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Ética e Humanização

Profª. Júlia Cunha Dutra

URCAMP
Reflexão inicial: qual seria a diferença entre ética e humanização?

Muito embora alguns as entendam como sinônimos, uma reflexão mais aprofundada
leva a perceber que de fato são qualidades complementares para a boa prática da
profissão.

A ética é fundamental para nortear, organizar e delimitar a prática correta e


honesta. Entretanto, por vezes, isso pode não ser suficiente. Como bem ilustra o
caso clínico transcrito a seguir (caso clínico número 5), do livro Bioética Clínica
(CREMESP), é possível se atuar dentro das normas, limitações e recomendações
que constam nos Códigos de Ética profissional, mas ainda assim pode faltar algo
para o paciente. Pode faltar calor humano, solidariedade e mesmo bondade. Essas
características dependem da empatia e podem ser entendidas como humanização.

Posto de outra forma, podemos entender a humanização como uma prática baseada
na empatia dos profissionais de saúde em relação aos seus pacientes. Observa-se,
assim, que a humanização fundamenta-se nos parâmetros da ética profissional, mas
a transcende, complementa e dá-lhe um sentido mais amplo.
EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA HUMANISTA
Observação: nesse caso não houve infração ética, pois o paciente tem o direito de
ser informado sobre a sua doença. Entretanto, faltou humanidade (sentimento) na
forma como a comunicação foi feita. Como coloca adiante o autor do capítulo:
É frequente se encontrarem referências à necessidade de uma postura humanista
(ou humanização) como uma qualidade complementar à Ética Profissional. Exemplos:

1) Modelo do profissional desejável para o país, segundo as Diretrizes


Curriculares para os cursos de Enfermagem, do Ministério da Educação:
“... O cuidado de enfermagem contempla a integralidade humana e das
ações e relações de cuidado, em suas dimensões biológica, social, cultural,
mental, interacional e comunicativa, numa prática contínua e integrada,
pautada no acolhimento e humanização, orientada pelos conceitos de
saúde, sociedade e trabalho....”

2) Formação do enfermeiro para o atendimento às necessidades sociais


em saúde e necessidades singulares da pessoa ou de coletivos, com ênfase
no Sistema Único de Saúde, na integralidade da atenção à saúde, na
qualidade do cuidado de enfermagem e na humanização do atendimento.

3) A valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo no


estudante atitudes e valores orientados para a cidadania e à
solidariedade;
É frequente se encontrarem referências à necessidade de uma postura humanista
(ou humanização) como uma qualidade complementar à Ética. Exemplos:

5) Trecho de artigo publicado na Folha de São Paulo 05/07/2017

Afronta à dignidade humana

“É urgente que os gestores da área da saúde pública ou privada


desenvolvam estratégias robustas para envolver os médicos não somente
nas políticas internas de humanização das instituições mas também no
respeito ético para com seus pacientes. A dignidade humana deve ser
inviolável.”

Por Roberto Kalil Filho, Professor Titular da Faculdade de Medicina da


USP e diretor de cardiologia do Hospital Sírio Libanês
Porque ocorre a desumanização?

Está bem consolidado na literatura o papel da empatia como o


fundamento da prática humanista.

Portanto, a falta de empatia é a causa básica da


desumanização.
E o que é empatia ?
“Com origem no termo em grego empatheia, que significava "paixão", a
empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos
fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros
indivíduos.

Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma


outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela.
Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando
experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.

A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente


ligada ao altruísmo - amor e interesse pelo próximo - e à capacidade de
ajudar.

Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao


se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo
princípios morais.”

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A importância da empatia transcende a propria prática
clínica, mas, no cuidado aos pacientes ela é fundamental

A empatia pode ocorrer em todos os tipos de relacionamentos humanos:


nas relações familiares, nas amizades, no ambiente de trabalho e até
mesmo com pessoas desconhecidas. É um sentimento indispensável para
melhorar a qualidade da comunicação e do relacionamento entre as
pessoas.

Nas relações pessoais a empatia pode ser fundamental para a


compreensão de dificuldades das pessoas com quem se convive,
ajudando a diminuir e evitar conflitos. O mesmo pode ocorrer no
ambiente de trabalho, já que a empatia pode ajudar que um colega
compreenda as dificuldades enfrentadas por outro.

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Vimos que a desumanização decorre da falta de empatia.
Mas, o que causa essa falta de empatia ?

