (janeiro de
tradicional! Portanto, apelar para Roma parecia ser 1077), vestido de cilício, em Canossa (onde o papa
apelar para a autoridade apostólica, sempre que estava como hóspede), a fim de implorar-lhe
surgia alguma heresia. Outro tanto pode ser dito no absolvição. Esta foi concedida, mas Henrique
tocante à questão ariana. Ver sobre A rio. Este último continuou em seu conflito com as autoridades
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PAPA, PAPADO
eclesiásticas. Apesar de poder ser verdade que romano afirma que os concílios ecumênicos também
Gregório VII não procurava controlar os governantes são infalíveis, pelo que a declaração citada acima,
seculares (ele estava apenas protegendo a Igreja dos visto que foi expedida por um concílio, deve também
ataques de que era alvo por parte daqueles ser considerada infalível.
governantes), permanece de pé o fato de que esse
papa representava um papado que havia adquirido in. Opiniões Divergentes Sobre o Papado
considerável poder secular e político. 1. Posição Católica Romana. Na seção segunda, foi
esboçado o desenvolvimento do dogma concernente ao
12. Inocente III (1198-1216) é aquele a cujo crédito papado dentro daquela organização que veio a
os historiadores atribuem o fato de ter levado o
tornar-se a Igreja Católica Romana. A citação dada
papado ao seu zénite, durante a Idade Média. O seu acima, de uma decisão do Concilio do Vaticano,
pontificado foi assinalado pela sua reivindicação de representa o ponto culminante desse desenvolvimen
que, na qualidade de Vigário de Cristo, ele exercia to. A doutrina católica romana promove a idéia de
uma autoridade absoluta e universal sobre a Igreja, uma evolução histórica e espiritual, e não sente
excetuando a Igreja Oriental, dissidente, que rompera qualquer necessidade de apoiar seus ensinos sobre as
com o papado em 1054. Ele reivindicava e exercia a Escrituras. Ver o artigo geral chamado Autoridade,
autoridade de intervir nos governos seculares, e que descreve as várias posições cristãs a esse respeito.
tornou-se o mestre político da Itália, tendo ajudado a A citação abaixo dá uma idéia da extensão da
depor monarcas na Alemanha e na Inglaterra, e tendo autoridade do papa, de acordo com o dogma católico
recebido como feudos os reinos da Inglaterra, romano:
Portugal, Dinamarca, Aragão e outros lugares. Ele
quase conseguiu estabelecer uma comunidade cristã «Em virtude de (seu) poder supremo, o Pontí
de nações, sob a liderança do papado. Mas foi então fice Romano reivindica o direito de comunicar-se
que surgiu o nacionalismo, impedindo esse alvo, livremente com os bispos do mundo inteiro e seus
embora Inocente III tenha chegado bem perto desse rebanhos. Pode-se recorrer a ele, como o supremo
alvo. Pedro, o pescador humilde, avançara extraordi tribunal, em toda as causas cuja decisão for ecle
nariamente no campo da política mundial! siástica e de cujo parecer não há apelação. A asser
13. Bonifácio VIII ( 1294-1303). Foi ele quem baixou tiva que é legítimo apelar a um concílio ecumênico,
a bula intitulada Unam Sanctam (1302), que em face de uma decisão sua é, aqui, condenada
declarava que o poder temporal e o poder espiritual como falsa» (AM).
estão ambos sujeitos à autoridade da Igreja, e que o Na verdade, isso é esperar demais de nm homem.
Estado deve sujeitar-se à Igreja. Essa bula foi tão 2. O Ponto de Vista Oriental. Historicamente, a
atrevida que chegou ao ponto de declarar que a Igreja Ortodoxa Oriental tem concordado com a idéia
própria salvação depende do indivíduo sujeitar-se ao de que o papa é o legítimo bispo de Roma, tendo um
pontífice romano, um patente exagero! primado legítimo e autoridade sobre a Igreja
Mas, após Inocente III, o poder temporal ou ocidental. O Concílio de Lyons( 1274-1289), bem como
político do papa foi declinando mais e mais, ao ponto o de Ferrara-Florença (1438-1445) chegaram bem
em que, em nossos dias, esse aspecto do papado quase perto de admitir todas as reivindicações do papa; mas
desapareceu, embora ainda não tenha sido oblitera a unanimidade não foi conseguida, e a Igreja
do. Ortodoxa Oriental nunca endossou essas opiniões.
14. O Concílio de Trento (1545-1563) foi a resposta Não obstante, a perspectiva oriental difere da dos
de Roma à Reforma Protestante. Seu principal alvo protestantes e evangélicos, porquanto reconhece a
foi a eliminação da desunião religiosa, mediante a autoridade papal dentro de sua jurisdição ocidental,
conformação com as exigências de Roma. As embora rejeitando-a «fora dessa jurisdição». Devemo-
doutrinas dos protestantes acerca dos sacramentos nos lembrar que a Igreja Ortodoxa Oriental é uma
foram anatematizadas. Esse concílio serviu para espécie de associação, que se mantém unida em tomo
fortalecer a Igreja Católica Romana, consolidando de crenças e tradições comuns, mas não por meio de
seus poderes nas mãos do papa. alguma autoridade centralizada, embora os seus
15. O Concílio do Vaticano (1870). Nessa oportuni vários patriarcados sejam mantidos em elevada
dade, foi oficialmente promulgada a autoridade estima. Apesar disso, nenhuma figura da Igreja
absoluta do papa. Como suposto sucessor de Pedro e Ortodoxa Oriental tem qualquer autoridade que se
Vigário de Cristo, o papa teria autoridade sobre tudo. aproxime da do papa ocidental, e nenhuma
O papa teria poder para aconselhar e intervir, quando personagem é ali considerada infalível.
necessário, em qualquer congregação da Igreja cristã 3. A Comunidade Anglicana. Os anglo-católicos
no mundo inteiro. aceitariam de bom grado a autoridade do papa,
16. A Infalibilidade Papal. Essa doutrina foi conforme ela é entendida pela Igreja Católica
oficialmente declarada pelo Concílio do Vaticano, em Romana, mas muitos outros dentro daquela comuni
1870, nos seguintes termos: dade não se dispõem a tanto. Entre os anglicanos há
um numeroso segmento ae evangélicos (muitos deles
«Ensinamos e definimos que é um dogma divina de tendências batistas); portanto, não se pode esperar
mente revelado que o Pontífice Romano, ao falar ex para breve que a autoridade do papa seja ali
cathedra, isto é, na sua prerrogativa oficial de pas reconhecida. Ao arcebispo de Canterbury é conferido
tor e doutor de todos os cristãos, em virtude de sua um primado de honra, dentro da comunidade
suprema autoridade apostólica, ele define uma anglicana; mas a sua autoridade está longe de
doutrina acerca de fé e de moral a ser obser comparar-se com a do papa romano. Tem havido
vada pela Igreja universal, mediante a divina assis esforços para reunir a comunidade anglicana com a
tência que lhe foi prometida no bendito Pedro, Igreja Católica Romana; e isso teria lugar se os
sendo possuidor daquela infalibilidade que o divino anglicanos reconhecessem o papa como o bispo dos
Redentor quis que sua Igreja fosse dotada, a fim de bispos, com uma autoridade maior que a dos bispos,
definir doutrinas atinentes à fé e à moral; e que, embora não absoluta. Além disso, com a exceção dos
portanto, tais definições do Pontífice Romano são anglo-católicos, várias idéias concernentes ao papado,
irreformáveis por si mesmas, não derivando sua como a da infalibilidade, não poderiam fazer parte
autoridade do consentimento da Igreja». desse reconhecimento do papa como cabeça da Igreja.
Não podemos esquecer que o dogma católico Outrossim, de algumas maneiras, os anglicanos tem
PAPA, PAPADO
tomado menos provável essa reunião, com sua prática alguém precisa fazer é estudar em profundidade todos
da ordenação de mulheres ao sacerdócio. A maioria os supostos «remanescentes» da verdadeira Igreja,
dos anglicanos reconhece o papa como o legítimo dentro da Igreja Católica Romana. E descobrir-se-á
bispo de Roma, conferindo-lhe uma autoridade que não houve evangélicos (conforme agora entende
legítima na Igreja ocidental, acima da de qualquer mos o termo), e que certamente não houve batistas
outro bispo. durante muitos séculos. Isso posto, houve durante
4. O Ponto de Vista Protestante. Muitos protestan todo esse tempo uma única Igreja cristã organizada, a
tes liberais aceitam, em sua essência, o ponto de vista Igreja Católica (posteriormente dividida em Igreja
anglicano. Eles podem conceber o papa como cabeça Católica Romana e Igreja Ortodoxa Oriental). Assim,
da Igreja, contanto que vários pontos dogmáticos é melhor falarmos em termos de abusos, os quais
católicos romanos não sejam retidos. Porém, a maior foram muitos. Também houve exageros doutrinários,
parte dos protestantes conservadores, que ainda que criaram vários aspectos dogmáticos do papado. O
vivem sob o ímpeto do espirito da Reforma, rejeita a pesado envolvimento político e militar dos papas,
autoridade do papa como Vigário de Cristo e como contribuiu para a decadência moral e espiritual. A
chefe da Igreja universal; e alguns deles chegam declaração romanista de que concílios e papas são
mesmo a declarar que o papa nem ao menos é o infalíveis serve de clara tentativa de obtenção de
cabeça legítimo da Igreja de Roma. Isso significa que conforto mental, não sendo um reflexo da verdade
eles consideram a Igreja Católica Romana apóstata, e (pois papas e concílios se autodesmentem por muitas
o papa como o cabeça de um movimento apostatado. vezes). Por outra parte, a Reforma Protestante não foi
O que os católicos romanos chamam de «evolução um erro. Antes, foi um grito para que a Igreja visível
histórica» eles chamam de «câncer». E alguns deles de Cristo se reformasse!
supõem que o papa será o profeta falso do futuro
anticristo. Mas, os reformadores também foram arrogantes e
perseguidores daqueles que não concordavam com
As igrejas da Reforma Protestante começaram suas opiniões. Quanto a provas disso, ver meu artigo
rejeitando a jurisdição do papa. Lutero negou a sobre João Calvino. Líderes católicos romanos e
infalibilidade dos concílios. Isso posto, o papado, protestantes incorreram, igualmente, em erros graves.
conforme é definido pelo protestantismo, não é Não obstante isso, a Reforma Protestante foi uma
dotado de autoridade sobre a Igreja. A Reforma, de convocação à liberdade, que até hoje ecoa. Por outro
certo ângulo, deveu-se a uma crise de autoridade no lado, não vejo razão para rejeitar o papa como
seio do catolicismo romano, quando ondas reformis legítimo bispo de Roma, o qual, devido à sua posição
tas faziam-se sentir poderosamente. Alguns protes de liderança, está acima de outros bispos da
tantes identificam o papa com o anticristo; mas, na organização religiosa que é a Igreja Católica Romana.
verdade, essa identificação começou entre um Nós, que estamos fora do pálio católico romano, não
movimento de minoria entre os próprios romanistas, podemos ditar regras à Igreja Católica Romana. Mas
os frades franciscanos, no século XIV. E então vários isso não significa que outros grupos cristãos estejam
vultos reformadores aceitaram sem pestanejar essa na obrigação de unirem-se àquela igreja, ou de
idéia; e até hoje, alguns protestantes e evangélicos submeterem-se à autoridade papal.
defendem essa opinião. A tradição profética tem traçado (de antemão) a
5. Ponto de Vista do Autor Desta Enciclopédia. história futura do papado. E isso ilustra a necessidade
Passo agora a exprimir uma opinião pessoal. De modo histórica do ofício, ainda que não sancione os abusos e
geral, embora não tão drasticamente, tomo o ponto de exageros que têm caracterizado o papado. Se
vista cristão oriental. Se lermos a história, veremos compreendo corretamente a tradição profética, ela
que o papado preservou a Igreja cristã em tempos não prediz que qualquer papa futuro venha a
dificílimos. Muitos papas foram não somente cabeças tornar-se o anticristo ou o falso profeta do anticristo
da Igreja, mas também foram homens de letras, de (ver Apo. 13). Muito pelo contrário, essa tradição
elevado intelecto, homens de notáveis habilidades, profética (incluindo o que têm dito místicos católicos
que mantiveram a unidade cristã e promoveram a romanos) prevê uma grande matança no Vaticano,
civilização. Em outras palavras, eles foram grandes com o assassinato do último papa, que seria talvez
figuras históricas, e não apenas religiosas, sem as intitulado Pedro II. E isso haveria de completar o
quais é duvidoso que a Igreja cristã tivesse sobrevivido ciclo dos papas e do papado, e então o centro da
em um mundo hostil. Ê verdade que alguns deles Igreja voltaria a Jerusalém, após a conversão dos
foram homens pervertidos que incorreram em erros judeus ao Messias, Jesus de Nazaré. Isso daria início a
gigantescos. Mas outros foram homens notavelmente um ciclo inteiramente novo. Assim como à Roma foi
piedosos, discípulos dedicados de Cristo. Grupos dado o papel de preservar a Igreja durante mil anos
separados (especialmente os batistas) gostam de negros de sua existência, assim também Jerusalém
apontar para certos grupos do passado como se será o centro da Igreja por um período semelhante,
fossem a verdadeira Igreja, em meio a uma garantindo a sua sobrevivência após tempos muito
cristandade apostatada; mas esses grupos, na conturbados e destrutivos. Se as predições sobre o
realidade, foram heréticos. Para exemplificar, os papado estão corretas, então João Paulo II provavel
waldenses e albigenses (sobre os quais tenho mente será o antepenúltimo papa. Então o ofício
apresentado artigos), em sentido algum foram papal desaparecerá da Igreja, e terá início o novo ciclo
evangélicos, e sob hipótese alguma foram batistas. Na de Jerusalém como o grande centro cristão no mundo.
verdade, os católicos romanos de nossos dias são Somente Deus é capaz de separar os bons dentre os
muito mais evangélicos do que esses dois citados maus, o trigo dentre o joio, o verdadeiro dentre o
grupos. Um exame histórico descompromissado falso. Ambos esses elementos existem em todas as
revela que houve, na verdade, apenas uma Igreja denominações cristãs. Há dogmas míopes e prejudi
cristã por muitos séculos—a Igreja Católica. Assim ciais em todos os grupos cristãos. Mas isso não anula
sendo, seria absurdo negar a legitimidade da o que há de bom entre eles, e nem as suas legítimas
liderança dos papas naquela Igreja. Isso equivaleria a funções.
dizer que não houve Igreja cristã e nem autoridade 6. Ponto de Vista do Co-Autor e Tradutor Desta
cristã legítima durante muitos séculos. A tese que Enciclopédia. Minha formação teológica é batista,
aqui defendo é fácil de comprovar. Tudo quanto mas, com a passagem do tempo, aprendi a ver
51
PAPA, PAPADO
horizontes mais amplos que os batistas tradicional Sotero 166- 175
mente têm defendido e considero-me um interdenomi- Eleutério 175 - 189
nacional evangélico. Quanto às questões escatológi- Vítor I 189 199
cas, reconheço ser esse o aspecto mais difícil da Zeferino 199 217
teologia bíblica e sistemática. Muitas vezes, os Calisto I 217 222
próprios apóstolos tiveram de aprender somente com Urbano I 222 230
o desenrolar dos eventos preditos. Mesmo assim, Pontiano 230 235
arriscando-nos a errar, temos o direito de opinar, Antero 235 236
dentro da sabedoria que a cada um de nós foi dada. Fabiano 236 250
Para mim, espiritualmente falando, só há duas Cornélio 251 253
igrejas: a verdadeira (a Noiva do Cordeiro) e a falsa (a Lúcio I 253 254
Meretriz) (ver Apo. 19:1—10). Ambas estão ainda em Estêvão I 254 257
formação. A verdadeira, de cada vez em que o Xisto II 257 258
Espírito do Senhor regenera a uma alma e a mergulha Dionísio 259 268
no corpo místico de Cristo (I Cor. 12:13). A falsa, de Félix I 269 274
cada vez em que Satanás planta o joio (cristãos falsos, Eutiquiano 275 283
não-regenerados) à face da terra. Essa distinção não Caio 283 2%
obedece fronteiras denominacionais. Marcelino 296 304
Organizacionalmente falando, há organizações Marcelo I 308 309
cristãs inspiradas extrabiblicamente, e, portanto, Eusébio 309 309
tendentes a se desviarem progressivamente. Entre Miltíades ou Mil-
essas quero destacar a Igreja Católica Romana (não quíades 311 314
por ser a única errada, mas por ser encabeçada pelo Silvestre I 314 335
papado, o assunto central deste verbete). Marcos 336 336
O grande erro do cristianismo organizado consiste Júlio I 337 352
em dizer que essa organização constitui a Igreja de Libério 352 366
Cristo. No entanto, a Igreja de Cristo é um organismo Damaso I 366 384
espiritual, cujo Cabeça único e insubstituível é o Sirício 384 399
Senhor Jesus Cristo, e cujo corpo é formado por Anastácio I 399 401
crentes regenerados. Há crentes autênticos que não Inocente I 401 417
percebem isso devido à infantilidade espiritual, mas Zózimo 417 418
esse é o ensino da Bíblia. Os cristãos nominais, Bonifácio I 418 422
não-regcnerados, naturalmente não podem entender Celestino I 422 432
isso (ver João 3:3). Mas, que importa? A beleza do Xisto III 432 440
alvorecer ou de uma obra de arte não desaparece, Leão I, o Grande 440 461
somente porque os cegos não são capazes de Hilário 461 468
contemplá-la. Simplício 468 483
Os cristãos do passado, os que viam a Igreja Félix III (II) 483 492
somente como uma organização religiosa, sentiram a Gelásio I 492 496
necessidade de um cabeça visível—daí surgiu o Anastácio II 496 498
papado. Os papas esforçam-se por ocupar a posição Símaco 498 514
que cabe somente a Cristo. Eles se auto-intitulam Hormisdas 514 523
Vigário de Cristo e Sumo Pontífice. Os crentes João I 523 526
regenerados sabem que ninguém pode ser «substituto» Félix IV (III) 526 530
de Cristo, intermediário entre Deus e os homens, Bonifácio II 530 532
senão o homem Jesus Cristo, e ninguém mais. Ver João II 533 535
Efé. 4:14,15 e I Tim. 2:5. Os cristãos do presente, que Agapeto 535 536
não percebem essa realidade, como que sentem que Silvério 536 537
sem o papado a Igreja ficaria acéfala—e isso explica a Virgílio 537 555
continuação do papado. Pelágio I 556 561
Mas, quando do retorno de Cristo, ele reunirá em João III 561 574
torno de si a todo o seu povo regenerado, na cena Benedito I 575 579
chamada de bodas do Cordeiro. E todo aquele que Pelágio II 579 590
não o tiver aceito como seu Salvador, Senhor e Gregório I, o Grande 590 604
Cabeça, ficará de fora. Sabiniano 604 606
Bonifácio III 607 607
IV. lista dos Papas Bonifácio IV 608 615
Apesar desta enciclopédia não ter tentado prover Deusdedite ou Adeo-
artigos sobre todos os papas, a maioria dos mesmos (e dato I 615 618
certamente aqueles de maior importância) tem Bonifácio V 619 625
merecido artigos separados. Honório I 625 638
Severino 639 640
Pedro (Apóstolo) 31 - 67 João IV 640 642
Lino 67 - 76 Teodoro I 642 649
Anacleto ou Cleto 76 - 88 Martinho I 649 655
Clemente I 88 - 97 Eugênio I 655 657
Evaristo 97 - 105 Vitaliano 657 672
Alexandre 1 105 - 115 Adeodato II 672 676
Xisto I 115 - 125 Dono 676 678
Telésforo 125 - 136 Agato 678 681
Higino 136 - 140 Leão II 682 683
Pio I 140 - 155 Benedito II 684 685
Aniceto 155 - 166 João V 685 686
52
PAPA, PAPADO
Conon 686 687 Estêvão X 1057 - 1058
Sérgio I 687 701 Nicolau II 1059 - 1061
João VI 701 705 Alexandre II 1061 - 1073
João VII 705 707 Gregório VII 1073 - 1085
Sisínio 708 708 Vítor III 1086 - 1087
Constantino 708 715 Urbano II 1088 - 1099
Gregório II 715 731 Pascal II 1099 - 1118
Gregorio III 731 741 Gelásio II 1118- 1119
Zacarais 741 752 Calisto II 1119 - 1124
Estevão II 752 752 Honório II 1124 - 1130
Estêvão III 752 757 Inocente II 1130- 1143
Paulo I 757 767 Celestino II 1143 - 1144
Estêvão IV 768 772 Lúcio II 1144 - 1145
Adriano I 772 795 Eugênio III 1145 - 1153
Leão III 795 816 Anastácio IV 1153 - 1154
Estevão V 816 824 Adriano IV 1154 - 1159
Pascal I 817 824 Alexandre III 1159 - 1181
Eugênio II 824 827 Lúcio III 1181 - 1185
Valentino 827 827 Urbano III 1185 - 1187
Gregório IV 827 844 Gregório VIII 1187 - 1187
Sérgio II 844 847 Clemente III 1187 - 1191
Leão IV 847 855 Celestino III 1191 - 1198
Benedito III 855 858 Inocente III 1198 - 1216
Nicolau I, o Grande 858 867 Honório III 1216 - 1227
Adriano II 867 872 Gregório IX 1227 - 1241
João VIII 872 882 Celestino IV 1241 - 1241
Marino I 882 884 Inocente IV 1243 - 1254
Adriano III 884 885 Alexandre IV 1254 - 1261
Estêvão VI 885 891 Urbano IV 1261 - 1264
Formoso 891 896 Clemente IV 1265 - 1268
Bonifácio VI 896 896 Gregório X 1271 - 1276
Estêvão VII 896 897 Inocente V 1276 - 1276
Romano 897 897
Adriano V 1276 - 1276
Teodoro II 897 897 1276 - 1277
João XXI
João IX 898 900 Nicolau III 1277 - 1280
Benedito IV 900 903 Martinho IV 1281 - 1285
Leão V 903 903 Honório IV 1285 - 1287
Sérgio III 904 911 Nicolau IV 1288 - 1292
Anastácio III 911 913 1294 - 1294
914 Celestino V
Lando 913 Bonifácio VIII 1294 - 1303
João X 914 928 1303 - 1304
Benedito XI
Leão VI 928 928 Clemente V 1305 - 1314
Estêvão VIII 928 931 João XXII 1316 - 1334
João XI 931 935 1334 - 1342
939 Benedito XII
Leão VII 936 Clemente VI 1342 - 1352
Estêvão IX 939 942 1352 - 1362
942 946 Inocente VI
Marino II Urbano V 1362 - 1370
Agapito II 946 955 1370 - 1378
964 Gregório XI
João XII 955 Urbano VI 1378 - 1389
Leão VIII 963 965 1389 - 1404
966 Bonifácio IX
Benedito V 964 1404 - 1406
972 Inocente VII
João XIII 965 1406 - 1415
974 Gregório XII
Benedito VI 973 Martinho V 1417 - 1431
Benedito VII 974 983 1431 - 1447
983 984 Eugênio IV
João XIV
João XV 985 996 Nicolau V 1447 - 1455
Gregório V 996 999 Calisto III 1455 - 1458
Pio II 1458 - 1464
Silvestre II 999 1003 1464 - 1471
João XVII 1003 1003 Paulo II
Xisto IV 1471 - 1484
João XVIII 1004 1009 Inocente VIII 1484 - 1492
Sérgio IV 1009 1012 Alexandre VI 1492 - 1503
Benedito VIII 1012 1024 1503 - 1503
João XIX 1024 1032 Pio III
Júlio II 1503 - 1513
Benedito IX 1032 1044 Leão X 1513 - 1521
(Ver rodapé) Adriano VI 1522 - 1523
Silvestre III 1045 1045 1523 - 1534
Benedito IX Clemente VII
1045 1045 Paulo III 1534 - 1549
Gregório VI 1045 1046 1550 - 1555
Clemente II Júlio III
1046 1047
Benedito IX 1047 1048 Marcelo II 1555 - 1555
Damaso II 1048 1048 Paulo IV 1555 - 1559
Leão IX 1049 1054 Pio IV 1559 - 1565
Vítor II 1055 1057 Pio V 1556 - 1572
53
PAPA, PAPADO - PAPIAS
Gregório XIII 1572 - 1585 dela nos resta foi aquilo que outros citaram,
Xisto V 1585 - 1590 principalmente Eusébio, o primeiro historiador
Urbano VII 1590 - 1590 eclesiástico. Joseph B. Lightfoot recolheu o quanto
Gregório XIV 1590 - 1591 pôde dos fragmentos das obras de Papias, tendo-as
Inocente IX 1591 - 1591 incluído em sua publicação, Apostolic Fathers. Não
Clemente VIII 1592 - 1605 temos muitas informações acerca de sua vida, mas
Leão XI 1605 - 1605 Irineu adianta que ele foi companheiro de Policarpo,
Paulo V 1605 - 1621 que, por sua vez, foi discípulo do apóstolo João.
Gregório XV 1621 - 1623 Assim sendo, Papias foi uma espécie de cristão da
Urbano VIII 1623 - 1644 segunda geração, que teve contatos com discípulos
Inocente X 1644 - 1655 (ou pelo menos, com um discípulo) dos apóstolos..
Alexandre VII 1655 - 1667 Eusébio também assevera que Papias foi bispo de
Clçmente IX 1667 - 1669 Hierápolis. A tradição revela que ele foi martirizado
Clemente X 1670 - 1676 juntamente com Policarpo, em cerca de 155 D.C.,
Inocente XI 1676 - 1689 mas essa é uma informação que os pesquisadores
Alexandre VIII 1689 - 1691 modernos têm descoberto ser falsa.
Inocente XII 1691 - 1700 Podemos derivar algumas informações de sua obra
Clemente XI 1700 - 1721 Interpretaçio. Foi Papias quem iniciou a tradição que
Inocente XIII 1721 - 1724 diz que Marcos era intérprete de Pedro. Ele teria
Benedito XIII 1724 - 1730 escrito as coisas que Pedro lhe narrara, mas não
Clemente XII 1730 - 1740 registrando necessariamente os acontecimentos por
Benedito XIV 1740 - 1758 sua ordem cronológica. Se isso é verdade, então
Clemente XIII 1758 - 1769 grande parte dos esforços dos harmonizadores não
Clemente XIV 1769 - 1774 pode ser acurada, visto que o evangelho de Marcos foi
Pio VI 1775 - 1799 utilizado por Mateus e por Lucas, quanto ao seu
Pio VII 1800 - 1823 esboço histórico. E alguns eruditos têm chegado ao
Leão XII 1823 - 1829 extremo de dizer que o evangelho de Marcos é o
Pio VIII 1829 - 1830 evangelho de Pedro, embora escrito por Marcos. Os
Gregório XVI 1831 - 1846 céticos, por sua vez, negam a validade de muita coisa
Pio IX 1846 - 1878 dita por Papias, pensando que, em muitos casos, ele
Leão XIII 1878 - 1903 estava meramente especulando. Porém, sua posição
Pio X 1903 - 1914 dentro da história indica que, a grosso modo,
Benedito XV 1914 - 1922 podemos ter confiança nas suas declarações. Papias
Pio XI 1922 - 1939 também afirmou que Mateus coligiu as declarações de
Pio XII 1939 - 1958 Jesus em hebraico (Eusébio, Hist. 111.39.15,16). Mas,
João XXIII 1958 - 1963 um exame do evangelho de Mateus mostra que o
Paulo VI 1963 - 1978 mesmo não é uma tradução do hebraico para o grego,
João Paulo I 1978 - 1978 razão pela qual alguns estudiosos têm suposto que
João Paulo II 1978 - Eusébio estava falando da fonte informativa do
O nome de Benedito IX aparece por tres vezes, por evangelho de Mateus, e não desse envangelho
causa de eventos confusos durante o seu pontificado. propriamente dito. E alguns deles têm identificado
Silvestre III, Gregório VI e Clemente II podem ser essa fonte informativa com um documento chamado
considerados antipapas, ou rivais no papado. Q, um alegado documento que Mateus e Lucas
teriam usado. Ver o artigo intitulado Problema
Bibliografia. AM B BMU C CD CE COR JAL Sinóptico, onde são discutidas as supostas fontes
informativas usadas por Mateus, Marcos e Lucas.
PAPADO Irineu citou Papias, conferindo algumas poucas
informações a respeito do apóstolo João, ao qual, é de
Ver o artigo geral intitulado Papa (Papado). presumir-se, ele pôde ter conhecido pessoalmente.
Mas, ficamos desapontados diante da escassez
informativa, pois Papias apenas asseverou que João
PAPEL continuou ensinando sobre Cristo, após a ressurreição
Ver os dois seguintes artigos: Papiro e Escrita. dele, e prometeu um reino terrestre próspero,
caracterizado pela paz e pela abundância, quando os
homens seriam obedientes a Deus. Naturalmente,
PAPIAS DE HIERÀPOLIS Papias foi um entusiasmado milenialista, e influen
Papias foi um antigo autor cristão, cujas datas não ciou a outros de seu tempo, acerca dessa doutrina
são conhecidas com exatidão. Mas, sabe-se aue ele (Irineu, Haer. v.33.3). Acerca de João, embora Papias
floreceu em torno de 130 D.C. Foi bispo de pareça tê-lo conhecido pessoalmente (Irineu, Haer.
Hierápolis, na Frigia Pacatiana. localizada a poucos 5.33.4), Papias chamou-o de «ancião». Por esse
quilômetros ao norte de Laodicéia, e cerca de cento e motivo, Eusébio chegou a pensar que Papias
sessenta quilômetros a leste de Éfeso. Papias deve ter confundira o apóstolo com algum outro homem do
nascido por volta de 60 ou 70 D.C. mesmo nome. E também chegou a supor que
Papias era um homem curioso, que tinha o hábito houvessem dois proeminentes homens, ambos chama
de inquirir sobre as origens do cristianismo. E, tendo dos João: um apóstolo, e outro, ancião. Eusébio tinha
vivido em um período histórico favorável, pelo menos em pouca conta os poderes intelectuais de Paoias, e
algumas de suas informações devem ser corretas, sua exatidão como escritor. É verdade que Eusébio
embora, atualmente, saiba-se que ele cometeu alguns não concordava com Papias quanto à ênfase milenista
equívocos de informação. Sua principal obra intitula deste; mas é difícil crer que ele teria falado acerca de
va-se Interpretação das Afirmações do Senhor, Papias, como o fez, somente por discordar dele
também chamada Exposição dos Oráculos do Senhor, quanto a alguns pontos doutrinários. Todavia, no
uma extensa obra, em cinco volumes. Infelizmente, a campo das controvérsias doutrinárias, qualquer coisa
maior parte dessa obra pereceu com o tempo, e o que pode acontecer. Seja como for, os eruditos modernos
54
P(52), Século II, João 18:31-34, 37-38, — Cortesia,_John Rylands Library
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P(45), Século III, João 10:7-25, — Cortesia, The Chester Beatty Library
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Rolo de papiro (pap. 125, Hyperides pro Euxenippo), — Cortesia, British
Museum
PAPIAS - PAPIRO
concordam que os escritos de Papias não se novas, e iam amarelando com o tempo; mas, se
caracterizavam pela lucidez. É lamentável, contudo, fossem mantidas secas, esse processo de envelheci
que algo mais de seus escritos não tenha sobrevivido mento não alterava a legibilidade das mesmas. Na
até hoje. Entre o material duvidoso, talvez houvesse Universidade de Michigan, em Ann Arbor, nos
grandes tesouros informativos. Por outra parte, talvez Estados Unidos da América, vi pessoalmente uma
Eusébio estivesse com a razão. Nesse caso, não grande porção da coletânea das epístolas de Paulo
perdemos muita coisa com o desaparecimento da obra (P46). Cada folha é atualmente preservada entre duas
de Papias, o que ocorreu em algum tempo depois de peças de vidro. E embora esses manuscritos tenham
1341. Até então, essa obra estava alistada nos agora cerca de mil e setecentos anos, a sua leitura não
catálogos da biblioteca de Estames, um mosteiro apresenta qualquer problema.
cisterciense. 3. O Papiro Como Planta e Seus Usos
O nome científico essa espécie vegetal é Cyperus
papyrus. Não há certeza quanto ao significado da
PAPIRO palavra papiro; mas pode estar vinculada ao termo
Esboço: cópticopapuro, «pertencente ao rei». Sem dúvida isso
1. Descrições se originou da circunstância que o material era usado
2. Importância para a Arqueologia na biblioteca real e nos documentos oficiais. A planta
cresce em grande número nos alagadiços e nos lagos.
3. O Papiro como Planta e seus Usos Seus colmos, um tanto triangulares, chegam até seis
4. O Papiro e o Novo Testamento metros de altura. Suas flores são grandes, abertas,
5. A Critica Textual e os Manuscritos em Papiro com o formato de sinos. O formato gracioso da planta
1. Descrições tornou-se um motivo favorito da arte e da arquitetura
O material de escrita mais conveniente e durável da egípcias. Talvez o trecho de Jó 8:11 contenha uma
antiguidade (embora extremamente dispendioso), era referência a essa planta, sendo bastante provável que
o velino, feito de peles de animais. Seu grande rival a cestinha em que Moisés foi posto a flutuar sobre as
era o menos durável papiro, um tipo de papel feito de águas do Nilo tivesse sido feita dessa planta (ver £xo.
certa planta aquática muito abundante no Egito. Esse 2:3). Também sabemos que os egípcios usavam o
papel vinha sendo fabricado desde a antiguidade. Era papiro para construir pequenos botes. Além de ser
utilizado o cerne do colmo do papiro. As camadas usado no fabrico de papel e botes, o papiro também
exteriores eram removidas e o cerne era exposto. era empregado na confecção de cestas, cordas,
Então esse cerne era cortado em fatias de pouca sandálias e vários artigos de vestuário. As classes
espessura, as quais eram coladas lado a lado, a fim de pobres usavam as raízes de papiro como alimento.
formarem uma «página», com cerca de 25 cm a 30 cm, 4. O Papiro e o Novo Testamento
em quadrado. Sobre essa primeira camada era colada Os mais antigos manuscritos do Novo Testamento
uma outra, em ângulo reto; e tudo isso era de que dispomos foram feitos em papiro. Há
submetido à pressão e deixado a secar. Então as fragmentos, nesse material, que retrocedem até o
folhas eram coladas, formando rolos, algumas vezes século II D.C., e consideráveis porções, mormente das
bastante longos. Os textos mortuários egípcios epístolas de Paulo, datam do século III D.C. em
algumas vezes chegam a ter quase 50 m de diante. Damos uma relação completa dos manuscritos
comprimento, razão pela qual eram de difícil em papiro do Novo Testamento, no artigo Manuscri
manipulação. Foi por essa razão que, finalmente, o tos do Novo Testamento, seção II. E a seção III.6
velino acabou sendo o material de escrita preferido, desse mesmo artigo descreve a importância dos
podendo este ser preparado em forma conveniente de manuscritos escritos em papiro do Novo Testamento.
«livro», com páginas individuais. Também oferecemos artigos separados sobre as mais
Os gregos chamavam o papiro de bíblos; e um rolo extensas coletâneas de papiros. Ver Papiros Chester
de papiro era um biblíon, de onde nos vêm as palavras Beatty e Papiros Bodmer.
«Bíblia» e «livro». Se o velino podia ser utilizado no 5. A Critica Textual e os Manuscritos em Papiro
verso e no reverso, um rolo de papiro era escrito Quanto a informações gerais sobre a critica textual
somente de um lado. Esse lado era alisado de modo do Novo Testamento, ver o artigo Manuscritos do
que a sua superfície servisse de página para escrever. Novo Testamento, seções V,VI, VII e VIII. Os
O outro lado era deixado ao natural. No século II manuscritos em papiro são mais antigos que os mais
D.C., começaram a aparecer livros de papiro. O antigos manuscritos em velino, e vários séculos mais
papiro é um material bastante durável, contanto que antigos que aqueles que foram usados na compilação
não umedeça. E é precisamente por esse motivo que do Textus Receptus (vide). Preferir o Textus
quase todos os manuscritos em rolos de papiro que têm Receptus, e não esses manuscritos mais antigos, é
chegado até nós foram preservados no Egito, onde o suicídio. O fato é que os manuscritos não usados pelo
clima é desértico e seco. Textus Receptus têm um tipo de texto predominante
2. Importância para a Arqueologia mente alexandrino, concordando com os manuscritos
Documentos sobre os mais diversos assuntos, chamados Vaticanus e Sinaiticus. Muitos dos
escritos em papiro, têm sido encontrados em grande primeiros pais da Igreja também usaram esse texto
número, e daí a arqueologia tem extraído muitos mais antigo, que antecede, por diversos séculos, o
conhecimentos que temos sobre a antiguidade. Quase chamado texto bizantino, que, em sua forma mais
todo esse material data de 400 A.C. a 600 D.C., fundida, veio a fazer parte do Textus Receptus.
quando o papiro foi sendo abandonado e o velino Assim, preferir o Textus Receptus a esses papiros
entrou em uso mais constante. Entretanto, as mais antigos é demonstração de ignorância de causa.
descobertas arqueológicas têm demonstrado que o Em favor da prioridade do tipo de texto alexandrino,
papiro vinha sendo usado desde a era tão remota em contraposição ao tipo de texto bizantino, temos
quanto 3000 A.C. O papiro era exportado para a Síria estas formidáveis evidências: a. os papiros; b. os mais
e para a Palestina, e também para outros lugares, antigos manuscritos em velino; c. as citações dos
embora em menor extensão. Apesar do papiro ser primeiros pais da Igreja; d. as mais antigas versões,
menos dispendioso que o velino, nem por isso era como a latina, e várias traduções egípcias, como o
barato. As folhas de papiro eram brancas, quando saídico e o boárico. Todas essas fontes informati
55
PAPIRO DE NASH - PARÁ
vas são anteriores ao tipo de texto bizantino, e teoria textual, bem como amplas descrições sobre os
fortemente alexandrinas em sua forma mais primiti manuscritos antigos. (KE ME)
va.
llüt«2
PARÁBOLA DO SEMEADOR
Os Trabalhadores — Amigo O Bom Samaritano
não te faço agravo.
PARÁBOLA
adota e expande, usando-a como um discurso geral patente quando surgir esse personagem. O próprio
sobre o reino dos céus, sobre sua aceitação e rejeição. livro de Apocalipse parece ser um estudo sobre o
Os dois capitulos anteriores levam a isso. Apesar do sentido dos números, mas aqui notamos que, em
caráter variegado do material, o resultado é realidade, o autor do evangelho de Mateus registrou
admiravelmente apropriado. O evangelista concebe a oito parábolas, e não sete, a saber: a do semeador, a
maior parte deste discurso como se fosse dirigido às do joio, a do grão de mostarda, a do fermento, a do
multidões, mas teria havido explicações laterais para tesouro escondido, a da pérola de grande valor, a da
os discípulos». (Sherman Johnson, in loc.). rede de pescar e a do pai de família.
Este décimo terceiro capítulo de Mateus contém Usualmente os intérpretes, pretendendo limitar o
oito parábolas que são denominadas, em seu número dessas parábolas a sete, não consideram a
conjunto, «os mistérios do reino dos céus». A palavra história do pai de família como se fosse uma parábola,
«parábola» indica, literalmente, «comparação», e é mas isso não passa de preconceito de número. Nota-se
comumente usada para indicar uma história breve, também que, nos trechos paralelos em Marcos e em
um exemplo esclarecedor, que ilustra uma verdade Lucas, são apresentadas ainda outras parábolas: a da
qualquer. A parábola não é uma fábula, porque a lâmpada (Mar. 4:21 e Luc. 8:16) e a da semente que
fábula é uma forma de história ilustrativa fictícia e cresce por si mesma (Mar. 4:26-29), o que perfaz um
que ensina através da fantasia, mediante a apresenta total de dez parábolas conhecidas. Também não é
ção de animais que falam ou de objetos animados. A impossível que a parábola de Luc. 13:6,9, que fala
parábola nem sempre lança mão de histórias sobre a figueira estéril, faça parte dos ensinos de Jesus
verídicas, mas admite a probabilidade, ensinando acerca do reino dos céus. Talvez tenha sido
mediante ocorrências imaginárias, mas que jamais apresentada ao mesmo tempo que as parábolas que se
fogem à realidade das coisas. A parábola também não encontram no décimo terceiro capítulo de Mateus.
é mito, pois este narra uma história como se fosse Assim sendo, vê-se que o número de parábolas
verdadeira, mas não adiciona nem a probabilidade e apresentadas por Jesus não é uma cifra exata, pelo
nem a verdade. A parábola não tenta contar uma que também é duvidoso formar qualquer teoria sobre
história que deve ser aceita como história real, e, sim, exegese ou sobre dispensações à base do número das
um tipo de narrativa que nem sempre sucedeu parábolas do reino.
realmente. A parábola, entretanto, não é idêntica ao
provérbio, a despeito do fato de que a mesma palavra Tanto Marcos como o autor do evangelho de
grega é usada para indicar ambas as coisas (ver Luc. Mateus indica a existência de outras parábolas
4:23; 5:36 e Mat. 15:14,15). A parábola pode ser! (Mar. 4:33 e Mat. 13:34). Também é erro imaginar
que Jesus proferiu todas essas parábolas em uma só
porém, um provérbio ampliado, e o provérbio pode ocasião; tal interpretação exagera as palavras exatas
ser uma parábola condensada ou resumida. A da história, olvidando que o principal intuito do autor
parábola também não é a mesma coisa que a alegoria. do evangelho de Mateus foi o de reunir os ensinos de
A alegoria interpreta a si mesma, tão somente determinada qualidade em um lugar só, a fim de, ao
substituindo as personagens reais por outras. Na redor deles, construir as histórias e incidentes do
alegoria, as personagens fictícias são dotadas das evangelho. A comparação com os outros evangelhos
mesmas características das pessoas reais, sem sempre ilustra que, por causa disso, o autor deste
qualquer tentativa para ocultar ou para ilustrar por evangelho não relata os fatos pela sua ordem
meio de símbolos. A parábola ilustra por meio de cronológica. Por exemplo, nessa mesma seção, a
símbolos, como por exemplo, «o campo é o mundo», parábola do semeador, no evangelho de Marcos,
«o inimigo é o diabo», «a boa semente são os filhos do aparece depois da visita da mãe e dos irmãos de Jesus,
reino», etc. A parábola é uma narrativa séria, tal como sucede em Mateus, mas em Lucas a ordem é
colocada na esfera das probabilidades, isto é, a justamente a oposta (Luc. 8:4-15, 19-21).
história narrada na parábola pode ter acontecido
realmente, sendo ilustração das experiências comuns Alguns intérpretes opinam que é provável que
aos homens, e o conteúdo dessa história tem por fito todas, senão a maior parte destas parábolas, tenham
ilustrar, ensinar ou enfatizar um ou mais princípios sido proferidas antes do Sermão do Monte, o que
éticos, morais, doutrinários ou religiosos. Talvez a pode ser verdade ou não, mas que ilustra o fato de que
alguns intérpretes estabelecem uma ordem artificial
alegoria não seja muito diferente disso, excetuando o de acontecimentos, que nega muitos fatos já
fato de que pode indicar uma história criada, dotada
observados neste evangelho, confirmando que o autor
de mais símbolos comparativos. As definições não não tinha o propósito de relatar todos os ensinos
estipulam as diferenças entre essas formas de
conforme foram apresentados, em sua ordem
comparação, ou seja, a parábola, a fábula, o mito, o
provérbio e a alegoria, conforme fizemos aqui, e pode cronológica, na vida de Jesus. Realmente, o propósito
do autor do evangelho de Mateus foi o de reunir os
ser que outras definições sejam acrescentadas a estas.
ensinos para formar um núcleo em torno do qual se
Explicação Geral das Parábolas: baseia cada seção de acontecimentos.
1. Nota-se que alguns comentaristas exageram o Neste terceiro grande trecho dos ensinos de Jesus,
suposto fato de que há sete parábolas neste capítulo, portanto, encontramos os principais ensinos acerca do
como se Jesus tivesse proferido somente sete parábolas reino dos céus, e dificilmente podemos aceitar a idéia
sobre os mistérios do reino dos céus, como se esse de que Jesus, de uma vez só, tenha proferido todas
número tivesse alguma significação mística. Não essas parábolas. Provavelmente apresentou uma de
podemos negar que, às vezes, as Escrituras empregam cada vez, quiçá com aplicações diferentes, fato esse
— certos números — com sentidos determinados; por que já foi observado outras vezes no tocante aos seus
exemplo, as sete igrejas do Apocalipse, onde esse ensinos — a do semeador e a do grão de mostarda,
número evidentemente indica a perfeição. Teríamos, enquanto Lucas apresenta apenas a parábola do
então, uma ilustração do caráter geral da igreja, e semeador. No evangelho de Lucas, as outras
talvez um pequeno esboço do caráter geral da história parábolas aparecem em outros trechos. Por exemplo,
eclesiástica. Quem pode negar que o número 666, em Lucas, a ordem de apresentação das parábolas é a
número do anticristo, tem grande significação? seguinte: do semeador, Luc. 8:4-15; do fermento,
Dificilmente alguém mostrou a sua exata significação, Luc. 13:20,21. Porém, em seu oitavo capítulo, Lucas
até hoje, mas provavelmente a explicação se tornará tem uma parábola não contida no evangelho de
59
PARÁBOLA
Mateus, a saber, a da lâmpada (Luc. 8:16), e talvez durante o período da igreja, a época da graça; mas,
também uma outra parábola, a da figueira estéril, em por respeito aos bons comentaristas que assim
Luc. 13:8,9. Marcos apresenta a parábola do ensinam, apresentamos aqui, em poucas palavras, a
semeador em Mar. 4:1-20, e a do grão de mostarda seguinte idéia: Alford, admitindo que a parábola tem
em Mar. 4:30-32. Tal como Lucas, Marcos acrescenta por escopo principal ensinar, e não predizer, expõe
a parábola da lâmpada (em Mar. 4:21), e também com cautela este esboço geral do elemento profético
apresenta uma parábola que não foi exposta nem por das parábolas: a. o período áureo da semeadura da
Mateus e nem por Lucas — a da semente que cresce semente do reino, no tempo dos apóstolos — parábola
por si mesma, em Mar. 4:26-29. A análise dessas do semeador, b. Intromissão de diversas heresias na
informações prova que Jesus proferiu mais do que sete igreja primitiva — parábola do joio. c. Apesar disso, o
parábolas (seu número total talvez tenha sido onze) progresso do reino teve prosseguimento e o reino se
sobre o reino dos céus; e certamente não o fez de uma desenvolveu — parábola do grão de mostarda, d.
vez só, nem na mesma oportunidade. Bruce, do Durante tempos difíceis, como na Idade Média, o
Expositor's Greek Testament, in loc., acha que, reino continuou se propagando, penetrando na
segundo a ordem da seqüência e da semelhança de sociedade inteira —parábola do fermento, e. Nos dias
propósitos, é provável que as parábolas do semeador, que correm surgiram as denominações evangélicas,
do joio e da rede de pesca tivessem sido proferidas na mas, apesar disso, o tesouro ainda pode ser
mesma ocasião. Precisamos concordar com ele em encontrado — parábola do tesouro escondido, f.
que é impossível dizer quantas parábolas foram Durante os períodos de desenvolvimento intelectual e
proferidas naquela ocasião em que Jesus saiu de casa da cultura secular em geral (Renascença), o homem
e assentou-se à beira-mar (Mat. 13:1). Também é ainda podia encontrar esse tesouro de excepcional
impossível dizer quantas parábolas, em sua totalida valor — parábola da pérola de grande valor.
de, foram proferidas acerca dessa questão, ou qual o Finalmente, após o passar dos séculos, haverá o
momento exato em que foram proferidas; mas julgamento, com a separação entre o bom e o mau —
certamente podemos confirmar e confiar que aquelas parábola da rede de pesca.
que temos nos evangelhos representam fielmente os Alguns intérpretes apresentam uma comparação
ensinos de Jesus sobre o reino dos céus. dessas parábolas com as sete cartas do Apocalipse,
2. Como representação da história da igreja: Não pensando que esses trechos apresentam um esboço da
há certeza se essas parábolas foram proferidas por história eclesiástica. Inclusas nessa idéia, às vezes,
Jesus como um esboço do reino dos céus, ou seja, a também encontramos as bem-aventurmnças:
influência de Deus, através do Espírito Santo,
Outras aplicações dessa matéria (incluindo as exageradas ou mesmo falsas. Dificilmente acharíamos
parábolas) ao caráter geral da igreja na atualidade, ou um texto que tenha sido mais abusado que o décimo
ao esboço da história eclesiástica, são quase sem terceiro capítulo de Mateus. Apesar disso, é certo que
número, e naturalmente há muitas interpretações temos muitas aplicações às condições da igreja, além
PARÁBOLA
de muitas lições práticas, aplicadas à vida espiritual, povo para benefício de todos, e não há que duvidar
quer da igreja, quer do indivíduo. Assim sendo, muito que ele quis ilustrar a rejeição à parábola naquele
podemos aprender desses ensinos. Devemos ter o tempo (ou sua aceitação, por parte de alguns), como
cuidado de não procurar ensinar mais do que Jesus também a rejeição ao reino dos céus, e, de maneira
quis ensinar e, especialmente, evitar as lições e os geral, rejeição à pregação de Jesus e aos seus conceitos
ensinos absurdos como aplicações dessas parábolas. doutrinários e morais. É certo que Jesus indicou a
3. Interpretação geral das parábolas: em primeiro expansão do ministério da palavra de Deus no
lugar, observamos que este trecho constitui o terceiro mundo, isto é, ensinou a universalidade da aplicação
grande bloco de ensinos de Jesus (dentre os cinco de sua mensagem e o seu objetivo, porquanto a «vinha
existentes em Mateus), ao redor dos quais este de Deus», que é a nação de Israel (Is. 5:1-7) e a
evangelho foi formado. As seções do livro, cada uma semeadura da semente no campo (o mundo), são
tendo como centro um bloco de ensinos, são as coisas diferentes. Jesus, portanto, sugeriu aqui o
seguintes: desenvolvimento do movimento religioso que recebeu
o nome de cristianismo, religião verdadeiramente
1. Caps. 3 — 7 universal.
2. Caps. 8 — 10
3. Caps. 11 — 13 2. PARÁBOLA DO JOIO (vss 24-30, e explicação
4. Caps. 14 — 18 dada por Jesus nos vss 36-43)
5. Caps. 19 — 25 Nota-se aqui pequena variação no emprego dos
A conclusão é formada pelos caps. 26 — 28. Os símbolos: a «boa semente» (a palavra; a pregação,
principais capítulos que apresentam os ensinos são: segundo a parábola do semeador) agora indica aquilo
que a palavra tem produzido, isto é, os filhos do reino.
1. Caps. 5 — 7 Satanás também semeia a sua semente, que são os
2. Cap. 10 «filhos do maligno». O local onde isso se verifica é o
3. Cap. 13 mundo (o campo); alguns insistem em fazer disso a
4. Cap. 18 igreja. O resultado é o fato de que, por muitas vezes
5. Cap. 25 — é impossível distinguir as obras de Deus das obras
Após cada um desses ensinos aparece o cumpri do diabo, e os filhos de Deus dos filhos do diabo.
mento dos mesmos em palavras do autor, como, por Devemos notar que o campo não é a igreja, porquanto
exemplo: «Quando Jesus acabou de proferir estas tal condição mista jamais foi a intenção de Deus, a
palavras...» (Mat. 7:28): ou: «Tendo Jesus acabado de despeito do fato de que, na realidade, tal mistura
dar estas instruções...» (Mat. 11:1). Ou ainda: persiste. A igreja conta com mandamentos para
«Tendo Jesus proferido estas parábolas...» (Mat. observar, a fim de ser mantida a ordem e a disciplina,
13:53). Ou então: «Concluindo Jesus estas parábolas» especialmente visando preservar a pureza doutrinária
(Mat. 19:1). Ou, finalmente: «Tendo Jesus acabado e pessoal, e esta passagem não foi dada para eliminar
todos estes ensinamentos...» (Mat. 26:1), que marcam essa necessidade, supondo que tal obra seja atuação
o esboço do livro. dos anjos no final desta dispensaçào. Esta parábola
1. PARÁBOLA DO SEMEADOR (Mar. 4:1—9 e também não indica simplesmente as condições do
Luc. 8:4-8) mundo em geral e, sim, as condições irregulares
O próprio Jesus interpretou essa parábola (Mat. daqueles que afirmam ser «filhos do reino», isto é, de
13:18-23). A semente é a palavra, isto é, a pregação Deus, cristãos. Assim sendo, esta parábola indica as
do reino. O semeador é Jesus, mas também pode ser condições da cristandade. O fato de ter sido feita uma
aplicado a qualquer discípulo que prega o reino. O mudança no simbolismo desta parábola, em compa
maligno é Satanás (interpretação primária) ou ração com o simbolismo da parábola do semeador,
qualquer agência satânica, como a atração exercida ilustra a verdade que os símbolos usados nem sempre
pelo mundo, a falta de fé, o fascínio das riquezas, etc. significam a mesma coisa. Por exemplo, usualmente o
Os diversos lugares onde pode cair a semente símbolo da serpente, nas Escrituras e na literatura
significam as personalidades ou características da judaica, representa algo maléfico; no entanto, de
queles que recebem a semente, bem como o uso que certa feita Jesus se utilizou desse símbolo em bom
fazem dela, ou então, como a semente germina sentido (ver Mat. 10:16). Não devemos ficar
ou não nas vidas desses indivíduos. De modo geral, surpreendidos, portanto, ao acharmos que Jesus
com estas palavras, Jesus ilustra o que se pode esperar também usou o fermento como símbolo não de uma
da pregação da palavra, isto é, pequena porcentagem coisa má (ver Mat. 13:33).
dos ouvintes acolherá a mensagem, mas, entre esses 3. PARÁBOLA DO GRÁO DE M OSTARDA, vss.
ouvintes, haverá o desenvolvimento de muitos frutos. 31,32 (ver Mar. 4:30-32 e Luc. 13:18,19)
Jesus implica aqui a rejeição geral ao reino. «A menor de todas as sementes». Não se trata de
Provavelmente, segundo alguns intérpretes insistem, uma verdade absoluta, e, sim, são palavras que
as parábolas se aplicam tanto à igreja como aos representam um provérbio comumente usado com
indivíduos, e ilustram, de modo geral — a rejeição — referência ao grão de mostarda. «Maior do que as
ao evangelho; mas também indicam o sucesso parcial hortaliças». Novamente não representa uma verdade
do ministério da «palavra». Tais explicações dão idéia absoluta, mas é uma comparação da minúscula
de que haverá um intervalo entre a primeira e a semente que produz a hortaliça. Esta parábola ilustra
segunda vindas de Cristo, fato esse que os judeus o rápido desenvolvimento do reino, desde seu ínfimo
jamais compreenderam claramente. Esse intervalo começo, que era tão insignificante para as autorida
seria ocupado pela revelação dos mistérios do reino. des do mundo, tanto políticas como religiosas, até o
As parábolas explicam, em termos gerais, o caráter grande e notável lugar que veio a ocupar no mundo. A
desse tempo. Talvez o autor deste evangelho tivesse figura das aves do céu, a habitarem nessa árvore,
tido o propósito de revelar esses mistérios com estas talvez seja tomada de empréstimo de Dan. 4:20-22,
parábolas, pois dificilmente poderíamos aceitar a que dá a idéia da falta de segurança da árvore; mas
idéia de que elas tivessem aplicação exclusiva aos muitos bons intérpretes indicam com isso que está em
tempos de Jesus. Porém, também não se pode aceitar vista um lugar de refúgio, repouso e bênção, como
que essas parábolas não tivessem tido aplicação às resultado da existência do reino, e que essa é a
condições reinantes nos dias de Jesus. Ele falou ao intenção das palavras de Jesus.
61
PARÁBOLA
4. PARÁBOLA DO FERMENTO, vs 33 (ver Luc. Alguns interpretam a pérola como se fosse a igreja
13:20,21) ou Israel, e que Cristo é aquele que a compra.
Esta parábola ilustra o poder de penetração do Todavia, parece mais certo interpretar esta parábola
reino dos céus. Embora seja verdade que as Escrituras como se interpreta a parábola do tesouro. No tempo
apresentam o fermento como símbolo da corrupção, e de Jesus, as pérolas tinham grande valor, muito mais
que os rabinos tenham usado o termo nesse mesmo do que agora, comparativamente, porquanto eram
sentido, nào há razão para crer-se que Jesus não tenha mais valiosas do que as esmeraldas, safiras e outras
tido coragem suficiente para mudar o símbolo, neste pedras preciosas. Eram usadas para enfeitar as vestes
caso, a fim de que passasse a simbolizar outra coisa. dos ricaços. Por causa da associação das pérolas com
Segundo alguns intérpretes, a intenção desta parábola o mar, os pescadores e aqueles que moravam à
é ilustrar como o reino haveria de receber elementos beira-mar, certamente, devem ter sentido o impacto
pervertidos e assim se estragaria com o aparecimento desta parábola. Aqui temos o quadro de um homem
de heresias, etc. Parece que muitos não admitem as que sempre achava pérolas pequenas de valor
palavras simples (e sem a interpretação de Jesus) que relativamente pequeno, e que vivia à cata de uma
ele proferiu. Os símbolos nem sempre são coerentes, pérola de grande valor, sem igual. Finalmente a sua
como já observamos em diversos casos: 1. A semente, busca o guia até aquela raríssima pérola. Imediata
na parábola do semeador, significa a palavra. Porém, mente vende tudo quanto tem, todas as outras pérolas
na parábola do joio, significa os resultados da e seus outros bens, vendo nisso um sacrifício pequeno,
palavra, que são os «filhos do reino dos céus». 2. Nas contanto que assim possa adquirir aquela pérola
Escrituras e nos escritos rabínicos, a serpente sempre extraordinária — essa pérola é Cristo e seu reino. À
tem um sentido mau, usualmente indicando Satanás semelhança de Paulo, tal homem diria: «Sim, deveras
ou o mau-caráter de sua pessoa: porém, em Mat. considero tudo como perda, por causa da sublimidade
10:16 descobrimos que Jesus empregou esse símbolo do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por
com bom sentido. O símbolo do leão é usado tanto amòr do qual perdi todas as cousas e as considero
para indicar a Satanás (I Ped. 5:8) como para indicar como refugo, para ganhar a Cristo...» (Fil. 3:8).
o próprio Cristo (Apo. 5:5). Esta parábola ilustra a Questões pesadas, como aquela que afirma que
mesma coisa que a do grão de mostarda (desenvolvi «nenhum homem busca a Deus», considerando assim
mento), mas a parábola da mostarda implica em que o homem aludido nesta parábola não poderia ser
crescimento observado de fora, ao passo que esta do um pecador, são considerações impróprias que
fermento implica no desenvolvimento que, partindo apenas obscurecem o sentido que Jesus quis dar a
de dentro para fora. finalmente, se propaga a toda entender. Na experiência humana, o pecador sempre
a parte, isto é, a influência e o poder do mundo. é comparado com aquele que busca e, de fato,
Naturalmente que esta parábola não tem a intenção algumas passagens bíblicas indicam exatamente isso.
de ensinar que o mundo inteiro se converterá, O impulso do Espírito está presente em toda a parte e
conforme alguns têm dito ser o ensino deste texto, leva os homens a procurarem o caminho de Deus.
especialmente nos estudos feitos pelos pós-milenistas. Contudo, nào são todos os que buscam a peróla de
Devemos procurar evitar o extremismo na interpreta grande preço, porquanto nem todos estão dispostos a
ção, que busca o sentido de cada palavra, ainda que pagar o necessário para obtê-la.
pequena, interpretação essa que transforma parábo 7. PARÁBOLA DA REDE DE PESCA, vss. 47-50
las simples como a que temos aqui em questões (encontra-se somente em Mateus)
complicadas e complexas de teologia. Os vss. 49 e 50 fornecem a explicação, que é dura.
5. PARÁBOLA DO TESOURO ESCONDIDO, vs. Esta parábola expressa a intensa busca do reino dos
44 (somente em Mateus) céus que deve acompanhar a vida humana, porquanto
No sentido estritamente teológico, o homem nada os resultados de negligência, nessa busca, são
tem para dar em troca de Cristo e do reino, além do simplesmente horríveis. A palavra «rede», neste caso,
fato de que Cristo nào pode ser comprado e que a segundo o grego, não era a rede pequena que um
igreja separada do mundo não o compra; mas a homem, sozinho, poderia manusear e, sim, a rede
prática desse tipo de prestidigitação exegética nos grande, que só poderia ser manejada por muitos
obriga a perder de vista o ensino desta parábola tão homens. Por causa de suas dimensões, essa rede de
simples. A verdade ilustrada parece indicar que o' pesca apanhava muitos tipos de peixes, alguns
homem é conduzido, pelas circunstâncias de sua vida, apropriados ao consumo e outros inúteis para serem
à verdade que se acha eni Cristo e em sua mensagem, comidos. Assim se dá com aqueles que professam o
e então reconhece a maravilha dessa descoberta. cristianismo, neste mundo. Algumas pessoas possuem
Reconhecendo imediatamente que todos os demais fé verdadeira, e sua religião cristã é autêntica: outras,
«tesouros» de sua vida, quer riquezas, quer prazeres, não. Para os propósitos de Deus, algumas pessoas
quer fama, etc., não se podem comparar a este servem, e outras não. Ver o artigo sobre o
tesouro imenso, então, por todos os meios possíveis, Julgamento.
assegura para si esse grande tesouro. Essa foi
exatamente a experiência dos apóstolos, os quais 8. PARÁBOLA DO PAI DE FAM ÍLIA, vs. 52
«deixaram tudo», para seguirem a Cristo. Essa (encontra-se somente em Mateus)
experiência também tem sido a de milhares de outras Alguns não incluem esta parábola juntamente com
pessoas, entre os discípulos do reino. O espirito dessa as outras, evidentemente porque acham que nào se
parábola não difere muito do daquele que achamos trata de uma parábola, o que não passa de um
em Mat. 11:12. «Desde os dias de João Batista até preconceito originado no desejo de preservar o
agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que número de sete parábolas. Porém, é perfeitamente
se esforçam se apoderam dele». Apesar da intensa óbvio que essas palavras formam outra parábola.
oposição interna e externa, alguns, com atitude Jesus usou a palavra «escriba», neste caso, para
resoluta, asseguram seus respectivos lugares no reino indicar os que ensinam a palavra de Deus, os
de Cristo. intérpretes do reino, os apóstolos e outros, e não se
6. PARÁBOLA DA PÉROLA DE GRANDE refere aos escribas dos judeus. Jesus aludia aos seus
PREÇO, vss 45,46 (encontra-se somente em discípulos que têm a responsabilidade de ensinar.
Mateus). Esses discípulos haveriam de ensinar o evangelho do
62
PARÁBOLA - PARACELSO
reino e 'da graça de Deus, utilizando-se dos meios quando cavou muito fundo chegou a uma rocha que
disponíveis. Alguns interpretam que as «cousas novas serviria de fundação. Por igual modo, no trato
e velhas» são a lei (as Escrituras do V.T., as coisas espiritual de Deus com os homens, não foi fácil
velhas) e o evangelho do reino (as coisas novas). Ou, encontrar uma provisão adequada para o seu templo
segundo outros interpretam, significam as coisas espiritual. Mas Deus encontrou Abraão, que servia a
antigas da velha dispensação, e as coisas novas do esse propósito. É óbvio o paralelo com Mat. 16:18.
cristianismo: e que essas coisas novas são usadas para Abraão foi o alicerce da comunidade judaica. Pedro e
esclarecer e ilustrar as antigas. Provavelmente a idéia os demais apóstolos foram a fundação da Igreja
também inclui a experiência pessoal do «escriba», não neotestamentária (ver Efé. 2:20). Todavia, no sentido
indicando apenas os livros usados por ele mas absoluto, Cristo é o grande alicerce da Igreja (ver I
também a expressão de sua própria pessoa, ao Cor. 3:11). Mas, em um sentido secundário (em que a
exercitar os dons do Espirito Santo. salvação não está envolvida), os líderes principais da
Igreja são fundamentais. Em I Enoque encontramos
FV. As Parábolas do Antigo Testamento ensinos parabólicos nos caps. 40-71, pelo que esse
Como é óbvio, Jesus não foi o criador das método didático penetrou nos livros do período
parábolas. Elas já existiam no Antigo Testamento. E intermediário entre o Antigo e o Novo Testamentos.
os rabinos também usavam esse método de ensino. VI. Os Propósitos das Parábolas
Ver a seção V, abaixo. Os eruditos alistam onze Os hipercalvinistas têm explorado muito o texto de
parábolas no Antigo Testamento: Mar. 4:10-12, que indica que Jesus usava parábolas
1. Os moabitas e os israelitas. O narrador foi com a finalidade de ocultar a verdade, em vez de
Balaão, no monte Pisga (Núm. 23:24). revelá-la. Porém, esse versículo deve ser considerado
2. As árvores que escolheram um rei. Foi contada no contexto do «julgamento judicial». Os ouvintes de
por Jotão, no monte Gerizim (Juí. 9:7-15). Jesus com freqüência mostraram-se hostis às suas
3. A ovelha e o pobre. Foi narrada pelo profeta palavras. Por aquela altura de seu ministério, ele fora
Natã, em Jerusalém (II Sam. 12:1-5). rejeitado, embora ainda não tivesse sido crucificado.
4. O conflito entre irmãos. Uma mulher de Tecoa Isso posto, a verdade foi escondida daqueles que se
contou-a em Jerusalém (II Sam. 14:9). recusavam a ouvir e ver. Quando algum ensino
5. O prisioneiro que escapou. Um jovem profeta, espiritual é rejeitado, o rejeitador torna-se mais
perto de Samaria, apresentou essa parábola (I Reis calejado do que antes, embora com menos desculpas
20:25-49). pela sua atitude. Deixar de compreender a Cristo é
6. O espinheiro e o cedro. O rei Joás a contou, em deixar de compreender as suas verdades; mas ele veio
Jerusalém (II Reis 14:9). buscar e salvar (Luc. 19:10), o que significa que ele
7. A videira que deu uvas bravas. Isaías contou essa deve ter vindo para ensinar claramente aos homens o
parábola, em Jerusalém (Isa. 5:1-7). caminho da salvação. Não é concebível que ele tenha
vindo para enganar àqueles por quem morreu (I João
As outras quatro parábolas são de autoria do 2:2). Isso posto, quando os homens mal entendiam a
profeta Ezequiel, que as escreveu na Babilônia, como Cristo, isso era conseqüência das atitudes negativas
segue: deles, um aspecto da lei da colheita segundo a
8. As águias e a vinha (Eze. 17:3-10). semeadura.
9. Os filhotes de leão (Eze. 19:2-9). A mente humana compreende facilmente uma
10. O caldeirão fervente (Eze. 24:3-5). história. Muitos conceitos são complexos e parcial
11. Israel como o vinha perto da água (Eze. mente ambíguos, ou mesmo duvidosos. Sempre será
24:10-14). mais difícil apreender o intuito de um conceito do que
V. As Parábolas Rabinicas uma história ilustrativa. De fato, as ilustrações
Os hebreus eram grandes contadores de histórias, ajudam-nos a aclarar e fixar conceitos em nosso
conforme se vê no próprio Antigo Testamento. Foi entendimento. Ao interpretarmos as parábolas de
apenas natural que parábolas viessem a fazer parte Jesus, devemos evitar dois extremos; supercomplica-
dos escritos sagrados e comentários daquele povo. Os ção e supersimplificação. Em toda parábola há uma
escritos rabínicos contêm algumas excelentes parábo lição central; mas, algumas vezes, detalhes secundá
las. Uma delas conta como um rei convidou pessoas a rios também envolvem sentidos especiais. Contamos
um banquete e instruiu-as a que trouxessem algo histórias aos nossos filhos pequenos, e eles as
sobre o que sentarem. Isso eles fizeram; mas então entendem com facilidade. Mas ensinamos conceitos
começaram a queixar-se da falta de bons lugares para aos estudantes universitários.
sentar. Alguns tinham trazido tábuas de madeira, Bibliografia. AM E LA(2) LINN ND NTI TI WA(2)
outros pedras, e outros alguma coisa desconfortável.
£ que tinham estado com pressa, não tendo trazido
assentos decentes. Talvez pensassem que o rei PARÁBOLA, CONHECIMENTO COMO
providenciaria algo, apesar da negligência deles. O Ver Símbolo e o Conhecimento.
rei, aborrecido diante do descuido deles, mostrou-lhes
que eles mesmos se tinham munido de assentos PARACELSO
inadequados. Essa parábola tem por intuito ilustrar Suas datas foram 1490-1541. Ele foi um médico
como, no após-túmulo, as almas dos homens suíço, nascido em Einsiedeln. Ele era, principalmen
encontrarão, na Geena, exatamente aquilo que te, um autoditada. Viajou muito. Fez algumas
proveram para si mesmos. Em outras palavras, a lei descobertas no campo da medicina. Interessava-se
da colheita segundo a semeadura, ilustrada por meio fortemente pela alquimia, pela Cabala (vide), pelo
de um relato interessante, mas comum. (Eclesiastes neoplatonismo e pelo gnosticismo.
Rabba, 3:9,1). Idéias:
Outra parábola rabínica informa-nos a razão 1. O homem é um microcosmo que corresponde ao
pela qual Abraão é chamado de «a rocha de que fostes macrocosmo externo. Todos os aspectos da natureza
cortados» (Isa. 51:1; Yalqut sobre Núm. 7:66). humana têm uma contraparte no mundo da natureza.
Certo rei queria construir um edifício. Mas, A esse conceito ele chamava de «assinaturas»: uma
conforme cavava, encontrava apenas lama. Soinente coisa é a assinatura da outra.
63
PARACELSO - PARADOXO
2. A natureza inteira, incluindo o homem, consolo, nos conselhos, em nossa defesa como filhos
caracteriza-se por uma criatividade dinâmica e que estão sendo conduzidos à glória. Acrescente-se a
incansável. O crescimento inevitavelmente emerge da isso o fato de que essa tradução concorda com a
decadência; a morte procede da vida; a vida procede significação básica da palavra grega, derivada de
da morte; os ciclos da reencarnação restauram todas «para» (para o lado de) e «Kaleo» (chamar), ou seja,
as coisas; o mundo opera por meio de opostos, onde a alguém chamado ou convocado para o lado de
vida e a morte, o masculino e o feminino, são outrem, a fim de ajudá-lo. (Quanto a outros detalhes
exemplos importantes. sobre essa questão, ver as notas relativas a João 14:6
3. Deus é a origem de todas as coisas; a matéria no NTI).
crassa torna-se em matéria-prima, e o princípio de «O Espírito que ele envia para nós, é um Espírito
separação resulta em todas as coisas que existem. vigoroso, que apela poderosamente para nós. Ele
Então todas as coisas retornam a Deus, conforme os envolve, reaviva e revigora; infunde um novo coração
ciclos rolam. Nisso temos uma espécie de emanação e uma nova coragem nos descoroçoados; e, fazendo se
pulsante, que vai e vem, como as marés. reunirem as fileiras dispersas, capacita-nos a arrancar
4. Paracelso apresentou uma análise alquímica da a vitória da própria derrota». (Arthur John Gossip, in
natureza que, surpreendentemente, assemelha-se loc., referindo-se a João 14:16).
muito à análise química das funções do corpo físico, Õ Divino Preceptor,
ultrapassando em muito às idéias de seu tempo. Isso Mostra-nos o Salvador!
posto, ele foi um dos iniciadores da ciência moderna. Õ tu, bom Consolador,
Porém, os seus interesses pela astrologia, pela Enche-nos de santo amor...
alquimia e pelas especulações teológicas foram um
outro lado de sua personalidade.
Escritos. Archidoxis; Four Treatises o f Tehophras- Vem Espírito veraz,
tus o f Hohenheim; Philosophia Sagax. Esta escuridão desfaz;
Encha o mundo a tua luz,
Guie todos a Jesus.
PARACLETOS (John Law)
João 15:26: Quando vier o Consolador, que eu vos Augusto Mestre! teu poder
enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que Sublime, imenso e eficaz.
do Pai procede, esse dará testemunho de mim; Opere em nós, faz exercer
Nos capítulos catorze a dezesseis deste quarto As leis da santidade e paz;
evangelho é apresentado um grupo de declarações E subirá nos altos céus
concernentes ao prometido paracletos (alguém envia Culto que agrade ao eterno Deus.
do juntamente com outrem, a fim de ajudá-lo), o que (Kalley)
é uma referência ao Espírito Santo. Quatro dessas
declarações incluem a palavra grega paracletos, a O vocábulo grego paracletos é utilizado exclusiva
saber. João 14:15-17; 15:26,27; 16:5-11; 25:26. E
uma quinta declaração é similar, falando em termos mente nos escritos de João, em todo o Novo
Testamento, em João 14:16,26; 15:26; 16:7 e I João
definidos sobre o Espírito Santo, embora sem usar a 2:1. Mas a idéia de que o ministério do Espírito Santo
palavra paracletos nas descrições ali expostas. consiste em ajudar ao crente, aparece em muitas
O vocábulo grego «paracletos» tem sido variegada- passagens, por todas as Escrituras, embora figure
mente traduzido e interpretado, como segue: especialmente nas páginas do N.T.
1. Consolador, como nas traduções KJ, AA, AC e
IB. Isso faz parte do sentido da palavra, mas
certamente não o esgota. O Espírito Santo veio a fim PARADIGMA
de consolar, mas também veio para muito mais do Essa palavra vem do grego paradeigma, «padrão»,
que isso. «modelo», «plano». Platão usou essa palavra para
2. Alguns intérpretes, seguidos por algumas indicar suas idéias ou formas. Ver sobre os
traduções, como a tradução inglesa RSV, preferem Universais. Neste mundo, tudo (as coisas às quais ele
Conselheiro como tradução. Isso também faz parte chamava de particulares) não passa de imitações dos
da significação do termo grego «paracleto», porquanto paradigmas. — Estes são constantes, eternos,
o Espírito Santo veio da parte de Deus Pai a fim de perfeitos e existem independentes do tempo. Os
instruir, ensinar e aconselhar aos crentes. particulares, por sua vez, estão em estado de fluxo,
3. A tradução inglesa NE diz Advogado, e isso sendo temporais e meras imitações da realidade.
também é um sentido possf rel, pois, na realidade, é o Na filosofia moderna, o termo «paradigma» passou
sentido mais primitivo do vocábulo grego, mas que se a indicar a solução de algum argumento. Kuhn
encontra também no grego helenista, bem como nos afirmava que as teorias científicas são construídas em
escritos de Josefo e de outros autores antigos. No redor de paradigmas básicos; e deu o exemplo do
trecho de I João 2:1 o termo é usado para indicar a sistema solar, modelado segundo a natureza do
pessoa de Cristo, onde a melhor tradução parece ser átomo. Mas as mudanças nas teorias científicas e o
«advogado-, posto ser Jesus Cristo o nosso justo avanço dos descobrimentos fazem alterar os paradig
advogado. Por semelhante modo, embora a palavra mas, ou seja, os modelos científicos que norteiam o
paracletos não seja usada, o Espírito Santo é pensamento. O grande paradigma cristão é o
apresentado como nosso «advogado», em Rom. Cristo-Logos, em cuja imagem estamos sendo
8:26.27. Portanto, temos neste terceiro caso uma transformados. A fé dos hebreus tinha certos
interpretação legítima quanto ao ministério do paradigmas fundamentais que acharam cumprimento
Espírito Santo, embora imcompleta. na pessoa de Cristo.
4. As traduções em inglês WM e GD dizem
Ajudador. Temos a impressão de que essas traduções
acertaram em cheio na escolha desse termo como
tradução do vocábulo grego paracletos. Isso porque, PARADOXO
em todos os sentidos, ele é o nosso Ajudador, no Ver os dois artigos separados que são importantes
64
PARADOXO
no tocante aos paradoxos: Zeno, Paradoxos de Jourdain estava mentindo, em ambos os lados do
(relativo à filosofia); e Polaridade (relativo à fé cartão.
religiosa e às nossas maneiras de conhecer e 4. Os Paradoxos de Greeling. Os lógicos dizem
compreender as coisas). coisas que não podemos entender. Assim, se o leitor
Referências a Certos Pontos. Em outros artigos, vier a perder o rumo, no pequeno parágrafo que
temo-nos referido à questão dos paradoxos e temos citamos aqui, não se sinta infeliz. Esses paradoxos
mencionado o presente artigo. Os números referidos distinguem entre predicados que têm propriedades
estão localizados na seção II. A. B. C. que eles denotam e predicados aos quais faltam essas
Esboço: propriedades. Para exemplificar, «polissílabo» e
I. O Termo «monossílabo». O primeiro tipo é chamado «autológi-
co», e o segundo tipo, «heterológico». O grupo de
II. Na Filosofia predicados autológicos possuirá, então, as proprieda
III. Na Teologia des que eles denotam, ao passo que o grupo de
I. O Termo predicados heterológicos não têm as propriedades que
Duas palavras estão combinadas nesse termo, os denotam. A questão que então surge é se o predicado
vocábulos gregos parâ, «contra», e doksa, «opinião». «heterológico» é autológico ou heterológico.
Daí resulta a idéia de que um paradoxo é uma idéia 5. Bertrand Russell aumentou nossa perplexidade
autocontraditória, ou pelo menos, assim parece sê-lo. ao falar sobre o paradoxo de pertencer a uma classe,
No uso comum, um paradoxo pode ser alguma idéia também chamado de paradoxo de Zermelo, de acordo
contrária à opinião aceita, contrária ao bom senso, com o filósofo desse nome. Russell distinguiu entre
ou, meramente, contraditória. Na teologia, um classes que são membros de si mesmas e classes que
paradoxo é um ensino que parece ser autocontraditó- não o são. A classe dos lápis não é um membro de si
rio, conforme ilustrei na seção III, abaixo. Um mesma, visto que a classe não é um lápis; mas a classe
paradoxo também pode ser uma idéia ou uma das coisas compreensíveis parece ser uma classe em si
declaração aparentemente absurda, mas que, na mesma, visto que tal classe é compreensível.
realidade, exprime uma verdade. Ou, então, declara Levanta-se a questão concernente à classe de todas as
ções' ou idéias que, efetivamente, são absurdas e coisas que não são membros de si mesmas! Esse classe
falsas, e, portanto, «inacreditáveis». é um membro de si mesma, ou não?
II. Na Filosofia 6. O Paradoxo Burali-Forti. Esse é um paradoxo
A. Paradoxos têm sido formulados a fim de provar matemático, que diz respeito ao número ordinal
algum ponto de vista contrário, devido ao alegado maior; ou pode ser um paradoxo de Russell,
absurdo de uma idéia exposta. concernente ao número cardinal maior; ou pode ser
1. Nessa classe temos os paradoxos de Zeno, bem um paradoxo de Richard acerca de números reais,
como aqueles do filósofo chinês Hui Shi. Ver os definíveis e indefiníveis; ou ainda um paradoxo de
artigos sobre ambos, quanto a explicações; mas Konit, no tocante ao mínimo número ordinal
especialmente sobre Zeno, Paradoxos de. Ver indefinível.
também acerca do filósofo indiano, Nagarjuna. C. Sugestões quanto a Soluções:
B. Filósofos megarianos e estóicos. Nas filosofias 7. Os paradoxos de Zeno podem ser chamados de
deles surgiram os paradoxos lógicos e semânticos. pseudoparadoxos, que dependem da fraqueza de
Esses paradoxos foram considerados insolubilia, por nosso conhecimento acerca de infinitudes e da divisão
filósofos posteriores, isto é, dilemas que não podem artificial das coisas em um número infinito, o que,
ser solucionados. afinal de contas, não faz muito sentido. Além disso,
2. Epimênides, um filósofo cretense, apresentou uma flecha atirada pode atravessar um número
um belo paradoxo quando expôs o «paradoxo do infinito de unidades do espaço se houver, de modo
mentiroso». Se um mentiroso disser: «Se estou correspondente, um número infinito de unidades de
mentindo, estou dizendo a verdade?» Na verdade, não tempo que lhe permitiam fazê-lo.
temos certeza sobre o que pensar então. Epimênides 8. Os paradoxos semânticos e lógicos usualmente
era cretense; e, conforme era sabido, todos os creten envolvem um círculo vicioso de linguagem ou
ses eram mentirosos. E assim, quando Epimênides expressão, no qual caímos e não mais podemos sair.
afirmou que todos os cretenses são mentirosos (e ele Definições próprias e predicativas não deveriam ter
mesmo era cretense), estaria ele dizendo a verdade? permissão para referir-se a uma classe inteira, ou da
Paulo fez alusão a essa debilidade dos cretenses, ao qual o termo que estiver sendo definido seja membro.
escrever: «Foi mesmo dentre eles, um seu profeta, que Se o fizermos, ver-nos-emos envolvidos na chamada
disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, falácia do círculo vicioso. As sentenças devem
ventres preguiçosos» (Tito 1:12). Essa foi uma citação referir-se a outras coisas, e não a si mesmas.
extraída dos escritos de Epimênides de Cnossos. É 9. Strawson foi um homem corajoso quando
interessante que aqui Paulo tacha-o de profeta. No ofereceu uma solução ao paradoxo do mentiroso. Ele
NTI dou notas completas sobre esse homem, e antigas procurou convencer ao mundo filosófico que os
referências literárias a ele. Paulo parece que pensava termos «verdadeiro» e «falso» não são termos
que Deus levantara certos indivíduos, entre os pagãos, descritivos, e, sim, termos performativos. De acordo
para testificarem aos povos, a despeito do fato de que com ele, pois, dizer-se que uma sentença é verdadeira
tais homens não eram nem judeus e nem cristãos. A é dizer somente que estamos concordando com uma
Igreja oriental sempre tomou essa posição, acompa sentença; mas se ela exprime, realmente, uma
nhando as declarações dos pais da Igreja. Para eles, o verdade já é coisa bem diferente. Em conseqüência,
Logos implanta por toda a parte as suas sementes, os dizer que uma sentença é verdadeira equivale a dizer
lógoi spermátikoi. «.ditto» (que quer dizer, «a mesma coisa repetida», do
3. P.E.B. Jourdain procurava confundir-nos latim, dictum). Mas dizer «ditto» não determina se
quando escreveu, em uma das faces de um cartão: «A algo é, realmente, correspondente à verdade. Isso
sentença do outro lado deste cartão é verdadeira». posto, embora fosse um cretense, Epimênides pode
Virando o cartão, achava-se a declaração: «A ter dito a verdade ao afirmar que todos os cretenses
sentença do outro lado deste cartão é falsa». Assim, são mentirosos. Por outro lado, como podemos ter
que cada um faça a sua escolha. Provavelmente, certeza? Afinal, Epimênides era cretense!
PARADOXO
III. Na Teologia tal. Para ajudar nessa fraqueza de definição, os
1. Declaração Geral. As pessoas odeiam complica homens ajuntam seus omnis, «onipotente», «onipre
ções que perturbem seus sistemas. Todas as teologias sente», etc. Mas, nenhum de nós realmente com
sistemáticas procuram eliminar os paradoxos. Não preende a infinitude, e usamos essas palavras para
obstante, o conceito de paradoxo é importante na esconder nossa ignorância com declarações aparente
teologia. Um paradoxo nos deveria levar a fazer a mente profundas.
seguinte admissão: «Lamento, mas não sei como dar Se perguntarmos a um teólogo qual a natureza
uma resposta lógica e isenta de dificuldades a este básica de Deus, e de sua espiritualidade e essência,
problema». A dificuldade é que os teólogos não veremos, surpresos, o quão pouco ele sabe e tem a
gostam de fazer tal admissão, por não terem dizer a respeito; e o que ele disser, será eivado de
explicações lógicas para tudo. E o resultado é que as paradoxos. Os teólogos são capazes de falar com
explicações lógicas que oferecem são pseudo-explica- maior desembaraço sobre as obras de Deus; mas,
ções, apesar do fato de que são capazes de convencer a quando tentam explicar a essência divina, falta-lhes o
seus estudantes de que solucionaram todos os conhecimento necessário para dizerem coisas de
problemas dentro e fora do céu. Muitos teólogos são grande peso. Falamos também sobre o espírito.
pessoas de visão estreita. Deveriam ser forçados a Sabemos que se trata de algo bem diferente da
estudar filosofia, que amplia a visão. Alguns teólogos matéria; mas não podemos apresentar boas definições
são extremamente arrogantes acerca de seus sis nem da matéria e nem do espírito. E em seguida,
temas. Daí é que têm surgido inúmeras denomina quando procuramos dissertar sobre o Espírito
ções cristãs, cada qual afirmando ter-se aproximado Absoluto, ficamos essencialmente vazios de descri
mais da verdade do Novo Testamento do que as ções; e mesmo quando conseguimos balbuciar alguma
demais. A humildade sempre é melhor do que a coisa, isso fica muito aquém da realidade dos fatos.
arrogância, quando estudamos questões teológicas. Somente aqueles que são filosoficamente ingênuos
De fato, só Deus não conhece paradoxos em sua não conseguem reconhecer essas dificuldades.
teologia. Todos os teólogos humanos têm que admitir 4. Saímo-nos um pouco melhor quando falamos
certo número de paradoxos em seus sistemas. Isso sobre o homem. O homem é espírito e matéria. E a
farão aqueles que ainda não reduziram sua teologia a experiência humana e o misticismo, de modo geral,
humanologia. têm-nos dado mais descrições sobre o homem do que
2. Definições. Um «paradoxo», no terreno da sobre o Ser divino. Apesar de continuarmos incapazes
teologia, é algum ensino aparentemente autocontradi- de definir a essência da alma, pelo menos podemos
tório. Quase sempre, um paradoxo tem dois pólos que dizer algumas coisas significativas sobre a existência
parecem irreconciliáveis. Os teólogos sistemáticos, humana, expondo demonstrações razoáveis. Ainda
pois, procurando solução, anulam um dos pólos; mas assim, o homem é um paradoxo para si mesmo. Nosso
o que eles não entendem é que isso deixa a verdade conhecimento científico não tem contribuído grande
truncada. Aí surge algum outro teólogo que resolve coisa para dispersar os mistérios que circundam o ser
anular o outro pólo! humano, a sua origem, a sua vida presente e o seu
destino.
Os teólogos assumem a tarefa de mostrar que os 5. A Doutrina do Deus-Homem. Falamos aqui
paradoxos não são autocontraditórios. Mas eles só sobre o Logos encarnado, chamado Cristo, em sua
conseguem convencer a si mesmos, e a seus alunos missão messiânica. Para nós, isso constitui um
particulares. Enquanto não formos vastamente mais paradoxo. Aceitamos mediante a fé, de alguma
inteligentes do que somos agora, e enquanto nosso maneira inexplicável, que o divino e o humano
conhecimento não for quase infinitamente superior do fundiram-se em um único ser, Cristo Jesus. Podemos
que é atualmente, não poderemos escapar dos descrever a natureza humana dele; e, até certo ponto,
paradoxos filosóficos e teológicos. Pensar que a estamos nos atrevendo a descrever a sua natureza
linguagem humana pode reduzir a verdade a divina. Mas até hoje ninguém descobriu uma maneira
proposições perfeitamente lógicas é algo por demais muito inteligente de esclarecer como essas duas
absurdo para merecer a nossa consideração. Uma das naturezas, tão diferentes entre si, podem coexistir em
coisas que o misticismo (vide) nos tem ensinado é que uma única pessoa. A Igreja tem lutado muito com a
há experiências espirituais que ultrapassam as questão da cristologia (vide), e tem provido algumas
categorias da intelecção humana, sendo experiências úteis definições; mas a maior parte dessa atividade é
essencialmente inefáveis, que não podem ser expres apenas a tentativa de explicar o inexplicável.
sas em termos da linguagem humana. 6. O Problema do Determinismo versus Livre-
3. Alguns Paradoxos Teológicos: Arbítrio. A questão é a relação entre essas duas
Deus. Qualquer tentativa para explicar o Myste- realidades. Na história eclesiástica vemos denomina
rium Tremendum (vide) que é Deus automaticamente ções separando-se de outras em torno dessa questão.
envolve-nos em uma série de paradoxos. Deus é Há grupos ferrenhos defensores do divino deter
pessoal ou impessoal? e como? Deus é imanente ou minismo e há outros que morrem pelo livre-arbítrio
transcendental? e como? Deus é infinito, mas humano. A verdade é que as Escrituras ensinam
manifesta-se de modo finito? e como? Deus é eterno ambas as coisas, mas nunca tentam reconciliar esses
mas governa um mundo temporal? e como? Qual dois conceitos. A reconciliação, Deus reservou-a para
síntese verdadeira desses problemas acha-se na Mente si mesmo! Precisamos do poder divino para
divina, mas não na mente humana. Os homens têm determinar as coisas. Ninguém poderia ser transfor
teses e antíteses. Para efeito de harmonização, as mado à imagem de Cristo (ver Rom. 8:29) sem o
teologias sistemáticas ignoram alguma tese ou poder predestinador de Deus. O reverso da questão é
antítese. Mas não são capazes de elaborar uma síntese que Deus não nos transforma em autômatos
apropriada. Somente Deus sabe qual é a síntese de mecânicos, pois a verdade é que o livre-arbítrio
certos problemas. humano está à base da responsabilidade moral do
Além disso, encontramos dificuldades com as homem. Ê praticamente impossível dizermos qual
explicações antropomórficas que os homens oferecem, quer coisa de significativo acerca dessa responsabili
na tentativa de explicar Deus. Mas essas explicações dade moral do homem, a menos que incluamos a
expõem um super-homem, e não um Ser transcenden verdade do livre-arbítrio humano. Assim, o deter-
66
PARADOXO — PARADOXO DO RELÓGIO
mimsmo (vide) é a tese; o livre-arbítrio (vide) é a isto é, paradoxos dentro da revelação divina, em
antítese. E constitui um autêntico suicídio teológico contraposição a contradições meramente aparentes,
quando alguém simplesmente elimina uma outra que poderiam ser solucionadas se os homens
dessas facetas da verdade revelada. continuassem a refletir sobre os problemas.
Entrementes, os homens continuarão disputando, 10. Na teologia moderna, os paradoxos ocupam
sem dúvida ainda por muito tempo. Mas isso não posição proeminente nos escritos de certos autores.
resolve coisa alguma. A teologia deveria ser uma Soren Kierkegaard, Karl Barth, Reinhold Niebuhr,
aventura de fé, e não um campo de batalha onde além de outros, têm percebido a inevitabilidade dos
idéias parciais se entrechocam. Indivíduos carnais paradoxos. O Deus infinito, que vive fora do tempo e
vivem numa polêmica ignorante constante. Mas não pode ser sondado, estendeu a mão à mente
aqueles que, pela fé, aventuram-se a descobrir a humana, que é finita, limitada e vive dentro do
verdade, deleitam-se com aquilo com que descobrem. tempo. Com freqüência, pois, somente os olhos da fé
Coisa alguma é tão deleitável à mente como examinar são capazes de divisar algo, onde o intelecto falha
uma questão de muitos ângulos, mas sem lhe totalmente. A fé tateia a verdade real em idéias e
descobrirmos a solução final. É aí que verificamos que circunstâncias; e essa fé é capaz de transformar-nos a
uma Mente muito maior do que a nossa está por vida. A fé compreende que somente a Mente divina
detrás dessas questões reveladas. Há uma certa tem a síntese dos paradoxos. Isso significa que essa
arrogância da parte daqueles que encontram soluções síntese está à nossa disposição; mas talvez não para
baratas para os mistérios da revelação. Somente esta vida, não para o homem ainda em sua
porque alguém pode prover um nome famoso, de mortalidade. Ver o artigo separado intitulado
algum pensador que imaginou ter solucionado Dialética, Teologia da.
paradoxos (como Calvino, que anulou a antítese do 11. Paradoxos Relativos á Onipotência e Onipresen
livre-arbítrio humano, e terminou somente com a tese ça de Deus. Ver os artigos separados intitulados
do divino determinismo), isso não quer dizer que foi Onipotência, Paradoxos da; e Onisciência, Paradoxos
realizada qualquer coisa significativa. Por sua vez, o da.
arminianismo anulou a tese do determinismo, e 12. Polaridade. Ver o artigo separado sobre essa
preservou a antítese do livre-arbítrio, e acabou questão. Durante milênios os homens pensaram que a
cometendo erro idêntico ao de Calvino. Quanto à terra é chata e quadrada, e não tinham qualquer
síntese desse paradoxo, por enquanto ela existe conceito da redondeza da terra e dos pólos. Somente
somente na Mente divina. Naturalmente, é possível depois que a ciência avançou consideravelmente,
que, conforme nossa espiritualidade for crescendo, descobriu-se que a terra é uma esfera e que tem pólos
talvez enquanto ainda somos mortais (mas muito mais opostos. Se algum explorador desse uma boa
certamente quando já tivermos recebido a imortalida descrição acerca de um dos pólos, digamos, o pólo
de), que certos paradoxos venham a ser solucionados. Norte, teria feito um bom serviço; mas, se ele
Mas, antes disso, as soluções fabricadas nos deixarão afirmasse que o globo terrestre tem apenas aquele
espiritualmente famintos. pólo, teria prestado um desserviço. No entanto,
7. Uma Ütil Citação. «Por causa da diversidade e muitas teologias, quanto a questões críticas, reconhe
complexidade da realidade e também em face das cem apenas um pólo, quando há dois: o lado divino e
limitações da finita e pecaminosa razão humana, os o lado humano. O homem que reconhece os opostos
melhores esforços do homem para vir a conhecer a quanto a certas verdades fundamentais e procura
realidade, levam-no tão-somente a produzir verdades expor descrições sobre ambos, — talvez com
igualmente razoáveis (ou aparentemente razoáveis), alguma tentativa de reconciliação, é um homem
posto que irreconciliáveis (ou aparentemente irrecon que está bem mais perto da verdade do que aquele
ciliáveis). Nesses casos, os homens aproximam-se que apresenta uma boa descrição sobre um só dos
mais da verdade quando defendem ambos os lados de pólos, mas ignorantemente supõe que esse pólo não
qualquer questão paradoxal, em vez de defenderem tem o seu oposto natural. Schelling avançou a idéia de
apenas um lado ou outro da mesma questão» (B, os uma polaridade básica em Deus, naquilo que é um
itálicos são meus). contraste permanente e eterno dentro de Deus. Será
8. Consolo Mental. Os homens geralmente buscam difícil alguém provar que Schelling não estava com a
mais o consolo mental do que mesmo a verdade, ainda razão. (B C EP P)
que a maioria não reconheça isso. Contudo, o consolo
mental jamais será equivalente à verdade. Apesar de
que certas verdades não sejam esclarecidas como um PARADOXO DA FLECHA VOADORA
presente da parte de Deus, quase todas as verdades
reveladas podem ser comparadas a uma mina de Ver o artigo sobre Zeno, Paradoxos de.
pedras preciosas. É mister que cavemos fundo,
fazendo um esforço diligente para entendê-las. Outra
ilustração é que as verdades bíblicas são como um PARADOXO DO RELÓGIO
campo que só produz seus deliciosos frutos quando A teoria da relatividade afirma que o tempo, e,
cultivado mediante árduo labor. Ninguém pode portanto, os relógios, passa ou funcionam mais
solucionar os grandes mistérios mediante o simples lentamente, em velocidades que se aproximam da
manuseio de textos de prova da Bíblia, e quanto velocidade da luz, quando observados de um ponto de
menos quando o fazemos para destacar nossas referência fixo. Assim, se gêmeos idênticos fizerem
interpretações favoritas desses mesmos textos! Decla uma viagem ao espaço, aquele que viajar quase à
rou Tertuliano: «Creio porque é absurdo!» Com isso velocidade da luz retornará mais jovem que seu irmão
ele quis dizer que é uma estupidez de nossa parte gêmeo. Porém, quando alguém leva em conta a
supor que a verdade divina precisa corresponder ao aceleração envolvida na ascensão, e a desaceleração
nosso raciocínio humano. É verdade que há verdades envolvida no retorno, então um gêmeo não voltará
assim; mas há verdades que estão acima do nosso mais velho do que o outro. Acelerações e desacelera
alcance! ções não fazem parte da teoria espacial envolvida
9. Martinho Lutero, contrariando os eruditos da nessa idéia de paradoxo do relógio. (F)
Sorbonne, defendeu a existência de verdades duplas, ••• •••
67
PARADOXOS DE ZENO - PARAlSO
PARADOXOS DE ZENO (inferno) será desvendada, e defronte da mesma fica o
paraíso de deleites'»/ Esse desenvolvimento prossegue
Ver o artigo sobre Zeno. nos livros pseudepígrafos, embora não seja usado
necessariamente o termo «paraíso». I Enoque é livro
PARAlSO que fala em um céu de múltiplos níveis, ou seja, um
paraíso em gradação.
Esboço:
A literatura rabínica não usa a palavra com um
I. O Vocábulo único sentido. Algumas vezes, ela indica a habitação
II. No Antigo Testamento geral dos justos, como equivalente ao lado bom do
III. Nos Escritos e Pensamento Posteriores Judaicos hades, ou, talvez, um lugar além do mesmo, mais ou
IV. No Novo Testamento menos equivalente ao céu. Outras vezes, o paraíso é
V. Homens que Ingressam no Paraíso referido como o terceiro céu, uso esse que Paulo
I. O Vocábulo seguiu no Novo Testamento (ver II Cor. 12:2,3); mas
Essa palavra portuguesa vem do antigo termo esse não é o lugar da habitação de Deus, e sim um
iraniano pairidaeza, «jardim», cercado por algum lugar de menor glória. Ainda noutras ocasiões, o
muro ou sebe. A transliteração dessa palavra para o paraíso é chamado de «seio de Abraão», uma
grego tornou-se a base da palavra moderna. No grego expressão aproveitada por Lucas (16:19-21); mas este
temos parádeisos. Xenofonte usou o termo para autor, usando o termo específico, «paraíso», refere-se
indicar os jardins dos reis persas. A Septuaginta ao lugar para onde Cristo iria após a morte, e com
traduziu a expressão hebraica gan ’edert, «jardim do Quem o ladrão penitente se encontraria ainda naquele
Éden», por essa palavra grega, em Gên. 2:8. Com mesmo dia(Luc. 23:43). Isso poderia referir-se, como
base nessa circunstância é que a palavra adquiriu as é óbvio, ao lado aprazível do hades, embora possa
conotações de paz e esplendor, mesmo quando o indicar o «céu».
paraíso celeste não está em vista. A tradição rabínica falava sobre oitocentas mil
Usos Progressivos. Um jardim terrestre, físico, espécies de árvores frutíferas que adornariam o
literal; o estado intermediário de almas que ainda não paraíso, cujos frutos transmissores de vitalidade
entraram no céu, mas que merecem ocupar um lugar nunca deixam de ser produzidos. Naturalmente, esse
muito agradável da existência. Isso foi estendido a simbolismo foi copiado pelo autor do livro de
vários lugares intermediários; o próprio céu, ou o céu Apocalipse, em sua cena sobre o céu (cap. 22).
dos céus, ou um dos céus inferiores, em contraste com Todavia, entre aquelas tradições havia algumas idéias
a habitação de Deus, que fica no céu dos céus; por ridículas, como aquela que assevera que o Éden (o
extensão popular, essa palavra indica qualquer lugar paraíso terrestre) continuava existindo neste mundo
ou condição deleitosa, terrestre ou celestial. físico, embora oculto do homem. E elas chegavam a
imaginar que as almas dos justos vão para lá. Mas,
II. No Antigo Testamento afinal, isso não é tão estranho, quando nos
Na versão da Septuaginta (vide), essa palavra lembramos que os antigos também localizavam o
aparece logo em Gên. 2:8, para indicar o jardim do hades (tanto a parte boa quanto a parte má) no centro
Éden. O texto hebraico, entretanto, só contém a da terra; e isso mostra que suas noções não ascendiam
palavra hebraica pardes em Nee. 2:8, onde alude a muito quando eles falavam da vida após-túmulo. Os
uma floresta que servia de suprimento de madeira judeus tradicionalistas também pensavam que o
para Neemias. E o trecho de Ecl. 2:5 usa-a a fim de Messias tem a chave que abre o paraíso, e que, por
referir-se a um jardim ou parque com muitas árvores; ocasião de sua vinda, ele restaurará o jardim do Éden
e Can. 4:13 refere-se à esposa como um pomar entre os homens.
(paraíso) de romãs, dotado de toda espécie de fruto IV. No Novo Testamento
delicioso. Na Septuaginta, novamente, a palavra é O Novo Testamento dá prosseguimento a algumas
empregada por mais duas vezes: em Gên. 13:10, que idéias típicas do judaísmo helenista.
descreve o frutífero vale do rio Jordão, que era como o
jardim do Senhor; e o jardim do Éden, antes do dia do O Paraíso No Novo Testamento
julgamento, em Joel 2:3. No Novo Testamento há apenas três usos.
III. Nos Escritos e Pensamento Posteriores Judaicos 1. Em II Cor. 12:4 o terceiro céu (um dos lugares
É deveras curioso ver quão pouco o Antigo celestiais) é o paraíso.
Testamento tem a dizer sobre o estado dos seres 2. O uso que aparece em Lucas 23:34, onde está em
humanos após a morte física. O texto mais instrutivo pauta o «lado bom» do hades.
ali é o de Dan. 12:2,3, que ensina a ressurreição geral: 3. O uso que figura em Apocalipse 2:7, onde o «céu»
alguns irão para a vida eterna, e outros para a está em foco. Somente o autor do Apocalipse, dentre
condenação e vergonha eternas: os sábios resplande todos os autores do N.T., se utiliza do vocábulo «céu»
cerão para sempre, como o brilho celeste, e aqueles no singular, constantemente. Posto que ele concebia o
que encaminharam outros à retidão refulgirão como céu como um lugar (ou reduzia os céus a um termo
as estrelas. Muitos eruditos estão convencidos que coletivo, «céu»), foi natural para ele intercambiar o
esses pensamentos do livro de Daniel refletem a termo com a designação «paraíso». Paulo, entretanto,
teologia judaica helenista; e então, por essa e irias lança mão, constantemente, do plural, em consonân»
outras razões, atribuem a esse livro uma data cia com a maneira de pensar dos judeus. Portanto, o
posterior. A questão é ventilada no artigo sobre o livro terceiro céu, ou paraíso, dificilmente tem paralelo ao
de Daniel. Ver o artigo intitulado Estado Intermediá uso que o termo paraíso recebe no Apocalipse. Paulo
rio. não reivindica ter visto a Deus, ou ter estado no mais
Apesar dos livros apócrifos muito expandirem as elevado céu. (Ver o artigo sobre Terceiro Céu).
questões escatológicas, ainda assim temos ali bem
pouco acerca do paraíso. A tradição judaica posterior O lado bom do hades é um tema explorado por
localiza o paraíso como uma habitação dos mortos Lucas, em Luc. 16:19-21 e 23:34. Mas a doutrina
justos, situada no hades, embora isso não transpareça lucana fica aquém do ensino paulino sobre os lugares
claramente nos livros apócrifos. O trecho de II Esdras celestiais (ver Efé. 1:3). É que Lucas continuava
7:36 associa a Geena ao paraíso: «A fornalha da geena martelando sobre idéias judaicas; e, para ele,
68
PARAlSO - PARALISIA
provavelmente a boa parte do hades era o céu cristão. também receberam esse privilégio, como Ben Azzai,
É um erro supormos que todos os vários escritores Ben Zoma e o rabino Akiba.
do Novo Testamento tinham recebido a mesma luz Além disso, temos o próprio ensino neotestamentá-
sobre aquelas outras dimensões da existência. Grande rio, que parece fazer o antigo paraíso ser eliminado,
parte dos ensinos do Antigo Testamento e das idéias cedendo lugar ao céu cristão, ao passo que a porção
judaicas helenistas foi meramente transportada para má do hades continuaria como o estado intermediário
o Novo Testamento, com pouca modificação. Coube a das almas perdidas. Entretanto, há indícios de que a
Paulo trazer mais luzes sobre a vida após-túmulo, doutrina da vida no além não é assim tão simples.
especialmente em sua doutrina da transformação dos Parece que continuam existindo lugares intermediá
remidos segundo a imagem de Cristo, e em sua rios de bem-aventurança e felicidade, que não são
doutrina sobre os lugares celestiais. O trecho de Efé. nem o «céu» e nem os «céus».
4:8-10 é usado pelos intérpretes cristãos como apoio à Conforme já dissemos, a escatologia ocidental tem
sua idéia de que a morte e a ressurreição de Cristo simplificado a escatologia propondo apenas dois
foram o poder por detrás da transferência das almas estados: o céu e o inferno. Porém, as evidências
salvas do bom lado do hades para o céu. E então, fornecidas por pessoas que chegaram a entrar nos
conforme a doutrina prossegue, a partir da ressurrei estágios preliminares da morte, e têm voltado,
ção de Cristo os mortos justos partem diretamente favorecem a existência de muitos lugares intermediá
para o céu, sem terem de fazer um estágio na boa rios, tanto bons quanto maus, e não apenas dois
porção do hades. estados opostos. Além disso, alguns místicos nos
A Igreja cristã ocidental deixa a questão nesse dão informações que certamente apoiam esta idéia.
ponto; mas a Igreja cristã oriental vê na descida de Por conseguinte, — podemos continuar usando o
Cristo ao hades (ver I Ped. 3:18-4:6) uma oportunida termo paraíso para fazer contraste com o céu e o
de oferecida aos mortos condenados, mormente em hades. A Igreja oriental, por sua vez, continua crendo
face do fato de que o texto petrino diz que Cristo em lugares intermediários onde os destinos dos
pregou no hades aos injustos (3:20), e essa pregação homens não são fixados, e onde o propósito remidor
foi a do evangelho (4:6). Entretanto, a Igreja continua atuante. De fato, tais lugares existiriam para
ocidental (Igreja Católica Romana e as suas filhas preparar os seres humanos para a vida eterna. Essa
históricas, protestantes e evangélicos) continua noção faz sentido. Poucas almas, podemos ter
truncando a missão de Cristo, eliminando a extensão certeza, atingem a salvação em um único período de
dessa missão ao hades. Na verdade, a missão de Cristo vida terrena. A provisão de Deus precisa ser mais
é tridimensional: na terra, no hades e nos céus, e ampla do que isso. Em caso contrário o plano de
sempre uma missão de salvação. E isso fomece-nos o salvação terá fracassado miseravelmente. A Igreja
poderoso ensino que não somente o lado boir. do ocidental, em seus dogmas, dá a entender que o plano
hades foi removido para os céus—o que a Igreja cristã de salvação realmente falhou miseravelmente, mas,
ocidental também ensina—mas igualmente que a quanto a mim, deixei de crer nesse ponto de vista
missão de Cristo modificou a parte má do hades, pessimista.
tendo-a tornado um campo missionário! Isso constitui Ver o artigo separado sobre Experiências Perto da
boas novas para o homem moderno. Ver plenos Morte.
detalhes acerca dessa doutrina no artigo Descida de
Cristo ao Hades. Não deveríamos limitar o ministério
de Cristo, referido em Efé. 4:8-10, como se isso PARALELISMO
envolvesse somente a salvação. De fato a sua descida Ver sobre Poesia.
ao hades teve o mesmo propósito que a sua subida ao
céu: que ele viesse a encher todas as coisas,
tornando-se «tudo para todos», conforme alguém PARALELISMO (PROBLEMA CORPO-MENTE)
parafraseou a idéia de «preencher todas as coisas». É Ver o artigo geral intitulado Problema Corpo-Men-
nesse ponto que brilha mais intenso o famoso amor de te, seções III e IV. Em um sentido secundário, um
Deus. Esse amor está estreitamente vinculado ao paralelismo pode significar apenas que todo evento
incansável poder de Cristo. E assim, feita essa mental tem uma correlação física.
vinculação, grandes coisas tinham mesmo de ser
realizadas. É um equívoco diminuirmos o escopo da
missão de Cristo, mediante nossas interpretações PARALELISMO PSICOFtSICO
pessimistas. Esse é outro nome dado ao paralelismo, como
V. Homens que Ingressam no Paraíso aquele encontrado nos escritos de Leibnitz. Dei
completas explicações sobre a questão, além de outras
As tradições e a literatura judaica e cristã pintam relacionadas ao Problema Corpo-Mente, no artigo
certos homens especialmente justos como quem sobre esse assunto. Ver também sobre Mônada.
ingressou no paraíso, conforme se vê na seguinte
declaração:
Os judeus ensinaram que existem muitos céus ou PARALIPOMENON
paraísos. Bem provavelmente, Paulo compartilhava A Septuaginta (vide) intitulou os livros de I e II
esta idéia de múltiplos paraísos. Não sabemos se ele Crônicas de Paralipomena. No grego, essa palavra
estava familiarizado ou não com o ensino de que significa «coisas omitidas». Esses livros contêm
homens santos (antes da morte) entraram no paraíso. detalhes que foram omitidos nos livros deSamuel e
A literatura judaica menciona nada menos de Reis, o que explica tal designação,
nove homens do Israel que, supostamente, teriam
passado por tão admirável experiência. Esses teriam
sido Enoque, Elias, o Messias, Eliezer, Hirão, Ebede, PARALISIA
Jabez, Betias (filha de Faraó), Sara (filha de Aser), e. Ver o artigo geral sobre Enfermidades da Bíblia,
conforme alguns diziam, também Josué ben Levi. 1.30.
(Ver Jperech Eretz, foi. 19.1; Zohar sobre Êxo., foi.
102.3). Entre os rabinos, pensava-se que alguns ••• •••
69
PARALOGISMO - PARAPSICOLOGIA
PARALOGISMO teve início como um ramo da psicologia, envolvendo
Essa palavra vem do grego pará, «além», e lógos, alegadas habilidades incomuns que as pessoas tacham
«razão». De modo geral, o termo refere-se a de psíquicas, e que a ciência ortodoxa não consegue
raciocínios falazes. O termo é especificamente ligado explicar, por meio de seu limitado conjunto de leis
à filosofia de Emanuel Kant. Em sua Crítica da fixas, todas apontando na direção do materialismo. À
Dialética Transcendental, ele distinguiu entre os medida que tais estudos têm progredido, tem-se
paralogismos formais e os paralogismos transcenden evidenciado que nada há de raro ou incomum quanto
tais. Estes últimos designam as falácias da psicologia aos fenômenos psíquicos. De fato, há poderosas
racional, que começam com um «eu penso» da comprovações em favor da tese de que todas as pessoas
experiência, como uma premissa, concluindo daí que são psíquicas, e que as capacidades psíquicas são
o homem possui uma alma separada, substancial e básicas na natureza humana. Apesar de alguns desses
contínua. Ele expunha razões para a crença na fenômenos poderem ser paranormais ou mesmo
existência da alma sobre bases morais, e não sobrenaturais, usualmente são perfeitamente nor
psicológicas. mais, embora até bem recentemente a ciência nunca
os tivesse examinado e reconhecido. Provavelmente, a
maior parte dos fenômenos psíquicos envolve a
PARAPEITO normalidade, embora seja um equívoco supor que
todos esses fenômenos são apenas naturais.
Essa é a forma latinizada da palavra hebraica, Informes Históricos. Os fenômenos psíquicos são
maageh. A palavra portuguesa vem do italiano tão antigos quanto o homem. A filosofia percebeu a
parapeito, «pela altura do peito». Usualmente, um importância dos mesmos muito antes da ciência
parapeito era uma mureta posta na beirada de um começar a estudá-los. As religiões, por sua parte,
eirado (cobertura plana de uma casa). O seu sempre reconheceram que esses fenômenos existem e
propósito era o de impedir que alguém caísse da beira fazem parte da experiência religiosa. Filósofos
do eirado. Esses eirados eram muito usados como importantes, como Fichte, Schelling, Baader, Hegel e
áreas elevadas de observação e lazer, um lugar para muitos idealistas têm reconhecido a realidade e a
onde as pessoas iam no final de um dia quente, a fim importância desses fenômenos para a religião e a
de relaxar (ver Deu. 22:8). Mediante essa estrutura, filosofia. A parapsicologia, como um campo separado
pois, os proprietários das casas protegiam os de pesquisas, está entregando toda essa questão à
membros de sua família ou outros circunstantes, de ciência. E é precisamente esse aspecto o aspecto novo
caírem de cima da casa. da questão. Os pioneiros na psicanálise, especialmen
te Freud e Jung, foram forçados a examinar tais
fenômenos por se terem eles tomado parte de seu
PARAPSICOLOGIA labor diário com os seus pacientes. O próprio Jung foi
um psíquico de alguma nota. Freud não queria crer
Ver os artigos separados intitulados Percepção nesses fenômenos, até que foi testemunha de tantas
Extra-sensorial e Experiências Perto da Morte. evidências dos mesmos, nos seus pacientes, que,
Esboço: finalmente, tais fenômenos vieram a tornar-se parte
I. Definições; Informes Históricos; Escopo integrante da psiquiatria. Freud escreveu o primeiro
II. Declaração Introdutória; Defesa estudo científico sobre os sonhos, e esse trabalho teve
III. Conceitos Básicos Desse Campo do Conheci de incluir, necessariamente, especulações quanto à
mento natureza da telepatia e do conhecimento prévio
IV. Natureza dos Fenômenos Psíquicos revelado nos sonhos, porquanto esses fenômenos
constantemente ocorrem na experiência humana
V. Experiências Ilustrativas: Todos São Psíquicos diária.
VI. Contraste com o Ocultismo Historicamente falando, podemos datar o estudo
VII. Contaste com a Espiritualidade cientifico dos fenômenos psíquicos, quando da
VIII. Sua Importância para a Filosofia e a Teololgia organização da Sociedade para Pesquisas Psíquicas.
IX. Psi: As Funções Psíquicas e a Privação Sua sigla, em português é SPP. Essa organização foi
dos Sentidos fundada em 1882, por um grupo de distinguidos
X. O Mundo Psíquico de Crianças Moribundas cientistas e eruditos. Seu primeiro presidente foi
XI. Avaliação Pessoal Henry Sidgwich. A Sociedade Norte-Americana para
I. Definições; Informes Históricos; Escopo Pesquisas Psíquicas foi fundada em 1885. O famoso
O termo parapsicologia tem à sua base dois filósofo, William James, foi um de seus primeiros
vocábulos gregos, pará, «ao lado», e psuché, «alma». líderes. Muitos outros nomes de nota têm estado
Esse campo de estudos, que rapidamente se vai associados a essas duas sociedades, incluindo James
firmando como uma ciência distinta, começou como Hyslop, A.J. Balfour, Henry Bergson, F.C.S. Schiller,
um ramo da psicologia (o estudo da mente, dos William McDougal, Hans Driesch, C.D. Broad, H.H.
estados mentais, etc.), indicando algo «além da Price e C.J. Ducasse.
psicologia, mas relacionado a ela», ou, mais
literalmente, algo «lateral à psicologia», com consi O estudo formal e departamental da parapsicologia
derações adicionais além daquelas que interessam começou na Universidade Duke, nos Estados Unidos
particularmente à mesma. O termo é um virtual da América, sob a direção de J.B. Rhine, em 1930.
sinônimo para pesquisas psíquicas, e alguns compên Desde então, muitas outras universidades iniciaram
dios preservam esse título. Uma outra designação é esses estudos como parte do departamento de
experiências da percepção extra-sensorial. Vários psicologia, ou mesmo formando um departamento
pesquisadores preferem o simples termo Psi, como separado, exclusivamente dedicado a tais pesquisas.
forma abreviada de aludir a todas as formas de Muitas outras sociedades de parapsicologia têm sido
fenômenos psíquicos. formadas, e tem sido muito significativa a participa
ção de professores universitários. Uma dessas
Muitas universidades contam atualmente com um sociedades é The Academy o f Religion and Psychical
departamento separado para o estudo dos fenômenos Research, com sede em Bloomfield, estado de
psíquicos; mas, nos círculos acadêmicos esse estudo Connecticut. O autor deste artigo é membro acadêmi-
70
PARAPSICOLOGIA
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PARAPSICOLOGIA
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(Albert Einstein)
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(Arthur Ford)
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PARAPSICOLOGIA
co dessa academia e tem publicado alguns artigos em pelo fato dela estar sendo criticada ou não. De fato,
seu Journal o f Religion and Psychical Research. Meu coisa alguma é mais clara, na história da ciência, do
interesse pessoal pelas pesquisas psíquicas deriva-se que a observação de que todas as idéias cientificas
de duas considerações: a importância das mesmas importantes foram rejeitadas a princípio; e aqueles
para a epistemologia (teoria do conhecimento) e para que as apresentaram foram perseguidos. Outro tanto
a ontologia (o estudo do ser, que inclui a alma se dá com os pioneiros na fé religiosa.
humana). Sempre me senti atraído pela alma, e tenho «O maior amigo da verdade é o Tempo; seu
publicado vários artigos nos quais procuro demons maior inimigo é o Preconceito; sua companheira
trar que, cada vez mais, dispomos de evidências constante é a Humildade» (Charles C. Colton).
científicas para crer na realidade da porção imaterial «Se a verdade fere-nos tão gravemente, à maioria
do ser humano. Ver, nesta enciclopédia, os vários de nós, que nem queremos que ela seja dita, fere
artigos sobre a Imortalidade. Um desses artigos é de ainda mais cruelmente àqueles que ousam anunciá-la.
minha autoria, procurando oferecer razões para a A verdade é uma espada de dois gumes, com
crença na existência da alma, sobre bases científicas. freqüência mortalmente perigosa para quem dela faz
Ver Imortalidade, artigo 1, Abordagem Científica à uso» (Juiz Ben Lindsey).
Crença na Alma e em sua Sobrevivência Ante a Morte «O mais ínfimo átomo de verdade representa um
Biológica. Também publiquei dois livros em portu amargo labor e agonia de algum homem; para cada
guês, relacionados aos fenômenos psíquicos, que o porção ponderável da verdade, há o sepulcro de
leitor poderá achar útil. Esses livros são intitulados: algum bravo desbravador da verdade em algum
Evidências Científicas Demonstram que Você Vive monte de cinzas solitário e uma alma torrando no
Depois da Morte; e Como Descobrir o Sentido dos inferno» (H.L. Mencken).
Seus Sonhos. Esses dois volumes foram publicados «Deus oferece a cada mente a escolha entre a
pela Nova Época Editorial, SP. verdade e o sossego. Escolhe o lado que quiseres—não
Escopo. Na terceira seção, abaixo, ofereço os poderás ficar com ambos» (Ralph Waldo Emerson).
conceitos básicos e as esferas de atividade da
parapsicologia. Obviamente, esse escopo é muito O material apresentado abaixo, foi escrito por mim
vasto. Não estou interessado, pessoalmente, nessa em defesa de meus interesses pela parapsicologia.
perspectiva muito ampla embora creia que as Reproduzo esse material como uma espécie de
pesquisas devam envolver todas as áreas. A ignorân declaração geral sobre a questão.
cia jamais nos oferece qualquer coisa de valor. Os Fenômenos Psíquicos
Também não concordo com todos os esforços que O homem é uma psique (um alma). Em
estão sendo feitos pelas ciências materiais e exatas; conseqüência disso, é impossível o homem viver sem
mas aos homens devemos permitir que pesquisas experimentar e causar fenômenos psíquicos. As
tragam tudo à tona. Não nos devemos opor a estágios evidências obtidas em laboratórios, acerca dessa
preliminares desses estudos, simplesmente porque declaração, têm-se tornado avassaladoras. O meu
podemos ver alguns defeitos nos mesmos. Seja como interesse sobre esse campo resulta de duas ansieda
for, sob o grande guarda-chuva que se chama des: a. Verificar o que esses fenômenos têm a dizer
«parapsicologia», estão sendo investigados os seguin sobre o conhecimento (a epistemologia). Tenho
tes assuntos: telepatia, clarividência, psicocinesia, ensinado essa disciplina em algumas universidades.
conhecimento prévio, retrocognição, psicometria, Sou forçado a ter conhecimento sobre essas coisas, b.
escrita automática e outras formas de automatismo, Averiguar o que esses fenômenos podem contribuir
visões, aparições, fenômenos mediúnicos, sonhos, para uma prova científica da existência da alma e sua
música psiquicamente produzida, como também sobrevivência diante da morte biológica.
pintura e escrita psiquicamente produzidas, medicina Como é óbvio, um espírito bom ou um espírito
psicossomática, curas por meios mentais e espirituais, demoníaco pode produzir esses fenômenos (telepa
fenômenos religiosos como línguas, profecia, etc, que tia, clarividência, conhecimento prévio, etc.), da
os pesquisadores acreditam ser (pelo menos mais mesma maneira que uma alma humana pode fazê-lo
freqüentemente) psíquicos, e não necessariamente também. Mas, pode haver abusos acerca de quaisquer
sobrenaturais. dessas coisas. Não há que duvidar que forças
Naturalmente, alguns pesquisadores, crendo que os demoníacas operam nos aspectos negros do espiritis
fenômenos psíquicos relacionam-se à porção imaterial mo, da bruxaria, e até mesmo dentro do moderno
do homem, têm concentrado seus estudos sobre a movimento carismático, na Igreja cristã. Porém, ali
faceta da sobrevivência da alma ante a morte encontram-se os abusos, e não a essência desses
biológica. A projeção da psique e as experiências fenômenos psíquicos. Muitos evangélicos aceitam
perto da morte têm-se tornado, ali, o foco das declarações dessa ordem sem qualquer objeção.
atenções. Tenho oferecido artigos separados detalha Existem formas falsas e perigosas de misticismo,
dos sobre esses assuntos, intitulados: Projeção da acerca das quais devemos advertir às pessoas, para
Psique e Experiências Perto da Morte. E, visto que a que as evitem. No NTI incluí um detalhado artigo
reencamação faz parte desses fenômenos psíquicos precisamente sobre esse assunto, que foi escrito com
em geral, envolvendo a retroconhecimento, esse um propósito em mira: avisar. Se os pastores e
assunto também tem sido investigado especialmente mestres no Brasil tivessem contado com o conheci
por alguns pesquisadores, mormente pelo Dr. Ian mento que tenho sobre essas coisas, o movimento
Stevenson, da Universidade de Virgínia, nos Estados carismático teria sido derrotado desde o começo. Não
Unidos da América do Norte. Ver o artigo sobre a quero dizer com isso que algumas pessoas não tenham
Reencamação. genuínas manifestações carismáticas; porém, quanto
mais examino o movimento, como um todo, menos
II. Declaraçio Introdutória; Defesa fico convencido de que foi gerado pelo Espírito de
Amigos, não significa muito se formos criticados Deus. Não sou contrário ao misticismo. Como poderia
devido a alguma idéia que defendamos. Somente sê-lo? Está em pauta a questão da imanência de Deus
aqueles que são absolutamente neutros sobre tudo e o que isso pode significar para a alma.
podem escapar dessas críticas; mas, se alguém chegar Se eu tivesse de oferecer uma defesa sobre esse
a tal neutralidade, ainda assim será criticado por essa assunto, tal defesa assumiria o volume de um livro.
atitude. Mas, dificilmente a verdade é determinada Por conseguinte, limito-me aqui a algumas poucas
71
PARAPSICOLOGIA
observações: maior freqüência do que qualquer outra pessoa.
a. M.R. DeHann disse-me, em pessoa, que Simplesmente, comecei a dar atenção à questão.
acreditava que, antes da queda no pecado, o homem Algumas das predições recebidas assim têm sido
dispunha de poderes psíquicos claros e abundantes; triviais, mas outras têm sido muito importantes para a
mas, um dos resultados da queda é que esses poderes minha vida.
foram amortecidos, levando o homem a tomar-se Irene, minha esposa, e eu, temos compartilhado de
mais dependente de seus sentidos físicos do que antes. vários sonhos, sobre os quais temos conversado um
b. Os estudos no campo dos sonhos demonstram com o outro. Compartilhei de um significativo sonho
que recebemos experiências dessa natureza o tempo com uma de nossas obreiras. Coisas dessa natureza
todo, e não apenas ocasionalmente. Meu interesse acontecem, provavelmente de modo freqüente, más, a
sobre essa questão encorajou-me a escrever um livro menos que os contemos e compartilhemos com outras
sobre a interpretação dos sonhos. Já me foi dito, por pessoas, jamais descobriremos a verdade em tomó da
pessoas que devem saber o que estão dizendo, que questão.
esse livro é a única obra, escrita na língua portuguesa,
que acompanha a história completa das investigações c. Sonhos Lúcidos. Os sonhos também podem ter
científicas sobre os sonhos. Contém tudo quanto a importância científica. Os chamados sonhos lúcidos
ciência tem dito sobre os sonhos, até o ano de 1982, são aqueles em que a pessoa sabe que está sonhando
quando o livro foi publicado. e, dessa forma, pode assumir o controle do seu sonho.
Certo cientista britânico está desenvolvendo uma
Sabe-se «gora que todos nós recebemos entre vinte e técnica que envolve o uso de uma corrente elétrica de
trinta sonhos a cada noite. Eles ocorrem no fim de baixa voltagem, a qual pode dar ao indivíduo o
ciclos de sono de noventa minutos. A princípio, a conhecimento de que ele está experimentando um
porção de cada ciclo, ocupada com sonhos, é curta; sonho. Esse pesquisador aplica o choque elétrico
mas, à medida que a noite avança, essa porção quando as ondas cerebrais da pessoa mostram que ela
amplia-se. A grosso modo, a primeira parte da noite está sonhando. Duas conseqüências práticas estão
de sono revisa o presente; uma outra parte, revisa o sendo vinculadas a essa técnica. Em primeiro lugar,
passado; e a parte final da noite de sono passa em pessoas afetadas por câncer ou por outras enfermida-
revista o futuro. Sonhamos durante mais de duas dades mortais estão usando esses sonhos a fim de
horas a cada noite. Nesses sonhos, a maior parte, se provocar uma melhor função do sistema imunizador
não mesmo a totalidade, de nosso futuro, é projetada. do organismo. Em segundo lugar, está sendo feita a
Assim, em um sentido não-bíblico, cada indivíduo é tentativa de utilizar esses sonhos como uma
seu próprio profeta particular. Alguns estudiosos experiência francamente criativa. Presume-se que
afirmam que sonhamos tudo quanto nos acontece, e (finalmente), isso venha a produzir invenções, obras
que isso ocorre mediante cenários literais ou escritas criativas e funções solucionadoras de proble
simbólicos em nossos sonhos. E isso tem sido mas.
essencialmente confirmado pelos cientistas. Estudos Quero salientar novamente que essa questão, para
realizados no Maimônides Hospital, de Brooklyn, mim, é apenas uma peça, dentro do quadro maior da
cidade de Nova Iorque, têm mostrado que é fácil natureza e do desenvolvimento espirituais do homem.
influenciar o conteúdo dos sonhos de uma pessoa que Acredito que sonhar seja uma função dada por Deus
dorme, mediante a concentração dos pensamentos do («...sonharão vossos velhos...» — Átos 2:17), embora
influenciador sobre certos assuntos. Existem sonhos seja apenas uma função dentre muitas, não devendo
criativos, sonhos psíquicos e sonhos espirituais. Para ser levada ao exagero. Também deveria ser frisado
exemplificar, durante muito tempo, Charles Singer, o que há muitos níveis de sonhos. Alguns desses níveis,
inventor da máquina de costura, lutou com o conforme Freud destacou, são apenas mecanismos de
problema de como fabricar uma agulha que cumprimento de desejos. Por outro lado, há aqueles
funcionasse em uma máquina de costura. A resposta sonhos do mais profundo da alma, que nos dizem algo
lhe foi dada por meio de um sonho. No sonho, ele que precisamos saber. O teólogo Strong conhecia um
via-se na África. Os nativos o haviam capturado e já o homem que, segundo ele alegava, foi salvo de um
tinham posto em um caldeirão de água fervente. Um quase inevitável acidente por haver sido avisado de
dos nativos debruçou-se sobre ele e disse: «Se você não antemão em um sonho, por um anjo. Talvez alguns
resolver esse problema, então nós vamos cozinhá-lo e sorriam diante desse testemunho, mas as Escrituras
comê-lo». Aquele nativo estava segurando uma lança. dizem que Deus enviou o seu anjo a fim de fechar a
Singer notou que a lança tinha uma perfuração na boca dos leões, quando Daniel estava em dificuldades
ponta. Ainda quando sonhava, Singer compreendeu (ver Dan. 6:22).
que havia recebido a resposta. Acordou, saltou da d. O Poder da Mente sobre a Matéria. Considere
cama e anotou por escrito a sua descoberta. Mais mos uina única ilustração, dentre as inúmeras que
tarde, preparou uma agulha com um buraco na poderíamos utilizar. No fenômeno conhecido pelo
ponta, o que possibilitou a invenção da máquina de nome de múltiplas personalidades, em que um único
costurar. corpo físico é controlado por diversas e diferentes
Alguns sonhos são éticos e nos conferem profundas personalidades, o organismo reage de diferentes
instruções. Outros são triviais e não têm significado maneiras. Quando uma das personalidades está no
evidente. Porém, tenho descoberto que mesmo alguns controle, a pessoa pode ser destra, mas canhestra
dos sonhos mais ridículos assumem significação quando outra personalidade vetn controlá-la. Os
quando chegamos a compreender os símbolos usados traços do eletroencefalograma também se tomam
em nossos sonhos. Coisa alguma daquilo que tenho diferentes, à medida que diferentes personalidades
dito aqui serve para tomar o lugar dos meios normais assumem o controle. No entanto, os atores que têm
de desenvolvimento espiritual. Não obstante, afirmo procurado alterar suas ondas cerebrais, quando
com confiança que sonhar é uma herança dada por representam outras personagens, não têm obtido
Deus, que nos é outorgada através de uma linguagem qualquer sucesso na tentativa. Por igual modo,
misteriosa, que precisamos aprender. Uma vez que quando uma das personalidades está no controle, o
comecemos a aprendê-la, já começamos a usufruir corpo pode ter específicas e persistentes alergias; mas,
benefícios. Tenho recebido muitos, e não poucos, vindo outra personalidade, o mesmo corpo não mais
sonhos de conhecimento prévio. Não os tenho com apresenta qualquer reação alérgica. Quando uma das
72
PARAPSICOLOGIA
personalidades dá as ordens, â pessoa pode precisar nossos anjos guardiães ocasionalmente guiam-nos ha
de óculos, para determinados problemas oculares; comunicáção mente-a-mente, ou seja, a telepatia.
mas, quando há troca de personalidades, a visão da Damos bem pouco valor ao ministério dos anjos. O
mesma pessoa torna-se cem por cento normal. notável teólogo batista, Augustus Strong, declara em
Impelido por uma personalidade, o indivíduo pode ser sua Teologia Sistemática: «Assim como os espíritos
cego para as cores; impulsionado por outra personali malignos tiveram permissão de agir ativamente
dade, ele será capaz de distinguir perfeitamente as quando o cristianismo iniciou seu apelo aos homens,
cores. A lista é longa, demonstrando como a mente assim também recc~heceu-se, com freqüência, que os
pode produzir mudanças radicais no corpo. Certo anjos bons são executores dos propósitos divinos».
psiquiatra evangélico informa-nos de que cerca de Isso ele disse a fim de apoiar sua assertiva de que os
cinco por cento dos casos de múltipla personalidade anjos bons recebem a tarefa de influenciar homens
com que ele tem tratado, envolvem poderes demonía para contrabalançar o mal e ajudar os bons. E foi por
cos. Porém, em noventa e cinco por cento dos casos, a isso, igualmente, que ele disse: «Assim como os
psicoterapia regular pode integrar em uma só as espíritos malignos podem tentar aos homens, assim
diversas personalidades. A maioria dessas personali também é provável que os anjos bons atraiam os
dades constitui-se apenas de fragmentações ocorridas, homens à santidade». E então ele passa a dizer:
devido a crises e tragédias que as pessoas não podem «Pesquisas psíquicas recentes desvendaram possibili
enfrentar com o uso de uma única personalidade. Em dades quase ilimitadas de influenciar outras mentes
conseqüência, tornam-se duas pessoas ou mesmo mediante a sugestão. Minúsculos fenômenos físicos,
mais. Porém, nenhuma dessas personalidades é como o odor de uma violeta ou a visão de um livro, ou
maligna, como nos casos de invasão demoníaca. Ora, uma folha aleijada de roseira podem iniciar uma
se assim acontece, então podemos asseverar, com toda cadeia de pensamentos que alteram o curso inteiro de
a confiança, que a mente exerce tremendos poderes uma vida». Coisa alguma é tão poderosa quanto a
sobre o corpo, sendo bem provável que nossas mente, e existe comunicação de mente a mente que
enfermidades sejam criadas ou, pelo menos, encora pode ser sentida de modo sutil ou poderoso. Strong
jadas, pelos nossos estados mentais. Trata-se de um citou favoravelmente a Fisher, em seu livro Nature
fenômeno psíquico, uma variante daquilo que se and Method o f Revelation, onde aquele autor fala
denomina psicocinesia. É óbvio, pois, que os sobre a naturalidade dos fenômenos psíquicos, e sobre
fenômenos psíquicos têm tremendas implicações como os homens são mais susceptíveis às influências
médicas. espirituais do que a maioria das pessoas imagina. E
e. Psicocinesia. Os filósofos falam sobre o problema ele também opinava que os anjos malignos podem
corpo-mente. Existiria tal coisa como uma mente atuar sobre nós por meio da telepatia; e, quanto ao
separada do cérebro? Em caso positivo, como é que a outro lado da moeda, os anjos bons podem fazer a
mente interage com o corpo físico? Cada indivíduo, a mesma coisa acerca do bem. Strong foi presidente do
cada minuto de sua vida, manifesta uma contínua Rochester Theological Seminary e por muitos anos,
interação entre sua mente e seu corpo. Você nem ao foi um gigante intelectual do movimento batista. Sua
menos poderia mexer com o dedão do pé, sem um Teologia Sistemática tem sido usada como obra
padrão entre muitas pessoas, já por diversas gerações.
fenômeno psíquico. Quando a mente atua sobre o As citações feitas acima acham-se nas páginas 451 e
corpo, a fim de manipulá-lo, ou quando a mente usa o
cérebro para transmitir e controlar a inteligência, a 453 daquela obra (titulo em inglês: Systematic
Theology).
pessoa está envolvida na psicocinesia. Sem isso, não
poderia haver tal coisa como uma alma a habitar e m . Conceito* Básicos Desse Campo do Conheci
manipular um corpo físico. A nossa própria existência mento
como seres mortais-imortais, e a nossa vida diária Na primeira seção, mostrei quão amplo é o escopo
como tal, dependem inteiramente de fenômenos dessa inquirição da parapsicologia. Limito-me aqui a
psíquicos. Portanto, é ridículo dizer-se que essas uma breve declaração sobre os fenômenos máis
coisas acontecem apenas ocasionalmente, ou que há
algo de inerentemente maligno nesses fenômenos comuns associados à mesma:
psíquicos. 1. Telepatia. Dentre todos os fenômenos, esse é o
que tem sido estudado de forma mais científica, e com
Moralmente falando, os fenômenos psíquicos são esmagadoras confirmações. A telepatia consiste na
neutros. — Tais fenômenos não são bons e nem comunicação entre mentes, ou, na linguagem
maus, embora possam ser usados para finalidades popular, «leitura do pensamento». Nenhuma forma de
boas ou para finalidades más. Mostro abaixo como o energia conhecida explica o fenômeno, pelo que há
teólogo Strong concordava com essa avaliação. Tenho pesquisadores que opinam que alguma forma
conversado com muitos evangélicos sobre essa desconhecida, mas real, de energia, física ou
questão, e eles também mostraram concordar com imaterial, que algum dia será descoberta, explica esse
isso. E tenho conversado com outras pessoas, fenômeno que desde há muito vem deixando os
totalmente ignorantes sobre o assunto. Essas não pesquisadores confusos. Mas, apesar de não sabermos
reconhecem a sua importância no tocante a questões como a telepatia funciona, as evidências em favor do
da metafísica e da epistemologia. Porém, sendo fato são avassaladoras.
professor de filosofia, tenho tido de tratar com essas e 2. Clarividência. Esse é o conhecimento das coisas
com muitas outras questões das quais os missionários mediante meios não-sensoriais, como objetos perdi
evangélicos comuns nunca se aproximam muito. E dos, acontecimentos à distância, etc., sem qualquer
preciso testificar que a minha vida tem sido comunicação de mente-a-mente. Antes, envolve um
enriquecida pelas muitas avenidas de conhecimento misterioso conhecimento de mente-a-objeto. Quando
que tenho podido investigar nesses estudos. Há uma J.B. Rhine investigou a telepatia mediante o uso de
diferença entre um missionário que é apenas um cartões com desenhos nos mesmos, ele fez que uma
evangelista, cujo trabalho confina-se à sua igreja pessoa tentasse obter as informações da mente de
local, e um missionário que também atua como outra pessoa. A clarividência foi investigada mediante
professor universitário, e que precisa enfrentar todas o uso desses mesmos cartões; mas, nesse caso, uma
essas questões do conhecimento humano. pessoa tentava adivinhar a figura do cartão sem que
Ministério Angelical. É quase indiscutível que qualquer outra pessoa tivesse consciência do que
PARAPSICOLOGIA
estava no mesmo. A clarividência envolve uma espécie fantasia, têm sido captadas algumas genuínas vidas
de «visào remota». Também não se sabe como o passadas, realmente vividas. Mas isso ainda nos deixa
fenômeno funciona, embora existam muitas teorias, a braços com o problema da identidade. O que é
quase todas elas envolvendo alguma espécie de indiscutível é que a retrocognição é um fato; mas a
energia em operação. De alguma maneira, a mente é identidade de um indivíduo, com uma série de
capaz de atravessar o espaço e observar e tomar memórias passadas, e a declaração: «Eu fui aquela
conhecimento de coisas, sem o uso dos sentidos pessoa», continuam sendo questões problemáticas,
físicos. que requerem maiores investigações. No meu artigo
3. Psicocinésia. Essa é a capacidade mental de sobre a Reencamação, ofereço informações detalha
movimentar objetos sem o emprego da força física. É das sobre o que pode ser dito contra ou a favor dessa
quase certo que esse é o poder que a mente tem de teoria.
fazer o corpo movimentar-se; e, assim sendo, trata-se 6. Os Sonhos. Importantes parapsicólogos e
de um acontecimento constante no caso de todas as psicólogos estão aplicando suas aptidões ao estudo
pessoas (excetuando as mortas!). Pensamos, e, dos sonhos, de tal modo que o assunto vai-se
através do pensamento, fazemos um objeto qualquer rapidamente tornando uma ciência por seus próprios
movimentar-se à nossa vontade, mediante impulsos direitos. Estão sendo buscados meios não somente
físicos. Isso sucede todo o tempo, pelo que deve haver para obterem-se informações dos sonhos, que atuem
algum contacto entre a mente e o corpo. Ver o como diretrizes na vida, mas também que nos
Problema Corpo-Mente, quanto a uma detalhada mostrem como controlar os sonhos, para que os
explicação sobre as várias teorias filosóficas sobre homens possam lançar mão de seus poderes de
como a mente e o corpo interagem. J.B. Rhine criatividade e cura. A telepatia (capaz de provocar
investigou primeiro a psicocinésia fazendo seus alunos sonhos em outras pessoas, ou sonhos compartilhados)
lançarem dados mediante a força do pensamento. e a precognição são eventos perfeitamente comuns nos
Acabou ficando demonstrado que a mente humana sonhos. E isso serve de demonstração do fato de que
também tem um efeito sobre a desintegração do todas as pessoas são psíquicas, e que essa função não
átomo, nos materiais radioativos. Ê provável que é rara ou esporádica. O conhecimento que temos
certas formas de curas psíquicas estejam envolvidas sobre suas funções é que é defeituoso, levando-nos a
na psicocinésia. Pessoas têm sido capazes de mover distorcer a visão que temos sobre a questão. Os
pequenos objetos com o poder da mente, sem tocar sonhos revestem-se de uma importância espiritual, e
nos mesmos. Assim, certa dama precisou de mais de não meramente psíquica. No artigo sobre o assunto,
uma hora para separar a gema da clara de um ovo. dei aos leitores uma ampla visão a respeito.
Pequenos objetos podem ficar suspensos no ar; 7. Curas. Apesar das curas poderem ser uma
objetos de metal podem ser dobrados ou mesmo questão espiritual, quando então toma-se indispensá
quebrados. Instrumentos podem parar temporaria vel a intervenção divina, há boas evidências em favor
mente de funcionar. A agulha de uma bússola pode da afirmação de que muitas pessoas, se não mesmo
sair temporariamente de seu lugar. Essa capacidade, todas, são dotadas de poderes mentais de curas, que
tal como outros fenômenos psíquicos, pode ser parecem envolver a manipulação de energias misterio
desenvolvida mediante a prática. sas, mas naturais, que pertencem ao complexo
humano de energias. No processo dessas curas, as
4. Conhecimento Prévio. Temos aí a capacidade da pessoas usadas para curar com freqüência perdem
mente para prever acontecimentos. A profecia é uma peso, o que parece indicar a perda de certa
forma desse fenômeno, embora transcenda ao quantidade de energia vital, que pode ser medida por
conhecimento prévio comum, por estar envolvida com certas balanças extremamente sensíveis. A antropolo
o Espírito de Deus. Os estudos sobre os sonhos têm gia tem demonstrado dois poderes psíquicos constan
mostrado que quase todas as coisas que sucedem tes em muitas culturas, se não mesmo em todas: o
conosco são previstas em nossos sonhos, apesar do conhecimento prévio e as curas. Essas coisas são reais,
fato de que tão pouco disso emerge em nossa sem qualquer coisa de divino ou de diabólico
consciência. Ver o artigo sobre os Sonhos, quanto a envolvida, embora, como é óbvio, possam ser
uma demonstração do fato. Ver o artigo separado e produzidas por tais meios.
detalhado, intitulado Precognição (Conhecimento
Prévio). 8. Projeção da Psique. Se o homem é um espírito
5. Retrocognição. Da mesma forma que a mente que usa um corpo físico como veiculo; e, se ele, como
humana pode prever coisas, assim também pode espírito, pode abandonar sua concha física por
revisar o passado por meios desconhecidos e ocasião da morte, não seria possível ele fazer outro
misteriosos. Isso pode envolver a participação na tanto estando ainda vivo, retomar ao corpo, e então
Mente universal, tal como no caso do conhecimento lembrar-se sobre o que experimentou fora do corpo?
prévio. Ver o artigo sobre a Mente Universal. Jung Os pesquisadores estão encontrando fortes evidências
pensava que as mentes humanas participam do em favor dessa tese. Nada há de moderno quanto à
grande depósito dos arquétipos, como também de experiência propriamente dita. O que há de recente
toda a consciência humana. Sob certas circunstân nessa ciência é a concentração de investigação sobre a
cias, essa fonte poderia ser sondada. Uma coisa é questão, que está produzindo resultados positivos.
certa: a mente é um poder muito maior do que a Ver o artigo separado intitulado Projeção da Psique.
maioria das pessoas imagina. A mente é capaz de Essa é uma das mais promissoras formas de
fazer coisas notáveis. Uma importante aplicação do demonstrar, cientificamente, a existência da alma e
retroconhecimento, no dizer de alguns intérpretes, é a sua sobrevivência ante a morte física.
reencamação. Modos de obter alegadas informações 9. Experiências Perto da Morte. Será possível
sobre vidas anteriores são, principalmente, cinco em alguém entrar nos estágios preliminares da morte do
número: a. os sonhos; b. a regressão hipnótica; c. as corpo, passar por coisas significativas, enquanto o
experiências místicas das próprias pessoas envolvidas; espírito está separado do corpo, e então voltar para
d. o trabalho dos místicos com outras pessoas; e. a contar algo a respeito? A ciência está começando a
memória espontânea em momentos despertos, espe dizer que «sim». Ver meu artigo Experiências Perto da
cialmente no caso de crianças. Morte, que é bastante detalhado quanto a essa
Apesar de grande parte disso poder ser mera questão. Outro artigo que aborda o assunto é
PARAPSICOLOGIA
Imortalidade, em seu quarto ponto, Quando os demonstre que estamos tratando com pólos de alguma
Mortos Voltam, por Henry L. Peirce, vol. III, pág. forma de energia ainda desconhecida. Quanto a uma
277. mais detalhada explicação a esse respeito, ver o artigo
10. Pesquisas em Geral sobre a Sobrevivência da Problema Corpo-Mente, seção III.
Alma. Para muitos pesquisadores, o interesse pela 4. Definições de Energias. Apesar de abundarem as
parapsicologia tem sido motivado pela esperança de descrições acerca do átomo, a teoria atômica ainda
descobrir evidências científicas em prol da existência não passa disso, uma teoria. Trata-se de uma crença,
da alma e sua sobrevivência após a morte física. De que vai recebendo evidências adicionais o tempo todo.
fato, alguns dos pioneiros do campo buscavam, Novos elementos subatômicos estão sendo descobertos
especificamente, esse tipo de informação. Os fenô com regularidade. Assim, apesar de suas grandes e
menos mediúnicos foram e continuam sendo investi impressionantes realizações, a ciência ainda não
gados tendo isso em mente; mas também muitos têm dispõe de coisa alguma como uma completa descrição
crido que os fenômenos psíquicos são provas do do átomo. E sendo essa a verdade, muito menos ainda
dualismo platônico e cartesiano. Se um homem é, podemos dizer a respeito do espírito, de alguma
realmente, uma psique (uma alma, ou um espírito), energia não-material. Apesar das evidências aponta
então é apenas natural, e até necessário, que produza rem na direção de algo não-material, conferindo-nos
fenômenos psíquicos. Eu mesmo creio assim, e penso algumas idéias sobre essa outra forma de energia,
que os estudos feitos têm acumulado muitas ainda assim não contamos com qualquer definição
evidências em favor dessa posição. Apesar de que real a respeito. Isso posto, é patente que estamos
certos fenômenos chamados psíquicos acabarão sendo tratando com questões que requererão muito tempo
classificados, afinal, como resultantes de qualidades para serem definidas. Da mesma maneira que os
desconhecidas dos átomos, parece que, até agora, o teólogos afirmam que Deus é espírito, mas não sabem
dualismo (o complexo mente-corpo do homem) é a dizer grande coisa sobre a essência de Deus (embora
posição melhor apoiada. saibam dizer algo mais sobre as suas obras), ^ssim
Os dez pontos acima apresentados estão longe de também a parapsicologia usa o termo espírito sem ter
formar uma descrição completa sobre o assunto, mas ainda uma boa definição a seu respeito. O espírito
tão-somente sugerem quão amplo é esse leque. Um opera de modos diferentes do que é atômico; tem
assunto assim tão amplo, naturalmente coincide com propriedades diferentes daquilo que é atômico. Mas a
muitos pontos da religião, da filosofia, da psicologia, sua essência permanece indefinida.
da antropologia, e, de fato, tem vinculações com a 5. Até Pequenos Problemas são Vexatórios. As
maioria das ciências que tem qualquer coisa a ver evidências em favor da telepatia são convincentes.
com a natureza humana. Contudo, não há consenso geral acerca de como ela
IV. Natureza dos Fenômenos Psíquicos funciona. Alguns estudiosos pensam que uma energia
Eu seria muito brilhante se pudesse dizer aos real é transmitida de uma mente para outra, levando
leitores qual a natureza exata dos fenômenos mensagens. Outros pensam que é melhor explicar a
psíquicos. Ofereço aqui apenas algumas sugestões: questão supondo-se que uma pessoa impressiona a
1. Alguns Fenômenos Psíquicos Podem ser outra mediante algum meio não-físico, talvez de
Atômicos (Físicos). Nesse caso, eles não requeririam mente para mente, mas sem envolver qualquer forma
qualquer tipo de essência espiritual ou psíquica. Para de energia. Uma mente é uma entidade capaz de
exemplificar, a psicocinesia pode ser realizada por tomar conhecimento das coisas, talvez podendo saber
alguma energia atômica real, como também muitas do conteúdo de outras mentes, sem a transmissão de
curas físicas. A telepatia poderia ser a manipulação qualquer forma de energia. E a vontade talvez leve as
de alguma forma de energia atômica, mas, no mentes a saberem das coisas; a vontade poderia levar
presente, desconhecida. a mente de um homem a receber conhecimentos.
Deus conhece todas as coisas sem a transferência de
2. Energias ou Estados Espirituais. Há fortes qualquer forma de energia. O homem, criado à
evidências em prol da realidade da mente, como algo imagem de Deus, é um Ser que toma ciência das
distinto do cérebro. Apesar de algum conhecimento coisas, podendo saber, por habilidade inata, sem
prévio ser realizado pelos poderes de computação do qualquer manipulação de energias. Tendo dito isso,
cérebro, é muito difícil explicar alguns casos dessa dissemos uma teoria básica, embora nada tenhamos
maneira. Apesar do retroconhecimento poder ser dito sobre como tudo isso opera. Apesar de algumas
cerebral em alguns casos, é difícil ver como o cérebro curas parecerem envolver certa transferência real de
pode retroceder tanto no tempo. A memória parece energia, outras parecem ir além disso; e ainda outras
envolver mais do que o cérebro. Pessoas que têm parecem envolver atos de criação, que podem estar
entrado nos estágios iniciais da morte, cujas ondas dentro ou não do escopo dos poderes humanos. De
cerebrais acusam «zero», ainda assim têm a memória certa feita, Jesus disse que ele sabia que uma «virtude»
intacta. Existe tal coisa como memória extracerebral. saíra dele, ao realizar certa cura (ver Mar. 5:20). Sem
Karl Popper e um outro pesquisador escreveram um
livro que versa sobre «a mente e seu cérebro», um dúvida, isso implica em alguma transferência de
assunto extremamente sugestivo, que parece apontar energia; mas algumas curas podem envolver mais do
para essa grande verdade. As experiências perto da que isso, conforme já observamos. Quando mortos
morte servem de poderosa evidência em favor de um são ressuscitados, isso quase necessariamente envolve
autêntico rompimento entre a mente e o corpo físico, um ato criativo, e não meramente a aplicação de
por ocasião da morte, bem como em favor da alguma energia.
realidade da mente (espírito, alma), em contraste com V. Experiências Ilustrativas: Todos São Psíquicos
o cérebro e o corpo físicos. A literatura sobre fenômenos psíquicos, na língua
3. A Teoria do Duplo Aspecto. É bem possível que portuguesa, atualmente é suficientemente rica; e o
as energias físicas e psíquicas sejam, afinal de contas, leitor que tenha curiosidade, poderá examinar tal
aspectos de uma mesma forma de energia, dando a literatura. Ali ele verá quanta evidência real está
entender que o homem é um monismo, embora com envolvida. Os vários artigos aos quais me tenho
uma manifestação dualista. Nesse caso, as teorias referido também apresentam ao leitor boa abundân
espirituais seriam preliminares e parciais, e teríamos cia de provas ilustrativas. Os céticos, contudo, jamais
de esperar por alguma grande descoberta que deixar-se-ão convencer, sem importar a quantidade e
75
PARAPSICOLOGIA
a qualidade das evidências comprobatórias. isso é outras pessoas?
assim porque essas realidades solapam seu sistema Proximidade Emocional e Mental. A intimidade de
básico de crenças. E, desejando consolo mental, eles convivência com alguém, havendo ou não o envolvi
resguardam suas crenças preferidas. Por outra parte, mento de parentesco, aumenta a intercomunicação
alguns cristãos fundamentalistas temem investigar e mental. Tenho desfrutado de uma proximidade
tomar conhecimento desses fatos, tachando os fenô especial com meu filho caçula. Quando elé ainda era
menos psíquicos de diabólicos. Nunca alguém obteve criança, ele e eu experimentávamos várias óbvias
conhecimentos através dessa abordagem a la avestruz. transferências de pensamento. Isso sempre me deixou
Grande parte das evidências frisa o quão naturais são admirado, embora desnecessariamente. Conheci duas
os fenômenos psíquicos. Não precisamos apelar para outras pessoas que obviamente eram capazes de ler os
Deus ou para o diabo, a fim de explicá-los nesses meus pensamentos, ao ponto de eu não ter dúvidas de
casos. Fazem parte daquilo que o ser humano é. que assim, realmente, sucedia. Tenho compartilhado
Afinal de contas, o homem é uma psique, sendo de vários sonhos com minha esposa; e, em um caso
apenas natural que ele tenha experiências psíquicas. notável, com uma funcionária minha, tive um sonho
Um espírito humano não poderia manipular seu compartilhado, que envolvia pessoa íntima da minha
corpo físico a não ser através de algum poder família! E tenho tomado conhecimento de muitos
conectador, como aquele postulado na psicocinesia. sonhos de pré-conhedmento da parte de outras
Os estudos acerca dos sonhos mostram, além de pessoas.
qualquer dúvida, os poderes psíquicos do ser Usualmente, esses fenômenos existem dentro de
humano. Temos entre vinte e trinta sonhos a cada «nosso círculo de relações», geralmente envolvendo-
noite. Em laboratórios especializados, tantos quantos nos diretamente. Outras pessoas vêem coisas por nós;
oito desses sonhos, a cada noite, têm sido detectados. compartilham de nossas provações. Há uma união das
Quando uma pessoa sonha, seus olhos oscilam de mentes. Quando olhamos para as vastidões oceânicas,
forma característica, e, durante essas oscilações, a vemos várias ilhas. Mas, se mergulharmos fundo no
pessoa pode acordar, fixando na memória esses mar, descobriremos que todas as ilhas estão interliga
sonhos. Mesmo usando-se esse método de despertar a das, no fundo do mar. Assim também, se cada
pessoa quando seus olhos estão oscilando, só se indivíduo pode ser considerado uma ilha, cada qual
consegue capturar cerca de uma terça parte dos está vinculado a todos os outros indivíduos mediante
sonhos que ela tem. Não obstante, mesmo aí nota-se uma mente subconsciente. Jung chegou ao extremo de
que o futuro da pessoa está sendo predito de modo postular uma memória racial, compartilhada no
simbólico, de mistura com casos de telepatia, grande depósito da mente universal. Assim também
incluindo casos de sonhos compartilhados. No se as pessoas consistem em entidades físicas distintas,
decorrer de um período de dois anos e meio, registrei há um vínculo mental e espiritual que confere a todos
cerca de sessenta de meus próprios sonhos, de os homens uma humanidade coletiva. E certos
natureza precognitiva. Apesar de alguns desses fenômenos psíquicos envolvem essa humanidade
sonhos poderem ter sido pura sorte, eles são numero coletiva. No quinto capítulo de sua epistola aos
sos demais para ser explicados dessa maneira. E, se Romanos, Paulo asseverou o vínculo humano
alguns desses sonhos são triviais, outros me deram universal: em Adão todos são pecadores; em Cristo
importantes informações. Mas isso é apenas comum, todos recebem retidão e são vivificados, atendidas as
e não extraordinário. O que é incomum é quando as condições do evangelho. Um homem não é apenas um
pessoas podem lembrar-se de um número significativo indivíduo isolado: ele é uma unidade dentro da
de seus sonhos. totalidade. Isso pode ser demonstrado de várias
A função psíquica é liberada nos sonhos, e todas as maneiras, uma das quais são certos fenômenos
pessoas que sonham demonstram possuir essa psíquicos. Naturalmente, poderes demoníacos podem
capacidade na tranqüilidade da noite. Mas, como é estar envolvidos em certos fenômenos psíquicos, o que
óbvio, a função dos sonhos é perfeitamente natural, discuto na seção VI, abaixo.
não sendo algo inspirado pelo poder dos demônios.
Não menos que os céticos, alguns cristãos temem que VI. Contraste com o Ocultismo
seus sistemas de crenças sejam abalados, e buscam, Não conhecem muito sobre o assunto aquelas
tanto quanto aqueles, consolo mental, e não a verdade pessoas que o equiparam com o ocultismo. A palavra
dos fatos. ocultismo (apesar de indicar algo oculto, podendo
assim aludir a qualquer questão onde suposto
Gêmeos Idênticos: conhecimento oculto seja oferecido somente a alguns
Um frutífero meio de investigação de certos poucos seletos) usualmente tem conotações negativas.
aspectos dos fenômenos psíquicos consiste no estudo Tal conhecimento e suas práticas seriam ocultos por
de gêmeos idênticos. Parece haver certa proximidade fazerem parte do jogo do diabo, que gosta de jogar
incomum, genética ou não, que favorece os fenôme com ás pessoas. Esse conhecimento oculto, pois, é
nos psíquicos em relação a esses gêmeos. Donald contrastado com o conhecimento de Deus, que foi
Keith estava caminhando por uma rua, em Rockville, trazido à luz, para conhecimento de todos. £ verdade
Maryland, quando, subitamente, teve dores agudas e que um espírito demoníaco pode transmitir mensa
inexplicáveis em um dos escrotos. Mais tarde, naquele gens às mentes humanas através da telepatia.
mesmo dia, ao entrar em contacto com seu irmão Também é verdade que tal espírito pode levar alguém
gêmeo, ficou sabendo que este sofrera uma grave a predizer o futuro. Um espírito não-humano(bom ou
injúria naquela parte do corpo. Nada existe de isolado mau) naturalmente tem fenômenos psíquicos e pode
ou raro em tais acontecimentos. Um artigo sobre provocá-los. Porém, essa é apenas uma das considera
irmãos gêmeos, na edição de abril de 1988, da revista ções sobre a questão, e uma das menores dentre elas.
internacional Readers Digest, afirma: «Os psicólogos Alguns antropólogos e psicólogos chamam todas as
têm ouvido sobre dúzias de relatos nos últimos anos, religiões de superstições e manifestações da mente
envolvendo irmãos gêmeos. A percepção extra-senso- primitiva. Outros supõem que elas sejam mágicas, ou
rial com freqüência gira em tomo de acontecimentos poderosamente influenciadas pelas artes mágicas.
importantes: injúrias, nascimentos e mortes». Deve Pessoas religiosas, entretanto, objetam a essa
ríamos supor que os gêmeos idênticos têm uma taxa simplificação e «agrupamento», que nos afastam da
de incidência maior de possessão demoníaca do que as verdade, em vez de aproximarem-nos dela. Por
76
PARAPSICOLOGIA
semelhante modo, chamar os fenômenos psíquicos de usar aquilo que temos para servirmos a Deus e ao
ocultismo é uma simplificação que nos desvia da próximo. Um aspecto disso, sem dúvida, consiste
verdade, em vez de aproximar-nos dela. Isso seria o naquilo que um homem é, em sua natureza psíquica.
mesmo que dizer que todos os homens, até os mais Deus pode usar minhas capacidades naturais de
devotos, participam das artes ocultas; e isso porque os sonho para que eu sirva a mim mesmo e a outros. Ele
homens são espíritos que participam dos fenômenos pode usar minhas capacidades naturais de cura para
psíquicos e os produzem com naturalidade. ajudar outras pessoas. Posso passar por experiências
Quando usamos a palavra mente, em contraste com telepáticas (que alguns chamam de intuitivas) a fim
«cérebro», já estamos falando acerca da capacidade de de servir a outras pessoas. Algumas pessoas têm feito
qualquer ser humano participar dos fenômenos curas durante a experiência da projeção da psique. As
psíquicos e produzi-los. Psique é mente; psique é experiências perto da morte têm sido utilizadas para
espírito; um espírito age; um espirito é psíquico. iluminar mentes humanas. Nada há de errado ou
VII. Contraste com a Espiritualidade maligno com essas experiências. Elas podem servir ao
bem ou ao mal, tudo dependendo de como são
Os fenômenos mentais não são, necessariamente, usadas, e não dependendo do que elas são em si
fenômenos espirituais. Todos os homens são psíqui mesmas.
cos, mas nem todos os homens são espirituais. O
homem espiritual pode manipular os fenômenos VIII. Sua Importância para a Filosofia e a Teologia
psíquicos de rraneira positiva, benéfica. Mas o 1. Se existem modos extra-sensoriais de tomarmos
homem natural só pode manipulá-los de maneiras conhecimento das coisas, então o estudo dos
negativas. Os fenômenos psíquicos são neutros, moral fenômenos psíquicos está diretamente relacionado à
e espiritualmente falando. Aqueles que deles se teoria do conhecimento, também chamada epistemo-
utilizam é que os tornam positivos ou negativos. logia. Precisamos ter uma visão holistica do homem,
Algumas pessoas especialmente espirituais têm-se ou seja, em seu conjunto total. O homem não está
notabilizado pela produção de fenômenos psíquicos, limitado à percepção dos sentidos quando se trata
mormente a precognição, a projeção da psique, a dele conhecer as coisas. Antes, o homem é um espírito
telepatia, etc. Porém, isso envolve um uso espiritual intuitivo, e não meramente uma máquina sofisticada.
dessas funções. Essas funções, em si mesmas, não são As fés religiosas sempre ensinaram que o homem está
espirituais e nem antiespirituais. Um homem não se sujeito à revelação divina, e quase todas as religiões
torna mais espiritual meramente por ter tido um enfatizam os poderes racionais e intuitivos do ser
sonho de conhecimento prévio. Um homem pode humano. Os fenômenos psíquicos enfatizam a
curar a outrem, sem que tenha qualquer espirituali versatilidade da natureza humana, combatendo a
dade especial. Um homem pode até mesmo expulsar visão mecânica do homem, promovida por alguns
um espírito demoníaco, pela força de sua vontade, ramos da ciência.
sem que isso faça dele um homem espiritual. Por
outro lado, essas habilidades, embora naturais, 2. Ontologia. Um homem é mais do que o seu corpo
podem ser usadas visando ao bem, por um homem físico. Isso foi ensinado por Platão, Descartes e outros
espiritual. Usamos outras capacidades naturais para pensadores dualistas. Esse é o dogma religioso
o bem, como nossos talentos e aptidões intelectuais. comum sobre a questão da natureza humana. Os
fenômenos psíquicos provêm evidências em prol do
As habilidades psíquicas também podem ser usadas dualismo e em prol da distinção entre a mente e o
positivamente, mas a sua simples existência nem é cérebro, como também em prol da diferenciação entre
contra e nem a favor da espiritualidade de uma a alma e o corpo.
pessoa. Homens maus podem usar capacidades
psíquicas de modos negativos; mas, em si mesmos, 3. Provas Científicas da Alma. A parapsicologia
esses homens são negativos. Estou convencido de que está provendo um modo de demonstrar a porção
muito daquilo que acontece no movimento carismáti imaterial do homem, do ponto de vista científico. E
co é psíquico, e não espiritual. Saber o que outra isso apresenta um vasto potencial para o bem. Se a
pessoa está pensando não é prova de que um homem é ciência puder demonstrar que o homem é um espírito
impulsionado pelo Espírito de Deus. Ser capaz de ou alma, e que o seu corpo é apenas um veículo, isso
falar em línguas pode ser uma função psíquica, e não revolucionará toda a maneira de pensar e a conduta
espiritual. As profecias podem nada ser senão a dos homens. Isso provará que a fé religiosa estava com
criatividade de uma mente que foi psiquicamente a razão o tempo todo. Isso não significa, porém, que
expandida. Por outra parte, há manifestações todos os dogmas religiosos devam ser automaticamen
genuínas de dons espirituais, que alguns poucos te apoiados, mas significa que, em certo ponto crítico,
crentes sérios empregam. a ciência e a fé religiosa concordarão plenamente. O
Dr. Michael B. Sabom.em seu livro Recollections o f
Devemos ter o cuidado de não degradar a Death—a Medicai Investigation, estudou cientifica
personalidade humana. O Espírito de Deus pode usar mente, e em profundidade, a questão do retomo de
tudo quanto um ser humano possui naturalmente. muitos pacientes da morte clinica ou da quase-morte.
Não foi por acidente que o Espírito Santo escolheu Ele é um cardiologista que já viu a morte em
Lucas e Paulo para produzirem a maior parte do Novo muitíssimas ocasiões, e que começou seus estudos
Testamento. Eles eram dotados de alta capacidade com o intuito de refutar esse acontecimento, e não
intelectual, e o Espírito do Senhor pô-los a trabalhar para confirmá-lo. Para sua surpresa, suas pesquisas
na produção de uma literatura imortal. Por igual terminaram confirmando a realidade da experiencia.
modo, o Espírito de Deus pode usar os poderes Ele acredita que a morte é a separação entre a mente e
naturais psíquicos dos homens tendo em vista o bem. o corpo. E isso significa que o dualismo foi favorecido
O Espirito Santo usa os homens, com tudo quanto por suas descobertas.
eles têm, para as suas finalidades. Os espíritos Albert Einstein, mui significativamente, declarou:
malignos também usam homens, com tudo quanto «Todos quantos estão seriamente envolvidos nas
possuem, para os seus propósitos. Deus tem dotado pesquisas cientificas ficam convencidos de que
homens com certas habilidades básicas, e ele usa aos manifesta-se um Espírito nas leis do universo—um
homens e às suas habilidades naturais. Ele também Espírito vastamente superior ao espírito humano,
pode usar um homem para que ele ultrapasse a si diante do qual nós, com nossos modestos poderes,
mesmo; mas a vida diária consiste essencialmente em precisamos sentir-nos humildes» (The Human Side, A.
77
PARAPSICOLOGIA
Einstein, Princeton University Press, pág. 33). contra a areia da praia.
Quanto a essa citação, Sabom observa (à pág. 186): O experimentador fecha a porta atrás de si e sai do
«...é precisamente esse Espírito que tem sido quarto. A paciente está agora sozinha. Sua única
reconhecido por muitas e muitas vezes pela maioria companhia são os seus próprios pensamentos.
daqueles que têm passado por uma experiência perto Não temos aí nem uma experiência com a privação
da morte... E é precisamente esse Espírito que parece dos sentidos e nem a tortura do confinamento
continuar vivendo nas vidas daqueles que têm sido solitário. Em vez disso, estamo-nos deparando com
tocados por alguma verdade inefável, encontrada face um teste recém-desenvolvido, que procura investigar a
a face, nos momentos mais próximos da morte». percepção extra-sensorial, com o emprego do
IX. PSI: Ás Funções Psiquicas e a Privação chamado efeito Ganzfeld. («Ganzfeld» é um vocábulo
e a Privação dos Sentidos alemão que significa «campo total»). Os principais
sentidos dos pacientes são totalmente controlados
Esta seção é um artigo que ilustra a praticabilidade, durante a experiência. Nesse vácuo de sensações, a
a normalidade e a importância dos fenômenos psí mente solitária parece estar morrendo de fome por
quicos. estímulos e—ao que tudo indica—busca mensagens
PSI: As Funções Psiquicas com grande anelo.
e a Privação dos Sentidos Visto que os pacientes nada vêem senão o
— O Efeito Ganzfeld — resplendor avermelhado e nada ouvem senão o «ruído
Por Martin Ebon branco», a mente deles começa a criar imagens do tipo
devaneio acordado. Em casos raros, esses devaneios
Reimpresso pela gentil permissão de Fate
Magazine (outubro de 1987). tornam-se alucinações francas. Mas, conforme des
cobriu, em 1973, Charles Honorton, então diretor de
Apagando das mentes dos pacientes tudo menos a pesquisas do i Maimônides Medicai Center, em sua
percepção extra-sensorial, novas experiências têm divisão de parapsicologia e psicofísica, essas imagens
produzido dramáticas evidências em favor das talvez também contenham impressões extra-senso-
capacidades psíquicas das pessoas. riais. Desde há muito que Honorton estava interessa
Nas décadas de 1960 e 1970, psicólogos e do em estados mentais que podem ajudar às pessoas a
parapsicólogos interessaram-se pelos chamados esta obterem impressões extra-sensoriais, e suas pesquisas
dos alterados de consciência. A começar pelo início da passadas haviam incluído a hipnose, os sonhos e a
década de 1960, os pesquisadores do Maimônides privação dos sentidos. E visto que ele deu notícia do
Medical Center, em Brooklin, Nova Iorque, passaram seu sucesso, mediante o uso dó efeito Ganzfleld,èssa
a investigar sonhos como possíveis transmissores de técnica tornou-se uma das mais populares formas de
informações da percepção extra-sensorial. O projeto testar as percepções extra-sensoriais no campo da
rendeu dividendos, e logo os pesquisadores estavam parapsicologia. Eis abaixo, exatamente, como a coisa
buscando métodos relacionados para tirar proveito funciona.
das funções psíquicas. E isso conduziu-os à estranha Antes de começarem os testes, estando o paciente
dimensão da privação dos sentidos. no ambiente acima descrito, são lidas as seguintes
O estimulo Ganzfeld é uma forma simples de instruções:
isolamento dos sentidos, em que o paciente é Nesta experiência queremos que você pense em voz
desligado das fontes normais de estímulos visuais e alta. Fale sobre todas as imagens, pensamentos e
auditivos. Daí resultam quadros mentais espontâ sentimentos que passarem pela sua mente. Não se
neos, parecidos com as imagens mentais que apegue a qualquer deles. Simplesmente observe-os
antecedem o sono. Por coincidência, três parapsicólo enquanto se sucedem. Em algum ponto, durante esta
gos, em diferentes laboratórios, deram início ao sessão, lhe enviaremos uma mensagem. Não tente
trabalho Ganzfeld, mais ou menos na mesma época. antecipar ou imaginar qual será essa mensagem.
Eles esperavam encontrar provas de que as imagens Tão-somente sugira a si próprio—agora mesmo—que
produzidas desse modo transmitiriam informações a mensagem aparecerá em sua consciência no
extra-sensoriais. Charles Honorton estava usando esse momento certo. (Pausa).
procedimento, no Maimônides, e publicou seu Mantenha seus olhos abertos tanto quanto possível,
trabalho primeiro, enquanto William e Lendell Braud durante toda a sessão, e permita que a sua consciência
estavam explorando simultaneamente suas possibili flua em meio ao ruído branco que você estará ouvindo
dades, no estado do Texas. A pesquisa com o efeito através dos fones de ouvido.
Ganzfeld também estava sendo feito pela Universida Depois que eu puser os fones de ouvido sobre suas
de de Edimburgo, na Escócia. orelhas, sairei para a sala ao lado, de onde o
Atualmente, o efeito Ganzfeld é um dos procedi monitorarei. Você deve esperar alguns minutos para
mentos mais populares dos parapsicólogos. Neste ficar bem à vontade. Afrouxe toda a tensão muscular
relatório de nossa contínua série, «Parapsychology de seu corpo e relaxe completamente. Assim que você
Today», Martin Ebon põe nossos leitores em contato começar a observar o seu processo mental, comece a
com as pesquisas mais recentes que os estudiosos têm «pensar em voz alta». Continue a compartilhar
conseguido realizar. conosco as suas imagens, pensamentos e sentimentos,
O ambiente da experiência é uma sala totalmente durante toda a sessão.
às escuras. A paciente está sentada em uma cadeira Nos primeiros testes, os pacientes eram mantidos
confortável de encosto, dentro de um recinto fechado no isolamento do ambiente à prova de som durante
à prova de som. Bolas de pingue-pongue, cortadas trinta e cinco minutos. Em certa altura da
pela metade, cobrem os seus olhos. Embora a experiência, ou um assistente laboratorista ou um
paciente esteja diante de uma lâmpada que emite amigo do paciente começava a olhar gravuras, em
fortes raios de luz vermelha, ela vê apenas um campo uma seleção feita ao acaso, postas em um carretel.
difuso avermelhado, para onde quer que dirija os Esses carretéis são um implemento favorito educacio
olhos. Através dos fones colocados sobre seus ouvidos, nal. Uma série circular de sete slides com o mesmo
a jovem mulher nada mais ouve senão um chiado tema são vistos em sucessão, mediante um visor posto
suave, um «ruído branco», muito parecido com o som contra a luz. (Esses carretéis variam desde cartões de
das ondas do mar a se chocarem monotonamenté desenhos Disney até cidades, animais e lições de
78
PARAPSICOLOGIA
•ciência). Enquanto isso, os pacientes falam o tempo rápido, e parece que há estrelas no fundo».
todo, dizendo o que eles imaginam, com um Honorton e Harper também observaram uma
experimentador, em ligação com eles mediante um estranha relação entre as memórias de seus pacientes
sistema de comunicação interna. Honorton e sua e suas subseqüentes impressões de percepção extra-
assistente, Sharon Harper, não tardaram muito a sensorial. Com freqüencia, parecia que algum
descobrir que os pacientes encontram pouca dificul paciente não estava realmente captando os quadros
dade em descobrir as imagens que lhes ocorrem, que que lhe estavam sendo enviados pela percepção
combinavam com os quadros que lhes estavam sendo extra-sensorial, e, sim, que a percepção extra-senso
enviados telepaticamente de algumas poucas salas de rial estava vinculada a memória de cenas relativas aos
distância, no mesmo edifício. quadros enviados. Se o leitor reler os exemplos citados
Por exemplo, Jacklynne, uma de suas primeiras acima, poderá perceber que um dos pacientes falou
pacientes, e que nunca se considerou dotada de em ter encontrado um falcão doente, pouco antes do
qualquer habilidade psíquica, experimentou um jorro teste em que o assunto efa Aves do Mundo. E quando
de imagens, enquanto se submetia ao método o assunto passado a um outro paciente foi O índio
Ganzfeld: «um avião voando no meio de nuvens... Americano, esse paciente teve imagens baseadas na
aviões passando acima das cabeças das pessoas... recente leitura que fizera do livro de Carlos
agora trovões, com nuvens de chuva... aviões... Castaneda, Journey to Ixtlan, que narra as alegadas
ultra-som... um incêndio, chamas vermelhas. Uma experiências do autor entre índios mexicanos.
estrela de cinco pontas... um avião em picada...» O sucesso obtido por Honorton provocou uma
Um pouco adiante, durante a mesma experiência, pequena epidemia entre os experimentadores. Quan
ela disse: «Uma ave gigantesca a voar... seis faixas em do ele deu a público, pela primeira vez, o seu trabalho
um uniforme do exército, em forma de V. Um rosto com o efeito Ganzfeld, outros pesquisadores quiseram
que aparece dentre as faixas. Agora um V... uma examinar no que a coisa consistia, igualmente.
serra montanhosa, coberta de neve. Um vôo passando Um dos primeiros acompanhamentos do assunto
por montes... A sensação de avançar muito rapida foi feito por — Rex Stanford —, um pro
mente... uma metralhadora. Uma escada». fessor de psicologia da Universidade de São João,
Durante essa experiência, um agente estava em Jamaica, Nova Iorque. Durante suas primeiras
enviando um carretel intitulado Academia da Força experiências, os pacientes não tentaram captar
Aérea Norte-Americana, de uma sala isolada próxi telepaticamente o que um agente estava procurando
ma. transmitir-lhes. Em vez disso, eles empregaram a
clarividência para ver quadros ocultos em envelopes
Algumas vezes, os acertos ainda são mais próximos. fechados. Após o término do teste, os pacientes
Quando um agente estava examinando um carretei tiveram de selecionar o quadro escolhido dentre um
chamado Aves do Mundo, — um outro paciente grupo de quatro. Alguns pacientes descreveram
declarou: «A imagem de uma árvore estranha, talvez vagamente esse quadro; mas outros deram boas
uma figueira-de-bengala... Sinto uma grande cabeça
de falcão defronte de mim, de perfil. Uma percepção descrições do quadro errado—ou seja, descreveram
com exatidão um dos quadros que lhes fora mostrado
de penas lisas. Agora a ave vira a cabeça e sai voando. terminado o teste, embora apenas um dos quadros
Talvez porque achamos, neste fim de semana, um alternativos.
falcão doente...»
A fim de determinar quão bem-sucedidas são essas Porventura o efeito Ganzfeld teria estimulado o
experiências, afinal de contas, cada paciente tinha de conhecimento anterior, deixando de lado o verdadeiro
examinar quatro carretéis de quadros, terminado o quadro escolhido, e permitindo que o paciente
teste, para escolher aquele que pensava ter-lhe sido percebesse o quadro que lhe seria enviado telepatica
enviado telepaticamente, e que se ajustasse mais de mente somente mais tarde? Apesar dos resultados
perto às imagens que recebera. Dentre as primeiras não-conclusivos, Stanford descobriu que os pacientes
trinta pessoas que se submeteram aos testes que subestimaram o período de tempo que passaram
Ganzfeld—e, lembremo-nos que tais pessoas não encerrados (que era de vinte minutos) se saíram
afirmavam possuir qualquer poder de percepção melhor do que aqueles que subestimaram o tempo do
extra-sensorial, e que elas só estavam se submetendo teste. Para Stanford . isso sugeriu que os pacientes que
ao teste por pura diversão, 43,3 por cento escolheram passaram por um estado de consciência profunda
o carretel certo. A pura chance teria resultado em mente alterado perderam a consciência quanto à
uma cifra como vinte e cinco por cento. passagem do tempo, exibindo maiores poderes de
À parte desses convincentes resultados globais, percepção extra-sensorial do que os pacientes menos
Honorton e Harper também encontraram algumas afetados pela experiência.
poucas inexplicáveis peculiaridades durante as suas Outros parapsicólogos têm feito experiências com o
pesquisas. Antes de tudo, os pacientes, com efeito Ganzfeld que se parecem mais com o trabalho
freqüência, descreviam o tema dos carretéis antes do originalmente feito no Hospital Maimônides. Para
agente realmente começar a olhar para os mesmos! exemplificar, no estado de Texas, nos fins da década
Isso se devia à clarividência ou ao conhecimento de 1970, os Drs. William e Lendell Braud efetuaram
prévio? Para exemplificar, um dos pacientes começou uma pesquisa que foi tão excitante quanto inédita.
a falar sobre suas imagens mentais muito antes do Eles procuraram isolar os estados mentais e corporais
agente começar a «enviar» as figuras do carretel, que facilitam as percepções extra-sensoriais. A
Projeto Apoio. princípio estudaram como o relaxamento ajuda a
Embora ninguém, nem mesmo o agente, soubesse pessoa a concentrar-se sobre a percepção extra-senso
que dentro de instantes estaria examinando quadros rial. Em seguida, fizeram experiências acerca da
sobre espaçonaves atravessando o espaço, o paciente predominância de hemisférios cerebrais. Mediante o
começou a dizer, pelo sistema de comunicação estímulo do hemisfério direito do cérebro, suposta
interna: «É quase como se eu estivesse voando, voando mente sede dos impulsos estéticos e criativos, eles
cada vez mais alto no espaço... o céu mudou para a foram capazes de ajudar seus pacientes a receberem
cor azul escuro, com estrelas. Agora, há alguma coisa ou detectarem mensagens através da percepção
que não é próprio dali, girando, em forma de extra-sensorial. Porém, os dois Brauds obtiveram seu
crescente, arredondado. Está indo cada vez mais maior êxito quando passaram a usar o efeito
79
PARAPSICOLOGIA
Ganzfeld. tematicamente relacionadas ou memórias dos slides
No seu primeiro teste, os pesquisadores fizeram reais. Mas o sucesso de Cláudia fez um notável
defrontar-se dez pacientes submetidos ao efeito contraste com aqueles. Ela vira representações quase
Ganzfeld e dez pacientes que meramente se sentavam fotográficas dos quadros transmitidos mediante a
tranqüilos, para então descreverem verbalmente os percepção extra-sensorial!
quadros recebidos, sem a ajuda do meio ambiente Rogo, portanto, passou a efetuar uma série de
criado pelo efeito Ganzfeld. Todos os pacientes projetos com Cláudia, empregando a aparelhagem do
submetidos ao efeito Ganzfeld foram bem-sucedidos efeito Ganzfeld. Porém, não demorou a surgir um
no teste, ao passo que somente metade dos outros pequeno problema. A percepção extra-sensorial de
pacientes obtiveram exito. Os Brauds escreveram, no Cláudia era tão ativa que quando ela se assentava
Journal o f the American Society for Psychical para submeter-se ao efeito Ganzfeld, a pesquisa tinha
Research (abril de 1975) que a taxa de sucesso com o de ter por objetivo limitar seus poderes extra-senso-
efeito Ganzfeld é «o mais alto obtido em nosso riais, em vez de tentar induzi-los. Rogo empregou
trabalho, até agora». alguns testes de clarividência nos quais ela tentou
Não demorou multo para que outras pesquisas com descrever quadros dentro de envolopes selados. E a
o efeito Ganzfeld tivessem lugar em Los Angeles. cada vez em que Cláudia era submetida ao efeito
Encorajado pelo sucesso obtido por Honorton, D. Ganzfeld, sua clarividência mostrava uma potência
Scott Rogo que era então diretor de pesquisas da tão ativa que, com freqüência, ela descrevia mais de
Sociedade da Califórnia do Sul para Pesquisas um quadro que Rogo estivesse usando.
Psíquicas, procurou reduplicar o trabalho feito no Para exemplificar, em uma das experiências, Rogo
Hospital Maimônides, em um laboratório que lhe foi empregou quatro envelopes selados. Ele escolheu um
emprestado pelo Instituto de Neuropsiquiatria da dos quadros como aquele que queria transmitir, e
UCLA. Mas Rogo acabou desviando-se da trilha deixou os outros três como quadros alternativos, para
selecionada por causa de uma paciente que foi tão serem usados em experiências subseqüentes. Porém,
bem-sucedida que ela se tornou uma superpsíquica não somente Cláudia descreveu o quadro, como
assim que foi submetida ao efeito Ganzfeld. E então também descreveu, com toda a exatidão, os três
quase todas as suas pesquisas concentraram-se em outros quadros, dentro dos envelopes fechados, em
torno dessa paciente. um único teste.
Cláudia Adams é uma jovem ambiciosa de cabelos Assim sendo, Rogo foi abençoado com uma
negros, uma atriz de Beverly Hills, que tem aparecido paciente que simplesmente era dotada de tremenda
em comerciais populares na televisão. Ela trabalhava percepção extra-sensorial. As pesquisas prossegui
como secretária de meio-expediente na Sociedade de ram. Conforme ele mesmo relatou, na convenção de
Pesquisas Psíquicas do Sul da Califórnia quando 1975 da Associação de Parapsicologia, a percepção
conheceu Rogo. A princípio ela hesitou em submeter- extra-sensorial de Cláudia talvez fosse superativa
se ao efeito Ganzfeld. O que aconteceu, quando ela porque nada havia de suficientemente forte para que
finalmente aceitou, foi descrito por Rogo como nisso enfocasse a sua atenção. Nesses testes, Rogo
«admirável». atuou como agente telepático. Assim que Cláudia
Depois que a jovem estava submetida ao efeito começou a falar em imagens, após ser submetida ao
Ganzfeld por alguns minutos, a assistente de Rogo, efeito Ganzfeld, ele começou a enviar telepaticamente
Cristina Shepherd, do lado de fora do recinto isolado um quadro selecionado, dessa maneira criando um
de chumbo, e que estava fazendo o papel de agente, «motivo emocional» para que a sua paciente enfocasse
escolheu ao acaso um dos quarenta carretéis com no mesmo a sua atenção. E ele também mantinha as
quadros e começou a examiná-lo. O carretel era sessões o mais breve possível, a fim de que os poderes
intitulado The American Indian, «O Índio Norte- extra-sensoriais de Cláudia não «divagassem». Essas
Americano». Sua primeira cena mostra uma mulher sessões raramente duravam mais de dez minutos, em
índia, deitada em uma rede, segurando um infante vez dos usuais períodos de vinte a trinta e cinco
despido à sua frente. Naquele exato instante a voz de minutos, que outros parapsicólogos têm usado. As
experiências continuaram obtendo bom êxito.
Cláudia falou pelo sistema de comunicação interna:
«Nativos, pessoas nativas. Vejo um bocado de pessoas Em breve, surgiram mais algumas novas adapta
despidas. E também como se fosse uma mãe ções da técnica de isolamento dos sentidos, na
segurando uma criança nos braços». tentativa de obter resultados ainda melhores. Um
A agente manuseou o quadro seguinte, uma grande avanço foi conseguido no Centro Médico
fotografia aérea de uma floresta com uma clareira no Maimônides, onde Honorton havia adaptado, a
meio. Imediatamente mudaram as imagens de princípio, o efeito Ganzfeld para testar os poderes
Cláudia, e ela disse: «Uma floresta, com muitas extra-sensoriais. Essa nova experiência foi trabalho de
árvores. E continuou. Todas as árvores parecem estar dois enérgicos voluntários do Hospital Maimônides,
em fila, pelo que não é como se eu estivesse olhando Michael Smith e Laurence Tremmel, que trabalha
para elas de cima para baixo, mas como se eu vam sob a supervisão de Honorton.
estivesse descendo sobre uma fileira de árvores». Em sen trabalho, eles partiam do pressuposto de
Cláudia descreveu uma terceira cena, no mesmo que a percepção extra-sensorial é um processo
instante em que esta estava sendo vista. Essa cena inconsciente. Em outras palavras, a percepção
mostrava uma canoa, tripulada por dois índios, que extra-sensorial é primeiramente «recebida» pela
descia por um rio abaixo. A vista era como se alguém mente inconsciente, um conhecimento que gradual
estivesse contemplando a cena da praia. A paciente mente vai filtrando para a mente consciente. E
disse:—um barco à vela. Não, não há vela. É um bote Honorton sentia que um teste acerca da percepção
simples. Está subindo e descendo nas ondas. Estou extra-sensorial poderia ser melhor sucedido se o
olhando da terra e um bote está passando! agente telepático «enviasse» mensagens inconscientes
Cláudia havia descrito vividamente três cenas em também. Isso pode parecer uma contradição de
sucessão, enquanto elas estavam sendo vistas por sua termos; mas não o é, conforme fica demonstrado
agente. A maioria das pessoas que se submetem ao pelos resultados abaixo descritos.
efeito Ganzfeld, a julgar pelo relatório de Honorton, Quanto a uma série de testes de percepção
parece abranger sua atenção para incluir imagens extra-sensorial especiais, Smith, Tremmel e Honorton
80
PARAPSICOLOGIA
contaram, cada um deles, com um agente, que pacote que lhes haviam sido enviados. Mas essa falha
contemplava um quadro através de um dispositivo não podia explicar como é que um paciente, isolado
taquitoscópico. Esse aparelho faz brilhar o quadro, em seu ambiente fechado, podia realmente descrever
para o agente, por não mais de um milésimo de os quadros, enquanto eles ainda estavam sendo
segundo. Assim, o agente não «vê» conscientemente o «enviados»—um fenômeno freqüentemente observado
quadro. Não há tempo hábil para isso; mas um pelos pesquisadores que usavam o efeito Ganzfeld.
grande número de experiências psicológicas tem Uma segunda reação favorável assumiu a forma de
provado que a pessoa pode ver e registrar tais quadros alguma pesquisa prática, efetuada por John Palmer,
de modo inconsciente. Por exemplo, elementos de um um parapsicólogo que atuava no estado da Califórnia,
quadro assim enfocado podem aparecer em sonhos na ligado à Universidade de Utrecht, na Holanda. O Dr.
noite seguinte, ou a pessoa poderá relembrar o Palmer nunca teve boa sorte com o modo de proceder
quadro, se meditar sobre o mesmo após a exposição. do efeito Ganzfeld, pelo que ele levou a efeito
Usualmente, entretanto, apenas fragmentos ou pesquisas para explorar a teoria dos «dedos gorduro
distorções do quadro é que vêm à tona. sos». E assim ele efetuou uma experiência com o efeito
Destarte, depois que os agentes telepáticos exami Ganzfeld no qual os pacotes entregues aos seus
naram seus quadros através do taquitoscópico, foram pacientes estavam deliberadamente manchados. Mas
postos em um aparelho Ganzfeld separado, para não descobriu qualquer evidência de que os seus
falarem sobre as imagens que recebessem. Ao mesmo pacientes tinham conseguido captar esse pequeno
tempo, um paciente com poderes extra-sensoriais foi indício. De fato, chegaram a fracassar mesmo quando
posto no aparelho Ganzfeld em outra sala, procuran se chamou a atenção deles para os pacotes
do imaginar o quadro visto apenas inconscientemente manchados.
pelo agente que, por sua vez, estava procurando Porém, o mais importante dos resultados foi que os
captar o quadro de seu inconsciente. E Smith. parapsicólogos vieram a modificar seu modo de
Tremmel e Honorton anunciaram ter obtido excelen proceder, passando a usar carretéis duplicados—um
tes resultados com esse modo de proceder. O paciente conjunto para os enviadores e outro conjunto de
captava e discernia o quadro projetado, mediante seus carretéis para os pacientes avaliarem. E os resultados
poderes extra-sensoriais, tão facilmente como se continuaram sendo tão coerentes e convincentes
estivesse sendo «enviado» por telefone mental. De quanto haviam sido antes.
fato, essas experiências com um «quadro enviado Cari Sargent insistiu em usar esse segundo modo de
subconscientemente» mostraram ser mais bem-suce proceder, quando levava a efeito sua longa e
didas do que no caso dos testes convencionais com o oem-sucedida série de experiências com o efeito
efeito Ganzfeld. Ganzfeld, na Universidade de Cambridge, começan
Por volta de 1977, o efeito Ganzfeld já se havia do pelo ano de 1978. Não somente ele fez uma réplica
tornado o mais debatido tópico no campo da do trabalho feito . no Hospital Maimônides, como
parapsicologia. Nada menos de oito diferentes séries também o ampliou um tanto. Entre 1978 e 1980, ele
de experiências, usando o procedimento, tinham sido efetuou diversas experiências, nas quais demonstrou
efetuadas no Hospital Maimônides, ao mesmo tempo que as pessoas extrovertidas mostram-se especialmen
em que dezoito diferentes séries de experiências te hábeis na demonstração de seus poderes extra-sen
haviam sido realizadas por outras instituições. soriais quando submetidas ao efeito Ganzfeld; que os
Dezessete dessas séries produziram resultados signifi pacientes podem tornar-se mais sensíveis a esse modo
cativos. de proceder conforme se vão familiarizando mais e
Instigados por esse desafio, finalmente os céticos mais com o mesmo; e que—por alguma razão
entraram em ação, igualmente. O principal critico desconhecida—alguns pesquisadores têm tido melhor
dessa pesquisa havia sido o psicólogo Ray Hayman, sorte com o efeito Ganzfeld do que outros
da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos da pesquisadores.
América. Ele havia citado uma falha no trabalho Infelizmente, está em debate a credibilidade do
original do Hospital Maimônides—uma falha que os trabalho efetuado pelo Dr. Sargent. Quando a
pesquisadores subseqüentes também estavam repetin parapsicóloga inglesa Susana Blackmore visitou o
do. Honorton e Harper tinham permitido que seus laboratório de Sargent, no começo da década de 1980,
pacientes e seus agentes usassem os mesmos quadros ela suspeitou de algo, quando descobriu uma falha
em slides. Quando o agente terminava de «enviar», crucial na maneira como Sargent selecionava os seus
durante uma sessão típica, ele punha o carretel de quadros. E, quanto mais acompanhava as pesquisas
volta na caixa, juntamente com os três outros dele, mais cheia de suspeita ia ficando. E Sargent
carretéis. Então o pacote inteiro era entregue aos reagiu às criticas feitas por ela abandonando
experimentadores, que os davam aos pacientes, para subitamente as pesquisas, e recusando-se a cooperar
que fizessem comparações com as imagens que com outros parapsicólogos, que desejavam acompa
tinham antes recebido. nhar as alegações da Dra. Blackmore. Não foi
O Dr. Hyman, pois, argumentava que os agentes descoberta qualquer evidência convincente de fraude,
poderiam ter marcado os quadros, ou poderiam tê-los em Cambridge; mas o abandono das pesquisas, por
manchado com os dedos, por inadvertência. E esses Sargent, da maneira precipitada como o fez, fez
pequenos indícios poderiam ter alertado os pacientes muitos parapsicólogos estranharem de sua atitude.
quanto aos carretéis certos. E os céticos davam Não obstante, continuam sendo efetuadas firme
excessiva importância a essa pequena falha na mente pesquisas que usam o efeito Ganzfeld, ao
pesquisa, porquanto a maioria dos pesquisadores que derredor do mundo:
usava o efeito Ganzfeld, triste é dizê-lo, estavam *Rex Stanford e seus colegas, na Universidade de
usando carretéis simples. São João, estão fazendo experiências para verificar se
Porém, os parapsicólogos não demoraram a reagir diferentes tipos de «ruído branco» podem aumentar o
favoravelmente ante o desafio. Observaram correta efeito Ganzfeld.
mente que a teoria dos «dedos gordurosos» poderia *Nos Laboratórios de Pesquisas Psicofísicas de
explicar somente o sucesso estatístico de suas Princeton, Nova Jersei (sucessores do antigo laborató
experiências—ou seja, os resultados alicerçados sobre rio do Hospital Maimônides), Charles Honorton está
a escolha de um dentre quatro quadros em cada computarizando os resultados obtidos com o efeito
81
PARAPSICOLOGIA
Ganzfeld. Esses modos de proceder inovativos desde logo um sucesso de livraria. A principal
buscam evitar qualquer possibilidade de fraude, por descoberta dela foi que as pessoas exibem quatro
parte dos experimentadores. estágios ou reações, antes de, finalmente, aceitarem a
•Pesquisas quanto aos caminhos secundários do morte física. Usualmente, as pessoas primeiramente
efeito Ganzfeld também estão sendo efetuadas na negam o fato da morte, em seguida exibem ira diante
Universidade de Edimburgo, onde Julie Milton está da sorte delas, então procuram barganhar com Deus,
explorando vários fatores que talvez intensifiquem a solicitando mais tempo, e, finalmente, entram em
eficácia desse modo de proceder. um profundo estado de depressão. Mas, depois de
*0 City College da City University of New York, sobreviverem ante essa noite escura da alma,
ainda recentemente, conferiu um diploma de doutora emergem preparadas para a viagem final da vida.
do a Nancy Sondow, que vinha estudando a questão Continua sendo debatido entre os psicólogos se
de que tipos de quadros mostram ser especialmente esses estágios da morte são reações previsíveis e
bons para serem usados como quadros no efeito seqüências de enfermidades terminais, ou se ao menos
Ganzfeld. existem tais estágios. Porém, ao apresentar suas
Por que motivo, pois, o efeito Ganzfeld funciona experiências diante do grande público, a Dra.
tão bem? Essa indagação tem ocupado muito da Kubler-Ross ofereceu à sociedade uma nova aprecia
atenção de Honorton, e ele tem apresentado várias ção acerca das complexidades da morte. Por assim
respostas possíveis. Antes de tudo, ele acredita que dizer, ela tirou o assunto de dentro do arquivo,
esse efeito submete o paciente a uma situação em que fazendo do mesmo um assunto a ser discutido.
a sua mente anela por receber qualquer tipo de Essa médica pioneira, após seus tão produtivos
estímulo possível. Visto que a mente fica fora do estudos, publicou uma seqüência intitulada Questions
alcance de qualquer sensação normal, talvez volte-se and Answers on Death and Dying, em 1974. Sete anos
para as impressões captadas pela percepção extra- depois, ela publicou sua obra Living With Death and
sensorial, como se fossem um substituto. Dying. Esse livro apresenta uma modificação
Também é fato bem conhecido que as pessoas que substancial no pensamento e nas pesquisas da Dra.
recebem impressões extra-sensoriais, com freqüência, Kubler-Ross. Essa psiquiatra suíça antes disso
asseveram que essas impressões ocorrem sob formas estivera primariamente interessada no estudo de
quase visuais. Os sonhos e as visões são veículos pessoas que chegavam ao fim de uma vida longa e
milenares da percepção extra-sensorial. E visto que o produtiva. Mas, no livro Living With Death and
efeito Ganzfeld impulsiona os pacientes a extraírem Dying, ela devotou um significativo capítulo aos
imagens bastante nítidas, isso talvez fomente as cuidados com crianças moribundas. Nos fins da
chances dos pacientes adquirirem uma maior década de 1970, Kubler-Ross ficou fascinada diante
influência das percepções extra-sensoriais, conferindo do desafio de aconselhar a esses tenros pacientes.
às impressões extra-sensoriais um veículo natural de Atualmente, ela especializa-se no cuidado psicológico
expressão. das crianças, e em seu livro mais recente, On Children
Finalmente, um paciente submetido á privação dos and Death, ela explora o mundo psicológico de
sentidos sente-se psicologicamente ligado aos seus crianças às portas da morte. Surpreendentemente, o
experimentadores. Porventura isso pode produzir livro não diz respeito somente aos aspectos psicológi
aquele tipo de liame emocional que ajuda a percepção cos desse mundo interior, mas também aborda as
extra-sensorial a transcender ao tempo e ao espaço? percepções psíquicas e as experiências de crianças
Poderia isso explicar, por semelhante modo, por que moribundas.
razão somente alguns pesquisadores noticiam um Desde há muito que os parapsicólogos reconhecem
reiterado sucesso com esse modo de proceder, ao que algumas pessoas tornam-se extremamente dota
passo que outros pesquisadores, como o Dr. Palmer, das, psiquicamente falando, quando estão diante da
não têm sorte com o seu uso? morte física. Talvez o primeiro pesquisador a chamar
Todas essas são perguntas que as pesquisas futuras uma atenção generalizada para o fato tenha sido Sir
talvez consigam responder. Por enquanto, entretanto, William Barrett, um médico de Dublin, Irlanda,
bem podemos ficar no aguardo de novos desenvolvi co-fundador (em 1882) • da Sociedade de Pesquisas
mentos, desfrutando dos sucessos recentes, sem nos Psíquicas da Grã-Bretanha. Em seu célebre livro,
preocuparmos demasiadamente com os seus fatores Deathbed Visions, publicado postumamente, esse
exatos. Certamente que o efeito Ganzfeld é um dos pesquisador citou um incidente incomum, noticiado
mais promissores desenvolvimentos da parapsicolo nos Estados Unidos da América do Norte. O relato
gia. Suas implicações são excitantes, e podemos ficar dizia respeito a duas crianças pequenas, que estavam
esperando novos progressos. morrendo de difteria, que na época era uma
enfermidade séria, causada por uma bactéria, e que
X. O Mundo Psiquico de Crianças Moribundas usualmente resultava na morte. As meninas Jennie e
Esta seção é um artigo que ilustra a praticalibilida- Edith eram amiguinhas chegadas, e ambas contraí
de, a normalidade e a importância dos fenômenos ram essa infecção em junho de 1889. Jennie morreu
psíquicos. primeiro, mas os pais e os médicos de Edith não
deixaram transpirar qualquer informação da morte
O Mundo Psiquico de Crianças Moribundas daquela a esta última. Mas, três dias depois da morte
Por D. Scott Rogo de Jennie, Edith falou acerca de uma figura
Reimpresso pela gentil permissão de Fate Magazine bem-vinda, que chegara ao lado de seu leito.
(setembro de 1987). Instantaneamente, Edith percebeu que estava mor
rendo, e ficou de olhos fixos na presença invisível no
As experiências delas confirmam uma antiga quarto.
verdade: quanto às questões espirituais, as crianci —Ora, papai, eu vou levar Jennie comigo!
nhas podem ser nossos melhores mestres. exclamou a menina, que então continuou:—Ora,
A Dra. Elizabeth Kubler-Ross tornou-se melhor papai, você não me disse que Jennie estava aqui! Em
conhecida por seu trabalho psicológico junto a seguida, ela estendeu uma das mãozinhas para a
pacientes moribundos. Seu primeiro livro sobre o fantasma e disse: —Oh, Jennie, estou tão alegre que
assunto, On Death and Dying (Sobre a Morte e os você está aqui! E morreu logo em seguida, proferindo
Moribundos), foi publicado em 1969, tornando-se essas palavras para seus admirados genitores.
PARAPSICOLOGIA
Talvez pudéssemos eliminar esses casos de visões de escrevera uma nota de agradecimento aos futuros
leito de morte, não fossem eles tão numerosamente hospedeiros da família. Ela nunca havia escrito antes
noticiados. Um estudo sério e detalhado de fenôme alguma nota parecida. Então ela deu a cartinha a
nos similares à beira do leito de morte, foi efetuado uma sua irmã, pedindo-lhe que fizesse a entrega da
pelo professor James H. Hyslop, que republicou os mesma, como quem percebesse que jamais consegui
resultados de suas pesquisas no seu livro Psychical ria fazê-lo pessoalmente.
Research and the Resurrection, em 1908. (Hyslop Igualmente digna de atenção é uma carta que
começou a sua carreira ensinando filosofia na Kubler-Ross recebeu de uma perturbada mãe. Dois
Universidade de Colúmbia; e, mais tarde, em 1907, dias antes de sua filha ser morta em um acidente de
ajudou na fundação da American Society for trânsito, a correspondente levara a jovem para
Psychical Research). Estando ocupado em suas almoçar fora. Durante a refeição, a mãe e a filha
pesquisas, descobriu um curioso livro publicado pelos conversaram sobre o futuro delas, e a mãe expressou
pais de Daisy Dryden, uma pequena menina que alguma preocupação diante do fato de que as notas
havia falecido em Marysville, estado da Califórnia, a 9 escolares de sua filha vinham piorando cada vez mais.
de setembro de 1854. A história detalhada de Daisy Foi então que, subitamente, a menina disse que isso
Dryden foi publicada na revista Fate, edição de simplesmente não tinha importância: — Minha vida
janeiro de 1953, no artigo de Philip Bartholomew, está quase no fim! dissera ela, para sua espantada
«The Little Girl Who Knew». Algum tipo de enterite mãe.
progressiva foi a causa mortis da menina, e ela A maneira como a jovem preparou-se obviamente
expirou quatro dias após ter ficado doente. Durante para sua morte, que ocorreria em breve, foi ainda
aqueles quatro dias críticos ela se tornou uma mais bizarra. Escreveu sua mãe, na carta a
clarividente tão extraordinária que sua mãe ficou Kubler-Ross: Ela passou os dois últimos dias
constantemente sentada ao seu lado, tomando notas passando a ferro toda a sua roupa. Eu quase não
abundantes. A pequena paciente anunciou ver uma podia acreditar ao ver o quarto dela tão bem
série de visitantes «espirituais» ao lado de seu leito. arrumado... Afinal, ela era apenas uma menina de
Com freqüência, essas figuras afirmavam ser seus quinze anos, sabia? Eu estava admirada. Ela não
parentes já falecidos; mas Daisy também percebeu a levava consigo qualquer identificação no dia do
presença de amigos e parentes falecidos de seus acidente e agora posso ver isso como um ato de amor,
vizinhos, e falou de modo a dar-lhes provas de que os pois ela sabia de tudo. Ela sabia, quando entrou no
via. automóvel, que nunca mais voltaria para casa; ela não
Narrativas similares têm sido comumente noticia quis que eu fosse despertada à 1:30 horas da
das, especialmente quando a mortalidade infantil madrugada, para me dizerem que minha filha havia
ainda era muito alto na América do Norte, e quando a morrido; e só fiquei sabendo do occrrido às 15:00
maioria dos pacientes morria em suas próprias horas do dia seguinte.
residências, rodeados por amigos e parentes. Entre
tanto, a morte vem sendo progressivamente furtada Esses comentários ficam mais claros quando a carta
de sua essência espiritual, por parte de nossa inteira é lida. A jovem sempre levava consigo o seu
sociedade organizada; pois, em nossos próprios dias, cartão de identificação, quando saía de casa. Por essa
raramente os pacientes voltam dos hospitais às suas razão, foi muito significativo o fato dela não tê-lo
casas, a fim de falecerem. Em vez disso, os pacientes levado, na opinião de sua mãe. A jovem deixara seu
morrem confinados em seus quartos de hospital, cartão de identificação sobre sua cama, bem ao lado
sedados e inconscientes, atrelados a sistemas mecâni de seu diário; e quando sua mãe examinou um pouco
cos de prolongamento da vida. mais, descobriu uma mensagem importante escrita no
livro. Essa mensagem fora escrita como um recado à
- 0- sua mãe, para benefício da mesma, exortando-a a
Kubler-Ross recusa-se a aceitar esse método buscar autocura para as dores que ela sentia. E era
impessoal de enfrentar a morte, bem como essa falta evidente que a menina esperava que sua mãe
de consideração para com os moribundos. Ela prefere encontrasse a passagem escrita.
aconselhar aos moribundos onde quer que eles se Kubler-Ross citou casos adicionais de crianças que
sintam em maior conforto; e mediante essa prática é subitamente começaram a falar sobre a morte, a
que ela tem podido redescobrir, gradualmente, o reencarnação e outras questões espirituais, imediata
mundo psíquico das crianças à beira da morte. As mente antes de acidentes com perigos de vida.
crianças parecem ser dotadas de uma intuição Entretanto, esses casos nem sempre apresentam
consciente da aproximação da morte, sentindo a sua simples conhecimento anterior ou intuição da morte.
presença, sem importar se ela ocorre devido a alguma Em certas oportunidades, as crianças realmente
enfermidade ou devido a algum acidente repentino. E receberam alguma forma de revelação espiritual. A
Kubler-Ross relatou as experiências das crianças por carta mais sensacional que a psiquiatra recebeu foi
ela aconselhadas no livro de sua autoria, On Children enviada por uma mãe residente na costa oriental dos
and Death. Estados Unidos, que cabe diretamente dentro dessa
Relatou a psiquiatra: «Um casal compartilhou a categoria. Aquela mãe relatou que sua filha
história de sua pequena menina de oito anos de idade, acordou ainda de madrugada extremamente ex
a qual morreu devido a um pequeno acidente, em citada e eufórica. Ela havia dormido no leito de sua
uma viagem ao outro lado do mar. Eles não prestaram mãe, naquela noite, e despertou sua sonolenta mãe
atenção nos indícios que mostravam que teria sido sacudindo-a e abraçando-a espontaneamente.
melhor se eles nem ao menos tivessem feito aquela — Mamãe, mamãe! exclamava ela repetidamente.
viagem». Jesus disse-me que eu vou para o céu. Gosto muito do
Quando a pequena menina caiu e se feriu céu, mamãe. Ali é tudo bonito, dourado, prateado e
gravemente na cabeça, seus pais levaram-na correndo brilhante, e Jesus e Deus estão lá!
a um hospital; mas este distava muitos quilômetros A menina estava falando tão depressa e com tanto
dali, e a criança só sobreviveu à queda por cerca de frenesi que sua mãe não foi capaz de relembrar mais
vinte minutos. Posteriormente, os pais da menina tarde tudo quanto ela disse.
perceberam que sua filha havia intuído a própria — (A linguagem dela) fora afetada principalmente
morte. Ainda no avião, cruzando o oceano, a criança por sua excitação, escreveu a correspondente a
83
PARAPSICOLOGIA
Kubler-Ross. E continuou: —(Minha filha) por revelar a seus pacientes a triste verdade de suas
natureza era uma menina calma, quase contemplati enfermidades terminais. Talvez devido a seus
va, extremamente inteligente... mas não muito dada a compreensíveis preconceitos, esses médicos algumas
conversas tolas e sem sentido, como acontece a muitas vezes têm-se recusado a permitir que Kubler-Ross
meninas de quatro anos de idade. Tinha boa trabalhe com os pacientes de uma maneira inteira
habilidade verbal, muito precisa em suas frases. mente franca e sem reservas. Mas a médica sente que
Notá-la tão excitada que tropeçava nas palavras foi as crianças sabem, intuitamente, quando elas estão
algo muito incomum. De fato, não me lembro de tê-la morrendo, e que ninguém lhes precisa dizer isso. Essa
jamais visto naquele estado, nem no Natal, nem nos dedicada psiquiatra algumas vezes não tem arredado
seus aniversários e nem no circo. pé dos leitos de seus jovens pacientes, até o último
A mãe tentou acalmar a criança, mas a menina suspiro de suas breves existências. E o que ela tem
estava tomada por um entusiasmo que ninguém podia podido experimentar poderia servir de lição à
sopitar. Ela continuava a falar sobre os anjos, as jóias profissão médica em geral.
que vira no céu, e nos seres que ela conheceria, Escreveu Kubler-Ross, em seu livro On Children
chegando ali. Finalmente, quase em desespero, a mãe and Death: «Pouco antes das crianças morrerem, com
da menina tentou raciocinar com ela. freqüência há um bem ‘claro momento’, conforme lhe
— Se você fosse para o céu, eu sentiria muito a sua dou o nome. Aquelas que tinham permanecido em
falta, disse a mãe. E estou alegre que você teve um estado de coma, desde o seu acidente ou cirurgia,
sonho tão feliz. Mas agora vamos nos tranqüilizar e abrem os olhos e parecem bem coerentes. E aquelas
relaxar por um pouco, está bem? que tinham sofrido muitas dores e desconforto, ficam
muito quietas e tranqüilas. £ precisamente nesses
A menina, todavia, continuava a falar sobre a sua instantes que pergunto delas se estão dispostas a
experiência. Mas não foi um sonho, insistia ela. Foi compartilhar comigo daquilo que elas têm experimen
algo muito real! E enfatizava o que dizia daquela tado».
maneira melancólica com que as crianças pequenas
algumas vezes demonstram quando estão protestan E os resultados dessas inquirições, finalmente,
do. E também disse que cuidaria de sua mãe, quando contribuíram para a crença pessoal de Kubler-Ross
chegasse ao céu. Esse diálogo continuou por diversos na imortalidade do espírito humano. A psiquiatra foi
minutos, antes da criança, finalmente, afrouxar sua convocada durante uma dessas crises para atender a
tensão e começar a brincar. Algum tempo depois, uma vítima acamada de um acidente de trânsito. A
naquela mesma tarde, a menina foi encontrada mãe do menino havia sido morta em um acidente de
morta, assassinada que havia sido por algum automóvel, seguido de incêndio; mas o irmão do
desconhecido. Sua pequena vida chegara a seu trágico menino, de nome Pedro, havia sobrevivido e estava
fim sete horas depois que ela recebera aquela sendo tratado em um hospital diferente, onde o
revelação! equipamento incluia um centro mais bem preparado
Muitas pessoas julgam ser deprimente todo esse para receber pessoas com lesões provocadas por
queimaduras. E quando a psiquiatra indagou do
assunto de crianças moribundas e o seu mundo menino se ele se sentia bem, o garoto replicou com um
psíquico. Usualmente ficamos amargurados quando a surpreendente comentário:
vida de uma criança é repentinamente ceifada—ou
por causa de algum acidente, ou por causa de alguma — Sim, agora está tudo bem, disse ele a
enfermidade, como a leucemia. Porém, Kubler-Ross Kubler-Ross. «Mamãe e Pedro já estão esperando por
salienta um lado que nos enleva espiritualmente, em mim». O menininho sorriu de contentamento e caiu
todo esse quadro fantasmagórico. Os casos por ela novamente em estado de coma, do qual nunca mais se
relatados indicam que algum poder prepara essas recuperou.
crianças para enfrentarem a morte, e elas parecem E Kubler-Ross termina seu relato: «Eu. tinha plena
dispostas a compartilhar da informação recebida com consciência de que a mãe do menino havia morrido na
seus genitores. De fato, esse processo de compartilha própria cena do acidente, mas o menino Pedro não
mento parece ser uma característica constante nesses havia morrido». E completou a veterana conselheira:
casos. «Ele (Pedro) havia sido levado a uma unidade especial
Visto que creio pessoalmente na vida após-túmulo, para queimados, porque o carro havia pegado fogo,
não fico muito amargurado quando da morte de uma antes dele ser solto das ferragens retorcidas. Visto que
criança. Meus sentimentos estão alicerçados sobre ca eu estava apenas colhendo informações, não aceitei o
sos semelhantes àqueles dados por Kubler-Ross, que que o menino me dissera, e resolvi examinar como
já fazem parte da rica literatura sobre assuntos de estava Pedro. Porém, isso nem foi necessário, porque
parapsicologia. No último caso relatado por Kubler- quando passei pela enfermaria do hospital, havia um
Ross, por exemplo, embora não possa haver dúvidas chamado telefônico do outro hospital para informar-
de que tal assassinato foi trágico e sem sentido, a me que Pedro havia expirado poucos minutos antes».
própria criança acolheu de braços abertos a própria Os psicólogos sabem que pouco antes do desenlace
morte, contemplando com grande expectação a sua final, os pacientes terminais, com freqüência, vêem
futura vida no céu. figuras que se aproximam para dar-lhes as boas-vin
E isso nos conduz à segunda importante descoberta das. A incidência generalizada desse fenômeno foi
de Kubler-Ross, nesse terreno da morte de crianças. documentada formalmente, pela primeira vez, em
O processo psicológico por que passa a pessoa que 1961, quando o Dr. Karlis Osis, então pesquisador
morre pode ser psicologicamente enlevador. Aquela junto à Fundação de Parapsicologia, sediada na
médica psiquiatra tem coligido vários casos que nos cidade de Nova Iorque, publicou o seu monógrafo
fazem lembrar relatos antes publicados pelo Dr. Deathbed Observations by Physicians and Nurses.
William Barrett e pelo professor James Hyslop. Esse estudo apresenta os resultados de uma pesquisa
Kubler-Ross tem-se preocupado principalmente em com mais de cinco mil pacientes e cinco mil
ajudar crianças moribundas a aceitarem o final da enfermeiras dos Estados Unidos da América do Norte.
vida terrena e a enfrentarem essa realidade. No Aquelas profissionais que cuidam da saúde alheia,
entanto, em alguns episódios ela tem visto que seu que deram respostas às pesquisas feitas, relataram
trabalho é impedido pelo médico da família que seus pacientes moribundos geralmente afirmam
envolvida. Os médicos mostram-se relutantes em ver lindas paisagens ou visitantes fantasmas em seus
84
PARAPSICOLOGIA
quartos de hospital. Essas aparições usualmente de uma mãe que estava totalmente desesperada. Sua
representam espíritos de mortos, ou são interpretadas filhinha de seis anos havia sido sexualmente
como figuras religiosas, como mensageiros enviados violentada e morta, e o incidente havia instilado o
do céu. temor nos corações da pequena comunidade onde ela
Depois que Osis tornou-se diretor de pesquisas da vivia. Poucos dias após o assassinato da menina, sua
American Society for Psychical Research (também mãe estava descansando em seu quarto quando,
com sede na cidade de Nova Iorque), ele expandiu as subitamente, uma luz brilhante resplandeceu através
suas pesquisas. Ele desejou comparar experiências de da vidraça da janela. Então apareceu, dentro desse
morte em nossa cultura com experiências similares, halo de luz, a pequena menina, sorrindo radiosamen
em outra cultura qualquer. E assim, esse psicólogo te. A figura desapareceu nos instantes seguintes, mas
nascido na Letônia efetuou pesquisas entre médicos e a visão consolou grandemente àquela mãe.
enfermeiros, tanto nos Estados Unidos da América Escreveu então Kubler-Ross: «A visão encheu-a de
quanto na índia. E os resultados de seus estudos tal paz e amor que ela se sentiu em uma condição
mostram que os relatos de beira de leito são similares, mental muito melhor, após esse incidente, em
tanto em um quanto em outro desses dois países. E comparação com os intranqüilos moradores da
visto que poucos dos pacientes entrevistados estavam comunidade!»
tomando drogas quando suas visões tiveram lugar, Kubler-Ross continua explorando os mundos
Osis e seus colaboradores acreditam que os informes particulares de crianças moribundas. E ela agora está
colhidos apontam diretamente para a sobrevivência expandindo a sua obra para incluir as questões
da alma diante da morte física. espirituais, psíquicas e psicológicas envolvidas. Ê
Mas, a despeito dessas pesquisas, alguns psicólogos provável que o melhor conselho dela, reiterado em
e parapsicólogos permanecem no ceticismo ante as cada um de seus livros, é que a sociedade deve
conclusões a que Osis tem chegado. Apesar das visões aprender a viver diante da ameaça da morte. Quiçá
de leito de morte e das revelações provavelmente não possamos aprender a apreciar a morte como uma
serem causadas por disfunções cerebrais (como mudança final que visa ao nosso desenvolvimento
aquela causada pela falta gradual de oxigênio), pessoal, afinal de contas. A coragem e o cumprimento
permanece de pé a possibilidade de que essas espiritual que muitas crianças têm achado durante o
experiências representem uma curiosa forma de processo da morte deveriam representar uma impor
fenômeno psicológico. Alguns céticos têm mesmo tante lição para nós. As experiências dessas crianças
sugerido que o cérebro produz artificialmente essas refletem os temores que tantos dentre nós sentem
experiências, com o intuito de aplacar os temores dos diante do espectro da morte. Kubler-Ross tem-nos
pacientes, diante da possibilidade de morte. Tais redirecionado a uma sábia e antiga verdade: quando
visões, assim sendo, talvez reconciliassem os pacientes se trata de questões espirituais, as criancinhas podem
moribundos com a sua sorte, ajudando-os a aceitar a ser nossos melhores mestres.
própria mortalidade. É por um motivo assim que os XI. Avaliação Pessoal
casos que fornecem evidências, como aqueles Minhas opiniões pessoais têm sido expressas ao
episódios historiados por Kubler-Ross, tomam-se longo do artigo, pelo que ofereço aqui um breve
importantes. Porquanto indicam que um paciente sumário a respeito:
qualquer esteve experimentando uma visitação real,
uma experiência que a psicologia convencional não 1. Os estudos sobre os fenômenos psíquicos
consegue encontrar meio para desconsiderar. confirmam algumas importantes verdades religiosas,
especialmente aquelas relacionadas à vastidão e ao
Em seu livro, essa psiquiatra escreveu: «Durante potencial humano, que mostram que ele é um espirito
todos os anos em que venho coligindo tranqüilamente ou alma, e não um mero corpo físico mecânico.
informes, desde Califórnia até Sidnei, na Austrália,
entre crianças brancas e negras, aborígenes, esqui 2. Esses estudos confirmam o potencial humano de
mós, americanas do sul e líbias, cada criança que tem aprender muito mais do que ele é capaz de captar
mencionado que alguém estava esperando por ela através da percepção de seus sentidos, o que, de resto,
indicou alguém que a havia realmente antecedido na sempre foi afirmado pela fé religiosa.
morte, nem que fosse por alguns poucos instantes. No. 3. O estudo sobre as apddões psíquicas humanas é
entanto, nenhuma daquelas crianças havia sido tão necessário e legítimo quanto o estudo de suas
informada acerca da morte recente de seu parente, de propriedades físicas, ou seja, aquelas questões
nossa parte, em qualquer instante. Coincidência? investigadas pela biologia e pela fisiologia. A história
Mas agora não existe cientista ou estatístico que me da ciência tem-nos mostrado que os pioneiros, em
possa convencer que isso sucede—conforme têm dito qualquer campo da pesquisa, encontram amarga
alguns colegas—em resultado da privação de oxigê oposição da parte dos tradicionalistas e de várias
nio, ou por causa de alguma outra razão racional e ortodoxias, até que suas teorias tenham oportunidade
científica». de ser confirmadas. Porém, o progresso, quanto a tais
questões, com freqüência só pode ser medido em
Visto que esses casos apresentam evidências tão termos de meio século, ou mesmo de um século.
impressionantes, Kubler-Ross acredita na continua 4. Apesar de pessoas dotadas de fé possam não
ção da vida após a morte física. Por isso, ela relaciona precisar do apoio de provas científicas, em favor da
a importância das visões à beira do leito com muitas natureza imaterial do homem, e que a morte é apenas
experiências de quase-morte, cujos relatórios ela tem uma transição, e não o fim, muitas pessoas, na
coligido de seus pacientes—pessoas que andaram realidade, precisam desse tipo de confirmação. Se a
vagueando no outro mundo, em seus breves encontros porção imaterial do homem for provada como uma
com a morte. realidade científica, então uma grande vitória terá
Essa ênfase sobre as dimensões espirituais da sido obtida em favor da fé religiosa.
experiência da morte é reverberada na maneira de 5. Os abusos, como aqueles que ocorrem quando as
pensar de Kubler-Ross ainda de uma terceira pessoas interessadas pelos fenômenos psíquicos
maneira, e não menos importante. Ela tem recolhido misturam-nos com o ocultismo, são exatamente isso,
e publicado alegados casos de crianças que voltaram abusos. Esses abusos não detratam do valor geral
da morte a fim de consolarem seus entristecidos pais. desse estudo mais do que qualquer falsa teoria
Para exemplificar, em seu livro ela escreveu a respeito científica é capaz de anular as investigações científicas
PARAPSICOLOGIA - PARDAL
em geral. Todos os campos da pesquisa cientifica têm designação venha desde os tempos dos jebuseus,
tido suas falsas teorias, que somente a passagem do absorvida pelos hebreus em seu vocabulário. Alguns
tempo é capaz de vencer. Mas essas falsas teorias, eruditos pensam estar em foco um complexo de
esses abusos, não descontinuam a ciência. construções, e não uma localidade. Por todas essas
6. Os anglicanos e outros têm feito bem em razões o próprio nome, sua derivação e o lugar (ou
promover estudos e pesquisas a respeito dos construções) permanecem na incerteza.
fenômenos psíquicos. Estão em jogo grandes ques
tões. Se a existencia da alma puder ser comprovada
cientificamente, isso será de maior importância e de PARCIMÔNIA, LEI DA
impacto mais decisivo para o mundo do que qualquer Expressão alternativa para Navalha de Ockham
descoberta feita até o momento, incluindo a energia (vide). A raiz dessa palavra é o termo latino
atômica. parcimónia, «parcimônia». Trata-se de uma regra de
7. Tem sido adequadamente demonstrada a simplificação. Assim, quando alguém está enfrentan
naturalidade dos fenômenos psíquicos. Isso não do um problema que tem duas ou mais soluções
significa, entretanto, que não existam forças demo propostas, a mais simples delas deve ser escolhida,
níacas. Ver os artigos sobre Demônios e Possessão como a mais provável. Quine afirmava que a
Demoníaca. Todos os campos do conhecimento estão economia conceptual deve ser empregada com um
sujeitos a abusos, mas nem por isso abandonamos as procedimento científico básico. O resto que tenho a
pesquisas. dizer sobre o assunto fica no artigo Navalha de
8. Todos deveríamos estar interessados por todos os Ockham (vide). É evidente que nem sempre a verdade
campos de investigação, mesmo que não tenhamos o é fácil; às vezes, a simplicidade serve somente para
tempo, o treinamento e o interesse para nos limitar a verdade, e não para esclarecê-la. Um
envolvermos pessoalmente. A ignorância não tem exemplo berrante, na teologia, consiste em falar sobre
qualquer valor. Os teólogos pelo menos deveriam ter a vida após-túmulo em termos de céu e inferno, como
um conhecimento geral da filosofia e da parapsicolo se não houvesse alternativas, e como se as coisas
gia, em face das momentosas questões envolvidas e da fossem tão simples quanto isso. Além disso, os
contribuição que essas disciplinas fazem ao nosso paradoxos sempre envolvem-nos em complexidades, e
conhecimento em geral. mesmo em perplexidades, longe de atenderem ao
9. A parapsicologia e a filosofia têm enriquecido princípio da parcimônia.
minha maneira de pensar e meu fundo de
conhecimentos. Visto que o conhecimento é um
aspecto importante da vida, posso afirmar, sem PARDAL
qualquer qualificação, que esses dois campos de No hebraico, tsippor, palavra que aparece por
investigação têm enriquecido a minha vida.
quarenta vezes, nem sempre traduzida como «par
Bibliografia. No decurso do artigo, tenho mencio dal». Em nossa versão portuguesa, isso só ocorre por
nado vários artigos que se relacionam ao tema deste uma vez, em Salmos 84:3. Outras versões também
verbete. Vários desses artigos contêm bibliografias dizem «pardal», em Salmos 102:7, mas a nossa versão
detalhadas. Limito-me aqui a algumas poucas portuguesa diz ali «passarinho». Geralmente essa
obras-padrão, além de referências a enciclopédias que palavra é traduzida por «ave». Ver, para exemplificar,
apresentam úteis estudos em esboço. O estudo de AM Gên. 7:14; Lev. 14:4-7,49-53; Deu. 14:11; Pro. 6:5;
foi preparado por J.B. Rhine, pelo que nos fornece Amós 3:5.
valiosas informações de pano de fundo, além de uma
No grego, strouthíon, «pardalzinho». O vocábulo
história das primeiras pesquisas nesse campo. A
enciclopédia EP é surpreendentemente boa, conside está no diminutivo. É termo que ocorre por quatro
rando-se que essa é uma enciclopédia de filosofia. vezes no Novo Testamento: Mat. 10:29,31; Luc.
12:6,7.
Quanto a obras individuais, ver: BAY BROA BU
CHE CR DCJ DRE EC MOO MOO(1977) MY OSI Todos os estudiosos concordam que o termo
PRIC RAN RH RIN SA SHG SL WEA. hebraico tsippor tem um sentido mais geral,
Revistas especializadas importantes sãoProceedings indicando a idéia de «passarinho», e um sentido mais
e Journal da London Society for Psychical Research; específico, segundo se vê em Salmos 84:3 e 102:7
(embora neste caso, como já mostramos, nossa versão
Journal o f the American Society for Psychical portuguesa também a traduz por «passarinho»). Em
Research-, Journal o f Parapsychology (impresso por Salmos 84:3, pode estar em foco o pardal caseiro, que
Duke University): The Journal o f Religion and tanto gosta de fazer seu ninho nas habitações
Psychical Research (impresso pela Academy of
humanas. E em Salmos 102:7, conforme pensam
Religion and Psychical Research); e Theta (Journal of vários estudiosos estaria em foco o tordo, uma
the Psychical Research Foundation). pequena ave que vive solitária nas rochas e nas
edificações abandonadas. Na verdade, há omitólogos
que dizem que esse é o verdadeiro «pardal». Assim, há
PARBAR boas evidências em favor do uso geral da palavra em
No hebraico, «subúrbio», uma porção da cidade de Gênesis 15:10, onde se refere explicitamente, à rola e
Jerusalém mencionada em relação ao templo, em II ao pombinho do versículo anterior. A mesma palavra
Reis 23:11 e I Crô. 26:18. Nossa versão portuguesa, é empregada para indicar aves usadas no cardápio
em ambas as passagens, diz «átrio». Outras comum, em Neemias 5:18, ou para indicar aves
traduções, de acordo com indicações rabínicas, dizem oferecidas nos sacrifícios, em Levítico 14, sem
«no lugar exterior». Mas é quase certo que essa falarmos em diversos outros contextos onde se lê sobre
palavra hebraica é cognato do hebraico parvarim, que aves usadas na alimentação. Portanto, o sentido geral
significa «subúrbios», mormente em II Reis 23:11. da palavra poderia ser qualquer ave pequena, limpa,
Josefo aludiu a um lugar em um vale profundo, ou seja, permitida para os judeus como alimento.
que separou a muralha ocidental do templo da Porém, sempre que houver comparação com alguma
cidade, defronte ao vale. Isso corresponde à outra ave, deveríamos pensar no pardal. É precisa
extremidade sul do vale Tiropoeano, podendo ser esse mente o caso de Salmos 84:3, onde lemos: «O pardal
o local chamado Parbar. Também é possível que tal encontrou casa, e a andorinha, ninho para si...»
86
PAREDE - PARETO
Interessante é observar que o termo grego Outrossim, nada existe de tão universal neste mundo
strouthíon também é uma palavra de sentido geral, como a graça divina e a fé.
que requer algum adjetivo ou frase qualificadora para
denotar alguma espécie em particular. Os pardais, Paulo aludiu metaforicamente a um muro de
pois, eram tão comuns que Jesus pôde usá-los como hostilidade que separara judeus e cristãos, mas
indicação de coisa corriqueira e de pouco valor. «Não afirmou que esse muro foi anulado por Cristo, e assim
se vendem dois pardais por um asse? e nenhum deles passou a imperar unidade e harmonia entre esses dois
cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai» povos, quanto àqueles que aceitam a Cristo. Parece
(Mat. 10:29). que Paulo tinha especificamente em mente a
legislação mosaica, e como esta havia dividido judeus
de cristãos, e até mesmo cristãos de cristãos. Isso nos
PAREDE faz considerar o problema legalista. Muitas pessoas,
Palavra que traduz diversos vocábulos hebraicos e incluindo cristãos de tendências legalistas continuam
dois vocábulos gregos. As palavras hebraicas mais a crer na justificação em termos legais. As doutrinas
usadas são chomah, «parede», usada por cerca de da graça-fé têm levado os homens a separarem-se em
cento e trinta vezes, de Êxo. 14:22 a Zac. 2:5; e qir, campos opostos. Apesar da referência específica de
«parede» ou «trave», usada por setenta e seis vezes, de Paulo ser à antiga fé judaica legalista (com base nas
Lev. 14:37 a H ab. 2:11. Há ou tras treze palavras leis mosaicas), faremos bem em ver aqui uma
hebraicas, variegadamente traduzidas, embora com a aplicação desse texto à nossa situação moderna. Que
idéia geral de «muro» ou «parede». As palavras gregas pode haver de mais hostil do que a hostilidade
são teichos, «muralha» (ver Atos 9:25; II Cor. 11:33; religiosa?
Heb. 11:30; Apo. 21:12-19), e toichos, «parede» (ver Alguns ministros cristãos chegam a gabar-se de ser
Atos 23:3). campeões das contendas. As várias denominações
As paredes das casas usualmente eram feitas de cristãs desenvolveram-se formando uma série de
tijolos, colocados sobre alicerces de pedras brutas. campos armados hostis, opondo-se, odiando-se e até
Ocasionalmente as paredes eram feitas de pedras perseguindo-se mutuamente, sempre que isso é
possível. Noutras épocas, eles chegavam a matar-se.
irregulares, presas umas às outras com argila. Nos
Mas atualmente eles preferem os desforços verbais,
prim eiros tem pos, as m uralhas das cidades eram empregando a tática do isolamento, para manterem à
feitas verticalm ente, sem quaisquer projeções ou
distância aqueles que não concordam com os seus
guarnições externas, para proteção, p rática que princípios separatistas. A parede de separação à qual
continuou até o começo da idade do ferro. Paulo aludiu era pior que a parede divisória do
Posteriormente, as muralhas passaram a ser sólidas e templo, da qual falamos acima. «A parede divisória
espessas, para poderem resistir aos aríetes assírios. A da qual falávamos era muito mais formidável, por ser
espessura das m uralhas variava entre três e cinco uma parede de preconceitos cegos»(Z)
metros, com bastiões que se projetavam a cada tantos
metros. Esses bastiões eram dotados de saliências,
para impedir o acesso de atacantes, havendo também
grades para proteção dos arqueiros. PARENTE, VINGADOR DO SANGUE
Em C antares 8:9, a palavra hebraica chomah é No hebraico, goel, «redentor», palavra usada
usada simbolicamente para indicar uma menina na somente em Neemias 13:29. Ver o artigo separado
idade da puberdade. A idéia é que ela era chata como sobre Goel. Na sociedade hebréia e em suas leis,
uma parede, mas que em breve obteria a típica figura vários deveres eram requeridos da parte dos parentes
feminina, porque seus seios, comparados com «torres das pessoas. O primeiro responsável era o parente
sobre a muralha», apareceriam. O aparecimento dos masculino mais próximo. Um dos mais importantes
seios era sinal de que ela estava chegando à idade desses deveres era o de servir de vingador do sangue e
própria para o casamento. Os intérpretes vêem nesse de parente remidor (ver os artigos separados). A
simbolismo a Igreja de Cristo, que se prepara como instituição da responsabilidade dos parentes era
uma noiva para seu noivo; ou então qualquer forma comum entre os povos semitas. Todo erro praticado
de bênção que ocorre quando há o devido desenvolvi contra alguém precisava ser devidamente vingado; e a
mento espiritual. (G HA ID) família assumia formas de justiça que hoje em dia
seriam prerrogativas exclusivas do Estado. O sangue
da pessoa injustiçada (se um assassinato ou uma
morte acidental tivesse tido lugar) é retratado como se
PAREDE DA SEPARAÇÃO estivesse clamando do chão, pedindo vingança. O
No grego, mesótichon, «parede do meio». Corres parente masculino mais próximo estava na obrigação
ponde à chel dos hebreus, um vocábulo que indicava de ouvir o caso e cumprir o seu dever de tirar
uma parede ou uma espécie de sebe, entre o átrio dos vingança. Um filho deveria vingar a morte de seu pai,
gentios e o templo de Jerusalém. O termo grego um irmão devia vingar a morte de uma irmã sua. A lei
aparece em Efé. 2:14. do linchamento é uma forma primitiva de justiça.
A intenção dessa parede era impedir que os Mas, em certas sociedades, era legalizada de uma
não-judeus se aproximassem da área santa do templo, forma ou de outra. Em casos de morte acidental, o
o qual era símbolo da própria lei mosaica, que goel nada podia fazer, se o homicida se refugiasse em
separava os judeus dos gentios, para que estes não certas cidades. Ver sobre as Cidades de Refúgio. Ver
participassem dos privilégios religiosos de Israel. Foi o artigo separado sobre o Vingador do Sangue.
assim que se foi estabelecendo uma espécie de
inimizade mútua entre judeus e gentios. Mas o
apóstolo Paulo, sendo apóstolo dos gentios, no PARENTE REMIDOR
segundo capítulo de sua epístola aos Efésios, salientou Ver sobre Goel.
que essa parede de separação fora anulada pelo poder
e pelos efeitos da missão terrena de Cristo. Efetuada
essa missão de Cristo, a lei mosaica não continua PARETO, VTLFREDO
sendo o fator dominante da fé religiosa revelada;, Suas datas foram 1848-1923. Ele foi um filósofo
antes, a graça e a fé substituíram aquele princípio, italiano, mas nascido em Paris. Educou-se na Itália,
87
PARETO - PAROLEIRO
na Universidade de Lausanne. foi um dos mais importantes filósofos pré-socráticos.
Idéias: Nasceu em Eléia e foi influenciado pelos pitagorea-
nos. Opunha-se à doutrina de Heráclito de que «tudo
1. Todas as sociedades são governadas por elites, se acha em estado de fluxo». Era expoente do
apesar das reivindicações em contrário. Porém, há monismo e da imutabilidade, e foi o fundador da
dois tipos de governos elitistas: a. aqueles que se filosofia eleática.
arriscam e tentam novas coisas; b. aqueles que não se
arriscam e sempre procuram manter o status quo. O Idéias
primeiro tipo tenta novas combinações de idéias; o 1. Racionalismo Extremo. Para ele, o ser e o
segundo tipo promove os antigos e já experimentados pensamento seriam idênticos, pelo que a verdade
agregados. sobre o ser poderia ser conhecida através do
2. Ambos esses elementos sempre existiram na pensamento disciplinado, e não através da percepção
sociedade, e ambos são forças internas que lutam em dos sentidos.
favor do bem ou do mal. A esses elementos contínuos 2. As experiências adquiridas pela percepção dos
ele chamava de resíduos da sociedade. Outrossim, as sentidos são contraditórias, razão pela qual são
crenças dos homens estão ligadas a esses elementos. ilusórias, pois o mundo físico não passa de mera
Aos elementos que variam ele chamava de derivações. aparência.
Os homens usam essas derivações para justificar os 3. O pensamento busca aquilo que é constante,
seus resíduos. Essa é apenas uma outra maneira de invariável e comum nas coisas (ou seja, o universal, de
dizer que quanto mais as coisas se alteram mais elas acordo com o vocabulário de Platão). O ser existe; ò
continuam a mesma coisa, visto que estamos sempre a não-ser não existe; não existe isso de tornar-se ou de
braços com os mesmos conjuntos de condições e de estar vindo à existência.
formações na sociedade. 4. A criação é impossível, porquanto nada pode ser
3. Quanto à questão religiosa, Pareto compartilha trazido à existência, a partir do nada. O ser é eterno e
va da crença de Freud de que a religiosidade é apenas imutável. O resto é ilusão.
uma maneira de pensar esperançosa. As organizações 5. As mudanças são impossíveis, pois elas
religiosas são apenas grupos de interesses especiais significariam que algo veio à existência onde antes
existentes na sociedade. Seus ataques contra a religião nada existia; a não-existência não existe, e nem
eram venenosos e irracionais. qualquer mudança.
6. Se qualquer coisa mover-se, terá de ocupar um
espaço onde antes essa coisa não estava; e visto que o
PARKER, THEODORE espaço vazio não existe e nem é ser, o movimento é
Suas datas foram 1818-1860. Foi um teólogo algo impossível.
norte-americano, nascido em Lexington, estado de 7. As coisas parecem estar separadas pelo espaço;
Massachusetts. Educou-se em Harvard. Tornou-se mas, se isso fosse verdade, então o espaço vazio teria
um líder do liberalismo. Foi um dos principais de ser alguma coisa. Mas, visto que o espaço vazio não
ministros unitários, tendo construído o seu pensamen existe, então também não existe tal coisa como
to religioso em torno de três ensinamentos principais: separação mediante o espaço. Isso também é ilusório,
Deus, a lei moral e a imortalidade. Tornou-se não passando de um sonho fantástico.
conhecido por seu amor pela liberdade, e mostrou-se 8. O ser é homogêneo em todas as suas dimensões,
ativo no movimento de emancipação que, finalmente, como a massa de uma esfera, que é perfeita em todos
deu liberdade aos escravos. Sua influência era tão os seus lados. Todas as coisas estão a igual distância
grande que Emerson apelidou-o de o Savonarola do do seu centro. Ele e seu mais hábil discípulo, Zeno de
Transcendentalismo da Nova Inglaterra (vide). Sua Eléia, defenderam esses pontos de vista em seus
principal obra escrita foi Discourse on Matters paradoxos. Ver Zeno, Paradoxos de, bem como o
Pertaining to Religion. artigo geral intitulado Paradoxo.
9. Deve-se observar que as descrições do Ser, por
parte de Parmênides, são idênticas às descrições
PARMASTA cristãs acerca de Deus: eterno, imutável, perfeito, etc.
Esse termo vem diretamente de um vocábulo persa Esse é o único Real, e todas as demais coisas são
que significa «o primeiro». Esse era o nome do ilusórias.
primeiro dos dez filhos de Hamã (ver Est. 9:9). Foi Escritos. Sobre a Natureza, do qual há somente
executado pelos judeus. Deve ter vivido por volta de alguns fragmentos.
470 A.C.
PARNAQUE
PÀRMENAS No hebraico, «dotado». Esse era o nome do pai de
Parece que o sentido da palavra grega por detrás Elisafã, um príncipe da tribo de Zebulom. Elisafã foi
desse nome próprio é «constante». Esse foi o nome de escolhido para ajudar a distribuir os territórios a oeste
um dos sete diáconos originais da Igreja cristã do rio Jordão, entre as tribos que deveriam viver
primitiva, de abordo com Atos 6:5. Nada mais se sabe naquela faixa da conquistada Terra Prometida. Ver
sobre ele, exceto esse fato. Mas a tradição não pôde Núm. 34:25. Isso sucedeu em cerca de 1440 A.C.
resistir e acrescentou algumas poucas informações a
seu respeito. Presumivelmente ele sofreu o martírio no
tempo do imperador Trajano, em Filipos, sabendo-se PAROLEIRO
que Trajano governou entre 99 e 117 D.C. Hipólito
ajuntou que Pármenas tornou-se bispo de Soli. Sua Atos 17:8. Em vez de tagarela, a versão portuguesa
festa é celebrada, na Igreja Oriental Ortodoxa a 28 de AC diz paroleiro. A tradução literal dessa palavra
julho. seria apanhador de sementes, geralmente aplicada
aos pássaros, os quais andam ao redor apanhando
uma semente de cada vez, onde quer que as encon
PARMÊNIDES trem. Por extensão, essa expressão passou a ser usada
Suas datas aproximadas foram 515 a 450 A.C. Ele acerca de qualquer pessoa que vivia apanhando
88
PAROLEIRO - PAROUSIA
ninharias, procurando harmonizá-las, em sentido muralhas de Jerusalém (ver Nee. 3:25), e assinaram o
físico ou em sentido mental. Era aplicada a indivíduos pacto com Neemias (Nee. 10:14). Isso ocorreu
reputados como pseudo-sábios, cuja erudição se ligeiramente depois de 536 A.C.
compunha de pedaços de material tomado por
empréstimo de outros, em segunda mão, não-
digeridos, mas meramente repetidos de uma forma PAROUSIA
desordenada. Shakespeare falou sobre os «apanhado Segunda Vinda de Cristo
res de trivialidades não-consideradas». Browning fez
alusão aos «apanhadores de pedacinhos de erudição», Esboço
expressões essas que são equivalentes modernos I. Observações Gerais
daquela expressão grega. II. O Tempo do Arrebatamento
Um equivalente shakespeareano se encontra em III. A Vinda Literal de Cristo
Love's Labor Lost, verso segundo: IV. A Igreja Cristã Primitiva Esperava Esse
Acontecimento em seus Próprios Dias
Esse indivíduo apanha perspicácia como os pombos V. A Segunda Vinda de Cristo Será a Concretiza
apanham ervilhas, ção do Senhorio, Tanto Para o Mundo
E novamente as diz, quando Jove assim acha por Como Para a Igreja
bem. VI. Observações Sobre o Arrebatamento No To
Ele é o vendilhão da perspicácia, e retalha sua
mercadoria. cante a Segunda Vinda de Cristo Para Julgar
Nas festas e bebedeiras, nas reuniões, nos mercados VII. Urgência Desta Verdade
e feiras. VIII. Acontecimentos que Terão de Anteceder
à Parousia
Aqueles que se dão ao vício da bisbilhotice também
apanham as suas informações dessa maneira, por I. Observações Gerais
serem parasitas das conversas intermináveis, ansiosos 1. A parousia será uma série de acontecimentos,
por darem suas informações maliciosas. Zenãç, o começando com Armagedom e se estendendo até a
filósofo estóico, aplicava essa mesma palavra a um de destruição final da velha terra (II Ped. 3:4,12, ver
seus discípulos, o qual era mais prolixo nas palavras notas no NTI). O tempo do aspecto da parousia que
do que mesmo sábio. E com isso o filósofo o acontecerá antes do milênio é desconhecido (Mat.
desprezava. (Ver Diog. Laert. Zeno, cap. 19). 24:6). O tempo do arrebatamento da igreja é
Eustácio de Constantinopla (1160 D.C.), que foi um debatido. Ver notas completas sobre este assunto em I
autor e retórico erudito, tece referências aos retóricos Tes. 4:15 no NTI.
que eram meros coletores de palavras, não passando 2. Será um período de refrigério ou descanso, vindo
de plagiadores constantes. E, segundo ele nos diz, da parte do Senhor (Atos 3:19).
esse termo era igualmente aplicado àqueles que 3. Significará a restauração de todas as coisas
freqüentavam conferências mas que, de forma (Rom. 8:21: Efé. 1:10). O «mistério da vontade de
errônea e não-científica, repetiam o que tinham Deus» será cumprido. A segunda vinda será uma série
ouvido, aplicando erroneamente seus informes, por de acontecimentos e até o milênio pode ser
tê-los entendido mal, abusando disso. Alford (in loc.) considerado parte dela. II Ped. 3:4-13 mostra que até
sugere que essa palavra também faz alusão àqueles o julgamento final e a destruição do velho sistema
que eram capazes de falar fluentemente, mas sem cósmico fazem parte da parousia no seu sentido mais
propósito algum, sempre pedindo de empréstimo as
amplo. O processo histórico será incorporado na
suas idéias e palavras de terceiros. grande transição da «parousia». A parousia utilizará o
Foi com esse vocábulo, pois, em nossa versão processo histórico para cumprir o mistério da vontade
portuguesa traduzido por «tagarela», que aqueles de Deus. mas também transcenderá aquele processo.
filósofos epicureus e estóicos ridicularizaram de Paulo O cumprimento do mistério da vontade de Deus fará
como se fosse um pretencioso mas grosseiro mestre, de Cristo o centro da Nova Criação na qual ele será
que meramente recolhia sobejos de conhecimentos, tudo para todos. Ver o artigo sobre este assunto
que havia apanhado aqui e acolá, sem a menor intitulado Restauração. Ver Efé. 1:10.
organização, ao longo de sua vida. 4. Consistirá da manifestação, aparecimento e
revelação de Jesus Cristo (I Ped. 1:7,13).
