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DIFERENÇA ENTRE TAXA E TARIFA - STF E STJ

1. TAXAS

A Constituição da República Federativa do Brasil e 1988 – CRFB/88, em seu art.


145, inciso II, estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem
instituir taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou
potencial, de serviços, públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos
a sua disposição.
Visando bem definir taxa Baleeiro (2008, p. 540) dispõe o que segue:
Taxa é o tributo cobrado de alguém que se utiliza de serviço público especial e
divisível, de caráter administrativo ou jurisdicional, ou o tem a sua disposição, e ainda
quando provoca em seu benefício, ou por ato seu, despesa especial dos cofres públicos.
Temos, portanto a possibilidade do surgimento das taxas perante duas
perspectivas: Em razão do pode de Polícia e pela utilização de serviços públicos específicos
e divisíveis.
A taxa cobrada em razão do poder de polícia, deriva da atuação do Estado na
qualidade de regulador da sociedade, por quaisquer de seus órgãos. A título de exemplo,
tem-se a taxa de alvará que é exigida de construtores de imóveis, a taxa de fiscalização de
anúncio, que visa ressarcir o município pela fiscalização na prevenção à exploração da
publicidade da paisagem urbana, taxa de controle e fiscalização ambiental que sucedeu a
taxa de fiscalização ambiental e visa à proteção do meio ambiente, entre outras várias taxas
que variam entre municípios e estados, mas, que sempre estão vinculados ao exercício do
poder de polícia da Administração Pública.
Já a taxa decorrente da utilização de serviços públicos específicos e divisíveis, são
aquelas que derivam da efetiva utilização do serviço pelo potencial contribuinte, frisa-se que
deve haver uma utilização direta da utilização do serviço prestado pela Administração.
Devido à exigência dos requisitos especificidade e divisibilidade, o Código Tributário
Nacional – CTN, traz em seu art. 79 incisos II e III a definição dos requisitos
supramencionados. Vejamos:

Art. 79. Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-


se:
(...)
II - específicos, quando possam ser destacados em unidades
autônomas de intervenção, de utilidade, ou de necessidades públicas;
III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por
parte de cada um dos seus usuários.
2. TARIFAS

As tarifas são contraprestações pecuniárias dos particulares para a utilização dos


serviços públicos, que também sejam específicos e divisíveis.
A possibilidade da cobrança de tarifas está inserida na CFRB/88, em seu art. 175,
onde estabelece que a prestação de serviços públicos, quando não diretamente, poderá ser
executada por empresas, isso ocorre quando há terceirização dos serviços públicos.
Vejamos:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou


sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de
serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e
rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.

A lei criada para regulamentar este art. 175 da CRFB/88, é a Lei Federal n.º
8.987/95 que dispões sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços
públicos.

3. TAXAS VERSUS TARIFAS

Fugindo de uma análise superficial, partiremos no estudo do que de fato diferencia


taxas de tarifas. De inicio pode-se afirmar que as duas não se confundem. Ou seja, não
obstante a conceituação tão semelhante, taxas e tarifas são contraprestações bem distintas.
Inicialmente, a principal diferença entre taxas e tarifas está na possibilidade de
delegação do serviço a ser prestado pelo Estado. Ou seja, tratando-se de serviços públicos
propriamente estatais, onde a prestação do serviço é de exclusividade do Estado a
contraprestação será em forma de taxa. Mas, se este serviço puder ser efetuado sob regime
de concessão ou permissão, ou seja, se ele for serviço público não essencial, poderá ser
delegado e, consequentemente, prestado por empresas privadas, contratadas pelo Estado,
e assim a contraprestação será por meio de tarifa.
Sabendo que tarifas são espécies de preço público, faz-se relevante a leitura do
enunciado sumular 545 do Supremo Tribunal Federal, que tem por escopo diferenciar estes
dois institutos analisados neste trabalho. Vejamos:

STF Súmula nº 545


Preços de Serviços Públicos e Taxas - Confusão e Diferença
Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas,
diferentemente daqueles, são compulsórias e tem sua cobrança
condicionada a prévia autorização orçamentária, em relação a lei que
as instituiu.

