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Como Um Escritor É Lido?

Sobre a Apropriação de
Elias Canetti pelas universidades brasileiras pp. 225-238
Plumilla Educativa

Como Um Escritor É Lido? Sobre a Apropriação


de Elias Canetti pelas universidades brasileiras1
Rodrigo Matos de Souza2, Obs3

Resumo
Este trabalho pretende abordar os movimentos recepcionais das obras de
Elias Canetti no Brasil, e seus processos de apropriação pelas Humani-
dades ora como objeto, ora como referencial teórico, ora como ilustração,
reportando a importante contribuição de seus escritos autobiográficos
como campo de estudo dos processos (auto)formativos. Do ponto de
vista metodológico, para a elaboração deste artigo, foi desenvolvido um
levantamento das entradas de nosso autor nos principais bancos de dados
nacionais, este levantamento foi organizado tendo em vista as categorias
de Apropriação Incidental, Apropriação Conceitual Tópica, Apropriação do
Modo de Trabalho e Apropriação de Conteúdo. Em sua faceta teórica este
artigo se aproxima do conceito chartieriano de apropriação, que procura
lançar uma luz aos processos pelos quais os sentidos são produzidos e,
em seguida, apropriados nas Humanidades. No caso específico de Canetti,
é a que nos permite ver como este autor foi e está sendo lido nos espaços
acadêmicos brasileiros, apontando os modos como os textos canettianos
estão sendo lidos, utilizados como categorias de análise ou funcionado
como operadores para interpretações no campo das artes, da literatura,
das ciências humanas e da educação.
Palavras-Chave: Pesquisa Autobiográfica, Elias Canetti, Apropriação,
Recepção.

Abstract
As a writer is read? About Appropriation of
Elias Canetti by Brazilian universities
This research article addresses the flow of readers’ reception of Elias Ca-
netti’s work in Brazil and its appropriation processes by Human Sciences
be it as an object of study, as a theoretical framework, or as an illustration,
revealing the important contribution of his autobiographical writings as a

1 Recibido: 12 de octubre de 2014. Aceptado: 13 de diciembre de 2014.


2 Rodrigo Matos de Souza. Doutorando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado
da Bahia, com estágio de doutoramento pela universidade de São Paulo (Brasil) e pela Universidade de
Sevilla (Espanha). Doctorando en Educación y Universidad Contemporánea Estado de Bahía, con etapa
de doctorado por la Universidad de São Paulo (Brasil) y la Universidad de Sevilla (España). Correo elec-
trónico: rodrigomatos28@hotmail.com
3 Uma primeira versão deste texto foi apresentado como comunicação de pesquisa no VIº Congresso
Internacional de Pesquisa (Auto)Biográfica, com o título Movimentos de Recepção: sobre a apropriação
de Elias Canetti no Brasil.

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field of study on (self-)formation processes. In regards to methodology, in


order to produce this research article a survey of entries on this author was
conducted on the main national databases. This survey was undertaken
focusing on categories like Incidental Appropriation, Topic Conceptual Ap-
propriation, Work Method Appropriation, and Content Appropriation. In its
theoretical aspect this research article approaches the Charterian concept
of appropriation, which intends to shed a light on the processes through
which meanings are unfolded and, subsequently, appropriated by Human
Sciences. In this particular case involving Canetti, this concept allows us
to see how the author was and is being read in Brazilian academic milieus,
indicating the ways that Canetti’s texts are being read and used as analysis
categories or functioning as facilitators for interpretation in areas such as
the Arts, Literature, Human Sciences and Education.
 
Keywords: Autobiographical Research, Elias Canetti, Appropriation,
Reception, Readers Reception.

Elias Canetti nasceu em 1905, na cida- A recepção dos textos de Elias Ca-
de Ruschuk, hoje Ruse, na região nordes- netti no Brasil se dá por conta das tra-
te da Bulgária, a 300 km da Capital Sófia, duções6 desenvolvidas por ocasião de
no lado direito do rio Danúbio, na fronteira sua premiação com o Nobel em 1981,
com a Romênia. Viveu em Londres, Vie- um fenômeno pós-Nobel como nos diz
na, Frankfurt e Zurique se reduzirmos Irene Aron (1994a). Entre 1982 e 1990
bastante o trânsito transnacional desse são publicados os livros Auto-de-fé (em
sujeito para quem o termo cosmopolita 1982, editado originalmente pela Nova
se justifica. Judeu sefardita4, teve como Fronteira e atualmente pela CosacNaify),
idioma materno o Ladino5, sendo o búl- Massa e Poder (em 1983, editado origi-
garo sua segunda língua e o alemão sua nalmente pela EdUNB/Melhoramentos e
língua de expressão intelectual, dentre atualmente pela Companhia das Letras),
outros idiomas que aprenderá nos 32 anos A Língua Absolvida (primeiro volume de
cobertos por seus textos autobiográficos: sua trilogia autobiográfica, em 1987, pela
A Língua Absolvida (2010a), Uma Luz em Companhia das Letras que, junto com os
Meu Ouvido (2010b), O Jogo dos Olhos outros dois volumes de sua trilogia auto-
(2010c). Morreu em Zurique em 1994, tre- biográfica, encontra-se atualmente em
ze anos após ser laureado com o prêmio sua coleção de bolso, a Companhia de
Nobel de literatura. Bolso), As Vozes de Marrakech (em 1987,
pela Editora L&PM e atualmente pela

