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Rio de Janeiro
2017
Cláudia de Magalhães Bezerra
Rio de Janeiro
2017
Catalogação na fonte
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde
Biblioteca de Saúde Pública
Banca Examinadora
Rio de Janeiro
2017
AGRADECIMENTOS
Aos colegas que me auxiliaram no campo de pesquisa: Nilo Terra, Tiago Tavares,
inspetores penitenciários do MPRJ; com as referências e a pesquisa bibliográfica: Adriano
Silva e Gizele Rocha respectivamente.
A todos (as) colegas servidores da SEAP, entre eles os inspetores penitenciários que gentil e
confiantemente participaram da pesquisa.
The scope of this thesis is the psychological distress and the stress present at work
of correctional officers of the State of Rio de Janeiro/Brazil. As a method, quantitative
(questionnaire/scales) and qualitative approaches (interviews/observation) were associated:
317 agents answered the questionnaires and 38 participated in the interviews. The aim was
(1) to know the literature on the subject, (2) to analyze the relationship between stress and
working conditions, and (3) to analyze psychological distress and its associated factors.
The bibliographic research showed that the risk factors include work overload, lack of
material and human resources, level of contact with inmates, overcrowding, perceptions
about fear or danger, punishment/re-education paradox, among others. As associated
factors: the social support within the prison environment and as coping strategies: the
improvement of the training of the agents, the encouragement of social support and the
provision of psychological care. Among them 27.7% presented psychological distress and
35.1% stress, without statistically significant differences between the sexes. Multiple
ordinal logistic regression model shows that a correctional officer unsatisfied with the
immediate boss relationship is 4,5 times more likely to be at a higher stress level; those
who have sometimes/rarely/never or almost never mentioned that work causes stress, are
74,9% less likely to be at a higher stress level; for each type of risk an agent perceives
exposed, there is a 24% increase in the chance of being at a higher stress level; a
professional who rarely repeats tasks at work has a 52,6% lower chance of severe stress
than one who often has to repeat. Other multivariate model shows the protective factors for
psychological distress among correctional officers: practice some religion, have social
support in the form of positive interaction, count on the understanding of work colleagues,
perceive the recognition of their work by the population and have a good relationship with
superiors or immediate boss. Strategies to cope with the tensions experienced at work are
related to their own home, family, leisure and physical activities.
1. INTRODUÇÃO
1 No Estado do Rio de Janeiro os profissionais que custodiam as pessoas presas são denominados
Inspetores de Segurança e Administração Penitenciária (ISAP).
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Sendo esses profissionais pessoas que trabalham sob pressão constante e sujeitos a
risco de morte (BRASIL, 2002), estão também expostos ao adoecimento físico e mental.
No trabalho de agentes penitenciários fatores como o trabalho isolado, monótono, que exige
concentração constante, em turnos e sob a ameaça de violência, os efeitos psicológicos
adversos são constatados, como, por exemplo, o estresse, muitas vezes associado a
distúrbios do sono, síndrome de burnout2, depressão e elevado risco de doenças
cardiovasculares, particularmente doenças coronarianas e hipertensão (WHO, 1995).
Segundo Boudoukha et al. (2011), a prisão é considerada um ambiente perigoso em
parte por causa da promiscuidade e da violência, o que leva a uma série de sofrimento e
frustração entre os prisioneiros. Como os agentes penitenciários compartilham relações
diárias com os presos, eles acabam atuando como escudo ou "emoção para-choques" de
violência nas prisões: os sofrimentos e frustrações dos detentos são primeiramente
expressos em direção a esses profissionais. Para Lourenço (2012), eles estão na “frente das
grades” e têm a indesejável tarefa de “bater a tranca”. Pesquisas mostram que o ambiente
de trabalho correcional é repleto de estresse (MOON; MAXWELL, 2004), que se manifesta
nos agentes penitenciários como doenças físicas, burnout, problemas familiares, ou
incapacidade de exercer suas funções – comprometendo a segurança institucional e criando
3 Um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos, com situação semelhante,
separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e
formalmente administrada (GOFFMAN, 1987, p. 11).
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Entre minhas motivações para estudar esse universo profissional está o fato de ser
psicóloga e trabalhar há 23 anos no Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro prestando
atendimentos as pessoas presas. Trabalhamos em parceria com os agentes, sendo a função
deles principalmente voltada para a segurança dentro das unidades prisionais. Meu
trabalho depende da atividade deles, uma vez que para o preso chegar até o local de
atendimento é necessário que esse profissional localize sua cela, o retire dela e o
acompanhe até a sala de atendimento psicológico. Minha atuação profissional também
contribui com o trabalho dos agentes, uma vez que, se sentindo assistida, a pessoa
encarcerada fica menos ansiosa e isso favorece a segurança da unidade prisional.
Durante os anos de trabalho em unidades prisionais experimentei o desgaste físico e
mental da rotina nesse ambiente. Para os agentes, que cumprem uma carga horária bem
maior que a dos profissionais de saúde4 e mantêm regularmente contato direto com os
presos, as condições de trabalho impõem-se ainda mais prejudiciais à saúde. As condições
precárias e insalubres do ambiente de trabalho, a falta de infraestrutura, as escalas de
trabalho, as tensões geradas nas relações com os diversos atores institucionais (presos,
familiares, agentes, técnicos, diretores etc.), a falta de segurança no exercício de sua
função, a vivência de períodos de defasagens salariais, assim como a falta de
reconhecimento social mostram seus reflexos na saúde desses profissionais. Percebo e ouço
reiteradamente dos colegas agentes, histórias de adoecimentos psicossomáticos e até
mesmo psiquiátricos.
4 Agentes penitenciários têm carga horária semanal de 40 horas e profissionais de saúde 24 horas.
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A relevância acadêmica deste estudo está no fato da saúde mental dos agentes
penitenciários ser uma problemática pouco avaliada no Brasil até agora e estar direcionada
a esse grupo profissional que trabalha em instituições totais ou fechadas (GOFFMAN,
1987), de difícil acesso para investigações. Sua relevância social traduz-se no estudo das
condições de trabalho e saúde mental de um grupo indispensável de trabalhadores e, no
entanto, com pouca visibilidade e reconhecimento social (RUMIN et al., 2011), além de ser
considerada uma profissão repleta de estigmas e preconceitos (LOURENÇO, 2012). O
tema também pode ser considerado importante (CASTRO, 1977), pois está de alguma
forma ligado a uma questão crucial que polariza ou afeta um segmento substancial da
sociedade. Uma lei federal5 afirma que a guarda, a vigilância e a custódia de presos são
consideradas atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Castro (1977) considera um tema original aquele cujos resultados têm o potencial
para surpreender. Acredita-se que a relevância do tema abordado nesta tese e os resultados
obtidos poderão se traduzir em oportunidade para a implementação de ações educativas,
medidas de prevenção de agravos e programas terapêuticos voltados a esta categoria
profissional específica. A produção de conhecimentos no campo da saúde do trabalhador
permite subsidiar modelos teórico-práticos e estratégias de atenção à saúde de profissionais
viabilizando o respeito aos direitos humanos e cidadania.
2. OBJETIVOS
Objetivo geral
Objetivos específicos
Sobre o encarceramento
Nas últimas décadas do séc. XX consolida-se em grande parte dos países ocidentais
uma política de encarceramento em massa (SALLA, 2001) que se traduz na contenção
repressiva das classes consideradas potencialmente perigosas. Para Wacquant (2002) isso não
reflete o aumento da criminalidade violenta, e sim, a mudança de atitude dos poderes públicos
em relação aos setores pobres, considerados como núcleo irradiador da criminalidade,
exatamente na mesma proporção em que a diminuição das políticas sociais torna a vida das
classes populares ainda mais insuportável e caótica (ARGUELLO, 2006).
No Brasil entre 2000 e 2014, a taxa de aprisionamento aumentou 119%. Em 2000,
havia 137 presos para cada 100 mil habitantes, já em 2014, essa taxa chegou a 299,7 pessoas.
Também cabe destacar que no ano 2000, 25% da população privada de liberdade encontravam-
se custodiados em carceragens de delegacia ou estabelecimentos similares, administrados pelos
órgãos de Segurança Pública. Em 2014, esse percentual caiu para 5%. (INFOPEN, 2014). Essa
transferência de presos também contribuiu para o aumento da população nas unidades prisionais
sem o aumento proporcional no número de vagas no sistema ou nas condições de infraestrutura
e de profissionais prisionais. Permanece assim o grave e crônico problema de superlotação. No
Rio de Janeiro, por exemplo, dados da SEAP (Secretaria Estadual de Administração
Penitenciária) informam que no início de março de 2017 o sistema tinha capacidade para
custodiar 27.650 pessoas e que existiam 51.264 pessoas presas (efetivo real), indicando um
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6 Segundo essa classificação, ocupação é um conceito sintético e não natural, artificialmente construído
pelos analistas ocupacionais. O que existe no mundo concreto são as atividades exercidas pelo cidadão em
um emprego ou outro tipo de relação de trabalho (autônomo, por exemplo).
7 Outros nomes: Agente penitenciário, Carcereiro, Chaveiro-carcereiro, Guarda de presídio, Guarda
penitenciário, Agente de presídio. No Rio de Janeiro essa categoria profissional é denominada Agente de
Segurança e Administração Penitenciária (ISAP).
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8 No Rio de Janeiro, os agentes penitenciários trabalham desarmados dentro das unidades prisionais.
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10 Posteriormente alterada pela lei 5348/2008 que fixa o vencimento-base do cargo de agente de segurança
e administração penitenciária e dá outras providências.
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provisórios e em regime fechado, exija a proporção mínima de cinco presos por agente
penitenciário. Essa proporção, desde então, nacionalmente, vem sendo considerada como
ideal. Cabe destacar que a proporção de agentes por preso desconsidera o regime de turnos
e plantões. Se considerar o turno de 24 horas trabalhadas por 72 horas de descanso, deve-se
quadruplicar a taxa acima registrada para aferir a disponibilidade efetiva de trabalhadores
por preso na rotina de uma unidade prisional.
Baseados nessas informações, nos dados recentes obtidos e calculando as
proporções, chega-se à conclusão de que, para seguir a proporção ideal proposta pelo
CNPCP, novos 5.682 agentes deveriam ser contratados (quadro 3).
Quadro 3: Relação existente e ideal entre número de presos e de agentes penitenciários - Rio de
Janeiro 2017
Nº de pessoas presas 51.264
Nº de agentes (lotados nas unidades prisionais) 4.571
Proporção presos/agentes 11,2 presos para cada agente
Nº ideal de agentes respeitando-se a proporção de 5/1 10.253
Nº de Agentes a serem contratados 5.682
Fonte: dados elaborados com informações da Superintendência de Recursos Humanos da SEAP – março
2017
Em relação à saúde desses profissionais, dados da SEAP de julho de 2014 (não foi
possível atualizar - dados indisponíveis) informam que 516 agentes/as se encontravam em
licença para tratamento de saúde, 20 em licença por acidente em serviço e 17 em licença
por doença em pessoa da família, totalizando 553 agentes afastados por motivos de saúde,
quase 10% do efetivo total à época. Segundo a superintendente de recursos humanos essas
licenças são concedidas pela Secretaria de Saúde do Estado e não se tem acesso à definição
das doenças ou dos acidentes que causaram esses afastamentos, pois são informações
sigilosas no intuito de manter a privacidade do servidor. Pode-se interpretar de outra forma
essa falta de dados, como uma falta de interesse da instituição em conhecer os problemas de
seus servidores para poder planejar projetos, programas ou até mesmo políticas de
prevenção e tratamento. Esses afastamentos do trabalho permitem constatar que a escassez
de agentes é maior ainda do que a estimada no quadro 3 (11,2 presos por agente).
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Para Marx (1985) o homem ao atuar sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la,
modifica ao mesmo tempo sua própria natureza. Dessa forma o trabalho transforma o
objeto, a natureza e no mesmo processo transforma o próprio homem, o trabalhador, o ser
humano e nesse processo sobrevém “... a possibilidade de situações potencialmente
negativas para a saúde, relacionada a um desfecho de determinado tipo de agravo"
(MINAYO-GOMEZ; MACHADO; PENA, Orgs., 2011). De acordo com Pena (2011), o
estudo do conceito de processo de trabalho, centrado no materialismo dialético (escola
marxiana), e suas relações com o processo de saúde-doença foi amplamente desenvolvido
por diversos autores nos anos 60 a 80 e tem sido a principal referência no campo de
investigação crítica da saúde do trabalhador. Fromm (1962) interpreta a filosofia de Marx
como um protesto contra a alienação do homem, contra sua transformação em objeto, sua
desumanização e automatização, inerentes à evolução do industrialismo ocidental.
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Sob esta perspectiva, a classificação dos serviços torna-se bastante ampla, sendo
possível identificá-los ao longo das etapas de realização de trabalho nos processos
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que se analisa nesta tese, fica restrito a um pequeno grupo, esperando da maioria a
execução das atividades delegadas, o que demonstra uma divisão entre quem planeja e
quem executa.
Também é importante discutir em uma investigação sobre a relação trabalho/saúde,
questões transversais relacionadas ao gênero, principalmente quando se trata de uma
profissão essencialmente masculina. A inserção feminina no mercado de trabalho pode ser
considerada uma necessidade do sistema capitalista, além de expressar o desejo e luta das
mulheres por igualdade de direitos. Essa inserção mudou a condição de permanência no
espaço privado do lar permitindo, aos poucos, que elas ocupassem e conquistassem o
espaço público. Os preconceitos sociais que exigiam que as mulheres ingressassem em
trabalhos compatíveis com o seu sexo e capacidades, “limitavam as oportunidades das
mulheres e geraram a segmentação por sexo na força de trabalho” (BESSE, 1999). Durante
o século XX, algumas mulheres foram pouco a pouco ingressando em indústrias
tradicionalmente dominadas pelos homens e ocupando alguns espaços anteriormente
exclusivos dos homens. Porém as mudanças mais significativas no padrão de emprego
feminino ocorreram no setor de serviços. “A administração pública, que se mantivera
fechada para as mulheres durante o século XIX, ofereceu novas oportunidades importantes
a partir da década de 1910” (BESSE, 1999, p.163).
Compreendendo saúde em seu significado mais amplo e trabalho enquanto um
determinante social de saúde bastante presente no cotidiano das pessoas, avalia-se que o
modo de organização do trabalho presente em nossa sociedade atualmente pouco contribui
para a manutenção da saúde mental do trabalhador. Esse modo de organização impede o
reconhecimento das pessoas em sua singularidade, impedindo e disciplinando suas formas
de expressão e configurando um contexto de violência (AMADOR, 2002). A violência
deriva das estratégias defensivas construídas pelos sujeitos em decorrência do impacto da
violência da organização do trabalho sobre suas subjetividades, configurando uma espécie
de cadeia de violência (DEJOURS, 1994a).
Em sua análise das relações entre trabalho e vida psíquica, o mesmo autor avalia
que “o afrontamento do homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental” e o
sofrimento mental resulta da organização do trabalho. “Mesmo as más condições de
trabalho são, no conjunto menos temíveis que uma organização do trabalho rígida e
imutável” (DEJOURS, 1992, p.52).
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O objeto dessa pesquisa envolve a relação entre trabalho e saúde. Para compreendê-
la é preciso definir a concepção escolhida, assim como definir teoricamente o método a ser
utilizado. Assim como Minayo (2010), se entende por metodologia não só a prática
exercida (técnicas, instrumentos) na abordagem do conhecimento, mas também o “caminho
do pensamento”, ou seja, a “articulação entre conteúdos, pensamentos e existência”. É
preciso descrever as concepções teóricas da abordagem para explicitar a partir de qual
referencial se quer entender a complexidade dos processos de trabalho, ou ainda, de que
lugar se percebe a relação trabalho e saúde estudada.
Dessa forma é interessante traçar uma breve revisão sobre os caminhos que levaram
às concepções, práticas e métodos da saúde do trabalhador, um campo teórico e
metodológico aberto e em construção, a partir do qual será abordado o objeto.
A saúde do trabalhador tem história, cara e lado, portanto não é neutra. O próprio
termo já explicita o foco que não é o trabalho, a administração, a empresa ou a produção e
sim o homem, ou a mulher trabalhadores/as. Para se entender essa forma de abordar a saúde
relacionada com o trabalho é importante conhecer o histórico das diversas abordagens,
métodos e técnicas, desde a medicina do trabalho, passando pela saúde ocupacional até a
saúde do trabalhador, uma caminhada que se encontra em processo ou (devido às
dificuldades) luta. Os estudos e práticas foram por vezes se mostrando insuficientes e
progredindo no sentido de entender o trabalho de forma mais ampla e valorizar cada vez
mais o saber e a experiência do trabalhador, mesmo assim, apesar de limitadas, algumas
formas de abordagem ainda estão disponíveis e não foram superadas.
O contexto de surgimento da medicina do trabalho é a primeira metade do séc. XIX,
durante a revolução industrial da Inglaterra, dentro das fábricas. Os operários estavam
submetidos a um processo de trabalho cada vez mais acelerado e desumano (MENDES;
DIAS, 1991) e não dispunham de nenhum cuidado médico. A solução encontrada à época
para resolver esse problema que afetava a produção foi a de colocar no interior da fábrica
um médico (intermediário entre empregador e trabalhador), para que este profissional
verificasse o efeito do trabalho sobre as pessoas e ao mesmo tempo fosse o responsável
(substituindo o empregador) pela proteção da saúde e das condições físicas de seus
operários. Assim surge o primeiro serviço de medicina do trabalho com claras propostas de
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servir principalmente aos interesses do capital: cuidar dos efeitos do trabalho com vistas a
garantir a produção. Para cada doença era atribuída uma causa específica e a ação médica
se restringia sobre as consequências dos agravos. (OP.CIT.)
Esse modelo de serviços médicos oferecidos pela empresa se fortaleceu e expandiu
rapidamente por outros países “consolidando, ao mesmo tempo, sua vocação enquanto
instrumento de criar e manter a dependência do trabalhador (e frequentemente também de
seus familiares), ao lado do exercício direto do controle da força de trabalho” (MENDES;
DIAS, 1991, p.342). Segundo os autores é possível identificar nessa forma de abordar a
saúde a partir do trabalho, algumas características questionáveis. Na medicina do trabalho
(o próprio nome demonstra) se evidencia uma atividade essencialmente médica, realizada
no próprio local de trabalho e que cuida da “adaptação física e mental dos trabalhadores” às
suas condições de trabalho, através de atividades educativas. Destaca-se o poder e a
onipotência do médico e o controle do empregador na direção da adaptação e da educação
para os seus interesses.
A expectativa de uma adaptação do trabalhador e da manutenção de sua saúde
refletem os princípios da “Administração Científica do trabalho” de Taylor, ampliados
posteriormente por Ford e “encontram na medicina do trabalho uma aliada para a
perseguição de seu “telos” último: a produtividade” (MENDES; DIAS, 1991, p.343).
Já o contexto histórico da evolução da medicina do trabalho para a saúde
ocupacional é o pós-guerra. Com a II guerra mundial, demandas industriais específicas
foram intensificando o trabalho de algumas categorias profissionais, assim como um grande
esforço teve de ser empregado no sentido da recuperação da economia. As condições de
trabalho eram extremamente adversas e o custo pelas mortes e acidentes de trabalho pesava
muito no orçamento de empregadores e companhias de seguro. Nesse difícil panorama, a
medicina do trabalho não consegue mais responder à demanda pela manutenção da saúde e
da produtividade dos trabalhadores fazendo crescer a insatisfação desses e seus
questionamentos em relação ao que acontece com seus corpos dentro do trabalho (OP.CIT.).
A saúde ocupacional se estabelece como um ramo da saúde ambiental, centrada na
higiene ocupacional, com foco nos ambientes de trabalho desfavoráveis à saúde do
trabalhador. A doença passa a ser vista como multicausal, com vários fatores determinantes
e se começa a perceber os “fatores de risco” e “educar” o trabalhador para a prevenção.
Esse tipo de abordagem passou a desqualificar o enfoque médico e epidemiológico da
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mudam seu foco, inclusive em sua articulação com o trabalho. Com a influência da
medicina social latino americana, a visão biomédica é questionada e o processo saúde-
doença passa a se inserir no campo social, sendo entendido como determinado socialmente:
"Nessa trajetória, a saúde do trabalhador rompe com a concepção hegemônica que
estabelece um vínculo causal entre a doença e um agente específico, ou a um grupo de
fatores de risco presentes no ambiente de trabalho". (MENDES; DIAS, 1991, p. 347).
Estudo de Laurel e Noriega (1989) funda o campo da saúde do trabalhador
analisando o processo saúde-doença e a relação trabalho-saúde inseridos em um contexto
histórico que deve ser analisado em sua complexidade. Uma categoria de fundamental
importância apresentada por Laurel e Noriega (1989, p.110) é a de carga de trabalho cuja
finalidade é superar a noção de risco da Medicina Ocupacional, esta categoria, de acordo
com os autores, permite uma análise do processo de trabalho e do caráter dinâmico e de
interação, que produzem o desgaste.
No Brasil, o campo da saúde do trabalhador (MINAYO-GOMEZ, 2011) tem sua
origem na década de 80, em uma conjuntura política de organização e de lutas pela
redemocratização do país que se concentraram no questionamento das concepções e das
políticas públicas de saúde vigentes à época.
A dificuldade para encontrar consenso sobre o que seja saúde mental ou doença
mental se estende também para o conceito de sofrimento psíquico (BORSOI, 2007). Em
geral, a clínica e a epidemiologia consideram critérios básicos para a classificação das
doenças mentais a existência de alterações ou a desintegração no funcionamento psíquico,
assim como a duração dessas alterações. “No entanto, esse modelo de compreensão exclui
situações em que há sofrimento psicológico sem que este possa ser definido como uma
doença ou transtorno mental no sentido clássico” (p.105). Nesse sentido Dejours (1994b, p.
22) também sinaliza que "não é possível quantificar a vivência, que é em primeiro lugar
qualitativa".
Para Goldberg e Huxley (1992), sofrimento psíquico é uma dificuldade emocional
que associa sintomas psicológicos e físicos, sendo considerado um transtorno mental
comum (TMC), caracterizado por sintomas não psicóticos como insônia, fadiga,
irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas como dor de
cabeça, dor abdominal, tosse ou fraqueza. Essas queixas são manifestações ou respostas a
um tipo de sofrimento psicológico (HARDING et al., 1980; FERNANDES et al., 2002) e
não estão necessariamente associadas à existência de uma patologia orgânica
diagnosticável.
