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Resumo de Finanças Públicas - Ursulla Lana

Federalismo Fiscal - Aula 7

Qual a divisão ótima de responsabilidades de diferentes níveis de governo? Ou seja, qual a


melhor forma de dividir as responsabilidades do governo? Quais bens públicos devem ser
provisionados pelo governo local e pelo governo central? Qual alocação (entre esferas) é
mais provável de maximizar bem estar social, portanto, garantir o maior ponto de bem estar
social?

Sistema Federal: consiste das diferentes esferas de Governo que produzem bens e
serviços. “O governo federal é o governo comum ou nacional ou supranacional de uma
federação. Um governo federal pode ter poderes distintos em vários níveis autorizados ou
delegados a ele por seus estados membros. A estrutura dos governos federais varia.”

Federalismo Fiscal: é a área que examina os papéis de diferentes níveis de governo e a


forma como eles interagem. É a divisão de responsabilidades nos gastos e geração de
receitas entre as diferentes esferas de governo. “É a parte do acordo federativo que atribui
para cada ente da federação a competência para arrecadar um determinado tipo de tributo,
a repartição de receitas tributárias entre esses entes, assim como a responsabilidade de
cada ente na alocação dos recursos públicos e prestação de bens e serviços”.

Município —---- Estado —----- União

A maior parte das receitas fica na União e isso não é bom no sentido de que os Estados e
Municípios ficam muito dependentes do repasse de receita da União pra eles. Isso ajuda na
redução de eficiência.

Eficiência - Modelo de Tiebout


Como, nos governos locais, algum mecanismo poderia assegurar que os gastos em bens
públicos seriam aproximados do nível ótimo apropriado? Tiebout (1956) argumentou que a
capacidade dos indivíduos em se mover entre as jurisdições produz uma solução típica do
mercado para o problema local dos bens públicos. As pessoas “votam pela mudança” e
permanecem na comunidade que oferece o pacote de serviços públicos e impostos de que
elas mais gostam. Em equilíbrio, as pessoas se distribuem por meio de comunidades, com
base em suas demandas por serviços públicos. Cada indivíduo recebe o nível desejado de
serviços públicos e, se não estiver satisfeito com esse serviço, muda-se para um local onde
possa ser atendido em suas necessidades. Assim, o equilíbrio alcança eficiência de Pareto,
e não é necessária uma ação do governo para atingir a eficiência.
“Ao optar por viver em uma dada comunidade, a família estaria revelando sua preferência
pela cesta de bens públicos e impostos existentes naquela comunidade. Esta é a ideia de
que as famílias podem ‘votar com os pés’, ou seja, mudarem-se para a comunidade que
melhor atende às suas necessidades em termos de bens públicos e impostos”

1956 – Charles Tiebout: o que existe no mercado privado que garante o provisionamento
eficiente de bens privados e falta no setor público?
● Competição
A competição entre comunidades locais levaria ao provisionamento eficiente de bens
públicos não nacionais (assim como no modelo de competição entre firmas no mercado
privado)

Premissas da hipótese de Tiebout


●Existe um grande número de comunidades com diferentes níveis de serviços públicos
● Indivíduos apresentariam grande mobilidade
Quanto maior for o grau de mobilidade revelado dos residentes de região para região, maior
a eficiência da alocação de recursos, mantidas constantes as outras coisas. Isso ocorre
porque não haveria mobilidade das famílias e firmas quando todas as unidades
subnacionais estão em um estado de equilíbrio – os benefícios fornecidos seriam
consistentes com os custos. Como resultado, devido à pressão exercida sobre os governos
por causa dessa mobilidade, a eficiência na produção seria reforçada.
●Indivíduos possuem informação perfeita sobre impostos e serviços públicos de cada
comunidade
●Cada indivíduo consegue encontrar uma comunidade com o nível de serviço público que
ele demanda
● Provisionamento público é financiado por imposto local

- Tiebout estava interessado em compreender a preferência dos habitantes


- Indivíduos escolhem morar nas localidades que percebem que tipo de
provisionamento público os indivíduos preferem e disponibilizam os bens públicos de
forma eficiente
- Existiria equilíbrio na alocação
- Indivíduos “votariam com os pés”
- Comunidades que provisionassem os serviços que os indivíduos esperam e fornece
os mesmos de maneira eficiente, receberia influxo de moradores
- Essas comunidades identificariam melhor que as demais, as necessidades dos
indivíduos, e assim a decisão de cada comunidade levaria a uma alocação eficiente

