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Podcast com Gabriel Martins

Aline Vila Real:


Olá pessoal, eu sou Aline Vila Real, gestora cultural de Belo Horizonte, fui convidada pelo BDMG Cultural
para apresentar e formular algumas questões esse podcast. Esses podcasts surgem a partir da seguinte
pergunta: como as imagens podem contribuir para produzir vizinhanças? Para isso foram convidados três
artistas e realizadores cujas pesquisas vão a encontro desse tema. O convidado de hoje é Gabriel
Martins, nascido em Belo Horizonte, radicado na periferia de Contagem, Gabriel Martins é formado em
cinema pela Escola Livre de Cinema, e em comunicação social pela UNA. Junto com André Novaes,
Maurilio Martins e Thiago Macedo fundou a produtora Filmes de Plástico, que desde 2009 vem
realizando filmes que foram selecionados em mais de 200 festivais no Brasil e no mundo, ganhando mais
de 50 prêmios. Olá Gabriel, seja bem-vindo.
Gabriel Martins:
Olá, beleza Aline? Tudo Certo?
Aline Vila Real:
Tudo caminhando, eu gostaria que você se apresentasse e falasse um pouco mais sobre o trabalho da
Filmes de Plástico, conectando a esse tema que esta guiando essa série de conversas. Como as imagens
podem contribuir para produzir vizinhanças?
Gabriel Martins:
Massa, vamos lá. A Filmes de Plástico, ela é uma produtora que a gente oficialmente começou a assinar
em 2009, com esse nome, mas eu ja conhecia todos os meninos antes disso, tanto o Thiago, como o
Maurilio e o André, a gente se conhece antes, e a sementinha da produtora foi quando eu e Maurílio, a
gente se conheceu na UNA em 2006, no curso de cinema, e a gente se identificou como sendo do
mesmo bairro, no caso do Maurilio o bairro Laguna. E eu do bairro Milanez, que são bairros vizinhos
então a gente conta como praticamente sendo o mesmo bairro. Eles ficam ali na divisa entre BH e
Contagem, então é uma região bem especifica porque ela está distante dos dois centros, das duas
cidades. E isso sempre foi uma questão assim pra gente, porque de certa forma tanto eu quanto o
Maurilio tivemos uma convivência muito dentro do bairro, e uma relação menor entre os dois centros,
assim. Então esse fato de a gente ter se conhecido no curso cinema, tendo crescido em uma região, e
naquela época ainda estarmos morando em uma região em que a gente nunca imaginaria que teria
outras pessoas fazendo cinema, nos despertou algo muito forte assim, em relação de amizade, porque
pra além disso tudo a gente tinha haver né? Não era só o fato de morar no mesmo bairro, mas tínhamos
gostos parecidos, éramos muito cinéfilos . E isso realmente foi uma raridade. Então esse encontro se
potencializou, eu já conhecia o André, apresentei o André ao Maurílio, e trouxe o André para essa ideia
da produtora. Inclusive eu não sabia, mas descobri que o André também era morador da periferia de
Contagem, no caso no Bairro Amazonas, que era um pouco distante do nosso, mas também Periferia.
Então nós três se juntamos de uma forma muito afetiva diante desse tema, de gostarmos muito dos
bairros que a gente morava mais também tínhamos questões com eles, mas de nos sentirmos "peixes
fora d'água" de uma certa cena cultural. Por mais que a gente tentasse fazer parte, a gente estava
distante geograficamente. Essa distância geográfica significa muitas vezes um alijamento das coisas como
estão acontecendo. Então a gente formou uma produtora muito com essa identidade, mas de início ela
não foi algo que a gente claramente falou que ia fazer nos filmes, nos primeiros filmes. Que o bairro
estaria como a frente, como personagem. E em 2010 a gente fez um curta que chama "Contagem",
dirigido por eu e o Maurílio, e nesse curta, por levar o nome da cidade, acho que despertou uma ideia de
território que foi muito forte, assim, que as pessoas que viram... Por mais que o filme em si não falasse o
tempo todo que era feito em Contagem, que era feito na periferia, mas essa geografia estava lá como
imagem. Então isso começou a bater como algo forte, e quando a gente começou a circular um pouco
pelos festivais a gente começou a ser reconhecido como a produtora de Contagem. Isso foi interessante,
e não só a produtora de Contagem como também uma produtora que vinha de periferia. E tava fazendo
filmes que se passavam nesses lugares, com personagens desses espaços.Então isso gerou de uma certa
forma atenção para esse lugar. E a gente passou a achar também cada vez mais fundamental pontuar
esse lugar de onde a gente veio, e desde então tem uma fonte inesgotável de ideias para a gente. No fim
das contas, mais do que a defesa de um lugar que a gente veio e que a gente tem orgulho, e que não foi
muito representado no cinema brasileiro da forma como a gente representa, é acima de tudo uma fonte
de ideias. É um lugar que tem muitas ideias, tem pessoas interessantes, e a gente adora filmar esse lugar
de onde a gente veio.
