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Do eu ao outro: Humanizar os cuidados de saúde

Trabalho opção 1º ano 1º semestre – Prof. Carlos Torres


Tema: FATORES DE DESUMANIZAÇÃO
Introdução
No âmbito da unidade curricular do Eu ao Outro: Humanizar os cuidados de saúde,
executamos este trabalho com o intuito de elucidar concisamente sobre acontecimentos
factuais relativamente à profanação dos utentes, que surge da insensibilização dos
cuidados de saúde.
Ainda que não seja tão evidente, a desumanização dos cuidados de saúde é uma
realidade observada entre aqueles que detêm determinados conhecimentos científicos e
técnicos (profissionais de saúde) e aqueles que se encontram mais fragilizados devido à
sua condição de saúde (utente).
A desumanização dos cuidados de saúde é consequência da ausência do relacionamento
emocional que advém dos profissionais de saúde, procedendo estes, à efetivação dos
tratamentos com desprezo e frieza, levando ao constrangimento e marginalização do
utente.
Assim, o objetivo principal deste trabalho é dominar os fatores de desumanização de
modo a que seja possível compreender o fito supremo desta unidade curricular: de que
forma podemos humanizar os cuidados de saúde? Como o diagnóstico é considerado um
fator stressante, os fatores psicossociais, como é o caso da vulnerabilidade ao stress, têm um
impacto significativo no doente com DM, nomeadamente no processo de autocuidado e de
gestão da doença. As crenças que o doente tem face à sua condição também são um fator
decisivo na procura de tratamento e de cuidados exigidos por este quadro clínico. O principal
objetivo desta investigação consiste em analisar os níveis de vulnerabilidade ao stress numa
amostra de doentes com diabetes e relacioná-los com variáveis sociodemográficas e clínicas e
ainda descrever as suas crenças face a esta patologia. Método: Uma amostra de 105 utentes

O que é a desumanização dos cuidados de saúde?

Desumanização exprime a “perda de determinadas qualidades morais humanas.”


Existem inúmeras situações que leva a prática de saúde desumana sendo uma delas o
avanço tecnológico, causando um aspeto frio e maquinal.
A prática dos profissionais de saúde, no âmbito hospitalar, desumaniza se devido á
doença e não ao paciente, o ser doente.
“Humanização e desumanização no trabalho em saúde” é um livro redigido por Rogério
Miranda Gomes. Este retrata de uma forma muito especifica os aspetos da sociedade que
influenciam o cuidado da saúde, interrogando se esta é uma prática “desumanizadora”.
O livro ajuda nos a alcançar o objetivo do trabalho na saúde, refletindo, se é a própria
saúde, a doença ou a pessoa.

Desumanização
 Grau de objetivação do doente na perceção do cuidado com que o tratam
 À frieza na interação humana
 Ao constrangimento da liberdade
 À sua marginalização e alienação. (afastar se e alucinar)
 A transformação do doente num objeto, num número
 O paciente perde as suas características pessoais e individuais, prescindindo dos
seus sentimentos e valores, e sendo identificado pelas suas características
externas

Consequências
da desumanização

- A impotência e falta de autonomia do doente.


- Este não se sente protagonista do seu destino, mas sente-se coagido e manipulado por atitudes
de conformismo. 

Desumanização 
A desumanização diz respeito ao grau de objetivação do doente na perceção do cuidado
com que o tratam, à frieza na interação humana, ao constrangimento da liberdade, à sua
marginalização e alienação.
O conteúdo mais evidente da desumanização é a transformação do doente num objeto,
num número, a sua “coisificação”. Fazendo-o perder as suas características pessoais e
individuais, prescindindo dos seus sentimentos e valores, e sendo identificado pelas suas
características externas: o que padece de uma determinada patologia, o que vai ser sujeito a uma
determinada cirurgia, o que faz uma determinada terapia (citostáticos, por exemplo). A própria
superespecialização da prática médica tem tendência a converter o doente na patologia de que
padece, esquecendo ou relegando para segundo plano as suas dimensões pessoais sempre
distintas e específicas em cada um.
Segundo Osswald, desumanização é consequência da ausência de calor afetivo na
relação humana. Argumenta-se frequentemente que os profissionais de saúde necessitam desta
distância afetiva, já que não podem dar-se emocionalmente a todos os doentes. Contudo, estes
sentem esta falta de expressão de sentimentos como indiferença, como preocupação distante,
como falta de humanidade.
A desumanização implica duas importantes consequências: a impotência e a falta de
autonomia do doente. Este não se sente protagonista do seu destino, mas sente-se coagido e
manipulado por atitudes de conformismo. As instituições de saúde forçam os doentes a um
comportamento sem naturalidade, a uma restrição da sua liberdade e da sua individualidade.
Usualmente dormem em quartos, sem dispor de privacidade para si e para as suas visitas. Não
raramente, acumulam-se em macas nos corredores dos hospitais.
Uma prova da desumanização é a frequente negação ao doente das suas últimas
vontades. É indiscutível que os hospitais não foram concebidos em função da morte,
embora um grande número de doentes morra neles. Os médicos têm como objetivo da
sua missão prolongar a vida dos doentes, e os que cuidam do doente não estão bem
preparados, nem apoiados, para ajudar a morrer. Frequentemente, os serviços
preocupam-se com investigações clínicas sofisticadas e, sobretudo, tendem a
especializar-se em tratamentos intensivos de curta duração que abreviem a
hospitalização do doente. Não se adaptam à situação do doente crónico ou terminal.
A desumanização nos cuidados de saúde está, sem dúvida, ligada à desumanização da
sociedade em geral, já que as instituições não são compartimentos estanques. A área da saúde
relaciona-se com outras áreas da sociedade e com elas compartilha ideologias comuns sobre a
adequada distribuição de recursos e a justa distribuição de bens e serviços. As próprias forças
sociais que contribuem para a desumanização nos meios económicos e políticos têm
repercussões semelhantes na área da saúde.