Problemas com a hipótese de Tiebout


●Competição imperfeita: O número de comunidades é limitado e não garante concorrência.
●Não existe mobilidade perfeita dos habitantes
●Indivíduos não apresentam informação perfeita sobre os serviços que recebem e tributos
que pagam
● Externalidade: as ações de uma comunidade têm efeito sobre outras comunidades
- Ineficiência associada a alocação e mobilidade dos indivíduos que consomem
serviços públicos de localidades vizinhas. Esse efeito é conhecido como “spill-over”
(transbordamento).Um efeito transbordamento na economia, é um evento econômico
em um contexto que ocorre por causa de outro evento em um contexto aparentemente
não relacionado. Por exemplo, as externalidades da atividade econômica são efeitos de
transbordamento não-monetário sobre os não participantes. Quanto maior esse feito,
mais bem público deve ser provisionado no nível central

Não existe harmonização (redistribuição)


Contradição: mais pobres são os que mais valorizam os bens públicos e vão querer morar
onde estes são melhores (por causa do financiamento dos mais ricos). —> Ricos migram
para escapar de impostos locais e redistributivos, localidades então abandonam a tributação
ou escolhem a mesma alíquota.

4. IMPLICAÇÕES MODELO DE TIEBOUT

Quais as implicações da hipótese de Tiebout para o desenho do federalismo fiscal? Qual a


divisão de provisionamento público entre as esferas de governo? São os moradores que
estão usando o bem ou serviço ou são pessoas de outros lugares?

Alocação depende da conexão entre benefícios e tributação


A ideia é que o provisionamento (despesa) e financiamento (receita) sejam iguais ou
parecidos.
Serviços com elevados benefícios aos moradores (e pagadores de impostos) deveriam ser
provisionados localmente
Gasto local deveria focar programas com amplo benefício local, pouca externalidade e
economia de escala baixa
Governo local: coleta de lixo, manutenção de ruas

Governo Centralizado X Governo Descentralizado


Despesas tradicionalmente federais:
- Defesa Nacional
- Seguridade Social
Políticas econômicas federais: inflação, desemprego
*Governo centralizado tende a oferecer mesmo nível de serviço público em todo o
país

O problema de cada localidade é escolher o nível de tributos necessários para financiar o


nível de bens públicos que maximiza o bem estar dos residentes
Se existe um programa de redistribuição de renda local, impostos locais serão mais altos e
a população mais rica muda de localidade.
Ex: asfaltamento de ruas X programa de renda

Quando existe muita externalidade, é preciso que uma esfera mais alta do governo invista
Por causa das externalidades, provisionamento pode ser central ou posso optar por
transferências
Com externalidade pode haver sub-provisionamento de bens públicos, se não houver
recursos do governo central

5. REDISTRIBUIÇÃO ENTRE LOCALIDADES


Deve existir redistribuição de recursos públicos entre localidades? O Governo central deve
distribuir recursos para reduzir diferenças originárias do tamanho da base fiscal e receita
tributária?
Equalização Fiscal: políticas pelas quais governo central distribui recursos para governos
locais em um esforço para equalizar diferenças

Duas fontes de desequilíbrio vertical (entre esfera central e local)


• Necessidades de gastos - necessidade fiscal: é para o desenvolvimento de uma
localidade. Quando tem muita pobreza, por exemplo, demanda mais serviço público e
portanto, tem mais necessidade fiscal.
• Capacidade de gerar receitas - número de trabalhadores, número de firmas.. Isso aqui é
diferente de arrecadação. Pode ter várias firmas e não ter arrecadação.
Essa diferença entre receita e gastos é o hiato fiscal
Desenho ótimo: Primeiro define responsabilidades (gastos). Depois poder de arrecadar.

Necessidades das localidades diferem de acordo com composição da população,


externalidade, economias de escala e produtividade local
Também é difícil medir necessidades fiscais
Por isso, é difícil priorizar equalização das necessidades fiscais
Pode provocar ineficiência alocativa: Distorção das escolhas dos indivíduos sobre onde
viver e das empresas onde se instala (competição fiscal)

Transferências podem garantir nível mínimo de provisionamento mas não tem equalização,
a não ser com alguns serviços muito essenciais. Quanto mais uma localidade tiver menos
serviços funcionando, menos ela vai ter incentivo para aumentar a arrecadação.