Aline Vila Real:
E isso a gente percebe totalmente na produção da Filmes de Plástico. Então essa ideia como o território
trás proximidades e ao mesmo tempo vocês acabam discutindo sobre as distâncias com a cidade, né,
esses fluxos da cidade. E isso me dá um gancho para uma questão que eu queria trazer, que é: nas
histórias que vocês apresentam nos filmes, a gente percebe bem, assim, que se desenvolvem trajetórias
de personagens em fluxo que mudam de cidade, que precisam sair, que acabaram de chegar, que não
sabem se ficam, que tem a ver com esses fluxos urbanos, também. E de algum modo essas trajetórias
também se ligam pela experiência que envolve o trabalho. Então as pessoas também mudam de
trabalho, tentam criar outras formas de exercer o trabalho,buscam outras alternativas perspectivas. Mas
essas histórias mostram essas relações de trabalho assim como várias outras. Então não cria hierarquias
nesse sentido também, né?! Então tem outras formas de experiência, de convívio, com as familiares, as
afetivas, as questões existenciais desses personagens... E essas relações estão sempre ligadas a uma
potência de transformação. A gente percebe que os personagens são sempre apresentados num
ambiente, como você mesmo disse, muito rico, ou seja, muito possível de transformações. E eu gostaria
que você comentasse esses aspectos levando em conta também esse momento em que a gente está
vivendo, onde fica mais explícito essas relações ente trabalho e sociedade, e também a partir das obras
da Filmes de Plastico.
Gabriel Martins:
Nossa, é... Bom, primeiramente eu concordo bastante com sua leitura. Eu acho que esses processos de
transformação, primeiro que eu acho eles muito cinematográficos, né, eles são muito atraentes para
uma narrativa de um filme, eu acho que... é, para pontuar uma ideia de arco dramático, que é onde o
personagem começa e onde ele termina, transformações fazem parte de contar uma história, quando
você conta qualquer história ela tem começo, meio e fim. Mas eu acho que isso também tem muito a ver
primeiro com um pouco a história desses bairros, que eu acho que são bairros... Por exemplo, quando os
meus pais mudaram para o bairro Milanez, eles foram basicamente, eles e junto com uma geração
próxima a geração do meu pai, foram meio que as primeiras pessoas a morar no bairro. O bairro era
cheio de lotes vagos, e eles foram quase que meio que pioneiros, assim, a comprar lotes e construir.
Então a minha infância nessa periferia, ela foi muito próxima de uma infância quase num sítio. Porque
não tinha muito a urbanização, a minha rua foi ser asfaltada eu já era um pouco mais velho. Então tinha
uma coisa desse movimento de pessoas que vinham de outros bairros, em muitos casos até de outras
cidades, que também refletem um pouco Minas Gerais, né? Eu sinto muito de BH e região
metropolitana, que tem muita gente do interior, inclusive se você for olhar até as nossas famílias, a
história passada, todo mundo vem de alguma outra cidade. A família do Maurílio tem gente de Oliveira,
a minha família tem gente de Mariana... A família por parte da minha mãe tem gente de Teófilo Otoni,
então esse fluxo migratório, assim digamos, ele é muito comum em Minas Gerais, a gente vê muito,
assim, capital-interior, as pessoas estão sempre se movimentando, e as pessoas estão sempre
movimentando principalmente por questões de trabalho. Porque os personagens dos nossos filmes, que
são na verdade extensões da nossa família, e do lugar de onde a gente vem, são pessoas trabalhadoras e
que sempre tiveram, de certa forma, questões com dinheiro. Nunca o dinheiro foi uma coisa fácil, são
famílias que tiveram sempre trabalhar. Então esse processo de sempre ter que correr atrás, né? Eu acho
que quando eu sinto você falando de transformação, eu acho que tem a ver com o famoso correr atrás,
né?! Correr atrás de um trabalho, correr atrás de uma vida melhor, correr atrás de condições melhores.
