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DOUTORADO
EMENTA
Espaço mítico, apropriado pela literatura e pela arte de todos os tempos, o mar comparece de diversas
formas ao longo da tradição literária, tanto como poderosa metáfora de origem e pertencimento
quanto paisagem por onde transitam variados tipos de personagens. Tomando como ponto de partida
esse imaginário líquido, o curso propõe analisar a questão da alteridade em narrativas que se passam
sobre as águas, dentro delas, tendo-as como testemunha ou agente. O recorte proposto privilegia o
exame de imagens aquáticas marcadas pela presença de sujeitos em trânsito, dentre eles indígenas,
pessoas escravizadas, imigrantes e refugiados, em textos do século XIX e na prosa contemporânea.
Nessa direção, vale indagar o que significa narrar as águas hoje, pensando na perspectiva histórica
das migrações, da perda de lar, da língua e da cultura, e de inúmeros deslocamentos, voluntários e
também forçados. Em um mundo em que o direito de migrar é negado a tantos, o curso propõe analisar
textos em que se fazem presentes os desafios políticos e éticos da hospitalidade e as dificuldades de
franquear fronteiras burocráticas e formas de controle, entre elas a do emblemático passaporte.
Para uma abordagem interdisciplinar, serão convocados conceitos caros aos Estudos Literários, bem
como à área de estudos da Antropologia e da Filosofia, a fim de criar um repertório teórico capaz de
interpretar as modificações que os trânsitos dos personagens, impulsionados por deslocamentos
territoriais ou simbólicos, acarretam para a reconsideração de categorias como espaço e identidade
cultural.
PROGRAMA
3) A diáspora negra e o ventre dos navios: os versos de Castro Alves e os romances Úrsula e Por
cima do mar
4) Língua e fronteira, pensando o refúgio: Minha casa é onde estou e Notas para um naufrágio
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