Causas principais:

1. Desumanização da sociedade como um todo


Aspectos culturais, políticos e econômicos dos povos

1. Assimetria de poder

2. Estresse / Burnout dos profissionais


CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE

Desumanização da sociedade como um todo

“ A humanização das instituições de saúde passa pela humanização da


sociedade como um todo. Não podemos esquecer que uma sociedade
violenta, iníqua e excludente interfere no contexto das instituições de
saúde”
L. Pessini & L. Bertachini
Humanização e Cuidados Paliativos, 2004

Comentário: A dehumanização da sociedade como um todo é um fenômeno


internacional da modernidade. Problemas como a violência urbana, as
enormes diferenças sociais, a miséria e o desemprego acabam afetando
direta ou indiretamente o ambiente nas instituições de saúde. Nesse
sentido, os crônicos problemas sociais brasileiros tornam o problema mais
grave no nosso país, como se pode inferir a seguir.
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO DA MEDICINA

Desumanização da sociedade como um todo


NO BRASIL ESSES PROBLEMAS SÃO MAIS GRAVES !
Desigualdade social - Segundo a ONU, o Brasil é um dos últimos colocados
na distribuição de renda

Violência - Segundo a UNESCO, em apenas 06 países o número de


homicídios é superior ao número de mortes por acidentes de trânsito.
Dentre esses está o Brasil, com 11% de todos os homicídios do planeta e é o
2º país que mais mata utilizando armas de fogo

Acidentes de Trânsito - O Brasil tem o quinto maior número de mortes no


trânsito no mundo (OMS- 2009)

Acidentes de Trabalho - O Brasil já foi o campeão mundial de acidentes de


trabalho. Agora está entre os 15 piores colocados (OIT – 2010)

Corrupção - No ranking dos países do Índice de Percepção da Corrupção, o


Brasil fica com a 80a posição, segundo a Transparência Internacional. O
Brasil aparece atrás de países pequenos como Butão, Botsuana, Gana
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO
Desumanização da sociedade como um todo
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO

Comercialização da medicina

Trecho de entrevista concedida pela Dra. Cleusa Casacaes Dias,


Presidente do Centro Médico de Ribeirão Preto em Novembro de 2011:

Pergunta: A ética e os valores humanísticos não tem sido esquecidos?

“A ética ainda pode ser fiscalizada pelo Conselho, mas os valores humanísticos
estão muito esquecidos na sociedade moderna, onde se prioriza o consumo.
Neste contexto o paciente pode ser facilmente confundido com um cliente, com
tudo de pernicioso que possa haver nessa relação.”
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO

Assimetria de poder

... “médicos e pacientes não se colocam no mesmo plano: trata-


se de uma relação assimétrica em que o médico detém um
corpo de conhecimentos do qual o paciente geralmente é
excluído” (Arrow, 1963).

“The doctor–patient relationship is typically a relationship


between superior and subordinate. Patients visit physicians
because of illness; illness is inherently a state in which one
has lost some power and control over their lives (Kleinman,
1980, 1988). The control and power afforded to doctors in
this relationship constitute a major determinant of
dehumanization—mastery—which can then facilitate
dehumanization of patients”
(Haque & Wayts, 2012)
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE

Estresse e “burnout” dos profissionais de saúde

•Burn=queima e out=exterior

•Burn-out é uma síndrome decorrente do estresse emocional permanente,


na qual o desgaste físico se instala progressivamente

•A pessoa com esse nível de estresse “consome-se” física e


emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e
irritadiço
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE

Estresse e “burnout” dos profissionais de saúde

Alguns dos principais sintomas do burnout:

– Insatisfação com a vida;


– Isolamento social;
– Cansaço, tristeza;
– Queda de cabelo;
– Irritabilidade, mau humor;
– Falhas de concentração e memória;
– Insônia, sono agitado;
– Angústia, baixa produtividade no trabalho;
- Falta de empatia
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE

Estresse e “burnout” dos profissionais de saúde

O problema do “burnout” é muito frequente entre os profissionais de saúde,


devido às grandes demandas, como a responsabilidade sobre a vida dos outros,
grande carga de trabalho e, muitas vezes, por ambientes muito competitidos.

Ele é agravado quando os profissionais têm baixa remuneração e condições de


trabalho ruins.
Stress and Dehumanizing Behaviors of Medical Staff
Toward Patients.

