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Inflação, Phillips e Regras INSPER Artur Parente

Inflação
inflação é medida como o aumento proporcional do nı́vel de preços entre dois momentos

Pt − Pt−1
πt =
Pt−1

inflação baixa é uma conquista relativamente recente no Brasil/ América Latina

paı́ses desenvolvidos conviveram com inflação elevada nos anos 70 mas estabilizram suas econo-
mias nos anos 80

alguns custos da inflação elevada


→ tende a ser volátil
→ gera incerteza
→ solapa a capacidade do sistema de preços de fornecer informações e guiar a alocação de recursos
→ estabilizá-la e diminui-la tem custos: desemprego

Phillips com inércia (PC)


Inflação corrente depende em geral

→ da inflação passada
→ do hiato (desvio) do nı́vel corrente de desemprego em relação à taxa de desemprego de
equilı́brio

a influência da inflação passada pode resultar tanto de expectativas quanto da inércia:


→ fixadores de salários (e preços) esperam que a inflação corrente seja aproximadamente igual à
inflação passada
→ rigidez nominal com salários justapostos
→ mecanismos de indexação
→ inércia nas expectativas

revisão das expectativas inflacionárias reflete um processo de aprendizagem (retrospectivo)


→ proporcional ao erro de previsão incorrido no passado
→ mecanismo das expectativas adaptativas

πte = πt−1
e e

+ a πt−1 − πt−1
| {z }
erro de previsão

com 0 < a ≤ 1; se a = 1 correção é integral e

πte = πt−1

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inicialmente vamos assumir que expectativas acerca da evolução futura dos preços não são incor-
poradas nas negociações salariais

mais à frente incorporartemos elementos prospectivos, com expectativas acerca das realizações
furturas dos preços

para enfatizar o papel da inércia o componente retrospectivo é denotado π I = πt−1 envolvendo


um único perı́odo da inflação passada

a curva de Phillips, ao incorporar ao componente de inércia, toma a forma

πt = π I + α (yt − ye )

ou seja

πt = πt−1 + α (yt − ye )
z }| { z }| { z }| {
inflação corrente inflação passada hiato do produto

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Curva de Phillips

intereseção de P S com W S define equilı́brio no mercado de trabalho

formadores de preços e salários satisfeitos com suas remunerações e custos, sintetizados no nı́vel
do salário real de equilı́brio

inflação é constante no nı́vel de desemprego de equilı́brio

o preço é determinado por uma margem (constante) sobre o custo do trabalho por unidade do
produto
W
b) ×
P = (1 + µ
λ
portanto, a variação dos preços reflete a variação do o custo do trabalho por unidade do produto

∆P ∆W ∆λ
= −
P W λ
ou diferença entra crescimento dos salários e da produtividade

∆λ
se λ for constante, λ =0e
∆P ∆W
=
P W

como desvios do nı́vel de emprego de equilı́brio afetam a inflação?

apesar de negociarem salários nominais trabalhadores se preocupam com a remuneração real


esperada:
WtW S = Pte b(Et )

a evolução dos salários nominais depende da inflação passada e do eventual desvio do emprego
em relação à taxa de equilı́brio/natural

supondo que em t − 1 a economia se encontrava em equilı́brio, com E = EICE e P e = Pt−1 vale


a relação
Wt−1 = Pt−1 b(EICE )

portanto a evolução do salário nominal segue

WtW S Pe b(Et )
= t ×
Wt−1 Pt−1 b(EICE )

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tomando logaritmos

WtW S Pte
    

b(Et )
ln = ln + ln
Wt−1 Pt−1 b(EICE )
∆WtW S ∆Pte
     
b(Et )
ln 1 + = ln 1 + + ln
Wt−1 Pt−1 b(EICE )
∆WtW S
 
b(Et )
= πte + ln
Wt−1 b(EICE )

na presença de inércia/expectativas adaptativas, a expectativa de infllação

πte = πt−1

desvios do emprego em relação ao nı́vel de equilı́brio estão relacionados a devios do produto em


relação ao nı́vel de equilı́brio

o poder de barganha relativo está relacionaod ao hiato do produto através de


 
b(Et )
ln = α(yt − ye )
b(EICE )

logo, o reajuste de salários segue

∆WtW S
= πt−1 + α(yt − ye )
Wt−1

se o hiato do produto (ou emprego) é não nulo


   
∆W ∆P
Et 6= EICE ⇒ yt 6= ye ⇒ 6=
W t P t−1

cronologia dos eventos:

choque de demanda ⇒ alteração no produto e emprego ⇒ reajuste de salários ⇒ reajuste de


preços imediato

resulta, portanto, a curva de Phillips

∆WtW S
   
∆Pt
πt = = = πt−1 + α(yt − ye )
Pt−1 Wt−1

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Dinâmica inflacionária

Perı́odo Emprego inflação 1 hiato inflação de salários inflação de preços


0 E1 4 0 4 4

inflação constante
1 E1 4 0 4 4
2 E1 4 0 4 4
3 E1 4 0 4 4

inflação crescente
1 E2 4 2 6 6
2 E2 6 2 8 8
3 E2 8 2 10 10

inflação declinante
1 E0 4 -2 2 2
2 E0 2 -2 0 0
3 E0 0 -2 -2 -2

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equilı́brio no mercado de trabalho e a curva de Phillips: relacionada a W S e P S

Lei de Okun: relação empı́rica entre crescimento da demanda e do produto e redução do desem-
prego ou (aumento do emprego)
permite asociar o nı́vel de emprego no gráfico superior ao nı́vel de produto no gráfico inferior