A partir da Psicodinâmica do Trabalho (DEJOURS, 1992, 1994 a e b; DEJOURS;
ABDOUCHELI, 1994 e DEJOURS; BEGUÈ, 2010), referencial teórico central dessa tese,
pode-se compreender o sofrimento psíquico derivado do trabalho e entender como o
estresse - outro aspecto da saúde mental investigado - está intrinsecamente associado a este
transtorno mental comum.
No campo da saúde mental e trabalho, foi o médico do trabalho, psiquiatra e
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buscando prazer e fuga de sofrimento; essa dinâmica entre prazer e sofrimento leva ao
equilíbrio da saúde do trabalhador. Já o sofrimento patogênico se manifesta quando essa
negociação de possibilidade de transformação e liberdade se esgota, quando todos os
recursos defensivos falham, porém se o sofrimento puder ser transformado em criatividade,
mesmo frente à organização do trabalho, está-se diante do sofrimento criativo.
Esse é um espaço de luta e é nesse processo dinâmico entre a saúde e a doença que
os trabalhadores criam estratégias defensivas individuais e coletivas para se protegerem.
Dejours estuda o modo como essa luta contra o sofrimento se faz tanto coletiva quanto
individualmente. As estratégias defensivas construídas, organizadas e gerenciadas
coletivamente visam transformar a percepção que os trabalhadores têm da realidade que os
faz sofrer (AMADOR, 2002).
Segundo Dejours (1992), uma “ideologia defensiva” se estrutura a partir do
desenvolvimento da instância coletiva de defesa. Um exemplo seria a “ideologia da
vergonha”, uma dificuldade em falar da doença e do sofrimento: quando se está doente
tenta-se esconder o fato até mesmo das pessoas mais próximas como familiares. Quando
não dá mais para esconder, a realidade da doença é vivida como vergonhosa, necessitando
de várias justificativas ou até mesmo desculpas, como se a doença fosse voluntária, já que
ela em algumas vezes é associada à preguiça. Essa ideologia da vergonha organiza-se como
um consenso social e não uma prática individual, em relação a sua característica de gênero
mostra-se mais tolerante com a mulher do que com o homem. Nesse conceito da ideologia
da vergonha, elaborado e estudado por Dejours, a doença deve ser recoberta pelo silêncio
que tem consequências: “calar sobre a doença e o sofrimento leva, de maneira coerente a
recusar os cuidados, a evitar consultas médicas, a temer hospitalizações” (OP. CIT., p. 35).
Apenas quando ela se torna insuportável e interfere na produção é que se pede ajuda
consultando um médico por exemplo. “... pode-se considerar que a vergonha instituída aqui
como sistema constitui uma verdadeira ideologia elaborada coletivamente, uma ideologia
defensiva contra uma ansiedade precisa, a de estar doente, ou, mais exatamente, de estar
num corpo incapacitado”. A ideologia coletiva da vergonha mantém à distância o risco de
afastamento do trabalho, do desemprego, da miséria, da morte, quando ela fracassa pode
levar a uma saída individual como o alcoolismo, a prática de atos de violência ou ainda a
loucura ou a morte.
As ideologias defensivas (DEJOURS, 1992, p.36) têm por objetivo mascarar, conter
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e ocultar uma ansiedade particularmente grave. Ideologias defensivas são elaboradas por
grupos sociais específicos e particulares, sempre relacionados à natureza da organização do
trabalho. “A especificidade da ideologia defensiva da vergonha resulta, por um lado, da
natureza da ansiedade a conter e, por outro lado, da população que participa na sua
elaboração...”. O que caracteriza uma ideologia defensiva é o fato dela “ser dirigida não
contra uma angústia proveniente de conflitos intrapsíquicos de natureza mental, e sim
destinada a lutar contra um perigo e um risco reais”. Ela também dever ser “operatória”,
deve ter a participação de todos e aquele que não contribui ou participa do conteúdo da
ideologia é excluído.
Autores que investigam formas de enfrentamento as dificuldades existentes no
trabalho em prisões apontam aspectos como: incremento da formação profissional
(HARTLEY et al., 2000; MOON; MAXWEL, 2000), estímulo ao apoio social (dos pares,
da supervisão, da instituição, da sociedade em geral, da família e religioso) (MORGAN et
al., 2002; GOULD et al., 2013) e oferta de espaços de acolhimento no próprio trabalho para
melhoria da comunicação entre eles (GOULD et al., 2013; DOWDEN; TELLIER, 2004),
reflexão, reestruturação e reorientação emocional (MCGRATY et al., 2009).
Em ambientes de trabalho predominantemente ocupados por homens também são
elaboradas estratégias de defesa específicas, aleatoriamente concebidas para combater ou
mascarar o sofrimento (DEJOURS; BÈGUE, 2010), como por exemplo, as brincadeiras
irônicas no sentido do deboche ou zombaria (chacotas).
A expressão do sofrimento, os sintomas psicopatológicos, a depressão
eram invariavelmente convertidos em chacota e denunciados em bloco
com tudo o que relevava da doença mental, dos psicólogos, dos
psiquiatras. Cada qual devia esconder dos outros – à sua maneira – o
sofrimento, uma espécie de ethos profissional” (OP.CIT.).
adaptar ou resistir ao estressor e, assim, as doenças começam a surgir, embora, não sejam
tão graves, como na fase de exaustão (LIPP, 2003). Para tornar claro o processo de
desenvolvimento do estresse é necessário considerar que o quadro sintomatológico varia
dependendo da fase em que se encontra.
Lipp (2003) considera esse fenômeno como uma reação psicofisiológica muito
complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo reagir em face de algo que
ameace sua homeostase interna. Segundo a autora, o estresse pode ocorrer quando o sujeito
se depara com alguma situação que, de algum modo, cause irritação, medo, excitação, ou
até mesmo lhe traga uma imensa felicidade. Percebendo que as pessoas passam por
situações estressantes de formas diferentes, Selye (1975) criou as expressões: distresse e
eustresse. Esse último é considerado o estresse saudável, positivo, que motiva a pessoa (ou
o grupo) a continuar agindo, se qualificando e se aperfeiçoando. No eustresse o sujeito (ou
seu grupo) explora os sentimentos positivos e os ganhos, no processo de adaptação a
situações que o desafiam. Já o distresse cria persistente ansiedade, tristeza, depressão e leva
ao desenvolvimento de sintomas físicos e mentais. Nesse sentido o distresse tem
implicações negativas, e o eustresse constitui a forma positiva de estresse, ambos podem
afetar o corpo e são cumulativos por natureza.
Nos últimos anos, estudos sobre estresse foram conduzidos em múltiplos contextos,
associando-o a diferentes variáveis. Observa-se o incremento da investigação da relação
entre estresse e trabalho, destacando-se o construto estresse ocupacional (SANTOS;
CARDOSO, 2010). Jex (1998), citado por Pascoal e Tamayo (2004), explica que o termo
estresse ocupacional pode ser definido de acordo com três aspectos: (1) estressores
organizacionais que são estímulos estressantes provenientes do ambiente de trabalho, (2)
respostas dos indivíduos a esses estressores e (3) dinâmica entre estímulos estressores-
resposta. Tal abordagem acentua o caráter relacional do conceito que envolve ambiente de
trabalho e sujeito e atribui importância às percepções individuais como mediadoras do
impacto estressor do ambiente de trabalho sobre as respostas do indivíduo. O estresse
ocupacional (SADIR; LIPP, 2009) também é considerado um estado de mal-estar ou
desagrado derivado de aspectos relacionados ao trabalho e que possam representar uma
ameaça à autoestima ou à qualidade de vida do indivíduo.
Os agentes estressores no trabalho podem se apresentar por longas jornadas de
trabalho, pressões ou cobranças, medo de perder o trabalho, conflito de funções,
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4. MATERIAL E MÉTODO
Essa tese integrou a pesquisa “Estudo das Condições de Saúde e Qualidade de Vida
dos Presos e das Condições Ambientais das Unidades Prisionais do Estado do Rio de
Janeiro”, da qual participei em todas as etapas: construção do projeto de pesquisa,
elaboração dos instrumentos, realização do trabalho de campo (coleta de dados) e da análise
dos dados e que foi publicada no livro "Deserdados sociais: condições de vida e saúde dos
presos do estado do Rio de Janeiro" (MINAYO; CONSTANTINO, 2015).
Na presente tese os agentes penitenciários são o foco principal de análise. Dentre
esses trabalhadores foram estudados os que estão lotados nas mesmas unidades prisionais
investigadas na pesquisa original. As informações a seguir apresentadas explicitam os
fundamentos teóricos e metodológicos que foram essenciais à elaboração desta tese.
Aspectos básicos da pesquisa original também serão apresentados.
A tese, assim como a pesquisa original, se baseou nas teorias e técnicas da
triangulação metodológica, que vêm sendo aprimoradas por um grupo de pesquisadores do
CLAVES e que têm se mostrado muito pertinentes aos estudos sobre o tema de violência no
campo da saúde. Essa forma de abordagem possibilita a articulação da epidemiologia e das
ciências sociais e humanas para iluminar a realidade a partir de distintos ângulos e
conhecimentos, permitindo uma discussão interativa, intersubjetiva e interdisciplinar dos
dados (MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005).
No estudo original foi realizado um inquérito epidemiológico com amostra
representativa das pessoas presas, acrescido de entrevistas individuais e, de maneira
complementar, observações de campo nos momentos de visita a 32 unidades prisionais
femininas e masculinas, localizadas em Gericinó (Bangu), Japeri (Baixada Fluminense) e
no interior do Estado (Campos), (MINAYO; CONSTANTINO, 2015).
A operacionalização da tese também se realizou através de duas abordagens
distintas: a quantitativa e a qualitativa. A quantitativa contou com um questionário
autoaplicável sobre as condições de trabalho e saúde dos agentes penitenciários. Para a
abordagem qualitativa utilizou-se a técnica de entrevistas individuais com agentes, pois
esse tipo de abordagem promove o envolvimento de aspectos complexos e específicos
como experiências pessoais e relações de poder e possibilita o detalhamento e
aprofundamento das observações. As entrevistas foram organizadas de forma
44
Uma vez autorizada a pesquisa pelo Comitê de ética da ENSP, pelo gestor da SEAP
e com a parceria do MPRJ11, iniciou-se, em dezembro de 2013 a aplicação dos
questionários nas três unidades prisionais de Campos dos Goytacazes, no interior do
Estado. Nessa localidade quatro pesquisadores participaram da coleta de dados, entre eles
eu, servidora da SEAP. Munidos dos documentos de autorização das instituições não houve
dificuldades para entrar nas unidades prisionais.
Iniciou-se a coleta dos dados quantitativos empregando uma forma de abordagem
que não se mostrou produtiva, mas que funcionou como aplicação piloto. A pesquisa foi
apresentada aos diretores e, já sabendo o número de agentes penitenciários que trabalhavam
em cada unidade, foram entregues os questionários aos diretores que se incumbiriam de
explicar a pesquisa a todos os agentes, distribuir os questionários e os recolher. O resultado,
utilizando-se essa forma de abordagem não foi bom, retornaram preenchidos menos de 50%
dos questionários. A partir dessa experiência, redirecionou-se a forma de abordagem aos
agentes penitenciários. Passou-se a apresentar os questionários a cada agente penitenciário,
explicitando os objetivos da pesquisa, e aguardou-se até que cada um os preenchessem e
entregassem naquele mesmo dia. Dessa forma foi complementada a aplicação em Campos e
realizada nas unidades de Bangu e Japeri. Como cada unidade tem quatro turmas diferentes
11 O MPRJ disponibilizou apoio logístico, com transporte e escolta armada, aos pesquisadores nas visitas à
Bangu e Japeri.
48
de agentes penitenciários, visitou-se cada unidade pelo menos quatro vezes para aplicar o
questionário em todas as turmas. Esse procedimento aumentou muito o número de
questionários preenchidos e fechou a pesquisa com a efetivação de 70% da amostra
pretendida.
De fevereiro a abril de 2014 foram visitadas, por dois pesquisadores, as seis
unidades localizadas em Bangu e Japeri. O MPRJ colaborou nestes territórios com o apoio
logístico, disponibilizando em todas as visitas um carro com escolta armada composta por
agentes penitenciários que trabalhavam cedidos ao MPRJ. O apoio desses agentes foi
imprescindível ao bom andamento do trabalho de campo, uma vez que eles também
auxiliaram na entrada às unidades e na aplicação dos questionários, com sua experiência,
sabedoria e boa vontade.
Ao final da coleta de dados nessas localidades, retornou-se às unidades de Campos
para complementar a aplicação dos questionários e realizar as entrevistas necessárias a
abordagem qualitativa com os agentes penitenciários. Nem todos os agentes queriam
participar das entrevistas individuais, mas não houve dificuldade para que muitos
colaborassem; elas foram realizadas durante o horário de trabalho dos agentes em sala com
privacidade e algum conforto.
profissionais por plantão, considerou-se que essa atividade extra sobrecarregou ainda mais
o cotidiano dos agentes e dessa forma alguns se recusaram a respondê-lo. (2) demonstração
de desconfiança e descrédito por parte de alguns agentes em relação às possíveis melhorias
das condições de trabalho, o que também gerou algumas recusas no preenchimento dos
questionários, (3) em alguns postos de serviço, como por exemplo, nas portarias, a
ininterrupta demanda de serviços dificulta o preenchimento dos questionários, (4) a
distância em quilômetros de certas unidades, o que dificultou a realização de mais retornos
àqueles presídios: quanto mais fácil o acesso do pesquisador, mais questionários
preenchidos; (5) peculiaridades das unidades e de seu efetivo carcerário.
O instrumento quantitativo
O instrumento de coleta de dados quantitativos utilizado foi um questionário
anônimo e autoaplicável (APÊNDICE D) adaptado a partir dos questionários usados pelo
CLAVES nas pesquisas anteriores realizadas com policiais civis (MINAYO; SOUZA,
2003) e com policiais militares (MINAYO; SOUZA; CONSTANTINO, 2008). Ele foi
construído com base em inquéritos nacionais já realizados que usam instrumentos validados
nacionalmente, como a Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios/PNAD (Barros et al.,
2006), o inquérito do Instituto Nacional do Câncer/INCA-MS (Brasil, 2004), Inquérito de
Saúde do Município de São Paulo (São Paulo, 2010), Programa Pró-Saúde da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro/PRO-SAUDE UERJ (Faerstein et al., 2006). Ao todo havia 88
perguntas no questionário e seu preenchimento demorou em média 40 minutos.
Esse instrumento de coleta de dados, entre outras perguntas, incluiu três escalas:
estresse, transtornos mentais comuns (sofrimento psíquico) e apoio social. A escala de
transtornos mentais comuns é o Self-Reported Questionnaire - SRQ20, desenvolvida por
Harding et al. (1980) e validada no Brasil por Mari e Williams (1986) que mede a
existência de sofrimento psíquico ou distúrbios psiquiátricos menores. O questionário
possui originalmente 20 questões referentes a distúrbios não psicóticos e quatro sobre
distúrbios psicóticos. Utilizou-se nessa pesquisa apenas as 20 questões referentes a
distúrbios não psicóticos. O ponto de corte proposto para a escala é de 7 para homens e 8
para mulheres. Cada ponto equivale a uma resposta positiva relativa às perguntas sobre:
dores de cabeça frequentes; falta de apetite; dormir mal; assustar-se com facilidade;
apresentar tremor nas mãos, sentir-se nervoso, tenso ou agitado; apresentar má digestão;
sentir dificuldade de pensar com clareza; sentir-se triste; chorar mais do que o habitual; ter
dificuldade em realizar tarefas diárias com satisfação; sentir dificuldade em tomar decisões;
considerar que o trabalho lhe é penoso; sentir-se incapaz de ser útil; não ter mais interesse
pelas coisas; sentir-se inútil; ideias suicidas; sentir desconforto estomacal; sentir cansaço
constante; cansar-se com facilidade.
O Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (ISSL), padronizado e validado
para o Brasil por Lipp e Guevara em 1994, tem como objetivo a avaliação da existência de
sintomas de estresse, do tipo de estresse predominante: físico ou psicológico e a fase em
51
RESULTADOS
5.1 - ARTIGO 1
Sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários: uma revisão da
literatura12
Psychological distress and work stress in correctional officers: a literature review
Resumo
Apresenta-se revisão da literatura baseada no levantamento da produção sobre sofrimento
psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários nos periódicos nacionais e
internacionais entre os anos de 2000 e 2014. As bases de dados pesquisadas foram
Biblioteca Virtual em Saúde, Web of Science e Scopus e os principais descritores:
sofrimento psíquico, estresse e agentes penitenciários. Foram analisados 40 artigos, a
maioria sobre estresse. O conceito de burnout surgiu em vários trabalhos. Os EUA são o
país que mais publica sobre o tema, principalmente em revistas de justiça criminal. Há
pouco destaque nas revistas de Saúde Pública. Na América Latina foram encontrados
apenas quatro estudos, todos brasileiros. O número de publicações se intensificou
gradualmente ao longo dos anos e houve aprimoramento metodológico na elaboração e
avaliação de escalas, principalmente de estresse e burnout. Entre os fatores de risco estão a
sobrecarga de trabalho, falta de recursos materiais e humanos, nível de contato com os
presos, superlotação, percepções sobre medo ou perigo, paradoxo punir/reeducar, entre
outros. Os fatores protetivos remetem ao apoio social dentro do ambiente prisional e as
estratégias de enfrentamento relacionam-se ao aprimoramento da formação dos agentes,
estímulo ao apoio social e oferta de atendimento psicológico.
Palavras chave: estresse, sofrimento psíquico, burnout, trabalho, agentes penitenciários.
12 Artigo já publicado: BEZERRA, C. M.; ASSIS, S. G.; CONSTANTINO, P. Sofrimento psíquico e estresse
no trabalho de agentes penitenciários: uma revisão da literatura. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.
21, n. 7, p. 2135-2146, 2016.
59
Abstract
This article presents a review of literature based on a survey in national and international
journals on psychological distress and stress in the work of correctional officers between
2000 and 2014. The database used was Biblioteca Virtual em Saúde, Web of Science and
Scopus and the descriptors were psychological distress, stress and correctional officers. We
analyzed 40 articles, mainly about stress. The concept of burnout appeared in several
works. USA is the country that most publishes on the subject, especially in criminal justice
journals. There is little interest about the subject in the magazines of Public Health. In Latin
America, we found only four studies, all Brazilians. The number of publications has
gradually intensified over the years and there were methodological improvement in the
development and assessment scales, mainly of stress and burnout. Among the risk factors
are found work overload, lack of material and human resources, level of contact with the
inmates, overcrowding, perceptions of fear or danger; paradox punish / reeducate, among
others. The protective factors refer to social support within the prison environment and the
coping strategies are related to the improvement of training of agents, stimulating social
support and offering psychological care.
Introdução
internacionais entre os anos de 2000 e 2014, tema complexo que envolve a relação entre
trabalho e saúde mental. Segundo Minayo et al.(1), “do ponto de vista dos riscos e da
realização humana, ele também produz (em escala específica referente às condições em que
geradoras de tensão, como ameaças e agressões. Trabalham sob pressão constante, sujeitos
pode repercutir na saúde desses profissionais através de doenças físicas, estresse, burnout,
a segurança institucional.
grupo, esperando da maioria a execução das atividades delegadas, com clara divisão entre
O estresse foi definido por Selye(11) como uma resposta orgânica não-específica para
situações estressoras ao organismo. Sua presença de forma moderada significa uma normal
que se encontra(12). Em suas pesquisas, Lipp(13) relata sinais físicos que ocorrem com
relaxar, ira e hipersensibilidade emotiva. Uma vez que o estresse não seja reduzido, através
da remoção dos fatores que o geram ou do uso de estratégias de enfrentamento, ele poderá
atingir sua fase final, quando doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis,
como enfarte, úlceras e psoríase. A depressão também faz parte do quadro de sintomas(14).
O estresse psicológico, causado pela pressão e agitação da vida do trabalho, vem sendo
62
“mentalmente pesado". Alguns fatores têm efeitos psicológicos adversos como o trabalho
sob a ameaça de violência, como por exemplo, no sistema prisional. Estresse psicológico e
ocupacional, para Paschoal e Tamayo(16) este é um enfoque mais abrangente que enfatiza
de trabalho.
prisional relacionadas com seu trabalho e têm usado diferentes termos para se referirem as
dificuldades psicológicas enfrentadas por esses trabalhadores, como work stress, stress,
(TMC), caracterizado por sintomas não psicóticos como insônia, fadiga, irritabilidade,
burnout surgiu em vários trabalhos e será analisado com destaque no item referente ao
estresse, pela sua relevância para a compreensão do tema. Burnout é descrito(20) como
Foi inicialmente identificado entre trabalhadores que lidam com pessoas doentes ou
internadas, no entanto, não é uma psicopatologia do trabalho, mas da relação com os outros.
Material e método
bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Web of Science e Scopus. O software
Science e Scopus (campos de busca: title, abstract e key) foram utilizados os descritores
equivalentes em inglês: "prison agent", "prison worker", "prison staff", "correctional staff"
idioma e ano de publicação, seu resultado obteve 525 publicações. Após a leitura de todos
outros grupos de profissionais que trabalham em prisões que não inspetores, referentes a
legal. Restaram 202 artigos dos quais foram excluídos os trabalhos repetidos (n=51),
aqueles publicados em outras línguas que não português, inglês, francês ou espanhol e os
anteriores ao ano de 2000 (n=31), uma vez que pesquisas sobre o tema aumentaram
na íntegra, nos sites específicos e por esse motivo foram analisados a partir de seus
propostas para estes agravos à saúde mental dos trabalhadores e, finalmente, as lacunas no
Resultados
mental desses profissionais vêm despertando muito interesse acadêmico principalmente nos
EUA e nas revistas sobre Justiça Criminal desse país. No Brasil ainda são poucos os
Mais da metade dos textos (n= 21) é produção norte americana: 16 dos EUA e cinco
do Canadá. A Europa também se interessa pelo tema (n=11), com três artigos apresentando
a realidade francesa, três sobre a Espanha e os restantes sobre o contexto da Itália, Reino
2004, 15 entre 2005 e 2009 e 17 entre 2010 e 2014. Acompanhando todo o período
percebe-se a relevância das revistas sobre Justiça Criminal: cinco delas apresentaram 11
publicaram 11 artigos. Alguns jornais sobre o tema específico das prisões concentram
estudos: Prison Journal (n=05) e Journal of Correctional Health Care (n=01). Revistas
sobre Saúde Pública apresentaram apenas quatro trabalhos e sobre Saúde Ocupacional, três
trabalho e ergologia mais duas produções. Uma revista específica sobre estresse (Stress and
66
maioria com abordagem quantitativa (n=25), utilizando escalas de estresse, burnout, entre
semidirigidas.