… stress experienced in the work setting can have an effect


on dehumanizing practices in medicine. One of the best
ways to combat dehumanization in medicine is to reduce
stress by improving the work conditions

Gtebocka, Adv Exp Med Biol. 2019;1133:97-104.


CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE

Estresse e “burnout” dos profissionais de saúde

Burnout afeta 1 a cada 3 médicos no Brasil; e isso prejudica os


pacientes

Pesquisa realizada pelo Medscap, que contou com a participação de 1838


médicos de 38 especialidades

37% dos profissionais de saúde relataram sofrer de burnout

Esses problemas refletem no paciente da seguinte forma:


- 34% dos dizem ficar menos motivados em ser cuidadosos nas anotações
- 33% se sentem menos engajados com os pacientes (escutar e responder
de maneira atenta, por exemplo)
- 29% se tornam menos amigáveis com os pacientes
- 20% se irritam mais facilmente com os pacientes
- 11% cometem erros que normalmente não cometeriam
- 4% cometem erros que podem prejudicar o paciente
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE
Estresse e “burnout” dos profissionais de saúde

“Physician Burnout: It Just Keeps Getting Worse”

An editorial published in the Journal of General Internal Medicine reported


burnout rates ranging from 30% to 65% across specialties, with the highest
rates incurred by physicians at the front line of care, such as emergency
medicine and primary care.[6]

Carol Peckham - Medscape Family Medicine, 2015


CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE

Trecho de artigo publicado na Folha de São Paulo 05/07/2017, pelo


Dr.Roberto Kalil Filho, Professor Titular da Faculdade de Medicina da
USP e diretor de cardiologia do Hospital Sírio Libanês

“ Infelizmente, são comuns no Brasil, e em especial na rede pública,


queixas de médicos e de outros profissionais de saúde sobre jornadas
extenuantes de trabalho, afastamento da família, salários incompatíveis
com uma vida digna e muito aquém do esforço, da dedicação e da
responsabilidade exigidos pela carreira.

Fora isso, também são vítimas de violência por parte de pacientes ou


acompanhantes que responsabilizam os médicos por todas as
consequências produzidas pela doença.

Tais situações, evidentemente, comprometem a saúde física e mental


desses profissionais e geram o desalento que os afasta de seus
pacientes, o que acaba por punir justamente os mais necessitados,
aqueles que já vivem nos limites da dignidade humana.”
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE
Trecho de artigo publicado na Folha de São Paulo 05/07/2017, pelo
Dr.Roberto Kalil Filho, Professor Titular da Faculdade de Medicina da
USP e diretor de cardiologia do Hospital Sírio Libanês

“Os cidadãos, quando buscam um serviço de saúde, principalmente quando


precisam ser internados, seja em enfermaria ou na terapia intensiva,
normalmente chegam fragilizados, não somente pela doença mas também
pelo temor em relação ao que os espera.

Hospital, receio da dor e do imponderável, medicações desconhecidas,


dor imposta por exames invasivos, cirurgias, agulhas, tubos e sondas são
possibilidades tenebrosas que ninguém em sã consciência aceita
calidamente. As incertezas são muitas na fase de hospitalização; por isso
a atitude dos profissionais de saúde tem o papel de resgatar a vida e dar
dignidade à existência.

É urgente que os gestores da área da saúde pública ou privada


desenvolvam estratégias robustas para envolver os médicos não somente
nas políticas internas de humanização das instituições mas também no
respeito ético para com seus pacientes. A dignidade humana deve ser
inviolável.”
CAUSAS DA DESUMANIZAÇÃO NA PRÁTICA DE SAÚDE- RESUMO

Grandes
demandas
Contexto econômico-político profissionais
Corrupção:
- Baixo investimento na saúde
- Baixos Salários
Estresse
- Excesso de trabalho
“Burn out”
- Má formação profissional
Depressão

Falta de empatia
(Insensibilidade)

Desumanização
A humanização da prática de saúde depende de ações coletivas e individuais, que
envolvam a humanização da sociedade como um todo, a melhoria dos serviços de
saúde e o cuidado aos profissionais, para reduzir o seu estresse e sofrimento.