5. Será o dia de nosso grande Deus e Salvador,
PARÓQUIA Jesus Cristo (Tito 2:13).
Uma área local sobre a qual um padre ou pastor 6. Também será o Dia de Deus e de nosso Senhor
exerce jurisdição, e onde exerce seus deveres Jesus Cristo (I Cor. 1:8 e II Ped. 3:12).
pastorais. Nas igrejas católica romana e anglicana, 7. É acontecimento predito nas páginas do A.T.
usualmente a paróquia faz parte de uma diocese. A (Dan. 7:13); e figura tão freqüentemente no N.T., que
raiz dessa palavra encontra-se no grego, pará, «ao é mencionado numa média de um versículo em cada
lado», e oikeeín, «habitar». Daí vem o termo grego vinte e três. (Ver Jud. 14; Mat. 25:31; João 14:3; Atos
paroikía, «circunvizinhança». 3:20 e I Tim. 6:14).
8. Esse acontecimento será precedido por certos
PARÔS sinais (Mat. cap. 24).
No hebraico, «pulga». Nos trechos de Esd. 2:3; 8:3; 9. Sua maneira: será nas nuvens (Mat. 24:30 e Apo.
10:2; Nee. 3:25; 7:8; 10:14, lê-se sobre os descenden 1:7): na glória de Deus Pai (Mal. 16:27); na glória de
tes de Parós. Estes formavam uma importante família Cristo (Mat. 25:31); uma verdade literal (Atos
dos tempos pós-exílicos que fixou residência em 1:9,11): acompanhado pelos anjos (Mat. 16:27; I
Jerusalém, quando um remanescente de Judá havia Tes. 3:13 e Jud. 14); em companhia dos crentes (I
retornado do cativeiro babilónico (vide). Na época Tes. 4:14); repentino (Mar. 13:36); como se fora um
dessa volta, eles eram dois mil, cento e setenta e dois. ladrão que assalta à noite (I Tes. 5:2; II Ped. 3:10 e
Homens dessa família tinham-se casado com mulhe Apo. 16:15); será como um relâmpago (Mat. 24:27).
res estrangeiras e tiveram de divorciar-se delas (ver 10. Propósitos: a glorificação dos santos (II Tes.
Esd. 10:25). Eles atuaram na reconstrução das 1:10; I Tes. 4:15 e ss)\ não será para efeito de
PAROUSIA
expiação (Heb. 9:28 e Rom. 6:9,10): visará a própria uniformemente usada em alusão à vinda de Cristo à
glória de Cristo (II Tes. 1:10); visará julgar tanto aos terra, a fim de estabelecer o seu reino milenar,
salvos quanto aos perdidos (Sal. 50:3,4; João 5:22: II acontecimento esse que todos consideram pré-tribula-
Tini. 4:1; II Cor. 5:10). cional.
Cumpre-nos observar, por semelhante modo, que Argumento Histórico
tal juízo é vinculado àparousia e não à morte física de 1. A igreja cristã primitiva cria na iminência do
cada indivíduo. Ver notas em I Ped. 4:6 no NTI. As retorno do Senhor, o que é um ponto doutrinário
questões eternas, pois, não serão fixadas até à essencial da posição pré-tribulacional.
segunda vinda de Cristo. Portanto, o poder salvador 2. O desenvolvimento detalhado da verdade
ou restaurador de Cristo se prolonga pelo mundo pré-tribulacional, durante os poucos séculos passados
intermediário e não se restringe apenas a este mundo não prova que essa doutrina seja recente ou que seja
físico, terreno. Ver I Ped. 3:18. uma novidade. Seu desenvolvimento é similar ao das
Cristo destruirá a morte quando de sua vinda (ver I outras principais doutrinas da história da igreja.
Cor. 15:25,26). Assim, os seus santos receberão a Hermenêutica
natureza e a semelhança de Cristo, mediante a 3. A posição pré-tribulacional é o único ponto de
ressurreição e a subseqüente glorificação; e isso atua vista que permite uma interpretação literal de todas as
neles, por enquanto, como uma esperança purificado passagens tanto do Antigo como do Novo Testamento
ra (ver I João 3:2,3 e I Tes. 4:14,16). Tal ocorrência sobre a Grande Tribulação.
redundará em glória tanto para Cristo como para os 4. Somente a posição pré-tribulacional distingue
crentes (ver Col. 3:4). A coroa da glória será dada aos claramente entre a nação de Israel e a igreja, em seus
crentes nessa oportunidade (ver II Tes. 4:7 e I Ped. respectivos programas.
5:4). Então, terá início o reino milenar de Cristo (ver Natureza da Tribulação
Dan. 7:27; II Tim. 2:12: Apo. 5:10 e 20:6). (Ver o 5. O pré-tribulacionismo conserva a distinção
artigo sobre o Milênio). bíblica entre a Grande Tribulação e a tribulação em
11. F.m relação aos crentes, esse acontecimento se geral que a antecede.
reveste agora dos seguintes elementos: os crentes 6. A Grande Tribulação é devidamente interpreta
devem amar a vinda do Senhor (ver II Tim. 4:8); da, pelos que crêem no arrebatamento antes da
devem esperar por ele (ver Fil. 3:20; Tito 2:13); devem tribulação como tempo de preparo para a restauração
aguardar a Cristo (ver I Cor. 1:7 e I Tes. 1:10); devem da nação de Israel. (Ver Deut. 4:29,30 e Jer. 30:4-11).
apressar a vinda de Cristo (ver II Ped. 3:12); devem O propósito da tribulação não é preparar a igreja para
orar para seu desenlace (ver Apo. 22:20); devem estar a glória.
preparados para esse dia (ver Mat. 24:44; Luc. 7. Nenhuma das passagens do A.T. sobre a
12:40): devem vigiar a respeito (ver Mat. 24:42). tribulação menciona a igreja (ver Deut. 4:29.30: Jer.
12. Em relação aos incrédulos, a segunda vinda de 30:4-11: Dan. 9:24-27 e 12:1,2).
Cristo serve de motivo de zombarias (ver I Ped. 3:3,4); 8. Nenhuma das passagens do N.T. sobre a
os incrédulos presumem a sua ocorrência tardia (ver tribulação menciona a igreja (ver Mat. 24:15-31; II
Mat. 24:48): serão surpreendidos por seu súbito Tes. 1:9,10: 5:4-9 e Apo. 4—19).
desenlace (ver Mat. 24:37-39); serão castigados 9. Em contraste com a posição meio-tribulacional,
quando houver tal ocorrência (ver II Tes. 1:8,9); e o o ponto de vista pré-tribulacional provê uma explana
anticristo será destruído em seu poder e domínio ção adequada para o começo da Grande Tribulação,
nessa oportunidade, caindo em perdição eterna (ver II no sexto capítulo do livro de Apocalipse. Já a primeira
Tes. 2:8). Efésios 1:10, vinculado com I Ped. 3:18-20, dessas posições é refutada pelo ensinamento claro das
4:6, mostra como a missão de Cristo, afinai, terá Escrituras, que diz que a Grande Tribulação
efeitos imensos e universais, sobre todos os homens, começará muito antes da sétima trombeta do décimo
não somente sobre os eleitos. Tudo, afinal, terá seu primeiro capitulo do livro de Apocalipse.
centro em Cristo, e terá uma utilidade, embora não a
mesma dos eleitos, sendo imensamente inferior. 10. A distinção apropriada é mantida entre as
trombetas proféticas das Escrituras através da posição
Queremos notificar ao leitor de que, nas referências pré-tribulacional. Há base firme para o argumento
sugeridas acima, nenhum esforço foi feito por nós central do meio-tribulacionismo que a última trombe
para distinguir os temas relativos ao «arrebatamento ta do livro de Apocalipse é a última trombeta, não
da igreja», dos temas atinentes à segunda vinda de havendo conexão segura entre a sétima trombeta do
Cristo, na "glória». décimo primeiro capitulo do livro de Apocalipse, a
II. O Tempo do Arrebatamento última trombeta do trecho de I Cor. 15:52 e a
Precisamos também considerar a questão do tempo trombeta de Mat. 24:31. São três acontecimentos
da segunda vinda de Cristo, no que diz respeito à distintos.
tribulação, e no que concerne à diferença entre o 11. A unidade da septuagésima semana do livro de
arrebatamento da igreja e a segunda vinda de Cristo. Daniel é mantida pelo pré-tribulacionismo. Em
John F. Walvoord, presidente do Dallas Theological contraste com isso, a posição meio-tribulacional
Seminary, de Dallas. no Texas, talvez tenha escrito a destrói a unidade dessa septuagésima semana,
exposição mais completa que há sobre esse tema. Ele confundindo o programa de Israel com o programa da
alistou cinqüenta razões pelas quais cria no igreja.
arrebatamento antes da tribulação, o que significa Natureza da Igreja
que a igreja não passaria pelo período da Grande 12. O arrebatamento da igreja nunca é mencionado
Tribulação. Bastaria a natureza completa de seus em qualquer passagem referente à segunda vinda de
estudos para merecer a nossa atenção, mesmo que Cristo, após a tribulação.
não concordemos totalmente com tal ponto de vista. 13. A igreja não está destinada à ira (ver Rom. 5:9; I
Abaixo expomos essas razões e oferecemos uma Tes. 1:9,10 e 5:9). Portanto, a igreja não poderá
breve crítica. entrar no «grande dia da ira deles» (ver Apo. 6:17).
Para efeito de brevidade, o termo arrebatamento é 14. A igreja não será surpreendida pelo Dia do
usado para indicar a vinda de Cristo para a sua igreja, Senhor (ver I Tes. 5:1-9), que inclui a tribulação.
ao passo que a expressão «segunda vinda» é 15. A possibilidade do crente escapar da tribulação é
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PAROUSIA
mencionada em Luc. 21:36. 31. Se for literalmente traduzida a expressão «isto
16. À igreja de FMadélfia foi prometido livramento não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia»,
da «hora da provação que há de vir sobre o mundo ou seja, «isto não acontecerá sem que primeiro venha
inteiro, para experimentar os que habitam sobre a a partida», ficará claramente demonstrada a necessi
terra» (Apo. 3:10). dade do arrebatamento antes do começo da Grande
17. É uma das características da maneira divina de Tribulação.
agir a de livrar os fiéis antes de qualquer juízo divino Necessidade de um Intervalo entre o Arrebata
ser infligido contra o mundo, conforme é ilustrado nos mento e a Segunda Vinda de Cristo
livramentos de Noé, Ló, Racabe, etc. (ver II Ped. 32. De acordo com II Cor. 5:10, todos os crentes da
2:6-9). presente era deverão comparecer perante o tribunal
18. Ao tempo do arrebatamento da igreja, todos os de Cristo, nos céus, um evento jamais mencionado nas
crentes irão para a casa de Deus Pai (ver João 14:3), e narrativas detalhadas concernentes à segunda vinda
não retornarão imediatamente à terra, após o de Cristo à terra.
encontro com Cristo nos ares, conforme ensinam os 33. Se os vinte e quatro anciões do trecho de Apo. 4:1
pós-tribulacionistas. — 5:14 representam a igreja, conforme muitos
19. O pré-tribulacionismo não divide o corpo de expositores bíblicos acreditam, então torna-se neces
Cristo quando do arrebatamento com base no sário o arrebatamento e o galardoamento da igreja
princípio das obras. O ensinamento de um arrebata antes do início da tribulação.
mento parcial se baseia sobre a falsa doutrina que diz 34. A vinda de Cristo para buscar sua Noiva deverá
que o arrebatamento da igreja recompensará as boas ter lugar antes da segunda vinda de Cristo à terra,
obras. Trata-se antes de um aspecto final da salvação para a festa nupcial (ver Apo. 19:7-10).
pela graça divina. 35. Os santos da Grande Tribulação não serão
20. As Escrituras ensinam claramente que a igreja arrebatados quando da segunda vinda de Cristo, mas
inteira, e não apenas uma parte dela, será arrebatada continuarão em suas ocupações normais, plantando e
quando da vinda de Cristo para a sua igreja (ver I Cor. edificando casas, e também gerarão filhos (ver Isa.
15:51,52 e I Tes. 4:17). 65:20-25). Isso seria impossível se todos os santos
21. Em oposição ao ponto de vista que postula um fossem arrebatados quando da segunda vinda de
arrebatamento parcial, o pré-tribulacionismo se Cristo à terra, conforme ensinam os pós-tribulacionis
alicerça sobre o ensinamento definido das Escrituras tas.
que a morte de Cristo nos livra de toda a condenação. 36. O julgamento dos gentios, que se seguirá à
22. O remanescente piedoso da tribulação é segunda vinda de Cristo (ver Mat. 25:31-46), indica
retratado como composto de israelitas, e não que tanto os salvos como os incrédulos ainda se
membros da igreja, conforme é dito pelos pós-tribula- acharão em seus corpos naturais, o que seria
cionistas. impossível se o arrebatamento tivesse lugar quando da
23. O ponto de vista pré-tribulacional, em contraste segunda vinda de Cristo.
com o pós-tribulacionismo, não confunde termos 37. Se o arrebatamento tivesse lugar ao mesmo
gerüis como ‘eleitos’ e ‘santos’, que se aplicam aos tempo que a segunda vinda de Cristo à terra, não
salvos de todos os séculos, com termos específicos haveria necessidade alguma de separar as ovelhas
como ‘igreja’ e aqueles que estão ‘em Cristo’, o que se dos cabritos, como algo ocorrido em um julgamento
refere somente aos santos desta era. subseqüente, mas a separação teria lugar no próprio
Doutrina da Iminência ato do arrebatamento dos crentes, antes de Cristo
24. A posição pré-tribulacional é o único ponto de realmente estabelecer o seu trono à face da terra (ver
vista que ensina que o retorno de Cristo é realmente Mat. 25:31).
iminente. 38. O julgamento da nação de Israel (ver Eze.
25. A exortação para nos consolarmos ante a vinda 20:34-38), que ocorrerá depois da segunda vinda de
do Senhor (ver I Tes. 4:18) só é significativa para o Cristo, indica a necessidade de reunir novamente o
ponto de vista pré-tribulacional, sendo contradita povo de Israel. A separação entre os salvos e os
especialmente pelo pós-tribulacionismo. perdidos, nesse julgamento, obviamente terá lugar
26. A exortação para esperarmos pela ‘gloriosa algum tempo após a segunda vinda, e seria algo
manifestação’ de Cristo em favor do que lhe desnecessário se os salvos já tivessem sido separados
pertencem (ver Tito 2:13) perde sua significação se a dos incrédulos por meio do arrebatamento.
tribulação deve ocorrer antes disso. Os crentes, nesse Contraste Entre
caso, deveriam esperar sinais da vinda de Cristo, o Arrebatamento e a Segunda Vinda de Cristo
apenas. 39. Ao tempo do arrebatamento, os santos se
27. A exortação para nos purificarmos, em face do encontrarão com Cristo nos ares, ao passo que, na
retorno do Senhor, se reveste de maior significação se segunda vinda, Cristo retornará ao monte das
a vinda de Cristo for iminente (ver I João 3:2,3). Oliveiras, vindo assim ao encontro dos santos na
28. A igreja é uniformemente exortada a esperar a terra. ,
vinda do Senhor, ao passo que aos crentes que 40. Ao tempo do arrebatamento, o monte das
estiverem vivos durante o período da tribulação se Oliveiras ficará intocado, ao passo que ao tempo da
recomenda que aguardem sinais da volta de Cristo. segunda vinda será formado um grande vale a leste de
A Obra do Espirito Santo Jerusalém (ver Zac. 14:4,5).
29. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor 41. Quando do arrebatamento, os santos vivos serão
do mal», não poderá ser retirado do mundo a menos arrebatados, ao passo que nenhum crente será
que a igreja, na qual habita o Espírito, seja retirada ao arrebatado em conexão com a segunda vinda de
mesmo tempo. A tribulação não poderá começar Cristo à terra.
enquanto essa restrição não for suspensa. 42. Quando do arrebatamento, os santos serão
30. O Espírito Santo, na qualidade de «restringidor», levados para os céus, ao passo que, na segunda vinda
será tirado do mundo antes de revelar-se o ‘iníquo’, de Cristo à terra os santos continuarão à face da terra,
que dominará o mundo durante o período da sem qualquer arrebatamento.
tribulação (ver II Tes. 2:6-8). 43. Ao tempo do arrebatamento, o mundo
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PAROUSIA
continuará sem julgamento e prosseguirá em seus ca entre o «arrebatamento» e a «segunda vinda de
caminhos pecaminosos, ao passo que na segunda Cristo» é uma doutrina recente, que veio à cena
vinda de Cristo o mundo será julgado e a retidão será apenas a cem anos passados. Portanto, pode tratar-se
estabelecida neste mundo. de uma criação moderna, que dá à igreja da fé fácil
44. O arrebatamento da igreja é retratado como um meio de escape para não entrar na prometida
livramento antes do dia da ira; mas a segunda vinda Grande Tribulação. Os crentes primitivos criam na
de Cristo será seguida pelo livramento daqueles que iminência do retorno de Cristo; mas isso não consistia
tiverem confiado em Cristo durante a tribulação. de um dogma, mas tão-somente de uma esperança.
45. O arrebatamento é descrito como imimente, ao (Caso contrário, a igreja primitiva teria incorrido em
passo que a segunda vinda de Cristo é precedida por grave erro de cálculo, pois Cristo não retornou no
sinais definidos. tempo deles). Mas, quanto à sua «esperança», ela não
46. O arrebatamento de santos vivos é uma verdade se cumpriu, o que facilmente pode dar-se também em
revelada exclusivamente no N.T., ao passo que a nosso caso. Por igual modo, Paulo esperava morrer
segunda vinda de Cristo, com suas ocorrências em Roma, e no fim de sua vida terrena parece ter
correlatas é uma doutrina que se destaca em ambos os perdido a esperança que veria a Cristo enquanto vivo
Testamentos. na carne. Outrossim, estando os crentes primitivos
47. O arrebatamento diz respeito exclusivamente aos tão distantes daquele evento, não se mostraram muito
salvos, ao passo que a segunda vinda de Cristo envolve exatos sobre o que deveriam esperar; e seus
tanto os salvos como os perdidos. sentimentos sobre a iminência do retorno de Cristo
não devem ser necessariamente transferidos para a
48. Quando do arrebatamento, Satanás não será igreja moderna, apesar de ser correto esperarmos pela
amarrado, ao passo que por ocasião da segunda vinda vinda «breve» de Cristo, precedida por determinados
de Cristo, Satanás será amarrado e lançado no sinais, conforme aqueles que lemos no vigésimo
abismo. quarto capítulo do evangelho de Mateus. Passagens
49. Nenhuma profecia a ser cumprida há entre a como essa não antecipam uma vinda de Jesus Cristo
igreja e o arrebatamento, ao passo que muitos sinais em dois «estágios»; e são somente os hiperdispensacio-
terão de ser cumpridos antes da segunda vinda de nalistas que separam as previsões de Jesus nas
Cristo. categorias «para os judeus» e «para os cristãos», ao
50. Nenhuma passagem, que trata da ressurreição passo que o evangelho de Mateus é um documento
dos santos, por ocasião da segunda vinda de Cristo, «cristão», escrito Já bem dentro da era cristi.
em ambos os Testamentos, menciona o arrebatamen b. O argumento baseado na hermenêutica:
to dos santos vivos, ao mesmo tempo. pode-se acreditar bem firmemente em uma «tribula
Não se presume que os argumentos acima expostos ção» literal, e ao mesmo tempo crer que a igreja cristã
estabeleçam por si mesmos a sua validade; antes, passará por ela.
apresentamos esses argumentos como apoio e c. Natureza da tribulação. Limitar a tribulação
justificação para a discussão previamente exposta, somente à preparação da nação de Israel para a
dando o sumário de razões em favor do ponto de vista restauração, e não encarar a tribulação como medida
pré-tribulacional. que purificará a própria igreja, como se fosse uma
A CRITICA espécie de medida preparatória da Noiva para a vinda
A partir deste ponto apresentamos a critica a esses do Noivo, é fazer com que os capítulos quinto a
pontos de vista pré-tribulacionais: décimo nono, do livro de Apocalipse, não tenham
1. Um bom serriço foi feito pelo autor da lista qualquer aplicação direta à igreja cristã, ao passo que
acima, pois apresenta-nos várias formas de distinção, esse livro tem como seu propósito específico advertir e
existentes entre os evangélicos de hoje em dia, entre o sustentar a igreja em meio à tribulação; e isso tanto no
«arrebatamento» e a «segunda vinda de Cristo», e a período da igreja primitiva, que sofria tribulações e
relação que ambas essas ocorrências têm para com a perseguições, como prefiguração do que aconteceria
igreja cristã, para com os incrédulos, para com a futuramente, como também profeticamente, para
Grande Tribulação e para com o milênio. Isso ajudar a igreja cristã que existir quando ocorrer a
nos ajuda a perceber, de maneira geral, como a «Grande Tribulação». Fazer com que a maior parte do
questão é manuseada em nossos dias, em contraste livro de Apocalipse e outras passagens proféticas
com o modo como era manuseada «m gerações (como o décimo terceiro caphulo do livro de Marcos f
passadas, por aqueles que não estabeleciam tais o vigésimo quarto capítulo de Mateus), não tenham
distinções. qualquer aplicação à igreja é estabelecer distinções
2. Entretanto, devemos salientar que um mero que as próprias Escrituras não estabelecem, cortando
grande número de argumentos, por si mesmos, não a Bíblia em pedaços, porquanto assevera indireta
prova a validade de tais distinções, a menos que mente que esses não são, realmente, documentos
alguns deles, considerados isoladamente, ou todos cristãos, não tendo sido escritos para benefício da
juntos, realmente sejam convincentes. Ora, aqueles igreja, o que é uma posição insustentável.
que não acreditam na distinção entre o «arrebatamen d. No tocante à natureza da igreja. Passagens
to», e a «segunda vinda de Cristo», quanto à sua como Apo. 3:10, que supostamente indicam o
natureza e quanto ao elemento do tempo, não se «livramento da presença da ira», bem podem não
deixam convencer por aqueles argumentos acima, significar isso ao serem consideradas dentro do
nem considerados em separado e nem em seu pensamento que tal versículo foi escrito para uma
conjunto. Abaixo oferecemos apenas um exemplo de igreja que naquele exato momento passava por uma
como alguns desses argumentos são negados, através hora de teste, a qual foi «sustentada» ou «guardada»,
do que se pode ver como podem ser todos eles mas não fo i livrada da presença da tribulação. A
derrubados. Não nos deveríamos esquecer de que igreja primitiva foi «guardada da tribulação» por
qualquer sistema, quando bem desenvolvido, tem boa haver sido preservada de seus maus efeitos-, mas não
consciência dos argumentos dos sistemas opostos, no sentido de ter sido tirada da tribulação. Ora, esse é
pelo que também encerra argumentos e contraargu o mesmo tipo de livramento que aguarda a futura
mentos sobre pontos controvertidos: igreja cristã. Em sentido algum a igreja do fim está
a. O argumento histórico. A distinção cronológi
destinada à ira; mas poderá sofrer os efeitos da ira
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PAROUSIA
divina que sobrevirá ao mundo, até o ponto em que tenho certeza e apresento esta interpretação como
ela mostrar-se mundana, necessitada de purificação uma especulação que pede ser parcialmente certa,
desses elementos, embora a ira final de Deus não se parcialmente errada. É parte da minha especulação a
descarregue contra ela. Se há alguma coisa evidente idéia de que a tribulação durará até 40 anos, o
no mundo de hoje, é que a igreja precisa número místico e simbólico de provação.
desesperadamente dessa purificação. m. A Vinda Literal de Cristo
3. A obra do Espirito Santo. O Espirito Santo, na
qualidade de restringidor, será realmente tirado do A palavra litoral normalmente é usada para
caminho antes que a grande tempestade comece a indicar o que é físico ou visível e, com freqüência,
açoitar; mas isso não significa que Ele não possa «real». Mas a vinda de Cristo pode ser «real», ainda
permanecer com sua igreja durante a tempestade, que não seja física e nem visível para todos os homens.
protegendo-a até ao ponto em que isso não impeça a Pelo menos, para a igreja e para o Israel, será visível.
tempestade. Cristo recolherá para si mesmo os seus santos, e
passará a reinar sobre a terra; mas este «reino» poderá
4. Contrastes entre o arrebatamento e a segonda ocorrer «espiritualmente». Isso não indica uma
vinda para julgar. Ninguém pode negar que há maneira «irreal» e, sim, «real», de uma maneira
trechos bíblicos que descrevem diferentemente a diferente do que partes da igreja ordinariamente
segunda vinda de Cristo, mostrando os elementos pensam. Afinal de contas, o que é «real», e mesmo
variegados, complexos e aparentemente contraditó «mais real», não é o que é material, mas antes, o que é
rios que há ali, porquanto muitas condições e povos, espiritual. Portanto, uma elevada glória poderá ser
terrenos e celestiais, estão ali em foco. Porém, tudo dada à igreja, havendo grande transformação física à
quanto pode ficar provado por essa observação é que face da terra, um autêntico milênio, mesmo sem a
se trata de uma ocorrência complexa e dotada de forma visível de Cristo fazer-se presente. Seja como
efeitos de longo alcance, não que deve ser dividida for, Cristo é o poder que há por detrás de ambas as
meramente em duas fases cronológicas separadas. coisas, e ele reinará verdadeiramente, «literalmente»,
É melhor dizer que a segunda vinda de Cristo será embora talvez não se manifeste sob forma visível.
uma série de acontecimentos, sobre um tempo Ainda temos muito que aprender sobre o que
considerável, e que alguns deles se aplicarão à igreja, significará a manifestação particular do segundo
e outros aos outros homens. advento de Cristo, no que diz respeito à terra.
Nenhuma tentativa é feita aqui para apresentar Dizemos uma vez mais que os próprios acontecimen
uma refutação completa. Longos artigos têm sido tos, à medida que se desenrolarem, esclarecerão isso
escritos sobre o tema, ao longo das linhas aqui para nós, se Deus não o fizer mais claramente de
sugeridas. O argumento em favor do arrebatamento antemão. A segunda vinda de Cristo será um
anterior à Grande Tribulação não é tão forte como acontecimento real e literal, mas talvez ocorra
seus defensores dão a entender. Todavia, a questão inteiramente de forma espiritual (para o mundo
não está resolvida sob hipótese alguma. Esta físico). Deus, entretanto, esclarecerá isso para nós,
enciclopédia toma a posição de que qualquer exame quando estivermos preparados para receber tal
do problema em face do que dizem as Escrituras e esclarecimento.
mediante o uso de argumentos favoráveis e contrário,
não pode solucionar a questão além de qualquer IV. A Igreja Cristi Primitiva Esperava Esse
dúvida, e que somente os acontecimentos da história, Acontecimento em seus Próprios Dias
em desdobramento podem aclarar o assunto, a menos (Ver I Tes. 4:15 e I Cor. 15:51). Não esperavam que
que Deus ache bem nos dizer qual a verdade final houvesse um longo «período da igreja», entre o
sobre a matéria, mediante profecia ou revelação, e primeiro e o segundo adventos de Cristo. Em todos os
assim unir a igreja em torno da questão. O mais séculos a igreja cristã deverá compartilhar dessa
provável, entretanto, é que os próprios acontecimen atitude, a fim de preservar essa esperança, para que
tos venham a esclarecer tudo. O autor desta ela atue como um elemento purificador (ver I João
enciclopédia crê pessoalmente na necessidade de 3:2,3). A própria primeira epístola aos Tessaloniceft-
purificação, através, pelo menos parte da Tribulação, ses, a qual nos mostra quão viva era essa esperança,
e que assim a igreja sofrerá para seu próprio de modo que alguns cristãos primitivos tinham
beneficio; e também que esses acontecimentos suspendido até mesmo o trabalho físico, com suposta
ocorrerão por volta dos fins do século XX. A base na iminência da vinda de Cristo, serve de
experiência demonstrará tudo para nós, ao passo que demonstração dessa expectação. É mesmo possível
nossos argumentos em prol e contra esta ou aquela que as declarações do Senhor Jesus que se encontram
posição servem somente para nos deixar na dúvida, em Mat. 16:28 e 24:34 tivessem sido influências
até que os próprios acontecimentos ocorram. determinantes dessa atitude da igreja primitiva. Essas
Estou escrevendo este pequeno parágrafo alguns passagens dizem, respectivamente: «Em verdade vos
anos depois da escritura dos parágrafos dados acima. digo que não passará esta geração sem que tudo isso
Atualmente acho que a tribulação durará bem mais aconteça». E: «Em verdade vos digo que alguns que
do que os sete anos tradicionais. Possivelmente o aqui se encontram de maneira nenhuma passarão
número 7 é simbólico e indica um período completo morte até que vejam vir o Filho do homem no seu
ou perfeito de desastres que quebrará o poder de um reino». Por outro lado, há passagens bíblicas, como
mundo pagão. Possivelmente o número (se não Atos l:7 e Mar. 13:32 que impossibilitam toda a idéia
simbólico) indica um tempo especial para a nação de de cálculo aproximado de tempo, deixando o assunto
Israel que constituirá, não tudo, mas uma parte, da como questão aberta.
tribulação. A igreja, então, uma vez purificada,
poderá escapar destes 7 anos. O Apocalipse deixa bem V. A Segunda Vinda de Cristo Será a Concretizaçio
claro que a igreja passará a tribulação e enfrentará o do Senhorio de Cristo, Tanto para o Mundo
anticristo. Certamente, os cristãos antigos esperavam Como Para a Ignja
exatamente isso, embora tal não fosse destinado para Será um gigantesco passo na direção aa restauração
eles. A esperança de escapar aos sete anos (de terror de tudo, segundo os termos do primeiro capítulo da
maior, talvez), pode ser uma compreensão moderna, epístola aos Efésios. Ver o trecho de Efé. 1:10 e as
inspirada pelo Espirito Santo. Sobre este ponto, não notas expositivas ali existentes no NTI acerca do
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PAROUSIA
«mistério da vontade de Deus», que se cumprirá manifestação, no que diz respeito a «estágios».
quándo do retorno de Jesus Cristo, como um fato ou 2. Por conseguinte, o próprio Paulo, ao descrever a
potencialmente, devido ao poder e autoridade que parousia, podia cair em aparentes contradições,
Cristo assumirá naquela oportunidade, ainda que não porquanto explanava algo muito complexo, sobre o
se manifestem de imediato todos os efeitos da tomada que ele mesmo tinha um conhecimento limitado.
daquela autoridade, conforme se vê no décimo quinto Alguns têm mesmo sugerido que, em diferentes
capítulo da primeira epístola aos Coríntios e na oportunidades, Paulo possa ter exprimido uma idéia
passagem dos capítulos décimo nono a vigésimo ou outra, no que chegou mesmo a contradizer-se.
segundo do Apocalipse. Cristo será, afinal, «tudo para Nesse caso, em I e II Tessalonicenses, ele pode ter
todos» (como Efé. 1:23 pode ser traduzido). feito exatamente isso.
O termo grego mais freqüentemente usado para 3. Sem embargo, penso que existe uma interpreta-
indicar a volta de Cristo é a parousia, que significa ;ão mais provável ainda. Em I Tessalonicenses, Paulo
«presença» ou «chegada». De fato, esse vocábulo veio a expressou um «sentimento» ou «esperança», isto é, que
ser usado como termo técnico para indicar esse Cristo voltaria em breve. Isso é encarado como algo
acontecimento, que também é denominado — tão breve que fica eliminada qualquer necessidade de
«segunda vinda», a fim de distingui-lo da primeira sinais prévios. No entanto, ele exprimia uma
vinda de Cristo. (Ver as notas expositivas, em I Tes. «esperança», e não um dogma. Se porventura fosse
2:19 no NT1 acerca do uso «técnico» e do uso «não- um dogma, estaria laborando em erro, porquanto
técnico» dessa palavra). Cristo não retornou durante o período de vida de
VI. Observações Sobre o Arrebatamento No Paulo. Já em II Tessalonicenses, Paulo teria tido de
Tocante a Segunda Vinda de Cristo para assumir uma posição mais madura sobre o assunto. E
Julgar assim, a vinda de Cristo, embora ele continuasse
sentindo que ocorreria em breve, não teria lugar
1. Suposta contradição entre I e II Tessalonicensesimediatamente, porquanto seriam necessários pelo
no tocante a esse assunto. I Tessalonicenses parece menos dois sinais de aviso, antes que pudesse
ensinar um «arrebatamento» sem sinais de aviso, e, realizar-se a vinda de Cristo: a. o aparecimento do
portanto, iminente, extremamente próximo. II Tessa- anticristo; e b. a apostasia. Isso nos é dito em II Tes.
lonicenses, por sua parte, parece dizer que isso não 4:3. Tal ensino, pois, adquiriu então a forma de uma
poderá suceder enquanto não acontecerem primeiro declaração dogmática, mais ampla e completa, que a
certas coisas, a saber, o aparecimento do anticristo e a declaração «esperançosa» de I Tessalonicenses. Em
apostasia. Por que essa diferença? outras palavras, temos aqui um «desenvolvimento»
teológico.
a. Há uma interpretação que se vai popularizan
do em nossos dias, e que pretende fazer-nos crer que I Nota do Tradutor. Além disso, em I Tessalonicen
Tessalonicenses fala sobre o arrebatamento da igreja ses, Paulo não estava entrando em contradição com
(o que ocorreria sem sinais prévios e que poderia aquilo que ensinara pessoalmente aos crentes de
Tessalônica, quando ainda se encontrava entre eles.
suceder a qualquer instante), ao passo que II
Tessalonicenses se referiria à vinda de Cristo a fim de Apenas fizera um sumário de seu ensino, naquela
primeira epístola. Como esse sumário fora entendido
julgar o mundo (um acontecimento posterior, como se tivesse exprimido o quadro completo, Paulo
precedido por sinais). Tal idéia é extremamente se viu forçado, em II Tessalonicenses, a apresentar o
duvidosa, como a leitura meramente casual do quinto
quadro profético mais amplo. E no quinto versículo,
capítulo de I Tessalonicenses é capaz de indicar. Pois capítulo 2, relembra aos Tessalonicenses, que quando
o «mesmo dia» que apanhará o crente verdadeiro estivera entre eles, mostrara a complexidade da
desperto e vigilante, apanhará o incrédulo dormindo, questão, que eles haviam erroneamente simplificado
espiritualmente falando. Comparar I Tes. 5:2 com II ao lerem sua primeira epístola: «Não vos recordais de
Tes. 2:2. Ambos esses trechos aludem à «parousia», que, ainda convosco, eu Costumava dizer-vos estas
não havendo qualquer indício de que Paulo estivesse cousas?»
falando acerca de acontecimentos distintos.
Essa controvérsia, contudo, é explicada ainda com
b. Luzes derivadas do A. T.Ê verdade que o A.T.
se refere ao primeiro e ao segundo adventos de Cristo, maiores detalhes no artigo sobre a segunda epístola
aos Tessalonicenses, seção I.
como se fossem um único evento. E por certo, os
rabinos judeus também não faziam qualquer distin 4. No tocante a «quando» o arrebatamento terá
ção entre as duas ocorrências. Portanto, é possível que lugar, se pré-tribulacional, meio-tribulacional ou
os dois acontecimentos de que falamos (um arrebata pós-tribulacional, isso é amplamente ventilado nas
mento e uma vinda de Cristo para julgar), venham a notas sobre I Tes. 4:15 no NTI. A posição desta obra é
ser, afinal, acontecimentos distintos, sem que isso que a própria tribulação abarcará um período de
jamais tenha sido claramente descrito. quarenta anos (o número místico bíblico que
c. Seja como for, porém, a própria «parousia» representa provação), e que os sete anos (tradicio
não será um único evento, e nem mesmo um evento nais), serão um período especial daquele período
duplo. Antes, será uma série de acontecimentos. Terá maior, e não a totalidade do mesmo. A igreja pode
início na batalha de Armagedom (ver Apo. 16:14,15); escapar ou não daquele período especial, no último
terá de incluir o arrebatamento da igreja; e terá de estágio do período maior de quarenta anos, e terá
envolvimentos especiais com Israel. Seja como for, a
envolver, igualmente, a vinda de Cristo para julgar igreja terá de enfrentar o anticristo, pelo menos nos
os perdidos. No entanto, envolverá também a primeiros passos de seu poderio; e também será
destruição final dos céus e da terra, terminado o
milênio (ver II Ped. 3:4,12). A «parousia», pois, será a testemunha da apostasia. A cristandade tornar-se-á
uma ala do poder do anticristo e o remanescente de
vinda e a manifestação de Cristo através de uma série verdadeiros crentes, que resistirá a ele, será amarga
de ocorrências, o que se prolongará por um extenso mente perseguido.
período de tempo. No processo dessa manifestação,
Cristo sujeitará todas as coisas debaixo de seus pés e VII. Urgência Desta Verdade
tornar-se-á o Senhor universal (ver Efé. 1:10). 1. Poucas dúvidas existem de que a anticristo já
Portanto, podem ser falsas ou verdadeiras as está vivo e logo tornar-se-á conhecido por todos.
distinções de tempo que estabelecermos quanto a essa Manifestará seu poder em nossa geração, e teremos de
PAROUSIA - PARTEIRA
enfrentá-lo. Ver o artigo intitulado, Profecia: negativa, nas páginas da Bíblia, não pòdendo ser
Tradição da, e a Nossa Época. Este artigo nos confundida com o arrebatamento dos salvos.
dá razões para essa crença, juntamente com um Primeiro venha a apostasia: II Tes. 2:3. Nó grego
esboço das profecias relativas ao futuro. temos apostasia. Tal palavra pode significar «rebe
2. Cremos que a tribulação começará em breve, lião». «abandono». Daí vem o seu sentido religioso de
abrangendo um período total de quarenta anos. Os «apostasia». Ver Jos. 22:22; II Crô. 20:19 e I
sete anos tradicionais serão uma porção desse período Macabeus 2:15. Ver também Atos 21:21, onde se lê
total, com aplicação especial à nação de Israel. (Ver o «...ensinas todos os judeus entre os gentios a
artigo sobre a «tribulação»). apostatarem de Moisés...»
3. Esse período é tão breve, mas terá muitas
implicações morais.
4. Como nos poderemos preparar para os dias
difíceis imediatamente à frente? Através do desen PARSISMO
volvimento espiritual. Utilizemo-nos dos meios desse Esse é o nome da religião do Zoroastrismo (vide),
desenvolvimento; a. o estudo dos livros sagrados (ver assim chamada porque foi inicialmente fundada em
I Tim. 4:13); b. a oração (ver Efé. 6:18); c. a Pars, ou Pérsia. Atualmente é a fé religiosa de cerca
meditação (ver Efé. 1:18); d. a santificação (ver 1 Tes. de cem mil parses, na parte ocidental da Índia. Eles
4:3): e. a prática da lei do amor, que consiste das boas foram um grupo de zoroastrianos que migraram para
obras em favor do próximo (ver I João 4:7); e f. o uso a índia quando os islamitas conquistaram a Pérsia, no
dos dons espirituais (ver a introdução ao décimo século VIII D.C. E, uma vez na Índia, concentraram-
segundo capitulo da epístola de I Coríntios no NT1). se em Bombaim.
Há problemas de autenticidade e de autoria, na
segunda epístola aos Tessalonicenses. Se a segunda
epístola ensina que certos sinais devem anteceder à PARTAS (PÀRTIA)
«parousia», ao passo que a primeira epístola aos O trecho de Atos 2:9 menciona judeus vindos desse
Tessalonicenses não dá qualquer indicação nesse lugar, presentes em Jerusalém no dia de Pentecoste.
sentido, mas descreve um evento realmente iminente, Sem dúvida eram prosélitos judeus que tinham vindo
então se cria o problema sobre como Paulo poderia ter assistir à festa de Pentecoste. Os partas eram um povo
ensinado uma coisa em uma epístola, e outra coisa na da porção noroeste da Pérsia, moderno Irã, que
segunda. Surge então a suposição de que Paulo não vivia na área geral a suleste do mar Cáspio. «Na
teria sido o autor da segunda epístola, que é a mente do escritor do livro de Atos, a Pártia designava
explicação dada por alguns intérpretes. Esse proble o grande império construído pelos partas, e que se
ma inteiro, juntamente com outros, referente à estendia desde a Índia até às margens do rio Tigre, e
autenticidade e à autoria, é abordado na seção II desde o deserto corasmiano até às praias do oceano
sobre esta epistola. Acerca disso, talvez seja melhor Indico. Daí a posição proeminente ocupada pelos
dizermos que um autor qualquer pode escrever de partas, na lista de nacionalidades presentes no dia de
acordo com dois pontos de vista, com base em duas Pentecoste. A Pártia era uma potência que quase
teses diversas. Quiçá Paulo visse a «parousia» como rivalizava com Roma, e foi o único poder então
iminente, em certas ocasiões, e que em outros existente que experimentou forças contra os romanos
momentos sentisse que certos eventos deveriam e não foi batido no encontro. O domínio parta
precedê-la. Essa aparente vacilação é possível no que perdurou por quase cinco séculos, a começar pelo
tange à questão das profecias, onde, em várias áreas, século III A.C. e terminando já no século III D.C. Os
nosso conhecimento ainda é incompleto. Os primeiros partas haviam conquistado Jerusalém em 40 A.C., e
cristãos esperaram uma iminente segunda vinda de Roma fez de Herodes rei da Judéia, na época, a fim de
Cristo, sem contemplar um grande intervalo entre a entravar o formidável avanço do império parta para o
primeira e a segunda vindas. Mas esta esperança foi Ocidente» (UN).
um sentimento não um dogma. Uma consideração A Pártia era um distrito que ficava a suleste do mar
mais exata mostrou para Paulo que a igreja deverá Cáspio, que fizera parte do império persa, conquista
enfrentar o anticristo. I Tes. fala do sentimento de do por Alexandre o Grande, da Macedônia. Na
iminência. II Tes. tem o dogma de que a igreja deve guerra, os partas eram hábeis arqueiros-cavaleiros, o
enfrentar o anticristo. Os próprios acontecimentos, que os romanos descobriram com surpresa e
porém, dar-nos-ão maior entendimento sobre essas desânimo. De conformidade com Josefo, historiador
questões, e então perceberemos mais claramente o dos judeus, os israelitas deportados para esse
que diversos trechos bíblicos querem dizer. Essas território continuaram a falar um dialeto aramaico e a
predições bíblicas haverão de fortalecer espiritual adorar a Yahweh. Enviavam tributo a Jerusalém.
mente os crentes, no tempo de seu cumprimento, A lenda que dizia que Nero recuperar-se-ia de seu
ainda que agora tenhamos de permanecer curiosos ferimento mortal (ele cometeu suicídio), e que então
sobre os detalhes específicos dos acontecimentos voltaria com os partas para cometer matricídio,
vindouros. reflete-se em Apo. 17:10 ss. De acordo com essa
VIU. Acontecimento« que Terlo de Anteceder à lenda, os dez reis seriam reis partas que Nero faria
«Parousia» consolidar, contando assim com um exército invencí
1. O anticristo terá de surgir em cena e adquirir um vel, que serviria de seu instrumento de operações
domínio imenso. bélicas.
2. Terá de haver a grande apostasia, I Tes. 2:3, que
envolverá a todos os seres humanos, e até a igreja
organizada. Essa "apostasia» nada tem a ver com o PARTEIRA
«arrebatamento», conforme alguns têm afirmado
equivocadamente. Apesar de que «apostatar», no No hebraico, yalad, «quem ajuda a dar à luz»,
grego, significa «deslocar-se da posição», não está em «parteira». A referência é àquelas mulheres que
pauta o deslocamento dos salvos deste mundo para as tomavam sobre si a tarefa de ajudar a outras
nuvens, ao encontro do Senhor, e, sim, a perda de mulheres, por ocasião do parto.
posição no terreno da fé. A apostasia é uma idéia A cultura hebréia tinha bem pouco espaço
95
PARTEIRA - PARTO
concedido à medicina como uma ciência. Ver o artigo Essa palavra é usada pelos entomologistas para
sobre a Medicina. Apesar disso, podemos supor que indicar certos processos reprodutivos dos insetos. Daí
as parteiras hebréias que talvez tivessem aprendido a foi tomada por empréstimo (e de modo impróprio,
sua técnica com os egípcios, eram dotadas de conforme alguns pensam) para aludir à controvérsia
considerável conhecimento e habilidade. Geralmente, que envolve o nascimento virginal de Jesus. Ver o
as parteiras eram amigas ou parentas mais idosas, artigo geral Nascimento Virginal de Jesus.
mas também parece que havia, entre os israelitas,
uma classe de mulheres treinadas e experientes nessa
técnica. Quanto a referências bíblicas às parteiras e PARTICIPAÇÃO DOS HOMENS NÁ NATUREZA
ao trabalho que desempenhavam, ver Gên. 35:17; DIVINA
38:28; Êxo. 1:15,17-21 e Eze. 16:4. A última dessas
Ver Divindade, Participação na pelos Homens.
passagens fála sobre cortar o cordào umbilical, lavar o
nascituro em água, esfregá-lo com sal e envolvê-lo em
faixas de pano.
Outras pequenas informações que temos na Bíblia PARTICULARES
sobre a questão são como aquela que historia que Temos aí um vocábulo platônico que alude aos
quando nasceram gêmeos a Tamar, a parteira objetos terrestres, em contraste com os universais
identificou o menino «mais velho» amarrando um fio (vide). Estes também são chamados formas ou idéias.
vermelho no seu braço. Isso, sem dúvida, atendia às Os particulares aparecem no fluxo postulado por
exigências dos preceitos sobre a herança (ver Gên. Heráclito. Os particulares são temporais, mutáveis,
38:28). Além disso, o Faraó, rei do Egito, querendo imperfeitos, meras imitações dos universais. Por
diminuir a ameaça representada pelo povo de Israel, serem perecíveis e limitados, representariam uma
que cada vez mais se multiplicava ali, ordenou que as realidade inferior da dos universais. Teriam vindo à
parteiras hebréias matassem as crianças do sexo existência por meio do Demiurgo (um conceito
masculino, conforme fossem nascendo, mas poupas parecido com o do Logos). A presente criação foi
sem a vida das crianças do sexo feminino, por razões planejada para imitar os universais. Isso posto, nesse
óbvias. O texto envolvido (Êxo. 1:15-22) indica a sentido, os particulares participam, em algum grau,
facilidade com que as mulheres hebréias davam à luz da realidade dos universais. Platão não atribuía aos
a seus filhos, em contraste com as mulheres egípcias. particulares uma natureza ilusória, conforme fazem
Talvez essa facilidade no parto se devesse ao fato de certas religiões orientais. — Ele concebia um
que as mulheres hebréias, escravas como eram, autêntico dualismo. Todavia, Platão aludia aos
faziam muito exercício físico, enquanto as damas particulares como representantes de uma realidade
egípcias pouco se exercitavam. Mas, como já seria secundária, temporal. O homem é apanhado no
mesmo de esperar, as ordens do Faraó foram mundo dos particulares, visto que possui corpo físico.
desobedecidas pelas parteiras hebréias. Esse texto, no O corpo físico é o sepulcro ou prisão do homem. Mas
hebraico, também menciona a banqueta de parir, a sua alma anela pelo mundo dos universais, ao qual
ilustrada em gravuras egípcias, nas paredes do pertencia, no passado distante, e para o qual voltará,
palácio de Luxor. A rainha Mautmés aparece sentada como seu lar. A alma humana participaria da
em uma dessas banquetas, dando à luz a uma eternidade, e nem teria sido criada e nem jamais
criança, enquanto duas parteiras lhe esfregam as pereceria.
mãos, sem dúvida para reanimá-la.
Essa banqueta podia ser algo tão simples como dois
tijolos, postos de modo a deixarem um espaço no
meio, e sobre os quais a mulher se assentava. Talvez a PARTIDO DA CIRCUNCISÃO
crueza do arranjo admire a alguns; mas está provado
que essa posição, para a mulher na hora de dar à luz, Ver Circuncisão, Partido da.
é muito melhor que a nossa costumeira posição
deitada de costas, pois até a força da gravidade ajuda
à mulher a ter sua criança naquela posição. O termo PARTO
egípcio mshnt aludia à banqueta de parir, e o 1. As Palavras
hieróglifo egípcio para «nascer» estava alicerçado Precisamos considerar três palavras hebraicas e
sobre o formato daquela banqueta. E o vocábulo duas palavras gregas, quanto a este verbete:
egípcio msi, veio a significar «dar à luz». As passagens 1. Chabal, — «ter trabalho de parto». Esta palavra
de 1 Sam. 4:20 e Rute 4:14,15 podem ser outras ocorre com esse sentido por três vezes: Can. 8:5; Sal.
referências às «parteiras», embora ali não seja 7:14.
empregada a palavra hebraica propriamente dita. 2. Yalad, «ter trabalho de parto», «parir», palavra
Uso Metafórico. Os diálogos socráticos, que hebraica que aparece por pouco mais de duzentas
procuravam extrair idéias e conhecimentos de outras vezes, conforme se vê, por exemplo, em Gên. 3:16;
pessoas (em vez de simplesmente declará-los), eram 30:39; II Reis 19:3; Jó 15:35; 39:1,2; Sal. 7:14; 48:6;
chamados maiéticos, com base na palavra grega que Isa. 13:8; 21:3; 33:11; 37:3; 51:18; 65:23; 66:7,8;
significa «relativo às parteiras». Qualquer ato que 42:14; Jer. 6:24; 22:23 ; 30:6; 31:8; 49:24; 50:43;
procure extrair de outras pessoas o melhor que elas Osé. 13:13; 9:16; Miq. 4:9,10; 5:3; Sof. 2:2.
têm, em qualquer empreendimento moral, intelectual 3. Chui, «ter dores de parto», uma palavra hebraica
ou espiritual, pode ser considerado um trabalho de que, com esse sentido, ocorre por quatro vezes: Isa.
parto. 23:4; 54:1; 66:7,8.
4. Odíno, «ter dores de parto». Palavra grega que é
usada por três vezes no Novo Testamento: Gál. 4:19;
4:27 (citando Isa. 54:1); Apo. 12:2. O substantivo,
PARTENOGÊNESE odín, «dores de parto», ocorre por quatro vezes: Mat.
Essa palavra vem do grego, párthenos, «virgem», e 24:8; Mar. 13:8; Atos 2:24 e I Tes. 5:3. O termo
génesis, «origem», «nascimento». Assim, significa ou reforçado sunodíno, «ter dores de parto juntamente
«nascimento virginal» ou «nascido de uma virgem». com», aparece por apenas uma vez, em Rom. 8:22.
96
PARTO
5. Tíkto, «dar à luz», «parir». Um vocábulo grego por exemplo, quando Raquel, por ocasião do
que é utilizado por dezoito vezes: Mat. 1:21; 1:23 nascimento de Benjamim, «deu à luz... um filho, cujo
(citando Isa: 7:14); 1:25; 2:2; Luc. 1:31,57; 2:6,7,11; nascimento lhe foi a ela penoso. Em meio às dores de
João 16:21; Gál. 4:27 (citando Isa. 54:1); Heb. 6:7; parto...» Gên. 35:16,17, onde é empregada a palavra
Tia. 1:15; Apo. 12:2,4,5,13. hebraica yalad («deu à luz», e «dores de parto»).
No grego, teknogonía, palavra que aparece somente Entretanto, na grande maioria das ocorrências, o
em I Tim. 2:15. Consideremos os pontos abaixo: termo hebraico em foco, qualquer que seja ele, é
empregado em sentido figurado.
1. O Termo. Essa palavra significa p artu riç ão ,
referindo-se ao trabalho de p arto . O ato envolve O trabalho de parto pode retratar as agonias
intenso labor, o trabalho da mulher que dá à luz a um envolvidas nos julgamentos divinos contra os ímpios.
filho. O trecho de H ebreus 1:9 declara que as Os babilônios condenados sofreriam angústias como
mulheres hebréias eram «vigorosas», mais que as uma mulher em trabalho de parto: «...e terão
mulheres egípcias, podendo dar à luz com mais contorsões como a mulher parturiente...» (Isa. 13:8;
facilidade e menos demoradamente. Provavelmente, ver também Jer. 50:43). E o próprio Isaías, ao meditar
isso deveria ser explicado com base no exercício físico sobre tais sofrimentos, por empatia, como que sofreu
regular, que p rep ara a m ulher p ara o ato. As dores de parto (Isa. 21:3). O mesmo é afirmado,
mulheres israelitas, sujeitas a muito trabâlho, no quando se fala sobre os juízos que sobreviriam a Sião
cativeiro egípcio, naturalmente davam à luz a seus (Miq. 4:9,10), a Israel (Jer. 6:24), a Judá (Jer. 4:31;
filhos com mais facilidade que suas sedentárias 13:21), ao Líbano (Jer. 22:23) e a Damasco (Jer.
senhoras egípcias. 49:24). Portanto, na linguagem dos profetas, a
expressão «trabalho de parto», ou sinônimo, era muito
2. Estágios do Parto. a. Dilatação da boca do útero usada para indicar angústia profunda, mormente em
(cerviz) o que, geralmente, dura de oito a catorze resultado dos juízos divinos.
horas. b. Expulsão da criança, com as contrações
uterinas, o que geralmente demora de uma a duas No Novo Testamento, vemos que o apóstolo Paulo,
horas. c. Separação e expulsão da placenta, o que com a sua alma agonizada, em face da falta de avanço
regularm ente dem ora mais quinze m inutos. O espiritual dos gálatas, de m i^ura com um lamentável
elem ento tem po, nesses processos, varia com as desvio da pureza do evangelho, exprime o seu protesto
dimensões e o form ato da pélvis da mãe, as suas contra esse estado de coisas, escrevendo: «...meus
energias físicas, o tamanho da vagina, e possíveis filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até
demoras ocasionadas por complicações. ser Cristo formado em vós...» (Gál. 4:19). Essa figura
3. O Trabalho de Parto. A Bíblia em prega simbólica das dores de parto também aponta para a
simbolicamente essas dores para referir-se às angús angústia que os discípulos de Cristo haveriam de
tias inesperadas (I Tes. 5:3), por ocasião da parousia padecer, quando Cristo viesse a ser crucificado. Mas,
ou segunda vinda de Cristo; Mar. 13:6-8, por ocasião assim como uma parturiente regozija-se, depois do
dos juízos de Deus; Gál. 4:19, acerca do desenvolvi nascimento de seu bebê, a mesma coisa sucederia aos
mento dos convertidos, que são filhos dos mestres discípulos: «A mulher, quando está para dar à luz,
cristãos; Rom. 8:22, acerca dos sofrim entos da tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas,
criação, na expectativa da restauração (que vide), o depois de nascido o menino, já não se lembra da
que, de acordo com Gênesis 3:16, resultam do pecado aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo
e da maldição impostos contra o mesmo. um homem. Assim também agora vós tendes tristeza;
4. O trecho de I Tim óteo 2:15 não é de mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e
interpretação fácil, pois o mesmo assevera que as a vossa alegria ninguém poderá tirar» (João 16:21,22).
mulheres serão salvas «através de sua missão de mãe», m . Uso Metafórico
se permanecerem na fé e no amor. O mais provável é Finalmente, a metáfota do trabalho de parto
que isso signifique que a m ulher que assum e seu retrata a atual condição da criação inteira, que geme
legítimo papel na economia divina, como esposa e sob o peso das conseqüências morais e físicas do
mãe, com isso prepara circunstâncias apropriadas pecado. Essa situação haverá de ter solução por
p ara a conversão religiosa. Alguns intérp retes ocasião do retorno de Cristo. O apóstolo Paulo
distorcem a idéia, traduzindo «será preservada através refere-se a isso quando escreve: «Porque sabemos que
de sua missão de mãe», conforme faz nossa versão toda a criação a um só tempo geme e suporta
portuguesa, como se nada mais estivesse envolvido angústias até agora. E não somente ela, mas também
além da segurança física, das mães piedosas, por nós que temos as primícias do Espirito, igualmente
ocasião do parto. Antes, o que está em pauta é que gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de
uma mulher, através de sua missão de mãe, facilita filhos, a redenção do nosso corpo» (Rom. 8:22,23).
seu próprio desenvolvimento espiritual, porquanto ela Portanto, até mesmo nós estamos envolvidos nessa
evita os excessos das mulheres mundanas, que agem aflição, porquanto ainda estamos divididos: por um
como homens ou levam vidas caracterizad as pela lado possuímos a natureza de Cristo, e por outro,
iniqüidade. Alguns estudiosos têm chegado a pensar, ainda temos conosco a natureza de Adão. E isso, para
embora sem nenhuma razão, que o dar à luz é algo nós, constitui-se em uma autêntica agonia, que pode
íecessário para a salvação de uma mulher. Não há ser comparada com as dores de uma mulher em
nenhum a base bíblica para tal noção. Há várias trabalho de parto. Mas, se essa nossa agonia terá fim
outras interpretações a respeito, alistadas e discutidas quando de nossa ida para o Senhor (mediante a morte
nas notas expositivas sobre I Tim. 2:15, no NTI. física), ou quando do retorno de Cristo (que
5. Alguns vinculam a questão ventilada no transformará os nossos corpos mortais em corpos
parágrafo acima à maldição acerca do parto, o qual, imortais), outro tanto não sucederá aos ímpios.
devido ao pecado, tomou-se um processo doloroso Antes, o retomo de Cristo ao mundo, para esses
(Gên. 3:16). Em outras palavras, para a mulher que últimos, representará a mais cruel agonia, por
suportar pacientemente tais dores, disso derivará saberem eles que estão inexoravelmente condenados:
certo benefício espiritual. «Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que
II. Sentido literal 'hes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor
Essas palavras aparecem tanto em sentido literal do parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo
quanto em sentido figurado. O sentido literal aparece, escaparão» (I Tes. 5:3).
PARTOS - PASCAL
PARTOS PASCAL (PÀSCHO)
O historiador Lucas (Atos 2:9), evidentemente fez a O adjetivo pascal deriva-se do termo hebraico
lista dessas nações do ponto de vista do império pesach. Mas este, por sua vez, não se deriva do verb<>
romano, a começar pelo grande reino dos partos, que grego páscho, «sofrer», embora a similaridade desses
continuava sendo, como fora desde os dias de Crasso, vocábulos tenha tentado alguns estudiosos a apresen
o mais formidável adversário dos romanos. Outros- tarem essa suposição. Aquela palavra hebraica foi
sim, era a região que dava mais para o nordeste do adotada pelo vocabulário grego e latino como pascha,
império. O catálogo vai procedendo do nordeste para que veio a tornar-se «páscoa», em português. Paulo,
o ocidente e para o ?ul. Também segue a ordem das sugeriu esse uso, em I Cor. 5:7 ss, onde ele escreve que
três dispersões dos judeus — caldaica, assíria e Cristo é o nosso «Cordeiro pascal». Ver o artigo
egípcia (segundo foi observado por Mede, livro I, intitulado Páscoa, Cristo Como a.
Disc. xx). A isso poderíamos acrescentar o fato de que Desde tempos remotos do cristianismo, cerimônias
os judeus ainda passaram pela dispersão romana, pascais têm sido observadas na Igreja Ocidental; e,
formando uma quarta dispersão. Dessa maneira, as naturalmente, a base das mesmas é a Ceia do Senhor,
nações aqui nomeadas poderiam ser agrupadas não só conforme era observada na Igreja primitiva.
geograficamente, mas historicamente por semelhante Na história da cristandade posterior, surgiu o
modo, porquanto houve diversos períodos da história costume de acender a Vela da Páscoa (vide), no
judaica em que a população judia se misturou com os Sábado Santo, que permanecia acesa até o dia da
povos ali mencionados, a saber: 1. Dispersão oriental Ascensão. Isso representa a luz, a vida e a esperança
ou babilônia; partos, medos e elamitas; 2. dispersão no tocante ao sacrifício, à ressurreição e à ascensão do
síria: Judéia, Capadócia, Ponto, Ãsia, Frigia e Senhor. Batismos em água tinham lugar nessa
Panfília; 3. dispersão egípcia: Egito e as regiões da ocasião; e assim cumpria-se graficamente o simbolis
Líbia; 4. dispersão romana: seriam os prosélitos mo de Rom. 6:3-5, pois ali lemos que, por ocasião da
judeus procedentes de cada uma dessas regiões, além imersão em água, somos «sepultados» e então
dos judeus de raça. que se encontravam presentes «ressuscitados» juntamente com Cristo. Esse rito
nessa festa do Pentecoste, e que portanto puderam acabou incorporando a noção de renovação dos votos
observar os acontecimentos daquele dia. do batismo, feita pela congregação inteira.
A Pártia era um distrito que ficava a suleste do mar
Cáspio, que fizera parte do império persa, conquista
do por Alexandre, o Grande, da Macedônia.
Atualmente a região faz parte do moderno Irã. Na PASCAL, AMULETO DE
guerra eram espertos arqueiros-cavaleiros, o que os Ver sobre Pascal, Blaise, primeiro parágrafo.
romanos descobriram com surpresa e desânimo. De
conformidade com Josefo, historiador judeu, os
israelitas deportados para esse território continuavam PASCAL, APOSTA DE
a falar um dialeto aramaico e a adorar ao verdadeiro Ver sobre Pascal, Blaise, sexto ponto.
Deus, enviando tributos ao templo de Jerusalém.
PASCAL, BLAISE
PARUA Suas datas foram 1623-1662. Matemático e cientista
No hebraico, «inflorescência». Nome do pai de natural, nascido na França em Clermont-Ferrand.
Josafá (não o rei). Josafá foi um dos servos civis de Mudou-se com a família para Paris. Mostrou ser um
Salomão, encarregado de suprir o palácio real quanto gênio matemático. Reconstituiu as provas da Geome
às suas necessidades durante um mês por ano. Ver I tria euclidiana até à Proposição 32. Isso ele fez com a
Reis 4:17. Ele dirigia o distrito de Issacar. idade de onze anos, sem nunca ter lido antes Euclides!
Quando ainda adolescente, escreveu obras originais
sobre matemática, tendo feito contribuições originais
PARVAIM à mesma. Também escreveu sobre a física. Porém, as
Não se sabe a significação desse nome hebraico. idéias religiosas atraíam-no poderosamente. Foi
Sabe-se somente que era o nome de um lugar onde influenciado pelas idéias do estoicismo e do
Salomão obteve ouro para decorar o templo de jansenismo. Sua mente lutava com contradições e
Jerusalém. Ver II Crô. 3:6. Os rabinos Hida e Ashi problemas de toda sorte, envolvendo questões
afirmaram que o ouro proveniente desse lugar tinha espirituais. Em 1654, ele passou por uma profunda
cor avermelhada, especialmente no dia da Expiação experiência mística, das 22:30 de certa noite, durante
(ver Talmude Yoma, 45a), o que é uma declaração duas horas. Experimentou o fogo espiritual, alegria,
estranha. Geograficamente, o nome tem sido identifi paz e o senso de união com Cristo. Com base nessa
cado com Sak el-Farwein, em Iemamá; ou com experiência, veio a perceber o transcendental valor do
Farwa, no Iêmen, ou mesmo com Sefar (mencionado cristianismo, e que essa é a principal avenida para
em Gên. 10:30). Gesênio e outras autoridades quem quer aproximar-se da verdade. Um ponto
afirmaram que essa palavra era uma espécie de curioso é que a essência dessa compreensão foi
sinônimo para Oriente. Seja como for, esse nome reduzida à forma escrita por ele, tornando-se então
nunca foi encontrado noutra fonte, exceto nessa única uma espécie de amuleto que ele costurou ao seu
referência bíblica. paletó, e que permaneceu com ele pelo resto de sua
vida. Oh! o poder de uma única experiência mística!
A irmã dele, Jacqueline, entrou no convento da
PASAQUE abadia de Port Royal, que era um dos centros do
No hebraico, «passado por cima». Esse foi o nome jansenismo. O próprio Pascal uniu-se ao grupo, como
de um dos três filhos de Jaflete, que foi líder da tribo leigo. Mas, finalmente, o jansenismo (vide) acabou
de Aser. Ele é mencionado em I Crô. 7:33, onde sendo condenado como uma heresia. (Era simples
figura como bisneto de Aser. Viveu em cerca de 1390 mente o calvinismo dentro do catolicismo romano).
A.C. Outras fontes dizem que seu nome significa Pascal defendeu o jansenismo em uma série de ensaios
«manco». e cartas que são chamados Cartas Provinciais. Ele
98
PASCAL - PÁSCOA
continuou a escrever sobre assuntos científicos, mas existe, então nada teremos perdido. Por outro lado, se
também preparava material que servia de apologias ignorarmos a Deus e à sua existência, no que nos diz
da fé cristã. Sua tendência geral consistia em rejeitar respeito, então terminaremos na condenação eterna.
o racionalismo como o meio de encontrar Deus, e que Os jogadores e os matemáticos precisam reconhecer
ele substituia pela vereda mística, onde o coração e a que isso envolve um jogo razoável. Quem se arriscar
vontade humanos são agências importantes. Seus pode ganhar muito, sem ter nada a perder. Isso posto,
escritos são reconhecidos em face de sua elevada que todos apostemos. Um aspecto da aposta de Pascal
qualidade literária. é que aquele que fizer a aposta terá de ser sério no
Idéias: jogo. Não poderá simplesmente crer que Deus existe,
como uma proposição intelectual. Antes, terá de
1. O dilema humano. O homem sofre neste mundo. moldar sua vida a essa crença. Terá de conformar sua
Ele não pode vindicar verdadeiramente suas crenças e vida aos princípios da graça divina. O Deus da graça é
aspirações religiosas, e nem pode ceder diante do o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, e não o Deus dos
inútil ceticismo. Tem certeza apenas da incerteza. O filósofos. É de presumir que, se fizermos essa aposta,
homem é apenas uma cana esmagada. levando nossas vidas a conformarem-se ao princípio
2. Um ser humano é um anjo e uma fera, divino, então o Deus da graça haverá de abençoar-
misturados em um só ser. É capaz de atos de grandeza nos, justificando-nos em nossa fé e aposta.
e de muitas desgraças. O homem é um paradoxo para Filósofos e teólogos têm criticado severamente a
si mesmo. essa aposta de Pascal. Eles frisam que se Deus existe e
3. A filosofia oferece racionalismo e dogma, mas é dotado dos poderes de razão que lhe atribuímos,
também ceticismo. Nenhuma dessas coisas ajuda o então não se deixará impressionar em nada com os
homem a encontrar solução para os seus paradoxos. A homens que meramente apostam em sua existência.
razão é limitada e o ceticismo é inútil, servindo Isso posto, Deus não se sentirá forçado a abençoar aos
somente para nos levar ao desespero. Pascal via indivíduos que fizerem tal aposta. Não há que duvidar
sentido nos princípios calvinistas (jansenistas), que que o próprio Pascal não ficou muito impressionado
deixam tudo aos cuidados de Deus, encontrando com o seu esquema. Ele dependia de experiências
resposta para tudo na graça divina. Porém, essa místicas para encontrar-se com Deus, e não de meras
posição deixa sem solução a grande agonia do apostas. Ver sobre o Misticismo. Por outra parte, a
sofrimento humano. A vontade divina (de acordo com sua insistência que tal aposta deve incluir a outorga de
o calvinismo) deixa a grande maioria dos homens em nossa vida aos cuidados de Deus, serve de fator
um eterno terror. Essa idéia dificilmente oferece favorável às experiências místicas. Para certas
solução para qualquer problema humano. pessoas, a Aposta de Pascal pode ser um elemento
4. Os métodos humanos consistem, essencialmente, valioso. Certamente Deus leva em conta a fraqueza
naquilo que ele chamou de espírito da geometria, ou humana, e bem pode abençoar ao indivíduo que tenha
seja, um procedimento sistemático para resolver apostado a sério em sua existência. Afinal, a aposta
problemas (o método científico), ou então, «espírito de Pascal inclui a outorga da vida a Deus, e não um
de sutileza».- Temos ali, essencialmente, a intuição, mero assentimento mental quanto à sua existência.
que obtém conhecimentos imediatos. Além disso, esse Esse é o aspecto que levaria muitas pessoas a pensar
conhecimento pode ser muito mais completo do que o duas vezes, antes de apostar de maneira superficial.
entendimento obtido através do método racional. O
coração tem razões próprias que ultrapassam ao
processo do raciocínio. Deus é muito mais sentido
pelo coração do que conhecido através da razão. PÁSCOA
Porém, essa intuição não é completa e nem totalmente Esboço:
suficiente. Muito mais poderoso é o misticismo (o I. Caracterização Geral
contacto direto da alma humana com o Espírito de II. Palavras Associadas à Páscoa
Deus; ver sobre o Misticismo). III. Associações e Desenvolvimentos Históricos
5. Provas da Existência de Deus. Apesar das provas IV. Principais Símbolos e Lições Envolvidos
racionais terem algum valor, parecem convencer
somente por alguns momentos, e então perdem a V. A Última Ceia: A Páscoa Cristã
força. A razão fracassa por tratar-se de um poder I. Caracterização Geral
finito que procura descrever uma Entidade infinita. A palavra portuguesa «páscoa» é usada para
Contudo, as provas racionais da existência de Deus designar a festa dos judeus que, no hebraico, é
não devem ser abandonadas. Elas são de alguma chamada pasach, que significa «saltar por cima»,
ajuda para algumas pessoas. Dessa atitude foi que «passar por sobre». Pesach é a forma nominal da
emergiu a famosa Aposta de Pascal, descrita abaixo, palavra. Esse nome surgiu em face da tradição de que
no sexto ponto. o anjo da morte, ou anjo destruidor, «passou por
6. A Aposta de Pascal. Os amigos de Pascal eram sobre» as casas assinaladas com o sangue do cordeiro
livres-pensadores, e muitos deles apreciavam o jogo. pascal, quando ele matou os primogênitos dos
Foi dentro desse contexto que Pascal inventou uma egípcios (ver £xo. 12:21 e ss). Essa foi a última das
prova da existência de Deus, ou talvez seja melhor pragas que se tornaram necessárias para convencer ao
dizer, um método de abordar o problema, e não tanto Faraó de permitir que Israel saísse do Egito, após
uma prova séria. Ele já havia assumido a posição que séculos de escravidão naquele país. Portanto, a
afirma que as provas racionais da existência de Deus páscoa assumiu o sentido de livramento, e o próprio
têm algum valor, embora não grande. E Pascal exodo foi á concretização dessa libertação.
pensou que seria útil se seus amigos jogassem acerca Em face do cordeiro pascal, sacrificado na ocasião,
da idéia divina, visto que estavam interessados pela o evento veio a ser integralmente associado à idéia de
matemática e pela taxa de probabilidades. Crer ou expiação, embora não fosse essa a sua intenção
não na existência de Deus pode ser uma espécie de original. Ê provável que tal sacrifício já fosse de uso
jogo. E assim, apostemos que ele, de fato, existe. Se comum, mas foi então utilizado com esse significado
vier a ser provado, finalmente (na nossa experiência especial. Alguns estudiosos crêem que a festa original
futura), que ele realmente existe, então teremos era pastoril nos seus primórdios, e que o seu nome,
obtido a felicidade eterna. E, se Deus, afinal, não «saltar por cima», aludia a como as ovelhas costumam
99
PÁSCOA
saltar por cima de coisas, quando brincam. Seja como Seder, a ingestão de ervas amargas (no hebraico,
for, a festa (se é que realmente existia antes de sua maror = amargo), para que os israelitas se
associação com o exodo) veio a ser associada a esse lembrassem de quão amargos tinham sido a
evento. Na terra de Canaã a festa veio a ser unida à escravidão e os sofrimentos no Egito.
festa agrícola dos pães asmos. Continua sendo Haggadah (vide), a literatura embelezada empre
celebrada durante sete ou oito dias, desde o décimo gada para o ritual da páscoa.
quarto dia do primeiro mês (Nisã), como memorial da III. Associações e Desenvolvimentos Históricos
libertação dos hebreus da servidão no Egito. Essa 1. À Guisa de Sumário
festa, de acordo com Êxo. 12:15; 34:18; Lev. 23:6;
Núm. 28:17 e Deu. 16:3, era celebrada desde o Podemos afirmar que é possível que ambas as
pôr-do-sol do décimo quarto dia do mês de Abibe (na festas, o sacrifício ritual do cordeiro e os pães asmos
primavera), aue posteriormente recebeu o novo nome fossem elementos da sociedade hebréia antes que a
de Nisã. Visto que o dia, para os judeus, começa tradi combinação das mesmas tivesse ocorrido, ao tempo
cionalmente ao pôr-do-sol, estritamente falando, essa do êxodo do Egito. Tais festas assumiram então uma
festa começava no décimo quinto dia do mês. O nova significação, quando associadas à questão das
primeiro e o sétimo dia eram dias santos plenos, onde pragas do Egito e da saída dos hebreus daquele país.
ninguém podia fazer qualquer trabalho. Temos aí uma espécie de renascimento de Israel. O
passado foi anulado e um glorioso novo começo foi
As tradições judaicas posteriores adicionaram um iniciado na Terra Prometida. O sacrifício veio a ser
dia a essa festa, perfazendo isso dois dias santos associado ao livramento, a mesma associação que
plenos tanto no começo quanto no fim, e assim vemos dentro da doutrina da expiação. O Novo
reduzindo a quatro os meios-dias santos intermediá Testamento preserva ambas as idéias, e vê seu
rios. Nas duas primeiras noites, ocorre a cerimônia do cumprimento final na pessoa de Cristo, que é tanto a
Seder, que se desenvolveu a partir da refeição pascal
ensinada na Bíblia (ver Êxo. 12:8; Deu. 16:5-7). É nossa páscoa quanto a nossa expiação.
então que toda a família se reúne. É cantado e lido o 2. Ritos Primitivos
Haggadah, um texto ritual especial, que contém uma Alguns eruditos têm questionado a etimologia da
versão muito ornamentada da história do Êxodo, de palavra hebraica pesach, e têm proposto que esse
mescla com certos salmos, cânticos religiosos, orações termo hebraico também pode significar «manquejar»
e bênçãos. Em seguida é consumida a refeição (com base em I Reis 18:21). Assim, a festa original
tradicional, que serve de memorial. Um osso torrado é poderia ter sido uma dança manquejante, lamentan
posto sobre a mesa, simbolizando o cordeiro da do a morte de uma divindade, e isso ligado aos ciclos
páscoa, sacrificado e ingerido por cada família (ver do ano, quando uma estação morre e outra tem
Exo. 12:3-11). começo. Mas outros sugerem que o rito original
A Dupla Significação. 1. A redenção dos judeus da estaria ligado ao temor aos maus espíritos, o que seria
servidão no Egito, como uma questão histórica, que refletido na «noite do Senhor» (Êxo. 12:42), enquanto
envolve, naturalmente, muitas implicações e símbolos era esperado o anjo «destruidor». Nesse caso, estaria
morais e religiosos. Deve-se incluir aí o pão sem sugerido uma origem pagã (talvez tomada de
fermento. Esse pão é chamado matzoth. Em memória empréstimo do culto pré-jeovista de Cades). O rito
dos sofrimentos de Israel no Egito, são comidas ervas original talvez fosse realizado como proteção contra
amargas (no hebraico, maror), que fazem parte do algum demônio noturno. Uma terceira idéia é que os
Seder. Todo fermento é removido dos lares israelitas. ritos seriam originalmente pastoris e agrícolas em sua
2. Festa da Natureza. A páscoa incluía uma festa natureza, que se combinavam bem como o sacrifício
agrícola que envolvia as primícias (ver Lev. 23:10), de um cordeiro e com a questão dos pães asmos,
oferecidas ao templo, em Jerusalém, em tempos produtos da terra. Quando Moisés requereu que
posteriores. Essa era uma das três grandes festivida Israel pudesse sair do Egito para celebrar a festa (ver
des requeridas a todos os hebreus do sexo masculino, Êxo. 5:1) talvez estivesse em foco esta festa da
que deveriam reunir-se em Jerusalém. áscoa, ou então as festas da páscoa e dos pães asmos.
verdade que a festa dos pães asmos coincidiu com a
II. Palavras Associadas à Páscoa colheita da cevada, na primavera, e com a ordenança
Pesach, «passar por sobre», «saltar por cima». Uma do sacudir dos molhos de cereais diante do Senhor,
possível alusão a uma antiga festa de origem pastoril, sem dúvida observâncias de origem agrícola. Ê difícil
além de ser uma referência direta ao anjo da morte, dizer quanta verdade possa haver nessas especula
que passou por sobre os filhos de Israel, mas destruiu ções. Sem dúvida, porém, é verdade que Israel tinha
todos os primogênitos do Egito. ritos e observâncias primitivos, que se perderam com
Abibe (vem de aviv = primavera), uma referência a a passagem dos séculos. Exatamente qual porcenta
essa estação do ano, bem como o nome do mês em que gem das celebrações bíblicas da páscoa e da festa dos
esse evento começava; mais tarde esse mês chamou-se pães asmos continuou nelas, não pode ser afirmado
Nisã. Esse tornou-se o primeiro dos meses do com qualquer grau de certeza. O que é certo é que
calendário judaico, em honra àquele momentoso esses ritos assumiram significados inteiramente
acontecimento, o começo da nação de Israel. inéditos, quando foram vinculados ao êxodo.
Matzoth, os pães sem fermento, ou pães asmos, 3. Elementos Históricos e Seu Desenvolvimento
associados à páscoa. Muitos eruditos acreditam que a À noitinha de 14 de Nisã (Abibe), eram mortos os
Páscoa e a festa dos Pães Asmos eram, orginalmente, cordeiros pascais. Eram então assados e comidos com
festas separadas, mas que acabaram associadas, e pães asmos e ervas amargas (ver Êxo. 12:8); era
então celebradas como se fossem uma só. O Novo uma observância em família. No caso de famílias
Testamento combina as palavras distintas, pascha, pequenas, os vizinhos podiam reunir-se para partici
«páscoa», e ta adzuma, «pães asmos», em uma única parem juntos da festa; e mais orientações e condições
referência (ver Mat. 26:2,17; Luc. 2:41; 22:1). foram acrescentadas à questão, conforme o tempo foi
Entretanto, o evangelho de João emprega somente passando. Esses acréscimos regulamentavam a festa
pascha. Ver exemplos disso em João 2:13,23; 6:4; dos pães asmos, que durava sete dias (ver Êxo.
11:55, etc. Josefo combinou os termos ao referir-se a 14:3-10). A páscoa foi estabelecida a fim de instruir às
uma única celebração (A nti. 14:2,1; Guerras 5.3,1; gerações futuras (ver "Êxo. 12:24-27). Então mais
6.9,3). características foram adicionadas. Quatro sucessivas
100
PÁSCOA
taças de vinho, misturado com água, eram usadas. Os 1. A morte de Cristo, que ocorreu exatamente no
Salmos 113-118 eram entoados em lugares apropria período da páscoa, sempre foi considerada um evento
dos. Fruta misturada com vinagre, na consistência de capital para os primeiros cristãos, e daí por diante,
massa de pedreiro, era servida, para relembrar a durante todo o cristianismo, Jesus é chamado de
massa que os israelitas tinham usado nas edificações, nosso «Cordeiro pascal» (ver I Cor. 5:7). Isso tem sido
quando estavam escravizados. O primeiro e o último associado pelos cristãos à idéia de expiação e
dia das festas eram sábados solenes. Todo trabalho livramento, que nos liberta dos inimigos da alma. Ver
manual cessava (ver Êxo. 12:16; Núm. 28:18-25). No o artigo separado intitulado Páscoa, Cristo Como a.
segundo dia, um molho de cevada recém-amadureci- 2. A ordem de não ser partido nenhum osso do
da era sacudido pelo sacerdote a fim de consagrar a cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias
inauguração da colheita (ver Lev. 23:10-14). Sacrifí da morte de Jesus Cristo (ver Êxo. 12:46 e João 19:36),
cios elaborados eram efetuados mediante as ofertas pelo que foi estabelecido um vínculo entre os dois
queimadas ou holocaustos de dois touros, um eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo.
carneiro, sete cordeiros e um bode, como ofertas pelo A idéia de expiação, como é patente, faz parte vital da
pecado, a cada dia (ver Núm. 28:19-23; Lev. 23:8). questão.
Assim sendo, a idéia de expiação foi integrada à 3. O cristão (tal como os antigos israelitas) deve pôr
páscoa, passando a fazer parte do simbolismo que foi de lado o antigo fermento do pecado, da corrupção,
transferido para o Novo Testamento. da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos
4. Negligência e Restauração pães asmos da sinceridade e da verdade. A
Após o Sinai (ver Núm. 9:1—14), esses ritos foram santificação (vide) faz parte necessária da experiência
negligenciados, até à entrada na terra de Canaã (ver cristã.
Jos. 5:10). A mesma coisa sucedeu na história 4. A Ultima Ceia é exposta nos evangelhos
subseqüente. Certos monarcas reformadores, como sinópticos como uma refeição pascal. O evangelho de
Ezequias (II Crô. 30) e Josias (II Reis 23:21-23; II João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição
Crô. 35), vieram a restaurar os antigos ritos. Por foi tomada antes da celebração, e Jesus foi crucificado
ocasião da dedicação do segundo templo, terminado o ainda naquele mesmo dia (lembrando que, para os
cativeiro babilónico, a celebração da páscoa foi judeus, o dia começava às 18:00 horas). Para muitos,
restaurada, juntamente com outras antigas tradições isso constitui um dos grandes problemas de harmonia
dos hebreus (Esd. 6:19-22). dos evangelhos, sobre o que abordo no NTI, nas
IV. Principais Símbolos e Lições Envolvidos passagens envolvidas. Porém, essa pequena desloca
1. As primitivas associações sugerem a idéia de ção cronológica em nada contribui para anular a
ação de graças, pelas provisões recebidas, mediante os associação da última ceia com a páscoa. Talvez o
produtos da terra e a criação de animais, resultantes Senhor Jesus tenha antecipado a refeição por algumas
em alimentos e produtos variados. poucas horas. Nesse caso, o quarto evangelho expõe a
2. A idéia de proteção diante dos poderes correta cronologia quanto à questão. O ensino
demoníacos, também era um elemento importante. paulino sobre a última ceia (ver 1 Cor. 11:23-26) faz
3. O bem e o mal recebem seus respectivos com que a mesma seja um memorial tanto da morte
galardões e punições. O Faraó foi longe demais. O libertadora de Cristo quanto da expiação. Ambos os
Egito foi julgado. Israel obedeceu a Yahweh. elementos faziam parte da páscoa do Antigo
Seguiram-se livramento e bênção. Testamento, segundo já vimos. Paulo não menciona
especificamente a páscoa, naquela seção, embora ele
4. Existem poderes sobre-humanos que abençoam e o faça em I Cor. 5:7. Eusébio aceitava o conceito da
destroem. O homem não vive sozinho no universo.
páscoa cristã no sacrifício de Cristo (ver Hist. 5,23,1).
5. A escravidão é algo a ser amargamente E essa também era a idéia tradicional da Igreja
relembrado. A liberdade é a mais preciosa de todas as antiga. Ê interessante que a palavra hebraica para
possessões humanas. As forças das trevas escravizam. páscoa, pascha, é tão parecida com a palavra gregá
O Espírito de Deus concede liberdade. para sofrer, páscho, que alguns cristãos antigos
6. A obediência redunda na libertação. Israel fizeram a ligação entre elas, embora não haja
seguiu as instruções divinas e fez as provisões qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo
apropriadas. A desobediência foi desastrosa para o sofreu e ele é a nossa páscoa, um jogo de palavras
Egito. empregado por Eusébio. Para os cristãos, a palavra
7. O princípio da expiação faz parte das grega anámnesis (memorial), é uma palavra-chave. A
necessidades humanas. ceia do Senhor é um memorial que deve ser mantido
8. A assistência divina, ou intervenção, algumas vivo, até que o Senhor retome. Essa é a ênfase
vezes se torna parte necessária da experiência paulina, que não se vê nos evangelhos sinópticos,
humana. Israel nunca poderia ter-se libertado por si embora apareça em Luc. 22:19. Provavelmente, esse
mesmo. elemento foi uma adição cristã às declarações feitas
9. E bom preservar as tradições e evitar a por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se
negligência, conforme certos monarcas reformadores é que ele mesmo não ensinou assim. Por outro lado, é
demonstraram. possível que Mateus e Marcos tenham omitido uma
10. Em Cristo temos o nosso libertador, nossa afirmação genuína de Jesus, e que Paulo e Lucas
expiação, bem como o cumprimento espiritual de preservaram. O que é certo é que Jesus reinterpretou a
vários princípios acima mencionados. páscoa em consonância com as suas próprias
11. Foi estabelecido um pacto entre o Senhor e a experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja
emergente nação de Israel. Também há um novo cristã como uma daquelas muitas coisas que
pacto em tomo de Cristo (ver Luc. 22:20; I Cor. receberam cumprimento e adquiriram maior signifi
11:25). cação na pessoa de Cristo, retendo o tipo de símbolo e
de lições que descrevi na quarta seção deste artigo,
V. A Última Ceia: a Páscoa Cristã acima.
Um acontecimento tão importante como aquele que
deu origem à nação de Israel não poderia ser ignora A idéia de pacto também se faz presente. Yahweh
do pelo Novo Testamento. Isso pode ser comprovado firmou um pacto com a emergente nação de Israel. E
nos cinco pontos abaixo: Jesus estabeleceu um pacto com sua emergente Igreja.
101
PÁSCOA - PÁSCOA CRISTÀ
Ver Êxo. 2:24; 3:15; mas, especialmente, a kainé uma observância de sete semanas.
diathéke, «o novo pacto» (Heb. 12:24; Luc. 22:20; I 4. Crisóstomo fala sobre como havia latitude
Cor. 11:25). Esse Novo Testamento como foi um quanto à questão, conforme já se mencionou.
cumprimento do Antigo Testamento* 5. A observância da quaresma, conforme atualmen
5. O êxodo cristão. Não nos deveríamos esquecer te é praticada, data de cerca do século IX D.C.
desse aspecto. A páscoa do Antigo Testamento
marcava o começo de uma saída da escravidão; e, de
fato, era o poder por detrás dessa libertação. Assim
também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos
liberta da velha vida com sua escravização ao pecado. PÁSCOA, CORDEIRO DA
No sentido teológico, algo foi realizado que não
poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema A palavra portuguesa páscoa vem do termo
principal tanto de Paulo (com sua doutrina da hebraico pesach, cujo sentido é «passar por sobre»,
justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus. O uma referência à páscoa original, relatada no livro de
êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão Exodo, quando o anjo da morte passou por sobre os
física. O êxodo cristão oferece a todos os homens a filhos de Israel, mas destruiu todos os primogênitos
libertação do pecado, bem como a outorga do Reino do Egito. Muitos eruditos crêem que, antes desse
da Luz, onde impera perfeita liberdade. Em Cristo, acontecimento, já havia o sacrifício do cordeiro, que
pois, os homens podem tornar-se filhos de Deus (Gál. envolvia a idéia de expiação simbólica. Mas então esse
4:4-6), transformados segundo a imagem do Filho rito foi adaptado ligeiramente para os eventos do
(Rom. 8:29), participantes da natureza divina (II Ped. êxodo de Israel. Ver Êxo. 12:15; 34:18; Lev. 23:6;
1:4; Col. 2:10). E agora eles olham para a Cidade Núm. 28:17; Deu. 16:3.
celeste como a sua pátria, da mesma maneira que
Israel buscava uma nova pátria (ver Heb. 11:10). (AM
B E ND SEG W Z) PÁSCOA, CRISTO COMO A
QUARESMA «...Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado» (I
Esse é o título do período de penitências de Cor. 5:7). No seu contexto, essa declaração tem um
quarenta dias (o que lhe explica o nome), e que se sentido moral. Deveríamos desvencilhar-nos de todos
prolonga desde a Quarta Feira de Cinzas (vide), até à os elementos estranhos à espiritualidade, visto que
véspera da Páscoa. A terminologia oficial-da Igreja Cristo fez o seu grande e eterno sacrifício, que é o
Católica Romana, acerca desse período, é Quadragé agente de nossa purificação moral. Cumpre-nos
sima. O jejum pré-pascal, a princípio, era bem curto; abandonar nossa velha maneira de viver. Ver os
mas, gradualmente, foi-se ampliando para incluir a artigos separados sobre Cordeiro de Deus e Páscoa.
Semana Santa, e, então, a décima parte de um ano, e, Este último inclui um estudo sobre a páscoa cristã (em
finalmente, quarenta dias. Na antiguidade, era um sua quinta seção).
período de preparação para o batismo, durante a
páscoa, e para a penitência pública por parte dos
candidatos ao batismo. Gradualmente, porém, foi PÁSCOA, VELA DA
envolvendo uma aplicação universal, para todos os De acordo com a liturgia da Igreja Católica
católicos romanos. O uso das cinzas, durante esse Romana, uma grande vela é acesa em meio a uma
período, é um desenvolvimento posterior. As igrejas cerimônia solene, no dia anterior ao da páscoa, a qual
oriental ortodoxa, católica romana e anglicana fica a queimar até o dia da ascensão. Isso serve de
observam a quaresma. Nos primeiros três ou quatro símbolo de luz, vida e esperança no que diz respeito
séculos da cristandade, havia muita latitude quanto a ao sacrifício, à ressurreição e à ascensão de Cristo.
essa questão. João Crisóstomo (347? — 407)
recomendava, embora não exigisse, que esse período
fosse celebrado com esmolas, boas obras especiais, PÁSCOA CRISTÃ (EASTER)
etc. Nos primeiros séculos, não havia qualquer Preservamos entre parênteses a palavra inglesa, a
distinção quanto à dieta desse período, pelo que não fim de melhor destacar o fato de que há uma
havia qualquer proibição de alimentos específicos. diferença entre a páscoa dos hebreus e a páscoa dos
Até os mais bem conhecidos ascetas do cristianismo cristãos. Ver o artigo geral sobre a Páscoa, onde a
comiam carne durante esse período, embora se versão cristã é incluída em uma seção separada.
abstivessem de comê-la desde o amanhecer até o cair
da noite. Então podiam comer carne. Gradualmente, Easter é uma palavra usada nos idiomas germâni
porém, essas proibições se foram universalizando para cos para denotar a festividade do equinócio do
os católicos, que observavam esse período de alguma inverno, e que, dentro da tradição cristã posterior,
maneira especial. A. atual forma de observância da passou a ser usada para denotar o aniversário da
quaresma data de cerca do século IX D.C. ressurreição de Cristo. Nas línguas latinas, como o
português, a palavra para «páscoa» vem do latim
Sumário da História'. pascha, a qual, por sua vez, alicerça-se sobre o termo
1. Quarenta horas de jejum eram observadas antes hebraico, pesach, que significa «passar por cima». O
da páscoa. Esse tempo tinha por base o número de termo grego pascha também é derivado do hebraico,
horas que Cristo passou da morte à ressurreição. pelo que é indeclinável.
2. Então, vários dias foram adicionados ao período, A origem da palavra Easter é controvertida. Alguns
cujo número dependia de cada localidade. João estudiosos pensam que a mesma está ligada ao nome
Cassiano (420 D.C.) informa-nos de que, em sua da deusa angio-saxônlcaque representa a primavera,
época e em sua região, o período era de seis ou sete Eoestre. Nesse caso, teríamos o comum fenômeno de
semanas. Nenhuma das igrejas que ele conhecia um nome de um costume pagão receber um
ampliava isso para mais de trinta e seis dias de jejuns. significado cristão. Ou então, essa palavra poderia
3. O historiador Sozomeno (440 D.C.) informa-nos estar relacionada às vestes brancas usadas durante a
de que as igrejas da Ilíria e as igrejas ocidentais celebração da festa cristã relativa à semana da
observavam seis semanas, mas que em outras havia páscoa. Nesse último caso, o plural da palavra que
102
PASEA - PASSAS; PASTAS DE UVAS
significa «branco» foi confundido com a palavra que subjetiva, pelo que os seus elementos podem
significa «alvorecer», e, subseqüentemente, foi vincu alterar-se, embora nenhum evento passado realmente
lado ao alvorecer do dia da ressurreição. Seja como mude.
for, a celebração da ressurreição antecede a tudo isso, 4. Whitehead dizia que o passado está perecendo
visto que cada primeiro dia da semana, originalmen perpetuamente, embora também consista em uma
te, representava isso; e, pelos fins do século II D.C., a perpétua preservação. Esse segundo aspecto ele
celebração da ressurreição como uma festa da Igreja vinculava à natureza conseqüente de Deus.
cristã, já estava bem estabelecida. No tocante a
detalhes sobre a Páscoa Cristã, ver isso como um
subponto do artigo geral sobre a Páscoa. PASSARINHEIRO
No hebraico, yaqosh ou yaqush, palavra que, em
suas duas formas, ocorre por quatro vezes: Sal. 91:3;
PASEA 124:7; Pro. 6:5 e Osé. 9:8.
No hebraico, «mando». Esse é o nome de três Um passarinheiro é alguém que apanha aves por
personagens que figuram nas páginas do Antigo meio de redes, alçapões e armadilhas, que são
Testamento, a saber: engenhos que apanham as aves vivas; ou então, por
1. Um filho de Estom, descendente de Judá (I Crô. meio de fundas e arco e flecha, que, geralmente,
4:12). Viveu em cerca de 1420 A.C. apanham as aves mortas. Os egípcios faziam dessa
2. O cabeça de uma família de servidores do atividade um esporte, comum a todas as camadas
templo, ou netinim (vide), que retornou do cativeiro sociais. Havia passarinheiros profissionais, que
babilónico em companhia de Zorobabel. Seu nome é usavam armadilhas e redes. Porém, uma forma
grafado como Paseá. Ver Esd. 2:49; Nee. 7:51. Seu esportiva de apanhar aves, no Egito, consistia no uso
filho ou descendente, Joiada, ajudou a restaurar um de uma peça de madeira, talhada de certo formato,
dos portões da cidade. Isso ocorreu algum tempo com uma superfície larga e chata, que não oferecia
antes de 536 A.C. muita resistência ao ar, quando lançada, semelhante
3. O pai de Joiada (Nee. 3:6), que ajudou a reparar ao bumerangue. Tinha cerca de sessenta por trinta
as muralhas de Jerusalém. Alguns estudiosos identifi centímetros, podendo atingir um pássaro em pleno
cam-no com o homem que aparece no número dois, vôo, com relativa facilidade, por quem treinado para
acima. lançar a peça com pontaria. Os antigos passarinhei
ros, tal como seus congêneres modernos, também
usavam chamarizes para atrair as aves.
Os egípcios caçavam aves por puro esporte, mas
PASSADIÇO COBERTO também porque as aves eram um de seus alimentos
No hebraico, musak, de sentido incerto. Sabe-se favoritos. E ambas as motivações são comuns até
apenas que se tratava de um termo arquitetural. hoje, entre os homens. Os antigos também usavam
Talvez fosse uma estrutura coberta ou uma barreira. aves nos seus sacrifícios religiosos, e também para
A expressão inteira diz «passadiço coberto para uso no propósitos decorativos, em aviários e gaiolas.
sábado». (Ver II Reis 16:18). Muitas espécies de aves migram do norte para o sul,
Se essa palavra deriva-se do verbo que significa atravessando a Palestina durante a primavera e o
«cobrir» ou «sombrear», então a expressão refere-se a outono, preferindo voar por sobre terras, ao invés de
um lugar coberto ou salão, usado pelo rei ou pelos cruzarem as águas do mar Mediterrâneo. E isso
sacerdotes, para entrarem no templo, e que, por sempre facilitou o trabalho dos passarinheiros.
algum motivo para nós desconhecido, o rei Acaz A lei de Moisés proibia que se apanhasse uma ave
«retirou da casa do Senhor, por causa do rei da mãe com seus ovos ou com os seus filhotes, tendo em
Assíria» (II Reis 16:18; cf. II Crô. 28:24). vista a preservação das espécies (Deu. 22:6,7). Deus
Porém, em vista de uma referência, em Eze. 46:1,2, prometia longa vida àqueles que observassem esse
a uma porta que era mantida fechada, exceto em dia preceito da lei.
de sábado e nos dias de lua nova, talvez esteja em Uso* Metafóricos:
pauta uma barreira ou uma grade, pela expressão que 1. O homem maligno, que prepara armadilhas para
ali aparece, myyasa hassabat. — Nesse caso, a suas vítimas, levando-as à ruína espiritual, moral ou
derivação poderia ser da palavra hebraica que material, também é chamado de passarinheiro. Ver
significa «cercar», «encarrar» (cf. Jó 3:23; 38:8). Sal. 14:7; 91:3; Pro. 6:5.
2. Uma ave é um símbolo universal da alma, e
qualquer tipo de maquinação que cativa ou impede
PASSADO uma ave, dentro das manifestações psíquicas,
O conceito do passado tem atraído a atenção de representa aquelas coisas que são moral ou espiritual
filósofos e teólogos. Abaixo damos um mostruário de mente prejudiciais para o ser.
idéias:
1. As filosofias e as religiões orientais pensam que o
tempo é uma ilusão, mera ficção, resultante do sonho PÁSSAROS DA BÍBLIA
de Deus.
2. Bergson aludia ao passado como algo interno em Ver sobre Aves da Biblia.
relação ao presente, e apresentou a analogia da bola
rolante de neve, que vai adquirindo novas camadas ad
tnfinitum, enquanto puder descer. O tempo, pois, é a PASSAS, PASTAS DE UVAS
bola-de-neve, e sempre contém elementos passados No hebraico, tsimmaqum, «frutas secas», que
como suas partes. alguns pensam derivar-se de uma raiz que significa
3. Os filósofos pragmáticos têm ensinado que o «comprimir". Os bolos comprimidos eram formados
passado é tão variável quanto o presente. Modifica-se depois que as uvas estavam completamente secas, e,
com cada modificação do presente. Além disso, toda a uma vez cobertas, tornavam-se quase imperecíveis.
extensão do tempo até certo ponto é uma avaliação Eram usadas como oferendas aos deuses por muitos
PASSIONISTÀS - PASTOR
povos antigos, aparecendo nas listas de mercadorias cuida dos rebanhos de ovelhas. Aparece pela primeira
de vários portos marítimos. Também são menciona vez em Gên. 4:2, a fim de descrever a ocupação de
das como alimento usado por viajantes e soldados (II Abel. Portanto, juntamente com a ocupação do
Sam. 6:19. etc.), e como um acepipe (Isa. 16:7). agricultor, é a mais antiga profissão do mundo.
Geralmente as frutas secas eram postas em água ou Posteriormente, Abraão, Isaque; Jacó e os filhos de
caldo, misturadas com algum cereal, a fim de serem Jacó foram identificados como pastores (ver Gên.
consumidas. Havia misturas de frutas secas como 13:7; 26:20; 30:36; 37:22 ss). Em vista de sua
uvas. figos, abricós e tâmaras, tudo temperado com ocupação de pastores, os filhos de Jacó, quando se
sal ou especiarias. Embora consideradas um afrodi mudaram para o Egito, não tiveram permissão de
síaco, essas pastas são remotamente mencionadas viver nos mesmos lugares com os egípcios, <jue
como tal no A.T. (ver Can. 2:5; Osé 3:1: etc.). consideravam os pastores uma abominação (Gen.
46:34).
Os pastores eram conhecidos como profissionais
PASSION1STAS que alimentavam e protegiam os rebanhos (Jer. 31:10;
Esse é nome alternativo dado aos membros da Eze. 34:2), que procuravam as ovelhas perdidas (Eze.
Congregação dos Servos Descalços da Santíssima 34:12) e que livravam dos animais ferozes as ovelhas
Cruz e da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa que estivessem sendo atacadas (Amós 3:12).
organização foi fundada em Roma, em 1720, por 3. Moisés como Pastor
Paulo da Cruz, também conhecido como Paulo Moisés era apenas um pastor, em Midiã, quando
Francis Danei. Deus o chamou ao Egito para libertar o povo de
Ele atuou em Gênova, na Itália. Seu irmão, João, Israel, que estava ali escravizado há várias gerações
esteve intimamente associado a ele nessa obra. A (Êxo. 3:1). Davi também era pastor de ovelhas
regra da ordem foi aprovada pelo papa Benedito XIV, quando Deus o chamou, ainda na juventude, a fim de
em 1741. O principal propósito da ordem é 1 ser o futuro rei de Israel (I Sam. 16:11 ss). Parece que
santificação, primeiramente dos seus próprios mem a vida dos pastores era uma excelente preparação
bros, e então daqueles a quem eles ministram. Seus para quem tivesse de ser um dos líderes do povo de
membros ocupam-se em retiros, trabalho missionário, Deus. Cf. Amós 1:1.
trabalho pastoral, e levam vida austera, algumas
vezes monástica. Com base na idéia de que o pastor é um protetor e
líder do rebanho, surgiu o conceito de Deus como o
As freiras passionistas constituem um grupo Pastor de Israel. Os próprios pastores antigos foram
distinto, embora a organização delas também tenha os primeiros a salientar essa similaridade. Assim Jacó
sido fundada por Paulo da Cruz. Elas devotam-se à se dirigiu a Deus, nos dias que antecederam a suá
vida contemplativa, caracterizada pela quietude e
pela santidade. Porém, há uma ordem desse grupo, morte (ver Gên. 48:15).E Davi chamou Deus de seu
Pastor, no bem conhecido Salmo Vinte e Três (vs. 1),
na Inglaterra, que se dedica ao trabalho eclesiástico. o que Asafe também fez, em Salmos 80:1.
4. Isaías como Pastor
Isaías expandiu esse ponto de vista de Deus que foi
PASSOS CURTOS descrito por ele como o pastor que alimenta o povo de
O profeta Isaias não estava satisfeito com a maneira Israel (Isa. 40:11). Jeremias aludiu ao Senhor como
como algumas mulheres israelitas andavam. Em 3:16 um pastor que protege o seu rebanho (Jer. 31:10). E
de seu livro ele as criticou, dizendo: «...são altivas as Ezequiel completou esse quadro a respeito de Deus ao
filhas de Sião, e andam de pescoço emproado, de descrevê-lo como um pastor que busca pelas ovelhas
olhares impudentes, andam a passos curtos, fazendo de seu rebanho (Eze. 34:12).
tinir os ornamentos de seus pés». Dessa maneira, elas Em consonância com esse conceito, encontramos
se faziam de dengosas, embora, na verdade, fossem muitas passagens, no Antigo Testamento, que se
orgulhosas e sensuais. referem aos líderes do povo de Deus como pastores
Havia mulheres que usavam correntes que ligavam que agem sob a supervisão de Deus. Nos trechos de
seus tornozelos, o que as obrigava a caminhar com Números 27:17 e I Reis 22:17, a sorte de Israel, que
passos curtos. Além disso, usavam sinetas nos então estaria sem líderes à altura, é comparada com
tornozelos, para chamarem a atenção para si mesmas. um rebanho de ovelhas que não dispõe de um pastor.
Muitos concebem as mulheres judias como damas Posteriormente, os profetas, os sacerdotes e os reis de
caseiras, ocultas por baixo de seus véus, cuidando de Israel, que haviam falhado em seu encargo, diante de
suas crianças! Isaías deve ter visto mulheres bem Deus e do povo de Deus, foram condenados como
diferentes disso, em lugares públicos! pastores que haviam desertado o rebanho ou que
haviam enganado as ovelhas (Jer. 2:8; 10:21; 23:1 ss;
Eze. 34:2 ss, etc.).
PASTOR 5. Nas Páginas do Novo Testamento
1. O Termo Não é surpreendente que, com tão rico pano de
No hebraico, raah, palavra que figura por setenta e fundo, no Antigo Testamento, os escritores do Novo
sete vezes, no particípio, onde tem o sentido de Testamento tenham descrito o Senhor Jesus como um
«pastor» (por exemplo: Gên. 49:24; Êxo. 2:17,19; Pastor (no grego poimén). Assim, Jesus é o Bom
Núm. 27:17; I Sam. 17:40; Sal. 23:1; Isa. 13:20; 31:4; Pastor que deu a sua vida pelas suas ovelhas (João
40:11; Jer. 6:3; 23:4; 25:34-36; 31:10; Eze. 34:2-10, 10:2,11,14,16). Ele separa suas ovelhas dos bodes, à
12,23; Amós 1:2; 3:12; Zac. 10:2,3; 11:3,5,8,15,16; semelhança do que faz um pastor (Mat. 25:32); e ele
13:7. No grego poimén, vocábulo que ocorre por sofreu pelas suas ovelhas, como deve fazer todo o bom
dezoito vezes: Mat. 9:36; 25:32; 26:31 (citando Zac. Pastor (Mat. 26:31).
13:7); Mar. 6:34; 14:27; Luc. 2:8,15,18,20; João O escritor da epístola aos Hebreus chamou Jesus de
10:2,11,12,14,16; Efé. 4:11; Heb. 13:20; I Ped. 2:25. «...o grande Pastor das ovelhas...» (Heb. 13:20).
Ver também Ovelhas e Ocupações. Pedro, por sua vez, também retrata o Senhor Jesus
2. O Trabalho do Pastor como o «...Pastor e Bispo das vossas almas» (I Ped.
No seu sentido literal, um «pastor» é alguém que 2:25). Ver ainda sobre Ovelhas e Ocupações.
104
PASTOR - PASTOR (OFÍCIO DA IGREJA)
No tocante aos pastores como um dos ministérios questão é descrita no artigo chamado Dons Espiri
da Igreja cristã, ver sobre a Igrçja, Sen Ministério e tuais, Homens Como. Um bom pastor deve ser
Pastor (Oficio da Ignja). possuidor de dons espirituais. Sem dúvida terá o dom
de governos, sendo esse um dom específico dos
Características do Verdadeiro Pastor pastores. Mas também deve ter o dom da fé, e talvez
1. Pode entrar legalmente no aprisco das ovelhas outros dons, como o de profecia, etc. Além disso, deve
(João 10:1). Isso se refere à missão messiânica ser capaz de ensinar (ver I Tim. 3:2b). Temos descrito
autêntica de Jesus e à sua autoridade. (Ver o artigo a questão dos dons espirituais no artigo intitulado
sobre Autoridade, seção 7. Ver também sobre a Dons Espirituais, especialmente sua seção IV,
transferência dessa autoridade para a igreja cristã, em Charismata. Nem todos os pastores são mestres (ver I
substituição à autoridade religiosa do sinédrio, que já Tim. 5:17); e nem todos eles são dotados de facilidade
fora destruído ao tempo em que o evangelho de João de expressão. Mas um pastor deve ser possuidor de
foi escrito, em Mat. 16:19 no NTI). apreciável dose de compaixão e simpatia, sendo capaz
2. O trabalho do verdadeiro pastor é coroado de de misturar-se bem com as pessoas, gostando da
sucesso e ele entra apropriadamente no aprisco, companhia dos seus semelhantes. Um monge, em seu
mediante a ajuda do porteiro (provavelmente símbolo mosteiro, que gosta da solidão, meditando, rezando e
do Espírito Santo, João 10:7). lendo seus livros sagrados, sem importar quantas
3. O bom pastor instrui as suas ovelhas com a sua outras virtudes possa ter, jamais seria um bom pastor.
palavra e o seu exemplo, e as guia (João 10:7). Um mestre, mergulhado até o pescoço nos seus livros,
que manuseia idéias e gosta de estudar e aprender,
4. O bom pastor vive bem familiarizado com as suas pode ser um professor espetacular de Escola
ovelhas, e elas o conhecem bem, o que indica Dominical, mas provavelmente não está bem adapta
comunhão e comunicação (João 10:3,4). do às tarefas próprias de um pastor.
5. O pastor verdadeiro guia o rebanho, tanto nesta 2. Distinções
vida como em direção à vida eterna (João 10:4,10,17 e
Um pastor, sendo ocupante de um ofício eclesiásti
28). co respeitável, ainda assim, de acordo com certos
6. O bom pastor é o exemplo moral das ovelhas e grupos cristãos, ocupa posição inferior à de um bispo.
vai adiante delas (João 10:4).
7. O verdadeiro pastor é inteiramente devotado ao É comum hoje, — em muitas denominações
seu rebanho e dá a própria vida pelas suas ovelhas evangélicas, uma igreja ter mais de um pastor,
(João 10:11). Fica implícito aqui, no caso de Cristo, a dependendo das muitas necessidades da mesma.
expiação realizada na cruz do Calvário, porém, mais Assim, um deles ocupar-se-á do trabalho pastoral
particularmente ainda, a vida que lhes é conferida interno, um outro cuidará dos jovens, e ainda um
através do sacrifício do pastor, isto é, a vida eterna, o outro ficará encarregado do evangelismo, por
lado positivo da expiação, sendo frisada a união exemplo. Isso ocorre devido à complexidade do oficio
mística com Cristo, e não tanto o lado negativo, que é pastoral, sem falarmos no fato de que, às vezes, o
o perdão dos pecados (João 10:28). rebanho toma-se por demais numeroso para que um
8. O verdadeiro pastor garante a segurança do único homem faça a contento o seu trabalho.
rebanho, tanto agora como para toda a eternidade, 3. Usos Bibiicos da Palavra
mediante a autoridade que lhe foi conferida pelo Pai, Na Bíblia, «pastor» pode ser alguém que,
com quem Cristo tem perfeita união, tanto no tocante literalmente, (toida de ovelhas. A forma singular
à sua natureza quanto no que diz respeito aos seus acha-se no Antigo Testamento somente em Jer. 17:16.
desígnios (João 10:27-30: ver também 5:19, acerca da A forma plural aparece por dezessete vezes, dentre os
unidade essencial entre o Pai e o Filho). quais os trechos de Jer. 2:8; 3:15; 10:21; 23:1,2
Todas essas características fazem violento contraste servem de exemplo. No hebraico, a palavra correspon
com os falsos pastores, que são indivíduos totalmente dente é raah, baseada na idéia de «cuidar dos
egoístas e perversos, e que, na realidade, não podem rebanhos», «dar pasto». Já no Novo Testamento, o
oferecer qualquer dessas vantagens e bênçãos ao termo grego correspondente é poimen, um substantivo
rebanho de Deus. Por conseguinte, é dito aqui que o que figura somente em Efé. 4:11, onde o pastor
verdadeiro pastor, que é Cristo, entra pela porta, isto aparece como alguém que Deus deu à Igreja como um
é, pelos canais espirituais competentes, porquanto dom. Jesus é o principal pastor, segundo se vê no
não tem necessidade de iludir, posto que todos os seus décimo capítulo de João; e todos os demais pastores
propósitos são benévolos. são subpastores. Uma palavra grega cognata é
poimaine, «pastar» (ver João 21:15), e outra forma
A mensagem principal de João 10:2 é ensinar que o verbal, poimanate, significa «pastoreai», «dai o pasto»
verdadeiro pastor, que é Cristo Jesus, tem a
autoridade própria e a comissão divina para ministrar (I Ped. 5:2). Esse pastoreio espiritual deve incluir um
às ovelhas, que são os verdadeiros filhos de Deus, de ensino sério, além do trabalho de cuidar das ovelhas,
em todos os sentidos. Jesus é chamado de «o grande
cujo direito não participam os falsos pastores. Essa Pastor», em Heb. 13:20. Pedro, por sua vez,
autoridade é aqui ilustrada pelo ato de entrar no chamou-O de «Pastor e Bispo (supervisor) das vossas
aprisco, com a permissão e a boa acolhida que é dada almas» (I Ped. 2:25). Assim, os bons pastores são
ao verdadeiro pastor pelo porteiro (ver João 10:3). imitadores daquele, e da parte dele recebem sua
inspiração e orientação. Ele é o Bom Pastor que deu a
sua vida pelas suas ovelhas (ver João 10:2,11,14,16).
PASTOR (OFlCIO DA IGREJA) 4. Qualificações dos Pastores
Esboço: No primeiro ponto, acima, demos os dons que um
1. O Dom Pastoral pastor deveria possuir; e isso, como é óbvio, faz parte
2. Distinções de suas qualificações. Passagens das chamadas
epístolas pastorais (I e II Timóteo e Tito) dão listas de
3. Usos Bíblicos da Palavra qualificações desses ministros, além de outros. Ver I
4. Qualificações dos Pastores Tim. 3:1 ss e Tito 2. Um pastor deve ser homem
1. O Dom Pastoral controlado, livre de vícios, não belicoso, sem excessos.
O ofício do pastor é um dom de Deus à Igreja. Essa Deve governar bem a sua casa; não pode ser um
105
PASTOR (OFICIO) - PÀTARA
noviço; deve ter boa reputação, devidamente conquis Jerusalém. Jeremias deu previsões sombrias, de
tada; deve ser avesso a maledicências e ao uso condenação. Pasur não gostou da resposta de
incorreto da língua; não deve ser ganancioso; não deve Jeremias, e apresentou a Zedequias uma mensagem
andar atrás do dinheiro; deve ser homem que se negativa. O resultado foi que ele e seus associados
santifica; deve ter uma boa esposa, que não lhe traga receberam permissão de fazer com o profeta o que
perturbações; deve ser forte na fé e mestre da mesma; bem entendessem. Assim, amarraram-no e baixaram-
deve ter ousadia no seu ensino; deve ser cheio de amor no à cisterna vazia; e Jeremias ficou atolado na lama
e paciência; deve ser perseverante; deve caracterizar- (ver Jer. 38:6). Porém, o etíope Ebede-Meleque
se por boas obras; na doutrina, deve ser incorrupto; acabou retirando dali o profeta. Os descendentes de
deve ser homem sério; sua linguagem deve ser sadia; Pasur, por sua vez, retornaram a Jerusalém,
deve saber exortar; deve ser honesto; deve saber terminado o exílio babilónico, segundo se vê em I Crô.
repelir toda forma de impiedade; deve ser alguém 9:13; Nee. 11:12 e Jer. 21:1,3. Isso aconteceu mais ou
ansioso para ensinar e capaz de fazê-lo; e, finalmente, menos em 589 A.C. Alguns identificam-no com o
deve ser homem de reconhecida piedade. Pasur de número quatro, nesta lista, abaixo.
Unger, no artigo intitulado Pastor, divide as muitas 4. O pai de Gedalias e líder em Judá, que também
qualificações de um pastor em três categorias: participou do ato de descer Jeremias à cisterna,
a. O serviço de m.nistração ao culto divino, pondo conforme foi descrito no terceiro ponto, acima. Ver
em ordem a adoração da congregação, administrando Jer. 38:1.
as ordenanças, pregando a Palavra de Deus. Nesse 5. Um dos chefes da tribo de Judá, que, terminado
sentido, o pastor é um ministro. o cativeiro babilónico, assinou o solene pacto de
b. Ele deve ser habilidoso nos cuidados pastorais, observar os caminhos do Senhor, nos dias de
cuidando de alimentar espiritualmente o rebanho, Neemias. Ver Nee. 10:3.
mostrando-se vigilante, deixando-se envolver em boas
obras e ações de misericórdia e compaixão.
PATANJALI
c. Ele deve brandir a autoridade espiritual da
Igreja, sendo um dirigente que merece respeito e que Ele foi um filósofo indiano e líder religioso do
impõe ordem e disciplina. Um pastor deve ter como século II A.C. Ê considerado o fundador do sistema
um de seus alvos o aperfeiçoamento dos santos (Efé. de ioga (vide). Para ele, a ioga era um método de se
4:12), mostrando-se espiritualmente alerta (Heb. obter o avanço da alma e a salvação, através do
13:17; II Tim. 4:5) sendo capaz de exortar, advertir, controle dos aspectos físicos e psíquicos da natureza
consolar e orientar com autoridade (I Tes. 2:22; I Cor. humana. Seu principal escrito chama-se Ioga Sutra.
4:14,15). No quarto capítulo da epistola aos Efésios, o
trabalho dos pastores suplementa o trabalho dos
apóstolos, evangelistas e profetas. PÀTARA
Trata-se de um porto do mar, a sudoeste da Lícia,
no vale do rio Xantus, e que ficava localizado cerca de
cem quilômetros a leste da ilha de Rodes. Esse porto
PASTOR DE HERMAS ficava na porção sul da Ãsia Menor. Era uma cidade
Ver Hermas, Pastor de. populosa, com um ativo comércio. Já desde o século
IV A.C., contava com as suas próprias moedas, o que
PASTORAIS, EPÍSTOLAS indica a sua importância como centro comercial desde
Ver o artigo sobre Epistolas Pastorais. a antiguidade. Teria sido fundada por Patarus, filho
de Apoio, o que lhe explica o nome. Dispunha de um
templo, com um oráculo, que se tornou famoso e era
PASUR muito freqüentado.
No hebraico, «libertação». Esse é o nome de quatro A Lícia era um pequeno distrito da costa sul da
ou cinco homens que aparecem nas páginas do Antigo Àsia Menor, onde ficava o vale do rio Xantus, e onde
Testamento: há montanhas que atingem mais de três mil metros de
1. Um filho de Imer, um sacerdote. Ele foi o altitude. Pátara funcionava como porto da cidade de
principal supervisor do templo de Jerusalém. Teve a Xantus, que ficava cerca de dezesseis quilômetros de
infeliz distinção de haver ferido a Jeremias e tê-lo distância. Atualmente, a embocadura do rio Xantus e
preso no tronco, por causa de suas predições de o porto da cidade de Xantus estão parcialmente
derrota de Judá e de sua deportação para a Babilônia. tomados pela areia. A antiga muralha da cidade
Então Jeremias contou-lhe que dali por diante seu ainda pode ser percebida, em suas ruínas modernas,
novo nome seria Terror-por-todos-os-lados (no he às quais dão o nome de Galemish. Outrossim, o
braico, Magor-missabib), e que ele e seus familiares alicerce do templo e de alguns outros edifícios
seriam levados para a Babilônia, e que Pasur ali públicos é tudo perfeitamente visível. É possível que
faleceria e seria sepultado (ver Jer. 20:2-6). Isso uma das mais interessantes ruínas ali existentes seja o
ocorreu em cerca de 605 A.C. arco triunfal onde estão inscritas as palavras «Pátara,
metrópole da nação lícia».
2. Um antepassado da família sacerdotal que O apóstolo Paulo atingiu Pátara por meio de Cós e
retornou do cativeiro babilónico em companhia de
Zorobabel, a fim de fixar residência em Jerusalém. da ilha de Rodes, tendo vindo de Milcto, em sua
viagem final a Jerusalém. Foi ali que ele foi
Um dos seus descendentes assinou o solene pacto de transferido para outro navio que se destinava a Tiro,
que os judeus andariam pelos caminhos retos de segundo se aprende em Atos 21:1,2. O Códex Bezae,
Yahweh. Outros dentre seus descendentes tiveram de com uma adição tipicamente ocidental ao texto, diz «e
divorciar-sc de mulheres estrangeiras com as quais se Mira», depois da palavra «Pátara». Essa adição
tinham casado, conforme se ve em passagens como
Esd. 2:38; 10:22 e Nee. 7:41. parece sugerir que o transbordo deu-se em Mira, e
não em Pátara. Porém, não há como averiguar a
3. Um contemporâneo do Pasur que acabamos de exatidão disso, e nem mesmo a questão reveste-se de
mencionar, filho de Malquias. Esse foi enviado pelo qualquer importância.
rei Zedequias a fim de perguntar de Jeremias qual o
resultado do ataque de Nabucodonosor contra ••• •••
106
PATERNIDADE
PATERNIDADE (MATERNIDADE) mulheres ímpios, pois, têm revertido essa maneira de
ajuizar as coisas.
Esses são grandes vocábulos éticos. Do ponto de
vista biológico, referem-se à reprodução humana, mas Herança do Senhor são os filhos;
não é esse o interesse desta enciclopédia. Antes, em o fruto do ventre seu galardão. vSal. 127:3-5)
uma obra desta natureza, o que importa são as Como flechas na mão do guerreiro,
implicações morais e espirituais dessas palavras. assim os filhos da mocidade.
Grande parte dessa questão já foi abordada no artigo Feliz o homerti que enche deles a sua aljava.
intitulado Família. Ver também o artigo Educação.
Ser pai ou mãe é algo ao mesmo tempo glorioso e de
muita responsabilidade. PATERNIDADE DE DEUS
Esboço:
1. Informes Bíblicos: I. Principais Ensinos sobre a Paternidade de Deus
a. O matrimônio é a base legal dessa questão. Ver II. O Conceito da Filiação
Gên. 1 e 2. b. Os filhos são bênçãos divinas aos pais III. A Paternidade é Efetuada pelo Poder do
(Sal. 127:3-5; 128:3). c. É enfatizada a responsabili Espírito
dade na criação deles, envolvendo a instrução
espiritual (Gên. 18; 19; Deu. 6:6,7; 11:19,20). d. A IV. A Adoção pelo Espírito
natureza pecaminosa básica das crianças precisa ser V. Aba, Pai
anulada mediante uma disciplina amorosa e uma VI. O Novo Nascimento e a Responsabilidade
instrução diligente (Efé. 2:3; 5:26; João 3:3,6; I Tim. 1. Principais Ensinos Sobre a Paternidade de Deus
3:14-17). e. O caminho de Cristo deve estar sempre 1. Deus tambem é Pai, dentro da Trindade, que
diante dos olhos dos pais (Mar. 10:14; Efé. 6:4; Col. envolve o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Alguns têm
3:21; Sal. 103:13). imaginado que o Espírito exerce funções análogas a
Ê um absurdo os pais preocuparem-se com as uma mãe. Se assim for, então dentro da própria
necessidades biológicas, sociais, profissionais e físicas Trindade há uma relação doméstica. E isso tem
em geral, ao mesmo tempo em que negligenciam as paralelos com o ensino que a salvação consiste,
necessidades da alma das crianças. O treinamento das essencialmente, na obtenção da filiação. Pelo menos é
crianças deve incluir um treinamento planejado e verdade que o trecho de Rom. 8:14 ss. onde a
sistemático do conhecimento das Escrituras, sem paternidade de Deus é claramente afirmada, também
exclusão de outras coisas que promovam os interesses encerra a idéia da nossa adoção. E também devemos
da alma. Um profeta persa, Bahá Ulláh, afirmou, e levar em conta as afirmações que fazem de Deus o Pai
com toda a razão, que o pior erro que um pai pode de nosso Senhor Jesus Cristo (Efé. 1:17; I Cor. 8:6; I
fazer, no que toca a seus filhos, é não lhes transmitir o Ped. 1:3). Jesus orava a Deus como o seu Pai (Mat.
conhecimento espiritual que possui. Além disso, os 6:7 j s ). Também referiu-se a Deus como seu Pai e
pais devem três coisas a seus filhos: exemplo, nosso Pai (João 20:17), o que também é um conceito
exemplo, exemplo. comum na oração sacerdotal do Senhor Jesus (João
2. O Propósito do Plano Divino 17). Ver o artigo geral sobre a Trindade.
Os filhos não são acidentes biológicos de seus pais. 2. No Antigo Testamento, Deus aparece como o pai
As Escrituras encarecem o propósito da vida humana, da nação judaica, o que subentende a sua
atribuindo a cada indivíduo um caráter ímpar que preocupação e interesse especiais por esse povo, como
deve ser desenvolvido no interesse do cumprimento de o veículo de sua mensagem ao mundo (Deu. 32:6;
sua missão espiritual. Deus conhece as pessoas antes Osé. 11:1; Sal. 68:5; 103:13; Mal. 1:6).
mesmo delas nascerem (Jer. 1:5), o que alguns 3. No Novo Testamento, o conceito é expandido a
eruditos pensam ser uma alusão à preexistência da fim de incorporar um sentido cósmico. Deus é o Pai
alma. João Batista era grande figura espiritual antes de muitas famílias de seres inteligentes, e não apenas
mesmo de nascer, e outro tanto se deu no caso de de almas humanas redimidas (Efé. 3:15). Todas essas
Paulo (Luc. 1:15; Gál. 1:15). Não há razão para famílias recebem o seu nome, ou seja, estão
supormos que a mesma coisa não se aplica, intimamente associadas a ele como Criador e
potencialmente, a todos os seres humanos. A Igreja Sustentador delas. Ele é o Pai dos espíritos (Heb.
cristã oriental sempre opinou que a alma é 12:9), como também das estrelas (Tia. 1:17), isto é,
preexistente. Se isso é verdade, então é impossível desta criação inanimada, mas gloriosa, como Criador
exagerar o papel dos pais, que continuam, e não de todas as coisas.
meramente começam a influenciar a seus filhos, 4. Deus é o Pai de todos os homens, remidos ou
ajudando-lhes a alma a prosseguir caminho. não. Isso explica o poder do seu amor universal. Ver
3. Caráter ímpar dos Indivíduos Atos 17:27; Luc. 3:8 e João 3:16. Apesar de estar em
A singularidade de todas as almas é ensinada em foco principalmente o seu ato criador, também é
Apo. 3:12, na doutrina do novo nome. As verdade que os homens compartilham de sua natureza
experiências perto da morte (vide) incluem aconteci espiritual e moral; e os remidos virão a compartilhar
mentos que demonstram o fantástico desígnio que da própria essência ou natureza, ou seja, tornar-se-ão
circunda a vida humana. Os pais têm a grande filhos de Deus no mais completo sentido da palavra.
responsabilidade de cuidar para que o desígnio divino 5. Deus è o Pai dos Remidos. Isso em sentido
quanto a cada vida seja cumprido da melhor maneira especial, porquanto esses tornam-se participantes de
possível. sua vida necessária e independente, através da missão
4. Falhas do Filho (João 5:24 ss), participante de sua natureza
Os pais materialistas falham em seu papel, essencial (II Ped. 1:4), e sendo transformador
sobretudo quando levam seus filhos a serem segundo a imagem do Filho, o Irmão mais velho
materialistas também. Certos povos antigos falhavam (Rom. 8:29). Assim, os remidos participarão da plena
desde o começo, quando abandonavam seus filhos ao divindade (Col. 2:10). Ver também João 1:12 e o
relento, para que morressem. O aborto (vide) é um artigo sobre Adoção (vide).
equivalente moderno. Séculos atrás, morrer sem 6. Deus é Pai na Adoção. Ver as seções IV e V deste
filhos era considerado um opróbrio; hoje em dia, ter artigo, bem como o verbete separado sobre esse
filhos é que é considerado um infortúnio. Homens e assunto.
107
PATERNIDADE DE DEUS
Aqui nos é apresentado o maior de todos comentado com abundância de detalhes na exposição
esses conceitos, — o qual também, sem dúvida, é a sobre o vigésimo nono versículo deste capítulo no NTI.
mais profunda demonstração de que o indivíduo Os filhos desfrutam de comunhão mística com o
regenerado não pode continuar no pecado, mas antes, Espírito Santo, que é o agente da transformação
precisa ter uma vida vitoriosa, vitória essa que lhe é espiritual que se processa neles. A passagem de Gál.
conferida através do sistema da graça. E o conceito 5:18 enfatiza o fato de que aqueles que são guiados
que garante isso é o fato de que somos filhos de Deus. pelo Espírito Santo não estão mais «debaixo da lei»; e
II. O Conceito da Filiação o oitavo capítulo da epístola aos Romanos, apesar de
1. Filiação é, na realidade, um termo sinônimo de não ensinar essa verdade especificamente, deixa
salvação; pois somos salvos como filhos. A filiação entendido que assim acontece, do princípio ao fim do
descreve as condições e o fato da nossa salvação mesmo. Agora existe uma superior «lei de vida» para o
(vide). crente. Porém, a lei mosaica não é nem o Salvador e
2. Dois termos são usados para descrever a filiação: nem a regra de conduta do crente do N.T. Cristo é
uios, que pode significar «filho por adoção». É quem é o nosso Salvador, e a comunhão com o
questão vinculada a um antigo costume romano, o Espirito Santo, no homem interior, é que é a nossa
que nos dá algumas noções sobre o sentido da filiação. «regra de vida», sendo uma regra extremamente
Envolvia a declaração de que alguém era «filho superior a tudo quanto poderia ter sido imaginado,
adulto», com plenos direitos à herança (ver Rom. como resultado da observância legalista. O resultado
8:16). O outro vocábulo é teknos, que tem o sentido dessa regra de vida é a vida vitoriosa, conforme é
de filho por geração natural (ver João 1:12). É verdade comentado por Ernest De Witt Burton, em seu livro
que, com freqüência, as duas palavras eram usadas sobre a epístola aos Gálatas (pág. 302): «É claro pois,
como sinônimas, a despeito de que esses elementos que a vida pelo Espírito constitui, para o apóstolo,
podem ser distinguidos claramente em alguns casos. uma terceira maneira de viver, por um lado distinta
do legalismo e, por outro lado, caracterizada pelo fato
3. A filiação significa que participaremos da de que o crente não cede aos impulsos da carne. Sob
própria natureza de Deus Pai, em sentido perfeita hipótese alguma é um curso médio entre essas duas
mente literal. Ver II Ped. 1:4, Col. 2:10 e II Cor. 3:18. coisas, mas antes, é um caminho elevada, que está
4. Dessa forma, chegaremos a possuir igualmente acima de ambas as coisas, uma vida de liberdade de
todos os atributos divinos (ver Efé. 3:19), ou seja, a meros estatutos, uma vida de fé e de amor».
sua «plenitude», com base na participação em sua III. A Paternidade é Efetuada pelo Poder do
natureza. Espirito
5. Por semelhante modo, possuiremos a «plenitude
do Filho», o que é esclarecido em Col. 2:10. O trecho de II Coríntios 3:18 deixa claro que a
nossa progressão metafísica, que nos levará de um
6. Já temos certa participação moral na natureza estágio de glória para o próximo (em um processo
divina (ver Mat. 5:48) e também uma real eterno, estejamos certos), é obra do espírito de Deus,
participação quanto ao «tipo de vida» (ver João porquanto somente ele é capaz dessa realização. O
5:25,26). Espírito do Senhor nos está conduzindo de um estágio
7. Por conseguinte, surgirá uma «nova espécie», do desenvolvimento espiritual para o seguinte, até que
muito superior aos anjos, porquanto os remidos nos tornemos autênticos membros da família divina.
participarão da própria natureza do Filho (ver Rom.
8:29). Essa nova espécie, comporá a família de Deus, Guiados pelo Espirito
em sentido bem real. A natureza do Pai, porém, é Essas palavras podem ser melhor compreendidas se
infinita, mas nós participamos de sua natureza em um as desdobrarmos nos pontos abaixo'.
sentido «finito». Todavia, a eternidade inteira será 1. Somos guiados pelo Espírito Santo na vida diária
empregada em nosso progresso na direção de Deus, e de santidade, acima das exigências da carne e livres
iremos participando mais e mais de suas perfeições e da mesma.
atributos. Portanto, a glorificação será um processo 2. Em contraste com a liderança moral da lei,
eterno, e não — um único ato — instantâneo, somos guiados pelo Espírito Santo. Os crentes
imediatamente após a morte física. possuem uma nova «regra de vida», muito superior à
Rom. 8:14: Pois todos os que são guiados pelo antiga regra legal de conduta, que foi dada aos
Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. israelitas.
No décimo terceiro versículo nos é assegurada a 3. Em sentido absoluto, através dessa orientação do
orientação do Espírito Santo em nossa vida, o que Espírito, somos levados cada vez mais perto da
será evidenciado por uma participação crescente na imagem de Cristo, e somos levados a entrar na posse
santidade, bem como em uma vitória cada vez mais de nossa herança espiritual.
intensa sobre o pecado que procura utilizar-se de 4. Mediante a orientação do Espírito Santo,
nossos corpos, o que é, tão-somente, uma manifesta entramos na relação de membros da nova família
ção do princípio do pecado-morte na personalidade celeste, sendo filhos reconhecidos e feitos tais por
humana. Neste ponto é introduzido na discussão o nosso Pai, mediante o poder divino, algo que a lei
grande conceito de ser o crente um «filho de Deus». jamais poderia fazer. A elevada «posição» e «catego
Essa é a mais exaltada explanação possível pela qual, ria» do crente é assim salientada. Tal crente não pode
tendo sido conduzidos aos pés de Cristo, — dentro mesmo ser escravo do pecado.
do sistema da graça divina, não podemos mais 5. A relação para com a lei consistia de escravidão,
continuar no pecado. Assim sendo, descobre-se certa de terror e servitude. A posição de «filho de Deus», em
progressão de pensamento na resposta à pergunta que contraste com isso, é de liberdade e privilégio. Temos
aparece em Rom. 6:1: «Permaneceremos no pecado, deixado a posição de servos na casa, tendo-nos
para que seja a graça mais abundante?» tornado filhos favorecidos. Isso é o que a graça divina
A filiação a Deus garante a herança ceieste e a faz a nosso favor.
nossa transformação segundo a imagem moral e 6. O termo «filho» subentende responsabilidade do
metafísica do Filho de Deus; e era isso que Paulo crente para com o Pai celeste, de que não será
queria que entendêssemos, porquanto esse é um dos desgraçado e vilipendiado o nome da família.
mais elevados cumes da mensagem cristã, o que é Portanto, esse termo nos impõe esse dever.
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PATERNIDADE DE DEUS
7. Ser conduzido pelo Espírito é algo que envolve «o Merivale (em Conversion o f the Roman Empire)
poder e a energia» da nova vida, o que era impossível explica o uso que Paulo faz desse conceito romano da
para a lei conferir-nos. «adoção», como segue: «Tratava-se do processo de
8. Ser «filho de Deus» também subentende que a adoção legal, mediante o qual um herdeiro escolhido
santidade é o resultado natural de uma realidade recebia o direito não somente à reversão da
espiritual, e nào o resultado do esforço humano para propriedade à sua posse, mas também ao estado civil,
que o alvo da santidade seja atingido, por meio de em suas obrigações e direitos, daquele que o adotava,
alguma exigência legalista. tornando-se, por assim dizer, seu outro ‘eu’, unido a
9. A nossa posição de «filhos de Deus» requer ele... esse, igualmente, é um princípio romano,
motivos de gratidão e amor. «Esse favor é um exemplo peculiar naquela época ao povo romano, desconheci
de graça divina surpreendente, que excede a todas as do, segundo creio, entre os gregos e, segundo todas as
outras bênçãos, tornando os santos honrosos. E isso é aparências indicam, também desconhecido entre os
acompanhado por muitos privilégios, que perduram judeus, porquanto tal provisão não se pode encontrar
para sempre, para aqueles que estão nessa relação na legislação mosaica, nem sendo mencionada em
para com o Senhor Deus, os quais devem se colocar qualquer lugar onde se faz menção aos filhos da
sob essa graça divina, solicitando, com gratidão, que aliança. Nós mesmos fazemos apenas uma pálida
essa se torne a sua maneira de viver, sendo seguidores idéia do que essa ilustração significaria para quem
dele, amando-o, honrando-o e sendo-lhe obedientes». estava familiarizado às práticas romanas; isso serviria
(John Gill, iti loc.). para impressioná-lo com a certeza de que um filho
IV. A Adoção pelo Espirito adotivo de Deus se torna, em sentido peculiar e
íntimo, unido ao seu Pai celeste».
Podemos notar, na tradução portuguesa que serve
de base para o presente artigo, que o texto diz: Rom. 8:15: Porque não recebestes o espírito de
espírito, e não Espírito de adoção, isto é, com inicial escravidão, para outra vez estardes com temor, mas
minúscula. Por conseguinte, essa versão faz a alusão recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos:
ser um princípio, atitude ou estado mental. Ainda quç Aba, Pai!
alguns bons intérpretes assim tenham pensado, é
muito mais natural, acompanhando o contexto desta A expressão espírito de escravidão tem sido
passagem, continuarmos a compreender que Paulo se compreendida pelos intérpretes de diversas maneiras,
referia ao Espírito de Deus. No grego não foi usada como segue:
uma letra maiúscula para indicar o Espírito, e quando 1. Seria uma referência à dispensação do A.T.,
os autores do N.T. se referiam ao Espírito de Deus ou governada pela lei. O espírito na mesma dominante
ao espírito humano, lançavam mão da palavra levaria à escravidão, porquanto os que estavam
«pneuma» sempre com a inicial minúscula. Portanto, debaixo da antiga dispensação ficavam sujeitos a
essa questão aqui focalizada está sujeita à interpreta muitas leis e cerimônias, pesadas e insuportáveis, as
ção. Notemos, nos versículos catorze e dezesseis, que quais não oferecem qualquer possibilidade de
o Espírito Santo é claramente aludido, não havendo transformação íntima, necessária para cumprir as
nenhuma razão de peso que nos leve a pensar que, no exigências feitas. Não há que duvidar que o apóstolo
versículo quinze, a palavra «pneuma» também não se Paulo tinha esse aspecto da realidade em mente, sem
refira ao Espírito Santo. importar se aludia especificamente ou não ao mesmo.
É o Espírito Santo quem produz a adoção de filhos, 2. Agostinho pensava que se trata de uma alusão a
aquele novo e altíssimo privilégio, porquanto ele é o Satanás, autor do espírito de servidão (ver Heb.
«alter ego» de Cristo, que atua sobre a personalidade 2:14.15): e, por semelhante modo, Lutero aplicava
humana, transformando-a de acordo com a imagem esta expressão a Caim, em oposição ao espírito de
do nosso irmão maior, a saber. Cristo Jesus. Assim é Graça manifesto por Abel. Ê verdade que aquela
que Vincent diz {in loc.): «Trata-se do Espírito de referência na epístola aos Hebreus contém a idéia
Deus, que produz a condição de adoção». dada por Agostinho, mas não parece que Paulo se
Adoção. Paulo não negava aqui qualquer real referia a isso, neste versículo da epístola aos
transmissão de natureza, de Deus para os crentes Romanos. No entanto, em outras instâncias de seus
(conforme diz especificamente o trecho de João 1:12); escritos, Agostinho mostrou esposar uma interpreta
e nem negava que os verdadeiros crentes participam ção similar à que aqui ocupa o primeiro lugar.
do real caráter ou natureza divina (conforme nos 3. Alguns estudiosos vêem aqui ambos os
ensina a passagem de II Ped. 1:4). De fato, este oitavo «espíritos», isto é, o da servidão e o da adoção, como
capitulo desenvolve a idéia da participação real dos alusão a disposições espirituais subjetivas: portanto,
crentes na família de Deus, na qualidade de filhos, os estaria em foco o espírito de servilismo, bem como o
quais se tornam tais em sua natureza íntima. No espírito livre de um filho, o qual é adotado com plenos
entanto, neste vs., o apóstolo se vale de um costume direitos na família divina. Essa interpretação,
romano bem conhecido, a fim de ilustrar como o contudo, não expressa o sentido específico deste
Espírito Santo leva os homens à família de Deus, versículo, embora, naturalmente, contenha certa
utilizando-se do costume da «adoção». Essa palavra, verdade, implícita aqui, embora não explicitamente
por si mesma, indica o «pôr» ou «colocar» como filho. declarada.
No presente contexto, isso deve indicar a colocação 4. Alguns eruditos pensam que o Espírito Santo é
dos crentes na posição de filhos adultos, não mais focalizado em ambas as referências, tanto na
filhos infantes, que ainda não chegaram à idade de referência ao «espírito de servidão», como na
entrarem na posse de sua herança, que nào possam referência ao espírito da liberdade dos «filhos de
participar de todos os direitos e privilégios atinentes Deus», mediante a adoção. O espírito de servidão
àqueles que pertencem à família divina. Pelo seria o oficio penal atribuído ao Espírito Santo,
contrário, o crente entra na família de Deus como mencionado em João 16:8. Isso expressa uma
adulto, espiritualmente falando, capaz de gozar dos verdade, mas provavelmente ainda não é a idéia
plenos benefícios de sua herança, bem como das central deste versículo, e nem a questão específica
responsabilidades decorrentes dessa posição. Por tencionada.
conseguinte, poderíamos dizer que essa adoção de 5. O mais provável é que esteja em mira aqui o fato
filhos produz nos crentes a filiação adulta. de que o Espirito Santo deve ser considerado somente
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PATERNIDADE DE DEUS - PÀTIO
como o agente da adoçãó e não como se ele levasse os mostra para com seu genitor, bem como a sua
homens à servidão. Sua suposta conexão com a expectação de ser atendido pelo mesmo.
servidão é apenas uma hipótese, criada por Paulo, 3. Seria uma expressão mais completa sobre a
para fazer contraste com a verdadeira natureza de sua paternidade de Deus, visando aos judeus e aos
influência habitadora e serviço em favor dos crentes. gentios, unidos como um só povo crente, em Cristo.
Pois o Espírito Santo não é nenhum agente de 4. Seria assim enfatizado o afeto que enlaça os
escravidão, como o era a lei; pelo contrário, é o poder membros de uma família harmoniosa, como atitude
vivo que transforma os homens em filhos de Deus, natural entre eles. (Quanto a outros usos dessa
levando-os a entrarem na plenitude de sua herança. expressão. Aba, Pai, ver os trechos de Mar. 14:36 e
Outra vez atemorizados. A lei lançava o temor nos Gál. 4:6).
corações dos homens, porquanto revelava claramente A paternidade de Deus:
o pecado deles, bem como a penalidade necessária «Há cinco mil anos passados, ou talvez um pouco
para tal pecado, isto é, a morte eterna. Os homens, antes, os arianos, que então ainda não falavam nem o
pois, tornavam-se escravos pelo temor, um temor que sânscrito, nem o grego e nem o latim, chamavam
esperava a morte. Ora, o Espírito de Deus livra-nos de Deus de ‘Dyu patar’, Pai celeste.
tudo isso. A lei era, essencialmente, um sistema Há quatro mil anos passados, ou um pouco antes,
refreador, por ameaças, e ameaças reais, e não os arianos que se locomoveram para o sul dos rios do
meramente hipotéticas. Quanto melhor se compreen Panjab, chamavam-no de ‘dyaush-pita', Pai celeste.
dia os requisitos da lei, tanto mais se compreendia Há três mil anos passados, ou um pouco antes, os
como a lei era um sistema de temor. As palavras outra arianos das praias do Helesponto, chamavam-no de
vez, que aqui figuram, mostram-nos que as pessoas ‘zeus pater', Pai celeste.
para quem o apóstolo escrevia haviam sido anterior
mente escravizadas à lei; e isso significa que o Há mil anos atrás, o mesmo Pai celeste, e Pai de
apóstolo Paulo falava a uma igreja local que todos, era invocado pelos nosso» próprios antepassa-
desfrutava de bom entendimento sobre o que significa cos peculiares, os arianos teutônicos, por seu antigo
estar alguém sob a lei, a despeito do fato de que a nome de Tiu ou Zio, o qual foi então ouvido talvez
igreja local da cidade de Roma se compunha, pela última vez...
principalmente, de elementos gentios. E nós, que estamos nesta antiga abadia... se
desejamos dar nome para o invisível e infinito, que
V. Aba, Pai nos cerca por todos os lados, o desconhecido, o
Um servo ou escravo, espiritualmente falando, não verdadeiro ‘eu’ do mundo, e o verdadeiro ‘eu’ de nós
poderia chamar a tal por esse título, fazendo-o por mesmos, igualmente nós, sentindo-nos uma vez mais
direito e razão. No aramaico, o vocábulo, Aba, como crianças, ajoelhadas em uma sala escura e
significa pa/. Isso nos faz lembrar que os primeiros pequena, dificilmente podemos encontrar uma desig
seguidores de Jesus Cristo falavam nesse idioma, e é nação mais apropriada do que ‘Nosso Pai, que estás
provável que, em suas orações e formas litúrgicas, eles no céu’». (Extraído do livro Lectures on the Origin o f
tivessem preservado essa palavra como um titulo Religion, de Max Muller, em conferências na abadia
aplicado a Deus, paralelamente a outros vocábulos de Westminster, págs. 216 e 217. Londres: Long
gregos e latinos. E a dupla expressão de pai, em dois mans, Green, 1878).
idiomas diversos, serve para fortalecer aqui a idéia de
filiação e de paternidade. VI. O Novo Nascimento e a Responsabilidade
«A reiteração provavelmente se deriva de uma A doutrina do novo nascimento (ver sobre a
fórmula litúrgica, que talvez se tenha originado entre Regeneração) é a base do ensino do Novo Testamento
os judeus helenistas, que preferiram reter a consagra sobre a paternidade de Deus, embora a adoção faça
da palavra ‘Aba’. Alguns estudiosos pretendetn ver parte proeminente disso, conforme já pudemos ver. A
aqui indícios da união entre judeus e gentios, em adoção, contudo, não dá a entender que a natureza
Deus». (Vincent, in loc.). real de Deus não nos seja comunicada, como se
Acompanhando essa opinião de Vincent, Morison, fôssemos filhos de Deus somente em sentido
comentando sobre o trecho de Mar. 14:13, ao metafórico. Todos os homens são filhos de Deus em
referir-se ao uso que o Senhor Jesus fez dessa dupla virtude da criação, mas os remidos são filhos de Deus
expressão, diz que é possível que ele personalizasse no sentido que já começaram e continuarão recebendo
assim, em si mesmo, tanto os judeus como os gentios. a natureza essencial de Deus, segundo os moldes de
Jesus Cristo, o Filho. E, visto que somos filhos do Pai
«Essa repetição expressa afeto e apelo, baseada no celestial, precisamos buscar as perfeições do Pai
impulso natural que demonstram as crianças de (Mat. 5:48). Ê por causa da transformação moral que
repetirem um nome querido sob formas diferentes. a transformação metafísica é possível. Ver o artigo
Com isso se pode comparar o hino de Newton: separado sobre a Santificação. A vida cristã
Jesus, meu Pastor, Esposo, Amigo, caracteriza-se pela responsabilidade do crente diante
Meu Profeta, Sacerdote e Rei... do Pai (I Ped. 1:17). «Ora, se invocais como Pai
(Sanday, in loc.). aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as
É a chamada ao Pai, tal como as crianças pequenas obras de cada um, portai-vos com temor, durante o
chamam seu pai em confiança simples e própria de tempo da vossa peregrinação». Aquele que mostrar
crianças». (Lutero, in loc.). ser um filho responsável de Deus haverá de receber
Portanto, abaixo damos as idéias que se têm dito a uma vida abençoada, bem como a aprovação do Pai,
respeito do uso dessa dupla expressão, Aba, Pai. que provê tudo quanto for necessário para os seus
1. Seria a preservação de um termo sagrado, por filhos (II Cor. 1:3; II Tes. 2:16; I Ped. 1:3). Elevados
parte dos mais primitivos cristãos, que usavam o privilégios sempre requerem uma elevada dedicação.
termo aba para se referirem a Deus, e que
continuaram a fazê-lo, embora o grego se tivesse
tornado o idioma predominante na igreja cristã. PÀTIO DA GUARDA
Deles, pois, os crentes gregos e romanos adotaram Excetuando o trecho de Nee. 3:25 (onde aparece,
esse termo, como nome próprio de Deus. em nossa versão portuguesa, sob a forma de «pátio do
2. Essa repetição fala da dependência que um filho cárcere»), essa expressão só figura no livro de
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PÀTIO - PATRIARCA
Jeremias. O pátio da guarda era uma área no palácio olhos do vidente solitário. Acima, sempre houve o
onde esse profeta ficou detido (Jer. 32:2), recebendo espaçoso céu do firmamento grego; algumas vezes
visitantes (Jer. 32:8), e até efetuando negócios (Jer. brilhante com suas nnvens brancas (ver Apo. 14:14),
32:12). Contava com uma cisterna, onde alguns outras vezes com relâmpagos e trovões, obscurecido
oficiais terminaram por arriar o profeta, quando por ‘grande saraiva’, ou alegado por um ‘arco-íris
quiseram tirar-lhe a vida (Jer. 38:6). como uma esmeralda’ (ver Apo. 4:3; 7:7; 11:19; e
16:21). Sobre os cumes elevados de Icária, Samos e
Naxos elevam-se os montes da Àsia Menor; entre os
PÀTIO DO CÁRCERE, PÀTIO DA GUARDA quais jazeria, ao norte, o círculo das sete Igrejas que
foram endereçadas. Ao redor dele estavam os montes
Essa expressão aparece em Nee. 3:25; Jer. e as ilhas do arquipélago (ver Apo. 6:14; 16:20).
32:2.8,12; 33:1; 37:21; 38:6,13,28; 39:14,15. No Quando olhava ao seu derredor, abaixo ou acima, ‘o
hebraico é chetser mattarah. Os estudiosos estão mar’ sempre ocupava lugar proeminente...as vozes
divididos quanto ao significado da expressão. É do céu eram como o som de ondas batendo na praia,
possível que estejam em foco «celas de prisão», usadas como ‘o ruído de muitas águas’ (ver Apo. 14:2 e 19:6);
pelos guardas de um palácio. Mas outros pensam que a grande pedra foi ‘lançada ao mar’ (ver Apo. 18:21);
se trata de algum pátio descoberto existente em um o mar haveria de ‘entregar os mortos que nele havia’
palácio. Se eram celas, então eram usadas para deter (ver Apo. 20:13)». (Arthur P. Stanley, Sermons in the
prisioneiros por algum tempo, até que se pudesse East).
obter um arranjo permanente para eles. Seja como
for, Jeremias ficou confinado em um lugar assim,
embora tivesse tido a permissão de dar prosseguimen PATRIARCA (PATRIARCADO)
to ao seu trabalho profético, com bastante liberdade.
Ver o artigo geral intitulado Ofícios Eclesiásticos,
especialmente seu décimo primeiro ponto. Ver
PATMOS também sobre Patriarcas (Bíblicos).
Um patriarca é um elevado oficial e ministro da
Ver Apo. 1:9. O começo da história dessa ilha é Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa
obscuro. Somente já dentro da era cristã dispomos de Oriental. Quanto ao começo do desenvolvimento do
algum informe histórico fidedigno, acerca de coisas patriarcado e à localização das grandes sés patriarcais
ali ocorridas. Esse foi o lugar para onde foi banido o da Igreja cristã antiga, ver os artigos referidos. Os
vidente João (autor do livro de Apocalipse). Com base patriarcados eram e continuam sendo superiores em
nessa circunstância, surgiu uma aura religiosa em autoridade aos metropolitas e arcebispos. O patriar
torno da ilha, em tempos subseqüentes. Em 1088, o cado consiste no território sobre o qual domina um
monge Cristóbulo levantou ali o Claustro de São João, patriarca. A organização eclesiástica do cristianismo
no antigo local de um templo dedicado a Ãrtemis. E antigo seguiu, quanto a certos aspectos, a organização
isso veio a ser local de aprendizado clerical. Uma do governo civil do império romano. Os bispos das
excelente biblioteca foi edificada ali, que se tornou regiões mais importantes adquiriram mais autoridade
um dos bastiões da Igreja Católica Grega. Em 1453, do que os bispos ordinários, e chamavam-se
foi lançado um apelo, por parte dos ministros cristãos metropolitas (vide). Eles assumiam controle sobre
dali, a Roma, para que os ajudasse contra os turcos. mais de uma diocese, como se fossem superbispos,
No século XVI, finalmente, a ilha caiu sob o poder dos sem se tomarem arcebispos. Esses lugares mais
turcos, ainda que, durante algum tempo, lhe fosse importantes tornaram-se centros especiais da cristan
permitida grande dose de liberdade. Depois de 19l2, dade, e o bispo daquele lugar tomava-se um patriarca
passou a pertencer ao Dodecaneso italiano. Em 1947, cuja autoridade era reconhecida até em lugares
passou para o domínio grego. distantes de sua jurisdição direta. Os primeiros
Informações Gerais centros, nesse processo, foram Jerusalém, Andoquia,
O vidente Joio fora banido para a ilha Alexandria, Roma e Constantinopla, ou seja, quatro
de —Patmos—, por ordem do imperador Domiciano; no Oriente e um no Ocidente. Até pelo século V D.C.,
e ali, em sua solidão, recebeu as visões do livro do esses centros eram as províncias eclesiásticas mais
Apocalipse. Patmos era uma das ilhas Esporades, um importantes. Nos séculos VIII e IX D.C., o título
grupo de ilhas do mar Egeu, ao sul de Mileto, cerca de patriarca veio a ser usado para indicar os líderes
quarenta e cinco quilômetros a sudoeste de Samos. eclesiásticos (bispos) dessas áreas. O patriarca de
Atualmente essa ilha se chama Patmo e Palmosa. Fica Constantinopla tomou-se o cabeça da Igreja Oriental,
cerca de oitenta quilômetros de Éfeso. A ilha é e continua retendo o primado entre todas as igrejas
vulcânica, com cerca de dezesseis quilômetros de ortodoxas orientais, embora não seja considerado um
comprimento e dez quilômetros de largura, em sua papa. Cada seção nacional da Igreja Oriental tem o
porção mais larga. £ uma ilha estéril e rochosa, com seu próprio patriarca. As chamadas igrejas orientais
colinas que atingem, no máximo, trezentos metros de heréticas também contam com seus próprios patriar
altura. Conta com uma baía chamada La Scala, que cas, seguindo assim o estilo do cristianismo oriental.
se aprofunda pela ilha na direção do oeste, e que De acordo com a linguagem eclesiástica, o bispo de
quase divide a ilha em duas partes iguais, para o norte Roma tanto é papa quanto é patriarca.
e para o sul. Na porção do sul há um mosteiro No Sentido Veterotestamentário. Ver o artigo
chamado de «São João», e também uma gruta separado sobre Patriarcas (Bíblicos). Chamamos de
intitulada «gruta de Apocalipse», onde, supostamen patriarcas aos primeiros fundadores da fé dos
te, foram recebidas as visões constantes deste livro de hebreus, como Abraão, Isaque, Jacó e José (como
Apocalipse, embora isso seja mera conjectura. também aos originadores das doze tribos de Israel),
«A esterilidade severa e dura de seus promontórios todos eles filhos de Jacó. Além disso, os progenitores
interrompidos se prestava bem ao fato histórico de da raça humana, como Adão e Noé, são assim
que às suas praias eram relegados cristãos condena chamados.
dos, como que a uma prisão. A visão do seu pico mais No Sentido Geral. Qualquer grande líder, secular
elevado, ou, de fato, de qualquer elevação maior da ou religioso, especialmente se for fundador de algum
ilha, desdobra uma cena incomum, como bem se movimento, fé religiosa, etc., pode ser chamado de
presta ao Apocalipse, o desvendamento do futuro aos patriarca.
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PATRIARCADO - ? PATRIARCAS
Na Igreja Mórmon. O termo, nessa fé, refere-se à arqueologia tem demonstrado que os nomes bíblicos
ordem superior dos sacerdotes, dotados de autoridade que aparecem na história de Abraão eram comuns em
especial e jurisdição, capazes de confi rir bênçãos. sua época. Além disso, nomes similares têm sido
Definição Verbal. Patriarca é termo que vem do encontrados entre os amorreus do período. Esses
gregopatriá, «família», e archein, «governo», ou seja, eram semitas ocidentais, alguns dos quais se
o governo ou chefia de uma família. Quanto a mudaram para a Caldéia, ao sul da Mesopotâmia, e
informações adicionais ver Patriarcado. que formaram o antigo império babilónico, dentre os
quais Hamurabi foi o principal governante. O nome
amorreu vem de Amurru, que significa ocidentais,
PATRIARCADO visto que entraram na Mesopotâmia vindos do
noroeste. Naturalmente, os relatos bíblicos mostram
Ver o artigo chamado Patriarca, Patriarcado. Este que eles formavam um povo que ocupava a Palestina
artigo supre informações adicionais àquele artigo.
no tempo dos patriarcas, como parentes chegados
O patriarcado é o ofício ou sede de um patriarca, destes. O trecho de Eze. 16:3 reflete esse fato.
um título confinado, no cristianismo antigo, aos Os arqueólogos têm desenterrado tabletes que dão
bispos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Roma e
Constantinopla. Os patriarcas exerciam a sua informações sobre as atividades comerciais da época.
autoridade através e em conjunção com um concílio Aí pelo século XIX A.C., mercadores assírios haviam
penetrado na Âsia Menor com propósitos comerciais.
geral, e era através desse concílio que a autoridade As evidências provam que esse comércio envolvia
desses bispos estendia-se às sés circunvizinhas. Em vários povos e ampliava-se até o Egito. Uma pintura
1590, os patriarcas ortodoxos consentiram com a tumular (de cerca de 1900 A.C.) retrata trinta e sete
criação do patriarcado de Moscou. semitas entrando no Egito, procurando negócios, com
O termo patriarcado, em sua designação mais vestimentas e equipamentos típicos dos semitas
ampla, pode significar: 1. ofício; 2. o domínio ou asiáticos.
território governado pelo patriarca; 3. a residência do As Viagens eram uma Constante. Abraão mudou-
patriarca; 4. o tipo patriarcal de governo eclesiástico. se de Ur da Caldéia para o Egito, no decurso de sua
vida. Jacó viajou pela Palestina acima, até Harã, e
então voltou (Gên. 28:35); e, mais tarde, transferiu-se
PATRIARCAL, ERA para o Egito, o que armou o palco para o drama da
Ver sobre Patriarcas (Biblicos). escravidão dos israelitas nesse país, antes do êxodo.
Os relatos do Antigo Testamento sugerem que havia
rotas comerciais intensamente usadas. Um grupo de
PATRIARCAS (BtBLICOS) negociantes levou José até o Egito (ver Gên. 37:28-36).
O PERÍODO PATRIARCAL
3. Dirigentes
Esboço:
O pai era o chefe da família. O mais idoso e mais
1. Definições poderoso pai tornava-se o chefe do seu clã, que dele
2. Estilo e Condições de Vida descendia. Acima dessa estrutura, podia haver um
3. Dirigentes melek, isto é, um «rei». Porém, quase todos esses
4. Costumes Ilustrados pela Arqueologia primeiros reis eram apenas dirigentes de clãs, que
5. Estrutura da Família conseguiam reunir forças militares para impor aos
6. Religião dos Patriarcas Bíblicos outros a sua vontade ou para proteger o território
7. Contribuições dos Patriarcas deles. O trecho de Gên. 14:1,2 conta acerca de quatro
8. Cronologia desses «reis»; mas ali são destacados apenas chefes de
clãs, e não chefes de cidades-estado, e, muito menos,
1. Definições de nações. Provavelmente, nessa época já havia tal
A palavra grega por detrás desse vocábulo é uma coisa como as cidades-estado. Por exemplo, Melquise-
combinação de pater, «pai», e archés, «cabeça», deque é chamado rei de Salém (Jerusalém), e
«chefe». Os patriarcas bíblicos são aqueles que são podemos imaginar que essa cidade controlava as áreas
considerados os fundadores da raça humana, Adão e adjacentes, pelo que talvez ela tenha sido uma
Noé (este último através de seus três filhos, Sem, Cão primitiva cidade-estado. Em Edom havia «reis» ou
e Jafé; ver Gên. 10); ou então aqueles que foram «duques» (ver Gên. 36:19,31). Os horeus também
cabeças ou fundadores das doze tribos de Israel. O contavam com duques (ver Gên. 36:29). Mas, no
vocábulo também é aplicado a Abraão, no Novo Egito já havia verdadeiros reis, todos eles intitulados
Testamento, em Heb. 7:4, por ser ele o fundador Faraós (ver Gên. 12:15-20; 37:36; 39:1). Devemo-nos
(progenitor) da nação hebréia, sendo também o pai lembrar que nada menos de dez dinastias, ou mesmo
dos homens espirituais, tanto judeus quanto gentios, mais, tinham subido sucessivamente ao trono do
que sigam com seriedade a vereda espiritual. Os filhos Egito, antes de Abraão chegar à Palestina; e que os
de Jacó são chamados «patriarcas» em Atos 7:8,9 e egípcios representavam uma avançada civilização,
Davi é denominado desse modo, em Atos 2:29. O antes e durante o tempo de Abraão, quando este e sua
período patriarcal é aquele período de tempo da gente eram apenas pastores e criadores de gado que
formação da nação hebréia, antes da época de viviam como nômades. É impossível reconstituirmos o
Moisés. quadro contando somente com o livro de Gênesis;
2. Estilo e Condições de Vida mas, lançando mão da ajuda da arqueologia,
Os patriarcas viviam em estilo seminômade, nas. poderemos obter uma boa idéia do fato de que havia
terras do chamado Crescente Fértil (vide). Abraão e alguns poucos governantes poderosos cuja influência
sua família imediata vieram de Ur, na Caldéia, até o chegava até a alguma distância, pois quase todos
Egito, trazendo consigo seus rebanhos e demais eram apenas pequenos líderes de pequenos clãs. Uma
possessões. As riquezas eram calculadas sob a forma boa pergunta, que lança muita luz sobre a questão, é
de propriedades móveis. A única coisa que Abraão aquela que indaga: «Como as coisas poderiam ter sido
comprou, até onde vão os registros sagrados, foi um diferentes quando tudo isso aconteceu dentro de um
campo onde havia um local próprio para sepultamen- território que era menor do que a metade do tamanho
tos, para sua família, começando por Sara. A do estado de São Paulo?»
112
PATRIARCAS (BÍBLICOS)
4. Costumes Ilustrados pela Arqueologia do marido de suas senhoras.
As descrições bíblicas têm paralelo bem próximo 6. ReUgiio dos Patriarcas Bíblicos
nos registros achados èm tabletes com escrita Estudos sobre as culturas do Crescente Fértil têm
cuneiforme, como aquelas descobertas em Nuzi, perto mostrado que o Oriente Próximo e Médio exibiam
de Quircuque, na década de 1920. Foram encontra várias formas de politeísmo. Os cananeus dispunham
dos cerca de quatro mil desses tabletes, fornecendo- de um bem fornido panteão de divindades, tendo El
nos preciosas informações sobre a vida na época, («força») como o cabeça. Ele teria gerado nada menos
incluindo muitos paralelos bíblicos. Temos apresenta de setenta deuses e deusas. Baal era um de seus
do um artigo separado sob o titulo Nuzi, que ilustra a descendentes, e que muito perturbou aos israelitas na
questão, pelo que esse material não é repetido aqui. história posterior deles. O nome El, naturalmente, era
Ver especialmente o quarto ponto daquele artigo, um nome comum dado a Deus pelos hebreus, também
Pontos de Interesse Confrontados com o Gênesis. As usado por outros povos, aparentados dos israelitas. A
mais diversas questões são ilustradas, como documen grande contribuição de Israel foi, primeiramente o
tos escritos, costumes de adoção, os terafins, práticas henoteísmo (vide), e então o monoteísmo (vide),
de sepultamento, mães substitutas, poligamia, famí simplificação essa que levou a fé dos hebreus mais
lias polígamas, costumes entre as irmãs, os habiru, perto da verdade divina do que as religiões de seus
contratos, testamentos, etc., etc. O código de vizinhos. Como é claro, durante o período patriarcal,
Hamurabi chega a ventilar uma situação análoga à de havia uma concepção muito antropomórfica de Deus;
Sara e Hagar, onde a segunda esposa (ou concubina)
de um homem podia aspirar por maiores coisas para mas até hoje isso persegue nossos conceitos sobre o
Ser divino. Experiências místicas eram comuns, e
seu filho do que no caso dos fUhos da primeira esposa Deus era muito pessoal para os patriarcas hebreus.
daquele homem. Nesses casos de «rebeldia», a Ficamos especialmente impressionados diante da vida
segunda esposa podia ser reduzida à «servidão» (Par. de Jacó, com as suas muitas e significativas
;.26). Naturalmente, Hagar já era escrava antes de experiências espirituais. A cultura grega tinha
haver gerado Ismael, ao passo que o código de algumas concepções similares, posto que em meio ao
Hamurabi refere-se a uma mulher que era sacerdoti politeísmo.
sa, que poderia ser tomada como segunda esposa;
mas a filosofia é a mesma em ambos os casos. A Alguns estudiosos têm imaginado que o homem
questão da poligamia e os problemas atinentes são primitivo era mais sensível para com os poderes
amplamente ilustrados nos antigos registros paralelos divinos e para com as manifestações do Espírito de
às Sagradas Escrituras. Ver o artigo geral sobre a Deus, em comparação ao que sucede ao sofisticado
Poligamia. Ver também sobre o Matrimônio. A homem moderno. Apesar da maioria dos deuses
arqueologia muito tem contribuído para confirmar a pagãos começarem sua história como divindades
exatidão geral das narrativas bíblicas quanto ao tribais, segundo a história e a arqueologia tão
período patriarcal. Também os textos de Mari são claramente o demonstram, para então haver um
muito importantes quanto à questão de textos progresso gradual na qualidade dessas divindades,
literários que ilustram o período patriarcal. No que bem como na esfera de sua jurisdição, o fato de que
concerne a uma ampla descrição, ver o artigo com Abraão pagou dízimos a Melquisedeque mostra-nos
esse título, especialmente sua quarta seção, Os Textos que Abraão* e Melquisedeque pisavam sobre um
de Mari e o Antigo Testamento. terreno comum, pois eram dotados de um conceito
mais lato de Deus, em sua universalidade, do que
5. Estrutura da Família sucedia com outros povos. Muitos eruditos acreditam
Dentro da unidade da família, o pai era o chefe da que o período patriarcal (dos hebreus) caracterizou-se
casa. Também era o seu sumo sacerdote, responsável pelo henoteísmo, e não pelo monoteísmo. Isso
por dirigir devidamente os ritos e costumes da fé significa que apesar de talvez ser admitida por eles a
religiosa. O pai estendia sua autoridade sobre outras existência de mais de um Deus, a fé dos hebreus havia
famílias, como um autêntico patriarca. Seu filho mais progredido ao ponto de aceitar a Yahweh como «o
velho vinha a substituí-lo, quando falecia. Esse filho nosso único Deus, o único a quem devemos prestar
era o herdeiro da posição e das propriedades de seu contas». Antes de Moisés, pois, já havia surgido^entre
pai. Se não houvesse herdeiros, um filho adotado os hebreus um autêntico monoteísmo. O Deús de
(mesmo que tivesse sido um escravo), podia*tornar-se Melquisedeque era El Elyon, ou seja, «o Deus
o herdeiro (ver Gên. 15:2 e ss). Além disso, um filho Altíssimo»; e esse foi um dos nomes dados a Deus, a
nascido de uma concubina, talvez a escrava da esposa partir do período patriarcal.
legítima, poderia vir a ser o herdeiro, na ausência de
filhos da esposa principal (ver Gên. 16:2). Mas, se no O cabeça da família era também o sacerdote da
decorrer dos anos, nascesse um filho à esposa mesma. Porém, o caso de Melquisedeque (vide)
principal, a questão era revertida, e esse filho vinha a mostra-nos que também existia pelo menos uma
ser o futuro chefe do clã (ver Gên. 15:4; 17:19). A classe especial de sacerdotes que desfrutavam de uma
poligamia complicava os laços familiares; mas os jurisdição mais ampla. Sacrifícios de animais, e,
filhos de diferentes esposas eram identificados algumas vezes, até sacrifícios humanos (como nos
mediante o uso do nome materno. Os trechos de Gên. mostra o sacrifício de Isaque, que esteve perto de
16:4; 29:23,24,28,29 mostram quão comum era essa concretizar-se), eram empregados; e, com base nos
forma de matrimônio. detalhes do episódio podemos supor que os sacrifícios
A história de Jacó mostra que um pretendente humanos estavam desaparecendo gradualmente, pelo
podia obter esposa trabalhando para o seu futuro menos em alguns lugares. As mais antigas informa
sogro, sem dúvida regulado por algum tipo de ções de que dispomos mostram-nos que os povos
contrato, escrito ou verbal (ver Gên. 29:18,27). Uma antigos acreditavam literalmente que a vida está no
filha, com freqüência, era dada como um presente se sangue, não meramente em sentido biológico, mas até
seu pai estivesse interessado em obter um determina em sentido psicológico. Atributos misteriosos, pois,
do genro. Outrossim, uma criada (usualmente uma eram atribuídos ao sangue, e o sangue vertido nos
escrava) era dada como um presente, çelo pai, a uma sacrifícios revestia-se de uma extrema importância
sua filha, quando esta se casava (ver Gen. 19:24,29), e ritualística. As pessoas criam que os deuses que eram
essas criadas tomavam-se parte integral da família, e honrados por eles manifestavam a sua presença por
às vezes tomavam-se segundas esposas ou concubinas ocasião dos sacrifícios, conferindo-lhes favores espe-
113
PATRIARCAS - PATRÍCIO (SANTO)
ciais. Ver o artigo geral, Expiação; e também muito controvertida. No artigo Cronologia, procuro
Expiação Pelo Sangue. examinar os problemas envolvidos, onde também são
A Questão da Alma. O período patriarcal, pelo apresentadas várias teorias alternativas. Ver especial
menos no que tange à fé dos hebreus, não incluía mente os pontos 3. Problemas Comuns da Cronologia,
qualquer crença clara na existência da parte imaterial e 5. Períodos Bíblicos Específicos, c. Do Dilúvio até
do homem, apesar de reivindicações em contrário, Abrão, ponto 1. A Grande Era dos Patriarcas.
através da interpretação cristã do trecho de Gên. 2:7.
E quando é dito, acerca de Raquel, que ao morrer o
seu espírito saiu dela, isso poderia significar
tão-somente que ela «soltou o último suspiro», como PATRICÍDIO
também a versão inglesa RSV traduz esse versículo Palavra que vem do latim, pater, «pai», e caedere,
(Gên. 35:18). Até mesmo dos tempos mosaicos não «cair», «matar». Em todas as sociedades, os incidentes
nos chega qualquer referência clara acerca da alma, que resultam em patricídio geralmente são causados
como um elemento distinto do complexo humano, por atos violentos do momento. No entanto, há uma
capaz de sobreviver à morte biológica. Nos escritos exceção, isto é, na Melanésia; ali a questão envolve
mosaicos, nunca é prometida uma após-vida para um costume social. Quando um idoso chefe perdia
aqueles que praticassem o bem, e nem qualquer juízo sua capacidade mental e física, não sendo mais capaz
após-túmulo é ameaçado para aqueles que praticas de cumprir as suas responsabilidades, seu filho mais
sem o mal. A doutrina da alma só se tornou mais clara velho deveria substituí-lo. E isso incluía o assassínio
a partir da época em que foram escritos os Salmos. A público e cerimonial do idoso homem. Isso não era
partir de então, essa crença tomou-se uma constante feito com um cacete, uma lança ou uma faca,
na fé judaica, embora não fosse universalmente crida, conforme alguém poderia matar um inimigo; mas
conforme se vê no caso dos saduceus. mediante um enterro cerimonial, onde a vítima era
7. Contribuições dos Patriarcas enterrada viva. O filho dizia respeitosamente:
Ê patente que um povo nômade não consegue «Senhor, sua estrela se pôs». E o pai recebia tudo isso
contribuir grande coisa para a arquitetura, para as tranqüila e confiantemente, por ser esse o seu dever
ciências, para a agricultura ou para as artes em geral. terreno; e, em segundo lugar, porque esperava ser
Outrossim, a contribuição hebréia para a literatura, o deificado após a morte.
ponto mais forte dos israelitas, só ocorreu algum Como é óbvio, o cristianismo, ao chegar naquelas
tempo mais tarde. Podemos dizer que a principal ilhas do Pacífico, fez oposição a tal bárbaro costume,
contribuição que os patriarcas e seus descendentes em face de sua desumanidade e em face do valor das
deixaram à humanidade limitou-se ao campo do pessoas idosas. Deve haver uma maneira melhor de
pensamento religioso. Já no tempo dos patriarcas afastar um homem senil do que sepultá-lo vivo! Seja
hebreus tinham sido lançados os alicerces da fé do como for, esse costume enfatizava o louvável costume
Antigo Testamento. E parece bem claro que houve e atitude da solidariedade grupai, a disposição dos
significativas experiências religiosas que acompanha membros de um grupo a fazerem tão grandes
vam aqueles conceitos de fé, sendo até mesmo a sacrifícios pessoais.
origem desses conceitos, pois eram conceitos revela
dos.
8. Cronologia PATRÍCIO (SANTO)
Os eruditos conservadores datam a migração de Esse nome vem do latim, patridus. Ele foi uma
Abraão à Palestina em cerca de 2000 A.C., embora memorável personagem da antiga cristandade. Suas
outros pensem em uma data tão tardia quanto 1750 datas foram 389-461 D.C. Ele é considerado o
A.C. para esse acontecimento. Assim, se aceitarmos a apóstolo e patrono da Irlanda. Nasceu na parte
data mais antiga, então diremos que o período ocidental das ilhas Britânicas, e faleceu na Irlanda,
patriarcal durou de 2080 a 1871 A.C., aproximada sua pátria adotiva e a grande área de suas atividades.
mente; e que a jornada do povo de Israel no Egito Descendia de uma família proeminente e abastada.
perdurou de 1871 a 1441 A.C., aproximadamente. Seu pai, Calpórnio, era filho de um sacerdote cristão
Mas, se a data mais recente é que está certa, então de nome Potito; e o próprio Patrício foi pai de um
Abraão deve ser posto dentro do novo império diácono e membro do conselho municipal. Com a
sumero-acadiano de Ur-Namu, fundador da famosa idade de dezesseis anos, Patrício foi capturado e se
terceira dinastia de Ur (cerca de 2080-1960 A.C.). tornou um escravo na Irlanda.
Esse monarca assumiu o novo título de «rei da Tal como sucede a tantas notáveis figuras
Suméria e Acade». Ele construiu um gigantesco religiosas, podemos ver a mão divina em operação na
zigurate (vide) em Ur, que até hoje pode ser visto em sua vida. Patrício não estivera muito interessado pela
suas ruínas. E se a data mais antiga estiver com a fé religiosa, apesar de todo o envolvimento de sua
razão, então Abraão partiu de Ur exatamente quando família no cristianismo. Porém, quando se tornou
essa cidade atingia o seu ponto de maior glória. No cativo, precisou voltar-se mais e mais para Deus e
tocante aos estados amorreus e elamitas da Mesopotâ- para a fé, a fim de poder ser sustentado em sua
mia, naquilo em que se relacionam a Abraão, então provação. Então ele começou a receber sonhos e visões
este viveu quando as cidades de Isin, Larsa e Esnuna espirituais, que ele recebia como inspiração divina; e
eram proeminentes, cujos príncipes foram os herdei esse toque místico lhe transformou a vida. Foi escravo
ros da terceira dinastia de Ur, depois que essa durante seis anos e durante esse tempo foi crescendo
dinastia entrou em colapso. Por semelhante modo, o em visão e forças espirituais. Então recebeu um sonho
tempo de Abraão corresponde, ao reino médio do que mostrava que havia um navio preparado para içar
Egito, especificamente a sua XII Dinastia (2000-1780 velas para a Inglaterra. Patrício fugiu e andou por
A.C.). Abraão esteve no Egito precisamente no duzentas milhas romanas, tendo chegado a um certo
começo dessa dinastia. José tornou-se primeiro- porto. Ali havia um navio prestes a partir. Patrício
ministro de um dos Faraós dessa dinastia, e José pediu para ser levado; o capitão, embora recusando-
chegou ali nos tempos do mesmo, provavelmente se a princípio, acabou mudando de idéia, e Patrício
Amenemes I-IV ou Senrosrete I-III. Desnecessário é partiu de volta à sua terra. Ele jamais teria aceitado
dizer, a cronologia da época dos patriarcas é questão de bom grado o cativeiro, com labores forçados, por
PATRÍCIO - PATRIPASSIANISMO
tantos anos; mas assim Deus foi capaz de atingir o seu poderia obter. Mas essa acusação ele rebateu com
coração. Às vezes, a adversidade é a maior de todas as sucesso, demonstrando, a sobejo, que ele recusara
mestras, embora nunca queiramos tê-la como presentes oferecidos por seus convertidos vivendo uma
instrutora! Os melhores professores não são neces vida simples e frugal. Por igual modo foi acusado de
sariamente os mais suaves e de relacionamento fácil! gastar dinheiro mui livremente. Ao que parece, ele
O navio aportou na Bretanha, na porção ocidental recebia fundos da Inglaterra. E ele não negou isso.
da França. Não havia alimentos no lugar, e os homens Talvez pudesse ter sido menos perdulário. Chegou
vagueavam à procura de algo para comer. Todos mesmo a gastar algum dinheiro para subornar figuras
estavam à beira da inanição. Patrício apelou para a locais do governo, a fim de ser protegido por elas. No
oração. E assim Deus mandou alimentos a eles. Os entanto, lembremo-nos que ele estava em território
homens não acharam o que comer. Mas uma vara de hostil. Mas ele não gastava dinheiro em proveito
porcos selvagens veio ao encontio dos homens; próprio, vivia em relativa pobreza. Quase todo o seu
quando a gente não tem carne de vaca, a carne de dinheiro era canalizado para obras de caridade, que
porco é deliciosa. eram extensas. Ele desafiou as religiões pagãs da
Irlanda, levantou um templo, estabeleceu um
Finalmente, Patrício voltou à companhia de seus mosteiro, treinou um clero, organizou sociedades
pais. Naturalmente, ficaram muito satisfeitos, exor cristãs, introduziu o latim e a cultura européia na
tando-o a nunca mais deixar o lar. Bastava de Irlanda. O fato histórico é que ele chegou a uma
vagueações pelo estrangeiro! Isso pareceu muito bom, Irlanda inteiramente pagã, mas, ao morrer, deixou
e Patrício contentou-se em ficar entre sua gente. uma Irlanda cristã. Ao mesmo tempo em que tinha de
Porém, certa noite, apareceu-lhe um homem em um enfrentar continuamente a oposição de homens que
sonho. — Não era um sonho ordinário; e nem o lhe eram inferiores, o seu prestígio ia crescendo
homem era um homem qualquer. Ele aproximou-se poderosamente, com o resultado que, finalmente,
de Patrício e lhe entregou uma carta. Patrício leu-a. com justiça passou a ser conhecido como «o apóstolo
As palavras iniciais diziam «a voz dos irlandeses». O da Irlanda». A Igreja cristã declarou-o santo, e sua
incidente foi notável, porque, enquanto leu a carta, festa é comemorada a 17 de março.
também ouviu vozes, e reconheceu que eram as vozes Lições que Aprendemos da Vida de Patrido:
das pessoas com as quais estivera associado na 1. Deus escolhe definidamente alguns homens para
Irlanda. Essas vozes diziam: «Nós te rogamos, jovem missões especiais, e o seu propósito é invencível,
santo, que voltes e andes novamente entre nós». realizando o Senhor o que quer.
A história não nos brinda com muitas informações 2. Todos os homens são culpados de caírem em
sobre os estudos e os preparativos de Patrício; mas é lapsos, mas esses não podem e nem devem impedir o
evidente que ele passou algum tempo em um cumprimento do propósito divino para suas vidas.
mosteiro, talvez na Gália (mais ou menos equivalente Todos os homens têm defeitos que impedem em parte,
ao que é hoje a moderna França). Finalmente, ele foi embora não anulem, a contribuição deles para a
consagrado bispo (432 D.C.), tendo sido preparado causa do Senhor.
para a sua missão entre os irlandeses.
3. O cumprimento da nossa missão poderá exigir
E assim Patrício partiu de novo, deixando para trás que nos separemos de nosso povo, família e amigos.
sua amada terra, sua família e seus amigos. Os laços 4. As experiências místicas de fato transformam as
domésticos foram novamente cortados, pois aquela vidas de muitos crentes, e o propósito de Deus, com
missão exigia esse sacrifício pessoal. Patrício precisou freqüência, opera através de sonhos, profecias,
enfrentar muitos empecilhos. Suas dificuldades visões—a Presença do Senhor, enfim.
começaram antes mesmo dele deixar a Inglaterra. Ao
se espalharem as notícias sobre sua missão, um certo 5. Até mesmo um homem que com razão podemos
«amigo», aparentemente invejoso do progresso espiri intitular de apóstolo, sofre as críticas e a oposição de
tual de Patrício, revelou um pecado que ele havia muitos dentro da própria Igreja cristã. Mas, embora
cometido na juventude. Coisa alguma se sabe acerca combatido, Patrício trabalhou mais abundantemente
da natureza do lapso; mas essa questão, de parceria que eles todos. A história, por isso mesmo,
com outras declarações que foram feitas contra ele, vindicou-o.
criaram dificuldades. A maledicência daquele amigo, 6. Há alegria na tarefa bem-feita, completa e cheia
tão estúpida (pois quem não cometeu algo que pode de bons frutos.
ser dito contra sua pessoa?), causou-lhe muita dor.
Não obstante, com firme propósito, — Patrício
continuou em sua vereda. PATRIMÔNIO DE SÃO PEDRO
Outros labutaram no século V D .C. para a O papa Gregório, o Grande, chamou a propriedade
conversão da Irlanda; mas, dentre todos eles, Patrício da Santa Sé, em Roma, de «propriedade dos pobres».
foi o mais enérgico e bem-sucedido. No entanto, Um nome alternativo e mais universal para a mesma
homens menores puseram em dúvida a sua capacida coisa é «patrimônio de São Pedro». Essa expressão
de para a tarefa. Somos informados acerca da também tem sido \isada, em sentido geral, para
questão, além de outras, em sua obra intitulada referir-se aos estados da Igreja, os quais, naturalmen
Confissão, um tipo de vindicação de sua vida e te, incluem propriedades muito além da área da
conduta. Com base nessa obra, podemos obter uma cidade de Roma.
boa idéia a respeito da oposição que ele teve de
enfrentar na própria Igreja. Era considerado rústico e
destituído de educação superior. E, de fato, ele PATRIOTISMO
confessou-se culpado disso. Sua vida, incluindo a Ver o artigo sobre Nacionalismo, que inclui o que
questão da interrupção de sua educação devido ao poderíamos dizer sobre a questão.
cativeiro na Irlanda, — impedia que ele freqüentasse
escolas, conforme gostaria de ter feito. Além disso,
diferente de outros, ele foi forçado a usar um idioma PATRIPASSIANISMO
estrangeiro em sua juventude; e isso muito dificultou Esse vocábulo vem do latim, pater, «pai», e patior,
os seus estudos na adolescência. Também foi acusado «sofrer». Está em foco o sofrimento de um pai. Mas
de estar na Irlanda por causa do dinheiro que dali está em pauta a doutrina do sofrimento de Deus Pai.
115
PATRIPASSIANISMO - PATROS
Uma das bases dessa teoria monstruosa é um ante-nicenos (antes do concílio de Nicéia). E os pais
exagerado antropomorfismo, que imagina que o que pós-nicenos da Igreja são Àrio, Atanásio, Hilário,
sucedeu ao Jesus terreno, foi tolamente transferido Basílio, Gregório de Nissa, Cirilo de Alexandria,
para o Pai celeste. Isso é aceito com base na analogia Teodoro de Mopsuéstia, Jerônimo, Agostinho e João
que o Filho é divino e o Pai também é divino: e assim, Damasceno. Orígenes foi a maior influência teológica
o que sucede a um deve suceder, obrigatoriamente, ao sobre a Igreja Oriental. E Agostinho foi a maior
outro. Ou então, com base em uma doutrina má, que influência sobre as idéias teológicas da Igreja
não reconhece a distinção entre Deus Pai e Deus Ocidental. Algumas importantes doutrinas cristãs
Filho. Nos tempos modernos surgiu o movimento do foram interpretadas de modo diferente por esses dois
«Jesus somente», que afirma que Jesus é divino, e que pais da Igreja.
títulos como Pai e Espírito Santo também se aplicam Extensão do Termo. Alguns têm chamado de «pais»
a ele, do que resulta o abandono de qualquer doutrina a lideres proeminentes da Igreja cristã que viveram
trinitariana (que eles insistem ser uma doutrina até o século VIII D.C. Alguns poucos desses vultos,
triteísta). devido à sua influência extraordinária, também têm
O patripassianismo popular (não-histórico) envolve sido assim chamados, até mesmo depois desse tempo,
um antropomorfismo tolo acerca do Ser divino (o como Tomás de Aquino (1225-1274). Mas talvez seja
Pai), que diz que Deus tem todas as variedades de correto dizer que os pais chegaram até João
emoções humanas, desde a alegria até à tristeza. E até Damasceno (675-749). Artigos separados são apresen
mesmo alguns autores evangélicos têm incorporado tados nesta Enciclopédia, acerca de todos os nomes
essas idéias em seus escritos, imaginando um Deus acima alistados.
que realmente chora, ri, ira-se, grita e canta.
Historicamente, patripassianismo foi um nome
jocoso cunhado por Cipriano (vide), para indicar a PÀTROBAS
doutrina do monarquianismo modalista, que dizia Esse nome é abreviação de Patrobius, que significa
que os sofrimentos remidores de Cristo também «vida do pai». Pátrobas era um dos cristãos de Roma
envolveram os sofrimentos de Deus Pai, visto que (Rom. 16:14), ou da Àsia Menor, se é que o décimo
Cristo era o Pai sofredor. Em outras palavras, o Pai e sexto capítulo de Romanos é uma breve carta aos
o Filho eram a mesma pessoa, em diferentes modos e cristãos da Ãsia Menor, conforme têm pensado alguns
atos. Noeto e Práxeas foram expositores proeminentes estudiosos (ver o artigo sobre Romanos, VIII.
dessa doutrina, que floresceu nos séculos II e III D.C. Integridade da Epistola), para quem Paulo enviou
Tertuliano informa-nos que Práxeas chegou ao suas saudações.
absurdo de dizer que «o Pai nasceu e o Pai sofreu». O nome Pátrobas era comum entre os escravos,
Também declarou graficamente que Práxeas «pôs embora não se saiba dizer se Pátrobas era escravo.
em fuga ao Paracleto e crucificou ao Pai». Os Aparentemente, ele fazia parte de uma igreja que se
modalistas (ver o artigo intitulado Modalismo) reunia em uma casa. A tradição antiga diz que ele foi
confundiam as pessoas da Trindade e negavam a um dos discípulos-missionários antigos, mencionados
união da natureza divina com a natureza humana na em Lucas, décimo capítulo; mas, usualmente,
pessoa de Cristo. Talvez as noções gregas da tradições desse tipo são inúteis, pois não podem ser
divindade (que os romanos abraçaram e ampliaram), comprovadas.
já que esses povos tinham mais de um deus que teria
passado por consideráveis sofrimentos, embora
tivessem permanecido imortais, tenham servido de PATROCLO
influência sobre os criadores dessa esdrúxula doutri Esse foi o nome do pai de Nicanor, um general sírio
na. que guerreou contra os judeus, segundo está
Os pais da Igreja, Hipólito, Tertuliano e Orígenes, registrado em I Macabeus 3:38 e II Macabeus 8:9.
opuseram-se a essa doutrina, e a teologia cristã Isso aconteceu em cerca de 166 A.C. Seu nome
subseqüente, como é natural, deu-lhes apoio. derivava-se do herói homérico do mesmo nome, amigo
Entretanto, isso não conseguiu abafar de todo o de Aquiles, e ao qual Heitor matou. Coisa alguma se
antropomorfismo (vide) que tão freqüente e poderosa sabe sobre esse homem, embora seu filho tenha
mente tem feito parte de declarações tradicionais desempenhado um importante papel na história dos
acerca da natureza e dos atributos de Deus. Macabeus.
PATRÍSTICA PATROLOGIA
Essa é a designação dada àquele ramo da teologia Ver o artigo sobre Patrística. A patrologia é a
(e da história) que estuda os chamados pais da Igreja ciência que estuda os escritos dos primeiros pais da
cristã. Esses estudos incluem as vidas, os escritos e as Igreja, cujo número geralmente é contado até João
doutrinas dos primeiros e mais proeminentes líderes Damasceno, inclusive (cerca de 675-749 D.C.).
da Igreja cristã pós-apostólica. A questão tem sido
dividida cronologicamente em pais ante-nicenos e pais
pós-nicenos. Aqueles que viveram mais próximos dos
apóstolos, do ponto de vista cronológico, têm sido PATROS
chamados Pais Apostólicos (vide). Entre eles contam- Essa palavra é de origem egípcia e significa «terra
se Clemente de Roma, Policarpo e Inácio; e seus do sul», o nome dado pelos egípcios ao Alto Egito, em
escritos têm sido intitulados escritos dos pais distinção a Matsor, o Baixo Egito (ver Isa. 11:11; Jer.
apostólicos. Em adição, esse termo é aplicado ao 44:1,15; Eze. 30:14). Sua forma alternativa era
Pastor de Hermas e à epístola de Diogneto. Em Tebaida. Nos textos cuneiformes, esse nome aparece
Alexandria, Pantaeno, Clemente e Orígenes são como Paturissu. Esse território ficava entre o Cairo e
considerados os principais primeiros pais da Igreja. Answan, seguindo o vale do rio Nilo. Há provas de
Outros vultos notáveis, cujos escritos também são que esse nome vinha sendo usado desde tão cedo
considerados patrísticos, foram Tertuliano, Cipriano, quanto 680 A.C., quando ficou registrado nas
Novaciano, Irineu e Hipólito. Todos esses, menciona inscrições de Esar-Hadom, rei da Assíria, o qual se
dos até este ponto, são conhecidos como pais jactou de ser o rei do Egito, juntamente com vários
116
PATRUSIM - PAULISTAS
outros lugares. daquele segmento da cristandade. Se eram adocian-
Nessa área havia uma colônia judaica nutnerosa. nistas, não eram docéticos. Deixararm de existir como
Jeremias identificou o Egito com Patros, em uma um grupo separado no século XI D.C.
referência frouxa (ver Jer. 44:15). Ezequiel 29:14 e
30:14 ensinam que essa era a região de onde os
egípcios se originaram. PAULINISMO
Esse termo refere-se ao cristianismo visto pelos
olhos do apóstolo Paulo. Muitos estudiosos ficam
PATRUSIM impressionados pelo aparente fato de que a versão
Em egípcio, essa palavra, que ao ser passada para o paulina do cristianismo de fato era bem diferente da
hebraico está no plural, significa «habitantes de versão de Jesus e de Tiago. Os dispensacionalistas
Patros». Ver o artigo sobre Patros. Esse povo vivia no reconhecem uma diferença radical. Seja como for, o
Alto Egito. A palavra encontra-se nas listas cristianismo de Paulo era diferente, em muitos
genográficas de Gên. 10:14 e I Crô. 1:12. aspectos, daquele que transparece nos evangelhos
sinópticos. Os hiperdispensacionalistas ficam im
pressionados com o contraste entre Paulo e outros
PAU autores cristãos, e chegam ao extremo de pensar que
somente suas epístolas (ou mesmo as chamadas
O significado dessa palavra é obscuro, embora epístolas da prisão), são autoritárias quanto à ordem
alguns estudiosos tenham sugerido «balido», isto é, a eclesiástica, embora outras passagens bíblicas, tanto
voz das ovelhas. De acordo com nossa versão do Antigo quanto do Novo Testamentos, sejam
portuguesa, Pau era a cidade capital de Hadar, um honradas quanto ao seu valor ético e instrutivo.
dos príncipes edomitas (ver Gên. 36:39). O nome Ocasionalmente, o paulinismo envolve essas posições
dessa cidade aparece com a forma variante de Paí, em radicais. Somente Paulo seria o doutrinador, para os
I Crô. 1:50. Nesta última passagem, o nome do tal paulinistas, ao passo que o resto das Sagradas
príncipe também é alterado para Hadade, uma forma Escrituras não recebe a aceitação que a Bíblia merece,
que alguns estudiosos consideram ser a correta. Não em sua inteireza. Ver a doutrina de Paulo no artigo
se sabe a localização moderna dessa cidade. intitulado Paulo, II.5. O ponto seis dessa seção
encerra uma discussão sobre Paulo e Jesus, onde o
problema do contraste é ventilado. Paulo recebeu
PAULICIANOS (PAULICIANISMO) muitas visões e revelações que ultrapassaram às
Os paulicianos foram uma seita adocianista informações dadas por outros autores neotestamentá-
armênia (vide), que talvez tenham derivado seu nome rios, e esse é o fato que emprestou a Paulo tão distinta
do bispo Paulo de Samosata (vide), e que defendia posição no seio do cristianismo. A grande palavra-
pontos de vista similares. Também muito enfatizavam chave, em todas as coisas, é moderação. Reconhece
a antítese do apóstolo Paulo entre a graça e a lei, o mos a distinta contribuição de Paulo, mas não
que pode ter sido outra razão para o título que devemos negligenciar as contribuições dos demais
ostentavam. No começo, o termo era de natureza escritores sagrados.
pejorativa, mas logo tornou-se uma designação
comum. Eles ensinavam que o homem Jesus recebeu o
Espírito de Cristo por ocasião de seu batismo, tendo PAULISTAS
recebido «as vestes primárias de luz», que caracteriza Esse é o título da organização cujo nome completo é
ram sua pessoa e sua vida. Desse modo veneravam a Sociedade Missionária de São Paulo, Apóstolo, uma
Cristo, mas rejeitavam qualquer forma de adoração à comunidade de padres, fundada em 1858, pelo padre
Virgem e aos santos da Igreja. Também eram Isaque Thomas Hecker, em Roma e Nova Iorque,
fortemente iconoclásticos, rejeitando o emprego de com a ajuda dos padres Agostinho F. Hewit, George
qualquer tipo de imagem nas igrejas. Um grupo Deshon, Francis A. Baker e Clarence A. Walworth. O
diretamente descendente deles foram os bogomilos, movimento dos redentoristas assinalara-se por contro
da Bulgária, e semelhantes a eles foram os cátaros e os vérsias e problemas, e o padre Hecker fora excluído
albigenses do sul da França, movimentos cristãos dos daquela comunidade. Então, juntamente com alguns
séculos XII e XIII D.C. Ver os artigos sobre esses três bispos norte-americanos proeminentes, Hecker ape
grupos. lou para o papa. Ele e outros foram liberados dos seus
Os protestantes, ansiosos por encontrar raízes votos, e fo r m a r a m a sua própria comunidade, a dos
encravadas na antiguidade, com freqüência apontam paulistas, com a provação do arcebispo John Hughes,
para grupos como esses, que teriam tido idéias de Nova Iorque. Essa cidade tornou-se a base deles, e
«protestantes», como anti-romanistas, que repudia a obra missionária veio a ser sua principal atividade.
vam a idolatria, o batismo infantil, as relíquias, as Eles seguem a regra dos redentoristas (vide), embora
imagens, etc. Mas, convenientemente esquecem-se sem tomarem votos. Esse grupo salienta a santificação
das doutrinas heréticas desses grupos, e ignoram o pessoal e a conversão de não-católicos. Mostraram-se
fato de que, quanto à doutrina, católicos romanos e ativos na prédica, nas conferências e no trabalho de
protestantes estão mais perto um do outro do que os literatura. Certo número de igrejas tem sido
protestantes estão dessas antigas seitas anti-romanis estabelecido por eles, e também têm-se mostrado
tas. ativos na promoção de prograínas radiofônicos que
Os paulicianos foram um dos poucos grupos propalam suas idéias. — A Imprensa Paulista de
cristâjos da Idade Média que praticavam o batismo Nova Iorque, tem-se tornado uma das maiores casas
por imersão, e que adiavam até que o candidato publicadoras católicas romanas do mundo. A revista
atingisse os trinta anos de idade, em imitação ao deles, The Catholic World, foi a primeira dessas
batismo de Cristo. Eles usavam tanto o Antigo quanto publicações católicas nos Estados Unidos da América
o Novo Testamentos, mas também pregavam uma do Norte. O grupo tem-se internacionalizado através
obra chamada A Chave da Verdade, que considera de suas organizações congêneres, em outras regiões do
vam um livro inspirado. Esse grupo cresceu na parte globo.
oriental da cristandade, e não na sua porção
ocidental, e representaram um pequeno cisma dentro PAULO, APÓSTOLO Ver depois de Paulo (Papas).
117
PAULO (PAPAS)
PAULO (PAPAS) Os anos finais de sua vida foram maculados pelo
Seis papas assumiram o nome do apóstolo Paulo, assassinato de seu filho, Pier Luigi, e pela revolta de
como seus títulos eclesiásticos, a saber: seu neto, Otávio. Ele apelava para o nepotismo (vide),
1. Paulo I, Santo da maneira m^is desavergonhada; mas, do ponto de
vista católico romano, foram muito significativas as
Ele pontificou entre 757 e 767 D.C. Foi sucessor de suas contribuições para a restauração e unidade do
seu próprio irmão, o qual recebeu o título de Estêvão catolicismo romano. Lançou os alicerces da reorgani
III. Fez parte de seu propósito fortalecer eclesiastica- zação da Cúria e do Sacro Colégio. O concílio de
mente a sé de Roma, contra os poderes políticos da Trento tomou decisões de longo alcance, incluindo
época, incluindo os da própria cidade de Roma. O rei aquela referente a como tratar com o protestantismo,
Pepino, dos francos, ajudou-o nesse propósito. Os além de uma espécie de declaração final sobre o cânon
francos foram uma das tribos germânicas que viviam do Novo Testamento. Ele aprovou a fundação da
às margens do rio Reno, no começo da era cristã. ordem dos jesuítas, uma providência que se mostrou
Monges orientais, que tinham tido dificuldades com extremamente frutífera para os interesses do catoli
os iconoclastas (vide), visitaram a Pepino, tendo cismo romano.
recebido dele o seu apoio. Um mosteiro foi fundado
para uso deles, e o papa encorajou-os a continuar com 4. Paulo IV
a sua liturgia oriental. A festa de Paulo I é celebrada a Seu nome de batismo era Giampietro Caraffa, ou
28 de junho. Giovanni Pietro Caraffa. Suas datas foram 1476-
2. Paulo II 1559. Foi nomeado bispo de Chiete em 1509; núncio à
Inglatçrra em 1513; e então, à Espanha em 1515.
Seu nome original era Pietro Barbo. Nasceu em Tornou-se arcebispo de Brindisi, em 1518. Fundou a
Veneza, na Itália, a 23 de fevereiro de 1417, e faleceu ordem dos teatinos, em 1524, e tornou-se o primeiro
em Roma, a 26 de julho de 1471. Seu governo foi de
1464 a 1471. Seu tio foi o papa Eugênio IV, que fizera superior da ordem. Paulo III nomeou-o dirigente da
dele cardeal, em 1440. Tornou-se bispo de Vicenza, e inquisição (vide). Para vergonha eterna do catolicismo
então sucedeu a Pio II como papa. Antes mesmo de romano, ele cumpriu seu papel principal inquisidor
sua eleição, ele trabalhou para fortalecer a autoridade com elevado grau de desumanidade e crueldade. Foi o
sucessor de Paulo III.
dos cardeais, e ao tornar-se papa era pouco mais do
que o presidente do Sagrado Colégio. Entretanto, Seu sobrinho, cardeal Cario Caraffa, era homem
certos elementos da Igreja Católica fizeram objeção a violento, carregado de crimes. Exercia poderosa
isso, tendo ficado claro, pela lei canônica, que ele não influência sobre o papa, a princípio; mas, gradual
era obrigado a assumir uma posição tão humilde. O mente, Paulo IV foi reconhecendo o verdadeiro
resultado foi que, com a passagem do tempo, ele caráter do sobrinho, e privou-o de suas honras, tendo
adquiriu muito maior autoridade. Ele é melhor banido a ele e a seu irmão, Giovanni, de Roma.
relembrado graças aos seus esforços por estabelecer Porém, isso não o livrou dos pendores genéticos que
uma liga cristã em face da ameaçada invasão da herdara, juntamente com eles. Pois também era
Europa pelos turcos; mas não foi bem-sucedido nesse homem de temperamento vulcânico e acabou
intento. Também procurou reformar a Igreja, mas, envolvendo-se em muitos excessos. Manuseou de
igualmente, não obteve êxito, pois, ao que parece, forma inepta o caso do cisma inglês, e seus erros têm
faltava-lhe energia para a tarefa. tido repercussões desde então, até hoje.
3. Paulo III 5. Paulo V
Seu nome original era Alessandro Famese. Nasceu Seu nome verdadeiro era Camillo Borghese. Nasceu
em Canino ou Roma, na Itália, a 29 de fevereiro de em Roma, em 1552; e ali faleceu, em 1621. Estudou
1468, e faleceu em Roma, a 10 de novembro de 1549. em Perúgia e Pádua; e retornou a Roma com o título
Foi papa entre 1534 e 1549. Recebeu boa educação, de advogado. Sua atuação como tal foi notável. Foi
em Roma e Florença, na corte de Lourenço, o feito vice-legado de Bolonha; auditor da Câmara
Magnificente. O papa Alexandre VI fez dele Apostólica; serviu em missões diplomáticas; foi
cardeal-diácono; e tornou-se bispo de Corneto, e nomeado cardeal, em 1596; bispo de Jesi, em 1597;
então de Montefiascone, Parma, Benevento e Ostia. vice-regente de Roma, em 1603. Era homem dotado
E, finalmente, tornou-se deão do Sagrado Colégio. de considerável erudição canônica, e de elevada
Sucedeu a Clemente VII como papa. educação. Tornou-se conhecido como homem afável,
de gentil e impoluta conduta. Entretanto, o
Tornou-se astuto diplomata, como também refor nepotismo era a sua debilidade. Ele promoveu as
mador e administrador. Suas decisões eram tomadas reformas e princípios decretados pelo concílio de
cuidadosamente; mas, uma vez que as tomasse, era Trento. Publicou uma edição revisada do Rituale
resoluto no cumprimento das mesmas. Foi ele quem Romanum.
convocou o famoso Concílio de Trento, que, entre
outras coisas, enfrentou os resultados da Reforma Foi homem que realizou muitas obras públicas,
Protestante. Mostrou-se ativo na defesa da Europa incluindo o estabelecimento do mercado de cereais
contra os turcos; e foi a força que reprimiu o para os pobres, a restauração de antigos aquedutos
protestantismo em certos países do sul da Europa. No romanos, e o embelezamento da cidade de Roma.
campo da política internacional, procurou manter a Tambçm foi um mecenas das artes e das ciências,
independência da sé romana, enquanto várias forças tendo completado a Basílica de São Pedro e ampliado
opostas se entrechocavam. Conseguiu manter um o Palácio do Quirinal e a Biblioteca do Vaticano.
equilíbrio precário de forças entre Francisco I, rei da 6. Paulo VI
França, e o imperador Carlos V, da Alemanha, e Originalmente chamava-se Giovanni Battista Mon-
procurou estabelecer entre eles a paz. Convidava a tini. Nasceu em Concesio, perto de Bréscia, na Itália,
muitos homens ilustres a Roma, a fim de consultá-los. em 1897. Morreu em Roma, em 1978. Provinha de
Em seu pontificado foram efetuadas várias reformas. uma família proeminente e rica, envolvida no
Excomungou a Henrique VIII, da Inglaterra, o que empresariado de jornais. Foi treinado pelos jesuítas;
acabou dando origem à Igreja da Inglaterra prestou exames finais em Bréscia. Foi ordenado padre
(anglicanismo), um grande cisma dentro da Igreja em 1920. Fez trabalho de pós-graduação na Pontifícia
Católica Romana. Restabeleceu a famigerada inqui Universidade Gregoriana, de Roma. E, como erudito
sição (vide). distinguido, foi escolhido para ser treinado na
PAULO (PAPAS) - PAULO (APÕSTOLO)
diplomacia eclesiástica. Passou certo período de PAULO (APOSTOLO)
tempo como conselheiro espiritual da Federação A Importância de Paulo
Italiana da Universidade dos Estudantes Católicos
(1923-1934), mas essa organização foi descontinuada Esboço:
pelo governo fascista de Mussolini. Serviu na I. Vida
Secretaria de Estado do Vaticano, até 1954, 1. Fontes de Informação
excetuando um breve período de ausência, quando 2. Passado
atuou como núncio apostólico em Varsóvia, na 3. Primeira Viagem Missionária
Polônia. 4. O Concílio Apostólico
Em 1954, o papa Pio XII nomeou-o arcebispo de 5. Segunda Viagem Missionária
Milão; o papa João XXIII o fez cardeal, em 1958. Os 6. Terceira Viagem Missionária
dois homens foram amigos íntimos durante os cinco 7. Aprisionamento e Encarceramento em Roma
anos seguintes, até que Paulo VI o sucedeu como 8. Paulo, de Novo Livre, Vai à Espanha
papa, em 1963. 9. Segundo Encarceramento e Morte
Em 1963, Paulo VI reconvocou o Concílio 10. Cronologia da Vida de Paulo
Ecumênico, iniciado por João XXIII, em 1962. Fez da II. Significação de Paulo
unidade cristã o seu objetivo primário, e muitas 1. As Escolas Críticas e Paulo
reformas foram instituídas, tendo esse alvo em mente. 2. As Epístolas Paulinas
Em 1964, foi efetuada uma terceira sessão desse 3. O Servo de Cristo
mesmo concilio. Isso resultou na exoneração dos 4. O Apóstolo dos Gentios
judeus em geral da culpa pela crucificação de Jesus,
bem como em medidas que garantem a liberdade 5. A Doutrina de Paulo
religiosa. 6. Paulo e Jesus
Em 1964, Paulo VI fez uma peregrinação à Terra 7. Como Paulo Comprovou seu Apostolado
Santa. Parte de sua missão ali foi a visita ao patriarca 8. Paulo e Tiago
Atenágoras I, da Igreja Ortodoxa Oriental. Essa foi a Discutir sobre todos os grandes temas paulinos,
primeira visita de um papa à Terra Santa, bem como neste artigo, requeriria um estudo por demais longo.
o primeiro encontro com um patriarca oriental, desde O cristianismo deve suas distinções à pessoa de Cristo
1439. Nesse tempo, o papa deixou claro que estava e à teologia de Paulo. Damos abaixo os titulos de
interessado na reconciliação; e Atenágoras I mostrou- alguns dos principais temas paulinos, manuseados em
se igualmente enfático. Meios de reunião foram diferentes artigos, embora temas menores também
discutidos, mas até hoje não foram postos em obra. tenham merecido ser ventilados em artigos separados,
Paulo VI viajou mais extensivamente que qualquer visto que um dos propósitos desta enciclopédia
papa antes dele. Mas João Paulo II ultrapassou em consiste em cobrir o campo inteiro da teologia.
muito o recorde daquele. Sua viagem mais longa Artigos Separados a Consultar, para Melhor
(até então a mais longa que já fizera qualquer papa) Compreensão de Paulo:
foi a viagem ao Trigésimo Oitavo Congresso Adoção
Eucarístico Internacional, efetuado em Bombaim, na
índia. Na ocasião, ele aproveitou a oportunidade para Andar, Metáfora do
conferenciar com Sarvepalli Radhakhrishnan, presi Anjos
Batismo
dente da Índia. Batismo no Espírito Santo
Em 1965, ele visitou a cidade de Nova Iorque, Batismo pelos Mortos
sendo a primeira visita de um papa aos Estados Boas Obras
Unidos da América do Norte. Ali discursou diante de Casamento (ver sobre Matrimônio)
uma sessão especial da Assembléia Geral das Nações Céu (ver também sobre Lugares Celestiais)
Unidas, quando procurou promover a paz mundial. Conduta Ideal
Também conferenciou com o presidente norte-ameri- Descida de Cristo ao Hades
cano, Lyndon B. Johnson, e com outras figuras Depravação
liderantes da grande nação norte-americana. Demônios (Demonologia)
Seguiram-se outras viagens, entre as quais uma ao Divórcio
santuário mariano de Fátima, em Portugal, em 1967, Eleição
bem como uma visita à Turquia, em 1967, quando Espírito Santo
conferenciou com o patriarca Atenágoras I, de Expiação
Constantinopla. Em novembro de 1967, foi submetido Expiação pelo Sangue
a uma operação na próstata. Esteve presente ao Fruto do Espírito
Congresso Eucarístico de Bogotá, na Colômbia, em Graça
agosto de 1968, a primeira vez em que o papa visitou a Herança
América Latina no decorrer de seu pontificado. Ali Igreja
expressou sua preocupação acerca dos grandes Justificação
problemas sociais daquela parte do mundo. Lugares Celestiais
A 29 de julho de 1968, publicou uma encíclica sobre Livre-Arbítrio
o controle de população intitulada Humanae Vitae Matrimônio
(Sobre a Vida Humana), que tomou a linha dura Mistério da Vontade de Deus
sobre a questão, tendo-se mesmo declarado contrário Misticismo
a qualquer meio artificial de controle de nascimento. Paciência (cada aspecto do fruto do Espírito tem um
Essa mensagem provocou grande agitação dentro e artigo separado)
fora da Igreja Católica Romana, e muitas pessoas Pactos
resolveram não obedecer ao papa acerca dessa Parousia
questão. Paternidade de Deus
Paulo VI faleceu em Roma, em 1978, e foi Paulo e Jesus (ver Paulo, II.6)
substituído pelo papa João Paulo I, que ficou na Paulo, Êtica de
cátedra papal por bem pouco tempo. Paz (cada aspecto do fruto do Espírito tem um artigo
119
PAULO (APÓSTOLO)
separado) e viagens de Paulo que não se encontram nas páginas
Pecado do N.T., mas parecem ser quase totalmente lendários.
Perfeição Espiritual A arqueologia em nada tem podido contribuir par?
Plenitude dos Gentios comprovar esse material e atualmente não há modc
Plenitude dos Tempos como afirmarmos a validade de qualquer informação
Plenitude (Pleroma) de Deus, Participação do adicional, sobre a vida de Paulo, contida nesse livro
Homem na apócrifo. Há muitas declarações sobre Paulo nos
Pleroma escritos dos pais da igreja, mas quase todos esses se
Predestinação derivam, de algum modo, do livro de Atos ou das
Presciência de Deus epístolas de Paulo, e outra parte se deve, provavel
Primícias do Espírito mente, ao material legendário que foi se avolumando
Propiciação em torno da pessoa de Paulo. A comunidade cristã,
Salvação em sua maior parte, compunha-se de pessoas vindas
Santificação das classes humildes, pelo que também os historia
Segurança Eterna do Crente dores antigos ignoraram-na quase completamente; e é
Transformação Segundo a Imagem de Cristo por esse motivo que temos tão escassa informação
acerca do desenvolvimento inicial do cristianismo, nos
APÓSTOLO PAULO escritos desses autores seculares. A arqueologia
Cristo! Sou de Cristo! e que esse nome te seja bas nos fornece alguma informação sobre os muitos
tante; lugares que foram visitados por Paulo, bem como
Sim, para mim, também, ele tem sido grandemente acerca de sua cidade natal, Tarso; porém, excetuan
suficiente; do-se as influências culturais que tais localidades
Eis que não te quero conquistar com palavras devem ter exercido sobre Paulo, não se pode extrair,
melífluas, dessas informações, qualquer elemento adicional
Paulo não tem honra ou amigo, a não ser Cristo. sobre a pessoa do próprio Paulo. Por conseguinte,
Sim, sem o ânimo de uma irmã ou de uma filha resta-nos analisar o livro de Atos dos Apóstolos e as
Sim, sem o apoio de um pai ou de um filho, epístolas paulinas; e toda outra informação deve ser
Sozinho na terra, sem lar sobre as águas, aceita apenas experimentalmente.
Passe eu, com paciência, até estar finda a obra. 2. Passado
Contudo, não estou sozinho, se Cristo está comigo. Neste ponto, estamos mais limitados do que acerca
Ele acorda obreiros para o grandioso emprego; dos anos posteriores de Paulo. Do nascimento de
Oh, não na solidão, se as almas que me ouvem Paulo até o seu aparecimento em Jerusalém, como
Extraem, de meu júbilo, a surpresa da alegria. perseguidor dos crentes, temos apenas informações
Tenho conquistado corações de irmãs e irmãos, muito esparsas. Sabemos que ele nasceu em Tarso,
Vivo sobre a terra ou oculto entre torrões; «cidade não insignificante» (ver Atos 21:39), descrição
Eis que cada coração espera por mim, outro essa que tem sido confirmada pelas escavações
Amigo na impoluta família de Deus. arqueológicas de Sir William Ramsay. Naquele tempo
Sim, através da vida e da morte, da tristeza e do Tarso (na Cilicia) foi incorporada à província da Síria.
pecado, Tarso, por essa época, já tinha história antiga, e fora
Ele será suficiente para mim, ele tem sido bastante; cidade importante por muitos séculos antes da era
Cristo é o fim , pois Cristo fo i começo. cristã. Tarso chegou a ser a cidade mais importante
Cristo é o começo, pois o fim é Cristo. da Cilicia. Essa cidade se tornou uma região de
(Frederic W.H. Myers, 1868) síntese entre o Oriente e o Ocidente, entre a cultura
grega, a cultura oriental e, finalmente, a cultura
I. Vida romana. Também se sabe que era um centro cultural,
1. Fonte« de Informação e que ali era muito forte a variedade do estoicismo
Sabe-se muito mais acerca de Paulo do que acerca romano.
de qualquer outro personagem apostólico. Nosso Paulo nasceu como cidadão romano, provavelmen
conhecimento sobre esse apóstolo e a sua carreira é te porque o seu pai também já era cidadão romano.
praticamente tudo quanto se sabe acerca do Ao nascer, o menino recebeu o nome de Saulo,
desenvolvimento do cristianismo, durante aqueles provavelmente devido ao rei Saulo, mas é provável
dias. Fora de suas próprias epístolas e do livro de Atos que também fosse chamado Paulo como cognome
dos Apóstolos, no N.T., temos apenas uma referência latino. Paulo significa pequeno e isso pode ter-se dado
adicional a ele, a saber, em II Ped. 3:15, onde se lê: devido ao fato de que seus pais o chamavam de
«...o nosso amado irmão Paulo...» A fonte primária «pequerrucho»; mas também é possível que ele tenha
de informação, portanto, é o livro de Atos; a fonte recebido o nome de Paulo, simplesmente por ter som
secundária de informação são as suas epistolas e as semelhante ao nome de «Saulo». Também é possível
alusões incidentais que ele faz a si mesmo e às suas que o apóstolo tivesse um nome romano; mas, nesse
viagens. Entretanto, alguns têm ensinado que apesar caso, não deve tê-lo usado com freqüência, porquanto
de fornecerem menos informações sobre ele, as não temos nenhuma informação sobre qual seria esse
epistolas são mais valiosas para o estabelecimento da nome. A alteração posterior de seu nome, de Saulo
cronologia — pelo menos uma cronologia que é mais para Paulo, mui provavelmente foi apenas a adoção
extensa e que inclui os últimos poucos anos de sua de seu apelido como nome próprio. Não se sabe
vida, acerca dos quais o livro de Atos nada nos diz. qual o ano de seu nascimento; porém, quando do
Isso incluiria o seu período de liberdade entre os dois apedrejamento de Estêvão (que ocorreu em cerca de
encarceramentos a que foi sujeito em Roma, e seu 32 D.C.), lemos que Saulo era um jovem. É razoável
martírio final. supor, por conseguinte, que ele tenha nascido na
Fora do N.T. há algum material informativo, mas primeira década do século I D.C., sendo, assim, um
normalmente esse não é reputado como digno de contemporâneo mais jovem de Jesus, embora não haja
muita confiança. Por exemplo, temos o livro apócrifo qualquer evidência de que ele tenha visto alguma vez
«Atos de Paulo», que só foi escrito na segunda metade ao Senhor. E não é mesmo provável que o tenha visto,
do século II D.C. Essa obra contém alguns incidentes pois Paulo jamais se refere ao fato.
120
Cidades onde Paulo Ministrou
127
PAULO (APÓSTOLO)
gentios «pretensões» e «ambições jamais ouvidas. onde se vê que a expiação ali efetuada faz- parte
Paulo tornou-se o porta-voz mais proeminente dessa integral do plano geral do evangelho. Ele percebeu
nova mensagem, sendo bem reconhecido o fato de que que o esforço humano jamais poderia realizar o que
somente Paulo expõe, com clareza e pormenores, a foi realizado na cruz do Calvário. E assim também os
mensagem central da posição e do destino da «igreja», seus esforços anteriores, como fariseu, assumiram um
que declaradamente, e na realidade, viria a ser novo significado, pois em seus frenéticos esforços para
essencialmente uma igreja gentílica. obter a justiça própria, mediante a observância da lei,
Paulo ae opnaera amargamente a essa mensagem, Paulo recebeu uma lição perfeitamente objetiva da
até mesmo quando ela ainda estava em sua forma total necessidade da justiça que vem .por meio de
primitiva, nas mãos dos outros apóstolos, antes das Cristo. Posteriormente, ele usou sua própria experiên
grandes revelações que encontramos em Romanos, cia como lição objetiva (Fil. cap. 3), pois ninguém
em Efésios e em Colossenses, as quais, verdadeira podia vangloriar-se de mais obras na carne do que o
mente, deram à igreja cristã a sua definição final. jovem Paulo. «Mas foi exatamente esse jovem» que
Paulo não podia aceitar antes da sua conversão, e até chegou a compreender que o destino do homem está
mesmo abominava, uma mensagem que falava de um nas mãos de Cristo. Viver corretamente nào é o alvo
Messias que fora crucificado e que ressuscitara. principal do destino humano. Isso deve ser feito e será
Aquele filho de Benjamim, o fariseu, era por demais feito por todos os verdadeiros discípulos de Cristo,
astuto para não ser capaz de discriminar o possível mas essa vida resulta da transformação do crente à
impacto que esse Messias crucificado e ressurrecto imagem mesma de Jesus Cristo. Paulo passou da
haveria de impor à comunidade judaica. Outrossim, noção de que a vida é aquilo que um homem faz para
certos porta-vozes da nova religião tinham anunciado a idéia muito mais elevada de que a vida é aquilo em
publicamente, que Deus ab-rogara as exigências da que tornamos metafísica e moralmente transformados
lei antiga, tais como a circuncisão, a justiça mediante segundo a imagem do Caminho, que é ao mesmo
a observância da lei, e os sacrifícios no templo, porque tempo o pioneiro do caminho, e o próprio caminho
tudo isso eram símbolos que haviam sido cumpridos que devemos palmilhar. Paulo começou a perceber
pelo Messias, o antítipo de todos esses tipos que o destino humano é uma longa e grande busca,
simbólicos. Além disso, também haviam anunciado que finalmente conduz à própria presença de Deus, e
que esse mesmo Messias era Senhor de todos, e que aqueles que ali chegam são transformados em seres
em breve estabeleceria o longamente esperado Reino que serão a própria imagem de Deus impressa neles, e
de Deus, e que a nação judaica, como um todo, corria que, de fato, não serão menos santos do que o próprio
o perigo de perder a participação nesse reino. Sendo Deus. Essa grandiosa e elevada mensagem tornou-se o
fariseu, Paulo sentia repugnância por tais ensinos, e, grande poder impulsionador por detrás do zelo de
em seu zelo pela justiça que lhe parecia autêntica, que Paulo, e ele foi por toda parte do mundo gentílico com
ele reputava estar exclusivamente na lei e nos ritos que o intuito de proclamá-la. Os capítulos 9 a 11 da
saturavam o judaísmo, tornou-se o mais temível epístola aos Romanos consistem de revelações concer
opositor do cristianismo. Não haveria de descansar nentes ao destino de Israel e à base dessas revelações
enquanto não desaparecesse da face da terra o último Paulo sabia que a nação de Israel seria posta de lado
vestígio dessa nova heresia. Sabia ao que fazia por algum tempo, que a época dos gentios deveria
oposição, e por quais motivos. chegar ao término de seu curso, até que toda a igreja
Mas eis que, repentinamente, o próprio Jesus tivesse sido chamada. Por essa razão, passou a buscar
resolveu interferir na loucura do jovem, apanhando-o ainda com maior determinação a salvação dos
no ato de intensificar os seus violentos esforços de gentios, a fim de estabelecer a igreja, permitindo,
derrubar a igreja. A experiência mística de Paulo, assim, que Deus tornasse a chamar a nação de Israel,
pois, «purificou-o» e «modificou-o», mas deixou a qual, no fim, teria um destino um tanto diferente do
perfeitamente intacta a sua natureza ardente e zelosa. da igreja.
A princípio, Paulo podia pregar apenas a mensagem A cruz também ae revestia de significação simbólica
messiânica, pois até aquele ponto ainda não recebera na missão de Paulo como apóstolo aos gentios.
maiores luzes sobre o sentido da morte de Cristo, as Significava sacrifício, conformidade com a morte de
vastas implicações de sua ressurreição e ascensão. Por Cristo (ver Rom. 6), o que, por outro lado, significa
isso é que, em Damasco, ele pregou que Jesus era o não-conformação com o mundo. A cruz fala de dor,
Messias. É provável que em sua retirada para a de sofrimento e de angústia em sua forma mais
«Arábia» tenha recebido as visões preliminares e as intensa, e Paulo aceitava essas coisas como sinais de
revelações que o equiparam para a tarefa de quarenta seu ministério. Por toda parte era assediado pelos
anos que tinha a sua frente. O trecho de Gál. 1:14,15 radicais, e sua longa lista de sofrimentos, em II Cor.
indica que um dos ingredientes essenciais das 11:23-28, menciona espancamentos, muitos aprisio
revelações recebidas por Paulo é que o seu ministério namentos (dos quais temos o registro de apenas
seria entre os «gentios». Posteriormente, no concílio alguns, talvez em número de três), apedrejamentos,
efetuado em Jerusalém (sobre o qual lemos no açoites com flagelos e com varas, naufrágios, perigos
segundo capítulo da epístola aos Gálatas), vemos que de assaltantes e inundações, fome, exaustão física
a sua missão especial foi reconhecida e aprovada pelos devido a trabalhos contínuos e árduos, frio e falta de
demais apóstolos. Dessa forma, Paulo lançou-se ao vestes apropriadas. Acima de tudo, pesava-lhe nas
cumprimento do grandioso desígnio de Deus, como costas o fardo psicológico do cuidado por todas as
nem mesmo os profetas da antiguidade haviam igrejas locais. Trazia em seu próprio corpo as marcas
imaginado. Alguns deles tinham previsto a salvação do Senhor Jesus, tal como Jesus levava, em suas mãos
dos gentios, mas as indicações acerca da igreja — a e em seus pés, os sinais dos cravos da cruz. Isso fazia
noiva de Cristo — são escassas no V.T., e mesmo parte da significação de Paulo como apóstolo dos
assim foram expostas de forma velada, em tipos e gentios. Era um autêntico soldado da cruz, e exibia
sombras. O grande propósito do oitavo capítulo de um discipulado de consagração sem-par, que o
Romanos e do primeiro capítulo de Efésios jamais mundo jamais pôde esquecer, e que ficou para sempre
havia sido exposto por lábios judeus antes de Paulo. gravado nas páginas das Santas Escrituras, para
escrutínio de todos. Paulo anunciou uma mensagem
Paulo aprendeu qual o propócito da cruz, conforme distintiva, que falava do exaltado destino da
ele explica no décimo quinto capitulo de I Coríntios, humanidade, e foi um mensageiro distinto dessa
128
PAULO (APÓSTOLO)
mensagem, e é desses dois fatores que aprendemos literatura da Escola Dominical A despeito de Paulo
um outro significado da vida de Paulo. tèr sido um místico, parece que o misticismo tem
5. A Doutrina de Paulo caído no esquecimento, ou mesmo tenha sido
A descrição mais completa da doutrina de Paulo geralmente rejeitado. Entretanto, Baur mais tarde
pode ser encontrada nas diversas centenas de páginas retrocedeu e voltou ao padrão estabelecido pela
sobre suas epístolas, nesta enciclopédia, cujos pontos reforma, dividindo as diversas doutrinas paulinas em
centrais são discutidos nos artigos sobre cada livro. compartimentos, sem qualquer tentativa de vê-las
Aqui temos apenas uma tentativa de salientar o como um conceito unificado. Muitos outros escritores
caráter central dessa mensagem, em torno da qual seguiram esse padrão, e ingenuamente pensaram que,
tudo o mais é subserviente. ao descreverem individualmente as diversas doutri
nas, ao mesmo tempo, expunham o pensamento'de
A Reforma proteatante salientava a justiça ou Paulo.
justificação mediante a fé e nos séculos seguintes, esse
continuou sendo o fator controlador de' toda R. A. Lipsius (1853) deu um grande passo à frente
interpretação dos escritos de Paulo. Mui infelizmente, quando reconheceu a «redenção» como o grande
os intérpretes não sondaram ainda com mais princípio unificador na doutrina de Paulo, e definiu
profundidade o pensamento do apóstolo, pois apesar também dois pontos de vista: o jurídico (a
dele ter salientado a justiça e a justificação, essas justificação) e o ético (a nova criação). Seguindo essa
idéias tão-somente são parte de uma mensagem orientação, Hermann Luedemann, em seu livro «The
maior, porções necessárias, para dizer a verdade, mas Anthropology of the Apostole Paul» (1872), concluiu
apenas partes componentes de um grande plano. É que os dois lados da redenção realmente repousam
possível que se os reformadores e aqueles que os sobre esses dois aspectos da natureza humana. Do
seguiram tivessem tido mais compreensão, a igreja ponto de vista «judaico» anterior de Paulo (Gálatas e
atual talvez compreendesse melhor a descrição do Romanos 1—4), a redenção aparece como um
grande evangelho de Paulo. Desafortunadamente, veredicto judicial de inocência; mas, para o Paulo
porém, a igreja tem estacado mais ou menos onde a mais maduro (Romanos 5—8 e Efé. 1), a redenção
reforma a deixou, e mui raramente o evangelho surge como uma transformação ético-fisica da «carne»
completo de Paulo é pregado na igreja comum. Não para o «espírito», mediante a comunhão com o
será isso um dos motivos para a intranqüilidade? Espírito Santo. A fonte da primeira idéia é a morte de
Muitos não se sentem desassossegados e, algumas Cristo e a nossa participação nessa morte. A fonte da
vezes, até mesmo famintos de informações pertinentes segunda idéia é a ressurreição de Cristo e a nossa
à inquirição espiritual? Sim, parece que o povo participação nessa ressurreição, com sua implicação
evangélico anela por uma mensagem mais profunda, de um tipo de vida nova e transformada. Richard
por uma tentativa mais profunda de compreender por Kabisch recuou ao supor que essa redenção visa
que estamos aqui e para onde nos dirigimos. Paulo, unicamente a livrar a alma do julgamento vindouro.
nos dá essa informação, mas esta dificilmente é Pois o destino humano envolve muito mais do que
pregada. Certamente a salvação é mais do que o isso, embora, ouvindo alguém os sermões que
perdão dos pecados e a mudança de endereço para o geralmente se pregam nas igrejas, talvez não chegue a
«céu». Porém, com que freqüência ouvimos prédicas conclusão mais elevada do que essa. Albert Schweit-
que vão além disso? Seria declaração por demais zer, seguindo as indicações de Luedemann e Kabisch,
ousada dizer que o evangelho de Paulo, na sua forma desenvolveu uma síntese com a qual ensinava que
completa, raramente é pregado na igreja moderna? Paulo tencionava que sua «redenção» fosse principal
Homens como L. Usteri (1824) e A.F. Daehne mente escatológica, isto é, um fim dos acontecimentos
(1835) explicaram Paulo em termos da justiça mundiais. Mas o fato é que o segundo capítulo da
imputada, segundo é ensinado na epístola aos epístola aos Filipenses contradiz essa posição, como
Romanos. Em contraste com isso, H.E.G. Paulus também o quinto capítulo da segunda epístola aos
salientou a «nova criação» e a «santificação» Coríntios. E também errou ao pensar que posto que o
(conforme se vê em passagens como II Cor. 5:17 e mundo não terminou imediatamente, conforme Paulo
Rom. 6). Grande discernimento foi exposto por pensava, passou o apóstolo a expor um «misticismo
Paulus, o qual declarou que a fé em Jesus, significa, físico», no qual os sacramentos, através da mediação
na análise final, a fé de Jesus. E que coisa admirável do Espírito Santo, servem de mediador da ressurrei
seria se pudéssemos aprender esse conceito, pois nos ção de Cristo e de seus efeitos sobre o crente.
conduziria a uma compreensão mais profunda do «Misticismo», sim; mas misticismo físico, através dos
apóstolo Paulo. Imaginemo-nos, por um momento, a elementos físicos dos sacramentos, jamais. Nada
exercer realmente a fé de Jesus, a mesma fé que ele poderia estar mais distante do pensamento de Paulo,
exercia. Porém, isso é impossível, a menos que porque ele sempre destacou o puramente espiritual
sejamos pessoas «como Jesus», moralmente transfor em detrimento do físico. Tinha razão, todavia, ao
madas para sermos como ele era. Não obstante, supor que Paulo ensinou que a união com Cristo,
avançar da fé em Jesus para a fé de Jesus, foi um nesta vida, através do Espírito, assegura ao crente a
discernimento que a reforma não doou à igreja, e que participação na ressurreição espiritual de Cristo,
a igreja atual só pode explicar e compreender da quando de sua «parousia».
maneira mais nebulosa. O grande tema cental de Paulo — qual é ele? Ê a
F. C. Baur, que interpretava à base do arcabouço do salvação. Mas um ponto de vista muito especial da
idealismo de Hegel (1845), procurou primeiramente salvação. O grande tema de Paulo é soteriológico, e,
compreender a Paulo em termos do Espírito, dado se o quisermos, bem podemos usar o termo
mediante a união com Cristo, através da fé — e talvez, «redenção», pois isso diz exatamente a mesma coisa.
um tanto inconscientemente, ele conseguiu notável Que espécie de salvação Paulo ensinava? Permitamos
avanço na interpretação, pois não resta a menor que os versículos seguintes falem por si mesmos:
dúvida de que o Espirito é a grande chave para o «Assim como nos escolheu nele antes da fundação do
cumprimento do tema central de Paulo. Por mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante
semelhante modo, a idéia da união com Cristo é ele; e em amor nos predestinou para ele, para a
importante, embora esse conceito místico tenha adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o
geralmente desaparecido dos sermões da igreja e da beneplácito de sua vontade... e qual a suprema
129
PAULO (APÓSTOLO)
grandeza do seu poder para com os que cremos, espiritual. — O primeiro capítulo da epístola aos
segundo a eficácia do seu poder; o qual exerceu ele em
Colossenses ensina a mesma verdade).
Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o b. O alvo de Deus é a adoção de muitos filhos,
sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima deque ainda serão iguais (sempre em potencial) e
todo principado, e potestade, e poder, e domínio e detotalmente semelhantes (em essência de ser) a seu
todo nome que se possa referir, não só no presente Filho, Jesus Cristo.
século, mas também no vindouro. E pôs todas as c. Deus enviou Jesus, não só para ser o Caminho,
cousas debaixo dos seus pés, e, para ser o cabeça mas também para mostrá-lo. Em sua vida humana,
sobre todas as cousas, o deu à igreja, a qual é o seuJesus viveu o tipo de experiência que devemos ter. Sua
corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas vida não foi somente um espetáculo para ser
as cousas» (Efé. 1:4,5, 19-23). «Pois todos os que são
admirado, mas é um padrão que precisa ser duplicado
guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus... o em nós. Jesus, em sua vida humana, «...aprendeu a
próprio Espírito testifica com o nosso espírito que obediência pelas cousas que sofreu...», e, como
somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos homem, em sua existência humana, «...tendo sido
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna
com Cristo: se com ele sofrermos, para que também para todos os que lhe obedecem»(Heb. 5:8,9). Os que
com ele sejamos glorificados... a ardente expectativa lhe obedecem são aqueles que agem como ele agiu e
da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus... são o que ele foi, mediante uma obediência
gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de verdadeiramente completa e perfeita. Não obstante,
filhos, a redenção do nosso corpo... Sabemos que esse é o alvo, e a transformação moral provoca a
todas as cousas cooperam para o bem daqueles que transformação metafísica, exatamente como ocorreu
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o no caso de Jesus, o qual, devido à sua comunhão
seu propósito. Porquanto aos que de antemão íntima com o Pai, mediante o Espírito (que é o agente
conheceu, também os predestinou para serem transformador. II Cor. 3:18), foi capaz de multiplicar
conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja pães, andar sobre a água e até mesmo ressuscitar a
o primogênito entre muitos irmãos. E aos que mortos, incluindo a si mesmo, após a sua morte. Ele
predestinou a esses também chamou; e aos que vivificou o seu próprio corpo, tão grande foi o seu
chamou, a esses também justificou; e aos que poder espiritual.
justificou, a esses também glorificou... nem altura, Lembremo-nos da lição da encarnação: Jesus,
nem profundidade, nem qualquer outra criatura manifestação do Verbo Eterno, veio participar
poderá separar-nos do amor de Deus, que está em literalmente da natureza humana. Ele não era um
Cristo Jesus, nosso Senhor» (Rom. 8:14,16,19,28,30, anjo que fazia um papel teatral. E assim como ele
39). participou literalmente da natureza humana, fundin
A participação na imagem metafísica de Cristo do a natureza humana com a divina, assim também
indica a participação na natureza divina, segundo abriu tal caminho para todos os homens. Pois todos os
Col. 2:9,10 mostra claramente (ver também Efé. remidos haverão de participar de sua «natureza
3:19). Ver a extensa exposição sobre aqueles vss., glorificada», de sua divindade de modo real, tal como
no NTI, onde é traçada a doutrina na história sua participação da natureza humana foi real. Essa é
eclesiástica e na teologia. Participamos da «natureza a grande lição mística da encarnação. Ele é divino a
divina» quando participamos da «imagem de Cristo». fim de ser «admirado»; mas também é divino a fim de
Naturalmente, disso participamos de modo finito, ser «duplicado» em «outros filhos», pois os remidos são
pois Deus é «infinito». Todavia, trata-se do mesmo filhos do mesmo Pai. Naturalmente, o Filho participou
«tipo» de «forma de vida», da mesma «essência de ser» infinitamente da divindade, mas nossa participação
que o próprio Cristo tem, o que é infinitamente será sempre finita. Contudo, a essência dessa partici
exemplificado em Deus Pai. Diferimos da natureza de pação é real; não é uma imitação. A eternidade inteira
Deus Pai na «extensão» da participação na essência será passada enchendo o finito com o infinito,
divina, mas não quanto ao «tipo» (ver João 5:25,26 e enchendo o que é secundário com o que é primário,
6:57 no NTI quanto a notas sobre a vida «necessária» ehavendo uma gradual e prodigiosa transformação da
«independente» de Deus, e como os homens, mediante alma humana segundo a imagem e a natureza de
a participação na ressurreição de Cristo, chegam Cristo (ver II Ped. 1:4 e Col. 2:9-10).
a participar desse tipo de vida. Já que Deus é infinito, Lembremo-nos das outras lições: a lição de sua
e será sempre o alvo da existência humana, terrena ou vida, a lição de sua morte, a lição de sua ressurreição
celestial, mortal ou imortal, sempre haverá um e ascensão, a lição de sua infinita e interminável
progresso infinito na direção desse alvo. Não pode glorificação. Em tudo isso temos símbolos místicos do
haver estagnação na inquirição espiritual, pois seus progresso e da redenção humanos. Pois em todos os
horizontes são infinitos. Já que há uma infinitude compontos seremos assemelhados a ele, tal como em todos
a qual seremos cheios, também haverá um preenchi os pontos ele se fez como nós.
mento infinito. (Ver II Ped. 1:4 e o artigo
Divindade, Participação na, Pelos Homens. «E todos nós com o rosto desvendado, contemplan
do como por espelho, a glória do Senhor, somos
O plano é imenso e sua realização é além das tranformados de glória em glória, na sua própria
capacidades humanas. Portanto, a salvação se realiza imagem, como pelo Senhor, o Espírito» (II Cor. 3:18).
pela graça de Deus. Ver notas completas sobre este d. Jesus cumpriu a sua missão, tendo vivido a
tema em Efé. 2:8 no NTI. Abaixo estão os pontos admirável vida que teve, tendo morrido como
mais destacados desse evangelho: expiação pelo pecado, tendo sido ressuscitado dentre
a. Plano divino da redenção e transformação dos os mortos, e, nesse processo, foi transformado de
homens segundo a própria imagem de Cristo, a homem mortal em homem imortal, assento ao céu e
imagem absolutamente moral e metafísica de Cristo, glorificado — e tudo isso como homem — pois ele foi
que é um plano eterno, e que, em realidade, é a razão o primeiro homem imortal de Deus, o padrão para o
mesma da existência da criação. (Essa é, igualmente, resto da humanidade. Nessa glorificação ele foi ainda
a mensagem do primeiro capítulo do evangelho de mais profundamente transformado, e continua
João, porquanto a vida — a criação física — existe esperando sua glorificação maior, quando receber a
para prover material para a «luz» ou criação sua Noiva, a igreja. A última porção do primeiro
PAULO (APÓSTOLO)
capítulo de Efésios demonstra que foi o infinito poder nos circunda através de seu Espírito. De maneiras
de Deus que realizou tudo isso, o poder de Deus ainda desconhecidas, ele está conosco, mas esse estar
através do Espírito. Eis que esse mesmo Espírito está conosco, com toda a probabilidade, consiste de uma
em nós, e tenciona realizar em nós a mesma obra. real transferência de alguma espécie de energia
Morremos a morte de Cristo, compartilhamos de sua espiritualizada que o Espirito de Deus transmite, e
ressurreição e de sua ascensão e participamos de sua essa energia, mui provavelmente, é a substância da
glorificação. Ele é quem preenche tudo em todos, e própria vida. Essa é a «salvação» presente, e a
que está acima de todos; a despeito do que, o participação nessa salvação é que produz os atuais
completamos, pois somos a sua plenitude, e nada tão padrões de «santificação». E a santificação presente
elevado tem sido jamais dito acerca dos anjos. (Efé. provoca as transformações metafísicas de nossas
1:23). naturezas. E tudo isso está prenhe de autêntica
O próprio espírito susSurra aos nossos ouvidos qual imortalidade. Daí o crente parte para a ressurreição,
é nosso elevadíssimo destino, pois o destino de Cristo então para a ascensão e, finalmente, para a
é o nosso e sabemos quão grande ele é, e quão vasto é glorificação, que não se trata de um ato isolado, mas
o seu destino, como cabeça do universo inteiro. A de um processo, o que continua acontecendo até
criação física inteira se impacienta, esperando essa mesmo com Cristo, nosso irmão mais velho. E o alvo
poderosíssima manifestação dos filhos de Deus, como final é a perfeição e a transformação absolutas. É a
homens imortais, transformados e espantosamente tudo isso que se denomina de salvação, e esse é o
glorificados — pois eles serão — verdadeiramente evangelho anunciado por Paulo. O leitor poderá
filhos e irmãos de Cristo, e não menos perfeitos julgar, por si mesmo, quanto dessa verdade é pregada
(potencialmente sempre) e exaltados, embora cabeça atualmente nas igrejas evangélicas. A simplificação
e corpo tenham ofícios distintos. Outro tanto se dá do evangelho como — se resumisse ao perdão dos
com Cristo e a igreja. E assim como a cabeça de um pecados e a uma viagem ao céu — tem prejudicado —
corpo tem certa ascendência sobre esse corpo, assim a todos nós. E tem deixado os crentes desassossega
também Cristo tem proeminência sobre a igreja. Não dos, porque, interna ou externamente, perguntam se
seremos sub-herdeiros dele, e, sim, co-herdeiros. Não não há mais nada além disso? Os crentes, pois, ficam
estamos seguindo uma estrada diferente da dele, nem descontentes, pois o cristianismo tem perdido o seu fio
um alvo diferente do seu — seguimos exatamente a cortante e desafiador. Precisamos pregar o evangelho
mesma estrada que Cristo, e visamos ao mesmo alvo. de Paulo. Precisamos aprender o que isso significa na
A predestinação de Deus assegura a obtenção desse experiência diária. Precisamos conhecer, na realidade
alvo, e é nas provisões dessa predestinação que diária, o que significa estar alguém «em Cristo».
seremos totalmente «transformados», e não apenas 6. Paulo e Jesui
perdoados de nossos pecados, nem apenas nos Os estudos sobre o pensamento paulino, neste
aproximando do «céu», conforme há muito tempo, o século XX, se têm devotado, especialmente, a três
«evangelho» vem sendo pregado por partes da igreja. perguntas: 1. Qual a relação entre Paulo e Jesus? 2.
e. Por conseguinte, no que consiste a justificação? Quais as fontes do pensamento de Paulo? e 3. Qual o
Consiste em um passo na direção do alvo, e que papel da escatologia na doutrina de Paulo? Dessas
envolve o pecado que precisa ser eliminado, porque os três, a primeira — Qual a relação entre Paulo e Jesus?
filhos devem ser tão santos quanto o próprio Deus. E é mais vexatória e problemática. A distinção entre os
o que será a santificação ? É apenas a estrada pela qual dois pensamentos básicos de Paulo — justiça
estamos caminhando, enquanto vamos sendo trans jurídica (Rom. 1—4) e justiça /ética/ (Rom, 5—8),
formados moralmente à imagem de Cristo, o que tem-se desenvolvido em um estudo muito importante,
também produz uma transformação metafísica, isto e a maioria dos escritores sobre o assunto se tem
é, a transformação literal da natureza de nossos pronunciado a favor da idéia «ética» como mais básica
próprios seres. O nosso alvo, portanto, é a absoluta ao pensamento paulino posterior, como mais repre
perfeição moral, não menos santa do que a santidade sentativa de Paulo em seus anos maduros. Pelo menos
de Deus, que nos torna não (potencialmente) menos pode-se dizer que isso certamente se parece mais com
amorosos, não menos compassivos, não menos o pensamento expresso nas epístolas de Efésios e
eficazes (em nossas respectivas esferas) na realização Colossenses e com a mensagem geral da redenção ou
de sua obra e na expressão de sua natureza. «salvação» (conforme se explicou na seção anterior), e
Obteremos a imagem moral de Deus que os anjos não que certamente essa é a mensagem central do apóstolo
possuem e talvez jamais possuirão. O próprio Jesus Paulo. Por conseguinte, temos um certo tipo de
ordenou que fôssemos perfeitos, tal como o Pai, nos «misticismo de Cristo», a saber, Cristo, o Deus-ho-
céus, é perfeito (ver Mat. 5:48). Esse é o nosso alvo mem que do céu desce a este mundo rodeado pelo
eterno e a nossa transformação total tornar-se-á uma mal, incluindo uma espeSsa nuvem de poder
realidade. Possuiremos a natureza moral de Deus. demoníaco. A união com Cristo (isto é, a comunhão
Mais do que isso, possuiremos a imagem metafísica mística com ele) tornou-se o principal conceito acerca
de Cristo, que está acima de todos, de todos os nomes, do sentido e da direção da atual experiência humana.
de todos os poderes, até mesmo dos poderes E essa união assegura a «ressurreição» juntamente
angelicais. Nossa participação nisso será total. Os com ele, que é o passo inicial da glorificação da alma.
termos «filhos de Deus» e «irmãos de Cristo» indicam Esses pensamentos lançaram os fundamentos para
algo tremendamente elevado e ainda que tivéssemos a uma série de estudos, e muitos intérpretes, ao lerem
perfeita descrição dessas verdades, do ponto de vista os evangelhos e as palavras de Jesus, segundo elas
metafísico, não poderíamos compreender suas impli estão ali escritas, para em seguida lerem a Paulo,
cações. O nosso atual desenvolvimento nãe permitiria especialmente seus «escritos posteriores», como as
a completa apreensão dessas verdades profundíssi epístolas aos Efésios e aos Colossenses, começaram a
mas. Portanto, que. significa estar alguém em Cristo? indagar se as duas mensagens ou «evangelhos» seriam
Isso fala da atual comunhão mística com ele, por meio realmente uma só. Alguns negaram isso em termos
do Espírito. Já conhecemos algo da transformação à inequívocos. W. Wrede, em sua obra Paulus (1905),
sua imagem, porque já estamos começando a viver a expôs a questão nos termos mais francos. Ali Paulo é
sua vida. A energia de sua vida, em sentido bem real, visto não como verdadeiro discípulo do rabino Jesus,
já transparece em nós, e o céu já desceu à terra, e ele mas realmeqte um segundo fundador do cristianismo.
