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Sistema Endócrino e Reprocituto:r

Coordenadora e autora
Alana Rodrigues da Silva

Revisor
Carlos André Minanni

"""•
SANAR~
e Todos os d ireitos auto rais desta obra são reservados e protegidos ã Editora Sanar ltda. pela l ei no
9.610, de 19 de Fevereir o de 1998. Eproibida a dupl icaç~o ou reproduç~o deste volume ou qualquer
parte deste livro, no to do ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico,
gravação, fotocópia ou outros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como
ãs suas caracteristicas gráficas. sem permissão expressa da Editora.

Título I Medicina resumida: Sistema Endócrino e Reprodutor


Editor I Geisel Alves
Coordenador I Diego Barros
Projeto gráfico e Diagramação 1 Editorando Birô
Capa ( Wesley Azevedo
Ediçã.o de Texto 1 Rafael a Pitta
Con.s.elh o Editorial I Caio Vinicius Menezes Nunes
ltadara Larroza Nunes
Paulo Costa Uma
Sandra de Quadros Uzêda
Silvio José Albergaria da Silva

Dados lnternadonals de C-atalogação-na· Publicação (CIP)

M489 Medicina resumida: Sistema Endócrino e


Reprod utor. I Alana Rodrigues da Silva, coor·
denadora.- Salvador: SANAR, 2018. 226 p.:
il.; 16><23 em. - (Coleção Medicina Resumida).

ISBN 978·85·5462·056· 1

1. Endocrinologia. 2. Sistema endócrino. 3. Hormô-


nios. I. Silva, Alana Rodrigues da, coord. 11. Título: Siste-
ma endócrino. 111. Série.
CDU:616.4

El aboração: Fábio Andrade Gomes · CRB-5/1513

Editora Sanar Ltda.


Rua Alceu Amoroso Uma, 172

,..... Caminho das Árvores,


Edf. Salvador Office & Pool, 3° andar.
CEP: 41820.770, Salvador · BA.

SANAR~ Telefone: 71.3052·483 1


www.editorasanar.com.br
atendimentO@editorasanar.com.br
I AUTORA
ALANA RODRIGUES DA SILVA

Interna no Curso de Medicina da Universidade Estadual da Bahia (UNES); Membro do Medicina


Resumida; Autora de 02 capítl.llos do livro" 100 Casos Clínicos Comentados em Medicina.

I REVISOR

CARLOS ANDRÉ MINANNI

Endocrinologista pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade


de São Paulo (HCFMUSP). Médico do Serviço de Emergência do Hospital Israelita Albert
e
Einstein. um dos autores do Livro "Propedêutica Médica· da criança ao idoso", da Edi·
tora Atheneu. Membro da European Association for Study o f Diabetes (2016). Doutoran·
do em Endo<:rinologia pela Universidade de São Paulo (USP).
I o MEDICINA RESUMIDA

O M edicina Resumida é um cana l do Youtube fundado em março de


2014 por Diego Barros, quando estava nas férias para o 3° semestre do
curso de medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
A proposta desde o início foi compartilhar o conhecimento e as experi-
ências adquiridas com os demais estudantes dos cursos de saúde em uma
época em que aulas em vídeos para o nicho ainda eram muito escassas.
Após dois anos. de crescimento, a demanda dos segu idores só aumen-
t ava e havia o desejo de contemplar todos os pedidos. Entretanto, a rotina
densa de est udos era impeditiva. A solução foi definida em 2016, q uando
o canal contou com a sua prim eira grande m udança. Foram convidados
ao projeto mais cinco estuda ntes e amigos (Ala na Rodrigues, Evelyn Assis,
Gabriel Araponga, Kevin Gomes e Vinicius Jesus) que além de com peten-
t es, se alinh avam com a filosofia do projeto.
Desde então, todos os esforços foram voltados à contemplar os conhe-
cimentos do t ripé básico dos sistemas orgânicos: a anato mia, a histologia
e a fisiologia. Porém, não se limitando apenas a estes t emas.
O prim eiro contato com a Editora Sanar ocorreu ainda em 2015 com a
concepção da obra "100 Casos Clínicos Coment ados em Medicina': lança-
da em 2016 e am plamente requisitada ainda nos d ias d e hoje.
O vínculo se fortaleceu em 2017 com a concepção da Coletânea Medi-
cina Resumida e a união de esforços para o desenvolvimento de uma pla-
t aforma de educação médica que complementasse integralmente toda a
faculdade de m edicina: o SanarFiix. Proj eto este que foi lançado no segun-
do semestre de 2017 e possui uma complet a sinton ia com est a coletânea
lançada em 2018. A m bos frutos de um grupo alinhado em inovar a ed uca-
ção médica, utilizando como prem issas a qualidade e a acessibilidade de
seus projet os.
E o Medicina Resumida? Apenas ganhou com essa união de esforços.
Evoluiu em quantidade e qualidade para os seus seguidores. Pois a es-
t rutura d ispon ibili zada para o SanarFiix, t ambém se est ende ao Medicina
Resumida e isso permitiu garantir uma maior qualidade técnica dos con-
teúdos (áudio e vfdeo), assim como uma maior entrega na quantidade dos
vfdeos, inclusive com a participação de outros professores.

Ainda não conhece? Confira como nos encontrar:


Canal Medicina Resumida: www.youtube.com/medicinaresumida
lnstagram Medicina Resumida: @medresumida
SanarFiix: www.sanarflix.com.br
lnstagram SanarFiix: @sanarllix.med

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I SUMÁRIO

CAPÍTULO 01 - INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRIN0 ••.•.••.••.••.••• - .•••••.•..••.•••••••..•..•... 23

Caso clínico ········- ········································································································· 23


Introdução ao sistema endócrino ················································································n•••· 26
Definição, componentes, funções ...................................................................................................... 26
Os hormônios .... ... ..............•..................................................................•...................................... 26
Tipos .................................................................................................................................................................. 26
Secreção, Transporte e Metabolismo ................................................................................................ 28
Os receptores horm onais ............................................................................................ 29
Regulação por al\'aS de retroalimentaçào ................................................................. 32
Eixo Hipotálamo Hipófise............................................................................................ 33
Hipotálamo (anatomia e histo logia) .................................................................................................. 34
Hipófise (anatomia e histologia) .......................................................................................................... 34
Fisiologia do eixo endócríno ................................................................................................................. 37
Mapa conceitual ........................................................................................................... 41

CAPÍTULO 02 - A GLÂNDULA TIREOIDE ............................................................................45


Caso clíni(o ................................................................................................................... 45
Anatomia ....................................................................................................................... 48
Características gerais ................................................................................................................................ 48
Vascularização e inervação ....................................................................................................................49
Hlstologia ...................................................................................................................... 52
Fisiologia ....................................................................................................................... 53
Síntese dos hormônios da tireoide ..................................................................................................... 53
Transporte e metabolismo ..................................................................................................................... 55
Receptor do horm ônio tireoidiano .................................................................................................... 56
Efeitos fisio lógicos dos hormônios tireoidianos .......................................................................... 56
Efeitos no metabollsm~ basaL... ........................... ........................ ........................ ..............57
Efeitos wdlovasculare s... ..............57
Efeitos respiratórios .................... ..............58
Efeitos no sistema nervoso ......... ..............58
Efeitos no músculo esquelético ...................................................................................................................................59
Efeitos no trato gastrointestinal..................................................................................................................................59
Efeitos sobreocresómento, te<idosduros ederme................ .................................................... ............................60
Efeitos sobrereprodução eoutras glândulas endócrinas .................................. .....................................................60
Regulação da função tireoidiana .........................................................................................................61
Mapa conceitual ... ........................................................................................................ 65

CAPÍTULO 03- A GLÂNDULA SUPRARRENAL .................................................................. 69


Caso clínico ................................................................................................................... 69
Anatomia ......u . .. ..............u•u•••·•••·•• ••••••• •••• ••••• ••• •••··· - · •·•·••••• •••·•••·•• ••••••·••••••••·•• ••• •••··· - · •••u•·•••••·••• 72
Características gerais ................................................................................................................................ 72
Vascularização e inervação ................................................................................................................... 72
Histologia ............................................................................................................... ....... 74
Fisiologia ....................................................................................................................... 75
Hormônios da medula............................................................................................................................. 76
Sintese das cate<olaminas .......................................................................................................................................... 76
Mecanilmosde ação eregulação das cate<:oi.Jminas ................................................................................................. 77
Efeitos fisiológkos e metabolismodas cate<olaminas ................................................................. ............................ 77
Hormônios do córtex ............................................................................................................................... 78
Sintese dos esteroides ....................................................................................... ........................... .......................... 78
Trarupo~e, metabolismo e me<:anismo de ~o da aldo~erona ...................... ......................................................81
Efeitos fisiológkos da aklo~<rona ............................................................................................................................81
Regui.Jç.lo da se<:reç.lo da aldosterooa .............................................................. .....................................................82
Transporte, metabolismo emet!ni1mo de ~o do!orlilol.. ....................................................... ............................82
Ações fisiol69icas do cortisol ................................................................................................................ 82
Efeitos no metabolilmo ............................... ...........83
Efeitos sobreosistema Imunológico.......... .. ........................84
Eleitos cardiovai(Uiarl!! ............................... ...............85
Efeitos sobreosistema reprodutO< ena vida feiaI .. ...............85
Eleitos sobreos ossos ete<:idoconjun tl~............... ...............85
Efeito sobre os rins .................................................. ...............86
Regulação da produção e secreção do cortisol.. ........................................................................... 86
Mapa conceitual.. ......................................................................................................... 89

CAPÍTULO 04- O HORMÔNIO DO CRtSCIMENT0 ............................................................ 93


Caso clinico ................................................................................................................... 93
Honmônio do cresc.i mento........................................................................................... 95
CAPÍTULO 06- O METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFAT0 .......................................129
Caso clínico ....•..•..•..•.•..•....•..•..•.•..•..•.•..•....•..•....•..•.......•.......•..•....•..•..•.•..•....•..•.....•.•..•. 129
Regulação do metabolismo do cálcio e do fosfato pelo Paratormônio, Calcitonina e
Vitamina O ................................................................................................................... 131
A fisiologia óssea ....................................................................................................................................... 132
Paratormônio (P"TH) .................................................................................................... 133
Estrutura, síntese e re<:eptor ................................................................................................................. 134
Efeitos fisiológicos .................................................................................................................................... 134
Regulação da se<:reção do PTH ........................................................................................................... 136
Calcitonina ................................................................................................................... 137
Vitami na O ................................................................................................................... 137
características gerais ............................................................................................................................... 137
Efeitos da vitamina 0 ............................................................................................................................... 138
Mapa conceitual .......................................................................................................... 141

CAPÍTULO 07- O SISTEMA REPRODUTOR MASCULIN0 ................................................. 145


Caso clínico .................................................................................................................. 145
O sistema reprodutor masculino ............................................................................... 148
Diferenciação das genitálias ...................................................................................... 148
Anatomia e Histologia ................................................................................................ 149
Órgãos internos ........................................................................................................... 149
Testfculos ...................................................................................................................................................... 149
Epidfdimo..................................................................................................................................................... 155
Duetos deferentes .................................................................................................................................... 155
Duetos ejaculatórios ................................................................................................................................ 156
Vesículas seminais .................................................................................................................................... 157
Próstat<l ..........................................................................................................................................................1 58
Glândulas Bulbourettais ......................................................................................................................... 159
órgãos Externos .......................................................................................................... 159
Escroto............................................................................................................................................................159
Pênis ................................................................................................................................................................160
Os músculos do perlneo e os processos de ereção, emissão, ejaculação e remissão .164
Fisiologia ...................................................................................................................... 165
Espermatogênese ..................................................................................................................................... 165
O receptor de GH •............•.......•.......•..•.........•........•.................•..•...............•....•............ 95
Os efeitos fisiológicos do GH ..........•..•....•....•.......•..................•..•...............•....•...........• 96
Efeitos no crescimento·······················································································································-··· 96
Efeitos no metabolismo dos lipideos ···············································-··········································-··· 97
Efeitos no metabolismo das proteínas .........................................................................................- ... 97
Efeitos no metabolismo dos carboidratos.................................................................................._._ 98
Regulação da secreção do GH •.......•..•.•..•....•........•.•.....•.•..........•....•.............•.•..•....•..•. 98
Mapa conceitual - ·········································-···························································· 101

CAPÍTULO OS · O PÂNICREAS ENDÓCRINO ••.••.••..•..••••••..•.•.•.••••.•••.•.•••••.•••••.••.••.•.••.••.••..••105


Caso clinico •..•....••••.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•.......•.......•..........•....•..•....•.......•..•....... 105
Anatomia do pâncreas •.......•..•....•..•....•..•....•..•.......•.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•....... 107
Características gerais ........·-·-·-·-·-························-·-·-·-························-·-·-·-·-·····················-·-·-·107
Vascularização e inervação ···-···························-·-·································-·······-·-·····················-·-·-·11 O
Artérias·········-················· ····-························--························-··················· .. ...-................ ........................ 11 O
Veias.... ............................ ···-···························-·.. ··········································· ··-······················· ··-················· 111
Drenagemlinfática .......... ·····-···························-·.. ·········································· ................................................. 112
lnervação ···-······················ ··--························ ..-············································ .....-.................. .......-............... 112
Histologia ...•..•....••••.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•.......•.......•..........•....•..•....•.......•..•....... 112
Fisiologia ....•..•....••.•.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•.......•.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•....... 113
Insulina ·-·-·-·-························-·-·-·-·-························-·-·-·-························-·-·-·-·-·····················-·-·-·113
Mecanismode secreção da insulina............ ·······-·················· ......................... ......................... ........................ 114
Receptor de Insulina .................... ........... 115
Efeitos fisiológicos dalmulina ..... ........... 116
Efeitos nos carbclidratos ........... 117
Efeitos nos lipídios ................... ........... 118
Efeitos nas proteí~ ............... ........... 120
Regula~ da ~cre~ de insulina ............. ·····-···················· ........... 120
Glucagon ............................................................................................................- .......................................122
Efeitos fisiológicos..............................................-.................. ·······-·················· .......-................ ........... 122
Regulação da ~ereção·······································-···························-···························-················ ·········-············· 122
Somatostatina ...........................................................................................................................................123
Mapa conceitual ••.•.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•.......•.......•.......•..•....•..•....•..•....•..•....... 125
Espermiogênese ......................................................................................................................................... 164
Fatores que influenciam a espermatogênese ..........................................................................._.- 165
Hormônios masculinos......................................................................................................................._... 166
Cara<terísti<as gerais ................................... ........................... ........................ ··········· 166
Me"nismode ação dos andrógenos.......... ......................... ........................... .............. 167
Transporte emetabolismo dosandrógenos ......................... ........... 168
Ações fisíológi<as da testosterona .............. ........................... ......................... ......................... ......................... 168
Regulação das funções sexua~ masculinas ........................... ························· ························· 169
Mapa conceitual ••............•.......•.......•..•.........•........•.................•..•...............•....•........... 171

CAPÍTULO OS- O SISTEMA REPRODUTOR FEMININ0 ..................................................... 177


Caso clínico .................................................................................................................. 177
Anatomia e Histologia: Órgãos internos .................................................................. 179
Vagina ············-························-·-·-······························-·-······························-·······-·-·····················-·-·-·-179
útero ·····-·-·-·-·-·································································-·-···························-·-···························-·-·-···181
Tubas uterinas ······················-·-·-·-·-························-·-·-·-························-·······-·-···························-·-184
Ovários ····-·-·-························-·-·-······························-·-·-·-························-·-·-·-·-·····················-·-·-···186
Órgãos externos .......................................................................................................... 187
Vulva..... ·-·-·-·-·-·····················-·-·-······························-·-·······-·····················-·-·-·-·-······························-187
Monte pubiano····················-·-·-·-·-···························································-·······-·-·····················-·-·-·· 188
Lábios maiores ....................·-·-·-·-·-························-·-·-·-························-·-·-·-·-·····················-·-·-·· 188
Lábios menores ···················-·-·-······························-·-······························-·······-·-·····················-·-·-·· 188
Vestlbulos .................................................................................................................................................-.. 189
Bulbos do vestlbu lo ................................................................................................................................. 189
Glândulas vestibulares maiores ...........................................................................................................190
Clitóris.............................................................................................................................................................190
Vascularização e drenagem linfática da vulva ...............................................................................190
lnervação...................................................................................................................................................... 191
Fisiologia ...................................................................................................................... 191
Ciclo Ovariano ............................................................................................................................................ 192
Fase follcular.... .............192
Fase da ovulação ............. 194
Faselutea .....--................ ............. 194
Ciclo endometrial mensal e menstruação...................................................................................... 195
Fase proliferativa........................................................................................................................................................195
fase secretora ..................................... ......................... ...................................................... ........................... ... 196
Hormônios sexuais femininos ............................................................................................................ 198
Síntese de estrogêniqs e progestinas.. ........................ .......................... ......................... ........................... ... 198
Transporte e metabolismo.................. .......................... ........................... ........................ ........................... ... 198
Efeitos fisiológiros dos estrogênios..... ......................... ........................... ......................... ........................... ... 199
Efeitos fisiológi<os da progesterona ... ......................... ......................... ........................... ......................... ..... 200
Regulação hormonal do cido mensal .............................................................................................20 1
Mapa conceituaI ......................................................................................................... 2 O5

CAPÍTULO 09 - GESTAÇÃO E LACTAÇÃO .........................................................................209


Caso clínico ................................................................................................................. 209
Gestação ...................................................................................................................... 211
A placenta e suas funções ......................................................................................... 212
Hormõn ios .................................................................................................................. 213
Transporte de s u bs tâ ncias ........................................................................................ 214
lactação ...................................................................................................................... 215
A g lândula mamária ...............................................................................................................................215
Prolactina e lactogênese .......................................................................................................................217
Ocitocina e a ejeção do leite ...............................................................................................................218
Parto ............................................................................................................................ 219
Mapa Conce itual.........................................................................................................221
I AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente à Deus por sempre me dar paciência, perseve-


rança e determinação. Agradeço aos seguidores do Medicina Resumida,
que sempre nos dão apoio e incentivo, motivando diariamente e nos aju-
dando a evoluir com suas criticas construtivas. Fico grata por todo carinho
e apoio, tenham a certeza de que sempre darei o m eu melhor para conti-
nuar merecendo tal confiança.
Agradeço também ao meu amigo, Diego Barros, pelo convite para
compor a equipe do Medicina Resumida. Fico muito feliz em pertencer a
essa família e em poder compartilhar nosso conhecimento já há três anos.
Aproveito para agradecer aos outros companheiros e também amigos do
MR. O apoio e companheirismo d iário de vocês são fundamentais para a
construção dos projetos aos quais nos propomos a fazer, sempre unindo
forças para levar o melhor de nós para quem nos acompanha.
Agradeço ao Dr. Carlos Minanni, revisor dessa obra. Muito obrigada
pela paciência, disponibilidade e por doar seu conhecimento em prol do
projeto.
À Editora Sanar pelo convite e pela confiança de sempre, em especial
a Mauricio Uma (obrigada pela oportunidade) e a Geisel Alves (pela paci-
ência e organização).
Por fi m, não poderia deixar de agradecer à minha família, que sempre
me apoia e me incentiva. Agradeço aos meus queridos tios, tias e minha
irmã, sempre presentes em todos os momentos. Um agradecimento espe-
cial aos meus amados pais e avós, vocês, sem dúvidas, são meus maiores
exemplos de vida ·e merecem esta dedicatória especial. Muito obrigada!

Ala na Rodrigues
I APRENDER PODE SER MAIS FÁCIL

E af, preparada(o) para dominar o conhecimento acerca do Sistema en-


dócrino e reprodutor? Sim, é possível! Nós sabemos o quanto pode ser di·
fíci l compreender alguns temas nesse universo. Seja devido à linguagem
demasiadamente r ebuscada de algumas literaturas clássicas ou o excesso
de detalhes que facilmente se perdem em sua memória. Por isso, desde já,
queremos estabelecer um compromisso: nosso objetivo ao longo deste
livro é fazer você absorver os principais pontos que são premissas para a
formação de seu raciocínio clínico e, consequentemente, para a sua prá·
tica profissional furtura. Assim, acreditamos estar direcionando seu tempo
e energia, o que permitirá o aumento da sua eficiência no processo de
aprendizado. Como bônus, estaremos abordando os pontos que, prova·
velmente, serão cobrados em suas avaliações. Justamente por terem mais
relevância para a prática clínica.
Entretanto, isso é um bônus. Nosso objetivo é fazer você se tornar um
melhor profissional. E para isto, é imprescindível um conhecimento inte·
grado. Conhecimento decorado para a prova é facilmente esquecido, já o
que é verdadeiramente compreendido, fica para a vida. Com isso, entra·
mos em uma outra preocupação que tivemos: a integração dos t rês pilares
básicos de cada sistema orgânico (a anatomia, a histologia e a fisiologia).
Apesar de termos momentos destinados a cada pilar neste livro, estare·
mos frequent emente correlacionando-os e permitindo que você obtenha
uma visão mais g lobal do processo. Algo que já é amplamente defendido
por metodologias de ensinos mais modernas e que, mais uma vez, possui
um bônus: a economia. Adquirir um livro para cada pilar costuma pesar no
orçamento financeiro. Sendo assim, se você possuir um atlas de anatomia
para associar a este livro texto, será o suficiente para um ótimo aprendiza-
do. Evale ressaltar que boas imagens de anatomia não faltam na internet.
Deixando mais uma vez o bônus de lado, vamos ao maior diferencial
deste livro que é a sua metodologia. Você provavelmente deve saber q ue
há duas metodologias principais nos cursos de saúde: a tradicional e o PBL
(Problem Based learning ·"Aprendizado baseado em problemas"). Sendo
que ainda há alguns cursos que adotam um modelo misto em que se mes-
clam as duas opções.
A metodologia tradicional é o modelo que nos acostumamos durante
o período escolar. Professor é detentor do conhecimento, realiza aulas ex-
positivas abordando cada assunto e em alguns momentos são aplicadas
avaliações para tentar mensurar o quanto foi aprendido pelo aluno.
A metodologia PBL, em uma explicação simplificada, apresenta inicial-
mente um problema (geralmente um caso clínico), permite a discussão
em um grupo utilizando os conhecimentos prévios e motiva o estudante
a buscar as respostas para que em um segundo momento, os alunos pos-
sam compartilhar os seus aprendizados e construam conjuntamente o co-
nhecimento. Desta forma, o professor pode avaliar diversos pontos além
do conhecimento adquirid o: a capacidade de ser parte de um grupo, a or-
ganização do raciocínio, a exposição do mesmo, dentre outras questões.
Contudo, desta forma que apresentamos, deixa-se a entender que a
metodologia PBL apenas possui vantagens, porém esta está longe de
ser a absoluta verdade. Primeiro que é muito frequente se deparar com
professores que não foram trein ados para a metodologia, o que permite
que os alunos fiquem sem um guia ou indevidamente orientados. Outra
queixa comum entre os estudantes é que algumas instituições optam por
um curto período entre a apresentação do problema e a discussão sobre
o mesmo, não permitindo um tempo adequado de estudo para os estu-
dantes absorverem o conteúdo necessário. E dentre diversos outros pon-
tos frequentes, o principal é a insegurança. Os estudantes por não terem
recebido o conhecimento do professor, fonte confiável, não conseguem
sozinhos est abelecer quais informações são importantes em um ocea-
no de referências possíveis. As consequências disso são inúmeras para o
aprendizado e saúde ment al dos est udantes. Por isso, talvez a resposta
mais adequada seja o modelo mist o, associado a professores devidamen-
te capacitados. Neste, além das discussões, ocorrem aulas expositivas dos
professores, quando são contemplados os principais pontos e/ou comple-
mentado o con hecimento exposto nas discussões.
Mas afinal, e o livro?
A coletânea Medicina Resumida foi concebida a partir da análise das
principais vantagens e falhas de cada metodologia. Sendo assim, em cada
capítulo você ser á inicialment e apresent ado a um caso clínico, quando
gostaríamos que você tent asse reconhecer os principais pont os e palavras
chaves a serem estudadas. Este exercício mínimo irá aumentar o seu vín-
culo com o tema e, conseq uentemente, irá consolidar melhor em sua me-
mória quando obter as respostas. E não se preocupe que ao virar a página,
você irá encontrar o que consideramos importante e o(s) objetivo(s) do
capítulo. O próximo passo então é a entrega do conteúdo. Essa é feita em
cada capítulo com as características que defendemos ser importantes até
aqui: uma abordagem integrada dos três pilares, utilizando uma lingua-
gem adequada e focando nos pontos principais para a sua formaç.ão. Por
fim, você ainda terá a sua d isposição um mapa mental simplificado com os
pontos principais que você precisa recordar em uma revisão rápida.
Portanto, seja você de uma in stituição com a metodologia tradicional
ou PBL, esperamos te oferecer um recorte da experiência do que há de
melh or nos dois mundos. Faça um ótimo proveito!
Introdução ao Sistema
Endócrino

CASO CLÍNICO

Ana, 7 anos, há 2 semanas, apresentou sangramento vaginal e foi leva-


da pela mãe, Alidéia, ao médico. Dona Alidéia disse que notou aumento
das mamas da criança há 1 ano, mas o pediatra lhe informou que isso era
o que se chama de telarca precoce isolada e que iria regredir com o tempo.
A mãe resolveu esperar, mas percebia que a alteração só aumentava e há
2 semanas Ana apresentou um sangramento vaginal que deixou sua mãe
muito preocupada, o que a fez leva-la à consulta.
Na avaliação Dr. Barbosa percebeu que além do aumento das mamas
Ana tinha também aumento do volume do pescoço e uma mancha café
com leite no dorso. Dr. Barbosa não tinha atendido a nenhum caso pa-
recido até então, e resolveu investigar mais a respeito. Em suas pesqui-
sas encontrou que alterações nos mecanismos de sinalização intracelular,
chamados segundos mensageiros, e nos receptores hormonais poderiam
causar doenças raras que se expressam com esse quadro. Dr. Barbosa con-
versou com Alidéia sobre as possibilidades diagnósticas e explicou que
para ter certeza precisaria pedir alguns exames. Solicitou a dosagem de
diversos hormônios, radiografia de membros e ultrassonografia de útero
e anexos.
Alidéia muito surpresa e preocupada, indagou: "Mas como uma sim-
ples proteína faz com que m inha filha apresente todos esses problemas?':
" E o que são esses segundos mensageiros? Eles servem para quê? E esses
tais receptores hormonais o que são? E como funcionam para provocar
essas coisas?'~ Dr Barbosa explicou esses conceitos para Alidéia e pediu
para que fizesse os exames o mais breve possível.
Hoje, a mãe trouxe os resultados dos exames laboratoriais, que evi-
denciaram alterações de alguns hormônios. Os hormônios tireoidianos e

23
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

o estradiol estavam elevados, além da prolactina, mas os controladores


hipofisários dos eixos hormonais estavam reduzidos. A ultrassonografia
evidenciou amadurecimento precoce do útero e a radiografia foi laudada
como sugestiva de displasia fibrosa poli ostótica. Diante dos achados, Dr.
Barbosa solicitou o encamin hamento de Ana para um centro de referência
em endocrinologia, já que aquela doença não se enca ixava em nada do
que ele conhecia da relação hormônio-receptor.
AI idéia ainda muito confusa e cheia de dúvidas faz várias perguntas:
"Por que tantos hormônios diferentes estão alterados?'; "De que é forma-
do esse eixo hormonai?""E o que são esses controladores hipofisários?"

24
CAPiTULO OI

1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS

"Telarca precoce": Crescimento das mamas sem qualquer outro sinal


de maturação sexua l que ocorre em meninas com menos de oito anos de
idade. Entre seis e o ito anos, o aparecimento de mamas pode ser parte de
uma puberdade precoce e merece uma avaliação cuidadosa ..
"Displasia fibrosa poliostótica": Displasia fibrosa é uma doença ós-
sea benigna, de progressão lenta, caracterizada pela substituição do teci-
do ósseo normal e da medula óssea por tecido fibroso, disposto de forma
desorganizada. Quando essas lesões acometem mais de um osso não con-
tíguo, recebe o nome de poliostótica.

1. 2 PALAVRAS CHAVE

"Aumento das mamas~ "sangramento vaginal~ "mutação'; "proteína'; "se-


gundo mensageiro~ "receptores hormonais~ "hormônios'; "controladores
hipofisários~ "relação hormônio-receptor, "eixos hormonais".

1. 3 OBJETIVOS

Compreender o funcionamento básico do sistema endócrino.


Definir hormônios.
Identificar e caracterizar os tipos de hormônios.
Compreender a natureza química dos diferentes tipos de hormô-
nios e como isso influencia no mecanismo de ação.
Definir receptores.
Identificar os tipos de receptores e descrever seus mecanismos de ação.
Compreender a relação hormônio-receptor no sistema endócrino.
Definir eixos hormonais e identificar seus componentes.
Descrever anatômica e histologicamente os componentes pa-
drão do eixo.
Evidenciar o funcionamento de um eixo hormonal.
Elucidar o motivo do aumento das mamas, do sangramento vagi-
nal e aumento do volume cervical.

25
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

DEFINIÇÃO, COMPONENTES E FUNÇÕES

O sistema endócrino, diferente dos outros sistemas do nosso corpo,


não pode ser definido pelas estruturas anatômicas. Como assim? O sis·
tema card iovascular, por exemplo, é formado pelo coração e vasos, da
mesma forma, o sistema renal é formado pelos rins e vias urin árias, ou
seja, nesses sistemas as estruturas anatômicas são contínu as e conecta·
das para uma função comum. O sistema endócrino não funciona assim,
ele é formado por um conjunto de glândulas endócrinas, espa lhadas pelo
corpo que exercem funções diferentes em diferentes órgãos e sistemas,
tendo sua regulação essencialmente por retroalimentação. As principais
glândulas que formam esse sistema são: a hipófise (em associação com
núcl eos hipotalâmicos), a tireoide, as paratireoides, as suprarrenais, o pân·
creas endócrino e as gônadas (testículos e ovários).
A fisiologia endócrina está ligada, portanto, à manutenção do equi-
líbrio corporal, ou seja, da hom eostas ia, sendo ent ão responsável pela
orientação e coordenação das funções dos múltiplos órgãos para regu-
lar crescimento e desenvolvimento, reprodução, metabolismo, balanço
hidroeletrolítico, flutuações no ambiente interno e externo, in cluindo es-
tresses variados. Essas ações são exercidas através de mediadores quími-
cos chamados de hormônios.

OS HORMÔNIOS

Os hormônios são substâncias químicas produzidas por glândulas ou


células endócrinas e que percorrem a corrente sanguínea para transmitir
uma mensagem, por isso são também chamados de mensageiros quími·
cos. Essa mensagem será passada apenas para as células que tem recepto-
res que respondem a esses hormônios, as chamadas células alvo.

TIPOS

De acordo com a sinalização eles podem ser de três tipos: endócrinos,


parácrinos e autócrinos.

26
CAPiTULO OI

• Os endócrinos: são produzidos por uma célula e transportados


pela corrente sanguínea para agir em outras células distantes.
• Os parácrinos: agem nas células ao redor das células que os produziu,
não precisando percorrer o sangue, o u seja, eles atuam localmente.
• Os autócrinos: são produzidos por uma determinada célula para
atuar nos seus próprios receptores.
Como citado anteriormente os hormônios são mensageiros químicos,
mas eles não são os únicos, existem outros mensageiros: os neurotrans-
missores que são liberados por axônios de neurônios na fenda sináptica;
os neuro-hormônios que são secretados por neurônios no sangue ag in do
em outro local ; e as citocinas que fazem parte das células do sistema
imune e agem em diversos t ipos de células. Como aqui nós vamos falar
do sistema endócrino, vamos ent ão aprofundar o estudo dos hormônios.
Os hormônios se diferem quanto a sua natureza química e por isso são
classificados em est ero ides, derivados de aminas e peptídeos.
• Hormônios Esteroides: São produzidos pelo córtex adrenal, ová-
rios, testículos e placenta e são sintetizados a partir do colesterol.
Grande parte desse colesterol é captado do plasma e a outra é pro-
duzida pelas células esteroidogênicas. Esses hormônios são lipos-
solúveis, por isso quando são sintetizados, eles se difundem pela
membrana plasmática e chegam ao sangue. Dessa forma não são
hormônios que ficam armazenados, assim que são produzidos eles
são liberados.
• Hormônios proteicos e polipeptídicos: São os mais abundantes.
São sintetizados no retículo endoplasmático rugoso (RER) na for-
ma de pré-pró-hormôn ios, que são proteínas grandes. No próprio
RER são clivados em pró-hormônios e transportados para o com-
plexo de Golgi, local onde são novamente clivados para forma r os
hormônios ativos que serão armazenados em vesículas e secreta-
dos quando houver estímulo. São hidrossolúveis.
• Hormônios derivados do aminoácido tirosina: São produzidos
pela tireoide e pela medula adrenal e são armazenados em grânu-
los secretores.

27
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

SECREÇÃO, TRANSPORTE E METABOLISMO

Obviamente, para esses hormônios chegarem na corrente sanguínea


precisam ser secretados e alguns deles, senão a maioria, apresentam um
padrão de secreção pulsátil. Isso qu er dizer que as taxas de secreção atin-
gem p icos e decllínios que são influenciados por fatores periód icos como
o ciclo circadiano, alterações sazonais, etapas do desenvolvimento e en-
velhecimento e pelo sono. Esse padrão de secreção pu lsátil dos hormô-
nios tem importância também terapêutica, na medida em que for preciso
ocorrer alguma reposição hormonal.
Ao chegar na circulação sa nguínea necessitam ser transportados até
as células alvo para exercer sua ação, o que ocorre a depender da nature-
za química deles. Os hormô nios proteicos, por serem hidrossolúveis, são
transportados para os t ecidos alvo dissolvidos no plasma, saem dos capi-
lares e entram no líquido intersticial para atingirem as células alvo. Já os
hormônios da tireoide e os esteroides, por serem hidrofóbicos, seguem
em grande parte ligados à proteín as de t ransporte plasmáticas. Essa pro-
teín a pode ser a albumina ou, como ocorre na maioría das vezes, é uma
glicoproteín a d e produção hepática e específica para cada hormônio. Por
exemplo, a g lobulina ligadora de esteroides (especificamente a globulina
ligadora de hormônios sexuais, globulina ligadora de cortisol, etc).
Essa ligação hormônio-proteína plasmática tem como funções aumen-
tar a solubilidade desses hormônios no sangue, permitindo o tra nsporte;
aumentar a meia vida, por meio de redução na taxa de perda na urina,
uma vez que os impede de serem filtrados e por fi m funciona como reser-
vatório do hormônio inativo, vist o que a parte ativa e funcional é a livre,
liberando-o sempre que necessário (os hormônios só são ativos e funcio-
nais quando estão livres no plasma).
Contudo, esse hormônio não pode permanecer constantemente no
sangue, ele deve ser eliminado depois de agir e isso é feito por meio da
depuração metabólica. Esse processo consiste na remoção do hormônio
da corrente sanguínea e pode ser calcu lado pela razão entre a velocidade
de desaparecimento d o hormônio no plasma e a concentração desse hor-
mônio. A depuração ocorre de diversas formas, como: ligação dos hormô-
nios com o tecido, destruição metabólica pelos pró prios tecidos e excre-
ção na bile pelo fígado ou na urina pelos rins. Os hormônios que se ligam
as proteínas plasmáticas são removidos com a velocidade menor, ou seja,
por terem uma meia vida maior, permanecem por mais tem po no sa ngue.

28
CAPiTULO OI

Seguindo o caminho hormonal, após a secreção, ocorre o transporte até


o alvo e lá esse hormônio tem que transmitir a mensagem. Até aqui tudo
bem! Mas como ele vai fazer isso e quais são os meios pelos quais ocorre
essa transmissão? Primeiro ele precisa interagir com a célula alvo e isso vai
depender, mais uma vez, da natureza química do hormônio!
Os hormônios hidrofílicos ou hidrossolúveis (peptfdicos e catecolaminas)
não tem a capacidade de atravessar a membrana plasmática, portanto sua
ação deve ser extracelular, ou seja, os receptores são de superfície celular
ou de membrana. Ao contrário, os hormônios hidrofóbicos ou lipossolúveis
(esteroides e hormônios da tireoide) conseguem atravessar a membrana
plasmática, logo sua ação é intracelular e seus receptores podem ser intra-
celulares nucleares ou citosólicos. Isso quer dizer que o mecanismo de ação
dos hormônios vai depender do tipo de receptor em que ele vai atuar, por
isso é imprescindível o bom conhecimento sobre os receptores.

OS RECEPTORES HORMONAIS

Os receptores hormonais nada mais são que proteínas ou glicoproteí-


nas presentes nas células (na membrana celular ou no seu interior) e que
se li gam à moléculas sinalizadoras, os hormônios.
Uma célula estimulada tem cerca de 2.000 a 100.000 receptores e, em geral,
cada receptor é muito específico para um só hormônio e é isso que indica o
tipo de tecido que responderá à determinado estímulo hormonal. Por exem-
plo, o cortisol só vai se ligar ao receptor específico para ele, então somente as
células que expressam o receptor do cortisol vão sofrer sua ação, entendido?
Outro ponto importante aqui é que o número e a sensibilidade dos
receptores hormonais são regulados, ou seja, não permanece constante
o tempo inteiro. Por exemplo, o aumento da concentração de um hormô-
nio e o aumento ·da ligação aos receptores de sua célula alvo, algumas
vezes, faz com que o número de receptores ativos diminua. Isso é o que
se chama de regulação para baixo (down-regulation) dos receptores e ela
ocorre através de alguns processos como: (1) inativação de algumas das
moléculas que compõem os receptores, (2) inativação de parte das molé-
culas de sinalizaçâ.o das proteínas intracelulares, (3) sequestro temporário
do receptor para o interior da célula, (4) destruição dos receptores pelos
lisossomos depois de serem interiorizados ou (5) diminuição da produção
dos receptores. Esses eventos fazem com que a célula alvo se torne menos
sensível ao hormônio.

