HISTÓRIA E TEORIAS DA ENFERMAGEM
Prof. Eurípedes Gil de França
TEORIA DAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS
A Teoria das Necessidades Humanas
Básicas de Wanda de Aguiar Horta fundamenta-se
na Teoria da Motivação, do psicólogo Abraham
Maslow.
Wanda Horta (1926-1981) foi uma
enfermeira brasileira, doutora em Enfermagem em
1968 pela Escola de Enfermagem Anna Nery, Rio
de Janeiro, com a tese: a observação
sistematizada na identificação dos problemas
de Enfermagem em seus aspectos físicos. Horta
fundamentou o que mais tarde viria a ser
conhecido como o Processo de Enfermagem e,
com isso, deu grande passo para a consolidação da
profissão enquanto ciência.
Ao longo de sua carreira uma
preocupação iminente era a representação de uma
Enfermagem científica. A concepção de
Enfermagem enquanto arte, para a autora, não
parecia suficientemente convincente se não
possuísse elementos mais concretos que
caracterizassem a prática assistencial.
Tendo, a Enfermagem, como objeto de
estudo (até então) o cuidado ao paciente, Horta
enxergava uma falta de convicção quanto a este
ideal e a ausência de um conceito assistencial no
qual a profissão pudesse se apoiar. Nisto
questionou: qual o objeto de ação (específico) da
Enfermagem? Qual o foco de sua atuação?
A elaboração de um sistema teórico
Em sua prática, enquanto enfermeira,
percebeu que os pacientes apresentavam
características definidoras de seus quadros de
saúde que, por vezes, evidenciavam pessoas com
necessidades de saúde sem, ocasionalmente,
existir uma doença. Essas necessidades de saúde
inúmeras vezes estavam associadas aos aspectos
do dia-a-dia da pessoa, como por exemplo: falta
de companheirismo, deficiência de convívio
social, necessidades de higiene, alimentação,
hidratação, entre outros.
Começou a pesquisar se de fato já havia
algum sistema caracterizador de necessidades
humanas para que pudesse, por meio das ações de
Enfermagem, intervir, a fim de suprir tais
necessidades.
A teoria de Maslow
Maslow havia fundamentado, em meados
das décadas de 1930-1940, um conceito sobre
necessidades humanas. Após ter sido solicitado a
estudar empregado de uma fábrica, objetivado
idealizar propostas para aumento de
produtividade, constatou que a melhora no
desempenho das funções estava associada ao grau
de motivação que os funcionários apresentavam
para o trabalho.
Interessado pela descoberta, viu ainda que
a motivação dependia da satisfação que os
funcionários possuíam com aspectos sociais e
fisiológicos de suas vidas. Esta satisfação era
diretamente proporcional à realização plena das
necessidades de saúde, de companheirismo e de
segurança (entre outros). Ou seja, à medida que as
necessidades de vida eram supridas, havia uma
tendência a maior satisfação no trabalho,
resultando em maior motivação, e, por fim,
aumento de produtividade. A figura 1 demostra
esta relação:
NECESSIDADES HUMANAS
SUPRIDAS
• Contribui para:
SATISFAÇÃO NO TRABALHO
• Influencia no:
AUMENTO DA MOTIVAÇÃO
• Resulta em:
AUMENTO DA PRODUTIVIDADE
Figura 1. Fluxograma da teoria de Maslow.
Tendo em consideração que a sua ideia
para o aumento de produtividade baseava-se na
motivação, a teoria de Maslow também foi
chamada de Teoria da Motivação. Porém, Maslow
considerou também o fator “satisfação plena”.
Segundo o psicólogo, quando uma pessoa alcança
a satisfação plena não há mais motivos para
continuar lutando por ideais de vida. Logo, a
satisfação plena seria potencialmente perigosa,
pois poderia gerar o efeito contrário à motivação
e, por seguinte, baixa produtividade. Contudo,
para o teórico, seria praticamente impossível
alcançar este grau pleno de satisfação.
Maslow categorizou as necessidades
humanas de forma hierárquica, ou seja, das mais
importantes às “menos importantes”. A
apresentação destas necessidades frequentemente
é conhecida segundo o modelo piramidal, também
chamada de Pirâmide de Maslow ou Pirâmide das
Necessidades Humanas Básicas (Figura 2).
Figura 2. Pirâmide das Necessidades Humanas Básicas
de Maslow
A base da pirâmide representa a base de
todas as necessidades. Logo, importa suprir
primeiramente estas para se alcançar as demais. A
palavra “básica”, inserida na denominação
Necessidades Humanas Básicas, significa
necessidades que são fundamentais, essenciais.
Modelo conceitual de Horta
Utilizando-se da proposta de Maslow,
Horta adaptou este modelo para a Enfermagem.
Partido do pressuposto inicial de Maslow, Horta
substituiu significados por outros conhecidos na
saúde. O aumento de produtividade seria, em
Enfermagem, o estado de plena capacidade do
indivíduo de realizar atividades do dia-a-dia. A
motivação seria o bem-estar biopsicossocial. A
satisfação seria o estado de homeostase orgânica.
Para fins de compreensão, por homeostase
entende-se:
Propriedade dos seres vivos de regular o ambiente
interno, de modo a manter uma condição estável
mediante ajustes controlados por mecanismos inter-
relacionados.
Propriedade autorreguladora de um sistema ou
organismo que permite manter o estado de equilíbrio
de suas variáveis.
Finalmente, Horta havia definido a
sequência de eventos no processo saúde-doença
(Figura 3).
NECESSIDADES HUMANAS
SUPRIDAS
• Contribui para:
HOMEOSTASE
• Influencia no:
BEM-ESTAR BIOPSICOSSOCIAL
• Resulta em:
CAPACIDADE PARA REALIZAÇÃO
DAS ATIVIDADES DO DIA-A-DIA
Figura 3. Fluxograma da Teoria de Horta.
Para Horta, existiam fatores que
contribuíam para o surgimento de necessidades.
Esses fatores estavam relacionados ao ambiente
em que o paciente vivia. Logo, era função da
Enfermagem intervir nas questões sobre as
necessidades dos pacientes. Assim, pôde
caracterizar sua prática e atribuir uma definição
para a Enfermagem:
A Enfermagem é o estudo das necessidades humanas
básicas, dos fatores que alteram sua manifestação e
atendimento, e na assistência prestada (HORTA,
1979).
A doença ocorria como resultado da
manifestação de uma ou mais necessidades
humanas, e estas apareciam quando ocorria um
desequilíbrio (o contrário da homeostase) entre ser
humano e o universo (ou ambiente) em que ele
vivia.
Classificação das necessidades e intervenções
Horta admitiu as mesmas necessidades
que Maslow havia identificado, porém, ao invés
de caracterizar em forma piramidal (ou
hierárquica), a fez em duas categorias:
necessidades psicobiológicas e necessidades
psicossociais. O Quadro 1 demonstra as
necessidades apontadas por Horta.
 Após identificação das necessidades (por
meio da primeira etapa do Processo de
Enfermagem: o Histórico de Enfermagem), o
enfermeiro estava apto a definir as necessidades
de saúde do usuário e elaborar o plano
assistencial. Neste plano constava,
fundamentalmente, o grau de dependência do
usuário e as intervenções a serem realizadas
(Quadro 2).
Enfermagem, assegurando a cientificidade da
profissão e lhe dando um foco para atuação
fundamentado em teoria. Horta, juntamente com
outras teóricas, contribuiu abrindo o leque de
possibilidades para pesquisas em Enfermagem e
presenteou-nos com um modelo assistencial
sistematizado e organizado para as ações do
enfermeiro.

