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Cláudia de Magalhães Bezerra

Sofrimento Psíquico e Estresse em


Agentes Penitenciários do Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro
2017
Cláudia de Magalhães Bezerra

Sofrimento Psíquico e Estresse em


Agentes Penitenciários do Estado do Rio de Janeiro

Tese apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Saúde Publica, da Escola
Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca,
na Fundação Oswaldo Cruz, como requisito
parcial para obtenção do título de Doutora
em Ciências. Área de concentração:
Violência e Saúde.

Orientadora: Simone Gonçalves de Assis


Orientadora: Patrícia Constantino

Rio de Janeiro
2017
Catalogação na fonte
Fundação Oswaldo Cruz
Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde
Biblioteca de Saúde Pública

B574s Bezerra, Cláudia de Magalhães.


Sofrimento psíquico e estresse em agentes penitenciários
do estado do Rio de Janeiro / Cláudia de Magalhães Bezerra. -
- 2017.
209 f. ; tab.

Orientadoras: Simone Gonçalves de Assis e Patrícia


Constantino.
Tese (doutorado) – Fundação Oswaldo Cruz, Escola
Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro,
2017.

1. Estresse Psicológico. 2. Prisões. 3. Condições de


Trabalho. 4. Saúde do Trabalhador. 5. Agentes Penitenciários.
I. Título.
CDD – 22.ed. – 363.11098153
Cláudia de Magalhães Bezerra

Sofrimento Psíquico e Estresse em


Agentes Penitenciários do Estado do Rio de Janeiro

Tese apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Saúde Pública da Escola
Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca,
na Fundação Oswaldo Cruz, como requisito
parcial para obtenção do título de Doutora
em Ciências. Área de concentração:
Violência e Saúde.

Aprovada em: 30 de março de 2017

Banca Examinadora

Doutora Maria Cecília de Souza Minayo


CLAVES/ENSP/FIOCRUZ

Doutor Cosme Marcelo Furtado Passos da Silva


DEMQS/ENSP/FIOCRUZ

Doutora Silvia Ramos de Souza


CESEG/UCAM

Doutora Dayse Miranda


GEPeSP/LAV/UERJ

Doutora Simone Gonçalves de Assis (Orientadora)


CLAVES/ENSP/FIOCRUZ

Doutora Patrícia Constantino (Orientadora)


CLAVES/ENSP/FIOCRUZ

Rio de Janeiro
2017
AGRADECIMENTOS

As minhas orientadoras Simone Gonçalves de Assis e Patrícia Constantino, pesquisadoras


experientes que me guiaram com respeito e carinho.

À professora Maria Cecilia de Souza Minayo, orientadora no mestrado e que muito


contribuiu com o doutorado.

As instituições CLAVES/ENSP/FIOCRUZ, SEAP e MPRJ que me possibilitaram realizar


esse projeto.

Aos colegas que me auxiliaram no campo de pesquisa: Nilo Terra, Tiago Tavares,
inspetores penitenciários do MPRJ; com as referências e a pesquisa bibliográfica: Adriano
Silva e Gizele Rocha respectivamente.

A todos (as) colegas servidores da SEAP, entre eles os inspetores penitenciários que gentil e
confiantemente participaram da pesquisa.

À minha família e amigos (as) que me ajudaram e compreenderam ao longo do período


dedicado ao doutorado.
As cadeias são ambientes cinzentos mesmo que não estejam pintadas
dessa cor. A presença ostensiva das grades, das trancas e o som de
ferro das portas quando se fecham oprimem o espírito de forma tão
contundente, que em mais de vinte anos jamais encontrei alguém que
dissesse sentir prazer quando entra num presídio. Ao contrário, a
sensação de alívio ao cruzar o portão que dá acesso à rua é universal.
O conforto de ficar livre da opressão ao sair não desaparece com a
repetição da experiência; ainda hoje o sinto, sensação compartilhada
por todos os funcionários que conheço.

Varela, 2012, pág. 115.


RESUMO

O objeto desta tese é o sofrimento psíquico e o estresse presentes no trabalho de


agentes penitenciários do Estado do Rio de Janeiro. Enquanto método, abordagens
quantitativas (questionário/escalas) e qualitativas (entrevistas/observação) foram
associadas. Responderam aos questionários 317 agentes e participaram das entrevistas 38
profissionais. Buscou-se (1) conhecer a literatura sobre o tema, (2) analisar as relações
entre estresse e condições de trabalho e (3) analisar o sofrimento psíquico e os fatores a ele
associados no âmbito social, destacando o ambiente de trabalho. A pesquisa bibliográfica
mostrou que entre os fatores de risco estão a sobrecarga de trabalho, falta de recursos
materiais e humanos, nível de contato com os presos, superlotação, percepções sobre medo
ou perigo, paradoxo punir/reeducar, entre outros. Enquanto fatores associados: apoio social
dentro do ambiente prisional e as estratégias de enfrentamento relacionam-se ao
aprimoramento da formação dos agentes, estímulo ao apoio social e oferta de atendimento
psicológico. Entre os agentes 27,7% apresentaram sofrimento psíquico e 35,1% estresse,
sem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos. Modelo de regressão logístico
multinomial ordinal múltiplo mostra que o agente penitenciário insatisfeito com o
relacionamento com o chefe imediato tem 4,5 vezes mais chances de estar em um nível
mais alto de estresse; aqueles que às vezes/raramente/nunca ou quase nunca mencionaram
que o trabalho causa estresse, têm 74,9% menos chances de estar em um nível mais alto de
estresse; para cada tipo de risco que um agente se percebe exposto, há aumento de 24% na
chance de estar em um nível mais alto de estresse; um profissional que pouco repete as
tarefas no trabalho tem 52,6% menos chances de estresse grave em relação ao que
frequentemente tem que repetir as tarefas. Outro modelo multivariado mostra os fatores
protetivos ao sofrimento psíquico, que remetem basicamente ao apoio social: praticar
alguma religião, possuir apoio social na forma de interação positiva, contar com a
compreensão dos colegas de trabalho, perceber o reconhecimento do seu trabalho pela
população e se relacionar bem com superiores ou chefe imediato. As estratégias de
enfrentamento às tensões vivenciadas no trabalho estão ligadas ao lar, à família, ao lazer e à
realização de atividades físicas.

Palavras chave: Sofrimento psíquico, estresse, agentes penitenciários, condições de


trabalho, saúde do trabalhador.
ABSTRACT

The scope of this thesis is the psychological distress and the stress present at work
of correctional officers of the State of Rio de Janeiro/Brazil. As a method, quantitative
(questionnaire/scales) and qualitative approaches (interviews/observation) were associated:
317 agents answered the questionnaires and 38 participated in the interviews. The aim was
(1) to know the literature on the subject, (2) to analyze the relationship between stress and
working conditions, and (3) to analyze psychological distress and its associated factors.
The bibliographic research showed that the risk factors include work overload, lack of
material and human resources, level of contact with inmates, overcrowding, perceptions
about fear or danger, punishment/re-education paradox, among others. As associated
factors: the social support within the prison environment and as coping strategies: the
improvement of the training of the agents, the encouragement of social support and the
provision of psychological care. Among them 27.7% presented psychological distress and
35.1% stress, without statistically significant differences between the sexes. Multiple
ordinal logistic regression model shows that a correctional officer unsatisfied with the
immediate boss relationship is 4,5 times more likely to be at a higher stress level; those
who have sometimes/rarely/never or almost never mentioned that work causes stress, are
74,9% less likely to be at a higher stress level; for each type of risk an agent perceives
exposed, there is a 24% increase in the chance of being at a higher stress level; a
professional who rarely repeats tasks at work has a 52,6% lower chance of severe stress
than one who often has to repeat. Other multivariate model shows the protective factors for
psychological distress among correctional officers: practice some religion, have social
support in the form of positive interaction, count on the understanding of work colleagues,
perceive the recognition of their work by the population and have a good relationship with
superiors or immediate boss. Strategies to cope with the tensions experienced at work are
related to their own home, family, leisure and physical activities.

Key words: psychological distress, stress, correctional officers, work conditions,


occupational health.
LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 - Atribuições esperadas para os Agentes Penitenciários, segundo a 20


Classificação Brasileira de Ocupações: CBO (BRASIL, 2002).
Quadro 2 - Estatísticas do Ministério da Justiça e da Secretaria de 23
Administração Penitenciária do Rio de Janeiro sobre unidades
prisionais, presos e agentes penitenciários.
Quadro 3 - Relação existente e ideal entre número de presos e de agentes 24
penitenciários - Rio de Janeiro.
Quadro 4 - Características metodológicas da presente tese e da pesquisa 44
original.
Quadro 5 - Unidades do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, 46
discriminadas segundo o regime da prisão e o sexo dos presos.
Quadro 6 - Número de agentes penitenciários e preenchimento de 49
questionários da pesquisa.
Quadro 7 - Número de entrevistas com agentes penitenciários, segundo tipo 54
de atividade.
Artigo 1/ Quadro 1- Instrumentos para aferir estresse e sofrimento psíquico em 67
agentes penitenciários.
Artigo 2/ Tabela 1- Estresse na vida de agentes penitenciários, Rio de Janeiro 93
(N=308)
Artigo 2/ Tabela 2 - Perfil e condições de trabalho de agentes penitenciários, segundo 94/95/96
ocorrência de estresse na vida.
Artigo 2/ Tabela 3 - Risco que agentes penitenciários do Rio de Janeiro correm no 100
exercício profissional
Artigo 2/ Tabela 4 - Variáveis associadas ao estresse entre agentes penitenciários do 101
Rio de Janeiro. Modelo de regressão logístico ordinal múltiplo
(N=252).
Artigo 3/ Tabela 1 - Perfil de agentes penitenciários e fatores associados à existência 116/117/118
de sofrimento psíquico no âmbito social e do próprio trabalho.
Distribuição percentual, odds ratio e intervalo de confiança.
Artigo 3/ Tabela 2 - Modelo multivariado explicativo de fatores de proteção no 124
âmbito social e do próprio trabalho associados ao sofrimento
psíquico de agentes penitenciários
Artigo 3/ Tabela 3 - Estratégias utilizadas por agentes penitenciários para o 126/127/128
enfrentamento das tensões e dificuldades.
Quadro 8 - ANEXO - Sistematização dos artigos (n=53) sobre “estresse e 182
sofrimento psíquico em agentes penitenciários” pesquisados nas
bases BVS, SCOPUS e WEB of SCIENCE, publicados entre os
anos de 2000 e 2016 e apresentados em ordem cronológica
decrescente.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 09
2 OBJETIVOS........................................................................................................ 14
3 REFERENCIAL TEÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO............................. 15
3.1 Contextualização sobre o encarceramento e sobre o trabalho de agentes
penitenciários no Brasil e no Rio de Janeiro........................................................ 15
3.2 Processo de trabalho e saúde................................................................................ 25
3.3 Saúde do trabalhador............................................................................................ 29
3.4 Sofrimento psíquico no trabalho........................................................................... 33
3.5 Estresse no trabalho.............................................................................................. 38
4 MATERIAL E MÉTODO.................................................................................. 43
4.1 Seleção de unidades prisionais............................................................................. 45
4.2 Procedimentos para a coleta de dados.................................................................. 47
4.3 Abordagem Quantitativa....................................................................................... 48
4.4 Abordagem Qualitativa......................................................................................... 53
4.5 Processamento e Análise dos dados...................................................................... 54
4.6 Aspectos éticos da pesquisa.................................................................................. 56
5 RESULTADOS.................................................................................................... 58
5.1 ARTIGO 1 - Sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes
penitenciários: uma revisão da literatura.............................................................. 58
5.2 ARTIGO 2 - Estresse e condições de trabalho em agentes penitenciários do
Estado do Rio de Janeiro...................................................................................... 84
5.3 ARTIGO 3 - Sofrimento Psíquico de agentes penitenciários: fatores protetivos
e estratégias de enfrentamento.............................................................................. 107
6 DISCUSSÃO....................................................................................................... 136
7 CONSIDERACÕES FINAIS............................................................................. 149
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 152
APÊNDICE - TCLE PARA QUESTIONÁRIO .............................................. 160
APÊNDICE - TCLE PARA ENTREVISTA..................................................... 162
APÊNDICE - ROTEIRO PARA ENTREVISTA............................................. 164
APÊNDICE – QUESTIONÁRIO...................................................................... 166
ANEXO - Quadro 8: Sistematização dos artigos (n=53) sobre “estresse e
sofrimento psíquico em agentes penitenciários” pesquisados nas bases BVS,
SCOPUS e WEB of SCIENCE, publicados entre os anos de 2000 e 2016 e
apresentados em ordem cronológica decrescente................................................ 182
9

1. INTRODUÇÃO

O objeto deste estudo é o sofrimento psíquico e o estresse derivados do trabalho de


agentes penitenciários no Estado do Rio de Janeiro1. O tema, que envolve a relação trabalho
e saúde mental é sem dúvida, um objeto complexo que será iluminado a partir da
abordagem teórica e metodológica do campo da saúde do trabalhador e da psicodinâmica
do trabalho.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2001), estudiosos de diferentes culturas
dão diferentes definições à saúde mental, no entanto concordam que ela é algo mais do que
a ausência de transtornos mentais. “Está se tornando cada vez mais claro que o
funcionamento mental tem um substrato fisiológico e está indissociavelmente ligado com o
funcionamento físico e social e com os resultados de saúde” (p.32).
De acordo com a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-
OSHA, 2012), os riscos psicossociais decorrem de problemas na concepção, organização e
gestão do trabalho que podem impactar a saúde física, mental, a vida social do trabalhador
e ainda estimular o estresse relacionado ao trabalho. Os transtornos produzidos pelo
trabalho precisam ser abordados como um problema organizacional e não como falhas
individuais, para que eles sejam solucionados como qualquer outro risco à saúde e à
segurança no local de trabalho. São riscos psicossociais ligados as condições de trabalho:
carga excessiva, exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções, falta
de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador, falta de controle na forma
como executa o trabalho, insegurança laboral, má gestão de mudanças organizacionais,
comunicação ineficaz, falta de apoio por parte da chefia e assédio psicológico ou sexual.
Agentes penitenciários têm papel importante no funcionamento das instituições
prisionais, são trabalhadores que lidam diretamente com a população carcerária e que têm
como função básica a aplicação da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984). Responsáveis
pela contenção, custódia e tratamento do apenado até o seu retorno à sociedade extramuros,
esses profissionais mantêm o ambiente de segurança dentro das prisões e estão
frequentemente expostos a diversas situações geradoras de tensão, tais como intimidações,
agressões, ameaças, iminência de rebelião e de se tornarem reféns (THOMPSON, 1993).

1 No Estado do Rio de Janeiro os profissionais que custodiam as pessoas presas são denominados
Inspetores de Segurança e Administração Penitenciária (ISAP).
10

O trabalho mostra sua ambiguidade em diversas situações: ele é uma forma de


ganhar a vida que leva a certo grau de autonomia, realização profissional e pessoal. É
comum se revelar de forma criativa, potencializadora e enquanto promotor de autoestima.
No entanto, também pode se manifestar como uma forma de violência e dominação, pois
em muitos momentos o trabalhador se submete à sua rígida organização e se sente
aprisionado. O trabalho tem um potencial de adoecimento que deve ser denunciado, para
Dejours e Beguè (2010), “a parte de responsabilidade a ser imputada ao trabalho, tanto na
construção da saúde como em sua destruição, é absolutamente subestimada”:
Assim, se o trabalho pode gerar o melhor e permitir a muitos sobrepor
com eficácia as falhas no terreno psicológico – assentadas pela
hereditariedade e pela infância – deve-se admitir que também pode, ao
inverso, desempenhar um papel preponderante nas descompensações.
(OP.CIT., 2010, p. 31)

Sendo esses profissionais pessoas que trabalham sob pressão constante e sujeitos a
risco de morte (BRASIL, 2002), estão também expostos ao adoecimento físico e mental.
No trabalho de agentes penitenciários fatores como o trabalho isolado, monótono, que exige
concentração constante, em turnos e sob a ameaça de violência, os efeitos psicológicos
adversos são constatados, como, por exemplo, o estresse, muitas vezes associado a
distúrbios do sono, síndrome de burnout2, depressão e elevado risco de doenças
cardiovasculares, particularmente doenças coronarianas e hipertensão (WHO, 1995).
Segundo Boudoukha et al. (2011), a prisão é considerada um ambiente perigoso em
parte por causa da promiscuidade e da violência, o que leva a uma série de sofrimento e
frustração entre os prisioneiros. Como os agentes penitenciários compartilham relações
diárias com os presos, eles acabam atuando como escudo ou "emoção para-choques" de
violência nas prisões: os sofrimentos e frustrações dos detentos são primeiramente
expressos em direção a esses profissionais. Para Lourenço (2012), eles estão na “frente das
grades” e têm a indesejável tarefa de “bater a tranca”. Pesquisas mostram que o ambiente
de trabalho correcional é repleto de estresse (MOON; MAXWELL, 2004), que se manifesta
nos agentes penitenciários como doenças físicas, burnout, problemas familiares, ou
incapacidade de exercer suas funções – comprometendo a segurança institucional e criando

2 Síndrome tridimensional composta por exaustão emocional, despersonalização e sensação de falta de


realização pessoal. Não é uma psicopatologia do trabalho, mas da relação com os outros, parece surgir quando
as pessoas compartilham relações estressantes, crônicas e violentas com outras pessoas, o que acontece no
exercício profissional do agente penitenciário. (BOUDOUKHA et al., 2011)
11

ainda mais estresse para outros funcionários.


As condições ambientais dos presídios do Rio de Janeiro foram descritas em estudo
recente sobre a saúde nas prisões (MINAYO e CONSTANTINO, 2015). A análise
ambiental dos espaços no interior das unidades prisionais aponta para suas inadequações.
Em geral o ambiente prisional é insalubre e nele se encontram elementos que colaboram
para a proliferação de doenças como a tuberculose e as doenças ligadas à sujeira que
preocupam tanto presos quanto agentes (DIUANA et al., 2008), sendo as celas consideradas
os piores ambientes em relação a saúde dentro de uma unidade prisional.
O universo penitenciário tem características de uma instituição fechada3
(GOFFMAN, 1987) e de difícil acesso, por esses motivos muitas pesquisas são realizadas
com presidiários na tentativa de desvendar a dinâmica dessas instituições. A revisão da
literatura (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016) mostra que internacionalmente, a
partir de 2009, estudos com foco na saúde mental de profissionais que trabalham com essa
população vêm despertando interesse acadêmico. No entanto, no Brasil eles são escassos e
pouca atenção é direcionada para o potencial de impacto que as condições prisionais podem
causar na saúde dos trabalhadores penitenciários. Esse é um tema contemporâneo que
aborda os modos de organização do trabalho e suas influências sobre a saúde do
trabalhador.
Esta tese está inserida em um estudo mais abrangente realizado dentro do Sistema
Penitenciário do Rio de Janeiro, entre os anos de 2013 e 2015, pelo Departamento de
Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES), da Escola Nacional de Saúde
Pública (ENSP/FIOCRUZ), em parceria com Ministério Púbico do Rio de Janeiro (MPRJ),
financiado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ) e intitulado “Estudo das Condições de Saúde e Qualidade de Vida dos
Presos e das Condições Ambientais das Unidades Prisionais do Estado do Rio de Janeiro”.
No estudo original foi realizado um inquérito epidemiológico com amostra representativa
das pessoas presas, acrescido de entrevistas individuais e, de maneira complementar,
observações de campo nos momentos de visita a 32 unidades prisionais femininas e
masculinas, localizadas em Gericinó (Bangu), Japeri (Baixada Fluminense) e no interior do
Estado (Campos), (MINAYO; CONSTANTINO, 2015).

3 Um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos, com situação semelhante,
separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e
formalmente administrada (GOFFMAN, 1987, p. 11).
12

A presente tese redirecionou o foco da pesquisa, concentrando-o na saúde do


trabalhador, no estudo da atividade de trabalho realizada pelos agentes penitenciários e seus
impactos sobre sua saúde mental. Teve o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPQ) e do MPRJ.
Os pressupostos que orientam este estudo são:

 Presença de sofrimento psíquico e estresse entre os agentes penitenciários;


 Os agentes penitenciários vinculam sua condição de estresse e de sofrimento psíquico
às condições de trabalho;
 Existem especificidades no trabalho do homem e da mulher agentes que podem refletir
diferentemente no sofrimento psíquico e estresse.

Entre minhas motivações para estudar esse universo profissional está o fato de ser
psicóloga e trabalhar há 23 anos no Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro prestando
atendimentos as pessoas presas. Trabalhamos em parceria com os agentes, sendo a função
deles principalmente voltada para a segurança dentro das unidades prisionais. Meu
trabalho depende da atividade deles, uma vez que para o preso chegar até o local de
atendimento é necessário que esse profissional localize sua cela, o retire dela e o
acompanhe até a sala de atendimento psicológico. Minha atuação profissional também
contribui com o trabalho dos agentes, uma vez que, se sentindo assistida, a pessoa
encarcerada fica menos ansiosa e isso favorece a segurança da unidade prisional.
Durante os anos de trabalho em unidades prisionais experimentei o desgaste físico e
mental da rotina nesse ambiente. Para os agentes, que cumprem uma carga horária bem
maior que a dos profissionais de saúde4 e mantêm regularmente contato direto com os
presos, as condições de trabalho impõem-se ainda mais prejudiciais à saúde. As condições
precárias e insalubres do ambiente de trabalho, a falta de infraestrutura, as escalas de
trabalho, as tensões geradas nas relações com os diversos atores institucionais (presos,
familiares, agentes, técnicos, diretores etc.), a falta de segurança no exercício de sua
função, a vivência de períodos de defasagens salariais, assim como a falta de
reconhecimento social mostram seus reflexos na saúde desses profissionais. Percebo e ouço
reiteradamente dos colegas agentes, histórias de adoecimentos psicossomáticos e até
mesmo psiquiátricos.

4 Agentes penitenciários têm carga horária semanal de 40 horas e profissionais de saúde 24 horas.
13

A relevância acadêmica deste estudo está no fato da saúde mental dos agentes
penitenciários ser uma problemática pouco avaliada no Brasil até agora e estar direcionada
a esse grupo profissional que trabalha em instituições totais ou fechadas (GOFFMAN,
1987), de difícil acesso para investigações. Sua relevância social traduz-se no estudo das
condições de trabalho e saúde mental de um grupo indispensável de trabalhadores e, no
entanto, com pouca visibilidade e reconhecimento social (RUMIN et al., 2011), além de ser
considerada uma profissão repleta de estigmas e preconceitos (LOURENÇO, 2012). O
tema também pode ser considerado importante (CASTRO, 1977), pois está de alguma
forma ligado a uma questão crucial que polariza ou afeta um segmento substancial da
sociedade. Uma lei federal5 afirma que a guarda, a vigilância e a custódia de presos são
consideradas atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Castro (1977) considera um tema original aquele cujos resultados têm o potencial
para surpreender. Acredita-se que a relevância do tema abordado nesta tese e os resultados
obtidos poderão se traduzir em oportunidade para a implementação de ações educativas,
medidas de prevenção de agravos e programas terapêuticos voltados a esta categoria
profissional específica. A produção de conhecimentos no campo da saúde do trabalhador
permite subsidiar modelos teórico-práticos e estratégias de atenção à saúde de profissionais
viabilizando o respeito aos direitos humanos e cidadania.

5 (artigo 3º, IV, da Lei Federal nº 11.473/2007)


14

2. OBJETIVOS

Objetivo geral

Investigar a presença de sofrimento psíquico e estresse entre Agentes Penitenciários do


Estado do Rio de Janeiro.

Objetivos específicos

 Realizar o levantamento da produção sobre sofrimento psíquico e estresse no trabalho


de agentes penitenciários nos periódicos nacionais e internacionais;
 Identificar as condições de trabalho de agentes penitenciários;
 Identificar se esses profissionais vinculam sua condição de sofrimento psíquico e
estresse às condições de trabalho;
 Analisar as diferenças no exercício do trabalho de agentes homens e mulheres e suas
influências sobre o estresse e o sofrimento psíquico;
 Identificar e compreender as estratégias defensivas utilizadas frente ao sofrimento
psíquico e ao estresse.
15

3. REFERENCIAL TEÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO

O referencial teórico desta tese se fundamenta nos seguintes temas: processo de


trabalho e saúde, saúde do trabalhador, psicodinâmica do trabalho, sofrimento psíquico e
estresse no trabalho, que são apresentados e discutidos à luz das bibliografias clássica e
atual para melhor compreender o objeto estudado. Inicia-se por uma contextualização
sobre o encarceramento a partir de uma abordagem criminológico-crítica da finalidade da
pena de prisão e sobre o trabalho de agentes penitenciários e sua realidade profissional no
Brasil e no Estado do Rio de Janeiro.

3.1 Contextualização sobre o encarceramento e sobre o trabalho de agentes


penitenciários no Brasil e no Rio de Janeiro

Sobre o encarceramento
Nas últimas décadas do séc. XX consolida-se em grande parte dos países ocidentais
uma política de encarceramento em massa (SALLA, 2001) que se traduz na contenção
repressiva das classes consideradas potencialmente perigosas. Para Wacquant (2002) isso não
reflete o aumento da criminalidade violenta, e sim, a mudança de atitude dos poderes públicos
em relação aos setores pobres, considerados como núcleo irradiador da criminalidade,
exatamente na mesma proporção em que a diminuição das políticas sociais torna a vida das
classes populares ainda mais insuportável e caótica (ARGUELLO, 2006).
No Brasil entre 2000 e 2014, a taxa de aprisionamento aumentou 119%. Em 2000,
havia 137 presos para cada 100 mil habitantes, já em 2014, essa taxa chegou a 299,7 pessoas.
Também cabe destacar que no ano 2000, 25% da população privada de liberdade encontravam-
se custodiados em carceragens de delegacia ou estabelecimentos similares, administrados pelos
órgãos de Segurança Pública. Em 2014, esse percentual caiu para 5%. (INFOPEN, 2014). Essa
transferência de presos também contribuiu para o aumento da população nas unidades prisionais
sem o aumento proporcional no número de vagas no sistema ou nas condições de infraestrutura
e de profissionais prisionais. Permanece assim o grave e crônico problema de superlotação. No
Rio de Janeiro, por exemplo, dados da SEAP (Secretaria Estadual de Administração
Penitenciária) informam que no início de março de 2017 o sistema tinha capacidade para
custodiar 27.650 pessoas e que existiam 51.264 pessoas presas (efetivo real), indicando um
16

percentual de excesso de 87% de sua capacidade.


Estudo realizado por Sachsida e Mendonça (2013) em unidades federativas
brasileiras discute a questão do encarceramento a partir da evolução das taxas de mortalidade
por homicídio e, de forma limitada, restringe tema tão complexo a algumas estatísticas (taxa
de desemprego, concentração de renda, nível de escolaridade, renda média, densidade
demográfica). Os autores encontraram que em várias unidades federativas o aumento da taxa
de encarceramento ocorreu concomitante a queda nas taxas de homicídios. Este resultado
levou a que afirmassem (p.38): “para se reduzir a taxa de homicídios não são necessárias
grandes mudanças sociais. Aumentar a taxa de encarceramento e a taxa de policiamento são
políticas públicas capazes de reduzir a taxa de homicídios, independentemente de a
desigualdade de renda diminuir ou de o nível de escolaridade da população aumentar. ” Esta
linha de pensamento encontra profundo eco na sociedade, que busca soluções reducionistas e
severas que legitimam o maior efetivo policial na segurança pública e o uso da violência, o
endurecimento das leis penais (redução da maioridade penal e pena de morte são exemplos) e
o incremento ainda maior do aprisionamento, reforçando a manutenção da estigmatização
dos pobres, jovens e negros.
A política de superencarceramento e a construção de novas penitenciárias não
significam que a política prisional esteja se desenvolvendo e trazendo bons resultados no
sentido de recuperar os criminosos, pelo contrário. Esse modelo de aprisionamento se mostra
apenas como uma forma de punição, o esperado efeito ressocializador não está funcionando
(PERES, 2012). Isso é o que se constata na atualidade brasileira com tantos episódios de
violência na prisão, reincidência no crime, corrupção, tortura, fugas e rebeliões. Para Salla
(2001), essa manutenção da prisão apesar da falência em sua potência de recuperação do
criminoso, só tem sentido se levarmos em conta sua verdadeira função nas sociedades modernas
(OP. CIT.).
Torna-se importante analisar porque a pena de prisão ainda vigora mesmo se
mostrando um fracasso de quase dois séculos (ARGUELLO, 2006). Na sociedade capitalista,
segundo Rusche e Kirchheimer (1999), o sistema penitenciário depende, sobretudo, do
desenvolvimento do mercado de trabalho. A abundância da força de trabalho está relacionada à
desvalorização da vida humana, à farta utilização da pena de morte e das mutilações dos corpos
(como na Baixa Idade Média). Já em momentos de escassez da força de trabalho os métodos
punitivos se transformam, pois há necessidade de preservar essa força de trabalho a fim de
17

explorá-la por meio da pena de prisão.


Em “Vigiar e punir”, Foucault (1987) destaca que na sociedade capitalista, a prisão
evolui de um aparelho punitivo a uma posição de controle social, em razão da necessidade da
disciplina da força de trabalho. O modelo arquitetônico do “panóptico” produz o efeito de
“induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento automático do poder” (p., 177). A disciplina é a técnica específica de um poder
que funciona de modo calculado, contínuo, “fabricando” indivíduos, tomando-os
simultaneamente como objetos e instrumentos de seu exercício. A formação da sociedade
disciplinar (séculos XVII e XVIII) e a consolidação da prisão (fim do século XVIII e início do
século XIX) estão intrinsecamente relacionadas ao processo histórico das transformações
econômicas no Ocidente, a partir do qual a burguesia se transformou em classe politicamente
hegemônica (século XVIII).
Porém a dinâmica prisional acaba por produzir a criminalidade que supostamente
combate, pois está amplamente comprovado que o encarceramento aumenta as taxas de
criminalidade, em vez de reduzi-la; provoca a delinquência, induz à reincidência, transforma o
infrator ocasional em delinquente habitual (FOUCAULT, 1987, p. 240). A prisão jamais
reabilitou pessoas na prática; provocou, ao contrário, a “prisionalização” (BARATTA, 1999,
p.184) dos internos, encorajando-os a absorver e adotar hábitos típicos do ambiente
penitenciário. Ela acentua uma criminalidade que deveria destruir (eficácia inversa) e repete as
mesmas reformas (isomorfismo reformista), em cada verificação histórica de seu fracasso
(FOUCAULT, 1987, p. 239). Para Foucault a prisão não se desvia de seu objetivo ao
aparentemente “fracassar”. O sistema punitivo opera uma gestão diferencial das ilegalidades,
cujo efeito indireto é golpear uma ilegalidade visível e útil (das classes subalternas) para
encobrir uma oculta (das classes dominantes).
Hoje, a crise da tradicional ideologia que legitima o cárcere coincide com um
período de retração do Estado social e de expulsão de um enorme contingente de trabalhadores
para a economia informal. A rede de instituições carcerárias (prisões, colônias penitenciárias,
etc.) tornou-se uma “alternativa ao emprego”, uma maneira de “utilizar” ou de “neutralizar” a
“população inassimilável pelo mercado” (BAUMAN, 1999, p.119). Essa forma de trabalho
inassimilável pelo mercado pode ser utilizada nas prisões como forma de extrair elevadas taxas
de mais-valia: com o crescimento exponencial das prisões privadas, esse setor se tornou uma
indústria altamente lucrativa (WACQUANT, 2002; CHRISTIE, 2000). Nos países ricos, as
18

prisões privadas são um negócio altamente lucrativo e podem trazer as multinacionais a


comodidade de explorar a mão-de-obra escrava legalmente. Nos países pobres ter a força de
trabalho explorada na prisão pode até ser considerado um “privilégio” dos condenados, diante
de tantas pessoas livres desempregadas (CIRINO DOS SANTOS, 2005).
Concluindo, sabe-se que o atual encarceramento em massa tem como alvo os setores
socialmente vulneráveis (pobres, negros, imigrantes indesejáveis), condenados à
imobilidade. Em contrapartida as elites, cujas condutas socialmente negativas causam
grandes desastres ambientais, econômicos, sociais e políticos, permanecem imunes e
desfrutam da vantagem de terem adquirido ainda mais mobilidade (ARGUELLO, 2006).
No Brasil atualmente vemos algumas poucas pessoas ricas e poderosas sendo presas, no
entanto o tratamento penitenciário, de saúde, jurídico, etc. dispensado a essas pessoas não é
igual ao dos “presos comuns”, em geral pobres. Até mesmo dentro do cárcere o poder e o
dinheiro diferenciam as pessoas.

O trabalho de agentes penitenciários no Brasil

A Classificação Brasileira de Ocupações - CBO6 (BRASIL, 2002) é um documento


do Ministério do Trabalho e Emprego, normalizador do reconhecimento, da nomeação e da
codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. A
categoria profissional de agente de segurança penitenciário7 está inserida no “Grande
Grupo 5”: “trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados” que
se subdivide em “famílias ocupacionais”. Os agentes penitenciários estão inseridos na
família de ocupações denominada “Vigilantes e Guardas de Segurança” (código 5173-15).
As condições gerais de exercício comuns à família dos vigilantes e guardas de segurança
são as seguintes:
[...] assalariados, com carteira assinada, que atuam em estabelecimentos
diversos de defesa e segurança e de transporte terrestre, aéreo ou
aquaviário. Podem trabalhar em equipe ou individualmente, com
supervisão permanente, em horários diurnos, noturnos, em rodízio de
turnos ou escala. Trabalham em grandes alturas, confinados ou em locais

6 Segundo essa classificação, ocupação é um conceito sintético e não natural, artificialmente construído
pelos analistas ocupacionais. O que existe no mundo concreto são as atividades exercidas pelo cidadão em
um emprego ou outro tipo de relação de trabalho (autônomo, por exemplo).
7 Outros nomes: Agente penitenciário, Carcereiro, Chaveiro-carcereiro, Guarda de presídio, Guarda
penitenciário, Agente de presídio. No Rio de Janeiro essa categoria profissional é denominada Agente de
Segurança e Administração Penitenciária (ISAP).
19

subterrâneos. Estão sujeitos a risco de morte e trabalham sob pressão


constante, expostos a ruídos, radiação, material tóxico, poeira, fumaça e
baixas temperaturas. (BRASIL, 2002)

Segundo a CBO (BRASIL, 2002), a formação e experiência necessárias para o


exercício da função de agente penitenciário requerem ensino médio completo e formação
profissionalizante básica de duzentas a quatrocentas horas. Eles também devem receber
treinamento obrigatório em escolas especializadas em segurança, onde aprendem a utilizar
armas de fogo8. São destacadas seis competências pessoais recomendadas para esse
profissional: trabalhar em equipe, demonstrar atenção, autocontrole, pró-atividade,
iniciativa e capacidade de contornar situações adversas. Nesse documento do Ministério do
Trabalho e Emprego estão relacionadas às atribuições dos agentes penitenciários
subdivididas em áreas e respectivas atividades (quadro 1).

8 No Rio de Janeiro, os agentes penitenciários trabalham desarmados dentro das unidades prisionais.
20

Quadro 1: Atribuições esperadas para os Agentes Penitenciários, segundo a Classificação Brasileira


de Ocupações: CBO (BRASIL, 2002).
AREA ATIVIDADES
Zelar pela Controlar o acesso de pessoas em áreas restritas, realizar rondas as dependências do
segurança das local de trabalho, ligar e desligar sistemas de iluminação, ligar cabine de forças,
pessoas e do apartar brigas, providenciar socorros médicos, solicitar reparos, trocar lâmpadas,
patrimônio fotografar ocorrências, prevenir e combater incêndios, prestar primeiros socorros.
Fiscalizar Revistar pessoas, veículos, recintos, mercadorias, cargas e bagagens; monitorar
pessoas, cargas e áreas por equipamentos eletrônicos, inspecionar a integridade das cargas, conduzir
patrimônios infratores à delegacia.
Recepcionar Identificar pessoas, consultar a pessoa a ser visitada, analisar o comportamento das
pessoas pessoas, abordar e encaminhar pessoas, acompanhar o visitante, controlar a
movimentação interna de pessoas e recepcionar autoridades.
Controlar objetos, Verificar a documentação da carga, conferir a mercadoria da carga, apreender
cargas e veículos objetos ilícitos e irregulares, acompanhar a entrega da carga dentro do local de
trabalho, identificar objetos achados e perdidos para devolução.
Escoltar pessoas Informar-se sobre o número de pessoas a serem escoltadas, definir a escolta a ser
e mercadorias utilizada, avaliar condições da área de destino, desviar de obstáculos e obstruções
no trajeto, percorrer o trajeto preestabelecido, adaptar percurso.
Monitorar os Efetuar a chamada dos presos, abrir a cela (acompanhado de outro agente), vigiar os
presos presos em todas as atividades no estabelecimento penal, organizar as atividades de
lazer, trabalho e religião, cumprir ordens judiciais, analisar correspondência dos
presos, participar de combates a fugas e rebeliões, negociar com os presos em
rebelião e recolher os presos até as celas.
Comunicar-se Relatar ocorrências, interagir com órgãos oficiais, prestar informações ao público,
solicitar a presença de autoridade competente, informar visitantes sobre as normas
de segurança, comunicar-se com a base durante a escolta, informar aos presos os
direitos e deveres e as normas, comunicar à chefia suspeita de fugas ou rebelião,
comunicar-se através de gestos e sinais, informar ao preso sobre sua situação
processual.
BRASIL, Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL, 2002).