29
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

No entanto, pode ocorrer o que se chama de regulação para cima (up re-
gulation) dos receptores e das proteínas de sinalização intracelular. Isso ocor-
re quando os níveis normais dos hormônios se encontram baixos por um
período de tempo induzindo formação de novos receptores e de moléculas
de sinalização, além de maior disponibilidade do receptor para interagir com
o hormônio. Pode ocorrer também pela ação de um hormônio com relação
ao outro, por exemplo, quando se aumenta a concentração de hormônios
tireoidianos os receptores adrenérgicos dos miócitos cardíacos sofrem uma
regulação para cima, tornando o tecido muito mais sensível às ações da adre-
nalina, já que os hormônios tireoideanos estimulam a ação desse hormônio.
No nosso corpo existem milhões de receptores espa lhados pelas nos-
sas células e eles não funcionam da mesma maneira, ou seja, cada tipo de
receptor tem um mecanismo de ação d iferente. Os receptores de superfí-
cie podem ser dos t ipos: (1) ligados a canais iônicos, (2) ligados à proteína
G, e (3) ligados às enzimas. Do mesmo, modo os receptores intracelulares
podem ser: (1) citosólicos ou (2) nucleares (genôm ico ou não genômico).
1. Receptores ligados a canais iônicos: Quando ativados abrem ca-
nais para passagem de um ou mais íons, como íons sódio, potássio,
cálcio, entre outros. São poucos os receptores que funcionam mo-
vimentando diretamente canais iôn icos, como é o caso dos neuro-
transmissores acetilcolina e norepinefrina. A maioria dos hormônios
que abre e fecha canais iônicos é de forma indireta, através de recep-
tores acoplados à proteína G ou ligados à enzimas.
2 . Receptores acoplados à proteína G: Proteína G é uma proteína he-
terotrimérica de ligação a GTP (figura 1.1). Esse receptor possui 7 seg-
mentos q ue at ravessam a membrana p lasmática formando alças no
interior e no exterior da célula. As partes do receptor voltadas para o
interior da célula, ou seja, para o citoplasma, são acopladas à prot eí-
na G, q ue por ser trimérica, é formada por 3 subunidades- alfa, beta e
gama. Essa proteína no seu estado inat ivado, forma um complexo que
se liga ao d ifosfat o de guanosina (GDP), especificamente na subuni-
dade alfa. Quando o hormônio se liga à parte ext racelular do receptor,
ocorre uma m udança conformacional que faz com que a proteína G,
ligada ao GDP, se associe à parte citoplasmática do receptor e troque
GDP por trifosfato de g uanosina (GTP). Essa fosforilação do GDP faz
com que a subunidade alfa se d issocie do t rímero e se associe a proteí-
nas de sinalização intracelular ou também chamadas de sistema efetor
que vão produzir segundos mensageiros (ver quadro 1.1) para alterar

30
CAPiTULO OI

a atividade dos canais iônicos e enzimas intracelulares. Esses sistemas


efetores são a Adenilil Ciclase ou a Fosfolipase C.
Quando o hormônio é removido, a sinalização é finalizada e a subuni-
dade alfa se inativa devido a conversão do GTP novamente em GDP.
e retoma para se juntar às outras subunidades e formar novamente o
trímero inativo ligado à membrana (figura 1.1).
O aumento ou diminuição das atividades intracelulares vai depender
do t ipo de proteína G estimulada. Se for ativada a proteína G estimu-
ladora (Ge) há aumento da atividade, se for a proteína G inibitória
(Gi), por sua vez ocorre diminuição.

Receptor Prote:l na-G Proteine e:fetor& Agoni sta

Figural.l: Nesse imagem observamos o funcionamento do receptor acoplado à proteina G.


A primeira imagem à esquerda, mostra o receptor em repouso. A segunda imagem, à direi·
ta, mostra a ativação desse receptor quando o hormônio se liga à porção extracelular. Após
a ativação, a subunidade alfa de dissocia e se liga ao sistema efetor, como mostra a imagem
inferior direita. Por fim, quando o hormônio é removido, o receptor volta à sua conforma-
ção inicial. Imagem retirada de https://doctorlib.info/pharmacology/illustrated/2.html.

3. Receptores ligados a enzimas: São prot eínas que at ravessam a


membrana pl asmát ica, t em o local de ligação ao hormônio na pa rte
extracelular e se liga à enzima no int erior da célula. Quando o hormô -
nio se liga ao receptor uma enzima é ativada dentro da célula e ela
at iva um a cascata de sinalização para produzir a resposta. Em muitos
casos o próp rio recepto r funciona como enzima devido à sua ativi-

31
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

dade enzimática intrínseca e em outros casos o receptor depende da


enzima associada a ele para produzir as alterações, como por exem-
p lo o receptor de leptina.
4. Receptores intracelulares: São receptores para os hormônios que
por serem lipossolúveis atravessam a membrana plasmática. Os
hormônios entram na célula e interagem com esses receptores que
quando ativados, estimulam ou reprimem a transcrição de genes
espedficos .e a formação de RNA mensageiro. Desse modo, algum
tempo depois aparecem novas proteínas para controlar as funções
celulares determinadas.
** A paciente do caso tem um defeito na proteína G. No caso dela a
subunidade alfa não se desliga do receptor, implicando na ativação
contínua dele, m esmo sem est imulação hormonal.

REGULAÇÃO POR ALÇAS DE RETROALIMENTAÇÃO

Uma característica imprescindível da fisiologia endócrina é a sua regu-


lação por retroalimentação ou feedback. Aqui, depois de um t empo, a res-
posta das células alvo à ação hormonal age sobre quem os produziu (retro-
alimenta), regulando o órgão endócrino. Normalmente o que ocorre é uma
retroalimentação negativa, ou seja, a resposta das células alvo age no local
de produção e liberação de seus hormônios estim uladores inibindo sua se-
creção e impedindo a hipersecreção ou atividade excessiva no tecido alvo.
Mais raramente pode ocorrer uma retroaliment ação positiva, na qual au-
menta ou estim ula continuamente o mecanismo de liberação original. Esse
t ipo de retroa limentação confere instabilidade, por isso controla processos
que levam à ruptura de folículo ovariano ou expulsão do feto do útero. Fi-
cou confuso? Calma, continua lendo que você vai entender!
Exist em duas config urações básicas de alças de retroalimentação ne-
gativa: uma de resposta fisiológica direcionada e uma d irecionada ao eixo
endócrin o. A primeira é a que ocorre nas células que controlam glicose
sanguínea (ilhotas pancreáticas); os níveis séricos de sódio, potássio e hi-
d rogênio (zona g lomerulosa) e os níveis sé ricos de cálcio e fósforo (parati-
reoides). Aqui a secreção de um hormônio é estimulada (ou inibida) pela
mudança no parâmetro extracelular específico, por exemplo, o aumento
de g licose sanguínea estimula a liberação de insulina. A segu nda envolve
uma regulação em t rês níveis, pois os eixos endócrinos são constituídos

32
CAPiTULO OI

pelo hipotálamo, hipófise e glândulas endócrinas periféricas. O primeiro


nível são os neurônios hipotalâmicos que secretam hormônios liberado-
res, que por sua vez estimulam a secreção de hormônios tróficos pela hi-
pófise (segundo nível). Esses hormônios tróficos estimulam a produção e
secreção de hormônios pelas glândulas periféricas que são o terceiro ní-
vel. Os hormônios periféricos agem por meio de alça de retroalimentação
negativa inibindo hipotálamo e hipófise (figura 1.2).

Hipotálamo +-
Hormônio líberador
I
+

Hipófise
_... Hormônio trófico
I

Hormônios

Glândula
endócrina Hormônios
Honwânios pet . . icol

Flgura1.2: Eixo de regulação hormonal.

EIXO HIPOTÁLAMO HIPÓFISE

Os eixos hormonais são uma interação de estruturas que se relacionam


entre si para emitir uma sequéncia de sinais e ativar uma determinada
glândula. O principal eixo de regulação hormonal do nosso organismo é o
eixo hipotálamo-hipófise-glândula endócrina periférica. Como em todos
os eixos há a presença do hipotálamo e da hipófise, nesse capítulo vai ser
abordado somente essas duas estruturas e as glândulas periféricas vão ser
estudadas separadamente em outros capítulos. As glândulas que formam
os eixos clássicos são as suprarrenais, a t ireoide, os ovários e os testículos.

33
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

Contudo a nossa produção endócrina vai além dessa conformação, com


produção de outros hormônios que não fazem parte dos eixos.
Então vamos começar a estudar cada estrutura do eixo.

HIPOTÁLAMO (ANATOM IA E HISTOLOGIA)

O hipotálamo é uma estrutura que está localizada no diencéfalo, uma


região do encéfalo formada pelo hipotálamo, tálamo e epitálamo. Ele é de-
limitado anteriormente pelo quiasma óptico; lateralmente pela parte ante-
rior do subtá lamo, pela cápsu la interna e pelo trato óptico; inferiormente
pelo infundíbulo e posteriormente pelo túber cinéreo e corpos mamilares.
Ele é formado basicamente por substância cinzenta, ou seja, por corpos
de neurônios que se agrupam, internamente, para formar núcleos hipotalâ-
micos: os núcleos pré-óptico, intermediário, infundibular, tuberais laterais,
paraventricular, dorsomedial, ventromedial e supraóptico. Esses quatro últi-
mos vão ser importantes para a endocrinologia, pois são eles os produtores
de hormônios hipotalâmicos imprescindíveis para a regulação do eixo.
O hipotálamo contém sistemas integradores que controlam muita coi-
sa, como o equilíb rio de líquidos e eletrólitos, a reprodução, a ingestão de
alimentos, a termoregulação, o sono e vigília, ciclo circadiano, além de co-
mandar a função endócrina por ação direta na hipófise ou indireta sobre
as glândulas periféricas.

HIPÓFISE (ANATOMIA E HISTOLOGIA)

A hipófise ou pituitária é uma glândula que mede 12mm de diâmetro trans-


versal e Smm de diâmetro anteroposterior e pesa cerca de 0,5 a 1g no adulto, ou
seja, é muita pequena e pode ser comparada com o tamanho de uma ervilha.
Ela tem um formato ovoide, de tonalidade vermelho-acinzentada.
Ela se localiza na sela túrcica do osso esfenoide, especificamente den-
tro da fossa hipofisial, onde é coberta superiormente por uma membrana
derivada da dura máter que corresponde ao diafragma da sela.
A hipófise tem uma origem em brionária dupla: uma ectodérmica que
tem origem na cavidade oral e uma no sistema nervoso originada do dien-
céfalo, dessa forma ela tem uma divisão anatômica e funcional.

34
CAPiTULO OI

A parte nervosa é chamada de neuro -hipófise ou hipófise posterior e


ela se desenvolve pelo crescimento do d iencéfalo na direção caudal (para
baixo). A parte ectodérmica é chamada de adenohipófise ou hipófise an-
terior e se desenvolve a partir do crescimento da boca primitiva na direção
cranial (para cima) formando uma bolsa (bolsa de Rathke) que à medida
do desenvolvimento se separa da cavidade bucal.
A neuro-hipófíse forma uma conecção com hipotálamo através do in-
fundíbulo e é formada pela eminência média, pelo próprio infundfbulo e
pelo lobo neural (ou parte posterior ou pars nervosas). Ela é formada por
axônios hipotalâmicos amielfnicos e por células gliais ou pituícitos que são
células ramificadas. que servem como suporte para as terminações nervosas.
A neuro-hipófise não possui células secretoras, por isso não produz
hormônios, a função dela é armazenar e secretar os horm ônios produzi-
dos pelos neurôn ios hipotalâmicos. Esses neurônios são do t ipo mag no-
celulares (núcleos grandes), seus corpos celulares estão localizados nos
núcleos hipotalânnicos, sobretudo supraópticos e paraventriculares, e
seus axônios levam esses hormôn ios até a neuro hipófise (no lobo poste-
rior) pelo trato hipotalâmico hipofisário.
Os hormônios .armazenados aq ui são dois, a Ocitocina e o ADH (Hor-
mônio anti diuréti co). A ocitocina é produzido no fi nal da gestação e es-
timula a cont ração da parede uterina no trabalho de parto e a contração
das glândulas mamárias para ejeção do leite materno. O ADH age nos tú-
bulos coletores dos rins e aum enta a reabsorção de água e sódio, dimi-
nuindo a diurese.
A adeno-hipófi se corresponde a cerca de 75% da g lândula. Ela se di-
vide em três partes. A parte t uberal, parte intermediária e parte dist ai ou
lobo ant erior o u pars distalis (figura 1.3).

35
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

• Hipôfise anterior

Hipôfise intermediária

• Hipófise post~rior

Artéria hipofisária > - - - - lnfundibulo


superior
Plexo pfimc1tio do sistema
porta hipofisário

Veias hipofisárias

P'exo sewndário do sistem~ - -


pona hipoftsádo

Figura 1.3: Essa imagem evidencia a divisão anatômica da hipótise e sua vascularização pe-
las artérias e veias hipotisárias. Observe também a formação do sistema porta hipotisário.
Retirada de ht tp://julirustanti.blogspot.com/2013/04/

A parte distai é a mais volumosa e a mais importante para a produ-


ção dos hormônios, então vamos enfatizar o estudo dela. É formada por
células produtoras de hormônios tráficos, chamados assim por terem afi-
nidade por determinada glândula. Essas células são do tipo cuboides ou
poligonais e formam cordões que tem sua sustentação feita por fibroblas-
tos entre os quais passam os capilares sanguíneos do plexo capilar secun-
dário do sistema porta hipofisário.
Outro tipo existente são as células foliculoestelares, que compôe 10%
dessa região. Elas parecem não serem secretoras, possuem prolongamen-
tos que fazem contato com outras células semelhantes por meio de des-
mossomos e junções comunicantes, formando uma rede em torno das
células secretoras, mas não tem função totalmente conhecida até então.
Existem 5 linhagens celulares responsáveis por produzirem 6 diferen-
tes tipos de hormônios. São elas:

Corticotróficos produzem ACTH }


Gonadotrofos produzem LHe FSH São célu las basófilas
Tireotrofos produzem TSH.
Somatotrofos produzem GH
.
} s-ao ce'I uIas ac1.d o' til as.
Lactotrofos produzem prolactma.

36
CAPiTULO OI

6. 3 FISIOLOGIA DO EIXO ENDÓCRINO

A secreção da adeno hipófise é controlada pelos hormônios hipotalâ-


micos que agem como fatores de liberação e inibição. Esses hormônios
são produzidos pelos neurônios parvicelulares (núcleo pequeno) dos nú-
cleos do hipotálamo, sobretudo o dorsomedial, o dorsoventral e o arque-
ado que juntos formam a chamada região hipofisiotrófica.
São 7 hormôni os produzidos: o hormônio liberador de corticotropi-
na (CRH). o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), o hormônio
liberador da tireoi1de ou t ireotrofina (TRH), o hormônio liberador do hor-
mônio do crescimento (GHRH), o hormônio inibidor do hormônio do
crescimento (GHIIN ou somatostatina), o hormônio liberador de prolac-
t ina (PRH) e o hor mônio inibidor de prolactina (PIH). Esses hormônios
serão produzidos e depois secretados na adenohipófise através do sis-
t ema porta hipofisário. Esse sistema é um conjunto d e vasos que liga o
hipotálamo à hipófise.

Sistema Porta: Sistema que possui um vaso porta (vaso que une dois
sistemas de capilares sanguíneos, sem passar pelo coração

A hipófise é irrigada por dois ramos das artérias carótidas internas que
são as artérias hipofisárias superiores, direita e esquerda (irrigam eminên-
cia média e infund íbu lo) e artérias hipofisárias inferiores direita e esquerda.
Os neurônios hipotalâmicos produzem seus hormônios e eles são leva-
dos por axôn ios até a eminência média, onde são secretados para o plexo
capilar primário, formado pelas artérias hipofisárias superiores. Esse plexo
se reúne para formar a veia port a hipofisária que vai para o lobo anterior
da hipófise e se ramifica formando um grande plexo capilar secundário.
Aqui os hormônios são liberados e se ligam aos respectivos receptores
hipofisários estimulando a produção dos hormônios tráficos que vão en-
t rar no plexo capilar secundário que por sua vez se anastomosa forman do
a veia hipofisária eferente responsável por levar esses hormônios até os
órgãos alvo distribuídos pelo corpo. (figura 1.3)
Visto isso, podemos entender a organização estrutural e funcional do
eixo endócrino que funciona da seguinte forma . Um eixo é formado por
três níveis de células endócrinas: (1) neurônios hipotalâmicos, (2) células
da hipófise anterior e (3) glândulas endócrinas periféricas. Os neurônios do

37
INTRODUÇÃO AO SISTEMA ENDÓCRINO

hipotálamo secretam os hormônios liberadores, que por sua vez agem na


hipófise anterior estimulando a liberação do respectivo hormônio trófico
(algumas vezes pode ser regulado por hormônio inibidor) que atua na glân-
dula periférica específica estimulando a liberação de hormônios periféricos.
Esse hormônio periférico vai atuar através da alça de retroalimentação
longa inibindo a secreção a nível hipofisário e hipotalâmico e o hormônio
hipofisário vai atuar por uma alça de retroalimentação curta inibindo o
hipotálamo Isso é o que se chama de feedback negativo. (figura 1.2)
Conhecendo tudo isso podemos entender o que aconteceu no caso
de Ana. A patologia apresentada por ela se deve a uma mutação no gene
da subunidade alfa da proteín a G. Isso faz com que o receptor acoplado a
proteína G permaneça sempre ativado, mesmo sem a presença da estimu-
lação do ligante. Isso significa que todas as células que tem esse t ipo de
receptor vão ser estimuladas independente da presença dos hormônios
estimuladores/ controladores. Ana tem aumento das mamas por que os
lactotrofos estão continuamente ativados liberando prolactina mesmo
sem a hipófise ser estimulada. O sangramento vaginal e a maturação do
útero est ão presentes por que suas células ovarianas est ão muito estimu-
ladas mesmo sem aumento dos controladores hipofisários LH e FSH e o
pescoço está aumentado devido ao aumento da glândula tireoid e já que
suas células estão estimuladas a crescer e a produzir hormônios tireoid ia-
nos mesmo sem aumento de TSH. O que há em comum em todos esses
hormônios (LH, FSH e TSH) é que eles utilizam o receptor acoplado a pro-
teína G para agir e todos os outros hormônios que usam esse tipo de re-
ceptor podem estar alterados também.

38
CAPiTULO OI

SÍNDROME DE MCCUNE-ALBRIGHT

Síndrome de Maccune Albright é uma doença rara caracterizada pela


mutação no gene GNAS1 que codifica a subunidade alfa da proteína G.
A mutação impede a ação da GTPase e não há desprendimento d essa
subunidade do sistema efetor. Dessa forma há uma ativação continuada
que estimula, portanto, de forma autônoma o sistema da Adenili l Ciclase,
aumentando a produção de AMPc e levando a hiperfunção dos tecidos
afetados. Não é uma mutação hereditária, pois ela é pós zig ótica.
Clinicamente é caracterizada pela tríade: Puberdade precoce, mancha
"café-com -leite" e displasia fibrosa poliostótica.

Quadro 1.1
Sistema Efetor Segundo mensageiro Mecanismo de ação
Se a protefna G for estimulatôria, a Ade-
nilil ciclase é ativada e promove conver·
são de ATP em AMPc que vai ativar uma
cascata de enzimática culminando em
uma ampli-ficação de sinal {uma enzima
Adenilil Ciclase AMP cíclico
ativa uma segunda enzima, que ativa
a terceira e assim por diante). Se a protei-
na G for inibitória ocorre diminuição de
AMPc e coosequentemente leva a uma
ação inibitória da célula.
A ativação da fosfolipase C promove a
degradação do fosfotipidio de membra-
na bifosfato de fosfatidilinositol (PIP2}
em IP3 e DAG. O IP3 mobili2a o cãlcio
Trítostato de inositol (IP3) e
Fosfolipase C das mitocóndrias e do retículo endoplas·
Diacilglicerol (OAG)
mático que vai promover contração de
musculatura e alterações na secreção
celular. O OAG ativa a proteinocinase C
(PKC) que fosforila inúmeras proteínas.
Ao entrar na célula o cálcio se liga à
calmodulina que altera sua conforma·
ção e promove múltiplos efeitos na
célula incluindo ativação e inibição de
Entrada de cálcio <:atmodulina
proteinocinases. A principal função da
calmodulina é ativar a cadeia leve da
miosinocinase e causar contração de
músculo liso.

39
( Im•nenoa mécho )
REFERÊNCIAS
1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. BARRET, Kim E. et ai. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH,
2014.
4. MOORE, K.L. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
S. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 2010
6. JUNQUEIRA, L.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11• Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
7. Albright F, Butler AM, Hampton AO, Smith P. Syndrome characterized by os-
teitis fibrosa disseminata, areas of pigmentation, and endocrine dysfunction,
with precocious puberty in females. N Engl J Med 1937;216:727-

' . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .•
CONFERÊNCIAS •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida


sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •


























A Glândula Tireoide

CASO CLÍNICO

Dona Adelice, 40 anos, vai a uma consulta médica com queixa de nervo-
sismo, insônia e tremor de extremidades com início há 3 meses. Informa que
nesse período apesar de ter aumentado a ingesta de alimentos, começou a
perder peso, cerca de 1Okg. Queixa-se também que agora sente muito calor,
mais que o normal. Sua filha, Alideia, que também estava presente na con-
sulta, ainda informa que a parte anterior pescoço de dona Adelice começou
a aumentar e que ela reclama constantemente de fraqueza.
Dr. Juarez, fez uma avaliação em dona Adelice e percebeu que além
desses sintomas relatados, ela também apresentava exoftalmia bilateral,
e um edema endurecido em membros inferiores. Além disso, no exame
físico de Dona Adelice foi encontrada uma frequência cardíaca elevada.
Diante desses achados, Dr Juarez informa que dona Adelice está com um
quadro de hipertireoidismo, situação em que há aumento dos hormônios
tireoidianos por hiperfunção da tireoide. Informa que a principal suspeita
é a Doença de Graves, mas para ter certeza teria que pedir alguns exames
como dosagem de TSH, e T4 livre e de autoanticorpo específico.
Alideia relata a.o médico que já ouviu falar desses hormônios da tireoi-
de, mas não entendia porque seu aumento estava causando tantos sinto-
mas diferentes em sua mãe. Como estava com muitas dúvidas a respeito
da doença da mãe, fez algumas perguntas:

45
A GlÂNDULA TIREOIDE

Quais são esses hormônios da tireoide e o que exatamente eles fa-


zem no nosso corpo?
O que são e o de onde vem esses hormônios TSH e T4?
Por que minha mãe está perdendo tanto peso mesmo comendo
mais?
O médico então responde a todas essas perguntas e informa sobre o diag-
nóstico de dona Adelice explicando tudo sobre a doença e o tratamento.
Agora, o que você acha que Dr. Juarez explicou para a fi lha da paciente?

46
CAPirUL002

1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS

"Exoftalmia": Também chamada de proptose ocular, é a projeção an-


terior do g lobo ocular para fora da órbita. É causada por edema de partes
moles dentro dos limites da órbita, ocasionado pelo crescimento dos fi-
broblastos e pelo infiltrado celular inflamatório.
"Doença de Graves": Doença auto imune que leva à uma hiperativida-
de da glândula tireoide.

1.2 PALAVRAS-CHAVE

"Tireoide~ "hormônios tireoidianos'; "TSH'; "T4'; " hipertireoidismo'; "auto-


anticorpo'; "exoftalmia~ "doença de graves"

1.3 OBJETIVOS

Caracterizar anatom icamente a est rutura da tireoide, sua vasculari-


zação e relações com outras estruturas.
Descrever a estrutura histológica da ti reoide.
Compreender o processo de formação dos hormônios tireoidianos.
Identifica r e compreender as funções biológicas do hormônios
tireoidianos.
Elucidar o processo de regulação do eixo ti reoidiano.

47
A GlÂNDULA TIREOIDE

ANATOMIA

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Vamos começar do macro para o micro! A tireoide é uma glândula


ímpar, de coloração marrom-avermelhada, localizada na região ante-
roinferior do pescoço, ao nível da quinta vértebra cervica l até a primeira
torácica. Ela pesa cerca de 25g, sendo discretamente mais pesada nas
mulheres, aumentando durante a gravidez e a menstruação. t formada
por 2 lobos, um direito e um esquerdo, que são unidos por um estreito
istmo na região mediana, o que dá a ela a forma da letra H. Entretanto,
existe um t erceiro lobo que pode esta r presente em cerca de 50% da po-
pulação, o lobo piramidal que é cônico e normalmente sobe em direção
ao osso hioide partindo do istmo ou de um dos outros lobos (frequen-
temente o esquerdo) .
Os lobos da glândula são cônicos e seus ápices ascendem até a car-
tilagem tireóidea, enquanto as bases ficam ao nível da quarta ou quinta
cartilagens traqueais. O istmo, geralmente, fica na região imediatamente
inferior à cartilagem cricóidea, anterior à segunda e à t erceira cartilagens
traqueais, mede cerca de 1,2Scm e ocasionalmente pode estar ausente.
Essa glândula também estabelece relações anatômicas important es
com outras estruturas.

A superfície lateral é coberta pelo músculo esternotireóideo.


A superfície mediai fica adaptada à laringe e à traqueia,
A parte superior entra em contato com o músculo constritor infe-
rior da laringe e com a parte posterior do músculo cricotireoideo.
Anteriormente situa-se o esterno-hioideo e o ventre superior do
omo-hioideo, que está sobreposto na região inferior pela margem
anterior do esternocleidomastoideo.
Posteriormente está o nervo laríngeo recorrente, o esôfago e as
quatro glândulas paratireoides. Na superfície posterolateral passa
a carótida comum (figura 2.1).

48
CAPirUL002

·-

~ ......
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"""
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(Mffit,.•4o)

111\owrtlo..,o·""'"..
t-•thl...,!loO

Figura 2.1: Visão anterior das relações anatõmicas da glândula tireoide. Retirada do Netter.

VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO

A tireoide é suprida, principalmente, pelas artérias tireóideas superior


e inferior e, em alguns casos, pela artéria tireóidea ima originada do tron-
co braquiocefálico ou do arco aórtico.
A artéria tireóidea superior é um ramo da artéria carótida externa, ela
desce até o polo superior da glândula, atravessa a lâmina pré-traqueal da
fáscia cervical e di1vide-se em ramos anterior (supre superfície anterior) e
posterior (supre superfícies lateral e mediai).
A artéria tireóidea inferior é um ramo do tronco tireocervical, que
por sua vez se origina da artéria subclávia. Ela segue no sentido supero-
mediai posteriormente às carótidas e chega na face posterior da tireoide,
se divide em ramos superior e inferior que suprem as regiões inferior e
posterior. O ramo superior ascende e supre também as glândulas parati-

49
A GlÂNDULA TIREOIDE

reoides. A artéria tireóidea inferior tem uma íntima relação com o nervo
laríngeo recorrente e esse fato é de grande importância clínica já que a le-
são iatrogén ica desse nervo é uma das principais complicações da cirurg ia
da t ireoide, podendo ocasionar rouquidão e d ificu ldade na fala (figura 2.2)

Artéria carótida
NeMl larí,naeõO externa
superior Artéria tireoidea
superior

Artéria carótida
comum

Artéria tireaidea
inferior

NeiVo laringeo
recorrente E.

Figura 2.2: Irrigação da tireoide pelas artérias tireoideas superiores, médias e inferiores.
Observe também a rntima relação da glãndula com o nervo larfngeo recorrente. Retirada
de https://br.pinterest.com/pin/437764026262335784/

A d renagem venosa normalmente é realizada pelas veias tireóid eas


superior, média e inferior, que junt as formam o plexo venoso tireóideo. A
veia tireóidea superior sai da parte superior da g lândula e segue junto
com a artéria tireóidea superior drenando para a veia jugular interna. A
veia tireóidea média sai da parte inferior e t ambém d rena para veia ju-
gular interna. A veia tireóidea inferior drena os polos inferio res e levam
o sang ue para a veia braquiocefálica (fig ura 2.3).

110
CAPirUL002

Veia
tireoideia
supenor
Veia jugular
interna

Veias do plexo
tireoideo Veia t ireoidea
média

Veia braquiocefálica Veias


direita tireoideas
·inferiores

Veia braquiocefálica
Veia cava superior esquerda

Figura 2.3: Drenagem venosa da glândula tireoide pelas veias tireo ideas superiores, méd ias
e inferiores. Retirad o de Auger and Dalley (Atlas de anatomia).

A drenagem linfática é realizada pelos vasos linfáticos que seguem


no tecido conjuntivo interlobular, geralmente perto das artérias e se co-
municam com o p lexo traqueal. A partir daí seguem para os linfonodos
pré-laríngeos, que drenam para os linfonodos cervicais superiores e os
pré-traqueais e paratraqueais, que drenam para os linfonodos cervicais
profundos inferiores. Os vasos laterais, situados ao longo das veias t ire-
óideas superiores drenam direto para os linfonodos cervicais profundos
inferiores e alguns linfáticos ainda podem drenar para os linfonodos bra-
quiocefálicos ou para o dueto torácico.
A inervaçâo é p roveniente dos gânglios simpáticos cervicais superior,
médio e inferior que chegam à glândula através dos plexos cardíacos e
periarteriais tireóideos superior e inferior que acompanham as artérias t i-
reóideas. Essas fibras não causam a liberação hormonal, causam apenas
constrição do vasos sanguíneos, ou seja são vasomotoras. Quem regula a
secreção endócrina da glândula são os hormôn ios hipofisários e você vai
entender como mais à frente no capítulo.

51
A GlÂNDULA TIREOIDE

HISTOLOGIA

Vamos entrar agora na parte microscópica dessa g lândula! A t ireoide


é uma g lândula endócrina originada do endoderma, é lobulada e revesti-
da externamente por uma cápsula de tecido conjuntivo frouxo que envia
septos para o parênqu ima dividindo os lobos em lóbulos.
Ela é formada por milhares de pequenas esferas chamadas de folicu-
los tireoidianos que tem suas paredes revestidas por epitélio simples de
células chamadas tirócitos ou células foliculares, as principais células da
tireoide. Esses foi ículos armazenam uma substância de aspecto gelatinoso,
chamada de coloide, no qual é constituído principalmente por uma g lico-
proteína denominada tireoglobulina. Ela é produzida pelos tirócitos e cada
molécu la contem cerca de 70 aminoácidos tirosina, os principais substratos
que se combinam com o iodo para formar os hormônios tireoidianos.
Como se trata de uma glândula endócrina, o transporte de substâncias
entre as células endócrinas e o sangue deve ser facilitado e isso ocorre
pelo fato de a tireoide ser uma estrutura altamente vascularizada por uma
rede de capilares, sobretudo fenestrados, que envolve os folículos.
Outro tipo de célula presente na glândula é a célula parafolicular ou
célula C que normalmente forma agrupamentos entre os folículos. Ela
produz o hormônio calcitonina, que ajuda na regulação do cálcio orgâni-
co, tendo como principal função inibir a reabsorção do tecido ósseo, dimi-
nuindo o nível de cálcio no sangue (figura 2.4)

'•••~e~ff.~~~~~~

FoUw&o da
tireoide

CapU•r

Figura 2.4: Ilustração da estrutura histológica da glãndula tireoide. Retirada de httpsJ/sli-


deplayer.com/ slide/S907SS3/

112
CAPirUL002

FISIOLOGIA

A tireoide é responsável pela produção e secreção de dois hormônios


principais, a tiroxina também chamada de T4 e a tri-iodotironina ou T3
que basicamente .aumentam, de forma intensa, o metabolismo do orga·
nismo. O T3 é o hormônio mais biológica mente ativo, e portanto, o maior
responsável pelas ações fisiológicas. Contudo sua produção pela glândula é
pequena, cerca de 10%, enquanto que a maior produção da g lândula é de
T4 (forma menos potente), responsável por 90% da produção. Nesse mo·
mento você pode estar se perguntando qual o motivo para essa incoerência
na secreção! Calma, nosso organismo é inteligente! Isso acontece por que a
maior parte do T4 que é liberada será convertida perifericamente em T3 por
enzimas chamadas desiodases, que são especificas para tironinas.
A desiodase tipo 1 realiza a maior parte dessa conversão nos tecidos
que tem um alto fluxo sanguíneo e consequentemente rápida troca san·
guínea, como os rins, o fígado e o músculo esquelético. Isso ocorre para
que a oferta de T3 aos tecidos nos quais há pouca geração local desse hor·
mônio, seja adequada. A concentração de T3 no cérebro é mantida pela
desiodase tipo 2. Essa enzima está expressa nas células da glia do sistema
nervoso central e mantém os níveis de T3 constantes mesmo quando o
T4 está baixo, por isso ela está aumentada no hipotireoidismo, pois dessa
forma mantém o cérebro com níveis suficientes de T3. Eainda temos um
terceiro tipo de desiodase, a tipo 3 que é"inativante'; ou seja, converte T4
em rT3 (T3 reverso), uma forma inativa. desse hormônio e ela está aumen·
tada no hipertireoidismo, caso de dona Adelice,.
Então, agora você já sabe que a tireoide produz os hormônios T3 e T4,
mas como ocorre exatamente essa produção?

SfNTESE DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE

A tiroxina e tri-iodotironina são hormônios iodados, ou seja, que con·


tem iodo na sua composição, dessa forma nosso organismo necessita des·
se elemento na forma de iodeto para essa produção. O iodeto utilizado
pela tireoide é proveniente da nossa alimentação, cuja maior fonte é o
sal de cozinha. O iodeto ingerido é absorvido pelo trato gastrointestinal.
A maior parte é excretada pelos rins e o restante armazenado ativamente
na glândula tireoide para produção dos hormônios. Outros locais podem

53
A GlÂNDULA TIREOIDE

captar, mas não armazenam iodo, como glândulas salivares, glândulas


gástricas, glândulas lacrimais, glândulas mamárias e plexo coroide.
A primeira etapa para a síntese é a captação do iodeto, ou seja, esse íon
deve entrar na célula. Na membrana basal (lado vascular) das células tireoi-
dianas há um simporte (co-transportador) de sódio-iodeto (NIS) que faz
o transporte ativo de um íon iodeto junto com dois íons sódio através da
membrana para o interior da célula usando a energia da bomba sódio potás-
sio (Na+, K+- ATPase). Após a entrada na célula o iodeto chega à membrana
apical (lado luminal) do tirócitos, onde há um outro transportador de iodeto
cloreto, chamado pendrina, que joga o iodeto para o lúmen celular. Aqui
o iodeto é imediatamente oxidado, pela tireoperoxidase (TPO), para iodo e
incorporado às moléculas de ti rosina presentes na tireoglobulina, proces-
so chamado de organificação da tireoglobulina. A peroxidase se localiza no
lado apicai da célula e essa etapa de oxidação é essencial, pois somente o
iodo tem a capacidade de se combinar com a tirosina diretamente.
A partir dessa organificação há a formação de monoiodotirosina (MIT)
e diiodotirosina (OIT). OT4 é formado a partir do acoplamento de duas DIT
e o T3 a partir da junção d e uma MIT e uma DIT, sendo toda essa sequên-
cia de reações catalisada pela tireoperoxidase (TPO).
Esse processo d e formação ocorre no lúm em do folículo e a tireoglo-
bulina iodada pode ficar armazenada no colo id e, característica incomum
entre as glândulas endócrinas, ou pode ser liberada na corrente sanguí-
nea. Para a liberação dos hormônios, a tireoglobulina d eve se li gar ao re-
ceptor megalina (no lado apical) e então endocitada e degradada pelos
lisossomos para separação do T3 e T4 desse complexo. Feito isso, esses
hormônios saem por difusão pelo lado basal da célula e chegam à cor-
rente sanguínea. O MIT e DIT que sobraram dentro da célula podem so-
frer ações de desiodases intratireoidianas que promovem a liberação de
iodeto permitindo sua reciclagem para produção de novos hormônios
(figura 2.5). Ao chegar na corrente sanguínea esses hormônios precisam
ser transportados aos tecidos alvos e a partir daí realizarem seus efeitos.

114
CAPirUL002

_....____
Tireoperoxidase
+

Coloide nos
endossomas

I II1 Mierotubulos,
t t t t mlerofilamentos

Mlr DIr
'
~
rG/
Tlreoglobullna
Oesiodase
r{ 'r.
Mlr e-

·- Proteases

-·-r
DIT '

r
l! r4
Lisossomos

Membrana basal

Figura2.S: Sfntese (setas aruis) e secreção (setas vermelhas) dos hormônios da tireoide. As setas
brancas indicam as vias de "reciclagem" do iodo e da tireoglobtllina. Retirada de Berne e Levy.

TRANSPORTE E METABOLISMO

Assim que são secretados, a maior parte do T3 e T4 se liga a proteínas


plasmáticas de transporte que são produzidas pelas células hepáticas. A
principal delas é a, Globulina Ligadora de Tiroxina (TBG) que é respon-
sável pela ligação de cerca de 70% do T3 ouT4 circulante, 10- 15% se liga a
outra proteína de !ligação, a transtiretina (TIR) que fornece os hormônios
t ireoidianos ao sistema nervoso central e 15- 20% deles seguem ligados à
albumina. A ligação com essas proteínas, sobretudo a TGB, evita a perda
desses hormônios na urina, aumentando sua meia vida, além de fundo-

55
A GlÂNDULA TIREOIDE

nar como um reservatório de T4 circulante, promovendo um tampão caso


ocorra alterações agudas na concentração hormonal.
Nós já sabemos que a parte do hormônio que exerce as funções é a
fração livre, portanto, T4 precisa ser desligado da proteína para ser con-
vertido em T3 e realizar seus efeitos. Contudo, devido a alta afin idade com
essas proteín as, principalmente a tiroxin a, essas substâncias são liberadas
de forma lenta, de modo que metade do T4 é liberado para as células a
cada 6 dias e metade do T3 em 1 dia, por ter afinidade menor.
Após agir nas célu las alvos, essas moléculas precisam ser eliminadas,
por isso vão passar pelo metabolismo hepático para sofrer o processo de
conjugação formando sulfatos e glicuronídeos que vão ser incorporados
à bile e excretados nas fezes.

RECEPTOR DO HIORMÔNIO TIREOIDIANO

Assim que chega às células alvo, o hormônio deve se ligar ao seu receptor.
Se você estiver atento à leitura, vai lembrar que eu falei anteriormente que é
o T3 quem promove os efeitos biológicos, portanto, é ele quem vai se ligar ao
receptor que é intracelular. Dessa forma, o pouco T3 produzido e o T4, que
vai ser convertido em T3, entram na célula e se ligam ao receptor nuclear ge-
nômico. Após essa ligação, o receptor é ativado e ocorre o processo de trans-
crição para formação de novas proteínas intracelulares específicas para cada
ação determinada.
Entretanto, os hormônios tireoidianos parecem ter também efeitos não
genômicos independentes de transcrição, como efeitos que ocorrem em
minutos, rápido demais para depender de síntese de novas proteínas. Essas
ações mais imediatas provavelmente ocorrem no coração, hipófise e tecido
adiposo, e tem como sítio de ação a membrana plasmática, o citoplasma e as
mitocôndrias. Desse modo, elas incluem regulação de canais iônicos e fosfori-
lação oxidativa envolvendo ativação de segundos mensageiros intracelulares.