Quatro artigos são revisões de literatura e dois foram destinados à avaliação das
em que intervenções podem vir a reduzir tais problemas. Outra revisão(38) investigou sobre
outras, mais gerais, medem o estresse na vida. Três diferentes instrumentos aferem o
GRIFFIN, 2006 Itens anteriormente utilizados por Crank, Regoli, Estresse no trabalho
Hewitt, and Culbertson (1995)
BROUGH; WILLIAMS, 2007 Job Content Questionnaire (KARASEK, 1985) Estresse no trabalho
Modelo demanda, controle e suporte.
BOURBONNAIS et al.,2005; Job Content Questionnaire (KARASEK, 1985) Estresse no trabalho
Modelo demanda, controle e suporte.
BOURBONNAIS et al., 2007 Job Content Questionnaire (KARASEK, 1985) Estresse no trabalho
Modelo demanda, controle e suporte.
BOTHA;PIENAAR, 2006 The Correctional Officer Stress Inventory.(COSI) Estresse no trabalho de
(BOTHA; PIENAAR, 2006) agentes penitenciários
ŞENOL-DURAK; DURAK, 2006 The Workstress scale for correctional officers Estresse no trabalho de
(WSSCO) (ŞENOL-DURAK; DURAK, 2006) agentes penitenciários
FERNANDES et al., 2002 Inventário de Sintoma de Estresse de LIPP (ISSL) Estresse na vida
(LIPP; GUEVARA, 1994)
OWEN, 2006 The Perceived Stress Scale (PSS) (COHEN; Estresse na vida
KAMARCK; MERMELSTEIN, 1983)
GONÇALO et al., 2010 Nível Global de Estresse (NGS) (KYRIACOU; Estresse na vida
SUTCLIFFE, 1978)
MCCRATY et al., 2009 Jenkins Activity Survey Brief Symptom Inventory Estresse na vida
(JAS; The Highlands, ChapelHill, NC)
The Brief Symptom Inventory (BSI; National
Computer Systems, Minneapolis, MN) Estresse na vida
Personal and Organizational Quality Assessment
(POQA; Institute of HeartMath, Boulder Creek,
CA) Estresse na vida
HARVEY, 2014 The General Health Questionnaire (GHQ-12) Sofrimento psíquico
(Goldberg& Williams, 1988).
BOURBONNAIS et al.,2005; Psychiatric Symptom Index, (PSI) (Ilfeld, 1976). Sofrimento psíquico
BOURBONNAIS et al., 2007
FERNANDES et al., 2002 Self Report Questionnaire - SRQ (HARDING et Sofrimento psíquico
al., 1980)
outros(39); (b) medir burnout, sendo o Maslach Burnout Inventory (40) o único
68
nove usaram o “Maslach Burnout Inventory Survey “(35), que engloba três escalas: (a)
exaustão emocional, que mede sentimentos de estar sobrecarregado e exausto pelo trabalho;
com quem se trabalha; (c) realização pessoal, que avalia sentimentos de competência e
literatura.
desafios específicos em seu trabalho nessas instituições; (b) homens e mulheres têm estilos
diferentes de lidar e se relacionarem com os presos, por exemplo: mulheres são menos
propensas do que os homens para responder aos reclusos de forma impessoal ou com falta
"resistência" e força física são muito respeitadas; (d) as diferenças entre os gêneros podem
trabalho mais do que qualquer outra variável demográfica, mesmo assim, na pesquisa de
Griffin(48) houve poucas diferenças entre ambos os sexos. Carlson et al.(43) testaram a
relação entre gênero e burnout em uma prisão de segurança máxima nos EUA e ao
sensação de realização pessoal e satisfação relacionada com o trabalho do que seus colegas
do sexo oposto. Elas também seriam mais propensas a usar técnicas de enfrentamento ao
As produções brasileiras
metodologia qualitativa. Outra publicação utiliza duas escalas para medir estresse e
sofrimento psíquico.
Paulo. O primeiro deles utiliza entrevistas para identificar várias situações ansiogênicas(21)
entre elas: risco constante de exposição à violência física, temor em relação à segurança de
degradação de sua saúde mental, trabalho monótono, entre outras. A partir dessas
manifestação da violência conferem condições para que o sofrimento psíquico surja entre
momento em que a visitante é revistada e precisa ficar sem roupa e agachada na frente da
psicológico) e a fase em que ele se encontra (alerta, resistência, quase exaustão e exaustão).
30,50,51), entre eles os quatro trabalhos brasileiros que apontam várias situações
representação social pejorativa de sua atividade(29,30). Entre outros fatores de risco para o
hepatite C e HIV(28).
que esses profissionais são mais expostos a fatores psicossociais adversos no trabalho e
relatam mais problemas de saúde (como sofrimento psíquico, saúde regular ou ruim e uso
fatores associados com o aumento do sofrimento psíquico foram o baixo apoio social no
A maioria dos artigos encontrados é sobre o tema do estresse. Estresse e burnout são
dois constructos relacionados, mas distintos. Estresse em condições normais pode ser uma
entre 19-30% dos trabalhadores em geral. Ambos derivam de uma combinação de fatores
72
de risco individuais e estressores organizacionais, seus efeitos são mais pronunciados nos
alto risco e das exigências das tarefas(52-54), o que também pode levá-los a ficarem mais
agentes penitenciários podem deixar ainda mais inseguro o ambiente laboral, levar a altas
familiares, podem gerar problemas de saúde mental e física. Conflito de papéis é definido
De acordo com Misis(53) existem agentes penitenciários orientados para a custódia que
defendem abertamente as estratégias de punição para lidar com os presos e que não apóiam
a reabilitação como uma filosofia correcional. Por outro lado, existem profissionais que
acreditam na reabilitação enquanto objetivo correcional primário e que exercem sua função
voltada para o aconselhamento. Os resultados indicam que agentes que vêem seu trabalho
mais orientado para o tratamento do preso, teriam níveis mais elevados de estresse. Nos
Estados Unidos, agentes penitenciários que têm percepções de características pessoais dos
presos mais negativas (hostis, anti-sociais e frios) apresentam níveis mais elevados de
estresse, o que coincide com a investigação sobre conflito de papéis: quanto mais conflito,
mais estresse.
nos níveis de estresse no trabalho. Em alguns textos não foram encontradas relações
estresse ocupacional, indicando que outras características mais latentes ou menos explícitas,
prisão, por exemplo) podem ter maior impacto no esforço de trabalho(47). A variável
São vários os fatores de risco para estresse indicados nas pesquisas. De um modo
pública negativa também foi citada como fator de risco para estresse(8,56), assim como a
superlotação dos presídios(31), concluindo-se que os agentes que atuam em prisões mais
agentes sofrem burnout severo e que os mais jovens apresentam atitudes mais negativas em
relação a seus empregos (despersonalização) do que os mais velhos. Para Morgan et al.(41),
ameniza os efeitos da tensão do trabalho sobre a saúde, ele é um fator relevante evidenciado
nos estudos sobre estresse (incluindo burnout) e sobre sofrimento psíquico. Uma liderança
assim como uma de baixa qualidade se relaciona de forma significante com ele(37).
Agentes que percebem apoio em seus supervisores ou chefes relataram menos estresse e
fatores associados ao estresse: altos níveis de satisfação no trabalho e de apoio social, além
infratores são “o inimigo” e que o seu trabalho é garantir que eles permaneçam sob controle
permita uma maior reflexão sobre as condições de vida das pessoas presas. Na mesma
doenças e o estresse. Gould et al.(46) propõem treinamento anual com foco específico nos
enfrentamento e gerenciamento.
considerados. O suporte social dos pares pode ser útil no enfrentamento e prevenção do
agentes, com ênfase no que lhes aflige em relação ao trabalho. As estratégias de intervenção
a fim de reduzir o risco de estresse e burnout devem ser no sentido de melhorar a estrutura
Discussão
que não são idênticos, porém seus fatores desencadeadores são muito parecidos. Podem ser
ampliam a partir dos fatores de risco e proteção revelados nas pesquisas como: sobrecarga
A diversificação das áreas temáticas dos periódicos que abordam o tema é um fator
propositivos. Porém, percebe-se que o campo da saúde pública não vem dando ênfase às
discussões sobre o sofrimento psíquico dessa categoria profissional e que a produção vem
criminologia(22).
Também geral é a necessidade de controle a fim de manter a segurança, sendo essa a maior
77
preocupação dos agentes, em detrimento até de sua própria saúde(60). O mal estar da
Moraes(3) “o mal está no ar”, se referindo à energia negativa ou pesada que circula em uma
unidade prisional. Essas características nivelam a vivência profissional desses sujeitos que
são apresentados nos estudos com relativamente pouca saúde física e problemas psíquicos
EUA, país que mais encarcera no mundo, com 2.228.000 pessoas custodiadas em 2012(61)
publicação na temática psicológica), o que indica o interesse mais voltado para a indústria
da prisão do que para a saúde dos profissionais que ali trabalham. Como se evidencia no
produtividade.
Embora pesquisas sobre burnout tenham uma longa tradição na América do Norte e
método qualitativo demonstra uma visão ampla e complexa do problema com foco no bem
estar do trabalhador.
Apesar de ser cada vez maior o número de agentes mulheres, elas trabalham em um
ambiente projetado para custodiar e para o labor de pessoas do sexo masculino. Elas atuam
tanto em unidades masculinas quanto femininas, porém em cada uma delas suas funções
diferem, assim como o tipo de sofrimento e estresse vivenciados. Nesse sentido, elas se
trabalhos (3,64,65). Elas são consideradas importantes e viáveis, porém apontam mais para
um esforço do próprio trabalhador em se qualificar, dar suporte aos seus pares e se “tratar”
será mais eficiente, a fim de prevenir e minimizar os efeitos desse problema, envolver
Considerações finais
realizar seu trabalho de forma otimizada (por exemplo, falta de pessoal, falta ou
79
Durante as três décadas passadas muitas pesquisas examinaram os fatores que contribuem
do ambiente prisional é apenas uma das percepções possíveis, dentre os diferentes atores
envolvidos nesse cotidiano. Outras versões também devem ser consideradas na elaboração
da privação da liberdade e que têm uma missão perigosa e com poucas retribuições
simbólicas, deveria ser investigado também de forma mais complexa. São muito raras as
seus objetos, principalmente no que diz respeito à análise das múltiplas relações que se
contra o sofrimento no trabalho mais destacado nas pesquisas analisadas foi o “suporte
social” que implica na análise dessas relações. Escutar esses homens e mulheres
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01ed.Nova York: Springer US, 2013, v. 01, p. 89-98.
84
5.2 - ARTIGO 2
Resumo
Abstract
The scope of this study is the relationship between stress and working conditions in
correctional officers, which is analyzed by quantitative and qualitative approaches
(interviews/observation). Results show that a significant proportion (35,1%) presented life
stress, according to the Lipp stress scale. There are no differences related to stress
according to gender. Multiple ordinal logistic regression model shows that a correctional
officer unsatisfied with the immediate boss relationship is 4,5 times more likely to be at a
higher stress level; those who have sometimes/rarely/never or almost never mentioned that
work causes stress, are 74,9% less likely to be at a higher stress level; for each type of risk
an agent perceives exposed, there is a 24% increase in the chance of being at a higher stress
level; a professional who rarely repeats tasks at work has a 52,6% lower chance of severe
stress than one who often has to repeat tasks. It is necessary to strengthen the social and
material support provided to these professionals and to solve the problem of ever-increasing
overcrowding. More professionals are needed, especially in direct contact with prisoners,
and their work needs to be more recognized and valued.
Key words: stress, occupational stress, working conditions, correctional officers,
occupational health.
86
Introdução
Esse artigo tem como objetivo analisar a relação entre estresse e condições de
trabalho de homens e mulheres agentes penitenciários, um grupo profissional muito pouco
investigado no Brasil. Internacionalmente o tema vem sendo pesquisado, apesar das
dificuldades de acesso para pesquisa em instituições totais (BEZERRA; GONÇALVES;
CONSTANTINO, 2016).
O campo da saúde do trabalhador (MENDES; DIAS, 1991) considera o trabalho
enquanto organizador da vida social, ocupando lugar central na vida das pessoas no sentido
da construção de sua identidade. Ele pode gerar autonomia, realização profissional/pessoal,
autoestima, ser criativo, potencializador ou se manifestar como forma de violência e
dominação, submetendo e aprisionando o trabalhador à sua rígida organização. No entanto
o sofrimento no trabalho é um estado compatível com a normalidade, não configura uma
doença mental, ele é vivenciado pelo profissional por meio de mecanismos adaptativos:
alguns buscam prazer e fuga do sofrimento transformando as adversidades numa fonte de
criatividade (DEJOURS, 1992; AMADOR, 2002), outros sucumbem e desenvolvem
doenças, estresse e depressão. Para Dejour e Beguè (2010) “a parte de responsabilidade a
ser imputada ao trabalho, tanto na construção da saúde como em sua destruição, é
absolutamente subestimada”.
Selye (1975) definiu o estresse como uma resposta orgânica não-específica para
situações estressoras ao organismo. Sua presença de forma moderada significa uma normal
adaptação às demandas do dia a dia; quando excessivo, é uma manifestação de sofrimento
psíquico com reações físicas e emocionais e os sintomas variam dependendo da fase em
que se encontra (LIPP, 2003). Os sintomas físicos que ocorrem com maior frequência são
aumento da sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da mandíbula,
ranger de dentes, hiperatividade, náuseas, mãos e pés frios. Em termos psicológicos podem
se manifestar como ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades
interpessoais, dúvidas quanto a si próprio, preocupação excessiva, inabilidade de
concentrar-se em outros assuntos que não o relacionado ao sofrimento, dificuldade de
relaxar, ira e hipersensibilidade emotiva. (LIPP, 1994).
87
Observa-se cada vez mais a preocupação com a investigação acerca da relação entre
estresse e trabalho, destacando-se o construto estresse ocupacional. Essa abordagem
(PASCHOAL; TAMAYO, 2004) acentua o caráter relacional do conceito que envolve
ambiente de trabalho e sujeito, atribuindo importância às percepções individuais como
mediadoras desse impacto estressor.
Mais da metade dos trabalhadores que atuam nas prisões nos países industrializados
julgam seu trabalho “mentalmente pesado" (WHO, 1995). Pesquisas mostram que o
ambiente de trabalho correcional é repleto de estresse psicológico e que o exercício da
profissão, sob ameaça de agressões e violências, provoca adoecimento, distúrbios do sono,
síndrome de burnout e depressão; há também evidência epidemiológica de elevado risco de
enfermidades cardiovasculares, acirramento de problemas familiares e sentimentos de
incapacidade de cumprir suas funções (MOON; MAXWELL, 2004).
Dejours aponta que as “condições de trabalho” abrangem os ambientes físico,
químico e biológico, as condições de higiene e de segurança e as características
antropométricas do posto de trabalho. Para o mesmo autor, a “organização do trabalho” é
constituída pela divisão das atividades, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as
modalidades de comando, as relações de poder e as questões de responsabilidade. Em sua
análise das relações entre trabalho e vida psíquica, o autor avalia que “o afrontamento do
homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental” e o sofrimento mental resulta da
organização do trabalho: “mesmo as más condições de trabalho são, no conjunto, menos
temíveis que uma organização do trabalho rígida e imutável” (DEJOURS, 1992, p.52).
A literatura (BEZERRA; GONÇALVES; CONSTANTINO, 2016) aponta os
diversos fatores geradores de estresse no trabalho de agentes penitenciários: sobrecarga de
trabalho; superlotação; falta de recursos materiais e humanos; problemas de relacionamento
com colegas e supervisores; percepção do trabalho como sendo perigoso; medo de contrair
doenças como HIV/AIDS, hepatite e tuberculose. Problemas de relacionamento com os
presos também geram estresse: nível de contato com eles; conflito de papéis (paradoxo
punir/reeducar) e percepções de características pessoais dos presos mais negativas (hostis,
antissociais e frios). Características da própria atividade (tipo de prisão, por exemplo)
também são fatores de risco para estresse, assim como a percepção da imagem pública
negativa. Atributos individuais como personalidade, satisfação no trabalho e qualidade dos
relacionamentos familiares ao interagirem com fatores geradores de estresse no trabalho
88
podem moderar ou agravar os sintomas. Entre os fatores que podem proteger os agentes
penitenciários do estresse estão os altos níveis de satisfação no trabalho e de apoio social,
além da percepção de estar no controle das situações relacionadas ao seu ofício (OWEN,
2006).
O trabalho penitenciário realizado por homens e mulheres tem características
distintas. Alguns autores (CHEESEMAN; DOWNEY, 2012; DIAL; DOWNEY;
GOODLIN, 2010) assinalam gênero como um fator significante para entender o estresse no
trabalho de agentes, mais do que qualquer outra variável demográfica. O ambiente prisional
predominantemente masculino levaria as mulheres a enfrentarem desafios específicos em
seu trabalho nessas instituições. Além disso, características socialmente aceitas como
femininas (compaixão, orientação familiar) podem ser desvalorizadas no ambiente prisional
onde as noções de "resistência" e força física são muito respeitadas.
O contexto atual do sistema penitenciário brasileiro reflete a política de segurança
de superencarceramento que gera superlotação. Essa dinâmica aumenta a relação número
de presos/agentes penitenciários, agrava as condições de trabalho desses profissionais e
prejudica a promoção dos direitos elementares da pessoa presa, o que torna o ambiente
prisional tenso, hostil e violento tanto para presos quanto para funcionários.
Em 2014 havia 579.423 pessoas encarceradas no Brasil (BRASIL, 2014), com
proporção de oito pessoas presas para cada agente de custódia. Essa proporção não atende à
recomendação do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (BRASIL, 2009)
que é de no máximo cinco presos/agente. No Rio de Janeiro em abril de 2016 existiam
38.000 pessoas presas e 5.396 agentes penitenciários, sendo 4.500 lotados em unidades
prisionais, mantendo no Estado a proporção de oito presos por agente, não atendendo à
recomendação do CNPCP.
A categoria profissional de agente de segurança penitenciário (BRASIL, 2002) está
inserida no grupo de trabalhadores dos serviços. São assalariados, com carteira assinada ou
vinculo estatutário, que atuam em estabelecimentos prisionais. Devem ter o ensino médio
completo e formação profissionalizante. Trabalham em equipe ou individualmente, com
supervisão permanente, em horários diurnos, noturnos, em rodízio de turnos ou escala.
Podem exercer suas funções em grandes alturas, confinados ou em locais subterrâneos.
A maioria desses profissionais mantém contato direto com apenados, uma vez que
são responsáveis pela sua custódia. Tendo como função básica a aplicação da Lei de
89
Execução Penal (BRASIL, 1984), devem manter o ambiente de segurança dentro das
prisões e estão frequentemente expostos a situações geradoras de tensão, tais como
intimidações, agressões, ameaças, iminência de rebelião e de se tornarem reféns
(THOMPSON, 1993). Trabalham sob pressão constante e estão sujeitos a risco de morte
(BRASIL, 2002), por isso ficam mais expostos ao adoecimento físico e mental.
No Rio de Janeiro os “Inspetores de Segurança e Administração Penitenciária” da
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, são servidores públicos com carga
horária semanal de 40 horas. As duas escalas de serviço mais comuns são o “expediente”
(horário comercial) e as “turmas/plantão”. No expediente trabalham diariamente em
funções como: diretor, subdiretor, administrador, motorista/escolta do diretor, revista de
visitantes, entre outras. Os que trabalham nas turmas cumprem escala de 24 horas de
trabalho seguida de 72 horas de descanso. Esses profissionais ficam em constante contato
com os presos dentro dos pavilhões onde se localizam as celas de uma unidade prisional.
Material e método
Esse trabalho é um dos resultados de pesquisa sobre condições de saúde das pessoas
presas realizada entre 2013 e 2015 no sistema penitenciário do Rio de Janeiro pelo
Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Escola
Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (MINAYO E CONSTANTINO,
2015). Foi realizado um inquérito epidemiológico com amostra representativa das pessoas
presas, acrescido de entrevistas individuais e, de maneira complementar, observações de
campo nos momentos de visita a 31 unidades prisionais femininas e masculinas, localizadas
em Gericinó (Bangu), Japeri (Baixada Fluminense) e no interior do Estado (Campos).
Para investigar os agentes penitenciários foi realizado um recorte dessa pesquisa que
ocorreu em paralelo com a investigação da saúde dos presos. Seu método se baseou nas
teorias e técnicas da triangulação metodológica (MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005) e
utilizou abordagens quantitativa e qualitativa. Para compor a amostra do estudo
quantitativo, cujos dados estão analisados neste artigo, nove unidades prisionais femininas
e masculinas de regime fechado foram incluídas: todas as três unidades da Baixada
Fluminense (Japeri); todas as três do município de campos dos Goitacazes (interior do
Estado) e um sorteio aleatório de três unidades localizadas no complexo de Gericinó.
Nessas unidades, todos os agentes penitenciários foram convidados a participar da
90
pesquisa, entre os que responderam aos questionários havia 68,1% homens e 31,9%
mulheres. Das entrevistas participaram 26 homens (68,4%) e 12 mulheres (31,6%).
O questionário padronizado, anônimo e autoaplicável continha perguntas sobre
dados socioeconômicos e demográficos, condições de trabalho, de saúde, qualidade de
vida, consumo de substâncias e incluiu o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
(ISSL), padronizado e validado para o Brasil por Lipp e Guevara em 1994. O objetivo
dessa escala é avaliar a existência de sintomas de estresse na vida do entrevistado e o tipo
predominante: físico ou psicológico e a fase em que se encontra. Ela baseia-se no modelo
desenvolvido por Selye (1975), identificando fases diferenciadas: 1) alerta - fase positiva
do estresse, o ser humano se energiza por meio da produção da adrenalina, a sobrevivência
é preservada e uma sensação de plenitude é frequentemente alcançada; 2) resistência - a
pessoa automaticamente tenta lidar com os estressores de modo a manter sua homeostase
interna; 3) quase-exaustão - as defesas do organismo começam a ceder e ele já não
consegue resistir às tensões, as doenças começam a surgir, embora, não tão graves quanto
na fase de exaustão; 4) exaustão - se os fatores estressantes persistirem em frequência ou
intensidade, há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa à fase de exaustão quando a
doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como enfarte, úlceras,
psoríase, depressão e outros. O escore de corte da escala foi de cinco ou mais respostas
positivas em cada uma dessas fases. Para tornar claro o processo de desenvolvimento do
estresse é necessário considerar que o quadro sintomatológico varia dependendo da fase em
que se encontra (LIPP, 2003). A presença e níveis de estresse entre agentes penitenciários
de ambos os sexos se encontram apresentados na tabela 1.