Se a hipótese de Tiebout fosse válida e perfeita não deveria existir redistribuição entre
localidades (municípios)
Competição entre comunidades já teria obtido nível eficiente de provisionamento público
Redistribuição deveria focar em indivíduos não em comunidades (ineficiência associada ao
fato de distribuir renda entre comunidades)

6. COMPETIÇÃO FISCAL

Comunidades competem para atrair firmas e habitantes


É provocada pela mobilidade da base fiscal entre localidades
Existe falta de mobilidade do trabalho frente ao capital
Capital se move entre comunidades em resposta ao diferencial tributário

Comunidades manteriam suas alíquotas baixas para não perder base fiscal
Pode provocar ineficiência alocativa:
Distorção das escolhas dos indivíduos sobre onde viver e das empresas onde se instalar
Corrida ao piso: mobilidade crescente do capital leva a uma alíquota de equilíbrio
decrescente
Resultado: sub-provisionamento de bens públicos

7. TIPOS DE TRANSFERÊNCIAS

Ferramenta de redistribuição: transferências


São dois os principais tipos de transferências entre diferentes esferas
● Transferência Condicional (mandam dinheiro condicionado para determinado fim)
● Transferência não Condicional
Ex: uma localidade oferece um único serviço local educação e financia com um imposto
sobre a propriedade.
Transferência condicional com contrapartida (a cada 1 real que o governo federal transfere,
a localidade precisa colocar 1 real também)
Valor recebido por uma localidade está vinculado a uma despesa feita pela mesma em
determinado serviço Ex: se for um por um, para cada $1 de gasto local em educação, o
governo central envia também $1.

Transferência condicional : Recebimento de recursos centrais mudo o custo de


provisionamento local Localidade precisa gastar menos para o mesmo bem público Sobram
mais recursos privados, existe efeito renda (maior orçamento) e efeito substituição (sobra
mais para recursos privados)

Transferência não condicional: Governo central envia recursos para o governo local sem
vinculação de gasto
Agora localidade decide gastar menos no provisionamento público e prefere aumentar
recursos privados
Agora só existe efeito renda

Com liberdade de alocação, comunidade decide gastar menos em educação e aproveita


mais os recursos com bens privados
Neste exemplo, comunidade está melhor com “Transferência não condicional”, por isso
novo ponto de equilíbrio está em um ponto mais alto da curva de indiferença.

Mas com “transferência condicional” existe maior gasto com o serviço público
Se o objetivo do governo central for maximizar bem-estar ele deve usar “transferência não
condicional”, se o objetivo for aumentar gastos em bens públicos deve usar “transferência
condicional”.

Transferência condicional sem contrapartida: Resultado parecido com “transferência não


condicional”, localidade investe menos em educação do que com “transferência
condicional”.
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Aula 8 - Políticas de Tributação

1. TRIBUTAÇÃO GERAL

Governo obtém recursos por meio de tributos


● Como o governo arrecada?
● Quão justo é o sistema tributário?
● Quais impactos na eficiência?

Tributos Diretos
Tributo sobre a renda do trabalho (payroll tax)
Tributo sobre a renda individual (income tax)
Tributo sobre a riqueza das pessoas (wealth tax) (Inclui : imposto sobre a propriedade e o
imposto sobre herança).
Tributo sobre a receita das empresas (corporate tax)
Tributos Indiretos
● Tributo sobre o consumo (tipos: percentual do valor de renda e valor monetário fixo)
Objetivos distributivos:
- Equidade Vertical: grupos sociais com mais recursos devem recolher mais tributos
- Equidade Horizontal: indivíduos com mesma capacidade de pagamento mas com
diferentes comportamentos (difícil de medir).

Geralmente, o responsável por coletar imposto é um coletor, fabricante, enfim, você já sai
do mercado tendo pago o imposto, não sai com uma guia para pagar o imposto.

