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Níveis de Micotoxinas: como interpretar e tomar decisões estratégicas.

Thiago Moreira Tejkowski


Coordenador Técnico Aditivos Anti-Micotoxinas – Brasil

Wanderson Paulino
Gerente de Produtos LATAM

Otávio Fregonesi
Gerente Nacional de Ingredientes e Aditivos

Atualmente, não há mais dúvidas sobre a importância dos impactos financeiros


e zooeconômicos das micotoxinas na produção de aves e suínos. Inúmeras micotoxinas
são avaliadas rotineiramente e sabe-se que as aflatoxinas, fumonisinas, zearalenona e
alguns tricotecenos (Desoxinivalenol (DON) e Toxina T2) são de fundamental
importância para monitoramento.
Idealmente, seria interessante a prevenção de micotoxinas através de métodos
que inibissem a sua produção nos grãos de cereais, entretanto a complexidade
envolvida neste contexto (períodos de plantio e colheita, armazenagem, instalações,
estoques, chuvas, etc...) dificulta o controle sobre a presença destas micotoxinas.
Resta-nos então, administra-las como mais um desafio à produção animal.
A adição de Aditivos Anti-Micotoxinas (AAMs) nas rações animais não é um
método realmente inovador, mas como esta utilização é realizada pode ser o grande
diferencial entre uma estratégia frustrada ou uma ação bem sucedida quando se busca
o combate às micotoxinas e a manutenção dos índices produtivos. E aí surgem as
dúvidas da maioria dos produtores, nutricionistas e demais profissionais envolvidos na
cadeia:
 Quando utilizar AAMs
 Em que fases de criação utilizar?
 Devemos utilizar AAMs 100% do tempo?

Estes questionamentos podem ser respondidos através da avaliação qualitativa


e quantitativa da presença das micotoxinas. Relevante citar, que a correlação entre a
presença (tipo e quantidade) destas toxinas nos grãos e a presença de sintomatologia
clínica ou mesmo abalo dos índices zootécnicos é interpretada de formas diferentes.
Vejamos a seguir.
1. Órgãos governamentais;
2. Através do aparecimento dos primeiros sinais clínicos característicos;
3. Através do custo beneficio positivo;

A Autoridade Européia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) realizou


avaliações de uma série de micotoxinas que são consideradas um risco potencial para
a saúde humana e animal. Em cada caso, a EFSA publicou um parecer que fornece uma
avaliação do risco e recomendações para gestão do mesmo. Cada parecer foi usado
como uma base para os controles legislativos atuais sobre micotoxinas na União
Européia.
Desta forma, a presença de substâncias indesejáveis na alimentação é
controlada pela Diretiva CE 2002/32 que estabelece níveis máximos permitidos para as
substâncias que estão presentes na ração animal que podem apresentar um perigo
potencial para a saúde humana, animal ou para o ambiente.
Atualmente, a aflatoxina B1 é a única micotoxina com níveis máximos
permitidos definido nos termos da Diretiva 2002/32. A aflatoxina é um carcinógeno
genotóxico e uma forte toxina aguda em várias espécies animais, mas também pode
contaminar o leite se os animais em lactação forem expostos a níveis significativos.
Níveis máximos permitidos de aflatoxina B1 foram, portanto, definidos. O atual nível
de aflatoxina B1 em alimentos para animais (Tabela 1) são definidos na Diretiva
2003/100/CE, que altera a Diretiva 2002/32.

Tabela 1: Níveis máximos permitidos de aflatoxina B1 definidas na Diretiva


2003/100/CE.
Limite
Aflatoxina B1
máximo*
Todas as matérias primas para alimentos 20
Alimentos completos para suínos e aves (exceto animais jovens) 20
Alimentos complementares para suínos e aves (exceto animais jovens) 20
Fonte: Adaptado EFSA, 2010; * Limite máximo em microgramas/kg (ppb) para
alimentos com um teor de 12% de umidade.