Em relação aos vínculos institucionais, os profissionais de segurança penitenciária


estão em situações diversas dependendo do Estado brasileiro. No Rio de Janeiro seu regime
jurídico é estatutário, aprovados em concurso público, passam a ser servidores da Secretaria
de Administração Penitenciária (SEAP). Em outros estados podem estar vinculados à
polícia civil, ou a um departamento de alguma Secretaria.

O trabalho de agentes penitenciários no Rio de Janeiro


A SEAP foi criada em 2003, anteriormente era apenas um departamento 9 de outra
Secretaria. A partir de então, o número de unidades prisionais vem aumentando

9 Departamento do Sistema Penal, mais conhecido como DESIPE.


21

significativamente, assim como a quantidade de pessoas presas. Mesmo com a realização


de concursos públicos para agentes em 2003, 2006 e 2012, o quantitativo de profissionais
não acompanhou proporcionalmente o crescimento do número de presos e de
estabelecimentos prisionais, o que causou o aumento da demanda de trabalho, estando
atualmente, segundo os próprios agentes, o quantitativo profissional muito aquém do ideal
no sentido da manutenção da segurança nas unidades prisionais.
No Rio de Janeiro a superlotação dos presídios se intensificou a partir da extinção
das carceragens da Polinter realizada pelo governo do estado entre 2010 e 2012. Os presos
provisórios que anteriormente ficavam nas delegacias, passaram a ser imediatamente
encaminhados ao sistema penitenciário, o que gerou um aumento muito grande e rápido no
número de presos e refletiu em todos os serviços da SEAP: número insuficiente de guardas
nas turmas e no serviço de transporte, escassez de profissionais de saúde, entre outros
problemas. Na mesma época a segurança externa aos presídios (como as guaritas de muro e
portarias centrais) que antigamente era realizada por policiais militares, passou a ser
também responsabilidade dos agentes. Posteriormente também houve a construção de
algumas unidades prisionais e mesmo com a contratação de novos profissionais, o déficit de
agentes ainda não foi solucionado.
No passado, aqui no Rio de Janeiro, os agentes penitenciários que realizavam
atividades administrativas (atividade meio) eram considerados em desvio de função, uma
vez que não mantinham contato direto e constante com os apenados (atividade fim). A
partir de lei estadual n. 4.583/200510 sua denominação foi alterada para “Inspetores de
Segurança e Administração Penitenciária” (ISAP), que passou a englobar os dois tipos de
atividades. A categoria funcional a que se refere esta Lei é composta por cargos de
provimento efetivo organizados em carreira escalonada em 1ª, 2ª e 3ª classes; a partir dessa
lei, as promoções são feitas de classe para classe, por antiguidade e por merecimento. De
acordo com o artigo 2º, parágrafo 3º, o mérito será aferido pela conduta do agente, sua
pontualidade, dedicação, eficiência, contribuição à organização, frequência em cursos de
aperfeiçoamento oferecidos pela administração, melhoria dos serviços, aprimoramento de
suas funções e atuação em setor que apresente particular dificuldade. O artigo 3º determina
o provimento originário dos cargos efetivos através de aprovação prévia em concurso

10 Posteriormente alterada pela lei 5348/2008 que fixa o vencimento-base do cargo de agente de segurança
e administração penitenciária e dá outras providências.
22

público de provas e títulos, dividido em duas fases: a primeira, composta de exame


psicotécnico, provas escritas de conhecimentos, exame médico e prova de capacidade física
e investigação do seu comportamento social; a segunda, de curso de formação profissional,
com apuração de frequência, aproveitamento e conceito.
Nas unidades prisionais do Rio de Janeiro alguns agentes trabalham no “expediente”
e outros trabalham “na turma”. Os que trabalham no expediente cumprem uma carga
horária de 40 horas semanais, eles podem assumir diversas funções entre elas a de diretor,
subdiretor, motorista/escolta do diretor, revista de visitantes, trabalham também nos setores
de classificação, administração, segurança, zeladoria, manutenção, entre outros. Os agentes
que trabalham na turma ou no “plantão” cumprem um plantão de 24 horas e têm 72 horas
de descanso. Em cada unidade existem quatro turmas que se revezam, cada turma tem um
chefe e um assistente de chefe. Esses profissionais ficam em constante contato com os
presos e segundo eles trabalham “no miolo”, ou seja, bem próximos ou mesmo dentro dos
pavilhões onde se localizam as celas em uma unidade prisional.
Nos presídios femininos, de acordo com a Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984),
a tarefa de vigilância deve ser exercida por mulheres, por isso em um presídio feminino
existem mais agentes mulheres. Os homens, quando presentes nessas unidades, trabalham
nas portarias, na escolta das diretoras ou em alguma outra função que não tenham contato
direto com as presas (TAETS, 2013). As agentes também trabalham nos presídios
masculinos, mas nunca nas turmas que têm contato direto e regular com os presos, elas
normalmente trabalham nos setores ligados a administração e nas atividades de revistas de
visitantes.
A trajetória de uma agente prisional que trabalhou em presídios masculinos é
bastante diferente daquela que exerceu a profissão em presídios femininos, já
que o contato com a população prisional é completamente diverso nos dois
cenários, o que faz que a experiência, as percepções e visões sobre a
instituição também sejam diversas (TAETS, 2013, p.248-249).

As diferentes pressões laborais que ocorrem sobre ambos os sexos, associadas às


diferenças inerentes aos gêneros e ao fato da ocupação de agente penitenciário ser
tradicionalmente e majoritariamente masculina, trazem à luz a relevância de entender
melhor o papel da mulher trabalhadora no ambiente prisional, bem como de entender como
as pressões decorrentes do trabalho se expressam sobre a saúde mental dos agentes homens
e mulheres.
23

É importante conhecer a realidade nacional e regional tanto do número de pessoas


presas quanto de agentes para custodiá-las. Em nível nacional, o Sistema Integrado de
Informações Penitenciárias (INFOPEN, 2014) do Departamento Penitenciário Nacional do
Ministério da Justiça, divulga dados de 2014, já os dados fornecidos pela SEAP são mais
atuais, de 2017 (quadro 2).

Quadro 2: Estatísticas do Ministério da Justiça e da Secretaria de Administração Penitenciária do


Rio de Janeiro sobre unidades prisionais, presos e agentes penitenciários.
Local Nº de Unidades Nº de presos no Sistema Nº de agentes
Prisionais Penitenciário penitenciários
Brasil - 20141 1420 607.731 45.619

Rio de Janeiro/RJ 52 39.321 NI


20141
Rio de Janeiro/RJ2 52 51.264 5.311
20172
1- INFOPEN 2014 - Sistema Integrado de Informações Penitenciarias/MJ-Departamento Penitenciário
Nacional
2- Superintendência de Recursos Humanos da SEAP - março 2017

No Rio de Janeiro, dados referentes a março de 2017 disponibilizados pela


Superintendência de Recursos Humanos da SEAP apontam o incremento do número de
pessoas presas (51.264), sendo 49.165 homens (95,9%) e 2.099 mulheres (4,1%). O número
de Agentes Penitenciários não foi informado ao DEPEN em 2014, mas em 2017 as
estatísticas da SEAP mostram que eles são 5.311, distribuídos nas 52 Unidades Prisionais
ou trabalhando administrativamente na sede ou ainda cedidos para outros órgãos.
Efetivamente lotados nas unidades estão 4.571 agentes.
Importante registrar que apesar da organização e atualidade dos dados fornecidos
não existe registro da quantidade de homens e de mulheres agentes/as. Essa falta de dados
parece indicar que a instituição não vê necessidade de diferenciar os gêneros, ou que essas
diferenças não têm importância no efetivo exercício da profissão, o que aponta para um
importante campo de investigação.
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) em Resolução
Nº-01 09/2009, levando em consideração dados da maioria dos países europeus que
obedecem à proporção média de menos de cinco presos por agente penitenciário,
determinou ao Departamento Penitenciário Nacional que, na análise dos projetos
apresentados pelos Estados para construção de estabelecimentos penais destinados a presos
24

provisórios e em regime fechado, exija a proporção mínima de cinco presos por agente
penitenciário. Essa proporção, desde então, nacionalmente, vem sendo considerada como
ideal. Cabe destacar que a proporção de agentes por preso desconsidera o regime de turnos
e plantões. Se considerar o turno de 24 horas trabalhadas por 72 horas de descanso, deve-se
quadruplicar a taxa acima registrada para aferir a disponibilidade efetiva de trabalhadores
por preso na rotina de uma unidade prisional.
Baseados nessas informações, nos dados recentes obtidos e calculando as
proporções, chega-se à conclusão de que, para seguir a proporção ideal proposta pelo
CNPCP, novos 5.682 agentes deveriam ser contratados (quadro 3).

Quadro 3: Relação existente e ideal entre número de presos e de agentes penitenciários - Rio de
Janeiro 2017
Nº de pessoas presas 51.264
Nº de agentes (lotados nas unidades prisionais) 4.571
Proporção presos/agentes 11,2 presos para cada agente
Nº ideal de agentes respeitando-se a proporção de 5/1 10.253
Nº de Agentes a serem contratados 5.682
Fonte: dados elaborados com informações da Superintendência de Recursos Humanos da SEAP – março
2017

Em relação à saúde desses profissionais, dados da SEAP de julho de 2014 (não foi
possível atualizar - dados indisponíveis) informam que 516 agentes/as se encontravam em
licença para tratamento de saúde, 20 em licença por acidente em serviço e 17 em licença
por doença em pessoa da família, totalizando 553 agentes afastados por motivos de saúde,
quase 10% do efetivo total à época. Segundo a superintendente de recursos humanos essas
licenças são concedidas pela Secretaria de Saúde do Estado e não se tem acesso à definição
das doenças ou dos acidentes que causaram esses afastamentos, pois são informações
sigilosas no intuito de manter a privacidade do servidor. Pode-se interpretar de outra forma
essa falta de dados, como uma falta de interesse da instituição em conhecer os problemas de
seus servidores para poder planejar projetos, programas ou até mesmo políticas de
prevenção e tratamento. Esses afastamentos do trabalho permitem constatar que a escassez
de agentes é maior ainda do que a estimada no quadro 3 (11,2 presos por agente).
25

3.2 Processo de trabalho e saúde

Trabalho, numa visão mais ampla e filosófica, característica de Marx (1985) é a


interação entre o homem e a natureza, com o objetivo de transformar a natureza nos bens
necessários à sua sobrevivência. Nesse processo o homem põe em movimento as forças que
pertencem à sua corporalidade - braços e pernas, cabeça e mão - para fabricação de valores
de uso, uma apropriação do natural para necessidades humanas, o que se configura na
condição universal da troca material entre homem e natureza, comum a todas as formas de
sociedade. Para esse autor, durante o processo de trabalho, o homem em sua atuação,
media, regula e controla seu metabolismo com a natureza, ele opera uma transformação no
objeto sobre o qual atua por meio de instrumentos de trabalho para a produção de produtos
e essa transformação está subordinada a um determinado fim. O trabalho humano se
distingue do animal no sentido que o homem imagina sua construção antes de transformá-la
em realidade. Ao final do processo de trabalho se configura um resultado que já existia
antes idealmente na imaginação do trabalhador, ou seja, existia um projeto anterior. Supõe-
se o trabalho numa forma em que ele pertence exclusivamente ao homem.

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha


envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de
suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor
abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em
cera. (MARX, 1985, p.149-150)

Para Marx (1985) o homem ao atuar sobre a natureza externa a ele e ao modificá-la,
modifica ao mesmo tempo sua própria natureza. Dessa forma o trabalho transforma o
objeto, a natureza e no mesmo processo transforma o próprio homem, o trabalhador, o ser
humano e nesse processo sobrevém “... a possibilidade de situações potencialmente
negativas para a saúde, relacionada a um desfecho de determinado tipo de agravo"
(MINAYO-GOMEZ; MACHADO; PENA, Orgs., 2011). De acordo com Pena (2011), o
estudo do conceito de processo de trabalho, centrado no materialismo dialético (escola
marxiana), e suas relações com o processo de saúde-doença foi amplamente desenvolvido
por diversos autores nos anos 60 a 80 e tem sido a principal referência no campo de
investigação crítica da saúde do trabalhador. Fromm (1962) interpreta a filosofia de Marx
como um protesto contra a alienação do homem, contra sua transformação em objeto, sua
desumanização e automatização, inerentes à evolução do industrialismo ocidental.
26

Marx expõe categorias de análise, ou seja, formas de abordar e compreender


aspectos da realidade do trabalho. Dessa maneira o processo de trabalho teria três
componentes: (1) a atividade adequada a um fim, isto é, o próprio trabalho; (2) o objeto de
trabalho, ou seja, a matéria a que se aplica o trabalho e (3) os instrumentos ou meios do
trabalho, os objetos que o obreiro interpõe entre ele e o objeto no que trabalha. O processo
de trabalho se extingue no produto, sendo este um valor de uso. Porém o produto não é só o
resultado senão a condição do processo do trabalho.
No setor de serviços, o foco não é o produto final e sim as relações que se travam no
exercício da profissão. A noção de serviço não se articula à produção de um bem, é isso
que a diferencia das atividades inerentes à indústria, à mineração e à agricultura. O conceito
de processo de trabalho é complexo e sua aplicação no setor de serviços envolve
considerações diversas quando comparadas ao processo industrial (PENA, 2011). A grande
heterogeneidade da área de serviços desafia nossa capacidade explicativa. Podem-se
constatar nessa área algumas características análogas as existentes no processo de trabalho
industrial, porém, existem atributos de alta significância muito próprios do setor em torno
da interação entre trabalhadores e clientes/usuários/destinatários/consumidores. (MINAYO-
GOMEZ, 2011, p. 27)
Segundo Meirelles (2006), desde os trabalhos iniciais de Fischer (1939) e Clark
(1940), pode-se identificar um grupo de atividades de expressiva participação na
composição do produto interno bruto, denominado por estes autores de setor terciário.
Desde então, vários têm sido os esforços teóricos e analíticos empreendidos na busca da
compreensão das particularidades quanto à natureza das atividades de serviço. A autora
mostra historicamente uma pluralidade de visões e de interpretações e a partir de seus
próprios questionamentos apresenta uma proposta de abordagem norteada pela ideia de que
a natureza específica das atividades de serviço reside no fato de serem essencialmente
realização de trabalho, independentemente das características formais do processo
produtivo ou do produto resultante deste processo.
A questão fundamental na análise conceitual dos serviços consiste em
compreender que serviço é fundamentalmente diferente de um bem ou de
um produto. Serviço é trabalho em processo, e não o resultado da ação
do trabalho; por esta razão elementar, não se produz um serviço, e sim se
presta um serviço. (MEIRELLES, 2006, P.134, grifo da autora).

Sob esta perspectiva, a classificação dos serviços torna-se bastante ampla, sendo
possível identificá-los ao longo das etapas de realização de trabalho nos processos
27

econômicos em geral. Analiticamente, a prestação de serviço pode se dar em três níveis:


nos processos de trabalho puro, nos processos de transformação e produção ou nos
processos de troca e circulação. Segundo a autora, os serviços governamentais de defesa e
segurança (onde está incluída a segurança penitenciária) se inserem nos processos de
trabalho puros, sendo o serviço puro a realização de um trabalho único e exclusivo, onde o
resultado do processo de trabalho é o próprio trabalho, não há necessariamente um produto
resultante. É o entendimento de ser trabalho em processo, que permite compreender os
atributos comumente reconhecidos pelos autores clássicos e contemporâneos nas atividades
de serviço, como a intangibilidade, a simultaneidade e a inestocabilidade: (MEIRELLES,
2006, p.133).
- A natureza intangível dos serviços está associada à sua natureza de processo e não
ao produto resultante, sendo processo é a priori intangível.
- Por ser um processo de trabalho, a prestação de serviço é simultânea ao consumo,
ou seja, a produção só acontece a partir do momento em que o serviço é demandado e se
encerra assim que a demanda é atendida.
- Esta simultaneidade entre o ato de produzir e consumir torna, por sua vez, o
serviço inestocável, pois o seu fornecimento se dá de forma contínua no tempo e no espaço
e ele se extingue tão logo se encerra o processo de trabalho.
- Sendo fluxo de trabalho, os serviços apresentam também como atributo
característico a interatividade. Condição indispensável para a prestação de qualquer serviço
é a interação entre prestadores e usuários de serviço.
- A natureza de fluxo revela ainda outro atributo dos serviços, que é a
irreversibilidade: ao disparar o processo de realização de trabalho não é possível revertê-lo,
seria possível sim interrompê-lo, mas não o reverter, porque parte de sua ação e de seu
efeito já se deu ao longo do processo de trabalho.
Em relação aos processos gerenciais existem, já há algumas décadas, debates sobre
os efeitos negativos da organização do trabalho taylorista/fordista sobre os trabalhadores
destacando-se: a fragmentação do trabalho com separação entre concepção e execução, que
associada ao controle gerencial do processo e à hierarquia rígida tem levado à
desmotivação e alienação de trabalhadores, bem como a desequilíbrios nas cargas de
trabalho (MATOS; PIRES, 2006). Em comum com o método taylorista de gestão da
produção, o trabalho pensante e de planejamento em uma instituição penitenciária, como a
28

que se analisa nesta tese, fica restrito a um pequeno grupo, esperando da maioria a
execução das atividades delegadas, o que demonstra uma divisão entre quem planeja e
quem executa.
Também é importante discutir em uma investigação sobre a relação trabalho/saúde,
questões transversais relacionadas ao gênero, principalmente quando se trata de uma
profissão essencialmente masculina. A inserção feminina no mercado de trabalho pode ser
considerada uma necessidade do sistema capitalista, além de expressar o desejo e luta das
mulheres por igualdade de direitos. Essa inserção mudou a condição de permanência no
espaço privado do lar permitindo, aos poucos, que elas ocupassem e conquistassem o
espaço público. Os preconceitos sociais que exigiam que as mulheres ingressassem em
trabalhos compatíveis com o seu sexo e capacidades, “limitavam as oportunidades das
mulheres e geraram a segmentação por sexo na força de trabalho” (BESSE, 1999). Durante
o século XX, algumas mulheres foram pouco a pouco ingressando em indústrias
tradicionalmente dominadas pelos homens e ocupando alguns espaços anteriormente
exclusivos dos homens. Porém as mudanças mais significativas no padrão de emprego
feminino ocorreram no setor de serviços. “A administração pública, que se mantivera
fechada para as mulheres durante o século XIX, ofereceu novas oportunidades importantes
a partir da década de 1910” (BESSE, 1999, p.163).
Compreendendo saúde em seu significado mais amplo e trabalho enquanto um
determinante social de saúde bastante presente no cotidiano das pessoas, avalia-se que o
modo de organização do trabalho presente em nossa sociedade atualmente pouco contribui
para a manutenção da saúde mental do trabalhador. Esse modo de organização impede o
reconhecimento das pessoas em sua singularidade, impedindo e disciplinando suas formas
de expressão e configurando um contexto de violência (AMADOR, 2002). A violência
deriva das estratégias defensivas construídas pelos sujeitos em decorrência do impacto da
violência da organização do trabalho sobre suas subjetividades, configurando uma espécie
de cadeia de violência (DEJOURS, 1994a).
Em sua análise das relações entre trabalho e vida psíquica, o mesmo autor avalia
que “o afrontamento do homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental” e o
sofrimento mental resulta da organização do trabalho. “Mesmo as más condições de
trabalho são, no conjunto menos temíveis que uma organização do trabalho rígida e
imutável” (DEJOURS, 1992, p.52).
29

3.3 Saúde do trabalhador

O objeto dessa pesquisa envolve a relação entre trabalho e saúde. Para compreendê-
la é preciso definir a concepção escolhida, assim como definir teoricamente o método a ser
utilizado. Assim como Minayo (2010), se entende por metodologia não só a prática
exercida (técnicas, instrumentos) na abordagem do conhecimento, mas também o “caminho
do pensamento”, ou seja, a “articulação entre conteúdos, pensamentos e existência”. É
preciso descrever as concepções teóricas da abordagem para explicitar a partir de qual
referencial se quer entender a complexidade dos processos de trabalho, ou ainda, de que
lugar se percebe a relação trabalho e saúde estudada.
Dessa forma é interessante traçar uma breve revisão sobre os caminhos que levaram
às concepções, práticas e métodos da saúde do trabalhador, um campo teórico e
metodológico aberto e em construção, a partir do qual será abordado o objeto.
A saúde do trabalhador tem história, cara e lado, portanto não é neutra. O próprio
termo já explicita o foco que não é o trabalho, a administração, a empresa ou a produção e
sim o homem, ou a mulher trabalhadores/as. Para se entender essa forma de abordar a saúde
relacionada com o trabalho é importante conhecer o histórico das diversas abordagens,
métodos e técnicas, desde a medicina do trabalho, passando pela saúde ocupacional até a
saúde do trabalhador, uma caminhada que se encontra em processo ou (devido às
dificuldades) luta. Os estudos e práticas foram por vezes se mostrando insuficientes e
progredindo no sentido de entender o trabalho de forma mais ampla e valorizar cada vez
mais o saber e a experiência do trabalhador, mesmo assim, apesar de limitadas, algumas
formas de abordagem ainda estão disponíveis e não foram superadas.
O contexto de surgimento da medicina do trabalho é a primeira metade do séc. XIX,
durante a revolução industrial da Inglaterra, dentro das fábricas. Os operários estavam
submetidos a um processo de trabalho cada vez mais acelerado e desumano (MENDES;
DIAS, 1991) e não dispunham de nenhum cuidado médico. A solução encontrada à época
para resolver esse problema que afetava a produção foi a de colocar no interior da fábrica
um médico (intermediário entre empregador e trabalhador), para que este profissional
verificasse o efeito do trabalho sobre as pessoas e ao mesmo tempo fosse o responsável
(substituindo o empregador) pela proteção da saúde e das condições físicas de seus
operários. Assim surge o primeiro serviço de medicina do trabalho com claras propostas de
30

servir principalmente aos interesses do capital: cuidar dos efeitos do trabalho com vistas a
garantir a produção. Para cada doença era atribuída uma causa específica e a ação médica
se restringia sobre as consequências dos agravos. (OP.CIT.)
Esse modelo de serviços médicos oferecidos pela empresa se fortaleceu e expandiu
rapidamente por outros países “consolidando, ao mesmo tempo, sua vocação enquanto
instrumento de criar e manter a dependência do trabalhador (e frequentemente também de
seus familiares), ao lado do exercício direto do controle da força de trabalho” (MENDES;
DIAS, 1991, p.342). Segundo os autores é possível identificar nessa forma de abordar a
saúde a partir do trabalho, algumas características questionáveis. Na medicina do trabalho
(o próprio nome demonstra) se evidencia uma atividade essencialmente médica, realizada
no próprio local de trabalho e que cuida da “adaptação física e mental dos trabalhadores” às
suas condições de trabalho, através de atividades educativas. Destaca-se o poder e a
onipotência do médico e o controle do empregador na direção da adaptação e da educação
para os seus interesses.
A expectativa de uma adaptação do trabalhador e da manutenção de sua saúde
refletem os princípios da “Administração Científica do trabalho” de Taylor, ampliados
posteriormente por Ford e “encontram na medicina do trabalho uma aliada para a
perseguição de seu “telos” último: a produtividade” (MENDES; DIAS, 1991, p.343).
Já o contexto histórico da evolução da medicina do trabalho para a saúde
ocupacional é o pós-guerra. Com a II guerra mundial, demandas industriais específicas
foram intensificando o trabalho de algumas categorias profissionais, assim como um grande
esforço teve de ser empregado no sentido da recuperação da economia. As condições de
trabalho eram extremamente adversas e o custo pelas mortes e acidentes de trabalho pesava
muito no orçamento de empregadores e companhias de seguro. Nesse difícil panorama, a
medicina do trabalho não consegue mais responder à demanda pela manutenção da saúde e
da produtividade dos trabalhadores fazendo crescer a insatisfação desses e seus
questionamentos em relação ao que acontece com seus corpos dentro do trabalho (OP.CIT.).
A saúde ocupacional se estabelece como um ramo da saúde ambiental, centrada na
higiene ocupacional, com foco nos ambientes de trabalho desfavoráveis à saúde do
trabalhador. A doença passa a ser vista como multicausal, com vários fatores determinantes
e se começa a perceber os “fatores de risco” e “educar” o trabalhador para a prevenção.
Esse tipo de abordagem passou a desqualificar o enfoque médico e epidemiológico da
31

relação saúde-trabalho, a responsabilidade do médico foi transferida para o próprio


trabalhador, configurando-se em uma dupla penalização. Estimulava-se o uso de proteções
individuais em detrimento das formas de proteção que poderiam ser construídas
coletivamente. As intervenções propostas passaram a focar os locais de trabalho, com a
finalidade de controlar e avaliar quantitativamente os riscos ambientais. Na legislação
trabalhista foram acrescentadas normas relativas à obrigatoriedade de equipes técnicas
multidisciplinares nos locais de trabalho.
A saúde ocupacional (assim como a medicina do trabalho) não foi desenvolvida
para atender às necessidades dos trabalhadores e sim da produção. Seu modelo mecanicista
mantém o referencial da medicina do trabalho, além disso, não consegue concretizar a
sugestão de interdisciplinaridade nem acompanhar o ritmo acelerado das transformações
dos processos de trabalho. A saúde ocupacional continua a abordar os trabalhadores como
“objetos” das ações de saúde, não os incluindo nos processos e nas discussões, por fim ela
se mantém no âmbito do trabalho e não avança para o setor saúde (MENDES; DIAS,
1991).
A saúde do trabalhador se insere nas relações entre saúde e trabalho como um
modelo teórico mais complexo, de orientação às ações na área da atenção à saúde dos
trabalhadores, no seu sentido mais amplo: desde a promoção, prevenção, cura e
reabilitação, incluídas as ações de vigilância sanitária e epidemiológica.
A construção de seu referencial teórico nasce no bojo dos movimentos sociais que
surgiram nos países industrializados do mundo ocidental na segunda metade da década de
1960, “marcados pelo questionamento do sentido da vida, o valor da liberdade, o
significado do trabalho na vida, o uso do corpo e a denúncia do obsoletismo de valores já
sem significado para a nova geração” (MENDES; DIAS, 1991, p. 344). Em relação aos
processos de trabalho, a década de 1970 inicia profundas mudanças com forte tendência de
“terceirização” da economia, com o declínio do setor secundário e o crescimento acentuado
do setor terciário, o que também faz mudar o perfil dos trabalhadores. Mudanças como o
constante aumento do uso de máquinas e a crescente informatização dos processos
interferem de forma significativa na organização do trabalho e impactam diretamente os
padrões de saúde dos trabalhadores, reafirmando a importância de construírem-se
estratégias coletivas capazes de enfrentar as ameaças do ambiente de trabalho.
Nesse contexto as discussões e interpretações sobre o processo saúde-doença
32

mudam seu foco, inclusive em sua articulação com o trabalho. Com a influência da
medicina social latino americana, a visão biomédica é questionada e o processo saúde-
doença passa a se inserir no campo social, sendo entendido como determinado socialmente:
"Nessa trajetória, a saúde do trabalhador rompe com a concepção hegemônica que
estabelece um vínculo causal entre a doença e um agente específico, ou a um grupo de
fatores de risco presentes no ambiente de trabalho". (MENDES; DIAS, 1991, p. 347).
Estudo de Laurel e Noriega (1989) funda o campo da saúde do trabalhador
analisando o processo saúde-doença e a relação trabalho-saúde inseridos em um contexto
histórico que deve ser analisado em sua complexidade. Uma categoria de fundamental
importância apresentada por Laurel e Noriega (1989, p.110) é a de carga de trabalho cuja
finalidade é superar a noção de risco da Medicina Ocupacional, esta categoria, de acordo
com os autores, permite uma análise do processo de trabalho e do caráter dinâmico e de
interação, que produzem o desgaste.
No Brasil, o campo da saúde do trabalhador (MINAYO-GOMEZ, 2011) tem sua
origem na década de 80, em uma conjuntura política de organização e de lutas pela
redemocratização do país que se concentraram no questionamento das concepções e das
políticas públicas de saúde vigentes à época.

O discurso da saúde do trabalhador emerge, do ponto de vista acadêmico,


político e institucional na saúde coletiva, em contraposição à base
conceitual e prática das concepções hegemônicas sobre a relação trabalho-
saúde da medicina do trabalho (MT) e da saúde ocupacional (SO).
(MINAYO-GOMEZ, 2011, p. 25)

É importante destacar a natureza interdisciplinar e multiprofissional do campo da


saúde do trabalhador. Trata-se da construção de um saber e de uma prática interdisciplinares
que se diferenciam de uma ação centrada no conhecimento médico e nos saberes divididos
em compartimentos. A complexidade exigida na análise dos processos de trabalho torna a
interdisciplinaridade fundamental na articulação dos conhecimentos, ampliando a
compreensão do objeto (MINAYO- GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997). Esse “novo” modo
de lidar com as questões de saúde relacionadas ao trabalho mostra a inclusão de uma visão
mais humana e menos econômica, no sentido capitalista. É uma forma diferenciada de
entender e envolver trabalhadores e trabalhadoras em sua dinâmica laboral.
O campo da saúde do trabalhador é agregador no sentido que insere os avanços das
pesquisas acadêmicas sobre o tema, incorpora a ampliação do entendimento sobre saúde e
33

doença, reconhece a importância da integração das diferentes produções de conhecimento,


valoriza o saber dos trabalhadores e sua luta por direitos e liberdade. Segundo Mendes e
Dias (1991, p.347) “no âmbito das relações saúde x trabalho, os trabalhadores buscam o
controle sobre as condições e os ambientes de trabalho, para torná-los mais "saudáveis””. A
abordagem da saúde do trabalhador é a que se mostra em consonância com esses desejos de
liberdade e a que será utilizada nesta pesquisa.

3.4 Sofrimento psíquico no trabalho

A dificuldade para encontrar consenso sobre o que seja saúde mental ou doença
mental se estende também para o conceito de sofrimento psíquico (BORSOI, 2007). Em
geral, a clínica e a epidemiologia consideram critérios básicos para a classificação das
doenças mentais a existência de alterações ou a desintegração no funcionamento psíquico,
assim como a duração dessas alterações. “No entanto, esse modelo de compreensão exclui
situações em que há sofrimento psicológico sem que este possa ser definido como uma
doença ou transtorno mental no sentido clássico” (p.105). Nesse sentido Dejours (1994b, p.
22) também sinaliza que "não é possível quantificar a vivência, que é em primeiro lugar
qualitativa".
Para Goldberg e Huxley (1992), sofrimento psíquico é uma dificuldade emocional
que associa sintomas psicológicos e físicos, sendo considerado um transtorno mental
comum (TMC), caracterizado por sintomas não psicóticos como insônia, fadiga,
irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas como dor de
cabeça, dor abdominal, tosse ou fraqueza. Essas queixas são manifestações ou respostas a
um tipo de sofrimento psicológico (HARDING et al., 1980; FERNANDES et al., 2002) e
não estão necessariamente associadas à existência de uma patologia orgânica
diagnosticável.
A partir da Psicodinâmica do Trabalho (DEJOURS, 1992, 1994 a e b; DEJOURS;
ABDOUCHELI, 1994 e DEJOURS; BEGUÈ, 2010), referencial teórico central dessa tese,
pode-se compreender o sofrimento psíquico derivado do trabalho e entender como o
estresse - outro aspecto da saúde mental investigado - está intrinsecamente associado a este
transtorno mental comum.
No campo da saúde mental e trabalho, foi o médico do trabalho, psiquiatra e
34

psicanalista Cristophe Dejours do Laboratório de Psicologia do Trabalho do “Conservatório


Nacional de Artes e Ofícios” de Paris que inaugurou esse eixo de análise. Durante muito
tempo denominado de “psicopatologia do trabalho”, a escola Dejouriana da “psicodinâmica
do trabalho” constituiu-se articulando diversos especialistas e espaços de pesquisa, teve
várias etapas de estruturação em um processo contínuo de desenvolvimento teórico e
prático de pesquisa que fundamentou a construção de novos conhecimentos e o
aperfeiçoamento de uma metodologia de investigação que marcaram as atividades desse
grupo (SELLIGMAN-SILVA, 1994). Inicialmente seus estudos estavam centrados nas
dinâmicas das experiências no cotidiano de trabalho que conduziam ora ao prazer, ora ao
sofrimento, posteriormente sua abrangência foi ampliada para os estudos da dinâmica
saúde/doença, sendo o sofrimento no trabalho, em uma primeira análise, o campo que
separa a doença da saúde.
Dejours e Abdoucheli (1994, p.120) definem psicopatologia do trabalho como “a
análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela confrontação do sujeito com a
realidade do trabalho". Psicopatologia é entendida no sentido do “estudo dos mecanismos e
processos psicológicos mobilizados pelo sofrimento”. A análise desses processos psíquicos
é dinâmica, pois se concentra nos “conflitos que surgem do encontro entre um sujeito,
portador de uma história singular, preexistente a este encontro e uma situação de trabalho
cujas características são, em grande parte, fixadas independentemente da vontade do
sujeito”.
Os conceitos que estão na base da teoria Dejouriana são a “organização do
trabalho”, o “sofrimento no trabalho” e as “estratégias defensivas”. Essa perspectiva teórica
se concentra no impacto da “organização do trabalho” sobre o funcionamento psíquico do
trabalhador. O autor (DEJOURS, 1992, p. 10) pontua a diferença entre “condições de
trabalho” e “organização do trabalho”. As condições de trabalho são representadas pelas
características do ambiente físico, do ambiente químico, do ambiente biológico, as
condições de higiene, de segurança e as características antropométricas do posto de
trabalho. A organização do trabalho é constituída pela divisão de tarefas entre os
operadores, os ritmos impostos, os modos operatórios prescritos, mas também, sobretudo a
divisão dos homens para garantir essa divisão de tarefas, representada pelas hierarquias, as
repartições de responsabilidades e os sistemas de controle.
“As pressões ligadas às condições de trabalho têm por alvo principal o corpo dos
35

trabalhadores, onde elas podem ocasionar desgaste, envelhecimento e doenças somáticas”


(DEJOURS; ABDOUCHELI, 1994, p. 126). A organização do trabalho, por outro lado, atua
em nível do funcionamento psíquico. A divisão de tarefas e o modo operatório incitam o
sentido e o interesse do trabalho para o sujeito, enquanto a divisão de homens solicita
sobretudo as relações entre pessoas e mobiliza os investimentos afetivos, o amor e o ódio, a
amizade, a solidariedade, a confiança, etc. A análise das condições de trabalho se reúne no
estudo da ergonomia, já a dimensão organizacional penetra no campo da relação trabalho e
saúde, principalmente no que existe de “relação social” no trabalho e que configura a
interface singular/coletivo. (DEJOURS, 1994a)
Na análise da organização do trabalho aparece um distanciamento importante entre
a organização do trabalho prescrito e a organização do trabalho real. O trabalho prescrito
materializa-se por um tipo de manual de procedimentos em que cada operação é descrita de
forma detalhada em tarefas elementares a realizar. Mesmos sem que a organização prescrita
do trabalho seja contestada na prática, é inaplicável integralmente e os trabalhadores são
levados a transgredi-la. “É no rearranjo do trabalho prescrito, ou seja, no trabalho real ou na
prática "quebra-galho" inevitável que se pode observar a interface entre trabalho e saúde
mental” (OP. CIT., p. 51). No trabalho real existe a mobilização efetiva da iniciativa, da
inventividade e da cooperação. É onde o trabalhador pode se manifestar enquanto sujeito,
pode contribuir com seu trabalho de uma forma particular e singular, a fim de superar as
incoerências da organização prescrita. Essa nova forma de fazer pode gerar o interesse pelo
trabalho, uma vez que mobiliza características pessoais como a inteligência e a astúcia. “A
arte do quebra-galho está, portanto no coração do prazer do trabalho” (OP CIT, p. 52).
Em alguns momentos a organização do trabalho pode entrar em conflito com o
funcionamento psíquico do trabalhador “quando estão bloqueadas todas as possibilidades
de adaptação entre a organização do trabalho e o desejo dos sujeitos, então emerge o
sofrimento”. O sofrimento psíquico no trabalho surge como uma estratégia de não
adoecimento: um espaço de luta contra o enlouquecimento (DEJOURS, 1992, p. 10).

[...] entre o homem e a organização prescrita para a realização do trabalho,


existe, às vezes, um espaço de liberdade que autoriza uma negociação,
invenções e ações de modulação do modo operatório, isto é uma invenção
do operador sobre a própria organização do trabalho, para adaptá-la às
suas necessidades, e mesmo para torná-la mais congruente com seu
desejo. Logo que esta negociação é conduzida a seu último limite, e que a
relação homem-organização do trabalho fica bloqueada, começa o
36

domínio do sofrimento – e da luta contra o sofrimento (DEJOURS 1987


citado por SELIGMAN 1994, p. 15).