131
PAULO (APOSTOLO)
A piedade individual e a salvação futura ensinadas básicos de dualismo ético em uma redenção
por Jesus (idéias comuns ao judaísmo dos dias de sacramental; porém, dizer, como Bultmann asseve
Jesus) haviam sido transformadas, pelo teólogo Paulo, rou, que essas idéias foram tingidas pelo gnosticismo,
em uma redenção presente através da morte e da é um erro; porque, segundo elas aparecem nas
ressurreição do Cristo-Deus. Quem aceitar esse ponto epístolas de Paulo, dificilmente precisamos atribuí-las
de vista terá de escolher entre Jesus, e assim a quaisquer idéias gnósticas.
permanecer bem perto do judaísmo, ou terá de
preferir a Paulo, entrando em uma esfera religiosa Paulo concordava essencialmente com a declaração
diferente. A tendência parecia permanecer com Jesus, gnóstica de que existem vários níveis de seres
e não levar muito a sério as idéias de Paulo. espirituais, que existem princípios bons e maus neste
mundo, cada qual investido de sua própria autorida
A controvérsia acerca da suposta diferença entre de, tanto no céu como na terra. Porém, contrariamen
Paulo e Jesus conduziu a uma investigação ainda mais te aos gnósticos, o apóstolo ensinava que à testa de
detalhada sobre as origens do pensamento paulino. todos esses poderes avulta a pessoa de Cristo, que é o
F.C. Baur explicava o pensamento de Paulo à base dá Deus e criador de tudo (ver Col. 2:8-16). Cristo não
controvérsia eclesiástica, isto é, Paulo era contrário ao pode ser classificado em qualquer das categorias de
judaísmo antigo, e, sendo o «helenizador» do espíritos. Os manuscritos do Mar Morto foram um
cristianismo, fez declarações diversas que visam a embaraço para a identificação do gnosticismo com o
afastar o cristianismo o mais possível do judaísmo. pensamento paulino, segundo dizia Bultmann, posto
Schweitzer explicava que a origem do pensamento de que ali já se encontra expresso o dualismo ético que
Paulo era o seu problema escatológico peculiar, que Paulo teria encontrado, supostamente, no gnosticis
era uma adaptação quase exclusiva das idéias do mo, e que, subseqüentemente, teria influenciado a
judaísmo posterior. Mas as pesquisas na história sua doutrina. Portanto, essas idéias são anteriores ao
judaica não têm contribuído para consubstanciar essa »nosticismo. Contudo, não havia necessidade de
idéia. ;sperar pelo descobrimento dos manuscritos do Mar
Outros, como R. Reitzenstein e W. Bousset, Morto para sabermos isso, pois, a simples leitura da
pensavam que tinham encontrado o manancial do literatura antiga nos fornece essas idéias básicas. Para
pensamento paulino, em uma espécie de mistura das começar, o estudioso deve ler Platão, onde se
religiões misteriosas orientais helenistas e de elemen encontram todas as idéias dualistas que alguém
tos doutrinários do judaísmo. Ê verdade que os poderia desejar. Outrossim, no gnosticismo primitivo,
mistérios falavam de deuses que morriam e tornavam não há a doutrina da «descida de um redentor» (esse
a viver, de «senhores» e de redenção por meio d# foi um desenvolvimento posterior, no gnosticismo,
sacramentos. Qualquer um que leia os clássicos, e sobre o qual o apóstolo não teve conhecimento), o que
suas adaptações religiosas posteriores, naturalmente mostra que é impossível que a idéia paulina tivesse
verá os paralelos. (Ver o artigo separado sobre o sido tomada de empréstimo do gnosticismo. E assim
Período Intertestamental, Acontecimentos e Condi tem continuado a controvérsia, em que vários autores
ções no Mundo, ao Tempo de Jesus, que fala sobre a assumem diversas posições em torno da questão,
«religião» do mundo greco-romano). Estudos poste como é o caso de Grant, que vê Paulo como homem
riormente feitos abrandaram o impacto dessa idéia, cujo mundo espiritual se situa entre as idéias
mostrando, acima de tudo, que tais idéias não eram apocalípticas judaicas e o gnosticismo plenamente
totalmente estranhas ao pensamento judaico, espe desenvolvido do segundo século da era cristã. Ele acha
cialmente ao pensamento judaico posterior. Final que a tendência de Paulo, ao interpretar a
mente, observamos que a idéia da «religião misterio ressurreição, era, entre outras coisas, torná-la um
sa» não conquistou muita aprovação, embora tenha triunfo sobre os poderes cósmicos. (De fato, Col. 2:15
continuado a exercer grande influência sobre os diz exatamente isso). Mas Paulo não tinha de apelar
estudos acerca de Paulo. para o gnosticismo para encontrar essa idéia, porque
Alguns também tentaram ligar o pensamento de a necessidade de tal triunfo era comum ao judaísmo
Paulo com as idéias gnósticas, especialmente as idéias posterior e o próprio Jesus expressou a mesma idéia,
gnósticas acerca da natureza do mundo, seus muitos ao declarar: «Eu via a Satanás caindo do céu como um
níveis de espíritos, autoridades, etc. (conforme alguns relâmpago», Luc. 10:18. Ver o artigo sobre Satanás,
crêem estar refletido em Efésios e no primeiro Queda de, que contém detalhe$ sobre este assunto que
capítulo de Colossenses). Sabemos, todavia, que essas concorda com a tese de Paulo que a obra redentora de
duas epístolas de fato são livros escritos contra as Cristo, finalmente, triunfará sobre todos os poderes
formas iniciais da heresia gnóstica, e não é provável cósmicos malignos.
que Paulo tivesse apoiado um acordo justamente com Naturalmente, o próprio gnosticismo era sistema
a heresia que atacava. Essas idéias sobre muitos níveis altamente misturado, pois tomava elementos empres
de espíritos, autoridades, etc., eram comuns ao tados da mitologia grega, da filosofia, das religiões
judaísmo posterior, e Paulo não teria que tomar de misteriosas, de várias formas de misticismo oriental,
empréstimo dos primitivos gnósticos essas idéias. e, diretamente, do próprio judaísmo, como também
Alguns têm argumentado que a menção de Paulo do cristianismo, depois que este entrou em cena.
sobre «principados», «poderes», «potestades», e «do Portanto, é quase impossível dizer-se, «Isto Paulo
mínios» não significa que ele tivesse aceito como tomou por empréstimo do gnosticismo», até mesmo
verídicos os muitos níveis de poderes espirituais nos nos casos que parecem «empréstimos» feitos daquele
lugares celestiais, mas que meramente ao usar esses sistema. O mais provável é que idéias que Paulo e os
termos, dizia que, sem importar quais poderes gnósticos tinham em comum, eram simplesmente
existam, Cristo é o cabeça desses poderes, sendo Deus pontos de concordância, sem que houvesse qualquer
sobre todos. Mas isso equivale a subestimar o empréstimo direto. A tendência, mais recentemente,
pensamento de Paulo, pois parece perfeitamente tem sido negar, ignorar ou suavizar a suposta
claro, na análise dessas passagens, que Paulo aceitava «influência gnóstica sobre Paulo», à proporção que
tais níveis de poder, embora não os tivesse descrito. se vai entendendo melhor qual era o «meio ambiente
Bultmann aproximou-se mais da verdade ao mostrar de conceitos» do primeiro século. Não se pode negar, é
que Paulo estava alicerçado no judaísmo helenista e claro, que muitas das idéias e expressões desse
no cristianismo helenista, que tem seus conceitos apóstolo refletem sua própria cultura, pelo que são
132
PAULO (APÓSTOLO)
«empréstimos» tirados das idéias correntes. Contudo, 22:14-20, onde Jesus instituiu a ceia memorial, a qual
cremos que as grandes pedras fundamentais de sua indica que Jesus contemplava sua missão cofrto
doutrina se derivam de uma fonte superior, realizadora da expiação e de uma redenção sacramen
repousando sobre alicerce mais firme que a mera tal.
repetição de idéias comuns a todos. Levamos a sério Não se pode dizer, por conseguinte, que Paulo
sua reivindicação de haver recebido «muitas» revela tenha criado essa idéia, porquanto a sua passagem
ções (ver II Cor. 12:1). Ele recebeu «visões e central sobre a questão — I Cor. 11:23-26 — é apenas
revelações», e fala de sQa experiência no «terceiro uma compilação ou sumário do mesmo material de
céu», como ilustração desse fato. Ver Gál. 1 e Efé. 3:3 ensino que se reflete nos evangelhos. Portanto, a
ss. Paulo era um místico de primeira ordem, e grande doutrina que alguns querem fazer-nos crer que foi
parte dos pontos distintivos do cristianismo repousa tomada de empréstimo de alguma forma de
sobre suas visões, que se concretizaram nas Escritu gnosticismo ou de judaísmo helenizado, em realidade
ras, preservadas para nós no Novo Testamento. já estava presente nas palavras mesmas de Jesus.
A diacuaaio acima, sobre as origens do pensamento A expiação subentende a idéia básica da justifica
paulino, leva-nos à conclusão de que apesar de grande ção pela fé. Essa doutrina não é claramente ensinada
parte da doutrina de Paulo não ser geralmente ouvida nos evangelhos; e poucos afirmam tal coisa. Mas a
dos lábios de Jesus, isto é, na exposição que os expiação é o alicerce dessa doutrina, e de fato, todo o
evangelhos fazem dos ensinos de Jesus, em coisa sistema sacrificial dos judeus aponta para esse ensino.
alguma estava em desacordo com os ensinos essenciais A expiação só se torna necessária quando o indivíduo
dele. Paulo não teve, por outro lado, de pedir não é capaz de fazer tudo por si mesmo, ou seja,
emprestado as idéias do gnosticismo. Outrossim, quando a salvação, o «livramento» está fora de seus
pode-se observar que a discussão inteira sobre as próprios recursos. O judaísmo inteiro, pois, salientava
«origens» conforme ela é apresentada pelos autores essa verdade. Ê verdade que a doutrina formal da
mencionados, ignora por completo a questão da justificação pela fé não é esboçada nos evangelhos,
inspiração, dando a entender que Paulo não era embora existam ali as condições básicas que
inspirado pelo Espírito Santo, segundo ele declarava requeiram a sua delineação final. E verdade que Paulo
que era, ou que ele não aprendeu o seu evangelho por foi além do que se lê nas palavras de Jesus, nos
revelação, conforme ele mesmo declarou (Gál. 1:12). evangelhos, mas isso não significa, necessariamente,
A leitura das epístolas de Paulo não nos pode deixar de que ele tenha contradito o Senhor. Ninguém procura
convencer que, quer isso expresse a verdade, quer não, ocultar o fato de que o cristianismo é um
o apóstolo pensava que aquilo que ensinava chegara desenvolvimento dos pontos de vista preliminares dos
ao seu conhecimento por meio de visões e revelações e evangelhos, e, realmente, esse fato é confiantemente
que ele alicerçava o seu evangelho sobre esses proclamado, pois o próprio Paulo, ao mencionar as
fundamentos. revelações que recebeu, declara que as doutrinas da
igreja lhe tinham sido dadas para serem expostas por
Mais especificamente, acerca de Jesus e Paulo, ele. Também ninguém afirma que os evangelhos
podem-se fazer as seguintes observações. Ver o artigo fornecem uma clara apresentação da igreja. A Paulo
sobre Jesus que descreve Jesus, a sua identificação, o foi dado o privilégio de fazê-lo. Mas Jesus antecipou e
seu ministério e os seus ensinamentos. Na seção que mesmo predisse que a sua igreja seria uma
aborda os seus ensinamentos, descobre-se que Jesus comunidade religiosa separada do judaísmo. Por
era bom representante do judaísmo, em sua forma conseguinte, dificilmente alguém pode pensar em
mais excelente; mas é um erro vê-lo apenas como tal. Jesus tão-somente como um reformador do judaísmo.
Pois ele se reputava divino, igual ao Pai, em uma Há evidências de que Jesus se alienou da corrente
posição metafísica altamente exaltada. Por exemplo, principal do judaísmo desde quase o princípio de seu
consideremos a sua declaração: «Eu o sou; entretanto, ministério. De fato, já no décimo sexto capítulo do
eu vos declaro que desde agora vereis o Filho do evangelho de Mateus vê-se que uma nova comunidade
homem assentado à direita doTodo-poderoso, e vindo estava se formando. No décimo oitavo capítulo do
sobre as nuvens do céu» (Mat. 26:64). O sumo mesmo livro vêem-se as regras básicas que os
sacerdote ficou extremamente perturbado ante essa discípulos deveriam seguir em suas relações mútuas
declaração, e rasgou as próprias vestes, pois para ele
tal declaração parecia uma grande blasfêmia. no seio da igreja. A partir do décimo sexto capítulo do
Outrossim, o capítulo vigésimo quarto de Mateus (o evangelho de Mateus temos o arcabouço básico da
«nova comunidade religiosa». Portanto, o que Paulo
«pequeno apocalipse» como é chamado), ensina de
maneira bem definida um Jesus metafísico altamente fez foi adicionar estatura a esse arcabouço, e, através
exaltado, e não meramente um rabino judeu que não das revelações que recebeu, indicou o destino da
tinha as credenciais fornecidas pelas escolas judaicas. igreja, o qual, para sermos verazes, se encontra só nos
Parece claro, pela narrativa dos dias finais de Jesus e escritos paulinos. Paulo nos fornece diménsões
sua crucificação, que a principal acusação contra ele vastamente ampliadas acerca do destino do homem
foi de que blasfemava, ao declarar-se mais do que um (que é descrito de modo breve sobre a seção «e» deste
mero homem. O ponto de vista de Jesus sobre sua mesmo artigo). Ninguém afirma que Jesus, nos
evangelhos, expôs qualquer coisa assim; mas as idéias
missão messiânica não se limitava à de um mero não são contraditórias, e, sim, suplementares.
homem que cumpria uma incumbência. Para ele, o
Messias era um homem de origem celestial, dotado de Deremoa dar atenção à dedaraçio de Panlo, em
um ministério celestial e terreno. Foi justamente esse o Gál. 2:2,6-8, onde ele mosta que propositalmente
conceito que o levou à cruz, mas de fato ele não foi visou aos demais apóstolos, a fim de verificar se o seu
apenas um reformador. Sua declaração, em Mat. evangelho não estava de acordo ém alguma coisa
20:28, que diz: «...tal como o Filho do homem, que com o que pregavam. Assim, descobriu que não havia
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua desacordo algum, e, além disso, que nada podiam
vida em resgate por muitos», indica o conceito de acrescentar ao que ele ensinava. Verificou que o
Jesus acerca de sua vida e morte, cuja finalidade era evangelho de Pedro era igual ao seu, embora as suas
oferecer expiação e vida espiritual, e não meramente esferas de atividade fossem diferentes, pois Pedro fora
servir de exemplo. A mesma verdade é destacáda nos enviado aos judeus, ao passo que Paulo fora enviado
trechos de Mat. 26:26-29; Mar. 14:22-26 e Luc. aos gentios. Pedro confirma o fato com suas próprias
133
PAULO - PAULO, APOCALIPSE DE
palavras, no segundo capítulo de Atos, ao falar sobre a. Ele foi diretamente comissionado por Cristo, o
a expiação. E em Atos 15:10, lemos que Pedro disse: Senhor ressurrecto, para esse eleyado ofício, o que
«E não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles, fica implícito na sua pergunta, «...não vi a Jesus,
purificando-lhes pela fé os corações. Agora, pois, por nosso Senhor?...» Essa mesma idéia é expandida em
que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos Gál. 1:11 e ss.
discípulos um jugo que nem nossos pais puderam b. Seu poderoso ministério é salientado como uma
suportar, nem nós? Nessa oportunidade, como é prova do caráter genuíno de seu ministério, prova de
claro, Pedro declarou a necessidade da «justificação sua comissão divina. E isso é declarado através da
mediante a fé». O ponto disso é que Paulo, quanto aos seguinte pergunta: «...acaso não sois fruto do meu
pontos básicos — sem pensarmos por enquanto sobre trabalho no Senhor?...* Essa idéia é desenvolvida em
os grandes suplementos com que ele contribuiu para a várias outras passagens, como no segundo capitulo da
mensagem cristã total, ou seja, as revelações especiais epístola aos Gálatas, embora o seja mais particular
que recebeu — em coisa alguma estava em desacordo mente ainda nos capítulos décimo a décimo segundo
com os outros apóstolos quanto a essa doutrina. da segunda epístola aos Corintios. Por essa razão é
Certamente os outro* apóatolo*, que andaram com que Paulo pode asseverar:«...trabalhei muito mais do
Jesus durante três anos, conheciam perfeitamente a que todos eles...» (I Cor. 15:10). E isso não constitui
sua doutrina e as suas intenções, e não se teriam uma reivindicação de pouca monta, proveniente como
deixado enganar por Paulo, se seus ensinos estivessem foi do contexto do cristianismo do primeiro século,
equivocados. É verdade que os ensinamentos de Jesus, quando foram realizados labores realmente extraor
conforme os encontramos registrados, eram principal dinários.
mente éticos, mas essa ética não é contrária ao c. O trecho dos capítulos décimo a décimo segundo
cristianismo paulino. Também é verdade que muitas da segunda epístola aos Corintios nos fornece outras
das idéias de Paulo não se encontram nos registros provas do apostolado de Paulo, incluindo suas
sobre as palavras de Jesus, isto é, o silêncio reina experiências místicas e visões, que foram dadas a
nesses particulares; mas o próprio Paulo foi o Cristo para confirmar o seu ministério e autoridade,
primeiro a admitir tal fenômeno, ao dizer que as bem como para aumentar a sua eficácia. (Ver
revelações lhe confiaram explicações novas quanto ao especialmente o décimo segundo capítulo da citada
destino da humanidade. Nada mais se pode fazer, no epístola).
sentido de pesquisar o Jesus histórico, do que aceitar o d. Os sofrimentos especiais pelos quais Paulo passou
testemunho daqueles que foram seus íntimos, que o também são apresentados como provas de seu ofício
viram e que o imitaram. Os outros apóstolos também apostólico. (Ver II Cor. 11:23 e ss).
declaram-no Senhor da glória, personagem de e. Operações miraculosas, levadas a efeito por meio
elevadíssima estatura metafísica. O evangelho de João de dons especiais do Espírito Santo, também tiveram
é uma declaração expandida dessa verdade. E um por propósito servir de prova dos verdadeiros
pequeno fragmento desse evangelho intitulado P(52), apóstolos de Cristo. Os trechos de II Cor. 12:12 e o
definidamente escrito em cerca de 100 D .C., mostra nono capítulo do livro de Atos em diante fornecem
que esse evangelho provavelmente foi escrito antes do provas tanto das grandes realizações como dos
ano 100 D.C. Assim sendo, temos no evangelho de extraordinários sinais operados por Paulo, tudo o que
João uma das primeiras interpretações apostólicas da fazia parte integrante de seu ministério apostólico.
pessoa de Jesus. Pedro declarou, no primeiro capítulo Grande porção do livro de Atos serve de demonstra
de sua primeira epístola, que aguardamos do céu o ção desses fatos, embora esse livro do N.T. não tenha
SENHOR, o aparecimento de Jesus Cristo (ver I Ped. sido escrito diretamente com essa finalidade, visto
1:7), e que, através de sua morte e ressurreição, chega que, para Lucas, não havia necessidade alguma de
até nós a redenção e a expiação dos pecados (I Ped. apresentar defesa do apostolado de Paulo, já que o
1:18-20). A passagem de II Ped. 1:17,18 menciona a próprio Espírito de Deus lhe autenticava o ministério.
glória da transfiguração que foi contemplada pelos
apóstolos originais (conforme é descrita no décimo f. O elevadíssimo conhecimento espiritual de Paulo,
sétimo capítulo de Mateus), e isso faz parte da bem como o fato de que ele atuava como instrumento
descrição de Jesus como personagem metafísico para revelar à igreja cristã o seu exaltado destino, no
altamente exaltado, o Senhor da glória, conforme que Paulo se destacou acima de qualquer outro
Paulo o denomina em I Cor. 2:8. No trecho de I Ped. homem da história, também serve de prova de seu
4:11 nos é ensinado o domínio eterno de Jesus. apostolado. Todas as suas epístolas, bem como os
Portanto, concluímos que o «Jesus teológico» se sublimes ensinamentos ali contidos, ilustram esse
destaca com grande evidência nos escritos dos ponto (ver II Cor. 11:6 e Gál. 2:2 e ss).
apóstolos primitivos de Jesus, como Pedro. Se Pedro g. Paulo foi um instrumento especial no avanço do
não era capaz de interpretar corretamente a pessoa de evangelho de Cristo, tendo sido escolhido para essa
Jesus, após tão longa e intensa associação que teve tarefa desde o berço, tendo sido preservado para a
com ele (e o livro de Atos reflete o alto conceito que os mesma, até mesmo durante seus anos de rebeldia (ver
apóstolos tinham de Jesus como personagem metafísi Gál. 1:13-24). A leitura dos trechos dos capítulos
co), então resta-nos conjecturar para descobrir quem primeiro e segundo da epístola aos Gálatas e dos
era realmente Jesus. É importante notar que também capítulos décimo segundo da segunda epístola aos
nessa particularidáde, Pedro e Paulo estavam de Corintios, fornece-nos várias outras provas menos
pleno acordo. Pode-se dizer, pois, que não pode ser decisivas, como aquelas aqui mencionadas, em defesa
comprovada qualquer contradição entre Jesus e do apostolado de Paulo.
Paulo. O que permanece de pé, e ninguém se 8. Paulo e Tiago Ver Tiago (livro), VII.
aventuraria a negá-lo, é que estava reservado a Paulo Bibliografia. AM DEIS (1926) EN IB ID ND
revelar, através do Espirito Santb, as doutrinas mais NTI POR RID TI W WIK WR Z
profundas sobre a natureza do mundo dos espíritos, e
o chamamento e o alto destino da igreja, conforme o
judaísmo jamais pudera imaginar, e que Jesus PAULO, APOCALIPSES DE
meramente indicou de passagem. Existem duaa dessas obras qi\p chegaram até nós.
7. Como Paulo comprovou seu apostolado. O Impulso de Escrever. Ver os comentários sobre
Uma multiplicidade de maneiras: esse ponto no artigo intitulado Paulo, Atos de. As
PAULO - PAULO, ATOS DE
pessoal não permitem que os grandes homens (histórias obviamente originadas na mesma fonte
descansem. Foi apenas natural que atos, epístolas e informativa, mas com diferentes distorções) mostra-
apocalipses viessem à existência, atribuídos a Paulo. nos que vários escribas puderam manipular a
Esse era um antiqüíssimo hábito literário, que não produção, o que talvez tenha ocorrido durante um
aprovaríamos hoje em dia, mas que os antigos não longo período de tempo.
sentiam ser uma prática errada. Um herói era Outras Obras Utilizadas. O livro dá provas de que o
exaltado mediante um livro escrito em seu nome, e as autor (ou autores) estava familiarizado com os
pessoas não faziam objeção a esse tipo de produção. Apocalipses de Elias, Sofonias e Pedro. Algum
Paulo foi um grande místico (ver sobre o Misticismo), material foi extraído do capítulo vinte e um do
pelo que alguns antigos autores julgaram que seria Apocalipse canônico e do segundo capítulo do livro de
estético -se um apocalipse fosse escrito em seu nome. Gênesis. A mitologia grega é mesclada com a
Talvez a declaração de Paulo, em II Cor. 12:1-4, de narrativa, segundo se vê na menção a Aquerúsia, ao
que ele havia recebido revelações que incluíam coisas Tártaro e à jornada de bote (Carom e o rio Estix).
que não podiam ser ditas por meio de palavras, tenha Influência. Obras como essa influenciaram as
servido de inspiração para obras desse jaez. Mas, opiniões das pessoas acerca do céu e do inferno.
agora, estando no paraíso, tais revelações podiam ser Descrições similares encontram-se nos escritos medie
dadas a público. Naturalmente, os escritores de vais a respeito da vida após-túmulo, incluindo o
apocalipses não precisavam de tais desculpas para dar Inferno de Dante.
livre curso à sua fértil imaginação; mas algo assim II. O Apocalipse de Paolo, contido no códex V da
deve ter cruzado a mente dos autores dessas obras. biblioteca de Nag Hammadi, é a segunda das obras
I. O Apocalipse de Paulo, existente em grego, em dessa natureza a trazer o nome de Paulo. Essa é a
forma abreviada, mas em uma versão mais completa primeira de quatro obras existentes naquele códex.
em vários manuscritos traduzidos para o latim e o Um meio ambiente artificial é criado para os
cóptico, provavelmente é a mesma obra mencionada acontecimentos. A visão teria sido recebida na fictícia
por Agostinho e que foi condenada pelo Decretum «montanha de Jericó», que então se toma uma espécie
Gelasianum. Presumivelmente, essa obra fora deixa de pseudo-Sinai.
da na casa de Paulo, em Tarso, e que, por um grande
golpe de sorte, o livro foi descoberto por alguém, para Conteúdo:
ser apresentado ao mundo. No entanto, a visão do 1. Na alegada montanha de Jericó, Paulo
livro teria sido dada a um ocupante da casa já durante encontra-se com os doze apóstolos de Cristo. É então
o reinado de Teodósio, o que data o livro como arrebatado ao paraíso, e o drama tem início.
pertencente ao fim do século IV D .C., ou mesmo no 2. Ele sobe ao terceiro céu, e em seguida ao quarto.
começo do século V D.C. Ali ele é testemunha ocular do julgamento de uma
Conteúdo: alma. Três testemunhas oculares condenam a tal
1. Deus queixa-se (aos moldes do livro de Gênesis) alma, de acordo com os requisitos de Deu. 19:15.
dos muitos pecados dos homens. Anjos trazem-Lhe Como castigo, a alma é condenada a encamar-se em
relatórios, noite e dia, acerca dos males que se vão um corpo humano. Isso provavelmente concorda com
multiplicando. idéias platônicas, de acordo com as quais uma
2. Paulo é arrebatado ao terceiro céu e vê o jornada em um corpo físico é um castigo para uma
julgamento (típico) de duas almas, uma boa e outra alma preexistente, uma idéia aproveitada pelo
má. judaísmo helenista. Poderia apontar para a reencar-
3. No paraíso, Paulo encontra-se com Enoque, nação. Essa alma não conseguira chegar, por seus
atravessa o lago Aquerúsio, e visita a cidade de Cristo, merecimentos, à glória, pelo que foi enviada à terra
circundada por doze muralhas, com doze torres e para outra tentativa, uma idéia de Platão e também
doze grandes portões, tudo de estonteante beleza. do farisaísmo.
4. Paulo contempla os condenados no inferno, 3. Paulo continua subindo, até o sétimo céu, onde
sofrendo todo tipo de terrores, e, tendo compaixão se encontra com um idoso homem. No outro
deles, intercede por eles e obtém para eles descanso, Apocalipse, esse homem é chamado de Enoque; mas,
no dia e na noite do dia do Senhor, o domingo. neste, seria meramente um guardião. Paulo prossegue
subindo, até o décimo céu; mas não há descrições a
5. De volta ao paraíso, ele encontra-se com ilustres respeito.
profetas e santos homens como Abraão, Isaque, Jacó,
Moisés, vários profetas do Antigo Testamento, 4. A partir do quarto céu, Paulo olha para a terra,
Zacarias, João Batista, e, por último, Adão. lá em baixo, onde vê muitos juízos divinos ocorrendo.
As descrições são breves e destituídas de imaginação.
6. Diferentes manuscritos terminam de diferentes
modos. Os manuscritos grego, latino e siríaco 5. Não há conexão entre este e o outro Apocalipse
terminam quando Paulo encontra-se com Elias e de Paulo, embora algum material similar possa ser
Eliseu (Zacarias não aparece no relato). O siríaco encontrado em ambos. (HEN JAM Z)
adiciona alguns detalhes, incluindo como o livro fora
registrado, como fora oculto (por causa do que Paulo
foi repreendido pelo Senhor, visto que o livro PAULO, APOSTOLO,TEOLOGIA (ENSINOS) DE
destinava-se à publicação, e não a ser ocultado). A Ver o artigo geral sobre Paulo, seção II, quinto
versão cóptica fala sobre uma terceira visita ao céu. ponto, A Doutrina de Paulo. Outras porções desse
Alguns eruditos pensam que tudo quanto é dito após o mesmo artigo abordam outras doutrinas paulinas,
encontro de Paulo com Adão representa adições feitas especialmente em sua sexta seção; e vários outros
por escribas posteriores. Outros pensam que o fim do grandes temas paulinos aparecem em outros artigos,
livro é no ponto onde os condenados no inferno obtêm os mais importantes dos quais são alistados na seção
descanso aos domingos. Porém, o arrebatamento de acima referida. Ver também, Paulo, Êtica de.
Paulo, no Monte das Oliveiras, parece ser a conclusão
mais apropriada, o que talvez correspondia ao
original. Todavia, as variações existentes nos diversos PAULO, ATOS DE
manuscritos impossibilita-nos qualquer certeza quan (PAULO E TECLA, ATOS DE)
to a essa particularidade. O fato de que há variantes Ver também Paulo, Paixão de Paulo, uma versão
135
PAULO, ATOS DE
latina de certa porção dessa mesma obra. resultou no fato de Paulo ser açoitado e expulso. A
Esboço: própria Tecla foi condenada a morrer na fogueira;
1. O Impulso de Escrever mas uma súbita e pesada chuva salvou-lhe a vida. Em
2. Informações Históricas sobre os Atos de Paulo e Antioquia, ela teve de enfrentar as feras; mas,
Tecla novamente, foi miraculosamente salva da morte. Uma
•3. Caráter Geral característica típica das obras apócrifas é que
milagres extraordinários originam-se de toda parte, à
4. Natureza Teológica da Obra medida que a narrativa avança.
5. Data e Fontes Informativas Em Mira. O evangelho dividiu ali famílias,
6. Manuscritos conforme Jesus predissera que aconteceria. Nesse
1. O Impulso de Escrever lugar, Hermócrates, sua esposa, Ninfa, e seus filhos,
As vidas dos grandes homens provocam uma Diom e Hermipos, foram as principais personagens.
reação. O gênio requer ação. Ele jamais se satisfaz Os membros da família, com exceção de Hermipos,
com a indiferença generalizada. Lendas e histórias foram ganhos para Cristo por Paulo; mas, finalmente,
são escritas sobre esses homens; e, algumas vezes, é até ele aderiu à verdade. E assim a família, antes
difícil distinguir a lenda do que é histórico. Paulo foi dividida, acabou unida.
um desses indivíduos que provoca grande reação. Em Sidom. Paulo foi aprisionado no templo de
Além do nosso Novo Testamento, do qual mais de Apoio; mas, previsivelmente, o templo ruiu e libertou
trinta por cento pertence a Paulo (e cuja narrativa o apóstolo. Os acontecimentos tiveram lugar em Tiro,
ocupa uma grande porção do livro canônico de Atos), mas foi danificado o manuscrito que contava essa
também surgiu um bom número de obras apócrifas história.
que têm por intuito contar-nos o que Paulo fez e disse. Em Esmima e Êfeso. Paulo passou por Esmirna e
Assim, há os Atos de Paulo (também chamado Atos chegou a Êfeso. Chegando ali, ele pregou na casa de
de Paulo e Tecla); os Atos de André e Paulo; o Ãquila e Prisca. Foi submetido a julgamento e
Apocalipse de Paulo; as Cartas de Paulo e Sêneca e a condenado a lutar contra as feras. Segundo as coisas
Paixão de Paulo. Esta enciclopédia contém artigos sucederam, Paulo havia antes batizado um leão! E foi
sobre todas essas obras. Ver também o artigo sobre os justamente esse o leão encarregado de comê-lo.
Livros Apócrifos do Novo Testamento. Apesar de Naturalmente, o leão recusou-se a morder o apóstolo.
poder haver, aqui e acolá, algumas narrativas e História fantástica!
declarações autênticas, as obras apócrifas usualmente Em Corinto. Segue-se uma espúria correspondência
não passam de produtos da imaginação, uma paulina com os crentes de Corinto, incluindo a
propaganda em favor das doutrinas favoritas de seus história da ressurreição de Frontina, uma filha de
autores. O gnosticismo (vide) foi a grande força Longino. Paulo embarcou de Corinto, partindo em
isolada por detrás da produção dos livros apócrifos, direção à Itália. O capitão do navio, Artemão, fora
embora nem todos tivessem provindo desse movimen batizado por Pedro, e a viagem ocorreu de maneira
to. relativamente pacífica.
2. Informações Históricas sobre oa Atoa de Paulo e Em Roma. O relato fala sobre muitos convertidos
Tecla na capital do império, inclusive na casa de César,
Tertuliano (Sobre o Batismo, 17) informa-nos que onde Pátroclo, o copeiro-mor do imperador, conver
esse livro foi escrito por um presbítero da Àsia Menor, teu-se. Ele caiu de uma janela, mas foi restaurado à
que foi removido de seu ofício por haver produzido vida por Paulo. A pregação de Paulo, na prisão,
essa obra espúria, embora não tenhamos razão para resultou em conversões, incluindo a do prefeito Longo
duvidar de sua palavra que ele escreveu «movido pelo e a do centurião Cesto. Posteriormente, foram
amor a Paulo». Hipólito e Orígenes também batizados por Lucas e Tito, perto do túmulo de Paulo,
conheciam essa obra, e podemos supor que a mesma quando este já havia sofrido o martírio. Esse foi um
foi escrita no século II D.C. Eusébio (Hist. III.25) toque dramático apropriado, provido por um autor
também chamou essa obra de «espúria», o mesmo que teria tido uma interessante, mas imaginária
termo que usou para descrever o livro Pastor de viagem em companhia de Paulo e seus amigos.
Hermas, como também Bamabé e o Apocalipse de 4. Natureza Teológica da Obra
Pedro. No entanto, os Atos de Paulo foram incluídos
no catálogo do Codex Claromontano (designado D(2)). A obra Atos de Paulo énfatiza a virgindade, embora
Os pais da Igreja em geral rejeitaram a obra, e não seja uma produção gnóstica. Nega as especula
quando os maniqueanos consideraram-na autoritária, ções gnósticas, dá apoio ao Antigo Testamento e
ela veio a cair completamente no descrédito, dentro sustenta a doutrina da ressurreição e defende um
da corrente principal do cristianismo. elevado código moral. Advoga o poder de Deus, mas,
com freqüência envolve aplicações triviais e exagera
3. Caráter Geral das.
A obra contém uma seção acerca de Tecla e seu 5. Data e Fontes Informativas
relacionamento com Paulo, o que explica o nome O segundo século da era cristã provavelmente foi o
alternativo do livro. Ela interrompeu o seu noivado e tempo em que essa obra apócrifa foi escrita. O fato
permaneceu na virgindade, por amor ao evangelho. de que Hipólito e Orígenes citaram a obra, no século
Uma das prineipais finalidades da obra foi exatamen III D.C., elimina a possibilidade de uma data muito
te essa: a exaltação da virgindade. Uma outra seção posterior. £ desapontador que uma obra cristã tão
contém uma alegada correspondência de Paulo com antiga não tenha muita coisa sólida a dizer. O livro
os crentes de Corinto. E ainda uma outra seção faz empréstimos das obras canônicas de Atos e de
encerra um relato lendário sobre o martírio de Paulo. algumas epístolas paulinas; é uma espécie de
Do começo ao fim do livro encontramos notáveis duplicação do Quo Vadis, relativo a Pedro, e que foi
milagres de mistura com a biografia de Paulo, a preservado no livro apócrifo Atos de Pedro. Talvez
começar pela sua conversão, no caminho de lendas locais sobre homens santos (cristãos e pagãos)
Damasco. A história de Tecla é geograficamente tenham sido incorporadas em certos casos, e
situada em Icônio. O noivo de Tecla ficou obviamente aplicadas a Paulo. Talvez a história de Tecla tenha
perturbado diante da influência exercida por Paulo sido inspirada pela vida de alguma santa mulher, cuja
sobre a jovem; e isso levou-o a criar uma agitação que vida foi piedosa. Porém, a imaginação ali correu
PAULO, ATOS DE - PAULO, ÉTICA DE
solta. O autor não teve a intenção de apresentar um Presença de Deus. Quando Paulo afirmou que o
substituto para o livro canônico de Atos, mas tão- crente não está debaixo da lei (ver Rom. 3:19;
somente quis contar uma história interessante, que 6:14,15; Gâl. 3:10, 23-25; 4:2 ss; 5:18), quis dizer que
promoveria alguns de seus ideais e idéias, além de não está debaixo da lei nem como medida
exaltar a pessoa de Paulo. justificadora e nem como medida santificadora, mas
6. Manuscritos sob a influência e orientação do Espírito de Deus. O
As três divisões da obra, ou seja, os Atos de Paulo e galacianismo (vide) é aquela falsa doutrina que diz
Tecla, o martírio de Paulo e a correspondência que o crente, uma vez justificado pela fé, agora está
apócrifa com os corintios (uma espécie de pseudo III debaixo da lei como sua norma de vida. No entanto, é
Coríntios), sobreviveram em fragmentos separados, a lei do Espírito que nos torna livres, vivos e
em diversos idiomas. Mas a descoberta do Papiro espiritualmente crescentes (ver Rom. 8:2,3). O
óptico Heidelberg (em 1894), revelou que as três contexto dessa passagem inclui a santificação. Essa é
partes pertenciam todas ao livro geral Atos de Paulo. uma operação do Espírito, que a lei jamais poderia
A obra original continha cerca de 3600 linhas, em realizar. Aqueles que cogitam das cousas do Espírito
comparação com as 2800 linhas do livro canônico de são precisamente aqueles em quem reside o poder do
Atos; mas a maior parte daquelas linhas perdeu-se Espírito (ver Rom. 8:5). A Presença do Senhor, o
com o tempo. A obra apresenta um esforço Espírito, é que faz toda a diferença, e não os nossos
ambicioso, mas que produziu pouco. Diferente do esforços por nos ajustarmos a algum código; e assim,
livro canônico de Atos, os Atos de Paulo quase não sem aquela Presença, já teremos sido derrotados em
demonstram estrutura. Paulo simplesmente achava-se nossa batalha contra o pecado. Os vários aspectos do
em uma longa viagem, indo de lugar para lugar, sem fruto do Espírito são produtos do Espírito, conforme
qualquer quartel-general de onde partia e para onde se aprende abaixo, na segunda seção.
retornava. Mas, tal como no caso do livro canônico de II. Os Frutos do Espirito; as Virtudes Cardeais
Atos, as suas vagueações, finalmente, levaram-no a Em Gál. 5:22,23, Paulo expõe a metáfora agrícola.
Roma. Somos o campo onde são produzidos os vários
Um notável fragmento do livro foi publicado com o aspectos do fruto do Espírito. O Espírito é o agricultor
manuscrito Papiro Bodmer X, que data do século III que planta a semente, que a rega e lhe transmite vida.
D.C. Um outro notável fragmento do mesmo é o Tais virtudes são produzidas em nós, e tornam-se
papiro grego de Hamburgo. (HEM M(1964) Z) expressões permanentes de nossa natureza básica,
porquanto estamos sujeitos a uma transformação
moral e espiritual real. Daí vem a nossa transforma
PAULO, ATOS DE ANDRÉ E ção metafísica, que nos leva a compartilhar da
Ver sobre André e Paulo, Atos de. própria imagem e natureza de Cristo, ou seja, que nos
torna participantes da natureza divina. Ver o artigo
separado intitulado Transformação Segundo a Ima
gem de Cristo, onde oferecemos detalhes sobre essa
PAULO, ÉTICA DE doutrina. Ver também sobre a Santificação. A
Esboço: atuação ética do crente é grande demais para ser
I. A Natureza Revolucionária da Ética Paulina reduzida a um código escrito. Antes, requer a direta
II. Os Frutos do Espírito; as Virtudes Cardeais intervenção do Espírito de Deus. Isso faz parte da
III. A Base de Toda Ação Ética herança do evangelho. Temos apresentado um
IV. A Ética Paulina e a Lei detalhado artigo sobre o Fruto do Espírito, que expõe
os princípios gerais envolvidos e descreve as virtudes
V. A Presença Transformadora; o Propósito da cristãs cardeais.
Ética
VI. Pressupostos da Ética Paulina D l. A Base de Toda Ação Ética
VII. Uma Citação Notável O amor é o solo onde são cultivadas todas as
virtudes cristãs. Temos apresentado um longo artigo,
Ver o artigo separado sobre Paulo, especialmente a com várias citações ilustrativas, sobre esse assunto. É
seção II, quinto ponto, onde os ensinamentos de significativo que a lista paulina dos vários aspectos do
Paulo são apresentados e onde damos uma lista de fruto do Espírito seja encabeçada pelo amor, a maior
títulos de artigos separados, que desenvolvem temas de todas as virtudes. Além disso, algures, esse
paulinos individuais. O presente artigo examina os apóstolo refere-se à fé, à esperança e ao amor como as
ensinos de Paulo no tocante à conduta cristã ideal. três principais expressões cristãs, dentre as quais a
Ver também sobre Ética, seção IX, Ética Teísta, que maior é o amor (ver I Cor. 13:13). O amor é divino; o
aborda questões importantes da doutrina paulina. amor é cultivado em nós pelo Espírito de Deus. O
Ver também Ética Cristã; Ética de Jesus e Ética amor transforma; o amor é o cumprimento mesmo da
Patrística. lei, seu espírito e condicionamento (ver Rom. 13:10).
I. A Natureza Revolucionária da Ética Paulina IV. A Ética Paulina e a Lei
Deveríamos começar considerando quão revolucio Na primeira seção deste artigo, mostrei que a ética
nária era a visão ética de Paulo. Paulo, o ex-fariseu, ensinada por Paulo era revolucionária, mormente
rejeitava a lei como base da prática ética! Esse fato considerando-se que ele fora um fariseu, para quem a
não foi visto claramente por muitos dos antigos pais lei de Moisés havia sido a norma de toda crença e
da Igreja, ficou inteiramente esquecido na doutrina ação. Não obstante, Paulo asseverou que a sua
da Igreja Católica medieval, e nem chegou a ser doutrina não anulava a lei (Rom. 3:21). Antes, em sua
restaurado à Igreja pelos reformadores protestantes. mente, ela «confirmava» a lei. Porém, quando lemos a
Esses reformadores, embora tivessem eliminado a lei explicação dele, vemos que esse estabelecimento da lei
como base da justificação, esqueceram-se de que a lei não é exatamente aquilo que a mente judaica teria
também não é o guia da conduta cristã ideal. antecipado por meio dessa expressão. Pois Paulo não
A doutrina paulina, por sua parte, era que o confirmava a lei nem como poder justificador e nem
Espírito é agora o padrão e o guia da ética. Em outras como poder santificador, mas tão-somente como uma
palavras, um código escrito foi substituído por apta ilustração e demonstração da pecaminosidade do
experiências místicas, a saber, a capacitadora pecado. A lei empresta ao pecado o seu poder,
137
PAULO, ÉTICA DE - PAULO, PAIXÃO
porque, sem lei, o pecado jamais teria podido ser porá em prática a conduta ideal, em um grau que
imputado aos homens. Mediante a lei vem o «pleno agrade a Deus.
conhecimento» do pecado (ver Rom. 3:20). O pecado, 3. Há um ministério do Espirito Santo, que é eficaz.
pois, é revivido pela lei (ver Rom. 7:9). Mas a lei nada 4. O desenvolvimento espiritual em geral tornará
faz para ajudar-nos a pôr em obras aquilo que esse ministério uma realidade.
pensamos ser melhor (segundo o sétimo capítulo de 5. A conduta ideal não é algo isolado do resto dos
Romanos demonstra abundantemente), e nem nos propósitos atinentes à espiritualidade. Antes, faz
capacita a agir em conformidade com a ética cristã. A parte do processo geral mediante o qual o crente vai
conclusão do sétimo capítulo de Romanos é que sendo transformado segundo a imagem de Cristo,
precisamos de Jesus Cristo para cumprir essas levando-o a compartilhar de sua natureza e atributos,
funções; e o sep oitavo capítulo ilustra ainda mais esse incluindo o*, atributos morais.
conceito, salientando o ministério do Espírito Santo
em nós, sendo ele o alter ego de Cristo. 6. As virtudes cristãs cardeais são outros tantos
aspectos do fruto do Espírito, que ele cultiva no
A função do amor. Os dois grandes mandamentos homem.
consistem em amarmos a Deus de todo nosso coração,
forças e mente, bem como ao próximo como a nós 7. Aqueles que estão «em Cristo» (uma expressão
mesmos. Essa idéia já aparecia no Antigo Testamen usada por mais de cento e cinqüenta vezes nos escritos
to, mas foi confirmada por Jesus (ver Mat. 22:37,38). paulinos) são aqueles que desfrutam de comunhão
E Cristo adicionou que a lei depende inteiramente com o Espirito Santo. Todos os crentes precisam do
desses dois princípios fundamentais (vs. 40). Paulo toque místico. Precisamos da Presença de Deus. A
repetiu a essência dessa verdade ao afirmar que o conduta ideal é resultante disso, e não de algo que
podemos produzir mostrando-nos obedientes a algum
amor é o cumprimento da lei inteira, porque aquele código. Um homem em Cristo é uma nova criação (ver
que ama não fará qualquer coisa prejudicial (Rom.
II Cor. 5:17).
13:10). Ver o artigo separado sobre o Amor.
8. O homem que está «em Cristo» tem a lei de Cristo
A letra mata; o Espirito transmite vida. Temos aqui em seu coração (ver I Cor. 9:21; Gál. 6:2). E também
outra maneira pela qual Paulo falava da relação entre é possuidor da mente de Cristo (ver I Cor. 2:16).
a lei e o Espírito de Deus. Ver II Cor. 3:6. É evidente VII. Uma Notável Cltaçio
que aquilo que mata sob hipótese alguma pode ser
uma medida justificadora ou santificadora. Paulo «A ênfase primária de Paulo, na expressão da vida
chamou a lei de «ministério da morte» (II Cor. 3:7), cristã, não recaía sobre a adição de virtude a virtudes,
como também em «véu» que entenebrece o entendi na formação do caráter, e nem sobre uma compilação
mento (II Cor. 3:15). A conclusão de seu argumento é de certas «virtudes cardeais», conforme pensavam
uma das mais nítidas declarações acerca da quase todos os antigos moralistas. Antes, o apóstolo
transformação que nos é conferida em Cristo. Cristo é frisava uma personalidade permeada pelo Espírito,
um espelho espiritual; e, quando nos contemplamos bem como o ‘fruto do Espírito’, que vai sendo
nesse espelho, vamos sendo transformados em sua produzido na vida do crente por atuação do Espírito,
própria imagem. Essa transformação passará por com o resultado que a vida de Cristo passará a
estágios, por toda a eternidade, até que cheguemos a manifestar qualidades como ‘amor, alegria, paz,
compartilhar de sua imagem e natureza (II Cor paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansi
3:18). Isso posto, a verdadeira ética requer o toqut dão e domínio próprio’ (Gál. 5:22,23; comparar com
místico, a Presença de Deus, que nos transforma. Efé. 5:9). Uma das constantes designações dadas por
Paulo ao ideal ético é a expressão grega tò kalón (ver
V. A Presença Transformadora; o Propósito da Rom. 7:18,21; II Cor. 13:7; Gál. 6:9; I Tes. 5:21),
.fitica uma expressão usualmente traduzida por belo,
Acabamos de ver, em II Cor. 3:18, qual é o bom, excelente, honroso. O conceito incorpora,
propósito da ética. Seu alvo é a conduta ideal. Mas nuanças religiosas, racionais, morais e estéticas, e
nisso encontramos o processo da santificação (vide). Ã aponta para atividades agradáveis aos olhos de Deus,
medida que um homem vai sendo santificado, dirigidas racionalmente, moralmente honrosas, reali
também vai sendo metafisicamente transformado. zadas com graça. Esse é o tipo de ética que o
Esta não pode ocorrer sem aquela. Ambas as coisas, indivíduo em Cristo deve expressar com ‘magnanimi
por sua vez, dependem de um gradual e significativo dade de espírito’ (tò epieikés), para com todos os
desenvolvimento espiritual. O homem bom não se homens (Gál. 6:9,10; Fil. 4:5), mas, sobretudo para
tornou bom porque seguiu algum código, e, sim, com os domésticos da fé (Gál. 6:10)». (H)
mediante a sua comunhão com o Espírito, o toque
místico. Ver sobre o Misticismo. Não basta alguém ler
a Bíblia e orar. Também é mister que ele medite, PAULO, PAIXÃO DE
ponha em prática as boas obras, siga a santificação, A obra Atos de Paulo (vide) consiste em três seções
faça uso dos dons espirituais; mas, acima de tudo, é principais: os Atos de Paulo e Tecla; o Martírio; a
mister que receba os toques místicos, que realmente correspondência apócrifa com os coríntios. Na
lhe desenvolvem a espiritualidade. O homem que transmissão desse material, alguns manuscritos
coerentemente emprega esses métodos e busca ao contêm apenas uma dessas seções, como se a mesma
Senhor tomar-se-á um gigante espiritual, e haverá de fosse uma obra distinta. Uma revisão latina do
naturalmente agir como lhe convém. Mas a sua Martírio de Paulo veio a tornar-se conhecida como
conduta será parte do quadro maior do desenvolvi Paixão de Paulo, embora isso não signifique uma
mento espiritual em geral que o estará conduzindo à composição literária separada. Essa obra foi atribuída
participação na imagem moral e metafísica de Cristo, a Lino, o sucessor de Pedro na sé de Roma, segundo
o Filho de Deus. Ver o artigo intitulado Transforma alguns pensam. Essa versão latina encerra algumas
ção Segundo a Imagem de Cristo, quanto a uma notáveis adições, como a alegada admiração de
declaração completa sobre esses princípios. Sêneca pelo apóstolo Paulo (ver Paulo e Sêneca,
VI. Pressupostos da Êtica Paulina Cartas de), e como a estória de Plautila. Alegadamen-
1. A lei é inadequada tanto para a justificação te a caminho da execução, Paulo pediu emprestado
quanto para a santificação. dela um lenço, prometendo devolvê-lo mais tarde.
2. O homem justificado e regenerado é aquele que Paulo foi executado, e, na volta, os soldados
PAULO, SÉRGIO - PAULO E TECLA
zombaram de Plautila, acerca do lenço. Mas ela lhes continuou propalando as suas crenças, e conseguiu
contou uma visão que tivera pouco antes, e um bom número de seguidores. Isso parece haver
dramaticamente mostrou-lhes o lenço—todo man resultado em um pequeno cisma na Igreja antiga, que
chado de sangue! Um toque literário carregado de perdurou até o concílio de Nicéia.
emoção! Se essa estória fizesse parte do Novo
Testamento canônico, seria recontada em incontáveis
sermões e encenada em muitas produções teatrais. PAULO E SÊNECA, CARTAS DE
(LIP Z)
1. Um Acontecimento Natural
Qualquer pessoa que tenha lido as obras de Sêneca
poderá reconhecer um fundo comum de declarações e
PAULO, SÉRGIO idéias que Paulo e Sêneca defendiam igualmente. Mas
Ver sobre Sérgio Paulo. isso não é surpreendente, porque ambos tinham uma
formação no estoicismo romano. Uma observação
desse fenômeno aparentemente serviu de inspiração a
PAULO DE SAMOSATA essas pseudocartas, que, alegadamente, representam
Não se conhecem suas datas com precisão, mas uma correspondência mantida entre esses dois
sabe-se que ele fo: bispo de Antioquia de 260 a 272 homens. Porém, aqueles que lêem somente o Novo
D.C. Ele foi o mais famoso expositor e dinâmico Testamento, não tomam consciência dessas fontes
representante do monarquianismo (vide), uma doutri informativas. Não nos deveríamos esquecer que Paulo
na surgida nos séculos II e III D.C., que salientava a nasceu em Tarso, um dos centros da erudição estóica,
unidade (monarquia) da natureza divina, em contras que Paulo recebeu ali uma notável educação,
te com distinções pessoais, segundo se vê na doutrina levando-o, naturalmente, a familiarizar-se com a
da trindade. O artigo acima referido apresenta várias literatura não-bíblica.
versões da idéia. 2. Natureza Geral
Paulo de Samosata pensava que o poder do Logos A coletânea consiste em catorze cartas. Sêneca
inspirara o homem Jesus, o qual teria nascido de uma (vide) foi um filósofo estóico romano, e foi o tutor de
virgem. Em face das operações do Logos, Jesus foi Nero. Portanto, na realidade, era contemporâneo de
unido moralmente ao Pai, embora não tendo havido Paulo. Jerônimo informa-nos que Sêneca faleceu
uma unidade de natureza. E Jesus teria sido exaltado somente dois anos antes do glorioso martírio de Pedro
à posição de ser divino, mediante a ressurreição e Paulo. Os dois poderiam ter-se conhecido em Roma,
dentre os mortos, por causa da obra que realizou e da embora não disponhamos de indicações históricas
pessoa que era. válidas quanto a isso. Alguns estudiosos têm chegado
Os eruditos não concordam acerca da interpretação a imaginar que Sêneca foi parcialmente responsável
de Paulo de Samosata sobre o Logos. Certamente ele pela declaração de inocência de Paulo, em seu
não vinculava essa idéia à idéia trinitariana. De primeiro julgamento; mas isso não passa de
acordo com a doutrina de Paulo de Samosata, Deus especulação romântica. Provavelmente, o propósito
existiria único e solitário, pelo que o termo Logos por detrás da compilação dessas cartas tenha sido
pode ter sido usado por ele somente como uma duplo. Em primeiro lugar, a reputação de Sêneca foi
maneira poética de aludir às manifestações e à usada em apoio ao cristianismo, como uma espécie de
influência de Deus. Ou, então, ele pode ter crido que aprovação romana à fé cristã; e, em segundo lugar,
o Logos a princípio existiu imanente no único Deus, uma espécie de universalidade é emprestada a Paulo.
para então receber uma existência quase hipostática, Presumivelmente, Sêneca admirava as epístolas
no decurso dos atos criadores de Deus. Essa hipôstase paulinas aos Gálatas e outras, que são mencionadas
(vide), entretanto, não envolveu alguma pessoa na obra. E Sêneca também lamenta que o
separada, segundo se vê na doutrina da Trindade. cristianismo estivesse sendo perseguido por Roma.
Certos trechos dos escritos de Paulo de Samosata Presumivelmente, por igual modo, o próprio impera
parecem conferir ao Espírito Santo uma existência dor teria manifestado admiração pelas idéias de
separada. No entanto, parece que ele era essencial Paulo, indagando como um homem que não recebera
mente um unitário. Assim, parece melhor interpretar a educação usual poderia ter escrito tais obras.
que as hipóstases concebidas por ele (o Logos e o Naturalmente, esse informe dado no livro é incorre
Espírito) seriam apenas modos funcionais do único to—Paulo havia recebido a educação usual, que havia
Deus, e não, em qualquer sentido, substâncias ou no mundo romano, além da educação recebida em
pessoas distintas. Jerusalém.
Trindade Econômica: Esse é o termo empregado 3. Nos Escritos dos Pais da Igreja; Data
pelos teólogos para referirem-se a um tipo de doutrina Jerônimo conhecia doze dessas catorze cartas, e ao
trinitariana em que o Deus único manifesta-se de que parece aceitava-as como genuínas. E ele também
diferentes modos, como Filho (o Logos) ou como chamou Sêneca de «escritor cristão», por causa dessas
Espírito. Mas essas manifestações, de acordo coni cartas (Vir. III. III. 12). Agostinho também conhecia
esse ponto de vista, devem ser entendidas como essas cartas, mas nada escreveu de especial acerca das
atividades de Deus, e não como pessoas divinas mesmas. Duas delas foram acrescentadas à coletâ
separadas, que compartilham da mesma essência nea, provavelmente de data posterior, com grande
divina. Na divina economia das coisas, ou seja, na diferença de estilo. Provavelmente, as primeiras delas
maneira como ele se relaciona com os homens, Deus pertençam ao século IV D.C. Manuscritos atualmente
manifesta-se de diferentes maneiras, embora não seja existentes foram copiados no século IX D.C. Lino, em
um Deus em três Pessoas. Ver o artigo intitulado sua obra Paixão de Paulo, faz menção a essas cartas.
Trindade Econômica. Alguns vêem em Paulo de São interessantes, mas sem nada de extraordinário; e
Samosata um ponto de vista binitariano. Ver sobre o também não podem ser consideradas históricas,
Binitarianismo. Seja como for, sem importar qual infelizmente. (HEN JAM Z)
tenha sido a cristologia de Paulo de Samosata,
suas idéias foram condenadas no terceiro dos três
sínodos efetuados em Antioquia, entre 264 e 269 PAULO E TECLA, ATOS DE
D.C., e ele foi excluído. Mas Paulo de Samosata Ver sobre Paulo, Atos de.
139
PAULUS. SERGIUS - PAZ
PAULUS, SERGIUS também é referida como que coberta pela glória do
Ver sobre Sérgio, Paolo. Senhor.
PELONITA PENALOGIA
Essa designação foi aplicada a Helez e a Aias, que Esse termo português vem do latim poen*, «pena»,
189
PENALOGIA - PENAS ECLESIÁSTICAS
e do grego logla, «estudo», ou seja, a ciência que trata O propósito da Igreja cristã não deve tentar
dos castigos, da prevenção do crime e o gerenciamen aniquilar a vontade do indivíduo e moldá-la à vontade
to de prisões e reformatórios. Vários artigos desta da maioria. Ê preciso manter certa latitude de idéias e
enciclopédia tratam dessa questão. Ver Punição práticas. Mas, quando o erro genuíno penetra, então
Capital; Punição Corporal; Reforma das Prisões; é mister, para a saúde do corpo místico inteiro, que a
Punição e Retribuição. disciplina seja devidamente aplicada.
Problemas Relacionados a essa Ciência: A Igreja precisa reconhecer a dependência mútua
1. A severidade e a duração dos castigos. entre seus membros, bem como a sua individualidade.
2. Sistemas educacionais que ajudem a reabilitar os A própria liberdade também precisa reconhecer esse
prisioneiros, e não somente que os castiguem. princípio.
3. Instrução religiosa com esse mesmo propósito. Nas igrejas ou denominações cristãs menos
4. Cooperação de várias ciências, com esse mesmo formalizadas, a base das penas aplicadas são as
propósito. Escrituras que tratam da disciplina, como Mat.
5. A questão do aprisionamento e do banimento. 18:15-18; I Cor. 5:5; II Cor. 2:6; I Tim. 1:20. Mas as
igrejas ou denominações mais formais, como na Igreja
6. A relação entre a insanidade e os hospitais para Católica Romana, têm desenvolvido um sistema de
alienados mentais. leis canônicas. Ver sobre o Cânon, sétimo ponto,
7. As alternativas das prisões domiciliares e da quanto a uma descrição a esse respeito. Entretanto,
liberdade condicional. várias dessas medidas são desnecessárias no caso de
8. A alternativa do trabalho forçado, ou dos igrejas com pouca ou nenhuma hierarquia. Os
serviços públicos, em lugar do aprisionamento. tribunais eclesiásticos (que vide) tornaram-se parte
9. A alternativa das multas para substituir ao das sanções eclesiásticas. Houve tempo em que os
aprisionamento. tribunais eclesiásticos não tinham maior autoridade
10. A alternativa da restituição às vítimas dos do que qualquer tribunal secular; e tinham o poder de
crimes, para substituir ao aprisionamento ou suple impor punição a indivíduos que tivessem praticado
mentá-lo. crimes civis, e não apenas de natureza religiosa. De
fato, em certos estágios da história eclesiástica, a
distinção entre esses dois tipos de tribunal pratica
PENAS ECLESIÁSTICAS mente se perdeu, da mesma maneira que sucedeu no
Ver o artigo sobre Disciplin«. Os seres humanos, àntigo povo de Israel, onde não havia, virtualmente,
imperfeitos como são, requerem a orientação e as separação entre a Igreja e o Estado.
pressões que lhes são impostas pelas penas baixadas II. Infrações
contra os erros que praticam, mesmo quando o A maioria das infrações cometidas na Igreja
contexto dentro do qual cometem esses erros é a produz apenas cenhos franzidos e comentários
Igreja. As várias divisões do cristianismo aplicam adversos. Algumas vezes, os sermões incluem
variegadas formas de disciplina. Os grupos evangéli alfinetadas que visam m em bros específicos, que não
cos tem a tendência de permanecer mais perto das estejam andando de acordo com os princípios e ideais
declarações bíblicas, no tocante ao que fazer com o do Novo Testamento. Usualmente a disciplina é
indivíduo que erra, ao passo que a Igreja Católica evitada, mediante um recado dado por algum oficial
Romana tem desenvolvido um sistema disciplinar eclesiástico.
mais elaborado. Em certas ocasiões, porém, infrações sérias e
Esboço: mesmo crimes, são cometidos por membros de
I. Princípios Envolvidos igrejas. No caso de igrejas menos formais, isso
II. Infrações torna-se uma questão para ser tratada nos tribunais
civis. Esses são os delicta fori mixti, os quais, na
III. Algumas Penas
Igreja ocidental, são punidos tanto pelas autoridades
IV. Maneiras de Aplicar civis quanto pelas autoridades eclesiásticas. Essas
I. Princípio« Envolvido« infrações incluem o suicídio, o aborto, o duelo e
A fé cristã requer que o indivíduo goze de grande outras coisas que são castigadas pelas leis civis, como
liberdade de ação, a fim de poder manter a sua os furtos, os assaltos, os seqüestros, etc. O membro de
autonomia, porquanto uma única alma humana tem uma igreja que se torne assassino, sob hipótese
mais valor que a criação física inteira (Mar. 8:36). alguma pode ser considerado um membro de boa
Paulo reconhecia o princípio da liberdade cristã posição, e terá de enfrentar a lei civil, sem importar
quanto àquelas questões que não são eticamente quais outras medidas a sua igreja venha a tomar.
críticas, embora fossem precisamente isso para As infrações não-eclesiásticas, no mundo atual, não
algumas pessoas. Ver o décimo quarto capítulo de são tratadas conforme costumavam ser durante a
Romanos. O Novo Testamento pode ser usado para Idade Média, por tribunais que tinham todo o poder
mostrar quais coisas estão franqueadas à liberdade civi! e eclesiástico. E nem impõem as igrejas penas
cristã, e quais coisas realmente contradizem os que pertencem, com maior propriedade, às autori
princípios morais. Naturalmente, há ramos do dades civis. Os hereges não continuam sendo banidos
cristianismo que não concordam quanto à interpreta ou executados, mas podem ser separados da
ção dessas instruções, em sua íntegra, ainda que, em comunhão da igreja local. A hierarquia maior da
sentido geral, as diretrizes lhes pareçam claras. Igreja Católica Romana apresenta a possibilidade de
Nem sempre, porém, pode um ato ser explicado haver certos crimes eclesiásticos como a profanação
pelo uso ou pelo abuso da liberdade. Há tal coisa das santas espécies (o pão e o vinho da eucaristia), a
como o pecado. Quando o erro real penetra, a atitude violência contra a pessoa do papa ou de outras figuras
da Igreja deveria caracterizar-se pela razão, pela eclesiásticas, a violação do selo da confissão
gentileza e pela consideração, na atitude de quem sacramental, a apostasia, a heresia, o impedimento
procura restaurar àquele que errou, como alvo mais das funções das autoridades eclesiásticas, a aderência
importante do que a punição. De fato, a própria à maçonaria, a participação nas atividades de seitas
punição deveria ser um meio de restauração, e não de não-católicas, a violação do enclausuramento das
mera retribuição. freiras, a manufatura de relíquias falsas, etc.
190
PENAS ECLESIÁSTICAS - PENDÃO
Em algumas igrejas, o número das coisas dessa outros oficiais da igreja, como os diáconos e anciãos, a
natureza é grandemente multiplicado, cobrindo todas fim de pressionar o membro ofensor; uma assem
as áreas da vida como a participação em atividades bléia geral da igreja é convocada e as questões são
mundanas, vestes indecentes, certos penteados, a falta discutidas; penas são impostas ao membro infrator.
de freqüência à igreja, etc. Porém, para alguns grupos As penas mais sérias são a exclusão, talvez com a
evangélicos há poucas coisas tão drásticas como o suspensão da mesma se houver evidência de
desvio de idéias, mesmo quando isso não possa ser arrependimento. Nos casos severos, que tratam de
classificado como heresia franca. Casar-se fora do crimes morais graves, a pessoa pode ser entregue a
próprio grupo é considerado um problema sério em Satanás, para destruição do corpo (I Cor. 5:5). Só
quase todos os grupos cristãos, mesmo quando tal tenho visto um único caso dessa natureza; mas
matrimônio se dá com membros de alguma outra suponho que muitos têm tentado impor essa pena sem
denominação cristã. sucesso. Pois Deus nunca fará qualquer coisa dessa
m . Alguma« Penas natureza, somente porque algumas pessoas pensam
Nos grupos cristãos menos formais, às vezes, um que assim deve ser feito, e cujos motivos não são
membro aborrece o outro, não por meio de algum ato perfeitamente justos.
formal, mas como se fosse uma censura. A palavra de Na Igreja ocidental, as maneiras de proceder são
conselho do pastor ou de outro oficial eclesiástico é muito complexas, sendo governadas por leis específi
uma penalidade suave comum. Se alguma infração cas. As ferendae sententiae são penas impostas por
for mais séria, talvez a igreja sinta ser mister aplica)* a sentenças judiciais. Atualmente, são raramentç
pressão exercida por dois ou três outros membros, na impostas a membros leigos da Igreja Católicà'
companhia de quem o pastor visita o membro Romana. Usualmente, essas penas envolvem um
ofensor. Nos casos radicais, quando é sentido que o julgamento na presença de um juiz. As latae
melhor é remover o membro faltoso do rol de sententiae envolvem casos onde leis específicas estão
membros da igreja, a questão é considerada por toda envolvidas e as penas são impostas sem a necessidade
a congregação, ou então pelo presbitério (dependendo de qualquer julgamento, por já serem penas previstas
do tipo de governo eclesiástico existente). Essas na legislação. A exclusão pode ser uma das penas
questões são abordadas no artigo sobre a Disciplina, impostas. Das pessoas espera-se que saibam o
com textos de prova apropriados. bastante acerca das leis e das penas de suas igrejas,
A Igreja ocidental fala em termos de duas classes para que tenham consciência do que lhes poderá
gerais de penas: a primeira dessas categorias suceder, se cometerem certos erros. As ferendae
compõe-se das censuras, também chamadas penas sententiae (impostas principalmente contra membros
medicinais. Em segundo lugar, há as penas ofensores do clero) envolvem julgamentos com
vindicativas, cuja finalidade é infligir castigo. A advogados de defesa e modos de proceder muito
primeira dessas categorias tem a esperança de parecidos com os dos tribunais seculares. Nesses
produzir a reforma; a segunda categoria aplica à casos, o juiz tem o poder de escolher entre penas
pessoa o que ela merece por suas más ações. Além alternativas possíveis, repreendendo no caso de uma
disso, há as penitências (que vide), que visam à primeira ofensa, ou suspendendo uma sentença já
satisfação ou reparação. As penas vindicativas, baixada. A audição perante um bispo pode substituir
naturalmente, também podem ter um aspecto medici esse método, embora essa substituição não seja
nal. A própria exclusão é tanto vindicativa quanto permitida no caso de ofensas mais sérias.
medicinal. A privação de sepultamento cristão, como A disciplina e as penas têm por intuito reformar e
nos casos de suicídio, é uma espécie de medida não apenas injuriar. Mas, algumas vezes, o indivíduo
vindicativa pós-morte. Os ministros que erram estão precisa pagar pelo que fez. Certo autor cuja obra
sujeitos às suas próprias penas como a deposição do impressa tenho à minha frente neste momento,
cargo, a privação de direitos de ofício, a perda das lamenta-se como segue: «Os fiéis têm ficado mais
vestes eclesiásticas e a suspensão, digamos, do direito mornos, mais passivos e menos ativamente irreveren
de celebrar missas ou ouvir confissões, no caso de tes do que antes—um sinal dos tempos. Mas as
padres católicos romanos. A exclusão, visto que regras, conforme elas são, testificam sobre a
envolve muitos níveis de infração, é uma medida solicitude da Igreja em favor daqueles que lhe foram
extremamente complexa na Igreja Católica Romana. confiados». (R)
Os excomungados são classificados de acordo com
três classes diversas: 1. Os tolerati. Esses são aqueles
que praticaram erros particulares. Esses não podem PENDÃO
participar dos ofícios divinos, mas não são excluídos Duas palavras hebraicas são assim traduzidas em
das reuniões da igreja. 2. Os notorii. Esses são aqueles português:
cujos erros são notórios, que vieram a tornar-se 1. Degel, «bandeira», «estandarte». No deserto,
públicos. Os culpados são excluídos dos ofícios cada tribo de Israel tinha seu estandarte identificador
divinos, embora não necessariamente dos cultos da (ver Núm. 1:52; 2:2,3). O trecho de Sal. 20:5 usa essa
igreja. Se não se declararem arrependidos, poderão palavra para referir-se aos estandartes usados pelos
sofrer a pena de não terem sepultamentos cristãos. 3. exércitos que iam à batalha, com inscrições
Os vitandi, ou seja, aqueles que devem ser evitados. apropriadas, em consonância com seus propósitos e
Esses são excluídos dos ofícios divinos, bem como de esperanças. Em Can. 6:4,10 temos um uso figurado
qualquer participação em funções eclesiásticas, do termo, referindo-se à aparência distinta da pessoa
embora não dos contactos sociais necessários. Esse amada.
tipo de exclusão só pode ser declarado pela Santa Sé, 2. Nes, «bandeira», «insígnia». Era em tomo dessa
e atualmente somente os casos mais graves são assim insígnia que os soldados reuniam-se. Em Isa. 11:12,
tratados. lemos que o Messias levantaria sua bandeira, como
IV. Maneiras de Aplicar sinal de seu poder e de seus propósitos. Talvez esteja
Nas igrejas menos formais, o modo de proceder é implícita aí a assertiva Yahweh nissi, ou seja, «o
simples: uma pessoa fala com outra e exprime seu Senhor é a minha Bandeira». Ver Èxo. 17:15 em
desprazer; o pastor aconselha o ofensor, algumas conexão com essa possibilidade.
vezes na presença da pessoa ofendida; o pastor leva Essas bandeiras ou pendões eram erigidos em
191
PENDENTE - PENHOR
mastros, altos de colinas ou outros lugares elevados, PENDENTES DE NARIZ
convocando tribos ou exércitos. Ver Núm. 2:2; 21:8
ss', Sal. 60:4; Isa. 11:10; 13:2; Jer. 4:21. Os Por incrível que possa parecer, a vaidade feminina
arqueólogos encontraram uma significativa insígnia levava as mulheres, na'antiguidade, a perfurarem a
dessas quando, nos túmulos reais da Suméria, em Ur aba do nariz para ali enfiarem um pendente
(de cerca de 2900 A.C.), encontraram um pendão (conforme tantas mulheres hoje em dia furam as
cravejado com conchas e lápis-lazúli. orelhas para usar brincos). Esses pendentes, munidos
de uma argola, eram feitos de metais preciosos,
Os pendões eram símbolos de identificação, como o ouro e a prata, nos quais se engastavam contas
autoridade, propósito—e tornavam-se objetos de ou corais. Geralmente, esses pendentes de nariz eram
ufania e patriotismo. usados no lado direito do apêndice nasal. Esse
costume continua até hoje entre as mulheres
beduínas, e na Índia. Rebeca usava um desses
PENDENTE pendentes de nariz, erroneamente referido em
No hebraico, devemos dar atenção a três palavras algumas traduções como um brinco de orelha. Ver
diferentes: Gen. 24:22,30. O trecho de Isa. 3:21 mostra-nos que
1. Nezem, «argola para o nariz ou para a orelha». as mulheres, nos dias do profeta Isaías, usavam
Ela é usada por quinze vezes no Antigo Testamento: pendentes do nariz. Entre os presentes que Deus dará
Gên. 24:22,30,47; 35:4; Êxo. 32:2,3; 35:22; Juí. simbolicamente a Jerusalém, temos o pendente do
8:24-26; Jó 42:11; Pro. 11:22; 25:12; Osé. 2:13; nariz, em Eze. 16:12. Ver o artigo geral sobre Jóias*
Isa. 3:21; Eze. 16:12.
2. Lachash, «amuleto». Essa palavra ocorre por
apenas duas vezes de modo a poder ser traduzida por PENEIRA
pendente: Isa. 3:20 e Ecl. 10:11. No hebraico, há duas palavras envolvidas, a saber:
3. Agil, «argola». Também é palavra que só figura 1. Kebarah, que aparece somente em Amós 9:9.
por duas vezes: Núm. 31:50; Eze. 16:12. Dá idéia de 2. Naphah, que figura também somente por uma
um adorno em forma circular. vez, em Isa. 30:28.
Especialmente no caso da primeira dessas palavras Um utensílio usado pelos povos orientais para
temos a idéia de algo «pendurado». Por isso mesmo os peneirar grãos de cereal. Esse utensílio era feito de
pendentes têm um formato que faz lembrar uma talas ou de fios. Nos textos referidos, o instrumento
gota que cai. O trecho de Juí. 8:24-26 pode indicar aparece em sentido metafórico, referindo-se ao dia em
pendentes para pôr no nariz ou nas orelhas. Mas que Deus julgará as ilações gentílicas e a nação de
também havia pendentes para serem postos sobre a Israel.
testa. Ver os artigos Anéis e Jóias e Pedras Preciosas.
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Atos Laudiano, Século VI, Latim e Grego, Atos 9:25-27, — Cortesia, Bodleian
Library
PENTECOSTE - PEOR
nos diz Deut. 16:16; eera, essencialmente, um dia em Santo é o agente de toda essa operação divina, por ser
que o povo rendia graças a Deus pelo abundante ele a emanação da presença de Deus em nós, o «alter
suprimento da colheita. Porém, essa festa também ego» de Cristo, cujo desígnio é o de terminar a obra da
estava vinculada à memória do livramento de Israel redenção, que teve começo no ministério terreno de
da escravidão egípcia (ver Deut. 16:12) e do fato de Jesus Cristo.
que os israelitas eram um povo que firmara pacto com 3. Posto que esse acontecimento corresponde ao dia
Deus (ver Lev. 23:22). O fato da aceitação das ofertas em que a lei mosaica foi outorgada; no monte Sinai, o
pressupunha a remoção do pecado e a reconciliação Pentecoste do cristianismo pode ser historicamente
com Deus; e por isso é que sacrifícios eram oferecidos encarado como o começo daquela nova lei que é
em conjunção com as demais atividades próprias da implantada nos corações dos homens, o que os
festa. capacita a observarem-na, pois o poder para que o
crente observe a lei da liberdade é conferido
Dentre todas as festividades religiosas do calendá juntamente com essa própria lei (ver II Cor. 3:3 e
rio judaico, essa era a mais intensamente freqüenta Rom. 8:1-4).
da, porquanto as condições atmosféricas prevalentes
favoreciam as viagens, tanto por mar como por terra. 4. O princípio da nova vida, no Espírito Santo,
Por outro lado, os perigos durante as viagens, devido assinala o término da escravidão ao esquema deste
às más condições do tempo, no princípio da mundo, tal como o Sinai assinalou o começo de uma
primavera e no fim do outono, impediam muitas nova vida para a nação de Israel, em que ela foi
pessoas de virem à capital, Jerusalém, durante as liberta da escravidão ao Egito.
festas da páscoa e dos tabernáculos. Portanto, por 5. O Pentecoste também marca um dia de ação de
ocasião da festa de Pentecoste, chegavam a Jerusalém graças e de comemoração, porque a obra do Espírito
representantes judeus e gentios vindos tanto da Judéia Santo, naquele dia, foi um daqueles «tempos» ou
como de muitas outras nações, mais do que em «épocas» que o Pai reservou para sua exclusiva
qualquer outro período do ano. autoridade e através do que, uma vez completado, a
II. O Pentecoste Cristio criação inteira haverá de encontrar o seu centro na
Atos 2:1: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, pessoa de Cristo e será finalmente estabelecida uma
estavam todos reunidos no mesmo lugar. ordem social completa e universal que será a grande
característica dos séculos eternos. (Ver também o
As palavras ao cumprir-se o dia formam uma trecho de Efé. 1:10 sobre a questão).
expressão utilizada exclusivamente por Lucas (ver 6. O dia de Pentecoste trouxe uma experiência
também Luc. 9:51). Literalmente traduzidas tería unificadora, unindo judeus e gentios, perfazendo uma
mos, estava sendo cumprido. Trata-se de um modo de só igreja (I Cor. 12:13) e conferindo unidade espiritual
expressão hebraico, que encara a sucessão de dias que (Efé. 4:1 e ss), o que envolve muitos aspectos. (Ver
levava ao dia de Pentecoste (partindo da páscoa), também Atos 1:14). Os crentes estão unidos em fato e
como uma quantidade ou medida que deveria ser em ato.
preenchida. Assim sendo, enquanto não chegasse o 7. A maioria dos intérpretes acredita que o
dia de Pentecoste, tal medida não ficaria preenchida. Pentecoste assinalou o começo da igreja cristã. A
Porém, chegada aquela data, tal medida ficava presença do Espírito é a característica distintiva da
repleta; e isso meramente significa que o dia em igreja, a qual dificilmente poderia ter vindo à
questão havia chegado. existência sem essa característica.
No mesmo lugar. Provavelmente está em foco aqui «...e embora houvesse tantos deles, reunidos,
o «cenáculo», onde o Senhor Jesus proferia a sua mostraram-se muito unânimes e pacíficos; não houve
preciosa promessa concernente à vinda do Espírito conflitos e nem contendas entre eles; todos se
Santo, e onde os apóstolos posteriormente se mantinham no mesmo parecer mental e no mesmo
reuniram, em outras ocasiões memoráveis, conforme juízo, impelidos pela fé e pela prática comuns,
nos indica o trecho de Atos 1:13. (Ver o artigo sobre gozando de um só coração e alma, cordialmente
Sala Superior). ligados por afeto uns aos outros; e todos se
encontravam no mesmo lugar...» (John Gill, em Atos
O Pentecoste cristão trata se da comemoração da 2 : 1).
descida do Espírito Santo sobre a igreja, em «Desejamos que o Espírito se derrame do alto sobre
cumprimento à promessa de Cristo a respeito. nós? Então estejamos todos de comum acordo, sem
Podemos observar os seguintes elementos, em importar a imensa variedade de nossos sentimentos e
resultado do que sucedeu naquele dia que se tornou interesses, como, sem dúvida, sucedia também entre
distintamente cristão, em confronto com o Pentecoste aqueles primeiros discípulos, concordemos em amar-
conforme era comemorado pelos judeus: nos uns aos outros; porque onde habitam os irmãos
1. A igreja nasceu como primícias ou primeiros juntamente, em unidade, ali o Senhor ordena a sua
frutos da humanidade, para Cristo. Deu-se assim bênção» (Matthew Henry, em Atos 2:1).
inicio ao grande recolhimento de pessoas de todas as Todos. Certamente estão aqui em vista mais do que
nações, no seio da igreja, que assinala o começo da meramente os «doze», e talvez estejam incluídos os
transformação dos remidos segundo a imagem moral cento e vinte referidos no décimo quinto versículo do
e metafísica de Cristo (ver Rom. 8:29 sobre essa primeiro capítulo de Atos.
questão). Temos ali a colheita espiritual dos homens
para dentro do reino dos céus (ver I Cor. 12:13).
Naturalmente, isso assinalou o princípio de uma
grande e nova dispensação — a era da graça — PEOR
durante a qual Deus trata dos homens de maneira No hebraico, «abertura», «fenda». No Antigo
mais perfeita e íntima, a fim de produzir a redenção Testamento, esse é o nome de um monte e de uma
dos mesmos. divindade, a saber:
2. Para o crente individual, a descida do Espírito 1. Peor figura como uma montanha de Moabe, o
Santo foi e é a garantia e o selo de sua lugar para onde Balaque conduziu o profeta falso,
completa regeneração, glorificação e participação na Balaào, a fim de que ele amaldiçoasse ao povo de
natureza divina (ver II Ped. 1:4), porquanto o Espírito Israel (ver Núm. 23:28). Ali, lê-se que esse monte
203
PEOR - PERCEPÇÃO
«olha para a banda do deserto», o deserto que havia 1. Metáforas-Raízes. Ele acreditava que os sistemas
em ambas as margens do mar Morto. Foi perto do filosóficos desenvolveram-se a partir de quatro
pico da parte norte das montanhas de Abarim, perto metáforas-raízes' básicas: o formismo (como em
da cidade de Bete-Peor, que Israel acampou nas Aristóteles, onde*a forma é a questão básica); o
planícies de Moabe, segundo se lê em Deu. 3:29 e mecanismo (como em Hobbes e no materialismo,
4:46. Ficava isso na região de Nebo, embora não se onde o conceito de máquina é básico); o organicismo
tenha podido ainda fazer uma identificação segura. (como em Whitehead, onde o organismo é o conceito
2. Peor também era o nome de uma das divindades organizador); o contextualismo (isto é, o pragmatismo)
moabitas, o deus da imundícia (ver Núm. 25:18; onde a referência aos contextos gerais é importante).
31:16 e Jos. 22:17). A primeira dessas passagens conta O próprio Pepper favorecia a última dessas quatro
como Israel sofreu a pena por haver adorado a esse metáforas.
deus, porque muitos homens israelitas casaram-se 2. No campo da ética e da estética ele acreditava
com mulheres moabitas. O juízo divino seguiv-se a que outros conceitos fundamentais são importantes
isso. Balaão armara o palco para os israelitas no desenvolvimento dos sistemas, como o hedonismo,
ènvolverem-se com essa falsa divindade (ver Núm. o pragmatismo, o relativismo cultural e a evolução,
31:36), — mediante casamentos com mulheres cada qual correto em seus próprios contextos
moabitas, o que provocou uma queda na espirituali limitados. — Cada um tem uma noção útil, como
dade do povo de Israel. E a última dessas três perspectiva. Dai, desenvolveu-se o conceito do
passagens alude à questão, mostrando que as duas perspectivismo, que significa que cada ângulo pelo
tribos e meia envolveram-se em atos semelhantes. A qual se vê uma questão usualmente tem alguma
cidade de Baal-Peor era um santuário especial da validade e acrescenta algo ao nosso conhecimento
adoração a essa divindade pagã (Núm. 25:3; Deu. sobre aquela questão. Ver o artigo com esse título.
4:3; Jos. 13:20; Sal. 106:28). O castigo infligido em Entretanto, Pepper não foi o criador desse conceito,
face da corrupção provocada por essa idolatria embora o tivesse achado útil para o seu próprio
tornou-se uma espécie de advertência proverbial em sistema.
tempos posteriores (ver Núm. 31:16; Deu. 4:3; Jos. Escritos. Aesthetic Quality; World Hypotheses;
22:17). Ver o artigo geral sobre os Deuses Falsos. The Basis o f Criticism in the Arts; The Work o f Art;
Além disso, na Septuaginta, no trecho de Jos. The Source o f Value.
15:59, aparece Peor como uma cidade do território de
Judá. Mas isso não aparece em nossa versão
portuguesa. Todavia, essa cidade tem sido identifica PERCEPÇÃO
da com a moderna Khirbet Faghur, a sudoeste de Esboço:
Belém.
I. Contrastada com Outros Modos de Tomar
Conhecimento
II. Idéias de Vários Filósofos Sobre a Percepção
PEPINO III. A Percepção e sua Relação com Outros Fatores;
No hebraico, gUhshuim. Essa palavra aparece a Mediação da Mente; a Memória; a Gestalt; a
somente em Núm. 11:5. Mas os estudiosos vacilam Imaginação; a Ilusão; as Alucinações; os
entre os sentidos de melancia, cabaça e pepino. Nossa Equívocos
versão portuguesa prefere «pepino». Há um outro IV. A Percepção e a Mente
vocábulo hebraico, miqshah, que também é usado
apenas por uma vez, em Isa. 1:8, que tem sido I. Contrastada com Outro* Modos de Tomar
traduzido por «pepinal», conforme se vê em nossa Conhecimento
versão portuguesa. Mas é possível que esteja em foco a É um exagero pensar que só conhecemos as coisas
melancia. através da percepção de nossos sentidos. Também
O pepino era conhecido em Israel, sendo usado na precisamos levar em conta a razão (ver sobre o
Racionalismo), a intuição (vide) e o misticismo (vide).
confecção de saladas, conforme sucede até hoje. Foi
um dos itens alimentares que os israelitas lembravam Cada sistema tem o seu devido valor, e precisamos de
todos eles para contarmos com uma abordagem
com saudades, enquanto vagueavam pelo deserto global ao conhecimento.' Platão punha a percepção
(Núm. 11:5). Porém, os eruditos disputam quanto à dos sentidos no nível mais inferior da pilha dos modos
identidade da planta. A cabana construída em um de conhecimento, chegando a supor que a tendência
pepinal (Isa. 1:8), era um abrigo tosco, feito de varas da percepção dos sentidos é distorcer o conhecimento,
e palmas, com o propósito de proteger o vigia do sol e em vez de representá-lo fielmente. Sua hierarquia de
dos animais ferozes, enquanto ele trabalhava na terra utilidade punha a contemplação da Idéia (uma forma
e cuidava dos frutos que amadureciam. Quando a de misticismo) no topo dessa pilha.
colheita terminava, a cabana era esquecida, pois já
havia servido à sua finalidade. Portanto, tal cabana II. Idéias de Vários Filósofos Sobre a Percepção
tornou-se um símbolo de total desolação, porque 1. Empédocles pensava que temos percepções
acabava caindo em ruínas. Melões e pepinos devido à existência, em nós, de algyma coisa que
medravam bem no Egito, em vista da irrigação pelas corresponde a coisas similares em nosso ambiente. A
águas do rio Nilo. Foi no Egito que Israel conheceu percepção, pois, seria uma espécie de interação de
pela primeira vez a planta. O Cucumis sativus era o similaridades.
mesmo legume que conhecemos hoje em dia. Algumas 2. Anaxágoras afirmava o ponto de vista oposto,
vezes, os pobres só conseguiam alimentar-se com pão supondo que a percepção se torna possível por algo
e pepinos. em nós que contrasta as qualidades das coisas ao
nosso derredor.
3. Leucipo e Demócrito (além de outros atomistas)
PEPPER, STEPHEN C. criam que imagens (ou partículas) de coisas
Suas datas foram 1891-1972. Foi um filósofo percebidas estão bombardeando constantemente
norte-americano, educado em Harvard. Ensinou na nossos aparelhos dos sentidos, e que sentimos esses
Universidade da Califórnia, nos Estados Uuidos da objetos através de imagens invasoras.
América. 4. Platão defendia um baixo conceito da percepção
PERCEPÇÃO
dos sentidos, acreditando que ela só nos pode conferir ingênuo ensina que as percepções são validades,
conhecimentos quanto a este mundo dos particulares mostrando a realidade, conferindo-nos um autêntico
(o mundo físico), o qual é apenas uma imitação do conhecimeríto. As coisas seriam exatamente aquilo
real mundo das Idéias. Outrossim, mesmo nesse caso, que parecem ser. Mas o novo realismo argumenta em
as percepções tendem por distorcer os eventos que favor da realidade dos objetos que percebemos, em
notamos no mundo físico. Acima da percepção dos contraste com o conteúdo de minha percepção, e
sentidos ele punha a razão; acima da razão, a acredita que uma percepção bem disciplinada dos
intuição; e acima da intuição, a contemplação (o sentidos (com ajustamentos apropriados e confirma
misticismo). dos com instrumentos de precisão, etc.), seja capaz
5. Aristóteles não diminuía o valor da intuição de conferir-nos um verdadeiro conhecimento. O
(súbitos relâmpagos do entendimento); mas, como realismo crítico, por sua vez, crê na realidade do
cientista que era, frisava a percepção como o principal mundo físico, à parte das nossas idéias, e aferra-se à
modo de tomar conhecimento das coisas. Todavia, idéia de que as nossas percepções (auxiliadas por
também dava à mente um papel importante nesse instrumentos) são as fontes do conhecimento que
processo, supondo que a mesma tem qualidades que podemos ter sobre este mundo. Entretanto, esse
possibilitam extrair das inúmeras imagens que nossos sistema utiliza-se de uma abordagem cética, declaran
sentidos captam, a «forma» que essas imagens do que o conhecimento assim adquirido não é
representam. A abstração (uma capacidade da mente) perfeito, pode estar eivado de erros e ilusões, pelo que
deixa de lado os detalhes contingentes. A idéia de também o verdadeiro conhecimento será sempre
abstração de fantasmas tornou-se uma importante apenas um ideal, e nunca uma realização. Temos aqui
doutrina filosófica durante a Idade Média. uma consideração em tríade; há o objeto a ser
6. Hobbes apegou-se à teoria materialista, aceitan percebido; há os informes dos sentidos; e há o ato de
do a natureza mecanicista da percepção e do perceber, mediado através da mente. O resultado
conhecimento. Ele falava na percepção como matéria pode ser prático, mas não é uma verdadeira
em movimento. representação da verdade. É apenas uma conclusão
7. Descartes julgava que a percepção é um ato representativa.
intelectual. Sensação sem intelecto seria algo amorfo. 13. Os informes dos sentidos, ou seja, quaisquer
A mente precisa participar do nosso processo itens destacados pela percepção dos sentidos, são uma
cognitivo, sem o que não haveria percepção. expressão introduzida na filosofia por Moore (vide) e
8. John Locke fazia da mente uma tábula rasa, que foi empregada por Russell (vide) e por Broad
supondo que a percepção dos sentidos gradualmente a (vide). Essa expressão, «informes dos sentidos», indica
enche com sinais, que se tornam os elementos básicos que percebemos não as coisas propriamente ditas,
do nosso conhecimento. A organização desses sinais mas os informes produzidos por nossos sentidos. Esse
confere-nos um quadro ou um conceito. Então damos é o ponto de vista do realismo critico. Os informes dos
nomes a esses conceitos; e é desse processo que evolui sentidos acerca de um objeto qualquer podem ser algo
à linguagem. Nesse caso, a linguagem seria a base de bem diferente daquele objeto. A ciência está
toda a nossa intelecção. Mas, tudo teria começo na confirmando esse fato. Um objeto é composto de
percepção física, sem o que a mente seria reduzida a átomos em movimento, constituído, principalmente,
nada. A sua idéia é denominada teoria representativa de espaço vazio; mas os informes dos nossos sentidos
da percepção. A origem de todas as idéias poderia ser nada nos dizem acerca dessa realidade. Toda
retraçada até à experiência; a experiência basear-se-ia percepção dos sentidos está envolvida em uma ilusão
nas sensações e nas reflexões mentais. Daí é que mental (até que grau é difícil de dizer), sendo uma
procede toda a complexidade da nossa vida mental. ilusão óptica.
9. Leibnitz asseverava que a percepção é um Em sentido geral, aqueles que aceitam a relevância
processo contínuo no homem, continuando mesmo no e a máxima importância da percepção dos sentidos,
sono profundo, e provendo a continuidade mental do no tocante à obtenção de conhecimentos, são
homem. As pequenas percepções ocorrem continua chamados teoristas dos informes dos sentidos, ainda
mente no homem. Porém, ele também dizia que o que não defendam a idéia de que percebemos
homem é uma mônada, com toda percepção informes dados pelos sentidos, e não as coisas
adredemente embutida nele, correspondente às propriamente ditas. Nesse sentido mais geral, estão
imagens externas, embora sob hipótese alguma incluídos filósofos como John Locke.
causada por elas. Assim, de acordo com a sua 14. Alguns empiristas, como Ryle e Austin, têm
filosofia, na realidade a percepção é algo embutido na tachado a teoria dos informes dados pelos sentidos de
mente, e não algum estímulo que chega ao homem do compilação desnecessária, afirmando que recebemos
seu meio ambiente. Ver o artigo geral sobre o percepção das coisas propriamente ditas.
Problema Corpo-Mente, especialmente em sua quarta 15. Merleau-Ponty ofereceu uma análise fenomeno-
seção, Paralelismo (Harmonia Preestabelecida). lógica da percepção, afirmando que a mesma sempre
10. Kant definia a percepção como tomada de é acompanhada por várias relações, incluindo as
consciência acompanhada por sensações, misturando avaliações mentais, as formas relacionais, a subjetivi
fatores físicos com mentais. Esse era o assunto de sua dade, etc. Portanto, uma percepção não é meramente
estética transcendental. Ele fazia da percepção a base o ato mecânico de perceber. Antes, está em jogo uma
das proposições (alicerçando a percepção sobre a complexa combinação de elementos.
atividade dos cinco sentidos), mas desenvolveu um UI. A Percepção e sua Relação com Outrot
ponto de vista mais amplo, em sua obra Critica da Fatores; A Mediação da Mente; a Memória; a
Razão Prática, onde ele admitiu a necessidade da Gestalt; a Imaginação; a Dosão; as Alucinações;
razão, da intuição e das experiências místicas, para e os Eqoivocos
que pudesse arquitetar uma filosofia razoável.
1. A Mediação da Mente. A percepção nunca
11. Mill dizia que a matéria fornecer nos a ocorre isolada; sempre é acompanhada pela avalia
possibilidade permanente das sensações, abrindo ção. A mente é sempre ativa, acrescentando ou
espaço para o fenomenalismo (vide), onde o dualismo diminuindo algo. Uma avaliação é um ato mental. Se
entre as sensações e os objetos é eliminado. eu vir um leão na floresta, provavelmente sentirei
12. Estudo Sobre Formas de Realismo. O realismo temor, e um resultado físico poderá ser sudorese nas
205
PERCEPÇÃO EXTRASSENSORIAL
mãos. Mas, se eu vir o mesmo leão engaiolado em um pelos sentidos. E também temos alucinações em
zoológico, provavelmente não terei temor, e nem operação, inventando côisas que não fazem parte dos
minhas mãos ficarão úmidas de suor (resultado do crus informes obtidos pelos sentidos. É difícil precisar
medo). Poderei pensar que esses dois eventos terão qual percentagem daquilo que vemos ou ouvimos está
tido lugar (um com suor; outro sem suor) devido a sendo erroneamente interpretado ou é mera invenção
duas diferentes percepções. Porém, a verdade é qlie da mente.
houve duas avaliações distintas, ou seja, dois atos 6. Os Equívocos. Esses também corrompem a
mentais; e o ato mental é que causará a presença ou percepção dos sentidos. Temos aí algum erro de
ausência do suor nas mãos. Destarte, a percepção está julgamento e de fé, e não tanto um erro da percepção.
envolvida no Problema Corpo-Mente (vide), porquan Vemos algo, mas cremos estar vendo outra coisa.
to sempre envolve avaliações mentais, atos mentais. IV. A Percepção e a Mente
Não existe percepção que não seja acompanhada de O uso comum da palavra percepção indica uma
algum ato mental, que não envolva alguma mediação maneira breve de dizer percepção dos sentidos, os
da mente (vide). informes colhidos pelos nossos cinco sentidos físicos.
2. A Memória. Ver o artigo com esse titulo. A Na presente discussão, não podemos esquecer que a
memória sempre é um fator na percepção dos mente também percebe e avalia, e que a mente é algo
sentidos. Lembramo-nos de como alguma percepção distinto do cérebro (ver sobre o Problema Corpo-Men-
relaciona-se conosco, e isso nos ajuda em nossa te). De fato, os nossos cinco sentidos físicos são
avaliação da percepção obtida. A memória confere instrumentos da mente para que ela possa funcionar,
substância às nossas percepções, e muitas associações incluindo a manipulação do corpo. A mente é a
mentais vêem-se assim envolvidas. construtora; o corpo é o veículo; a mente é a
3. A Gesta.lt. Essa palavra germânica que significa inteligência primária; o cérebro é o instrumento da
«forma» indica um arranjo de distintos elementos das mente. A mente lança mão das percepções físicas;
experiências, das emoções, etc., que se apresentam mas a mente tem percepções próprias independentes
sob certa forma ou padrão, uma configuração tão das sugestões dadas pela percepção dos sentidos. Ver
integrada que parece funcionar como uma unidade, e os artigos gerais sobre Mente e Memória. Existe
não como mero sumário de suas porções constituintes. aquilo a que poderíamos chamar de memória
A psicologia Gestalt interpreta os processos biológicos extracerebral.
e psiquicos em termos de ação e interpenetração de Bibliografia. AM EP F MM P
padrões intimamente integrados, chamados Gestal-
ten; o efeito observado de um Gestalt, bem como o PERCEPÇÃO DOS SENTIDOS
mecanismo de sua ação, não podem ser adequada Ver o artigo geral sobre a Percepção.
mente explicados mediante uma simples análise de
suas partes constituintes. Isso posto, há uma espécie
de complexidade envolvida na percepção que põe em PERCEPÇÃO EXTRA-SENSORIAL
ação as várias capacidades do ser humano, que Ver o artigo detalhado sobre Parapsicologia.
ultrapassa à simples percepção dos sentidos, aos Essa expressão indica que há percepções que nos
informes crus obtidos pelos sentidos. outorgam conhecimentos que nio dependem da
4. A Imaginação. Uma pessoa pode acrescentar ou atividade de nossos cinco sentidos físicos. Em outras
subtrair de uma percepção, por meio de sua palavras, o homem é capaz de conhecer coisas de
imaginação. Por causa disso é que quando as pessoas modos não mediados pelos sentidos. Os racionalistas
recontam detalhes de algum acontecimento, são supõem que a razão é a faculdade humana superior,
destacadas coisas bem diferentes. A imaginação podendo proporcionar-nos verdades que o método
quase sempre faz parte da cena da percepção; mas a científico não é capaz de fazer. Ver sobre o
imaginação é inventiva. Racionalismo. Os intuicionistas pensam que podemos
5. A Ilusão e as Alucinações. Sabe-se atualmente obter conhecimento imediato sem a mediação da
que parte da alegada percepção consiste em ilusões e percepção dos sentidos. Ver sobre a Intuição. Os
alucinações. A mente elabora os informes crus dos místicos afirmam que há a revelação divina, que nos
sentidos, que nos são apresentados pela percepção. É pode dar a verdade como um dom divino; e que, na
muito difícil determinar o grau ou porcentagem de contemplação, podemos ver diretamente as essências
ilusões e alucinações em nossas percepções, mas esses e compreendê-las parcialmente, sem a percepção dos
são fatores constantes. A mente leva-nos a ter sentidos, sem a razão e sem a comum intuição. Ver
percepções enganadoras, exageradas, ou simplesmen sobre o Misticismo.
te equivocadas. «Nenhuma clara demarcação entre
ilusões e percepção toma-se possivel. Muita análise Os poderes psíquicos como a telepatia, a clarivi
experimental tem sido devotada ao estudo das ilusões dência, a psicocinesia, a retrocogniçào e. o conheci
ópticas... quando alguém está percebendo algo, o que mento anterior são chamados de poderes ou
esse alguém percebe depende notoriamente de seus percepções extra-sensoriais. Em outras palavras,,
próprios hábitos de reflexão e concentração, de suas essas capacidades ultrapassam o poder dos sentidos
circunstâncias e de seu humor, como também do pano físicos. Cada um desses termos mereceu um artigo
de fundo e do contexto dos objetos percebidos» (AM). separado nesta enciclopédia; e, no artigo intitulado
Algumas vezes, uma ilusão é um virtual sinônimo de Parapsicologia oferecemos uma descrição desses
uma alucinação. Contudo, deveríamos fazer aqui uma poderes e suas funções, juntamente com teorias que
distinção. Uma ilusão é uma interpretação errada dos procuram explicá-los. O assunto reveste-se de
informes prestados pelos sentidos. Uma alucinação, importância na gnosiologia e na metafísica, pelo que é
por sua parte, é uma invenção'da mente, quanto a importante tanto para a filosofia quanto para a fé
coisas que não estão contidas na percepção dos religiosa.
sentidos. As alucinações não têm base sensória, mas Tais poderes são naturais para o ser humano, pois o
apenas nas sugestões. A sugestão pode criar homem é uma psique (uma alma). Contudo, por
alucinações na percepção dos sentidos. Assim sendo,# detrás desses poderes pode haver outros- seres
temos as ilusões em operação, interpretando erronea espirituais, como os anjos ou os dçmônios. Essas
mente e adicionando algo aos crus informes dados capacidades, por si mesmas, não são boas e nem más.
206
PERCEPÇÃO - PERDÃO
Tudo depende de como forem utilizadas. Sem tais I. P altnai Envolvida*
capacidades, seria impossível à nossa mente (uma No hebraico, temos a considerar quatro palavras, e,
substância imaterial) agir sobre o corpo físico (uma no grego, também quatro, a saber:
substância material). Por conseguinte, a cada instante 1. Salach, «perdoar». Verbo hebraico usado por
as pessoas estão exercendo poderes psíquicos, de onde quarenta e seis vezes, conforme se vê, por exemplo,
se derivam também as percepções extra-sensoriais. em Núm. 30:5,8,12; I Reis 8:30,34,35,39,50; II Crô.
Os poderes psíquicos não somente percebem; também 6:21,25,27,30,39; Sal. 103:3; Jer. 31:34; 36:3; Dan.
atuam. A psicocinesia é ato, e não mera percepção; 9:19; Amós 7:2.
mas é classificada juntamente com os outros 2. Sallach, «perdão». Substantivo hebraico usado
fenômenos como uma parte da mesma capacidade por uma vez: Sal. 86:5.
humana. Seja como for, esses poderes estão 3. Kaphar, «cobrir». Palavra hebraica usada por
interligados. cerca de dez vezes com o sentido de «perdoar»,
A afirmação de que os homens podem saber das embora seja palavra traduzida, principalmente, por
coisas por meios extra-sensoriais. concorda com o «expiar». Ver, por exemplo. Sal. 78:38; Jer. 18:23;
espirito das declarações dessas diversas posições. Por Deut. 21:8; II Crô. 30:18; Lev. 8:15; Eze. 45:15,17;
exemplo, acredita-se que a transferência de pensa Dan. 9:24.
mentos ou telepatia (que vede) é um fato da 4. Nasa, «levantar», «perdoar». Palavra hebraica
experiência humana. Também acredita-se que o usada por cerca de treze vezes com o sentido de
pensamento (uma das propriedades da mente) pode «perdoar»: Gên. 50:17; Êxo. 10:17; 32:32; 34:7; Núm.
exercer efeitos sobre a matéria, no fenômeno chamado 14:18,19; I Sam. 25:28; Sal. 25:18; 85:2; Isa. 2:9.
de psicocinesia. Ver o artigo sobre esse assunto. A 5. Aphíemi, «deixar ir», «perdoar». Termo grego
cura de enfermidades pode ser um aspecto da mente usado por cento e quarenta e cinco vezes no NT, desde
sobre a matéria, quando o poder da mente produz Mat. 3:15 até Apo. 11:9.
efeitos sobre a nossa porção física. O homem seria 6. Âphesis, «perdão». Subtantivo grego empregado
capaz de conhecer coisas, mesmo sem comunicar-se por dezessete vezes: Mat. 26:28; Mar. 1:4; 3:29; Luc.
com outras mentes e sem a percepção dos sentidos.
1:77; 3:3; 4:18 (citando Isa. 61:1); 4:18 (citando Isa.
Isso se chama clarividência (que vede). O homem 58:6); 24:7; Atos 2:38; 5:31; Efé. 1:7; Col. 1:14; Heb.
também seria capaz, inteiramente à parte da
Inspiração divina, de predizer o futuro. Isso se chama 9:22; 10:18.
conhecimento prévio (que vede). O homem também 7. Charizomai, «ser gracioso com», uma palavra
seria capaz de passar em revista o passado, de grega utilizada por vinte e duas vezes: Luc.
maneira misteriosa, vindo a saber de certas coisas 7:21,42,43; Atos 3:14; Rom. 8:32; I Cor. 2:12; II
sobre o mesmo, como não aprendera por meio de Cor. 2:7,10; Gál. 3:18; Efé. 4:32; FU. 2:9; Col. 2:13;
livros. Isso chama-se conhecimento retroativo (que 3:13; File. 22.
vede). 8. Apolúo, «soltar», «perdoar». Verbo grego que
O que aqui dizemos é apenas sugestivo. Um ocorre por apenas uma vez com o claro sentido de
completo estudo sobre essas questões figura no artigo perdoar, em Luc. 6:37. Significa em outros lugares
sobre a Parapsicologia. Essa é uma ciência emergen soltar, deixar, divorciar-se, etc.
te. O fato de que alguns misturam o ocultismo e o D. Caracterlzaçio Geral
demonismo com este assunto, não significa que esses O perdão pode ser um ato divino, que resulta no
estudos não possam ser feitos sobre bases científicas. perdão do transgressor humano. Por igual modo, um
Todas as ciências estão sujeitas a abusos. Todas as ser humano pode perdoar a outro. O perdão dos
categorias da atividade e do conhecimento humanos pecados é uma prerrogativa divina (Sal. 130:4). Jesus
têm sido abusadas. Sem os poderes psíquicos, o Cristo recebeu o poder de perdoar da parte do Pai
homem nem poderia existir, visto que é a mente, do (Mat. 2:5). Um perdão pleno, gratuito e eterno é
começo ao fim, que controla o corpo físico. O homem oferecido a todos quantos se arrependerem e crerem
é uma mente; o homem é uma alma; o homem é uma no evangelho, contanto que disso resulte uma
entidade imaterial; o homem é um intelecto. Como verdadeira m udança na vida e na alma, e não apenas
tal, ele controla o seu corpo, que é um veiculo físico. uma profissão de fé. Ver Atos 13:38,39; I João 2:12.
Esse controle é uma utilização complexa da Os crentes devem perdoar àqueles que os ofendem, de
psicocinesia. Sem essa função psíquica, o homem modo imediato, abundante, definitivo, porque esse
morreria — no instante seguinte—, porquanto não perdão deve imitar o ato divino (Luc. 17:3,4). Isso
haveria qualquer interrelacionamento possível em seu precisa ser feito, pois, de outra forma, não podemor
corpo. Ver sobre o Problema Corpo-Mente. Portanto, esperar que o Senhor nos perdoe (Mat. 6:12-15;
afirmar que a percepção extra-sensorial é algo do 18:15-35). Alguns chamam isso de base legai, mas
diabo é dizer que todos os homens são possuídos por aquele que retém o ódio em seu coração está longe de
demônios, porquanto a própria essência do conheci ter endireitado os seus caminhos diante de Deus, e,
mento é a atividade da alma, ou seja, da psique. As assim, continua levando o seu pecado. Por outra
percepções da alma podem ser mediadas através do parte, aquele que foi verdadeiramente regenerado
corpo físico, mas também podem ser extra-sensoriais. possui a atitude de perdão, como uma de suas
Se a perceoção extra-sensorial não existisse, a própria qualidades essenciais. Se assim não for, é que aquele
existência da alma seria posta em dúvida. indivíduo não foi, realmente, regenerado.
O perdão é um ato da alma mediante o qual a
pessoa ofendida permite que o seu ofensor fique livre,
PERDÃO esquecendo-se então da ofensa. Deus requer, na
Esboço maioria dos casos, embora nem sempre, que o ofensor
I. Palavras Envolvidas se arrependa, que haja perdão e que haja reparação
II. Caracterização Geral pelos danos causados, sempre que isso for possível.
III. A Ênfase da Fé Cristã Essa é uma condição básica; mas o puro amor de
IV. Ensino Bíblico Sobre o Perdão Deus cobre uma multidão de pecados quando o
V. Problemas Relativos à Doutrina do Perdão indivíduo não é capaz de corrigir o erro praticado ou
VI. O Escopo e o Tempo do Perdão de restaurar o danificado (Rom. 5:5-8). Mesmo
207
PERDÃO
quando essas condições não podem ser preenchidas, o isso cria uni problema teológico para alguns. Ver sob
perdão divino é dado somente se o indivíduo, em a seção quinta, abaixo. Ver também Mat. 6:12-15;
imitação ao Senhor, for gracioso, amoroso, disposto a 18:15-35.
perdoar a seus ofensores. Textos como os de Mat. 2. O perdão depende diretamente da expiação de
6:12; 18:23—35; Mar. 11:26 contêm esses ensina Cristo (Efé. 1:7; Rom. 3:25; 4:25; Mat. 26:28).
mentos, enfaticamente. 3. A validade da expiação cerimonial, no Antigo
m. A Ênfase da Fé Crlstl Testamento, dependia do indivíduo considerar a sua
A fé cristã é supremamente destacada por sua participação espiritual na futura missão e expiação de
ênfase sobre o perdão, mais do que as outras grandes Cristo (Rom. 3:25). No Novo Testamento, os povos
religiões do mundo. Assim sucede porque o grande gentílicos também são beneficiados, mediante a fé em
Profeta do cristianismo, o Cristo, em sua morte e Cristo, e não somente o povo de Israel (Atos
ressurreição forneceu aos homens os próprios meios 17:30,31). A descida de Cristo ao hades (I Ped. 3:18
do perdão. Esse elemento faz parte do significado da — 4:6) estende o benefício da expiação de Cristo a
missão do Filho. A fé cristã também salienta que o todos os homens, oferecendo-lhes a salvação através
perdão nos é dado da parte de um Pai misericordioso, do evangelho, conforme I Pedro 4:6 deixa claro:
quem é a fonte de toda vida e existência. Quanto a «...pois, para este fim foi o evangelho pregado
referências bíblicas sobre esse ofício de Cristo, ver também a mortos, para que, mesmo julgados na
Efé. 4:32; Atos 5:31; 13:38; Mar. 2:10; I João 1:9 e, carne segundo os homens, vivam no espírito segundo
especialmente, Efé. 1:7. Este último trecho ensina: Deus».
«...no qual (Amado, Cristo) temos a redenção, pelo 4. O contínuo perdão dos pecados dos crentes,
seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a também depende diretamente da obra expiatória de
riqueza da sua graça». Cristo (I João 1:9).
IV. Ensino Bíblico Sobre o PerdJto 5. O perdão está diretamente vinculado ao
A. No Antigo Testamento arrependimento (Miq. 1:4; Atos 2:38; Luc. 24:47).
1. O elaborado sistema de sacrifícios do Antigo 6. O perdão também está ligado à fé ou à confiança
Testamento estava diretamente vinculado à idéia de em Cristo (Atos 10:43; Tia. 5:15). O arrependimento
expiação e, conseqüentemente, de perdão. Apesar de e a fé servem de meios para o perdão. O mérito nunca
certos trechos do Novo Testamento, como Rom. é humano, mas somente em Cristo. Apesar disso, sem
3:25, darem a entender que o perdão divino, no aqueles meios (arrependimento e fé = conversão) não
Antigo Testamento, estava condicionado ao futuro haverá perdão, porquanto o mérito de Cristo precisa
ministério de Cristo, não há que duvidar que os ser apropriado pelo homem.
israelitas, nos dias do Antigo Testamento, pensavam N.B. — Outros ensinos neotestamentários sobre o
que seus sacrifícios eram eficientes — para o perdão, que não foram ventilados aqui, são tratados
perdão de seus pecados, mediante a expiação. O na seção abaixo, sobre os Problemas.
artigo sobre a Expiação fornece-nos detalhes. 7. Visto que Deus perdoa gratuita e abundante
2. As ofensas são vistas como perdoadas, e o perdão mente, outro tanto deveriam fazer os crentes, sem
é encarado como um ato da graça divina, que deve ser nunca limitarem o número de vezes em que eles
recebido com profunda gratidão. O pecado merece ser perdoam a seus ofensores (Mat. 18:22). Esse ensino,
punido, e o perdão é uma medida da graça e da naturalmente, está muito acima da capacidade da
misericórdia divinas. O recebimento desse benefício maioria das pessoas e serve como um elevado ideal.
deveria criar o senso de temor no coração dos homens. 8. O perdão repousa sobre a completa missão de
Ver Sal. 130:4; Deu. 29:20; II Reis 24:4; Jer. 5:7 e Cristo, sobre a sua morte e ressurreição (Heb. 9:26;
Lam. 3:42, quanto às idéias aqui expressas. Rom. 4:25).
3. Somente Deus tem a prerrogativa de perdoar aos V. Problemas Relativos à Doutrina do Perdio
homens (Deu. 9:9). A única maneira como o homem 1. Cristo ensinou claramente que o perdão divino
pode perdoar é indiretamente, mediante a pregação depende (como uma condição possível) de perdoar
do evangelho. Os que aceitarem a mensagem cristã mos aos nossos ofensores. Ver Luc. 6:37; Mat.
serão perdoados por Deus. Ver João 20:23. Mas os 6:12-15; 18:15-35. Isso cria uma grande consternação
apóstolos nunca perdoaram pessoalmente senão a para os estudiosos de teologia. As explicações dadas
alguma ofensa pessoal contra eles, como qualquer por esses estudiosos têm sido as seguintes:
crente pode fazer. No caso de pecados contra o Senhor a. A Declaração de Cristo é Absoluta. Sem
eles deixavam a questão nas mãos de Deus. importar se no regime da lei ou no regime da graça, o
«Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao perdão sempre foi dado somente àqueles que
Senhor; talvez que te seja perdoado o intento do estiverem dispostos a tratar seus semelhantes confor
coração» (Atos 8:22). me Deus trata com eles. Sem dúvida era assim que
4. O perdão divino está alicerçado sobre a Jesus pensava. De outra sorte, como poderia ter
misericórdia, a bondade e a veracidade de Deus (Êxo. falado como falou? Porventura, ele não tinha
34:6 ss). O perdão torna-se impossível se Deus não se consciência de que uma nova dispensação religiosa
mostrar gracioso. E essa graciosidade divina, como é estava começando, que o nosso período da graça
óbvio, manifesta-se exclusivamente através de Cristo e haveria de modificar isso? Ou ele exprimiu uma lei
sua palavra. moral fixa?
5. O perdão dado por Deus é completo. Ele afasta b. A Declaração de Cristo é Legalista. Os eruditos
de nós os nossos pecados tanto quanto o Oriente dista dispensacionalistas supõem que essa declaração
do Ocidente (Sal. 103:12). Ele lança para trás de suas refletia uma verdade antes da cruz, mas que, depois
costas as nossas transgressões, sem mais considerá-las da mesma, o perdão é dado gratuitamente, através da
(Isa. 38:17). Ele apaga as transgressões dos perdoados graça de Deus, inteiramente à parte de quaisquer
(Isa. 43:25; Sal. 51:1,9) e nunca mais relembra os condições humanas, exceto o arrependimento e a fé,
seus pecados (Miq. 7:19). que é a resposta favorável do homem à mensagem
B. No Novo Testamento divina.
1. O pecador é perdoado, por sua vez deve c. A Declaração de Cristo Precisa ser Condiciona
perdoar aos que o ofendem (Luc. 3:37). No entanto. da . O indivíduo perdoado, em face de ser um homem
208
PERDÃO
que foi regenerado e transformado pelo poder de 20:23). Nas notas expositivas do NTI, ofereço uma
Deus, mui naturalmente dispor-se-á a perdoar a seus longa discussão sobre esse versículo. Aqui apresento
ofensores. No caso dele não se dispor a isso, então apenas algumas observações principais.
será duvidoso se ele foi, realmente, regenerado. Em a. A Igreja Ocidental compreende essas palavras de
outras palavras, o perdão estendido a outros é um Cristo como uma declaração literal, supondo que os
resultado, e não uma causa do perdão que recebemos apóstolos tinham a autoridade real de perdoar
da parte de Deus. pecados. Naturalmente, ali essa autoridade é explica
Não há maneira fácil de solacionar esse problema; e da como algo delegado por Deus, e não que eles
as respostas que os estudiosos têm dado nos deixam, tivessem, em si mesmos, os méritos para perdoar os
algumas vezes, perplexos. pecados alheios. Mas, o erro dessa posição é que, por
um salto ilógico, esse poder é transferido para o
2. O Anulamento do Perdão Recebido. O sexto sacerdócio, quando o Novo Testamento nem reconhe
capítulo da epístola aos Hebreus certamente ensina ce a existência de um corpo clerical, em contraste com
que algumas pessoas que foram regeneradas e um corpo laico. Na prática, essa posição equivale a
perdoadas podem perder essas graças mediante o dizer que a máquina eclesiástica é o agente do perdão
desvio, o pecado voluntário e a apostasia. Esse texto é divino, e que as suas funções e sacramentos são
um antigo campo de batalha, levando-nos diretamen essenciais a isso. Os que estão fora dessa organização
te ao problema da eterna segurança dos salvos. Minha eclesiástica, assim sendo, não poderiam receber o
resposta especulativa é que um crente verdadeiro pode perdão. Tudo isso é totalmente contrário ao ensino
cair de sua posição, tomando-se como uma pessoa neotestamentário, que deixa claro que cada crente
não convertida. Mas, visto que ele recebeu a trata diretamente com Deus, por meio de Cristo Jesus,
promessa da vida eterna, da parte do Senhor, e que sem qualquer intermediação humana.
pertenceu a ele, então será finalmente trazido de volta b. Os grupos protestantes (e também os católicos
ao aprisco, ou antes da morte física, ou já nos mundos romanos liberais) têm dito que a doutrina, conforme é
espirituais. Todavia, também especulo que essa exposta tradicionalmente pelo catolicismo romano é
recuperação pode envolver um longo, longo tempo. A por demais radical. Os grupos evangélicos pensam
alma nessa situação pode vaguear em estado de que o trecho de João 20:23 ensina que os apóstolos
perdição, chegando mesmo a sofrer o julgamento no perdoavam medianeiramente (isto é, por meio de sua
hades. O relato da descida de Cristo ao hades (I Ped. missão de pregadores do evangelho), e não pessoal
3:18 — 4:6) indica que o evangelho foi anunciado até mente, como se perdoar os pecados dependesse de
mesmo ali, a fim de oferecer a vida. Suponho, pois, uma decisão deles. Os protestantes liberais pensam
que uma pessoa que realmente se converteu, mas que interpretar literalmente esse versículo é ultrapas
desviou-se de Cristo, pode terminar no juízo do hades; sar o bom senso e aquilo que a fé bíblica requer de
mas, em face dela ter sido escolhida, será restaurada, nós. E também dizem que mesmo que o autor daquele
ainda que chegue ao hades. Aprofundo-me mais versículo realmente acreditasse (e desejasse ensinar)
ainda na especulação. Se a reencarnação exprime que os apóstolos tinham a autoridade para perdoar
uma verdade (ver o artigo sobre esse assunto), então a pecados, ele estava equivocado, e seu ensino era falso.
restauração da alma poderia ocorrer em uma outra Os católicos liberais, por sua vez, acreditam que a
vida terrena. Estamos envolvidos em grandes misté ordem usual das coisas (o perdão dos pecados através
rios, quando pensamos sobre o destino da alma. Mas, do clero) tem suas exceções, controladas pela graça de
para mim, parece-me preferível procurar respostas Deus. Assim, até mesmo pagãos bem-intencionados
especulativas do que simplesmente ser um arminiano. (como aqueles referidos no segundo capítulo da
O arminianismo ensina que se um homem salvo vier a epístola aos Romanos) podem ser perdoados, sem o
se perder, estará perdido para sempre. Ou então, ser oficio intermediário da Igreja visível.
simplesmente um calvinista. O calvinismo ensina que Oa evangélicos afirmam que mesmo que aos
o verdadeiro crente nunca pode se desviar de Cristo. apóstolos tivesse sido dado autoridade para per
No entanto, a experiência humana ensina-nos que doarem pecados, não há qualquer razão convincente
um crente verdadeiro pode se desviar de Cristo; foi a para supormos que essa autoridade tenha sido
consciência desse fato que inspirou o escritor da transferida para algum sacerdócio cristão (inexistente
epístola aos Hebreus, no seu sexto capítulo. No nas páginas do Novo Testamento, como uma classe
entanto, esse mesmo capítulo de Hebreus termina distinta dos outros cristãos); e menos ainda, que o
com uma nota de segurança: «Quanto a vós outros, sacerdócio da Igreja Católica Romana tenha sido
todavia, ó amados, estamos persuadidos das cousas destacado como o — receptor — dessa autoridade
que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que transferida. Mediante uma manipulação interpretati-
falamos desta maneira» (Heb. 6:9). Cristo tem poder va, alguns estudiosos têm dito que os apóstolos
para restaurar a qualquer um, mesmo após o meramente confirmavam o perdão que já havia sido
sepulcro. Ver o artigo geral sobre a Segurança Eterna, conferido por Deus, e não que eles fossem os
que entra em maiores detalhes sobre esse complicado perdoadores imediatos. Essa interpretação é conse
problema. As respostas simples, ou unilaterais, guida mediante a observação que, no grego, o verbo é
raramente são adequadas para equacionar os posto no tempo perfeito (uma ação no passado, com
profundos problemas. Suponho, pois, que a seguran resultados no presente); porém, o mais provável é que
ça do crente é absoluta. Ela haverá de ser apanágio do isso seja uma eisegese, e não exegese. Ver os artigos
crente. No entanto, o desvio do crente é relativo à sua sobre Eisegese e Exegese.
experiência total. Mas, se o crente vier a desviar-se,
será, finalmente, restaurado, e ficará para sempre 4. O Pecado Imperdoável. Esse é o pecado contra o
com o Senhor. Espírito Santo (Mat. 12:31 ss\ Mar. 3:28 ss). Mais
precisamente, no que consiste esse pecado?
3. Os apóstolos podiam perdoar pecados? E essa
autoridade deles poderia ser transferida a outros? A a. Os textos envolvidos ensinam que se trata de uma
primeira dessas duas perguntas precisa ser respondi blasfêmia. Essa- blasfêmia diz respeito a Cristo,
da afirmativamente, embora requeira qualificação. A atribuindo aos demônios a inspiração por atos
segunda já vai além das palavras que Jesus proferiu a realizados por Jesus, ao invés de atribuir tal
respeito: «Se de alguns perdoardes os pecados, são- inspiração ao Espírito Santo. O ponto de vista
lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos» (João dispensacional afirma que tal tipo de pecado só podia
209
PERDÃO
ocorrer nos dias em que Cristo estava neste mundo. ufna restauração final, posto que nos ciclos remotos
Agora, porém, Cristo nào está operando no mundo, da eternidade futura (chamados ali de «dispensação
em pessoa, pelo que as pessoas não podem atribuir da plenitude dos tempos»). Uma vez que cada período
ao diabo o que ele realiza. tenha contribuído com a sua parte, resultando
b. A opinião dos não-dispensacionalistas é que esse no benefício máximo, então Cristo (o Logos)
pecado continua sendo possível até hoje. Por exemplo, tornar-se-á tudo para todos (Efé. 1:23). E o resultado
quando os homens resistem teimosa e perversamente disso, segundo podemos antecipar, será a redenção
às operações do Espirito, manifestadas através da plena para os eleitos de Deus, e restauração para os
ministraçào do evangelho, e atribuindo tais operações não eleitos. Ao que parece, até estes obterão o perdão
a Satanás. dos pecados, pois, de outro modo, como poderiam
c. A interpretação da resistência agravada. Os eles ser beneficiados? Uma dificuldade a enfrentar é
indivíduos que contínua e resolutamente se opõem ao que Jesus disse que alguns nunca serão perdoados,
evangelho e ao seu ministério, durante certo período nem neste mundo e nem no vindouro: «...mas se
de tempo, terminam por colocar-se fora do alcance do alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso
perdão divino. Assim sendo, esse pecado de 6lasfêmia perdoado, nem neste mundo nem no porvir» (Mat.
contra o Espirito Santo envolveria um longo período 12:32). É mister palmilhar com muito cuidado, nessas
de rebeldia e oposição, não sendo um pecado isolado. especulações, para não irmos além do que está
d. Interpretação da desobediência agravada, peca- escrito, e nem entrar em choque com ensinos bíblicos
minosidade e apostasia. Os homens que persistem no claros. O pecado imperdoável mostra que nem todos
pecado, em sentido geral, finalmente não mais podehi serão perdoados. Temos de confessar que há mistérios
ser alcançados pelo perdão divino. Aqueles que não revelados por Deus, pois há coisas que ele
continuamente repelem a chamada divina, e que se reservou para a sua exclusiva autoridade. Quanto a
opõem aos que anunciam o evangelho, tomam-se essas doutrinas, ver os artigos sobre a Restauração e
culpados de blasfêmia contra o Espírito Santo, sobre a Descida de Crijto ao Hades. Esse modo de
contra a missão de Cristo. Dentre essas quatro interpretação, contudo, é comum nas Igrejas Ortodo
possibilidades, parece-nos que a mais provável é a xas Orientais e na Igreja Anglicana, embora
primeira, «a», acima. negligenciado no Ocidente, até mesmo pelas igrejas
5. O Pecado para Morte de I João 5:16. Alguns protestantes e evangélicas. Em minha maneira de
estudiosos têm vinculado esse pecado ao pecado pensar, o Oriente tem algo a ensinar ao Ocidente. (B
imperdoável. No entanto, o pecado para morte é o C E ND NTI)
pecado cometido por um crente. Tal pecado pode
ievar à morte física, mas não à morte espiritual.
Alguns crentes abusam; e, depois, não há mais PERDÃO DE PECADOS PELOS APÓSTOLOS
caminho de retorno. Vivem por tempo demasiado na João 20:23: Àqueles a quem perdoardes os pecados,
obstinação do pecado e perdem a sua utilidade. Ou são-lhçs perdoados; e àqueles a quem os retiverdes,
então acabam cometendo algum gravíssimo pecado são-lhes retidos.
.(ou uma série de pecados); e assim precisam Esta passagem, (João capítulo 20), especialmente
experimentar a morte física, como resultado natural por causa do presente versículo, tem-se tomado
de seus atos. Encontramos um caso assim em I campo de intensas controvérsias, como se dá no caso
Coríntios 5:1. O quinto versículo desse mesmo do texto de Mat. 16:19 e 18:18, sendo possível que
capítulo mostra que o pecado de imoralidade preserve, de forma ligeiramente diferente, a mesma
envolvido no caso resultaria fatalmente na morte tradição por detrás do texto do evangelho de Mateus.
física, a menos que o crente culpado se arrependesse Naquele primeiro evangelho, o Senhor se dirigiu a
do mesmo. Mui provavelmente, esse é o tipo de coisa Simão Pedro; e isso parece dar a impressão de que ele
tencionado em I João 5:16, onde a questão é tratada recebeu algum tipo de poder ou autoridade que os
de modo geral, sem qualquer pecado específico em outros apóstolos não receberam. Entretanto, confor
mira. me se vê na passagem de Mat. 18:18,19, estão em foco
VI. O Eacopo e o Tempo do Perdlo «dois dentre vós», e, no versículo seguinte, o Senhor
O trecho de Heb. 9:27 parece indicar que o ajunta: «...onde estiverem dois ou três reunidos em
perdão e, portanto, a salvação, precisa ser recebido meu nome...», tudo o que serve para mostrar-nos que
dentro de uma única vida física da alma. Diz esse as ações coletivas da igreja cristã é que provocavam as
trecho: «E, assim como aos homens está ordenado «ligações» ou «desligamentos» de que fala o texto.
morrerem uma só vez, e, depois disto o juízo...» O Essas «ligações» e «desligamentos» do texto do
primeiro capítulo de Romanos também parece indicar evangelho de Mateus, mui provavelmente devem ser
que aqueles que não dão ouvidos ao evangelho, interpretados segundo os termos rabínicos dos judeus,
durante sua existência terrena, estão irremediavel isto é, como tais expressões eram utilizadas pelos
mente perdidos, por não haverem sido perdoados. rabinos. Nesse caso, tudo quanto estava em foco nas
Devemos aceitar trechos assim como expressões de palavras de Jesus seriam decisões que proibiriam
ensino geral. Porém, o relato da descida de Cristo ao (ligar) ou permitiriam (desligar) certas ações ou
hades (I Ped. 3:18 — 4:6) ensina que a mensagem dó condições no seio da comunidade cristã, e dificilmente
evangelho foi levada ao hades. E isso indica que. o essas palavras teriam qualquer vínculo com os alvos
perdão e a salvação podem ser obtidos mesmo do espirituais finais, como o perdão de pecados de
outro lado da vida biológica. O trecho de I Pedro 4:6 alguém, ou a salvação de uma alma. Pelo contrário,
afirma categoricamente que a obra do Espirito, que nas páginas do N.T., quando aplicadas à igreja cristã,
confere vida, foi estendida aos desobedientes, que essas expressões significam que a igreja, e não os
estavam sofrendo a condenação no hades. O rabinos e o seu sinédrio é que tinham o direito dè
evangelho é capaz de fazer coisas assim. O trecho de estabelecer normas religiosas, para governo de sua
Efésios 4:8 ss mostra-nos que a descida de Cristo ao própria comunidade.
hades, e sua subida dali, até os céus, tiveram o mesmo Devemo-nos lembrar que, quando foi escrito o
propósito: fazer Cristo ser tudo para todos. E o trecho evangelho de Mateus, bem como estas palavras que
de Efésios 1:9,10 mostra-nos que, de acordo com a ora comentamos no quarto evangelho, a cidade de
vontade de Deus, que envolve um mistério, haverá Jerusalém já havia sido destruída, e, juntamente com
210
PERDÃO
ela, terminara a autoridade, o poder e a presença do assumido muitas formas, defendida por muitos
sinédrio na nação judaica. Ora, isso deixara um intérpretes, é aquela que diz que os apóstolos, na
imenso vácuo de autoridade, de natureza eminente realidade, na qualidade de representantes de Cristo,
mente religiosa. Quem teria agora a autoridade podiam verdadeiramente perdoar ou reter os pecados
anteriormente exercida pelo sinédrio? A resposta dos homens em sentido plenamente literal através da
dada no décimo sexto capítulo do evangelho de administração do confessionário ou de outros meios
Mateus é que o apóstolo Pedro devera ser eclesiásticos. Essa interpretação pode assumir muitas
reconhecido como possuidor dessa autoridade. A formas variegadas e elaborações, tal como aquela que
resposta do décimo oitavo capítulo desse mesmo afiança que os apóstolos estabeleceram as primeiras
evangelho é que essa autoridade repousava sobre a regras da igreja cristã primitiva, tornando obrigató
comunidade cristã, quando agisse numa espécie de rios deveres, ritos e cerimônias, além de haverem
ação coletiva ou democrática. Já a resposta do trecho determinado, em muitos casos, no que consiste
de João 20:23 é que essa autoridade fora entregue aos exatamente o pecado, em vários casos duvidosos. A
apóstolos. (Quanto a plenas explicações sobre o isso tem sido acrescentada a idéia da sucessão
problema criado pela autoridade especial dada a apostólica, ou seja, que esses privilégios e ofícios,
Pedro, ver as notas referentes a Mat. 16:18,19, no altíssimos como são, são efetuados através do clero de
NTI). Ver o artigo sobre Fundamento da Igreja, uma determinada denominação cristã, que seria a
Pedro Como. única capaz de exercer os mesmos direitos que os
Têm aparecido diversas interpretações sobre o que apóstolos tiveram enfeixados nas mãos. No entanto,
significaria o fato de que ot apóstolos receberam essa doutrina se baseia na tradição, e não em
autoridade para perdoar ou reter pecados, como qualquer declaração bíblica. A fé na mesma equivale
segue: à fé numa determinada denominação e em seus
1. Alguns intérpretes têm observado que os verbos líderes, e jamais em qualquer declaração das próprias
principais deste versículo estão vazados no tempo Escrituras Sagradas. Por isso mesmo, tal posição
perfeito, no original grego, os quais, por isso mesmo, precisa ser comprovada ou refutada com base em
poderiam ser traduzidos como foram retidos e foram outras considerações, e não com base na exegese
perdoados. Assim dizendo, esses intérpretes ensinam simples do texto bíblico. Ainda que pudéssemos
que essa aparente retenção ou perdão de pecados é admitir que os apóstolos possuíam tais poderes, isso
meramente um discernimento daquilo que já fora estaria longe de comprovar que outros indivíduos,
determinado pela vontade divina, ou através de depois deles, também receberam tal autoridade, ou
circunstâncias que circundam o caso. Assim sendo, que o alto privilégio proporcionado a Simão Pedro foi
eles preferem traduzir essa passagem do seguinte transferido a qualquer linhagem de sucessores seus.
modo: «Se perdoardes os pecados a alguém, já foram Essa transferência é exatamente o ponto que mais
perdoados: se retiverdes os pecados de alguém, já repousa sobre a tradição eclesiástica, desenvolvida
foram retidos». Dessa maneira os pregadores, ao paulatinamente através dos séculos, e não na
ministrarem a Palavra de Deus, simplesmente autoridade das Escrituras, por meio da exegese
confirmam o que deve ser de conformidade com as bíblica.
exigências divinas, sem que isso signifique que 4. Alguns intérpretes protestantes, entretanto,
tenham criado essas exigências divinas. Porém, têm-se inclinado em demasia para o ponto de vista
apesar de que a conclusão dessa interpretação muito contrário, eliminando qualquer oficio apostólico
provavelmente expressa a verdade, o modo gramatical especial, dizendo que qualquer ministro do evange
de chegar a ela, segundo aparece na tradução provida lho, ao pregar aos homens, cria com isso as
acima, é extremamente dúbio, não se harmonizando circunstâncias que levam os pecados dos homens a
bem com o contexto, — e nem com a idéia que serem perdoados ou retidos. Apesar de que nisso há
aparentemente é transmitida aqui. Não podemos certa verdade, contudo, em sentido especial, o oficio
apresentar esse tipo de argumento com qualquer apostólico é que criou essas condições, porquanto foi
certeza, com base no tempo perfeito do texto grego, através dos apóstolos originais de Cristo que os
especialmente no caso do grego helenista (do qual o homens vieram a se defrontar, pela primeira vez, com
N.T. é um dos principais representantes), porquanto a mensagem de Jesus, de sua ressurreição e de suas
o tempo perfeito pode ser usado em lugar do presente exigências impostas aos homens, das novas definições
e do aoristo, sem que isso tenha qualquer sentido cristãs do pecado e das conseqüências do mesmo.
especial. Outrossim, a condição da continuação do Também foi por meio dos apóstolos que a igreja cristã
estado de «perdoado» ou do estado de «retido», foi estabelecida, como agente divino para anunciar a
gramaticalmente pelo menos, depende da cláusula mensagem de Deus à humanidade. Dessa forma, os
anterior: «...se de alguns perdoardes... se lhos apóstolos ocupavam uma posição elevada, investidos
retiverdes...»; e assim fica derrubado por terra todo o como estavam de seriíssimo ofício, envolto em
argumento fundamentado no emprego do tempo considerações gravíssimas, de tal modo que a
perfeito. pregação deles e o exercício de dons especiais e até
mesmo miraculosos, que tinham por intuito autenti
2. Alguns estudiosos pensam que o perdoar e o reter car a sua mensagem e convencer aos homens, criaram
são equivalentes ao desligar e ao ligar (respectivamen as condições sob as quais os pecados dos homens
te) segundo aparecem estes dois últimos verbos nos podem ser perdoados ou retidos. É somente nesse
trechos de Mat. 18:18 e 16:19. Porém, isso não faz sentido que se pode asseverar que os apóstolos
sentido neste presente contexto, porquanto não foi perdoavam ou retinham os pecados dos homens. A
dito aos apóstolos que determinassem o que deveria idéia de que os apóstolos podiam fazer * isso
ser considerado pecado ou não, isto é, que literalmente, embora não contradiga o presente texto,
«permitissem» determinados atos mas «proibissem» pois tal idéia pode ser espremida para fora do texto
outros (como no caso do evangelho de Mateus). Pelo que ora consideramos, contanto que não se queira
contrário, neste quarto evangelho, estão envolvidos o levar em consideração outras passagens que versam
perdão ou &retenção dos pecados, bem como o que sobre a questão, não é admissível para a teologia
significa esse pecado, determinado pela natureza geral, nem do Antigo e nem do Novo Testamentos. De
moral de Deus, e não pelas idéias dos homens. fato, em parte alguma tal doutrina é ensinada pelo
3. A interpretação eclesiástica exagerada, que tem apóstolo Paulo, e grande mestre dos gentios na fé, em
PERDÃO - PERDIÇÃO
suas passagens teológicas dogmáticas. Um problema exclamando, abandonou o vício do fumo para
de tão magna importância certamente teria sido sempre. O notável feito da alunissagem, levou-o a
abordado de alguma maneira por esse apóstolo, ou praticar também um pequeno feito, de sua autoria.
pelo menos, por algum dos outros apóstolos, em Sim, a lua havia modificado a sua maneira de pensar.
qualquer porção do volume do N.T., se porventura Portanto, aquilo que Cristo realizou e o que os
devêssemos compreender que tal autoridade lhes fora apóstolos fizeram, certamente, podem modificar
dada — a de realmente perdoar pecados. Somente o ainda muito mais facilmente, e com muito maior
Senhor Jesus, o Messias, é que tem tal autoridade e razão, a nossa maneira de pensar rto tocante às
poder (ver Mat. 9:2-6). nossas relações com Deus, por intermédio de Cristo
5. Alguns estudiosos acreditam que o trecho de I Jesus. Através dessa inspiração podemos ser homens
João 5:16,17 é pelo menos aludido neste versículo. melhores, servos melhores dos nossos semelhantes; e,
Nessa primeira epístola de João é abordada a questão mediante a pregação do evangelho, podemos conduzir
dos pecados para a morte, e como aos crentes não é outros homens aos pés de Cristo.
permitido fazer julgamento sobre tais questões, Nem mesmo os apóstolos, nos dias
orando ou de alguma outra forma qualquer Em que andaram com ele, amaram-no tanto
entregando alguém à morte, e ainda que uma pessoa Como amamos a Cristo agora, que notamos seu
tivesse cometido claramente um desses pecados, não louvor
deve o crente importar-se em orar por ela, como se Lendo a história que eles contam,
tivesse autoridade ou poder para tal. Todavia, não Escrita por eles quando sua visão aumentou
parece haver qualquer conexão vital entre o presente E quando aquele que fugiu e o negou três vezes
versículo e esse texto, embora uma questão, tal como Face a face, mostrou finalmente ser autêntico,
esta, seja séria. Não há nenhuma indicação de que E morreu alegremente por sua memória:
alguém possa ser entregue à morte física e muito Tão poderosa visão como não houve outra
menos à morte espiritual por ação de outrem. Sobre quem a rede do Pai fo i lançada;
A autoridade de perdoar pecado* era administrada Nem mesmo entre os mais assustados, nenhum houve
miniiterialmente pelos apóstolos, no fato de que eles Que o abandonou finalmente, para sempre.
trouxeram aos homens as condições sob as quais esse ( Vision, Obras Poéticas de Robert Bridges).
perdão lhes podia ser conferido. Na realidade, os Por semelhante modo, este texto, através do
apóstolos forçavam a tomada de decisões espirituais, exemplo que nos foi deixado pelos apóstolos,
por parte dos homens, mediante o seu ministério; não ensina-nos a nos elevarmos acima de nós mesmos,
fora isso, essas pessoas nunca teriam tomado tais para que sejamos servos dignos de Cristo Jesus.
decisões a respeito de Cristo e nem jamais se
interessariam por qualquer suposta salvação que
porventura tivesse chegado ao conhecimento deles. PERDIÇÃO
O que dissemos acima tinha lugar através dos Essa palavra vem do latim perdere, «perder»,
seguintes meios: 1. A prédica do evangelho, com «destruir». O termo é usado na teologia para indicar
poder do Espírito, autenticado pelos milagres os resultados do julgamento dos ímpios, o estado de
efetuados pelos apóstolos. 2. O estabelecimento da quem está perdido, em associação a vários conceitos
igreja cristã, o que forçou os homens a examinarem de destruição e perda. O vocábulo grego envolvido é
com mais cautela as extraordinárias reivindicações de apóleia, «ruína», «perdição», «destruição». Essa
Cristo. 3. O fato de serem os apóstolos a nova palavra pode ser usada em sentido literal, não-teológi
autoridade sobre as questões religiosas, autoridade co (como em Mat. 26:8; Mar. 14:4; referindo-se ao
essa que veio a preencher o vácuo deixado pela estrago de unguento). Judas Iscariotes foi chamado de
destruição do sinédrio, quando Jerusalém foi destruí «filho da perdição», como alguém destinado à
da pelos romanos, no ano 70 D.C. perdição espiritual. Outro tanto é dito acerca do
Apesar de havermos enfatizado corretamente, neste anticristo, em Apo. 17:8,11 e II Tes. 2:3. No
ponto, a posição e autoridade dos apóstolos, não nos Apocalipse, o lago do fogo aparece como a mais
devemos olvidar daquela interpretação secundária terrível representação da perdição, uma figura
que estende esse mesmo tipo de responsabilidade a simbólica tomada por empréstimo dos livros pseude-
todos os ministros do evangelho. O apóstolo Paulo pígrafos. Ver sobre o Lago de Fogo, a Segunda Morte
eipressou essa idéia quando escreveu: «Para com estes (Apo. 20:14) uma outra maneira metafórica de
cheiros de morte para morte; para com aqueles falar sobre a perdição.
aromas de vida para vida. Quem, porém, é suficiente Perdição é uma maneira de indicar a perda da
para estas cousas?» (II Cor. 2:16). Ora, nessa vida eterna bendita, de estar alguém excluído do reino
passagem o apóstolo Paulo se referia ao ministério dos de Deus (João 17:12; II Tes. 2:3; Heb. 10:39; II Ped.
crentes, em lugar de Cristo, em favor dos homens. 3:7; Apo. 17:8,11). Ver os artigos intitulados
Assim sendo, portanto, outros crentes, após os Julgamento de Deus dos Homens Perdidos; Hades;
apóstolos, tornaram-se instrumentos de Cristo; Inferno; Geena; Sheol; Mortos, Estado dos. Esses
porém, de alguma maneira, isso teve base no artigos expõem o que penso sobre o assunto,
ministério original dos apóstolos. mormente sobre o julgamento, pelo que não repito
Marcus Bach, em seu artigo, The Moon has aqui ssse material. Quanto ao aspecto mais
Changed our Thinking (A Lua Mudou nossa Maneira esperançoso da questão.ver os artigos Descida de
de Pensar, Fate Magazine, maio de 1970), fala de um Cristo ao Hades e Restauração. Creio que os
amigo seu que tinha grande dificuldade para pôr fim versículos mais pessimistas, a respeito do julgamento,
ao seu antigo hábito de fumar. Já tinha fracassado em que dependem da visão dos livros pseudepigrafos
diversas tentativas. Porém, quando «Âguia», isto é, (vide), foram ultrapassados por uma visão muito mais
Apoio XI, alunissou, e Neil Armstrong desceu pelas otimista (também no Novo Testamento), e que falam
escadas da nave, tornando-se assim o primeiro sobre o mistério da vontade de Deus (vide), por meio
homem a pousar seus pés no solo lunar, esse seu da qual aquela sombria escatologia foi substituída por
amigo jogou fora o cigarro que estava fumando, e outra, dotada de esperança e glória. A teologia opera
disse pensativamente: Se eles puderam fazer isso, mediante saltos quantum, e não depende exclusiva
então eu também posso fazer isto. E, assim mente de textos de prova. Apesar de haver mais
212
PERDIÇÃO - PERDIZ
versículos qiie expõem a visto anterior do castigo evangélica e dizer: «Isso é tudo quanto Deus foi capaz
eterno, envolvendo as chamas eternas do inferno, de fazer. Lamento, amigos».
existem alguns versículos que mostram como a missão
de Cristo anulou esse aspecto de punição eterna. Pois
em Cristo, finalmente, será obtida uma unidade,
dentro da qual haverá glória para todos os seres PERDIÇÃO, FILHO DA
humanos, posto que não no mesmo grau para todos. Pano de Fondo Judaico. Temos aí uma expressão
Todavia, é óbvio que haverá muito tempo para que hebraica que expressa alguma característica básica de
isso suceda, pois só ocorrerá nos corredores da uma pessoa, chamando-a de «filho de». Assim, temos
eternidade futura (ver Efé. 1:9,10). Todavia, a obra os «filhos da ressurreição» e os «filhos da desobediên
divina será gloriosa, e o julgamento fará parte dessa cia», etc. De acordo com isso, um filho de perdição é
realização. O julgamento é remediai (segundo se vê alguém cujo destino de ruína eterna é ricamente
claramente em I Ped. 4:6), e resulta na vida. O merecido. Há dois homens chamados, no Novo
julgamento é apenas um dedo da amorosa mão de Testamento, de «filho da perdição», a saber: Judas
Deus. O julgamento terá uma gloriosa obra a realizar, Iscariotes, que traiu ao Senhor Jesus; e o anticristo
finalmente; mas isso em nada diminui a sua (vide). Ver João 17:12 e Atos 1:20, no tocante a Judas;
severidade. e II Tes. 2:3 e Apo. 17:8,11 no que concerne ao
A Missão Tridimensional de Cristo. Cristo atuou à anticristo. Os mórmons levam muito a sério essa
face da terra, no hades e nos céus. Ou melhor, questão, pensando que alguns poucos outros indiví
continua atuando, tanto pessoalmente quanto através duos, realmente malignos, com razão podem ser
de seus missionários, em todos os lugares onde chamados «filhos da perdição», em face de seus
residam almas humanas, sem importar o estado em crimes, que merecem um juízo especialmente severo,
que se encontrem. £ errado solapar qualquer desses em contraste com todos os demais homens. Alguns
aspectos da missão de Cristo por meio de nossa grupos evangélicos também têm visto algo de especial
bitolada teologia. Todos os labores de Cristo são na expressão «filho da perdição». Uma interpretação
redentores-restauradores — redenção para os eleitos e popular é aquela que diz que Judas Iscariotes,
restauração para os não-eleitos-. Com essas breves reencamado, será o anticristo, pelo que não seria por
explicações, deixo a matéria, rogando que o leitor acidente que a expressão é aplicada, em todo o Novo
examine os artigos acima mencionados, e que Testamento, somente a Judas e ao anticristo. E para
desenvolvem esses temas. A Igreja cristã oriental (e os reforçar essa interpretação, é salientado que a Bíblia
anglicanos), influenciados pelas interpretações dos diz que Judas foi «para o seu próprio lugar» (Atos
pais gregos da Igreja, têm preferido essa alternativa 1:25). Essas palavras são interpretadas como se ele
mais esperançosa do julgamento, ao passo que a tivesse ido para algum lugar especial no hades,
Igreja ocidental (com seus fragmentos: todos os reservado para ele, e de onde ele ascenderia, segundo
protestantes e evangélicos) tem preferido tradicional o Apocalipse diz que o anticristo fará (Apo. 11:7 e
mente o ponto de vista mais pessimista. O ponto de 17:8). Outros eruditos associam um Nero redivivo
vista pessimista destrói o evangelho' até onde diz com a figura do anticristo. Os Oráculos Sibilinos,
respeito às massas humanas. No entanto, Deus tem bem como certos escritores cristãos, comentaram
amado a todos os homens. Assim sendo, essa posição sobre essa lenda.
faz com que o amor de Deus pareça ter falhado. Para Tudo isso envolve uma interessante interpretação,
mim, essa é uma visão impossível da missão de Cristo. mas é bem possível que tudo quanto a expressão «filho
Elevam-se aqui várias impossibilidades, a saber: da perdição» queria dizer é que aqueles que são assim
Primeira, é impossível dizermos que Deus não amou à designados merecem a perdição que tão cuidadosa
raça humana inteira, as massas (João 3:16; I João mente cultivaram. Ver o artigo geral sobre a Perdição.
2:4). Segunda, é impossível dizermos que apesar de
Cristo ter realizado uma expiação universal, esta é
apenas teórica, e não tem efeitos universais (ver o PERDIZ
artigo sobre a Restauração). Terceira, é impossível Ver I Sam. 26:20 e Jer. 17:11, onde este pássaro
supormos que fracassará o mistério da vontade de provavelmente está em foco. No hebraico é gore.
Deus (Efé. 1:9,10). Quarta, é impossível dizermos que Talvez o trecho de Sal. 91:1 faça alusão indireta a
a descida de Cristo ao hades não teve efeitos como essa ave era apanhada em armadilhas, pelos
remidores-restauradores (I Ped. 4:6 ensina-nos que caçadores. Na Palestina havia duas espécies de
ele pregou o evangelho aos mortos desobedientes', ver perdiz: a perdiz das rochas (AlectorU graeca), que é
I Ped. 3:20). Quinta, é impossível supormos que a similar à perdiz de pernas vermelhas, da parte
missão tridimensional de Cristo fracassou, e que o sudoeste da Europa (AlectorU rufa). Além disso havia
poder de Cristo, por isso mesmo, não era adequado (e até hoje existe) a perdiz do deserto (Ammonperdix
para a tarefa a que ele se propôs. Sexta, é impossível heyi), que é de porte bem menor e só é encontrada em
aceitarmos um cristianismo pessimista, onde a regiões rochosas em tomo do mar Morto e nos
existência da grande maioria das pessoas será trágica desertos do Neguebe e do Sinai. A primeira tem os
além de toda descrição. Pergunto, onde estava o Deus lados da cabeça brancos, com bordas negras, e atinge
Todo-Poderoso em tudo isso? Onde está o seu amor! cerca de 36 cm de altura. A última tem uma coloração
Onde estava o Filho de Deus? Por quais razões eles arenosa, de tal modo que é difícil vê-la quando está
teriam falhado? Por que razão a Igreja existe, se o ciscando a terra.
que ela tem a pregar é apenas tragédia, exceto para As perdizes correm bem, mas não voam bem. Sua
uma pequena porcentagem de pessoas, que creram no melhor proteção é esconderem-se em ambientes que
tempo certo, da maneira certa? Schopenhauer falava se assemelham à sua coloração, o que talvez seja
em termos pessimistas sobre a existência, mas nunca aludido em I Sam. 26:20. Davi disse que ele agia
desceu ao sepulcral pessimismo da Igreja cristã como uma perdiz, quando fugia diante de Saul. O
ocidental. A definição primária do pessimismo (vide) trecho de Jer. 17:11 reflete uma crença sobre as
é que a própria existência é um mal. Se a posição da perdizes, que talvez não corresponda à realidade dos
Igreja ocidental sobre o que finalmente sucederá aos fatos. A perdiz remove os ovos dos ninhos de outras
homens, for verdade, então temos aí um evangelho espécies de pves e, então, senta-se sobre os mesmos,
pessimista. Eu teria vergonha de entrar em uma igreja para chocá:los. Mas, quando os filhotes nascem,
213
PERDIZ - PEREGRINO
corrèm para Suas verdadeiras mães! Assim também tribos gentílicas conquistadas (I Reis 9:20 ss).
acontece ao indivíduo que- fica rico por meios Contrariamente ao costume judaico atual, que diz que
desonestos, arrebatando o que não lhe pertence. Os o filho de uma mulher judia é um judeu, mas não o
árabes modernos acreditam que a perdiz põe ovos em filho de um homem judeu (conforme a opinião dos
dois ninhos diferentes, e um desses ninhos é cuidado rabinos, embora não seja esse o parecer de todos os
pelo macho, sem dúvida uma provisão da natureza judeus), o Klho de um ger e de uma judia era
visando à sobrevivência da espécie. Mas essa idéia que considerado ger. Ver Lev. 24:10-22. Isso mostra que
a perdiz choca ovos que não são seus certamente os rabinos não estão seguindo o precedente bíblico-
envolve uma crença duvidosa. Nomes próprios, no mais antigo, e, sim, um costume que se estabelceu
Antigo Testamento, empregavam a raiz do nome que por ocasião da volta dos judeus do exílio babilónico,
significa a perdiz, como En-Hacoré, nome de uma porquanto muitos judeus tinham se casado no exílio
fonte, em Juí. 15:19. E também lemos sobre um com mulheres estrangeiras, e os filhos desses
homem de nome Coré, em I Crô. 9:19. Essa ave era casamentos mistos criaram problemas na comunidade
excelente para ser consumida pelo homem, pelo que israelita.
também era incansavelmente caçada, juntamente Legalmente, um ger tinha muitos privilégios. Os
com muitas outras espécies de aves que serviam ao israelitas não deveriam oprimi-lo (Êxo. 22;21; 23:9;
mesmo propósito. Lev. 19:33,34). Pelo contrário, deveriam amà-lo
(Deu. 10:19). Os rabiscos das vinhas e dos campos
PEREGRINO plantados deveriam ser deixados para os peregrinos
Há quatro palavras hebraicas vinculadas a essa em Israel (Lev. 19:10; 23:22; Deu. 24:19-21). Havia
idéia, nas páginas do Antigo Testamento, a saber: provisões para proteger os peregrinos, nas cidades de
1. Ger, «peregrino». Essa palavra aparece por refúgio (Núm. 35:15; Jos. 20:9). Embora as provisões
oitenta e oito vezes, como, por exemplo, em Gên. legais considerassem um ger como uma pessoa pobre,
15:13; Êxo. 2:22; Lev. 16:29; Núm. 9:14; Deu. 1:16; alguns deles, segundo todas as aparências, tomavam-
Jos. 8:33,35; I Crô. 22:2; II Crô. 30:25; Jó 31:32; Sal. se abastados em Israel (Lev. 25:47 ss. e Deu. 28:43).
39:12; Isa. 14:1; Jer. 7:6; Eze. 14:7; Zac. 7:10; Mal. Quanto ao aspecto religioso, havia privilégios iguais
3:5. tanto para os israelitas quanto para os peregrinos
2. Gur, «peregrino». Esse termo figura por sete entre eles. Assim, os peregrinos podiam e deviam
vezes com esse sentido, conforme se vê, para descansar no sábado (Êxo. 20:10; 23:12), regozijan-
exemplificar, em II Sam. 4:3. do-se nas festas das semanas e dos tabernáculos (Deu.
16), observando o dia da expiação (Lev. 16:29), e não
3. Moshab, «colono». Esse vocábulo é usado por comendo fermento quando da festa dos pães asmos
quarenta e uma vezes, embora apenas por uma vez (Êxo. 12:19). Não podiam os peregrinos ser
com esse sentido, em Êxo. 12:40. compelidos a participar da páscoa, mas, se eles
4. Toshab, «colono», «habitante». Palavra empre se circuncidassem, podiam participar dessa festivida
gada por catorze vezes, conforme se vê, por exemplo, de (Êxo. 12:48). Os peregrinos não podiam comer
em Gên. 23:4; Lev. 22:10; 25:23,35,40,47; Núm. sangue, enquanto os israelitas se encontrassem
35:15; I Crô. 29:15; Sal. 39:12. vagueando pelo deserto (Lev. 17:10-12), e, durante
1. A primeira dessas palavras, ger, refere-se a um esse mesmo período, embora não depois, eles foram
estrangeiro residente em um outro pais, um não proibidos de comer animais que tivessem morrido por
cidadão que reside ali de modo mais ou menos si mesmos (Lev. 17:15 e Deu. 14:21), sob a pena de
permanente, desfrutando de certos direitos civis ficarem imundos cerimonialmente até o anoitecer.
limitados. Um peregrino é alguém que habita no meio Interessante é a observação de que os peregrinos
de um outro povo, em contraste com o estrangeiro, podiam oferecer sacrifícios (Lev. 17:8; 22:18; Núm.
cuja permanência é temporária. Para que não haja 15:14), estando sujeitos às mesmas regras que os
confusão nas traduções, seria necessário que houvesse israelitas nativos, se cometessem pecados involuntá
coerência na tradução dessa palavra, o que nem rios (Lev. 15:22-31); e também precisavam passar
sempre tem acontecido, pois, algumas vezes, as pelos ritos de purificação, se entrassem em contato
traduções também dizem «estrangeiro», quando físico com algum cadáver (Lev. 19:10-13).
deveriam dizer «peregrino», além do que combina 2. Toshab é palavra hebraica que, em alguns casos,
com o verbo hebraico gur, «peregrinar». parece ter sido usada como sinônimo de ger.
Esse termo foi usado na Bíblia para indicar os Entretanto, seu uso limitou-se ao Pentateuco, com
patriarcas, quando peregrinavam na Terra Prometida apenas três exceções (I Reis 17:1; I Crô. 29:15 e Sal.
(Gên. 23:4), para indicar os israelitas, escravizados no 39:12).
Egito(Gên. 15:13; Êxo. 22:21), para indicar os levitas
que habitavam entre seus compatriotas israelitas 3. O estrangeiro (em hebraico, nokri) era palavra
(Deu. 18:6; Juí. 17:7), ou para indicar um efraimita reservada para indicar alguém que tivesse nascido no
que esteve morando em Gibeá (Juí. 19:16), além de estrangeiro e que, usualmente, vivesse fora do territó
indicar os estrangeiros que vinham residir por algum rio de Israel. Um estrangeiro não usufruía de direitos
tempo na terra de Israel. Em Israel, os peregrinos legais em Israel (Deu. 15:3; 23:30). Essa palavra,
gozavam de muitos privilégios, uma posição sem igual pois, denotava basicamente a diferença entre os
nos primeiros sistemas legais, geralmente adversos israelitas e os não-israelitas (Isa. 61:5; Jer. 5:19; 30:8).
aos estrangeiros. Visto que um peregrino sofria por Salomão chegou a ser censurado porquanto amou a
causa de certas desvantagens naturais, a legislação «muitas mulheres estrangeiras» (I Reis 11:1). Os
mosaica protegia-o (Lev. 19:33 ss; Deu. 10:18). De estrangeiros não podiam participar da festa da páscoa
fato, os peregrinos foram favorecidos desde o começo. (Êxo. 12:43); mas podiam oferecer sacrifícios ao Deus
Uma «multidão mista» saiu do Egito juntamente com de Israel, em Jerusalém, a capital religiosa (Lev.
os filhos de Israel; e, após a conquista da Terra 22:25). A lei mosaica vedava aos estrangeiros o direito
Prometida, os israelitas e outros povos da região de receberem algum cargo de governança em Israel
viveram lado a lado no mesmo território. Os livros (Deu. 17:15). Posteriormente, porém, foi encorajada
históricos da Bíblia mencionam repetidamente os a adoração a Deus à distância, se os estrangeiros
estrangeiros e os peregrinos. Nos dias de Salomão assim quisessem fazê-lo (I Reis 8:41,43; Isa. 2:2 ss;
havia muitos deles, provavelmente remanescentes de 56:3,6 ss). O caso de Naamã, um general sírio,
214
PEREGRINO - PERÉIA
mostra-nos que um estrangeiro podia adorar ao Deus outros escritores a fim de descrever tanto a Peréia
de Israel no estrangeiro (II Reis 5:17). A existência de política quanto as terras da margem esquerda do
bairros ocupados por estrangeiros, em Israel, é algo Jordão, em geral. O trecho de João 1:28 diz-nos que
que pode ser inferido de trechos como I Reis Jesus foi batizado «doutro lado do Jordão». O termo
9:20,21,24 e I Crônicas 22:2. «Peréia» nunca é usado na Bíblia, embora o distrito
Nos primeiros estágios da história de Israel, desse nome seja referido como «do outro lado do
casamentos com pessoas estrangeiras eram comuns, Jordão».
embora o costume não fosse aprovado com prazer 2. Sua Área Geográfica
(Gên. 24:3; 27:46; Núm. 12:1; Juí. 14:3). Moisés Está em pauta um distrito da Transjordânia, que
determinou que o sumo sacerdote de Israel se casasse corresponde em termos gerais à antiga Uileade (vide).
com uma virgem dentre o seu próprio povo (Lev. O nome Peréia só começou a ser usado após o exílio
21:14). Esdras e Neemias iniciaram uma vigorosa babilónico, denotando uma área a leste do rio Jordão,
campanha contra os casamentos mistos entre homens com, cerca de dezesseis quilômetros de largura, e
judeus e mulheres estrangeiras (Esd. 10 e Nee. estendendo-se desde algum ponto entre os rios
13:23-31). Nas civilizações da antiguidade, um Jaboque e Iarmuque, ao norte, até o rio Arnom, ao
«estrangeiro» e um «inimigo» eram, praticamente, a sul. Essencialmente, era a subida de mil metros de
mesma coisa. Talvez a legislação mosaica, tão branda altitude que acompanhava o Jordão a certa distância.
e favorável para com os «peregrinos», tivesse por Sua fronteira ocidental, na realidade, era formada
propósito suavizar essa aversão aos estrangeiros, em por esse rio. Ali havia certo número de cidades,
Israel. situadas em uma altitude regular. Contava com um
4. O sentido exato de zar, «estrangeiro», precisa ser regime de chuvas regular e era recoberta por florestas,
determinado pelo contexto. Essa é uma palavra em suas porções mais elevadas. As áreas de nível
hebraica que aparece por sessenta e cinco vezes, desde intermediário eram cultivadas com oliveiras e
Êxo. 29:33 até Oba. 11. Com freqüência, refere-se a videiras, e também com algum trigo; e havia ali
povos hostis estrangeiros, formando contraste com algumas terras de pasto. Quando as tribos de Gade e
Israel (Isa. 1:7; Eze. 7:21; Osé. 7:9; 8:7; Joel 3:17 e Rúben (ver Núm. 32:1-5) investigaram a região,
Oba. 11). Em outros contextos, refere-se a «estrangei perderam o interesse em cruzar o rio Jordão para o
ro» em um outro sentido, como os não aaronitas outro lado, e estabeleceram-se ali. Mas, estando no
(Núm. 16:40; Heb. 17:5), ou aos não-levitas (Núm. lado oriental (e menos protegido) de Israel, ficaram
1:51), ou, então, a alguém que não era membro de sujeitas aos freqüentes ataques de povos hostis. O
alguma família bem definida (Deu. 25:5). Quando era trecho de I Macabeus 5:9-54 narra como Judas
contrastada com os sacerdotes significava «leigo» Macabeu salvou uma minoria de judeus que ali
(Lev. 22:10-13), e quando contrastada com o que era residia. Alexandre Janeu conquistou a área e forçou
santo, significava «profano» (Êxo. 30:9). os habitantes pagãos a aceitarem a fé judaica e o seu
Quando chegamos ao Novo Testamento, vemos que governo; e conforme as coisas sucederam, ele faleceu
o termo «estrangeiro» já não se aplica mais aos não- em Ragaba, em 76 A.C. Nos dias de Jesus, Herodes
judeus, porquanto havia desaparecido a nacionalida Ãntipas (4 A.C. — 39 D.C.) controlava a Peréia
de judaica, bem como a base política do povo de inteira, tendo reconstruído Betaramfta, que é a
Deus. No Novo Testamento, todos os crentes são mesma Bete-Arã de Jos. 13:27. Mas deu-lhe o novo
estrangeiros neste mundo (ver Fil. 3:20; I Ped. 2:11). nome de Julias, conforme nos adianta Josefo (Anti.
No entanto, através de Jesus Cristo, todos os 18.2.1).
estrangeiros e peregrinos podem tornar-se membros 3. Divisões da Mishnah; Informes Históricos
com todos os direitos da casa de Deus, visto que o Esse documento hebreu fomece-nos três áreas
muro de separação, entre judeus, e gentios, foi gerais da Palestina: a Judéia, a Transjordânia e a
derrubado por meio de sua cruz (Efé. 2:11-19). Galiléia (Baba Bathra 3.2; Ketuboth 13:10). Mui
O conceito da fraternidade da humanidade remida, provavelmente, Decápolis fazia parte da Peréia,
em torno de Cristo é um passo que ultrapassa em muito embora Josefo pareça ter excluído aquela porção da
às mais arrojadas concepções de igualdade e fronteira norte daquela área. De acordo com ele,
solidariedade humana entre os israelitas. De fato, se ficava ao sul de Pela, uma cidade para onde os judeus
no cristianismo não há mais a mínima diferença racial cristãos fugiram quando os romanos invadiram a
e cultural entre os homens, quando se encontram em Palestina. A fronteira sul da Peréia era Maquero
Cristo, de acordo com a legislação mosaica houve (onde Herodes mandara decapitar a João Batista).
grupos étnicos que jamais puderam fazer parte da Ver Josefo (Anti. 18.5,2). Herodes Agripa II, durante
comunidade israelita. Ver Deu. 23:2-9, onde a o tempo do imperador Nero, governava a Peréia.
participação na assembléia fica vedada aos bastardos, Atualmente, a Peréia está incluída no reino hasemita
aos amonitas e aos moabitas, embora essa proibição da Jordânia; mas desde há muito que o nome Peréia
não pesasse nem sobre os edomitas e nem sobre os caiu em desuso.
egípcios.
4. Jesus na Peréia
Embora o nome Peréia não figure nas páginas do
Novo Testamento, certos lugares pertencentes àquela
PERÉIA área são mencionados em relação ao ministério de
Esboço: Cristo. Conseqüentemente, os eruditos falam sobre o
1. A Palavra e as Referências Bíblicas ministério de Jesus na Peréia. Jesus deixou a Galiléia e
2. Sua Ãrea Geográfica partiu para a Peréia (ver Mat. 19:1; Mar. 10:1). Esse
3. Divisões da Mishnah; Informes Históricos período terminou com o incidente da unção de Jesus
4. Jesus na Peréia por Maria, em Betânia, que já ficava na Judéia (ver
Mat. 26:6 ss). Qs trechos bíblicos que abordam essa
1. A Palavra e as Referências Bíblicas fase do ministério de Jesus mencionam lugares da
O nome Peréia deriva-se do grego, «do outro lado». Transjordânia que então não faziam parte da Peréia,
Está em foco a área da Transjordânia, na Palestina. A razão pela qual a expressão «ministério na Peréia» não
Septuaginta diz apenas peran tou Iordanou, «do outro é exata. Viajando de Nazaré a Jerusalém, Jesus
lado do Jordão». Essa expressão foi usada por Josefo e naturalmente atravessou aquela região. Os trechos de
215
PERES - PERFEIÇÃO
Mat. 4:25 e Mar. 3:8 falam sobre as grandes filisteus e com os jônios (descendentes de Javã), o que
multidões que vinham da Peréia buscar cura no parece indicar que eles eram semitas, e não
Senhor Jesus. indo-europeus. E os ferezeus são mencionados junto
com os amorreus, o que subentende que eles
PERES ocupavam uma área geográfica ainda mais ocidental.
Além disso, as designações não são precisas no que
Essa palavra deriva-se do aramaico, peras, tange ao ponto de vista étnico, tendendo por designar
«dividir». O escrito em aramaico que apareceu
misteriosamente na caiadura da parede, repreenden povos de área específica, e não de raças específicas.
do a Belsazar (ver Dan. 5:25), dizendo Mene, Mene, Ver Êxo. 3:8,17 quanto à menção dos ferezeus com os
Tequel Ufarsim (vide), incluía a raiz peras, no termo amorreus. Eles também são mencionados em
Ufarsim, pois peras é a forma singular da mesma. O conjunção com os refains, em Gên. 15:20, o que
«u» de Ufarsim é apenas a conjunção «e». A parece situá-los na área a oeste do rio Jordão. Parece
mensagem assim transmitida dizia, pois, que o reino que eles ocupavam territórios a oeste do rio Jordão e
de Belsazar seria dividido e dado aos medos e persas. ao norte do mar Morto, na região montanhosa entre
Bete-Seã(Beisã) e Bezeque (Khirbet Ibziq). Foram os
homens da tribo de Manassés que, finalmente, vieram
PEREZ a possuir a maior parte dessa região.
Palavra que vem de uma raiz hebraica que significa A primeira menção aos ferezeus ocorre em Gên.
«separar». Esse era o nome de um dos dois filhos de 13:7, como um povo associado aos cananeus; então
Maquir, da tribo de Manassés, que era seu avô (I Crô. eles entraram em contacto com Abraão (ver Gên.
7:16). Perez viveu em torno de 1650 A.C. 34:40). Judá ocupou parte do território deles,
conforme se aprende em Juí. 1:4,5. Os ferezeus
continuaram convivendo perto dos israelitas até os
PEREZ-UZÀ
tempos de Salomão, o qual os sujeitou ao pagamento
Esse nome significa «brecha» ou «ferimento» (de de tributo (I Reis 9:20). Os trechos de Deu. 3:5 e I
Uzá). E também veio a tomar-se o nome de um lugar Sam. 6:16 parecem indicar que eles habitavam em
que também era conhecido como Nacom (II Sam. 6:6) cidades e aldeias sem muralhas, pois a própria
e também «eira de Quidom» (I Crô. 13:9). Foi ali que palavra, ferezeus, significa «habitantes de aldeias sem
morreu Uzá (vide), ao ser ferido pelo Senhor por
haver ousado estender a mão para não deixar a arca muros», como palavra cognata de paruz, usada na
cair. Mishna para indicar um habitante de uma aldeia sem
A grande questão é por que isso lhe sucedeu; e o muros. A palavra árabe que significa lugar baixo,
artigo a respeito de Uzá procura sondar o assunto. entre colinas (onde surgiam essas vilas), parece ser um
Davi ficou muito abalado diante do acontecido, e deu termo cognato.
ao local o seu nome novo, Perez-Uzá, porquanto ali
Uzá fora ferido. O local exato é desconhecido
atualmente, embora ficasse entre Jerusalém e PEREZITAS (PEREZ)
Quriate-Jearim. Esses adjetivos vêem do termo hebraico que
significa «irromper», «espalhar-se». Perez foi o nome
de um dos gêmeos referidos em I Crô. 27:3 e Nee.
PEREZEUS (FEREZEUS) 11:4,6. Seu irmão chamava-se Zerá. Os dois eram
As traduções variam entre estes dois nomes. filhos de Judá e sua própria nora, Tamar, que
Esse povo antigo é mencionado somente no Antigo enganou seu sogro e manteve relações sexuais com ele
Testamento. Ver Gên. 13:7; Êxo. 33:2; 34:11; Deu. (Gên. 38:29; I Crô. 2:4). Perez foi assim chamado por
7:1; 20:17; Jos. 3:10; 12:8; 17:15; Juí. 1:4,5; 3:5; I ter sido o primeiro a «irromper» do ventre materno
Reis 8:2; II Crô. 8:7; Esd. 9:1 e Nee. 9:8. Esse era o (ver Gên. 38:29). Com o tempo, ele tomou-se pai de
nome de um dos povos cujas terras os israelitas Hezrom e Hamul (Gên. 46:12; Núm. 26:21), cujos
conquistaram sob a liderança de Josué, embora descendentes são chamados «perezitas» no Antigo
alguns eruditos creiam que o nome indique a Testamento. A linha messiânica passa por Perez e por
população mais antiga da Palestina, sem designar Hezrom, conforme se aprende em Mat. 1:3 e Luc.
qualquer nação em particular, pelo que seria um 3:33. O trecho de Rute 4:12 refere-se a esse homem,
tendo em vista a passagem de Gên. 38. Ambos os
termo coletivo. Seja como for, esse nome não aparece relatos aludem ao casamento levirato (vide). Desse
na tabela das nações, no décimo capítulo de Gênesis. modo foram garantidas as promessas de grande
Parece que*essa palavra significa apenas «aldeões», prosperidade e de muitas terras possuídas, feitas por
pelo que, desde o começo, tinha um sentido bem Deus a Abraão (Gên. 13:14-17). A família de Perez
amplo. tornou-se numerosa, como exemplo do cumprimento
Algumas vezes, cananeus e ferezeus são nomes dessa promessa divina. Seus descendentes eram
usados para abranger todos os povos que habitavam notáveis nos tempos de Davi (ver I Crô. 11:11;
na Palestina, antes da invasão hebréia; nesse caso, 27:2,3). Um remanescente que sobreviveu ao cativeiro
quase certamente o termo ferezeus é um termo babilónico retornou para fixar residência em Jerusa
coletivo para indicar todos aqueles que não eram lém (Nee. 11:4-6).
considerados cananeus. Ver Gên. 13:7. Outros PERFECIONISMO Ver Perfeito, Perfeccionismo.
pensam que o termo era aplicado essencialmente aos
amorreus. Também é possível que, coletivamente PERFEIÇÃO Ver também Perfeito, Perfeccionismo.
falando, os povos semitas ocidentais fossem os A fim de que apresentemos todo homem perfeito
cananeus, e que os povos semitas orientais fossem os em Cristo, Col. 1:28. Isso pode ser comparado com o
ferezeus. Minhas fontes informativas dão conta que trecho de Efé. 4:12 e ss. que fala acerca do fato de
dados culturais, lingüísticos e históricos dão apoio a que o exercício dos dons espirituais, nas igrejas locais,
essa teoria de dualidade. Os ferezeus não são tem a finalidade de obter a perfeição dos crentes,
mencionados juntamente com os hititas, com os perfeição essa que é definida como tornar-se «homem
216
PERFEIÇÃO - PERFEIÇÃO ESPIRITUAL
perfeito» (ver Col. 1:23), em que o crente passa a PERFEIÇÃO, PRINCIPIO DA
possuir a «medida da estatura da plenitude de Cristo».
Referências e idéias. A perfeição : A filosofia de Leibnitz, com a sua Grande Mônada
1. A perfeição é de Deus (ver Sal. 18:32 e 138:8). que programaria as mônadas inferiores de que todas
2. Todos os santos possuem a perfeição inerente, em as coisas são compostas, não deixava espaço para
Cristo (ver I Cor. 2:6; Fil. 3:15 e Col. 2:10). 3. A qualquer genuíno Problema do Mal (vide). Por caysa
perfeição de Deus é o padrão da nossa (ver Mat. dessa programação divina foi que ele declarou que
5:48). 4. A perfeição implica em total devoção (ver Deus criou «o melhor de todos os mundos possíveis»,
Mat. 19:21). onde há um máximo de perfeição, com um mínimo de
Ê uma interpretação má e errônea reduzir a idéia deficiência. Doutra sorte, Deus não seria um bom
da perfeição, exposta nas páginas do N.T., à mera programador.
«maturidade» espiritual. O alvo colimado é muito
mais elevado do que isso, porquanto é a perfeição
absoluta; e, apesar de não poder ser alcançada nesta PERFEIÇÃO ESPIRITUAL
vida, senão imperfeitamente, no entanto, é o nosso I. Pelo Conhecimento
grande alvo. E no que consiste a nossa perfeição em Nenhutn crente individual e nem a igreja,
Cristo? Vejamos os pontos abaixo: coletivamente, atingiram ainda a unidade que a fé
1. Consiste em possuirmos toda a plenitude de pode produzir, quando então estaremos em total
Cristo (ver Col. 1:23). união com tudo quanto Cristo é e tem. Paulo não
2. Consiste em possuirmos toda a «plenitude de reivindicava haver atingido a perfeição (ver Fil.
Deus» (ver Efé. 3:19). 3:12-14). Há uma só fé (ver o quinto versículo), sendo
3. Consiste em sermos santos como o é Deus Pai essa uma das formas unificadoras fundamentais do
(ver Mat. 5:48). sistema cristão. Essa fé salvadora, essa «entrega de
4. Consiste em virmos a participar da imagem de alma» a Cristo, finalmente resultará em total entrega
Cristo, de sua natureza, em seus aspectos moral e a Cristo, por parte de todos os crentes. Disso é que
metafísico (ver Rom. 8:29 e II Cor. 3:18). fluirá a plena unidade e tudo quanto está prometido
5. Consiste em participarmos da própria divindade no caminho das bênçãos espirituais e celestes (ver Efé.
(ver II Ped. 1:4). Toda a atividade cristã visa esse 1:3). (Ver o artigo sobre a Fé).
elevadíssimo alvo. Pleno conhecimento do Filho de Deus, Efé. 4:13.
As palavras pleno conhecimento, traduzem um único
Uma Oração: vocábulo grego, epignosis; mas, visto que essa
«Õ Deus, a quem ouso chamar de Pai, ajuda-me, palavra é uma forma intensificada (com um prefixo
primeiro a ‘ver’: a ver a estatura incomensurável de préposicional), é tradução correta dizer como temos
Cristo, a ver que ele deseja supremamente viver em aqui. Q u e m recebe tal conhecimento, conhece
mim e me transformar, para que eu seja como ele experimentalmente o Filho de Deus. Quanto a isso,
mesmo é, para que, na realidade, ele seja meu Irmão consideremos os pontos abaixo:
mais velho. 1. Essa palavra indica conhecimento intelectual,
Ò Cristo exaltado, a quem ouso chamar de Irmão, mas não somente isso.
ajuda-me a ‘ser’, a começar a ser, desde agora, aquilo
que tu mesmo és, — que a minha natureza seja 2. Também significa o conhecimento experimental
espiritualizada como a tua, para que conserve essa da alma, mediante a «comunhão» com o Filho de
elevada visão do ‘ser’ até que o suspiro final liberte a Deus, em sua natureza essencial e em suas
minha alma para que suba para Ti. manifestações. Paulo via Cristo como uma personali
dade transcendental que, em sua grandiosidade, só
ó Espírito divino, agente dessa graça, ajuda-me a pode vir a ser conhecido por métodos espirituais. E
não desanimar diante dos homens, os quais têm uma assim conhecido ele passa a transformar os homens,
visão inferior à minha acerca do Filho, ou da filiação para que estes assumam sua natureza e suas riquezas.
que ele compartilha com os homens. Se porventura E por isso que Paulo declarou, em Fil. 3:10: «para o
disserem-me: ‘Tu te aproprias demasiadamente para conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão
ti mesmo’, ajuda-me na alma, para que responda: dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua
‘Por tempo demais tenho-me apropriado de pouco morte...»
demais; não honrarei a Cristo se esforçar-me por um
alvo que fica aquém daquele que ele designou para 3. Esse conhecimento, pois, é de natureza
mim’. Esse pensamento divino eu nunca teria «mística», conforme diz a teologia paulina do
imaginado ser capaz de ter: veio-me por revelação, no principio ao fim. Em outras palavras, tal conhecimen
mistério do Cristo em nós residente. Coisas mais to nos chega através da «iluminação e transformação»
elevadas, coisas mais nobres — essas são as que têm operadas pelo Espírito Santo, (comparar isso com
Efé. 1:18) onde Paulo ora para que os crentes tenham
atraído os meus olhos». (Russell N. Champin) seus olhos do entendimento «iluminados», a fim de
Ver Perfeição Espiritual e Vitória Espiritual: que possam «conhecer» a esperança da nossa vocação,
Estágios da Inquiriçio Espiritual. as riquezas da glória de herança nos santos; e assim
«conheceremos» seu grande poder, que foi exercido
PERFEIÇÃO, GRAUS DE em Cristo, e que será exercido em nós. (Ver Efé.
Esse é um dos argumentos tradicionais em favor da 1:19). Conhecer e experimentar tais coisas, portanto,
faz parte do que significa «conhecer» a Cristo.
existência de Deus. Também é conhecido por
argumento axiológico, ou seja, baseado na idéia de A revelação, além disso, leva-nos a conhecer ao
próprio Deus, conforme aprendemos no décimo
valores. A existência de valores em graus variados sétimo versículo deste mesmo capítulo. O tema da
implica na necessidade de postularmos o Valor segunda oração de Paulo, neste livro, é que possamos
Absoluto, fonte e sustentáculo de todos os valores. «conhecer» o «amor de Cristo», e nesse amor se
Valor Absoluto é um outro nome dado a Deus. Ver encerra o «conhecimento de tudo quanto o amor de
dois artigos separados, intitulados Cinco Argumentos Cristo está fazendo por nós e em nós». Pois, nas
de Tomás de Aquino em Favor da Existência de Deus páginas do N.T., conhecer é amar, pois o «conheci
e Argumento Axiológico. mento-amor» é a gnosis neotestamentária, em
217
PERFEIÇÃO NA FILOSOFIA
contraste com os conceitos dos gnósticos. Sim, o amor quanto Cristo é. Trata-se de elevada doutrina, que
é a real gnosis cristã, por ser essa a fonte originária de nos ensina profunda verdade. Essa elevação, entre
todas as bênçãos espirituais. tanto, está oculta da moderna igreja evangélica, que
Do Filho de Deus, Efé. 4:13. Essa expressão, não pode se elevar acima de pensamentos como
está ligada tanto à «fé» como ao «conhecimento». ficarmos livres do pecado. Porém, estarmos sem
Trata-se da «fé em Cristo» e do «conhecimento de pecado não nos torna perfeitos. Pois òs anjos, que não
Cristo». caíram, são impecáveis, mas nem por isso participam
H. Finalidade da perfeição de Deus Pai e ds Deus Filho. O
A perfeita varonilidade, Efé. 4:13. Variações dessa evangelho, porém, expõe ante os homens essas
perfeições, que transcendem infinitamente a mera
expressão são «homem perfeito», «varonilidade ma impecabilidade que muitos vêem aqui.
dura». Paulo fala de um corpo humano que cresce
desde a infância até atingir a idade adulta, a HL A Natureza da Perfeição
maturidade. Espiritualmente falando, a «criança», 1. Em sua manifestação terrena, a perfeição
que é a igreja, mediante o «desenvolvimento aparece como maturidade espiritual, como elevado
espiritual», haverá finalmente de tornar-se homem grau de santidade, de parceria com o poder espiritual
maduro. (Isso pode ser comparado com o «novo e utilidade nas mãos de Deus no que diz respeito tanto
homem» de Efé. 2:15). Porém, «plenamente desen a nós, quanto à igreja. Recebemos poder a fim de
volvido» ou «maduro», neste caso, no presente servirmos e cumprirmos nossas respectivas missões.
contexto, deve também significar «perfeito», ou seja, 2. Porém, nas dimensões celestiais, começaremos
«homem sem qualquer deficiência ou defeito», dotados da mesma natureza que Cristo (ver I João
porquanto nada menos do que isso concorda com o 3:2), e assim participantes de sua plenitude e
próprio texto, ao mesmo tempo que o vocábulo grego atributos (ver Col. 2:10).
«teleios» naturalmente tem esse significado, ainda que 3. Por semelhante modo, pertencem-nos a natureza
não tenha necessariamente tal sentido, podendo e os atributos do Pai (ver Efé. 3:19).
indicar apenas «maduro», em contraste com «infan 4. Na qualidade de seres tão exaltados, ainda assim
til», quando aplicado a seres humanos. a nossa perfeição será apenas «relativa», pois só Deus
No versículo seguinte, Paulo menciona os nepioi é perfeito. Mas iremos passando de um estágio de
(«crianças»), palavra grega essa que com freqüência glória para outro, perenemente aumentando a nossa
indica «infantes» bem pequenos, que ainda não sabem perfeição, sempre nos aproximando, mas nunca
falar. Os crentes imaturos são como tais crianças, atingindo plenamente as perfeições divinas. Portan
quanto ao desenvolvimento espiritual. Porém, o to, a glorificação será um processo interminável. A
propósito dos dons espirituais, na igreja e em seu impecabilidade será apenas seu início. Também
programa geral de edificação (ver o décimo segundo iremos avançando no campo das virtudes positivas de
versículo), é produzir a maturidade e a perfeição no Deus, em seus atributos, e na participação de sua
seio da igreja; e nessa unidade perfeita é que se forma de vida.
cumpre o mistério da vontade de Deus, no tocante à Qual será o tempo da maturidade? Paulo não frisa
igreja (ver Efé. 1:10 e 3:3). aqui nenhum ponto no tempo, presente ou futuro,
A igreja inteira, e não meros crentes individuais, é para atingirmos esse alvo da perfeição. Mas a
que está em pauta aqui, embora seja verdade que eternidade futura será o terreno da busca contínua e
aquilo que sucede à igreja inteira necessariamente bem sucedida. De fato, sendo Deus infinito, e visto
sucede a todos os seus membros. Cada crente será um que estamos crescendo segundo a sua plenitude,
exemplar do que Cristo é, porquanto somos Cristo em passaremos a eternidade nessa inquirição, crescendo
formação. O singular usado neste caso, o «homem» sempre na direção da perfeição, o que é o propósito da
que chegou à «perfeita varonilidade», assinala a total vida: tudo vem de Deus; tudo volta para Deus. Ver Vi
unidade que se busca concretizar e que, fatalmente, tória Espiritual: Estágios da Inquirição Espirtual.
será atingida. Portanto, toda e qualquer desunião,
conforme vemos hoje em dia à face da terra, no seio
da própria igreja evangélica, com suas numerosíssi PERFEIÇÃO NA FILOSOFIA
mas denominações, onde igrejas locais competem Ver o artigo geral sobre a Perfeição, que aborda
entre si em mau sentido onde crentes se destroçam certo número de aspectos dessa questão, do ponto de
uns aos outros, tudo isso é uma negação prática da
unidade da igreja, sinal de imaturidade espiritual, por vista bíblico e do ponto de vista teológico. O assunto
que ainda somos infantes, espiritualmente falando. também tem parecido importante para os filósofos, o
Para chegarmos à unidade, é inútil continuarmos a que é demonstrado pelo presente artigo.
reduzir o cristianismo ao seu estado mais ínfimo, com O termo latino perfectio significa «perfeição». A
o que todos possam concordar e ficar unidos. Pelo forma verbal repousa sobre per, «através», e facere,
contrário, precisamos, todos nós, crescer em Cristo, «fazer», com o sentido de ter sido feito completamen
atingir a maturidade espiritual. Somente assim te, estar perfeito. No caso de pessoas e de coisas, isso
seremos unidos em Cristo, alicerçados no «máximo» e aplica-se com justeza ao caso de Deus, no tocante às
não no «mínimo» do cristianismo. O movimento suas obras, embora não no tocante à essência de seu
ecumênico da igreja de hoje em dia procura unir os ser. Na filosofia, o termo perfeição aplica-se
cristãos sobre bases «mínimas»; e por isso fica principalmente a Deus; e, em sentido derivado, ao
automaticamente condenado pelo conceito de unida homem.
de encontrado nesta passagem.
Idéias de Vários Filósofos:
A medida da estatura da plenitude de Cristo, Efé.
4:13. Isso reitera, em outras palavras, o conceito da 1. Xenófanes referia-se a Deus como imutável,
perfeição com que se inicia o presente versículo. A dotado de propriedades como onipresença e onipotên
obtenção da p e rfe iç ã o , na realidade, consiste em cia. Sua filosofia não podia entender um Deus
assumirmos a total medida da plenitude de Cristo. mutável.
Essa expressão também define o que deve ser o 2. Platão falava sobre as Idéias (ver sobre os
«homem perfeito» (que Paulo acabara de mencionar). Universais) como imutáveis, desligadas do tempo,
Ninguém poderá ser «perfeito» enquanto não for tudo perfeitas. As coisas deste mundo dos Particulares
PERFEIÇÃO NA FILOSOFIA
(vide), ou seja, o nosso mundo físico, são o contrário procurou unificar todas as teorias éticas com base no
disso, meras imitações daquilo que é imutável e critério da perfeição. Cousin, por sua vez, pensava
perfeito. Em seu diálogo, Leis, ele chegou a substituir que esse critério é superior a todos os demais critérios,
o termo Idéias pelo termo Deus. E isso, provavelmen como o prazer, o benevolência, a utilidade, etc.
te, representava uma antiga forma de monoteísmo, 9. Herbart julgava que o conceito da perfeição é
completa com várias descrições judaico-cristãs. uma das cinco relações básicas da vontade, ou seja,
3. Aristóteles. Para ele, a perfeição se encontrava daquilo que constitui a vontade. O homem deseja
no Movedor Inabalável, o seu conceito de Deus como chegar à perfeição. As outras quatro qualidades da
uma força cósmica. Deus seria uma força (um ser) de vontade são: a harmonia, a benevolência, a lei e a
Forma Pura e de Ato Puro, onde todas as eqüidade. Como no caso de todos os filósofos aqui
potencialidades têm cumprimento. Isso distinguiria mencionados, ver o artigo separado acerca dele,
Deus de todos os outros seres, que ainda estão em quanto a maiores detalhes.
processo de concretização, o que significa que têm 10. Fechner, em oposição a muitos outros pensado
deficiências. Todos os demais seres seriam um misto res, defendia a idéia de uma perfeição crescente, a
de concretização e potencialidade. A perfeição de qual, obviamente, não é a perfeição em sentido
Deus, porém, implicaria na imutabilidade. absoluto. Ele acreditava que Deus pode ultrapassar a
4. Jesus Cristo, apesar de não podermos considerá- si mesmo, embora nenhum outro ser seja capaz de
lo um filósofo, ainda assim precisa ser levado em ultrapassar a Deus. Isso posto, as perfeições de Deus
conta neste verbete, visto que as suas idéias iriam sempre aumentando. Essa idéia, como é claro,
revestem-se de vasta importância filosófica. Cristo fala sobre um Deus finito, que vai avançando para
achava em Deus todas as perfeições, e também fazia uma expressão mais perfeita. Alguns poucos teólogos
de Deus o alvo de toda busca pela perfeição (ver Mat. cristãos vêm advogando a idéia de um Deus finito,
5:48). O artigo chamado Perfeição aborda as idéias com base no problema do mal. Assim, há coisas
teológicas sobre a perfeição. O perfeccionismo que erradas, neste mundo, porque Deus, apesar de ser
tem maculado o cristianismo também é descrito muito grande, não era grande o bastante para impedir
naquele artigo. Ver também o artigo Perfeição completamente a presença do mal. Assim também
Espiritual. pensam os mórmons, que idealizam um Deus que
5. Anselmo. Seu conceito ontológico depende do continua sendo finito, embora imenso.
conceito da perfeição divina. Ver sobre o Argumento 11. T.H. Green referia-se à perfeição humana em
Ontológico. Somente um Deus que realmente existe termos de organização social objetiva, com suas lutas
pode ser chamado perfeito. Portanto, o conceito da e realizações. A auto-realização é o alvo de cada
perfeição precisa incluir a idéia de existência. Deus é indivíduo, e a perfeição humana (individual e
Aquele que é melhor ser do que não ser, e nisso ele coletiva) é o alvo da própria sociedade. Faz parte do
atinge e exprime a perfeição, em cada categoria. dever do Estado prover condições adequadas para que
Apesar desse tipo de argumentação parecer estar todos possam atingir esse alvo. Em conseqüência, em
baseado somente na razão, podendo assim ser uma sua filosofia, os direitos do indivíduo estão acima dos
invenção intelectual, que não reflete a verdade, direitos do Estado.
toma-se claro, nos escritos de Anselmo, que ele estava 12. Hartshome tinha um conceito curioso da
dependendo de revelações e experiências místicas perfeição, algo parecido com o de Fechner, mas com
como base de sua teoria. Ademais, naturalmente ele uma leve distorção. Ele usava a palavra surrelativo
pressupunha que a razão humana encontra infinitude (que, provavelmente, não se acha nos dicionários), a
na mente divina, ou seja, é capaz de criar tais fim de descrever seu ponto de vista. Essa palavra vem
proposições que correspondam à realidade dos fatos. do latim, sur, «além», e relativus, do latim posterior,
6. Tomás de Aquino empregou uma forma do que com base no termo latino clássico relatus, «relativo».
agora é chamado de Argumento Axiológico (vide), Assim, a palavra «surrelativo» indica algo que «vai
alicerçado sobre o conceito de que graus de perfeição além do relativo». Deus, pois, não seria absoluto, mas
requerem o pensamento de que deve haver um grau relativo, podendo ultrapassar a si mesmo. Em um
máximo de perfeição. Quando chegamos a esse grau dado momento, Deus é o Máximo Absoluto presente.
máximo, encontramos Deus, que é a fonte e o padrão Mas, na verdade, um absoluto nunca é realmente
de todas as perfeições. Deus é a concretização de toda atingido enquanto Deus não se ultrapassa a si mesmo,
perfeição. Todas as demais coisas têm algum grau de criando um novo máximo. Deus é capaz de
concretização; mas consistem, principalmente, em ultrapassar a si mesmo. Isso posto, ele apresenta a
potencialidade. O termo grego áxios (valioso) veio a perfeição em qualquer dado momento, mas pode
ser usado para referir-se a todos os valores éticos, melhorar a sua própria perfeição; e, em conseqüên
estéticos e metafísicos. cia, ele seria um Deus surrelativo.
7. Leibnitz definia Deus como a somatória de todas 13. O positivismo (vide) ensina que todos os termos
as perfeições. Ele chegou a essa definição separando da linguagem humana resultam da experiência
entre si todas as propriedades individuais de Deus. humana, podendo ser postos a serviço da descrição
Todas elas são perfeitas em si mesmas; e, considera dos conceitos metafísicos. De fato, esses conceitos não
das conjuntamente, acrescentam ao Ens Realissimum podem ser investigados, pelo que são destituídos de
(o maís real e mais perfeito dos Seres, a fonte de todas sentido, segundo os termos humanos. Portanto, é
as outras perfeições). Ele é a grande Mônada que inútil falar sobre um termo tão amplo quanto
trouxe à existência todas as outras mônadas, de que «perfeição», como se pudéssemos saber que qualquer
todas as coisas estão constituídas, e que foram coisa é perfeita. Além disso, a filosofia da linguagem
programadas por ele. tem-nos ensinado.que qualquer termo absoluto, como
8. Ferguson fazia da perfeição o alvo de toda vida o omnis de onipotente, de onisciente, etc., na
individual e coletiva; e o critério de todas as realidade é um termo negativo. Chegamos a um certo
considerações de certo ou errado seria a perfeição. Ele ponto, ,em uma descrição, e então, quando não mais
PERFEITO, PERFECCIONISMO
podemos avançar, ocultamos o vácuo em nosso pecado, para que se tome possível ao homem atingir a
conhecimento por meio de um omni. Outrossim, até chamada perfeição. O segundo erro aí envolvido
aquele ponto podemos apresentar uma descrição que consiste em supor que meramente estar isento de
depende da experiência e da linguagem humanas. pecado já é a perfeição. Esse ponto de vista, pois,
Porém,, como poderíamos descrever algo divino com olvida-se que a verdadeira perfeição deve incluir,
tais elementos? obrigatoriamente, a participação positiva nos atribu
As pessoas com inclinações religiosas respondem a tos infinitos de Deus. Apesar de já estarmos
essas objeções, dizendo que, apesar de ser verdade, compartilhando em pequena escala nesses atributos,
visto que estamos sendo transformados segundo a
mediante uma análise filosófica, que são negativos os imagem e natureza do Filho de Deus (ver Rom. 8:29),
grandes termos que tentam descrever a Deus, por jamais chegaremos (agora ou na eternidade) a
outra parte, ainda assim podemos sentir a grandiosi compartilhar desses atributos em sentido infinito.
dade de Deus, indicando esse sentimento (posto que Assim sendo, jamais poderemos considerar-nos,
não a compreensão intelectual) por meio de um omni absolutamente perfeitos, mesmo já estando no estado
ou de algum outro vocábulo de significação profunda. de glorificação, lá nos céus. Quanto a maiores
Há verdade por detrás desses sentimentos, e não explicações sobre a questão, ver o artigo sobre o
precisamos sacrificar essa verdade, a despeito de Pecado, em sua sexta seção, Perfeição Impecável?
nossos fracos meios de investigação. Ademais, há O Perfeccionismo Escatológico. Esse é o termo
experiências humanas bastante incomuns, conforme empregado pelos teólogos ao que acabamos de dizer.
se vê no misticismo (vide); e essas experiências Uma total realização humana, a perfeição moral
levam-nos para além do baixo teto que o positivismo (impecabilidade) e a participação positiva nos
impõe sobre as nossas cabeças. Quanto a uma atributos positivos de Deus (o que poderá ser algo
ilustração disso, ver os artigos sobre Satya Sai Baba e fantástico e crescente eternamente, embora nunca
sobre as Experiências Perto da Morte. A experiência absoluto), são bênçãos prometidas para a eternidade
humana é mais rica, mais completa e mais futura, embora não para esta vida, em qualquer
significativa do que os filósofos positivistas imaginam, sentido que poderíamos chamar de perfeito. Não há
pelo que essa experiência pode ser invocada em defesa exemplos vivos de perfeccionismo neste lado da
existência, embora algumas pessoas espiritualmente
dos conceitos religiosos, por mais imperfeitos que os notáveis tenham subido acima da multidão geral dos
mesmos possam ser. Ninguém precisa da perfeição cristãos. Na fé cristã, a perfeição, em seu sentido
para sentir a grandiosidade de algo. Essa grandiosi absoluto (ver o terceiro ponto, Pefeiçio Divina), é
dade está disseminada por toda a existência. A soma atribuída única e exclusivamente a Deus.
total da vida é realmente estarrecedora em sua
grandiosidade, e talvez não seja um exagero usar o O Peregrino. O verdadeiro crente acha-se na
vocábulb «perfeito» para descrever a Fonte do estrada que leva à perfeição; mas essa estrada chega
tremendo espetáculo que podemos observar dia após até às eras distantes da eternidade futura. Assim
dia. sendo, o crente é um peregrino, tanto nesta quanto na
outra vida. Isso é verdade porque o homem é um ser
pertencente ao outro mundo, e o crente vai avançando
PERFEITO, PERFECCIONISMO de glória em glória (ver II Cor. 3:18).
Esboço: Os Advogados do Perfeccionismo Atual. Alguns
1. Usos Legítimos do Termo místicos cristãos, em seu entusiasmo gerado por
elevadas experiências espirituais, têm usado a
2. Um Uso Errôneo do Termo linguagem do perfeccionismo; mas os místicos não se
3. A Perfeição Divina preocupam muito com meras palavras, pelo que a
4. Usos Bíblicos da Palavra Perfeição linguagem deles não precisa indicar que defendem o
5. As Perfeições de Cristo dogma do perfeccionismo. Por outro lado, é possível
6. Sumário de Idéias que alguns deles realmente defendam essa posição.
7. Perfeição na Filosofia Porém, isso reflete um exagerado entusiasmo quanto
1. Usos Legítimos do Termo às próprias experiências. Os moralistas, por sua vez,
entusiasmam-se quanto às suas realizações espiri
Em nossa gradual transformação à imagem e tuais, e algumas vezes caem na tentação de usar
natureza de Cristo, esforçamo-nos (e, finalmente, erroneamente a palavra «perfeito». Origenes, ao
atingiremos) por alcançar um significativo grau de incorporar as idéias e a linguagem dos místicos
perfeição. A perfeição absoluta, entretanto, pertence neoplatônicos, ocasionalmente falou como se ele fosse
exclusivamente a Deus. A mera impecabilidade um perfeccionista. O monasticismo católico romano,
jamais é considerada perfeição. Em nossa transforma em seu misticismo, produziu alguns exemplos dessa
ção à imagem do Filho de Deus, vamos recebendo maneira de falar. Alguns anabatistas e seitas
mais e mais da natureza e dos atributos divinos (ver II espiritualistas têm pensado ser possível a perfeição
Ped. 1:4), embora em um sentido secundário, finito. impecável. Naturalmente, eles viam com olhos baços
Mas, visto como isso faz parte da glorificação (vide), a profunda depravação do homem, não tendo idéias
será uma transformação crescente, cada vez mais tão claras a respeito quanto os reformadores
profunda e abrangente. O finito, pois, ir-se-á protestantes. Os metodistas, os menonitas, os quacres
aproximando cada vez mais do Infinito. Ver o artigo e várias denominações pentecostais têm dado
Transformação Segundo a Imagem de Cristo; e continuação ao perfeccionismo histórico.
também Perfeição Espiritual. Mas, apesar desse ideal ser nobre, é preciso que um
2. Um Uso Errôneo do Termo homem defenda uma teologia bem superficial para que
Contra as claras indicações de I João 1:10, alguns possa considerar-se perfeito, ou mesmo impecável, o
cristãos supõem que ainda presos a este corpo mortal, que já fica aquém da perfeição. Alguns estudiosos
os crentes podem atingir o estado de perfeição liberais, inclinados para o misticismo, também têm
impecável. O primeiro erro nessa idéia consiste em adotado uma postura perfeccionista. Mas ninguém
não reconhecer a natureza radical e toda-permeadora acredita nas reivindicações dos perfeccionistas, senão
do próprio pecado. E muitos rebaixam a definição do eles mesmos. Pessoalmente, conheci somente duas
220
PERFEITO, PERFECCIONISMO
pessoas que se diziam possuidoras da perfeição e às criaturas.
impecável. Uma delas era um alcoólatra que, Sumário. O perfeito é superior ao não-perfeito.
naturalmente, falava desvairado, sob a influência da Deus é aquilo que é melhor ser do que não ser. Essa
bebida. E a outra era um pregador pentecostal, que se perfeição aplica-se à ausência de qualidades negativas
declarava perfeito. A esposa dele e outras pessoas
íntimas e amigos sabiam que não era assim; mas ele em Deus; mas também à possessão, no mais elevado
conseguia continuar iludindo-se. Isso não quer dizer grau, das qualidades positivas que, naturalmente,
que ele não fosse uma boa pessoa. Ele o era. Mas o fazem parte de um Ser Perfeito. A perfeição também
uso do adjetivo «perfeito», que ele aplicava a si envolve a capacidade e o esforço de enriquecer aqueles
mesmo, era arrogante ao extremo. seres e aquelas coisas que Lhe são inferiores. Nas
Sem Desculpas. Apesar de ser impossível defender obras de Deus, há um processo de auto-enriquecimen-
o perfeccionismo, também é impossível para o crente to. Assim, quando o amor de Deus opera, e uma alma
defender uma atitude lassa acerca da inquirição é salva, tanto aquela alma quanto o próprio Deus são
moral e espiritual. Essa inquirição precisa ser enriquecidos. Grande mistério!
coerente, persistente, guiada na direção de nobres Trechos Bíblicos que Falam Sobre as Perfeições de
realizações. Somente assim poderemos ser considera Deus. O trecho de Mat. 5:48 alude diretamente a
dos autênticos discípulos de Cristo. Mas o crente essas perfeições. E a significação desse versículo
abandonou a atitude de denunciador. também envolve a necessidade de todo sério discípulo
3. A Perfeição Divina de Cristo buscar obter essa perfeição. O versículo não
Ver o artigo geral intitulado Atributos de Deus. A determina uma imposição cronológica à questão,
mas apenas a apresenta como um ideal de todo
palavra «perfeição» vem do latim, per, «através», e
remido. Esse ideal chegará a concretizar-se, em
facere, «fazer», dando a idéia de algo completamente
feito, perfeitamente feito. No caso de Deus, o sentido grande escala, por ocasião da glorificação, mas não de
original do vocábulo não diz respeito a algo por Ele forma absoluta. Pois na eternidade continuaremos
atingido, exceto na teologia mórmon; pois, conforme crescendo, rumo à perfeição. A lei do Senhor (Sal.
ensinam os mórmons, Deus, mediante seus esforços, 19:7), o caminho de Deus (Sal. 18:30) e as admiráveis
veio a tomar-se perfeito, deixando o bom exemplo obras de Deus (Jó 37:6), são chamados perfeitos na
para os seus filhos. De fato, para os mórmons, Deus, Bíblia. E o homem, bem como seu caminhar
na qualidade de um ser finito (e não infinito), com os espiritual, também é chamado perfeito, posto que
em sentido relativo, comparativo, e não em sentido
seus próprios problemas, também não possuiria a
absoluto e teológico. Assim é que Noé foi chamado
perfeição absoluta. Porém, dentro da corrente
«perfeito» (Gên. 6:9), e Jó foi chamado «íntegro» (Jó
principal do judaísmo e do cristianismo, o Deus
1:1). Os corações dos homens, por semelhante modo,
infinito é naturalmente perfeito. Ele possui todos os
podem ser chamados perfeitos (I Reis 11:4; 15:14),
seus atributos no sentido mais elevado possível. Isso embora essas não sejam declarações para serem
posto, Deus é perfeito tanto em sua natureza quanto
entendidas em sentido absoluto. Os homens podem
em seus atributos, sendo o Ens Realissimum (o Ser
ser espiritualmente «maduros» (ver Fil. 3:12,15), e
final, o absolutamente real e perfeito), dotado de
algumas traduções dizem ali perfeitos, mas essas
atributos que correspondem à essência de sua traduções não servem de texto de prova para qualquer
natureza. Em Deus, acham-se presentes todos os
coisa que vá além da possibilidade de uma elevada
valores reais e possíveis, e não apenas em potência.
realização espiritual.
Deus é o manancial de todos os valores e de todas as
perfeições, como também o preservador dos mesmos. 4. Usos Bíblicos da Palavra Perfeição
Qualquer outro ser será, forçosamente, apenas um Acima demos alguns exemplos. Perfeito, no sentido
fragmento minúsculo disso, e não a totalidade, ainda de maturidade, de algo completo e são é usado em Jó
que possa ir avançando na direção daquele padrão 1:1,8; 2:3; Sal. 18:30; 37:37; 64:6; I Reis 8:61; 11:4;
final que é Deus. Assim sendo, é ridículo pensar que 15:3; II Reis 20:3; I Crô. 12:28; 28:9; II Sam. 22:21;
qualquer criatura, angelical ou humana, possa ser passagens essas que aludem tanto à perfeição divina
perfeita. quanto à perfeição humana.
Além disso, existe a perfeição dinâmica, de acordo No Novo Testamento, o caminho de Deus é
com a qual Deus é concebido por nós como Quem vai chamado de «perfeito» (ver Atos 18:26), como
progredindo em suas obras e expressões, se não também o próprio Deus (ver Mat. 5:48). A função da
mesmo em sua natureza básica. Mudanças naquilo disciplina espiritual é o aperfeiçoamento do crente
que é perfeito são possíveis em termos de expressão. O (Tia. 1:4), como também se dá com certo aspecto do
termo perfeição estática pode ser aplicado à natureza amor cristão (I João 4:18). Pessoas são chamadas
básica .perfeita de Deus; mas também pode ser (relativamente) perfeitas, em Mat. 19:21; Efé. 4:13;
aplicado a um Deus em quem não há mudanças, Fil. 3:15; Col. 1:28; 4:12 e Tia. 3:2. Nessas passagens,
estagnado. O primeiro sentido é razoável; o segundo é as palavras em questão podem ser traduzidas por
errôneo. Naturalmente, quando falamos sobre Deus «maduro», «completo».
estamos falando sobre o Mysterium Tremendum 5. As Perfeições de Cristo
(vide), e a linguagem humana deve ser tida como débil Como membro da Trindade (vide) e sendo ele o
e meramente simbólica, capaz de comunicar alguma Logos (vide), Cristo Jesus possui o atributo divino da
coisa, mas não muito. O perfeito estático é imutável, perfeição. Ver também o Eu Sou de Jesus. Em sua
independente, simples, sem extensões, absoluto no encarnação (vide), ele autolimitou-se, e, embora
conhecimento e na bondade; os atributos tradicionais impecável (ver sobre a Impecabilidade de Jesus), ele
da série omnis (onipotente, onisciente, onipresente, fo i aperfeiçoado mediante as coisas que sofreu. Ver
onibondoso, etc.). Mas, o perfeito dinâmico é Heb. 2:10. Cristo sofreu as tentações comuns aos
mutável, mediante adições de sua realidade e de suas homens e esteve envolvido em fraquezas humanas,
obras, embora seja independente, porque o próprio mas venceu; e assim tomou-se não somente o
Deus assim se faz, em relação às suas obras, à criação Caminho, mas também o Pioneiro do caminho (ver
PERFEIÇÃO - PERFUME
Heb. 2:10). E, uma vez aperfeiçoado, tomou-se a podemos supor que vários dos ungüentos ali
fonte da eterna salvação para todos quantos Lhe mencionados (vide), serviam como perfumes.
obedecem. Ver Heb. 5:10. Cristo tomou sobre si 2. Ingredientes e Manufatura dos Perfumes
mesmo o nosso estado de humilhação, com todas as Várias substâncias vegetais eram usadas no fabrico
suas condições, para que pudesse compartilhar de sua de perfumes, como o aloés, o sândalo, o bálsamo, o
natureza e de seus atributos conosco, os remidos. boélio, o cálamo, a giesta, a mirra, o nardo, a cássia,
6. Sumário de Idéias o cinamomo e outros, que eram itens de comércio,
a. Toda perfeição encontra-se em Deus (Sal. 18:32; envolvendo regiões não somente como a Palestina,
138:8). mas também a Arábia, a Índia, a Pérsia, o Ceilão e
b. Todos os santos são considerados perfeitos em muitos outros lugares. Ver Gên. 37:25; I Reis 10:10 e
Cristo (I Cor. 2:6; Fil. 3:15). Eze. 27:22, quanto a indicações acerca desse
•c. A perfeição divina é o padrão para toda e comércio. Além desses elementos eram empregadas as
qualquer outra perfeição (Mat. 5:48). essências de várias flores, várias cascas de árvore e
d. A perfeição envolve um elevado grau de devoção raizes. O azeite de oliveira era comumente usado
ao Senhor (Mat. 19:21). como base (ver I Reis 10:10; Eze. 27:22). Ungüentos
e. Também subentende santidade e pureza (Tia. perfumados eram um artigo de luxo (Amós 6:6), e os
3:3). tesouros antigos incluiam perfumes e ungüentos.
f. Todos os santos devem fixar os olhos nesse alvo Os ingredientes usados, incluindo óleos e resinas
(Gen. 17:1; Deu. 18:13). especialmente preparados, faziam parte importante
g. Os santos devem seguir a perfeição (Pro. 4:18; do comércio fenício. Ungüentos e perfumes eram
Fil. 3:12). importados por Israel em vasos de alabastro (vide).
Plínio (Hist. Nat. 13:2) comentou sobre os ungüentos
h. Os ministros do Senhor devem encorajar os
de grande preço e o comércio com os mesmos. A
crentes à perfeição (Efé. 4:12; Col. 1:28).
preparação de ungüentos e perfumes exigiu o
i. As exortações devem incluir a idéia da perfeição surgimento de uma classe profissional, no hebraico os
(II Cor. 7:1; 13:11). raqachim, mencionados, por exemplo, em Êxo.
j. A perfeição não pode ser obtida neste mundo (II 30:25,35; 37:29 e Ecl. 10:1. Tão fortes e bem
Crô. 6:36; Sal. 119:96; I João 1:10). preservados eram alguns ungüentos e perfumes que
1. A Palavra de Deus é perfeita, e seu designio é podiam manter suas fragrâncias por centenas de
encaminhar-nos na direção da perfeição (II Tim. anos. Vasos de alabastro feitos no Egito, atualmente
3:16,17). guardados em museus ao redor do mundo, ainda
m. Devemos orar pedindo a perfeição (Heb. preservam suas fragrâncias. O «santo óleo da unção»,
13:20,21; I Ped. 5:10). preparado nos dias do Antigo Testamento era
n. A Igreja haverá de atingir a perfeição (João composto por duas partes de mirra, duas partes de
17:23; Efé. 4:13). cássia, uma parte de cinamomo e uma parte de
0. A perfeição é bendita (Sal. 37:37; Pro. 2:21). cálamo, e como base era usado o azeite de oliveira
7. Perfeição na Filosofia (ver Êxo. 30:35,37). O uso desse tipo de perfume era
Ver o artigo separado com esse titulo. vedado para indivíduos particulares (ver Êxo.
30:32,33). Grandes quantidades desse ungüento
perfumado eram preparadas, de tal modo que cerca
de dez kg de ingredientes sólidos eram misturados
PERFUME com cerca de trinta e oito litros de azeite de oliveira, o
Esboço: que serve para dar-nos uma idéia da concentração da
1. A Palavra mistura. Certos filhos de sacerdotes eram designados
2. Ingredientes e Manufatura dos Perfumes para trabalhar como boticários, segundo se vê em I
3. Usos Literais CrÔ. 9:30.
4. Usos Metafóricos Os ingredientes básicos eram algumas vezes
1. A Palavra pulverizados a fim de serem guardados, e então eram
Esse termo vem do latim, per, «através», e fumus, liquefeitos na base apropriada, o que é refletido em
«fumaça», ou seja, «através da fumaça». Isso refere-se Can. 3:6. Mas o próprio pó podia ser usado sem
ao fato de que o incenso perfumado era antigamente mistura alguma. O material seco era guardado em
aplicado como uma fumaça, que disseminava suas sacas e outros recipientes; mas, quando liquefeitos,
agradáveis fragrâncias. Atualmente, os perfumes via havia frascos e vasos de alabastro para essa
de regra são um liquido volátil qualquer, que tem a finalidade.
propriedade de emitir facilmente as fragrâncias nele O clima muito quente dos países do Oriente
impregnadas. Naturalmente, a palavra também é Próximo e Médio favorecia o uso de perfumes e
usada para indicar flores que são dotadas de ungüentos. Além de disfarçar maus odores, há algo
fragrância agradável. A palavra hebraica ketoreth nos perfumes que reanima o espírito. Além disso,
refere-se ao ato de fumigar (ver Êxo. 30:35,37; Pro. certas fragrâncias acabam associadas a determinados
27:9). A primeira dessas duas referências alude ao indivíduos ou situações, e isso lhes empresta um valor
incenso preparado pelos perfumistas; mas a referên subjetivo. Os ungüentos, como é claro, tinham
cia do livro de Provérbios fala sobre os perfumeis também o uso prático de tratar a pele ressecada (ou
regulares. A raiz dessa palavra hebraica significa mesmo queimada).
«aspergir». O particípio é usado para indicar a Referências Bíblicas a Ingredientes Específicos dos
profissão dos perfumistas. O trecho de Isa. 57:9 traz a Perfumistas. Sândalo (II Crô. 2:8; 9:10); madeira de
palavra hebraica raqquach, que significa «coisa sândalo-(I Reis 10:11,12); incenso (Êxo. 30:34-36;
sentida pelo olfato», ou seja, um «perfume». No grego, Lev. 2:1,2,15); gálbano (Êxo. 30:34); mirra (Êxo.
no Novo Testamento, a palavra não aparece, mas 30:23; Sal. 45:8; Pro. 7:17; Can. 1:13; Mat. 2:11;
222
PERFUME - PÉRGAMO
João 19:39); onicha(£xo. 30:34); açafrão(Can. 4:14); imperial, mas tal significado não é ilustrado no nome
nardo (Can. 1:12; 4:13,14); estoraque (Êxo. 30:34). da cidade.
3. Usos Literais Pérgamo era uma cidade da província romana da
Talvez o uso mais óbvio dos perfumes seja aquele Àsia, nos dias neotestamentários, na parte ocidental
ocupado hoje em dia pelos desodorantes, mascarando do que agora é a Turquia Asiática. Fora a antiga
odores corporais, exacerbados pelo tórrido clima do capital de Atalo, a cidade-estado doada ao império
Oriente Próximo e Médio. Os trechos de Luc. 7:38 e romano, em 133 A.C. Geograficamente, ocupava
importante posição, próxima do extremo marítimo do
João 12:3 indicam esse tipo de uso, pois perfumes e largo vale do rio Caico. Também tinha boa
ungüentos eram aplicados aos pés, uma vez lavados, importância comercial e política, além de sua
o que veio a tomar-se um item importante da importância religiosa. Existia ali uma antiga forma de
hospitalidade oriental. O ato de ungir é mencionado adoração ao diabo. Também era a sede de um antigo
envolvendo as mãos e o corpo inteiro (aparentemen culto de mágicas babilónicas, e tornou-se importantís
te), após o banho (Can. 5:5; Rute 3:3). Festas e ritos simo centro da propagação do «culto ao imperador»,
religiosos estavam envolvidos com perfumes e que era apenas outra forma de religião falsa, usada
ungüentos (Sal. 45:8; 133:2; Can. 4:11). Leitos e pelas forças satânicas. Tornou-se a sede de quatro dos
colchões eram perfumados (Pro. 7:17), como também maiores cultos pagãos, a saber, de Zeus. de Atena, de
sepulcros (II Crô. 16:14). E, naturalmente, cadáveres Dionísio e de Asclépio. Também se estabeleceu ali o
recentes (João 19:29). Ver sobre o uso litúrgico do culto dos Magos, de origem babilónica. O sacerdote
Incenso. Quando da chegada de algum hóspede, desse culto era de Pontifex Maximus ou então de
incenso e ungüentos eram usados na hospitalidade «Principal Construtor da Ponte», e sua suposta tarefa
comum. — Quando uma personagem real ausen era preencher o vácuo entre o homem e os poderes
tava-se do palácio, seus atendentes esparziam incenso superiores, os quais se tomavam objetos de adoração.
perfumado em redor dele e perante ele (Can. 3:6). Os habitantes de Pérgamo eram chamados de
Mas, em tempos de lamentação pelos mortos, não «principais guardiães do templo» da Àsia.
eram usados perfumes (ver Isa. 3:24). Quando o «culto ao imperador» cresceu em
4. Usos Metafórico« importância, dentro do império romano, Pérgamo se
tomou um de seus centros principais, embora outros
O trecho de II Cor. 2:14 usa o perfume como um falsos cultos ali nunca tivessem fenecido completa
símbolo de nosso conhecimento de Cristo. Esse é um mente. A alusão que temos ao «trono de Satanás»,
perfume de que todos precisamos mais e mais! O mui provavelmente, diz respeito a esse culto (ver Apo.
auto-sacrifício de Cristo foi uma oferta fragrante a 2:13). Satanás impulsionava homens a adorarem um
Deus, que somos exortados a imitar (ver Efé.'5:2). De mero homem; esse era o seu «ardil», naqueles tempos.
modo geral, um perfume serve de símbolo daquilo que Política e economicamente a cidade florescia, tendo
é agradável, romântico, convidativo. sido chamada por Plínio de «a mais ilustre de todas as
cidades da Àsia». Todas as principais estradas da Àsia
ocidental convergiam para ali. Fabricava ungüentos,
PERFUMISTA vasos e pergaminho (que assumiu seu nome dessa
Aparece com essa forma em Exo. 30:25 e 37:39, e cidade). Esse tipo de «papel» (feito de peles de
com a form a de «perfumador», em Ecl. 10:1. Era animais) chegou a ser chamado «charta pergamena»,
homem que sabia compor ungüentos e perfumes em por ser fabricado em Pérgamo, de onde era
geral (ver Nee. 3:8). Algumas vezes eram mulheres distribuído. Não foi a cidade que derivou seu nome
que se encarregavam desse trabalho (ver I Sam. 8:13). desse tipo de papel; deu-se exatamente o contrário.
Originalmente, em Israel, o óleo para as unções era Em 29 A.C. foi dedicado um templo a Augusto em
preparado por Bezalel (ver Exo. 31:11). Mais tarde, Roma, por parte do sínodo provincial (ver Tácito,
provavelmente era preparado por um dos sacerdotes. Anais iv.37), e isso «oficializou» o culto ao imperador
Os antigos perfumistas também preparavam ervas em Pérgamo, — que naquele tempo, era a principal
m edicinais, pois suas funções incluíam algo de cidade da província da «Àsia». Um segundo templo foi
farmácia, uma prática generalizada no mundo antigo. ali edificado, em honra a Trajano, e ainda um
Um tablete de argila, desenterrado em N ipur, na terceiro, em honra a Severo. Desse modo, a adoração
baixa Babilônia, entre o Tigre e o Eufrates, fomece religiosa pagã ali se centralizou e consolidou. Por
uma fórmula para um ungüento de bálsamo prescrito detrás da cidade havia uma colina em forma cônica,
p ara um m etalúrgico que viveu séculos antes de com cerca de trezentos metros de altura, a qual, desde
Abraão e que sofreu queimaduras. Os perfumistas tempos antigos, vivia recoberta de templos e altares
também preparavam especiarias para os sepultamen- pagãos, o que fazia significativo contraste com o
tos (ver II CrÔ. 16:14). (UN) «monte de Deus», referido em Isa. 14:13 e Eze.
28:14,16. Este último foi chamado também de «trono
de Deus» (ver I Enoque 25:3). O culto ao imperador
PERGAMINHO criou ali um «trono de Satanás», talvez havendo nisso
Ver sobre Escrita. alusão à colina acima descrita. O grande e idólatra
culto ao imperador incorporava em si mesmo todo o
paganismo que tornou Pérgamo famosa, embora não
PÊRGAMO houvesse eliminado totalmente todas as outras
Ver Apo. 2:12 ss. formas. E a igreja cristã, que se recusava a participar
desse «culto», automaticamente foi tachada de
Esta palavra estava relacionada a purgos, isto é, «traidora», tendo de sofrer as conseqüências de sua
«torre» ou «castelo», ou seja, «fortificada». Pérgamo recusa.
era a «cidadela» de Tróia. E, de fato, nos escritos
clássicos, tal palavra era usada para indicar a
«cidadela» ou «fortaleza» de qualquer cidade. Sua Hoje em dia não resta mais glória à antiqüíssima
suposta significação de «casada» não é apoiada nos cidade. Uma pequena aldeia, de nome Bergama,
dicionários. É verdade que aquela igreja entrou em ocupa o seu lugar, na planície abaixo do local da
matrimônio com o mundo, quando ficou sob o favor antiga Pérgamo.
223
PÉRGAMO - PÊRGAMO, CARTA
A Igreja em Pérgamo 1. A colina por detrás da cidade, seria um trono,
A paganização da igreja de Pérgamo (historicamen com seus templos e altares pagãos. Esse cômoro
te, nos fins do primeiro século, e no segundo e terceiro faria contraste com o monte de Deus (ver Isa. 1:14;
séculos, especialmente mediante o gnosticismo liber Eze. 28:14,16).
tino, e, profeticamente, na época de Constantino, 2. O altar dedicado a Zeus Soter (Salvador), que
quando a igreja ficou sob o favor imperial) exigiu que descrevemos acima.
a mesma recebesse um severo julgamento. Isso
salienta- o «imperativo moral» do evangelho. A 3. Vários templos, ou algum templo pagão
santificação é necessária à «salvação» (ver II Tes. específico, cujo culto era ofensivo aos cristãos
2:13), e não meramente para a «comunhão com o primitivos, especialmente por promover o culto ao
Senhor». É falso o evangelho que não envolve imperador romano, em tais lugares.
exigências morais, ou que as subestima. 4. A própria cidade de Perge, tão repleta de sinais
«Nessa igreja de Pérgamo, muita coisa havia que do paganismo.
precisava de cirurgia moral. Era mister alguma 5. A adoração a Esculápio, cujo símbolo era uma
amputação e execução morais, para que tudo fosse serpente.
corrigido — a separação de coisas que não se 6. A adoração idólatra que havia em Pérgamo, em
harmonizavam entre si, bem como a destruição de sentido coletivo.
males que se tinham instaurado e estavam atuando de
forma desfavorável...A exibição do cutelo prefigu Significação Espiritual. Pelo menos fica claro que a
rava a separação e a dissecação morais, no que não se alusão, em Apocalipse 2:13, é à fanática adoração
poderia poupar qualquer erro, devendo morrer tudo pagã que havia em Pérgamo. Satanás havia
quanto fosse estranho e prejudicial à igreja...Uma das conseguido controlar de tal modo os seus habitantes,
razões por que tantas pessoas evitam e odeiam à que a cidade podia ser considerada o trono do diabo.
verdade de Deus é que ela os fere, despertando os O gnosticismo (vide), em suas primeiras formas,
açoites da consciência e destruindo totalmente as suas pode estar em foco. O gnosticismo foi uma antiga
esperanças. E essa forma de ferimento agora descera heresia que chegou a ameaçar a pureza do
sobre aquela igreja». (Seiss, em Apo. 2:12). cristianismo antigo. Essa salada de elementos
judaicos, pagãos e cristãos conferia a Satanás uma
sólida base de operações em Pérgamo, e até sobre a
PÊRGAMO, ALTAR DE
própria igreja local. Posteriormente, o gnosticismo
Ver o artigo geral sobre Pérgamo. A carta dirigida à conseguiu sobrepujar ali a adoração ao imperador,
igreja cristã em Pérgamo, preservada em Apo. 2:12 como o problema mais difícil com que se defrontava a
ss, inclui uma referência a um altar, que era um dos Igreja cristã. Vários livros do Novo Testamento (como
mais famosos do mundo antigo. Esse altar ficava em o Apocalipse, Colossenses, Judas e as epístolas de
uma colina que dominava a cidade. Esse altar foi João) fazem ressoar esse combate contra o gnosticis
descrito na antiguidade pelo viajante grego Pausânio. mo primitivo.
Em 1871, esse altar foi descoberto e transportado
para a Alemanha, e atualmente está no Museu de
Berlim Oriental. Era uma pequena versão daquele
que se tornou o altar mais elaborado de • Victor PÊRGAMO, CARTA (EPISTOLA) A
Emanuel, rei da Itália, posto em Roma. Uma Ver o artigo separado sobre as Sete Cartas (do
pequena escadaria conduz ao imenso altar de Perge. Apocalipse), que fornece uma descrição geral sobre
A derrota de um exército gaulês, cerca de dois séculos aquelas cartas, uma das quais dirigida a Pérgamo. Os
antes de sua construção, serviu de inspiração à ereção capítulos segundo e terceiro do Apocalipse contêm
desse antigo altar. Bandos de assaltantes celtas essas cartas, como uma espécie de introdução geral ao
costumavam vergastar a região (e deram seu nome à livro.
Galácia); mas os habitantes de Pérgamo tiveram a Mensagens Especificas
energia suficiente para resistir a eles; e então o feito Quanto ao desenvolvimento detalhado de certos
foi comemorado por meio desse altar. Seu friso
pontos, ver os artigos separados intitulados Pérgamo,
representa os deuses do Olimpo, combatendo
Trono de (Apo. 2:13); Nicolaítas (Apo. 2:14;
gigantes; e musculosos guerreiros, dotados de caudas
provavelmente uma seita gnóstica que perturbava a
de serpentes, adornam o mesmo. Esse altar foi
Igreja cristã daquele lugar). Ver também sobre o
dedicado a Zeus, onde também ele é chamado de
Gnosticismo. Além disso, temos a questão da grande
salvador. Parece claro que os habitantes do lugar
promessa divina àquela igreja local, alusiva a como
pensavam ter recebido sua ajuda divina naquela
vitória contra os gauleses. cada crente individual é ímpar, agora e na eternidade.
Ver o artigo sobre esse tema, chamado Novo Nome e
No livro de Apocalipse, esse altar é chamado de «o Pedra Branca, com base em Apo. 2:17. Ver também
trono de Satanás» (2:13), como representante do sobre Ântipas, um notável mártir cristão do período
paganismo em suas muitas formas. Os arqueólogos apostólico, associado àquela cidade. Também deve
ficaram boquiabertos diante do fato de que uma ser levada em conta a doutrina de Balaão (vs. 14). Ver
figura gigantesca, muito estragada, em mármore, foi sobre Balaão, quinto ponto, onde são discutidos os
achada em um depósito de sucata, na oficina do usos metafóricos de seu nome, nas páginas da Bíblia.
conselho da cidade de Londres, na Inglaterra. E então- Ver o quarto ponto desse mesmo artigo, quanto à
descobriu-se que fazia parte do famoso friso do altar doutrina e ao caminho de Balaão. Nesses vários
de Pérgamo. O conde de Arundel, dois séculos antes, simbolismos destacam-se os ensinos e as práticas
havia levado o fragmento para a Inglaterra, e o corruptoras do paganismo (incluindo o gnosticismo).
mesmo acabou virando sucata. Como a glória de Zeus Porém, aos vencedores (vs. 17), é oferecida uma das
fora degradada! mais notáveis promessas das sete cartas do Apocalip
Várias interpretações do trono, mencionado em se, acerca do maná escondido e da pedra branca (vs.
Apocalipse 2:13: 17). Dentre a corrupção reinante, pode emergir um
224
PÉRGAMO - PERlODO
indivíduo extraordinário, um instrumento especial do área. Ao que parece, a cidade gozou de um período de
bem, destinado a uma elevada missão. independência, e suas moedas indicam e inscrições
confirmam um contínuo predomínio romano ali,
desde então.
PÊRGAMO, ESCOLA DE Os turcos modernos chamam a localidade de
Temos aí uma escola do neoplatonismo (vide), do Eski-Kalesi. Naturalmente, Perge arruinada faz parte
século IV A.C., fundada por Edésio da Capadócia, da Turquia moderna.
que havia estudado aos pés de Jâmblico (vide). Esse
grupo contava com certos membros famosos, como o
imperador Juliano, o apóstata (vide), além de PERICORESE
Salústio, o neoplatônico (vide). Palavra derivada do grego, perikopé, «algo cortado
de», aplicada a uma seção de um livro, de uma
história, de uma pequena peça literária, mas mais
PERGE comumente de uma parte de uma obra maior, como a
Esse era o nome de uma cidade às margens do rio própria palavra deixa perceber. A primeira vez em
Cestro, navegável até àquele ponto, na antiguidade. que ouvi essa palavra ser usada foi quando meu
Ficava no distrito da Panfilia (vide), e era a capital do professor e amigo, o Dr. Jacob Geerlings (a quem
mesmo. Estava a onze quilômetros da desembocadura dediquei o Novo Testamento Interpretado, In
do Cestro. Foi ali que Marcos desertou de Paulo (ver Memoriam), quis falar de uma narrativa dos
sobre Marcos, Falha de). O lugar foi visitado pelo evangelhos com problemas textuais especiais. Uma
apóstolo dos gentios quando de sua primeira viagem utilização comum desse vocábulo se dá em referência
missionária (ver Atos 13:13,14). Era centro da aos lecionários (vide), de onde eram selecionados
adoração a Ártemis (Diana), cujo templo ficava em trechos para serem lidos a cada domingo e dias
uma colina, fora da cidade. Paulo chegou ali em feriados. Essa prática parece ter começado no século
maio, quando os passos não estavam impedidos pela V D.C., e o seu propósito principal era a apresentação
neve. O local era quente, e muitos de seus habitantes, sistemática das Escrituras diante do povo. A maioria
quando possível, passavam algum tempo nas colinas das pessoas não sabia ler, e poucas pessoas tinham
da Pisídia, durante o ve/ão, porque estas recebiam manuscritos bíblicos, do Antigo ou do Novo
chuvas abundantes, e havia neve durante o inverno. Testamentos. Assim, o contacto de uma pessoa com
Os arqueólogos investigaram a região, e um as Sagradas Escrituras limitava-se ao que a Igreja
relatório foi publicado pelo Turk Akkeloji Dergesi, podia fornecer, em suas leituras coledvas. As igrejas
em I o de agosto de 1958 (págs. 14-16). Moedas ali Católica Romana, Ortodoxa Oriental e Anglicana
encontradas traziam a efígie de Diana como continuam essas leituras sistemáticas, mas as igrejas
caçadora. Perge é uma das cidades mais bem protestantes e evangélicas há muito as descontinua
preservadas a ter qualquer coisa com as viagens ram. Essas leituras também tinham o propósito de
missionárias de Paulo. Restam muitas ruínas de prover lições bíblicas adequadas, correspondentes ao
edifícios e ruas. Ao pé da acrópole há ruínas de um calendário eclesiástico, segundo o qual são celebrados
teatro que tinha capacidade para mais de dez mil os principais eventos históricos do cristianismo.
pessoas, além de um estádio. Também restam muitos
banhos e sepulcros. Tal como a maioria das cidades
daquelas costas marítimas, infestadas por piratas, PERlODO INTERTESTAMENTAL
essa ficava em uma pequena ilha e era servida por um Acontecimentos e Condições do Mundo ao Tempo
porto fluvial, Ataléia, cidade fundada no século II de Jesus
A.C., para servir Perge de porto. Tal porto tem Esboço:
permanecido até os tempos modernos, embora tenha 1. O Período Intertestamental
atravessado muitas camadas de civilização, ao passo 2. Pérsia
que Perge está reduzida a escombros. 3. Os Ptolomeus e os Selêucidas
Não foi ainda identificado o local do antigo templo 4. Os Macabeus e a Independência
de Diana, mas foram desenterrados quatro templos 5. Intromissão Romana
cristãos em ruínas, dois do século IV D.C. e dois do 6. Descobrimentos Arqueológicos que
período da Idade Média. O único bispado moderno Ilustram esses Anos
da região fica em Atalia, a antiga Ataléia, porto de 7. A Palestina ao Tempo de Jesus
Perge, mencionado acima. Data do século XI D.C. a. Pano de Fundo
Alguns Informes Históricos. Pouco se sabe sobre b. Antípatre
Perge, quanto a seus tempos mais primitivos. Mas seu c. Herodes o Grande
nome sugere que foi iniciada como colônia grega, nas d. Os Vários Herodes do Novo Testamento
costas da Panfilia. Seja como for, os fundadores da
e. O Nacionalismo Judaico
cidade pertenciam a alguma cultura da era do
Bronze, e Ártemis fazia parte da mesma. O local f. Revolta e Destruição de Jerusalém
ficou famoso como centro de veneração a essa deusa. 8. O Mundo Greco-Romano
Porém, pouco se sabe acerca da cidade durante os a. Pano de Fundo
tempos da hegemonia persa na Ãsia Menor, embora b. Moralidade
saibamos que Alexandre, o Grande, passou pela c. Filosofia
mesma ao menos por duas vezes. Era em Perge que os d. Religião
monarcas selêucidas, da Síria, controlavam a região. 9. Bibliografia
Então chegaram os romanos, no século II A.C. Em 10. Diagramas:
188 A.C., havia ali uma forte guarnição síria, que foi a. Israel, Pérsia, Egito e Síria (Pérsia
o que os romanos encontraram, quando entraram na durante o período intertestamental)
225
PERÍODO INTERTESTAMENTAL
b. Os Selêucidas reconquistou a Palestina, e esta voltou ao controle dos
c. Os Hasmoneanos «selêucidas». Em 175-164 A.C., os judeus foram
d. Os Herodes severamente perseguidos por Antíoco Epifânio, que
e. Acontecimentos durante os tempos estava resolvido a exterminá-los, juntamente com sua
neotestamentários: Roma, Palestina, o Novo religião. Esse é o «pequeno chifre» de Daniel 7:9,
Testamento descrito nessa passagem profética. No ano de 168
1. O Período Intertestamental A.C., Antíoco Epifânio profanou o templo de
Jerusalém, oferecendo uma porca sobre o altar.
As condições gerais desse período podem ser Tornou-se o tipo vívido do ainda futuro anticristo,
relembradas sabendo-se que houve quatro períodos que, semelhantemente, atacará e procurará destruir
distintos em que esses quatrocentos anos podem ser qualquer verdadeiro testemunho de Deus. Antíoco
divididos: 1. o período persa, 430-322 A.C.; 2. o Epifânio cometeu muitas outras atrocidades contra os
período grego, 321-167 A.C.; 3. o período da judeus, incluindo a tentativa de destruir todos os mss
independência, 167-63 A.C.; e 4. o período romano, das Escrituras. Seus excessos é que provocaram a
63 A.C. até Jesus Cristo. revolta dos Macabeus, o que resultou, finalmente,
2. Pérsia num período de independência dos israelitas.
Israel caiu sob o controle persa. A Pérsia foi a 4. Os Macabeus e a Independência
grande potência mundial durante cerca de duzentos O período de independência israelita também é
anos, e foi mais ou menos na metade desse período
que Israel seguiu para o cativeiro. Nomes como conhecido como período macabeu, ou hasmoneano.