Ser demitido, ter que procurar um trabalho, não uma formação de curso superior. Então você tem que
fazer um trabalho informal. Ou mesmo tendo uma formação. E eu acho que esse ambiente que a gente
decidiu filmar, ele é muito simbolo disso, por ser periferia. Um exemplo que eu colocaria que é muito
claro, e até numa escala radical, é que nos últimos anos, desde que começou a construção do Shopping
Contagem, que fica ali no bairro Cabral, ele fica muito próximo da nossa periferia, né, é o bairro vizinho
de onde a gente cresceu. E desde que começou a construir o Shopping Contagem e outros
empreendimentos nos locais, teve uma migração grande de mão de obra haitiana. O nosso bairro hoje
tem uma comunidade muito grande de haitianos, muito grande mesmo. Foram pessoas que foram pra lá
trabalhar e que decidiram ficar. Eles moram no bairro, já tem filhos que nasceram no bairro, inclusive na
praça, onde tem muitas cenas do nosso filme, no Contagem aparece a praça, a abertura do Coração do
Mundo, é nessa praça Nessa praça tem uma igreja de haitianos em que o culto é em crioulo, então é
doido porque temos um fluxo imigratório totalmente contemporâneo e novo, que vem de pessoas que
vieram por trabalho e que se instalam no bairro e a partir dali vivem suas vidas No Brasil que a gente tá
vivendo hoje tão Brasil em uma profunda crise desemprego alto e com uma taxa de empregos informais
muito grande, essas identidades ficam muito visíveis, e a gente gosta de retratar isso nos personagens
porque nessa relação de trabalho não tem como desassociar muito da vida, né? Porque é o que move e
é o que as pessoas se dedicam, as pessoas no Brasil trabalham muito, né? Acho que trabalho é um tema,
em assuntos com pessoas novas, emprego é um dos primeiros assuntos que vem, simplesmente porque
as pessoas precisam, né? O trabalho é muito importante, inclusive agora que estamos vivendo um
momento muito especifico no Brasil e que ele tende ao aumentar o desemprego, que já esta
aumentando, tende a uma crise econômica, a gente acha fundamental refletir sobre esse lugar porque
eu acredito que muitas vezes personagens periféricos foram historicamente vistos de uma forma meio
cientifica, de uma forma meio distanciada como se precisassem serem analisados, assim como objeto de
estudo, e nesse caso quando a gente trás os personagens para um lugar mais subjetivo, eu acho que
conseguimos ver mais complexidade dentro desse ritmo cotidiano, dentro dessa coisa que se perde, né?
Eu sinto que nossa sociedade hoje perdeu certo tato. É tão curioso que hoje o Covid provocou um
isolamento social físico, mas mesmo com as pessoas se encontrando eu acho que esse isolamento social
já estava meio dado de uma forma simbólica, sabe?
Aline Vila Real:
Exatamente, e essas características territoriais trazem isso, essas diferenças né? Porque esse fluxo
migratório que você esta falando É oque esta cravado na nossa identidade brasileira, né? Então isso faz
parte da nossa historia, mas oque eu vejo na Filmes de Plástico, é justamente isso, uma relação com o
trabalho desses personagens também, sem romantização né? Então a historia dos personagens, ela
revela isso que você esta falando a subjetividade, as particularidades, mas ela também apresenta as
possibilidades de diferentes mudanças, né? De níveis diferentes de mudança, desde a mudança de oficio
dentro desse mesmo sistema de trabalho Vocês acabam apontando ai para alguma radicalidade da ação
desses personagens num misto de consciência e revolta que a gente poderia aqui exemplificar como por
exemplo um assalto a uma mansão, que ai você pode falar um pouco mais sobre o filme No Coração do
Mundo para exemplificar um pouco isso, a gente vê que nos filmes é possível ver uma critica também
sobre as relações de trabalho, então é isso que você fala, as pessoas trabalham porque precisam, então
já que precisam, porque não pensar em uma outra alternativa para poder resolver essa necessidade.
Gabriel Martins:
Sim. Eu acho que acima de tudo, o cinema que a gente vem tentando fazer é um cinema, digamos assim,
anti massificação, num sentido de ir contra qualquer possibilidade de generalizar determinados grupos.
