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SERVIÇOS PÚBLICOS

Prof. Me.

Saulo Torres
SERVIÇOS PÚBLICOS

1. SENTIDO DA EXPRESSÃO SERVIÇOS PÚBLICOS

• É atividade que a lei atribui ao Estado para que exerça diretamente ou por meio de
delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob o
regime jurídico total ou parcialmente público”. (Di Pietro)

OBS: Elementos do conceito de serviço público

1. Elemento subjetivo
2. Elemento material:
3. Elemento formal:
A. Elemento subjetivo: o Estado - atividade prestada pelo Estado

✓ Só é serviço público o que o Estado, por meio de uma norma, definir como
serviço público.

✓ Quando a norma qualifica a atividade como sendo serviço público, nasce


para o Estado o dever obrigatório e inescusável de prestá-lo (diretamente ou
descentralizadamente / gratuitamente ou não).

✓ Somente é serviço público o que a norma qualifica como tal. Essa tarefa cabe ao
direito positivo e pode variar conforme o tempo e o espaço.

OBS: Nesse aspecto, o Estado é a União, os estados-membros, municípios e DF,


cada qual dentro de sua competência constitucional.
B. Elemento material: o interesse público - atividade que atende os interesses ou
necessidades da coletividade.

O elemento material do serviço público se refere a uma atividade que satisfaz necessidades,
oferece vantagens e comodidades à coletividade (elemento objetivo).

Questão: Qual é a diferença entre serviço público e poder de polícia? É o elemento material.
O que diferencia as atividades administrativas “serviço público” e “poder de polícia” é o
elemento objetivo. A principal diferença entre ambos está no objeto: enquanto, no serviço
público, o Estado oferece/disponibiliza algo; no poder de polícia, o Estado
restringe/limita/condiciona o exercício de direitos individuais.

✓ Lembrando que a finalidade do serviço público e do poder de polícia é a mesma:


interesse público.
C. Elemento formal: o regime jurídico - influência de normas do direito público.

Regime jurídico é o conjunto de princípios e regras aplicáveis. Para uma atividade ser
qualificada como serviço público, ela deve estar sujeita a um conjunto de normas de direito
público ou predominantemente de direito público
Obs.: Ao estudar o direito tributário, o aluno aprende que a taxa é tributo que
pode ser cobrado diante do exercício regular do poder de polícia ou da prestação
de serviço público específico e divisível (uti singuli).

✓ Os serviços públicos podem ser classificados de duas formas:


✓ Uti universi – é o serviço que o Estado presta para toda a coletividade. Neste
caso, não há destinatários determinados. Dessa forma, o serviço público uti universi
não pode ser fato gerador da espécie tributária “taxa”.
Exemplo de serviço público uti universi: iluminação pública. - COSIP

✓ Uti singuli – é aquele serviço específico e divisível, ou seja, o destinatário é


definido e determinado. O serviço uti singuli é aquele que pode ser remunerado
por taxa (quando prestado pelo Estado).
Exemplo: energia elétrica domiciliar. – TAXA DE COLETA RESÍDUOS
SÓLIDOS
3. Serviços públicos na Constituição

A. Fundamento genérico
O fundamento genérico dos serviços públicos está no art. 175, CF:

CF, art. 175: “Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. (...)”

✓ O poder público é a União, estados, DF e municípios, cada qual em seu âmbito de


competência.

✓ O Poder Público, em regra, não precisa prestar o serviço público diretamente, pois
ele pode descentralizar a prestação do serviço.
3. Serviços públicos na Constituição

B. Serviços de prestação obrigatória e exclusiva do Estado – Celso Bandeira de Melo


(é indelegável)

Art. 21. Compete à União:


X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional

C. Serviços que o Estado tem obrigação de prestar e obrigação de conceder.

o Estado tem que prestar diretamente e também deve delegar. Isso ocorre para que não
haja monopólio na prestação do serviço (serviço de rádio e TV).
Obs.: art. 223 e § 2º, CF
3. Serviços públicos na Constituição

D. Serviços que o Estado tem a obrigação de prestar, mas sem exclusividade

1º) Serviço público de transmissão de rádio e TV

2º) Saúde, educação, previdência e assistência – Nestes casos, o Estado presta os serviços
públicos, mas o setor privado também presta estas atividades (neste último caso, não se trata
de serviços públicos).

✓ O particular pode prestar atividades relativas à saúde, à educação, à previdência e à


assistência, independentemente de delegação. Nesses casos, essas atividades não são
serviços públicos.