4 Os sefarditas foram os judeus expulsos da 6 Seus nove tradutores no Brasil são Markus Lasch
península ibérica no final do século XV , que se (Festa sob as Bombas), Kristina Michahelles
dispersaram por toda Europa e América, mas, (Sobre os Escritores), Rita Rios (Sobre a Morte),
sobretudo, encontraram acolhida no Império Samuel Titan Jr (Vozes de Marrakech – Cosac-
Otomano, ao qual pertencia a Bulgária até 1908, Naify, Hebel e Kafka), Marijane Lisboa (Vozes de
quando proclamou sua independência (KENIG, Marrakesh – L&PM), Ruth Röll (Canetti: o teatro
1995; BRAVO, 2012). terrível), Sérgio Telarolli (Massa e Poder, Jogo
5 Idioma dos sefarditas em diáspora, muito se- dos Olhos), Kurt Jahn (A Língua Absolvida, Uma
melhante ao Castelhano, cujo vocabulário se Luz em Meu Ouvido) e Herbert Caro (Auto-de-fé -
completava pelo uso de palavras francesas, Nova Fronteira e CosacNaify-, O Outro Processo:
turcas, romenas, alemãs entre outros idiomas, As cartas de Kafka a Felice e A Consciência das
porém ladinizadas. Palavras, este último com Márcio Suzuki).

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CosacNaify), Uma Luz em Meu Ouvido Melhoramentos. Os quatro grupos edito-


(segundo volume de sua trilogia autobio- riais perderam direitos de publicação, que
gráfica, em 1988, pela Companhia das foram adquiridos por outras editoras (é o
Letras e atualmente pelo selo Companhia caso de Vozes de Marrakech, Auto-de-fé e
de Bolso), O Outro Processo: As cartas de O Outro Processo: Cartas de Kafka a Feli-
Kafka a Felice (em 1988, pela editora Es- ce) ou mudaram seu ramo editorial, como
paço e Tempo, esgotado e sem reedição, a Espaço e Tempo, passando a ocupar-se
mas presente em A Consciência das de publicações mais rentáveis comercial-
Palavras como capítulo), O Todo-Ouvidos mente. O Todo-Ouvidos não despertou
(em 1989, pela editora Espaço e Tempo, novo interesse editorial (e comercial) e
também sem reedição), A Consciência permanece esgotado.
das Palavras (em 1990, pela Companhia Dentre as atuais casas editoriais de
das Letras, atualmente em sua coleção de Canetti no Brasil estão desde a prestigio-
bolso) e O Jogo dos Olhos (último volume sa Companhia das Letras; a CosacNaify,
de sua trilogia autobiográfica, em 1990, editora de volumes luxuosos e caros, com
pela Companhia das Letras e atualmente ampla distribuição nacional; e a Estação
pela Companhia de Bolso). Liberdade, pequena editora paulista,
Após um interregno de uma década com distribuição incerta, mas com edição
sem novos eventos editoriais, ocorre a cuidadosa; e a Perspectiva, importante
publicação da coletânea Canetti: o teatro editora acadêmica, uma das poucas edito-
terrível (em 2000, pela editora Perspec- ras comerciais a ter um conselho editorial
tiva), com três peças do autor: O Casa- formado por professores universitários.
mento, Comédia da Vaidade e Os que têm A diferença na inscrição editorial de
Hora Marcada; e no ano de 2009 ocorre a suas obras no país está marcada pela
publicação de três títulos do autor: Festa edição de uma conferência na revista do
Sob as Bombas e Sobre a Morte (ambos Centro Brasileiro de Análise e Planeja-
editados pela Editora Estação Liberdade) mento (CEBRAP), muito conhecido por
e Sobre os Escritores (Editora José Olym- ser fundado por intelectuais da Universi-
pio). Além de seus livros houve, isolada- dade de São Paulo por ocasião de seus
mente, no Cadernos CEBRAP, nº. 72, de “jubilamentos” compulsórios pelo regime
2005, a publicação da conferência Hebel ditatorial instalado no país a partir de 1964.
e Kafka, proferida por ocasião do recebi- É uma edição caracterizada pelo não inte-
mento do prêmio Johann Peter Hebel e resse comercial pela obra, já que se trata
publicada como adendo a O Almanaque de uma revista de divulgação científica
de Johann Peter Hebel (2005). e por seu texto servir de ilustração ao
Nos anos de 1980 Canetti foi inicialmen- comentário e tradução feitos por Samuel
te publicado pela Nova Fronteira, editora Titan Jr de um texto de Hebel.
pertencente ao grupo Ediouro, que fez as A partir deste pequeno sobrevoo sobre
primeiras edições de Auto-de-fé no início a edição de Canetti no Brasil podemos
da década (a tradução feita por Herbert perceber como seus textos foram desde o
Caro é a mesma reeditada pela CosacNai- momento de sua “descoberta” pós-Nobel,
fy recentemente); pela L&PM, editora con- publicados com frequência e qualidade,
tracultural do fim dos anos 1970, depois tanto seus textos mais célebres como
convertida em importante editora de livros conferências e ensaios obscuros, o que
de bolso; pela Espaço e Tempo, pequena permitiu sua leitura por várias gerações
editora carioca de produção não contínua, e regiões do país, notadamente, com
recentemente fundida com a Garamond; certa vantagem para aqueles localizados
e a EdUNB/Melhoramentos, parceria da nos estados do sudeste, sul e da capital
Editora da Universidade de Brasília com federal, beneficiados pela concentração
a distribuidora e editora de livros didáticos