Seja o que se chama de povo, né?! O que se chama de pessas negras, pessoas periféricas, mulheres,
enfim. Todos os grupos que eu acho que muitas vezes sem discussões análises tendem a ser
massificados, né, ou considerados como um grande povo que se movimenta de forma igual, o nosso
cinma vai meio contra isso. O "No Coração do Mundo" é um bom exemplo nesse sentido, que ali para a
gente sempre entender... Foi importante entender o que leva as pessoas a fazer certas escolhas, mas não
necessariamente chegar numa conclusão sobre o porque no fim das contas essas pessoas precisam ir a
salvar, mas mais simplesmente ver elas fazendo isso, e ver o que está atrás das decisões mesmo que a
gente não concorde com essas descisões, ou não julgue elas. Aí a moral sobre a coisa vai de cada um, né,
mas a gente precisa ver de onde esse personagens estão vindo, o que você está vendo, o que você está
passando, o que você está sentindo te faz escolher isso. E é simplesmente um gesto de empatia. Eu acho
que existe um esgotamento de modelos econômicos, né, eu acho que agora o que a gente está vivendo
é um exemplo disso, de um esgotamento de um modelo neoliberal, ou de como ese modelo econômico
de lidar com a sociedade versus um modelo mais humano, que parte da sociedade de desejo e briga
fortemente para que exista, ele cria e coloca as pessoas numa situação limite, principalmente pessoas
que já estão em uma desvantagem social, seja por uma formação que não conseguiram, seja por não
terem emprego, não tem nenhum tipo de segurança acerca de sua vida financeira. E aí vale voltar a dizer
o que eu falei no início, que essa vida financeira está atrelada a uma vida emocional também, né?!
Porque se você está devendo o seu aluguel há meses, você as vezes não tem dinheiro para pagar uma
passagem de ônibus, isso é um problema psicológico, né?! Isso não é só um problema financeiro. Isso é
um problema que vai refletir em outros campos da sua vida, na sua vida amorosa, na sua vida afetiva, a
forma como você se relaciona com o mundo. E eu acho que não são muitas pessoas que entendem isso,
que tem empatia para entender como que a falta de grana, ou a falta de oportunidades, para dizer de
uma forma mais ampla, coloca as pessoas num limite. Então o "Coração do Mundo", ele que olhar para
os personagens dessa forma. Ele quer olhar para aqueles personagens escancarando, de certa forma,
vários lados deles. A gente não quer reproduzir uma ideia de que esses personagens são simplesmente
pessoas boas ou pessoas más, ou pessoas que cabem em caixinhas de qualidades assim, porque a gente
também não quer ficar alimentando o espectador com uma colherzinha na boca, sabe? A gente quer
que as pessoas cheguem no filme e possam destrinchar por conta própria o que que é aquele universo.
Então o Maurílio fala muito nas entrevistas que a gente não representa ninguém. A gente não representa
Contagem, a gente não representa o bairro, a gente não representa nem nossas famílias. A gente
apresenta essas pessoas pro mundo a partir de uma ótica que é muito subjetiva e pessoal nossa,
também, mas que ela nunca deve ser delimitadora. A gente é uma perspectiva sobre um bairro de
Contagem, sobre uma região de Contagem. O André tem filmes que são muito diferentes dos meus e do
Maurílio, não existe uma voz só, e eu acho que alguém pode chegar lá e fazer um filme de terror em
Contagem, num outro bairro. Alguém pode fazer uma comédia romântica... Então assim, a gente tem um
campo que a gente decidiu seguir, que nos interessa, mas ele não tem que ser algo definidor. Ele é uma
perspectiva, né?!
Aline Vila Real:
Certo. E aí a gente chega num outro aspecto que eu queria também conversar da produção da "Filmes
de Plástico", que é um interesse que a gente percebe na convivência do cotidiano e o eventual. Alguns
elementos e alguns momentos de uma aparição, de um elemento estranho, dúbio, ou uma ação
totalmente inesperada... Então eu gostaria que você comentasse sobre isso, falasse um pouco sobre
essas possibilidades de leitura do cotidiano também como espaço espaço de estranhezas.
