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4- O Programa de Inclusão Social pelo Trabalho para portadores de transtorno mental vem
sendo desenvolvido de que forma?
A Reabilitação Psicossocial é eixo importante da Reforma Psiquiátrica. A inclusão no
Trabalho é um de seus objetivos, bem como a questão da moradia e da circulação social em
geral.
O trabalho protegido para os portadores de sofrimento mental é um grande promotor da
socialização e do bem-estar. As políticas públicas são fundamentais para promover o direito ao
trabalho para essa minoria.
Para alcançar esse objetivo, pode-se promover a contratação privada por meio de
incentivos aos empregadores; cotas para serviço público; incentivo à economia solidária por meio
da criação de cooperativas e garantia de compras governamentais de produtos e da contratação
de serviços. Além disso, pode-se criar regras específicas para concessão de benefício pelo INSS
e pelo SUAS articulados à promoção ao trabalho.
O Programa de Inclusão Social pelo Trabalho, do Governo Federal, criado pela PORTARIA
Nº 1.169, de 07 DE JULHO DE 2005, consiste em apenas uma ação, dentro da promoção do
trabalho, dentro do eixo da Reabilitação. A reabilitação é incipiente no país; ainda estamos
concentrados na tarefa prioritária de promover acesso universal à saúde mental, em especial à
crise.
5- Comente algum ponto negativo dessa reforma e a maneira que deveria ser aplicada
No âmbito financeiro, ocorre o subfinanciamento da RAPS, bem como do SUS em geral. O
Brasil deveria destinar ao orçamento público em saúde 10% do PIB, conforme observado em
países com Sistema Universal de Saúde, como a Inglaterra.
No campo técnico, temos carência na formação quantitativa e qualitativa de profissionais
para atuar em todo o Brasil. Deve-se ampliar os programas de residência médica e
multiprofissional.
Ocorre ainda, falta de carreira de estado e desvalorização do servidores públicos em
saúde, o que resulta em dificuldade para alocar profissionais por todo o país. Poderíamos nos
inspirar nas valorizadas carreiras do Judiciário e do Ministério Público, por exemplo, que logram
boa qualidade dos serviços e boa distribuição pelo país.
6- Muitas vezes, por decisão judicial, algumas instituições, mesmo sem estrutura, são
obrigados a atender Dependentes Químicos, etc. onde não há leitos específicos para essas
situações. Qual seria a solução mais eficaz para esses casos?
A internação compulsória, prevista pela lei da Reforma Psiquiátrica, LEI 10.216, DE 6 DE
ABRIL DE 2001, deve ocorrer somente em instalações adequadas. O contrário deve ser apurado
pelo Judiciário.
Aliás, esse dispositivo legal é um contrassenso, pois depende de avaliação médica para
subsidio técnico ao juiz. Ora, quando há oferta adequada de serviços de saúde, o médico
assistente avalia o paciente e, se houver indicação, procede-se com a internação imediata –
voluntária ou involuntária, sendo esta consentida pela família e comunicada ao MP.
A ocorrência de internações compulsórias evidencia a escassez de serviços de saúde em
geral, devido à falta de investimentos públicos. Ressalta-se que as determinações judiciais para
prover acesso à Saúde ocorre em todas as áreas e suscita o debate conhecido como
judicialização da saúde.
A superação dessa ampla questão passa por aumento dos investimentos em saúde e pela
criação de câmaras técnicas com participação social, uma instância administrativa, que
dispensariam a intervenção excessiva do judiciário.
7- Um dos erros dessa reforma foi a dispersão de hospitais psiquiátricos muito mais rápido
que a criação de rede ambulatorial permanente, onde pacientes recebiam alta e não tinham
onde prosseguir o tratamento, tendo que retornar a ser internado novamente. Ainda existe
esse problema atualmente?
A questão da taxa de reinternação passa pela complexidade dos casos de transtorno
mental grave. Há o fator clínico da gravidade dos casos, em que 1% da população apresenta
transtorno mental grave, que apresenta exuberante manifestação de sintomas e disfunção
funcional. Além disso, existe a complexidade familiar e social, muitas vezes com dificuldade no
suporte ao tratamento ambulatorial. Isso contribui para novas crises e necessidade de novas
internações.
Os manicômios não ofereciam resposta adequada para essa questão, pois apresentavam
poucos leitos, péssimas práticas clínicas e promoviam a exclusão e a cronificação dos pacientes.
O orçamento referente a cada leito psiquiátrico desativado nos hospitais, passou a
financiar a criação e a manutenção da RAPS. Contudo, é necessário mais investimento público
para ampliar dessa rede. O subfinanciamento da saúde segue um desafio.
Após a Reforma, os pacientes crônicos passaram por processo de desospitalização e
foram inseridos em moradias assistidas públicas. Receberam também concessão de renda
individual, por meio do Programa De Volta Para Casa. Essas moradias contam com suporte dos
CAPS, SUS e SUAS.
Quanto aos pacientes estáveis, buscou-se reestabelecer seus vínculos familiares e sociais
e seguir o tratamento nos CAPS ou na Atenção Primária do SUS, conforme o caso.
Na realidade, a questão da exclusão extrapola o manicômio; este foi apenas um dispositivo
icônico onde se confinavam os loucos. A sociedade carrega uma lógica de controle e de
exclusão, que continua a incidir contra a loucura, contra os portadores de sofrimento mental em
geral e contra os usuários de drogas, com destaque atual para estes últimos.
Permanecem as práticas de violência e de supressão de direitos contra os portadores de
sofrimento mental, verificados por meio de abandono, de pauperização e da dificuldade de
acesso à Saúde e aos serviços públicos.
O grau de civilidade de uma sociedade pode ser inferido à partir do tratamento conferido
aos portadores de sofrimento mental. Temos uma grande tarefa civilizatória pela frente, a de
promover aos portadores de sofrimento mental a fruição da cidadania e de uma vida plena.