Artaxerxes I, Xerxes II, Dario II e Artaxerxes II, são (O nome de família dos Macabeus era «Hasmom»).
nome« familiares entre nós, como reis persas que Matatias, um sacerdote, tinha cinco filhos, de nome
governaram durante esse tempo. Neemias reconstruiu Judas, Jônatas, Simão, João e Eleazar. Judas foi
Jerusalém durante o governo de Artaxerxes I. guerreiro de habilidade extraordinária, tendo reunido
Usualmente os persas eram clementes, e tanto a as forças necessárias para a libertação dos judeus. Em
autoridade civil como a autoridade religiosa foram 165 A.C., Judas purificou e reconsagrou o templo, e
esse acontecimento passou a ser comemorado pela
restabelecidas em Israel durante esse período. O festa da Dedicação. Um período de cem anos de
império persa caiu sob Dario III, em cerca de 331 independência seguiu-se a partir daí. Porém, essa
A.C.
liberdade terminou em 63 A.C., quando os romanos
3. O Ptolomeus e o* Selêuddai conquistaram a Palestina.
Com a queda da Pérsia, o equilíbrio do poder 5. Intromissio Romana
mundial passou da Àsia para o Ocidente, para a Em 63 A.C., os romanos, comandados por
potência crescente dos gregos. Quase todos estão bem Pompeu, tomaram a Palestina. Antípatre, um
familiarizados com o nome de Alexandre o Grande idumeu (isto é, edomita, descendente de Esaú), foi
que, com a idade de vinte anos, assumiu o comando nomeado governador da Judéia. Esta incluía as
do exército macedônio e, em um período extrema regiões da Galiléia, Samaria, Judéia, Traconite e
mente breve, reduziu aos seus pés todas as demais Peréia (algumas vezes intituladas, coletivamente, de
potências, tendo varrido o Egito, a Assíria, a «Judéia»). Essas divisões haviam sido estabelecidas
Babilônia e a Pérsia. ainda durante o período sírio, mas permaneceram
Alexandre conquistou a Palestina em cerca de 332 durante a maior parte do tempo do período romano,
A.C., poupou a cidade de Jerusalém e disseminou a que o seguiu. Com Antípatre é que começou o governo
língua e a cultura gregas por toda a parte. Marchas dos Herodes, tão bem conhecidos nos evangelhos.
forçadas e bebidas imoderadas arrebataram-lhe a Herodes o Grande era filho de Antípatre. (Ver o
vida quando contava apenas trinta e três anos de artigo separado sobre os Herodes). Os herodianos
idade, estando ele na Babilônia, no ano de 323 A.C. eram o partido político que favorecia a linhagem dos
Quando de seu falecimento, morreu também a idéia Herodes, como artificio para evitar o governo romano
de um governo universal, e, em cumprimento da direto. Muitos consideravam a sucessão dos Herodes
profecia de Daniel (Dan. 11:4,5), o seu reino foi como o «Messias». No tempo do governo de Herodes c
dividido. O império foi repartido entre os quatro Grande é que nasceu Jesus. Foi no tempo do governo
generais de Alexandre. As duas porções orientais do tetrarca Herodes (também chamado Ãntipas, um
ficaram com generais separados — a Síria ficou com dos filhos mais novos de Herodes o Grande, Luc.
Seleuco, e o Egito, com Ptolomeu. Dessa maneira 3:19) que Jesus morreu e ressuscitou.
vieram à existência os ptolomeus (reis gregos do
Egito) e os selêucidas (reis gregos da Síria). Outros 6. Descobrimentos Arqueológico« que Dustnun
domínios foram estabelecidos em resultado da morte Esses Anos
de Alexandre; mas só esses dois têm alguma As descobertas arqueológicas têm servido para
significação na história bíblica, em relação ao período adicionar informações ao nosso cabedal de conheci
entre os Testamentos. A, princípio, a Palestina ficou mentos sobre aqueles tempos, além das informações
debaixo do controle sírio, mas não muito depois que temos podido recolher nas fontes escritas. Muitos
passou para o controle egípcio. Assim permaneceram têm dito, e com freqüência, que o livro de Daniel está
as coisas durante cerca de cem anos, até 198 A.C. em conflito com a História, ao afirmar que Belsazar
Durante esse período os judeus estiveram dispersos, e era o rei da Babilônia ao tempo da queda dessa
Alexandria serviu de importante centro político e cidade. Existem documentos históricos que indicam
cultural, o que propiciou meios do V.T. ser traduzido que Nabonido foi o último rei da Babilônia, e que não
para o grego, tradução essa que tomou o nome de foi morto pelos conquistadores, e, sim, que lhe foi
Septuaginta, representada também pelo símbolo dada uma pensão para viver. Porém, pelos meados do
LXX (que significa «70»■ em latim), por causa da século XIX foram descobertos alguns tabletes de
tradição que foi completada em 70 anos, por setenta e argila, na região da antiga Babilônia, juntamente com
dois tradutores judeus da Palestina. Sob os «ptolo seu pai. Evidentemente, Nabonido passava grande
meus», os judeus prosperaram, e até exigiram parte de seu tempo na Arábia, tendo nomeado
importante centro religioso em Alexandria. Belsazar à posição de monarca reinante, por causa de
Entretanto, em 198 A.C., Antíoco o Grande sua ausência habitual. Outras descobertas, como a
226
Ptolomeu IV, em Mármore, *— Cortesia, Museum of Fine Arts, Boston
Moedas de prata dos sucessores de Alexandre
237
PERlODO INTERTESTAMENTAL
10. DIAGRAMAS:
b. OSRE1SSELÉUCIDAS
I
Demétrio II Nicator 13. Antíoco VII Sidcntes 138-128 A.C.
12. 145-138 A.C. I__________________
14. 128-125 A.C.
19 Seleuco VI Antíoco XI Filipe Demétrio III Antíoco XII (95-83. em conflito) Antíoco X
c. OS HASMONHANOS
d. OSHERODIANOS
Foram Incluídas Todas As Referências Bíblicas
H ISTÓ R IA JU D AICA D E 63 A. C. A 70 D. C.
1. inicio do dominio romano: 63 A.C.-4 A.C. Poder indireto, luta entre
Roma e os hasmoneanos.
2. Poder indireto, governo de Herodes (sujeito a Roma): 40 A .C.-44 D.C.
3. Judéia. Saniaria, Iduméia (que constituiam a província romana da
Judéia) governada por procuradores romanos: 6 D.C.-41 D.C.
4. Palestina inteira governada por Agripa: 41 D.C.-44 D.C.
5. Palestina inteira governada diretam ente p o r Rom a, até A destruiçio
de Jerusalém: 44 D.C.-70 D.C.
PERlODO INTERTESTAMENTAL
251
PÉRSIDE - PERSONALIDADE
PÉRSIDE e teológicas. A expressão indica que, dentro de um
Esse foi o nome de uma mulher crente à qual Paulo único indivíduo (e, algumas vezes, dentro de um único
saudou. Ela era membro da igreja cristã de Roma (ou corpo físico), pode haver duas ou mais personalidades
talvez de alguma cidade da Asia Menor, se o atual distintas, que convivem. De outras vezes, quando
capítulo dezesseis da epístola aos Romanos foi uma alguma dessas personalidades assume o controle, a
pequena epístola, enviada àquela área, que acabou consciência do indivíduo olvida-se inteiramente das
sendo adicionada à epístola aos Romanos; quanto a outras personalidades. Essa personalidade é realmen
esse problema, ver o artigo sobre Romanos, em sua te diferente das outras. Mas, após algum tempo,
oitava seção, Integridade da Epistola). Seja como for, alguma outra das personalidades passa a assumir o
o nome está obviamente relacionado à Pérsia, talvez controle, e o indivíduo torna-se diferente do que até
alusivo à sua ascendência persa. Ela era estimada pelo recentemente era. Em certos casos, o indivíduo tem
apóstolo dos gentios, que reconheceu ser ela uma consciência da existência das outras personalidades,
esforçada em favor do evangelho, dotada de profundo sopitadas, quando uma outra está no controle. Em
interesse pela fé cristã. Juntamente com várias outras casos extremos (havendo disso alguns poucos registros
mulheres crentes, ela é alvo de comentários favoráveis documentados), as personalidades falam idiomas
da parte do apóstolo. Apesar de nada mais sabermos diferentes, e até parecem ter idades diferentes. Alguns
acerca de Pérside, podemos ver como as mulheres pesquisadores vêem nisso meros casos de possessão
exerceram um importantíssimo papel no soerguimen- demoníaca; mas outros percebem nesse estranho
to do cristianismo primitivo. fenômeno uma possível demonstração da reencama-
ção (vide). O raciocínio desses últimos estudiosos é
que o «eu» alternativo na realidade é o retorno da
PERSONA memória de uma personalidade anterior, que,
algumas vezes, poderia impor-se novamente.
Esse foi um termo usado por Jang (vide) para aludir 2. Fatos Notáveis Sobre a Personalidade Múltipla
a como uma pessoa apresenta-se diante de seus O poder da mente sobre o corpo físico é, realmente,
semelhantes (ou mesmo diante de si mesma). É como imenso. A International Society for the Study of
se o indivíduo usasse uma máscara que usa em Multiple Personality e a Rush-Presbyterian-St. Luke’s
público, — sem nunca mostrar como ele é, Medical Center, de Chicago, nos Estados Unidos da
realmente. América do Norte, organizaram uma conferência
sobre o assunto, em 1985, em Chicago, quando
PERSONALIDADE COLETIVA duzentos documentos foram submetidos a exame.
Desses estudos, emergiram os seguintes fatos:
Essa expressão refere-se à comum expressão e a. Quando uma das personalidades é dominante, o
sentimento familiar, ou de um clã, tribo ou nação, indivíduo pode ser destro; mas, predominando outra
quando há laços de sangue ou vínculos sociais bem das personalidades, o indivíduo pode tornar-se
definidos. Também refere-se à solidariedade criada canhoto.
por uma história e um destino comuns. A idéia é b. Os traçados do encefalograma de diferences
importante na teologia, quando aplicada ao conceito personalidades variam, conforme esta ou aquela
de aliança do Antigo Testamento, bem como à nação personalidade assume o controle. Atores e atrizes que
de Israel, como veículo da mensagem divina. Os têm a capacidade de representar diferentes papéis,
conceitos neotestamentários da Igreja, da comunhão não são capazes de modificar seus encefalogramas,
dos santos, e mesmo da idéia geral da redenção, estão
envolvidos nessa questão da personalidade coletiva. que permanecem os mesmos, sem importar quais
papéis teatrais estejam sendo representados.
No quinto capítulo da epístola aos Romanos, Paulo
refere-se ao homem individual como parte do c. Uma personalidade pode ter diferentes alergias
Homem, encabeçado por Adão e por Cristo, os de outra personalidade, apesar do fato de que um
cabeças federais da raça humana terrestre e da raça único corpo esteja sendo controlado.
humana celeste. Aquilo que acontece à coletividade, d. Uma personalidade pode usar óculos para
acontece também a cada membro da mesma. compensar por uma deficiência ocular qualquer, ao
Ademais, a redenção envolve o corpo de Cristo, e não passo que outra personalidade pode ter visão perfeita,
meros indivíduos isolados. Outro tanto está envolvido apesar do fato de que o par de olhos continua o
na doutrina da restauração (que vide), a qual haverá mesmo.
de unificar, no tempo certo, todas as famílias de e. Uma personalidade pode sofrer de epilepsia, mas
Deus, homens remidos e anjos bons (Efé. 1:10). outra não.
f. Uma personalidade pode sofrer de cegueira para
cores, mas outra não.
PERSONALIDADE DE DEUS, A g. Em certo caso, uma pessoa estudada sofrera um
Ver sobre Pessoa, Deus Como Uma. Ver também envenenamento por chumbo; mas, tendo havido troca
sobre Personalismo e Personificação. de personalidades, o problema desapareceu.
h. No caso de diabete, várias personalidades têm
diferentes graus de necessidade de insulina, embora,
ao que pareça, nenhuma das personalidades seja
PERSONALIDADE MÚLTIPLA inteiramente livre da necessidade de insulina.
Esboço: i. Em alguns casos raros, embora reais, há
1. Descrição Geral modificações culturais e de linguagem, conforme
2. Fatos Notáveis sobre a Personalidade Múltipla diferentes personalidades assumem o controle do
3. Possessões Demoníacas e Personalidade Múltipla indivíduo. Esses casos, entretanto, têm sido anuncia
4. O Ajudador do Eu Interior dos por diferentes pesquisadores, e não pelos mesmos
5. Causas Presumíveis investigadores dos casos anteriores.
1. Descrição Geral O que se evidencia, em todos esses casos, é o
Esse assunto, embora seja mais uma preocupação extraordinário poder da mente sobre o corpo físico,
da psicologia, tem profundas implicações metafísicas sem importar se a mente está sendo expressa por este
252
PERSONALIDADE - PERSONALISMO
ou aquele fragmento de personalidade, ou se etc. E, finalmente, devemos considerar a causa
diferentes mentes estão ocupando um mesmo corpo possível das possessões demoníacas, ainda que em
físico ao mesmo tempo. uma bem menor porcentagem de casos (ver sobre
3. Possessões Demoníacas e Personalidade Múltipla Possessão Demoníaca); e, conforme alguns crêem,
O Dr. M. Scott Peck, um dos líderes do movimento alguns possíveis casos de reencamação.
que visa integrar a psicologia e a espiritualidade, e Conforme sucede no caso de tantas outras coisas,
que é famoso psiquiatra e cirurgião, tem tratado de no presente caso defrontamo-nos com profundos
muitos casos de possessão múltipla. Em alguns casos, mistérios, que envolvem os seres humanos. Talvez
segundo ele opina, uma personalidade distinta pode uma pessoa, afinal de contas, consista em muitas
refletir algum ser espiritual separado. Ele tem podido pessoas, provenientes do passado; e, assim, no futuro,
obter verdadeiras dissociações de poderes malignos talvez haja toda uma família de personalidades, e não
que não pertencem, realmente, ao indivíduo vitima apenas um indivíduo. Seja como for, parece
do, embora tais poderes já tenham podido controlar a indiscutível que mais de uma mente pode ocupar um
pessoa em alto grau. Com base em seus muitos anos corpo humano ao mesmo tempo, ou, então, que uma
de experiência, ele calcula que, em noventa e cinco única mente, assumindo diferentes modos de expres
por cento dos casos, não há verdadeira possessão são, é capaz de afetar profundamente o corpo fisico. E
demoníaca, não há qualquer traço da presença de uma mente diferente algumas vezes pode indicar um
algum espírito estranho. Mas, em cerca de cinco corpo diferente, ainda que esse corpo, aos nossos
por cento dos casos, ele tem descoberto a presença de olhos, pareça continuar o mesmo.
espíritos malignos ou estranhos, envolvidos nos casos
de possessão múltipla. Ele também tem tido
dramáticas confrontações com poderes demoníacos, PERSONALISMO
e com base nesta experiência recomenda que
nenhuma pessoa tente enfrentar sozinha tais situa Esboço:
ções. Nesses casos, ele trabalha com a ajuda de uma I. Definições
equipe, e tem sido capaz de obter alguns notáveis II. Informes Históricos
exorcismos. Ver o artigo detalhado sobre Possessão III. Idéias de Filósofos Específicos
Demoníaca. IV. Tipos de Personalismo
4. O Ajudador do Eu Interior V. Promoção de Suas Idéias Principais
Um outro interessante aspecto desse fenômeno é o VI. Influência do Personalismo Sobre a Teologia
chamado «ajudador do eu interior». Áo que tudo I. Definições
indica, temos aí a entidade ou pessoa real do ser, que A idéia filosófica fundamental envolvida no
se mostra interessada em ajudar o psiquiatra a personalismo é que o conceito de pessoa deve ser a
integrar uma personalidade dividida. Alguns pesqui preocupação final daqueles que buscam a verdade.
sadores declaram que esse «eu» interior (o indivíduo Quanto a definições léxicas do termo «pessoa», ver o
ou entidade real) tem consciência de outras vidas artigo separado chamado Pessoa. Na filosofia, o
terrenas pelas quais já passou, nas quais manifestou personalismo é aquele sistema ou sistemas que
diferentes personalidades. E esse detalhe tem sido encontra nas pessoas as únicas realidades dominantes
utilizado como uma das sugeridas provas da ou metafísicas, bem como os únicos valores intrínse
reencamação (vide). Apesar desse fator não ser uma cos e dignos de investigação. Por pessoa, entende-se
constante em todas as pesquisas, tal elemento merece «uma substância individual, de natureza racional».
maiores investigações. Seja como for, usualmente há
uma espécie de «âmago de personalidade», isto é, uma 0 . Informes Históricos
personalidade principal à qual se atrelam personali Schleiermacher, em sua obra R ed » (1799) foi o
dades secundárias. Um tratamento bem orientado primeiro a empregar esse vocábulo. John Grote (1865)
visa a reintegração da personalidade em redor empregou-o em seu sistema filosófico. Foi termo
daquele âmago. Verdadeiras personalidades secundá usado para fazer oposição tanto ao panteísmo (vide)
rias podem mostrar-se bastante independentes, mas quanto ao materialismo (vide). Schleiermacher e
usualmente não são radical ou abertamente malignas. Feuerbach (1841) usaram-no em favor da idéia
Todavia, podem ser agressivas ou de caráter dúbio, teológica que diz que Deus é uma Pessoa. Ver sobre
mas não são propositalmente destrutivas para o ser. Pessoa, Deus como uma. Walt Whitman, em seu
Já as personalidades estranhas (espíritos malignos) ensaio, Personalismo (1869), divulgou muito esse
são francamente más e destrutivas. termo, a partir do que muitos outros passaram a
5. Causas Presumíveis usá-lo. Vários neo-escolásticos (Maritain, Mounier)
chamaram-se «personalistas». Os filósofos que mais
Geralmente, algum trauma leva o indivíduo a influenciaram os conceitos do personalismo foram
defrontar o mundo munido de uma personalidade Platão, Aristóteles, Plotino, Agostinho, Tomás de
diferente, que ele pensa ter uma melhor oportunida Aquino, Berkeley, Leibnitz, Emanuel Kant, Fichte,
de. Além disso, algum incidente, na vida de uma Hegel, Schleiermacher, Lotze e Eucken, acerca dos
pessoa, pode ser tão profundamente chocante que quais tenho escrito artigos individuais.
chegue a «nocautear» aquela pessoa, numa espécie de
mini-morte. Daí emerge alguma outra personalidade, III. Idéias de Filósofos Específicos
o que faz o indivíduo esquecer-se da personalidade 1. Bronson Alcott fazia de Deus a Pessoa Ültima e a
anterior, com suas circunstâncias insuportáveis. Em Realidade Ültima, de quem todas as demais coisas
outras palavras, os traumas são capazes de estilhaçar dependem. A vontade dele manifestar-se-ia em uma
uma pessoa em diversas personalidades. E talvez o contínua criação e sustentação.
sentimento de revolta (mesmo sem algum trauma 2. Renouvier dividia os filósofos em duas classes
profundo) possa conseguir idêntico resultado. Ou o gerais: os personalistas e os impersonalistas. A
senso de aventura, em indivíduos instáveis e natureza humana seria a base geral da qual todas as
insatisfeitos, possa levá-lo a aventurar-se a ser uma demais coisas dependem. Os impersonalistas acham
pessoa diferente. Acrescentemos a isso as causas seu princípio final no mundo exterior.
patológicas, ainda pouco entendidas pela ciência, 3. Bowne promoveu um idealismo pessoal, por meio
como defeitos no cérebro, desequilíbrios hormonais, do qual o espírito era enfatizado como dotado de
253
PERSONALISMO - PERUDA
qualidades pessoais, e onde aparecia como o princípio pessoa, em contraste com as idéias de predestinação e
final. determinismo, que diminuem as pessoas em seu
4. F. C. S. Schiller começou sua carreira como um próprio conceito e até reduzem-nas a meros
humanista e pragmatista, mas, nos seus últimos anos automatos.
de vida, frisava os princípios do personalismo.
5. Wilhelm Stem chamava sua filosofia de PERSONIFICAÇÃO
Personalismo Crítico, porque ele não aplicava seu
sistema à metafísica, mas somente a importância que Essa palavra equivale a «fazer-se uma pessoa». O
a pessoa desempenha na psicologia e na epistemolo- animismo (vide) atribui aos objetos inanimados a
gia. consciência; e alguns filósofos tem pensado que há
alguma verdade nesse conceito, negando a idéia da
6. Brightman aplicava a idéia à filosofia da religião, matéria morta. Assim diz a filosofia chamada
descrevendo por meio dele um Deus pessoal e finito. helozoísmo (vide), como também certos conceitos
Ele concebia a pessoa do homem como fundamental, orientais e pensadores modernos, como Leibnitz.
e não dava espaço à soberania de Deus, para Todavia, isso não quer dizer que a matéria animada
obscurecer o livre-arbítrio humano, o que, para ele, possa ser considerada uma pessoa no sentido
seria uma óbvia violação da pessoa humana, à qual convencional, mas somente que ela é dotada de
Deus criara à sua própria imagem. O problema do propriedades que as pessoas também manifestam.
mal, pois, era por ele explicado à base da idéia de que Não obstante, o animismo faz de meros objetos
Deus é finito, não tendo podido impedir que o mal virtuais pessoas. Objetos sagrados (em certas formas
penetrasse na existência. Deus estaria trabalhando de idolatria) também eram dotados de personalidade,
sobre esse problema, e não apenas o homem. como a Aserá, ou poste-ídolo dos cananeus, adotado
7. Maritain e outros neo-escolásticos afirmavam a pelos israelitas (ver Deu. 16:21). Além disso, há
existência de várias formas de personalismo: Deus aquela idéia epônima ancestral segundo a qual
como uma pessoa, e o homem como uma pessoa cidades, nações, tribos, poderes, etc., transformam-se
permanente, que não pode ser reduzida a fatores em virtuais pessoas. Naturalmente, o povo de Israel,
naturais. Ele chamava sua filosofia de Personalismo em seu denso antropomorfismo, fazia de Deus uma
Cristão. pessoa, em termos humanos, embora fosse concebido
8. Mounier foi um personalista católico romano, como um Ser dotado dessas qualidades em elevadís
uma espécie de humanista cristão que acreditava que simo grau. Acresça-se a isso que alguns objetos
o alvo mais importante do homem é o enriquecimento inanimados também são dotados por alguns de
de si mesmo e de sua comunidade (envolvendo o características pessoais, embora somente como uma
enriquecimento mútuo), e não a conquista da expressão poética. Assim, árvores batem palmas (ver
natureza, que tomava um lugar secundário em sua Isa. 55:12); a morte, como uma pessoa, acaba
hierarquia de valores. derrotada (ver Osé. 13:14); a fábula de Jotão (ver Juí.
9. A.C. Knudson fez uma campanha em favor do 9); a sabedoria personificada (ver Pro. 9:1, bem como
personalismo, publicando um jornal intitulado The a literatura de sabedoria do judaísmo, em geral). O
Personalist; e também publicou um livro cujo título Logos no Novo Testamento, é personalizado em Jesus
era The Philosophy o f Personalism. Cristo, quando de sua encarnação (ver João 1:14). As
IV. Tipo« de Personalismo personificações envolvem os mesmos problemas
1. Ateu humanista (McTaggart); 2. Psicológico associados à questão da concepção de Deus como uma
neutro (Stem); 3. Relativista (Renouvier); 4. Absolu- Pessoa. Ver o artigo intitulado Pessoa, Deus Como
tistico (E. Caird; A.E. Taylor; J. Royce); 5. Teísta uma.
(Browne, W.R. Sorley); 6. Pampsiquista (J. Ward; C.
Hartshome; D.H. Parker); 7. Dualista (G. Harkness; PERSPECTTVISMO
Maritain; Tillich e os neo-escolásticos).
Essa é a idéia que diz que o mundo pode ser
V. Promoção de Soas Idéias Principais interpretado segundo vários ângulos ou perspectivas,
1. Deus como uma pessoa; 2. humanismo, onde a cada qual com seus valores especiais e suas crenças.
pessoa humana é a auestào cêntrica; 3. psicologia Não haveria qualquer critério autoritário e indepen
autopsicologia, Gestalt); 4. lógica (coerência da dente para determinar em que algum dado sistema é
personalidade total como critério da verdade); 5. mais correto que outro qualquer. Os diferentes
epistemologia (atividades da mente na obtenção do sistemas podem refletir diferentes pólos de uma
conhecimento; dualismo de idéia e de objeto); 6. mesma verdade. Ver os artigos intitulados Polaridade
metafísica (ou universo é uma sociedade de pessoas, e e Paradoxo.
não, primariamente, de objetos inanimados e de Uma pessoa aproxima-se mais da verdade quando a
forças cósmicas, impessoais). vê segundo diferentes perspectivas, mesmo quando
VI. Influência do Personalismo Sobre a Teologia essas perspectivas parecem contraditórias. O vocábu
1. Deus como uma pessoa, e não como uma força lo «perspectivismo» foi ampliado para abranger o
cósmica; 2. o valor primário da pessoa humana; 3. o estudo da linguagem, o que, por si mesmo, é uma
poder e a relevância de Cristo, como um ser pessoal perspectiva; e isso levantou a questão se realmente é
diante dos homens como pessoas: Cristo é a figura possível uma tradução exata de um idioma para
central do interesse humano; 4. a ética, envolvendo outro, ou se isso é impossível.
responsabilidades humanas, bem como a importância
e caráter ímpar das pessoas; a necessidade do
enriquecimento pessoal, e, partindo daí, o enriqueci
mento mútuo das pessoas; 5. várias visões sobre a PERUDA
ppssoa de Deus, desde um Ser onipotente, absoluto, No hebraico, «dividido», «separado». Peruda foi um
até um Ser finito, dependendo da ênfase; 6. dos servos de Salomão, cujos descendentes voltaram
experiências religiosas, incluindo o misticismo, em da Babilônia, terminado o cativeiro babilónico (Esd.
termos de importância e expressão pessoal; 7. os 1:55). Em Nee. 7:57, esse mesmo nome é grafado com
personalistas usualmente frisam a importância do a variante Perida. Eles voltaram em companhia de
livre-arbítrio, uma necessidade básica para cada Zorobabel. Isso ocorreu por volta de 536 A.C.
254
PESADO - PESOS E MEDIDAS
PESADO animais que, uma vez postos sob a canga, enrijecem
Embora várias palavras hebraicas sejam assim os músculos e rebelam-se contra seus donos. Com
traduzidas no Antigo Testamento, a que é mais freqüência lê-se que o pescoço suporta um jugo ou
importante é kabed, que ocorre por vinte vezes com o carga (ver Gên. 27:40; Deu. 28:28; Jer. 27:2,8; 30:8;
sentido de pesado ou difícil. Por exemplo: Núm. Atos 15:10).
11:14; I Sam. 4:18; 5:6,11; Nee. 5:18; Jó 33:7; Sal. 2. No hebraico, garott, a parte frontal do pescoço, a
32:4; 38:4; Isa. 6:10; 24:20; 50:1; Lam. 3:7. garganta (ver Isa. 3:16; Eze. 16:11; Sal. 5:9; Jer.
No grego, temos o verbo bareomai e o adjetivo 2:26), ou, então, a voz (Isa. 58:1).
barús. a. O verbo ocorre por seis vezes: Mat. 26:43; 3. No hebraico, sawsa’r, «pescoço». Geralmente
Luc. 9:32; 21:34; II Cor. 1:8; 5:4 e I Tim. 5:16. b. O usado em um sentido metafórico, para indicar
adjetivo aparece por seis vezes, também: Mat. «servidão» (ver Gên. 27:40; Jer. 30:8), embora
23:4,23; Atos 20:29; 25:7; II Cor. 10:10 e I João 5:3. também possa indicar o pescoço que exibe um colar
Além disso, temos o advérbio baréos, «pesadamente», (ver Gên. 41:42), ou o pescoço que alguém abraça (ver
que figura por duas vezes: Mat. 13:15 (citando Isa. Gên. 33:4), ou o pescoço premido pelo pé de um
6:10) e Atos 28:27, e o substantivo bâros, «peso», que vencedor (ver Jos. 10:24).
é usado por seis ve/.es: Mat. 20:12; Atos 15:28; II Cor. 4. No grego, tráchelos, «pescoço». Daí é que nos
4:17; Gál. 6:2; I Tes. 2:6; Apo. 2:24. vem a palavra portuguesa traquéia. £ o pescoço que
Essas palavras, com freqüência, referem-se, simbo alguém abraça (ver Luc. 15:20), ou que fica sob jugo
licamente, a algum tipo de tristeza. Assim, um filho (ver Atos 15:10). Paulo usou essa palavra para indicar
sábio alegra a seu pai, mas um filho insensato deixa uma possível decapitação (ver Rom. 16:4). O trecho
pesado o coração de sua mãe (Pro. 10:1). O coração de Heb. 5:13 usa o particípio perfeito de um verbo,
de uma pessoa fica pesado com preocupação, por em associação com o substantivo tráchelos, a fim de
causa das dificuldades que tem de enfrentar, ao passo indicar «exposto» à vista de Deus, que nos julga e
que uma boa palavra torna a pessoa feliz (Pro. 12:25). avalia.
Os espíritos tristes, que têm de enfrentar dificuldades,
cargas pesadas, tornam-se leves e dispostos ao louvor,
ao tomarem conhecimento da mensagem do evange- PÊS DESNUDOS
lho(Isa. 61:3). A lamentação e a tristeza são referidas A expressão aparece em Jeremais 2:25, como
com palavras que indicam alguma espécie de peso. indicação de lamentação (ver também Isa. 20:2-4 e II
Ver I Ped. 1:6; Fil. 2:26. Sam. 15:30, onde aparece a tradução «descalço»). Em
O julgamento divino é chamado de «pesado» (ver I qualquer grande calamidade ou tristeza, era costu
Sam. 5:6). Os governantes civis oprimem aos cidadãos meiro tirar os ornamentos e os calçados. Além disso,
com medidas pesadas, incluindo impostos, que os os antigos estavam acostumados a tirar os sapatos
sobrecarregam (Nee. 5:18; I Reis 12:4). As noticias quando adentravam em algum lugar que era
más são pesadas para quem as recebe (I Reis 14:6). A considerado sagrado (ver £xo. 3:5). Andar continua
ridícula ira humana é pesada (I Reis 21:14). Quando m ente de pés desnudos era um sinal de grande
uma pessoa está sonolenta, seus olhos ficam pesados pobreza. (S)
(Mat. 26:43). Os ouvidos pesados recusam-se a dar
ouvidos e a receber a instrução (Isa. 6:10). O espírito
de Jesus sentia-se pesado, quando estava sendo PESHITTA
injustamente julgado: «...e, levando consigo a Pedro e Ver sobre VersSes e Manuscrito« da Bfblia.
aos dois filhos de Zebedeu, começou (Jesus) a
entristecer-se e a angustiar-se» (Mat. 26:37). Entre
tanto, nessa passagem é usada uma outra palavra PESOS E MEDIDAS
grega, ademonéo, «estar deprimido». 1. Matemática Pobre
Nos sonhos e nas visões, pesados objetos falam Comentários Introdutórios
sobre dificuldades, obstáculos e dilemas sem solução. Em face da falta de precisão matemática entre os
Também podem simbolizar incapacidade física ou hebreus, cuja principal contribuição ao campo do
fraqueza orgânica. conhecimento humano nunca foi de natureza
científica, e, sim, religiosa, não é de admirar que a
metrologia bíblica (a determinação de distâncias,
PESCA capacidades e pesos) esteja muito longe de ser uma
Ver o artigo geral sobre Peixe, Pecca. ciência exata. De fato, é impossível encontrar-se na
Bíblia um sistema metrológico coerente. Mas, como
poderia mesmo ser diferente disso, se somente já
PESCOÇO nos fins do século XVIII, quando foi estabelecido o
Temos a considerar, neste verbete, três vocábulos sistema métrico decimal, é que começou a haver no
hebraicos e um grego. A Bíblia quase sempre usa esse mundo a uniformização da arte de aferição de pesos,
termo em algum sentido metafórico. distâncias e capacidades? Estabeleceu-se um convênio
1. No hebraico, orep, que indica o pescoço ou a internacional, procurando pôr fim àquela babel
nuca, embora também possa ter o sentido de costas, metrológica, e muitos países aderiram, como é o caso
como quando se diz que alguém volta as costas para o do Brasil. Não obstante, há países importantes no
inimigo, a fim de fugir (ver £xo. 23:27). E essa mesma mundo que ainda não se adaptaram ao sistema. E isso
palavra hebraica é empregada para indicar expressões exige que se façam continuamente conversões nunca
como «dura cerviz» ou paralelos, as quais, metaforica precisas, resultando, na maioria das vezes, em
mente falando, referem-se à atitude de rebeldia e dízimas periódicas.
contumácia (ver Deu. 31:27; II Reis 17:14; Isa. 48:4). Como prova disso, basta que nos lembramos, para
A resolução de persistir no mal, apesar de toda exemplificar, da medida inglesa e norte-americana das
orientação divina em contrário, é a idéia básica dessa polegadas e pés. A polegada vale 2,54 cm, o qué
metáfora. O trecho de Isa. 48:4 chega ao ponto de significa que praticamente nunca se pode fazer
chamar o pescoço de «tendão de ferro». E provável conversões precisas do metro para o pé (que vale 2,54
que a idéia tenha surgido da observação de certos x 12 = 30,48 cm I). A jarda inglesa não fica atrás,
255
PESOS E MEDIDAS
porquanto o seu valor é de 0,914 m! A milha equivale antigo Oriente Médio (entre os egípcios, cananeus e
a 1609,31 m, enquanto que o nó, ou milha marítima mesopotâmicos), que já existiam muito antes do
tem o. valor de 1855 m! Então, quando se fala em sistema hebreu, e, um pouco mais tarde, persa,
pés quadrados ou pés cúbicos, em braças, em grego e romano. Em Israel, os levitas estavam
alqueires, em onças, em grãos, em tonelada curta, em oficialmente encarregados pela responsabilidade de
tonelada longa, e outras dezenas e dezenas de «...toda sorte de peso e medida» (I Crô. 23:29).
diferentes padrões de medição que existem em pleno A literatura posterior de Israel também manifestou
fim do último quartel do século XX, começa-se a fazer preocupação com essa espinhosa questão. Assim, o
uma idéia do problema que constitui, para os Talmude (codificado somente após a destruição de
estudiosos bíblicos, determinar o que significam os Jerusalém, que ocorreu em 70 D .C.) contém
padrões de medida existentes nas Escrituras. regulamentos estritos a respeito do mundo dos
2. Falta de Uniformidade negócios e acerca da honestidade quanto às medições.
Em razão de tanta falta de uniformidade, todas as As informações que ora dispomos acerca da antiga
evidências bíblicas acerca dessas antigas medições são metrologia da nação de Israel chegaram até nós
insuficientes e ambíguas. A coisa chegava a um provenientes das mais diversas fontes, i:omo a própria
extremo de confusão tal que, nos tempos bíblicos, as Bíblia, o Talmude, o tratado de Epifânio sobre pesos
medidas variavam de valor de região para região, e até e medidas (publicado em 392 A.C.), os escritos de
mesmo de cidade para cidade. A principal medida de Heródoto, os escritos de Josefo, e até mesmo as
comprimento dos tempos veterotestamentários não evidências descobertas pelos arqueólogos na Palestina
foge a regra. O côvado, de acordo com os estudiosos, e nas nações circundantes. Portanto, essa recuperação
tem sido calculado entre, aproximadamente, 45,5 cm sobre a metrologia antiga constitui um verdadeiro
e 55,88 cm, dependendo se estamos pensando no feito da investigação dos estudiosos.
côvado normalmente usado em Israel ou no côvado Esboço’.
egípcio, do país vizinho a Israel. E essa imprecisão I. Medidas de Comprimento
toma-se definitivamente irremediável quando nos A. Côvado
lembramos que o côvado era a medida que ia da ponta B. Cana
do cotovelo do braço dobrado até à ponta do dedo C. Palmo
médio da mão espalmada. Vale dizer, tudo dependia
da estatura e das dimensões do braço de cada D. Largura da Mão
indivíduo! As medidas antigas eram assim, impreci E. Dedo
sas! F. Gomede
3. Desenvolvimento do Comércio G. Unidades Greco-romanas
Com o desenvolvimento do comércio, ultrapassan H. Distâncias entre Pontos
do o nível do simples escambo, tomou-se necessário o II. Medidas de Àrea
desenvolvimento de algum tipo de sistema que A. Egípcias
determinasse melhor a quantidade e o volume das B. Mesopotâmicas
mercadorias envolvidas. As medições mais primitivas, C. Israelitas
sem dúvida, estavam relacionadas a objetos bem D. Romanas
conhecidos, como o número de grãos de cereal ou de III. Medidas de Capacidade
ovos de alguma ave qualquer; e as medidas de
comprimento, geralmente, estavam baseadas em A. Líquidos, no Antigo Testamento
medições de certas partes do corpo humano (como já B. Secos, no Antigo Testamento
vimos no caso do côvado), como o dedo, a largura da C. Medidas no Novo Testamento
mão, o palmo, etc. Mais modernamente, encontra IV. Medidas de Peso
mos a repetição dessas dificuldades, sem que os A. Talento
homens tivessem acertado com um padrão uniforme. B. Mina
Assim, a medida inglesa chamada pé foi baseada no C. Siclo
comprimento do pé de certo rei inglês, provavelmente
de grande estatura! Não admira, pois, que as D. Gera
distâncias bíblicas estivessem relacionadas a questões E. Beca
tipicamente humanas, como a distância que uma F. Netsefe
pessoa poderia caminhar em um dia, a distância que G. Pim
podia ser atingida por uma flecha atirada com o arco, H. Arrátel
etc. E as medidas de peso quase sempre estavam I. Quesita
ligadas a pedras! J. Peres
4. Medidas Inexatas e Desonestas L. Pesos no Novo Testamento
Se houvesse uma Sunab em Israel, os fiscais V. As Balanças
ficariam loucos em pouco tempo, se porventura VI. Conclusão
quisessem fazer questão do que hoje denominamos de I. Medidas de Comprimento
gramas ou mililitros. Portanto, deve-se pensar muito A. Côvado. No hebraico, ammah; no grego,
mais em medições gerais, sejam elas de comprimento, pêchus; no latim, cubitus. Essa era a principal
de capacidade ou de peso, porquanto havia imposições unidade de medida de comprimento usada na Bíblia.
bíblicas a esse respeito, controlando e procurando Conforme já dissemos, o sistema de medidas lineares
moralizar todos esses sistemas metrológicos da nação dos hebreus estava baseado sobre o sistema egípcio.
de Israel. Assim, lemos, só para exemplificar, em E, já que o côvado era o comprimento do antebraço e
Levítico 19:35,36: «Não cometereis injustiça no juízo, da mão espalmada, não havia um côvado padroniza
nem na vara, nem no peso, nem na medida. Balanças do. Esse côvado «natural» é chamado, em Deutero-
justas, pesos justos, efa justo, e justo him tereis...» nômio 3:11, de «côvado comum». Nas Escrituras
(ver também Deu. 25:13-16; Pro. 11:1, 20:10). Esses Sagradas foi usado para indicar, por exemplo, a
sistemas de aferição criados pelos hebreus, embora altura de um homem (I Sam. 17:4), a profundeza das
nada uniformes, como já vimos, estavam alicerçados águas (Gên. 7:20), e distâncias aproximadas (João
sobre os padrões das civilizações mais antigas do 21:8). Todavia, uma unidade mais precisa seria
256
PESOS E MEDIDAS
exigida no trabalho de construção e engenharia, como portão, em Tell en-Nasbeh, tinha 13,338 m, ou cinco
foram os casos da arca da aliança (Gên. 6:15,16), do canas, em quadrado.
tabernáculo (Êxo. 26—27), do templo e seus móveis (I C. Palmo. No hebraico, zereth. Era a distância
Reis 6:7; Eze. 40—43), e das muralhas de Jerusalém entre a ponta do polegar e a ponta do dedo mínimo da
(Nee. 3:13). Havia côvados mais longos e mais curtos, mão espalmada e os dedos separados. Era considera
tal como na Babilônia e no Egito. Na Mesopotâmia, o do exatamente a metade do côvado comum e,
côvado de Corsabade era apenas quatro quintos do portanto, 22,23 cm (ver Êxo. 28:16; I Sam. 17:4). A
comprimento do côvado «real», ou seja, tinha apenas estola sacerdotal (Êxo. 28:16) e o peitoral (Êxo. 39:9)
40,24 cm. Os dois côvados egípcios mediam, tinham um palmo em quadrado. A altura de Golias
respectivamente, 52,45 cm e 44,7 cm. O trecho de era de seis côvados e um palmo (I Sam. 17:4).
Ezequiel 40.5, especifica um certo côvado que tinha D. Largura da Mão. No hebraico, tephach (I Reis
«um côvado e um palmo», ou seja, com sete palmos, e 7:26; II Crô. 4:5; Sal. 39:5) e tophach (Êxo. 25:25;
não com seis. A inscrição existente no túnel de Siloé 37:12; Eze. 40:5,43; 43:13). Era considerada como
oferece-nos uma evidência objetiva quanto ao um sexto do côvado comum (ou seja, 7,41 cm), ou um
comprimento do côvado, em Israel, porquanto afirma sétimo do côvado real. Ver Exo. 22:25; I Reis 7:26; II
que o túnel tinha mil e duzentos côvados de Crô. 4:5; Sal. 39:5; Eze. 40:5.
comprimento. Quando o túnel é medido atualmente, E. Dedo. No hebraico, etsba. Era a menor
mostra que tinha 533,1 m, resultando isso em um subdivisão do côvado, ou seja, um quarta parte da
côvado de 44,4246 cm. Se a inscrição no túnel de Siloé largura da mão, o que equivalia a 1,8525 cm. Ocorre
alude a mi! e duzentos côvados exatos, sem nenhuma somente no trecho de Jeremias 52:21, onde se lê: «...e
fração, então (levando em conta que o palmo—ver a grossura era de quatro dedos...» Isso daria uma
ma>s abaixo—era a metade do côvado) a real estatura espessura de pouco menos de 7,5 cm para as paredes
do gigante Golias, segundo se vê em I Sam. 17:4, que de bronze de cada coluna do templo de Salomão.
era de seis côvados e um palmo, era de 2,88876 m. Todavia, no Talmude é uma medida que figura com
Porém, tudo está na dependência da precisão dos freqüência.
côvados do túnel de Siloé. Em pés e polegadas, isso dá F. Gomede, transliteração do termo hebraico
9’ 5 l / 2 ”(nove pés, cinco polegadas e meio). Outros gomed. Aparece somente em Juizes 3:16, onde nossa
cálculos, entretanto, baseados em um côvado mais versão portuguesa traduz essa palavra, erroneamente,
curto, falam em exatamente nove pés de altura para por «côvado». Visto que Eúde usou um «punhal», e
Golias (2,745 m), o que serve para mostrar a não uma «espada», então esse punhal não pode ter
dificuldade de se chegar a um cálculo exato! sido de um côvado (44,46 cm). A Septuaginta vem em
Confirmações adicionais de um côvado com, nosso socorro, pois ali a tradução é spthithamês,
aproximadamente, 44,5 cm, derivam-se de cálculos «palmo». A Vulgata Latina concorda com isso, pois
alicerçados nas dimensões dos côvados do «mar de diz palmae manus (palma da mão). Todavia, há
fundição» do templo de Salomão (I Reis 7:23-26; II estudiosos modernos que pensam estar em pauta um
Crô. 4:2-5), de mistura com sua capacidade, «côvado curto».
calculada em batos (vide, mais abaixo). Há uma
tradição, impossível de ser averiguada, entretanto, Com base no côvado padrão de 44,46 cm, as
que afirma que os rabinos conservavam côvados medidas lineares do Antigo Testamento poderiam ser
padrões no templo de Jerusalém. Medições em sumariadas conforme se vê abaixo:
côvados são empregadas continuamente nas páginas Côvado Comum
do Antigo Testamento, como nas dimensões da arca 1 cana seis côvados 266,76 cm
de Noé (Gên. 6:15), do tabernáculo e seus móveis 1 côvado seis larguras da mão 44,46 cm
(Êxo. 25-27), das dimensões do leito de Ogue, o 1 largura da mão quatro dedos 7,41 cm
gigantesco rei de Basã (Deu. 3:11), da estatura de 1 dedo 1,8525 cm
Golias (I Sam. 17:4), do templo de Salomão e seus
móveis (I Reis 6:2—7:38), da altura da força ou
mastro de empalação erigido por Hamã (Est. 5:14 e Côvado de Ezequiel
7:9), das dimensões da cidade, do templo e do 1 cana seis côvados 311,22 cm
território, nas visões de Ezequiel (Eze. 40:5—43:17), 1 côvado seis larguras da mão 51,87 cm
da imagem de ouro, erigida a mando de Nabucodono-
sor, na planície de Dura (Dan. 3:1), e, finalmente, do
rolo volante, dentro da visão de Zacarias (Zac. 5:2). G. Unidades Greco romanas. Naturalmente, essas
B. Cana. No hebraico, qaneh. É palavra usada nas unidades, quando aparecem na Bíblia, fazem-no
descrições de Ezequiel sobre o templo (Eze. 40:3, somente no Novo Testamento. São as seguintes:
etc.). No Novo Testamento aparece como a palavra 1. Côvado. No grego pêchus, que aparece por
grega kálamos, que nossa versão portuguesa traduz quatro vezes: Mat. 6:27; Luc. 12:25; João 21:8 e Apo.
por «vara», em Apo. 21:15. A «cana» ou «vara» era 21:17. Provavelmente tinha 44,4246 cm. Isso porque
muito mais um instrunento de medir do que mesmo os romanos consideravam que o seu côvado equivalia
um padrão de medida. O «cordel» de Amós 7:17 e a um pé e meio romano, que era de 29,6164 cm.
Zac. 2:1, bem como o «cordel de linho», de Eze. 40:3, 2. Braça. No grego, orguiá (Atos 27:28). A braça
também eram instrumentos de medição, e não era medida usada para aquilatar a profundidade da
unidades de medida. Ê realmente notável o número água. Os estudiosos calculam a braça em 1,85 m.
de ruínas de grandes edificações públicas antigas que 3. Estádio. No grego, stádion. Era uma medida
podem ser medidas, em termos de números redondos tipicamente romana, para medir grandes distâncias,
de côvados, com cerca de 44,5 cm (mais exatamente, com quatrocentos côvados, ou seja, 177,7 m, ou o
44,46 cm), ou em canas com seis côvados exatos. Por equivalente a um oitavo de milha romana (Luc. 24:13;
conseguinte, a cana teria, exatamente, 266,76 cm. João 6:19; Apo. 14:20).
Assim, um certo palácio de Megido, na quarta 4. Milha Romana. No grego, milio (Mat. 5:41).
camada de escavações arqueológicas, teria, declarada Com oito estádios, a milha romana das províncias
mente cinqüenta côvados em quadrado, ou seja, 22,23 ocidentais equivalia a 1421,58 m. No entanto, nas
m. A plataforma da cidadela de Laquis tinha doze províncias orientais do império romano era usada
canas em quadrado (32,01 m); e a base da torre do uma milha levemente maior, que equivalia acerca de
257
PESOS E MEDIDAS
uma quarta parte da medida persa parasang. Visto côvados era chamado um st't, mais ou menos
que se calcula o parasang, em 6249,92 m, essa milha equivalente ao que hoje em dia seriam 2700 m(3)!
romana oriental teria 1560,73 m. Estranhíssimas as medidas de área entre os egípcios
H. Distância Entre Pontos. As distâncias de viagens antigos!
e as distâncias entre dois pontos são expressas nos B. Mesopotâmicas. Na Babilônia e na Assíria, a
termos mais imprecisos, na Biblia, em comparação terra era medida, quanto à sua área, em termos do
com aquilo que os homens modernos estão acostuma que um par de bois pudesse arar no espaço de um dia.
dos. Assim, o «passo» (no hebraico, pesa) é Essa área era definida como aquilo que, hoje em dia,
mencionado apenas por uma vez, dentro de uma frase diríamos ser de cerca de 1600 m(2). E ali a terra
metafórica.' «...apenas há um passo entre mim e a também era medida de acordo com a quantidade de
morte» (I Sam. 20:3). As distâncias cobertas nas grãos para semeá-la. Assim, nos escritos deles
viagens não eram aquilatadas em termos nem de encontramos expressões como um imeru de terra.
quilômetros e nem de horas, mas tão vagamente Devido a tão grande indefinição, as áreas medidas
quanto «um dia de viagem» (Núm. 11:31; I Reis 19:4; variavam conforme as localidades e o tempo a que nos
Jon. 3:4; Luc. 2:44), ou três dias de viagem (Gên. estejamos reportando!
30:36; Êxo. 3:18; Núm. 10:33; Jon. 3:3), ou sete dias
de viagem (Gên. 31:23; II Reis 3:9). Nos trechos de C. Israelitas. No hebraico não existe qualquer
Génesis 35:16 e II Reis 5:19, a distância percorrida foi termo usado especificamente para indicar áreas de
expressa como «extensão de território» (em algumas terra. Todavia, são dados os comprimentos dos lados
traduções), indicando «pequena distância» (conforme de um retângulo, ou de um quadrado, ou, então, o
também diz nossa versão portuguesa). Tem-se diâmetro e a circunferência de áreas circulares (ver I
calculado que, sob condições ordinárias, uma pessoa Reis 6:2,3; 7:23; II Crô. 4:1,2; Eze. 40:47,49; 41:2,4,
acostumada a andar poderia cobrir entre trinta e dois etc.). Além disso, a jeira (no hebraico, tsemed-, ver
e quarenta quilômetros a cada dia, caminhando a pé. Isa. 5:10), que no hebraico tem o sentido de «vareta»
Uma viagem de um sábado (no grego, odós sabbátou) ou «jugo», representava a área de terra que um par de
era a distância entre o monte das Oliveiras e bois era capaz de arar durante um dia (ver I Sam.
Jerusalém (Atos 1:12). De conformidade com Josefo, 14:14 e Isa. 5:10). Entre os israelitas também havia o
essa distância era de seis estádios, ou seja, método de medição dc áreas de terra de acordo com a
ligeiramente mais que um quilômetro (ver acima, quantidade de sementes necessária para semeá-las
Estádio, sob Unidade« Greco-romanos). (ver Lev. 27:16; I Reis 18:32). Assim, Elias cavou uma
trincheira, em redor do altar, no monte Carmelo,
Havia uma regra rabínica, derivada do trecho de suficiente para conter duas «medidas» de sementes (no
Números 35:5, que determinava que a distância hebraico, seahs, I Reis 18:32). Ora, é dificílimo
permitida para viagens em dia de sábado era determinar quais as dimensões dessa trincheira!
ligeiramente superior ao que hoje se considera um
quilômetro. A passagem de Êxodo 16:29 proíbe uma A passagem de Levitico 27:16 não parece referir-se
pessoa de deixar o seu «lugar» no sétimo dia. O trecho ao valor de um campo cujo preço era de cinqüenta
de Josué 3:4 registra que a distância entre a arca e o siclos por ômer de cevada, para que pudesse ser
povo hebreu era de dois mil côvados, aproximada semeado, porquanto essa interpretação significaria
mente 890 m. E, visto que alguns iam até diante da que uma vasta área poderia ser adquirida por um
arca, a fim de adorar ao Senhor em dia de sábado, preço ridiculamente baixo. Antes, o mais provável é
alguns estudiosos têm pensado que a viagem de um que aquele versículo se refere ao grão a ser colhido,
dia de sábado equivalia a essa distância. Mas também pelo que seria uma estimativa do valor do campo, e
havia outras distâncias, indicadas nas Escrituras, não uma alusão à sua àrea. Diz ali a nossa versão
como a distância de um tiro de flecha (Gên. 21:16) ou portuguesa: «Se alguém dedicar ao Senhor parte do
de um sulco na terra (I Sam. 14:14; Sal. 129:3), campo da sua herança, então a tua avaliação será
indicações essas muito precárias quanto à distância segundo a semente necessária para o semear: um
que isso significava. ômer pleno de cevada será avaliado por cinqüenta
siclos de prata». Por sua vez, o trecho de Números
Duas medidas gregas de distância entre dois pontos 35:4,5 descreve as dimensões das terras de pastagens
encontram-se nos livros dos Macabeus e, portanto, das cidades levíticas. O quarto versículo estipula que
nos livros apócrifos do Antigo Testamento. Betsur as terras que se estenderiam das muralhas da cidade
ficaria, mais ou menos, a cinco schoinoi distante de para fora seriam de mil côvados ao redor; mas o
Jerusalém (II Macabeus 11:5). Ora, o schoinos era quinto versículo, descrevendo uma área quadrada,
uma antiga medida egípcia, equivalente acerca de seis menciona lados de dois mil côvados. Se isso fosse
quilômetros. Isso significa que Betsur ficava cerca de interpretado literalmente, então não haveria nenhum
trinta quilômetros de Jerusalém. O estádio também é espaço reservado para a cidade, no meio da área
mencionado por diversas vezes nos livros apócrifos do quadrada. A solução do problema é que os dois mil
Antigo Testamento (ver II Macabeus 12:9,10,16,17, côvados do quinto versículo representam a divisão
29). Como já vimos, o estádio equivalia a 177,7 m, um frontal da profundidade especificada de mil côvados.
oitavo da milha romana. E isso, por sua vez, significa que os dois mil côvados
II. Medidas de Àrea quadrados não eram a área das terras de pastagens, e,
Ê incrível que um costume antigo, muito generali sim, um quadrado que engolfava a cidade, compondo
zado, de determinar áreas territoriais, fosse o uso do a divisão frontal das áreas de pasto, em cada um dos
que um boi com arado fosse capaz de arar durante o quatro lados da cidade. Com base em informes
período de um dia; outro padrão muito comum era a extraídos da Mishnah (vide), os estudiosos têm
quantidade de semente que se fazia mister para calculado a seah (em nossa versão portuguesa,
semear uma dada área. Como vemos, padrões em «medida»; ver I Reis 18:32) como equivalente a 784
nada precisos! m(2). E, se seguirmos a mesma proporção, um ômer
A. Egípcias. O côvado (no egípcio, mh), era usado corresponderia a 23.520 m(2).
no Egitp para a determinação de áreas. Um terreno D. Romanas. No idioma latino, a palavra jugum
com um côvado de largura e cem côvados de (jugo, par) era empregada a fim de descrever a área
comprimento era considerado como um terreno com que um par, ou junta de bois era capaz de arar em um
um côvado de área! E uma área com cem desses dia. Posteriormente, essa área foi definida como um
258
PESOS E MEDIDAS
jugerum de cerca de cinco oitavas partes de um acre para líquidos. Visto que, no hebraico, essa palavra,
moderno. Tem sido calculado que seriam necessárias equivale a filha, fica sugerida a idéia de que sua-'
três inteiros e três quintos de seahs para semear um capacidade era aquela que as jovens geralmente
jugerum de terras, no período greco-romano, isto é, transportavam das fontes para casa (cf. Gen. 24:15).
cerca de 700 m(2). E o sulco romano (em latim, actus) Alguns crêem que tinha a mesma capacidade do efa
tinha o equivalente a 36,6 m em linha reta; e a teiía (ver Eze. 45:11,14), ambos os quais teriam uma
era medida de acordo com essa medida em quadrado. décima parte do hômer, embora isso não signifique
que o hômer fosse usado para medir líquidos. O bato
HL Medidas de Capacidade é mencionado, no Antigo Testamento, em múltiplos
Da mesma maneira que as medidas de comprimen de até vinte mil (I Reis 7:26,38; II Crô. 2:10; 4:5).
to, côvado, palmo e dedo derivaram-se de várias Essa medida era usada para medir água (I Reis
partes do corpo humano, assim também as antigas 7:27,38; II Crô. 4:5), vinho (II Crô. 2:10; Isa. 5:10) e
unidades de capacidade eram, originalmente, bastan azeite (II Crô. 2:10; Eze. 45:14). Era uma medida
te indeterminadas, e suas designações geralmente justa (Eze. 45:10). Sua capacidade tem sido calculada
eram extraídas de termos, usualmente, usados no lar equivalente a 18,9 litros, com base na capacidade
ou no comércio, como aqueles nomes tremendamente estimada de jarras quebradas, pertencentes ao século
imprecisos de «taça cheia d’água» (Juí. 6:38; ver Amós VIII A.C., encontradas em Tell ed-Duweir (Laquis) e
6:6) ou «mão cheia» (segundo algumas traduções; em Tell en-Nasbeh (com a inscrição «bato real»), e
nossa versão portuguesa «encher as mãos»; I Reis também em Tell Beit Mirsim, assinaladas «bato». No
20:10). Termos um tanto mais bem definidos são: o entanto, a cerâmica dos tempos greco-romanos
hômer, derivado da idéia de «carga de um jumento»; o revelam um bato como o equivalente a 21,5 litros. Os
him, que é um vaso; o ômer, que já aponta para um cálculos feitos no tocante à capacidade do «mar de
feixe; e o e/a, que indica um cesto. fundição», do templo de Salomão (I Reis 7:23-26,38),
No antigo Egito, a medida padrão de capacidade todavia, apóiam mais o cálculo que fala em 18,9
chamava hkt, que os estudiosos calculam como o litros. No entanto, outros estudiosos têm chegado a
equivalente a 5,03 litros. Essa medida era usada para falar em um bato com a capacidade de 22,70 litros.
medir cereais ou metais. O him, ou jarra (no egípcio Os cálculos são difíceis!
hnw), que já representava uma décima parte dessa 2. Him. No hebraico, hin, media uma sexta parte
capacidade, era indicado para medir certos líquidos, de um bato. Um sexto de um him, por sua vez, é
como a cerveja, o leite e o mel, além de servir de considerado como o mínimo do que um homem
medida para secos. Portanto, valia, em termos precisava para beber de água, diariamente (Eze.
redondos, meio litro. 4:11). Portanto, essa quantidade mínima de água,
Todavia, na Mesopotâmia havia grande variedade consumida por um homem seria o equivalente a 0,525
de medidas de capacidade, a julgar pelos inúmeros litro. O him é, usualmente, mencionado em contextos
nomes dessas medidas, conforme se encontram nos que falam sobre ritos e cerimônias, no tocante a
textos sumérios, assírios, neobabilônicos e nuzianos. oferendas de vinho e azeite, tanto em números
Ali, a medida padrão de capacidade, com toda a redondos (Êxo. 30:24; Eze. 45:24; 46:7,11) quanto
probabilidade, era o qa, equivalente à sila dos em números fracionários (Núm. 15:9; 28:14—meio
sumérios. Quanto a essas medidas já não há tanta him; Núm. 15:6,7; Eze. 46:14—um terço de him; e
certeza, pois os eruditos têm-nas calculado entre Êxo. 29:40; Lev. 23:13; Núm. 15:4,5; 28:5,7—um
1,004 litros e 1,34 litros. Outra medida padrão de quarto de him).
capacidade era o sutu, de dez qas, que poderíamos 3. Logue. No hebraico, log. No ugaritico, lg; no
calcular até a um máximo de 13,4 litros. E também o cóptico, lok. Essa era a menor de todas as medidas
imeru (que significa «jumento», pois representava a para líquidos, equivalente a um doze avos de him. É
carga usualmente transportada por esse animal), mais mencionado somente em Levítico 14:10-24, para
ou menos o equivalente a um máximo de 134 litros. indicar a quantidade de azeite que se deveria usar no
Esse termo acha-se nos textos nuzianos e assírios do rito da purificação dos leprosos. Portanto, seria o
império médio. equivalente a 0,2625 litro. A tradução da Septuaginta
Não dispomos de evidências suficientes para usa o termo grego kotúle; e a Vulgata Latina diz
determinar as unidades cananéias de capacidade, sextarius. No Talmude calcula-se o logue como a
embora muitos acreditem que deveriam parecer-se quantidade de água deslocada por seis ovos de
muito com as do sistema mesopotâmico. Sabemos, galinha, que alguns estudiosos têm calculado como
todavia, que o hmr (hômer) era uma unidade para 0,432 litro, em média, embora outros, conforme
secos, o que também acontecia à Ith (leteque). O lg vimos, pensam em uma quantidade bem menor do
(logue) era outra dessas medidas de capacidade, que que isso.
tem sido encontrada na literatura ugarítica.
Quanto às medidas de capacidade, usadas entre os Medidas de Iiquidos, no Antigo Testamento
hebreus, elas nunca foram padronizadas, havendo até Hômer (coro) dez batos 189 litros
mesmo o fenômeno de diferentes designações serem Bato seis hins 18,9 litros
usadas para indicar a mesma unidade, em alguns Him doze logues 3,15 litros
casos. Também eram nomes usados para indicar
medidas para líquidos e para secos, mais ou menos Logue 0,2625 litros
como se faz hoje com o moderno litro. Já entre os B. Seco«, no Antigo Testamento
romanos, as medidas de capacidade chamavam-se 1. Hômer. No hebraico, chomer. Essa era a medida
quartario, sextarius, congius, uma e ânfora. padrão para secos, entre os hebreus. No entanto,
Quando passamos a examinar a Bíblia, no tocante também era chamado de coro, devido a assimilação
a medidas de capacidade, então poderemos dividi-las de dois sistemas diferentes, formando um só. Essa
como segue: palavra vem de um termo hebraico que significa
«carga de um jumento». Os cálculos dos especialistas
A. Liquido«, no Antigo Testamento variam muito, quanto a essa medida, oscilando desde
1. Bato. No hebraico, bath. No grego, bátos cerca de 134 litros, passando por 230 litros, e, mais
(somente em Luc. 16:6, onde nossa versão portuguesa antigamente, chegando até 387,64 litros! Sabe-se
diz «cado»). Essa era a medida padrão dos hebreus somente que era equivalente ao coro, e que continha
259
PESOS E MEDIDAS
dez batos ou efas (ver Eze. 45:11-14). Esse dado 25:18; I Reis 18:32; II Reis 7:1,16,18. Por falta de um
permite-nos fazer um cálculo melhor, conferindo-lhe termo português correspondente, nossa versão portu
a capacidade de 189 litros. O hômer era usado para guesa traduz essa palavra por «medida». £ muito
medidas regularmente grandes, nas páginas do difícil determinar a sua capacidade, embora alguns
Antigo Testamento. Servia de medida grande para estudiosos tenham calculado sua capacidade como o
cereais (Eze. 45:13; Osé. 3:2). Um hômer de cevada equivalente a 12,93 litros. Erubin, do Talmude
valia cinqüenta siclos de prata (Lev. 27:16). Como babilónico diz que a seah do deserto equivalia ao
uma exceção, foi medida usada para medir as volume de 144 ovos de galinha, ao passo que a seah de
codomizes que os israelitas apanharam no deserto. Jerusalém seria igual a 173 ovos de galinha, ou seja,
Essas aves chegaram a cobrir o solo a uma um sexto maior que a seah do deserto. E a seah de
profundidade de dois côvados, por um dia de marcha Seforis (uma medida sagrada, usada em cerimônias
em torno do acampamento de Israel. Como eles religiosas) equivaleria a 207 ovos de galinha.
ficaram recolhendo essas aves o dia inteiro e a noite 6. ômer. No hebraico, omer, no grego, gómor, que
inteira, bem como o dia seguinte, «...o que menos aparece na Septuaginta. Não se deve confundir essa
colheu teve dez ômeres» (Núm. 11:32). Se um hômer medida com o hômer, embora, na grafia portuguesa,
equivalia a 189 litros, então isso daria o equivalente a as duas palavras sejam escritas da mesma maneira.
1890 litros de codomizes, o que nos dá uma idéia da Entretanto, essa palavra hebraica só aparece no relato
glutonaria dos israelitas, naquela oportunidade. sobre o recolhimento de maná (ver Exo. 16:13-36).
Lemos em Isaías 5:10: «...e um ômer cheio de semente Representava a ração de um dia, para cada indivíduo.
não dará mais do que um efa». Ora, o efa era a Por isso mesmo, no sexto dia da semana, dois ômeres
décima parte do hômer. Isso exprime uma maldição precisavam ser recolhidos, para serem consumidos na
imposta às terras arráveis, por causa dos pecados dos sexta feira e no sábado. E um ômer de maná deveria
israelitas. ser guardado como memorial (Exo. 16:32-34). Em
2. Coro. No hebraico, kor. Ver, por exemplo, Eze. Êxodo 16:36 é identificado como equivalente a uma
45:14. Era uma medida de capacidade igual ao ômer. décima parte de um efa, o que fazia do ômer uma
Era uma medida grande para cereais (ver I Reis 4:22; medida igual ao issarort ou «décima parte», conforme
5:11; II Crô. 2:10). Era uma medida para secos, se lê em Êxodo 29:40. Nesse caso, equivalia a 1,89
embora o trecho de Ezequiel 45:14 dê a impressão de litro.
que era uma medida para líquidos, como o azeite. Tal 7. Issaron. Provavelmente era apenas um outro
como o hômer, continha dez batos. Uma pedra de nome para o ômer, porquanto valia uma décima parte
coloração ferrugem, com meio hômer de peso, usada de um efa. Em nossa versão portuguesa, além de
há cerca de três mil anos passados, em Jerusalém, foi outras, aparece apenas como «a décima parte», em
encontrada pelos arqueólogos. Êxo. 29:40, além de aparecer como medida para
3. Leteque. No hebraico, lethek. Essa palavra cereais, nos textos litúrgicos (Êxodo 29:40; Lev.
ocorre exclusivamente em Oséias 3:2, no trecho onde 14:10,21 etc.). Nossa versão portuguesa diz nesses
se lê: «Comprei-a, pois, para mim por quinze peças de versículos do livro de Levítico, «dízima de um efa».
prata, e um ômer e meio de cevada». Corresponde à 8. Cabe. No hebraico, kab, um termo que figura
palavra «ômer», em nossa versão portuguesa, o que é exclusivamente em II Reis 6:25, embora nossa versão
um erro. O fenício Âquila, Simaco, Teodócio e a portuguesa prefira não usar a palavra, dizendo:
Vulgata Latina interpretam essa palavra como «meio «...um pouco de esterco de pombas...», quando
coro». Nesse caso, equivaleria a 94,5 litros. Todavia, deveria dizer «...um cabe de esterco de pombas...» Na
alguns estudiosos permitem-se duvidar dessa avalia verdade, no original hebraico o texto está um tanto
ção daqueles antigos escritores. corrupto, sendo compreensível que várias traduções e
4. Efa. No hebraico, ephah. No egípcio, 'pt. Era versões prefiram evitar diretamente a palavra. Josefo
uma medida para secos, e usada por muitas vezes no (Anti. 9.4,4) considerava que um quarto de um cabe
Antigo Testamento (ver Deu. 25:14; Pro. 20:10; Miq. equivalia a um sextarius (no grego, kséstes). Alguns
6:10). Equivalia a uma décima parte do hômer (ver calculam o cabe como um dezoito avos do efa. Isso
Eze. 45:11), pelo que teria 18,9 litros. No entanto, no seria equivalente a 1,05 litro.
trecho de Zacarias 5:5-11, o efa que aquele profeta viu 9. Mão-Cheia. Em adição às medidas para secos,
em visão denota um espaçoso receptáculo com tampa, mais bem definidas, conforme vimos acima, no
suficientemente grande para conter uma mulher de Antigo Testamento também encontramos freqüentes
nome «Iniqüidade». Essa efa tinha de ser bem maior expressões como: «mãos-cheias de cinza» (Êxo. 9:8),
que o efa comum, para poder conter uma pessoa em «um punhado da flor de farinha» (Lev. 2:2), «um
seu interior. O efa comum é mencionado por nada punhado como porção memorial» (Luc. 5:12), «um
menos de trinta e seis vezes no Antigo Testamento, punhado de farinha» (Reis 17:12), «punhados de
conforme se vê, por exemplo, em Êxo. 16:36; Lev. cevada» (Eze. 13:19). De fato, no hebraico há nada
5:11; 6:20; 14:10,21; 19:36; Núm. 5:15; 28:5; Deu. menos de sete vocábulos ou expressões que as
25:14; Juí. 6:19; Rute 2:17; I Sam. 1:24; Isa. 5:10; traduções e versões geralmente traduzem por «punha
Eze. 45:10; Amós 8:5, etc. do», «mão-cheia», «porção», etc.
O efa precisava ser uma medida justa, exata (Lev. Medidas para Secos, do A.T.
19:36; Deu. 25:15); não podia ser pequeno demais
(Amós 8:5; Miq. 6:10). Os israelitas não podiam usar Hômer (Coro) 189 litros dez efas
dois efas diferentes, um grande e outro pequeno (Deu. Leteque (1/2 hômer) 94,5 litros cinco efas
25:14; Pro. 20:10). Também são mencionadas frações Efa (1/10 do hômer) 18,9 litros 10 seahs
de um efa, como eni Eze. 45:13; 46:14—um dezesseis Seah (1/3 do efa) 6,3 litros 3 1/3 ômers
avos de efa; Lev. 5:11; 6:20; Núm. 5:15; 28:5—uma Omer (1/10 do efa) 1 4/5 cabe
décima parte de um efa. Era empregado para medir 1,89 litro
farinha de trigo, cereais, cevada, grãos tostados, mas Cabe (1/8 do efa) 1,05 litro
jamais líquidos. No caso de líquidos, o equivalente era
o bato (vide).
5. Seah. No Antigo Testamento, essa palavra
hebraica figura por nove vezes: Gên. 18:6; I Sam. ••• ••• •••
260
PESOS E MEDIDAS
C. Medidai no Noto Tesüunento Testamento, isto é, «pedra» (no hebraico, eben). Até
Dentre todas as medidas para líquidos, que damos os nossos próprios dias os aldeões usam pedras
acima, somente o bato pode ser encontrado no Novo achadas no campo como pesos. Eles selecionam
Testamento (Luc. 16:6, «cados», segundo a nossa algumas pedras que sejam aproximadamente do peso
versão portuguesa). E de todas as medidas acima, que eles desejam. Um outro vocábulo que algumas
para secos, somente duas também figuram no Novo vezes era usado para indicar um peso era eben-kis,
Testamento. Essas duas medidas são a seah (no «surrão de pedra», o que indica que o transporte de
grego, sáton, que a nossa versão portuguesa traduz pesos, em uma sacola ou surrão era um costume bem
por «medida»—Mat. 13:33) e o coro (no grego, kóros, estabelecido na antiga nação de Israel (Pro. 16:11;
que a nossa versão portuguesa traduz acertadamente Miq. 6:11).
por «coro»—Luc. 16:7). O sáton era uma medida de No período inicial da história de Israel, o dinheiro
capacidade mui comumente usada por todo o império não era usado como padrão de valores para trocas e o
romano. Equivalia a 10,91 litros, ou seja, quase a comércio em geral. E isso porque as moedas só foram
metade de um efa dos hebreus. Os hebreus, introduzidas entre os israelitas já durante o período
entretanto, usavam três medidas diferentes com o persa, quando a monarquia era coisa do passado em
mesmo nome, seah, e isso complica bastante o Israel. Portanto, antes disso, as transações eram feitas
quadro. Outras medidas encontradiças no Novo mediante a prática do escambo (a troca de
Testamento são as seguintes: mercadorias entre si, como a de uma ovelha por certa
1. Choiniks, que nossa versão portuguesa traduz quantidade de cereal, ou por um dado peso em ouro
por «medida» (ver Apo. 6:6), era uma medida grega ou prata). Assim sendo, a despeito de tão abundantes
para secos, com a capacidade de, aproximadamente, informações que os arqueólogos têm conseguido
1,1 litro. recolher em suas pesquisas, nenhum sistema definido
2. Chestes. No grego, kséstes; no latim, sextarius. de pesos jamais foi encontrado em todo o antigo
Esse era o nome de um vaso doméstico, cuja Oriente Próximo e Médio. Havia uma grande variação
capacidade equivalia, mais ou menos, a 0,642 litro. nos pesos usados porque havia sistemas independen
Ver Marcos 7:4, onde a nossa versão portuguesa diz tes, que variavam de região para região, sem falarmos
«vasos». no fato de que também havia variações de
3. Metretas. No grego, metretês. Era uma medida conformidade com as mercadorias oferecidas à venda.
de capacidade para líquidos, equivalente a cerca de 39 Os padrões de peso, entre os hebreus eram tão
litros. A Septuaginta mostra-se insegura a respeito, inexatos que essa variedade de que estamos falando
pois traduz várias medidas hebraicas por metreta, o existia até mesmo no caso de pesos com a mesma
que é impossível. Josefo, entretanto, disse que a inscrição, ou seja, marcados como se tivessem um
metreta era equivalente ao bato (ver Anti. 3.8,3; mesmo valor de peso.
8.2,9). Ora, se o bato (ver acima) equivalia a 18,9 Conhece-se a unidade básica de pesos no antigo
litros, como poderia equivaler à metreta, que tinha 39 Egito, que era o deben. Esse padrão, entretanto,
litros? Com base nas descobertas arqueológicas, segundo as descobertas arqueológicas o têm demons
porém, sabe-se agora que havia metretas com várias trado, variava desde cerca de 13,43 g até cerca de 19 g.
capacidades, o que explica a discrepância. Uma jarra Mas, como o Antigo Testamento nunca menciona
encontrada entre as ruínas de Qumran tem permitido quaisquer dos pesos egípcios, não nos damos ao
que os arqueólogos calculassem a metreta em 45,4236 trabalho de catalogá-los aqui para o leitor. Importa-
litros; sem dúvida uma metreta grande. Mais uma nos muito mais o sistema de pesos que havia entre os
vez, vê-se a falta de uniformidade total entre as hebreus.
medidas antigas, sobretudo entre os hebreus. Ver O sistema hebreu de pesos derivava-se do sistema
João 2:6, exclusivamente. cananeu, que, por sua vez, tinha sido recebido dos
4. Módio. No grego, módios; no latim, modius. Era babilônios. A palavra hebraica para peso é shakal, de
uma medida para secos, equivalente acerca de 8,49 onde também se deriva o termo siclo. O siclo era a
litros. Nossa versão portuguesa a traduz por unidade básica de peso entre todos os antigos povos
«alqueire», em Mar. 4:21 e Luc. 11:33. Ninguém semitas. No acádico chamava-se siqlu. Os pesos
acendia uma lamparina para então cobri-la com uma assírios e babilônios não se ajustavam a um padrão,
dessas medidas, emborcada, como é óbvio. A medida mas antes, variaram muitíssimo com a passagem dos
«módio», usada em Jerusalém, nos tempos helenistas e séculos—até mesmo uma mudança de governantes
romanos, era equivalente ao modius itálico. podia resultar na modificação dos padrões de peso, ao
sabor do capricho dos mandantes. Interessante é que
5. Libra. No grego, litra; no latim, libra. Com o os pesos usados na Mesopotâmia estavam alicerçados
equivalente a 0,3548 litro, a libra era usada tanto sobre uma base sexagesimal (múltiplos de sessenta ou
como um peso quanto como uma medida de fração). Em comparação com isso, os egípcios
capacidade. Essa foi a quantidade de ungQento que pareceriam mais modernos para nós, pois o seu
Maria usou para ungir os pés do Senhor Jesus (João sistema era decimal. O sistema babilónico deixou,
12:3). Nicodemos, por sua vez, trouxe uma mistura de
mirra e aloés com o peso de cem libras (35,48 kg), a contudo, sinais até mesmo na civilização moderna,
pois o sistema de dividir a hora em sessenta minutos, e
fim de ungir com a mesma o corpo de Jesus (João o minuto em sessenta segundos deriva-se daquele
19:39). sistema sexagesimal babilónico. Outros valores
IV. Medidas de Peso babilónicos de peso eram a mina (no acádico, manu;
As evidências arqueológicas são muito mais no hebraico maneh), o talento (no acádico biltu) e a
abundantes no caso de medidas de peso do que no gera (no acádico, giru). Isso posto, o sistema
caso de medidas de comprimento, área e capacidade. babilónico pode ser facilmente representado desta
Um grande número de pesos, com a forma de pedras maneira: um talento = 60 minas; uma mina = 60
inscritas e não-inscritas, representando um siclo ou siclos; um siclo = 24 geras. Os mesopotâmicos
suas frações, tem sido encontrado na Palestina. O fato também tinham pesos chamados «reais», sempre o
de que a maioria dos antigos pesos, usados entre os dobro do comum. Assim, um talento real valia cento e
hebreus, que têm sido encontrados pelos arqueólogos, vinte minas, etc. Um siclo de ouro valia dez siclos de
consistia em pedra dura reflete-se na palavra gerai prata. De acordo com o sistema mesopotâmico mais
que a Bíblia usa a fim de indicar peso, no Antigo comumente empregado, o siclo pesava 8,4 gramas.
PESOS E MEDIDAS
Alguns dos pesos assírios eram moldados na forma paga por 603.550 homens, atingiu cem talentos,
de leões de metal, com a boca aberta e cauda mil setecentos e setenta e cinco siclos, o que deixa
levantada, com um símbolo impresso ao lado, que claro que cada talento estava dividido então em três
mostrava qual era o valor daquele peso. A fim de que mil siclos. Isso pode significar tanto que havia
essas figuras de leões se aproximassem o mais possível sessenta minas de cinqüenta siclos, como que havia
do peso ali determinado, pedacinhos de metal eram cinqüenta minas de sessenta ciclos. Um peso de dois
tirados ou preenchidos na forma oca do peso. Assim, talentos, encontrado em escavações, em Lagase, e que,
um leão de bronze, com o peso marcado de dois terços atualmente, se encontra no Museu Britânico, em
de mina, foi encontrado no palácio de Salmaneser, rei Londres, Inglaterra, apresenta um peso de cerca de
de Assur. E um peso de trinta minas, com o formato 30,3 kg por talento. E pesos de uma mina,
de um pato, esculpido em basalto negro, foi provenientes de vários períodos históricos, até o
encontrado no palácio de Eriba-Marduque II império neobabilônico, mostram que o peso do
(688—680 A.C.—foi o seu reinado). Uma antiga talento foi mantido em oscilação, durante muitos
pedra babilónica, com as palavras inscritas «verdadei séculos, entre 28,38 kg e 30,27 kg. Ê muito provável
ro peso de meia mina», com o peso real de 244,8 que esse mesmo talento fosse o padrão tanto na Síria
gramas, foi encontrada. Isso daria à mina o peso de quanto na Palestina.
489,6 gramas. Uma outra dessas pedras, inscrita B. Mina. No hebraico, maneh. Aparece apenas mui
«verdadeiro peso de uma mina», ao ser aferida, raramente no Antigo Testamento (ver I Reis 10:17;
entretanto, resultou em 978,3 gramas. Como é óbvio, Esd. 2:69; Nee. 7:70; Eze. 45:12; cf. Dan. 5:25). De
essas duas pedras representavam a mina-leve e a mina acordo com o sistema babilónico, estas eram as
pesada, que havia na antiguidade. relações: um talento = sessenta minas; uma mina =
Conforme já deixamos claro, o sistema dos hebreus sessenta siclos. Em Ugarite, porém, há provas de que
derivava-se do sistema cananeu, que, por sua parte, havia uma mina de cinqüenta siclos. O trecho de
derivara seu sistema da Mesopotâmia. Isso posto, os Ezequiel 45:12, define a mina como equivalente a
sistemas metrológicos nessas duas regiões do mundo, sessenta siclos. O trecho, no original hebraico, agora
a grosso modo, eram idênticos, excetuando que a traduzido, diria: «...a mina será para vinte siclos, e
mina cananéia continha cinqüenta siclos, e não vinte e cinco siclos e quinze siclos», resultando em
sessenta. Assim também em Israel, antes dos dias do uma mina de sessenta siclos, tal e qual no caso da
profeta Ezequiel, conforme evidências, havia uma mina babilónica. Aquela maneira de contar, no
mina de cinqüenta siclos. Alguns dos textos ugaríticos trecho de Ezequiel que citamos, é incomum,
determinam pesos de acordo com siclos «pesados». sugerindo que havia pesos de quinze, de vinte e de
Além disso, em Ugarite, o talento tinha apenas três vinte e cinco siclos, e que este último era uma mina de
mil siclos, e não três mil e seiscentos. Certa coleção de cinqüenta siclos, tal e qual havia em Ugarite.
pesos, de Ugarite, que aparecem em certos textos, Também há evidências de que na Israel pré-exílica o
indica um siclo leve de 9,5 gramas, além de alusões padrão comercial era o talento, assim dividido: um
a um siclo pesado, com exatamente o dobro desse talento = cinqüenta minas = dois mil e quinhentos
valor, isto é, 19 gramas. Outros textos ugaríticos, siclos. No trecho de Êxodo 21:32, uma multa de trinta
encontrados em Ras Shamra referem-se ao kkr (o siclos foi imposta, no mesmo caso em que o famoso
talento dos hebreus) e ao tkl (o siclo dos hebreus). código de Hamurabi impunha meia mina. A mina
antiga, mui provavelmente, pesava entre 550 e 600
O sistema hebreu de computaçio de pesos seguia o gramas. Mas, de acordo com o sistema que
sistema decimal, e não o sistema babilónico transparece no livro de Ezequiel, a mina já aparece
sexagesimal. A unidade básica era o siclo; e os seus com o peso de cem gramas. Isso posto, as flutuações
múltiplos eram a mina e o talento. A mina aparece de peso, entre uma época e outra, são tão grandes que
mencionada nas páginas do Antigo Testamento desafiam toda a nossa tentativa de estabelecer um
apenas com muita raridade (ver I Reis 10:17; Nee. valor preciso para a mina.
7:71). Há uma certa confirmação de que as unidades
assírias e hebréias eram idênticas, pelo menos em C. Siclo. No hebraico, shakal, que significa «pesar».
algumas instâncias. Diz a passagem de II Reis 18:14: Esse era o peso básico, usado nas antigas metrologias
«Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, dos povos semíticos. Todavia, é mister adiantar, logo
trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro». de saída, que não havia peso uniforme para o siclo, na
Nos anais de Senaqueribe, rei da Assíria, a respeito do antiguidade. Até mesmo pesos inscritos com os
mesmo incidente, é indicada a mesma quantidade de mesmos sinais não tinham os mesmos pesos entre si,
ouro, embora a quantidade de prata apareça como porquanto havia pesos leves e pesados, comuns e
oitocentos talentos, e não trezentos; e a similaridade reais. Vários especialistas têm calculado o valor do
entre os dois relatos é bastante interessante. Os pesos siclo como equivalente, em gramas, entre 11,3 e
gregos chamavam-se estáter, mina e talento. Já os 11,47. O trecho de Ezequiel 45:12 afirma que o siclo
pesos romanos denominavam-se dracma, siclo, mina pesava vinte geras, e que a mina era igual a sessenta
e talento, em ordem crescente, isto é, cada vez mais siclos.
valiosa. O Antigo Testamento refere-se a frações do siclo.
A. Talento. No hebraico, kikkar, porquanto esse Assim, meio siclo (Êxo. 30:13), um terço de siclo
peso deriva o seu nome do fato de que se trata de um (Nee. 10:32), um quarto de siclo (I Sam. 9:8). E o
peso em forma circular. Era a mais valiosa das trecho de Ezequiel 45:12 parece redefinir a mina
unidades, e entre os babilônios tinha o nome de biltu. como se contivesse sessenta siclos. Abraão pagou pelo
O talento dos babilônios tinha o peso de 30,13 kg, campo de Macpela «quatrocentos siclos de prata,
estando dividido em sessenta minas de 0,5021 quilo moeda corrente entre os mercadores» (Gên. 23:16). E
cada. Nossa palavra portuguesa, talento, vem do possível que essa expressão tenha sido usada para
latim, tendo partido do grego tálanton, que significa distinguir esse peso do «siclo do santuário», de vinte
«peso». Com freqüência, é mencionado nos livros geras (cf. Êxo. 30:13). Ê possível que essa distinção
históricos do Antigo Testamento, mas raramente no explique por que motivo Neemias (ver Nee. 10:32)
Pentateuco (ver Exo. 25:39; 37:24; 38:24--29). De disse que a taxa do templo era de um terço de siclo, ao
acordo com o trecho de Êxodo 38:25,26, a taxa do passo que, no Pentateuco, isso aparece como uma
santuário, de uma beca (ou meio siclo), por cabeça, beca ou meio siclo (ver Êxo. 38:26).
262
PESOS E MEDIDAS
O peso anuál dos cabelos aparados de Absalão, que valor para o siclo, mediante decreto oficial, sem
alguns estudiosos têm calculado em mil e oitocentos falarmos no uso de pesos diferentes para pesar
gramas, refere-se ao siclo pelo padrão do «peso real» diferentes mercadorias, a influência de sistemas
(II Sam. 14:26). Essa referência evidencia o fato de metrológicos estrangeiros, e variações ocasionais,
que, até mesmo em tempos tão remotos quanto os devido ao manuseio descuidado na preparação e
dias de Davi, já havia um padrão oficial, com o qual conservação dos pesos envolvidos. Todavia, parece
qualquer peso poderia ser confrontado. Ao estabele que as evidências mostram que quanto maior o peso,
cer um padrão assim, Davi estava tão-somente menor era a unidade do siclo ali contida. Um sumário
copiando a prática de outros monarcas do passado. diria o seguinte: havia três valores padrão para o siclo:
Uma cópia de um peso de pedra de uma mina, a. o siclo do templo, ou nsp, com cerca de dez gramas,
preparada a mando de Nabucodonosor (605—562 que acabou depreciado para cerca de 9,8 gramas; b. o
A.C.), foi confirmada como estando de acordo cóm o siclo ordinário, de cerca de 11,7 gramas, que chegou a
padrão estabelecido por Sulgi, rei de Ur (cerca de ser depreciado para cerca de 11,4 gramas; e, c. o siclo
2000 A.C.). E um grande peso, não-m arcado, pesado de cerca de 13 gramas.
proveniente de Tell Beit Mirsim, provavelmente igual D. Gera. Esse peso era uma vigésima parte do siclo
ao peso de oito minas, dá ao siclo um peso de 11,41 (ver Exo. 30:13; Lev. 27:25; Núm. 3:47; Eze. 45:12).
gramas. A beca é o único peso cujo nome aparece £ muito provável que essa palavra, de origem
tanto no Antigo Testamento quanto em pesos babilónica, passando pelo hebraico, venha de uma
recuperados pela arqueologia. A beca equivalia a palavra que significa «grão». De conformidade com o
meio siclo (ver Exo. 38:26). Sete pedras com a sistema babilónico cada siclo valia vinte e quatro
inscrição bq ’ foram encontradas. O peso delas varia geras, e não vinte. Assim, um peso equivalente a 2,49
entre 5,9 gramas e 6,65 gramas, dando uma média de gramas, proveniente de Sebastiyeh, inscrito com hms,
6,04 gramas. Cinco outros pesos com inscrição, provavelmente representando cinco geras, foi encon
dentro das mesmas variações, fazem com que o peso trado pelos arqueólogos. E um outro peso, encontrado
da beca seja de 6,02 gramas. Isso significa que no mesmo local, trazia a inscrição «um quarto de nsp,
podemos fazer uma média, com base nesses dados, e meio sql». Essa inscrição, pois, tende a confirmar a
dizer que o siclo valia 12,02 gramas. Isso posto, teoria de que o nsp corresponde ao siclo de vinte geras
parece que o símbolo que se assemelha a um oito com de Ezequiel. A gera tem sido calculada como
a parte superior decepada 0S), que tem sido equivalente a cerca de 0,571 gramas.
encontrado em pesos de cerca de doze gramas é um E. Beca. A beqa dos hebreus vem de um verbo que
emblema antigo para indicar o siclo. No entanto, significa «separar», «dividir». Tem sido traduzido por
alguns estudiosos postulam que esse cálculo está «meio siclo», em Gênesis 24:22, com base no que se lê
por demais exagerado, visto que o peso encontrado em Exodo 38:26, «isto é, meio siclo, segundo o siclo do
em Tell Beit Mirsim, acima mencionado, empresta ao santuário». A beca é o único peso antigo que é
siclo um valor de 11,41 gramas; e o peso médio de mencionado tanto no Antigo Testamento como
outros dezessete pesos desses, com a marca do siclo, é também tem o seu nome inscrito em pesos
de 11,53 gramas. Várias teorias têm sido propostas recuperados pelos arqueólogos. Além disso, é o único
como explicação para o símbolo do siclo, o oito com a peso cuja relação com o siclo é dada na Bíblia,
parte superior cortada, mas nenhuma dessas tentati conforme se vê nesse trecho de Exodo 38:26. Ao que
vas é satisfatória. Alguns têm sugerido que esse parece, a beca era o mais antigo padrão de peso do
emblema teve origem egípcia, outros pensam em uma Egito, tendo sido encontrado em lugares pré-históri
origem babilónica ou persa. cos do período amartiano. No Egito era o peso
O chamado «siclo do santuário» (Exo. 30:13,24; geralmente usado para a avaliação do ouro. Sete pesos
38:24-26; Lev. 5:15; Núm. 3:47, etc.) seria igual ao de pedra, inscritos b q ’, — foram achados pela
valor de vinte geras. Algumas traduções dão essa arqueologia, variando o seu peso entre 5,8 e 6,65
mesma expressão como «siclo sagrado». Algumas gramas, com uma média de 6,04 gramas. Cinco
autoridades no assunto pensam que seu valor era outros pesos com inscrição também devem ter sido
diferente do siclo ordinário. Talvez aluda a um peso becas, dando um peso médio de 6,02 gramas. Isso é
padrão, guardado no recinto do tabernáculo e do um tanto superior a outros cálculos, que parecem
templo, embora isso não nos seja informado pela sugerir um peso médio de 5,712 gramas para a beca.
própria Bíblia. F. Netsefe. Esse não é um peso mencionado nas
páginas da Bíblia. Por causa de sua similaridade com
Outro« peaot antigo« têm sido achados, contribuin a palavra árabe nusf, «metade», nome tanto de uma
do mais ainda para a confusão reinante na moeda quanto de uma medida, alguns estudiosos têm
determinação do valor do siclo, visto que tais pesos conjecturado que a netsefe era a metade de alguma
sugerem um sistema com um siclo de peso levemente coisa. Esse era um peso que também aparecia
superior, ou seja, de cerca de 13 gramas; e alguns dividido em frações. Assim, um peso em forma de
especialistas pensam que esse tipo de peso era usadc fuso, que agora se encontra no museu Ashmoleano,
para pesar certos tipos de mercadorias. Assim, de Oxford, na Inglaterra, traz a inscrição «um quarto
sabe-se que em Ugarite duas palavras eram de netsefe». Pesa 2,54 gramas, o que corresponderia a
empregadas para indicar o siclo, isto é, tql e kbd, e
10,16 gramas para o netsefe. A netsefe, como já
que o siclo «pesado» era usado para pesai* linho dissemos, era a metade de alguma coisa, mas não
tingido de púrpura. Um peso, encontrado em el-Jib
Pritchard, com 51,58 gramas, e assinalado «quatro pode ter sido a metade do siclo usado entre os
siclos», faz o siclo ter um peso de 12,89 gramas, o que hebreus. Dentro do sistema ugaritico, a nsp, segundo
é confirmado por um outro peso marcado «cinco». se tem aventado, seria o siclo «leve», equivalente a
metade do siclo «pesado». E também tem sido
Assim sendo, essas e outras descobertas arqueológicas sugerido que esses pesos de netsefe, encontrados na
semelhantes, não nos permitem determinar o peso Palestina, teriam sido perdidos ali por negociantes
exato do siclo, na antiguidade. As variações cananeus.
encontradas, conforme mostramos nos exemplos
dados acima, podem ser atribuídas a vários fatores, G. Pim. O pim é mencionado em uma única
como a tendência para depreciar padrões com a passagem bíblica. Durante séculos, porém, essa
passagem do tempo, estabelecendo assim um novo passagem parecia incompreensível para os tradutores,
263
PESOS E MEDIDAS
até que se descobriu um peso com esse nome. A a um peso. Somente a libra, que no grego é litra,
passagem é I Samuel 13:21, onde se lê: «...e não se refere-se a um peso (ver João 12:3 e 19:39). Conforme
podia nem aguçar uma aguilhada», segundo a nossa já vimos em III.5, Libra, tem sido calculado esse peso
versão portuguesa. Entretanto, com aquela descober como o equivalente a 0,3548 litro ou quilograma.
ta arqueológica, tem sido possível dar uma tradução Todavia, ajuntamos aqui que alguns estudiosos
mais exata, conforme se vê, por exemplo, na Revised pensam que a libra seria equivalente à libra romana,
Standard Version, em inglês, onde se lê (aqui vertido em cujo caso teria 0,327 litro ou quilograma.
para o português): «...cobrava-se um pim para amolar V. As Balanças
os arados e os machados». £ possível que o pim Essa palavra, no hebraico, moznayim (sempre no
represente duas terças partes de um siclo, ou seja, 7,8 plural), ocorre por dezesseis vezes: Lev. 19:36; Jó 6:2;
gramas, se tomarmos como base o siclo ordinário, de 31:6; Sal. 62:9; Pro. 11:1; 16:11; 20:23; Isa. 40:12,15;
11,7 gramas. De fato, sete pesos, trazendo a inscrição Jer. 32:10; Eze. 5:1; 45:10; Dan. 5:27; Osé. 12:7;
pim , variam entre 7,18 gramas e 8,59 gramas, com Amós 8:5; Miq. 6:11. E também peles, somente em
uma média de 7,762 gramas, bastante aproximada do Isa. 40:12. No grego, zugós (Apo. 6:5).
cálculo que fizemos linhas acima. Essa palavra pode
ser de origem estrangeira, pelo que não se sabe o seu Para que fossem úteis, os pesos precisavam ser
sentido em hebraico, embora tivesse sido absorvido usados em balanças, geralmente com dois pratos
esse nome dentro do sistema de pesos usado pelos equilibrados, conforme se vê até hoje em dia.
antigo hebreus. Os alimentos eram medidos muito mais por
H. Arrátel. Essa palavra encontra-se em nossa volume, ao passo que os metais, sim, eram
Bíblia portuguesa como tradução do termo hebraico aquilatados por peso. Os itens pequenos eram
maneh; e no Novo Testamento, aparece no original pesados em balanças de dois pratos. Essas balanças
grego como mnã. Ver I Reis 10:17; Esd. 2:69; Nee. ou eram apoiadas sobre uma haste vertical, central,
7:71,72; e também: Luc. 19:13-25. E, por igual modo, ou então eram penduradas por uma corda. O desenho
aparece em I Macabeus 14:24; 15:18. Ver também não diferia praticamente em nada das modernas
sobre Mina, mais acima. balanças de dois pratos. A balança graduada, com
base no princípio do nivelamento, só veio a aparecer
I. Quesita. No hebraico, qesitah. Esse vocábulo já no século IV A.C., pelo que não era conhecida nos
hebraico aparece por duas vezes somente, em dias do Antigo Testamento. Havia uma classe oficial
Gên. 33:19 e Jó 42:11; cf. também Jos. 24:32. Nossa dos especialistas em pesagens, muito conceituados e
versão portuguesa traduz essa palavra por «peças de influentes nos dias antigos. Esses oficiais já eram
dinheiro», na primeira dessas referências; em Jó atuantes desde os dias do antigo império egípcio. O
42:11, nossa versão portuguesa prefere nem falar em rei Burraburiá, de Caraduniase, escreveu uma carta
outra coisa, senão em «dinheiro». Josué 24:32, ao rei do Egito, Faraó Amenhotepe IV, queixando-se
segundo nossa versão portuguesa, também fala em que as vinte minas de ouro que lhe haviam sido
«peças de prata». Não se sabe qual o valor da quesita. enviadas por aquele Faraó não se equiparavam aos
Talvez a Septuaginta nos ajude, porquanto ali a padrões, quando testadas na fornalha. Como se vê, o
palavra é traduzida por «cordeiro», em Gên. 33:19, e ludíbrio nos negócios não é um apanágio dos
por «cordeira», em Jos. 24:32 e em Jó 42:11. Talvez se negociantes modernos! Cenas do Livro dos Mortos,
trate de um peso de metal com o formato de um dos egípcios, mostram os corações dos mortos sendo
cordeiro, ou, então, com a quantidade de prata pesados em balanças, diante do deus Osíris. E uma
suficiente para se comprar um desses animais. Mais figura similar, embora com outra conotação, é
do que isso, não tem sido possível deslindar, quanto a empregada no trecho de Daniel 5:27, quando
esse antigo peso mencionado no Antigo Testamento. apareceu um escrito misterioso na parede do salão de
J. Peres. Esse é outro termo que, provavelmente, banquete de Belsazar: «Tequel: Pesado foste na
deva ser incluído na relação de pesos que são balança, e achado em falta». Isso dá a entender que,
mencionados apenas por uma vez em todo o Antigo de acordo com os padrões da justiça divina, Belsazar
Testamento (ver Dan. 5:25,28, no aramaico). No fora rejeitado por Deus.
acádico éperes, no plural, parsin. Nessa passagem de
Daniel aparece juntamente com a mina e com o siclo. Os esforços no sentido de estabelecer pesos e
medidas honestos são antiqüíssimos. O código legal
Com base no siclo ordinário de 11,7 gramas, de Ur-Namur, fundador da III Dinastia de Ur (cerca
poderíamos atribuir os seguintes valores para os pesos de 2050 A.C.), continha pesos e medidas oficiais, na
no Antigo Testamento: tentativa de desencorajar a desonestidade nos
Tabela de Pesoa do Antigo Testamento negócios. E um antigo hino sumério, dedicado à
deusa Nanse, contém uma passagem denunciando os
Um talento (de três mil siclos) 35,10 kg malfeitores, os quais «substituem peso grande por um
Uma mina (de cinqüenta siclos) 0,585 kg pequeno, e uma medida normal por uma medida
Um siclo 11,7 g pequena». Como é apenas natural, no Antigo
Um pim (2/3 de siclo) 7,8 g Testamento também há grande ênfase sobre a
Uma beca (meio siclo) 5,85 g necessidade do emprego de medidas e pesos justos e
honestos, dando a entender que era mister proibir
Uma gera (1/20 do siclo) 0,585 g medidas abusivas comuns, nesse campo da atividade
L. Pesos no Novo Testamento. Nas páginas do Novo humana. As leis levíticas requeriam que se fizessem
Testamento há bem poucas alusões a pesos. O talento transações honestas (ver Lev. 19:35,36). O profeta
(no grego, tálanton) (ver Mat. 18:24; 25:15,16,20,22. Ezequiel também exaltou a importância dos pesos e
23,25,28) refere-se, nessas passagens a certa soma em das medidas justos. «Tereis balanças justas, efa justo
dinheiro, e não a pesos; e somente em Apo. 16:21 é e bato justo» (Eze. 45:10). Ver os trechos de Jó 31:6 e
que há alusão a um peso. Lemos ali: «...desabou do Provérbios 16:11. Amós também denunciou a
céu sobre os homens grande saraivada, com pedras utilização de balanças enganosas (ver Amós 8:5,6). A
que pesavam cerca de um talento...» Pedras de 35 kg! passagem de Deuteronômio 25:13 também calca
Sem dúvida, uma chuva de meteoritos. A mina (no sobre essa questão: «Na tua bolsa não terás pesos
grego, mnã', ver Luc. 19:13-25), como é patente, diversos, um grande e um pequeno». Além disso, uma
refere-se, igualmente, a uma soma em dinheiro, e não bênção divina foi prometida àqueles que usassem de
264
PESOS E MEDIDAS - PESSOA
pesos e medidas corretos: «Terás peso integral e justo, fraco, transitório e ilusório. A vida não seria digna de
efa integral e justo: para que se prolonguem os teus ser vivida, afinal de contas, porque termina na
dias na terra que te dá o Senhor teu Deus» (Deu. tragédia. Schopenhauer acreditava na reencarnação,
25:15). *Vale dizer, o ladrão, que usa de balança mas pensava que isso só serve para continuar a
enganosa e de sofismas e desonestidades nos negócios, miséria. O deus dele era uma Idéia absurda e
geralmente morre cedo! Outras passagens que irracional, que somente quer continuar existindo, e
denunciam a prática, muito comum, de balanças fazendo outras coisas existirem, mas sem nenhum
alteradas, são as seguintes: Pro. 11:1; 20:23; Osé. propósito. O caos prevalece; a condenação predomi
12:7 eM iq. 6:11. na; esse deus é insano, e quer continuar existindo em
O Talmude contém regulamentos estritos a respeito meio à miséria, com grande empenho. Schopenhauer
das atividades comerciais, conforme se percebe na via esperança na possibilidade de que esse deus algum
seguinte citação: «Um lojista deveria limpar suas dia desejará que todas as coisas cessem de existir; e
medidas duas vezes por semana, seus pesos uma vez então haverá descanso.
por semana, a sua balança após cada pesagem» (B. No mundo dos pessimistas, todos os ideais
B. vs. 10). Como parte integrante de sua mensagem finalmente vêem-se frustrados. A felicidade seria algo
profética, Ezequiel recebeu ordens para dividir seus transitório e ilusório; o bem não prevalece, afinal; e
cabelos em três porções iguais, com o auxílio de uma beleza jamais poderá vencer a feiúra; a cultura e o
balança (ver Eze. 5:1). Menção simbólica a balanças progresso são meros fraudes. O mal, e não o bem, é o
encontra-se em trechos como Jó 6:2; Sal. 62:9 e verdadeiro poder que governa este mundo.
Daniel 5:27. Jó solicitou que a sua vida fosse
aquilatada em uma balança justa (ver Jó 31:6). E, no O Cristianismo e o Pessimismo. A teologia
Novo Testamento é enfatizado não somente que ocidçntal (a da Igreja Católica Romana e de seus
usemos de medidas justas, mas até de medidas filhos desviados, protestantes e evangélicos) caracteri-
generosas, dentro daquelas palavras do Senhor Jesus: za-se por uma escatologia extremamente pessimista.
«...dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, Ela ensina, antes de tudo, que os homens só podem
sacudida, transbordante, generosamente vos darão; encontrar a salvação em um único período de vida
porque com a medida com que tiverdes medido vos terrena, e que a morte física assinala o fim da,
oportunidade de salvação; e então ensina que a
medirão também» (Luc. 6:38). grande maioria dos homens, que obviamente não
VI. Concimio encontrou a salvação nesse tempo absurdamente
Com base no estudo que aqui encerramos, pode-se breve, está perdida para sempre; e então, havendo
notar que não havia padrões de pesos e medidas perdido tal oportunidade, as almas queimarão para
suficientemente fixos, nos dias bíblicos, que nos sempre nas chamas do inferno, nos mais excruciantes
capacitem a determinar equivalentes métricos exatos. sofrimentos que se pode imaginar. Mas a teologia
Diferentes países contavam com diferentes padrões, e oriental apresenta um quadro mais esperançoso,
até mesmo regiões diversas, em um mesmo país, contradizendo a teologia ocidental. A Igreja Ortodoxa
contavam com diferentes padrões. E isso variava Oriental e a Comunidade Anglicana têm uma visão
também de época para época. Com freqüência, havia mais otimista da salvação, afirmando que a
dois padrões em vigência, ao mesmo tempo, o comum oportunidade de salvação não termina quando da
e o real, o leve e o pesado. As pesquisas arqueológicas morte biológica (ver I Ped. 4:6). Cristo tem-se
nos fornecem informações suficientes apenas para ocupado de uma missão tridimensional (na terra, no
determinarmos valores aproximados. E não se pense hades, e nos céus); e essa missão obteria um sucesso
que isso se restringe aos tempos bíblicos, refletidos no marcante. A minha própria opinião a respeito é
teor das Sagradas Escrituras. A Enciclopédia bastante otimista, afirmando que Deus redimirá os
Britânica, em seu verbete Weights and Measures eleitos e também restaurará aos não-eleitos. Ver o
(«Pesos e Medidas») dá-nos a informação de que os artigo Restauração, no que tange a uma declaração
estudiosos têm podido encontrar, no mundo, nada sobre esse ponto de vista. Ver também sobre o
menos de trezentos e oitenta e seis diferentes padrões Mistério da Vontade de Deus e sobre a Descida de
que envolvem medições de comprimento, peso, Cristo ao Hades, que abordam essa visão mais
capacidade e área. Diante disso, até que a confusão otimista da existência humana. Homens pensantes
que se reflete na Bíblia parece muito modesta! certamente reconhecerão que a teologia ocidental
promove uma visão pessimista do destino da
humanidade (excetuando para um número ridicula
PESSIMISMO mente pequeno), o que virtualmente anula o amor de
Essa palavra vem do latim pessimum, «pior», Deus (Deus amou o mundo; mas isso não teria feito
superlativo de malum, «mau». Popularmente, esse grande diferença, afinal). Cristo também fez comple
termo indica a disposição de assumir uma visão ta expiação (ver I João 2:2); mas isso também não fez
tristonha da vida, uma atitude oposta do otimismo, grande diferença, em última análise. Homens
uma visão esperançosa das coisas. A sua definição sensíveis, pois, sentir-se-ão infelizes ante esse alegado
filosófico-teológica é mais radical. Nesses campos, o fracasso de Deus. Os calvinistas chegam a dizer que
ponto de vista é que a própria existência constitui um Deus falhou propositalmente, distorcendo os versícu
mal, e que seria até melhor que o homem não tivesse los que falam sobre o amor de Deus, que eles aplicam
vindo à existência. Naturalmente, nesses campos há sortiente ao grupo dos eleitos, e não ao mundo de
níveis diversos de pessimismo. Uma variedade todos os homens. Essa é uma teologia simplesmente
intermediária é que as coisas são más, mas não tão absurda, sem importar quem a esteja ensinando.
más que seria melhor que nem existisse a vida. As
pessoas podem tolerar certas coisas bastante más, e PESSOA
ainda assim não desejarem a morte. Essa palavra portuguesa vem do latim, persona,
Schopenhauer (vide) introduziu o termo «pessimis que corresponde ao vocábulo grego prósopon, «rosto».
mo» na filosofia. Para ele, o mal é algo real, A referência original era à máscara usada pelos atores
persistente, duradouro, e, finalmente, predominará, no palco. Jung, em sua pdlavra, persona, reteve esse
apesar de algumas coisas boas que possam acontecer sentido primitivo, referindo-se àquilo que um
ao longo do caminho. O bem, por outra parte, seria indivíduo representa ser, uma «máscara» que usa em
265
PESSOA - PESSOA, DEUS COMO UMA
público, parte da atuação teatral em que está esse termo é ali comumente usado como sinônimo da
envolvida. A pessoa real é outra questão. O termo alma individual. Essa pessoa é ímpar, dotada de uma
grego veio a significar «fisionomia». Finalmente, missão ímpar, ou mesmo de várias missões, mas que
porém, esse termo adquiriu o sentido de ser humano perfazem uma única missão. Quanto a esse conceito
individual. Esse é o uso comum na linguagem ver o artigo sobre Novo Nome e Pedra Branca.
moderna que essa palavra retém. 14. Deus como uma Pessoa. Ver o artigo separado
Idéias dos Filósofo« a Respeito: intitulado Pessoa, Deus como uma.
1. Epicteto e outros pensadores estóicos usavam a 15. A natureza da pessoa consiste na consideração
palavra para indicar um indivíduo, como um ser daquilo que um indivíduo é. Ver o artigo geral sobre
dotado de uma tarefa e de um propósito especiais na Homem. Ele é material (ver sobre o Materialismo)’!
existência, que lhe teriam sido atribuídos pelo Logos, Ele é apenas espiritual (ver sobre o Idealismo)'! Ele é
a Razão Universal. material e espiritual ao mesmo tempo (ver sobre o
2. Na lei romana, essa palavra era usada para Dualismo)? O homem é um ser triúno, ou é
indicar o indivíduo que tinha direitos e deveres. constituído de quatro elementos ou mais? Ver os
3. No cristianismo, o termo adquiriu grande artigos intitulados Sobre-ser; Dicotomia — Tricoto-
importância nas doutrinas de Cristo e da Trindade mia; Alma-, e, especialmente, Natureza Humana.
(vide; ambas). Há uma única substância divina; mas 16. Identidade Pessoal. Os filósofos e os teólogos
há três hipóstases ou pessoas, em uma única discutem sobre de quantas maneiras um indivíduo
substância. pode falar sobre si mesmo como uma pessoa, agora e
4. Em Cristo, há a mesma essência (phúsis) divina, continuamente. A discussão acima, com suas várias
a mesma possuída pelo Pai e pelo Espírito Santo. Isso idéias acerca do que está envolvido no termo «pessoa»,
unifica-os em um único Ser. Mas ele (o Logos, que se aborda esse problema.
chamou Jesus Cristo em sua encarnação) é uma
pessoa ou hipóstase distinta. Outrossim. a natureza PESSOA, DEUS COMO UMA
de Cristo (a sua pessoa) tem um aspecto divino e outro Deus será uma força cósmica? Deus é composto
humano. Portanto, em Cristo combinaram-se duas pela natureza inteira (panteísmo)? Deus é uma
naturezas, em uma única pessoa. Ver o artigo pessoa, em qualquer sentido, conforme conhecemos e
Cristologia. definimos as pessoas? Até que ponto podemos aplicar
5. Para Boethius, uma «pessoa» era uma substância corretamente aquilo que sabemos sobre as pessoas ao
individual de natureza racional. Ele retinha a Mysterium Tremendum que é Deus? Essas aplicações
identificação de pessoa com hipóstase. porventura apenas nos afundam mais ainda no
6. John Locke identificava a pessoa com a lamaçal do antropomorfismo? Consideremos os
autoconsciência e com a memória. De acordo com pontos abaixo:
essa definição, uma pessoa pode deixar de existir, 1. As Religiões Primitivas. Coisa alguma é mais
contanto que a memória ou a auto-identidade sejam comum, nas religiões primitivas, do que a idealização
anuladas. Segundo esse ponto de vista, é possível que de deuses como pessoas, dotadas de características
a substância humana sobreviva além da pessoa ou humanas comuns. Xenófanes queixou-se dizendo que
indivíduo, considerado em sua materialidade. Na se os babuínos tivessem deuses, esses deuses
reencamação (vide), por exemplo, de acordo com essa certamente seriam apenas superbabuínos. — Nas
idéia, uma única alma pode tomar-se várias pessoas, religiões primitivas, os deuses eram amantes e
ao longo de sua existência. A mesma coisa poderia destruidores; eram nobres e enganadores; eram
acontecer a um indivíduo, em um único período de dotados de propósito e eram caóticos, tal e qual são os
vida na carne, se perturbações psíquicas viessem a seres humanos. A tendência da fé religiosa é ir
anulaj a sua pessoa. Um caso radical de tal fenômeno limpando aos poucos o conceito de Deus. E também
chama-se Personalidade Múltipla (vide), quando um tenta destacar as qualidades transcendentais da
homem pode ser várias pessoas no decurso de sua divindade e diminuir as atribuições antropomórficas.
vida. Há um detalhado verbete sobre esse fenômeno, 2. A Antiga Fé dos Hebreus. No livro de Gênesis,
nesta enciclopédia. encontramos Deus andando pelo jardim do Éden,
7. Fichte supunha que postulamos o eu e o não-eu; falando com Adão como um amigo. Temos aí o real
e isso entenderia que a pessoa e a não-pessoa são misticismo. No livro de Êxodo, vemos Moisés
poderes da mente humana (ver o artigo Idealismo). entrevendo Deus pelas costas, como se ele tivesse
Assim sendo, uma pessoa seria a construção do algum formato humano e pudesse ser visto por quem
processo e do fato da autoconsciência. tivesse a oportunidade e a coragem para vê-lo. Mas, à
8. Scheler definia a pessoa como a unidade do ser medida que avança o relato do Antigo Testamento,
concreto de alguém. Uma pessoa faria um conceito de Deus vai-se tomando mais e mais transcendental. Ele
si mesma com base no seu conhecimento metafísico. continuava enviando mensagens aos homens, mas não
mais se mostrava tão acessível. O trecho de João 1:18
9. F.C.S. Schiller identificava a pessoa com o lado diz que ninguém, realmente, viu a Deus em qualquer
espiritual e intencional da natureza humana, e não tempo. I Timóteo 6:16 é passagem que diz que Deus
com uma entidade, natural ou espiritual. Isso fazia habita em «luz inacessível». Isso é um detalhe mais
com que esse termo aludisse às funções, e não à apreciado pelos teólogos modernos, que objetam à
substância. natureza intensamente antropomórfica de certos
10. Whitehead dizia que o homem compõe uma trechos do Antigo Testamento. Ademais, os teólogos
ordeira sociedade pessoal. Outros elementos existi usam o termo teofania para aludir às manifestações
riam como o que é orgânico e o que é inorgânico. de Deus, afirmando que o que podemos saber de Deus
11. Sartre pensava na pessoa como uma invenção é aquilo que ele resolve revelar-nos, mas que a sua
que identificava a cada indivíduo, e julgava que é verdadeira natureza permanece insondável e desco
errado pensar que cada pessoa tem qualquer nhecida para nós. Isso posto, a busca por Deus é
realidade permanente. eterna. Nunca chegará o tempo em que saberemos
12. Jacques Lacan dizia que uma pessoa é um categorizar a Deus, quanto à sua natureza básica e
assunto que vai passando. verdadeira, embora essa tentativa faça parte de nossa
13. No cristianismo, a pessoa é permanente, pois inquirição eterna, mesmo lá nos céus.
266
PESSOA - PESTILÊNCIA
3. Uma Pessoa. Seja como for, sabemos que a PESSOA DE CRISTO
Bíblia fala sobre Deus em termos pessoais, atribuin
do-lhe características humanas comuns, levadas a Ver sobre Criatologia.
uma potência máxima. O artigo chamado Atributos
de Deus ilustra detalhadamente essa atividade. PESTILÊNCIA
Permanece em dúvida, porém, quanto dessa tentativa
de descrição pode, realmente, ser aplicada ao Deus. No hebraico, deber; no grego, lotmós. A palavra
Supremo, e quanto não passa de uma fraca tentativa hebraica significa, primariamente, «destruição». O
de dizer algo significativo a respeito de Deus. Assim, Antigo Testamento usa esse termo hebraico por cerca
falamos sobre as perfeições divinas nas áreas da de cinqüenta vezes, apontando para coisas como a
inteligência, do poder, das qualidades morais—como fome, animais ferozes, enfermidades, destruições,
a bondade e o amor. Mas Deus também aparece como etc. As pragas do Egito foram pragas notáveis, que
um Ser que se ira, uma emoção humana negativa; e envolviam um propósito divino (ver Êxo. 5:3), e os
muitas pessoas enfatizam esse lado acima de tudo. termos são freqüentemente usados em conexão com os
juízos divinos contra o pecado. Ver Lev. 26:25, nessa
4. Via Negativa; Via Positiva ( Via Eminentiaè). A conexão.
via negativa procura dizer-nos o que Deus é ao dizer o
que ele não é. Essa forma de descrição não nos deixa Nos dias em que não havia antibióticos e nem
esquecer que a linguagem humana é inadequada para cuidados médicos significativos, a pestilência era um
dizer muita coisa acerca da verdadeira natureza de espantalho dos povos. Ver a oração de Salomão por
Deus, embora suas obras possam ser melhor descritas israel, nessa conexão, em I Reis 8:37. O Salmo de
por nós. A via positiva, por sua vez, toma os atributos Proteção (91) promete a proteção divina acerca da
e características humanos e eleva o grau dos mesmos pestilência, apresentando os anjos como protetores
até à potência do omnis. O homem sabe algo; Deus (vss. 10,11). Lembro-me que nos dias de minha
sabe tudo (Ele é onisciente). O homem tem algum juventude, antes do aparecimento da vacina contra a
poder; Deus tudo pode (ele é onipotente, etc.). Esse poliomielite, quando chegava o tempo de algum surto
método positivo também é chamado via eminentiae, dessa doença, minha mãe socorria-se do Salmo 91,
«caminho da eminência». Porém, o quanto esses como proteção. Continuam havendo várias enfermi
métodos são capazes de transmitir é algo que dades contra as quais dispomos de pouca proteção, e
permanece na dúvida. Temos exposto artigos confiamos na vontade de Deus, em combinação com
separados sobre cada uma dessas vias. nosso destino, como proteção. Essa circunstância
ilustra nossa dependência da providência de Deus, ao
As evidências óbvias que observamos todos os dias mesmo tempo em que exibe a fraqueza humana, algo
indicam que Deus é um ser altamente poderoso e sobre o que os homens até relutam em pensar. Uma
inteligente, características essas que implicam que ele das promessas do paraíso é que todas as enfermidades
é uma pessoa, embora além de qualquer definição serão ali coisa do passado (ver Apo. 21:4; 22:2).
humana atual. Jeremias e Ezequiel enfatizaram o aspecto de juízo
5. O Existencialismo. Os teólogos dessa escola de divino das enfermidades. Israel e Judá teriam de ser
pensamento concebem Deus como o mistério eterno, atingidas por pragas, em face da desobediência. Os
jamais desvendado. Deus é o alvo contínuo de buscas cativeiros também eram ameaças; e houve tanto o
e pesquisas, que sempre mostrarão ser imperfeitas. exílio quanto as pragas. Jesus declarou que os últimos
Deus é verdadeiramente transcendental, embora suas dias se caracterizariam por grandes pragas, algo que
manifestações possam ser observadas por nós. A estamos começando a ver de uma maneira temível.
atribuição de características humanas (pessoais) a Basta pensarmos na AIDS. Ver Mat. 24:7; Luc.
Deus é algo precário, para dizer-se o mínimo. Sem 21:11. Justamente quando a ciência pensou que
dúvida o antropomorfismo fracassa (ver o artigo com estava avançada na sua luta contra as enfermidades,
esse nome). tendo aprendido a controlar muitas bactérias, eis que
6. Até Onde Vão as Evidências? À parte das apareceram vários vírus, de modo súbito e misterioso.
referências bíblicas, dispomos das evidências dadas Provavelmente mutações estão envolvidas nesse
pela natureza. Ali vemos os reflexos de grande poder e fenômeno, combinadas com condições favoráveis ao
inteligência. Daí concluímos que é legítimo pressupor contágio de grande número de pessoas.
que Deus é dotado de poder e inteligência, e essas são Algumas pessoas religiosas exageram a questão,
características próprias de uma personalidade. Entre atribuindo à atividade dos demônios todas as
tanto, isso ainda não nos permite pensar em Deus enfermidades. A demonologia (vide) tem provas
como uma pessoa, no mesmo sentido que conferimos absolutas de que espíritos malignos podem causar e
aos nossos semelhantes; e também não podemos realmente causam enfermidades. A mente também
transferir para Deus os atributos de personalidade. pode fazer uma pessoa doente ou saudável. Mas é
Essas evidencias naturais conferem-nos algum conhe ridículo pensar que todas as enfermidades têm apenas
cimento; mas isso ainda não soluciona os grandes uma dessas causas. No entanto, esse é um fator que
mistérios que cercam a pessoa de Deus. não pode ser ignorado. Os estudos feitos mostram que
7. O Mysterium Tremendum. Ver o artigo separado até enfermidades como o câncer podem ter forças
com esse título. Algumas vezes é mais sábio dizer espirituais malignas por detrás, para nada dizermos a
pouca coisa do que tentar entrar em pormenores. respeito de desordens nervosas e doenças psicossomá
Quando falamos acerca de Deus, certamente sentimo- ticas.
nos limitados em nosso conhecimento e em nossa Os juízos divinos incluem desastres naturais, a
experiência. Pensamos em Deus como uma Pessoa, e guerra, a fome, a pestilência—armas que Deus usa
há evidências a favor dessa idéia. Mas esse contra as perversões dos homens (ver II Sam. 24:15).
conhecimento é apenas um princípio, que não Por outra parte, é ridícula a afirmação de que «um
consegue encontrar solução para o Mysterium bom crente não pode apanhar câncer», conforme se
Tremendum que é Deus. Mas, pelo menos, é verdade ouvia dizer, há algumas décadas atrás. As enfermida
que a revelação de Deus nos é conferida de maneira des têm muitas causas, e podem ter razões que vão
pessoal, e que Deus se toma pessoal para nós, além da teoria simplista que diz: «o mal causa as
mormente na pessoa de Jesus Cristo, o Logos enfermidades».
encarnado. Até nessa questão encontramos mistérios. Uma
267
PETITES - PETRARCA
enfermidade pode atuar como medida disciplinadora. impressionantes figuras esculpidas, que são as
No caso de Jó, por exemplo, é'claro que ele não estava fachadas muito ornamentadas de templos e túmulos.
enfermo por causa de algum pecado que tivesse Quando se entra ali, há aposentos escavados que, na
cometido, embora fosse um pecador. Mas a causa de realidade, são cavernas, sem qualquer tentativa de
sua enfermidade jazia nos misteriosos conselhos da ornamentação. Essas estruturas pertencem, quase
vontade de Deus. No entanto, a imortalidade haverá todas, ao período dos nabateus. Também há outras
de curar todas as enfermidades. Ver o artigo separado ruínas de interesse, que já pertencem à arquitetura
sobre o Problema do Mal, que aborda a questão de grega posterior, incluindo uma grande residência, um
por que razão o homem sofre. anfiteatro, um convento, uma cidadela e um palácio.
Os romanos edificaram ali estradas pavimentadas,
banhos, vários edifícios públicos e o teatro que se
PETITES PERCEPTIONS acabou de mencionar.
Expressão francesa que significa «pequenas percep Essa cidade foi capturada por Amazias, rei de
ções». Leibnitz acreditava que uma pessoa está Judá, no século IX A.C. As referências bíblicas ao
constantemente registrando percepções e conceitos, lugar são Juí. 1:36; II Reis 14:7; Isa. 16:1 e 42:11 (nas
abaixo do limiar da consciência. E aplicou esse nome quais a cidade é chamada Sela). Quando os romanos
àquelas formas de percepção. Quanto mais aprende apossaram-se da cidade, tomando-a dos nabateus,
mos sobre a psicologia e os poderes da mente e do tornaram-na capital romana da província de Arábia
Petréia. Durante a era cristã, foi estabelecido ali um
cérebro, mais essa idéia vai sendo confirmada.
bispado cristão.
Petra fora uma capital edomita, uma capital do
PETITIO PRINCIPn reino nabateu, e então a capital de uma província
i omana, o que demonstra sua importância histórica.
Expressão latina que significa «tomar uma questão 1'oi uma fortaleza notável, e também um lugar de
como provada», dentro da linguagem da argumenta culto pagão.
ção. O alegado debatedor não quer debater coisa
nenhuma, pois já sabe a conclusão a que deseja Os Arqueólogos e suas Escavações. As ruínas de
chegar. Nenhum argumento é capaz de convencê-lo. Petra foram escavadas por W.F. Albright e outros,
Ele toma como questão adredemente provada o que em cooperação com a expedição Melchett, em 1934.
vai debater, e já sabe todas as respostas; assim sendo, Foi então examinado o chamado Lugar Alto de
Conway, juntamente com vários outros pontos de
ele não estará debatendo. Meramente busca maneiras interesse. George Robinson, em seu livro (Sarcopha-
de demonstrar o que quer. Qualquer contrademons- gus o f Ancient Civilization) fornece-nos interessantes
tração será automaticamente rejeitada. Aquele que
descrições e estudos sobre o lugar alto de Petra.
assim age supõe que suas premissas são verídicas, e
que suas idéias não precisam ser investigadas. Tudo A mais recente informação sobre a localidade está
levaria fatalmente à conclusão a que ele já chegou. contida na literatura escrita por Howard C.
Hammond Jr., em seu artigo intitulado «Petra», que
apareceu no The Biblical Archaeologist xxiii, 1
PETOR (1960), págs. 29-32; como também em outras
Um nome assírio-babilônico para essa cidade era publicações mais recentes. O Dr. Hammond é um
Pitru, nome que também lhe fora dado pelos hititas. professor de antropologia da Universidade de Utah,
Os assirios chamavam-na de Ana-ashur-utir-asbat, nos Estados Unidos da América do Norte, e foi
que significa «estabeleci-a novamente para Assur». professor de um de meus filhos que se formou como
Em conexão com o Antigo Testamento, a localidade é Bacharel em Artes, em Antropologia, naquela
conhecida como terra do falso profeta Balaão, filho de instituição. Em 1987, visitamos o escritório do Dr.
Beor. Ver Núm. 22:5 e Deu. 23:4. Hammond, e ele nos mostrou vários artefatos,
tendo-nos explicado os métodos de datar objetos
Esse nome locativo aparece na lista do conquistador (acerca de cujos métodos pouco consegui entender).
egípcio Tusmose III, do século XV A.C. Ficava Esse meu filho, Darrell, que foi aluno do Dr.
localizada essa cidade na margem ocidental do rio Hammond, preparou o índice da presente enciclopé
Eufrates, a poucos quilômetros ao sul de Carquemis. dia, além de mapas, ilustrações e trabalho de arte
para sua ornamentação.
PETRA
Transliteração da palavra grega que significa PETRARCA (FRANCESCO PETRARCA)
«rocha». Esse foi o nome de uma antiga cidade
(atualmente em ruínas), localizada no território de Suas datas foram 1304-1374. Ele nasceu em
Edom, perto de Arabá. Seu nome aramaico era Arezzo, na Itália; mas residiu em Avignon, na
Rekem, mas os hebreus chamavam-na Sela. Prima França. Estudou direito em Bolonha. Foi sacerdote
riamente, trata-se de uma cidade nabatéia em ruínas, católico romano, ortodoxo em sua doutrina, amigo
na terra de Edom, ao norte da Arábia, na porção íntimo de Boccaccio (vide). Tomou-se importante
oriental da Arábia Petréia, o que lhe deu o seu nome figura na renascença italiana, pelo que exerceu uma
grego. duradoura influência sobre a maneira como muitas
Tinha grande importância como centro comercial e pessoas pensam. Foi poeta, retórico, erudito e
posto de caravanas, quando estas viajavam partindo eclesiástico. Tem sido chamado de pioneiro da
da Síria ou da Arábia, até o século IV D.C. Cerca de Renascença na Itália. Além dessas atividades,
um século mais tarde, Petra desapareceu dos anais da também destacou-se em missões diplomáticas, in
história humana; e somente em 1812 o antigo local foi cluindo uma ao imperador Carlos IV.
redescoberto, quando Burckhardt o descobriu por Idéias:
acaso na wadi Musa. Fica em um estreito vale que é 1. Ele era representante de um significativo
cercado, por todos os lados, por elevados picos. A humanismo (vide). A sua mente ia buscar subsídios
área mais baixa assim formada tem cerca de 1600 m nos clássicos gregos e romanos, como alicerce de seu
de comprimento por cerca da metade disso em humanismo. Ele promovia o estudo dos clássicos
largura. Nas paredes perpendiculares dos rochedos há como algo digno de nossa atenção, ou como fonte de
268
Petra
PLATAFORMA DE CAMBRIDGE
PLANÍCIE
Trata-se do modelo de governo eclesiástico adotado
1. As Palavras e Definições na Nova In g laterra, a p a rtir do sínodo de 1648,
Há seis palavras hebraicas envolvidas, e, talvez, aprovado pelo Tribunal Geral do estado de Massa-
uma sétima. No grego, encontramos uma expressão chusetts, em 1651, e recomendado às igrejas como
que merece consideração. modelo a ser seguido. Faz lem brar os padrões do
As palavras hebraicas são: a. Elon, «lugar plano». congregacionalismo (que vide), em Massachusetts,
Ver Gên. 12:6; 13:18; 14:13; 18:1; Deu. 11:30; Juí. d u ran te todo o período colonial, e, no estado de
4:11; 9:6,37; I Sam. 10:3. b. Biqah, «vale aberto», ou C onnecticut, até a P lataform a de Saybrook (que
seja, uma expansão plana, sobretudo um terreno vide), que foi adotada em 1708. O documento consiste
plano entre montanhas, como a planície de Sinear de dezessete capítulos, e é um sum ário do melhor
(Gên. 11:2) ou o vale de Megido (II Crô. 35:22; Zac. pensamento do congregacionalismo da Nova Inglater
12:11). Essa palavra também pode indicar apenas um ra. Declara abertamente os princípios permanentes
«vale» (Nee. 6:2; Isa. 40:4). Ocorre por um total de desse sistema: o pacto como base das igrejas locais, a
vinte e uma vezes. Além dessas referencias, ver autonomia de cada congregação, embora cada igreja
também Eze. 3:22, 23; 8:4; 37:1,2; Amós 1:5; Dan. esteja vinculada a o u tras igrejas, m ediante a
3:1; Deu. 8:7; 11:11; 34:3; Sal. 104:8; Isa. 41:18; necessidade de companheirismo e conselho. Adotam
03:14; Jos. 11:8,17; 12:7. c. Kikkar, «círculo»; com o as Escrituras como sua única autoridade espiritual.
sentido de «planície» aparece por treze vezes: Gên. (E)
3:10-12; 19:17,25,28,29; Deu. 34:3; II Sam. 18:23; I
Reis 7:46; II Crô. 4:17; Nee. 3:22; 12:28. Devemos
pensar, nesse caso, em uma região que formava um PLÁTANO
círculo ou meio-circulo, em redor de outra área, como
aquela em redor da porção sul do mar Morto (na No hebraico, armom.Ver Gên. 30:37 e Eze. 31:8.
primeira dessas referências). Mas também pode estar Há uma verdadeira árvore de planície na Palestina,
em foco uma planície elevada ou planalto, segundo se cujo nome científico é Platanus orientalis. Essa
vê em Deu. 3:10. Israel era chamado de povo das espécie pode ser achada especialmente nos sopés do
montanhas, por outros povos, e o Deus de Israel, de monte Líbano. Produz cachos de flores, formando
Deus das montanhas, visto que, com freqüência, as bolas arredondadas, em torno de uma haste comum.
terras baixas estavam em disputa, e os israelitas não Essa árvore é de grande porte e faz muita sombra,
eram seus firmes possuidores (ver I Reis 20:23). Os além de ser muito valorizada. O trecho de Eclesiástico
inimigos ocupavam as planícies; e os israelitas 24:14 fala sobre ela metaforicamente, como símbolo
refugiavam-se nas montanhas, d. Mishor, «planície», de grande estatura. Pode atingir ligeiramente mais de
«lugar nivelado». Esse termo figura por dezesseis 50 m de altura, com um tronco bem grosso, isso em
vezes: Deu. 3:10; 4:43; Jos. 13:9,16,17,21; 20:8; I torno do monte Líbano. Nas planícies mais ao sul,
Reis 20:23,25; II Crô. 26:10; Sal. 26:12; 27:11; Jer. embora a árvore não cresça tanto, ainda assim é uma
21:13; 48:8,21; Zac. 4:7. Nem sempre devemos pensar espécie impressionante.
em uma planície, pois também pode estar em pauta A madeira do plátano é muito usada no fabrico de
um planalto, segundo se vê em Deu. 3:10. e. Arabah, móveis, porquanto pode adquirir um acabamento
«deserto», «lugar obscuro». Com um claro sentido de lustroso. As folhas, com três e cinco lobos, com alguns
«planície», essa palavra aparece por quarenta e duas dentes, algumas vezes chegam a 25 cm de
vezes, desde Núm. 22:1 até Jer. 52:7,8. Como um comprimento, e mais ou menos com a mesma largura.
lugar específico, a Arabah também era conhecida O fruto, de formato globular, fica pendurado em
como planície de Moabe (Núm. 22:1) ou planície de ramículos.
Jericó (Jos. 5:10). Está sempre em vista o vale A família do plátano está distribuída pelo mundo
formado por uma falha tectônica, nos lugares onde inteiro, e espécies fósseis têm sido encontradas até os
seu fundo ficava seco e estéril, ao sul do lago da tempos cenozóicos. O plátano é abundante ao longo
Galiléia, até o golfo de Ãqaba. O que existe ali é uma de todos os cursos de água da Síria e da Mesopotâmia.
espécie de fundo de vale plano. f. Skephelah, O cedro do Líbano é posto em comparação com o
«afundado». Esse termo aparece por dezenove vezes plátano (ver Eze. 31:8), por causa de sua imensa
em todo o Antigo Testamento. Exemplificamos com I altura. Armon, nome hebraico do plátano, significa
Crô. 27:28; II Crô. 9:27; Jer. 17:26; Oba. 19; Zac. «liso» ou «nu», que se deriva do fato de que a árvore
7:7. A área era constituída por colinas baixas entre as perde a sua casca externa.
montanhas da Judéia e a planície (autêntica) costeira.
Ver o artigo separado intitulado Shephelah.
2. As Cidades da Planície PLATÃO
Ver o artigo separado chamado Cidades da Esboço:
Campina. I. Informes Históricos
3. Usos Figurados II. Teoria do Conhecimento
Uma planície simboliza um lugar seguro e III. Metafísica
destituído de obstáculos (Sal. 26:4), como também a IV. Política
vereda dos justos, que é fácil e segura de ser seguida V. Ética
(Sal. 27:11). VI. Estética
288
PLATÃO
••• •••
•••
•••
OPINIÃO
Imaginação Imagens de aparências. O conhecimento imaginado
através dos sentidos, sem qualquer investigação.
Diferenciação
Gênero Subalterno
Diferenciação
Gênero Subalterno
Diferenciação
Gênero Subalterno
Diferenciação
Espécie Inferior
A ilustração de Porfirio faz o ser derivar-se do Um naturais». Contudo, a alma humana poderia ascender
divino, o Summum Genus, descendo daí à manifesta à união com o Um através da eliminação do mal, pelo
ção da espécie inferior, onde encontramos os que, afinal de contas, o caos existente na natureza
indivíduos. Ele ensinava que está acima da capacida não serve de empecilho definitivo, embora, no
de humana de conhecer se gênero e espécie são momento, seja um vexame.
entidades subsistentes (reais) ou se são meros 3. A Ascensão da Alma. Um leque de virtudes
conceitos. Mas, como é óbvio, temos aí um tipo de ajuda-nos nessa subida. As virtudes mais primárias e
descrição das emanações (vide) do Um: as formas fundamentais são aquelas de natureza civil e política.
assumidas pelo Um mediante as quais ele se expressa. Essas virtudes foram postuladas como substitutas da
Notemos ainda que, na espécie inferior, chegamos ao apatia do estoicismo. A santidade pessoal mostra-se
lugar onde indivíduos formam a espécie. Boethio encaz, guindando a alma até à Nous (o principio
transferiu essas idéias para a literatura latina, e dali racional do mundo das Idéias, se quisermos usar a
os conceitos propagaram-se pela filosofia da Idade terminologia de Platão). No nível final dessa ascensão
Média. com a Nous, o princípio divino, toma-se possível a
2. O Problema do 'Mal. O mestre de Porfirio, reintegração da alma ao Um divino.
Plotino, pensava que o mal é uma propriedade
inerente à matéria. Assim sendo, onde houver 4. Teurgia. Essa palavra aponta para o uso de ritos,
matéria, aí haverá também o erro e o caos. Mas cerimônias e artes mágicas para controlar os deuses.
Porfirio discordava dessa avaliação, preferindo pensar Enquanto Porfirio não conheceu Plotino, ele acredita
que o mal é uma espécie de falta de controle do va na utilidade dessas coisas como ajuda da ascensão
princípio inteligível. Esse controle tornar-se-ia possí da alma, e costumava rogar a ajuda das divindades.
vel para o homem através da meditação e da Mas acabou aceitando a opinião de Plotino, seu
purificação ascética. Naturalmente, essas medidas mestre, que esse não é o caminho a ser seguido; e,
não eliminariam o mal natural, ou seja, aquelas coisas então, passou a salientar a purificação e as virtudes
que estão erradas na própria natureza, como as acima nomeadas. Ver o artigo separado intitulado
enfermidades, as tragédias e a morte devido a «causas Problema do Mal.
PRAGA
Ver também o artigo Pragas do Egito. Uma palavra PRAGA DE GAFANHOTOS
hebraica comum empregada para indicar uma praga Esboço:
é nega, «golpe» (ver Lev. 13 e 14). Uma palavra 1. Espécies de Gafanhotos e Sua Descrição
cognata ém akkah, «ferimento», «espancamento» (ver
Lev. 26:21; Núm. 11:33; Deu. 28:29; I Sam. 4:8; Jer. 2. Palavras Bíblicas para Gafanhoto
19:8). Também há o vocábulo deber, «pestilência», 3. O Gafanhoto como uma Praga
«praga», que vem de uma raiz que significa 4. Usos Figurados do Gafanhoto
«destruição» (Jer. 14:12; Eze. 6:11). A grande 1. Espécies de Gafanhotos e sua Descrição
epidemia que matou a setenta mil pessoas em Israel, A principal palavra hebraica é arbeh. Nos tempos
quando Davi foi castigado por seu orgulho, ao fazer o bíblicos eram conhecidas várias espécies de gafanho
recenseamento do povo (ver II Sam. 24:5), foi tos, como o Aedipoda migratoris e o Acridium
indicada por essa palavra. Por sua vez, maggepa é peregrinum. A primeira também é chamada pelo
termo hebraico que quer dizer «praga» ou «ferimento» nome dtljocusta migratória. Outros nomes desse tipo
(ver Êxo. 9:14; Zac. 14:12). E negep quer dizer de inseto, atualmente existente (e, provavelmente,
«tropeço» ou «praga» (ver Êxo. 12:13; Jos. 23:17). que também atacavam a Palestina), são o Schistocer-
No Novo Testamento encontramos três vocábulos ca gregaria e o Dociostaurus maroccanus. O termo
gregos envolvidos: científico, orthoptera, aplicado a esses insetos,
1. Mástiks, «açoite», mas que se refere aos açoites significa «asas retas». E o termo acridium vem da
das pragas (ver Mar. 3:10; 5:29,34; Luc. 7:21; Atos palavra grega akrls, «gafanhoto». Esse vocábulo grego
22:24; Heb. 11:36). Também era palavra comumente tem relação com a palavra grega para «pico», «cume»,
usada para indicar alguma doença. talvez, referindo-se à formação das pernas dos
2. Loimós, «praga», «peste» (ver Luc. 21:11; Atos gafanhotos, que se projetam para cima, quando ele
24:5). Josefo usou esse termo em Guerras dos Judeus está pousado. A palavra latina gryllus, ao que tudo
(6:9,3). Esse vocábulo é freqüentemente associado à indica, está relacionada ao zumbido que eles fazem.
idéia de fome, visto que muitas pragas de enfermida O termo grego grulízo, «grunhir», é uma palavra
des acompanham a escassez de alimentos. relacionada.
3. Plege, «praga», «golpe» (ver Luc. 10:31; 12:48; Os órgãos produtores do zumbido dos gafanhotos
Atos 16:23,33; II Cor. 6:5; 11:23; Apo. 9:18,20; encontram-se nas pernas traseiras e nas beiras das
11:6; 12:3,12,14; 15:1,6,8; 16:9,21; 18:4,8; 21:9; asas frontais. O som é produzido quando o animal
22:18). Ver ainda sobre Fome, quanto a um outro tipo raspa uma dessas partes contra a outra. O gafanhoto
de praga. possui antenas curtas, corpo alongado, pernas longas
A Teologia da Praga. A leitura das referências e poderosas, com as coxas grossas e ovipositores
dadas acima mostrará que, com freqüência, se não curtos. Por ocasião das pragas, os gafanhotos chegam
sempre, as pragas indicavam o desprazer de Deus a escurecer a luz solar com o seu número imenso.
com o povo. De mistura com isso temos a Enquanto os adultos alçam vôo, os filhotes ficam
demonologia. Ver os artigos separados sobre Demô devorando toda a verdura ao seu alcance, no solo; e
nio (Demonologia) e Possessão Demoníaca. Embora estes últimos, quando crescem, também alçam vôo. A
haja grandes exageros, as pesquisas modernas fêmea do gafanhoto deposita seus ovos formando uma
confirmam que tanto enfermidades físicas quanto massa de forma oval, usualmente, em algum buraco
mentais podem ser causadas por poderes espirituais feito no chão. Esses ovos são muito resistentes,
malignos. E apesar da questão dos juízos divinos capazes de tolerar condições muita adversas. O
poder ser exagerada pelos homens também é verdade nascimento dos filhotes depende muito da umidade;
que, algumas vezes, Deus julga a humanidade com mas os ovos podem ser postos em terreno muito seco,
pragas ou enfermidades. Não obstante, nem toda e ainda assim sobreviverem por mais de três anos.
enfermidade é causada pelo pecado. Há vezes em que Mas, assim que chega a umidade, no espaço de dez
a questão tem tons didáticos, segundo grandes dias, os ovos são chocados, e há uma produção de
místicos nos afiançam. Mas também pode haver o gafanhotos em números alarmantes. Os gafanhotos
resultado natural do caos, da desorganização, o que é jovens parecem-se muito com os gafanhotos adultos,
uma realidade desagradável, embora isso não seja um mas só adquirem asas aos cinco ou seis meses de
fator dominante na vida humana. Também há coisas idade. No entanto, mesmo sem asas, são muito
más que sucedem aparentemente sem causa. Paulo, vorazes, pelo que, em bem pouco tempo, depois que
no oitavo capítulo da epístola aos Romanos, saem de seus ovos, os gafanhotos já são intensamente
mostra-nos que esse caos leva os homens a buscarem a destruidores.
Deus, pelo que até a confusão pode ter um bom É difícil dizer quantas espécies de gafanhotos
347
PRAGA - PRAGAS DO EGITO
existem; mas talvez vários milhares de espécies tempo está seco, e nada sucede com os ovos. Ninguém
diferentes seja um bom cálculo. Os intérpretes suspeita de coisa alguma. Então chega alguma
rabínicos diziam ter conseguido alistar oitocentas umidade e, dentro de dez dias, tem começo uma
espécies diferentes. praga de gafanhotos. Mais seis meses, e a praga
2. P tla m i Biblkaa para Gafanhoto levanta vôo. Os gafanhotos, voando, cobrem um vasto
Há nove palavras hebraicas para indicar esse território. Novos ovos são depositados, e o ciclo se
inseto, e também uma palavra grega. No entanto, as repete. As pragas de gafanhotos são um dos juízos
palavras hebraicas não indicam diferentes espécies, e, divinos contra os pecados humanos, juntamente com
sim, descrevem coisas que podem ser ditas sobre o os terremotos e outros desastres naturais.
gafanhoto. O termo hebraico mais comum, ‘arbeh, John Walsh, em Science, de 3 de outubro de 1986,
está ligado à raiz que significa «multiplicar». E fornece-nos algumas incríveis informações sobre as
vocábulo usado para indicar o inseto, por vinte e pragas de gafanhotos. Via de regra, os gafanhotos
quatro vezes (ver Êxo. 10:4,12-14,19; Lev. 11:22; vivem sem causar demasiada destruição. Também
Deu. 28:38; I Reis 8:37; II Crô. 6:28; Sal. 78:46; não percorrem grandes distâncias sob condições
105:34; 109:23; Pro. 30:27; Joel 1:4; 2:25; Naum normais. Porém, quando seu número aumenta,
3:15,17; Juí. 6:5; 7:12; Jó 39:20; Jer. 46:23). Essa é a resultando uma superpopulação, produzem um
palavra que foi usada para indicar a praga de hormônio que altera toda a aparência física deles e
gafanhotos do Egito, que foi a oitava dentre as dez toda a sua conduta. Quando isso sucede, então a
que fustigaram os egípcios. Em Lev. 11:22, esse termo praga está prestes a rebentar. A superpopulação
indica, uma dentre quatro espécies diferentes. ocorre quando os gafanhotos ainda não têm asas. Aí
O utra palavra hebraica que também aparece em passam a consumir mais oxigênio, e sua taxa
Lev. 11:22 é solam, «calvo», porque a cabeça do metabólica aumenta muito. Suas cores modificam-se
gafanhoto dá a impressão de calvície. Nossa versão e suas proporções corporais aumentam. Além disso,
portuguesa traduz essa palavra por «locusta». tomam-se muito mais ativos. Quanto mais chuva cair,
Hargol, «saltador», ao que parece é outra espécie de mais ovos serão chocados; a chuva aumenta a relva e
gafanhoto, e não algum besouro, conforme dizem a verdura, e isso é mais alimento ainda para os
algumas versões, também em Lev. 11:22. Nossa gafanhotos. As poças que se formam no chão contêm
versão portuguesa diz «gafanhoto devorador». cerca de cem ovos cada. Quando os gafanhotos
Chaqab é outra palavra hebraica para esse inseto, emergem de seus ovos, logo há um enxame de
pequenos gafanhotos agitando-se no solo. Cada
que também figura em Lev. 11:22, onde lemos, em gafanhoto pesa cerca de 3,5 gramas, comendo o seu
nossa versão portuguesa, «gafanhoto». Essa palavra
derivava-se de um verbo que significa «ocultar». É próprio peso a cada dia. Uma dessas nuvens de
possível que esse nome se deva ao fato de que quando gafanhotos pode conter um bilhão de insetos, e
quanto há uma praga das grandes, pode haver nada
bilhões de gafanhotos alçam vôo ao mesmo tempo, menos de cem nuvens dessas. Portanto, isso resulta
chegam a ocultar a luz do sol enquanto estão
em 100.000.000.000 de gafanhotos!
passando.
O trecho de Joel 1:4 tem três palavras hebraicas, Os gafanhotos têm uma incrível capacidade de
sobrevivência. Algumas vezes, um enxame desses
que talvez indiquem estágios no desenvolvimento do pousa sobre uma montanha coberta de neve. Eles
gafanhoto. \ primeira dessas palavras é gazam, que podem ficar ali durante semanas, para então alçarem
significa «cortador», conforme também se vê em nossa vôo outra vez. E podem, em um único dia, percorrer
versão portuguesa, «gafanhoto cortador». Essa pala 320 km. Em uma única migração, podem cobrir dez
vra refere-se à devastação que uma praga de vezes essa distância. Podem até mesmo pousar no
gafanhotos causa às plantações e árvores frutíferas. A
segunda palavra é arbeh, sobre a qual já pudemos oceano e permanecer flutuando, pousando uns por
comentar. E a terceira palavra é yeleq, que vem de sobre os outros. E, quando estão descansados,
«lamber», um nome que indica a voracidade desse levantam vôo da superfície do mar. Podem levantar
vôo da superfície do mar, do solo e das montanhas
inseto. recobertas de neve. O dano que eles podem causar à
A palavra hebraica tselatsal aparece somente em lavoura tem inspirado e deprimido as mentes dos
Deu. 28:42. Significa «redemoinho», «rodopio», homens, desde os tempos mais remotos. E ainda não
indicando o turbilhão provocado pela imensa ouvimos tudo o que eles são capazes de fazer, apesar
quantidade de gafanhotos, quando levantam vôo. de todo o nosso avanço científico.
Finalmente, no hebraico, temos a palavra gob, 4. Umm Figurado« do Gafanhoto
«enxame», que aparece somente em Naum 3:17. a. Grandes números, como os exércitos dos assírios.
Assim sendo, há cerca de vinte e quatro referências Naturalmente, temos aqui, igualmente, o poder
diretas ao gafanhoto, nas páginas do Antigo destruidor de tais números. Ver Isa. 33:4,5; Núm.
Testamento, sem falarmos naquelas alusões de 3:15,17.
caráter duvidoso ou disputado. b. Os julgamentos divinos usam as forças da
A palavra grega akrls, «gafanhoto», é usada por natureza, ou literalmente, como no caso das pragas de
quatro vezes no Novo Testamento: Mat. 3:4; Mar. gafanhotos, ou mediante algum outro poder, simboli
1:6; Apo. 9:3,7. As duas primeiras referências zados pelos gafanhotos. Ver Apo. 9:7. Nessa
mostram que era permissível a ingestão desse inseto passagem do Apocalipse, provavelmente, estão em
pelo homem, porquanto João Batista se alimentava de foco poderes demoníacos. Ver também Joel 1:1,6,7;
gafanhotos e mel silvestre. £ verdade que alguns têm 2:2-9.
sugerido que se trataria de alguma planta, chamada
«alimento de João Batista»; mas quase todos os PRAGAS DO EGITO
intérpretes rejeitam essa especulação. O trecho de
Lev. 11:21 contém a permissão para que se coma esse Esboço:
inseto. I. Fundo Histórico
3. O Gafanhoto Como ama Praga II. Pragas Específicas
Imaginemos os ovos do gafanhoto já depositados III. Implicações Teológicas
em buracos, no solo, em números prodigiosos. O IV. Outras Interpretações; Críticas
348
PRAGAS DO EGITO
I. Fondo Histórico demais era tão desastrosa como uma cheia insuficien
Ver o artigo geral sobre Praga. Com freqüência, as te» (ND).
pragas eram vistas como calamidades inflingidas por II. Pragas Especificas
Deus às pessoas, em resultado da iniqüidade delas. O
artigo Praga oferece amplas evidências quanto a isso. 1. Àgua Transformada em Sangue (Êxo. 7:14-25).
Era apenas natural que as calamidades que Moisés recebeu ordem para estender sua vara por
sobrevieram ao Egito, quando Israel esteve ali sobre o rio Nilo, para que suas águas se transformas
escravizado e queria partir, sem receber permissão sem em sangue, o que resultou na morte da vida
dos egípcios, fossem vistas como visitações divinas. E, aquática, além do que suas águas não eram mais
de fato, o caráter extraordinário dessas pragas, numa potáveis. Alguns intérpretes pensam aqui em termos
seqüência nunca antes verificada, testifica sobre isso. literais (conforme o texto espera que o façamos). Mas
Moisés e Aarão foram os porta-vozes de Yahweh. Eles outros imaginam que o termo «sangue» indica alguma
exigiram a soltura do povo de Israel, a fim de que o espécie de poluição «cor de sangue». Uma inundação
propósito divino acerca de seu povo avançasse e particularmente severa poderia ter trazido lama e
chegasse ao seu alvo. Podemos dizer, pois, que essas barro. A menos que o autor sagrado tenha criado uma
pragas foram desagradáveis, mas persuadiram. Ade história, se esse «sangue» não era biológico, deveria
mais, havia nelas o propósito de exaltar o nome do haver algum poluente bacteriológico. Se essa praga
Senhor, às expensas da vil idolatria que predominava esteve associada a uma das cheias do Nilo, então pode
no Egito. As pragas serviam de confirmações da ter ocorrido em julho-agosto ou outubro-novembro.
autoridade de Moisés e de Aarão. O Faraó, pois, foi Pode ter trazido barro vermelho das bacias do rio Nilo
forçado a tomá-las a sério, e, finalmente, cedeu às e do Atbara, o que explicaria a coloração, mas não os
exigências deles. Isso não teria sido possível sem os poluentes necessários para causar os danos. Outros
sofrimentos experimentados pelos egípcios. Por outro intérpretes pensam que a cor foi causada por plantas
lado, Israel já vinha sofrendo há muito às mãos dos criptogâmicas e infusórias, um fenômeno natural,
egípcios, e a retribuição estava madura. O Faraó era apenas intensificado pelo juízo divino. O trecho de
um indivíduo duro. Ele se imaginava o porta-voz das Joel 2:31 fala sobre a lua avermelhada como sangue,
divindades que adorava; e dispunha de seus mágicos e, naturalmente, pensamos nisso como um colorido, e
com as suas mágicas. Além disso, não respeitava a não em sangue verdadeiro. A maioria dos intérpretes,
Israel. Ele pensava que a sua medicina era mais pois, pensa que temos aí uma maneira aceitável de
poderosa que a medicina de Moisés e Aarão. E interpretar esse milagre do sétimo capítulo do Êxodo.
resolveu que entraria em competição com eles. E O rio ficou poluído, de águas mortíferas, avermelha
mesmo quando já estava muito derrotado, apegou-se das como sangue. Milênios após o ocorrido, agora é
à esperança de sair-se vencedor. Somente diante da extremamente difícil examinar o caso e dizer
morte de todos os primogênitos do Egito foi que o exatamente o que sucedeu. Os egípcios foram
Faraó deu-se por vencido. O nono capítulo de forçados a cavar poços em busca de água potável, pois
Romanos apresenta Deus como Aquele que endure pelo menos durante um período de tempo, suas águas
ceu ao coração do Faraó, a fim de que este não estavam envenenadas.
cedesse de pronto, a fim de que pudesse haver uma 2. Rãs (Êxo. 8:1—14)
plena demonstração do poder e supremacia de As rãs multiplicaram-se aos milhões. Provavelmen
Yahweh. Alguns teólogos sentem dificuldades diante te foi uma praga das minúsculas rãs do Nilo, que os
desse fato, e comento sobre a questão na quarta seção egípcios chamam de dolfa. Os pequenos batráquios
deste verbete. disseminaram-se por toda parte, durante sete dias.
Na época, o poder egípcio era mais forte no delta do Quando as rãs morreram em massa, seus corpos
Nilo. O trecho dé Sal. 78:43 parece indicar esse tipo decompostos tornaram-se uma ameaça à saúde e
de situação, ao mencionar o «campo de Zoã». Essa eram muito ofensivos ao olfato. E é possível que as rãs
cidade era localizada na margem oriental do ramo tenham morrido devido a alguma doença, o que teria
tanitico do rio Nilo. Ver o artigo separado sobre o servido para aumentar o perigo. As rãs eram como
Delta. As condições da primeira e da segunda pragas uma praga de formigas. Elas infestavam os leitos, os
naturalmente ocorreram em um lugar onde havia utensílios domésticos, os fogões, as amassadeiras e
muita água, riachos e lagos, o que era típico no baixo saltavam e se grudavam nas pessoas. Os mágicos
Egito. egípcios, porém, imitaram com sucesso o milagre,
Não se sabe ao certo por quanto tempo perduraram conforme tinham feito no caso do primeiro prodígio
as pragas do Egito. Provavelmente, as estações do ano (de resultado não-estipulado). O texto bíblico parece
foram favoráveis à manifestação das mesmas, pelo querer que entendamos que algum poder oculto,
que deve ter havido a passagem de um ano, ou mesmo maligno, foi manipulado por aqueles mágicos,
mais. embora não haja qualquer indicação do poder
Houve dez prodígios nessas pragas, coletivamente manipulado. Mas Moisés e Aarão foram solicitados a
chamados «julgamento» (ver Exo. 7:4), e também livrar o Egito da praga das rãs, o que o Faraó
«sinais» e «maravilhas» (Êxo. 7:3). Essas pragas foram reconheceu como algo vindo da parte de Yahweh. De
a reação da justiça de Deus contra a iniqüidade e a fato, as rãs eram tão desagradáveis que o Faraó
obstinação. Mui provavelmente, combinavam os chegou a concordar com a saída do povo de Israel do
fenômenos naturais com a intervenção divina, Egito; mas o rei retrocedeu em sua decisão, assim que
intervenção esta que servia de elemento controlador. as rãs desapareceram.
As primeiras nove pragas demonstraram o controle A rã era o animal que representava o deus Hekt, e
que Deus exerce sobre a ordem natural (a criação); era um dos animais adorados em alguns lugares. Isso
mas a décima praga foi por demais específica para ser posto, essa segunda praga deve ter sido desconcertan
atribuída a qualquer coisa que fosse natural. te para os egípcios, que pensavam na rã como um
«Hort salientou <jue as nove primeiras pragas animal que requeria respeito.
formaram uma seqüencia lógica e ligada, a começar 3. Piolhos (Êxo. 8:16-19)
com uma inundação anormalmente elevada do rio A tradução portuguesa «piolhos» dificilmente
Nilo, que ocorreu nos meses usuais de julho e agosto, corresponde ao intuito do texto sagrado. Antes,
em que a série de pragas terminou aproximadamente devemos pensar em «mosquitos». A inundação do Nilo
em março (heb. abib). No Egito, uma cheia grande favoreceria uma incomum proliferação de mosquitos.
PRAGAS DO EGITO
Na verdade, essa é a mais constante e perigosa das que não tentaram duplicá-la com suas mágicas. A
pragas da humanidade. De fato, é difícil passarmos etimologia da palavra hebraica envolvida sugere o
um dia sem recebermos ao menos uma ferroada de irrompimento de pústulas, ou pelo menos de inchaço
mosquito. O mosquito é o inimigo mais perigoso do com pus. Alguns eruditos pensam estar em foco a
homem, transmissor de várias enfermidades, e peste bubônica, mas essa nào se ajusta ao contexto.
sempre presente. Seus ovos não amadurecem todos ao As pessoas eram atormentadas por essa praga, mas
mesmo tempo, mas são programados a chocar não eram mortas em grandes números.
gradualmente, um óbvio truque da natureza com 7. Saraiva (£xo. 9:17-35)
vistas à preservação da espécie. As únicas regiões do A saraiva (em nossa versão portuguesa, «chuva de
mundo isentas de mosquitos são a Ártica e a pedras») é um instrumento comum dos juízos divinos.
Antártica, absolutamente congeladas. E mesmo nas Ver £xo. 9:18; Isa. 28:2; Ageu 2:17. Há quem pense,
áreas subárticas, o mosquito consegue sobreviver, igualmente, que devemos pensar aqui não na saraiva,
incomodando a todos os demais seres vivos. Somente e, sim, no «granizo». Mas, tanto a saraiva quanto o
as fêmeas do mosquito sugam o sangue, o qual é granizo (quando este é pesado é demorado) podem ser
necessário para sua reprodução. E elas também se muito destrutivos. O texto sagrado diz «mui grave
deliciam com o sangue. Os machos da espécie sugam chuva de pedras», como os egípcios nunca tinham
o néctar das plantas. Alguns intérpretes acreditam visto qualquer coisa parecida. Essa chuva destruiu
que o inseto em pauta era alguma espécie de mosquito tudo, as plantações, os animais, e até seres humanos
da areia ou alguma espécie de pulga. Segundo o texto que não se abrigaram. Mas, na terra de Gósen, onde
bíblico ajunta essa praga foi iniciada quando Aarão estavam os israelitas, nada disso sucedeu. A saraiva
bateu no pó da terra, que então se transformou em foi acompanhada por tremenda borrasca elétrica. Isso
uma incrível massa de insetos. Porém, há quem pense poderia ajustar-se a condições comuns no Egito,
que temos aí uma linguagem simbólica. Os mágicos durante o mês de fevereiro. O Faraó confessou que
do Egito não conseguiram duplicar o milagre. E havia pecado, por manter suas atitudes rigorosas. O
podemos pensar que foi o poder divino que restringiu linho e a cevada, que já tinham florido, foram
o poder demoníaco que atuava por detrás das mágicas destruídos; mas não o trigo e o centeio, que «ainda
dos egípcios. não haviam nascido». Moisés, a pedido do Faraó, fez
4. Moscas (£xo. 8:20-32) essa praga cessar, embora sabendo que o Faraó ainda
Em foco provavelmente está algum tipo de mosca não humilhara o seu coração diante de Deus.
ferroadora dos alagadiços e não a mosca doméstica
comum que conhecemos. Mas mesmo estas últimas, 8. Gafanhotos (£xo. 10:1-20)
em grande número, poderiam ser perigosas e Ver o artigo separado intitulado Praga de
incômodas. A etimologia da palavra envolvida não Gafanhotos, quanto a uma completa descrição do
identifica o inseto. Mas o número fantástico das poder destruidor desse inseto. Certas condições
moscas torna óbvio que estava em operação algum climáticas fazem esses insetos modificarem-se fisica
poder divino incomum. O Faraó queria que Moisés e mente e multiplicarem-se em números astronômicos.
Aarão efetuassem ritos e oferecessem sacrifícios que o A raiz hebraica desse vocábulo para «gafanhoto»
isentassem de permitir a saída dos escravizados significa «enxame». No Egito, pragas de gafanhotos
israelitas do Egito. E o Faraó prometeu dar liberdade eram uma constante, conforme também se sabe
aos israelitas se o Egito fosse livrado daquela praga; através de várias fontes literárias. O texto menciona
mas, assim que esta começou a amainar, novamente o um vento que soprou durante um dia e uma noite, e
monarca egípcio mudou de opinião. que trouxera os gafanhotos. Poderíamos interpretar
5. Pestilência nos Animais (Êxo. 9:1-7) que esse vento foi divinamente enviado. Além disso, o
Está em pauta alguma enfermidade nos animais número dos gafanhotos foi tão grande que os próprios
domésticos, embora a mesma não seja definida com egípcios perceberam haver nessa praga um dedo do
sobrenatural. O Faraó ficou desesperado, e mandou
precisão. Talvez esteja em pauta algum tipo de chamar Moisés e Aarão às pressas a fim de que
infecção, resultando em condições de saúde extrema orassem a Yahweh para que a praga cessasse. E
mente adversas no gado, ou que talvez até tenha então, veio um forte vento ocidental que levou para
antecedido a outras pragas. £ possível que algum
inseto tenha propalado a doença entre os animais. Os longe os gafanhotos. Ainda assim, o Faraó não
animais dos israelitas, porém foram poupados por permitiu que os israelitas saíssem do Egito. £ que o
razões que desconhecemos. Mas devemos imaginar Senhor havia endurecido o coração do Faraó (Êxo.
que houve alguma intervenção divina em favor do 10:1), a fim de que Deus tivesse a oportunidade de
gado de Israel. Alguns estudiosos pensam que o gado exibir os seus sinais e as suas maravilhas. Alguns
dos egípcios estava solto nos campos, ao passo que o intérpretes assumem uma posição calvinista extrema
gado dos israelitas estava confinado em estrebarias, o da aqui, vendo somente o lado divino da questão
que teria protegido o mesmo das enfermidades (Deus endureceu o coração do Faraó, e este foi apenas
apanhadas ao ar livre. Mas, embora o Faraó tivesse um títere nas mãos de Deus); mas outros afirmam que
podido verificar o fato de que somente o gado dos Deus endureceu um coração que já estava endurecido
egípcios havia sido afetado e morrera (ao passo que pela desobediência, desde o momento em que resistira
nada disso sucedera ao gado dos israelitas), ele a Moisés e a Aarão, antes mesmo da primeira praga.
permaneceu de coração endurecido. Seja como for, o fato é que o Faraó sofreu uma
cegueira judicial, a princípio cultivada por sua
6. Úlceras (Êxo. 9:8-12) própria desobediência e incredulidade, e então,
Essas úlceras mui provavelmente eram causadas confirmada pela vontade divina. Esta interpretação é
por picadas de insetos, que permitiam que bactérias mais racional; a primeira interpretação é duvidosa,
como estreptococus e estafilococus penetrassem sob a mesmo porque também lemos que o Faraó endureceu
proteção da pele. A mosca cujo nome científico é o seu próprio coração. Lemos no vs. 34: «...Faraó...
Stomoxys calcitrans multiplica-se na matéria em endureceu o seu coração, ele e os seus oficiais».
decomposição, e poderia ser a principal transmissora. 9. Trevas (£xo. 10:21-29)
Essas úlceras (ao que parece) afetavam principalmen As trevas encobriram o Egito inteiro, excetuando a
te as mãos e os pés (ver £xo. 9:11). Os mágicos do terra de Gósen (vs. 23), onde Israel habitava. As
Egito também foram afetados por essa praga, pelo trevas foram totais, absolutas. Um homem não podia
350
PRAGAS DO EGITO
ver a um seu semelhante que estivesse na sua frente. capítulo de Romanos, a fim de ilustrar a soberania e a
Alguns intérpretes entendem que houve nisso um inexorável vontade de Deus, capaz de amaldiçoar e
acontecimento sobrenatural, talvez único até hoje, em destruir, se ele assim o quiser. Ver Rom. 9:17,18.
toda a história da humanidade. Mas outros pensam Essa passagem, bem como todo o nono capítulo de
que algum forte vento provocou uma tempestade de Romanos, tem recebido diferentes interpretações. A
poeira. Porém, também devemos pensar na chamada mais radical delas (mas aquela que o apóstolo,
«poeira cósmica», que poderia ter bloqueado toda luz provavelmente, tencionava) é a que diz que, de fato,
solar e das estrelas, no espaço sideral, durante algum Deus manuseia os homens como peões, endurecendo-
tempo. E o fato de que a terra de Gósen não sofreu lhes os corações e tornando-os vasos de ira. Essa
esse tipo de desastre é considerado por alguns como impiedosa vontade de Deus chega mesmo a dividii
um toque mítico, para conferir ao incidente uma aura famílias, fazendo Jacó ser amado e Esaú ser odiado
de mistério e milagre. Mas ainda outros supõem que (ver Rom. 9:13). E isso foi decidido sem importar o
esse detalhe confirma a natureza miraculosa dessas que um e outro viesse a praticar de «bem» ou de «mal»
trevas, visto que nenhuma outra explicação pode (vs. 11). Isso posto, tudo depende de Deus, e o homem
informar-nos por que razão uma porção tão pequena nada representa. Esse texto (paralelamente a outros)
do Egito—a terra de Gósen—desfrutava de ilumina tem sido enfatizado por alguns intérpretes unipolares,
ção natural, enquanto o resto permanecia sob trevas que convenientemente ignoram aqueles outros textos
espessas. Naturalmente, o escritor sagrado queria que neotestamentários que falam sobre o amor universal
entendêssemos ter havido uma intervenção divina de Deus, sobre o intuito universal do evangelho e
miraculosa. O Faraó resolveu que seria aceitável uma sobre a capacidade universal dos homens escolherem
saída parcial do Egito, por parte dos israelitas. As entre o bem e o mal. Os artigos chamados
pessoas poderiam ir, mas não o seu gado. Moisés Determinismo; Predestinação e Livre-Arbítrio abor
rejeitou esse plano econômico do monarca, e o Faraó dam todas as implicações envolvidas nesse problema.
ficou tão irado que disse a Moisés para partir e não Ver também os artigos intitulados Paradoxo e
voltar, sob ameaça de morte. Moisés sabia que o Polaridade. Minha própria opinião é que a doutrina
Faraó não mais veria o seu rosto, mas não do modo do determinismo, isoladamente, sem o concurso de
como o Faraó pensava (ver Êxo. 10:29). Ê que a praga seu pólo do amor divino e do livre-arbítrio humano,
final seria um golpe definitivo, depois do qual não constitui uma doutrina má, destrutiva e imoral. Pois
haveria mais a necessidade da mediação de Moisés. pretende dar solução ao paradoxo inerente à questão
10. A Morte dos Primogênitos (Êxo. 11:1-12:36) do determinismo versus livre-arbítrio humano, per
As calamidades sofridas até então tinham sido tão fazendo uma humanolopa, em vez de uma teologia.
severas que o Egito jazia virtualmente arruinado. Ao Por outro lado, de nada adianta distorcer o nono
término da oitava praga, a dos gafanhotos, os servos capítulo de Romanos para que o mesmo diga o que ele
do Faraó lhe haviam dito: «Acaso não sabes ainda que não diz. Alguns intérpretes dizem, simplesmente, que
o Egito está arruinado?» (10:7). Porém, nenhuma das 0 mesmo é uma peça má de teologia e recusam-se a
pragas anteriores foi capaz de comparar-se à da morte examiná-lo. Pessoalmente, apesar de admitir a
dos primogênitos dos homens e dos animais. O anjo natureza paradoxal desse problema (o qual existe na
da morte passou por todo o Egito. Mas o povo de filosofia e na ciência, e não meramente na teologia),
Israel foi protegido mediante a instituição da páscoa lanço meu voto em favor do amor de Deus e o
(vide), com seu sangue aspergido. A morte sobreveio à universal poder da expiação realizada por Cristo (ver I
meia-noite. O fato de que morreram somente os João 2:2), bem como da missão tridimensional de
primogênitos, tanto dos homens quanto dos animais, Cristo (na terra, no hades, no céu). Afinal de contas,
serviu de prova de que o acontecido era a mão de nisso consiste a mensagem do evangelho, as
Deus. Um grande clamor de desespero ouviu-se por boas-novas celestes para o homem. O resto do que
todo o Egito; e Moisés e seu povo não somente tiveram tenho a dizer pode ser lido nos artigos mencionados
permissão de partir, mas também foram exortados a acima.
fazê-lo, de modo insistente. Acresça-se a isso que a
Israel foram dados suprimentos abundantes para que 6. O Poder do Sangue de Cristo. Uma das
pudessem partir, e isso por parte dos próprios principais mensagens teológicas envolvidas no relato
egípcios. das pragas do Egito é a da expiação pelo sangue, que
protegeu os israelitas do anjo da morte. Isso é um
m . Implicações Teológicas emblema do sangue de Cristo, o qual nos livra da
1. O Teísmo (vide). Deus existe e está interessado morte espiritual. Cristo tornou-se a nossa Páscoa (ver
em sua criação; ele faz intervenção; ele recompensa 1 Cor. 5:7). Ver os artigos Expiação e Expiação pelo
ou castiga, em contraste com o conceito deísta de Sangue.
Deus, de acordo com o qual Deus seria apenas 7. A Teologia dos Tipos. O relato sobre as pragas
transcendental e divorciado de sua criação, não do Egito, especialmente em seu desfecho, mostra-nos
fazendo intervenção, não galardoando e nem punin como Deus opera entre os homens. No Antigo
do, e tendo deixado a sua criação entregue aos Testamento, isso é feito de maneira preliminar e
caprichos das forças naturais. Ver sobre o Deísmo. típica. E a epístola aos Hebreus demonstra que, em
2. A possibilidade do miraculoso é um elemento Cristo, essas coisas tiveram uma grande e universal
importante na vida humana. Ver o artigo geral aplicação.
intitulado Milagres. Quanto a um operador atual de 8. A controvérsia conservadora-liberal entra no
atos miraculosos, ver sobre Satyn Sai Baba. problema da interpretação desses episódios históricos,
3. O erro da idolatria e da crença religiosa o que é tratado na quarta seção deste artigo.
distorcida. Houve em todo o incidente das pragas do 9. Os Pactos. O texto ilustra como Yahweh honrou
Egito um conflito entre Deus e as divindades pagãs. o pacto estabelecido com Abraão, garantindo a
4. A estupidez da rebeldia, em face de avassalado identidade e a continuidade da nação de Israel—os
res sinais e maravilhas, o que nos faz lembrar de Jesus descendentes de Abraão—que deveria ser o veículo da
e seu ministério, quando ele teve de enfrentar amarga mensagem divina, culminando no aparecimento do
oposição, a despeito de suas portentosas obras. Messias. A libertação de Israel fazia parte do plano
5. A Predestinação e a Perdição. A história das divino, e tinha que ocorrer.
pragas do Egito foi tomada por Paulo, no nono IV. Outras Interpretações; Criticas
PRAGAS DO EGITO - PRAGMATISMO
Com a palavra «outras» indico aquelas interpreta O termo pragmatismo deriva-se do termo grego
ções que procuram explicar, por meios naturais, as prágma, «coisa», «fato», «matéria». Sua forma verbal é
pragas do Egito, furtando-lhes seus elementos prassein, «realizar». O pragmatismo ensina que
miraculosos ou suas causas miraculosas. Naturalmen pensamentos, idéias e ações só têm valor em termos de
te, muitos estudiosos liberais, bem como os céticos, conseqüências práticas. Dentro desse sistema filosófi
dizem que esse fator miraculoso foi inventado, para co, não há nenhum conjunto fixo teórico de valores.
dar maior dramaticidade aos relatos bíblicos. Creio Antes, todos os valores são testados quanto às suas
que é um erro ver aqui apenas um elemento conseqüências práticas. As idéias devem ter «valor
miraculoso. Mas também é errado negar que os monetário». Qualquer idéia é considerada inútil, a
milagres podem acontecer e realmente acontecem. O menos que tenha o poder de atuar sobre as coisas ou
artigo sobre os Milagres aborda detalhadamente essa de modificá-las. Aquilo que é «prático» provê o seu
questão. Alguns intérpretes, procurando promover a próprio valor; mas, se for deixado como uma teoria,
idéia da invenção (talvez com base em algum fato), será meramente uma curiosidade. A verdade não é
chegam a opinar que o relato das pragas do Egito tem fixa e nem imutável. Pelo contrário, a verdade é
base em várias fontes informativas, destacando-se determinada por aquilo que é prático e funcional. As
nisso a teoria do J.E.D.P.(S.). Ver o artigo cujo nome conseqüências práticas são o teste da veracidade de
é essa abreviação, quanto à teoria das múltiplas fontes qualquer idéia. Usualmente, o pragmatismo é
informativas do Pentateuco. De acordo com isso, as relativista. A minha verdade não é, necessariamente,
pragas são divididas entre as fontes como J (pragas a verdade de outrem; o que funciona no meu caso,
1, 3, 4, 5, 7, 8 e 10); E (partes das pragas 1, 7 e 8, toda não é o que funciona, necessariamente, no caso
a praga 9 e partes da praga 10); S (partes das pragas 1 de outrem. O pragmatismo, pois, é utilitarista.
e 2, todas as pragas 3 e 6, e partes da praga 10). Desse O pragmatismo, como um sistema filosófico, tem
modo, o relato é visto como uma tradição que se foi sido uma contribuição norte-americana para a
desenvolvendo, e não um relato histórico de uma série filosofia, o que ocorreu nos fins do século XIX e no
de acontecimentos vinculados entre si. Durante a século XX. Mas, conforme disse William James, um
Renascença e o período da Reforma Protestante, esse dos principais expositores desse sistema: «(O pragma
relato era chamado de uma lenda crua e brutal. No tismo) é um novo nome para certas maneiras antigas
século XIX, a alta crítica desmembrou o relato, de pensar. Essa palavra tornou-se uma espécie de
conforme acabamos de mostrar. E o resultado disso termo generalizado para referir-se a várias teorias
foi um relato tão fragmentado que é impossível sobre significação, verdade, conhecimento, método
defendê-lo. E alguns intérpretes complicam ainda intelectual e ética. Comum a todas essas teorias é a
mais a questão, pensando haver encontrado causas ênfase sobre o caráter evolutivo e mutável da
extraterrestres. Assim, I. Velikovsky propôs alguma realidade, a incerteza do conhecimento teórico e a
catástrofe natural de origem astronômica, aplicando relevância do conhecimento em situações práticas, a
isso à divisão das águas do mar Vermelho e à nuvem necessidade de submeter a teste idéias e atos,
de fumaça que emanou do monte Sinai, bem como às mediante aquilo que eles produzem, a natureza
próprias pragas do Egito. O livro de autoria dele, instrumental das idéias. Os homens agem a fim de
Worlds in Collision está recheado dessas explicações encontrar soluções para situações problemáticas e as
cósmicas que resultaram em alterações no globo e soluções assim encontradas podem ser chamadas de
outros eventos, as quais podem ser respeitadas, mas «verdade»; mas nenhuma chamada verdade é algo
não aceitas sem investigação e meditação. Sem rígido e eterno. Os filósofos pragmáticos minimizam a
dúvida, algumas grandes transformações terrestres distinção entre o pensamento e a prática. O próprio
têm tido causas cosmológicas, mas será preciso um ato de pensar é um modo de realizar, e pensar bem é
maior estudo para verificar se isso tem aplicação ao realizar bem».
relato das pragas do Egito e acontecimentos O termo «pragmatismo» aparentemente foi cunha
subseqüentes. do dentro do mundo filosófico em um artigo escrito
Imitações Egípcias. Para muitos estudiosos liberais por C.S. Peirce, em 1878, que definia o significado de
e céticos, o fato de que os mágicos egípcios foram um conceito qualquer em termos de suas conseqüên
capazes de duplicar algumas das pragas serve apenas cias. Isso armou o palco para uma ampla esfera de
para provar a natureza lendária do relato como um atividades, de natureza religiosa, científica e ética,
todo. Por outro lado, alguns eruditos conservadores mantendo aquele conceito fundamental como sua
encontram nisso o poder de forças demoníacas, que base mais importante. Na quarta seção deste verbete,
pode imitar os milagres de Deus, produzindo assim e em artigos separados sobre os principais filósofos
milagres reais, embora malignos. Não há que negar pragmáticos, demonstro como esse conceito básico
que isso pode suceder. Mas permanece questão aberta encontrou muitas aplicações.
se isso tem aplicação às pragas do Egito. A principal declaração pragmática de Peirce foi a
seguinte: «Consideremos quais efeitos (que concebi-
velmente teriam conseqüências práticas) concebemos
PRAGMATISMO ser o objeto de nossa concepção. A somatória dessas
Esboço: conseqüências constituirá o significado inteiro da
I. Definições e Caracterização Geral quele conceito». William James, F.C.S. Schiller e
II. Teoria da Verdade John Dewey desdobraram o pragmatismo em várias
III. A Ética teorias da verdade, embora retendo o conceito básico.
Em seu livro sobre o Pragmatismo, James declarou:
IV. Importantes Filósofos Ligados ao Pragmatismo «As idéias mostram ser verdadeiras somente até onde
V. Objeções Religiosas ao Pragmatismo nos ajudam a entrar em relações satisfatórias com
Os filósofos mencionados no corpo deste artigo outros aspectos da nossa experiência». Peirce,
mereceram descrições separadas nos verbetes escritos entretanto, não se sentia feliz diante de todas as
a respeito deles. Muitos detalhes aparecem ali que ramificações que a sua idéia foi forçada a entrar, por
suplementam este artigo. Ver o artigo separado sobre parte de outros filósofos, pelo que começou a
o Utilitarismo, que serviu de importante influência denominar a sua idéia de pragmaticismo, que pensava
histórica sobre o Pragmatismo. ser uma palavra tão feia que ninguém haveria de
I. Definiçõe* e Caracterização Geral querer furtá-la, para dar-lhe outro significado. Mas
PRAGMATISMO
muitas pessoas religiosas não apreciam a postura m. A Ética
relativista desse sistema. E Bertrand Russell, apesar As bases da ética pragmática são a evolução, o
de ser até um ateu, chamou esse sistema de humanismo, o positivismo e a sociologia moderna.
«obscurantista». 1. A ênfase sobre o homem, e não sobre teorias
Não obstante, o pragmatismo exerceu um tremendo acerca de Deus, e como Deus deu ao homem a sua
impacto sobre a filosofia, e tem sido considerado ética, é própria do pragmatismo. Naturalmente,
como a grande contribuição isolada dos filósofos existem cristãos pragmáticos; e essa declaração não se
norte-americanos ao pensamento filosófico. Natural aplica a eles. Porém, até mesmo eles mantêm um forte
mente, o pragmatismo depende de certas idéias éticas ponto de vista humanista da ética. £ seguro dizer que
e epistemológicas dos antigos sofistas, como também a maioria dos pragmáticos compõe-se de homens
do empirismo, do relativismo e do método cientifico e ateus, deístas e agnósticos. William James, pois, foi
das idéias de evolução. uma notável exceção.
A influência do pragmatismo, sobre o pensamento 2. As idéias inatas não fazem parte desse sistema.
teológico protestante, foi profundamente sentida Para os filósofos pragmáticos, as idéias nos chegam
entre os círculos liberais. A chamada escola de por meio da experiência, e o valor de verdade das
Chicago, liderada por John Dewey, tentou expressar a idéias é descoberto mediante a inquirição e a contínua
fé cristã em termos da filosofia pragmática e experimentação. Somente a experiência humana pode
empírica. — Um de meus professores havia sido fornecer-nos a ética humana. A conduta humana
estudante de Dewey, pelo que cheguei a ouvir ideal é descoberta para cada indivíduo mediante
pessoalmente essa forma de pragmatismo quase de experimentações pessoais e coletivas. Os pensadores
sua fonte. O pragmatismo exerceu grande poder sobre pragmáticos egoístas acreditam em um valor ético
o sistema educacional norte-americano, durante para cada indivíduo, o que os relativistas também
muito tempo, e isso influenciou, indiretamente, as afirmam. Os pragmáticos comunais crêem que a
escolas evangélicas. O grande lema era ali «experi experiência humana é suficientemente comum de
mentação»; e, em seguida, «instrumentalismo». Para indivíduo para indivíduo, de tal maneira que pode
o pragmatismo não há conseqüências fixas e finais. haver valores éticos coletivos, e não meramente
Todas as conseqüências tornam-se instrumentos para individuais.
novos começos. O aparecimento da neo-ortodoxia 3. A Evolução. Aquilo que mostra ser bom,
tendeu por entravar a influência do pragmatismo mediante o processo evolutivo, corresponde à
sobre o pensamento e a vida protestantes. Natural verdade. A utilidade consiste no que é bom, quando
mente, as igrejas evangélicas fundamentalistas opuse testado e provado. As idéias éticas válidas dos homens
ram-se ao pragmatismo desde o seu inicio. são um subproduto do processo evolutivo, e não um
II. Teoria da Verdade dom de Deus, que os homens aceitem como final e
perfeito. Não existiria tal coisa como um ponto final.
Forneci uma detalhada descrição a esse respeito no Cada ponto terminal torna-se um meio para dar início
artigo Conhecimento e a Fé Religiosa, O, seção II. a outra coisa qualquer. As idéias éticas dos homens
Teorias da Verdade: Critérios, ponto décimo primei estão sempre em estado de fluxo e desenvolvimento.
ro, Pragmatismo. A essência da idéia pragmática Diferentes sociedades precisam de diferentes solu
sobre a verdade, ou seu critério para avaliar a ções. Uma geração não pode viver conforme a ética de
verdade, é o «valor monetário» prático que essa idéia outra geração.
tenha. Uma idéia funciona bem? Contribui com algo? 4. O Positivismo. A maioria dos pensadores
Com o que ela contribui? Mas, se alguma idéia é pragmáticos concorda com os positivistas, os quais
meramente teórica, não é considerada válida como abandonaram qualquer busca pela verdade absoluta e
verdade. Somente as idéias que funcionam é que são
verdadeiras. As idéias que produzem conseqüências perfeita. Isso posto, a verdade é definida por eles em
desejáveis são idéias verdadeiras. O valor de verdade termos de utilidade e practicalibilidade, qualidades
que emergiriam da experimentação. Isso é verdade
de qualquer idéia está nas contribuições práticas da
mesma. Essa maneira de pensar acabou sendo até no que concerne às idéias éticas. Os universais
aplicada à fé religiosa. Em um dos extremos, alguns (vide) não seriam entidades metafísicas, mas apenas
fUósofos pragmáticos não podiam perceber grande termos da linguagem humana, que descrevem
valor de verdade nas idéias religiosas, pelo que experiências comuns (nominalismo). Universais éticos
tendiam por ser evolucionistas e humanistas. Mas, no são estabelecidos mediante o desenvolvimento de
outro extremo, William James tinha a certeza de que idéias, obtido através de experimentação.
as idéias sobre Deus e a alma são valiosas e exercem 5. O Estado de Fluxo. Não se pode esperar, de
notável influência sobre os homens, produzindo acordo com o pragmatismo, que a verdade de hoje
muitos resultados. Para ele, o sistema pragmático fica seja a verdade de amanhã, da mesma forma que não
empobrecido, sem o concurso dessas idéias. As idéias pode o homem moderno viver segundo a verdade do
são verdadeiras quando provêm soluções práticas homem da antiguidade. Cumpre-nos abandonar
para os problemas, sem importar se esses problemas questões finais, e continuar a explorar as possibilida
são de natureza científica, ética ou religiosa. des, que poderão melhorar nossas idéias e nossos atos.
«Peirce, o fundador do pragmatismo, definia a O desenvolvimento evolucionário do homem é uma
verdade como um conjunto de crenças que é prova da necessidade de uma ética em estado de
defendido pela comunidade de inquiridores, a longo fluxo. O homem estaria em um estado de fluxo; e a
prazo—após uma série indefinidamente longa de ética também. Os termos «bom» e «mau» são palavras
inquirições. A contraparte objetiva dessas crenças que, por si mesmas, descrevem o que temos
seria a realidade. A verdade, pois, é o resultado da descoberto, o que tem mostrado ser benéfico ou
prejudicial. Com a passagem do tempo, à medida que
inquirição» (P). Essa citação destaca o método esse fluxo prossegue, esses vocábulos poderão
empírico (científico) de testar e estabelecer a verdade.
À idéia empírica é acrescentada a idéia prática. Essa adquirir sentidos e valores diferentes.
inquirição precisa produzir resultados práticos. IV. Importantes FUósofos Ligados ao Pragmatismo
Dewey enfatizou o problema mostrando qual o alvo 1. Charles Sanders Peirce (vide) adaptou o termo
dessa inquirição. Ver o artigo separado Verdade, «pragmatismo» com base em idéias de Emanuel Kant.
Teorias da. Kant havia feito a distinção entre a razão prática
353
PRAGMATISMO
(vide) e a razão crítica (vide). As teorias de Peirce, experiência válida, e as experiências místicas são o
pois, foram desenvolvidas com base nas sugestões de alicerce de todas as fés religiosas. Ver sobre o
Kant. Ele desenvolveu a máxima pragmática que Misticismo. William James muito trabalhou nesse
mencionei na primeira seção, quarto parágrafo, deste assunto, em seu livro Varieties o f Religious Experien-
artigo. Ver também Peirce, Idéias, primeiro item. ce. Ele tem ali muito a dizer em favor da existência da
2. William James (vide) foi quem ampliou ainda alma, útil para o pensamento religioso. No campo da
mais essa máxima, conferindo-lhe a seguinte formu ética, deve-se admitir que muitas questões são
lação: «O significado de qualquer proposição sempre práticas, e precisam ser solucionadas dentro da arena
pode ser reduzido a alguma conseqüência particular da experiência humana, e não com base em regras
em nossa futura experiencia prática, sem importar se fixas de algum sistema de pensamento.
passiva ou ativa». Ele utilizava essa idéia básica nos Pelo lado negativo, a ética relativista do pragma
campos da ética, do pensamento religioso, da verdade tismo é rejeitada, porque não reconhece o valor da
e da significação. Assim, ele conferiu aos pragmáticos revelação e dos livros sagrados. Naturalmente, o
uma expressão mais lata, incluindo as questões pragmatismo ateu, agnóstico e positivista é ali
religiosas e as experiências místicas, coisas essas retratado como perversões da verdade, e não como
explicadas no meu artigo acerca dele. melhores abordagens à verdade. As pessoas religiosas
3. Royce (vide) falou sobre o pragmatismo reconhecem o valor da experiência humana a fim de
absoluto, uma expressão usada por ele para designai eusinar e definir a verdade; mas também crêem que
o seu sistema filosófico geral, já nos últimos anos de há outros meios válidos, a começar pela revelação,
sua vida. Sua filosofia concentrava a atenção sobre mas também incluindo a razão e a intuição,
como uma pessoa pode passar do caráter finito e especialmente quando estas são guiadas pelo Espírito
fragmentar da experiência ordinária para uma de Deus. A maioria das pessoas religiosas não
plenitude infinita e bem ordenada da experiência, e acredita que as questões éticas possam ser soluciona
assim chegar a conhecer a Deus, ou seja, o Absoluto. das meramente por indivíduos isolados. Os problemas
Um tipo de practicabilismo está envolvido nisso. À quase sempre são de ordem coletiva, e existem
experiencia humana fragmentar confere-se assim uma princípios éticos que transcendem ao indivíduo.
unidade e uma significação, na pessoa de Deus. O que Algumas definições nos são fornecidas pela revelação
é temporal subentende o que é eterno, e é no eterno divina, e não precisam ser testadas pela experiência
que achamos o bem final. humana. E, apesar de que, em muitos casos,
4. Giovanni Papini (vide) manifestava-se em favor possamos afirmar que a minha verdade é minha, e
da tolerância, de acordo com a qual os filósofos que a tua verdade é tua, quando não estão em foco
poderiam defender teorias em conflito, mas todas as princípios éticos vitais, por outro lado há casos em
quais deveriam satisfazer ao critério usado pelo que tanto eu quanto tu precisamos moldar-nos à
pragmatismo. verdade divinamente revelada. Assim sendo, Dewey
5. Le Roy (vide) aplicou a máxima pragmática dizia que a sociedade é que testa a verdade, e não o
tanto à ciência quanto à religião. indivíduo isolado; mas, acima da sociedade humana,
6. jF.C.S. Schiller (vide) aplicou a espécie de também poderíamos apelar para os valores espiri
pragmatismo de William James à filosofia inglesa, tuais. As almas humanas têm valores que são
embora sua variedade seja mais relativista do que a de permanentes e cõerentes, e não transitórios. E aquilo
James. A verdade e a realidade seriam, pelo menos em que os homens talvez chamem de «bom», pode não ser
parte, construções da mente humana, e não entidades «bom», em última análise. Deve haver um critério
absolutas. superior para a verdade do que meramente aquilo que
é prático. Isso posto, a forma de pragmatismo que
7. G.H. Mead (vide) aplicou os ideais pragmáticos ignora a experiência religiosa e os valores espirituais
aos presentes contextos biológicos e sociais. ignora um aspecto importantíssimo da experiência
8. John Dewey (vide) procurou fazer uma humana. Ora, os livros sagrados estão fundamenta
reconstituição da filosofia, e acreditava que o dos sobre a experiência mística.
pragmatismo oferece-nos a chave para tanto. Ele
frisava o instrumentalismo, dizendo que a verdade é Muitos pensadores pragmáticos têm dado um valor
garantida pela sua afirmabilidade. Todos os fins exagerado ao behaviorismo (vide). Mas o homem é
seriam instrumentos para novos começos. A inquiri mais do que um animal que esteja aprendendo a viver
ção seria básica em todos os atos, instituições e idéias com outros animais, que esteja exercendo seus
dos homens. Dewey exerceu poderosa influência sobre instintos e esteja sendo moldado pelo condicionamen
a esfera da educação, e enfatizou que há um to de seu meio ambiente. Existem grandes verdades
processo mútuo de aprendizado que gravita entre o espirituais que em coisa alguma são afetadas pela
professor e seus alunos. A liberdade é necessária para experimentação humana. Meditemos sobre as verda
que o ser humano funcione bem, e a democracia é o des da imortalidade da alma, e do Deus diante de
sistema político que melhor promove essa liberdade. quem a alma terá de prestar contas; dos milagres
9. C. I. Lewis (vide) desenvolveu um sistema ao (vide), que têm por base princípios superiores àqueles
concebidos pelo espírito utilitarista. Tentar investigar
qual chamou de pragmatismo conceitualista. De a verdade exclusivamente através de meios pragmáti
acordo com sua explicação, a mente supre as
categorias, os conceitos e os princípios que são então cos, limitados à experiência humana, é abordar a
verdade de uma maneira muito parcial. Pois há
experimentados de maneira organizada na vida grandes e profundas verdades que não foram
diária. A polaridade valor-desvalor da experiência inventadas pelo homem, mas que são acessíveis p ara o
humana é um modo de experiência. homem, se não as buscarmos apenas pelo angulo
10. Emest Nagel (vide) criou uma espécie de prático. A revelação divina, a razão, a intuição e as
naturalismo pragmático alicerçado, essencialmente, experiências místicas podem fornecer-nos muitas
sobre as idéias de Peirce e de Dewey. Ele acreditava verdades que são ignoradas pelo pragmatismo e seus
que a inquirição humana é autocorretiva. critérios limitados. Em outras palavras, apesar de sua
V. Otyeções Religiosas ao Pragmatfemo utilidade quanto a certas questões, o pragmatismo é
O estudioso que ler as obras de William James um sistema provincial, com limitações auto-impostas.
encontrará ali muita coisa valiosa a ser aplicada à fé Bibliografia. Ver as obras de cada filósofo acima
religiosa. A experiência religiosa também é uma mencionado. Esses livros estão alistados sob o título
PRAIA - PRATA
Escritos. Obras de referência úteis que esclarecem Mal. 3:3, o que significa que é palavra bastante
facetas do pragmatismo são AM E EP F H MM P. comum no Antigo Testamento. Isso sem falar nas
cento e quinze vezes que ela aparece com aquele outro
sentido. No grego, árguros, palavra que é usada por
PRAIA quatro vezes no Novo Testamento: Mat. 10:9; Atos
No hebraico, há três palavras envolvidas que nos 17:29; Tia. 5:3 e Apo. 18:12. As palavras cognatas
convém examinar, e, no grego, três, a saber: argúreos, «prateado», e argúrion, «moeda de prata»,
1. Choph, «praia». Esse termo hebraico ocorre por ocorrem por mais vinte e quatro vezes, no total.
sete vezes, conforme vemos em Juí. 5:17; Jer. 47:7; A prata é um dos metais preciosos. Tem cor
Jos. 9:1; Eze. 25:16. branca, é dúctil e tão maleável que pode ser reduzida
2. Qatseh, «fim», «extremidade». Palavra hebraica a folhas tão finas quanto 0,00025 mm. Sua densidade
usada apenas por uma vez com o sentido de «costa é 10,5 e funde-se a 961 graus centígrados. Dá boas
marítima», em Jos. 15:2. ligas com outros metais, como o ouro, o cobre, o
3. Saphah, «lábio», «beirada». Vocábulo hebraico níquel e o zinco. O ouro nativo apresenta um teor de
empregado por seis vezes com o sentido de «praia», a entre 10 e 15 por cento de prata. O metal chamado
saber: Gên. 22:17; Êxo. 14:30; Jos. 11:4; I Sam. 13:5; electro, usado em muitas moedas antigas, era a liga
I Reis 4:29 e 9:26. natural com o ouro, com 15 a 45 por cento de prata.
4. Aigialós, «praia». Palavra grega empregada por No Egito, essa liga era chamada asem. A estrutura dos
seis vezes: Mat. 13:2,48; João 21:4; Atos 21:5; cristais de prata assemelha-se às dos cristais do ouro
27:39,40. (vide) e do cobre (vide), um entrelaçado de cubos. As
5. Cheilos, «areia». Palavra grega que aparece por dimensões das células cúbicas básicas da prata e do
sete vezes: Mat. 15:8 (citando Isa. 29:13); Mar. 7:6; ouro, formadas por quatro átomos, são quase
Rom. 3:13 (citando Sal. 140:4); I Cor. 14:21 (citando idênticas, e, por causa disso, a prata substitui o ouro,
Isa. 28:11); Heb. 11:12; 13:15; I Ped. 3:10 (citando e vice-versa, com cem por cento de eficácia.
Sal. 34:14). Em face de sua comparativa escassez, cor branca,
6. Prosormízo, «puxar para a praia». Palavra grega grande lustre (a prata é o mais lustroso de todos os
metais), resistência à oxidação atmosférica e maleabi
usada exclusivamente em Mar. 6:53.
lidade, a prata tem sido usada, desde a antiguidade,
As praias do mar desempenham um papel bastante no fabrico de artigos de luxo e valor, como, para
insignificante na narrativa biblica, excetuando dentro exemplificar, ornamentos (ver I Crô. 18:10; Atos
do contexto da símile familiar para os leitores da 19:24), jóias e moedas (ver Lev. 5:15; Mat. 26:15). A
Bíblia: «...muito povo, em multidão, como a areia que prata mais antiga, provavelmente, provinha do norte
está na praia do mar» (Jos. 11:4), ou expressão da Síria (o estado arameu de Zobá, I Sam. 14:47),
paralela. Os israelitas nunca foram um povo voltado bem como de certas regiões da Ásia Menor. Visto que
para as atividades do mar, de tal modo que até mesmo não havia prata no território da Palestina, Israel a
as suas costas marítimas do Mediterrâneo quase importava de Társis (I Reis 10:22; Jer. 10:9 e Eze.
nunca foram bem controladas por eles. Ver sobre Mar 27:12). Para os judeus, não era tão rara quanto o ouro
e Mar Grande. Em conseqüência disso, para os (II Reis 15:19,20). Na corte de Salomão, o ouro era
israelitas o mar permanecia um elemento estranho e tão abundante, de modo que todas as taças do seu
hostil. Nas páginas do Novo Testamento, as palácio eram feitas desse metal mais nobre, que ali
referências razoavelmente freqüentes ao mar dizem nada havia feito de prata, porquanto, na época
respeito ao mar da Galiléia, visto que tão grande daquele monarca judeu, no dizer de I Reis 10:21, «não
parcela do seu sustento era extraída dali. Em tomo do se dava a ela estimação nenhuma».
mar da Galiléia desenvolveu-se uma ativa indústria
pesqueira que, nos tempos neotestamentários, expor No Egito conhecia-se a prata, embora ali fosse
tava o pescado até para a capital do império romano. muito rara. Menes, que fundou a primeira dinastia do
No círculo quase contínuo de cidades e aldeias, em antigo Egito (cerca de 3100 A.C.) estabeleceu o valor
redor desse mar interior que, na realidade, era apenas da prata como um quarto do valor do ouro.
um lago, na época do Novo Testamento não somente a Conhecem-se ornamentos caldeus feitos de prata,
pesca, mas igualmente toda a espécie de meio de provenientes de cerca de 2850 A.C. Parte das riquezas
transporte (como no caso do trigo que era materiais de Abraão consistia em peças de prata
transportado por meio de embarcações de um lado (Gên. 13:2). Em Tiro, cidade fenícia, havia prata èm
para outro do lago) formava a base dos empregos grande abundância (Zac. 9:3). Ê provável que, por
remunerados. Em conseqüência disso, pode-se dizer volta de 800 A.C., todas as nações entre o Nilo e o
que Jesus escolheu a região mais ativa e populosa do Indus usassem tanto o ouro quanto a prata como
território para servir de seu púlpito, quando resolveu dinheiro. Os registros dos romanos nos mostram
que antes de ser usado o termo argentum para indicar
pregar nas cidades em tomo do mar da Galiléia, como a prata, a prata era chamada luna e seu símbolo era
um dos centros dó seu ministério. E, sem dúvida
alguma, as marcas deixadas pelas passadas de uma lua em quarto crescente. Os alquimistas da
Jesus, ficaram impressas nas areias da praia do mar Idade Média usavam esse mesmo símbolo e
da Galiléia, entre tantas outras daquela região. denominavam a prata de luna ou de ártemis, este
último nome com base na grande deusa pagã da Ãsia
(cf. Atos 19:10,22,26,27).
PRANTO A prata era utilizada na confecção de adornos
Ver o artigo sobre Lamentação. (Gên. 24:53; Êxo. 3:22), utensílios diversos, como
pratos ou colheres, e até mesmo ídolos (Isa. 2:20; Atos
19:24).
Estranhamente, a prata nativa ocorre com bem
PRATA maior raridade do que o ouro nativo, mas encontra-se
No hebraico, keteph. Essa palavra era usada com o largamente distribuída em pequenas quantidades.
sentido de prata, propriamente dita, ou com o sentido Grande parte da produção mundial de prata provém
de dinheiro. Com o sentido de «prata» aparece por da mineração do chumbo, como a galena, ou de
iuzentas e oitenta e sete vezes, desde Gên. 13:2 até sulfetos de cobre e zinco, os quais contêm pequena
355
PRATA - PRAXIOLOGIA
porcentagem de prata. Todavia, a prata pode ser receptáculo para receber uma libação (II Reis 21:13).
extraída de seus minérios mediante certo número de Em Pro. 19:24 e 26:15, algumas versões traduzem,
processos metalúrgicos simples, entre o quais aquele erroneamente, por «seio». Melhor é fazer como faz
chamado copelação, que remonta aos tempos dos nossa versão portuguesa, que também traduz essa
babilônios antigos, e que até hoje é usado. Esse palavra por «prato».
processo é interessante para nós, pois explica a 3. Qearah, «prato», «pires». Palavra hebraica que
formação da «escória» da prata, referida em Eze. ocorre por três vezes com esse sentido: Êxo. 25:29;
22:18. O minério de prata era fundido juntamente com 37:16; Núm. 4:7. Essa palavra hebraica significa
chumbo ou minérios de chumbo, em uma fornalha «fundo», pelo que poderíamos imaginar algo parecido
simples. A liga daí resultante—prata-chumbo—era com um de nossos pratos fundos. Os pratos de ouro
então fundida em um forno poroso de cinzas de ossos. do tabernáculo tinham esse nome, no hebraico.
O chumbo oxidava-se em contato com o oxigênio do 4. Trublíon, «prato», «terrina». Termo grego que
ar, formando uma camada do óxido de chumbo aparece somente em Mat. 26:23 e Mar. 14:20.
derretido. Quaisquer outras impurezas metálicas Aparece na narrativa sobre a última Ceia, onde Jesus
também se oxidavam e se dissolviam no óxido de e os seus discípulos molhavam o pão no molho.
chumbo, que era então removido como uma fina 5. Pínaks, palavra grega que se refere, metaforica
camada à superfície do metal fundido. Somente a mente, ao prato raso cujo lado externo os fariseus
prata, juntamente com algum ouro ou platina mantinham limpo, ao passo que no interior havia
presentes, permanecia no cadinho, sem a presença muita sujeira. O vocábulo grego ocorre por cinco
de qualquer outro metal (cf. Isa. 1:22). Ver sobre o vezes: Mat. 14:8,11; Mar. 6:25,28; Luc. 11:39. É
artigo Metais e Metalurgia. neste último versículo que Jesus acusa os fariseus de
A prata cria uma camada escura devido à ação do hipocrisia.
ácido sulfúrico ou de compostos sulfurosos na Os antigos egípcios e israelitas tinham o interessan
atmosfera, depositando uma camada de sulfeto de te mas anti-higiênico costume de usarem um único
prata à superfície dos objetos feitos desse metal. Esse prato para servir os alimentos, em cujo prato, posto
efeito pode ser verificado especialmente nas cidades sobre uma mesa, todos os participantes da refeição
pesadamente industrializadas, como São Paulo, metiam o seu pão, para absorver o molho. Essa
capital do estado do mesmo nome. Talvez por esse prática era considerada sinal de hospitalidade e de
motivo os habitantes do Rio de Janeiro, que é amizade. As pessoas não usavam talheres, mas
relativamente pouco industrializado, apreciem tanto o apanhavam os alimentos com os dedos. O pão era
uso de adornos de prata, o que já não sucede na usado como colher. Ficar com um pedaço escolhido,
cidade de São Paulo. Mas talvez o motivo seja outro, a quando se era um convidado, era receber um
saber, o medo dos assaltantes e descuidistas, cumprimento e um sinal de amizade. Ver João
chamados «trombadinhas» ou «trombadões», depen 13:25-27; Mat. 16:23.
dendo de serem eles menores de idade ou adultos. Já
nos tempos bíblicos, a prata não perdia tão facilmente Na antiguidade, muitos pratos tinham forma oval,
o seu lustro e nem enegrecia, a menos se estivesse e eram mais rasos do que os atuais, como também
em lugares onde houvesse minérios de sulfetos. Ver maiores. Podemos supor que o prato sobre o qual foi
também sobre Moedas. entregue a cabeça de João Batista era especial, de
ouro ou de prata, algo adequado para a circunstância
PRATA BATIDA festiva e solene da ocasião. Os pratos eram feitos de
No hebraico, é uma expressão que indica «espalhar metal, cerâmica e madeira.
em chapas». Desde há m uito que os homeu» O Senhor Jesus usou a palavra «prato» de modo
reconhecem a maleabilidade da prata. Os fenícios figurado, quando falou sobre a hipocrisia que inclui a
exportavam chapas finas de prata batidas a martelo corrupção interior oculta, com aparência externa de
(Jer. 10:9). Um uso comum da prata era o servir de piedade, de tal modo que o copo ou prato pode
incrustações nos ídolos (Is. 30:22) e recobrir parecer limpo, mas, ao ser examinado com cuidado,
peças de uso caseiro, conform e se vê tam bém nos contém toda espécie de corrupção. Ver Mat.
móveis do tabernáculo (Êxo. 38:17). Até mesmo 23:25,26; Luc. 11:39.
certas peças de cerâmica eram recobertas com uma
fina camada de prata (Pro. 26:23). (FOR) PRAXE
PRATA, CORDA (FIO) DE Ver Fio de Prata. No grego, éthos, «hábio», «costume», «praxe». Essa
é a palavra raiz por detrás de ética (que vede). A
palavra grega tem sido transliterada para algumas
PRATO línguas modernas, embora não para o português, a
Três palavras hebraicas e duas palavras gregas fim de referir-se aos valores costumeiros de uma
estão envolvidas neste verbete. Vários tipos de pratos sociedade ou grupo social. Assim, fala-se na praxe
são mencionados nas Escrituras, e nem sempre há puritana, que enfatizava o trabalho árduo como uma
certeza sobre o tipo exato em foco. A arqueologia tem virtude. A praxe norte-americana consiste em admirar
iluminado bastante essa questão. Alguns pratos eram o avanço tecnológico. A praxe ocidental, pós-renas-
bastante crus, essencialmente feitos de argila não cença, é o respeito pelo individualismo. A praxe do
trabalhada. Outros eram autênticas obras de arte, capitalismo insiste sobre o direito à propriedade
altamente coloridos, principalmente nos tons verde, privada e à iniciativa pessoal, entre outras coisas. E a
azul e amarelo. Também havia pratos feitos de vários praxe cristã é a ética que gira em torno do princípio
metais, principalmente de cobre. do amor.
1. Sephel, «baixo». Palavra hebraica que provavel
mente alude a um prato ou panela rasa. Aparece
somente por duas vezes: Juí. 5:25 e 6:38. Na primeira PRAXIOLOGIA
referência temos um prato para conter manteiga ou
coalhada; na segunda referência talvez uma taça para Ver sobre Kotarbinski, quarto ponto.
água.
2. Tsallachath, «colo», um prato ou algum outro ••• ••• •••
356
PRAZER
PRAZER o leitor prefere o «prazer» de fazer a tentativa, com o
Esboço: risco da própria vida. Porém, o que sucede em um
caso assim é que a pessoa pesou as «alternativas
1. Considerações Bíblicas
dolorosas», e não suas «alternativas prazerosas». Isso
2. Definições Amplas e Truques Filosóficos envolve um truque filosófico, distorcendo o significa
3. A Alegria de Quem Serve a Jesus do usual das palavras, a fim de que «dor» venha a
4. O Prazer nas Funções Bem-Sucedidas significar «prazer».
1. Considerações BfbUcas 3. A Alegria de Quem Serve • Jesus
Os termos hebraicos traduzidos por «prazer» têm Se estivermos falando sobre a vida diária, então
raízes que indicam as idéias de «boa vontade», teremos de reconhecer que o prazer é um de seus
«intenção» e «prazer» (mental ou físico). Ver Nee. principais fatores. Na verdade, há pessoas que vivem
9:37; Sal. 51:18; 111:2; Ecl. 5:4; 12:1; Isa. 58:3. Uma para sentir prazer e evitar a dor. A essas pessoas dá-se
outra palavra hebraica, que significa «propósito» ou o nome de «hedonistas». Usualmente, os hedonistas
«vontade», aparece em Exo. 10:10; Isa. 44:28; 46:10; fazem dos prazeres físicos o alvo da vida. Epicuro
48:14 e 53:10. tentou convencer os homens que os verdadeiros
O termo grego eudokía, «boa vontade», «bom prazeres são de natureza mental; mas os hedonistas
propósito», algumas vezes é traduzido por prazer. Ver autênticos não pensam dessa forma.
Mat. 11:26; Luc. 2:14; 10:21; Rom. 10:1; Efé. 1:5,9; A pessoa religiosa busca prazer, embora fazendo-o
Fil. 1:15; 2:13; II Tes. 1:11. A sua forma verbal, na fé religiosa, no serviço caridoso, na generosidade,
eudokéo, figura por vinte e uma vezes: Mat. 3:17; etc. Uma vida transformada é o maior de todos os
12:18 (citando Isa. 42:1); 17:5; Mar. 1:11; Luc. 3:22; prazeres. Podemos imaginar que Pedro e Paulo
12:32; Rom. 15:26,27; I Cor. 1:21; 10:5; II Cor. 5:8; sentiam prazer em ser encarcerados, não pela
12:10; Gál. 1:15; Col. 1:19; I Tes. 2:8; 3:1; II Tes. experiência em si, mas porque tão duras experiências
2:12; Heb. 10:6 (citando Sal. 40:7); 10:8,32 (citando podem fazer parte da inquirição espiritual, à qual
Hab. 2:4); II Ped. 1:17. Mas a palavra grega muitos homens de Deus têm dado um valor supremo.
comumente traduzida por «prazer», no Novo Testa 4. O Prazer nas Funções Bem-Sucedidas
mento, èedoné. Ver Luc. 8:14; Tito3:3; Tia. 4:1,3; II
Ped. 2:13. É daí que se deriva nosso adjetivo Aristóteles não dava tanta importância aos prazeres
que fizesse deles o alvo próprio de sua vida. Antes,
«hedonista», que indica alguém cujo alvo na vida é o esse alvo ele achava na realização de funções ou
prazer. Temos apresentado um detalhado artigo sobre tarefas para as quais o indivíduo está preparado,
o Hedonismo, que expõe os vários pontos de vista preenchendo assim o devido lugar que lhe cabe na
filosóficos sobre os valores ou desvantagens dos sociedade. Afirmava ele que esse cumprimento das
prazeres, bem como o modo em que essa palavra próprias funções é o mais elevado prazer na vida. A
aparece usada nos sistemas filosóficos. Nas referên experiência comprova a correção geral desse ponto de
cias bíblicas que acabamos de dar, na maioria dos vista. Spinoza pensava, por sua vez, que o prazer é
casos estão em foco os prazeres pecaminosos, que aquele sentimento que obtemos quando passamos de
guerreiam contra o bem da alma, o que já é uma uma perfeição menor para uma perfeição maior. Em
forma de morte. Mas esses prazeres pecaminosos outras palavras, há prazer no aperfeiçoamento
também aparecem no Novo Testamento grego como pessoal, onde cada estágio nesse aperfeiçoamento
spataláo (I Tim. 5:6; Tia. 5:5), ou como trufáo, (Tia. confere um bem-estar específico. Por outra parte,
5:5). O primeiro desses verbos significa «viver Freud pensava que os homens devam viver segundo o
sensualmente»; e o segundo, «viver indulgentemente», «princípio do prazer», como algo essencial à
«viver em orgias». experiência humana.
2. Definições Amplas e Truques Filosóficos
O resto que tenho a dizer sobre este assunto aparece
Tal como qualquer outra palavra de rico significa no detalhado artigo chamado Hedonismo.
do, o termo «prazer» pode receber certo número de
definições, indicando tanto aquilo que é bom quanto Essa é uma palavra que tem implicações éticas.
aquilo que é mau. Se estivermos falando sobre as Está ligada às idéias de prazer, satisfação e bemestar.
alegrias da vida após-túmulo, sobre a ausência de No sentido físico, falamos em prazer através dos
sofrimentos, sobre as enfermidades ou sobre as sentidos físicos, embora também exista aprazimento
alegrias que temos no Senhor, então estaremos que envolve a mente e o espírito. Diz certo hino
falando sobre prazeres desejáveis. Mas, se estivermos evangélico: «Há alegria no serviço a Jesus»; e a
aludindo às coisas deste mundo que dão prazer aos Confissão de Westminster diz que podemos desfrutar
homens carnais e impedem a inquirição da alma (ver I de Deus para sempre. Em sua forma mais crassa,
João 2:15-17), então já estaremos falando a respeito porém, o aprazimento consiste no simples hedonismo
de prazeres pecaminosos e daninhos. Mas, mediante (que vide) de acordo com o qual os homens supõem
um truque filosófico, podemos emprestar à palavra que a única finalidade da vida é a obtenção de
«prazer» uma definição tão ampla que podemos fazer prazeres, usualmente interpretados como prazeres
dos prazeres o alvo mesmo da vida neste mundo. Um físicos. Quanto a seu lado positivo, o aprazimento na
exemplo tradicional disso consiste em salvar a vida de vida é considerado pelos psicólogos como parte de
outrem, somente para perder a própria vida. uma personalidade bem integrada. A alegria espon
Presumivelmente, esse ato seria um «prazer». tânea é sinal de boa saúde mental. Há muitos fatores
Digamos, para exemplificar, que o leitor veja uma que permitem o indivíduo a desfrutar da vida. Em
criança que está se afogando. O leitor não sabe nadar, primeiro lugar, a verdade é que o homem precisa de
pelo que um cálculo rápido lhe diz aue não são muito aprazimento físico. Um asceta geralmente não é
boas as chances dele salvar à criança e a si pessoa muito alegre. O aprazimento físico sempre
mesmo. De acordo com essa teoria, o leitor estará será legítimo se for mantido dentro de seus limites
fazendo uma rápida «avaliação de prazer». Se não próprios, se não for exaltado ao ponto de tornar-se o
fizer a tentativa de salvar a criança, sentirá depois grande alvo da vida. A medicina psicossomática tem
muito remorso, pela perda da pequena vida. Mas o demonstrado que uma pessoa que aprecia a vida
leitor também julga que seria menos doloroso perder a normalmente, de maneira física, é uma pessoa mais
própria vida do que ficar com remorso pelo resto da saudável que outras. Mas, além dessa satisfação geral
vida, além de ter de passar por um covarde. E assim, diante da vida, há aquele prazer vinculado às
357
PRAZER - PRECOGNIÇÀO
realizações pessoais, ao trabalho bem-feito, à busca PRECOGNIÇÀO (CONHECIMENTO PRÉVIO)
por alvos dignos, entre os quais, naturalmente, está a Esboço:
realização espiritual. Em Cristo, pois, temos confian I. Definição e Tipos de Precognição
ça na vitória final sobre a morte, pelo que a vida nos II. Relação para com a Predestinação
parece digna de continuar. E isso confere alegria
autêntica. Por isso mesmo, quando estamos em meio III. A Precognição e a Profecia
a tristezas e aflições, não nos lamentamos, conforme IV. A Precognição na Bíblia
fazem outras pessoas, que não têm tal esperança. V. Algumas Considerações Filosóficas a Respeito
Alguns filósofos e teólogos insistem que o bem é a VI. A Precognição e a Parapsicologia
sua própria recompensa e isso é parcialmente assim, I. Definição e Tipos de Precognição
porque a prática do bem, mesmo que não venham No grego, prógnotia, «conhecimento prévio».
recompensas imediatas, nos infunde satisfação. Por Palavra usada por duas vezes: Atos 2:23; I Ped. 1:2. O
outra parte, a prática do mal envolve a sua própria verbo correspondente, proginósko, aparece por cinco
tristeza conseqüente, a despeito das vantagens vezes: Atos 26:5; Rom. 8:29; 11:2; I Ped. 1:20; II Ped.
momentâneas que uma pessoa possa obter com essa 3:17.
prática. O ódio e a maldade, por si mesmos, aleijam
a alegria da vida, a despeito das risadas dos ímpios. Conhecer de antemão é saber de algo antes que a
coisa aconteça. Em outras palavras, é tomar
Até mesmo as provações da vida podem ser motivos de conhecimento de algo que ainda sucederá, embola
alegria, se sofrermos por amor a Cristo e ao progresso
espiritual. VerTia. 1:2,3; I Ped. 1:6-9; Fil. 2:17; Mat. ainda esteja no futuso. Essa presciência pode ser
absoluta: a coisa prevista terá de ocorrer; ou então
5:12. O aprazimento está relacionado à alegria, e a pode ser relativa: a coisa prevista poderá ocorrer ou
alegria é um dos cultivos do Espírito (Gál. 5:22). Isso
significa que nosso maior aprazimento nos é dado não, embora haja alguma potencialidade para a sua
ocorrência. Ver os artigos separados sobre Parapsico
quando o Espírito de Deus opera em nós e através de
logia; Determinismo; Livre -Arbítrio e Atributos de
nós, visando o nosso próprio bem e tornando-nos
instrumentos benéficos para outras pessoas. Ver o Deús. Há vários tipos desse fenômeno, a saber:
artigo sobre Meios do Desenvolvimento Espiritual. 1. Precognição Natural. Um certo evento está
programado a ter lugar e há causas em operação, que
haverão de fazê-lo acontecer. Tomando consciência
das causas em operação, um indivíduo poderá saber
PRÉ-ADÃMICOS que o evento causado é inevitável, ou, pelo menos,
Ver os artigos gerais Antediluvianos; Criação e provável. Para exemplificar: um geólogo pode
Adão, onde são oferecidos estudos que incluem a idéia predizer um terremoto ou uma erupção vulcânica, por
de que houve raças pré-adâmicas de homens, que não perceber certos sinais típicos na natureza. Posso
são antecipadas e nem descritas no relato bíblico prever que terei de ir ao dentista, dentro de algum
sobre o homem. Evidências avassaladoras acerca da tempo, porque observo que um dente meu está
imensa antiguidade do globo terrestre e de raças de começando a cariar. E assim por diante.
seres humanos, que antecedem em muito aos seis ou 2. O Computador Cerebral. A mente inconsciente
sete mil anos de cronologia bíblica, têm dado margem sempre tem consciência de determinados aconteci
a especulações. Entre essas a apresentação de alguns mentos que estão prestes a ocorrer. A mente calcula
fatos que favorecem fortemente a noção de que a raça como se fosse um computador, com base em causas
adâmica não foi a primeira raça humana na terra, que atuam no presente. A mente consciente talvez não
mas apenas o começo de tempos relativamente tome consciência desses cálculos; mas acaba tomando
modernos. Certo calvinista francês (em 1655) consciência das informações através de sonhos ou de
antecipou esse pensamento (embora sem evidências experiências intuitivas. Parece que certas profecias
científicas), que ele descreveu em um livro onde nada passam senão dessa função. Pode parecer algo
asseverava que Adão foi o progenitor somente dos misterioso, mas é algo perfeitamente natural. Os
judeus, ao passo que os gentios descendiam de estudos feitos sobre os sonhos mostram que todas as
habitantes anteriores da terra. De conformidade com pessoas têm esse tipo de consciência sobre aconteci
esse ponto de vista, o trecho de Gên. 1:26 ss, descreve mentos futuros.
a criação dos antepassados dos gentios, no sexto dia 3. Precognição Telepática e Clarividente. Podemos
da criação, ao passo que Gên. 2:7 fornece apanhar, de outras mentes, certas intenções e causas
informações sobre a criação de Adão, após o sétimo em formação, por meios telepáticos, — e assim
dia da criação. E ele achava apoio para a sua idéia, no podemos tomar conhecimento de algo que, provavel
Novo Testamento, em Rom. 5:12-14. Posteriormente, mente, terá lugar. Somos capazes de pressentir
porém, ele renunciou a essas noções e tornou-se eventos naturais, como um terremoto, ou que certas
católico romano. Assim passou para a história essa coisas poderão provocar um incêndio, ou que uma
curiosa exposição, mas a tese de raças pré-adâmicas represa está prestes a romper-se, através da
tem crescido em importância, devido a descobertas clarividência (vide). Isso não envolve qualquer
científicas que, na atualidade, como os muitos comunicação entre as mentes e, sim, entre a mente e
métodos modernos de descobrir a antiguidade de objetos naturais, por meios reais, embora ainda pouco
objetos (não apenas o método do carbono 14), têm compreendidos. Os clarividentes obtêm algum suces
feito essa idéia tomar-se necessária, a menos que so na predição de desastres naturais. Esse tipo de
consideremos o relato sobre Adão um mito antigo, precognição é relativo, embora real. Em outras
sem qualquer base histórica. Ver também sobre o palavras, nem todos os eventos assim preditos acabam
Dilúvio de Noé, primeira seção, Mudanças dos Pólos, acontecendo, embora haja uma certa porcentagem de
que fornece informações adicionais sobre o assunto. A acertos que mostra que há algo em operação.
segunda seção desse mesmo artigo fornece maiores Usualmente, esses meios são apenas naturais, embora
evidências sobre as muitas mudanças de pólos pelos atuem de modo misterioso.
quais, ao que tudo indica, a terra já passou. 4. A Mente Universal. A mente humana é capaz de
penetrar na esfera da mente universal (vide), obtendo
lampejos sobre os acontecimentos futuros. Os
acontecimentos assim previstos usualmente são
358
PRECOGNIÇÀO
fixados, embora haja exceções. Esse raciocínio nos mostra que existem as chamadas
5. O Poder da Mente. A mente humana é uma causas secundárias, pois nem tudo é causado por
entidade misteriosa e maravilhosa, que envolve muito Deus. Quando o homem causa alguma coisa,
mais do que o cérebro físico. O homem, como ser mediante o exercício de sua livre vontade, então é que
Deus previu tal ato, embora não tenha causado o
espiritual que é, é um ser cognoscivel, é um intelecto,
criado segundo a imagem do Grande Intelecto, Deus. mesmo ato. Por outro lado, Deus prevê algumas
Por ser esse tipo de ser, o homem é dotado de coisas, sendo ele mesmo a causa primária das
precognição, como parte de sua condição humana. mesmas. Ele sabe que certas coisas sucederão, porque
Podemos supor que um ser espiritual do nível dos ele mesmo as determinou de antemão. Os pensadores
anjos não tem dificuldades para ter conhecimento calvinistas destacam muito esse ponto; mas os
prévio de muitos acontecimentos, embora, natural arminianos dão muito peso às causas humanas,
mente, não de todos os acontecimentos. Não há razão previstas por Deus. Ambas as doutrinas são
para supormos que o homem, por ser um ente verdadeiras, não se excluindo uma à outra, e nem são
espiritual, também não tenha essa capacidade, que contraditórias. No entanto, quando os homens
isso não faça parte de suas capacidades naturais, sem insistem em ter uma teologia unilateral, que não leve
necessidade de haver inspirações divinas ou demonía em conta tanto a predestinação divina quanto o livre
cas para que elas se manifestem. arbítrio humano, então vêem apenas um aspecto da
6. Conceitos de Tempo. É possível que o futuro, em verdade, como alguém que insistisse em dizer que
algum sentido, não seja futuro. Se eu estivesse em um uma das moedas só tem a cara, mas não a coroa, ou
avião voando alto, poderia olhar ao redor e ver coisasvice-versa. Ver os artigos separados sobre o Determi
distantes do ponto bem abaixo do aparelho. No nismo e o Livre Arbítrio, quanto a explicações mais
entanto, o que eu visse, embora distante desse ponto completas acerca dessas difíceis questões, sobre as
central de referência, continuaria sendo parte da quais há tantos debates teológicos.
paisagem. Portanto, o que é distante na verdade é m . A Precognição e a Profecia
apenas parte de um eterno agora. Nesse sentido, as A profecia (vide) é uma realidade, embora seja uma
distinções entre o passado, o presente e o futuro ficam
manifestação relativa. Certas coisas previstas terão de
borradas. Na estrada da vida, por algum meio suceder, por terem sido divinamente ordenadas.
misterioso (como aqueles ventilados acima), posso Outras coisas podem tomar lugar ou não, porquanto
tomar consciência do que jaz mais à frente. Mas essa não são acontecimentos predeterminados. Assim, há
tomada de consciência pertence a um eterno agora, no causas secundárias que entram em cena; e também há
sentido mais estrito, e não a alguma situação em que oo caos, pois algumas ccisas sucedem sem qualquer
presente e o futuro são distintos um do outro. Ainda causa absoluta. Ver o artigo sobre o Acaso. A
precisamos aprender muita coisa sobre o que está profecia, pois, pode prever muitos, mas não todos os
envolvido no tempo. Quando aprendermos sobre acontecimentos. Um dos pontos mais problemáticos é
certas coisas, talvez compreendamos melhor o que é a a seqüência do tempo. Até mesmo os profetas do
precognição. Antigo Testamento, em certo sentido, estavam
equivocados, porquanto predisseram o estabelecimen
7. O Conceito dos Ciclos. Todas as coisas que to do reino de Deus para imediatamente depois do
acontecem, já aconteceram; e as coisas que estão retorno dos cativos judeus da Babilônia. Assim
acontecendo, haverão de acontecer de novo. A mente também, no livro de Apocalipse, o autor sagrado
é capaz de penetrar em ciclos que se repetem parece contemplar o fim quase imediato do império
(cósmicos ou pessoais) e assim pode prever aconteci romano, quando, de fato, o mesmo continuou por
mentos, através da analogia. diversos séculos após a sua morte. Sua predição de
8. A Presciência Divina, Determinada. Deus prevê que haveria sete reis, e então um oitavo que surgiria
que certas coisas acontecerão porquanto já predeter dentre os sete (que seria o anticristo), ao mesmo
minou que elas acontecerão. tempo em que o sexto estava então governando,
9. A Presciência Divina, Não-Determinada. Deus quando ele escreveu sua predição(ver Apo. 17:10,11),
prevê que algumas coisas acontecerão, embora na verdade estava equivocada, consistindo em um mal
também perceba que ele não será a causa das cálculo cronológico. Os intérpretes que insistem que
mesmas, o que significa que outras causas lhes darão essas coisas não podem acontecer na profecia bíblica,
origem, como coisas que os próprios homens fazem com que os reis em questão sejam reinos. Mas
produzem, mediante o exercício de seu livre arbítrio. isso envolve uma eisegese (vide), e não uma autêntica
10. A Influência Demoníaca. É possível que certos exegese.
fenômenos de precognição, entre os homens, tenham Os modernos místicos, mesmo quando bons, têm
sua origem na influência demoníaca, visto que os uma margem de erro entre vinte e cinco e trinta por
demônios, por serem entes espirituais, têm algum cento. Supomos que o diabo sabe melhor do que isso.
conhecimento dos eventos futuros. Porém, pensar que E isso por sua vez, mostra-nos que não há razão para
toda precognição humana é demoníaca, o que a suposição de que essa gente, sua maioria, opere atra
equivale a dizer que o homem, naturalmente, não vés da influência demoníaca. A profecia faz parte na
possui tal habilidade, é ridículo e contrário às tural da natureza humana. Os profetas bíblicos, sob a
evidências. Ver o artigo sobre a Parapsicologia. influência do Espírito de Deus, geralmente acertam
D. Relação Para com a Predestinação no centro do alvo. Porém, tudo quanto passa pela
Alguns teólogos e filósofos têm pensado que se mente humana envolve alguma margem de erro.
Deus prevê qualquer coisa que deve acontecer, então Talvez seja isso que Paulo queria dizer, quando
as coisas não podem ocorrer livremente, ou seja, sem afirmou: «...porque em parte conhecemos, e em parte
alguma causa divina. De acordo com essa posição, a profetizamos» (I Cor. 13:9).
precognição seria o equivalente à preordenação das IV. A Precognição na Bíblia
coisas. Agostinho livrou o mundo dessa maneira de Em primeiro lugar, há uma presciência divina que
pensar ao afirmar que Deus prevê que o homem agirá se encontra por detrás da profecia, o que comentamos
livremente, através de sua própria qualidade do livre no parágrafo anterior. Não há razão alguma para
arbítrio. Visto que Deus prevê esses livres atos pormos em dúvida a exatidão geral da profecia
humanos, então é que eles, realmente, devem existir. bíblica. Oferecemos um artigo separado sobre a
359
PRECOGNIÇÀO - PRECURSOR
questão e procuramos mostrar o que foi predito para a outras palavras, ninguém, nem mesmo Deus, seria
nossa própria época em geral. Ver o artigo intitulado capaz de predizê-lo perfeitamente. No entanto, nfl
Profecia: Tradição da, e a Nossa Época. tocante à revelação, ele precisou rejeitar essa opinião,
A onisciência é um atributo de Deus. Ver o artigo deixando-nos com um paradoxo e um mistério, no
sobre os Atributos de Deus. Naturalmente, a tocante à questão.
onisciência divina inclui a precognição. A Bíblia 4. Os socínios (vide) estribavam-se sobre a posição
ensina que coisa alguma está oculta do conhecimento filosófica de Ockham e, por isso mesmo, pensavam em
de Deus. Ver Jó 28:23,24; 37:16; Sal. 44:21; 139:1-4; um Deus finito, tentando mostrar que as Escrituras
Isa. 46:9,10; 48:2,3,5; Jer. 1:5; I Cor. 2:10. não ensinam tal coisa. Ver o artigo sobre Finito, em
Precognição, Fé e Salvação. Começam os proble seu terceiro ponto, O Deus Finito.
mas com o conhecimento prévio quando relacionamos 5. Agostinho defendia o livre-arbítrio, aó mesmo
a questão à fé humana, o veículo da salvação. Os tempo em que aceitava uma completa presciência
trechos de I Pedro 1:2 e Romanos 8:29 são divina, supondo que Deus prevê que o homem agirá
popularmente interpretados como se a fé humana livremente, ou seja, o homem deve agir desse modo.
fosse prevista por Deus, e então que, com base nessa Deus, pois, não é a única causa. Deus pode prever
fé, ele escolheu alguns para a salvação. Porém, coisas que acontecem por causa de outras causas.
quando lemos os versículos em pauta, descobrimos 6. O paradoxo (vide) ocorre quando não sabemos
que as pessoas é que foram conhecidas de antemão, e como Deus pode prever todas as coisas, ao mesmo
não a fé dessas pessoas. Esses textos são similares ao tempo em que elas não são necessariamente
que diz Amós 3:2: «De todas as famílias da terra determinadas. Tal ensino parece contradizer a si
somente a vós outros vos escolhi...» O povo escolhido mesmo.
ou conhecido de antemão é o povo amado por Deus. 7. O princípio de polaridade (vide). Quando
Desse modo, a palavra grega traduzida por «de consideramos problemas difíceis, precisamos levar em
antemão conheceu» não envolve o conhecimento que conta ambos os lados da questão. Nosso relaciona
Deus teria de que certas pessoas exerceriam fé e, sim, mento com Deus tem dois lados, o de Deus e o nosso.
que Deus conheceu essas pessoas de antemão, Se, por uma parte, a precognição divina parece tornar
tendo-as amado antes mesmo de virem à existência. inevitáveis os eventos previstos, por outro lado, alguns
Notemos, igualmente, o trecho de I Pedro 1:20, que deles ainda assim podem acontecer livremente. Esses
diz sobre Cristo o mesmo que é dito sobre os eleitos. são os dois lados da questão, e precisamos levar em
Cristo foi conhecido antes da fundação do mundo, ou conta os mesmos, se quisermos conhecer a verdade da
seja, foi considerado alvo do favor especial de Deus. O questão. Se nos apegarmos somente a um dos pólos da
termo grego prógnosis, apesar de significar, estrita questão, talvez isso nos deixe satisfeitos e em conforto
mente falando, o mero conhecimento prévio sobre mental, mas apenas meio informados.
alguma coisa, na Bíblia envolve mais do que isso, visto VI. A Precognição e a Parapsicologia
que as pessoas que foram conhecidas de antemão são
um povo especial para Deus, e isso nada tem a ver Uma das capacidades humanas que está sendo
com conhecer apenas que tais pessoas viriam a exercer investigada pela emergente ciência da parapsicologia
fé. (vide) é a capacidade natural que o homem tem de
prever o futuro. Efetivamente, o mais comum
Por outra parte, não podemos determinar a relação acontecimento psíquico é o sonho precognitivo. Ver o
éntre a fé e a salvação somente com base no uso que a artigo geral sobre os Sonhos. O autor deste artigo não
Bíblia faz da palavra precognição, ou qualquer de tem tido apenas alguns, mas muitos desses sonhos. E
seus sinônimos. Por todas as suas páginas, a Bíblia os estudos acerca dos sonhos mostram a universali
apela aos homens para que se arrependam e creiam; e dade do fenômeno. As experiências intuitivas,
eles devem ser capazes de fazer isso, pois, de outra durante as horas despertas, também fornecem-nos a
sorte, não poderiam ser moralmente responsabiliza compreensão prévia sobre o futuro. É inútil dizer que
dos se não quisessem arrepender-se e crer. Apesar da todos esses fenômenos são provocados pelos demô
fé ser um dom de Deus (o que fica implícito em Efé. nios. Se os demônios são a causa da precognição
2:8, embora não seja diretamente afirmado), todos os humana simples, então todos os seres humanos são
homens podem exercer fé, porquanto esse é um dom possuídos pelos demônios. Quanto a detalhes sobre
geral do Espírito de Deus, que pode ser cultivado ou como a precognição faz parte do campo mais
anulado, dependendo do exercício do livre arbítrio de amplo da parapsicologia, ver o artigo sobre esse
cada indivíduo. Entramos nos detalhes da questão, assunto. (AM B C E NTI Z)
ventilando os muitos prós e contras, em dois artigos
diferentes: Determinismo e Livre - Arbítrio. Ver
também sobre a Eleição. PRECONCEITO
V. Algumas Considerações Filosóficas a Respeito Ver o artigo intitulado Discriminação.
1. O tomismo (vide) assevera que Deus conhece os
nossos atos futuros, embora sejam livres, porquanto
ele conhece os acontecimentos, não através das suas PRECURSOR
condições, nos eventos anteriores, mas diretamente, No grego, pródromos, um vocábulo que ocorre
neles mesmos. Deus é o centro do círculo cósmico, somente por uma vez em todo o Novo Testamento:
eqüidistante a todos os seus pontos, e o tempo é Heb. 6:20. Esse termo indica alguém que é enviado
inteiramente irrelevante para o conhecimento de Deus adiante de outrem, a fim de cumprir alguma espécie
sobre as coisas. de missão, iniciada pelo precursor e completada pelo
2. O scotismo (vide) rejeita esse ponto de vista, de outro. Assim, um diplomata que prepara o caminho
clarando que Deus conhece o futuro porque suas con para um visitante real ou presidencial é um precursor.
dições determinadoras se encontram em sua vontade. Um profeta que aparece antes de alguma grande
Isso elimina qualquer conceito de liberdade Humana, figura, à qual anuncia, em seu propósito e intuito
e concorda com o número oito do primeiro ponto, espiritual, ou a fim de preparar as pessoas para
acima. receberem a sua mensagem com maior compreensão,
3. Ockham afirmava que o futuro (filosoficamente é um precursor.
falando) é mais ou menos intermediário e livre. Em Precursores nas Escrituras:
360
PRECURSOR - PREDESTINAÇÃO
1. Todos os profetas verdadeiros preparam os eternidade definirá para nós esses detalhes. Notemos
homens para a habitação do Espírito e para a Heb. 9:23,24 quanto ao fato de que, na epístola aos
mensagem de Deus, nas almas dos homens. Hebreus, o templo terreno aparece como símbolo do
2. Cristo é o grande precursor dos remidos, os quais templo celestial. Jesus, por causa de sua grandeza,
haverão de residir nos mundos celestiais. Cristo não poderia mesmo ocupar algum lugar inferior ou
cumpriu a sua missão na terra, e foi para aquelas secundário. Entrou diretamente no Santo dos Santos.
habitações celestes antes deles. O trecho de Hebreus Assim também o faremos, quando da glorificação, o
6:20 chama-0 claramente de «precursor», e esse, que significa, finalmente, a participação nas perfei-
como já dissemos, é o único uso claro da palavra ções e atributos de Cristo, baseada essa participação
grega, em todo o Novo Testamento. Entretanto, a em sua própria natureza. Mas essa glorificação é
passagem de João 14:2 ss, além de vários outros textos gradual, sendo, de fato, o avanço da alma para a
bíblicos, fornecem-nos a essência da missão de Cristo. recepção de «toda a plenitude de Deus», conforme
3. João Batista foi o precursor de Jesus Cristo. Mat. encontramos em Efé. 3:19. Visto que há uma
3. infinitude de plenitude, assim também há uma
4. O falso profeta será o precursor do anticristo infinitude de enchimento. Deus é infinito, e por toda a
(Apo. 13:11 ss). O falso profeta será a besta «saída da eternidade chegaremos a compartilhar, em grau cada
terra», ao passo que o anticristo será a besta «saída do vez mais alto, de suas perfeições e atributos, e isso
mar». Ver também os artigos sobre Falso Profeta e porque somos seus filhos verdadeiros. Cristo nos
Anticristo. outorgou o «modelo» de como essa participação tem
Qualificações de um Precursor: lugar.
Novidade do conceito do precursor. O povo de
1. Propósitos similares aos da pessoa anunciada Israel nunca recebeu permissão de entrar no Santo
pelo precursor (Mat. 3). dos Santos. O próprio sumo sacerdote dos hebreus só
2. Autorização (Mal. 3:1; 4:5), a par com penetrava ali uma vez por ano, mas jamais como meio
predições, no sentido bíblico, conforme se deu no caso de preparar o povo para tal entrada. O sumo
de João Batista. sacerdote do A.T. era apenas «representante» do
3. Transmissão de uma missão divina, com uma povo, que obtinha para eles o favor divino. Cristo,
mensagem definida (Mal. 4:6; Luc. 1:76-79). como nosso sumo sacerdote, tem a função diferente de
4. A realização de uma missão preliminar (Mat. preparar o caminho para seu povo entrar onde ele
3:1-17). entrou. Isso é algo que nunca foi antecipado pelo
5. A íntima identificação com a pessoa representa sistema levitico.
da pelo precursor (João 1:19-24). Tornado sumo sacerdote. Consideremos os pontos
Um precursor pode ser uma pessoa, mas também seguintes: 1. por nomeação de Deus (ver Heb. 5:4); 2.
um acontecimento, como no caso daqueles eventos por causa do fato de ter-se completado com êxito a
que serão os precursores da parousia (vide). sua missão terrena (ver Heb. 1:9 e 4:10); 3. porque,
em sua missão terrena, ao identificar-se com os
homens, ele aprendeu a sentir e a conhecer suas
PRECURSOR, JESUS COMO fraquezas, de tal modo a poder mostrar-se simpático
para com eles e interceder eficazmente em seu favor
Ver Heb. 6:20. (ver Heb. 4:15); 4. porque ele ofereceu o sacrifício
No grego é usado o vocábuloprodromos, isto é, o «ir perfeito (ver Heb. 5:1,3 e 9:23); 5. porque suas
adiante», mas que é usado pessoalmente para falar de promessas são melhores, oferecendo-nos um pacto
quem «entrou adiante». A idéia é de alguém que é melhor que o da dispensação do A.T. (ver Heb. 8:6).
«pioneiro no caminho», que se torna o líder que outros
devem seguir, e que devem atingir o mesmo «destino»,
como alguém que foi à frente. Essa palavra é usada PREDESTINAÇÃO
somente aqui, em todo o N.T. Esse vocábulo é usado Ver o artigo sobre Determinismo (Predestinação).
nos escritos clássicos para indicar «escoteiro», alguém
que espia a terra e a prepara para a chegada das
tropas. Posto que Jesus entrou no Santo dos Santos, PREDESTINAÇÃO (e Urre-Arbítrio)
então até ali deverão chegar também os seus remidos. Este artigo tem somente o intuito de suplementar
Encontramos a mesma idéia em Heb. 10:19. Vários outros artigos, apresentados sob títulos separados.
intérpretes acreditam que os céus são pintados como Quanto a informações completas sobre questões
arquétipo do templo terreno. Tem muitos comparti relativas à predestinação, à eleição e ao livre-arbítrio
mentos, — como o templo terreno tinha o átrio dos ver os seguintes verbetes: Determinismo, Eleição e
gentios, o átrio das mulheres, o Lugar Santo e o Santo Livre-Arbít rio.
dos Santos. Isso equivale, em significado, aos «lugares Alguns fatores adicionais a serem considerados:
celestiais» mencionados por Paulo, comentados no
NTI em Efé. 1:3. Ver também as «muitas mansões»
aludidas'por Jesus, e comentadas em João 14:2, no Esboço:
NTI. Os antigos nunca concebiam um «céu» só, uma I. Textos de Prova
única «habitação espiritual», e, sim, muitas esferas ou II. Fatores Interpretativos
reinos espirituais. Ora, Jesus, na posição de nosso III. Fatores Filosóficos
precursor, entrou no «mais alto céu», a saber, no IV. Fatores Psicológicos
Santo dos Santos. Ali ele aguarda por nós. Isso não V. Uma Possível Reconciliação
significa que o mero ato da morte nos conduzirá até
ali. Antes, penetramos nos «lugares celestiais», na VI. O que é Promovido pela Predestinação?
grande casa de Deus, sobre a qual Cristo governa I. Texto« de prova
como Filho. Mediante o processo de glorificação é que «...Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os
finalmente, entraremos na própria presença de Deus, homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimen
porquanto quem não estiver perfeito, não poderá to da verdade... Cristo Jesus, homem, o qual a si
entrar ali. Contudo, todos os remidos poderão estar mesmo se deu em resgate por todos...» (I Tim. 2:3-6).
no seu «templo», e assim estarem «com Cristo». A 1. Deus é Salvador — I Timóteo 2:3.
361
PREDESTINAÇÃO
2. Esse Salvador deseja que todos os homens sejam afirme que nem todos os homens podem ser salvos.
salvos — I Timóteo 2:4. 3. Se Deus é Salvador, disso conclui-se que todos os
3. Cristo, ao cumprir a vontade do Pai, fez expiação homens podem ser salvos. Deus não deseja meramen
por todos os homens — I Timóteo 2:6. te que isso suceda, sem envidar qualquer esforço nesse
4. O pano de fundo histórico do texto requer a sentido.
plena aceitação da universalidade ali ensinada. O 4. A fim de executar o intuito universal do Pai, o
livro foi escrito contra certa heresia gnóstica que Filho fez uma expiação universal (vs. 6). Isso significa
promovia atitudes exclusivistas. Os pensadores que, em contraste com o exclusivismo dos gnósticos,
gnósticos classificavam os homens como segue: todos os homens, de fato, podem ser salvos. A
a. Os hílicos: A palavra vem do grego e significa provisão é adequada para essa finalidade, e tem
«materialista». De acordo com os gnósticos, os precisamente esse intuito.
indivíduos hílicos são aqueles totalmente envolvidos «...e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não
com as questões materiais, ao ponto de nunca somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do
poderem livrar-se de si mesmos. Tais pessoas não mundo inteiro» (I João 2:2).
podem ser salvas, porquanto são completamente É impossível torcer esse versículo de forma a
dominadas pelo princípio da materialidade. Esses torná-lo harmônico com qualquer forma de exclusi
indivíduos haverão de perecer na conflagração final vismo. Tal impossibilidade, de qualquer ponto de
que porá fim ao próprio princípio da materialidade. vista sensato, é demonstrado pelo pano de fundo
b. Os psíquicos-. O termo grego significa «espiri histórico do versículo. Novamente, a heresia gnóstica
tual»; mas os gnósticos usavam-no para referir-se a está em foco. Os gnósticos diziam que o batismo de
uma espiritualidade secundária, que pode almejar a Jesus foi o instante, dentro do tempo, em que o aeon
uma glória apenas secundária. Os psíquicos não ou anjo ou espírito celeste desceu sobre ele. E esse
podem aspirar à glória dos verdadeiramente espiri teria sido o poder impulsionador que, subseqüente
tuais e iniciados, os quais virão a participar da mente, cumpriu o propósito da missão salvatícia de
natureza divina. Os gnósticos supunham que os Cristo. Todavia, eles negavam totalmente a realidade
profetas do Antigo Testamento e um número limitado da expiação. Essa é a razão pela qual o trecho de I
de outros, haveriam de obter essa glória secundária. João 5:6 afirma que o Filho de Deus veio através da
c. Os pneumáticos: A palavra grega significa água e do sangue e não somente através da água. A
«espiritual» em sentido pleno, e os gnósticos missão de Cristo dependeu tanto da água (seu batismo
usavam-na para indicar os eleitos, os verdadeiramente e unção pelo Espírito) quanto do sangue (sua obra
espirituais, que seriam eles mesmos. Conforme expiatória). Isso posto, os gnósticos negavam o valor
ensinavam, somente tais indivíduos seriam capazes de da expiação de Cristo como um princípio, bem como
obter a salvação no sentido mais completo e elevado; o seu alegado objetivo universal, a saber, todos os
número de pneumáticos seria extremamente pequeno. homens.