Quais os fatores de desumanização?


A Desumanização engloba atitudes negativas de dureza, indiferença e distanciamento
excessivo manifestadas pelos profissionais no relacionamento com os utentes. A falta de
um relacionamento adequado é uma condição desumanizante, pois muitos pacientes são
tratados apenas como números ou somente mais um caso de doença, não recebendo os
devidos esclarecimentos quanto ao seu estado de saúde e tratamento.
Existem diversos fatores de desumanização, tais como:

 Grau de objetificação do doente na perceção do cuidado – os utentes são tratados


como simples objetos de intervenção técnica, sem serem ouvidos ou sequer
informados sobre o que está a ser feito, independentemente da opinião do utente;
 Perda de significado - os seres humanos tornam-se números e estatísticas. Neste
caso, o tratamento não faz sentido para os doentes, porque o que é importante
estatisticamente não está necessariamente ligado à experiência humana
individual;
 Perda de percurso pessoal - acontece quando as práticas de cuidados de saúde
não prestam a devida atenção à história e às possibilidades futuras da vida de
uma pessoa;
 Frieza na interação humana;
 Constrangimento da liberdade;
 Isolamento - é inevitável que a doença traga um sentimento de separação com o
mundo social íntimo. As ligações sociais quotidianas são perturbadas e os
doentes poderão sentir-se sozinhos e estranhos;
 Falta de condições técnicas, seja de capacitação, seja de materiais;
Repercussões na saúde
A desumanização dos cuidados de saúde pode ter repercussões na dimensão emocional,
espiritual e social.
A nível da dimensão emocional pode ser desencadeada a ansiedade e a solidão.
 Solidão
 A solidão provém dos momentos em que por vezes, os utentes não têm
familiares ou amigos que se disponibilizem para ouvir as suas histórias de vida,
ou até mesmo, aquilo que os preocupa.
 A nível da dimensão espiritual pode ser desencadeada a incapacidade de
comunicar e a impotência.
 Impotência
No processo de recuperação é frequentemente observada a debilidade dos
utentes, por não terem um apoio emocional da família ou amigos, por não terem
companhia ao longo do dia, ou apenas pelo facto do processo de recuperação em
si ser algo bastante complicado e cansativo.
A nível social pode ser levar à crise nos laços familiares, problemas profissionais e a
falta de autonomia.
 Falta de autonomia
A falta de autonomia resulta das situações em que os profissionais de saúde tentam
substituir o utente em algumas atividades essenciais para a recuperação, estas acabam
por interferir na sua autonomia, fazendo com que o seu comportamento seja pouco
natural, limitando assim a sua liberdade.

Artigos do código deontológico:


No código deontológico dos enfermeiros existem dois artigos que se opõe à
desumanização dos cuidados de saúde, o Artigo 84º- Dever de informar e o Artigo 89º-
Humanização dos cuidados.
O Artigo 84º-Dever de informar fundamenta-se no respeito pela autonomia do doente, a
qual prossupõe o consentimento.
Segundo este artigo o utente deve ser sempre informado previamente acerca da natureza
da intervenção, como as suas consequências e riscos. Esta informação deve ser dada de
forma explicita e simples, de maneira a que o utente entenda o que lhe está a ser dito na
sua plenitude. O utente nunca deve ser excluído de alguma decisão que lhe diga
respeito. Este deve ter sempre uma opinião sobre essa decisão.