Dos 454 inspetores em efetivo exercício nas nove unidades selecionadas, 217
homens e 100 mulheres concordaram em participar respondendo aos questionários, o que
corresponde a 70% da amostra pretendida. As “perdas” de 30% se justificam: 1) a aplicação
do questionário durante o período do trabalho se configurou, para alguns agentes, como
uma atividade extra ou sobrecarga e por isso alguns se recusaram a respondê-lo. 2) Alguns
postos dificultam o preenchimento dos funcionários, como por exemplo, as portarias,
devido à ininterrupta demanda de serviços. 3) algum nível de desconfiança e de descrédito,
por parte dos agentes, em relação às pesquisas. 4) a distância em quilômetros de certas
unidades, o que dificultou as visitas aqueles presídios: quanto mais fácil o acesso do
pesquisador, mais questionários preenchidos. 5) peculiaridades das unidades e de seu
91
efetivo carcerário.
As variáveis explicativas do estresse vivenciado pelos agentes penitenciários estão
relacionadas ao perfil profissional e as condições de trabalho (que agrega no estudo
empírico as informações sobre organização do trabalho), apresentadas nas tabelas 2 e 3. As
variáveis analisadas são: perfil do profissional (sexo, idade, cor da pele, religião e
escolaridade) e as diversas características do trabalho realizado na SEAP: tempo de serviço;
horário de trabalho; relacionamento com o chefe imediato, com os outros agentes e presos;
acúmulo de locais de trabalho além da SEAP; adequação de tarefas; comandos claros para
realizar as atividades; frequência com que modifica as ordens que recebe; tarefas de
trabalho executadas com muita rapidez; trabalhar intensamente, exigindo esforço demais,
com exigências contraditórias e tarefas repetidas muitas vezes; escolhe 'como' e 'o que'
fazer no trabalho; e trabalho como fonte de estresse intenso. Duas questões sobre risco
foram inseridas: o risco que corre na atividade na SEAP e o risco que a família corre por
causa da atividade na SEAP (constante, eventual ou sem risco). A indagação sobre risco em
familiares foi incluída por ser fonte relevante de estresse para os agentes penitenciários,
mesmo que não o atinja diretamente. Uma última variável quantitativa foi criada,
agregando a resposta a 10 riscos que ocorrem no exercício profissional, incluindo: ser
tomado como refém e sequestrado; ser atingido por arma de fogo; ser ferido por arma
branca; sofrer agressão física, violência sexual (assédio, estupro) e psicológica (ameaças,
humilhações); vivenciar envenenamento, intoxicação por gases ou fumaça; sofrer danos de
audição decorrentes de ruídos intensos ou de explosão; e outros tipos de risco, descritos
pelo agente penitenciário.
As informações originadas dos questionários foram codificadas, digitadas e
arquivadas em um banco de dados do programa EPIDATA 3.0 e posteriormente criticadas a
fim de se checar erros ou falhas no preenchimento e inconsistência nas variáveis. Foram
usados pacotes estatísticos específicos para a análise dos dados, como o GNU PSPP (pacote
estatístico similar ao SPSS sob o projeto GNU) e R Core Team (2015). Um total de 317
agentes preencheu aos questionários e 308 responderam aos itens da escala de estresse. Para
possibilitar a modelagem realizada, agregou-se a ausência de estresse com a fase inicial de
alerta, contrapondo-as aos níveis mais preocupantes da presença do estresse na vida dos
agentes (Resistência e Quase exaustão/Exaustão).
As variáveis explicativas selecionadas para o estudo foram analisadas com a
92
Resultados
Superior e pós-
135 44,6 93 68,9 32 23,7 10 7,4
graduação
Condições de Trabalho do Agente Penitenciário
N % N % N % N %
Tempo de serviço/SEAP Até 10 anos
226 74,6 151 66,8 61 27,0 14 6,2
0,610
Acima de 10 anos 77 25,4 52 67,5 18 23,4 7 9,1
Horário de trabalho / Escala de 24 por 72
SEAP h
189 62,4 119 63,0 56 29,6 14 7,4 0,281
Expediente de 40 h
semanais 99 32,7 75 75,8 18 18,2 6 6,1
Outro 15 4,9 10 66,7 4 26,7 1 6,7
Relacionamento com o Satisfeito
273 89,2 196 71,8 63 23,1 14 5,1 <0,001
chefe imediato
Não satisfeito 33 10,8 9 27,3 17 51,5 7 21,2
Relacionamento com Satisfeito
280 91,5 197 70,4 71 25,4 12 4,3 <0,001
colegas e inspetores
Não satisfeito 26 8,5 8 30,8 9 34,6 9 34,6
CONTINUA NA PAGINA SEGUINTE
95
Às
vezes/raramente/nun 144 47,7 116 80,6 23 16,0 5 3,5
ca ou quase nunca
Trabalha intensamente Frequentemente
134 44,8 71 53,0 50 37,3 13 9,7 <0,001
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 165 55,2 127 77,0 30 18,2 8 4,8
nunca
Trabalho exige esforço Frequentemente
demais
104 35,4 55 52,9 37 35,6 12 11,5 0,001
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 190 64,6 140 73,7 41 21,6 9 4,7
nunca
Trabalho costuma Frequentemente
apresentar exigências
63 21,1 31 49,2 21 33,3 11 17,5 <0,001
contraditórias
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 235 78,9 167 71,1 58 24,7 10 4,3
nunca
Frequentemente
Repete muitas vezes as 225 77,0 140 62,2 64 28,4 21 9,3
mesmas tarefas no trabalho
0,008
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 67 23,0 53 79,1 14 20,9 0 0,0
nunca
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 245 84,8 158 64,5 68 27,8 19 7,8
nunca
Escolhe O QUE fazer no Frequentemente
trabalho
16 5,5 12 75,0 3 18,8 1 6,2 0,730
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 277 94,5 182 65,7 76 27,4 19 6,9
nunca
Trabalho causa estresse Frequentemente
intenso
162 54,2 83 51,2 61 37,7 18 11,1 <0,001
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 137 45,8 116 84,7 18 13,1 3 2,2
nunca
Risco que corre na Risco constante
atividade na SEAP? 240 79,0 151 62,9 69 28,8 20 8,3 0,015
Risco eventual/não
há risco 64 21,0 52 81,2 11 17,2 1 1,6
Risco que família corre Risco constante
pela atividade na SEAP
118 40,0 68 57,6 37 31,4 13 11,0 0,014
Risco eventual/não
há risco 181 60,0 131 72,4 42 23,2 8 4,4
Fonte: Bezerra, C. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no Estado
do Rio de Janeiro
Como se pode constatar na tabela 2, todos os itens relacionados ao perfil dos 308
agentes não se encontram associados à presença de estresse (p-valor>0,05). A maioria
desses profissionais é homem (68,8%), com idade até 40 anos (58,1%) e com cor da pele
especialmente preta e parda (cerca de 56%). Cerca de 80% declaram praticar alguma
religião frequentemente ou às vezes. Quase a metade de todos os agentes (44,6%) tem o
ensino superior completo ou já são pós-graduados. A mudança do perfil do agente
penitenciário ao longo dos anos foi ressaltada nas entrevistas qualitativas, principalmente
devido ao aumento do nível de escolaridade, decorrente de investimentos em concursos e
melhores salários. Essa qualificação refletiria na condução do trabalho realizado,
97
especificamente no nível de uso da força: "hoje dificilmente você vê a porrada comer com o
preso. Antigamente era assim que funcionavam as coisas. Eu acho que a concepção do
guarda mudou, o nível do guarda mudou".
No decorrer das entrevistas analisadas qualitativamente, não se constatou diferenças
relativas ao perfil dos agentes. Em especial, não houve diferenciação de gênero no discurso
de homens e mulheres em relação ao estresse laboral.
Eu tenho uma relação muito boa com os colegas de trabalho, eu acho que é a
parte que ameniza muito, porque quem tá aqui sabe o que a gente passa, a
realidade. Eu acho que é a melhor parte.
Eu estou há oito anos como chefe de turma, peguei vários diretores, a minha
relação é bem tranquila.
exercício da profissão, causando uma carga potente de insegurança para o servidor: “é uma
relação difícil”:
Com o preso você tem que manter a sua postura, o preso tem aquele
problema, você não pode ficar de brincadeira, não pode dar confiança, tem
que se impor.
Ainda sobre as condições de trabalho, pode-se verificar na tabela 2 que 31,9% dos
agentes declararam que saem do serviço e realizam outra atividade ligada à segurança,
imediatamente, sem descanso, dentro ou fora da SEAP. Observa-se também que há maior
frequência de agentes com estresse entre os que têm mais de uma atividade em segurança.
Aprofundando a compreensão deste fato, viu-se nas entrevistas que o salário pode ser
complementado na própria instituição com o regime adicional de serviço (RAS), que é um
plantão opcional de 12 horas, ou seja, existe a possibilidade de aumentar a renda sem ter
outro emprego. Isso é avaliado positivamente pelos agentes: “o RAS foi uma benção para
todo mundo". Poucos trabalham em outras instituições ou em outros locais.
Diversas questões aferem a forma como o trabalho é executado. Um total de 37,5%
dos agentes avalia que as tarefas que executam no dia-a-dia nem sempre ou nunca estão
adequadas à sua função e 40,0% acham que não recebem comandos claros para realizá-las.
Para 82,0% às vezes/raramente ou nunca é preciso modificar as ordens que recebem,
indicando que ações repetidas são comuns. Pouco mais da metade dos entrevistados
(52,3%) frequentemente tem que trabalhar com muita rapidez; 44,8% percebem que
frequentemente trabalham intensamente, ou seja, precisam produzir muito em pouco tempo;
e 35,4% relatam que seu trabalho exige esforço demais de si mesmo. Para 21,1% dos
agentes, o trabalho frequentemente apresenta exigências contraditórias ou discordantes. A
grande repetição de tarefas é percebida como frequente pela maioria (77,0%). Além disso,
muitos profissionais percebem que não podem escolher 'como' (84,8%) ou 'o que' (94,5%)
fazer no trabalho. Estes dados indicam que a forma de trabalho cotidiano requer rapidez e
obediência às normas como elemento fundamental e que essa demanda pode gerar estresse.
Nos encontros qualitativos esclareceu-se um pouco da forma de trabalhar dos
agentes penitenciários. Avaliaram que a crescente superlotação aliada à precariedade de
recursos materiais e humanos gera sobrecarga de trabalho, risco, pressão e tensão. A rotina
99
é maçante, o ambiente insalubre, com muitas áreas de atuação e poucos agentes. A carga
horária não é apontada como ruim.
A cadeia durante a semana é uma loucura, visita, enfermaria, psicologia,
serviço social, dentista. O inspetor fica muito cansado,
A falta de agentes responsáveis pelo contato direto com o preso é apontada como
falha grave nas condições de trabalho: as turmas são pequenas para o quantitativo de
presos:
As turmas (do plantão) têm em média seis a nove profissionais para um
efetivo carcerário de 1.300 a 1.600 presos. O trabalho do guarda de turma é
muito pesado, insalubre e estressante, além de ser o menos valorizado.
Falta pessoal. Hoje em dia temos sete servidores por turma em uma
unidade com 1.572 presos. O número de servidores é defasado.
Eu ganhei 8 quilos depois que eu vim trabalhar aqui, eu era bem mais
magro. Porque a alimentação não é muito boa.
Nos depoimentos dos agentes, a percepção de estar em risco fica evidente quando
falam da imprevisibilidade em relação ao trabalho ("um plantão que você acha que pode
ser tranquilo, se torna uma tragédia") e de como se sentem em estado de "vigilância
constante", às vezes até depois do trabalho: "você não pode relaxar, então você trabalha
tenso o tempo todo. Pior, até quando não está trabalhando". A sensação de estar em risco é
constante:
Essa ansiedade de você saber que está dentro de um presídio. Que tem que
vigiar, tem que evitar a fuga. Que de uma hora pra outra você pode estar
com uma arma na cabeça. É um risco muito grande!
maior poder explicativo em relação ao estresse. Nela pode-se ver que um agente
penitenciário insatisfeito com o relacionamento com o chefe imediato tem 4,5 vezes a
chance de estar em um nível mais alto de estresse que um agente satisfeito com esse
relacionamento.
Na mesma tabela também se destaca o efeito de risco existente entre aqueles que
frequentemente relacionam o trabalho que executam ao estresse, se comparados aos que
fazem essa conexão de forma objetiva: a chance de um nível de estresse mais alto para
aqueles que frequentemente relacionam o trabalho ao estresse é quatro vezes a chance
daqueles que às vezes/raramente/nunca ou quase nunca relacionam. O modelo também
mostra que para cada risco que um agente se percebe exposto, há aumento de 24% na
chance dele estar em um nível mais alto de estresse.
Uma última variável permaneceu no modelo final, embora não alcançando
associação estatística nos níveis estipulados no artigo (p-valor=0,0628). Merece, portanto,
ser olhada com cautela. Trata-se de um efeito de risco para um agente penitenciário que
frequentemente repete as tarefas no trabalho tem 2,1 vezes a chance de estresse grave do
que aqueles que às vezes/raramente/nunca tem que repetir a mesma tarefa.
Discussão
As respostas dadas nos questionários e as entrevistas realizadas com os agentes
penitenciários, além da observação participante realizada ao longo da pesquisa mostram
que o ambiente laboral é insalubre e estressante. É um trabalho complexo, intenso e
102
cansativo que envolve muitas variáveis e que pode gerar estresse dependendo de como cada
pessoa lida com seu processo (PASCHOAL; TAMAYO, 2004). O trabalho ainda exige
rapidez, obediência e pode apresentar demandas contraditórias ou discordantes.
O instrumento utilizado (LIPP, 1994) avalia a presença de estresse a partir das
percepções dos entrevistados, o que não lhe confere caráter diagnóstico. Os resultados
apontaram a presença de estresse em patamares semelhantes aos descritos em outras
pesquisas, para homens e mulheres adultos brasileiros. Embora essa escala refira-se ao
estresse na vida e não particularmente ocupacional, a autora do instrumento adverte que o
estilo de vida está diretamente ligado a hábitos de vida inadequados assim como à profissão
exercida. Atenção especial deve ser dada a quem desempenha trabalhos repetitivos e de
turno, como os agentes penitenciários.
O perfil desses trabalhadores aponta para a prevalência de homens na profissão,
jovens, negros ou pardos, com menos de dez anos de atuação, com ensino superior ou pós-
graduação e que têm religião. Apesar da insalubridade do ambiente, o uso da força como
forma de resolução de conflitos está diminuindo e isso pode estar ligado a uma melhor
formação educacional do profissional e ao incremento da vigilância dentro das unidades,
como o uso de câmeras.
Aspectos do perfil desses trabalhadores não interferem de forma significante nos
níveis de estresse, como também aponta a literatura (DIAL; DOWNEY; GOODLIN, 2010;
OWEN, 2006). De forma diferenciada dos achados de outras pesquisas (DIAL; DOWNEY;
GOODLIN, 2010), neste artigo não se constataram diferenças ligadas ao tema do estresse
segundo o gênero. Também na pesquisa de Griffin (2006) houve poucas diferenças entre
ambos os sexos. Ressalta-se que no estado do Rio de Janeiro, das 52 unidades prisionais
existentes apenas quatro são femininas, ou seja, apenas 7,7% das prisões atende ao sexo
feminino, fazendo com que o número de agentes homens seja muito maior que o de
mulheres, configurando um ambiente predominantemente masculino.
A natureza do trabalho de custódia é por si só um fator gerador de estresse; este fato
é agravado pelas inadequadas condições e organização do trabalho. Para Dejours (1992), a
organização do trabalho é a maior causadora de impacto sobre o funcionamento psíquico do
trabalhador, o que concorda com os resultados apresentados. Problemas com os
relacionamentos travados no ambiente laboral (LIPP, 2003), sobrecarga de trabalho,
condições materiais precárias e o desconforto das repetições de tarefas também são
103
Considerações finais
Uma vez que, para agentes penitenciários, o apoio social recebido é um dos mais
fortes fatores associados ao estresse (MISIS, 2013), considera-se importante chamar a
atenção da gestão penitenciária para a necessidade da melhoria das condições de trabalho
disponibilizadas. Ao poder judiciário cabe resolver definitivamente a questão da
superlotação das unidades prisionais, especialmente no Rio de Janeiro, um problema
constante e que se agrava, sem perspectiva de solução. Atualmente mais de 40% da
população carcerária não tem condenação (BRASIL, 2014), ou seja, são presos provisórios
104
Referências
AMADOR, F.S. Violência Policial: verso e reverso do sofrimento. Porto Alegre: Edunisc,
2002.
BRASIL. Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Brasília,
DF: Diário Oficial da União, 1984.
DEJOURS, C.; BÈGUE, F. Suicídio e trabalho: o que fazer? Brasília: Paralelo 15, 2010.
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generation and gender on work stress in prison. Journal of Criminal Justice, v. 38, n. 4, p.
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GRIFFIN, M.L. Gender and stress: A comparative assessment of sources of stress among
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MINAYO, M.C.S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28 ed. Petrópolis:
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MISIS, M. et al. The impact of correctional officer perceptions of inmates on job stress.
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106
MOON, B.; MAXWELL, S.R. The sources and consequences of corrections officers’
stress: A South Korean example. Journal of Criminal Justice, v. 32, n. 4, p. 359-370, Ago.
2004.
OWEN, S.S. Occupational stress among correctional supervisors. The Prison Journal, v.
86, n. 2, p. 164–81, 2006.
SELYE, H. Confusion and controversy in the stress field. Journal of Human Stress, v. 1,
n. 2, p. 37–44, 1975.
5.3 - ARTIGO 3
Abstract: The aim of this study is to analyze factors associated with the psychological
distress in correctional officers. Qualitative approaches (interviews / observation) and
quantitative ones (questionnaire / psychological distress scale) were associated. Coping
strategies are also discussed. Results: significant proportion (27.7%) of these professionals
presented psychological distress, without differences according to gender. Explanatory
multivariate model shows the associated factors for psychological distress among
correctional officers: practice some religion, have social support in the form of positive
interaction, count on the understanding of work colleagues, perceive the recognition of their
work by the population and have a good relationship with superiors or immediate boss. The
agents who report these factors are less likely to experience psychological distress.
Strategies to cope with the tensions experienced at work are related to their own home,
family, leisure and physical activities. There is a need to strengthen social support for the
institutional recognition given to these professionals and to solve the problem of ever-
increasing overcrowding that creates unhealthy working conditions. More professionals are
needed especially in shifts where they maintain direct contact with the prisoners; their work
needs to be more recognized, valued and better relational conditions at work have to be
stimulated.
Introdução
Esse artigo tem como objetivo analisar o sofrimento psíquico de agentes
penitenciários do Estado do Rio de Janeiro e apontar fatores associados no âmbito social,
destacando o ambiente de trabalho. Discutem-se ainda as estratégias de enfrentamento
utilizadas por esses profissionais a fim de minimizar os efeitos da tensão e do sofrimento
psíquico no processo de trabalho e em sua saúde mental.
O sistema penitenciário brasileiro passa por um momento de agravamento de sua
crise, com episódios de rebeliões e assassinatos cometidos com grande violência e que
refletem problemas nacionais como a superlotação das celas, as condições subumanas de
encarceramento, o número inadmissível de presos provisórios - 41% - (INFOPEN, 2014) e
o agravamento de conflitos entre facções rivais.
Como inerente à sua ocupação, agentes penitenciários devem garantir a segurança de
todos no ambiente prisional, incluindo os presos. Eles mantêm contato direto com a
população carcerária e lidam diariamente com esse ambiente perigoso e violento,
participando de eventos estressantes e traumáticos (BOUDOUKHA et al., 2011).
Responsáveis pela contenção, custódia e tratamento dos apenados, esses profissionais estão
frequentemente expostos a diversas situações geradoras de tensão, tais como intimidações,
agressões, ameaças, iminência de rebelião e de se tornarem reféns (THOMPSON, 1993).
Certas atividades laborais têm peculiaridades que podem exercer efeitos
psicológicos adversos em seus profissionais, como o trabalho monótono, que exige
concentração constante, trabalho em turnos, trabalho isolado e trabalho sob a ameaça de
violência (WHO, 1995). Todos esses aspectos são característicos das atividades de
profissionais de seguranca, entre eles os agentes penitenciários. No Brasil, Fernandes et al.
(2002) verificaram sofrimento psíquico entre esses trabalhadores e apontaram que eles
enfrentam um ambiente psicologicamente inadequado, condições infraestruturais
insuficientes, longas jornadas de trabalho, falta de tempo para o lazer e inadequada
organização do trabalho.
Apesar da guarda, vigilância e custódia de presos serem consideradas atividades e
serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio (BRASIL, 2007), agentes penitenciários fazem parte de um grupo de
trabalhadores com pouca visibilidade e reconhecimento social (RUMIN et al., 2011).
Revisão da literatura (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016) mostra que
110
internacionalmente, a partir de 2009, estudos com foco na saúde mental desses profissionais
vêm despertando interesse acadêmico, embora no Brasil ainda sejam escassos.
Para Dejours e Beguè (2010, p.31), “se o trabalho pode gerar o melhor e permitir a
muitos sobrepor com eficácia as falhas no terreno psicológico – assentadas pela
hereditariedade e pela infância – deve-se admitir que também pode, ao inverso,
desempenhar um papel preponderante nas descompensações". Nessa perspectiva teórica
(DEJOURS, 1992), o funcionamento psíquico do trabalhador sofre o impacto
principalmente da “organização do trabalho” que é definida pela divisão de tarefas entre os
operadores, os ritmos impostos, os modos operatórios prescritos e, sobretudo pela divisão
dos homens para garantir essa divisão de tarefas, representada pelas hierarquias, as
repartições de responsabilidades e os sistemas de controle.
