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Talcott Parsons

Talcott Parsons (1902-1979) foi seguramente o sociólogo norte-


americano mais conhecido em todo o mundo. Em geral, seus
críticos entenderam-no como um pensador conservador,
preocupado basicamente com o bom ordenamento da sociedade,
sem ter muita tolerância para com a desconformidade ou a
dissidência dos que podiam manifestar-se contra ela. Sua
obsessão era determinar a função que os indivíduos
desempenhavam na estrutura social visando a excelência das
coisas. Era um estudioso da Estratificação Social não da
mudança ou da transformação. Considera-se que a concepção
social dele tenha sido influenciada diretamente pelo antropólogo
Bronislaw Malinowski, um funcionalista (*), fortemente marcado
pela biologia, daí verem em Parsons um admirador da
organização de um formigueiro, no qual o papel dos indivíduos
(das operárias à rainha-mãe) esta devidamente pré-determinado
e ordenado em função da manutenção e aperfeiçoamento de um
sistema maior.

Intelectual do fordismo
Ocorre que Parsons, que também foi tradutor da obra de Max
Weber e seu difusor nos Estados Unidos, foi contemporâneo das
linhas de montagem, a Scientific Management, o chamado
Gerenciamento Científico, introduzidas por F.Taylor (1856-1915)
e por Henry Ford (1863-1947), cujas espantosas modificações no
processo produtivo, verdadeiramente revolucionárias, foram
necessárias à produção em massa. A nova maneira de produzir
os manufaturados começou a ser adotada em larga escala a partir
da Primeira Guerra Mundial, difundindo-se de modo
impressionante nos anos de 1920 por boa parte do mundo. Pode-
se então dizer que Talcott Parsons foi, antes de tudo, o intelectual
orgânico das novas técnicas produtivas adotadas pelas
industrias: o taylorismo e o fordismo.
Agindo então tal como se fora um capataz de fábrica ou um
engenheiro de produção, ele naturalmente via qualquer
dissonância, crítica, protesto ou greve, como algo perturbador,
como um “desvio”, quando não uma expressão da patologia, que
atrapalhava o todo. Para ele o sistema, como qualquer outro
corpo biológico, não só era estável como buscava ser
harmonioso, equânime e consensual, tendo manifestado
hostilidade à perturbações desencadeadas por ataques de
“bacilos”. Desinteressando-se dos aspectos da transformação
social sua inclinação deu-se em favor do equilíbrio e do consenso.
Naturalmente que isso o posicionou a entender o indivíduo como
expressão das estruturas, as quais ele devia manter e preservar.
Caso isso não ocorresse entravam em ação os mecanismos do
Controle Social (moral, ética, sistema jurídico e penal, etc.), como
um instrumento preventivo ou corretivo.

Em busca da estabilidade ótima


O objetivo de qualquer sociedade, pois, como ele defendeu no
seu mais conhecido livro The Social System (O Sistema Social,
1952) era alcançar a homeostasis, a manutenção da estabilidade,
do equilíbrio permanente, fazendo com que só pudéssemos
entender uma parte qualquer a ser estudada em função do todo.
Se bem que a organização de formigueiro pudesse atraí-lo,
seguramente foi a racionalidade da produção fabril quem
determinou a concepção da Teoria Social dele. Expressões como
“adaptação”, “integração”, “ manutenção”, largamente utilizadas
por Talcott Parsons, colocam-no claramente no campo
conservador do pensamento sociológico, alguém que via a
política apenas como um instrumento de garantia do bom andar
do todo, jamais como instrumento da transformação. O
pensamento parsoniano foi visto também como expressão da sua
época, especialmente os Estados Unidos dos anos de 1950-60.
Além de ter sido testemunha da revolução gerencial dos anos 20,
ele, atingindo a maturidade intelectual no período do após-guerra,
momento em que os Estados Unidos viviam uma situação de
estabilidade e cooperação (resultado do clima patriótico e das
necessidades ideológicas da Guerra Fria), fez por tornar
inevitável que sua teoria privilegiasse a coesão, a adaptação, e a
estabilidade familiar.

Esquema da visão funcionalista da sociedade


Adaptação
Objetivos a alcançar (sistema político)
(base material)
Integração
Manutenção pela educação dos modelos culturais (na
(sistema
família/pela elite do poder)
educacional)