O Artigo 89º- Humanização dos cuidados afirma que o enfermeiro tem sempre o dever
de atender com cortesia, acolher com simpatia e compreender, respeitar e promover o
estabelecimento de uma relação de ajuda. Este também possui o dever de desenvolver
na sua equipa uma cultura de humanização, pois numa equipa moralmente evoluída a
preocupação com o outro vulnerável, irá fazer com que a resposta às necessidades de
cada utente seja mais eficiente. O enfermeiro deve promover o desenvolvimento de um
ambiente propício à evolução das potencialidades do utente.

Embora o código deontológico dos enfermeiros seja claro no que toca à humanização
dos cuidados de saúde, podemos constatar que nem sempre os seus artigos são postos
em prática, levando a uma desumanização dos cuidados.
No que toca ao Artigo 84º-Dever de informar, podemos observar que nem sempre isto
acontece. Muitas vezes os utentes acabam por consentir os procedimentos sem
possuírem qualquer informação sobre os mesmos. Esta situação ocorre devido a dois
grandes aspetos. Um deles é o facto de os profissionais de saúde utilizarem linguagem
profissional nas suas explicações, linguagem que maior parte dos utentes não domina.
Outro aspeto é o facto de os profissionais de saúde não disponibilizarem qualquer
informação sobre o procedimento a ser efetuado aos utentes.
No que toca ao Artigo 89º-Humanização dos cuidados é visível, que este nem sempre
é posto em prática. Em ambiente hospitalar, ainda existe muito a ideia de ver o utente
através da sua doença e não como um indivíduo inserido numa família e comunidade.
Não se dá valor ao lado emocional da pessoa pelo que o cuidado está apenas
direcionado para a doença.

Qual é o papel do enfermeiro para melhorar estas situações (desumanização dos


cuidados).
Sabemos que o processo de humanização dos cuidados em enfermagem envolve
sensibilidade, afetividade, preocupação e solidariedade. Portanto, o tecnicismo e a
preocupação exagerada com o tratamento da doença podem dificultar as relações
interpessoais entre enfermeiro e paciente.
Cuidar é a essência da enfermagem, tendo igual extensibilidade na teia das relações que
acompanham a vida do ser humano, pois o cuidar é intrínseco à natureza humana.
Assim, cuidar deve abranger todas as capacidades de vida e não se direcionar
simplesmente para o tratamento da doença em si, pois tratar implica doença, enquanto o
cuidado engloba a totalidade do ser vivo, implicando, este conceito, manter a dignidade
e individualidade de cada pessoa que é cuidada.
Para se atender à necessidade de atenção humana da enfermagem, foi criada em 2001 a
Política Nacional de Humanização no Ambiente Hospitalar que tem como objetivo
capacitar os profissionais de enfermagem para a garantia de uma assistência
humanizada e holística, valorizando a vida humana e a cidadania, aprimorando as
relações humanas e resgatando a integralidade na assistência aos indivíduos e à
população idosa, visto que esta é, normalmente, uma classe mais vulnerável e que
constitui um público que necessita amplamente dos serviços prestados pelas Unidades
de Saúde e de internamento devido às suas condições fisiológicas (Ministério da Saúde,
2001).
É exatamente nesta área, a dos fatores de desumanização, que o papel do enfermeiro é
mais importante como elemento de melhoria, providência e premeditação em prol do
bem-estar e dignidade de cada paciente.
É crucial ao profissional de saúde estabelecer contato direto com o paciente sob seus
cuidados, para que as características pessoais e individuais de ambos sejam respeitadas.
Isso requer que o profissional entenda que o seu paciente, tal como todos os outros, não
representa apenas a sua patologia que, futuramente, virá a ser tratada, mas também, um
ser humano complexo, dotado de sentimentos, saberes e conceções próprias sobre a sua
saúde e de como cuidar da mesma. Mas, ao mesmo tempo, é necessário que o paciente
compreenda o profissional como alguém com quem discutir os problemas que está a
enfrentar, estabelecendo-se uma relação de empatia, fundamentalmente importante para
o processo de enfermagem e de melhoria da qualidade de vida. A relação empática, que
tem por base a comunicação, é a dita “chave de ouro” para a adesão ao tratamento.
Deve-se procurar sempre a personalização na assistência humanizada em saúde, e as
características desses atendimentos que precisam ser revistas diariamente para poderem
ser reorientadas para uma abordagem não robotizada e sim, mais individualizada para
cada utente, implicando assim que cada um se coloque no lugar do outro em intenção e
gesto.
Enquadramos assim na enfermagem e no papel do enfermeiro que, falar de
humanização é falar do seu instrumento de trabalho, do cuidado, que se caracteriza
numa relação de ajuda, cuja essência se constitui numa atitude humanizada, apoiando o
cuidado numa relação inter-humana (enfermeiro-paciente). Cuidar é assim, usar da
própria humanidade para assistir à do outro, como um ser único, composto de corpo, de
mente, vontade e emoção, com um coração consciente, com o qual se intui, se comunga
e se cuida, com base nesta relação.