EFEITOS FISIOLÓGICOS DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS

Existem receptores para os hormônios tireoidianos em quase todas as


células do corpo, portanto eles agem essencialmente em todos os siste-
mas do nosso organismo, seja de forma direta ou indireta influenciando a

116
CAPirUL002

ação de outros hormônios e neurotransmissores. De forma geral, o resulta-


do final dessas ações é o aumento generalizado da atividade funcional
de todo o organismo. Os sintomas e sin ais manifestos pelo paciente com
alterações tireoidianas ocorrem pela diminuição ou aumento exacerbado,
respectivamente, do metabolismo geral. Para que fique mais didático, va-
mos separar suas funções de acordo com o sistema:

EFEITOS NO METABOLISMO BASAL

O metaboli smo basal corresponde ao conjunto de reações que man-


tem a vida do organismo. Os hormônios tireoidianos aumentam essas rea-
ções, começando pelo aumento do número e tamanho das mitocôndrias,
o que por sua vez aumenta a formação de ATP para fornecer energia para
as células. Ele estimula o metabolismo dos carboidratos, inclu indo capta-
ção de glicose pel as células, aumento de gliconeogênese, glicólise e ab-
sorção dos carboidratos pelo intestino; estimula o metabolismo dos lipí-
deos que são rapidamente mobilizados do t ecido adiposo devido a maior
expressão de receptores beta adrenérgicos, o que unido ao aumento do
metabolismo celu lar contribui para a redução do peso corporal.
Esse hormônio t ambém promove a redução das concentrações de
colesterol, fosfolipídios e triglicerideos no plasma, devido ao aumento da
secreção de colesterol pela bile (quando há uma falta desses hormônios
ocorre elevação significativa de lipídeos no sangue); aumenta a depura-
ção de hormônios esteroides e algumas vitaminas do complexo B.
Além disso aumenta a taxa basal de consumo de oxigênio e conse-
quentemente aumenta a produção de calor, ou seja, a termogênese. Dessa
forma o aumento da temperatura corpórea é moderado por um aumento
da perda do calor por meio de aumento do fluxo sanguíneo, sudorese e
respiração, por isso geralmente o hipertireoidismo é acompanhado de in-
tolerância ao calor e o hipotireoidismo de intolerância ao f rio.

EFEITOS CARDIOVASCULARES

O T3 tem uma ação direta sobre a excitabilidade do coração, provocando


o aumento da fração de ejeção e da frequência cardíaca,. Lembre-se que Sra.
Adelice tinha uma frequência cardíaca aumentada!

57
A GlÂNDULA TIREOIDE

Já que ocorre aumento do metabolismo, o organismo necessita de for-


necimento mais rápido de oxigênio. Essa demanda causa vasodilatação na
maioria do tecidos que, por sua vez, promove o aumento do fluxo sanguíneo
e consequentemente do débito cardíaco, que pode chegar a 60o/o ou mais
no hipertireoidismo e abaixo de SOo/o no hipotireoidismo. Promove melhora
na velocidade e na força de contração cardíaca, por aumento da captação do
cálcio pelo miocárdio, contudo quando em excesso pode provocar depressão
do músculo devido ao intenso catabolismo proteico, por longos períodos.
Além disso, a pressão sistólica aumenta discretamente e o tempo de rela-
xamento diastólico é encurtado, pois o T3 aumenta a ação da bomba de cálcio
do retículo sarcoplasmático que aumenta o sequestro de cálcio no momento
da diástole e causa uma contração, isso diminui o tempo de relaxamento.
Esses efeitos cardiovasculares são acentuados devido ao sinergismo do
hormônios tireoidianos com as catecolaminas, dessa forma aumentam a ati-
vidade do sistema nervoso simpático, através do aumento no número de re-
ceptores beta adrenérgicos no miocárdio.

EFEITOS RESPIRATÓRIOS

A elevação da taxa metabólica aumenta a utilização de oxigênio e a


formação de dióxido de carbono, esses efeitos provocam o aumento da
frequência respiratória em repouso, a ventilação minuto e a resposta ven-
tilatória à hipercapnia e hipóxia. Além disso, melhora o transporte de oxi-
gênio pelo aumento de glóbulos vermelhos decorrentes do estímulo à
produção de eritropoietina pelos rins.

EFEITOS NO SISTEMA NERVOSO

Aqui podemos dividir os efeitos no período intrauterino e na vida adulta.


Na fase fetal, o T3, essencialmente, controla a velocidade e o ritmo de de-
senvolvimento do sistema nervoso central, sendo importante para o cresci-
mento do córtex cerebral e cerebelar, proliferação dos axônios, ramificação
dos dendritos, formação das sinapses, mielinização e migração celular. A
falta desses hormônios no desenvolvimento fetal diminui significativamen-
te esses processo·s, culminando com danos cerebrais irreversíveis, caso não
seja corrigido logo após o nascimento.

118
CAPirUL002

Já na vida adulta, o T3 aumenta a velocidade do pensamento, o estado


de alerta,, a memória, a audição, a consciência da fome, a resposta a vários
estímulos e a capacidade de aprendizagem. Alêm disso, aumenta a amplitu-
de e a velocidade dlos reflexos nervosos periféricos e o tônus emocional nor-
mal depende da oferta adequada desse hormônio. Por conta desses efei-
tos, quando a disponibilidade desse hormônio fica em excesso, como no
hipertireoidismo de Sra Adelice, aparecem os sintomas como nervosismo e,
ansiedade. Contudo, outro sintoma relatado por nossa paciente foi o tremor
nas extremidades, e isso também é explicado pela excitabilidade provocada
no sistema nervoso, na medida em que há aumento das sinapses neuronais
na área da medula espinhal responsável pelo controle do tônus muscular.
Aqui ainda podemos incluir o efeito sobre o sono. O indivíduo com hi-
pertireoidismo se queixa de cansaço e sono, contudo o efeito excitatório so-
bre as sinapses, dificulta muito o sono, surgindo a insônia nesses pacientes.

EFEITOS NO MÚSCULO ESQUEL~TICO

Para os músculos esq ueléticos funcionarem de maneira adequada os


hormônios tireoidianos também devem atuar em quantidade suficiente.
El e se relaciona com o processo de produção e armazenamento de ener-
gia nos músculos fazendo com que eles tenham melhor contratilidade.
Entretanto, o excesso desse hormônio torna os músculos enfraquecidos,
principalmente devido ao intenso catabolismo proteico que ele provoca.

EFEITOS NO TRATO GASTROINTESTINAL

Promove aumento do apetite e, portanto, da ingestão alimentar, além


de aumentar a secreção de substâncias digestivas e a motili dade gastroin-
testinal. Acredita-se que esse último efeito seja por estímulo ao sistema
nervoso mioentérico, componente independente do sistema nervoso au-
tônomo que está presente em todo esse trato.

59
A GlÂNDULA TIREOIDE

EFEITOS SOBRE O CRESCIMENTO, TECIDOS DUROS E DERME

Assim como ele influencia no desenvolvimento do sistema nervoso na


vida intrauterina e nos primeiros dias de vida pós-natal, ele auxilia também
no crescimento e desenvolvimento físico nesses períodos. Isso ocorre porque
o hormônio tireoidiano atravessa a placenta e deixa o eixo tireoidiano fetal
funcionante durante a gestação.
O T3 é essencial para formação e maturação dos ossos do feto e após o
nascimento ele é importante para o crescimento e maturação óssea das
crianças, bem como desenvolvimento e erupção dos dentes. Promove o cres·
cimento linear do osso e também o fechamento das epffises ósseas, evento
que culmina com a parada do crescimento. No adulto ele esti mula o remo·
delamento ósseo, eq uilíbrio entre as ações dos osteoclastos (degradação) e
osteoblastos (regeneração), todavia no excesso hormonal predomina-se a
degradação, sendo possível o aparecimento de osteoporose na paciente do
caso, por exemplo.
*Além disso, ele causa aumento da degradação e inibição da síntese de
mucopolissacaríd eos, como glicosaminoglicanos, no tecido subcutâneo que
resulta na formação do mixedema.

EFEITOS SOBRE REPRODUÇÃO EOUTRAS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

Os efeitos sobre as gônadas não são totalmente esclarecidos, mas provavel-


mente resulta da junção de efeitos diretos com ações dos próprios hormônios
da hipófise anterior (LH e FSH). Sabe-se que o T3 em quantidades adequadas é
importante para o bom funcionamento do ciclo ovariano normal, bem como
das etapas pré-gestacionais, como a ovulação e espermatogênese, além de
manter a libido e uma gravidez saudável.
Quando ocorre anormalidades na função sexual devido a alterações do
hormônio tireoidi.ano, pode ser por ação d ireta desse hormônio ou por mu-
danças na d isponibilidade ou metabolismo dos próprios hormônios esteroi·
des, já que o T3 estimula síntese hepática e liberação de g lobulinas ligadoras
de esteroides sexuais.
O hormônio tireoidiano age sobre o metabolismo de diversos tecidos, por
conta disso ele influencia na secreção de outras glândulas endócrinas. Ele au-
menta a secreção de insulina (eleva o metabolismo da glicose, aumentando sua

60
CAPirUL002

disponibilidade), diminui a secreção de paratormônio (como mecanismo com-


pensatório do efeito de reabsorção óssea causado pelo T3), diminui a secreção
de prolactina pela hipófise; por outro lado, aumenta a liberação de hormônio
do crescimento (GH) e de cortisol (cortisol permanece em níveis normais no
plasma, pois também há estímulo da depuração). Além disso, a relação estró-
geno e andrógeno fica aumentada em homens, motivo pelo qual pode-se ter
ginecomastia em homens com hipertireoidismo.

REGULAÇÃO DA FUNÇÃO TIREOIDIANA

Você já aprendeu que existem algumas glândulas que tem sua função re-
gulada pelo hipotálamo e hipófise. A tireoide é uma delas! O principal meio
de controle da sua função é o eixo Hipotálamo-Hipófise-Tireoide (HHT). O
hipotálamo, promove a liberação de Hormônio liberador de Tireotrofina
(TRH). Esse hormônio vai passar pelo sistema porta hipofisário e chegar à
hipôfise, onde se liga aos receptores dos tireotrofos e os estimula a secretar
a tireotrofina ou Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH). O TSH, por sua
vez, vai ganhar a corrente sanguínea e alcançar a tireoide onde vai se ligar a
receptores acoplados a proteína G (TSHr) e promover ações imediatas, inter-
mediárias e de longa duração sobre seu epitélio.
As ações imediatas incluem endocitose de coloide para formação de ve-
sícula endociticas de tireoglobulina, aumento da captação de iodeto e ativi-
dade da TPO e estimula a proteólise da tireoglobulina para liberação de T3 e
T4. As ações intermediárias ocorrem após horas ou dias e envolve a síntese
de proteínas e expressão de genes que codificam a formação das estruturas
envolvidas na produção dos hormônios, como o NIS, TPO, tireoglobulina e
megalina. E os efeitos de longa duração se deve a estimulação prolongada do
TSH e inclui a hipe rtrofia e hiperplasia da tireoide que se apresentam como
bócio (Quadro 2.1 - Bócio).
Então a principal ação do TSH é estimular a liberação de T3 e T4! Após
serem secreta dos no sangue e atingir os tecidos alvo, esses hormônios perifé-
ricos desempenham um papel importantíssimo no controle por retroalimen-
tação negativa. Especificamente, os hormônios agem na hipófise, inibindo a
liberação de TSH (reprime a expressão do gene da subunidade beta do TSH)
e agem no hipotálamo, inibindo a secreção de TRH (reprime a expressão do
gene pré-pró-TRH) (Figura 2.6).

61
A GlÂNDULA TIREOIDE

Hipotálamo +'-
TRH
1
+
+
- ... Hipófise
TSH

+
+
Glândula
T4e T3 tireoide T4el3
T4 n

Tecidos periféricos
T4 T3

Figura 2.6: Regulação pelo eixo hormonal. Retirada é adaptada de http://www.dragung.


com/20 13/02/anatomi-dan-fisiologi-tiroid.html

Outro regulador da liberação dos hormônios da tireoide é o iodeto, visto


que a síntese desses hormônios está diretamente ligada a disponibilidade de
iodeto. Quando há um excesso na ingestão de iodeto, sua própria concentra-
ção intraglandular suprime a reação da peroxidase e a expressão dos genes
NIS e TPO, assim diminui a síntese hormonal. Quando o nível de iodeto dentro
da glândula d iminui, os genes não sâo mais reprimidos e a produção volta ao
normal. Essa autorregulação é conhecida como efeito Wolff-Chaikoff.

62
CAPirUL002

Quadro 2.1 - Bócio


O bócio é o crescimento da glândula tireoide. Isso pode ocorrer por au-
mento de nódulos tireoidianos preexistentes ou por estímulo prolongado
do TSH sobre o epitélio glandular. Essa alteração pode ocorrer por falta de
iodeto (situação rara no Brasil) que por sua vez impede a produção de T3 e
T4 (hipotireoidismo) que em falta impossibilita o feedback negativo para a
h ipófise a qual continua liberando mais TSH. O mesmo mecanismo acontece
no hipotireoidismo primário, ou seja, quando ocorre um defeito na produção
dos hormônios periféricos. Por outro lado, no hipertireoidismo também pode
haver a presença do bócio, quando a despeito do feedback negativo, o TSH
continua estimulando a glândula.

DOENÇA DE GRAVES

É a forma mais comum de hipertireoidismo. É uma doença autoimune, 1O


vezes mais comum nas mulheres, principalmente entre os 20 e 50 anos de
idade. O corpo produz anticorpos que m imetizam o TSH se ligando ao seu
receptor, isso resulta no aumento do epitélio glandular e na superprodução
dos hormônios tiroidianos, instalando o hipertireoidismo. A doença é carac-
terizada clinicamente por elevação dos hormônios tireodianos, bócio d ifuso,
oftalmopatia infiltrativa e dermopatia infiltrativa (m ixedema pré-tibial).

63
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REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fi siologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017.
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. BARRET, Kim E. et ai. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Po rto Alegre: AMGH,
2014.
4. MOORE, K.L. - Anatomia Orient ada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
5. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevíer, 201O
6. JUNQUEIRA, L C.U. & CARNEIRO, J. Hist ología Básica. 1P Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
7. Davies TF et ai. Pat hogenesis o f Graves'dísease. In Upt odate 2006.

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CONFERÊNCIAS •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida •
sobre os assuntos abordados nesse capítulo!



























A Glândula Suprarrenal

CASO CLÍNICO

Dona Anita resolveu fazer uma visita à sua afilhada, Maiza, que já não
via há algum tempo. Ao encontrar sua madrinha, Maiza ficou muito con-
tente e surpresa, tanto pela visita como por perceber algumas mudanças
na sua aparência. Dona Anita estava com o rosto mais arredondado, como
uma "lua cheia'; tinha uma protuberância no dorso (giba), obesidade ab-
dominal e os membros mais finos, além de muitas equimoses pelo corpo,
características que deixaram a menina curiosa.
Maiza já estava fazendo o quinto semestre de medicina e se lembrou
que quando estudou o sistema endócrino viu uma síndrome que dava as
mesmas características apresentadas pela madrinha. Ao longo da conver-
sa entre as duas, a afilhada questiona Dona Anita como está a saúde e ela
se queixa que ultimamente vem ganhando peso e sentindo muita fraque-
za nas pernas e braços, além disso informou que foi ao posto de saúde na
semana passada e que a enfermeira lhe disse que estava com a pressão
aumentada e o"açúcar alto".
Diante dessas informações a afilhada de Dona Anita resolve o lhar suas
anotações da aula de endocrinologia e percebe que pode se tratar de um
caso de hipercortisolismo. A menina explica a madrinha que esses sinais e
sintomas podem ser devido ao aumento de um hormônio chamado corti-
sol que é produzido por nossas glândulas adrenais. Dona Anita ficou mui-
to confusa com o que a menina estava falando e cheia de dúvidas: "O que
são essas adrenais?""Para que serve esse hormõnio?""Por que ela estava
com ele aumentado?" e principalmente"lsso tem cura?".
A afi lhada começa a explicar para a madrinha que as adrenais são g lân-
dulas que produzem diferentes de hormônios que são muito importantes
para o equilíbrio do nosso organismo, mas um desses hormônios pode

69
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

estar aumentado e causando tudo isso. Maiza passa o resto do d ia ten-


tando tranquilizar e explicar tudo para Dona Anita e por fim lhe diz que
deve ir ao médico para que ele possa fazer os exames necessários e então
começar seu tratamento.

70
CAPirUL003

1. 1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS

"Giba": Acúmulo de gordura localizada na região posterior do pescoço.


"Equimoses": Extravasamento de sangue para o tecido subcutâneo
que se apresenta na forma de mancha arroxeada.
"Hipercortisolismo": Conjunto de sinais e sintomas desencadeados
pelos níveis aumentados de glicorticóides, principalmente o cortisol, na
corrente sanguínea.

1.2 PALAVRAS-CHAVES

" Face de lua cheia': "obesidade abdominal~ "fraqueza muscular': "adrenais';


"cortisol"

1.3 OBJETIVOS

Descrever a estrutura anatômica das suprarrenais.


Caracterizar a estrutura histológica das suprarrenais.
Compreender o processo de síntese dos hormônios adrenais
Identificar e compreender as ações fisiológicas dos hormônios adrenais.
Evidenciar os mecanismos de regu lação hormonal.

71
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

ANATOMIA

CARACTERÍSTICAS GERAIS

As suprarrenais ou adrenais são duas g lândulas endócrinas de tonalida-


de amarelo -dourado e que se localizam na região superior de cada rim. Elas
ficam no interior da fáscia renal, pelas q uais estão fixadas aos pilares do dia-
fragma, são envolvidas por tecido conjuntivo e gordura perirrenal e se sepa-
ram dos rins por uma lâmina de tecido fibroso. Essas glândulas no indivíduo
adulto pesam aproximadamente Sg e medem em média 70mm de d iâme-
tro transversal, sendo a g lândula esq uerda ligeiramente maior que a direita.
Anatom icamente, as suprarrenais apresentam algumas diferenças na
aparência ext ema. A suprarrenal direita t em o formato piramidal, está
em uma posição mais alta que a esquerda, encontra-se posteriormente
à veia cava inferior e ao lobo direito do fígado e anteriormente ao pilar
direito do diafragma. A região anterior possui duas faces: uma mediai, es-
treita e vertical que se encontra posterior a veia cava inferior e uma lateral
que é triangular e fica em contato com a área nua do fígado. Além disso, a
borda mediai da glân dula se encontra com o gânglio celíaco d ireito e com
a artéria frênica inferior direita.
A suprarrenal esquerda t em o formato semilunar e é achatada an-
teroposteriormente. Está sobre o pilar esquerdo do diafragma separados
por fáscia e t ecid o conjunt ivo e como é moldada pelo polo superior do
rim a face med iai é convexa e a lateral é côncava. A área inferior se relacio-
na co m a artéria esplênica e com o pâncreas, a região mediai encontra-se
com o gânglio ce·líaco esquerdo e com as artérias frênica inferior esquerda
e gástrica esq uerda além disso mant em relação com o estômago e baço.
Cada glândula tem um hilo por onde as veias e vasos linfáticos saem, en-
quanto que as artérias e nervos entram por diversos locais (figu ra 3.1).

VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO

A vascularização das suprarrenais é abundante, devido à sua f unção


endócrin a. As artérias se ramifica m próximo à capsula para formar o plexo
subcapsu lar por onde vai emergir os capil ares fenestrados que vão atingir
todas as zonas da glândula. Então, suprimento arterial da glândula é real i-
CAPirUL003

zado pelas artérias suprarrenais superiores (ramos das artérias frênicas


inferiores), médias (ramos da aorta abdom in al no nível da artéria mesen-
térica superior) e inferiores (ramos das artérias renais).

Mioiu frttoi- tllltll•!ü


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figura 3.1: Localização e características das glândulas suprarrenais. Observe o formato


característico de cada glândula e a sua vascularização. Retirada do Netter.

A drenagem venosa é rea lizada pela veia suprarrenal que é formada


pela união das veias medulares que emergem do hilo. A veia suprarrenal
direita é mais curta e drena para a veia cava inferior, enquanto que a veia
suprarrenal esquerda drena para veia renal esquerda (observe a vascula-
rização da glândula na figura 3.1 ).

73
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

A drenagem l infática é feita para os grupos laterais de linfo nodos pa-


ra-aórticos e a inervação é composta principalmente por fibras simpáticas
pré -ganglionares que formam o plexo suprarrenal. Essas fibras simpáticas
se originam nos seguimentos espinhais torácicos inferiores e chegam até
o plexo por meio dos ramos derivados do gânglio e do plexo celfacos, atra-
vés do nervo esp lâncnico m aior.

HISTOLOGIA

As suprarrena is são estruturas encapsuladas recobertas por tecido con-


juntivo denso. Se fizermos um corte transversal nas suprarrenais vamos
perceber a nítida divisão d e duas camadas que tem origens embriológicas
distintas: o córtex adrenal e a m edula adrenal.
O córtex adrenal é a parte mais volumosa, se encontra na periferia da
glândula, de cor .amarelada e t em origem no tecido celomático, portanto
no mesod erma. As células que compõem o córtex são produtoras de hor-
mônios est eroides, por isso a organela que predomina é o retícu lo endo-
plasmático liso. Essas células não armazenam seus produtos em grânulos,
já que os hormônios são sintetizados logo após o estímulo e im ediata-
mente liberados nos capilares. Essa camada é subdividida em 3 zonas: a
zona glomeru losa, a zona fasciculada e a zona reticulada.
A zona glomerulosa ocupa 15% do volume das adrenais, é a mais
externa se localizando logo abaixo da capsula de tecido conjuntivo e é for-
mada por células colunares ou piramidais de núcleo corado e citoplasma
basófilo e dispostas em cordões em forma de arcos que são permeados
pelos capilares fenestrados. Essa zona produz os m ineralocortícoides, re-
presentados pela aldosterona.
A zona fasciculada é a mais extensa, ocupando 65% do volume adre-
nal. Ela é compos.ta por células poliédricas, basófilas, preenchidas por gotí-
culas de lipídios no citoplasma, e são arranjadas em feixes de cordões retos
e reg ulares envolvidos pelos capilares. Essas célu las também são chamadas
de espongíócitos. por formarem vacúolos de lipídios nas lâm inas histológi-
cas e são produtoras do glícocortícoídes, sobretudo cortisol, bem como de
pequena quantidade de andrógenos e estrogênios adrenais.
A zona reticulada é a menor e mais interna, ocupando 7% do volume
glandular. É formada por células arredondadas que se dispõem em cor-

74
CAPirUL003

dões irregulares originando uma rede anastomosada e produtora dos an·


drógenos adrenais desidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona,
bem como pequena quantidade de estrogênios e glicocorticoides.
A medula adrenal se situa centralmente e é formada por célu las poli·
édricas d ispostas em cordões arredondados sustentados por uma rede de
fibras reticulares que formam o parênquima. Essas células tem sua origem
na crista neural que surgem durante a formação do tubo neural e migram
para o interior da adrenal e são chamadas de célul as cromafins produtoras
de catecolaminas, epinefrina e norepinefrina. Essas células são inervadas
por neurônios simpáticos pré-ganglionares (observe na figura 3.2 a divi·
são em camadas e em zonas).

figura 3.2: Corte transversal da glândula mostrando a divisão entre o córtex e a medula.
Ao lado, observe o corte histológico evidenciando as zonas do córtex adrenal. Retirada de
< http://maxturner.co/diagram-of-adrenal-cortex.htm>.l

FISIOLOGIA

As suprarrenais produzem duas classes de hormônios distintas: as cate-


colaminas pela medula e os esteroides pelo córtex. E agora que você já co-
nhece a estrutura macro e microscópica dessa glândula, vamos começar
a entender os processos fisiológicos que ela conduz, desde a síntese dos
hormônios, passando pelos efeitos biológicos até sua regulação.

715
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

HORMÔNIOS DA MEDULA:

SÍNTESE DAS CATECOLAMINAS

O precursor in icial para a produção das catecolaminas é o aminoáci-


do t irosina . Ele é transportado para dentro das células cromafins e sofre
hidroxilação pela enzima tirosina hidroxilase, cu lminando na produção
de d i-hidroxifenilalanina (OOPA). A DOPA é convertida em dopam i na pela
enzima am inoácido aromático descarboxilase e é transportada para o grâ-
nulo cromafim, uma vesfcula de secreção. Aqui a dopami na sofre ação da
dopam i na 13-hidroxil ase e é convertida em norepinefrina. Apenas 20% das
células da suprarrenal secretam norepinefrin a, as outras 80% a convertem
em epinefrina pela fenilentalonam ina- N-m etiltransferase (fig ura 3.3).

Tlros-.a

l r IRJ6i-la hiãca:ilase
HO
À } íC"1HCOOH
HO NK,
DMIICI10x:ll'enllll8flln.a
(XDOPA)

jArninoêoiclo dcJ,Kiefbolil... Cilqlla~


HO
~~'
HO
DOpanwna

.,...ticê
Ell!imuleção j .~.·-
. . . . .-·-· ,. · &e Grtn..;o

HO~CHCK,Nii,
HO-'<:,)J 6..
NoroplntfMI

j .................
F. . . .nollminii.N·

figura 3.3: Sínt~s~ das cat~colaminas. Obs~rv~ o proc~sso e as ~nzimas envolvidas. Retirada
do Berne ~ Levy.

76
CAPirUL003

MECANISMO DE AÇÃO E REGULAÇÃO DAS CATECOLAMINAS

As catecolaminas são hormônios que atuam na resposta rápida à várias


formas de estresse agudo, como exerdcio, hipoglicemia, hemorragia (hi-
povolem ia). Ocorre uma sinalização simpática através dos centros autonô-
micos primários localizados no hipotálamo e no tronco encefálico que re-
cebem sinais do córtex cerebral, do sistema límbico e de outras regiões do
próprio hipotálamo e tronco encefálico. Esse sinal simpático descendente
é quem regula a secreção desses hormônios. Os neurônios pré-ganglio-
nares simpáticos secretam aceti lcolina (ACh) que se liga aos receptores
nicotínicos das célul as neurais, promovendo aumento da atividade das
enzimas envolvidas no processo de síntese hormonal.
Após secretadas, norepinefrina e epinefrina vão se ligar aos receptores
adrenérgicos alfa (al e a2) e beta(~ 1, ~2 e ~3) todos acoplados a proteína
G. As ações promovidas vão depender da localização e densidade desses
receptores, já que d iferentes tipos de receptores predominam em diferen-
t es t ecidos, e vão depender do tipo de proteína G associada (inibitória ou
estimulatória).

EFEITOS FISIOLÓGICOS E METABOLISMO DAS CATECOLAMINAS

As cat ecolaminas adrenomedulares são secretadas no sangue, por isso


agem como hormônios e não como neurotransmissores (como quando são
secretadas pelos neurônios pós-ganglionares simpáticos). Outro fato im-
portante é que medula adrenal é direta mente inervada pelo sistema nervo-
so autônomo, fato que torna a resposta adrenomedular muito rápida.
Um dos principa is efeitos fisiológicos das catecolaminas é a resposta
ao exercício, semelhante a resposta de "luta e fuga'; mas envolve muito
mais a epinefrina medular e seu papel endócrino do que a sua função neu-
rotransmissora . Nesse contexto, esses hormônios respondem à deman da
aumentada dos músculos cardíaco e esquelético e mantem o suprimento
de oxigênio e g licose suficiente para o cérebro, através da glicogenólise,
gliconeogênese, estímulo a secreção de g lucagon (agindo em receptores
~2) e inibição de insulina (agindo em receptores a2). Além disso aumen-
t am o t rabalh o cardíaco, fazem broncodilatação e d iminuem a motilidade
do trato gastrointestinal.

77
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

Após promoverem sua ação elas são degradadas e duas enzimas prin-
cipais são responsáveis por esse processo: a monoamina oxidase (MAO)
e a catecol-0 -metiltransferase (COMT). Normalmente COMT e MAO de-
gradam a norepinefrina como neurotransmissor após a receptação pelo
terminal pré-sináptico, porém as catecolaminas adrenais são metiladas,
principa lmente pela COMT em tecidos não neurais, como rins e fígado.

HORMÔNIOS DO CÓRTEX

SÍNTESE DOS ESTEROIDES

A síntese dos est eroid es ocorre de man eira diferente em cada zona,
já qu e é dependente d e enzimas específicas de conversão. A base para a
síntese desses hormônios é o colesterol, qu e é produzido internamente
ou captado pelas células por m eio dos receptores de LDL que elas expres-
sam. O colesterol captado sofre ação da enzima colesterol ést er hidrolase
e é convertido em colesterol livre para ser armazenado. A primeira etapa
do processo ocorre da mesma forma em todas as zonas! O colesterol pre-
cisa ser convertido em pregnenolona pela enzima colesterol desmolase e
esse evento ocorre no interior da mitocôndria. Logo depois esse produto
é transportado para o reticu lo endoplasmático liso (REL) e a partir daqui
ocorrem as conversões próprias para a formação dos hormônios nas res-
pectivas zonas.
Na zona fasciculada há produção de glicocorticoides. A pregnenolona
sai da mitocôndria e chega ao REL onde sofre ação da 3 beta hidroxieste-
roide desidrogenase(3~-HSD) e é convertido em progesterona que é con-
vertida em 17-hidroxiprogesterona, 11-desoxicortisol e cortisol. Observe
a figura 3.4 que possu i toda a via de conversão em cortisol e todas as en-
zimas envolvidas..

78
CAPirUL003

Zona Fasciculada Na zona reticulada há produção,


majoritária, de andrógenos. Aqui
há uma expressão menor da
3j3-HSD, por isso há pouca pro·
dução de glicocorticoides. A par·
CYP11A1 tir da pregnenolona ocorre for·
remoção da Mitocôndria
cadeia lateral mação de
17-hidroxipregnenolona e pos·
Pregnenolona teriormente, deidropiandroste·
-
rona (DHEA) que pode ser con·
3~-HSD
vertida em deidropiandrosterona
REL
sulfatada (DHEAS) ou em andros-
tenediona, que será convertida
Progesterona perifericamente em esteroides
sexualmente ativos, como tes-
cYP17 REL tosterona e diidrotestosterona
17-hidroxilase
(observe na figura 3.5).
Na zona glomerulosa ocorre
17(0H) Progesterona
produção exclusiva de minera-
locorticoides. Aqui não há ex-
CYP21A2 REL pressão da CYP17, enzima que,
21 -hidroxilase
como observado na Figura 3.4 e
na figura 3.5, forma a 17-hidroxi-
1 11-Desoxicortisol progesterona e 17-hidroxipreg-
nenolona, que por sua vez são
CYP11B1 precursores para formação de
Mitocôndria
11-hidroxilase
cortisol e de andrógenos, respec-
tivamente. Essa zona, entretanto,
Cortisol
expressa uma enzima exclusiva,
a aldosterona sintase (CYP1 182),
Figura 3.4 Síntese do cortisol na zona fascicu- que catalisa as últimas reações
lada. Observe as etapas do processo, bem até a formação da aldosterona.
como as enzimas erwolvidas, em especial Portanto, a via de síntese desse
a presença da enzima CYP 17, importante hormônio é representada por
para a formação da hidroxiprogesterona conversão da p regnenolona em
(substrato essencial para a síntese do corti- progesterona pela 21-hidroxila-
sol). Retirada do Berne e Levy. se e posteriormente, por ação da
aldosterona sintase, em 11 -Deso-
xicorticosterona (DOC), corticosterona, 18-hi droxicorticosterona e, final-
mente a aldosterona (figura 3.6)
79
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

Zona Reticular Zona Glomerulosa

Colesterol I Colesterol 1
CYP11A1
M~ocôndria
cYP11A1
- da
remoção da remoçao Mitocôndria
cadeia lateral cade ia lateral

Pre!Jlenolona I Pregnenolona I
CYP17 3[1-HSD
RE L REL
17-hidroxilase

I Progesterona I
CYP17 cYP21A2
RE L RE L
17,20-liase · roxilase
21-hid

DHEA 11-Desoxicorticosterona

SULT2A1
sullotransferase
j REL c YP11B2
11-hidroxilase
DOC

Mitooôndria

[)HEAS I Corticosterona I
cYP11B2
Mitooôndria
18-hidroxilase

18 (OH) Corticosterona
38-HSD
REL
cYP11B2 Mitooôndria
18-oxí"dase

Androstenediona Aldosterona
(produção menor)

Figura 35 Síntese de Deidro píandrosterona Figura 3.6 Sínt ese da aldostero na na zona g lo-
(OHEA) para formação d os andrógenos na zona m erulosa. Ob serve as etapas d o processo, bem
reticulad a. Observe as etapas do p rocesso, como a enzimas envolvidas. Aqui não encontra-
bem como as enzim as envolvidas, em especial mos a enzim a CYP 17, p resente nas o ut ras zonas,
a p resença da enzima CYP 17, i mpo rtante para po r isso temos exclusivam ent e a p rodução de
form ação d e hidroxip regnenolona e DHEA m ineralocorticoides. Retirad a d o Berne e Levy.
(substratos essenciais para síntese d os andró-
genos). Retirada do Berne e Levy. ao
CAPirUL003

Pronto, agora que você já entendeu como ocorre a síntese de cada hor-
mônio, vamos conhecer um pouco mais sobre cada um deles. Os andró-
genos, por estarem muito envolvidos com a funç.ão reprodutora, vão ser
estudados nos capítulos 07 e 08, portanto vamos explorar nesse capítulo
as características e ações da aldosterona e do cortisol.

TRANSPORTE, METABOLISMO EMECANISMO DE AÇÃO DA


ALDOSTERONA
A aldosterona, como todo hormônio esteroide segue no sangue ligado
às proteínas de transporte, à proteína ligadora de corticosteroide e à albu-
mina, que por terem uma baixa afinidade deixam a aldosterona com uma
meia vida curta, cerca de 20 m inutos.
Chegada ao alvo a aldosterona entra na célula e se liga ao receptor mi-
neralocorticoide. Essa ligação promove a dissociação das proteínas cha-
peronas ligadas ao receptor, translocação nuclear, dimerização e ligação
aos elementos de resposta a mineralocorticoide que regulam a expressão
de genes específicos.

EFEITOS FISIOI!..ÓGICOS DA ALDOSTERONA

A aldosterona tem efeitos principalmente na função renal. Ela participa


do Sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA) aumentando a rea b-
sorção de sódio e a secreção de potássio pelas células principais do túbu-
los renais e em menor quantidade nos túbulos distais e duetos coletores.
Além disso provoca a secreção de íons hidrogênio em troca do sódio nas
células intercaladas do túbulos corticais. Sendo assim, se ocorre um exces-
so ou fa lta desse hormônio, ocorrem alterações no gradiente iônico, no
volume intravascular e consequentemente na pressão arterial.
O excesso de a ldosterona aumenta o volume extracelular, eleva a pres-
são arterial, além de provocar hipocalemia, fraqueza muscular e alcalose
metabólica por perda de potássio e hidrogênio respectivamente.

81
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DA ALDOSTERONA

A regulação da secreção da aldosterona é totalmente independente da


regulação dos outros hormônios adrenocorticais. Sua regulação está liga-
da ao controle das concentrações de eletrólitos no líquido extracelular, do
volum e sanguín eo, da pressão arterial e de outras funções renais. Dessa
forma, são estímulos para sua secreção (1), aumento na concentração de
potássio no sangue, (2) aumento na concentração de ang iotensina 2, (3)
diminuição do sódio extracelular e em menor importáncia o ACTH.

TRANSPORTE, METABOLISMO E MECANISMO DE AÇÃO DO CORTISOL

O cortisol tem sua maior parte, cerca de 90%, transportado no sangue


ligado a globulina ligadora de corticosteroide (CBG) ou transcortina e o res-
tante é ligado a albumina, proteínas que aumentam sua meia vida para 70
minutos.
O metabolismo do cortisol é predominantemente realizado pelo fígado,
que o inativa permanentemente conjugando-o com glucuronida e sulfato
para facilitar sua excreção pelos rins. O cortisol pode ser inativado reversivel-
mente para cortisona através da enzima 1113-hidroxiesteroide desidrogena-
se tipo 2 (1 113-HSD2) e essa inativação é revertida pela 1113- hidroxiesteroide
desidrogenase tipo 1 (1113-HSDl) que converte novamente cortisona em
cortisol. Esse efeito de inativação reversível é importante para evitar ação mi-
neralocorticoide do cortisol, principalmente sobre a pressão arterial.
O cortisol atua por meio de ligação ao receptor glicocorticoide (GR). No
estado de repouso, ou seja, na ausência do hormônio, esse receptor forma
um complexo estável com proteínas chaperonas moleculares. Ao ocorrer a
ligação cortisoi-GR as chaperonas se d issociam, o complexo de desloca para
o núcleo, ocorre dimerização e ligação aos elementos de resposta a glicocor-
ticoides que induz o aumento ou diminuição da transcrição dos genes-alvo.

AÇÕES FISIOLÓGICAS DO CORTISOL

O cortisol é um hormônio sistêmico, atuando em diversos sistemas e


funções do nosso organismo. Ele é essencial à manutenção da vida, uma
vez que é liberadlo frente a qualquer situação de alarme/estresse físico ou

811
CAPirUL003

neurogênico para manter ativas as funções mais vitais, por isso é conheci-
do como o "hormônio do estresse':

EFEITOS NO METABOLISMO

Um dos principais efeitos do cortisol é sobre a g lí cose sanguínea. Por


ser um hormônio ligado à eventos de estresse seu maior objetivo é for-
necer energia suficiente para os órgão mais nobres, sobretudo o cérebro,
por isso há uma te-ndência à hiperglicemia. Nesse contexto, ele aumenta
a glicose sérica através do estímulo à gliconeogênese (formação de nova
glicose a partir de aminoácidos e outras substâncias) hepática por meio
de (1) aumento da atividade das enzimas hepáticas responsáveis por esse
processo e (2) mobilização de aminoácidos a partir dos tecidos não hepá-
ticos, sobretudo músculos. Aliado a isso, provoca redução da utilização de
glicose pelas células, por meio da menor expressão de GLUT4, principal-
mente nos músculos esqueléticos e no tecido adiposo.
A exposição prolongada e excessiva desses hormônios, eleva os níveis
de glicose sanguínea ao ponto de provocar indiretamente a elevação da
insulina plasmática que, entretanto, não consegue diminuir a glicemia, já
que se sabe que os glicocorticoides diminuem a sensibilidade dos tecidos
à insulina. Essa condição é conhecida como diabetes adrenal, motivo pelo
qual dona Anita está com d' açúcar aumentado" nas últimas semanas.
O cortisol também tem importante papel no metabolismo das proteí-
nas, inibindo sua síntese (reduz formação de RNA) e estimulando a proteó-
lise, o que aumenta os aminoácidos livres no sangue. Isso reduz os depósi-
tos de proteínas em todas as células do organismo, exceto no fígado, onde
elas são aumentadas para o processo de glíconeogênese. Nesse contexto,
um sintoma apresentado por dona Anita foi fraq ueza muscular intensa,
causada portanto, pelo intenso catabolísmo proteico, sobretudo nos mús-
culos esqueléticos (resultando em redução da massa muscular), induzido
pelo excesso de cortisol.
E o metabolismo dos lipídios também é influenciado por ele, na medi-
da em que mobiliza ácidos graxos do tecido adiposo através do estímulo
à lipólise. Isso aumenta a concentração de ácidos graxos livres (FFAs) e
consequentemente sua utilização como fonte de energia. Esses efeitos
são potencializados pelo sinergismo, durante o estresse, do cortisol com

83
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

o glucagon e as catecolaminas que promovem lipólise, gliconeogênese,


cetogênese e glicogenólise.
Mas nesse momento você pode estar se perguntando: Dona Anita tem
um excesso de cortisol circulante, então em vista desses efeitos por que
ela está com obesidade?
O motivo para isso é que quando o cortisol está elevado cronicamente,
secundário à essa superprodução patológica, ele sinergiza com a insu li-
na e provoca lipogênese e adiposidade abdominal e das vísceras. Não se
sabe exatamente o motivo da preferência por esses locais, mas acredita-se
que seja devido à maior expressão de receptores nesses locais e à maior
sensibilid ade deles em responder aos níveis elevados de insulina. Por ou-
tro lado há a perda de tecido adiposo nas extremidades, visto que os adi-
pócitos periféricos são menos sensíveis à insulina e respondem mais aos
efeitos de outros. hormônios lipolíticos facilitados pelo cortisol. Além d is-
so, os glicocorticoides causam aumento de apetite (resultando em maior
deposição do que mobilização de gordura nesses locais) e retenção de
líquido, ocasionando edema e aumento de peso.