Necessidades Humanas
Psicobiológicas Psicossociais Homem (ser
Oxigenação Segurança em busca de
equilíbrio)
Hidratação Amor
Nutrição Liberdade
Eliminação Comunicação Saúde Ambiente
Sono e repouso Criatividade (resultante do (influencia no
Exercícios e atividade Aprendizagem (educação equilíbrio ou surgimento de
física à saúde) desequilíbrio) necessidades)
Sexualidade Gregária
Abrigo Recreação
Mecânica corporal Lazer Enfermagem
(tenta suprir as
Motilidade Espaço necessidades)
Orientação no etmpo e
Cuidado corporal
espaço
Integridade cutâneo-
Aceitação Figura 4. Relação dos elementos fundamentais da
mucosa
teoria, considerando o modelo de Wanda Horta.
Integridade física Autorrealização
Regulação: térmica,
hormonal, neurológica,
hidrossalina, eletrolítica, Autoestima
imunológica, crescimento
celular,vascular
Locomoção Participação
Percepção: olfativa,
visual, auditiva, tátil, Autoimagem
gustativa, dolorosa
Ambiente Atenção
Necessidades
psicoespirituais: religiosa
Terapêutica
ou teológica, ética ou de
filosofia de vida
Quadro 1. Classificação das Necessidades Humanas
segundo Wanda Horta (HORTA, 1979, p. 40)

Por fim, o enfermeiro poderia

periodicamente avaliar (ou evoluir) o paciente,
antecipando-se aos prognósticos desfavoráveis,
sempre com o fim de atender a todas as
necessidades do usuário e devolver o indivíduo à
coletividade, ou meio ambiente ao qual pertence.
A Figura 4 mostra a relação entre os quatro
elementos de uma teoria em Enfermagem e como
eles se inter-relacionam.
Horta, certamente, pôs fim à sua dúvida
quanto à relação entre arte e ciência na
 Grau de dependência
Necessidades Humanas Básicas
Parcial*
(Diagnósticos de Enfermagem) Total
A O S E
1
2
3
4
5
6
Prescrições de Enfermagem
(Planejamento de Enfermagem)
1
2
3
4
5
6
Quadro 2. Plano assistencial segundo modelo de Horta.
*Dependência parcial: A: ajuda; O: orientação; S: supervisão; E: encaminhamento.
 REFERÊNCIAS

1. HORTA, Wanda de Aguiar. Processo de

Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979.