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das editoras em seus estados e pela o prêmio Nobel de literatura (THE ECO-
distribuição sem maiores entraves para NOMIST, 31 de março de 1982) – quem
as livrarias – fato só minimizado após leu A Língua Absolvida sabe que não é
o surgimento do comércio eletrônico de elogiosa sua relação com o lado “inglês”
livros. Mas isto não significa dizer que da família, cujos retratos são coloridos
ele seja bem editado, como ocorre na pelo rancor – e seu editor americano, à
Espanha, na Alemanha e nos Estados época, em resposta aos questionamentos
Unidos, onde existem edições completas da revista diz: “Canetti não quer sua auto-
do autor ora em estudo. biografia publicada na Grã-Bretanha. Ele
A localização histórica da recepção de não vai falar sobre isso, mas não quer isto,
Elias Canetti no Brasil não destoa de sua e isto é definitivo7” (THE ECONOMIST, 31
recepção no restante do mundo, que só se de março de 1982).
popularizou por causa de sua láurea pela Retomando o objetivo central deste
Academia Sueca, como anota Irene Aron artigo, no Brasil, a leitura de nosso autor
(1994) em seu artigo sobre o autor, no qual aumenta conforme suas edições vão se
indica como a recepção dele ao redor do tornando frequentes e o interesse acadê-
mundo sempre foi difícil, com muitos reve- mico por seus textos, mesmo que modes-
zes, e mesmo em língua alemã o autor só to, apresenta um panorama de como ele
era reconhecido pelo que havia escrito até foi – ou pode - ser lido nas últimas déca-
1938, um romance, Auto-de-Fé (1982) e as das nas universidades brasileiras. Para a
peças de teatro O Casamento e Comédia elaboração deste artigo foi desenvolvido
da Vaidade (2000), recebidos de forma um levantamento das entradas8 de nosso
negativa e reticentes como as críticas diri- autor nos principais bancos de dados na-
gidas a ele por Hans Magnus Eisenberger cionais9, este levantamento foi organizado
e Marcel Reich-Ranick, que qualificaram
o livro Auto-de-Fé como insuportável e 7 “Canetti does not want his autobiography pub-
monstruoso (apud ARON, 1994, p. 157). lished in Britain. He will not talk about it, but
Se, parte de seu desconhecimento he does not want it and that is final” [Tradução
Nossa]. Devo este fragmento, e mais um outro,
pode ser creditado à dificuldade imediata
da revista The Economist, ao leitor K. Liepmann
que seus livros podem despertar num que, diligentemente, guardou-os em seu volume
leitor neófito, à sua conhecida reclusão de Die Fackel Im Ohr (1980), que pude (re)
e modéstia – no sentido de não buscar encontrar num sebo paulistano em 2012.
o espaço da autopromoção e deixar que 8 ����������������������������������������������
Foram utilizados os seguintes descritores: Ca-
seus livros falem por ele. Outra parte, netti, Elias Canetti, Veza Canetti, Musil, James
muito significativa, pode ser creditada à Joyce, Karl Kraus, Hermann Broch, Língua
consciência dos efeitos que seus escritos, Absolvida, Jogo dos Olhos, Uma luz em meu
sobretudo suas autobiografias, poderiam ouvido, romance de formação, bildungsroman,
romance autobiográfico, autobiografia, Canetti
provocar nos personagens ali retratados,
Bulgária, Canetti Massa, Canetti Metamorfose,
além de retardar ao máximo a publicação Canetti Kafka, Canetti autobiografia, Canetti lite-
de seus escritos autobiográficos, até o ratura alemã, memória de leitura e combinações
ponto em que três deles recebessem de- entre estes descritores.
dicatórias póstumas nos três volumes de 9 ������������������������������������������������
O Levantamento foi feito na biblioteca da Facul-
suas memórias (ao irmão mais novo e as dade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da
suas duas esposas), proibiu a publicação Universidade de São Paulo (USP), no acervo da
imediatamente após seu falecimento de CCS/EDUSP, no Banco de Teses da CAPES,
seus diários e espólio intelectual, que só no sistema BIBinet USP, no Catálogo Athena
da Universidade Estadual Paulista – Júlio de
serão abertos em 2024, trinta anos após
Mesquita Filho (UNESP), no portal SBU Univer-
sua morte (OJEDA, 2012); e proibiu a sidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na
publicação de sua autobiografia no Reino Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica
Unido, mesmo após sua consagração com de São Paulo (PUC-SP), no banco de teses da

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em um quadro orientado pelas categorias A apropriação que nos interessa res-