Temos portanto, outro fator diferenciador de taxas e tarifas, ora, enquanto taxa é


um tributo e por isso precisa de lei para ser instituída, tarifa não é tributo, logo, não há
necessidade de lei, podendo ser instituída tão somente por contratação administrativa.
A partir da informação supracitada pode-se extrair uma terceira diferença, que se
refere ao regime jurídico de cada uma. As tarifas são regidas por regras do direito privado,
enquanto as taxas, verdadeiros tributos, são regidas pelas normas do direito público.
E, por fim, tem-se por diferença a compulsoriedade das taxas, por serem espécie
tributária e estarem submetidas aos efeitos tributários, logo uma vez incidindo o fato
gerador, a taxa será cobrada independentemente da vontade do contribuinte, enquanto as
tarifas são contraprestações não compulsórias, uma vez que deriva da vontade do sujeito de
utilizar ou não do serviço público oferecido.
A Súmula 407 veio com o intento de pacificar a matéria pertinente a tarifa de água,
que recebeu mesmo tratamento que a tarifa de esgoto, mas que em nosso entender resta
equivocado posto que distintas as naturezas de taxa e preço público ou tarifa, conforme
denominação utilizada pela Corte Superior.

Súmula 407 do STJ:


É legítima a cobrança da tarifa de água fi xada de acordo com as
categorias de usuários e as faixas de consumo.

Eduardo de Moraes Sabbag (2009:100) ao confrontar os dois institutos esclarece que


ambos prestam ao suprimento dos cofres públicos de recursos em face do serviço público
prestado. Mas diferem no tocante a razão de extração do recurso.
Vejamos os dispositvos constitucionais que estabelecem uma e outra:(grifos nossos)
Art. 145 . A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
poderão instituir os seguintes tributos:
I - impostos;
II - taxas , em razão do exercício do poder de polícia ou pela
utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e
divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.
1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte,
facultado à administração tributária, especialmente para conferir
efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos
individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as
atividades econômicas do contribuinte.
2º - As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.
Art. 175 . Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de
serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua
prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização e
rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária ;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.

Para Sabbag o traço inerente que deve marcar a distinção entre uma e outra,
consiste na inerência ou não da atividade à função do Estado . Se houver nexo entre a
prestação e a atividade do Estado em sua função será taxa, do contrário, será tarifa. Outro
fator norteador é o de se constatar se a atividade concretamente realizada pelo Estado
configura serviço público.
Por este parâmetro, sempre que o serviço for específico e divisível, e tiver que ser
prestado diretamente pela Administração Pública, por imposição constitucional ou legal, o
regime será o de taxa, ainda que a lei adote outro. Quando a atividade for passível de
delegação, o legislador poderá optar por um regime ou outro.
Amaro ressalta que a diferença se aplica às taxas de serviço , porque no tocante ao
exercício do poder de polícia é amplamente aceito que o Estado cobre taxa e não preço. E
como Sabbag, compreende que para o ordenamento jurídico brasileiro a distinção não
decorre das naturezas dos tributos que, como vimos, são perfeitamente claras, mas sim, na
compulsoriedade ou voluntariedade do pagamento do tributo, sendo a primeira decorrente
de lei e a segunda de contrato.

CONCLUSÃO

Com isto, tem-se que o aspecto mais esclarecedor em se tratando de diferenciar


taxas de tarifas reside no tipo de serviço a ser oferecido pelo Estado, isto basicamente irá
desencadear uma corrente de situações que melhor apresentará o resultado aqui
pretendido.
Ora, sabendo apenas que será cobrada taxa nos casos de serviços públicos de
prestação exclusiva pelo Estado, ocasiona a natureza tributária de taxa, sua instituição
exclusivamente legal, o que acarreta em sua compulsoriedade e que determina a aplicação
de regime jurídico público.
Enquanto a tarifa, cobrada em situações de serviços públicos não essenciais, ou
seja que pode ser atribuído a empresas privadas, não é espécie de tributo, logo não há
necessidade de lei para instituí-la, sendo bastante ato da autoridade administrativa para que
seja estabelecida, logo não há compulsoriedade e será tratada por regime jurídico privado.

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