2. EQUIDADE EM TRIBUTAÇÃO
A equidade horizontal ocorre quando contribuintes com igual capacidade de pagar
contribuem com a mesma quantidade, e a equidade vertical ocorre quando contribuintes
com desigual capacidade de pagar contribuem com quantias distintas, surgindo aqui os
critérios da progressividade, proporcionalidade e seletividade, garantindo que os
contribuintes que possuem mais recurso contribuam proporcionalmente e equitativamente.

Medindo equidade vertical


● Progressiva
Quanto maior a renda, maior a carga fiscal
● Regressiva
Quanto menor a renda, maior a carga fiscal proporcionalmente falando
● Proporcional
Carga fiscal proporcional à renda (todos recolhem a mesma alíquota)
*alíquota é o percentual usado para calcular uma taxa/imposto.

Um sistema tributário é considerado progressivo se ele consegue arrecadar mais de quem


realmente dispõe de mais recursos, mais renda e patrimônio. Ao contrário, um sistema é
regressivo se ele arrecada proporcionalmente mais de quem ganha menos. Sistemas
tributários que dão ênfase aos impostos indiretos, como os impostos de consumo (IPI, ICMS
etc.), são considerados regressivos. Os que dão maior ênfase aos impostos diretos (IR e
ITR) são progressivos. Exemplo: um faxineiro compra uma geladeira e paga 25% de
imposto, e um banqueiro, que ganha centenas de vezes mais, compra a mesma geladeira e
paga o mesmo imposto. Nesse caso, houve um efeito regressivo que cobrou
proporcionalmente mais de quem ganha menos.

Medindo equidade vertical


Importante é a alíquota fiscal efetiva (não a nominal)

Alíquota efetiva equivale ao percentual da renda em relação ao total de imposto devido

Alíquota marginal é aquela que incide sobre cada $ 1 adicional de renda

3. INCIDÊNCIA FISCAL

Quem paga os tributos? A carga fiscal de um imposto recai sobre as firmas ou


trabalhadores?
- Incidência estatutária
É a parte/ o agente que tem a obrigação de recolher o tributo
- Incidência Econômica
São as partes sobre as quais recaem os efeitos da tributação
Atenção: NÃO importa quem é o responsável legal pelo tributo, o que importa é a incidência
fiscal, que é sobre quem ou quais partes o efeito da tributação está recaindo.

Exemplo: o que acontece quando o governo inclui o imposto de $0,50 sobre a gasolina?
Para os produtores isso equivale à um aumento de $0,50 no custo marginal
Efeito do imposto aumenta preço final.
Não importa quem é o responsável legal pelo tributo
Efeito sobre o preço e valor recolhido do tributo de cada agente não muda

Incidência do tributo depende da elasticidade da oferta e demanda


Ou seja: quanto a quantidade (demandada e ofertada) é afetada por alterações dos preços

Tributo recai sobre firmas com oferta inelástica ou consumidores com demanda inelástica
Demanda é mais elástica para os bens com mais substitutos (elasticidade preço demanda
com valor mais alto), mais difícil repassar aumentos de impostos para os preços
Mesmo raciocínio se aplica para o lado da oferta e para o mercado de insumos

●Incidência estatutária não descreve sobre qual parte recai o imposto


●Carga fiscal não depende sobre qual lado (oferta ou demanda) recai a carga
●Agentes com oferta ou demanda inelástica absorvem os impostos
●Foca em mudanças de preços não em quantidades

O Brasil tem uma arrecadação fiscal bem distorcida. Alguns países são mais e outros
menos distorcidos.

4. TRIBUTAÇÃO ÓTIMA SOBRE CONSUMO

O foco é gerar uma regra fiscal que gere a menor distorção possível.

Foco agora está no efeito sobre a quantidade (produção eficiente)


Peso morto capta as mudanças em quantidades quando um tributo é implementado
Tamanho do peso morto depende da ineficiência da tributação Essa ineficiência é
determinada pelas elasticidades das curvas de oferta e demanda
*Peso morto: parte da riqueza da população que é subtraída por conta da tributação -
ineficiência. Na economia, “peso morto” é um termo utilizado para referenciar uma condição
de ineficiência de mercado.
Quanto maior a elasticidade, maior o efeito do peso morto (maior a mudança de
comportamento para evitar o imposto)
Efeito do imposto sobre o peso morto é proporcionalmente maior à medida que o imposto
aumenta (efeito marginal)
Sistemas progressivos tendem a ser menos eficientes
Diminuição da base fiscal e aumento da alíquota tendem a aumentar a ineficiência