EFEITOS SOBRE O SISTEMA IMUNOLÓGICO

Você com certeza já deve ter ouvido falar que quando temos um pro-
cesso de inflamação crônica o medicamento utilizado é o corticoide! Isso
se deve ao efeito imunossupressor e anti-inflamatório do cortisol. A infla-
mação faz parte da resposta ao estresse, mas quando ela é exacerbada
causa lesôes significativas, por isso o cortisol tem papel fundamental na
manutenção da homeostasia do sistema imune.
Portanto, o cortisol, junto com as catecolaminas, estimulam a produ-
ção de citocinas anti-inflamatórias e suprime a produção das pró-inflama-
tórias; inibe a ação da fosfolipase A2 (enzima envolvida na produção dos
med iadores inflamatórios prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos);
d iminui a liberação de enzimas proteolíticas por estabilizar as membranas
lisossomais. Além disso, reduz a produção e circulação dos linfócitos T; e
inibe a m igração dos leucócitos e a liberação de interleucina-1(envolvida
na febre), bem como a atividade dos neutrófilos, apesar de estimular sua
liberação pela medula.

84
CAPirUL003

EFEITOS CARDIOVASCULARES

A presença do cortisol contribui para acentuar os efeitos das catecola-


minas, por isso aumenta o débito cardíaco e pressão sanguínea. Também
está envolvido no estímulo à síntese de eritropoietina, hormônio produ-
zido pelos rins que estimu la a síntese de glóbulos vermelhos pela medu-
la óssea. Como a maioria dos efeitos do cortisol demanda utilização de
oxigênio, essa ação sobre as hemácias contribui para maior transporte e
disponibilidade de 02. Dessa forma o excesso de cortisol pode causar po-
licitemia e a falta, portanto, anemia.

EFEITOS SOBRE O SISTEMA REPRODUTOR E NA VIDA FETAL

O cortisol diminui a função reprodutora, já que ela demanda muita


energ ia do organismo. Porém é de fundamental importância para o de-
senvolvimento adequado do Sistema Nervoso Central, retina, pele, Trato
Gastrointestinal e pulmões, onde induz a maturação das células pneumó-
citos tipo 2 que são produtoras do surfactante (substância necessária para
d iminuição da tensão superficial dos pulmões permitindo a respiração ao
nascimento).

EFEITOS SOBRE OS OSSOS E TECIDO CONJUNTIVO

Os glicocorticoides atuam na concentração de cálcio sérico. Eles dimi-


nuem a reabsorção intestinal e renal de cálcio causando redução do cálcio
no sangue. Por conta disso, a secreção do paratormõnio (estudado no capí-
tulo 6) é estimulada, o que ocasiona aumento da retirada do cálcio dos ossos
para o sangue por estimulação da reabsorção óssea. Somado a isso, o cortisol
inibe diretamente a ação regenerativa dos osteoblastos, por isso a exposição
crônica aos glicorticoides proporciona o desenvolvimento da osteoporose.
Você deve se lembrar que Dona An ita possuía algumas equimoses pelo
corpo. Isso ocorre tpor que o cortisol atua no tecido conjuntivo reprimin do
a proliferação dos iibroblastos e a síntese de colágeno, por isso no excesso
a pele fica mais fina e como o tecido de sustentação dos capilares é redu-
zido os danos a eles aumentam, surgindo as equimoses.

815
A GlÂNDULA SUPRARRENAl

EFEITO SOBRE OS RINS

O cortisol pode se ligar ao receptor mineralocorticoide e ter uma ação


semelhante a da aldosterona, todavia nos rin s há a expressão da enzima
11~-HSD2 que inativa o cortisol convertendo-o em cortisona e imped in-
do sua ação. Se a concentração de cortisol aumenta, essa enzima pode
ficar saturada e surge o que se chama de "hiperaldosteronismo aparente"
(os efeitos da aldosterona estão aumentados, sem a elevação real desse
hormônio), levando a hipertensão e hipocalemia que causa fraqueza mus-
cu lar por hiperpolarizar a membrana celular tornando mais difícil sua esti-
mulação. Além disso o cortisol atua favorecendo a diurese,já que suprime
a secreção e ação do hormônio antidiurético (ADH)

REGULAÇÃO DA PRODUÇÃO E SECREÇÃO DO CORTISOL

O processo de síntese do cortisol é regulado pelo eixo Hipotálamo-


·Hipófise-Adrenal (HHA). O hipotálamo, sob estímulo de estresses neu-
rogênico (medo), ou sistêmicos (hemorrag ia, hipoglicemia, trauma, calor
ou frio intensos, cirurgias e infecções), secreta o Hormônio Liberador de
Corticotropina ('CRH). Esse chega na adenohipófise e induz a secreção do
Hormônio Adrecorticotrófico (ACTH), que por sua vez vai agir na zona
fasciculada da adrenal, através do receptor melanocortina 2 (MCR2) e esti-
mular a produção e secreção do cortisol e também de andrógenos.
Entretanto, a liberação do CRH também é influenciada pelo núcleo supra-
·quiasmático que regula sua secreção de acordo com o ritmo diário, tornan-
do essa secreção pulsátil. Ele aumenta durante a madrugada e as primeiras
horas da manhã e diminui progressivamente durante o dia até o anoitecer.
Ao ser liberado, o cortisol vai promover seus efeitos fisiológicos e vai
atuar por meio de feedback negativo no hipotálamo e na hipófise para di-
m inuir a secreção de CRH e ACTH, reduzindo portanto sua própria libera-
ção. Contudo, os andrógenos não realizam esse feedback. O uso prolon-
gado de corticoides também pode provocar uma Síndrome de Cushing
com os mesmos sintomas apresentados por Dona Anita. Além disso, a
presença do corticoide pode interferir no eixo hipotálamo-hipófise-adre-
nal, de modo que esse corticoide sintético atua pelo feedback negativo e

86
CAPirUL003

induz a redução n,a síntese e liberação de cortisol, que pode causar uma
insuficiência adrenal no indivíduo.

SÍNDROME DE CUSHING

Nome que se dá ao excesso de cortisol. Pode ser endógena ou exóge-


na. A exógena é causada por uso crônico de corticoides e corresponde a
principal causa desta síndrome. A seg un da causa mais comum é a endó·
gena causada por tumores secretores de ACTH, como o adenoma -hipofi·
sário funcionante (doença de Cushing). Uma terceira causa também endó·
gena é o hipercortisolismo primário, causado por um tumor adrenal qu e
secreta de forma autônoma o cortisol. Na doença de Cushing há aumento
da secreção d e ACTH, e um dos sinais qu e pode aparecer (em até 10% dos
pacientes) é a hiperpigmentação da pele devido a uma reação cruzada do
ACTH com o receptor de m elanina, o MCR1.
Os sintomas clássicos da síndrome de Cushing são obesidade centrí·
peta (em face e ab dome), membros finos com atrofia da musculatura cau-
sando fraqueza, aparecim ento de estrias largas e violáceas, além de facili·
dade de contusões e equimoses e pode levar ao surgimento do diabetes
e da hipertensão arterial.

87
Recacao com:
ler o do d.al'ragme,
VÇI e f[Oado

Estalll la
...,..,.,...
membr11111
REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 20 17.
2. Berne RM, Levy MN. Fisio logia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. BARRET, Kim E. et ai. Fisiologia méd ica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH,
2014.
4. MOORE, K.L. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
201 1
5. STANDRING, S. - Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 2010.
6. JUNQUEIRA, L.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11" Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
7. Bresolin, P.T. Revisão de literat ura sobre sínd ro me de Cu shing. Revista Uni-
p lac; issn 2447 -2 107. 2012

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CONFERÊNCIAS •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida •
sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •
























O Hormônio do Crescimento

CASO CLÍNICO

Sr. Fidelcino, 60 anos, vai a uma consulta na Unidade Básica de Saúde


com a queixa de que seus pés estão crescendo demais. Relata que sua fi-
lha, que mora em outra cidade, sempre o presenteia com sapatos quando
vai visita-lo, porém há 2 anos ela sempre erra o número do calçado, pois
seus pés estão crescendo muito, antes usava 39 e agora usa 41. Além dis-
so, ele ainda relata que suas mãos, língua e face como um todo também
aumentaram de tamanho.
No interrogatório sistematológico, Sr. Fidelcino referiu poliúria, poli-
dipsia e polifagia, sintomas clássicos de diabetes, além de apresentar pro-
trusão da mandíbula e dos ossos da fronte na inspeção.
Diante desses achados o médico da unidade, explicou a Sr. Fidelcino
que ele possivelmente apresenta uma condição chamada de acromega-
lia, uma elevação na liberação do hormônio do crescimento que provoca
aumento no tamanho das extremidades. Sr. Fidelcino ficou um pouco des-
confiado e curioso com o que o que médico explicou, pois não entendia o
que estava fazendo esse hormônio aumentar e por que ele causava esse
crescimento.
O médico então esclareceu as dúvidas de Sr. Fidelcino e solicitou al-
guns exames, entre eles a ressonância magnética de hipófise ou sela túrci-
ca para analisar a hipófise, e glicemia de jejum para o possível diagnóstico
de diabetes. Ao fim da consulta pediu para Sr Fidelcino retornar quando
os exames estivessem prontos.

93
O HORMÔNIO 00 CRESCIMENTO

1. 1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS

"Acromegalia": Síndrome causada pela hipersecreção do hormônio


do crescimento em adultos, que, dentre outras coisas, causa crescimento
das extremidades.
"Polidipsia": Sede excessiva
"Poliúria": Aumento do volume urinário
"Polifagia": Fome excessiva

1.2 PALAVRAS- CHAVES

"Acromegalia: " hormônio do crescimento'; "hipófise'; "crescimento das


extrem idad es'; "diabet es':

1.3 OBJETIVOS

Compreender a funções do hormônio do crescimento.


Evidenciar os mecanismos de regulação do hormônio do crescimento.

94
CAPirUL004

O HORMÔNIO DO CRESCIMENTO

Você já parou para pensar que no nosso organismo todos os processos são
controlados e regulados? Por exemplo, o que determina sua estatura? Já imagi-
nou que por trás dos processos relacionados ao crescimento há também a re-
gulação feita por um hormônio? Pois bem, nesse capítulo vamos estudar o hor-
mônio do crescimento ou GH ou somatrotofina ou hormônio somatrotrófico.
O GH é um hormônio proteico formado por 191 aminoácidos que resulta
em uma estrutura similar à prolactina e ao hormônio lactogênico placentário
humano e por isso, inclusive, pode ocorrer um cruzamento com as atividades
desses hormônios, quando em excesso. Ele é produzido pelos somatrotofos da
adenohipófise e não age diretamente em uma glândula periférica, como ocorre
com os outros hormônios tráficos. O GH atua diretamente sobre quase todos
os tecidos do corpo, principalmente sobre o fígado, seu alvo mais importante.

O RECEPTOR DE GH

O receptor do GH é um receptor de membrana. Por ser um homnônio proteico,


sua maior parte étransportada no sangue ligada à proteína de ligação do GH (GHBP)
que diminui a depuração renal e aumenta sua meia vida que é de 20 minutos.
Esse receptor é do tipo transmembrana e tem um domínio extracelular
que corresponde ao local de ligação do GH e um domínio intracelular que
está ligado à via de sinalização JAKJSTAT, um conjunto de proteínas com ati-
vidade tirosinocina-
se (proteína Janus).
A ligação com o GH
induz uma mudan-
Membrana
pJasm~tica ça conformacional
na porção intrace-
lular e ativa a prote-
ína Janus (JAK), que
uma vez ativada
, Oimé10 STAT fosforila os fatores
Figura4.1: Receptor do GH
·-
ligado à via de sinalização Núeleo
JAK/STAT. Observe as eta-
~
de transcrição, que
são os transdutores
de sinal e ativado-
pas de ativação do receptor
res da transcrição
descritas no texto.
(STAT). Essa fosfori-
lação forma resídu-
915
O HORMÔNIO 00 CRESCIMENTO

os de tirosina que se dimerizam e entram no núcleo para controlar a trans-


crição (figura 4.1 ).

OS EFEITOS FISIOLÓGICOS DO GH

EFEITOS NO CRESCIMENTO

Como o próprio nome sugere, um dos principais efeitos do GH é sobre o


crescimento através de ações diretas e indiretas. Diretamente o GH age pro-
movendo o crescimento de todos os tecidos do corpo, principalmente sobre o
esqueleto a medida em que aumenta a produção e a deposição de proteínas
pelas células osteogênicas e condrocíticas.
O crescimento ósseo ocorre por dois processos: em comprimento enquanto as
epífises ósseas dos ossos longos estão abertas [Infância) e em espessura durante toda
a vida. O crescimento linear depende da produção de nova cartilagem e posterior
conversão em osso por meio da proliferação dos condrócitos e atividade dos oste-
oclastos e osteoblastos que são os formadores do tecido ósseo. No final da adoles-
cência as epífises estão praticamente fechadas e o crescimento ósseo é interrompido.
O crescimento em espessura ocorre essencialmente no periósteo ósseo. Os
osteoclastos presentes atuam removendo o tecido antigo e os osteoblastos,
fortemente estimulados pelo GH, agem depositando uma nova matriz, quando
essa deposição se sobrepõe à degradação o osso aumenta de tamanho. Esse
processo ocorre principalmente nos ossos membranosos e curtos.
Sr. Fidelcino apresenta protrusão da mandíbula, dos ossos da fronte, cresci-
mento dos ossos das mãos e dos pés decorrente do estímulo excessivo do GH
sobre essas estruturas já na idade adulta. Supondo que esse aumento fosse na
infância, momento em que as epífises ainda estão abertas, ocorreria um cresci-
mento exagerado dos ossos longos, e estaríamos diante de outra condição, o
gigantismo. Caso o problema fosse a falta do GH na infância, seria o oposto, a
estatura ficaria menor que o normal, situação conhecida como nanismo.
Contudo, o GH não age sozinho nesse estímulo ao crescimento e aqui en-
tram os efeitos indiretos desse hormônio sobre o crescimento. Um dos alvos
mais importantes do GH é o fígado. Na presença de insulina ele age estimu-
lando o tecido hepático a produzir substâncias chamadas de somatomedinas
que potencializam os efeitos do GH e regulam a proliferação, diferenciação e
metabolismo celular.

98
CAPirUL004

As somatomedinas são moléculas que tem estrutura e efeitos semelhantes aos


da insulina sobre o crescimento, por isso são chamadas de fatores de aescimen·
to semelhantes a insulina (IGF). Existem 4 somatomedinas, mas a principal para
nosso estudo é a somatomedinaCtambém chamada de IGF-1 que é produzida em
outros tecidos, porém em maior quantidade pelo ftgado. Por exemplo, o hormônio
da paratireoide e o estradiol estimulam a produção de IGF-1pelos osteoblastos.
IGF-11 é encontrado na vida fetal, com liberação estimulada pela prolactina e
contribui para o crescimento nesse período e na vida adulta é encontrado nas
meninges e no plexo coroide.
Uma das vantagens do IGF-1sobre o hormônio do crescimento é o seu tem-
po de ação prolongado. Enquanto o GH tem uma baixa afinidade com as prote·
ínas de ligação e por isso são liberados rapidamente no sangue, o IGF-1tem uma
ligação mais forte com as proteínas de transporte o que possibilita sua liberação
mais lenta para os tecidos, prolongando seu tempo de ação.
Os IGFs circulantes são transportados no plasma pelas proteínas de ligação
dos fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGFBPs) que se associam à
subunidade ácido-lábil, uma enzima que confere estabilidade a esse complexo.

EFEITOS NO METABOLISMO DOS LIPfDEOS

O hormônio do crescimento atua aumentando a utilização das gorduras


como fonte de energia. Ele promove a lipólise do tecido adiposo e estimula
a conversão dos ácidos graxos livres em acetilcoenzima A para produção
de energia, porém em quantidades excessivas pode levar a um quadro de
cetose devido à alta formação de ácido acético. Esse efeito sobre os lipídios
é um pouco mais lento se comparado aos efeitos no metabolismo proteico.

EFEITOS NO METABOLISMO DAS PROTEfNAS

O GH estimula uma série de eventos que culmina na deposição de pro-


teínas nos tecidos. Dentre esses eventos está o aumento do transporte da
maioria dos aminoácidos para dentro das células, aumento do processo
de tradução do RINA permitindo maior síntese de proteínas pelos ribos-
somos, aumento na transcrição do DNA e ao mesmo tempo redução do
catabolismo proteico. Devido a essas ações o GH é conhecido como um
hormônio anabolizante, "poupador de proteínas':

97
O HORMÔNIO 00 CRESCIMENTO

EFEITOS NO METABOLISMO DOS CARBOIDRATOS

O GH é considerado um hormônio hiperglicemiante. . Ele diminui a


captação de glicose pelo músculo esquelético e tecido adiposo e aumen-
ta produção de g licose pelo fígado (gliconeogênese a partir de lactato e
glicerol, produtos do metabolismo lipídico) elevando a glicose sanguínea,
e consequentemente hipersecreção compensatória de in sulina.
Entretanto o hormônio do crescimento elevado provoca resistência às
ações da insulina, provavelmente pelas altas concentrações de ácidos gra-
xos livres. Por esses motivos o GH é considerado um hormônio diabetogê-
nico e seu excesso pode produzir um quadro semelhante ao da diabetes
tipo 2, como o apresentado por Sr. Fidelcino.

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DO GH

O hormônio do crescimento, assim como a maioria dos hormônios trófi-


cos tem um padrão de secreção pulsátil, aumentando durante as primeiras
horas de sono profundo. Além desse padrão, sua secreção também é influen-
ciada pelo estado nutricional e por situações de estresse, aumentando na de-
ficiência de proteínas, no aumento sérico de aminoácidos, na hipoglicemia,
na baixa concentração de ácidos graxos livres, no exercício, no trauma e na
presença de grelina, secretada principalmente pelo estômago (ela aumenta e
apetite e age como um sinal para aquisição de nutrientes para o crescimento).
A hipoglicemia é o estímulo mais importante em situações agudas, porém
a depleção grave de proteínas, em situações crônicas, é mais significativa in-
dicando a correlação do GH com o metabolismo das proteínas a longo prazo.
Os estímulos citados acima agem indiretamente sobre a secreção do GH.
Eles estimulam os neurônios hipotalâmicos do núcleo ventromedial a liberarem
o honnônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH), que por sua
vez chegam à adenohipófise, agem através de receptor acoplado a proteína G,
aumentam a concentração de AMPc intracelular induzindo a liberação do GH.
Como um mecanismo contrarregulador, o hipotálamo também inibe a síntese
e secreção do GH quando libera a somatostatina, hormônio inibidor de GH.
A retroalimentação negativa é realizada pelo IGF-1 por uma alça longa que ini-
be secreção de GH RH pelo hipotálamo e por uma alça curta que inibe a liberação
de GH pela hipófise. Além disso, o próprio GH realiza um feedback negativo inibin-
do a liberação do GHRH e aumentando a liberação de somatostatina (figura 4.2).

98
CAPirUL004

GH

Figura 4.2: Regulação do GH. Observe os hormônios que estimulam a secreção do GH


(GHRH e Grelina) e os que inibem (somatostatina e IGF-1). Essa imagem também nos
mostra os tecidos de ação direta do GH: fígado, ossos e cartilagens, músculos e tecido
adiposo. Retirada de hllp://metodologiadistribuicaohormonios.blogspot.com/

ACROMEGALIA

É uma doença insidiosa que afeta adultos de ambos os sexos, na faixa de


30-50 anos de idade, quando o hormônio do crescimento (GH) é produzido
em excesso. Quando o GH é liberado no sangue, estimula o fígado a produzir
o IGF-1 que faz crescer músculos, ossos e cartilagens em todo corpo. Contu-
do, quando isso ocorre na fase adulta, as cartilagens de crescimento já estão
fechadas e acabam por deformar os ossos ao invés de alongá-los. Além do au-
mento das extremidades e alterações crânio-faciais (aumento da mandíbula,
nariz e lábios, protusão da fronte, macroglossia), pode ocorrer artropatia por
aumento do tecido sinovial e das cartilagens, síndrome do túnel do carpo,
hipertensão arterial, alterações cardíacas morfológicas, diabetes mellitus, etc.
A maior parte dos casos, cerca de 98%, é causada pela presença de um tumor
hipofísário benigno (adenoma hipofisário).

99
possui

Esdn•lo Transporte por


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REFERÊNCIAS

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2. Berne RM, Levy MN. Fisio logia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
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4. MOORE, K.l. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
S. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, El sevier, 2010
6. JUNQUEIRA, l.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica . 11• Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
7. Melmed S. Medicai progress: Acromegaly. N Engl J Med. 2006;355(24):2558-
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8. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas. Acromegalia.
2013. Disponível em http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/
abril/02/pcdt-acromegalia-livro-2013.pdf

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CONFERÊNCIAS •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida •
sobre os assuntos abordados nesse capítulo!


















O Pâncreas Endócrino

CASO CLÍNICO

Érika anda um pouco preocupada com seu tio Antônio, de 58 anos, que
nos últimos meses vem apresentando alguns sintomas. Ele sempre esteve
acima do peso, mas agora passou a comer mais do que o habitual, passou
a ir muitas vezes ao banheiro para urinar e a sentir mais sede que todos na
casa. Além disso, Érika percebeu que seu tio havia machucado o pé e que
esse ferimento está demorando mais que o normal para cicatrizar.
Por ter ficado preocupada, marcou uma consulta com o médico na
UBS. No dia da consulta, Érika informou ao Dr. Barbosa sobre os sintomas
de seu tio. No exame físico, o médico percebeu a presença de manchas
escuras no pescoço (região de dobra) de seu Antônio. Após o exame, Dr.
Barbosa informou aos dois que provavelmente seu Antônio estava com
Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) e com sinais de resistência à insulina, devido
a presença da aca ntose (mancha escura). Entretanto, para dar esse diag-
nóstico era necessário fazer uma glicemia de jejum.
Érika, muito curiosa, perguntou ao médico qual o motivo de seu tio estar
com essa doença e como ela ocorre, já que ninguém da sua família tem esse
diagnóstico. Dr. Barbosa explicou que o DM2 é uma doença causada pela
deficiência da ação da insulina produzida pelo pâncreas, como está ocor-
rendo com seu Antônio, ou pela insuficiência da sua produção. E ela pode
ser decorrente de herança genética e/ou pelos hábitos de vida das pessoas.
Érika, ainda não satisfeita fez várias indagações. Mas o que a insulina
faz no nosso corpo? Como ela age? E como o pâncreas a produz? Por que
meu tio tem essa resistência à insulina?

105
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONHECIDOS

"Acantose": Espessamento e escurecimento da pele das dobras do


corpo por espessamento da camada espinhosa da derme. t um sinal de
resistência à insulina.

1 . 2 PALAVRAS-CHAVE

"lnsu lina'; "pâncreas'; "glicemia'; "diabetes mellitus".

1. 3 OBJETIVOS

Descrever a anatomia do pâncreas


Compreender a estrutura histológica do pâncreas
Compreender a função fisiológica do pâncreas endócrino, eviden-
ciando as funções e mecanismos de ação dos hormõnios produzidos por ele.
Entender o mecanismo de resistência à insulina e desenvolvimento
do diabetes mellitus.

108
CAPiTULO OS

ANATOMIA DO PÂNCREAS

CARACTERÍSTICAS GERAIS

O pâncreas faz parte do grupo das chamadas glândulas mistas, isto por
que contém uma parte endócrina e uma parte exócrina. A parte exócrina é
importante para a função digestiva e a endócrina para função metabólica,
a qual vamos estudar nesse capítulo.
É um órgão retroperitoneallocalizado na região posterior do abdome,
ao nível das vértebras L 1 e l2, anterior à coluna vertebral, atrás do estô-
mago e entre o duodeno e o baço, mantendo intima relação com esses
órgãos. O pâncreas é uma víscera d e cor rosa-salm ão, de superfície lo bula-
da e firme. É alongado e achatado e mede aproximadamente 12-1 Sem d e
comprimento com peso de cerca d e 80g no adulto (figura 5.1).

v.u ................. ,........,


(ioll. .-''-'~

figura 5.1: Nessa imagem podemos observar as divisões do pancreas, bem como suas
relações anatõmicas com as estruturas vizinhas. Observe a íntima relação da cauda do
pâncreas com o baço e da cabeça pancreática com o duodeno.

107
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

É dividido anatom icamente em 4 partes: a cabeça, o colo, o corpo e a


cauda.

CABEÇA DO PÂNCREAS

Corresponde à região mais larga e espessa do pâncreas, localizada na


parte interna da curvatura formada pelo duodeno, constituindo como um
encaixe. Superiormente está em contato com a primeira porção do duo-
deno, ficando posterior a ele, já que possui um mesentério curto próximo
ao piloro. A margem duodenal fica fixa à segunda parte do duodeno e a
reg ião inferior é superior à terceira parte do duodeno e é contínua com
o processo uncinado, um lobo acessório que tem origem embriológica
diferente do restante do órgão. A face anterior da cabeça se relaciona com
a origem do mesocólon transverso e é coberta por peritônio; a face pos-
terior se relaciona com a veia cava inferior, veia renal direita, pilar direito
do diafragma e origem da veia ovárica ou testicular d ireita, além do dueto
colédoco que se une ao dueto pancreático para entrar no duodeno. A ca-
beça pancreática é contínua ao colo na região próxima à linha média. O li-
mite entre essas regiões é formado, geralmente, pelo sulco da artéria gas-
troduodenal (anteriormente) e pelo sulco da união da veia esplênica com
a veia mesentérica superior, para formar a veia porta (posteriorment e).

COLO

Éa região mais estreita, com 2cm de largura e une a cabeça ao corpo. Essa
região é importarnte pela sua relação íntima com alguns vasos, fato relevante
durante cirurgias de câncer pancreático, por exemplo, já que a invasão deles
pode tornar o tumor irressecável. Esses vasos são a veia mesentérica superior
na parte mais inferior e a veia porta ao longo do colo. Além disso tem também
relação com as artérias gastroduodenal e pancreático duodenal superior an-
terior que descem na região anterior no limite entre o colo e a cabeça.

CORPO

É a parte mais longa e à medida que vai se aproximando da cauda vai


ficando mais estreito. O corpo possui 3 faces e 3 margens.

108
CAPiTULO OS

1. Face anterossuperior: Está em contato, da região mediai para late-


ral, com o piloro, antro pilórico e corpo gástrico. Essa região é coberta
por peritónio e é separada do estômago pela bolsa omental.
2. Face anteroi nferior: Ela começa estreita à esquerda do colo e vai se
alargando à medida que se aproxima da cauda, é coberta por peri-
tônio e se continua com a lâmina posterior do mesocolo transverso.
Está relacionado com as alças do jejuno, flexura duodenojejunal e
quarta parte do duodeno.
3. Face posterior: Essa região não é coberta por peritôn io e tem re-
lação anterior à aorta, ao pilar esquerdo do diafragma, à g lândula
suprarrenal esquerda, à origem da artéria mensentérica superior, ao
rim e veia renal esquerda. Além disso tem ín timo contato com veia
esplênica, a qual forma um sulco nessa face.
4. Margem Superior: Relaciona-se com o tronco celíaco e está em con-
tato com a artéria hepática e com a artéria esplên ica num trajeto tor-
tuoso ao longo da margem.
S. Margem Anterior: Separa a face anterossuperior da face anteroinferior.
6. Margem inferior: Separa a face posterior da face anteroinferior.

CAUDA

A cauda é contínua com o corpo e forma a parte mais lateral e estreita


do pâncreas, medindo de 1,5 a 3,Scm de comprimento nos adultos. Ela se
localiza entre as lâminas do ligamento esplenorrenal, podendo terminar
na base dele ou mais para cima, próximo ao h i lo esplênico. Fica anterior
ao rim esquerdo, à artéria esplênica e seus ramos e à veia esplênica e suas
t ributárias.

A parte exócrina do pâncreas drena seu conteúdo para vários duetos


lobulares pequenos, que por sua vez drenam para o dueto pancreático
principal (ou dueto de Wirsung). Esse dueto parte da cauda em direção à
cabeça do pâncreas onde se une com o dueto colédoco, formando o due-
to hepatopancreático, e desemboca no duodeno através da papila maior
do duodeno. Há a inda um outro dueto secundário também chamado de
dueto acessório (ou dueto de Santorini) que possui o diâmetro menor que
o dueto pancreático principal e normalmente drena a cabeça do pâncreas
e se abre na papila menor do duodeno.

109
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO

ARTÉRIAS

O pâncreas tem uma irrigação rica proveniente do tronco celfaco (artérias


gástrica esquerda, hepática e esplênica) e da artéria mesentérica superior.
A cabeça do pâncreas e o duodeno são irrigados basicamente pelas ar-
térias pancreaticoduodenais superior e inferior e seus ramos que se anas-
tomosam entre si formando uma alça.
A artéria pancreaticoduodenal superior tem dois ramos. A artéria
pancreaticoduodenal superior anterior que é ramo da artéria gastro-
duodenal, supre anteriormente a cabeça do pâncreas e se anastomosa
com a parte anterior da artéria pancreaticoduodenal inferior. A artéria
pancreaticoduodenal superior posterior também é ramo da art éria
gastroduodenal, se origina na margem superior da primeira part e do
duodeno, desce anteriormente à veia porta e ao dueto colédoco, se anas-
tomosa com o ramo posterior da artéria pancreaticoduodenal inferior e
supre post eriormente a cabeça do pâncreas e primeira e segunda porção
do duodeno.
A artéria pancreaticoduodenal inferior se origina da artéria mesen-
térica superior e também possui dois ramos. O ramo anterior vai para di-
reita e superiormente para se anastomosar com a artéria pancreaticoduo-
denal superior anterior; o ramo posterior segue posterior e superiorm ente
e se anastomosa coma artéria pancreaticoduodenal superior posterior. Es-
ses ramos são responsáveis pela irrigação da cabeça o pâncreas, processo
unei nado e segunda e terceira partes do duodeno.
O colo, corpo e cauda são irrigados pelos ramos pancreáticos que tem a
maior parte originada da artéria esplênica a medida que ela segue na mar-
gem superior da glândula. Possui a artéria pancreática dorsal que desce
posteriormente se dividindo em ramos direito e esquerdo. O direito passa
por uma parte do corpo e colo vai se anastomosar com a artéria pancreati-
coduodenal superior posterior, ramo esquerdo desce e segue em direção
a cauda e se anastomosa com as artérias pancreát ica magna e da cauda
do pâncreas. Além desses há ainda outros ramos menores que pa rtem das
principa is artérias (observe a irrigação pancreát ica na figura 5.2).

110
CAPiTULO OS

r--------------------- h*O~

'----· ................ _........,

- Figura S.2: Irrigação do pâncreas. Retirada do Gray's Anatomia.

VEIAS

A drenagem venosa é realizad a basicamente para o sistema porta he-


pático e é feita principalmente pelas veias pancreaticoduodenais supe-
rior e inferior, d renando cabeça e colo, e pelas t ributárias da veia esplêni-
ca d renando corpo e cauda (fig ura 5.3).

Figura S.l: Drenagem venosa do pâncreas. Retirada do Gray's Anatomia.

111
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

DRENAGEM LINFÁTICA

A rede linfática do pâncreas é ampla e os vasos linfáticos maiores acom-


pan ham o suprimento arterial e drenam para os linfonodos próximos ao
órgão. A drenagem do colo e da cabeça é feita para os linfonodos locali-
zados nas artérias pancreaticoduodenal, mesentérica superior e hepática,
além dos linfonodos pré-aórticos e do tronco celíaco. A linfa do corpo e da
cauda segue para as linfonodos pancreáticos e esplên icos, contudo pode
ser drenada diretamente para os linfonodos pré-aórticos. Os capilares lin-
fáticos ficam apenas ao redor dos ácinos pancreáticos, não tendo eviden-
cia da presença c!leles nas ilhotas de Lang herans.

INERVAÇÃO

A inervação pancreática é d erivada do nervo vago (um nervo parassim-


pático) e dos nervos esplâncnicos abdominopelvícos que são nervos simpá-
ticos. As fibras desses nervos atravessam o diafragma e chegam ao pâncreas
seguindo o trajeto das artérias dos plexos celíaco e o mesentérico superior.

HISTOLOGIA

O pâncreas é uma glândula mista, portanto sua composição paren-


quimatosa comporta as células exócrinas, que estão dispostas em ácinos
pancreáticos e as endócrinas d ispostas em ilhas incrustadas nos ácinos,
chamadas ilhotas pancreáticas ou de Langherans.
Os ácinos pancreáticos formam a maior parte da glândula e são res-
ponsáveis por produzir o suco pancreático com as enzimas necessárias
para d igestão. As ilhotas de Langherans constituem a parte endócrina
do pâncreas e é formada por grupos de células po ligona is, organizadas
em cordões rodeados por capilares sanguíneos fenestrados.
No pâncreas humano pode conter mais de 1 milhão de ilhotas, elas
são mais abundantes na cauda do pâncreas, tem uma coloração menos
intensa e são separadas do tecido exócrino por uma fina camada de tecido
conjuntivo (figura 5.4). Essas ilhot as possuem 5 tipos d iferentes de células
que por sua vez produzem hormõnios distintos, são elas a célula alfa, beta,
delta, PP ou F (produz polipeptídeo pancreát ico) e épsilon.

118
CAPiTULO OS

Dueto panueâtico

CêUa beca: produz


insUina

exôcma

Figura 5.4: Ilustração da histologia do p~ncreas. Veja a distribuição periférica dos ácinos
pancreáticos e a distribuição centralizada das ilhotas de Langherans. Observando a
ilhota, perceba a distribuição das células p rodutoras dos hormônios. Retirada de http://
bookmyad.co/pancreas-cell-diagram.html

As principais células são as alfa, que se localizam mais na periferia da


ilhot a e produzem glucagon, as beta mais presentes no centro e produ-
zem insulina e as delta que também se localizam mais na periferia e pro-
duzem somatostatina e gastrina.

FISIOLOGIA

Os hormônios produzidos pelo pâncreas, sobretudo a insulina e o glu-


cagon, são muito importantes na regulação do metabolismo da glicose,
lipídios e proteín as. Quando falamos nesses hormônios associamos logo
ao "açúcar no sangue'; mas veremos nesse capítulo que as funções deles
vão muito além disso. Vamos lá?

INSULINA

A insulina é uma pequena proteína formada por duas cadeias de ami-


noácidos unidas por ligações dissulfeto. Ela é produzida pelas células beta

113
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

da mesma maneira que todo hormônio proteico é produzido, como vimos


no capítulo 1.
É formada a pré-pró-in sulina a partir da tradução do RNAm, logo de·
pois ela é clivada no retículo endoplasmático formando a pró-insulina e
finalm ente chega ao aparelho de Golgi onde é novamente clivada origi·
nando a insulina. e um peptídeo de cadeia C chamado de peptídeo co·
nector (peptídeo C). Esse peptíd eo C não tem atividade insulfnica, mas
é importante para determinar quanto de insulina natural a pessoa ainda
produz no caso de diabéticos.
A in sulina é produzida e armazenada em vesículas de secreção e quan·
do as células recebem o estímulo para liberá-la ela, é secretada na cor·
rente sanguínea. Circula quase que completamente livre no plasma, por
isso sua meia é curta com cerca de 6 minutos e é rapidamente eliminada,
dentro de 10 a 15 m inutos. Ela é degradada pela ação da insulinase, em
sua maior parte no fígado e em menor quantidade nos rins e músculos.

MECANISMO DE SECREÇÃO DE INSULINA

Para a insulina ser liberada é necessário o aumento da concentração


de glicose sanguínea, visto que ela é a regulação primária da secreção de
insulina. Quando a glicose sérica aumenta, os transportadores de glicose
(GLUT·2) presentes nas células beta, permitem a passagem de glicose para
dentro da célula. No meio intracelular essa glicose sofre ação da glicocina·
se e é fosforilada em glicose-6-fosfato, essa é oxidada e forma trifosfato de
adenosina (ATP) ·q ue age inibindo os canais de potássio sensíveis ao ATP
da célula. Ao serem fechados, ocorre despolarização da membrana celular
e por consequência promove abertura dos canais de cálcio dependentes
de voltagem. Isso permite o influxo de cálcio para dentro da célula que
estimula a fusão das vesículas de insulina com a membrana plasmática,
causando a liberação da insulina por meio de exocitose (observe esse pro·
cesso na figura 5.5).

114
CAPiTULO OS

t Glcose

GlUT2

1'
GlicQse

!
Glleos&-6-foslato

~ OXI<IIÇAo

t ATP t
t~:~·- --~ DeS!)Oiarização

rn
ATP + canal de K •
(feçhado)
Canal de Ca·•
(aberto)

Figura 5.5: Mecanismo de estímulo para secreção de insulina pelas células beta do pâncre-
as. Veja que a glicose entra pelo transportador GlUT 2 e estimula a secreção da insulina.
Rêtirada do Guyton ê Hall.

RECEPTOR DE !I NSULINA

Ao ser liberada ela começa a exercer seus efeitos quando chega na cé-
lula alvo e se liga ao receptor de membrana específico. Esse receptor é
uma proteína formada por 4 subunidades: 2 alfa localizadas fora da célula
e 2 beta que atravessam a membrana plasmática e se localizam na parte
interna da célula. Essas subunidades são unidas por pontes dissulfeto e
quando a insulina se liga à subunidade alfa provoca autofosforilação nas
subunidades beta,. Isso causa ativação de uma tirosinocinase local que
causa fosforilação de outras enzimas intracelulares, incluindo os substra-
tos do receptor de insulina (IRS) (veja esse processo na Figura 5.6).
A ativação desse receptor, portanto vai induzir a células alvo a exerce-
rem os efeitos fisiológicos da insulina.

11&
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

InsUlina

1 Receptor
s-s a ele Insulina
s-s s-s
_L -L
Gticose

~1 - p
,,
I

•I•
I
•I

.. t
...,, __0 Cresàmenlo
e elCpf&asio
gênlca
Transporte
da gllcose
Slntese Slntase
oe proteína de glioose

figura 5.6: Representação do receptor da Insulina. A Insulina se liga à subunidade alfa,


causando autofosforilação da subunldade beta, que Induz a atividade da tirosinoclnase.
A atividade dessa enzima inicia a cascata de sinalização celular que aumenta ou diminui
a atividade das enzimas, incluindo os substratos dos receptores de insulina que medeiam
os efeitos da insulina sobre a glicose, lipfdeos e proteínas. Retirada do Guyton e Hall.