Além disso, valores de orientação têm sido recomendados pela Comissão


2006/576/CE para mais cinco micotoxinas: desoxinivalenol (DON), zearalenona,
ocratoxina A e fumonisinas B1 e B2. Estas micotoxinas representam um risco para a
saúde animal e podem afetar a produção de aves e suínos, mas o risco para a saúde
pública é considerado baixo. Os valores de orientação são mostrados na tabela abaixo
(Tabela 2).

Tabela 2: Valores de orientação recomendados pela Comissão 2006/576/CE.


Micotoxina Produtos destinados à produção animal Níveis
Alimentos complementares e completos, com exceção de: 5000
Deoxinivalenol
- Alimentos complementares e completos para suínos 900

Alimentos complementares e completos


- Alimentos complementares e completos para leitões e 100
Zearalenona
marrãs (suínos jovens)
- Alimentos complementares e completos para suínos de
250
engorda

Alimentos complementares e completos


Ocratoxina A 50
- Alimentos complementares e completos para suínos
- Alimentos complementares e completos para aves 100

Fumonisina B1 Alimentos complementares e completos para:


5000
e B2 - suínos
- aves 20000
Fonte: Adaptado EFSA, 2010 Valores de orientação em microgramas/Kg (ppb) para
alimentos com 12% de umidade

No Brasil a legislação que abrange a questão de micotoxinas em alimentos


destinados a rações animais é a Portaria MA/SNAD/SFA Nº. 07, de 09/11/88 do
Ministério da Agricultura e semelhante à legislação Europeia a aflatoxina é a única
micotoxina com níveis máximos permitidos (Tabela 3).

Tabela 3: Níveis máximos permitidos de aflatoxina B1 definidas na Portaria


MA/SNAD/SFA Nº. 07, de 09/11/88.
Limite
Aflatoxina B1
máximo*
Rações de Aves e Suínos 20
Fonte: Adaptado Portaria MA/SNAD/SFA Nº. 07, de 09/11/88; * Limite máximo em
microgramas/kg (ppb).

Além dos órgãos governamentais, alguns pesquisadores especialistas em


micotoxinas adotam níveis máximos permitidos para produção de aves e suínos, entre
eles podemos citar Carlos Augusto Mallmann e Alberto Gimeno.
Os níveis indicado por Mallmann são apresentados na tabela 4 e os níveis
indicados por Gimeno na Tabela 5.

Tabela 4. Limites máximos de micotoxinas recomendados por Lamic (ppb)


Espécie/Fase AFLA FUMO OCRA A DON T2 ZEA
AVES
Frangos inicial 0 100 0 200 0 10
Frangos crescimento 2 500 2 500 50 20
Frangos final 5 500 5 1000 50 20
Poedeiras 10 1000 2 1000 100 50
Matrizes 10 1000 5 1000 100 50
SUÍNOS
Inicial 0 100 0 0 0 5
Crescimento 1 100 2 100 20 5
Terminação 3 500 3 100 20 0
Matrizes 5 1000 5 200 50 0
PERUS
Até 21 dias 0 100
Mais de 21 dias 5 500
Fonte: Adaptado Lamic
Tabela 5. Limites máximos de micotoxinas recomendados por Alberto Gimeno (ppb)
Espécie/Fase AFLA FUMO OCRA DON T2 ZEA
Aves jovens
(Frangos, frangas, 10 5.000 50 15.000 150 30.000
patos e perus)
Aves adultas
(Frangos, patos, 20 8.000 100 15.000 150 40.000
perus)
Galinhas poedeiras
20 4.000 100 200 150 30.000
e reprodutoras
Suínos jovens (<34
20 1.500 50 200 150 100
kg de peso vivo)
Suínos adultos (34-
50 1.500 50 250 200 200
57 kg de peso vivo)
Suínos adultos (>57
100 1.500 50 250 200 200
kg de peso vivo)
Matrizes suínos 25 2.000 50 250 200 50
Machos
25 1.500 50 250 200 50
reprodutores suínos
Fonte: Adaptado Alberto Gimeno