Receita marginal: valor adicional arrecadado pelo imposto


Peso morto marginal: aumento de ineficiência decorrente desse aumento de imposto
Escolha das alíquotas de imposto sobre os bens que minimizam peso morto para um dado
nível de arrecadação

Frank Ramsey (1927) foi pioneiro nessa questão Regra de Ramsey: para minimizar peso
morto, alíquotas devem ser definidas entre bens, de modo que a proporção de peso morto
marginal seja igual a receita marginal obtida naquele bem.

Eficiência econômica é o ponto crucial da análise. Um outro pressuposto do modelo é de os


impostos sobre bens serem a única fonte de receita do governo.

Na prática essa relação mede o valor do próximo $ 1 para o governo em relação ao seu
melhor uso no setor privado
Essa relação entre PMmg/Rmg deveria ser a mesma para todos os bens PMmg/ Rmg = TM
Se TM for pequeno, então receita adicional para o governo tem pouco (peso morto) valor
privado individual

Se TM for pequeno, é provável que as alíquotas do dos tributos sejam baixas para a maioria
dos bens
Se TM for grande, é provável que as alíquotas dos dos tributos sejam altas para a maioria
dos bens
Assim, o governo só desejaria ter elevado TM se tiver uma elevada necessidade
orçamentária

Na prática a Regra de Ramsey pode ser expressa como o inverso da elasticidade da


demanda
Assim, bens com elevada elasticidade devem ser menos tributados (alíquotas mais baixas)
Bens com baixa elasticidade da demanda (mais inelásticos) devem ser mais tributados
(alíquotas mais altas)

De acordo com a Regra de Ramsey, 2 fatores devem ser considerados para tributação
ótima:
●Regra da elasticidade: peso morto de qualquer imposto aumenta com a elasticidade da
demanda, eficiência aumenta tributando bens mais inelásticos
●Regra da base fiscal “larga”: é melhor tributar uma maior variedade de bens com alíquotas
moderadas do que poucos bens com alíquotas muito altas

Implicações da Regra de Ramsey para equidade:


Deve-se tributar bens mais essenciais.
Logo, a Regra de Ramsey não é um bom guia para políticas públicas em relação à
equidade.
Além da elasticidade da demanda, deve-se considerar a distribuição de consumo por
classes de renda Bens consumidos pelos mais ricos devem ser mais tributados

O uso de impostos distorcivos é inevitável quando se deseja redistribuição


Estruturas eficientes minimizam a distorção (existem sistemas mais distorcivos que outros)
Discussão se dá em termos de trade-off: quanto uma sociedade está disposta a suportar de
peso morto (ineficiência) em troca de queda na desigualdade
Aqui é possível focar na equidade vertical do sistema
Definir alíquotas entre classes sociais que aumentam bem estar social sujeitos a receita
tributária
Desafio: muitas vezes o ganho monetário do pobre é menos que a perda monetária do rico,
devido ao efeito do peso-morto

Um sistema de tributação direta ótima segue a condição de fixar alíquotas de modo que:
Utilidade mg do indivíduo i
Receita mg obtida da tributação = valor da receita adicional
Sistema ótimo de tributação direta é aquele no qual a utilidade mg por $1 obtida é igual
entre os indivíduos

Esse resultado reflete dois fatores:


Equidade vertical: bem estar social é o maximizado quando aqueles que têm um elevado
nível de consumo, e então uma utilidade mg baixa, são mais tributados
Governo tenta balancear utilidade marginal de ricos e pobres, diminuindo excesso de
consumo dos ricos

Tributação afeta tamanho da base fiscal:


Alteração de comportamento: a partir de certo nível de tributação indivíduo pode decidir
trabalhar (ou consumir) menos e arrecadação cai (curva de Laffer)
No caso extremo, com uma alíquota marginal de 100% ninguém vai querer trabalhar (ou
consumir) e base fiscal seria zero
Esses dois efeitos (tamanho da alíquota versus tamanho da base fiscal) são representados
na curva de Laffer