O sofrimento psíquico (psychological distress) é uma dificuldade emocional que
associa sintomas psicológicos e físicos, sendo considerado (GOLDBERG; HUSLEY, 1992)
um transtorno mental comum (TMC), caracterizado por sintomas não psicóticos como
insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas
somáticas como dor de cabeça, dor abdominal, tosse ou fraqueza. Essas queixas são
manifestações ou respostas a um tipo de sofrimento psicológico e não estão
necessariamente associadas à existência de uma patologia orgânica diagnosticável. O
sofrimento psíquico no trabalho surge na tentativa do sujeito não adoecer, como um espaço
de luta contra o enlouquecimento e é nesse processo dinâmico entre saúde e doença que os
trabalhadores criam estratégias defensivas individuais e coletivas para se protegerem
(DEJOURS, 1992). As estratégias defensivas construídas, organizadas e gerenciadas
coletivamente visam transformar a percepção que os trabalhadores têm da realidade que os
faz sofrer (AMADOR, 2002).
Para lidar ou enfrentar os problemas que encontram no trabalho, os profissionais
utilizam estratégias de coping (ANTONOWISK, 1979), termo em inglês definido como a
capacidade de responder e manejar os recursos disponíveis no ambiente social para
satisfação, bem-estar e regulação dos efeitos negativos dos agentes estressores. O coping é
qualquer resposta às tensões externas da vida para evitar ou controlar o sofrimento
emocional, uma defesa individual que usa recursos sociais (redes interpessoais),
psicológicos (características de personalidade), comportamentos, cognições e a percepção
das pessoas para conviver ou tolerar a enfermidade.
111
Material e Método
Os dados ora apresentados sobre agentes penitenciários fazem parte de uma
pesquisa maior (MINAYO; CONSTANTINO, 2015) de âmbito quantitativo e qualitativo
realizada no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, pelo Departamento de Estudos sobre
Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Fundação Oswaldo Cruz, que investigou as
condições de saúde de presos em 31 unidades prisionais femininas e masculinas localizadas
no Estado do Rio de Janeiro entre 2013 e 2015.
Paralelamente à pesquisa com os presos, foi realizado um recorte de nove unidades
prisionais femininas e masculinas de regime fechado em que as condições de trabalho e
saúde dos agentes penitenciários foram investigadas, entre elas: todas as três unidades
localizadas em Japeri; todas as três existentes no município de Campos dos Goitacazes
(interior do Estado) e um sorteio aleatório de três unidades localizadas no complexo de
Gericinó (município do RJ). Da investigação quantitativa, todos os 454 inspetores em
efetivo exercício nas unidades selecionadas foram convidados a participar. Responderam
aos questionários 217 homens (68,1%) e 100 mulheres (31,9%), o que corresponde a 70%
da amostra pretendida. As “perdas” de 30% se justificam: 1) a aplicação do questionário
durante o período do trabalho se configurou, para alguns agentes, como uma atividade extra
ou sobrecarga e por isso alguns se recusaram a respondê-lo; 2) alguns postos dificultam o
preenchimento dos funcionários, como por exemplo, as portarias, devido à ininterrupta
demanda de serviços; 3) algum nível de desconfiança e de descrédito, por parte dos agentes,
em relação às pesquisas; 4) a distância em quilômetros de certas unidades, o que dificultou
as visitas aqueles presídios: quanto mais fácil o acesso do pesquisador, mais questionários
preenchidos; 5) peculiaridades das unidades e de seu efetivo carcerário. Das entrevistas,
com abordagem qualitativa, participaram 26 homens (68,4%) e 12 mulheres (31,6%).
O questionário padronizado aplicado aos agentes era anônimo e autoaplicável;
continha perguntas sobre dados socioeconômicos e demográficos, condições de trabalho, de
saúde, qualidade de vida, consumo de substâncias e incluiu a escala de transtornos mentais
comuns, o Self-Reported Questionnaire - SRQ20, desenvolvida por Harding et al. (1980) e
113
validada no Brasil por Mari e Williams (1986), que mede a existência de sofrimento
psíquico ou distúrbios psiquiátricos menores. O questionário possui originalmente 20
questões referentes a distúrbios não psicóticos e quatro sobre distúrbios psicóticos.
Utilizamos nessa pesquisa apenas as 20 questões referentes a distúrbios não psicóticos. O
ponto de corte proposto para a escala é de 7 para homens e 8 para mulheres. Cada ponto
equivale a uma resposta positiva relativa às perguntas sobre: dores de cabeça frequentes;
falta de apetite; dormir mal; assustar-se com facilidade; apresentar tremor nas mãos; sentir-
se nervoso, tenso ou agitado; apresentar má digestão; sentir dificuldade de pensar com
clareza; sentir-se triste; chorar mais do que o habitual; ter dificuldade em realizar tarefas
diárias com satisfação; sentir dificuldade em tomar decisões; considerar que o trabalho lhe
é penoso; sentir-se incapaz de ser útil; não ter mais interesse pelas coisas; sentir-se inútil;
ideias suicidas; sentir desconforto estomacal; sentir cansaço constante; cansar-se com
facilidade.
Para verificar o nível de apoio social, ou seja, se o sujeito conta com o apoio de
outras pessoas, foi utilizada a escala de apoio social, desenvolvida por Sherbourne e
Stewart e adaptada para a população brasileira por Chor, Griepe e Faertein (2001). Ela
possui 19 itens relativos a apoio social e cinco sobre a rede social, nessa pesquisa
utilizamos apenas os 19 itens referentes ao apoio social. A referida escala é constituída de
cinco dimensões: emocional (mede o apoio recebido por meio da confiança, da
disponibilidade em ouvir, compartilhar preocupações/medos e compreender seus
problemas); de informação (mede o apoio por meio de sugestões de outros, bons conselhos,
informação e conselhos desejados); material (mede a ajuda recebida caso a pessoa adoeça,
de cama, para levá-la ao médico, preparar refeições e executar tarefas diárias); afetiva
(mede o apoio pela demonstração de afeto e amor, além de gestos como dar um abraço); e
de interação positiva (mede a capacidade de inter-relação, de divertirem-se em grupo,
relaxar, fazer coisas agradáveis e distrair a cabeça). Cinco escores são obtidos, um para
cada dimensão.
As variáveis explicativas para o sofrimento psíquico vivenciado pelos agentes
penitenciários, apresentadas nas tabelas 1 e 2, estão relacionadas ao perfil profissional e aos
fatores associados no âmbito social e do próprio trabalho. As variáveis analisadas são: perfil
do profissional (sexo, idade, cor da pele, situação conjugal, número de filhos, religião e
escolaridade) e os fatores considerados relacionados ao apoio social na vida, pesquisados a
114
partir da escala de apoio social (OP. CIT., 2001): apoio afetivo, interação positiva, apoio
emocional, apoio de informação e apoio material. Também entraram na análise as variáveis
de apoio social originado no próprio trabalho como: horário atual; salário; reconhecimento
de seu mérito pela instituição, pela população e pelos colegas (notas entre 0 e 10);
relacionamento com chefe imediato, com colegas de trabalho, com os presos e com seus
superiores; se as pessoas se relacionam bem umas com as outras; se o ambiente é calmo e
agradável; se conta com apoio dos colegas; se não estando em um bom dia, os colegas
compreendem e se você gosta de trabalhar com os seus colegas.
Para modelagem foram empregados os modelos de regressão logística, sendo a
variável resposta: “tem sofrimento psíquico” ou “não tem sofrimento psíquico”. Primeiro
foram feitos modelos de regressão logística simples a fim de selecionar os fatores que iriam
compor o modelo completo. O nível de significância para o teste de Wald nestes modelos
foi de 0,05. O método de seleção do modelo completo foi o stepwise com eliminação
bidirecional, ou seja, inicia-se com um modelo nulo (somente com o intercepto) e então a
cada passo ou variável que entra no modelo, avalia-se, através do menor AIC – Akaike
Information Criterion, se uma variável merece sair ou ser acrescentada ao modelo múltiplo.
Razões de chances (OR) com intervalos de confiança de 95% foram incluídas na análise.
Qualitativamente utilizamos a técnica de entrevistas individuais, baseada em roteiro
com questões sobre condições de trabalho, condições de saúde física e mental, prazer no
trabalho, relações no trabalho, relacionamento familiar, atividades de lazer, estudo, religião,
sugestões para melhorar as atuais condições de trabalho, histórico de tratamento
psicológico ou psiquiátrico entre outras. Elas foram realizadas durante o horário de
trabalho, com duração média de 45 minutos, sendo gravadas e transcritas. O critério
adotado para definir o número de entrevistas em cada unidade foi o de saturação do
conteúdo da experiência de trabalho, encontrando-se suficiência no aprofundamento das
questões relevantes e na abrangência dos atores principais (MINAYO, 2010). Mais de 40
visitas as unidades prisionais foram realizadas, gerando relatórios de campo com
observações qualitativas feitas pelos pesquisadores.
A análise e a interpretação dos dados qualitativos se basearam no enfoque da análise
temática, na perspectiva da análise de conteúdo de Bardin (1979), adaptada por Minayo
(2010). Em relação ao sofrimento psíquico destacaram-se categorias centrais como: os
sintomas, as mudanças comportamentais percebidas, o relacionamento direto com os
115
Resultados
A tabela 1 apresenta o perfil dos profissionais e a distribuição de fatores
considerados associados ao sofrimento psíquico, relacionados ao âmbito social e do próprio
trabalho.
Por conta própria procuro equilibrar meu lado espiritual com meditações e
práticas espirituais, no centro espírita.
116
Sofrimento psíquico
Dentre os 303 agentes penitenciários avaliados na pesquisa, 27,7% apresentam
sofrimento psíquico (escala de transtornos mentais comuns - SRQ20), com percentual
similar em ambos os sexos. Os sintomas relativos ao sofrimento psíquico mais
frequentemente apontados pelos agentes foram: dormir mal (53,0%), sentir-se nervoso,
tenso ou agitado (52,0%). Em seguida foram relatados sintomas como ter dores de cabeça
frequentemente (39,7%), cansaço o tempo todo (33,4%), se cansar com facilidade (32,9%),
ter-se sentido triste ultimamente (27,6%), ter má digestão (26,4%) e sensações
desagradáveis no estômago (24,5%), além de dificuldade para realizar com satisfação suas
atividades diárias (22,6%). As ideias suicidas apareceram em um nível bem menor (3,63%),
porém preocupante.
As entrevistas analisadas qualitativamente, não demonstraram diferenças relativas
ao perfil dos agentes, assim como também não houve diferenciação de gênero no discurso
de homens e mulheres em relação ao sofrimento psíquico. Durante as entrevistas foram
ressaltados os sintomas físicos e psíquicos, que percebem em si mesmos, gerados pelo
desgaste físico e mental a partir de suas atividades e de sua rotina como agente
119
Quando a gente entra aqui, a gente é uma pessoa, passa um ano aqui, até
menos de um ano, você vira outra: fica mais agressivo, sem paciência, fala
mais alto, diz mais palavrão. É uma mudança meio chata, mas ocorre.
A última vez que eu faltei, que eu fui ao meu médico, ele falou que o meu
problema era psicossomático exatamente por ser um trabalho estressante,
que a quantidade de adrenalina no corpo estava acima do que deveria estar,
e que consequentemente gerava sintoma psicossomático. Nessa situação
específica eu estava com essa dor de estômago e diarreia.
Quando a gente tá aqui dentro, a gente come bastante, você tem que se
policiar, é ansiedade mesmo.
Percebe que você tá menos paciente com as coisas, às vezes fala com
alguém como se tivesse falando com um preso. Você acaba levando um
pouco daqui pra casa.
Existe uma tensão pré-plantão, descrita por vários agentes durante as entrevistas,
que é um conjunto de sintomas percebidos na véspera do próximo plantão:
Por exemplo, quando eu sei que está chegando a hora de vir começa a bater
aquele desânimo, aí de vez em quando dá aquela dor no estômago, às vezes
uma tensão no corpo, na nuca. Afeta a sua saúde e a sua relação com
terceiros.
.
As entrevistas também desvendam a autoavaliação dos agentes sobre os possíveis
fatores, relacionados à sua rotina de trabalho, que propiciam o sofrimento psíquico, entre
120
eles o relacionamento direto e constante com os presos que é descrito como tenso:
A pressão psicológica é muito grande, o interno tenta influenciar o guarda.
Se o coletivo está agitado, a gente fica agitada, a gente tem que gritar pra
botar elas em ordem: uma contra 60.
Outro fator gerador de tensão, para quem trabalha nos plantões, são as ameaças dos
detentos, descritas pelos agentes como constantes:
Ao lidar com o preso você está em constante ameaça, mesmo que seja
velada.
Já teve visita que falou que ia me pegar do lado de fora, na época que eu
trabalhava na revista, ela me ameaçou.
O preso faz ameaça sempre, sempre. Eles são a maioria, são oito inspetores
para lidar com 1.500 presos. Ainda que velada, a ameaça é constante.
No ano passado eu estava tomando medicação pra dormir, foi uma das
primeiras ameaças que eu sofri, assim, a mais forte. Uma mulher [visitante]
apontando pra minha cabeça, isso me chocou um pouco, apontando pra
minha cabeça como se fosse atirar.
Eu acho que nós não temos esse papel de ressocialização, o inspetor não. A
gente não educa o preso, a gente orienta, eu não sou agente ressocializador,
não sou mesmo!
Fatores associados
Os fatores considerados associados ao sofrimento psíquico entre os agentes se
relacionam especialmente com o reconhecimento no trabalho e com o apoio social na vida e
no ambiente do trabalho.
Em relação aos tipos de apoio social sentidos na vida (CHOR; GRIEP; FAERTEIN,
2001) constatou-se associação entre menor apoio afetivo, emocional, de informação e
material, além de interação positiva com maior existência de sofrimento psíquico: os
agentes que apresentam uma maior percepção de apoio social têm menores chances de
apresentar sofrimento psíquico. Nas entrevistas o apoio familiar foi citado como muito
importante na prevenção e alívio da tensão gerada no trabalho (tabela 2).
Nesse primeiro ano [de trabalho] eu mudei, mas foi bom que a minha
família falou comigo: “O que está acontecendo, o que foi? ” Só que você
não sente. Dali para frente eu estou tentando mudar até hoje.
Aqui com o tempo a gente vai criando afinidade, os colegas ajudam uns aos
outros, quando um colega tá com problema, o outro ajuda.
Eu acho que a sociedade detesta a gente! Para eles todos são bandidos,
todos são ladrões, todos são corruptos, e não é assim. Dentro do sistema
penitenciário tem muita gente honesta, tem muita gente boa que eu
conheço.
O companheirismo que se tem aqui dentro, a amizade que você cria aqui
dentro, com um mês você está muito intima da sua colega, então assim, é
um ambiente bacana de se trabalhar.
sofrimento psíquico. Aqueles agentes que relatam pior padrão relacional no trabalho
apresentam chance maior de sofrimento psíquico.
Gosto de sair com a minha família, gosto de pegar a minha mulher e o meu
filho pra dar um passeio. É a minha maneira de não deixar isso aqui tomar
conta da minha vida, essa é a minha maneira. Acho que cada colega deveria
procurar a sua.
Se o colega não tiver a válvula de escape dele, porque tem colega que tá
aqui e não tem vida social, eles deixam os problemas daqui da unidade
afetarem a vida social deles mesmos.
Sobre os cuidados com sua saúde mental, 17,3% dos agentes já fizeram tratamento
regular de psicoterapia ou psiquiatria e 26,4% relacionaram a necessidade desse tratamento
ao trabalho que exercem como agente penitenciário. Os que não fizeram tratamento regular
de psicoterapia/psiquiatria ou não relacionaram esse tratamento ao seu trabalho,
apresentaram menores chances de sofrimento psíquico do que aqueles que já fizeram
tratamento ou percebem relação do tratamento com o trabalho, indicando existir uma busca
por ajuda profissional dentre os agentes com mais sofrimento psíquico. Os depoimentos
originados das entrevistas evidenciam que o recurso do tratamento já foi utilizado em
alguns casos.
Tem vezes de sair daqui dizendo que não tô aguentando mais! Já fiz
tratamento psicológico.
A maior parte das pessoas que tem o mesmo tempo de trabalho que eu, já
fez tratamento psicológico. Muitas tomam medicamento controlado, e
algumas até já se aposentaram em função desse problema, eu realmente sou
uma exceção, graças a Deus.
Eu já tive colega de turma que cometeu suicídio porque não aguentou, era
naquela época pra trás, hoje em dia nem tanto, naquela época quando o
sistema prisional era muito pesado.
Discussão
Avaliado nessa pesquisa, o sofrimento psíquico de agentes penitenciários teve
prevalência de 27,7%, índice mais elevado que em pesquisas com professores - 21,8%
130
(LYRA et al., 2013), com profissionais de saúde - 19,7% (MOREIRA et al., 2017) e até
com policiais civis do RJ - 20,3% (MINAYO; SOUZA, 2003). No entanto esse índice foi
menor que em pesquisa com policiais militares do RJ - 33,6% (MINAYO et al., 2008).
Cabe ressaltar que, por ser apenas de rastreamento, a escala utilizada não permite o
estabelecimento de diagnósticos. Além disso, estudos adotam diferentes pontos de corte o
que, por vezes, prejudica a comparação de resultados entre eles. Embora essa escala refira-
se ao sofrimento psíquico na vida e não particularmente ocupacional, a profissão exercida
está diretamente ligada aos hábitos de vida e exerce influência na saúde física e mental do
trabalhador.
Sintomas físicos e psicológicos ligados ao sofrimento psíquico são descritos pelos
agentes penitenciários e correspondem à literatura sobre o tema (BEZERRA; ASSIS;
CONSTANTINO, 2016). Em suas próprias palavras sentem: o aumento da ansiedade, da
agressividade, do nervosismo, falta de paciência, dificuldade para dormir, alteração na
comunicação: como passar a falar mais alto do que antes, aumento de peso, incremento da
tensão e do estresse e aparecimento de sintomas como dor no estômago e diarreia.
Entre os possíveis fatores que propiciam o sofrimento psíquico estão o
relacionamento direto, constante e tenso com os presos, as ameaças constantes dos
detentos, a superlotação crescente, a falta de recursos humanos e a sobrecarga de trabalho,
fatores que correspondem aos destacados em artigo de revisão sobre o tema (OP. CIT.,
2016). Já o “conflito de papéis” indicado como fator de risco para sofrimento psíquico em
agentes penitenciários na França e no Canadá (MOULIN; SEVIN, 2012; DOWDEN;
TELLIER, 2004), nesta pesquisa não foi identificado. Percebem suas atividades enquanto
de custódia e segurança. As atividades educativas, de saúde entre outras irão apenas
viabilizá-las, negando qualquer papel ativo na ressocialização. De acordo com a CBO
(BRASIL, 2002) espera-se dos agentes penitenciários atividades ligadas à segurança,
fiscalização, recepção, controle, escolta e comunicação, nada em relação à educação ou
ressocialização é descrito como função ou esperado deles.
Fatores de proteção aos problemas emocionais estão especialmente relacionados
com o apoio social como indica a literatura (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016).
Os agentes possuem apoio social principalmente vindo da família e de seus colegas de
trabalho. O ambiente prisional gera muita insegurança, por isso eles se unem para enfrentar
o ambiente hostil. Quanto maior é sua percepção desse apoio social, menores são as
131
chances de apresentarem sofrimento psíquico. A maioria é casada e tem filhos, possui bom
nível de escolaridade e conta com apoio religioso. Essa última variável mostra-se associada
ao sofrimento psíquico de forma protetiva. A experiência religiosa contribui como um
suporte emocional e social em situações de sofrimento, através dela os indivíduos podem se
sentir mais motivados, acolhidos e fortes para enfrentar momentos de dificuldade (MOTA
et al., 2012).
Os fatores de proteção como reconhecimento institucional e da população em geral
não são bem avaliados pelos agentes. Para eles existe muito preconceito em relação à
profissão sendo na maioria das vezes taxados de violentos e corruptos. Percebem que as
pessoas não entendem sua profissão e seu valor e que a mídia ajuda a incrementar essa
visão negativa noticiando apenas o que há de pior na instituição. “A lógica de transformar
em notícia aquilo que foge da normalidade em nada valoriza o trabalho de agentes”.
(LOURENÇO, 2012, p.100)
O sistema de plantões (escala de 24h por 72 h) está mais associado ao sofrimento
psíquico do que o trabalho diário de 8 horas, de acordo com análise univariada. Além dos
problemas relativos ao relógio biológico (trabalham quando de outra forma estariam
dormindo), que causam mudanças fisiológicas, psicológicas e comportamentais
(SWENSON, 2008), agentes que trabalham em plantões têm contato mais direto com os
presos e estão em número insuficiente o que gera muita insegurança. Em relação ao salário
os agentes pareciam satisfeitos, mas sabiam que sem reajustes periódicos, logo estaria
defasado. Posteriormente à pesquisa ocorreu a crise econômica do governo do estado, com
atrasos de salários e ocorrência de greve, podendo ter havido modificação nesta avaliação.
A maioria das estratégias de enfrentamento ao sofrimento psíquico mostra-se ligada
ao lar, à família e ao lazer. A realização de atividades físicas também se mostrou associada
ao sofrimento e a maioria dos agentes declara praticá-las com regularidade. Percebe-se que
as alternativas de lazer ficam restritas talvez por duas razões: medo de ser reconhecido em
lugares muito movimentados ou a própria necessidade de descansar por períodos mais
longos após o trabalho (LOURENÇO, 2012). Também foram consideradas enquanto
estratégias a busca por cuidados com sua saúde mental, os agentes com mais sofrimento
psíquico foram os que mais buscaram esse tipo de ajuda. Quando estratégias positivas para
a saúde não se mostram suficientes, outras como o uso de álcool e/ou drogas podem ser
eventualmente utilizadas: os agentes que têm mais sofrimento usam mais álcool ou
132
tranquilizantes.
Enquanto limitação do artigo aponta-se o fato de não investigar um maior número
de unidades no complexo de Gericinó, onde se encontra o maior número de unidades
prisionais, o que não permite a generalização para todo o Estado.