AÇÕES
COLETIVAS /
POLÍTICAS

Humanização no
atendimento
aos pacientes

AÇÕES INDIVIDUAIS
ÉTICA / Controle do Burnout
Política Nacional
de Humanização
Contradições da
política e a
questão da
equidade
Histórico e Conjuntura
◼ Século XX início século XXI: Humanização aparece em algumas
literaturas e são feitas algumas experiências principalmente no
ambiente hospitalar, UTI Neonatal, Parto Humanizado ETC
CONCEIÇÃO 2009
◼ 2003: Elaborada a Política Nacional de Humanização (PNH), que
aglutina experiências que antes se desenvolviam particularmente em
hospitais e as ampliou para a atenção e gestão da saúde. Atribuiu-se
a essa política um caráter transversal. CONCEIÇÃO 2009
◼ 2004: É publicada oficialmente a política
◼ 2016: Política implementada ainda de forma frágil, se apresenta nos
serviços concretizada mais em estruturas físicas do que realmente
em transformações no modelo de atenção e na acadêmia ainda se
apresenta por discursos inacessíveis e análises pouco realistas
A política Nacional de
Humanização de 2004
◼ “[...] o acesso aos serviços e aos bens de saúde com conseqüente
responsabilização de acompanhamento das necessidades de cada usuário
permanece com graves lacunas. A esse quadro acrescente-se a
desvalorização dos trabalhadores de saúde, expressiva precarização das
relações de trabalho, baixo investimento num processo de educação
permanente desses trabalhadores, pouca participação na gestão dos
serviços e frágil vínculo com os usuários. Um dos aspectos que mais tem
chamado a atenção quando da avaliação dos serviços é o despreparo dos
profissionais para lidar com a dimensão subjetiva que toda prática de
saúde supõe. Ligado a esse aspecto, um outro que se destaca é a presença de
modelos de gestão centralizados e verticais desapropriando o trabalhador
de seu próprio processo de trabalho. O cenário indica, então, a necessidade de
mudanças. Mudanças no modelo de atenção que não se farão, a nosso ver, sem
mudanças no modelo de gestão. MINISTÉRIO DA SAÚDE 2004
A política Nacional de
Humanização de 2004
◼ “Por humanização entendemos a valorização dos diferentes sujeitos
implicados no processo de produção de saúde: usuários,
trabalhadores e gestores. Os valores que norteiam esta política
são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-
responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos
solidários e a participação coletiva no processo de gestão. “
MINISTÉRIO DA SAÚDE 2004
A política Nacional de Humanização de 2004
(Avanços e desafios do SUS)
- Fragmentação do processo de trabalho e das ◼ - Poucos dispositivos de fomento à co-gestão
relações entre os diferentes profissionais; e à valorização e inclusão dos gestores,
trabalhadores e usuários no processo de
- Fragmentação da rede assistencial produção de saúde;
dificultando a complementaridade entre a rede
básica e o sistema de referência; ◼ - Desrespeito aos direitos dos usuários;

- Precária interação nas equipes e despreparo ◼ - Formação dos profissionais de saúde


para lidar com a dimensão subjetiva nas distante do debate e da formulação da política
práticas de atenção pública de saúde;

- Baixo investimento na qualificação dos ◼ - Controle social frágil dos processos de


trabalhadores, especialmente no que se refere atenção e gestão do SUS;
à gestão participativa e ao trabalho em equipe;
◼ - Modelo de atenção centrado na relação
- Sistema público de saúde burocratizado e
verticalizado queixa-conduta.
A política Nacional de Humanização de 2004
(A Humanização como política transversal na rede SUS)
- Traduzir os princípios do SUS em modos de operar - Valorização dos diferentes sujeitos implicados no
dos diferentes equipamentos e sujeitos da rede de processo de produção de saúde: usuários,
saúde; trabalhadores e gestores;

- Construir trocas solidárias e comprometidas com a -Fomento da autonomia e do protagonismo desses


dupla tarefa de produção de saúde e produção de sujeitos;
sujeitos;
-Aumento do grau de co-responsabilidade na
- Oferecer um eixo articulador das práticas em produção de saúde e de sujeitos;
saúde, destacando o aspecto subjetivo nelas
presente; -Estabelecimento de vínculos solidários e de
participação coletiva no processo de gestão;
- Contagiar por atitudes e ações humanizadoras a
rede do SUS, incluindo gestores, trabalhadores da -Identificação das necessidades sociais de saúde;
saúde e usuários
A política Nacional de Humanização de 2004
(A Humanização como política transversal na rede SUS)
-Mudança nos modelos de atenção e gestão dos -O pacto entre os diferentes níveis de gestão do SUS
processos de trabalho tendo como foco as (federal, estadual e municipal), entre as diferentes
necessidades dos cidadãos e a produção de saúde; instâncias de efetivação das políticas públicas de saúde
(instâncias da gestão e da atenção), assim como entre
-Compromisso com a ambiência, melhoria das gestores, trabalhadores e usuários desta rede;
condições de trabalho e de atendimento.
-O resgate dos fundamentos básicos que norteiam as
- A troca e a construção de saberes; práticas de saúde no SUS, reconhecendo os gestores,
trabalhadores e usuários como sujeitos ativos e
-O trabalho em rede com equipes multiprofissionais; protagonistas das ações de saúde;