À primeira vista, o princípio da curva de Laffer parece não fazer sentido. Se o governo
aumentar os impostos, o normal seria a arrecadação sempre aumentar também. Porém, o
efeito das políticas monetária e fiscal sobre a economia contrariam essa lógica.
A curva de Laffer é uma definição econômica que mostra quanto o governo arrecada de
impostos aplicando diferentes alíquotas.Segundo a curva, essa relação não é diretamente
proporcional – ou seja, em determinado ponto, um aumento na tributação resultaria em uma
receita menor do que antes.
Com essa medida, uma menor tributação resultaria indiretamente em um aumento na
arrecadação do Estado.
A partir disso, se concluiu que a representação gráfica entre alíquota de impostos e receita
tributária e não seria uma reta ascendente, e sim uma “curva” voltada para baixo – a
chamada curva de Laffer.

6. TRIBUTAÇÃO ÓTIMA
Características desejáveis de um sistema fiscal - (Heady, 1993)

- Eficiência
- Equidade
- Transparência
- Simplicidade
- Baixo custo de coleta
7. Imposto sobre a Propriedade

Imposto sobre terras e construções


Função da alíquota e do valor designado para a propriedade
Governos procuram estimar valor do mercado

Abordagem Tradicional
• Quantidade de terra é considerada fixa
• Curva de oferta é perfeitamente inelástica
• Proprietários absorvem toda a carga fiscal
• Valor do aluguel ou da venda do terreno considera valor do tributo (valor do aluguel cai
exatamente pelo valor do Imposto)

No caso de oferta menos inelástica, imposto é absorvido entre proprietário e locatário,


proporção depende da elasticidade da oferta e demanda

Abordagem moderna:
Modalidade de tributo sobre a riqueza Imposto sobre a propriedade = imposto sobre capital
Quanto mais rígida (fixa) for quantidade de capital na economia, maior carga fiscal do
proprietário Capital pode migrar para áreas com menor imposto

Abordagem moderna:
Imposto tende a ser progressivo
Parte da riqueza que vem da posse de terra tende a subir com a renda
Efeito longo prazo: afeta acumulação de capital
Efeito geral: reduz retorno sobre o capital e tende a ser progressivo sobre a distribuição de
renda

Em Tiebout:
Comunidades usam imposto sobre a propriedade para financiar produção de bens públicos
Esse imposto é o custo de “comprar” bens públicos
Nesse sentido, esse tributo não cria carga fiscal excessiva
Balanceamento: efeito negativo do imposto sobre valor da propriedade e contrabalanceado
pela quantidade de serviços públicos recebidos (valor da propriedade reflete isso).
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Aula 9 - Dinâmica da Dívida Pública & Ilusão Fiscal

Falta de percepção sistemática sobre parâmetros fiscais


Distorce escolhas fiscais do eleitorado
‘Sub’ dimensiona custos
‘Super’ dimensiona benefícios
Estrutura tributária:
Pode não permitir perceber custo total do provisionamento público

Downs (1957) não há razão para o eleitor investir tempo em descobrir custos e benefícios
relativos das várias alternativas de financiamento público
Leva a informação imperfeita
Qual a direção do viés?
• Orçamentos pequenos
• Gastos excessivos

Discussão:
Benefícios ou Tributos são mais difíceis de serem percebidos?
Eleitores perceberiam mais os benefícios aos custos do governo
Nesse caso, ilusão fiscal resulta em tamanho excessivo do setor público Ilusão estaria na
estrutura das receitas (tributos)

Ilusão do Débito
Arrecadação X Endividamento
Eleitores percebem mais custos de programas públicos associados a maiores tributos do
que maior endividamento
Quanto maior o endividamento, maior o tamanho do governo
Municípios mais endividados deveriam apresentar menor valor dos imóveis

2. FONTES DE ILUSÃO FISCAL


Efeito elasticidade renda
Eleitores tenderiam a subestimar maior pagamento de tributos decorrentes do aumento da
renda Não existe aumento de alíquota, apenas progressão do tributo pago devido ao
aumento de renda Sistemas tributários exploram efeito elasticidade renda

Proprietários e Base Fiscal


Na relação proprietários - locatários, imposto pode estar embutido ou diminuir valor do
aluguel
Nessa relação, agentes econômicos não associam valor do imposto com provisionamento
público mas ao valor do aluguel