Gabriel Martins:
Sim. Quando eu rodei em 2010 o "Dona Sônia pediu uma arma pro seu vizinho Alcides",virou uma certa
chave na minha cabeça, porque o Dona Sônia, que é um filme que está no nosso YouTube, todos esses
filmes que estou falando estão acessíveis Ele é um filme que a gente teve atrizes e atores,
particularmente a dona Ruth e o seu Belardino que são pessoas ali da região, do bairro, foi o primeiro
filme que eles atuaram na vida, são pessoas idosas, e era um filme, um curta-metragem, que tinha uma
certa linguagem teatral e um flerting inclusive com brest e de repente colocaram esses personagens,
essas pessoas que nunca tinham atuado ou lido brest, e eu descobri depois de fazer o filme que a dona
Ruth nunca tinha visto um filme no cinema e que praticamente não assistia filmes, colocar essas pessoas
para fazer um filme Que não fosse elas representando a si mesmas, fazendo elas pro fabular e criar uma
coisa estranha a partir disso Ter tido um resultado, que pra mim pelo menos foi incrível, quanto
atuação... Isso abriu minha mente para um preconceito que eu até tinha, inconscientemente, que essas
pessoas não poderiam fazer isso só atores com uma grande formação dramática poderiam fazer, não!
Essas pessoas estavam lá, fazendo uma coisa que não é uma coisa que não era esperado delas, que é
muito importante. Elas não estavam numa caixinha que a sociedade ou o mundo fizeram para elas, elas
estavam fazendo um filme muito estranho, de uma linguagem estranha, e estavam entendendo
completamente oque estavam fazendo, não estavam apenas seguindo as minhas ordens como diretor,
estavam opinando, estavam entendendo De uma forma oque aquilo era, isso pra mim abriu uma
possibilidade de como a gente cria muitas limitações para a arte assim, mesmo pessoas que em tese
acreditam que estão pensando de uma forma vanguardista, de uma forma contra-hegemônica elas
também criam prisões para si, e eu acho que quando a gente começa a tencionar esse pode ou não
pode, chegamos em elementos muitos potentes, e eu acho que isso aconteceu no "Dona Sônia", e isso
aconteceu novamente no quintal, do André e sempre foi uma maxima das nossas conversas, quando a
gente lança uma ideia ou lança umas possibilidades, é dizer o porque não, porque não fazer isso? Porque
não colocar a mãe do André, levitando assim numa ventania assim, porque a gente não pode fazer isso?
Quem disse que não pode, e as vezes são ideas que de inicio parecem ser muitas estranhas, mas que
quando a gente vai e executa, elas de fato não são ideas convencionais, mas abrem portas para um
criatividade que é infinita, e isso quanto artista, e pros meninos também, me mostra que tudo que a
gente viu até hoje de cinema Brasileiro, ou mesmo cinema mundial, ainda temos muito oque fazer,
muitas possibilidades ainda, no nosso caso em especfico a gente de fato trouxe imagens que elas podem
não ser novas no mundo, mas para a região em que filmamos e com as pessoas que a gente filmou elas
foram coisas novas, isso pra mim é uma carga criativa muito grande, saber que eu tenho coisas para fazer
nessa vida, para filmar, que eu não sei oque vão dar primeiro, e que são coisas que eu acho que não são
nada convencionais, eu não tenho interesse em ficar repetindo muito coisas que já foram feitas, eu
sempre me interesso em fazer algo um pouco diferente, os filme que eu gostaria de ver assim, então eu
acho que esse lugar que você coloca de fabulação, né? Não é uma palavra que você falou, mas eu estou
usando que talvez possa encaixar um pouco nesse contexto, eu acho que elas mostram que nosso
cotidiano, em nosso dia a dia, ele tem cantos variaveis assim, né?
Aline Vila Real:
Nesse cotidiano, essas pessoas, nós né? No nosso cotidiano a fabulação é uma chave para a
continuidade, para nossa sobrevivencias, não só apenas no campo poético mas também no campo mais
pratico assim, da ideia de vida, né?
Gabriel Martins:
E que o bonito, não precisa ser um extraordinário ou não precisa ser o grandioso. Eu sempre lembro
muito de uma frase que o André fala, na casa dos pais dele, tem uma gaiola que está pendurada sem
passarinho, mas pendurada a muitos anos na parede E ele sempre achou muito bonito, e eu também
sempre achei, e ele me disse que essa imagem dessa gaiola, que todo dia ele vê, mas que pra ele é
especial essa gaiola, acho que o Temporada, é um filme que fala disso também, sobre esses quintais,
sobre esse gesto da perssonagem da Greice (Juliana) entrar em novos terrenos, e em cada terreno ter o
seu lugar especial, né? E o jeito que o André filma isso também, de uma forma em planos abertos, acho
que ta elogiando essa coisa que literalmente está do nosso lado, né? Todo mundo tem vizinho, todo
mundo mora em algum lugar que se a gente se esforçar, consegue virar algo especial.