Segundo pensavam os gnósticos, o número dos Portanto. João diz ali que a expiação realmente vale
psíquicos pode ser maior; mas a grande maioria dos para os «ossos pecados. mas também para os pecados
homens compõe-se dos hílicos. Esses não podem ser do mundo inteiro. Isso concorda com o que diz Paulo,
remidos, pelo que a mensagem espiritual não se em I Timóteo 2:6. Cristo deu-se a si mesmo como
aplicaria aos tais. resgate «por todos». Ambos esses versículos argumen
Paralelos óbvios com o Calvinismo: tam contra o exclusivismo dos gnósticos e contra
1. Somente um pequeno número de pessoas pode qualquer forma de exclusivismo, como é o caso do
ser salvo. calvinismo extremado. Foram escritos especificamen
2. Esse pequeno grupo compõe-se exatamente te p'ara denunciar a interpretação exclusivista do
daqueles que anelam por ensinar que eles são os evangelho. Ver o artigo separado sobre o Gnosticis-
eleitos, a saber, os calvinistas confirmados e mais mo.
alguns outros poucos. II. Fatores interpretatlvos
3. O evangelho consiste em boas novas somente 1. O nono capítulo da epístola aos Romanos
para esse grupo exclusivo, embora consista em más contradiz a passagem que acabamos de comentar. Ela
novas para o resto, formado pela grande maioria dos ensina tanto a eleição absoluta e incondicional quanto
homens. a reprovação ativa. Se tivéssemos de depender
somente de textos de prova, a fim de entender a
Mas. o ensino de I Timóteo 2:3-6 é contrário ao verdade, e se contássemos somente com esse trecho de
exclusivismo, em qualquer de suas variações. Romanos, teríamos de ser calvinistas radicais. É inútil
Vejamos: tentar interpretar esse trecho de Romanos de outro
1. Antes de tudo, observemos que essa passagem foi modo. E o método de textos de prova não é o único
especificamente escrita contra qualquer exclusivismo. que nos permite obter conhecimento da verdade.
Portanto, dividir Deus e dizer que seus decretos dizem 2. A existência de uma passagem como o nono
respeito a diferentes categorias e representam capítulo de Romanos, no Novo Testamento, é
diferentes graus de interesse divino é algo contrário ao requerida pelas inadequações de certos aspectos da
texto. Deus, como Salvador, e Cristo, sendo o autor teologia judaica. O Novo Testamento arrastou para si
da expiação universal, garantem que Deus deseja que muito do pensamento judaico e do Antigo Testamen
todos os homens venham a ser salvos. Isso concorda to. embora também ultrapasse a um e a outro. Ora. a
plenamente com a missão de Cristo e não somente é teologia judaica era fraca quanto às causas secundá
sugerido por essa missão. Aqueles intérpretes que rias. Isso pode ser ilustrado por uma história extraída
afirmam que os decretos de Deus foram baixados em do Talmude. Certo dia. um rabino viu um homem
graus variados, de tal modo que ele realmente deseja muito feio e aleijado. Chegou mesmo a rir-se, porque
algo, pelo que também cumpre esse desejo, mas que o homem era uma daquelas piadas da natureza. Mas
quer outras coisas menos, — pelo que as deixa sem o aleijado reagiu com estas palavras: «Deus foi quem
cumprimento, promovem aquele exclusivismo que é me fez assim». Isso foi devastador para o rabino, que
combatido pelo texto. começou a pedir perdão pelo que havia feito. Não
2. Deus é retratado como Salvador, nesse texto, entrou na cabeça do rabino que Deus não era,
especificamente a fim de negar qualquer doutrina que necessariamente, responsável pela condição daquele
PREDESTINAÇÃO
homem. Segundo a sua teologia, Deus era a única os detalhes envolvidos foram esclarecidos. Assim,
causa de tudo. Mas, se o Senhor é a única causa de falamos sobre a divindade e a humanidade de Cristo,
tudo, então ele também é a causa direta do mal. O mas não temos meios para dizer como ambas essas
trecho de Romamos 9:14 reconhece essa conseqüência, naturezas podem conviver em uma mesma pessoa. O
embora não tente dar uma resposta adequada. O vs. livre-arbítrio e a predestinação também podem ser
19 do mesmo capítulo aproxima-se de novo dessa explicados desse modo. Essas duas idéias, por assim
conseqüência, mas, novamente, não lhe dá resposta. dizer, são os pólos extremos de uma verdade maior
O fato, porém, é que quando fazemos de Deus a única que, por enquanto, ultrapassam à nossa capacidade
causa, negligenciando as causas secundárias, não há de explicar. Por igual modo, Deus usa o livre-arbítrio
como escapar do corolário necessário de que Deus é a humano sem destruí-lo, embora não sabemos dizer
causa primária do mal. A resposta dada em Romanos como.
é a mesma que foi dada por aquele aleijado: «Deus fez 2. Polaridade. Os antigos explicavam de modo
as coisas dessa maneira e ninguém tem o direito de muito inadequado a natureza do mundo. Suas idéias
objetar». Ver Romanos 9:20-22. Porém, o que essa eram parciais e seus mapas eram desastrosos, mas
resposta não reconhece é que estamos tratando com eles pensavam que sabiam muita coisa. As grandes
um pouco de teologia inadequada, que é corrigida em verdades, tal como o próprio mundo, têm dois pólos,
outros trechos do Novo Testamento (como naqueles os quais, segundo nos parece, são contraditórios um<
versículos de I Timóteo e de I João). com o outro. Se explicarmos a natureza do mundo
Torna-se patente, pois, que o objetivo do nono físico, mas fizermos alusão a somente um dos pólos,
capítulo de Romanos não é dar resposta ao próprio tal explicação, por mais verdadeira que seja, até onde
Deus, mas apenas objetar a uma teologia um tanto vai, será apenas parcial. Há dois pólos na doutrina da
inadequada acerca de Deus. Vários versículos do predestinação e do livre-arbítrio. Precisamos levar em
Novo Testamento afirmam a necessidade dessa conta a predestinação, como o lado divino, porquanto
objeção. o homem caiu demais para poder socorrer-se a si
3. Além daqueles versículos que salientam a mesmo. Precisamos do livre-arbítrio, porque o homem
teologia inadequada do nono capítulo de Romanos (e não é trazido de volta a Deus como um autômato. Um
de versículos paralelos), devemos notar que há autômato não é responsável pelos seus atos,
aqueles trechos do Novo Testamento que emprestam porquanto foi adredemente programado. Um homem
ao evangelho uma universalidade que fora anulada programado nem seria um homem. A mortalidade
totalmente pelo exclusivismo da teologia anterior. depende da realidade do livre-arbítrio humano.
Temos a narrativa da descida de Cristo ao hades, a 3. A manipulação de textos de prova. É legítimo
fim de pregar o evangelho aos mortos desobedientes (I usar textos de prova extraídos da Bíblia. Porém, a
Ped. 3:18-4:6), com o resultado de que aqueles que são busca pela verdade deve ir além dessa prática. Em
julgados conforme devem ser julgados os homens na primeiro lugar, todos os textos de prova estão sujeitos
carne, contudo possam viver de acordo com Deus, no à interpretação, a qual pode ser distorcida. Em
espírito (I Ped. 4:6). O trecho de Efésios 4:8-10 segundo lugar, a Bíblia não nos fornece uma teologia
mostra-nos que a descida de Cristo ao hades e sua sistemática, completa e absoluta. Os dogmas huma
subseqüente ascensão até os céus, teve o mesmo nos é que dizem isso. A Bíblia não afirma isso a seu
propósito: fazer Cristo tornar-se tudo para todos, isto próprio respeito. Portanto, há outras fontes da
é, «encher todas as coisas». Essa doutrina não é verdade, que é tão vasta quanto o próprio Deus.
antecipada na teologia do nono capítulo de Romanos, Nenhum livro ou biblioteca pode conter toda a
e pertence a uma teologia progressiva, mais verdade de Deus. Minha única ortodoxia é a verdade.
amadurecida, que vê além do exclusivismo próprio do A insistência sobre o uso de textos de prova, como a
antigo judaísmo. única maneira de se chegar à verdade, deixa-nos
4. Tal como confessamos que o Novo Testamento presos à necessidade de interpretarmos tudo quanto
ultrapassa à teologia do Antigo Testamento, por igual lemos na Bíblia. Cada texto de prova, se isolado do
modo devemos confessar que trechos do Novo resto da Bíblia, é respondido por algum texto de prova
Testamento ultrapassam a outros trechos, quanto à contrário, se também for usado isoladamente. Para
profundeza teológica, porquanto a revelação bíblica é exemplificar, — o nono capítulo de Romanos é
progressiva e que são os dogmas humanos que deixam oposto ao segundo capítulo de I Timóteo. Se não
estagnada a teologia e não o propósito de Deus. ultrapassarmos ao sistema de debates que só emprega
Quando Paulo disse: «Eis que vos digo um mistério», textos de prova, ficaremos sempre com uma teologia
isso equivalia a dizer: «Eis um ponto teológico que inadequada (conforme se dá com os versículos acima
ultrapassa a tudo quanto foi ensinado até este ponto». aludidos, em I Timóteo e I João), e também nunca
Se não fosse assim, ele não poderia ter falado em traremos novas luzes a qualquer problema.
mistério. Observemos que a passagem de Efésios 4. Eisegese. Todos os proponentes de teologias
1:9,10 contém o mistério da vontade de Deus; o fato sistemáticas praticam a eisegese. Em outras palavras,
de que, em algum distante futuro, ele unirá todas as incluem nos textos elementos que não fazem parte
coisas em torno de Cristo. Isso não pode indicar genuína desses textos. Desse modo, são capazes de
apenas que ele haveria de unificar judeus e gentios, na manter um sistema teológico fechado. Isso fazem a
Igreja cristã, porquanto isso já vinha sendo anunciado qualquer custo, mesmo que envolva a desonestidade
desde o Antigo Testamento e Paulo não teria dito que na interpretação das Escrituras. Tanto os calvinistas
isso é um mistério. Um mistério, de acordo com a quanto os arminianos têm-se tornado culpados dessa
Bíblia, é algum segredo divino que acabou de ser prática, porquanto o Novo Testamento é mais amplo
revelado. do que qualquer desses dois sistemas.
m . Fatores filosóficos IV. Fatores psicológicos
1. Ao manusearmos as verdades espirituais, 1. A maioria das pessoas interpreta de acordo com
precisamos manter em mente a possibilidade de que os fatores psicológicos já existentes. O conforto mental
dois lados de uma mesma verdade podem parecer (a necessidade de evitar questões difíceis) é um desses
contraditórios. Nesse caso, estaremos tratando com fatores. Os calvinistas radicais sentem o desastre
um paradoxo, isto é, um parecer que, aparentemente, inerente em uma missão de Cristo que falhou, se,
é autocontraditório, devido ao fato de que nem todos verdadeiramente. Deus amou a todos os homens e fez
363
PREDESTINAÇÃO - PREDICÀVEL
provisão para uma expiação universal. Essa provisão há que duvidar que o propósito restaurador da
seria inútil se, de fato, o Senhor tivesse de salvar vontade de Deus, contido em um mistério, consiste
apenas a alguns poucos, deixando o resto condenado. em amor e bondade. Que dizer, pois, acerca do
Assim, os calvinistas radicais obtêm conforto mental julgamento final? Só podemos dizer que o próprio
promovendo uma teologia que diz, virtualmente: «A juízo divino é um meio para a restauração, ou seja,
missão de Cristo não falhou porque nunca teve um um dedo da amorosa mão de Deus. Desse modo, até a
objetivo universal». ira de Deus faz parte desse amor, realizando algo de
2. Porém, a busca por esse conforto mental cria um construtivo. Não se trata de um fator separado e
corolário que é contrário ao evangelho. Os homens contrário. Lembremo-nos do princípio da polaridade.
devem ficar, necessariamente, insensíveis diante dos O amor e a ira de Deus parecem verdades opostas,
condenados. Os arminianos procuram interessar-se mas são apenas pólos de uma mesma verdade. Essa
mais pelos perdidos e conseguem o intento afirmando verdade envolve boas novas para os homens.
o intuito universal do evangelho. Os universalistas, Mediante a exegese de I Pedro 4:6, podemos atingir a
que se preocupam principalmente com o bemestar dos idéia de que o próprio julgamento divino é um meio
homens, fazem a predestinação apoiar o propósito para se chegar à restauração final.
salvatício universal e assim fazem com que, no fim, Um Humanismo Cristão. Um certo amigo meu,
todos os seres humanos terminem salvos. Esse tipo de professor em um seminário evangélico, descreveu essa
teologia busca apenas conforto mental. Todos nós teologia como um humanismo cristão. Esse título
extrapolamos para a Bíblia, por causa de fatores também me satisfaz. Diz a mesma coisa que o trecho
psicológicos, aquilo que desejamos ver ali. Todos nós, de João 3:16: «Porque Deus amou ao mundo de tal
pois, tornamo-nos culpados de eisegese. maneira que deu o seu Filho unigénito...» Aquilo que
V. Uma poulvd recondliaçio potencialmente é o melhor em mim. aquilo que é mais
Essa reconciliação consiste na minha eisegese e no digno de ser promovido, é exatamente aquilo que é
meu conforto mental! promovido pelo poder predestinador de Deus. A
A predestinação absoluta poderia exprimir uma preocupação mais intima desse poder predestinador é
verdade se, correspondendo a isso, tivéssemos a a nossa transformação segundo a imagem do Filho
provisão da morte de Cristo em favor dos perdidos, (Rom. 8:29), sendo essa a essência mesma da
capaz de conferir-lhes uma glória secundária, isto é, salvação. Através dessa transformação, nos intermi
inferior àquela dos eleitos. Somente então a missão de náveis ciclos da eternidade, poderei vir a participar da
Cristo seria bem - sucedida em sentido absoluto, natureza divina (II Ped. 1:4; Col. 2:10), mediante o
embora em dois graus diferentes. Essa idéia me dá 3:18). poder transformador do Espírito de Deus (II Cor.
conforto mental, pois resolve uma questão que fica
sem solução, de acordo com o sistema calvinista ou
arminiano. Ademais, essa idéia evita o exagero dos PREDICADO
universalistas, que pensam que todos os homens serão Usada como um substantivo, essa palavra significa
salvos, afinal de contas. E também estabelece, aquilo que é asseverado acerca de um assunto
conforme deve ser, a diferença entre os eleitos e os não qualquer, ou um termo que indica alguma proprieda
eleitos, embora faça a missão de Cristo beneficiar a de. Na metafísica, indica um atributo qualquer de
todos os seres humanos. Essa abordagem pode incluir uma substância. Verbalmente, predicar indica o ato
uma exegese genuína, porquanto o mistério da mediante o qual se atribui alguma qualidade a
vontade de Deus parece exigir alguma conclusão. alguma coisa.
Ver a minha exposição sobre a questão, no Novo
Testamento Interpretado, em Efésios 1:9,10. Nesta
enciclopédia vou um pouco além do que digo naquela PREDIÇÃO
exposição, onde declarei que se os perdidos sofrèrão Há duas palavras gregas envolvidas neste verbete:
uma perda infinita, sem importar quais outras
vantagens eles venham a obter, então isso degrada ao 1. Proéipon, «dizer de antemão». Palavra que é
Redentor-Restaurador. Na verdade, não se pode falar usada por duas vezes: Atos 2:31 e Gál. 3:8.
em degradação, quando se trata de qualquer 2. Prolégo, «falar de antemão». Termo usado por
realização de Cristo, em sua missão a este mundo. três vezes: II Cor. 13:2; Gál. 5:21 e I Tes. 3:4.
Lamento que declarações assim tenham entrado em A palavra pode apontar para alguma profecia
meu comentário. Minha maneira de pensar, pois, (vide), ou meramente alguma informação dada antes
evoluiu para melhor, o que aqui expresso. do tempo. Um profeta falava acerca do futuro ou em
VI. O que é promovido pda predestinação? suas advertências ou em suas promessas. Suas
palavras, porém, tinham o intuito de ter uma
Os calvinistas extremados têm deixado de reco aplicação e um uso contemporâneos. Todavia, a
nhecer que o homem é um poderoso ser criativo e que, profecia não visa à satisfação de nossa curiosidade e,
apesar da queda, ocupa uma posição não muito sim, para nos instruir. Algumas vezes, uma profecia
inferior à dos anjos. Ê lamentável que eles tenham ajuda-nos a dar o passo seguinte, porquanto ela nos
posto o poder predestinador de Deus à base da permite ver o alvo distante. Escrevi um livro sobre
condenação, seguindo a inadequada teologia do profecia que talvez interesse ao leitor: Profecias para o
judaísmo e que chega a entrar no Novo Testamento Nosso Tempo: Quarenta Anos Finais da Terra,
em alguns lugares. E os arminianos caem no erro de publicado por Nova Época, São Paulo. Damos um
anular, por meio de sua eisegese, a atividade sumário para os eventos esperados para o futuro
predestinadora de Deus para a salvação. E os próximo.no artigo intitulado Profecia: Tradição da, e
universalistas exageram ao remover a distinção a Nossa Época.
bíblica entre os eleitos e os não-eleitos. Pelo menos,
estes últimos têm visto que isso redunda em um bem e
não em um mal, embora não corresponda ao ensino
bíblico. Quanto a nós, faríamos bem em reconhecer o PREDICÀVEL
poder predestinador de Deus por detrás da salvação, À base dessa palavra está o termo latim praedicare,
promovendo tudo quanto é bom para o homem, tudo «proclamar», «afirmar». O que é predicável é aquilo
quanto contribua para o bemestar e a harmonia. Não que pode ser afirmado sobre qualquer coisa, como as
PREEMINÊNCIA - PREEXISTÊNCIA
descrições acerca de uma espécie, as categorias pós-exilio não se aplicam ao reino do norte, Israel, e
filosóficas, etc. Para Aristóteles, os predicáveis eram ao cativeiro assírio, visto que não houve história
tipos de relações que podem descrever algum termo pós-exílica do reino do norte das dez tribos. Ver os
universal, como gênero, espécie, diferença específica, artigos gerais sobre Cativeiros (Assírio e Babilónico).
propriedade e acidente contingente. Nessa conexão,
ele não usou especificamente o termo «espécie». Mas
Porftrio (vide) trouxe a questão à tona, em sua PREEXISTÊNCIA DA ALMA
discussão na obra Árvore (o que é ilustrado no artigo Tenho apresentado um estudo completo sobre as
acerca dele). Para ele, os predicáveis são em número idéias atinentes à origem da alma, no artigo intitulado
de cinco, conforme se disse acima. Alma, primeira seção (criacionismo; traducionismo;
O uso dos predicáveis serve tanto para descrever fulguração; eternidade; preexistência; emanação). A
quanto para limitar um assunto qualquer. Se própria Bíblia não diz muita coisa que nos permita
Aristóteles quisesse definir um círculo, com os seus deduzir quando a alma humana começou. De acordo
quatro predicáveis, teria digo algo parecido com isto: com alguns estudiosos, a declaração, em Gên. 2:7 de
1. Ê um plano curvo, cada ponto extremo do qual é que Deus soprou no homem o sopro da vida, não se
eqüidistante de um ponto central; 2. seu formato é tal refere à alma, visto que essa doutrina só veio a fazer
que o ângulo no segmento que subentende um parte do pensamento hebreu na época dos salmos e
diâmetro é um ângulo reto; 3. é um plano curvo; 4. dos profetas. A lei de Moisés nunca apela à vida
pode ter um diâmetro específico, com 10 cm, que o após-túmulo, nem como lugar de castigo em potencial
distingue de outros círculos. para os perdidos, e nem como lugar de recompensa
para os retos. Isso posto, na história da criação, não
encontramos qualquer declaração sobre a origem da
PREEMINÊNCIA alma. Mas o trecho de Gên. 2:7 tem sido
Essa palavra vem do latim, prae, «antes», e «cristianizado» em apoio ao criacionismo. Porém,
eminere, «destacar-se», indicando assim alguma mesmo que a alma humana tenha vindo à existência
pessoa ou coisa que é distinguida de todas as pessoas e mediante um ato especial de criação, naquela ocasião,
coisas devido à sua'natureza superior, aos seus isso não significa que as almas subseqüentes também
atributos ou à sua importância. Usualmente, esse estejam vindo à existência devido a um ato especial
termo incorpora a idéia de governo, porquanto aquilo divino de criação, por ocasião da concepção ou
que tem preeminência também governa outras coisas. nascimento.
No terreno teológico, esse termo é aplicado a Deus e a A doutrina da preexistência da alma é comum no
Cristo, ou então à Trindade, seres divinos que se budismo, no hinduísmo, em várias religiões egípcias e
mostram preeminentes em honra e em poder, além de na filosofia grega (pitagoreanos, vários filósofos
ocuparem o primeiro lugar na escala do ser. socráticos, nos escritos de Platão e do neoplatonismo).
O gnosticismo (vide) forçou os apóstolos de Cristo e O judaísmo helenista adotou essa idéia, pelo que
os cristãos que se seguiram a se manifestarem muitos judeus a têm defendido, especialmente aqueles
enfaticamente acerca da preeminência de Cristo. Os das tradições místicas, como os cabalistas. Os pais
gnósticos concebiam um vasto exército de seres alexandrinos da Igreja cristã (Pantaeno, Clemente e
angelicais, arranjados em uma hierarquia de poder e Orígenes), como também muitos da Igreja oriental,
glória, e Cristo não ocuparia, necessariamente, o têm advogado essa noção. Tal ensino aparece com
primeiro lugar. Trechos bíblicos que ensinam a freqüência no Talmude. Essa doutrina tinha ampla
preeminência de Cristo, são: Col. 1:15-18; João circulação nos círculos cristãos até o tempo do Sínodo
1:1-19; Heb. 1:3, 20-23; 4:15,16. — A preemi de Constantinopla (533 D .C.), que a rejeitou. Aqueles
nência de Cristo resulta de sua posição como Criador que acreditam na reencamação (vide) naturalmente
e Redentor. optam por ela; mas os pais alexandrinos da Igreja a
aceitavam sem essa idéia paralela. Atualmente, os
mórmons ensinam essa doutrina, embora esse grupo
PRÊ-EXlLIO, PÔS-EXtUO não acredite na reencamação, excetuando em casos
Essas duas palavras indicam uma maneira genérica especialíssimos. Alguns trechos bíblicos são apresen
de dividir a história do reino de Judá de acordo com o tados em defesa da idéia, como Pro. 8:22-31, mas
tempo que houve antes e depois de 586 A.C., o ano em alguns aplicam essas passagens exclusivamente ao
que o povo de Judá foi levado para o cativeiro na Logos pré-encamado, a Sabedoria de Deus. O trecho
Babilônia. Setenta anos depois, um remanescente de Jer. 1:5 é um versículo mais forte, visto que ali,
voltou a Jerusalém, a fim de dar prosseguimento ali à como é óbvio, a pessoa em foco é o profeta humano:
vida nacional. O período pré-exílico inclui as fases «Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
pré-histórica, patriarcal, mosaica, dos juizes e conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e
monárquica. O período pós-exílico armou o palco te constituí profeta às nações».
para a cultura helenista do judaísmo, quando o reino Porém, aqueles que não querem ver nesse trecho a
do norte (Israel) não mais existia, e quando o que preexistência da alma asseveram que temos aí apenas
restou do mesmo já havia sido incorporado em Judá, uma declaração do conhecimento prévio de Deus, e
que então se tornara o único Israel que havia. Esse não que a alma de Jeremias tivesse existido antes de
período estendeu-se até à próxima', grande deportação, seu nascimento. Mas, contra essa interpretação
que teve lugar no tempo de Adriano, imperador alguns tem aduzido, em primeiro lugar, que a simples
romano. Dali até os nossos próprios dias, Israel tem leitura da passagem não indica qualquer coisa como a
estado no exílio. O moderno movimento restaurador precognição divina; e, em segundo lugar, que a
(sionismo) conseguiu levar novamente o povo judeu a teologia judaica posterior, mediante idéias tomadas
organizar-se como uma nação, com seu próprio por empréstimo, favorecia as idéias da preexistência
território e governo. Conforme já seria de esperar, da alma e da reencamação. A teologia judaica
praticamente nenhum judeu moderno pode traçar a posterior dizia que Jeremias era a reencamação de
sua linhagem de volta, excetuando aqueles que Moisés, ensinando que os principais profetas são
descendem diretamente de Judá, pois a distinção encarregados de mais de uma missão terrena, através
entre as chamadas dez tribos perdidas tornou-se de várias reencaraações. O trecho de Ecl. 1:9-11
impossível. Assim sendo, os termos pré-exílio e talvez indique a idéia da preexistência da alma.
365
PREEXISTÊNCIA - PREGAÇÃO
No Novo Testamento, encontramos o relato sobre imagem, conforme à nossa semelhança...», onde o
João Batista, cheio do Espírito Santo desde antes de verbo façamos e o adjetivo possessivo nossa, indicam
seu nascimento, como também uma informação sobre pluralidade. E isso é reforçado em Gên. 3:22, onde
o apóstolo Paulo, que foi chamado para sua elevada Deus diz: «Eis que o homem é como um de nós,
missão desde o ventre materno. Ver Luc. 1:15 e Gál. sabendo o bem e o mal...», e onde devemos destacar
1:15. Argumenta-se que as escolhas divinas nunca as palavras «um de nós». E, quando chegamos ao
podem ser vistas como arbitrárias, e que se esses dois Novo Testamento, o primeiro capítulo de João mostra
homens tiveram elevadas missões, as quais lhes foram definidamente a preexistência do Logos (vide), como
atribuídas antes de se converterem, dentro da um corolário necessário do ensino de sua deidade e
experiência humana, então eles devem ter tido poder como Criador. Isso significa que Cristo não
existências anteriores, onde obtiveram elevada posi pertence à ordem criada; pelo contrário, ele é o
ção espiritual. Nesse caso, eram irmãos do Grande criador. Acresça-se a isso que o Logos «encamou-se»
Irmão, Cristo, e todos foram preexistentes. Ora, se (ver João 1:14), subentende a idéia de sua
isso sucedeu a esses dois homens, então é lógico preexistência. Ver o artigo sobre a Encarnação de
supormos que muitos, se não mesmo todos os Cristo.
homens, compartilham dessa mesma condição de O trecho de Miq. 5:2 é um texto de prova
preexistência. veterotestamentário da preexistência do Messias.
Acresça-se a isso que há alguma evidência científica Aquele que nasceria em Belém tinha suas origens
quanto à preexistência da alma nos campos de vida «desde os tempos antigos, desde os dias da
que circundam os fetos, um poder, uma energia, ou, eternidade». E em Isa. 9:6, o Filho é chamado de «Pai
talvez, um ser que prepara o feto para seu uso, através da Eternidade». Essa é uma declaração dogmática e
do controle do código genético. Ver o artigo sobre a profética acerca da deidade e da preexistência do
Aura Humana (Campo de Vida). Logos (o Filho, o Cristo). O próprio Jesus ensinou a
Teologicamente falando, é difícil sustentar o sua preexistência, segundo se lê em João 8:58: «Antes
criacionismo, a idéia que diz que Deus cria novas que Abraão existisse, eu sou». Ver o artigo separado
almas «ex nihilo» (do nada), a cada concepção ou sobre o Eu Sou de Jesus, que tem como paralelo o Eu
nascimento. Além de fazer Deus tomar-se ridicula Sou de Deus (sobre o que também preparei um
mente ocupado nesse empreendimento (o que parece artigo).
antieconômico), pode-se perguntar como é que cada A oração sumo sacerdotal de Jesus também afirma
indivíduo nasce pecador, se Deus cria uma alma nova enfaticamente a preexistência do Filho e sua
de cada vez. Deus criaria almas pecaminosas? Como comunhão com o Pai «antes que houvesse mundo»
poderíamos ensinar o criacionismo e a doutrina do (João 17:5,24). O trecho de Heb. 7:3 manifesta-se
pecado original ao mesmo tempo? Certamente Deus sobre o sumo sacerdócio de Cristo, equiparando-o ao
não cria pecadores. de Melquisedeque que «não teve princípio de dias»,
Para alguns, a solução para esse problema é o além de ser «sem pai, sem mãe, sem genealogia». O
traducionismo. Temos aí a idéia que tanto o homem título de Cristo «o Alfa e o Omega» (sobre o qual
quanto a mulher, sendo ambos seres físicos e escrevi um artigo) afirma a sua preexistência e
espirituais, mediante a procriação produzem filhos preeminência. A passagem de Col. 1:17 assevera que
que são entidades físicas e espirituais. Em outras Cristo é «antes de todas as cousas», declaração que
palavras, não somente o corpo físico, mas também a deve ser entendida em sentido temporal e também em
alma, seria produzida pelos pais. Todavia, essa idéia é sentido de preeminência. E todas as afirmações
apenas uma suposição, uma suposição racional ad bíblicas acerca de como o Logos é o Criador,
hoc. Tal idéia teria sido inventada «para esse caso», a naturalmente envolvem a idéia de sua preexistência.
fim de explicar como almas humanas já nascem Ver João 1:1-3 e Col. 1:16. Outro tanto com respeito
pecadoras, aliviando assim Deus de uma tarefa de às declarações acerca de sua deidade . Ver o artigo
criar almas a cada minuto do dia. Considerando-se intitulado Divindade de Cristo.
todos os fatores, a idéia da preexistência é a que cria
menor número de problemas. Assim sendo, apesar da
maioria dos teólogos defender o criacionismo, não é PREFEITO APOSTÓLICO
contra o bom senso defender a idéia da preexistência. Na ausência de um bispo, de acordo com certos
Mas, sem importar qual idéia advoguemos, ver-nos- segmentos da cristandade, um homem pode assumir,
emos envolvidos em profundos mistérios. É bom com esse título, muitos deveres de um bispo. Tal
admitirmos que não sabemos muita coisa, e que homém pode ocupar-se em atividades missionárias,
teremos de continuar investigando, a fim de conhecer funcionando, de modo geral como um bispo, até que
a verdade acerca de algumas importantes questões. O seja nomeado um bispo residente.
resto que tenho a dizer sobre esse assunto, acha-se no
artigo sobre a Alma, conforme mencionei acima.
PREGAÇÃO EXEGÉTICA
Essa é uma forma de pregação em que a exegese
PREEXISTÊNCIA DE CRISTO (que vede) de algum texto bíblico é a base daquilo que
Ver o artigo geral sobre a Cristologia e também é dito. Ê feita a tentativa de trazer à superfície os
sobre a Preexistência da Alma. elementos históricos, lingüísticos, morais, literários e
O conceito da preexistência de Cristo é essencial a teológicos do texto; e então se fazem aplicações do
qualquer sã doutrina cristológica. A Bíblia, profética mesmo às circunstâncias atuais. Em seu pior aspecto,
e dogmaticamente, salienta esse ensinamento. Alguns esse tipo de pregação torna-se por demais pesado e
estudiosos vêem o ensino da Trindade já no primeiro enfadonho, sendo mais adaptado para a sala de aula
nome hebraico que o Antigo Testamento confere a do que para o público em geral. Em seu melhor
Deus, Elohim. Esse vocábulo está no plural, embora aspecto, o método pode ser uma rica fonte de
outros insistam que se trata apenas do plural de informações para sermões substanciais, de tal
majestade, não indicando, assim, verdadeira plurali maneira que estes ensinem, e não somente entretam.
dade. De maior peso é o argumento fundamentado Todos os sermões podem tirar proveito desse método,
sobre Gên. 2:26, que diz: «Façamos o homem à nossa embora a sua preparação seja trabalhosa. Os
366
PREGAÇÃO - PREGAR, PREGAÇÃO
pregadores preguiçosos evitam esse tipo de pregação usado por sessenta e uma vezes, que exemplificamos
porquanto dá muito trabalho ao pregador. com Mat. 3:1; 4:17,23; Mar. 1:4,7; 16:15,20; Luc.
3:3; Atos 8:5; 9:20; Rom. 2:21; 10:8; Gál. 2:2; Fil.
PREGAÇÃO EXPOSmVA 1:15; I Tes. 2:9; I Tim. 3:16; I Ped. 3:19. A kérugma
Um pregador pode usar muitos métodos e modos de é a «coisa pregada» a «mensagem do evangelho». Essa
palavra é usada por oito vezes no Novo Testamento:
pregação. Cada um desses métodos tem suas próprias Mat. 12:41; Luc. 11:32; Rom. 16:25; I Cor. 1:21; 2:4;
vantagens e desvantagens. A pregação expositiva é a 15:14; II Tim. 4:17; Tito 1:3. Essa palavra indica a
apresentação oral de informes obtidos e arranjados pregação apostólica, que é a mensagem central e o
exegeticamente. Usualmente, esse modo de pregação fundamento do Novo Testamento.
ou ensino cobre todo um livro da Bíblia, ou uma boa
parcela de um livro da Bíblia, a fim de dar aos 4. Didaché, «ensino». Essa palavra aparece por
ouvintes uma idéia geral sobre aquele bloco de trinta vezes no Novo Testamento, referindo-se à
material bíblico. Esse tipo de pregação pode ser doutrina de Jesus e de seus apóstolos: Mat. 7:28;
contrastado com o sermão tópico, segundo o qual o 16:12; 22:33; Mar. 1:22,27; 4:2; 11:18; 12:38; Luc.
pregador escolhe algum assunto e então desenvolve a 4:32; João 7:16,17; 18:19; Atos 2:42; 5:28; 13:12;
sua mensagem, explicando como esse tópico é 17:19; Rom. 6:17; 16:17; I Cor. 14:6,26; II Tim. 4:2;
explanado em várias passagens da Bíblia, ou nas Tito 1:9; Heb. 6:2; 13:9; II João 9,10; Apo.
diversas experiências da Bíblia. A pregação por 2:14,15,24. O adjetivo didáskalos, «mestre», um título
tópicos é mais fác.:l de ser preparada, exigindo menos dado a Jesus, e então aos mestres em geral, é usado
estudos; e, por essa razão, é aquela mais comumente por cinqüenta e oito vezes, que exemplificamos com
usada. Todavia, tende à superficialidade, como se Mat. 8:19; 9:11; Mar. 10:17,20; Luc. 7:40; 20:21;
alguém estivesse contando uma história. Por outro João 1:38; 8:4; 20:16; Rom. 2:20; I Cor. 12:28,29;
lado, a pregação expositiva, a menos que seja feita por Efé. 4:11; I Tim. 2:7; Heb. 5:12; Tia. 3:1. Didásko, o
um pregador capaz e experiente, assume mais o aspec verbo, «ensinar», é utilizado por noventa e sete vezes.
to de uma lição para uma sala de aula, e não tanto o Exemplificamos com Mat. 4:23; 13:54; Mar. 6:2,6;
aspecto de um discurso diante de um auditório João 6:59; Atos 1:1; 4:2; 5:21; Rom. 2:21; I Cor. 4:17;
público. Também pode tornar-se enfadonha e Gál. 1:12; Efé. 4:21; Col. 1:27; 3:16; I Tim. 2:12;
pedante. Não obstante, os crentes precisam mais Heb. 5:12; I João 2:27; Apo. 2:14,20. Ver os artigos
desse tipo de pregação expositiva, a qual pode separados Ensino e Ensinos de Jesus.
tornar-se interessante quando feita mediante bons 2. Importância da Pregaçio e do Ensino
métodos de apresentação, com base em um estudo Temos enfatizado essa importância no artigo
sólido. É o tipo de sermão que melhor se presta para intitulado Ensino. A grande abundância de referên
as interpretações exatas, inclusive com exame das cias ao ensino e à pregação demonstra o papel
línguas originais, quanto a vocábulos-chaves. primordial dessas funções, no Novo Testamento. O
texto de I Cor. 1:18,21 mostra-nos que, no conceito
dos gregos incrédulos, a pregação era uma «tolice».
PREGAR, PREGAÇÃO Eles preferiam a sabedoria filosófica. Porém, através
Esboço: da pregação do evangelho é que a salvação é
1. Palavras Empregadas outorgada aos homens. O trecho de Rom. 10:14,15
2. Importância da Pregação e do Ensino mostra que o pregador é uma figura necessária dentro
3. A Kérugma do Novo Testamento: Seu Conteúdo do modus operandi de Deus, para anunciar a
mensagem de Deus aos homens. O próprio Senhor
4. O Caráter Divino da Pregação Jesus deixou-nos o exemplo, tendo sido ele o supremo
5. A Pregação e o Ensino são Funções Distintas pregador, não somente à face da terra, mas também
6. Transição da Pregação Apostólica para a no hades (ver I Ped. 3:19 e 4:6).
Pastoral
7. A Pregação no Seio da Igreja 3. A Kérugma do Novo Testamento: Sen Contendo
8. A Pregação como uma Arte Por kérugma entende-se a mensagem cristã e seu
1. Palavra« Empregadas conteúdo geral. Compõe-se dos seguintes elementos:
a. A época do cumprimento veio na pessoa de Jesus
No Novo Testamento há um total de quatro Cristo, um dia predito pelos profetas, e, portanto,
palavras usadas para indicar a «pregação», indicando antecipado no Antigo Testamento (ver Atos 2:16;
as idéias de «dizer as boas novas», «pregar», «ensinar», 3:18,24). b. O cumprimento teve lugar na vida, na
«proclamar», «mestre», «pregador», etc.: morte e na ressurreição de Jesus, que deu evidências
1. Euangelizesthai, «anunciar as boas novas». Esse abundantes de seu messiado e de sua autoridade. Ver
verbo é usado por cinqüenta e cinco vezes, conforme o artigo separado sobre Profecias Messiânicas
exemplificamos em seguida: Mat. 11:5; Luc. 4:18; Cumpridas em Jesus. c. Em face do cumprimento de
Atos 5:42; 8:4,12; 15:35; Rom. 1:15; 10:15; I Cor. sua missão, Jesus, o Cristo, foi exaltado nos céus (ver
15:1,2; II Cor. 11:7; Gál. 1:8,9; Efé. 2:17; I Tes. 3:6; Atos 2:33-36; 3:13; 4:11). d. Há uma universalidade
Heb. 4:6; I Ped. 1:12; 4:6; Apo. 14:6. A forma que faz parte dessa pregação que não se aplica
nominal, euaggélion, «boa nova», é usada por quase somente à esfera terrena. Cristo pregou até mesmo no
cento e cinqüenta vezes. Como exemplos ver Mat. hades (I Ped. 3:19; 4:6), e ele prossegue os seus
4:23; 9:35; Mar. 1:1,14; Atos 15:7; Rom. 1:1,9; I Cor. labores nos céus (ver Rom. 8:34; João 14:2,3; I João
4:14; 9:12; II Cor. 11:4,7; Gál. 1:6,7; Efé. 1:13; Col. 2:1). Assim sendo, Cristo tem tido e continua tendo
1:5,23; I Tes. 1:5; I Tim. 1:11; I Ped. 4:17; Apo. 14:6. uma missão tridimensional, com o propósito de que,
2. Kataggéllein, «proclamar», «pregar», «proclamar finalmente, todas as coisas encontrem nele a grande
as boas novas». Essa forma verbal é usada por dezoito unidade (ver Efé. 1:9,10), assim cumprindo o
vezes no Novo Testamento: Atos 3:24; 4:2; 13:5,38; Mistério da Vontade de Deus (vide). Desse modo, ele
15:36; 16:17,21; 17:3,13,23; 26:23; Rom. 1:8; I Cor. tomar-se-á tudo para todos (Efé. 4:10). Tanto a
2:1; 9:14; 11:26; Fü. 1:17,18; Col. 1:28. A forma descida de Cristo ao hades quanto a sua subida (e,
nominal, kataggeleús, «pregador», «proclamador», portanto, seu ministério nos céus) estão relacionados
ocorre por apenas uma vez, em Atos 17:18. a esse glorioso propósito, conforme deixa claro o
3. Kerússein, «anunciar», «proclamar». Esse verbo é contexto do quarto capítulo da epístola aos Efésios. e.
367
PREGAR, PREGAÇÃO - PREGO
A futura era messiânica atingirá um ponto de fruição «boca de ouro») e com Agostinho. Orígefles assinalou
mais plena quando tiver lugar a parousia (vide) (Atos a transição da homilia hortatória para o sermão
3:21). f. A kérugma requer reação favorável da parte expositivo, de acordo com o qual (para consternação
dos homens, começando pelo arrependimento, e de alguns), começou a ser usado o método alegórico.
levando a uma completa dedicação à mensagem cristã Ver sobre Alegoria, especialmente seu quarto ponto.
e à vida cristã. Ver Atos 2:38; Rom. 12:1,2. g. A Agostinho também se valeu desse método, e daí
kérugma é constituída por atos e se centraliza em propagou-se pela Igreja ocidental.
tomo de uma Pessoa, Jesus Cristo. É altamente ética e Houve alguns grandes pregadores bíblicos na Igreja
vitalmente espiritual. Católica Romana, antes da Reforma Protestante,
4. O Caráter Divino da Pregaçio embora o sacramentalismo e a liturgia tendessem por
A kérugma é eficaz por causa do ministério do obscurecer a missão de pregação e ensino da Igreja. A
Espírito Santo. Isso posto, e*sa pregação não se Reforma Protestante (vide) foi um momento de
assemelha a outras proclamações, por boas e dignas retorno à pregação e ao ensino bíblicos, e grandes
que elas sejam, porquanto ela é inspirada pelo multidões começaram novamente a reunir-se para
Espírito de Deus e é um veículo da graça divina. O testemunhar o espetáculo, desde há muito abafado.
evangelho é o poder de Deus para a salvação de todos João Wesley foi um talentoso pregador, e toda uma
quantos confiam (ver Rom. 1:16). O evangelho nova denominação desenvolveu-se em tomo dele e de
oferece-nos novidade de vida (I Cor. 1:18 ss", Efé. 2:1 seu irmão, e isso parcialmente tendo por base esse
ss). Ela é assinalada por uma divina compulsão (Luc. tipo de comunicação. Em nossos próprios dias, a
4:43; Atos 4:20). Paulo não podia mostrar-se pregação liberal concentra demais de sua atenção e de
negligente para com a sua missão de pregador (ver I seu tempo à política e aos problemas sociais. Entre os
Cor. 9:16); dons especiais do Espírito fazem da pre fundamentalistas, *— um número demasiadamente
gação e do ensino cristãos atividades vitais e eficazes grande de sermões dedica-se a atacar ao liberalismo,
(ver I Cor. 12:4-11,28,29; Efé. 4:11). ao comunismo e aos males sociais, havendo
' 5. A Pregação e o Ensino s2o Fruições Distintas pouquíssima pregação e ensino que sejam realmente
E .isso com um grande propósito, embora nem bíblicos. Um outro mal é a mania pela psicologia
sempre sejam funções claramente distinguidas no popular, que tem provido a base para muitos sermões
texto bíblico. A diferença entre essas duas funções é sem nenhum conteúdo bíblico. Uma outra debilidade
muito mais uma questão de estilo do que de conteúdo. entre os fundamentalistas e os evangélicos é a ênfase
Ver Mat. 4:23. Jesus ocupou-se tanto na pregação exclusiva sobre o evangelismo, pelo que, em muitas
quanto no ensino. Sua pregação é salientada em Mar. igrejas, somente mensagens de salvação são ouvidas,
1:29 e Luc. 4:44. E seu ensino é enfatizado em Luc. com pouquíssima exposição sobre outros ensinos que
4:15. No entanto, esses dois verbos podem ser usados fazem parte da Bíblia. Por causa disso, uma certa
de modo intercambiável (ver Mar. 1:14,15,21,38,39). superficialidade doutrinária tem atingido a Igreja, em
A função apostólica incluía ambas as modalidades todas as denominações. Além disso, preciso fazer aqui
(ver Atos 5:42; 28:31; Col. 1:28). A igreja cristã não uma pausa a fim de criticar o «evangelho» que está
pode viver somente da pregação; ela também precisa sendo pregado, e que deixa de lado grandes
ensinar. A pregação precisa incluir a proclamação do dimensões da mensagem cristã, a saber, a missão
inteiro conselho de Deus (ver Atos 20:20,27; II Tim. tridimensional de Cristo (na terra, no hades e no céu),
4:2), e a Grande Comissão inclui a necessidade de apresentando assim um ponto de vista pessimista
ensinar (ver Mat. 28:20). daquilo que a prédica cristã haverá, finalmente, de
realizar. Ver o artigo separado sobre Missão
6. Transição da Pregaçio Apostólica para a Universal do Logos (Cristo). Ver também sobre o
Pastoral Mistério da Vontade de Deus, quanto a uma
As chamadas epístolas pastorais (I e II Timóteo e dimensão da mensagem cristã que não está sendo
Tito) descrevem a transição da pregação apostólica anunciada pela Igreja ocidental (a Igreja Católica
para a pregação pastoral, o que envolve o ensino Romana e suas fragmentações evangélicas e protes
cristão. Outros cristãos receberam altas responsabili tantes). Mas a Igreja oriental tem tido uma visão
dades, e o ministério apostólico teve prosseguimento melhor das verdadeiras dimensões da mensagem
por meio de delegados. A pregação e o ensino cristã.
tomaram-se deveres e privilégios sagrados (ver I 8. A Pregaçio como uma Arte
Tim. 4:13,14; II Tim. 2:15; 3:14-16; 4:1-5). A Ver o artigo separado e detalhado chamado
sucessão de homens fiéis garante a continuação desse Homilética (Homilia). Ver também o artigo Herme
ministério (ver II Tim. 2:2). Alguns estudiosos, nêutica, a ciência da interpretação, que muito tem a
antigos e modernos, vêem aí uma base escriturística ver com a pregação e o ensino cristãos.
para a idéia da Sucessão Apostólica (vide).
7. Pregação no Seio da Igreja
Os apóstolos seguiram o exemplo de Jesus, e PREGO
homens fiéis continuaram o processo. O sermão
missionário, nos tempos cristãos primitivos, era o Precisamos considerar, neste verbete, três palavras
elemento primordial no culto cristão. A pregação hebraicas e uma grega.
formal, incluindo a oratória, também foi uma 1. No hebraico, yathed, uma cunha de madeira.
característica muito antiga. Muito disso era feito à Todavia, esse mesmo vocábulo é usado para indicar
imitação dos retóricos greco-romanos. Sem dúvida, os pregos feitos de outros materiais. Ver Eze. 15:3; Isa.
filósofos de Corinto estiveram envolvidos nessa forma 22:25. As peças usadas para firmar uma corda de
de pregação (Apoio, provavelmente, era tido como uma tenda também eram assim chamadas. Foi uma
herói dessa classe; ver I Cor. 3:4). E é provável que dessas peças de madeira que Jael utilizou para matar
alguns deles lançassem no ridículo àquele discurso a Sísera (ver Juí. 4:21,22).
«desprezível», que geralmente se ouvia nas sinagogas, 2. No hebraico, masmer, um prego ordinário ou
o que era um material embotado e sem brilho para os ornamental. Ver I Crô. 22:23; II Crô. 3:9. Pregos de
retóricos (ver I Cor. 10:10). Dentro da história da ferro foram usados como pivôs das portas do templo.
Igreja, a pregação eloqüente atingiu seus pontos O trecho de I Crô. 22:3 mostra que essas peças eram
culminantes com Crisóstomo (cujo nome significa de ferro, o que chegava a constituir, então, um luxo,
368
PREGO - PREGUIÇA
pois o ferro era raro e caro. Ver também II Crô. 3:9, preguiçoso chega tarde ao trabalho; sai cedo de seu
que fala sobre pregos ornamentais, feitos de ouro, emprego; faz longas interrupções somente para tomar
usados no templo de Jerusalém. Os pregos comuns o cafezinho; entrega-se muito à maledicência; goza os
usados pelos carpinteiros também recebiam esse feriados um dia antes e um dia depois dos mesmos;
nome, no hebraico. acaba adoecendo de tanto comer, mas fica bom
3. No hebraico, sipporen, palavra usada para miraculosamente, quando alguém fala em levá-lo a
indicar tanto uma unha humana (ver Deu. 21:12) passeio; pensa que a terra é um lugar de lazer e
como a ponta de um estilete ou um alfinete metálico prazer; pensa que o céu é um lugar fácU de ser obtido,
(ver Jer. 17:1). Em Dan. 4:33 e 7:19 é usado o seu porque sempre poderá aplicar o seu famoso «jeitinho».
paralelo aramaico, tephar, onde alude às garras de Alguns preguiçosos chegam a escrever livros. Os
aves ou de mamíferos. artigos que anunciam esses livros dizem algo como:
4. No grego, elos, que indica os cravos de ferro que «O senhor Fulano ou Sicrano trabalhou durante trinta
foram usados quando da crucificação do Senhor Jesus e cinco anos nesse livro, que será publicado no ano
(João 20:25; Col. 2:14). Os arqueólogos têm podido que vem». Então, descobre-se que o tal livro tem
encontrar um grande número desses cravos, alguns apenas cento e vinte páginas! Algumas pessoas
dos quais pertencentes ao século I D .C. preguiçosas também escrevem teses universitárias.
Usos Figurados. Os líderes nacionais de Israel eram Ouvi acerca de uma tese dessas, que precisou de seis
chamados de «estacas de tenda» (ver Zac. 10:4), anos para ser escrita. Os preguiçosos acabam criando
porquanto conferiam estabilidade à nação. Eliaquim feridas nas costas, de tanto ficarem deitados na cama,
foi comparado com uma estaca fincada em lugar de papo para o ar. Se chegarem a andar um
firme (ver Isa. 22:25). Ele conferia estabilidade à sua quilometro, dizem que ficaram com os pés em carne
família inteira, mas quando ele caiu, arrastou-os viva. Seus olhos ardem, se tiverem de ler mais de dez
consigo. As palavras ditas pelos sábios são compara páginas. Ficam com dor de cabeça por quase
das a pregos bem fincados, aos ouvidos daqueles que qualquer razão, especialmente se chegou a hora de
lhes dão atenção (Ecl. 12:11). E isso porque causam irem para o trabalho; mas, miraculosamente, pouco
impressões profundas e duradouras nas mentes dos depois estão inteiramente recuperados. Em qualquer
homens. Algo similar foi dito quanto às palavras de lugar onde haja pessoas trabalhando, não é difícil
Sócrates, isto é, que elas pareciam espinhos nas identificar os preguiçosos. Eles costumam ficar juntos
mentes dos seus ouvintes. E há um provérbio oriental nos parapeitos das janelas, passando o tempo a olhar
que jaz um prego simbolizar uma donzela pobre que para fora, como se fossem aves que estão esperando
se casou com um homem rico, firmando-se assim em somente que a porta da gaiola se abra, a fim de
uma casa. Talvez uma idéia assim esteja por detrás de escaparem voando. E, quando têm que fazer algum
textos como os de Esd. 9:8 e Isa. 22:23-25. trabalho, fazem o mínimo possível, a fim de
castigarem seus patrões, que não lhes pagam
conforme eles pensam que merecem.
PREGUIÇA Ver também Preguiçoso. £ com extrema raridade que a preguiça se torna
uma vantagem. Conta-se a piada de um homem
O fato de que muito daquilo que fazemos ou realmente preguiçoso. Ela diz assim: Um homem que
gostaríamos de fazer é pecaminoso, é constemador fazia uma viagem a pé, parou em um lugar a fim de
para a maioria das pessoas* A situação é conforme pedir informações. Viu um homem deitado debaixo
alguém disse: «Tudo do que gosto ou engorda ou é de uma árvore. Aproximou-se dele e perguntou em
imoral». Para aumentar ainda mais a nossa que direção deveria seguir, para chegar onde queria.
consternação, aprendemos que existem os pecados de O homem debaixo da árvore nem se levantou, mas
omissão. Se deixarmos de fazer certas coisas, que apenas apontou na direção geral a ser tomada com o
fazem parte de nossa obrigação, estaremos pecando dedão de um pé. O viajante comentou: Esse é o ato
por inatividade. Além disso, existem aqueles pecados mais preguiçoso que já vi. Se alguém puder fazer algo
que não são pecaminosos por si mesmos, mas que se ainda com maior preguiça, darei ao tal uma nota de
tornam errados se, ao praticá-los, ofendermos a mil cruzados! O homem que jazia no chão
algum irmão na fé (ver Rom. 14). E, acima de todas respondeu: Basta que você me role no chão e ponha a
essas categorias, é pecaminoso nada fazer. Por esse nota de mil cruzados em meu bolso».
motivo, alguém observou: «A pessoa é condenada se
fizer, e é condenada se não fizer». E a isso, alguém Conheci um homem com terrível tendência para a
acrescentou uma péssima teologia, ao asseverar: preguiça. Quando alguém lhe perguntou o motivo
«Então, vamos fazerl» para isso, ele replicou: «Meu pai trabalhou muito na
vida, e eu já nasci cansado».
A Preguiça A preguiça consiste na indisposição
para fazer qualquer esforço, na indolência, no ócio. A O indivíduo preguiçoso nem se inspira por nada e
pessoa preguiçosa é um dos casos humanos mais nem inspira a outros. Paulo mostrava-se definidamen
lamentáveis que existem. Ela não se deixa inspirar por te avesso à preguiça. Disse ele: «Se alguém não quer
qualquer idéia; ameaças de nada adiantam para trabalhar, também não coma» (II Tes. 3:10). Muitas
torná-la ativa. O preguiçoso não se envolve em pessoas têm dito coisas espirituosas sobre a preguiça e
qualquer ocupação, e olvida-se de qualquer propósito sobre as pessoas preguiçosas:
na vida. Com freqüência, o preguiçoso é apenas um «O ócio é apenas o refúgio das mentes fracas, o
parasita que pensa que outros precisam sustentá-lo. feriado dos insensatos» (Lord Chesterfield).
Ele se queixa quando suas acomodações não são de «Ausência de ocupação não é descanso; uma mente
primeira classe, e critica a outros de egoísta quando sem nada para fazer é uma mente inquieta» (William
não é servido como pensa que deveria ser. Quando Cowper).
algum trabalho precisa ser feito, ele se ausenta «Não há lugar para o ocioso na civilização. Nenhum
naquele dia. Mas, quando há qualquer festa e há de nós tem qualquer direito à preguiça» (Henry Ford).
alimentos gostosos em abundância, o preguiçoso está «A preguiça avança tão devagar que a pobreza não
sempre presente. demora a alcançá-la» (Benjamim Franklin).
Algumas pessoas preguiçosas são forçadas a «De todas as nossas faltas, aquela da qual nos
trabalhar, ou pela simples pressão social, ou, então, desculpamos mais facilmente é a preguiça» (François
por grave necessidade econômica. O indivíduo de la Rochefoucauld).
369
PREGUIÇOSO - PRÉ-MILENISMO
«Satanás acaba encontrando alguma coisa maléfica destrutivo; mas essa passividade muitas vezes é tão
para as mãos ociosas fazerem» (Isaque Watts). prejudicial como as ações dos destruidores, embora a
«Nada fazer é a coisa mais difícil do mundo...» incúria redunde em perda em ritmo mais lento, por
(Oscar Wilde). falta de cuidados.
«Um homem sem ambição é como uma mulher sem 4. Nas Palavras de Jesus
beleza» (Frank Harris). A parábola de Jesus sobre os talentos reitera o tema
«Vai ter com a formiga, 6 preguiçoso, considera os do temor insensato como a própria raiz da preguiça e
seus caminhos, e sê sábio» (Pro. 6:6). do ócio (Mat. 25:25,26), além de salientar o temor ao
Ver o artigo intitulado ócio e Trabalho, Dignidade Senhor como a fonte originária da diligência,
e Ética do. deixando claro que será por ocasião da segunda vinda
do Senhor, quando ele vier julgar aos homens (cf. o
«dia da colheita», tantas vezes referido no livro de
PREGUIÇOSO Ver também Preguiça. Provérbios) que o emprego diligente dos dons de Deus
serão recompensados, ao mesmo tempo em que os
No hebraico, temos a considerar uma palavra, e preguiçosos serão punidos.
duas palavras no grego, a saber: 5. Nas Palavras de Paulo
1. Atsel, palavra hebraica que aparece por catorze O apóstolo dos gentios frisou a necessidade de
vezes, como, por exemplo, em Pro. 6:6; 6:9; 10:26; servirmos a Deus em proporção aos dons e às
13:4; 20:4; 26:16; Juí. 18:9. habilidades que ele nos outorgou (Rom. 12:3-8), de
2. Oknerós, «preguiçoso», «displicente», principal tal modo que não devemos ser preguiçosos, mas antes,
mente no sentido de não odececer aos mandamentos devemos ser impelidos a uma febricitante atividade,
de Deus ou ao seu chamamento. Esse termo grego por meio do Espírito de Deus (Rom. 12:11). Portanto,
aparece por três vezes: Mat. 25:26; Rom. 12:11 e Fil. o preguiçoso está resistindo ao Espírito Santo! Por
3:1. semelhante modo, a epístola aos Hebreus enfatiza que
3. Nothrós, «preguiçoso». Esse vocábulo grego não devemos retroceder, depois de termos participado
aparece por apenas duas vezes: Heb. 5:11 e 6:12. do Espírito, mas antes, cumpre-nos prosseguir a
1. Nos Provérbios ' caminhada, e isso, conforme diz o escritor sagrado:
O livro de Provérbios, que é o livro bíblico que mais «...para que não vos torneis indolentes, mas
alusões faz ao defeito da preguiça, ou indolência, imitadores daquele que, pela fé e pela longanimidade,
descreve o preguiçoso como indivíduo que gosta de herdam as promessas» (Heb. 6:12). Conforme se pode
dormir. O preguiçoso não cuida de suas propriedades, deduzir desse e de outros trechos bíblicos, a preguiça
nem de suas plantações, pelo que também está sujeito não envolve somente as atividades humanas corri
a padecer fome, ao passo que o diligente ou queiras, mas existe também tal coisa como a preguiça
trabalhador prospera e tem tudo em abundância. Ver espiritual, a pior forma de preguiça, porquanto
Pro. 6:6,9; 13:4; 15:9; 24:30; 26:13-16. A condição da importa em perda eterna e irremediável.
preguiça é tão lamentável que um preguiçoso, mesmo
que tivesse alimentos, não levaria a comida até à boca
(Pro. 19:24). Vive descobrindo desculpas esfarrapa PRELADO, PRELAZIA
das para nada fazer, como aquele que diz que há um Esse termo vem do latim praelautiu cuja raiz verbal
leão solto nas ruas, o que o impede de ir ao trabalho é praeferre, «estabelecer», indicando assim um oficial
(Pro. 22:13). Essa indolência, todavia, para o eclesiástico graduado. A palavra prelazia, por sua
preguiçoso parece ser grande demonstração de vez, refere-se àquele tipo de governo eclesiástico cujo
sabedoria (26:16), como se ele estivesse se poupando controle é exercido pelos bispos, arcebispos, metropo-
do desgaste físico. Prefere as fantasias do que o litas e patriarcas. Dentro do catolicismo romano há
trabalho, que é sempre cansativo e difícil (Pro. 13:4; vários outros ofícios que compõem o quadro geral,
21:25). Por essa razão, o preguiçoso não somente como abades, probostes, núncios e prefeitos apostóli
arruina a si mesmo, mas também causa prejuízos a cos. Dentro da comunhão anglicana, bispos e
quem ele tiver de prestar algum serviço (Pro. 10:26). arcebispos são chamados prelados. Prelazia é,
2. Contrastado com a Indústria algumas vezes, usada como sinônimo de episcopado.
A preguiça do preguiçoso é contrastada com a
indústria da mulher virtuosa (31:27), um contraste
que se destaca muito mais porque o preguiçoso é do PRÉ-MILENISMO (PRÊ-MILENARiSMO)
sexo masculino, e a mulher virtuosa é do sexo Ver o artigo sobre Milênio, mormente em
feminino. Essa mulher virtuosa é abençoada não seu sexto ponto, onde são examinados os vários
somente porque enriquece, mas também por causa da pontos de vista sobre o milênio. O pré-milenismo é a
oportunidade que o seu trabalho lhe confere de cuidar asserção de que haverá uma futura era áurea, mas que
dos mais pobres (Pro. 31:20), além do que ela vê o seu para tanto será mister o aparecimento pessoal de
marido tornar-se um dos líderes da comunidade onde Cristo (ver sobre Parousia), o qual inaugurará o
vive o casal (Pro. 31:23). O trabalho conjunto, do milênio. Um milenismo exagerado é chamado
marido e da mulher, pois, produz ótimos resultados, quiliasmo, termo derivado de chilta, palavra grega
não somente na forma de abundância material maior, que significa «mil», ao passo que milênio vem
mas também na forma de um maior prestígio social. diretamente do latim. O quiliasmo ensina que serão
O que mais importa, entretanto, é que a mulher restaurados os antigos ritos e sacrifícios levíticos, e
virtuosa, trabalhadeira, recebe louvores da parte do que Davi retomará a fim de reinar sobre Israel.
Senhor (Pro. 31:30). O pré-milenismo predominou dentro do pensamen
3. É um Pecado to escatológico da Igreja, até surgirem em cena os
A preguiça não é apenas um dentre uma grande teólogos alexandrinos (século III D.C.). Orígenes e
variedade de pecados, mas também é uma atitude que Clemente sugeriram um ensino simbólico ou alegórico
prejudica os próprios deveres do indivíduo para com acerca dos mil anos referidos em Apo. 20:4. Uma
Deus e para com o próximo. O preguiçoso oferece a Igreja exausta, que havia esperado ardorosamente,
Deus e aos seus deveres pessoais uma espécie de mas em vão, pelo imediato retomo de Cristo (séculos I
resistência passiva, mesmo que ele não se torne e II D.C.), deixou-se influenciar facilmente por essa
370
PREMISSAS - PRESBITÉRIO
perda de coragem, e abandonou a posição pré-mile pode ser conseguida mediante uma lavagem diária
nar. A princípio, o amilenismo (que diz que não com sabão desinfetante.
haverá qualquer milênio) foi considerado uma
heresia; mas, gradualmente, foi sendo aceito,
especialmente através da influência de Agostinho, já PRESA, DESPOJO
no século IV D.C. Agostinho rejeitava o pré-milenis-
mo, tachando-o de literal e carnal demais, e Nn hebraico, baz, «presa», palavra usada por vinte
espiritualizou o conceito. O amilenismo tomou-se a e cinco vezes. Por exemplo: Jer. 49:32; Núm. 14:3,31;
posição geralmente adotada pela Igreja Católica Eze. 7:21; 38:12,13. Um termo cognato é malqoach,
Romana, e chegou mesmo a ser defendida pela maior «saque», palavra usada por oito vezes. Por exemplo:
parte dos reformadores protestantes. Núm. 31:32. E ainda um terceiro termo cognato é
meshissah, «despojo», palavra usada por seis vezes.
O pré-milenismo voltou a ser aceito nos dias Por exemplo: H ab. 2:7; Sof. 1:13. Nossa versão
posteriores à Reforma Protestante, de tal maneira portuguesa, secundando várias outras traduções
que, atualmente, é uma doutrina comum entre os estran g eiras, não se m ostra coerente na tradução
protestantes e os evangélicos, sem que isso signifique dessas três palavras, as quais têm sentidos específicos.
que tenha desaparecido a posição do amilenismo. O Assim, presa é aquilo que pode ser útil ao captor;
milênio acabou vinculado aos ensinos sobre o reino de saque inclui tudo q u anto pode ser consum ido,
Deus, e assim pôde ser defendido por meio de muitos satisfazendo o apetite; e despojo é tudo quanto serve
textos bíblicos de prova, embora apenas o trecho para designar o triunfo obtido.
neotestamentário de Apo. 20:4 mostre a duração
específica do período, que é previsto em vários trechos A prim eira referência bíblica a presa e despojo
do Antigo Testamento. O artigo intitulado Milênio encontra-se em Núm. 31:27, onde também se vê que
demonstra que o milenismo e o amilenismo têm Moisés cuidou para que as coisas tomadas do inimigo
precedentes na teologia judaica helenista, pelo que fossem d istrib u íd a se q ü ita tiv a m e n te entre todo o
não há nada de novo quanto a ambas as idéias. O Israel. Essa p rática foi seguida por Josué, após a
resto do que tenho a dizer sobre o assunto, incluindo conquista da terra (Deu. 2:35; Jos.8:2), bem como por
muitas referências bíblicas, aparece no meu artigo Davi (I Sam. 30:24). Ver também Jer. 49:32; Naum
chamado Milênio. 3:1 e H ab. 2:7. Somos inform ados, em Números
31:25-47, que a presa consistia até mesmo de
m ulheres virgens, além de gado vacum, ovino,
PREMISSAS asinino, etc. Metade da presa foi dada ao Senhor,
Essa palavra portuguesa vem do latim, praemissus, entregue aos levitas. Da outra metade, uma parte de
«enviado antes». Esse vocábulo é tradução da palavra cada cinqüenta foi entregue aos levitas que cuidavam
grega prótasis, «posto antes». A premissa é usada do tabernáculo do Senhor.
formalmente na lógica a fim de indicar aquelas No Novo Testamento encontramos duas palavras
declarações de onde podemos deduzir conclusões. gregas que nos cham am a atenção, q uanto a essa
Aristóteles distinguia entre a premissa maior e a idéia: Diarpázo, «arrebatar totalmente»; e sulagogéo,
premissa menor, das quais a conclusão é extraída. «levar como despojo». A primeira delas figura por três
À parte de seu uso formal na lógica, uma premissa vezes (M at. 12:29; M ar. 3:27), e a nossa versão
é uma proposição que é apresentada, provada, portuguesa a traduz por «roubar» e «saquear». E a
suposta ou subentendida, que serve de base de um segunda delas é um a hapax legom ena (que vide),
argumento ou como uma conclusão de um argumento figurando apenas em Col. 2:8, onde Paulo a usa
que fora declarado. metaforicamente, para indicar o engodo com que os
falsos mestres «enredam» suas vítimas crédulas. As
PRÊMIO Ver Galardio e Coroa*. vítimas desses falsos mestres servem-lhes, pois, de
prova de triunfo. Que Deus nos guarde de servir de
despojo para esses sofistas!
PREPARAÇÃO, DIA DE Ver Dia de Preparação.
•••
1
Evangelho de Marcos Evangelho de Lucas
I
Evangelho de Mateus
(Quanto a uma explicação das fontes de Marcos — na igreja de Roma e as memórias de Pedro. Mateus e
o protomarcos — ver III.4, a «Teoria dos Quatro Lucas, por sua vez, se utilizaram do evangelho de
Documentos»). Supomos que Marcos usou várias Marcos, pelo que dispuseram do esboço histórico em
fontes orais e escritas, incluindo a tradição preservada geral, além de alguns ensinamentos de Jesus. E a isso
412
PROBLEMA SINÓPTICO
ambos adicionaram os «ensinamentos» ou Q. devedores (7:41-50), do bom samaritano (10:25-37;,
A idéia da fonte em «dois documentos», porém, do amigo importuno (11:5-10), do rico insensato
imediatamente ficou sujeita à critica, pois ainda resta (12:16-21), da figueira estéril (13:18,19), quatro
explicar os 40% de material lucano (L), bem como outras parábolas (14:7-33), da moeda perdida
1/3 do material de Mateus (Aí), que não provieram (15:8-10), seis outras parábolas (15:11-18:8), além de
nem de Marcos e nem de Q, que são substanciais e sete milagres (4:30; 5:1; 7:11; 13:11; 14:1; 17:11;
obviamente autênticos, — forçando-nos a postular 22:50), sobre os quais os outros nada dizem. Deve ter
fontes informativas adicionais, provavelmente em havido alguma fonte informativa ou mesmo várias
forma escrita. Lucas, por exemplo, conta com 16 para esse material empregado exclusivamente por
parábolas que lhe são totalmente peculiares. Ele não Lucas. Além das dez parábolas peculiares a Mateus,
teria criado essas histórias sobre Jesus. Podemos há três milagres que somente esse evangelho encerra
meramente crer que Lucas pôde recolher algures essas (9:27; 9:32 e 17:24). Torna-se bem evidente, pois, que
parábolas de Jesus, e que constituem uma fonte da houve mais fontes informativas envolvidas na
qual Marcos e Mateus não dispuseram. Por igual compilação dos evangelhos do que meramente os dois
modo, Mateus tem 10 parábolas que não se acham propostos pela teoria dos «Dois Documentos».
nem em Lucas e nem em Marcos, pelo que deve ter 4. Teoria dos quatro documentos
tido acesso a documentos ou, pelo menos, a um Nenhum erudito moderno diria que a teoria dos
documento, sobre o qual os outros nunca puseram as «quatro documentos» se aproxima da perfeição, e nem
mãos, por ignorarem-no totalmente. Além disso, no que nos dá o quadro mais completo da verdade dos
tocante a algum material usado por Mateus, Lucas fatos. No entanto, de modo geral, essa teoria nos
tem apenas em forma abreviada e fragmentar. Por fornece uma boa maneira de «abordar» o problema, e,
exemplo, o Sermão da Montanha. Lucas tem como teoria, certamente tem sido mais frutífera que
fragmentos do mesmo, dispersos por seu livro. É as outras que já foram propostas. É possível que mais
difícil crer que ele usou a mesma fonte informativa fontes informativas estejam envolvidas, e não somente
que Mateus usou nesse caso; mas tinha algum quatro; mas é igualmente possível que muitas coisas
material similar e idêntico, embora em menor declaradas nessa teoria sejam válidas, ainda que não
quantidade, paralelo à fonte informativa usada por possamos proferir qualquer resposta absoluta no caso
Mateus. Lucas registra a parábola do credor com dois do problema das fontes informativas.
M Protomarcos
Tradição da Igreja de («Quelle»), fonte Tradição da Igre
Antioquia da Síria de ensinamentos, ja de Cesaréia
50 D.C. ou antes e outros lugares
Explicação das Fonte* InfoTnatiraj: dadas diretamente por Pedro. Portanto, embora não
tenha sido escrito por uma testemunha ocular, o
1. O Protomarcos evangelho de Marcos conta com o respaldo da
Ao considerarmos esse tema, abordamos uma série autoridade apostólica. (Ver I Ped. 5:13, onde Marcos
inteiramente nova de problemas e debates. No é chamado por Pedro de seu «filho»). A maioria dos
artigo sobre o evangelho de Marcos, seção 6, a eruditos crê que por detrás do testemunho de Pedro
questão é discutida. Aqui, pois, expomos somente temos a tradição da igreja de Roma, pois Marcos é o
conclusões. Certos testemunhos antigos, e especifica evangelho romano. Cada um dos principais centros
mente Papias (discípulo de João ou do presbítero) cristãos se tornou depósito de certo número de
vinculados com trechos do próprio evangelho, tradições, escritas ou orais, da parte de testemunhas
mostram que uma porção central de Marcos se baseia oculares, ou mediante relatos em segunda ou terceira
no testemunho ocular apostólico, a saber, o de Pedro. mão. Vários desses centros do cristianismo se
Mediante outras referências do N.T. (fora do tornaram fontes informativas dos evangelistas que
evangelho de Marcos), ficamos sabendo que Marcos e escreveram evangelhos canônicos. Além disso, deve
Pedro foram associados, pelo que não teria havido mos supor que algum material de Marcos proveio de
problema para Marcos compilar grande parte de seu tradições orais e escritas, algumas apostólicas
evangelho através de informações que lhe fossem (baseadas em outros apóstolos além de Pedro), e
413
PROBLEMA SINÓPTICO
outras de testemunhas secundárias, as quais não eclesiástica. O trecho de Luc. 1:1 indica que muitos já
tinham participado dos próprios acontecimentos, mas tinham posto em forma escrita a vida de Jesus. É
conheciam pessoas que haviam participado dos possível, pois, enquanto procuramos reduzir nossos
mesmos. Sem dúvida, algumas narrativas sobre a vida principais testemunhos a supostos «quatro» na
de Jesus, e alguns de seus ensinamentos, foram realidade tenha havido muito mais que isso. Todavia,
preservados para os evangelhos mediante uma única com «quatro» se pode classificar, de modo geral, as
testemunha, e não mediante uma comunidade fontes informativas dos evangelhos sinópticos.
1
Narrativa de testemunhas Tradições orais e escritas Outras tradições orais e
oculares de Pedro: as m e da Igreja de Roma escritas, alguns dos
mórias de Pedro apóstolos e outras teste
munhas oculares fora da
Igreja de Rom a.
Evangelho de Marcos
talvez tão remoto quanto 55 D .C.
2. M — tradiçio da igreja de Antioquia. Muitos empréstimo de Marcos, aqui e acolá exibem alguns
crêem que o evangelho de Mateus foi escrito em detalhes e narrativas em Mateus, que não figuram em
Antioquia da Síria. Se isso é verdade, então qualquer outra porção. Mateus diz especificamente
naturalmente o autor sagrado teria se utilizado de que o dinheiro oferecido a Judas foi trinta moedas de
material preservado naquela comunidade eclesiástica, prata; identifica Judas como traidor, por ocasião da
tanto oral quanto escrito. Cada comunidade ecle última ceia, o que Marcos não faz; conta a história do
siástica «isolou» certo acúmulo de matéria válida sonho da esposa de Pilatos, e fala do terremoto e da
acerca da vida e dos ensinamentos de Jesus, ressurreição de santos quando da crucificação de
tornando-se assim uma fonte de informações que Jesus; alude à vigília ante o túmulo, e ao suborno
representava uma determinada área geográfica. dado aos soldados, para queimentissem. No entanto,
Antioquia da Síria foi um dos primeiros centros do Mateus omite a aparição de Jesus aos discípulos, na
cristianismo, e o evangelho de Mateus, desde o Judéia (após sua ressurreição), e não menciona o fato
começo, foi o evangelho mais popular naquela da ascensão, embora nos forneça a aparição de Jesus
localidade. Inácio, supervisor de Antioquia (107 na Galiléia, além de não dar uma forma distintiva da
D.C.?), mostrou sua preferência pelo evangelho de Grande Comissão. Algumas das coisas aqui sugeridas
Mateus. Alguns chegam mesmo a supor que a como provenientes de M, poderiam provir de
passagem de Mat. 16:17-19 tenha sido uma adição, narrativas individuais, da parte de pessoas não-
feita naquela comunidade, ao texto do evangelho, relacionadas de forma alguma à comunidade eclesiás
porquanto Pedro era muito estimado naquela porção tica de Antioquia ou de Jerusalém, ou de onde quer
do mundo. que a fonte M se tenha desenvolvido. Contudo, não
M — aquilo que pertence distintivamente a Mateus pode haver dúvida razoável de que um documento (que
— representa cerca de 300 versículos, uma boa parte consiste de várias tradições orais e escritas, finalmente
dos quais, de algum modo, trata de leis e de costumes registradas) realmente existia e foi empregado pelo
judaicos. Observando isso, alguns eruditos preferem autor do evangelho de Mateus, uma tradição de que
identificar com M a «Judéia» ou mesmo «Jerusalém», ele dispunha, mas fora do acesso dos demais
e, nesse caso, a igreja de Jerusalém seria a fonte evangelistas sinópticos.
informativa. Alguns, que identificam M com Jerusa 3. A fonte Q (qoeUe). Cerca de 250 a 300
lém, então identificam Q com Antioquia. Outros versículos são preservados em comum por Mateus e
identificam M com o partido judaizante extremo de Lucas, os ensinamentos de Jesus, que não são
Jerusalém, embora a evidência em torno disso não registrados por Marcos. Supõe-se, pois, que esse
seja muito convincente. bloco de material veio de uma fonte que aqueles dois
Material M. Consiste do seguinte: a genealogia autores tiveram, mas que Marcos não conhecia, ou
(1:1-16); algumas narrativas como as dos magos que ignorou (mais provavelmente a primeira possibi
(2:1-12), várias parábolas, como as que se acham em lidade). Alguns eruditos têm pensado que Q foi o
13:36-43,44,45,46,47-50; 18:23-35; 20:1-16; 21:28- documento a que Papias aludiu como «Oráculos do
32; 22:1-14; 25:1-13,31-46. Mateus conta três Senhor», da autoria de Mateus. Aquele documento,
milagres que os outros não narram: a cura dos dois entretanto, foi escrito em aramaico, ao passo que o
cegos (9:27); a cura do endemoninhado (9:32); e a evangelho de Mateus foi todo escrito em grego.
moeda na boca do peixe (17:24). Além disso, as Todavia, não é impossível que os «Oráculos do
questões atinentes ao julgamento, crucificação e Senhor», escritos por Mateus, sejam uma fonte de Q,
ressurreição, embora tomadas largamente por ou pelo menos, estejam relacionados a ela. Talvez a
414
PROBLEMA SINÓPTICO
fonte Q seja uma tradução daqueles oráculos, ou, pelo Por conseguinte, apesar de não podermos provar a
menos, estivesse baseada nos mesmos. É altamente existência da fonte Q, da mesma maneira irrefutável
improvável porém, que os «Oráculos do Senhor» com que podemos «provar» que Marcos foi usado
sejam a mesma coisa que o evangelho de Mateus, como fonte tanto de Mateus como de Lucas, 'esse
conforme pensavam vários estudiosos da antiguidade, conceito é o melhor que já foi apresentado para
pois não há nenhuma evidência de que Mateus seja explicar o material comum em Mateus e Lucas, no
tradução proveniente do aramaico. Seja como for, tocante aos «ensinamentos» de Jesus. Todavia, no
sem importar quais sejam as relações entre Q e os presente é impossível fazer qualquer descrição veraz
Oráculos, é improvável que Lucas simplesmente do material Q. E porções daquilo que atribuímos a
tenha copiado informações de Mateus, incluindo Q, poderiam pertencer a outra fonte que continha
apenas esta porção, porquanto se ele contasse com material similar, de tal modo que cada autor sagrado
uma cópia do evangelho de Mateus, é quase certo que se utilizou de mais de uma fonte, que continha
teria incluído muito mais do mesmo do que o material material parecido, embora o produto final tenha
Q. Pelo contrário, houve uma fonte informativa, resultado similar.
como os «Oráculos do Senhor», a qual ambos 4. Fonte L — tradiçio da igrt^a de Cesaréia? Essa
tiveram acesso. Não existem boas evidências de que suposta fonte informativa representa cerca de 40% do
Mateus dependeu de Lucas, ou vice-versa; mas a volume de Lucas, e envolve tanto ensinamento quanto
evidência esmagadora é que ambos se estribaram em narrativa histórica. A tradição antiga associa Lucas a
uma fonte informativa comum, a qual identificamos Antioquia, mas isso não quer dizer que ele tenha
pela letra Q. escrito ali o seu evangelho, como se houvesse se valido
O material Q. Consiste do seguinte: já que essa das tradições existentes naquela cidade. Alguns
fonte inclue essencialmente os ensinamentos de Jesus, supõem que o evangelho de Lucas foi escrito em
consiste principalmente de parábolas: Mat. 7:24-47 Roma; mas outros pensam em Éfeso ou Corinto. O
com "Luc. 6:47-49; Mat. 12:43-45 com Luc. 11:24-26; fato é que, historicamente falando, não podemos
Mat. 13:33 com Luc. 13:20,21; Mat. 18:12-14 com vincular textualmente o evangelho de Lucas a
Luc. 15:3-7; Mat. 24:42-44 com Lucas 12:36-40; Mat. qualquer lugar específico. O livro de Atos mostra-nos
24:45-51 com Luc. 12:42-48; Mat. 25:14-30 com Luc. que Lucas acompanhou Paulo em muitas de suas
19:11-27. Alguns também incluem nessa fonte certas viagens missionárias; mas Lucas quase certamente
narrativas, como a forma adornada da história da escreveu o seu evangelho após as experiências
tentação, a narrativa sobre o servo do centurião de narradas no livro de Atos, pelo que nenhuma
Cafarnaum, e algum material concernente a João localização geográfica pode ser demarcada como local
Batista. onde ele escreveu seu livro. Alguns estudiosos vêem
Alguns eruditos têm atacado a própria existência de evidências, no próprio material lucano, de uma
qualquer documento Q, pelo que normalmente a origem palestina, sobretudo no tocante a algumas
existência do material Mateus-Lucas é explicada com parábolas. Porém, qualquer material «palestino» com
base em duas tradições «justapostas», mas um tanto facilidade poderia ter sido pteservado na igreja de
diversas, tendo Mateus se alicerçado em uma delas, Cesaréia ou em qualquer outro lugar, tendo sido
ao passo que Lucas se baseou na outra. Mas outros compilado ali, e não em Jerusalém. De acordo com a
estudiosos simplesmente supõem um — empréstimo tradição antimarcidnita, após o falecimento de Paulo,
— direto de Mateus a Lucas, ou de Lucas a Mateus. Lucas continuou seu ministério na Beócia, na Grécia,
Apesar disso ser possível, é extremamente im até a idade de 84 anos; e, nesse caso, seu evangelho
provável que Mateus, ao utilizar-se de Lucas, tenha pode ter sido escrito ali. Contudo, o próprio Lucas
omitido nada menos que dezesseis parábolas e muito nos fala de suas investigações e pesquisas (Luc.
outro material, algum dele de cunho histórico. Se 1:1-3), sendo perfeitamente possível que L, seu
Lucas copiou de Mateus, então por que ele omitiu dez material distintivo, realmente seja uma compilação de
parábolas e três milagres, e por que ele não procurou achados baseados em tradições derivadas de muitos
reconciliar suas narrativas do nascimento e sua lugares e de muitas pessoas, algumas das quais seriam
genealogia ao que Mateus escreveu, ou por que não narrativas feitas por testemunhas oculares diretas,
incorporou em seu evangelho certas narrativas, apostólicas ou não, ao passo que outras seriam
sobretudo acerca dos incidentes iniciais da vida de narrativas em segunda mão. Com facilidade ele
Jesus? Parece que se houve qualquer empréstimo poderia ter interrogado os. setenta discípulos, tanto
direto, Mateus e Lucas seriam muito mais parecidos quanto os onze apóstolos originais; e por que motivo
um com o outro, do mesmo modo que quase a duvidaríamos que grande parte de seu material, que
totalidade do evangelho de Marcos i o i .incorporada outros evangelhos não possuem, se tenha originado de
por Mateus e Lucas, simplesmente porque Marcos foi suas extensas pesquisas? Já que Cesaréia foi um dos
verdadeiramente usado como fonte informativa de primeiros centros cristãos, parte da sua fonte
ambos. Se Mateus de fato tivesse.sido uma das fontes jnformativa L, poderia ter-se alicerçado sobre as
informativas de Lucas, teríamos um evangelho lucano tradições daquele lugar.
bem maior; pois se Lucas achou por bem usar cerca O material L. Consiste do seguinte: o material
de 60% de Marcos, incorporando em seu evangelho distintivamente lucano são as palavras que estão em
seis grandes blocos de material, é provável que ele não Luc. 7:36-50; 10:25-37; 11:5-10; 12:16-21; 13:6-9;
tivesse usado menor proporção do evangelho de 14:7-11; 14:16-24; 14:28-30; 14:32-33; 15:7-10;
Mateus. Nesse caso, ele teria usado bem mais 15:11-32; 16:19-31; 17:7-10; 18:1-8; 18:9-14. Ele
material, e o material comum a Mateus e Lucas registra seis milagres que os demais não fazem: Luc.
certamente ultrapassaria a 250 versículos. Mas as 5:1; 7:11; 13:11; 14:1; 17:11 e 22:50. A isso
diferenças entre Mateus e Lucas são simplesmente precisamos acrescentar os capítulos introdutórios ao
grandes demais para supor-se que houve qualquer evangelho, a genealogia e certas «narrativas sobre o
«interdependência». O evangelho de Mateus incorpo nascimento», bem como a «longa viagem a Jerusa
ra 600 dos 661 versículos de Marcos; e se o autor de lém» para celebração da última fásco a (que alguns
Mateus tivesse usado Lucas como fonte informativa, estudiosos denominam «Documento de Viagem», que
teria produzido um evangelho bem qnais amplo. Por tem boa porção de material histórico, além de
que ele teria usado tanto de Marcos, e comparativa declarações de Jesus), Luc. 9:51—18:14. A seção de
mente tão pouco de Lucas? Luc. 6:20—8:3, também não pertence a Marcos; e na
PROBLEMA SINÓPTICO
história da última semana da vida terrena de Jesus, evangelho de Marcos, e seu uso como fonte
encontramos a adição de vários detalhes que não se informativa).
acham na história de Marcos. Entre tais detalhes 4. A fonte Q, cuja natureza exata não pode ser
temos o «suor como sangue», no jardim do definida com as evidências que possuímos no
Getsêinani, a declaração que diz: «Pai, perdoa-lhes, momento, foi a fonte usada por Mateus e Lucas,
porque...», a conversa dos ladrões na cruz, a quando os dois estavam em consonância com o
promessa do paraíso a um deles, a caminhada até material nào-pertencente a Marcos.
Emaús, uma aparição de Jesus em Jerusalém, após a
ressurreição, a ascensão, e a volta dos seguidores de 5. Mateus, um evangelho não-primário, ao usar
Jesus a Jerusalém, a fim de adorarem. Não resta material peculiar a si mesmo, tinha uma fonte, M,
dúvidas de que Lucas seguiu uma tradição diferente, que é descrita sob a seção III.4.2. Lucas contou com a
nessas narrativas, em confronto com aquilo que fonte L, descrita em III.4.4.
Marcos soube. 6. As fontes do evangelho primário foram diversas,
Tal como no caso da fonte informativa Q, alguns como as memórias de Pedro, a tradição da igreja de
estudiosos têm duvidado da própria existência de L, Roma (para a qual contribuíram muitos participan
como fonte isolada, preferindo supor que em seu tes), e os relatos de testemunhas oculares, algumas
lugar houve muitas fontes informativas miscelâneas, apostólicas, juntamente com relatos em segunda mão,
ou mesmo que Lucas meramente desertou de seu provenientes de outras comunidades ou indivíduos.
posto de historiador, e compôs vários incidentes e (Ver sobre o «protomarcos», em III.4.1).
parábolas, que figuram somente em seu evangelho, e As conclusões da presente investigação são consi
não nos outros. E bem mais provável, porém, que deradas meras tentativas, estando sujeitas a revisão.
Lucas fosse homem honesto, capaz de descobrir Contudo, embora de modo algum queiramos ser
muitas coisas que outros não descobriram, tendo-os dogmáticos, cremos que algumas das coisas aqui ditas
reunido em uma «compilação». A isso chamamos de L nos aproximam mais da verdade concernente às
e não nos sentimos na obrigação de associar esse fontes informativas dos evangelhos sinópticos, do que
material a qualquer dada comunidade eclesiástica. A poderíamos fazer previamente, antes de qualquer
fonte L certamente resulta da pesquisa mencionada investigação.
em Luc. 1:1-3. Apesar de não ter sido alguma «fonte IV. Marcos, Principal Fonte (Histórica) dos
isolada», como pode ter sido o caso de Q, não Sinópticos
obstante, tratava-se de composição escrita, cuidado Reconhece-se de forma virtualmente universal, hoje
samente preparada por Lucas, que repousava sobre em dia, em contraste com os séculos anteriores, que o
incidentes autênticos da Maravilhosa História. evangelho de Marcos foi o evangelho original
O leitor poderá observar que nossa explicação sobre (daqueles que foram preservados até nós), e que
a «teoria dos quatro documentos» não se ocupa em Mateus e Lucas se utilizaram desse evangelho
seguir simplesmente as linhas que outros eruditos têm como alicerce do seu esboço histórico da vida de Jesus.
sugerido. Em nossas mãos, essa teoria sofreu várias A idéia antiga, popularizada por Agostinho, é que
modificações e especulações. Nenhuma teoria arru- Mateus era o evangelho original, e que o evangelho de
madinha das fontes dos evangelhos pode ser Marcos era um sumário do mesmo. Entretanto,
construída de forma a satisfazer ao menos uma grande massa de evidência favorece a idéia da posição
minoria dentre os eruditos. Contudo, de modo cru, a primária de Marcos, além de favorecer a suposição de
teoria dos «quatro documentos» é a que mais se que Marcos foi usado diretamente como fonte
aproxima da verdade, conforme acreditamos, no informativa de Mateus e Lucas. As evidências acerca
tocante às fontes informativas dos evangelhos disso, são as seguintes:
sinópticos. 1. Dentre o número total de versículos de Marcos
Sumário d » Respostas às Perguntas — 661 — nada menos de 600 se acham em Mateus, ou
Feitas na Seçio II Deste Artigo seja, cerca de noventa por cento. Se Mateus não usou
1. Os evangelhos sinópticos se caracterizam por sua Marcos como seu esboço histórico, então deve ter
«interdependência». Mateus e Lucas dependeram de usado um protomarcos que diferia mui levemente do
Marcos acerca do esboço histórico. E altamente resultante evangelho de Marcos.
improvável, porém, que Lucas tenha dependido de 2. A narrativa de Mateus usualmente segue o
Mateus, ou Mateus de Lucas. evangelho de Marcos, embora ele tenha omitido
2. Quase certamente, Mateus e Lucas, em parte dos alguns versículos, evidentemente por amor à brevida
ensinamentos que expõem, dependeram de uma fonte de; ou então modifica algo aqui e ali, a fim de obter
comum que chamamos de Q. Também pode ter melhor estilo literário. Outras modificações provavel
havido outras fontes informativas menores e não mente se devem à tentativa do autor sagrado de
identificadas, ou pode ter havido fontes múltiplas, eliminar alguns elementos ásperos, como a aparente
que continham material similar, as quais, quando aspereza de Jesus para com um leproso (ver Mat.
copiadas (cada evangelista copiou de fontes distintas, 8:2,3, em comparação com Marcos 3:5 e 10:14). Em
embora similares), deram a aparência de que Mateus, algumas passagens foram alteradas ou
dependiam de uma única fonte comum. desenvolvidas, a fim de torná-las mais aplicáveis às
3. O evangelho de Marcos certamente é primário, condições posteriores da igreja, do que se dava no
tendo sido diretamente usado como fonte informativa tempo refletido .no evangelho de Marcos, que lhe é
por Mateus e Lucas; ou então um protomarcos foi anterior. O famoso capítulo dezesseis, com seu
utilizado por eles, o qual não diferia materialmente do «material eclesiástico» (igreja edificada sobre Pedro,
evangelho de Marcos. Diferenças nas seções comuns a disciplina, etc.), certamente é um exemplo do que
Marcos podem ser explicadas com base no trabalho dizemos.
«editorial» feito pelos dois outros autores sagrados. 3. A narrativa de Mateus normalmente segue a
Ou então, se foi usado um protomarcos, muitas ordem de acontecimentos que achamos em Marcos,
dessas diferenças (em comparação com o resultante mas ele não hesita em alterar essa ordem, se a mesma
evangelho de Marcos) poderiam já estar contidas se presta melhor a seus propósitos. O autor sagrado
naquele documento (ou documentos). (Ver a seção IV que produziu essencialmente um evangelho dos
quanto a provas sobre a posição primária do ensinamentos de Jesus, arranjou seu material em
416
PROBLEMA SINÓPTICO
cinco blocos, a saber: caps. 3:7; 8—10; 11-13; 14-18 e sentiu-se compelido a acrescentar ensinamentos ao
19—25. A narrativa histórica se adapta então a esse esboço histórico que lhe foi provido. Também
plano básico; e, por causa disso ele foi forçado a acrescentou alguns eventos adicionais, baseados em
alterar, ocasionalmente a ordem de acontecimentos fontes informativas que estavam à sua disposição,
que figuram no evangelho de Marcos. As «diferenças» mas não para Marcos, o que explica a existência tanto
entre Mateus e Marcos, pois, podem ser assim do material Q quanto M, no evangelho de Mateus.
esclarecidas, sem qualquer dificuldade maior, no Lucas, por outro lado, devido às suas pesquisas
tocante àquela porção dos dois evangelhos que são intensas, teve grande acúmulo de material que não
quase idênticas Sob III.4 temos explicado as esteve ao alcance «em de Mateus e nem de Marcos; e
diferenças entre esses dois evangelhos, no tocante assim, apesar de ter o material Q à sua disposição, em
àquilo em que Mateus suplementa o evangelho de conjunção com Mateus, também adicionou ao esboço
Marcos. de Marcos, o que agora chamamos de fonte
informativa L.
4. Lucas se utilizou de cerca de sessenta por cento
do volume total do evangelho de Marcos. Embora 6. Pode-se observar certa dependência verbal de
tivesse usado menor proporção de Marcos, do que Mateus e Lucas a Marcos, ao empregarem aquele
fizera Mateus, é mais exato na transcrição dos evangelho, o que dificilmente pode ser creditado à
informes. Normalmente, Lucas preservou a mesma mera chance. Essa é outra indicação da posição
ordem de acontecimentos que Marcos apresenta, a primária de Marcos, como também do fato de que
mesma ordem de palavras, com menos omissões do este foi usado diretamente como fonte informativa dos
que se vê em Mateus. Lucas usou seis grandes blocos demais evangelhos sinópticos. (Ver essa dependência
do material de Marcos, além de porções menores. Ele verbal ilustrada em III.l.b do presente artigo).
omite somente uma grande seção de Marcos, 7. A escassez de Marcos é prova conclusiva de que
inteiramente, isto é, Mar. 6:45 — 8:26, que alguns este não poderia ter sido escrito sobre o alicerce de
eruditos apodam de «Grande Omissão». As modifica Mateus ou Lucas como fonte informativa. Dentre as
ções feitas por Lucas, em confronto com Marcos, 41 parábolas registradas nos evangelhos sinópticos,
podem ser atribuídas às tentativas lucanas de Marcos conta apenas com oito, e apenas uma dessas
melhorar o grego e o estilo de Marcos, omitindo parábolas é singular a Marcos, ou seja, não é
irrelevâncias, suavizando ou idealizando as «imagens» encontrada nem em Mateus e nem em Lucas, ou seja,
empregadas por Jesus e pelos discípulos, omitindo a semente que medra (ver Mar. 4:26-29). É impossível
incidentes incongruentes ou incompreensíveis, como a supor que se Marcos tivesse tido acesso a esse
maldição à figueira (Mar. 11:12-14, 20-22). Em certo material, que teria deixado de lado tanto material, e
lugar, o próprio Lucas confunde o esboço histórico, ao isso propositalmente. Mateus tem dez parábolas que
inserir no plano simples de Marcos o longo não figuram nem em Marcos e nem em Lucas; e Lucas
«Documento de Viagem», Luc. 9:51 — 18:14, que de tem dezesseis dessas parábolas. Se Marcos tivesSe
modo algum se adapta bem em qualquer harmonia usado ou Mateus ou Lucas como fonte informativa,
com os evangelhos de Marcos e Mateus, ainda que, isso não teria acontecido. Marcos certamente teria
sem dúvida alguma, apresentem material autêntico. E incluído algumas daquelas declarações de Jesus.
provável o fato de que Lucas tenha recolhido maior Dentre quarenta milagres ou mais, narrados nos
abundância de material histórico do que Marcos, evangelhos sinópticos, Marcos registra vinte, ou seja,
que o impediu de seguir, estritamente, o es cerca da metade, e somente dois milagres narrados
boço histórico de Marcos. — Assim, um tanto por ele não foram duplicados por Mateus e Lucas, a
desajeitadamente, ele incluiu parte de seu material, saber, a cura do surdo mudo (Mar. 7:31) e a cura de
interrompendo o esboço deixado por Marcos. certo cego (Mar. 8:22). É difícil acreditar que Marcos
5. Sucede, pois, que dos 661 versículos, 600 são teria deixado de registrar mais da metade dos
incorporados por Mateus e Lucas, deixando apenas milagres, sobre os quais poderia ter escrito se
cinco dúzias que não foram copiadas. Porém, se porventura tivesse ante si fontes informativas que as
Marcos meramente condensou Mateus, conforme historiassem.
criam os antigos, é impossível entender por que razão 8. O evangelho de Marcos nada nos diz acerca do
ele deixou fora quase 50%; e mais difícil ainda é nascimento e do começo da vida terrena de Jesus, e
entender por que motivo Marcos deixou de lado, não supre a genealogia. Se ele tivesse ou Mateus ou
quase inteiramente, os ensinamentos de Jesus. Seria Lucas para usar como fonte informativa, seria
isso uma omissão inconcebível e imperdoável. Se extremamente provável que não houvesse incluído
Mateus tivesse sido escrito primeiro, não haveria parte daquele material.
qualquer razão por que Marcos deveria ter sido
escrito. Mas podemos entender facilmente por que V. Bibliografia: E EN FIL(1939) IB ID STRE TA
razão Mateus, ao usar um evangelho «escasso», TRA
Ver a seguir:
417
PROBLEMA SINOPTICO
DERIVADOS DE M :
A cura dos dois ccgos 9:27
A cura de um endem oninhado 9:32
A moeda na boca do peixe 17:24
418
PROBLEMA SINÓPTICO
DERIVADOS D O PROTOMARCOS:
A cura do surdo-mudo 7:31
A cura do cego 8 :2 2
DERIVADO DE L:
A pesca maravilhosa 5:1
A ressurreição do filho da viúva 7:11
A cura .da mulher enferma 13:11
A cura do hidrópico 14:1
A cura dos dez leprosos 17:11
A cura da orelha decepada de Malco 22:50
Também há vários milagres registrados somente por João, que sâo dados aqui para
satisfazer à curiosidade do leitor, embora não envolvam os evangelhos sinópticos'.
Transformação da água em vinho J o io 2:1
Cura do filho de um oficialdo rei 4:46
Cura dr um paralítico 5:1
Cura de um cego de nascença 9:1
Ressurreição de Lázaro 11:43
Pesca maravilhosa 21:1
419
PROCEDÊNCIA - PROCISSÃO
PROCEDÊNCIA DO ESPtRITO SANTO suás ações.
O Espirito Santo procede somente da parte de Deus Paulo raciocina aqui que se os crentes não devem
Pai? ou tanto de Deus Pai quanto de Deus Filho? A julgar aos de fora, conforme se lê em I Cor. 5:12,13,
teologia cristã oriental apega-se à primeira dessas então não deveriam os de fora ter qualquer coisa a ver
posições, enquanto que a teologia cristã ocidental com o julgamento de crentes, naqueles casos em que
prefere a segunda delas. Essa foi uma importante dois crentes, em conflito um com o outro, podem ser
questão, que acabou provocando o cisma entre julgados pela igreja local. Paulo deixava subentendido
Oriente e Ocidente, em 1054 D.C. Ver o detalhado que a consciência cristã e a influência do Espírito
artigo chamado Filioque, que descreve essa idéia. Santo contribuem para fazer da igreja cristã local um
tribunal melhor e mais sábio do que qualquer tribunal
secular poderia sê-lo. Mui provavelmente a idéia geral
em que esse pensamento se alicerça vem da cultura
PROCESSO, FILOSOFIA DE judaica, pois dentro da sinagoga e do templo havia
Essa filosofia, que salienta mais a idéia de provisão para todas as formas de julgamento,
«tornar-se» do que a idéia de «ser» é chamada de incluindo os julgamentos de natureza inteiramente
Filosofia de Processo. Heráclito foi um dos principais secular. O próprio governo romano permitiu aos
dos antigos filósofos a manter esse ponto de vista. judeus continuarem essa prática, até que caiu no mais
Uma coisa qualquer nunca é, mas está continuamente total abuso. Os rabinos costumavam usar o trecho de
tornando-se: panta rei, tudo se acha em estado de Êxo. 21:1 a fim de mostrar que era ilegal apresentar
fluxo. Um moderno filósofo que assim pensa é uma queixa perante juizes idólatras. Entre os judeus,
Whitehead. Outros que também podem ser classifi normalmente, três eram os juizes nomeados para
cados como tais são aqueles que dependem da tese da cuidarem de tais casos. (Ver Strack e Billerbeck,
tríade formada por tese, antítese e síntese, e que Kommentarzum N. T. aus Talmud und Midrasch, III,
pensam que essa é uma noção fundamental. Ver págs. 364-365).
acerca de Hegel. Além desses, John Dewey, que O mais provável é que Paulo não estivesse pensando
supunha que todos os pontos finais na realidade são que a igreja cristã devesse assumir qualquer posição
apenas meios ou instrumentos de novos começos, legal, a fim de julgar questões dessa natureza, posição
precisa ser assim classificado. essa que fora atribuída à sinagoga judaica por
permissão do governo romano. Não obstante, a igreja
deveria cuidar de si mesma quanto a essas questões,
PROCESSO, TEOLOGIA DE em que dois de seus membros entrassem em conflito
Ver sobre Teologia de Processo. Ver também o um com o outro. Pois Paulo era da opinião que a
artigo intitulado Progresso. sabedoria espiritual deve ser suficiente para cuidar de
tais casos, sobretudo em face do fato de que os crentes
estão destinados a serem juizes universais (6:2), em
PROCESSOS LEGAIS, ABUSOS DOS sentido escatológico. O terceiro versículo deste mesmo
Contra os processos legais entre os crentes, I Cor. capítulo mostra-nos que tal juízo envolverá até mesmo
6: 1-8 os anjos, acerca de cujo assunto dispomos de informa
ção bem escassa. Mediante a transformação dos
Gradualmente Paulo foi repreendendo os muitos remidos segundo a imagem de Cristo, em cujo
vícios, as práticas condenáveis, os males de toda a processo há a formação de sua natureza moral e
sorte, na igreja cristã de Corinto. Já havia condenado metafísica, os homens são elevados a uma estatura
o problema das divisões partidárias, a ênfase sobre a espiritual muito superior à dos próprios anjos. De
sabedoria mundana, a diminuição da importância da fato, assim deverá ser, pois os remidos participarão da
palavra da cruz, a veneração aos heróis e a própria «natureza divina», no dizer de II Ped. 1:4.
degradação de ministros autênticos de Cristo. (Ver os Sendo essa a realidade, certamente as pequenas
capítulos primeiro a terceiro deste mesmo livro). questões que atualmente surgem entre os irmãos na fé
Também havia mostrado como os verdadeiros devem podem ser solucionadas sem a ajuda dos incrédulos,
ser avaliados (ver o quarto capítulo de I Cor.). Por os quais, presumivelmente, possuem muito menor
igual modo, havia atacado os baixos padrões morais, sabedoria, ou pelo menos, sabedoria espiritual muito
tendo destacado especialmente um caso de abuso inferior.
sexual dos mais abomináveis, dentre tudo o que já se Paulo nos permite entender que os crentes devem
ouvira falar. E exigira ação por parte da igreja cristã viver acima da lei, já que possuem a lei superior de
de Corinto nesse caso, bem como a exclusão do Cristo para obedecerem. Isso, entretanto, fará dos
indivíduo culpado, sua entrega a Satanás, para que o remidos excelentes súditos, cidadãos exemplares e
mesmo perdesse a sua vida física. cumpridores das leis de seus respectivos países.
Mas, a partir deste ponto, Paulo ataca um diferente (Ensino esse bem esclarecido no décimo terceiro
tipo de abuso, a saber, o de julgar a outros, em capítulo da epístola aos Romanos). O crente deve
sentido legal, na presença de incrédulos, em seus se preocupar com suas responsabilidades espirituais,
tribunais de justiça. Paulo considerava que a igreja e não meramente com os seus «direitos». Por essa
cristã tem a capacidade de efetuar os seus próprios exata razão é que disse Aristófanes (444—389 A.C.),
julgamentos, a despeito das questões que porventura «Os sábios, ainda que todas as leis fossem abolidas;
fossem encontradas. Essa ação, naturalmente, pres levariam o mesmo tipo de vida*.
supõe o caso de dois crentes que discordassem e
entrassem em conflito por algum motivo, e não os
casos em que um crente fosse envolvido em querela PROCISSÃO
com um incrédulo. Não é provável, neste caso, seja Uma procissão é um tipo de demonstração pública
como for, que o incrédulo concordasse em ser julgado de crença, ou então celebração de algum aconteci
em um tribunal cristão, eclesiástico. Paulo continuava mento importante ou ato de fé. As procissões
procurando regulamentar a conduta no seio da igreja, religiosas têm uma longa história. Há evidências de
e não entre crentes e incrédulos. Preocupava-se o ue esses cortejos religiosos já eram comuns na era do
apóstolo com a ordem correta no seio da igreja cristã, Í tronze. O propósito original parece ter sido o desejo
e em que o espírito de Cristo fosse aplicado a todas as de transportar objetos sagrados (ou seja, poderes) de
420
PROCISSÃO - PROCÔNSUL
um lugar para outro. As procissões com ídolos, vasos equilibrar suas emanações, para então convocar todas
religiosos ou rituais, tronos e outros objetos e as coisas de volta a si mesmo. Naturalmente, esse
equipamentos faziam parte das religiões do Egito, da ensino da unidade final é uma importante idéia
Babilônia, da índia, do Japão, da China, da Grécia e religiosa, que aparece em um número demasiado
de Roma. Na Grécia, a mais célebre dessas procissões grande de sistemas, de modo a não poder ser
era aquela em que era honrada a deusa Atena, ignorado. O trecho de Efé. 1:9,10 explica que o
quando uma vestimenta nova lhe era apresentada, por mistério da vontade de Deus é a unidade final de
parte de uma pessoa escolhida do Partenon. Outras todas as coisas em tomo do Logos (chamado Cristo,
famosas procissões eram as de Dionísia e Elêusis, em sua encarnação). Ver o artigo sobre Mistério da
quando eram celebrados os mistérios de Demeter. As Vontade de Deus. Não é provável que o apóstolo
procissões religiosas eram muito importantes em Paulo tenha falado em termos menos inclusivos (como
Roma, sobretudo nos tempos de crise, quando era se algo fosse excluído, como os perdidos, e ainda
buscado o favor dos deuses. Essas procissões com assim fosse obtida uma unidade). £ impossível
freqüência eram ligadas a atos públicos e festividades. obter-se unidade através da exclusão. Visto que o
Certas evidências indicam que no culto dos hebreus conceito era importante para a filosofia antiga, como
também havia procissões em honra a Yahweh. a do platonismo e a do estoicismo, não é provável que
Trechos veterotestamentários relacionados ao costu Paulo tenha sido menos abrangente, sem ter oferecido
me podem ser Sal. 24:7-9; 26:6; 47:1-9; 48:12-14, e, qualquer explicação de por que teria excluído isto ou
especialmente 68:24-35. aquilo.
O cristianismo antigo, sujeito a perseguições, não 2. As Henadas. Essa palavra significa «ás
teve muita oportunidade para dedicar-se a essa unidades», com base na palavra grega que significa
prática. Porém, a começar pelo século IV D.C., as «um». Essa doutrina faz lembrar as mônadas de
procissões foram-se tornando comuns. Eram então Leibnitz. Ver sobre as Mônadas. O Um contém todas
associadas a importantes feriados religiosos, como as as henadas em si mesmo, e seriam, na realidade,
festividades em honra aos mártires. A procissão das parte do Um, como suas emanações. Representam a
luzes era uma característica comum, mormente diversidade dentro da unidade. Cada henada é uma
quando da festa da Purificação. O procedimento espécie de espelho do Um, algo semelhante a um
usual consiste em passar de um santuário ou templo microcosmo do macrocosmo (vide). A série do ser
para outro santuário ou templo, de maneira solene, seria composta por: Um, Ser, Vida, Inteligência e
com acompanhamento de hinos. As procissões Alma.
especiais incluem os funerais e aquelas que saúdam a 3. Os Deuses. O universo estaria repleto de deuses,
algum novo bispo ou elevado oficial eclesiástico. mas essas divindades seriam apenas emanações e
É atrelada grande importância mística às procis reflexos do Um. Seja como for, temos nessa idéia uma
sões papais, que percorrem as diversas igrejas de forma de panteísmo. Proclo confiava no poder da
Roma, ou então as procissões antes da alta missa, que teurgia (vide) a fim de controlar e utilizar os poderes
incluem a congregação inteira naquele ato de divinos com propósitos práticos. Ele acreditava que
veneração. Significados místicos e dramáticos são temos ai um poder que transcende à sabedoria
conferidos às procissões do Domingo de Páscoa e da humana, um poder que pode ser utilizado de maneira
Candelária, esta última sendo a festa que relembra a legítima.
apresentação de Cristo no templo, segundo o registro 4. A Visão Beatífica. A alma humana é capaz de
de Luc. 2:22. No Ocidente isso é chamado de entrar em unidade com o Um, e a sua principal
Purificação da Bendita Virgem, enquanto que no preocupação deveria ser um retomo completo, a fim
Oriente chama-se de Encontro com Simeão e Anà. Os de ser absorvida pela divindade. À alma foi dada uma
rogos são um aspecto importante das procissões da inteligência especial e superior, capacitando-a a
Hóstia, como na procissão de Corpus Christi, ou nas concretizar esse propósito.
litanias, onde há orações intercessórias solenes. 5. Influência de Proclo. Ele exerceu grande
influência, por meio de Dionísio, o pseudo-areopagi-
ta, que promovia as suas idéias. Essa influência foi
PROCLO poderosa sobre certos filósofos da Idade Média e até
Suas datas foram 410-485 D.C. Ele nasceu em mesmo da Renascença.
Constantinopla. Estudou sob a direção de Olimpiodo- Escritos. Elements o f Theology; Plato 's Theology;
ro (vide). Proclo foi um filósofo neoplatônico da escola Elements o f Physics; Ten Doubts Conceming
de Alexandria. Foi discípulo de Siriano, ao qual Providence; Conceming Providence and Fate; On the
sucedeu como chefe da escola. Apreciava de tal Subssistence o f Evil. Além dessas obras, ele proveu
maneira esse seu mestre que chegou a solicitar ser Comentários sobre as idéias de Platão.
sepultado no mesmo túmulo que ele.
A filosofia de Proclo era uma tentativa de combinar
as filosofias de Aristóteles, Platão, Plotino e Jâmblico. PROCÔNSUL
Era homem devoto e religioso, um grande erudito e Essa palavra vem diretamente do latim, pro
mestre, — o que foi um dos últimos dentre os console, «substituto de um cônsul». Esse era um título
pensadores religiosos pagãos importantes do império dado a governadores provinciais romanos. No
romano. Escreveu muito. Foi chefe da Academia de começo, o título foi usado para indicar algum oficial
Atenas. que era cônsul, mas então recebeu outro termo de
Idéias: ofício além daquele que já havia exercido, mas dessa
1. Ele procurou explicar as emanações parcialmen vez em uma das províncias romanas. Destarte, ele
te em termos das categorias aristotélicas, mormente tomava-se procônsul mediante uma extensão de sua
as categorias da identidade, da diferença e do retomo. autoridade. Essa obra era a de um governador que
A categoria da identidade referia-se à unidade divina; dirigia alguma província. Sob os imperadores
a da diferença dizia respeito à emanação do Um; e a romanos, o título passou a simplesmente designar os
do retomo indicaria como todas as coisas procuram governadores das províncias, sem importar se o
voltar ao Um. Desse modo, o universo era por ele indivíduo tivesse sido cônsul ou não. Damos um artigo
encarado como um sistema em que o Um consegue separado sobre Cônsul.
421
PRÕCORO - PRO-ESCRAVIDÀO
Um ex-cônsul também podia desempenhar os Mas o ofício terminou por ser equivalente ao de um
deveres de um cônsul nas campanhas militares, em governador ou prefeito, um homem nomeado para
cujo caso também podia ser chamado de procônsul. dirigir uma área limitada, e não uma província
Os candidatos ao proconsulado provincial, após terem inteira. No Novo Testamento, o vocábulo refere-se ao
obtido a aprovação do senado romano, costumeira- governador da Judéia.
mente eram escolhidos por meio de sortes, que Três procuradores aparecem no Novo Testamento,
determinavam quais províncias eles governariam, a saber: Pôncio Pilatos (26-36 D.C.) (ver Mat. 27:2);
usualmente pelo espaço de um ano, embora também Antônio Félix (52-59 D.C.) (ver Atos 23:24 ss); e
houvesse termos mais longos do que isso. Um Pórcio Festo (59-62 D.C.) (ver Atos 24:27 ss). Damos
procônsul era investido de autoridade quase suprema artigos separados sobre todos os três. Os procuradores
sobre as forças militares que houvesse na sua região, da Palestina tinham a difícil tarefa de manter a ordem
sobre o governo em geral e sobre os casos tribunícios entre os judeus, pelo que dispunham de tropas ao seu
civis e criminais. Mas precisava enviar relatório de seu comando. Estavam subordinados à autoridade do
governo a Roma; e, se seu desempenho fosse legado imperial (no latim, propraetor) da Síria, e seu
considerado negativo, era responsabilizado pelo quartel-general ficava em Cesaréia, embora com
desgoverno causado. freqüência se fizessem presentes em Jerusalém. Esses
Nas páginas do Novo Testamento são mencionados procuradores não obtiveram grande sucesso em sua
dois procônsules: Sérgio Paulo (ver Atos 13:7) e Gálio missão de pacificadores, conforme se evidencia pelo
(ver Atos 18:12). Temos provido artigos separados fato de que houve duas notáveis rebeliões judaicas, a
sobre ambas essas personagens. primeira em 70 D.C. e a segunda em 132 D.C.
PRÕCORO PRÓDICO
Esse homem é mencionado exclusivamente em Atos Suas datas aproximadas foram 460-399 A.C. Ele foi
6:5, o que não nos permite tazer qualquer idéia sobre um filósofo sofista (vide). Nasceu em Ceos, uma ilha
ele, além do que as Escrituras aqui nos informam de grega do Mediterrâneo. Pródico é mencionado nos
que ele foi um dos sete diáconos originalmente Diálogos de Sócrates. Ele se interessava por assuntos
selecionados pela igreja de Jerusalém. Todavia, de gramática, de religião, de filosofia (especialmente
tradicionalmente, Prócoro é o autor do livro Atos de a ética). Era um pensador cético e pessimista. Sua
João. Porém, trata-se de uma obra apócrifa e fabulosa obra sobre a ética foi extremamente cética. Seu mito
sobre o apóstolo João. É extremamente improvável de Héracles ilustra o ponto. Héracles postara-se em
que tal livro tenha sido escrito por Prócoro, um dos uma encruzilhada, podendo escolher entre a virtude
sete diáconos originais da igreja de Jerusalém. Essa árdua e o vício agradável. E ele preferiu a virtude, o
tentativa foi feita para que o citado livro se escudasse que lhe custou muito trabalho.
sobre a autoridade de Prócoro, como suposta Pródico talvez tenha sido o originador do curioso
testemunha ocular dos labores do apóstolo João. No argumento contra o temor da morte, que os filósofos
entanto, pouco ou nada existe capaz de autenticar epicuristas empregaram posteriormente. Asseverava
essa obra. Essa obra apócrifa, «Atos de João» ele que a morte não deve ser temida porque, enquanto
apresenta Prócoro como companheiro desse apóstolo alguém teme, é que ainda não morreu. Além disso, ele
e seu biógrafo. Ver o artigo sobre os Livros Apócrifos confiava na proposição que diz que quando alguém
do N. T. A arte bizantina faz o apóstolo João dedicar morre perde todos os sentimentos, porquanto, para
o seu evangelho a Prócoro. Há também uma outra ele, a morte seria a cessação da existência.
tradição que ajunta que Prócoro foi consagrado por Escritos. Sobre a Natureza; Sobre a Natureza do
Pedro como bispo da Nicomédia. Porém, nenhuma Homem; Sobre a Propriedade da Linguagem; Horas
dessas tradições é digna de confiança. (onde aparece o mito acerca de Héracles). Somente
fragmentos restam dessas obras.
PROCRIAÇÃO
Ver sobre Sexo. PRÔ ESCRAVIDÃO, DOUTRINA DE
£ incrível o que as pessoas julgam poder encontrar
na Bíblia para defender. James H. Thomwell escreveu
PROCURADOR um artigo, publicado no Southern Presbyterian
Essa palavra portuguesa vem do latim, procurator, Review (julho de 1850), argumentando, de forma
«quem cuida dos interesses alheios». A idéia de hábil e detalhada, em favor da sanção bíblica à
procuração aparece no prefixo pro. A base da palavra escravatura. Podemos imaginar os versículos que ele
é o termo latino curare, «cuidar»; e cura, «cuidado», é deve ter usado, como aqueles nos quais Paulo
o elemento básico dessa palavra. encorajou indivíduos a permanecer no estado em que
Na antiga Roma, um procurador era alguém que estavam quando se converteram (ver I Cor. 7:21), ou a
cuidava dos rendimentos imperiais, atuando como epístola a Filemom, onde Paulo, naturalmente (em
coletor de rendas do império, especialmente em consonância com os costumes da época) encorajou-o a
alguma das províncias. Em seguida, o termo passou a aceitar de volta seu escravo, que havia fugido, com a
ser usado, de modo geral, para indicar algum promessa de que tal fuga não se repetiria. Ver o artigo
administrador provincial. Um procurador era um geral sobre a Escravidão. O cristianismo, na
agente ou delegado do imperador. Antes da época dos qualidade de uma nova fé que estava sob perseguição,
imperadores, o termo tinha diversos usos, como o não se encontrava em posição de alterar o comércio
supervisor e coletor dos rendimentos imperiais, ou escravagista, e nem se lançou mesmo à tarefa, pelo
como o gerente de uma propriedade, um mordomo, que parece haver vários textos bíblicos de prova em
ou qualquer outro tipo de administrador. Sob os favor da escravidão, conforme mostrou o irmão
imperadores romanos, essa palavra passou a denotar Thornwell. No entanto, é patente que a escravidão
delegados ou governantes que assessoravam em vários representa um grande mal social, a despeito da
serviços e deveres burocráticos, nomeados pelos brilhante defesa dele, e apesar da deficiência do Novo
equites (os romanos da segunda mais elevada classe Testamento quanto a esse ponto. Thomwell classifi
social). Seus deveres eram essencialmente financeiros. cou a servidão, o pecado e as enfermidades como
422
PROFANO - PROFECIA
males que se impuseram por causa da maldição divina PROFECIA
contra o homem. Então chegou a seu argumento mais
notável, o de que apesar da escravidão ser um grande Esta enciclopédia tem dado toda a atenção a essa
mal, não era um pecado—algo que não é difícil de questão da profecia. O leitor pode consultar os
entender. Ele comparou a escravidão à pobreza, a seguintes artigos distintos: Dom, especialmente a
qual, apesar de ser um mal, não é um pecado. Mas, terceira seção, Os Dons Divinos-, Profecia: Tradição
naturalmente, ele não mostrou como o pecado, a Da, e a Nossa Época. Esse artigo aborda as profecias
ganância e muitas outras perversões acham-se à raiz sobre o mundo, incluindo as profecias da Bíblia e dos
da pobreza. Todavia, ele foi generoso o bastante para místicos modernos; Precognição (Conhecimento Pré
admitir que, após a morte, cessam as distinções entre vio); Predição; Profetas Maiores; Profetas Menores;
os senhores e os seus escravos, além de ter ensinado Profetas Falsos; Profecias Messiânicas Cumpridas em
que um escravo crente pode ter tantos direitos Jesus; Profecia, Profetas e o Dom da Profecia;
espirituais e tão grande glória eterna como seu senhor Profetisas; Ofícios de Cristo, especialmente sua
crente. Não demorou muito para que a nação terceira seção.
norte-americana se visse a braços com uma renhida e
longa guerra para resolver a questão da escravatura. PROFECIA E CONHECIMENTO
Deus, por sua providência, deu a vitória ao norte, e
isso pôs fim à escravatura, naquele país. £ Ver sobre Profecia, Profetas e o Dom da Profecia,
entristecedor que o irmão Thomwell tenha sido capaz seção oito. Ver também sobre Misticismo e Conheci
de defender, de Bíblia aberta na mão, um mal e um mento e a Fé Religiosa.
pecado tão grande como é o da escravidão. Não
admira que muito em breve o processo histórico PROFECIA, PROFETAS E O DOM DA PROFECIA
haveria de tachá-lo de mentiroso. Quanto aos muitos artigos oferecidos nesta
enciclopédia sobre o tema das profecias, ver Profecia,
onde há uma lista desses artigos.
PROFANO Esboço:
Esboço: I. Termos e Definições
1. O Termo e suas Definições II. No Antigo Testamento
2. Profanações Proibidas na Bíblia III. Gráfico dos Profetas do Antigo Testamento
1. O Termo e suas Definições IV. No Novo Testamento: Diversas Interpretações
Essa palavra portuguesa vem do latim, profanus, V. Vossos Filhos e Filhas Profetizarão
que significa, literalmente, «perante» ou «fora do VI. Jesus Cristo como Profeta
templo», ou seja, aquilo que é secular ou corrompido, VII. Profetas Modernos
não-religioso, vulgar, indecente. £ o antônimo de VIII. Profecia e Conhecimento
«sagrado». Seus sinônimos são «irreligioso», «secular», I. Termos e Definições
«sacrílego», «blasfemo», «ímpio», «vulgar».
A palavra hebraica para «profeta» é nabi, que vem
A palavra hebraica mais comum assim traduzida da raiz verbal naba. Essa palavra significa «anuncia
no Antigo Testamento é halal, «livre», «aberto», dor», «declarador», e, por extensão, aquele que
provavelmente com a idéia de que certas coisas anuncia as mensagens de Deus, freqüentemente
estavam franqueadas a um uso vulgar, desvinculado recebidas por alguma revelação ou discernimento
dos poderes sagrados do templo. No grego, por sua intuitivo. Ademais, os profetas usavam vários meios
vez, o vocábulo correspondente é bébelos, «acessível», de adivinhação e envolviam-se em oráculos. Os termos
«legal de ser pisado». Ver I Tim. 1:9; 4:7; 6:20; II hebraicos roeh e hozeh também são usados. Ambos
Tim. 2:16; Heb. 12:16. O verbo, bebelóo, aparece por significam «aquele que vê», ou seja, «vidente». Todas
duas vezes: Mat. 12:5 e Atos 24:6. Fora do templo, as as três palavras aparecem em I Crô. 29:29. Os
coisas eram vulgares, podendo ser pisadas por pés eruditos procuram estabelecer distinções entre elas,
comuns. Quando alguém tratava o templo ou a mas talvez sejam meros sinônimos, usados para
algum recinto sagrado como trataria coisas vulgares, emprestar variedade literária às composições escritas.
então era considerada sacrílega. Nabi é termo usado por mais de trezentas vezes no
2. Profanações Proibidas na Bíblia Antigo Testamento. Alguns poucos exemplos são
O Antigo Testamento muito tem a dizer a respeito Gên. 20:7; Exo. 7:1; Núm. 12:6; Deu. 13:1; Juí. 6:8; I
das coisas santas. Distinções bem claras foram ali Sam. 3:20; II Sam. 7:2; I Reis 1:8; II Reis 3:11; Esd.
traçadas entre o sagrado e o profano. O Senhor Jesus 5:1; Sal. 74:9; Jer. 1:5; Eze. 2:5; Miq. 2:11. £ possível
ensinou que todos os aspectos da vida humana são que essa palavra também fosse usada para designar a
santos e consagrados. O homem, uma vez remido, missão profética. Um título comumente aplicado aos
torna-se um templo onde o que é profano não pode profetas era «homem de Deus», que ocorre por cerca
entrar (ver I Cor. 3:16 ss). Estamos vivendo em um de setenta e seis vezes no Antigo Testamento. Cerca
período caracterizado pela profanação, quando de metade dessas ocorrências é usada em referência a
muitas pessoas não mais têm qualquer objeto sagrado Eliseu, e outras quinze dizem respeito a um profeta
e nem mais têm respeito pelos sentimentos e pelas cujo nome não é dado (I Reis 13). Além disso, a
funções religiosas. expressão é usada para designar Moisés, Elias,
No Antigo Testamento, ainda, aparecem manda Samuel, Davi e Semaías. Por sua vez, roeh figura por
mentos para que não se profane ao santuário (ver Lev. doze vezes no Antigo Testamento: I Sam. 9:11,18,19;
19:8; 21:9), ao sábado (Exo. 31:14), ao nome de Deus II Sam. 15:27; I Crô. 9:22; 26:28; 29:29; II Crô.
(£xo. 19:22; Mal. 1:12), ao leito conjugal do próprio 16:7,10; Isa. 30:10. Sete dessas ocorrências aplicam-
pai de alguém, através do incesto (Gên. 49:4). Esaú se a Samuel. Hozeh figura por dezenove vezes: I Crô.
desprezou o seu direito de primogenitura, e assim 21:9; 25:5; 29:29; II Crô. 9:29; 12:2,15; 19:2;
obteve a reputação de ser uma pessoa profana, que 29:25,30; 33:18,19; 35:15; II Sam. 24:11; II Reis
não tinha respeito pelas coisas santas (ver Heb. 17:13; Isa. 29:10; Amós 7:12; Miq. 3:7. Ainda outros
12:16). O trecho de Jer. 23:11 mostra que até mesmo títulos dados aos profetas são: Atalaia (no hebraico,
profetas e sacerdotes podem tornar-se profanos. sophim): Jer. 6:16; e Eze. 3:17; e pastor (no hebraico,
423
PROFECIA
raah): Zac. 11:5,16. quanto à natureza da história. A noção hebréia da
No Noto Testamento, a palavra comumente usada história era teísta. Yahweh era o poder que atuava por
é prophétes, que aparece por cento e quarenta e nove detrás da história de Israel, a força ativa de suas
vezes, que exemplificamos com* Mat. 1:22; 2:5,16; realizações. E os profetas desempenhavam um
Mar. 8:28; Luc. 1:70,76; 7:16; João 1:21,23; 3:18,21; importante papel nesse processo. Ver Isa. 45:20-22;
Rom. 1:2; 11:3; I Cor. 12:28,29; 14:29,32,37; Efé. Éxo. 2:11 ss; Deu. 24:19-22. A própria lei mosaica foi
2:20; Tia. 5:10; I Ped. 1:10; II Ped. 2:16; 3:2; dada por inspiração profética, cuja legislação
Apo.l0:7; 11:10. O substantivo propheteía, «profe governava toda a sociedade israelita, e serviu-lhe de
cia», é usado por dezenove vezes no Novo Testamento: guia na história.
Mat. 13:14; Rom. 12:6; I Cor. 12:10; 13:2,8; 14:6,22; 5. Os Profetas-Estadistas. Descobrimos que alguns
I Tes. 5:20; I Tim. 1:18; 4:14; II Ped. 1:20,21; Apo. dos principais profetas da história de Israel aconse
1:3; 11:6; 19:10; 22:7,10,18,19. Essas palavras lharam, ajudaram ou mesmo opuseram-se a reis. Com
derivam-se do grego pro, «antes*, «em favor de», e freqüência eram perseguidos e foram martirizados,
phemi, «falar», ou seja, «alguém que fala por outrem», segundo Cristo frisou (ver Mat. 23:37). Jeremias foi
e, por extensão, «intérprete», especialmente da um exemplo conspícuo de profeta perseguido e
vontade de Deus. Tais palavras gregas, naturalmente, banido, caluniado de traição, como se fosse partidário
estão por detrás do termo português «profeta». da Babilônia opressora.
Apesar da idéia de predição do futuro fazer parte 6. Os Sumos Sacerdotes como Profetas. Esperava-
inerente do ofício profético, incluindo acontecimentos se que os sumos sacerdotes de Israel fossem capazes
nacionais, comunais e individuais, o ofício profético de profetizar. Ver sobre Sumo Sacerdote. Eles
envolvia as atividades de exortação, ensino, pastoreio usavam o Urim e o Tumim (vide), que talvez fossem
e liderança espiritual em geral. Os profetas eram tidos sortes ou pedras preciosas, mediante o que eles entra
como representantes de Deus, libertadores e intérpre vam em transe, sendo assim capazes de profetizar.
tes da mensagem divina. Eles serviam de elo vital na 7. A Ordem Profética. Esta não foi abandonada à
questão das revelações, bem como veículos do sua própria sorte. Havia toda uma instituição
conhecimento espiritual. As revelações por eles profética. Os profetas e os sacerdotes eram ambos
recebidas, por ordem do Senhor em alguns casos líderes civis e religiosos na cultura dos hebreus. Isso
tornaram-se concretas nos livros que escreveram. foi oficializado nas posições ocupadas por Moisés e
Esses livros, por sua vez, foram canonizados, com a Aarão, e o ideal foi levado avante durante toda a
passagem do tempo, sendo então aceitos como história subseqüente de Israel. Foi feita a Moisés a
Escrituras Sagradas. Isso põe-nos frente a frente com promessa da perpetuidade do ofício profético em
o conhecimento através do misticismo (vide), do qual Israel (ver Deu. 18:9,15), que culminaria na pessoa do
a profecia é uma subcategoria. Ver o artigo geral Messias, o maior de todos os profetas. Houve Moisés;
sobre o Conhecimento e a Fé Religiosa. então a sucessão dos profetas; então a fruição do
II. No Antigo Testamento ofício profético na pessoa de Jesus Cristo. Entre os
dias de Josué e de Eli «as visões não eram freqüentes»
1. No trecho de Núm. 11:29, encontramos a (I Sam. 3:1), o que significa que o ofício profético
declaração de Moisés em favor da liberdade que deve esteve em baixo nível. Mas esse ofício ressurgiu com
ser outorgada aos profetas. Ele desejava que todo o os reis-profetas e com o aparecimento das escolas de
povo de Deus se compusesse de profetas. Ele não profetas. Samuel, um levita da família de Coate (ver I
aprovou a tentativa de censura aos profetas. Com base Crô. 6:28), produziu um novo irrompimento da
nisso, podemos deduzir a idéia de que havia muitos função profética e de reformas sociais (I Sam. 9:22).
que receberam o dom profético, embora somente os Não foi Samuel quem criou essa ordem, mas foi o
nomes de certos profetas nacionais tenham chegado a instrumento de renovação do seu poder. Quanto às
tornar-se familiares para nós. Podemos apenas supor raízes da ordem profética, ver Deu. 13:1; 17:18;
que declarações extáticas eram comuns desde a 18:20.
história inicial do povo de Israel. Também houve
videntes individuais que não eram figuras públicas de 8. As Escolas dos Profetas. Essas surgiram nos dias
nota, mas que eram procurados para solução de de Samuel, e devido ao encorajamento que ele lhes
problemas pessoais, sendo essa uma das funções deu. Ver I Sam. 19:18,20; II Reis 2:3,5; 4:38; 6:1.
secundárias dos profetas. O simples fato de que a Essas escolas deram ao ofício profético um novo poder
palavra «profeta» ocorre por mais de trezentas vezes e perpetuidade.
no Antigo Testamento mostra-nos a importância da 9. A Inspiração Profética. A Bíblia ensina-nos que
função naquele contexto. o Espírito Santo é o inspirador dos profetas (ver Núm.
2. Abraão foi a primeira pessoa a ser chamada de 11:17,25; I Sam. 10:6; 19:20; II Ped. 1:21). Os falsos
«profeta» na Bíblia (ver Gên. 20:7). E Moisés foi o profetas, por sua vez, falavam por iniciativa própria,
primeiro profeta nacional de Israel (ver Deu. de seu próprio ceração, de acordo com sua
18:15-19). Então Moisés tornou-se uma espécie de imaginação (ver Jer. 23:16; Eze. 13:3). Os modos de
modelo dos profetas de todos os tempos. Muitos inspiração incluíam certas formas de adivinhação,
rabinos chegaram a pensar que Jeremias fosse Moisés conforme já foi mencionado. Ver o artigo intitulado
reencarnado. De acordo com tal tradição, os Adivinhação. Mas também estavam envolvidos
principais profetas voltariam para cumprir novas sonhos e visões (ver Núm. 12:6). Além disso,
missões proféticas. Essa tradição também é exemplifi encontramos exemplos bíblicos de comunicação
cada na doutrina acerca de Elias-João Batista. direta, mediante a voz divina, a Presença divina. Os
Observando esses fatos, podemos perceber a grande profetas adaptavam as suas mentes a condições
importância atribuída aos profetas, dentro da cultura favoráveis à recepção de revelações, como o transe
hebréia. (ver II Reis 3:15; I Sam. 10:5; I Crô. 25:1). Mas esse
3. Deus é quem prepara os profetas, conforme estado podia sobrevir subitamente, como nos casos de
aprendemos em Êxo. 3:1-4:17; Isa. 6; Jer. 1:4-19; Paulo e de Pedro, no Novo Testamento. Algumas
Eze. 1-3; Osé. 1:2; Amós 7:14,15; Jon. 1:1. Porém, vezes, foram outorgadas visões das dimensões
um profeta falso pode ter a ousadia de autonomear-se celestes, como nos casos de Isaías (ver Isa. 6) e de
(ver Jer. 14:14; 23:21). Paulo (ver II Cor. 12). Ver os artigos sobre
4. A profecia provê uma espécie de consciência Inspiraçco; Revelação e Misticismo. Tanto Isaías (ver
PROFECIA
Isa. 6:1) quanto Ezequiel (ver Eze. 1:1) «viram». profecia em particular. Todavia, há uma forma
Também havia o «assim diz o Senhor», a palavra de não-hostil de ceticismo que é definidamente útil
autoridade divina (ver Jer. 1:8,19; 2:19; 30:11; Amós quando enfrentamos a questão das profecias. Alguns
2:11; 4:5; 7:3). A palavra do Senhor «vinha» a homensintérpretes pensam enxergar muitas profecias nas
Escrituras, relativas ao futuro, quando, na realidade,
impulsionados pelo Espirito (ver Isa. 7:3,4), inclusive
muitas dessas predições já ocorreram ou são
pela voz exterior (ver I Sam. 3:3-9). Eram passíveis de
receber revelações súbitas, algumas vezes de maneiras descrições históricas, e não previsões de acontecimen
deveras estranhas (ver Núm. 22:31; II Reis 6:15-17). tos que ainda jazem no futuro. Precisamos mostrar-
10. Funções Proféticas. Vários itens do material nos críticos quanto a essa probabilidade. Uma atitude
exposto acima indicam essas funções. Oferecemos cética também deve ser aplicada às previsões dos
aqui um sumário: a. O recebimento de oráculos, místicos modernos, os quais, se conseguem alguns
acertos, também cometem alguns equívocos.
privados ou particulares; b. o ofício didático acerca do
pecado e da retidão (Isa. 58:1; Eze. 22:2; 43:10; Miq. b. Método Experimental. Podemos crer em um
3:8), como também as atividades de pastoreio, profeta, bíblico ou extrabíblico, quando suas predi
consolação, aviso de juizo divino, chamada ao ções passam no teste experimental. Essas predições
arrependimento (Isa. 40:1,2); c. o trabalho dos realtnente cumprem-se? Alguns conservadores radi
atalaias (Eze. 3:17; 33:7-9), como também a obra de cais supõem que as predições bíblicas são infalíveis,
um embaixador, dentro e fora de Israel (a mensagem mas não levam em conta o fato de que tudo que passa
através das mãos dos homens, tem erros. Esta atitude
gerai do livro de Jonas), o que incluia o evangelismo;
d. apesar dos profetas não serem sacerdotes no envolve certa forma de idolatria, pois somente Deus é
sentido pleno da palavra, o caso de Samuel mostra infalível. Para exemplificar, os profetas do Antigo
que eles também podiam desempenhar funções Testamento predisseram o retomo do povo de Israel à
sacerdotais (ver I Sam. 16:6-13); e. o trabalho de sua terra, após os cativeiros (assírio e babilónico), e
conselheiros de reis e outros oficiais civis (II Sam.que então ocorreria a Idade Àurea, como aconteci
7:3-16), o que dava aos profetas uma função própria mento imediato, segundo é fácil entender com a
de estadistas; f. os profetas derivavam de Moisés as leitura de seus textos. Porém, os profetas do Antigo
suas funções, dando continuidade ao ofício profético,Testamento não perceberam a grande expansão de
conferindo assim ao povo de Israel a consciência de tempo que teria de passar-se entre a volta dos cativos
ser um povo impar, preservando a identidade israelitas e a era do milênio. Passaram-se praticamen
te dois milênios e meio desde aqueles profetas, mas a
nacional (controlada pelas instituições santas e pelas
leis escritas: — Isa. 45:20-22; 60:3; 65:25; £xo. Idade Ãurea ainda não surgiu no horizonte. Assim, os
2:11 ss; Deu. 24:19-22; Miq. 5:4). Ver o décimo profetas também não anteciparam a maior de todas as
primeiro ponto, abaixo, no que concerne à importân dispersões: aquela provocada pelos romanos, no
cia da função profética quanto à literatura. século I D.C., a qual, infelizmente, ocorreu após o
retomo dos judeus do cativeiro babilónico, desfazen
11. Os Profetas e as Escrituras. Os profetas foram os
principais instrumentos usados por Deus para a do qualquer possibilidade de uma verdadeira
redução das revelações divinas à forma escrita—as restauração, durante muitos e muitos séculos. E ainda
Sagradas Escrituras. Essa era uma função especial estamos esperando pelo cumprimento dessas predi
revestida de importância capital, porquanto dava ao ções bíblicas. Contudo, podemos estar certos de que,
oficio profético uma função que ultrapassava em no tempo certo, elas terão cumprimento. As
muito aos limites da nação de Israel, tendo produzidoEscrituras Sagradas reservam a Deus o direito de
um dos mais notáveis documentos espirituais do conhecer o futuro. A questão «tempo» é uma das
mundo, o Antigo Testamento. Costuma-se falar em prerrogativas divinas. «Não vos pertence saber os
tempos ou épocas que o Pai determinou para sua
profetas maiores e profetas menores, sobre cujo exclusiva autoridade» (Atos 1:7).
assunto damos artigos separados nesta enciclopédia.
O Pentateuco (os primeiros cinco livros da Bíblia) O autor do livro de Apocalipse, já no Novo
foram produzidos por Moisés, o primeiro dos grandes Testamento, esperava para breve o fim do império
romano, com um pronto retomo de Cristo. Ele não
profetas, talvez chegado às nossas mãos pela fazia qualquer noção sobre todo o longo período de
instrumentalidade de vários editores, redatores e tempo que se passaria—os dezenove séculos que já se
outras pessoas que adicionaram certas porções.
Muitos dos salmos de Davi têm natureza profética. passaram desde então—sem a volta de Cristo. E só
Deus sabe quanto tempo ainda se escoará antes da
12. Oa Meio* do Conhecimento e • Profecia. Muitas volta bendita do Senhor. Ver Apo. 17:10 ss. Essa
pessoas religiosas sentem-se nervosas quando alguém passagem tem sido distorcida por intérpretes desones
fala em tomar conhecimento de qualquer coisa que tos para eliminar o fato de que o autor sagrado
não seja através da revelação divina. E que supõem antecipava somente mais dois imperadores do império
que essa revelação é completa, e que basta a Bíblia romano, e que o último deles seria a reencamação de
para que possamos conhecer tudo de modP infalível. um dos sétimo (pelo que seria o oitavo e último
Porém, somente Deus é infalível. Sempre que alguém imperador). £ claro que o autor sagrado estava
atribui infalibilidade a qualquer outro ser, está equivocado em sua maneira de pensar. Todavia,
exercendo idolatria. Ademais, todos os meios postos Deus, que tudo sabe, reservou para si mesmo um
ao nosso alcance para obtermos conhecimentos são conhecimento mais alto das coisas. O império romano
legítimos, e deveriam ser utilizados em favor da prosseguiu durante alguns séculos após os apóstolos
espiritualidade e do conhecimento espiritual. Diga de Cristo, e muitos cristãos perderam toda esperança
mos que Deus forneceu-nos o cerne da verdade, e que de qualquer regresso imediato de Cristo. O importan
agora precisamos revestir esse cerne com os te é entendermos que coisas assim não anulam a
pormenores que a completam. Para tanto, há vários profecia:
esquemas, conforme vemos nos três pontos abaixo: m . Gráfico doa Profetas do Antigo Testamento
a. Ceticismo. Há ceticismos de muitas variedades. Primeiramente, apresentamos aqueles profetas que
Ver o artigo Ceticismo. Assim, há um ceticismo foram usados na produção de livros sagrados. Em
anti-religioso, que só busca negativismos. Podemos segundo lugar, alistamos outros profetas importantes,
ignorar sem dano algum essa variedade, sem importar embora não nos tivessem brindado com qualquer
se labora contra a fé religiosa em geral ou contra a produção literária.
425
PROFECIA
Ordem Cronológica Profeta Referendas BIbllcas Reis Envolvidos
e Data Aproximada
1. 837 - 800 A.C. Joel Joel 1:1; II Reis 11 Joás?
2. 825 - 782 Jonas II Reis 13, 14 Amazias, Jeroboão II
3. 810 - 785 Amós II Reis 14, 15 Jeroboão II
4. 782 - 725 Oséias II Reis 15 - 18 Jeroboão II
5. 758 - 698 Isaías II Reis 15 - 20 Uzias; Jotão; Acaz;
II Cro. 26 - 32 Ezequias
6. 740 - 695 Miquéias II Reis 15:8-20; Isa. Uzias; Jotão; Acaz;
7,8; Jer. 26:17-19; Ezequias
II Cr&. 27 - 32
7. 640 - 630 Naum Jonas; Isa. 10 Josias
Sof. 2:13-15
8. 640 - 610 Sofonias II Reis 22, 23 Josias
II Cro. 34 - 36
9. 627 - 586 Jeremias II Reis 22 - 25 Josias; Joacaz; Jeoa-
II Cro. 34 - 36 quim; Joaquim; Ze-
10. 609 - 598 Habacuque II Reis 23, 24 Josias de<luias
II Cro. 36:1-10
11. 606 - 534 Daniel II Reis 23 - 25 Exílio; Nabucodono-
II Cro. 36:5-23 sor; Ciro
12. 592 - 572 Ezequiel II Reis 24:17-25 Exílio; Nabucodono-
II Cro. 36:11-21 sor
13. 586 - 583 Obadias II Reis 25 Exílio; Nabucodono-
II Crö. 36:11-21 sor
14. 520 Ageu Esd. 5, 6 Após o exílio; Ci
ro; Esdras
15. 520 - 518 Zacarias Esd. 5, 6 Após o exílio; Da-
rio I; Esdras
16. 433 - 425 Malaquias Nee. 12 Após o exílio; Arta-
xerxes I; Neemias
435
PROFECIAS MESSIÂNICAS
munhos», uma antiga coletânea de «textos de prova» Messias ocuparia, de maneira suprema, ambos esses
com base no A.T., usada pelos cfístãos primitivos ofícios, de modo a empanar a atuação extraordinária
para comprovar o caráter messiânico de Jesus. Essas de Moisés.
citações primeiramente apareceram em forma oral, Era necessário que os judeus reorientassem os seus
mas foram incorporadas em forma escrita nos pensamentos e a sua interpretação acerca dessa
primitivos documentos cristãos, até que subseqüente declaração de Moisés, porquanto prevaleciam muitas
mente vieram a fazer parte do texto dos livros que diferenças e havia muita confusão sobre o profeta.
vieram a fazer parte do cânon do N.T. Essas citações Alguns interpretavam essa predição como se ela
algumas vezes incluíam diversas passagens juntamen fizesse alusão a uma série de profetas semelhantes a
te, ou parafraseavam trechos do A.T. no hebraico ou Moisés (ver Jarchi sobre Deut. 18:15). Porém, jamais
da tradução da LXX (Septuaginta), em vez de serem houve qualquer sucessão de profetas que ao menos se
dadas palavra por palavra de um ou outro desses aproximasse da estatura espiritual de Moisés, e a
documentos. própria história serve de ampla demonstração sobre
I. M obét Falou Sobre Crfoto esse fato. Outros estudiosos judeus aplicavam essa
1. Moisés foi selecionado aqui como o maior dos predição ao profeta Jeremias (ver Aben Ezra, in loc.)
profetas do A.T., como aquele que ofereceu o ou a Davi (ver Herban. disp. cum Gregent., pág. 13).
testemunho mais convincente a respeito de Cristo. Todavia, nenhum desses dois personagens ao menos
Consultar Deu. 18:15 e Lev. 23:29. começou a cumprir as exigências envolvidas nessa
profecia sobre «o profeta».
2. Os essênios esperavam que três personagens
MoUét tipificou o Measiaa dos seguintes modos: 1.
cumprissem as promessas messiânicas. Os judeus não Em uma grandeza óbvia, maior que a de todos os
tinham nenhuma doutrina fixa acerca do Messias.
Os cristãos primitivos viam em Jesus o cumprimento outros profetas. 2. Como instigador de uma nova
de todas as expectações e a harmonia de todas as ordem de coisas e doador de uma nova lei. 3. Como
idéias divergentes quanto ao Messias. alguém que tinha contacto especial com Deus. maior
que o dos outros profetas. 4. Como alguém que
3. Em João 20:31, no NTI, dou um sumário comple combinava em sua própria pessoa os ofícios de
to sobre a polêmica cristã era favor do caráter legislador e de profeta. 5. Como alguém que trouxera
messiânico de Jesus. O testemunho de Moisés é um redenção ao seu povo.
item importante nessa polêmica.
O uso de Moisés como representante da tradição O Messias se distinguiria de Moisés pelo fato de que
profética, quando aceito, se reveste de significação o seu ofício teria uma amplitude muito maior,
toda especial para os judeus. Moisés era reputado tipo porque seria mesmo universal, e porque isso
simbólico de Cristo (ver João 1:21), Deus falava com conduziria à restauração de todas as coisas, o que não
ele face a face (ver Êxo. 33:11) e era considerado o teria fim, ao passo que o ofício de Moisés era apenas
maior de todos os profetas (ver Deut. 34:10). Por intermediário, mediatório. Naturalmente, se falarmos
semelhante modo, Moisés era considerado redentor de Cristo como o «Logos» eterno (ver João 1:1-3),
de seu povo. Quanto a outras referências ao «profeta», então não poderá haver qualquer base para
que — os cristãos aceitavam como um único profeta e comparações entre o Senhor Jesus e Moisés.
a mesma pessoa que o «Messias», ver João 1:21,25; Moisés não foi o único profeta da antiga
6:14 e 7:40. Tal como no caso de Moisés, o Messias dispensação judaica a fazer predições com referência
entraria em contacto com Deus de forma toda especial ao Cristo, embora Simão Pedro, nesta passagem do
— face a face — tendo contacto muito maior e íntimo livro de Atos, o tenha usado como o maior de todos
com o Senhor do que os profetas comuns, e, tal como quantos profetizaram a seu respeito. Neste ponto
Moisés, estabeleceria uma nova ordem de coisas, queremos apresentar um ponto de vista geral acerca
embora de significação universal muito maior, visto das profecias messiânicas existentes no A.T. As
que não atingiria somente a nação de Israel, mas profecias referentes ao Messias, como «Servo Sofre
também fluiria na forma de uma redenção e dor», aparecem nos comentários no NTI, referentes ao
restauração universais de tudo. Tudo isso mostraria décimo oitavo versículo deste mesmo capítulo. E as
quão maior seria o Messias do que Moisés, embora profecias referentes ao «reino» do Messias, são dadas
Moisés tivesse sido seu tipo simbólico. dentro das notas expositivas atinentes ao vigésimo
Moisés foi ao mesmo tempo legislador e profeta; e o primeiro versículo deste capítulo.
Isa. 62:11; Zac. 9:9 Sua entrada triunfal Mat. 21:1-11: João 12:12; 12:13,14
Sal. 41:9 Seria traído por um amigo Mat. 26:14-16; Mar. 14:10.43-45
Zac. 11:12,13 Seria vendido por trinta moedas Mat. 26:15
Zac. 11:13 Tal dinheiro seria devolvido Mat. 27:3-10
Sal. 109:7,8 Judas seria substituído Atos 1:16-20
Sal. 27:12; 35:11 Testemunhas falsas o acusariam Mat. 26:60,61
Sal. 38:13,14; Isa. 53:7 Calar-se-ia ao ser acusado Mat. 26:62,63; 27:12-14
Isa. 50:6 Seria ferido e cuspido Mar. 14:65; 15:17; João 18:22; 19:1-3
Sal. 69:4: 109:3-5 Seria odiado sem causa João 15:23-25
Isa. 53:4,12 Sofreria vicariamente Mat. 8:16,17; Rom. 4:25; I Cor. 15:3
Isa. 53:12 Seria crucificado com criminosos Mat. 27:38; Mar. 15:27.28: Luc. 23:33
Sal. 22:16; Zac. 12:10 Teria mãos e pés traspassados João 19:37; 20:25-27
Sal. 22:6-8 Seria zombado e insultado Mat. 27:39-44; Mar. 15:29-32
Sal. 69:21 Dar-lhe-iam fel e vinagre Mat. 27:34.48; João 19:29
Sal. 22:8 Ouviria palavras proféticas repetidas com zombaria Mat. 27:43
Sal. 109:4; Isa. 53:12 Oraria pelos seus inimigos Luc. 23:34
Zac. 12:10 Teria o lado traspassado João 19:34
Sal. 22:18 Soldados lançariam sortes quanto à sua túnica Mar. 15:24; João 19:24
Êxo. 12:46; Sal. 34:20 Nenhum de seus ossos seria quebrado João 19:23
Isa. 53:9 Seria sepultado com o rico Mat. 27:57-60
Sal. 16:10 e Mat. 16:21 Ressuscitaria dentre os mortos Mat. 28:9: Luc. 24:36-48
Sal. 68:18 Ascenderia aos lugares celestiais Luc. 24:50.51: Atos 1:9
PROPRIEDADE PROPRIUM
Esse vocábulo vem do latim, proprlus, «próprio», Essa palavra latina significa «possessão» ou
«pertencente a alguém». Popularmente, a palavra «característica». Os filósofos não são acordes quanto a
indica algum objeto de valor que pertence a uma como Aristóteles distinguia o seu proprium do seu
pessoa como sua possessão. Mas também significa acidente. Um proprium é alguma característica de
aquilo que pertence a um objeto, como uma alguma entidade que não faz parte de sua essência, e
característica ou qualidade distintiva. Na filosofia, sem a qual pode existir. Um cão pode existir sem
indica aquilo que é comum a todos os membros de abanar a cauda; mas os cães vivem abanando as
alguma classe, ou aquilo que uma pessoa possui. caudas. Esse costume de abanar a cauda é um
proprium. Porém, como distinguir isso de um mero
acidente permanece um mistério.
Idéias dos Filósofos: Schleiermacher (vide) empregou essa palavra para
1. Aristóteles fazia da propriedade um dos cinco indicar a diferenciação interna do indivíduo que
tipos de atribuição. Esses cinco tipos são: espécie, exprime seu lugar particular na natureza e na
genero, diferença, propriedade e acidente. O uso história, ou sua posição finita distintiva, em meio à
dessas definições dá-nos uma boa idéia sobre a infinitude. À medida que uma pessoa desenvolve o seu
natureza e a manifestação das coisas. Uma proprie proprium, ela se tom a mais e mais um indivíduo
dade não faz parte da essência de uma coisa, apesar distinto e útil. Em seu proprium, tal pessoa tem sua
de pertencer exclusivamente a ela. Por exemplo, uma identidade e unidade. Todos os principais elementos
propriedade do homem é a sua capacidade de da vida contribuem para a formação desse proprium,
aprender as regras da gramática. Não se pode definir a saber, a ética, a sociedade, a religião, a educação, o
a essência de um homem ao dizer que ele possui essa desenvolvimento espiritual, o desenvolvimento profis
habilidade; mas podemos atribuir alguma coisa a ele, sional, etc.
ao mesmo tempo em que hesitaríamos atribuir tal
capacidade a outros objetos ou entidades.
2. Locke falava nas propriedades no sentido de um PROSÉLITO, PROSELITISMO
«direito natural». Ele acreditava que a possessão de Esboço:
uma propriedade é um direito outorgado por Deus, I. Palavras ei Definições
algo básico à existência humana. II. Caracterização Geral
469
PROSÉLITO
III. No Antigo Testamento Hl. No Antigo Testamento
IV. Informações Rabínicas 1. A tolerância e a participação parcial. Essas
V. No Novo Testamento condições eram oferecidas a todos os estrangeiros em
Israel, embora houvesse exigências. Não podiam viver
I. Palavras e Definições em Israel e blasfemar contra Yahweh (Lev. 24:16).
A forma grega verbal dessa raiz é proserchesthai, Também não podiam praticar a idolatria (Lev. 20:2),
«aproximar». A forma nominal é prosélutos, «alguém tinham de agir com decência (Lev. 18:26), não
que chegou» em um lugar. Nesse sentido, pode podiam trabalhar em dia de sábado (Êxo. 20:10), não
referir-se ao ato literal de chegar a um lugar estranho. podiam comer pão com fermento durante os dias da
Ou, por analogia, pode aludir a alguém que chegou a celebração da páscoa (Êxo. 12:19), não podiam comer
alguma nova fé religiosa, tendo vindo de algum outro sangue ou a carne de animais que tivessem morrido
lugar (metaforicamente falando). Na Septuaginta naturalmente ou tivessem sido despedaçados por feras
(tradução do Antigo Testamento para o hebraico), (Lev. 17:10,15). Se cumprissem esses regulamentos,
essa palavra grega é usada para traduzir o vocábulo podiam viver em paz, embora não fossem cidadãos e
hebraico ger, um residente estrangeiro, que vivia em nem tivessem os direitos de cidadania. Mas, se não
Israel mas não era hebreu. Esse termo hebraico pode cumprissem tais condições, estavam sujeitos ao
ter um sentido civil, significando então «estrangeiro»; extermínio.
ou pode ter um sentido religioso, um estrangeiro
«convertido», que assumira algumas ou todas as 2. Naturalização e Plena Participação. Aqueles que
responsabilidades da fé judaica. O termo grego quisessem esse estado, precisavam ser batizados e
prosélutos, por sua parte, pode significar «recém-che- circuncísados. Desse modo, comprometiam-se a
gado», «visitante», «estrangeiro», e, por analogia, guardar a lei inteira, tornando-se israelitas nativos,
participantes dos pactos (ver Êxo. 12:48,49; Rom.
«convertido». 9:4). Havia algumas exceções. Nem todos os
O proselitismo consiste no esforço proposital de estrangeiros podiam ser assim recebidos. Os amonitas
fazer convertidos a alguma fé religiosa, ou a alguma e moabitas estavam excluídos por certos atos que
idéia ou partido político. No seu sentido mais lato, um tinham de realizar, até à décima geração (o que, para
prosélito é um convertido a qualquer sistema ou todos os propósitos práticos, tornavam-se permanen
conjunto de crenças e práticas, embora o termo tenha tes). Os edomitas só podiam ser admitidos na terceira
chegado a assumir um significado quase totalmente geração (ver Deu. 23:3,8). Essas nações tinham feito
religioso ou político. Quase todas as fés religiosas, oposição a Israel, quando o povo de Deus deixou o
embora nem todas, fazem, prosélitos. Egito, e não podiam ser facilmente perdoados por
causa disso. Mas outros povos, como os queneus,
EL Caracterização Geral podiam tomar-se convertidos plenos (ver Jui. 1:16).
O termo hebraico ger indicava um estrangeiro que Os gibeonitas foram aceitos, mas, na verdade, foram
residia em Israel, e, por extensão, um estrangeiro reduzidos à virtual escravidão. Vemos, pois, que
convertido ao judaísmo. Um «prosélito justo» distin- houve vários padrões em ação, pelo menos na prática,
guia-se dos outros prosélitos, da classe religiosa, e posto que não oficial (ver Jos. 9:16 ss). No tempo da
tornava-se parte integral do judaísmo. Recebia o monarquia, alguns estrangeiros obtiveram elevadas
banho batismal e a circuncisão. Esse indivíduo, na posições em Israel; mas, considerados como uma
verdade, tornava-se judeu. Mas um «prosélito do classe, eles eram cidadãos de segunda categoria, e
portão» (ver Deu. 5:14) não se filava à fé judaica em muitos tiveram de tomar-se trabalhadores forçados
sentido pleno, embora aceitasse os elementos univer (ver I Crô. 22:2; II Crô. 2:17,18). O profeta persa
sais da fé judaica, conforme são sumariados nas sete Baha Ullah estabeleceu uma boa regra ao afirmar que
leis mosaicas. Essas leis salientavam a importância da nunca deveríamos pedir a outra pessoa para fazer algo
justiça, proibiam a idolatria, proibam a crueldade por nós quando nós mesmos nos recusamos a tal. Isso
contra os animais, ilegitimavam o furto, o assassínio e é degradante para a personalidade humana; mas
a blasfêmia. Todavia, um homem desses não se Israel, e até os cristãos (donas-de-casa com suas
envolvia com os aspectos ritualistas do judaísmo. Mas empregadas quase escravas) continuam atuando
aos verdadeiros convertidos eram concedidos plenos dessa maneira.
direitos religiosos e legais, embora muitos deles não Israel via-se a braços com uma espécie de problema
atingissem igualdade quanto a questões sociais e estrangeiro, tal como sucede a muitas nações
financeiras. O trecho de Atos 2:10 distingue entre modernas, especialmente por razões militares e
judeus e gentios que haviam adotado o judaísmo. O comerciais. E na época em que Judá voltou do
profundo senso de preconceito racial dos judeus não cativeiro, tinha havido muita miscigenação entre os
permitia uma verdadeira igualdade. Sabemos que os ju d eu s, que E sdras e Neemias p ro cu raram
três séculos anteriores ao cristianismo caracterizaram purificar; mas como é apenas natural, o elemento
um período de intenso proselitismo (mediante todas estrangeiro sempre foi elevado, depois disso.
as formas de atividade didática e missionária). Jesus Houve uma modalidade de universalismo, em
referiu-se negativamente a isso, em Mat. 23:15. Tem alguns segmentos e em alguns períodos do judaísmo,
sido calculado que havia nada menos de três milhões que não caracterizava a totalidade da nação.
de judeus na diáspora, e que talvez a maioria deles Generosas orações chegaram a ser feitas (ver I Reis
consistisse, na verdade, em convertidos ao judaísmo, e 8:41-43; Isa. 2:2-4; 49:6; 56:3-8; Jer. 3:17; Sof. 3:9),
não judeus de nascimento. Os conflitos entre os que demonstram um espírito universalista. No Antigo
judeus e os romanos, com a destruição final de Testamento, quanto a isso, destaca-se o livro de
Jerusalém (nos anos 70 e 132 D.C.), pôs fim, de modo Jonas, que é o João 3:16 do antigo pacto.
quase definitivo, ao proselitismo judaico. Então 3. Após o Cativeiro. Alguns estrangeiros foram
chegou a vez do cristianismo tornar-se a grande força atraídos pelo judaísmo devido à presença e ao
proselitista do mundo, em obediência ao mandamen exemplo da piedade religiosa que os hebreus deram
to de Cristo (ver sobre Comissão, A Grande). E a na Babilônia e estavam dando em outros lugares.
passagem de Col. 1:16 mostra-nos que o cristianismo Além disso, estava havendo um amálgama de povos e
obteve um sucesso inicial surpreendente, nesse idéias, e o judaísmo absorveu muitas idéias e práticas
esforço. que não se originavam no Antigo Testamento. Isso
470
PROSÉLITO
tendia por fazer a fé judaica tomar-se mais aceitável ss). Midrash Rabbath, no seu oitavo capítulo (citado
diante de estrangeiros. O trecho de Est. 8:17 na Antologia Rabínica) reflete uma atitude bondosa
menciona especificamente que houve muitos converti de alguns rabinos para com os convertidos gentílicos
dos ao judaísmo, durante o período persa. As ao judaísmo, afirmando que eles deveriam ser
conquistas dos macabeus naturalmente engrossaram respeitados e amados mais do que os israelitas
as fileiras dos convertidos ao judaísmo. As conversões nativos. A questão dos meio-prosélitos foi levantada
compulsórias também eram comuns durante aquele por Schuerer (Geschichte des Juedischen Volkes, vol.
período histórico, mas essa prática foi posteriormente III, págs. 124 sí ), como se tal condição fosse estranha
denunciada, ao ponto que chegou a ser proibido até às crenças fundamentais do judaísmo. Alguns
mesmo forçar um escravo a converter-se ao judaísmo escritores judeus chegam ao extremo de negar que o
(Hebamoth 48b). Naturalmente, houve exceções. Os Talmude descreve qualquer coisa como um pleno
membros da família de Herodes, que eram converti convertido ao judaísmo. Porém, as citações oferecidas
dos vindos de Edom, sempre insistiram que aqueles parecem ser contrárias a essa opinião, e o próprio
que quisessem casar-se com membros da família se Antigo Testamento certamente estabelece distinção
convertessem ao judaísmo (mediante a prática da entre os dois tipos de prosélitos.
circuncisão, para os homens).
V. No Noto Testamento
4. O Grande Aumento. O período dos Macabeus, 1. Ainda Sobre Bases Veterotestamentárias. Aque
com suas conversões forçadas, obviamente foi um les que no grego eram chamados «o/ phoboúmenoi»,
tempo em que a causa judaica avançou, pelo menos «os tementes (a Deus)», quando eram gentios, sem
quanto a números. Porém, além disso, os três séculos dúvida eram convertidos ao judaísmo, que então
antes de Cristo foram assinalados por entusiásticas vieram a converter-se ao cristianismo. Dentro dessa
missões judaicas. Os trechos de Tobias 1:8 e Judite categoria estavam o centurião de Cafamaum (ver Luc.
14:10 dão-nos alguma idéia quanto a isso. Não 7:5), o eunuco etíope (ver Atos 8:27 ss), Comélio de
demorou muito para o judaísmo ser bem representado Cesaréia (ver Atos 10). E os trechos de Atos 2:10 e
nas grandes capitais do mundo antigo, como 6:5 alertam-nos quanto ao fato de que deve ter havido
Alexandria. Uma abundante literatura religiosa muitos desses proséticos que entraram em contacto
ajudou nesse processo do proselitismo; eFilo (vide) foi com a fé cristã, e assim supriram muitos membros à
um dos poderosos autores nesse esforço. O próprio Nova Fé. Já pudemos ver que uma elevada
Josefo, exilado, sendo um historiador judeu autoriza porcentagem de judeus da diáspora compunha-se, na
do (reconhecido por Roma), atuou como força em realidade, de convertidos gentios, e que o período
favor do proselitismo judaico. Houve colônias helenista foi um tempo de intensas missões gentílicas.
judaicas em Roma desde tão cedo quanto o século II Talvez fosse mais fácil ser judeu nas áreas remotas do
A.C. Mostraram-se tão zelosos e bem-sucedidos que mundo greco-romano do que na Palestina. Uma
os romanos expulsaram-nos dali em 139 A.C., mas, condição básica para quem fosse aceito como judeu,
no século I A.C. eles voltaram, mais resolutos do que se tivesse vindo do paganismo, era a circuncisão, e
nunca, propagando-se por várias cidades da Itália e então o batismo purificador. Para as mulheres, a
de outras partes do império romano. Eles dispunham condição era o batismo e o oferecimento de um
de numerosas colônias no Egito e em Cirene. Quando sacrifício.
Pompeu obteve suas vitórias militares, levou muitos 2. No Tocante à Igreja Cristã. A Igreja cristã foi
judeus para Roma como escravos. Alguns deles, forçada a herdar o problema do proselitismo que
posteriormente, adquiriram a cidadania romana. havia no judaísmo, e então enfrentar seus próprios
Autores como Tácito, Juvenal, Horácio e Cícero problemas com os novos convertidos, vindos do
falaram dos judeus de maneira pejorativa. Mesmo paganismo, sem que eles tenham, primeiramente,
assim, tais autores queixaram-se do exclusivismo dos feito uma fase preparatória no judaísmo. O que
judeus e das atitudes xenofóbicas deles, mesmo deveria ser requerido da parte desses puros gentios
quando judeus eram os estrangeiros. Jesus comentou que se tomassem crentes (sem o beneficio de antes
negativamente sobre os abusos do zelo missionário terem-se tomado judeus)? O décimo quinto capítulo
dos judeus (ver Mat. 23:15). Todavia, um aspecto de Atos conta-nos a história. A circuncisão não foi
negativo não pode anular as atitudes e as práticas requerida da parte deles, o que pareceu extremamen
morais aprimoradas, que o judaísmo fazia espalhar te insatisfatório para os judeus cristãos mais
pelo mundo. Afinal de contas, precisamos reconhecer conservadores, os quais não podiam conceber a
que essa obra missionária, em mais de um sentido, salvação sem a circuncisão (ver Atos 15:1). O primeiro
facilitou a propagação do cristianismo no mundo concílio ecumênico, efetuado em Jerusalém, fomece-
greco-romano, e, com freqüência, os primeiros nos os requisitos impostos aos convertidos do
convertidos ao cristianismo provinham de colônias paganismo: precisavam abster-se de coisas que
judaicas de muitas localidades. tivessem sido oferecidas aos ídolos. Tais coisas não
IV. Informações Rabinfcaa podiam ser usadas na alimentação. E também não
Na literatura rabínica encontramos opiniões extre podiam ingerir sangue e nem a came de animais que
madas acerca dos prosélitos. Por um lado, eles tivessem sido sufocados. Igualmente, deveriam evitar
chegaram a ser elogiados até mesmo mais que os de todo a imoralidade, e, naturalmente, qualquer
israelitas nativos. Mas, por outro lado, são escarneci forma de idolatria. À medida que o cristianismo foi-se
dos ali como se nunca se tivessem realmente expandindo para áreas puramente gentílicas, onde os
convertido, mas antes, sempre estivessem maculados legalistas não se fizessem presentes para levantar
pelo pecado, o qual se manifestaria com grande objeções, provavelmente diversas regras dessas come
facilidade (ver Baba Mesia 59b). Yebamot 109b chega çaram a ser ignoradas, como o uso de sangue nos
a compará-los com úlceras na pele de Israel. O termo alimentos; e até mesmo a questão de comer coisas que
hebraico ger era usado para indicar um prosélito tivessem sido oferecidas a ídolos parece ter sido
pleno. Um estrangeiro residente era chamado de relaxada, se nenhum irmão se ofendesse diante do
gertosab. Essa foi a expressão que acabou sendo fato (ver I Cor. 8:7 ss). Paulo recusou-se a permitir a
traduzida por «prosélito do portão». Porém, quem se circuncisão de Tito, a despeito das pressões que lhe
convertesse por motivo de temor, era apelidado, foram feitas nesse sentido, porquanto Tito era um
desprezivelmente de «prosélito leão» (ver II Reis 17:25 gentio puro (ver Gál. 2:3-5). Porém, no caso de
471
PROSÉLITO - PROSTITUTA
Timóteo que era cinqüenta por cento judeu, Paulo 21:8; 22:15, geralmente traduzido por «imoral». O
permitiu sua circuncisão, a fim de outorgar-lhe maior verbo, porneúo aparece por oito vezes: Mar. 10:19; I
aceitação entre os judeus da Àsia Menor (ver Atos Cor. 6:18; 10:8; Apo. 2:14,20; 17:2; 18:3,9. Pomeía,
16:1-4). Em um dos casos, Paulo aplicou a sua «prostituição», ocorre por vinte e seis vezes: Mat.
convicção; e, no outro, aplicou uma medida 5:32; 15:19; 19:9; Mar. 7:21; João 8:41; Atos
pragmática. E, em minha opinião, ele agiu acertada- 15:20,29; 21:25; I Cor. 5:1; 6:13,18; 7:2; II Cor.
mente em ambos os casos. 12:21; Gál. 5:19; Efé. 5:3; Col. 3:5; I Tes. 4:3; Apo.
3. A baixa avaliação, feita por Jesus, dos prosélitos 2:21; 9:21; 14:8; 17:2,4; 18:3; 19:2.
do judaismo (ver Mat. 23:15), foi uma avaliação Definições Básicas. Fazer sexo em troca de dinheiro
geral. Essa lata generalização não abordou casos é a idéia básica na prostituição, embora seja essa uma
como o dos verdadeiros «tementes a Deus», comó o noção simplista. A falta de castidade promíscua
centurião de Cafamaum ou o centurião de Cesaréia. E também é prostituição, mesmo quando não há
também não negou a espiritualidade autêntica de dinheiro envolvido. Contudo, a prostituição pode ser
muitos judeus sinceros. voluntária ou forçada. Uma mulher seria uma
4. A Igreja e Sua Missão Gentílica. Jesus encorajou prostituta moral quando é forçada a entrar nessa
o proselitismo como a própria raiz da Nova Fé (ver atividade para ganhar dinheiro para terceiros,
Mat. 28:19,20). Ver o artigo separado intitulado enquanto ela mesma é mantida em abjeta pobreza,
Comissão, a Grande. O trecho de Atos 1:8 mostra-nos conforme tantas vezes tem sucedido na história?
que essa comissão recebeu a sua devida ênfase, e o Temos de estabelecer diferença entre uma prostituta
próprio livro de Atos é demonstração do zelo que forçada, que chega mesmo a ser uma espécie de
marcou as primeiras missões cristãs, as quais, em sua escrava, e uma outra, que vende voluntariamente o
maioria, acabaram voltando sua atenção principal seu corpo. Esta última é a verdadeira prostituta.
mente para os gentios. Gradualmente, a Igreja cristã II. Algumas Práticas das Sociedades Primitivas
foi-se afastando de Jerusalém, sua base original, e
estabeleceu seus quartéis-generais nas grandes capi A prostituição religiosa, na qual mulheres presumi
tais do mundo, como Êfeso, Constantinopla, Antio- velmente serviam às divindades, ganhando dinheiro
quia da Siria, Alexandria e Roma, os primeiros cinco para os tesouros dos templos pagãos, era um aspecto
grandes patriarcados. A Europa tornou-se o centro da bastante comum das culturas antigas. Essa era uma
Igreja durante a Idade Média; e as missões modernas, característica usual dos cultos religiosos cananeus,
começando pela Alemanha, logo espalharam o dos quais participavam prostitutos e prostitutas. A
cristianismo a todas as nações pagãs do mundo. classe feminina era chamada, no Antigo Testamento,
de qedeshah; e a classe masculina, qades. O trecho de
Deu. 23:18 chama o ganho vergonhoso dessa
atividade de «salário de prostituição» (mais literal
PROSTITUTA, PROSTITUIÇÃO mente, «salário de um cão>). Os tabletes de Ugarite
Esboço: (11:73; 63:3; 81:2) referem-se à classe masculina com
I. As Palavras e suas Definições a palavra qdsm, enquanto que os sacerdotes que
II. Algumas Práticas das Sociedades Primitivas promoviam esse comércio eram os khnm . Natural
III. Pontos de Vista do Antigo Testamento mente, na mente dos hebreus, havia a constante
IV. Pontos de Vista do Novo Testamento associação entre a prostituição e a idolatria,
porquanto as duas coisas geralmente andavam lado a
V. Usos Metafóricos lado, havendo mesmo um uso metafórico do termo
VI. Causas da Prostituição que indicava idolatria. Ver Isa. 1:21; Jer. 13:27; Eze.
VII. Remédios Para a Prostituição 16:16; Osé. 1:2. Quando o povo de Israel buscava a
I. As Palavras e rnai Definições outros deuses, essa busca era chamada de «prostituir-
A raiz latina da palavra «prostituta» é pro, «antes», se com outros deuses», de tal maneira que aquela
e statuere, «fazer ficar defronte», o que é uma idéia associação de idéias veio a fixar-se na mente dos
com óbvias implicações sexuais. A palavra latina israelitas.
prostitutus é o particípio passado de prostituere, que Algumas sociedades primitivas, onde a mulher era
significava «expor publicamente», «prostituir». A raiz considerada mera propriedade do homem, não
original parecia referir-se à exibição pública de hesitavam em promover ativamente a prostituição.
prostitutas, as quais ou se exibiam voluntariamente Isso incluía a prostituição até mesmo de esposas e
ante os olhares masculinos, ou, então, eram irmãs, com finalidades de lucro. Em uma sociedade
submetidas a isso por outros, a fim de atrair clientes. onde uma esposa podia ser comprada, foi fácil utilizar
Um vocábulo hebraico comum para «prostituta» era a mesma mulher para captar dinheiro, oferecendo-a a
Zanah, um termo que podia referir-se tanto à outros homens com propósitos sexuais. E também
fornicação quanto ao adultério, além do aluguel do lemos sobre pais que usavam suas filhas como
sexo a dinheiro. Figuradamente, a prostituição prostitutas. A partir daí, foi preciso um pequeno
indicava a idolatria. Ver Gên. 34:31; 38:15; Lev. passo para vender mulheres aos templos, a fim de
21:14; Jos. 6:17; Pro. 7:10; Isa. 1:21; 23:15; Jer. 2:20; serem prostitutas cultuais. Sabe-se que tal prática era
Eze. 16:16; 23:5,9; Osé. 2:5; 3:3; Joel 3:3; Amós 7:17; comum entre os povos semitas. Por essa razão, foi
Miq. 1:7; Naum 3:4. Um outro vocábulo hebraico é mister que Moisés proibisse aos pais prostituírem suas
qedeshah, «devota» (quando estava em vista a filhas (ver Lev. 19:29). Se um sacerdote levítico fizesse
prostituição religiosa, também chamada cultual), tal coisa, deveria ser executado na fogueira (Lev.
indicando uma prostituta qualquer. Ver Gên. 21:9), ou então por apedrejamento (Deu. 22:21). A
38:15,21,22; Deu. 22:21. destruição final dos povos cananeus teve por razão,
No Novo Testamento encontramos a palavra grega pelo menos em parte, a seus hábitos extremamente
póm e, «prostituta», que figura por doze vezes: Mat. imorais (Lev. 20:22).
21:31,32; Luc. 15:30; I Cor. 6:15,16; Heb. 11:31; Tia. Em algumas culturas africanas, a virgindade é
2:25; Apo. 17:1,5,15,16; 19:2. A forma verbal é desprezada, e meninas muito jovens são usadas como
porneúo, «prostituir-se», «praticar im oralidade parceiras sexuais. Na cultura dos esquimós, é
sexual». O masculino, pórnos ocorre em I Cor. 5:9-11; costumeiro o dono da casa entregar sua esposa a um
6:9; Efé. 5:5; I Tim. 1:10; Heb. 12:16; 13:4; Apo. visitante, como entretenimento. Pode-se ver, com
472
PROSTITUTA
base nesses vários exemplos, que os pontos de vista mente a um homem (Pro. 29:3; Luc. 15:30). As
hebreu-cristãos a respeito das questões sexuais não prostitutas exibem-se publicamente, e se caracterizam
concordam com o que os homens em geral têm por vestes escandalosas (I Reis 22:38; Pro. 7:12; Isa.
pensado e feito. De fato, a atitude moralista dos 3:16). A prostituta tem moral baixa; mas a adúltera
hebreus formava um agudo contraste com a ainda é mais vil (Pro. 6:26).
permissividade dos gregos e dos romanos. Os gregos IV. Pontos de Vista do Novo Testamento
tornaram-se famosos por seu homossexualismo. E 1. O Senhor Jesus repreendeu às frouxas idéias
também apelavam para as hetaerae, «outras», que morais dos fariseus (ver João 8:7; Mat. 5:32; 21:31 ss;
eram companhias femininas que não eram esposas. Luc. 7:37-50), o que, naturalmente, resultava em
Essas mulheres eram prostitutas profissionais, e formas diversas de prostituição.
algumas delas eram companhias não pagas. Costume
muito parecido prevalece atualmente no Japão. 2. Paulo combateu a excessiva prostituição da
cidade de Corinto, onde tomara-se comum a
As mulheres que se tomassem prisioneiras de prostituição religiosa (ver I Cor. 5:1 ss; 6:15,16).
guerra supriam concubinas individuais e prostitutas
que atuavam nos bordéis. Os romanos seguiam esses 3. O concílio de Jerusalém condenou a prostituição,
costumes, e as escravas estavam sujeitas aos piores exigindo que os convertidos ao cristianismo abando
nassem toda e qualquer participação (ver Atos
abusos sexuais, comerciais e não-comerciais. E
também havia escravos homossexuais. Os lupanares 15:20,29).
ou bordéis dos romanos tomaram-se numerosíssimos 4. As prostitutas estão moralmente mortas (ver I
e tiveram de ser regulamentados por lei; mas em Tim. 5:6).
Roma as leis sempre foram baixadas a fim de serem 5. A união sexual de alguma maneira combina as
desobedecidas. O govemo cobrava taxas dos bordéis, energias vitais das duas pessoas envolvidas. Sendo
indicação de um empreendimento lucrativo. Alguns esse o caso, é ofensa séria o crente ter união com uma
dos primeiros pais da Igreja, como Teodósio e prostituta, ao mesmo tempo em que desfruta da
Valentiniano, tentaram persuadir às autoridades civis presença do Espírito Santo, com Quem goza de união
a suprimirem os bordéis e não mais tachá-los como espiritual vital (ver I Cor. 6:18). O fato de que o crente
fonte de renda. Porém, os políticos romanos nunca se é templo do Espírito Santo veda terminantemente,
interessaram muito em reduzir seus ganhos em para ele, todas as formas de imoralidade.
potencial. Justiniano, que se casara com uma V. Usos Metafóricos
prostituta, ficou sabendo mais do que queria sobre 1. A idolatria é prostituição, tal como sucede à
esse negócio, e o resultado foi que procurou introduzir apostasia (ver Isa. 1:21; Jer. 13:27; Eze. 16:16; Osé.
reformas. 1: 2).
UI. Ponto« de Vista do Antigo Testamento 2. A prostituição é um viver na morte (ver I Tim.
1. A Prostituição é uma Antiga Prática. Na 5:6).
verdade, conforme se tomou proverbial, essa é a mais 3. Países inteiros ou cidades-estado são comparados
antiga das profissões, porquanto as mulheres sempre com prostitutas, em face de sua imoralidade e
tiveram dificuldade em viver de forma independente, idolatria. Foram os casos de Roma (Apo. 17:5),
e os homens sempre se dispuseram a pagar dinheiro Nínive (Naum 3:4) e Tiro (Isa. 23:15-17).
em troca de sexo. Nos tempos modernos, sobretudo 4. A prostituição é uma corrupção do corpo, que é
na Ãfrica, os missionários cristãos vêem-se forçados a um templo espiritual, sobretudo no caso do crente
permitir a continuação da poligamia, visto que as (ver I Cor. 6:18 ss).
esposas plurais, se forem repelidas, usualmente 5. Um povo pecaminoso é como uma prostituta,
tomam-se prostitutas. Rejeitar a uma esposa quase que corre de um amante para outro, ansiosa por mais
sempre, na Ãfrica, equivale a condená-la à prostitui aventura e maior ganho (ver Isa. 57:3-5; Jer. 2:23-25).
ção; pelo menos equivale a tomá-la adúltera (o que 6. Nos sonhos e nas visões, a participação na
talvez esteja implícito em Mat. 5:32). A prostituição prostituição pode simbolizar toda uma série de
prevalecia em sociedades mencionadas na Bíblia, atividades e atitudes dúbias, prejudiciais e pecamino
desde o início. Ver Gên. 38:15; Juí. 11:1. Era sas, embora sem o concurso (ou incluindo) de atos
encontrada em Canaã (Jos. 2:1), na Filístia (Juí. sexuais.
16:1), e em muitas outras terras (Pro. 2:16 e 29:3).
2. Regulamentos Mosaicos. Um pai não podia VI. Cansas da Prostituição
prostituir suas filhas (ver Lev. 19:29); um sacerdote 1. Muitas prostitutas tomam-se tais por terem um
não podia contrair matrimônio com uma prostituta desejo desordenado por sexo, encontrando satisfação
(ver Lev. 21:14); se um sacerdote entregasse sua filha somente nos excessos que sua profissão (?) lhes
à prostituição, ele deveria ser executado na fogueira permite. Geralmente, podem ser encontradas pertur
(ver Lev. 21:9), ou, então, por apedrejamento (ver bações psicológicas que causam a condição, embora,
Deu. 22:21). No templo não se podia usar dinheiro em algumas delas, pareça também haver causas
adquirido pela prostituição (ver Deu. 23:17,18). orgânicas.
3. Atitudes dos Profetas. A prostituição e a 2. Usualmente há alguma distorção psicológica que
idolatria eram sócias, de tal maneira que a primeira leva as mulheres a buscar cumprimento ou aceitação
era usada como metáfora para indicar a segunda. Ver por meio do sexo.
Isa. 1:21; Jer. 13:27; Eze. 16:16; Osé. 1:2. 3. As pesquisas têm descoberto que algumas
4. A Imagem Bíblica da Prostituição. Na Bíblia a mulheres têm personalidades que definidamente
prostituta aparece como uma aventureira que arrasta gravitam para a prostituição, tal como outras
os homens à ruína (Pro. 23:27). Uma sociedade ou personalidades inclinam-se para outras atividades.
nação ímpia e idólatra é comparada a uma prostituta 4. Nos tempos em que vivemos, grande parte da
coletiva (Apo. 17:5,15-17). Uma prostituta sabe prostituição deve-se à falta de dinheiro, a fim de
seduzir mortalmente (Naum 3:4). Nações foram sustentar vícios, como o das drogas.
assemelhadas a prostitutas, devido às suas imoralida 5. A despeito da passagem dos séculos e da
des e à sua idolatria (como Nínive, Naum 3:4; ou Tiro, melhoria das condições de vida das mulheres, muitas
Isa. 23:15-17). Uma mulher virtuosa é benéfica para delas ainda são forçadas a uma vida de prostituição.
seu marido, mas uma prostituta arruina financeira 6. A grande causa da prostituição é o simples desejo
473
PROTAGORAS - PROTESTANTE
ou necessidade de dinheiro. A prostituição é uma Idéias:
atividade lucrativa. Um simples encontro pode 1. O homem é a medida de todas as coisas. E isso
render, para uma prostituta, o que uma secretária só tanto das coisas que existem quanto das que não
consegue ganhar em uma semana. Uma prostituta de existem. Protágoras tornou-se famoso por essa
luxo, no Brasil, pode ganhar, em um único encontro, citação, que era a regra fundamental do sofismo. O
o que uma jovem que trabalha só ganharia em dois ou homem seria a medida do conhecimento, da ética, das
três meses de trabalho. O fato de que uma cidade crenças religiosas, etc. Pois a respeito de nenhuma
brasileira de tamanho moderado, como Recife, conta dessas coisas precisaríamos de leis divinas, que
com cerca de quarenta mil prostitutas profissionais provenham de fora da consciência humana. Essa
devidamente fichadas (para nada dizer sobre atitude levou-o a ensinar a relatividade quanto a todas
outras milhares que não o são), só pode dizer sobre as coisas. A minha verdade é só minha; a tua é só tua;
o fator econômico como o maior de todos os motivos a minha noção da ética é minha, e a tua é tua, e tudo é
que levam as mulheres a tornarem-se prostitutas. igualmente válido. O que funciona no meu caso é a
VII. Remédios Para a Prostituiçlo minha verdade; e o que funciona bem para ti é a tua
1. Agências sociais, financeiras e governamentais verdade. Protágoras, pois, equiparava a verdade com
podem reduzir a prostituição mediante programas a funcionalidade, o que veio a ser a pedra
que tendam por melhorar as condições sócio-eco- fundamental do pragmatismo (vide).
nômicas das mulheres. 2. Educação. A tarefa da educação consiste em
2. As igrejas e a pregação do evangelho não têm modificar o homem de um estado ruim para um
conseguido reduzir apreciavelmente a prostituição estado melhor. Mas isso seria melhor obtido através
massificada, embora tenha podido ajudar a muitas da máxima pragmática, conforme se viu no ponto
prostitutas individuais, especialmente por meio de primeiro, acima. Naturalmente, Protágoras estava
missões de socorro e amparo, nas grandes cidades. interessado em todas as formas de conhecimento,
3. As agências médicas, ultimamente, talvez embora exigindo que todo conhecimento tivesse
tenham' contribuido, mais do que qualquer outra alguma função e aplicação prática.
coisa, para a redução da prostituição, visto terem 3. A matéria acha-se em estado de fluxo. Portanto,
espalhado os perigos envolvidos nas doenças venéreas para todos os efeitos práticos, a matéria é tudo no que
incuráveis. A mais temível dessas enfermidades é a estamos interessados, pois nossa percepção sensorial
AIDS, acerca da qual temos ouvido mais do que só nos dá conhecimentos acerca da matéria. Em
gostaríamos de saber. Mas, segundo outros, o povo outras palavras, o mundo é aquilo que interpretamos
ainda não foi informado de tudo a respeito da AIDS, que o mesmo seja, em consonância com a máxima
porque a verdade sobre essa enfermidade é chocante. pragmática. Qualquer teoria que ultrapasse daí é
Seja como for, o temor à AIDS tem reduzido inútil. Temos aí a pedra fundamental primitiva do
apreciavelmente a prostituição, e muitos homens têm positivismo (vide).
descontinuado totalmente o contacto sexual com as 4. Opinião e practicabilidade são os dois fatores
prostitutas. A homossexualidade também tem recebi determinantes dos valores éticos. Porém, quando os
do um golpe muito rude e muitos lugares de encontros homens alteram suas opiniões, os padrões éticos
homossexuais têm fechado suas portas. Mas, o que modificam-se de acordo com isso. Não há padrões
resta de prostituição—hetero ou homossexual—ainda fixos, e minha verdade é minha, enquanto que a tua é
é temível. Quão perigosa é a prostituição pode ser tua. As idéias éticas devem dar certo, e não ser apenas
avaliado pelo fato de que a possessão demoníaca teóricas. A experimentação faz-se necessária para
(vide) está tão pesadamente envolvida na perversão determinar o que é exeqüível. Mas o padrão a ser
das funções sexuais humanas. Uma outra caracterís seguido, a qualquer momento, é a opinião do
tica básica da possessão demoníaca é o ódio, o indivíduo ou da comunidade envolvida.
equivalente diabólico do amor. O ódio e o sexo 5. O progresso social ocorre quando as comunida
pervertido são as duas grandes expressões da des ajustam-se ao desenvolvimento das artes e
atividade dos demônios. técnicas necessárias para sustentá-las, além da
agricultura, que é basilar.
6. No tocante aos deuses, Protágoras assumia uma
PROTÂGORAS posição abertamente agnóstica: «(Os homens) não
Um filósofo sofista grego (ver sobre os Sofistas). têm meios de saber nem se existem e nem se não
Suas datas foram, aproximadamente, 490-410 A.C. existem; e ainda que existam, não sabem qual é a sua
Nasceu em Abdera, na Trácia. Foi conselheiro de forma». Por causa dessa afirmativa (interpretada
Péricles, que, por sua vez, aconselhava a políticos; e como própria do ateísmo), ele foi condenado em 411
assim obteve grande reputação em Atenas. Péricles A.C., e foi banido de Atenas. E pereceu afogado no
nomeou-o para formular um código legal para a mar, a caminho da Sicília.
colônia ateniense de Turim, na Itália. Escritos. Sobre a Verdade; Sobre os Deuses;
Protágoras também era amigo de Eurípedes, sendo Antilógica. Além dessas obras, escreveu sobre
respeitado (embora de idéias filosóficas contrárias) gramática, direito e matemática. Até onde se sabe, ele
por Sócrates e Platão. Em certo sentido, Protágoras foi o primeiro homem que sistematizou as regras e o
foi o primeiro professor universitário. Sustentava-se estudo da gramática, tendo originado a classificação
com base nas taxas pagas por seus estudantes, e que das partes da linguagem, os tempos e os modos
os historiadores dizem que eram bastante altas. Deve verbais. De todos os seus escritos, restam somente
ter sido o último professor universitário a ser bem fragmentos de Sobre os Deuses.
pago! Sócrates pensava ser uma desgraça ficar Platão discutiu e refutou os pontos de vista de
«vendendo» o conhecimento, sendo essa uma razão Protágoras em seus diálogos Protágoras e Taeteto.
pela qual Sócrates continuou na pobreza. A atitude
socrática para com o ensino tem sido a atitude de
maior influência na história da educação. Finalmente, PROTESTANTE, ÉTICA
Protágoras, acusado de ateísmo, — foi expulso Ver sobre Êtica Protestante.
de Atenas; mas, por essa altura, já era um homem
rico.
474
PROTESTANTISMO
PROTESTANTISMO pode ser percebida em um passado muito anterior, em
Esboço: alguns grupos que se dividiram da Igreja oficial, sem
falarmos em alguns poucos prelados e líderes
I. O Termo Protestante religiosos, dentro da Igreja Católica, que procuraram
II. Caracterização Geral impor reformas, ou que apresentaram idéias que
III. Esboço Histórico divergiam daquelas da cristandade organizada.
IV. Tipos Básicos de Protestantismo Poderíamos citar nomes como os albigenses e os
V. Expressões Modernas: Gráfico waldenses (ver os artigos acerca desses grupos), os
VI. Doutrinas Distintivas Básicas quais, embora não tenham sido protestantes quanto à
I. O Termo Protestante doutrina em geral, opunham-se à autoridade papal e
buscavam uma manifestação independente. E dentro
Ver os artigos separados Reforma Protestante e da Igreja Católica Romana levantaram-se os grandes
Reforma Católica. patriarcas da Reforma, João Wycliffe, de Oxford, na
A palavra protestantismo é um termo coletivo, Inglaterra (1321-1384), e João Huss, de Praga, na
usado para aludir àquele movimento religioso e Boêmia, acerca dos quais temos apresentado artigos
àqueles grupos que vieram a fazer oposição à Igreja separados.
Católica Romana, o que produziu um sério cisma na «Um movimento de reforma religiosa na Europa,
Igreja Católica, no século XVI. Os grupos que cujos líderes viveram durante o espaço de dois séculos.
mantêm essa atitude cismática são chamados de A começar por Wycliffe, no século XIV, que foi o
«protestantes». Ver a segunda seção, Caracterização primeiro a propor os princípios da Reforma, e então
Geral, quanto a uma definição mais completa do com Huss, nos fins do século XIV, e começo do século
Protestantismo. Esse apodo, «protestantes», que veio XV, que foi o primeiro a implementar esses
a ser aplicado àqueles que repeliram a autoridade princípios, o movimento ampliou-se durante a maior
papal, formando igrejas independentes, originou-se parte do século XVI. E começando com Lutero, que
na Alemanha quando, por ocasião da segunda dieta tomou posição com as suas Noventa e Cinco Teses, em
de Espira, em 1529, aqueles que apoiavam as idéias 1517, a Reforma posicionou-se no centro do palco da
de Lutero apresentaram o seu protesto por haver sido cena européia. A iniciativa de Lutero teve prossegui
repelido o edito anterior e mais tolerante de 1526. mento com os labores de Melanchton (vide), Zwínglio
Esses seguidores de Lutero eram príncipes alemães (vide), Calvino (vide) e João Knox (vide). E a Igreja
que faziam objeção à decisão que dizia que não Católica Romana reagiu com a sua Contra-Reforma
podiam dirigir as suas próprias questões religiosas (vide)» (P).
dentro de seus respectivos territórios, conforme viam
que seria justo. Naturalmente, o apelido não tardou a O protesto da segunda dieta de Espira (1529) teve
generalizar-se, chegando mesmo a ter um uso uma orientação nitidamente política; e a declaração
retroativo. Assim, em 1517, Lutero havia «protestado» mais longa que emergiu daquela dieta, intitulada
contra certas crenças e práticas da Igreja Católica Instrumentum Appellationis, deixou claro que a
Romana, ao expor as suas Noventa e Cinco Teses. Seu minoria evangélica tomara a mesma posição que Lute
principal protesto fora contra a venda das indulgên ro havia tomado, acerca da autoridade das Santas
cias e contra a doutrina geral católica romana a esse Escrituras. «A Santa Bíblia é, em todas as coisas,
respeito. Assim, aquilo que teve começo como um necessária para o cristão... Somente essa Palavra
protesto, não demorou a transformar-se em denomi deveria ser pregada, com nada que lhe seja contrário.
nações cismáticas. A fragmentação nunca cessou, de Ela é a única verdade. £ a regra segura de toda
doutrina e conduta cristãs. Jamais poderá falhar e
tal modo que os grupos protestantes, hoje em dia, são nem enganar-nos», dizia aquela afirmação.
muito numerosos. Nos séculos XVI e XVII, esses
novos grupos cristalizaram-se em torno de suas Conforme pode-se ver, apesar do termo «protestan
posições, e o cisma protestante tornou-se oficial e te» enfatizar a idéia de protesto, a Reforma foi um
permanente. tempo de reafirmação da Bíblia e sua autoridade, com
um novo testemunho em favor das Escrituras, o que
II. Caracterização Geral finalmente resultou nas missões modernas, que
A Reforma Protestante sem dúvida nenhuma não propagaram o protestantismo a todas as partes da
foi um erro. Teve e tem seus pontos bons e terra. «O protestantismo migrou para a América com
necessários. Foi uma convocação à liberdade e um os primeiros colonos, e, durante o século XIX, o
retomo à Bíblia (embora alguns dogmas e interpreta movimento missionário protestante espalhou suas
ções ocidentais, em minha opinião falsos, tenham doutrinas, defendidas por diversas igrejas protestan
permanecido à base do movimento). Por outra parte, tes, pelo mundo inteiro, mormente pela Ãsia oriental
por seu lado negativo, a história do protestantismo é e pela África» (AM).
uma massa confusa de igrejas e credos em
competição, de hostilidades, de lutas pelo poder, e de ESPIRA, DIETAS DE
uma interminável fragmentação. Nas igrejas protes Lembramo-nos dessas dietas não meramente por
tantes, apesar da suposta autoridade ser «as terem tido alguma importância durante o período da
Escrituras somente», na prática essa autoridade Reforma Protestante, mas também porque foi ali que
consiste nas Escrituras e no que eu e minha o termo «protestante» veio a designar os luteranos, e
denominação interpretamos. £ admirável como daí para os vários outros grupos que depois surgiram.
tantos grupos podem afirmar estarem mais próximos Espira foi a cena de quatro dietas, durante o período
das Escrituras que os demais, justificando sua da Reforma. Em 1526, Carlos V muito queria impor
alegada superioridade mediante um apelo a certos as estipulações do Edito de Worms (vide). Porém, a
textos de prova bíblicos selecionados. Naturalmente, situação política forçou-o a concordar com a
nisso está havendo distorções do ensino bíblico. resolução proferida por ocasião das Dietas de Espira, a
Historicamente, o protestantismo é aquele movi qual dizia: «Cada qual deve governar e agir conforme
mento religioso que houve, no seio da Igreja ocidental espera responder a Deus e à Sua Majestade Imperial».
(a Igreja oriental já se afastara do papado em 1054), Isso descortinou uma liberdade suficiente para o
associado à Reforma Protestante (vide) do século luteranismo espalhar-se por toda a Alemanha,
XVI. No entanto, a atitude de protesto e de reforma dividindo religiosamente a nação. Mas, ai por volta de
475
PROTESTANTISMO
1529, Carlos V tornara-se forte o bastante, no âmbito movimento histórico do século XVI. Ver o artigo
da política, e ele resolveu esmagar o luteranismo. chamado Comunhão Anglicana. Essa comunhão
Assim, naquele ano, foi baixada uma resolução que representa uma espécie de meio caminho entre o
revertia a situação de volta ao Edito de Worms, catolicismo romano e o evangelicalismo, retendo
contradizendo as decisões mais liberais da Dieta de aspectos católicos (no anglo-catolicismo) e evangéli
Espira. Ora, o Edito de Worms havia condenado cos. Os batistas (vide) tiveram sua origem no espírito
claramente Lutero e suas posições teológicas, e evangélico que foi gerado dentro da comunidade
procurava submeter a imprensa a uma censura rígida. anglicana.
Os luteranos sentiram-se muito contrariados diante 9. Nos séculos X V III e X IX , o protestantismo
do fato de que a Dieta de Espira tinha perturbado a consolidou-se sob a forma de suas denominações
liberdade deles, e assim «protestaram», publicando a históricas, mas sofreu alguma fragmentação adicio
seguinte declaração: «Em questões concernentes à nal, em grupos menores. A grande inovação do século
honra de Deus e à salvação das almas, cada qual deve XVIII foi o Metodismo (vide).
prestar contas de si mesmo a Deus», dando a 10. No século X IX , vários grupos vieram fixar-se na
entender, naturalmente, que os governantes civis América do Norte. Dali e da Europa(começando pela
devem deixar em paz as pessoas no tocante a questões Alemanha) desenvolveu-se o modemo movimento
de consciência, fazendo da tolerância a atitude para missionário. Isso propalou as várias denominações
com todos os grupos religiosos. Não obstante, nas protestantes e evangélicas tradicionais, por todo o
localidades onde os governantes civis eram protestan mundo, embora, no começo, principalmente no
tes, esse sentimento foi geralmente ignorado, e os Extremo Oriente e na Ãfrica.
oponentes foram perseguidos. 11. No século X X , tem havido grande fragmentação
Em duas outras dietas de Espira, Carlos V uma vez de grupos protestantes e evangélicos. A história do
mais foi forçado a fazer concessões aos luteranos, protestantismo, nessa altura dos acontecimentos,
para que estes o ajudassem a combater os turcos tem-se tornado uma massa confusa de igrejas e
(1542), e também os franceses (1544). Porém, uma credos. Tal competição tem-se espalhado para todas
vez que ele obteve a vitória contra estes últimos, as partes do mundo, através do movimento missioná
novamente voltou-se contra os luteranos, em Muel- rio. As denominações protestantes mais antigas
berg (1547), esmagando-os com suas forças militares. têm-se fragmentado em intermináveis divisões e
subdivisões. O liberalismo tem sido uma dessas forças
m . Esboço Hiatórico de desagregação, mas a maior parte dessas divisões
1. Os Albigenses (vide), uma seita de reformadores tem envolvido disputas sobre doutrinas e práticas
religiosos (séculos XI a XIII), que em nenhum sentido secundárias, ou, então, devido à luta pelo poder, à
foram protestantes e evangélicos, exceto que se arrogância e à camalidade. O movimento carismático
insurgiram contra a autoridade papal, buscando (vide) tem adicionado um número ainda maior de
liberdade religiosa. Nesse sentido, eles anteciparam fragmentos. Ali busca-se uma nova expressão de vida,
o movimento protestante do século XVI. através das experiências místicas. Infelizmente, faz-se
2. Os Waldenses (vide), uma seita de dissidentes isso sobre bases antiintelectuais, no combate ao
religiosos, fundada em cerca de 1170 D .C., por Pedro dogmatismo das denominações protestantes e evangé
Waldo, que buscava restaurar a Igreja à sua pureza licas tradicionais. — Por volta de 1950, já havia
original, enfatizando o estudo das Escrituras. Apesar duzentos e cinqüenta grupos protestantes diferentes
de não terem sido protestantes e evangélicos quanto a nos Estados Unidos da América do Norte.
muitas doutrinas, eles representavam um anseio
por reforma e por liberdade, destacando a importân 12. O movimento ecumênico insuflou uma tentativa
cia das Escrituras Sagradas. Esses elementos vieram a de unificação, um esforço que prossegue. Infelizmen
tornar-se preciosos para o protestantismo. Os te, busca-se ali uma unificação organizacional, com o
waldenses continuam existindo como grupo indepen sacrifício de crenças bíblicas autênticas. Quanto a
dente até hoje, tendo assumido posições mais maiores informações sobre a questão, ver o artigo
evangélicas do que antes. intitulado Movimento Ecumênico. A oposição a esse
movimento, lamentavelmente, tem servido de outra
3. João Wycliffe (século XIV) (vide) foi uma inspiração à fragmentação. Ver o artigo sobre o
verdadeira antecipação da Reforma Protestante. Ver Liberalismo.
mais detalhes no artigo acerca dele.
4. João Huss (vide) promoveu as idéias de Wycliffe e IV. Tipo« Báiico« de Protestantiamo
assim tomou-se outro elo verdadeiro no processo 1. Os Dois Tipos Originais. Diretamente da
histórico que conduziu à Reforma Protestante. Suas Reforma Protestante, emergiram a Igreja Luterana
datas aproximadas foram 1369-1415. (seguidores das idéias de Lutero) e a Igreja
5. Os Anabatistas (vide). Esses formaram um Reformada (calvinista, formada por seguidores das
movimento anterior à Reforma Protestante, mas idéias de Calvino). Esses grupos espalharam-se pela
eram, essencialmente, reformadores. Eles defendiam Alemanha, pela Holanda, pelos países escandinavos,
várias doutrinas nitidamente evangélicas, que influen pela Grã-Bretanha, e, mediante a emigração, para a
ciaram o curso da Reforma. E então, com a passagem América do Norte.
do tempo, terminaram por mesclar-se com os 2. Um outro tipo de protestantismo foi aquele
reformados. representado pela Igreja Anglicana. Eles podem ser
6. A Reforma Protestante propriamente dita teve considerados protestantes no sentido de serem
seu início em 1517, quando Lutero afixou suas contrários a Roma; mas preservam mais do
Noventa e Cinco Teses. Ver o artigo separado catolicismo do que os outros grupos protestantes.
intitulado Reforma Protestante. Retêm a liturgia e certas doutrinas romanistas
7. Ver os artigos separados sobre Lutero, Calvino, tradicionais, rejeitadas pelos outros grupos protestan
Zwinglio e João Knox, o que nos leva ao final do tes, especialmente as questões da sucessão apostólica
século XVI, apresentando a propagação do protestan e do sacramentalismo. O anglicanismo tem servido de
tismo por vários lugares da Europa. uma espécie de ponte entre o catolicismo romano e o
8. A Igreja Anglicana. A separação entre a Igreja protestantismo.
da Inglaterra e a Igreja de Roma também foi um 3. Um tipo de protestantismo de ala esquerda tem
PROTESTANTISMO
sido o dos anabatistas e menonitas. Esses eram mais ocidental e sua teologia achou novas adaptações e
radicais, distinguindo-se por doutrinas que, aos olhosmanifestações. Em minha opinião, a Igreja oriental
dos grupos mais tradicionais, eram consideradas preservou (devido aos pais gregos da Igreja) algumas
extremadas. doutrinas que são superiores às do Ocidente, as quais,
4. Os batistas, bastante parecidos com os grupos em sua maior parte, não foram adotadas pelos vários
protestantes tradicionais no tocante à maioria dos grupos fragmentados do Ocidente.
pontos, trouxeram algumas inovações no campo do A mais conspícua das doutrinas da cristandade
governo eclesiástico, além de negarem a teologia oriental, em distinção à cristandade ocidental, é sua
sacramentalista e de ensinarem o batismo por visão mais esperançosa do destino do homem. Os
imersão, somente para os regenerados. Os batistas teólogos orientais têm-se mostrado favoráveir à idéia
originais procediam da comunidade anglicana. Ver o da continua oportunidade de salvação, após o túmulo,
artigo sobre os Batistas. asseverando que o após-túmulo é um lugar de
5. Os metodistas formam uma espécie de preparação para a salvação, exatamente como o é a
movimento pietista que se separou da comunidade vida mortal, no corpo físico. Eles acreditam na missão
anglicana, tornando-se independente. Ver sobre o tridimensional de Cristo: sobre a terra, no hades o nos
Metodismo. céus. Nessas três dimensões haveria salvação ou
6. Os eruditos liberais formam uma espécie de restauração. Fazendo contraste com isso, seguindo a
frente de ala esquerda, dentro do protestantismo. teologia de Agostinho, a Igreja ocidental veio a
Surgiram no século XIX e se fizeram proeminentes no encarar o atual estado mortal do homem como a única
século XX. Ver sobre o Liberalismo. fase da existência humana onde há oportunidade de
7. O movimento carismático emergiu do metodis salvação. Há textos de prova bíblicos em favor de
mo, e em breve mostrou pouca força de coesão, ambos os lados da controvérsia, mas, pessoalmente,
fragmentando-se em denominações distintas. As adoto o ponto de vista mais otimista, crendo que o
denominações tradicionalistas também contam, em mesmo evita que a fé cristã seja pessimista. Ver meus
suas fileiras, com elementos carismáticos. De fato, artigos intitulados Restauração e Descida de Cristo ao
isso ocorre até mesmo dentro da Igreja Católica Hades, que expõem o ponto de vista mais otimista do
Romana. Ver sobre o Movimento Carismático. poder e atuação do evangelho, algo que, segundo
creio, muito carecemos.
Os três tipos tradicionais de protestantismo são: os
luteranos, os reformados e os anabatistas-menonitas. 2. Na terceira seção mostrei os pontos essenciais
Dali foram surgindo outros grupos, e, por efeito de acerca da evolução desde a Igreja Católica Romana
fragmentação, temos hoje o espetáculo de uma até o item que, no gráfico, chamei de Conservantis
incrível variedade nas manifestações do cristianismo mo Protestante Geral Moderno, com seus respectivos
protestante e evangélico. ramos. Assim, estas explicações prosseguirão até
V. Expressões Modernas: Gráfico aquele ponto.
3. Os Protestantes Evangélicos Tradicionalistas são
Igreja Católica Romana aquelas denominações que dão prosseguimento aos
tres tipos básicos de protestantismo com poucas
alterações, a partir do século XVI. Dentre eles, os
Pré-Reformadores menonitas são os que mais se modificaram, pois
foram ficando cada vez mais parecidos com os outros
evangélicos, tendo abandonado certas doutrinas e
Reforma Protestante práticas estranhas, que haviam herdado dos anabatis
tas.
4. Os Fundamentalistas são aqueles grupos que
Três Tipos Básicos: enfatizam não somente um estrito biblicismo, mas
Luteranos; Calvinistas; Anabatistas-Menonitas também dispõem-se a combater qualquer desvio dessa
posição. Aceitando as Escrituras como sua única
regra de doutrina e conduta, eles têm a certeza de que
Comunidade Anglicana: não há erros nas mesmas. Além disso, em sua
Ponte entre Romanismo e Protestantismo maioria, adotam uma teoria da inspiração verbal por
ditado das Escrituras. A fragmentação tem-se
mostrado mais intensa entre os fundamentalistas da
Começo da Fragmentação: velha escola. O historiador Mardsden talvez tenha
Batistas e Metodistas
/ \
dito a verdade ao afirmar que «um fundamentalista é
um evangélico que está irado acerca de alguma coisa».
O grande vício do fundamentalismo é a hostilidade,
Conservantismo Protestante Geral Moderno de onde se originam as fragmentações e a tendência
I para o conflito. O vício do liberalismo, por sua vez, é o
Protestantes Evangélicos ceticismo. Ver o artigo separado sobre o Fundamenta
Tradicionalistas lismo.
Fundamentalistas 5. Os Neofundamentalistas defendem as doutrinas
essenciais do fundamentalismo, embora anseiem por
Neo-Evangélicos desvencilhar-se da reputação de visão estreita, de
Liberais pouca cultura e de permanente fragmentação. Além
Pentecostais disso, esforçam-se por edificar associações mais
Carismáticos Não-Pentecostais amplas e alianças espirituais, incluindo um leque
mais amplo de evangélicos do que o fazem os
Explicações: fundamentalistas. Em outras palavras, para os
1. Este gráfico mostra a fragmentação da Igreja neofundamentalistas «separação» não é a palavra-
ocidental. Não nos esqueçamos de que a Igreja chave.
oriental já se havia separado da ocidental, em 1054. 6. Os Neo-Evangélicos moveram-se um tanto para a
Portanto, o que aqui mostramos é como a Igreja esquerda dos neofundamentalistas. Sua postura
PROTESTANTISMO
doutrinária é um pouco mais liberal, embora não se Carismático.
tenham tomado liberais. Entre eles, a crença de que a VI. Doutrinai Distintivas Básicas
Bíblia «não tem erros» recebe interpretações diferen Os artigos separados sobre Batistas, Metodismo,
tes. Muitos deles não crêem em uma exatidão Igreja Presbiteriana, Calvino, Lutero e Luteranismo
absoluta, mas preferem dizer coisas como: «Não há fornecem os padrões doutrinários gerais dos grupos
erros na mensagem do evangelho». Ou então falam protestantes e evangélicos. Ver também sobre
sobre a mensagem bíblica em geral, sem entrarem em Evangelicalismo. Neste verbete, os meus comentários
detalhes. Pontos de vista mais liberais são tomados limitam-se à breve menção daquelas doutrinas que
quanto a certa variedade de assuntos, como a criação, distinguem os protestantes dos católicos romanos. A
a sua maneira, o elemento temporal da criação, etc. grande massa das doutrinas permanece idêntica.
Podemos dizer que os neo-evangélicos representam Porém, as exceções foram e continuam sendo
uma posição do meio-termo entre o fundamentalismo importantes.
e o liberalismo; e, na verdade, cada neo-evangélico 1. Foi tomada uma posição mais restrita acerca da
representa essa posição em um grau todo próprio. Ver autoridade, e as Escrituras Sagradas foram eleitas a
o artigo separado chamado Neo-Evangelicalismo. única regra de fé e prática. Ver o artigo intitulado
7. Os Liberais. Esses pensadores abandonaram a Autoridade.
noção da perfeição das Sagradas Escrituras, e 2. Houve uma volta para o agostinianismo, com
começaram a aplicar os métodos científicos e abandono do tomismo (ver os artigos acerca dessas
históricos ao estudo da Bíblia. Outrossim, não duas posições). Os artigos sobre Agostinho e Tomás
pensam ser necessário, e nem mesmo correto, supor de Aquino abordam as particularidades.
que a Bíblia é a única autoridade. Para eles, a Bíblia é
apenas uma das autoridades (e com defeitos), entre 3. A autoridade papal foi rejeitada, e o papa,
outras autoridades. Eles rejeitam a Bibliolatria (vide). quando muito, é aceito como o bispo legítimo de
Os estudiosos liberais, naturalmente, representam um Roma, ou então, é identificado com o falso profeta ou
espectro muito amplo de crenças, a começar pelos com o anticristo.
virtuais não-cristãos, céticos, e daí até os cristãos, de 4. Houve a rejeição à veneração a Maria e aos
crenças muito lassas. Muitos liberais pensam que o santos, com a paralela eliminação de imagens de
cristianismo nem mesmo é a única expressão religiosa escultura. Ver sobre Mariolatria e Mariologia.
legítima no mundo, e alguns deles opinam que o 5. Houve a reieição do conceito das indulgências
cristianismo não é, necessariamente, a melhor dentre (vide).
tantas expressões religiosas do mundo. Quanto a 6. Também foi rejeitada a doutrina da sucessão
maiores detalhes, ver o artigo sobre o Liberalismo. apostólica (vide), na maioria das denominações
Seu ponto positivo é sua franca e freqüentemente protestantes e evangélicas.
sincera busca pela verdade, incluindo sua luta contra 7. Houve a rejeição ao sacramentalismo (vide), na
a estagnação. Mas o seu grande vício é o ceticismo. O maioria das denominações, embora muitos luteranos
liberalismo e a Comunidade Anglicana têm sido e anglicanos continuem aceitando o batismo e a
poderosas forças por detrás do Movimento Ecumênico eucaristia como sacramentos.
(vide). 8. Os concílios foram rejeitados como inerrantes.
8. Os Pentecostais. Esses originaram-se do metodis- 9. A justificação pela fé , lado a lado com o ensino
mo. Mas o pentecostismo não demorou a expressar-se geral sobre a graça divina, tomou-se o fator principal
em muitas denominações distintas, aumentando na prédica. Os reformadores continuaram a ver a lei
enormemente a fragmentação do protestantismo. mosaica como guia da vida do crente, embora não
Alguns estudantes de um colégio bíblico metodista como justificadora. Mas esse ponto de vista tem sido
resolveram que era errado dizer que os dons rejeitado por alguns grupos protestantes e evangélicos
espirituais deveriam desaparecer após o período modernos.
apostólico. As línguas foram buscadas e obtidas. 10. No luteranismo, a consubstanciação (vide)
Então, presumivelmente, outros dons espirituais tomou o lugar da transubstanciação (vide), mas
foram acrescentados, de tal modo que, hoje em dia, muitos luteranos, e certamente a maioria esmagadora
muitos pentecostais afirmam que todos os dons dos outros grupos protestantes também rejeitam a
espirituais neotestamentários já foram restaurados. primeira dessas doutrinas.
Mas outros pentecostais preferem falar em termos de 1 1 .0 determinismo foi e continua sendo uma ênfase
uma restauração parcial. Tenho relatado essa história comum de muitos grupos protestantes, em contraste
no artigo chamado Movimento Carismático. A grande com a posição oficial da Igreja Católica Romana, que
virtude desse movimento é a sua insistência de que favorece o livre-arbítrio humano. Ver os artigos sobre
ainda há muita coisa a ser aprendida pelos crentes, e essas questões. Quando o Jansenismo (vide) foi
que as experiências místicas são um poderoso meio de formalmente rejeitado pelo catolicismo romano, o
desenvolvimento espiritual. Ver sobre o Misticismo. determinismo jamais poderia ser aceito novamente
Mas o movimento tem certos vícios, como um pelos romanistas. No entanto, as doutrinas da
determinado exclusivismo, e, desafortunadamente, predestinação (vide) e do determinismo (vide) têm
falsas manifestações dos dons, de mescla com certas desempenhado papel preponderante nas crenças de
manifestações que muito se assemelham às do muitos grupos evangélicos.
espiritismo.
12. Foi rejeitado o celibato obrigatório (vide), como
9. Os Carismáticos Nõo-Pentecostais. Essa gente requisito imposto aos ministros.
também é conhecida como Neopentecostais, ou 13. Houve a separação entre Igreja e Estado, o que,
simplesmente, carismáticos. Esses têm permanecido em muitos grupos protestantes e evangélicos é aliado
como membros das denominações protestantes ao governo democrático da Igreja.
tradicionais, embora seguindo práticas pentecostais, 14. Tem havido maior ênfase sobre a total
como a possessão e o uso dos dons espirituais. Até depravação do homem do que é comum à teologia
certos católicos romanos poderiam ser assim chama católica romana.
dos, visto que o povo carismático, naquela igreja, não 15. Muitos grupos protestantes chegaram a rejeitar o
difere muito dos carismáticos evangélicos, exceto que batismo infantil (vide).
aceitam a autoridade papal. Ver sobre o Movimento 16. Houve total rejeição da hierarquia eclesiástica,
478
PROTESTANTISMO - PROVÉRBIO
com muita simplificação no ministério (mais do que é possa ser definido ou compreendido. Ê o caso de Pro.
permissível pelo Novo Testamento), chegando-se ao 17:3, que diz: «O crisol prova a prata, e o forno o
extremo do governo democrático. ouro; mas aos corações prova o Senhor». Pode-se
17. Impôs-se o conceito do sacerdócio de todos os comparar esse provérbio com um outro, que lhe é
crentes, com a rejeição (por parte da maioria dos similar, em Mal. 3:3. O trecho de Pro. 1:17 é outro
grupos protestantes e evangélicos) do conceito de que exemplo qúe requer reflexão demorada: «Pois debalde
o ministro é uma espécie de padre. se estende a rede à vista de qualquer ave».
18. £ fortíssima a ênfase sobre a necessidade do 3. Os Provérbios da Bíblia
indivíduo estudar as Escrituras, com a conseqüente Podemos encontrar os provérbios espalhados pela
rejeição da idéia de que somente a Igreja tem Biblia inteira; mas o Livro de Provérbios (vide) é uma
autoridade para interpretá-las. espécie de coletânea principal de provérbios, atribuí
Bibliografia. AM AMC B C E EP HOD NAS P dos a Salomão. Os trechos de I Sam. 10:11; 19:24 e
PAU PAU(1950) R 24:13 também contêm declarações proverbiais. Outros
exemplos são Jer. 31:29 e Eze. 18:2. Jó, sendo um
PROTEVANGELIUM DE TIAGO livro poético, naturalmente encerra muitos provér
Ver Tiago, Protevangelium de. bios. A passagem de Jó 28:28 é bem conhecida; «Eis
que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do
PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS mal é o entendimento». Esse provérbio, em uma
Ver Deua, seção V, e Argumento« em Prol da forma modificada, reaparece no livro de Provérbios
Existência de Deus. (1:7), como uma espécie de provérbio principal, que
determina o espirito do livro inteiro.
PROVAS DA EXISTÊNCIA E SOBREVIVÊNCIA A presença de provérbios em Deu. 28:15 ss e vs. 37
DA ALMA mostra-nos que esse uso é bastante antigo na cultura
Ver sobre Alma, seção V, e Imortalidade (diversos hebréia. Um povo desobediente é ameaçado de vir a
artigos). tornar-se um provérbio.
a passagem de Sal. 69:10,11 serve-nos de exemplo
PROVAS DE CULPA da maneira como são apresentados os provérbios. Um
Houve tempo em que a culpa ou inocência das indivíduo, humilhado e em estado aviltado, torna-se
pessoas era determinada sujeitando-se as mesmas um provérbio para outras pessoas.
a testes fisicamente dolorosos e perigosos. Assim, No Novo Testamento, há duas palavras gregas que
jogava-se um homem dentro da água, e esperava-se são usadas e que podem ser traduzidas . por
que ele não morresse afogado, se fosse inocente. «provérbio»: parabolé, como em Luc. 4:23; e
Aqueles que promoviam tais absurdos supunham que paroimía, como em João 6:25,29 e II Ped. 2:22.
algum poder sobre-humano interveria em favor de Figuras de linguagem, expressões vívidas ou declara
quem fosse inocente. Torturas também eram aplica ções enigmáticas podem estar envolvidas nesses
das, e que a parte inocente supostamente não deveria vocábulos. Jesus empregou provérbios, em Seu
sentir, ou, pelo menos, que deveria suportar com ensino, como aquele de Luc. 4:23: «Médico, cura-te a
galhardia; mas, se fosse culpada, não agüentaria a ti mesmo». Esse provérbio pode ser confrontado com
prova. Se povos primitivos têm usado tais métodos, João-16:25,39. Ver também Mat. 6:21 e João 12:24.
essa prática era comum na Europa da época Paulo falou em amontoar brasas vivas sobre a cabeça
medieval. de alguém (ver Rom. 12:20). E o trecho de I Cor.
15:33 contém um significativo provérbio, tomado por
empréstimo do poeta grego Menandro: «As más
PROVÉRBIO conversas corrompem os bons costumes». Outros
Esboço: provérbios de Paulo acham-se em I Cor. 14:8: «Pois
1. A Palavra e suas Definições também se a trombeta der som incerto, quem se
2. A Natureza dos Provérbios preparará para a batalha?»; e Tito 1:15: «Todas as
3. Os Provérbios da Biblia cousas são puras para os puros; todavia, para os
impuros e descrentes, nada é puro». E Tito 1:12 tem
4. Os Provérbios como Fenômeno Verbal e da outro provérbio, citação do poeta grego Epimênides;
Literatura Universal «Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres
1. A Palavra e suas Definições preguiçosos». Também podemos citar I Tim. 6:10:
Essa palavra vem do latim, proverbium, formada «Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os
por pro, «antes», e verbum, «palavra». Seu sentido é males», um provérbio universalmente conhecido.
algumas vezes expresso por algumas poucas palavras, Provavelmente também poderíamos catalogar como
precisas e coloridas. O latim, pro, pode ter o sentido proverbial a declaração de Tia. 2:26: «Porque assim
de «de acordo com», ou «através de», e talvez essa seja como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé
a força desse prefixo, nessa palavra. No hebraico, o sem obras é morta». Uma outra dessas declarações é a
vocábulo correspondente é mashal, «ser semelhante», de Tia. 1:22: «Tornai-vos, pois, praticantes da
o que salienta o valor dos provérbios para a feitura de palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós
comparações e observações sutis e inteligentes. mesmos». Por sua vez, Pedro nos ofereceu um
2. A Natureza dos Provérbios excelente provérbio, quando escreveu: «...o amor
Um provérbio é uma declaração expressiva, incisiva cobre multidão de pecados» (I Ped. 4:8). E a
e concisa, embora com o intuito de transmitir um afirmação que se lê em II Ped. 2:22: «O cão voltou ao
pensamento novo ou importante. Pode ser uma seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a
declaração enigmática ou uma máxima, como se fosse revolver-se no lamaçal», é chamada de «adágio
uma minúscula parábola ou símile. Os seus sinônimos verdadeiro», por esse apóstolo. A primeira parte dessa
são aforismo, máxima, mote, preceito, símile. No afirmação vem de Pro. 26:11; mas não se conhece a
Oriente, os provérbios usualmente incluem compara fonte originária da segunda parte da mesma.
ções, uma espécie de observação aguda e condensada. Certas declarações de Jesus, feitas como se fossem
Um provérbio também pode ser uma «declaração provérbios, expõem diante de nós a essência da
enigmática», que requer meditação e análise para que esperança do evangelho: «...conhecereis a verdade, e a
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PROVÉRBIO - PROVÉRBIOS
verdade vos libertará» (João 8:32); e: «Se, pois, o Filho VIII. Estado do Texto
vos libertar, verdadeiramente sereis livres» (João IX. Problemas Especiais
8:36). A. A Figura da Sabedoria
4. Os Provérbios Como Fenômeno Verbal e da B. Relação entre Provérbios e a Sabedoria de
Literatura Universal Amenemope
Antes da escrita haver sido inventada, os provérbios 1. O documento egípcio
circulavam sob forma verbal. A literatura de todos os 2. Relações léxicas
povos revela que tal costume era universal. A X. Conteúdo e Esboço do Livro
literatura antiga dos sumérios, dos babilônios, dos A. Conteúdo
egípcios, dos gregos e dos romanos contém provér 1. Gêneros literários
bios, o que também pode ser dito acerca dos chineses, 2. Assunto
dos celtas, e de outros povos. Provérbios populares B. Esboço
acabaram se tomando provérbios literários. As XI. Teologia do Livro
religiões também têm lançado mão dos provérbios. Os I. Pano de Fondo
provérbios são especialmente úteis no ensino de Sem importar se a autoria salomônica é aceita ou
princípios éticos, e para exprimir expressões de bom não, pode-se facilmente concordar que o pano de
senso. São excelentes instrumentos didáticos. fundo do livro de Provérbios parece ter sido a corte
real em Jerusalém. Embora a literatura de sabedoria
PROVÉRBIOS, LIVRO DE (vide), no antigo Oriente Próximo, seja anterior ao
livro de Provérbios, por mais de mil anos, aquela
No hebraico, nuuhal, «símile», «comparação», um forma particular de instruções, endereçadas ao «meu
substantivo que ocorre por trinta e oito vezes nas filho», parece-se mais com certas obras literárias
páginas do Antigo Testamento, conforme se vê, por egípcias, como As Instruções de Ptahotepe; As
exemplo, em Núm. 21:27; Deu. 28:37; I Sam. 10:12; Instruções de Mari-ka-Ré; As Instruções de Amen-en-
24:13; I Reis 4:32; 9:7; II Crô. 7:20; Sal. 69:11; Pro. hete e As Instruções de Ani. O casamento de Salomão
1:1,6; 10:1; 25:1; Ecl. 12:9; Isa. 14:4; Jer. 24:9; Eze. com a filha do Faraó pode ter conduzido esse grande
12:22,23; 14:8; 16:44; 18:2,3. Na Septuaginta, rei israelita a ter interesse por esse tipo de instruções.
paroimía, palavra grega que significa «comparação»,
com base em uma raiz verbal que tem o sentido de Características literárias individuais, como a
«ser semelhante», «ser paralelo» (cf. Gên. 10:9; Pro. mashel, o padrão X, X 4- 1 e os longos discursos
10:26). No Novo Testamento, parabolé, palavra grega encadeados encontram paralelos na literatura semíti
que significa «posto ao lado», «comparação», «ilustra ca anterior. Assim sendo, o livro de Provérbios deve
ção». Um vocábulo empregado por cinqüenta vezes: ter atraído os leitores já familiarizados com aquela
Mat. 13:3,10,13,18,23,31,33,34; 13:35 (citando Sal. forma literária.
78:2); 13:36,53; 15:15; 21:33,45; 22:1; 24:32; Mar. Muitos críticos modernos têm negado aos hebreus
3:23; 4:2,10,11,13,30,33,34; 7:17; 12:1,12; 13:28; uma mente verdadeiramente filosófica, a qual
Luc. 4:23; 5:36; 6:39; 8:4,9-11; 12:16,41; 13:6; 14:7; caracterizaria mais os gregos. Assim, na opinião
14:3; 18:1,9; 19:11; 20:9,19; 21:29; Heb. 9:9; 11:19. desses críticos, os israelitas prefeririam depender das
O nome do livro, em hebraico, é misle selomoh, diretas revelações dadas do alto, em vez de ficarem a
«provérbios de Salomão». pensar à moda dos filósofos gregos, que criavam
sistemas com base em conceitos. Essa crítica, porém,
O termo hebraico mashal teve seu sentido ampliado
para cobrir também outras formas de discurso, como leva em conta somente uma das facetas da mente dos
o oráculo de Balaão (Núm. 24:15), os cânticos de hebreus. Outra faceta dessa mesma mentalidade
mostra-nos que os israelitas, tal e qual qualquer outro
zombaria (Isa. 14:4; Hab. 2:6) e as alegorias, que são povo, sabiam confiar nos méritos de uma filosofia
extensas comparações (Eze. 17:2; 20:49; 24:3). Há humana autêntica. A grande diferença, porém, é que
estudiosos que pensam que esse vocábulo hebraico os hebreus não apreciavam aquela filosofia especulati
vem da raiz que significa «governar», porquanto
va, que fica a imaginar como os mundos e os seus
mashal, realmente, «cria novas situações» segundo problemas teriam sido criados; antes, eles preferiam
disse um deles (Gemser, Spruche Salomos, pág. 7).
Uma outra sugestão, no tocante à origem da palavra é olhar para uma orientação prática na vida. E isso eles
aquela que diz que esse termo vem do assírio, mishlu, faziam de maneira intuitiva e analógica, e não em
«metade», referindo-se ao fato de que um provérbio resultado de raciocínios dialéticos. Isso explica
típico consiste em duas metades postas em paralelis porque os hebreus davam a essa forma de pensamento
mo. Entretanto, o mais provável é mesmo que esse o nome de «sabedoria», porquanto, na busca pela
vocábulo hebraico, em seu sentido mais restrito de solução diante dos problemas morais do homem,
«comparação», por sinédoque, acabou sendo usado diante da vida, eles demonstravam muito mais amor
para indicar vários tipos de literatura de sabedoria, pela sabedoria prática do que pelas especulações
como aqueles que aparecem coletados no livro filosóficas.
canônico de Provérbios. Em vista disso, o livro de Provérbios, começando
com máximas isoladas, acerca dos elementos básicos
Esboço: da conduta humana, revela, de muitas maneiras
I. Pano de Fundo sugestivas, que os seus autores (ver sobre Autoria)
II. Unidade do Livro cada vez mais se aproximavam, em suas apresenta
III. Autoria ções, de uma postura filosófica. No mínimo pode-se
IV. Data afirmar que eles tinham uma filosofia em formação.
A. Seção I Esse desdobramento pode ser visto até mesmo na
B. Seção II maneira como o vocábulo hebraico mashal foi sendo
C. Seções III e IV usado cada vez com uma maior amplitude de
D. Seção V significação, ao que já tivemos ocasião de referir-nos.
E. Seções VI, VII e VIII A mashal, em seus primeiros usos, era de natureza
V. Lugar de Origem e Destinatários antitética, contrastando dois aspectos da verdade, de
VI. Propósito do Livro tal modo que o pensamento ali mesmo se completava,
VII. Canonicidade nada mais restando ao autor senão passar para algum
480
PROVÉRBIOS
outro assunto. Isso produzia o bom efeito de pôr era uma coletânea, a sua unidade não está na
contraste os grandes antagonismos fundamentais da dependência de sua autoria. Antes, essa unidade
existência humana neste mundo: a retidão e a encontra-se na natureza geral do seu conteúdo, os
iniqüidade; a obediência e o desregramento; a provérbios, declarações sucintas, ou um pouco mais
industriosidade e a preguiça; a prudência e a longas, que exibem profunda sabedoria prática,
presunção, etc., o que analisava, mediante contrastes, aplicável à conduta diária dos homens. A obra
a conduta do indivíduo e dos homens em sociedade. pertence à categoria geral da literatura de sabedoria
Entretanto, a partir do momento em que começam a (vide), exaltando as virtudes da sabedoria (sob a
prevalecer as mashalim ilustrativas e sinônimas, o forma de retidão) e condenando os vícios da
estudioso toma consciência de uma maior penetração insensatez (sob a forma de falta de temor a Deus).
e ampliação do alcance do pensamento, porquanto m . Autoria
começam a aparecer distinções mais sutis e descober Tradicionalmente, o volume maior do livro de
tas mais remotas, e as analogias que ali se vêem Provérbios tem sido atribuído a Salomão, filho de
passam a exibir uma relação menos direta entre Davi e rei de Israel (cf. Pro. 1:1; 10:1; 25:1).
causas e efeitos. E então, avançando ainda mais o Entretanto, o próprio livro de Provérbios menciona
leitor, no livro de Provérbios, especialmente quando dois outros autores, a saber: Agur (30:1) e Lemuel
atinge a seção transcrita pelos «homens de Ezequias, (31:1). Quanto a essa questão, existem duas posições
rei de Judá» (caps. 25-29), pode notar que cada vez extremadas, a saber: 1. Salomão escreveu o livro
mais se usa do artifício literário dos paradoxos e dos inteiro de Provérbios; ou 2. ele não teve qualquer
dilemas. Além disso, a mashal amplia-se ainda mais, conexão direta com a obra (excetuando que ele é o
passando da mera comparação entre dois contrastes «autor tradicional» e patrono da literatura de
para o quadrante e para o poema bem desenvolvido. sabedoria). Um terceiro ponto de vista, que ocupa
Tudo isso, apesar de não ser ainda uma filosofia posição intermediária e está mais em consonância
autoconsciente, chega a ser um passo decisivo nessa com o próprio testemunho bíblico, é aquele que diz
direção. que Salomão foi o autor da maior parte do volume do
Um pressuposto básico, dos escritores do livro de livro de Provérbios, ao que foram acrescentadas as
Provérbios, é que a sabedoria e a retidão são obras de outros autores. Assim, é apenas uma
idênticas e que a iniqüidade mesmo é uma espécie de meia-verdade aquela que diz que o livro de Provérbios
insensatez. Isso é um ponto tão pronunciado no livro não teve «pai», segundo têm afirmado alguns
que chega mesmo a ser axiomático, emprestando ao estudiosos. Pois, apesar das declarações de sabedoria
volume o seu colorido todo especial. Isso transparece geralmente originarem-se entre pessoas do povo
logo no primeiro provérbio, após as considerações comum, alguém foi o primeiro indivíduo a fazer essas
iniciais sobre o filho sábio. Lemos ali: «Os tesouros da declarações em uma linguagem epigramática. Essa
impiedade de nada aproveitam; mas a justiça livra da idéia é confirmada por nada menos de três vezes no
morte» (Pro. 10:2). Com base nesse pressuposto volume do livro. Vejamos: «Provérbios de Salomão,
básico, surgem à tona outros princípios não menos filho de Davi, o rei de Israel» (1:1); «Provérbios de
axiomáticos: a fonte de uma vida caracterizada pela Salomão...» (10:1; que em nossa versão portuguesa
sabedoria é o temor a Yahweh; quem quiser ser sábio aparece como título, o que é um erro, pois faz parte
precisa ter uma mente disposta a aprender a do texto sagrado); e também «São também estes
instrução, e a atitude contrária é própria da provérbios de Salomão, os quais transcreveram os
perversidade; sábio é aquele que não se deixa homens de Ezequias, rei de Judá» (25:1). Por que
impressionar pelas vantagens passageiras obtidas duvidar do próprio testemunho bíblico? Todavia, essa
pelos ímpios, ao passo que o insensato não percebe as última passagem citada indica que Salomão não
vantagens da verdadeira sabedoria, o temor ao reunira todos os seus provérbios formando um único
Senhor. Esses princípios são constantemente reitera volume. Antes, ele deixara a muitos de seus
dos no livro de Provérbios, não de forma sistemática, provérbios dispersos, que os copistas de Ezequias
mas iluminando numerosos aspectos e aplicações às coligiram. Se juntarmos a isso as palavras de Agur e
questões práticas da vida. O principio que mostra que de Lemuel, teremos o que é hoje o nosso livro de
as más obras trazem em si mesmas as sementes da Provérbios.
destruição, ao passo que o bem arrasta após si as Uma tola objeção à autoria salomônica é aquela
bênçãos divinas é um dos conceitos fundamentais de que assevera que Salomão não era praticante das
onde emergiu toda a filosofia de sabedoria dos virtudes inculcadas no livro de Provéroios; cf., por
hebreus. exemplo, Pro. 7:6-23, que alguns pensam não refletir
De fato, essa capacidade de mostrar sagacidade nos a vida de Salomão, porque ele teria tido um imenso
pensamentos e nos conselhos, capaz de reduzi-los a número de mulheres e concubinas (ver I Reis 11:3,
máximas ou parábolas, sempre foi tão admirada entre que diz: «Tinha (Salomão) setecentas mulheres,
os israelitas que, desde antes de Salomão os seus princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe
possuidores tomavam-se lideres naturais, bem repu perverteram o coração»). Tal objeção, entretanto,
tados na comunidade de Israel. Cf. II Sam. 14:2 e olvida-se do fato de que uma coisa é escrever obras de
20:16. E quem demonstrou maior habilidade, quanto sabedoria, e outra coisa, inteiramente diferente, é
a isso, do que o próprio Salomão? Não somente casos viver de maneira sábia. Um homem pode trair os seus
difíceis lhe eram trazidos a fim de que resolvesse os próprios princípios!
mesmos (ver I Reis 3:16-28), como também lhe A narrativa sobre a vida de Salomão em I Reis caps.
apresentavam questões complicadas, para que forne 3, 4 e 10 (ver, especialmente, I Reis 4:30-34 e II Crô.
cesse resposta (ver I Reis 10:1,6,7). Portanto, foi com 9:1-24) dá a entender a sabedoria e a versatilidade
base no reconhecimento de que há homens dotados de inigualáveis de Salomão, na composição de afirma
tremenda sagacidade mental, capazes de aplicar essa ções de sabedoria.
habilidade às questões práticas da vida, que surgiu a Por igual modo, a afirmação de que os subtítulos
literatura de sabedoria, incluindo o livro de (ver 1:1; 10:1 e 25:1) seriam meramente honoríficos,
Provérbios. não correspondendo à realidade da autoria salomôni
II. Unidade do livro ca, não faz justiça a Salomão. Mesmo que os
Visto que o próprio livro declara que se trata de subtítulos em 1:1 e 10:1 — mostrem que pessoas
481
PROVÉRBIOS
posteriores compilaram provérbios esparsos de Salo declarações dos sábios, em 22:17-24:22 contêm
mão, nem por isso negariam, realmente, a autoria similaridades com as trinta seções da «Sabedoria de
salomônica. Os compiladores não foram autores. Eles Amenemope», produzidas no Egito, e que eram
compilaram o que já existia, e o que já existia era instruções mais ou menos contemporâneas à época de
saído da pena de Salomão. Acrescente-se a isso que o Salomão. Por semelhante modo, a personificação da
argumento que diz que as repetições, em duas seções sabedoria, tão proeminente nos caps. 1-9 (ver 1:20;
diferentes do livro de Provérbios, ou mesmo em uma 3:15-18; 8:1-36), pode ser comparada com a
de suas seções, elimina uma única autoria, esquece-se personificação de idéias abstratas, em escritos
do fato de que os autores muitas vezes repetem o que egípcios e mesopotâmicos pertencentes ao segundo
dizem, e que os editores ou compiladores tinham por milênio A.C.
costume reter passagens duplicadas, conforme se vê, O papel desempenhado pelos «homens de Eze
por exemplo, nos casos de Sal. 14:1 e 53:1. quias» (ver 25:1) indica que importantes seções do
A questão da autoria do trecho de Pro. 22:17-24:34 livro de Provérbios foram compiladas e editadas entre
está vinculada ao problema da relação entre essa 715 e 687 A.C. Aquele foi um período de renovação
seção e a obra A Sabedoria de Amenemope, o que é espiritual, encabeçado por aquele monarca judeu.
ventilado mais abaixo. Durante as discussões e Ezequias demonstrou grande interesse pelos escritos
controvérsias que houve entre os judeus do século I de Davi e de Asafe (II Crô. 29:30). Talvez também ti
D .C., acerca do cânon do Antigo Testamento, o livro vesse sido nesse tempo que foram adicionadas às cole
de Provérbios foi classificado, juntamente com os ções de provérbios de Salomão as palavras de Agur
livros de Eclesiastes e de Cantares de Salomão como (cap. 30); de Lemuel (cap. 31); bem como as palavras
«salomônico», conforme se aprende em Shabbat 30b. dos sábios (22:17-24:22; 24:23-34), embora seja
O livro de Provérbios, conforme o mesmo existe em perfeitamente possível que o trabalho de compilação
nossos dias, deve ter tomado essa forma após os dias só tenha sido completado após o reinado de Ezequias,
do rei Ezequias (ver Pro. 25:1), isto é, após 687 A.C. conforme também já demos a entender acima.