Outro aspecto importante na abordagem da clínica do trabalho (DEJOURS;


BENGUÈ, 2010, p.38) e que seria uma das molas mestras da saúde mental do trabalho é o
“reconhecimento” e sua dinâmica psíquica: “o reconhecimento apresenta-se como
retribuição simbólica obtida por aquele que trabalha uma resposta à contribuição que ele
oferece à empresa e, por seu intermédio, a toda a sociedade”. Essa retribuição é diferente
da retribuição material (salário, bonificações, promoções): “pode-se mostrar que o impacto
psicológico depende não do nível de remuneração alcançado, mas da distinção simbólica
subjacente”. Dessa forma o reconhecimento é capaz de transformar o sofrimento no
trabalho em prazer, no sentido do fortalecimento da identidade.
Os efeitos negativos do trabalho não afetam igualmente os trabalhadores, suas
consequências sobre a saúde mental não são idênticas e nem similares “é que entre as
pressões do trabalho e a doença mental interpõe um indivíduo, não somente capaz de
compreender sua situação, mas capaz também de reagir e se defender” (DEJOURS;
ABDOUCHELLI, 1994, p.123) sendo que as defesas ativadas são particulares e fortemente
vinculadas ao passado, gênero, história e personalidade de cada sujeito, daí a dificuldade de
uma abordagem epidemiológica em matéria de saúde mental no trabalho.
Não se trata de estudar os trabalhadores atingidos por doenças mentais e sim todos
os trabalhadores. Mesmo os que não desenvolveram sintomas ou não adoeceram
visivelmente estão cotidianamente submetidos às pressões e exigências do trabalho.
Sofrimento no trabalho é um estado compatível com a normalidade, ou seja, que não
configura uma doença mental, mas que para isso se utiliza de várias estratégias e
mecanismos de regulação, ou seja, de adaptação do trabalho prescrito (DEJOURS, 1992).
O sofrimento psíquico passa a ser uma condição de todo o sujeito que trabalha, onde
não é apenas considerada a “dimensão mórbida para o sujeito, mas também uma dimensão
de vida que o impulsiona para o engajamento de sua subjetividade na construção social do
trabalho” (AMADOR, 2002, p 45). A partir do trabalho o sujeito pode ir de encontro à
saúde ou à doença e o que vai determinar essa direção é a possibilidade que a organização
do trabalho oferecerá para a inscrição de sua subjetividade no chamado trabalho real: um
espaço de criação e invenção em contraposição aos modos prescritos da organização do
trabalho. Em algumas situações adversas o sujeito sofre no movimento de transformá-las
37

buscando prazer e fuga de sofrimento; essa dinâmica entre prazer e sofrimento leva ao
equilíbrio da saúde do trabalhador. Já o sofrimento patogênico se manifesta quando essa
negociação de possibilidade de transformação e liberdade se esgota, quando todos os
recursos defensivos falham, porém se o sofrimento puder ser transformado em criatividade,
mesmo frente à organização do trabalho, está-se diante do sofrimento criativo.
Esse é um espaço de luta e é nesse processo dinâmico entre a saúde e a doença que
os trabalhadores criam estratégias defensivas individuais e coletivas para se protegerem.
Dejours estuda o modo como essa luta contra o sofrimento se faz tanto coletiva quanto
individualmente. As estratégias defensivas construídas, organizadas e gerenciadas
coletivamente visam transformar a percepção que os trabalhadores têm da realidade que os
faz sofrer (AMADOR, 2002).
Segundo Dejours (1992), uma “ideologia defensiva” se estrutura a partir do
desenvolvimento da instância coletiva de defesa. Um exemplo seria a “ideologia da
vergonha”, uma dificuldade em falar da doença e do sofrimento: quando se está doente
tenta-se esconder o fato até mesmo das pessoas mais próximas como familiares. Quando
não dá mais para esconder, a realidade da doença é vivida como vergonhosa, necessitando
de várias justificativas ou até mesmo desculpas, como se a doença fosse voluntária, já que
ela em algumas vezes é associada à preguiça. Essa ideologia da vergonha organiza-se como
um consenso social e não uma prática individual, em relação a sua característica de gênero
mostra-se mais tolerante com a mulher do que com o homem. Nesse conceito da ideologia
da vergonha, elaborado e estudado por Dejours, a doença deve ser recoberta pelo silêncio
que tem consequências: “calar sobre a doença e o sofrimento leva, de maneira coerente a
recusar os cuidados, a evitar consultas médicas, a temer hospitalizações” (OP. CIT., p. 35).
Apenas quando ela se torna insuportável e interfere na produção é que se pede ajuda
consultando um médico por exemplo. “... pode-se considerar que a vergonha instituída aqui
como sistema constitui uma verdadeira ideologia elaborada coletivamente, uma ideologia
defensiva contra uma ansiedade precisa, a de estar doente, ou, mais exatamente, de estar
num corpo incapacitado”. A ideologia coletiva da vergonha mantém à distância o risco de
afastamento do trabalho, do desemprego, da miséria, da morte, quando ela fracassa pode
levar a uma saída individual como o alcoolismo, a prática de atos de violência ou ainda a
loucura ou a morte.
As ideologias defensivas (DEJOURS, 1992, p.36) têm por objetivo mascarar, conter
38

e ocultar uma ansiedade particularmente grave. Ideologias defensivas são elaboradas por
grupos sociais específicos e particulares, sempre relacionados à natureza da organização do
trabalho. “A especificidade da ideologia defensiva da vergonha resulta, por um lado, da
natureza da ansiedade a conter e, por outro lado, da população que participa na sua
elaboração...”. O que caracteriza uma ideologia defensiva é o fato dela “ser dirigida não
contra uma angústia proveniente de conflitos intrapsíquicos de natureza mental, e sim
destinada a lutar contra um perigo e um risco reais”. Ela também dever ser “operatória”,
deve ter a participação de todos e aquele que não contribui ou participa do conteúdo da
ideologia é excluído.
Autores que investigam formas de enfrentamento as dificuldades existentes no
trabalho em prisões apontam aspectos como: incremento da formação profissional
(HARTLEY et al., 2000; MOON; MAXWEL, 2000), estímulo ao apoio social (dos pares,
da supervisão, da instituição, da sociedade em geral, da família e religioso) (MORGAN et
al., 2002; GOULD et al., 2013) e oferta de espaços de acolhimento no próprio trabalho para
melhoria da comunicação entre eles (GOULD et al., 2013; DOWDEN; TELLIER, 2004),
reflexão, reestruturação e reorientação emocional (MCGRATY et al., 2009).
Em ambientes de trabalho predominantemente ocupados por homens também são
elaboradas estratégias de defesa específicas, aleatoriamente concebidas para combater ou
mascarar o sofrimento (DEJOURS; BÈGUE, 2010), como por exemplo, as brincadeiras
irônicas no sentido do deboche ou zombaria (chacotas).
A expressão do sofrimento, os sintomas psicopatológicos, a depressão
eram invariavelmente convertidos em chacota e denunciados em bloco
com tudo o que relevava da doença mental, dos psicólogos, dos
psiquiatras. Cada qual devia esconder dos outros – à sua maneira – o
sofrimento, uma espécie de ethos profissional” (OP.CIT.).

3.5 Estresse no Trabalho

O modo de levar a vida atualmente nas cidades e metrópoles pode se apresentar


como uma das principais causas de adoecimento físico e mental e gerar níveis elevados de
estresse, que pode ser o responsável por produzir consequências negativas para o indivíduo
e para a comunidade (LIPP, 2003). O estresse não é considerado uma doença, mas atua
como fator de risco para o surgimento de várias doenças (PASCOAL; TAMAYO, 2004). É
39

um relevante aspecto com raízes sociais, psicológicas e fisiológicas que facilita o


surgimento de problemas de saúde mental, além de poder contribuir para a ocorrência de
sofrimento psíquico.
O estresse quando excessivo produz reações físicas e emocionais. Em suas
pesquisas, Lipp e Guevara (1994) relatam sintomas físicos que ocorrem com maior
frequência: aumento da sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da
mandíbula, ranger de dentes, hiperatividade, náuseas, mãos e pés frios. Em termos
psicológicos, vários sintomas podem ocorrer como ansiedade, tensão, angústia, insônia,
alienação, dificuldades interpessoais, dúvidas quanto a si próprio, preocupação excessiva,
inabilidade de concentrar-se em outros assuntos que não o relacionado ao sofrimento,
dificuldade de relaxar, ira e hipersensibilidade emotiva.
O conceito de estresse foi desenvolvido a partir de diferentes perspectivas. O termo
provém do inglês stress e teve sua origem vinculada à área biológica. Cannon e Selye
foram os precursores que estudaram as respostas fisiológicas apresentadas por animais
quando expostos a situações aversivas ou ameaçadoras (NORONHA; FERNANDES,
2008). Selye (1975) definiu o estresse como uma resposta orgânica não específica para
situações estressoras ao organismo, e ao revisar seus conceitos, descreveu a resposta
orgânica a essas situações estressoras como Síndrome de Adaptação Geral, que possui três
fases: alerta, resistência e exaustão. A fase do alerta é considerada a fase positiva do
estresse, o ser humano se energiza por meio da produção da adrenalina, a sobrevivência é
preservada e uma sensação de plenitude é frequentemente alcançada. Na segunda fase,
chamada de resistência, a pessoa automaticamente tenta lidar com os estressores de modo a
manter sua homeostase interna. Se os fatores estressantes persistirem em frequência ou
intensidade, há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa à fase de exaustão. Nesta
fase as doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como enfarte, úlceras,
psoríase, depressão e outros (LIPP, 2003).
O Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (ISSL) padronizado por Lipp e
Guevara (1994) baseou-se nesse modelo trifásico desenvolvido por Selye. No período da
padronização do inventário, uma quarta fase foi identificada, denominada de quase
exaustão, por se encontrar entre a fase de resistência e a de exaustão. Nesta fase, as defesas
do organismo começam a ceder e ele já não consegue resistir às tensões e restabelecer a
homeostase. Caracteriza-se por um enfraquecimento da pessoa que não consegue mais se
40

adaptar ou resistir ao estressor e, assim, as doenças começam a surgir, embora, não sejam
tão graves, como na fase de exaustão (LIPP, 2003). Para tornar claro o processo de
desenvolvimento do estresse é necessário considerar que o quadro sintomatológico varia
dependendo da fase em que se encontra.
Lipp (2003) considera esse fenômeno como uma reação psicofisiológica muito
complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo reagir em face de algo que
ameace sua homeostase interna. Segundo a autora, o estresse pode ocorrer quando o sujeito
se depara com alguma situação que, de algum modo, cause irritação, medo, excitação, ou
até mesmo lhe traga uma imensa felicidade. Percebendo que as pessoas passam por
situações estressantes de formas diferentes, Selye (1975) criou as expressões: distresse e
eustresse. Esse último é considerado o estresse saudável, positivo, que motiva a pessoa (ou
o grupo) a continuar agindo, se qualificando e se aperfeiçoando. No eustresse o sujeito (ou
seu grupo) explora os sentimentos positivos e os ganhos, no processo de adaptação a
situações que o desafiam. Já o distresse cria persistente ansiedade, tristeza, depressão e leva
ao desenvolvimento de sintomas físicos e mentais. Nesse sentido o distresse tem
implicações negativas, e o eustresse constitui a forma positiva de estresse, ambos podem
afetar o corpo e são cumulativos por natureza.
Nos últimos anos, estudos sobre estresse foram conduzidos em múltiplos contextos,
associando-o a diferentes variáveis. Observa-se o incremento da investigação da relação
entre estresse e trabalho, destacando-se o construto estresse ocupacional (SANTOS;
CARDOSO, 2010). Jex (1998), citado por Pascoal e Tamayo (2004), explica que o termo
estresse ocupacional pode ser definido de acordo com três aspectos: (1) estressores
organizacionais que são estímulos estressantes provenientes do ambiente de trabalho, (2)
respostas dos indivíduos a esses estressores e (3) dinâmica entre estímulos estressores-
resposta. Tal abordagem acentua o caráter relacional do conceito que envolve ambiente de
trabalho e sujeito e atribui importância às percepções individuais como mediadoras do
impacto estressor do ambiente de trabalho sobre as respostas do indivíduo. O estresse
ocupacional (SADIR; LIPP, 2009) também é considerado um estado de mal-estar ou
desagrado derivado de aspectos relacionados ao trabalho e que possam representar uma
ameaça à autoestima ou à qualidade de vida do indivíduo.
Os agentes estressores no trabalho podem se apresentar por longas jornadas de
trabalho, pressões ou cobranças, medo de perder o trabalho, conflito de funções,
41

autoritarismo da chefia, desconfianças, repetição e monotonia na realização de uma mesma


atividade, pela falta de perspectiva de crescimento profissional, entre outros, podendo
ocasionar danos à saúde e absenteísmo (MARQUES; ABREU, 2009). Estressores
ocupacionais (CARAYON; SMITH; HAIMS, 1999) estão frequentemente ligados à
organização do trabalho, como pressão para produtividade, retaliação, condições
desfavoráveis à segurança no trabalho, indisponibilidade de treinamento e orientação,
relação abusiva entre supervisores e subordinados, falta de controle sobre a tarefa e ciclos
trabalho-descanso incoerentes com limites biológicos.
Para reduzir ou evitar as consequências do estresse ocupacional e enfrentar os
problemas que encontram no trabalho, os profissionais utilizam estratégias de coping
(ANTONOWISK, 1979), termo em inglês definido como a capacidade de responder e
manejar os recursos disponíveis no ambiente social para satisfação, bem-estar e regulação
dos efeitos negativos dos agentes estressores. O coping é qualquer resposta às tensões
externas da vida para evitar ou controlar o sofrimento emocional, uma defesa individual
que usa recursos sociais (redes interpessoais), psicológicos (características de
personalidade), comportamentos, cognições e a percepção das pessoas para conviver ou
tolerar a enfermidade.
O enfrentamento ao estresse, para Lazarus e Folkman, citados por FILGUEIRAS E
HIPPERT (2011), é um esforço de mudança cognitiva e comportamental diante do
estressor. São os meios que as pessoas dispõem para enfrentar, ou seja, as estratégias de
ajustamento utilizadas para adaptarem-se as circunstâncias adversas ou estressantes e
representam a forma como a pessoa avalia e lida com a situação. Para França e Rodrigues
(1997), diversos fatores estão relacionados aos processos de avaliação dos estímulos
estressores e as estratégias de coping, como o repertório de experiências passadas, as
crenças e também alguns componentes situacionais dos estímulos como a novidade do
acontecimento, sua previsibilidade e intensidade. Para Pelletier (1997), a capacidade de
enfrentar o estresse não é meramente uma questão de controle ou atitude pessoal, mas pode
refletir a intensidade dos laços sociais que funcionam como amortecedores.
Pesquisa de Murta, Laros e Trócolli (2005) ressalta que os estudos da psicologia e
da saúde ocupacional abrangem intervenções para o gerenciamento do estresse que podem
ser: (1) voltadas para o trabalhador e que buscam alterar comportamentos individuais, como
a avaliação dos estressores ocupacionais e os recursos de enfrentamento utilizados, sejam
42

estes cognitivos ou comportamentais; (2) focadas na organização: visam o ambiente de


trabalho a fim de promover transformações nas estruturas organizacionais, em aspectos
direcionados à segurança no trabalho, treinamento e desenvolvimento do trabalhador,
participação e autonomia nos processos decisórios e nos relacionamentos interpessoais; ou
ainda (3) ambas, ou seja, intervenções que conciliem a intervenção focada no indivíduo
com intervenções na organização. A mesma pesquisa cita que Van der Klink et al. (2001)
constataram, através de experimentos, que em ambientes onde os trabalhadores puderam ter
maior participação no processo decisório de seu trabalho, as intervenções individuais foram
mais efetivas, enquanto que em espaços onde o controle e a decisão por parte dos
trabalhadores são pouco explorados, as intervenções organizacionais apresentaram maior
efetividade. Nesse sentido considerar o tipo de ambiente ocupacional pode determinar a
efetividade da estratégia de intervenção a ser escolhida para que seja a mais adequada à
realidade organizacional.
43

4. MATERIAL E MÉTODO

Essa tese integrou a pesquisa “Estudo das Condições de Saúde e Qualidade de Vida
dos Presos e das Condições Ambientais das Unidades Prisionais do Estado do Rio de
Janeiro”, da qual participei em todas as etapas: construção do projeto de pesquisa,
elaboração dos instrumentos, realização do trabalho de campo (coleta de dados) e da análise
dos dados e que foi publicada no livro "Deserdados sociais: condições de vida e saúde dos
presos do estado do Rio de Janeiro" (MINAYO; CONSTANTINO, 2015).
Na presente tese os agentes penitenciários são o foco principal de análise. Dentre
esses trabalhadores foram estudados os que estão lotados nas mesmas unidades prisionais
investigadas na pesquisa original. As informações a seguir apresentadas explicitam os
fundamentos teóricos e metodológicos que foram essenciais à elaboração desta tese.
Aspectos básicos da pesquisa original também serão apresentados.
A tese, assim como a pesquisa original, se baseou nas teorias e técnicas da
triangulação metodológica, que vêm sendo aprimoradas por um grupo de pesquisadores do
CLAVES e que têm se mostrado muito pertinentes aos estudos sobre o tema de violência no
campo da saúde. Essa forma de abordagem possibilita a articulação da epidemiologia e das
ciências sociais e humanas para iluminar a realidade a partir de distintos ângulos e
conhecimentos, permitindo uma discussão interativa, intersubjetiva e interdisciplinar dos
dados (MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005).
No estudo original foi realizado um inquérito epidemiológico com amostra
representativa das pessoas presas, acrescido de entrevistas individuais e, de maneira
complementar, observações de campo nos momentos de visita a 32 unidades prisionais
femininas e masculinas, localizadas em Gericinó (Bangu), Japeri (Baixada Fluminense) e
no interior do Estado (Campos), (MINAYO; CONSTANTINO, 2015).
A operacionalização da tese também se realizou através de duas abordagens
distintas: a quantitativa e a qualitativa. A quantitativa contou com um questionário
autoaplicável sobre as condições de trabalho e saúde dos agentes penitenciários. Para a
abordagem qualitativa utilizou-se a técnica de entrevistas individuais com agentes, pois
esse tipo de abordagem promove o envolvimento de aspectos complexos e específicos
como experiências pessoais e relações de poder e possibilita o detalhamento e
aprofundamento das observações. As entrevistas foram organizadas de forma
44

semiestruturada, pautadas por um roteiro, porém levando em conta a interação entre


entrevistados/as e pesquisadores, permitindo o aprofundamento de assuntos e pontos de
vista de forma livre. De maneira complementar, foram registradas as observações de campo
realizadas nos momentos de visita as unidades prisionais para a realização dos
questionários e entrevistas. O trabalho de coleta de dados, tanto a aplicação dos
questionários quanto a realização das entrevistas e a observação no campo, foi realizado de
dezembro de 2013 a julho de 2014.
O quadro 4 explicita as características e evidencia as diferenças entre as duas
pesquisas como: o público investigado, a quantidade de unidades investigadas, o objeto de
estudo e o número de pesquisadores envolvidos em cada uma delas.

Quadro 4 – Características metodológicas da presente tese e da pesquisa original.

Características Pesquisa original Presente Tese

Nome do projeto Estudo das Condições de Saúde e Sofrimento Psíquico e Estresse no


no Comitê de Qualidade de Vida dos Presos e das Trabalho de Agentes Penitenciários
ética da ENSP Condições Ambientais das Unidades no Estado do Rio de Janeiro
Prisionais do Estado do Rio de Janeiro
Público Pessoas presas Agentes penitenciários
investigado
Objeto da Saúde física e mental dos presos; Sofrimento psíquico e estresse em
pesquisa condições ambientais dos presídios agentes penitenciários
Metodologia Triangulação de métodos Triangulação de métodos

Unidades 32 unidades prisionais masculinas e Amostra com nove unidades


investigadas femininas do Estado do Rio de Janeiro masculinas e femininas de regime
fechado, com presos condenados ou
provisórios.
Pesquisadores
envolvidos 14 04

Os resultados desta tese se apresentam no formato de três artigos: no primeiro


buscou-se conhecer a literatura sobre o tema (já publicado); o segundo analisa as relações
entre estresse e condições de trabalho (submetido à análise de revista científica); e o último
avalia fatores associados ao sofrimento psíquico e estratégias de enfrentamento destacando
o ambiente de trabalho (ainda não submetido).
As seções a seguir mostram a base metodológica utilizada na tese: seleção de
unidades prisionais, procedimentos para a coleta de dados, abordagem quantitativa e
45

qualitativa, processamento e análise dos dados e aspectos éticos da pesquisa.

4.1 Seleção de unidades prisionais

Em função das limitações de tempo e recursos no escopo do doutorado não houve


investigação de todas as unidades prisionais do Estado. Foi realizada uma amostra de
Unidades Prisionais, selecionando-se aleatoriamente três unidades em cada um dos três
territórios existentes no Estado do Rio de Janeiro: Campos dos Goytacazes (Interior do
Estado), Japeri (Baixada Fluminense) e Bangu (Gericinó), totalizando, nove unidades
dentre as 52 existentes no Estado (quadro 5). O nome das unidades investigadas não foi
identificado por motivos de confidencialidade das informações obtidas com os agentes
penitenciários. Elas foram aleatoriamente escolhidas a fim de contemplar os critérios de
incluir unidades masculinas e femininas de regime fechado, que custodiassem presos
condenados ou provisórios.
Em Bangu (Complexo de Gericinó) se concentra a maioria das unidades prisionais,
as masculinas de regime fechado são 15 e as femininas, com regimes diversos, são três.
Selecionou-se, através de sorteio, duas unidades masculinas de regime fechado e uma
feminina. Dentre as unidades do interior do Estado, é na cidade de Campos dos Goytacazes,
há cerca de 300 km da capital, que a SEAP concentra o maior número de unidades
prisionais. Ao todo são três, sendo um Presídio feminino, um masculino e uma Cadeia
Pública. Todas as unidades de Campos participaram da pesquisa. No município de Japeri
existe um pequeno complexo também com três unidades prisionais. Assim como em
Campos, todas as unidades de Japeri participaram da pesquisa. Neste território não existem
presídios femininos, por esse motivo a amostra de mulheres agentes se limitou as que
trabalhavam nos presídios masculinos, realizando a revista feminina das familiares e
visitantes dos presos.
46

Quadro 5: Unidades do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, discriminadas


segundo o regime da prisão e o sexo dos presos.
Unidade Regime da prisão Sexo

Penitenciária Alfredo Tranjan - SEAPAT Fechado Masculino


Penitenciária Dr. Serrano Neves - SEAPSN Fechado Masculino
Penitenciária Industrial Esmeraldino Bandeira - Fechado Masculino
SEAPEB
Penitenciária Lemos de Brito - SEAPLB Fechado Masculino
Penitenciária Muniz Sodré - SEAPMS Fechado Masculino
Penitenciária Vieira Ferreira Neto - SEAPFN Fechado Masculino
Presídio Elizabeth Sá Rego - SEAPSR Fechado Masculino
Cadeia Pública Bandeira Stampa - SEAPBS Fechado Masculino
Presídio Ary Franco - SEAPAF Fechado e Provisório Masculino
Presídio Evaristo de Moraes - SEAPEM Fechado e Provisório Masculino
Penitenciária Gabriel Ferreira de Castilho - SEAPGC Fechado e Provisório Masculino
Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho - SEAPJL Fechado e Provisório Masculino
Penitenciária Laércio da Costa Pelegrino - SEAPLP Fechado e Provisório Masculino
Cadeia Pública Paulo Roberto Rocha - SEAPPR Provisório Masculino
Cadeia Pública PedrolinoWerling de Oliveira - SEAPPO Provisório Masculino
Cadeia Pública Jorge Santana - SEAPJS Provisório Masculino
Cadeia Pública Pedro Melo da Silva - SEAPPM Provisório Masculino
Cadeia Pública José Frederico Marques - SEAPFM Provisório Masculino
Cadeia Pública Juíza de Direito Patrícia Acioli - SEAPJP Provisório Masculino
Cadeia Pública ISAP Tiago Teles de Castro Domingues - Provisório Masculino
SEAPTD
Instituto Penal Cândido Mendes SEAPCM Semiaberto Masculino
Instituto Penal Edgar Costa – SEAPEC Semiaberto Masculino
Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro - SEAPIS Semiaberto Masculino
Instituto Penal Plácido Sá Carvalho - SEAPPC Semiaberto Masculino
Instituto Penal Benjamin de Moraes Filho - SEAPBM Semiaberto Masculino
Instituto Penal Vicente Piragibe - SEAPVP Semiaberto Masculino
Instituto Penal Francisco Spargoli Rocha- SEAPFS Semiaberto Masculino
Casa do Albergado Crispim Ventino - SEAPAC Aberto Masculino
Presídio Nelson Hungria - SEAPNH Fechado Feminino
Penitenciária Talavera Bruce - SEAPTB Fechado Feminino
Unidade Materno Infantil - UMI Fechado Feminino
Instituto Penal Oscar Stevenson Semiaberto e Aberto Feminino
Penitenciária Joaquim Ferreira de Souza - SEAPJFS Provisório Feminino
Cadeia Pública Milton Dias Moreira - SEAPMM Provisório Masculino
Presídio João Carlos da Silva - SEAPJCS Provisório Masculino
Cadeia Pública Cotrin Neto - SEAPCN Provisório Masculino
Presídio Carlos Tinoco da Fonseca - SEAPCF. Campos Fechado Provisório
Masculino
de Goitacazes Semiaberto e Aberto
Cadeia Pública Dalton Crespo de Castro - SEAPDC.
Masculino
Campos de Goitacazes Provisório
Presídio Nilsa da Silva Santos - SEAPNS. Campos de Fechado Feminino
Goitacazes Provisório Semiaberto e
Aberto
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA
47

CONTINUAÇÃO DO QUADRO 5: Unidades do Sistema Penitenciário do Estado do Rio de


Janeiro, discriminadas segundo o regime da prisão e o sexo dos presos.
Unidade Regime da prisão Sexo

Colônia Agrícola Ag. Marco Aurélio Vargas Tavares de


Masculino
Mattos Provisório
Cadeia Pública Hélio Gomes - SEAPHG. Semiaberto Masculino
Cadeia Pública Romeiro Neto - SEAPRN. Provisório Masculino
Presídio Diomedes Vinhosa Muniz - SEAPVM. Fechado Masculino
Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth - SEAPFC Provisório Masculino
Hospital Dr. Hamilton Agostinho V. de Castro - SEAPHA
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo - SEAPHR
Hospital Penal Psiquiátrico Roberto Medeiros - SEAPRM
Sanatório Penal - SEAPSP
Instituto de Perícias Heitor Carrilho – SEAPHH
Patronato Magarinos Torres

4.2 Procedimentos para a coleta de dados

Uma vez autorizada a pesquisa pelo Comitê de ética da ENSP, pelo gestor da SEAP
e com a parceria do MPRJ11, iniciou-se, em dezembro de 2013 a aplicação dos
questionários nas três unidades prisionais de Campos dos Goytacazes, no interior do
Estado. Nessa localidade quatro pesquisadores participaram da coleta de dados, entre eles
eu, servidora da SEAP. Munidos dos documentos de autorização das instituições não houve
dificuldades para entrar nas unidades prisionais.
Iniciou-se a coleta dos dados quantitativos empregando uma forma de abordagem
que não se mostrou produtiva, mas que funcionou como aplicação piloto. A pesquisa foi
apresentada aos diretores e, já sabendo o número de agentes penitenciários que trabalhavam
em cada unidade, foram entregues os questionários aos diretores que se incumbiriam de
explicar a pesquisa a todos os agentes, distribuir os questionários e os recolher. O resultado,
utilizando-se essa forma de abordagem não foi bom, retornaram preenchidos menos de 50%
dos questionários. A partir dessa experiência, redirecionou-se a forma de abordagem aos
agentes penitenciários. Passou-se a apresentar os questionários a cada agente penitenciário,
explicitando os objetivos da pesquisa, e aguardou-se até que cada um os preenchessem e
entregassem naquele mesmo dia. Dessa forma foi complementada a aplicação em Campos e
realizada nas unidades de Bangu e Japeri. Como cada unidade tem quatro turmas diferentes

11 O MPRJ disponibilizou apoio logístico, com transporte e escolta armada, aos pesquisadores nas visitas à
Bangu e Japeri.
48

de agentes penitenciários, visitou-se cada unidade pelo menos quatro vezes para aplicar o
questionário em todas as turmas. Esse procedimento aumentou muito o número de
questionários preenchidos e fechou a pesquisa com a efetivação de 70% da amostra
pretendida.
De fevereiro a abril de 2014 foram visitadas, por dois pesquisadores, as seis
unidades localizadas em Bangu e Japeri. O MPRJ colaborou nestes territórios com o apoio
logístico, disponibilizando em todas as visitas um carro com escolta armada composta por
agentes penitenciários que trabalhavam cedidos ao MPRJ. O apoio desses agentes foi
imprescindível ao bom andamento do trabalho de campo, uma vez que eles também
auxiliaram na entrada às unidades e na aplicação dos questionários, com sua experiência,
sabedoria e boa vontade.
Ao final da coleta de dados nessas localidades, retornou-se às unidades de Campos
para complementar a aplicação dos questionários e realizar as entrevistas necessárias a
abordagem qualitativa com os agentes penitenciários. Nem todos os agentes queriam
participar das entrevistas individuais, mas não houve dificuldade para que muitos
colaborassem; elas foram realizadas durante o horário de trabalho dos agentes em sala com
privacidade e algum conforto.

4.3 Abordagem quantitativa

Em relação à escolha da população a ser estudada em cada presídio, o objetivo foi


entregar questionários a todos os agentes que se encontrassem em efetivo exercício de suas
funções nas unidades prisionais selecionadas e que concordassem em participar da
pesquisa. No quadro 6 vê-se que o número de agentes lotados em cada unidade varia de 52
a 83 profissionais, totalizando 560 servidores nas nove unidades pesquisadas. Destes, 106
encontravam-se afastados por licença médica, licença maternidade, licença especial ou
férias, restando 454 agentes em efetivo exercício nas nove unidades selecionadas, ou seja,
existe um total menor de pessoas afetivamente trabalhando que varia de 74,1% a 89,7%.
Consideradas as perdas foi realizado um total de 318 questionários, o que significa 70% da
amostra.
Entre as justificativas para as perdas enfrentadas em cada UP estão (1) a aplicação
do questionário durante o período do trabalho, pois sendo reduzido o número de
49

profissionais por plantão, considerou-se que essa atividade extra sobrecarregou ainda mais
o cotidiano dos agentes e dessa forma alguns se recusaram a respondê-lo. (2) demonstração
de desconfiança e descrédito por parte de alguns agentes em relação às possíveis melhorias
das condições de trabalho, o que também gerou algumas recusas no preenchimento dos
questionários, (3) em alguns postos de serviço, como por exemplo, nas portarias, a
ininterrupta demanda de serviços dificulta o preenchimento dos questionários, (4) a
distância em quilômetros de certas unidades, o que dificultou a realização de mais retornos
àqueles presídios: quanto mais fácil o acesso do pesquisador, mais questionários
preenchidos; (5) peculiaridades das unidades e de seu efetivo carcerário.

Quadro 6: Número de agentes penitenciários e preenchimento de questionários da


pesquisa.
Agentes Agentes em Questionários Perdas3
Unidade lotados exercício1 preenchidos2
N % N % N % N %
BANGU
Unidade 1 66 100,0 51 77,3 36 70,6 15 29,4
Unidade 2 69 100,0 54 78,3 43 79,6 9 20,4
Unidade 3 83 100,0 67 80,7 60 89,6 7 10,4
JAPERI
Unidade 4 54 100,0 46 85,2 28 60,9 18 39,1
Unidade 5 58 100,0 43 74,1 37 86,0 6 14,0
/Unidade 13 29,5
55 100,0 44 80,0 31 70,5
6
CAMPOS
Unidade 7 52 100,0 46 88,5 16 34,8 30 65,2
Unidade 8 68 100,0 61 89,7 34 55,8 27 44,2
Unidade 9 55 100,0 42 76,4 33 78,6 9 21,4
TOTAL 560 100,0 454 81,1 318 70,0 136 30,0
1 Percentual calculado a partir de agentes em exercício divido pelos agentes lotados.
2 Percentual calculado a partir de questionários preenchidos divido pelos agentes em exercício.
3 Percentual calculado a partir de perdas divido pelos agentes em exercício

Durante as visitas da equipe de pesquisa às instituições selecionadas, o questionário


foi entregue aos agentes, em seu horário de trabalho e recolhido no mesmo dia. Junto com o
questionário também foi entregue a todos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APÊNDICE A) que é um documento que informa e esclarece o sujeito da pesquisa de
maneira que ele possa tomar sua decisão de forma justa e sem constrangimentos sobre a sua
participação ou não em um projeto de pesquisa. O pesquisador que acompanhou o trabalho
de campo foi treinado para primeiramente informar aos sujeitos os objetivos da pesquisa e
50

se colocar disponível para esclarecer eventuais dúvidas ou questões.

