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– FORMULAÇÃO DE RAÇÃO –
Alunos: Miguel Arcanjo Moreira Filho
Daniel Cézar da Silva
TERESINA/2009
FORMULAÇÃO DE RAÇÃO
INTRODUÇÃO
A alimentação é um dos itens que mais oneram a produção de leite, podendo
representar até 60% do custo total. Portanto, a busca por maior eficiência econômica na
produção de leite depende, necessariamente, da administração criteriosa dos alimentos
disponíveis na propriedade.
A formulação de rações para animais domésticos é realizada tomando-se em
consideração a composição dos alimentos e as exigências nutricionais desses animais,
devendo-se consultar tabelas de composição de alimentos e de exigências nutricionais dos
animais, sejam elas por meio impresso ou softwares para uso em computadores, como por
exemplo, as diversas versões do sistema de alimentação National Research Council (NRC).
Os principais métodos de formulação de rações são: tentativas, quadrado de Pearson e
algébrico. Objetivou-se apresentar uma formulação de ração para uma vaca leiteira com 450,0
kg de peso vivo (PV), produzindo 18,0 kg de leite, com 3,5% de gordura aos 4 meses de
lactação, utilizando-se uréia até o limite aceitável para esta categoria, dando ênfase ao uso de
alimentos disponíveis na região.
1
Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPI.
2
Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFPI.
para evitar riscos de acidose ruminal. Segundo NEIVA e NEIVA (2006), quando a proporção
de volumoso na dieta é baixa (35 a 70% da MS), recomenda-se moagem grosseira.
Farelo de soja: é o principal concentrado protéico para alimentação de vacas leiteiras, sem
restrições de uso. É rico em proteína e energia e possui excelente perfil de aminoácidos. A
substituição do farelo de soja por outra fonte protéica é justificável no caso de redução de
custo da ração (NEIVA e NEIVA, 2006).
Resíduo úmido de cervejaria: segundo a classificação internacional de alimentos o RUC é
considerado um concentrado protéico. É boa fonte de proteína não degradável no rúmen, pois
cerca de 45% do seu teor protéico escapa da degradação microbiana do rúmen, sendo digerida
no intestino delgado. É um alimento palatável e de boa aceitabilidade pelos bovinos leiteiros,
podendo causar redução da palatabilidade quando utilizado na proporção superior a 50% da
MS ingerida diariamente. Na dieta de bovinos de leite adultos, pode ser incluso na proporção
de 20 a 25% da MS total da dieta ou até 15 kg de matéria natural/animal/dia (NEIVA e
NEIVA, 2006).
Uréia: a inclusão de fontes de nitrogênio não protéico não deve ultrapassar 1/3 da proteína
total da dieta. em concentrados, o nível de inclusão não deve ultrapassar 3% e na dieta total, a
uréia pode compor até 1% da MS total. Para o fornecimento deve-se respeitar um período de
duas a três semanas de adaptação com nível crescente de uréia até o nível desejado, ou seja,
1/3 na primeira semana, 2/3 na segunda semana e nível máximo na terceira semana. Para evita
toxidez, deve-se ter fazer a adaptação, evitar o consumo excessivo de ração após um período
prolongado em jejum, evitar fornecimento descontínuo, evitar diluir a uréia da ração em água
no caso de cocho descoberto, etc. se o fornecimento da ração com uréia for interrompido,
deve-se realizar um novo período de adaptação. A uréia não deve ser utilizada quando o grão
de soja faz parte da dieta, devido à grande presença de uréase no grão. Quando se fornece
uréia, deve-se manter o enxofre balanceado, para suprir o necessário à síntese de aminoácidos
sulfurosos pelos microrganismos do rúmen (NEIVA e NEIVA, 2006; LANA, 2007).
Tabela 1 – Composição bromatológica* dos alimentos e das fontes de macrominerais utilizadas para balancear a dieta para uma vaca leiteira com 550
kg de peso vivo, produzindo 18 kg de leite, com 3,5% de gordura e 3,3% de proteína no leite ao quarto mês de gestação
Ingredientes MS PB NDT FDN FDA Ca P Mg K Na Cl S
% % % % % % % % % % % %
Capim-colonião 24,00 9,70 54,00 63,99 32,53 0,45 0,15 0,24 1,70 0,01 0,00 0,15
Cana-de-açúcar 23,20 4,31 60,70 59,90 34,02 0,45 0,17 0,30 1,50 0,02 0,00 0,10
Milho, GRÃO 88,10 9,40 88,70 9,50 3,40 0,04 0,30 0,12 0,42 0,02 0,08 0,10
Soja, FARELO 89,10 49,90 80,00 14,90 10,00 0,40 0,71 0,31 2,22 0,04 0,13 0,46
Cevada, RESÍDUO ÚMIDO DE CERVEJARIA 21,80 28,40 71,60 47,10 23,10 0,35 0,59 0,21 0,47 0,01 0,12 0,33
Resposta animal
Faixa ótima
Faixa Faixa
deficiente tóxica
A partir das exigências ajustou-se a ração pelo método algébrico associado ao método
das tentativas.