✓ O particular pode prestar tais atividades e pode ter fins lucrativos ou não.
3. Serviços públicos na Constituição

E. Serviços que o Estado não é obrigado a prestar, mas, não os prestando, terá de
promover-lhes a prestação, mediante concessão ou permissão.

Neste tópico, estão elencados serviços públicos, previstos na CF/1988, que o Estado não é
obrigado a prestar diretamente. Assim sendo, tais serviços são passíveis de concessão ou
permissão.

Obs.: ver art. 21, XI, XII, art. 25, § 2º

Observação: Atenção do aluno para o disposto no art. 25, § 2º da CF, pois os estados, ao
descentralizarem serviços de gás canalizado, farão isso por meio de concessão (não há
permissão ou autorização).
4. Princípios dos serviços públicos

Os princípios variam entre os doutrinadores.

A. Segundo Hely Lopes Meirelles


1. Permanência (continuidade) – O serviço público não pode ser interrompido.

2. Generalidade - O serviço público deve ser prestado a todos.

3. Eficiência (atualização do serviço) - O serviço público deve ser sempre


modernizado/melhorado.

4. Modicidade: se o serviço público não for gratuito, ele precisa ter o menor custo possível
para ser acessível ao maior número de pessoas. Neste caso, o serviço público é remunerado
por tarifa/preço público ou taxa
D. Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello

1. Princípio da obrigatoriedade de o Estado prestar o serviço público.


2. Princípio da supremacia do interesse público.
3. Princípio da adaptabilidade (atualização do serviço) – Trata-se da atualidade do serviço
público – o serviço público deve
ser expandido e modernizado.
4. Princípio da universalidade (generalidade).
5. Princípio da impessoalidade.
6. Princípio da continuidade.
7. Princípio da transparência.
8. Princípio da motivação.
9. Princípio da modicidade das tarifas.
10. Princípio do controle.
OBS: Jurisprudência relacionadas às tarifas:

SÚMULA 356 do STJ – É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de
telefonia fixa.

SUMULA 407 STJ - é legitima a cobrança de tarifa de água, fixada de acordo com as
categorias de usuários e as faixas de consumo.

SÚMULA 412 STJ - A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-
se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil.

SÚMULA 545 STF – Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque
estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à
prévia autorização orçamentária, em relação à lei que as instituiu.
SÚMULA 670 STF – O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado
mediante taxa.

SÚMULA VINCULANTE 12 - A cobrança de taxa de matrícula nas universidades


públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal.

SÚMULA VINCULANTE 19 – A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços


públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes
de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal.

SÚMULA VINCULANTE 41 – O serviço de iluminação pública não pode ser


remunerado mediante taxa.
RE 576321

I - A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de


coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos
provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição
Federal;
II - A taxa cobrada em razão dos serviços de conservação e limpeza de
logradouros e bens públicos ofende o art. 145, II, da Constituição
Federal;
III - É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais
elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que
não haja integral identidade entre uma base e outra.
RE 581947

É inconstitucional a cobrança de taxa, espécie tributária, pelo uso de espaços públicos


dos municípios por concessionárias prestadoras do serviço público de fornecimento de
energia elétrica.
5. SERVIÇOS PÚBLICOS PRIVATIVOS E SERVIÇOS PÚBLICOS COMUNS

A. Serviços Públicos Privativos


Ex: defesa nacional, segurança pública, serviço postal e correio aéreo nacional
(exclusivos);

B. Serviços Públicos Comuns


Outorga e delegação; ▪ Descentralização.
▪ Ex. concessões comuns, concessões administrativas, concessões patrocinadas

RE 855178
Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente
responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial
direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de competências e determinar
o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
Classificação dos Serviços Públicos
CARACTERISTICAS

DELEGAÇÃO OUTORGA
CONTRATO LEI
Invariavelmente a lei outorga
ao Poder Público (entidade
Nos serviços delegados há estatal) a titularidade do
transferência da execução do serviço público e somente por
serviço por contrato (concessão) ou lei se admite a mutação da
ato (permissão e autorização)
negocial
titularidade (princípio do
paralelismo das formas)
a delegação, ao contrário, sugere A outorga possui contornos de
termo final prefixado, visto definitividade, posto emergir de
decorrer de contrato lei
Formas de execução
▪ Autorização;
▪ Permissão;
▪ Concessão;
▪ PPP;
▪ Consórcio
Público.
Autorização
▪ Art. 21, XI e XII, da CF;
▪ Muito precário;
▪ Desnecessidade de licitação;
▪ Poder discricionário da Administração;
▪ Juízo de conveniência e
oportunidade;
▪ Passível de revogação.
AUTORIZAÇÃO

NATUREZA Ato administrativo


• Em qualquer posição assumida, porém, há consenso: não se trata de contrato, mas
de ato administrativo, não sendo dependente da prévia realização de licitação.