desenvolvidas por Catani, Catani e Pereira saltar é a que nos permite ver como este
(2001), que procuraram compreender as autor foi e está sendo lido nos espaços
diversas formas de apropriação de Pierre acadêmicos brasileiros, por isso procura-
Bourdieu no Brasil, acrescentada de uma remos apontar os modos como os textos
categoria construída tendo em vista a canettianos estão sendo lidos, utilizados
especificidade deste trabalho. como categorias de análise ou funcionado
Por apropriação, no contexto deste como operadores para interpretações no
artigo, e distanciando-me um pouco do campo das artes, da literatura, das ciên-
conceito de apropriação hermenêutico, cias humanas e da educação.
para a qual apropriação é uma forma de Foram levantados 41 (quarenta e
compreensão de si a partir do texto (RI- um) textos nos quais aparecem citados
COEUR, 2011, p.64) e - de forma não ex- os trabalhos de Canetti em maior ou
cludente do que já foi dito, antes atuando menor intensidade. Desse total 8 (oito)
de forma complementar – exclusivamente são artigos, 8 (oito) comunicações em
na execução deste levantamento, tomarei congressos, encontros e colóquios, 14
o conceito desenvolvido por Roger Char- teses de doutoramento e 11 dissertações
tier (1990) como norte, quando afirma que: de mestrado. A instituição brasileira em
A apropriação, tal como a enten- que nosso autor foi mais estudado é a
demos, tem por objetivo uma história Universidade de São Paulo, responsável
social das interpretações, remetidas por 20 (vinte) trabalhos desenvolvidos,
para as suas determinações funda- entre artigos, comunicações, teses e
mentais (que são sociais, institucio- dissertações. O que se explica pelo fato
nais, culturais) e inscritas nas práti- da edição dos textos de nosso autor, bem
cas específicas que as produzem. como sua circulação, nos primeiros anos
Conceder deste modo atenção às de sua publicação nacional, estar circuns-
condições e aos processos que, crito geograficamente ao sudeste do país,
muito concretamente, determinam as centralizando assim seu estudo na maior
operações de construção de sentido e mais influente universidade da região.
(na relação de leitura, mas em muitas Do estudo de Catani, Catani e Pereira
outras também) é reconhecer, contra (2001, p 65) emergem três das categorias
a antiga história intelectual, que as utilizadas no desenvolvimento deste artigo:
inteligências não são desencarna- Apropriação Incidental (AI), Apropriação
das, e, contra as correntes de pensa- Conceitual Tópica (ACT), Apropriação do
mento que postulam o universal, que Modo de Trabalho (AMT). Elaboro, tam-
as categorias aparentemente mais bém, para o desenvolvimento do trabalho
invariáveis devem ser construídas na com Elias Canetti mais uma categoria, a
descontinuidade das trajectórias his- Apropriação de Conteúdo (AC), cuja expli-
tóricas (CHARTIER, 1990, p. 26-7). cação encontra-se mais abaixo.
A Apropriação Incidental se caracteriza
PUC-Rio, no portal Scielo, no portal Pepsic, nos por apresentar referências rápidas ao
anais da ABRALIC, nos anais da ANPOLL, nos texto do autor, por arrolamento de seus
anais da ABRAPLIP, no anais da ANPED, nos títulos nas referências bibliográficas, sem
anais da ANPUH, no indexador da Plataforma citação no corpo do texto; e por menção
SEER, Periódicos CAPES, na plataforma SEER
da Revista Brasileira de História da Educação, na
em nota de rodapé explicativa ou em
Biblioteca da Universidade do Estado da Bahia meio a outros autores que eventualmen-
(UNEB), na Biblioteca da Universidade Federal te se ocupem da mesma temática. “Nas
da Bahia (UFBA); e no Katalog der Bibliotheken apropriações incidentais não é possível
do Goethe-Institut do Brasil. No período de se- estabelecer relação entre a argumentação
tembro de 2012 a maio de 2013.

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empreendida no texto e a referência, ou Uma dificuldade na construção deste


então a menção guarda relação muito tipo de categoria é que, como os textos
tênue com o argumento desenvolvido” citados não possuem representatividade
(CATANI; CATANI; PEREIRA, 2001, p. 65) no corpo da produção, acabam por não
Dos textos classificados 48,7% integram entrar no resumo, dificultando sua identifi-
esta categoria. cação junto aos indexadores de pesquisa,
A Apropriação Conceitual Tópica buscadores, arquivos e bibliotecas. É
caracteriza-se pelo uso pontual de ci- preciso entrar no trabalho e procurar a
tações ou conceitos do autor para validar partir de algum indício, quase sempre, de
argumentações e o desenvolvimento de forma derivada (em artigos resultantes de
algum resultado, ampliando o quadro de teses e dissertações) ou insistindo em ca-
referência do estudo desenvolvido. Dos tegorias alternativas àquelas pretendidas
textos classificados 24,3% estão sistema- inicialmente. É um trabalho de insistência.
tizados nesta categoria. Dos textos levantados sob o signo da
A Apropriação do Modo de Trabalho Apropriação Incidental, a maioria, apre-
caracteriza-se por formas de apropriação senta um interesse pontual por Massa e
mais complexas que apontem o uso de Poder, seja em trabalhos que abordem a
metodologias, noções e conceitos do questão do trabalho operário e a repres-
autor, de forma sistemática, como no são no período da Era Vargas; seja em
caso do conceito de massa utilizado em um debate sobre estética e filosofia, o que
dois textos identificados nesta categoria, aponta os extremos de tratamento possí-
perfazendo o percentual de 4,8% do total veis dos estudos políticos de Canetti. Há,
de textos levantados. também, citações de A Língua Absolvida,
A Consciência das Palavras – em uma
A Apropriação de Conteúdo, a única
edição alemã, O Outro Processo: cartas
categoria desenvolvida especialmente
de Kafka a Felice, Auto-de-Fé, Uma luz
para este estudo, integram os textos que
em meu Ouvido e Vozes de Marrakech.
utilizam a obra de nosso autor como objeto
de pesquisa, apropriando-se não apenas Um elemento que foge a este contexto
de conceitos, mas do próprio material es- de uso das citações pode ser encontrado
crito para desenvolver análises textuais, em duas comunicações que não citam
culturais, sociológicas, psicológicas, políti- nenhum texto do autor, mas mencionam-
cas e educacionais. Dos textos levantados no em meio a outros autores que expe-
21,9% enquadram-se nesta categoria. rimentaram a migração como fenômeno
de seu tempo, ou que foram impelidos
Os trabalhos identificados na categoria
a diáspora por conta de sua condição
Apropriação Incidental (AI) apresentam,
judaica (AGUSTIN, 2008; RAONI, 2008),
por sua natureza pragmática e pontual,
como no trecho a seguir:
pouco material para o trabalho de análise.
Aparecem, quase sempre, em notas de Isso pode ser identificado no en-
rodapé, em enumerações de autores que volvimento que levou o povo judeu
trabalham temas comuns ou pontualmente a traduzir suas tradições religiosas e
como alusão a algum conceito abordado, éticas, mediante a criação de gêneros
mas que não será objeto de estudo corren- textuais, os quais revelam a pluralida-
te pelo autor do texto. Figuram como uma de de faces assumidas pela identidade
espécie de prestação de contas, na qual judaica ao longo dos últimos dois mil
se informa aos leitores que determinada anos: A Bíblia, comentários teológi-
leitura sobre determinado tema foi feita, cos e filosóficos sobre a fé hebraica,
porém não será usado de forma extensa a Cabala, narrativas épicas, poesia
no desenvolvimento do relatório/ensaio/ sacra e profana. Com base nessa
artigo/comunicação do estudo. identidade cultural, sintomatizada em