De fato, Fritsch(IB, quarto volume, pág. 775) pensa Os eruditos críticos, por sua vez, rejeitam a autoria
que a forma final pode ter sido alcançada somente por salomônica, pelo que datam cada seção do livro de
volta de 400 A.C. Há outros que asseveram que a Provérbios em separado, usualmente em datas muito
coletânea final (incluindo as palavras de Agur e de posteriores à data tradicional da escrita e compilação
Lemuel) deve ter sido feita em algum tempo entre os do livro. Isso, por sua vez, leva-os a datarem a
dias do rei Ezequias e o começo do período coletânea inteira no fim do período persa, ou mesmo
pós-exilico, o que daria, mais ou menos, o mesmo do período grego. Porém, descobertas arqueológicas e
resultado. filológicas recentes têm feito alguns desses eruditos
Alguns estudiosos modernos, de tendências libe abandonarem uma data tão extremamente posterior,
rais, têm observado que devem ser levadas em conta o que andava tão em voga na primeira metade do
as «palavras dos sábios», referidas em Pro. 22:17 e século XX. Entre essas descobertas poderíamos citar a
24:23. Para eles, isso representa mais alguns autores, descoberta de declarações de sabedoria dos cananeus,
embora anônimos. Entretanto, não é absolutamente bem como certos padrões lingüísticos cananeus na
necessário aceitarmos essa opinião. Salomão poderia literatura de Ugarite.
estar meramente aludindo a afirmações que antigos
sábios haviam feito, mais ou menos de conhecimento O que é indiscutível é que o livro de Provérbios pode
geral em sua geração, às quais, agora, ele emprestava ser dividido em certas seções, conforme se vê abaixo:
uma forma epigramática. £ muito melhor ficarmos A. Seção /. Essa seção tem sido datada como
com a idéia da autoria salomônica, claramente passagem relativamente posterior, porquanto supõe-
declarada no próprio livro de Provérbios por três se que foi escrita como uma espécie de introdução
vezes, conforme já tivemos ocasião de verificar, do para o volume inteiro. Há quem pense que essa
que imaginar uma multiplicidade de autores, segundo primeira seção seja pós-exílica, enquanto que outros
o sabor da alta crítica, que sempre quer exibir pensam que a personificação da Sabedoria (ver o
erudição multiplicando autores e atribuindo aos livros oitavo capítulo) tom a provável uma data dentro do
da Bíblia uma data posterior à que, realmente, eles século III A.C. Porém, ainda um terceiro grupo de
pertencem. estudiosos tem demonstrado que essa personificação,
IV. Data ou melhor, hipostatização, é uma das características
Duas questões diferentes estão envolvidas no das religiões mesopotâmica e egípcia. A fórmula
problema da data do livro de Provérbios, a saber: a numérica de X, X 4- 1,encontra-se em Pro. 6:16-19,
data em que cada seção do livro foi escrita (ver abaixo ocorrendo também em textos ugaríticos (cf. Gordon,
quanto às «seções» do livro); e, em seguida, a data em Ugaritic Manual, págs. 34 e 201) do segundo milênio,
que foi feita a «coletânea» ou «editoração» das várias A.C. Albright ( Wisdom in Israel and in the Ancient
seções, a fim de formar um único volume (rolo), Near East) pensa que essa seção é anterior aos
naquilo que hoje conhecemos como o livro de Provérbios de Aicar, isto é, o século VII A.C. Fritsch
Provérbios. Os eruditos conservadores têm seguido o segue a tendência de se dar uma data bem antiga à
tradicional ponto de vista da autoria salomônica do obra, ao afirmar que existem fortes influências
livro inteiro, excetuando os capítulos 30 (de Agur) e ugaríticas e fenícias nessa primeira seção de
31 (de Lemuel). Isso posto, eles datam o volume maior Provérbios, e que os seus capítulos oitavo e nono
do livro como pertencente ao século X A.C., compõem «uma das porções mais antigas do livro».
provavelmente dos últimos anos do reinado de Um exemplo dessa influência ugarítica, que damos
Salomão. A coletânea das várias seções, por sua vez, é aqui como ilustração, é o uso do termo lahima,
datada variegadamente, pelos mesmos estudiosos «comer», que só pode ser encontrado por seis vezes no
conservadores, entre 700 A.C. e 400 A.C. Antigo Testamento, quatro delas no livro de
Provérbios. Quando isso é combinado com a opinião
A paz e a prosperidade que caracterizaram o de Scott (Anchor Bible, «Proverbs», págs. 9, 10), que
período de governo de Salomão, ajustam-se bem ao disse que os capítulos primeiro a nono foram escritos
desenvolvimento de uma sabedoria reflexiva e à como introdução a uma unidade já existente (isto é, os
produção de obras literárias dessa natureza. Outros- caps. 10-31), a mais antiga data provável para essa
sim, vários especialistas têm observado que as trinta primeira seção faz com que uma data salomônica
482
PROVÉRBIOS
para as demais seções, a ele atribuídas, tome-se coletânea dos provérbios, pois, serviria de livro de
bastante plausível. Entretanto, Scott considera que informações útU para estudos públicos e privados. Os
essa primeira seção do livro ê um elemento posterior, provérbios inculcam a moralidade pessoal, além de
dentro do livro de Provérbios. O longo discurso dessa um direto «bom senso». Paterson conseguiu extrair
seção (em contraste com o estilo de aforismas do bem o propósito do livro de Provérbios ao escrever que
restante) encontra paralelos na antiga literatura de o alvo desse livro é «...diminuir o número dos tolos e
sabedoria egípcia e acádica. Os aramaísmos ali aumentar o número dos sábios» (pág. 54).
existentes, ao contrário do que antes alguns tinham Embora o livro de Provérbios seja uma obra de
suposto, argumentam em favor de uma data mais cunho eminentemente prático, ensinando como o
antiga, e não de uma data mais recente. homem deve viver diariamente, a sabedoria ali
B. Seção II. Esse segmento do livro de Provérbios é ensinada está solidamente escudada sobre o temor a
considerado como salomônico pelos eruditos conser Yahweh (ver, por exemplo, 1:7, que declara: «O
vadores, como uma coletânea gradualmente feita, temor do Senhor é o princípio do saber, mas os loucos
talvez com um núcleo salomônico, que teria atingido desprezam a sabedoria e o ensino»). Por todo o
seu presente estado ou no século V ou no século IV volume, esse respeito ao Senhor é apresentado como a
A.C. Um certo escritor moderno, Paterson, considera senda que leva à vida e à segurança (cf. 3:5; 9:10 e
que essa é a porção mais antiga do livro de Provérbios. 22:4). No dizer de Pro. 3:18, a sabedoria é «...árvore
C. Seções III e IV. Essas seções estão envolvidas na de vida para os que a alcançam, e felizes são todos os
questão da dívida literária à Sabedoria de Amenemo- que a retêm».
pe, uma questão que será discutida mais abaixo. A VII. Canonicidade
idéia de que essa seção depende muito de uma obra Na obra hebraica, Shabbat (30b), o livro de
egípcia possibilita uma data entre 1000 e 600 A.C., Provérbios é alistado como um livro de canonicidade
tudo estando na dependência da data da obra egípcia. disputada, nos fins do século I D .C., juntamente com
Por isso mesmo, Paterson pensa que essa porção é os livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão. Mas,
pré-exílica, embora posterior a 700 A.C. sua associação com outras obras reconhecidamente
D. Seção V. De acordo com o seu subtítulo, essa salomônicas, nessa afirmativa judaica, parece em
seção vem da época do rei Ezequias. Porém, a autoria favor do argumento que o livro era canônico, e assim
real pode ter pertencido ao século X A.C. era considerado. Outro tanto se vê em M. Yadaim
E. Seções VI, VII e VIII. Há uma diferença na (3.5), onde diferentes opiniões aparecem no tocante à
colocação dessas três seções do livro de Provérbios, canonicidade de Eclesiastes e Cantares de Salomão,
entre a Septuaginta e o Texto Massorético (vide). Por mas onde não há qualquer debate no tocante ao livro
isso mesmo, Paterson pensa que, originalmente, cada de Provérbios. A LXX e a versão portuguesa
uma dessas seções corresponde a antigas coleções concordam em arrumar juntos todos os três livros
separadas. À base de alegadas artificialidades, ele atribuídos a Salomão, ou seja, Provérbios, Eclesiastes
datou-as em data posterior. No entanto, a forma e Cantares de Salomão.
acróstica de composição (ver sobre Poemas Acrósti De acordo com o Talmude (Baba Bathra, 146), o
cos), que alguns eruditos modernos consideram um livro de Provérbios aparece depois dos livros de
artificialismo, era um método favorito de feitura de Salmos e de Jó; e, de conformidade com Berakoth
poemas, entre os antigos hebreus. Scott afirma que os (57b), esse livro deveria figurar entre os livros de Jó e
poemas acrósticos apareceram muito antes do exílio de Salmos. A ordem de colocação nas modernas
do século VI A.C. E, visto que a literatura de Bíblias (como na nossa versão portuguesa) deve estar
sabedoria transcendia às fronteiras nacionais, a alicerçada sobre certa tradição rabínica, que dizia que
história política internacional oferece-nos pouca Moisés escreveu o livro de Jó, que Davi escreveu os
ajuda para se fixar alguma data para essas três seções Salmos, e que Ezequias compilou os Provérbios (Baba
do livro de Provérbios. Bathra, 14b-15a).
V. Lagar de Origem • Destinatário« O trecho de Tiago 4:6, ao citar Pro. 3:34 fá-lo de tal
O livro de Provérbios provavelmente originou-se maneira que mostra que o livro de Provérbios era
nos círculos palacianos de Jerusalém. As porções considerado canônico no século I D .C. Em adição a
salomônicas (excetuando aquela seção transcrita isso, é com freqüência que o Novo Testamento
pelos «homens de Ezequias, rei de Judá» (ver 25:1), refere-se à seção do Antigo Testamento que contém o
podem ter sido registradas pelos escribas desse livro de Provérbios, a saber, kethubim, os «escritos»,
monarca descendente de Salomão. A essas coletâneas tachando-os de «Escritura» (no grego, graphé). A sua
de provérbios, pois, os escribas reais adicionaram as inclusão na Septuaginta certamente favorece a idéia
seções VI - VIII. O seu conteúdo indica que o livro de de uma bem remota aceitação do livro de Provérbios
Provérbios tinha por intuito instruir os filhos das como parte integrante das Santas Escrituras.
famílias nobres. Assim, embora essas instruções Vm. Estado do Texto
sejam endereçadas freqüentemente a «meu filho», O livro de Provérbios, em sua maior parte, acha-se
estava em pauta uma audiência muito mais ampla. A escrito em hebraico claro, estilo clássico. Entretanto,
sabedoria dos sábios destinava-se a «todos» (Paterson, existem algumas poucas passagens difíceis, no texto
pág. 54). das seções principais. O erudito Fritsch alista como
VI. Propósito do livro vocábulos que têm causado problemas para os
O próprio livro de Provérbios assevera claramente o tradutores, os seguintes: 'amon (Prov. 8:30); yathen
seu propósito, em Pro. 1:2-4, ou seja, para infundir (12:20); hibbel (23:34); manon (29:21); ’aluqah
sabedoria e discreção aos homens, especialmente no (30:15); zarzir e ’alqum (30:31). A maioria das
caso dos símplices, destituídos de experiência na vida. propostas de emendas, com o intuito de solucionar
Lemos no quarto versículo: «...para dar aos simples problemas textuais, não passa de conjecturas.
prudência, e aos jovens conhecimento e bom siso», é Descobertas lingüísticas recentes têm demonstrado o
perfeitamente exeqüível que esse também tenha sido o valor de esperar-se por maiores informações em vez de
propósito do livro inteiro. Seu propósito é o de apelar-se para emendas conjecturadas.
orientar os homens na conduta prática diária. Essa A Septuaginta é uma tradução frouxa, quase uma
sabedoria, esse temor a Yahweh, é algo necessário paráfrase, exibindo marcas do ponto de vista dos
para a formação de um caráter bem cultivado. A tradutores. Em certos lugares, a tradução é
483
PROVÉRBIOS
inteiramente corrupta. Inclui quase cem duplicatas de «Sabedoria» hipostatizada do livro de Provérbios;
palavras, frases, linhas e versículos que aparecem porém, as conclusões desses eruditos não conseguem
somente por uma vez, no texto massorético. Além harmonizar-se entre si.
disso, omite algumas seções e adiciona outras. Na Se o erudito Scott (págs. 71 e 72) está correto em
Septuaginta, o trecho de Pro. 30:1-14 vem depois de sua vocalização da palavra hebraica ’amon, para
24:22 (segundo o texto hebraico), e então segue-se 'omen (em Pro. 8:30), visto que 'omen significa
24:23,24 (segundo o texto hebraico). Então a «artífice principal» ou entã^ «criancinha», segue-se
Septuaginta tem Pro. 30:15-31:9, e então os caps. que a «Sabedoria» é vista como aquela força —
25-29 (segundo o texto hebraico), e, finalmente, hipostatizada— que unifica a todas as coisas (cf.
31:10-31. Essas anomalias têm levado os estudiosos a Eclesiástico 43:28; Sabedoria de Salomão 1:7; Col.
acreditar que o texto continuava fluido ao tempo em 1:17 eH eb. 1:3).
que foi feita a tradução da Septuaginta. Embora alguns críticos tenham datado o livro de
IX. Problemas Especiais Provérbios como pertencente ao período helenista, em
Duas particularidades que merecem atenção face da hipostatização da sabedoria (sob a alegação de
especial são: 1. A figura da Sabedoria, no oitavo que a tendência para as hipostatizações era forte
capítulo de Provérbios; e 2. a relação entre o livro de durante o período de dominação grega), o fato é que
Provérbios (22:17-24:34) e a obra egípcia Sabedoria há muitos paralelos entre o livro de Provérbios e o
de Amenemope. Ambos esses itens estão diretamente antigo mundo do Oriente Próximo, do segundo
vinculados a abordagens críticas quanto à autoria e à milênio A.C., ou mesmo antes. Entre esses paralelos
data do livro de Provérbios, razão por que os poderíamos citar os seguintes: 1. A divindade egípcia
ventilamos aqui. de Mênfis, Ptá, teria criado as coisas com sua palavra
A. A Figura da Sabedoria. Apesar da sabedoria ser e seu pensamento. 2. Em Tote de Hermápolis, a
exaltada como uma virtude, por toda a seção de sabedoria divina e o deus criador aparecem personifi
abertura do livro de Provérbios, como também cados. 3. A divindade suméria Ea-Enki era chamada
noutros segmentos do livro, é no seu oitavo capítulo de «o verdadeiro conhecedor». 4. O deus babilónico,
que encontramos o tratamento da «sabedoria» como Marduque, intitulado de «o mais sábio dos deuses»,
uma hipostadzação. Ao que tudo indica, ali, esse teria conquistado Tiamate e então teria criado a terra
atributo divino aparece como um ser que mantém e o homem. 5. O altíssimo deus El, do panteão
inter-relações. com os hom ens. Em Pro. ugaritico, é descrito como alguém cuja «sabedoria é
1:20-33; 8:1-36; 9:1-6,13,18, a «Sabedoria» aparece eterna». Esses e outros exemplos pré-hebraicos (ver
em oposição a uma personagem similar, embora Sal. 74:13,14; 82:1; Isa. 14:12-14; 27:1) demonstram
contrária, a «Senhora Loucura». A Sabedoria aparece claramente que desde bem antes da época de
como um profeta que prega pelas ruas (cf. Jer. 11:6 e Salomão, já se conhecia o artifício literário da
17:19,20). hipostatização.
Paterson fez um sumário da discussão da
Não há qualquer traço de politeísmo no livro de «Sabedoria», afirmando que o trecho de Pro. 8:22,23 é
Provérbios. Por conseguinte, qualquer tentativa de uma ousada confirmação e reafirmação da doutrina
vincular o pano de fundo acerca de Salomão a expressa em Gên. 1:2. Deus não criou um caos (cf.
Ma’at, Istar ou Siduri Sabatu, conforme alguns têm Gên. 1 e 2), e, sim, um «cosmos», um todo
feito, não é convincente e nem tem qualquer base nos organizado. A sabedoria é a essência mesma do ser de
fatos. A única questão que ainda resta ser ventilada é Deus. O universo não veio à existência por mero
se a «Sabedoria» é uma verdadeira hipostatização, isto acaso, e nem permanece existindo por suas próprias
é, um atributo ou atividade da deidade, à qual foi forças. O mundo conta com uma teleologia (vide)
conferida uma identidade pessoal. Alguns estudiosos porquanto existe a teologia (ver Pro. 3:19; 20:12).
têm sentido que o oitavo capítulo de Provérbios
simplesmente apresenta uma vívida personificação. B. Relação Entre Provérbios e a Sabedoria de
A íntima correspondência entre as atividades da Amenemope. Desde que Adolph Erman ressaltou as
«Sabedoria», no livro de Provérbios, com as atividades similaridades existentes entre a Sabedoria de Amene
de Yahweh, no resto do Antigo Testamento, é algo mope e o livro de Provérbios (22:17-23:14), tem
deveras notável. A Sabedoria derrama o espírito (ver havido uma tendência geral para os estudiosos
Pro. 1:23, cf. Isa. 44:3). Deus chama, mas Israel não pensarem que essa passagem bíblica está diretamente
responde (ver Pro. 1:24-26; cf. Isa. 65:1,2,12,13; endividada àquela antiga obra de origem egípcia.
66:4). O Espírito de Deus é a Sabedoria (ver Pro. Todavia, os defensores da independência desse trecho
8:14; cf. Isa. 11:2). A Sabedoria promove a justiça bíblico a qualquer obra egípcia também têm
(ver Pro. 8:15,16; cf. Isa. 11:3-5). Da mesma maneira aparecido em bom número, como E. Diroton, C.
que a Sabedoria prepara o seu banquete (ver Pro. 9:5 Fritsch e R.O. Kevin, para citar somente alguns
- em oposição à mulher louca, que também tem o seu nomes. Embora a preponderância da erudição encare
banquete, Pro. 9:13-18), assim também o faz Yahweh o livro de Provérbios como se houvesse alguma
(ver Isa. 25:6; 55:1-3; 65:11-13). dependência entre o mesmo e a Sabedoria de
Nos seus escritos, tanto o judaísmo posterior Amenemope, há argumentos sólidos suficientes para
quanto o cristianismo referem-se ao papel desempe mostrar a inveracidade dessa dependência, conforme
nhado pela «Sabedoria» na criação — um desempe podem averiguar sérios estudiosos da Bíblia, que
nho que em muito se assemelha à sabedoria queiram parar para examinar todas as evidências
hipostatizada no livro de Provérbios. O livro apócrifo disponíveis.
Sabedoria de Salomão identifica a «Sabedoria» como 1. O documento egípcio. Foi Sir E. Wallis Budge,
«a modeladora de todas as coisas» (7:22), como no seu artigo Recuil d ’E tudes Egyptologigue...
«associada às obras (de Deus)» (8:4) e como Champollion, em 1922, quem primeiro tornou
«formadora de tudo quanto existe» (8:6). Filo (De conhecida a antiga obra egípcia Sabedoria de
Sacerdota, 5) afirma que a «Sabedoria» foi a Amenemope. Em 1923, ele publicou o texto completo
fabricante do universo. Alguns estudiosos têm da obra, com fotografias e uma tradução. Outros
procurado demonstrar a ligação entre o «Logos» do eruditos deram a público suas próprias traduções do
primeiro capítulo do evangelho de João, bem como a original egípcio. Mas foi Erman o primeiro a sugerir
«Sofia» concebida pelos mestres gnósticos, com a que as «excelentes cousas» de que lemos em Pro.
484
PROVÉRBIOS
22:20, poderiam ser traduzidas por «trinta», com base X. Conteúdo e Esboço do livro
na divisão da Sabedoria de Amenemope em trinta O conteúdo do livro de Provérbios pode ser
capítulos. Essa tradução envolvia uma modificação classificado de conformidade com quatro critérios:
textual, uma nova vocalização de shalishim para por gênero literário, por assunto, por autoria e por
sheloshim, no texto hebraico do livro de Provérbios. E motivos teológicos. Felizmente, as divisões feitas de
então Erman inferiu que o escritor bíblico teria, acordo com os três primeiros critérios justapõem-se
diante de si, os trinta capítulos da Sabedoria de com facilidade, em quase todos os pontos.
Amenemope, tendo selecionado dali trinta afirma A. Conteúdo. 1. Classificação por gêneros Literá
ções, incorporando-as então em seu próprio livro de rios. As duas formas literárias que mais prevalecem
sabedoria. A verdade é que Oesterley e outros vêem no livro de Provérbios são: 1. As declarações sucintas
pelo menos que vinte e três das trinta declarações e expressivas usadas para transmitir sabedoria (os
daquela passagem do livro de Provérbios derivam-se verdadeiros «provérbios»); e 2. os longos discursos
da Sabedoria de Amenemope. Scott, por sua vez, didáticos, do que são exemplos a primeira seção
afiançou que somente nove dessas declarações (caps. 1-9), e as seções sétima e oitava (caps. 30-31).
procedem daquela fonte. Mas o preâmbulo do trecho Praticamente todo o resto do livro cabe dentro da
de Pro. 22:17-21 parece ser uma reformulação da categoria dos «provérbios». Pode-se definir um
conclusão da Sabedoria de Amenemope. Essa obra provérbio como «uma declaração breve e incisiva, de
egípcia foi escrita por Amen-em-apete, um egípcio uso comum». Tipicamente, um provérbio é anônimo,
nativo de Panópolis, em Acmim. Ele era um tradicional e epigramático. Conforme alguém já disse,
supervisor de terras, evidentemente uma posição um provérbio caracteriza-se por «sua brevidade,
importante. Ele também foi um sábio e um escriba. sentido e sal». E, conforme expressou com grande
Devido à posição que ele ocupava, alguns estudiosos percepção Lord John Russell, um provérbio contém «a
datam a sua obra como pertencente ao período sabedoria de muitos e a argúcia de um só». Na
pós-exílico de Judá (cf. Esdras e Ben Siraque). segunda seção do livro de Provérbios há trezentos e
Entretanto, o gênero literário da sabedoria e a setenta e cinco dessas declarações. Dentre os cento e
instituição dos escribas eram realidades bem-estabele- trinta e nove versículos dos caps. 25-29, cento e vinte e
cidas no antigo Oriente Próximo desde muito antes do oito são provérbios. Com freqüência, os provérbios
tempo de Salomão. assumem a forma de um símile gráfico (cf. os caps. 25
À obra Sabedoria de Amenemope têm sido e 26).
atribuídas diversas datas, desde cerca de 1300 A.C. Quase todo o livro de Provérbios, excetuando as
(Plumley), ou 1200 A.C. (Albright), até datas em seções primeira, sétima e oitava (caps. 1-9, 30 e 31),
torno do século VII A.C. (Griffith, Oesterley), ou do foi escrito' formando duplas que se completam, ou
período persa-grego (Lange). A data mais antiga dísticos. Esse paralelismo—uma típica característica
baseia-se em um ostracon que continha um extrato da poesia hebraica — ocorre com certa variedade de
daquela obra egípcia. Se isso for aceito, então formas. O chamado paralelismo sinônimo, em que a
torna-se quase uma certeza que o livro de Provérbios segunda linha reitera ou reforça a primeira, é a forma
realmente tomou por empréstimo elementos de usualmente encontrada em Pro. 16:1—22:15 (cf.
Sabedoria de Amenemope. Há mesmo a possibilidade 20:13). O paralelismo antitético, em que a segunda
de que aquele ostracon representa uma fonte linha expõe um contraste do que foi dito na primeira,
informativa comum, usada tanto pelo livro de ou uma reversão da idéia da primeira linha, é a forma
Provérbios quanto por Sabedoria de Amenemope. de paralelismo usualmente encontrada nos capítulos
Seja como for, isso em nada afeta a inspiração do livro décimo a décimo quinto (cf. Pro. 15:1). Ocasional
de Provérbios, porquanto o fenômeno da inspiração mente, no livro de Provérbios vê-se certa forma de
envolve até mesmo a seleção de material, como paralelismo em que a segunda (ou a terceira) linha
também a composição do material original. adiciona algo ao pensamento expresso na primeira
2. Relações léxicas. Vários estudos sobre a linha. Esse tipo de paralelismo sintético acha-se em
lexicografia de Sabedoria de Amenemope tendem a 10:22. Os capítulos vinte e cinco e vinte e seis estão
indicar que seu vocabulário egípcio-semitico pertence repletos desse tipo de paralelismo.
ao estágio final do idioma egípcio. Há indicações que 2. Classificação por assunto. Três tipos latos de
esse vocabulário da obra assemelha-se mais com a material são apresentados no livro de Provérbios, isto
Septuaginta do que com o texto massorético (ver os é, 1. instruções para que se abandone a insensatez e se
artigos sobre ambos). Interessante é que, embora isso siga a sabedoria (caps. 1-9); 2. exemplos específicos
seja posto em dúvida por alguns eruditos, o uso de de conduta sábia ou de conduta insensata (as
expressões idiomáticas semíticas, no livro Sabedoria declarações gnômicas das seções II - V; caps. 10-29); e
de Amenemope, pode até mesmo mostrar que essa 3. a vívida descrição acerca da mulher virtuosa (cap.
obra egípcia é que depende do livro de Provérbios, e 31; que talvez contrabalance o motivo do filho sábio,
não ao contrário, conforme têm dito alguns nos caps. 1-9).
estudiosos. Assim é que se o livro de Provérbios parece
conter versículos espalhados por Sabedoria de Em adição a isso, o conteúdo do livro de Provérbios
Amenemope, essa obra egípcia parece conter versícu pode ser agrupado de acordo com os tópicos
los espalhados no livro de Amenemope. Destarte, os discutidos, como as declarações que versam sobre os
argumentos pró e contra parecem bem equilibrados. males sociais (Pro. 22:28; 23:10: 30:14); sobre as
Também tem grandes possibilidades uma terceira obrigações sociais (15:6,7,17; 18:24; 22:24,25; 23:1,2;
posição, intermediária, a que diz que tanto aquela 27:6,10); sobre a pobreza (17:5; 18:23; 19:4,7,17);
obra egípcia quanto o livro de Provérbios usaram sobre os cuidados com os pobres (14:31; 17:5,19;
antigas tradições orais comuns no antigo Oriente 18:23; 19:7,17; 21:13; 26:14,15); sobre as riquezas
Próximo, ou mesmo — algum apanhado dessas materiais como uma questão secundária (11:4; 15:16;
tradições, já sob forma escrita. Também merece 16:8,16; 19:1; 22:1), embora importante (10:22;
consideração a idéia que diz que a passagem do livro 13:11; 19:4).
(le Provérbios estava simplesmente usando os «trinta A vida doméstica é um tópico freqüente do livro
capítulos» egípcios como um modelo, e não como uma (Pro. 18:22; 21:9,19; 27:15,16; 31:30), como também
fonte informativa direta. E Scott (pág. 20) exprime as relações entre pais e filhos (10:1; 17:21,25;
um ponto de vista parecido com isso. 19:18,24; 22:24,25; 25:17).
485
PROVÉRBIOS
O assunto da sabedoria já foi ventilado, acima. Em teológico. Assim, é ali salientada a soberania de Deus
contraste com o sábio, encontramos o «louco». Nada (Pro. 16:4,9; 19:21; 22:2). A onisciência de Deus é
menos de quatro tipos de loucos podem ser claramente referida (15:3,11; 21:2). Deus é apresenta
discernidos no livro de Provérbios: 1. O tolo símplice,. do como o Criador de tudo (14:31; 17:5; 20:12). Deus
que pode ser ensinado (Pro. 1:4,22; 7:7,8; 21:11). governa a ordem moral do universo (10:27,29; 12:2).
Esse é o «desmiolado». 2. O insensato empedernido As ações dos homens estão sendo aquilatadas por
(1:7; 10:23; 12:23; 17:10; 20:3; 27:22), que é um Deus (15:11; 16:2; 17:3; 20:27). Até mesmo neste
obstinado. 3. O tolo arrogante, que escarnece de nosso lado da existência a virtude é recompensada
todas as tentativas para iluminá-lo. Isso envolve uma (11:4; 12:11; 14:23; 17:13; 22:4). O juízo moral é mais
«atitude mental», e não tanto uma «incapacidade importante ainda do que a prudência (17:23).
mental», do que tal indivíduo se tom a culpado (3:34; O povo hebreu não dispunha de um termo genérico
21:24; 22:10; 29:8). 4. O louco brutal, morto para para a idéia de «religião». Não obstante isso, o livro de
toda decência e boa ordem( 17:21; 26:3; 30:22; cf. Sal. Provérbios exprime essa idéia por intermédio da
14:1). expressão «o temor do Senhor» (Pro. 1:7; 9:10; 15:33;
A conduta dos reis é um dos tópicos do livro (Pro. 16:6; 22:4), como também por meio daquela outra
16:12-14; 19:6; 21:1; 25:5; 28:15; 29:14). O bom expressão que se acha nos livros dos profetas «o
ânimo é encorajado (15:13-15; 17:22; 18:14). O uso conhecimento de Deus» (ver, por exemplo, Isa. 11:2;
da língua é discutido (10:20; 15:1; 16:28; 21:23; 53:11; Osé. 4:1; 6:6). Essas duas idéias aparecem
26:4,23). Também são mencionados outros hábitos ou como um paralelo sinônimo, em Pro. 2:5 e 9:10.
características pessoais (11:22; 13:7; 22:3; 25:14; Interessante é observar que o livro de Provérbios
26:12; 30:33). Finalmente, são discutidos alguns ignora quase completamente o templo de Jerusalém e
aspectos do conceito da «vida» -sua fonte originária o culto religioso ali efetuado (o que serve de fortíssimo
(10:11; 13:14; 14:27; 16:22); sua vereda (6:23; 10:17; argumento contra uma autoria posterior do livro),
15:24); e também o conceito da vida propriamente excetuando algumas alusões bastante indiretas (Pro.
dita (11:30; 12:28; 13:4,12). 3:9,10). De fato, trechos de Provérbios, como 16:6 e
B. Esboço. Quase todos os esboços que se têm 21:3, até parecem negar a necessidade dos sacrifícios
traçado sobre o livro de Provérbios contêm de quatro levíticos (mas, cf. 15:8 e 21:27). O que se destaca no
a dez seções principais. As divisões naturais do livro, livro de Provérbios é o caráter vital da verdade (28:4 e
todavia, parecem indicar um esboço em oito pontos, 29:18). Citamos a última dessas referências: «Não
com base na autoria provável e nos estágios da coleção havendo profecia o povo se corrompe; mas o que
de unidades separadas, posteriormente coligidas em guarda a lei esse é feliz».
um único rolo escrito em hebraico. Ê o que se vê Embora o vocábulo «aliança» só ocorra em
abaixo: Provérbios por uma única vez (ver 2:16,17), não há
I. Instrução paterna: sabedoria versus insensatez que duvidar que esse conceito se faz presente no livro.
(caps. 1-9) A confiança, base de todo relacionamento de pacto, é
II. Provérbios de Salomão: primeira coleção (10:1- um sine qua non (Pro. 3:5,7; cf. 22:19; 29:25). Deus é
22:16) mencionado, na maioria das vezes, por seu nome do
III. Palavras dos sábios: primeira coleção (22:17 - pacto, isto é, Yahweh (por nada menos de oitenta e
24:22) sete vezes). Também é evidente a relação entre pai e
IV. Palavras dos sábios: segunda coleção (24:23,24) filho, que tanto caracteriza a idéia de aliança (cf. Osé.
V. Provérbios de Salomão: segunda coleção, feita 11:1), conforme se vê em Pro. 3:12: «Porque o Senhor
pelos homens de Ezequias (caps. 25-29) repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a
VI. Palavras de Agur (cap. 30) quem quer bem».
VII. Palavras de Lemuel (31:1-9) Um ponto que não pode ser esquecido, neste nosso
VIII. A esposa virtuosa (31:10-31). estudo, foi a marca deixada pelo livro de Provérbios e
Algumas dessas seções podem ser subdivididas. seus conceitos no Novo Testamento. Isso se faz sentir
Assim, para exemplificar, Scott (págs. 9 e 10) vê dez por meio de várias citações e alusões, conforme se vê
discursos de admoestação e dois poemas, além de nas duas listas abaixo, que servem apenas de
algumas declarações gnômicas, na primeira seção, ao exemplos:
passo que Kitchen divide essa mesma seção em
catorze subdivisões. Na segunda seção, a diferença no A. Citações
paralelismo entre os caps. 10-15 e 16:1-22:16 pode 3:7a — Rom. 7:16
indicar uma divisão natural. A segunda seção, até 3:11,12 — Heb. 12:5,6
Pro. 23:14 parece estar intimamente relacionada à 3:34 — Tia. 4:6; I Ped. 5:5b
Sabedoria de Amenemope, enquanto que o resto 4:26 — Heb. 12:13a
dessa seção não mostra tal relação, o que pode indicar 10:12 — Tia. 5:20; I Ped. 4:8
outra divisão natural. Na quinta seção, talvez se deva 25:21,22 — Rom. 12:20
perceber uma diferença entre os caps. 25-27 26:11 - II Ped. 2:22
(principalmente preceitos e símiles) e os caps. 28 e 29 B. Alusões
(principalmente declarações gnômicas, como em Pro. 2:4 — Col. 2:3
10:1-22:16). Quase todas as declarações dísticas do 3:1-4 — Luc. 2:52
livro de Provérbios encontram-se na segunda seção e 12:7 — \Mat. 7:24,27
em Pro. 28 e 29. Novamente, Scott subdividiu a sexta Se considerarmos que o livro de Provérbios é um
seção em um «diálogo com um cético» (presumivel extenso comentário sobre a lei do amor, então é certo
mente Agur; Pro. 39:1-9) e «provérbios numéricos e que esse livro canônico tem ajudado a pavimentar o
de advertência» (30:10-33), ao passo que Murphy caminho para Aquele que era tanto o Amor quanto a
divide essa seção após o vs. 14. Sabedoria encarnados, o Senhor Jesus Cristo.
XI. Teologia do Livro Se perguntássemos por que motivo a última seção
Embora alguns estudiosos considerem o livro de desse livro termina com um hino de elogio à mulher
Provérbios como uma obra que ensina uma sabedoria virtuosa (Pro. 31:10-31), a resposta seria que a esposa
secular e prática, um exame mais cuidadoso de seu de nobre caráter forma um arcabouço literário
conteúdo revela que esse livro é extremamente juntamente com os discursos de introdução ao livro,
486
PROVÉRBIOS - PROVIDÊNCIA
onde a Sabedoria é personificada como lima mulher. Em todas as coisas (Pro. 3:6).
Na vida diária, nenhum paralelo mais feliz poderia ser Não pode ser frustrada (I Reis 22:30,34; Pro.
encontrado como a personificação da sabedoria do 21:30).
que a de uma esposa de bom caráter. Por conseguinte, Os esforços humanos são vãos sem eia (Sal.
o livro de Provérbios começa e se encerra com chave 127:1,2; Pro. 21:31).
de ouro.
Bibliografia. A fonte principal de informações IV. Os Santos Deveriam:
sobre o lívro dos Provérbios foi The Zondervan Confiar nela (Mat. 6:33,34; 10:9,29-31).
Pictorial Encyclopedia o fth e Bible, designada Z nas Depender inteiramente dela (Sal. 16:8; 139:10).
minhas referências bibliográficas. Agradeço a gentil Entregar suas obras a ela (Pro. 16:3).
permissão dada pela Zondervan Publishing House, Encorajar-se por meio dela (I Sam. 30:6).
Grand Rapids, Michigan, EUA, pelo uso desta obra. Orar, em dependência a ela (Atos 12:5).
Esta enciclopédia foi utilizada como fonte informativa Orar, para serem guiados por ela (Gên. 24:12-14;
na parte biblica da minha enciclopédia e cerca de dois 28:20; Atos 1:24).
e meio por cento do volume total desta enciclopédia
presente veio, por tradução, desta fonte. Além desta Resultado da dependência a ela (Luc. 22:35).
porcentagem, idéias e informações foram extraídas Vinculada ao uso de certos meios (I Reis 21:19 com I
desta obra sem uma tradução direta. Ver também Reis 22:37,38; Miq. 5:2, com Luc. 2:1-4; Atos
ALB AM E I IB Kl ND WBC WES YO. 27:22,31,32).
Perigo para quem a nega (Isa. 10:13-17; Eze. 28:2-10).
V. Flexível e Vigorosa
PROVIDÊNCIA DE DEUS
A providência de Deus é suficientemente flexível
Ê o cuidado sobre todas as suas obras (Sal. 145:9). para incluir os homens livres... O seu plano é
I. Ê Exercida: suficientemente flexível para destacar o que há de
Na preservação de suas criaturas (Nee. 9:6; Sal. mais nativo em cada um de nós. O que praticamos
36:6; Mat. 10:29). desempenha papel preponderante no sucesso desse
No prover as necessidades de suas criaturas (Sal. plano.
104:27,28; 136:25; 147:9; Mat. 6:26). A providência de Deus é suficientemente vigorosa
Na preservação especial dos santos (Sal. 37:28; para excluir a possibilidade de um fracasso final. O
91:11; Mat. 10:30). plano de Deus encerra muitos retrocessos, mas ele
Na prosperidade dos santos (Gên. 24:48,56). jamais desiste. Algumas vezes ele pode recuperar-se
usando os restos que homens e mulheres deixaram
Na proteção dos santos (Sal. 91:3; Isa. 31:5). para trás, os seus equívocos, seus ataques e seus
No livramento dos santos (Sal. 91:3; Isa. 31:5). sacrifícios. Um insensato conflito em família, como
Na orientação dos santos (Deu. 8:2,15; Isa. 63:12). aquele que envolveu José e seus irmãos, pode ser
No cumprimento de suas palavras (Núm. 26:65; usado por Deus para cumprir os seus propósitos (ver
Jos. 21:45; Luc. 21:32-33). Gên. 45).
Na determinação dos caminhos dos homens O propósito da providência de Deus consiste em
(Pro. 16:9; 19:21; 20:24). preservar a vida não somente a duração da vida
Na determinação das condições e circunstâncias terrena, mas também a sua qualidade e suas
dos homens (I Sam. 2:7,8; Sal. 75:6,7). realizações.
Na determinação do período da vida humana (Sal. VI. A Ajuda Divina Nas Horas Críticas
31:15; 39:5; Atos 17:26). Há ocasiões em que enfrentamos situações por
Na frustração dos desígnios dos ímpios (Êxo. demais difíceis para nós as vencermos sozinhos, e isso
15:9-19; II Sam. 17:14,15; Sal. 33:10). faz necessária a ajuda divina ou a intervenção divina.
Na frustração dos desígnios dos ímpios mediante o Quem já não experimentou em sua vida, em algum
bem (Gên. 45:5-7; 50:20; Fil. 1:12). tempo, esse tipo de ajuda divina?
Na preservação do curso da natureza (Gên. 8:22; Jó A tribulação, embora nos pareça sempre tão
26:10; Sal. 104:5-9). desagradável, com freqüência nos serve de ajuda em
Na direção de todos os acontecimentos (Jos. 7:14; I nosso progresso espiritual, e não de empecilho,
Sam. 6:7-10,12; Pro. 16:33; Isa. 44:7; Atos 1:26). porque, em seu desenrolar, vamos obtendo as porções
No governo dos elementos (Jó 37:9-13; Isa. 50:2; apropriadas e necessárias de vitória e felicidade. (Ver
João 1:4,15; Nee. 1:4). o artigo sobre Sofrimento, Necessidade do).
Na determinação dos mais ínfimos detalhes (Mat. Luz que Brilha das Trevas
10:29,30; Luc. 21:18). Deus se move de forma misteriosa
Ê justa (Sal. 145:17; Dan. 4:37). Para realizar suas maravilhas.
É perenemente vigilante (Sal. 121:4; Isa. 27:3). Implanta seus passos no mar,
Abarca a tudo (Sal. 139:1-5). E cavalga por cima do tufão.
Algumas vezes é obscura e misteriosa (Sal. 36:6; No profundo, em minas insondáveis
73:16; 77:19; Rom. 11:33). De habilidades que nunca falham,
II. Tudo é Determinado Por Ela: Ele entesoura seus grandes desígnios,
E põe em obras sua vontade soberana.
Para a glória de Deus (Isa. 63:14).
(William Cowper)
Para o bem dos santos (Rom. 8:28).
Os ímpios têm de cumprir os desígnios dela (Isa. Pode-se perceber a atuação da providência divina
10:5-12; Atos 3:17,18). na vida do apóstolo Paulo. A simples leitura do livro
de Atos revela-nos que o autor sagrado sentia que
III. Deve Ser Reconhecida: cada decisão importante que Paulo tomava de alguma
Na prosperidade (Deu. 8:18; I Cor. 29:12). maneira era inspirada por Deus, manifestada a
Na adversidade (Jó 1:21; Sal. 119:15). vontade de Deus ou em sua própria alma ou através
Nas calamidades públicas (Amós 3:6). de terceiros, que eram impelidos a prestar-lhe ajuda.
No nosso sustento diário (Gên. 48:15). Quanto a isso, podem ser examinadas as seguintes
PROVÍNCIA - PROVOCAÇÃO
referências: Atos 9:3-5; 11:28; 13:2; 16:10; 19:21; precisavam de poderosas forças militares para serem
21:11; 22:17-21; e 23:11. controladas e protegidas. Os governadores desses
territórios eram legados do imperador (no latim,
legatus Augusti pro praetore), e eram nomeados por
PROVÍNCIA ele por um período indefinido, de acordo com seu
Esboço: discernimento. 3. Províncias imperiais governadas
1. Definição e Palavras Usadas por um procurador imperial (no latim, praefectus) da
2. As Províncias Romanas classe eqüestre. Esses procuradores também eram
3. A Província da Judéia designados pelo imperador, e governavam regiões
1. Definição e Palavras Usadas agrestes e não-desenvolvidas, algumas vezes tendo
como súditos populações sediciosas.
O oficio de um governante podia ser assim
chamado. Mais especificamente, porém, devemos 3. A Província da Judéia
pensar no território assim governado. No hebraico, Para os estudiosos da Bíblia, essa é a porção mais
encontramos a palavra medinah, «distrito», que atrativa. E m 63 A.C., a Judéia tornou-se província da
algumas vezes é traduzida por «província». Esse termo Síria; mas, em 40 A.C., foi dada a Herodes, o
é usado por cerca de cinqüenta e seis vezes no Antigo Grande, como parte integrante de seu reino. Porém,
Testamento, mas por apenas quatro vezes indicando após a época dele, reverteu ao seu estado anterior. Os
governantes israelitas (distritos da época do rei procuradores romanos residiam em Cesaréia (ver
Acabe: I Reis 20:14,15,17,19). Outros usos apontam Josefo, Anti. 18.3,1, 55-59; Guerras 2.9,2, 171; Atos
para os administradores de distritos babilónicos e 23:23,33 ; 25:1). Ao praefectus era conferida consi
persas, conforme se vê, por exemplo, em Esd. 2:1; derável autoridade, incluindo a questão da punição
4:15; 5:8; 6:2; 7:16; Nee. 1:3; 7:6; Est. 1:1; Ecl. 2:8; capital (Josefo, Guerras 2.8,1, 117). O Sinédrio judeu
6:8; Lam. 1:1; Dan. 2:47,49; 3:1-3,12,30; 8:2; 11:24. podia atuar, mas suas decisões estavam sujeitas à
A Septuaginta (tradução do Antigo Testamento para aprovação do praefectus. Isso posto, a punição capital
o grego) usa a palavra grega chóra, «país», como podia ser pressionada pelos membros do Sinédrio,
equivalente. Entretanto, a palavra grega basileía é mas precisava ser decretada pelo governador romano.
usada em Est. 1:3, e 8:9, enquanto que outra palavra Ver João 18:31; Atos 25:1-12. Pilatos só é figura
grega, eparcheía, é usada em Est. 4:11. A primeira conhecida por nós devido à sua má decisão acerca de
dessas duas palavras significa «reino», e a segunda, Jesus. Em 36 D.C., Vitélio passou a governar a
«província», «distrito». No Novo Testamento, essa Judéia, e Pilatos foi convocado a Roma, a fim de
última palavra é que é utilizada em Atos 23:23,24 e responder pelos erros cometidos (Josefo, Anti. 18.4,2,
25:1. Nos tempos do Novo Testamento, como até 88,89; Tácito, Anais 6.32).
hoje, no grego essa última palavra significa «provín
cia» ou território dirigido por um governador.
2. As Províncias Romanas PROVOCAÇÃO
Originalmente, a palavra traduzida como «provín Todo pecado é uma provocação do homem contra
cia» denotava uma esfera administrativa. O praetor Deus, mesmo quando o homem também é ofendido,
urbanus (oficial) exercia autoridade sobre a urbana pois todo erro moral, em toda a criação, atinge a
provinda, uma área designada. Essa autoridade santidade divina. Davi, em seu adultério com
podia ser exercida dentro de alguma cidade (Lívio Bate-Seba e assassinato do marido dela, ao reconhe
6:42; 31:6), ou fora de uma cidade; mas nunca no cer seu duplo pecado, escreveu: «Pequei contra ti,
segundo sentido, quando em foco algum território, o contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus
qual, era virtualmente um pequeno país, segundo olhos...» (Sal. 51:4). Uma provocação é algo que
eram as províncias romanas dos tempos neotestamen- reclama uma reação, seja boa seja má. O trecho de II
tários. Esse antigo uso acerca do exterior de uma Cor. 9:2 contém o verbo «provocar» (em algumas
cidade é mencionado por Tácito (Anais 4:27). traduções; nossa versão portuguesa diz «tem estimu
Suetônio (/«/. 19) empregou a palavra da mesma lado»), em um sentido positivo, mas em II Reis 23:26;
maneira que o fez Tácito, ao referir-se a bosques e Jó 17:2 e Eze. 20:28 encontramos a palavra hebraica
pastagens. correspondente, kaas, em um sentido negativo. A
As primeiras províncias italianas eram territórios expressão «a provocação» ou «a grande provocação» é
com alguma extensão. Entre 509 e 241 A.C., todas as usada para falar sobre a obstinação do povo de Israel,
menções às províncias aludem a territórios dentro da quando andava vagueando pelo deserto, tendo
Itália. Os cônsules e dois magistrados judiciais (no desperdiçado quarenta anos, antes de entrar na Terra
latim, praetors) governavam essas províncias. Mas, de Prometida. Aí encontramos as palavras hebraicas
241 a 27 A.C., também houve províncias fora da meribah (Sal. 95:8), «contenção», e neatsoth (Nee.
Itália. Pertence a essa época o uso neotestamentário 9:18;26), «desprezos».
do vocábulo. A ilha de Sardenha foi tomada de A passagem de Efé. 6:4 estampa a palavra no
Cartago, em 238 A.C., tendo-se tomado província tocante às relações pessoais, especialmente no caso de
romana em 227 A.C. Mas, antes disso, a ilha de pais que provocam insensatamente a seus filhos,
Sicília se tomara província romana. Posteriormente, a mediante atos injustos e desarrazoados. A ra palavra
Espanha foi governada como uma província. Procôn grega usada é parorgizo, «provocar além das
sules começaram a ser os governadores desses medidas». Isso alerta-nos para o fato de que certas
territórios, entre 27 A.C. e 180 D.C. formas de egocentrismo estão por detrás de atos
Durante a república romana, todas as províncias provocantes, e que até entes amados podem tomar-se
ficaram sob a jurisdição do senado; mas, a começar nossas vítimas. Outra palavra grega que merece a
por César Augusto, as províncias foram divididas em nossa atenção èparazelóo, (Rom. 10:19; 11:11,14; I
três classes: 1. as dez províncias mais antigas Cor. 10:22), que significa «provocar com ciúmes».
(senatoriais), que não precisavam de grandes forças Finalmente, devemos meditar sobre o vocábulo grego
militares, ficaram sob o controle do senado. parapikraíno, «provocar abertamente» (Heb. 2:16),
Ex-cônsules eram os governadores dessas províncias no caso da obstinação do povo de Israel, no deserto.
2. Doze províncias ficaram sob a administração
imperial. Todas elas eram áreas de fronteira, e ••• ••• •••
488
PROXIMO - PRUDÊNCIA
PRÓXIMO Êxo. 3:22; 11:2 e Eze. 16:26. Também poderíamos
1. Palavras Envolvidas pensar no livro do profeta Jonas, que é o «João 3:16»
Precisamos considerar quatro palavras hebraicas e do Antigo Testamento. Entretanto, essa visão mais
uma grega: espiritual .não conseguiu capturar a imaginação da
a. Rea, «associado», «companheiro». Mas tem uma corrente principal do judaísmo, que cada vez mais
larga aplicação, incluindo até mesmo objetos inani foi-se tornando uma fé exclusivista.
mados (ver Gên. 15:10). Pode estar em foco um amigo A mais significativa passagem neotestamentária
íntimo (Pro. 26:10), ou um amante (Can. 5:16), ou o sobre a definição de quem é o nosso «próximo», e o
marido de uma mulher (Jer. 3:20). Essa palavra que isso deveria significar para nós, acha-se na
hebraica, pois, destaca como próximo uma pessoa parábola do Bom Samaritano, em Luc. 10:29-37. Ver
que é íntima de quem fala, em um relacionamento o artigo chamado Samaritano, Parábola do Bom. Ver
onde imperam laços de amizade (ver £xo. 20:16, 17; também sobre Bom Vizinho. O próximo é sempre
Deu. 5:20). Essa palavra hebraica ocorre por cento e alguma pessoa em necessidade, ao qual devemos
oitenta e nove vezes. socorrer, sem importar se essa pessoa vive perto ou
longe de nós, sem importar sua raça ou religião. Do
b. Shaken, «concidadão», «vizinho». Está em foco ponto de vista da criação (posto que não do ponto de
alguém que mora próximo, e de quem se pode pedir vista da regeneração), todos os homens são filhos do
algo emprestado (ver Êxo. 3:22; 12:4; Pro. 27:10). Tal
mesmo Deus, e todos eles são irmãos. Assim, um
vocábulo também era usado para indicar cidades próximo, nesse amplo sentido, tem direito ao nosso
próximas (ver Jer. 49:18). O termo é utilizado por amor. Ora, esse ensino era totalmente estranho ao
vinte vezes, como um substantivo, pois também era
um verbo, com o sentido de «residir», etc. judaísmo exclusivista dos dias de Jesus; mas, embora
concorde com a nossa teologia cristã, raramente é
c. Qarob, «próximo», referindo-se a alguém ou a observado na nossa prática. A real lei de Deus
algum lugar; no caso de pessoas, significava consiste em amarmos ao próximo como a nós mesmos
«parente». Ocorre por setenta e cinco vezes nas (ver Tia. 2:8); mas quanto a isso temos pouca
páginas do Antigo Testamento. Alguns exemplos: experiência, exceto como uma proposição teológica.
Exo. 32:27; Jos. 9:16; Sal. 15:3; Eze. 23:5,12;
Gên. 19:20; Isa. 13:13; Joel 3:14; Sof. 1:14. Essas Paulo também mencionou essa lei, no contexto da
duas últimas referências mostram que a palavra natureza do amor cristão (ver Rom. 13:9,10). O amor
também significava «perto» temporalmente. ao próximo não o prejudica. Antes, cumpre todos os
requisitos da lei, que encoraja o bem e proíbe que se
d. Amith, «colega», «igual», «próximo». Essa faça mal ao próximo (ver Gál. 5:14, que reitera esse
palavra hebraica aparece por doze vezes no Antigo mandamento). Um amplo ensino espiritual haverá de
Testamento: Zac. 13:7; Lev. 6:2; 18:20; 19:11,15, ser, finalmente, anunciado entre todos os homens (ver
17; 25:14,15,17. Essas duas últimas referências Heb. 8:11), quando então a espiritualidade do ser
mostram que ela pode ser traduzida em por humano será elevada ao ponto dele deixar de ser um
tuguês como «outro», embora dando a entender guerreiro tribal, conforme hoje se vê. Ver o artigo
outro ser humano, o próximo. geral sobre o Amor, e também aquele sobre o Fruto
e. Plesíon, «próximo», «vizinho», «concidadão». do Espírito.
Essa palavra grega aparece por dezessete vezes no
Novo Testamento: Mat. 5:43 (citando Lev. 19:18);
19:19; 22:39; Mar. 12:31,33; Luc. 10:27,29,36; João PRUDÊNCIA
4:5; Atos 7:26; Rom. 13:9,10; 15:2; Gál. 5:14; Efé. Esboço:
4:25; Tia. 2:8 e 4:12. 1. O Vocábulo
2. Na Filosofia
2. Ensinamentos Bíblicos Acerca do Próximo
3. Considerações Bíblicas
Para um israelita, um outro israelita era o próximo,
porquanto era um irmão, participante, com ele, do 1. O Vocábulo
mesmo pacto com Abraão (ver Gen. 12:1-3). Dentro O vocábulo português prudência vem do latim
desse contexto foi dado o mandamento de amar ao prudens, «conhecedor». A forma nominal éprudentia.
próximo como a si mesmo (ver Lev. 19:18). Esse A prudência consiste no uso habilidoso do conheci
m andam ento foi universalizado no Novo mento, no exercício da sabedoria. Trata-se de um
Testamento; ao passo que no Antigo Testamento era cuidado habitual de evitar erros e seguir o mais sábio
restringido aos participantes do pacto abraâmico. curso de ação acerca de qualquer questão. Envolve
Assim, a interpretação rabínica dizia que aos um sábio estado mental ou espiritual, que resulta em
israelitas foi ordenado que amassem ao próximo, e atos ditados pela sabedoria. A palavra latina traduz o
que isso subentendia que eles deveriam odiar ao termo grego phrónesis, «bom senso», «sabedoria
não-próximo, ou ao estrangeiro, ou ao inimigo. Jesus prática». Esse termo grego ocorre por duas vezes no
referiu-se a essa interpretação equivocada em Mat. Novo Testamento: Luc. 1:17; Efé. 1:8. O termc
5:43 ss. E o Senhor reverteu essa idéia rabínica tão cognato, phrónimos, foi usado por catorze vezes
radicalmente que chegou a ordenar que amássemos Mat. 7:24; 10:16; 24:45; 25:2,4,8,9; Luc. 12:42; 16:»;
aos nossos próprios inimigos, determinando que Rom. 11:25; 12:16; I Cor. 4:10; 10:15; II Cor. 11:19.
orássemos em favor daqueles que nos perseguem (ver E a forma verbal, phronéo, figura por vinte e sete
Mat. 5:44). É desse modo que um crente chega a vezes: Mat. 16:23; Mar. 8:33; Atos 28:22; Rom. 8:5;
tornar-se um «perfeito» filho do Pai celeste (vss. 45,46] 11:20; 12:3,16; 14:6; 15:5; I Cor. 13:11; II Cor. 13:11;
dotado de uma elevada natureza moral e espiritual. Gál. 5:10; Fil. 1:7; 2:2,5; 3:15,19; 4:2,10; Col. 3:2; I
Diz Mat. 5:48: «Portanto, sede vós perfeitos como Tim. 6:17. Essa forma verbal significa «pensar»,
perfeito é o vosso Pai celeste». Naturalmente, essa «exercer bom juízo».
atitude para com o próximo faz parte da manifestação 2. Na Filosofia
geral da lei do amor. A prática da lei do amor é prova Sócrates acreditava que conhecer-se verdadeiramen
da regeneração e da espiritualidade do indivíduo, te serve de garantia para que o ser humano aja
segundo aprendemos em I João 4:7 ss. sabiamente. A prudência aparece como uma das
O Antigo Testamento, de fato, emprega em sentido quatro grandes virtudes (juntamente com a coragem,
mais amplo o termo «próximo», conforme se vê em o autocontrole e a retidão), nos escritos de Platão. Os
489
PRUDÊNCIA - PSEUDEPlGRAFOS
tradutores, com freqüência, têm usado a palavra pedaço de metal. Seu uso é o mesmo desde a
«sabedoria» como tradução, nesse contexto. Aristóte antiguidade até os nossos dias. Os pedreiros
les fazia da phrónesis uma «sabedoria prática», ao usavam-no e usam-no para encontrar a verda
passo que a «sabedoria» seria a sophia, de natureza deira perpendicular, — para que possam construir
teórica e especulativa, como base de toda manifesta paredes, edifícios, templos, etc., que se mantenham
ção de sabedoria. Os pensadores cireneus faziam da na vertical e não caiam. Visto que o prumo verifica a
prudência um dos alvos principais da vida. Tomás de verdadeira perpendicular, simboliza a justiça, ou as
Aquino atribuía a prudência original a Deus, que condições de correção e justeza. A arqueologia tem
teria organizado todas as coisas. Hobbes dizia que a demonstrado a existência desse instrumento pelo
prudência deriva-se da experiência em geral, ao passo menos desde 2900 A.C., no Egito.
que a sabedoria derivar-se-ia da ciência. Paley Usos Figurados. 1. Em Amós 7:7,8, o prumo é
pensava que a prudência e a virtude são uma e a usado para averiguar a verticalidade de uma parede,
mesma coisa. O bispo Butler opinava que a prudência em uma visão desse profeta. O povo de Israel também
consiste no auto-afeto razoável, sendo um dos precisava ser examinado, a fim de que suas
principais elementos da ética, assumindo lugar iniqüidades fossem evidenciadas e corrigidas. 2. Em
paralelamente à toda-poderosa consciência, a força II Reis 21:13, o prumo simboliza o juízo divino contra
orientadora de toda ação ética. Por sua vez, Sidgwick os habitantes de Jerusalém, que se tinham enlameado
acreditava que a prudência é uma qualidade intuitiva com toda espécie de práticas injustas, duvidosas e
do homem, pronta para ser usada por todas as distorcidas. 3. Em Zac. 4:10, esse pequeno instru
pessoas razoáveis. Alinhar-se-ia lado a lado com mento simboliza a determinação de Deus em impor
outros princípios, como a justiça e a benevolência, um correto julgamento, requerendo dos homens uma
que seriam outras virtudes capitais. Conjuntamente, a verdadeira retidão. Como vimos, todas essas referên
prudência, a justiça e a benevolência formariam a cias pertencem ao Antigo Testamento, o que mostra
base de toda ética. que esse instrumento só aparece ali, e nunca é
3. Considerações Bíblicas mencionado no Novo Testamento. No hebraico,
O termo grego phrónesis ocorre apenas duas vezes «prumo» é anak (em Amós); mishqoleth ou mishqe-
em todo o Novo Testamento (Luc. 1:17 e Efé. 1:8), leth, em II Reis 21:13 e Isa. 28:17; e eben bedil,
que a nossa versão portuguesa traduz por «prudência» «pedra de estanho», em Zac. 4:10. Também é claro
em ambos os casos. No primeiro caso, há uma alusão que as menções a esse instrumento sempre envolvem
à natureza e aos atos de João Batista, precursor de um sentido metafórico, e nunca literal.
Jesus Cristo; no segundo caso, há menção «à
sabedoria e à prudência» empregados por Deus em PSEUDEPlGRAFOS
sua redenção e nos atos restauradores do mistério de Esboço:
sua vontade. Ver sobre Mistério da Vontade de Deus. I. A Designação
No Antigo Testamento, menciona-se aquela qualida
de de bom senso que leva as pessoas a agirem com II. Caracterização Geral
prudência (ver Amós 5:13). Porém, também há uma III. Classificações
prudência negativa que opera a malignidade (Pro. IV. Lista Básica de Obras Pseudepígrafas
12:23; 14:15; Gên. 3:1). A verdadeira prudência V. Preservação Cristã da Coletânea
consiste na aplicação prática da sabedoria. VI. Influência dos Livros Pseudepígrafos
I. A Designação
PRUDENTE Essa palavra portuguesa vem do grego, psendepi-
graphos, «escrito falso» ou «escrito espúrio». Apesar
No latim, Pudens, «modesto», «envergonhado»,
de que alguns dos escritos da coletânea assim
«tímido». Esse era o nome de um cristão de Roma que
se juntou a Cláudia e a outros no envio de saudações a conhecida são verdadeiramente «falsos», no sentido
Timóteo, conforme se lê em II Tim. 4:21. Ele e seus primário de que foram invenções, o termo é usado
amigos são mencionados somente aqui, em todo o para aludir, especificamente, à idéia de «falsa
Novo Testamento. autoria». Em outras palavras, os livros assim
chamados não foram escritos pelos autores aos quais
Por mera coincidência de nomes, o poeta latino são atribuídos. Para exemplificar, Enoque não foi
Marcial, em seus Epigramas (I, 31; IV. 13,29; V.48; escrito por aquela personagem veterotestamentária
VI.58; VII. 11,97) falou acerca de um certo Prudente e chamada Enoque; Tomé não foi escrito pelo apóstolo
sua esposa, Cláudia, que eram britânicos de desse nome; e o Apocalipse de Abraão não foi escrito
nascimento. E alguns eruditos têm-se esforçado por pelo patriarca Abraão.
associar esse casal com aquelas pessoas mencionadas Não devemos esquecer que era costume comum na
no Novo Testamento; porém, certamente isso é um antiguidade atribuir um livro qualquer a alguma
exercício de futilidade. pessoa antiga e bem conhecida. Isso não sucedia
A Igreja bizantina comemora sua data em 14 de apenas no campo religioso, mas também secular,
abril, enquanto que a Igreja de Roma o faz a 19 de como nas obras filosóficas e nas obras de literatura em
maio. Naturalmente, a Igreja cristã lhe atribui geral. Os motivos da prática variavam. Na maioria
importância como santo e mártir. Além disso, a dos casos, podemos supor que havia o desejo de obter
tradição faz dele um senador, localizando sua uma melhor distribuição de uma obra recente,
igreja-residência no local da moderna igreja de Santa mediante a glorificação de algum nome famoso. Mas
Prudência. Usualmente, as tradições são muito muitos autores também desejavam honrar o nome
imaginativas, não sendo fiéis aos fatos históricos, de usado; e, em alguns casos, tencionavam promover as
tal modo que é dificílimo dizer se há qualquer verdade idéias e as tradições dos alegados autores.
em todas essas tradições acerca de Prudente. O termo pseudepígrafos, quando usado para
indicar livros relacionados à Bíblia, usualmente
refere-se aos livros pseudepígrafos do Antigo Testa
PRUMO mento. Há livros pseudepígrafos do Novo Testamen
O prumo consiste de um fio com um peso qualquer to, mas usualmente são designados livros apócrifos.
em uma das extremidades, como uma pedra ou um Para efeito de distinção, os livros pseudepígrafos do
490
PSEUDEPÍGRAFOS
Antigo Testamento formam uma coletânea separada não é errado empregar esse título geral para indicar a
dos livros apócrifos, e, naturalmente, também coletânea inteira.
separada dos cânones palestino e alexandrino do 7. Conteúdo. É impossível caracterizar tão grande
Antigo Testamento. No cânon alexandrino estão coletânea quanto ao seu conteúdo. Tudo quanto faz
incluídos vários livros apócrifos, mas isso não se dá parte da religião aparece ali, desde ensinos éticos até
com os livros pseudepígrafos, embora alguns deles relatos de experiências místicas, desde profecias até
tivessem alcançado considerável prestígio, tendo exposições escrituristicas, desde história até poesia,
exercido definida influência sobre as idéias do desde filosofia até liturgia, desde apologética até
judaísmo helenista, e. daí, sobre certas idéias do Novo didática. Mas as ênfases principais são ensinos,
Testamento. Tenho provido artigos separados sobre apologética, temas filosóficos, pseudonarrativas com
os mais importantes dentre esses livros; e nos artigos as devidas lições morais e espirituais, a busca da
sobre os livros pseudepígrafos (como o Enoque espiritualidade por parte da alma, principalmente
Etíope, também chamado I Enoque, ou como o através de experiências místicas. Além disso, visões e
Enoque Eslavônico, também chamado II Enoque) iluminações, a ascensão a esferas celestiais, a descida
tomar-se-á patente, para o leitor, que esses livros a esferas infernais, com a conseqüente aquisição de
desempenharam um importante papel como influen- conhecimentos. Mas, se quisermos salientar um tema
ciadores de idéias, mesmo quando não foram maior, então temos as expectações apocalípticas dos
diretamente citados. I Enoque foi citado em Jud. 14 ss autores diversos. O leitor poderá verificar isso no
(de I Enoque 1:9); e o relato da descida de Cristo ao artigo separado sobre o Enoque Etíope ( I Enoque). O
hades, em I Ped. 3:18-4:6, foi verbalmente inspirado conteúdo dessa coletânea ainda é mais variegado do
por passagens desse livro, embora com aplicação um que o do Antigo Testamento, contendo vários tipos de
tanto diferente. literatura que não aparecem naquela coletânea
II. Caracterizaçio Geral sagrada.
Vários pontos importantes devem ser salientados no 8. Classificações segundo as presumíveis proveniên
tocante ao estudo desses livros: cias. Essa coletânea é por demais variada para ser
1. Eles constituem um corpo bastante extenso de simplesmente classificada em blocos. Porém, pode-se
literatura, uma espécie de terceiro desenvolvimento: fazer a tentativa de arranjar esse material de acordo
a. os livros canônicos do Antigo Testamento; b. os com dois grandes blocos. Ver a seção III quanto a
livros apócrifos, os quais, quanto a alguns deles, detalhes.
obtiveram posição canônica entre os judeus da
dispersão, e então no cânon católico romano do m . Classificações
Antigo Testamento; c. os livros pseudepígrafos, Nenhum único método de classificação tem
alguns poucos dentre os quais obtiveram situação merecido a aprovação de qualquer grande número de
canônica, pelo menos no parecer de alguns indivíduos eruditos. Mas um método favorito de classificação é
ou localidades limitadas, mas que, considerados como aquele de acordo com a presumível proveniência. Se
um todo, exerceram considerável influência sobre utilizarmos esse método da procedência, então a
idéias do judaísmo helenista, as quais então classe maior é a do grupo hebreu-aramaico ou
encontraram caminho para o Novo Testamento. palestino. As principais obras dessa alegada prove
2. Como uma coletânea, a maior parte desses livros niência são: Testamentos dos Doze Patriarcas;
pode ser datada entre 200 A.C. e 200 D.C. quase Jubileus; Martírio de Isaías; Salmos de Salomão;
todos eles são de natureza apocalíptica. Ver o artigo Ascensão de Moisés; o Apocalipse Siriaco de
geral sobre Apocalípticos, Livros (Literatura Apoca Baruque; o Testamento de Jó; os Paralipomena de
líptica). Jeremias, o Profeta; a Vida de Adão e Eva; as VidaJ
3. Visto que muitos desses livros versam sobre dos Profetas. Além desses, há os livros gregos ou
questões apocalípticas, sua mais forte influência se dá alexandrinos, que também são conhecidos como
na área da tradição profética. Isso usualmente grupo judaico-helenista. Essa coletânea contém a
surpreende aqueles que tomam conhecimento do fato Carta de Aristéias; alguns dos Oráculos Sibilinos; III
pela primeira vez—o esboço profético em linhas mais Macabeus (relatos lendários); IV Macabeus (obra de
gerais, presente no Novo Testamento, já aparecia em I cunho filosófico); o Enoque Eslavônico (II Enoque); e
Enoque. Meu artigo sobre esse livro provê ampla parte do Baruque escrito em grego.
ilustração sobre esse fato, embora muitas pessoas Classificação Segundo o Gênero Literário. Talvez
fiquem consternadas diante disso. esse seja o melhor critério de classificação. Cinco
4. Apesar da maior parte desses livros nunca ter distintos tipos literários podem ser distinguidos nos
atingido posição canônica, eles são bem representados livros pseudepígrafos: 1. Narrativas, principalmente
entre o material achado nas cavernas próximas do histórias: Jubileus; a Vida de Adão e Eva; os
mar Morto. Ver sobre Manuscritos (Rolos) do Mar Paralipomena de Jeremias. (A palavra paralipomena,
Morto. Isso significa que em Jerusalém, e não que está no plural, significa «coisas passadas», ou
somente entre os judeus da dispersão, eles eram seja, não mencionadas ou omitidas. Portanto, essa
importantes. Desempenharam um importante papel obra alega contar coisas que o livro canônico de
durante o período intertestamentário, e são valiosos Jeremias deixou de lado). 2. Testamentos, como o dos
até hoje devido à luz que lançam sobre o pano de Doze Patriarcas e o de Jó. 3. Escritos litúrgicos, como
fundo judaico do Novo Testamento. Salmos de Salomão e os Hodayoth dos manuscritos do
5. Os escritores católicos romanos preferem o nome mar Morto. 4. Apologias, como a Carta de Aristéias,
apócrifos quando se referem aos livros dessa III e IV Macabeus e alguns dos Oráculos Sibilinos. 5.
coletânea, provavelmente porque aqueles livros que os Apocalipses, como os de Enoque, Moisés e Baruque.
grupos protestantes chamam de apócrifos são livros Muitos livros, como é óbvio, contêm vários desses
canônicos para os católicos romanos. gêneros literários, pelo que esta classificação também
6. A coletânea dos livros pseudepígrafos inclui é inadequada, embora útil.
muitas obras anônimas, pelo que, estritamente IV. Lista Básica de Obras Pseudepígrafas
falando, o termo pseudepígrafo não pode ser aplicado A obra em dois volumes, the Old Testament
à coletânea inteira. Porém, visto que há tão grande Pseodeplgrapha, de autoria de James H. Charles-
número de obras verdadeiramente pseudepígrafas, worth (Doubleday & Co., Nova Iorque), contém cerca
491
PSEUDEPÍGRAFOS - PSEUDO-
de sessenta e cinco livros dessa natureza. Apresentei volva-se para os livros pseudepígrafos a fim de
artigos separados sobre os seguintes: entender o desenvolvimento que teve lugar na teologia
do judaísmo, após o encerramento do cânon do
Abraão, Testamento de Antigo Testamento.
Adão e Eva, Vida de 2. Algumas Idéias Proeminentes Desenvolvidas
Aristéias, Carta de
Assunção de Moisés Nesse Período, a. O conceito da alma tornou-se
Baruque, Apocalipse Grego de universal no judaísmo, algumas vezes vinculado à
Baruque, Apocalipse Siríaco de idéia da reencarnação; b. um inferno em chamas
Enoque, Etíope (I Enoque) tornou-se doutrina para alguns judeus; c. foi
Enoque, Eslavônico (II Enoque) desenvolvida uma elaborada angelologia, incorporan
Esdras (I ou IV) do idéias persas, mas, ocasionalmente com adições
Isaías, Martírio e Ascensão de inéditas e fantásticas; d. foi dada grande ênfase ao
Jeremias, Paralipomena de apocalipticismo; e. doutrinas messiânicas, algumas
José, Oração de delas de elevada ordem, bem como o esboço geral das
Jubileus, Livro dos predições proféticas; f. a doutrina da ressurreição dos
Macabeus (III) — sob o título Macabeus, Livros mortos ficou estabelecida.
dos 3. Sobre o Novo Testamento. O trecho de Jud. 14 ss
Macabeus (IV) — sob o título Macabeus, Livros é o único empréstimo direto que se vê no Novo
Testamento desses livros (extraído de I Enoque).
dos Todavia, há vários empréstimos verbais, o que indica
Salmos de Salomão que os autores do Novo Testamento estavam
Oráculos Sibilinos acostumados com aqueles livros, não hesitando em
Testamentos dos Doze Patriarcas incorporar as idéias de alguns deles em seus escritos.
Oferecemos detalhes adicionais sobre os livros de Acima de tudo, o que pode ser facilmente
literatura apocalíptica no artigo intitulado Apocalípticomprovado, os autores do Novo Testamento incor
cos, Livros (Literatura Apocalíptica). poraram em suas obras o esboço profético geral dos
V. Preservação Cristã da Coletânea livros pseudepígrafos, incluindo muitos termos e
noções que se aplicam ao Messias. Ver sobre o
Apesar dos livros pseudepígrafos serem de origem Enoque Etíope, quanto a uma completa demonstra
judaica, não teriam sido preservados sem os labores ção. Também não poderíamos deixar de mencionar
de escribas cristãos. Foram, pois, essencialmente aqui o conceito de um inferno em chamas, tomado
preservados em grego, latim, siríaco, etiópico, cópticopor empréstimo de I Enoque. O relato sobre a
e armênio. Com a descoberta dos Manuscritos (Rolos) Descida de Cristo ao Hades (vide), que se acha no
do Mar Morto (vide), alguns desses livros foram Novo Testamento, verbalmente é bastante similar ao
confirmados como de grande antiguidade, anteriores relato em I Enoque.
ao trabalho de amanuenses cristãos. Apesar dessa
coletânea ser menos favorecida, e, portanto, menos «...não é exagero dizer-se que é impossível
copiada pelos rabinos judeus, obtiveram um certo compreender o pano de fundo teológico do Novo
favor entre os cristãos, a começar por alguns dos Testamento à parte do estudo desses e de outros
próprios autores sagrados do Novo Testamento, os escritos judaicos pré-cristãos» (Z).
quais incorporaram idéias (especialmente aquelas Bibliografia. AM CH E ID J ND RU(1064) Z
atinentes a predições proféticas). E os apologistas
cristãos acharam nesses livros algum material de
valor, como aquele que enfatiza questões devocionais.
Muitas interpolações feitas por escribas cristãos PSEUDO-DIONlSIO
penetraram nos textos desses livros, de tal forma que Os autores antigos costumavam atribuir suas obras
nem sempre é fácil distinguir essas interpolações dos a algum outro autor famoso, a fim de honrar a este
escritos originais. Esses livros serviram de modelo último ou promover as suas idéias, ou meramente a
para obras cristãs similares, especialmente aqueles fim de obter maior prestígio para os livros que
atualmente chamados Apócrifos (vide, mormente escreviam. E isso sem importar se essas obras eram de
aquela seção que trata dos livros apócrifos do Novo natureza bíblica, secular ou filosófica. Algum autor
Testamento). desconhecido aproveitou-se do nome de Dionísio, o
VI. Influência dos Livro« Pseudepígrafos Areopagita, (ver Atos 17:34), para sua própria obra.
O incrível é que tal identificação foi seriamente
1. No Judaísmo Helenista. O período intermediárioconsiderada durante a maior parte da Idade Média.
entre o Antigo e o Novo Testamentos foi um tempo Mas, visto que tal autoria é falsa, finalmente a obra
fértil quanto ao desenvolvimento e mistura de idéias. passou a ser conhecida como Pseudo-Dionísio. Esse
O antigo judaísmo absorveu muitas idéias que não autor desconhecido usou os escritos de Proclo (vide),
apareciam no próprio Antigo Testamento. A idéia da um famoso filósofo neoplatônico, como a base de uma
«alma» encontrou guarida na teologia judaica, após série de tratados acerca de Deus, de idéias e teologia
muitos séculos primeiramente de incredulidade, e mística, e do neoplatonismo em geral (vide). Essa
então, de obscurantismo. As chamas do inferno foram obra foi originalmente escrita em grego, mas então foi
acesas pela primeira vez em I Enoque, uma idéia traduzida para o latim por Erigena (vide). Hugo de
transferida então para o Novo Testamento. O esboço Saint Victor escreveu comentários sobre a obra, como
essencial da tradição profética foi elaborado durante também o fizeram Roberto Grosseteste, Alberto
esse período intertestamentário, conforme fica com Magno e Tomás de Aquino. Isso indica que tal escrito
provado no artigo chamado Enoque Etíope. Ascen circulava consideravelmente, dotado de grande
sões aos céus e descidas às regiões infernais
tornaram-se temas populares. Desse modo, os livros prestígio entre autores da Idade Média.
pseudepígrafos (juntamente com os escritos apócrifos, Idéias
com os livros de Josefo e com os manuscritos do mar 1. A revelação, — que nos é desvendada nas
Morto) vieram a outorgar-nos discernimento sobre a Escrituras, torna-se a nossa primeira linha de
natureza do pensamento religioso e filosófico dos conhecimentos. Contudo, seria mister aplicar o
tempos judeu-helenistas. £ necessário que o estudioso conceito da chamada «teologia negativa» às Escrituras
492
PSEUDO-MATEUS - PSEUDÔNIMO
e a todos os demais escritos que reivindicam revelar foram submetidos ao teste da água amargosa, e o
algo a respeito de Deus. Deus não pode, realmente, próprio Abiatar misturou a bebida para eles.
ser descrito em termos antropomórficos, embora o Naturalmente, não foram desaprovados. Então Maria
antropomorfismo seja utilizado pelo homem, devido à foi entregue aos cuidados de José, com a condição de
sua falta de conhecimento e devido à ausência de que outras virgens a acompanhassem. Elas receberam
melhores meios de conhecimento. Assim sendo, a tarefa de fazer um véu para o templo. Quanto à
sempre poderemos dizer que «Deus não é isto» que história da natividade, foi ali que um boi e um burro
dizemos sobre o homem, para então tolamente teriam contemplado a cena.
atribuirmos tais qualidades a Deus, em forma Os capítulos dezoito a vinte e quatro contam a
expandida. Antes, faríamos bem em aplicar uma jornada da santa família ao Egito, e aludem a dois
espécie de teologia superlativa, conforme a qual Deus relatos que presumivelmente cumpriram as profecias
é encarado como um Superser, dotado de superuni- contidas em Sal. 148:7. Animais ferozes ficam mansos
dade e de superbondade. e misturam-se entre as ovelhas (ver Isa. 11:6,7;
2. Porém, além da teologia negativa e da 65:25). Houve milagres fantásticos. Uma palmeira faz
superteologia, precisamos obter maiores discernimen uma mesura, a fim de oferecer os seus frutos, e
tos quanto à teologia mística. Ver sobre o Misticismo. trezentos e sessenta e cinco ídolos prostram-se diante
Somente as experiências místicas podem conferir-nos de Jesus e Maria.
alguma substância real no tocante a Deus e à alma. Do capítulo vinte e cinco até o fim encontra-se o
Esse método transcende à percepção dos sentidos e à Evangelho da Infância de Tomé, embora com
razão. acréscimos e eliminações. Nesse evangelho, José
3. As metáforas da luz e das trevas são úteis para aparece como um carpinteiro inepto, que serrou uma
que possamos entender uma série de coisas que viga curta demais, a qual Jesus precisou esticar
começa com Deus e termina com o homem. A luz mediante seu poder miraculoso. Mas no livro
divina banha a todos os seres; podemos ser Pseudo-Mateus, esse erro de cálculo é atribuído a um
iluminados; as forças das trevas resistem a essa luz, aprendiz, e não a José. Tudo é muito divertido, mas a
mas podemos vencê-las. O amor unifica a todas as verdade é ofendida em todos os sentidos.
coisas, pois o amor é a maior de todas as iluminações
e tende para a unidade. O ódio, por sua vez, engendra
a discórdia. Não podemos conhecer a Luz por meio da PSEUDÔNIMO
razão; mas a luz divina ilumina-nos para que
possamos conhecer a verdade, incluindo aquela Essa palavra indica aquela prática literária em que
verdade prática do poder unificador do amor. alguém escreve com um nome fictício. Os livros
pseudepígrafos (tanto do Antigo quanto do Novo
4. Uma hierarquia celestial inteira está envolvida Testamento) são exemplos primordiais dessa prática.
na transmissão da luz divina aos homens. Neste Alguns eruditos pensam que a epístola aos Efésios foi
mundo, essa luz, por sua vez, seria transmitida e
estaria na dependência a uma hierarquia eclesiástica. escrita por algum discípulo de Paulo, que se utilizou
de seu nome. No artigo sobre esse livro, discuto acerca
Escritos. Sobre os Nomes Divinos; A Teologia do problema, sob Autoria. Outro tanto é dito acerca
Mística; A Hierarquia Celestial; A Hierarquia de I Pedro. Seja como for, essa prática era comum nos
Eclesiástica. círculos tanto religiosos quanto seculares. E os
antigos, ao que parece, não viam qualquer erro nessa
prática. Era um artifício para aumentar o prestígio de
PSEUDO-MATEUS, EVANGELHO DO uma obra escrita, permitindo-lhe uma circulação
Dois evangelhos extracanônicos estão por detrás mais ampla, ao mesmo tempo em que honrava ao
dessa obra, o Protevangelho de Tiago e o Evangelho alegado autor e promovia as suas idéias.
da Infância de Tomé, acerca dos quais ofereço O Paeadônimo c a MoraUdade
artigos. Ver também sobre Apócrifos, na parte que
trata sobre o Novo Testamento, no que concerne a A prática de usar o nome de outras pessoas
uma descrição geral desse material. O Pseudo-Mateus (famosas, naturalmente) era tão generalizada na
é uma compilação latina tardia, baseada essencial antiguidade, e envolvia tantas religiões, ou, pelo
mente sobre esses citados evangelhos apócrifos. Por menos, tantos escritores piedosos, que só podemos
sua vez, tornou-se uma fonte da obra Nascimento de concluir que os antigos não tinham as mesmas
Maria. Um nome alternativo do Pseudo-Mateus é impressões que nós acerca do que pensamos sobre o
Liber de Infantia. assunto. £ até provável que eles pensassem que, desse
O Pseudo-Mateus tem exercido grande importância modo, a pessoa cujo nome era usado, era honrada,
histórica no mundo da literatura religiosa, visto que como se suas idéias e ideais estivessem sendo
foi com base nessa obra que surgiram outros promovidos.
evangelhos narrando a história da infância de Jesus, U m e Popularidade
já na Idade Média. Estes serviram para inspirar a Ê surpreendente quão populares tornaram-se
imaginação religiosa, as obras de arte e a poesia. algumas obras escritas sob pseudônimo, propagando-
Cartas espúrias, de Jerônimo ou para ele, foram se tremendamente. Não podemos supor que isso
adicionadas, a fim de emprestar-lhe prestígio e ocorria meramente porque alguns nomes famosos
fomentar sua circulação. Eles identificaram esse tivessem sido vinculados a elas. Algumas de tais obras
material com o Evangelho dos Hebreus, ao qual tinham um valor intrínseco. Mas a maioria delas não
Jerônimo fez referências freqüentes, embora tudo isso era acolhida a sério, como se fossem obras escritas por
não passe de fantasia. Mas alguns manuscritos dessa aqueles a quem era atribuídas.
obra atribuem-na a Tiago, e não a Mateus. A Abordagem Grega
Conteúdo. Os capítulos primeiro a décimo sétimo Autores famosos, como Homero, mui naturalmen
derivam-se, principalmente, do Protevangelho, mas te contavam com obras espúrias, escritas em nome
com modificações e adições, embora o esboço geral deles. Não sabemos dizer quantos dos diálogos
seja o mesmo. Abiatar encorajou o casamento entre atribuídos a Platão foram, realmente, escritos por ele,
seu filho e Maria, mas Maria tomou votos de perpétua embora a maioria dos mesmos certamente tenha saído
virgindade. Maria e José, suspeitos de fornicação, de sua pena. Alguns poucos desses diálogos foram
PSEUDÔNIMO - PSEUDOS-MESSIAS
escritos por discípulos seus ou por admiradores de devamos censurar os autores antigos, que se valiam
séculos posteriores. dos nomes de famosos heróis, em seus livros. Dentro
desse contexto, a palavra «censura» é um anacronis
A Abordagem ludaica mo.
Temos ai uma considerável massa de escritos, cuja A Abordagem Criati
importância deriva-se do fato de que nos mostram c A prática da pseudonímia prosseguiu nos tempos
que os judeus pensavam (suas doutrinas, seus ideais, do Novo Testamento, e depois. E possível que nossa
etc.), ao tempo em que foram escritos. Além disso, os epístola neotestamentária de II Pedro seja, na
livros pseudepígrafos e apócrifos exerceram consi realidade uma obra pseudônima, segundo muitos
derável influência sobre os escritores não-testamentá- eruditos pensam. Outro tanto é dito a respeito da
rios (especialmente no campo da profecia preditiva), epistola aos Efésios, na opinião de alguns; e meus
apesar de não aparecerem muitas citações diretas no artigos sobre esses livros abordam a questão. Seja
Novo Testamento. A descoberta dos Manuscritos como for, as obras pseudepígrafas do Novo Testamen
(Rolos) do Mar Morto (vide) tem demonstrado que até to foram bastante numerosas, segundo fica demons
mesmo em Jerusalém esses livros eram usados, o que trado em meu artigo sobre aqueles assuntos. Quase
significa que não eram valorizados somente pelos todo esse material pseudepigrafo era de origem
judeus da dispersão. Alguns eruditos têm sugerido
gnóstica. Não nos podemos olvidar que o cânon
que os nomes de antigos heróis eram usados para neotestamentário só ficou determinado aí pelo século
emprestar autoridade às obras escritas, visto que os IV D.C., e muitos sentiam o direito de continuarem a
livros considerados inspirados por Deus tinham-se pronunciar-se sobre Jesus e sua significação, bem
tornado parte de um canon fechado. Porém, isso é como sobre os apóstolos e as contribuições que
supor que o processo de canonização havia estabeleci fizeram à causa cristã. Isso significa que há toda uma
do essa interrupção. Historicamente, porém, está literatura bastante parecida com o Novo Testamento,
envolvido um anacronismo. O cânon do Antigo que contém evangelhos, atos, epístolas apostólicas e
Testamento nem ao menos estava fixado nos dias de apocalipses, tudo espúrio, ainda que pequena
Jesus, e os judeus da dispersão definidamente haviam porcentagem de declarações e relatos autênticos possa
«canonizado» os livros apócrifos, que ultrapassavam ter sido preservada nessa literatura. Doutrinas
além do último dos livros que os grupos protestantes esotéricas e heréticas supostamente eram apoiadas
atualmente consideram parte do cânon veterotesta- por material «oculto» ou «desconhecido», que os
mentário. De fato, qualquer argumento nesse sentido evangelhos tradicionais teriam esquecido ou ao qual
é uma espécie de interpretação protestante, a qual, não tiveram acesso. Mas esses livros espúrios, em sua
sem dúvida, encontrava alguma simpatia na Palesti esmagadora maioria, eram apenas peças de propa
na, no período intertestamentário; mas de forma ganda a serviço de posições heréticas, não estando
alguma isso serviu de obstáculo à produção de novos alicerçados sobre um fundo histórico.
livros sagrados, atribuindo-os ou não a antigos heróis
do Antigo Testamento. Por semelhante modo, não é provável que as
reivindicações de autoria tivessem sido levadas a sério,
É estranho encontrar, nas fontes informativas que exceto pelos membros das seitas que se utilizavam de
consultei, expressão de consternação diante do fato de tais livros. As pessoas religiosas vivem caçando «textos
que judeus piedosos estiveram envolvidos nesse de prova», em apoio às suas idéias; e a grande
fenômeno de pseudonímia. Essa é uma clara produção literária dos cristãos permitia que muitos de
afirmação anacrônica. £ desnecessária e falsa a
tais textos viessem a suportar quase qualquer tipo de
suposição de que essa atribuição era legítima em heresia. Não obstante, há algumas narrativas (e
qualquer grau, visto que matéria antiga (parte idéias) deveras interessantes e fantásticas, embora
pertencente a pessoas a quem os livros foram escritos) algumas delas sejam moral e espiritualmente instruti
foi incorporada naqueles livros. Para exemplificar, é vas, enquanto que outras servem de entretenimento.
perfeitamente patente que Enoque nada teve a ver
com a autoria de I e II Enoque, em nada tendo Podemos supor com segurança que alguns cristãos
contribuído para esses livros. Mas, aplicando essa ortodoxos objetavam ao empréstimo do nome de
falsa suposição, alguns têm procurado solucionar o qualquer dos apóstolos como muleta para alguma
problema de que o livro de Judas (no N. Testamento) heresia; mas, de modo geral, em consonancia com as
cita o livro de Enoque, uma obra pseudepígrafa. Ver idéias da época, provavelmente muitos cristãos
Jud. 14. Suponho que alguns eruditos protestantes pensavam que a prática da pseudonímia, por si
pensam que isso teria sido um pecado da parte de mesma, era uma prática literária inofensiva. Mesmo
Judas. Tal opinião, entretanto, apenas exibe uma assim, vários autores cristãos atacaram livros espúrios
profunda ignorância acerca do que, realmente, estava (conforme se vê refletido no cânon muratoriano e nos
envolvido. A verdade é que autores cristãos definida escritos de Tertuliano, Serapião e Clemente).
mente conheciam e utilizaram as obras pseudepígra- Tertuliano chegou mesmo ao extremo de demitir um
fas, e muitas das idéias deles foram tomadas dali por presbítero da Asia que confessou haver escrito um
empréstimo. As chamas do inferno foram acesas pela espúrio livro de Atos, «impelido pela admiração que
primeira vez em I Enoque; daí essa doutrina passou tinha de Paulo». Sem embargo, isso é a mesma coisa
para o judaísmo helenista; e dai, para o cristianismo. que admitir que nos tempos neotestamentários havia
Essa doutrina, atualmente, é de importância primária a mesma lassidão e despreocupação com a pseudoní
para muitos cristãos, e, no entanto, ela começou mia que havia no mundo judaico-helenista do período
apenas em um dos livros pseudepígrafos, I Enoque. intertestamentário. Jerônimo chegou a citar material
Mas, supor que Enoque teve qualquer coisa a ver com apócrifo atribuído a Mateus, e, ao que parece,
isso, ou com outras idéias inclusas em I e II Enoque, é confundiu aquele evangelho com outro ou com outros,
suposição absurda. Nenhuma tradição antiga ampara do mesmo nome.
esses escritos. A verdade da questão é que os judeus ••• ••• •••
davam pouca atenção à questão da «propriedade
literária», que é tão importante para os escritores
modernos, ao ponto de ser ela resguardada por PSEUDOS-MESSIAS
direitos autorais. Também não há qualquer necessi Ver sobre Falsos Cristos. Ver também os artigos
dade de tentarmos achar razões pelas quais não chamados Anticristo e Falsos Profetas.
494
PSI - PSICODÉLICO
PSI quanto a certos jogos, provavelmente deve-se ao seu
poder da mente, e não à mera sorte. Ver meu artigo
Essa é uma forma abreviada do vocábulo grego intitulado Parapsicologia, onde ofereço detalhes sobre
psiché, «alma», que atualmente é usada para indicar o essa nova ciência e sobre os fenomenos por ela
espectro inteiro dos fenômenos psíquicos. Ver o artigo examinados. Há nisso uma utilidade e importância
intitulado Parapsicologia quanto a uma avaliação e que não podemos dar-nos ao luxo de ignorar.
descrição detalhada desses fenômenos. 7. Alguns estudiosos chegam a pensar que Deus,
como um Espírito que ele é, afeta o mundo da matéria
através desse princípio.
PSI: FUNÇÕES PSÍQUICAS E A PRIVAÇÃO DAS
PERCEPÇÕES DOS SENTIDOS Modus Operandi. Dispomos de algumas evidências
que dão a entender que a mente (energia pura,
Ver sobre Parapsicologia, seção IX. provavelmente não-atômica) manipula uma energia
secundária, talvez semimaterial, a qual, por sua vez,
PSICANÁLISE EXISTENCIALISTA pode produzir efeitos sobre a matéria (energia
Essa é uma modalidade de psicanálise que leva em atômica). Porém, ainda estamos muito longe de poder
conta a verdade proposta pelo existencialismo (que formular uma teoria que envolva todas as questões
vede), como a base de suas operações, em lugar das envolvidas. Porém, já é certo que há muitos efeitos
teorias de Freud. que podem ser produzidos pela mente, alguns dos
quais têm controle sobre a matéria.
PSICOCINESIA (PK)
Essa palavra portuguesa vem de dois termos gregos,
PSICODÉLICO (Experiência Reügkwa Pxicodélica)
psiché, «alma» (a parte imaterial do homem), e
kínesis, «movimento». Essa palavra indica a crença 1. A Palavra e Sua Origem
que os poderes imateriais conscientes (ou inconscien Não dispomos de evidências acerca de quando essa
tes) do homem (sua mente) têm a capacidade de palavra foi cunhada. Alguns filólogos pensam que isso
mover objetos ou de produzir outros efeitos sobre a ocorreu em Harvard, em cerca de 1961-1962, mas
matéria. As evidências científicas em favor desse outros preferem pensar ainda em uma origem mais
poder são bastante abundantes. Alisto abaixo apenas antiga. Seja como for, deriva-se do grego psiché,
algumas áreas: «alma», «mente», e delo, «revelar», «esclarecer».
1. As curas espirituais envolvem, provavelmente, 2. Uma Ampla Definição
pelo menos em alguns casos, o poder psicocinético. Essa palavra pode envolver a idéia de experiência
2. J.B. Rhine demonstrou, — mediante milhares religiosa, de consciência cósmica, de experiência
de testes, sob condições controladas, que a mente iluminadora ou transcendental, obtida através de
humana pode afetar o lançamento dos dados, para exercícios de ioga, de meditação, de jejum, etc.
que apareçam os números desejados, mais do que as 3. A Definição Comum e mais Estrita
chances o permitiriam. No mundo das drogas, tão disseminado hoje em
3. Têm sido inventadas máquinas, e até têm sido dia, as experiências psicodélicas referem-se aos tipos
patenteadas, que são movimentadas pelo poder de experiências acima referidos, provocados pelo uso
mental, exclusivamente. Naturalmente, isso suben de certas drogas como o LSD — 25. Mas o termo
tende alguma forma real de energia que ali é também tem sido usado para aludir a certos estímulos
manipulada, e que, finalmente, poderia ser demons mentais provocados através de cores variegadas, luzes
trada como existente dentro do campo atômico, e coriscantes, especialmente nas tonalidades laranja,
não apenas uma verdadeira energia não-material. verde, amarelo e púrpura.
4. Pessoas dotadas de grande concentração e de 4. Perguntas e Avaliações
poder da vontade são capazes de afetar a desintegra Em primeiro lugar, é verdade que certos compo
ção de substâncias atômicas, usadas em jogos. Podem nentes químicos podem provocar experiências religio
fazer aparecer números ou figuras em telas (o que sas e espirituais. Algumas delas não passam de
parece ser feito mediante impulsos de partículas alucinações, mas é provável que algumas delas sejam
atômicas), mais do que se poderia esperar do mero reais. Neste último caso, podemos afirmar que tais
acaso. Isso posto, a mente tem algum poder sobre as experiências tornam-se possíveis mediante alguma
partículas subatômicas. modificação no equilíbrio que existe entre o corpo e a
5. O poder da mente sobre o corpo, isto é, a alma, o que permite que a alma se expresse, ou que
capacidade de manipular o corpo físico, requer ela entre em estados espirituais positivos ou negativos.
alguma forma de psicocinesia. Seria impossível a um Naturalmente, os céticos supõem que o fato de que
espirito imaterial ou à mente operar um corpo certos componentes químicos podem despertar expe
humano, a menos que houvesse alguma força capaz riências é indicação de que todo misticismo é
de atuar sobre o corpo físico. Isso nos leva ao meramente psicológico, envolvendo modificações
Problema Corpo-Mente (vide). Sempre pareceu miste químicas no cérebro. Isso significaria que todo
rioso, para os filósofos,. como a mente imaterial é misticismo é mero subjetivismo, uma espécie de
capaz de manipular ou controlar o corpo físico. auto-exercício de poderes do próprio ser, que ainda
Alguma forma de energia deve estar envolvida, uma são pouco entendidos. Porém, é fácil mostrar que essa
energia controlada pela mente. Que a mente pode avaliação labora em erro (embora, sem dúvida, isso
fazer o corpo fazer o que ela quer, e que todas as realmente aconteça às vezes, ou mesmo freqüente
pessoas exercem controle sobre seus próprios corpos mente, com o uso de drogas), pelo fato de que as
serve de prova de que todas as pessoas são psíquicas, experiências místicas têm aplicações externas (que
exercendo poderes psíquicos contínuos e produzindo vão além delas mesmas), como nos casos da profecia,
fenômenos psíquicos. Uma outra prova da continui das curas de outras pessoas, etc. Essas experiências
dade dos fenômenos psíquicos, no caso de todas as conferem conhecimento genuíno que está fora das
pessoas, é a nossa vida de sonhos, que produc experiências comuns do indivíduo, para -nada
constantemente esses eventos. falarmos sobre a .transformação espiritual e ética que
6. O fenomenal sucesso de alguns jogadores, elas produzem.
495
PSICODÊLICO - PSICOLOGIA
Gopi Krishna, um místico de alta ordem, afirmava II. Na Filosofia
que é fácil distinguir um místico autêntico de um III. Escolas de Psicologia
«místico feito pela química». Um verdadeiro místico é IV. A Psicologia da Religião
dotado de uma espiritualidade e de um poder V. A Psicologia Metafísica
espiritual que ultrapassam o que é natural. Mas o I. A Palavra e Suas Definições
místico-químico geralmente é um viciado, cujo As palavras gregas formadoras desse termo são
cérebro está acidulado pelos tóxicos. Outrossim, psiché, «alma», «mente», e logía, «estudo de». A
apesar dele receber visões fantásticas, dentro de sua psicologia, pois, é a ciência que estuda o comporta
própria mente, revela ser de pouca ou nenhuma
mento e as experiências dos organismos vivos. O
utilidade para as pessoas ao seu redor. Gm suma, tal
indivíduo não é uma potência espiritual. Assim sendo, termo comportamento refere-se à reação de algum
tal misticismo é da variedade barata, ainda quando organismo ao seu meio ambiente, que pode ser
esteja associada a alguns eventos genuínos, que não observado por uma pessoa. E a palavra experiência
podem ser classificados meramente como cerebrais. alude aos eventos internos que só podem ser notados
Ver o artigo sobre Sathya Sai Baba, que deveria pelo próprio indivíduo, mediante a memória e a
convencer ao leitor que existe um misticismo real que percepção. Esse conhecimento interior, entretanto,
envolve manifestações poderosas e práticas, sobre o pode ser grandemente aumentado com a ajuda de um
que a cultura das drogas nada conhece. Ver também o conselheiro ou psicoterapeuta, ou então quando um
artigo detalhado sobre o Misticismo, que aborda bem amigo perspicaz nos observa e dá os seus conselhos.
essas questões. As principais divisões da psicologia são: psicologia
experimental e psicologia aplicada. A primeira delas
Uma instrutiva declaração foi publicada no jornal está envolvida na pesquisa básica, usualmente através
The Times, de Londres, em sua edição de 15 de julho de métodos empíricos. A segunda é a aplicação
de 1967. Esse artigo sugeria que a maioria das pessoas prática da teoria, mediante a psicoterapia, o
precisa ser protegida do «vento divino» que sopra pelo aconselhamento, o diagnóstico, a psicanálise e a
universo, da mesma maneira que são naturalmente recomendação de medicamentos e tratamentos,
insuladas de certas radiações cósmicas pela atmosfera podendo estar incluída a hipnose. Quando a questão é
da terra. Várias poderosas influências, como as relacionada à religião e à teologia, então temos
experiências religiosas, a meditação, ou então as chegado ao campo da psicologia religiosa, a qual
drogas ou a loucura, podem destruir a insulação descrevo na seção quarta deste artigo.
natural das pessoas, revelando-lhes novos mundos e Freud, em sua visão materialista do homem,
novas facetas da existência, como antes nem de leve roubou-lhe a alma; e assim neutralizou a própria
suspeitavam. Essas revelações podem ser reais, nada palavra psicologia. No entanto, sabe-se que Freud
tendo de alucinação. Porém, muitas pessoas não estão estava intensamente interessado pelos fenômenos
preparadas para recebê-las, podendo sofrer grandes psíquicos, embora ele gostasse de ocultar esse
danos. Assim, apesar de haver algum uso legítimo aspecto, mantendo-o fora de seu trabalho científico.
para as drogas que produzem impressões psicodéli- No entanto, mesmo a essa área ele fez alguma
cas, tal emprego certamente deve ser confinado aos contribuição, especialmente através de seus estudos
limites da ciência, não devendo ser utilizados por sobre os sonhos. Pois reconhecia que os fenômenos
certos lunáticos que não estão preparados para os psíquicos são comuns e universais nos sonhos. E
eventos espirituais, especialmente para aquelas assim, nesse outro sentido, ele devolveu a alma à
manifestações que podem ser provocadas pelos psicologia. Seus alunos, Jung e Rank, enfatizaram o
alucinógenos. Além disso, podemos ter a certeza de papel da alma —Jung em suas teorias gerais, e Rank
que a maioria desses eventos não passa de alucinações através da ênfase que dava à vontade como uma
aberrantes. qualidade da alma.
A Questio Etlca. Quanto mais se fica sabendo
acerca das drogas e de suas possíveis relações com a fé Quando a psicologia deu nascimento à parapsicolo
religiosa, mais as questões éticas se tornam agudas. gia (vide), também abriu caminho para a investigação
Para começar, o uso popular das drogas, tendo em científica acerca da alma. Isso chegcu a um ponto em
vista qualquer propósito, é imoral. Isso significa que que, atualmente, não estamos longe de obter provas
qualquer uso dessas drogas deve ser feito sob o rígido científicas da existência da porção não-material do
controle e experimentação de cientistas que visam ao homem. Quando essa prova for confirmada, então
bem público. Certas drogas tem sido empregadas de teremos obtido um conhecimento que revolucionará
forma positiva no caso de cancerosos em condições toda a maneira de pensar e de agir dos homens. Uma
terminais. Muitos deles têm chegado assim a perceber coisa é dizer «eu creio», enquanto outras pessoas nos
a essência espiritual de seu ser, perdendo o temor da dizem: «Você está equivocado»; e outra coisa é dizer
«sei porque a ciência tem demonstrado o fato». Apesar
morte. De fato, têm obtido maior espiritualidade por
uma diminuição da insulação que até então os das pessoas dotadas de fé não precisarem dessa
protegia do «vento divino» que sopra em redor de comprovação científica, as pessoas carnais e não-re-
nosso mundo. Esse tipo de experimentação tem sua generadas muito precisam da ajuda da ciência para
utilidade, e os cientistas estão avançando com reconhecerem a espiritualidade fundamental do ser
cautela, pelo que deveriam ter licença de prosseguir humano. Ver o artigo sobre a Psicoterapia, quanto a
em suas pesquisas. Deveriam ser baixadas leis outro importante aspecto da psicologia.
governando esse tipo de atividade. O livro intitulado Três Definições Básicas da Psicologia:
The Human Encounter with Death, de Stanislav Grof 1. A psicologia e a ciência que estuda e descreve a
e Joan Halifax, narra o aspecto científico dessa mente humana em qualquer de seus aspectos,
questão. Esse livro foi publicado em 1977. operações, poderes, funções, natureza inerente e
manifestações.
2. A psicologia é a investigação sistemática dos
fenômenos mentais, mormente aqueles associados à
PSICOLOGIA consciência, ao comportamento e aos problemas
Esboço: enfrentados pelas pessoas para ajustarem-se ao seu
I. A Palavra e Suas Definições meio ambiente com freqüência hostil.
496
PSICOLOGIA
3. A psicologia estuda o agregado das emoções, dos asseverava que as experiências humanas típicas são
pendores e dos padrões de conduta que caracterizam constituídas de conjuntos completos organizados e
um indivíduo ou um tipo de pessoa. complexos (significado da palavra alemã Gestalt).
EL Na Filosofia Nomes associados a essa escola são Wertheimer,
A. Perspectiva Histórica Kohler e Koffka.
1. Em cerca de 1590, Goclênio (vide) introduziu o 6. A psicologia em profundidade foi introduzida
termo psicologia no vocabulário humano, dando a por Freud (sobre quem apresento um artigo separado
entender com o mesmo «a ciência da alma», de acordo minucioso). Temos aí uma clara distinção entre a
com suas raízes no grego. Nos fins do século XVI e mente consciente e a mente inconsciente, em que esta
durante o século XVII, o vocábulo veio a referir-se à última com freqüência é a força desconhecida por
elaboração dedutiva das faculdades, poderes e detrás de todo comportamento. A psicanálise,
funções mentais. Nessa época, fazia parte integrante especialmente mediante o estudo dos sonhos («a
da metafísica. Os títulos Psicologia Racional e estrada real para o inconsciente», conforme dizia
Psicologia das Faculdades vieram a ser usados para Freud), revela ao consciente da pessoa o que está
essa forma de psicologia. sucedendo em seu inconsciente; e essa revelação com
2. Wolff, seguindo tendências de antes dele, freqüência exerce efeitos curadores. Conhecer é
distinguia entre a Psicologia Racional e a Psicologia poder. O propósito da psicologia seria obter um
Empírica (começos do século XVIII). Ver os artigos melhor ajustamento ao meio ambiente hostil do
separados intitulados Psicologia Empírica e Psicolo indivíduo. Ver também o artigo sobre os Sonhos.
gia das Faculdades. Freud foi o pai do estudo científico sobre os sonhos. A
princípio ele usava a hipnose; mas acabou abando
3. Harley, Hume, James Mill e John Stuart Mill nando o método, favorecendo a análise dos sonhos,
aprimoraram a psicologia empírica e lhe mudaram o entre outros métodos.
nome para Psicologia Associativa.
7. A psicologia analítica foi modelada por Jung,
4. Emest Weber, Fechner, Helmholtz e Wilhelm que divergia, quanto a pontos importantes, das idéias
Wundt muito contribuíram para conferir à psicologia de seu mestre, Freud. Ver o artigo separado sobre
experimenta] uma base firme e uma influência Jung, quanto a detalhes sobre a sua teoria. Jung
crescente. Em 1879, Wundt organizou o primeiro também dava grande importância aos sonhos, e o
laboratório experimental de psicologia, e então artigo sobre o assunto inclui material a esse respeito.
muitos centros de pesquisa fizeram a mesma coisa, Ele enfatizava a importância do papel desempenhado
em muitos lugares do mundo. pelos arquétipos (vide), os quais operariam sobre a
B. A Psicologia como uma Disciplina Independente mente inconsciente quase como se fossem entidades
Várias escolas ou métodos de experimentação distintas. Jung acreditava fortemente na existência da
desenvolveram-se, expandindo o conhecimento e as alma humana e de Deus, e foi um místico de alguma
aplicações da psicologia. estatura. Ele não hesitava em aplicar a psicologia à
1. A psicologia funcional foi criada por William questão religiosa, e seus estudos têm-se revestido de
James, sendo então promovida por J.R. Angell e grande valor para os ministros cristãos que precisam
outros. Os processos mentais passaram então a ser cuidar dos problemas íntimos das pessoas.
encarados como adaptações dos organismos biológi 8. A psicologia topológica ou de teoria de campo,
cos. John Dewey exerceu poderosa influência dentro introduzida por Kurt Lewin (vide), destacava o
desse sistema. Os pesquisadores funcionalistas estu conceito do «espaço de vida» e a metodologia de «um
dam os processos psicológicos não primariamente caso por vez». O espaço de vida indica a totalidade dos
como conteúdos conscientes, e, sim, como atividades fatos e das relações que definem a situação de uma
que têm utilidade na adaptação do indivíduo ao seu pessoa a qualquer dado instante. E a idéia de um caso
meio ambiente e na busca dos seus próprios alvos. A por vez aponta para incidências ou condições, nas
introspecção é muito importante nesse sistema. O experiências de uma pessoa, que estão sujeitas à
pragmatismo é importante para o conceito. análise, que muito podem fazer para iluminar ao
2. A psicologia genética foi promovida por Ward, o pesquisador ou terapeuta, pelo menos, mais do que
qual procurou descrever as fases do desenvolvimento qualquer estatística.
da mente. Ver o artigo sobre ele, quanto a 9. Psicologia Hórmica. Esse adjetivo vem do grego
pormenores. Ele enfatizava a importância da genética hormé, que significa «impulso». No ser humano, há
na natureza e nos processos mentais dos indivíduos. aquele impulso que o leva a esforçar-se por alcançar
3. O estruturalismo (acerca de cujo assunto metas, o que é um aspecto básico da psicologia
apresento um artigo separado bastante detalhado) humana. Isso não pode ser explicado mecanicamente,
opinava que as sensações e os sentimentos são mas faz parte dos instintos básicos e inerentes ao
elementos que devem ser levados em conta em uma homem. Transcende ao meio ambiente. Entre esses
análise bem estruturada. impulsos encontramos a fuga, a repulsão, a
4. O behaviorismo (promovido por Watson) curiosidade, o auto-abatimento, a auto-asserção e o
eliminava inteiramente o poder da intuição no amor paterno. Todavia, há muitos outros impulsos. E
homem, interpretando-o exclusivamente em termos o mais importante de todos, que destacamos agora, é
dos informes colhidos por suas observações sensoriais. o impulso de buscar a Deus e aos valores e realizações
O homem seria apenas um animal que aprende espirituais. McDougall foi o pai desse tipo de
através da experiência. Outros nomes associados a psicologia. Ele frisava questões como a vontade, os
esse ponto de vista são Pavlov, Skinner e E.B. Holt. impulsos, os instintos e os propósitos na vida.
Esse sistema inclui elementos do naturalismo e do C. Raízes Filosóficas das Escolas de Psicologia
pragmatismo. O comportamento humano poderia ser A terminologia da psicologia é um desenvolvimento
recondicionado mediante o recondicionamento das mais recente. Não obstante, podemos traçar idéias
experiências. Não há ali qualquer apelo ao homem básicas das filosofias mais antigas, que foram
interior, à alma ou a qualquer qualidade transcenden incorporadas pelas diversas escolas filosóficas.
tal do homem. 1. Platão e Aristóteles tinham idéias que vieram a
5. A psicologia Gestalt fazia oposição à anterior ser incorporadas, na psicologia das faculdades, o que
psicologia associativa. Esse novo ponto de vista demonstrei amplamente no artigo Psicologia das
PSICOLOGIA
Faculdades. A psicologia da Idade Média foi uma associados a esses conceitos foram W. Stem, G.W.
continuação das noções de Platão e Aristóteles. A Allport, E. Spranger e W. Dilthey.
definição deste último quanto à «substância» foi um IV. A Psicologia da Religião
fator que governou o pensamento psicológico de 1. Definição. «A psicologia da religião é o estudo
Tomás de Aquino e de outros escritores do período.
Suas quatro causas, mediante as quais haveria todo sistemático dos fenômenos religiosos como formas da
experiência humana; é o estudo das emoções, das
desenvolvimento, serviam de importante base da
teoria psicológica. A psicologia funcional também atitudes, dos padrões de comportamento, das
tem algumas raízes nas idéias de Aristóteles e de avaliações, quando associados às crenças e às práticas
Tomás de Aquino. religiosas. Também estuda o impacto dessas crenças
sobre o desenvolvimento da personalidade, e igual
2. Descartes, Spinoza e Leibnitz ofereceram bases mente estuda os padrões das necessidades e desejos
variegadas para as psicologias racionais. levados em conta por religiões particulares» (C).
3. Locke foi um importante precursor da psicologia 2. Investigações Especiais. A psicologia da religião
associativa, por causa de sua forte ênfase sobre o investiga a conversão e as experiências místicas que
empirismo. modificam as vidas das pessoas e a maneira delas
4. Brentano procurou fazer da psicologia uma pensarem. Interessa-se especialmente pelos estados de
ciência puramente descritiva. Isso influenciou a consciência, pelos fenômenos psíquicos, pelas visões e
fenomenologia de Husserl, que apresentou sua pelos alegados encontros com seres espirituais. As
importante teoria psicológica. Ver o artigo sobre emoções da ansiedade e do temor, mormente no que
Brentano, quanto a detalhes acerca de suas idéias. diz respeito às doutrinas do pecado e do julgamento,
m . Escolu de Psicologia encontram-se entre seus interesses. A exaltação
Quase todas essas escolas são descritas na segunda religiosa, a experiência do sagrado e a experiência
seção. Ali são descritas as seguintes: Psicologia com seu oposto, que são as manifestações demoníacas
Racional (das Faculdades); Funcional; Genética; do e os estados mórbidos, também são assuntos de seus
Estruturalismo; Behaviorismo; Gestalt; em Profundi estudos. Os psicólogos céticos estão convencidos de
dade; Analítica; Topológica (teoria do Campo) e que todas as coisas investigadas são meros estados das
Hórmica. Informações adicionais a respeito têm sido mentes das pessoas, não sendo coisas objetivas. Mas
oferecidas em artigos separados, aos quais nos temos os estudos sobre o misticismo (vide), sobre as
referido. experiências perto da morte (vide) e sobre os
A essas escolas, agora acrescento as seguintes: modernos operadores de milagres, como Sathya Sai
1. Herbartianismo (Psicologia Dinâmica), que foi Baba (vide), mostram a objetividade das experiências
criação de J.F. Herbart (1776-1841), que se opunha à e dos objetos religiosos. Freud tinha a certeza de que
psicologia das faculdades e preferia frisar as relações os estados religiosos são provocados por certas
dinâmicas que existem entre as idéias. As idéias emoções negativas, como o temor e a ansiedade,
esforçar-se-iam, isolada e coletivamente, para atingir projetadas pelos pais a crianças medrosas. Os ataques
ideais, embora também possam entrar em competição de Freud contra a religião em geral (embora ele tivesse
e conflito. A massa que se apercebe das idéias já sido um judeu) tem feito com que muitos teólogos
existentes determina a extensão e a maneira como as mostrem-se hostis à psicologia e à psicoterapia. Mas
novas idéias serão manuseadas, aceitas ou rejeitadas. essa hostilidade está desaparecendo, e o discernimen
As novas idéias, porém, por verdadeiras que sejam, to de Freud quanto às profundezas da psique humana
usualmente são forçadas a esperar por muito tempo, está provendo valiosas informações. O tipo de
antes que as mentes humanas as aceitem e psicologia ensinado por Jung tem-se mostrado
incorporem, do que virão a resultar inevitáveis especialmente útil no aconselhamento pastoral. Os
modificações nas crenças e nas maneiras de pensar. O estudos de Freud sobre os sonhos (ele foi pioneiro no
conhecimento cresce com lentidão, e nem sempre a estudo científico quanto a essa área) têm-nos alertado
verdade sai vencedora, pelo menos no primeiro para a rica herança representada pelo mundo dos
arranco. Mas, afinal, a verdade vence, embora seja sonhos, tanto no aspecto espiritual quanto no
necessária a passagem do tempo, em qualquer caso emocional, a qual tem sido usada nas curas ou como
em que novas e importantes idéias se apresentem. As orientação.
antigas ortodoxias cedem lugar às novas «heresias», as 3. O Aconselhamento. Em nossos dias, a Igreja
quais terminam por tornar-se novas ortodoxias. E isso cristã se vê invadida pela psicologia popular;
sucede nos campos da ciência e da religião. É preciso conferências religiosas, onde a Bíblia deveria ser a
tempo para que uma heresia se torne uma ortodoxia, principal atração, com freqüência servem de ocasiões
mas esse processo é contínuo e inevitável. em que algum orador apresenta uma psicologia cristã
popular, que alegadamente é capaz de fazer de todo
2. A psicologia dos atos é criação de Franz pastor um conselheiro habilitado. Uma grande onda
Brentano. Ele reconhecia, na questão da psicologia, de literatura tem acompanhado isso, e uma certa
que há atos mentais, em adição ao conteúdo (ou seja, superficialidade tem tomado conta das mentes de
o ato de perceber os objetos físicos). Seu método pastores que se põem k pratica sua psicologia
distintivo era a observação fenomenológica, em misturada com teologia. Apesar da prática talvez
contraste com a experimentação e a introspecção estar fazendo algum bem, ficamos desapontados com
experimentalmente controlada. Outros nomes asso o quadro em geral. Apesar de ser bom que todo pastor
ciados a essa abordagem foram Lipps, Stumpf, tenha alguma noção desses termos, é melhor deixar a
Witasek, Husserl, Messer e Kulpe, os quais questão aos cuidados de conselheiros profissionais,
introduziram suas respectivas adições e modificações. que conhecem realmente a psicologia, especialmente
3. Psicologias Personalistas. A pessoa concreta, por a verdadeira ciência, e não alguma versão bíblica, que
inteiro, é o assunto a ser investigado, segundo esse só destaca alguns aspectos dessa ciência. As próprias
ponto de vista. As pessoas são indivíduos que buscam idéias de Freud têm sido de grande valor nessa área,
atingir alvos. Cada indivíduo é ímpar. A pessoa total apesar de hostilidades....... o trabalho de Freud tem
não pode ser explicada meramente pela investigação rendido um grande benefício para a teologia e os
empírica, científica. Outras disciplinas, incluindo a cuidados pastorais. Sua exploração sistemática dos
teologia, devem fazer parte da investigação. Nomes efeitos dos motivos inconscientes sobre a percepção e
498
PSICOLOGIA
o comportamento tem mostrado a complexidade da posto que preliminares, que realmente existe um
conduta humana, servindo de corretivo dos pontos de «terceiro sexo», inspirado ou por diferenças biológi
vista pelagianos sobre a vontade, que têm penetrado cas, ou, em alguns casos, pela influência de poderes
insidiosamente na corrente principal da teologia malignos. Um valioso conhecimento p ara a cura dos
ortodoxa. Isso tomou necessário um reestudo da homossexuais está emergindo da ciência, e devería
natureza da liberdade, da responsabilidade e da mos dar as boas-vindas a esse conhecimento.
culpa» (B). Freud poderia ser intitulado de calvinista Dificilmente é suficiente enviar um homossexual a um
psicológico, porque ele revelou as profundezas da conselheiro cristão. Apesar da ciência ter somente
depravação humana, que se manifesta até mesmo nas respostas preliminares para esse grave problema, tais
crianças. Por outro lado, psicologicamente falando, informações não deveriam ser ignoradas por nós.
ele muito fez por explorar os vastos poderes da Outro tanto se dá com outros problemas da psique e
criatividade humana, e assim deixou claro que o da personalidade. Um trabalho extremamente valioso
homem não é apenas uma criatura sujeita aos está sendo feito nos casos de Personalidade Múltipla
caprichos da maldade, porquanto também é dotada (vide), da parte de psiquiatras com envolvimentos
de grande potencialidade para o bem. Essa circuns religiosos, no tocante tanto ao tratamento de psiques
tância alerta-nos para algo que já sabíamos, por perturbadas como no tocante à teoria básica da
meio da teologia. Precisamos manter aceso o estudo natureza humana. Ademais, algumas vezes a questão
sobre a polaridade (vide), se quisermos compreender toda deve-se à Possessão Demoníaca (vide). Pessoas
melhor essas questões. O homem não é apenas um ser religiosas deveriam ansiar por valer-se dos serviços
depravado. Também é uma criatura de grande dos cientistas, para que estes os ajudem a solucionar
capacidade criativa, capaz de desempenhar um determinados problemas, em vez de dependerem
importante papel na vida. unicamente da fé religiosa. Ver o artigo separado
Referindo-se a Jung, diz a enciclopédia E : «Ele tem sobre a Psicoterapia.
sido a principal fonte de inspiração da guilda inglesa Apesar de Freud ter começado suas investigações
de psicólogos pastorais, os quais estão interessados chamando a fé religiosa de uma ilusão (geralmente
principalmente na promoção da compreensão da com base na força do desejo), pensando que os
psicoterapia entre os ministros religiosos». alegados fatos religiosos sãp inerentemente imprová
4. A essência da fé religiosa reside no misticismo, veis, outros pesquisadores, que têm agido depois dele,
do qual a inspiração e a revelação são subcategorias. têm revertido esse julgamento. Alguém já disse que a
Ver sobre o Misticismo. Quase todas as fés religiosas fé religiosa, apoiada pelas evidências, faz um bom
repousam sobre a revelação de seus profetas. O senso geral. Somente quando entramos nos pormeno
misticismo é representado no Antigo Testamento res dogmáticos é que surgem as dúvidas.
como o profetismo, o que também se verifica com o 6. O pai da parapsicologia. Quando os homens
Novo Testamento, excetuando que ali temos a começaram a investigar a questão da existência da
experiência e a expressão mística do Filho de Deus, o alma e de sua sobrevivência após a morte biológica,
qual transcende infinitamente aos profetas. William abriram uma nova maneira de consubstanciar as
James realizou um trabalho monumental em sua antigas crenças religiosas, na mais vital de todas as
análise sobre as experiências místicas religiosas, que áreas. A psicologia começou a desempenhar um papel
apresentou em seu famoso livro The Varieties o f pioneiro dentro dessa questão, dando assim nasci
Religious Experience. Trata-se de um estudo cuida mento à parapsicologia. Tenho apresentado um
doso, sensível e intenso sobre a vida religiosa, com detalhado artigo sobre esse assunto.
base nas experiências dos místicos e dos crentes V. A Psicologia Metafísica
ordinários. — Suas análises levaram-no a en
carar a perspectiva religiosa como dependente de Investiga a alma (grego, psoche). Ver os artigos
algo além ou acima da razão e da experiência humana sobre Alma e Imortalidade. Ver também Experiências
ordinária, através da percepção dos sentidos. P «to da Morte.
Outrossim, ele demonstrou a unidade das experiên Bibliografia: AM B C DUN E EP F FREU(1927)
cias religiosas básicas, apesar das muitas divisões da JU(1933) JU(1938) WJ
religião organizada, formada por grupos distintos, e,
algumas vezes, hostis entre si. Essa unidade das
experiências religiosas básicas aponta para o fato de PSICOLOGIA DAS FACULDADES
que ali há certas realidades e não apenas imaginações O termo básico por detrás de «faculdade», nesse
de mentes invadidas pelo medo e pela ansiedade, que, caso, é o termo latino facere, «fazer». Esse conceito
segundo Freud pensava, seriam os fatores inspirado ensina que podemos subdividir a alma (alma, psique)
res da fé religiosa. em diversas faculdades distintas, como as da razão,
5. A ciência da psicoterapia, apesar de ainda da vontade e da sensibilidade. Platão falava sobre
jovem, tem sua utilidade, e com freqüência é de uma alma tripartida. Em primeiro lugar, haveria a
importância vital para certos indivíduos. Ë um erro e vontade, a parte espiritual; também haveria os
uma presunção pensar que os pastores que leiam apetites, relacionados aos desejos do corpo, ou
alguns livros sobre psicologia, possam tomar-se sujeitos ao mesmo; e, em terceiro lugar, haveria a
psicoterapeutas de sucesso. Há problemas em que a razão, que procuraria harmonizar e regular essas
ciência é de maior ajuda do que a mera citação de outras duas funções diversas. Para ele, a vontade
versículos bíblicos, com algum tempero com a tenderia para o bem, relacionando-se a certos
psicologia popular. Os psicoterapeutas estão realizan aspectos da imaterialidade mais elevada. Os apetites
do exorcismos hoje em dia, obtendo sucesso onde estariam ligados às exigências da porção física do
muitos ministros do evangelho têm fracassado. Ora, homem. E a razão seria o fator controlador de tudo.
deveríamos considerar a psicoterapia como uma Aristóteles, seguido por Tomás de Aquino,
aliada da fé, e não uma oponente. Consideremos, referia-se às potencialidades da alma, que poderiam
para exemplificar, a questão da homossexualidade. ser interpretadas como faculdades. Aquino, pois,
Não basta mostrar alguns poucos versículos bíblicos a alistava as seguintes potencialidades: vegetativa,
um homossexual para então dizer-lhe que ele é um sensorial, locomotiva e racional, com várias subdivi
pecador. O problema é por demais complexo para ser sões. Nos fins do século XVI e no século XVII,
abordado dessa maneira simplista. Há evidências, começou a ser enfatizada a psicologia racional, ou
499
PSICOLOGIA - PSIQUE
psicologia das faculdades, salientando as faculdades fotografia Kirliana tem mostrado a transferência de
ou funções mentais. Tal pensamento tem suas raízes uma real energia curadora, um poder vital capaz de
nas idéias de Platão. Aristóteles e Tomás de Aquino. curar. E, em último lugar, mas não menos
importante, é a questão da oração tradicional. As
PSICOLOGIA EM PROFUNDIDADE orações individuais, a menos que sejam oferecidas por
Essa expressão indica que há níveis conscientes e algum gigante espiritual, com freqüência são bastante
inconscientes de mentalidade, e que a psicanálise ineficazes. Porém, as orações grupais operam grandes
apropriada pode penetrar na mente inconsciente. coisas. A oração é primeiramente multiplicada, e
Quando isso é conseguido, então chama-se psicologia então explodem em seu poder. E é o esforço coletivo
em profundidade. Ver o artigo geral sobre a que pode fazer explodir o poder da oração.
Psicologia. Provavelmente, há uma energia real que está
envolvida nisso, pois todas as pessoas têm o poder de
curar, até certo grau. O homem é um espirito, e pode
PSICOLOGIA EMPÍRICA curar espiritualmente. Não devemos esquecer que a
Ver sobre Psicologia, pontos dois, três e quatro. oração vale-se do poder de Deus, ou, talvez, de nossos
anjos guardiães ou guias. E é nessa altura que a
PSICOLOGISMO psicoterapia torna-se uma operação divina. Ver os
Chama-se assim a teoria que diz que psicologia é artigos gerais chamados Cura e Curas Pela Fé.
o alicerce da filosofia, e que a introspecção é o método Também devemos lembrar que dois poderes ou dons
primário da inquirição filosófica. Essa teoria foi incomuns sempre estiveram associados, virtualmente
ventilada inicialmente em um tratado sistemático dos em todas as culturas humanas, a saber: a. o poder de
filósofos alemães J.K. Fries e F.E. Beneke. Se, hoje curar; b. o poder de profetizar (previsão do futuro).
em dia, há poucos exponentes dessa teoria, como um Mas também podemos apelar diretamente a Deus.
sistema, ela tem exercido a sua influência, passando a Como é óbvio, o poder divino continua operando
ser uma tendência na lógica. J.S. Mill afirmava que curas, hoje como em todas as épocas.
todos os axiomas matemáticos e princípios da lógica No mundo secular, a psicanálise é eficaz quanto a
são revelados, inicialmente, mediante a introspecção, alguns casos, pelo que tem o seu próprio valor. Se os
o que pode ser outro nome para a intuição. Em conflitos interiores, os sensos de culpa e de medo
contraste com isso, os lógicos, como Frege e Camap, puderem ser afastados mediante alguma revelação,
são radicalmente não-psicólogos. então o resultado natural será uma saúde física
melhor. Não devemos menosprezar o poder desses
estados mentais interiores. A mente sempre será uma
construtora, podendo construir um palácio ou uma
PSICOSSINÉSIA Ver Pricodnéria (PK). cabana. Grandes tensões podem ir-se formando em
uma personalidade, e daí podem resultar enfermida
des físicas. O alívio das tensões pode curar. Conheço
PSICOTERAPIA um homem que curou sua própria úlcera estomacal
Esse termo vem do grego psiche, «alma», «mente», e lendo e meditando o Salmo 23 todos os dias. A
terapia, «cura». Assim, indica a tentativa de curar psicanálise é representada atualmente pelas escolas
mediante poderes espirituais ou mentais, em vez do tradicionais de Freud, Jung, Adler e Rank. E também
uso de produtos químicos e outros meios físicos. Há existe a escola da psicobiologia, iniciada sob a
muitas aplicações possíveis dessa teoria. A medicina liderança de Adolf Meyer. Sua teoria era que as
tradicional costuma usar o placebo, ou seja, alguma enfermidades mentais devem ser entendidas em
substância inerte (geralmente, apenas uma pílula de termos do organismo total, reagindo diante de alguma
açúcar), na tentativa de «enganar» o paciente, para situação ambiental difícil. O alvo é fazer os ajustes
pensar que ele está recebendo um medicamento necessários, externos e internos, que tendem para a
potente. Isso faz sua mente reagir, deflagrando os paz e a harmonia. Quando isso é conseguido, então
poderes naturais do corpo para curar a si mesmo. segue-se a cura, mui naturalmente.
Trata-se de uma forma de cura natural, automental. Cada vez mais descobrem-se indícios e evidências
De fato, é provável que a maior parte das curas seja de de que a influência ou a possessão demoníaca,
natureza mental, no sentido de que essas condições embora muitos pensem ser coisa do passado, é
encorajam os medicamentos a fazerem seu efeito, responsável por muitas doenças, de natureza física ou
como também é provável que forças mentais negativas mental. Apesar de que os antigos exageravam essa
possam anular os bons efeitos dos produtos químicos. questão além dos limites razoáveis, a tendência
Além disso, a psiquiatria pode exercer o efeito de moderna tem sido negligenciar totalmente a questão.
encorajar a cura automental, sobretudo no caso de Ver os artigos sobre Personalidade Múltipla e
desequilíbrios mentais, alguns dos quais têm causas Possessão Demoníaca, quanto a maiores informações
físicas, ao passo que outros são causados por a esse respeito. O exorcismo (vide) algumas vezes
problemas mentais. Acrescente-se a isso que o pode produzir curas imediatas e dramáticas, quando
aconselhamento ordinário, de origem cristã ou não, tudo o mais fracassa. Ver o artigo geral chamado
pode ser uma forma de psicoterapia. Se a conduta da Psicologia.
vida for corrigida, então o resultado pode ser o
bem-estar físico.
Outras formas são a cura pela fé religiosa; o uso da
hipnose; as técnicas da Ciência Cristã; as visitas aos PSIQUE
santuários religiosos, que algumas vezes resultam em Essa é a transliteração, para o português, da
milagres genuínos; a imposição de mãos, sem palavra grega que, originalmente, significava «respira
importar se ligada a algum credo religioso específico ção», «hálito», mas que, dentro da história das idéias
pu cientificamente, sem qualquer esforço de promover gregas, não demorou a envolver a idéia da «parte
qualquer tipo de teologia. A imposição de mãos imaterial» do homem, primeiramente como um
(algumas vezes chamada de toque terapêutico) é fantasma sem mente, que esvoaça após ter sido
atualmente praticada em vários hospitais, inteiramen liberado do corpo físico, e então como a alma
te à parte de qualquer implicação religiosa. A genuína, o homem verdadeiro.
500
PSIQUE - PSIQUISMO
1. Nos escritos de Homero. Ali a psique aparecia adjetival, psuchikós, pode significar «natural» (ver I
como um principio sutil, semelhante à respiração, que Cor. 2:14; 15:44,46), ou então «sensual» (ver Tia.
anima o corpo mas que o abandona por ocasião da 3:15; Jud. 19).
morte, continuando a existir como uma espécie de
fantasma destituido de inteligência no mundo
inferior, sem memória. Na verdade, não seria uma PSÍQUICO, FENÔMENOS PSÍQUICOS
pessoa real. Somente a alguns mortais especiais Ver o artigo sobre Parapsicologia.
seriam dadas, nesse estado, a memória e outras
qualidades humanas.
2. Nos ritos de Dionísio (vide), a psique era vista PSIQUISMO
como a pessoa autêntica, superior ao corpo, um Esse é o Umo da psique (a porção imaterial do
espírito aprisionado em um corpo físico, até ser homem), embora o termo tenha uma ampla
liberado pela morte. Temos aí uma alma verdadeira, utilização, aplicando-se a todos os fenômenos
representada por esse termo, psique. psíquicos, ou psi. Ver o artigo geral sobre a
3. Ospitagoreanos (vide) falavam na psique como a Parapsicologia, que é bastante detalhado. Essa
verdadeira alma, e também como a força que produz palavra pode ter muitas aplicações, como segue:
harmonia no corpo físico. 1. Aplicação Existencial. Há uma parte imaterial
4. Platão foi um filósofo que emprestou à alma dentro do complexo de energias que compõem a
(psique) uma elevada posição dentro da hierarquia do personalidade humana. O homem não consiste
ser, supondo ser ela imortal e eterna, sem ter tido apenas em seu corpo físico. Primariamente, o homem
verdadeiro começo de existência. Sua substância é um espírito que manipula seu corpo físico como seu
sempre teria existido, embora as almas individuais instrumento. Sua existência depende dessa psique, e
tenham vindo à existência em alguma distante não do corpo material. Por conseguinte, podemos
eternidade passada, em um processo de individualiza falar no psiquismo existencial, porquanto a expressão
ção. A alma (psique) teria afinidade com os pode ser usada para apontar para a natureza essencial
Universais (vide), e, em certo sentido, pertence à ou metafísica do ser do homem.
categoria dos mesmos. A alma seria perene, mas, na 2. Aplicação Racional. A mente não se limita ao
redenção, tornar-se-ia eterna, por ser recebida de cérebro. As mentes contam com cérebros, que
volta ao mundo das Idéias (vide; a mesma coisa que os manipulam como veículos. Portanto, a razão não é
Universais). Ê patente que Platão acreditava na apenas uma qualidade cerebral. A razão vem da
preexistência da alma, e isso aliado à reencamação mente. Em conseqüência, podemos falar sobre um
(vide). De modo geral, a sua opinião prevaleceu sobre psiquismo racional. A mente é a sede da razão e do
o judaísmo-helenista, passando daí para o cristianis pensamento.
mo, embora sem o concurso da idéia da reencamação. 3. Aplicação Volicional. A vontade do homem não é
Tenho apresentado vários artigos sobre a alma. Ver exercida por seu cérebro. Antes, a sua psique imaterial
sobre Alma, e uma série de artigos dentro do título tem a vontade como um de seus atributos. A vontade
Imortalidade. Três desses artigos abordam as pode deixar-se influenciar pelo meio ambiente, mas,
evidências científicas em prol da existência da alma. acima de tudo, é uma qualidade espiritual.
Ver também o artigo Experiências Perto da Morte, 4. Aplicação Ética. A conduta ideal do ser humano
que é a nossa mais esperançosa maneira de nos é governada pelas qualidades de sua mente e de sua
aproximarmos da questão da existência da alma e sua razão, tendo por base a sua psique, e não por meras
sobrevivência ante a morte biológica, do ponto de condições materiais e ambientais.
vista científico. Ver também o artigo Projeção da 5. Os Fenômenos Psíquicos. Esses fenômenos são
Psique, que também tem importantes implicações reais, tendo por base a porção imaterial do homem, a
científicas no tocante à alma. sua psique. Assim sendo, o psiquismo pode ser uma
5. Os filósofos estóicos preferiam usar a palavra espécie de termo geral que alude a todas as variedades
gregapneuma para indicar a «alma»; mas tinham dela de fenômenos psíquicos.
uma opinião materialista, supondo que a alma pode 6. Psiquismo Versus Espiritualidade. Os fenôme
sobreviver à morte física, embora sujeita, com o nos psíquicos, por si mesmos, são neutros. Um
tempo, à dissolução, pelo que, finalmente, seria homem não é nem mais e nem menos espiritual devido
reabsorvida pelo Fogo Universal, onde perderia de a seus poderes telepáticos ou psicocinéticos. E nem é
todo a sua individualidade. mais ou é menos espiritual, somente porque recebe
6. A psique contrastada com o pneuma. Quanto a visões ou' sonhos que prevêem o futuro. As curas
isso, ver o artigo separado intitulado Pneuma. podem ser efetuadas mediante puros poderes psíqui
7. A filosofia grega gradualmente foi concebendo a cos, sem qualquer intervenção do Espírito de Deus.
alma como se estivesse espiritualmente relacionada a Curas dessa ordem são boas, mas não são
Zeus, a fim de poder compartilhar de seus atributos. espiritualmente produzidas. Emjbora espíritos não-
E acabou identificada, ou, pelo menos, relacionada humanos, como os anjos ou os demônios, possam
ao princípio da nous (mente), cósmica ou pessoal. Ver produzir fenômenos psíquicos, assim também pode
sobre Nous. ser feito pelo homem, por ser ele um espírito. Como já
8. Nas páginas do Novo Testamento. A palavra dissemos, em si mesmos os fenômenos psíquicos são
grega psiché é usada no Novo Testamento por nada neutros, não sendo nem bons e nem maus, embora
menos de cento e cinco vezes. Damos aqui exemplos: possam ser postos a uso do bem ou do mal. Isso posto,
Mat. 10:28; 11:29; 12:18; 16:26; 22:37; Luc. 1:46; há um psiquismo que pode ser contrastado com a
10:27; 12:19; João 12:27; Atos 2:27,31,41,43; 3:23; espiritualidade. A espiritualidade pode usar os
4:32; 7:14; 14:22; 15:24; Rom. 2:9; 13:1; I Cor. fenômenos psíquicos com muitos propósitos; mas a
15:45; II Cor. 1:23; Efé. 6:6; FU. 2:30; Col. 3:23; I presença desses poderes não significa que uma pessoa
Tes. 2:8; 5:23; Heb. 4:12; 6:19; 10:38,39; 13:17; Tia. que os manifeste em abundância seja mais espiritual
1:21; 5:20; I Ped. 1:9,22; 2:11,25; 3:20; 4:19; I João do que as pessoas que não os manifestam. Todas as
3:16; III João 2; Apo. 6:9; 16:3; 18:13,14; 20:4. pessoas são psíquicas; e penso que tenho demonstrado
Usualmente, psiché e pneuma aparecem no Novo amplamente isso nos artigos de minha autoria
Testamento como sinônimos. Entretanto, a forma denominados Sonhos e Parapsicologia. Entretanto,
501
PSIQUISMO - PTOLOMEUS
nem todos os indivíduos são espirituais. Pois a são proclamadas pela primeira vez. A tolerância
espiritualidade subentende o desenvolvimento positi (vide) é um importante princípio religioso que sempre
vo do espírito, levando-o a possuir, em algum grau, os deveria ter aplicação; e, acima disso, há aquele
atributos divinos. Para o crente verdadeiro, isso princípio superior do amor, que é a própria essência
significa estar sendo transformado segundo a imagem da espiritualidade. Mas a hostilidade contra as novas
de Cristo, levando-o de um estágio de glória a outro idéias nem é tolerante e nem é amorosa.
(ver II Cor. 3:18). E é justamente isso que está
envolvido na filiação a Deus (ver Rom. 8:29). De
conformidade com essa filiação, o remido vai PTOLOMEUS
compartilhando crescentemente da natureza divina 1. Pano de Fundo
(ver II Ped. 1:4; Col. 2:9,10; Efé. 3:19). Qualquer 2. O Egito dos Ptolomeus: Breve Esboço
indivíduo é capaz de demonstrar poderes psíquicos (e,
3. A Dinastia Ptolemaica
de fato, todos assim o fazem), sem possuir esse tipo de
espiritualidade. Por outra parte, o psiquismo não é 4. Os Judeus no Egito
contrário à espiritualidade, a menos que um homem 1. Pano de Fundo
abuse do mesmo, mediante manifestações negativas. Ver o artigo geral intitulado Período Intertestamen-
Ver o artigo separado chamado Psique, quanto a tal: Acontecimentos e Condições do Mundo ao Tempo
como essa palavra tem sido usada na filosofia e na de Jesus. A terceira seção desse artigo trata dos
teologia. Ptolomeus e dos Selêucidas, que foram os sucessores
de Alexandre, o Grande, no Egito e na Síria,
respectivamente. O reino de Alexandre, por ocasião
PTOLEMAIDA de sua morte, foi dividido entre os quatro principais
Ver sobre Aco. generais de seu exército. As duas porções orientais
ficaram com generais separados: a Síria ficou com
Seleuco (e com base em seu nome é que temos os
PTOLOMEU, CLÁUDIO selêucidas, que foram os seus sucessores); e o Egito
Suas datas aproximadas foram 100 - 170 D.C. Ele ficou com Ptolomeu (de cujo nome deriva-se o coletivo
foi um filósofo e cientista grego que se especializou na ptolomeus, que foram os seus sucessores). Outros
astronomia, e cujas idéias vieram a dominar essa domínios foram estabelecidos em resultado do
ciência durante muitos séculos. Ver o artigo intitulado falecimento de Alexandre, mas somente esses dois
Ptolomeu, Teoria Cósmica de, acerca de como suas revestem-se de alguma significação para a história
teorias tomaram-se a posição da ortodoxia científica e bíblica. A princípio, a Palestina ficou sob o controle
teológica, de tal modo que outro cientista, mais sírio; mas, não muito depois, passou para o controle
moderno, Galileu (vide), não conseguiu derrubar. egípcio. Assim permaneceram as coisas durante cerca
Ptolomeu publicou sua grande obra sobre astrono de cem anos, até 198 A.C. Durante esse período, os
mia, que versava sobre todos os planetas então judeus andaram dispersos, e Alexandria serviu de
conhecidos e sobre mil e vinte e duas estrelas, em importante centro político e cultural, o que propiciou
cerca de 150 D .C. O artigo mencionado descreve os meios para o Antigo Testamento ser traduzido para o
pontos fundamentais dessa teoria. grego, tradução essa que tomou o nome de
Somente já nos tempos de Nicolau Copérnico Septuaginta, também representada pelo símbolo
(século XVI) foram abandonadas as teorias de LXX, que significa ‘setenta’ em latim, por causa da
Ptolomeu, qúando novas idéias tiveram oportunidade tradição (obviamente falsa) que diz que essa tradução
de fornecer uma descrição melhor sobre o espaço foi completada em setenta e dois dias, feita por
sideral. setenta e dois tradutores judeus. Sob os ptolomeus,
pois, os judeus prosperaram, e até exigiram que fosse
Escritos. Composição Matemática (13 volumes); criado um importante centro religioso em Alexandria.
óptica; Geografia Matemática.
2. O Egito dos Ptolomeus: Breve Esboço
a. Sob os Ptolomeus I—III, o Egito foi sujeitado a
PTOLOMEU, TEORIA CÓSMICA DE reformas econômicas, que fizeram o país prosperar.
Queremos falar sobre uma teoria formulada pelo b. Ptolomeu IV deixou no comando do pais um
astrônomo alexandrino. Cláudio Ptolomeu (cerca de príncipe amante dos prazeres, e seus ministros foram
100-168 D .C.), alicerçado sobre conceitos de Platão e corruptos. O período dele foi assinalado pela guerra.
Aristóteles. Ele asseverava que a terra é o centro fixo c. As guerras prosseguiram, e houve perda de
do universo. Essa teoria também dizia que a terra é territórios ao tempo de Ptolomeu V. O controle do
circundada por esferas concêntricas sólidas, sete das egípcio passou para os selêucidas (cerca de 200 A.C.).
quais são os caminhos seguidos pelos corpos celestes d. Os conflitos com os selêucidas perturbaram a
em movimento, ao passo que a oitava, e mais externa, terra no tempo de Ptolomeu VI. Roma interveio no
seria a esfera das estrelas fixas. Mas Galileu (vide) conflito (180—145 A.C.). Antíoco IV teve de
descobriu muitas provas contra tais idéias, e enfrentar a revolta dos Macabeus. O Egito passou a
cometeu a imperdoável «heresia» de asseverar que a ser governado por um triunvirato: Ptolomeu VI, seu
terra nem é fixa e nem é o centro do universo. A irmão, e Cleópatra II, esposa de Ptolomeu.
indignação dos cientistas e teólogos da Idade Média, e. No período de Ptolomeu VII, a corrupção
que mantinha a ortodoxia ptolemaica, caiu sobre a tomou-se uma constante, e as comoções intestinas
cabeça de Galileu. E foi somente já em nossa própria tornaram-se comuns, por causa da desintegração das
época que a Igreja resolveu «perdoar» Galileu! Ver o condições econômicas. Templos foram construídos,
artigo sobre ele, que narra a história inteira. Toda na tentativa de aplacar as multidões, mas a verdade é
essa questão chama-nos a atenção para o fato de que que ós egípcios queriam ficar libertos do domínio
tanto a ciência quanto a teologia podem estar estrangeiro.
equivocadas acerca de importantes questões, e que o f. Ptolomeu VIII (145—116 A.C.), mencionado em
caminho da investigação nunca deveria ser cerrado. I Macabeus 1:18 e 15:16, teve um reinado
As novas idéias com freqüência são surpreendentes, e desfavorável. Um ptolomeu não-real desse período foi
muitas vezes parecem trazer a aura da heresia quando o assassino do genro de Simão Macabeu (135 A.C.
502
PTOLOMEUS
Ver I Macabeus 1:16 ss). Duas rainhas, ambas de seu pai. Promoveu a biblioteca de Alexandria,
nome Cleópatra, estiveram associadas a esse monar fundada por seu genitor. Erigiu o farol de Faros.
ca. Consolidou a economia e promoveu colônias gregas no
g. Um declínio sem retomo assinalou o governo dos Egito. Entrou em conflito com os selêucidas, mas
ptolomeus egípcios. Ptolomeu IX foi expulso do acabou entrando em uma aliança com eles, dando sua
Egito, em 110 A.C., e o trono foi ocupado por seu filha, Berenice, a Antíoco II, como esposa. Porém, ela
irmão mais jovem, Ptolomeu X. Porém, Ptolomeu IX e o filho dela foram assassinados antes da própria
reconquistou o trono, e continuou governando o Egito morte de Ptolomeu II (a história geral talvez aludida
até cerca de 85 A.C. Revoltas caracterizaram o seu em Dan. 11:6). Antes de morrer, porém, Ptolomeu II
período duplo de govemo. fundou várias cidades. A tradição revela que ele foi o
h. Ptolomeu XII viveu à sombra da ameaça de patrono da tradução do Antigo Testamento para o
Roma, quando a maré da história esteve prestes a grego, chamada Versão Septuaginta, ou LXX.
produzir uma outra grande mudança nos aconteci Faleceu em 247 A.C.
mentos. Ele foi forçado a exilar-se, em 58—55 A.C., e c. Ptolomeu III. Nem bem subiu ao trono (em 247
o govemo passou para as mãos de sua filha, Berenice A.C.), marchou contra a Síria, a fim de vingar-se da
IV. Porém, indivíduos subornados fizeram-no voltar morte de sua irmã. Ao que parece, o trecho de Dan.
ao trono, e Berenice foi assassinada. 11:7,8 refere-se a essa campanha. Foi declarada
i. Cleópatra VII foi nomeada para suceder a guerra contra Antíoco III. Ptolomeu III foi bem-suce-
Ptolomeu XII, quando da morte deste, porquanto era dido na vingança. Em seguida, decorou o Egito com
sua filha. Ptolomeu XIII, irmão dela, deveria templos e edifícios públicos. As ruínas de seus
compartilhar do mando. Porém, estouraram rivali esforços arquitetônicos ainda podem ser vistas até
dades entre os dois irmãos. Júlio César recebeu a hoje, como o templo de Horus, em Edfu, no Alto
tarefa de arbitrar entre os dois. Romântico envolvido Egito, embora os seus sucessores é que tenham
com Cleópatra, naturalmente tomou o partido dela. acabado essa construção. Ampliou a biblioteca de
Ptolomeu XIII revoltou-se diante disso, mas acabou Alexandria, e foi protetor dos eruditos.
sendo morto. Cesarion, filho de Júlio Cesar e de d. Ptomomeu IV. Subiu ao trono em 222 A.C.,
Cleópatra, estava sendo preparado para ocupar o tendo ali ficado até 205 A.C. Sua principal ocupação
trono do Egito, com o título de Ptolomeu XV. Ele era a busca pelos prazeres, embora tenha dedicado
governou como títere de sua mãe, desde 44 A.C., até a algum tempo à guerra. O trecho de III Macabeus
derrota em Ácio, em 30 A.C. Depois de Ãcio, 1:1-5 faz menção à sua campanha contra os sírios. A
Cesarion foi morto por Otávio (que posteriormente foi fim de consolidar sua autoridade, mandou executar
o imperador Augusto). Cleópatra cometeu suicídio, e sua própria mãe, Berenice, seu irmão, Magas, e seu
assim o Egito passou para o domínio romano, em 30 tio, Lisímaco. E cometeu moitos e hediondos crimes.
A.C., tomando-se meramente uma província romana Em suas vitórias sobre a Síria, reconquistou a
daí por diante. Coele-Síria. Foi patrono das artes, da literatura e da
religião.
3. A Dinastia Ptoiemaica (cerca de 323 - 30 A.C.):
Ptolomeu I, Soter (305 - 282 A.C.) e. Ptolomeu V. As datas de seu reinado foram
Ptolomeu II, Filadelfo (284 -246 A.C.) 204 - 180 A.C. Era ainda muito jovem quando
Ptolomeu III, Evergetes I (246 - 222 A.C.) começou a reinar. Antíoco III da Síria conseguiu
apossar-se da Palestina, tendo-a tomado do Egito
Ptolomeu IV, Filopater (222 - 205 A.C.) (202 - 198 A.C.), e foi assim que os judeus acabaram
Ptolomeu V, Epifânio (204 - 180 A.C.) sendo governados por dois senhores. Isso armou o
Ptolomeu VI, Filometer (180 - 145 A.C.) palco para a revolta dos Macabeus, contra a infame
Ptolomeu VII, Evergetes II (145 - 116 A.C.) dinastia dos Antíocos. Na tentativa de obter a paz,
Ptolomeu VIII, Soter II (116 - 110, 109, 88 - 80 Antíoco III deu sua filha a Ptolomeu V como esposa,
A.C.) quando Roma já começava a arbitrar sobre as
Ptolomeu IX, Alexandre I (110 - 109, 108/7 - pendências locais. Revoltas intestinas prejudicaram
88 A.C.) ao Egito, e a economia egípcia debUitou-se. Foi
Ptolomeu X, Alexandre II (80 A.C.) durante o reinado de Ptolomeu V que foi preparada a
Ptolomeu XI, Filopater Neos Dionísio ou Auletes Pedra de Rosetta (vide), um decreto baixado pelo
(80 - 51 A.C.) sacerdócio egípcio, em 196 A.C., em três escritas:
Ptolomeu XII (51 - 47 A.C.) hieróglifos egípcios, a escrita demótica e o grego. E
Ptolomeu XIII (47 - 44 A.C.) foi isso que permitiu, já nos tempos de Napoleão, o
deciframento da antiga língua egípcia.
N.B. - Cleópatra VII compartilhou do mando entre
50 e 30 A.C., com Ptolomeu IV, Filopater Filometor f. Ptolomeu VI. Seu govemo foi de 180 a 145 A.C.
Caesar (44 - 30 A.C.). Subiu ao trono muito jovem, pelo que sua mãe
Cleópatra I, agia como regente. Antíoco IV
Informes Históricos Relacionados a esses Reis: consolidou conquistas sírias no Egito, fazendo deste
a. Ptolomeu I. Ele foi um dos generais de um protetorado da Síria. Todos os estudiosos da
Alexandre, o Grande. Por ocasião da morte de Bíblia conhecem a narrativa sobre Antíoco IV
Alexandre, esse general tomou-se o sátrapa do Egito Epifânio e como ele conspurcou o templo de
(cerca de 323 A.C.). Mais tarde, assumiu o título de Jerusalém, diante do que os Macabeus revoltaram-se.
rei, tendo governado até 282 A.C. Seus domínios A passagem de Dan. 11:21 ss como os livros de I e II
incluíam o Egito e a Palestina. Seu poder militar era Macabeus, em geral, narram a história dos conflitos
grande, e prosperou economicamente. A famosa dos judeus contra esse homem. Ptolomeu VI tentou
Biblioteca e Museu de Alexandria foi fundada por ele. fazer intervenções na Síria; mas não foi bem-sucedido
Ver o artigo chamado Alexandria, Biblioteca de. na empreitada, e, finalmente, veio a morrer de
Fundou a cidade de Ptolemaida (ver sobre Aco, nesta ferimentos recebidos em batalha. Os trechos de I
enciclopédia). Ele e Seleuco I talvez sejam os «reis» Macabeus 10:51\ss; 11:1 ss e Josefo (Anti. 13.4,5 ss)
referidos em Dan. 11:5. prestam-nos algumas informações a respeito dele.
b. Ptolomeu II. Ele foi o filho caçula de Ptolomeu I. Quando Antíoco levou Ptolomeu VI como prisioneiro,
Govemou durante dois anos, como co-regente com o irmão deste último proclamou-se rei, em Alexan
503
PTOLOMEUS - PUÀ
dria. Então os dois irmãos governaram conjuntamen acordo com a vontade expressa do senado romano.
te, até 168 A.C. Porém, a contenda acabou separando m. Ptolomeu X II. Ele e sua irmã, Cleópatra,
os dois, e Ptolomeu VI pediu socorro dos romanos. ocuparam o trono do Egito, de acordo com as
Um contínuo estado de beligerância resultou em sua condições estipuladas no testamento de seu pai. Por
morte. Foi durante o seu governo que ocorreu grande ser muito jovem quando subiu ao trono, o eunuco
imigração de judeus, que estavam abandonando a Potino foi quem brandiu as rédeas do poder, pelo
Palestina, o que em muito aumentou a população menos durante algum tempo; mas Cleópatra, por ser
judaica no Egito. Isso teve lugar por causa da mais velha, pôs fim a esse estado de coisas. No
insegurança que então reinava na Palestina. entanto, considerando Potino um favorito, Ptolomeu
g. Ptolomeu VII. Ele governou de 145 a 115 A.C. XII expulsou sua própria irmã. Em vista disso, ela
Era filho de Ptolomeu V. Foi também rei de Cirene. levantou um exército e invadiu o Egito. Pompeu, o
Cleópatra fez seu filho infante ser coroado rei, mas Grande, procurando fugir do exército de Júlio César,
esse Ptolomeu invadiu o Egito. Os romanos chegou a Alexandria. Mas ali foi assassinado por
arranjaram para que Cleópatra se casasse com ele, e ordem de Ptolomeu XII. Júlio César desembarcou no
ele tornou-se rei. Imediatamente mandou matar o seu Egito. Mas Cleópatra encontrou-o de tal modo com
sobrinho. Seu governo foi assinalado por violências e suas graças feminina», que ele a restaurou ao trono.
ultrajes contínuos. Foi então forçado a fugir para Quando César teve de arbitrar entre ela e seu irmão, a
Chipre, em 130 A.C. Porém, em 127 A.C., foi atração sexual foi o guia dele. E Ptolomeu, ainda em
restaurado ao poder. Apesar de seus crimes, havia um uma outra campanha militar, quando tentava
lado bom em sua vida. Ele foi patrono da literatura, e reconquistar o trono, acabou morrendo afogado.
ele mesmo foi autor de uma considerável obra sobre n. Ptolomeu XIII. Após a morte de Ptolomeu XII,
história natural. seu irmão mais novo, Ptolomeu XIII, foi coroado e
h. Ptolomeu VIII. Governou entre 116 e 110 A.C., e casou-se com sua irmã, Cleópatra, por insistência de
então em 109, 88 - 80 A.C. Era filho de Ptolomeu VII. Júlio César (47 A.C.). Entretanto, Ptolomeu XIII
Ao subir ao trono casou-se com sua própria irmã, desapareceu da cena em 44 A.C., provavelmente
Cleópatra; mas foi forçado a divorciar-se dela, pela assassinado por ordem de Cleópatra, a fim de que o
mãe dele. Em seguida, casou-se com sua irmã caçula, filho dela, Cesarion, pudesse subir ao trono. E
Selene. A mãe dele acusou-o de planejar uma revolta Cesarion foi Ptolomeu XIV.
contra ela, e ele foi forçado a fugir. Então ela chamou o. Ptolomeu X IV . Seu nome de batismo era
de volta a seu filho mais novo, Alexandre I, que estava Cesarion, e governou juntamente com sua mãe,
em Chipre. Porém, Ptolomeu VIII assumiu o controle Cleópatra, de 44 A.C. Até a derrota das forças,
do reino de seu irmão, e, durante dezoito anos, egípcias em Ãcio(30 A.C.). Ptolomeu XIV era apenas
manteve Chipre como um reino independente. uma figura de adomo, que nada governava. Após
Quando Alexandre I morreu, Soter retornou ao Egito aquela batalha, Cesarion foi executado por Otávio, o
e começou a governar conjuntamente com sua irmã, qual, posteriormente, veio a tomar-se o imperador
Berenice, até que ele veio a morrer. Esteve envolvido Augusto. Cesarion foi eliminado para que não mais
em muitas guerras e atos violentos, em muitos pudesse ser uma ameaça à supremacia romana no
levantes civis e estrangeiros. A cidade de Tebas, no Egito. Quando Ptolomeu XIV faleceu, o Egito foi
Egito, foi destruída em meio a tudo isso. reduzido a uma mera província romana, o que
i. Ptolomeu IX. Seu governo foi de 110 a 109 A.C., marcou o fim da era dos monarcas ptolomeus.
e novamente entre 108/7 e 88 A.C. Ele foi o 4. O* Judeus no Egito
Alexandre I, descrito no ponto anterior, que esteve em Temos dado algumas noções a respeito ao longo
conflito com seu irmão. Começou a governar como rei deste verbete. Já vimos que uma considerável colônia
de Chipre; mas, quando seu irmão mais velho foi judaica formou-se no Egito, no período dos ptolo
expulso pela mãe deles, então começou a governar meus. Foi em Alexandria que os judeus do Egito
conjuntamente com ela, que se tomou conhecida tomaram-se mais numerosos e fortes. A versão da
como Cleópatra III. Vivia em dissipação e como Septuaginta (tradução do Antigo Testamento hebrai
governante não foi grande coisa. Em 89 A.C., perdeu co para o grego) :emergiu durante esse tempo (do
o trono, embora tivesse conseguido recapturar a século III A.C. em diante). Quando Antíoco III, da
cidade de Alexandria. Mas, não demorou muito para Síria, conseguiu conquistar o Egito, a Palestina
ser expulso novamente. Finalmente, perdeu a vida em tomou-se um joguete nas mãos dos ptolomeus e
uma batalha naval ao largo de Chipre, numa última selêucidas. Antíoco IV consolidou o poder sírio sobre
tentativa de recapturar o que havia perdido. a Palestina. Mas logo em seguida surgiram os
j. Ptolomeu X . Lutou contra seu irmão, Ptolomeu governantes judeus, os Macabeus, que realizaram a
IX, e conseguiu governar de 110 a 109 A.C., e outra façanha de obter independência dos judeus de
vez, entre 108/7 - 88 A.C. Sob proteção dos romanos, qualquer jugo estrangeiro por um breve período, até
apossou-se de Alexandria. Casou-se com sua prima, que Roma interveio e pôs fim a essa liberdade.
Berenice, rainha governante. Porém, somente vinte Bibliografia. AM BEV BEV(1927) ND SKE Z
dias após o casamento, sob suas ordens ela foi
assassinada! Uma turba enfurecida matou-o, em
Alexandria.
PUÀ
1. Ptolomeu X I. Governou de 80 a 51 A.C. Era filho
ilegítimo de Ptolomeu IX. Era homem de mau-cará- No hebraico «sopro», «declaração». E uma palavra
ter. Dirigiu o Egito em um período de grande aparentemente cognata deriva-se de uma raiz que
declínio, quando Roma ameaçava tomar conta do significa «esplêndido». Esse é o nome de dois homens
Egito. Mesmo assim, conseguiu subornar aos e de uma mulher, nas páginas do Antigo Testamento:
romanos. E isso, em combinação com os assassinatos 1. O pai de Tola, que foi um dos juizes de Israel
que cometeu, consolidou o seu governo. Mas, para (Juí. 10:1). Ele deve ter vivido por volta de 1240 A.C.
todos os efeitos práticos, os romanos é que 2. Um descendente de Issacar (Gên. 46:13). Nossa
controlavam o Egito. Forçado pelos romanos, acabou versão portuguesa, porém, grafa seu nome como Puva
deixando em herança o seu reino para seu filho e para (uma variante), enquanto que as outras duas pessoas
sua filha, a saber, Ptolomeu XII e Cleópatra, de são chamadas Puá. Várias traduções intercambiam
504
PUBLICANO - PULGA
esses dois nomes. Puva viveu em cerca de 1700 A.C. posteriormente, sucedeu a Dionísio como bispo de
3. Uma das duas parteiras israelitas que receberam Atenas, na Grécia. E Jerônimo mencionou uma
ordem, da parte do Faraó, para tirarem a vida dos tradição na qual ele aparece como mártir. £ muito
meninos que nascessem às mulheres israelitas, mas difícil julgar a veracidade dessas tradições, as quais
que poupassem as vidas das meninas (ver £xo. sempre tentam preencher os espaços em branco em
1:15-20). O nome da outra parteira era Sifrá. nosso conhecimento, e que, por isso, na maioria das
Podemos imaginar que elas eram parteiras-chefes, e vezes consistem em fantasias da imaginação.
que as demais parteiras dos israelitas obedeciam às
ordens dessas duas. PUL
No hebraico, «forte». No Antigo Testamento, esse é
PUBLICANO o nome de um rei assírio e de um povo, a saber:
Ver sobre Coletoret de Importo«. Na antiguidade, 1. Pul é o nome alternativo do monarca assírio
as taxas e impostos freqüentemente eram coletados Tiglate-Pileser II I (vide), o qual governou a Assíria
por indivíduos privados empregados com esse em 745 - 727 A.C. £ possível que Pul fosse seu nome
propósito, e não por agentes governamentais oficiais. pessoal, ao passo que Tiglate-Pileser fosse seu título
Naturalmente, tais indivíduos tiravam proveito da real. Tal título fora usado por um grande rei assírio do
situação a fim de auferirem ganhos desonestos. Por passado. Os trechos de II Reis 15:19 e I Crô. 5:26
essa razão é que, no Novo Testamento, temos a mencionam-no por seu nome, Pul. Os historiadores e
expressão «publicanos e pecadores», reunindo duas arqueólogos tiveram de fazer muitas contorções até
classes que tinham grande afinidade de espírito. que ficou razoavelmente provado que Pul e Tiglate-Pi
Pensava-se que nenhum publicano podia ser homem leser III foram nomes diferentes de um mesmo
honesto, tão má era a reputação da categoria. homem.
O termo significa coletor de impostos, embora, às 2. Pul também aparece, em Isa. 66:19 como nome
vezes, seja usado em sentido mais lato, dando a de um povo e país africano. Todavia, os estudiosos
entender qualquer funcionário público. Bom número acreditam que na grafia dessa palavra, nessa
de coletores de impostos agia com desonestidade, passagem, há um erro, pois deveríamos ler ali Pute,
tanto em relação ao público como em relação ao conforme também aparece em algumas traduções.
governo, cobrando impostos ilegais e apresentando Ver o artigo sobre Pute. Nesse caso, fica definida a
relatórios falsificados, com a intenção de enriquecer Líbia; de outra sorte, não se sabe onde, exatamente,
rapidamente. Não era raro que alguns publicanos dentro do território africano, ficaria Pul.
ameaçassem e até matassem a alguns para atingir os
seus propósitos. Havia duas classes de publicanos;
uma superior, formada pelos romanos da ordem PULGA
equitator, que em geral eram os dirigentes do No hebraico, parosh, termo que ocorre somente por
trabalho, responsáveis perante o governo romano; e duas vezes em todo o Antigo Testamento: I Sam.
outra inferior, formada por judeus, que trabalhavam 24:14 e 26:20. A pulga, da qual há duas espécies
nas vilas e cidades dos judeus. Mateus era um deles (cientificamente denominadas pulex e ctenocephali-
(ver Mat. 9:9). Quando Teócrito indagou: «Entre as des), é um inseto altamente especializado, pratica
feras bravas, quais são as mais cruéis?» Ele mesmo mente formado somente de pernas. Se uma pulga
replicou: «Os ursos, os leões das montanhas, os tivesse o tamanho de um homem, seria capaz de saltar
publicanos e os caluniadores das cidades». O por cima de um edifício de dez andares! Os insetos
Talmude (vide) classifica os publicanos como adultos chupam o sangue de seus hospedeiros, pois,
salteadores e assassinos e declara que para tais sem isso, não podem reproduzir-se. As larvas vivem
homens não há chance de arrependimento. Ocupa na poeira; portanto, quanto mais limpo for um lugar,
vam a posição de gentios, apesar de serem judeus de menos possibilidade haverá das pulgas multiplicarem-
raça. se.
Jesus usou esses homens tão detestados pelos judeus A pulga é um animal perigoso, transmissor de
como ilustração, afirmando que até tais homens eram diversas enfermidades, incluindo a temível peste
amigos entre si. Pelo menos não ensinavam o ódio aos bubônica, transmitida a partir dos ratos. £ difícil
inimigos, como o faziam as autoridades religiosas dos ver-se a pulga; e mais difícil ainda é matá-la. Trata-se
judeus. Jesus classificou como publicanos a todos de um inseto muito perturbador, por causa das
quantos não amam e não se mostram amigos. No picadas que dá na pele de uma pessoa.
reino de Deus a ordem das coisas terá de ser diferente. Esse inseto era muito comum nos países orientais.
Davi comparou-se a uma pulga, quando perseguido
por Saul, a fim de lançá-lo no descrédito (I Sam.
24:14). Davi estava fugindo do rei Saul, que estava
PÜBLIO resolvido a matá-lo. Porém, a quem o monarca estaria
No grego PópUo«; no latim, Publiui. Ele foi perseguindo? Somente a um cão ou a uma pulga. E,
homem liderante na ilha de Malta. Durante três dias com isso , Davi procurava mostrar a Saul que ele não
ofereceu hospitalidade a Paulo e aos seus companhei era uma ameaça à segurança do monarca, por ser
ros de naufrágio (ver Atos 28:7,8), quando Paulo uma pessoa de pequena importância. Essa posição era
estava sendo conduzido a Roma como prisioneiro, a extremamente modesta, na verdade; e a história
fim de comparecer diante do tribunal de César (Nero). subseqüente demonstrou que Davi estava destinado
Seu pai estava então enfermo de disenteria e febre, pelo Senhor a ser um homem muito mais importante
mas foi curado por Paulo. para o reino e para os planos de Deus do que Saul.
O título que lhe é dado em grego, o prótos, «o Há cerca de onze mil espécies de pulgas. Isso
primeiro», «chefe», tem sido confirmado pela arqueo mostra que as coisas más, neste mundo, existem em
logia em inscrições da ilha de Malta. Talvez esse título meio a grande variedade. Uma pulga pode pular até
fosse seu prenome romano. Provavelmente, atuava em 20 cm de altura, e até 33 cm para a frente. Seu
Malta como governador. O martirológio romano mecanismo de salto é uma autêntica catapulta, feita
assevera que ele foi o primeiro bispo de Malta, e que, de uma proteína elástica, chamada resilina. Algumas
505
PÜLPITO - PUNIÇÃO CAPITAL
pulgas têm dois olhos; mas também há pulgas sem destruí-la. Mas confesso que é difícil perceber por que
olhos, cegas. Mas essa variedade mesmo assim não todo o castigo precisa visar à reabilitação. De fato, há
deixa de encontrar a sua presa, presumivelmente crim es, como o assassinato prem editado, que
devido ao calor sentido, ou ao sentido de olfato. Há requerem uma justa retaliação, inteiramente à parte
espécies que tendem por especializar-se em determi do princípio de reabilitação. Existem crim inosos
nadas formas de vida animal. Há muitas piadas irrecuperáveis! É difícil ver como o homicídio pode ser
modernas sobre a pulga. Algumas pessoas têm a considerado um crime que não merece a punição
paciência de treinar pulgas, formando circos de capital. Há aquele argumento que diz que a punição
pulgas com elas! Mas, estar com pulgas à noite, no capital não serve de detenção para o crime, não baixa
leito, não é nenhuma brincadeira! a taxa de criminalidade. Mas, o criminoso contumaz,
A maneira como a natureza equipou a pulga uma vez executado, não continua fazendo vítimas
também não é nenhuma brincadeira. Pode permane inocentes! E é por isso que ele deve ser executado. E,
cer no interior de seu casulo quase indefinidamente, se a taxa de criminalidade baixa ou não, isso não vem
até sentir as vibrações que indicam a presença de ao caso. A ju stiça é um princípio que existe
algum hospedeiro. Então a pulga sai de seu casulo, inteiramente à parte da questão da prevenção. No
transforma-se em um inseto adulto e ataca. Um caso de muitos clérigos «humanitários», que evocam a
edifício vazio pode conter um grande número de questão dos direitos hum anos p ara os bandidos e
pulgas, mas que permanecem ocultas em seus crim inosos, eles olvidam -se de duas coisas: 1. Os
casulos. Quando pessoas passam a ocupar o edifício, direitos humanos das vítimas desses criminosos. 2. A
causando as vibrações que despertam as pulgas, estas Inquisição fez milhões de vítim as, por motivos
começam a aparecer. E não demora a haver uma religiosos, consideradas hereges do ponto de vista de
praga de pulgas. Uma pulga adulta pode viver nada seus perseguidores, embora não tivessem outra culpa
menos do que um ano, para garantir que todas as suas além de não concordarem com certas doutrinas da
vítimas sintam-se o mais desconfortáveis possível! hierarquia de Roma. Essa hierarquia, que se tornou
cu lpada da perda da vida de milhões de criatu ras
humanas, em muitos países, por vários séculos, agora
PtJLPITO se faz defensora de bandidos! Todo o am or e
paciência cristãos não chegam para fechar-nos os
Essa palavra portuguesa vem do latim polpltum, olhos a tão lam entável distorção dos direitos,
«palco», «plataforma». Ela ocorre em várias traduções pespegada em nome de C risto, e co n trária aos
(como na nossa versão portuguesa), em Nee. 8:4, princípios ensinados por Deus em sua Palavra!
como tradução da palavra hebraica migdal, «lugar As observações da sociologia m ostram que a
elevado», «plataforma». Esdras postou-se sobre uma leniência ou o rigor contra a criminalidade obedecem
plataforma a fim de ler, diante do povo reunido, as a um regime de pêndulo de relógio. Q uando a
Escrituras Sagradas. Talvez o chão da plataforma criminalidade atinge níveis insuportáveis, a sociedade
fosse atingido por meio de uma escada. A elevação exige m aior rigor contra os bandidos, e a taxa de
serviu para torná-lo conspícuo e para que pudesse ser criminalidade desce; mas então surgem em cena o:
facilmente ouvido pela multidão numerosa reunida. «humanitários», recomendando tratamento brando
Naturalmente, nem devemos pensar que a migdal, para os criminosos, e a taxa de criminalidade sobe.
nesse caso, se assemelhasse aos púlpitos das modernas Será que isso não encerra nenhuma lição para nós? A
igrejas cristãs, embora a finalidade seja mais ou b ran d u ra p ara com os crim inosos é quase uma
menos a mesma—permitir que o orador seja conivência com eles, pois provoca-lhes o atrevimento.
facilmente visto e ouvido pelos presentes. Até quando continuará esse estado de coisas? O Juiz
de toda a terra voltará a fim de governar o mundo.
Fá-lo-á com luva de arm inho ou com m anopla de
PUNIÇÃO ferro? Ver Apo. 12:5. Diz Apocalipse 19:15: «Sai da
Quanto aos castigos temporais, ver o artigo Crimes sua (de Jesus) boca uma espada afiada, para com ela
e Castigos. Quanto à punição eterna dos perdidos, ver ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de
o verbete Julgamento de Deus dos Homens Perdidos. ferro, e pessoalmente pisa o lagar do vinho do furor da
Quanto ao fato de que a missão tridimensional de ira do Deus Todo-poderoso». A ira de Deus pesa sobre
Cristo atingiu e continua atingindo o próprio lugar de os ímpios rebeldes; a sua misericórdia paira sobre os
punição dos perdidos, ver o artigo Descida de Cristo que se humilham e se arrependem! Ver João 3:36.
ao Hades. Ver também os artigos Restauração e Um Princípio E spiritual E nvolvido. Há um
Missão Universal do Logos (Cristo). princípio esp iritu al envolvido nessa questão, que
tanto os proponentes quanto os opositores da punição
capital usualmente não levam em conta. É que, para
PUNIÇÃO CAPITAL os criminosos, a ameaça de morte iminente é, com
Ver os artigos sobre Punição, Crime e Castigo e freqüência, a única coisa que os leva a reavaliar a sua
R etribuição. Não há que duvidar que a punição vida e os seus atos, impelindo-os a buscarem alguma
c apital, m ediante a qual alguém perde a sua vida renovação esp iritu al; e não poucos deles têm -se
física, por causa de algum crime cometido, faz parte convertido à fé cristã, sob as tensões envolvidas na
integral da ética do Antigo e do Novo Testamentos. ameaça da perda da existência física. Isso redunda em
Ver G ên. 9:6 e Rom. 13:4. A legislação mosaica bem para os espíritos dos criminosos. Pois a lei da
alistava diversos crimes em vista dos quais uma pessoa colheita conforme a semeadura, quando devidamente
deveria perder a vida (Núm . 15:32 s s ; Lev. ap licada, sem pre redunda no bem daqueles que
20:2,9,10,27; Deu. 17:3 ss; 22:25). O artigo sobre fazem a colheita.
Crime e Castigo, sób o subtítu lo A pedrejam ento, Quando a Retribuição Pura Também é Reabilita
fornece detalhes com pletos sobre essa questão. ção. O m undo opera com base na lei da colheita
Porém , m uitos filósofos, políticos, sociólogos e segundo a sem eadura (ver G ál. 6:7,8). Se alguém
clérigos modernos se opõem à punição capital, com torna-se um assassino, haverá de beneficiar-se
base em supostas razões humanitárias, paralelamente e spiritualm ente, mesmo que não se converta, ao
à idéia de que é melhor recuperar uma vida do que sofrer a justa retaliação por seu crime; pois, dessa
506
PUNIÇÃO CAPITAL
forma, terá pago a sua dívida e estará livre para PUNIÇÃO CORPORAL
prosseguir na busca espiritual. Portanto, aquilo que A expressão indica alguma espécie de castigo que
poderia ser classificado como pura retribuição, do envolve o corpo físico, em contraste com multas ou
ponto de vista físico e terreno, pode tornar-se um ato com a punição capital ou execução. A punição
de reabilitação espiritual, para que o espírito possa corporal pode ser aplicada mediante açoites, choques
entrar no mundo dos espíritos, não prosseguindo, elétricos, torturas diversas, encarceramento, limita
neste mundo, em sua caminhada delituosa. Isso não ção de alimentos a pão e água, espancamento,
significa que haja nisso qualquer expiação, no sentido trabalhos forçados, confinamento em prisão solitária
teológico. Não há expiação na morte de um criminoso e até mesmo abusos sexuais, sob condições sub-hu-
apanhado e justiçado. M as, tal execução pode manas.
significar que, tendo aquele espírito partido para as 1. Punições Corporais Privadas. Os pais discipli
dimensões espirituais, e estando ainda sujeito ao nam seus filhos com varadas, conforme a sugestão de
ministério rem idor de Cristo (ver I Ped. 4:6), ele Provérbios 13:24, onde se lê que o pai que não usa da
estará em m elhor posição de ser beneficiário da vara odeia a seu filho. Os pais também privam seus
missão de C risto, do que se tivesse chegado, filhos de certos alimentos, como doces e guloseimas,
finalm ente, ao m undo dos espíritos, sem haver por algum tempo. Outros fazem seus filhos posta
saldado a sua dívida diante dos homens. Aquele que rem-se em posições cansativas, como ficar com as
já pagou por algum crim e grave, certam ente mãos levantadas por longos períodos de tempo.
mostrar-se-á mais responsivo para com a rhamada de Costuma-se jogar um copo de água sobre o rosto da
Cristo, do outro lado da sepultura, do que aquele que criança iracunda. Há muitas variedades de castigos.
p artiu p ara a outra existência sobrecarregado de Algumas formas chegam a ser mesmo criminosas,
crimes e de culpa, por não haver pago sua dívida quando causam grande dor e/ou deformações.
diante da sociedade, enquanto ainda estava no corpo Algumas crianças, filhos de pais violentos, nunca
físico. conseguem recuperar-se inteiramente dos espanca
Circunstâncias Mitigadoras. O argumento acima mentos recebidos de seus genitores. Alguns
não pretende negar que, algumas vezes, até mesmo psicólogos modernos objetam a qualquer forma de
crimes como o homicídio não devem ser castigados punição corporal; mas a moderação nesse campo,
mediante a punição capital. Pode haver circunstân como em tudo o mais na vida, parece ser a atitude
cias mitigadoras, quando entãoum tempo passado no mais aconselhável. Porém, se a disciplina corporal
cárcere pode ser mais apropriado e justo do que a não for acompanhada pelo amor, nem mesmo a
execução capital. O que não se pode esperar é que um moderação é aconselhável. Uma criança que está
tratamento mais brando, dado a criminosos, por si só sendo disciplinada, se também sabe que é amada,
seja capaz de recuperá-los. O criminoso é alguém que absorve bem algumas palmadas ou coisa semelhante,
quer satisfazer a seus m aus desejos; e a perda da tirando proveito do castigo.
liberdade, enquanto ele estiver encarcerado, é 2. Nas Escolas. Em muitos países, a legislação
suficiente para enfezá-lo, anulando qualquer bom retirou dos professores o direito de aplicarem
efeito da leniência. Isso comprova-se de cada vez em punições corporais de qualquer espécie a seus alunos.
que algum criminoso consegue fugir da prisão. Ele Pode-se debater se essa proibição é correta ou não.
recupera-se com a fuga, ou reenceta sua vida de Tal debate jamais chegará a um fim, porquanto o
crim es, com m aior sanha ainda? O crim inoso o é sucesso ou fracasso de tal disciplina depende de cada
desde o coração; as circunstâncias externas em coisa professor. Alguns professores são capazes de usar de
alguma alteram isso. Muitos criminosos procedem de punição corporal de forma humana e moderada,
classes abastadas, usando seus vastos recursos para resultando em um bem para o aluno. No entanto,
aprimorarem seus métodos criminosos e para melhor isso tem sido freqüentemente sujeitado a abusos nas
ocultarem os seus crimes. A sociologia tem fracassa escolas, resultando em danos permanentes, em alguns
do, na busca da grande causa da crim inalidade, casos. Visto não haver como separar com eficácia os
porque não a busca no coração humano! bons dos maus professores, em situações escolares,
A Multiplicação dos Crimes. É fato largamente os governos usualmente têm achado por bem
demonstrado que os criminosos, quando são final simplesmente proibir qualquer forma de castigo
mente apanhados, usualmente já acumularam muitos físico.
crimes em seu rol de atividades. No entanto, a justiça 3. Nas Prisões. As punições corporais não são
humana cai no absurdo de julgá-los e puni-los apenas proibidas nas prisões e detenções de muitos países,
por um crime. Nem mesmo a filosofia concorda com sendo mesmo provável que elas ocorram em
isso. Platão assegurava que a pior coisa que pode praticamente todas as instituições penais, com ou sem
suceder a um homem é escapar ele da devida punição, a sanção da lei. Em vários países, os códigos criminais
quando se fez culpado. Quando isso sucede, sua alma determinam especificamente formas de punição
corrompe-se definitivamente; e isso é questão muito corporal no caso de certos crimes. Uma prisão é um
mais séria do que não castigar ao criminoso com o lugar onde os criminosos pagam e sofrem pelos crimes
devido rigor. Mas, quando um criminoso é finalmente cometidos; mas, até mesmo ali princípios humanitá
apanhado, a justiça humana só pensa em abrandar a rios deveriam ser observados. Porém, em nome dos
pena. Não me admiro que a taxa de criminalidade direitos humanos, em alguns países os criminosos são
aumente cada vez mais em muitos países, onde os tratados com regalias tais, embora sejam assassinos e
homens acabam pensando que podem fazer o que estupradores frios, como a sociedade não trataria de
bem entenderem, sem qualquer conseqüência mais suas vítimas, reais ou potenciais. As observações da
séria! Nos países árabes, um ladrão apanhado perde sociologia mostram que o tratamento conferido aos
uma das mãos; na segunda vez, perde a outra mão. Ê prisioneiros acompanha um regime de pêndulo.
ali que se encontram as mais baixas taxas de Quando a criminalidade aumenta demais, o clamor
criminalidade do mundo! Isso não encerra alguma popular exige um castigo mais severo contra os crimi-
lição para nós? (H) nosQS, depois de algum tempo, os sentimentos de
humanidade requerem um tratamento cada vez mais
brando conferido aos criminosos, até que uma nova
virulência de criminalidade demande novamente o
507
PUNIÇÃO ETERNA - PUREZA
endurecimento das atitudes contra os criminosos. seitas fazem uso desses livros quanto às suas idéias
Nestes meados da década de 1980, no Brasil, estamos basilares, sobretudo no tocante à origem das coisas.
experimentando uma fase de abrandamento, e a
criminalidade vem aumentando assustadoramente. Já PUREZA
podemos prever que, dentro de algum tempo, o
pêndulo começará a gravitar para o lado oposto. (H) Ver sobre Santidade e Porlficaçio.
Esboço:
1. As Palavras e suas Definições
PUNIÇÃO FTERNA 2. A Pureza Cerimonial
Ver sobre o Julgamento. 3. Meios de Purificação
4. A Pureza Racial
5. A Pureza Moral e Espiritual
PUNOM 1. Aa Palavras e Soas Definições
No hebraico, «trevas». Esse era o nome de uma O termo português «puro» vem do latim, puras,
cidade de Edom, o lugar onde os israelitas fizeram «limpo», «claro», «casto», «sem defeito». Várias
alto em sua marcha, certa ocasião, quando vaguea palavras hebraicas são assim traduzidas:
vam pelo deserto (ver Núm. 33:42 ss). Chegaram eles
ali no segundo dia após terem partido do monte Hor, a. Tahor, que significa moral e cerimonialmente
e antes de chegarem a Moabe. «limpo», embora também possa indicar algo «bonito»
ou «limpo». Ver exemplos dessa palavra em Exo.
Punom era um centro de mineração, e pode refletir 25:11,17,24; 28:14; Lev. 24:4,6; I Crô. 28:17; Eze.
o nome de certo chefe edomita, Pinom (que algumas 6:20; Sal. 12:6; Mal. 1:11. Essa palavra hebraica é
traduções têm como alternativa para o nome Punom), aplicada a pessoas, coisas e estados, por nada menos
que ali teria residido (ver Gên. 36:41). Eusébio de noventa e quatro vezes no Antigo Testamento. O
informa-nos que condenados eram forçados a ouro é puro quando corretamente refinado; um
trabalhar nas minas da área, que era rica em cobre homem é considerado puro quando isento de
(ver Onamasticon 299, 85; 123, 9). A arqueologia tem corrupções morais; uma oferenda é pura quando
descoberto que ali se praticava a mineração desde tão oferecida segundo as prescrições levíticas e pela
cedo quanto 2200 A.C. Sofreu vários períodos de pessoa apropriada.
abandono, mas era uma área próspera nos tempos b. Zak, «puro», «limpo», «claro». Essa palavra
romanos, e mesmo depois. A moderna Feinan ocorre por onze vezes, como se vê nos seguintes
assinala o antigo local. Nas proximidades, ainda há exemplos: em Êxo. 30:34 (acerca do incenso); Lev.
minas e fundições, a saber, em Khirbet en-Nahas e 24:3 (acerca do azeite de oliveira); Jó. 8:6 (acerca do
em Khirbet Nqieb Aseimer. Algumas ruínas da época homem); Pro. 20:11 (acerca das obras humanas).
bizantina ainda são visíveis na região, incluindo as
ruínas de uma basílica e de um mosteiro cristãos. c. Sagar, «refinar», «encerrar». Seu sentido normal
Uma inscrição do bispo Teodoro (587 - 588 D.C.) foi é «encerrar», «fechar», sendo de ocorrência bastante
encontrada entre as ruínas do mosteiro. comum com esse sentido; no entanto, no particípio
passado, ocorre com o sentido de «refinar», «purifi
Jerônimo indicou que Punom era uma pequena car», por oito vezes: I Reis 6:20,21; 7:49,50; 10:21; II
aldeia em seus dias, ocupada na mineração do cobre Crô. 4:20,22; 9:20. Ê palavra usada para indicar a
(realizada quase inteiramente por condenados). De pureza do ouro refinado.
acordo com as descrições de Jerônimo, ficava entre
Petra e Zoar. d .' Taher, «brilhar», «ser inocente», «expurgar».
Essa palavra é usada acerca de um homem, em Pro.
20:9 e Jó. 4:17, dando a entender um homem que não
é puro como o seu Criador.
PUR No Novo Testamento, por sua vez, encontramos as
Ver sobre Purlm. seguintes palavras gregas:
a. Katharós, «puro», «limpo». Esse vocábulo
aparece por vinte e seis vezes: Mat. 5:8; 23:26; 27:59;
PURA Luc. 11:41; João 13:10,11; 15:3; Atos 18:6; 20:26;
No hebraico, «ornamentação», «folhagem». Esse era Rom. 14:20; I Tim. 1:5; 3:9; II Tim. 1:3; 2:22; Tito
o nome de um servo de Gideão (ver Juí. 7:10-14), e 1:15; Heb. 10:22; Tia. 1:27; I Ped. 1:22; Apo. 15:6;
que viveu no século XII A.C. Por ordem do Senhor, 19:8,14; 21:18,21.
Gideão e Pura foram-se arrastando até perto do b. Agnós, «puro», «casto», «claro». Esse adjetivo é
acampamento dos midianitas e amalequitas e usado por oito vezes: II Cor. 7:11; 11:2; Fil. 4:8; I
conseguiram ouvir um soldado contar o seu sonho, Tim. 5:22; Tito 2:5; Tia. 3:17; I Ped. 3:2; I João 3:3.
que falava sobre a destruição de Midiã, inimiga de c. Eilikrinés, «puro», «sincero». Termo usado por
Israel. duas vezes: Fil. 1:10 e II Ped. 3:1. O substantivo,
eilikrinia, aparece por três vezes: I Cor. 5:8; II Cor.
1:12; 2:17.
2. A Pureza Cerimonial
PURANAS
Ver os artigos separados intitulados Limpo e
Uma coletânea de dezoito livros de poemas Imundo e Imundícia, quanto a detalhes sobre esse
religiosos, que constituem as sagradas escrituras da fé assunto. «A significação bíblica original (da pureza)
religiosa hindu popular. Ver sobre Hinduismo e era cerimonial. Essa pureza deveria ser obtida
Filosofia Hindu. A terceira seção do primeiro desses mediante certas abluções e purificações impostas aos
livros apresenta uma discussão geral sobre a literatura adoradores no cumprimento de seus deveres religio
dessa fé. Esses documentos particulares tentam sos... no caso de Israel, a purificação cerimonial tinha
descrever a origem das coisas, do mundo, do tempo, aspectos sanitários e éticos» (ND). Ver o artigo
dos deuses e dos Vedas. Contêm algum material Purificação.
antigo. Mas, na forma em que existem, quase tudo
procede do século IV D.C. e posteriormente. Várias ••• ••• •••
508
PUREZA - PURGATÓRIO
3. Meio« de Purificação instrumento a serviço de Deus, terá de ser puro (ver II
a. Mediante o fogo. Como no processo do refino de Tim. 2:21).
metais, processo esse que tinha usos metafóricos. Ver «Isso posto, a pureza é a atitude de renúncia e de
Zac. 13:9; Mal. 3:2; Sal. 12:6; Luc. 3:16 ss; 12:49; obediência que põe em sujeição a Cristo todo
Apo. 3:18. Mui provavelmente foi desse processo de pensamento, sentimento e ação. Começa no íntimo e
purificação que se originaram as idéias do julgamento se exterioriza atingindo todos os aspectos da vida,
pelo fogo. Ver I Cor. 3:12 ss; Luc. 3:16 ss; 12:49. purificando todos os modos da existência e controlan
b. Mediante a água. O principal agente de limpeza do todos os movimentos do corpo e do espírito» (ND).
é a água. Ver Êxo. 19:10; Núm. 19:17-21; 31:23; Deu. A mente deve demorar-se sobre pensamentos puros e
21:6; Sal. 24:4; Mat. 3:11; 27:24. Daí surgiu, sobre outras qualidades morais e espirituais, a fim de
metaforicamente, o batismo. que o homem interior possa ir sendo transformado
c. Mediante meios espirituais, a fim de ser segundo o grande modelo; que é Cristo (ver Fil. 4:8;
conseguida a pureza moral e espiritual. Ver I Sam. Rom. 12:1,2).
16:18; Mat. 5:34-37; Col. 4:6; I Tim. 4:12; Apo. 19:8.
As fés hebraica e cristã têm enfatizado esse aspecto da
questão, em contraste com a esmagadora maioria das PURGATÓRIO
religiões pagãs. Ver o artigo geral sobre a Santifica O leitor deve consultar o artigo intitulado Estado
ção. A regeneração é comparada com uma limpeza, Intermediário, especialmente em seu ponto quatro,
em Tito 3:5, e, conforme esse mesmo versículo ensina, que procura descrever as várias divisões da religião
isso é obra do Espirito de Deus. Jesus, o Senhor, é o cristã que têm pensado acerca dessa questão.
agente ativo nessa operação. Esboço:
4. Á Pureza Racial I. Origem Possível da Doutrina
Essa questão era critica em Israel, porquanto Deus II. Caracterização Geral; Informes Históricos
havia separado esse povo como sua possessão
exclusiva. Essa separação de Israel de outros povos foi III. Idéias das Comunidades Ortodoxa e Anglicana
efetuada sobre bases religiosas, e não sobre bases IV. Orações pelos Mortos
raciais distintas. Ver Exo. 19:6; Esd. 9:2; 10:10,44; V. O Verdadeiro Purgatório
João 4:22; Rom. 9:3; II Cor. 11:22; Fil. 3:5. O povo I. Origem Possível da Doutrina
de Israel tornou-se símbolo do Israel espiritual, Muitas crenças partem da experiência humana, e
composto dos regenerados, conforme é salientado no quando estamos estudando as crenças religiosas,
nono capítulo de Romanos. E o trecho de II Cor. 6:14 então precisamos incluir as experiências místicas ou
ss alude à necessidade de separação para o Israel transcendentais. Mediante a razão, pode-se supor que
espiritual, a Igreja. Ver também Gál. 3:6-9,14,16,18; as almas que não são suficientemente más para ir
6:16. para o inferno, e nem suficientemente boas para ir
5. A Pureza Moral e Espiritual para o céu, têm que sofrer alguma forma de
A legislação mosaica dá grande importância ao purificação, como preparação para o ingresso no céu.
problema do pecado e sua polução, e não meramente Esse sentimento parece refletido em I Cor. 3:12 ss,
ao lado cerimonial da fé religiosa. Daí é que proveio a que a Igreja Católica Romana usa como prova de
necessidade do Dia de Expiação (ver Lev. 16). O texto da existência do purgatório. Naturalmente,
sacerdócio de Israel tinha de ser puro em símbolo e de protestantes e evangélicos negam que exista tal
fato (ver Lev. 16:6). Jesus criticou a mera pureza referência naquela passagem, e percebem na mesma
cerimonial, que foi um dos grandes abusos em que se apenas um aspecto do julgamento dos crentes. Ver II
precipitou o judaísmo. Ver Mar. 7:3 ss; Luc. Cor. 5:10 ss quanto à principal menção bíblica a esse
11:39-41. julgamento. Mas o catolicismo romano vê o
Os patriarcas, profetas e poetas do Antigo «purgatório» em passagens escriturísticas assim,
Testamento referiram-se à pureza moral e espiritual sendo significativo que o fogo é o símbolo daquele
como algo necessário para a espiritualidade genuína. julgamento, tal como é símbolo do julgamento dos
Os dez mandamentos estavam envolvidos nisso (ver ímpios. Quanto a detalhes completos sobre o assunto,
Exo. 20). Davi aludiu à pureza como um elemento ver os artigos separados intitulados Julgamento de
necessário à comunhão com o Senhor (Sal. 24:3 ss). Cristo, Tribunal de e Julgamento do Crente por Deus.
«Mãos puras» era uma expressão equivalente à Algumas vezes, a razão é apoiada pela revelação.
inocência (ver Jó 17:9; Sal. 18:20; Mat. 27:24). Davi Esse é o caso do raciocínio concernente à necessidade
entendeu que o importante é ter um coração limpo e que os crentes têm de ser purificados, sendo julgados
puro (ver Sal. 51:7,10). Jó referiu-se a estar limpo em consonância com a lei da colheita segundo a
diante de Deus (ver Jó. 11:4). O profeta Ezequiel semeadura. Mas, acima da razão, temos a experiência
enfatizou a necessidade de pureza nacional (ver Eze. humana. As experiências místicas presumivelmente
36:25). O escritor dos Provérbios via o valor de uma fornecem-nos alguma informação sobre o que
linguagem pura e de uma clara moralidade (Pro. devemos esperar para além da morte biológica, e essa
22 : 1 1 ). informação inclui a questão do julgamento. As
No Novo Testamento, no Sermão da Montanha, pesquisas quanto aos fenômenos psíquicos, que
Jesus ensinou que somente os limpos de coração procuram espiar para além da morte e entrar nas
podem ter a expectação de ver a Deus (Mat. 5:8). O esferas espirituais além, como as Experiências Perto
trecho de João 13:3-11 ilustra a pureza de vida, na da Morte (vide), e o uso da regressão hipnótica, que
ordenança do lava-pés. Os servos de Deus precisam procura descobrir vida-entre-vidas, ou seja, presu
ser puros (ver II Cor. 6:4,6). Os jovens inclinam-se míveis experiências que as pessoas têm entre as
para as impurezas morais ao entrarem em contacto encarnações, descobrem condições parecidas com as
com as experiências da vida; mas um jovem espiritual de um imaginado purgatório, no caso de algumas
repele essa tendência (ver I Tim. 1:5; 4:12; 5:2). Tiago pessoas, embora não certamente no caso de todas. O
exortou todos os crentes a buscarem a pureza (Tia. pecado mui definidamente segue uma pessoa até além
1:27; 4:8). Pedro mencionou a necessidade da alma da vida presente, — e ali cada qual se encontra
ser purificada, pois é ali que jaz a corrupção moral novamente consigo mesmo, com todas as suas
(ver I Ped. 1:22). Se alguém quiser ser um bondades e maldades, com todos os seus triunfos e
509
PURGATÓRIO
fracassos. Algumas pessoas, que morreram clinica afirmavam que a punição do purgatório inclui tanto a
mente, ou chegaram à beira da morte, ocasionalmen privação da presénça de Deus quanto o julgamento
te passam por experiências tipo hades ou purgatório, através do fogo (poena damni e poena sensus). Os
estando naquele estado. As estatísticas indicam que intérpretes, entretanto, estão divididos quanto à
cerca de uma quarta parte daqueles que passam por questão, pois alguns pensam que as chamas são meros
experiências de quase morte tem alguma espécie de símbolos de julgamento, ao passo que outros pensam
«viagem negativa». E essas experiências podem ter em chamas literais. Porém, não conseguem explicar,
sido um fator por detrás do desenvolvimento da estes últimos, como as almas podem sofrer em chamas
doutrina oficial do purgatório, dentro da Igreja literais!
Católica Romana. Presumíveis experiências entre
encarnações (ver sobre a Reencamação) podem ser Alguns informes históricos sobre o desenvolvimento
da doutrina do purgatório:
bastante similares àquelas. Mas, nesse caso, elas
podem ser tanto negativas (purgatoriais) quanto 1. A real origem da doutrina do purgatório pode ser
podem ser positivas (paradisíacas). Essas experiências sugerida na primeira seção, acima.
são chamadas experiências da metaconsciência. 2. O trecho de II Macabeus 12:42-45 oferece à
Os estudos que estão sendo efetuados nesse terreno mente católica romana (que aceita os livros apócrifos
deveriam continuar, ainda que, no presente, existam como inspirados e canonicos) uma demonstração
poucas provas objetivas da validade de tais experiên adequada de que as preces e os sacrifícios de seres
cias. Pessoalmente, confiro grande importância a humanos vivos podem ajudar a melhorar as condições
experiências daqueles que estiveram clinicamente das almas que se desincorporaram.
mortos, ou quase nesse estado, e então voltaram à 3. Supostos textos de prova neotestamentários, na
vida. O meu artigo sobre essas experiências, aborda opinião dos eruditos católicos romanos, são: I Cor.
pormenores. Ver sobre Experiências Perto da Morte. 3 :1 2 » (onde as chamas são mencionadas), e II Cor.
Os julgamentos sofridos durante essas experiências 5:10 ss.
não são juízos definitivos, mas apenas orientações 4. O trecho de Luc. 16:19-31 parece fazer estagnar
que, algumas vezes, incluem sofrimentos. O juízo o estado das almas dos mortos; mas o relato da
final só ocorrerá terminado o milênio, que será descida de Cristo ao hades (ver I Ped. 3:18-4:6)
inaugurado após a Grande Tribulação. O julgamento mostra que a missão tridimensional de Cristo não
final, pois, será precedido por esses juízos orientado deixou o hades em estado de estagnação. De fato, I
res, visto que o destino eterno de cada alma não é Ped. 4:6 mostra que o julgamento será remediai. Os
determinado por ocasião da morte biológica. Ver I católicos romanos aplicam isso somente aos mortos
Ped. 4:6, que mostra que até o julgamento do hades é justos, mas I Ped. 3:20 ensina que a pregação do
remediai, e não apenas vindicativo. Jesus anunciou o evangelho, no hades, foi feita aos desobedientes.
evangelho naquele lugar, pelo que até o hades é um 5. Irineu (130 D.C.) tinha um ponto de vista
lugar de redenção. Ver o artigo Descida de Cristo ao dinâmico da vida após-túmulo, no tocante aos
Hades. Isso posto, nada há de antibíblico na idéia de regenerados, mas também no tocante aos não-regene-
julgamentos intermediários, associados ao estado rados. Ele não pensava que a morte biológica
intermediário da alma, quando não haverá qualquer marcasse o fim da oportunidade de salvação, e
julgamento final, definitivo. Experiências com os encarava a vida por vir como fase da existência que dá
estados intermediários de julgamento mui provavel prosseguimento a todos os propósitos, desígnios e
mente serviram de inspiração por detrás daqueles oportunidades da vida terrena, embora em grau
conceitos que, finalmente, concentraram-se na dou superlativo. Conseqüentemente, de acordo com esse
trina oficial do purgatório. Naturalmente, quando a ponto de vista, os perdidos poderão avançar, no outro
questão se dogmatizou, então a verdade básica lado da existência, achando a salvação em Cristo, ao
acabou sendo sacrificada. O pior aspecto dessa mesmo tempo em que os salvos poderão prosseguir em
doutrina do purgatório é que ela é limitada a cristãos, sua transformação segundo a imagem de Cristo,
somente com a finalidade de «purificá-los», de modo a progredindo assim na participação da natureza
poderem continuar subindo para o céu. Mas a divina. Essa era a opinião que prevalecia entre os pais
verdade da questão parece ser que os juízos gregos da Igreja, adotada pela Igreja Ortodoxa
intermediários visam ao propósito de ajudar todas as Oriental. Essa visão mais otimista do futuro humano
almas a prosseguirem. A salvação será sempre o alvo tornou-se parte dos dogmas da ortodoxia cristã
final, conforme também a Igreja cristã oriental oriental. As idéias de Irineu figuram em Adv. Haer. 4.
sempre ensinou, e ao que os anglicanos confirmam 37,7: Patrologia Graeca, por J.P. Migne (16 volumes),
com sua aprovação. Esse é o verdadeiro purgatório. e 7. cols. 1103-4. De acordo com esse ponto de vista
dinâmico, sempre ocorrerão mudanças, abrindo-se
II. Caracterização Geral; Informes Histórico« espaço para uma fase purgatorial para crentes e
Purgatório. Essa palavra portuguesa vem do latim, incrédulos, após a morte biológica. Mas é evidente
purgare, «purificar». Para o catolicismo romano, o que Irineu oferecia uma descrição muito mais
purgatório é um lugar ou condição da alma onde esperançosa para os mortos do que aquela que,
aqueles que morrem na graça de Deus podem expiar finalmente, foi apresentada pela Igreja Ocidental
seus pecados veniais, que foram perdoados. As preces (católica romana ou protestante), de acordo com a
oferecidas em favor dos mortos e as missas rezadas em qual somente os salvos podem ser sujeitados a
benefício deles são consideradas meios importantes qualquer evolução, mas onde o estado das almas
nessa expiação. perdidas é absolutamente estagnado, sem qualquer
De acordo com os ensinos católicos romanos, o raio de esperança.
purgatório é uma condição temporária, onde a alma 6. Origenes (falecido em cerca de 250 D.C.). Ele
dos cristãos batizados que morreram expurgam seus ensinou uma restauração universal (no grego,
pecados veniais. Definições providas pelos concílios apocatástasia), abrindo espaço para a purificação de
de Florença e de Trento afirmam enfaticamente que todos os indivíduos, como parte necessária do
há um purgatório, e que o oferecimento de orações, e, processo restaurador (In Lucam Hom. XXIV; ver
especialmente, de missas, ajudam as almas ali Patrologia Graeca, 13, cols. 1864-5). Ele falava sobre
encerradas. Tomás de Aquino e Boaventura, dando um batismo de purificação que ele denominou de
continuação às idéias pioneiras de São Gregório, batismo de fogo. Podemos encontrar aí o gérmen de
510
PURGATÓRIO
um ensino sobre um purgatório, no sentido mais 13. Tanto no Oriente quanto no Ocidente deu-se
tradicional que veio à tona bem mais tarde. Porém, prosseguimento à prática dos judeus helenistas de
Orígenes jamais teria concordado que isso se aplicasse orar pelos mortos, como algo dotado de eficácia. No
somente aos remidos, que precisariam ser purifica Ocidente, essas preces eram consideradas úteis para
dos. Ele asseverava que pensar no julgamento os remidos que estivessem no purgatório; no Oriente,
somente como uma retribuição (mas não como elas eram tidas como proveitosas para salvos e
restaurador, ao mesmo tempo), é aceitar uma teologia perdidos igualmente, porquanto suas condições não
inferior. Certamente ele estava certo nessa opinião. O eram vistas como estagnadas, nem no caso dos salvos
trecho de I Ped. 4:6 ensina esse principio, e refere-se e nem no caso dos perdidos. Porém, os Reformadores
aos perdidos no hades que chegarão a compartilhar protestantes abandonaram a crença na eficácia das
da vida divina através do julgamento. Assim, o orações pelos mortos. Ver o artigo separado sobre esse
julgamento divino é um dedo da amorosa mão do assunto.
Senhor, por meio do que ele pode realizar coisas que 14. O concílio de Trento, fazendo oposição a muitos
não poderia fazer de qualquer outro modo. O dos ensinos dos Reformadores, reafirmou a realidade
julgamento será exatamente tão severo quanto for do purgatório: «O purgatório existe, e as almas ali
necessário para transformar os homens. Ver o meu detidas são ajudadas pelas orações dos fiéis». A isso
artigo geral sobre a Restauração. foi adicionada uma advertência ao abuso das
7. A começar pelo século IV D.C., tomou-se idéia indulgências, provocado pela ganância de indivíduos
generalizada a combinação e o contraste entre o sem escrúpulos.
julgamento geral e o purgatório (somente para os Foi desse modo que o purgatório terminou sendo a
cristãos salvos). doutrina oficial da Igreja Católica Romana. Mas seus
8. O testemunho de Agostinho (século V D.C.) não pronunciamentos não determinam se as chamas do
é coerente. Por uma parte, ele ensinava que todos os purgatório são reais ou simbólicas, e nem é ali
justos (não somente os mártires) recebem de imediato determinado qualquer lugar ou duração dos castigos.
a visão de Deus, por ocasião da morte, não precisando Também não há especificação de qualquer tipo de
esperar pelas operações em algum estado intermediá punição. O romanismo incorporou muitas especula
rio. Assim, ele não interpretava I Cor. 3:12-15 como ções em sua doutrina purgatorial, e as discussões
texto de prova da existência do purgatório. Por outra prosseguem. Mas seu dogma é simples: 1. existe um
parte, às vezes ele falava de modo a parecer favorável' purgatório; 2. as almas ali encerradas são ajudadas
à necessidade do ignis purgatorius, para solução de pelas orações de seus irmãos ainda na terra. Isso
certos problemas da alma. Em sua obra, Cidade de significa que, no Ocidente, acredita-se que somente
Deus (21:26), ele menciona a teoria que diz que os cristãos batizados vão para o purgatório, e que as
espíritos dos mortos serão purificados mediante o fogo almas perdidas em nada são beneficiadas com aqueles
entre a morte física e o julgamento final, e então castigos.
comenta: «Não rejeito essa teoria, pois pode ser TII. Idéias dai Comunidades Ortodoxa e Anglicana
verdadeira». Talvez ele aplicasse isso a todas as almas, «A Igreja Ortodoxa Oriental—embora não usando
e não somente às almas dos redimidos; e, nesse caso, a palavra—e a Igreja Anglicana—que ainda recente
pelo menos nessa oportunidade, tentativamente ele mente começou a dar maior atenção a essa crença,
assumiu a posição cristã oriental sobre a questão. defendem ambas as doutrinas que envolvem a
9. Gregório, o Grande (540 - 606 D.C.), achava purificação das almas em seu progresso à bem-aven-
possível os remidos serem privados da presença de turança final e a eficácia das orações pelas almas dos
Deus enquanto passassem pela purificação, opinando mortos» (E). Apesar disso ser verdade, devemos
que essa ausência, em si mesma, é um julgamento entender que o processo de purificação não deve ser
(Dialogorum Lib. 4:25; Patrologia Latina, J.P. concebido como limitado aos remidos. O fogo
Migne, 217 vol. 77, col. 357). purificador é universal; ele é purificador, e não
10. O segundo concílio de Lyons (1274) bem como o meramente retributivo; redunda em bem para os
concílio de Florença (1439), referiram-se ao purgató perdidos, podendo até levá-los à redenção; purifica os
rio real como algo associado ao estado intermediário salvos e serve cómo um dos elementos que os ajuda em
das almas. Porém, essa idéia foi contestada pelos sua transformação segundo a imagem de Cristo, até
cristãos orientais. que, finalmente, venham a compartilhar da natureza
11. No cristianismo oriental foram mantidas as divina. O processo restaurador dos perdidos (ver Efé.
chamas do julgamento, para salvos e perdidos 1:9,10), do que faz parte o ministério de Cristo no
igualmente; mas ali falava-se sobre o fogo restaurador hades (ver I Ped. 3:18-4:6), e onde a descida de Cristo
do juízo, aos moldes de Orígenes, e não meramente ao hades e sua subida dali têm o mesmo propósito (ver
sobre um fogo de retribuição e sofrimento, sem Efé. 4:9,10), é uma realização de Cristo. Essa obra
qualquer modificação ou término dessa situação. ocorre após a morte biológica do indivíduo. Há
12. A Reforma Protestante opôs-se peremptoriamen dimensões do ministério de Cristo que foram perdidas
te às indulgências (vide), pois então o dinheiro é que pela teologia católica romana, protestante e evan
libertaria as almas do purgatório. De fato, Roma gélica. Quanto a isso, a Igreja Ortodoxa Oriental
estava obtendo grandes riquezas, mediante a explora tem uma visão mais ampla, poupando a fé cristã de
ção dos sentimentos e temores do povo. Opondo-se a um ranço pessimista.
tamanho abuso, os reformadores penderam por negar A Igreja Ortodoxa Oriental nunca aceitou
qualquer estado intermediário tanto a salvos quanto a oficialmente o purgatório concebido pela Igreja
perdidos. Por conseguinte, as coisas foram reduzidas Católica Romana, embora houvesse aderência tempo
ao quadro mais simples possível: a terra (único lugar rária de delegados ortodoxos orientais às decisões do
de oportunidade de salvação); céu, imediatamente concílio de Florença.
após a morte biológica dos remidos; inferno, IV. Ormçõe* Pelos Mortos
imediatamente após a morte biológica dos perdidos. «Tem sido corretamente afirmado que, exceto no
Talvez a maioria (mas certamente não todos os protestantismo moderno, as orações pelos morte»,
evangélicos) dos crentes mantenha esse ensino herdadas do judaísmo, têm sido um costume cristão
simplista. Mas certamente isso não corresponde à universal. A prática não requer um apoio bíblico
realidade dos fatos. especifico, sobretudo de II Macabeus 12:39. Certa-
511
PURGATÓRIO - PURIFICAÇÃO
mente esse é um corolário necessário da doutrina da 2. No Antigo Testamento
comunhão dos santos» (C). Quanto a uma descrição O povo de Israel foi escolhido por um Deus santo
dessa doutrina (na mente católica romana uma sócia para ser o seu povo, esperando, como conseqüência
inseparável da doutrina do purgatório), ver o artigo disso, que esse povo viesse a compartilhar de sua
separado intitulado Orações Pelos Mortos. santidade (ver Lev. 11:44,45; 19:2; 21:26). A lei
V. O Verdadeiro Purgatório mosaica enfatizava tanto o aspecto cerimonial quanto
O verdadeiro purgatório é o juizo remediai. O o aspecto ético da pureza (ver Lev. 20:22-26 — os
relato da descida de Cristo ao hades, além de textos homens deviam viver separados do pecado). Mas as
como o de Efé. 1:9,10, que falam sobre a restauração formas cerimonial e ritualista da purificação também
final, dão-nos razão para crer que o juízo, conforme o eram importantes. Essa questão é longamente
mesmo atualmente existe, é uma espécie de ventilada no artigo intitulado Limpo e Imundo. Ver
purgatório. O trecho de I Ped. 4:6 tem aspectos também sobre a Imundícia. Na mentalidade dos
purgatoriais. Os homens pagam suas dívidas; a antigos hebreus, naturalmente, não se fazia a clara
retribuição é inevitável; mas o julgamento também distinção que hoje se estabelece entre questões éticas e
tem um aspecto remediai. Não é popular, entre os questões cerimoniais. Para os israelitas, o que era
evangélicos, falar em purgatório, porquanto isso apenas cerimonial revestia-se de alta importância
reflete um dos piores abusos católicos romanos, ética.
mormente pouco antes da Reforma Protestante, a A imundícia contraída através do contato com
qual se rebelou, entre outras coisas, contra a objetos imundos, animais, alimentos, etc., requeria
vergonhosa venda das indulgências, que era feita purificação. Utensílios e vestes imundas eram lavados
supostamente a fim de livrar as almas retidas no em água corrente. Mas objetos de barro e cerâmica,
purgatório, a peso de moedas. Porém, um julgamento por serem porosos, se ficassem cerimonialmente
remediai envolve, necessariamente, o conceito de imundos, precisavam ser destruídos (ver Lev. 15:12).
expurgo, contido na palavra «purgatório». Entretan Os metais algumas vezes eram purificados fazendo-se
to, o verdadeiro expurgo destina-se à humanidade os mesmos passarem pelo fogo (ver Núm. 31:32,33).
inteira, e não aos fiéis que morrem com alguns Pessoas que ficassem cerimonialmente imundas
problemas espirituais não-resolvidos. Orígenes afir precisavam separar-se da congregação, e não podiam
mava que falar no julgamento apenas em termos de participar da adoração formal (ver Núm. 5:2,3);
retribuição é condescender diante de uma teologia antes, precisavam lavar-se e oferecer sacrifícios (ver
inferior. As evidências colhidas nas experiências perto Lev. 12:6). Se alguém tocasse em um cadáver, era
da morte (ver Experiências Perto da Morte) mister passar por uma elaborada cerimônia de
consubstanciam a realidade do aspecto remediai do purificação (ver Núm. 19). Havia uma cerimônia de
julgamento divino. Esse juízo é um meio de tornar purificação no caso de ex-leprosos (ver Lev. 14). Os
eficaz o amor de Deus, em certos casos. A ira de Deus israelitas que se tornassem cerimonialmente imundos
é uma subcategoria do seu amor; o julgamento é um e se recusassem a passar pelos ritos de purificação,
dedo da amorosa mão de Deus. A cruz de Cristo foi tinham de ser executados (ver Núm. 19:19).
um julgamento; mas a sua finalidade foi redimir os À parte da lei mosaica, há a impureza moral, e essa
homens. O julgamento do crente poderá ser severo, também precisa de purificacão. Esses conceitos
mas o seu desígnio é preparar o crente para ocupar vieram a fazer parte da idéia de uma santidade mais
um nível superior, pelo que será remediai. Esse profunda (ver Sal. 51:7; Eze. 36:24). Antigos
castigo do crente poderá ser severo, mas será uma conceitos de imundícia incluiam quatro aspectos
medida corretiva de um Pai amoroso. O trecho de I principais: alimentos; funções sexuais; lepra; contato
Ped. 4:6 mostra que o julgamento dos perdidos com cadáveres, especialmente no caso dos sacerdotes.
também será remediai, conferindo aos perdidos assim A essa lista foram adicionadas as impurezas morais,
corrigidos vida no Espírito, a saber, a vida do próprio em um conceito crescente do que se faz mister para
Deus. Uma notável esperança! que uma pessoa seja considerada santa. Sem dúvida,
A missão tridimensional de Cristo (na terra, no os salmos e os escritos dos profetas devotam maior
hades e no céu) garante o sucesso universal de seus atenção à pureza ética e à necessidade do pecador ser
labores. Coisa alguma pode ficar fora do alcance do purificado de seu pecado, do que os livros anteriores
seu poder. Um dos aspectos desse poder é que as do A. Testamento. — A mensagem geral dos salmos e
almas são purificadas entre o tempo de sua morte dos profetas convoca os homens para que se afastem
física e o estado final. Esse tipo de purgatório é dos males corruptores como a idolatria, a sensualida
verdadeiro, e faz parte da missão geral de Cristo, o de e a busca desenfreada pelos prazeres.
Logos. Ver sobre Missão Universal do Logos (Cristo). 3. No Novo Testamento
Ver também sobre Descida de Cristo ao Hades e sobre
Restauração. São doutrinas assim que impedem que a Aí encontramos o desenvolvimento dos melhores
fé cristã seja pessimista. aspectos do ensino dos israelitas acerca da purifica
ção, como acerca de muitas outras questões. A pureza
Bibliografia. AM B C E P R cerimonial fica inteiramente para trás, conforme nos
ensina o décimo quarto capítulo da epístola aos
Romanos. Isso, no começo do cristianismo, pareceu
revolucionário, para dizermos o mínimo. Esse novo
PURIFICAÇÃO ponto de vista foi antecipado nos ensinamentos de
Esboço: Jesus (ver Mar. 7:19 e comparar com Atos 10:15). O
1. A Palavra concílio de Jerusalém (historiado no décimo quinto
2. No Antigo Testamento capítulo de Atos), não requereu que as elaboradas
3. No Novo Testamento regulamentações cerimoniais judaicas tivessem qual
quer aplicação aos gentios convertidos ao Senhor. Ã
1. A Palavra medida que a Igreja foi-se afastando de seu centro
Essa palavra portuguesa vem do latim, purus, inicial—Jerusalém—o antigo judaísmo foi fenecendo,
«puro», e facere, «fazer», dando a entender qualquer como o poder impulsionador da nova fé. Ver Tito
agência ou condição que purifica a alguém, em 1:15; I Tim. 4:4. No Novo Testamento, pois,
sentido ético, espiritual, ritual ou cerimonial. encontramos a ênfase sobre a corrupção moral, que é
512
PURIM - PURITANISMO
a verdadeira causa da condenação de uma alma. O Possível Referência Neotestamentária. Alguns estu
sangue de Cristo, derramado uma única vez, diosos supõem que o trecho de João 5:1 alude a essa
tornou-se o agente da purificação (ver I João 1:7; Heb. festa judaica. Porém, o trecho labora contra o
1:3; 9:14), uma vez aplicado mediante a fé. Isso costume dos judeus celebrarem a festa de Purim em
refere-se ao poder salvatício de Cristo, em sua missão qualquer lugar em território de Israel. Isso significa
na qual ele veio salvar e santificar. Ver o artigo sobre que não havia necessidade de subir a Jerusalém para a
ti Santificação. Ficou então compreendido que o ritual celebração da festa (o caso da festa mencionada no
do Antigo Testamento era mera prefiguração da evangelho de João). Dos israelitas eram requeridas
verdadeira purificação, que obtemos em Jesus Cristo apenas três peregrinações anuais a Jerusalém, a
(ver Heb. 9:13 ss, 23). E os fariseus (vide) vieram a saber, nas festas da páscoa, do Pentecoste e dos
tornar-se símbolo de uma fanática rigidez, de acordo tabernáculos.
com a qual o que é meramente cerimonial ocupa o 2. Historicidade
lugar dos verdadeiros valores éticos. Lamentavelmen
te, a Igreja cristã, em alguns de seus segmentos, retém Embora a festa de Purim venha sendo celebrada
esse elemento ritualista em suas várias formas de com tanto entusiasmo e por tantos séculos, os eruditos
legalismo. Ver o artigo geral intitulado Pureza. liberais costumam salientar a total ausência de provas
históricas seculares para a mesma. A história da
Pérsia não fala sobre qualquer Ester, e a identificação
PURIM de Assuero com Xerxes ou Artaxerxes pode ser uma
identificação ad hoc, ou seja, uma conjetura, feita
Ver sobre Festas (Festividades) Judaicas, seção com o propósito de conferir a Assuero um caráter
terceira, Festividade Após o Exílio Babilónico, histórico. Por isso mesmo, alguns pensam que o relato
primeiro ponto, Purim. é apenas uma novela religiosa que pode ter surgido
1. Caracterização Geral durante o período dos triunfos militares dos
O trecho de Est. 9:24 explica o nome purim (que Macabeus, para então ser posta em um diferente
está no plural) como «sortes». Mui provavelmente, contexto histórico. E outros períodos históricos
essa palavra vem do assírio, puru, se não é que se também têm sido sugeridos como a época em que,
trata de um substantivo nativo do hebraico. O puru alegadamente, aqueles eventos tiveram lugar, como o
era um seixo, usado no lançamento de sortes. Hamã, período persa, o período parta, o período do
que planejava exterminar aos judeus, lançou sortes a zoroastrismo ou o período do exílio babilónico.
fim de determinar um bom dia para execução de seu Abordei esses problemas mais detalhadamente no
maligno plano. Mas o curso dos acontecimentos não artigo sobre o livro de Ester, em sua primeira seção.
seguiu a seqüência desejada, tendo sido revertido pela Aquele artigo também fala sobre o relato dos
intervenção de Ester, diante do rei persa. E uma festa acontecimentos por detrás da festa, sobre os quais
jubilosa judaica foi estabelecida para celebrar essa aqui nada relatamos. Ver os artigos separados sobre
grande vitória dos judeus. Essa festa era observada Hamã e sobre Mordecai.
nos dias 13 -15 do mês de Adar (fevereiro-março). O 3. Lições Espirituais da Narrativa
livro de Ester é lido nas sinagogas até hojé, e a Deus dispõe à sua vontade do tempo, agindo
congregação solta gritos e vaias, cada vez em que é conforme ele quer. Coisa alguma está fora do seu
mencionado o nome de Hamã. controle, mesmo em nossas horas mais negras.
O nome do rei persa, no livro de Ester, é Assuero, Sempre haverá vilões ameaçadores contra nós, mas
que alguns eruditos identificam como Xerxes (485 - nenhum deles pode, realmente, prejudicar-nos, se
465 A.C.), ou então como Artaxerxes II (404 - 359 estamos dentro da vontade de Deus. Pois, na
A.C.). A falta de confirmação secular a Ester ou aos providência divina, surgirão pessoas e circunstâncias
eventos descritos no livro com esse nome, tem levado favoráveis a nós, na hora crucial de nossa necessida
alguns eruditos liberais a duvidarem da historicidade de. Ver o artigo intitulado Providência de Deus.
da narrativa, que eles então classificam como uma Algumas de nossas vitórias são obtidas contra todas
novela romântico-religiosa. Hamã foi uma espécie de as forças adversas, e isso porque, para Deus, é
primeiro-ministro do rei persa, e que o livro de Ester igualmente fácil fazer algo difícil ou fácil. Como tipo,
apresenta como homem dotado de considerável Ester simboliza o Messias, o Libertador nacional. O
autoridade, de tal modo que se Ester não tivesse profundo interesse de Deus por seu povo de Israel,
refreado aquele homem, provavelmente ele teria não se abate e nem pode ser frustrado. Paulo
conseguido concretizar seu plano criminoso. garante-nos que os planos divinos estão se desdobran
Fora do livro de Ester, não temos qualquer outra do em favor de seu povo, a despeito da atual cegueira
referência ao relato. Mas o incidente é mencionado de Israel. Ver Romanos 9-11, especialmente o trecho
nos livros apócrifos chamados Adições a Ester de 11:26 ss. A narrativa sobre Ester é uma espécie de
10:10-13; II Macabeus 15:36, e também em Josefo expansão parabólica da promessa contida em Salmos
(Anti. 11:6,13). Nos dias dos Macabeus, essa 91.
festividade era conhecida como Dia de Mordecai.
Josefo alude à universalidade da celebração entre os
judeus de seus dias (Anti. 11:6,13).
Essa festividade sempre foi popular entre os judeus, PURITANISMO
desde o seu inicio. Além da rememorização em geral, O purítanismo foi um movimento religioso do
mediante a leitura do livro de Ester, e dos gritos e século XVI, dentro do protestantismo inglês, cujo
vaias, conforme se disse acima, o leitor do relato propósito primário era o de «purificar» a Igreja
pronuncia todos os nomes dos filhos de Hamã de um Anglicana de formas católicas romanas. Eles toma-
só fôlego, a fim de indicar que foram enforcados ram-se conhecidos como «separatistas» ou como
juntos. No segundo dia da celebração há um culto «não-separatistas», tudo dependendo de sua atitude
religioso formal, são entoados hinos, há dramas e atos para com a Igreja Anglicana. Foi um dos ramos do
teatrais, e são apresentadas recitações. Alimentos e purítanismo que deu origem ao movimento batista.
presentes são distribuídos entre os pobres como um Assim, os puritanos foram os verdadeiros origina
gesto de generosidade, em memória da generosidade dores dos batistas, e não os anabatistas. Na fundação
de Deus para com o povo judeu (ver Est. 9:19). das colônias da Nova Inglaterra, na América do
513
PURITANISMO - PURO E IMPURO
Norte, estavam bem representados os separatistas, os puritano nunca abandonou o calvinismo como sua
não-separatistas e os batistas. .A colônia da baia de posição teológica.
Plymouth compunha-se, essencialmente, de separatis Elemento« Principais da Êtíca Puritana:
tas moderados. Por conseguinte, o puritanismo foi um 1. A peregrinação e o conflito fazem parte
movimento dentro da Igreja Anglicana, que se necessária da vida cristã. A afirmação clássica dessa
separou da mesma e se transferiu para a América do noção é O Peregrino, de João Bunyan.
Norte, nas emigrações inglesas para o continente 2. O trabalho árduo foi determinado por Deus
norte-americano. para o homem. O pecado é sufocado no homem
Embora o puritanismo já fosse uma agitação quando este se ocupa em labor diligente. E o trabalho
reconhecida na década de 1560, na verdade foi uma árduo também afasta a pobreza da porta da casa.
extensão de mudanças instituídas pelo Parlamento Ninguém tem direito ao lazer. Conforme dizem as
Reformador, trinta anos antes, o qual substituiu o Escrituras: «Seis dias trabalharás». O dinheiro, o
monarca reinante em lugar do papa, como cabeça da tempo e os talentos pessoais devem ser usados
Igreja da Inglaterra. Esse Parlamento Reformador completamente a serviço de Deus. O ócio é um pecado
dissolveu os mosteiros e restringiu a autoridade dos sério, e dá margem a todas as formas de vício.
bispos. Essas forças de oposição à Igreja Católica Indústria, capitalismo e filantropia são considerados
Romana, iniciadas por Henrique VIII, vieram a importantes corolários do trabalho árduo.
asseverar princípios de reforma mais extremos que 3. Educação e cultura. Os puritanos sempre se
Henrique VIII jamais quisera reconhecer. O movi mostram ativos na promoção dos valores educacionais
mento puritano, mui naturalmente, aliou-se à e culturais. Eles se opunham a uma arte aviltada na
oposição aos reis da linhagem Stuart e ao movimento pintura, no teatro, etc., e promoviam aquilo que
do Parlamento Longo (1640), bem como apoiou a sentiam ser hígido na arte e na literatura.
guerra civil de 1642, tomando-se assim uma poderosa 4. O descanso dominical e a família. Da mesma
força política. Mas, após um período de cooperação maneira que o crente deve trabalhar por seis dias,
forçada, tornou-se bem pronunciada a separação assim também ele deve parar de trabalhar por um dia
entre os puritanos presbiterianos e os puritanos a cada sete. No seu legalismo, os puritanos chamavam
independentes. Entre 1643 e 1648 predominaram os
esse dia de descanso de sábado cristão, embora
puritanos presbiterianos, durante esse período a observado no domingo, e não no sábado. A violação
Assembléia de Westminster teve as suas sessões e
desse dia de descanso era uma ofensa grave, nas
produziu a Confissão de Fé, bem como o Grande e o comunidades puritanas. O dia de descanso era um dia
Pequeno Catecismos. Entretanto, Oliver Cromwell
doméstico, e, em geral, a família, a unidade da
era um puritano independente, e, após sua subida ao família, a adoração e o cultivo do caráter cristão eram
poder, o presbiterianismo, embora tolerado, foi questões muito enfatizadas. O pai de cada família era
forçado a ceder terreno diante de seu rival mais o seu sumo sacerdote, pelo que assumia todos os
recente. Todavia, após a restauração da casa reinante deveres próprios do ofício. A adoração dominical e a
dos Stuarts, o puritanismo caiu no ilegalismo. Assim, ênfase sobre o culto doméstico eram elementos
eles passaram a ser considerados dissidentes, por primordiais entre os puritanos. E muitos cidadãos
quanto recusavam-se a moldar-se aos ritos da Igreja norte-americanos, até os nossos próprios dias, jamais
oficialmente estabelecida. deixaram esmaecer esse costume extremamente
A chamada à liberdade e à independência fez os saudável.
puritanos separatistas e não-separatistas volverem os 5. A Bíblia, entre os puritanos, era o insubstituível
olhos para a América do Norte, onde tal chamamento guia de doutrina e prática cristãs, e o estudo das
até hoje reboa. Os puritanos independentes estabele Sagradas Escrituras fazia parte da vida diária deles.
ceram-se na baía de Plymouth, na Nova Inglaterra.
As colônias de M assachusetts Bay e de Connecticut 6. Eram salientados a vida comunal e o senso de
(as principais colônias da Nova' Inglaterra) foram responsabilidade. A ninguém era permitido viver só
fundadas por puritanos não-separatistas. Mas na para si mesmo. Cada indivíduo era considerado
ocupação de Rhode Island, os batistas desempenha responsável diante de sua comunidade, e seus atos e
ram o papel principal. pensamentos eram examinados à luz do fato de que o
indivíduo fazia parte de tudo.
A Ética Puritana. Na concepção popular, a ética 7. A igreja local era o centro da vida e das
puritana consiste em uma piedade excessiva, de atividades comunitárias. Apesar de não haver entre os
mistura com regras estritas e opressivas. Historica puritanos alguma igreja oficial (uma idéia que os
mente, porém, essa ética enfatiza as virtudes do puritanos combatiam), ainda assim a igreja era o
trabalho árduo, da sobriedade, da honestidade e da grande poder por detrás de tudo.
indústria. Religiosamente falando, essa ética ex- 8. O legalismo, conforme foi dito acima, certamen
pressa-se por intermédio do fervor. Foram desfecha te era uma pedra fundamental da ética puritana.
das campanhas contra toda forma de mundanismo, «Como um modo de vida, o puritanismo não
de maquinação política, de peças teatrais e diversões sobreviveu além do século XVII; mas, como força
mundanas. Sua ênfase sobre a independência, o catalizadora, tem inspirado tendências intelectuais e
esforço pessoal e o individualismo ajudou a estabele morais, que se evidenciam particularmente na cultura
cer o capitalismo. Do ponto de vista teológico, grupos norte-americana, persistindo por muito tempo depois
evangélicos posteriores objetaram à ética puritana por que o credo original desapareceu» (AM).
ser legalista. £ verdade que a lei mosaica servia, entre
os puritanos, de principal força de expressão. £
incrível o número de aplicações que os puritanos PURITANISMO, ÉTICA DO
podiam achar para os Dez Mandamentos (vide). Ver o artigo geral sobre o Puritanismo, últimos
Havia aí uma boa dose de farisaísmo, o que sempre parágrafos.
faz parte inseparável do legalismo, em suas expressões
modernas. Os líderes teológicos puritanos com
punham-se, principalmente, de calvinistas eruditos.
Nomes notáveis entre eles foram Perkins, Sibbes, PURO E IMPURO
Ames, Owen, Goodwin, Baxter e Howe. O movimento Ver sobre Limpo c Imundo.
514
PÚRPURA - PUTE
PÚRPURA PÚSTULA
Ver o artigo sobre as Cotes. O décimo item Ver o artigo geral sobre Enfermidades.
descreve especificamente a cor púrpura, com seus
usos e simbolismos. O décimo segundo ponto desse Estão em pauta diversas afecções cutâneas,
artigo apresenta o uso metafórico das cores na Bíblia, referidas no Antigo Testamento, indicadas por meio
nos sonhos e nas visões. de quatro palavras hebraicas diferentes, a saber:
1. Garab, «pelagra». Palavra que aparece põr três
vezes: Lev. 21:20; 22:22; Deu. 28:27.
2. Mispachath, «pústula». Palavra que figura por
PURVA MIMAMSA três vezes: Lev. 13:6-8.
Essa express&o vem diretamente do sânscrito, e seu 3. Yallepheth, «impingem». Palavra que aparece
sentido é «pensamento reverente inicial». Esse é o em Lev. 21:20; 22:22.
titulo de uma das seis escolas indianas ortodoxas. O 4. Sappachath, «pústula». Palavra que aparece
sistema fundamenta-se sobre a Mimamsa Sútra, um apenas em Lev. 13:2 e 14:56. Contudo, uma forma
documento composto em cerca de 400 A.C., por verbal da palavra encontra-se em Isa. 3:17, onde se lê:
Jaimini. Aborda as primeiras porções dos Vedas «O Senhor fará tinhosa a cabeça das filhas de Sião...»
(vide), como a Uttara Mimamsa (vide). Não há equivalente no Novo Testamento, embora a
Idéias Principais > LXX os tenha. Uma pústula é uma crosta ou
1. O dever (Dhanna) é um conceito básico, sendo infecção purulenta. Por si mesma, não é alarmante,
ali desenvolvido de maneira elaborada, a principal podendo até mesmo ser uma proteção orgânica. O
fonte do material derivado dos Vedas. que realmente importa é o tipo de afecção por baixo
2. Se alguém cumprir seu dever conforme é devido, dessa crosta.
poderá livrar-se do ciclo dos renascimentos. Ver o Assim, no caso de garab, a afecção não era
artigo sobre a Reencamação. considerada perigosa. A pelagra, afecção produzida
3. O dever depende de conceitos eternos, e os Vedas pela falta de vitamina C no organismo, atacava muito
são repjutados inspirados pela divindade. Assim sendo, as pessoas que não ingeriam frutas e legumes, como os
os deveres dos homens são habilidosamente delinea marinheiros, em suas longas viagens, ou os soldados
dos pela divindade. Os brahmins teriam sido os de infantaria, em suas conquistas.
instrumentos da transmissão da mensagem, mas a Nos dias do Antigo Testamento, uma pessoa que
própria mensagem vem da parte da divindade. Os tivesse uma afecção cutânea persistente devia
Vedas («conhecimento») não consistem apenas nos mostrá-la aos sacerdotes, que determinariam se a
pensamentos dos homens. Temos ali uma religião mesma tinha caráter progressivo ou temporário, se
revelada, e, por via de conseqüência, uma ética era uma condição que requeria isolamento ou se era
absoluta. Os hindus não se preocupam em nada com uma condição benigna. (Lev. 13:2-8).
a questão da autoria dos Vedas, visto que acreditam Os sacerdotes ficavam desqualificados para servir,
que a divindade é o verdadeiro autor. e os animais a serem sacrificados eram rejeitados, se
4. Visto que a linguagem serve de veiculo necessário houvesse qualquer afecção cutânea presente. A «boca-
dos Vedas, os hindus crêem que essa linguagem pustulenta», com feridas em redor dos lábios, do
corresponde adequadamente ao significado tenciona nariz e das pálpebras das ovelhas é uma condição bem
do. E isso subentende a origem divina da linguagem, conhecida atualmente pelos veterinários, e bem pode
asseverando que se trata de um meio eficaz para a ter sido uma cena familiar no clima quente e seco de
transmissão da mensagem divina. Israel.
5. Declarações transmitidas por uma linguagem As filhas de Sião haveriam de ser punidas, por
eficaz e que contam com o poder de Deus a causa de sua altivez, com uma dessas afecções na
sustentá-las, são necessariamente verdadeiras. Mas, cabeça (que nossa versão portuguesa traduz por
segundo os hindus, não temos o dever de procurar «tinha») (Isa. 3:17). Precisamos apenas pensar em
falsidades que não concordem com a mensagem uma criança com aquela crosta seborréica generaliza
divina, nos escritos sagrados. da conhecida na medicina como dermatite seborréica,
6. Visto que essa escola dá tanta importância à para perceber a humilhante aflição que isso
linguagem, desenvolveu-se uma espécie de lógica em significaria para uma jovem israelita.
que se procura investigar formas de conhecimento
válido por meio de postulados, e isso acompanhado
pela ausência de negações. PUTE
7. O dever está baseado sobre a Apurva ou potência
transcendental, a qual tem em si mesma a capacidade 1. O Homem. Pu te foi o terceiro dos filhos de Cão e
de praticar atos corretos. Esse poder (um tanto o único sobre o qual não há registro de descendentes.
parecido com as funções que emprestamos ao Espirito Ver Gên. 10:6; I Crô. 1:8. Mas josefo (Anti. 1:6,2)
Santo) opera no mundo e inspira os homens a atos diz-nos que ele foi o pai dos libios, e que seus
corretos. descendentes chamavam-se, antigamente, putitas.
8. O mundo é eterno, do mesmo modo que os 2. Descendentes. Além do que Josefo escreveu, há
Vedas. O mundo não foi criado. Purva Mimamsa não algumas indicações bíblicas a respeito. Eles eram
deixa dúvida alguma sobre a questão. A idéia da guerreiros, que foram mencionados juntamente com
criação do mundo por Deus é considerada incoerente, os lubim (vide), egípcios e etíopes, os quais foram
porquanto dependeria de uma regressão de criadores incapazes de impedir que os assírios (ver Naum 3:9)
ou causas ad infinitum, o que é considerado pelos atacassem a No-Amom (Tebas). Ver também Jer.
hindus como uma insensatez. E eles também 46:9 e Eze. 30:5, onde Pute é descrito como aliado dos
argumentam que Deus, se existia sozinho, não egípcios. E em Eze. 38:5, Pute aparece como parte
precisaria de ninguém mais, pelo que não teria tido o formadora das forças de Gogue.
impulso de criar. Parece que esse povo é africano, embora continuem
questões disputadas sobre o povo preciso e a
localização exata onde esse povo habitava.
3. Localização Geográfica. Isaias situa Pute entre
515
PUTE - PUVITAS
Târsis e Lude como nações que, algum dia, haverão PUTEUS
de ouvir falar sobre a glória de Deus (ver Isa. 66:19). Uma família israelita de Quriate-Jearim, originada
Jeremias alista Pu te entre a Etiópia e Lude como por netos de Calebe (I Crô. 2:53).
nações cujos guerreiros foram empregados por
Nabucodonosor na conquista do Egito (ver Jer. 46:9).
Ezequiel, por sua vez, associa Pute aos exércitos de PUHEL
Tiro (Eze. 27:10). Pute é alistado juntamente com a
Etiópia, Lude, Arábia e Líbia, como nações que No hebraico, «afligido por Deus (El)». Esse era o
nome do pai da esposa de Eleazar, o sacerdote. Ela foi
haverão de sucumbir à espada (Eze. 20:5). O trecho
mãe de Finéias (ver Êxo. 6:25). Putiel viveu por volta
de Naum 3:9 associa esse povo à Etiópia, ao Egito e à de 1210 A.C. Eleazar era filho de Aarão
Líbia. Essas muitas referencias associam Pute com o
continente africano, e na maioria das vezes ela tem
sido identificada com a Líbia. Certa inscrição persa de
Naqshi-i-Rustam menciona uma certa nação chama PUVA
da Putaya, a qual, usualmente, tem sido identificada No hebraico, «boca» ou «sopro». Esse era o nome do
com a Líbia. «Opiniões mais recentes, no que segundo filho de Issacar (Gên. 46:13). Ver também
concerne à identificação de Pute, vinculam esse povo Núm. 26:23 e I Crô. 7:1. Os descendentes de Puva são
a Punte ou Cuxe do sul da África, onde é comumente chamados «puvitas», em Núm. 26:23. Puva foi o pai
vinculada às costas da Somália (I Crô. 1:8; Naum de Tola (ver Gên. 46:12). Viveu em cerca de 1770
3:9). Porém, a opinião mais prevalente é que Pute é a
Líbia».
PUVITAS
PUTÉOLI Nome genérico dos descendentes de Puva ou Puá,
Ver sobre Potéoli. da tribo de Issacar (ver Núm. 26:23).
516
li Form»» Antigas
fenício (semítico), ÍUOO A.C. grego ocidental, 800 A.C. latino, 50 D.C.
9 Q
2. Nos Manoscritos Gregos do Novo Testamento
&íixte n a t f X )
3. Formas Modernas
QQqq QQqq Q Q qq Qq
QUEILA QUELEANOS
No hebraico, «cercada». Uma cidadela no território Um povo cuja identidade é desconhecida. De
de Judá (Jos. 15:44). Ficava cerca de trinta e dois acordo com Judite 2:23, eles viviam ao norte dos
quilômetros a sudoeste de Jerusalém. Nos dias de ism aelitas, mas, o term o é tão vago que deixa os
Davi, essa cidade foi cercada pelos filisteus. Davi estudiosos em dúvida. Talvez devessem ser vinculados
dirigiu-se à mesma, a fim de libertá-la dos filisteus, à m oderna el-K halle, antiga Cholle, que ficava
mas seus ingratos habitantes tê-lo-iam entregue a situ ad a entre P alm ira e o rio E ufrates. O utros
Saul, se ele não tivesse escapado dali (I Sam. 23:1-13). eruditos, porém, localizavam-nos ao norte das tribos
Esse lugar é mencionado nas cartas de Tell el-Amama ism aelitas, os quais viviam na p arte o riental da
com o nome de Qilti. Os exércitos passavam por P alestina, perto do deserto da A rábia, ainda que
Queila, na direção do Egito ou vindos de lá, conforme outros os façam habitantes da cidade chamada
o demonstram as cartas dos príncipes de Jerusalém e Quelus (que vide).
Hebrom a Aquenaton, Faraó do Egito. Após o exílio
babilónico, o lugar foi novamente ocupado pelos
judeus, e alguns deles participaram da reconstrução QUELITA
das muralhas de Jerusalém, sob Neemias (Nee. Ver sobre Quelaias.
3:17,18). Há tradições que dizem que o profeta
Habacuque foi sepultado ali. Tem sido identificada
com a moderna Khirbet Qila, cerca de quinze QUELODE
quilômetros a noroeste de Hebrom. Os filhos de Quelode encontravam-se entre aqueles
que obedeceram à convocação de Nabucodonosor
para fazer guerra contra Arfaxade (Judite 1:6). Essa
QUEILA (ABIQUEILA) palavra evidentemente é uma corrupção, talvez um
Em nossa versão portuguesa esse foi o nome de um apelido dado aos sírios, cham ados «filhos das
descendente de Calebe, filho de Jefoné, mencionado toupeiras» (kholed).
em I Crô. 4:19. Ele é chamado «garmita», um
patronímico que significa «forte» ou «ossudo». Seu pai
é dado como Naum, da tribo de Judá. Entretanto, QUELUBE
esse versículo, em nossa versão portuguesa, está com No hebraico, «gaiola» ou «cesto». Nome de dois
alguma falha, pois dá a impressão de que Abiqueila, o personagens da Bíblia, a saber: 1. O irmão de Suá e
525
QUELUÍ - QUENAZ
paideM eir, da tribo de Judá(IC rô. 4:11). 2. O pai de «adquirido» ou «gerado». Foi pai de Enos, pai de
Ezri, que era jardineiro de Davi (I Crô. 27:26), em Maalalel (Gên. 5:9; I Crô. 1:2). Esse nome
cerca de 1000 A.C. O nome pode ser uma variação de corresponde a Cainã, uma forma que se encontra na
Calibe. genealogia de Jesus, em Luc. 3:36. O texto hebraico,
conforme contamos com ele, não inclui esse nome,
mas aparece na Septuaginta, em Gên. 5:24 e 11:12.
QUELUÍ Por essa razão, alguns estudiosos pensam que esse
Nome de sentido desconhecido no hebraico, mas nome foi uma adição feita na Septuaginta, embora
talvez relacionado à raiz klh, «completo». Era nome também apareça no texto do evangelho de Lucas.
de um levita, filho de Bani, homem que tom ara Porém, não há qualquer evidência textual objetiva
esposa estrangeira enquanto estava no cativeiro, mas para tal conjectura.
que, posteriormente, foi obrigado a divorciar-se dela
(Esd. 10:35). O nome não aparece no paralelo de I
Esdras 9:35. QUENAANÀ
No hebraico, «chato» ou «baixo». Nome de dois
homens que figuram nas páginas do Novo Testamen
QUELUS to, a saber:
Um lugar para além do Jordão, para onde 1. Um filho de Bilã, um descendente de Benjamim,
Nabucodonosor enviou uma convocação, recrutando cabeça de uma casa benjam ita (I Crô. 7:10),
homens p ara irem à guerra (Judite 1:9). Ficava provavelmente da família dos belaitas (cerca de 1020
situado a sudoeste de Jerusalém, perto de Betânia, ao A.C.).
norte de Cades, às m argens do rio do Egito. 2. Pai ou an tep assad o de Z edequias, um falso
Atualmente tem sido identificado com a moderna profeta, o qual encorajou Acabe a su b ir contra
K halasa, ao sul de Berseba, em uma im portante Ramote-Gileade (I Reis 22:11,24 e II Crô. 18:10,23),
estrada que ia na direção sul, de Jerusalém ao Egito, e em cerca de 896 A.C. Entretanto, alguns estudiosos
na rota de caravanas entre Gaza e Edom. pensam que esses dois homens na realidade eram uma
só pessoa.
QUEMARIM
A palavra hebraica, de sentido desconhecido, QUENANI
aparece somente por duas vezes, em II Reis 23:5 e em No hebraico, «feito ou nomeado por Yahweh». Era
Osé. 10:5. Algumas traduções tran sliteram essa nome de um levita que oticiou quando da solene
palavra, por não se saber o que ela significa. Nossa purificação do povo, sob Esdras (Nee. 9:4), em cerca
versão portuguesa a trad u z por «sacerdotes», na de 459 A.C.
primeira dessas referências e por «sacerdotes idóla
tras», na segunda. O Antigo Testamento só aplica
essa palavra à idéia de sacerdotes idólatras. É possível QUENANIAS
que o vocábulo esteja relacionado à raiz aramaica No hebraico, «bondade de Deus». Esse é o nome de
kum ra, que pode ser aplicada a qu alq u er tipo de dois homens do Antigo Testamento:
sacerdote, bom ou mau. Porém, no Antigo Testamen 1. Um mestre dos músicos do templo, que conduzia
to, o termo sempre se reveste de um sentido negativo, os cultos musicais quando a arca foi removida da casa
como os sacerdotes dos lugares altos (II Reis 23:5), os de Obede-Edom para Jerusalém (I Crô. 15:22). A
que serviam ao bezerro de ouro, em Betei (Osé. 10:5), Bíblia de Jerusalém empresta a ele um ofício mais
e os sacerdotes de Baal, em Sof. 1:4. amplo, fazendo-o também diretor do transporte (vs.
27) e um profeta do templo (vs. 22).
QUEMUEL 2. Um jiz arita que, com seus filhos, cum pria
deveres fora do templo de Jerusalém, como oficiais e
No hebraico, «assembléia de Deus» ou «Deus juizes que eles eram (I Crô. 26:20; Nee. 11:16).
levanta-se». Esse foi o nome de três personagens do
Antigtf Testamento:
1. O terceiro filho de Naor, irmão de Abraão, o QUENATE
qual foi pai de seis filhos, o primeiro dos quais No hebraico, «possessão». Esse era o nome de uma
chamava-se Arã, e o último, Betuel (Gên. 22:21,23). cidade de Manassés, do outro lado do rio Jordão. Foi
Todas essas pessoas são de história desconhecida, conquistada dos amorreus por Noba, tendo recebido,
exceto o último desses homens, o qual foi pai de posteriormente, o nome desse homem (Núm. 32:42).
Labão e Rebeca (Gên. 24:15). Arã foi o nome próprio Mais tarde, foi recapturada por Gesur e Arã (I Crô.
que Quemuel deu a seu primogênito, mas, visto que 2:23). Tornou-se uma das cidades da Decápolis (que
no hebraico também significa «Síria», alguns intér vide), quando então recebeu o nome de Canata. Foi
pretes, erroneamente, têm pensado que os sírios nesse lugar que Herodes, o Grande, foi derrotado
descendem dele. A Síria, entretanto, já constituía um pelos arabaianos (Josefo, Guerras 1:19,2). Tem sido
povo quando esse homem nasceu, 1800 A.C. identificada com a moderna Qanawat, a pouco menos
2. Um filho de Siftã, líder da tribo de Efraim. Foi de vinte e sete quilômetros a nordeste de Bostra. Os
um dos doze homens nomeado por Moisés para arqueólogos têm feito ali muitas escavações, com
dividir a Terra Prometida entre as tribos (Núm. muitos resultados positivos, especialmente nas cama
34:24). Viveu em torno de 1170 A.C. das referentes ao período greco-romano. O número de
3. Um levita, pai de Hasabias, o qual era príncipe edifícios em ruínas, ali encontrados, é considerável.
da tribo de Levi, na época de Davi (I Crô. 27:7). Viveu
em cerca de 1000 A.C.