Considerações finais
A literatura, a mídia e até o senso comum nacional e internacional sabem que o
ambiente prisional violento é insalubre e não se mostra adequado ao ser humano, nem para
presos e nem para profissionais carcerários. O trabalho diário em um ambiente como esse
tem suas consequências na saúde do trabalhador. O objeto desse estudo não diz respeito aos
presos, embora eles sejam os mais atingidos pelo ambiente insalubre das unidades
prisionais. No entanto, cabe informar que o “lema” da instituição penitenciária no Rio de
Janeiro é “ressocializar para o futuro conquistar”. Ao que parece esse lema é retórico, uma
vez que não pode ser concretizado com precárias condições de vida e trabalho, e neste
contexto os próprios agentes não se percebem com este papel.
A insalubridade do ambiente prisional atualmente tem seu foco mais grave na
superlotação que precisa ser resolvida definitivamente e acredita-se que não seja
construindo cada vez mais unidades prisionais e sim revendo as leis (presos provisórios
41%) e as formas de punir. Analisando-se friamente, percebe-se uma clientela
desvalorizada socialmente sendo assistida por profissionais também com pouco
reconhecimento social (RUMIN et al., 2011).
As observações realizadas e os depoimentos dos agentes mostram que os
profissionais que trabalham nos “plantões” são mais vulneráveis ao desgaste físico e
mental. É um posto de trabalho desvalorizado até mesmo entre os próprios agentes, onde a
maioria deles não gostaria de estar. No entanto também é a atividade fim (custodiar,
viabilizar direitos, estar em contato com o preso) e por isso deve ser valorizada, com maior
efetivo e gratificações, a fim de se trabalhar com mais segurança e paz.
A formação profissional também é um importante veículo de valorização tanto
para o trabalhador quanto para a instituição que de alguma forma se modernizam. É uma
forma de apoio social que visa à melhoria nas aptidões dos profissionais, na qualidade da
comunicação, dos relacionamentos e promove a atualização sobre legislações, tecnologias e
exigências práticas para as atividades diárias. Quem se prepara tem mais disposição para
133
Referências
CANESQUI, Ana Maria; BARSAGLINI, Reni Aparecida. Apoio social e saúde: pontos de
vista das ciências sociais e humanas. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 5, p.
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6. DISCUSSÃO
ambiente de trabalho, onde a saúde é primordial para se levar a vida e o próprio trabalho,
torna-se difícil e até mesmo uma ameaça. Essa questão remete ao marco teórico da
psicodinâmica do trabalho (DEJOURS, 1992), mais especificamente às estratégias
defensivas e ao exemplo da ideologia coletiva da vergonha que faz com que o trabalhador
disfarce sua doença ou problemas através do silêncio, que pode aumentar o sofrimento,
levar à recusa de cuidados, à negação da doença e ao agravamento dela.
A pesquisa de Murta, Laros e Trócoli et al. (2005) sobre o manejo de estresse
ocupacional aborda que intervenções para promoção da saúde no trabalho podem estar
focadas na organização de trabalho, no trabalhador ou podem ser intervenções combinadas.
Os autores descrevem as divergências sobre o tema, mas argumentam que do ponto de vista
ético, questiona-se ensinar o indivíduo a lidar com características organizacionais nocivas à
sua saúde, quando estas poderiam ser modificadas em intervenções preventivas. As
intervenções organizacionais ou intervenções combinadas seriam as mais indicadas para o
ambiente ocupacional, por serem mais preventivas e com efeitos mais duradouros. O mais
importante, no entanto, é considerar que os transtornos produzidos pelo trabalho devem ser
abordados como problema organizacional e não como falhas individuais, para que eles
sejam solucionados como qualquer outro risco à saúde e à segurança no local de trabalho.
(EU-OSHA, 2012). As estratégias de enfrentamento ao sofrimento psíquico valorizadas
pelos agentes nesta pesquisa, como já descritas, são basicamente voltadas para o
trabalhador na busca por apoio social.
A presença de violência nos ambientes prisionais foi outro aspecto evidenciado
nesta pesquisa com agentes penitenciários, mas que não foi discutido nos três artigos
apresentados. Esses dados serão analisados em futuro artigo, no entanto, é importante
relembrar que o trabalho de agentes penitenciários se caracteriza por ser uma prestação de
serviços, onde o foco principal não é um produto a ser finalizado e sim as relações que se
travam durante o exercício profissional, a interação entre trabalhadores e
clientes/usuários/destinatários/consumidores (MINAYO-GOMEZ, 2011). Essas relações se
dão em contextos estruturais muitas vezes violentos e prejudiciais a todos que estão no
ambiente físico e relacional: apenados e trabalhadores. (LOURENÇO, 2012; MINAYO;
ASSIS; CONSTANTINO, 2015),
O foco desta tese são os agentes penitenciários que realizam a custódia de pessoas
presas, ou seja, o foco é a relação agente/preso. Nesse sentido já apresentamos a análise das
144
impressões dos agentes sobre essas relações que se configuram como tensas estressantes e
baseadas em ameaças. No entanto é de suma importância se pesquisar o que os presos
pensam sobre seu relacionamento com agentes penitenciários.
No livro Deserdados Sociais (MINAYO; ASSIS; CONSTANTINO, 2015), resultado
de recente pesquisa que analisa as condições de vida e de saúde dos presos no Rio de
Janeiro, não é de se estranhar que a análise da compreensão dos presos sobre seu
relacionamento com os agentes penitenciários apareça na seção denominada “Análise da
(In) Satisfação dos presos”. A insatisfação com esse relacionamento é bastante citada pelos
apenados: notas de 0 a 10 foram atribuídas por eles a esse relacionamento e a média dada
pelos homens presos foi de 3,3 e pelas mulheres presas foi um pouco mais alta (5,2). São
avaliações negativas sobre uma relação tão crucial, constante e necessária na perspectiva do
encarceramento. Os agentes representam autoridades hierárquicas as quais os presos se
veem confrontados e que exigem deles disciplina e involuntária colaboração e obediência
(OP. CIT.), e dessa forma é necessário desenvolver estratégias de convivência e
comunicação.
O artigo 56 (III) do Regulamento do Sistema Penal do Estado do Rio de Janeiro
(Decreto Estadual RJ/ 8.897/86) garante estar entre os direitos do preso: “não sofrer, em
nenhuma hipótese, formas aviltantes de tratamento”. No estudo já citado os presos relatam
vários tipos de vivência de tortura e punições físicas promovidas por agentes penitenciários
ocorridas, na maioria das vezes, em unidades masculinas. Relatam castigos como
isolamento em celas com péssimas condições de uso, agressões físicas e uso indiscriminado
de gás de pimenta. Os presos também relatam atitudes discriminatórias dos funcionários em
relação a sua orientação sexual, condição social e cor da pele. O maior número de queixas
sobre preconceitos e violência psicológica ocorre entre as mulheres. Segundo elas também
passam por maus tratos devido a sua condição de detentas, pelo tipo de crime e pela
aparência física.
Em suma é um relacionamento conturbado, a interação é tensa e estressante em um
clima de opressão e de dificuldades de comunicação. Segundo as autoras (OP.CIT.), entre
eles há uma relação hierárquica que aos presos cabe obedecer e calar, o que vai de encontro
ao objetivo ressocializador que exige mais diálogo e compreensão. Queixam-se da
desumanidade dos agentes, sobretudo em relação a dificuldade para socorrer presos
doentes, alguns disseram abertamente que sofrem constrangimentos físicos, mentais e
145
Segundo elas, como em todo ambiente profissional acontece de um inspetor namorar uma
inspetora; no entanto, há insinuações de que a inspetora só está num posto de chefia, por
exemplo, porque namora ou é casada com alguém. Não se valoriza o trabalho da mulher em
si, mas sempre tendem a vinculá-lo a relações pessoais e à subordinação ao poder
masculino. É necessário se reafirmar como profissional a todo o momento: “eu tenho
matrícula, como ele, eu não entrei pela janela”; “de vez em quando a gente escuta uma
piadinha”; ” já ouvi algumas vezes falarem que lugar de mulher é no fogão”.
Assim como na pesquisa de Tschiedel e Monteiro (2013) realizada no Rio Grande
do Sul apenas com agentes mulheres, aqui no Rio elas também relataram vivências de
prazer relacionadas ao seu salário, à estabilidade no emprego, e ao horário de trabalho
“flexível” (plantões). Essa satisfação em relação à escala é justificada por elas mesmas,
pois sobra mais tempo para organizarem a casa e dar atenção para a família. Mostram-se
mais preocupadas que os homens com suas obrigações e tarefas domésticas e a elas
dedicam mais tempo do que os homens. Para eles o tempo que sobra após o trabalho é para
trabalhar mais ou estudar. Percebe-se que os tempos estão mudando, mas nem tanto. Besse
(1999) afirmava que o emprego feminino não liberava as mulheres de seus papéis
familiares. Havia e há até hoje, um enorme empenho em procurar conciliar o emprego
feminino com os papéis domésticos e familiares o que configura a “dupla jornada
feminina”, ou seja, a mulher, além do trabalho fora de casa, assume para si a
responsabilidade por todo o trabalho doméstico e pelos cuidados da família.
As agentes penitenciárias relataram sofrimento em relação à atividade da “revista
íntima”, fator também encontrado por Tschiedel e Monteiro (2013). Durante a realização da
coleta de dados para a pesquisa (ano de 2014) ela ainda existia, no entanto desde abril de
2016 as revistas íntimas em mulheres, também chamadas revistas vexatórias, estão
proibidas no país. A lei federal nº 13.271/2016 vedou a prática em empresas públicas e
privadas, inclusive presídios. A visitante era revistada pela agente penitenciária e precisava
ficar nua, agachada e dar um salto para a identificação de qualquer objeto escondido dentro
de seu corpo. O principal argumento para a criação dessa lei foi a preservação da
intimidade e da dignidade humana, além de não existir norma que a autorize. Essa
atividade, exclusiva da mulher agente penitenciária, lhe causava sofrimento devido ao
constrangimento de se ter que impor um constrangimento à visitante, muitas vezes mães e
idosas.
147
Embora quantitativamente não haja diferença nos níveis de sofrimento psíquico e estresse,
pode-se compreender que há especificidades em seus trabalhos que merecem ser mais
investigadas em pesquisas futuras. O ambiente prisional predominantemente masculino
leva as mulheres a enfrentarem desafios específicos em seu trabalho nessas instituições
(BEZERRA, ASSIS e CONSTANTINO, 2016). As pressões adicionais no local de trabalho
relacionadas ao gênero certamente existem, como se dá em toda profissão tradicionalmente
exercida por homens (BEZERRA, MINAYO e CONSTANTINO, 2012). Essas agentes
relatam, pois percebem em sua rotina de trabalho o preconceito, a discriminação e o assédio
sofridos, no entanto também são apontados fatores positivos ou de proteção para a mulher
que trabalha no ambiente prisional, como a proteção dos colegas/homens/agentes e o fato
da “clientela”, ou seja, da mulher presa ser menos perigosa que o homem preso. Outro fator
de proteção é que a superlotação em presídios femininos existe, mas em índices muito mais
baixos que os masculinos, tanto que as agentes não se referiram a ela. Assim também a falta
de recursos humanos (principalmente nas turmas dos plantões) não aparece como um
problema entre as mulheres agentes, pois há muito mais agentes mulheres para custodiar as
mulheres presas do que homens agentes para custodiar os homens presos. Conclui-se que os
aspectos positivos da atividade compensam outros negativos, e nesse sentido, elas se
adaptam ao ambiente muito mais do que o ambiente se adapta a elas (SCHAUFELI e
PEETERS, 2000).
Entre as limitações da tese aponta-se a não utilização de escala específica para aferir
estresse no trabalho, assim, também a necessidade de restringir as unidades pesquisadas é
uma limitação, pois não permite extrapolar os dados para todo o sistema prisional do
Estado. A restrição de tempo e a ausência de equipe para a pesquisa impediu de analisar
todos os dados obtidos através do questionário e entrevistas: por exemplo, os dados sobre
violência que serão analisados posteriormente em outro artigo.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
relação à sua saúde (dados não apresentados). O grande número de licenças para tratamento
de saúde indica a necessidade de se aprofundarem os estudos sobre o tema e de se
utilizarem esses conhecimentos para gerar ações que se traduzam em melhores condições
de trabalho e que possam prevenir os agravos à saúde desses trabalhadores. Essa foi uma
reivindicação dos agentes durante a pesquisa: serem informados sobre seu resultado, assim
como seus superiores, a fim de serem tomadas medidas positivas para a melhoria das
condições em seu cotidiano laboral. Embora esses profissionais relacionem suas condições
de saúde ao ambiente prisional também fica evidente que eles gostam do que fazem e se
orgulham de seu trabalho, por isso concordaram em participar desse estudo e declararam
sua esperança em ações efetivas de melhoria das condições de trabalho.
Embora as relações entre os colegas no interior das unidades sejam colaborativas,
respeitosas e muitas vezes de amizade, o reconhecimento - capaz de transformar o
sofrimento do trabalho em prazer e fortalecer a identidade do trabalhador (DEJOURS;
BENGUÈ, 2010), quase nunca está presente no cotidiano dos agentes penitenciários, ao
contrário, são lembrados apenas quando há qualquer irregularidade ou distúrbio. Isso não
quer dizer que não existam “maus funcionários”, eles existem em todas as profissões.
Também não se está “protegendo” a categoria ou mostrando “ingenuidade” na análise de
sua atividade. Segundo Lourenço (2012) fica patente que existem problemas relacionados à
criminalidade entre trabalhadores que atuam dentro das prisões (nao só os agentes). No
entanto, nesta pesquisa o foco não é esse, focaliza-se a saúde do trabalhador.
Entende-se que mesmo os agentes que não desenvolveram sintomas ou não
adoeceram estão cotidianamente submetidos às pressões e exigências das tarefas que
realizam. Como lembra Dejours (1992), o sofrimento no trabalho é um estado compatível
com a normalidade, ou seja, ele não configura uma doença mental, mas é vivenciado pelo
trabalhador por meio de mecanismos adaptativos. Ou seja, muitos trabalhadores buscam
prazer e fuga do sofrimento e tentam se autodesenvolver, tornando as adversidades, mesmo
nos empregos mais difíceis, uma fonte de criatividade (DEJOURS, 1992; AMADOR,
2002), outros a partir desse sofrimento desenvolvem doenças, estresse ou depressão.
Mesmo com péssimas condições de trabalho percebe-se no discurso dos agentes
penitenciários do Rio de Janeiro alguma melhoria das condições de trabalho distribuída ao
longo dos anos, mas que precisam ainda melhorar muito. O salário não foi uma questão
reivindicada durante a pesquisa de campo. Nesta profissão, como em tantas outras, se
150
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA
QUESTIONÁRIO
______________________________________________________________
162
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA
ENTREVISTA
APÊNDICE C
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM AGENTES PENITENCIÁRIOS
Foco: processo de trabalho e saúde mental: se tem sofrimento psíquico, relação com o
processo de trabalho, quais as causas, consequências e estratégias para lidar com ele.
1. Caracterização
Anotar os seguintes dados: idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade, tempo de
trabalho.
2. Como foi a sua entrada e adaptação como agente/a penitenciário? (investigar
motivações, formação inicial, planos de mudança)
3. Qual é a sua função? Me fale sobre a sua rotina de trabalho. (como vê esse trabalho,
valorização pessoal, reconhecimento social, familiar.)
4. Como avalia suas condições de trabalho nesta unidade? (investigar infraestrutura,
carga horária, remuneração, alojamento, alimentação)
5. Como são as relações aqui no seu trabalho? (com colegas, com presos, com chefia,
diretor)
6. Como você avalia seu estado de saúde física atualmente? Já foi diagnosticado com
alguma doença crônica (diabetes, colesterol alto, hipertensão, outra)?Tem plano de
saúde?
7. Como você avalia seu estado de saúde mental atualmente? Você acha que as
condições/rotina de trabalho no sistema penitenciário podem afetar a saúde mental
do agente? De que forma? Causas consequências, estratégias para lidar.
8. Já recebeu ou recebe algum tratamento psicológico ou psiquiátrico, ou já teve
vontade de procurar? (verificar porque não procurou e o que pensa sobre isso)
9. Você acha que na rotina de um agente penitenciário acontecem experiências de
violência, sofrida ou perpetrada?
10. Em sua opinião, o trabalho que realiza atualmente gera estresse? O que é mais
estressante no seu trabalho?
11. O que tem de positivo no seu trabalho?
12. Como é a sua rotina de vida fora da SEAP? (outro trabalho, atividades de lazer,
estudo, religião etc.)
165
13. Como é o seu relacionamento com a sua família? O trabalho interfere nessa relação?
(qualidade dos vínculos familiares)
14. Percebe diferenças no trabalho de um homem agente e de uma mulher agentea?
(investigar adequações para o trabalho feminino, discriminações, assédio)
15. Qual a sua relação com o seu sindicato? O que pensa sobre a sua atuação? Tem
sugestões para melhorar sua atuação?
16. Você tem sugestões para melhorar as atuais condições de trabalho?
Ministério da Saúde
Fundação Oswaldo Cruz
Escola Nacional de Saúde Pública
Pesquisa
“Estudo das Condições de Trabalho e Saúde Mental dos
Inspetores Penitenciários do Estado do Rio de Janeiro”
Caro/a Inspetor/a,
A Fundação Oswaldo Cruz agradece a sua participação. As informações que você irá
fornecer servirão para conhecer e retratar melhor as diferentes realidades do trabalho de
inspetores penitenciários.
O questionário é anônimo, não há como identificar quem o respondeu. Eles serão
enviados diretamente para a Fundação Oswaldo Cruz e apenas a equipe da pesquisa terá
acesso a eles.
Não existem respostas certas ou erradas para as questões, por isso a sua
sinceridade é muito importante. Leia com atenção cada pergunta e suas opções de
resposta. Não deixe de responder a nenhuma questão.
Se você marcar errado alguma questão, escreva “nulo” ao lado e assinale a opção
correta.
Antes de entregar o questionário, por favor, faça uma revisão para ver se não
deixou nenhuma resposta em branco.
Agradecemos sua colaboração!
BLOCO 1
Informações gerais sobre dados pessoais como ocupação, moradia, rendimentos e
outros.
1
4.Qual é a sua situação conjugal atual (não necessariamente estado
civil)?
1. SOLTEIRO(A) 3. VIÚVO(A)
2. CASADO(A)/COMPANHEIRO(A) 4. SEPARADO(A)/DIVORCIADO(A)
5.Tem filhos?
1. SIM. QUANTOS? |____|____| 2. NÃO
1.1 O
GRAU INCOMPLETO 4.2 O
GRAU COMPLETO 7. PÓS-GRADUAÇÃO
2. 1 O
GRAU COMPLETO 5. S UPERIOR INCOMPLETO 8. OUTRA. QUAL? ____________________
3. 2 O
GRAU INCOMPLETO 6. S UPERIOR COMPLETO
2
14.Qual foi aproximadamente sua renda familiar no último mês, somando o
rendimento de todas as pessoas que moram com você?
1. ATÉ 2.600 3. DE R$ 3.500 A 5.000 5. MAIS DE 7.000
2. DE R$ 2.600 A 3.500 4. DE 5.000 A 7.000
BLOCO 2
Informações sobre sua qualidade de vida: sua casa, seu bairro, o transporte,
o lazer, suas relações familiares e de amizade.
17.Na casa em que você mora vivem quantas pessoas no total? |____|____|
1. 2.
21.c.Ir ao cinema
1. 2.
21.d.Passear
1. 2.
21.e.Ver TV
1. 2.
21.f.Ir a bares
1. 2.
21.g.Ir a clubes
1. 2.
21.h.Ir a festas
1. 2.
21.i.Ir à igreja
1. 2.
21.j.Praticar esportes
1. 2.
21.k.Encontrar os amigos
1. 2.
21.l.Ficar em casa com a família
1. 2.
21.m.Ficar sozinho
1. 2.
21.n.Namorar
1. 2.
21.o.Dormir
3
21.p.Descansar
1. 2.
1. 2.
21.q.Exercer outra atividade remunerada
4
23.n.Para ajudá-lo nas tarefas diárias,
se você ficar doente? 1. 2. 3. 4. 5.
1. 2. 3. 4. 5.
23.o.Para compartilhar suas
preocupações e medos mais íntimos?
BLOCO 3
Informações sobre suas condições de trabalho: formação e capacitação, meios e
instrumentos necessários, reconhecimento profissional, dificuldades, riscos e
sua satisfação pessoal com o trabalho.
2. A MESMA CARREIRA DESDE QUE ELA POSSIBILITASSE MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO
28.Na sua opinião, como foi a formação inicial oferecida para você ao entrar
na SEAP? marque nas opções (a), (b) e (c).
(a) Tempo (b) Adequação
28.a.Não tive formação inicial
MARQUE AQUI ( )
28.b.Atividades
teóricas (leis,
1.S UFICIENTE 1.A DEQUADAS
2. I 2. I
regulamentos, procedimentos, etc)
NSUFICIENTE NADEQUADAS
1. S 1. A
28.c.Atividades
práticas (por
UFICIENTE DEQUADAS
2. I 2. I
exemplo: autodefesa,abordagem em
relação ao preso) NSUFICIENTE NADEQUADAS
5
29.Depois da formação inicial, outras capacitações foram oferecidas?
1. SEMPRE SÃO OFERECIDAS 3. POUCAS VEZES FORAM OFERECIDAS
2. MUITAS VEZES FORAM OFERECIDAS 4. NUNCA FORAM OFERECIDAS
1. 2.
30.c.Estatuto do Servidor Público
1. 2.
30.d.Direitos humanos/ética
1. 2.
30.e.O trabalho na Classificação
1. 2.
30.f.Técnicas de abordagem/custódia
1. 2.
30.g.Noções de informática
1. 2.
30.h.Comunicações
1. 2.
30.i.Relacionamento com a população carcerária
1. 2.
30.j.Segurança pública
1. 2.
30.k.Saúde, higiene e psicologia
1. 2.
30.l.Negociação de conflito
1. 2.
30.m.Defesa pessoal
31.Você fez ou está fazendo algum curso fora, por conta própria, visando
melhorar sua formação profissional?
FIZ OU
NUNCA FIZ
ESTOU FAZENDO
31.a.Curso universitário
1. 2.
31.b.Curso de pós-graduação
1. 2.
31.c.Curso de curta duração.
1. 2.
Quais?___________________________________________
31.d.Outro. Qual? _________________________
1. 2.
32.O trabalho que você exerce é aquele para o qual foi treinado?
1. SIM 2. NÃO 3. NÃO FUI TREINADO
2. C ONVOCADO POR ORDEM SUPERIOR 4. N ÃO TRABALHEI ALÉM DO MEU HORÁRIO
6
36.Écomum você sair de um serviço e realizar outra atividade ligada à
segurança, imediatamente, sem descanso algum (dentro ou fora da SEAP)?