Podemos observar a diferença dos níveis máximos entre os pesquisadores e a


legislação e também entre os dois pesquisadores, o que desencadeia uma série de
dúvidas. Qual nível seguir? Legislação ou pesquisadores? E uma vez decidido por seguir
um especialista, qual pesquisador seguir? Existem diferenças de conceitos e muitas
situações sinérgicas. As tabelas norteiam nossas decisões, porém há uma necessidade
contínua de análises e observações de campo.
É neste sentido que a Nutron possui uma equipe bastante focada em controle
de micotoxinas na produção animal, especialmente em aves e suínos. Os anos de
experiência a campo analisando os impactos das micotoxinas dentro dos aviários e nas
granjas de suínos permitiram mais de 10.000 análises de micotoxinas (Afla, Fumo, Zea
e DON), nos diferentes níveis e desafios.
Academicamente a análise de micotoxina de uma forma isolada poderia ser
uma realidade aceitável, porém os desafios nas granjas não se resumem a presença de
um único agente (micotoxinas, E. coli, Salmonella sp, manejo, imunidade...etc..), mas
sim da interação de vários deles.
Com isso, baseado em um modelo econômico foi possível se estabelecer níveis
de micotoxinas suficientes para a efetiva geração dos problemas zootécnicos no
campo. Estes limites ainda permitem a utilização do conceito de uso estratégico de
AAMs, adicionados nas rações animais apenas quando os níveis de micotoxinas
detectados nas análises forem realmente suficientes para causar prejuizos em cada
fase de criação.
A Tabela 6 apresenta os níveis máximos de micotoxinas recomendados pela
Nutron, os quais trazem um custo benefício positivo para os produtores.
Tabela 6: Limites máximos de micotoxinas recomendados pela Nutron (ppb)
Espécie/Fase AFLA FUMO OCRA A DON T2 ZEA
AVES
Frangos inicial 2,5 1000 50 - 150 -
Frangos crescimento 5 2000 100 - 150 -
Frangos final 10 2500 100 - 150 -
Poedeiras 10 2000 100 - 150 -
Matrizes 10 2000 100 - 150 -
SUÍNOS
Inicial 2,5 1000 50 200 150 -
Crescimento 5 2500 50 250 200 -
Terminação 10 3000 50 250 200 -
Matrizes 20 5000 50 250 200 50

Considerações finais
A co plexidade ue e volve o te a icotoxi as a p odução a i al é
evidente. O produtor deve estar apto a lidar com este contexto e ainda com todo o
cenário geral da produção (genética, sanidade, manejo, bem estar, compras, vendas,
etc...). Poder contar com o apoio de especialistas e parceiros é, sem dúvidas, algo que
pode ajudar muito nos momentos de decisão.
Os prejuízos das micotoxinas estão diariamente nos assombrando. A dúvida
sobre qual nível de micotoxina irá trazer problemas econômicos aos produtores de
aves e suínos é uma realidade. Assim, na certeza de que não existe uma única resposta
correta para um cenário com tantas variáveis, a equipe da Nutron trabalhou para gerar
um banco de dados robusto, que permitiu a correlação entre presença de micotoxinas
nos grãos e os prejuízos econômicos.
Com este modelo, a tomada de decisão sobre o uso de AAMs pode ser
tecnicamente embasada e economicamente justificada. Somente assim, seguiremos
focados na sustentabilidade dos negócios e da produção animal.

Referências
DIRECTIVA 2003/100/CE DA COMISSÃO de 31 de Outubro de 2003;
GIMENO, A. Disponível em:
<http://pt.engormix.com/MA-micotoxinas/artigos/concentracoes-toleraveis-micotoxinas-t189/p0.htm>
Capturado em: 12/02/2014
MALLMANN, C. A. Disponível em:
<http://www.lamic.ufsm.br/web/?q=legislacao_brasil> Capturado em: 12/02/2014
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. Portaria MA/SNAD/SFA No. 07, de 09/11/88 - publicada no Diário Oficial
da União de 09 de novembro de 1988 - Seção I, página 21.968, 1988.
RECOMENDAÇÃO DA COMISSÃO de 17 de Agosto de 2006 sobre a presença de desoxinivalenol,
zearalenona, ocratoxina A, toxinas T-2 e HT-2 e fumonisinas em produtos destinados à alimentação
animal.

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