O instrumento quantitativo
O instrumento de coleta de dados quantitativos utilizado foi um questionário
anônimo e autoaplicável (APÊNDICE D) adaptado a partir dos questionários usados pelo
CLAVES nas pesquisas anteriores realizadas com policiais civis (MINAYO; SOUZA,
2003) e com policiais militares (MINAYO; SOUZA; CONSTANTINO, 2008). Ele foi
construído com base em inquéritos nacionais já realizados que usam instrumentos validados
nacionalmente, como a Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios/PNAD (Barros et al.,
2006), o inquérito do Instituto Nacional do Câncer/INCA-MS (Brasil, 2004), Inquérito de
Saúde do Município de São Paulo (São Paulo, 2010), Programa Pró-Saúde da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro/PRO-SAUDE UERJ (Faerstein et al., 2006). Ao todo havia 88
perguntas no questionário e seu preenchimento demorou em média 40 minutos.
Esse instrumento de coleta de dados, entre outras perguntas, incluiu três escalas:
estresse, transtornos mentais comuns (sofrimento psíquico) e apoio social. A escala de
transtornos mentais comuns é o Self-Reported Questionnaire - SRQ20, desenvolvida por
Harding et al. (1980) e validada no Brasil por Mari e Williams (1986) que mede a
existência de sofrimento psíquico ou distúrbios psiquiátricos menores. O questionário
possui originalmente 20 questões referentes a distúrbios não psicóticos e quatro sobre
distúrbios psicóticos. Utilizou-se nessa pesquisa apenas as 20 questões referentes a
distúrbios não psicóticos. O ponto de corte proposto para a escala é de 7 para homens e 8
para mulheres. Cada ponto equivale a uma resposta positiva relativa às perguntas sobre:
dores de cabeça frequentes; falta de apetite; dormir mal; assustar-se com facilidade;
apresentar tremor nas mãos, sentir-se nervoso, tenso ou agitado; apresentar má digestão;
sentir dificuldade de pensar com clareza; sentir-se triste; chorar mais do que o habitual; ter
dificuldade em realizar tarefas diárias com satisfação; sentir dificuldade em tomar decisões;
considerar que o trabalho lhe é penoso; sentir-se incapaz de ser útil; não ter mais interesse
pelas coisas; sentir-se inútil; ideias suicidas; sentir desconforto estomacal; sentir cansaço
constante; cansar-se com facilidade.
O Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (ISSL), padronizado e validado
para o Brasil por Lipp e Guevara em 1994, tem como objetivo a avaliação da existência de
sintomas de estresse, do tipo de estresse predominante: físico ou psicológico e a fase em
51

que se encontra (alerta, resistência, quase exaustão e exaustão). O instrumento é formado


por três quadros referentes às quatro fases do estresse. Ao todo são 53 itens que devem ser
assinalados, caso os sintomas a que se referem tenham sido experimentados pelo
participante. O primeiro quadro tem 15 itens sobre sintomas físicos ou psicológicos
ocorridos nas últimas 24 horas. O segundo tem dez sintomas físicos e psicológicos que
podem ter sido experimentados na última semana. O último e terceiro quadro, composto de
12 sintomas físicos e 11 psicológicos refere-se a sintomas experimentados no último mês.
Entre os sintomas sugeridos na escala cita-se: mãos e pés frios; boca seca; nó no estômago;
aumento de sudorese; tensão muscular; ranger de dentes; diarreia; insônia; taquicardia;
pressão alta, apetite; mudança na motivação; memória; mal-estar; formigamentos; tontura;
irritabilidade; dificuldades sexuais; cansaço; pesadelos, entre outros. Alguns sintomas se
repetem, porém com intensidade e seriedade diferentes.
Para verificar o nível de apoio social, ou seja, se o sujeito conta com o apoio de
outras pessoas, foi utilizada a escala de apoio social, desenvolvida por Sherbourne e
Stewart e adaptada para a população brasileira por Chor et al. (2001). Ela possui 19 itens
relativos a apoio social e cinco sobre a rede social, nessa pesquisa utilizaram-se apenas os
19 itens referentes ao apoio social. A referida escala é constituída de cinco dimensões:
emocional (mede o apoio recebido por meio da confiança, da disponibilidade em ouvir,
compartilhar preocupações/medos e compreender seus problemas); de informação (mede o
apoio por meio de sugestões de outros, bons conselhos, informação e conselhos desejados);
material (mede a ajuda recebida caso a pessoa adoeça, de cama, para levá-la ao médico,
preparar refeições e executar tarefas diárias); afetiva (mede o apoio pela demonstração de
afeto e amor, além de gestos como dar um abraço); e de interação positiva (mede a
capacidade de inter-relação, de divertirem-se em grupo, relaxar, fazer coisas agradáveis e
distrair a cabeça). Cinco escores são obtidos, um para cada dimensão.
Também foram incluídos alguns itens da escala World Health Organization
Instrument to Evaluate Quality of Life/WHOQOL-Bref, elaborada pela Organização
Mundial de Saúde e validada no Brasil (FLECK, 2000), que abrange quatro domínios:
físico (dor e desconforto; energia e fadiga; sono e repouso; atividades da vida cotidiana;
dependência de medicação ou de tratamentos e capacidade de trabalho); psicológico
(sentimentos positivos; pensar, aprender, memória e concentração; autoestima; imagem
corporal e aparência; sentimentos negativos; espiritualidade, religiosidade e crenças
52

pessoais); relações sociais (interações pessoais; suporte/apoio social; atividade sexual); e


meio ambiente (segurança física e proteção; recursos financeiros; cuidados de saúde e
sociais: disponibilidade e qualidade; oportunidade de adquirir novas informações e
habilidades; oportunidades de recreação/lazer e ambiente físico:
poluição/ruído/trânsito/clima; e transporte).
O questionário foi organizado em blocos de questões fechadas, assim distribuídas:
Bloco 1 - Dados socioeconômicos e demográficos como sexo, idade, cor da pele, situação
conjugal, filhos, se pratica religião, escolaridade, função na SEAP, tempo de serviço na
SEAP, horário de trabalho, rendimentos.
Bloco 2 – Informações sobre condições e qualidade de vida através de questões com
parâmetros objetivos (indicadores acerca da infraestrutura física e de direitos) e subjetivos
(o que os sujeitos percebem, sentem e valorizam em relação a vários aspectos de sua vida).
Dados sobre moradia, distância do trabalho, uso do computador, atividades fora do
trabalho. Esse bloco inclui escala de apoio social (CHOR; GRIEPE; FAERTEIN, 2001) e
alguns itens da escala World Health Organization Instrument to Evaluate Quality of
Life/WHOQOL-Bref.
Bloco 3 – Informações sobre as condições de trabalho: formação e capacitação, meios e
instrumentos necessários, reconhecimento profissional, relacionamento interpessoal no
trabalho, dificuldades, riscos e satisfação pessoal com o trabalho, horário de trabalho,
férias, outras atividades remuneradas, entre outros. Nesse bloco está incluído o Inventário
de Sintomas de Stress para Adultos (LIPP; GUEVARA, 1994) e alguns itens da escala
World Health Organization Instrument to Evaluate Quality of Life/WHOQOL-Bref.
Bloco 4 – Informações sobre condições de saúde, como: altura, peso, níveis de colesterol,
hipertensão, prática de atividades físicas, lesões ou agressões durante o trabalho, lesões
permanentes. Histórico de tratamento psicológico ou psiquiátrico, uso de serviços de saúde,
internações, cirurgias. Nesse bloco está contida a escala Self-Reported Questionnaire –
SRQ20, desenvolvida por Harding et al. (1980) e validada no Brasil por Mari e Williams
(1986), que avalia aspectos da saúde mental.
Bloco 5 - Informações sobre consumo de substâncias: questões sobre tabagismo, consumo e
dependência de álcool e outras drogas.
Último Bloco - Espaço livre para comentários sobre as condições de trabalho e seus
impactos na saúde mental ou outras opiniões e sentimentos.
53

4.4 Abordagem Qualitativa

“Entrevista individual semiestruturada” foi o instrumento de coleta de dados


qualitativos empregado. Para se definir dentro de cada unidade quem seriam os agentes
homens e mulheres que participariam das entrevistas, estabeleceram-se critérios relativos às
especificidades de sexo (pois deveria haver em cada unidade homens e mulheres na
amostra) e ao tipo de função exercida. Em relação às funções, no quadro 7 vê-se que em
cada unidade foram entrevistados profissionais que trabalhavam diariamente em atividades
administrativas e que trabalhavam em escala de plantão na “turma de guardas” (contato
mais direto com os presos). As entrevistas foram realizadas durante o horário de trabalho e
duraram em média 45 minutos, foram gravadas e transcritas posteriormente. Da mesma
forma como na entrega dos questionários, logo no início da entrevista o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE B) foi entregue a cada participante como
mais uma oportunidade de esclarecer sobre as condições de sua participação na pesquisa.
O roteiro das entrevistas (APÊNDICE C) foi elaborado previamente e abordou
questões referentes às condições de trabalho, condições de saúde física e mental, prazer no
trabalho, relacionamentos no trabalho, estratégias para lidar com o estresse, entre outras. Na
operacionalização tanto dos questionários como das entrevistas, foi feita uma introdução
sobre o escopo e o sentido da pesquisa e perguntas iniciais com o intuito de caracterizar o
grupo, como idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade, tempo de trabalho na SEAP e
tipo de função realizada. Utilizou-se também um diário de campo para planejar e registrar
as informações coletadas durante a observação participante na intenção de complementar e
contextualizar os dados qualitativos e melhor compreender a realidade da rotina de trabalho
dos agentes.
O critério adotado para definir o número de entrevistas em cada unidade foi o de
saturação do conteúdo da experiência e não o de quantidade. Dessa forma, resolveu-se
interromper as entrevistas quando havia 38 realizadas. Segundo Minayo et al. (2008) na
pesquisa qualitativa não importa o número de interlocutores, e sim o aprofundamento das
questões relevantes e a abrangência de todos os atores principais. Foram entrevistados 26
homens e 12 mulheres. Todos os agentes homens trabalhavam em unidades com presos do
sexo masculino e entre as agentes mulheres, nove trabalhavam em presídios femininos e
três em presídios masculinos.
54

Quadro 7: Número de entrevistas com agentes penitenciários, segundo tipo de


atividade.
Atividades administrativas Atividades de guarda Total
Unidade (Expediente) (Turma)
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
Unidade 1 02 01 02 - 04 01
Unidade 2 01 - 04 - 05 -
Unidade 3 - 02 - 03 05
Unidade 4 03 01 01 - 04 01
Unidade 5 01 - 03 - 04 -
Unidade 6 01 01 03 - 04 01
Unidade 7 02 - 01 - 03 -
Unidade 8 01 - 01 - 02 -
Unidade 9 - 02 - 02 - 04
SUBTOTAL 11 07 15 05 26 12
TOTAL 18 20 38

4.5 Processamento e Análise dos Dados

As informações originadas dos questionários foram codificadas, digitadas e


arquivadas em um banco de dados do programa EPIDATA 3.0 e posteriormente criticadas a
fim de se checar erros ou falhas no preenchimento e inconsistência nas variáveis. Foram
usados pacotes estatísticos específicos para a análise dos dados, como o SPSS 19.0. As
análises descritivas das frequências simples e relativas das variáveis foram realizadas com
os cruzamentos que se mostraram necessários para o maior entendimento de determinadas
questões.
A análise e interpretação dos dados qualitativos foram efetuadas a partir do enfoque
da análise temática, seguindo a perspectiva da análise de conteúdo de Bardin (1979) em sua
versão adaptada por Minayo (2010), ou seja, destacando-se as relevâncias evidenciadas
pelos próprios interlocutores. Essa análise cumpriu as seguintes etapas: a) transcrição e
digitação das gravações das entrevistas; b) atribuição de códigos aos entrevistados e às
pessoas por eles mencionadas; c) leitura compreensiva dos textos transcritos; d) elaboração
de estruturas de análise, agrupando trechos de depoimentos mais ilustrativos nos eixos
temáticos; e) identificação das ideias centrais presentes em cada um dos eixos; f)
identificação dos sentidos atribuídos às ideias; g) elaboração de sínteses compreensivas,
55

interpretativas e contextualizadas dos problemas assinalados; h) e comparação entre as


falas. As análises dos dados qualitativos foram realizadas a partir dos dois grandes eixos do
trabalho: condições de trabalho e condições de saúde de agentes penitenciários.
Os dados recolhidos em campo (material transcrito das gravações), resultado da
realização das entrevistas, foi organizado a partir das perguntas do roteiro. Uma estrutura de
análise foi construída de forma a proporcionar a comparação sobre cada questão em relação
às semelhanças e diferenças entre as respostas. Essa estrutura foi utilizada para
compreensão dos subgrupos de entrevistados: agentes em atividades administrativas ou no
trabalho nas turmas, homens e mulheres e o território de localização da unidade prisional.
A partir do processamento dos dados quantitativos e qualitativos iniciou-se a
redação dos produtos da tese em formato de artigos científicos. Alguns detalhamentos
metodológicos dos artigos encontram-se sinalizados a seguir:

Artigo 1 - Sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários: uma


revisão da literatura
Este artigo realizou revisão da literatura nacional e internacional sobre sofrimento
psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários e foi essencial para a produção da
tese, pois permitiu a aproximação com a literatura sobre o tema investigado. Três bases de
dados muito usadas para pesquisas em saúde pública foram utilizadas na busca: Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), Web of Science e Scopus. A sistematização de todos os artigos
encontrados na busca encontra-se nos ANEXOS, incluindo a revisão bibliográfica realizada
posteriormente (entre os anos de 2014 e 2016) com o objetivo de atualização dos dados.

Artigo 2 - Estresse e condições de trabalho de agentes penitenciários do Estado do Rio de


Janeiro
Neste artigo o estresse vivenciado pelos agentes penitenciários é o foco primordial,
investigado em sua relação com o perfil profissional e as condições de trabalho. A
triangulação de métodos é utilizada, unindo-se os dados qualitativos aos quantitativos de
acordo com cada tema abordado a fim de melhor compreendê-los. Foi realizada modelagem
estatística, agregando-se a ausência de estresse com a fase inicial de alerta e contrapondo-as
aos níveis mais preocupantes da presença do estresse na vida dos agentes (Resistência e
Quase exaustão/Exaustão). Entrevistas qualitativas também foram realizadas e efetuada
56

análise temática dos conteúdos manifestos pelos interlocutores. Ideias ou categorias


centrais de análise surgiram em relação às “condições de trabalho” tais como a falta de
recursos humanos, superlotação, ambiente insalubre, falta ou inadequação de recursos
materiais e salário. Sobre a questão do “estresse no trabalho”, destacaram-se as temáticas
de: relacionamento com os presos, falta de servidores, riscos sofridos, imprevisibilidade da
atividade e violência do ambiente prisional.

Artigo 3 - Sofrimento Psíquico entre agentes penitenciários: fatores associados e


estratégias de enfrentamento
Neste texto o sofrimento psíquico é o elemento central, identificando-se como é
vivenciado pelos agentes penitenciários. A existência deste transtorno foi relacionada ao
perfil profissional e a alguns fatores que se mostraram associados ao sofrimento psíquico
no âmbito social e do próprio trabalho. Foi realizada triangulação metodológica entre dados
oriundos de modelos de regressão logística e de entrevistas qualitativas. Na análise das
entrevistas evidenciou-se que os próprios agentes destacaram categorias centrais em relação
ao sofrimento psíquico tais como: os sintomas, as mudanças comportamentais percebidas, o
relacionamento direto com os presos, a superlotação das unidades prisionais, a escassez de
profissionais, a sobrecarga de trabalho e as tensões geradas. Entre os fatores associados ao
sofrimento psíquico, destacou-se o tema do apoio social: principalmente dos colegas e da
família. Em relação às estratégias de enfrentamento utilizadas surgiram as temáticas do
tratamento psicoterápico, do uso de substâncias psicoativas e do lazer.

4.6 Aspectos éticos da pesquisa

A pesquisa foi autorizada pela Secretaria de Administração Penitenciária e pelo


Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP (CAAE: 14486913.2.0000.5240). O termo de
consentimento livre e esclarecido, para os questionários e entrevistas (APÊNDICES A e B)
foi assinado pelos agentes durante a aplicação dos instrumentos, conforme preconiza a
Resolução 496/2012 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas com seres humanos.
Neste estudo foi assegurado sigilo quanto à identidade dos entrevistados, dando ciência de
que as informações obtidas não seriam identificadas. Foi explicitado aos participantes que
estaria resguardada a liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e/ou
57

deixar de participar da pesquisa sem nenhum tipo de penalização. Os resultados desta


pesquisa podem ser divulgados em congressos e publicados em artigos científicos.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, toda pesquisa envolvendo seres humanos
envolve risco. Para Pessalacia e Ribeiro (2011), os riscos possíveis em uma pesquisa que
utiliza questionários e entrevistas são de ordem não física (emocional, moral, social ou
espiritual) tais como desconforto ou aflição associada ao tipo de questões ou assuntos a
serem abordados e à forma de abordagem dos participantes. Entre as questões de maior
risco estão os assuntos que possam apresentar relação com invasão da intimidade do
individuo, uma vez que os participantes são convidados a contar suas histórias e a
compartilhar aspectos íntimos de suas vidas. Determinados tópicos da entrevista podem
despertar fortes emoções nos sujeitos de pesquisa, com potencial de causar consequências
psicológicas tais como a ansiedade aumentada ou vergonha, constrangimento, medo,
discriminação, exposição, entre outras.
O risco envolvido nesta pesquisa foi minimizado através da elaboração e aplicação
do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) tanto para os questionários quanto
para as entrevistas; de uma atenção maior direcionada ao anonimato dos questionários e ao
sigilo das gravações e do esclarecimento prévio dos sujeitos acerca das questões que seriam
abordadas. Nessa pesquisa os questionários e entrevistas foram aplicados por psicólogos
com experiência clínica e com conhecimentos para encaminhar o participante, se
necessário, à rede de serviços.
58

RESULTADOS

5.1 - ARTIGO 1
Sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários: uma revisão da
literatura12
Psychological distress and work stress in correctional officers: a literature review

Resumo
Apresenta-se revisão da literatura baseada no levantamento da produção sobre sofrimento
psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários nos periódicos nacionais e
internacionais entre os anos de 2000 e 2014. As bases de dados pesquisadas foram
Biblioteca Virtual em Saúde, Web of Science e Scopus e os principais descritores:
sofrimento psíquico, estresse e agentes penitenciários. Foram analisados 40 artigos, a
maioria sobre estresse. O conceito de burnout surgiu em vários trabalhos. Os EUA são o
país que mais publica sobre o tema, principalmente em revistas de justiça criminal. Há
pouco destaque nas revistas de Saúde Pública. Na América Latina foram encontrados
apenas quatro estudos, todos brasileiros. O número de publicações se intensificou
gradualmente ao longo dos anos e houve aprimoramento metodológico na elaboração e
avaliação de escalas, principalmente de estresse e burnout. Entre os fatores de risco estão a
sobrecarga de trabalho, falta de recursos materiais e humanos, nível de contato com os
presos, superlotação, percepções sobre medo ou perigo, paradoxo punir/reeducar, entre
outros. Os fatores protetivos remetem ao apoio social dentro do ambiente prisional e as
estratégias de enfrentamento relacionam-se ao aprimoramento da formação dos agentes,
estímulo ao apoio social e oferta de atendimento psicológico.
Palavras chave: estresse, sofrimento psíquico, burnout, trabalho, agentes penitenciários.

12 Artigo já publicado: BEZERRA, C. M.; ASSIS, S. G.; CONSTANTINO, P. Sofrimento psíquico e estresse
no trabalho de agentes penitenciários: uma revisão da literatura. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.
21, n. 7, p. 2135-2146, 2016.
59

Abstract
This article presents a review of literature based on a survey in national and international
journals on psychological distress and stress in the work of correctional officers between
2000 and 2014. The database used was Biblioteca Virtual em Saúde, Web of Science and
Scopus and the descriptors were psychological distress, stress and correctional officers. We
analyzed 40 articles, mainly about stress. The concept of burnout appeared in several
works. USA is the country that most publishes on the subject, especially in criminal justice
journals. There is little interest about the subject in the magazines of Public Health. In Latin
America, we found only four studies, all Brazilians. The number of publications has
gradually intensified over the years and there were methodological improvement in the
development and assessment scales, mainly of stress and burnout. Among the risk factors
are found work overload, lack of material and human resources, level of contact with the
inmates, overcrowding, perceptions of fear or danger; paradox punish / reeducate, among
others. The protective factors refer to social support within the prison environment and the
coping strategies are related to the improvement of training of agents, stimulating social
support and offering psychological care.

Keywords: stress, psychological distress, burnout, work conditions, correctional officers.


60

Introdução

O objetivo desse artigo é realizar o levantamento da produção sobre sofrimento

psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários nos periódicos nacionais e

internacionais entre os anos de 2000 e 2014, tema complexo que envolve a relação entre

trabalho e saúde mental. Segundo Minayo et al.(1), “do ponto de vista dos riscos e da

segurança, entendemos que se o processo de trabalho constitui um lócus privilegiado da

realização humana, ele também produz (em escala específica referente às condições em que

é exercido) desgaste físico e mental” (p.20 e 21).

Agentes penitenciários têm papel importante no funcionamento das instituições

prisionais, lidando diretamente com a população carcerária e sendo responsáveis pela

custódia do apenado recluso. Trata-se de um grupo profissional pouco estudado, que

trabalha em instituições totais ou fechadas(2), de difícil acesso para investigações(3). A

complexidade de suas atividades se configura nas especificidades de uma instituição de

controle e vigilância e no estigma associado as suas funções(4) .

Eles precisam trabalhar em equipe, demonstrar atenção, autocontrole, pró-atividade,

iniciativa e capacidade de contornar situações adversas. Esses profissionais mantêm o

ambiente de segurança nas prisões e estão frequentemente expostos a diversas situações

geradoras de tensão, como ameaças e agressões. Trabalham sob pressão constante, sujeitos

a risco de morte(5) e com pouca visibilidade e reconhecimento social(6) .

A postura “sempre alerta e à espera constante”, gera ansiedade(7) e esse

“aguçamento sensorial necessário”(3) leva ao maior desgaste psíquico. Estudos(5,8,9) têm

descrito que a natureza estressante e perigosa de trabalhar dentro do ambiente prisional

pode repercutir na saúde desses profissionais através de doenças físicas, estresse, burnout,

problemas familiares, ou incapacidade de exercer suas funções, além de vir a comprometer


61

a segurança institucional.

Há algumas décadas discutem-se os efeitos negativos da organização do trabalho

taylorista/fordista, destacando–se: a fragmentação do trabalho com separação entre

concepção e execução, que associada ao controle gerencial do processo e à hierarquia rígida

têm levado à desmotivação e alienação de trabalhadores, bem como a desequilíbrios nas

cargas de trabalho(10). Em comum com o método taylorista de gestão da produção, o

trabalho pensante e de planejamento na instituição penitenciária restringe-se a um pequeno

grupo, esperando da maioria a execução das atividades delegadas, com clara divisão entre

quem planeja e quem executa.

O estresse foi definido por Selye(11) como uma resposta orgânica não-específica para

situações estressoras ao organismo. Sua presença de forma moderada significa uma normal

adaptação às demandas do dia a dia; quando excessivo, é uma manifestação de sofrimento

psíquico com reações físicas e emocionais e os sintomas variam dependendo da fase em

que se encontra(12). Em suas pesquisas, Lipp(13) relata sinais físicos que ocorrem com

maior frequência: aumento da sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto

da mandíbula, ranger de dentes, hiperatividade, náuseas, mãos e pés frios. Em termos

psicológicos ocorrem sintomas como ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação,

dificuldades interpessoais, dúvidas quanto a si próprio, preocupação excessiva, inabilidade

de concentrar-se em outros assuntos que não o relacionado ao sofrimento, dificuldade de

relaxar, ira e hipersensibilidade emotiva. Uma vez que o estresse não seja reduzido, através

da remoção dos fatores que o geram ou do uso de estratégias de enfrentamento, ele poderá

atingir sua fase final, quando doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis,

como enfarte, úlceras e psoríase. A depressão também faz parte do quadro de sintomas(14).

O estresse psicológico, causado pela pressão e agitação da vida do trabalho, vem sendo
62

muito investigado. Segundo a Organização Mundial de Saúde(15), mais da metade dos

trabalhadores em geral de países considerados industrializados julgam seu trabalho

“mentalmente pesado". Alguns fatores têm efeitos psicológicos adversos como o trabalho

isolado, monótono, o que exige concentração constante, o trabalho em turnos, o trabalho

sob a ameaça de violência, como por exemplo, no sistema prisional. Estresse psicológico e

sobrecarga têm sido associados a distúrbios do sono, síndromes de burnout e depressão. Há

também evidências de elevado risco de doenças cardiovasculares, particularmente doenças

coronarianas e hipertensão. Nos últimos anos vem se destacando o construto estresse

ocupacional, para Paschoal e Tamayo(16) este é um enfoque mais abrangente que enfatiza

tanto os fatores estressores organizacionais quanto suas respostas fisiológicas, psicológicas

e comportamentais. Tal abordagem acentua o caráter relacional do conceito que atribui

importância às percepções individuais como mediadoras do impacto estressor do ambiente

de trabalho.

Segundo Harvey(17), estudos têm documentado as reações emocionais da equipe

prisional relacionadas com seu trabalho e têm usado diferentes termos para se referirem as

dificuldades psicológicas enfrentadas por esses trabalhadores, como work stress, stress,

burnout, tedium, psychological distress e trauma.

O sofrimento psíquico (psychological distress) é uma dificuldade emocional que

associa sintomas psicológicos e físicos, sendo considerado(9) um transtorno mental comum

(TMC), caracterizado por sintomas não psicóticos como insônia, fadiga, irritabilidade,

esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas como dor de cabeça, dor

abdominal, tosse ou fraqueza. Essas queixas são manifestações ou respostas a um tipo de

sofrimento psicológico(18,19) e não estão necessariamente associadas à existência de uma

patologia orgânica diagnosticável.


63

Na pesquisa bibliográfica sobre sofrimento psíquico e estresse, o conceito de

burnout surgiu em vários trabalhos e será analisado com destaque no item referente ao

estresse, pela sua relevância para a compreensão do tema. Burnout é descrito(20) como

uma síndrome tridimensional composta por exaustão emocional, despersonalização e

sensação de falta de realização pessoal; é o resultado de um processo crônico de estresse.

Foi inicialmente identificado entre trabalhadores que lidam com pessoas doentes ou

internadas, no entanto, não é uma psicopatologia do trabalho, mas da relação com os outros.

Em outros termos, o burnout parece surgir quando as pessoas compartilham relações

estressantes, crônicas e violentas com outras pessoas, o que acontece no exercício

profissional do agente penitenciário.

A “psicodinâmica do trabalho” de Dejours(21) concentra seus estudos na dinâmica

saúde/doença e define o “sofrimento no trabalho” como o campo que separa a doença da

saúde. Essa perspectiva teórica se concentra no impacto da organização do trabalho sobre o

funcionamento psíquico do trabalhador: “quando estão bloqueadas todas as possibilidades

de adaptação entre a organização do trabalho e o desejo dos sujeitos, então emerge o

sofrimento” O sofrimento psíquico no trabalho surge como uma estratégia de não

adoecimento: um espaço de luta contra o enlouquecimento e é nesse processo dinâmico

entre saúde e doença que os trabalhadores criam estratégias defensivas individuais e

coletivas para se protegerem(21).

Para conhecer sobre a existência de sofrimento psíquico e estresse profissional entre

agentes penitenciários, foi realizado levantamento bibliográfico sobre o tema, cuja

metodologia e resultados serão apresentados a seguir.

Material e método

A pesquisa bibliográfica que fundamenta este estudo contemplou os artigos das


64

bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Web of Science e Scopus. O software

Zotero foi utilizado para gerenciar as referências.

Na BVS escolhendo como campos de busca o título, o resumo e o assunto, foram

utilizados os descritores (incluindo suas formas no feminino e no plural): inspetor, agente

ou guarda penitenciário, prisional ou prisão. E ainda "estresse psicológico", "sofrimento

mental", "saúde mental", "sofrimento psíquico" ou "estresse ocupacional". Na Web of

Science e Scopus (campos de busca: title, abstract e key) foram utilizados os descritores

equivalentes em inglês: "prison agent", "prison worker", "prison staff", "correctional staff"

ou "correctional officers" e também "working conditions", "occupational health",

"occupational safety", “stress”, "mental health" ou "stress psychological".

Inicialmente a pesquisa foi aberta: os estudos poderiam pertencer a qualquer fonte,

idioma e ano de publicação, seu resultado obteve 525 publicações. Após a leitura de todos

os títulos e resumos excluíram-se os estudos: referentes à saúde dos prisioneiros, sobre

outros grupos de profissionais que trabalham em prisões que não inspetores, referentes a

transtornos relacionados ao uso de substâncias, sobre delinquência juvenil e psiquiatria

legal. Restaram 202 artigos dos quais foram excluídos os trabalhos repetidos (n=51),

aqueles publicados em outras línguas que não português, inglês, francês ou espanhol e os

anteriores ao ano de 2000 (n=31), uma vez que pesquisas sobre o tema aumentaram

sensivelmente a partir desse período(22).

Entre os 40 artigos selecionados, cinco não estavam livremente disponíveis,

na íntegra, nos sites específicos e por esse motivo foram analisados a partir de seus

resumos(23–27). Todos os demais 35 artigos foram integralmente lidos e analisados. O

material coletado foi classificado visando evidenciar: o estado do conhecimento em relação

ao assunto, os fatores de risco e de proteção abordados, as estratégias de enfrentamento


65

propostas para estes agravos à saúde mental dos trabalhadores e, finalmente, as lacunas no

conhecimento e os aspectos que podem ser mais explorados em futuras pesquisas.

Resultados

Características Gerais dos Artigos

A revisão da literatura mostra que internacionalmente estudos com foco na saúde

mental desses profissionais vêm despertando muito interesse acadêmico principalmente nos

EUA e nas revistas sobre Justiça Criminal desse país. No Brasil ainda são poucos os

estudos sobre esse tema, concentrados nas revistas de Psicologia.

Mais da metade dos textos (n= 21) é produção norte americana: 16 dos EUA e cinco

do Canadá. A Europa também se interessa pelo tema (n=11), com três artigos apresentando

a realidade francesa, três sobre a Espanha e os restantes sobre o contexto da Itália, Reino

Unido, Portugal, Polônia e Holanda. A produção da América Latina se limita à do Brasil,

com quatro artigos brasileiros(19,28–30): dois com pesquisas no Sistema Penitenciário de

São Paulo, um no Rio Grande do Sul e um na Bahia/Salvador. Encontram-se ainda dois

trabalhos realizados na Austrália, um na Turquia e outro na África do Sul.

As produções se intensificam gradualmente ao longo dos anos: oito entre 2000 e

2004, 15 entre 2005 e 2009 e 17 entre 2010 e 2014. Acompanhando todo o período

percebe-se a relevância das revistas sobre Justiça Criminal: cinco delas apresentaram 11

artigos. A área da Psicologia/Psiquiatria tem produções a partir de 2005: nove revistas

publicaram 11 artigos. Alguns jornais sobre o tema específico das prisões concentram

estudos: Prison Journal (n=05) e Journal of Correctional Health Care (n=01). Revistas

sobre Saúde Pública apresentaram apenas quatro trabalhos e sobre Saúde Ocupacional, três

artigos. Periódicos sobre comportamento humano apresentaram dois artigos e os sobre

trabalho e ergologia mais duas produções. Uma revista específica sobre estresse (Stress and
66

Health) expôs um trabalho.

A maioria aborda o tema do estresse (n=22), seguida do burnout (n=12) e do

sofrimento psíquico (n=08). Entre as 40 publicações temos 34 relatos de pesquisas, a

maioria com abordagem quantitativa (n=25), utilizando escalas de estresse, burnout, entre

outras; dois estudos(31,32) combinaram instrumentos quantitativos (questionários baseados

em escalas psicométricas) e qualitativos (entrevistas semidirigidas e espaços nos

questionários liberados para expressão escrita). Apenas três estudos brasileiros(28–30)

utilizaram exclusivamente o método qualitativo em suas pesquisas, por meio de entrevistas

semidirigidas.

Quatro artigos são revisões de literatura e dois foram destinados à avaliação das

propriedades psicométricas de escalas sobre estresse: Escala de Estresse no Trabalho para

Agentes Penitenciários - WSSCO(33) e Escala de Estresse Ocupacional - JDCS(34). Entre

as revisões sistemáticas da literatura, na Holanda em 2000, Schaufeli e Peeters(35)

analisaram a produção sobre estresse ocupacional e burnout em instituições correcionais.

Posteriormente outras duas revisões foram realizadas no Canadá: em 2004 Dowden e

Telier(36) analisaram os preditores de estresse no trabalho de agentes penitenciários e

desenvolveram meta-análise sobre o tema. Recentemente, em 2013, Finney et al.(37)

revisaram a literatura sobre estresse e burnout nesses profissionais, identificando as áreas

em que intervenções podem vir a reduzir tais problemas. Outra revisão(38) investigou sobre

o estresse de mudança de turno entre agentes penitenciários.

Constata-se a tendência na utilização de escalas entre os estudos que abordam o

estresse (Quadro 1). Algumas escalas medem especificamente o estresse no trabalho e

outras, mais gerais, medem o estresse na vida. Três diferentes instrumentos aferem o

sofrimento psíquico nos textos avaliados.


67

Quadro 1: Instrumentos para aferir estresse e sofrimento psíquico em agentes penitenciários.

ARTIGOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS TEMÁTICA DO


INSTRUMENTO
ATKIN- PLUNK; ARMSTRONG, Itens anteriormente utilizados no estudo de Estresse no trabalho
2013 Armstrong e Griffin (2004)
HARTLEY et al., 2013 Itens adaptados do estudo de Cullen et al. (1985) e Estresse no trabalho
Lindquist and Whitehead (1986)
MISIS et al., 2013; Itens adaptados do estudo de Cullen et al. (1985) Estresse no trabalho
CHEESEMAN;DOWNEY, 2012;
DIAL; DOWNEY; GOODLIN,
2010
MOON; MAXWELL, 2004 Itens adaptados do estudo de Cullen et al. (1985) Estresse no trabalho

GRIFFIN, 2006 Itens anteriormente utilizados por Crank, Regoli, Estresse no trabalho
Hewitt, and Culbertson (1995)
BROUGH; WILLIAMS, 2007 Job Content Questionnaire (KARASEK, 1985) Estresse no trabalho
Modelo demanda, controle e suporte.
BOURBONNAIS et al.,2005; Job Content Questionnaire (KARASEK, 1985) Estresse no trabalho
Modelo demanda, controle e suporte.
BOURBONNAIS et al., 2007 Job Content Questionnaire (KARASEK, 1985) Estresse no trabalho
Modelo demanda, controle e suporte.
BOTHA;PIENAAR, 2006 The Correctional Officer Stress Inventory.(COSI) Estresse no trabalho de
(BOTHA; PIENAAR, 2006) agentes penitenciários
ŞENOL-DURAK; DURAK, 2006 The Workstress scale for correctional officers Estresse no trabalho de
(WSSCO) (ŞENOL-DURAK; DURAK, 2006) agentes penitenciários

FERNANDES et al., 2002 Inventário de Sintoma de Estresse de LIPP (ISSL) Estresse na vida
(LIPP; GUEVARA, 1994)
OWEN, 2006 The Perceived Stress Scale (PSS) (COHEN; Estresse na vida
KAMARCK; MERMELSTEIN, 1983)
GONÇALO et al., 2010 Nível Global de Estresse (NGS) (KYRIACOU; Estresse na vida
SUTCLIFFE, 1978)
MCCRATY et al., 2009 Jenkins Activity Survey Brief Symptom Inventory Estresse na vida
(JAS; The Highlands, ChapelHill, NC)
The Brief Symptom Inventory (BSI; National
Computer Systems, Minneapolis, MN) Estresse na vida
Personal and Organizational Quality Assessment
(POQA; Institute of HeartMath, Boulder Creek,
CA) Estresse na vida
HARVEY, 2014 The General Health Questionnaire (GHQ-12) Sofrimento psíquico
(Goldberg& Williams, 1988).
BOURBONNAIS et al.,2005; Psychiatric Symptom Index, (PSI) (Ilfeld, 1976). Sofrimento psíquico
BOURBONNAIS et al., 2007
FERNANDES et al., 2002 Self Report Questionnaire - SRQ (HARDING et Sofrimento psíquico
al., 1980)

Outras medidas, não apresentadas no quadro 1, surgiram no levantamento

bibliográfico e foram utilizadas para: (a) avaliar o estresse fisiológico, através de

mensuração de cortisol, colesterol, triglicérides, frequência cardíaca e pressão arterial, entre

outros(39); (b) medir burnout, sendo o Maslach Burnout Inventory (40) o único
68

instrumento utilizado para esse fim.

Dentre os doze artigos que abordaram o tema do burnout(20,23,25,35,37,41-47) ,

nove usaram o “Maslach Burnout Inventory Survey “(35), que engloba três escalas: (a)

exaustão emocional, que mede sentimentos de estar sobrecarregado e exausto pelo trabalho;

(b) despersonalização, que afere a resposta insensível e impessoal em relação às pessoas

com quem se trabalha; (c) realização pessoal, que avalia sentimentos de competência e

realização bem sucedida na atividade. Os demais três artigos se referem a revisões de

literatura.

Um último aspecto geral observado refere-se à diferenciação de gênero. Sete artigos

abordam essa temática(22,30,41-43,48,49), de forma diferenciada segundo o foco do texto:

(a) o ambiente prisional predominantemente masculino leva as mulheres a enfrentarem

desafios específicos em seu trabalho nessas instituições; (b) homens e mulheres têm estilos

diferentes de lidar e se relacionarem com os presos, por exemplo: mulheres são menos

propensas do que os homens para responder aos reclusos de forma impessoal ou com falta

de atenção ou interesse; (c) características socialmente aceitas como femininas (compaixão,

orientação familiar) podem ser desvalorizadas no ambiente prisional onde as noções de

"resistência" e força física são muito respeitadas; (d) as diferenças entre os gêneros podem

levar as mulheres a se sentirem pressionadas em concordar com as características do

trabalho desempenhado pelos seus colegas homens.

Para Cheeseman(49) e Dial(22), gênero é um fator significante para estresse no

trabalho mais do que qualquer outra variável demográfica, mesmo assim, na pesquisa de

Griffin(48) houve poucas diferenças entre ambos os sexos. Carlson et al.(43) testaram a

relação entre gênero e burnout em uma prisão de segurança máxima nos EUA e ao

contrário de estudos anteriores, as mulheres agentes penitenciárias demonstraram maior


69

sensação de realização pessoal e satisfação relacionada com o trabalho do que seus colegas

do sexo oposto. Elas também seriam mais propensas a usar técnicas de enfrentamento ao

lidar com situações estressantes(46).

As produções brasileiras

Os quatro artigos brasileiros encontrados se inserem em publicações sobre saúde:

Psicologia Ciência e Profissão (n=2), Estudos Psicológicos e Cadernos de Saúde Pública.

Três deles utilizam a abordagem teórica da psicodinâmica do trabalho, de Dejours(21), e

metodologia qualitativa. Outra publicação utiliza duas escalas para medir estresse e

sofrimento psíquico.

Dois trabalhos sobre o sofrimento psíquico de agentes penitenciários(28,29) se

originaram de pesquisa realizada em uma unidade prisional de regime fechado em São

Paulo. O primeiro deles utiliza entrevistas para identificar várias situações ansiogênicas(21)

entre elas: risco constante de exposição à violência física, temor em relação à segurança de

seus familiares, exposição a doenças como tuberculose, hepatite C e HIV, percepção da

degradação de sua saúde mental, trabalho monótono, entre outras. A partir dessas

descobertas, um serviço de saúde mental foi proposto e organizado na unidade pesquisada,

oferecendo aos profissionais encontros individuais com estagiários de psicologia sob

supervisão, durante a jornada de trabalho.

O segundo artigo(29), também com abordagem qualitativa, se originou da pesquisa

anterior e teve como objeto as experiências profissionais e o sofrimento psíquico relatado

durante os atendimentos psicológicos. Os resultados demonstraram que diversas formas de

manifestação da violência conferem condições para que o sofrimento psíquico surja entre

esses trabalhadores. Também se evidenciou a presença de sintomas psicossomáticos,

distúrbios do sono e o impacto sobre as relações fora do trabalho.


70

No Rio Grande do Sul, Tschiedel e Monteiro(30) pesquisaram mulheres agentes

penitenciárias através de entrevistas semiestruturadas. As autoras concluíram que a vivência

de sofrimento psíquico está relacionada ao contexto da organização, condições e relações

de trabalho. Elas sofrem com a precariedade das condições materiais e humanas de

trabalho, com a falta de reconhecimento institucional e com a atividade da “revista íntima”,

momento em que a visitante é revistada e precisa ficar sem roupa e agachada na frente da

agente penitenciária. As agentes também relataram vivências de prazer relacionadas ao seu

salário, ao horário de trabalho “flexível” (plantões) e à estabilidade no emprego. As

estratégias defensivas apresentadas foram a negação e a racionalização.

O quarto artigo brasileiro(19) originou-se de um estudo epidemiológico sobre

sofrimento psíquico e estresse entre agentes penitenciários de Salvador/Bahia. Duas escalas

foram utilizadas: o Self-Reported Questionnaire - SRQ20(18) que afere sofrimento psíquico

ou transtornos psíquicos menores e o Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos

(ISSL)(13) que avalia a existência de sintomas, tipo de estresse predominante (físico ou

psicológico) e a fase em que ele se encontra (alerta, resistência, quase exaustão e exaustão).

Entre os resultados, queixas de adoecimento foram apresentadas por 91,6% dos

trabalhadores, manifestação de estresse persistente em 15,1% dos entrevistados e a

prevalência de distúrbios psíquicos menores foi encontrada em 30,7% dos agentes

penitenciários, índice maior que o apresentado por professores, metalúrgicos, trabalhadores

de processamento de dados e de hospitais.

