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Suicídio – Lesão

autoprovocada
voluntariamente
Profª. Maria Irene Neta
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/anualmente-mais-de-700-mil-pessoas-cometem-suicidio-segundo-oms
https://www.paho.org/pt/campanhas/dia-mundial-prevencao-ao-suicidio-2022
https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-04-27/a-cidade-que-mata-o-futuro-em-2020-altamira-enfrenta-um-aumento-avassalador-de-suicidios-
de-adolescentes.html
Comportamento
suicida

• É um problema de saúde pública e um


fenômeno complexo.

• É de difícil avaliação e previsão,


englobando diferentes fatores de risco
e de proteção, sendo eles biológicos e
psicossociais.
• Por ser um fenômeno multicausal, torna árdua a tarefa de atribuir
responsabilidades específicas a cada um dos vários fatores que influenciam o
fenômeno.

• Isso porque esses fatores também podem ter diferentes interações de


indivíduo para indivíduo, sendo também influenciados pela cultura e pelo
conjunto de crenças de cada um (Baptista, Hauck-Filho, & Borges, 2017a;
Bolton, Gunnell, & Turecki, 2015; Erford, Jackson, Bardhoshi, Duncan, & Atalay,
2018; Runeson et al., 2017; Botega, Werlang, Cais, & Macedo, 2006).
Ideação • Um pensamento, uma consideração
ou o planejamento do suicídio;
suicida

Tentativa • Um comportamento autodirigido,


potencialmente prejudicial e não
de suicídio fatal com a intenção de morte; e

• É a morte causada por


Suicídio comportamento intencional e
prejudicial.
Profissional de saúde

• É o primeiro a ter contato com a


pessoa sob risco de suicídio. O
reconhecimento precoce do risco, e
seu manejo adequado, são
essenciais para a prevenção do
suicídio e deve envolver o Núcleo de
Prevenção da Violência e equipe
multiprofissional da Unidade Básica
de Saúde.

• Fonte: Cartilha Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio


• Pensar no cuidado ao usuário com
fatores de risco para o suicídio na
Atenção Básica, é pensar em formas
de cuidado que privilegiem a
educação em saúde, a promoção, a
prevenção, a autonomia do indivíduo
e o oferecimento de ajuda.

• Fonte: Cartilha Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio


• A notificação de violência é compulsória
e tem como objetivo, gerar informações
para a compreensão desse agravo de
forma a apoiar a organização de serviços,
a formação e o fortalecimento das redes
intra e intersetoriais.

• Fonte: Cartilha Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio


• A faixa etária com o maior número de notificações é entre 15 a 19
anos (24,7%) e 20 a 24 anos (19,0%).

• Mas vale dar destaque para os quase 10% de notificações entre os


adolescentes de 10 a 14 anos (figura 4).
Mas

O número de óbitos por
suicídio é
maior no sexo masculino.
Falso mito

Sinais de alerta → Não devem


Alertas ser considerados
separadamente
• Problemas de conduta ou manifestações verbais
(2 semanas)
Sem • Conversa aberta sobre pensamentos suicidas;
• Falas sobre morte;

“receita” • Sentimentos negativos de si mesmo;


• Diminuição na interação social;
• Situações de vulnerabilidade
“Vou “Vou deixar
desaparecer” vocês em paz”
Expressão de
ideias ou de
intenções
“É inútil tentar
suicidas “Eu queria
poder dormir
fazer algo para
mudar: eu só
e nunca mais
quero me
acordar”
matar”
Não dar
destaque a Evitar
Atenção a notícia repetição e
linguagem
atualização

Epidemia Título

Jornalisticamente
Crime ou
caso de
polícia
Não Método

falando Sem saída


fazer Lugar

Sem causas Fotos

Sem Cartas,
explicação bilhetes
Condenar/
Julgar

Diante uma
Frases de
incentivo
Banalizar pessoa sob
Não risco de
fazer suicídio

Dar
sermão
Opinar
Jornalista

• Sensibilização com relação a temática


• Informar com discrição
• Informação de telefones úteis e busca de
auxílio

O que fazer Pessoal, Profissional

• Busca de local e momento apropriado


• Deixe a pessoa saber que você irá escutá-la
• Incentivo para busca de ajuda profissional
• Colocar-se a disposição para
acompanhamento
• Risco imediato: Não deixar a pessoa
sozinha
• Certificar-se de não ter meios de provocar
• Fique em contato
Suicídio e/ou
automutilação
na Adolescência
• Ter históricos de doença emocional
Jovens que
tentam suicídio • São mais propensas a serem perpetradores ou
vítimas de violência,
ou pensam nele
tendem a • Ter problemas na escola, acadêmicos ou
comportamentais

• Desvalorizar-se,

• Sentir-se desamparados

• Ter pouco controle sobre os impulsos e

• Uma baixa tolerância a frustração e a estresse.