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vários gêneros textuais, inúmeros comunicação. Abordarei as produções de


escritores criativos judeus deram valio- acordo com a sua concentração em uma
sas contribuições às várias literaturas determinada obra, dentre as mencionadas
dos diferentes países em que foram acima neste mesmo parágrafo.
acolhidos em meio à Diáspora, nos O texto A Língua Absolvida aparece
quais nasceram e construíram suas em lugar familiar para o trabalho com este
existências. Assim, torna-se oportuno título de Canetti no Brasil, A Faculdade
mencionar autores judeus significati- de Educação da Universidade de São
vos como Heine, Franz Kafka, Samuel Paulo (FEUSP), pois este livro é objeto
Usque, Philip Roth, Primo Levy, Be- de trabalho nesta faculdade há quase três
llow, Malamud, Wasserman, Babel, décadas, e orbita a atuação de docentes
Agnon, Aguinis, Bashevis Singer, que, de alguma maneira, foram influen-
Elias Canetti, Moacyr Scliar, Samuel ciados pela escrita de Denice Catani
Rawett, Clarice Lispector, dentre ou- sobre o autor, em seu artigo Pedagogia e
tros (RAONI, 2008, p.2). Museificação (1990-1991), texto inaugural
Talvez, mais do que qualquer outra do interesse canettiano no país.
apropriação intelectual da obra de Canetti Aguiar (2010) inicia sua abordagem
seja o fato deste ser percebido como sujei- do texto canettiano, justamente, falando
to de algum lugar, mesmo que este “lugar” da proposição de leitura do livro numa
seja o transitório entrelugar da diáspora disciplina da FEUSP
judaica pelo mundo, que torne a menção
No início dos anos 90 do século
dele em meio a outros autores de expres-
passado, durante o meu curso de
são judaica importante, já que este viveu
licenciatura em Língua Portuguesa,
toda uma vida de trânsito pelas nacionali-
na Faculdade de Educação da USP,
dades, convertendo-se em um sujeito das
ouvi falar pela primeira vez de um
cidades por que passou, que pertenceu
livro chamado A Língua Absolvida,
mais a Zurique, a Viena, a Londres que
de Elias Canetti, um escritor búlga-
a seus respectivos estados-nação. De
ro que passou um período de sua
sujeito que viveu a margem da nação e
adolescência na Suíça por conta da
se inscreveu na Nation (BHABHA, 2010,
Primeira Guerra Mundial. O título
p. 385) dos exilados deliberadamente. É
era maravilhoso e causava em mim
uma forma de começar a localizar o sujeito
qualquer coisa de profundo, mágico,
que, se não pertencer a algum lugar, pode
trágico. Tanto que rapidamente fui
desaparecer.
buscar um exemplar na biblioteca
Os textos reunidos sob a etiqueta da da faculdade e passei a percorrer
Apropriação Conceitual Tópica (ACT) suas páginas com uma curiosidade
formam um conjunto bem significativo do faminta, desejosa de palavras que o
processo de apropriação de Canetti nas livro tinha a me presentear.
universidades brasileiras, apresentando o
Descobri, então, que se tratava
uso de conceitos e representações desen-
de um texto autobiográfico. E seu
volvidas pelo autor em cinco de suas obras
teor revelava a intensa relação de
mais conhecidas: A Língua Absolvida, O
amor que o autor nutre com a sua
Outro Processo: cartas de Kafka a Felice,
língua (materna?). Mas não só. A
Vozes de Marrakech, Massa e Poder e A
questão é que não sabia dizer o que
Consciência das Palavras. E ampliam as
havia a mais; só que isso não tinha
investidas sobre a produção canettiana
importância. A Língua Absolvida de
para além do mero arrolamento ou do
Canetti tinha marcado a minha pró-
uso pontual, inserindo-o como elemento
pria língua e isso me bastava como
de análise dos produtos acadêmicos
leitora naquele momento (p. 258).
desenvolvidos, seja dissertação, tese ou