Abordagens sobre SOFRIMENTO PSÍQUICO e seus fatores de risco

Sofrimento psíquico no trabalho foi o tema abordado em oito artigos(17,19,26,28-

30,50,51), entre eles os quatro trabalhos brasileiros que apontam várias situações

ansiogênicas ligadas à precariedade das condições de trabalho dos agentes penitenciários:


71

esvaziamento do sentido do trabalho, sensação de enclausuramento em algumas funções e

representação social pejorativa de sua atividade(29,30). Entre outros fatores de risco para o

sofrimento no trabalho são apontados a exposição cotidiana à violência física, o temor em

relação à segurança de seus familiares, o medo da exposição a doenças como tuberculose,

hepatite C e HIV(28).

Fernandes(19) verificou distúrbios psíquicos menores (não psicóticos) entre esses

trabalhadores e apontou que eles enfrentam um ambiente psicologicamente inadequado,

condições infraestruturais insuficientes, longas jornadas de trabalho, falta de tempo para o

lazer e inadequada organização do trabalho. Na França(26) e no Canadá(36) foram citadas

como causadoras de sofrimento, as “missões paradoxais” ou a “dupla missão” ou o

“conflito de papéis” dos agentes penitenciários, ou seja, o trabalho de custódia e vigilância

concomitante ao de ressocialização ou reabilitação. Outra pesquisa no Canadá(51) apontou

que esses profissionais são mais expostos a fatores psicossociais adversos no trabalho e

relatam mais problemas de saúde (como sofrimento psíquico, saúde regular ou ruim e uso

de serviços de saúde ou social) do que uma amostra comparável de outros trabalhadores. Os

fatores associados com o aumento do sofrimento psíquico foram o baixo apoio social no

trabalho, e os conflitos com colegas e superiores, dentre outros.

Abordagens sobre ESTRESSE e seus fatores de risco

A maioria dos artigos encontrados é sobre o tema do estresse. Estresse e burnout são

dois constructos relacionados, mas distintos. Estresse em condições normais pode ser uma

resposta adaptativa a situações difíceis, o burnout é uma resposta comportamental ao

estresse que é debilitante, custosa e problemática(43).

O trabalho de Finney et al.(37) constatou que estresse no trabalho e burnout afetam

entre 19-30% dos trabalhadores em geral. Ambos derivam de uma combinação de fatores
72

de risco individuais e estressores organizacionais, seus efeitos são mais pronunciados nos

agentes penitenciários do que na população em geral(20,37), devido ao ambiente tenso, de

alto risco e das exigências das tarefas(52-54), o que também pode levá-los a ficarem mais

suscetíveis a problemas físicos de saúde(8,17). Estresse e burnout vivenciados pelos

agentes penitenciários podem deixar ainda mais inseguro o ambiente laboral, levar a altas

taxas de rotatividade entre os servidores, alto absenteísmo e baixa produtividade(35).

Revisões de literatura(35-37) apontam os fatores que mais contribuem para o

estresse no trabalho prisional: problemas de relacionamento (com colegas, supervisores ou

prisioneiros); sobrecarga de trabalho; baixo status social da profissão e a falta de apoio

social. Também foram citados o “conflito de papéis” e as poucas oportunidades de

promoção, que ao interagirem com fatores individuais como personalidade e conflitos

familiares, podem gerar problemas de saúde mental e física. Conflito de papéis é definido

como qualquer situação de demanda de trabalho conflitante, como ambiguidade de papéis.

De acordo com Misis(53) existem agentes penitenciários orientados para a custódia que

defendem abertamente as estratégias de punição para lidar com os presos e que não apóiam

a reabilitação como uma filosofia correcional. Por outro lado, existem profissionais que

acreditam na reabilitação enquanto objetivo correcional primário e que exercem sua função

voltada para o aconselhamento. Os resultados indicam que agentes que vêem seu trabalho

mais orientado para o tratamento do preso, teriam níveis mais elevados de estresse. Nos

Estados Unidos, agentes penitenciários que têm percepções de características pessoais dos

presos mais negativas (hostis, anti-sociais e frios) apresentam níveis mais elevados de

estresse, o que coincide com a investigação sobre conflito de papéis: quanto mais conflito,

mais estresse.

Percebem-se nas pesquisas algumas divergências em relação ao impacto das


73

características individuais (gênero, etnia, idade, nível educacional, experiências na prisão)

nos níveis de estresse no trabalho. Em alguns textos não foram encontradas relações

estatísticas significantes (22,32), ou com pequena capacidade explicativa de impacto no

estresse ocupacional, indicando que outras características mais latentes ou menos explícitas,

como a satisfação no trabalho, por exemplo, ou características da própria atividade (tipo de

prisão, por exemplo) podem ter maior impacto no esforço de trabalho(47). A variável

“satisfação no trabalho” está intimamente ligada ao estresse(49,54) sendo a mais forte

preditora sobre quaisquer outras variáveis.

São vários os fatores de risco para estresse indicados nas pesquisas. De um modo

geral, eles se relacionam principalmente com a sobrecarga de trabalho: falta de recursos

materiais e humanos(14,24); percepção do trabalho como sendo perigoso(31,53,55); medo

de contrair doenças como HIV/AIDS, hepatite e tuberculose(55); nível de contato com os

presos(56,57) e conflito de papéis(8,53). A rejeição da sociedade ou a percepção da imagem

pública negativa também foi citada como fator de risco para estresse(8,56), assim como a

superlotação dos presídios(31), concluindo-se que os agentes que atuam em prisões mais

lotadas têm mais medo dos detentos e são mais estressados.

Destacando-se o tema do burnout, estudo na Espanha(47) mostra que 43,6% dos

agentes sofrem burnout severo e que os mais jovens apresentam atitudes mais negativas em

relação a seus empregos (despersonalização) do que os mais velhos. Para Morgan et al.(41),

os agentes menos experientes também evidenciaram aumento dos níveis de

despersonalização e exaustão emocional e diminuição dos níveis de realização pessoal. Já

os mais velhos e mais instruídos relataram níveis elevados de realização pessoal.

Fatores que podem proteger do estresse e sofrimento psíquico


74

O apoio social recebido dentro da prisão (pelos colegas e pelos supervisores)

ameniza os efeitos da tensão do trabalho sobre a saúde, ele é um fator relevante evidenciado

nos estudos sobre estresse (incluindo burnout) e sobre sofrimento psíquico. Uma liderança

de boa qualidade(52) é analisada como um fator de proteção contra o estresse no trabalho,

assim como uma de baixa qualidade se relaciona de forma significante com ele(37).

Agentes que percebem apoio em seus supervisores ou chefes relataram menos estresse e

níveis de satisfação mais elevados(53,55). O suporte de colegas também é valorizado como

um fator eficaz contra esse problema de saúde(53).

Na pesquisa de Owen(32) nos Estados Unidos, três variáveis se mostraram como

fatores associados ao estresse: altos níveis de satisfação no trabalho e de apoio social, além

da percepção de estar no controle das situações relacionadas ao seu ofício.

Estratégias de enfrentamento contra o estresse e o sofrimento psíquico

Baseados nos resultados encontrados em suas pesquisas sobre o sofrimento no

trabalho de agentes penitenciários, alguns estudos propõem estratégias de enfrentamento,

com destaque para as relacionadas à formação profissional, ao suporte social e à oferta de

espaços de acolhimento para reflexão, reestruturação e reorientação emocional.

Tradicionalmente, durante sua formação, esses profissionais aprendem que os

infratores são “o inimigo” e que o seu trabalho é garantir que eles permaneçam sob controle

dentro da penitenciária(55). Autores sugerem uma abordagem diferente na formação, que

permita uma maior reflexão sobre as condições de vida das pessoas presas. Na mesma

direção, Moon e Maxwell(8) apontam a necessidade de se reexaminar a forma como os

agentes interagem com os presos e os procedimentos utilizados nas correções e no

tratamento deles. Hartley et al.(55) sugerem incluir informações contínuas e aprofundadas

sobre doenças infecciosas na formação dos agentes, a fim de prevenir a contaminação de


75

doenças e o estresse. Gould et al.(46) propõem treinamento anual com foco específico nos

sintomas de estresse e burnout, além do ensino do uso de técnicas efetivas em seu

enfrentamento e gerenciamento.

É importante manter o foco na qualidade do suporte da chefia ou da supervisão(51)

e considerar o uso de um estilo mais participativo e flexível de liderança e gestão(52), a fim

de que as necessidades e valores individuais dos agentes penitenciários possam ser

considerados. O suporte social dos pares pode ser útil no enfrentamento e prevenção do

burnout(41,46): Gould et al.(46) sugerem a organização de grupos de diálogo entre os

agentes, com ênfase no que lhes aflige em relação ao trabalho. As estratégias de intervenção

a fim de reduzir o risco de estresse e burnout devem ser no sentido de melhorar a estrutura

organizacional e o clima da instituição prisional(37). Outra sugestão seria aumentar o

número de reuniões de colaboração entre as gerências e os agentes penitenciários a fim de

melhorar a comunicação entre eles(15,36).

Investigou-se nos EUA(39) um novo programa de redução de estresse e de riscos à

saúde entre agentes penitenciários, baseado na autorregulação emocional, que incorpora

uma série de técnicas de reestruturação e reorientação. Houve melhora significativa do

grupo experimental quanto ao nível de colesterol, glicemia, frequência cardíaca, pressão

arterial e em relação às perspectivas positivas. Também foram significativas as reduções do

sofrimento psíquico em geral e aumentos significativos de produtividade, motivação,

clareza de metas e apoio percebido. Em três trabalhos brasileiros(28–30) foi proposta a

organização de um “serviço de assistência psicológica” a fim de acolher o sofrimento

psíquico dos agentes, além de políticas públicas de valorização e qualificação profissional.

Estratégias disfuncionais como a negação e o abuso de substâncias devem ser

desencorajadas, pois elevam os níveis de burnout em suas três dimensões(46).


76

Discussão

Sofrimento psíquico, estresse e burnout são constructos que se interrelacionam, mas

que não são idênticos, porém seus fatores desencadeadores são muito parecidos. Podem ser

consideradas teorias que nascem no contexto da explosão da produção e consumo no

capitalismo e que se referem ao desenvolvimento de sentimentos negativos em conexão

com a atividade do trabalho(58).

A partir desses três grandes temas outros assuntos se destacam na abordagem do

problema, como os conceitos de satisfação no trabalho, apoio social, riscos psicossociais,

comprometimento organizacional, bem estar psicológico e violência. Os temas também se

ampliam a partir dos fatores de risco e proteção revelados nas pesquisas como: sobrecarga

de trabalho, falta de recursos materiais e humanos, nível de contato e percepções sobre o

preso, superlotação, percepções sobre medo ou perigo, paradoxo punir/reeducar, estresse de

mudança de turno, entre outros.

A diversificação das áreas temáticas dos periódicos que abordam o tema é um fator

positivo, pois amplia a possibilidade de se obter novos conhecimentos e gerar resultados

propositivos. Porém, percebe-se que o campo da saúde pública não vem dando ênfase às

discussões sobre o sofrimento psíquico dessa categoria profissional e que a produção vem

se concentrando em revistas com vocação de estudos em saúde mental e na área da

criminologia(22).

Algumas características relacionadas com o trabalho e a saúde de agentes

penitenciários se mostram gerais como a violência dos ambientes prisionais discutida em

vários artigos e também evidenciada por Santos(59) que mostra no fenômeno da

superlotação os riscos iminentes de ataques violentos entre os encarcerados e os agentes.

Também geral é a necessidade de controle a fim de manter a segurança, sendo essa a maior
77

preocupação dos agentes, em detrimento até de sua própria saúde(60). O mal estar da

privação da liberdade é outra peculiaridade enfrentada por esses trabalhadores, para

Moraes(3) “o mal está no ar”, se referindo à energia negativa ou pesada que circula em uma

unidade prisional. Essas características nivelam a vivência profissional desses sujeitos que

são apresentados nos estudos com relativamente pouca saúde física e problemas psíquicos

associados aos problemas físicos(17).

Questões específicas relacionadas à realidade de cada território são evidenciadas. Os

EUA, país que mais encarcera no mundo, com 2.228.000 pessoas custodiadas em 2012(61)

é o que mais produz academicamente sobre saúde mental de trabalhadores prisionais,

porém com abordagem predominantemente criminológica e não de saúde (apenas uma

publicação na temática psicológica), o que indica o interesse mais voltado para a indústria

da prisão do que para a saúde dos profissionais que ali trabalham. Como se evidencia no

trabalho de Dial(22), os temas abordados voltam-se para as preocupações gerenciais e

administrativas, com foco na importância do apoio social interno (supervisão/liderança),

treinamento, problemas causados pela superlotação, aumento da motivação e da

produtividade.

Embora pesquisas sobre burnout tenham uma longa tradição na América do Norte e

na Europa(62), esse levantamento bibliográfico mostrou que, entre profissionais prisionais,

o tema é mais investigado na Europa e indica altos índices de incidência.

Os artigos brasileiros apesar de serem apenas quatro, abrangem 10% de toda a

produção e são os únicos da América Latina. A abordagem dejouriana combinada com o

método qualitativo demonstra uma visão ampla e complexa do problema com foco no bem

estar do trabalhador.

No que tange à metodologia quantitativa, a mais utilizada nos artigos analisados,


78

nota-se o desenvolvimento de dois novos instrumentos de verificação de estresse em

agentes penitenciários(33,63) e adaptação de outros já utilizados anteriormente (quadro 1).

Apesar de ser cada vez maior o número de agentes mulheres, elas trabalham em um

ambiente projetado para custodiar e para o labor de pessoas do sexo masculino. Elas atuam

tanto em unidades masculinas quanto femininas, porém em cada uma delas suas funções

diferem, assim como o tipo de sofrimento e estresse vivenciados. Nesse sentido, elas se

adaptam ao ambiente muito mais do que o ambiente se adapta a elas(41).

As estratégias de enfrentamento sugeridas nos artigos encontrados (formação,

suporte social e atendimentos psicológicos) também foram evidenciadas em outros

trabalhos (3,64,65). Elas são consideradas importantes e viáveis, porém apontam mais para

um esforço do próprio trabalhador em se qualificar, dar suporte aos seus pares e se “tratar”

do que responsabilizam as empresas ou governos pela negligência com as condições de

trabalho ofertadas e seus impactos na saúde dos agentes penitenciários. Na visão de

Constantino, Souza e Assis(66), se os estudos identificam que fatores de estresse estão

relacionados tanto a questões individuais quanto aos aspectos organizacionais do trabalho,

será mais eficiente, a fim de prevenir e minimizar os efeitos desse problema, envolver

estratégias em ambos os níveis.

Considerações finais

Nesta revisão da literatura demonstra-se o aumento gradativo da produção científica

sobre estresse e sofrimento psíquico do agente penitenciário, um trabalhador invisível e

desvalorizado, mas imprescindível na estrutura social. São poucas as investigações frente

ao aumento constante do número de unidades prisionais nos países.

Quando os agentes penitenciários não dispõem dos recursos necessários para

realizar seu trabalho de forma otimizada (por exemplo, falta de pessoal, falta ou
79

inadequação de equipamentos), quase a metade experimenta altos níveis de estresse(27).

Durante as três décadas passadas muitas pesquisas examinaram os fatores que contribuem

para o estresse no trabalho, percebendo-se a importância de analisar criticamente os

estressores organizacionais, a fim de contribuir para constituição de ambientes e

trabalhadores mais saudáveis(20). As características individuais podem moderar os efeitos

do estresse no trabalho, no entanto, elas se tornam pouco úteis em condições de estressores

organizacionais duradouros ou esmagadores(37).

É importante investir não apenas em nível individual, mas também no contexto do

sistema organizacional usando uma perspectiva psicossocial para entender as dificuldades e

propor estratégias de mudança a fim de melhorar as condições de trabalho. É relevante

frisar que no universo penitenciário, a visão do agente penitenciário a respeito da dinâmica

do ambiente prisional é apenas uma das percepções possíveis, dentre os diferentes atores

envolvidos nesse cotidiano. Outras versões também devem ser consideradas na elaboração

de projetos, programas ou políticas públicas.

Um objeto tão complexo quanto a saúde mental, sendo pesquisado em um ambiente

violento e insalubre onde se inserem profissionais que presenciam diariamente o sofrimento

da privação da liberdade e que têm uma missão perigosa e com poucas retribuições

simbólicas, deveria ser investigado também de forma mais complexa. São muito raras as

pesquisas que utilizam abordagens qualitativas a fim de compreender mais profundamente

seus objetos, principalmente no que diz respeito à análise das múltiplas relações que se

travam em uma instituição prisional. Como demonstrado anteriormente, o fator de proteção

contra o sofrimento no trabalho mais destacado nas pesquisas analisadas foi o “suporte

social” que implica na análise dessas relações. Escutar esses homens e mulheres

trabalhadores pode dar mais sentido aos resultados encontrados.


80

É importante notar que a prevenção e a atenção à saúde mental de agentes

penitenciários beneficiam não só os profissionais prisionais, mas também suas famílias, o

preso, a família do preso e a sociedade como um todo.

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84

5.2 - ARTIGO 2

Estresse e condições de trabalho de agentes penitenciários do Estado do Rio de Janeiro13


Stress and work conditions in correctional officers from Rio de Janeiro/Brasil

Resumo

Analisa-se a relação entre estresse e condições de trabalho de agentes penitenciários,


associando-se abordagens quantitativas e qualitativas (entrevistas/observação). Resultados
revelam que uma proporção importante (35,1%) apresenta estresse na vida, segundo a
escala de estresse de Lipp. Não se constatam diferenças ligadas ao estresse, segundo o
gênero. Modelo de regressão logístico ordinal múltiplo mostra que: a chance de um agente
penitenciário não satisfeito com o chefe imediato, apresentar estresse em um nível mais alto
é 4,5 vezes a chance de um agente satisfeito com o chefe imediato; aqueles que às
vezes/raramente/nunca ou quase nunca mencionaram que o trabalho causa estresse, têm
74,9% menos chances de estar em um nível mais alto de estresse; para cada tipo de risco
que um agente se percebe exposto, há aumento de 24% na chance de estar em um nível
mais alto de estresse; um profissional que pouco repete as tarefas no trabalho tem 52,6%
menos chances de estresse grave em relação aos que frequentemente têm que repetir as
tarefas. É preciso reforçar o apoio social e material dispensado a esses profissionais e
resolver o problema da superlotação sempre crescente. São necessários mais profissionais,
especialmente nos postos de contato direto com os presos e que o trabalho executado seja
mais reconhecido e valorizado pela sociedade.
Palavras chave: Estresse, estresse ocupacional, condições de trabalho, agentes
penitenciários, saúde do trabalhador.

13 Artigo encaminhado para revista científica: Physis - Revista de Saúde Coletiva.


85

Abstract

The scope of this study is the relationship between stress and working conditions in
correctional officers, which is analyzed by quantitative and qualitative approaches
(interviews/observation). Results show that a significant proportion (35,1%) presented life
stress, according to the Lipp stress scale. There are no differences related to stress
according to gender. Multiple ordinal logistic regression model shows that a correctional
officer unsatisfied with the immediate boss relationship is 4,5 times more likely to be at a
higher stress level; those who have sometimes/rarely/never or almost never mentioned that
work causes stress, are 74,9% less likely to be at a higher stress level; for each type of risk
an agent perceives exposed, there is a 24% increase in the chance of being at a higher stress
level; a professional who rarely repeats tasks at work has a 52,6% lower chance of severe
stress than one who often has to repeat tasks. It is necessary to strengthen the social and
material support provided to these professionals and to solve the problem of ever-increasing
overcrowding. More professionals are needed, especially in direct contact with prisoners,
and their work needs to be more recognized and valued.
Key words: stress, occupational stress, working conditions, correctional officers,
occupational health.
86

Introdução

Esse artigo tem como objetivo analisar a relação entre estresse e condições de
trabalho de homens e mulheres agentes penitenciários, um grupo profissional muito pouco
investigado no Brasil. Internacionalmente o tema vem sendo pesquisado, apesar das
dificuldades de acesso para pesquisa em instituições totais (BEZERRA; GONÇALVES;
CONSTANTINO, 2016).
O campo da saúde do trabalhador (MENDES; DIAS, 1991) considera o trabalho
enquanto organizador da vida social, ocupando lugar central na vida das pessoas no sentido
da construção de sua identidade. Ele pode gerar autonomia, realização profissional/pessoal,
autoestima, ser criativo, potencializador ou se manifestar como forma de violência e
dominação, submetendo e aprisionando o trabalhador à sua rígida organização. No entanto
o sofrimento no trabalho é um estado compatível com a normalidade, não configura uma
doença mental, ele é vivenciado pelo profissional por meio de mecanismos adaptativos:
alguns buscam prazer e fuga do sofrimento transformando as adversidades numa fonte de
criatividade (DEJOURS, 1992; AMADOR, 2002), outros sucumbem e desenvolvem
doenças, estresse e depressão. Para Dejour e Beguè (2010) “a parte de responsabilidade a
ser imputada ao trabalho, tanto na construção da saúde como em sua destruição, é
absolutamente subestimada”.
Selye (1975) definiu o estresse como uma resposta orgânica não-específica para
situações estressoras ao organismo. Sua presença de forma moderada significa uma normal
adaptação às demandas do dia a dia; quando excessivo, é uma manifestação de sofrimento
psíquico com reações físicas e emocionais e os sintomas variam dependendo da fase em
que se encontra (LIPP, 2003). Os sintomas físicos que ocorrem com maior frequência são
aumento da sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da mandíbula,
ranger de dentes, hiperatividade, náuseas, mãos e pés frios. Em termos psicológicos podem
se manifestar como ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades
interpessoais, dúvidas quanto a si próprio, preocupação excessiva, inabilidade de
concentrar-se em outros assuntos que não o relacionado ao sofrimento, dificuldade de
relaxar, ira e hipersensibilidade emotiva. (LIPP, 1994).
87

Observa-se cada vez mais a preocupação com a investigação acerca da relação entre
estresse e trabalho, destacando-se o construto estresse ocupacional. Essa abordagem
(PASCHOAL; TAMAYO, 2004) acentua o caráter relacional do conceito que envolve
ambiente de trabalho e sujeito, atribuindo importância às percepções individuais como
mediadoras desse impacto estressor.
Mais da metade dos trabalhadores que atuam nas prisões nos países industrializados
julgam seu trabalho “mentalmente pesado" (WHO, 1995). Pesquisas mostram que o
ambiente de trabalho correcional é repleto de estresse psicológico e que o exercício da
profissão, sob ameaça de agressões e violências, provoca adoecimento, distúrbios do sono,
síndrome de burnout e depressão; há também evidência epidemiológica de elevado risco de
enfermidades cardiovasculares, acirramento de problemas familiares e sentimentos de
incapacidade de cumprir suas funções (MOON; MAXWELL, 2004).
Dejours aponta que as “condições de trabalho” abrangem os ambientes físico,
químico e biológico, as condições de higiene e de segurança e as características
antropométricas do posto de trabalho. Para o mesmo autor, a “organização do trabalho” é
constituída pela divisão das atividades, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as
modalidades de comando, as relações de poder e as questões de responsabilidade. Em sua
análise das relações entre trabalho e vida psíquica, o autor avalia que “o afrontamento do
homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental” e o sofrimento mental resulta da
organização do trabalho: “mesmo as más condições de trabalho são, no conjunto, menos
temíveis que uma organização do trabalho rígida e imutável” (DEJOURS, 1992, p.52).
A literatura (BEZERRA; GONÇALVES; CONSTANTINO, 2016) aponta os
diversos fatores geradores de estresse no trabalho de agentes penitenciários: sobrecarga de
trabalho; superlotação; falta de recursos materiais e humanos; problemas de relacionamento
com colegas e supervisores; percepção do trabalho como sendo perigoso; medo de contrair
doenças como HIV/AIDS, hepatite e tuberculose. Problemas de relacionamento com os
presos também geram estresse: nível de contato com eles; conflito de papéis (paradoxo
punir/reeducar) e percepções de características pessoais dos presos mais negativas (hostis,
antissociais e frios). Características da própria atividade (tipo de prisão, por exemplo)
também são fatores de risco para estresse, assim como a percepção da imagem pública
negativa. Atributos individuais como personalidade, satisfação no trabalho e qualidade dos
relacionamentos familiares ao interagirem com fatores geradores de estresse no trabalho
88

podem moderar ou agravar os sintomas. Entre os fatores que podem proteger os agentes
penitenciários do estresse estão os altos níveis de satisfação no trabalho e de apoio social,
além da percepção de estar no controle das situações relacionadas ao seu ofício (OWEN,
2006).
O trabalho penitenciário realizado por homens e mulheres tem características
distintas. Alguns autores (CHEESEMAN; DOWNEY, 2012; DIAL; DOWNEY;
GOODLIN, 2010) assinalam gênero como um fator significante para entender o estresse no
trabalho de agentes, mais do que qualquer outra variável demográfica. O ambiente prisional
predominantemente masculino levaria as mulheres a enfrentarem desafios específicos em
seu trabalho nessas instituições. Além disso, características socialmente aceitas como
femininas (compaixão, orientação familiar) podem ser desvalorizadas no ambiente prisional
onde as noções de "resistência" e força física são muito respeitadas.
O contexto atual do sistema penitenciário brasileiro reflete a política de segurança
de superencarceramento que gera superlotação. Essa dinâmica aumenta a relação número
de presos/agentes penitenciários, agrava as condições de trabalho desses profissionais e
prejudica a promoção dos direitos elementares da pessoa presa, o que torna o ambiente
prisional tenso, hostil e violento tanto para presos quanto para funcionários.
Em 2014 havia 579.423 pessoas encarceradas no Brasil (BRASIL, 2014), com
proporção de oito pessoas presas para cada agente de custódia. Essa proporção não atende à
recomendação do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (BRASIL, 2009)
que é de no máximo cinco presos/agente. No Rio de Janeiro em abril de 2016 existiam
38.000 pessoas presas e 5.396 agentes penitenciários, sendo 4.500 lotados em unidades
prisionais, mantendo no Estado a proporção de oito presos por agente, não atendendo à
recomendação do CNPCP.
A categoria profissional de agente de segurança penitenciário (BRASIL, 2002) está
inserida no grupo de trabalhadores dos serviços. São assalariados, com carteira assinada ou
vinculo estatutário, que atuam em estabelecimentos prisionais. Devem ter o ensino médio
completo e formação profissionalizante. Trabalham em equipe ou individualmente, com
supervisão permanente, em horários diurnos, noturnos, em rodízio de turnos ou escala.
Podem exercer suas funções em grandes alturas, confinados ou em locais subterrâneos.
A maioria desses profissionais mantém contato direto com apenados, uma vez que
são responsáveis pela sua custódia. Tendo como função básica a aplicação da Lei de
89

Execução Penal (BRASIL, 1984), devem manter o ambiente de segurança dentro das
prisões e estão frequentemente expostos a situações geradoras de tensão, tais como
intimidações, agressões, ameaças, iminência de rebelião e de se tornarem reféns
(THOMPSON, 1993). Trabalham sob pressão constante e estão sujeitos a risco de morte
(BRASIL, 2002), por isso ficam mais expostos ao adoecimento físico e mental.
No Rio de Janeiro os “Inspetores de Segurança e Administração Penitenciária” da
Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, são servidores públicos com carga
horária semanal de 40 horas. As duas escalas de serviço mais comuns são o “expediente”
(horário comercial) e as “turmas/plantão”. No expediente trabalham diariamente em
funções como: diretor, subdiretor, administrador, motorista/escolta do diretor, revista de
visitantes, entre outras. Os que trabalham nas turmas cumprem escala de 24 horas de
trabalho seguida de 72 horas de descanso. Esses profissionais ficam em constante contato
com os presos dentro dos pavilhões onde se localizam as celas de uma unidade prisional.

Material e método
Esse trabalho é um dos resultados de pesquisa sobre condições de saúde das pessoas
presas realizada entre 2013 e 2015 no sistema penitenciário do Rio de Janeiro pelo
Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Escola
Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (MINAYO E CONSTANTINO,
2015). Foi realizado um inquérito epidemiológico com amostra representativa das pessoas
presas, acrescido de entrevistas individuais e, de maneira complementar, observações de
campo nos momentos de visita a 31 unidades prisionais femininas e masculinas, localizadas
em Gericinó (Bangu), Japeri (Baixada Fluminense) e no interior do Estado (Campos).
Para investigar os agentes penitenciários foi realizado um recorte dessa pesquisa que
ocorreu em paralelo com a investigação da saúde dos presos. Seu método se baseou nas
teorias e técnicas da triangulação metodológica (MINAYO; ASSIS; SOUZA, 2005) e
utilizou abordagens quantitativa e qualitativa. Para compor a amostra do estudo
quantitativo, cujos dados estão analisados neste artigo, nove unidades prisionais femininas
e masculinas de regime fechado foram incluídas: todas as três unidades da Baixada
Fluminense (Japeri); todas as três do município de campos dos Goitacazes (interior do
Estado) e um sorteio aleatório de três unidades localizadas no complexo de Gericinó.
Nessas unidades, todos os agentes penitenciários foram convidados a participar da
90

pesquisa, entre os que responderam aos questionários havia 68,1% homens e 31,9%
mulheres. Das entrevistas participaram 26 homens (68,4%) e 12 mulheres (31,6%).
O questionário padronizado, anônimo e autoaplicável continha perguntas sobre
dados socioeconômicos e demográficos, condições de trabalho, de saúde, qualidade de
vida, consumo de substâncias e incluiu o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
(ISSL), padronizado e validado para o Brasil por Lipp e Guevara em 1994. O objetivo
dessa escala é avaliar a existência de sintomas de estresse na vida do entrevistado e o tipo
predominante: físico ou psicológico e a fase em que se encontra. Ela baseia-se no modelo
desenvolvido por Selye (1975), identificando fases diferenciadas: 1) alerta - fase positiva
do estresse, o ser humano se energiza por meio da produção da adrenalina, a sobrevivência
é preservada e uma sensação de plenitude é frequentemente alcançada; 2) resistência - a
pessoa automaticamente tenta lidar com os estressores de modo a manter sua homeostase
interna; 3) quase-exaustão - as defesas do organismo começam a ceder e ele já não
consegue resistir às tensões, as doenças começam a surgir, embora, não tão graves quanto
na fase de exaustão; 4) exaustão - se os fatores estressantes persistirem em frequência ou
intensidade, há uma quebra na resistência da pessoa e ela passa à fase de exaustão quando a
doenças graves podem ocorrer nos órgãos mais vulneráveis, como enfarte, úlceras,
psoríase, depressão e outros. O escore de corte da escala foi de cinco ou mais respostas
positivas em cada uma dessas fases. Para tornar claro o processo de desenvolvimento do
estresse é necessário considerar que o quadro sintomatológico varia dependendo da fase em
que se encontra (LIPP, 2003). A presença e níveis de estresse entre agentes penitenciários
de ambos os sexos se encontram apresentados na tabela 1.
Dos 454 inspetores em efetivo exercício nas nove unidades selecionadas, 217
homens e 100 mulheres concordaram em participar respondendo aos questionários, o que
corresponde a 70% da amostra pretendida. As “perdas” de 30% se justificam: 1) a aplicação
do questionário durante o período do trabalho se configurou, para alguns agentes, como
uma atividade extra ou sobrecarga e por isso alguns se recusaram a respondê-lo. 2) Alguns
postos dificultam o preenchimento dos funcionários, como por exemplo, as portarias,
devido à ininterrupta demanda de serviços. 3) algum nível de desconfiança e de descrédito,
por parte dos agentes, em relação às pesquisas. 4) a distância em quilômetros de certas
unidades, o que dificultou as visitas aqueles presídios: quanto mais fácil o acesso do
pesquisador, mais questionários preenchidos. 5) peculiaridades das unidades e de seu
91

efetivo carcerário.
As variáveis explicativas do estresse vivenciado pelos agentes penitenciários estão
relacionadas ao perfil profissional e as condições de trabalho (que agrega no estudo
empírico as informações sobre organização do trabalho), apresentadas nas tabelas 2 e 3. As
variáveis analisadas são: perfil do profissional (sexo, idade, cor da pele, religião e
escolaridade) e as diversas características do trabalho realizado na SEAP: tempo de serviço;
horário de trabalho; relacionamento com o chefe imediato, com os outros agentes e presos;
acúmulo de locais de trabalho além da SEAP; adequação de tarefas; comandos claros para
realizar as atividades; frequência com que modifica as ordens que recebe; tarefas de
trabalho executadas com muita rapidez; trabalhar intensamente, exigindo esforço demais,
com exigências contraditórias e tarefas repetidas muitas vezes; escolhe 'como' e 'o que'
fazer no trabalho; e trabalho como fonte de estresse intenso. Duas questões sobre risco
foram inseridas: o risco que corre na atividade na SEAP e o risco que a família corre por
causa da atividade na SEAP (constante, eventual ou sem risco). A indagação sobre risco em
familiares foi incluída por ser fonte relevante de estresse para os agentes penitenciários,
mesmo que não o atinja diretamente. Uma última variável quantitativa foi criada,
agregando a resposta a 10 riscos que ocorrem no exercício profissional, incluindo: ser
tomado como refém e sequestrado; ser atingido por arma de fogo; ser ferido por arma
branca; sofrer agressão física, violência sexual (assédio, estupro) e psicológica (ameaças,
humilhações); vivenciar envenenamento, intoxicação por gases ou fumaça; sofrer danos de
audição decorrentes de ruídos intensos ou de explosão; e outros tipos de risco, descritos
pelo agente penitenciário.
As informações originadas dos questionários foram codificadas, digitadas e
arquivadas em um banco de dados do programa EPIDATA 3.0 e posteriormente criticadas a
fim de se checar erros ou falhas no preenchimento e inconsistência nas variáveis. Foram
usados pacotes estatísticos específicos para a análise dos dados, como o GNU PSPP (pacote
estatístico similar ao SPSS sob o projeto GNU) e R Core Team (2015). Um total de 317
agentes preencheu aos questionários e 308 responderam aos itens da escala de estresse. Para
possibilitar a modelagem realizada, agregou-se a ausência de estresse com a fase inicial de
alerta, contrapondo-as aos níveis mais preocupantes da presença do estresse na vida dos
agentes (Resistência e Quase exaustão/Exaustão).
As variáveis explicativas selecionadas para o estudo foram analisadas com a
92

variável dependente (Tabela 2), evidenciadas em tabelas de contingência e testadas (qui-


quadrado). Uma variável discreta (risco sofrido) foi analisada com a variável dependente
através do teste de Kruskal-Wallis (tabela 3). Todos os testes foram considerados
estatisticamente significativos ao nível de 5%. As variáveis significativas nesta etapa foram
incluídas no modelo logístico ordinal de odds proporcionais parciais (múltiplo) e no caso
em que a suposição era satisfeita, ficava o modelo de odds proporcionais (Tabela 4). No
modelo final são apresentadas as razões de chance (OR) e intervalos de confiança de 95%.
A fim de prevenir a presença de multicolinariedade no modelo foi utilizada a
correlação policórica. Para verificar a multicolinariedade entre as variáveis selecionadas na
análise bivariada foi avaliada a correlação entre alguns grupos de variáveis que poderiam
ter associação. A correlação entre "ter que fazer tarefas de trabalho com muita rapidez" e
"ter que trabalhar intensamente" foi de 0,846. A correlação entre "trabalho exige esforço
demais e "ter que trabalhar intensamente" foi de 0,858. Como conceitualmente elas são
semelhantes foi selecionada para o modelo múltiplo a variável com efeito mais significativo
na análise univariada.
Na abordagem qualitativa utilizamos a técnica de entrevistas individuais nas nove
unidades visitadas, pautadas por um roteiro que abordou questões referentes às condições
de trabalho, condições de saúde física e mental, prazer no trabalho, relações no trabalho,
estratégias para lidar com o estresse, sugestões para melhorar as atuais condições de
trabalho, entre outras. As entrevistas foram realizadas durante o horário de trabalho, com
duração média de 45 minutos, sendo gravadas e transcritas. Participaram 38 agentes
penitenciários, sendo 26 homens e 12 mulheres. O critério adotado para definir o número de
entrevistas em cada unidade foi o de saturação do conteúdo da experiência de trabalho,
encontrando-se suficiência no aprofundamento das questões relevantes e na abrangência
dos atores principais (MINAYO, 2010). Mais de 40 visitas as unidades prisionais foram
realizadas, gerando relatórios de campo com observações qualitativas feitas pelos
pesquisadores.
A análise e a interpretação dos dados qualitativos foram efetuadas a partir do
enfoque da análise temática, seguindo a perspectiva da análise de conteúdo de Bardin
(1979) em sua versão adaptada por Minayo (2010), ou seja, destacando-se as relevâncias
evidenciadas pelos próprios interlocutores. Em relação às “condições de trabalho”,
emergiram ideias ou categorias centrais de análise, tais como a falta de recursos humanos
93

(principalmente nas turmas dos plantões); superlotação; ambiente insalubre; falta ou


inadequação de recursos materiais; e salário. Sobre a questão do “estresse no trabalho”,
destacaram-se as temáticas de relacionamento com os presos; falta de servidores, riscos
sofridos, imprevisibilidade da atividade e violência do ambiente prisional.
A pesquisa foi autorizada pela Secretaria de Administração Penitenciária e pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP (CAAE: 14486913.2.0000.5240). Os agentes
penitenciários assinaram um termo, com seu livre consentimento à participação na
pesquisa.

Resultados

A ausência de estresse na vida é constatada na maioria dos agentes penitenciários


(64,9%), embora uma proporção importante apresente estresse (35,1%). Entre eles, 2,3%
estão na fase inicial de alerta; 26,0% encontram-se na etapa de resistência; 5,8% em quase
exaustão e 1,0% em exaustão (tabela 1). Proporcionalmente existe o dobro de mulheres
(10,4%) em relação aos homens (5,2%) nas fases de exaustão ou quase exaustão, embora
tal diferença não seja estatisticamente significante.