Aline Vila Real:
Exato. E Gabriel, 11 anos de produtora né? De Filmes de Plástico, recentemente comemorados.
Parabéns, uma trajetória muito interessante, eu gostaria então que a gente nesses últimos minutos de
conversa, abrisse esse espaço para você falar dos próximos projetos da produtora, você tem longas para
estrear, né? O Maurilio Martins, o "Ultimo Episodio" e o André Novaes, "Se eu fosse vivo, vivia". Queria
que você falasse um pouquinho sobre os proximos trabalhos
Gabriel Martins:
Sim, são três projetos em estados diferentes, o "Marte-1" é um filme que foi filmado em novembro e
dezembro de 2018 Então é um projeto que eu estou a mais de um ano no processo de montagem, agora
a gente esta chegando na reta final do filme, mas com a questão da Covid a gente interrompeu um
pouco o processo de finalização, então eu acho que é um filme que vai estrear provavelmente ano que
vem. é o nosso desejo que ele estreia ano que vem em festivais e cartaz também né? Nos cinemas. A
gente vai passar esse ano trabalhando assim que terminar essa loucura a gente vai trabalhar um pouco
melhor, eu estou usando esse tempo da quarentena para refletir mais sobre a montagem, é um filme
que a historia é sobre uma família de 4 pessoas moradoras da periferia, e o filho dessa família que é o
"Deivinho", tem 12 anos, é um bom jogador de futebol, e o sonho do pai dele é que ele seja um próximo
Neymar, um grande astro do futebol. Só que o sonho do menino é se tornar um astrofísico e participar
da missão que chama Marte-1 para colonizar o planeta. Então o filme vai lidar um pouco com esses
desejos do menino indo em contradição com o do pai, e a gente também acompanhando todos os
personagens da família no cotidiano delas, é um filme que tem muito haver com algumas historias que
passam pela minha família. Enfim, nossa expectativa é lançar ano que vem. Os outros dois projetos
também, muito ligados a um lugar pessoal como "Marte-1", talvez até seja filmes mais diretamente
ligados a questões pessoais. Primeiro "O ultimo episodio", que é um filme a ser dirigido pelo Maurílio,
ainda não filmamos, a expectativa é que a gente filme ano que vem, é um filme que se passa nos ano 90,
e é um filme bastante autobiográfico, que fala um pouco da infância do Maurílio na periferias. Não é um
filme que é exatamente a historia pessoal dele, mas é muito baseado na vivência, é um filme infanto
juvenil que a nossa previsão é filmar no ano que vem. E o "Se eu fosse vivo, vivia" é um filme do André.
Não sei se a gente filma ano que vem, porque a gente está numa fase de captação de custos, a gente já
conseguiu parte dos recursos com edital aqui em BH. BH nas Telas, né?! E a gente vai estar nesse
momento, durante esse ano buscando complementar renda para a gente poder fazer o projeto. E é um
filme que vai ser de certa forma... é uma forma de o André lidar com o luto após flerta com o luto, a
morte da mãe dele, a dona Zezé, que é atriz de vários filmes do Quintal, né?! Então é um filme que flerta
um pouco com a ficção científica, de certa forma, com o lado mais... não sei.É um desdobramento do
Quintal, é um filme que se relaciona um pouco com o Quintal e ao mesmo tempo é uma outra coisa.
Então a gente tem esses dois projetos que ainda estão numa fase de preparação, né?! A gente espera
rodar em breve, E o outro é um filme que já está rodado e que se tudo der certo estreia no ano que vem.
Aline Vila Real:
Maravilha, Gabriel. Vida longa para a produtora.
Gabriel Martins:
Massa, valeu demais.
Aline Vila Real:
Esperamos ansiosos para poder acompanhar esses projetos. Eu queria te agradecer, agradecer a
participação. Agradece também o BDMG Cultural que me deu essa oportunidade, me convidando para
conversar com pessoas que eu admiro o trabalho, que eu gosto. Tem sido super interessante para mim
também trocar essas ideias. Esse podcast faz parte da série Vizinhanças e Imagem, um projeto educativo
do BDMG Cultural em parceria com o Micrópolis. Visite o site do BDMG Cultural para acessar mais
podcasts e conteúdos educativos. É isso aí.
Gabriel Martins:
Maravilha, agradeço muito. Agradeço as perguntas, que foram super atentas e nada óbvias, é sempre um
prazer discutir essas questões. Valeu.

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