OBJETO Toca diretamente ao próprio particular


• ato que permite a execução de serviços transitórios, emergenciais, a
particulares.
Ato que permite a execução de serviços
SERVIÇOS privados de interesse coletivo
• (táxi, despachante, vigilância privada etc.).
Autorização
Exemplo:
▪Serviços de telecomunicações
▪Aproveitamento energético do curso d’água
▪Transporte rodoviário interestadual
Infraestrutura aeroportuária
Questão

TRT da 23ª Região/2011 – Analista Judiciário) No que se


refere à autorização de serviço público, é correto afirmar:

Trata-se de ato precário, podendo, portanto, ser revogado


a qualquer momento, por motivo de interesse público.
Permissão
▪ Art. 175 da CF e art. 2°, IV, da Lei
Federal n° 8.987/95;
▪ Precário;
▪ Pessoa física ou jurídica;
▪ Sem prazo determinado.
CONCEITO LEGAL

Permissão,tecnicamente, corresponde a
ato
administrativo, unilateral portanto,
discricionário, precário ou sem prazo
determinado, pelo qual o Poder
transfere ao Público
particular a execução e
responsabilidade de serviço público, mediante
remuneração (preço público ou tarifa) paga
pelos usuários.
Permissão
Exemplos:

▪Radiodifusão sonora, de sons e imagens e outros serviços de


telecomunicações;
▪Serviços de energia elétrica;
▪Navegação aérea, aeroespacial;
▪Serviços de transporte rodoviário, ferroviário e aquaviário.
Concessão
● Art. 175 da CF e art 2°, II, da Lei Federal n° 8.987/95;

● Transferência da execução da prestação de serviços


públicos para particulares;

● Desempenho da atividade por conta e risco do particular;


Concessão
● Obrigatória licitação prévia na modalidade concorrência;

● Descentralização por colaboração;

● Remuneração pelas tarifas, não havendo contraprestação


estatal;

● Concessionário deve ser pessoa jurídica ou consórcio.


Concessão
● Descentralização por colaboração;

● Remuneração pelas tarifas, não havendo contraprestação


estatal;

● Concessionário deve ser pessoa jurídica ou consórcio.


CONCEITO LEGAL

CONCESSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO

•Concessão de serviço público “é a transferência da prestação de serviço


público, feita pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, mediante
concorrência, a pessoa jurídica ou consórcio de empresas, que demonstre
capacidade para o seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo
determinado” (Lei n. 8.987/95, art. 2º, II).
•Por força da Lei n. 11.079/2004, foi instituído o regime de contratação
denominado “parceria público-privada” e as concessões de serviços regidas pela
Lei n. 8.987/95 passaram a ser denominadas “concessões comuns”, desde que
não envolvam a realização de qualquer contraprestação pecuniária advinda do
Poder concedente.
Autorização Permissão Concessão

Muito precário Precário Estável

Qualquer
Sem licitação Concorrência
modalidade

Prazo determinado ou
Prazo Prazo
indeterminado
determinado determinado
Autorização Permissão Concessão
Não exige autorização Não exige autorização
legislativa, em regra legislativa, em regra Exige autorização
legislativa

Ato unilateral (portaria


ou decreto), contrato de Contrato de Contrato
adesão adesão
Parceria Público-Privada
- Objetivos;
- Características;
- Modalidades:
▪ Concessão patrocinada;
▪ Concessão administrativa.

▪ Lei Federal nº
11.079/2004
Parceria Público-Privada
- Concessão patrocinada:
▪ Art. 2°, § 1°, da Lei Federal n° 11.079/04;

▪ Cobrança de tarifa e contraprestação pecuniária da Administração;


▪ Valores (mínimo de R$ 20 milhões)
▪ Prazos (5 a 35 anos)

▪ Exemplos: contrato de manutenção de rodovia, mediante a cobrança de


pedágio aos usuários e pagamento de valores previamente definidos no
contrato pelo ente público concedente.
- Concessão administrativa:

▪ Art. 2°, § 2°, da Lei Federal n° 11.079/04;


▪ Usuário (não paga tarifa);
▪ Valores e prazos;

▪ Exemplo: contrato firmado com empresa para que execute a


construção de um presídio federal, ficando, posteriormente,
responsável pela prestação do serviço penitenciário, com
cobrança de tarifa à própria administração que se apresenta como
usuária.

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