EFEITOS FISIOLÓGICOS DA INSULINA

A insulina, como você já deve ter ouvido falar, é um hormônio hipogli-


cemiante, ou seja, reduz a concentração sérica de glicose. Quando inge-
rimos uma refeição, a quantidade de glicose no sangue aumenta e nossas
células beta pancreáticas são estimuladas a liberar grande quantidade de
insulina. A primeira ação dela é agir sobre as células alfa e inibir a liberação
do glucagon, já que que o fluxo sanguíneo que passa pelas ilhotas é do

116
CAPiTULO OS

centro para a periferia, ou seja, das células beta para as células alfa. Esse
hormônio é considerado anabolizante por promover a síntese de alguns
produtos e ele tem efeitos importantes sobre os carboidratos, lipídios e
proteínas.

EFEITO NOS CARBOIDRATOS

O efeito mais conhecido da in sulina é sobre os carboidratos, sobretudo


a g licose. Assim que o receptor ativa a maquinaria intracelular, cerca de
80% das nossas células aumentam a capacidade de captação de g licose,
principalmente as células adiposas e musculares.
Normalmente nossos tecidos utilizam a glicose como fonte de energia,
por ser um meio mais rápido. Os músculos usam tanto a glicose como os
ácidos graxos, porém a fibra muscular em repouso tem uma permeabili-
dade à glicose reduzida e essa propriedade aumenta em duas situações:
(1) quando a secreção de insulina aumenta e promove maior expressão
de GLUT-4, inclusive com o músculo em repouso, e (2) quando o músculo
est á em movimento, como um exercício,É por esse motivo que o exercício
físico reduz a glicemia e ajuda na redução da resistência à insulina em pa-
cientes com diabetes tipo 2.
Quando os músculos não necessitam de energia, a glicose transporta-
da para eles é armazenada na forma de glicogênio muscular que pode ser
utilizado mais tarde como fonte energética.
Um dos efeitos mais importantes da insulina é captar e armazenar a
glicose absorvida após as refeições em forma de glicogênio hepático. O
mecanismo pelo qual ela promove essa ação ocorre da seguinte maneira:
no fígado há uma enzima, a fosforilase hepática, que é responsável pela
quebra do glicogênio e consequentemente conversão em glicose. A insu-
lina inativa essa ernzima impedindo a clivagem do glicogênio armazenado
na célula. Ela caus.a aumento da captação de glicose pelo fígado, através
do GLUT-2, e aumenta a ação de uma enzima que fosforila a glicose dentro
da célula, a glicocinase. Isso é importante, pois a glicose fosforilada não
consegue sair da célula, fato que promove a sua retenção. Além disso, a
insulina causa aumento das enzimas que sintetizam o glicogênio, princi-
palmente a glicogênio sintase.

117
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

O glicogênio pode ser armazenado em quantidade de até 6% da massa


hepática (100g), sendo liberado quando os níveis de glicose no sangue
começam a cair, como no período entre as refeições. A partir daí, como o
organismo precisa de glicose circulante, ocorrem eventos contrários aos
de formação do glicogênio: o pâncreas reduz a secreção de insulina; essa
ausência impede a captação de glicose pelo fígado, promove a clivagem
do glicogênio em glicose fosfato, já que ativa a fosfoforilase e por fim, ativa
a glicose fosfatase que causa desfosforilação da g licose permitindo sua sa-
ída da célula. Portanto, a insulina provoca captação e armazenamento da
glicose no fígado quando a g li cemia está alta e sua ausência ou redução
provoca a liberação de glicose do fígado quando a glicemia está baixa.
Outro efeito d a insulina diz respeito há uma frase que você já deve ter
escutado por aí "doce engorda!~ isso se deve ao fato de esse hormônio
promover a conversão do excesso de glicose em ácidos graxos. Quando
a glicose que chega ao fígado não pode mais ser armazenada na forma
glicogênio, a inslllina estimula a conversão dessa glicose em ácidos graxos
que são organizados na forma de triglicerídeos em lipoproteínas de baixa
densidade e são transportadas no sangue até o tecido adiposo onde são
armazenados na forma de gordura.
Além disso, ela também inibe a produção de novas moléculas de gli-
cose, ou seja, a g l iconeogênese, já que inibe as enzimas hepáticas respon-
sáveis e reduz a disponibilidade do substrato, como os aminoácidos dos
músculos e de tecidos extra-hepáticos.
Desse modo, a insulina é muito import ante para captação de glicose
nos tecidos do nosso corpo, com exceção do cérebro, que independe da
ação da insulina para utilização da glicose, já que esta é a sua única fonte
de energia, exigindo assim que os níveis séricos de glicose sejam muito
bem controlados.

EFEITO NOS LIPfDIOS

Como você já sabe, a insulina aumenta a utilização de g licose pelas


células. Esse carboidrato é a principal fonte de energia das células, mas
não é a única. As proteínas e os lipídeos t ambém funcionam como fonte
energética, normalmente quando a glicose não pode ser utilizada. Dessa

118
CAPiTULO OS

forma, a insulina ao aumentar a utilização de glicose, reduz o uso dessas


outras fontes.
Nesse contexto, a insulina promove o armazenamento da gordura,
além de sintetizar novos ácidos graxos a partir do excesso de carboidratos,
como já falado. Essa síntese de ácidos graxos ocorre no fígado quando ele
não é mais capaz de armazenar g licogênio. A glicose excedente é conver-
tida em piruvato, pela via g licolítica, e depois, no substrato para produção
dos ácidos graxos, a acetilcoenzima A (acetii-CoA).
Em seguida a grande quantidade de íons citrato e isocitrato, produzi-
dos no ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs devido à grande utilização
de glicose, ativa a enzima que faz a carboxilação da acetil CoA, a acetii-CoA
carboxilase. Essa carboxilação origina o manolil- CoA que é o primeiro es-
tágio na produção dos ácidos graxos.
Esse ácido graxo sintetizado é transformado em triglicerídeos para ser
armazenado nas células adiposas. Como eles são formados no fígado, eles
precisam ser transportados até o tecido adiposo e isso ocorre pela liga-
ção com lipoproteínas sanguíneas de baixa densidade (como LDL e VLDL).
Chegando ao tecido adiposo, esse triglicerideo precisa ser quebrado nova-
mente em ácidos graxos para poder ser absorvido pelas células adiposas e
depois novamente convertido em triglicerídeos. Para isso a insulina ativa
a lipoproteína lipase presente nas paredes dos capilares do tecido adiposo,
por que é ela quem vai quebrar os triglicerídeos antes de serem absorvidos.
Outro papel da insulina é promover o transporte da glicose para dentro
das células adiposas, para produzir ácidos graxos e sintetizar o a-glicerol
fosfato. Ele vai originar o glicerol necessário para associação com os áci-
dos graxos e formação dos triglicerídeos. Para garantir o armazenamento
dessa gordura, a insulina age inibindo a ação da lipase hormônio-sensível,
uma enzima que provoca a hidrólise dos triglicerídeos armazenados. Ou
seja, a insulina estimula a utilização de glicose pelas células como fonte de
energia em detrimento da utilização de gorduras.
Desse modo, na ausência da ação da insulina, como no diabetes melli-
tus, ocorre lipólise das gorduras armazenadas e consequentemente libe-
ração de ácidos graxos no sangue, que passam a ser a principal fonte de
energia das nossas células, com exceção do cérebro. O fato de ocorrer
maior utilização de ácidos graxos pode levar à formação excessiva de áci-
do acetoacético que tem pa rte convertida em ácido ~-hidroxibutírico e
acetona (corpos cetônicos). Esses produtos em g rande quantidade po-

119
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

dem originar um quadro de acidose e cetose, presentes no diabético gra-


vemente descompensado e que pode levar ao coma .

EFEITO NAS PROTEÍNAS

A insulina funciona como um hormônio anabólico, ou seja, promove o


armazenamento de carboidratos, lipídios e também das proteínas, sobretu-
do após as refeições quando o sangue está com excesso desses nutrientes.
Para estocar as proteínas, a insulin a induz também a sua sín tese. Ela
estimula o transporte de aminoácidos para as células aumentando a cap-
tação de aminoácidos (principalment e valina, leuci na, isoleucina, tirosina
e fenilalanina), assim como o GH que age em sinergismo promovendo
o crescimento do indivíduo. Em seguida estimula a tradução do RNAm,
além de acionar a maquinaria ribossômica promovendo síntese de novas
proteínas e ainda, em intervalos de tempo maiores, aumenta a transcrição
de sequencias de DNA para produção de mais RNA.
Além de contribuir para a síntese, a insulina impede a degradação. Age
inibindo o catabolismo das proteínas, principalmente das células muscu-
lares, e no fígado bloqueia a gliconeogênese, que tem como substratos
mais usados os aminoácidos. Na ausência de insulina, ocorre então de-
gradação proteica, sobretudo muscular, causando fraqueza como a que o
paciente do caso está apresentando.

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DE INSULINA

A insulina é estimulada e atua no controle de carboidratos, lipídeos e


proteínas. O principal e mais conhecido estímulo para a secreção de insu-
lina é o aumento da glicemia sérica. Atualmente, segundo a Associação
Americana de Diabetes (ADA) e a última Diretriz da Sociedade Brasileira
de Diabetes (SBD-201 6-2017), considera-se normal valores de glicemia de
jejum até 99mg/dl (até 2003 o valor de normalidade era até 11 Om/dl).
Quando a glicemia aumenta 2 ou 3 vezes ocorre a liberação rápida de
insulina ( às custas da insulina pré-formada, armazenada) e depois uma
fase de secreção lenta ( tempo necessário para se formar novas moléculas
de insulina). Quando os níveis de glicose caem novamente a secreção de

110
CAPiTULO OS

insulina é interrompida e isso funciona como um mecanismo de feedback


importante para regulação.
Os aminoácidos também possuem capacidade de estimular as células
beta, tendo sid o observado que este efeito pode ocorrer isoladamente, ou
em sinerg ia com o efeito provocado pela glicose. Outros hormônios tam-
bém podem estimular a liberação de in sulina, como os hormônios gas-
trointestinais (gastrina, secretina, colecistocinina e peptídeo insulinotró-
pico dependente de glicose) que são liberados pelo trato gastrointestinal
após a ingestão de alimentos.
Existem dois outros hormônios gastrointestinais que também são libera-
dos no período pós refeição, são eles o peptídeo 1 semelhante a glucagon
(GLP-1) e o polipeptídeo inibitório gástrico (GIP). Esses hormônios são tam-
bém produzidos pelo trato gastrointestinal e conhecidos como incretinas,
sendo os responsáveis pelo efeito incretlníco. Esse efeito corresponde à li-
beração de insulina, g licose dependente, no período pós prandial, no q ual o
GLP-1 e GIP são liberados estimulando a secreção de insulina e inibição do
g lucagon, causando um efeito hipoglicêmico. Esses hormônios estão pre-
sentes fisiologicamente em indivíduos com glicemia normal, contudo estão
reduzidos em ind ivíduos diabéticos tipo 2, motivo que explica a utilização
de aná logos desses hormônios no tratamento do DM 2. Por outro lado, a
secreção de insulina é inibida por outros hormônio considerados hipergli-
cemiantes, como GH, cortisol, epinefrina e norepinefrina..
O controle ade.quado da glicemia é extremamente importante. Quan-
do ocorre hipoglicemia, os tecidos que só utilizam a glicose como fonte
de energia, como encéfalo, retina e células germinativas gonadais vão so-
frer, aparecendo sintomas como irritabilidade, tontura, convu lsões e até o
coma em casos graves.
No caso da hiperglicemia, também ocorrem alterações na homeost ase:
a) desidratação ce lular, por efeito da osmolaridade e pressão oncótica do
plasma (seu excesso "puxa" água da célula para o plasma), estimulando
mais sede no indivíduo (sintoma apresentado por seu Antônio); b) part e
da glicose é perdida na urina por exced er a capacidade renal de reabsor-
ção, leva ndo a um sintoma denominado glicosúria na semiologia; c) o ex-
cesso d e glicose na urina a deixa mais concentrada, fato que faz eliminar
mais água por osmose (diurese osmótica) e consequentemente o volume
urinário ser maior, configurando a poliúria, outro sintoma do paciente do
caso; d) além diss·o, a glicose em excesso pode causar danos em outros

181
O PÂNCREAS ENOÓCRitiiO

órgãos, principalmente por dan ificar os vasos, como coração, retina, rins
e cérebro.

GLUCAGON

EFEITOS FISIOLÓGICOS

O glucagon é o hormônio produzido pelas células alfa pancreáticas,


sendo conhecido como um hormônio hiperglicemiante. O principal pa-
pel dele no nosso corpo é antagônico ao da insulina, agindo de modo a
promover elevação da g licose sanguínea quando ela está baixa. Enquanto
a insulina estimula a formação do glicogênio hepático, o g lucagon realiza
a glicogenólise, ou seja, a quebra do g licogênio em glicose, além de esti-
mular a gliconeogênese hepática.
A glicogenólise é realizada a partir de uma cascata de reações que
acaba ampliando o efeito do glucagon, por isso pequenas concent rações
dele t em um gra nde efeito. Primeiramente ele ativa o efetor do hepató-
cito, a adenilil ciclase, que produz o segundo m ensageiro AMPc. Esse leva
a ativação da proteína reguladora da proteinocinase que ativa a proteino-
cinase levando a ativação da fosforilase cinase b. Essa última, por sua vez,
converte a fosfolirase bem fosforilase a que vai clivar o glicogênio em g/i-
cose-1-fosfato, que após ser desfosforilada é liberada em forma de glicose.
O glucagon também estimula a produção de nova glicose (gliconeogê-
nese), pois estimula os hepatócitos a aumentarem sua captação de aminoá-
cidos através da ativação de enzimas de transporte. Outro efeito é aumentar
a concentração de ácidos graxos livres no sangue, pela ativação da lipase do
adipócitos e inibição do armazenamento de triglicerídeos no fígado.

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DO GLUCAGON

Assim como da insulina, o principal responsável pela regulação da li-


beração de g lucagon é a glicose sanguínea. Se há hipoglicemia, há o es-
timulo para liberação; se há o aumento da glicemia, ocorre a inibição da
secreção. Além disso, o aumento de aminoácidos sanguíneos estimulam
a liberação de glucagon, assim como a de insulina, contudo por motivos

lU
CAPiTULO OS

distintos (a in sulina objetiva o armazenamento e o g lucagon objetiva a


conversão em glicose). E para finalizar, outro elemento estimulante é o
exerdcio físico e não se sabe exatamente o que provoca esse aumento, já
que a glicemia não cai sempre. A hipótese é de que os aminoácidos livres
ou o estimulo beta adrenérgico nas ilhotas sejam os responsáveis.

SOMATOSTATINA

A somatostatiM é um hormônio produzido pelas células delta e é ba·


sicamente um hormônio inibitório. Ele é liberado sempre no período
pós-prandial, sendo estimulado por aumento da glicemia, de aminoáci·
dos sanguíneos, de ácidos graxos e dos hormônios gastrointestinais. As·
sim que é secretado, age inibindo uma boa parte das funções digestivas,
como reduzir motilidade do estômago, duodeno e vesícula biliar; reduz a
secreção e absorção do trato gastrointestinal e age nas ilhotas inibin do a
secreção de insulina e de glucagon. A somatostatina também é liberada
no hipotálamo para inibir a secreção do hormônio do crescimento, já es-
tudado no capítulo 4.

DIABETES MELLITUS

O d iabetes é uma síndrome clínica decorrente da ausência ou redução


do efeito da insulina no organismo. Ele pode ocorrer por dois motivos: a
ausência de produção da insulina pelas células beta pancreáticas (diabetes
me/Jitus tipo 7) ou pela ausência de resposta (resistência) à insulina produzi·
da (diabetes mellitus tipo 2).
O DM 1 é mais comum em crianças e adolescentes e é caracterizada
pela destruição das células beta do pâncreas, normalmente por um meca-
nismo imunológico. Os portadores dessa doença necessitam de insulina
exógena para sobrevivência e estão mais propensos a quadros de cetoaci·
dose diabética que os pacientes DM 2.
O DM 2 é mais comum em in divíduos mais velhos, por volta da 4•-s•
década de vida e está mais relacionada com os hábitos de vida, sendo
mais prevalente em indivíduos obesos e sedentários. Aqui o problema
não é a falta de insulina, mas a resistência à suas ações e estímulos.

183
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REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fi siologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017.
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. BARRET, Kim E. et ai. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH,
2014.
4. MOORE, K.l. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
5. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 2010.
6. jUNQUEIRA, l.C.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11• Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
7. Sociedade Brasileira de d iabetes. Diabetes na prática clínica; e-book 2.0 Dis-
ponível em https://www.diabetes.org.br/ebook/component /k2/ítem/36-re-
sistencia-insulinica-sindrome-metabolica-e-risco- cardiovascular
8. Giacaglia, l.R., Silva, M.E.R., Santos, R.F. Tratado de Síndrome Metabólica. Ed.
Roca, São Paulo, P Ed, 201O.
9. Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Diabetes: 2017 -2018. São Paulo: Edito ra Clannad, 2017.

• • • •• • • • •• • • • •• • • • • •• • • • • •• • • • •• • • •

CONFER~NCIA •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida •
sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •





















O Metabolismo do Cálcio e
do Fosfato

CASO CLÍNICO

Laurindo, 30 anos, procurou atendimento médico com queixa de dor


lombar de forte intensidade associada à urina avermelh ada e dor no canal
uretra! inferior. Ele relata que vem há uma semana com quadro de dor
lombar em cólica que irradia para raiz de coxa e bolsa escrotaI. A dor apa-
rece subitamente com forte intensidade e alivia com analgésicos. Quando
indagado refere que não tem uma alimentação adequada e que sua in-
gestão diária de água é muito baixa.
Ao exame físico era evid ente a fácies de dor, e teve dor à punho percus-
são de loja renal. Dra. Helena, a médica que o atendeu, suspeitando de lití-
ase renal, indicou analgesia e solicitou alguns eletrólitos como cálcio, fós-
foro, sódio e potássio, sumário de urina e ultrassom de rins e vias urinárias.
Os exames bioquímicas foram os primeiros a chegar e a médica ficou
muito surpresa ao ver os resultados: cálcio 14mg/dl (valor normal 8,5-
10.2mg/dl) e o fosfato 1.8mg/dl (valor normal 2,5-4,5mg/dl). Diante des-
ses resultados, Ora. Helena suspeitou de uma possível desordem no me-
tabolismo desses elementos e solicitou dosagem de paratormônio (PTH),
que como já esperado por ela, teve um valor elevado.
Qual seria o motivo desse aumento nos valores desses eletrólitos?
Por que a médica solicitou a dosagem de PTH? Qual a relação des-
se hormônio com os níveis e cálcio e fosfato?

129
O METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFATO

1. 1 POSSÍVEIS TERMOS OU PALAVRAS DESCONHECIDAS

"litíase renal": Cálculo renal.

1.2 PALAVRAS CHAVES

"Cálcio'; "fosfato'; "paratormônio'; "m etabolismo':

1. 3 OBJETIVOS

Evidenciar o papel do cálcio e do fosfato no organismo


Entender o papel do osso na regulação hormonal do cálcio e do fosfato
Descrever a estrutura anatômica e histológica das glândulas paratireoides
Compreender os efeitos fisiológicos do paratormônio, da calcitoni-
na e da vitamina D

130
CAPirUL006

REGULAÇÃO DO METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFATO


PELO PARATORMÔNIO, CALCITONINA E VITAMINA D

Nosso organismo é composto por muitos elementos importantes para


a manutenção do equilíbrio. Dentre esses elementos, vou destacar nesse
capítulo o cálcio e o fosfato que tem como principais fontes os alimentos e o
esqueleto ósseo, além de ter sua regulação proporcionada por hormônios.
O fosfato é um elemento importante para nosso corpo e está presente
em grande quantidade nos ossos, compondo cerca de 85% de sua estru-
tura (na forma de fosfato de cálcio, onde o cálcio se encontra em maior
quantidade) e em outros compartimentos sendo de 14% a 15% nas célu-
las e menos de 1% no líquido extracelular. Esse 1% é o fosfato inorgânico
que está sob a forma de HP04- e H2P04- que funcionam como tampões
no caso de desbalanço do H+ e está presente na estrutura dos tecidos
duros (ossos e dentes). Outra parte desse fosfato está contribuindo, cerca
de 1O vezes mais que o cálcio, para a composição dos tecidos moles e
além desses, há esse elemento compondo moléculas importantes no nos-
so organismo como a Adenosina Trifosfato (ATP), Adenosina Monofosfato
cíclico (AMPc), DNA, RNA e fosfolipídeos de membrana.
Por ser um elemento tão importante, a concentração dele precisa ser
bem controlada, assim como a do cálcio. Nos tecidos moles como os mús-
culos há grande quantidade de fosfato, dessa forma, caso ocorra uma des-
truição significativa das células musculares, o fosfato é liberado no sangue
causando hiperfosfatemia. Outra possibilidade é o fosfato livre se ligar ao
cálcio circulante formando complexos, o que pode provocar uma redução
do cálcio sérico, portanto uma hipocalcemia secundária à hiperfosfate-
mia. Os mecanismos de regulação são os mesmos que controlam o cálcio,
por isso vamos estudá-los juntos!
O cálcio compõe uma boa parte do nosso corpo, estando presente em
sua maior parte nos ossos, cerca de 98%, contribuindo para a estrutura e
servindo de reservatório; 0,1% está no líquido extracelular e 1% dentro
das células e suas organelas. Esse elemento tem um papel importante na
fisiologia humana e tem funções diferentes a depender do compartimen-
to em que ele se encontra.
No meio intracelular o cálcio é responsável por diversas reações que
levam à: exocitose de hormônios, acoplamento estímulo-secreção dos
nervos, contração muscular e vários processos enzimáticos. No meio ex-
tracelular e no pla sma, além de agir nesses processos, também contribui

131
O METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFATO

para o processo de coagulação sanguínea, estabilidade das membranas


dos músculos e nervos (células excitáveis) e junção das células entre si,
além de fazer parte essencial na estrutura de ossos e dentes. No p lasma
esse cálcio pode ·estar de 3 formas: a principa l delas é circu lando na forma
ionizada, mas pode estar ligado à proteín as p lasmáticas ou à substâncias
aniônicas do plasma, como citrato e fosfato.
A regulação do cálcio plasmático é extremamente importante e seus
níveis variam em uma faixa bem estreita que quando alterada origina dis-
funções principa lm ente nos processos neuromusculares. A concentração
normal de cálcio no plasma varia de 8.4 a 10,2mg/dl, se esse valor é reduzi-
do (hipocalcemia) as células do sistema nervoso central sofrem excitação
assim como as m usculares causando tetan ia, se esse valor aumenta (hiper-
calcemia) o sistema nervoso fica deprimido.
Como você já pôde notar, o cálcio e o fosfato são importantes para a
formação dos ossos e a regulação hormonal desses elementos ocorre uti-
lizando esse órgão como reserva, por isso é importante você conhecer um
pouco da estrutura e formação óssea.

A FISIOLOGIA ÓSSEA

Esse capítulo não t em como objetivo falar da complexa formação e re-


modelação óssea, mas sim trazer informações básicas sobre a estrutura,
formação e remodelação do osso que são necessárias para o entendimen-
to do papel dos ossos na regulação desses elementos.
A estrutura dos ossos é composta por matriz orgânica e sais de cálcio
que a fortalecem. A matriz orgânica confere ao osso uma certa resistência
à tração, já que tem até 95% de sua composição por fibras colágenas e
o restante por substância fundamental, meio gelatinoso constituído por
proteoglicanos como sulfato de condroitina e ácido hialurônico. Os sais
ósseos são depositados na matriz e são formados por cálcio e fosfato, sen-
do a hidroxiapatita [Ca10(P04)6(0H)2] o principal deles.
Assim, o mecanismo de calcificação óssea ocorre a partir da secreção de
moléculas de colágeno e da substância fundamental pelos osteoblastos. Esse
colágeno se polimeriza formando fibras e o tecido se transforma no osteoide,
parecido com a cartilagem. Nesse momento os osteoblastos se depositam e
ficam em repouso, sendo chamados de osteócitos nesse estágio. Alguns dias

138
CAPirUL006

após a formação do osteoide os sais de cálcio se precipitam sobre as fibras


colágenas e dentro de mais alguns d ias formam os cristais de hidroxiapatita.
Esses cristais só se precipitam no tecido ósseo, pois nos outros tecidos há uma
substância inibidora chamada pirofosfato que impede sua precipitação.
Há uma parte do cálcio que é intercambiável, ou seja, quando necessário
ele sai ou se deposita no osso a depender da concentração do cálcio sérico.
Remodelagem óssea: No osso normal, a taxa de deposição é igual a
de absorção óssea, exceto quando ele está em crescimento. A deposição é
realizada pelos osteoblastos (encontrados na superffcie externa e nas ca-
v id ades dos ossos) e a absorção óssea é função dos osteoclastos (grandes
células fagocitárias que fazem a "limpeza• do osso). Os osteoclastos fazem
esse trabalho de absorção emitindo vilos que secretam enzimas prote-
olíticas lisossomais responsáveis por digerir a matriz orgânica do osso e
secretam ácidos liberados das mitocôndrias e de vesículas secretoras que
dissolvem os sais ósseos. A atividade, principalmente dos osteoclastos, é
influenciada pelo paratormônio que vai ser discutido adiante.
A regulação da concentração sérica desses elementos é realizada por 3
hormônios: o paratormônio (PTH), o 1,25 Di- Hídroxicolecalciferol (ou calei-
trio!) e a calcitonina. Os dois primeiros atuam principalmente nos rins, ossos
e intestinos e a última interfere com mais importância no metabolismo do
cálcio. De modo geral os processos responsáveis pela presença do cálcio e
fosfato no sangue são a absorção intestinal e a absorção óssea e pela remo-
ção desses elementos do sangue são a excreção renal e a formação óssea.

PARATORMÔNO (PTH)

O PTH é produzido pelas glândulas paratireoides. Elas estão localiza-


das na região posterior (dorsal) da glândula tireoide e normalmente são em
número de 4 distribuídas 2 em cada lobo, uma no polo superior e outra no
inferior. Elas são formadas por células epiteliais, as oxífilas e as principais.
As oxífilas não tem função bem conhecida, mas acredita-se que elas se-
jam principais modificadas e sem função secretora, estão em menor quan-
tidade no parênquima da glândula, são poligona is, maiores e mais claras
e aparecem a partir dos 7 anos de idade. Já as principais estão em maior
quantidade e tem como função produzir e secretar o PTH, t ambém tem
formato poligonal, porém o núcleo é vesicular e o citoplasma é acidófilo.

133
O METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFATO

ESTRUTURA, SÍNTESE E RECEPTOR

O PTH é um hormônio de natureza proteica, portanto hidrossolúvel e for-


mado a partir do pré-pró-paratormônio no ribossomo. Essa fonna é diva da em
pré-paratonnônio e depois se transforma em paratormônio no retículo endo-
plasmático e no complexo de Golgi onde é armazenado nas vesículas de secre-
ção.
Assim que ele é liberado no sangue, como todo hormônio, ele deve se
ligar ao receptor específico. Existem 2 receptores mais conhecidos para
essa ligação com o PTH. O PTH1R ou PTHrP, é o receptor de PTH relacio-
nado à proteína, ele é fortemente expresso nos rin s e nos ossos e em me-
nor expressão em outros tecidos, como mamas, pele, coração, pâncreas e
vasos sanguíneos. O PTH2R se liga seletivamente ao PTH e está expresso
em maior quantidade no SNC, sistemas cardiovascular e gastrointestinal,
além de pulmões e t estícu los. Esses dois receptores são do tipo acoplados
à proteína G e portanto tem o mesmo mecanismo de ação.
Além desses receptores principais, algumas evidências aprontam para
a presença de novos receptores de PTH que t em uma especificidade em
uma região com importante atividade hipocalêmica. Esses receptores são
mais expressos nos ossos, mas estão presentes em vários tecidos.

EFEITOS FISIOLÓGICOS DO PTH

O PTH atua de forma importante no controle da concentração extrace-


lular de cálcio e fosfato. Ele promove a liberação do cálcio para o plas-
ma e para isso age nos ossos, rins e intestino delgado. Aumenta a concen-
tração sérica de cálcio através do estímulo ao processo de absorção óssea
e redução da excreção de cálcio pelos rins. Da mesma forma que absorve
o cálcio do osso, também ocorre com o fosfato aumentando sua concen-
tração no sangue. Contudo o PTH estimula de forma intensa a excreção
do fosfato pelos rins, assim esse efeito de excreção supera o de elevação
sérica pela absorção óssea, causando uma redução da concentração san-
guínea do fosfato. Por isso no hiperparatireoidismo, como no paciente do
caso, há elevação sé rica de cálcio (hipercalcem ia), mas ocorre redução do
fosfato (hipofosfatemia).

134
CAPirUL006

Sobre o osso, esse hormônio possui 2 efeitos, um rápido e um mais


lento. O efeito rápido recebe o nome de osteólise e ocorre por meio da
ativação intensa da bomba de cá lcio levando à saída dos sais de fosfato
de cálcio do osso. O efeito lento ocorre por ativação indireta dos oste-
oclastos, já que essas cél ulas não possuem receptores de PTH. Nesse
caso as células ativadas serão os osteoblastos e osteócitos que enviam
sinais para os osteoclastos. Um desses sinais é o ligante osteoprote -
gerina, liberado pe los osteoblastos, que ativa os receptores das células
pré -osteoclastos induzindo-os a se transformar em osteoclastos ma-
duros para promover a absorção óssea. Quando há uma liberação ex-
cessiva de PTH, ocorre uma destruição importante do osso levando ao
enfraqueciment o ósseo; por outro lado ocorre t ambém estímu lo a ação
osteoblástica na tentativa de corrig ir esse enfraquecim ent o, contudo a
ação dos osteoclast os é superior.
Nos rins o PTH reduz a reabsorção d e íons fosfato nos túbulos proxi-
mais, causando sua perda na urina e portanto redução da concentração
sanguínea. Por outro lad o ele aument a a reabsorção d e íons cálcio prin -
cipalment e nos t úbulos dist ais e coletores, elimina menos e assim a con-
centração sérica se eleva. Além disso, promove reabsorção de magnésio
e hidrogênio e reduz a reabsorção de sódio, potássio e aminoáci dos.
E no intestino o parat ormônio aumenta a absorção do cálcio e do fos-
fato de forma indireta, na medida em que influencia na formação da vi-
t amin a D, substânci a que promove o aumento dessa absorção. Observe
esses efeitos na Figura 6.1

135
O METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFATO

Cálcto sérico bau(o

~Tireoide
~Paratireoides
t PTH

~ ~ ~~ ~umenla
I
0

Osso f( reabsorção
~1 decãlc:•o e •mbea
reabsorção de
t fosfato da unna
·Age no o;teoclasto ~

Libera cálcio c fosfato • Esttmuta a t C~tcio


+ conver são da J.Fósforo
25 (OH) vrtamma O~ 1,2510H} vttamma O
t Cãlcto
tFost ato

· · -·
• Aumenta absorção de dtcio
~
tCilcio
t Fósforo

Figura 6.1: Efeitos do PTH sobre o s rins e os ossos, influenciando a concentração sérica do
c~ leio e do fosfato. Observe também o efeito do PTH sobre os rins ao estímular a ativa-

ção da vitamina O, que por sua vez age no intestino aumentando a absorção de cálcio.
Retirada de https://www.medidnanet.com.br/m/conteudos/revisoes/5617/hipoparatireoi-
dismo.htm

REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DO PTH

Sem dúvida o principal regulador da secreção de PTH é a concentra-


ção de cálcio iônico no líquido extracelular. Qualquer alteração no cálcio
sérico, as paratireoides detectam por meio do receptor sensível ao cálcio
(CaSR) p resentes nas membranas. Quando essa concentração diminui,
as paratireoides são imediatamente estimuladas a aumentar a liberação
do hormônio. Se a redução do cálcio for persistente, as glândulas ficam
hipertrofiadas no intuito de aumentar a produção, como ocorre por
exemplo no raquitismo. De modo inverso, o aumento do cálcio, como na
ingestão de quantidade excessiva na dieta, elevação de vitamina De au-

136
CAPirUL006

mento de absorção óssea por outros fatores, leva a redução da secreção


do PTH e do volume das glândulas.

CALCITONINA

A calciton ina também é um hormônio proteico, produzido pelas cé-


lulas parafoliculares ou células C da tireoide e seu efeito é oposto ao do
PTH, uma vez que a calcitonina age diminuindo a concentração plas-
mática do cálcio. Como efeito imediato os osteoclastos são induzidos
a reduzir sua atividade de absorção e ocorre mais deposição de cálcio,
contudo como efeito mais prolongado ocorre diminuição da formação
de novos osteoclastos e consequentemente, com menos intensidade,
cai o número de osteoblastos. A calcitonina tem efeito mais importante
durant e a infância quando a atividade das células ósseas estão mais in -
tensas e no adulto a regulação do cálcio plasmático é mais influenciada
pelo PTH.

VITAMINA D

CARACTERfSTICAS GERAIS

A vitamina D é mais um hormônio importante no controle do cálcio


e do fosfato. Contudo, o hormônio ativo é o 1,25 Di-hidroxicolecalciferol
que é formado a partir de reações no fígado e nos rins.
Nós podemos adquirir a vitamina D por 2 modos: pela alimentação
e pela produção endógena a partir do 17-desidrocolesterol. Esse com-
posto, na pele, é irradiado pela radiação ultravioleta do sol e se trans-
forma em vitamina 03 ou colecalciferol que é levada até o fígado para
ser convertida em 25-hidroxivitamina D (ou 25- hidroxicolecalciferol ou
calcifediol), uma vez que é hidroxílada na posição 25. A última etapa de
ativação depende do PTH e ocorre nos túbulos proximais dos rins onde
a 25-hidroxivitam i na D é convertida em 1, 25 di-hidroxicolecalciferol ou
calcitriol ou 1,25-(0H)203.
A vitamina D e seus metabólitos são de natureza lípídica, dessa for-
ma são lipossolúveis e são transportados no sangue ligados a proteínas

13'1'
O METABOLISMO DO CÁLCIO E DO FOSFATO

p lasmáticas, nesse caso a proteína transportadora é a proteína de li gação


a vitamina O. Quando chegam às células alvo do intestin o delgado, rins,
ossos e paratireoides atuam por meio de receptor nuclear de esteroides que
forma um complexo com o receptor de retinoide-X causando alteração da
produção de RNA..

EFEITOS DA VITAMINA O

A forma ativa da vitamina O basicamente age aumentando a absor-


ção de cálcio e fosfato para o líquido extracelular. Ela promove absorção
de cálcio e fosfato pelo intestino delgado na medida em que aumenta a
formação da proteína ligante do cálcio, a calbindina, que fica na borda em
escova das células epiteliais intestinais e transporta cálcio para dentro da
célula. A entrada do cálcio para o enterócito é facilitada pelos canais de
cálcio da porção apical das células epiteliais (TRPVS e TRPV6). Em segui-
da o cálcio é transportado para fora da célula (para a corrente sanguínea)
pela membrana basolateral contra ao gradiente eletroquím ico pela cálcio
ATPase. Nos rins atua diminuindo a excreção de cálcio, já que promove a
reabsorção do túbulos renais.
Por fim, assim como os outros hormônios estudados nesse capítulo, a
vitamina D ativada também atua nos ossos. Facilita a absorção de cálcio
e potencializa o efeito do PTH quando estimula os osteoblastos a liberar
o ligante de osteoprotegerina que por sua vez estimula a ação dos osteo-
clastos. Ela apresenta efeitos significativos sobre a absorção e deposição
ósseas, de modo que a vitamina D em grande quantidade causa absorção
do osso, e em pequena quantidade causa calcificação óssea.

138
CAPirUL006

HIIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO

É uma condição na qual uma ou mais das quatro glândulas paratireoi-


des produzem paratormônio (PTH) em excesso de forma autônoma, sem
que haja um estfmulo conhecido. A alta concentração do PTH leva ao ex-
cesso de reabsorção renal de cá lcio, aumento da reabsorção intestinal de
cálcio consequente à maior produção de calcitriol, fosfatúria e aumento
da reabsorção óssea. Estas alterações causam hipercalcemia e hipofosfa-
temia levando às várias alterações características da hipercalcemia crôni-
ca. O adenoma único de paratireoide é a causa mais comum, seguido pela
hiperplasia de paratireoide. A cólica renal por litíase pode ser o primeiro
sintoma do hiperparatireoidismo primário, em decorrência da hipercalci-
úria secundária à hipercalcemia induzida pelo PTH.
Contudo o t ipo mais comum de hiperparatireoidismo é o secundário,
que ocorre na deficiência de vitamina D, na insuficiência renal crônica, ou
no uso de medicações como diuréticos tiazídicos.
Na doença renal crônica, ocorre a perda da capacidade renal de con-
versão da vitamina D ativa, levando a uma elevação acentuada do PTH e
consequente hiperplasia das glândulas paratireoides se instalando o hi-
perparatireoidismo secundário.

139
.....
t , rewc;lu
EmmaiOr
quantidade ~
Poligonais

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Maiores 1J ... """') "'.,, ~o..,::-
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De cttoplasma
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cjldo

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1161ICOI

'proouzlela Células c
pelas
da tlreOide

(~•tco)
REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017.
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. BARRET, Kim E. et ai. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2014.
4. MOORE, K.L. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
5. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 201O.
6. JUNQUEIRA, LC.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11' Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
7. Fu leihan GE; Brown EM. Parathyroid hormon e secretion and action. In Upto -
date 2017.
8. Marcocci C, Cetan i F. Pri mary Hyperparat hyroidism. N Engl J Med. 201 1;: p.
365:2389-2397.

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CONFERÊNCIA •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida


sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •


















O Sistema Reprodutor
Masculino

CASO CLÍNICO

Lucas é um adolescente de 18 anos que comparece à consulta médica


queixando-se que seu corpo é muito infantil. Lucas informa que acha sua
voz muito tina, quase não t em pelos pubianos e possui o órgão genital
muito pequeno, o que prejudica sua relação com as garotas de mesma
idade. A mãe de Lucas relata que o garoto anda muito triste, sem querer
sair de casa e não entende o motivo de seu filho ainda ter genitália de
criança, sendo que é um dos mais altos da família. Aproveitando o mo-
mento da consulta, Lucas refere que quase não consegue sentir o cheiro
das coisas e pede logo uma medicação para resolver esse problema. Dr.
Fabricio, o médico residente, realiza o exame físico de Lucas e constata a
voz aguda, ausência de padrão masculino de pelos, distribuição ginecoide
de gordura corporal, ginecomastia, micropenis e altura de 1,80m. Diante
disso Dr. Fabrício solicita alguns exames, entre eles dosagem de testoste-
rona, LH e FSH, além de outros hormônios hipotisários como TSH, ACTH e
GH e pede para que retornem assim que tiverem os resultados.
Na semana seguinte, Lucas e sua mãe retornam com os resultados que
mostram redução acentuada dos níveis de testosterona, LHe FSH, porém
possui níveis normais dos outros hormônios hipotisários. Dr Fabrício en-
tão explica que Lucas possui um quadro de hipogonadismo hipogonado-
trótico, uma situação onde ocorre deficiência congênita na secreção do
GnRH (hormônio que estimula liberação de LHe FSH) e consequentemen-
te redução da testosterona, que é o hormônio responsável por desenvol-
ver as características sexuais secundárias. E pelo fato de ter a hiposmia
associada, provavelmente se trata da Síndrome de Kallmann.

