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https://www.estadao.com.br/politica/gestao-politica-e-sociedade/a-regionalizacao-do-plano-plurianual-como-instrumento-de-combate-a-desigualdade/
Porém, qual seria a motivação por trás de o PPA ter a compulsoriedade de ser de forma
regionalizada? A resposta está na própria Carta Magna brasileira, em especial ao
revisitarmos o inciso III do art. 3º, onde há como um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil o de “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais” [grifo nosso].
Adiciona-se a toda essa situação o fato de a Constituição, em seu art. 35 dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), estabelecer que teríamos um prazo de
10 (dez) anos, a partir de sua promulgação (tendo com base na situação populacional
verificada no biênio 1986-1987), para que, progressivamente, o país alcançasse uma
melhor distribuição de seus recursos entre as regiões macroeconômicas. Então, voltamos
ao problema já levantado anteriormente: por qual o motivo que em torno de 70% do
orçamento federal está concentrada no nível “Nacional” e “Exterior”? Em tese, isso significa
o fato do gasto público atender a todo o território nacional ou ao contexto internacional.
Mapa da Desigualdade
Autoria: FGV/IBRE
Bem, mesmo partindo da hipótese de existirem várias razões para essa concentração de
gastos no nível “Nacional”, é notório que seus impactos são, em sua grande maioria, locais
(onde a população vive e recebe os impactos das políticas públicas). Neste contexto, é
patente que a falta de uma regionalização a priori para que os recursos sejam aplicados é
um fato para que tal situação atual não ter refletivo aquilo que esperava o constituinte.
Uma das razões apontadas para o não detalhamento da regionalização é o fato de que a
falta de transparência quanto a localização do gasto faria com que o orçamento fosse
anualmente planejado para aplicar nas mesmas regiões, mesmo que ao longo do tempo
elas não tenham as mesmas necessidades sociais iniciais. Isso faz parte da natureza
incremental do orçamento, promovendo uma rigidez ainda maior na distribuição e na
alocação dos recursos públicos. Então, qual a solução para responder ao mandato
constitucional de regionalização do plano plurianual, das diretrizes, objetivos e metas da
administração pública federal?
Uma solução seria retirar da Constituição esse mandato. Com isso, a regionalização
poderia ser adotada a partir de regulamentos infraconstitucionais e legais. Sem dúvida, isso
pode fragilizar mais ainda a adoção da regionalização por parte da administração pública.
Nesse caso, a flexibilidade para que ela pudesse a cada ano rever as aplicações dos
recursos e, assim, redirecionar para as localidades com maior demanda ou necessidade
social poderia servir à conveniência do momento para que os stakeholders mais fortes
mantivessem o seu domínio no processo alocativo do orçamento. Isso manteria o seu status
quo com argumentos míopes para justificar as decisões descasadas, com o propósito
distributivo com foco na redução das desigualdades regionais e sociais.
Apesar de ainda não existir um Índice nacional que possibilite definir melhor as diretrizes
para a devida intervenção regional do poder público, inspirado na iniciativa da cidade de
São Paulo, não resta dúvida de que as regiões norte e nordeste do país são aquelas com
maiores necessidades socioeconômicas. Mas, mesmo em regiões desenvolvidas existem
“bolsões” de pobreza que precisam ser atendidos. Nesse sentido, as escalas regionais
devem atender aos problemas específicos sociais e econômicos que podem alcançar níveis
diferentes de localidades de acordo com o problema a ser enfrentado.
Dessa forma, considerando que estamos no ano que os governos irão elaborar os seus
PPAs, não seria este o momento ideal para que possamos assegurar previamente que o
recurso público, efetivamente, chegue a quem realmente mais precisa dele? Momento ideal
não para apenas discutirmos uma nova âncora fiscal, mas para também fazermos com que
o PPA seja o direcionador de políticas públicas intersetoriais e transversais, ou seja,
efetivamente seja o nosso instrumento de articulação político-federativa para a erradicação
da pobreza, da marginalização e da redução das desigualdades sociais e regionais, como
idealizado pelos nossos constituintes originários? Ademais, só poderemos avaliar, a
posterior, se as decisões alocativas e fiscais atingiram os seus propósitos distributivos no
longo prazo com tal firmamento claro, objetivo e prévio de compromisso de mudança da
atual realidade perversa e histórico no tocante à distribuição de renda do nosso País.