Talcott Parsons e o funcionalismo estrutural - As partes e o


todo
As raízes mais remotas do funcionalismo nos remetem aos
trabalhos do sociólogo inglês Herbert Spencer (1882-1903) e a do
francês Emile Durkheim (1855-1917). Spencer, fortemente
influenciado pela notável emergência das ciências naturais,
comparou as sociedades aos organismos vivos, tal como ocorre
num organismo biológico qualquer, a ação de um só parte do
sistema social termina por alterar as outras partes do organismo
social na sua totalidade. Para os funcionalistas, a sociedade está
constituída por subsistemas (estruturas) que operam (funcionam)
de modo interdependente.
Cada um dos componentes do sistema, suas partes, tal como
uma peça qualquer em relação a uma máquina, desempenham
papéis que visam contribuir para estabilidade e ordem social, por
isso tal abordagem ou teoria é chamada de funcionalismo-
estrutural. A partir dessa visão totalizadora da sociedade, o passo
seguinte é determinar os seus componentes básicos formados
pela economia, o sistema político, a família e o sistema educativo
em geral, com seus valores e crenças bem definidos. Elas todas
são interdependentes e agem no sentido de preservar a
sobrevivência do todo, não havendo necessariamente uma
hierarquia entre elas (para os marxistas por exemplo, o fator
econômico é predominante)
Para os funcionalistas estes componentes atuam por interação,
tendo capacidade de adaptação para enfrentar os imprevistos e
as exigências de mudanças que surgem aqui e acolá. Se por uma
razão qualquer o sistema não apresentar a elasticidade
necessária, a qualidade de adaptar-se ao movimento, o sistema
tornar-se-ia disfuncional (expressão criada por Robert Merton), do
mesmo modo que uma peça desgastada ou defeituosa põe em
perigo o desempenho de um motor.

Síntese do Funcionalismo
O Sistema Social:
1. As peças que o compõem são mutuamente dependentes
2. elas contribuem para o bom funcionar do sistema
3. equilíbrio, ainda que sempre em movimento; o distúrbio induz
a uma contra-reação para manter o equilíbrio manter o equilíbrio

Propriedades do sistema a que as peças contribuem:


1. Adaptação (economia)
2. Integração (cortes de justiça; polícias; lei)
3. Manutenção do teste padrão e gerência da tensão (família;
instrução; a cultura contribui ao para o compromisso do papel da
socialização)
4. Realização de objetivo (política)

A estratificação social é definida como:


"classificação diferenciada dos indivíduos humanos que
compõem um sistema social dado e seu tratamento como
superior ou inferior relativo a um outro em determinadas situações
sociais importantes"
(Parsons, Aproximação Analítica ao Estrato Social, p. 69)

Linha central fundamental da estratificação: atribuições


versus realização:
1. O status atribuído: resultados do nascimento ou das qualidades
biológicas hereditárias (por exemplo idade, sexo)
2. O status alcançado: resultado das ações pessoais (esforço,
trabalho duro, talento)

Avaliação Moral
Expectativa feita na base da avaliação moral, tendo por resultado
graus de respeito ou de desaprovação (status)
Seis bases da avaliação moral diferencial:
1. Sociedade na unidade do parentesco (pelo nascimento, pela
união)
2. Qualidades pessoais (sexo, idade, beleza pessoal, valor e
força da inteligência)
3. Realizações (resultado de ações do indivíduo)
4. Possessões (coisas materiais e não-materiais que pertencem
a um individual e pode ser transferida)
5. Autoridade (reconhecimento institucional, direito legítimo para
poder influenciar as ações de outras)
6. Poder (habilidade de influenciar outros e fixar possessões que
não sancionadas institucionalmente)

Grupos de parentesco como unidades de estratificação


"o status da classe de um indivíduo é a sua classificação no
sistema do estratificação. O que pode lhe ser atribuído em virtude
daqueles de seus laços de parentesco que o ligam a uma unidade
na estrutura da classe" (77-8)

Dois aspectos dominantes da estratificação americana:


1. Ocupação: critérios universais; status conseguido; não
determinado pelo nascimento; igualdade de oportunidade
2. Parentesco: status atribuído a alguém determinado pelo
nascimento

Contradição entre a ocupação e o parentesco:


Parsons: "No sistema americano de estratificação, não permitia-
se às mulheres competirem nos mesmos fundamentos de
igualdade para trabalhar como o que rege o dos homens; se não,
isto ameaçaria a estabilidade da família, e da própria sociedade"
(esta observação de Talcott Parsons entende-se como feita antes
do movimento feminista dos anos 60 iniciar a sua luta pela
aprovação da Emenda da Igualdade).

Instrumental contra papéis expressivos:


para Parsons tudo iria pelo melhor dos mundos se os papéis
desempenhados pelo marido e pela mulher fossem adequados,
respeitando cada um sua esfera de atuação.

Assim:
1. Papéis instrumentais = homens = atuam pela família na parte
externa; mundo ocupacional (trabalho, profissão); adaptação da
sociedade
2. Papéis expressivos = mulheres = atuam no interior da família:
gerência da tensão na família; socialização das crianças.

Principais obras de T.Parsons


Structure of Social Action (1937); Social System (1952)
Structure and Process in Modern Societies (1960)
Sociological Theory and Modern Society (1968)
Politics and Social Structure (1969).

Bibliografia
Malinowski, B. – Uma teoria cientifica da cultura (RJ, Zahar, 1962)
Mills, Wright C. – A imaginação sociológica (RJ, Zahar,1975)
Online Dictionary of the Social Sciences (Athabasca University,
Universidade aberta do Canadá)

(*) O Dicionário de Ciências Sociais define o funcionalismo como:


a perspectiva utilizada para analisar a sociedade e seus
componentes característicos enfocando a mutua integração e
interconexão deles. O funcionalismo analisa o caminho que o
processo social e os arranjos institucionais contribuem para a
efetiva manutenção da estabilidade da sociedade. A perspectiva
fundamental é oposta às maiores mudanças sociais.

Fonte: http://www.robertexto.com/archivo2/talcott_pt.htm

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