145
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

A mãe de Lucas, ainda sem entender alguns pontos, indaga: Por que não
desenvolveu essas características se ele já cresceu tanto? O que é hipogona-
dismo? E o que exatamente a testosterona faz? Isso tem tratamento?
Você é o interno desse caso e é solicitado pelo residente a responder
essas perguntas, com exceção da última. E aí? Como você responderia?
CAPirUL007

1. 1 POSSÍVEI S TERMOS OU PALAVRAS DESCONHECIDAS

"Hipogonadismo hipogonadotrófico": Redução da função gonadal


por redução da função hipofisária.
"Hiposmia": Redução do olfato
"Ginecomastia": Aumento do volume das mamas em homens.

1. 2 PALAVRAS CHAVE

"Caract erísticas sexuais~ "testosterona'; "LH e FSH" "GnRH'; "hopogonadis-


mif, "hipogonadotrólico':

1. 2 OBJETIVOS

Descrever a anatomia e a histologia dos componentes do sistema


reprodutor masculino.
Compreender o processo dediferenciação dos sexos masculino e feminino.
Evidenciar as funções doscomponentes do sistema reprodutor masculino.
Entender o processo de formação dos espermatozoides (esperma·
togênese).
Compreender as ações dos hormônios masculinos.

147
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

A função reprodutora está extremamente ligada ao sistema endócrino.


ta presença e ação dos hormônios masculinos e fem ininos que fazem as
genitálias se desenvolverem e executarem suas funções. Nesse capítu lo
será abordado apenas o sistema reprodutor masculino.

DIFERENCIAÇÃO DAS GENITÁLIAS

A determinação do sexo genético ocorre já no período de formação


do embrião quan do são herdados os cromossomos sexua is, sendo a com-
binação XX para o sexo feminino e a XY para o masculino. Co ntudo, os
órgãos sexuais masculino e feminino são idênticos até a sexta semana da
vida intraut erina e soment e a partir daí elas começam a se diferenciar.
A genitália e as vias urinárias de ambos os sexos são iguais e com postas
de 2 pares de duetos. O dueto paramesonéfrico ou dueto mulleriano
se desenvolve e forma a gônada feminina, enquantoo dueto mesonéfri-
co ou dueto de Wolff forma a gônada masculina. Quem determina esse
desenvolvim ento, primeiram ente, é a presença do cromossomo Y que
produz uma proteína cham ada SRY, responsável por induzir a formação
dos testículos. Essas estruturas possuem as células de Sertoli que por sua
vez produzem uma substância chamada hormônio anti mulleriano, que
promove a degeneração do d ueto de Muller e permite somente o desen-
volvimento do duet o de Wolff. Esse duet o vai originar as est rut uras mas-
culinas internas, ·como o epidídimo, canal deferente, vesículas semin ais e
dueto ejacu latório. A parte externa precisa ser masculinizada e ísso ocorre
na presença da t estost erona prod uzida por o utras células do testículo, as
células de Leydi.
Por outro lado, na ausência do cromossomo Y, não há a proteína SRY,
não há t estículo, n ão há o hormônio antí m ulleriano, e portanto, os duet os
de M ull er se d esenvolvem em detrim ento da degeneração dos d uet os de
Wolff, formando as est rut uras fem ininas: t ubas uterinas, útero e vagina (
observe esse processo na figura 7.1 ).

ta
CAPirUL007

Figura 7.1: Diferenciação das genitálias. Observe que para a formação da genitália mascu-
lina é necessária a degeneração do dueto de Muller e para a formação da genitália femi-
nina é necessária a degeneração do dueto de Wolff. Retirada de http://anatomybody101.
org/development-of-female-reproductive-system/

ANATOMIA E HISTOLOGIA

O sistema reprodutor masculino é formado por um conjunto de órgãos e


estruturas que produzem e servem de passagem para os espermatozoides.
Eles são divididos em órgãos internos (testículos, epidídimos, duetos defe-
rentes, duetos ejaculatórios, glândulas seminais, próstata e glândulas bul-
bouretrais) e em genitália externa (pênis, escroto e parte distai da uretra).

ÓRGÃOS INTERNOS

TESTfCULOS

Os testículos são as gônadas masculinas, os órgãos reprod utores do


homem e fazem parte tanto do sistema genital, produzindo os esperma-
tozoides, como do sistema endócrino, produzindo a testosterona. Eles são
em número de 2, tem fo rmato oval, medem de 4-Scm de comprimento,

149
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

2,5cm de largura e 3cm de diâmetro anteroposterior, são suspensos pelos


funfcu los espermáticos e se alojam no escroto.
Durante a vida embrionária ao testfculos são formados na cavidade ab-
dominal e durante o desenvolvimento, por volta dos últimos 2 a 3 meses
de gestação, eles atravessam a parede abdomina l em d ireção ao escroto,
tracionados pelo gubernáculo (tecido fibroso), levando vasos, nervos e
dueto deferente, alguns componentes do funfcu lo espermático.
*Funfculo Espermático: É um cordão fibroso formado pelo dueto de-
ferente, artérias testiculares, plexo pampiniforme que vai formar as veias
testiculares, artéria cremastérica , artéria para o dueto deferente (derivada
da artéria vesical superior), ramo genital do nervo genitofemoral, nervo cre-
mastérico, plexo testicular simpático e alguns vasos linfáticos. Ele se inicia
no anel inguinal profundo, passa pelo canal inguina l. onde adquire as tú-
nicas derivadas das camadas da parede abdominal, e sai pelo anel inguinal
superficial. Essas tú nicas adq uiridas vão compor o revestimento do funículo
que se estende até o interior da bolsa escrota! e é formado por 3 camadas:
a fáscia espermática interna (derivada da fáscia transversal), a fáscia cre-
mastérica (derivada de fibras que formam o músculo cremáster- contínuo
com o músculo oblíquo interno do abdome) e a fáscia espermática exter-
na (derivado da aponeurose do músculo oblíquo externo do abdome).
Os testícu los são revestidos por 3 tún icas, são elas: a tú nica vaginal,
túnica albugínea e túnica vasculosa.
A túnica vaginal é a mais externa e é dividida em lâminas visceral e pa-
rietal da túnica vaginal. A lâmina visceral fica em contato direto com o testí-
culo e recobre a maior parte dele, exceto a região posterior onde penetram
vasos e nervos e onde ficam a cabeça e cauda do epidídimo. Ela recobre
o epidídimo e se reflete para formar a lâmina parietal que é mais extensa
e sobe em direçã.o ao funículo espermático. Entre essas lâminas existe um
espaço, a cavidade da túnica vaginal, que contém uma película tina de líqui-
do. Em situações de inflamação ou neoplasias esse líquido pode aumentar,
causando uma hidrocele (acúmulo de líquido entre as túnicas).
A túnica albugínea é a intermediária, é um revestimento mais denso
e resistente composto por fibras colágenas entrelaçadas. Na região poste-
rior do testículo ela se projeta para o interior, formando o mediastino do
testículo, e a partir dele emite septos que dividem o testículo em lóbulos.

1110
CAPirUL007

A túnica vascu losa é a mais interna, contém vasos sanguíneos e tecido


conjuntivo frouxo que revestem os septos e os lóbulos testiculares (Figura
7.2).

Figura 7.2: Representação do funfculo espermático e das camadas que revestem os testrcu-
los. Retirada de http://www.alebady.com/2012/08/testes/

VASCULARIZAÇÃO DOS TESTfCULOS

ARTÉRIAS TESTICULARES

As artérias testicu lares são originadas diretamente da aorta abdominal,


e saem logo abaixo das artérias rena is. A artéria testicular direita é ante-
rior à veia cava inferior e posterior à parte horizontal do duodeno, às arté-
rias cólica direita e ileocólica, à raíz do mesentério e à porção terminal do
íleo. A artéria testicular esquerda é posterior à veia mesentérica inferior,

161
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

à artéria cólica esquerda e à parte inferior do colo descendente. Ambas as


artérias testiculares passam anterior ao nervo genitofemoral, ao ureter e
a parte inferior da artéria ilíaca externa, vai até o anel inguinal profundo,
entram no funículo espermático, passam pelo canal inguinal e chegam ao
escroto. No testícu lo elas se ramificam e penetram no órgão para suprir
todas as regiões.
O testículo ainda recebe sangue do ramo cremastérico da artéria epi-
gástrica inferior e da artéria do dueto deferente, isso implica no fato de que
uma obstrução na artéria testicular em região superior no abdome não traz
tanta repercussão para o suprimento sanguíneo dos testículos, devido a
presença dessas outras artérias, contudo uma obstrução no fun ículo esper-
mático afeta todos esses vasos e pode levar a um infarto testicular.

VEIAS TESTICULARES

Os testículos e o epidídimo são drenados por pequenas veias que se


unem para formar o plexo pampiniforme, um componente important e do
funícu lo espermático. No abdome esse plexo forma as duas veias que se-
guem ao lado das artérias testicu lares, anterior ao músculo psoas maior e
ao ureter e atrás do peritônio. Mais superiormente essas veias formam as
veias testiculares, a direita vai desembocar na veia cava inferior e a esquer-
da na veia renal esquerda.

DRENAGEM LINFÁTICA

Os vasos linfáticos dos testículos partem da túnica vaginal a partir de


um plexo superficial e do parênquima do testículo e do epidídimo a par-
tir de um plexo profundo. Esses vasos passam pelo funículo espermático,
acompanham os vasos sanguíneos e terminam nos linfonodos aórticos
laterais e pré-aórticos.

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

Os testículos tem seu revestimento feito pela t única albugínea, um te-


cido conjuntivo denso que forma o mediastino do testículo na região dor-
sa l. É do mediastino do test ículo que partem os septos de tecido conjun-

lU
CAPirUL007

tivo que dividem os testículos em lóbulos (cerca de 250) onde contém os


túbulos seminíferos, estruturas pequenas onde são produzidos os esper-
matozoides. Esses túbulos são enovelados e envoltos por tecido conjun-
tivo frouxo, vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e células intersticiais ou
também chamadas células de Leydig produtoras de testosterona. Essas
células são arredondadas, possuem núcleo centra l e o citoplasma cheio de
gotículas de lipíd eos. Cada lóbulo desses tem de 1 a 4 túbulos seminíferos,
dando um total de túbulos seminíferos que pode variar de 250 a 1000 em
cada testícu lo.
As extremidades desses túbulos se continuam com os túbulos retos
que servem de conexão entre os túbulos e a rede testicular, uma anas-
tomose de canais revestidos por epitélio simples pavimentoso ou cúbico
localizada no mediastino do testículo. Essa rede testicular se continua com
os duetos eferentes que convergem para o dueto do epidídimo que é mui-
to enovelado e formado por epitélio colunar pseudoestratiticado.
Os túbulos seminíferos tem suas paredes formadas por epitélio germina-
tive ou epitélio seminífero. O tecido conjuntivo dessa parede é formado por
tibroblastos e por células mioides, semelhantes a células musculares lisas por
serem achatadas e contrateis, além disso contém as células de Leydig ocu-
pando a maior part e. Esse epitélio seminífero ainda é formado por 2 tipos de
células: as células de Sertoli e as células da linhagem espermatogênica (obser-
ve a Figura 7.3).
As células de Sertoli são células importantes na produção dos esper-
matozoides, elas são piramidais com a parte basal aderida na lâmina basal
dos túbulos e a extremidade apical voltada para o lúmen. Elas, portanto,
atravessam a mem brana dos t úbulos seminíferos e formam junções ade-
rentes e comunicantes com as células precursoras dos espermatozoides,
guiando-as da base até o lúmen dos túbulos, na medida em que avançam
nos estágios de maturação. Além disso, formam a chamada barreira he-
matotesticular, uma barreira física formada pela ligação compacta entre
as células de Sertoli adjacentes que, junto com os capilares fenestrados,
criam um ambiente protegido dos anticorpos e de substâncias sanguí-
neas consideradas nocivas. Essas junções compactas também dividem o
epitélio seminífero em compartimento basal (com as células nos dois pri-
meiros estágios) e um compartimento adluminal com os outros estágios.