Tabela 3 – Exigências nutricionais para uma vaca de 550 kg de peso vivo (PV), produzindo
18 kg de leite, com 3,5% de gordura e 3,3% de proteína no leite, ao quarto mês de
gestação, segundo equações de predição propostas por LANA (2007) obtidas de
tabelas de exigências do NRC (2001)
Matéria seca (MS)
Consumo de matéria seca (% PV) 3,14
Macronutrientes (% da MS)
Proteína bruta (PB) 14,67
Nutrientes digestíveis totais (NDT) 64,65
Cálcio 0,58
Fósforo 0,32
Magnésio 0,17
Potássio 1,00
Sódio 0,20
Cloro -
Enxofre 0,20
DISCUSSÃO DO CÁLCULO
Foram realizados três cálculos, um com inclusão de uréia nos níveis 0,33, 0,66 e
1,00% na MS total da dieta, visando uma adaptação do animal até o nível máximo de
inclusão, sendo o nível 0,33% para a primeira semana de adaptação, 0,66% para a segunda e
1,00% para fornecimento definitivo a partir da terceira semana. Disponibilizou-se 1,5% na
MS total para o espaço de reserva (ER) para balancear os macroelementos minerais.
Os cálculos foram realizados com base em exigências de equações de predição
propostas por LANA (2007), obtidas de tabelas de exigências do NRC (2001) para bovinos de
leite e fecharam em MS, PB, NDT, Ca, P, Na e S. Houve superávit em Mg, K, e Cl. O Mg
ficou cerca de 45% acima da necessidade do animal em virtude da necessidade de balancear o
S com sulfato de magnésio, visando uma relação N:S de 10 a 15:1, obteve-se uma relação de
aproximadamente 11:1, sendo esta importantíssima quando se usa uréia em rações para
ruminantes. Houve um superávit em K apenas com o balanço da dieta com os alimentos em
decorrência do elevado teor deste nutriente nos alimentos utilizados, não havendo necessidade
de adição de fonte de K. Não há uma exigência em Cl, por isso, não há preocupação quanto ao
superávit deste elemento. O superávit em Mg, K e Cl ocorreu devido a grande quantidades
destes contida nos alimentos.
A relação volumoso:concentrado ficou em aproximadamente 65:35, com a proporção
de volumoso considerada baixa, segundo NEIVA e NEIVA (2006) devido as elevadas
exigências do animal, o que aumenta a proporção de concentrado na dieta, sendo está uma
importante fonte de carboidratos não estruturais, necessários quando se utiliza fontes de
nitrogênio não protéico em dietas para vacas de leite, por estimular o crescimento microbiano
pela sincronização entre nutrientes prontamente disponíveis (BERCHIELLI et al., 2006). As
dietas contem FDN média de 47,70% com FDA média 24,57% e participação média do
volumoso em FDN 85,46%, acima do mínimo exigido pelo NRC (2001) para manutenção da
qualidade do ambiente ruminal e adequada fermentação, mas dentro do preconizado por
BERCHIELLI et al. (2006).
Na Tabela 4, 5 e 6 estão apresentados o consumo por animal (kg/dia) em MS e matéria
natural (MN), as quantidades necessárias de cada ingrediente para o preparo de 100 kg de MN
da dieta e os custos (R$) do consumo por animal/dia em MS e MN das dietas. O custo médio
do consumo diário por kg de MS e MN da ração é de 0,19 e 0,11 R$, respectivamente.
As quantidades necessárias para o preparo de 100 kg de concentrado estão
apresentadas na Tabela 7, 8 e 9. Tendo em vista a elevada umidade do resíduo úmido de
cervejaria (RUC), este não deverá ser misturado com os demais concentrados, visando manter
a qualidade da porção concentrada da dieta e evitando a reação de hidrólise da uréia e
transformação desta, de imediato, em amônia, uma vez que a água contida no RUC foi
adicionada na indústria, estando esta quase que totalmente na forma livre, o que facilita esta
reação. O RUC deverá ser fornecido nas quantidades estabelecidas nas Tabelas 7, 8 e 9
separadamente, de acordo com o nível de uréia da dieta.
Na Tabela 10 são apresentadas as quantidades de fornecimento de volumoso e
concentrados.
Tabela 4 – Consumo de matéria seca por animal (kg/dia), consumo de matéria natural por animal (kg/dia), quantidades necessárias para o preparo de
100 kg de matéria natural (kg), custo do consumo de matéria seca por animal dia (R$) e custo do consumo de matéria natural por animal dia
(R$) para dieta contendo 0,33% de uréia
Preparo de 100 kg Custo (R$) Custo (R$)
INGREDIENTES CMS (kg/dia) CMN (kg/dia) Preço/kg de MN
MN MS/animal/dia MN/animal/dia
Capim-colonião 6,85 28,53 58,79 0,03 0,05 0,86
Cana-de-açúcar 2,09 9,00 18,54 0,09 0,04 0,81
Milho, GRÃO 2,42 2,75 5,67 0,50 1,07 1,38
Soja, FARELO 1,01 1,13 2,33 1,15 1,03 1,30
Cevada, RESÍDUO ÚMIDO DE CERVEJARIA 1,51 6,92 14,25 0,07 0,02 0,48
0,00
0,00
0,00
LANA, R.P. Nutrição e alimentação animal: mitos e realidades. Viçosa: UFV, 2005. 344p.
LANA, R.P. Sistema viçosa de formulação de rações. Viçosa: UFV, 2007. 91p.
NEIVA, A.C.G.R.; NEIVA, J.N.M. (Orgs). Do campus para o campo: tecnologias para a
produção de leite. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2006. 320p.