• Muitos sofreram maus-tratos na infância

• Têm graves problemas de relacionamento

• Geralmente estão alienados dos pais e não têm ninguém fora da família a
quem recorrer

• É possível que tenham tentado o suicídio antes ou tenham amigos ou


membros da família que o fizeram
• O álcool está envolvido em metade dos suicídios de adolescentes.

• Talvez o fator fundamental seja uma tendência a agressividade impulsiva

• Estudos de imageamento e de necropsia dos cérebros de pessoas que


tentaram ou completaram o suicídio identificaram déficits na função
executiva, na avaliação de risco e na resolução de problemas
• Os que reduzem o risco do suicídio
Fatores de incluem a
• Ligação com a família e a escola,
proteção • O bem-estar emocional e
• O bom desempenho nos estudos
• Alguns dos fatores de risco e
proteção mais bem estudados do
comportamento suicida também
estão associados a diversos
transtornos mentais (p. ex.,
episódio depressivo maior [EDM],
transtorno bipolar, abuso de
substâncias, transtorno de
estresse pós-traumático [TEPT]).
• Desesperança,
• Impulsividade,
• Orientação sexual,
• Histórico e suporte familiar,

Alguns dos Déficits cognitivos e estratégias
inadequadas de resolução de problemas,

principais •

Ansiedade,
Agressividade,
fatores são • Perfeccionismo,
• Desinibição comportamental,
• Eventos estressantes de vida,
• Aspectos genéticos (responsáveis pelo
comportamento violento), entre outros.
• Importante lembrar que
• a concepção de valores
culturais, religiosos, Geralmente associados a questões
econômicas e políticas de um país, são
• divulgação midiática,
também fatores importantes na
• acesso a meios para o etimologia, epidemiologia, prevenção e
suicídio, compreensão do comportamento suicida.
• pouco acesso a serviços de
saúde mental,
• desenvolvimento precário
de programas de detecção
e prevenção,

(Baptista, 2004; Kleiman, Riskind, Schaefer, & Weingarden, 2012; Klonsky, May, & Saffer, 2016; Large, et al., 2017; O’Connor & Nock, 2014; Turecki & Brent, 2016)
Metanálise - Franklin e colaboradores (2017)
Identificação dos principais fatores de risco em comportamentos suicidas

Perdas ou estressores Falta de propósito em Agitação e problemas


Tentativas anteriores, Abuso de substâncias, Ansiedade,
atuais, viver, de sono,

Comunicação oral
Comportamentos
Expressão de raiva ou Mudanças dramáticas sobre ideação ou Sentimento de ser um
Isolamento social, imprudentes ou de
ira, no humor, planejamento de fardo para os outros,
risco,
suicídio,

Perda de interesse por Crenças de que o


Ser exposto a outros
Dor emocional atividades que antes Problemas físicos suicídio é um Problemas legais (p.
comportamentos
insuportável, eram apreciadas sérios ou crônicos, comportamento ex., prisão),
suicidas (de outrem),
(anedonia), nobre,

Ser refugiado,
imigrante ou indígena.
• Apresentar alguns desses fatores de risco
não é sinônimo de desenvolver
comportamento suicida.

• Um fator estressante isolado, por si só, não


necessariamente tem a capacidade de
disparar o comportamento suicida, já que
a maioria dos seres humanos pode
apresentar diversos fatores de risco sem,
no entanto, apresentar ideação ou
tentativas de suicídio
• Rodriguez e Cohen (1998) e Seeman (1998). Eles relatam a existência de
diferentes tipos de apoio que alguém pode receber da rede social, sendo
três os mais amplamente estudados:
• Suporte emocional,
• Suporte instrumental e
• Suporte informacional.
Suporte Suporte
Suporte emocional
instrumental informacional