1158
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

Caboya do ~dimo

TUbulo
somirútoro

~~~~~~~~~~~-Aed&dOieslbJb
d no mediastino testicular

{c~~=
Corpo do opiclidl'no
TCrica
vaginol Ca"'dade - \\-

Camada
vlscQiill

Cãps:ula -----"~~'<:-
(1\lniCO llii>JgiMO) ~iiiiiii~

figura 7.3: Revestimento pela túnica vaginal e organização interna dos testículos. Retirada
do Berne e Levy.

FUNÇÕES DAS C~LULAS DE SERTOLI

Por atravessarem a membrana dos túbulos elas funcionam como su-


porte estrutural ao epitélio seminífero e fornecem suprimento nutricional
aos espermatozoides, já que eles são isolados do sangue pela barreira he-
matotesticular a qual lhes confere proteção, inclusive imunológica.
São responsáveis pela fagocitose dos corpos residuais liberados duran-
te a formação dos espermatozoides. Secretam uma proteína ligante de
andrógeno (ABP), responsável por manter a testosterona no comparti-
mento adluminal dos túbulos seminíferos e tem sua secreção controlada
pelo FSH e pela própria testosterona. Além disso convertem testosterona
em estradiol e secretam a inibi na, peptídeo que inibe a síntese e liberação
de FSH pela hipófise.
Produzem um fluido que facilita o t ransporte dos espermatozoides e o
hormônio antimülleriano, substância que regride os duetos de Müller em
fetos do sexo masculino.

1114
CAPirUL007

EPIDÍDIM O

É uma estrutura que fica posterior e levemente lateralizada ao testí-


culo. Ele é responsável por armazenar e amadurecer os espermatozoides
produzidos pelos túbu los seminfferos e é formado por cabeça, corpo e
cauda. A cabeça se localiza na região superior e é formada pela união dos
dúctulos eferentes do testículo, o corpo é a parte mais alongada formada
pelo dueto contorcido do epidfdimo e a cauda é mais inferior, delgada e é
onde vai se iniciar o dueto deferente.

ESTRUTU RA HISTOLÓGICA

O conteúdo que se encontra nos dúctulos eferentes é levado até o due-


to do epidíd imo. Ele é muito enovelado e formado por epitélio colunar
pseudoestratificado, com células basais arredondadas e célu las colunares
chamadas células principais que possuem m icrovílos, os estereocílios. O
epitélio do dueto participa da absorção e d igestão dos corpos residua is
das espermátides, estruturas que fazem parte da formação dos esperma-
tozoides e ajudam na maturação dos espermatozoides ao secreta rem gli-
coproteínas. Além disso, após a lâmina basal, há uma camada de células
musculares que confere a peristalse e propulsão do fluido pelo dueto.

DUCTOS DEFEREN TES

O d ueto deferent e é o principal componente do funículo espermático


e começa como u m túbulo mu scular na cauda do epidídimo. Tem 45cm
de comprimento e t em como função levar os espermatozoides até os due-
tos ejaculatórios. Ele sobe posteriormente ao testículo, passa pelo canal
inguinal e no ane l inguinal profundo sai do fu nículo espermát ico, cruza
os vasos ilíacos externos e penetra na pelve menor. Passa ant erior e em
seg uida laterossuperiorment e à bexiga, descendo na região posterior e se
dilat a formando a ampola do dueto deferente, antes de entrar na vesícula
seminal e formar o dueto ejaculatório (observe na Figura 7.4).
Cada duet o def erente é irrigado pela sua artéria que é derivada da ar-
téria vesical superi'or e a drenagem venosa é realizada para o plexo venoso

Ui&
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

pélvico. Os vasos linfáticos drenam para os linfonodos ilíacos internos e


externos e a inervação é feita por um plexo autônomo de fibras simpáticas
derivadas do plexo pélvico.

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

O dueto deferente tem um lúmen estreito e uma camada de músculo


liso bem espessa que é formada por fibras internas e externas longitudi-
nais separadas por circulares. Tem a mucosa com dobras e recoberta por
epitélio colunar pseudoestratificado com esterocílios.

DUCTOS EJACULATÓRIOS

São formados, de cada lado, pela uni ão do dueto da vesícula seminal


com a ampola do dueto deferente. São pequenos, m edindo cerca de 2cm
de comprimento, se originam na região posterior da bexiga e atravessam
a base da próstata e as laterais do utrículo p rostático. Eles seguem até t er-
m inar na parte prostática da uretra onde recebem as secreções prostáticas
que se juntam ao líquido seminal (figura 7.4).

Cólon sigmóide

Bexiga

Sinfise púbica Reto

Vesícula seminal
Dueto ejaculatório
Próstata
Pele Glândula de Cowper
Corpo cavernoso Ãnus
Canal deferente
Epidfdimo
Glande
Prepúcio Testículo
Abertura da uretra Bolsa escrota!

Fi~ra 7.4: Essa imagem representa todos os órgãos genitais masculinos. Retirada de https:// wiki·
ciencias.casadasciencias.org/wiki/index.php/Morfologia_do_aparelho_reprodutor_masculino

1156
CAPirUL007

A estrutura histológica dos duetos ejacu latórios é semelhante à dos


duetos deferentes, com exceção da musculatura lisa que o envolve.

VESÍCULAS SEMINAI S (GLÂNDULAS SEM INAIS)

As vesfculas seminais são em número de duas, tem cerca de Sem de


comprimento, um formato piramida l e se localizam entre a bexiga e o reto
e superior à próstata. A vesícu la sem inal é um tubo enovelado único com
divertfculos associados à tecido conjuntivo fibroso. Ela tem um polo supe-
rior, que corresponde à base e é um fundo cego ou fundo de saco, e um
polo inferior que vai se estreitando até formar um dueto que se une ao
dueto deferente para formar o dueto ejaculatório. Essa região superior fica
atrás dos ureteres, é coberta por peritônio e é separada do reto pelo peri-
tônio da escavação retouterina e a região inferior tem uma relação muito
próxima com o reto, sendo separados pelo septo retovesica l.
A irrigação é feita por artérias derivadas das artérias vesical inferior e
reta I média; veias e vasos linfáticos acompanham as artérias e a inervação
vem dos plexos pélvicos.
Essas glândulas seminais produzem um líqu ido espesso e alcalino que
corresponde a 60% do volume do sémen, contém frutose, substância q ue
dá energia aos espermatozoides, e um agente coagulante que se mistura
a eles (figura 7.4).

ESTRUTU RA HISTOLÓG ICA

As vesículas seminais são dois t ubos tortuosos de mucosa pregueada


e revestida por ep itélio cuboide ou pseudoest ratificado colunar. Possui
uma lâmina própr ia rica em fibras elásticas e envolvida por fibras muscu-
lares li sas. Por serem glândulas, prod uzem uma secreção constituída por
substâ ncias importantes para manter os espermatozoides, como frutose,
citrat o, inositol e o utras proteínas.

167
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

PRÓSTATA

A próstata é a maior g lândula acessória do sistema reprodutor mascu-


lino, com 3cm de comprimento, 4cm de largura e 2cm de profund idade.
Ela é coberta por uma cápsula fibrosa densa que aloja plexos de vasos
e nervos, por isso é neurovascular. É uma glândula firme que tem o 1/3
anterior formado por tecido fibromuscular e os 2/3 posteriores formados
por tecido glandular.
Ela possui ápice, base e faces. A base tem uma estreita relação com o colo
da bexiga; o ápic-e fica em contato com a fáscia dos músculos esfíncter da
uretra e transverso profundo do períneo; a face anterior faz parte do mús-
culo esfínct er da uretra e é separado da sínfise púbica pela gordura retro-
peritoneal no espaço retropúbico; a face posterior está relacionada com a
ampola do reto e as inferolaterais com o músculo levantador do ânus.
Anato micamente a próstata pode ser dividida em istmo e lobos. O ist-
mo praticamente não tem tecido glandular, é basicamente fibromuscular,
se localiza anterior à uretra e separa anteriormente os lobos d ireito e es-
querdo. Esses lobos são separados post eriorm ente por um sulco longi-
tudinal central e pouco profundo e ainda são subdivididos em 4 lóbulos:
a) lóbulo inferoposterior que fica posterior à uretra e inferior aos duetos
ejaculatórios (é a parte palpável no exam e de toque retal); b) lóbulo infe-
rolateral que forma a maior parte do lobo e fica lateral a uretra; c) lóbulo
superomedial envolve o dueto ejaculatório ipsilateral e se localiza no in-
terior do lóbulo i nferoposterior e d) lóbulo anteromedial é lateral a parte
prostática da uretra e fica interior ao lóbulo infero latera l (figura 7.4)
A próstata produz o líquido prostático, fino e leitoso que corresponde
a 20% do volume do sêmen. Esse líquido sai pelos duetos prostáticos que
por sua vez se abrem no colículo seminal, localizado na região posterior
da uretra prostática.
A irrigação é feita pelas artérias prostáticas, ramos da artéria ilíaca in-
terna e a drenagem venosa é realizada pelo plexo venoso prostático que
drena para as veias ilíacas internas.

1118
CAPirUL007

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

A próstata se constitui em um conjunto de glândulas tubuloalveolares


ram ificadas formadas por epitélio cuboide alto ou pseudoestratificado co-
lunar e um estroma fibromuscu lar que as cercam. A próstata é envolvida
por uma cápsu la de tecido fibroelástico abundante em fibras musculares
lisas que penetra no interior da glândula originando septos que a d ivid e
em lóbulos.
Ela prod uz umas secreção que se junta ao líquido seminal e assim como
a vesícula seminal, a função da próstata é controlada pela testosterona.

GLÂNDULAS BULBOURETRAIS

O homem pos.sui 2 glândulas b ulbouret rais, também chamadas d e


g lândulas d e Cowper, elas são pequenas, cerca d e lcm de diâmetro, arre-
dondadas e amareladas. Estão localizadas na região lateral à parte mem-
branácea da uretra (envolvidas por fibras do músculo esfíncter da uretra),
acima da membrana do perineo e do bulbo do pênis. Os duetos excretores
delas se abrem na uretra esponjosa, já no bulbo do pênis, liberando a se-
creção mucosa durante a excitação sexual (figura 7.4).

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

São g lândulas t ubuloalveolares revestidas por epitélio cúbico simp les


secretor de m uco que age como lubrificante. Ela é dividida em lóbulos por
septos formados por fi bras musculares lisas e esqueléticas.

ÓRGÃOS EXTERNOS

ESCROTO

O escroto é um saco de tecido cutâneo e fibromu scu lar que aloja os


testículos e a parte inferior dos funículos espermáticos. Se localiza suspen-
so, inferior e posterio rmente ao pênis e é composto por pele, músculo dar-
tos e as fáscias espermática externa, cremastérica e espermática interna .

1159
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

Ele é dividido em parte esquerda e parte direita por uma rafe de pele
que se continua na face ventra l do pênis. Essa pele do escroto é fina, mais
p igmentada e enrugada. É desprovida de tecido adiposo subcutâneo,
possu i poucos pelos e apresenta glândulas sebáceas e sudorfparas, além
de inúm eras terminações nervosas. O músculo dartos que o compõe, é
um músculo liso que ajuda na termorregulaçâo do testfcu lo, se contraindo
no frio e relaxando no ambiente quente.
A irrigação do escroto é proveniente dos ramos pudendos externos da
artéria femoral, cios ramos escrotais da artéria pudenda interna e o ramo
cremastérico da artéria epigástrica inferior. As veias acompanham as arté-
rias e os vasos linfáticos acompanham os vasos pudendo externos até os
linfonodos inguinais superficiais.
A in ervação é realizada pelo nervo ilioinguinal, ramo do nervo geni-
tofemoral; por 2 nervos escrot ais posteriores, ramos do nervo perineal e
pelo ra mo perineal do nervo cutâneo posterior da coxa.

P~NIS

O pênis é o órgão d e cópula masculino e é totalm ente coberto por t eci-


do cutâneo. Ele conduz a maior parte da uretra, que é canal de passagem
comum para o sêmen e para a urina. Ele possui uma raiz que é fixa no
períneo e um corpo que é livre e pendular.
A ra iz d o pênis é formada por 2 ramos que são as extremidades poste-
riores dos corpos cavernosos e são fixados ao arco do púbis, e pelo bulbo
do pêni s que é a extremidade posterior dilatada do corpo esponjoso e
é fixado à membrana do períneo. Ambas estruturas são de tecido erétil.
Cada ramo do pênis é recoberto pelo músculo isquicavernoso, eles vão
convergindo p róximo à margem inferior da sínfise púb ica e se juntam
para formar os corpos cavernosos. O bulbo do pênis fica entre os ramos
e vai formar o corpo esponjoso. Uma face dele é coberta pelo músculo
b ulboesponjoso e a outra face, mais profunda, é perfurada pela uretra que
percorre todo o corpo (observe a figura 7.5).

180
CAPirUL007

Cotpo catvenoso

Corpo esponjoso

Lig.amento f1.1ndiforme do ~is

MUsct.~lo
lsquioc.avernoso

Rafe do perrneo

Corpo do ptrineo

Músculo - - - ,
i squioc.a~rnoso

Mósculo
bulboesponjoso

Figura 7.S: Essa imagem mostra os tecidos eréteis do pênis (corpos cavernosos e corpo
esponjoso), bem como sua divisão anatômica e os músculos que formam a raiz do pênis.
Retirado do Gray's Anatomia.

O corpo do pênis é constituído por 2 corpos cavernosos, um d ireito


e um esquerdo e o corpo esponjoso, que também são massas de tecido
erétil, já que são continuação dos ramos e bulbo do pênis, e eles se en-
chem de sangue no momento da ereção. O corpo é a maior parte do pênis
que praticamente é desprovido de musculatura. Os corpos cavernosos e
esponjoso são circundados pela túnica albugínea. Na posição anatômica,
ereto, os corpos cavernosos compõem a face dorsal e o corpo esponjoso
a face ventral do pênis.
Na região dista I o corpo, essencialmente o corpo esponjoso, se expan-
de e forma a glande ou cabeça do pênis, região na qual encontra-se colo,

Ull
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

a coroa e o óstio externo da uretra. Na coroa da glande a pele do pên is é


mais fina, pigmentada e se projeta para formar o prepúcio do pênis, estru-
tura semelhante a uma capa que cobre a glande e normalmente é retrátil,
causando sua exposição.
O pênis possui uma fáscia superficial de tecido conjuntivo frouxo e al-
gumas fibras musculares da túnica dartos projetadas do escroto e é des-
provida de gordura. Ela circunda os corpos cavernosos e uma parte reco-
bre o corpo esponjoso, separando as veias dorsal e superficial profunda.
Na região proximal ela é continua com o músculo dartos e com a fáscia
que envolve a região urogenital do períneo. O corpo do pênis é susten-
tado por 2 ligamentos de fibras elásticas, os ligamentos fundiforme e o
suspensor que são contínuos com essa fáscia superficial.

URETRA

A uretra masculina é d ividida em 4 partes: a íntramural, prostática,


memb ra nácea e esponjosa.
A parte intramural é uma região bem pequena da uretra que ainda se encon-
tra na bexiga, ela sai da bexiga e entra na próstata originando a uretra prostática.
A part e m embranácea se inicia do ápice da próstata (região inferior),
atravessa o espaço profundo do perín eo e é envolvida pelo músculo es-
fíncter externo da uretra. Ela termina quan do entra no bulbo do pênis e se
torna a uretra esponjosa.
A pa rte esponjosa começa na raiz do pênis e vai até o óstio externo da
uretra. Ela se inicia com uma pequena dilatação no b ulbo do pênis, a d ila-
tação intrabulba r, e tem um lúmen estreito até chegar à glande quando se
expande novament e formando a fossa navicular.

VASCULARIZAÇÃO E DRENAGEM LINFÁTICA

A irrigação é realizada pela artéria perineal, ra mo da artéria pudenda


interna; pela artéria do bulbo do pênis que é curta e larga e irriga corpo
esponjoso e g lândula bulbouretra l; pela artéria profunda do pênis (artéria
cavernosa) que é um ramo term inal da artéria pudenda interna e segue nos
corpos cavernosos se tornando contorcidas e dilatadas. Além disso é irriga-
do pelas artérias helicinas que quando cheias de sangue se desespiralizam

188
CAPirUL007

e promovem a ereção e pela artéria dorsal do pên is, outro ramo terminal da
artéria pudenda interna que irriga glande e prepúcio, além da pele do pênis,
através dos ramos que entram na túnica dartos, e o corpo esponjoso.
A drenagem venosa é realizada pelas veias dorsais do pênis, a superfi-
cial e a profunda. A veia dorsal superficia l drena prepúcio e pele do pênis
para veia pudenda externa, a veia dorsal profunda se localiza aba ixo da
fáscia do pênis e drena a glande e os corpos cavernosos, seguem para
região posterior e próxima a membrana do períneo se dividem em ramos
d ireito e esquerdo, que, abaixo da sfnfise púbica, se unem com as veias
pudendas internas para entrar no plexo prostático.
A drenagem linfática da pele e do períneo é feita por vasos linfáticos
que acompanham os vasos sanguíneos até os linfonodos inguinais super-
ficiais. A drenagem da glande vai para os linfonodos in guinais profundos
e ilíacos externos e a dos corpos cavernosos e esponjosos vão para os lin-
fonodos iliacos internos.

INERVAÇÃO

A inervação do pênis é bem rica. Ele recebe nervos para os corpos ca-
vernosos que possuem componentes simpáticos e parassimpáticos. Esses
nervos cavernosos entram na raiz do pênis para também inervar o tecido
erétil do corpo esponjoso e a uretra do pênis. O principal nervo sensitivo
do pênis é o nervo dorsal do pênis.
O suprimento simpático quando estimulado provoca vasoconstrição,
contração das glândulas seminais e da próstata e a emissão do sêmen. O
suprimento parass impático quando estimulado produz vasodilatação, as
artérias do pênis se enchem e provoca a ereção peniana.

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

É formado por 3 corpos de tecido erétil: 2 corpos cavernosos e 1 corpo


esponjoso ou corpo cavernoso da uretra, já que a envolve. Na uretra se
encontram glândulas produtoras de muco (glândulas de littré) e a maior
parte dela é revestida por epitélio pseudoestratificado colunar e na glan-
de se torna estratificado pavimentoso.
Os corpos cavernosos são revestidos pela túnica albugínea de tecido
conjuntivo denso e entre os corpos cavernosos e esponjoso há uma malha
de tecido fibroso que os separa.

188
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

OS MÚSCULOS DO PERÍNEO E OS PROCESSOS DE EREÇÃO, EMISSÃO,


EJACULAÇÃO E REMISSÃO

Os músculos superficiais do períneo são importantes para a ocorrência dos


eventos que ocorrem durante a relação sexual. São eles os músculos transver-
sos superficiais do períneo, os bulboesponjosos e os isquiocavemosos.
Os músculos transversos superficiais e os bulboesponjosos se unem
a
com o esfíncter externo do nus e fixam o corpo do períneo que dá uma
sustentação às vi sceras pélvicas. No momento da ereção a contração dos
músculos superficiais e do músculo t ransverso profundo proporciona
uma base m ais firme para o pênis.
Os músculos bulboesponjosos envolvem o b ulbo do pênis e o cor-
po esponjoso fazendo um constritor, o que aj uda a eliminar a urin a ou o
sêm en da uretra. Além disso as fib ras da parte proximal d o corpo do pê-
nis aj udam na ereção na medid a em que aumentam a pressão na raiz do
pênis e comprime a veia dorsal profunda impedindo a d renagem venosa.
Os músculos isquiocavernosos envolvem os ramos d o pên is e q uan-
do eles se contraem forçam a passagem de sangue d os ramos para os cor-
pos cavernosos causando a ingurgitação, além disso comprim e as tributá-
rias da veia d orsal profund a imped ind o a drenagem e contribuindo para a
manutenção da e reção (fig ura 7.6).

Figura 7.6: Músculos que formam o perfneo e a raíz do pênis e estão envolvidos com a
ereção peniana. Retirada do Gray's Anatomia.

1M
CAPirUL007

O primeiro evento que ocorre para a ocorrência da relação sexual é a


ereção pen iana. Ela ocorre por estimu lação parassimpática que relaxa a
musculatura lisa cias artérias espiraladas helicinas, permitindo a entrada
de mais sangue para os corpos cavernosos e esponjoso e portanto a ere-
ção do pênis. Essa ereção é mantida pela compressão feita pelos músculos
bulboesponjosos e isquiocavernosos às veias dorsais.
A emissão do sêmen, liberação do líquido semina l proveniente dos
duetos deferentes, da próstata e das vesículas semina is para o interior da
parte prostática da uretra, é feita por estímulo simpático.
A ejaculação consiste na expulsão desse liquido da uretra prostática
para o meio externo. Nesse momento, por ação simpática, há a contração
do músculo esfíncter interno da uretra, impedindo a passagem de urina
e por ação parassimpática ocorre a contração do músculo ureteral e dos
músculos bulboesponjosos auxiliando a ejacu lação.
Após a ejacu la ção ocorre a remissão do pênis, ou seja, ele volta ao
est ado flácido por estimulação simpática. Há, portanto a contração dos
músculos lisos das artérias helicinas e redução de seu lúmen, d iminuin do
o fluxo sanguíneo no tecido erétil, além de relaxamentos dos músculos
bulboesponjosos e isquiocavernosos permitindo a drenagem venosa.

FISIOLOGIA

ESPERMATOG~NESE

A espermatogênese é o nome que se dá ao processo de produção dos


espermatozoides pelos testículos e as células de Sertoli tem papel funda-
mental nessa formação. Essas células vão da lâmina basal até a extremi-
dade apical, próximo ao lúmen dos túbu los seminíferos, envolvendo os
estágios celulares até a formação do espermatozoide.
Esse processo começa durante a formação do embrião, quando as
células germinativas primordiais vão para os testículos e originam ases-
permatogônias, células germinativas imaturas (localizadas nas camadas
basais dos túbulos seminíferos). Esse processo de formação possui alguns
estágios e eles dependem da ação dos hormônios hipofisários LH e FSH
que começam a atuar na puberdade, por volta dos 13 anos e permanecem
por toda a vida do homem, reduzindo na velhice.

18&
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

Na puberdade essas espermatogôn ias começam a dividir por mitose


produzindo células que podem seguir por 2 linhas diferentes: as esper-
matogónias tipo A que continuam se dividindo como células tronco de
outras espermatogônias ou espermatogónias tipo B que se diferenciam
dando continuidade à formaç.ão do espermatozoide.
As espermatogônias t ipo B continuam se divid indo por mitose e suas
células-fi lh as originam os espermatócitos primários formados por 46
cromossomos. Essas células sofrem a primeira meiose formando os esper-
matócitos secundários que tem seu número de cromossomos reduzidos
à metade, 23 cromossomos, porém com DNA de uma células diploides, já
que cada cromossomo tem 2 cromátides.
Os espermatócitos secundários sofrem a segunda meiose e originam
as espermátides, células haploides (com 23 cromossomos e met ade da
quantidade de DNA de uma célula somática). São essas espermátid es que
vão originar os espermatozoi des através do processo de espermiogênese.

ESPERMIOG~NESE

É a fase final da produção dos espermatozoides, quando as espermá-


tides se t ransformam em espermatozoides na ausência de divisão celular.
Nesse processo ocorre a formação das partes do espermatozoide, come-
ça ndo pelo acrossomo, condensação e alongamento do núcleo, d esenvol-
vimento do flagelo e perda da maior parte do citoplasma.
O espermatozoide possui uma cabeça e uma cauda. Na extremidade
superior da cabeça é encontrado o acrossomo, um capuz espesso forma-
do no complexo de Golgi que contém diversas enzimas hidrolíticas como
hialuronidase, neuraminidase, fosfatase ácida e uma protease com ativi-
dade semelhante à da tripsina. Essas substâncias são capazes de dissolver
a membrana dos ovócitos (reação acrossôm ica). A cauda contém o flagelo
que é formado a partir do axonema (conjunto de microtúbulos) e pelo
acúmulo de m itocôndrias, importante para o movimento do flagelo. For-
madas essas partes principais, uma boa parte do citoplasma das espermá-
tides se desprende, originando os corpos residuais que vão ser fagocita-
dos pelas células de Sertoli e forma-se o espermatozoide maduro que será
liberado no lúmen dos túbulos seminíferos (espermiação).

186
CAPirUL007

É importante salientar que à medid a que as células primordiais avan-


çam no estágio de maturação, elas vão migrando, entre as células de Ser-
toli, da base dos túbulos até o lúm en (observe na figura 7.7).
A espermatogênese depende de alguns fatores para ocorrer, principal-
mente de hormônios.

·--
---
f'~-·~

-
figura 7.7: Representação da espermiogênese, bem como a interação entre as várias
células dos testfculos durante esse processo. Retirada do Berne e Levy.

FATORES QUE INFLUENCIAM A ESPERMATOG~NSE

HORMÔNIOS

A testosterona é secretada pelas células de Leydig e tem papel impor-


tante para o crescimento e divisão das células do primeiro estágio da for-
mação, as germinativas test iculares. Essas células de Leyd ig precisam ser

UI'I'
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

estimuladas a secretar a testosterona e quem faz isso é o Hormônio Lutei-


nizante (LH), secretado pela hipófise anterior.
Outro hormônio, também secretado pela hipófise anterior, é o Hor-
mônio Folículo -estimulante (FSH) que estimula as célu las de Sertoli in-
fluenciando, principalmente, no processo de espermiogênese. A partir da
estimulação das células de Sertoli ocorre conversão de testosterona em
estrogênios que também contribuem para o processo. Importante ressal-
tar que são as células de Sertoli que respondem à testosterona e ao FSH, já
que elas que possuem os seus respectivos receptores.
E por fim, também há a influência do hormônio do crescimento (GH)
que causa divisão das espermagônias. Na ausência dele, a espermatogê-
nese é prejudicada podendo ser ausente, é o caso dos anões hipofisários,
por exemplo.

TEMPERATURA

A espermatogêse só ocorre em temperaturas aba ixo de 37 °(, por isso


a temperatura tem uma importância muito grande nesse processo. A tem-
peratura dos testícu los é em torno de 35 °( e ela é cont rolada por meca-
nismos que envolvem o extenso plexo venoso (plexo pampiniforme) que
ajuda na perda de calor pelos testículos; a evaporação de suor pela pele
do escroto e a contração dos músculos cremastéricos do funículo esper-
mático puxando-os em d ireção ao canal inguinal, onde a t emperatura é
um pouco maior, nos casos em que a tem perat ura esteja mais baixa.

HORMÔNIOS MASCULI NOS

CARACTERfSTICAS GERAIS

O principal a.ndrógeno prod uzido pelos testículos é a testoste ro-


na. Ela é prod uzi da pelas células de Leydig a partir do colesterol, como
ocorre com todas as células est eroidogênicas, sendo a célula de Leydig
semelhante às células da zona ret icular das adrenais (capítulo 3), porém
expressa uma isoforma d iferente da 17~-hidroxiesteroide desid rogenase
(17~-HSD tipo 3) que converte androstenediona em testosterona.

188
CAPirUL007

A testosterona é mantida nos t úbulos seminíferos (compa rtimento


adluminal) pela ABP e as células de Sertoli expressam a enzima CYP19
(aromatase) que converte a testosterona em um estrógeno muito poten-
te, o 17(3-estradiol que contribui para a espermatogênese. Há também a
conversão periférica da testosterona em estrógeno em diversos tecidos,
principalmente te<ido adiposo. Esse estrógeno tem um papel importan-
te nas maturação dos ossos do homem, contribuindo para o fechamento
das epífises ósseas, e estabelece o feedback negativo com os hormônios
hipofisários, sobretudo o LH.
A testosterona também pode ser convertid a em um outro andróge-
no não aromatizado muito potente, a Sa-di-hidrotestosterona (DHT), pela
enzima Sa-redutase. Há duas isoformas dessa enzima, tipo 1 e tipo 2. A
Sa-redutase tipo 1 se expressa inicialmente na puberdade, sobretudo na
pele, contribuindo para a produção de acne e atividade das glândulas se-
báceas. A Sa-redutase tipo 2 se expressa de forma significativa no trato
urogenital mascul ino, nos folfculos pilosos, na pele genital e no fígado.
Ela produz a DHT para a masculinização da genitália externa no período
intra útero e mais tarde para mudanças relacionadas com a puberdade,
como crescimento do pênis, crescimento e atividade da próstata, escu-
recimento e pregueamento do escroto, crescimento dos pelos pubianos,
axilares, faciais e corporais e aumento da massa muscular. A testosterona,
portanto, é produzida durante o desenvolvimento fetal estimulada pela
gonadotrofina coriónica da p lacenta por até 1O semanas ou mais depois
do nascimento e a partir daí cessa a produção, voltando na puberdade.

MECANISMO DE AÇÃO DOS ANORÓGENOS

Tanto a testosterona como a Di-hidrotestosterona agem através do


mesmo receptor and rogênico (AR). Quando está sem ligante algu m esse
receptor se encontra no citoplasma acoplado a alg umas proteínas chape-
ronas. No momento em que se liga a um dos andrógenos essas proteínas
são dissociadas e o complexo andrógeno-receptor se d esloca para o nú-
cleo, se dimeriza e se liga a um elem ento d e resposta a andrógeno (ARE),
iniciando o processo de recrutamento de proteínas co-ativadoras, além d e
fatores que alteram a tra nscrição. Nesse contexto a testosterona age ba-
sicamente aumentando a formação de proteínas nessas células alvo, por
isso é considerado um hormônio anabólico.

189
O SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO

TRANSPORTE E M ETABOLISMO DO ANDRÓGENOS

Os andrógenos são hormônios esteroides, portanto lipossolúveis o que


os impede de circular livremente no plasma. Aproximadamente 60% da
testosterona circulante está ligada à globulina Ligadora de hormônio se-
xual (SHBG), 28% segue ligada à albumina e os outros 2% resta ntes estão
"livres" para exercer suas funções.
A excreção dos andrógenos é feita pela via renal. O fígado metaboliza
esses compostos, conjugando-os com o g licuronato ou sulfato e então es-
tes esteroides conjugados são elim inados na urina.

AÇÕES FI SIOLÓ GICAS DA TESTO STERONA

A testosterona tem papel importante d urante a vida fetal sendo res-


ponsável pelo desenvolvimento das características masculinas, como:
formação do pênis e do saco escrota!, da próstata, vesículas sem inais e
duetos genitais masculinos enquanto suprime a formação dos órgãos fe-
m ininos. Além d i sso influencia na descida dos testículos para a bolsa es-
crota! e estimula a atividade das células de Sert oli.
Na puberdade, quando volta a ser secretada, ela desempenha também
papeis essenciais como o crescimento do pênis, sacro escrota I e testículos
antes dos 20 anos de idade e aparecimento das características sexuais pri-
márias e secundárias.
Dentre essas caract erísticas estão o aparecimento dos pelos pubianos,
pelos da face e tórax; alteração da voz devido à hipertrofia da m ucosa la-
ríngea e alargament o da laringe; aument o da espessura da pele e da se-
creção das glândulas sebáceas no corpo causando a acne; aumento da
formação de proteínas e desenvolvimento da massa m uscular; aum ento
da matriz óssea p or maior deposição de sais de cálcio, além de efeito es-
pecifico na formação da pelve masculin a, sendo esta alongada, com pas-
sagem estreita e f orma afunilada diferente da pelve fem inina.
Além d isso a t estost erona t ambém influencia o metabolismo dos lipí-
deos causando aumento de LDL, redução do HDL e deposição de gordura
na região abdominal. Atua ainda aumentando a produção de hem ácias e
mantendo a função erét il e a libido.

1'70
CAPirUL007

REGULAÇÃO DAS FUNÇÕES SEXUAIS MASCULINAS

O controle das funções sexuais tanto do homem, como da mulher,


como veremos nos próximos capítulos, é realizada a partir da liberação do
hormônio liberador de gonadotropina (GnRH) pelos neurônios cujos
corpos celulares estão no núcleo arqueado do hipotálamo. O GnRH es-
timula a hipófise anterior a secretar os dois hormônios gonadotróficos:
hormônio luteini.zante (LH) e hormônio folículo estimulante (FSH). O
LH estimu la a célu las de Leydi a secretarem testosterona e o FSH estimula
as células de Sertoli e principalmente a espermatogênese.
Esses hormônios gonadotróficos agem ativando o sistema de segundo
mensageiro do monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) e estimulam as cé-
lulas-alvo. Quando o LH estimula as células de Leydig a secretarem testos-
terona, o próprio t'lormônio liberado influencia por meio de um alça de fee-
dback negativo a s.ecreção do GnRH pelo hipotálamo e consequentemente
a de LH e FSH. Dessa forma, a redução da secreção de LH reduz também a
liberação de testosterona pelos testículos. Portanto, em situações em que
há elevação ou redução acentuada da secreção de testosterona, esse efeito
automático de feedback negativo atua regulando os níveis hormonais.
O FSH, como já mencionado, é responsável pelo estímulo à espermato-
gênese. Nesse caso, quando a produção de espermatozoides é muito redu-
zida ou aumentada, a hipófise anterior aumenta ou reduz, respectivamente,
a secreção do FSH. Acredita-se que a redução da secreção do FSH seja in-
fluenciada pela inibina, uma glicoproteína secretada pelas células de Sertoli
que age inibindo a hipófise anterior e em menor grau o hipotálamo.

SÍNDROME DE KALLMANN

É uma doença genética congênita caracterizada pela presença de hipo-


gonadismo hipogonadotrófico, pela deficiência na produção de GnRH, e por
anosmia ou hiposmia, por hipoplasia ou aplasia do bulbo olfatório. A maioria
dos casos é diagnosticada na puberdade, devido à ausência de característi-
cas sexuais secundárias e presença da hiposmia ou anosmia, porém pode-se
suspeitar na infância em meninos que tenham micropênis e criptorquidia.
Pode estar associada à outras alterações como aplasia renal unilateral, fenda
palatina ou labial, agenesia dentária e redução da audição. O tratamento é
feito com terapia de substituição hormonal para induzir a puberdade.

1'71
( '~- )
f Produzem os
Ramos do ~
c o~ BuiOO.,Spon)oso ) ~rmatozood~ Túnteas vagon
~nós Musa.olos e olbuginea
(Corpo
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DuctOI detetwntK
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..( Dueto deferente )

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Glindulas
Prostata -f Submnoas
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REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fi siologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017.
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. MOORE, K.l. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
4. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 2010.
S. JUNQUEIRA, LC.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11• Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
6. Ribeiro RS; Abucham J. Síndrome de Kallmann: uma Revisão Histórica, Clínica
e Molecu lar. Arq Bras End rocrínol Metab 2008;52/1. São Paulo, 2007.

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CONFERÊNCIA •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida •
sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •
























O Sistema Reprodutor
Feminino

CASO CLÍNICO

Cinária, 14 anos, vai acompanhada pela mãe à sua primeira consulta ao


ginecologista. O motivo foi o início do ciclo menstrual da menina que co-
meçou recentemente e uma queixa de mastalgia que antecedia a mens-
truação, além do desejo de ambas em realizar a consulta de rotina com a
ginecologista.
Cinária sempre foi uma menina muito curiosa e aproveitou a consul-
ta para tirar suas dúvidas com relação às mudanças que estavam aconte-
cendo em seu corpo. A médica que as atendeu realizou o atendimento e
conversou com a menina sobre as alterações físicas que ocorrem no corpo
feminino a partir da puberdade, explicando o papel e as influencias dos
hormônios sexuais que ocorrem nesse período, inclusive explicando o
funcionamento do ciclo menstrual.
Quais são esses hormônios sexuais?
Quais são as mudanças que ocorrem durante a puberdade?
Como funciona o ciclo menstrual?

177
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

1. 2 POSSÍVEIS TERMOS OU PALAVRAS DESCONHECIDAS

"Mastalgia": Dor nas mamas.

1.2 PALAVRAS CHAVES

"Ciclo menstrual'; "men struação~ "puberdade'; "hormônios sexuai s~

1. 3 OBJETIVOS

Descrever a estrutura anatômica e histológica dos componentes do


sistema reprodutor feminino.
Compreender os eventos que compõem os ciclos ovariano e sexual
mensais, b em como o papel dos hormônios em cada evento.
Evidenciar as funções fisiológicas dos hormônios sexuais femininos.
Entender os processos de regulação do ritmo mensal feminino.

178
CAPiTUL08

O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

O sistema reprodutor feminino, assim como o masculino, tem suas


funções mediadas e influenciadas pelos hormônios sexuais que veremos
mais adiante e também é dividido em órgãos internos e externos. Ases-
truturas que compõem os órgãos internos são os ovários, tubas uterinas,
útero e vagina, enquanto a vulva constitu i o órgão externo feminino. O
sistema ainda pode ter outra divisão: trato genital superior (útero, tubas
uterinas e ovários) e trato genital inferior (vulva e vagina)

ANATOMIA E HISTOLOGIA: ÓRGÃOS INTERNOS

VAGINA

A vagina é um tubo fibromuscular que começa na abertura entre os


lábios menores (vest íbulo) e termina no colo do útero. Éo órgão de cópula
feminino, compõe o canal do parto e é a passagem para a m enst ruação.
Tem intima relação com a bexiga e o reto, já que se localiza entre essas
duas estruturas. A pared e anterior da vagina é posterior à base da bexiga
e à uretra inferiormente e a parede posterior é anterior ao reto, sendo se-
parada dele pelo escavação retouterina ou fundo de saco.
Essas paredes normalmente se encontram colabadas e o diâmetro da
vagina aumenta à medida em que segue em direção ao útero. Ao se en-
contrar com o colo do útero, a vagina se"encaixa" nessa região e a circunda
formando um recesso entre o colo do útero e as paredes da vagina, cha-
mado de fórnice que apresenta partes contín uas com nomes sepa rados: o
anterior, posterior e laterais direita e esquerda.
A vagina se abre para o meio externo através do introito vaginal, logo
abaixo do meato ureteral. Esse introito pode variar de tamanho, podendo
aumentar muito o diâmetro no momento do parto. Próximo ao orifício
vaginal há uma fina membrana mucosa, chamada hímen que tem várias
formas e tamanhos e geralmente se rompe durante a primeira relação se-
xual (figura 8.1 ).

179
O SISTEMA REPRODUTOR FEM ININO

Tuba uterina

o:=;r-- Orifício interno do


colo do útero
Colo
uterino _ __,
; --orifir:io externo
do colo do útero

figura 8.1: Representação anatõmica dos órgãos genitais i nternos femininos. Retirada de
h ttp://diplomadomedico.com/protocolo-exploracion-utero/

VASCULARIZAÇÃO E DRENAGEM LINFÁTICA

A irrigação da vagina é derivada das artérias ilíacas internas que dão


origem às artérias vaginais e às artérias ázigos da vagina que suprem a
maior parte do órgão. Além deles, os ramos da artéria ilíaca interna (pu-
dendo interno, uterino e reta I médio) também contribuem.
A drenagem venosa é feita pelas veias vaginais, derivadas dos plexos
laterais conectados aos plexos uterino, vesical e retal e drenam para as
veias ilíacas internas.
A drenagem linfática da vagina é feita pela união dos vasos linfáticos
vaginais com os do colo do útero, reto e vulva. Sendo assim, os vasos supe-
riores drenam para os linfonodos ilíacos internos e externos; os intermedi-
ários vão para os linfonodos ilíacos internos e os inferiores drenam para os
linfonodos inguinais superficiais.

180
CAPiTUL08

INERVAÇÃO

A região superior da vagina é inervada pelo nervo pudendo e a região


inferior é inervadao pelos nervos esplâncnicos.

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

A vagina é composta por 3 camadas: mucosa, muscular e adventícia. O


epitélio da mucosa é do tipo pavimentoso estratificado praticamente não
queratinizado. A lâmina própria da mucosa é formada por tecido conjun-
t ivo frouxo rico enn fibras elásticas e contém alguns linfócitos e neutrófi-
los. A camada muscular é composta, sobretudo, por fibras musculares lisas
dispostas longitudinalment e e em menor quantidade por fibras circulares
na part e mais int erna. A camada adventícia se encontra ext ernamente à
camada muscular, é formada por t ecido conjuntivo denso e rica em fibras
elásticas que confere elasticidade à vagina.

ÚTERO

O útero é um órgão predominant em ente muscular, oco e de paredes


bem espessas que aloja o feto durante 9 meses. É um órgão piriforme (for-
ma de pêra) de dimensões pequenas, mas que podem se distender bas-
tante durante a gravidez. Ele se localiza na pelve entre a bexiga e o reto,
numa posição antevertida, ou seja, o colo se dobra pa ra frente com rela-
ção ao eixo da vagina e antefletida, o corpo do útero se dobra para frente
com relação ao eixo do colo do útero.
O útero é dividido em fundo, copo e colo (ou cérvice). O corpo é a
maior parte, corresponde aos dois terços superiores e vai do fundo do
útero, na região superior, até a cérvice, na região inferior. O corpo do útero
fica acima da bexiga, devido à anteflexão e é separado dela pela escava-
ção vesicouterina (fundo de saco).
É no fundo do· útero, na região dos cornos uterinos, que as tubas ute-
rinas entram de cada lado. Abaixo de cada corno existe o ligamento re-
dondo e abaixo e posterior há o ligamento ovariano, além disso nas mar-
gens laterais do corpo o peritônio é refletido e forma o ligamento largo.

181
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

O colo do útero ou cérvice uterina possui duas extrem idades: uma su-
perior que se comun ica com o corpo do útero através do óstio interno
da cérvice e uma inferior que se abre na vagina através do óstio externo
da cérvice. Essa extremidade inferior entra na região superior da vagina e
divide a cérvice em porção supravaginal e vaginal (figura 8.1).
O útero é um órgão fixo e ele mantem essa condição devido aos liga-
mentos que possu i. Existem ligamentos verdadeiros que são constitu ídos
por tecido fibroso e existem pregas de peritônio que são também chama-
das de ligamentos. Dessas pregas peritoneais os ligamentos largos são
as mais importantes, eles partem das regiões laterais do útero e vão até
as paredes pélvicas laterais onde se continuam com o peritôn io delas. Eles
são os maiores ligamentos e são divididos em um mesossalpinge - supe-
rior (localizado entre a tuba uterina e o ovário), um mesovário- posterior
(est á preso ao hilo do ovário carregando vasos e nervos) e um mesomé-
trio - inferior (maior parte do ligam ento) (veja na figura 8.2)

u.,........ ~..-
('''""•••wMo)

...................-.

Figura 8.2: Vista poste rio r do útero e anexos mostrando os principais ligamentos uterinos e
ovariano e a divisão anatômica das tubas uterinas. Observe os ligamentos largos de cada
lado, que se dividem em mesossalpinge, mesovário e mesométrio. Retirada do Moore

Dos ligamentos da pelve os mais importantes são os ligamentos re-


dondos. Eles são fa ixas estreitas que partem próximas aos cornos uterinos
e seguem lateralmente dentro da parte superior do ligamento largo até a

182
CAPiTUL08

parede pélvica lateral. Mais inferiormente, próxima a artéria epigástrica,


eles entram no anéis inguinais profundos e terminam no monte pubiano.

VASCULARIZAÇÃO E DRENAGEM LINFÁTICA

A irrigação do útero é proveniente da artéria uterina, ramo da artéria


ilíaca interna. Na sua origem, a artéria uterina cruza o ureter anteriormen-
te ao ligamento largo e depois se ramifica para chegar ao útero na junção
cervicouterina. Essa artéria uterina se ram ifica bastante emitindo vários
ramos que chegam ao útero. Um ramo principal sobe pelo útero dentro
do ligamento largo e chega ao hilo ovariano onde se anastomosa com os
ramos da artéria ovárica; outro ramo d esce para a cérvice e se anastomosa
com os ramos da artéria vaginal formando as artérias ázigos da vagina.
Cada artéria uterina vai dar origem a inúmeros ramos qu e entram na pare-
de uterina e se torna m ramos terminais, na musculatura uterina, tortuosos
e chamados de artérias espiraladas.
A drenagem venosa é feita pelas veias uterinas que seguem lateral-
mente nos ligamentos largos acompanhando as artérias. Elas drenam
para as veias ilíacas internas e o plexo venoso uterino se anastomosa com
os plexos venosos vaginal e ovariano.
A drenagem linfática é feita pelos vasos linfáticos uterinos. Os deriva-
dos do corpo do út ero e da cérvice drenam para os linfonodos iliacos ex-
ternos e internos (próximos às suas artérias correspondentes) e para os
linfonodos obturatórios (localizados na fossa obturatória). Os linfáticos
proven ientes do fundo do útero e das tubas uterinas acompanham a dre-
nagem dos ovário.s pa ra os linfonodos para-aórticos.

INERVAÇÃO

A inervação uterina é proveniente do plexo hipogástrico inferior. As fi-


bras simpáticas podem produzir contrações uterinas e vasoconstrição e as
fibras parassimpáticas podem produzir inibição uterina e vasodilataçâo.

183
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

O útero tem uma parede espessa e formada por 3 camadas: o perimé-


trio, o miométrio e endométrio.
O perimétrio é a serosa constituída de mesotélio e tecido conjuntivo
que reveste externamente o órgão. O miométrio é a camada mais espes-
sa formada por músculo liso. Essa camada possu i 4 subcamadas de fibras
musculares, sendo a primeira e quarta d ispostas longitud in almente e as
camadas intermediárias contém os vasos que suprem o órgão. No útero
gravídico essas células musculares sofrem hipertrofia e hiperplasia cau-
sando aumento acentuado do órgão.
O endométrio é a camada mais interna, formada por epitélio simples
colunar de células ciliadas e secretoras e uma lâmina própria com glân-
dulas tubulares simples e tecido conjuntivo rico em fibroblastos e matriz
extracelular. Esse endométrio pode ser subdividido em duas camadas : a
camada basal e a camada funcional.
A camada ba.sal é mais profunda, próxima ao miométrio, e é formada
por tecido conjuntivo e pela parte inicial das glândulas uterinas, além dis-
so é irrigada pelas artérias retas. A camada funcional é mais superficial
e é formada por tecido conjuntivo da lâmina própria, pela parte final das
glândulas e por epitélio superficial, além de ser irrigada pelas artérias es-
pirais. Éessa camada superficial que sofre as alterações do ciclo menstrual.
Essas artérias que suprem essas camadas são ramos das artérias arquea-
das localizadas no miométrio.
Diferentemen te, a região da cérvice uterina possui mucosa revestida
por epitélio simples secretor de muco com glândulas mucosas cervicais e
poucas fi bras musculares, além de não sofrer alterações durante a mens-
truação. A parte que se comunica com a vagina é formada por epitélio
estratificado pavimentoso.

TUBAS UTERINAS

As t ubas uterinas são também chamadas de trom pas de Falópio. São


estruturas tubu lares aderidas à parte superior do corpo do útero (cornos
uterinos) e se comunicam com ele através do óstio uterino que se abre
na cavidade uterina de cada lado. Ela s seguem lateralmente, como dois

184
CAPiTUL08

braços, e se abrem na cavidade peritoneal próximas aos ovários. Elas pos-


suem quatro partes: a parte intramural, o istmo, a ampola e o infundíbulo.
O segmento intramural é o menor deles com lcm de comprimento e
0,7mm de largura, se localiza dentro do m iométrio e é contínuo com o istmo.
O istmo é a região mais estreita e espessa se localizando bem próximo aos
cornos uterinos. A ampola é a parte mais larga da tuba, possui uma parede
fina, uma mucosa pregueada e é normalmente nessa região que a fertiliza-
ção ocorre. O infundíbulo é a extremidade que se abre na cavidade perito-
neal através do óstio abdominal. Na ponta do infundfbulo existem pregas
d igitiformes da mucosa chamadas de fímbrias, que capturam o ovócito no
momento da ovulação. Uma dessas fímbrias se destaca, é a fímbria ovárica,
ela é mais longa e mais ram ificada que as demais e se localiza no polo tu bário
do ovário (figura 8.1)

VASCULARIZAÇÃO E DRENAGEM LINFÁTICA

A irrigação das tubas uterinas é realizada pelas artérias ovariana e ute-


rina, sendo o terço lateral suprido pela artéria ovariana e o os dois terços
mediais supridos pela artéria uterina.
A drenagem venosa é semelhante ao suprimento arterial. A drenagem
dos dois terços laterais é feita pelo plexo pampiniforme das veias ovaria-
nas que chegam na veia cava inferior do lado direito e na veia renal do
lado esq uerdo e os dois terços mediais são drenados pelo plexo uterino
para veia ilíaca interna.
A drenagem linfática ocorre pelo vasos linfáticos ovarianos até os linfono-
dos para-aórticos e pelos vasos linfáticos uterinos até a cadeia ilíaca interna.

INERVAÇÃO

O suprimento nervoso das tubas uterinas é feito por fi bras autônomas,


simpáticas e parassimpáticas, distribuídas com as artérias ovariana e ute-
rina. A fibras parassimpáticas são derivadas do nervo vago (para metade
lateral da tuba) e dos nervos esplâncnicos pélvicos (para metade mediai)
e as fibras simpáticas são derivadas de neurôn ios do décimo segmento
torácico (Tl O) até o segundo segmento lombar (l2).

185
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

As tubas uterinas também possuem uma parede formada por 3 cama-


das: mucosa, muscular e serosa. A mucosa possu i dobras longitudinais
principa lmente na região da ampola, é revestida por epitélio coluna r sim-
p les e por lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo. Esse epitélio possu i
células secretoras de muco e células ciliadas que tem seu movimento ciliar
em direção ao út ero. A camada muscular é espessa e formada por fibras
musculares lisa d ispostas em camada circular interna e longitudinal exter-
na. E a serosa é formada por folheto v isceral de peritônio.

OVÁRIOS

Os ovários são as gônadas fem ininas. Similares aos t estícu los que pro-
duzem os espermatozoid es, são os ovários que produzem as estruturas
que permitem a reprod ução feminina, os ovócitos. Além disso são tam-
bém glândulas endócrinas que produzem os hormônios femininos.
Eles possuem o formato e o tamanho de uma amêndoa e estão suspensos
de cada lado pelo mesovário, uma curta prega peritoneal que faz parte do li-
gamento largo. São fixados à extremidade uterina, posterior à tuba, pelo liga-
mento ovariano ou ligamento útero-ovárico e tem como passagem dos vasos
e nervos ovarianos o ligamento infundíbulopélvico ou suspensor do ovário,
outra prega de peritônio que fica presa à parte superior da lateral do ovário.
Na vida embrionária e início da v ida fetal, os ovários se localizam na região
lombar, próximo aos rins, e ao longo do desenvolvimento eles descem pelo
gubernáculo e param na pelve menor. At é a puberdade a cápsula de tecido
conjuntivo (túnica albugínea do ovário) que constitui a superfície ovariana é
coberta por um mesotélio ovariano ou epitélio superficial, uma camada de
células que confere a superfície lisa e dá a cor acinzentada e fosca do ovários.
Após a puberdade, esse epitélio é d istorcido por fibrose devido às repetidas
rupturas de folícu los e liberação de ovócitos durante a ovulação.

VASCULARIZAÇÃO E DRENAGEM LINFÁTICA

A irrigação dos ovários é feita pelas artérias ovarianas, ramos da aorta


abdom inal. Elas saem próxim as as artérias renais e descem até a cavidade

186
CAPiTUL08

pélvica, próximas ao ligamento suspensor do ovário. Elas se dividem em


um ramo para o m esovário que supre o ovário e um ramo que entra no
ligamento largo para suprir a tuba uterina.
A d renagem venosa é realizada pelas veias ovarianas que saem dos
ovários pelo p lexo pampiniforme. Duas veias saem do plexo e seguem
junto com a artéria ovariana de cada lado e antes de entrar na veia cava
inferior do lado direito ou na veia renal do lado esquerdo elas se unem.
A drenagem linfática é feita pelos vasos que seguem as veias ovarianas
para os linfonodos para -aórticos, próximos as artérias renais.

INERVAÇÃO

O suprimento nervoso dos ovários é proveniente de plexos autôno-


mos. A parte superior do plexo ovariano é formada pelos plexos renal e
aórtico e a parte inferior pelos plexos hipogástricos superior e inferior.

ESTRUTURA HISTOLÓGICA

Os ovários são formados por epitélio germinativo do tipo pavimentoso


ou cúbico simples. Cobrindo esse epitélio existe uma camada de tecido
conjuntivo denso, a túnica albugínea, que deixa os ovários com a colora-
ção esbranquiçada. Eles possuem uma região cortical e uma região medu-
lar. Abaixo da túnica albugínea está reg ião cortical onde predom inam os
fo lículos (ovócito mais as células que o envolvem), localizados no tecido
conjuntivo, o estroma, rico em fibroblastos. A reg ião medular fica mais in-