1.S EMPRE ACONTECE 3.À S VEZES ACONTECE 5. N UNCA ACONTECE
40.Quantas horas por semana, em média, você dedica a essa outra atividade?
1. A TÉ 10 HORAS 2. D E 11 A 20 HORAS 3. M AIS DE 20 HORAS 4. N ÃO TENHO OUTRA ATIVIDADE
2. PERÍODO NOTURNO (DE 18:00 ÀS 6:00 HORAS) 4. N ÃO TENHO OUTRA ATIVIDADE
7
43.f.Nível de responsabilidade assumida na sua 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
atividade/função
43.g.Perspectivas de promoção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
43.h.Reconhecimento de seu mérito por parte da 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
instituição
43.i.Reconhecimento de seu trabalho por parte da 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
população
43.j.Reconhecimento de seu trabalho por parte de 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
seus colegas
47.Sinalize com um (x) os sintomas que tem apresentado nas ÚLTIMAS 24 HORAS.
1.M ÃOS E PÉS FRIOS
3. N Ó NO ESTÔMAGO
7. D IARRÉIA PASSAGEIRA
8. I (D
NSÔNIA IFICULDADE PARA DORMIR)
8
4. S ENSAÇÃO DE DESGASTE FÍSICO CONSTANTE
7. H
IPERTENSÃO ARTERIAL (PRESSÃO ALTA)
3. I
NSÔNIA (DIFICULDADE PARA DORMIR)
4. NÁUSEA
5. TIQUES
11. Ú LCERA
12. ENFARTE
14. PESADELOS
9
21.A NGÚSTIA / ANSIEDADE DIÁRIA
50.Como você analisa o risco que corre na sua atividade atual na SEAP?
1. R ISCO CONSTANTE 2. R
ISCO EVENTUAL 3. N
ÃO HÁ RISCO
51.Comovocê analisa o risco que sua família corre por causa de sua atividade
atual na SEAP?
1. R ISCO CONSTANTE 2. R
ISCO EVENTUAL 3. N
ÃO HÁ RISCO
1. 2.
52.c.Ser ferido por arma branca
1. 2.
52.d.Sofrer agressão física
1. 2.
52.e.Sofrer violência sexual (assédio, estupro)
1. 2.
52.f.Sofrer violência psicológica (ameaças, humilhações)
1. 2.
52.g.Ser sequestrado
1. 2.
52.h.Envenenamento, intoxicação por gases ou fumaça
52.i.Sofrer danos de audição decorrentes de ruídos intensos
ou de explosão 1. 2.
1. 2.
52.j.Outro. Qual? _______________________________________
10
54.j.Legislação excessivamente branda 1. 2. 3. 4.
54.k.Legislação excessivamente dura 1. 2. 3. 4.
55.Com que frequência cada uma das situações abaixo ocorre com você?
NUNCA OU
FREQUENTEMENTE ÀS VEZES RARAMENTE
QUASE NUNCA
55.a.Você tem que fazer suas tarefas de
trabalho com muita rapidez 1. 2. 3. 4.
55.b.Você tem que trabalhar intensamente
(isto é, produzir muito em pouco tempo) 1. 2. 3. 4.
55.c.Seu trabalho exige esforço demais de
você 1. 2. 3. 4.
55.d.Você tem tempo suficiente para
cumprir todas as tarefas de seu 1. 2. 3. 4.
trabalho
55.e.O seu trabalho costuma lhe
apresentar exigências contraditórias ou 1. 2. 3. 4.
discordantes
55.f.Você tem possibilidade de aprender
coisas novas através de seu trabalho 1. 2. 3. 4.
55.g.Seu trabalho exige muita habilidade
ou conhecimentos especializados 1. 2. 3. 4.
55.h.Seu tipo de trabalho exige que você
tome iniciativas 1. 2. 3. 4.
55.i.Você tem que repetir muitas vezes as
mesmas tarefas de seu trabalho 1. 2. 3. 4.
55.j.Você pode escolher COMO fazer o seu
trabalho 1. 2. 3. 4.
55.k.Você pode escolher O QUE fazer no
seu trabalho 1. 2. 3. 4.
59.l.Seu trabalho lhe causa estresse
intenso 1. 2. 3. 4.
56.Até que ponto você concorda ou discorda das seguintes afirmações a respeito
de seu ambiente de trabalho?
CONCORDO CONCORDO MAIS DISCORDO MAIS DO DISCORDO
TOTALMENTE DO QUE DISCORDO QUE CONCORDO TOTALMENTE
56.a.Existe um ambiente calmo e
agradável onde você trabalha 1. 2. 3. 4.
56.b.No trabalho, as pessoas se
relacionam bem umas com as outras 1. 2. 3. 4.
56.c.Você pode contar com o apoio dos
seus colegas de trabalho 1. 2. 3. 4.
56.d.Se você não estiver num bom dia,
seus colegas compreendem 1. 2. 3. 4.
56.e.No trabalho, você se relaciona
bem com seus superiores 1. 2. 3. 4.
56.f.Você gosta de trabalhar com seus
colegas 1. 2. 3. 4.
11
BLOCO 4
Informações sobre suas condições de saúde: atividades físicas, problemas de
saúde e utilização de serviços médicos e hospitalares.
59.Algum médico ou outro profissional da área da saúde já lhe disse que seus
níveis de colesterol (gordura no sangue) estavam elevados?
1. SIM 2. NÃO
2. S IM, MAIS DE UMA VEZ EM DIAS DIFERENTES 4. N ÃO, NUNCA TIVE PRESSÃO ALTA
62.Nos últimos 12 meses, quais das situações abaixo você sofreu durante seu
trabalho enquanto inspetor?
SIM NÃO
62.a.Lesões por atropelamento ou acidente com veículo motorizado
1. 2.
1. 2.
62.b.Queimaduras por fogo ou químicas
62.c.Explosão com lesões (combustíveis, bujão de gás, explosivos,
fogos, bomba, granada, etc.) 1. 2.
1. 2.
62.d.Envenenamento, intoxicação por gases ou fumaça
1. 2.
62.e.Perfuração por arma de fogo
1. 2.
62.f.Perfuração por arma branca
1. 2.
62.g.Sofreu agressão física
1. 2.
62.h.Sofreu agressão verbal
1. 2.
62.i.Sofreu assédio ou agressão sexual
1. 2.
62.j.Acidentes com animais usados no trabalho de inspetor (ex:cão)
1. 2.
62.k.Queda
1. 2.
62.l.Acidente por desmoronamento
1. 2.
62.m.Tentativa de suicídio
1. 2.
62.n.Sofreu tentativa de homicídio
62.o.Contaminação
por bactérias ou outros microorganismos
(risco biológico) 1. 2.
63.Em relação a lesões permanentes, quais das condições abaixo você apresenta?
SIM NÃO
63.a.Algum dedo ou membro amputado
1. 2.
1. 2.
63.b.Algum seio, rim ou pulmão retirado
12
63.c.Alguma paralisia permanente de qualquer tipo
1. 2.
63.d.Alguma deformidade permanente ou rigidez constante de
pé, perna ou coluna 1. 2.
63.e.Alguma deformidade permanente ou rigidez constante de
dedo, mão ou braço 1. 2.
1. 2.
63.f.Incapacidade para reter fezes ou urina
1. 2.
63.g.Qualquer outra incapacidade
66.Dos sintomas físicos e mentais abaixo, quais ocorrem com você atualmente?
SIM NÃO
66.a.Tem dores de cabeça frequentemente
1. 2.
1. 2.
66.b.Tem falta de apetite
1. 2.
66.c.Dorme mal
1. 2.
66.d.Assusta-se com facilidade
1. 2.
66.e.Tem tremores na mão
1. 2.
66.f.Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou agitado(a)
1. 2.
66.g.Tem má digestão
1. 2.
66.h.Tem dificuldade de pensar com clareza
1. 2.
66.i.Tem se sentido triste ultimamente
1. 2.
66.j.Tem chorado mais do que de costume
66.k.Encontra dificuldade para realizar com satisfação suas
atividades diárias 1. 2.
1. 2.
66.l.Tem dificuldade para tomar decisões
1. 2.
66.n.É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida
1. 2.
66.o.Tem perdido o interesse pelas coisas
1. 2.
66.p.Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo
1. 2.
66.q.Tem tido a idéia de acabar com a vida
1. 2.
66.r.Tem sensações desagradáveis no estômago
1. 2.
66.s.Sente-se cansado o tempo todo
1. 2.
66.t.Você se cansa com facilidade
1. 2.
67.c.UPA do Complexo de Gericinó
13
67.d.Serviço da rede pública de saúde (UPA, postos de saúde,
hospitais gerais)
1. 2.
1. 2.
67.e.Seu plano privado de saúde
1. 2.
67.f.Serviço particular em que você paga pelo atendimento
1. 2.
68.c.Psicoterapia
1. 2.
68.d.Fisioterapia
1. 2.
68.e.Esclerose de varizes
2. N
72.b.Em hospital da rede privada
1.|____|____| VEZES ENHUMA VEZ
73.Nos últimos 12 meses, quantas vezes você foi internado (exceto em serviços
de emergência)?(Atenção! Considere internação a sua permanência num hospital ou
clínica, para observação médica, tratamento clínico ou cirúrgico ou exames
diagnósticos.)
2. N
73.b.Em hospital/clínica da rede privada
1.|____|____| VEZES ENHUMA VEZ
BLOCO 5
Informações sobre o consumo de substâncias.
2. P AREI DE FUMAR HÁ |____|____| ANOS OU |____|____| MESES 4. F UMO EVENTUALMENTE (SOMENTE CIGARRO DE AMIGOS)
14
77.De um mês para cá, você fumou algum cigarro?
1. S IM, FUMEI EM 20 DIAS OU MAIS 2. S IM, FUMEI DE 6 A 19 DIAS 3. S IM, FUMEI DE 1 A 5 DIAS 4. NÃO
2. D 11 E A 20 CIGARROS POR DIA 4. N ÃO SEI INFORMAR 6N UNCA FUMEI
3. O CASIONALMENTE (PELO MENOS 1 VEZ POR MÊS) 6. N UNCA TOMEI BEBIDA ALCOÓLICA
81.Qualo tipo de bebida alcoólica que você costuma TOMAR COM MAIS FREQUÊNCIA?
(citar apenas uma)
1.C ERVEJA OU CHOPP 4.S IDRA OU CHAMPANHE 6.O UTRO. QUAL? __________________________
2. P INGA, UÍSQUE, VODKA OU CONHAQUE 5. V INHO 7. N ÃO COSTUMO BEBER
3. L ICOR
1 copo de
vodka ou = 1 cálice de
vinho do = 1 taça de
vinho de = 1 caneca de
chopp ou 1
pinga Porto ou mesa lata de
licores cerveja
83.Deum mês para cá, você tomou alguma bebida alcoólica até se embriagar
(“porre”)?
1.S IM, BEBI ASSIM EM 20 DIAS OU MAIS 3.S IM, BEBI ASSIM DE 1 A 5 DIAS
84.c.Maconha
1. 2.
15
84.d.Tranquilizante, ansiolítico, calmante ou antidistônico
(DIAZEPAN, DIENPAX, LORIUM, LORAX, ROHYPNOL, PSICOSEDIN, SOMALIUM OU LEXOTAN, ETC.) 1. 2.
84.e.Sedativo ou barbitúrico (OPTALIDON, FLORINAL, GARDENAL, TONOPAN, NEMBUTAL,
COMITAL OU PENTONAL, ETC.) 1. 2.
84.f.Anabolizante para aumentar a musculatura (bomba) ou dar
força 1. 2.
1. 2.
84.g.Cocaína, crack ou pasta de coca
1. 2.
86.c.Teve dificuldade na relação sexual
1. 2.
86.d.Deixou de usar preservativo/camisinha nas relações sexuais
1. 2.
86.e.Teve problema emocional / “crise nervosa”
1. 2.
86.f.Teve problema de agressividade
86.g.Se envolveu em acidentes no trânsito (atropelamentos,
colisão, etc.) 1. 2.
1. 2.
86.h.Teve problema no trabalho
1. 2.
86.i.Faltou ao trabalho
1. 2.
88.c.Com ajuda de religião ou seita
1. 2.
88.d.Com médico / psicólogo / assistente social
1. 2.
88.e.Em hospital de emergência / desintoxicação
1. 2.
88.f.Nunca tentei parar
16
182
ANEXO
Quadro 8: Sistematização dos artigos (n=53) sobre “estresse e sofrimento psíquico em agentes
penitenciários” pesquisados nas bases BVS, SCOPUS e WEB of SCIENCE, publicados entre os
anos de 2000 e 2016 e apresentados em ordem cronológica decrescente.
PARK, J.; KIM, K. Mental Medir os níveis atuais de Quantitativo. Uso Agentes apresentaram maior pontuação de
Health status of Correctional status de saúde mental de escalas: Maslach burnout do que outras ocupações. O estresse
Officers in Correctional dos agentes correcionais Burnout Inventory, ocupacional médio também foi mais elevado
Institutions. Int. Journal of usando vários Korean para agentes. O escore médio de satisfação
neuropsychopharmacology. instrumentos. Occupational Stress no trabalho foi menor do que o das demais
V.19, S.1, P. 316-316, 2016. Scale, The Job ocupações. O nível de autoestima foi menor
Satisfaction Scale, do que o das outras ocupações. O estado de
The Korean version saúde mental dos agentes do sexo masculino
of Beck Depression foi pior do que das mulheres. Estado de
Inventory, and saúde mental do agente correcional é pior do
Rosenberg’s Self- que outras ocupações estudadas.
Esteem Scale.
BEZERRA, C. M.; ASSIS, Levantar a produção Revisão da Fatores de risco: sobrecarga de trabalho, falta
S. G.; CONSTANTINO, P. sobre sofrimento literatura. de recursos materiais e humanos, nível de
Sofrimento psíquico e psíquico e estresse no contato com os presos, superlotação,
estresse no trabalho de trabalho de agentes percepções sobre medo ou perigo, paradoxo
agentes penitenciários: uma penitenciários nos punir/reeducar, etc. Fatores protetivos: apoio
revisão da literatura. Ciência periódicos nacionais e social no trabalho. Estratégias de
183
HU, S.; WANG, J. N.; LIU, Explorar o impacto das Quantitativo. Escala Os oficiais correcionais chineses
L.; WU, H.; YANG, X.; características do Maslach Burnout experimentam um nível ligeiramente mais
WANG, Y.; WANG, L. The trabalho sobre o Inventory, Cross- alto de burnout no trabalho.
association between work- esgotamento do trabalho sectional survey. Forte esforço extrínseco e recompensa foram
related characteristic and job entre os funcionários Levantamento os mais poderosos preditores de burnout.
burnout among Chinese correcionais chineses em transversal.
correctional officers: a cross- prisões públicas.
sectional survey. Public
Health. 129(9):1172-8, 2015.
periculosidade do
trabalho), diferem nas
suas relações com o
estresse no trabalho e
satisfação no trabalho de
acordo com o sexo
ARMSTRONG, G. S.; Examinar o conflito Quantitativo. Itens Os resultados indicam que a tensão e o
ATKIN-PLUNK, C. A.; trabalho-família no que de escalas conflito trabalho-família baseados no
WELLS, J. The Relationship se refere ao estresse no anteriormente comportamento e o conflito entre família e
Between Work–Family trabalho e à satisfação no utilizados no estudo trabalho estavam significativamente
Conflict, Correctional trabalho. de Armstrong e relacionados com o estresse no trabalho e
Officer Job Stress, and Job Griffin (2004) com a satisfação no trabalho. O apoio
Satisfaction. Criminal familiar e de supervisão estava
Justice and Behavior, 2015. exclusivamente relacionado com o estresse
no trabalho, enquanto o apoio de supervisão,
educação e etnia estavam exclusivamente
relacionados com a satisfação no trabalho.
MENNOIAL, N. V.; Analisar as várias tarefas Qualitativo. Os agentes biológicos e o estresse
NAPOLI, P.; BATTAGLIA, do pessoal penitenciário; Realização de relacionado ao trabalho são os principais
A.; CANDURA, S. M. identificar os fatores de entrevistas. fatores de risco, como conseqüência da
Occupational risk factors and risco; e discutir as superpopulação carcerária, da escassez de
medical prevention in estratégias preventivas, pessoal e da complexidade da organização do
corrections officers. G Ital incluindo a formação e a trabalho.
Med Lav Ergon;36(4): 405- educação desses
9, 2014. trabalhadores.
Psychological Distress, and psicológico e o apoio questionários e sofrimento psíquico. Uma vez que a saúde
Social Support Among social entre os agentes escalas. The física percebida diminuiu, o sofrimento
Prison Officers. Prison J. penitenciários. General Health psicológico aumentou Houve alguma
2014 Jun; 94(2):242–59. Questionnaire evidência de que o apoio social de dentro da
(GHQ-12). prisão moderou a relação entre a percepção
de saúde física e estresse psicológico.
TSCHIEDEL, R. M., Identificar aspectos da Qualitativo.Oito Cumprir com suas obrigações, ter
MONTEIRO, J.K. Prazer e organização do trabalho entrevistas gratificação salarial e estabilidade no
sofrimento no trabalho das que produzem prazer e semiestruturadas. emprego são relatadas como vivências de
agentes de segurança sofrimento no trabalho prazer e a precariedade das condições de
penitenciária. Estud Psicol. de MULHERES agentes trabalho como elemento provocador de
Natal. 2013 09PY - de segurança sofrimento. Estratégias de defesa: negação e
2013;18(3):527–35. penitenciaria (ASP) e racionalização.
descrever as estratégias
defensivas (E.D.)
utilizadas.
ATKIN-PLUNK, C. A.; Verificar a correlação Quantitativo. Guardas que se percebem com níveis mais
ARMSTRONG, G. S. entre capacidade de Inquérito com altos de capacidade de liderança
Transformational Leadership liderança questionários e transformacional experimentam menos
Skills and Correlates of transformacional e escalas. estresse no trabalho. Apoio de colegas não
Prison Warden Job Stress. estresse ocupacional. se relacionou com estresse no trabalho, mas
Crim Justice Behav. com confiança. A maior amplitude de
2013;40(5):551–68. experiência em correções (mantendo
posições de tratamento e custódia) foi
relacionada a menos estresse.
HARTLEY, D. J, DAVILA, Avaliar o estresse no Quantitativo. Itens Medo de doença foi positivamente
M. A.; MARQUART, J. W.; trabalho, satisfação, de escalas correlacionado com estresse no trabalho e
MULLINGS, J. L. Fear is a segurança pessoal, e adaptados do estudo inversamente correlacionado com a
Disease: The Impact of Fear exposição a doenças de Cullen et al. satisfação no trabalho. A exposição à doença
and Exposure to Infectious infecciosas (HIV / AIDS, (1985) e Lindquist não conseguiu produzir efeitos significativos
Disease on Correctional hepatite e tuberculose) and Whitehead sobre o estresse no trabalho ou satisfação.
Officer Job Stress and em agentes (1986) Amostra Funcionários que achavam que seus
Satisfaction. Am J Crim penitenciários. aleatória de 2.999 supervisores os apoiavam no trabalho
Justice. 2013;38(2):323–40. oficiais de ambos relataram menos estresse e maiores níveis de
os sexos do estado satisfação, enquanto a periculosidade
do Texas/EUA. percebida do trabalho foi positivamente
correlacionada com o estresse no trabalho.
GOULD, D. D.; WATSON, Investigar a prevalência Quantitativo. 208 Embora na maioria das vezes agentes
S. L.; PRICE, S. R.; de burnout, de agentes em penitenciários usem estratégias adaptativas
VALLIANT, P. M. The enfrentamento e inquérito online de “coping” ainda assim relatam altos níveis
relationship between burnout mecanismos utilizados para medir burnout de burnout. Os resultados deste estudo
and coping in adult and para amenizar os efeitos ((Maslach Burnout sugerem que existem outras variáveis além
young offender center do burnout nos centros Inventory) e do “coping”, como sexo e tempo de
correctional officers: An correcionais. “coping” (HSSBrief experiência, que influenciam nos níveis de
exploratory investigation. Coping Orientation burnout, como observado em agentes
Psychol Serv. to Problems penitenciários.
2013;10(1):37–47. Experienced)
FINNEY, C.; Rever a literatura a fim Revisão sistemática As cinco categorias de estressores
STERGIOPOULOS, E.; de identificar a relação nas bases Medline, organizacionais entre agentes penitenciários
HENSEL, J.; BONATO, S.; entre estressores PsycINFO, são: inerentes ao cargo, função na
DEWA, C. S. Organizational organizacionais e Criminal Justice organização, recompensas no trabalho,
stressors associated with job estresse e burnout em Abstracts, and relações de supervisão no trabalho e
stress and burnout in agentes penitenciários Sociological estrutura organizacional/clima. A estrutura
correctional officers: a em estabelecimentos Abstracts: 8 organizacional e o clima demonstraram ter o
systematic review. BMC prisionais para adultos. preencheram os relacionamento mais consistente com o
Public Health. 2013 02PY - critérios de estresse e burnout no trabalho de agentes
186
MOULIN V, SEVIN A-S. Analisar o sofrimento no Qualitativo. Modelo Os resultados mostram que,
Suffering at work in prison. trabalho e suas integrativo e independentemente da área de trabalho, o
Trav Hum. 2012;75(2):147– manifestações, vivido dinâmico - 72 quadro institucional parece enfraquecido
78. por agentes entrevistas para os agentes por causa de duas dimensões
penitenciários nas semidiretivas em principais: a organização arquitetônica de
prisões em um espaço três penitenciárias casas e as missões “paradoxais" atribuídas às
particular conhecido francesas. tarefas de vigilância.
como “local de
visitação”.
CHEESEMAN, K.A.; Analisar as relações entre Regressão múltipla Adesão à geração e estresse no trabalho
DOWNEY, R. A. Talking geração, estresse no hierarquizada. moldam significativamente as percepções
“bout my generation”: The trabalho e satisfação no dos policiais quanto à satisfação no trabalho.
effect of “generation” on trabalho de agentes
correctional employee penitenciários no sistema
perceptions of work stress prisional do sul dos
and job satisfaction. Prison EUA.