-A identificação das necessidades, desejos e interesses -Construção de redes solidárias e interativas,


dos diferentes sujeitos do campo da saúde; participativas e protagonistas do SUS.
Discussão
 A Política Nacional de Humanização vem para tentar concretizar os princípios de
Integralidade, Universalidade e Equidade do SUS, propostos na Constituição, ignorando que
isso não é realidade devido à questões estruturais como financiamento e comprometimento
político, o estado de direitos não cabe em sua plenitude no sistema capitalista. A política
propõe como solução estratégias superficiais que não conseguem impactar na raiz do
problema: como o trabalhador pode oferecer uma assistência humanizada com as condições
precárias das relações de trabalho ?
 A política segmenta ainda mais os construtores do SUS. Gestores, trabalhadores e usuários são
todos classe trabalhadora, estes são colocados em disputa o tempo inteiro nas proposições da
política.
 A PNH ignora os espaços e as lutas já existentes, querendo criar dispositivos paralelos,
diluindo as mobilizações históricas, diluindo os recortes de classe, gênero, raça e etnia. A PNH
em nenhum momento retoma a Reforma Sanitária, isso pode ser lido como a tentativa de uma
contra reforma que ocorre superficialmente e esta pode se concretizar de forma conservadora,
principalmente por esse deslocamento da militância histórica, apesar de nascer como uma
demanda de diversos movimentos.
Discussão
 A Política Nacional de Humanização hoje se traduz principalmente através de
estruturas físicas nos serviços de saúde, como sala de acolhimento, pintura,
vestimentas. A ação dos profissionais como veículo da humanização acaba
sendo resistência individual a problemas da coletividade, a problemas
estruturais da formação dos profissionais e da organização do modelo de
atenção ainda médico-centrado e hospitalocêntrico.

 Humanizar o humano: Humano se torna adjetivo se contrapondo ao adjetivo


desumano e não mais substantivo, contrapondo-se a não humano. GARCIA et
al 2009
Discussão
◼ “Quando se lê os documentos oficiais da PNH, a ideia que se tem é a de que, a despeito de todas as demais questões
estruturais, podemos construir um “SUS que queremos”, mesmo sem financiamento adequado, sem condições físicas e
materiais de trabalho – muito embora estas últimas questões sejam mencionadas nos documentos da PNH – e também
sem que haja condições efetivas de participação do usuário ou do trabalhador nas decisões. Dito isto, há que se
considerar que estão previstas estratégias para atingir tais objetivos, que seriam por meio de conselhos gestores e também
de ouvidorias. Ignorando, por vezes, o espaço dos Conselhos de Saúde. A despeito disso, o discurso que encontra lugar é
aquele mistificador da subjetividade, que esconde em si muito mais uma individualização das queixas e dos
encaminhamentos do que a identificação coletiva das problemáticas vivenciadas cotidianamente e que tenham como