ternamente e contém tecido frouxo com um leito vascular bastante rico.

ÓRGÃOS EXTERNOS

VULVA

A genitália externa feminina é a vulva, uma estrutura que é formada por


outras estruturas: o monte pubiano, os lábios maiores e lábios menores, o
clitóris, o vestíb ulo·, o bul bo vestibular e as glândulas vestibulares maiores.

187
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

MONTE PUBIANO

O monte pubiano é uma área arredondada de pele formada por uma


massa de tecido adiposo subcutâneo. Essa área fica sobre a sínfise púbica
e o osso púbis e durante a adolescência se enche de grossos pelos pubia-
nos e fica mais proeminente. Na infância o monte pubiano é desprovido
de pelos e no período após a menopausa eles ficam mais delgados.

LÁBIOS MAIORES

Os lábios maiores são duas pregas longitudinais de pele que vão do mon-
te pubiano até o períneo, formando os limites laterais da vulva. Esses lábios
apresentam uma superfície externa mais escura e coberta por pelos e uma
interna rosada, lisa e com glândulas sebáceas. Essas superfícies possuem um
epitélio estratificado pavimentoso queratinizado com presença de músculo
liso, tecido conjurntivo frouxo, tecido adiposo, vasos, nervos e glândulas.
As pregas se unem anteriormente formando a comissura anterior e
terminam paralelas na região posterior, sendo unidas por uma pele que
forma a comissura posterior.
Histologicamente são dobras de pele compostas por tecido adiposo e pou-
cas libras museulares lisas e tem a histologia semelhante aos lábios menores.

LÁBIOS MENORES

Os lábios menores são pregas pequenas de pele que não possuem gor-
dura e se localizam entre os lábios maiores. Elas partem lateralmente do
clitóris, para baixo e para atrás às margens do orifício vaginal. A camada
superior de cada lado passa por cima do clitóris e forma o prepúcio do
clitóris, uma espécie de capuz que o recobre e a camada inferior de cada
lado passa por baixo do clitóris formando o frênu lo do clitóris.
Histologicamente são dobras da mucosa vaginal formada por tecido
conjuntivo penetrado por fibras elásticas. São cobertos por epitélio estra-
tificado pavimentoso pouco queratinizado e possuem g lândulas sebáceas
e sudoríparas nas superfícies interna e externa.

188
CAPiTUL08

VESTÍBULO

Entre os pequenos lábios existe um espaço que contém os orifícios vagi-


nal e uretraI externo, as aberturas das duas glândulas vestibulares maiores e
outras glândulas vestibulares menores, esse espaço é chamado de vestíbulo.

BULBOS DO VESTÍBULO

Os bulbos do vestrbulo são duas massas long itudinais de tecido erétil


que se localizam a cada lado do vestíbulo. As extrem idades posteriores
são dilatadas e ficam em contato com as glândulas vestibulares maiores e
as extremidades anteriores são delgadas e se unem ao clitóris. Na região
ma is superficial os bulbos são cobertos pelo músculo bulboesponjoso (fi-
gura 8.3)

Corpo do dito ris


(corte transversal)
Glande do d itoris - - - - - - - ,
Corpo cavernoso do ditoris

Bulbo do V<!stfbulo Glandula vestibular maior


na loja superficial do perfneo
-
Raiz do clitoris
(parte fixa do
corpo cavernoso

Figura 8.3: Representação dos tecidos eréteis do dltoris e a localização das glãndulas vesti-
bulares. Retirada do Gray's Anatomia.

189
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

GLÂNDULAS VESTIBULARES MAIORES

São também chamadas de Glândulas de Bartholin e são semelhantes as


glândulas bulbouretrais masculinas. Elas ficam nas extremidades posterio-
res dos bulbos do vestíbulo e são arredondas de coloração vermelho-ama-
relada. Seus duetos se abrem na região posterolateral do vestíbulo, num
su lco entre o hímen e lábio menor, e liberam um muco esbranquiçado que
tem função lubrificante, no momento da excitação sexua l (Figura 8.3).

CliTÓRIS

O clitóris é uma estrutura erétil que t em a mesma origem em brionária


do pênis. El e é formado por uma raiz, um corpo e uma glande. Ele possui
dois corpos cavernosos, de t ecido erétil, envolvidos por t ecido conjunti-
vo fibroso denso e pelo músculo isquiocavernoso. superficialmente, além
disso a parte fixa dos corpos cavernosos forma a raiz do clitóris. A glande
possui também um tecido erétil esponjoso conectado aos bulbos do ves-
tíbulo e uma informação muito importante é que o epitélio d essa estrutu-
ra tem uma alta sensibili dade cutânea, importante nas respostas sexuais
(fig ura 8.3).
Histologicamente o clitóris é coberto por um epitélio estratificado
pavimentoso.

VASCULARIZAÇÃO E DRENAGEM liNFÁTICA DA VULVA

A irrigação é derivada dos ramos pudendos externos superficial e pro-


fundo da artéria femoral e da artéria pudenda interna de cada lado.
A d renagem venosa da pele da vulva é realizada pelas veias puden das
externas para a veia safena magna e drenagem do clitóris é feita pelas
veias dorsais profu ndas para veia pudenda interna e das veias dorsais su-
perficiais para as veias p udenda externa e safena magna.
A drenagem linfática dos vasos linfáticos proven ientes do monte pu-
b iano vão para os linfonodos inguinais superficiais. Os vasos do períneo
e da parte inferior dos lábios maiores drenam para o plexo linfát ico reta I

190
CAPiTUL08

e os vasos do cl itóris e dos lábios menores drenam para os linfonodos in-


guinais profundos.

INERVAÇÃO

O suprimento n ervoso da vulva é rico. A inervação sensitiva do terço


anterior do lábio maior é feita pelo nervo ilioinguinal, os dois terços pos-
teriores são inervados pelos ramos do nervo perineal e a face lateral pelo
ramo perineal do nervo cutâneo posterior da coxa . O clitóris recebe iner-
vação dos nervos cavernosos do clitóris e do nervo dorsal do clitóris.

FISIOLOGIA

Agora vam os ver um pouco como é a fisio log ia d o sist ema reprodutor
feminino e você vai perceber que ela é muito disti nta do sistema mascu-
lino, pela sua riqueza em d etalhes e pela sua maior complexidad e. A mu-
lh er pode passar por duas fases no período reprodutivo: estar g rávida ou
não! Por isso as funções reprodutivas femininas são divid idas em preparar
o corpo da mulher para a gravidez e a gravidez propriamente dita.
O indivíduo do sexo masculin o mant ém a produção d as células repro-
dutivas, os espermatozo id es, durante toda a vida m esmo que reduzida
com o passar do tempo. Com o sexo feminin o é d iferente, a mulher já nas-
ce com a quanti dade d e células reprodutivas det erminada.Veremos como
e por que agora!
No iníci o do d esenvolvimento embrio nário uma parte das células ger-
minativas qu e formam os ovários se dividem e formam as ovogônias. No
t erceiro mês essas células entram na primeira d ivisão meiótica e param na
fase d e diplóteno origin ando os ovôcitos primários qu e são envolvidos por
células folícul ares. Quando o ovócito é envolvido por essas células da g ra-
nulosa o u folícul ares ele recebe o nom e de folículo primordial. Próxim o ao
sétimo mês a maioria das ovogônias já se transform ou em ovócitos primá-
rios, porém nem todos se desenvolvem, pois muitos sofrem um processo
de atresia. É por esse motivo que o período fértil da m ulher é limitado,
uma vez que na p uberdade o número de ovócitos é cerca de 300 m il e a

191
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

atresia se continua até o fim da vida reprodutiva da mulher, por volta dos
45 anos.
Esse folículo primordial permanece inalterado por toda a infância da
mulher e começa a sofrer alterações no período da puberdade, por volta
dos 12 anos de idade, devido ao início da secreção dos hormônios hipo-
fisários, o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante
(LH) levando ao início dos ciclos sexuais mensais. Esses ciclos culminam
em alterações ovarianas e endometriais que ocorrem simultaneamente,
além de mudanças cíclicas nas concentrações desses e de outros hormô-
nios liberados.

CICLO OVARIANO

Esse ciclo é o responsável pela maturação e liberação do óvulo e é divi-


dido em 3 fases: a fase folicular, a fase de ovulação e a fase lútea.

FASE FOLICULAR

Essa fase é caracterizada pelo crescimento do folículo ovariano. No pe-


ríodo da puberdade, o folículo primordial está em repouso, durante a in-
fância começa a crescer junto com os ovários, estimulados pelo FSH e LH
liberados. Esse crescimento começa pelo aumento do próprio óvu lo em
até três vezes o d iâmetro original, seguido de aumento de outras camadas
da granulosa originando os folículos primários.
Você deve concordar que nem todos os folículos são desenvolvidos de
uma vez só, por isso sob estímulo do FSH, apenas seis a doze folículos são
estimulados a crescer de forma acelerada por mês. Primeiro ocorre a pro-
liferação rápida das células granulosas formando mais camadas. Inicial-
mente forma uma camada, fase em que é chamado de folículo primário
unilaminar, e depois começa a formar várias camadas e ai passa a se cha-
mar folículo primário multi laminar. ou pré-antral. Ocorre o agrupamen-
to das células do interstício ovariano que forma um segunda camada de
células, a teca que se divide em teca interna e teca externa. A teca inter-
na possui células semelhantes às da granulosa e são capazes de secretar
os hormônios sexuais estrogênio e progesterona e a teca externa forma
uma cápsula de tecido conjuntivo vascularizada que cobre o folículo.

192
CAPiTUL08

Após alguns dias dessa fase proliferativa as células da granulosa come-


çam a secretar um líquido folicular que é rico em estrogên io. Esse líquido
se acumu la e forma o antro dentro do conjunto das células da granulosa,
nesse momento O· folículo é chamado de folfculo antro/ ou folículo secun-
dário. Esse crescimento folicu lar até esse estágio antral é estimulado pelo
FSH e esse crescimento rápido ocorre devido ao aumento da expressão de
receptores de FSH nas células da granulosa estimulado pelo estrogênio
secretado pelo follculo, levando a um feedback positivo ao FSH. Além dis-
so o FSH e o estrogênio agem juntos para promover a formação de recep-
tores LH nas células da granulosa e sofrer estimulação desse hormónio.
Em meio a essa proliferação, apenas um folícu lo se destaca e cresce
mais que os outros, o folículo dominante, razão pela qual, normalmente,
apenas um óvulo pode ser fecundado. Por outro lado, os folículos q ue
vinham se desenvolvendo sofrem o processo de atresia (involução), isso
provavelmente devido aos efeitos menos intensos de feedback positivo
desses folícu los enn relação ao folículo maior. Quando o folícu lo se desen-
volve por completo, se aproximando a época da ovu lação, ele passa a ser
chamado de folículo maduro, ou pré-ovulatório ou folículo de Graaf que já
contém o óvulo pronto para ser liberado (observe a figura 8.4).

Follc;ulos Folkutosem

Figura 8.4: Representação do ciclo ovariano. Observe as fases da evolução folicular descri·
tas no texto acima. Retirada de Junqueira e Carneiro.

193
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

FASE DA OVULAÇÃO

Por volta do 14° dia após o início da menstruação, num ciclo menstrual
de 28 dias (o qual veremos mais adiante) ocorre a liberação do óvulo ou
ovócito que estava dentro do folículo. Esse processo de ruptura acontece
da seguinte forma: inicialmente forma o estigma, uma projeç.ão da cápsu-
la folicu lar em forma de bico devido ao edema na parede externa do folí-
cu lo. Um tempo depois o líquido folicular começa a sair através do estig-
ma e pouco tempo depois esse estigma se rompe totalmente liberando o
óvulo circundado pela coroa radiata, uma massa de células da granulosa.
Esse processo de ovu lação só é possível devido ao pico de secreção
do LH que ocorre cerca de 16 horas antes. A hipófise anterior começa a
secretar uma maior quantidade de LH e também FSH em menor propor-
ção. Esses dois hormônios agem sinergicamente provocando a d ilatação
do folículo e o LH converte as células da granulosa e tecais em células se-
cretoras d e progesterona e consequentemente a secreção de estrogênio
diminui, o que significa que no período da ovulação a concentração de
estrogênio reduz e a de progesterona aum enta. Nesse contexto a teca ex-
terna começa a liberar enzimas proteolíticas dos lisossomos que d egrada
a parede do folícu lo, causando mais dilatação e d egeneração do estigma,
além de secreção de prostaglandinas e angiogênese, o que causa mais
dilatação culminando na ruptura do foliculo e liberação do óvulo.

FASE LÚTEA

Logo após a liberação do óvulo o LH age exercendo a função a qual


originou seu nome, o processo de luteinização. O LH in duz a transforma-
ção das células dia g ranulosa e da t eca interna em células luteínicas, ricas
em lipídios que lh es dão coloração amarelada. O conjunto dessas células
luteínicas forma o chamado corpo lúteo.
Nessa nova estrutura (o corpo lúteo), as célu las da granulosa vão pro-
duzir os hormô ni'os femininos estrogênio e progesterona (nessa fase mais
progesterona) e as células da t eca vão produzir os and rogênios andros-
tenediona e testosterona que em sua maior parte serão convertidos em
estrogênios pela enzima aromatase das células da g ranulosa.

194
CAPiTUL08

O corpo lúteo vai crescendo e atinge o tamanho máximo em cerca de


7 a 8 dias da ovulação quando va i perdendo seu conteúdo lipíd ico, a cor
amarelada e a capacidade de secreção. A partir daqui, cerca de 12 d ias da
ovu lação, se transf orma no corpo albicans, que vai sendo substituído por
tecido conjuntivo e depois totalmente absorvido.

INVOLUÇÃO DO CORPO LÚTEO

Como você já sabe o estrogênio e a progesterona serão altamente se-


cretados pelo corpo lúteo e esses hormônios, sobretudo o estrogênio, tem
um efeito potente de feedback negativo na hipófise anterior red uzi ndo a
secreção de LHe d e FSH. Co ntribuindo para essa retroalimentação negat i-
va, as células lut eínicas secretam a inibina, hormô nio que também inibe a
secreção, principal mente do FSH.
A consequência desses eventos é a red ução drástica nas concentrações
de LH e de FSH o que provoca a d egeneração do corpo lút eo e involução
final 2 dias ant es da menstruação. Nesse período como ocorre red ução
dos hormônios hipofisários, há uma qu eda súbita da secreção de estrogê-
nio e progest erona pelo corpo lúteo retirando a alça de feedback negativo
da hipófise anterior, perm itin do com q ue ela secrete mais LH e FSH. Esses
hormônios, portanto, vão estimular outros folícu los e o ciclo ovariano se
reinicia.

CICLO ENDOMETRIAL MENSAL E M ENSTRUAÇÃO

Ao mesmo tem po em que ocorre o ciclo ovariano com produção dos


hormônios sexuais femininos pelo ovários, ocorre tam bém o ciclo endo -
met rial que culm ina na menstruação. Esse ciclo é co mposto por 3 fa ses: a
proliferativa, a sec retória e a descam at iva.

FASE PROLIFERATIVA

Essa fase ocorre antes da ovulação, no início do ciclo menstrual, ou


seja, logo após a menstruação quando a superfície endometrial est á des-
cam ada. Essa fase é t ambém cham ada de fase estrogênica devido à gran-

195
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

de quantidade de estrogênio secretado pelos ovários e é sob a influência


desse hormônio que as células epiteliais e do estroma começam a se pro-
liferar de forma acelerada e promover a reepitelização da superfície endo-
metrial em até 7 dias após o início da menstruação.
Esse processo proliferativo se continua até dias antes da ovu lação, cau-
sando o crescimento das células, das glândulas e dos vasos endometriais
o que aumenta bastante a espessura do endométrio. Essas glândulas,
principa lmente as da região da cérvice, secretam um muco pegajoso que
serve de guia para os espermatozoides chegarem até o útero. Nesse mo-
mento todos os fatores contribuem para que ocorra a preparação uterina
e a fecundação.

FASE SECRETORA

Essa fase secretora ocorre após a ovulação onde a secreção de estrogê-


nio e progesterona está aumentada pelo corpo lúteo. Os estrogênios cau-
sam uma leve proliferação adicional e a progesterona causa um inchaço
e estimula a ação secretória do endométrio, por isso essa fase também é
chamada de fase progestacional, já que é a progesterona quem estimula
o efeito ao qual dá nome à fase.
Ocorre o aumento das glândulas e as substâncias secretárias se acu-
mulam nas células epiteliais glandulares, além disso as células estromais
aumentam seu conteúdo lipídico e estrogênico, bem como o aporte san-
guíneo que é formado por vasos tortuosos. Essa fase tem um pico que
corresponde a uma semana antes da ovulação quando o endométrio tem
a espessura de até 6 milímetros.
O objetivo do ciclo menstrual não é que a menstruação aconteça, mas
sim a preparação do endométrio para a im plantação do óvulo fecundado
com grande quantidade de nutrientes armazenados. Alguns dias após a
ovulação, cerca de 3 a 4 dias, o óvulo fertilizado chega à cavidade uterina e
até o momento em que ele se implanta as secreções uterinas fornecem nu-
trição nos primeiros estágios das divisões. Quando o óvulo se implanta no
endométrio, as células que o compõem começam a absorver as substâncias
endometriais que proporcionam grandes quantidades de nutrientes.
Se esse óvulo liberado não é fecundado por um espermatozoide, 2 dias
antes do fim do ciclo mensal, o corpo lúteo involui e a secreção dos hor-
mônios sexua is femininos, estrogênio e progesterona, diminuem . A redu-

196
CAPÍTULOS

ção desses hormônios diminui o estímulo às células do endométrio e con-


sequentemente ocorre a involução dele. Ocorre redução dos nutrientes
do endométrio e vasoconstrição dos vasos sanguíneos tortuosos também
pela liberação intensa de agentes constritores como as prostaglandinas.
Esses eventos provocam uma necrose endometrial gerando locais hemor-
rágicos que se separam do útero num processo de descamação. Nesse te-
cido descamado, o sangue na cavidade uterina e os efeitos constritores
das prostag landinas agem juntos dando início as contrações uterinas que
expelem esse conteúdo no processo conhecido como menstruação. Ele
dura cerca de 4 a 7 dias, cessando no momento em que o epitélio en-
dometrial se reepitelizou completamente. Durante o período menstrual o
líquido menstrual, em condições normais, não coagula devido a ação da
fibrinolisina liberada junto com a massa necrótica (veja as etapas do ciclo
ovariano e do ciclo endometrial na figura 8.5).

corpo emerelo
clegenen

cresc:lmenlxl
do follculo corpo branco

folículo endom~lo tiJIIIIO


pri!Mrlo • e vesculerlledo
ovírlo ciiXIU

útero

dlls 1 2 2 ' I I 1 I I 10 11 12 1J M 11. 11 11 1110 21 n ti 10 aa 11 8 I 2 J

menscrueçlo fue de ovull.çid feae di ucreçlo men'"";i;;;'eç~o


cretclmenlxl
figura 8.5: Representação do ciclo ovariano (imagem superior) e do ciclo endometrial (i ma·
gem inferior). Veja as fases do crescimento endometrial e posterior descamação e as fases
da evolução folicular até sua ruptura e formação do corpo albicans. Retirada de http://
www.anatomiaresumida.com/ sistema·genital/

197
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

HORMÔNIOS SEXUAIS FEMININOS

Os hormônios sexuais femininos que são altamente secretados pelo


ovários são os estrogênios e as progestinas. Dentre os estrogênios libera-
dos, o mais importante e mais potente é o estradiol e das progestin as a
mais importante é a progesterona.
A secreção dos estrogênios na mulher não grávida ocorre quase que
exclusivamente pelos ovários e estão presentes no p lasma três tipos
diferentes: o ~-estradio l, o estriol e a estrona. O ~-estradiol é o tipo mais
abundante e mais potente, cerca de 12 vezes mais que a estrona e 80
vezes o estriol; a maior parte da estrona sanguínea é proveniente da
conversão periférica dos androgênos adrenais e das célu las tecais ova-
rianas. O estriol é o t ipo mais fraco que corresponde ao derivado do
estradiol e da estrona.
A secreção de progesterona na mulher não grávida é realizada pelo
corpo lút eo, que além dela secreta também outra progestina que t em os
mesmos efeitos, a 17-a-hidroxiprogesterona. Tanto a progesterona como
os estrogênios, na mulh er grávida, também serão secretados pela placen-
ta, além do corpo lút eo.

SfNTESE DE ESTROG~NIOS E PROGESTINAS

Estrogênios e progestinas são hormônios esteroides, por isso são deri-


vados do colesterol. Inicialmente os hormônios produzidos são a proges-
terona e os androgênios (testosterona e androstenediona) e na fase folicu-
lar, antes de eles deixarem os ovários são convertidos em estrogênios pela
enzima aromatase presente nas células da granulosa. Contudo, durante a
fase lútea a quantidade de progesterona produzida supera a capacidade
da aromatase de converter em estrogênios, o que permite uma grande
secreção de progesterona .

TRANSPORTE E METABOLISMO DOS ESTROGÊNIOS E PROGESTINAS

Os hormônios sexuais femininos são transportados no sangue ligados


a proteínas plasmáticas, principalmente à albumina e às globulinas de li-

198
CAPiTUL08

gação específica a estrogênio e progesterona que tem uma ligação fraca,


permitindo liberação rápida.
Os estrogênios sofrem o metabolismo hepático, sendo conjugados for-
mando glicuronídeos e sulfatos, e são secretados pela bile e pela urina.
Além disso o fígado converte o estradiol e a estrona no estriol, estrogênio
quase que inativo. O mesmo ocorre com a progesterona que é degradada
em pregnanediol e elimin ada na urina.

EFEITOS FISIOlÓGICOS DOS ESTROGÊNIOS

Os estrogênios são os hormônios responsáveis pelo aparecimento das


características sexua is femininas primárias e secundárias. Eles tem um
efeito importante sobre o útero e os órgãos sexuais fem ininos externos,
sobretudo no período da puberdade quando esse hormônio é secretado
em grande quantidade. Os ovários, as tubas uterinas, o útero e a vagina
aumentam de tamanho, o monte pubiano e os grandes lábios aumen-
tam devido ao d epósito d e gordura. O epitélio vaginal também modifica
para um tipo mais resistente, o pavimentoso estratificado e o útero além
de aumentar de taman ho sofre as alterações endometriais que já foram
abordadas.
Esse hormônio também tem efeito na mucosa nas tubas uterinas, onde
promove efeito semelhante ao no útero e aumentam o número das cé-
lulas ciliadas, bem como a atividade dos cílios que batem em direção ao
útero contribuindo para o transporte do óvulo.
Nas mamas, o efeito dos estrogênios causa desenvolvimento do parên-
quima das mamas., crescimento dos duetos e depósito de gordura que dá
o maior volume, além de dar às mamas a aparência de mamas femininas
adultas. Os alvéolos e os lóbulos também se desenvolvem sob estímulo
dos estrogênios, porém quem influencia no crescimento e na função são
a progesterona e a prolactina.
Os estrogênios não possuem efeitos apenas nos órgãos reproduto-
res, tem também efeitos importantes sobre os ossos. Eles inibem a ação
dos osteoclastos estimulando o crescimento ósseo, além de promover o
fechamento das epífises ósseas. Na puberdade ocorre um rápido cresci-
mento em estatura. Nas mulheres o crescimento ocorre por um tempo
menor,por que os estrogênios induzem o fechamento das epífises ósseas

199
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

de modo mais potente que a testosterona nos homens, fato que ces-
sa o crescimento feminino antes do masculino. O efeito de inibição da
ação osteoclástica tem um papel importante na velhice da mulher. Na
menopausa, quando a mulher deixa de produzir estrogênios, os ossos
ficam mais frágeis, já que há aumento da atividade dos osteoclastos
(deixa de inibir essa ação) e redução da quantidade de matriz óssea e de
deposição de cá leio e fosfato, efeitos que futuramente podem resultar
em osteoporose.
Outros efeitos dos estrogênios são sobre o metabolismo de todo
o corpo, provocando leve aumento. Eles causam a deposição de gor-
dura nos tecidos subcutâneos, nos glúteos e nas coxas, deixando uma
aparência característica do sexo fem inino. Promovem leve aumento da
proteína corporal total, isso devido ao efeito de crescimento sobre os
órgãos sexuais, diferente do depósito geral de proteínas que a testoste-
rona provoca no homem. Desse modo, o corpo da mulher se caracteriza
por ter mais gordura enquanto o do homem por ter maiores quantida-
des de massa magra.
Assim como a aldosterona, os estrogênios causam retenção de sódio
e água pelos túbulos renais, mas em condições normais esse efeito é
muito discreto, passando a ter relevância durante a gravidez quando
é produzido com maior intensidade. Os estrogênios deixam a pele fe-
minina mais macia e lisa e não contribuem tanto para a distribuição de
pelos, deixando esse papel para os androgênios formados nas glându-
las adrenais.

EFEITOS FISIOLÓGICOS DA PROGESTERONA

A função mais importante da progesterona é estimular os processos


secretários do endométrio uterino durante a fase secretária do ciclo sexu-
al mensal. Nesse contexto também estimula a mucosa das tubas uterinas
a secreta rem substâncias para nutrir o óvulo enquanto se move até o úte-
ro. Quando o óvulo é implantado ela diminui a frequência e a intensidade
das contrações uterinas, impedindo a sua expulsão.

200
CAPiTUL08

Com relação às mamas esse hormônio proporciona o desenvolvimento


dos lóbulos e alvéolos, estimulando a proliferação, crescimento e função
secretora das célu las alveolares, mas não faz com que eles secretem leite,
esse papel é da prolactina.

REG ULAÇÃO HORMONAL DOS CIC LOS MENSAIS FEM INI NO

Os hormônios sexuais femininos são secretados sob o estímulo dos


hormônios hipofisários que por sua vez tem a secreção controlada por
"hormônios de liberação~ Os hormônios da hipófise anterior que parti-
cipam da regulação feminina são oLH e o FSH que são estimu lados pelo
hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH).
O GnRH é secretado pelos neurônios dos núcleos arqueados do hi-
potá lamo que também recebem sinais do sistema límbico (o sistema de
controle psíqu ico), fato que pode explicar em parte a razão de fatores psí-
quicos alterarem a função sexual feminina. Esse hormônio é secretado em
pulsos a cada 1 a 2 horas que duram de 5 a 25 minutos e por motivos
que ainda são desconhecidos, esse padrão pulsátil é imprescindível à sua
função, já que quando ele é administrado de forma contínua ele perde a
capacidade de liberar LH e FSH.
Quando liberados, oLHe o FSH estimulam a secreção de estrogênios e
progesterona que posteriormente vão exercer o efeito de feedback nega-
t ivo, principalmente sobre a hípófise anterior, d iminuindo sua secreção. O
efeito inibidor do estrogênio é forte, maior que o da progesterona, cont u-
do quando a progesterona está presente o efeito inibídor do estrogênio
se m ultiplica. Além desses hormônios, a inibina secretada pelas células da
granulosa no corpo lút eo inibe a secreção do LH e do FSH com maior in-
t ensidade, sobretudo no fi nal do ciclo sexual mensal.
A maioria dos hormônios do nosso corpo exercem efeito de feedback
negativo, porém em um determinado período do ciclo ovariano ocorre
um efeito de feedlback posítívo do estrogênio. No período de 2 a 3 d ias
antes da ovu lação a secreção de LHe FSH sofre uma peq uena q ueda e em
seg uida aum enta, sendo a FSH aumentando cerca de 2 vezes e a de LH
t em um pico de até 8 vezes q ue é essencial para a ovulação. Acredita-se
que a razão para esse pico pré-ovulatório de LH seja o efeito de feedback

201
O SISTEMA REPRODUTOR FEMININO

positivo do estrogênio que nesse período acaba estimulando a hipófise a


liberar mais LHe em menor intensidade o FSH. Outra hipótese é que a se-
creção de progesterona pelas células da granulosa estimulem a secreção
dolH.
Portanto, resumindo o ciclo, após a ovulação o corpo lúteo secreta
grande quantidade de progesterona, estrogênios e inibina. Esses hormô-
nios agem fazendo um feedback negativo na hipófise anterior e no hipo-
tálamo causando redução do LH e FSH cerca de 3 a 4 dias antes da mens-
truação. Devido a redução dos hormônios hipofisários, nesse período o
corpo lúteo regride e concentração de hormônios ovarianos fica cada vez
menor, fato que deixa a hipófise e o hipotálamo livres do feedback nega-
tivo. Por isso, 1° dia depois do início da menstruação, a secreção de FSH
aumenta por até 2 vezes e alguns dias após a secreção de LH aumenta
levemente levando ao início do crescimento dos folícu los ovarianos que
secretam estrogên ios e chega no p ico 13 dias após o início do ciclo. Até o
13° d ia, o efeito de feedback negativo, sobretudo do estrogênio, faz redu-
zir a secreção de LH e FSH, contudo no 14° dia ocorre o efeito de feedback
positivo culminando no pico de LHe em menor grau de FSH, que precede
e determina a ovulação.
Pode ocorrer de a mulher não liberar o óvulo no ciclo mensal e isso se
deve à insuficiência do pico de LH que representa o chamado ciclo anovu-
latório que ocorre nos primeiros meses da puberdade.

202
CAPiTUL08

MENARCA E MENOPAUSA

Menarca: Esse termo significa a primeira menstruação que ocorre na


puberdad e e representa um importante evento no amadurecimento do
eixo hipotálamo-hipófise-ovários. A menarca sucede o pico de crescimen-
to e a idade de seu aparecimento varia de acordo a população sendo in-
fluenciada por fatores biológicos, nutricionais, esportivos, geográficos e
familiares.
Menopausa: A menopausa é marcada pela última menstruação e re-
presenta o fim da função reprodutora feminina, causando uma red ução
importante na pro dução dos hormônios femininos.

203
Remos <IDs AIJ,
llícas Internas Sistema Reprodutor

( Cldos)
~-
=emfnfno J
REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fi siologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017.
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. MOORE, K.l. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
4. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 2010.
S. JUNQUEIRA, LC.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11• Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
6. Freitas F, Menke CH, Rivoi re WA, Passos EP, organizadores. Rotinas em
7. Ginecologia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed; 20 11.

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CONFERÊNCIA •

Confira aqui a aula dinâmica do Medicina Resumida •
sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •






















Gestação e Lactação

CASO CLÍNICO

Luzia, 25 anos, vai ao serviço médico com queixa de náuseas e vômitos


há uma semana. A paciente refere que a mestruação está atrasada e que
acredita estar grávida, pois relata que seus seios estão maiores e algumas
roupas mais apertadas. Além desses sintomas também apresenta fraque-
za generalizada e lipotimia.
Diante do quadro, a médica de plantão daquele dia examina a paciente
e solicita alguns exames, dentre eles um teste de gravidez e um ~HCG para
confirmar ou não a possível gestação.
Por que o ~HCG é o exame que pode confirmar ou não a gestação?
O que provoca esse aumento dos seios durante a gestação?
Quais são os fatores associados à ausência da mestruação no período
gestacional?

209
GESTAÇÃO E LACTAÇÃO

1.1 POSSÍVEIS PALAVRAS OU TERMOS DESCONH ECIDOS

"Lipotimia": Sensação de desmaio.

1.2 PALAVRAS CHAVE

"Grávida'; "f3HCG~ "menstruação atrasada'; "seios aum entados':

1.3 OBJETIVOS

Co m preender o processo da fecun dação


Evidernciar a função dos horm ônios fem ininos e placentários
durante a gest ação
Descrever as estrutu ras da mama feminina
El uci dar o processo da lactação, bem como o papel dos hormô-
nios específicos na lactogênese e ejeção do leite materno
Identificar o papel do horm ônios no traba lho de parto
Gest ação e Lactação

2 10
CAPiTULO 9

GESTAÇÃO

Vimos no capítulo anterior que a fisiologia reprodutora feminina está


dividida em dois períod os: a preparação do corpo fem inino para gravidez
e a gravidez propr iamente dita. Nesse capítu lo vamos estudar e con hecer
melhor o período da gestação, desde seu in feio até o momento do parto,
além do processo de lactação.
Quando ocorre a ovulação (liberação do óvu lo na cavidade peritone-
al), por volta do 14° dia de um ciclo de 28 dias, ele é "capturado" pelas
fímbrias da tuba uterina que possui o epitélio ciliado. Os cílios presentes
são estimulados pelo estrogênio ovariano liberado nesse período e au-
mentam seu movimento batendo em direção ao óstio da tuba auxilian-
do no transporte do óvulo. Durante a cópula quando ocorre a ejaculação
masculina alguns milhões d e espermatozoides são levados até a ampola
da tuba devido as contrações uterinas provocadas por prostaglandinas do
líquido seminal e pela ocitocina liberada durante o orgasmo feminino. O
encontro do óvulo com o espermatozoid e ocorre geralmente na ampola e
nesse momento se inicia a fertilização desse óvulo.
O processo de fertilização ocorre, normalmente, 16° ou 17° dia do ciclo
e em algumas etapas. Primeiramente o espermatozoide precisa atravessar
a corona radiata, através da a ação da hialuronidase, uma enzima digestiva
de membrana. Após vencida essa barreira, deve ocorrer a penetração na
zona pelúcida e isso envolve a ligação do espermatozoide a uma proteína
presente nessa zona, a ZP3. Essa ligação estimula a liberação das enzimas
acrossômicas (reação acrossômica), ele se liga a outra proteína da zona, a
ZP2, e a medida que a zona pelúcida vai sendo digerida o espermatozoide
entra no ovo. Em seguida há a fusão da membrana do espermatozoide
com a membrana do óvulo, começa uma cascata de sinalização que pro-
voca a liberação dos grânulos corticais, enzimas que modificam, a ZP2 e
ZP3 impedindo que novos espermatozoides penetrem no óvu lo, o que
garante a fertilização do óvulo por um único espermatozoide. Em seguida
ocorre a fusão do DNA masculino com o feminino formando uma célula
diploide. Contudo, eventualmente pode ocorrer a formação de uma célula
triploide, que é incapaz de se desenvolver, a partir da penetração de um
espermatozoide a mais.
Depois do óvulo já fertilizado, cerca de 6 dias após esse processo, o em-
brião é implantado no útero. O processo da embriogênese já se inicia no

211
GESTAÇÃO E LACTAÇÃO

interior da tuba uterina onde em 3 dias se torna uma mórula (composto


por 16 células). Em até 5 dias essa mórula já se transformou em blástu la
ou blastocisto que já está na cavidade uterina pronto para implantação.
Ele possui uma cavidade parcialmente preench ida por líquido produzido
pelas próprias células, um ag lomerado de célul as internas e uma camada
de células trofoblasticas externa. A região onde ocorre a junção das célu-
las internas com os trofoblastos forma o polo embrionário e é justamente
essa região que se liga ao endométrio durante a implantação embrionária.
Nesse período os trofoblastos se dividem formando duas camadas,
uma interna de citotrofoblastos, célul as que ficam em constante divisão, e
uma externa de sinciciotrofoblastos que tem as funções de aderir e invadir
o endométrio, além de produzir alguns hormônios, principalmente a go-
nadotrofina coriônica humana (HCG). São essas células trofoblasticas que
formam a placenta e os outros anexos embrionários, a partir de sua união
com as células adjacentes.
Se você lembrar do capítulo passado, existe uma estrutura chamada
corpo lúteo que produz a progesterona, hormônio responsável pela for-
mação de um endométrio nutritivo e receptivo à gestação. Quando não
ocorre a fertilização essa estrutura involui, contudo quando há a fecun-
dação o corpo lúteo é mantido ativo pela ação do HCG secretado pelas
células sinciciotrofoblasticas. Essa manutenção da atividade do corpo lú-
teo mantem a secreção de progesterona contribuindo para a formação da
decídua- camada endometrial constituída das células deciduas ricas em
nutrientes- que é responsável pela nutrição do embrião até a formação
da placenta.

A PLACENTA ESUAS FUNÇÕES

A placenta é formada por uma parte fetal, o córion (o conjunto tro-


foblasto-citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto) e uma parte materna, a
decídua basal. Ela constitui o local básico de troca de nutrientes e gases
entre a mãe e o feto, configurando um órgão materno-fetal e possui uma
importante função endócrina. O primeiro hormônio que vamos explorar
é o HCG! Como você já sabe, ele é produzido pelo sinciciotrofoblasto e é o
hormônio dosad·o no sangue da mulher para a confirmação da gravidez,
já que, por ter uma meia vida longa, começa a ser detectado cerca de 24
horas após a implantação.

212
CAPiTULO 9

HORMÔNIOS

A gonadotrofina coriônica humana é um hormônio estruturalmente


semelhante aos hormônios hipofisários, sobretudo ao hormônio luteini-
zante, o LH. Ele possui uma subunidade alfa que é idêntica à subunidade
alfa dos outros hormônios e uma subunidade beta que por sua vez é es-
pecífica do HCG e por esse motivo, a médica do caso solicitou o exame do
j3HCG para Luzia. !Por ser mais semelhante ao LH, ele age nos receptores
do LH presentes no corpo lúteo e o estimula a secretar mais progesterona,
mantendo os níve is altos durante as 10 primeiras sem anas, período que
coincide com o p ico de hCG. Essa ação do hCG é extremamente importan-
t e para manutenção da gestação, visto que a p rogest erona em níveis altos
impede a descamação do endom étrio e consequente aborto. Além d isso,
o hCG ch ega na circulação fetal e age estimulando as células de Leyd ig no
feto masculino a produzirem testosterona antes do amadurecimento do
eixo e estimula a adrenal fetal nos três primeiros meses.
Até a d écima segunda semana d e gestação o corpo lúteo é funcionan-
t e, secretando progesterona e certa quantidade de estrogênios. A partir
desse período a placenta já se desenvolveu e assume essa função, portan-
to se torna a responsável pela secreção desses dois hormônios.
A progesterona é essencial para manutenção do endométrio estável
e do útero gravidico, por isso é secretada em grandes quantidades. Além
disso reduz as contrações uterinas, estimula m as células deciduais a se de-
senvolverem, aumenta as secreções das trompas de Falópio para nutrição
e desenvolvimento da mórula e do blastocisto e induz o crescimento e a
diferenciação das m amas. A produção desse hormônio pela placenta não
necessita de tecidos fetais e por isso não mensura a saúde fetal.
Em contrapartida, para a produção dos estrogênios depende de teci-
dos fetais. Eles também são produzidos pelos sinciciotrofoblastos que não
possuem a enzima CYPl 7 (ver capítu lo 3), responsável por produzir an-
drógenos. Nesse c.aso quem fornece os andrógenos é o córtex supra renal
do feto. Esse cort éx possui as zonas definitiva e de transição, que serão
posteriormente as. zonas glomerulosa e fascicu lada, e a zona fetal que cor-
responde à maior [parte e se assemelha muito à zona reticulada. Essa zona
libera o sulfato de de-hidroepiandrosterona (DHEA-5), um andrógeno sul-
fatado inativo que tem sua produção dependente do ACTH. Esse DHEA-5
tem dois distinos: ele pode ir direto para o sinciciotrofoblasto, ser dessul-
fatado por uma esteroide su lfatase da p lacenta e utilizado pa ra a síntese

213
GESTAÇÃO E LACTAÇÃO

do estradiol e da estrona; ou ser hidroxilado no fígado fetal e o produto


dessa reação será convertido em estriol, principa l estrogênio da gestação,
pelo sin ciciotrofoblasto. Dessa forma a produção dos estrogênios pode
estimar a saúde fetal, já que essa síntese depende de um feto saudável.
Os estrogênios nesse momento são importantes para o aumento do
crescimento das mamas, estimulam a produção de prolactina pela hipófi·
se materna, aumentam o número e o tamanho dos lactotrofos aumentan-
do a massa hipofisária e relaxam os ligamentos pélvicos maternos, contri·
bu indo para o parto.
O lactogênio placentar humano (hLP) ou também chamado de so -
matomamotropina coriônica humana (hCS) é outro hormônio produ·
zido pelo sinciciotrofoblasto e é muito semelhante ao GH e à prolactina.
É um hormônio que tem sua produção crescente até o fim da gestação e
contribui para o anabolismo proteico e a lipólise, além d e t er ação anta-
gônica à insulina, inibindo a utilização da glicose pela mãe o que dispo-
nibiliza mais substrato energético pa ra o feto, fato que pode auxiliar na
diabetogenicidade gestacional. Por ser semelhante à prolactina ele esti-
mula o desenvolvimento e crescimento da glândula mamária junto com
os outros hormônios já citados no capítulo.
A hipófise anterior aumenta seu volume e aumenta a secreção de cor-
ticotropina, tireotropina e prolactina, contudo suprime a de LHe FSH, so-
bretudo por feedback negativo da progesterona e dos estrogênios. Por
esse motivo a produção de glicorticoides aumenta, isso mobiliza aminoá-
cidos dos tecidos maternos para fornecer ao feto; aumenta a produção da
aldosterona e portanto absorção de sódio e água fica elevada a secreção
de hormônios tireoideanos, assim como a d o paratormônio aumentam,
o que mantem o cálcio sérico materno, já que esse elemento está sendo
disponibilizado para calcificar os ossos do feto.

TRANSPORTE DE SUBSTÂNCIAS

Outra f unção importantíssima da p lacenta é permitir a troca de subs-


tâncias entre a mãe e o feto. Os nutrientes (ácidos graxos, glicose, íons
potássio, sódio e cloreto) e o gás oxigênio necessários para o desenvol-
vimento fetal são transportados por difusão simples do sangue materno
para o sangue fetal, através da membrana placentária. A concentração de
oxigênio do sangue materno é maior e isso permite essa difusão, contudo

214
CAPiTULO 9

após o oxigenação do sang ue fetal ele continua com pressão mais baixa
do que o materno e apesar disso a oxigenação para os tecidos é adequada
devido à três fatores: a presença de um tipo especial de hemoglobina, a
fetal; a concentração dessa hemoglobina e o efeito Bohr.
A concentração da hemoglobina é maior no sangue do feto e o tipo
dessa molécu la é a hemoglobina fetal. Ela tem maior afin idade pelo oxigê-
nio, devido a presença das duas cadeias gama, desse modo ela conseg ue
um transporte de até 50% a mais de oxigênio que a hemoglobina normal.
A hemoglobina consegue transportar mais oxigênio em um ambiente po-
bre em dióxido de carbono (C02) do que em um ambiente rico em C02. Quan-
do o sangue fetal chega próximo à membrana placentária sua concentração
de C02 é maior em comparação ao sangue materno, contudo à med ida que
ocorre a difusão o gradiente de concentração se inverte o que deixa o meio
fetal mais favorável à ligação da hemoglobina com o oxigênio. Em contrapar-
tida, no sangue materno essa afinidade entre hemoglobina e oxigênio é redu-
zida, forçando esse elemento a difundir para o sangue fetal, caracterizando o
efeito Bohr. Por esse motivo, mesmo com a pressão de oxigênio baixa, cerca
de 30mmHg, a oxigenação fetal é eficiente. Além d isso a placenta também
tem o papel de elim inar o dióxido de carbono e os produtos de excreção do
feto, como ureia e <reatinina, a partir da d ifusão simples. Esses produtos são
excretados pela mãe junto com seus próprios produtos excretórios.

LACTAÇÃO

A GLÂNDULA MAMÁRIA

O corpo humano é constituído por 2 glândulas mamárias. No corpo


masculino elas ficam rudimentares e não se desenvolvem, ao contrário
do que ocorre no corpo feminino. As glândulas mamárias femininas co-
meçam a se desenvolver na puberdade a partir da ação dos hormônios
ovarianos progesterona e estrogênio, estimulando o crescimento e o de-
senvolvimentos das estruturas internas, bem como a deposição de tecido
adiposo aumentando seu volume. Os estrogênios juntamente com o GH, a
prolactina, os glicocorticoides adrenais e a insulina são responsáveis pelo
crescimento do sistema de duetos, e a progesterona é importante para o
desenvolvimento final dos lóbulos e dos alvéolos. Agora vamos relembrar
(ou conhecer) um pouco a estrutura das mamas.

215
GESTAÇÃO E LACTAÇÃO

Na mulher adulta a g lând ula mamária é formada por um conjunto de


lobos (15 a 20) de onde partem duetos lactfferos que por sua vez se abrem
nos seios lactfferos, d ilatação dos duetos localizados no mamilo. Esses lobos
são formados por diversos lóbulos que contém os alvéolos, estruturas arre-
dondadas de células epiteliais que secretam o leite durante a lactação. Os
lobos e os lóbulos são sustentados por uma camada de tecido conjuntivo
que juntos com outras células formam o estroma mamário. Além das células
epiteliais alveolares, o epitélio dos alvéolos e dos duetos é formado por cé-
lulas m ioepiteliais, estruturas estreladas semelhantes às células musculares
lisas que se localizam entre as células epiteliais e a lâmina basal, envolven-
do o alvéolo. São essas células mioepiteliais as responsáveis pela ejeção do
leite do lúmen dos alvéolos e duetos. Esse leite ejetado segue até os seios
lactíferos no mami lo, protusão da mama, muito in ervada (im portante para
produzir o reflexo de ejeção do leite) e destinada à sucção pelo lactente. Ao
redor no ma milo existe uma área pigmentada que é a aréola, sem pelos e
que é constantemente lubrificada por g lândulas sebáceas (figura 9.1 ).

Músculo peitoral - - - - -

Tecido adiposo ~

Seios
lactlferos
Mamao

Duetos---'

figura 9.1: Representação da estrutura da glândula mamaria. Observe a constituição da


mama: formada por tecido adiposo, por lobos, que formam duetos, que, por sua vez
convergem para formar os seios lactíferos. Retirada de http://www.breastrecon.com/bre·
ast-cancer-facts.html

216
CAPiTULO 9

PROLACTINA E A LACTOGÊNESE

Já sabemos até aqui que os níveis de estrogênio e progesterona estão


elevados na gravidez e que esses hormônios são essenciais para o desen-
volvimento das mamas, contudo esses elementos tem o efeito de inibir a
verdadeira secreção do leite. Mais ou menos a partir da quinta semana de
gestação os níveis de prolactina começam a aumentar, porém ainda é me-
nor que o nível dos hormônios sexuais. Nas últimas semanas da gestação
a hipófise anterior secreta ainda mais prolactina, o que já permite, mesmo
com a inibição dos outros hormônios, uma secreção reduzida de líqui do.
Já nos últimos dias antes do parto e alguns dias após a glândula mamária
produz o colostro, um líquido que contém as mesmas concentrações de
proteínas e lactose do leite, porém é muito pobre em gordura.
Após o nascimento da criança ocorre uma queda brusca dos estro-
gênios e da progesterona, isso retira a inibi ção para secreção do leite e
permite que a prolactina exerça sua função. Por conta disso durante os
dias seguintes as mamas já começam a produzir de fato o leite. Alguns
outros hormônios também contribuem para essa formação, fornecendo
aminoácidos, ácidos graxos, cálcio e glicose, são eles o cortisol, a insulina,
o paratormônio e o GH.
O estímulo para a produção do leite passa a ser a própria sucção do
mamilo pelo lactente. Depois do nascimento do bebê, o nível de prolac-
t ina volta aos níveis não gravídicos, mas cada vez que a mãe amamenta,
a sucção do mamilo gera sinais neurais que são enviados ao hipotálamo
estimulando mais secreção da prolactina pela hipófise mantendo a secre-
ção de leite pelos alvéolos. Contudo, à medida que estimula a prolactina,
inibe a secreção do hormônio liberador de gonadotrofina, portanto não
há liberação de LH e FSH e consequentemente não reestabelece o ciclo
sexual mensal enquanto a mãe estiver amamentando, é a chamada ame-
norreia lactacional
Em todos os capítulos até agora vimos que o hipotálamo essencial-
mente produz hormônios que estimulam a secreção dos hormônios hi-
pofisários, entretanto com relação à prolactina é o inverso. O hipotálamo
naturalmente inibe a secreção de prolactina através do hormônio inibidor
de prolactina, que é a dopamina. Dessa forma se por algum motivo a co-
nexão hipot álamo hipófise é comprometida, todos os hormônios hipofi-
sários terão sua secreção inibida, exceto a prolactina.

217
GESTAÇÃO E LACTAÇÃO

OCITOCINA E A EJEÇÃO DO LEITE

Quando o bebê suga o mamil o, ini cialm ente não há a saída do leite.
Isso ocorre por que o leite é produzido nos alvéolos, mas ele não flui di-
retamente para os seios lactíferos, para isso acontecer a ocitocina preci-
sa estar presente. A partir da sucção do mamilo impulsos sensoriais são
formados e transmitidos dos mamilos para o hipotálamo onde estimu la
a secreção da prolactina, como já vimos, mas também da ocitocina. Esse
hormônio é levado pela corrente sanguín ea até o tecido mamário onde
atua nas células mioepiteliais promovendo a contração dessas células e
consequente a ejeção do leite para os duetos e seios lactíferos.
Além do estimulo direto da sucção, fatores psicogênicos podem in-
fluenciar na liberação da ocitocina. Quando a mãe pensa em seu bebê ou
o escuta chorar, .a secreção de ocitocina começa a aumentar. Entretanto
quando a mãe exibe sentimentos como medo, angustia, insegurança,
entre outros ou passa por algum transtorno, a secreção desse hormônio
pode ser inibida.

COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO

O leite materno é composto por 50% mais lactose que o leite de vaca,
mas a concentração de proteína é bem m enor. A quantidade de gordura é
muito semelhante e possu i pouca quantidade de cálcio e outros minerais
comparado ao leite de vaca. Para a produção desse leite grande quanti-
dade de energia e nutrientes é demanda do organismo materno, por esse
motivo as mulheres perdem peso durante a amamentação e podem ter
problemas ósseos, já que as glândulas paratireoides aumentam bastante
causando descalcificação dos ossos. Além dos nutrientes, o leite materno
contém anticorpos e leucócitos, como macrófagos e neutrófilos, que são
extremamente importantes para a proteção do bebê contra alguns agen-
tes infecciosos nos primeiros meses de vida.

218
CAPiTULO 9

PARTO

Após a formação completa do feto, alguns eventos são iniciados com


o intuito de expulsá-lo. Durante toda a gravidez os níveis de estrogênio e
progesterona estão aumentados, contudo no final da gestaç.ão, por volta
do sétimo mês, a concentração de estrogênio continua aumentando en-
quanto a de progesterona permanece constante. Esse último hormônio
contribui para impedir as contrações uterinas, ao contrário dos estrogê-
nios que, por aumentar as junções comunicantes entre as células do mus-
culo liso, aumentam a contratilid ade uterina. Outro hormônio que causa
contrações uterinas e se eleva ao final da gravidez é a ocitocina, além
disso a sensibilidade uterina a esse hormônio se torna maior devido ao
aumento dos receptores de ocitocina no miométrio. O organismo do feto
também contribui, uma vez que secreta prostaglandinas e cortisol que au-
xiliam nas contrações (a liberação de cortisol é estimulada pela secreção
de CRH pela placenta, que age na adrenal fetal e materna).
Além das alterações hormonais, ocorrem alterações mecânicas no mo-
mento do parto. A própria distensão e irritação do colo uterino provoca
mais contrações e isso é explicado, em parte, pelo reflexo miogênico ine-
rente à musculatura lisa. Durante uma boa parte da gravidez o útero sofre
algumas contrações lentas, fracas e rítmicas, quando se aproxima o parto
essas contrações passam a ser mais fortes e rápidas e empurram o bebê
contra o colo do ú t ero, isso causa mais distensão e consequentemente
mais contração, principalmente no fundo e corpo do útero. Quando a for-
ça dessa contração ultrapassa um nível crítico, a contração posterior passa
a ser mais forte que anterior obedecendo o princípio do feedback positivo.
As contrações uterinas empurram o feto, dilatam o colo uterino e au-
xiliam a saída do bebê. Após o nascimento a placenta também deve ser
expelida pelo canal de parto e devem ocorrer contrações do miométrio
para conter o sangramento e evitar hemorragias.

219
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REFERÊNCIAS

1. Guyton AC, Hall JE. Tratado de fi siologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ:
Elsevier; 2017.
2. Berne RM, Levy MN. Fisiologia, 6a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2009.
3. MOORE, K.l. - Anatomia Orientada para clínica, 6•Ed, Guanabara Koogan,
2011
4. STANDRING, S.- Gray's Anatomia, 40Ed, Elsevier, 2010.
S. JUNQUEIRA, LC.U. & CARNEIRO, J. Histologia Básica. 11• Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.

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CONFERÊNCIA •

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sobre os assuntos abordados nesse capítulo! •

















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