J. 2012;92(1):24–44.
GHADDAR, A.; RONDA, Verificar como a Quantitativo. Os resultados sugerem que os riscos
E.; NOLASCO, A.; exposição de Copenhagen psicossociais foram maiores entre os guardas
ÚLVARES, N.; MATEO, I. trabalhadores aos riscos Psychosocial que têm mais contato com os presos.
Exposure to psychosocial psicossociais (demanda, Questionnaire entre
risks at work in prisons: controle e suporte social) 164 trabalhadores
Does contact with inmates varia de acordo com os de prisão na
matter? A pilot study among seus grupos de trabalho e Espanha.
prison workers in Spain. seu contato com os
Stress Health. presos.
2011;27(2):170–6.
187
RUMIN, C. R.; BARROS, Apresentar Qualitativo. Relato A partir de um espaço para o acolhimento
G. I. F.; CARDOZO, W. R.; características do de experiências desses trabalhadores, pôde-se apreender: o
CAVALHERO, R.; sofrimento psíquico profissionais. esvaziamento do sentido do trabalho, a
ATELLI, R. O sofrimento vivenciado por agentes sensação de enclausuramento em algumas
Psíquico no trabalho de de segurança funções, a temerosidade em relação à
vigilância em prisões. Psicol penitenciária e delimitar segurança e a representação social pejorativa
Ciênc Prof. 2011, elementos desse trabalho.
31(1):188–99. psicodinâmicos que
emergem no trabalho de
vigilância prisional.
BOUDOUKHA, A. H.; Avaliar o impacto da Quantitativo. Variáveis demográficas (idade, sexo, nível
HAUTEKEETE, M.; vitimização sobre o Formulário francês de estudo) não têm efeito significativo nos
ABDELAOUI, S.; GROUX, burnout entre guardas do Maslach níveis de burnout; tempo de trabalho e tipo
W.; GARAY, D. Burnout nas prisões francesas. Burnout Inventory de pena da prisão sim. Guardas que
and victimization: Impact of (MBI). trabalham com presos encarcerados por mais
inmate’s aggression towards Participaram 235 de 5 anos relatam mais burnout do que seus
prison guards. Encephale. guardas prisionais, homólogos trabalhando com detidos sem
2011; 37(4):284–92. 46 mulheres e 188 condenação. Vitimizações também têm
homens, variando efeito significativo nos níveis de burnout.
de 22 a 56 anos. Guardas com agressões físicas ou armadas
relatam níveis globais de estresse maiores do
que os guardas da prisão sem agressões.
Guardas de prisão com agressões físicas ou
armadas relatam mais burnout do que
guardas com agressões verbais. As
características da prisão e dos presos estão
relacionadas com o burnout entre os guardas
da prisão, em segundo lugar, as vitimizações
levam ao burnout.
PRATI, G., BOLDRIN, S. Analisar os preditores de Quantitativo. Nem variáveis demográficas (sexo e idade),
Organizational stressors, burnout e bem-estar 188 agentes nem nível de contato com detentos e tempo
exposure to critical incidents psicológico em agentes penitenciários (138 de serviço relacionaram-se com cansaço e
and organizational well- penitenciários italianos. homens e 33 bem-estar psicológico. Exaustão emocional
being among correctional mulheres) relacionou-se com: exposição a situações
officers. G Ital Med Lav empregados em emocionalmente estressantes; censuras
Ergon. 2011 00PY - quatro injustas; supervisores punitivos e que
2011;33(3 Suppl B):B33–9. penitenciárias demonstram pouco apoio; conflito trabalho-
localizadas no família; trabalho extra; exposição a insultos;
noroeste da Itália. ameaças; e episódios de comportamentos
auto-prejudiciais dos reclusos.
Despersonalização relacionou-se com
adequação de pessoal e ameaças dos
detentos. Realização pessoal relacionou-se
com carga de trabalho e risco de ser atacado.
Bem-estar psicológico foi relacionado com
os supervisores que demonstram pouco
apoio, trabalho- família conflito, ameaças
dos detentos e comportamentos auto -
prejudiciais.
DIAL, K. C.; DOWNEY, R. Examinar o impacto do Quantitativo. Itens Gênero é um fator significativo sobre o
A.; GOODLIN, W. E. The gênero e geração no adaptados do estudo stress relacionado com o trabalho, mais do
job in the joint: The impact estresse no trabalho. de Cullen et al. que qualquer outra variável demográfica,
of generation and gender on (1985) embora geração tivesse um pequeno impacto
work stress in prison. J Crim sobre o estresse no trabalho. Geração e
Justice. 2010; 38(4):609–15. gênero explicam uma porção minúscula de
variância do estresse no trabalho
188
GONÇALO, H.; RUI Analisar o estresse Quantitativo. Resultados de burnout apontaram para uma
GOMES, A.; BARBOSA, ocupacional em dois Medidas de estresse frequência notável de exaustão emocional,
F.; AFONSO, J. grupos de agentes de (Nível Global de seguida de despersonalização (cynicism) e
Occupational stress forces in segurança: um no Estresse), baixa eficácia profissional. A análise
security: A comparative trabalho em um contexto esgotamento, comparativa entre os grupos mostrou que
study. Anal Psicol. público (n = 95) e outro comprometimento agentes penitenciários tiveram experiências
2010;28(1):165–78. que trabalha em um organizacional, de trabalho mais negativas.
contexto prisional (n = satisfação com a
237). vida, satisfação
profissional e
desejo de deixar a
profissão.
SUMMERLIN, Z.; Elaborar projeto de Quantitativo. Diferenças significativas no estresse no
OEHME, K.; STERN, N.; prevenção à violência Resultados da trabalho reportadas por agentes
VALENTINE, C. Disparate doméstica envolvendo análise de regressão penitenciários da Flórida, quando
levels of stress in police and oficiais. por mínimos comparadas aos policiais, em particular,
correctional officers: quadrados diferenças relacionadas à escassez de
Preliminary evidence from a ordinários. pessoal e de recursos e atitudes sobre a
pilot study on domestic liderança.
violence. J Hum Behav Soc
Environ. 2010;20(6):762–
77.
MCCRATY, R.; Investigar o impacto de Quantitativo. Houve melhora significativa do grupo
ATKINSON, M.; um novo programa de Medidas de estresse experimental em colesterol, glicemia,
LIPSENTHAL, L.; gerenciamento de fisiológico, cortisol, frequência cardíaca, pressão arterial e
ARGUELLES, L. New hope estresse e risco à saúde DHEA, colesterol, perspectivas positivas e significativas em
for correctional officers: An (fatores fisiológicos e triglicérides, relação a reduções em sofrimento psíquico
innovative program for psicológicos) de agentes glicemia de jejum, em geral. Houve aumentos significativos de
reducing stress and health penitenciários. eletrocardiograma produtividade, motivação, clareza de metas e
risks. Appl Psychophysiol de repouso, apoio percebido.
Biofeedback. variabilidade da
2009;34(4):251–72. frequência cardíaca,
pressão arterial.
Três questionários
psicológicos:
estresse emocional
e variáveis
relacionadas ao
trabalho.
GHADDAR, A.; MATEO, Explorar a associação Quantitativo. Na análise de regressão linear, baixos
I.; SANCHEZ, P. entre os riscos Questionário auto escores foram obtidos para a saúde mental,
Occupational stress and psicossociais no trabalho administrado - 164 altas pontuações foram obtidas para
mental health among e saúde mental dos agentes. Medidas: demandas psicológicas, baixa autoestima e
correctional officers: A agentes penitenciários saúde mental e baixo controle; e influência e escores
cross-sectional study. J em centro penitenciário aversão. moderados para baixo apoio social, dupla
Occup Health. espanhol. Copenhagen exposição, e insegurança no trabalho.
2008;50(1):92–8. Psychosocial Demandas psicológicas (mais alto impacto),
Questionnaire foi baixo controle e influência, e dupla
utilizado para medir exposição teve associações inversas
a exposição a significativas com a saúde mental.
condições
psicossociais no
local de trabalho.
SWENSON, D. X.; Investigar o estresse de Revisão de Compreendendo-se as mudanças na vida das
WASELESKI, D.; HARTL, mudança de turno entre literatura. pessoas que o trabalho em turnos introduz,
R. Shift work and agentes penitenciários. administradores, funcionários e suas famílias
189
correctional officers: Effects podem estar mais bem preparados para lidar
and strategies for com o estresse de turno. São descritos e
adjustment. J Correct Health recomendados ajustes organizacionais,
Care, 2008; 14(4):299-310. familiares e pessoais em relação a mudanças
de turno.
CASTLE, T. L. Satisfied in Investigar os preditores Quantitativo. 373 Menor nível de educação, maior apoio e
the jail? Exploring the de satisfação no trabalho participantes. supervisão, menor estresse no trabalho e
predictors of job satisfaction entre agentes Modelos de menor estresse geral foram preditores
among jail officers. Crim penitenciários de uma “Importation- significativos de maior satisfação no
Justice Rev. 2008;33(1):48– prisão no Nordeste dos Differential trabalho.
63. EUA. Experiences" and
"Work-Role
Prisonization".
BROUGH, P.; BIGGS, A. Identificar os preditores Dados Preditores de reivindicação incluem: papel
Predictors of Work Cover de reivindicações organizacionais de específico do agente penitenciário , nível de
occupational stress claims relacionadas ao estresse 163 reivindicações segurança do centro de detenção, níveis de
by correctional officers. J. ocupacional apresentadas por absentismo e a apresentação de queixa
Occup Health Saf - Aust N recentemente agentes contra os agentes de segurança. Implicações
Z. 2007;23(1):43–52. apresentadas por agentes penitenciários em destes resultados, em termos de intervenções
penitenciários um estado organizacionais subsequentes orientadas
australianos. australiano. para reduzir o estresse organizacional vivida
por agentes penitenciários, são discutidas.
BROUGH, P.; WILLIAMS, Avaliar a capacidade da Quantitativo. Job Uma medida específica de demandas de
J. Managing occupational escala de estresse Content trabalho prevê o resultado psicológico
stress in a high-risk industry: ocupacional - Demand Questionnaire (satisfação no trabalho) em maior medida do
Measuring the job demands Control - Suporte (KARASEK, 1985) que uma medida genérica (JDCS). A
of correctional officers. modelo Job (JDCS) para Modelo demanda, capacidade de apoio dos supervisores para
Crim Justice Behav. prever a tensão de 132 controle e suporte. moderar as consequências dessas demandas
2007;34(4):555–67. agentes penitenciários de trabalho também é demonstrada e tem
australianos. implicações para a formação de supervisores
correcionais. Argumentos para a inclusão de
medidas específicas de cada amostra de
exigências do trabalho são discutidos
BOURBONNAIS, R.; Apresentar as mudanças Quantitativo. Job Na ausência de intervenção organizacional
JAUVIN, N.; DUSSAULT, ocorridas entre 2002 e Content específica destinada a melhorar a situação de
J.; VÉZINA, M. 2004 na prevalência de Questionnaire trabalho nocivo, a exposição à baixa latitude
Psychosocial work limitações psicossociais de decisão manteve-se semelhante entre
(KARASEK, 1985)
environment, interpersonal e violência interpessoal 2002 e 2004, enquanto que a exposição a
violence at work and mental no trabalho entre os Modelo demanda, altas demandas psicológicas melhorou para
health among correctional oficiais que trabalham controle e suporte. homens e mulheres. Sofrimento psicológico
officers. Int J Law em estabelecimentos Psychiatric se mostrou maior quando a recompensa no
Psychiatry. 2007;30(4- prisionais em Quebec. Symptom Index, trabalho era escassa e quando houve
5):355–68. (PSI) (Ilfeld, 1976). desequilíbrio entre esforço e recompensa no
trabalho. Em 2004 o sofrimento psíquico
entre agentes penitenciários foi também
associado à intimidação e assédio moral no
trabalho.
RUMIN, C.R. Sofrimento na Caracterizar as condições Qualitativo. 30 Situações ansiogênicas: risco constante de
vigilância prisional: o de trabalho dos agentes entrevistas exposição à violência física no cotidiano
trabalho e a atenção em de segurança semidirigidas prisional, temor em relação à segurança de
saúde mental. Psicol Ciênc penitenciária no individuais com seus familiares, exposição a doenças como
Prof. 2006 00PY - RS/Brasil. agentes de unidade tuberculose, hepatite C e HIV, percepção da
2006;26(4):570–81. prisional de regime degradação da saúde mental, trabalho
fechado. monótono e sensação de enclausuramento
em algumas funções, representação social
190
correctional officers. Rev os fatores de risco controle e suporte. psicológico afetam homens e mulheres, mas,
Epidemiol Sante Publique. ocupacional associados a Psychiatric em diferentes graus. Altas demandas
2005 07PY - distúrbios psíquicos Symptom Index, psicológicas, combinadas com latitude baixa
2005;53(2):127–42. menores. (PSI) (Ilfeld, 1976). ou alta de decisões e desequilíbrio esforço /
recompensa foram associados ao estresse
psicológico independentemente de
potenciais fatores de confusão. Fatores de
trabalho associados com alto sofrimento
psíquico foram: baixo apoio social no
trabalho, e conflitos com colegas e
superiores, entre outros.
DOWDEN, C.; TELLIER, Analisar os preditores de Revisão de As atitudes de trabalho (participação na
C. Predicting work-related estresse no trabalho em literatura. Vinte tomada de decisões, satisfação no trabalho,
stress in correctional agentes penitenciários e estudos foram comprometimento e intenção de
officers: A meta-analysis. J marcar a primeira meta- selecionados para rotatividade) e problemas específicos de
Crim Justice. 2004; análise deste tópico na inclusão. agentes penitenciários (periculosidade
32(1):31–47. área. percebida e dificuldades da função) geraram
relações preditivas mais fortes com o
estresse no trabalho. Atitudes favoráveis
(serviço humano orientação e
aconselhamento/ reabilitação) e
desfavoráveis (punitividade, orientação para
custódia, distância social e corrupção)
renderam relações moderadas com o estresse
no trabalho. Correlatos mais fracos de
estresse no trabalho foram: variáveis
demográficas e características do emprego
(por exemplo, nível de segurança).
MOON, B.; MAXWELL, S. Analisar o trabalho Quantitativo. As variáveis encontradas neste estudo com
R. The sources and correcional entre oficiais Itens de escalas agentes penitenciários sul coreanos
consequences of corrections da Coréia do Sul. adaptados do estudo coincidem com as encontradas na América,
officer’s stress: A South Questões relacionadas de Cullen et al. para explicar o estresse no trabalho,
Korean example. J Crim com o estresse descritas satisfação no trabalho e consequentes
(1985.)
Justice. 2004 em estudos anteriores problemas de saúde. Entre as variáveis:
Aug;32(4):359–70. foram examinadas para locais de trabalho perigosos, interações
avaliar sua relevância e negativas com colegas de trabalho,
aplicabilidade na frequência de contato com presos e
sociedade sul-coreana. sobrecarga de trabalho.
SAVICKI, V.; COOLEY, Examinar as experiências Quantitativo. Mulheres relataram significativamente mais
E.; GJESVOLD, J. e os efeitos do assédio Regressões assédio do que os homens; mulheres eram
Harassment as a Predictor of em agentes múltiplas separadas menos propensas a despersonalizar. Assédio
Job Burnout in Correctional penitenciários. foram realizadas contribuiu significativamente em cada
Officers. Crim Justice para cada gênero regressão para o sexo feminino; assédio foi
Behav. 2003;30(5):602–19. sobre burnout, significativo apenas na regressão do sexo
comprometimento masculino para o estresse percebido. Embora
organizacional e os homens e mulheres não difiram sobre
estresse percebido. burnout ou comprometimento
organizacional, o assédio foi forte
contribuinte entre mulheres. Em
estabelecimentos correcionais, o assédio
constitui um estressor de fundo afetando
diferencialmente mulheres.
FERNANDES, R. de C. P.; Identificar possíveis Quantitativo. Associados positivamente com distúrbios
SILVANY NETO, A. M.; associações entre Estudo psíquicos menores (DPM): ambiente de
SENA, G. de M.; LEAL, A. condições de trabalho e epidemiológico trabalho psicologicamente inadequado,
dos S.; CARNEIRO, C. A. saúde de agentes transversal/ amostra condições infraestruturais insuficientes, falta
192
P.; COSTA, F. P. M. penitenciários de de 311 agentes, de tempo para lazer, ausência de esporte,
Trabalho e cárcere: um Salvador, Bahia, Brasil. questionários auto- mais de 9 anos no Sistema Penitenciário
estudo com agentes aplicáveis: SRQ 20 (SP), dobra de turno, jornada de 48 horas
penitenciários da Região e Inventário de semanais e organização do trabalho
Metropolitana de Salvador, Sintoma de Estresse inadequada. Associados positivamente com
Brasil. Cad Saude Publica. de LIPP. estresse persistente: falta de treinamento,
2002 06PY - 2002; sexo feminino, jornada de 48horas semanais,
18(3):807–16. ambiente de trabalho psicologicamente
inadequado, falta de tempo para lazer e
ausência de esporte. Associados
positivamente com queixas de saúde: idade
(45anos), 9 anos no SP, dobra de turno,
ausência de esporte, ambiente de trabalho
psicologicamente inadequado, condições
infraestruturais e organizacionais
inadequadas e presença de DPM.
CIESLAK, R.; Investigar se estressores Quantitativo. Enfrentamento emocional positivamente
KORCZYNSKA, J.; de trabalho, estilos de Utilização de relacionado com exaustão emocional e
STRELAU, J.; “coping” e apoio social escalas. negativamente com realização pessoal.
KACZMAREK, M. Burnout relacionado com o Enfrentamento orientado à tarefa
predictors among prison trabalho podem prever positivamente relacionado com realização
officers: The moderating desgaste entre os agentes pessoal. Apoio social do trabalho
effect of temperamental penitenciários. negativamente relacionado com exaustão
endurance. Personal Individ emocional. Efeitos dos estressores do
Differ. 2008 Nov;45(7):666– trabalho no burnout mediados pelo apoio
72. social relacionado ao trabalho e pelo
enfrentamento emocional. Alguns desses
efeitos mediadores foram moderados pela
resistência. Suporte social relacionado ao
trabalho estava relacionado negativamente à
despersonalização apenas entre os
participantes com forte resistência. Alto
nível de estresse no trabalho previu um
enfrentamento emocional elevado somente
entre indivíduos com resistência fraca.
HERNANDEZ-MARTIN, Examinar a relação entre Quantitativo. 43,6% dos oficiais sofrem burnout severo. A
L. Burnout syndrome in a síndrome de burnout e Maslach Burnout análise fatorial suporta a estrutura
watchmen in a penitentiary variáveis Inventory (MBI) tridimensional do MBI: de exaustão
center. International Journal sociodemográficas para avaliar a emocional, realização pessoal, e
of Clinical and Health (idade, sexo, estado civil síndrome de despersonalização. Oficiais mais jovens
Psychology,. Int J Clin e educação), antiguidade burnout em uma apresentaram atitudes mais negativas em
Health Psychol. 2006 e nível de posição amostra de 133 relação a seus empregos (despersonalização)
Sep;6(3):599–611. (Security- 1 e Segurança agentes do que os mais velhos. As relações entre
-2 ) . penitenciários em outras variáveis sociodemográficas, como o
instituição nível de antiguidade e de posição, por um
penitenciária. lado, e as três dimensões do esgotamento do
outro, mostraram-se não significativas.
CARLSON, J. R; ANSON, Testar a relação entre Quantitativo. Ao contrário do que estudos anteriores de
R. H; THOMAS, G. gênero e burnout em Maslach Burnout estresse realizados na década de 1980, as
Correctional officer burnout uma prisão de segurança Inventory (MBI) mulheres agentes penitenciárias
and stress: Does gender máxima. para avaliar a demonstraram uma maior sensação de
matter? Prison J. 2003 síndrome de realização pessoal relacionada com o
Sep;83(3):277–88. burnout em amostra trabalho e satisfação do que suas
277 agentes contrapartes masculinas. Homens e mulheres
penitenciários. agentes penitenciários foram considerados
grupos homogêneos em exaustão emocional
193
e despersonalização.
LOUREL, M. Burnout: Sugerir uma análise Revisão da Burnout parece ter o foco principalmente
Theory and critical crítica do burnout. literatura. nos profissionais de saúde. Limites: baixo
approach. The value of número de publicações francesas atuais e a
exploratory research in solidez dos modelos teóricos que
prisons. Encephale. consideram a percepção cognitiva dos
2001;27(3):223–7. indivíduos para com organizações A análise
das questões teóricas confirma o déficit
considerável de estudos exploratórios com
agentes penitenciários.
MORGAN, R. D; VAN Examinar a relação entre Quantitativo. 250 Os resultados indicaram que os oficiais mais
HAVEREN, R. A; diversas variáveis que agentes velhos e mais educados relataram níveis
PEARSON, C. A. levaram a resultados penitenciários aumentados de realização pessoal, enquanto
Correctional officer burnout inconsistentes em Maslach Burnout oficiais menos experientes e oficiais com
- Further analyses. Crim estudos anteriores sobre Inventory Survey. responsabilidades crescentes de trabalho
Justice Behav. 2002 o estresse de agentes experimentaram níveis aumentados de
Apr;29(2):144–60. penitenciários. despersonalização e exaustão emocional e
níveis diminuídos de realização pessoal.
Comparações de gênero indicaram que
agentes penitenciários do sexo feminino
eram menos propensas a responder de forma
impessoal para os presos do que suas
contrapartes masculinas.
SCHAUFELI, W. B, Apresentar uma visão Revisão de A prevalência de várias reações de estresse
PEETERS, M. C. W. Job geral de estresse e literatura sobre entre os agentes penitenciários é discutida:
Stress and Burnout among burnout profissional em estresse as taxas de rotatividade e absenteísmo,
Correctional Officers: A instituições correcionais. ocupacional e doenças psicossomáticas e os níveis de
Literature Review. Int J burnout em insatisfação no trabalho e burnout.
Stress Manag 2000; 7(1):19- instituições Existência de 10 estressores específicos no
48. correcionais, com trabalho do agente: problemas de função,
base em 43 sobrecarga de trabalho, demanda de contatos
investigações de 9 sociais (com os presos, colegas e
Países . supervisores) e baixo status social. São
discutidas abordagens sobre orientações
individuais e organizacionais a fim de
reduzir o estresse no trabalho e o burnout
entre agentes. A melhoria da gestão dos
recursos humanos, a profissionalização do
trabalho do agente e a melhoria do ambiente
de trabalho parece ser um caminho
promissor para reduzir estresse no trabalho e
burnout em instituições correcionais.