E (ou desemprego) e y não guardam uma relação de proporcionalidade estritamente unitária


é possı́vel observar ∆y > 0 com ∆E = 0 na saı́da de um recessão → retenção de trabalhadores
sem demissão pode ser eficiente

é possı́vel observar ∆y > 0, ∆E > 0 e ∆U = 0 na saı́da de um recessão → maior participação


na força de trabalho em momentos de expansão econômica

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curva de Phillips é sintetizada por duas caracterı́sticas:


⇒ inflação defasada → estabelece a altura da curva de Phillips quando desemprego está no nı́vel
de equilı́brio
=⇒ capta o nı́vel de produto e inflação consistentes com estabilidade inflcionária
⇒ inclinação da função W S → estabelece a inclinação da curva de Phillips
=⇒ capta a relação entre desvios do nı́vel de emprego (ou produto) em relação ao valor de
equilı́brio e variações da taxa de inflação

πt = πt−1 + α (yt − ye )
z }| { z }| { z }| {
inflação corrente inflação passada hiato do produto

versão aceleracionista    
 > 
   > 
 
α (yt − ye ) < 0 =⇒ ∆πt < 0
   
= =
   

curva de Phillips se desloca quando o valor da inflação defasada muda

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a polı́tica macroeconômica é capaz de deslocar a economia de A → B?


=⇒ atingir um menor nı́vel de desemprego às custas de uma inflação um pouco mais alta?

a perspectiva de manter o nı́vel de produto em B de maneira duradoura em algum momento


forçará um ajuste nos salários, nos preços e nas expectativas inflacionárias
=⇒ curva de Phillips se desloca para cima: trade-off entre π e y é enfraquecido
=⇒ busca de B de maneira sistemática acabará gerando uma taxa de inflação crescente
=⇒ inicialmente o ajuste das expectativas decorre da simples correção do erro passado
=⇒ erros persistentes geram aprendizado: o próprio processo de formação de expectativas evolui
=⇒ regras de projeção da inflação mais racionais, que evitem erros sistemáticos, eliminam ganhos
no produto

CP vertical no longo prazo ou quanto mais veloz o ajuste de expectativas, preços e salários
=⇒ incorpora a crı́tica de Lucas: governos que tentem explorar de maneira sistemática o trade-off
darão com os burros n’água
=⇒ CP só é estável se a polı́tica monetária mirar na taxa de desemprego de equilı́brio
=⇒ polı́tica anticı́clica só será eficaz se não descambar para um ativismo monetário excessivo
=⇒ ancoragem das expectativas é crucial para a eficácia da polı́tica monetária

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Desinflação
desinflação é custosa: requer uma elevação transitória da taxa de desemprego

redução na demanda cria folga no mercado de trabalho

menor poder de barganha modera o crescimento dos salários nominais e preços

E < EICE gera um hiato negativo entre as curvas W S e P S

πt = πt−1 + α (yt − ye ) ⇒ ∆πt = α (yt − ye )

∆πt < 0 =⇒ α (yt − ye ) < 0


=⇒ yt < ye

economia está em B inflação inicial é 8% e a meta é 2% no ponto A


inércia ou resistência inflacionária torna a desinflação custosa
impõe yt < ye ao longo da trajetória de desinflação: B → F → F 0
CP se desloca sucessivamente para baixo, até atingir o novo equilı́brio
sem inércia e com convergência das expectativas seria potencialmente possı́vel uma desinflação
B → A sem custos, com yt = ye ao longo da transição

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o papel do banco central

várias trajetórias alternativas de desinflação são possı́veis e factı́veis, mas:


qual será escolhida? por quê? com que critérios?

uma possibilidade extrema é C - cold turkey ou choque


⇒ atinge o alvo (potencialmente) em um perı́odo
⇒ ao custo de um aumento considerável do desemprego
⇒ combinação de resistência inflacionária com surpresa desinflacionária causam desemprego
excessivo
⇒ ajuste das expectativas gera os deslocamento P C(π I = 8%) → P C(π I = 2%)
⇒ a polı́tica monetária pode então ser relaxada e C → A com y → ye .

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uma possibilidade alternativa é uma estratégia gradualista, com variantes


⇒ mais tolerante com inflação, menos tolerante com desemprego B → F → F 0 → A
⇒ menos tolerante com inflação, mais tolerante com desemprego B → D → D0 → A
⇒ quanto maior a disposição a sacrificar o emprego para obter uma dada redução na inflação,
tanto mais próximo de C

as curvas de indiferença descrevem as preferências do BC e sua aversão


- a desvios da inflação em relação à meta
- a desvios do desemprego em relação à sua taxa natural de equilibrio

quanto maior o grau de aversão à inflação mais horizontal a curva de indiferença

o banco central com maior aversão à inflação escolhe D → D0


⇒ disposto a tolerar uma maior perda no produto e aumento do desemprego
⇒ redução na inflação é mais intensa

o banco central com menor aversão à inflação escolhe F → F 0


⇒ baixa tolerância à perda de produto e aumento do desemprego
⇒ redução na inflação é menos intensa

pontos escolhidos são pontos de tangência de P C com a curva de indiferença


(
π = πT
para ambos, equilı́brio final em A é um (mesmo) ponto
y = ye

processo de convergência envolve a seguinte causalidade

∆Demanda → ∆y em relação a ye → ∆π em relação πt−1

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