QUENAZ
No hebraico, «caçador». Outros preferem o sentido
QUENÀ «flanco». Essa é uma forma singular do clã,
No hebraico, «fixo», ou então, na opinião de outros, «quenezeu» (que vide). Há três homens com esse
526
QUENEUS - QUENOBOSQUIOM
nome, no Antigo Testamento: a pensar que o próprio Davi era queneu, porquanto os
1. Um filho de Elifaz, neto de Esaú (Gên. 36:11; I queneus eram grandes cultores da música, na época,
Crô. 1:36), que foi um dos líderes dos idumeus (Gên. o que explicaria o interesse de Davi pela música, na
36:15). Viveu em tomo de 1740 A.C. promoção do ritual religioso. Esse argumento
2. Um dos irmãos mais novos de Calebe (Jos. 1:13), também alicerça-se sobre o fato de que Davi enviou
pai de Otoniel, que foi um dos juizes de Israel (Jos. presentes a seus «parentes», os anciãos de Judá, entre
15:17; Juí. 3:9). Viveu em cerca de 1490 A.C. os quais haveria queneus. Mas outras traduções,
3. O filho de Elá, neto de Calebe (I Crô.). Viveu como a nossa tradução portuguesa, dizem ali
em cerca de 1400 A.C. «amigos», sentido que a palavra hebraica envolvida
pode ter. Isso, entretanto, contradiria outros trechos
bíblicos, onde Davi aparece claramente como
QUENEUS descendente de Judá. Portanto, um Davi queneu não
No hebraico, «ferreiro», «trabalhador em metais». passa de uma conjectura, que a maioria dos eruditos
Esse povo é mencionado por treze vezes no Antigo repele.
Testamento: Gên. 15:19; Núm. 24:21,22; Juí. 1:16; A Hipótese Quenita. Alguns intérpretes supõem
4:11,17; 5:24; I Sam. 15:6; 27:10; 30:29 e I Crô. 2:55. que um dos nomes de Deus, a saber, Yahweh,
A palavra pode referir-se ao nome do clã quenita. No originou-se entre os queneus. Eles supõem que Moisés
hebraico, o nome é equivalente ao de Caim, filho tomou conhecimento dessa palavra com Jetro, seu
primogênito de Adão, embora não haja razões para sogro queneu-midianita. Presumem eles que o
vincularmos um nome ao outro, como se os queneus sacrifício oferecido por Jetro (Êxo. 18:12) foi feito
fossem descendentes de Caim. Esses pereceram no para instruir Moisés quanto à adoração a Yahweh. No
dilúvio, e a terra foi repovoada pelos descendentes de entanto, se aceitarmos o versículo anterior a esse,
Noé, que era descendente de Sete. Em Números 24:22 veremos que Moisés foi o mestre, e Jetro foi o
é proferido um juízo divino contra esse clã, embora aprendiz, e não ao contrário. Os queneus-recabitas,
vivessem fortemente protegidos por suas rochas e de um período posterior, eram zelosos adoradores de
montanhas. Eles estavam muito reduzidos em número Yahweh, mas fizeram-no como convertidos à fé
nos dias de Saul (I Sam. 15:6). Tiglate-Pileser, rei da judaica, e não como originadores da mesma. Esses
Assíria, quando exilou o povo da Síria, levou o povo teóricos supõem que, originalmente, Yahweh era um
desse clã juntamente com os sírios (II Reis 16:9). deus do fogo, e trabalhadores em metais, como eram
Em nossa versão portuguesa, «Caim» é também o os queneus, naturalmente teriam interesse em
nome de uma cidade localizada perto de Hebrom, no promover o culto de um deus assim. Além disso, eles
território de Judá (Jos. 15:57). Em outras versões, o supõem que Caim foi seu mais remoto antepassado, e
nome dessa cidade é «Queneu». Ela tem sido que, visto que ele tinha a marca de Yahweh, OU' do
tentativamente identificada com a Khirbet Yaquin, a Senhor, os queneus, de milênios mais tarde, eram
suleste de Hebrom. A Septuaginta não menciona o zelosos adoradores dele (ver Gên. 4:15). Tudo isso
lugar, pelo que, nesse trecho, esta versão dá nove reflete um raciocínio extremamente deficiente. O
cidades, em vez de dez.. trecho de Gênesis 4:1,25 revela que os patriarcas já
Originalmente, os queneus eram uma tribo eram adoradores de Yahweh, o que significa que a
midianita (Núm. 10:29). Ao que parece, eles adoração a Yahweh não foi um desenvolvimento já da
trabalhavam com metais, conforme o nome indica, no época do povo de Israel, estabelecido na Palestina.
hebraico. Nas regiões por eles habitadas, segundo os (JBL (52, 212-229:1933) ND Z)
arqueólogos têm demonstrado, há minas e fundições
de cobre. O nome aparece pela primeira vez em Gên. QUENEZEU
15:19, indicando os habitantes cananeus da Palestina,
nos tempos patriarcais. Uma das áreas habitadas era Nome de um clã ou família. Ver o artigo sobre
a faixa que acompanha as costas marítimas do Quenaz. Essa era uma das tribos que ocupava o sul da
Mediterrâneo, a sudoeste de Hebrom (Juí. 1:16), Palestina (Gên. 15:19). A terra deles foi prometida
embora eles também fossem conhecidos como por Yahweh a Abraão. Eram aparentados dos
nômades. Hobabe, o filho de Reuel, sogro de Moisés, queneus (que vide), e, como eles, eram excelentes
era queneu (Êxo. 2:18). Moisés convidou seu sogro artífices em metais, do vale do Jordão, rico em cobre.
para acompanhá-lo como guia dos israelitas, em face Essa palavra é usada como um epíteto para indicar
de sua grande experiência como nômade (Núm. Calebe, sendo possível que ele descendesse do idumeu
10:29). Quenaz (que vide). Nomes idumeus e horeus
aparecem na genealogia de Calebe. Lemos que ele era
Os queneus também ocupavam a área atual do filho de Jefoné, o quenezeu (Núm. 32:12; Jos.
wadi Arabah (Núm. 24:20-22), no que veio a ser o 14:6,14). Os quenezeus são descritos como um povo
território de Naftali (Juí. 4:11). Nos tempos de Davi e estrangeiro (Gên. 15:19). A Calebe foi prometida uma
Salomão, eles foram mencionados em associação a porção na Terra Prometida, com base em sua
Judá (I Sam. 15:6; 27:10). Heber, mencionado em fidelidade, e não por direito de nascimento.
Juí. 4:11 e5:24, era queneu, e os ascetas recabitas, de Entretanto, as genealogias dos capítulos dois e quatro
I Crô. 2:55, pertenciam a essa tribo. de I Crônicas fazem dele um neto de Judá, através de
Os queneus acompanharam a tribo de Judá à Hezrom (2:9,18). Por essa razão, muitos eruditos têm
herança deles (Juí. 1:16; I Sam. 27:10). Foram encarado as genealogias dos livros de Crônicas como
poupados por Saul, e sua guerra contra os uma tentativa proposital de dar a Calebe posição legal
amalequitas (I Sam. 15:6). Davi cultivava a amizade em Israel, no judaísmo pós-exílico. Há nisso tudo uma
deles (I Sam. 30:29). As aldeias de Jezreel e Carmelo discrepância que não é fácil de resolver. Por essa
são mencionadas juntamente com a cidade de Caim, razão, alguns sugerem que devemos pensar em mais
em Jos. 15:55, e duas das esposas de Davi vieram de um Calebe, o que não é impossível.
dessas aldeias. Por essa razão, alguns supõem que
essas mulheres eram quenitas, embora não há QUENOBOSQUIOM
evidências conclusivas quanto a essa conjectura. Com No cóptico, Sheneset, «pastagem de ganso». Nome
base em I Samuel 30:26-31, alguns estudiosos chegam de uma antiga cidade do Egito, a leste do Nilo, acerca
527
QUERÀ - QUERIOTE
de quarenta e oito quilômetros ao norte de Luxor. Um incluíam homens provenientes das áreas que aqueles
mosteiro cristão foi fundado no lugar por Pacômio, filisteus haviam ocupado, razão pela qual esse corpo
em cerca de 320 D.C. Perto dali, em cerca de 1945, foi de elite acabou sendo conhecido por esse nome.
encontrada uma biblioteca de material gnóstico, a 2. A s Tribos Filistéias. O term o «quereteus»
maior parte na forma de traduções cópticas do grego. referia-se aos filisteus que habitavam na porção
Essa descoberta incluiu cerca de q u aren ta e nove sudoeste de C anaã (I Sam. 20:14). Os trechos de
documentos, em treze códices de papiro, atualmente Ezequiel 25:16 e Sofonias 2:5 usam o nome como
intitulados os m anuscritos de Nag H am m adi, sinônim o dos filisteus em geral. A LXX diz ali
provavelmente porque foi nessa localidade, a oeste do cretenses, e é possível que isso seja correto, pois
rio, que a descoberta foi pela primeira vez noticiada. atualmente acredita-se que os filisteus (que vide), são
Um desses documentos é chamado Códex Jung por provenientes de Creta. Na escrita cuneiforme temos
haver sido adquirido por aquele instituto de Zurique. kaptara. Alguns eruditos, entretanto, supõem que
Outros documentos encontram-se agora no Museu apesar de relacionados aos filisteus, os quereteus
Cóptico do Egito, no Cairo. Essas obras estào sendo nunca estiveram diretamente associados à ilha de
publicadas, pouco a pouco. Entre elas há o Evangelho C reta, podendo ter tido o u tra origem, em bora
da Verdade (contido no Códex Jung), o Evangelho de tivessem sido assimilados subseqüentemente pelos
Tomé (em um dos códices do Cairo). O Evangelho da filisteus. O termo «peletitas», usado como sinônimo
Verdade é uma espécie de meditação especulativa dos quereteus, pode ter sido empregado para evitar a
sobre a mensagem cristã, originada na escola idéia de que Davi estava por dem ais intim am ente
valentiniana do gnosticismo, talvez tenha sido uma associado aos filisteus, e, nesse caso, o term o foi
produção do próprio Valentino, em cerca de 150 D.C. formado por analogia, com aquele outro, ou então por
O Evangelho de Tomé contém cento e catorze assimilação fonética. As identificações exatas, porém,
declarações atribuídas a Jesus, fragmentos das quais, continuam na dúvida.
em grego, foram encontradas em Oxyrhinchus, nos 3. As Tropas de Davi. Quantas daquelas pessoas,
fins do século XIX e no começo do século XX. O que embora filistéias, haviam sido incorporadas ao povo
encontram os nessa descoberta é uma espécie de de Israel. E, além disso, os israelitas daquelas áreas
fragmento da biblioteca do gnosticismo (que vide). eram simplesmente chamados por esse nome, embora
Ver também o artigo separado sobre os Manuscritos não fossem de ascendência filistéia? É provável que
de Nag Hammadi. (DOR ND) ambas as situações existissem ali. Seja como for, os
nomes quereteus e peletitas tornaram-se um termo
QUERÀ coletivo para indicar as tropas de elite de Davi (II
Sam. 8:18; 15:18; 20:7,23; I Reis 1:33,44; I Crô.
Um dos filhos de Disã, filho de Seir, o horeu (Gên. 18:18). Posteriormente, eles passaram a ser chamados
36:26; I Crô. 1:41), em cerca de 1920 A.C. «capitães dos cários e da guarda» (II Reis 11:4,19).
Eles mostraram-se leais a Davi em períodos de crise,
QUERÉIAS em todas as revoltas que perturbaram a sua vida. Eles
o acompanharam quando ele fugiu de Absalão (II
Um capitão amonita, irmão de Timóteo, que se Sam. 15:18). Eles perseguiram Seba, após a rebelião
apôs a Judas M acabeu (I M acabeus 5:6). Ele do mesmo (II Sam. 20:7). Quando Adonias tentou
controlava a fortaleza de Gazara (I Macabeus 5:8). suceder a Davi, por um golpe de astúcia, foram eles
Judas Macabeu assediou essa fortaleza. Judas venceu que deram apoio à escolha de Salomão, formando a
a b atalh a e executou os dois irm ãos, Q ueréias e guarda pessoal p ara a sua unção como rei ( I Reis
Tim óteo, além de m uitos dos seus seguidores (II 1:38). O líder deles era Benaia, filho de Joiada (II
Macabeus 10:32-38). Sam. 8:18), o qual também é chamado de líder da
guarda pessoal de Davi (II Sam. 23:23). (G HA JM)
QUÊREN-HAPUQUE
No hebraico, «chifre de pintura», ou seja, «caixa deQUERIOTE
cosmético», embora outros estudiosos prefiram No hebraico, «cidades» ou «aldeias». Ê o nome de
«sombra para os olhos». Esse foi o nome da filha mais duas cidades, nas páginas do Antigo Testamento:
jovem de Jó, que lhe nasceu quando sua prosperidade 1. Uma cidade de Moabe, referida juntamente com
lhe tinha sido devolvida pelo Senhor (Jó 42:14). Dibom e outros lugares, em Jeremias 48:24. Talvez
Provavelmente, o nome diz respeito à sua beleza seja um outro nome de Ar, a antiga capital dos
física. Ela viveu em cerca de 1590; mas tudo depende moabitas, por causa do lugar proeminente que lhe é
em que período devemos situar a vida de seu pai, Jó, o dado, na enumeração das cidades de Moabe, quando
que constitui um dos problemas cronológicos do livro Queriote é citada e Ar é omitida (Jer. 48), ou
que tem o seu nome. vice-versa (Isa. 15 e 16). Ver também Amós 2:2. O
lugar tem sido identificado com a moderna Saliya,
cerca de quarenta quilômetros a leste do mar Morto,
QUERETEUS imediatamente ao norte do rio Amon. No Antigo
Esse nome é de significação incerta, mas a alusão é Testamento há predições de sua destruição. A cidade
à guarda real de Davi, uma tropa de elite (II Sam. é mencionada na pedra Moabita, linha 13.
8:18 e I Crô. 17:17).
1. Significado do Nome. As traduções desse termo 2. Uma cidade ao sul do território de Judá (Jos.
hebraico têm sido diversas, como «chefes», «corredo 15:25), talvez pertencente à tribo de Simeão. Parece
res», «executores», etc. Porém , parece m elhor ser a cidade aludida no nome de Judas Iscariotes (que
entender essa palavra como um nome próprio, e não vide) que seria nativo dessa cidade, se isso é verdade.
como um substantivo comum. A palavra é o plural de O local tem sido identificado com Khirbet el-Qarra-
quereteu, uma referência às tribos filistéias que tein, a pouco mais de vinte e dois quilômetros ao sul
habitavam na porção sudoeste da terra de Canaã (I de Hebrom, e a vinte e cinco quilômetros a oeste do
Sam. 30:14). Ver os comentários abaixo, sobre esse mar Morto.
term o. Os m em bros da guarda pessoal de Davi
528
QUERIOTE - QUERUBIM
QUERIOTE-HEZROM egípcios, e com outras figuras tais. Supor que não há
conexão alguma entre eles e tais representações, ao
Uma cidade do distrito do Neguebe, no território de menos no tocante a como esses seres eram concebidos
Judá (Jos. 15:25). Nesse versículo ela é identificada pelos hebreus, parece-m e um a m aneira muito
com Hazor (que vide). Tem sido modernamente precária de pensar. Não parece provável que as
identificada com Khirbet el-Quaryatein, cerca de oito representações simbólicas dos hebreus se tenham
quilômetros ao sul de Maom. originado em um vácuo. Também é improvável que as
nações pagãs tenham feito empréstimos das noções
QUERITE dos hebreus, com distorções, assim inventando seus
deuses grotescos, p arte homem e p arte anim al.
Um ribeiro existente na Transjordânia, onde Elias Porém, estabelecer paralelos e identificações específi
escondeu-se, após fugir da rain h a Jezabel (I Reis cas também é precário. As escavações arqueológicas
17:3,5). Um local proposto é o wadi Kelt, um riacho têm descoberto todas as espécies de formas híbridas
de águas revoltas que deságua no vale do Jordão. na Assíria, na Babilônia, entre os hititas, gregos,
Porém, a expressão bíblica «fronteira ao Jordão», egípcios e cananeus, a p a rtir dos dois prim eiros
parece dar a entender que esse ribeiro ficava a leste milênios A.C. Assim, têm sido encontradas esfinges
daquele lugar, bem como na própria terra nativa de aladas, o trono esfinge do rei Airão de Biblos, seres
Elias, Gileade. Nesse caso, o wadi Yabis, defronte de humanos dotados de asas mas com cabeça de águia, e
Bete-Seã, parece ser a identificação mais provável. A todas as espécies de formas com um misto de animal e
localização do mesmo perm anece em dúvida, e homem, como se fossem figuras divinas.
qualquer wadi, entre os inúmeros ali existentes, com
suas numerosas cavernas, pode ter sido o lugar. 4. Aparência dos Querubins. A arqueologia tem
lançado bastante luz sobre a aparência dos querubins,
conforme os mesmos apareciam nas figuras rituais
QUEROS dos hebreus. Um par de querubins foi encontrado,
No hebraico, «dobrado». Ele foi ancestral de uma como apoio do trono do rei Hirão, de Biblos, de cerca
família de servidores do templo, que retornaram da de 1200 A.C. Era uma criatura dotada de corpo de
Babilônia com Zorobabel. Seu nome aparece em Esd. leão, rosto humano e asas avantajadas. Os querubins
2:44 e Nee. 7:47, como também em I Esdras 5:30. mandados fazer por Salomão estariam postos sobre
Viveu em cerca de 630 A.C. seus pés (II Crô. 3:13). Ezequiel diz que eles se
assem elhavam a um homem, mas com asas (Eze.
10:8). O leão alado com cabeça humana (esfinge com
QUERUBE asas), aparece por centenas de vezes na iconografia da
No Antigo Testamento, temos o nome de um dos Àsia ocidental, entre 1800 e 600 A.C. Por m uitas
lugares de onde voltaram exilados, term inado o vezes, os querubins aparecem apoiando o trono de
cativeiro babilónico, em companhia de Zorobabel alguma divindade. É perfeitamente claro que essas
(Esd. 2:59 e Nee. 7:61). E, no livro apócrifo de I representações, descobertas pela arqueologia, ajus
Esdras 5:36, esse é o nome de um dos hom ens de tam -se às descrições bíblicas. Ezequiel fala em
Israel que voltaram do exílio babilónico. q uerubins com dois rostos, um de homem e outro
de leão (Eze. 41:18), ou então com q u atro rostos
(Eze. 1:6,10; 10:14,21,22). Nesse caso, além dos
QUERUBIM leões, havia um a cabeça de boi. As asas são
1. O N om e. Em português, o nome está no mencionadas em relação aos querubins, em I Reis
singular, mas reflete a forma plural no hebraico. O 6:24, asas essas que seriam quatro, de acordo com
sentido dessa palavra, no hebraico, é incerta, embora Eze. 1:6,11. Duas asas estavam estendidas por cima
possa estar em foco a idéia de intercessor, vindo de da figura, e duas eram usadas para voar, ao passo que
uma raiz básica do acádico, caribu ou kuribu. Seja duas outras lhe cobriam o corpo. Sob as asas havia
como for, os querubins eram um a classe de seres mãos hum anas (Eze. 1:8; 10:8,21). E seus pés
angelicais. assemelhavam-se à sola das patas de uma vaca (Eze.
2. A s Ordens A ngelicais. É b astan te an tig a a 1:7).
formação de uma angelologia, incorporando a idéia 5. Usos no Tem plo de Jerusalém . Figuras de
de que há várias ordens, classes, poderes ou mesmo querubins decoravam as p o rtas e as paredes do
espécies de anjos. Ver o artigo sobre os A n jo s. A templo de Salomão. Dois querubins eram feitos de
maioria dos estudiosos acredita que esse desenvolvi madeira de oliveira, recoberta de ouro. Essas figuras
mento ocorreu, a principio, na religião persa, e dali foram postas no santuário do templo, com suas asas
passou para o judaísmo; e, deste, para o cristianismo. voltadas para cima, tocando nas pontas umas das
O judaísmo contava com uma hierarquia de anjos, outras, no meio da câmara, e debaixo das quais havia
encabeçada por sete ou quatro arcanjos. H averia a arca (que vide). A própria arca tinha as figuras de
miríades de anjos subordinados, e muitas ordens e dois querubins de ouro batid o , defronte um a da
funções. Coletivamente falando, eles eram servos de outra, nas duas extremidades da tampa da arca, ou
Deus, ministros seus que garantiam que a sua vontade p ro oiciatório (no hebraico, kaporet). Suas asas
seria cumprida por toda a sua criação, tanto nos céus estavam elevadas para cima, formando uma espécie
quanto na terra. Estariam envolvidos em toda a forma de tela. Era ali, entre os dois querubins, que Deus
de fenômeno natural e sobrenatural. revelava-se e comunicava a sua mensagem. Yahweh é
3. A Ordem e a Classe dos Querubins, e Sua assim referido em I Sam. 4:4; II Sam. 6:2; II Reis
Aparência. Nessa conexão, ver abaixo sobre a 19:15; Sal. 80:2 e 99:1, como Aquele que estava
aparência desses seres. Por causa da associação dos entronizado entre os querubins. No segundo templo,
querubins com asas e outras características, alguns porém, segundo tudo indica, não havia querubins. Na
arqueólogos têm pensado em uma identificação com a visão de Ezequiel, o trono do Senhor repousava sobre
esfinge alada ou com o leão alado, dotado de cabeça as asas dos qu atro querubins, cada um dos quais
humana, o que aparece como artigo proeminente da tin h a a form a de um homem com q u atro rostos, a
arte na Síria-Palestina. Outros os têm identificado saber, de um homem, de um leão, de um boi e de uma
com os colossos assírio-babilônicos, com os grifos águia, e cada qual tin h a q u atro asas, com mãos
529
QUERUBIM - QUESIL
hum anas por baixo das mesmas. Cada querubim quanto entendiam de modo poético e sim bólico.
tinha uma roda a seu lado, que se movia juntamente Talvez ambas as concepções estivessem envolvidas.
com o querubim, e tanto o querubim quanto essa roda Na verdade, nosso conceito de Deus vai-se aprimoran
eram recobertos de olhos. Isso posto, esses querubins* do, —à medida que os séculos se passam; e nunca
serviam de carruagem divina. chegará o tem po em que o nosso conceito sobre o
6. Como uma Ordem A ngelical. Antes de tudo, Senhor será perfeito. A maioria dos homens cria um
torna-se mister dizer que as apresentações descritas Deus segundo a sua própria imagem, conforme a sua
acima devem ser entendidas simbolicamente. Não é própria imaginação. Nosso conhecimento sobre Deus
necessário supormos que os anjos, ou qualquer classe continua bastante cru. d. Decorações Simbólicas. Os
entre eles, realmente tenham essas características. querubins eram usados como símbolos, em Israel e
Também é patente que as descrições acima concor em outras culturas antigas; mas, ao mesmo tempo,
dam com a atmosfera religiosa da Palestina, do Egito eles se revestiam de valor decorativo. Sobre o
e da A ssíria, naquele tem po. Podemos perceber propiciatório da arca do pacto, havia as figuras de
sentidos simbólicos nessas descrições, e não devemos dois querubins, de frente uma para a outra. Eram
rebuscar além disso. Dentro da hierarquia angelical, feitas de ouro, form ando um a peça sólida com a
que se desenvolveu posteriorm ente, os querubins tampa do propiciatório. Suas asas estavam abertas
vieram a ser situados em várias posições, dentro da como que para fazer uma sombra. No tabernáculo,
escala dos poderes angelicais. As funções deles eram havia figuras de querubins bordadas nas dez cortinas
de guardiães e assessores do Senhor. Com base nas brancas, de linho fino retorcido, tecidas em azul,
referências bíblicas, não conseguimos descobrir para púrpura e escarlate. Essas cortinas tinham cerca de
eles quaisquer patentes fixas, formando uma hierar 13,50 m de comprimento cada, e então eram reunidas
quia bem ordenada. Porém , o fato de que os aos pares, a fim de cobrirem tanto a parede externa
querubins são pintados como assessores de Deus, como a cobertura mais interior da tenda (Êxo. 26:1 ss,
associados ao seu trono, parece sugerir que eles 36:8 sí). Um outro véu, feito do mesmo material, era
ocupavam uma elevadíssima posição. pendurado entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos
7. Funções, a. Como Guardiães. Depois que Adão e (Êxo. 26:31 ss, 36:35 ss). No templo de Salomão, no
Eva foram expulsos do jard im do Éden, Deus pôs santuário mais interior, havia dois querubins entalha
querubins e uma espada flamejante, que se revolvia, a dos em madeira de oliveira e recobertos de ouro (I
fim de guardar o acesso à árvore da vida (Gên. 3:24). Reis 6:23-28). T inham 4,45 m de a ltu ra e asas
O uso da figura, no tem plo de Salom ão, sugere a exatamente com a metade dessas dimensões, de tal
mesma atividade. Nos países ao redor de Israel, os modo que, —abertas—elas atingiam 4,45 m. Figuras
arqueólogos têm encontrado figuras de querubins de querubins, palmeiras e flores abertas haviam sido
como guardas de cidades, palácios e templos, b. Sua entalhadas nos painéis de madeira das paredes do
Associação ao Fogo. No monte santo, os querubins templo. E também havia os suportes das bacias, em
andariam entre pedras de fogo. Na visão de Ezequiel, núm ero de dez, de bronze, com a form a de um
eles são retratados em meio a relâmpagos e trovões carroção. Os painéis desses carroções tinham
(Eze. 1:4,13,14,27,28). O relâmpago era um antigo decorações que representavam leões, bois, querubins
símbolo do poder dos deuses. Brasas de fogo estariam e grinaldas. Na visão de Ezequiel (Eze. 41:17-20),
entre os querubins e as rodas da carruagem divina apareceram vários entalhes de palmeiras e querubins.
(Eze. 10:6). Os querubins espalharam brasas por Essas figuras estavam em posição alternada, ou seja,
sobre a cidade de Jerusalém , um sím bolo de uma palm eira, um querubim , uma palm eira, um
julgamento divino (Eze. 10:2). c. Transportadores do querubim.
Trono-Carruagem de Deus. Ver I Sam. 4:4; II Sam. 8. Sentidos Simbólicos. O material acima sugere
6:2; II Reis 19:15; Sal. 80:1; 99:1 e Isa. 37:6. Deus várias coisas simbolizadas pelos querubins: a. Eles
manifestava-se a Moisés dentre os dois querubins, eram guardiães; b. agentes dos julgamentos divinos;
montados nas extremidades opostas do propiciatório c. assessores de Deus e instrumentos especiais de suas
ou tampa da arca (Êxo. 25:22). Essa representação ações; d. vindicadores da santidade de Deus(Apo. 4);
tem paralelos nos cultos do O riente próxim o, nos e. mantenedores da santidade de Deus, no tocante aos
quais há divindades ilustradas a montar sobre leões, sacrifícios cruentos (Êxo. 25:17-20; Rom. 3:24-26); f.
bois ou animais mistos. As rodas da carruagem de símbolos — da hierarquia — existente entre os
Deus seriam im pulsionadas por esses seres (Eze. seres imateriais; g. símbolos do controle de Deus
1:16,17), e, com suas asas, eles faziam o trono voar sobre os elem entos n atu rais, como o sol, as
(Eze. 10:16). Portanto, Yahweh usa essa carruagem e intempéries, etc. (AM BA E ID UN VA Z 1-1961)
flutua sobre nuvens rápidas, e, dessa m aneira,
controla as condições atmosféricas (Sal. 104:3 e Isa.
19:1). Outro tanto é dito acerca de várias divindades QUESALOM
do panteão cananeu. O Texto de Ugarite, pág. 484, No hebraico, «força» ou «fortaleza». Era um dos
fala sobre os montadores das nuvens. Os trechos de II marcos de fronteira, na porção ocidental da fronteira
Sam. 22:11 e Sal. 18:10, aludem a Deus m ontado norte de Judá (Jos. 15:10). Evidentemente era uma
sobre um querubim. Salmos 80 encerra descrições que cidade grande, localizada perto de Jerusalém. Tem
nos fazem relembrar as descrições do deus-sol, de sido comumente identificada com a aldeia de Kesla,
outras culturas. Ele teria um rosto resplandecente, cerca de dezesseis quilômetros a oeste de Jerusalém.
m ontado sobre um querubim , atravessando o
firmamento. Paralela a essa concepção é a idéia do sol QUÊSEDE
alado do antigo O riente próxim o, bem como as
.-arruagens solares da adoração pagã ao sol (II Reis No hebraico, a palavra tem sentido desconhecido.
23:11). Esses m uitos paralelos sim plesm ente são Era nome do quarto filho de Naor, irmão de Abraão,
óbvios dem ais e exatos, p ara suporm os que todas cuja esposa era Milca (Gên. 22:22), em cerca de 2088
essas coisas tiveram um desenvolvimento separado e A.C.
original. Em todas essas idéias religiosas, houve
muitos empréstimos e cópias. Não sabemos dizer o QUESIL
quanto os hebreus aceitavam isso literalmente, e o No hebraico, «carnal», «ímpia». Era uma cidade de
530
QUESNEL - QUIBZAIM
Judá (Jos. 15:30). Eusébio, o historiador eclesiástico, não foi registrada senão após a morte de Sara. Outros
chamava-a de Xil, situando-a no sul do território de têm pensado que Quetura teria sido concubina dç
Judá. Em I Crô. 4:28-32, ela aparece com o nome de Abraão, tendo tido esses seis filhos com ele. E então,
Betuel. Pelo menos, com base nos paralelismos que os após o falecimento de Sara, ela foi elevada à posição
textos apresentam, isso parece corresponder aos fatos. de esposa legitima. Entre essas duas alternativas, a
Tem sido identificada com a m oderna K hirbet el primeira é a mais provável. Isso levanta a questão do
Qarjetein, a oito quilômetros ao norte de Tell ‘Arad. rejuvenescimento de Abraão. É possível que ele tenha
ficado estéril apenas temporariamente, e que o seu
rejuvenescimento tenha feito parte de um novo ciclo
QUESNEL, PASQUIER biológico. Ou então, conforme ensinam as Escrituras,
Suas datas foram 1634-1719. Nasceu em Paris e houve a intervenção divina, que renovou as funções
faleceu em Amsterdã. — Depois que se uniu à biológicas de Abraão.
Congregação do Oratório (que vide), quando seus Seja como for, as tribos árabes atribuem sua origem
escritos passaram a ser influenciados pelas doutrinas a Abraão e Quetura. É possível que Bildade, o suíta
de Baius e dos jansenistas (ver os artigos), Quesnel foi (Jó 2:11), um dos «amigos» de Jó, tenha sido
condenado pelo papa Clemente XI. Ele foi expulso descendente de Sua, o filho mais novo de Abraão e
daquela congregação. Publicou vários livros com um Quetura. As três tribos de Midiã, Seba e Dedã, que
pseudônimo, na Bélgica. Foi preso em 1603; mas, são árabes em sua natureza, descendem desse
pouco tempo depois, iugiu para a Holanda, onde casamento. Os midianitas eram o grupo mais bem
prosseguiu escrevendo. Antes de sua morte, porém, conhecido dentre esses três, e ocupavam o território
ele buscou reconciliar-se com a Igreja Católica da porção superior do litoral do mar Vermelho. O
Romana, e foi bem-sucedido. Ver o artigo sobre a Bula vigésimo sétimo capítulo de Gênesis menciona-os,
Unigenitus, de 1713. tachando-os de negociantes com camelos. Vieram a
associar-se a Moisés (Êxo. 2:16; 3:1; 18:1). Mais
tarde, porém, invadiram o território de Israel (Juí. 6
QUESULOTE - 8 ).
No hebraico, «gordura» ou «cintura». Era o nome de
uma das cidades do território de Issacar (Jos. 19:18).
Ficava localizada entre Jezreel e Suném . Eusébio QUEZLA
identificava-a com Acchaseluth, mas esta está por No hebraico, «cássia» ou «cinamomo». Mas é usada
demais ao norte para ser a identificação co rreta. como nome próprio da segunda filha de Jó, que lhe
Provavelmente, é a mesma Quislote-Tabor de Josué nasceu depois que ele passou pela sua grande
19:12. As identificações modernas incluem Iksal, que provação (Jó 42:14). Segundo alguns estudiosos, teria
fica cerca de três quilômetros a suleste de Nazaré, ou vivido em torno de 1520 A.C., mas tudo depende da
um pouco mais ao norte, perto de Khirbet et-Tireh. época em que viveu Jó. Ver sobre Jó.
QUETUBA QUIBROTE-HATAAVÀ
No hebraico, «escrita». Um contrato de casamento No hebraico, «sepulcros do desejo». Essa expressão
instituido por Simeão ben Shatah, no século I A.C., designa um dos lugares onde os israelitas tiveram um
para proteção da esposa, em caso de divórcio ou de seus acampamentos, quando vagueavam pelo
viuvez. As mais antigas referências a documentos de deserto (Núm. 11:34). Não se sabe, em nossos dias,
casamento aparecem nos papiros de Assuã (século V onde ficava essa localidade, embora se saiba que
A.C.), bem como no livro apócrifo de Tobias (7:14), e ficava próximo do monte Sinai. Foi ali que os
também no código de Hamurabi (que vide). Esse israelitas murmuraram contra Moisés, ao se lembra
documento alista as obrigações do marido, embora rem dos deliciosos acepipes de que desfrutavam no
não tivesse o poder de validar um matrimônio. Foi Egito. Em face disso, Deus enviou codomizes ao
retido na prática dos judeus ortodoxos, com base na acampamento de Israel, em tanta quantidade que eles
tradição. adoeceram de tanto se empanturrarem. Seguiu-se
então uma praga, durante a qual muitos morreram
(Núm. 11:33). Os mortos foram sepultados nesse
QUETURA local, o que explica o nome do mesmo, «sepulcros do
No hebraico, «incenso». Segunda esposa ou desejo» ou «sepulcros da concupiscência». Dali os
concubina de Abraão (I Crô. 1:32). O casal teve seis israelitas partiram para Hazerote (Núm. 11:35). O
filhos: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Sua. trecho de Deuteronomio 9:22 mostra-nos que a lição
Abraão estabeleceu-os para os lados do oriente, a fim ensinada em Quibrote-Hataavá foi relembrada algum
de que não entrassem em futuro conflito com Isaque tempo mais tarde.
(Gên. 25:1-6).
Abraão havia chegado à idade de cem anos, e, QUIBZAIM
naturalmente, seus poderes geradores haviam cessado
(Heb. 11:12). No entanto, foi-lhe prometido um No hebraico, «dois montões». Esse era o nome de
filho, que ainda não havia nascido, Isaque. A uma cidade do território de Efraim, entregue aos
promessa divina cuidou desse aspecto. Então, depois sacerdotes coatitas (Jos. 21:22). Ela tem sido
do falecimento de Sara, Abraão casou-se com identificada com a cidade de Jocmeão, mencionada
Quetura. Os críticos descobrem toda a espécie de em I Crô. 6:68. O local é incerto, embora ela tenha
problemas na narrativa. Precisamos pensar que seu sido identificada com Gusin, a três quilômetros a
vigor juvenil havia sido restaurado pelo Senhor, noroeste de Nablus, ou então com o Tell Qaimun, se o
porquanto, em seu segundo casamento, foi capaz de local era o mesmo chamado Jocmeão, conforme
gerar seis filhos. Ou então, conforme alguns supõem, dizemos acima. Esse lugar fica ao pé do monte
pode ter havido uma deslocação cronológica de Carmelo, cerca de treze quilômetros a suleste de
relatos, em cujo caso Quetura e seus filhos com Haifa.
Abraão faziam parte da vida anterior de Abraão, que
531
QUIDDITAS - QUINÁ
QUIDDITAS QUILAN
Esse termo latino indica a qualidade primária de Cabeça de uma numerosa família, que retomou do
alguma coisa, aquilo que uma coisa é, tanto em sua cativeiro babilónico, em companhia de Zorobabel (I
essência quanto em sua definição lógica, em contraste Esdras 5:15). Nunca é mencionado nos livros
com suas qualidades secundárias. Sinônimos de canônicos do Antigo Testamento.
quidditas são forma, natureza e essência. Ver o artigo
sobre Qualidades: Primária, Secundária e Terciária.
QUILIASMO
Palavra que vem do grego, chiliás,. «mil». Esse
QUIDOM termo português pode ser um sinônimo de «milênio»,
No hebraico, «lança». A alusão é a uma pessoa ou a que vem do latim, para indicar a mesma coisa. Nesse
uma localidade. Se a referência é a uma pessoa, então caso, ambos os termos referem-se à doutrina que diz
seria ao israelita a quem pertencia a eira, onde que Cristo retornará ao mundo a fim de dar início ao
ocorreu o incidente que envolveu a arca, em sua seu reinado de mil anos na terra, antes do tempo do
viagem para Jerusalém. Se a referência é a um lugar, fim, ou seja, antes d o e stad o eterno. Ver o artigo
então se refere ao sítio onde o lamentável aconteci sobre o Milênio. Algumas vezes, entretanto, o termo
mento sucedeu, quando Uzá morreu (I Crô. 13:9), grego é usado p ara referir-se às interpretações
quando ele tocou na arca (que vide), quando os bois exageradamente literais de textos do Antigo Testa
que puxavam a carroça onde ela estava sendo mento, que abordam a restauração da nação de Israel
transportada tropeçaram, e ela quase caiu. Em II durante o milênio. Para exemplificar, o quiliasmo
Samuel 6:6, o nome aparece sob a forma «Nacom», assevera que o trono de Davi será restaurado, e que o
onde os manuscritos variam. Isso pode dar a entender próprio Davi reinará, em pessoa. Além disso, essa
que a identidade do lugar ficou em dúvida. doutrina supõe que os sacrifícios cruentos de animais
serão restaurados, insistindo sobre interpretações
gerais bem literais. De acordo com esse uso, o
QUIETISMO quiliasm o seria um posição que c o n trasta com o
Nome de um movimento religioso e místico do «mileniarismo», que insiste sobre uma interpretação
século XVII, dentro da Igreja Católica Romana. Seus menos literal.
líderes foram Miguel de Molinos, que publicou o livro
Guia Espiritual, refletindo as idéias do movimento, e
François Fénelon, que escreveu Explicações das QUELIOM
Máximas dos Santos. A Igreja Católica Romana não No hebraico, «fracasso». Nome de um dos filhos de
se sentiu feliz com o movimento, com o resultado que Elimeleque e Noemi. Quiliom era o marido de Orfa
Molinos foi condenado à prisão perpétua, ao passo (Rute 1:2 e 4:9), tendo falecido enquanto essa família
que Fénelon recebeu uma censura papal. de Israel jo rnadeava na terra de M oabe. Ele é
Idéias: chamado efrateu, o que talvez signifique que ele era
1. Um ponto de vista pessimista da natureza de Belém da Judéia. Cerca de 1360 A.C.
humana, por considerá-la totalmente depravada, com
a conseqüente necessidade do indivíduo vender ou QUILMADE
matar sua vontade consciente.
2. Isso libera a alma para que busque completar-se Uma cidade asiática (Eze. 27:23), mencionada em
exclusivamente em Deus, inspirada no amor de Deus, conjunção com Seba e Assícia. Não se conhece a
e não nos méritos humanos. localização atual dessa cidade.
3. A meditação era um exercício muito usado, com
o intuito de ajudar o homem a esperar em Deus, em QUIMÃ
seus movimentos transformadores e graciosos. No hebraico, essa palavra significa «anelo».
4. A ênfase sobre a mediação levou à máxima do Tam bém era usada p ara indicar um a fisionom ia
quietismo que diz que um momento de verdadeira lívida, ou então para indicar um cego. Ê nome de um
contemplação vale mil anos de boas obras. Supomos homem e de uma localidade, como se vê abaixo:
que essa contemplação deve ser uma experiência 1. Um seguidor, e talvez filho de B arzilai, o
mística segundo a qual a pessoa entra em contato gileadita, que acompanhou Davi até Jerusalém, após
direto com o Ser divino, sendo transformada nesse a revolta de Absalão. Foi agraciado por Davi com
processo. uma possessão em Belém, em consideração pelos
5. A fé pura está acima de idéias e crenças. O serviços prestados por seu pai (II Sam. 19:37-40), em
verdadeiro amor consiste em amor por causa do amor, cerca de 1023 A.C.
um tipo de qualidade constante da alma, e não 2. Nome de um a localidade, perto de Belém da
meramente o afeto que se fixa sobre alguma pessoa ou. Judéia, identificada com a p ropriedade que Davi
objeto. outorgara a um homem do mesmo nome. A localidade
6. A verdadeira atitude mental receptiva, capaz de teve essa designação pelo menos du ran te qu atro
acolher a graça divina, consistiria em absoluta calma séculos. Joanam e Careá, e seu bando, acamparam-se
(o que justifica o nome quietismo), sem mistura com ali q u atro séculos mais tarde, quando então a
as ambições pessoais. A meditação era recomendada, localidade continuava com o mesmo nome. Alguns
a fim de encorajar esse estado de receptividade mental. identificam-na com o lugar onde José e Maria não
Outros importantes membros desse movimento, além puderam encontrar alojamento, quando Jesus era
daqueles dois que já foram mencionados, foram infante (Luc. 2:7). Porém , isso não passa de uma
Jeanne Marie Guyon (que vide) e a srta. Antoinette conjectura. Seja como for, o lugar tem uma história
Bourignon (que vide). (E P) antiga. O trecho de Jeremias 41:17 o menciona como
o lugar onde havia uma hospedaria.
QUIKAR QUINÀ
Ver sobre Dinheiro e sobre Pesos e Medidas. No hebraico, «lamento pelos mortos». Uma cidade
532
QUINERETE - QUIRIATAIM
no extremo suleste do território de Judá, próxima da cerca de quarenta e oito quilômetros de comprimento,
fronteira com Edom (Jos. 15:22). Talvez tenha sido de norte a sul, e chega a ter um terço disso, em sua
um lugar ocupado pelos queneus (I Sam. 27:10), porção mais larga. Trata-se de um lugar nruito fértil,
conforme o nome sugere. O local dessa cidade não bem conhecido por sua produção de algodão, seda,
pode ser identificado em nossos dias. frutas e bons vinhos. Sua aldeia principal era Quios,
que tinha um bom porto, segundo inform a-nos
Estrabão (xiv.645). O navio no qual Paulo viajava
QUINERETE ancorou ali, na ú ltim a viagem desse apóstolo à
No hebraico, a palavra significa «com formato de Palestina (Atos 20:15). Quios é um dos sete lugares
harpa», e tem dois empregos diversos. que têm sido m encionados como o lugar do
1. E ra o nome de um a cidade fortificad a no nascimento de Homero. Nos tempos romanos, Quios
território de N aftalí (Jos. 19:35, que é a' única desfrutava da posição de cidade livre e fazia parte da
referência bíblica). Jerônimo a identificava com a província da Ásia. Seus habitantes eram tidos como os
cidade que, posteriormente, chamou-se Tiberiades. mais abastados que havia entre os gregos, no século V
Também há aquela colina ou cômoro chamado Tell A.C.
‘Oreimeh, que significa «cômoro da harpa». Fica no
lado noroeste do m ar da G aliléia. As evidências
arqueológicas m ostram que o local vinha sendo QUER
ocupado desde os cias de Josué, pelo que poderia ser o No hebraico, «muralha». O nome desse distrito
local original. aparece em II Reis 16:9; Amós 1:5; 9:7 e Isa. 22:6.
2. O mar de Quinerete (Núm. 34:11; Deu. 3:17; Pertencia ao império assírio, entre os mares Negro e
Jos. 11:12; 12:3, etc.), o qual também é chamado Cáspio, próximo do Elão, margeando o rio Qur.
«lago'’ de G enezaré», em Luc. 5:1, e «mar de Modernamente é chamado Geórgia, em território da
Tiberiades», em João 6:1 e 21:1 (Bahr Tarbarihey é União Soviética. Tiglate-Pileser levou para ali cativos,
seu nome nativo), e naturalmente, o «mar da Galiléia» os habitantes de Damasco(II Reis 16:9). Isso cumpriu
(que vide). Provavelm ente, o nome Q uinerete a profecia de Amós 1:5. Na referência do livro de
deriva-se de algum antigo nome cananeu, que existia Isaías, o lugar aparece em conexão com o vale da
antes da conquista da terra por Israel. O lago visto de visão, o qual, provavelmente, é o mesmo que aparece
cima, tem a forma de uma harpa, e disso deriva-se o no segundo livro dos Reis. Todavia, há estudiosos que
nome do lago. pensam que a região ficava localizada ao sul da
Babilônia, às margens do rio Tigre.
QUINQUE VIAE
Expressão latina que significa «cinco caminhos», QUIR DE MOABE
referindo-se aos cinco argumentos usados por Tomás Com esse nome, a cidade figura apenas em Isaías
de Aquino para provar a existência de Deus. Ver o 15:1. Mas conforme pensam quase todos os
artigo sobre os Cinco Argumentos em Prol da estudiosos, trata-se da mesma cidade chamada
Existência de Deus. O artigo sobre Deus tem uma Quir-Haresete, mencionada em II Reis 3:25 e Isa.
seção que aborda esses argumentos e acrescenta 16:7, ou então Quir-Heres, mencionada em Isa. 16:11
outros argumentos, àqueles cinco. O filósofo católico e Jer. 48:31. Era uma das duas cidades fortificadas de
romano Jacques Maritain acrescentou um sexto Moabe, a outra sendo a cidade de Ar. O nome
argumento. Ele supunha que o ser humano tem a
intuição que o verdadeiro Eu, o intelecto ativo, não é Quir-Haresete ou Quir-Heres significa «cidade da
temporal. Com base nisso, o indivíduo chega a cerâmica» ou «cidade nova».
compreender que o eu é eterno, através do ato de Há estudiosos que pensam que Ar era uma região, e
pensar do Ser Infinito. não uma cidade de Moabe. Após a derrota de Mesa,
de Moabe, pelos israelitas, somente em Quir-Haresete
QUINTA-FEIRA SANTA ver Sexta-Feira Santa. ficou pedra sobre pedra. Todavia, a cidade foi
capturada e destruída (II Reis 3:25). Isaías previu sua
destruição (Isa. 16:7).
QUINTESSÊNCIA Alguns eruditos identificam o lugar com Queraque,
Na física de Aristóteles temos o quinto elemento (no a antiga capital daquele distrito. Sabe-se que esse era
latim, quinta essentia), que seria o componente dos um local muito importante, estrategicamente falando,
corpos celestes, em distinção aos supostos elementos situado sobre um elevado lugar, de fácil defesa.
básicos da terra, como a terra, o fogo, o ar e a água, Dominava todas as antigas rotas de caravanas,
mas que estaria latente nesses elementos terrenos. Os estando no famoso Caminho do Rei, que ia do Egito à
alquimistas falavam sobre esse elemento chamando-o Síria. Os cruzados reconheceram a importância
de matéria-prima, ou primeira matéria, distinguin- estratégica do lugar, muitos séculos mais tarde. Ver o
do-o do resto, do que o mundo foi formado. Eles artigo sobre as Cruzadas. Atualmente a área é
tentavam 'destilar essa matéria-prima dos elementos habitada, situada a dezesseis quilômetros a leste do
terrenos. Esse elemento, no linguajar de Pitágoras e mar Morto. O wady Hesa fica cerca de vinte e três
de outros filósofos gregos, foi chamado éter. Na quilômetros para o sul. Um castelo encima a colina.
linguagem moderna, entretanto, o éter seria a porção Alguns supõem que o nome moabita original da
mais essencial e pura de alguma coisa. O adjetivo cidade era QRHH. E, nesse caso, é mencionada na
quintessencial significa aquilo que é absolutamente pedra Moabita, das linhas 22 em seguida, onde é dito
necessário ou essencial. que o rei Mesa estabeleceu ali um santuário em honra
a Quemós, e ali dirigiu um projeto de construções.
QUIOS
Esse é o nome de uma das principais ilhas do
arquipélago jónico, mencionada somente em Atos QUIRIATAIM
20:15. Pertencia à Jônia, e ficava entre as ilhas de Segundo muitos pensam, esse nome significa
Lesbos e de Samos, cerca de treze quilôm etros «cidade dupla». Nas páginas do Antigo Testamento,
distante do ponto mais próximo da Ásia Menor. Tem há duas cidades com esse nome, a saber:
533
QUIRIATE - QUIRlNIO
1. Em trechos como Núm. 32:37; Jos. 13:19; Jer. podem cumprir as descrições daquele lugar do Antigo
48:1,23 e Eze. 25:9, aparece uma cidade que fazia Testamento. Kuriet ’Enab também aparece com o
parte do território de Rúben, a leste do Jordão, cerca nome de Qaryet el-Inab, em outra literatura antiga.
de seis quilômetros a oeste de Medeba, que fica a Os habitantes árabes da atualidade chamam o lugar
suleste de Hesbom. Ela foi construida pelos de Qaryeh. Mas a cidade também é conhecida como
descendentes de Rúben. Os moabitas expulsaram os Abu Ghosh, devido ao nome de famosos xeques
gigantescos emins daquele lugar. Em seguida, ela desse nome, dos séculos VIII e IX, que ali exerceram
passou para as mãos dos amorreus, e, mais tarde, o seu poder.
para a possessão dos israelitas. Durante o período do Perto do local original, há restos de habitações
exílio assírio, os moabitas conquistaram novamente a romanas, bem como do período das cruzadas. O
cidade, juntamente com outras da mesma área geral. período bíblico faz-se representar por um grande
Por causa disso, os moabitas foram condenados por cômoro, sobre o qual foi edificada a Igreja da Arca da
Deus (Jer. 48:1,23). O local tem sido identificado com Aliança. Esse cômoro tornou-se conhecido como Deir
a moderna el-Qereiyat, a quase quinze quilômetros a el-Azhar, o que talvez seja uma alusão a Eleazar, filho
leste do mar Morto e à mesma distância do rio Arnon. de Abinadabe (que vide) o qual foi escolhido pelos
2. Uma das cidades levíticas de refúgio, dentro do homens de Quiriate-Jearim para tomar conta da arca
território de Naftali (I Crô. 6:74). Tem sido da aliança (I Sam. 7:1). Há evidências arqueológicas
identificada com Khirbet el-Kureiyat, ruínas existen pertencentes à Idade do Bronze Posterior e à Idade do
tes entre Medeba e Dibom. Também era chamada Ferro, principalmente na forma de fragmentos de
Cartã, referida em Jos. 21:32 (que vide). cerâmica. Eusébio afirmou que esse lugar ficava a dez
milhas romanas de Jerusalém, na estrada para Lida,
metragem essa que ele corrigiu, posteriormente,
QUIRIATE para nove milhas romanas. Ficava entre Neftoá
Ver sobre Quirlate-Jearim. (Lifta) e Chesalom (Quesla), o que concorda com os
informes bíblicos atinentes à sua posição na fronteira
norte de Judá (Jos. 15:9 e 18:15).
QUIRIATE-ARBA
Informes Históricos. 1. Quiriate-Jearim foi uma das
O antigo nome de Hebrom (vide). quatro cidades gibeonitas que estabeleceram acordo
com os israelitas invasores, tendo-os enganado (Jos.
QUIRIATE-ARIM 9:17). 2. A cidade servia como marco de fronteira
entre Judá e Benjamim (Jos. 15:9). Ela foi cena de
Ver sobre Quiriate-Jearlm. certos eventos que circundaram a arca da aliança (I
Sam. 7:1). 3. Foi fortificada por Salomão (chamada
QUmiATE-BAAL Baalate, em I Reis 9:18). 4. Foi invadida quando a
região foi invadida pelos egípcios (I Reis 14:25; II
O nome mais antigo de Quiriate-Jearlm (vide). Crô. 12:1-9). 5. Foi o lugar onde habitava o profeta
Urias, que denunciou o corrupto reinado de
QUIRIATE-HUZOTE Jeoaquim, o que o forçou a fugir para o Egito; mas
Urias foi capturado no Egito, trazido de volta a Judá e
No hebraico, «cidade dos lugares exteriores». £ foi executado (Jer. 26:20-23). 6. Alguns dos cidadãos
mencionada apenas em Números 22:39. Nesse trecho de Quiriate-Jearim voltaram do exílio babilónico com
aprendemos que Balaque e Balaão foram até ali com o Zorobabel (Esd. 2:25; Nee. 7:29). (AH UNA (1962) Z)
propósito de oferecerem sacrifícios. Era uma cidade
moabita. O lugar ficava perto de Bamote-Baal (vs. 41)
embora não saibamos dizer sua localização. Provavel QUIRIATE-SANÀ
mente ficava perto do rio Arnon. Foi conquistada por Ver sobre Debir.
Seom, e depois pelos israelitas.
QUIRIATE-SEFER
QUIRIATE-JEARIM O nome mais antigo de Debir (vide).
No hebraico, «cidade das florestas». Nas páginas do
Antigo Testamento aparece como o nome de uma
cidade de Judá e como o patronímico de um QUIRlNIO
descendente de Calebe, filho de Hur, a saber: Seu nome figura em Luc. 2:2. Seu nome completo
1. Essa cidade também aparece com o nome era Publius Sulpicius Quirinius. Ele era o que os
contraído de Quiriate-Arim, em Esdras 2:25. Com seu romanos chamavam de «homem novo». Tal como
nome completo é mencionada em Jos. 9:17; 15:9,60; Cícero, ocupou o ofício de governador e tornou-se
18:14,15; Juí. 18:12; I Sam. 6:21; 7:1,2; I CrÔ. 13:5,6; cônsul em 12 A.C., sem a vantagem de um nome de
II Crô. 1:4; Nee. 7:29; Jer. 26:20. Apesar de ter sido família tradicional na política ou na administração.
entregue à tribo de Judá, mais tarde passou para o Tácito, o historiador romano, devotou um breve
território de Benjamim. Em Jos. 15:9 é chamada capítulo a Quirínio, por ocasião de sua morte, em 21
Baalá, e, em Jos. 15:60, Quiriate-Baal. Foi desse D.C.
lugar que a arca da aliança foi trazida e entregue aos Quirínio era um militar notável, tendo a seu crédito
cuidados de Eleazar (I Sam. 7:1). Vinte anos mais uma campanha no deserto de Cirene, região essa que,
tarde, Davilevou-aparaJerusalém(II Sam. 7:2; I Crô. juntamente com Creta, governou como procônsul,
13:5; II Crô. 1:4). O profeta Urias morava em em cerca de 15 A.C. Entre 12 e 2 A.C., ele esteve
Quiriate-Jearim (Jer. 26:20). Várias tentativas de ocupado em um projeto de pacificação na Pisídia,
identificação têm sido dadas no tocante à localização contra os montanheses que Tácito, na passagem
moderna. Uma possibilidade é Kuriet ’Enab, acima citada, descreveu erroneamente como cilícios.
localizado ao norte do monte Jearim, e Khirbet As datas são vagas, mas os eruditos bíblicos
’Erma, que fica mais ao sul, é outra possibilidade. mteressam-se pelas mesmas, por estarem ligadas à
Ambas essas vilas refletem o nome antigo, e ambas data do nascimento de Cristo. O «primeiro recensea
534
QUIS - QUISOM
mento», efetuado quando Quirínio era governador da Um de seus filhos chamava-se Jeremeel (I Crô. 24:29).
Siria (Luc. 2:2), pode ter sido aquele ao qual Gamaliel Viveu em tomo de 1060 A.C.
aludiu, segundo se lê em Atos 5:37. Esse
recenseamento deu-se em 6 ou 7 D.C. Segue-se que o
recenseamento anterior — devido ao ciclo costumeiro QUISI
de catorze anos — deu-se em 8 ou 7 A.C. E daí resulta No hebraico, «arco de Yahweh». Era filho de Etã,
o problema. Quirínio devia ter sido especialmente que foi nomeado como cantor e músico, nos dias de
comissionado para a tarefa de supervisão por Davi (I Crô. 6:44). Em I Crônicas 15:17 ele é chamado
Augusto, pois sabe-se que Quintilio Varus ocupava Cusaías. Viveu em tomo de 1015 A.C.
então o importante porto de governador da Siria.
Mas, como Varus perdera três legiões na floresta
germânica de Teuteburgo? — um dos mais chocantes QUISIOM
desastres das forças romanas naquele século — talvez No hebraico, «dura» ou «terra dura». Era uma
Augusto preferisse um homem de maior envergadura cidade da tribo de Issacar, entregue aos levitas da
para ocupar-se do recenseamento. A intervenção de família de Gérson (Jos. 19:20 e 21:28). O nome dessa
Quirínio, a organização necessária para o recensea cidade aparece com a forma de Quedes, em I Crô.
mento e os preparativos para o mesmo podem ter 6:72, mas isso representa um erro escribal. A
adiado a data do mesmo para o fim de 5 A.C., uma localização não é certa, mas têm sido sugeridos os
data mais razoável. cômoros el-Ajjul e el-Muqarqash, como possibilida
Quirínio mostrou-se astuto o bastante para cortejar des.
discretamente a amizade de Tibério, que estava
exilado em Rodes. E nada perdeu com isso, quando
Tibério, por falta de outros herdeiros do trono, QUISLEU
sucedeu a Augusto. Quirínio, porém, morreu sem Ver Nee. 1:1 e Zac. 7:1. Esse era o nome do terceiro
herdeiros. mês do ano civil e do nono do ano eclesiástico dos
judeus, que começa na lua nova de dezembro. Ver o
artigo sobre o Calendário. A origem do nome é
QUIS acádica. A Crônica Babilónica afirma que a marcha
No hebraico, «arco» ou «chifre». Esse é o nome de de Nabucodonosor contra Jerusalém começou nesse
cinco personagens do Antigo Testamento: mês, no ano de 598 A.C. Dias memoráveis desse mês
1. O filho de Ner, pai do rei Saul(I Sam. 9:1; I Crô. incluíam a festa da dedicação do tem plo, a
8:33; 9:38,39). A genealogia bíblica talvez registre o com em oração de haver sido purificado após as
fato de que Quis era descendente de Ner, e não seu poluções feitas pelos sírios; um jejum em face do fato
filho imediato. Isso permitiria a inserção de Abiel e de de que Jeoaquim queim ou o rolo das profecias de
outros nomes, entre Quis e Ner. Comparar I Sa. Jeremias (Jer. 36:22).
9:1,14 com I Crô. 8:33 e 9:36, que aparentemente
estão em conflito:
QUISLOM
______ _____ _ Jeiel — _______
No hebraico, «forte esperança», «confiança». Ele
Abdon Zur Quis Bali N p- Nadabe era pai de Elidade, príncipe de uma das famílias de
Zeror Benjam im , que foi escolhido p ara assessorar na
Aliiel divisão da terra de C anaã en tre as tribos (Núm.
34:21), em cerca de 1618-1490 A.C.
/ \
Quis N<jr
Saul Abner QUISOM
No hebraico, «meândrico», «sinuoso». Um rio que
Talvez somente um Quis e um Ner descendiam de regava o vale de Esdrelom, em tomo do qual há o
Jeiel, e, nesse caso, os descendentes de Ner registro de muitos incidentes bíblicos. Trata-se de
tornaram-se duas casas tribais. A primeira delas uma torrente de invemo, que seca nos quentes meses
tornou-se a família real de Saul, tomando Quis como de verão. (Ver Sal. 83:9). Em Juizes 5:19 chama-se
seu fundador, porém, era um ramo mais recente da «águas de Megido». Origina-se nas colinas perto de
linhagem de Ner. Seja como for, ambas as casas Tabor e de Gilboa. Corre na direção noroeste,
pertenciam à família de Jeiel. através das planícies d** Esdrelom e Acre, e despeja
Quis foi um rico benjamita (I Crô. 8:33). A única suas águas no mar Mediterrâneo, próximo do monte
coisa que a Bíblia nos revela sobre ele foi que ele Carmelo. Há dois canais que se tomam um só, a curta
mandou Saul buscar seus jumentos perdidos (I Crô. distância ao norte de Megido. O rio é profundo e de
9:3), e que ele foi sepultado em Zela (II Sam. 21:14). águas rápidas, em certos meses do ano, quase não
Isso ocorreu em torno de 1025 A.C. Há uma podendo ser atravessado, mas, no verão, o leito do rio
referência a ele, em Atos 13:21. seca e a área fica estorricada. Somente a poucos
quilômetros do mar vê-se alguma água nesse rio, nos
2. Filho de Jeiel e tio de Quis de número «um» (I meses de verão. Seu nome modemo é Nahr el
Crô. 8:36). Mukatta, que significa «rio da matança». Ver I Reis
3. Um benjamita e bisavô de Mordecai, que foi 18:40. — No cântico de Débora (Juí. 5:21), é
levado cativo para a Babilônia (Est. 2:5), em cerca de chamado «ribeiro das batalhas». Um incidente bíblico
478 A.C. de nota, associado a esse rio, é a história de Sísera
4. Um filho de Abi, um levita da família de Merari (que vide), em Juizes 5:20,21. Os sírios, sob o
(II Crô. 29:12), que ajudou o rei Ezequias na comando de Sísera, combatiam contra Israel, os quais
restauração da verdadeira fé judaica. Viveu em torno eram liderados por Débora e Baraque. Sisera contava
de 720 A.C. com forças muito superiores, com o apoio de carros de
5. O segundo filho de Mali. Seus filhos casaram-se combate e de cavalaria. Porém, chuvas pesadas
com as filhas de seu irmão, Eleazar (I Crô. 23:21,22). fizeram o rio transbordar, —pondo as forças de
535
QUITIM - QUTB
Sísera à imobilidade; e o resultado foi que Israel dividida, durante as conquistas. A cidade permanece
obteve uma vitória fácil. Um outro notável incidente sem poder ser identificada.
bíblico, que teve lugar perto desse rio, foi o conflito
entre os profetas de Baal e o profeta Elias (I Reis
18:40). O local desse último incidente tem sido QUITROM
identificado com Deir aTMuhraqa, onde existe um No hebraico, «figurada» ou «pequena». Nome de
mosteiro carmelita, de Santo Elias. Os derrotados uma cidade do território de Zebulom, pertencente
sacerdotes de Baal foram levados a Quisom, onde anteriormente aos cananeus, mas de onde os israelitàs
foram executados. O rio provavelmente foi usado para não puderam expulsá-los. Ela é chamada Catate, em
o ritual da purificação. Jos. 19:15. Aparentemente, era a maior cidade da
As cidades mencionadas em conexão com o rio são Galiléia, naquela época. Tem sido identificada com o
a cidade de Jocneão (Tell Qeimum), Megido (Tell Tell el-Far, cerca de treze quilômetros a suleste do
el-Mutessellim), Taanaque (Tell Ti’nnik). Ver Jos. porto de Haifa, embora outros prefiram identificá-la
19:11 e Juí. 5:19. Esse rio era cruzado por com Catá ou com o Tell Qurdaneh.
importantes rotas de caravanas, e também foi a região
onde várias campanhas militares envolveram povos
como os midianitas e os filisteus. O rei Josias foi QUIUM
morto ali. Em tempos posteriores, esteve envolvido De acordo com vários estudiosos, esse nome vem da
nas guerras dos hasmoneanos, dos romanos e dos palavra siria kainanu, que é uma referência ao deus
cruzados. (ALB SMI) pagão, Saturno. Em Amós 5:26, única passagem onde
aparece o nome, ele aparece como o deus-estrela
adorado por Israel, em certa fase de sua história. Os
QUITIM egípcios usavam o termo Seb, para indicar essa
No hebraico, «nsulanos». Esse povo, descendente divindade. O termo hebraico envolvido é similar ao
de um dos filhos de Javã, filho de Jafé, é mencionado vocábulo que significa «coisa detestável». Alguns
na Bíblia, com esse nome, somente em Gên. 10:4 e I estudiosos chegam a pensar que houve uma mudança
Crô. 1:7. Quitim é um nome alternativo para a ilha de deliberada na grafia da palavra, como uma espécie de
Chipre (que vide). Josefo compara esse nome ao nome jogo de palavras. Mas outros pensam que a palavra
da cidade de Citiom, na costa suleste dessa ilha. hebraica está ligada à raiz da palavra que significa
«pedestal», o lugar onde uma imagem era colocada. A
Atualmente, essa cidade chama-se Larnaca. As
referências fenícias dizem kt ou kty, ao se reportarem Septuaginta diz rephan, e Estêvão, em sua defesa-
a esse lugar. O povo de Quitim ocupava-se no comércio pregação, em Atos 7:42 ss, usa esse nome em sua
marítimo (Núm. 24:24). Em Isaías 23:1,12, esse nome forma grega, que nossa versão portuguesa translitera
parece aplicar-se à ilha inteira de Chipre, bem como para «Renfã», referindo-se à adoração idólatra de
as costas do Mediterrâneo oriental. Ver Jer. 2:10 e Israel, durante quarenta anos, no deserto.
Eze. 27:6. Na quarta visão de Daniel, o nome QUMRAN
aparentemente aplica-se a Roma (Dan. 11:30), o que
tem paralelo em uma referência nos manuscritos do Ver Khirbet Qumran eM ar Morto, Manuscritos do.
mar Morto em um Comentário sobre Habacuque, ao
interpretar a palavra «caldeus». O texto trata sobre a QURAN
guerra entre os Filhos da Luz e os Filhos das Trevas. Ver sobre o Alcorão.
Ali, «quitim» poderia indicar os gregos selêucidas, os
romanos, etc., como uma referência obscura aos QUTB
adversários da retidão. Nome que os islamitas dão a alguma pessoa
especialmente santificada, a algum proeminente líder
espiritual, a um homem dotado de poder, com
QUITOIS missões e atividades especiais entre os homens. Tal
Em Josué 15:40 é uma das cidades que foram homem teria a habilidade de fazer coisas especiais,
a trib u íd as à tribo de Judá, quando a te rra foi sob a orientação de Alá (que vide).
536
1. Formas Antigas
fepício (semítico), 1000 A.C. grego ocidental, 800 A.C. latino, 50 D.C.
q
2. No« Manuscrito« Grego« do Novo Testamento
p R
p P/>e
3. Formas Modernas
RÃ rr RRr r RÄrr Rr
RAMATE-LEl RAMIAS
No hebraico, «colina de Lei». Foi o lugar onde No hebraico, «Yahweh é alto». Um descendente de
Sansão derrotou os filisteus com uma queixada de Parós(cf. Esd. 2:3), que retornou do exílio babilónico
jumento, como sua arma (Jos. 15:17). com Zorobabel. Foi um dos que se tinham casado
com mulheres estrangeiras (Esd. 10:25).
RAMATE-MISPA
RAMOS
No hebraico, «colina da torre de vigia». Uma cidade
pertencente ao território de Gade, na divisão da Era uma região árida como a Palestina, similar à
Palestina. É mencionada como localizada entre caatinga do nordeste brasileiro, é apenas natural que
Hesbom e Betonim (Jos. 13:26). haja m uitas espécies vegetais arbustivas. E isso
explica o incrível núm ero de palavras hebraicas
usadas no Antigo Testamento para indicar esse tipo
RAMATTTA de vegetação, ou ramos da mesma. Podem-se contar
Um nativo de Ramá. O encarregado das vinhas de cerca de quinze palavras hebraicas para indicar tais
Davi, Simei, é chamado ramatita, em I Crô. 27:27, ramos. Nem sempre os tradutores podem encontrar
embora não se saiba precisar qual era o seu povoado, palavras modemas que correspondam exatamente
entre os muitos existentes nas cercanias. àquelas. A nossa Bíblia portuguesa em vários casos
usa a tradução «ramos», quando há alusão a porções
de alguma planta, excetuando o tronco ou as raízes.
RAMAYANA Alguma árvore jovem tam bém é assim cham ada,
Esse é um dos grandes relatos épicos do hinduísmo, conforme se vê em Eze. 31:5. Há alusões literais e
que ocupa naquela fé uma posição equivalente aos metafóricas. As alusões literais incluem os ramos
poemas Ilíada e Odisséia, na cultura grega. Essa obra usados quando da festa dos Tabernáculos (que vide)
conta com mais de cinqüenta mil linhas, em sete (Lev. 23:40); os galhos verdes onde abrigavam -se
livros. £ mais antiga e mais breve do que o grande pequenos roedores e aves (Eze. 31:13); os ramos de
épico hindu, o Mahabharata (vide). hissopo, mergulhados no sangue do cordeiro pascal,
aplicado às entradas das residências dos filhos de
O Ramayana foi escrito no período entre os séculos Israel (Êxo. 12:22), ou usados em ritu ais e
IV e VI A.C. Seu assunto principal é Rama, uma purificações religiosas (Êxo. 14:51; Núm. 19:6).
personagem que teria começado como um ser Porém, quase todas as menções a essas formações
humano, mas não tardou a tomar-se divino, um filho arbustivas ou similares são metafóricas, a saber: 1.
encarnado de Vishnu. O poema conta seu nascimen Grandes homens e líderes são comparados a ramos
to, vida, vida conjugal, grandes virtudes e labores. (Isa. 11:1; Jer. 23:5; Zac. 3:8; 6:12; no hebraico,
Então temos a interessante história do rapto de sua netzer), como o grande Príncipe que brotaria dentre a
esposa, por parte de um demônio, e o retomo dela. família de Davi, Jesus Cristo. 2. Essa maneira de
Rama tomou-se um governante, pelo que encontra referir-se a pessoas tam bém foi em pregada pelos
mos ali a descrição de seu reinado, então de seus anos antigos poetas, como Sófocles, Elec. iv. 18; Homero,
finais e de sua morte. Ilíada, 2:47,170,211,252,349; Findaro, Olymp. 2:6,3.
Esse épico é uma espécie de aventura moral e 3. Os descendentes de reis (Eze. 17:3,10; Dan. 11:7).
espiritual, na qual o virtuoso Rama toma-se capaz de 4. A p rosperidade, indicada por ram os vigorosos
mostrar que a vida humana pode ser vivida com (Eze. 17:3; Pro. 11:28; Sal. 80:11,14; Isa. 25:5). 5. O
sucesso, do ponto de vista espiritual e moral, no caso ramo abominável de Isa. 14:19, uma pessoa que seria
daqueles que têm a coragem de tentar. Rama saiu-se rejeitada como um ramo sem utilidade. 6. A adoração
vencedor sobre inimigos humanos e demoníacos. Do id ó latra (Eze. 8:17), provavelm ente devido ao
começo ao fim exibiu um comportamento exemplar, costume dos idólatras de levarem ramos para decorar
que faríamos bem em imitar. Houve interpolações no seus ritos e cortejos. 7. Os crentes, os quais refletem a
século II A.C., que fizeram o ser humano, Rama, natureza de Cristo e estão em união mística com Ele
tomar-se no filho divino de Vishnu. Rama-Vishnu, (João 15:5,6). No mesmo contexto, lemos sobre
pois, tomou-se um guia divino e amoroso, que aqueles que não estão unidos a Cristo, porquanto
garante o bem-estar e o sucesso daqueles que se rejeitam-no, pelo que são lançados fora e queimados
devotarem a ele. (João 15:6; ver a exposição desse versículo no NTI,
bem como o artigo sobre a Eterna Segurança do
RAMASSÊS Crente). 8. Os ramos que reverdecem, mostrando que
Deriva-se do egípcio Pr-R’m««, isso é, «propriedade o verão já se aproxim a, o que é u tilizado no
do rei Ramsés». Cidade residência das dinastias simbolismo de certos eventos, os quais prenunciarão a
egípcias XIX e XX, no delta do rio Nilo. Ali segunda vinda do Senhor (M at. 24:32). 9. A
trabalharam os hebreus de onde partiram por ocasião mostarda, com seus ramos que se espalham muito—
do êxodo. sim bolizam a propagação do reino de Deus (Luc.
550
RAMOTE - RAMSÊS
13:19). 10. Os ramos que foram postos no caminho entre Israel e Síria. Acabe foi morto em batalha em
por onde Jesus estava prestes a passar, quando de sua Ramote-Gileade (I Reis 22:3-40; II Crô. 18). Então
entrada triunfal em Jerusalém, foi uma forma singela Jeú foi ungido rei por um dos profetas mais jovens de
do povo prestar-lhe homenagem (Mat. 21:8). 11. No Eliseu (II Reis 8:28—9:14).
décimo primeiro capítulo da epístola aos Romanos, A localização de Ramote-Gileade não é certa. O
Paulo compara os judeus a ramos naturais de uma Onomasticon a situa perto do rio Jaboque, cerca de
boa oliveira, ao passo que os gentios são ramos de 24 km a oeste da Filadélfia (Amam). As listas dos
oliveira brava, enxertados naquela. 12. Em Zacarias centros administrativos de Salomão, e os relatos da
4:12, há menção a dois «raminhos» (no hebraico, guerra entre Israel e a Síria sugerem um local mais
shibboleth), que representam dois servos e testemu para o norte. Albright sugeriu a imponente localiza
nhas especiais do Senhor. Há muitas interpretações a ção de Husn Ajlum. Os estudos da superfície, feitos
respeito da identidade desses dois. Seriam figuras por Glueck, dão apoio a essa possibilidade. As
messiânicas, profetas, Enoque e Elias, etc. (Ver Apo. escavações efetuadas ali em 1967, em Tell er-Ramith,
11, que talvez estribe-se sobre essa alusão). Outros descobriram evidências muito favoráveis para a sua
vêem nas duas testemunhas símbolos de Cristo e do identificação com Ramote-Gileade. Ramith fica a 24
Espírito Santo, ou então da comunidade judaica e km a leste de Irbide e a quase 5 km de Ramtha. A
cristã, etc. continuidade de nomes e a localização geográfica têm
No Novo Testamento, há três vocábulos gregos a sido notados como fatores significativos. Os paralelos
serem levados ern conta, a saber: Baíort, «ramo de entre a história da ocupação, determinada pelas
palm eira», que aparece som ente em João 12:13. provas arquiteturais encontradas nas escavações, bem
Kládos, «rebentos», que aparece em Mat. 13:32; 21:8; como artefatos e registros literários dão apoio à
24:32; Mar. 4:32; 13:28; Luc. 13:19; Rom. 11:16-19, identificação de Ramith como forte possibilidade da
21. Stoibás, «ramos», em Mar. 11:8. (G HA LAN S localização moderna da antiga Ramote-Gileade.
NTI)
RAMOTE RAMSÊS
No hebraico significa «alturas». A LXX exibe várias No egípcio, R’-ms-sw, que significa «Rá (deus sol) o
formas para esse nome. Ê nome de uma pessoa e de criou». Foi nome de onze Faraós do Egito e epíteto de
três cidades no A.T. dois outros, a saber:
1. Em Esd. 10:29, de acordo com Qere (vide) era A. Na Décima Nona Dinastia
um dos filhos de Bani, israelita, que divorciou-sè de 1. Ramsés I. Fundador da décima nona dinastia do
sua esposa gentílica, após o cativeiro. Na LXX, ele é norte do Egito. Pertencia a uma família militar. Já
chamado Remoth. Mas, de acordo com Ketib (vide), idoso quando subiu ao trono, reinou somente por
seu nome seria Jeremote. dezesseis meses, mas se notabilizou como o pai do
2. Uma cidade pertencente a Gade, em Gileade formidável Setos I.
(Deu. 4:43); na LXX, Ramoth, Jos. 20:8; 21:38; I 2. Ramsés II. Reinou durante sessenta e seis anos
Crô. 6:80 (no heb., em I Crô. 6:65). Ver Ramote de (ou entre 1304-1238 A.C., ou entre 1290-1224 A.C.).
Gileade. Filho de Setos I e da rainha Mut-tui, ambos de
3. Uma cidade do Neguebe, para onde Davi enviou famílias militares. Tal como a rainha Hatsepsut e
presentes, após o seu ataque devastador contra o Amenofis III, ele se utilizava do mito de origem divina
acampamento dos amalequitas (I Sam. 30:27; na de Faraó para legitimar o seu reinado. Ramsés II
LXX, Ramá). lutou por muitos anos contra os hititas, na Síria. Em
4. Uma cidade levítica pertencente aos descenden seu quarto ano de governo, provavelmente, livrou o
tes de Gérson, no território de Issacar (I Crô. 6:73; na reino de Amurru do domínio hitita. No quinto ano,
LXX, Ramoth). Sem dúvida é a mesma Jarmute de marchou contra Cates do Orontes, diretamente para
Jos. 21:29, porquanto ocupa a mesma posição na lista dentro de uma armadilha hitita, mas conseguiu
das cidades leviticas, havendo muitas outras discre- desvencilhar-se por seu valor pessoal notável e pela
pâncias entre as duas listas. Além disso, deve ser a chegada oportuna de ajudantes. A famosa batalha foi
mesma Remete (Jos. 19:21). Uma esteia de Seti I tratada como um feito épico, em cenas e textos nas
(1309-1290 A.C.) declara que os apiru do monte paredes dos templos. Politicamente, porém, foi um
Iarmute atacaram os asiáticos. O monte Iarmute, sem retrocesso, embora contrabalançado por seu heroís
dúvida, deve ser associado à Jarmute-Remete-Ramote mo pessoal e por suas campanhas subseqüentes (anos
de Issacar, isto é, na região alta a noroeste de oitavo, décimo, etc., de seu reinado). Suas conquistas
Bete-Sean. Assim sendo, a forma Iarmute é mais também envolveram Seir e Moabe. Devido a ameaças
original do que a forma Ramote. Albright sugeriu assírias, egípcios e hititas entraram em um acordo de
como local o povoado de Kokab el-hawa, localizado a paz, observado por ambos os lados com lealdade,
pouco mais de onze quilômetros ao norte de alicerçado pelo casamento de Ramsés II, em seu
Çete-Seanon, um platô com 305 m de altura, acima trigésimo quarto ano de reinado, com urna filha do rei
do nível do mar e uma região de fontes (ver «The hitita, e ainda depois, com outra princesa hitita.
Topography of the Tribe of Issachar», ZAW, XLIV No que concerne ao número, as edificações de
(1926), pág. 231). Ramsés II ultrapassam as de todos os demais Faraós.
Basta-nos falar sobre sua ambiciosa capital do delta,
Pi-Ramessés (vide), seu vasto salão com colunas de 24
RAMOTE-GELEADE m de altura, no templo de Kamak, em Tebas, e seu
Sob a administração de Salomão, Ramote-Gileade templo funerário com um colosso de mil toneladas, na
se tornou o centro do distrito a leste do rio Jordão, e margem oeste tebana, e os dois espetaculares templos
daí para o norte, até o Iarmuque (I Reis 4:13). Essa de pedra em Abu Simbel, modernamente transporta
era uma das cidades de refúgio (Deu. 4:43; Jos. 20:8), dos inteiros, para não ficarem sob o nível das águas da
concedida aos levitas meraritas de Gade (Jos. 21:38; I represa do Nilo. Houve muita prosperidade durante o
Crô. 6:80). Era uma cidade de fronteira, sendo um. seu longo reinado, e a intensificação das atividades
posto avançado militar importantíssimo, nas guerras literárias no Egito. Talvez ele tenha sido o Faraó do
551
RAMSÉS - RAPOSA
êxodo (ver Êxodo). Sua orgulhosa autoconfiança C. Vigésima Primeira Dinastia e Depois
parece ser refletida no Faraó do Êxodo 5—12. Psusenes I (cerca de 1040 A.C.). Adotou o nome
3. Ramsés-Sipta. Reinou por seis anos, no fim dessa duplo de Ramsés-Psusenes, a fim de frisar sua ligação
dinastia. Mudou seu nome para Rerenepta-Sipta, e (através de Smendes) com a família Ramsés, e, assim
morreu jovem. Os verdadeiros mandantes, por detrás seu legítimo direito de governar o Egito. Seus
do trono, eram a rainha Tewosred e o chanceler Bay sucessores foram contemporâneos de Davi e Salomão
(de origem siria dotado de poderes similares aos de (ver Filha de Faraó; Egito, Terra do). O título «Filho
José, filho de Jacó). do Rei de Ramsés» tornou-se um elevado título
honorífico durante essa e as duas dinastias egípcias
B. Vigésima Dinastia seguintes.
1. Ramsés III. Filho de Setnact, que fundou a
dinastia. Reinou durante trinta e um anos. Lutou em
três batalhas épicas que impediram a invasão do
Egito. No seu quinto ano, derrotou os líbios, posto RANGER
que de modo indeciso. No seu oitavo ano, lançou-se No hebraico, charaq, «ranger (os dentes)». Essa
contra os povos do mar, incluindo os filisteus palavra é usada por cinco vezes no Antigo
(primeira menção a eles na história), fazendo o Testamento: Jó 16:9; Sal. 34:16; 37:12; 112:10; Lam.
exército inimigo recuar e destruindo a sua marinha. 2:16. No grego, temos três palavras: a. Brúcho,
No seu décimo primeiro ano, derrotou os líbios mais «rilhar (os dentes)», que ocorre apenas por uma vez,
decisivamente. Também lutou em Edom. Manteve a em Atos 7:54. b. Trídzo, «rilhar (os dentes)», palavra
grandiosidade da dinastia a princípio, mas não pôde que aparece também somente por uma vez, em Mar.
impedir a decadência administrativa, em seus últimos 9:18. c. Brugmós, «o rilhar (dos dentes)», forma
anos. O mais importante edifício de seu reinado foi o nominal do primeiro verbo grego, que ocorre por sete
templo funerário em Tebas ocidental. vezes: Mat. 8:12; 13:42,50; 22:13; 24:51; 25:30; Luc.
2. Ramsés IV. Reinou somente por seis anos, mas, 13:28.
de acordo com a famosa esteia de Abydos, orou No Antigo Testamento, o ato de rilhar os dentes
pedindo um reinado de sessenta e sete anos, como o aparece em conexão com a fúria ou com profunda
de Ramsés II. Compilou uma lista dos benefícios tristeza. No Novo Testamento, o trecho de Atos 7:54
realizados por seu pai, Ramás III, aos templos refere-se a como os inimigos de Estêvão, cheios de
egípcios, para ajudá-lo em sua sucessão ao trono. ódio, rilhavam os dentes, e a fúria deles não demorou
3. Ramsés V. Filho de Ramsés IV. Reinou apenas a levá-los ao homicídio. Marcos 9:18 é trecho que fala
por quatro anos, tendo morrido de varíola quando sobre como o epilético rangia os dentes. O termo
ainda bem jovem. Seu reinado tornou-se famoso por grego brugmós é usado em conexão com o ranger dos
causa do vasto papiro Wilbour, parte de uma dentes daqueles que serão lançados nas trevas
pesquisa de terras do médio Egito, um documento de exteriores (Mat. 8:12), da angústia daqueles que serão
imenso valor para o estudo da administração e das lançâdos na fornalha de fogo do juízo final (Mat.
instituições. 13:42). A idéia do julgamento final, vinculado a esse
4. Ramsés VI. Reinou pelo menos durante sete ato de agonia, aparece em Mateus 24:51 e reaparece
anos. Deu continuidade e completou o túmulo de seu em Mat. 25:30, o que é reiterado em Luc. 13:28.
sobrinho, Ramsés V, no vale dos Reis, em Tebas,
onde guardou importantes textos funerários. RÃO
5. Ramsés VII. Reinou por sete anos. Se antecedeu Na LXX o nome aparece com as formas de Arám ou
ou se sucedeu ao Faraó que alistamos em seguida, é Ram ou Arran. O significado do nome é alto. Há três
algo incerto. homens com esse nome, no A.T.:
6. Ramsés VIII. Um governante efêmero, que 1. Um dos antepassados do rei Davi, mencionado
dirigiu melhor o Egito em seu primeiro ano de somente nas genealogias (Rute 4:19; I Crô. 2:9).
governo. Também aparece como antepassado de Jesus, em
7. Ramsés IX. Reinou por dezoito anos. O sumo Mat. 1:3,4 (no grego, Arám). Nos manuscritos
sacerdócio de Amom, em Tebas, era exercido por gregos, o trecho de Luc. 3:33 apresenta problemas,
membros de uma poderosa família. A administração pois ali aparecem as formas Arni ou Arám. Nossa
se tornou tão lassa que os próprios túmulos dos versão portuguesa diz «Arni».
Faraós estavam sendo roubados. Invejas entre os 2. Filho primogênito de Jerameel, de Judá (I Crô.
administradores do leste e do oeste de Tebas 2:25,27). Esse Rão, aparentemente, era sobrinho do
trouxeram à luz o escândalo. Isso provocou a primeiro Rão, acima, de acordo com I Crô. 2:9.
intervenção de uma comissão, cujo relatório aparece
em uma série notável de papiros que narram o roubo 3. Cabeça da família de Eliú, que foi um dos
de túmulos. «consoladores» molestos de Jó (Jó 32:2).
8. Ramsés X . Quase nada se sabe sobre o seu
reinado de nove anos. RAPOSA
9. Ramsés X I. O último dessa linhagem, reinou No hebraico, shual, «raposa», «chacal». Esse termo
pelo menos durante vinte e sete anos. Houve invasores aparece por sete vezes: Juí. 15:4; Nee. 4:3; Sal. 63:10;
líbios e uma guerra civil que involveu o vice-rei da Can. 2:15; Lam. 5:18; Eze. 13:4. No grego, alópeks,
Núbia, e talvez a morte ou o exílio de um sumo vocábulo que ocorre por três vezes: Mat. 8:20; Luc.
sacerdote de Amom, em Tebas. As falhas administra 9:58; 13:32.
tivas foram solucionadas com a nomeação de dois No caso do Antigo Testamento, pelo menos nos
governantes subalternos a Faraó, um para o Alto «trechos de Juí. 15:4 e Sal. 63:10, o animal que está em
Egito e outro para o Baixo Egito. Houve então um vista é o chacal, porquanto também nesse caso há
verdadeiro «renascimento». Smendes, governante do certa confusão entre as espécies animais, nas páginas
Baixo Egito, sucedeu Ramsés XI como rei, tendo sido da Bíblia, visto que os antigos não os classificavam
o fundador da vigésima primeira dinastia, pois, cientificamente, mas, muitas vezes, apenas pela
aparentemente, casou-se com uma princesa da aparência geral. A raposa e o chacal assemelham-se
família real de Ramsés. quanto ao tamanho e à forma, pelo que eram
552
RAPOSA - RAQUEL
facilmente confundidos entre si. Seja como for, há (vide), irmã mais velha de Raquel, tinha um nome
três espécies de raposas que vivem na área da que, no hebraico, significa «vaca selvagem».
Palestina e do Egito. Há duas variedades de raposa Raquel era a filha caçula de Labão, irmão de
vermelha, uma delas de porte bem menor que a outra. Rebeca, mãe de Jacó e Esaú. Por conseguinte, Raquel
E a raposa siria é idêntica à raposa européia comum, tal como Lia, era prima em primeiro grau de Jacó, por
chamada cientificamente de Vulpes vulgaris. parte da mãe deste.
As raposas e os chacais fazem parte da familia do II. Origem Raciais
cão. A raposa é um animal solitário, mas o chacal vive Em Gênesis 10:22, aprendemos que os filhos da
em pequenos bandos. Ambas as espécies comem Sem, filho de Noé, foram cinco: Elão (os elamitas),
frutas e vegetais, incluindo uvas (Can. 2:15). O relato Assur (os assírios), Arfaxade (os babilônios), Lude (os
de Juizes 15:4 que diz que Sansão apanhou trezentos lídios) e Arã(os sírios). Como é apenas natural, houve
animais, atou-os rabo a rabo com uma tocha entre casamentos mistos entre os descendentes desses cinco
eles e soltçu-os nos campos plantados dos filisteus, filhos de Sem. Porém, na narrativa bíblica sobre Jacó
provavelmente envolve chacais, e não raposas. Nos e Raquel (e também Lia), precisamos considerar
tempos da dominação romana, raposas com tochas Arfaxade e Arã. A família de Abraão (o nono na
atadas às caudas eram caçadas nos circos, durante as linhagem direta de Sem; ver Gên. 11:10-27) tinha um
festas em honra a Ceres. ramo arfaxadita (babilónico) e um ramo arameu
Os lobos atacam suas presas com certa valentia. As (sírio).
raposas, por serem muito menores, precisam depen Quando Terá, pai de Abraão, resolveu deixar Ur
der de sua astúcia. Talvez por isso Jesus tenha dito a dos caldeus, seguindo na direção do Ocidente (ver
respeito de Herodes: «Ide dizer a essa raposa que...» Gên. 11:31), um ramo da família se deixou ficar em
(Luc. 13:32). As pequenas forças físicas da raposa Harã (o que é hoje a Síria), a saber, Naor, Betuel e
transparecem no motejo de Sambalá, acerca das Labão (ver os artigos separados sobre esses três), ao
muralhas de Jerusalém, quando, nos dias de Neemias, passo que Abraão prosseguiu até entrar na terra de
os judeus estavam reerguendo os muros arruinados da Canaã, destino final a que se propusera Terá, e para
capital da Judéia: «Ainda que edifiquem, vindo uma onde o Senhor Deus enviara especificamente Abraão.
raposa derrubará o seu muro de pedra» (Nee.4:3). Os Os que ficaram em Harã foram chamados de o ramo
falsos profetas de Israel são comparados por Ezequiel arameu da familia de Abraão. Raquel e Lia, sua
com as raposas: «Os teus profetas, ó Israel, são como irmã, pertenciam ambas ao ramo arameu da família.
raposas entre as ruínas» (Eze. 13:4). Visto que os israelitas, com suas doze tribos,
Usos Figurados: descendem de Jacó e de suas quatro mulheres, Lia,
1. Os mestres e profetas falsos são comparados Raquel, Bila e Zilpa, e visto que as duas primeiras
com raposas, por causa de sua astúcia e obstinação eram araméias, por isso mesmo, lemos em Deutero-
nos seus maus caminhos (Eze. 13:4; Can. 2:5). nômio 26:5: «Arameu, prestes a perecer, foi meu pai
(Jacó) e desceu para o Egito, e ali viveu como
2. Os tiranos e outros homens ímpios são estrangeiro com pouca' gente; e ali veio a ser nação
assemelhados a raposas, por causa de seus desígnios
grande, forte e numerosa». As palavras assim citadas
maldosos, que executam astutamente contra seus faziam parte da confissão que os israelitas deveriam
semelhantes (Luc. 13:32; onde Herodes é especifica fazer, a mando do Senhor, quando tivessem entrado
mente mencionado). na Terra Prometida.
3. Aqueles que se deixam levar por concupiscências Após o incidente da perda da bênção da
pecaminosas parecem-se com as raposas, em seus primogenitura por parte de Esaú, irmão gêmeo de
caminhos astuciosos e ruinosos (Can. 2:15). Jacó (ver Gên. 27), com cuja bênção Jacó ficou,
4. Ser alguém «pasto dos chacais» é o mesmo que Isaque, pai de ambos, mandou Jacó tomar esposa
ter as próprias terras ou a própria habitação desolada, dentre a sua parentela araméia. Esse relato aparece
ao mesmo tempo em que o indivíduo que sofreu tal em Gênesis 28:1-5. Destacamos partes dessa passa
perda é deixado insepulto, ao morrer (Sal. 63:10). gem: «...vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua
mãe, e toma lá por esposa uma das filhas de Labão,
RAQUEL irmão de tua mãe... Jacó, que se foi a Padã-Arã, à
Esboço: casa de Labão, filho de Betuel, o arameu...» (vs. 2 e
I. O Nome 5).
II. Origens Raciais de Raquel Por conseguinte, nos primórdios do povo de Israel,
III. Encontro com Jacó três das matriarcas eram do ramo arameu da familia,
IV. Esposa Favorita de Jacó a saber, Rebeca, Lia e Raquel. Lia foi mãe de seis
V. Filhos de Raquel filhos (metade das tribos de Israel): Rúben, Simeão,
a. Indiretos Levi, Judá, Issacar e Zebulom. E Raquel foi mãe de
dois filhos (uma sexta parte das tribos de Israel): José
b. Biológicos e Benjamim. Essas são as oito tribos de Israel com
VI. Morte e Sepultamento de Raquel maior incidência de sangue arameu, embora as
VII. O Caráter de Raquel outras quatro tribos também tivessem sangue
VIII. Simbolismo Bíblico arameu, porquanto Rebeca, mãe de Jacó, era
I. O Nome araméia. Mas não se sabe a etnia de Bila e Zilpa;
No hebraico, rahd, «ovelha». Na Septuaginta porém, pode-se conjecturar que elas eram sírias. Ver
tradução do Antigo Testamento hebraico para o o artigo sobre Arã. Ver também sobre as Tribos de
grego, terminada cerca de duzentos anos antes da era Israel.
cristã, encontramos a forma Rachel, que é apenas m . Encontro com Jacó
uma transliteração do nome hebraico para o grego. Primos que eram, Jacó e Raquel avistaram-se pela
Em uma cultura agropastoril, como era a de Harã, na primeira vez à beira do poço que havia no campo, nas
região da moderna Síria, seria apenas natural dar a proximidades de onde ela residia. Raquel trazia suas
uma filha o nome de um animal de criação, como é o ovelhas para beber, «porque era pastora» (Gên. 29:9).
caso da ovelha. Isso é confirmado pelo fato de que Lia Jacó, em demonstração de grande força física,
553
RAQUEL
«removeu a pedra da boca do poço», para que as verificar facilmente esse favoritismo, que se manifes
ovelhas pudessem beber. «Feito isso, Jacó beijou a tava das mais diversas maneiras, principalmente no
Raquel e, erguendo a voz, chorou» (Gên. 29:10,11). leito! Um incidente tocante é o das mandrágoras
Como deve ter sido agradável para Jacó enoontrar- achadas por Rúben no campo. Quando Raquel pediu
se com sua prima, longe de casa como ele estava, essas mandrágoras (então consideradas um afrodisía
ainda sem saber onde ficaria! Felizmente, seu tio, co), Lia respondeu' à sua irmã mais nova: «Achas
Labão, irmão dè sua mãe, Rebeca, o acolheu. pouco a me teres levado o marido, tomarás também as
— Chegou mesmo a dizer-lhe: «De fato, és mandrágoras de meu filho?» E a resposta de Raquel
meu osso e minha carne» (Gên. 29:14). Um mês ainda é mais reveladora: «Ele te possuirá esta noite, a
depois, porém, era preciso arranjar a permanência de troco das mandrágoras de teu filho» (Gên. 30:15).
Jacó em bases mais dia-a-dia. E Labão perguntou de Pobre Lia! Para deitar-se com seu marido, era forçada
Jacó que salário ele aceitaria para ficar com ele. a apelar para pequenos expedientes! Incidentalmente,
Jovem solteiro como era, Jacó estava de olho nas isso demonstra um dos males da poligamia.
primas. A Bíblia nos dá uma breve descrição das Felizmente, o Senhor Deus não estava alheio à
duas: «Lia tinha os olhos baços (no hebraico, situação. Pois lemos: «E Jacó, naquela noite, coabitou
«delicados»), porém, Raquel era formosa de porte e de com ela (Lia). Ouviu Deus a Lia; ela concebeu e deu à
semblante» (Gên. 29:17). Mas o coração de Jacó luz o quinto filho», que foi Issacar (Gên. 20:16,17).
rendera-se à graça feminina de sua prima mais nova: O favoritismo de Jacó por Raquel nunca se abateu.
«Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei Mesmo depois da morte dela (ver abaixo, ponto VII),
por tua filha mais moça, Raquel» (Gên. 29:18). Não ele se lembrava dela carinhosamente. Em diálogo que
há que duvidar que Jacó amara a Raquel desde que a teve com José, muitos anos depois, disse Jacó: «Vindo,
viu pela primeira vez. Ele não tinha chegado a Padã- pois, eu de Padã, me morreu, com pesar meu,
Arã a fim de arranjar esposa? Não lemos que ele Raquel, na terra de Canaã, no caminho... sepultei-a
também tenha beijado Lia, mas beijou Raquel e ali no caminho de Efrata, que é Belém» (Gên. 48:7).
chorou! Quem pode penetrar naquela explosão de V. Filho« de Raquel
sentimentos e explicar por que Jacó chorou? O que Quando Lia já tivera quatro filhos, isto é, Rúben,
sabemos é que os sete anos de serviço, propostos pelo Simeão, Levi e Judá (ver Gên. 29:31-35), Raquel
próprio Jacó «... lhe pareceram como poucos dias, pelo sentiu tremendos ciúmes de sua irmã. Portanto, a
muito que a (Raquel) amava» <Gên. 29:20). bigamia estava envenenando o coração de Raquel.
IV. Eapou Favorita de Jacó Porém, ela apelou para um expediente comum na
Após sete anos de serviço, prestado por Jacó, época. Entregou a Jacó sua serva (dada por seu pai,
chegou o dia do seu casamento. Houve grande Labão), de nome Bila. A alegação de Raquel foi:
festividade, com muitos convivas e muita comida e «...coabita com ela, para que dê àluz e eu traga filhos
bebida. Mas, à noite, em vez de Labão dar Raquel ao meu colo, por meio dela» (Gên. 30:3). E foi assim
como esposa a Jacó, fez introduzir na tenda dele sua que Jacó recebeu sua terceira mulher, com a qual teve
filha mais velha, Lia. Jacó só descobriu o logro na dois filhos: Dã e Naftali (ver Gên. 30:5-8).
manhã seguinte (ver Gên. 29:21-25). Agora, Jacó Estabelecera-se uma estranha competição entre as
estava casado com Lia, porquanto o casamento se duas irmãs: Quem daria filhos a Jacó, e seria mais
consumara nas trevas da noite. £ evidente que Lia amada por ele?
amava seu primo; pois, se tivesse aversão por ele,
jamais teria consentido em coabitar com ele. Mas, A reação de Lia foi dar a Jacó a sua quarta mulher,
isso não satisfazia a Jacó. Por isso, uma semana mais Zilpa. Esta era a serva de Lia, que lhe fora dada por
tarde, Labão também deu Raquel a Jacó, como seu pai, Labão. E Jacó também teve dois filhos por
esposa, em troca de mais sete anos de serviço! E o meio de Zilpa: Gade e Aser. Mais tarde, Lia teve mais
favoritismo de Jacó por Raquel transparece de dois filhos, Issacar e Zebulom.
imediato. «E coabitaram. Mas Jacó amava mais a £ claro que Lia estava levando a melhor. Ela dera a
Raquel do que a Lia; e continuou servindo a Labão Jacó nada menos de seis filhos, biologicamente seus,
por outros sete anos» (Gên. 29:30). Assim, por amor a enquanto que Zilpa, sua serva, dera a Jacó mais dois
Raquel, Jacó acabou servindo por nada menos de filhos. Se juntarmos a isso a única filha de Jacó, que
catorze anos! era filha de Lia, Diná, então veremos que, entre os
filhos indiretos e os filhos biológicos de Lia havia nada
Todos esses costumes matrimoniais antigos têm menos de oito filhos homens e uma filha.
sido amplamente confirmados pelas descobertas
arqueológicas e históricas, incluindo o costume de a. Filhos Indiretos de Raquel. Enquanto isso,
nunca se dar em casamento uma filha menor, Raquel só podia contar com os dois filhos que Bila,
enquanto outra filha, maior, estivesse solteira, sua serva, dera à luz a Jacó: Dã e Naftali. Mas, uma
çonforme Labão alegou que fizera no caso de Lia e coisa é ter filhos através da concubina da esposa (no
Raquel! Além disso, alguns estudiosos pensam que, hebraico, issah, «esposa», o que mostra a legalidade
por essa altura dos acontecimentos, Labão não tinha do casamento de Jacó e Bila) e outra coisa é ter seus
filhos homens. O casamento de Jacó (um parente próprios filhos. Na antiguidade, essa eça uma questão
chegado) com Lia e com Raquel garantiria que a crucial. Problema semelhante já tinham tido, no
herança ficaria em família. Não sabemos se Labão passado, Sara (ver Gên. 16:1 ss) e Rebeca (ver Gên.
agiu assim tão friamente, como se a única coisa que 25:19 ss). Sara apelara para que Abraão tomasse por
interessasse fossem as questões econômicas, mas os esposa a Hagar, a serva egípcia de Sara, e assim
documentos de Nuzi, no norte de Mesopotâmia, nascera Ismael (vide). No caso de Rebeca, porém,
mostram que tal costume era bem generalizado no Isaque orara ao Senhor, e Rebeca, após alguns anos
antigo Oriente Médio. Esses documentos têm sido de esterilidade, teve gêmeos: Esaú e Jacó. Mas, no
encontrados pelos arqueólogos, lançando muita luz caso presente de Raquel, até agora ela não fora mãe,
sobre a vida na época dos patriarcas do povo de Israel! b. Filhos Biológicos de Raquel. Novamente houve a
O favoritismo de lacó por Raquel não foi coisa intervenção divina, embora muito discreta. A única
passageira, e não se alterou mesmo depois que Lia notícia que a Bíblia nos dá a respeito encontra-se em
começou a dar-lhe filhos, ao passo que Raquel se Gênesis 30:22: «Lembrou-se Deus de Raquel, ouviu-a
mostrava estéril. Os leitores de Gênesis 29—35 podem e a fez fecunda».
554
RAQUEL
Assim, Raquel ficou grávida pela primeira vez, deu homem e sua parte imaterial. O corpo é sepultado è
à luz a José, e exclamou, aliviada e vitoriosa: «Deus volta ao pó. E a alma toma um novo rumo. A morte é
me tirou o meu vexame»! (ver Gên. 30:23). Isso a grande niveladora. Todas as distinções que os
mostra-nos que, até então, Raquel vivia um drama, homens estabelecem uns diante dos outros são
não se sentindo realizada como mãe. O nome José reduzidas a nada. Mais do que isso, a morte nivela o
chegou a ser um vaticínio. No hebraico, esse nome homem aos animais irracionais. O autor do livro de
significa «que ele (Deus) adicione». Na verdade, Deus Eclesiastes observou isso, ao meditar: «...o que sucede
atendeu a essa petição de Raquel, anos mais tarde, aos filhos dos homens, sucede aos animais... como
quando do nascimento de Benjamim, o segundo e morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo
último filho de Raquel. Porém, o parto lhe foi tão fôlego de vida, e nenhuma vantagem tem o homem
difícil que ela veio a morrer. sobre os animais... todos procedem do pó, e ao pó
tomarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos
Portanto, os filhos biológicos de Raquel foram José dos homens se dirige para cima, e os dos animais para
e Benjamim. Ver os artigos sobre ambos; e, quanto baixo, para a terra»? (Ecl. 3:19-21). Todavia, esse
aos seus descendentes, ver As Tribos de Israel. José e quadro mostra somente o quanto a morte é desnaturai
sua esposa egípcia, Asenate (ver Gên. 41:45), tiveram para seres eternos como são os homens. Tudo isso nos
dois filhos; Manassés e Efraim. Séculos mais tarde, a ensina que a vida terrena é apenas uma fase da
nação do norte, Israel, tinha na tribo de Efraim a existência da alma humana. Mas, devido à misericór
tribo liderante. E quanto a Benjamim? Os descenden dia divina, a ressurreição virá consertar essa violência
tes de Benjamim sempre estiveram muito ligados à
contra o ser humano, produzida pelo pecado. Na
nação de Judá, descendentes do quarto filho de Lia, ressurreição, pois, Deus haverá de reunir novamente
juntamente com Simeão e parte de Levi. os elementos constitutivos do homem. Claro que
Atualmente, os judeus classificam-se em descen haverá diferenças, e bem radicais, entre a ressurreição
dentes de Benjamim e descendentes de Levi. Esses para a vida e a ressurreição da condenação, mas não é
formam o núcleo do povo judeu, tanto no moderno aqui que queremos falar sobre essas distinções. Aqui,
estado de Israel quanto na dispersão, pelo mundo preferimos falar sobre a tremenda dor da separação
inteiro. Em tomo desse núcleo, naturalmente, há imposta pela morte física. No caso de Raquel, para
descendentes das outras nove tribos, em menores que Benjamim tivesse vida, sua mãe teve de pagar
proporções, diluídos e não mais distinguíveis daquelas com a morte! «...e foi sepultada no caminho de
três tribos básicas. Efrata, que é Belém. Sobre a sepultura de Raquel
VI. Morte t Sepultamento de Raquel levantou Jacó uma coluna que existe até o dia de hoje»
Quando Raquel estava grávida pela segunda vez, e (Gên. 35:19,20). Terminada estava a vida de Raquel
já fazia nada menos de vinte anos que Jacó estava neste mundo! Jacó só haveria de revê-la, muitos anos
longe de sua casa paterna, Jacó e seu clã tinham depois, mas só no estado espiritual, depois que
resolvido retomar à terra de Canaã. De fato, esse fechou os olhos físicos pelà última vez. Como o N.T.
retomo chegou a ser determinado pelo Senhor, que fala, — a morte é o nosso maior inimigo.
dissera a Jacó: «Toma à terra de teus pais, e à tua Por isso mesmo foi que comentou o apóstolo Paulo:
parentela; e eu serei contigo» (Gên. 31:3). As duas «O último inimigo a ser destruído é a morte» (I Cor.
mulheres originais de Jacó, Lia e Raquel, concorda 15:26). E isso ficou garantido pelo próprio Filho de
ram plenamente com ele. E, aproveitando o fato de Deus, que nos afiançou: «...a vontade de quem me
que Labão estava tosquiando suas ovelhas (Gên. enviou é esta: Que nenhum eu perca de todos os que
31:19), eles fugiram. Jacó levantou-se, «...passou o me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último
Eufrates, e tomou o rumo da montanha de Gileade» dia» (João 6:39).
(Gên. 31:21). No entanto, Labão acabou alcançando VII. O Caráter de Raquel
a Jacó e seu grupo, na montanha de Gileade. A
conversa entre Jacó e Labão não foi amena. Houve Raquel foi mulher com alguns graves defeitos. Ela
recriminações de parte a parte, conforme pode mostrou ser mulher descontente e impaciente, diante
verificar o leitor ao examinar o trecho de Gên. 31:22 do fato de que não tinha filhos. Jacó, que tanto a
ss. Mas, finalmente, Labão e Jacó firmaram um pacto amava, chegou mesmo a irritar-se com essa atitude
de não agressão mútua, e separaram-se. Jacó, tendo dela. Ver Gên. 30:1,2.
partido de Padã-Arã, «...chegou... são e salvo à Em sua luta com sua própria irmã, Lia, além do
cidade de Siquém, que está na terra de Canaã» (Gên. condenável ciúme que teve dela, também mostrou ser
33:18). Após o infeliz incidente entre Diná e o egoísta em seu amor, pois, noite após noite, deitava-se
príncipe Siquém, filho do heveu Hamor (Gên. 34), com Jacó, enquanto Lia ficava sozinha em sua tenda.
por ordem do Senhor, Jacó mudou-se para Betei (ver O ponto culminante dessa situação foi atingido no
Gên. 35:1 ss). Foi em Betei que o Senhor mudou o caso das mandrágoras (ver acima, em IV. Esposa
nome de Jacó, dizendo: «Já não te chamarás Jacó, Favorita de Jacó, terceiro parágrafo).
porém Israel será o teu nome» (Gên. 35:10). E, então, Porém, a maior mácula no caráter de Raquel se deu
lemos: «Partiram de Betei e, havendo ainda pequena no caso dos terafins que furtou da casa de seu pai.
distância para chegar a Efrata, deu à luz Raquel um Essa narrativa, que deixa transparecer a astúcia de
filho, cujo nascimento lhe foi a ela penoso» (Gên. Raquel, um defeito que, sem dúvida ela herdara da
35:16). A parteira ainda a encorajou. De fato, o família, é contada em Gênesis 31:19-35. Mas, a
menino nasceu. Moribunda, Raquel chamou a característica pior de Raquel não era propriamente o
criança de Benoni (no hebraico, «filho de minha seu espírito ardiloso e, sim, a sua tendência para a
tribulação»), mas Jacó deu-lhe o nome de Benjamim idolatria. Os terafins (em nossa versão portuguesa,
(no hebraico, «filho de minha mão direita»). As «ídolos do lar») eram ridiculamente pequenos,
Escrituras descrevem a morte de Raquel de modo sui porquanto ela os pôde esconder debaixo da sela de seu
generis, mas muito esclarecedor: «Ao sair-lhe a alma camelo. Isso significa que não havia, naqueles
(porque morreu)...» (Gên. 35:18). De fato, o hcmem é objetos, qualquer valor material.
a sua porção imaterial, composta de espirito e alma. Todavia, talvez ela não pensasse nos terafins como
O corpo físico é apenas nosso veículo animal, para objetos de veneração, mas somente como garantias de
vivermos neste mundo material. E a morte física que seus próprios filhos ficariam com a herança que
consiste na separação entre a parte material do lhe caberia da parte de Labão. Muitos estudiosos tem
555
RAQUEL - RAS SHAMRA
dito que quem ficasse com os «ídolos do lar» também No livro de Rute (4:11), Lia e Raquel são reputadas
ficava com a herança. Nesse caso, a ação de Raquel é como figuras ancestrais que «edificaram a casa de
um tanto suavizada, e não podemos acusá-la de Israel». Isso disseram os anciãos de Israel, ao
idolatria. Seja como for, Jacó deixou entendido (sem aceitarem a moabita Rute • (vide), como parte
saber quem furtara os ídolos de seu tio, Labão) que o integrante do povo antigo de Deus!
culpado do furto era digno de morte. «Não viva aquele Raquel é mencionada por nada menos de quarenta
com quem achares os teus deuses...» (Gên. 31:32). O e oito vezes nas páginas da Bíblia. Por quarenta e
resultado desse ato de furto, por parte de Raquel, não quatro vezes no livro de Gênesis. E, então, em Rute
nos é revelado. Mas sabemos que, não muito depois, 4:11; I Sam. 10:2 (que apenas alude ao «sepulcro de
quando Jacó e seus familiares precisaram achegar-se Raquel»); Jer. 31:15 e Mat. 2:18.
mais perto do Senhor, foi necessário que ele dissesse
aos seus familiares: «Lançai fora os deuses estranhos,
que*há no vosso meio, purificai-vos...» (Gên. 35:2). E RAQUEL, TÚMULO DE
esses objetos acabaram enterrados «debaixo do De acordo com Gên. 35:19,20, Jacó erigiu uma
carvalho que está junto a Siquém» (vs. 4). E ali coluna sobre o túmulo de Raquel, um marco que
ficaram, porquanto, ato contínuo, Jacó e sua gente ainda existia no tempo de Samuel (I Sam. 10:2).
partiram para Betei. Para que serviram, portanto, os Muitos estudiosos pensam que a Bíblia expõe duas
terafins furtados por Raquel? tradições divergentes, no tocante ao local do sepulcro.
Se nós sabemos que somos meros pecadores, salvos Já se argumentou que nos trechos de Gên. 35:16; I
pela pura graça de Deus, e que continuamos muito Sam. 10:2 e Jer. 31:15, Efrata ficaria na fronteira
defeituosos até o último dia de nossa vida, certamente norte de Benjamim, cerca de dezesseis quilômetros ao
Jacó compreendeu a mesma coisa. Assim, apesar de norte de Jerusalém, mas que, de acordo com Gên.
reconhecer os defeitos óbvios de Raquel, nem por isso 35:19 e 48:7, ficaria perto de Belém, presumivelmen
Facó a amou menos. Bem pelo contrário, ao tomar te, ao sul de Jerusalém. A verdade, porém, é que
conhecimento da aproximação de Esaú, seu irmãc aqueles três versículos não contradizem a afirmação
gêmeo, que vinha contra ele com quatrocentos clara de Gên. 35:19 e 48:7. O primeiro desses trechos
homens, Jacó dispôs a sua gente em grupos, um após diz, literalmente: «havia ainda um trecho de terreno
outro, com alguma distância entre cada grupo. Dessa até Efrata», dando a entender um local ao sul de
forma, se Esaú atacasse um dos bandos, talvez os Jerusalém. I Samuel 10:2 assevera que ficava
outros pudessem fugir. E lemos: «Pôs... a Raquel e localizado na fronteira de Benjamim. Isso pode
José por últimos» (Gên. 33:2). Isso não demonstrou referir-se à fronteira sul de Benjamim, imediatamente
um extremoso cuidado de Jacó por Raquel e o único ao sul de Jerusalém (Jos. 15:8; 18:15-17), pois a
rebento deles, José? Sim, Jacó amou Raquel até o fim! cidade mencionada em I Sam. 9, presumivelmente
V in . Simbolismo Btblico próxima da fronteira, não é identificada. Outrossim,
a expressão «junto ao sepulcro de Raquel» (I Sam.
Em Jeremais 31:15,16, o profeta alude ao exílio das 10:2) não precisa ser pressionada, pois, de outra
dez tribos de Israel, a nação do norte, pelos assírios. sorte, as palavras «em Zelza», seriam supérfluas
Isso ocorreu na época de Salmaneser, rei da Assíria. (embora Zelza não possa ser identificada). Por outro
Ver também II Reis 17:20. O profeta alude à comoção lado, o local tradicional pode não ser autêntico, pois
e tristeza que esse cativeiro provocou, referindo-se, parece estar por demais ao sul da fronteira de
simbólica e poeticamente a Raquel, como a Benjamim. Finalmente, a declaração em Jer. 31:15
antepassada maternal das tribos de Efraim e não fornece qualquer evidência de que o túmulo de
Manassés, que, juntamente com outras tribos, foram Raquel ficava em Ramá. a oito quilômetros ao norte
levadas para aquele exílio forçado. Lemos naquela de Jerusalém. O profeta pode ter evocado, em sublime
passagem de Jeremias: «Assim diz o Senhor: Ouviu-se prosopopéia, Raquel ailamentar-se por seus filhos em
um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Ramá, ou pode ter previsto que os cativos de Judá e
Raquel, chorando por seus filhos, e inconsolável por Benjamun seriam levados a Ramá, após a queda de
causa deles, porque já não existem. Assim diz o Jerusalém, antes de serem levados para o exílio (Jer.
Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de 40:1), ou porque Ramá ficava em um lugar alto no
teus olhos; porque há recompensa para as tuas obras, território de Benjamim, de onde podia ser vista a
diz o Senhor, pois os teus filhos ■voltarão da terra do desolação.
inimigo». Portanto, essa predição tanto fala no castigo
de Israel quanto em sua futura restauração. Oh! a Josefo e os talmudistas concordam que o túmulo de
entranhável misericórdia de Deus! E é em termos de Raquel ficava perto de Belém. Orígenes, Eusébio e
restauração que o Espírito de Deus continuou a falar, Jerônimo também aceitavam o local. Posteriormente,
pela boca do profeta Jeremias, até o fim do trigésimo os peregrinos descreveram o túmulo como uma
primeiro capítulo do seu livro, e que o leitor faria bem pirâmide, formada por doze pedras. As cruzadas
em examinar. reconstruíram-no, erigindo um edifício quadrado,
com 7 m de lado, formado por quatro colunas
Quando chegamos ao Novo Testamento, porém, encimadas por arcos pontudos com 3,6 m de largura e
encontramos uma outra aplicação daquela mesma 6,4 m de altura, tudo coroado por uma cúpula. Em
predição de Jeremias. Essa outra aplicação se 1788, os arcos foram preenchidos com paredes. Em
encontra em Mateus 2:18, no caso da matança dos 1841, Sir Moses Montefiore obteve para os judeus a
inocentes, por determinação do iníquo rei Herodes. chave de Qubbet Rahil, adicionando um vestíbulo
Mateus informa-nos de que a matança dos meninos quadrado com um mihrab, para os islamitas.
de Belém e de «todos os seus arredores», foi
cumprimento do que fora dito «por intermédio do
profeta Jeremias». Nesse caso, Raquel representou RAS SHAMRA
todas as mães judias que perderam seus filhinhos, a Nome de um cômoro na Síria, a antiga cidade de
fim de que Jesus, ainda menino, pudesse escapar com Ugarite, cerca de doze quilômetros ao norte de
vida da sanha assassina de um rei que não hesitou em Laodicéia e Mare. na costa marítima da Síria. Ali, a
matar meras crianças, porquanto temia que ele ou os partir de 1929, começaram a ser encontrados objetos
seus descendentes fossem ameaçados no trono pelo arqueológicos de imenso valor para o estudo da
Rei dos Judeus! religião fenícia e cananéia, inaugurando assim uma
556
RASSIS - RAZÃO
nova era no estudo do A.T. Ver Ugarite. logoi spermátikoi se encontram nos lúgares mais
variados e, às vezes, surpreendentes. Os homens
gostam de limitar as atividades.de Deus dentro de
RASSIS seus pobres sistemas, mas os logoi spermátikoi não
Um ancião de Jerusalém, muito considerado pelos conhecem qualquer limitação. Ver Mistério da
judeus em face de sua vida exemplar. Foi acusado Vontade de Deus.
perante o general sírio, Nicanor, como opositor do
helenismo, tendo cometido suicídio de maneira
sangrenta, preferindo isso a ser aprisionado (ver II RAZÃO
Macabeus 14:37-46). Ver o artigo geral sobre o RadonaUsmo. Ver
também Razão na Religião.
Esboço:
RATIONES SEMINALES
I. Definição
Expressão latina que significa «razões seminais», ou II. Idéias dos Filósofos
seja, aquelas forças básicas, não-materiais que põem III. Razão na Religião
a criação material em ação, algo parecido com os
lógoi spermátikoi, «sementes da razão», concebidos I. Definição
pelos gregos, que viam o Logos atuando ein -tudo. Na I. Definição
filosofia de Boaventura, essas forças fazem a criação A_ palavra portuguesa razão vem do latim, ratto,.
física ser o que ela é, trabalhando em cima das «estimativa», «avaliação». Em grego há três palavras a
potencialidades da matéria. Deus é a fonte originária levar em conta, cujo sentido é equivalente próximo, e
tanto dessas forças quanto da matéria, sobre a qual que foram empregadas ' pelos filósofos: phrónesis,
operam. noús e lógos, sobre as quais tenho apresentado artigos
separados. Mas também devemos considerar phrén,
LOGOI SPERMÁTIKOI «compreensão», e súnesis, «entendimento». Quando é
atribuída ao homem, a razão refere-se a uma
capacidade dele. Com essa capacidade, através de
Os logoi spermátikoi (o grego traduzido rationes seus poderes intelectuais, ele é capaz de extrair
seminales) são as manifestações do Logos na filosofia conclusões lógicas de uma série de pensamentos
estóica. O Logos (vide) é a força ou substância básica, organizados. Platão dizia que o homem é possuidor de
criadora e controladora, e seus poderes (sementes = vontade, razão e paixão (sentimentos) como suas
spermátikoi) operam em tudo. Em Filo, os dois logoi principais características. Essas capacidades huma
fundamentais são a bondade e o poder de Deus, e nas tradicionalmente têm feito os pensadores destacá-
estas duas forças constituem o Logos, que, às vezes, lo dentre os animais inferiores, embora os animais
ele personificou como o «anjo do Senhor». A relação possuam certo grau de raciocínio, muito mais do que
exata entre o Logos e Deus, em Filo, não é bem os filósofos e os cientistas têm pensado. O homem,
esclarecida por ele, mas é claro, pelo menos, que os como um animal racional, é ‘assim um ser
logoi spermátikoi são operações de Deus, baseadas responsável. Sua razão também lhe confere um
nos seus atributos divinos. O próprio Logos e os logoi ande instrumento na busca científica, religiosa e
spermátikoi têm o trabalho de mediadores e osófica.
operadores da vontade de Deus. Em Plotino, os logoi Entre as definições da razão, são comuns os
spermátikoi são formas operadoras na emanação do conceitos de organização sistemática de conceitos
Logos no mundo. Eles manifestam os poderes das universais, para que o homem possa manipular aquilo
Ideias ou Formas em toda a existência, inclusive nos que, de outra sorte, seriam pensamentos desorgani
mundos físicos. Desta maneira, as Idéias se envolvem zados. A razão conduz à competência no pensamento.
em um processo de emanação, uma idéia diferente II. Idéias do« Filó«ofo«
não contemplada por Platão. Os logoi spermátikoi 1. Platão. As três principais características do
efetuam a vontade de Deus nas inumeráveis esferas homem é que ele é um ser dotado de vontade, razão e
onde ele se manifesta. São forças criadoras e paixão.
controladoras. Estas forças duplicam imperfeitamen
te, isto é, imitam as Formas, e assim os mundos 2. Aristóteles estabelecia a distinção entre a razão
inferiores são, como Platão falou, imitações ou ativa e a razão passiva. A razão ativa seria uma forma
sombras do mundo das Formas. pura, enquanto que a razão passiva estaria vinculada
à percepção dos sentidos.. Essa idéia foi seguida
No crUtianliino, os logoi spermátikoi são as durante a Idade Média, e a filosofia islâmica muito
operações e influências do Logos na criação de Deus, ficou devendo às idéias de Aristóteles.
inclusive na criação física. O Logos, a encarnação de 3. Panaécio (século I A.C.) distinguia entre a razão
Deus, identificado com o Filho, tem inúmeros poderes teórica e a razão prática, e atribuía maior valor à
e influências que operam em seu favor, e efetuam a razão prática.
vontade de Deus. E a vontade de Deus de espalhar a 4. Tomás de Aquino procurou prover o devido
mensagem espiritual, inclusive a da salvação. Os logoi equilíbrio no que tange à razão e à fé. Ambas têm
spermátikoi se encontram em toda parte, em religiões suas respectivas aplicações, propósitos e alvos, e não
não-cristãs e na melhor parte da filosofia, como a de se contradizem. Assim sendo, a fé poderia apreender
Platão. Portanto, o Logos não está limitado a fé certas verdades, comó a Trindade, as naturezas divina
cristã, sua esfera de atividade é universal. Ele se e humana de Cristo Jesus, etc., ao passo que a razão é
manifesta através da natureza (religião natural), incapaz de sondar as mesmas. Essas duas funções são
através da revelação (no misticismo e revelação), nas complementares no homem, e não entram em choque
ciências naturais, na razão (como nas filosofias), na uma com a outra. Os imaturos é que as fazem entrar
consciência do homem, nas intuições. O Logos é em conflito uma com a outra. A razão é como um anjo
universal e poderoso e nem uma única maneira de guardião, que nos resguarda de um misticismo
operar pode limitá-lo. Portanto, suas’manifestações exacerbado.
não se limitam a religião cristã, embora ai ele
encontre sua expressão mais exata e promissora. Os 5. Hobbes concebia a razão' de maneira materialis-
557
RAZÃO - RAZÃO NA RELIGIÃO
ta, e procurou convencer-nos que ela não passa de contradizer, a vontade de crer. Mas também há uma
uma computação mecânica. E muitos cientistas, que atitude cética que «não quer acreditar», não havendo
não fazem a distinção devida entre a mente e o evidências que consigam convencer a um indivíduo de
cérebro, seguem essa noção. que ele se acha na prisão de suas próprias dúvidas.
6. Pascal mostrou a distinção entre a razão da 3. Usos e Abusos da Razão. Ver sobre o
mente e a razão do coração. Esta última é capaz de Racionalismo, 2. f. Algumas formas daquilo que os
apreender algumas coisas intuitiva e instintivamente, nomens chamam de razão não passam de outro nome
ao passo que isso é impossível para a razão da mente. para o ceticismo, e alguns teólogos têm exercido esse
7. Emanuel Kant empregou o raciocínio empírico tipo de razão. Ver sobre o Ceticismo. Quando a razão
na busca de suas proposições, embora tivesse termina no ceticismo, então podemos ter a certeza de
empregado a razão prática na busca pelos seus que a experiência religiosa, especialmente do tipo
postulados. O primeiro está envolvido na percepção místico, está ausente.
dos sentidos; a segunda, na razão, na intuição e nas 4. A Fé Pode Transcender à Razão. Certas coisas
experiências místicas. não podem ser reconhecidas por meio da racionalida
8. Newman falava sobre a razão formal e a razão de. As vezes, precisamos apelar para a fé, com base
informal, dando precedência à primeira delas. na intuição ou na revelação bíblica. Por outro lado, a
9. Os filósofos idealistas, de modo geral, preferem razão pode resguardar-nos de crenças tolas ou de um
as evidências colhidas pela razão, em detrimento da pseudomisticismo. — O homem é um ser dotado de
percepção dos sentidos, mas muitos deles aceitam a múltiplas capacidades, e todas elas podem ser usadas
hierarquia da razão, da intuição e das experiências no desenvolvimento de sua espiritualidade. Não
místicas, em grau crescente de importância. estaremos prestando a Deus um favor falando contra
10. Ritschl respeitava tanto a razão quanto a fé, mas a razão, um dos seus preciosos dons aos homens.
separava-as de modo radical, no tocante ao que cada Também não estaremos cumprimentando a Deus se
qual pode realizar. exagerarmos essa função humana ao ponto de
te ^ in arm o s no ceticismo.
11. Peirce asseverava que a razão jamais pode ser
isolada da vontade e dos sentimentos, pelo que estaria 5. A Razão e a Metafísica. A rãzão é uma das fun
sempre condicionada pela vontade e pelos sentimen ções da alma (mente) e somente secundariamente, do
tos. A função da razão seria refinar a crença. cérebro. Há um conhecimento e um raciocínio
extracerebrais. Ver o artigo Experiências Perto da
12. Ortega y Gasset referiu-se à «razão vital», que Morte, quanto a uma demonstração prática do fato.
seria mais imediata e sutil que a razão teórica e a Ver o estudo ainda mais completo, no verbete Razão
razão formal, porquanto entraria na esfera da na Religião. (AM B E EP F MM P)
intuição.
13. Paul Tillich discorria sobre três tipos ou níveis de
razão: a razão heterônoma (de outras coisas); a RAZÃO CRÍTICA
autônoma (do próprio indivíduo); e a teônoma (de Ver o artigo intitulado Razio Prática, bem como o
Deus e de realidades superiores). Esse último tipo de artigo geral sobre Kant, mormente a introdução
razão é que estaria ligado às profundezas do ser àquele artigo, e então o primeiro ponto, Teoria do
humano, levando-nos à inquirições da fé. Conhecimento.
D l. Razio na Reügiio
Ver o artigo separado e detalhado sob esse título. RAZÃO NA RELIGIÃO
1. Funções da Razão. Ê errado e prova de Ver o artigo sobre a Razio, em sua terçeira seção.
imaturidade lançar a razão contra a fé, ou a razão As coisas que ali foram ensinadas, adiciono aqui uma
contra as experiências místicas. Ver o artigo sobre o perspectiva histórica, mostrando as razões pelas quais
Antiintelectualismo. A razão nos foi dada por Deus alguns desprezam a razão na religião, quando, na
para servir-nos de guarda. Muito misticismo trivial, realidade, deveríamos dar valor à razão na religião.
ou mesmo daninho, dentro e fora das fileiras da Igreja Ver também sobre o Antiintelectualismo.
cristã, poderia ser evitado mediante o poder da razão. Esboço:
Por outra parte, a razão não deveria ter por função I. Perspectiva Histórica
negar o valor da fé, sem evidências empíricas, e nem
negar o papel do misticismo na experiência religiosa. II. Motivos que Levam Alguns a Desprezar a
Quanto a esse particular, concordo com Platão. Razão
Nossas maneiras de tomar conhecimento das coisas III. Apoio da Razão à Religião
formam uma hierarquia, com valor ascendente, cada I. Penpectiva Histórica
qual com seu próprio uso e serventia: a percepção dos 1. As atitudes religiosas para com os poderes, o uso
sentidos, a razão, a intuição, as experiências místicas. e a propriedade da razão, historicamente falando, no
£ ridículo criticar os teólogos e exaltar o que «Deus me que concerne à sua aplicação, podem ser reduzidas a
revelou pessoalmente». Não será possível que Deus quatro categorias principais:
também revele coisas aos teólogos? a. A razão entra perfeitamente em harmonia com a
£ ridículo criticar àqueles que estudam. O estudo, fé religiosa, além de servir para expressá-la. A razão
porventura, não seria um meio de revelação ou de exibe logicamente aquilo que a religião sente e põe em
definir melhor as revelações divinas? O poder da prática. Exemplos daqueles que têm mantido essa
razão procede de Deus e constitui um grande aspecto posição são Justino Mártir, João Scoto Erigena e
distintivo do que é o ser humano. E é absurdo elogiar Hegel.
algumas qualidades outorgadas por Deus ao homem, b. A razão é compatível com a fé religiosa, tendo a
ao mesmo tempo em que outras dessas qualidades são função de expressá-la e defendê-la. Mas a fé cristã,
desprezadas. com base na revelação bíblica,' transcende à razão,
2. A Vontade de Crer. Algumas pessoas, devido a conferindo-nos algumas doutrinas que são inatingí
suas atitudes religiosas básicas, dispõem-se a acredi veis para a razão. Exemplos daqueles que têm tomado
tar em quase qualquer coisa. Essa tendênaia deveria esse ponto de vista são Tomás de Aquino, John Locke
ser disciplinada, e a razão é um meio de disciplina. e os estudiosos conservadores moderados, considera
Por outra parte, a razão pode confirmar, em vez de dos como uma classe.
558
RAZÃO NA RELIGIÃO
c. Em certos casos, a razão pode entrar em conflito vós» (o itálico é nosso).
com a fé religiosa, e, realmente, o faz. Aqueles que
mantêm essa opinião assevera que cada proposição da 3. Durante o Iluminismo. Esse foi um período
histórico quando a razão suplantou a fé! Mas Hegel
razão e da fé deve ser aceita como veraz, cada qual em declarou que a religião e a filosofia expõem as mesmas
sua própria dimensão, sem importar as contradições, verdades, embora de diferentes ângulos.
que então serão apenàs aparentes. Temos ai uma
espécie de teoria da. dupla verdade, onde a razão 4. No revivalismo, como o de João e Carlos Wesley,
desempenha um papel', embora nem sempre ela se ou o de Jônatas Edwards, a razão recebia pouca'
mostre correta em seus raciocínios. A fé é mais importância, ao passo que a fé era ressaltada.
enfatizada dentro dessa posição, e a revelação é aceita 5. No existencialismo e na neo-ortodoxia (temos
como a base da fé. Guilherme de Occam pensava que preparado artigos separados a respeito), a razão não é
aquilo que pode ser filosoficamente verdadeiro pode proeminente. Nomes vinculados a esses sistemas são
ser teologicamente falso. Martinho Lutero e Thomas Karl Barth, Evil Brunner e Reinhold Niebuhr.
Hobbes também mantinham esse ponto de vista, em 6. A causa da razão foi vigorosamente advogada no
sentido geral. escolasticismo em geral, e também por certos filósofos
em particular, como H. Rashdall, W.R. Sorley, A. S.
d. O antiintelectualismo (vide) tem sido a posição Pringle-Pattison, W.E. Hocking, A.C. Knudson, J.S.
extremada de algumas pessoas religiosas. Elas Bixler, W.M. Urban, John Bennett e muitos outros.
mostram-se hostis para com qualquer tipo de 7. A negação da utilidade, tanto da razão quanto
raciocínio filosófico, em apoio à fé. Tertuliano deixou da fé, no campo da religião, tem sido afirmada por
sua famosa declaração: Credo, guia absurdum, ou John Dewey e por muitos pensadores céticos.
seja, «Creio, por ser absurdo». Ele esperava que a fé
II. Motivo* que Levam Algum a Desprezar a Razip
religiosa fosse irracional—uma opinião deveras
absurda. De acordo com essa posição, é difícil 1. A razão complica; a fé simplifica. Portanto,
imaginar por que Deus deu cérebro aos homens. P. prefiramos a fé. Entretanto, com freqüência a
Bayle fez uma sarcástica observação quanto a esse verdade não é simples. Todo conhecimento demonstra
ponto de vista em seu Dicionário, quando afirmou isso.
que as verdades mais irracionais parecem ser as que 2. A autoridade fixa é melhor mantida quando
mais tendem por estar corretas. E alguém disse, com temos fé simples nos livros sagrados, e não pomos a
grande argúcia: «Algumas vezes, a fé consiste em crer razão em ação, através de cujo exercício podem ser
no que não é verdade». As pessoas que exageram e encontrados erros, parcialidades e outros defeitos nos
fazem da experiência pessoal a única base de sua pontos de fé. Porém, a autoridade (vide) é algo
religião, especialmente enfatizando as experiências complexo, e jamais poderá ser determinada mediante
místicas, dão pouco valor à razão e ao estudo. Essa é um único método.
uma posição unipolar, obviamente falsa. Precisamos 3. A unidade, no seio do cristianismo, pode ser
de todas as janelas abertas, postas à nossa disposição, mantida melhor se ignorarmos os conceitos dos
a fim de adquirirmos maiores luzes. filósofos. Todavia, mesmo sem o exame que a razão
2. A Atitude do Novo Testamento. Apesar do Novo nos faculta, o cristianismo tem-se subdividido em
Testamento frisar a fé, com base na revelação divina, muitos fragmentos, meramente com base em diferen
não se trata de um documento caracterizado pelo tes interpretações de textos de prova, extraídos da
antiintelectualismo. Jesus apelou para as experiências própria Bíblia.
diárias e interiores, em suas bem-aventuranças, como 4. A impossibilidade de um completo exame
também às evidências da vida cotidiana. Podemos racional da fé religiosa deve ser levada em conta.
reconhecer o verdadeiro e o falso, observando seus Contudo, a fé religiosa não é passível de qualquer
respectivos frutos. Ele conclamou os homens para exame completo ou de experiência, por mais que insis
avaliarem as experiências e as idéias: «E por que não tamos em impor somente a fé. A simplicidade não é
julgais também por vós mesmos o que é justo?» (Luc. sinônimo da verdade. A fé tipo café instantâneo só é
12:57). Não há nenhuma declaração de pendor concebível para as mentes fracas ou para as crianças
antiintelectual, em todas as assertivas de Jesus. Paulo espirituais.
declarou que oraria com o espírito, mas também com 5. A revelação divina é tudo, enquanto que o
«a mente» (ver I Cor. 14:15). Ele salientava a raciocínio humano nada é. Não obstante, a revelação
necessidade da compreensão na profecia e na não é o único método de se obter conhecimento da
pregação, em contraste com a ausência da compreen verdade, e, além disso, Deus criou a capacidade
são nas línguas, que, assim sendo, precisavam ser intelectual para o homem usá-la no julgamento e
interpretadas. Paulo atacou a filosofia falsa, como avaliação da revelação, bem como no descobrimento
aquela dos gnósticos (ver Col. 2:8), mas ele mesmo de verdades que não foram reveladas. Muitas
não hesitou em aplicar argumentos filosóficos, verdades existem que não fazem parte da revelação
quando viu lugar para tal argumentação, conforme se bíblica, como é lógico.
vê no capitulo dezessete, em sua visita a Atenas. E 6. O mistério e a irracionalidade são algumas das
diminuiu a importância da filosofia, por causa dos características da verdade. Apesar de ser verdade que
exageros dos gregos a esse respeito (ver I Cor. esses fatores com freqüência se fazem presentes,
1:22,23); no entanto, em suas epístolas, há muitos também é verdade que à medida que nosso
traços do estoicismo e do raciocínio filosófico. Os pais conhecimento progride, podemos remover os aspectos
gregos da Igreja, como Clemente de Alexandria e de mistério e de irracionalidade de muitas verdades.
Orígenes, expressaram a fé cristã em termos
platônicos, estabelecendo um precedente a ser m . Apoio da Razio à ReligÜo
seguido em todos os demais séculos. Tomás de 1. Deus é o maior de todos os intelectos. Joseph
Aquino valeu-se de Platão e de Aristóteles a fim de Smith certamente estava certo ao dizer: «A glória de
expressar muitas idéias religiosas. Talvez o trecho de I Deus é a sua inteligência». Referindo-nos aos
Ped. 3:15 seja a mais útil declaração neotestamentária atributos de Deus, conferimos-lhe todas as mais
que contém um equilíbrio entre a razão e a fé: elevadas qualidades do intelecto, da razão e da
«...estando sempre preparados para responder a todo racionalidade. Como, pois, os homens, criados à
aquele que vos pedir razão da esperança que há em imagem de Deus, seriam destituídos de m ente?
559
RAZÃO NA RELIGIÃO - REAFIRMAÇÃO
2. Apesar de que algumas verdades podem razão precisamos testar empiricamente as idéias,
permanecer aparentemente incoerentes e autocontra- sendo essa apenas uma outra maneira de obtermos
ditórias (como é o caso dos paradoxos; vide), muitas conhecimentos. Ver o artigo geral intitulado Autori
outras verdades estão sujeitas à nossa razão. E os dade, quanto à teoria das fontes múltiplas da
próprios paradoxos poderão ser sondados por nossas verdade.
mentes, quando nosso conhecimento aumentar o 17. Todos os dons de Deus são excelentes, e muito
suficiente para tanto. devem ser desejados e buscados. O poder da razão,
3. O apelo à razão é útil para testarmos que se origina no intelecto, é um dos preciosos dons de
reivindicações rivais de revelação, bíblicas ou Deus. Desprezar esse dom é um absurdo. Aristóteles
extrabíblicas. considerava Deus como o Intelecto. E todos os
4. A fé cega é, verdadeiramente, conforme alguém homens são intelectos, criados à imagem do Grande
já disse, meramente «é crença em algo que não é Intelecto. Isso faz parte da herança humana, que é
verdadeiro». uma pessoa espiritual. £ um erro crasso desprezar
5. A crença no poder da fé algumas vezes consiste essa herança divina que possuímos.
meramente na crença nos dogmas de minha
denominação religiosa. Os homens são arrogantes, e RAZÃO PRÁTICA
com freqüência ocultam sua arrogância por detrás de
uma suposta elevada espiritualidade, o que pode ser A filosofia de Emanuel Kant divide-se mui
pouco mais do que a ignorância. naturalmente em duas grandes facetas. Em sua Razão
6. A ignorância não tem valor; mas homens tolos Critica, ele enfatizou a necessidade de proposições
gostam de defender a ignorância como se estivessem alicerçadas sobre o empirismo, para aquilo que
defendendo a fé, o que não tem base alguma na chamamos de «conhecimento». Mas em sua Razão
realidade dos fatos. A nossa fé deve. ser uma fé Prática, ele frisou os postulados (vide), que falam
esclarecida. sobre assuntos como Deus, a alma, a liberdade, a
imortalidade, a ética, a estética, etc., que estão
7. A suposição de que a verdade é simples e abre-se fundamentados sobre a razão, a intuição e as
diante da fé isolada é ridícula. Quanto mais vamos experiências místicas. Essas questões, em sua
conhecendo sobre a verdade, tanto mais ficamos estimativa, não estão sujeitas à prova mediante a
impressionados com a sua complexidade. A verdade percepção dos sentidos, apesar de que são elementos
precisa ser investigada por muitos ângulos e através necessários para qualquer sistema filosófico razoável e
de muitos meios, antes que possa ser desvendada. coerente. Ver o artigo geral sobre Kant, especialmen
8. A fé cega, que não raciocina, é uma violação da te o ponto 2.h. Seus Três Mundos ilustram a divisão
integridade da personalidade humana, que é uma natural entre os dois tipos de razão. Ver o artigo
unidade complexa. Uma das muitas capacidades da Ética, VIII. A Ética de Emanuel Kant, que faz a
personalidade humana é a do raciocínio, e todas as exposição sobre os seus três mundos.
capacidades humanas devem ser empregadas na
busca pela verdade.
RAZÃO SUFICIENTE Ver Suficiência de Razão.
9. Embora a razão não crie revelações, estas devem
ser examinadas pelo poder da razão.
10. A razão é uma guardiã da alma, capaz de RAZÕES DO CORAÇÃO
anular um falso misticismo, falsas idéias e os exageros Pascal dizia que existem razões mentais que nos
de pessoas religiosas imaturas. fornecem algumas verdades. Mas, além dessas razões
11. A razão autêntica pesquisa humildemente em mentais, também existem as «razões do coração», com
busca da verdade. A arrogância não é uma qualidade essa expressão ele indicava os poderes da intuição.
necessária da intelectualidade. Essas «razões» algumas vezes podem penetrar nas
12. A razão é aliada da verdadeira fé. A razão e a fé verdades profundas, quando outras formas de razão
são instrumentos de inquirição e descobrem as fracassam.
mesmas verdades. No caso de certas verdades, a razão O homem pode sentir Deus com o seu coração. O
pode encontrá-las com maior facilidade; por outra coração tem suas próprias razões. Se nos aproximar
parte, a fé pode descobrir certas verdades com mais mos de Deus somente pelo prisma racional,
facilidade do que a razão. E também há verdades que poderemos estar sendo conduzidos ao deísmo (vide),
requerem a utilização tanto da razão quanto da ou mesmo ao ateísmo (vide). A razão humana não
verdade. pode perscrutar aquilo que é infinitamente in
13. A razão tem-se mostrado especialmente valiosa compreensível. As razões do coração poderão ter
na busca por definições e provas de imortalidade, muito maior êxito nesse terreno.
uma grande verdade religiosa. £ bom crer, e ainda é
melhor saber por qual motivo cremos. RÉ Ver sobre Rá.
14. Algumas mentes sentem-se mais à vontade com a
razão do que com a fé, e, para elas, a razão é o melhor REABIAS
caminho.
15. A razão é especialmente eficaz em campos como No hebraico, Yahweh alargou. Era filho de Eliézér
a ética e metafísica. Sem algumas idéias verdadeiras e neto de Moisés. Pertencia a uma família levítica
(que precisam ser testadas), não podem subsistir nem liderante (I Crô. 23:17; 24:21; e 26:25).
a ética e nem a religião metafísica.
16. A fé (no caso de pessoas extremamente místicas) REAFIRMAÇÃO CONTEMPORÂNEA
pode ser exagerada, manipulada por grande varieda De Argumentos Tradicionais em Prol
de de sistemas religiosos, alguns dos quais obviamente da Existência de Deus
falsos, enquanto que outros sistemas contêm muitas Autor: A.E. Taylor (1869-1945) foi professor de
idéias falsas. Pensemos sobre as muitas seitas cristãs Filosofia Moral da Universidade de Edimburgo, na
que têm surgido com base em falsas reivindicações Escócia. Tornou-se bem conhecido tanto como
místicas! A razão precisa dar sua contribuição, em intérprete de Platão quanto como um filósofo de
algum ponto do caminho. Naturalmente, acima da idéias originais.
560
REAFIRMAÇÃO
Extraído do artigo de A.E. Taylor, The Vindication dizer «Creio em Deus». No fundo, entretanto, a
o f Religion, da obra «Essays Catbolic and Criticai*, inquirição pelo estofo com que as coisas todas são
1926, editada por E.G. Selwyn. feitas é um primeiro passo, incerto e um tanto cego,
I. DA NATUREZA PARA DEUS dado na mesma direção que o famoso argumento de
Aristóteles, adotado por Tomas de Aquino, em favor
1. O argumento que «parte da natureza para a da existência de um movimento inabalavel (o qual,
natureza de Deus» pode ser apresentado sob formas permanecendo immotus in se, é a origem de todo <r
extremamente diferentes, e com mui diferentes graus movimento e vida deste mundo inferior), na direção
de persuasão, correspondentes ao conhecimento mais também em que seguem todos os desde entãc
ou menos definido e exato dos diferentes épocas familares argumentos a posteriori sobre a existência
acerca dos fatos detalhados da natureza, bem como de Deus.
do maior ou menor grau de articulação atingido pela
lógica. Contudo, o pensamento principal que subjaz a 2. Foi apenas mais um passo dado nessa mestna
essas diferentes variações é sempre o mesmo, ou seja, direção, que não demorou a ser dado pelos primeiros
dos pontos incompletos para o completo, do que é fundadores da ciência, quando se percebeu que a
dependente para o que é independente, do que é persistência de um «estofo» imutável não serve de
temporal para o que é eterno. A natureza, no sentido explicação completa para os fatos aparentes da
do complexo de «objetos apresentados à nossa natureza, tomando-se então claro que nos é
atenção», os corpos animados e inanimados que nos conveniente indagar de onde procede o movimento
circundam, bem como os nossos próprios corpos que que é a vida e todos os processos naturais. Essa é a
cooperam com cada um deles, antes de tudo, é algo forma como o problema se apresentou para Aristóteles
sempre incompleto; não possui limites ou fronteiras; o e para o seu grande seguidor, Tomás de Aquino.
horizonte, no tempo e no espaço retrocede indefinida Criam que a natureza é uniforme no sentido de que
mente, à medida que vamos avançando em nossa todos os movimentos aparentemente irregulares e
aventura de exploração. «Para além do mar, há mais ilegítimos com os quais a vida nos toma familiariza
mar». E, além disso, a natureza sempre se mostra dos no mundo ao nosso redor, se originam e são
dependente; nenhuma porção da mesma contém sua efeitos de outros movimentos, aqueles dos céus, que
explicação completa em si mesma; a fim de seriam absolutamente regulares e uniformes. De
explicarmos por que qualquer porção é o que é, acordo com esse ponto de vista, o movimento
sempre teremos de levar em cónta as relações dessa supremamente uniforme e dominante da natureza
porção com alguma outra porção, o que, por sua vez, pode ser naturalmente identificado com a revolução
requer como explicação, a relação para com uma diurna e aparentemente absolutamente regular de
terceira porção, e assim por diante, interminavelmen todo o firmamento estelar ao redor do globo terrestre.
te. E quanto mais compíeto e mais rico se vai Aristóteles entretanto, não se contentava em aceitar o
tornando o nosso conhecimento acerca do conteúdo mero fato dessa suposta revolução como um fato final
da natureza, tanto mais, e não tanto menos que não precisa de mais nenhuma explanação. Pois
imperativo se torna encontrar a explanação de todas nenhum movimento se explica por si mesmo, pelo que
as coisas, em relação a cada porção por sua vez, e também precisamos inquirir pela «causa» ou razão
cada porção, por sua parte, exige um esclarecimento pela qual os céus exibem esse movimento continuo e
similar. Novamente, a mutabilidade transparece uniforme. Entretanto, essa razão Aristóteles e os seus
claramente em face de cada nova porção da seguidores só sabiam explicar na linguagem do mito
natureza—«Tudo é passageiro, e nada é permanen imaginado. Posto que nada pode pôr a si mesmo em
te». O que esteve no passado, agora não está mais, e o movimento, o movimento que permeia o universo
que está agora aqui, não mais estará algum dia. «Ali inteiro da natureza deve ter sido iniciado por algo que
estava a rocha onde rola o mar». Até mesmo aquilo não pode ser movimentado por qualquer outra coisa,
que, à primeira vista, parece ser permanente, quando e que, por isso mesmo, não é mutável e sujeito a
é examinado mais detidamente, mostra tão-somente variações, mas por toda a eternidade é sempre o
possuir um nascimento e uma decadência mais lentos. mesmo e perfeito, não permitindo e nem necessitando
Até mesmo na Idade Média cristã se pensava que o de qualquer desenvolvimento de qualquer espécie.
firmamento permanecia imutável desde o dia da sua «De um princípio assim é que depende o céu inteiro».
criação, até que finalmente fosse dissolvido em meio a (Aristóteles, Metafísica, 1072b, 14). E segue-se, de
grande explosão de calor, quando da nova criação, e a outras pressuposições da filosofia de Aristóteles, que
astronomia moderna relata-nos a produção e a esse «princípio» deve ser aceito como uma inteligência
dissolução graduais de «sistemas estelares» completos. viva e perfeita. Assim sendo, na formulação
Pensamentos como esses sugeriram à mente grega, des aristotélica sobre os princípios da ciência natural,
de a própria infância da ciência, a conclusão de que a chegamos ao resultado explícito de que a natureza, em
natureza não é um sistema fechado em si mesmo, não sua estrutura mais íntima, só pode ser explicada como
sendo a sua própria razão de ser. Por detrás de toda algo que depende de uma origem perfeita e eterna da
essa temporalidade e alteração deve haver algo vida, fonte essa que não é nem a própria natureza e
imutável e eterno, que é a fonte originária de tudo nem qualquer parte dela. A «transcendência de Deus»
quanto é mutável e que é a explicação do por quê as tem sido finalmente explicitamente afirmada como
coisas são como são. verdade sugerida (Aristóteles e Tomás de Aquino
teriam dito como «verdade demonstrada») pela análise
• •• racional da própria natureza. Em princípio o
No Primeiro Caso esse senso de mutabilidade deu argumento deles é o mesmo de toda forma posterior
origem somente ao desejo de saber o que é o estofo da chamada «prova cosmológica».
permanente daquilo a que chamamos de coisas, as Examinemos de volta, de acordo com essa linha dt
quais seriam somente suas fases passageiras. Seria a pensamento, a questão em foco. Dessa linha de
água, o vapor, o fogo, ou talvez algo inteiramente pensamento é que as *provas da existência de Deus»
diferente dessas coisas? A grande questão que se que nos são familiares têm sido desenvolvidas nas
destacava em primeiro plano, para todos os antigos obras populares sobre a teologia natural, indagando
homens de ciência era justamente algo extremamente de nós mesmos qual valor permanente tem esse
diferente dizer TODAS AS COISAS SÃO ÂGUA ou desenvolvimento para nós, e até que ponto o mesmo
561
REAFIRMAÇÃO
contribui para sugerir-nos a real existência de um inteiro sobre a causa do movimento se originou da su
Deus a quem um homem religioso pode adorar «em posição desnecessária de que as coisas estiveram antes
Espirito e em verdade». Precisamos supor que o em repouso, mas que depois começaram a movimen-
próprio pensamento é necessariamente antiquado, tar-se, de tal maneira que é suficiente começarmos—a
porque a linguagem em que o mesmo foi vazado nos exemplo dos modernos físicos—com uma pluralidade
impressiona como uma linguagem ultrapassada, ou de partículas em movimento, ou átomos, ou eléctrons,
porque aqueles que o apresentaram inicialmente para nos livrarmos de toda essa difícil questão.
mantinham certos pontos de vista sobre os detalhes da Também não seria relevante a observação de que os
estrutura da natureza (notavelmente o conceito físicos modernos reconhecem não haver qualquer
geocêntrico da astrononia) que agora são obsoletos. E movimento absolutamente uniforme, como aquele
é perfeitamente possível que —essa substituição de atribuído por Aristóteles ao firmamento, mas
pensamentos antiquados por pontos de vista contem tão-somente há movimentos mais ou menos estáveis.
porâneos, no tocante à natureza do universo estelar ou Por exemplo, se começarmos por um sistema de
no tocante à fixidez das espécies animais deixa «partículas», todas elas em movimento uniforme,
inalterada a força do argumento, sem importar qual ainda assim não haverá explicação para o surgimento
seja essa força. Existem duas criticas em particular de movimentos «diferenciais». E se começarmos, a
que faríamos bem em eliminar de uma vez por todas, exemplo do que tentou fazer Epicuro, com uma chuva
porquanto apesar de ambas parecerem plausiveis, de partículas, todas elas se movimentando na mesma
segundo penso, a menos que eu esteja redondamente direção, e com a mesma velocidade relativa, ainda
enganado, estão totalmente equivocadas. assim não se poderá esclarecer como é que essas
O ponto central do argumento acerca da necessida partículas chegaram a unir-se a fim de formar os
de de uma fonte inabalável de movimento não deve ser complexos. Se preferirmos, seguindo o exemplo de
perdido de vista. Poderemos compreendê-lo melhor se Herbert Spencer, começar com uma nebulosa
nos lembrarmos que, no vocabulário de Aristóteles, a estritamente—homogênea, ainda será necessário
palavra movimento indica as modificações de toda a explicar, o que Spencer não conseguiu fazer, como é
sorte, de tal modo que aquilo que é falado é que deve que veio a entrar nesse quadro a «heterogeneidade».
haver alguma causa imutável ou fonte de modifica Será mister pensarmos em variedade individual, bem
ção. Outrossim, não devemos imaginar que já nos como em «uniformidade», em qualquer das teorias
desvencilhamos desse argumento ao dizermos que não que se .queira postular acerca dos informes originais,
há qualquer pressuposição cientifica que a série de se quisermos que o resultado dê um mundo
alterações que compõe a vida da natureza pode não semelhante ao nosso, o qual, conforme disse Mill com
ter sido sem um começo e está destinada a não ter fim. carradas de razão, é não somente uniforme, mas
Tomás de Aquino, cujos famosos cinco argumentos também infinitamente variegado. Ex nihilo, nihil fit,
sobre a existencia de Deus são todos variações do e de um espaço uniformemente em branco, nada fit
argumento baseado no movimento, ou, conforme senão um espaço em branco igualmente uniforme. E
diríamos hodiernamente, no apelo do principio da ainda que, per impossible, se pudesse excluir toda a
causalidade, foi igualmente o filósofo que criou variedade individual do informe inicial de um sistema
sensação entre os pensadores cristãos de seu tempo ao de ciência natural, com toda a razão se poderia pedir
insistir inflexivelmente que, à parte da revelação dada que se desse uma explicação acerca dessa singular
nas Escrituras, nenhuma razão pode ser aduzida para ausência de variedade, e qualquer explanação
que se diga que o mundo teve começo ou que precisa naturalista a respeito só poderia assumir a forma de
ter fim, conforme de fato Aristóteles mantinha que o derivação de algum estado mais primitivo de coisas, o
mundo não teve começo e nem fim. qual não se caracterizaria pela «uniformidade»
absoluta. A verdade é que nem a uniformidade e nem
A dependência que transparece nesse argumento a variedade se explicam por si mesmas, sem importar
nada tem a ver com a questão da successão do tempo. com qual delas queiramos começar. Pois em ambos os
O que Aquino realmente queria dizer é que o nosso casos teremos de enfrentar o mesmo antigo dilema. O
conhecimento sobre qualquer acontecimento que informe inicial deve ser meramente aceito como um
ocorre na natureza não será completo enquanto não «fato» bruto, para o qual não há qualquer motivo, ou
entendermos a razão completa desse acontecimento. então, se houver qualquer razão, é necessário que a
Enquanto soubermos somente que/l é assim porqueZ? mesma seja encontrada fora da natureza, naquilo que
é assim, mas não pudermos dizer porque B é como é, é «sobrenatural».
nosso conhecimento será incompleto. Nosso conheci
mento será completo somente quando estivermos na •••
posição que nos capacite a dizer que A é assim porque Podemos, por exemplo, considerar como o anti
Z é desse ou daquele jeito, e que Z é algo que quado argumento baseado na passagem do «movi
encerra a sua própria razão de ser, de tal maneira que mento» para a fonte «inabalável» do movimento,
seria uma insensatez indagarmos por qual motivo Z é quando é declarado em sua forma mais geral, até hoje
o que é. E isso, de imediato, nos conduz à conclusão ainda pode ser apresentado. Conforme já pudemos
de que em vista de sempre termos o direito de indagar ver, o argumento simplesmente passa do que é
acerca de qualquer evento da natureza, por qual temporal, condicional e mutável para algo eterno,
razão esse acontecimento é o que é, e quais são as suas incondicional e imutável como sua origem. O ponto
condições, o Z que é a sua própria razão de ser não central de todo esse raciocínio é que toda a explicação
pode pertencer à própria natureza. O ponto de dados, fatos ou acontecimentos envolve a inclusão
nevrálgico desse raciocínio consiste precisamente do de outros fatos inexplicáveis; qualquer explicação de
fato que se trata de um argumento baseado no fato de qualquer coisa, se porventura pudéssemos obter uma
que existe uma natureza em face da realidade de uma explicação assim, requereria, por conseguinte, que
supematureza, e esse ponto em nada é afetado pela acompanhássemos o fato explicado de volta a algo que
pergunta se houve começo para o tempo, ou se houve contém a sua própria explicação em si mesmo, algo
um tempo em que não havia qualquer acontecimento. que é o que é por seu próprio direito; tal coisa como é
Outrossim, não devemos permitir que sejamos óbvio, não é mero acontecimento ou mero fato, pelo
desviados da trilha certa através da observação que também não pode fazer parte integrante da
plausivel mas superficial que diz que o problema natureza, que é o complexo de todos os acontecimen
562
REAFIRMAÇÃO
tos e fatos, mas antes, faz parte da natureza superior.de nosso sistema de física), há um milhão de anos
Todo o homem tem o direito de dizer, se assim o atrás, foi assim ou assado. Contando com as mesmas
preferir, que pessoalmente, nào se importa em «leis», mas com uma distribuição «inicial» diferente, o
gastar o seu tempo exercendo essa maneira de pensar, estado real do mundo atual seria inteiramente
mas que prefere ocupar-se no descobrimento de novos diferente do que é. Usando a terminologia de Mill,
fatos, bem como de novas e até então insuspeitadas tanto «colocações» como leis de causação—precisam
relações entre os fatos. E não precisamos acusá-lo por entrar em todas as nossas explicações de cunho
causa dessa sua preferência, e isso porque nos cabe o científico. E embora seja verdade que à medida que
direito de indagar, daqueles que estão despertos para aumenta o nosso conhecimento, vamos aprendendc
a significação do antigo problema, como é que eles se continuamente a atribuir causas para as «colocações
propõem a dar-lhe solução, se porventura rejeitam a particulares» originalmente aceitas como fatos brutos,
inferência que parte do não-terminado e condicional só conseguimos avançar quando retrocedemos para
para aquilo que é perfeito e incondicional. Quanto a outras «colocações» anteriores, que igualmente preci
mim, posso perceber apenas duas alternativas. samos aceitar como fatos brutos e inexplicados.
Conforme declarou M. Meyerson, só nos livramos
1. Á Primeira Alternativa^ de Home, ou antes, do do—inexplicável—em um ponto, ao preço de
critico cético nos Diálogo« — não podemos estar introduzi-lo novamente em algum outro lugar. Ora,
certos de que Hume concordaria com essa sugestão): qualquer tentativa de abordar o complexo de fatos a
Em seus Diálogos sobre a Religião Natural, que, que denominamos de natureza, como algo que podé
embora cada porção da natureza possa depender de ser visto como auto-explanatório, à medida que nosso
outras porções para que seja explicada, o sistema conhecimento sobre esses fatos vai aumentando,
inteiro dos fatos ou acontecimentos a que chamamos tomar-se-ia quase auto-explicado se ao menos
de natureza pode, como um todo, deve ser explicado conhecêssemos a todos esses fatos, o que equivale à
por si mesmo. O próprio mundo pode ser esse ser tentativa de eliminarmos inteiramente o fato bruto,
necessário acerca do qual tem falado os filósofos e os reduzindo a natureza a um mero complexo de leis.
teólogos. Em outras palavras, um sistema complexo Em outras palavras, trata-se de uma tentativa de
no qual cada membro, considerado isoladamente, é manufaturar existentes particulares com base em
temporal, pode ser eterno. Cada membro pode ser meros universais, tentativa essa que, por isso mesmo,
incompleto, mas o todo pode ser completo; cada deve terminar em—fracasso. E o progresso que há na
membro pode ser mutável, mas o todo pode ser ciência dá testemunho sobre isso. Quanto mais
imutável. E assim, conforme têm dito muitos filósofos avançamos, reduzindo a face visível da natureza a
de ontem e de hoje, o «eterno» pode ser simplesmente meras «leis», mais complexa, e não menos se toma a
o temporal quando plenamente compreendido, e massa de caracteres que nos deixa perplexos, mas que
assim não haveria qualquer contraste entre a natureza precisamos atribuir a fatos brutos inexplicáveis aos
e a «supernatureza», mas tão-somente entre a nossos constituintes finais. Um eléctron é uma dose
«natureza compreendida como um todo» e a natureza muito mais intragável de fato bruto do que um dos
como a apreendemos, isto é, fragmentariamente. O duros e impenetráveis corpúsculos conceituados por
pensamento parece excelente, mas não acredito que Newton.
poderá resistir à critica.
•••
A própria primeira pergunta, sugerida pela espécie
de fórmula que acabei de citar, indaga se na realidade Por conseguinte, podemos asseverar com justiça
não é uma autocontradição chamar a natureza de um que se nos rendermos à sugestão de que a natureza,
«todo»; pois, se assim é na realidade, é claro que não contanto que a conhecêssemos o bastante, seria vista
haverá como apreendermos a natureza como algo que como auto-explanatório, — é seguir uma ilusão. A
ela não é. E penso que é perfeitamente claro que a dualidade das «leis» e «fatos» não pode ser eliminada
natureza no sentido de complexo de acontecimentos, das ciências naturais, e isso significa que, no fim, ou a
em virtude de sua própria estrutura, é algo natureza não pode ser explicada sob hipótese alguma,
incompleto e não um todo verdadeiro. Talvez eu possa ou então, se ela pode ser explicada, a explicação deve
explicar melhor esse ponto mediante um exemplo ser buscada em algo fora, — do que a natureza
absurdamente simplificado. Suponhamos que a depende.
natureza se constitua de apenas quatro constituintes, 2. Assim sendo, não é de surpreender que tanto
isto é, A, B, C e D. Supostamente devemos «explicar» entre os cientistas como entre os filósofos, na
o comportamento de A mediante a estrutura de B, C e atualidade tenha aparecido a forte tendência de
D, e bem assim mediante a ação conjunta de B, C e D desistir da tentativa de explicar completamente a
com A e, similarmente, com cada um dos outros três natureza, retrocedendo eles para o pluralismo final.
constituintes. É perfeitamente óbvio que, com um Isso significa que nos rendemos, admitindo a
conjunto de «leis gerais» de alguma espécie podemos dualidade das «leis» e dos «fatos». Supomos assim que
«explicar» por que A se comporta como o faz, existe uma pluralidade de constituintes finalmente
contanto que saibamos tudo acerca de sua estrutura, diversos na natureza, cada qual com seu próprio
bem como acerca das estruturas respectivas de B, C e caráter especifico e com sua maneira própria de
D. Não obstante, ainda assim fica inteiramente sem comportar-se, e a nossa tarefa, na tentativa de
explicação por que A deveria estar presente, ou por explicar, consistiria somente de mostrar como. se
que, se esse elemento está ali, deveria ter B, C e D pode entender o mundo, conforme o percebemos,
como seus vizinhos, e não outros elementos com através das leis mais simples e em menor número, leis
estruturas inteiramente diversas desses elementos. de interação entre esses diferentes elementos consti
Que isso é assim tem de ser aceito como um fato tutivos. Em outras palavras, desistimos inteiramente
«bruto», que não pode ser explicado e nem é da tentativa de explicar a natureza, pois conten-
auto-explanatório. Assim, pois, nenhum acúmulo de tamo-nos em «explicar» as «porções» menores da
conhecimento sobre as leis naturais poderá esclare natureza, em termos de seu caráter especifico e de
cer o presente estado da natureza, a menos que suas relações para com outras—porções. Ê óbvio que
também suponhamos isso como um fato bruto que a essa é uma maneira de ceder inteiramente justificada,
distribuição de «matéria» e «energia» (ou quaisquer no caso de um cientista que esteja procurando
outras coisas que reputemos como elementos últimos encontrar a solução de algum problema particular
REAFIRMAÇÃO
como, por exemplo, a descoberta das condições sob as de nossa própria vida moral vemos a Deus, por assim
quais uma nova «espécie» permanente se origina e se dizer, com a máscara meio tirada.
conserva. Porém, isso se transforma em questão Uma vez mais, o caráter geral da subida é o mesmo;
inteiramente diferente quando está em foco saber se começamos com o que é temporal, com um certo
o pluralismo final pode ser ou não a última senso do que é natural, terminando com o que é
palavra sobre uma filosofia da natureza. Se assim eterno e sobrenatural. Porém, a linha de pensamento
pensarmos, isso significará que, no fim, não que aqui exploramos, embora se assemelhe àquela
possuiremos qualquer razão que nos capacite a primeira, é independente, de tal modo que a natureza
afirmar por qual razão devem existir tantos elementos e o homem são como duas testemunhas que jamais
finais constitutivos da natureza conforme se diz que tiveram a oportunidade da acareação. O testemunho
existem, ou por qual razão esses elementos devem ter mais claro e mais enfático dado pelo homem, acerca
as características particulares que dizemos que os mes daquilo que foi testificado um tànto mais ambigua
mos possuem, exceto que «sucede porque assim é o mente pela natureza, fornece uma posterior confir
caso». E isso nos leva a aquiescer ante «fatos brutos», mação de nossa esperança, a qual já nos era sugerida
não porque, de conformidade com nosso atual estado pela natureza, um tanto mais retificada.
de conhecimento, não sejamos capazes de compreen Uma única aentença aerá lufidente para mostrar
der melhor, mas sob'a alegação de que não há e nem tanto a analogia existente entre o argumento.«Do
pode haver qualquer explanação. É isso nos levaria a Homem para Deus» e u argumento baseado na
insuflar um mistério ininteligível no coração mesmo natureza, como a real independência dessas duas
da realidade. formas de testemunho. A natureza, conforme temos
Talvez possa ser retrucado: «E por que não insistido, quando inspecionada, aponta para o
deveríamos reconhecer isso, já que, gostemos de tal sobrenaturalf que deve haver acima dela, como sua
coisa ou não, teremos de chegar a essa conclusão no própria pressuposição. Mas, se olharmos para dentro
fim?» Bem, pelo menos pode-se replicar que aquiescer de nós mesmos, veremos que no homem se encontram
ante tal «final inexplicável» como ponto final significa a «natureza» e a «supernatureza». O homem tem, em
que nos é negada a validade da própria suposição seu próprio coração, tanto a natureza como a
sobre a qual está edificada a ciência humana inteira. supernatureza, refletindo, ao mesmo tempo, tanto o
Através de toda a história do progresso científico que é temporal como o que é eterno. Diferentemente
tem se considerado como questão pacifica que não se dos animais irracionais, até onde podemos julgar a
deve aquiescer ante os fatos brutos inexplicáveis, e vida íntima do homem, este não precisa adaptar-se
sempre que os homens se defrontam com aquilo que, rigidamente ao seu meio ambiente tão-somente, mas
em nosso presente estado de compreensão, tiver de antes, precisa ajustar-se a dois meios ambientes, isto
ser como mero fato, temos o direito de pedir é, o secular e o eterno. E posto que ao homem cabe
posteriores esclarecimentos, pois seria uma falsidade por desígnio ser finalmente um habitante dos lugares
para com o espírito da ciência se assim não agíssemos. celestiais ao lado de Deus, na eternidade, o homem
E assim chegamos inevitavelmente à conclusão de que jamais pode sentir-se realmente à vontade nesta esfera
ou os próprios princípios que inspiram e orientam a terrestre; quando muito, tal como Abraão, ele é um
pesquisa científica são todos ilusórios, ou então a peregrino que se encaminha para a terra invisível
própria natureza deve depender de alguma realidade prometida; e quando pior, à semelhança de Caim, o
que pode explicar-se por si mesma, e que, por isso homem é como um fugitivo sem rumo, que se toma
mesmo, não é nem a natureza e nem qualquer porção um vagabundo à face do globo. A própria imagem de
•integrante da" mesma, mas antes, no sentido estrito seu Criador, que foi estampada sobre ele, não serve
das palavras, é uma realidade sobrenatural ou apenas de sinal de seu legítimo direito de domínio
«transcendental»—transcendental, isto é, no sentido sobre as demais criaturas; esse é também o «sinal de
que nela é vencida a dualidade das «leis» e dos «fatos» Caim», que todos os homens procuram evitar.
que é uma característica da natureza e de cada porção Portanto, entre todas as criaturas, muitas das quais
constitutiva da mesma. Não se trata essa realidade são bastante cômicas, somente o homem se mostra
de um mero fato bruto, e, no entanto, não é também trágico. A vida do homem, quando muito, é uma
alguma lei ou complexo universal abstrato de tais leis, tragicomédia, e, quando encarada sob o seu pior
mas antes, um Ser realmente existente e autoilumina- aspecto, é uma tragédia negra. E é perfeitamente
dor, que poderíamos ver, se porventura pudéssemos natural que assim seja; pois, se o homem tem em
apreender o seu verdadeiro caráter, que ter esse comum com os animais do campo apenas o
caráter e ser tal caráter são a mesma coisa. Essa é a «ambiente» temporal, a sua vida inteira não passa de
maneira pela qual a natureza, conforme me parece, uma perpétua tentativa para encontrar uma solução
inevitavelmente aponta para fora de si mesma, na racional de uma equação que ele ainda não aprendeu.
qualidade daquilo que é temporal e mutável, para Só pode conseguir ajustar-se a um de seus dois «meios
«outrem», que é «eterno e imutável». ambientes», mediante sacrifícios pessoais e ajusta
mento ao outro; não pode manter-se igualmente
D. DO HOMEM PARA DEUS sintonizado com o eterno e com o secular ao mesmo
Quanto a esta particularidade, podemos tecer tempo, tal como um piano não pode estar afinado
considerações mais breves. Se a meditação sobre as com todas as tonalidades musicais ao mesmo tempo.
criaturas em geral nos conduz a uma rota em circuito
e a uma luz mortiça que focaliza o Criador, a Na prática sabemos como essa dificuldade é
meditação sobre o ser moral do homem sugere mais aparentemente resolvida, nas melhores vidas huma
diretamente a Deus, com muito maior clareza. Pois nas. Essa dificuldade é solucionada mediante o
agora começamos a galgar um novo estágio da subida cultivo de nossos apegos terrenos, mas em que
para um nível superior. Esse caminho ascendente também praticamos um alto desprendimento, não
para Deus se assemelha à montanha do purgatório de «fixando demasiadamente os nossos corações» nem
Dante; quanto mais alto tiver subido, tanto mais mesmo nos melhores bens temporais, visto que o
fácil é subir mais alto ainda. Por meio da natureza, melhor que há desses bens são «apenas sombras», as
quando muito, vemos a Deus sob um disfarce quais usam as criaturas, mas sempre nos lembrando
pesadíssimo que nos permite discernir pouco mais do do tempo em que não mais poderemos usá-las.
que o fato de que alguém se encontra ali, mas, dentro Portanto, devemos amá-los, mas com restrições,
564
REAFIRMAÇÃO
cuidando para não rendermos o coração a qualquer necessidade surge, de acordo com os mais elementares
desses bens. Os homens sábios não precisam ser princípios da moralidade. Todo aquele que fala em
lembrados que a recusa deliberada e voluntária dos «dever», pensando realmente em dever, nesse próprio
excessos de coisas boas deste mundo é uma medida ato está dando testemunho sobre aquilo que é sobre
necessária, como proteção contra a avaliação exage natural e sobretemporal como o lar destinado final
rada daquilo que é secular, em qualquer vida humana mente para o homem. Não podemos duvidar de que
digna de ser vivida. Por outro lado, os sábios também todos admitem a existência de um número demasiado
reconhecem que a renúncia aos bens terrenos, que de regras em nossa moralidade convencional, as quais
eles recomendam, não é recomendada visando não são universal e incondicionalmente obrigatórias;
tão-somente ficarem destituídos de bens. O bem quanto a essas, «devemo-nos» conformar sob certas
sempre deve ser renunciado visando um «bem condições especificadas e compreendidas. Devo
superior». Porém, é patente que o «bem superior» não mostrar-me generoso somente depois de haver
pode ser qualquer das coisas boas que há nesta satisfeito as 'justas reivindicações de meus credores,
existência secular. Pois não há qualquer dos bens do mesmo modo devo abster-me de tirar vingança
terrenos que não possa ou não deva ser renunciado, por conta própria, quando a sociedade me supre o
sob certas circunstâncias, em algum período da maquinismo legal que cobra as afrontas por força da
existência do homem. lei. Mas, todo aquele que fala em «dever», seja como
for, deve com isso querer dizer que quando as
Não quero dizer com isso, meramente, que certas condições necessárias forem cumpridas, a obrigação
circunstâncias exigem o sacrifício de certas coisas que será absoluta. Podem surgir ocasiões em que não
o «indivíduo médio sensual» chama de bem—confor estarei forçado a dizer a verdade a um inquiridor;
to, riquezas, influência, posição social, e coisas porém, se aparecer uma única ocasião em que devo
semelhantes. Pois nenhum moralista sério pensaria dizer a verdade, então não devo ocultá-la, «ainda que
em considerar qualquer dessas coisas, quando muito, o céu venha abaixo».
como bens inferiores. Mas refiro-me ao fato de que a
mesma coisa é verdade no tocante àquelas coisas que Ora, se jamais existir uma única ocasião em que eu
homens de molde superior estão prontos a sacrificar, devo dizer a verdade, ou fazer qualquer outra coisa «a
por serem bens obviamente secundários. Por exem qualquer custo», conforme estamos acostumados a
plo, poucos são os bens materiais, se é que há algum dizer, qual é o bem em nome do qual essa exigência
deles, que possam ser comparados com as nossas incondicional me é imposta? £ impossível que se trate
afeições pessoais. Não obstante, um homem, deve de qualquer bem secular que se possa nomear, como a
estar preparado para sacrificar todas as suas afeições minha própria saúde ou prosperidade material, ou
pessoais no serviço de sua nação, ou para sacrificá-las mesmo a prosperidade e a existência feliz da
por aquilo que ele acredita honestamente ser a Igreja humanidade. Pois, devido às conseqüências de meus
de Deus. Porém, existem coisas que aqueles que atos serem intermináveis e imprevisíveis, jamais
amam mais profundamente a sua pátria ou a sua poderei ter a certeza de que não estarei pondo em
Igreja devem estar preparados para sacrificarem, perigo esses mesmos bens mediante minhas ações,
embora essas coisas estejam tão perto de seu coração. apesar de eu estar certo de que esta ou aquela atitude
Posso morrer pelo meu país, como tantos combatentes é exatamente o que devo fazer. Não há que duvidar,
têm feito, deixando esposa e filhinhos, a fim de entretanto, que alguém pode apelar para a taxa de
ganhar alguma coisa de valor. Porém, não me convém probabilidade como seu guia da vida e dizer: *Devo
adquirir paz e segurança para o pais que tanto amo fazer isto ou aquilo, porque me parece ser o caminho
mediante o assassinato mesmo que seja de um inimigo mais provável para produzir o meu próprio bem-estar
perigoso e que não sente remorsos. Posso permitir que temporal, bem como o de minha família, o de minha
meu corpo seja queimado em defesa da fé, e posso nação, etc.». E não há que duvidar que, na prática,
permitir que meus pequeninos fiquem sem o pão essas são as considerações por causa das quais somos
diário por essa causa, mas não devo tentar defender a constantemente influenciados. Porém, é evidente que
fé mediante a fraude ou o dolo. Alguém poderia essas coisas não podem ser o motivo mais peremptório
argumentar que visando o bem da raça humana um da obrigação, a menos que toda a moralidade tenha
homem deve estar preparado para sacrificar a própria de ser reduzida à posição de uma ilusão conveniente.
independência de sua terra natal, em troca de algum Pois dizer que a base final de uma obrigação é o mero
benefício em favor da humanidade inteira, mas fato de que um homem pensa que isso fomentaria este
não se pode insultar a justiça, baixando sentença ou aquele alvo concreto e tangível, envolve o resulta
reconhecidamente iniusta contrária aos inocentes. do de que ninguém estaria obrigado a fazer
Pois se as coisas não iorem desse modo, então todo o qualquer ação a menos que pense que a mesma
arcabouço de nossa moralidade se dissolverá. Por produzirá certos resultados, e que ele pense que pode
outro lado, se elas são realmente assim, então o bem fazer qualquer coisa que queira, contanto que
maior, em troca do qual devo estar preparado a imagine que isso produzirá os resultados colimados.
sacrificar tudo o mais, deve ser algo que nem ao Creio no meu coração que até mesmo os escritores que
menos pode ser apreçado em termos de uma vão mais adiante, professando aceitar essas conclu
aritmética secular; deve ser algo incomensurável com sões, fazem contra si mesmos uma injustiça moral.
o «bem-estar» da Igreja ou do Estado, ou mesma da Estou convencido de que não existe nenhum deles,
humanidade inteira. Se esse bem maior tiver de sem importar qual a teoria que defende, e que, na
produzir fruto, o mesmo deve encontrar-se onde todas prática, não trace a linha divisória em algum ponto e'
as vantagens materiais sucumbem e terminam, isto é, diga: «Não farei isto, sem importar o custo para mim
no além, como diriam os «neoplatonistas», ou «nos mesmo, para quem quer que seja, ou para todos».
céus», como diriam os cristãos ordinários. Ora, uma obrigação totalmente independente de
Se este mondo passageiro, no qual ficamos apenas todas as «conseqüências» temporais não pode
por algum tempo, fosse realmente o nosso lar, o nosso justificar-se à base das vantagens temporais, e nem
único lar, penso que deveria ser impossível justificar qualquer criatura pode ser por ela constrangida a
tão completa e total rendição como preconizo acima; encontrar o seu bem exclusivamente naquilo que é
por outro lado, estejamos certos de que o sacrifício temporal. Somente para um ser que, em sua
não é maior do que nos é exigido, quando a estrutura, adaptou-se aos interesses eternos, é que se
565
REAFIRMAÇÃO - REALIDADE
pode dizer com significação: *Deves». descobrimos que a vida dessa porção divina, para ele,
Pode-se ver que o pensamento sobre o qual não significava mais do que a promoção da ciência.
demorei em meu último parágrafo é um dos temas Para Aristóteles, viver perto de Deus não significava a
fundamentais e mais constantes do principal tratado justiça, a misericórdia e a humildade, a exemplo de
ético de Emanuel Kant, Crítica da Razão Prática. É Platão e dos profetas hebreus, e, sim, significava ser
uma das características de Kant que, conforme penso, alguém um metafísico, um físico ou um astrônomo. A
erroneamente, ele desconfiava totalmente da sugestão justiça, a misericórdia e a humildade realmente
do «sobrenatural» como algo derivado da contempla deveriam ser praticadas, mas somente visando a
ção da própria natureza, e que, devido a um temor algum propósito secular, a fim de que o homem de
exagerado do fanatismo e da superstição desregula- ciência tivesse um—meio ambiente ordeiro e calmo na
dos, característicos deste século, ele estava inteira sociedade, e assim pudesse ser livre, o^que. não
mente cego para a terceira fonte de sugestão sobre a aconteceria sê tivesse que lutar contra as paixões
qual ainda nos convém falar. Portanto, para Kant, o desordenadas em si mesmo ou em seus semelhantes, e
conhecimento do nosso próprio ser moral, — como a fim de que pudesse dedicar a maior parcela de
criaturas que possuem obrigações incondicionais, é tempo possível aos interesses que realmente valem a
que recebia todo o peso do argumento. Quanto a isso, pena. Não se pode dizer acerca de Hume, ou de
confesso que Kant parecia estar inteiramente Aristóteles, e nem mesmo de qualquer dos moralistas
equivocado. Pois a plena força da vindicação da que fazem da moralidade meramente uma questão de
religião não pode ser sentida a menos que corretos ajustamentos sociais neste mundo temporal,
reconheçamos que o seu peso não é sustentado apenas 0 que se pode dizer acerca de Platão ou de Kant, isto
por um único fio, e sim, por uma corda de três fios é, beati qui esuriunt et siunt justiam. A «preocupação
entrelaçados: precisamos integrar Bonaventura, com o outro mundo» é uma característica dos maiores
Thomas e Butler com Kant a fim de apreciarmos a moralistas teóricos, bem como também das vidas mais
força verdadeira da posição do crente. No entanto, nobres, sem importar quais as teorias que professam.
para mim, Kant parece inquestionavelmente correto
até esse ponto. Porque ainda que nada existisse que
nos sugerisse que somos ao mesmo tempo cidadãos de REAlAS
um mundo natural e temporal e de um mundó Na LXX, Raiá. No hebraico significa Deus tem
sobrenatural e eterno, a revelação de nossa própria visto. Há três homens com esse nome, no A.T.: 1. Um
divisão intima contra nós mesmos, o que nos é descendente de Judá. Seu pai era Sobal, e seu filho era
conferida pela consciência, quando ela é devidamente Jaate(I Crô. 4:2). Talvez ele também seja referido em
meditada, é suficiente para despertar-nos para essa 1 Crô. 2:52, onde aparece como pai de Haroé. 2. Um
realidade. Ou, expressando o que quero dizer de descendente de Rúben; seu pai era Mica e seu filho
forma bastante diferente, quero frisar que dentre era Baal (I Crô. 5:5). 3. Cabeça de uma família de
todos os pensadores filosóficos que se têm preocupado servos do templo que retornou com Zorobabel do
com a vida do homem como um ser moral, os dois exílio babilónico (Esd. 2:47 e Nee. 7:50; cf. I Esd.
pensadores que se destacam, até mesmo na estimativa 5:31, onde uma genealogia similar diz Jairo, na
daqueles que com eles não concordam, são os dois posição ocupada por Reaías, em Esd. 2:47 e Nee.
grandes e imorredouros moralistas da literatura, 7:50).
Platão e Emanuel Kant, que são exatamente os dois
que mais vigorosamente têm insistido sobre aquilo
que os indivíduos de mente secularizadas costumam REALIDADE
chamar, depreciativamente, de «Dualismo»-aste Essa palavra portuguesa vem do latim, realitas,
mundo e o outro mundo, ou então, utilizando-nos da termo derivado do latim, res, «coisa». O termo latino
linguagem de Kant, «o homem como um fenômeno realitias significa «coisidade», referindo-se à essência
(natural)» e «o homem como uma realidade («sobre de uma coisa qualquer, encarada como existente ou
natural)». Negar a realidade dessa antítese é arrancar real. Ao que parece, foi Duns Scoto quem cunhou o
as próprias vísceras da moralidade. termo e o introduziu na filosofia, que usava como
sinônimo de ser. Outros sinônimos são actualidade e
Podemos perceber isso de imediato, por exemplo, existência.
se compararmos Kant com David Hume, ou então Idéiaa Sobre o Real:
Platão com Aristóteles. Porquanto é perfeitamente 1. Platão. O mundo das Idéias (ou universais) (vide)
óbvio que Platão e Kant realmente se Importavam é o mundo mais real. Nosso mundo inferior dos
com a questão da moralidade prática, ao passo que particulares (dos objetos físicos) é dotado de uma
Aristóteles e Hume não tinham essa preocupação, ou, realidade inferior e imitativa, sendo um mundo
pelo menos, essa preocupação não era tão intensa transitório. A realidade do mundo dos Universais, por
como deveria ser. Nas mãos de Hume, a bondade
sua vez, é eterna e imutável.
moral é tão completamente nivelada com a mera
respeitabilidade que ele chega a dizer, exatamente 2. As religiões orientais chamam a realidade física
com essas palavras, que a nossa aprovação à virtude e de ilusória, e encontram a realidade verdadeira na
a nossa desaprovação ao vício, no fundo, dependem Mente, mormente na Mente divina. Isso é uma forma
de nossa preferência a um homem bem vestido, em de idealismo (vide).
detrimento de um homem mau vestido. Mas 3. O idealismo (vide) afirma que somente as idéias
Aristóteles se preocupava muito mais profundamente da mente (divina ou humana, coletiva ou individual,
do que isso com essa questão. Para ele, a bondade bem como a mente cósmica) são reais. Os chamados
moral dependia do desencargo dos deveres de um bom objetos físicos são epifenômenos da idéia.
cidadão, de um bom pai de família e de um bom 4. Os filósofos empíricos aceitam a realidade dos
vizinho nesta vida secular, e tinha sempre o cuidado objetos físicos, e muitos deles aceitam somente a
de insistir que não devemos nos furtar desças realidade física ou atômica, rejeitando as especula
obrigações. No entanto, quando chega a vez de ções metafísicas acerca de uma alegada realidade
Aristóteles falar sobre a verdadeira felicidade do imaterial.
homem, bem como sobre o tipo de vida que lhe 5. A Realidade Metafísica (Ontológica). A fonte
convém viver «como ser que tem algo de divino em si», permanente, final e objetiva da experiência é a
566
REALIDADE - REALISMO
realidade, sem importar se esta for concebida como REALISMO
causa primária (como no escolasticismo), ou como Esboço:
atividade producente (como nas filosofias de Berke
ley, Leibnitz, Lotze, Bowne e Bergson), ou como I. Definição Básica
qualquer conjunto de entidades e princípios que II. O Realismo Metafísico
expliquem o prosseguimento do universo (como na III. O Realismo Epistemológico
filosofia de Whitehead). IV. O Realismo Ético
6. Campanella explicava que há uma realidade V. O Realismo e as Religiões
gradativa que incorpora perfeições em graus variados. VI. Artigos Separados a Consultar
Todas as coisas possuiriam as primalidades do I. Definiçio Básica
conhecimento, do poder e do amor. A base da palavra realismo é o termo latino .«•»
7. Emanuel Kant falava sobre a realidade física «coisa». E sua asserção básica é que essa «coisa»
examinada pelas experiências empíricas, mas essa realmente existe, não sendo uma questão de
experiência já estaria contida nas categorias da imaginação. Isso posto, nosso vocábulo «real»
mente. Ele postulava (através da razão, da intuição e significa algo que «tem existência verdadeira», não
da experiência mística) a realidade mais elevada, sendo apenas parte de algum conceito mental. O real
como a realidade de Deus e da alma. tem existência própria, não sendo algo apenas
8. Fichte dizia -que o ego postula a realidade provável ou imaginário.
externa, sustentando assim certa forma de idealismo. II. O ReaHsmo Metafísico
9. Peirce tomava uma postura pragmática diante da O Universal (vide) ou Idéia (Forma) tem existência
realidade, como quando afirmou que a realidade é real. Platão concebeu seu mundo das Idéias
aquilo que é crido pela comunidade dos inquiridores, (Universais) como algo mais real do que a realidade
no fim de uma série de inquirições. do mundo dos particulares (os mundos físicos). Este
10. Bradley acreditava que o verdadeiramente real é último, segundo ele, teria sido produzido por imitação
um Absoluto que jaz por detrás da experiência, pelo do mundo superior, das Idéias.
que defendia certa forma de idealismo. Somente Aristóteles promoveu um realismo moderado, em
aquilo que satisfaz o intelecto pode ser verdadeiro, e contraste com a forma radical e totalmente dualista
que aquilo que é mais valioso também é mais real. do realismo platônico. Ele afirmava que o universal é
11. Ostwald, um cientista, interpretava a realidade real, embora sempre seja refletido pelo particular. Por
em termos de energia. isso é que o vermelho seria algo achado em vários
12. Freud falava sobre o «princípio da realidade», objetos; a verdade achar-se-ia nas coisas e pessoas, ou
como o alvo da terapia, segundo o que o indivíduo idéias, mas nem o vermelho e nem a verdade teriam
maduro é capaz de esquecer-se da ilusão e favorecer a existência separada em algum céu platônico.
realidade. Sócrates, evidentemente, aceitava o que veio a
13. Buber encontrava uma abordagem à realidade chamar-se de conceptualismo. O universal é real, mas
em sua relação «eu-tu». é um conceito da mente, específica e primariamente
14. Romero cria que a transcendência é a chave para de Deus, e em seguida dos homens, ou da mente
compreendermos a realidade, porquanto o mundo cósmica. Vermelho e verdade, por conseguinte, são
físico é apenas um véu que nos oculta a realidade. conceitos, e não entidades reais. Os conceitos são
15. Royce chamava a realidade de «comunidade implementos usados na criação de todas as coisas
interpretativa». (como conceitos existentes na mente de Deus), mas
16. A fé cristã concebe uma hierarquia de realidades não existem como entidades separadas. Ver sobre o
que inclui o que é físico e o que é espiritual, e culmina Conceptualismo.
em uma espécie de dualismo. Isso é conseguido O nominalismo (vide) sempre foi parte da filosofia
mediante uma divisão, a grosso modo, entre aquilo grega, sendo esse o conceito que veio a predominar no
que é material e aquilo que é imaterial, ou espiritual. campo da ciência e em todas as formas de ceticismo.
Ambos os tipos de realidade são considerados reais, e O universal é definido como um simples termo da
não um real e o outro irreal, conforme se apregoa linguagem. Vermelho e verdade são agora meros
pelas religiões orientais. (AM E EP F MM P) vocábulos de nossa linguagem, que descrevem vários
particulares. Meu artigo sobre os Universais apresen
ta maiores detalhes a respeito, com ilustrações.
REALIDADE E POTENCIALIDADE m . O Realismo Epistemológico
1. Em A ristóteles, são term os co n trastan tes, Essa é a posição que diz que os objetos físicos são
indicando o que tem forma e o que meramente tem a reais, mesmo que não estejam sendo percebidos pelos
possibilidade de forma. Ver o artigo sobre forma. A sentidos ou concebidos por qualquer mente. Uma
realidade (no grego, energeia) é o modo do ser em que árvore da floresta seria uma realidade, mesmo que
uma coisa pode produzir outras coisas, ou pode ser Deus não lhe desse atenção, quanto mais se não fosse
produzida por elas — o campo dos eventos e dos fatos. percebida por qualquer mente finita. O realismo, no
Em contraste, a potencialidade (no grego, dynamis) sentido epistemológico, é contrastado com o idealismo
não é o modo como uma coisa existe, mas o poder de (vide). Esse sistema afirma que aquilo que é real é
efetuar alterações, ou a capacidade que uma coisa idéia, e não objetos materiais. O real é a idéia que eu
tem de fazer transições para diferentes estados. faço das coisas, ou então o real é a Idéia divina das
2. Na filosofia de Husserl, a realidade (em alemão, coisas (como em todas as formas de filosofias
wirklichkeit) indica a existência dentro do espaço e do absolutistas, segundo se vê nos escritos de filósofos
tempo, em oposição à possibilidade. alemães, como Hegel, Fichte e Schopenhauer). No
3. As formas de Platão têm imensas implicações idealismo radical, coisa alguma pode existir sem o
teológicas, pois representam, a grosso modo, os tipos concurso da idéia, da mesma maneira que inventamos
de coisas que a teologia cristã atribui a Deus, como tudo quanto sucede em nossos sonhos. Essas coisas
Seus atributos. Toda realidade reside em Deus, apenas parecem ter existência separada; elas têm
embora seja administrada através de veículos físicos. dimensão (ocupam o espaço); têm formas geométri
O artigo sobre Forma expande o assunto. (EP F) cas, peso, e também todas as propriedades que
567
REALISMO
atribuímos aos objetos fisicos. Porém, na realidade, VI. Artigos Separados a Consultar
são apenas nossas idéias projetadas como se fossem Para obtenção de um melhor conhecimento acerca
separadas de nós. O idealismo objetivo admite que as das questões ventiladas nos parágrafos anteriores, ver
coisas sejam entidades separadas de nós, embora os artigos intitulados Realismo Crítico; Realismo
nunca distintas da Mente divina. Ingênuo; Realismo do Bom Senso; Universais e
John Locke foi um nome importante que se Idealismo.
manifestou em defesa do realismo, como também o
foi G.E. Moore. Em sua obra, Refutation o f Idealism, REALISMO CRITICO
ele afirmou que os idealistas estão aprisionados aos
seus próprios conceitos, tirando vantagem do transe O realismo, quando aplicado à teoria do conheci
solipsístico. Eles confundem o ato de ver uma cor (por mento, indica que o mundo externo é real, mesmo
exemplo), o que é algo necessariamente dependente sem a presença de mentes que o reconheçam. Se uma
da mente, com o seu objeto, embora o ato e o objeto árvore qualquer tomba em uma floresta, embora
não sejam uma mesma coisa, como é evidente. ninguém esteja presente, ainda assim ela cai e faz
Chamar os objetos fisicos de «idéia» ou «impressão» é ruído, porquanto é um acontecimento real, embora
uma distorção da linguagem. Todas as declarações ninguém o tenha percebido. Porém, os filósofos
idealistas, em última análise, repousam sobre realistas não concordam quanto ao modo e à extensão
pressupostos realistas. George Berkeley (vide), por de nosso conhecimento sobre o real, exterior a nós,
outra parte, apresentou argumentos convincentes em embora concordam que não podemos reduzir o
universo aos termos da mente e do pensamento, o que
prol do idealismo. E assim vai prosseguindo a
controvérsia. é chamado de idealismo (que vide). O realismo
ingênuo afirma que o mundo é real, sendo percebido
através dos cinco sentidos humanos, sendo exatamen
IV. O Realismo Ético te aquilo que ele parece ser. Essa posição também é
Esse é o ponto de vista de que pelo menos os mais chamada de realismo do bom senso. O realismo
elevados padrões morais, ideais e valores, como sejam crítico, em contraste, apesar de supor que o
o amor, a justiça e a verdade, são objetivamente conhecimento nos chega através da percepção dos
válidos e independentes do conhecimento humano ou sentidos, nega que os cinco sentidos possam
de seu esforço ético. O homem, por sua própria apresentar-nos o mundo tal e qual ele é. Antes, os
natureza, sente afinidade com esses valores mais sentidos representam o mundo. Quando descemos ao
altos, por assim dizer, através das idéias inatas (vide). nível atômico, conhecemos bem pouco da realidade, e
Sem embargo, os padrões morais (se estivermos a percepção de nossos sentidos termina apenas em
falando a respeito de grandes princípios) não podem conjecturas, por meio de instrumentos científicos e
ser detectados nos processos naturais, e nem podem das noções matemáticas. A fim de declararmos o que
ser desenvolvidos mediante manipulações empíricas. cremos ser a realidade, precisaremos depender da fé
Essa forma de realismo tem-se prestado para a animal. Portanto, o realismo crítico torna-se uma
formação de um argumento em favor da existência de espécie de ceticismo (que vide). Aquilo que é
Deus, por parte de pensadores como Emanuel Kant, percebido aponta para o objeto que causa a
J. Martineau, A.S. Pringle-Pattison, H. Rashdall, percepção, mas apenas de maneira representativa,
A.E. Taylor e W.R. Sorley. Se existem mesmo valores imperfeita. Os realistas críticos não concordam sobre
fixos e absolutos, então também deve haver uma exatamente como os sentidos nos fornecem conheci
Fonte ou Criador desses valores, e sua Fonte é Deus, mento sobre as coisas. Alguns deles têm objetado à
que é o padrão real de todos os valores. Por idéia da representatividade, e querem incluir mais do
conseguinte, o realismo moral assevera a existência de que isso; porém, os argumentos em contrário indicam
uma dimensão transcendental de valores. A condição que eles não têm sido capazes de dar solução ao
exata do real, sem importar se subsistente ou se problema. Ver o artigo geral sobre o realismo, quanto
existente em Deus, como idéias divinas, já é outro a maiores detalhes. O adjetivo crítico, vinculado ao
assunto a ser discutido, e que tem sido expresso realismo, exibe a idéia contrária à do realismo
variegadamente por esses filósofos. O realismo moral ingênuo, cujos defensores parecem confiar demais na
usualmente faz-se acompanhar pelo realismo episte- percepção dos sentidos. Precisamos ser críticos em
mológico. Os valores sobrevêm aos homens de modó nossos juízos, apelando para a investigação. (EM MM
direto, imediato e poderoso, para aqueles que P)
permitem o fluxo do processo. O homem tem
afinidade com Deus, e, naturalmente, haverá de
pensar como Deus acerca de valores e de princípios REALISMO DO BOM SENSO
morais. Esse ponto de vista assevera que nossos cinco
sentidos físicos são dignos de confiança e que aquilo
V. O Realismo e as Religiões que detectamos por meio deles corresponde à
Quase todas as religiões, do Oriente e do Ocidente, realidade dos fatos. A posição supõe que há uma
aceitam certa forma de realismo metafísico. Entretan realidade externa separada da mente que percebe
to, as religiões orientais, em sua maior parte, são (isso é o realismo, que vide), e que os nossos sentidos
idealistas, e não realistas, no tocante à questão do estão tão bem adaptados à realidade, que obtemos
conhecimento. Para elas, o mundo material, exterior, genuíno conhecimento daquela realidade, por meio
é ilusório. O cristianismo, em contraste, usualmente dos sentidos. Essa posição pode ser defendida se a
aceita o realismo epistemológico, e arremata o chamarmos de verdade prática. Quanto ao nosso
pensamento com certo dualismo. Haveria duas mundo de todos os dias, essa é a verdade que,
realidades, uma celeste e espiritual, angelical, etc., necessariamente, precisa ser seguida. Porém, a nossa
que é superior, e uma realidade dos mundos físicos, ciência tem demonstrado, de maneira absoluta, que a'
inferior, a qual, embora real, pertence a uma percepção dos nossos sentidos deixa de detectar
realidade transitória e secundária, em relação à grandes dimensões da realidade. O realismo crítico
realidade espiritual. Quase todas as religiões concor destaca esse fato. Sabemos que o mundo está la fora,
dam com as reivindicações do realismo moral. (AM E e presumimos que o mesmo é real. Entretanto, os
EP F MM P) nossos sentidos são por demais fracos para conferir-
568
REALISMO - REALIZAR
nos uma faixa apreciável da realidade. Até mesmo Há três palavras hebraicas principais e seis palavras
com instrumentos científicos, a verdade da criação gregas envolvidas, a saber:
permanece essencialmente misteriosa para nós. Não 1. Male, «preencher», «cumprir». Termo hebraico
sabemos como foi a origem de todas as coisas. Os usado por cerca de duzentas e dez vezes, conforme se
nomes associados ao realismo do bom senso são: vê, para exemplificar, em Gên. 29:27,28; Êxo. 23:26; I
Thomas Reid, William Hamilton, Dugald Stewart e Reis 2:27; 8:15,24;'II Crô. 6:4,15; 36:21; Jó 36:17;
G.fe. Moore (ver os diversos artigos a respeito deles). Sal. 20:5; Jer. 44:25. Essa palavra vem de uma raiz
Ver o artigo geral sobre o Realismo. que significa «encher», com a idéia de realizar,
Reid supunha que a nossa crença no mundo cumprir, confirmar, expirar, chegar ao fim, satis
externo e as nossas noções a seu respeito são fazer, etc. As idéias que nos interessam, neste verbete,
implantadas por Deus, em nossas mentes. Isso são aquelas em que as promessas ou a Palavra de
significa que possuímos idéias inatas de mistura com Deus são cympridas, como no caso de predições e
a percepção dos sentidos que, de modo fidedigno, nos promessas.
dá conhecimento daquelas idéias, em relação ao 2. Kalah, «completar», «terminar». Palavra hebrai
mundo exterior. A filosofia de Reid tinha o intuito de ca que aparece por quinze vezes, como, por exemplo,
contrabalançar o ceticismo de Hume. (AM F MM) em Êxo. 5:13,14; Esd. 1:1; Núm. 7:1; Jer. 4:27;
5:10,18; 46:28; Eze. 11:13. Esse termo, que vem da
raiz que significa «terminar» é usado a fim de indicar
REALISMO E AS RELIGIÕES idéias como cessar, realizar, cumprir, destruir,
Ver sobre Realismo, quinta seção. desgastar, consumir, etc.
3. Asah, «fazer». Vocábulo hebraico usado por
cerca de duas mil e seiscentas vezes e, portanto,
REALISMO EPISTEMULÔGICO extremamente comum. Nas traduções, aparece com
Ver sobre Realismo, seção terceira. os mais variados sentidos, .como realizar, prodiizir,
causar, cometer, fazer, efetuar, executar, exercer,
modelar, adaptar, obter, guardar, manter, ordenar,
REALISMO INGÊNUO preparar, prover, etc. Com o sentido específico de
Na epistemologia, o realismo é aquela teoria que realizar, ver, por exemplo, II Sam. 14:22; I Crô.
diz que o mundo «exterior» é real, sem importar se é 22:13; Sal. 145:19; 148:8.
conhecido ou não por qualquer mente que o percebe. 4. Teléo, «terminar». Palavra grega usada por vinte
Em contraste com isso, o idealismo é a idéia que diz e oito vezes: Mat. 7:28; 10:23; 11:1; 13:53; 17:24;
que o mundo é conhecido através da idéia, não 19:1; 26:1; Luc. 2:39; 12:50; 18:32; 22:37; João
possuindo existência separada da idéia. Se houver 19:28,30; Atos 13:29; Rom. 2:27; 13:6; II Cor. 12:9;
algo real, que exista à parte da idéia (o que Gál. 5:16; II Tim. 4:7; Tia. 2:8; Apo. 10:7; 11:7;
corresponde ao realismo), então isso é desconhecido e 15:1,8; 17:17; 20:3,5,7.
desconhecível. O realismo ingênuo é um tipo de 5. Teleióo, «cumprir», «realizar», «aperfeiçoar».
realismo. Afirma que o mundo é, realmente, aquilo Palavra grega que ocorre por vinte e três vezes: Luc.
que parece ser, de acordo com as informações que 2:43; 13:32; João 4:34; 5:36; 17:4,23; 19:28; Atos
posso receber através da percepção dos meus sentidos. 20:24; Fil. 3:12; Heb. 2:10; 5:9; 7:19,28; 9:9; 10:1,14;
Essa posição ignora as misteriosas qualidades do 11:40; 12:23; Tia. 2:22; I João 2:5; 4:12,17,18.
átomo, por exemplo. Todas as qualidades que nossos
sentidos nos transmitem, como formas, cores, sons, 6'. Sunteléo, «cumprir juntamente com». Palavra
gostos, sensações tácteis, os objetos com suas grega usada por sete vezes: Mar. 13:4; Luc. 4:2,13;
qualidades, etc., são aquilo que parecem ser, João 2:3; Atos 21:27; Rom. 9:28 (citando Isa. 10:23);
porquanto a percepção de nossos sentidos é adequada Heb. 8:8 (citando Jer. 31:31). O substantivo,
para conferir-nos um conhecimento preciso sobre suntéleia, «cumprimento», «realização», aparece por
essas coisas. seis vezes: Mat. 13:39,40,49; 24:3; 28:20; Heb. 9:26.
O realismo ingênuo é a filosofia do não-filósofo, do 7. Pleróo, «preencher», «cumprir». Vocábulo grego
não-cientista, do popular. O realismo critico, em que aparece por oitenta e sete vezes, desde Mat. 1:22
contraposição, apesar de crer na realidade do mundo até Apo. 6:11.
«exterior», não acredita que a percepção de nossos 8. Anapleróo, «cumprir», «suprir», «preencher
sentidos seja adequada para realmente tomar totalmente». Palavra grega usada por seis vezes: Mat.
conhecimento do mundo e compreendê-lo, exceto de 23:14; I Cor. 14:16; 16:17; Gál. 6:2; FU. 2:30; I Tes.
uma maneira superficial e prática, que não nos ajuda 2:16.
muito quanto ao campo das investigações cientificas. 9. Ekpleróo, «cumprir totalmente». Palavra grega
Ver o artigo geral intitulado Realismo. usada somente por uma vez, em Atos 13:32, onde está
em pauta o cumprimento das promessas messiânicas
na pessoa de Jesus. A leitura de todas essas
REALISMO METAFÍSICO referências mostra-nos que a Bíblia usa as idéias de
Ver sobre Realismo, seção segunda. realizar, aperfeiçoar, levar a bom termo, etc. No
segundo ponto abaixo, alistamos tipos de realização.
REALISMO MORAL (ÊTICO) n . Tipos de Reallxaçio
1. As predições dos profetas foram cumpridas (I
Ver sobre Realismo, seção quarta. Reis 14:12. Ver Mateus 26:34, 75). As profecias
messiânicas tiveram cumprimento (Gên. 3:15). O fato
REALIZAR, REALIZAÇÃO de que ele seria descendente da mulher cumpriu-se,
Esboço: segundo Lucas 2:7. Ele seria descendente de Abraão
I. Termos Empregados (G ên.-12:3; Mat. 1:1); procederia da tribo de Judá
(Gên. 49:10; Mat. 1:2,3); nasceria em Belém_(Miq.
II. Tipos de Realização 5:2; Mat. 2:1); seria sumo sacerdote de acordtTcom a
III. A Realização e as Promessas ordem de Melquisedeque (Sal. 110:4; Heb. 5:6), etc.
I. Termos Empregados No NTI, ofereço longa lista de tais predições nos
569
REALIZAR - REAVIVAMENTO
comentários sobre Atos 3:22. Quanto a uma homens, ele tomou sobre si mesmo o reatus poenae.
afirmação geral do Novo Testamento, referente a essa Os homens são culpados por seus próprios pecados.
atividade, ver Luc. 24:44. Mas têm de arcar com a punição decretada contra c
2. Cumprimentos de conceitos das Escrituras. A primeiro Adão, embora possam escapar dessa
epístola aos Hebreus destaca o cumprimento dos tipos punição, uma vez vinculados, mediante a fé, ao
e instituições veterotestamentárias na pessoa de segundo Adão. Ver o artigo Dois Homens, Metáfora
Cristo. Ver as várias referências no primeiro ponto, dos.
acima.
3. Um elemento na prédica da Igreja primitiva. A
kérugma (pregação) cristã partia do pressuposto de REAVIVAMENTO (REVIVALISMO)
que o que sucedeu a Cristo e no seio da Igreja 1. Definição. Fazendo contraste com o evangelis-
primitiva era cumprimento de antigas expectações mo, endereçado, principalmente àqueles que estão
proféticas. O trecho de Romanos 1:1,2 demonstra fora das fileiras da Igreja, e que presumivelmente
isso. O evangelho de Deus foi prometido de antemão nunca se converteram, o revivalismo é orientado para
pelos profetas, nas Santas Escrituras. O trecho de os membros da Igreja de Cristo. Essa palavra significa
Hab. 2:4 contém um dos principais temas desenvolvi «fazer viver de novo», «dar nova vida». Um
dos na epistola aos Romanos: «O justo viverá pela fé». reavivamento é um novo impulso no fervor religioso,
A epístola aos Romanos, em todos os seus capítulos, após um período de declínio ou negligência. Seu
demonstra depender pesadamente dos conceitos do propósito é reativar os crentes que, porventura,
Antigo Testamento, que são apresentados, sob uma caíram na incúria e na indiferença. Não obstante, essa
nova luz, nas páginas do Novo Testamento. palavra por muitas vezes tem o sentido de
4. A tradição profética antecipava Cristo e as suas evangelismo, visto que, em alguns grupos, supõe-se
realizações conforme se vê no primeiro ponto, acima; que aqueles que assim declinaram em seu fervor
mas também esboçava o futuro em termos gerais. O religioso «caíram da graça», pelo que estariam
vigésimo quarto capítulo de Mateus, o chamado carentes de nova conversão e regeneração. Com
«pequeno Apocalipse», apresenta as profecias gerais freqüência, pois, o termo revivalismo automaticamen
escatológicas, feitas por Jesus. O livro de Apocalipse é te é compreendido como evangelismo.
o grande livro profético do Novo Testamento, 2. Instâncias Históricas. Nos Estados Unidos da
antecipando os últimos dias com detalhes como não América do Norte, os historiadores eclesiásticos têm
aparecem em nenhum outro livro da Bíblia. Quanto a assinalado cinco «grandes colheitas», a começar nos
pormenores a esse respeito, ver o artigo sobre primórdios do século XVIII, e daí até dentro do século
Profecia: A Tradição da, e a Nossa Época. XX. Pode-se dizer que, a grosso modo, cada geração
m . A Realização e as Promessas produz um grande evangelista que é a força principal
por detrás de tais movimentos. Por ordem cronológi
As promessas de Deus ao povo de Israel ca, temos Salomão Stoddard (u/h pregador da Igreja
cumprem-se, literalmente, na nação de Israel, mas, Holandesa Reformada); George Whitefield; Jonathan
espiritualmente falando, no Novo Israel, a Igreja Edwards (que foi neto de Stoddard). O segundo
(Rom. 9:4; 15:8; II Cor. 1:20; Heb. 6:12; 7:6). O grande despertar ocorreu com Lyman Beecher e
trecho de Hebreus 8:6 enfatiza as melhores promessas Nathaniel W. Taylor, além de Charles Grandison
do evangelho, que têm cumprimento nas vidas dos Finney (falecido em 1875). Entrementes, através da
crentes. A passagem de II Pedro 1:4 mostra-nos que, influência de tais homens, várias denominações, como
em Cristo, temos recebido grandes e preciosas os congregacionais, os metodistas, os presbiterianos e
promessas, por meio das quais chegamos a comparti os batistas estiveram intensamente envolvidas em
lhar da própria natureza divina, que é a maior de reavivamentos locais, ao ponto de o fenômeno ter se
todas as realizações, em sentido espiritual ou em tornado uma característica comum e muito enfatizada
qualquer outro sentido. As promessas de Deus não da vida eclesiástica. No século XIX, literalmente
podem deixar de cumprir-se. Ver João 10:35. Ver o centenas de revivalistas, procurando a salvação dos
artigo separado sobre Promessa e Cumprimento, e perdidos, e promovendo uma nova expressão espiri
também sobre Promessas. Ver, igualmente, sobre a tual entre os convertidos, moviam-se por toda a
Salvação, que é a grande realização do evangelho extensão do território norte-americano. Nos finais do
sobre a alma humana. Ver também sobre a século XIX apareceu o espetacular Dwight L. Moody;
Imortalidade. Lemos em II Coríntios 1:20: «Porque e, na segunda metade do século XX, apareceu
quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o William (Billy) F. Graham, o mais poderoso
sim; porquanto também por ele é o amém para glória evangelista e revivalista do século XX.
de Deus, por nosso intermédio». Esse movimento de revivalismo tem envolvido a
muitas outras figuras, de maneira tal que atualmente
REATUS CULPAE, REATUS POENAE os seus grandes pregadores utilizam-se dos serviços da
No latim, reatus significa «estado», «condição». televisão, o que envolve um negócio de muitos milhões
Reatus culpae é o estado de culpa considerado como de dólares. Mas isso, naturalmente, tem obscurecido
culpa; reatus poenae é o mesmo estado de culpa visto o revivalismo simples de muitos. Acresça-se a isso,
pelo ângulo da pena. As teorias gerais do direito não que tremendos escândalos morais têm abalado esses
percebem muito uso para essa distinção; mas as movimentos, e certos ministros do evangelho têm
teologias o percebem. Isso é verdade porque os copiado os métodos e a baixa moralidade dos astros
trechos de Rom. 5:12-21 e I Cor. 15:45 ensinam-nos do cinema. Assim, a Igreja tem-se parecido mais com
uma doutrina de «representação federal», mediante o um barco de espetáculos do que com um barco de
uso do símbolo de dois adões. O primeiro é o vida.
progenitor da raça, e o segundo ou o último Adão é 3. O Movimento Carismático. Em seu próprio
Cristo. No primeiro Adão encontramos o reatus cerne, o movimento carismático é revivalista, pelo
culpae, pois a pena por ele merecida foi imputada a que, em suas igrejas, quase todo domingo é
todos os homens. Já o segundo Adão não tinha assinalado por essa forma de expressão religiosa.
qualquer participação no reatus culpae, mas, tendo Vários grupos têm adicionado o restauracionismo ao
levado sobre si a culpa e a pena que cabiam aos revivalismo, pelo que os dois conceitos têm-se
570
REBA - REBATISMO
misturado em várias denominações evangélicas Usos Figurados:
extremamente exclusivistas. 1. Exércitos, nações e grandes grupos de pessoas
4. Internacionalização do Revivalismo. O movi são assim denominados (Jer. 49:20; 51:23). Isso
mento metodista, na Inglaterra, foi de cunho acontece porque tais grupos estão unificados em torno
revivalista. Em seguida, os movimentos missionários de alguma causa comum, ou porque representam
de diversas denominações propagaram a filosofia alguma herança cultural comum.
dessa expressão em escala mundial, e a Igreja 2. Os «donos dos rebanhos» (Jer. 25:34,35) são os
evangélica, onde quer que ela possa ser encontrada, líderes e governantes do povo, homens poderosos e
preserva a ênfase revivalista até hoje. ricos.
3. Israel aparece como o rebanho do Senhor (Jer.
REBA 13:17,20), alvo de seu amor e de seus cuidados. Eles
formam um rebanho santo (Eze. 37:38), em distinção
No hebraico, descendência ou rebento (Jos. 13:21 e às multidões dos povos pagãos.
Núm. 31:8). Foi um dos reis midianitas, morto pelos 4. O trecho de Zacarias 11:4 fala nas «ovelhas
israelitas em batalha nas planícies de Moabe. De destinadas para a matança», que são aquele grupo de
acordo com Núm. 31, Moisés recebeu ordens para se pessoas que Deus determinou destruir mediante o seu
vingar dos midianitas, porque estes haviam tentado juízo, dentre do povo de Israel. Nações pagãs serão
aos israelitas com seus deuses falsos. No décimo usadas para produzir essa matança.
terceiro capítulo de Josué, Reba é mencionado como
um dos reis de Midiã, que provavelmente eram 5. A Igreja é o rebanho do Senhor Jesus e ele é o seu
vassalos de Seom, rei dos amorreus. Aparentemente, Pastor (Isa. 40:11; Atos 20:28; João 10). Nessa
Seom apossara-se da área de Moabe, sujeitando as conexão, examinar também Luc. 12:32 e I Ped. 5:2,3.
tribos midianitas que residiam em Moabe.
REBATISMO
REBANHO Corria ainda no século II D.C. quando a corrente
Há seis palavras hebraicas e duas palavras gregas principal do cristianismo começou a rejeitar o batismo
envolvidas neste verbete, a saber: de participantes dos chamados grupos heréticos e a
1. Eder, «rebanho». Termo hebraico que é usado requerer o rebatismo dos mesmos, se quisessem ser
por trinta e oito vezes; segundo se vê, por exemplo, em aceitos nas fileiras ortodoxas. Mas a Igreja de Roma,
Gên. 29:2,3,8; 30:4; Jui. 5:16; I Sam. 17:34; II Crô. desde um período histórico bem recuado, tomou
32:28; Jó 24:2; Sal. 78:52; Can. 1:7; 4:1,2; Isa. 17:2; posição diametralmente oposta a isso, afirmando que
32:14; Jer. 6:3; 13:17,20; 31:10,24; 51:23; Eze. 34:12; o rito do batismo, uma vez realizado com a fórmula e o
Joel 1:8; Miq. 2:12; 4:8; 5:8; Sof. 2:14; Zac. 10:3; intuito corretos, em nome do Pai, do Filho e do
Mal. 1:14. Espírito Santo, deve ser considerado válido, mesmo
2. Tson, «ovelha», «rebanho». Essa palavra ocorre que levado a efeito por grupos cismáticos. Entretanto,
por mais de duzentas e sessenta vezes, principalmente esse ponto de vista não era universal, e, na verdade,
com o sentido de «ovelha». Mas, com o sentido de entra em conflito com os ensinos da Sucessão
«rebanho» aparece por cento e trinta e sete vezes, Apostólica (vide).
conforme se vê, para exemplificar, em Gên. 4:4; Êxo. Na Ãfrica do Norte, Tertuliano, e, posteriormente,
2:16,17; Lev. 1:2,10; Núm. 11:22; Deu. 8:13; I Sam. Cipriano, não reconheciam o batismo de pessoas que
3:20; II Sam. 12:2,4; I CrÔ. 4:39,41; II Crô. 17:11; consideravam heréticas. Cipriano entrou em amarga
Esd. 10:19; Nee. 10:36; Jó 21:11; Sal. 65:13; Can. controvérsia com o bispo de Roma, sobre essa
1:8; Isa. 60:7; Jer. 3:24; Eze. 24:5; Amós 6:4; Jon.3:7; questão, em cerca de 250 D.C. Uma obra escrita por
Miq. 7:14; Hab. 3:17; Sof. 2:6; Zac. 9:16; 10:2; algum autor desconhecido, intitulada De Rebaptis-
11:4,7,11,17. mate, representava a posição romanista. Esse tratado
3. Miqneh, «gado», «aquisição». Palavra hebraica fazia a distinção entre o batismo do Espírito e o
que ocorre por setenta e cinco vezes, conforme se vê, batismo em água. Ê dito ali que se um herege pedir
por exemplo, em Gên. 4:20; Êxo 9:3; Núm. 20:19; admissão na Igreja ortodoxa, ao lhe serem impostas
Deu. 3:19; Jos. 1:14; Jui. 6:5; I Sam. 23:5; II Reis as mãos, e ao vir sobre ele o Espírito, isso tornaria
3:17; I CrÔ. 5:9,21; II Crô. 14:15; Isa. 30:23. supérfluo outro batismo em água. Essa tornou-se a
4. Marith, «gado no pasto». Palavra hebraica que posição oficial da Igreja de Roma, mediante decisão
aparece por apenas uma vez com esse sentido, em Jer. do concílio de Aries (314 D.C.). Agostinho defendeu
10:21, embora apareça outras dez vezes com o sentido essa decisão em suas lutas contra os donatistas. E
de «pasto». outros advogados dessa posição afirmam que o Novo
5. Chasiph, «rebanho ao relento». Palavra hebraica Testamento não ensina o rebatismo, no que são
utilizada por apenas uma vez: I Reis 20:27. contraditos pelos seus adversários, os quais apontam
para o fato de que Atos 19:4,5 serve de prova de texto
6. Ashtaroth, «multiplicações». Palavra hebraica em prol do rebatismo, quando isso se faz necessário.
empregada por quatro vezes, com o sentido de Mas, o outro partido contendor argumenta que o
«rebanhos»: Deu. 7:13; 28:4, 18,51. batismo de João não era um batismo cristão. Por
7. Poímne, «rebanho». Palavra grega usada por analogia, a circuncisão era um ato sem repetição, e
cinco vezes: Mat. 26:31 (citando Zac. 13:7); Luc. 2:8; isso serviria de precedente, porque, em certo
João 10:16; I Cor. 9:7. sentido, o batismo cristão é paralelo da circuncisão
8. Poimnion, «pequeno rebanho». Termo grego judaica, segundo se aprende em Col. 2:11,12. Um
usado também por cinco vezes: Luc. 12:32; Atos outro argumento contra o rebatismo é o que afirma
20:28,29; I Ped. 5:2,3. que o batismo procede de Deus, e não do homem, e
Esse vocábulo português, quando usado na Bíblia, que os agentes errados do batismo não o anulam. Vale
indica um grupo de ovelhas, ou de cabras, ou de dizer, o batismo seria um sacramento eficaz, mesmo
ambas essas espécies (Gên. 4:4; 29:2; Can. 4:1; Joel quando aplicado erroneamente. Naturalmente, sendo
1:18). Em Números 32:36, porém, está em pauta o o batismo em água apenas uma representação
gado vacum. Ver os artigos separados sobre Ovelhas, simbólica do batismo do Espírito no corpo de Cristo
Cabras e Gado. (ver I Cor. 12:13), ele será inválido se tiver sido
571
REBATISMO - REBELIÃO
aplicado sem a regeneração prévia, e a sua repetição perto de Hebrom.
não conseguirá fazer algum pecador nascer do alto.
Isso mostra a inocuidade do debate.
O concílio de Trento, em seu quarto cânon, sobre o REBELIÃO
batismo, reafirmou a posição tradicional católica Rebelião na Sociedade. Apesar do décimo terceiro
romana, que parece militar contra a doutrina católica capítulo da epístola aos Romanos ensinar a lealdade
da sucessão apostólica (vide), embora aqueles geral aos governos humanos (ver sobre Governo),
teólogos não pensem assim. De acordo com eles, um sempre haverá casos claros nos quais a rebelião se
herege, que não está na linha de sucessão apostólica, tornará necessária, por amor à justiça. Geralmente os
pode realizar um legitimo ato de batismo, como um indivíduos malignos é que preferem a vereda da
sacramento (transmissor da graça divina). rebeldia (ver Pro. 17:11), mas há vezes quando a
Ao tempo da Reforma Protestante, os anabatistas rebelião pode estar servindo à reta justiça. A maioria
(vide) fizeram reviver a ênfase sobre o rebatismo, das revoluções alicerça-se sobre atos rebeldes; e nem
conforme o próprio nome deles o revela. Eles todas as revoluções são erradas. Por outra parte,
ensinavam a invalidade do batismo infantil (vide), e existem movimentos políticos maléficos que excitam
que adultos convertidos, embora tivessem sido os povos à rebeldia, e, quando obtêm sucesso,
batizados na infância, precisavam ser batizados oprimem esses mesmos povos a ditaduras piores do
novamente, dessa vez legitimamente. As igrejas que aquelas que conseguiram expelir. Assim sendo, a
evangélicas de inclinações batistas têm dado continui questão é bastante complexa, não podendo ser
dade a essa atitude, além de terem adicionado a avaliada de forma simplista.
asserção de que existe tal coisa como «imersão A Rebelião e o Crente. Um seguidor de Cristo, que
estranha», praticada por grupos não-batistas e se veja forçado a optar pela rebelião ou por alguma
heréticos. Adultos batizados assim, ao chegarem ali, forma secundária de oposição àquilo que ele
têm que ser rebatizados. Para exemplificar, um crente considera opressivo, tanto na esfera governamental
presbiteriano, embora aspergido na infância, em uma quanto em alguma esfera menor (mesmo nas relações
genuina igreja evangélica, ainda assim deve sujeitar- eclesiásticas), só deve tomar tal decisão após haver
se ao batismo por imersão, ao chegar naquelas sopesado cuidadosamente as questões morais envolvi
igrejas. das. Talvez seja correto dizer que, para o crente, a
A Igreja Católica Romana e a comunidade rebeldia deve ser um último recurso, depois que se
anglicana praticam o que intitulam de «batismo çxauriram todós os outros meios em busca, de uma
condicional», quando surgem dúvidas sobre a solução pacífica para a injustiça e a opressão.
validade de um batismo anterior. Na comunidade
anglicana, em tais oportunidades, o sacerdote realiza
o ato de batismo afirmando: «Se ainda não foste REBELIÃO CONTRA DEUS
batizado, eu te batizo». Proibida (Núm. 14:9; Jos. 22:19).
Provoca a Deus (Núm. 16:30; Nee. 9:26).
Provoca a Cristo (£xo. 23:20,21 com I Cor. 10:9).
REBECA Vexa ao Espírito Santo (Isa. 63:10).
No hebraico, provavelmente, laço; no árabe, Exibida:
significa amarrar. Consideremos estes pontos a seu. Na incredulidade (Deu. 9:23; Sal. 106:24,25).
respeito: Na rejeição do governo divino (I Sam. 8:7; 15:23).
1. Família. Era filha de Betuel, que era sobrinha de No desprezo à sua lei (Nee. 9:26).
Abraão (Gên. 22:20 ss). Vivia no território dos No desprezo aos seus conselhos (Sal. 107:11).
arameus, perto do rio Eufrates. Tornou-se esposa de Na desconfiança quanto ao seu poder (Eze. 17:15).
Isaque e mãe de Esaú e Jacó. Na murmuração contra Deus (Núm. 20:3,10).
2. Casamento. O encontro com o servo de Abraão Na recusa de dar-lhe ouvidos (Deu. 9:23; Eze. 20:8;
(Gên. 24), Eleazar, é relembrado como um exemplo Zac. 7:11).
clássico da providência divina e de resposta à oração. No afastar-se de Deus (Isa. 59:13).
O pai e o irmão de Rebeca reconheceram que a mão Na rebeldia contra os líderes nomeados por Deus
do Senhor estava dirigindo tudo e consentiram no (Jos. 1:18).
casamento dela com Isaque. Tomando Rebeca para No afastar-se dos preceitos divinos (Dan. 9:5).
sua tenda, Isaque a amou. E «assim foi Isaque A culpa devido à rebeldia:
consolado depois da morte de sua mãe (Gên. 24:67).
£ agravada pelos cuidados paternais de Deus
3. Maternidade. Durante vinte anos, Rebeca não (Isa. 1:2).
teve filhos. Mas, em resposta às orações de Isaque,
Deus lhe deu gêmeos (Gên. 25:20-26). E o Senhor lhe £ agravada pelos incessantes convites de Deus,
revelou que escolhera o mais novo para abençoar. para que o rebelde retorne a ele (Isa. 65:2).
Malaquias cita as experiências de Israel como provas Deve ser lamentada (Jos. 22:29).
disso (Mal. 1:2 s). Paulo mostra que, nos gêmeos, Deve ser confessada (Lam. 1:18,20; Dan. 9:5).
Deus estava estabelecendo o princípio da graça da Só Deus pode perdoá-la (Nee. 9:17).
eleição (Rom. 9:10-13). A instrução religiosa visa impedi-la (Sal. 78:5,8).
O livro de Gênesis mostra como Jacó, o irmão Promessas feitas aos que a evitam (Deu. 28:1-13; I
I Sam. 12:14).
gêmeo mais novo, suplantou a seu irmão, Esaú,
arrebatando-lhe o direito de primogenitura e a bênção £ perdoada em face do arrependimento (Nee.
9:26,27).
paterna. Esaú prometeu matar seu irmão. Mas
Rebeca encontrou meio de fazê-lo escapar da ira de Os Ministros:
Esaú, enviando-o para a casa de seu pai, em Harã, São advertidos contra ela (Eze. 2:8).
sob a alegação de que ali ele deveria arranjar noiva, e São enviados aos rebeldes (Eze. 2:3-7; 3:4-9;
não entre as mulheres de Canaã. Portanto, Rebeca foi Mar. 12:4-8).
instrumental na preservação de Jacó, cumprindo Devem advertir contra a mesma (Núm. 14:9).
assim a vontade divina. Segundo Gên. 49:31, Rebeca Devem testificar contra a mesma (Isa. 30:8,9;
foi sepultada no túmulo da família, em Macpela, Eze 17:12; 44:6).
572
A Rebelião
A Expulsão do Jardim
•'
• •• • • •
O oposto de injustiça
não é justiça
— é amor.
••• •••
A festa
620
Gráfico Histórico Comparativo
REIS DÈ ISRAEL E JUDÀ
BABILÔNIA PÉRSIA
REI, REALEZA
Ònri em Samaria (884-870) Jeorão como regente Batalha de Carcar (853)
(885-852)
621
REEF1CAÇÃO (RElSMO)
REINO, PARÁBOLAS DO
Essa palavra vem do latim, ics, «coisa», e faccre,
«fazer». Esse termo designa a falácia de considerar Ver Parábola, seção III.
alguma entidade mental (ou produto da imaginação)
como se fosse algo real. Esse termo é um sinônimo de ••• ••• •••
622
REINO ANIMAL - REINO DE DEUS
REINO ANIMAL dos homens regenerados. Os remidos, pois, compo
Os vários anim ais m encionados na Bíblia são riam o reino de Deus. A Igreja seria a coletividade
comentados individualmente, por ordem alfabética. formada por esses remidos, nos céus e na terra. Sem
importar qual forma assuma, esse reino incorpora a
luz do mundo, sendo a vida e o sal da terra. Jesus
REINO DE DEUS (on DOS CÉUS) nasceu para ser Rei e de muitas maneiras, onde ele
consegue impor-se como tal, ai está o reino de Deus.
Esboço: Por essa razão, o reirio de Deus é chamado de «reino
I. Caracterização Geral de Cristo, o FUho», por causa de sua administração.
II. Sumário de Conceitos Mas é chamado reino de Deus, porque Deus é a
III. O Reino como Virtudes Cristãs Cardeais autoridade final, por detrás desse reino. No evangelho
IV. Os Crentes e o Reino de Mateus é chamado «reino dos céus» porque o céu é
V. Aspectos do Reino na Teologia Moderna a habitação de Deus. Finalmente, a autoridade real
I. Caracterlzaçio Geral de Jesus Cristo será exercida em todos os lugares (Efé.
Antes de tudo, devemos dizer que não há qualquer 1:10), quander então haverá a unidade de todas as
diferença entre «reino de Deus» e «reino dos céus». coisas em tomo da pessoa de Cristo.
Alguns estudiosos têm pensado que a primeira dessas II. Sumário de Conceito«
expressões é mais abrangente, abarcando todas as 1. A criação inteira é o reino de Deus. Ele é o Deus
inteligências criadas, nos céus e na terra, ao passo que do céu, retratado como quem está sentado no trono do
a segunda delas descreveria o governo de Deus em govemo do universal (Sal. 103:19; Eze. 1:26-28). Isso
algum lugar ou em alguma circunstância especifica, Deus faz cercado pelas hostes celestes que O servem (I
como o reino do Messias. Porém, a expressão «reino Reis 22:19), cuidando de tudp e governando tudo
dos céus» é usada no evangelho de Mateus com (Sal. 33:13 ís), como o Rei Eterno (Sal. 145:13; Dan.
respeito a questões vinculadas ao «reino de Deus», nos 4:3,4). O direito que Deus tem de ser Rei deriva-se do
outros evangelhos. Para exemplificar, em Mat. 3:2, fato de que ele é Criador de todas as coisas (Sal.
lemos que João Batista veio pregando o reino dos 95:3-5). Sua jurisdição abrange todas as nações (Sal.
céus, mas, na passagem paralela de Mar. 1:14, lemos 22:28; Jer. 46:18). Ele determina quem deve
que ele veio pregando o reino de Deus. Ê claro que o governar na terra (Dan. 2:37; 4:17). Ele determina
Batista não veio pregando dois reinos diferentes. todos os sistemas e condições (Sal. 29:10; 93:1-4). O
Marcos e Lucas não usam as palavras «reino dos seu governo caracteriza-se pela verdade e pela retidão
céus», mas descrevem as mesmas realidades mediante (Sal. 96:13; 99:4). Deus requer que todos os seus
a expressão «reino de Deus». Usualmente, Mateus súditos O temam e respeitem (Sal. 99:1-3; Isa. 6:5;
alude ao esperado reino messiânico, ao governo do Mal. 1:14). Nesse ponto, encontramos uma metáfora
Messias sobre o trono de Davi. A expressão deriva-se antropológica, onde o poder e a majestade do. Senhor
de Daniel 2:34-36,44; 7:23-27, que alude àquele são simbolizados pela grandiosidade das cortes
Reino, divinamente estabelecido e que será estabele orientais.
cido à face da terra quando a pedra cortada sem ajuda 2. A nação hebréia é o reino de Deus. Por essa
das mãos tiver posto fim ao sistema mundial gentÚico. razão, aquela nação tomou-se um reino de sacerdotes
Esse foi o reino que Deus prometeu a Davi (II Sam. (Êxo. 19:6). A glória de Deus manifestava-se no
7:7-10), que foi descrito nos escritos dos profetas templo de Jerusalém, que era lugar da autoridade de
(Zac. 12:8) e que foi confirmado a Jesus Cristo Deus, com o intuito de refletir a sua glória e
mediante o anjo Gabriel (Luc. 1:32,33). De acordo autoridade celestial (II Reis 19:15). Deus governava
com Mateus 3:2, esse reino está «próximo», porquanto no monte Sião ou Jerusalém (Sal. 48:2; 99:1 ss). É
em breve se concretizará. Teria um cumprimento possível que o reino de Deus fosse celebrado
preliminar nesta dispensação (Mateus 13), e teria um anualmente, em uma festa especial da colheita
aspecto profético, o reino que será estabelecido (Salmos 47, 93, 96, 97 e 99. Ver também Salmos
quando da segunda vinda de Cristo, ou «parousia» 68:24). Sem importar o sentido exato do conceito,
(que vide) (Mat. 24:29-35). Deus como o Rei de Israel é uma noção comum no
Por que «reino dos céus» é usado, em vez de «reino Antigo Testamento (Deu. 33:5; I Sam. 12:12; Juí.
de Deus»? Os judeus tinham profundo respeito pelo 8:23). Ver o artigo sobre Rei, Realeza, em seus pontos
nome divino. Portanto, no evangelho de Mateus, segundo e terceiro, que ilustra a questão.
escrito principalmente a leitores judeus, é empregada 3. O reino messiânico. Esse era o reino profetizado
a expressão reino dos céus como um eufemismo, para que os judeus esperavam, o qual, segundo a-doutrina
evitar tantas menções ao nome de Deus. cristã primitiva, tomou-se parte do ensino sobre o
Nos evangelhos sinópticos, a pregação do reino é o milênio (que vide). Ver os comentários sobre o
tema central. Não podemos duvidar que João Batista, primeiro ponto deste verbete, que ampliam a idéia.
seus seguidores, Jesus e os seus discípulos, pensassem 4. Conceito geral. O reino de Deus abarca todas as
que o reino de Deus haveria de ser estabelecido na coisas sobre as quais Deus exerce poder, quer o
terra. O reino de Deus foi uma oferta genuína feita a mundo e tudo que nele existe, e as vidas dos homens.
Israel, mas a oferta foi rejeitada. Isso posto, a vontade Portanto, o reino de Deus pode ter um significado
divina apresentou aos gentios o esplendor da Igreja e puramente espiritual ou ético (Luc. 17:20,21; Rom.
de nossa era da graça. De nada nos adianta tentar 14:17).
imaginar como o reino de Deus poderia ter sido
genuinamente oferecido ao povo de Israel, ao mesmo 5. O reino de Deus pode indicar salvação, vida
tempo em que ele tinha de ser rejeitado, a fim de que eterna. No evangelho de João, a expressão «reino de
pudesse surgir a Igreja cristã. Essas razões pertencem Deus» é praticamente equivalente à salvação, ou vida
aos mistérios ocultos de Deus. etema (João 3:3-5). Nesse trecho, a expressão «reino
de Deus» aparece como a salvação transcendental, ou
Em sentido bem amplo, poderíamos definir esse seja, a vida etema que um homem não pode possuir
reino como composto por aqueles que reconhecem, sem o novo nascimento. Pelo tempo em que o
adoram, amam e obedecem a Deus, como o único* evangelho de João foi escrito, isto é, depois da
Deus vivo e verdadeiro. Portanto, esse reino pode ser destruição de Jerusalém, para muitos crentes já havia
concebido como existente no céu, ou então no coração desaparecido a esperança da inauguração de algum
623
REINO DE DEUS
reino político no futuro previsível, ainda que muitos Cristo. (Ver Rom. 4:3 e 3:21).
deles preservassem tal esperança sob a forma da O Reino Consiste de Retidão
doutrina do milênio, vinculada à parousia (que vide). 1. O reino consiste de retidão imputada, mediante a
Por essa razão é que, no evangelho de João, o reino qual recebemos uma correta posição diante de Deus,
político não mais ocupa qualquer posição. Ali, a através de Cristo. Essa é a santidade de Deus, na qual
salvação no outro mundo é o reino de Deus. se postam os crentes. (Ver Rom. 3:21; 4:11 e 5:13).
6. À Igreja cristã. No trecho de Colossenses 1:13, a 2. Trata-se da santidade de Deus, que se tom a real
expressão «reino de Deus» indica a Igreja cristã, na na vida do crente, através do poder do Espírito, na
qual estão investidas todas as esperanças humanas de santificação (ver as notas em I Tes. 4:3 no NTI).
participação no futuro reino celeste. Esse é o uso 3. — Trata-se da retidão divina finalmente
popular da expressão, em nossos dias. aperfeiçoada, em que as virtudes espirituais positivas
7. A vida cristã. Quando bem vivida, no sentido de de Deus são implantadas no crente (ver Mat. 5:48).
I Coríntios 4:20. Deus governa os corações humanos, 4. Em sua aplicação prática, isso ensina-nos qye
através do seu Espírito, e assim infunde neles o seu existem certos elementos indiferentes, que nada têm a
reino. ver com a santidade, como a guarda de dias especiais,
8. As virtudes cristãs cardeais. Estão em foco a as questões de dieta, etc. Ao ensinar-se essa lição, as
justiça, a paz e a alegria, mediante o poder do Escrituras recomendam-nos, que não façamos cam
Espírito (Rom. 14:17). Esse uso é discutido em uma panhas em prol de coisas não-essenciais, para que a
porção distinta deste artigo, a terceira porção. unidade da igreja não seja ameaçada. A verdadeira
9. Os crentes como o reino de Deus. Esse é um uso santidade promove a paz e a concórdia.
paralelo daquele descrito no segundo ponto deste Paz. Existe aquela paz de Deus que é um dos
verbete. A nação hebréia era o reino de Deus, e agora aspectos do fruto do Espírito Santo, e que é uma
os crentes, judeus ou gentios tomaram-se esse reino. qualidade formada na alma, mediante o exercício ou
Ver Apo. 1:6. Esse uso é discutido na quarta porção operação do Espirito de Deus. Essa paz também faz
deste artigo. parte integrante da transformação moral dos crentes.
10. O futuro Governo de Deus. Esse govemo será Essa paz é verdadeiramente formada no intimo dos
absolutamente universal. — Deus tomar-se-á então remidos, de tal maneira que ela permite que estes
tudo para todos, preenchendo tudo (I Cor. 15:28). A vivam em harmonia tanto com Deus como com os seus
restauração geral terá assim o seu cumprimento, e irmãos na fé e com os seus semelhantes, além de
isso através da missão universal do Verbo de Deus viverem em paz com suas próprias almas. Esse
(Efé. 1:10). Ver o artigo sobre a Missão Universal do aspecto da «paz», bem possivelmente, era o que Paulo
Logos, o Cristo. Em última análise, coisa alguma tinha especificamente em mente, quando usou esse
ficará fora do poder remidor e restaurador do Logos, vocábulo neste versículo. Não nos olvidemos, todavia,
do que resultarão a unidade e a harmonia finais. Esse que a paz dos crentes, uns com os outros, se
é o mistério da vontade de Deus (que vide). fundamenta sobre a paz com Deus. Ver o artigo sobre
11. Aspectos na teologia moderna. Ver explicações Paz.
a esse respeito no quinto ponto deste artigo. Alegria. Essa qualidade, igualmente, é um dos
m . O Reino Como Virtnde* Cristia Cardeal*. aspectos do fruto do Espírito Santo. Tal alegria não
Rom. 14:17. pode ser duplicada pelos esforços humanos, esforços
O reino de Deus consiste na justiça, na paz, na de natureza religiosa ou não. Trata-se de uma
alegria e no Espirito Santo. qualidade de bem-estar, que envolve não meramente
O reino de Deus neste caso, é a vida cristã, desde as sensações corporais e as circunstâncias externas da
seus primórdios, quando da regeneração, incluindo a vida material, mas até mesmo a própria alma. A alma
participação na justiça de Deus, através de Jesus que se sente segura em Cristo, por ter vindo a
Cristo, e suas aplicações práticas na vida cristã, conhecer a verdadeira vida, sua beleza e seu alvo
através da santificação, isto é, a vida diária na real glorioso, desfruta intensamente de sua posição em
retidão divina, a qual já nos havia sido atribuída, e Cristo, e se enche de esperança. A felicidade, tanto a
que agora nos é proporcionada no homem interior, temporal como a eterna, é o grande resultado disso.
como transmissão real, por obra e graça do Espirito Ver Gál. 5:22,23.
Santo. Equivale à «paz com Deus», bem como à paz Queres Fazer Alguma Campanha?
que os crentes têm uns com os outros. Também é a 1. Nesse caso, promove o reino de Deus, a sua
mesma coisa que a nossa alegria no Espírito Santo, retidão, a sua alegria, a sua paz.
atitude jubilosa essa que deveria caracterizar todos 2. Não faças nenhuma campanha em favor de
aqueles que foram libertados dos seus pecados. questões secundárias, que só servem para desunir a
Aqueles que preferem dar saliência a questões de igreja; aprende o que tem valor primário, e o que é
dieta, manifestando-se contra ou a favor da apenas secundário. Poderíamos sugerir aqui algumas
abstinência de determinados alimentos, e que assim idéias, como aquelas relativas ao modo de batismo, ao
fazendo provocam grande confusão no seio da igreja, governo eclesiástico, ou quais seriam os melhores
não enfatizam as coisas que realmente têm valor e são manuscritos gregos para dali se fazerem as traduções
de vital importância no que tange à vida cristã. O do N.T.?
apóstolo desejava que primeiramente percebêssemos 3. Não insistas em impor os teus direitos.
quais são as coisas que realmente se revestem de
importância, e então vivêssemos de tal modo a O trabalho do Espirito Santo. Rom. 14:17 e Gál.
destacar essas coisas de real valor, rejeitando questões 5:22,23 enfatizam que somente o Espirito é capaz de
laterais e secundárias, que geralmente conduzem à cultivar nos homens as virtudes e qualidades
contenda, e não à preservação do vinculo da paz e do espirituais que devem caracterizar o homem verdadei
amor no seio da irmandade. ramente espiritual. Isto acontece através do uso dos
O reino de Deus é justiça. Paulo , só podia ter meios do desenvolvimento espiritual (que vide).
querido dizer o que vinha descrevendo tão intensa IV. O* Crente* Como um Reino. Apo. 1:16.
mente por toda esta epístola aos Romanos, isto é, a E nos fez reino, sacerdotes para Deus, seu Pai.
«justiça atribuída» a nós por Deus, por intermédio de Nos constituiu reino. O autor sagrado evidentemen-
REINO DE DEUS - REINO DE JUDÀ
te toma por empréstimo idéias do trecho de £xo. para esse equivoco.
19:6, onde Deus prometeu a Moisés que, após a O conceito bíblico do reino de Deus sempre envolve
miraculosa libertação de Israel, da escravidão egípcia, a transformação espiritual dos remidos, e só
Israel estava destinada a tornar-se um «reino de secundariamente a transformação social da sociedade
sacerdotes, uma nação santa», o que significa que se humana, como um resultado que ocorrerá automati
tornaria aquele povo uma «teocracia». A promessa ao camente, no tempo devido (quando da inauguração
«novo Israel», por conseguinte, é que este tomar-se-á, do milênio, ou govemo de Cristo sobre a terra). Um
por semelhante modo, uma teocracia, mas não dos mais graves erros da Teologia da Libertação,
pertencente a este' 'mundo, e, sim ao celestial. Cada
remido haverá de ser um id ; cada remido haverá de pregada pela Igreja Católica Romana, em alguns de
seus segmentos, é a secularização da teologia,
ser um sacerdote. Essa promessa sem dúvida alguma conforme até mesmo teólogos católicos romanos
está vinculada ao conceito do «milênio» que aparece conservadores têm dito. Ver sobre a Teologia da
em Apo. 20:6 (comparar com Apo. 5:10 e I Ped. 2:9),
Libertação. (DOD HIE NTI SCHW W SCO)
mas não há razão para limitarmos esse conceito a isso.