Tabela 1 - Estresse na vida de agentes penitenciários, Rio de Janeiro (N=308)


Existência e Fases do
Homens Mulheres Total
Estresse
N % N % N %
Ausência 140 66,0 60 62,5 200 64,9
Alerta 6 2,8 1 1,0 7 2,3
Resistência 55 26,0 25 26,1 80 26,0
Quase exaustão 10 4,7 8 8,3 18 5,8
Exaustão 1 0,5 2 2,1 3 1,0
Fonte: Bezerra, C. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no
Estado do Rio de Janeiro.

Avaliando-se os sintomas de estresse apresentados pelos agentes (dados não


apresentados), têm-se a predominância dos sintomas psicológicos, presentes isoladamente
em 56,3% dos entrevistados e de forma associada aos sintomas físicos em 7,8% dos
agentes; os demais 35,9% de pessoas entrevistadas apenas apresentam sintomas físicos.
Na tabela 2 avalia-se o perfil do agente e as condições de trabalho na SEAP
relacionados à ocorrência de estresse na vida dos agentes.
94

Tabela 2: Perfil e condições de trabalho de agentes penitenciários, segundo ocorrência


de estresse na vida.
Com Com estresse,
Total Não tem
Variáveis (categorias) estresse, fase de quase
stress/fase P-valor*
fase de exaustão ou
de alerta
resistência exaustão

Perfil do Agente Penitenciário


N % N % N % N % 0,231
Sexo Feminino
96 31,2 61 63,5 25 26,0 10 10,4
Masculino 212 68,8 146 68,9 55 25,9 11 5,2
Idade Até 40 anos
179 58,1 119 66,5 49 27,4 11 6,1 0,726
Acima de 40 anos 129 41,9 88 68,2 31 24,0 10 7,8
Cor da pele Branco
134 43,6 92 68,7 32 23,9 10 7,5 0,777
Preto, pardo,
173 56,4 115 66,5 47 27,2 11 6,4
amarelo, indígena
Praticar religião
104 34,2 73 70,2 23 22,1 8 7,7 0,193
Sim, frequentemente

Sim, às vezes 138 45,4 97 70,3 35 25,4 6 4,3


Não 62 20,4 35 56,5 20 32,3 7 11,3
Até superior
Escolaridade incompleto
168 55,4 110 65,5 47 28,0 11 6,5 0,693

Superior e pós-
135 44,6 93 68,9 32 23,7 10 7,4
graduação
Condições de Trabalho do Agente Penitenciário

N % N % N % N %
Tempo de serviço/SEAP Até 10 anos
226 74,6 151 66,8 61 27,0 14 6,2
0,610
Acima de 10 anos 77 25,4 52 67,5 18 23,4 7 9,1
Horário de trabalho / Escala de 24 por 72
SEAP h
189 62,4 119 63,0 56 29,6 14 7,4 0,281

Expediente de 40 h
semanais 99 32,7 75 75,8 18 18,2 6 6,1
Outro 15 4,9 10 66,7 4 26,7 1 6,7
Relacionamento com o Satisfeito
273 89,2 196 71,8 63 23,1 14 5,1 <0,001
chefe imediato
Não satisfeito 33 10,8 9 27,3 17 51,5 7 21,2
Relacionamento com Satisfeito
280 91,5 197 70,4 71 25,4 12 4,3 <0,001
colegas e inspetores
Não satisfeito 26 8,5 8 30,8 9 34,6 9 34,6
CONTINUA NA PAGINA SEGUINTE
95

CONTINUAÇÃO DA TABELA 2: Perfil e condições de trabalho de agentes penitenciários,


segundo ocorrência de estresse na vida.
Relacionamento com os Satisfeito
presos 129 42,9 104 80,6 23 17,8 2 1,6 <0,001

Não satisfeito 172 57,1 98 57,0 56 32,6 18 10,5


Sair de um serviço e Acontece
97 31,9 56 57,7 34 35,1 7 7,2 0,041
realizar outra atividade
Nunca acontece 207 68,1 148 71,5 45 21,7 14 6,8
Adequação de tarefas que Sim
185 62,5 136 73,5 42 22,7 7 3,8 0,002
executa no dia-a-dia
Nem sempre/nunca 111 37,5 62 55,9 35 31,5 14 12,6
Comandos claros para Sim
183 60,0 141 77,0 34 18,6 8 4,4 <0,001
realizar suas atividades
Nem sempre/nunca 122 40,0 64 52,5 45 36,9 13 10,7
Frequência com que Sempre/quase
modifica as ordens que sempre 55 18,0 28 50,9 21 38,2 6 10,9 0,020
recebe
Às vezes/raramente/
250 82,0 176 70,4 59 23,6 15 6,0
nunca
Faz tarefas de trabalho Frequentemente
com muita rapidez
158 52,3 85 53,8 57 36,1 16 10,1 <0,001

Às
vezes/raramente/nun 144 47,7 116 80,6 23 16,0 5 3,5
ca ou quase nunca
Trabalha intensamente Frequentemente
134 44,8 71 53,0 50 37,3 13 9,7 <0,001

Às vezes/raramente/
nunca ou quase 165 55,2 127 77,0 30 18,2 8 4,8
nunca
Trabalho exige esforço Frequentemente
demais
104 35,4 55 52,9 37 35,6 12 11,5 0,001

Às vezes/raramente/
nunca ou quase 190 64,6 140 73,7 41 21,6 9 4,7
nunca
Trabalho costuma Frequentemente
apresentar exigências
63 21,1 31 49,2 21 33,3 11 17,5 <0,001
contraditórias

Às vezes/raramente/
nunca ou quase 235 78,9 167 71,1 58 24,7 10 4,3
nunca
Frequentemente
Repete muitas vezes as 225 77,0 140 62,2 64 28,4 21 9,3
mesmas tarefas no trabalho
0,008
Às vezes/raramente/
nunca ou quase 67 23,0 53 79,1 14 20,9 0 0,0
nunca

CONTINUA NA PAGINA SEGUINTE


96

CONTINUAÇÃO DA TABELA 2: Perfil e condições de trabalho de agentes penitenciários,


segundo ocorrência de estresse na vida.
Escolhe COMO fazer o Frequentemente
trabalho
44 15,2 33 75,0 9 20,5 2 4,5 0,387

Às vezes/raramente/
nunca ou quase 245 84,8 158 64,5 68 27,8 19 7,8
nunca
Escolhe O QUE fazer no Frequentemente
trabalho
16 5,5 12 75,0 3 18,8 1 6,2 0,730

Às vezes/raramente/
nunca ou quase 277 94,5 182 65,7 76 27,4 19 6,9
nunca
Trabalho causa estresse Frequentemente
intenso
162 54,2 83 51,2 61 37,7 18 11,1 <0,001

Às vezes/raramente/
nunca ou quase 137 45,8 116 84,7 18 13,1 3 2,2
nunca
Risco que corre na Risco constante
atividade na SEAP? 240 79,0 151 62,9 69 28,8 20 8,3 0,015

Risco eventual/não
há risco 64 21,0 52 81,2 11 17,2 1 1,6
Risco que família corre Risco constante
pela atividade na SEAP
118 40,0 68 57,6 37 31,4 13 11,0 0,014

Risco eventual/não
há risco 181 60,0 131 72,4 42 23,2 8 4,4
Fonte: Bezerra, C. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no Estado
do Rio de Janeiro

Perfil dos participantes

Como se pode constatar na tabela 2, todos os itens relacionados ao perfil dos 308
agentes não se encontram associados à presença de estresse (p-valor>0,05). A maioria
desses profissionais é homem (68,8%), com idade até 40 anos (58,1%) e com cor da pele
especialmente preta e parda (cerca de 56%). Cerca de 80% declaram praticar alguma
religião frequentemente ou às vezes. Quase a metade de todos os agentes (44,6%) tem o
ensino superior completo ou já são pós-graduados. A mudança do perfil do agente
penitenciário ao longo dos anos foi ressaltada nas entrevistas qualitativas, principalmente
devido ao aumento do nível de escolaridade, decorrente de investimentos em concursos e
melhores salários. Essa qualificação refletiria na condução do trabalho realizado,
97

especificamente no nível de uso da força: "hoje dificilmente você vê a porrada comer com o
preso. Antigamente era assim que funcionavam as coisas. Eu acho que a concepção do
guarda mudou, o nível do guarda mudou".
No decorrer das entrevistas analisadas qualitativamente, não se constatou diferenças
relativas ao perfil dos agentes. Em especial, não houve diferenciação de gênero no discurso
de homens e mulheres em relação ao estresse laboral.

Sobre as condições de trabalho

Na tabela 2 verificou-se que apenas as variáveis: tempo de serviço como agente,


horário de trabalho, forma como faz o trabalho e o que faz no trabalho não se associam a
presença de estresse na vida. Os demais itens que descrevem as condições de trabalho
mostram associação com o estresse (p-valor<0,05). A pergunta sobre se o trabalho na SEAP
lhes causa estresse intenso, mostra que a maioria dos agentes (54,2%) faz essa associação
de forma clara (p<0,001).
A maioria dos profissionais (74,6%) tem até 10 anos como agente penitenciário na
SEAP e trabalha em plantão de 24h/72h (62,4%). O grau de satisfação dos profissionais
com os relacionamentos estabelecidos no trabalho indica elevada satisfação com os colegas
(91,5%) e com o chefe imediato (89,2%). Já com os presos as relações têm uma avaliação
negativa: 57,1% se declaram insatisfeitos com as relações existentes. Constata-se que
aqueles agentes mais insatisfeitos com os relacionamentos predominam entre os que
apresentam estresse na vida. Nas entrevistas qualitativas, constataram-se muitos relatos de
relações colaborativas, respeitosas, prazerosas e muitas vezes de amizade com colegas: "a
gente procura relaxar brincando um com outro", "o clima de trabalho com o inspetor é
tranquilo, aliás, muito bom”. As difíceis condições de trabalho parecem ser suavizadas
pelas relações com os pares, mesmo com os que estão em papel de gestão:
Agora a atividade em si, é uma atividade que não é muito prazerosa. De
bom aqui é a amizade!

Eu tenho uma relação muito boa com os colegas de trabalho, eu acho que é a
parte que ameniza muito, porque quem tá aqui sabe o que a gente passa, a
realidade. Eu acho que é a melhor parte.

Eu estou há oito anos como chefe de turma, peguei vários diretores, a minha
relação é bem tranquila.

A relação direta com os presos é descrita como um fator gerador de estresse no


98

exercício da profissão, causando uma carga potente de insegurança para o servidor: “é uma
relação difícil”:
Com o preso você tem que manter a sua postura, o preso tem aquele
problema, você não pode ficar de brincadeira, não pode dar confiança, tem
que se impor.

A imposição do inspetor é moral, nós não andamos armados dentro da


carceragem nem nada, então ela é moral, postura, é saber se impor e
mostrar autoridade dentro da carceragem.

Ainda sobre as condições de trabalho, pode-se verificar na tabela 2 que 31,9% dos
agentes declararam que saem do serviço e realizam outra atividade ligada à segurança,
imediatamente, sem descanso, dentro ou fora da SEAP. Observa-se também que há maior
frequência de agentes com estresse entre os que têm mais de uma atividade em segurança.
Aprofundando a compreensão deste fato, viu-se nas entrevistas que o salário pode ser
complementado na própria instituição com o regime adicional de serviço (RAS), que é um
plantão opcional de 12 horas, ou seja, existe a possibilidade de aumentar a renda sem ter
outro emprego. Isso é avaliado positivamente pelos agentes: “o RAS foi uma benção para
todo mundo". Poucos trabalham em outras instituições ou em outros locais.
Diversas questões aferem a forma como o trabalho é executado. Um total de 37,5%
dos agentes avalia que as tarefas que executam no dia-a-dia nem sempre ou nunca estão
adequadas à sua função e 40,0% acham que não recebem comandos claros para realizá-las.
Para 82,0% às vezes/raramente ou nunca é preciso modificar as ordens que recebem,
indicando que ações repetidas são comuns. Pouco mais da metade dos entrevistados
(52,3%) frequentemente tem que trabalhar com muita rapidez; 44,8% percebem que
frequentemente trabalham intensamente, ou seja, precisam produzir muito em pouco tempo;
e 35,4% relatam que seu trabalho exige esforço demais de si mesmo. Para 21,1% dos
agentes, o trabalho frequentemente apresenta exigências contraditórias ou discordantes. A
grande repetição de tarefas é percebida como frequente pela maioria (77,0%). Além disso,
muitos profissionais percebem que não podem escolher 'como' (84,8%) ou 'o que' (94,5%)
fazer no trabalho. Estes dados indicam que a forma de trabalho cotidiano requer rapidez e
obediência às normas como elemento fundamental e que essa demanda pode gerar estresse.
Nos encontros qualitativos esclareceu-se um pouco da forma de trabalhar dos
agentes penitenciários. Avaliaram que a crescente superlotação aliada à precariedade de
recursos materiais e humanos gera sobrecarga de trabalho, risco, pressão e tensão. A rotina
99

é maçante, o ambiente insalubre, com muitas áreas de atuação e poucos agentes. A carga
horária não é apontada como ruim.
A cadeia durante a semana é uma loucura, visita, enfermaria, psicologia,
serviço social, dentista. O inspetor fica muito cansado,

Só as condições de trabalho que eu acho que estão pecando, têm que


ser melhoradas. Ainda mais a cadeia aqui que está superlotada, isso gera
estresse.

A falta de agentes responsáveis pelo contato direto com o preso é apontada como
falha grave nas condições de trabalho: as turmas são pequenas para o quantitativo de
presos:
As turmas (do plantão) têm em média seis a nove profissionais para um
efetivo carcerário de 1.300 a 1.600 presos. O trabalho do guarda de turma é
muito pesado, insalubre e estressante, além de ser o menos valorizado.

Falta pessoal. Hoje em dia temos sete servidores por turma em uma
unidade com 1.572 presos. O número de servidores é defasado.

As condições materiais também foram destacadas por sua inadequação, gerando


estresse: guaritas mal projetadas dificultam o trabalho de vigilância, sem ventilação,
banheiros e mobiliário; os rádios de comunicação interna funcionam de forma precária e
não há lanternas suficientes; a alimentação é muito mal avaliada e algumas vezes falta água
potável para o funcionário.
A alimentação aqui é péssima, a comida é horrorosa o sabor, a aparência.
Muita das vezes a comida já chega aqui estragada.

Eu ganhei 8 quilos depois que eu vim trabalhar aqui, eu era bem mais
magro. Porque a alimentação não é muito boa.

A percepção de estar em risco constante devido a sua atividade profissional se


manifesta em 79% e 40,0% percebem que sua família também pode estar em risco
constante por esse motivo. Nota-se maior presença de estresse dentre aqueles que sentem
risco constante pessoal e familiar (tabela 2).
Também foi perguntado aos agentes sobre os tipos de riscos que correm no seu
exercício profissional (tabela 3). Entre os riscos mais citados estão: ser tomado como
refém (93,5%), ser ferido por arma branca (91,2%) ou sofrer agressão física (89,9%).
Também consideram fortemente os riscos de sofrer violência psicológica (79,5%), ser
alvejado por arma de fogo (75,0%) ou de ser sequestrado (60,1%). Nota-se maior presença
de estresse em agentes que informaram riscos como ser atingido por arma de fogo, sofrer
100

violência psicológica, envenenamento e intoxicação, danos de audição e outros riscos


como contrair doenças infectocontagiosas, risco de morte e de problemas psiquiátricos.
Analisando de forma cumulativa as dez opções de riscos apresentadas na tabela 3, verifica-
se que à medida que aumenta a quantidade de riscos percebidos por determinado sujeito,
agrava-se o tipo de estresse: a mediana passa de 6 tipos diferentes de risco percebidos
pelos que não têm estresse ou estão em fase de alerta, para 7 entre os que estão na fase de
resistência e para 8 entre aqueles em fase de quase exaustão ou exaustão.

Tabela 3: Risco que agentes penitenciários do Rio de Janeiro correm no exercício


profissional
Com estresse,
Não tem Com estresse,
fase de quase
stress/fase de fase de P-valor
Riscos vivenciados Total exaustão ou
alerta resistência
exaustão
N % N % N % N %
Ser tomado como refém1 288 93,5 188 65,3 79 27,4 21 7,3 0,099
Ser atingido por arma de fogo1 231 75,0 146 63,2 67 29,0 18 7,8 0,022
Ser ferido por arma branca1 281 91,2 186 66,2 75 26,7 20 7,1 0,567
Sofrer agressão física1 277 89,9 183 66,1 74 26,7 20 7,2 0,314
Sofrer violência sexual (assédio, estupro)1 64 20,8 37 57,8 21 32,8 6 9,4 0,151
Sofrer violência psicológica (ameaças, 245 79,5 158 64,5 66 26,9 21 8,6 0,028
humilhações)1
Ser sequestrado1 185 60,1 117 63,2 51 27,6 17 9,2 0,072
Ser envenenado e intoxicado por gases ou 143 46,4 82 57,3 48 33,6 13 9,1 0,005
fumaça1
Sofrer danos de audição decorrentes de ruídos 135 43,8 77 57,0 47 34,8 11 8,2 0,002
intensos ou de explosão1
Outros 32 10,4 17 53,1 10 31,3 5 15,6 0,011
Mediana de número de riscos a que os - - 6 7 8 <0,001
agentes estão submetidos2
Fonte: Bezerra, C. de M. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no
Estado do Rio de Janeiro.

Nos depoimentos dos agentes, a percepção de estar em risco fica evidente quando
falam da imprevisibilidade em relação ao trabalho ("um plantão que você acha que pode
ser tranquilo, se torna uma tragédia") e de como se sentem em estado de "vigilância
constante", às vezes até depois do trabalho: "você não pode relaxar, então você trabalha
tenso o tempo todo. Pior, até quando não está trabalhando". A sensação de estar em risco é
constante:
Essa ansiedade de você saber que está dentro de um presídio. Que tem que
vigiar, tem que evitar a fuga. Que de uma hora pra outra você pode estar
com uma arma na cabeça. É um risco muito grande!

A tabela 4 mostra o modelo de regressão logístico ordinal de odds proporcionais


múltiplo construído a fim de verificar quais variáveis dentre as apresentadas acima teriam
101

maior poder explicativo em relação ao estresse. Nela pode-se ver que um agente
penitenciário insatisfeito com o relacionamento com o chefe imediato tem 4,5 vezes a
chance de estar em um nível mais alto de estresse que um agente satisfeito com esse
relacionamento.
Na mesma tabela também se destaca o efeito de risco existente entre aqueles que
frequentemente relacionam o trabalho que executam ao estresse, se comparados aos que
fazem essa conexão de forma objetiva: a chance de um nível de estresse mais alto para
aqueles que frequentemente relacionam o trabalho ao estresse é quatro vezes a chance
daqueles que às vezes/raramente/nunca ou quase nunca relacionam. O modelo também
mostra que para cada risco que um agente se percebe exposto, há aumento de 24% na
chance dele estar em um nível mais alto de estresse.
Uma última variável permaneceu no modelo final, embora não alcançando
associação estatística nos níveis estipulados no artigo (p-valor=0,0628). Merece, portanto,
ser olhada com cautela. Trata-se de um efeito de risco para um agente penitenciário que
frequentemente repete as tarefas no trabalho tem 2,1 vezes a chance de estresse grave do
que aqueles que às vezes/raramente/nunca tem que repetir a mesma tarefa.

Tabela 4: Variáveis associadas ao estresse entre agentes penitenciários do Rio de


Janeiro. Modelo de regressão logístico ordinal múltiplo (N=252).
Variáveis Categorias OR IC95
Relacionamento com o chefe
imediato Não satisfeito 4,552 2,005 10,336
Satisfeito 1
Repetir muitas vezes as mesmas
tarefas no trabalho?* Às vezes/raramente/nunca
ou quase nunca 2,111 0,961 4,636
Frequentemente 1
Trabalho causa estresse intenso Às vezes/raramente/nunca
ou quase nunca 3,982 2,133 7,709
Frequentemente 1
Número de riscos a que os agentes
estão submetidos 1,240 1,063 1,448
Fonte: Bezerra, C. de M. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no
Estado do Rio de Janeiro.

Discussão
As respostas dadas nos questionários e as entrevistas realizadas com os agentes
penitenciários, além da observação participante realizada ao longo da pesquisa mostram
que o ambiente laboral é insalubre e estressante. É um trabalho complexo, intenso e
102

cansativo que envolve muitas variáveis e que pode gerar estresse dependendo de como cada
pessoa lida com seu processo (PASCHOAL; TAMAYO, 2004). O trabalho ainda exige
rapidez, obediência e pode apresentar demandas contraditórias ou discordantes.
O instrumento utilizado (LIPP, 1994) avalia a presença de estresse a partir das
percepções dos entrevistados, o que não lhe confere caráter diagnóstico. Os resultados
apontaram a presença de estresse em patamares semelhantes aos descritos em outras
pesquisas, para homens e mulheres adultos brasileiros. Embora essa escala refira-se ao
estresse na vida e não particularmente ocupacional, a autora do instrumento adverte que o
estilo de vida está diretamente ligado a hábitos de vida inadequados assim como à profissão
exercida. Atenção especial deve ser dada a quem desempenha trabalhos repetitivos e de
turno, como os agentes penitenciários.
O perfil desses trabalhadores aponta para a prevalência de homens na profissão,
jovens, negros ou pardos, com menos de dez anos de atuação, com ensino superior ou pós-
graduação e que têm religião. Apesar da insalubridade do ambiente, o uso da força como
forma de resolução de conflitos está diminuindo e isso pode estar ligado a uma melhor
formação educacional do profissional e ao incremento da vigilância dentro das unidades,
como o uso de câmeras.
Aspectos do perfil desses trabalhadores não interferem de forma significante nos
níveis de estresse, como também aponta a literatura (DIAL; DOWNEY; GOODLIN, 2010;
OWEN, 2006). De forma diferenciada dos achados de outras pesquisas (DIAL; DOWNEY;
GOODLIN, 2010), neste artigo não se constataram diferenças ligadas ao tema do estresse
segundo o gênero. Também na pesquisa de Griffin (2006) houve poucas diferenças entre
ambos os sexos. Ressalta-se que no estado do Rio de Janeiro, das 52 unidades prisionais
existentes apenas quatro são femininas, ou seja, apenas 7,7% das prisões atende ao sexo
feminino, fazendo com que o número de agentes homens seja muito maior que o de
mulheres, configurando um ambiente predominantemente masculino.
A natureza do trabalho de custódia é por si só um fator gerador de estresse; este fato
é agravado pelas inadequadas condições e organização do trabalho. Para Dejours (1992), a
organização do trabalho é a maior causadora de impacto sobre o funcionamento psíquico do
trabalhador, o que concorda com os resultados apresentados. Problemas com os
relacionamentos travados no ambiente laboral (LIPP, 2003), sobrecarga de trabalho,
condições materiais precárias e o desconforto das repetições de tarefas também são
103

conhecidos fatores geradores de estresse, como se comprova nesta pesquisa. Os estressores


podem ser fatores intrínsecos ao trabalho, os quais se referem a aspectos como repetição de
tarefas, pressões de tempo e sobrecarga. A sobrecarga pode ser quantitativa quando diz
respeito ao número excessivo de tarefas, ou seja, além da disponibilidade do trabalhador. A
sobrecarga qualitativa refere-se à dificuldade do trabalho, ou seja, o indivíduo depara-se
com demandas que estão além de suas habilidades ou aptidões (GLOWINKOWSKI;
COOPER, 1987; JEX, 1998).
Os relacionamentos saudáveis descritos pelos agentes são uma forma de apoio
social entre os pares, considerado um fator associado ao estresse (OWEN, 2006). A
imprevisibilidade do trabalho é um aspecto que se manifesta na grande percepção de riscos
e postura de vigilância constante ou alerta, que pode gerar ansiedade (TAETS, 2013):
“frequentemente, mesmo quando amamos o que fazemos, determinados fatores como o
grau de risco, a carga física e emocional ou mesmo o ambiente laboral confluem para
provocar enfermidades ou problemas emocionais” (MINAYO; SOUZA; CONSTANTINO,
2008, p. 180). Embora nas entrevistas os agentes tenham declarado ser o relacionamento
com os presos o aspecto mais estressante, no cruzamento entre as variáveis percebe-se que
quem não estava satisfeito com o chefe imediato apresentou maior nível de estresse. Isso
pode indicar uma adaptação ou negação frente aos problemas com os presos ou o receio de
declarar ter problemas com o chefe.
Entre as limitações do artigo aponta-se a não utilização de uma escala de estresse
específica para o trabalho e o fato de não se ter investigado um maior número de unidades
no complexo de Gericinó (embora tenha sido realizada uma amostragem aleatória de três
unidades), o que não permite a generalização para todo o estado do RJ.

Considerações finais
Uma vez que, para agentes penitenciários, o apoio social recebido é um dos mais
fortes fatores associados ao estresse (MISIS, 2013), considera-se importante chamar a
atenção da gestão penitenciária para a necessidade da melhoria das condições de trabalho
disponibilizadas. Ao poder judiciário cabe resolver definitivamente a questão da
superlotação das unidades prisionais, especialmente no Rio de Janeiro, um problema
constante e que se agrava, sem perspectiva de solução. Atualmente mais de 40% da
população carcerária não tem condenação (BRASIL, 2014), ou seja, são presos provisórios
104

que aguardam a sentença do juiz ou sua liberdade.


Nas entrevistas o que fica mais evidente é a queixa dos agentes penitenciários em
relação ao número reduzido de profissionais no trato direto com os presos, ao que parece,
uma questão estrutural que pode ser resolvida pelos gestores. Com foco no bem-estar do
trabalhador, providências urgentes devem ser tomadas, as “turmas dos plantões” de agentes
precisam de um maior efetivo, pois é muito inseguro e desgastante física e psiquicamente
sete profissionais custodiarem 1.500 presos ou mais, num dia típico de trabalho. Esse tipo
de atividade deve ser mais valorizado: gratificações, melhores condições de alojamento, de
alimentação, de equipamentos, para que seja um posto até mesmo cobiçado. Os agentes em
outros tipos escalas de serviço também precisam de mais recursos humanos e materiais.
O suporte social também passa pelo investimento na formação desses profissionais
no sentido de facilitar espaços de diálogo sobre o trabalho, troca e valorização de
experiências a fim de rever procedimentos, melhorar a qualidade da comunicação e dos
relacionamentos. Com a melhoria do ambiente de trabalho toda a unidade prisional ficará
mais funcional e o ambiente menos insalubre e com melhor qualidade de vida para todos.
Dessa forma também se garante a qualidade dos serviços prestados para toda a sociedade.

Referências

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107

5.3 - ARTIGO 3

Sofrimento Psíquico entre agentes penitenciários: fatores associados e estratégias de


enfrentamento14.
Psychological distress in correctional officers: associated factors and coping strategies

Resumo: O objetivo desse estudo é analisar fatores associados ao sofrimento psíquico de


agentes penitenciários, unindo-se abordagens quantitativas (questionário/escala de
sofrimento psíquico) e qualitativas (entrevistas/observação). Estratégias de enfrentamento
também são discutidas. Resultados: proporção significante (27,7%) desses profissionais
apresenta sofrimento psíquico, sem diferenças segundo o gênero. Modelo multivariado
explicativo mostra os fatores associados ao sofrimento psíquico entre agentes
penitenciários: praticar alguma religião, possuir apoio social na forma de interação positiva,
contar com a compreensão dos colegas de trabalho, perceber o reconhecimento do seu
trabalho pela população e se relacionar bem com superiores ou chefe imediato. Os agentes
que assim informam têm menores chances de apresentar sofrimento psíquico. As estratégias
de enfrentamento às tensões vivenciadas no trabalho estão ligadas ao lar, à família, ao lazer
e à realização de atividades físicas. É preciso reforçar o apoio social no sentido do
reconhecimento institucional dispensado a esses profissionais e resolver o problema da
superlotação sempre crescente que gera condições de trabalho insalubres. São necessários
mais profissionais especialmente nos plantões onde eles mantêm contato direto com os
presos; seu trabalho precisa ser mais reconhecido, valorizado e estimuladas melhores
condições relacionais no trabalho.
Palavras chave: Sofrimento psíquico, agentes penitenciários, condições de trabalho,
fatores associados, estratégias de enfrentamento.

14 Artigo ainda não encaminhado para revista científica.


108

Abstract: The aim of this study is to analyze factors associated with the psychological
distress in correctional officers. Qualitative approaches (interviews / observation) and
quantitative ones (questionnaire / psychological distress scale) were associated. Coping
strategies are also discussed. Results: significant proportion (27.7%) of these professionals
presented psychological distress, without differences according to gender. Explanatory
multivariate model shows the associated factors for psychological distress among
correctional officers: practice some religion, have social support in the form of positive
interaction, count on the understanding of work colleagues, perceive the recognition of their
work by the population and have a good relationship with superiors or immediate boss. The
agents who report these factors are less likely to experience psychological distress.
Strategies to cope with the tensions experienced at work are related to their own home,
family, leisure and physical activities. There is a need to strengthen social support for the
institutional recognition given to these professionals and to solve the problem of ever-
increasing overcrowding that creates unhealthy working conditions. More professionals are
needed especially in shifts where they maintain direct contact with the prisoners; their work
needs to be more recognized, valued and better relational conditions at work have to be
stimulated.

Keywords: Psychological distress, correctional officers, work conditions, associates


factors, coping strategies.
109

Introdução
Esse artigo tem como objetivo analisar o sofrimento psíquico de agentes
penitenciários do Estado do Rio de Janeiro e apontar fatores associados no âmbito social,
destacando o ambiente de trabalho. Discutem-se ainda as estratégias de enfrentamento
utilizadas por esses profissionais a fim de minimizar os efeitos da tensão e do sofrimento
psíquico no processo de trabalho e em sua saúde mental.
O sistema penitenciário brasileiro passa por um momento de agravamento de sua
crise, com episódios de rebeliões e assassinatos cometidos com grande violência e que
refletem problemas nacionais como a superlotação das celas, as condições subumanas de
encarceramento, o número inadmissível de presos provisórios - 41% - (INFOPEN, 2014) e
o agravamento de conflitos entre facções rivais.
Como inerente à sua ocupação, agentes penitenciários devem garantir a segurança de
todos no ambiente prisional, incluindo os presos. Eles mantêm contato direto com a
população carcerária e lidam diariamente com esse ambiente perigoso e violento,
participando de eventos estressantes e traumáticos (BOUDOUKHA et al., 2011).
Responsáveis pela contenção, custódia e tratamento dos apenados, esses profissionais estão
frequentemente expostos a diversas situações geradoras de tensão, tais como intimidações,
agressões, ameaças, iminência de rebelião e de se tornarem reféns (THOMPSON, 1993).
Certas atividades laborais têm peculiaridades que podem exercer efeitos
psicológicos adversos em seus profissionais, como o trabalho monótono, que exige
concentração constante, trabalho em turnos, trabalho isolado e trabalho sob a ameaça de
violência (WHO, 1995). Todos esses aspectos são característicos das atividades de
profissionais de seguranca, entre eles os agentes penitenciários. No Brasil, Fernandes et al.
(2002) verificaram sofrimento psíquico entre esses trabalhadores e apontaram que eles
enfrentam um ambiente psicologicamente inadequado, condições infraestruturais
insuficientes, longas jornadas de trabalho, falta de tempo para o lazer e inadequada
organização do trabalho.
Apesar da guarda, vigilância e custódia de presos serem consideradas atividades e
serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e
do patrimônio (BRASIL, 2007), agentes penitenciários fazem parte de um grupo de
trabalhadores com pouca visibilidade e reconhecimento social (RUMIN et al., 2011).
Revisão da literatura (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016) mostra que
110

internacionalmente, a partir de 2009, estudos com foco na saúde mental desses profissionais
vêm despertando interesse acadêmico, embora no Brasil ainda sejam escassos.
Para Dejours e Beguè (2010, p.31), “se o trabalho pode gerar o melhor e permitir a
muitos sobrepor com eficácia as falhas no terreno psicológico – assentadas pela
hereditariedade e pela infância – deve-se admitir que também pode, ao inverso,
desempenhar um papel preponderante nas descompensações". Nessa perspectiva teórica
(DEJOURS, 1992), o funcionamento psíquico do trabalhador sofre o impacto
principalmente da “organização do trabalho” que é definida pela divisão de tarefas entre os
operadores, os ritmos impostos, os modos operatórios prescritos e, sobretudo pela divisão
dos homens para garantir essa divisão de tarefas, representada pelas hierarquias, as
repartições de responsabilidades e os sistemas de controle.
O sofrimento psíquico (psychological distress) é uma dificuldade emocional que
associa sintomas psicológicos e físicos, sendo considerado (GOLDBERG; HUSLEY, 1992)
um transtorno mental comum (TMC), caracterizado por sintomas não psicóticos como
insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas
somáticas como dor de cabeça, dor abdominal, tosse ou fraqueza. Essas queixas são
manifestações ou respostas a um tipo de sofrimento psicológico e não estão
necessariamente associadas à existência de uma patologia orgânica diagnosticável. O
sofrimento psíquico no trabalho surge na tentativa do sujeito não adoecer, como um espaço
de luta contra o enlouquecimento e é nesse processo dinâmico entre saúde e doença que os
trabalhadores criam estratégias defensivas individuais e coletivas para se protegerem
(DEJOURS, 1992). As estratégias defensivas construídas, organizadas e gerenciadas
coletivamente visam transformar a percepção que os trabalhadores têm da realidade que os
faz sofrer (AMADOR, 2002).
Para lidar ou enfrentar os problemas que encontram no trabalho, os profissionais
utilizam estratégias de coping (ANTONOWISK, 1979), termo em inglês definido como a
capacidade de responder e manejar os recursos disponíveis no ambiente social para
satisfação, bem-estar e regulação dos efeitos negativos dos agentes estressores. O coping é
qualquer resposta às tensões externas da vida para evitar ou controlar o sofrimento
emocional, uma defesa individual que usa recursos sociais (redes interpessoais),
psicológicos (características de personalidade), comportamentos, cognições e a percepção
das pessoas para conviver ou tolerar a enfermidade.
111

Recente revisão de literatura sobre o tema (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO,


2016) apontou como fatores de risco para o sofrimento psíquico: o baixo apoio social no
trabalho, os conflitos com colegas e superiores, a exposição cotidiana à violência física, o
temor em relação à segurança de seus familiares, o medo da exposição a doenças como
tuberculose, hepatite C e HIV e a representação social pejorativa de sua atividade ou o
baixo reconhecimento social. O “conflito de papéis”, ou seja, o trabalho de custódia e
vigilância concomitante ao de ressocialização ou reabilitação foram incluídos enquanto
fatores de risco em pesquisas na França e no Canadá (MOULIN; SEVIN, 2012; DOWDEN;
TELLIER, 2004). Os fatores associados remetem principalmente ao apoio social dentro do
ambiente prisional (pelos colegas e supervisores) que ameniza os efeitos da tensão do
trabalho sobre a saúde. As estratégias de enfrentamento a essas dificuldades relacionam-se
ao aprimoramento da formação dos agentes, estímulo ao apoio social e oferta de
atendimento psicológico.
As ciências sociais e humanas (CANESQUI; BASATGLINI, 2012) conceituam
apoio social como o elemento de integração e coesão social; promotor da autoestima;
enquanto informação escrita ou não, material e econômica; de proteção, promoção da saúde
e participação social; redutor do estresse e transcendente ao cuidado. Esse tipo de apoio
com o qual as pessoas podem contar em situações difíceis de suas vidas consiste no
processo pelo qual, os recursos emocionais, materiais ou informativos numa estrutura social
permitem satisfazer necessidades em situações quotidianas e de crise (PIETRUKOWICZ,
2001).
O “reconhecimento” do indivíduo, enquanto forma de apoio social, atua como uma
das molas mestras da saúde mental e da dinâmica psíquica do trabalho (DEJOURS;
BENGUÈ, 2010, p.38). Ele se apresenta enquanto retribuição simbólica obtida por aquele
que trabalha, como uma resposta à contribuição do trabalhador à empresa e, por seu
intermédio, à toda a sociedade. Essa retribuição é diferente da retribuição material (salário,
bonificações, promoções): “pode-se mostrar que o impacto psicológico depende não do
nível de remuneração alcançado, mas da distinção simbólica subjacente”. Dessa forma o
reconhecimento é capaz de transformar o sofrimento no trabalho em prazer, no sentido do
fortalecimento da identidade.
A fim de conhecer sobre o sofrimento psíquico de agentes penitenciários é preciso
analisar os fatores que o propiciam e, principalmente os que protegem da ocorrência do
112

transtorno emocional. As estratégias de enfrentamento às tensões e ao sofrimento psíquico


vivenciadas pelo trabalhador no âmbito social e especialmente no trabalho são também
aspectos fundamentais.