Refere-se a dar conselhos, ouvir É relacionado a ajudas práticas Está relacionado a receber de
os problemas dos outros, que outros podem prover a outras pessoas noções
mostrar-se empático e alguém; por exemplo, cuidados indispensáveis para que o
confiável. com crianças, empréstimos indivíduo possa guiar e orientar
São auxílios que as pessoas financeiros, auxílio de suas ações à solução de algum
oferecem ao conversar com transporte, entre outros. problema ou no momento de
alguém e que são percebidos Esse tipo de suporte pode ser tomar uma decisão.
como expressão de carinho, oferecido não somente por
cuidado e preocupação. pessoas, mas também por
instituições (p. ex., igrejas e
organizações).
• Como apontam Šedivy, Podlogar,
Kerr e De Leo (2017), as sociedades
em que se observam pessoas • Sociedades cada vez mais
preocupadas em cuidar do bem- preocupadas com o sucesso
estar dos semelhantes, particular de seus membros tendem
desenvolvendo um senso a gerar também indivíduos mais
comunitário de preocupação com o egoístas em termos de objetivos
outro por meio de privados e menos preocupados com
comportamentos altruístas no seus semelhantes, o que
cerne das relações, proporcionam provavelmente traz consequências
maior suporte social aos membros
daquele grupo social. negativas a todos da comunidade.

• Como afirma Cobb (1976), a reciprocidade de cuidados


mútuos sociais tende a beneficiar a todos, aumentando a
percepção de pertencimento social, o que consequentemente
gera um fator de prevenção ao desenvolvimento de
transtornos mentais e comportamentos suicidas.
Comportamento
suicida e família
• O comportamento suicida também poderia ser causado por questões
familiares estressoras, tais como:
• Conflitos,
• Separação,
• Abuso (físico, sexual, psicológico) e
• Problemas financeiros
• Segundo Chu e colaboradores (2015) e Sommers-Flanagan e Shaw (2017),
• O sentimento de falta de pertencimento,
• A percepção de que a pessoa é um fardo social/familiar e
• A dificuldade em se ligar (conectar) aos outros

• São fatores bastante importantes na avaliação do comportamento suicida.


Sentimento de falta de pertencimento

• Compreende duas facetas:

• A solidão, em que o indivíduo se sente desconectado de outros, e

• A falta de reciprocidade ou a sensação de não ter alguém para recorrer.


• Tais características também podem sofrer a influência dos modelos e
relacionamentos familiares, além, é claro, de características biológicas e
psicológicas.

• Igualmente, a percepção de que o indivíduo é um fardo para a família, os


amigos e a sociedade apresenta duas facetas, sendo a primeira a
característica da pessoa não gostar de si própria (ou se odiar) e a
suscetibilidade – a tendência a se sentir sem importância, ou, até mesmo,
acreditar que a própria morte pode fazer mais bem do que mal aos outros.

• As medidas de solidão podem confundir percepção de falta de suporte


social com outros construtos, tais como depressão ou desesperança. Não se
pode afirmar que alguém que se sente solitário não possa ter percepção de
adequado suporte social (Kleiman, Riskind, & Shaefer, 2014; Ma, Batterham,
Calear, & Han, 2016).
Estressores
sociais/familiares
• Alguns parecem ser também potentes,
tais como:
Estressores • Falecimento da pessoa amada,
• Divórcio ou
sociais/familiares • Separação marital.

• Segundo Latham e Prigerson (2004), a


perda de uma pessoa amada, por
exemplo, é considerada um dos maiores
eventos estressantes na vida de alguém,
podendo ser um gatilho no
desencadeamento de sintomatologia
depressiva e comportamento suicida.
• Alguns fenômenos sociais também podem afetar direta
ou indiretamente fatores de risco capazes de
funcionarem como gatilhos.

Crise • Por exemplo, uma crise financeira em um país pode ter

financeira um efeito “dominó”, gerando desemprego em pais de


família, que, juntamente com outros fatores de risco,
aumentam a probabilidade de alguns homens
cometerem ou tentarem o suicídio.

• A família, desde cedo, parece desempenhar um papel


importante, tanto como fator de risco para o
desenvolvimento de transtornos mentais quanto para o
comportamento suicida.
• Já é bem estabelecido na literatura que
• Negligência parental,
• Abandono,
• Abuso físico, emocional e/ou sexual na infância

• Aumentam a probabilidade de diversos transtornos mentais e


comportamentos suicidas nas fases seguintes (Norman et al., 2012).