O grego aqui empregado pelo autor sagrado leva-nos
a entender que ele diz, «constituiu-nos um reino, REINO DE ISRAEL
sacerdotes», porquanto ele usa o nominativo e não o Ver sobre Iarad, Reino de.
enitivo, que teria usado se ele tivesse querido
izer «reino de sacerdotes». Vários intérpretes supõem
que o autor Queria que compreendêssemos isso, mas REINO DE JUDÀ
que seu grego (conforme sucedeu com freqüência), Esboço:
saiu de seu controle, e ele terminou por traduzir
equivocadamente a passagem que usava, extraída do Considerações Preliminares
A.T. E essa idéia é possível, considerando-se o grego 1. Pano de Fundo Histórico
deficiente deste livro. (Ver o artigo sobre o 2. O Reino Unido
Apocalipse, seção VIII, acerca do tipo de grego que 3. O Território de Judá
nele foi empregado). Porém, a despeito do mau grego I. Razões da Divisão
empregado, uma profunda verdade nos é transmitida. 1. O Declínio de Salomão
O «novo Israel» tomar-se-á um reino de reis, e, nesse 2. Fatores Econômicos
reino, cada homem será um sacerdote. 3. Causas Políticas
Notemos, no sétimo capitulo do livro aos Hebreus, 4. A Luta de Jeroboão Pelo Poder
como Melquisedeque aparece como «rei-sacerdote». 5. Debilitamento da Espiritualidade
Assim também se aprende em I Ped. 2:9, a nosso
próprio respeito. II. Pontos Altos das Relações Entre Judá e Outras
Naçõ<es
V. Aspecto« do Reino na Teologia Moderna 1. Com o Reino do Norte e com o Egito
Todas as explicações dadas sob o segundo ponto 2. Com a Assíria
deste artigo, Sumário de Conceitos, estão incluídas na 3. Com a Babilônia
teologia moderna, no que tange a esse assunto. A isso.
poderíamos acrescentar algumas outras considera III. Sumário de Eventos:
ções, como, por exemplo: A História e a Apostasia de Judá
A história eclesiástica tem forçado várias definições IV. Considerações sobre a Individualidade dos Reis
sobre esse conceito. A teologia católica romana tem de Judá
confundido a Igreja com o reino de Deus. Na verdade, Conclusão
há algum precedente para isso no Novo Testamento, V. Gráfico:
conforme vimos no segundo ponto, mas não no Cronologia Comparada: Israel — Israel-Judá
sentido mais preciso da questão. Agostinho foi quem — Egito — Assíria — Babilônia e Grécia
mais desenvolveu o conceito. Os teólogos da era
medieval construíram sobre a base agostiniana, a fim Bibliografia
de sancionarem a teologia de uma Igreja onipotente, Considerações Preliminares
cujos poderes estariam enfeixados nas mãos do papa. 1. Pano de Fundo Histórico
Os papas Gregório VII e Inocente III foram os que
mais tiraram proveito dessa idéia. Alguém já disse: «A característica distintiva de
Israel é que essa foi a nação que escolheu Deus».
As atividades da Igreja têm por escopo fomentar o Porém, quando examinamos os registros bíblicos,
reino de Deus, mediante o seu esforço missionário. descobrimos que a verdade é exatamente o contrário:
Com base nesse ensino neotestamentário, os refor Israel é a nação que Deus escolheu! Os trechos de
madores protestantes salientaram o reino, em seus Gênesis 12:3 e Romanos 11:11,12 mostram que a
aspectos espiritual e invisível, fazendo contraste com a escolha divina não foi nem arbitrária e nem
ênfase católica romana. Nos ensinos concernentes à exclusivista. A nação de Israel deveria tomar-se o guia
segunda vinda de Cristo, são enfatizados pelos espiritual de toda a humanidade, mormente através
teólogos evangélicos os preceitos escatológicos relati da realização da missão do Messias. A tradição
vos ao reino. Mas as pessoas incorrem em erro quando profética assegura-nos que a tarefa da evangelização
exageram a ênfase sobre um aspecto, em detrimento mundial, que a Igreja não completará, antes da
de outros, porque o ensino bíblico sobre o reino de- conversão de Israel, finalmente será terminada, com a
Deus é muito lato, e cada aspecto tem sua própria ajuda de Israel (ver Isa. 11:9).
importância. £ entristecedor vermos essa doutrina ser
posta a serviço do Exclusivismo, quando alguma Quando consideramos as minúsculas dimensões do
denominação cristã afirma ser o reino de Deus, com território e do povo de Israel, em comparação com
exclusão de todas as outras denominações. Outros outras nações, ficamos impressionados ante o fato de
erros incluem a secularização do conceito, o que o que o número e a estatura de seus filhos ultrapassam
reduz ao progresso evolutivo da sociedade humana, em muito a importância geográfica dessa nação. A
mediante sistemas religiosos, políticos e sociais. O melhor explicação desse fato é que a vontade de Deus
chamado evangelho social do liberalismo resvalou se está desdobrando em meio ao povo de Israel.
625
REINO DE JUDÀ
2. O Reino Unido O primeiro desses períodos estendeu-se da divisão
As doze tribos de Israel constituíam um reino do reino de Reoboão, em 936 A.C., até o fim do
unido, nos dias de Davi e Salomão. A dinastia de reinado de Jotão, em 751 A.C. Inicialmente, esse
Davi, sobre a nação de Judá (após a divisão do reino período caracterizava-se por muitos conflitos entre
em dois: Israel, ao norte, e Judá, ao sul), continuou Judá e Israel. Nos anos em que Judá combateu Israel,
governando em Jerusalém até à destruição do reino do com o propósito básico de reunir novamente as doze
sul, o que teve lugar em 586 A.C., pelas tropas tribos, Judá só conseguiu reconquistar algumas
babijônicas de Nabucodonosor. A divisão da nação cidades fronteiriças. Após esse periodo de lutas, Asa,
em dois reinos limitou severamente o poder e a em 875 A.C., foi capaz de reestabelecer a amizade
influência da dinastia davídica. A glória de Salomão com as tribos do norte. Essa amizade perdurou até
nunca mais conseguiu ser duplicada. Além disso, 722 A.C., quando a Assíria levou cativa a nação do
tensões entre as nações do norte e do sul norte, Israel. Mas essa amizade com Israel foi
polarizaram-se nas pessoas de Reoboão, rei de Judá, prejudicial para a espiritualidade de Judá, porquanto
filho de Salomão, e de Jeroboão, filho de Nebate, rei fê-la desviar-se para a adoração pagã que a nação dc
de Israel, que pertencia à tribo de Efraim. A rebeldia norte havia aceitado.
de Jeroboão obteve êxito, e ele acabou ascendendo ao Durante o reinado de Acaz (731 A.C.) começou o
trono do reino do norte, Israel. Assim, a glória pessoal segundo periodo da história de Judá. Esse periodo
de Jeroboão foi fomentada às expensas da glória de caracterizou-se pelo poder assírio em ascendência,
Israel. Reoboão, por sua vez, reteve a coroa de Davi, mas também pelo fato'de que o reino foi abandonando
governando sobre as tribos aliadas de Judá e cada vez mais os caminhos do Senhor. E Judá ficou
Benjamim, mas o seu reino era uma mera sombra do muito dependente da Assíria, exatamente por esse
que havia sido o reino de Salomão. No entanto, seu motivo. Entre outras coisas, Judá teve de pagar
reino manteve acesa a lâmpada de Davi, ainda que, pesados tributos, quarenta e seis cidades de Judá
em várias oportunidades, pareceu estar à beira da foram capturadas, e nada menos de duzentas mil
extinção. Em conseqüência, a linhagem messiânica cento e cinqüenta pessoas foram levadas para o
foi preservada, em consonância com o desígnio cativeiro, na Assíria. Judá só se viu livre da tirania dos
sobrenatural que se estava desdobrando. assírios quando a Assíria foi destruída, no ano de 608
3. O Território de Judá A.C., durante o reinado de Josias.
Além da tribo de Judá, o reino do sul incluía a Após a queda da Assíria, Judá entrou no seu
maior parte da tribo de Benjamim, e, ao que tudo terceiro periodo histórico. Porém, a única alteração
indica, finalmente abarcou também a tribo de real é que, dali por diante, o poder opressor tornou-se
Simeão, que ficara isolada no extremo sul da a Babilônia, da parte da qual Judá teve de sofrer o
Palestina. A tribo de Judá era a mais próspera det saque, a destruição e o cativeiro.
todas elas, tendo absorvido Benjamim e Simeão. Quatro reinos assinalaram esse breve periodo de
Também não nos podemos esquecer dos levitas que vinte e dois anos. A cada novo rei sucessivo, Judá caía
habitavam nesse território, além de outros que se mais e mais para longe de Deus, até que, em 586
bandearam para a família de Davi. Isso devia-se, pelo A.C., foi destruída, e quase todos os judeus foram
menos em parte, ao fato de que Judá é que havia levados cativos para a Babilônia.
herdado as riquezas de Salomão. Por todo este artigo será feita a tentativa de
entendermos, mediante as informes históricos, al
Fronteiras. A oeste o limite era o mar Mediterrâ gumas das razões pelas quais o povo de Judá
neo. A leste as fronteiras eram o rio Jordão e o mar afastou-se tanto de Deus.
Morto. Ao norte não havia qualquer limite natural
entre Judá e Israel, pelo que a fronteira era um I. Razões da D irisio
convênio. Por isso mesmo, tal fronteira modificava-se 1. O Declínio de Salomão
vez por outra, embora passasse sempre um pouco ao Josefo revela-nos que Salomão «cresceu cada vez
norte ou um pouco ao sul de Betei. Aparentemente, mais em seu amor pelas mulheres, não se dominando
essa linha estendia-se desde um pouco ao norte de em sua concupiscência». Ele também andou muito
Jope até o rio Jordão, em um ponto que ficava cerca 4>cupado imitando os reinos pagãos, buscando poder e
de vinte e um quilômetros ao norte do mar Morto. Ao esplendor pessoais. Obteve o que desejava, e se inchou
longo dessa linha, várias fortalezas foram construí em sua arrogância e exibicionismo. Desbaratou os
das, em Ramá, em Gibeom e em Betei. Ao sul, o recursos de Israel em seu tão opulento programa de
território era incertamente limitado, pois dava para o edificações. Podemos ter a certeza de que, em meio a
deserto da Iduméia, uma região estéril e sem vida, e, tudo isso, não estava dando muita atenção à
por conseguinte, uma barreira natural. espiritualidade. O descontentamento intensificou-se
O Minúsculo Pais. O território do reino de Judá entre as tribos, antigas contenções foram renovadas, e
formava um quadrado tosco, cobrindo, aproximada não demorou nada para que a divisão se tornasse
mente, cento e dezesseis quilômetros quadrados. Que inevitável. Para tanto, faltava somente aparecer um
um território tão pequeno, com pouco mais de dez líder decidido. Quando tudo se foi tornando cada vez
quilômetros de lado, tivesse sido a pátria dos profetas mais «asiático», com costumes estrangeiros novos,
e a localização do desdobramento da promessa poligamia descontrolada, introdução de religiões
messiânica mostra-nos que a diferença era a presença pagãs, alianças políticas com potências estrangeiras,
do Espírito de Deus. etc., a solidariedade de Israel foi sofrendo cada vez
mais.
Vinte reis reinaram sobre a nação de Judá, desde a
época da divisão da nação de Israel em dois reinos, em 2. Fatores Econômicos
936 A.C., até o cativeiro babilónico, em 586 A.C. Salomão era glorioso, mas o povo de Israel é que
Em relação às nações circunvizinhas, a história de estava pagando a conta, altíssima, por sinal. A
Judá pode ser dividida em três períodos. O primeiro construção do templo fora ordenada por Deus; mas
período caracterizou-se pela interação entre Judá e houve muitos outros projetos desnecessários, nos
Israel: o segundo, pela interação entre Judá e a quais Salomão malbaratou os recursos de Israel. A
Assíria: e o terceiro, pela interação entre Judá e a fim de sustentar um reino que gastava tanto, foram
Babilônia. cobrados altíssimos impostos, e muitos súditos foram
626
REINO DE JUDÀ
reduzidos ao virtual labor escravo. A cada novo ano o de fazer cessar o avanço dos assírios. Isaías
reino de Salomão debilitava-se, conforme a insatisfa enconrajou Ezequias para que oferecesse resistência
ção crescia. aos assírios, a qualquer custo. Jerusalém só foi salva
3 . Causas Políticas por divina intervenção (ver Isa. 37:36), mas‘
Judá obteve maior poder e independência econômi Senaqueribe, outro rei assírio, conseguiu tomar
ca, devido às suas terras muito produtivas e ao quarenta e seis cidades, segundo sua contagem.
comércio com o Egito e outras nações. Isso servia de Manassés, filho e sucessor de Ezequias, foi forçado a
causa de rivalidades e ciúmes, por parte de outras submeter-se como rei vassalo da Assíria. Em sua
tribos. A mudança do santuário nacional de Silo para própria degeneração, Manassés foi testemunha da
Jerusalém nunca foi aceita de bom grado. Efraim total desintegração de Judá. Porém, foi em seus dias
tornou-se o centro da competição e da rivalidade com que começou a declinar o poder assírio.
Judá. O reino unificado de Salomão e a concentração 3. Com a Babilônia
de riquezas, em Jerusalém, diminuiu a importância Tanto o Egito quinto a Babilônia tiraram proveito
das demais tribos, um fato que Efraim ressentia.de da queda da Assíria, pelo que tinham- chegado a
modo todo especial. A revolta, pois, pelo menos em promover essa queda. Faraó Neco, temendo a
parte era um reclamo em prol da restauração tribal. Babilônia, aliou-se à Assíria e assim obteve controle
4. A Luta de Jeroboão pelo Poder sobre Judá e a Síria. Depôs Jeoacaz e estabeleceu
Jeroboão procurava restaurar o prestígio da tribo de Jeoaquim, seu irmão, como governante de Judá.
Efraim, mas podemos ter a certeza de que ele também Todavia, esse arranjo perdurou por brevíssimo tempo.
procurava a sua própria glória. Havia o fator pessoal Neco aliou-se a Asur-Ubalite e aos assírios para
de suas próprias ambições. Era a mesma velha combater os babilónicos. A total derrota da coligação
história da luta pelo poder, com base na glorificação deu azo ao surgimento do predomínio babilónico.
pessoal. Os babilônios aniquilaram o poder assírio. Judá
5. Debilitamento da Espiritualidade tornou-se um estado vassalo da Babilônia. Jeoaquim,
Várias declarações dadas acima ilustram o fato de que ficara como títere no trono de Judá, por
que foi o enfraquecimento da espiritualidade dos determinação de Faraó Neco, continuou Sendo apenas
líderes do povo de Israel que produziu a divisão um vassalo sob as ordens de Babilônia. No entanto,
política em duas nações. Se os homens tivessem dado quando Jeoaquim revoltou-se, isso trouxe Nabucodo-
a Deus o primeiro lugar, então os demais problemas, nosor às portas de Jerusalém. Durante o cerco que
de ordem econômica e política, teriam sido devida teve lugar, Jeoaquim ou morreu ou foi assassinado.
mente equacionados e resolvidos. Jerusalém caiu em março de 587 A.C. Jeoaquim
Reoboão reteve algo da sabedoria de seu pai, pois, chegou a governar de modo ilusório e temporário,
se os reis do norte mudaram de capital, ele fortaleceu após a morte de seu pai, mas somente pelo espaço de
Jerusalém e preservou a herança de Davi. Ver II Crô. três meses. Foi levado para o exílio na Babilônia
11:23. juntamente com seus familiares e a nata da sociedade
judaica. Matanias, filho de Josias, chamado Zede-
II. Ponto« Alto« das Ralações entre Judá e Outras, quias por Nabucodonosor, foi posto no trono como
Nações um títere, com a condição de se mostrar leal à
1. Com o Reino do Norte e com o Egito Babilônia (Eze. 27:13). Sua lealdade, porém, foi de
Apresentamos aqui um esboço abreviado dos curta duração. Zedequias conspirou contra a Babilô
eventos. Mais adiante, cada rei de Judá terá seu nia, juntamente com o Egito. Nabucodonosor perdeu
governo individualmente considerado. Quanto a a paciência e avançou novamente contra Jerusalém. A
maiores detalhes, ver o gráfico cronológico, no matança, o saque, lutas sangrentas, fome e exílio em
apêndice. grande escala puseram fim ao que ainda havia restado
As contendas generalizaram-se. Judá queria forçar da nação de Judá.
a reunião das doze tribos, mas o profeta Semaías Judá, como um reino, — durou trezentos e
interveio. Jeroboão cooperava com Sesonque, do cinqüenta anos, desde 936 A.C., ou seja, duzentos e
Egito, e o território de Judá foi invadido. Os egípcios catorze anos mais do que o reino do norte, Israel. Essa
saquearam os tesouros do templo de Jerusalém. A duração um tanto maior do reino de Judá pode ser
derrota de Judá foi interpretada como o juízo de Deus atribuída a um grau menor de apostasia. Essa história
contra o ambicioso Reoboão. Contudo, seu filho e da minúscula nação de Judá é mais a história de uma
sucessor, Abias, obteve uma significativa vitória sobre dinastia do que a história de uma nação, e é mais a
Jeroboão, e assim expandiram-se um pouco os história de uma cidade do que a história de um país.
territórios do reino do sul. Abias e Asa estabeleceram Seus pontos fortes e fracos residiam nesses fatos.
acordos com a Assíria. Porém, antes da destruição do
reino do norte, pelos assírios, Asa estabeleceu relações UI. Sumário de Frentos
amistosas com o norte. Isso perdurou até o ano da A História e a Apostasia de Jada:
destruição de Israel, em 722 A.C. A história do povo judeu consiste quase inteiramen
2. Com a Assíria te em vitórias e derrotas militares. Porém, paralela
Isso marca o segundo período da história de Judá. mente a esses conflitos militares, rugia uma contínua
Os assírios ameaçavam tanto a Israel quanto a Judá. guerra espiritual. Sem dúvida, essa batalha espiritual
Tiglate-Pileser III (o Pul referido em II Reis 15:19) prolongada foi declarada quando as forças satânicas
encabeçava essa ameaça. A fim de evitar a destruição, perceberam que Deus estava separando um povo que
Acaz estabeleceu um pacto com Tiglate-Pileser, O adorasse como único Deus, não seguindo as formas
embora tivesse de pagar pesados tributos por causa de adoração pagãs que glorificam a Satanás.
disso. Isso deu inicio à norma de tratados com Mesmo após a separação entre os reinos do norte e
potências estrangeiras. Conforme os profetas disse do sul, essa tensão espiritual prosseguiu. O reino do
ram que sucederia, tais tratados mostraram-se norte cedeu quase totalmente à pressão de Satanás, ao
prejudiciais, afinal de contas. O paganismo invadiu as passo que o reino do sul continuou obtendo vitórias e
instituições e até mesmo a adoração judaica. Ezequias fracassos, nessa guerra espiritual.
liderou uma reforma que conseguiu certa medida de As derrotas espirituais podem ser atribuídas a
purificação. Porém, nenhuma manipulação foi capaz muitas causas, como: orgulho, sede de poder e
627
REINO DE JUDÀ
suposta auto-suficiência do governante, a influência trono. Enquanto esteve escondido, embora criança,
negativa dos conselheiros dos reis, e também as Joás foi instruído nos caminhos do Senhor. Enquanto
alianças com potências estrangeiras, em vez da nação viveu o sacerdote Joiada, Joás seguiu nos caminhos do
depender da proteção divina. Por várias vezes, essas Senhor. Porém, após o falecimento desse sacerdote»
alianças resultaram em casamentos por interesse, Joás foi persuadido pelos oficiais do reino a reverter à
levando a nação inteira a sofrer a infiltração de idéias idolatria. Lemos em II Crô. 24:17: «Depois da morte
pagãs e da idolatria, fazendo com que a geração de Joiada, vieram os príncipes de Judá e se prostraram
judaica seguinte fosse criada no paganismo. E o perante o rei, e o rei os ouviu». Esse ato de prostrar-se
resultado final de tudo isso era que os judeus diante do rei de Judá foi um ato de lisonja; pois,
depositavam a sua confiança em outras coisas, mas conforme deixaram escrito alguns escritores judeus,
não no Senhor. como Kimchi, prostrar-se diante de alguém era um
Com base em I Reis 14:21-24, pode-se ver que o ato de adoração religiosa, o que elevava esse alguém à
reino do sul vivia imerso na idolatria. Era mesmo posição de Deus. Foi mediante esse ato de falsa
impossível um governante judeu casar-se com alguma honraria que a corte judaica, que favorecia o culto a
princesa pagã, sem que a nação judaica ficasse sujeita Baal, conseguiu reestabelecer o culto a esse deus
aos avanços da idolatria. pagão. Todavia, também é possível que o ato fosse
A màe de Reoboão era amonita. Ela se chamava uma demonstração de revolta contra a hierarquia que
Naama, sendo muito provável que ela tivesse servido o sistema anterior havia imposto.
de instrumento que atraiu Reoboão para a idolatria. Joás foi substituído no trono por Amazias. Nos
E também não constituiu surpresa que Abias, escritos de Josefo sobre Amazias, ele diz que esse rei
sucessor de Reoboão, tivesse seguido a idolatria de seu era excessivamente cuidadoso em praticar o que era
pai (I Reis 15:3). Abias condenou a idolatria de reto, quando ainda era bem jovem. Uma vez mais,
Jeroboào, sem perceber, ou, melhor, sem querer porém, vemos nele as características que marcavam os
perceber a sua própria idolatria (ver II Crô. 13:8-12). monarcas orientais. Ê provável que Amazias tenha
Durante trinta e seis anos Asa foi fiel ao Senhor. observado as vitórias do rei de Israel contra a Síria,
Ora, poderíamos indagar por que motivo Asa não despertando nele o desejo de também brandir poder
apelou para a proteção divina, quando foi confronta militar, o que significa, por sua vez, que o fator
do pela ameaça externa. Por que motivo tentou dominante foi a jactância e a crueldade. Sob tais
subornar o rei da Síria? No décimo quarto capitulo de circunstâncias, a adoração a Yahweh novamente foi
II Crônicas, pode-se ver que por causa da fidelidade substituída pela idolatria.
de Asa ao Senhor é que ele havia sido galardoado com Poderíamos indagar por que motivo Uzias, sucessor
sucessos militares. Porém, diante das vitórias, Asa de Amazias, voltou à adoração ao Senhor. Josefo
deve ter-se orgulhado, e, conforme Josefo afirmou, assevera que Uzias foi «um homem bom, por natureza
esse rei começou a imitar o iníquo Jeroboão. Com o reto, magnânimo e trabalhador». Visto quç Uzias
passar dos anos, tornou-se Asa tão mau que não se tinha apenas dezesseis anos de idade quando se
arrependeu mais de seus erros. Por isso, foi-lhe tirado tomou rei, provavelmente esteve sob a direção
o poder, e, sem a ajuda divina, precisou socorrer-se espiritual de grandes sacerdotes e profetas.
em outras nações, todas elas pagãs. De certa feita, No entanto, posteriormente, devido ao seu orgulho,
deixou clara a sua falta de confiança no Senhor, Uzias acabou se afastando do Senhor. Não parava
quando pediu ajuda de um médico para que curasse para meditar que Deus é quem lhe dera toda sua
sua doença nos pés. Ver II Crô. 16:12,13. autoridade e riquezas.
Poderíamos fazer aqui uma interessante pergunta: Uzias foi substituído no trono por Jotão. A
Por que motivo Josafá honrou ao Senhor, em seu narrativa bíblica sobre Jotão é impecável. Jotão
reinado, embora herdeiro de um exemplo tão negativo permaneceu leal ao Senhor durante todo o seu
como o de seu pai, Asa, em seus últimos anos de reinado, embora não se possa dizer a mesma coisa
governo? A resposta pode ser dada pela cronologia. acerca da nação de Judá. Lemos em II Reis 15:35 que
Josafá nasceu no sexto ano do reinado de Asa, e, o povo continuou a adorar nos lugares altos, o que
destarte, por cerca de trinta anos foi treinado nos envolvia a idolatria.
retos caminhos do Senhor. A continua Idolatria mostrou que as advertências
O orgulho e as riquezas materiais levaram Josafá a de Isaias, durante os últimos anos de reinado de Uzias
desviar-se do Senhor, afinal. Conforme está escrito e durante o reinado de Jotão, foram incapazes de
em II Cor. 18:1, Josafá «...aparentou-se com Acabe». refrear a corrida do povo para a idolatria. Tudo isso
Seu filho, Jeorão, casou-se com a filha de Acabe. mostra-nos que a tendência nacional era mergulhar
Mas, os efeitos mais daninhos desse casamento só na idolatria. Todavia, é impossível determinarmos se
apareceram durante o reinado de Jeorão, sucessor de todas as formas de idolatria, descritas em II Crônicas
Josafá. 28:3,4, começaram durante o reinado de Acaz, ou se
Após a morte de Josafá, a nação de Judá mergulhou foi um desenvolvimento gradual, através de vários
em grande depressão espiritual. Durante quinze anos, governos. O mais provável é que tenha sido uma
a luz do Senhor não brilhou em Judá. Essa depressão infiltração gradual, usando como pretexto os sucessos
espiritual pode ser atribuida à invasão de poderes militares dos sírios, com os deuses que eles adoravam.
satânicos. O casamento de Jeorão e Atalia, esta filha O reinado inteiro de dezesseis anos de Acaz foi
de Acabe, foi um convite franco a todo tipo de assinalado por uma desabrida idolatria. E essa
adoração pagã. Atalia era filha de Jezabel, uma apostasia prosseguiu até os primeiros anos de governo
mulher astuciosa, atrevida e sem escrúpulos, que do rei Ezequias.
odiava a adoração a Yahweh e se dispunha a qualquer Em uma reunião a que estiveram presentes o rei e o
coisa para lançá-la no opróbrio. Não há que duvidar povo comum, o profeta Miquéias, revestido da
que Atalia herdou essas péssimas qualidades. autoridade do Senhor, apareceu na assembléia, a fim
Assim, durante quinze anos, Judá esteve em total de repreender ao povo. E a multidão ouviu,
bancarrota espiritual. Após esse período, Joás, que boquiaberta, a amarga sátira mediante a qual os
fora escondido por Jeosabeate, filha do rei Jeorão, nobres foram descritos como se estivessem preparan
mulher do sacerdote Joiada, como único sobrevivente do seu banquete canibalesco, com a came e os ossos
do «massacre» provocado por Atalia, foi guindado ao dos pobres.
628
REINO DE JUDÀ
Ezequias voltou-se de todo o coração aó Senhor, e IV. Consideraçde« Sobre a Iraffrkhuüklade do« Reéa
muitas reformas tiveram lugar na nação de Judá. As de Jndá
práticas idólatras foram descontinuadas, e Ezequias 1. Reoboão, «o povo expande-se»:
chegou a ordenar a destruição da serpente de bronze a. Reinado: 936 — 919 A.C. (17 anos)
que Moisés mandara fazer, porquanto até isso se b. O jugo econômico não é aliviado (I Reis
havia tornado um objeto de adoração idólatra. 12:1-15; II Crô. 10:3-15)
Mas, quando chegou o governo de Manassés, filho c. O reino divide-se em dois: (I Reis 12:16-24;
de Ezequias, houve novo desvio para longe do Senhor. II Crô. 10:16,17)
É muito improvável que esse desvio possa ter tido d. Tempo de prosperidade (II Crô. 11:5-23)
como causa a influência de Hefzibá (que a tradição e. Julgamento divino (I Rei? 14:25-28)
judaica diz ter sido filha do profeta Isaias), pois ela f. Morte (I Reis 14:29-31; II Crô. 12:16)
aparece como mulher piedosa. 2. Abias, «Yahweh é pai»:
Em contraste com Joás, o jovem Manassés não deve a. Reinado: 919—916 A.C. (3 anos)
ter tido uma forte orientação religiosa antes de b. Anda nos caminhos de seu pai (I Reis 15:3)
ascender ao trono. Outros dois fatores negativos c. Mostrou a Israel como pecar contra Deus (II
também talvez expliquem seu caráter: 1. alguns CrÔ. 13:8,9)
conselheiros do rei tendiam para a idolatria (Isa. d. Tentou reunificar o reino (II Crô. 13:4-19)
22:15-19; 29:14-16; 30:1; 9:14). 2. Nos últimos anos
do governo de Ezequias, seu pai, houve uma aliança e. Morte (I Reis 15:18; II Crô. 14:1)
com a Babilônia. Esses fatores também devem ser 3. Asa, «médico»;
levados em conta na apostasia de Manassés, embora a. Reinado: 916—875 A.C. (41 anos)
não fossem fatores de primeira grandeza. b. Removeu a idolatria (I Reis 15:12,13; II Crô.
No fim de sua vida, após uma carreira tão maligna 14:3-5)
como nenhum outro rei de Judá tivera antes, c. Fortificou a nação (II Crô. 14:6-8)
Manassés arrependeu-se, e os ídolos foram removidos d. Derrotou os etíopes (II Crô. 14:9-15)
do país. Todavia, essa condição purificada não e. Fez mais reformas religiosas (II Crô. 15:8-16)
perdurou por muito tempo. Conforme informa-nos f. Dependeu do homem, e não do Senhor (I Reis
Josefo, Amom «...imitou as obras de seu pai, que ele 15:18,19)
tão insolentemente praticara rfa juventude». g. Morte (I Reis 15:24; II CrÔ. 16:13).
Depois de Amom, foi a vez de Josias. Através da 4. Josafá, «Yahweh é juiz»:
narrativa bíblica, podemos ver que Josias governou a. Reinado: 875—851 A.C. (25 anos)
Judá de acordo com os princípios do Senhor. b. Fortaleceu as defesas (II Crô. 17:2)
Novamente, temos aí um rei que subiu ao trono de
Judá ainda bem jovem. Visto que tinha somente oito c. Ensinou o povo (II Crô. 17:7-9)
anos de idade quando subiu ao trono, sem dúvida, ele d. Entrou em aliança com Israel (I Reis 24:4; II
tinha bons tutores e conselheiros. Entre eles estavam Crô. 18:3)
os profetas Jeremias e Sofanias, e a profetisa Hulda. e. Instituiu reformas (II Crô. 19:4-11)
f. Os invasores foram derrotados pela fé (II Crô.
Após o reinado de Joás, o reino de Judá só 20:1-30)
continuou pelo espaço de vinte e dois anos. As g. Morte (I Reis 22:50; II Crô. 21:1)
estruturas internas da nação estavam se desmante
lando, sob o peso da idolatria, ao mesmo tempo em 5. Jeorão, «Yahweh é exaltado».
que potências estrangeiras estavam-na destruindo a. Reinado: 850—842 A.C. (8 anos)
mediante ataques armados e tributos pesados. b. Matou seus próprios irmãos (II Crô. 21:4)
Os três meses do reinado de Jeoacaz foram c. Edom revoltou-se contra Judá (II Reis
assinalados pelo fato de que o rei do Egito mandou 21:8- 10)
prendê-lo, impondo pesadas taxas sobre a nação de d. Judá deixou-se arrastar para a idolatria (II
Judá. Faraó Neco forçou Judá a receber Jeoaquim, Crô. 21:11)
filho de Josias, como rei. Durante os seus onze anos de e. Predição de calamidade (II Crô. 21:14,15)
governo, ele teve de pagar tributo ao Egito, serviu a f. O Senhor julgou mediante a invasão estran
Nabucodonosor por três anos, e seu território foi geira e Jeorão foi ferido nos intestinos (II Crô.
invadido pelos caldeus, arameus, moabitas e amoni- 21:16)
tas. Finalmente, nos dias de Joaquim, seu filho, 6. Acazias, «Yahweh agarrou»:
Nabucodonosor atacou a cidade de Jerusalém e levou a. Reinado: 842—841 A.C. (1 ano)
para o exílio a esse rei e à sua nobreza. Durante o
breve reinado de três meses de Joaquim, entretanto, b. Seguiu as más veredas de sua mãe, Atalia
não houve qualquer dificuldade com os egípcios, pois (II CrÔ. 22:2,3)
os babilônios haviam tomado conta de larga porção c. Aliou-se a Jeorão de Israel (II Reis 8:28; II
do Egito. Mas, por ocasião do ataque babilônio, o CrÔ. 22:5)
templo de Jerusalém foi saqueado. d. Jeorão é ferido (II Reis 8:28,29; II Crô. 22:5,6)
e. Acazias é morto por Jeú, como juízo divino (II
Finalmente, no décimo primeiro ano do reinado de Reis 9:27; II Crô. 22:8,9)
Zede^uias, Jerusalém foi cercada pelas tropas 7. Atalia, «Yahweh é exaltado»:
babilónias. E foi então que começou um cativeiro de a. Reinado: 841—835 A.C. (6 anos)
Judá que se prolongou por setenta anos. b. Assassinou os filhos do rei (II Reis 11:1; II
Esses acontecimentos históricos deveriam servir de Crô. 22:10)
lição para todas as gerações. Pois ali rebrilham as c. Joás é oculto por Jeosabete (II Reis 11:2; II
verdades transcendentais que aqueles que seguem o CrÔ. 22:11)
caminho da retidão são honrados e ajudados pelo
Senhor, mas aqueles que seguem as veredas da d. Atalia é destronada e executada (II Reis
11:4-16; II CrÔ. 23:1-21)
injustiça são tratados de acordo com a ira de Deus,
conforme se vê no caso da nação de Judá. 8. Joás, «Yahweh deu»:
629
REINO DE JUDÀ
a. Reinado: 835—795 A.C. (40 anos) b. Andou na maldade (II Reis 21:20; II Crô. 33:
b. Instruído na verdade por Joiada (II Reis 12:2) 22)
c. Reparou o templo (II Reis 12:4-16; II Crô. 24: c. Morto por conspiradores (II Reis 21:23,24;
8-14) II Crô. 33:24)
d. Foi persuadido por seus conselheiros a voltar à 16. Josias, «Yahweh cura»:
idolatria, após a morte de Joiada (II Crô. a. Reinado: 639—608 A.C. (31 anos)
24:17-19) b. Livrou Judá da idolatria (II Crô. 34:3-8)
e. Morto por seus servos (II Reis 12:20; II Crô. c. Reparou o templo (II Reis 23:3-7; II Crô. 34:
24:25) 8,13)
9. Àmazias, «Yahweh é forte»: d. Encontrado o livro da lei (II Reis 22:8; II Crô.
a. Reinado: 795—768 A.C. (29 anos) 34:14)
b. Vingou a morte de seu pai (II Reis 14:5; II e. Condenação predita (II Reis 23:16,17; II
Crô. 25:3) CrÔ. 34:24,25)
c. Fortificou o reino e usou soldados de Israel (II f. Removeu a idolatria (II Reis 23; II Crô. 34:33)
Crô. 25:5,6) g. Morte (II Reis 23:29; II Crô. 34:24)
d. Despediu os soldados de Israel (II Crô. 25:10) 17. Jeoacaz, «Yahweh apossou-se de»:
e. Foi repreendido por sua idolatria (II Crô. a. Reinado: 608 A.C. (3 meses)
25:14-16) b. Fez o mal aos olhos do Senhor (II Reis 23:32)
f. Judá foi julgada com sua derrota por Israel c. Pagou tributo ao Egito (II Reis 23:33; II Crô.
(II Crô. 25:17-28) 36:3)
10. Uzias, «minha força é Yahweh»: d. Morte (II Reis 23:34)
a. Reinado: 768—740 A.C. (52 anos) 18. Jeoiaquim, «Yahweh levanta»:
b. Governou com justiça, no começo (II Reis a. Reinado: 608—597 A.C. (11 anos)
15:3; II Crô. 26:4,5) b. Rei mau (II Reis 23:37; II Crô. 36:5)
c. Derrotou os filisteus e os árabes (II Crô. 26:7) c. Pagou tributo ao Egito (II Reis 23:35)
d. Fortificou a nação (II Crô. 26:9-15) d. Serviu a Nabucodonosor (II Reis 24:1)
e. Corrompeu-se em face de seu orgulho (II e. Voltou à idolatria (II Crô. 36:5,8)
Crô. 21:23) f. Levado cativo à Babilônia (II Crô. 39:6)
f. Foi julgado pela lepra (II Reis 15:5,7) g. Sepultado como um jumento (Jer. 22:19)
11. Jotão, «Yahweh é perfeito»: 19. Jeoaquim, «Yahweh estabelece»:
a. Reinado: 740—731 A.C. (16 anos) a. Reinado: 597 A.C. (3 meses)
b. Reino justo (II Reis 15:34; II Crô. 27:2) b. Não andou retamente diante do Senhor (II
c. A nação continuou idólatra (II Reis 15:35; II Reis 24:9)
CrÔ. 27:2) c. Levado cativo à Babilônia (II Reis 24:12; II
d. Fortificou Judá (II Reis 15:35; ILCrô. 27:4) Crô. 36:10)
e. Vitória sobre os amonitas (II Crô. 27:5) d. Levados os tesouros do templo (II Reis 24:13;
f. Morte (II Reis 15:38; II CrÔ. 27:9) II Crô. 36:10)
12. Acaz, «ele (Deus) agarrou»: e. Só os mais pobres são deixados em Judá (II
a. Reinado: 731—725 A.C. (16 anos) Reis 24:14-16)
b. Andou na idolatria (II Reis 16:2-4; II Crô. 20. Zedequias, «Yahweh é justiça»:
28:2-4) a. Reinado: 597—586 A.C. (11 anos)
c. Judá cai sob o poder dos sírios (II Reis 16:5; II b. Um reinado iníquo (II Reis 24:19; II Crô.
Crô. 28:5) 36:12)
d. Israel recebe ordens de soltar os cativos de c. Rebela-se contra Nabucodonosor
Judá (II Crô. 28:11-15) (II Reis 24:20; II Crô. 36:13)
e. Confiou nos Sdolos de Damasco (II Reis d. Faz aliança com o Egito (Eze. 17:15)
16:10-18; II Crô. 28:23-25) e. Zombados os mensageiros de Deus (II Crô.
13. Ezequias, «Yahweh fortalece»: 36:16)
a. Reinado: 725—696 A.C. (29 anos) f. É cego e levado prisioneiro (II Reis 25:7)
b. Reformas religiosas (II Reis 18:4) g. Destruição de Judá (II Crô. 17-21)
c. Reformas no templo (II Crô. 29:3-36) Avaliando • história de Judá, o reino do sul,
d. Reestabelecimento da páscoa (II Crô. 30:1-27) Edersheün frisou que a idolatria «não conseguiu
e. Os ídolos são destruídos (II Crô. 31:1-21) lançar raizes profundas entre o povo». E citou três
f. Vitória sobre os assírios (II Reis 18:13—37:19; razões para isso: 1. a influência positiva do templo de
II CrÔ. 32:1-22) Jerusalém, como o santuário central da nação. 2. Os
reis idólatras de Judá eram sempre sucedidos por
g. Mostrou riquezas aos babilônios (II Reis 20:13) monarcas piedosos, que reparavam os estragos feitos
14. Manassés, «levando a esquecer»: por seus antecessores. 3. O reinado dos reis idólatras
a. Reinado: 696—641 A.C. (55 anos) era comparativamente breve, em relação ao reinado
b. Restaurou a idolatria (II Reis 21:1-16) dos monarcas piedosos.
c. Idolatria castigada pelo cativeiro Nesse quadro individualizado sobre os reis de Judá,
(II Crô. 33:10,11) babilónico vê-se que as datas dos reinados de alguns deles não
concordam com os anos que se diz que eles reinaram.
d. Humilhou-se diante do Senhor (II Crô. É que, nesses casos, conta-se o tempo em que reinaram
33:14-20) como corregentes e como reis isolados. Ê difícil a
e. Morte (II Reis 21:18; II Crô. 33:20) cronologia relativa aos reis de Judá e Israel.
15. Amom , «hábil trabalhador»: Vale a pena mencionar que os reis de Israel, o reino
a. Reinado: 641—639 A.C. (2 anos) do norte, tiveram uma história bem diferente da dos
630
REINO DE JUDÀ - REIS
reis de Judá. Em Israel predominou sempre a REIS (I E D), LIVROS DOS
idolatria e o paganismo, muito mais entricheirados
que em Judá. Esse fator, sem dúvida, abreviou a Esboço:
duração da nação de Israel. I. Caracterização Geral
II. Antigas Formas Desses Livros
Conclusão:
III. Autoria
Somente o propósito divino, atuante na história da
humanidade, poderia ter preservado a identidade de IV. Fontes
Israel após os cativeiros assírio e babilónico. Podemos V. Data
supor que esses cativeiros tiveram lugar por várias VI. Proveniência
razões: 1. os inimigos de Israel eram mais numerosos VII. Motivos e Propósito
e mais fortes do que eles. A mera superioridade VIII. Cronologia
militar produziu a queda de Israel. 2. As contendas e IX. Cânon
divisões internas apressaram essa queda. 3. Gover X. Conteúdo e Mensagem
nantes ostentadores, que só buscavam seus próprios XI. Gráfico dos Reis
interesses contribuíram para garantir o colapso da
nação. 4. Mas, visto que Israel fora levantada por I. Caracterização Geral
intervenção sobrenatural, podemos pensar que o Os livros de I e II Reis, que formavam um único
declínio espiritual foi o principal fator na catástrofe livro de acordo com o cânon hebreu, são livros
de Israel. Certamente essa foi a mensagem dos históricos do Antigo Testamento, incluídos entre os
profetas. profetas anteriores (que vide) ou seja, os livros de
Tal como as parábolas de Jesus, a história de Judá Josué até II Reis, que se seguem ao Pentateuco. Esses
torna-se para nós uma série de exemplos, alguns livros narram a história de Israel desde a conquista da
positivos e outros negativos. É impossível subestimar terra de Canaã (século XIII A.C.) até à queda de
mos a importância e a força do exemplo. Jerusalém, em 586 A.C. A história sempre foi
V. Gráfico: Cronologia Comparativa — Israel, importante para os hebreus. Nesses livros há um
Judá, Egito, Assina, Babilônia, Grécia. autêntico material histórico, conforme admitem até
Ver o artigo sobre Rei, Realeza que contém este mesmo os mais liberais eruditos. Os livros de I e II
gráfico. Reis fomecem-nos a história de Israel desde os
últimos dias de Davi e da ascensão de Salomão (cerca
Bibliografia: AH ALB ALBR AM ANET E G I JE de 970 A.C.) até o aprisionamento do rei Jeoaquim,
JNES PF PFE SH TH V VA YO WE WRI WRIG Z em uma prisão na Babilônia, por Amel-Marduque,
em cerca de 561 A.C. Muitos estudiosos crêem que
REIS, DIREITO DIVINO DOS esses livros, conforme os temos atualmente, incorpo
ram duas edições, a primeira das quais teria sido
Essa é a teoria que diz que os reis são dotados de publicada em cerca de 600 A.C., escrita por um
autoridade absoluta em função do fato de que seu historiador deúteronômico e a segunda, que conteria
oficio, em última análise, deriva-se de Deus, e não material suplementar, relativo principalmente à
apenas do consentimento de seus súditos. A idéia está nação do norte, Israel, que teria sido produzida cerca
baseada sobre a antiga crença da íntima comunhão (e de cinqüenta anos mais tarde (ver sobre Data,
até mesmo identidade de linhagem) entre os deuses e abaixo). Esses livros mencionam várias fontes
os reis. Ver o artigo sobre Rei, Realeza, segundo informativas, pelo que o autor sagrado, mesmo que
ponto, Religião e Realeza, quanto a uma completa tenha sido contemporâneo de alguns dos eventos
explicação sobre a questão. A economia veterotesta- historiados, foi, essencialmente, um compilador. Ver
mentária é um excelente exemplo desse conceito. Ali, abaixo, sobre as Fontes Informativas. Os historiado
não somente o rei era ungido pelo sumo sacerdote de res respeitam esses livros canônicos como obras sérias,
Deus, mas também esperava-se que fosse o principal embora supondo alguns que ali há um certo colorido,
líder na promovação da fé em Yahweh. Os reis de com propósitos pessoais e teológicos. Por serem
Israel eram julgados segundo quão bem cumpriam complementares do livro de Deuteronômio, eles
seus deveres religiosos e sua piedade pessoal. Na expõem os grandes ideais da doutrina deuteronômica,
Idade Média, a Igreja Católica esteve muito envolvida como a centralização de toda a adoração sacrificial no
no estabelecimento e destituição de reis. De fato, templo de Jerusalém, ou como a doutrina da
estabeleceu-se grande conflito entre essa Igreja e o retribuição divina segundo os feitos humanos, bons ou
Estado. Ao mesmo tempo, naturalmente, a doutrina maus.
do direito divino dos reis era muito debatida. Líderes Esses livros recebem seu nome devido à palavra
protestantes e humanistas promoviam a idéia, a fim inicial, no texto hebraico, do livro de I Reis,
de se oporem ao poder da Igreja Católica Romana, wehammelek, isto é, «e o rei», bem como devido ao
fazendo do Estado uma força equilibradora. De modo fato de que essa porção das Escrituras trata
geral, em face de textos de prova, como Romanos 13 e principalmente da descrição dos feitos e do caráter
I Pedro 2:13 ss, os cristãos são forçados a dos monarcas de Israel e de Judá.
reconhecerem o principio, juntamente com a reserva
de que os governantes civis devem ser obedecidos
enquanto não requererem coisas e nem se oporem a II. Antigas Formas Desses Livro«
coisas que envolvam a consciência religiosa, em Na Bíblia em hebraico, esses dois livros formavam
sentido negativo. Entretanto, cumpre-nos obedecer a um único volume, ou rolo. A divisão do livro em dois,
Deus, e não aos homens (Atos 5:29). Os céticos, os ocorreu na Septuaginta, por razões práticas. O
liberais religiosos, os humanistas e os historiadores hebraico, que era escrito somente com as consoantes,
seculares consideram a doutrina do direito divino dos ocupa muito menos espaço do que o grego, que tem
reis um simples mito e historicamente, um braço vogais como letras separadas. Quando esse Úvro foi
conveniente das classes dominantes para manterem traduzido para o grego, pois, ocupava tanto espaço
sob seu poder os que estão sob a sua autoridade. que não era prático deixá-lo sob a forma de um só rolo
ou volume. Por isso, foi dividido em duas porções. A
divisão não apareceu na Bíblia hebraica senão quando
Bomberg imprimiu a Bíblia! hebraica, em Veneza, em
631
REIS
1516-1517. Essa divisão também apareceu na Vulgata 2. O livro da história dos reis de Israel (I Reis
Latina impressa. Na Vulgata Latina e na Septuaginta, 14:19).
os livros de I e II Samuel, I e II Reis são tratados como 3. O livro da história dos reis de Judá (I Reis 14:29).
uma história contínua, pelo que ali temos os livros de A primeira dessas obras era uma espécie de louvor a
I, II, III e IV Reis. Embora a divisão entre I e II Reis grandes homens, com o propósito de salientar a
seja totalmente arbitrária, tem sido preservada nas sabedoria, a magnificência e o resplendor do reinado
versões das línguas vernáculas. Essa arbitrária divisão de Salomão. Trata-se de algo similar às memórias dos
corta bem pelo meio a narrativa sobre o reinado de reis persas. Todos os detalhes foram arranjados de tal
Acazias. O primeiro capítulo de II Reis termina a modo que fazem os adversários de Salomão
narrativa sobre o seu governo. Ainda mais estranho é parecerem uns anões, em contraste com ele. As outras
que a história do profeta Elias, e a unção de Eliseu, duas fontes informativas são mais históricas do que
aparecem em I Reis; mas o final dramático do biográficas e elogiosas, provavelmente representando
ministério de Elias aparece em II Reis. anais oficiais reais. Os hebreus sempre mostraram ser
D l. Autoria muito sensíveis para com a história, e esses anais
A tradição judaica piedosa, segundo 6 refletida no fòram cuidadosamente compilados.
Talmude (Baba Bathra 14b) diz que Jeremias foi o 4. Alguns eruditos propõem que os capítulos sexto a
autor desses livros. Essa idéia é defendida por alguns oitavo de I Reis constituam o reflexo de uma fonte
estudiosos com base no fato de que parte desse livro informativa independente, provendo informações
(II Reis 25:27-30; atribuída por alguns a um outro sobre a construção do templo de Jerusalém, sua forma
autor, que teria começado a escrever em II Reis 23:26) de culto e sua dedicação, embora outros duvidem que
poderia ter sido escrita por Jeremias, para nada isso corresponda à realidade dos fatos.
dizermos sobre a primeira porção, porquanto a 5. Parece que o autor sagrado também tinha acesso
tradição judaica afirma que Nabucodonosor levou a algum tipo de coleção de livros a respeito de Isaías,
esse profeta para a Babilônia, depois que aquele narrando sobretudo o tempo quando ele era amigo e
monarca conquistou o Egito, em 568 A.C. Na conselheiro de certos reis (II Reis 18:13-20 e capítulo
Babilônia, conforme prossegue a história, Jeremias dezenove).
morreu quando já tinha mais de noventa anos de 6. A história do reino sobrevivente de Judá,
idade. Segundo esse ponto de vista, a compilação em mediante a soltura, no exílio, do rei Jeoaquim (II Reis
duas porções fica justificada (ver sobre Fontes, quarto 18 — 25) que se alicerçaria sobre uma fonte ou fontes
ponto). E a avançada idade de Jeremias teria sido informativas distintas, embora não identificadas.
suficiente para satisfazer a cronologia envolvida. Grande parte dessa fonte deve ter sido constituída por
Naturalmente, precisamos depender da tradição, a narrativas de testemunhas pessoais, compiladas pelo
fim de encontrar apoio para essa posição. E muitos próprio autor sagrado, ou por aqueles cujo material
duvidam da precisão dessa tradição. Por esse motivo, escrito foi aproveitado.
outros eruditos opinam que houve dois distintos Os Profetas e seus livros. As diversas fontes
autores-compiladores, defensores das tradições teoló informativas por detrás dos livros dos Reis dizem-nos
gicas do livro de Deuteronômio, pelo que foram aquilo que também nos é dito em outras fontes, ou
chamados de autores deuteronômicos. seja, que houve uma grande atividade de crônica em
A linguagem usada por Isaías, por Jeremias e pelo Israel, com o envolvimento de vários profetas, de
autor do livro de Deuteronômio assemelha-se à dos cujos escritos o Antigo Testamento é apenas uma
livros de Reis, por conterem um tipo comum de representação parcial. Sabe-se da existência de vários
admoestação, de exortação, de reprimenda e de livros de profetas, como: a. Crônicas registradas por
encorajamento, reiterando os mesmos grandes temas Samuel, o vidente (I Crô. 29:29). b. Crônicas de
da centralização da adoração, no templo de Gade, o vidente (I Crô. 29:29). c. Livro da história de
Jerusalém, e da doutrina da retribuição divina, Natã, o profeta (II Crô. 9:29). d. A profecia de Aias, o
juntamente com uma rígida avaliação espiritual das silonita (II Crô. 9:29). e. Livro da história de Ido, o
personagens descritas nesses escritos. Os eventos ali vidente (II Crô. 12:15). f. Livro da história de
registrados cobrem um período de quatrocentos anos, Semaías, o profeta (II Crô. 12:15). g. História do
mas sabemos, com base nas fontes informativas profeta Ido (II Crô. 13:22). h. Os atos de Uzias,
usadas, que tudo foi um trabalho de compilação, em escritos pelo profeta Isaías (II Crô. 26:22).
sua maior parte, e que o autor sagrado foi
contemporâneo apenas de uma pequena parte dos V. Data
eventos registrados. Mesmo que Jeremias não tenha Como é óbvio, todo o material tomado por
sido o autor, é perfeitamente possível que, pelo empréstimo foi escrito antes de ter sido usado na
menos, uma parte dos eventos tenha ocorrido durante compilação que há nos livros dos Reis. Como uma
a vida do autor sagrado. Provavelmente esse autor foi unidade, a data não pode ser anterior a 562 A.C.,
um profeta, o que se reflete no espírito profético com quando, ao que sabemos, Jeoaquim foi liberado de
que esses livros foram escritos. Em cada geração do sua prisão, na Babilônia (II Reis 25:27-30). Esse
povo de Israel, parece que os profetas mostraram-se informe histórico fala sobre os favores que lhe foram
ativos, sempre intervindo na política da nação, e não prestados no fim de sua vida, pelo que o autor sagrado
apenas no culto religioso de Israel. Houve um número estava escrevendo alguns anos após a soltura de
muito maior de profetas que escreveram narrativas, Jeoaquim. £ possível que a compilação final tenha
do que aqueles cujos livros foram incluídos no cânon ocorrido em cerca de 550 A.C. Entretanto, esse dado
hebreu. Ver os comentários sobre Fontes, quarto pode ter sido adicionado a uma composição escrita
ponto. anterior. £ possível que a porção maior desse livro
tenha sido escrita durante o cativeiro babilónico (que
IV.Fontes vide) ou seja, entre 587 e 538 A.C. Alguns estudiosos,
Com base em informes nos próprios livros de Reis, porém, pensam que devemos pensar em uma data
sabemos que a porção maior de I Reis (pelo após a morte de Josias (609-600 A.C.), pois supõem
presumível primeiro autor-compilador) dependeu que o autor sagrado foi o primeiro a usar o material
pesadamente de fontes informativas já existentes: histórico derivado do recém-descoberto livro de
1. O livro da história de Salomão (I Reis 11:41). Deuteronômio, que, ao que se presume, apareceu em
632
REIS
621 A.C. A lei, sem-par, do santuário central, que embora muito severo em seus juizos, nunca abando
figura no décimo segundo capitulo do Deuteronômio, nou o seu povo. Ele exilou o seu povo em razão de seus
supostamente seria o principio avaliador dos reis, pecados, mas não deixou de restaurá-los. A linha
conforme é salientado nos livros dos Reis. Esses davídica não fora finalmente rejeitada. A história da
eruditos também afirmam que um segundo escritor redenção tinha prosseguimento.
deuteronomista acrescentou a narrativa sobre a Vm. Cronologia
liberação do rei Jeoaquim, que seria a seção de II Reis
.Z5:27-30. Essas teorias, porém, não passam de O leitor poderá consultar o artigo sobre a
especulações, não havendo maneira histórica, digna Cronologia do Antigo Testamento. Ali fica demons
de confiança, que nos permita confirmá-las ou trado que as cronologias antigas não tinham a
rejeitá-las. finalidade de serem exatas, historicamente falando.
Havia outras forças por detrás delas. Em primeiro
VI. Proveniência lugar, há simetria. Anos foram adicionados ou
JÃ pudemos notar que os livros dos Reis estio subtraídos, a fim de emprestar simetria às listas
intimamente relacionados às atividades literárias dos cronológicas. Em segundo lugar, interesses pessoais,
profetas hebreus. Tendo sido esse o caso é provável crenças, etc., podem ter alterado as listas. Um
que esses livros tenham sido escritos em uma das indivíduo ímpio, assim sendo, era eliminado de uma
cidades onde essa atividade tinha lugar. Os centros lista por razão de sua iniqüidade. Em terceiro lugar,
proféticos estavam localizados nas áreas fronteiriças, as cronologias, tal como as genealogias, eram apenas
entre as nações de Israel, ao norte, e Judá, ao sul. representativas, e não absolutas. Especficamente, no
Lugares como Betei, Gilgal e Mizpa eram centros de que diz respeito aos livros dos Reis, o período da
ensino, nos dias de Samuel (I Sam. 7:16). Essas monarquia dividida é aprésentada juntamente com
cidades, além de Jericó, eram centros dessa natureza, um cuidadoso sistema de referências cruzadas, entre
nos dias de Elias e Eliseu. As duas capitais, Samaria os reis de Judá e de Israel. Apesar disso,
(de Israel, ao norte) e Jerusalém (de Judá, ao sul) evidentemente está em operação a atividade simetris-
ficavam cerca de sessenta e cinco quilômetros uma da ta, porquanto a soma dos anos de governo dos reis de
outra, e as cidades das áreas fronteiriças eram Israel, em um dado período, não corresponde à soma
suficientemente distantes para que um profeta dos anos de governo dos reis de Judá, durante o
pudesse expressar suas idéias, mas não tão distantes mesmo período. O período desde a subida ao trono de
que não tivesse informações exatas sobre o que estava Reoboão até à morte de Azarias aparece como
ocorrendo em ambas as capitais. Portanto, uma das noventa e cinco anos, mas o período correspondente
cidades acima mencionadas pode ter sido o local da em Israel, de Jeroboão até à morte de Jorão, aparece
compilação de nossos livros de Reis. Entretanto, um como noventa e oito anos. Além disso, o total de anos
lugar como a cidade da Babilônia também conta com de governo desde Atalias até o sexto ano do reinado
pontos em seu favor, se os livros dos Reis foram de Ezequias é de cento e sessenta e cinco anos; mas, o
escritos durante o cativeiro babilónico. mesmo período em Israel, de Jeú até à queda de
Samaria, aparece como cento e quarenta e três anos e
VII. Motivo« e Propódto sete meses. Parte dessa discrepância pode ser
O autor da suposta primeira ediç&o dos livros dos explicada pela contagem de parte de anos como se
Reis era admirador do rei Josias, o modelo perfeito de fossem anos inteiros. Também há o problema da
rei aos moldes deuteronômicos. Ele também se co-regência, onde pai e filhos compartilhavam do
entusiasmava diante da grandeza de Salomão, pelo trono por certo número de anos, embora esses anos
que lançou mão da fonte que descrevia os resplendo fossem subseqüentemente alistados em separado, nos
res do reinado salomônico. Porém, os livros dos Reis cálculos cronológicos. Ver os casos de Davi e Salomão
não estão interessados em meros registros históricos. (I Reis 1:34,35) e de Azarias e Jotão (II Reis 15:5).
Há ali tentativas para avaliar a espiritualidade dos A isso podemos acrescentar o problema do uso de
reis envolvidos, e, nessa avaliação, projetar aos dois tipos de calendário em Israel, o civil e o religioso,
leitores o tipo de líderes espirituais que convêm ao que eram diferentes um do outro. Ver sobre o artigo
povo. A espiritualidade sofreu um retrocesso, diante Calendário, onde damos um gráfico sobre o
da divisão em duas nações, Israel e Judá. A correta calendário judaico, ilustrando a questão. Várias obras
adoração era aquela que se efetuava no templo de descrevem em detalhes as razões possíveis dessas
Jerusalém. As divisões e hostilidades entre os homens discrepâncias cronológicas, sendo fácil negligenciar
servem como empecilhos aos propósitos divinos, mos a mais grave dessas razões, a saber, que os
felizmente transponiveis. Os homens têm de pagar um antigos autores simplesmente não se preocupavam
preço por causa disso, porquanto Deus é um rígido com cronologias exatas, conforme os modernos
avaliador e juiz das ações humanas. O propósito do historiadores fazem, pelo que nenhum exame e
autor sagrado é claramente revelado em I Reis 2:3,4, manipulação podem explicar as coisas que aparecem
nas instruções finais dadas por Davi a Salomão: nessas genealogias bíblicas. O artigo sobre Cronologia
«Guarda os preceitos do Senhor teu Deus, para ilustra abundantemente essa declaração.
andares nos seus caminhos, para guardares os seus Seja como for, as listas e as datas dos reis de Israel e
estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e de Judá, incluindo as comparações entre essas listas,
os seus testemunhos, como está escrito na lei de aparecem no artigo sobre a Cronologia, em seu quinto
Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres, e ponto, Períodos Bíblicos Específicos, f. Da fundação
por onde quer que fores; para que o Senhor confirme do Templo de Salomão até à sua Destruição.
a palavra que falou de mim...»
Há um só Deus, como também um único santuário. IX. Cânon
Todos os homens são responsáveis diante de Deus. A Provemos um artigo sobre o assunto, no caso do
lei da colheita segundo a semeadura haverá de Antigo e do Novo Testamentos, onde oferecemos
prevalecer. As vidas dos homens provam esses fatos. detalhes. A questão é complexa, porquanto, em nosso
Contudo, a misericórdia divina e o destino da alma cânon sagrado, há livros, de ambos os Testamentos,
têm prosseguimento. A narrativa da soltura de que por muito tempo não foram universalmente
Jeoaquim não deve ser considerada um mero aceitos. Porém, no que tange aos livros dos Reis, que,
apêndice. Antes, é uma nota de esperança. Deus, originalmente, eram apenas um rolo ou livro o cânon
633
REIS - RELAÇÕES
hebraico nunca os omitiu. De acordo com Josefo, o história de Israel, sob a orientação divina, conforme
cânon dos judeus ficou completo por volta de 400 vemos nos livros de Êxodo, Josué, Juizes e I e II
A.C., composto de vinte e dois livros, que Samuel. O autor sagrado deve ter sido um
correspondem exatamente aos trinta e nove livros do profeta-historiador, e o resultado de seus esforços foi
Antigo Testamento de edição protestante, ainda que a uma história de forte cunho religioso.
ordem desses livros não seja a mesma na Bíblia XI. Gráfico dos Reis
hebraica e na Bíblia cristã. Para os hebreus, o livro Ver o artigo R d, Realeza, ponto 7.
dos Reis faz parte dos escritos dos profetas. Nos
arranjos posteriores, porém, os nossos livros dos Reis
aparecem entre os livros históricos. REJEITAR
X. Conteúdo e Mensagem O principal vocábulo hebraico para essa idéia é
1. Salomão, o Rei (I Reis 1:1 — 11:43) ma'as, que também pode significar «desprezar».
a. Subida ao trono (1:1-53) Quando o ser humano despreza a lei de Deus e suas
b. Recomendações de Davi (2:1-46) exigências, está rejeitando o Ser divino, para seu
c. Casamento e sabedoria (í:l-28) próprio detrimento. Todos os homens envolvem-se
d. Sua administração 4:1-34) constantemente nessa questão, visto que o pecado é a
rejeição dos princípios divinos. E alguns indivíduos
e. Suas atividades como construtor (5:1 — 8:66) vêem-se radicalmente envolvidos, porquanto nunca se
f. Sua prosperidade e esplendor (9:1 — 10:29) ocupam em qualquer inquirição espiritual. Deus
g. Sua apostasia (11:1-43) rejeitou a nação de Israel, quando seus mandamentos
2. Reinados comparativos de reis em Israel e em foram rejeitados por ela (ver I Sam. 15:23 ss). No
Judá (I Reis 12:1— II Reis 17:41) Novo Testamento, a grande rejeição foi a do Messias,
a. Reoboão-Josafá (I Reis 12 — 22) pelos judeus, segundo aprendemos em João 1:11. As
b. Jeorão-Acaz (II Reis 8 — 16) próprias palavras de Cristo foram por eles rejeitadas
c. Ezequias-Amom (II Reis 18-21) (ver Mar. 8:31; 12:10).
d. Josias-Zedequias (II Reis 22 — 25) A palavra grega envolvida aqui é apodokimázou
3. Reis de Judá, após a queda de Samaria, até à «pôr de lado», «ignorar», como se algo fosse indigno de
queda de Jerusalém (II Reis 18:1 — 25:26) nossa consideração. Ver Mat. 21:42 (citando Sal.
a. Ezequias (18:1 — 20:21) 118:22); Mar. 8:31; 12:10; Luc. 9:22; 17:25; 20:17;
Heb. 12:17; I Ped. 2:4,7.
b. Manassés (21:1-18)
O trecho do primeiro capítulo de Romanos
c. Amom (21:19-26) mostra-nos que todas as variedades de idéias e
d. Josias (22:1 — 23:30) práticas más estão por detrás da rejeição da verdade
e. Jeoacaz (23:31-35) divina por parte dos homens. Algumas vezes, a
f. Joaquim (23:36 — 24:7) intolerância religiosa rejeita verdades religiosas
g. Jeoaquim (24:7-17 e 25:27-30) genuínas, o que pode ser exemplificado pelas atitudes
h. Zedequias (24:18 —25:26). dos fariseus. Ver o oitavo capítulo de João, quanto a
Julgamentos de Valor e História. O autor sagrado uma longa descrição dessa atitude. Quando o Senhor
não temia fazer julgamentos de valores. Mostrou-se Deus rejeita homens que preferem apegar-se aos seus
sempre cônscio das operações de Deus entre os pecados, ele os julga. O próprio julgamento divino já é
homens, bem como da responsabilidade dos homens uma rejeição, e isso pode perdurar por muito tempo.
diante de Deus. Os principais aspectos de sua Entretanto, o trecho de I Ped. 4:6 mostra-nos que o
mensagem são bons para qualquer época. Há um só próprio juízo divino é remediai, pelo que a rejeição
Deus. Deus é severo e inflexível em relação ao pecado. divina é um meio que Deus tem para forçar os homens
Para o autor sagrado, devemos ter uma visão teísta de à restauração. E a passagem de Efé. 1:9,10 ensina que
Deus, um Deus que galardoa e castiga. Deus é a rejeição será, finalmente, substituída pela restaura
imanente em sua criação. Ver o artigo sobre o ção, de tal maneira que todas as coisas serão
Teísmo, em contraste com o Deísmo (que vide). O unificados em Cristo. Ver os artigos chamados
pecado é uma questão séria, que resulta em desastre Restauração e Mistério da Vontade de Deus.
para a alma, conforme a história dos livros dos Reis o
demonstra. A comunidade dos homens é considerada RELAÇÕES INTERPESSOAIS
responsável, e não apenas o indivíduo. Há misericór A ld do amor propõe-se a levar todas as coisas à
dia divina e restauração, porquanto Deus está harmonia e à prosperidade, mas os homens são
esperando para acolher àqueles que se voltam para ele egoístas em sua natureza básica, e essa lei do amor só
de todo o coração, de toda a alma (I Reis 8:48). O é aplicada com grande raridade. De fato, alguns
cativeiro foi revertido por meio do retorno. filósofos supõem que não existe tal coisa como um ato
As realizações religiosas dos reis parecem mais verdadeiramente altruísta, sem alguma motivação
importantes, para o autor sagrado, do que seus feitos egoísta subjacente. Ver o artigo sobre o Egoísmo. Um
políticos e militares. Dois desses reis, Onri e Jeroboão dos alvos principais da missão de Cristo foi o de
II, que obtiveram o maior sucesso econômico e estabelecer a reconciliação dos homens com Deus (ver
político, merecem breves comentários apenas. Os Col. 1:20, 21), mediante o que a paz com Deus é
historiadores seculares, porém, ter-se-iam demorado estabelecida. E um dos subprodutos da reconciliação
mais sobre esses dois. Mas o autor dos livros dos Reis espiritual e da paz é a melhoria das relações entre os
não se interessou muito com eles. A Acabe e seus indivíduos. O trecho de Efésios 4:4 refere-se a sete
filhos foram dedicadas várias páginas, não porque grandes unidades espirituais. Ver o artigo sobre
foram bons, como reis ou como homens, mas por Unidades: as Sete Unidades Espirituais. Essas são
causa de seus conflitos com Elias e Eliseu. E o autor qualidades espirituais que deveriam governar todos os
sagrado anelava por contar essa história com relacionamentos pessoais. Começamos no amor e
pormenores. Reis como Josafá, Ezequias e Josias terminamos na harmonia. Infelizmente, a religião
recebem descrições entusiasmadas, porquanto lidera tem servido até mesmo para produzir divisões oficiais,
ram movimentos de reforma religiosa. Teologicamen e os homens ainda não aprenderam quase nada
te falando, esses livros complementam a narrativa da quanto à prática da lei do amor.
634
RELÂMPAGO - RELATIVIDADE
A Lei Fundamental tornam-se positivamente carregadas no alto, e
É um erro anular os ensinamentos biblicos acerca negativamente carregadas na parte inferior. Além
do amor de Deus mediante uma ênfase errada sobre a disso, cada gotícula de água tem uma carga elétrica à
eleição e a predestinação. Ver o artigo sobre o sua superfície. Os cientistas acreditam que as nuvens
Determinismo. Deus nem poderia esperar que O ficam eletricamente carregadas devido à taxa
amássemos de todo o coração, mente, alma e forças, a diferencial de queda entre as gotas de água maiores e
menos que ele mesmo nos tivesse deixado exemplo. menores. A descarga elétrica, ou relâmpago, ocorre a
Dificilmente ele poderia esperar que amássemos ao fim de neutralizar a carga assim criada, sendo, na
próximo como a nós mesmos (Mar. 12:30,31), a verdade, uma gigantesca fagulha, que pode ter até
menos que ele nos tivesse dado o exemplo correspon quase cinco quilômetros de comprimento. A fagulha
dente. O amor de Deus não anula a necessidade de vai de seu pólo negativo ao seu pólo positivo, pelo que,
resolver o problema do pecado. De fato, essa lei na verdade, os relâmpagos sobem em vez de
requer o anulamento dessa questão, finalmente, pois descerem, quando os mesmos se dão entre a
somente assim o ente amado poderia prosperar em superfície da terra e alguma nuvem. Podem ocorrer
um sentido real. O amor inspira-nos a considerar relâmpagos em nuvens de poeira, nos desertos, ou
devidamente a todos os nossos semelhantes, porquan sobre os vulcões ativos. Mas, a grande maioria dos
to todos foram feitos à imagem de Deus. Ver Rom. relâmpagos ocorre por ocasião das tempestades. Em
12:17. Os vícios servem somente para destruir aquilo um ano, ocorrem cerca de dezesseis milhões dessas
que Deus procura fazer pelos homens. As fricções que agitações atmosféricas. A ilha de Java conta com
ocorrem entre os homens sucedem por causa das nada menos de 222 dias anuais com relâmpagos.
obras da carne (ver Gál. 5:19-21). Paulo nos diz que Certos trechos do estado norte-americano da Califór
uma vida egocêntrica e hostil caracterizava aos nia podem ter nada mais do que quatro dias com
homens antes que o amor e a bondade de Deus relâmpagos. Na média, na superfície inteira do
fizessem uma diferença (Tito 3:3,4). Paulo falava mundo ocorrem cerca de cem relâmpagos a cada
sobre controversalistas presunçosos (I Tim. 6:4,5). segundo. O relâmpago pode ter até 15 cm de
Os tais também são egoístas egocêntricos (II Tim. espessura. Considerando-se a grande emissão de luz,
3:1-5). Quão freqüentemente as pessoas envolvem-se produzida por um reíâmpago, isso pode parecer
nessas coisas, nas discussões teológicas, e quão fácil é surpreendente.
pensarem elas que estão defendendo a fé, quando 3. Usos Bíblicos
tudo não passa de opiniões bitoladas e preconcebidas! Esses usos são todos metafóricos, conforme se vê na
A Atitude Básica: lista abaixo:
Jesus recomendou que buscássemos em primeiro a. A gloriosa e espantosa majestade de Deus
lugar o Reino de Deus e a sua justiça, porquanto (Apo. 4:5).
todas as demais coisas necessárias nos seriam b. O poder destruidor dos decretos de Deus, se eles
acrescentadas (Mat. 6:33). Se dermos a Cristo o forem desobedecidos (Sal. 18:14; 144:6; Zac. 9:14).
primeiro lugar em todas as coisas (Col. 1:18), então a c. Os julgamentos divinos apocalípticos (Apo. 8:4;
harmonia nas relações humanas será gerada, visto 16:18; 11:19).
que as atividades egoístas perderão sua força de d. A queda repentina e espetacular de Satanás, a
atração. O discipulado cristão requer a renúncia do estrela do céu (Luc. 11:8).
egocentrismo (Mat. 16:24-28; Mar. 8:39—9:1; Luc.
9:23-27). O indivíduo que renunciou ao egocentrismo e. A repentina e inesperada volta de Cristo (Mat.
tornou-se servo de todos, e isso é a melhor coisa que 24:7; Luc. 17:24).
poderia acontecer a um homem, porquanto ele f. O poder com que o Senhor combate em favor de
terá seguido o exemplo de Cristo (Mar. 9:35). seu povo (Zac. 9:14).
g. A gloriosa aparência das teofanias (£xo. 19:16;
20:18).
RELÂMPAGO h. O resplendor da face de Deus (Dan. 10:6; 28:3).
1. Palavras e Referências Bíblicas i. A brancura de certas vestes, nas visões (Luc.
24:4).
Várias palavras hebraicas são usadas para aludir ao
fenômeno natural dos relâmpagos. Dentre essas
palavras, a mais comum é baraq, quç tem a idéia de RELATIVIDADE, TEORIA DA
«brilho». Ela figura por catorze vezes com o sentido de 1. «Com o princípio da relatividade, Renouvier quis
«relâmpago»: Exo. 19:16; II Sam. 22:15; Jó 38:35;
Sal. 18:14; 77:18; 97:4; 135:7; 144:6; Jer. 10:13; dar a entender que todas as coisas são relativas umas
51:16; Eze. 1:13; Dan. 10:6; Naum 2:4; Zac. 9:14. Já às outras, pelo que também não haveria absolutos.
Esse é o sentido vinculado à idéia do relativismo
no Novo Testamento encontramos o termo grego (vide)».
astrapé, empregado por oito vezes: Mat. 24:27; 28:3;
Luc. 10:18; 17:24; Apo. 4:5; 11:19 e 16:18. 2. Mais especificamente, «a teoria da relatividade»
diz respeito às idéias gerais e especiais de Albert
2. Natureza do Relâmpago Einstein (vide) «contidas na sua famosa fórmula: E =
O relâmpago é uma descarga elétrica que risca a MC(2), que diz respeito à curvatura do tempo-espaço»
atmosfera. Essa corrente pode fluir entre nuvens, (P). «/4 teoria especial da relatividade afirma que a
entre superfícies carregadas de uma mesma nuvem, velocidade da luz é independente do movimento de
ou entre uma nuvem e o solo terrestre. A terra tem sua fonte, e que esse movimento é destituído de
uma superfície negativamente carregada. Durante os sentido, exceto que se dá entre dois sistemas físicos de
períodos de bom tempo, o potencial elétrico da corpos materiais, que se movem relativamente um ao
atmosfera aumenta, com uma elevação média de outro. A teoria geral da relatividade amplia esses
cerca de cem volts por metro quadrado. A terra conceitos à lei da gravidade e aos movimentos dos
(negativa) e a atmosfera, ou a ionosfera (positiva), corpos celestes» (WA). Einstein percebeu que a
tomam-se um imenso condensador. As nuvens, por velocidade da luz desempenha um papel dominante
sua vez, por terem uma carga potencial negativa ou em nossa visão do universo. Mais particularmente
positiva, por ocasião das precipitações atmosféricas, ainda, essa velocidade da luz é absoluta, por não estar
635
RELATIVIDADE - RELATIVISMO
em relação com qualquer outra coisa, mormente para de fluxo, sujeita a modificações de sociedade para
com a velocidade daquele que a mede. A equação sociedade, e de época para época. Mui naturalmente,
newtoniana acerca da velocidade, de acordo com as o relativismo incorpora a atitude do ceticismo (vide).
teorias de Einstein, aparece somente como uma Protágoras e Pirro foram antigos pensadores relativis-
equação aproximada, válida somente para velocida tas, nos terrenos da epistemologia e da ética. Quase
des pequenas, quando comparadas com a velocidade todos os cientistas também abraçam esse ponto de
da luz. De acordo com as idéias de Einstein, o tempo vista, embora a mais básica de todas as proposições
atrasa o seu fluxo conforme a velocidade aumenta. científicas seja de natureza absoluta, ou seja, a
Desse modo, certas coisas que antes se pensava serem invariabilidade, sem o que a ciência nem poderia
absolutas, agora apareciam apenas como relativas, existir. Temos aí um paradoxo! Se não se pudesse
dependentes de outros fatores. obter sempre um mesmo resultado, com uma mesma
Há certas implicações filosóficas a partir dessa experimentação (pois tudo está na dependência das
teoria científica. Em primeiro lugar, o absoluto foi leis fixas da natureza), então nem poderia existir a
posto em dúvida, de modo geral. Em seguida, os ciência. A «crença através da dúvida», de Descartes,
filósofos chegaram a pensar que essa teoria dá apoio era um ceticismo apenas aparente, porquanto ele
ao relativismo (vide). Nossa compreensão sobre a sabia muito bem a quais conclusões desejava chegar.
natureza está em constante modificação, e podemos Ele não era um relativista. — Emanuel Kant
esperar que ainda haverá grandes mudanças, enfatizou o empirismo, mas, desde o começo lez com
conforme nosso conhecimento for aumentando. Isso que este fosse governado pelas categorias da mente,
serve de lição objetiva para todos de que os dogmas que ele considerava categorias a priori.
com freqüência estão errados, e que o progresso no 3. O Relativismo na Crença
conhecimento exige uma busca aberta e empírica. No As crenças podem ser nebulosas, indistintas.
terreno da metafísica, já havia sido especulado que Tem-se observado que diferentes sociedades defen
nem todas as porções do universo ou da existência são dem diferentes crenças em relação às mesmas
governadas pelo mesmo continuo de tempo-espaço entidades. Assim sendo, as crenças são socialmente
que conhecemos em nosso globo terrestre. Talvez condicionadas e determinadas. As crenças religiosas
tenham sido Platão, e, então, Emanuel Kant, quem diferem muito umas das outras, e cada sociedade
melhor anteciparam aquilo que Einstein acabou advoga seu próprio conjunto de dogmas. Até mesmo
asseverando. Platão percebia uma realidade não- as crenças que se fundamentariam sobre a revelação
espacial e não-temporal como a mais elevada das diferem de sociedade para sociedade, ou mesmo
fealidades, em seu mundo das Idéias ou Universais dentro de uma mesma cultura. Imaginei Diferem
(vide). O espaço e o tempo seriam modelos, em nosso largamente até dentro de uma mesma religião, como
universo, que não têm aplicação absoluta, nem se dá no caso do cristianismo. Essas observações
mesmo àquilo que conhecemos e podemos ver, quanto conduzem-nos ao fato de que as crenças são questões
menos àquilo que pertence aos mundos invisíveis e relativas, e não fixas, embora pessoas e grupos
imateriais. Isso posto, a teoria da relatividade tem possam tentar fixá-las, em suas declarações de fé. A
modificado nosso entendimento sobre a própria mesma coisa que se verifica no campo das religiões
realidade, quanto a ângulos importantes. E grandes pode ser verificado no ceticismo, o qual supõe que não
modificações ainda jazem à nossa frente. Nosso existem verdades fixas, ou, pelo menos, que
conhecimento está em estado de fluxo. essas verdades não foram descobertas até agora.
4. O Relativismo na Êtica
RELATIVISMO Sempre foi debatido, entre os homens, o que está
certo e o que está errado. Tem-se observado que
Esboço: diferentes sociedades aceitam diferentes conjuntos de
1. O Termo noções e práticas éticas. Quem deve determinar o que
2. Relativismo Epistemológico está certo ou errado? A ética que se diz alicerçada
3. O Relativismo na Crença sobre a revelação também difere de sociedade para
4. O Relativismo na Êtica sociedade, ou mesmo dentro de uma mesma
5. O Relativismo Cultural sociedade. As condições sociais e culturais determi
6. Críticas nam as atitudes sobre o que está certo ou errado, e
1. O Termo sobre a conduta considerada ideal. O relativismo ético
assevera que não existem critérios absolutos para os
Essa palavra portuguesa vem do latim, relatai, juízos morais. Apesar de que, em um terreno prático,
«relativo», «cognato», de alguma coisa. Na filosofia, somos capazes de demonstrar o que se deve fazer, no
esse vocábulo indica que coisa alguma subsiste terreno teórico vemo-nos defronte de um dilema.
isolada, não podendo ser considerada um absoluto Além disso, com as modificações do tempo, mudam
por si mesma. Antes, todas as coisas seriam também essas bases práticas. E isso significa que a
interdependentes, modificando-se umas às outras. ética está sempre em estado de fluxo. Isso pode ser
«O relativismo é a teoria que diz que a base para facilmente demonstrado pela história, ficando assim
nossos juízos no conhecimento, na cultura e na ética provada a tese que a ética vive em fluxo permanente.
difere de acordo com as pessoas, acontecimèntos ou Um outro nome para a ética relativista é ética da
situações. Dá a entender um estado mental e uma situação. O que eu tiver de fazer depende do
maneira de pensar que repele as reivindicações complexo de fatores da situação com que me
absolutas» (H). As teorias, no campo da física, que defronto. Conforme vão mudando as situações e os
subentendem a relatividade na natureza, são chama seus fatores, assim também terão que ir-se modifi
das estranhas em outros campos, como no campo do cando os meus atos. Meus atos não podem servir de
conhecimento e da ética. padrões para os atos de outrem. O meu bem é meu; o
2. Relativismo Epistemológico teu bem é teu. Ver o artigo chamado Ética da
Para os que aceitam essa posição não há verdades Situação. Por isso mesmo, alguns apegam-se à idéia
absolutas; uma verdade é hipotética e está sempre de que a moralidade de um ato depende do bem que
relacionada a outras supostas verdades. A verdade for promovido por aquele ato. Porém, o termo «bem»
também nunca é fixa, mas está sempre em um estado requer definição—e a minha definição precisa
636
RELATIVISMO - RELIGIÃO
satisfazer à minha consciência; e a tua definição 3. A terceira é a posição filosófica, que presume cjue
precisa satisfazer a tua consciência. todas as culturas e seus respectivos costumes tem
5. O Relativismo Cultural igual valor e deve ser igualmente respeitadas. Essa é
Não há padrões universais que possam governar uma posição popular, e muitos cientistas behavioris-
qualquer sociedade, e muito menos todas as tas do século XX a têm adotado. De acordo com essa
sociedades, através das mesmas regras. De fato, os regra, é bom que idona-de-casa passe a noite com um
costumes sociais são produtos da experimentação, viajante que chegue, se a cultura em que ela vive
com tentativas e erros, em face do que jamais serão promove tal costume. Ou então, se uma sociedade
atingidos o bem absoluto e a certeza. — Assim pensa que os idosos e doentes devem ser deixados para
como a cultura está em estado de fluxo, assim morrer à mingua, então tal costume é bom para
também encontra-se a ética. O homem existe em um aquela sociedade, embora seja justo e bom cuidar dos
universo simbólico, que ele mesmo construiu, e, se ele enfermos e dos idosos, em outras sociedades. Se
continuar a edificar, seus padrões automaticamente alguma sociedade pratica o sacrifício de crianças aos
ir-se-ão modificando. Assim, aquilo que chamamos deuses, então para aquela sociedade constitui um
de moralidade é apenas convenção, na maior parte bom ato. Porém, essa idéia cai na falácia de equiparar
dos casos. o è com o deve ser, ou o ê com o bom. Na verdade, o
conceito inteiro de pecado nega que o mesmo seja
6. Critica« bom ou desejável. Essa terceira posição, embora
O relativismo é uma realidade básica que tem negue qualquer padrão absoluto, tem o seu próprio
muitas aplicações, devido ao dilema de nossos padrão, que consiste em forçar-nos a aceitar a norma
conhecimentos. Mas isso não quer dizer que um do é = bom. Sua norma absoluta é que todas as
maior conhecimento que cheguemos a adquirir não culturas humanas são igualmente boas. Isso é uma
possa produzir absolutos. Não nos podemos olvidar de simplificação que nenhum filósofo pode aceitar. O
que há uma verdade real, um conhecimento certo e relativismo cultural leva, naturalmente, ao relativis
padrões morais absolutos. A revelação divina tem-nos mo individual. Ver o artigo sobre o Relativismo,
fornecido alguns desses absolutos. E podemos quanto às objeções a esse sistema tão controvertido.
pesquisar em busca de outros. Todavia, também A primeira das interpretações, acima, nada
precisamos reconhecer que algumas coisas são significa de positivo ou de negativo para o homem
relativas e pragmáticas por sua própria natureza, não espiritual. A segunda delas pode ser útil, porquanto é
envolvendo princípios fixos. No tocante a essas coisas, bom ter conhecimento de todas as sortes, é bom saber
o relativismo e o pragmatismo são posições legitimas. sobre os povos e suas respectivas culturas. Algumas
Mas, por outra parte, o relativismo ignora totalmente sociedades missionárias requerem esse tipo de
as experiências espirituais, e estas nos têm dado conhecimento da parte dos missionários em potencial.
algumas definições sobre questões de magna impor Ademais, compreender um povo qualquer e os seus
tância. Na vida há mais do que apenas a experiência problemas é bom do ponto de vista humanitário. A
do dia a dia. Alguns gigantes espirituais têm-nos terceira interpretação exibe uma falsa filosofia, e
brindado com algumas importantíssimas verdades e deveríamos tomar conhecimento dela somente para
padrões éticos. Em muitas situações, precisamos sabermos refutá-la melhor. (H)
confiar na palavra desses mestres. Quanto a outras
situações, precisamos descobrir essas verdades por
nós mesmos. RELIGIÃO
No campo das crenças religiosas, o relativismo Esboço:
(manipulado pelos estudiosos liberais) tem pratica
mente anulado o caráter sem-par do cristianismo, I. Palavras e Definições
fazendo o Senhor Jesus, o Cristo, ser apenas um de II. Idéias dos Filósofos; a Filosofia da Religião
nossos mestres, t não, necessariamente, o nosso III. Tipos de Religião
grande Mestre espiritual, o manancial de todo IV. Religiões Comparadas
conhecimento e sabedoria, «...o mistério de Deus, V. Religiões Primitivas
Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do VI. A Religião e a Tolerância
conhecimento estão ocultos» (Col. 2:2b,3). Por VII. A Religião e a Ciência
semelhante modo, muitos eruditos liberais deixam-se
atrair pela ética relativista, visto que eles não I. Palavras c Definições
dependem da moral que nos foi divinamente revelada A palavra portuguesa religião vem do latim,
na Bíblia. O crente que ama a sua Bíblia e o Senhor religare, «religar», «atar». A aplicação básica dessa
da Bíblia não aceita o relativismo aplicado à fé palavra é a idéia de que certos poderes sobrenaturais
religiosa. podem exercer autoridade sobre os homens, exigindo
que eles façam certas coisas e evitem outras,
forçando-os a cumprir ritos, sustentar crenças e seguir
RELATIVISMO CULTURAL algum curso específico de ação. Em um sentido
Essa expressão é usada de três maneiras diferentes, secundário, a denominação religiosa de alguém
a saber: também exerce tais poderes. Precisamos respeitar as
1. A primeira é a observação que existem muitas atitudes e as regras da comunidade religiosa a que
culturas diferentes, observação essa que leva ao pertencemos, se queremos fazer parte da mesma. E,
conhecimento dessa variedade, mas sem fazer como é natural, também estamos obrigados por
qualquer aquilatação moral, com base nos variegados consciência, visto que o homem, por natureza, é um
aspectos da cultura. ser religioso. O homem tem forças, dentro de si, que o
forçam a assumir e a seguir certas idéias religiosas e
2. A segunda é a ciência descritiva. Trata-se de éticas, embora ele não as compreenda bem, levando-o
uma técnica analítica ou metodológica que procura a pôr em ação essas imposições. Em tudo isso, não
entender os costumes e as culturas dos povos, em podemos olvidar o poder mandatório do Espírito de
termos de seus próprios sistemas de valores, mas sem Deus, o que assegura que nenhum ser humano
subentender qualquer acordo ou desacordo com esses consegue escapar de sua própria consciência religiosa.
sistemas. Ver João 14:26. Paulo argumentou com base na
637
RELIGIÃO
religião natural, no primeiro capítulo de Romanos, 7. Uma definição eclética e funcional, «...é o
dando a entender que, devido ao próprio testemunho reconhecimento da existência de algum poder
da natureza, embora sem contar com a revelação superior, invisível; é uma atitude de reverente
divina, o homem está obrigado, por sua própria dependência a esse poder, na conduta da vida; e
consciência, a crer em certas realidades. manifesta-se por meio de atos especiais, como ritos,
Alguns cristãos fazem objeção ao uso da palavra orações, atos de misericórdia, etc., como expressões
«religião», como se o cristianismo fosse tão distinto e peculiares e como meios de cultivo da atitude
superior às demais religiões do mundo que esse religiosa» (B).
vocábulo não pudesse ser apropriadamente aplicado à II. Idéais dos Filósofos; a Filosofia da R digiiq
fé cristã. Porém, assim fazendo, eles estão dando a 1. A Razão na Religião. Tenho apresentado um
sua própria definição ao termo, uma definição artigo separado com esse título, o qual acompanha as
inaceitável para os autores de dicionários e enciclopé atitudes dos filósofos e dos teólogos no tocante ao uso
dias, conforme se verifica nas discussões dos filósofos da razão no que concerne à fé religiosa. Esse artigo
e dos teólogos. oferece uma perspectiva histórica, bem como argu
Definições Tentativas. A filosofia analítica tem-nos mentos em prol e contra o uso da razão na religião.
ensinado que não podemos definir qualquer vocábulo 2. A história da religião acompanha a história da
muito rico, como «verdade», «beleza», «justiça», etc. O humanidade. Onde estiver o ser humano, ai estará,
máximo que conseguimos, nesses casos, é apresentar igualmente, a religião.
uma série de descrições, cada uma delas incompleta 3. O animismo (vide) parece ser o mais antigo
em si mesma, embora, reunindo todas elas, possamos sistema religioso.
derivar idéias gerais sobre os assuntos em foco. 4. Heráclito (500 A.C.)-criticou as. superstições da
Consideremos os pontos abaixo: antiga religião dos gregos.
1. A religião é um sistema qualquer de idéias, de fé 5. Xenófanes (500 A.C.) criticou o politeísmo dos
e de culto, como é o caso da fé cristã. gregos, com seus deuses caracterizados por uma baixa
2. A religião consiste em crenças e práticas moralidade, e procurou promover um antigo mono
organizadas, formando algum sistema privado ou teísmo entre o seu povo.
coletivo, mediante o qual uma pessoa ou um grupo de 6. Sócrates (450 A.C.) abordou principalmente
pessoas são influenciados. questões éticas, as quais são extremamente importan
3. «Uma instituição com um corpo autorizado de tes para a fé religiosa, e declarou sua fé em Deus e na
comungantes, os quais se reúnem regularmente para alma.
efeito de adoração, aceitando um conjunto de 7. Platão (400 A.C.) idealizou um nobre sistema
doutrinas que oferece algum meio de relacionar o religioso. Sua filosofia estava eivada de padrões e
indivíduo àquilo que é considerado ser a natureza crenças espirituais. Seu dualismo foi emulado pelo
última da realidade» (P). pensamento cristão, como também algumas de suas
4. Um uso popular do termo é aquele que pensa que idéias sobre a alma. Seus conceitos sobre as Idéias ou
religião é qualquer coisa que ocupa o tempo e as Universais (vide) proveram muitos atributos tradicio
devoções de alguém. Assim, as pessoas costumam nalmente atribuídos a Deus, como infinitude,
dizer: «O trabalho dele é a sua religião», ou então: «O eternidade, vida fora do tempo, vida fora do espaço,
comunismo é uma religião», etc. Há nisso uma certa onipotência, onipresença, realidade, etc. Ele mistura
verdade fundamental, visto que aquilo que ocupa o va suas idéias com noções orientais a respeito da
tempo de uma pessoa usualmente é algo a que ela se alma, ‘da reencamação e da responsabilidade
devota, mesmo que não envolva a afirmação da {karma). Também fez o contraste entre o meramente
existência de algum Ser Supremo ou de seres perene (existência para sempre) e o eterno (participa
superiores, porquanto a devoção encontra-se à raiz de ção na natureza divina). Destarte, ele trouxe à tona a
toda religião. qualidade da vida divina, ultrapassando em muito a
5. Definições restritas, como aquela de Karl Barth, idéia da existência interminável. Ele concebia um
não permitem que a fé cristã seja considerada uma drama sagrado da alma, a qual busca purificação e
religião. Para ele, a religião envolvia a piedade espiritualização, o que tem inspirado a muitos
humana e a autojustificação, à parte de qualquer pensadores. Os primeiros pais da Igreja, mormente
revelação divina. O cristianismo, como fé revelada, aqueles da tradição grega, expressaram sua teologia
não poderia ser assim considerado. Mas essa por meio das idéias filosóficas e da terminologia de
definição é artificial, que envolve modificação no Platão. O neoplatonismo, um grande movimento
sentido comum da palavra. Bonhoeffer falava sobre religioso, por muitos séculos esteve completamente
um «cristianismo não-religioso», sem quaisquer alicerçado sobre as idéias platônicas.
exigências morais e espirituais, embora existente sob 8. Os apologistas cristãos estavam divididos entre o
a forma de ritos e de convivência, que pouco ou nada uso da filosofia e da razão. Tertuliano e seus segui
fazem em favor das almas. dores rejeitaram totalmente o uso desses meios. Não
obstante, ele defendeu seus pontos de vista com
6. Definições com propósitos específicos. Quando argumentos filosóficos! Por causa disso, os filósofos
Mao Tsé Tung, ditador da China, declarou que a nunca o perdoaram. Justino Mártir, Clemente,
religião «é o ópio do povo», ele fadava sob uma Orígenes e os seus seguidores encontravam muito uso
influência idealista específica, que se ajustava à sua para a filosofia na religião, — considerando os
filosofia comunista. Os psicólogos, antropólogos e melhores aspectos da filosofia, como a de Platão,
sociólogos com freqüência brindam-nos com defini como um mestre-escola que tendia por conduzir os
ções estreitas desse tipo. F.H. Bradley, um psicólogo, gregos a Cristo, da mesma maneira que a lei de
apresentou uma definição desse naipe, quando Moisés teve essa função no caso dos judeus. Meu
disse: «Penso que isso (a religião) é um sentimento artigo sobre Razão na Religião oferece uma detalhada
fixo de medo, resignação, admiração ou aprovação, declaração sobre essas e outras questões paralelas.
sem importar qual seja o seu objeto, contanto que esse
sentimento atinja certa tensão e seja qualificado por 9. Os delstas defendem a religião natural (vide), em
certo grau de reflexão» (Appearance and Reality, pág. lugar do sobrenaturalismo. Nomes atrelados a essa
448 s). atividade são Tindal, William Wolleston e Thomas
638
RELIGIÃO
Chubb. filósofos da religião, mas outras foram teólogos oy
10. Holbach supunha que a religião não é dotada de historiadores. Porém, todas (Ujuelas pessoas partici
qualquer conhecimento certo, e que se quisermos ter param da filosofia da religião, por haverem
tal conhecimento teremos que nos voltar para a expressado algumas idéias interpretativas acerca da
ciência. E, segundo ele, quando fazemos isso, natureza da religião.
abandonamos a religião, como uma inquirição m . Tipo* de Religião
inferior. Ele opinava que o cristianismo é uma 1. Animista. Espíritos, desencarnados ou não,
superstição. Muitos cientistas têm assumido essa servem de base para as crenças e os atos praticados
visão geral bastante baixa da religião. pelo animismo. Fica entendida a proximidade do
11. Kant não podia encontrar apoio para a fé mundo dos espíritos. Tais espíritos seriam bons ou
religiosa em suas proposições derivadas da experiên maus, podendo ajudar ou prejudicar ativamente aos
cia (empirismo), mas descobria certa justificação para seres humanor.
as principais crenças religiosas em seus postulados, 2. Legalista. O principal elemento religioso, ne$»as
que ele fazia derivar da razão, da intuição e das religiões, é algum código legal que governa todos os
experiências místicas. Ele negava os argumentos aspectos da vida do indivíduo. Esse código geralmente
tradicionais em favor da existência de Deus é concebido como divinamente inspirado; o bem é
(derivados, principalmente, da experiência e da prometido àqueles que obedecem (algumas vezes esse
razão), mas apoiava a crença na existência de Deus bem é a própria salvação, como no judaísmo); é
sobre bases tmorais. E ele também defendia a prometida a punição àqueles que desobedecem ao
existência da. alma, como algo necessário para código legal aceito.
qualquer higido sistema filosófico. Sem Deus e sem a 3. Ritualista. Nessas religiões acredita-se que ritos e
alma, teríamos o caos filosófico (vide). cerimônias agradam as divindades (ou Deus), e que
12. Herder pensava que a religião está intimamente aqueles que observam tais coisas serão beneficiados.
associada aos mitos e à poesia. Esses ritos, com freqüência, simbolizam crenças
13. Hegel apresentou uma filosofia religiosa e importantes, ou então costumes e expectações dos
mística, que ele pensava ser superior às religiões em adoradores. Ver o artigo separado intitulado Teurgia.
geral. Todavia, entre as religiões ele acreditava que o As artes ocultas e as fés primitivas operam com base
cristianismo oferece a síntese. em ritos e encantamentos, como se essas coisas
14. Schleiermacher vinculava a religiosidade aos servissem para controlar os espíritos, fazendo-os atuar
sentimentos de dependência. para bem das pessoas, e para malefício dos inimigos
dos adoradores.
15. Feuerbach entendia que as religiões extrapolam 4. Sacramentalista. Nessas religiões, os sacramen
para Deus as qualidades humanas, pelo que o coração
tos são tidos como meios de transmissão da graça
da religião é o ser humano. Ver sobre o Antropomor
fismo. divina e da atuação do Espirito de Deus. Usualmente,
esse tipo de fé religiosa tem sacramentos que só
16. O positivismo lógico negava qualquer valor nas pertencem ao grupo, tornando-se assim meios de
proposições metafísicas, fazendo da ciência o seu promover o exclusivismo. E usualmente essas religiões
deus. Ora, a ciência está limitada à percepção dos pensam que sem o uso dos sacramentos, ministrados
sentidos e suas manipulações. por indivíduos devidamente autorizados, o Espirito de
17. Kierkegaard e os existencialistas percebiam Deus não pode atuar. Ver o artigo separado sobre os
muito desespero no mundo, enquanto que o homem Sacramentos, quanto a completas explicações a
estaria perdido com seu sypremo livre-arbitrio. Os respeito.
existencialistas Iteus não viam como o homem poderia 5. Natural. A revelação divina ou é rejeitada como
sair desse desespero, mas os existencialistas religiosos Hase dessas religiões, ou então, recebe uma posição'
notavam veredas de escape, como a missão de Cristo e meramente secundária. Para essas religiões, Deus
a significação dele. ter-se-ia manifestado na natureza, mostrando-se ativo
18. Ritschl e Troeltsch encaravam a religião como nas faculdades racionais e intuitivas do homem.
uma disciplina autônoma, com poderes que ultrapas Portanto, seriam dispensáveis a revelação divina e os
sam a capacidade da razão. livros sagrados. E o que haveria nessa revelação e
19. Santayana via a religião como uma ponte entre a nesses livros sagrados seriam noções eivadas de erros,
mágica e a ciência. pelo que não serviriam como guias fidedignos.
20. Rudolf Otto ficou impressionado diante do 6. Racional. A razão humana, para essas religiões,
Mysterium Tremendum (vide) e do Mysterium é algo tão poderoso e expansivo que, na religião, nada
Fascinosum, salientando a transcendência e as mais se faria mister do que um apelo à razão bem
qualidades inspiradoras de respeito da religião. Ele treinada e disciplinada. Usualmente as pessoas que
centralizava seu conceito religioso sobre a idéia da sustentam esse ponto de vista dão muito valor à
santidade. filosofia, onde a razão recebe a ênfase mais
21. Cassirer concebia a religião como uma forma de proeminente.
comunicação metafórica, fazendo contraste com os 7. Revelatória. Tais fés religiosas estariam funda
símbolos usados pela ciência. mentadas principalmente sobre supostas revelações
22. Paul Tillich interpretava Deus como a base do da parte de deuses, de Deus, do Espírito, de espíritos
ser e a religião como o objeto dos interesses finais do desencarnados, ou de qualquer outro ser ou poder
homem. espiritual que dê revelações, as quais acabam
cristalizadas em livros sagrados. Em sua maioria, as
A FUosofU da ReHgio. Ver o artigo separado e religiões pertencem a essa categoria.
detalhado sobre esse assunto. A filosofia da religião
não é uma defesa das crenças religiosas (embora seja 8. Mística. Para tomarmos conhecimentos das
freqüentemente usada nesse sentido); antes, é um coisas, contamos com a percepção dos sentidos, com a
exame filosófico das crenças religiosas e suas razão, com a intuição e com as experiências místicas.
implicações. «A filosofia da religião consiste apenas A maior parte das religiões frisa o misticismo, do qual
na análise filosófica dos informes religiosos». Algumas a revelação é uma subcategoria, no tocante a seu
das personagens acima alistadas foram autênticos conhecimento. Mas nem todas as religiões, nem
639
RELIGIÃO - RELIGIÃO, FILOSOFIA DA
mesmo as de caráter revelatório, enfatizam a Naturalmente, o cristianismo combina em si vários
necessidade de experiências misticas pessoais, em tipos de religião, o que fica claro no decorrer da
nossos próprios dias, como algo necessário ao leitura deste verbete.
desenvolvimento espiritual. Isso posto, as religiões Sacrifício e Satisfação. Essa forma de religião
místicas também são revelatórias, mas também favorece uma forma ou outra da teoria da satisfação
acreditam na necessidade de contínuas experiências dada por meio de expiação. Em suas formas mais
místicas como meios de informação e de crescimento primitivas, Deus ou os deuses aparecem aplacado^
espiritual. Assim, a Igreja Católica Romana sempre por tais sacrifícios e a ira deles desvia-se. Visto que
abriu espaço para a fé mística, e as igrejas ortodoxas Cristo é o Cordeiro sacrificado do cristianismo, alguns
orientais dispõem de muitas pessoas que buscam teólogos defendem alguma forma da teoria de
diligentemente a iluminação. Por sua parte, o satisfação por expiação. Ver o artigo geral intitulado
protestantismo tradicional evita as experiências Satisfação. O artigo chamado Expiação alista as
místicas, mas o movimento carismático tem enfatiza principais teorias a respeito, dando maiores informa
do as mesmas, devolvendo-as ao meio evangélico. Na ções sobre o aspecto da «satisfação».
verdade, todas as pessoas religiosas carecem do toque
místico para receber iluminação e desenvolvimento IV. Religiões Comparadas
espiritual. Precisamos de mais do que meramente Ver o artigo separado com esse titulo.
estudar; mais do que meramente orar. Essas coisas V. Religiões Primitivas
não são contrárias às experiências místicas, e nem Ver o artigo separado com esse título.
entram em competição com elas. Precisamos da
VI. A Religião e a Tolerância
presença do Espírito Santo, cada vez mais próximo,
cada vez mais atuante em nossas vidas, sem a qual Admira ver quão pouco a fé religiosa contribui para
seremos pouco mais do que uma pilha de ossos secos. que tantas pessoas amem a seus semelhantes e se
Ver o artigo separado sobre Desenvolvimento mostrem tolerantes para com seus pontos de vista, se,
Espiritual, Meios do. Ver também sobre o Misticis porventura, não concordam com essas opiniões
mo. divergentes. Um dos grandes escândalos da história
da religião consiste em quantas fés religiosas, de todos
N.B. —Os vários tipos de religião alistados e os naipes, têm perseguido e morto «a oposição». Ver o
discutidos acima não são necessariamente, contradi artigo separado intitulado Tolerância. Não podemos
tórios, e nem excluem outros tipos. Muitas pessoas olvidar que a tolerância é apenas um alvo. Por detrás
religiosas combinam vários tipos, formando algum da tolerância deve haver a compreensão, e por detrás
sistema eclético. Isso parece mais satisfatório e útil do da compreensão, o amor. Um homem espiritual,
que seguir apenas alguma dessas noções. longe de mostrar-se perseguidor, mostra-se tolerante,
9. Tipos Espúrios de Religião. Muitas pessoas daí ele avançará para o entendimento esclarecido, e
transformam a política, a ciência, suas carreiras ou daí partirá para a lei do amor que abranja a todos o»
suas ocupações preferidas em religiões ou quase-reli- homens, da mesma maneira que Deus amou o
giões, porquanto tanto se consagram a essas mundo.
atividades. Porém, nenhuma delas é alguma religião VII. A R ellgiio e a Ciência
autêntica. Ver o artigo separado com esse título.
10, Sacrificial. A leitura do Pentateuco basta para
fnostrar-nos até que ponto a fé dos hebreus era uma Bibliografia. AM B C E EP F P
religião sacrificial, embora não fosse somente isso. De
fato, os tipos de religião mesclam-se em qualquer fé RELIGIÃO, FATOR DE
que queiramos considerar, e geralmente as religiões Essa expressão refere-se à crença que as pessoas
progridem de um tipo para outro, ao longo de sua têm no poder determinador do destino de certos
trajetória. O antigo hinduísmo védico serve-nos de objetos, forças, poderes espirituais, ou qualquer outra
exemplo de uma fé que supunha que a salvação pode coisa que faça parte da experiência humana.
ser obtida através dos sacrifícios apropriados. Quase Infelizmente, as religiões contêm muitos desses
todos os hinos do Rig-Veda faziam-se acompanhar fatores. E também haveria outros fatores influencia-
por sacrifícios. De mistura com o conceito dos dores (conforme garante a astrologia), que afetariam
sacrifícios, havia a importância da expiação pelo os seres humanos, e que até se manifestariam em
sangue. Ver o artigo Expiação Pelo Sangue. As certas pessoas especialmente dotadas. Na verdade,
antigas idéias incluíam aquela que dizia que os deuses porém, a alma, a entidade real de cada indivíduo, é o
honrados por tais sacrifícios insuflam um santo poder principal fator determinador do destino. As coisas
no sangue dos sacrifícios, o qual é assim bafejado com envolvidas nessa questão são a duração da vida de
as virtudes e os poderes das divindades em questão. alguém, o senso de bem-estar, o sucesso naquilo que é
Porém, eis que surge o maior absurdo de todos: os tentado pelas pessoas, o que vulgarmente é chamado
sacrifícios humanos, o maior de todos os sacrifícios. de «sorte», e, finalmente, a questão mais importante
Múitos estudiosos da Bíblia indagam-se como Abraão de todas, a condição da alma, após a morte física.
poderia ter admitido tal coisa. Minha resposta à Mas, com isso, poucos se importam, até mesmo os
pergunta é que Abraão achava-se em uma situação mais crédulos em horóscopos e coisas semelhantes.
histórica em que pensava que Deus poderia ter
requerido tal coisa. Entretanto, ele estava equivoca As religiões são fatores importantes que dizem
do, por mais sincero que tenha sido. E, na verdade, respeito ao destino humano, mas outras questões
Deus não permitiu que ele oferecesse a seu próprio também estão envolvidas, e nenhuma delas deve ser
filho, Isaque (ver Gên. 22:11-13). Assim, a sincerida esquecida, embora haja nisso toda uma hierarquia de
de jamais serve de guia seguro para a verdade, valores. Em última análise, é Deus que determina o
embora seja aconselhável sermos sinceros quanto destino de cada ser humano, porquaiíto tudo foi
àquilo em que cremos. criado por ele e para ele, conforme o Novo
O cristianismo é uma religião sacrificial, no sentido Testamento deixa abundantemente claro.
de que Jesus Cristo é reputado o sacrifício supremo,
necessário à salvação. Ver o artigo geral intitulado RELIGIÃO, FILOSOFIA DA
Expiação", e também Expiação Pelo Sangue de Jesus. Ver o artigo intitulado Filosofia da ReUgiio.
640
RELIGIÃO - RELIGIÃO E A CIÊNCIA
RELIGIÃO, PODERES DA quanto a várias definições tentativas. O termo ciência
Essa expressão alude àqueles poderes, reais ou provém do latim sciens (entis), «conhecimento» e sua
forma verbal é scire, «conhecer». Mas a ciência, como
imaginários, associados às fés religiosas, formal ou uma disciplina, destaca o caminho empírico do
informalmente, e que supostamente exerceriam conhecimento, fembora cientistas individuais acredi
influências sobre as vidas das pessoas, no terreno
físico e no terreno espiritual, tanto nesta vida como na tem, igualmente, na eficácia da razão, da intuição e
vindoura. até das experiências místicas para descobrimento e
tomada de conhecimento de idéias cientificas. Ê a
Existiriam poderes invisíveis, cósmicos e impessoais ênfase da ciência sobre o empirismo, em contraste
que os homens não conseguem definir com exatidão, com a ênfase das religiões sobre o misticismo, que tem
mas que, conforme sentem, exercem influência sobre lançado uma contra a outra, em um conflito
eles, para melhor ou para pior. desnecessário.
Esses seriam os poderes da natureza, como as A filosofia analítica tem-nos ensinado que ne
forças físicas, os signos da astrologia, certos objetos nhuma palavra de sentido muito abrangente, como
inanimados, como os amuletos, mas que são quase «verdade», «beleza», «ciência», «religião», etc., pode
como seres vivos, na opinião de algumas pessoas. Se ser devidamente rfofínida de um fôlego só. Antes, só
forem personalizados, esses poderes tornam-se divin conseguimos dar uma ■série de descrições incompletas,
dades, fantasmas, espíritos de mortos, heróis (seres as quais, em seu conjunto, podem conferir-nos uma
semideificados), sombras ou outras figuras da noção regularmente boa do objeto assim descrito. Á
superstição popular. natureza da ciência é um dos grandes problemas dá
Na teologia mais sofisticada, como no monoteísmo, filosofia. Antigamente, a ciência fazia parte da
Deus é o grande poder que exerce controle sobre todas filosofia, onde ela teve o seu nascimento. Mas,
as coisas. E então, em ramos especializados das separando-se da filosofia como uma disciplina a
religiões, há outros poderes de grande importância. parte, logo a ciência tomou-se uma vasta série de
Assim, no cristianismo temos o Logos, que se disciplinas, talvez ligadas entre si por certas idéias
encarnou em Jesus Cristo, o Espírito Santo, os anjos; comuns que giram em tomo de procedimentos, e não
mas também santos e até demônios, estes últimos de conteúdos. Ã medida que a ciência foi-se
encabeçados por Satanás. Algumas religiões conce desenvolvendo, foi ficando cada vez mais patente que
bem que os ancestrais tornam-se poderes sobre as há uma unidade de todas essas divisões e disciplinas,
pessoas, provavelmente por serem ali deificados, visto que todos os ramos da ciência tratam da Grande
recebendo então alguma autoridade especial. Realidade que ou vemos com os olhos ou, de outra
Há sistemas em que esses poderes são arranjados modo, percebemos com os nossos sentidos. As
em grandes hierarquias, cada nível com seu respectivo ciências têm sido divididas em dedutivas (como a
grau de honra e de merecida atenção. Usualmente matemática) e indutivas (como a física). Essa é uma
algum tipo de governo aparece associado a essas divisão útil; mas talvez, afinal, venha a ficar
hierarquias. demonstrado que todos os aspectos da ciência são
dedutivos, se o conhecimento chegar a dominar os
RELIGIÃO A POSTERIORI essenciais e o conteúdo geral de todos os ramos do
conhecimento. Talvez todas as coisas sejam fixas «e
O conceito básico, nesse caso, é que as proposições exatamente o que são», e que nossas ciências apenas
da fé religiosa são posteriores à investigação empírica, gradualmente cheguem a definir o que seja essa
e a esta dependentes. Usualmente, quando essa «alguma coisa».
posição é assumida, a religião toma-se uma forma de Uma Questão de Fé. Chega a surpreender algumas
sociologia ou de psicologia, visto que então perde suas pessoas que a ciência também envolva uma questão de
raízes transcendentais e místicas. E o resultado é uma
espécie de religião natural. fé. Sim, sem fé na invariabilidade ou coerência, a
ciência seria simplesmente impossível. Nenhuma
investigação seria possível sem a fixidez das leis da
RELIGIÃO A PRIORI natureza, o que garante que um mesmo experimento,
repetido sob as mesmas condições, produza os.
A idéia básica, para os que assim pensam, é que as mesmos resultados. Não poderia haver ciência sem o
proposições da fé religiosa são anteriores à investiga fato de que «o universo» ali fora de nós, de alguma
ção empírica, e mesmo independentes dela. Tais maneira, misteriosamente corresponde às nossas
proposições repousariam sobre a razão, a intuição e as mentes, e que as leis da natureza podem ser
experiências místicas. descobertas por via de experiências repetidas. Ora,
essas leis sugerem a existência de um Legislador. E
RELIGIÃO CRISTÃ assim, embora a ciência com freqQencia seja
declarada divorciada da religião, sempre volta à
Ver sobre Cristianismo. mesma, por força de suas próprias experiências. £
realmente admirável que haja uma tão teimosa
RELIGÃO DOS GREGOS PRIMITIVOS invariabilidade na natureza, porquanto isso de
Ver sobre Gregos Primitivos, Rellgiio dos. maneira alguma fala sobre o caos e o acaso sobre os
quais alguns cientistas gostam de falar.
Algumas Definições Tentadvas da Ciência:
RELIGIÃO E A CIÊNCIA — A ciência consiste no conhecimento dos fatos,
I. Definições e Observações Gerais fenômenos, leis e causas aproximadas, obtido e
II. Um Aparente Conflito averiguado mediante observações exatas, experiências
III. Informes Históricos organizadas e raciocínios corretos.
IV. Algumas Idéias dos Filósofos —A ciência é uma classificação exata e sistemática
V. Perspectiva do conhecimento obtido através de experiências
controladas que utilizam a percepção dos sentidos,
I. Definições e Observações Gerais com a ajuda de instrumentos de precisão, e projetadas
Ver o artigo intitulado Rellgiio, primeira seção, por analogia.
641
RELIGIÃO E A CIÊNCIA
—A ciência é um departamento do campo do podem render algum conhecimento genuíno. De fato,
conhecimento onde os resultados das investigações alguns físicos teóricos estão falando sobre o universo
foram sistematizados na forma de hipóteses e leis quase nos mesmos termos usados pelos místicos.
gerais sujeitas à verificação.
A teoria da evolução (vide) continua sendo uma
Filosofia da Ciência. Ver o artigo separado sob esse larga área de conflito, conforme demonstro ampla
titulo. mente no artigo com esse titulo. O Criacionismo (vide)
Método Científico. A ciência moderna continua a também é um assunto disputado a ferro e fogo. A
ser governada bem de perto pela filosofia estreita do ciência, estritamente falando, não especula sobre as
Positivismo (vide). origens, mas muitos cientistas estão convencidos de
II. Um Aparente Conflito que a matéria é eterna, aos moldes da filosofia grega.
O conflito entre a ciência e a religião originou-se a Mas os criacionistas acreditam em um começo,
princípio dos diferentes pontos de vista globais dos mediante um ato criativo. Porém, alguns desses
teólogos e dos cientistas. Muitos teólogos têm uma criacionistas chegam ao absurdo de supor que a terra
forte vontade de crer, e crêem em quase qualquer tem apenas cerca de sete mil anos de idade, apesar do
coisa, e muitos cientistas têm a forte determinação de fato de que os radiotelescópios e os telescópios de luz
não crer, e terminam no ceticismo. Os teólogos têm infravermelha possam capturar raios de luz que
certeza da existência de uma realidade invisível, precisaram de dezessete milhões de anos para chegar
espiritual; e os cientistas têm certeza somente da ao ponto do universo onde está nosso globo terrestre.
realidade física, considerando tudo o mais com Ver os artigos sobre Criação, Antediluvianos e
grande suspeita. Os cientistas não aceitam a Língua, quanto a evidências acerca da vasta
autoridade de grupos religiosos, meramente porque antiguidade da terra, das raças humanas, e até de
algum profeta, em algum tempo no passado, disse possíveis raças pré-adâmicas. E assim prossegue a
alguma coisa que acabou ficando registrado em polêmica. Mas, quando, chegarmos à verdade total,
algum livro sagrado. Eles insistem que nossos líderes ver-se-á que não há qualquer conflito entre a ciência e
deveriam ser cientistas, e não sacerdotes ou pessoas a religião. Contudo, o progresso nessa direção só pode
religiosas. ser medido em termos de meio século, ou mesmo de
Também há a questão do método. Os teólogos e os um século ou de vários séculos.
místicos estão convencidos sobre o valor das Um Promissora Area de Concordância. Segundo
experiências místicas, como as visões, os sonhos, as minha opinião, no presente a ciência está enriquecen
experiências intuitivas e as revelações. Tendem por do a fé religiosa e a teologia com suas investigações
encarar essa questão em termos absolutos, razão pela sobre a alma, em sua existência e sobrevivência ante a
qual afirmam que seus livros sagrados não encerram morte biológica. Creio que não se passará muito
erros. Mas os cientistas conseguem encontrar um tempo antes que se obtenham provas científicas sobre
considerável número de erros, de várias categorias, esse importantíssimo assunto. E quando isso ocorrer,
nos livros sagrados, e chegam a desconfiar do a fé religiosa tomar-se-á uma consideração séria para
misticismo ou da revelação como um modo autêntico todos os povos, para cientistas e não-cientistas. Os
de obter conhecimentos. Além disso, os cientistas artigos a serem consultados a esse respeito são os
requerem que todo conhecimento seja obtido através seguintes: Experiências Perto da Morte; Projeção da
de métodos empíricos. Psique; Parapsicologia; Imortalidade. Nos dois
Assim sendo, dotados de diferentes pontos de vista primeiros, fornecemos a abordagem cientifica da
globais e usando métodos diferentes, a ciência e a questão.
religião terminam em conflito. Esse conflito é real, m . Informes Históricos
mas, segundo defino, é aparente, por ser desnecessá 1. Os filósofos pré-socráticos deram início à
rio. Pois, uma vez que se obtenha conhecimento investigação científica com suas especulações acerca
suficiente, desaparece o conflito entre a ciência e a das substâncias básicas de todas as coisas, como o
religião. Podemos ter a certeza, porém, que para que fogo, a água, a terra, o ar ou, então, algum elemento
isso suceda, tanto a ciência quanto a religião terão de indeterminado, de onde esses elementos básicos
sacrificar algumas de $uas idéias e terão de incorporar teriam surgido. Ver o artigo sobre esses filósofos,
outras. Finalmente, haverá um casamento, embora quanto a maiores explicações.
não pareça que isso venha a suceder dentro de pouco
tempo. Não obstante, está havendo progresso nessa 2. A Academia de Platão interessou-se profunda
direção. O estudo sobre as Experiências Perto da mente pela ciência, primeiramente peta matemática,
Morte (vide) tem lançado luzes poderosas sobre a a mãe de todas as ciências, e em seguida pela biologia
questão da existência da alma e sua sobrevivência e pela zoologia. Um sobrinho de Platão, Espeusipo,
ante a morte biológica. Ver também os artigos que veio a encabeçar a academia, após a morte de seu
Parapsicologia e Projeção da Psique, em cujos estudos tio, era biólogo. Porém, na época a ciência não
a ciência está sendo aplicada com significativos dispunha de equipamentos e nem de laboratórios,
resultados. pelo que ela era descritiva, e não experimental. Platão
Conflitos tradicionais entre a ciência e a religião manifestou várias idéias sobre a natureza do universo
têm envolvido questões como as seguintes: A terra e os e do homem, especialmente no tocante a como o
demais corpos celestes movem-se? A ciência dizia mundo fisico duplica (de maneira inferior) o mundo
«sim»; e a teologia dizia «não». Além disso, foi dito invisível, de essência não-material. E essas noções têm
que a terra era o centro do universo. Os cientistas exercido considerável influência até os tempos
afirmavam na negativa, e os teólogos, positivamente, modernos. De fato, a idéia platônica universal-parti-
porquanto dependiam de uma ciência e de um culares está obtendo mais e mais o apoio dos cientistas
raciocínio antigos. Mas a nova ciência tornou a vencer modernos, conforme se vê, por exemplo, na fotografia
nesse conflito. O conflito acerca de métodos kirliana e nos estudos sobre os campos de vida (ver
permanece de pé. Todavia, está sendo obtida alguma ambos os artigos nesta enciclopédia). Seja como for, a
reconciliação, e a religião começa a empregar alguns metafísica e a ciência andam abraçadas uma à outra,
estudos científicos em apoio a algumas de suas nestes nossos dias, pelo menos quanto a certos
crenças, ao mesmo tempo em que alguns cientistas aspectos do conhecimento. E essa tendência por certo
começam a reconhecer que as experiências místicas prosseguirá.
642
RELIGIÃO E A CIÊNCIA
3. Aristóteles, o mais brilhante dos pupilos de havermos encontrado mistérios e problemas que n&o
Platão, foi o maior cientista de seu tempo. Suas idéias sabemos solucionar. Embora, pessoalmente, possa
foram tão poderosas e dominantes que prevaleceram mos crer em Deus, precisamos manter nossa ciência
até o alvorecer da -ciência moderna. Ele abandonou natural. Se não agirmos assim, muitas coisas
algumas das idéias metafísicas de Platão, fazendo do continuarão sendo misteriosas, quando, na realidade,
mundo físico (os particulares) objeto de suas podem ser esclarecidas, com base na investigação
investigações. Isso constituiu um afastamento da empirica. Nunca se deve apelar para Deus como meio
ciência metafísica e uma aproximação na direção da para explicar algum problema. Antes, é mister fazer o
ciênca moderna. Em seus métodos, Aristóteles esforço para explicar as coisas. Isso deve ser feito
também se mostrou, essencialmente, um empirista, tendo em vista o avanço do conhecimento cientifico.
embora reconhecesse a legitimidade da intuição, a 8. O Deus dos hiatos. Sempre que surge um hiato
qual, surpreendentemente, fornece-nos discernimen em nosso conhecimento, algumas pessoas apelam
tos notáveis quanto aos problemas. Seja como for, a para Deus, para que seja preenchido o vazio. Esse
abordagem eminentemente empirica de Aristóteles foi método precisa ser evitado, no interesse da ciência.
uma das pedras fundamentais sobre a qual a ciência Naturalmente, existem hiatos genuínos que somente
moderna veio a firmar-se. Outrossim, Aristóteles Deus é capaz de explicar, mas o método cientifico
negava a realidade separada do mundo das Idéias ou precisa evitar recorrer a Deus, sempre que possiveL
Universais (vide), postulada por Platão, vendo o 9. Naturalidade: o conflito acerca da evolução. A
universal somente quando associado ao particular, e ciência investiga o mundo criado por Deus, mas este
não algo dotado de existência distinta. mundo é governado por leis naturais que podem
4. A ciência experimental só brotou nos fins da explicar quase todas as questões que interessam à
Idade Média. As noções e os métodos filosóficos dos ciência. Não se deve apelar para as explicações
gregos dominaram a ciência até Copémico (vide). A sobrenaturais, quanto à maioria dos problemas
ele seguiram-se Kepler e Galileu, e então houve sérias encontrados pelos cientistas. Darwin exagerou nessa
disputas entre os novos cientistas e os teólogos (e atitude, embora sua contribuição para a ciência seja
muitos filósofos). Foi por essa altura que a ciência inquestionável. Seja como for, a religião dos hebreus,
começou a abandonar as explicações teológicas do no relato do Gênesis sobre a origem do hom em /não
universo (explicações teológicas alicerçadas sobre o falava de uma alma, mas tão-somente de um corpo
escolasticismo (vide), apelando para Deus somente no animado. Somente no tempo da composição dos
que diz respeito às origens absolutas). O aristotelismo Salmos e dos escritos dos profetas hebreus foi que a
foi sendo gradualmente destronado. O ridículo teologia hebréia começou a falar sobre a alma
julgamento de Galileu, em 1632, por parte de imaterial. Isso posto, a nárrativa do livro de Gênesis
autoridades eclesiásticas católicas romanas, foi um sobre a origem do homem surpreendentemente, para
ponto nevrálgico para a ciência. Embora ele tivesse a maioria dos cristãos, na verdade nada diz sobre a
sido pressionado e se tivesse retratado, essa perda origem do verdadeiro homem, a alma. Por semelhante
acabou sendo revertida de maneira drástica, porquan modo, Darwin, quando ensinou sobre como o homem
to suas teorias básicas terminaram por ser demonstra veio a existir, estava abordando somente o seu corpo,
das corretas, contra todos os dogmas dos teólogos visto que nada disse acerca de sua alma. Em
católicos romanos! E a teologia .foi forçada a conseqüência disso, o conflito entre a Bíblia (se
concordar com a ciência, diante de evidências entendida do ponto de vista original dos hebreus, e
esmagadoras. A antiga geração desapareceu; as novas não do ponto de vista cristão) e a teoria da evolução
gerações cresceram acostumadas a pensar de modo gira somente em torno do corpo humano, pelo que
diferente. A verdade sempre haverá de triunfar desse não envolve um conflito muito grande. Atualmente, a
modo. ciência está emprestando o seu prestigio e capacidade
5. As idéias cosmológicas dos hebreus (ver o artigo à investigação do verdadeiro homem, a alma, e isso é
chamado Cosmologia) foram reinterpretadas de algo que nem Darwin e nem os teólogos tinham
acordo com a ciência mais avançada, e a maioria das antecipado.
pessoas nem notou a mudança. De fato, até hoje 10. O século X IX testemunhou uma radical atitude
muitas pessoas não sabem o que os hebreus antiteológica na ciência, como também o começo da
acreditavam sobre o universo, supondo tolamente que entronização do positivismo (vide), como o método
eles diziam o que a ciência moderna tem dito a científico. Foi então declarado que as proposições
respeito. Aquele citado artigo entra detalhadamente metafísicas não têm significação. Vale dizer, as
no assunto. investigações cientificas não chegam lá, por estarem
6. Algumas noções básicas, derivadas da filosofia acima do alcance das pesquisas empíricas. Assim
grega e das religiões hebréia e cristã, têm permaneci sendo, sem importar se as proposições metafísicas são
do à raiz da ciência, mormente no que diz respeito ao verdadeiras ou falsas, elas não têm significação para
desigtiio, como a invariabilidade da natureza, porque os cientistas. De fato, os cientistas reconhecem que
as pesquisas científicas as têm confirmado. De fato, não podem fazer qualquer declaração significativa
quanto mais a ciência vai descobrindo, tanto maiores acerca de Deus. Por igual modo„ a ciência não tem
são as provas acumuladas em favor do desígnio, em meios para investigar a alma humana, e nem mesmo
lugar do caos, no universo. Ora, a idéia de desígnio é as origens do homem, como também qualquer outro
fundamental para o pensamento religioso. O que nos assunto de natureza metafísica. Isso impõe uma
deveria impressionar é que, apesar dos conflitos, a limitação nada razoável à ciência, apesar de ter
ciência tem-se desenvolvido no mundo cristão. Alguns surtido o bom efeito de requerer uma atenção
dos grandes cientistas também foram cristãos empirica mais densa sobre as pesquisas cientificas.
devotos, sem importar suas opiniões divergentes dos Todavia, muitos cientistas estão começando a
teólogos. Francisco Bacon, Descartes, Kepler, Gali perceber que essa limitação positivista é insensata. Os
leu, Pascal, Boyle, Rau e Newton são alguns poucos modernos físicos teóricos estão falando como se
exemplos. fossem místicos. Há muitas idéias que podem ser
7. O ateísmo metódico (vide) tornou-se um verdadeiras e que precisam ser investigadas, mas
importante principio para a maioria dos cientistas. que, até o momento, não podem ser pesquisadas
Segundo o mesmo, não se deve invocar Deus só por laboratorialmente, ao gosto dos cientistas.
643
RELIGIÃO E A CIÊNCIA
11. A psicologia é uma ciência crescente, embora pensamentos de Deus após ele. Poucas obras
alguns pensem que ela ainda não atingiu a posição de emergiram então de cunho cientifico, no sentido
autêntica ciência. Mas os estudos nos campos dos moderno. Para os escolásticos, já se sabia tudo quanto
diferentes estados de consciência estão produzindo era possível ser conhecido; e os mestres apenas
notáveis resultados, e esse campo, finalmente, será repetiam o que grandes pensadores do passado
uma dimensão em que a fé religiosa e a investigação haviam dito. Destarte, estagnou-se a descoberta
cientifica aliar-se-ão. As evidências demonstram, mais científica, por imposição de uma teologia míope.
e mais, que a mente e o cérebro não são a mesma 5. Dominico Gundisalvo, seguindo as diretrizes de
coisa. Karl Popper chegou a falar sobre «as mentes e uma versão neoplatônica da versão árabe do
seus cérebros», dando a entender que a mente é a aristotelismo, dividiu as ciências em humanas e
entidade maior, e que o cérebro é a entidade menor, divinas, as primeiras governadas pela razão, e as
embora fundidas uma à outra no ser humano. As segundas, pela revelação.
Experiências Perto da Morte (vide) têm comprovado 6. Hugo de São Vítor referiu-se a várias
que a consciência e a razão não dependem da modalidades de ciência, como teóricas, práticas e
existência de um cérebro material, para que mecânicas, mas pensava que todas elas, de alguma
continuem funcionando. Isso não é uma poderosa maneira, estariam relacionadas à sua ênfase preferi
prova indireta da existência da alma, o verdadeiro da, contemplação mística.
«ser» humano? 7. Averróis pensava que a ciência é eterna. Ela
12. A parapsicologia, segundo minha opinião, é uma abordaria coisas isoladas e suas respectivas naturezas.
ciência legitima, vital para demonstrar que não 8. Rogério Bacon apresentou uma hierarquia do
podemos falar no cérebro sem postular a mente, que conhecimento: a ciência especulativa; as ciências
emprega o cérebro como instrumento. Ademais, essa experimentais (incluindo a observação e a matemáti
ciência está à beira de demonstrar, cientificamente, a ca); a teologia—tudo nessa ordem de importância.
realidade da alma e sua sobrevivência diante da morte 9. Guilherme Ockham empregou a sua navalha,
biológica. Essa investigação começou cerca de cem
anos atrás, e tem produzido alguns admiráveis fazendo aguda distinção entre a scientia rationalis,
resultados. Meu artigo sobre esse assunto fará o leitor «ciência racional» e scientia realis, «ciência das coisas,
reconsiderar algumas de suas crenças. reais». Ele foi um dos pioneiros da ciência moderna, e
proibia a multiplicação de entidades com o intuito de
IV. Algum— Idéias doa Fllótofo* se explicar a realidade. Ele não apelava para o
1. Mostrei, na terceira seção, acima, algumas sobrenatural, a fim de explicar o natural.
relações entre os primeiros filósofos, como os 10. Francis Bacon salientou a importância da
pré-socráticos, Platão e Aristóteles, e a ciência e a indução para a ciência. Ele pensava que a indução
crença religiosa (expressa pela metafísica). Nos seus levava à verdade, e q^ue sua principal função era a
primórdios, a ciência andou muito envolvida com a utilidade. Todas as ciências refletiriam as faculdade»
filosofia. Somente mais tarde a ciência separou-se da humanas: a ciência natural seria reconhecida pela
filosofia, tendo optado pelo método empírico. razão; a história, pela memória.
2. Platão fazia a distinção entre conhecimento e 11. Thomas Hobbes introduziu o ateísmo e o
opinião, e fazia a opinião depender da percepção dos materialismo na ciência, de maneira radical, e suas
sentidos. O conhecimento, para ele, deveria ser obtido idéias cativaram m uitoí cientistas.
através da r^zão, da intuição e da experiência mística. 12. Galileu empregou instrumentos para derrotar os
Mas a ciência moderna faz o conhecimento sei pontos de vista aristotélicos, tendo podido mostrar
adquirido à base da percepção dos sentidos. que a terra está em movimento, não sendo ela o centro
3. Aristóteles fez da percepção dos sentidos a base do universo. Mas ambas as idéias foram fanaticamen
da investigação. Ele prestou um grande serviço em te combatidas na época. Somente já em nossos dias, o
seus estudos sobre as causas, os quais posteriormente papa João Paulo II «perdoou» a Galileu por ter estado
vieram a ser incorporados nas provas cristãs com a razão. Galileu enfatizava o método empírico, e
tradicionais da existência de Deus. Ver sobre estes alguns instrumentos óticos chegaram a ajudá-lo em
assuntos: Argumento Cosmológico; Argumento Te- suas pesquisas.
leológico e o artigo geral sobre os Cinco Argumentos 13. Descartes, o matemático, alicerçava a ciência
em Prol da Existência de Deus. O tipo de ciência sobre a razão, vinculando a certeza à ciência, o que
aristotélica foi utilizado por alguns teólogos em favor seria conseguido através do método de pôr em dúvida
de certas crenças religiosas. todo conhecimento, antes de ser confirmado pela
«Aristóteles considerava a ciência como conheci investigação. Coisas das quais não poderíamos
mento demonstrado das causas das coisas. Isso deve duvidar seriam Deus (em favor de Quem ele
ser distinguido da dialética, onde as premissas não empregava os argumentos tradicionais) e a alma. Mas
são certas, e também da erística, onde o objetivo é concordava com o lema medieval que dizia que a
conquistar as boas graças dos ouvintes. Haveria verdadeira ciência é idêntica ao conhecimento de
ciências teóricas, práticas e produtivas. As ciências Deus.
teóricas seriam superiores às outras duas, mas as
ciências seriam irredutivelmente plurais, cada qual 16. Newton, embora fosse homem devoto e religioso,
devendo ser entendida segundo seus próprios termos» em sua prática científica tendia para o positivismo, e
(P). somente em último recurso apelava para Deus a fim
4. No começo da Idade Média houve uma de explicar algum mistério ou preencher algum hiato.
lamentável mistura da ciência com a religião, graças Sua famosa declaração era: «Hypotheses non fingo»,
aos esforços de eclesiásticos que queriam dominar ou seja, «Não invento hipóteses». Ele referia-se a
todos os aspectos da vida. Em última análise, scientia teorias, sem qualquer base na experimentação, a fim
significava o conhecimento de Deus e da alma, e todo de tentar explicar problemas difíceis. Antes, frisava o
conhecimento era posto a serviço dessa finalidade. descobrimento de padrões matemáticos de informes.
Daí procede a doutrina da unidade da verdade, 17. Kant submeteu a ciência ao método empírico,
embora sobre uma base falsa. Para os escolásticos (ver mas chamava suas proposições, já existentes na
sobre o Escolasticismó) toda verdade estava sumaria mente, de juízos a priori. Ele negava a validade das
da em Deus, e as várias disciplinas pensariam os provas tradicionais da existência de Deus, embora
644
RELIGIÃO E A CIÊNCIA
defendesse a existência de Deus mediante o 31. Karl Popper enfatizava a importância da
argumento moral, derivado de postulados. Estes refutação, a qual deveria ser usada na averiguação de
repousam sobre a razão, a intuição e as experiências proposição. O mero acúmulo de afirmações não seria
místicas. Portanto, Kant criou uma dicotomia em sua suficiente.
epistemologia. O mundo dos fenômenos é conhecido V. Perspectiva
pela percepção dos sentidos, mas o mundo noumenal
(da mente) é conhecido através da razão, da intuição e 1. Diferença de Métodos. Visto que as ciências,
das experiências místicas. necessariamente, devem lançar mão do método
empírico, e que a fé religiosa opera por meio da razão,
18. J. S. Mill insistia sobre a indução, e dizia que da intuição e das experiências místicas, sempre
toda ciência é indutiva, estando envolvida, por isso haverá certa diferença de ênfase. Todavia, alguns
mesmo, nas taxas de probabilidades. Mais recente assuntos, que antes eram reservados somente à
mente, teria sido um estatístico. religião, como a existência da alma e sua sobrevivên
19. Spencer via a filosofia como o ponto finaT do cia ante a morte física, também podem tornar-se alvos
conhecimento e como a unificadora do mesmo, e da investigação científica. Em nossos dias, o empírico
também encarava as ciências distintas como itens está ajudando o místico. Outro tanto pode ser dito
formadores dessa unidade. com respeito aos estados alterados de consciência, tão
20. W. Wundt falava sobre ciências exatas e ciências importantes que são para a fé religiosa. Esses estados
sociais, conferindo à filosofia a tarefa de ser a estão sendo investigados pela ciência, com resultados
unificadora, embora não pensasse què esses dois tipos positivos. Até mesmo o fenômeno das línguas está
de ciência podiam ser reduzidos a um só tipo. sendo investigado pela ciência. E tem ficado
21. Peirce deu início à visão pragmática da ciência, demonstrado que quase todas as línguas não são
como método básico de inquirição, pensando que a idiomas, pois empregam um número bem limitado de
praticalidade é o valor que devemos procurar nas vogais e consoantes, repetitivamente, uma limitação
coisas. que não permite qualquer genuína expressão lingüís
22. Dewey também salientava o ponto de vista tica. Sem dúvida, essa é uma das razões pelas quais as
pragmático, tendo enfatizado a experimentação a fim línguas, como um fenômeno geral, não têm tido seus
de obter a praticalidade. intérpretes. Nada há a interpretar, na maioria dos
23. Windelband concordava com a visão de W undt casos. O que se verifica ali são ejaculações extáticas
de que as ciências naturais e as ciências sociais são que elevam o espírito de que fala, mas elas nada têm
disciplinas separadas. Às primeiras chamou de a ver com alguma comunicação. Naturalmente, nem
idiográficas, e às segundas de nomotéticas. todas as línguas pertencem a essa categoria. Algumas
24. Karl Pearson era da opinião de que a ciência vezes são ditas palavras em linguagem real,
deve ser descritiva, e não explanatória. desconhecida de quem as profere. Ã medida que for
25. Dunem acreditava que a ciência tem por tarefa avançando o conhecimento, é até possível que certas
descobrir relações que existem entre coisas parecidas, coisas, atualmente fora do âmbito da ciência, segundo
salientando assim a posição de Kant. pensamos, e que atribuímos exclusivamente à fé
religiosa, venham a tomar-se alvos das pesquisas
26. Cassier asseverava que a ciência estuda científicas.
conceitos, ao passo que as experiências místicas e
religiosas estudam as metáforas. No primeiro caso, 2. Diferença de Objetivos. A ciência está interessa
teríamos experiências objetivas; no segundo, expe da no que é prático e material. Ela procura dar-nos
riências subjetivas. confortos, conveniências, medicamentos para o corpo
enfermo, máquinas, aparelhos, etc. Já a fé religiosa
27. Haberlin falou sobre as ciências sociais como está interessada na outra dimensão da existência, ar
primárias, e sobre as ciências exatas como secundá dimensão espiritual, no bem-estar da alma, na
rias. conduta ideal das pessoas. Essas diferenças de
28. O positivismo lógico proveu um método restrito objetivos haverão de separar sempre essas duas
para a ciência moderna, pensando que as proposições atividades humanas. Não obstante, conforme a
metafísicas são destituídas de significação e exigindo ciência for sendo espiritualizada (conforme tem sido
que todo o conhecimento (que consistiria somente em sugerido no primeiro ponto, acima), ela irá penetran
taxas de probabilidades) precisa ser obtido em do em áreas que antes faziam parte somente dos
laboratórios, mediante investigações científicas for interesses de filósofos e teólogos.
mais. Comte, Neurath, Camap e Hemple são alguns 3. Divisão de Setores e Unificação do Conhecimen
nomes associados a esse ponto de vista. As ciências to. Apesar da ciência e da fé religiosa terem suas
exatas já vinham sendo governadas por essa filosofia, respectivas ênfases, em última análise estamos
bem antes deles. Mas Hemple aplicou o sistema às sondando, todos juntos, uma única vasta unidade de
ciências sociais, igualmente. conhecimento. Todas as ciências pensam os pensa
29. Kuhn destacou que a inquirição científica deve mentos de Deus após ele, para quem todo o
ser dirigida por certo grupo de paradigmas, e que conhecimento está unificado. Por essa exata razão, os
esses paradigmas precisam ir sendo modificados, à cientistas devem dirigir-se a seus laboratórios como se
medida que for progredindo o conhecimento. Isso fossem a um santuário, e não meramente um lugar de
ocorreria lentamente, e com imensas dificuldades. trabalho. Nessa conexão, precisamos lembrar de que
Assim sendo, a ciência assemelhar-se-ia a uma Deus é quem confere aos cientistas a missão que eles
religião, onde as heresias são combatidas por uma recebem, e, se fizerem bem o seu trabalho, serão
posição ortodoxa, e onde, tal como no caso das devidamente recompensados. £ ridículo lançar a
religiões, com freqüência as heresias acabam se ciência em choque contra a fé religiosa.
tornando novas ortodoxias, com a passagem do
tempo. 4. A Questão da Missão: um Duplo Destino. Todos
os homens precisam cumprir dois destinos. O
30. Feyerabend dizia que o progresso científico primeiro tem a ver com o que fazem aqui mesmo, no
verifica-se mais através da apresentação de hipóteses mundo, as contribuições que podem fazer, os
alternativas do que através da reafirmação de antigas sofrimentos que podem aliviar, o progresso material
hipóteses, através de muitas experiências, com o mero que forem capazes de promover. Paralelamente a isso,
acúmulo de fatos. as comunidades, as nações, e, finalmente, o mundo
645
RELIGIÃO E FILOSOFIA CHINESAS
físico, têm destinos a serem cumpridos neste lado da 4. A Adoração a Confúcio, Essa adoração é uma
existência. Os indivíduos também têm a cumprir esses extensão da adoração aos antepassados, porquanto
respectivos destinos. No desdobramento desses desti Confúcio é uma das grandes personagens do passado
nos seculares, a ciência tem a desempenhar que inspiram os homens. A adoração oficial a esse
importantíssimo papel, visto que o progresso do homem começou na d in astia H an, no ano de 195
mundo, depende muito dessa disciplina. Porém, D.C., tendo sido realizada, pela primeira vez, diante
acima dos destinos materiais em que todos nós do túmulo de Confúcio. Um templo foi erigido em seu
estamos envolvidos, há também um destino espiritual lugar de nascimento, em 442 D .C., e a adoração de
para cada ser humano. E isso também muito nos Confúcio obteve grande avanço. — Ele recebeu
deveria interessar. Importa muito aquilo que sucede todas as formas de títulos enobrecedores, como
às nossas almas. Assim sendo, um homem tem um M estre M áxim o, Sábio Perfeito, D uque, etc. Em
duplo destino, o que também se dá com a comunidade 1934, a data do aniversário natalício de Confúcio, 27
dos homens—um destino secular e um destino de agosto, começou a ser observada como um feriado
espiritual. Esses dois lados da questão não estão em nacional. Sua adoração tornou-se uma espécie de-
conflito, como também não estão em conflito culto oficial, o que foi apenas a sanção oficial daquilo
verdadeiro e necessário a ciência e a fé religiosa, que já existia há séculos.
conforme vimos no decorrer deste artigo.
II. Religiões e Filosofias Tradicionais
Bibliografia. B C E EP F H P
1. O confucionismo (que vide).
2. O taoísmo (que vide)
RELIGIÃO E CONHECIMENTO 3. Movimentos iniciados nos séculos VI a II A.C.,
Ver o artigo intitulado Conhecimento e a Fé como o Mo Tzu, os Logicianos Chineses, a Escola
Religiosa, O. Legalista e a Escola Yin Yang. Ver os artigos sobre
cada um desses movimentos.
4. O Neotaoísmo, a começar no século III A.C. (que
RELIGIÃO E DRAMA vide).
Ver sobre o Drama Religioso. 5. Uma m istu ra de confucionism o e taoísm o, a
com eçar pelo século II*A.C., com os nomes de
Huai-nan Tzu, Tung Chung-Shue, Wang Ch’ung,
RELIGIÃO E EDUCAÇÃO Lieh Tzu e Kuo Hsiang (ver os artigos sobre cada uma
Ver sobre Educaçio Religiosa. dessas misturas).
6. O desenvolvim ento do budism o chinês, a
começar pelos séculos III e IV da era cristã. Ver sobre
RELIGIÃO E FILOSOFIA CHINESAS Kumarajiva, Seng-Chao, Chi-Tsang, Hsuang-Tsang e
I. Fés Remotas e Primitivas Chih-I. Também surgiram várias escolas individuais,
Antes do advento das fés chinesas tradicionais—o como as escolas H ua-Y en, T ’ien-T ’ai e C h’an do
confucionismo, o budismo e o taoísmo, havia outras Budismo Zen, sobre as quais há artigos separados.
religiões mais primitivas. Elementos dessas religiões 7. O desenvolvimento do neoconfucionismo come
mais primitivas misturaram-se com essas fés que, çou em cerca do século VIII D.C., até os nossos dias.
posteriormente, tornaram-se tradicionais, e muita Alguns nomes representativos são Han Yu, Li Ao,
gente continuou a praticá-los, mesmo quando aquelas Chou Tun-i, Shao Yung, Wang Yan-Ming, Tai Chen,
fés passaram a ter pleno poder. K’ang Yu-Wei, T’an Ssu-Tung, Chang Tung-Sun,
1. O Animismo e o Politeísmo. Até onde a história Fung Yu-Lan e Asiung Shih-li, (que vide).
pode retroceder, os chineses adoravam quatro tipos de Hl. Introduções Estrangeiras
espíritos: a. O Shen, o mais elevado, o sol, a lua e as 1. Islamismo (que vide). Essa fé foi introduzida na
estrelas, e, secundariamente, os espíritos do vento, da China em 628 D .C. O islam ism o veio de vários
chuva, etc. (as intempéries), b. O Ch'i, que seriam os lugares, em diversas províncias chinesas. O movimen
espíritos da te rra , do solo, dos cereais, das cinco to expressava-se, essencialmente, em dois tipos de
montanhas sagradas, de outros montes, vales, etc. c. islamismo: o de Sinkiang e Chinghai, chamados os
O K uei, os espíritos hum anos desencarnados, seus seguidores de maometanos de turbante, e o de
especialmente os ancestrais, d. O Kuai, os espíritos de outros lugares da China, introduzido por descenden
seres anim ados e inanim ados. Essa form a de tes de negociantes islamitas e de soldados árabes, que
adoração incluía muitos deuses e muitas localidades, foram enviados para pôr fim a uma rebelião em 755
relacionadas a esses espíritos. D.C., a pedido do imperador. Seus seguidores têm
2. A Adoração a Sang-ti. Esse seria um dos muitos retido as crenças islâm icas trad icio n ais, em bora
espíritos celestiais, e também o chefe de todos eles, com a m istu ra de outros elem entos. — E n tre
sendo um espírito positivo, pessoal e perfeito. Até o tanto, poucos dos seus seguidores chineses podem ler
ano de 1912, era dever do próprio imperador oferecer o Alcorão, e menor número ainda pode compreender
sacrifícios a esse deus, em favor do povo. a língua árabe. A tradução do Alcorão para o chinês
3. A Adoração aos Antepassados. A fundação de não teve lugar senão nos fins do século XIX, e a
um homem são os seus antepassados, os quais têm distribuição dessa tradução nunca foi grande. Em
sido variegadam ente adorados, como as pessoas cerca de 1930, havia cerca de cinqüenta milhões de
adoram qualquer outra forma de divindade. Essa pessoas que seguiam essa religião, na China.
adoração é uma expressão e exagero do respeito filial. 2. Cristianismo. Precisamos pensar nas seguintes
Um conceito básico da adoração chinesa é o variedades de cristianismo, introduzidas em épocas
cumprimento das relações humanas, e a adoração aos diferentes:
antepassados é um a tentativa de cum pri-las. Aos
antepassados são oferecidos alim entos, são-lhes a. Nestorianismo (que vide). Essa foi a primeira
oferecidas notas em papel-moeda, e também outros variedade de cristianismo a penetrar na China, talvez
meios p ara expressar a crença na realidade da desde tem pos bem rem otos, em bora só tenham os
existência e no poder dos antepassados são emprega evidências dessa penetração ali a partir de 781 D .C. O
dos. Tablete Nestoriano, que está relacionado a essa fé,
646
RELIGIÃO E FILOSOFIA CHINESAS
apareceu na C hina em 635 D .C. T rata-se de um a 5. Zoroastrismo. Essa fé chegou à China entre 516 e
espécie de cristianismo oriental, desenvolvido inde 519 D.C., mas sofreu perseguições, e, por volta de
pendentemente da civilização greco-romana. Uma 845, havia desaparecido quase inteiramente. Desde
grande perseguição por parte dos chineses foi dirigida então não parece ter havido q ualquer movimento
contra o budismo, em 845, e, como subproduto, o sobrevivente.
nestorianismo quase foi destruído. 6. Outras. Antes da instalação do comunismo na
b. Catolicismo Romano.Missionários franciscanos China, havia muitos grupos menores, como a teosofia,
levaram a fé católica rom ana à C hina, d u ran te a o bahaísm o, e várias seitas m enores cristãs e
dinastia Yuan, entre 1280 e 1368. Os jesuítas deram japonesas, além de m uitas sociedades secretas e
uma força nova ao movimento, durante a dinastia semi-secretas, de natureza religiosa.
Ming (1368-1644). Francisco Xavier chegou à China IV.Comuniuno, P en efid çio e liberaHrayio
em 1552, mas m orreu no mesmo ano. Os jesu ítas Quando-o comunismo (que vide) entrou na China,
desfrutavam do favor real, e o catolicismo desenvol depois da Segunda Guerra Mundial, muitos líderçs
veu-se rapidamente na China. Os jesuítas permitiam o religiosos de todas as denominações foram mortos e
sincretismo da fé católica com as crenças tradicionais igrejas foram fechadas. Pessoas foram m ortas e
chinesas, mas os dominicanos e franciscanos objeta perseguidas, em massa, meramente por causa da sua
vam a tal sincretismo. A batalha que disso resultou religião. Eu conheci alguns parentes dessas pessoas.
reduziu em muito a influência católica romana, bem Durante a Revolução Cultural, as perseguições foram
como o núm ero de católicos na C hina. Antes da renovadas. Recentemente (1984-85) uma liberalização
instalação do comunismo, na China, havia cerca de tem modificado esta cena. Não sabemos até que ponto
três milhões de católicos chineses naquele país. Eles isto vai continuar. Esperamos que seja para sempre,
operavam 438 orfanatos, 315 hospitais e mais de vinte mas a política é uma coisa imprevisível.
mil escolas, tendo construído museus, bibliotecas e
centros de pesquisa. Havia cerca de três mil padres R eportagem , Estado de São Paulo, de 12 de
missionários estrangeiros. Os padres chineses eram novembro de 1985.
cerca de dois mii. PEQUIM — Os dirigentes «pragmatistas» chineses,
c. Protestantismo. Robert Morrison chegou em sob a liderança do «homem forte» Deng Xiaoping,
Cantão em 1807, e, com ele, teve começo o movimento procuraram sepultar mais um dogma marxista-leni-
protestante na China. Após cerca de cento e trinta e nista, seguido fielmente pelos maoístas durante a
cinco anos, havia cerca de um milhão de protestantes Revolução Cultural dos anos 60: o de que a religião
de várias denominações. Em 1934, havia ali dezessete entorpece o povo e é um instrum ento político das
missões inglesas, sessenta e quatro norte-americanas, «classes reacionárias». Ontem, o jornal porta-voz do
vinte e três canadenses e duas australianas. O número PC chinês, Diário do Povo, disse que é errado
total de missionários evangélicos era de cerca de seis considerar a religião «o ópio que envenena o povo»,
mil, representando mais de noventa denominações. qualificando também de «nociva e anticientífíca» a
Esses grupos contribuíam significativamente para a afirmação de que a religião é *o reflexo do absurdo,
educação, os cuidados médicos e os serviços do ilusório da ideologia subjetiva dos seres humanos».
com unitários. Cerca de duzentos e setenta e um O jornal também considerou errôneo afirmar que a
hospitais haviam sido construídos por eles. Em muitas religião é «o instrumento político da classe dominante
áreas, os únicos serviços médicos que havia eram em seu controle das massas».
prestados pelos hospitais cristãos. Além das tradi D u ran te a Revolução C u ltu ral, os m aoístas
cionais denominações protestantes, tinham-se tor procuraram destruir todos os vestígios do passado
nado movimentos nacionais a Cruz V erm elha, a «burguês, explorador e reacionário» e centenas de
Y.M.C.A. e a Y.W.C.A. Os cristãos, de modo geral, templos foram destruídos, livros foram queimados,
opunham-se a certas práticas duvidosas da sociedade sacerdotes e irmãs m uçulm anos ridicularizados,
chinesa, como o fumo de ópio, o casamento infantil, o perseguidos, presos e até assassinados.
casamento de cegos, o nepotismo e a deformação dos Para o Diário do Povo, essas afirmações feitas no
pés das jovens, como sinal de beleza. Os cristãos passado «não são convenientes para a unidade das
promoviam os direitos das viúvas tornarem a casar-se, nacionalidades do país, nem respeitam a história, a
o direito dos jovens escolherem os seus próprios cultura e os sentimentos de outros povos do mundo».
cônjuges, a independência das mulheres, o direito As críticas dos «pragmatistas» à repressão desenca
fem inino à educação. Foi intro d u zid a a ciência deada pelos maoístas contra a religião se traduzem
ocidental na China. A China Inland Mission, fundada cada vez mais em maiores garantias para os cultos.
por J. Hudson Taylor, que foi para a China em 1853, Dessa maneira, igrejas católicas, mesquitas e templos
nesse ponto culminante contava com cerca de mil de outras religiões reabriram suas portas em todo o
missionários na China, ocupados em muitas ativida pais para que os crentes possam praticar sua fé. Na
des diferentes, além da organização de igrejas locais. China há atualmente 35 milhões de muçulmanos, dez
3. Judaísmo. A história do judaísmo na China é milhões de cristãos e algumas dezenas de milhares de
bastante antiga, embora só possa ser acompanhada budistas.
com certeza até cerca de 1163, onde se sabe que uma Cantão está cada vez mais ocidental
sinagoga foi ali erigida. Porém, há estudiosos que
supõem que, através do com ércio, o judaísm o CANTÀO — Um funcionário m unicipal, que
penetrou na China desde o primeiro século da era conversou com membros de uma delegação parlamen
cristã. Entretanto, essa fé nunca se espalhou muito, e tar soviética em visita a esta cidade, no mês passado,
nem obteve muitos adeptos. comentou que os russos se mostraram impressionados
e perplexos com a atmosfera reinante aqui.
4. M aniqueísm o. Esse movimento começou na <Se isso é marxismo, preciso veltar a ler Marx» —
China em cerca de 694 D.C., tendo crescido de forma teria dito um dos representantes soviétícçs. Durante a
m oderada até cerca de 823 D .C ., quando sofreu visita, os russos tiveram a oportunidade de conhecer a
perseguição e foi grandemente reduzido. Seguiram-se florescente livre empresa da cidade, os seus hotéis de
outras perseguições, e, por volta de 915 D .C. pouco estilo ocidental, que rivalizam com oS melhores de
restava do m aniqueísm o. Não parece ter restado Hongcong e muitos outros sinais de que em Cantão
qualauer traço desse movimento depois de J644. passou a vigorar a política da «porta aberta».
647
RELIGIÃO - RELIGIÃO PRIMITIVA
Onde a liberdade existe, religiões florescem válida. Não precisamos anular a palavra «primitiva» a
O espírito humano rejeita a explicação materialista fim de defender a idéia da revelação divina, que é uma
do mundo e procura uma expressão compatível com realidade. E nem carecemos supor que nada havia de
sua realidade metafísica. Todo o movimento comu primitivo, isto é, de não plenamente desenvolvido, na
nista será forçado a reconhecer isto, afinal, porque os religião hebréia.
valores mais profundos não podem ser definidos em A excessiva «cristianização» da te dos hebreus, por
'termos de economia e movimentos históricos. parte dos cristãos modernos, tem apenas tendido por
obscurecer aquilo em que os israelitas antigos
realmente acreditavam. Essa atitude moderna de
RELIGIÃO E LIBERDADE alguns faz aquela fé parecer científica e como se
Ver os artigos Liberdade Religiosa e Liberdade sempre estivesse «guardando» fruição na pessoa do
Cristã- Messias. Essa abordagem, apesar de ter algum
fundamento, na verdade, obscurece muitas facetas da
antiga fé dos hebreus. Para ver ilustrações a respeito,
RELIGIÃO E PSICOLOGIA o leitor deve examinar os artigos intitulados
Ver sobre Psicologia, quarta seção. Cosmogonia, Cosmologia e Criação, onde encontra
mos alguns conceitos verdadeiramente primitivos da fé
dos hebreus, que têm sido ultrapassados tanto pela
RELIGIÃO E PSICOTERAPIA ciência quanto pela teologia.
Ver o artigo sobre a Psicoterapia. 2. Crenças Comuns da R eligiio Primitiva
a. O Sobrenatural. O homem não estaria sozinho;
existiriam seres maiores que o homem.
RELIGIÃO E SOCIOLOGIA
b. A possibilidade de aplacar, forças hostis, divinas
Ver sobre Sociologia da RcUgiio. ou demoníacas, através de artes mágicas, rezas,
encantamentos, uma certa maneira de vida e
RELIGIÃO GREGA sacrifícios, cruentos ou não.
c. Animismo. Essa é a crença que os espíritos muito
Ver sobre Grego« Primitivos, R cligio dos. têm a ver com a vida humana, incluindo espíritos de
deuses, demônios, seres humanos e animais. Esses
RELIGIÃO HINDU espíritos animariam objetos e influenciariam ou
possuiriam pessoas e animais. Mesmo em sua forma
Ver sobre Hinduismo. desincorporada, — eles. poderiam ser capazes de
influenciar os acontecimentos para melhor ou para
RELIGIÃO JUDAICA pior. Essa crença algumas vezes inclui a noção que
tais espíritos procuram viver vidas parecidas com as
Ver sobre Judaísmo. vidas humanas, podendo até envelhecer e, finalmente,
morrer. Provavelmente, essa noção alicerçava-se
RELIGIÃO PRÁTICA sobre a observação que os «fantasmas» tendem por
diminuir e desaparecer.
Essa expressão indica a prática da religião sem a d. Os shamans (tipos de sacerdotes especializados
ênfase sobre dogmas e teologia, com ênfase sobre a no controle de espíritos) são os cabeças das sociedades
prática das boas obras, sobre a promoção da caridade com crenças animistas. Deles espera-se que tenham
e todas as formas de empreendimento humanitário. sabedoria, poderes espirituais de curar e de fazer o
Também estão envolvidos o estabelecimento de mal, dotados de visões e sonhos para efeito de
comunidades religiosas, orfanatos, e as atividades do orientação, etc. Em algumas culturas, espera-se que
evangelho social e da obra social da Igreja. A maior esses shamans tenham um espírito-guia que ajude a
parte dessas coisas envolve diretamente a vida diária comunidade toda. A palavra shaman vem de um
segundo a lei do amor. Ora, o amor é a própria prova termo russo que significa «asceta».
da espiritualidade (ver I João 4:7 ss). Precisamos e. Poderes Sobrenaturais Impessoais. Algumas
tanto de uma religião teórica quanto de uma religião vezes esses são os poderes temidos pelas pessoas, e que
prática. Tiago, em sua epístola, ressaltou o lado estas tentam aplacar, nas culturas onde o animismo
prático da religião cristã, em sua epístola (ver não é bem desenvolvido. Esse tipo de fé algumas vezes
especialmente Tia. 2:1455). Ele falou a respeito da lei chama-se animatismo, uma palavra cunhada para
real do -amor (ver Tia. 2:8). distinguir essa crença do animismo. Esses poderes
sobrenaturais impessoais, que também existiriam
RELIGIÃO PRIMITIVA próximos do homem, embora de maneira menos
definida do que no caso do animismo, são chamados
Esboço: mana, que é um termo genérico. Tudo quanto for
1. Definição Básica extraordinário, provocativo ou temível, capaz de
2. Crenças Comuns da Religião Primitiva inspirar respeito ou veneração, constitui o mana. O
1. D efiniçio Básica mana sobrevêm a um homem quando este está
Uma religião primitiva é um conjunto de crenças, a condicionado para realizar algum feito extraordiná
conduta influenciada por essas crenças, além dos ritos rio, que esteja acima de seus poderes normais. O
e costumes que constituem a religião, formal ou mana é uma espécie de poder dos deuses, que não
informal, de algum povo antigo. Os eruditos chega a ser definido.
conservadores algumas vezes objetam a que se f. Politeísmo. Essa crença concebe uma hierarquia
classifique a fé dos hebreus (sobre a qual a fé do Novo de deuses, havendo «deuses superiores» que seriam os
Testamento estriba-se parcialmente) de «primitiva». E principais controladores da vida humana. Esses
isso porque tal adjetivo faz com que essa fé pareça ser deuses primários tomam-se objeto de veneração, e
apenas uma dentre muitas outras religiões de povos não meramente de temor. Em alguns sistemas,
antigos, e não uma religião especial, dada mediante aparece um Ser supremo que figura como criador, o
uma revelação divina. Porém, essa distinção não é que indica uma certa aproximação ao henoteísmo, se
648
RELIGIÃO - RELIGIÃO ROMANA
não mesmo do monoteísmo. antropomórficos. Esses espíritos habitariam em coisas
g. Mitologias diversas existem, na tentativa de naturais como os rios, os bosques, as fontes de água.
explicar a origem e o destino, além de outras Tinham o poder de ajudar ou prejudicar, e a presença
características da natureza e da vida humana. deles era sentida no senso de respeito que a alma
h. Elementos Especiais. Entre esses estão os ritos, humana sente diante da força, da beleza ou da
as festividades religiosas, os sacrifícios, os exorcismos, beneficência da natureza. Ver sobre o Animismo, que
as rezas, os encantamentos, as artes mágicas, coisas adora as forças da natureza, em vez de adorar ao
essas que emprestam a essas religiões uma espécie de Deus da natureza. Nisso os romanos primitivos
função eclesiástica. Nessas sociedades, a mágica chegavam a mostrar-se ridículos. Netuno deriva seu
(vide) com freqüência é uma questão importante, por nome da palavra itálica que significa «água». Portuno
meio da qual pensam muitos que o ser humano é era o deus tutelar dos «portos». A casa estaria cheia
capaz de controlar seu meio ambiente hostil, obtendo dessa presença. Jano era o espírito da «porta» (ianua).
resultados positivos de maneira geral. Usualmente, os Vesta era a deusa da «lareira», pois a raiz do nome
tabus (vide) fazem parte do quadro. Certos atos e dessa deusa significa «queimar». Os penates eram os
alimentos são proibidos. A quebra de um tabu guardiães do alimento guardado {penus). E assim por
prejudica e põe em perigo os violadores. diante. No culto popular moderno, que a Igreja
i. Veneração aos antepassados, como também a Católica Romana observa, transferindo para seus
adoração a animais, ao sangue, o fetichismo, a «santos» (vide), a adoração que era dada a divindades
veneração a ídolos, os sacrifícios humanos e de pagãs, vemos reflexos dessa antiga veneração
animais, todas essas são coisas que fazem parte das animista, incluindo seus ritos rurais e as datas desuas
atitudes das religiões primitivas. festividades.
B. A ReUgiio da Cidade de Roma
RELIGIÃO RELACIONADA À FILOSOFIA As festividades rurais, quando Roma se tornou a
Ver o xrtigo Filosofia e • Fé Religiosa. cena central e absorvedora da vida latina, foram
mantidas, embora com novas significações apropria
RELIGIÃO ROMANA das. Júpiter, o antigo deus dos juramentos, tornou-se
Esboço o deus da justiça interna; Marte, um deus da
A. Alicerces Itálicos agricultura, tornou-se o deus da guerra. Evolução
B. A Religião da Cidade de Roma importante foi quando o antigo culto, antes nas mãos
dos chefes de família, foi aproveitado pelo Estado,
C. A Invasão Grega tendo em vista seus próprios usos. Um grande templo
D. Cultos Orientais foi erigido na colina Capitolina—o centro da nova
E. Adoração a César Roma—onde foi estabelecida uma tríada divina que
F. A Religião Romana e o Cristianismo simbolizava a majestade religiôsa do Estado. No início
essa tríada compunha-se de Júpiter, Quirínio e Marte,
ObserraçÕet Iniciais mas depois, sob a influência dos etruscos, essa tríada
1. A Palavra. Quanto a uma completa definição passou a compor-se por Júpiter, Juno e Minerva. O
dessa palavra e seus usos, ver o artigo Religião, Estado também criou uma hierarquia, composta
primeira seção. Essa palavra é de origem latina. pelos flamínios, para servirem as principais divinda-
Provavelmente originou-se na idéia do senso de dades, pelo colégio dos pontífices ou «sacerdotes»,
respeito pelo numen, ou vontade divina, envolvendo associados a muitos dos ritos secundários, e péló sumo
as obrigações correspondentes. No início, ntímen pontífice, «sumo sacerdote», que era o guardião da lei
significava um aceno com mão, e, por extensão, sagrada e conservava em segredo o calendário
uma ordem ou mandamento. Com o tempo passou a religioso, que ele só podia revelar ao povo mês após
indicar um ser divino, e, em conseqüência, a vontade mês. Essa é a base do sistema hierárquio da Igreja
de um deus ou dos deuses. A forma plural, nomlna, Católica Romana, adaptado quando o cristianismo
adquiriu o sentido de «espíritos». sobrepujou ao paganismo, mas moldado sobre este
2. As numina atraíram a atenção dos romanos último, e não sobre aquele. O Novo Testamento não
primitivos, em páralelo com vários povos antigos, em reconhece «sacerdotes» como uma classe distinta dos
sua cultura mais antiga, formando-se assim uma fé «leigos». O sacerdócio de todos os crcntes é o claro
religiosa animista. Quanto aos vários tipos de religião ensino neotestamentário. Ver I Ped. 2:5; Apo. 1:6;
ou de expressão religiosa, ver sobre Religião, terceira 20:6. Muito menos ainda o Novo Testamento
seção, onde alistamos e descrevemos os oito tipos. reconhece uma hierarquia sacerdotal. O sistema
3. Os Lares. Ver o artigo separado sobre esse ministerial cristão reconhece quatro variedades de
assunto. Cada lar romano tinha os seus próprios lares' trabalho ministerial, não em escala hierárquica, mas
(espíritos dos campos) e os seus próprios penates complementares: apóstolos, profetas, evangelistas,
(espíritos da copa). Esses espíritos eram representa pastores. Esses ministros se ocupam da Palavra. Os
dos por meio de imagens. diáconos se ocupam mais do aspecto material do
Os primórdios simples nessa forma de religião logo ministério, embora também possam ser pregadores.
se tornaram complexos, mediante sistemas elabora Ver Efé. 4:11 e a narrativa sobre Estêvão, em Atos 6 e
dos. O resto deste artigo aborda a questão. 7, sobretudo 6:10. É verdade que o ministério das
A. Alicerces Itálicos igrejas protestantes e evangélicas não acompanha de
perto esse esquema neotestamentário, porquanto
A religião indígena básica de Roma tomou forma deriva-se muito mais das decisões dos Reformadores
inicial na comunidade agrícola, patriarcal e primitiva do sécolo' XVI, que reagiram contra a idéia
da qual emergiu Roma. Sua natureza e forma eram hierárquica de Roma, com seus muitos títulos, e
similares às religiões das tribos itálicas circunvizi reduziram o ministério protestante a somente pastores
nhas, as tribos oscas e úmbrias, que se acumulavam e diáconos. Ver sobre o Ministério Cristão.
no espaço em redor do rio Tibre, que o povo latino
ocupava. A primitiva religião romana, conforme se C. A Invasio Grega
depreende de escritos como o Fasti de Ovídio, além de Houve tempo em que a península itálica era
outros, era uma religião animista, reconhecendo a chamada de Magna Grécia. Ali muitas cidades têm
divindade em presenças espirituais, e não em deuses origem claramente grega. Isso significa que, desde o
649
RELIGIÃO ROMANA
começo de Roma, houve intercâmbio cultural entre cerca- de cem anos antes, havia tentado suprimir o
tribos itálicas e helénicas. Porém, depois que as culto orgiástico de Dionísio. Mas, habitualmente,
tropas romanas invadiram a Grécia, bem como esses cultos enfrentavam a supressão tomando-se
muitas regiões que haviam sido colonizadas pelos subterrâneos e isso atraía ainda mais os supersticiosos
gregos, a cultura grega «cativou sua feroz conquista e crédulos romanos. O mitraísmo, ou culto a Mitra,
dora», no dizer de Horácio (Epístola 2.1.156). Essa proveniente da Pérsia, era mais sério, não se podendo
invasão da cultura grega incluiu não somente aspectos classificá-lo como ignóbil. Ver sobre o Mitraísmo.
como a arte e a literatura, mas fez-se sentir até mesmo Porém, essa foi uma das poucas exceções. Na maioria
no campo religioso, quando a religião romana tomou das vezes, as religiões orientais importadas eram
uma direção nitidamente antropomórfica, segundo o moralmente prejudiciais.
gosto dos gregos. Em suas características, fundiram- E. Adoraçio a César
se as divindades romanas e gregas: Júpiter e Zeus; A adoração ao imperador é abordado em um artigo
Juno e Hera; Netuno e Poseidon; Marte e Ares; separado, com esse título. Basta-nos acrescentar aqui
Minerva e Atena; Mercúrio e Hermes; Diana e que essa adoração era tanto ao espírito de Roma como
Artemis, etc. Nos escritos de Ênio (238-169 A.C.) e de à pessoa do imperador, que encarnava esse espírko.
Plauto (251-184 A.C.), dois dos mais antigos autores Também deve-se dizer que se esse conceito tinha
romanos, cujas obras chegaram até nós, esse processo origem na deificação dos déspotas do Oriente,
de identificação já aparece quase completo. A igualmente tinha raízes no antigo conceito italiano
despeito dessa identificação de nomes, no panteão das abstrações deificadas, ou animismo. Se os cultos
romano, foram mantidos os cultos italianos, prove misteriosos, com sua forte carga emocional, eram
nientes da primitiva antiguidade, e continuaram a ser devidamente desafiádos pelo cristianismo, as especu
servidos pelo sacerdócio aristocrático. Tudo consistia lações monoteistas dos filósofos, de Cícero, de Sêneca,
em um sincretismo de idéias religiosas mais antigas e de Epicteto e até de Marco Aurélio, ao nível social e
mais recentes, em uma confusão tal que, segundo político, satisfaziam-se com o culto ao imperador.
muitos comentadores, esse sincretismo contribuiu Isso posto, a fé cristã chegou a uma sociedade romana
pesadamente para o profundo ceticismo que prevale faminta, insegura e insatisfeita, que se estava
cia na sociedade romana, no final da era republicana. desintegrando moralmente, em meio à mais absurda
O único elemento ao qual podemos, com razão, confusão religiosa.
adjetivar de «religioso», era o elemento supersticioso,
que até hoje não abandonou as populações italianas. F. À RellgtXo Romana c o Cristianismo
Embora as questões filosóficas não façam parte das Neste sexto ponto queremos esclarecer como a
considerações deste artigo, não há que duvidar que, atitude do império romano para com o cristianismo, a
dentro de tão confusa situação religiosa, a filosofia principio amigável ou mesmo indiferente, terminou
fosse uma espécie de religião para os romanos mais resultando em um terrível conflito, ao ponto que o
especulativos. Isso explica o grande sucesso de idéias simples jato de que, ser cristão, era considerado um
filosóficas, como o estoicismo (vide) e o epicurismo crime. E também como, não podendo vencer o seu
(vide), na Roma imperial. E, pouco depois, veio adversário, o império achou por bem absorver esse
juntar-se a isso, ainda um outro ingrediente, na adversário, o cristianismo, tornando-o seu, em um
tentativa de satisfazer o faminto e estéril espírito novo sincretismo tipicamente romano. Para começar,
romano, inteiramente desapontado com as suas diríamos que a principal questão envolvida nesse
próprias divindades e conceitos religiosos, a saber, os conflito entre o império romano e o cristianismo era
cultos orientais. que, à medida que este se fortalecia, aquele se
debilitava. E as autoridades romanas, naturalmente,
D. Os Cultos Orientais reagiram a isso, ou perseguindo os cristãos, ou
A extraordinária capacidade de absorção dos finalmente, oferecendo-lhes proteção imperial, para
romanos, que nunca se mostraram muito criativos, melhor controlá-los. Dividiremos este sexto ponto por
mas cujo sincretismo religioso era simplesmente etapas que seguem os desenvolvimentos históricos
proverbial, foi sendo alimentada cada vez mais, naturais.
conforme o império ia-se expandindo geograficamen a. Até à Morte de Nero (68 D.C.). Visto que os
te, e um número cada vez maior de divindades primeiros cristãos nem imaginavam separar-se da
estrangeiras encontrava aceitação no hospitaleiro sinagoga judaica, para as autoridades romanas, no
panteão de Roma. As religiões de «mistério», com seus começo o cristianismo parecia apenas um dos ramos
ritos de fertilidade e suas cerimônias só para os da fé judaica. Ora, o judaísmo era uma religião lícita,
iniciantes, deixaram os romanos fascinados. É que isto é, uma religião estrangeira tolerada no império.
essas religiões vinham preencher um vácuo no Para os romanos, o cristianismo a princípio deve ter
espírito romano, com sua religião tão despida de parecido apenas um judaísmo reformado e mais
características atrativas. O próprio Estado, terminada espiritual. Assim, as primeiras perseguições contra os
a Segunda Guerra Púnica, em 204 A.C., introduziu o cristãos foram todas movidas pelo judaísmo. Quando
culto orgiástico da grande mãe Cibele, natural da os judeus acusaram os cristãos, o governo imperial
Frigia, na Ásia Menor. Esse culto, servido por não só se recusou a dar ouvidos a essas acusações, mas
sacerdotes que dançavam freneticamente, ao ritmo de também protegeu aos cristãos, livrando-os até mesmo
tambores, com estranhos e horrendos ritos de da violência da população (ver Atos 21:31 s). Foi
mutilação e êxtases, conquistou os romanos, por somente na época de Nero que o governo romano
assim dizer, da noite para o dia. Mais tarde, de 88 a tomou o primeiro passo hostil contra os cristãos, a fim
63 A.C., os legionários romanos encontraram Ma, a de desviar da pessoa do imperador as suspeitas
deusa da Capadócia, com o seu ritual de batismo em populares de que ele mandara incendiar Roma.
sangue de bois. Do Egito, as tropas romanas Depois disso, as acusações passaram a ser que os
trouxeram o culto a ísis, com seus jejuns e seu drama cristãos eram hostis ao gênero humano e eram
de ressurreição. Esses cultos estrangeiros chegaram a culpados de praticar artes mágicas. A partir daí, o
arraigar-se de tal modo nas preferências dos romanos cristianismo passou a ser considerado uma religião
que Augusto, ao procurar restaurar os cultos italianos ilícita, aos olhos dos governantes romanos.
mais primitivos, ao menos em sua forma grego-roma- b. O Período Flaviano (68-96 D.C.). Durante esse
na, não obteve bom êxito. De fato, o senado romano, período, o governo imperial não assumiu nenhuma
650
RELIGIÃO ROMANA
atitude uniforme de hostilidade aos cristãos. Contu outros perseguidores do cristianismo, Diocleciano foi
do, os imperadores flavianos não podiam evitar de um dos governantes romanos mais capazes. A
seguir o precedente estabelecido por Nero. Tito em princípio, ele não queria perseguir aos cristãos;
coisa alguma alterou essa atitude governamental, mas porém, quando o fez, mostrou-se muito duro,
Domiciano, seu irmão, aparece proeminentemente procurando mesmo o extermínio deles. Houve alguns
como perseguidor dos cristãos, durante esse período editos de sua autoria contra os cristãos. Um deles
histórico, tal como Nero o fora durante o período visava a debilitar a Igreja em expansão. Bíblias foram
anterior. Não obstante, Domiciano entrou em choque destruídas e assembléias cristãs foram fechadas. Um
com o cristianismo muito mais por causa de seu outro edito voltava-se contra a organização eclesiásti
esforço em prescrever as religiões orientais e em dar ca dos cristãos. Um terceiro oferecia a chance de
novo impulso à religião nacional. Por isso, foi criada a escapar da morte aos cristãos que se retratassem^
alegação de que os cristãos eram ateus, no sentido de embora também procurasse compeli-los à submissão,
que eles não aceitavam adorar os deuses romanos. Foi mediante torturas físicas, se eles se mostrassem
o mesmo Domiciano quem criou um teste fácil de ser insubmissos. Isso mostra-nos o desespero do governo
aplicado para detectar os cristãos e facilitar os imperial, já inteiramente batido no campo das idéias.
inquéritos contra eles. Esse teste consistia em Finalmente, convencido da inutilidade de suas
requerer dos cristãos a adoração ao gênio do medidas, Diocleciano acabou suspendendo a pena de-
imperador, o que, naturalmente, os cristãos convictos morte contra os cristãos (304 D.C.). Isso, paralela
se recusavam a fazer. A política de Domiciano, além mente à sua abdicação ao trono, no ano seguinte,
disso, era impor o seu título de dominus et deus, conforme muitos comentadores têm dito, mostra-nos
«senhor e Deus». Como é óbvio, os cristãos, leais à que ele reconheceu sua derrota, diante do Mestre da
divindade e senhorio de Cristo, nunca aceitariam Galiléia. O primeiro edito geral de tolerância aos
título tão blasfemo, com tudo quanto o mesmo cristãos teve lugar a 30 de abril de 311 D.C., da parte
subentendia. O livro de Apocalipse reflete os de Galécio, Constantino e Licínio.
sofrimentos da Igreja cristã durante o reinado de e. Do Primeiro Edito de Tolerância até à Queda do
Domiciano. Império Romano do Ocidente (311-466 D.C.). Face
c. O Período Antonino (96-192 D.C.). É fato ao edito de tolerância, em 311 D.C., o cristianismo
curioso que alguns dos melhores imperadores foi, finalmente, declarado religião lícita, embora isso
romanos perseguiram aos cristãos, como Trajano, ainda não lhe tivesse dado posição de igualdade com o
Marco Aurélio, Décio e Diocleciano, ao passo que paganismo oficial. Não demorou, porém, que essa
alguns dos piores dentre eles deixaram os cristãos em igualdade também fosse reconhecida. E, finalmente,
paz, como Cômodo, Caracala e Hiliogabalo. Foi com a fundação da nova capitar do império,
durante o reinado de Marco Aurélio (161-180 D.C.) Constantinopla, o cristianismo tornou-se, virtualmen
que a perseguição contra os cristãos estendeu-se à te, a religião oficial do império romano—em uma
Gália e ao norte da África—um passo mais na direção aliança que teve conseqüências desastrosas para a
da perseguição geral contra os seguidores de Jesus pureza e para a unidade do cristianismo. Em primeiro
Cristo, conforme se viu no século seguinte. Por essa lugar, porque, ao entrarem em aliança com
altura dos acontecimentos, as autoridades romanas Constantino, os cristãos estavam dando a César o que
irritavam-se sobretudo contra o que lhes parecia a pertencia a Deus, reduzindo o cristianismo a uma
obstinação dos cristãos, que não queriam largar sua religião deste mundo. E, em segundo lugar, porque
«pertinaz superstição», conforme diziam. Para essas essa secularização imediatamente fez o cristianismo
autoridades, bastaria isso para que os cristãos fossem transformar-se em uma religião intolerante e perse
considerados dignos de castigo. No entanto, até esse guidora, inspirada que estava pela intolerância
ponto da história os imperadores não perseguiam aos imperial.
cristãos como uma norma fixa de seu governo.
Os filhos de Constantino herdaram a natureza cruer
d. As Muitas Dinastias, de 192 a 311 D. C. Nesses de seu pai, &agora de mistura com um cristianismo
cem anos e um quarto, mais de vinte homens vestiram apenas nominal. Se Constantino deixara o cristianis
a púrpura real, quase cada um deles de uma dinastia mo e o paganismo em um mesmo nível, o que se prova
diferente. Foi um período um tanto confuso para o facilmente pelo fato de que aquele imperador nunca
império. Os cristãos tiraram proveito da situação para desistiu dos títulos pertinentes ao sumo sacerdócio da
se multiplicarem e se propagarem pelo império. religião pagã, que eram privilégios dos imperadores
Quando subiu ao trono o imperador trácio, Maximia- romanos, os seus filhos, por sua vez, lançaram-se à
no, houve perseguições localizadas contra os cristãos. inglória tarefa de tentar exterminar o paganismo,
Foi o imperador Décio (249-251 D.C.) quem lançou a mediante a violência, em nome de Cristo. Não
primeira perseguição geral contra os cristãos, isto é, demorou para que o cristianismo oficial se transfor
envolvendo todas as províncias do império. A política masse em um poder que apelava para o vandalismo.
imperial estava então calcada sobre duas normas As turbas cristãs tomavam de assalto os templos
básicas: 1. a profissão cristã, por si só, não resultava pagãos e se apossavam de seus bens, liderados por
em sentença de morte para alguém, pois todos os líderes cristãos fanáticos. Realmente, no império
meios eram empregados pelas autoridades romanas romano do Ocidente, o paganismo, dai por diante, foi
para convencer os cristãos a se retratarem de suas perseguido pela Igreja oficial até o fim, e a sua
idéias religiosas; a execução só ocorria no caso dos derrubada definitiva foi apressada pela extinção do
recalcitrantes. 2. As autoridades romanas já haviam império ocidental, em 476 D.C. Por sua vez,
reconhecido a força da organização dos cristãos, pelo Justiniano, no império romano oriental, .fechou as
que os seus esforços dirigiam-se, principalmente, escolas pagãs de filosofia, em Atenas (529 D.C.),
contra os oficiais da Igreja. Interessante é observar tendo mesmo proibido, despoticamente, a adoração
mos, incidentalmente, que a Inquisição, uma medida pagã, mesmo em particular, sob pena de morte.
radical tomada pela contrarreforma católica romana, Teria vencido o cristianismo e sido derrotado o
que começou cerca de doze séculos depois da paganismo? A verdade dos fatos é outra. As
perseguição geral movida por Décio, empregava populações inquietas do império romano não se
exatamente essas normas. Ver sobre a Inquisição. haviam convertido a Cristo. O que havia sucedido era
Voltando aos imperadores romanos, tal como que a Igreja oficial secularizava-se a tal ponto que foi
651
RELIGIÃO - RELIGIÕES COMPARADAS
por ela abandonado o requisito bíblico da conversão restauradores são realmente milenares, não sendo
(arrependimento e fé em Cristo), em troca da mera limitados nem pela morte biológica e nem por
aceitação de lábios. Espiritualmente falando, o que qualquer era particular da história humana. Antes,
estava ocorrendo era o maior plantio de joio, em meio transcendem a todas essas coisas (I Ped. 4:6 e Efé.
ao trigo (ver Mat. 13:24-30) que, provavelmente, já 1: 10).
houve na história. Sendo esse o caso, o Logos pode mostrar-se ativo
O paganismo romano já representava o sincretismo em muitos lugares e através de muitos sistemas, em
de noções religiosas itálicas e gregas com o judaísmo, sentido preparatório. A unidade é o alvo final de toda
com as religiões orientais e com as idéias filosóficas essa atividade, conforme aprendemos em Efésios
gnósticas, e a isso veio juntar-se um verniz de 1:10. Em toda a nossa busca, a lei do amor, e não a lei
cristianismo, com muito tempero ariano. (Ver sobre o da hostilidade, deve governar os nossos passos. Essa é
Gnosticismo e sobre o Arianismo). Não foram uma lição difícil de ser absorvida, pois as denomina
Constantino e nem Teodósio (vide) que deram fim à ções cristãs promovem ativamente o ódio, a fim de
religião pagã romana. Esses e outros imperadores ro defenderem os seus respectivos sistemas. Tenho sido
manos do Ocidente e do Oriente somente deram uma testemunha de muitas controvérsias e divisões
nova feição ao paganismo'romano, pressionados que eclesiásticas. Certo professor que tive, na faculdade
estavam sendo por considerações políticas, porquanto teológica em que estudei, em meio a certa
o cristianismo, na época deles, era uma força que não controvérsia particular declarou: «A melhor coisa que
podia deixar de ser ouvida no governo do império esta denominação poderia fazer seria jogar fora todos
romano. os seus mimeógrafos!» Ele disse isso porque cada*
facção em luta estava atacando as outras mediante
material duplicado em seus mimeógrafos. Porém, a
RELIGIÕES, TIPOS DE verdade é que os conflitos começam na mente dos
Ver sobre R eliglio, seção III, Tipo* de ReHgBo. homens. Se tivermos de opor-nos a outro sistema ou a
outra pessoa, cujas idéias são diferentes das nossas,
RELIGIÕES COMPARADAS deveremos fazê-lo impulsionados pelo espírito do
amor, deixando de lado toda a hostilidade. Convém
Ver sobre Rationales Setninales (Logoi Spennattkol) que escolhamos nossas palavras a fim de edificar, e
Esse é o estudo das várias religiões do mundo para não a fim de antagonizar.
que se averigúe o que é similar ou diferente nas
mesmas. Por extensão, também pode estar em pauta Os eftndoa comparativo« deveriam começar pela
o estudo das crenças de várias denominações, dentro expectaçio da descoberta, e não pelo intuito de
de um único sistema religioso, para que se verifique defender a minha posição e de derrubar a posição
como a fé é diversamente interpretada. Durante contrária. Nas mãos dos céticos, o estudo das religiões
quatro anos fiz estudos bíblicos e teológicos, mas não comparadas com freqüência é feito a fim de descobrir1
recebi qualquer aula de religiões comparadás, exceto coisas que podem ser usadas para desacreditar a fé
de modo negativo. Eram feitos estudos de outras fés, religiosa em geral. Essa é uma outra abordagem
mas apenas com o intuito de criticar, e não com a negativa do assunto. E não precisamos procurar por
esperança de descobrir novos aspectos da verdade.. muito tempo para descobrir coisas absurdas nas
Realmente, o estudo negativo, no campo das religiões religiões. No entanto, esses «absurdos» geralmente
comparadas, no caso de muitas pessoas religiosas, é a não anulam os discernimentos que elas têm recebido
única motivação que as leva a estudar as outras quanto à verdade. O princípio do Ser divino e da
religiões. Deixo aqui registrado que essa é uma existência da alma e sua sobrevivência ante a morte
maneira errada, míope e prejudicial de estudar as biológica, juntamente com a lei do amor, são
religiões, nada tendo a ver com a verdadeira defesa da doutrinas cardeais da maioria das religiões. O
verdade. Ver os artigos sobre a Comunidade de budismo é criticado como uma fé baseada no ateísmo.
Inquirição e sobre a Comunidade de Interpretação, É verdade que certas formas de budismo não
quanto a algumas razões dessas minhas afirmações. promovem a doutrina de Deus, e que, mediante
Quando aprendi a abordar os ensinos de outras omissão, isso poderia ser considerado ateísmo.
denominações cristãs, ou os ensinos de religiões Porém, devemo-nos lembrar que Buda foi um filósofo
não-cristãs, com o propósito de aprender, e não com o ético, que não se atirou à tarefa de examinar as
intuito de criticar, então descobri, em muitos casos grandes questões metafísicas. Assim sendo, quando
para minha grande surpresa, que podemos obter abordamos o budismo, devemos lembrar que, no
desse estudo muitos discernimentos importantes. Meu mesmo, devemos procurar entender os princípios
próprio conhecimento e minha fé têm sido enriqueci éticos, e não entrar em questões metafísicas
dos mediante o estudo das religiões comparadas. Uma especulativas. Se assumirmos essa abordagem, pode
das descobertas que podemos fazer é que alguns remos aprender muito. Se você não acredita nisso, leia
grandes princípios básicos percorrem todas as fés o meu artigo sobre o Budismo. Tenho estudado o
religiosas, embora expressos mediante um vocabu budismo a fim de aumentar os meus conhecimentos, e
lário diferente. Sou forçado a concordar aqui com a não para tomar-me um budista. Há excelentes pontos
opinião dos pais gregos da Igreja que diziam que as sobre a alma e sua busca, derivados do budismo. Suas
sementes da verdade foram semeadas por toda a parte múltiplas veredas de expressão são muito instrutivas,
pelo Logos, o qual tem uma expressão universal, e não acrescentando algo ao nosso conhecimento sobre os
atua somente através de uma fé religiosa. A lei foi meios do desenvolvimento espiritual. Posso extrair
dada a Israel como mestre-escola, para conduzir os pontos valiosos do hinduísmo, sem que eu me tome
judeus a Cristo. A melhor porção da filosofia grega, hindu, e sem sentir-me forçado a criticar o
sobretudo a filosofia de Platão, também foi dada aos hinduísmo. Assim sendo, meu leitor ou ouvinte
pagãos como um mestre-escola, para levá-los aos pés (conforme o caso), pode estar certo de que não estou
de Cristo. É claro que a filosofia fez isso em termos, sendo convertido a essas religiões! Posso mostrar
pois apenas fê-los anelar pela revelação divina, que é apreciação pela defesa fanática da existência da alma,
desfrutada por meio de Cristo. O mesmo princípio demonstrada pelo espiritismo, juntamente com a sua
pode ser aplicado a outras filosofias e religiões. Não insistência sobre a prática da caridade, sem tomar-me
devemos olvidar que os processos remidores e espírita. Posso salientar a longa história das
652
RELIGIÕES MISTERIOSAS
contribuições que a Igreja Católica Romana tem feito ao mesmo. A Encyclopaedia Britanica, apesar de
para a fé e a civilização, sem tornar-me um católico conter estudos de anatomia comparada, de psicolo
romano. Satisfaço-me com a informação de que gia, de filologia, e de outras ciências, não tem
Roma conseguiu manter de pé a civilização ocidental, nenhum artigo sobre religiões comparadas. Isso, por
tomando-se a fonte de toda a cultura e educação si mesmo, serve de indicação do pioneirismo desse
durante a Idade Média, pelo espaço de mil anos, sem tipo de estudo. Quantas escolas teológicas no Brasil
pôr em dúvida a justiça da Reforma protestante do têm um curso sério sobre o assunto, ou ao menos
século XVI. Também não preciso rosnar contra os incluem a matéria em seu currículo, de maneira
católicos e os protestantes para que o meu leitor fique significativa? A maioria desses seminários propagam
certo de que não estou esquecendo qualquer erro, em ativamente suas próprias doutrinas limitadas, pelo
minha busca pela verdade. Podemos encontrar muitos que não estão interessados em cursos sérios sobre esse
erros, na doutrina e na prática, de todas as assunto. Um interesse menos preconcebido pela
denominações cristãs e de todas as religiões do verdade haveria de encorajar os seminários ‘evangéli
mundo. Somente as pessoas mais arrogantes pode cos a incluírem estudos de Religiões Comparadas.
riam negar esse fato. Porém, nada ganhamos por
entrar em guerra o tempo todo. Certo ex-padre
católico romano, quando fala em público, mostra-se RELIGIÕES MISTERIOSAS (DOS MISTÉRIOS)
cheio de consideração com os outros. Porém, quando Esboço:
senta-se por trás de sua máquina de escrever, deixa-se Introdução
impulsionar por um espírito tão iracundo que sua Palavras e Caracterização Geral
máquina chega a fumaçar! Há evidências de que, I. Lista das Religiões Misteriosas (dos Mistérios)
antes de sua conversão ao evangelho, ele fumaçava
contra os protestantes! Infelizmente, em alguns II. Qual a Relação entre essas Religiões e o
círculos religiosos, é considerado uma virtude cristã Cristianismo?
cuspir bolas de fogo! Porém, penso que o homem III. Contribuições
espiritual vai aprendendo a moderar essa tendência Introdução
humana, à medida que ele amadurece. Palavras e Caracterização Geral
Os historiadores, algumas vezes, caem no erro de 1. A Palavra-Chave.O termo básico grego é mústes,
afirmar, em seus estudos comparativos de religiões, «iniciado nos mistérios». O vocábulo grego mustérion
que a fé religiosa é apenas uma parte do processo significa «mistério», «rito secreto», «doutrina secreta».
Essa mesma palavra grega no plural, mustéria,
histórico, nada tendo de divino na mesma. Os apontava para os «mistérios», as celebrações religiosas
filósofos talvez façam outro tanto, ao traçarem as secretas, os ritos e as doutrinas inescrutáveis. Ao que
linhas comuns da crença religiosa, que se manifestam
nas várias fés religiosas do mundo. Os crentes parece, esse termo, com tal sentido, foi usado pela
primeira vez, dentro do contexto cristão, na obra
extremamente fundamentalistas podem perder de Dionysius Areopagitica, dopseudo-Dionísio (vide). O
vista o valor que podemos derivar desse estudo, ao vocábulo mistério deriva-se da palavra grega múo,
insistirem sempre que aquilo que eles sabem, auto «fechar os olhos», criando assim o senso do
maticamente precisa ser certo, não estando sujeito a misterioso.
qualquer aprimoramento. Eles também mostram-se
absurdos quando concebem o Logos divino, Jesus 2. Caracterização Geral. A expressão religiões
Cristo, a operar exclusivamente através da fé cristã. misteriosas relaciona-se àquelas formas religiosas que
Neste preciso instante, tenho aberto diante de mim, incorporam doutrinas esotéricas, ritos e cerimônias
um volume de dicionário teológico, de tendências secretas de iniciação, e que existiam no mundo
fundamentalistas, onde encontro, de tantas em tantas helénico, mais ou menos na época das conquistas
linhas, uma advertência contra o liberalismo teológi militares de Alexandre, o Grande, e daí por diante,
co, ou acerca do estudo das religiões comparadas, até os primórdios do cristianismo. Esses cultos eram
embora admita que esse estudo «não seja destituído de enormemente populares no tempo de Jesus Cristo, e
certo interesse e valor». os eruditos não têm dificuldade alguma por encontrar
palavras tomadas por empréstimo dos mesmos, nas
Ainda recentemente, um bem conhecido pregador
pelo rádio e pela televisão declarou publicamente que páginas do Novo Testamento, como pléroma,
Deus nunca ouve as orações dos judeus! Mas a sua «plenitude», e a própria palavra mustérion, «misté
rio». Algumas citações dos escritos dos antigos pais da
Bíblia, o tempo todo, contém o Antigo Testamento. E
Igreja, como Clemente de Alexandria e Origenes,
todos pensamos que os livros do Antigo Testamento
são uma mui significativa contribuição à fé religiosa. mostram que alguns dos primitivos cristãos pensavam
Porventura Deus teria uma tão fraca audição quanto que o cristianismo é a grande e autêntica religião
misteriosa, visto que trouxera à luz as esperanças e os
a declaração daquele pregador quer dar a entender?
alvos das religiões misteriosas, onde essas esperanças
No século XIX, começou a surgir o que veio a ser e alvos eram traçados de maneira muito vaga e
chamado de Ciência das Religiões Comparadas. Essa imperfeita.
novel ciência acompanha a história das religiões;
classifica itens teológicos, filosóficos e éticos; tenta As religiões misteriosas eram, essencialmente,
fazer comparações e contrastes, e, de modo geral, religiões que falavam em redenção, oferecendo aos
expõe a substância e as subcategorias das idéias iniciados a libertação dos problemas do mal, das
religiosas. O método científico é aplicado, até onde é condições terrenas e suas limitações. Essa libertação
possível, nesse tipo de estudo. Teoricamente, aborda deveria ser obtida mediante a aderência fiel aos ritos
esse campo desarmado de pressupostos, busca todos prescritos. Após longas e árduas purificações, os
os fatos e aplica as ciências paralelas da arqueologia, iniciados seriam guindados à vida própria dos deuses,
da antropologia, da lingüística, da teologia, da ou a alvos espirituais de alguma daquelas diversas
filosofia, da sociologia, da psicologia e da história. seitas.
Reúne os fatos, relaciona os mesmos, classifica-os A possessão de um conhecimento secreto e a
quanto à sua origem, natureza e desenvolvimento, e observância dos ritos determinados supostamente
então declara: «Nisto consiste a religião». Esse estudo eram medidas que asseguravam um estado de
não têm satisfeito a todas as esperanças relacionadas bem-aventuraqça aos devotos, tanto agora como na
653
RELIGIÕES MISTERIOSAS
vida após-túmulo. Os mistérios gregos, frigios, sinos, vida, conferindo a vida eterna à alma.
egípcios e persas são os que mais interessam aos Os frigios adoravam Cibele, que terminou toman
estudiosos. E, naturalmente, o gnostkismo sofreu do-se conhecida como Magna Mater, «Grande Mãe».
poderosamente a influência desses cultos, tendo Ela era a deusa da fertilidade. Âtis, seu amante, foi
incorporado, em seu sistema, aspectos daquelas
crenças. Quase todas t aquelas religiões misteriosas emasculado a fim de que a sua virilidade fosse dada à
deusa. Mas, ele recuperou-se prodigiosamente da
giravam em torno da idéia de salvadores que morriam emasculação e voltou à vida. Os sacerdotes dessa
e voltavam à vida. Essa aspiração, entretanto, só teve
religião, pois, emasculavam-se em honra a essa deusa.
cabal cumprimento na vida, na morte e na Os sacrifícios cruentos de touros eram um rito
ressurreição de Jesus, o Cristo. Entretanto, aquelas importante nessa religião misteriosa. O sangue
doutrinas esotéricas apelavam para um profundo e gotejava da plataforma onde os sacrifícios eram
crescente senso dètaecessidade de alguma experiência efetuados, pingando sobre os iniciados, que ficavam
religiosa pessoal, bem como da salvação futura da em baixo da plataforma. E esse sangue, segundo
alma, como algo essencial para o ser humano. Foi supunham, garantia a vida eterna aos iniciados.
precisamente por esses motivos que essas religiões
floresceram tão espetacularmente no mundo antigo, Na Siria, Afrodite e Adónis eram as principais
durante alguns séculos. divindades pagãs vinculadas às religiões misteriosas.
Aquela deusa personificava a vida-mãe da natureza,
1. Lista das ReUgiSct Misteriosas (do* Mistérios) enquanto seu companheiro representava a morte e
1. Os Mistérios Eleusianos. Esse nome deriva-se de então o renascimento da vegetação. A morte de
Eleusis, perto de Atenas, na Grécia, onde estava o Adónis era representada por meio de um drama
santuário central dessa fé misteriosa. Essa religião místico. Quando Adónis morria, havia muita
estava alicerçada sobre mitos associados às deusas lamentação, mas um júbilo frenético acompanhava a
Demeter (a Ceres dos romanos) e Persefone (a sua imaginária ressurreição. Esse drama simbolizava
Prosérpina dos romanos), filha da primeira. Para as esperanças que os iniciados tinham de vencer a
esses mistérios pareciam muito importantes as morte e serem restaurados à vida, a saber, a vida
estações do ano em sucessão, o renascimento da vida eterna.
na primavera, e dai derivava-se a idéia de renascimen 3. Os Mistérios órficos. Eurídice e Orfeu
to pessoal. Nessa religião encontramos o drama da formavam um outro imaginário casal divino. Orfeu,
descida ao hades, da subida do mesmo, e, por não haver seguido à risca certas instruções
subseqüentemente, da vida eterna. Persefone teria divinas, foi incapaz de impedir Eurídice de voltar do
sido arrebatada para o hades. Isso teria causado a mundo inferior. Encontramos aí a tragédia da vida e
Demeter uma profunda tristeza. A fim de aliviar-lhe a da morte dos homens, que somente levam aos
tristeza, Zeus (o Júpiter dos romanos) arranjou as tormentos e ao desespero do mundo das trevas. Nos
coisas de modo a devolver Persefone à sua mãe, por mistérios órficos encontramos o deus Dionisió a
oito dos doze meses de cada ano. Os quatro meses que morrer e a ressuscitar como um salvador. Ele, que era
ela ficariíltio hades corresponderiam aos meses de in um dos filhos de Zeus, teria sido morto pelos titãs,
verno, quando as coisas morreriam à face da terra. que lhe comeram as cames. Porém, um novo Dionfsio
Mas, então, a vida retomava, quando Persefone era emergiu de seu coração, que havia sobràdo. A partir
devolvida à sua mãe, que então cessava em suas desse mito, esse culto desenvolveu-se em uma crença
lamentações. Essa história era o ponto central dos em uma espécie de metempsicose (reencamação),
mistérios eleusianos. Em imitação a Persefone, os como maneira de preservar a vida do indivíduo,
iniciados precisavam descer ao hades, e, então, ainda embora o fim da carreira da alma fosse a glória
emulando-a, deveriam voltar à vida. Ao ascender ao etema. No orfismo eram importantes tanto as práticas
hades, os iniciados atingiriam uma resplandecente ascéticas quanto os ritos de purificação.
luz, a luz da imortalidade. Portanto, para essa fé, um A história da descida ao hades, o orfismo, é
ponto cêntrico era a descida ao hades e a derrota do bastante antiga, antecedendo as formas posteriores,
mesmo, quando o indivíduo dali escapava. Isso caracterizadas por uma melhor esperança, daquela
tomou-se um dos motivos universais das religiões do fé. Orfeu era reputado como um grande poeta,
mundo, e o cristianismo, como é claro, também inclui porquanto seria fUho de Eagro e da musa Calíope.
uma descida ao hades (por parte de Cristo), com Tão artístico era ele na música e na poesia que seria
propósitos remidores. Ver o detalhado artigo intitula capaz de fazer as árvores e as rochas moverem-se,
do Descida de Cristo ao Hades. Nessa descida ao como também podia amansar as feras. Eurídice, sua
hades, Cristo abriu aquele lugar como um campo
missionário. Dessa maneira, sua missão tomou-se esposa, teria sido picada por uma serpente e teria
tridimensional: a. na terra; b. no hades; c. nos céus. morrido. Assim sendo, Orfeu desceu ao hades, onde
Isso posto, uma aspiração dos pagãos apontava para tocou sua música e declamou a sua poesia. E de tal
uma realidade, e Cristo foi quem concretizou essa maneira comoveu Persefone, com a sua apresentação,
que ela lhe permitiu levar dali Eurídice, de volta ao
realidade. mundo superior, com a condição de que ele não
2. Os Mistérios de Isis-Osiris Cibele-Âtis e olhasse para trás, ao passar pelo reino dos mortos
Afrodite-Adónis. Esses mistérios eram parecidos com (lembremo-nos da esposa de Ló!). Entretanto, Orfeu
os mistérios eleusianos (ver acima). Em ambos os não foi capaz de conter a sua curiosidade, e olhou
casos, os ritos tinham por finalidade induzir boas para trás. Como castigo, Eurídice teve de voltar ao
colheitas, mas, finalmente, desenvolveram-se em hades, que se tomou a residência permanente dela.
cultos que buscavam a salvação pessoal, através de
ritos de purificação. Isis e Osíris eram egipcios. A Literatura Orfica. Uma volumosa literatura
Segundo a crença, Osíris teria sido morto e desenvolveu-se em tomo desses mistérios, hinos e
desmembrado por Sete, o deus maligno. Isis pôs-se a poemas que exerceram considerável influência sobre o
procurar até encontrar os membros do marido, e, neoplatonismo. Mas isso foi apenas natural, posto
depois de ajuntá-los, fez seu marido voltar à vida. Os que Platão deixara-se influenciar por essa fé religiosa,
seres humanos, pois, identificar-se-iam com Osíris em com suas idéias de reencamaçôes, o drama sagrado
sua experiência de morte e desmembramento, mas o da alma e a vida etema para as almas purificadas. O
poder daquela deusa seria adequado para restaurar a orfismo conferia aos iniciadds a certeza da salvação e
654
RELIGIÕES MISTERIOSAS
da bem-aventurança eterna, mediante a comunhão mitraismo, homens e mulheres podiam tomar-se
mística com Deus. Orfeu era considerado o fundador membros, com um destino celestial idêntico, mesmo
daqueles ritos, motivo pelo qual o culto tomava o seu que no mundo os privilégios entre homens e mulheres
nome diferissem. A ênfase de Paulo quanto a esse último
4. Os Mistérios de Dioniso. Nesse caso, a ponto mostra que o cristianismo avançava um degrau
divindade era celebrada em meio a cânticos e danças, em relação ao judaísmo, onde a mulher era
através das virtudes do vinho, dos prazeres sexuais e inferiorizada em relação ao homem. Por isso mesmo,
do êxtase de plena participação nos atos de sacrificar alguns estudiosos têm chegado a pensar que Paulo foi
e comer animais. O que es«»s ritos buscavan era a influenciado, quanto a esse particular, pelas religiões
produção do êxtase, seria nessa êxtase que o iniciado misteriosas, uma conclusão desnecessária, porém.
buscava união com Deus. A alma era considerada 2. A Ênfase Sobre a Experiência Humana. A fé de
superior ao cofpo, de fato, aprisionada no corpo. uma pessoa deve tomar-se real na prática, não se
Conforme já vimos, Dioniso também era figura reduzindo meramente a um credo. As religiões
importante em outras religiões misteriosas, embora misteriosas absorviam a vida inteira de seus devotos.
elas não tivessem, especificamente, o seu nome. Mas, E o cristianismo, quando é autêntico, faz a mesma
em torno de seu nome, desenvolveram-se vários mitos. coisa.
O culto específico a Dioniso era de origem trácia, 3. O Bem Eterno da Alma. As religiões misteriosas,
mas tornou-se muito generalizado. O seu nome tem tal como o cristianismo, enfatizavam a vida vindoura,
sido encontrado entre antigas inscrições cretenses. a imortalidade da alma e tudo quanto está envolvido
Um outro nome seu era Baco. E, devido aos excessos nisso.
selvagens dos ritos dos mistérios de Dioniso^ temos as 4. Competição e Contrastes. Como é óbvio, há
palavras portuguesas báquico e bacanal, referindo-se muitos contrastes, como também similaridades; e o
a orgias, festins de vinho e excessos sexuais de toda cristianismo entrou em conflito com essas religiões, e,
sorte. As bacas eram as companheiras femininas e finalmente, venceu-as. O cristianismo prosseguiu,
devotas de Baco ou Dioniso. enquanto elas chegaram ao final de suas carreiras e
5. O Mitraismo. Esse culto girava em tomo da desapareceram.
matança de um touro, em nome do deus Mitra. Foi a 5. Empréstimos Feitos pelo Cristianismo? O ponto
última das religiões misteriosas a popularizar-se no intensamente debatido é exatamente o quanto o
império romano. Ao que parece, era de origem persa. cristianismo tomou por empréstimo dessas religiões.
Mitra, o deus-herói, estando na terra, dedicou-se a Alguns eruditos supõem que os empréstimos foram
servir à humanidade. Após uma última ceia, que significativos naquelas áreas em que o judaísmo não
celebrava o seu sucesso, especialmente os seus foi uma fonte de influência. Os racionalistas
esforços remidores em favor dos homens, ele subiu germânicos e os teólogos céticos chegaram a tentar
para o céu. Ali chegando, ele continuou a ministrar desenvolver esse tema. Mas pensaram que o apóstolo
aos homens, por meio de seus agentes terrenos. Seus Paulo muito se endividou diante dessas idéias. Além
seguidores, estando neste mundo, enfrentam muitas das várias doutrinas que temos alistado no primeiro
dificuldades com poderes diabólicos, mas ele os ajuda ponto, sentiu-se que as lavagens cerimoniais dessas
e os toma vencedores. O processo de iniciação, para religiões misteriosas eram as precursoras do batismo
que alguém se tomasse membro pleno desse culto, era cristão; que a refeição sagrada era a precursora da
o mais elaborado dentre todas as religiões misteriosas. Ceia do Senhor; que o conceito do deus que morre e
O candidato precisava passar por sete graus que ressuscita influenciou as doutrinas cristãs a respeito
simbolizavam como a alma, após a morte, deve de Cristo. Eruditos como Bousset, Reitzenstein e
atravessar sete céus, antes de atingir a glória etema. Loisy foram os principais porta-vozes dessas idéias.
Em cada um desses graus o candidato entrava Apesar de muitos estudiosos admitirem que um certo
mediante a prática de abluções, refeições sagradas e conjunto de vocábulos foi tomado por empréstimo
vários ritos sacramentais. O mitraismo era a única das desses cultos, incluindo a própria palavra mistério,
religiões misteriosas a restringir ao sexo masculino o que ocorre com freqüência no Novo Testamento,
direito de se tomarem membros, pelo que se tomou embora nunca em todo o Antigo Testamento (outros
um culto extremamente popular entre os soldados exemplos são mústes, mustérion, kathársis e teleiô-
romanos. Durante o segundo e o terceiro século de sis), esse radicalismo parece ter sido essencialmente
nossa era, tomou-se o rival mais popular do abandonado. Não há que duvidar que certas formas
cristianismo, especialmente nas fronteiras do império de expressão foram tomadas por empréstimo, e que
romano, onde o número de militares romanos era algumas idéias são similares. Mas, não há razão
maior. alguma para supormos que houve qualquer emprésti
i4 Matança do Touro. Talvez esse fosse o rito mais mo substancial das religiões misteriosas para o
importante do mitraismo. Representava os poderes cristianismo.
sexuais, e daí extrapolava para o poder e a glória da m . Contribuições
própria vida à qual os iniciados estavam sendo
introduzidos. Esse culto era caracterizado por uma 1. Voltando à Questão dos Empréstimos de Idéias.
rígida disciplina que, naturalmente, atraía a mente Penso que é lógico supormos que o cristianismo, ao
militar e religiosa. crescer no meio ambiente formado pelas religiões
misteriosas, recebeu um senso mais agudo sobre os
D. Qual • ReUçio Entre Enas Religiões e o mistérios, sobre a profunda natureza dos mistérios
Cristianismo? divinos, do que teria sido possível se tivesse recebido
1. Atitudes e Idéias Similares. A leitura do materialapenas a influência do judaísmo. Quiçá tenha sido
acima impressiona o leitor com certas semelhanças essa a principal contribuição das religiões misteriosas.
básicas. Vemos naquelas religiões misteriosas planos Isso fica demonstrado pelos muitos mistérios que
de redenção, como no cristianismo; elas enfatizam a foram adotados no pensamento e no vocabulário
responsabilidade humana, o uso de sua vontade para cristãos. Ver o artigo separado intitulado Mistério.
obedecer e executar os mandamentos da divindade; Isso significa que apesar do cristianismo não ter tido
elas dão grande valor à fé religiosa nesta vida; elas de pedir emprestadas idéias das religiões misteriosas,
falam na descida ao hades, na libertação do hades, e parece ter incorporado o senso de admiração, em sua
no vôo para a glória etema; exceto no caso do fé, acerca das divinas realidades, que era sentido, pelo
655
RELÓGIO - REMANESCENTE
menos parcialmente, nas religiões misteriosas. ou seja, um funcionamento paralelo harmônico.
2. O Trabalho Missionário Foi Facilitado. A Igreja Vários filósofos têm tomado uma ou outra dessas
cristã, ao avançar para regiões onde predominava o posições como possíveis. Ver o artigo geral sobre o
paganismo, encontrou aderentes das religiões miste Problema da Mente-Corpo. (F)
riosas. Uma certa semelhança de maneira de pensar,
quanto a certas áreas importantes, naturalmente
teriam exercido efeito na preparação do caminho para REMALIAS
a passagem da nova fé, o cristianismo. Pai de Peca, um dos últimos reis de Israel, reino do
3. A ênfase sobre a necessidade de disciplina e de norte. Peca obteve o trono assassinando seu
experiência religiosa foi uma ênfase positiva, embora, antecessor, Pecaias (II Reis 15:25), que fora o rei que
com freqüência, aqueles sistemas religiosos misterio o nomeara como seu capitão.
sos abusassem dessa questão.
4. Os mistérios do cristianismo são mais antigos REMANÊNCIA
que os das religiões misteriosas, pois aqueles têm sua
base no judaísmo, além do fato de poderem Esse termo, cunhado por Wydlffe (vide), vem do
reivindicar para si uma revelação mais exata a vocábulo latino remanare, «permanecer». Assim ele
respeito dos grandes mistérios. Outrossim, o cristia deu nome a certa doutrina sua. Ele afirmava que, na
nismo é mais rígido em suas exigências éticas, embora eucaristia, os elementos materiais do pão e do vinho
não sem o concurso daquela liberdade que surgiu permanecem nesse sacramento, mesmo após as
quando o cristianismo rompeu relações com o palavras de consagração, mas fazem-se acompanhar
legalismo judaico. (AM E F Z ) pelo corpo e pelo sangue de Cristo. Essa idéia pode ser
comparada às doutrinas da transubstanciaçâo e da
consubstanciaçõo, sobre as quais tenho apresentado
RELÓGIO DO SOL artigos separados. Ver também o artigo Jesus Como o
H& evidências em favor da suposição de que o Pão da Vida, quanto à interpretação mística da Ceia
relógio de sol foi inventado pelos babilônios. Heródoto do Senhor.
informa-nos que os gregos obtiveram deles esse
instrumento, bem como a divisão do dia em doze
unidades ou horas (ii. 109). A primeira menção à REMANESCENTE
«hora», no Antigo Testamento, encontra-se em Daniel No hebraico temos três palavras diversas, com o
3:6, bem como no contexto babilónico. Os trechos de sentido de «aquilo que resta», «escape» e «remanescen
II Reis 20:11 e Isaias 38:8, em conexão com o rei te». No N.T. também temos três palavras gregas,
Ezequias, parecem aludirgnômon (indicador vertical) katáleimma, letmma e loipós, todas com o sentido de
do relógio de sol, onde o termo hebraico maalah «remanescente».
significa «degrau». Porém, a referência ali existente O conceito de remanescente encontra-se ao longo
mais provavelmente aponta para uma série de degrau$ da Bíblia, com vários aspectos e significações.
sobre a qual alguma coluna lançava sua sombra, Aquelas palavras originais, algumas vezes, eram
projetada pela luz do céu que ia ascendendo, ou uma usadas em combinações que lhes emprestavam um
sucessão de marcas, onde a sombra atingia segundo a efeito intensificador ou especial. Podiam indicar
hora do dia. Esse sistema era usado como um método objetos ou pessoas que sobraram, após o uso ou
primitivo para dizer a hora do dia. O aparelho, sem alguma mortandade ou destruição. Os profetas se
importar o seu formato e natureza, foi erigido pelo rei
utilizaram especialmente de expressões como «restan
Acaz. O profeta Isaías, a fim de mostrar que a tes de Sião» (Isa. 4:3; Jer. 6:9, «resíduos de Israel»;
Ezequias seria conferida a saúde física que ele Miq. 2:12, «restante de Israel»; Miq. 5:6 s, «restante
buscava recuperar, predisse que a sombra retornaria de Jacó») e expressões similares. Essas expressões têm
dez graus (ou degraus), o que devemos considerar um um sentido teológico e escatológico, um resumo das
grande milagre, a menos que, naquela oportunidade, esperanças dos crentes israelitas. O povo ao qual seria
tenha ocorrido uma leve mudança na posição dos dada a salvação final consiste na comunidade
pólos magnéticos da terra, o que alterou a sombra em daqueles que, pelo desígnio gracioso de Deus, vierem
dez graus. a escapar do juízo condenatório, por haverem sido
escolhidos pelo Senhor. Todavia, como muitos outros
conceitos teológicos, o conceito de «remanescente»
RELÓGIOS, IMAGEM DOS DOIS também sofreu uma evolução ao longo da revelação
Descartes insistia na combinação entre a mente e o bíblica:
corpo, com interação mútua em sua teoria da dupla 1. Uso profano ou natural. A idéia de algo que
personalidade humana. Outros filósofos tomam sobrou é comum no uso secular. A Bíblia alude ao
posições diferentes, e o que podemos dizer sobre o resto das ofertas de manjares ou de cereais (Lev. 2:3),
problema da mente-corpo, pode ser ilustrado ao resto do azeite (Lev. 14:18), os restantes dos
mediante dois relógios. As possibilidades são como prostitutos cultu ais (I Reis 22:46), etc. A palavra
seguem: «restante» é usada, especialmente, para indicar
Dois relógios, que marcam o tempo com precisão, e minorias políticas de vários tipos (ver Jos. 23:12; Deu.
estão sempre juntos, poderiam fazer isso através de: 3:11; II Sam. 21:2; Isa. 14:22,30; 16:14; I Reis 14:10;
1. Interação constante e ajustes mútuos; ou 2. um II Reis 25:11; Eze. 14:22, etc.). Os grupos de exilados
fabricante poderia ajustar constantemente ambos os que retomaram da Babilônia em companhia de
relógios, a fim de que sempre correspondessem um ao Zorobabel e Esdras também eram chamados «rema
outro; ou, finalmente, 3. os dois relógios, devido à nescentes».
perfeição de seu mecanismo, podem trabalhar sempre 2. Uso teológico. Ê nesse campo que a palavra se
em uníssono, sem qualquer interferência externa, e reveste de grande importância. O destino político de
sem necessidade de qualquer interação. Se substituir Israel é uma questão escatológica, profetizada. Um
mos a relação entre mente e corpo por dois relógios, exemplo pertinente disso é Miq. 5:3: «Portanto os
chegamos a obter várias teorias possíveis, como: 1. entregará até ao tempo em que a que está em dores de
Interacionismo; 2. ocasionalismo; ou 3. paralelismo, parto tiver dado à luz: então o restante de seus irmãos
666
REMAR - REMORSO
voltará aos filhos de Israel». Estão em foco os eleitos REMTOOR DE PARENTE
dê Deus dentre todas as nações, que serão unidas aos Ver God.
israelitas salvos no fim de nossa dispensação,
completando a Igreja. Os profetas do A.T. apenas
vislumbravam o que o N.T. descreve com maior REMINISCÊNCIA
clareza.
Essa palavra aponta para o ensino de Platão de que
Aquele que faz a vontade de Deus é irmão, irmã ou todo conhecimento importa em «lembrança». Ele
mãe de Cristo (Mat. 12:50); e Cristo não se alicerçava sua idéia sobre a crença de que a alma,
envergonha de chamá-los irmãos (Heb. 2:11). A antes de vir a este mundo, já havia contemplado as
promessa se estende a todos quantos são chamados Idéias, o mundo dos Universais (vide), mesmo porque
por Deus (Atos 2:39). ela serià aparentada daquelas elevadas realidades.
Que a Bíblia ensina um retomo literal dos judeus à Assim sendo, a alma humana seria possuidora de todo
Palestina (que pode ser identificado ou não ao conhecimento, embora não no nível da consciência.
contemporâneo movimento sionista), parece claro, Mas, por meio de vários esquemas, a alma pode
através de trechos como Jer. 31:7-9 e Miq. 5:7,8. Mas, recuperar parte desse conhecimento, ou seja, através
quando chegamos ao N.T., a palavra «remanescente» da razão (daí a importância do diálogo), da intuição e
é usada especialmente em relação aos judeus que, em das experiências místicas.
cada geração, se vão convertendo a Cristo, até à Ainda segundo Platão, a alma perderia a memória
grande colheita final de israelitas, nos dias da grande de suas vidas anteriores e dos universais, ao
tribulação. Romanos 9:27-29 é passagem crucial reencamar-se. Por assim dizer, antes de voltar a este
dentro da teologia do remanescente. Só o remanescen mundo, ela seria forçada a beber da fonte do
te de Israel será salvo. Esses são a semente espiritual esquecimento, e assim nasceria, como que pela
de Abraão, em contraposição à sua descendência primeira vez. Ver o artigo detalhado chamado
natural — aqueles que são tão numerosos como as Reencamação. Ver também o verbete Anamnésis,
estrelas, em contraste com aqueles que são tão termo grego para reminiscência.
numerosos como a areia dos mares. Portanto, é um
erro equiparar a moderna nação de Israel com o
remanescente profetizado. Contudo, apesar desse REMISSÃO DE PECADOS
remanescente visar especialmente aos judeus eleitos Ver Perdio.
por Deus, também estão em pauta os gentios eleitos
(ver Rom. 9:24,25: «...a quem também chamou, não
só dentre os judeus, mas também dentre os REMONSTRANTES
gentios...»). Isso esclarece que a Igreja de Cristo, em Quarenta e cinco ministros de pendores arminianis-
seu estágio final, consistirá de judeus e gentios eleitos, tas objetaram ao calvinismo estrito e apresentaram
tal como se deu no começo do cristianismo, suas idéias alternativas. Eles dirigiram uma remons-
fortalecendo a posição pós-tribulacional, que não trância ou «protesto» às províncias da Holanda e de
concebe a Igreja gentílica arrebatada antes da Frieslândia, em 1610, motivo pelo qual vieram a ser
tribulação, somente após o que os judeus se voltariam conhecidos como os remónstrantes ou protestadores.
para Cristo. As promessas bíblicas, acerca do povo de Imediatamente foram privados de seus ministérios e
Deus do fim, visam igualmente a judeus e gentios, foram banidos, visto que o ódio teológico sempre se
pois, em Cristo são eliminadas todas as distinções que manifestará com conseqüências drásticas. Posterior
os separavam, formando-se um único corpo místico mente, porém, foram perdoados. Ver os artigos
de Cristo. (Ver João 17:22,23). intitulados Calvinismo; Arminianismo; Calvino e
Romanos 11:4,5 é trecho que fala de um Armínio.
remanescente escolhido de acordo com os propósitos
da graça divina. A base histórica disso é a experiência
do profeta Elias, que foi relembrado, em um REMORSO
período de grande apostasia em Israel, que havia ali Ver o artigo geral sobre o Arrependimento. A
muitos que não tinham dobrado os joelhos diante de palavra latina por detrás de «remorso» é remorsus,
Baal. O ponto frisado pelo apóstolo foi que esses fiéis «morder de volta». Remordere é termo latino que
do passado são paralelos ao remanescente da graça na significa «remorder», «continuar mordendo». Todos
dispensação atual. A soberana eleição de Deus está estamos familiarizados com o remorder da consciên
em foco. Apesar da maioria da nação de Israel ter cia. O remorso é uma espécie de angústia mental,
caído em apostasia, o remanescente permaneceu fiel devido às coisas erradas que temos praticado.
ao Senhor. O mesmo sucederá no período escatológico Trata-se de um desassossego de que fizemos algo
do fim. Outro pensamento que se salienta é que Deus errado, que precisa ser corrigido. Trata-se também de
jamais rejeita os seus escolhidos. Pois a eleição para a uma aguda auto-reprimenda. Muitas pessoas têm
salvação não depende das realizações morais dos chegado ao ponto de cometer suicídio, devido ao
escolhidos, mas do beneplácito de Deus. A ênfase espicaçar de um profundo remorso.
recai sempre sobre a profundíssima misericórdia do O remorso, entretanto, fica a meio do caminho
Senhor, em todas as discussões sobre o remanescente. palmilhado pelo arrependimento. Por isso mesmo, os
teólogos geralmente distinguem entre o remorso e o
arrependimento, porquanto o primeiro pode existir
REMAR, REMADOR sem o segundo. Presumivelmente, quando Judas
Ver Navio« e Embarcações. Iscariotes sentiu remorso, por haver traído ao
inocente Jesus, nem por isso verdadeiramente
arrependeu-se. De outra sorte, não se teria suicidado
REMETE (ver Mat. 27:3). Por outra parte, para nós é difícil
Uma cidade de fronteira, no território de Issacar, dizer qual o resultado final de seu remorso. Pedro vem
alistada juntamente com En-Ganim (Jos. 19:21). em nosso socorro, e diz: «...Judas se transviou, indo
Provavelmente era idêntica à Ramote de I Crô. 6:73, e para o seu próprio lugar» (Atos 1:25). E o trecho de II
à iarmute de Jos. 21:29. Cor. 7:10 acena-nos com a esperança de que a
667
RENAN - RENASCENÇA
«tristeza segundo Deus» termina em arrependimento. tornou-se um fator muito forte no âmbito da
Todavia, há uma tristeza mundana que só resulta em educação, o que se estendeu até dentro do período
malefício para a alma. moderno. No entanto, esse ímpeto, em nossos dias,
perdeu-se quase inteiramente. Os departamentos de
estudos clássicos são pequenos e débeis nas institui
RENAN, JOSEPH ERNEST ções de ensino. Assim, a Universidade de São Paulo,
Suas datas foram 1823-1892. Nasceu em Treguier, em 1987, não formou um único aluno no idioma e na
na Bretanha francesa. Ele foi orientalista, historia literatura gregos, e a maioria das universidades nem
dor, teólogo e filósofo. Educou-se em Treguier e em ao menos conta com uma cadeira dessa disciplina. O
S&o Nicolau, no Seminário de Issay. Tornou-se latim é pouquíssimo ensinado, até mesmo em nível
professor de hebraico e das línguas caldaicas no universitário, quanto menos no ginásio e no colégio.
College de France. Apresentou conferências de Estamos falando sobre o nosso pais. A reforma do
tendências liberais, como aquelas sobre a Vida de ensino, em 1964, extinguiu o estudo do latim,
Jesus, o que lhe- custou sua remoção daquela conforme, várias décadas antes, o grego cessara de ser
instituição de ensino por parte do ministério de ensinado. O grego «koiné», porém, continua sendo
educação da França. Porém, deu prosseguimento às uma matéria obrigatória dos cursos teológicos,
suas pesquisas e aos seus escritos. Mais tarde, veio a porquanto foi nesse idioma que o Novo Testamento
ser administrador do Collêge de France, e finalmente, foi originalmente escrito. A Igreja Católica Romana
grande oficial da Legião de Honra. sempre se mostrou interessada pelos clássicos, è
Renan tornou-se conhecido nos círculos teológicos grande parte das idéias de Platão e Aristóteles foi
por meio de sua literatura, na qual assumia uma incorporada no escolasticismo (vide), ainda que essa
posição naturalista. Referiu-se a Jesus Cristo como incorporação tenha tido adaptações cristãs e dogmáti
«homem incomparável», fmas sem jamais considerar a cas. Isso contrasta com o período da renascença,
sua natureza divina. Sua famosa obra, Vie de Jésus, quando os estudiosos examinavam os clássicos devido
«Vida de Jesus», foi finalmente expandida em um jogo ao valor que lhes davam.
de oito volumes. Também escreveu cinco volumes 3. O Movimento do Humanismo
sobre a Histoire du peuple dlsrael, além de várias Podemos estar certos de que esse movimento surgiu
outras obras importantes. Seus Ensaios de Moral e como uma revolta contra o domínio sufocante da
Crítica nunca deixaram de suscitar debates.
Igreja Católica Romana, apesar de também ter sido
um ressurgimento livre e espontâneo do desejo de
RENASCENÇA liberdade e bem-estar humanos. Ver o artigo geral
Esboço: chamado Humanismo. Os clássicos gregos e romanos
1. O Termo e a Época em Foco eram estudados; os valores culturais humanos foram
2. O Reavivamento da Cultura Antiga enfatizados; a autoridade da Igreja foi questionada.
Vultos como Petrarca e Erasmo de Roterdã foram
3. O Movimento do Humanismo fatores importantes para o humanismo que caracteri
4. Aristóteles Versus Platão zou a época.
5. O Reavivamento do Misticismo 4. Aristóteles Versus Platio
6. O Soerguimento da Ciência Um dos efeitos da renascença foi o debilitamento
7. Insatisfação com as Instituições do aristotelismo. Por sua vez, o platonismo foi
8. Reflorescimento das Artes reavivado, conforme se viu na Academia Florentina
9. Efeitos sobre a Erudição e a Literatura (vide). E isso teve certos efeitos sobre a postura
10. Sumário de Efeitos teológica de muitos pensadores.
1. O Termo e • Êpoca em Foco 5. O Reavivamento do Misticismo
O vocábulo português «renascença» deriva-se do Durante a renascença foram reestudados a Cabala
francês que significa «renascimento». Esse termo é (vide) e os escritos herméticos (vide). A alquimia
aplicado como designação histórica de um período de cresceu em sua importância, abrindo caminho para a
tempo que foi vivido pela Europa Ocidental, entre os mais científica química. Nicolau de Cusa (vide)
séculos XIV e XVI. Porém, somente entre 1855 e 1860 combinou entre si essas diversas disciplinas.
é que esse termo começou a ser realmente usado para 6. O Soerguimento da Ciência
indicar esse período de tempo, e isso nas obras de A renascença foi um importante fator para o
Michelet e Burckhardt. Eles usaram esse vocábulo desenvolvimento da ciência moderna. A ciência
como título do período histórico em pauta. Mas houve conseguiu desprender-se de vez da filosofia, adquirin
outras designações, como «renascimento do espírito do direitos e valias próprios. Giordano Bruno (vide) e
greco-romano» e «reavivamento da erudição». Francisco Bacon (vide) foram figuras exponenciais
2. O Reavivamento da Cultura Antiga nesse aspecto do movimento.
As obras clássicas gregas e latinas não eram 7. Insatisfação com as Instituições
desconhecidas durante a Idade Média, mas também Uma característica óbvia do período foi a
não eram enfatizadas. Durante a renascença, reviveu insatisfação geral diante dos rumos que estavam
o interesse por essas áreas do pensamento e tomando a religião e as principais instituições
realização. E isso serviu de estímulo para que os religiosas. A Igreja Católica Romana resistia às
estudiosos buscassem maiores conhecimentos sobre a tentativas de reforma de seus abusos, tendo apelado
idade áurea greco-romana. E daí resultou um efeito para a perseguição e a matança. Lembremo-nos que a
secularizador, que tendeu por diminuir o predomínio Reforma Protestante foi um corolário da renascença.
até então exercido pela Igreja Católica Romana sobre Mas nem toda resistência católica romana era contra
o oeste europeu. os reformadores religiosos. Giordano Bruno acabou
Por essa altura dos acontecimentos, foram executado na fogueira, tendo-se tornado o primeiro
encontrados muitos manuscritos escritos em grego e «mártir da filosofia», nos primórdios da era moderna.
em latim, e a literatura e a cultura da antiga
civilização greco-latina tornaram-se importantes para 8. Reflorescimento das Artes
grafide número de estudiosos. Essa influência Esse foi um importante aspecto da renascença. A
658
RENASCENÇA - RENDA GARANTIDA
arte abandonou o simbolismo medieval acerca de um j. Finalmente, a renascença assinalou o fim da
outro mundo, imaginado pelos religiosos, para Idade Média e o começo da era moderna. (AM E H P)
representar as belezas do mundo físico. Nem por isso
os assuntos religiosos foram totalmente relegados ao
esquecimento, mas agora possuíam uma maior RENASCIMENTO
naturalidade. Os arquitetos da renascença afastaram- Ver sobre Reencamação. Ver também os artigos
se cíbs temas místicos e religiosos, e reviveram as Nçvo Nascimento e Regeneração, que são outras
formas clássicas. Os dramas teatrais e a música formas (espirituais) de renascimento.
passaram a celebrar temas totalmente seculares. £
óbvio que muitos artistas renascentistas foram
homens piedosos, mas até mesmo eles começaram a RENDA GARANTIDA
explorar um leque mais amplo de assuntos e temas. Jesus recomendou que não nos preocupássemos
Contudo, houve uma expansão a áreas que os com o dia de amanhã (ver Mat. 6:34). Isso com base
piedosos do passado dificilmente teriam querido no fato de que Deus tem consciência de nossas
sondar. Assim, Poggio Bracciolini serve de exemplo necessidades, sendo ele aquele que nos dá uma renda
de um humanista que desafiou abertamente a garantida. Porém, a pobreza tem uma natureza tão
moralidade da sua época. Vasari, em sua obra Vidas opressiva, e os homens são dotados de uma
dos Pintores, falou sobre as belas-artes, que foram mentalidade tal que alguns sindicatos trabalhistas e
ganhando uma faixa cada vez mais larga na cultura outras organizações têm procurado promover o
humana. Michelet descreveu a renascença como «o conceito de uma renda garantida, na forma de
descobrimento do mundo e do homem», e isso teve salário. Presumivelmente, isso parece indicar que
reflexos nas artes e na literatura do período. A também deve hav^r empregos garantidos. Porém,
renascença, em suma, foi um tempo de excitação mesmo que isso não aconteça, essa idéia declara que o
intelectual generalizada, de iluminismo (Walter «governo deveria garantir algum dinheiro para os
Pater) e da redescoberta de uma liberdade auto- desempregados.
consciente (Symonds).
Algumas vezes, a pobreza origina-se na falta de
9. Efeitos sobre • ErudlçSo e a literatura oportunidade, de educação ou de provisões e
Esses campos da atividade humana receberam uma providências inadequadas, por parte dos governos.
nova liberdade, um novo impulso, em parte Mas, outras vezes, a pobreza origina-se na mera
inspirados pela erudição árabe e judaica. A literatura preguiça. Um caso recente no Brasil (1986), ilustra
do período incluiu a tradução dos clássicos gregos e bem isso. Foram doadas terras a muitas famílias. Mas
romanos, o reavivamento das antigas idéias do certos homens assim beneficiados, que poderiam
período greco-romano, em obras totalmente divorcia então trabalhar e desenvolver suas plantações,
das da questão religiosa, e que, em muitos casos, preferiram ir a uma aldeia próxima passando as
punham em dúvida a autoridade de Roma. noites em bebedeiras e festanças. E alguns deles,
10. Sumário de Efeitos nessa irresponsabilidade, chegaram a cometer crimes
a. Perda de prestigio e autoridade por parte da sérios. .A lição é clara: Antes que se possa tirar as
Igreja Católica Romana. pessoas das favelas, é mister tirar a favela do coração
b. Adoção de certas idéias pagãs, novas formas das pessoas.
culturais e uma moralidade nova. Por outro lado, há muitas pessoas honestas e
c. Mudanças nos costumes, com o enriquecimento dignas de confiança, que querem trabalhar, mas que
de muitos e uma vida luxuosa. não têm a oportunidade de fazê-lo em regiões onde
impera a depressão econômica. Até que ponto um
d. Surgiram os livre-pensadores, com suas atitudes governo pode e deve assumir a responsabilidade por
de critica, tanto positiva (feita pelos reformadores seus cidadãos? Nos dias antigos, os necessitados eram
protestantes) quanto negativa (feita pelos pensadores ajudados por suas respectivas famílias. Porém, nem
céticos). sempre isso funcionou, porque sempre houve fome e
e. Formação das pedras fundamentais das socie necessitados nos países em recessão econômica,
dades modernas, com política desvinculada da Igreja; apesar das boas intenções das famílias.
a arte e a literatura seguem temas seculares, e não Muitos cristãos objetam a um excessivo envolvi
mais exclusivamente religiosos. mento dos governos nessas questões, argumentando
f. Um notável efeito foi o lançamento do alicerce da que isso promove tanto a desonestidade quanto a
ciência moderna, que se tomoú essencialmente preguiça. Muitas pessoas pouco ou nada fazem por si
secular, e não mais religiosa, pois libertou-se do mesmas, a menos que sejam forçadas, a fim de
apadrinhamento romanista. sobreviverem. A Bíblia enfatiza a caridade, mas
g. Foi lançada a base sobre a qual floresceram também requer o senso de responsabilidade pessoal,
filósofos posteriores, como John Locke e Hume, os repreendendo o parasitismo: «...se alguém não
quais foram instrumentais na introdução do empi trabalha, que também não coma...» (II Tessalonicen-
rismo e do ceticismo, figuras exponenciais que ses 3:10). Todavia, isso não isenta a ninguém do dever
separaram a filosofia e a ciência da religião. de mostrar-se generoso para com os necessitados.
h. Foi facilitado em muito o caminho para a Porém, até que ponto pode um governo, mediante a
Reforma Protestante. Apareceu o individualismo na cobrança de impostos, garantir que seus cidadãos
maneira de pensar; foram fornecidas raizes ao necessitados sejam socorridos? A experiência tem
liberalismo. Na verdade, a Reforma embotou demonstrado que quanto maiores garantias se tentar,
temporariamente a influência secularizadora da mais baixos ficarão os salários, visto que muitas
renascença, embora tivesse sido muito ajudada pelas pessoas serão ocupadas a fazer algum trabalho que
modificações impostas pela renascença. poderia ser feito por poucas pessoas. Isso significa que
i. A secularização da era moderna foi o desabrochar os salários precisarão ser distribuídos por um maior
da semente plantada durante a renascença. Portanto, número de pessoas, que pouco ou nada fazem.
esse movimento foi decisivo na determinação da Um outro desses artifícios econômicos tem sido o de
direção que a cultura haveria de tomar na Europa, e, obrigar as pessoas a contribuírem com parte de seus
em seguida, nas Américas. salários para fundos de garantia social, para o caso de
659
RENFÀ - RENOVAÇÃO
pessoas que tiverem perdido seus empregos, por to é no espirito que se originam todas as mudanças «
qualquer motivo, possam receber do governo alguma renovações. Naturalmente^, fica entendido que o
ajuda financeira. O chamado «seguro desemprego» é Espirito de Deus é o agente em toda verdadeira
um outro desses esquemas, mas, na verdade, não mudança e renovqção espirituais.
pode isso ser confundido com uma renda garantida, Terminada a era apostólica, uma visão sacramental
mesmo porque é de pequena duração. Alguns da renovação penetrou na Igreja. E certos versículos
economistas, políticos e outros têm sugerido que uma neotestamentários parecem antecipar essa distorção,
solução possível possa ser uma pequena renda embora certos teólogos neguem isso. Entre as obras
garantida, que garanta a sobrevivência dos necessita apócrifas, Barnabé 6:11 liga a renovação ao batismo
dos em tempos de crise, mas que não encoraje os em água, como também o livro, Atos de Tomé (132).
preguiçosos a tentarem viver somente dessa ajuda go Ver o artigo intitulado Regeneração Batismal.
vernamental, em bases permanentes. Os problemas A própria regeneração, efetuada pelo Espirito
sociais em que algumas nações se vêem envolvidas são Santo, é a maior de todas as renovações. No entanto,
tão calamitosos que não existe nenhuma boa solução, hodiemamente, o termo é usado por muitos para
mesmo que se combinem muitos métodos de ajuda. indicar os reavivamentos religiosos e os movimentos
Contudo, faz parte da responsabilidade dos governan de igrejas tradicionais que aceitam a bênção
tes continuarem buscando remediar tal situação. carismática. A regeneração é obra do Espirito de
Sabemos, contudo, que a pobreza continuará Deus, e a renovação mental é efetuada pelo mesmo
existindo até à volta do Senhor Jesus. Ele mesmo Espírito, com a cooperação consciente e esclarecida
disse: «Os pobres sempre os tendes convosco...» (Mat. do crente.
26:11). Os meios de desenvolvimento espiritual são fatores
importantes em qualquer renovação genuína e
RENFÀ duradoura. Ver o artigo chamado Desenvolvimento
Espiritual, Meios do. As experiências emocionais
Na Septuaginta, Ralfan; no N.T., Romfa, além de podem ser o estopim de renovações imediatas, mas
numerosas variantes, todas com sentido incerto; Atos provisórias. O crescimento espiritual, porém, garante
7:43. a continuidade da renovação mental, moral e
Nome de uma divindade astral associada ao planeta espiritual do crente.
Saturno, citado em Atos 7:43, baseado na tradução
da LXX, citando Amós 5:26. O texto hebraico
massorético diz aqui kiyyun, similar ao acádico RENOVAÇÃO DA MENTE
kaiwanu, «Saturno». No hebraico houve a substituição Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus,
das vogais de siqqus, «coisa detestável», pelas vogais que apresenteis os vossos corpos como um
da palavra acádica, a fim de refletir quão detestável sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o
era aquela divindade pagã. Não se sabe como a vosso culto racional. E não vos conformeis a este
Septuaginta terminou exibindo a forma inesperada mundo, mas transformai-vos pela renovação da
Raifàn. Talvez se trate de uma transliteração vossa mente, para que experimentais qual seja a
equivocada ou uma forma de Repa, um nome egípcio boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
do deus do planeta Saturno, em substituição às Consagração do cristão, segundo Romanos 12:1,2:
traduções alexandrinas menos inteligíveis, kiyyun.
Pela Renovação da Vossa Mente
Essa «renovação» é de caráter espiritual, assumindo
RENOVAÇÃO o aspecto de «reforma», em que as faculdades mentais
Esse conceito sempre sofre devido a doas Interpre e espirituais—as faculdades imateriais do indiví
tações extrema«: da parte daqueles que se satisfazem duo—são afetadas para melhor. Isso é mais do que a
com seus hábitos e maneira de viver, os quais resistem renovação «intelectual», porquanto também deve ser
a qualquer tentativa de mudança, com freqüência ação da própria alma ou espírito, a verdadeira
rotulando-a de heresia ou fanatismo; ou da parte essência intelectual do ser humano.
daqueles que anseiam tanto por renovar as coisas que «A mente é renovada pela novidade do Espírito, e
terminam na arrogância da superioridade e do do íntimo o impulso transformador passa a transfigu
exclusivismo, pensando que voltaram aos dias do rar a totalidade da vida». (Philip Schaff, no
Novo Testamento ou conseguiram realizar algum feito Comentário de Lange).
extraordinário. Quase todos os movimentos de
renovação enfatizam o lado místico, ao mesmo tempo Deus é intelecto puro, o «nous» dos gregos (que
em que negam o valor do intelecto. Ver sobre significava a «mente», para eles), o nous do universo,
Antiintelectualismo. o grande ser imaterial. O homem também possui
Seja como for, apesar dos abusos, a renovação é intelecto, cuja espiritualidade é derivada da espiritua
uma parte integral do pensamento cristão, e deveria lidade infinita de Deus. A mente, palavra empregada
fazer parte da experiência cristã. Paulo exortou-nos neste texto e usada constantemente no vocabulário da
para que sempre renovássemos a nossa mente (ver filosofia grega, a começar por Anaxágoras, reveste-se
Rom. 12:1,2), como meio de atingirmos um alto grau da idéia de «espiritualidade», e não apenas da idéia de
de dedicação a Cristo. A necessidade de renovação «intelectualidade». Portanto supomos, paralelamente
faz-se continuamente presen