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É importante ressaltar que este relato de forma mais extensas e com localizações
leitura não é fruto de um memorial inicial precisas de seu uso como elemento de
da tese, mas ���������������������������
como um introito aos resul- comparação com outros autores que
tados de sua pesquisa de doutoramento, trabalharam nas Ciências Humanas, com
nos quais se debate as representações do os conceitos chave presentes no título
menino autor epistolar como exemplos da canettiano. Diferente das abordagens
escrita escolar e da condição autoral neste anteriores, estas revelam certa localização
contexto, no qual são tecidas críticas aos e descaracterização do projeto canettiano
processos escolarizantes que retiram do de crítica à manipulação dos coletivos
sujeito a possibilidade de experimentar, humanos, como sendo um projeto me-
a não ser pela leitura da experiência de nor, seja na comparação com teóricos de
outrem (é um excesso, no qual a autora ofício, que dedicaram mais de uma obra
força por demais as situações vividas por e a própria carreira ao conceito de Poder,
Canetti, a maioria delas não aprendidas como no caso de Michel Foucault (RIBEI-
nem incentivadas pela escola, como pro- RO, 2000). Ou no caso mais evidente de
cessos vividos no ambiente escolar. É o descaracterização do projeto canettiano, a
caso das cartas escritas à mãe ou dos in- tentativa feita por Gustavo Oliveira (2010,
teresses literários e estéticos, muito mais p. 12) de trabalhar Canetti em termos opo-
fruto de sua relação com as moradoras de sitivos aos estudos dos comportamentos
sua pensão, de descobertas individuais e coletivos, da psicologia, que ele acredita
do legado parental). ser imaginativo, pouco sistemático e não
O título O Outro Processo: cartas de muito bem documentado, ignorando o
Kafka a Felice aparece também em um caráter ensaístico do texto Massa e Poder
único e óbvio uso na comunicação Lingua- (2011).
gem, Pensamento, Escrita e Existência Já a abordagem feita do texto Vozes de
– um breve estudo sobre as narrativas Marrakech pelos dois textos identificados,
animalistas de Kafka (ALMEIDA, 2013), A Propaganda Política do Islamismo Xiita
no qual se discute a questão da fala, da (GAULAND, 2007) e Aprender pela Arte
linguagem e do pensamento na relação a Arte de Narrar: educação estética e
entre os sujeitos e a influência destes artística na formação de contadores de
processos na construção das identidades. histórias (ROCHA, 2010), ambas teses
Kafka é o pano de fundo para este debate. de doutoramento na Escola de Comu-
Curiosamente, apesar de inscrever esta nicações e Arte da USP, apontam usos
abordagem sob o signo da Apropriação distintos do mesmo receituário. Gauland
Conceitual Tópica, preciso alertar o leitor (2007) utiliza das imagens construídas
de que há certa arbitrariedade nesta clas- pelo autor viajante em sua estadia num
sificação, pois a autora utiliza Canetti mais país de cultura islâmica – o Marrocos –
como apud, do que como objeto concei- para discutir a representação orientalista
tual a ser trabalhado em seu estudo. No construída no ocidente, que circunscreve
entanto, o mantive aqui por perceber que territorialmente o outro, indicando-lhe o
quase todas as citações indiretas do texto lugar de pertencimento ao exótico, ao
de Kafka apontavam, antes ou depois de diferente de “nós”, sistematizado por Ed-
sua inserção textual, para uma indicação ward W. Said em O Orientalismo (1990).
de como nosso autor leu o autor de A E o texto de Rocha (2010) que, tomando
Metamorfose a partir de suas epístolas à as imagens dos contadores beduínos do
sua pretendente, Felice Bauer. deserto marroquino, propõe uma aproxi-
De modo diferente do apresentado na mação identificadora com fenômeno
categoria Apropriação Incidental, quando semelhante em todo o mundo, que é do
apareciam em enumerações, as citações contador público de história, este que
de Massa e Poder aparecem agora de frequenta as feiras nas periferias de todo

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globo, de Cabul a Caruaru, e que começa Ambos os textos utilizam o conceito


a se tornar raro. de massa canettiano, não ultrapassam
Enfim, a discussão da categoria Apro- este uso que, mesmo extenso, não se
priação Conceitual Tópica pode ser fecha- expande para outros livros nos quais o
da com a identificação de quatro textos que conceito é comentado, resumido, apre-
fazem uso do volume de artigos, conferên- ciado pelo autor (CANETTI, 2008; 2010b;
cias e ensaios A Consciência das Palavras, 2010c; 2011; 2013), configurando-se de
a saber, Santana (2008) que debate o texto fato um modo de apropriação apenas do
de Canetti a partir dos estudos de Cláudio conceito de massa, observando, no co-
Magris; Ardans-Bonifacino (1996; 2001), tejo com outros e na contraposição com
que aborda juntamente com a leitura de perspectivas contemporâneas do estudo,
Massa e Poder (2011) o conceito de Me- a pertinência do conceito canettiano para
tamorfose; e Fantin (2008) que o aborda os estudos das multidões humanas nos
no debate sobre a narrativa. É importante tempos hodiernos.
ressaltar que estas quatro apropriações Os textos aglutinados sob a categoria
tem como objeto de trabalho uma mesma Apropriação de Conteúdo dizem respeito a
conferência, O Ofício do Poeta. estudos sistemáticos dedicados ao autor,
A categoria Apropriação do Modo uma de suas obras ou conjunto de obras,
de trabalho, pretende evidenciar “apro- cujo produto final deixa entrever mais do
priações reveladoras da utilização siste- que uma resenha ou resumo do autor,
mática de noções e conceitos do autor mas sua inserção como filtro de análise
[...], bem como mostram preocupação de problemas sociais, culturais, filosóficos,
central com o modus operandi da teoria” estéticos, políticos e educacionais. Este
(CATANI; CATANI; PEREIRA, 2001, p. 65), tipo de estudo, muito comum em campos
foram identificados apenas dois textos: a como a filosofia, as artes e os estudos
dissertação Massa e Humanização: de literários, ganhou contemporaneamente
Canetti a Sloterdijk (MARTINS, 2009) e a a concorrência das Ciências Humanas na
tese Povo, Massa e Multidões nos Con- apropriação das narrativas ficcionais como
tratos de Comunicação do Jornal Última campo empírico de suas investigações.
Hora (PASSOS, 2009). Escolhi apresentá-los por campo, pois
alguma estabilidade pode ser observada,
Para Martins (2009) a comparação de
são eles a Educação, os Estudos Literá-
Canetti a Sloterdijk provoca o contrate
rios e a Psicologia.
de suas concepções de Massa distintas,
as quais ele qualifica como homogênea, No campo da Educação, como já foi
monocolorida, negro para ser fiel à dis- dito anteriormente em outros momentos
sertação, desenvolvida por Canetti em neste texto, as apropriações de Elias Ca-
seu livro; e uma concepção mais líquida, netti estão marcadas pela leitura inaugural
uma aglomeração mais colorida e pós- de Catani (1990-1991) sobre o primeiro
moderna, defendida, segundo ele, por volume de sua autobiografia, A Língua Ab-
Sloterdijk (MARTINS, 2009, p. 17-40). solvida (2010a). Este foi o primeiro artigo
a ser publicado sobre nosso autor em um
Já o texto de Passos (2009, p. 71-108)
periódico acadêmico brasileiro e por uma
faz um resumo do conceito de Massa
professora de uma universidade brasileira
presente no livro de Canetti e seus desdo-
(existia uma recepção jornalística, curiosa
bramentos explicativos, servindo-se aqui e
do Prêmio Nobel de Literatura, de sua
acolá do auxílio de textos de Antonio Negri
reclusão e até sobre seus casamentos10).
e Gabriel Tarde na caracterização dos
eventos de massa na contemporaneidade
e sua expressão no jornalismo impresso 10 Especialmente nos Jornais O Estado de São
do jornal Última Hora. Paulo e Folha de São Paulo, na década de 1980
e início dos anos 1990.