Material e Método
Os dados ora apresentados sobre agentes penitenciários fazem parte de uma
pesquisa maior (MINAYO; CONSTANTINO, 2015) de âmbito quantitativo e qualitativo
realizada no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, pelo Departamento de Estudos sobre
Violência e Saúde Jorge Careli (Claves) da Fundação Oswaldo Cruz, que investigou as
condições de saúde de presos em 31 unidades prisionais femininas e masculinas localizadas
no Estado do Rio de Janeiro entre 2013 e 2015.
Paralelamente à pesquisa com os presos, foi realizado um recorte de nove unidades
prisionais femininas e masculinas de regime fechado em que as condições de trabalho e
saúde dos agentes penitenciários foram investigadas, entre elas: todas as três unidades
localizadas em Japeri; todas as três existentes no município de Campos dos Goitacazes
(interior do Estado) e um sorteio aleatório de três unidades localizadas no complexo de
Gericinó (município do RJ). Da investigação quantitativa, todos os 454 inspetores em
efetivo exercício nas unidades selecionadas foram convidados a participar. Responderam
aos questionários 217 homens (68,1%) e 100 mulheres (31,9%), o que corresponde a 70%
da amostra pretendida. As “perdas” de 30% se justificam: 1) a aplicação do questionário
durante o período do trabalho se configurou, para alguns agentes, como uma atividade extra
ou sobrecarga e por isso alguns se recusaram a respondê-lo; 2) alguns postos dificultam o
preenchimento dos funcionários, como por exemplo, as portarias, devido à ininterrupta
demanda de serviços; 3) algum nível de desconfiança e de descrédito, por parte dos agentes,
em relação às pesquisas; 4) a distância em quilômetros de certas unidades, o que dificultou
as visitas aqueles presídios: quanto mais fácil o acesso do pesquisador, mais questionários
preenchidos; 5) peculiaridades das unidades e de seu efetivo carcerário. Das entrevistas,
com abordagem qualitativa, participaram 26 homens (68,4%) e 12 mulheres (31,6%).
O questionário padronizado aplicado aos agentes era anônimo e autoaplicável;
continha perguntas sobre dados socioeconômicos e demográficos, condições de trabalho, de
saúde, qualidade de vida, consumo de substâncias e incluiu a escala de transtornos mentais
comuns, o Self-Reported Questionnaire - SRQ20, desenvolvida por Harding et al. (1980) e
113

validada no Brasil por Mari e Williams (1986), que mede a existência de sofrimento
psíquico ou distúrbios psiquiátricos menores. O questionário possui originalmente 20
questões referentes a distúrbios não psicóticos e quatro sobre distúrbios psicóticos.
Utilizamos nessa pesquisa apenas as 20 questões referentes a distúrbios não psicóticos. O
ponto de corte proposto para a escala é de 7 para homens e 8 para mulheres. Cada ponto
equivale a uma resposta positiva relativa às perguntas sobre: dores de cabeça frequentes;
falta de apetite; dormir mal; assustar-se com facilidade; apresentar tremor nas mãos; sentir-
se nervoso, tenso ou agitado; apresentar má digestão; sentir dificuldade de pensar com
clareza; sentir-se triste; chorar mais do que o habitual; ter dificuldade em realizar tarefas
diárias com satisfação; sentir dificuldade em tomar decisões; considerar que o trabalho lhe
é penoso; sentir-se incapaz de ser útil; não ter mais interesse pelas coisas; sentir-se inútil;
ideias suicidas; sentir desconforto estomacal; sentir cansaço constante; cansar-se com
facilidade.
Para verificar o nível de apoio social, ou seja, se o sujeito conta com o apoio de
outras pessoas, foi utilizada a escala de apoio social, desenvolvida por Sherbourne e
Stewart e adaptada para a população brasileira por Chor, Griepe e Faertein (2001). Ela
possui 19 itens relativos a apoio social e cinco sobre a rede social, nessa pesquisa
utilizamos apenas os 19 itens referentes ao apoio social. A referida escala é constituída de
cinco dimensões: emocional (mede o apoio recebido por meio da confiança, da
disponibilidade em ouvir, compartilhar preocupações/medos e compreender seus
problemas); de informação (mede o apoio por meio de sugestões de outros, bons conselhos,
informação e conselhos desejados); material (mede a ajuda recebida caso a pessoa adoeça,
de cama, para levá-la ao médico, preparar refeições e executar tarefas diárias); afetiva
(mede o apoio pela demonstração de afeto e amor, além de gestos como dar um abraço); e
de interação positiva (mede a capacidade de inter-relação, de divertirem-se em grupo,
relaxar, fazer coisas agradáveis e distrair a cabeça). Cinco escores são obtidos, um para
cada dimensão.
As variáveis explicativas para o sofrimento psíquico vivenciado pelos agentes
penitenciários, apresentadas nas tabelas 1 e 2, estão relacionadas ao perfil profissional e aos
fatores associados no âmbito social e do próprio trabalho. As variáveis analisadas são: perfil
do profissional (sexo, idade, cor da pele, situação conjugal, número de filhos, religião e
escolaridade) e os fatores considerados relacionados ao apoio social na vida, pesquisados a
114

partir da escala de apoio social (OP. CIT., 2001): apoio afetivo, interação positiva, apoio
emocional, apoio de informação e apoio material. Também entraram na análise as variáveis
de apoio social originado no próprio trabalho como: horário atual; salário; reconhecimento
de seu mérito pela instituição, pela população e pelos colegas (notas entre 0 e 10);
relacionamento com chefe imediato, com colegas de trabalho, com os presos e com seus
superiores; se as pessoas se relacionam bem umas com as outras; se o ambiente é calmo e
agradável; se conta com apoio dos colegas; se não estando em um bom dia, os colegas
compreendem e se você gosta de trabalhar com os seus colegas.
Para modelagem foram empregados os modelos de regressão logística, sendo a
variável resposta: “tem sofrimento psíquico” ou “não tem sofrimento psíquico”. Primeiro
foram feitos modelos de regressão logística simples a fim de selecionar os fatores que iriam
compor o modelo completo. O nível de significância para o teste de Wald nestes modelos
foi de 0,05. O método de seleção do modelo completo foi o stepwise com eliminação
bidirecional, ou seja, inicia-se com um modelo nulo (somente com o intercepto) e então a
cada passo ou variável que entra no modelo, avalia-se, através do menor AIC – Akaike
Information Criterion, se uma variável merece sair ou ser acrescentada ao modelo múltiplo.
Razões de chances (OR) com intervalos de confiança de 95% foram incluídas na análise.
Qualitativamente utilizamos a técnica de entrevistas individuais, baseada em roteiro
com questões sobre condições de trabalho, condições de saúde física e mental, prazer no
trabalho, relações no trabalho, relacionamento familiar, atividades de lazer, estudo, religião,
sugestões para melhorar as atuais condições de trabalho, histórico de tratamento
psicológico ou psiquiátrico entre outras. Elas foram realizadas durante o horário de
trabalho, com duração média de 45 minutos, sendo gravadas e transcritas. O critério
adotado para definir o número de entrevistas em cada unidade foi o de saturação do
conteúdo da experiência de trabalho, encontrando-se suficiência no aprofundamento das
questões relevantes e na abrangência dos atores principais (MINAYO, 2010). Mais de 40
visitas as unidades prisionais foram realizadas, gerando relatórios de campo com
observações qualitativas feitas pelos pesquisadores.
A análise e a interpretação dos dados qualitativos se basearam no enfoque da análise
temática, na perspectiva da análise de conteúdo de Bardin (1979), adaptada por Minayo
(2010). Em relação ao sofrimento psíquico destacaram-se categorias centrais como: os
sintomas, as mudanças comportamentais percebidas, o relacionamento direto com os
115

presos, a superlotação das unidades prisionais, a escassez de profissionais, a sobrecarga de


trabalho e as tensões geradas. Sobre os fatores associados ao sofrimento psíquico, destacou-
se o tema do apoio social: principalmente dos colegas e da família. Em relação às
estratégias de enfrentamento utilizadas surgiram as temáticas do tratamento psicoterápico,
do uso de substâncias psicoativas e do lazer.
A pesquisa foi autorizada pela Secretaria de Administração Penitenciária e pelo
Comitê de Ética da ENSP (CAAE: 14486913.2.0000.5240). Os agentes penitenciários
assinaram um termo, com seu livre consentimento à participação na pesquisa.

Resultados
A tabela 1 apresenta o perfil dos profissionais e a distribuição de fatores
considerados associados ao sofrimento psíquico, relacionados ao âmbito social e do próprio
trabalho.

Perfil dos participantes


A maioria desses profissionais é homem (69,0%), com idade até 40 anos (58,4%) e
cor da pele especialmente preta e parda (55,3%). Entre eles 70,7% são casados ou tem
companheiros/as e têm, em média, 1,25 filhos. Cerca de 80% declaram praticar alguma
religião frequentemente ou às vezes e quase a metade de todos os agentes (44,6%) tem o
ensino superior completo ou já são pós-graduados. No que se refere à vivência de
sofrimento psíquico (tabela 1), os agentes que relatam não praticar religião alguma
informam mais esse problema emocional (OR= 2,523; IC 1,264 – 5,100) que aqueles que
contam com o apoio religioso frequentemente, sendo a única variável do bloco de perfil que
se mostrou associada. Nas entrevistas, a importância da religião foi salientada pelos
agentes:
O cargo em si gera um impacto em nossa saúde física e mental, mas
tentamos absorver buscando ajuda espiritual e com as famílias.

Por conta própria procuro equilibrar meu lado espiritual com meditações e
práticas espirituais, no centro espírita.
116

Tabela 1: Perfil de agentes penitenciários e fatores associados à existência de


sofrimento psíquico no âmbito social e do próprio trabalho. Distribuição percentual,
odds ratio e intervalo de confiança.
Total Presença de
Variáveis Categorias sofrimento OR IC95%
psíquico
N % %
Perfil
Sexo Masculino 209 69,0 27,8 1,005 0,587 – 1,748
Feminino 94 31,0 27,7 1 -
Idade Até 30 anos 60 19,8 23,3 1 -
31 a 35 anos 69 22,8 29,0 1,341 0,610 – 3,007
36 a 40 anos 48 15,8 27,1 1,220 0,506 – 2,937
41 a 45 anos 51 16,8 29,4 1,369 0,585 – 3,228
46 anos ou mais 75 24,8 29,3 1,364 0,631 – 3,018
Preta/parda/amarela/indígena 171 56,6 29,2 1,179 0,709 – 1,976
Raça/cor
Branca 131 43,4 26,0 1 -
Situação conjugal Casado/companheiro 212 70,7 27,4 1,180 0,624 – 2,331
Viúvo 3 1,0 33,3 1,567 0,070 – 17,501
Separado/divorciado 23 7,7 39,1 2,014 0,714 – 5,586
Solteiro 62 20,7 24,2 1 -
Número de filhos Média = 1,248 (DP*=1,208) - - - 1,051 0,850 – 1,290
Pratica alguma 136 45,5 25,7
Sim, às vezes 1,260 0,690 – 2,340
religião
Não 61 20,4 41,0 2,525 1,264 – 5,100
Sim, frequentemente 102 34,1 21,6 1 -
Escolaridade Superior e pós-graduação 133 44,6 27,8 0,997 0,272 – 1,658
Até superior incompleto 165 55,4 27,9 1 -
Apoio social na vida
Apoio afetivo Escore médio=89,652 (DP*=15,804) - - - 0,965 0,950 – 0,981
Interação positiva Escore médio =85,904 (DP*=16,695) - - - 0,968 0,953 – 0,982
Apoio emocional Escore médio =81,438 (DP*=20,025) - - - 0,977 0,964 – 0,989
Apoio de - - -
Escore médio =81,220 (DP*=19,641) 0,977 0,965 – 0,990
informação
Apoio material Escore médio =83,946 (DP*=18,860) - - - 0,984 0,971 – 0,997

CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE


117

CONTINUAÇÃO DA TABELA 1: Perfil de agentes penitenciários e fatores associados à existência de


sofrimento psíquico no âmbito social e do próprio trabalho. Distribuição percentual, odds ratio e
intervalo de confiança.

Fatores relacionados ao trabalho


Horário atual 40 horas semanais 97 32,5 15,5 0,358 0,186 – 0,652
24 por 72 horas/Outros 201 67,5 33,8 1 -

Salário Nota média=7,104 (DP*=2,058) - - - 0,756 0,662 – 0,856


Reconhecimento de Nota média=4,415 (DP*=3,267) - - -
seu mérito pela 0,792 0,721 – 0,865
instituição
Reconhecimento do Nota média =3,657 (DP*=3,267) - - -
trabalho pela 0,838 0,764 – 0,914
população
Reconhecimento do Nota média =7,044 (DP*=2,341) - - -
trabalho pelos 0,839 0,752 – 0,934
colegas
Relacionamento com 32 10,6 65,6
Indiferente/insatisfeito/muito insatisfeito 6,374 2,968 – 14,402
chefe imediato
Muito satisfeito/satisfeito 269 89,4 23,1 1 -
Relacionamento com 26 8,6 57,7
Indiferente/insatisfeito/muito insatisfeito 4,233 1,866 – 9,890
colegas de trabalho
Muito satisfeito/satisfeito 275 91,4 24,4 1 -
Relacionamento com 168 56,8 38,1
Indiferente/insatisfeito/muito insatisfeito 4,018 2,253 – 7,495
os presos
Muito satisfeito/satisfeito 128 43,2 13,3 1 -
Você se relaciona 30 10,2 63,3
bem com os seus Discordo 5,511 2,528 – 12,571
superiores
Concordo 264 89,8 23,9 1 -
As pessoas se 100 33,9 42,0
relacionam bem Discordo 2,720 1,610 – 4,618
umas com as outras
Concordo 195 66,1 21,0 1 -

CONTINUA NA PÁGINA SEGUINTE


118

CONTINUAÇÃO DA TABELA 1: Perfil de agentes penitenciários e fatores associados


à existência de sofrimento psíquico no âmbito social e do próprio trabalho.
Distribuição percentual, odds ratio e intervalo de confiança.
Ambiente calmo e 217 73,6 32,3
Discordo 2,381 1,264 – 4,777
agradável
Concordo 78 26,4 16,7 1 -
Contar com apoio 49 16,7 42,9
Discordo 2,214 1,164 – 4,169
dos colegas
Concordo 245 83,3 25,3 1 -
Não estando em um 80 27,2 48,8
bom dia os colegas Discordo 3,783 2,185 – 6,597
compreendem
Concordo 214 72,8 20,1 1 -
Você gosta de 18 6,1 50,0
trabalhar com os Discordo 2,795 1,053 – 7,424
seus colegas
Concordo 277 93,9 26,4 1 -
* DP= Desvio Padrão
Fonte: Bezerra, C. de M. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no
Estado do Rio de Janeiro

Sofrimento psíquico
Dentre os 303 agentes penitenciários avaliados na pesquisa, 27,7% apresentam
sofrimento psíquico (escala de transtornos mentais comuns - SRQ20), com percentual
similar em ambos os sexos. Os sintomas relativos ao sofrimento psíquico mais
frequentemente apontados pelos agentes foram: dormir mal (53,0%), sentir-se nervoso,
tenso ou agitado (52,0%). Em seguida foram relatados sintomas como ter dores de cabeça
frequentemente (39,7%), cansaço o tempo todo (33,4%), se cansar com facilidade (32,9%),
ter-se sentido triste ultimamente (27,6%), ter má digestão (26,4%) e sensações
desagradáveis no estômago (24,5%), além de dificuldade para realizar com satisfação suas
atividades diárias (22,6%). As ideias suicidas apareceram em um nível bem menor (3,63%),
porém preocupante.
As entrevistas analisadas qualitativamente, não demonstraram diferenças relativas
ao perfil dos agentes, assim como também não houve diferenciação de gênero no discurso
de homens e mulheres em relação ao sofrimento psíquico. Durante as entrevistas foram
ressaltados os sintomas físicos e psíquicos, que percebem em si mesmos, gerados pelo
desgaste físico e mental a partir de suas atividades e de sua rotina como agente
119

penitenciário: relatam mudanças psicológicas em seu comportamento e sintomas


psicossomáticos.
O temperamento muda, você fica mais elétrico, mais agressivo muitas
vezes, mais nervoso. E muitos relacionamentos com os nossos amigos e
familiares também mudam.

Quando a gente entra aqui, a gente é uma pessoa, passa um ano aqui, até
menos de um ano, você vira outra: fica mais agressivo, sem paciência, fala
mais alto, diz mais palavrão. É uma mudança meio chata, mas ocorre.

Quando eu entrei, eu sempre ouvia falar assim: você acaba mudando!


Quando você vê já está mais áspero com as pessoas, você está falando mais
alto.

A última vez que eu faltei, que eu fui ao meu médico, ele falou que o meu
problema era psicossomático exatamente por ser um trabalho estressante,
que a quantidade de adrenalina no corpo estava acima do que deveria estar,
e que consequentemente gerava sintoma psicossomático. Nessa situação
específica eu estava com essa dor de estômago e diarreia.

Eu acho que você dorme mal, interfere muito no organismo, quando


chegava do plantão, dormia o dia inteiro, chegava de noite não conseguia
dormir.

Qualitativamente também são descritos o aumento da ansiedade, da tensão e do


estresse e os reflexos em seus relacionamentos:
Você sai daqui com aquela tensão no ombro, sente que o braço tá preso.
Passam algumas horas..., saiu daqui você se livra de 200 quilos.

Quando a gente tá aqui dentro, a gente come bastante, você tem que se
policiar, é ansiedade mesmo.

Atrapalha na sua relação com as pessoas. Seu nível de estresse aumenta, a


sua saúde, o seu corpo sente as consequências às vezes.

Percebe que você tá menos paciente com as coisas, às vezes fala com
alguém como se tivesse falando com um preso. Você acaba levando um
pouco daqui pra casa.

Existe uma tensão pré-plantão, descrita por vários agentes durante as entrevistas,
que é um conjunto de sintomas percebidos na véspera do próximo plantão:
Por exemplo, quando eu sei que está chegando a hora de vir começa a bater
aquele desânimo, aí de vez em quando dá aquela dor no estômago, às vezes
uma tensão no corpo, na nuca. Afeta a sua saúde e a sua relação com
terceiros.
.
As entrevistas também desvendam a autoavaliação dos agentes sobre os possíveis
fatores, relacionados à sua rotina de trabalho, que propiciam o sofrimento psíquico, entre
120

eles o relacionamento direto e constante com os presos que é descrito como tenso:
A pressão psicológica é muito grande, o interno tenta influenciar o guarda.

Quem trabalha no miolo [dentro da cadeia] é o que mais está sujeito a


problemas, porque o estresse emocional é muito grande, você não se
estressa fisicamente, você se estressa emocionalmente com os presos, lá
dentro é o tempo todo gritaria.

Se o coletivo está agitado, a gente fica agitada, a gente tem que gritar pra
botar elas em ordem: uma contra 60.

Outro fator gerador de tensão, para quem trabalha nos plantões, são as ameaças dos
detentos, descritas pelos agentes como constantes:
Ao lidar com o preso você está em constante ameaça, mesmo que seja
velada.

Já teve visita que falou que ia me pegar do lado de fora, na época que eu
trabalhava na revista, ela me ameaçou.

O preso faz ameaça sempre, sempre. Eles são a maioria, são oito inspetores
para lidar com 1.500 presos. Ainda que velada, a ameaça é constante.

No ano passado eu estava tomando medicação pra dormir, foi uma das
primeiras ameaças que eu sofri, assim, a mais forte. Uma mulher [visitante]
apontando pra minha cabeça, isso me chocou um pouco, apontando pra
minha cabeça como se fosse atirar.

Durante as entrevistas, as condições ambientais em especial a superlotação


crescente, a falta de recursos humanos, materiais e a sobrecarga de trabalho foram
indicadas por muitos agentes penitenciários, como fatores geradores de tensão tanto para
eles quanto para os presos.
A superlotação, o quantitativo de guarda, a questão jurídica do preso, a falta
de médico na unidade, a precariedade do transporte, isso tudo reflete no
inspetor.

É uma violência estrutural você ficar sozinho tomando conta de 1.000


pessoas.

A nossa dificuldade aqui é material humano. Pouca gente! Poucos


funcionários pra muito trabalho. Sobrecarrega!

O problema da estrutura física e a falta de funcionário, hoje, eu posso te


afirmar que é o problema dessa unidade, que afeta ate psicologicamente o
colega. Muitos já estão num estado psicológico com problema, precisaria
de tratamento para melhorar o trabalho deles.

Então o volume de trabalho também acaba causando um pouco de estresse.


A gente vai se acostumando a trabalhar muito, mas se pudesse trabalhar um
121

pouco menos, ou se tivesse mais pessoas no setor, seria melhor.

Nesta pesquisa também ficou claro durante as entrevistas que os agentes


penitenciários não se identificam com os “conflitos de papéis” ou com a “dupla missão”
(MOULIN; SEVIN, 2012; DOWDEN; TELLIER, 2004). Eles têm uma visão estrita do seu
papel que para eles é basicamente de segurança.
Você pode passar uma imagem de respeito, ser um exemplo na sua postura
e conduta, mas a sua função principal não é a educação. É uma função de
segurança, apenas isso.

Na verdade, a gente só coordena, a gente não dá o atendimento médico, a


gente não dá assistência, a gente só auxilia, por exemplo, tirando o preso da
cela, quando solicitado.

Nossa condição é de custodiar, ressocializar fica com o estado, as


articulações do estado são para dar escola, dar colchão, dar assistência
social, não a nossa.

Eu acho que nós não temos esse papel de ressocialização, o inspetor não. A
gente não educa o preso, a gente orienta, eu não sou agente ressocializador,
não sou mesmo!

Fatores associados
Os fatores considerados associados ao sofrimento psíquico entre os agentes se
relacionam especialmente com o reconhecimento no trabalho e com o apoio social na vida e
no ambiente do trabalho.
Em relação aos tipos de apoio social sentidos na vida (CHOR; GRIEP; FAERTEIN,
2001) constatou-se associação entre menor apoio afetivo, emocional, de informação e
material, além de interação positiva com maior existência de sofrimento psíquico: os
agentes que apresentam uma maior percepção de apoio social têm menores chances de
apresentar sofrimento psíquico. Nas entrevistas o apoio familiar foi citado como muito
importante na prevenção e alívio da tensão gerada no trabalho (tabela 2).
Nesse primeiro ano [de trabalho] eu mudei, mas foi bom que a minha
família falou comigo: “O que está acontecendo, o que foi? ” Só que você
não sente. Dali para frente eu estou tentando mudar até hoje.

Aqui com o tempo a gente vai criando afinidade, os colegas ajudam uns aos
outros, quando um colega tá com problema, o outro ajuda.

No que se refere aos fatores relacionados ao ambiente de trabalho, diversas


variáveis mostraram-se significantes. O trabalho distribuído ao longo das 40h semanais
122

mostrou estar relacionado a menos sofrimento psíquico do que aquele executado em


sistema de plantões (OR=0,358). Ao avaliarem (notas de 1 a 10) seu salário à época da
pesquisa, a média das notas ficou em 7,1, uma avaliação relativamente positiva, assim
como o reconhecimento de seu mérito por parte colegas de trabalho (média 7,0). Negativa
foi a avaliação do reconhecimento de seu mérito pela instituição (média 4,4) e pela
população (média 3,7). Os agentes que apresentaram maiores notas para salários e
reconhecimento têm menos chances de apresentar sofrimento psíquico do que aqueles que
apontaram menores notas.
A abordagem qualitativa corrobora esses aspectos: a aridez do trabalho em plantões;
a relativa satisfação em relação ao salário à época e o desgosto em relação ao
reconhecimento social da profissão.
É uma profissão muito sacrificada, as pessoas que pensam que é mordomia
trabalhar 24h por 72h, estão totalmente enganadas. Essa escala na verdade
acaba com a saúde, corresponde a três serviços de oito horas.

A minha remuneração está bem maior que as de cargos de nível superior


por aí.

O salário atualmente é razoável. Eu acho [o salário] justo, já foi pior.

Eu acho que a sociedade detesta a gente! Para eles todos são bandidos,
todos são ladrões, todos são corruptos, e não é assim. Dentro do sistema
penitenciário tem muita gente honesta, tem muita gente boa que eu
conheço.

Apesar de gostar das atividades que exerço me sinto pouco valorizada e


muito pressionada, me sinto triste e sem vontade de trabalhar.

Os relacionamentos estabelecidos no trabalho são avaliados pelos agentes e indicam


elevada satisfação com os colegas (91,4%) e com o chefe imediato (89,4%). Já com os
presos a avaliação é negativa: 56,8% se declaram insatisfeitos com essas relações. Agentes
que relatam maior insatisfação com o relacionamento com colegas (OR=4,233), chefes
(OR=6,374) e presos (OR=4,018) evidenciam mais sofrimento psíquico do que aqueles
com melhores relações. Mesma tendência ocorre entre aqueles que afirmam não se
relacionar bem com os superiores (OR=5,511). A maioria dos agentes avalia que no
trabalho os colegas se relacionam de forma positiva (66,1%), que pode contar com o apoio
deles (83,3%), que gosta de trabalhar junto (93,9%) e que pode contar com a compreensão
dos colegas se eventualmente não estiver em um bom dia (72,8%).
123

O ambiente prisional é avaliado negativamente: 73,6% relatam que não é calmo e


nem agradável. Pessoas que percebem o ambiente de trabalho de forma mais negativa
evidenciam mais sofrimento psíquico: aqueles que percebem que no seu ambiente de
trabalho as pessoas não se relacionam bem umas com as outras são mais propensos a esse
transtorno emocional (OR= 2,720; IC- 1,610 – 4,618), bem como os que não consideram o
ambiente calmo e agradável (OR=2,381; IC - 1,264 – 4,777), que não contam com apoio
dos colegas (OR=2,214; IC - 1,164 – 4,169), que não gostam de trabalhar com os seus
colegas (OR=2,795; IC - 1,053 – 7,424) e que consideram não ter apoio no trabalho, pois
estando em um mau dia não recebem compreensão dos colegas (OR=3,783; 2,185 – 6,597).
Também durante as entrevistas ficou evidente que o relacionamento entre os colegas de
trabalho é muito valorizado e avaliado positivamente.
Eu tive o apoio de toda rapaziada quando eu perdi a minha mãe, meus
colegas saíram do plantão foram direto pra lá [enterro], os que estavam de
férias também foram pra lá.

O companheirismo que se tem aqui dentro, a amizade que você cria aqui
dentro, com um mês você está muito intima da sua colega, então assim, é
um ambiente bacana de se trabalhar.

Os guardas são amigos, a gente procura ter um bom relacionamento.

Sofrimento psíquico, perfil profissional e fatores de proteção: um olhar integrado


Analisando-se integradamente todas as variáveis apresentadas na tabela 1, elaborou-
se o modelo estatístico apresentado na tabela 2 que demonstra quais variáveis são mais
relevantes para a compreensão do sofrimento psíquico sentido pelos agentes. O relato de
prática religiosa está de forma significante associado ao melhor estado de saúde mental
(OR=4,017), o que também na análise qualitativa mostrou-se importante. Quem não tem
práticas religiosas tem chances aumentadas de apresentar sofrimento psíquico em relação a
quem tem práticas religiosas frequentes.
A força do apoio social também foi reiterada, assim como a relevância de aspectos
como a compreensão dos colegas, o relacionamento com os superiores/chefe imediato e o
reconhecimento do trabalho pela população. Maior escore de apoio social no formato de
interação positiva está relacionado à menor sofrimento psíquico, apontando que a
capacidade de inter-relação, de se divertir em grupo, de relaxar, de fazer coisas agradáveis e
de distrair a cabeça são importantes formas de prevenção de transtornos emocionais.
Maiores notas dadas ao reconhecimento que a população dá ao trabalho indicam menos
124

sofrimento psíquico. Aqueles agentes que relatam pior padrão relacional no trabalho
apresentam chance maior de sofrimento psíquico.

Tabela 2: Modelo multivariado explicativo de fatores de proteção no âmbito social e


do próprio trabalho associados ao sofrimento psíquico de agentes penitenciários.
Variáveis Categorias OR IC95%
Pratica alguma religião
Sim, às vezes
1,811 0,843 – 4,045
Não 4,017 1,655 – 10,106
Sim, frequentemente 1 -
Apoio social - Interação positiva Escore 0,970 0,952 – 0,988
Não estando em um bom dia os colegas
Discordo
compreendem 2,253 1,118 – 4,505
Concordo 1 -
Reconhecimento do trabalho pela
população Notas de 0-10 0,814 0,723 – 0,909
Indiferente/insatisfeito/muito
Relacionamento com chefe imediato
insatisfeito 3,588 1,413 – 9,419
Muito satisfeito/satisfeito 1 -

Relacionar bem com os superiores Discordo 4,348 1,688 – 11,698


Concordo 1 -
Fonte: Bezerra, C. de M. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no
Estado do Rio de Janeiro.

Estratégias de enfrentamento das tensões e dificuldades - coping


Os agentes relataram atividades que costumam realizar durante a folga do trabalho
(tabela 3) que podem ser consideradas como estratégias de enfrentamento aos seus
problemas e como defesas para minimizar o impacto do sofrimento psíquico. As mais
citadas em ordem decrescente são: ficar em casa (93,0%), descansar (85,5%), ir a bares
(85,4%), ver TV (85,4%), dormir (84,4%), passear (81,1%), encontrar os amigos (75,5%),
ler (91,4%), namorar (71,3%), praticar esportes (62,2%), ir ao cinema (60,8%), ir a festas
(60,2%), ir à igreja (53,2%), viajar (51,0%), entre outras. No que se refere às estratégias
utilizadas nos momentos de lazer, percebe-se que pessoas que não praticam atividades
como viajar (OR=2,669), ir ao cinema (OR= 1,734) e passear (OR=2,813) têm maiores
chances de apresentar sofrimento psíquico, quando comparados aos que praticam tais
atividades. Nas entrevistas, o relacionamento com a família e os amigos foram as atividades
125

mais citadas enquanto estratégias de enfrentamento do sofrimento psíquico no trabalho. A


busca de apoios é considerada essencial.
Eu gosto muito de jogar bola, então se eu não jogo bola eu fico mal-
humorado. É a minha válvula de escape, é o meu “desestresse”, é onde eu
estou com os amigos, onde eu bato papo, onde eu vejo pessoas que a
semana toda não via.

Gosto de sair com a minha família, gosto de pegar a minha mulher e o meu
filho pra dar um passeio. É a minha maneira de não deixar isso aqui tomar
conta da minha vida, essa é a minha maneira. Acho que cada colega deveria
procurar a sua.

Se o colega não tiver a válvula de escape dele, porque tem colega que tá
aqui e não tem vida social, eles deixam os problemas daqui da unidade
afetarem a vida social deles mesmos.

Em relação às atividades físicas, a maioria dos agentes (51,2%) declarou praticá-las


com certa regularidade: 17,4% realizam quatro ou mais vezes por semana e 33,8% de duas
a três vezes por semana. No entanto 16,4% assumem que não praticam atividades físicas. A
menor realização de atividade física se mostrou associada ao sofrimento psíquico, com
razões de chance maiores para aqueles que informaram nenhuma prática, algumas vezes no
ano e 2-3 vezes por semana (tabela 3).
126

Tabela 3: Estratégias utilizadas por agentes penitenciários para o enfrentamento das


tensões e dificuldades.
Presença de
Variáveis Categorias Total sofrimento OR IC95%
psíquico
N % %
Atividades durante a folga do trabalho
Viajar Não 147 49,0 37,4 2,669 1,585 – 4,575
Sim 153 51,0 18,3 1 -
Ler Não 86 28,6 34,9 1,597 0,926 – 2,733
Sim 215 71,4 25,1 1 -
Ir ao cinema Não 118 39,2 34,8 1,734 1,040 – 2,892
Sim 183 60,8 23,5 1 -
Passear Não 56 18,8 46,4 2,813 1,534 – 5,150
Sim 242 81,2 23,6 1 -
Ver TV Não 44 14,6 31,8 1,271 0,621 – 2,501
Sim 257 85,4 26,9 1 -
Ir a bares Não 44 14,6 31,8 0,727 0,436 – 1,217
Sim 257 85,4 26,9 1 -
Ir a clubes Não 226 75,1 27,4 0,911 0,516 – 1,643
Sim 75 24,9 29,3 1 -
Ir a festas Não 119 39,8 31,9 1,450 0,866 – 2,425
Sim 180 60,2 24,4 1 -
Ir a igreja Não 139 46,8 31,7 1,515 0,908 – 2,539
Sim 158 53,2 23,4 1 -
Pratica de esportes Não 113 37,8 28,3 1,105 0,651 – 1,859
Sim 186 62,2 26,3 1 -
Encontrar amigos Não 73 24,5 34,3 1,572 0,881 – 2,766
Sim 225 75,5 25,0 1 -
Ficar em casa com a
Não 21 7,0 42,9 2,096 0,825 – 5,158
família
Sim 277 93,0 26,4 1 -
Ficar sozinho Não 196 66,4 24,0 0,660 0,388 – 1,131
Sim 99 33,6 32,3 1 -
Namorar Não 85 28,7 34,1 1,583 0,911 – 2,728
Sim 211 71,3 24,6 1 -
127

CONTINUACAO DA TABELA 3: Estratégias utilizadas por agentes penitenciários para o


enfrentamento das tensões e dificuldades
Dormir Não 47 15,6 34,0 1,412 0,713 – 2,712
Sim 254 84,4 26,8 1 -
Descansar Não 42 14,5 35,7 1,556 0,764 – 3,074
Sim 247 85,5 26,3 1 -
Atividade física De 2 a 3 vezes
101 33,8 29,7 2,716 1,153 – 7,195
por semana
Uma vez por
37 12,4 24,3 2,066 0,694 – 6,388
semana
De 2 a 3 vezes
14 4,7 21,4 1,753 0,337 – 7,504
por mês
Poucas vezes por
46 15,4 32,6 3,111 1,170 – 8,981
ano
Não pratico 49 16,4 36,7 3,733 1,443 – 10,599
4 ou mais vezes
52 17,4 13,5 1 -
por semana
Atendimento psicoterápico
Já fez tratamento regular
Não
de psicoterapia ou de 248 82,7 23,8 0,364 0,196 – 0,679
psiquiatria
Sim 52 17,3 46,2 1 -
Relaciona tratamento
psicológico ou Não 66 22,3 12,1 0,145 0,058 – 0,330
psiquiátrico ao trabalho?
Nunca recebi
152 51,4 23,0 0,315 0,175 – 0,562
tratamento
Sim 78 26,3 48,72 1 -

CONTINUA NA PAG. SEGUINTE


128

CONTINUAÇÃO DA TABELA 3: Estratégias utilizadas por agentes penitenciários


para o enfrentamento das tensões e dificuldades.
Uso de substâncias psicoativas
Frequência de bebidas Pelo menos 1 vez por
82 28,3 32,9 0,264 0,090 – 0,721
alcoólicas semana
Ocasionalmente 63 21,7 14,3 0,090 0,027 – 0,275
Raramente 55 19,0 21,8 0,150 0,047 – 0,446
Parei de beber 26 9,0 30,8 0,239 0,066 – 0,800
Nunca tomei bebida
44 15,2 20,5 0,138 0,040 – 0,432
alcoólica
Diariamente ou quase
20 6,9 65,0 1 -
todo dia
Substâncias
Não 229 76,9 19,7 0,224 0,126 – 0,397
tranquilizantes
Sim 69 23,1 52,2 1 -
Relaciona o uso de
bebida ao estresse no Às vezes 48 16,2 52,1 0,167 0,024 – 0,691
trabalho?
Raramente 26 8,7 42,3 0,113 0,015 – 0,516
Nunca 208 70,0 15,4 0,028 0,004 – 0,107
Frequentemente 15 5,1 86,7 1 -
Fonte: Bezerra, C. de M. Pesquisa sofrimento psíquico e estresse no trabalho de agentes penitenciários no
Estado do Rio de Janeiro

Sobre os cuidados com sua saúde mental, 17,3% dos agentes já fizeram tratamento
regular de psicoterapia ou psiquiatria e 26,4% relacionaram a necessidade desse tratamento
ao trabalho que exercem como agente penitenciário. Os que não fizeram tratamento regular
de psicoterapia/psiquiatria ou não relacionaram esse tratamento ao seu trabalho,
apresentaram menores chances de sofrimento psíquico do que aqueles que já fizeram
tratamento ou percebem relação do tratamento com o trabalho, indicando existir uma busca
por ajuda profissional dentre os agentes com mais sofrimento psíquico. Os depoimentos
originados das entrevistas evidenciam que o recurso do tratamento já foi utilizado em
alguns casos.
Tem vezes de sair daqui dizendo que não tô aguentando mais! Já fiz
tratamento psicológico.

Eu venho fazendo tratamento psiquiátrico desde 2008 e faço uso de


medicamento para dormir.
129

O pessoal que fica afastado por causa de problema de cabeça, de estresse é


absurdo [são muitos], mas é por causa da rotina mesmo, essa rotina é
estressante, é insegura.

A maior parte das pessoas que tem o mesmo tempo de trabalho que eu, já
fez tratamento psicológico. Muitas tomam medicamento controlado, e
algumas até já se aposentaram em função desse problema, eu realmente sou
uma exceção, graças a Deus.

Eu já tive colega de turma que cometeu suicídio porque não aguentou, era
naquela época pra trás, hoje em dia nem tanto, naquela época quando o
sistema prisional era muito pesado.