• Essas características isoladamente não são as responsáveis pela ocorrência


desses fenômenos
• Outras questões sociais relacionadas ao suicídio também devem ser
consideradas, ainda que não devam ser vistas como variáveis isoladas, tais
como
• Os modelos de comportamento familiares expressos aos membros quando alguém da
família se suicida, sugerindo uma forma de resolução de problemas.

• Principalmente para crianças e adolescentes, o suicídio de alguém próximo


(seja familiar ou amigo) pode ser bastante expressivo e sugerir algum efeito
de transmissão social (modelo em que aquela forma de resolver problemas
é bastante viável).
• Além disso, crianças e adolescentes podem utilizar modelos inadequados de
resolução de problemas e serem influenciados pela mídia, por intermédio
de mecanismos como imitação e sugestionabilidade.

• Ademais, relacionamentos afetivos familiares inadequados ou inexistentes,


baixo monitoramento parental, conflitos e falta de coesão na família, além
da perda de pais na tenra idade, também podem ser considerados fatores
de risco ao comportamento suicida (O’Connor & Nock, 2014; Serafini et al.,
2015; Sheftall, Mathias, Furr, & Dougherty, 2013).
Pertencimento social
• O indivíduo que percebe e utiliza as redes sociais também pode ampliar sua
percepção de pertencimento social.

• Essas relações sociais ampliariam os eventos positivos na vida, “distraindo” ou


mudando o foco de pensamentos suicidas (Kleiman & Riskind, 2013).

• A baixa percepção de suporte social e a percepção de baixa conectividade


com outros pode levar o indivíduo a acreditar que é um fardo.
• Ele acredita que, ao expor seus problemas, atrapalhará o outro, o que poderá
também funcionar como um gatilho para o comportamento suicida.

• Além disso, baixa conectividade e morar sozinho podem aumentar as chances de


um indivíduo se sentir isolado (Hollingsworth et al., 2018; Purcell et al., 2012),
sendo que morar sozinho também é um fator de risco para indivíduos que têm
ideação suicida.

• Ademais, ter a sensação de que faz parte de um grupo social (conectividade


social) e que pode contar com esse grupo pode aumentar as chances de
utilização dessa rede como suporte em momentos de estresse, além de reduzir o
isolamento social e a solidão, fatores considerados antecedentes ao
comportamento suicida (Sharaf et al., 2009).
Uso de
álcool e/ou
drogas
• Outro aspecto importante que pode estar indiretamente relacionado com a
baixa percepção de suporte social/familiar é o uso de drogas na adolescência,
principalmente em ambientes escolares
Fator de proteção
• A estabilidade emocional seria uma
característica também protetiva de
comportamento suicida, já que auxilia
nas relações estáveis com outras
pessoas.
• O suicídio é um fenômeno complexo,
Considerações multifacetado e depende de inúmeros
fatores de risco e proteção, sendo
finais considerado um problema de saúde
pública nacional e mundial.

• O suporte social/familiar pode ser


considerado um dos mais importantes
fatores de risco/proteção no
comportamento suicida.
• Além disso, esses grupos também são importantes suportes ao tratamento
de transtornos mentais e às intervenções psicossociais associadas à ideação
e a tentativas de suicídio.

• O suporte familiar está associado ao desenvolvimento de estratégias de


enfrentamento adequadas, ao aumento de autoestima, à autoeficácia, à
proatividade (locus de controle), ao amortecimento de eventos
estressantes, ao sentimento de pertencimento, à expectativa de futuro
(esperança) e a medidas de saúde mental.
• Assim, a inclusão de amigos e família na prevenção e na intervenção de
comportamentos suicidas parece ser uma opção adequada, principalmente
quando se trata da faixa de desenvolvimento adolescente, já que os parentes
e os amigos também podem ser gravemente desestabilizados pelo suicídio de
alguém afetivamente próximo (Asarnow, Berk, Hughes, & Anderson, 2014;
Ayub, 2015; Sandler, Tein, Wolchik, & Ayers, 2016; Spino, Kameg, Cline,
Terhorst, & Mitchell, 2016).

• Da mesma forma, desenvolver programas que implementem mudanças para


reduzir o isolamento social das pessoas pode ter impactos positivos na
diminuição de comportamentos suicidas (PoudelTandukar et al., 2011).
Obrigada!

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