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Rodrigo Matos de Souza, Obs

Plumilla Educativa

Neste texto expõe a autora, à luz dos O texto de Silva (1998, p. 51), informa
exemplos canettianos, críticas ao proces- a autora, não está dando continuidade
so formativo e do trabalho do professor, ao texto de Denice Catani (1990-1991),
para o qual se exige racionalidade e mas aproveitando alternativas apresen-
objetividade, deixando à margem a criati- tadas no referido artigo; e discrimina as
vidade, a fruição e a imaginação presen- representações de professor no texto de
tes na atuação de personagens como o Canetti (2010a) como proposições ques-
professor Witz, sujeito da instabilidade tionadoras dos valores impressos em uma
e, por isso, atraente aos olhos do jovem cultura didática (em linhas gerais o artigo
Elias; convoca seus leitores a pensar a pouco avança em relação ao de Catani,
multiplicidade de sentidos impressos no deixando evidente no excesso de citações
tema da formação e a pensar a escola e em considerações que pouco se apar-
como espaço em que comportamentos tam das apresentadas em Pedagogia e
se homogeneízam ao mesmo tempo em Museificação, seu caráter pragmático de
que abre espaço para a diferença; amplia exercício didático de disciplina de pós-
suas críticas ao universo pedagógico graduação que foi publicado).
percebendo-o como espaço que excluí o Somente 19 anos após a publicação
que desconcerta e o que é inesperado: do texto de Denice Catani (1990-1991) é
[…] a pedagogia agarrada à ilusão que teremos, em Educação, outra apro-
dos controles justifica-se elaborando priação de Elias Canetti, mais uma vez de
o discurso do “museu”: classifica e A Língua Absolvida, oriunda de um debate
organiza, isola e dirige o olhar, além metodológico do qual emergirá uma re-
de imprimir os folhetos que ensinam flexão sobre o uso da autobiografia como
a percorrer os conhecimentos sele- fonte para o estudo histórico-educacional
cionados como dignos, destituídos (OSINSKI, 2011).
do seu “poder de sedução e inquie- No texto de Osinski não aparecem
tação” (CATANI, 1990-1991, p. 26). citações de ��������������������������
Catani nem das fontes uti-
E propõe a leitura de A Língua Absolvi- lizadas por estas na elaboração de seu
da (2010a) como leitura provocativa aos artigo, há outras filiações teóricas – e
temas da educação, bem como para o uso mais recentes – que, no entanto, aproxi-
de textos não pedagógicos no desenvol- mam a autora dos escritos desenvolvidos
vimento dos debates sobre o fenômeno no campo da pesquisa (Auto)biográfica
educacional. no país, como Benjamin (1994), Pollak
Este texto, além de inaugurar a apro- (1992), Frago (1999) dentre outros para
priação do autor provocou a abertura o desenvolvimento das discussões sobre
dos estudos sobre o autor na Faculdade narrativa, memória e literatura (OSINSKI,
de Educação USP, como pode relatar 2011). Este trabalho propõe observar na
Aguiar (2010) sobre as leituras feitas, autobiografia de Canetti seu processo
nesta instituição, do referido autor, nos formativo como intelectual no início do
cursos de licenciatura e de pedagogia século XX e de como estes processos são
e, diretamente, influenciou a escrita de indissociáveis da vida do sujeito.
outro texto identificado na categoria AC: Nos três textos não há indicação de que
A Língua Absolvida: uma especulação as produções são fruto de estudos mais
para a formação de professores (1998), verticalizados sobre nosso autor, como tese,
de Marilda da Silva, que informa em nota dissertação ou monografia. Exceto Marilda
ser o artigo uma produção para a disciplina da Silva (1998) que aponta sua inscrição na
Docência, Memória e Gênero, oferecida produção final para uma disciplina de um
pelo programa de pós-graduação em curso de pós–graduação. Esta constatação
educação da FEUSP. nos informa da precariedade dos, assim