O que é necessário para humanizar os cuidados de saúde?


Neste ponto decidimos explicar o que é necessário para humanizar os cuidados de saúde
e garantir que tanto o doente como o profissional de saúde vão ser tratados de forma
humanizada.
Para realizar uma prática humanizadora é necessário uma reflexão sobre os princípios e
valores que regulam a prática profissional, assim é necessário ter em conta fatores
como:

1. Visão Holística sobre o doente


Uma visão holística sobre o doente, têm em conta que a pessoa a que estamos a prestar
cuidados é um ser bio-psico-social e daí termos que o respeitar com todas as suas
dimensões. Devemos garantir que a sua intimidade está preservada, dado que o doente
se encontra numa situação de vulnerabilidade, e também garantir que este se sente
confortável e integrado.

2. Atribuir autonomia ao doente


Para haver um processo de humanização, é necessário tratar as pessoas com o valor e
dignidade que lhes são inerentes. Muitas vezes durante os cuidados de saúde, ocorre um
processo de desumanização em que ocorre a destituição da autonomia do sujeito. Mas
não ocorre apenas a destituição da autonomia, como também da sua personalidade, o
que vai levar a um processo de isolamento e solidão. Ao atribuirmos ao doente alguma
autonomia sobre os seus cuidados, este vai sentir-se integrado e capaz, o que contribui
para a humanização dos cuidados.

3. Tratar com igualdade todos os indivíduos


Segundo o CDE, todos os enfermeiros são obrigados a respeitar todos os indivíduos
independentemente das suas ideologias, etnias, e oferecer os melhores cuidados
possíveis. Assim, o enfermeiro é eticamente obrigado a garantir os melhores cuidados e
cuidados mais humanizados possíveis.
A obrigação de respeitar o profissional de saúde também recaí sobre o doente, dado que
este também têm que respeitar o profissional de saúde como o ser humano que é.

4. Estabelecer um diálogo entre o doente e o profissional de saúde


A humanização e a comunicação são dois aspetos inerentes um ao outro. Para que
existam cuidados humanizados é necessário haver uma escuta ativa por parte do
profissional de saúde e um “ à vontade” do utente para expressar o que sente. Assim a
humanização depende da capacidade de falar e de ouvir, sem a comunicação entre o
profissional de saúde e o utente não é possível existir humanização.

5. Recursos humanos e materiais

É possível verificar que muitas vezes ocorre uma assistência desfragmentada e


desumanizada dos cuidados de enfermagem devido à falta de recursos humanos e
materiais. A falta de profissionais em vários serviços leva ao desgaste psicológico e
físico dos profissionais de saúde, os turnos prolongados, o ritmo acelerado, a intensa
responsabilidade sobre os doentes leva muitas vezes a burn outs, depressões, entre
outros. A falta de recursos materiais leva a que os profissionais de saúde não tenham as
condições básicas materiais para desenvolver as atividades de forma justa e digna.
Assim, tanto os doentes como os profissionais de saúde necessitam de manter a sua
condição humana respeitada e deve lhes ser reconhecido o seu valor ao trabalharem com
as condições adequadas.

6. As pessoas e suas pessoalidades

Alguns fatores como:

 Valores pessoais;
 Gradientes de atenção;
 Experiências, vivências e visão de mundo;
 A empatia;
 Boa vontade do profissional.

Podem influenciar a maneira do profissional de saúde prestar cuidados, pelo que quando
o profissional de saúde está a prestar cuidados deve garantir que estes fatores só vão
trazer benefícios aos doentes, não colocando, de forma alguma, as necessidades e os
direitos do doente em causa e não contribuindo para uma cultura de cuidados
desumanizados.

Conclusão:
Ao longo deste trabalho foi possível concluir que a desumanização dos cuidados de
saúde é a transformação do doente num objeto, desrespeitando-o e fazendo-o perder
as suas características, tanto pessoais e individuais, prescindindo dos seus sentimentos e
valores. Esta corrompe a dignidade e o valor que estão inerentes ao ser humano, estando
o doente numa situação de vulnerabilidade devemos prestar-lhe os melhores cuidados
de modo a humanizar situação em que se encontra. Sendo que para humanizar a
situação do utente é necessário garantir o respeito e o conforto ao utente.

Foi também possível concluir que a desumanização não se aplica apenas aos doentes
mas também aos profissionais de saúde que devido às enumeras horas de trabalho e às
baixas bonificações, não veem o seu trabalho ser dignificado entrando assim em
condições de desumanização.

Como futuros enfermeiros, cada um de nós deve garantir que prestamos os cuidados da
forma mais humanizada possível, respeitando o doente como a pessoa que é,
responsabilizando-o e contrariando todos os fatores de desumanização.

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