Sistema Tributário Complexo


Quanto maior número de fontes de receita na participação de recursos, mais complexo é o
sistema tributário Ao invés de subir alíquotas, governos ampliam fontes de receitas
Hipótese da “diversificação da receita”

Sistema Tributário Complexo


Demanda por bens públicos dependem da percepção sobre o preço do imposto
Metodologia: medidas para obter visibilidade do tributo Espera-se uma associação negativa
entre esse índice e tamanho do orçamento

Transferências entre esferas de governos


Transferências aumentam a distância entre pagamento de impostos e recebimento de
serviços Transferência é percebida como uma redução no custo de financiamento público
Eleitorado tende a incentivar um maior padrão de gastos Possível expandir gastos sem
percepção de custos

Ciclos eleitorais: Governantes usariam política fiscal e monetária para gerar condições
econômicas favoráveis a véspera da eleição
Comportamento diferente da política fiscal antes e depois das eleições Antes: mais gastos
Depois: mais impostos ou menos gastos
3. CICLOS POLÍTICOS
Como o comportamento fiscal afeta as chances de reeleição?
Evidências para o Brasil:
Expansão fiscal aumenta as chances de reeleição
Déficit municipais aumentam em anos eleitorais
Ou seja, aumentar os gastos aumenta a chance de ganhar a eleição mais do que aumentar
as receitas

Dinâmica da Dívida Pública


INTRODUÇÃO

Implicações econômicas:
Como a dívida afeta o funcionamento da economia? Quais as consequências de políticas
fiscais passadas sobre o futuro da economia
Política Fiscal responsável X crescimento da dívida:
-Tamanho da dívida afeta liquidez da economia
-Afeta nível da taxa de juros que exige o seu financiamento

1. INTRODUÇÃO
Resultado Fiscal Nominal:
Diferença entre total de despesas e receitas do Governo
Corresponde a necessidade de Financiamento do Setor Público (NFSP)
Resultado primário superavitário
Receita>despesa não financeira

Quanto déficit público pode ser considerado “excessivo” e não sustentável?


Abordagem mais comum para dívida é a contábil:
Política sustentável mantém a relação Dívida/PIB constante (condição de equilíbrio)
Políticas fiscais insustentáveis levarão a um ajuste severo na forma de gastos menores,
impostos maiores ou calote

2. POLÍTICA FISCAL e DÍVIDA PÚBLICA


Mas o que seria uma relação Dívida/PIB aceitável?
A qualificação depende da composição (perfil) e do custo da dívida
Além do tamanho da dívida, avaliação inclui estrutura em relação ao prazo de financiamento
e taxa de juros médias que o governo paga Ideal combinar títulos de longo prazo e com
taxa de juros prefixadas

3. GERENCIAMENTO DA DÍVIDA
Carga Fiscal e Serviço da Dívida Para “rolar” a dívida, juros devem ser pagos Impostos
utilizados para financiar esses pagamentos afetam carga fiscal e peso morto da economia
Questão passa a ser como os juros dos títulos afetam a economia
Uma diretriz para a dívida é fixar uma estrutura que minimize seus custos

Estrutura a termo da Dívida:


Relação entre taxa de juros e prazo de vencimento (maturação) da dívida
Quando não existe expectativa de alterações na taxa de juros, taxas de curto e longo prazo
devem ser iguais Inflação aumenta a exigência de retorno
Tarefa da estabilização é balancear prazos e taxas no decorrer do tempo

Blanchard ressalta 4 pontos na análise da política fiscal:


• Mudanças na posição fiscal do governo (diferenciar o que é resultante da política do que é
mudança no ambiente econômico )
• Sustentabilidade: a política fiscal pode ser mantida no futuro?
• Efeitos da política fiscal sobre preços (distorções)
• Impactos da política fiscal na demanda agregada

Ilusão fiscal: quando as pessoas deixam de perceber quanto elas pagam por um bem
público.
Provisionamento (despesa) (+)
Arrecadação (receita) (-)

Se as pessoas percebessem isso, não haveria ilusão fiscal. As pessoas percebem mais o
que está sendo oferecido pelo governo do que o quanto estão pagando.

Exemplos de ilusão fiscal:


Ilusão do débito: o governo aumenta o endividamento para gerações futuras ao invés de
aumentar a arrecadação de agora.

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