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chamarei, estudos canettianos no campo o fazemos mais por comodidade e por ser
da educação brasileira, que encontraram o país de seu nascimento, do que por sua
vazão em produções pontuais nas últimas nacionalidade final, a de suíço, também,
três décadas, com interregnos de quase dez anoto, seria difícil inscrevê-lo como austro-
anos entre suas entradas, o que poderia búlgaro-britânico-helvécio, o que seria
significar uma falta de interesse no estudo mais adequado). Identifico neste texto a
do autor de Auto-de-Fé, caso outros campos mesma relevância para o campo das letras
de conhecimento não se interessassem que o trabalho de Catani (1990-1991) tem
também pelo complexo emaranhado, misto para a educação, ambos são textos fun-
de memória, romance e ensaios que carac- dacionais, porém o impacto dos estudos
terizam a produção de Elias Canetti. de Aron (1994) não pode ser percebido
No campo dos Estudos Literários é através de citações em outros textos.
preciso ressaltar o trabalho de divul- Há, ainda, no campo dos Estudos
gação do autor perpetrado por Irene Aron Literários, uma tese de doutoramento
(1994a; 1994b; 1995) junto à Faculdade que faz uso extensivo de dois livros de
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Canetti, em língua alemã, Die Gerettete
da Universidade de São Paulo (FFLCH/ Zunge (A Língua Absolvida) e Die Fackel
USP). A autora publica no início textos im Ohr (Uma Luz em Meu Ouvido), de Luis
no formato de comunicação durante a Sérgio Krausz (2006), que busca nos dois
Semana de Literatura Alemã, Auto-de-Fé primeiros volumes da autobiografia canet-
(1994b) e Elias Canetti: testemunho de um tiana, ecos do modo de vida dos judeus
sobrevivente (1995), textos que informam, alemães no final do século XIX e início do
respectivamente, sobre a importância da século XX. Canetti é o principal informante
leitura do romance e da autobiografia de do modus operandi da vida vienense da
Canetti, tratam-se mais de textos informa- tese de Krausz (2006), no entanto, como
tivos que de análise, o que não é o caso de a tese se dedica a outro autor, Joseph
Elias Canetti: um destino judaico (1994a), Roth, as inserções dos livros canettianos
publicado pela Revista USP. citados aparecem como elementos para
Neste artigo (1994a), ela oferece ao lei- se melhor compreendê-lo.
tor importantes questões sobre a recepção No campo da Psicologia aparecem a
canettiana na Alemanha (e nos países tese de doutoramento de Waisberg (2008)
de expressão germânica), na Inglaterra e e a dissertação de mestrado de Salvador
Estados Unidos e no Brasil, reforçando a (2011). A primeira, por se tratar de um
representação de nosso autor como um texto estudo sobre Robert Musil, faz uso
personagem da diáspora judaica, exemplo das autobiografias de Canetti, em espe-
de sujeito cosmopolita e autor de expres- cial de O Jogo dos Olhos, como fonte de
são alemã (isso pode parecer estranho informação sobre Robert Musil, contem-
de se dizer de um autor de língua alemã, porâneo e amigo não muito próximo de
mas Canetti demorou em ser reconhecido Canetti. A dissertação de Salvador (2011)
como autor de língua alemã justamente trabalha o texto Auto-de-fé de Canetti
por seu trânsito transnacional como exila- como metáfora da decadência germânica
do11, apesar de identificá-lo como búlgaro, do período que antecedeu o avanço do
nazismo. Ambos os textos aproximam o
universo da literatura das Humanidades,
11 Antes de aprender alemão, já adolescente, percebendo o texto literário mais como
Canetti falava ladino, búlgaro, inglês e francês. campo que recurso de citação.
Escrever pois, em alemão foi, de fato, uma escol-
ha, uma escolha afetiva motivada pela memória Os textos identificados sob a categoria
da língua secreta, símbolo do amor dos pais, Apropriação de Conteúdo expõe o caráter
os quais só falavam alemão nos momentos de interdisciplinar das abordagens empíricas
intimidade e felicidade (CANETTI, 2010a).

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Plumilla Educativa

dos textos de Elias Canetti, cujos escritos nos chegam das mais diversas matrizes
vem funcionando a mais de duas décadas conceituais e nacionais, deixando rastros
como informante do zeitgeist da cultura nas áreas das humanidades.
europeias do período entreguerras, do fin- No caso de Canetti é perceber como
de-siècle e das formas de educação - e for- seus textos ultrapassam a abordagem
mação – dos sujeitos letrados dos círculos óbvia que teriam no campo dos Estudos
da elite intelectual das primeiras décadas do Literários e encontram caminhos e senti-
século XX em grandes centros econômicos dos em outros campos de conhecimento,
e políticos da Europa, de leste a oeste, do o que nos diz alguma coisa sobre o caráter
centro a periferia, as quais circulou ora como não fechado de seus textos e de sua liber-
migrante ora fugindo das consequências do dade, mas também da capacidade criativa
conflito em o Reich e os Aliados. de nossos pesquisadores, que abordam
De certa forma, também nos diz do de forma não ortodoxa a obra canettiana.
quão pouco explorado ainda é o estudo Ainda, um levantamento dessa natureza
de Canetti no Brasil, o que ainda pode contribui, como exemplo para que pesqui-
ser aprofundado e diversificado, no sen- sas que tenham nosso autor como objeto
tido de dar ao autor de Massa e Poder a de estudo e teórico de fundamentação
relevância que já possui em outros locus possam encontrar um ponto de partida,
de produção acadêmica. no qual se possa identificar heurística das
abordagens de Canetti no país e que o
mesmo esforço comece a ser desenvolvido
Considerações Finais em outros países. Também, assim espero,
este trabalho, possa servir de exemplo para
Os trabalhos de Elias Canetii encontra- que outros processos de apropriação de
ram muitas e múltiplas formas de manifes- outros autores venham a ser feitos, contri-
tação no universo acadêmico brasileiro, buindo assim para a melhor compreensão
entender suas formas de apropriação da leitura, recepção, apropriação e – por
pode nos ajudar a melhor compreender que não? – influência que determinados
os processos de circulação e desenvol- escritores, ensaístas e teóricos exerçem
vimento dos diversos receituários teóri- sobre campos de conhecimento, universi-
cos, representacionais e literários que dades e professores brasileiros.

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