” CONCEIÇÃO 2009
horizonte a luta por direitos já assegurados.
Discussão
 Os conselhos de saúde são dados como espaços esgotados e se aposta em novas formas de
participação, ultrapassando de forma violenta espaços ainda disputados e ativos e propondo através
da proposição de autonomia do sujeito e valorização das subjetividades espaços diluídos e pouco
claros para conciliação dos segmentos.
◼ “Temos a impressão de que o debate da humanização sai da esfera do que é público, que é regido por leis e
diretrizes estatais, para vincular-se ao privado, numa relação que não vai muito além daquilo que já foi mencionado,
queixa e encaminhamento, porém coloca trabalhadores frente a frente, como se usuários e profissionais da saúde
não fossem todos trabalhadores e, ao contrário, estivessem numa arena de disputa. A esse respeito, não seria
interessante, então, nos perguntarmos sobre o modelo de saúde vigente, baseado no modelo biomédico e
hospitalocêntrico? Seria possível mudar este modelo, a partir tão somente da vontade dos sujeitos implicados nesse
processo?
Discussão
 Há situações também em que a humanização, ao contrário de sua proposta de
autonomia, valorização das subjetividades, participação, etc, é minada por um
“perfil idealizado” do que vem a ser atenção humanizada. CONCEIÇÃO, 2009
◼ “Desde o século XIX, a amamentação foi vista como ponto crucial no processo de
constituição da figura higiênica da mãe, e não foram poupados esforços de autoridades para
viabilizar o aprendizado e o exercício deste dever cívico da mulher. No entanto, em que pesem
os argumentos em contrário, a amamentação não é um instinto nem um ato puramente
biológico, é também, e sempre, um processo social. As situações de dificuldade e conflitos na
amamentação remetem a uma reflexão importante: se tomado como uma norma rígida, o
incentivo à amamentação deixa de ser um direito da mulher, tornando-se um dever normativo e
disciplinador” (TORNQUIST, 2003, p. 425).
Discussão
 [...] o que seria um direito, passa a ser uma obrigação, muitas vezes infligindo
agressões psicológicas, sociais e até mesmo físicas CONCEIÇAO 2009
◼ “O ideário do parto humanizado, portanto, contém paradoxos: de um lado, advoga os direitos das
mulheres no momento do parto, de outro, parece estar desatento às diferenças socioculturais entre estas
mulheres. Se as experiências de humanização se concentram em aspectos técnicos isolados e num modelo
universalista de família e de feminilidade, no contexto de uma cultura fortemente centrada no mito do
amor materno e na pesada herança higienista da medicina, pode minimizar seu grande potencial que é o
do empoderamento das diferentes mulheres no que tange à sua saúde reprodutiva e sexualidade”
(TORNQUIST, 2003, p. 426).
Discussão
 A PNH pode impactar na assistência mas pouco impacta no acesso, a questão da equidade não é
melhorada.
 De acordo com a pesquisa Nascer com Equidade (2010), apesar de o Estado de São Paulo ser o
mais desenvolvido do país e, consequentemente, com melhores condições de vida relativas, ainda
assim, constatam-se desigualdades geográficas e sociais significativas, entre as quais se
destacam as referentes à raça/cor da população, que agem como fatores determinantes
para o tipo de assistência recebida no setor da saúde.
 A exemplo disso, de acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde (2012),
em 2011 a taxa de mortalidade materna por 100.000 habitantes era de 50,6 para mulheres
brancas e 68,8 para mulheres negras. Já o pré-natal relata ter sido realizado com no mínimo 7
consultas (sendo a recomendação mínima de 6) por 74,5% de mulheres brancas em contrapartida a
55,7% de mulheres negras.
Conclusão
 A demanda legítima de uma Política que impactasse na assistência não encontra
efetividade na PNH, apesar do esforço de muitos profissionais, acreditamos que é
extremamente difícil a individualização de uma demanda construída socialmente e
historicamente no nosso paí
 A mudança das práticas tem de ser feita para que o trabalho em saúde não se torne um
espaço rígido, mas isso tem de fazer sentido, pensando historicidade e contexto social,
sempre retomando a Reforma Sanitária para que tenhamos continuidade e renovação e
não sobreposição e fragmentação.
 A coletividade, a luta das minorias protagonizada pelos atores sociais de cada setor da
classe trabalhadora, a aposta nos espaços de participação social através da
instrumentalização e implicação destes sujeitos na coletividade trarão impactos no
acesso, e através do empoderamento dos sujeitos, transformações no modelo de atenção.
 Transformações na formação em saúde.
HUMANIZAÇÃO
EXEMPLO PRÁTICO
A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do
SUS tem como propósitos:

- Contagiar trabalhadores, gestores e usuários do SUS com


os princípios e as diretrizes da humanização;

- Fortalecer iniciativas de humanização existentes;


HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE - EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DO
CUIDADO, ALÉM DOS REMÉDIOS
HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE - EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DO
CUIDADO, ALÉM DOS REMÉDIOS
HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE - EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DO
CUIDADO, ALÉM DOS REMÉDIOS
HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE - EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DO
CUIDADO, ALÉM DOS REMÉDIOS
HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE - EXEMPLO DA IMPORTÂNCIA DO
CUIDADO, ALÉM DOS REMÉDIOS

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