Sobre a frequência de ingestão de bebidas alcoólicas, 6,9% dos agentes informam


ingerir diariamente ou quase todo dia, 28,3% pelo menos uma vez por semana, 40,7%
ocasionalmente ou raramente; 24,2% nunca beberam ou pararam de beber (tabela 3).
Relacionam o uso de bebidas com o estresse no trabalho, frequentemente (5,1%) ou às
vezes (16,2%). Aqueles que não usam bebida alcoólica, que usam de forma menos intensa
ou já pararam de usar relatam menos sofrimento psíquico do que aqueles que usam
diariamente ou quase todo dia. Da mesma forma os que relacionam o uso da bebida ao
estresse no trabalho mostram maior sofrimento psíquico. Sobre o consumo de substâncias
tranquilizantes, 23,2% dos agentes afirmaram usá-las e entre eles há mais presença de
sofrimento psíquico do que nos agentes que não consomem.
A profissão eu acho que é uma das piores do mundo pra se trabalhar e se
você não tiver cabeça, você se perde, faz bobagem, se torna alcoólatra, ou
então viciado mesmo em outro bagulho.

Tem colegas que desafogam no álcool, tem colegas que desafogam na


droga. Eu não sou agressivo, mas faço uso de Diazepan, devido à tensão
nervosa.

Já tentei parar de beber por um período e consegui. Não me considero


viciada, nem acredito que a quantidade de álcool que eu bebo atrapalhe de
qualquer forma a minha vida, já que bebo ocasionalmente e socialmente.

[Suas atividades profissionais podem afetar sua saúde mental?] Podem


afetar sim, haja vista que alguns normalmente vão pra psiquiatria, outros
começam a beber bebida alcoólica.

Discussão
Avaliado nessa pesquisa, o sofrimento psíquico de agentes penitenciários teve
prevalência de 27,7%, índice mais elevado que em pesquisas com professores - 21,8%
130

(LYRA et al., 2013), com profissionais de saúde - 19,7% (MOREIRA et al., 2017) e até
com policiais civis do RJ - 20,3% (MINAYO; SOUZA, 2003). No entanto esse índice foi
menor que em pesquisa com policiais militares do RJ - 33,6% (MINAYO et al., 2008).
Cabe ressaltar que, por ser apenas de rastreamento, a escala utilizada não permite o
estabelecimento de diagnósticos. Além disso, estudos adotam diferentes pontos de corte o
que, por vezes, prejudica a comparação de resultados entre eles. Embora essa escala refira-
se ao sofrimento psíquico na vida e não particularmente ocupacional, a profissão exercida
está diretamente ligada aos hábitos de vida e exerce influência na saúde física e mental do
trabalhador.
Sintomas físicos e psicológicos ligados ao sofrimento psíquico são descritos pelos
agentes penitenciários e correspondem à literatura sobre o tema (BEZERRA; ASSIS;
CONSTANTINO, 2016). Em suas próprias palavras sentem: o aumento da ansiedade, da
agressividade, do nervosismo, falta de paciência, dificuldade para dormir, alteração na
comunicação: como passar a falar mais alto do que antes, aumento de peso, incremento da
tensão e do estresse e aparecimento de sintomas como dor no estômago e diarreia.
Entre os possíveis fatores que propiciam o sofrimento psíquico estão o
relacionamento direto, constante e tenso com os presos, as ameaças constantes dos
detentos, a superlotação crescente, a falta de recursos humanos e a sobrecarga de trabalho,
fatores que correspondem aos destacados em artigo de revisão sobre o tema (OP. CIT.,
2016). Já o “conflito de papéis” indicado como fator de risco para sofrimento psíquico em
agentes penitenciários na França e no Canadá (MOULIN; SEVIN, 2012; DOWDEN;
TELLIER, 2004), nesta pesquisa não foi identificado. Percebem suas atividades enquanto
de custódia e segurança. As atividades educativas, de saúde entre outras irão apenas
viabilizá-las, negando qualquer papel ativo na ressocialização. De acordo com a CBO
(BRASIL, 2002) espera-se dos agentes penitenciários atividades ligadas à segurança,
fiscalização, recepção, controle, escolta e comunicação, nada em relação à educação ou
ressocialização é descrito como função ou esperado deles.
Fatores de proteção aos problemas emocionais estão especialmente relacionados
com o apoio social como indica a literatura (BEZERRA; ASSIS; CONSTANTINO, 2016).
Os agentes possuem apoio social principalmente vindo da família e de seus colegas de
trabalho. O ambiente prisional gera muita insegurança, por isso eles se unem para enfrentar
o ambiente hostil. Quanto maior é sua percepção desse apoio social, menores são as
131

chances de apresentarem sofrimento psíquico. A maioria é casada e tem filhos, possui bom
nível de escolaridade e conta com apoio religioso. Essa última variável mostra-se associada
ao sofrimento psíquico de forma protetiva. A experiência religiosa contribui como um
suporte emocional e social em situações de sofrimento, através dela os indivíduos podem se
sentir mais motivados, acolhidos e fortes para enfrentar momentos de dificuldade (MOTA
et al., 2012).
Os fatores de proteção como reconhecimento institucional e da população em geral
não são bem avaliados pelos agentes. Para eles existe muito preconceito em relação à
profissão sendo na maioria das vezes taxados de violentos e corruptos. Percebem que as
pessoas não entendem sua profissão e seu valor e que a mídia ajuda a incrementar essa
visão negativa noticiando apenas o que há de pior na instituição. “A lógica de transformar
em notícia aquilo que foge da normalidade em nada valoriza o trabalho de agentes”.
(LOURENÇO, 2012, p.100)
O sistema de plantões (escala de 24h por 72 h) está mais associado ao sofrimento
psíquico do que o trabalho diário de 8 horas, de acordo com análise univariada. Além dos
problemas relativos ao relógio biológico (trabalham quando de outra forma estariam
dormindo), que causam mudanças fisiológicas, psicológicas e comportamentais
(SWENSON, 2008), agentes que trabalham em plantões têm contato mais direto com os
presos e estão em número insuficiente o que gera muita insegurança. Em relação ao salário
os agentes pareciam satisfeitos, mas sabiam que sem reajustes periódicos, logo estaria
defasado. Posteriormente à pesquisa ocorreu a crise econômica do governo do estado, com
atrasos de salários e ocorrência de greve, podendo ter havido modificação nesta avaliação.
A maioria das estratégias de enfrentamento ao sofrimento psíquico mostra-se ligada
ao lar, à família e ao lazer. A realização de atividades físicas também se mostrou associada
ao sofrimento e a maioria dos agentes declara praticá-las com regularidade. Percebe-se que
as alternativas de lazer ficam restritas talvez por duas razões: medo de ser reconhecido em
lugares muito movimentados ou a própria necessidade de descansar por períodos mais
longos após o trabalho (LOURENÇO, 2012). Também foram consideradas enquanto
estratégias a busca por cuidados com sua saúde mental, os agentes com mais sofrimento
psíquico foram os que mais buscaram esse tipo de ajuda. Quando estratégias positivas para
a saúde não se mostram suficientes, outras como o uso de álcool e/ou drogas podem ser
eventualmente utilizadas: os agentes que têm mais sofrimento usam mais álcool ou
132

tranquilizantes.
Enquanto limitação do artigo aponta-se o fato de não investigar um maior número
de unidades no complexo de Gericinó, onde se encontra o maior número de unidades
prisionais, o que não permite a generalização para todo o Estado.

Considerações finais
A literatura, a mídia e até o senso comum nacional e internacional sabem que o
ambiente prisional violento é insalubre e não se mostra adequado ao ser humano, nem para
presos e nem para profissionais carcerários. O trabalho diário em um ambiente como esse
tem suas consequências na saúde do trabalhador. O objeto desse estudo não diz respeito aos
presos, embora eles sejam os mais atingidos pelo ambiente insalubre das unidades
prisionais. No entanto, cabe informar que o “lema” da instituição penitenciária no Rio de
Janeiro é “ressocializar para o futuro conquistar”. Ao que parece esse lema é retórico, uma
vez que não pode ser concretizado com precárias condições de vida e trabalho, e neste
contexto os próprios agentes não se percebem com este papel.
A insalubridade do ambiente prisional atualmente tem seu foco mais grave na
superlotação que precisa ser resolvida definitivamente e acredita-se que não seja
construindo cada vez mais unidades prisionais e sim revendo as leis (presos provisórios
41%) e as formas de punir. Analisando-se friamente, percebe-se uma clientela
desvalorizada socialmente sendo assistida por profissionais também com pouco
reconhecimento social (RUMIN et al., 2011).
As observações realizadas e os depoimentos dos agentes mostram que os
profissionais que trabalham nos “plantões” são mais vulneráveis ao desgaste físico e
mental. É um posto de trabalho desvalorizado até mesmo entre os próprios agentes, onde a
maioria deles não gostaria de estar. No entanto também é a atividade fim (custodiar,
viabilizar direitos, estar em contato com o preso) e por isso deve ser valorizada, com maior
efetivo e gratificações, a fim de se trabalhar com mais segurança e paz.
A formação profissional também é um importante veículo de valorização tanto
para o trabalhador quanto para a instituição que de alguma forma se modernizam. É uma
forma de apoio social que visa à melhoria nas aptidões dos profissionais, na qualidade da
comunicação, dos relacionamentos e promove a atualização sobre legislações, tecnologias e
exigências práticas para as atividades diárias. Quem se prepara tem mais disposição para
133

enfrentar imprevistos e desafios e pode prestar um serviço de melhor qualidade para a


sociedade.

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136

6. DISCUSSÃO

Para Dejours (1992), a organização do trabalho é a maior causadora de impactos


sobre o funcionamento psíquico do trabalhador, o que concorda com os resultados
apresentados nesta pesquisa. No entanto, esses impactos não são vinculados única e
diretamente à profissão, ou seja, os efeitos negativos do trabalho não afetam igualmente os
trabalhadores. Fatores pessoais contribuem para o seu desenvolvimento (ou para o não
desenvolvimento). São também diferentes as formas de enfrentamento adotadas por cada
pessoa. Os resultados mostram que é apenas uma parcela dos agentes que apresenta
sofrimento psíquico (27,7%) e estresse (35,1%).
O trabalho é um determinante social de saúde bastante presente no nosso cotidiano,
no entanto seu modo de organização na atualidade dificulta em vários aspectos a
manutenção da saúde mental do trabalhador (AMADOR, 2002). A fragmentação do
trabalho, a separação entre concepção e execução, o controle gerencial do processo e a
rígida hierarquia têm levado à desmotivação e alienação de trabalhadores, bem como a
desequilíbrios nas cargas de trabalho (MATOS; PIRES, 2006).
Enquanto objetos desta pesquisa o sofrimento psíquico e o estresse, sem
negligenciar o burnout, que se mostrou frequente após a pesquisa bibliográfica realizada no
artigo 1, são constructos que se inter-relacionam, mas que não são idênticos. Seus fatores
desencadeadores, protetivos e estratégias de enfrentamento são parecidos. Deve-se lembrar
de que esses conceitos são considerados no contexto do capitalismo e podem se referir ao
desenvolvimento de sentimentos negativos em relação às atividades do trabalho
(MUROFUSE, ABRANCHES E NAPOLEAO, 2005). Estresse e sofrimento psíquico
embora tenham suas especificidades, segundo Harvey (2014), estão entre os diferentes
termos usados para se referirem as dificuldades psicológicas enfrentadas por pessoas que
trabalham em prisões.
O estresse ocupacional (SADIR; LIPP, 2009) é considerado um estado de mal-estar
ou desagrado derivado de aspectos relacionados ao trabalho e que possam representar uma
ameaça à autoestima ou à qualidade de vida do indivíduo. Quando há interferência dos
sintomas de estresse no ambiente de trabalho, comprometendo as relações de trabalho,
assim como a produtividade e a saúde física e/ou emocional do trabalhador, o estresse
recebe um caráter negativo (distresse) e provoca prejuízos, resultando em um custo elevado
137

para o próprio trabalhador, as organizações e a sociedade. Uma quantidade adequada de


estresse, considerado positivo (eustresse) no trabalho pode promover respostas funcionais e
adaptativas (FILGUEIRAS; HIPPERT, 1999). No entanto não se deve generalizar
associando qualquer sentimento de angústia ou de desgaste decorrente do exercício da
ocupação com estresse, as diferenças individuais levam a diferentes avaliações sobre
fatores considerados estressores.
Cabe ressaltar que este estudo não teve como objetivo aferir clinicamente a
existência ou não de sofrimento psíquico e de estresse entre os agentes penitenciários. O
sofrimento psíquico enquanto luta para o não adoecimento, como define Dejours (1992),
não pode ser reduzido às medidas de uma escala. Os instrumentos epidemiológicos
utilizados avaliam a presença ou não desses agravos unicamente a partir das percepções dos
entrevistados, não possuindo caráter diagnóstico. O presente estudo, apresentado em três
artigos, teve seu objetivo geral e os específicos alcançados na medida em que conseguiu
investigar, quantitativamente e qualitativamente a presença de sofrimento psíquico e
estresse entre agentes penitenciários do Estado do Rio de Janeiro. Entre eles, 27,7%
apresentaram sofrimento psíquico e 35,1% estresse: 2,3% na fase inicial de alerta, 26,0% na
etapa de resistência, 5,8% em quase exaustão e 1,0% em exaustão.
O sofrimento psíquico de agentes nesta pesquisa apresentou índice mais elevado que
em pesquisas com professores - 21,8% (LYRA et al., 2013), com profissionais de saúde -
19,7% (MOREIRA et al., 2017) e até com policiais civis do RJ - 25,8% (MINAYO;
SOUZA, 2003). No entanto esse índice foi menor que em pesquisa com policiais militares
do RJ – 35,7% (MINAYO et al, 2008). O estresse de agentes nesta pesquisa (35,1%)
mostra índices menores do que em pesquisas com policiais militares em Natal 47,4%
(COSTA ET AL, 2007), em MG 45% (DANTAS ET AL, 2010) e com profissionais de
saúde mental 36% (SANTOS E CARDOSO, 2010).Ressalta-se também que os constructos
de sofrimento psíquico e estresse, avaliados na pesquisa quantitativa, mostraram-se
associados estatisticamente (p<0,001), indicando a dificuldade de separar artificialmente
dois estados fortemente articulados: no grupo de 303 agentes penitenciários que
preencheram os dois instrumentos de aferição, constatou-se que 60,4% não tinham sinais de
ambos os problemas de saúde mental; 11,9% comentaram apenas a presença de estresse;
um número restrito de 4% dos trabalhadores apresentou apenas sintomas de sofrimento
psíquico; e 23,8% sofrem com sinais dos dois problemas emocionais investigados.
138

A pesquisa bibliográfica realizada no artigo 1 revelou o estado do conhecimento em


relação ao tema, os fatores de risco e de proteção abordados, as estratégias de
enfrentamento propostas para estes agravos à saúde mental dos trabalhadores e, finalmente,
as lacunas no conhecimento e os aspectos que podem ser mais explorados em futuras
pesquisas. No artigo 2, os profissionais se expressaram através dos questionários e
entrevistas a eles aplicados, deixando registrado o que pensam e sentem em relação as suas
condições de trabalho, estabelecendo uma relação entre elas e sua condição de estresse. No
artigo 3 foi possível identificar a presença de sofrimento psíquico e compreender as
estratégias defensivas e de prevenção utilizadas. Não houve diferenças em relação ao
sofrimento psíquico e estresse entre homens e mulheres, no entanto foram identificadas
diferenças no exercício de seu trabalho, que não foram apresentadas nos artigos, mas ainda
serão debatidas no decorrer desta discussão. A pesquisa bibliográfica também mostra que o
sofrimento psíquico e o estresse entre agentes penitenciários é um tema contemporâneo,
abordado em grande parte do mundo e que o número de publicações se intensificou
gradualmente ao longo dos anos. Com o objetivo de atualizar os dados, foi realizada nova
pesquisa bibliográfica com os mesmos métodos, abrangendo o período de agosto de 2014 a
outubro de 2016 (período não contemplado no artigo 1). Em pouco mais de dois anos, treze
novos artigos foram encontrados, o que corrobora a afirmação de que é um assunto de
interesse atual e que vem crescendo o número de pesquisas, especialmente no exterior
(apenas um é brasileiro). Esses treze artigos foram incluídos na pesquisa bibliográfica do
artigo 1 e podem ser consultados no ANEXO desta tese.
Características do perfil de agentes (como sexo, idade, escolaridade, dentre outras)
não mostraram associação estatística significante em relação ao estresse e ao sofrimento
psíquico, assim como observado em outras pesquisas (DIAL; DOWNEY; GOODLIN,
2010; OWEN, 2006). Apenas praticar religião mostrou associação com menor sofrimento
psíquico. Qualitativamente, as entrevistas apontaram para uma diminuição gradual da
violência entre agentes e presos nas prisões uma vez que o crescente nível de escolaridade
do agente (perfil) é sinalizado como fator que contribui para a diminuição do uso da força
em relação ao preso. Para Chesnais (1981, citado por MINAYO E CONTANTINO, 2015,
p.89) “quando as pessoas se sentem incluídas na cidadania e recebem uma boa educação
formal, em geral elas têm preferência por usar a palavra em lugar da força para se
comunicar e atingir seus fins”.
139

Os fatores de risco para estresse e sofrimento psíquico encontrados tanto na


pesquisa bibliográfica quanto nas pesquisas empíricas qualitativa e quantitativa
apresentadas nos artigos 2 e 3, são aparentemente similares. Entre eles estão:
1. Sobrecarga de trabalho, que é uma questão muito importante para os agentes
penitenciários cariocas e aparece em outras pesquisas (SCHAUFELI e PEETERS,
2000; DOWDEN e TELLIER, 2004; FINNEY et al 2013; BROUGH e BIGGS, 2007).
Recente pesquisa (STEINER e WOOLDREDGE, 2015) também aponta que maiores
demandas de trabalho estão relacionadas a mais estresse entre funcionários da prisão.
2. Os agentes se sentem sobrecarregados, principalmente devido à superlotação dos
presídios que é um grave fator de risco, crônico e sem prognósticos para ser estancado.
Outros artigos (DIAL; DOWNEY; GOODLIN, 2010; SANTOS, 2010, MENNOIAL et
al. 2014) apresentam no fenômeno da superlotação os riscos iminentes para o aumento
da violência nas prisões.
3. A sobrecarga de trabalho também é advinda da falta de recursos humanos e
materiais, fatores de risco para dificuldades psicológicas enfrentadas no trabalho
bastante comuns, recorrentes e que aparecem em várias pesquisas sobre agentes
penitenciários (LIPP; MALAGRIS, 2001, BROUGH; BIGGS, 2007, MENOIAL et al.,
2014).
4. O nível de contato com os presos também é descrito como importante fator
desencadeador de tensão e dificuldades e fica evidente que quanto mais próximos e em
contato direto e constante com os presos, maior o sofrimento psíquico do agente.
Resultados de uma recente pesquisa realizada na Itália conclui que seus agentes estão
em alto risco de estresse e que a parte mais estressante do trabalho deles diz respeito à
sua relação com os presos (VIOTTI, 2016). As ameaças dos detentos em direção aos
agentes são descritas por estes como constantes (artigo 2). Na visão dos presos do
Estado do Rio de Janeiro, o relacionamento com os agentes é muito conturbado, com a
presença de agressões físicas e verbais, além de discriminações por parte dos agentes
(MINAYO E CONSTANTINO, 2015). As diferentes visões mostram o difícil e
agressivo relacionamento existente no ambiente prisional.
5. As percepções sobre medo ou perigo aparecem relacionadas aos riscos e as
ameaças. Verifica-se que à medida que aumenta a quantidade de riscos a que um agente
se percebe exposto, agrava-se o estresse. Para Lommel (2004) existe uma contínua
140

exposição ao perigo em potencial. A imprevisibilidade do trabalho em um ambiente


insalubre e violento é um fator de risco à saúde, uma vez que “no âmbito das relações
saúde x trabalho, os trabalhadores buscam o controle sobre as condições e os ambientes
de trabalho, para torná-los mais "saudáveis”” (MENDES; DIAS, 1991).
6. A percepção da imagem pública negativa, ou a falta de reconhecimento social é
um problema sério para os agentes penitenciários. Ela pode ser considerada um tipo de
apoio social inexistente para essa categoria, uma vez que a população em geral não
conhece e nem faz questão de saber quais são as atividades de um agente penitenciário.
No imaginário coletivo esse trabalhador é associado com uma das mais indesejáveis
profissões, a mídia reforça essa imagem negativa noticiando apenas os problemas
(LOURENÇO, 2012). Isso não acontece só no Brasil, a imagem pejorativa do agente
penitenciário é comum há muitos anos e em outros países (KAUFFMAN, 1988).
Muitas outras pesquisas, entre elas uma recente (VIOTTI, 2016), confirmam esse fator
de risco para estresse entre agentes.
Dois outros fatores de risco apontados na literatura não foram confirmados entre os
agentes penitenciários do Rio de Janeiro.
7. Em relação ao paradoxo punir/reeducar ou ao conflito de papéis fica claro (no
artigo 3) que eles não consideram essa questão como um problema, uma vez que não
se identificam com a função educativa em relação aos presos: sua função é
basicamente de segurança. Dessa forma, a inexistência do conflito de papéis pode ser
considerada um fator protetivo, pois não perceber essa contradição no trabalho
diminui a possibilidade de sofrimento.
8. O baixo apoio social no trabalho, também não é confirmado entre esses agentes,
pois existe um nível elevado de apoio entre os pares. O apoio da instituição é bastante
criticado. No entanto, a satisfação que demonstram com a obtenção de um plano de
cargos e salários e com o valor do salário, à época da pesquisa, contribui para a
sensação de bem-estar e de apoio no trabalho. Para Tschiedel e Monteiro (2013), o
trabalho gera prazer se os agentes penitenciários se sentem recompensados pelo
salário. Para Fonseca e Moura (2008) o apoio organizacional dependerá de como os
empregados percebem a retribuição e reconhecimento dado pela empresa ao seu
trabalho. Esta percepção é influenciada pela frequência, intensidade e sinceridade das
relações de elogio e aprovação, pelos aspectos ligados à remuneração, vínculos de
141

trabalho e às políticas organizacionais (BROUGH; PEARS, 2004).


A literatura sobre estresse (GLOWINKOWSKI; COOPER, 1987; JEX, 1998, LIPP,
2003) também considera a repetição de tarefas como fator de risco:
9. Repetição de tarefas. Nesta pesquisa, resultados apontaram (artigo 2) que um
profissional que pouco repete as tarefas no trabalho tem 52,6% menos chances de
estresse grave em relação ao que frequentemente tem que repetir as tarefas. A grande
repetição de tarefas é percebida como frequente pela maioria (77,0%) dos agentes
cariocas.
Os fatores protetivos encontrados na revisão da literatura também coincidiram com
os encontrados nos outros dois artigos. Eles remetem basicamente ao apoio social: familiar,
o encontrado dentro do ambiente prisional e o religioso. Apesar de também ser descrito
como um fator de risco, quando presente o apoio social protege as pessoas que trabalham
em prisões das dificuldades psicológicas enfrentadas no ambiente laboral. Os agentes
participantes desta pesquisa percebem o apoio da família e dos colegas de trabalho. Várias
pesquisas, entre elas uma recente (STEINER; WOOLDREDGE, 2015), afirmam que entre
agentes penitenciários, o apoio de colegas de trabalho e supervisores está associado a
menos estresse. No entanto o apoio em nível institucional e da sociedade em geral não é
percebido por esses agentes. Para Fonseca e Moura (2008), quando há apoio social
suficiente ocorre certa “absorção” de parte dos efeitos adversos do ambiente o que funciona
como um agente de proteção frente aos riscos de doenças induzidas, por exemplo, pelo
estresse. Praticar uma religião ou ter apoio religioso, no que se refere à vivência de
sofrimento psíquico, também contribui como um suporte emocional e social, através dela os
indivíduos podem se sentir mais motivados, acolhidos e fortes para enfrentar momentos de
dificuldade (MOTA et al., 2012).
As estratégias de enfrentamento apontadas pela literatura (artigo 1) também
coincidem com os resultados encontrados nos outros dois artigos e relacionam-se ao
aprimoramento da formação dos agentes, estímulo ao apoio social e oferta de atendimento
psicológico e de espaços de acolhimento para reflexão, reestruturação e reorientação
emocional. As sugestões para a formação dos agentes caminham no sentido do estímulo à
reflexão sobre as condições de vida das pessoas presas e de se repensar a forma de
interação agente/preso e os procedimentos utilizados na sua rotina de trabalho (MOON e
MAXWEL, 2004). Devem-se incluir informações contínuas e aprofundadas sobre doenças
142

infecciosas a fim de prevenir a contaminação e o estresse (HARTLEY et al., 2013), além de


treinamento anual com foco específico nos sintomas e uso de técnicas efetivas no
enfrentamento e gerenciamento do estresse e burnout (GOULD et al., 2013).
Autores apontam as distintas estratégias de enfrentamento às dificuldades no
trabalho. FINNEY et al. (2013) abordam a necessidade de melhorar a estrutura
organizacional e o clima da instituição prisional. O suporte social dos pares é muito
importante (MORGAN et al., 2002; GOULD et al., 2013), assim como a qualidade do
suporte da chefia ou da supervisão (BOURBONNAIS et al., 2005) que deve considerar o
uso de um estilo mais participativo e flexível de liderança e gestão (ATKIN-PLUNK,
2013). A organização de grupos de diálogo entre os agentes também é sugerida (GOULD et
al., 2013), com ênfase no que lhes aflige em relação ao trabalho e na melhoria da
comunicação entre eles. Estratégias voltadas ao atendimento psicológico individual também
são incluídas (RUMIN, 2006; RUMIN, 2011; TSCHIEDEL E MONTEIRO, 2013), assim
como a implementação de programa de redução de estresse baseado na auto regulação
emocional (MC GRATY et al., 2009). Sempre importante também é o incentivo às políticas
públicas de valorização e qualificação profissional (RUMIN, 2006; RUMIN, 2011;
TSCHIEDEL E MONTEIRO, 2013).
As estratégias de enfrentamento ao sofrimento psíquico valorizadas pelos agentes na
pesquisa de campo mostram-se ligada ao lar, à família e ao lazer. Também foram
consideradas enquanto estratégias a busca por cuidados com sua saúde mental, pois os
agentes com mais sofrimento psíquico foram os que mais buscaram esse tipo de ajuda. No
entanto, quando estratégias positivas para a saúde não se mostram suficientes, sempre
existe a possibilidade de se recorrer a outras como o uso de álcool e drogas: os agentes que
têm mais sofrimento usam mais álcool ou tranquilizantes. Nas entrevistas e observações
também ficam evidentes estratégias como brincadeiras e chacotas entre os agentes, comuns
em ambientes de trabalho predominantemente ocupados por homens, para combater ou
mascarar o sofrimento (DEJOURS; BÈGUE, 2010), ou seja, a fim de descontrair o clima
pesado e esquecerem por um momento que estão em uma “cadeia”.
Nesta pesquisa sobre saúde e também sobre sofrimento, devemos levar em conta
que, para os agentes, falar ou até mesmo escrever sobre suas limitações e problemas não
são tarefas fáceis e nem tranquilas. É preciso confiança, qualidade escassa entre os agentes
devido às características singulares de seu trabalho no cárcere. Falar sobre fragilidades no
143

ambiente de trabalho, onde a saúde é primordial para se levar a vida e o próprio trabalho,
torna-se difícil e até mesmo uma ameaça. Essa questão remete ao marco teórico da
psicodinâmica do trabalho (DEJOURS, 1992), mais especificamente às estratégias
defensivas e ao exemplo da ideologia coletiva da vergonha que faz com que o trabalhador
disfarce sua doença ou problemas através do silêncio, que pode aumentar o sofrimento,
levar à recusa de cuidados, à negação da doença e ao agravamento dela.
A pesquisa de Murta, Laros e Trócoli et al. (2005) sobre o manejo de estresse
ocupacional aborda que intervenções para promoção da saúde no trabalho podem estar
focadas na organização de trabalho, no trabalhador ou podem ser intervenções combinadas.
Os autores descrevem as divergências sobre o tema, mas argumentam que do ponto de vista
ético, questiona-se ensinar o indivíduo a lidar com características organizacionais nocivas à
sua saúde, quando estas poderiam ser modificadas em intervenções preventivas. As
intervenções organizacionais ou intervenções combinadas seriam as mais indicadas para o
ambiente ocupacional, por serem mais preventivas e com efeitos mais duradouros. O mais
importante, no entanto, é considerar que os transtornos produzidos pelo trabalho devem ser
abordados como problema organizacional e não como falhas individuais, para que eles
sejam solucionados como qualquer outro risco à saúde e à segurança no local de trabalho.
(EU-OSHA, 2012). As estratégias de enfrentamento ao sofrimento psíquico valorizadas
pelos agentes nesta pesquisa, como já descritas, são basicamente voltadas para o
trabalhador na busca por apoio social.
A presença de violência nos ambientes prisionais foi outro aspecto evidenciado
nesta pesquisa com agentes penitenciários, mas que não foi discutido nos três artigos
apresentados. Esses dados serão analisados em futuro artigo, no entanto, é importante
relembrar que o trabalho de agentes penitenciários se caracteriza por ser uma prestação de
serviços, onde o foco principal não é um produto a ser finalizado e sim as relações que se
travam durante o exercício profissional, a interação entre trabalhadores e
clientes/usuários/destinatários/consumidores (MINAYO-GOMEZ, 2011). Essas relações se
dão em contextos estruturais muitas vezes violentos e prejudiciais a todos que estão no
ambiente físico e relacional: apenados e trabalhadores. (LOURENÇO, 2012; MINAYO;
ASSIS; CONSTANTINO, 2015),
O foco desta tese são os agentes penitenciários que realizam a custódia de pessoas
presas, ou seja, o foco é a relação agente/preso. Nesse sentido já apresentamos a análise das
144

impressões dos agentes sobre essas relações que se configuram como tensas estressantes e
baseadas em ameaças. No entanto é de suma importância se pesquisar o que os presos
pensam sobre seu relacionamento com agentes penitenciários.
No livro Deserdados Sociais (MINAYO; ASSIS; CONSTANTINO, 2015), resultado
de recente pesquisa que analisa as condições de vida e de saúde dos presos no Rio de
Janeiro, não é de se estranhar que a análise da compreensão dos presos sobre seu
relacionamento com os agentes penitenciários apareça na seção denominada “Análise da
(In) Satisfação dos presos”. A insatisfação com esse relacionamento é bastante citada pelos
apenados: notas de 0 a 10 foram atribuídas por eles a esse relacionamento e a média dada
pelos homens presos foi de 3,3 e pelas mulheres presas foi um pouco mais alta (5,2). São
avaliações negativas sobre uma relação tão crucial, constante e necessária na perspectiva do
encarceramento. Os agentes representam autoridades hierárquicas as quais os presos se
veem confrontados e que exigem deles disciplina e involuntária colaboração e obediência
(OP. CIT.), e dessa forma é necessário desenvolver estratégias de convivência e
comunicação.
O artigo 56 (III) do Regulamento do Sistema Penal do Estado do Rio de Janeiro
(Decreto Estadual RJ/ 8.897/86) garante estar entre os direitos do preso: “não sofrer, em
nenhuma hipótese, formas aviltantes de tratamento”. No estudo já citado os presos relatam
vários tipos de vivência de tortura e punições físicas promovidas por agentes penitenciários
ocorridas, na maioria das vezes, em unidades masculinas. Relatam castigos como
isolamento em celas com péssimas condições de uso, agressões físicas e uso indiscriminado
de gás de pimenta. Os presos também relatam atitudes discriminatórias dos funcionários em
relação a sua orientação sexual, condição social e cor da pele. O maior número de queixas
sobre preconceitos e violência psicológica ocorre entre as mulheres. Segundo elas também
passam por maus tratos devido a sua condição de detentas, pelo tipo de crime e pela
aparência física.
Em suma é um relacionamento conturbado, a interação é tensa e estressante em um
clima de opressão e de dificuldades de comunicação. Segundo as autoras (OP.CIT.), entre
eles há uma relação hierárquica que aos presos cabe obedecer e calar, o que vai de encontro
ao objetivo ressocializador que exige mais diálogo e compreensão. Queixam-se da
desumanidade dos agentes, sobretudo em relação a dificuldade para socorrer presos
doentes, alguns disseram abertamente que sofrem constrangimentos físicos, mentais e
145

ofensas pessoais por parte dos agentes.


É importante se informar sobre as opiniões de ambos os lados desse relacionamento.
Embora nesta tese o foco não seja as impressões e compreensão dos presos, elas são
importantes para se caracterizar mais apropriadamente o tipo de relação existente entre
agentes e presos que é o cerne do trabalho dos agentes penitenciários e, como se vê, é
repleto de violência.
Também merece destaque nesta discussão a ausência de diferenças significantes nas
taxas de sofrimento psíquico e estresse entre homens e mulheres observada nesta tese,
assim como já ocorreu em outras pesquisas (GRIFFIN, 2006). Para além dos dados
apresentados nos artigos 2 e 3 (limitados pelo espaço editorial), alguns dados qualitativos
merecem ser apresentados neste momento de discussão, pois ajudam a responder melhor o
objetivo específico que se propôs a analisar as diferenças no exercício do trabalho de
agentes homens e mulheres e suas influências sobre o estresse e o sofrimento psíquico.
Especificidades no trabalho das agentes femininas foram constatadas na abordagem
qualitativa, particularmente se elas encontram pressões adicionais no local de trabalho por
questões de gênero, numa ocupação tradicionalmente exercida por homens.
Constatou-se uma visão distinta entre agentes homens e mulheres: os primeiros
afirmam que as agentes não são discriminadas no exercício de sua profissão, uma vez que
sua presença é extremamente importante nos presídios femininos e durante a revista de
mulheres familiares e visitantes dos presos. Na teoria elas têm suas funções específicas e
por esse motivo não precisam disputar o poder com os homens; a visão das inspetoras é
diametralmente oposta. Algumas afirmam que sofrem discriminação e preconceito, uma vez
que estão numa instituição predominantemente masculina e machista. Sentem-se testadas
em várias situações e percebem que a conquista e a manutenção de seu espaço têm que ser
permanente. Devem mostrar "seriedade", "sorrir pouco", manter a postura ("às vezes você
leva na brincadeira, mas tem que ter cuidado"), esconder a feminilidade e não usar "a
minha maciez enquanto mulher". Logo, devem ocultar os aspectos mais femininos,
cobrindo-se de uma aparência profissional. Essa necessidade de se impor no ambiente
profissional as faz se sentirem mais embrutecidas e menos compreensivas - "você acaba
endurecendo um pouco".
O assédio moral também foi relatado principalmente pelas mulheres que trabalham
nos presídios masculinos, onde existem muito mais agentes homens do que mulheres.
146

Segundo elas, como em todo ambiente profissional acontece de um inspetor namorar uma
inspetora; no entanto, há insinuações de que a inspetora só está num posto de chefia, por
exemplo, porque namora ou é casada com alguém. Não se valoriza o trabalho da mulher em
si, mas sempre tendem a vinculá-lo a relações pessoais e à subordinação ao poder
masculino. É necessário se reafirmar como profissional a todo o momento: “eu tenho
matrícula, como ele, eu não entrei pela janela”; “de vez em quando a gente escuta uma
piadinha”; ” já ouvi algumas vezes falarem que lugar de mulher é no fogão”.
Assim como na pesquisa de Tschiedel e Monteiro (2013) realizada no Rio Grande
do Sul apenas com agentes mulheres, aqui no Rio elas também relataram vivências de
prazer relacionadas ao seu salário, à estabilidade no emprego, e ao horário de trabalho
“flexível” (plantões). Essa satisfação em relação à escala é justificada por elas mesmas,
pois sobra mais tempo para organizarem a casa e dar atenção para a família. Mostram-se
mais preocupadas que os homens com suas obrigações e tarefas domésticas e a elas
dedicam mais tempo do que os homens. Para eles o tempo que sobra após o trabalho é para
trabalhar mais ou estudar. Percebe-se que os tempos estão mudando, mas nem tanto. Besse
(1999) afirmava que o emprego feminino não liberava as mulheres de seus papéis
familiares. Havia e há até hoje, um enorme empenho em procurar conciliar o emprego
feminino com os papéis domésticos e familiares o que configura a “dupla jornada
feminina”, ou seja, a mulher, além do trabalho fora de casa, assume para si a
responsabilidade por todo o trabalho doméstico e pelos cuidados da família.
As agentes penitenciárias relataram sofrimento em relação à atividade da “revista
íntima”, fator também encontrado por Tschiedel e Monteiro (2013). Durante a realização da
coleta de dados para a pesquisa (ano de 2014) ela ainda existia, no entanto desde abril de
2016 as revistas íntimas em mulheres, também chamadas revistas vexatórias, estão
proibidas no país. A lei federal nº 13.271/2016 vedou a prática em empresas públicas e
privadas, inclusive presídios. A visitante era revistada pela agente penitenciária e precisava
ficar nua, agachada e dar um salto para a identificação de qualquer objeto escondido dentro
de seu corpo. O principal argumento para a criação dessa lei foi a preservação da
intimidade e da dignidade humana, além de não existir norma que a autorize. Essa
atividade, exclusiva da mulher agente penitenciária, lhe causava sofrimento devido ao
constrangimento de se ter que impor um constrangimento à visitante, muitas vezes mães e
idosas.
147

Nos presídios femininos podem-se observar algumas diferenças em relação aos


masculinos. Os ambientes de convívio das presas (celas e galerias) são mais limpos e
organizados, as presas fazem menos barulho e nas galerias sentem-se menos odores fortes e
desagradáveis. Os ambientes de convívio entre as agentes também são mais organizados e
limpos: alojamentos e refeitórios. A comida nos refeitórios de presídios femininos quase
sempre é bem feita e gostosa, diferentemente das unidades masculinas. Parece haver a
partir das servidoras, maior rigidez na demanda de disciplina para com as internas. As
agentes também parecem mais exigentes, duras e bravas. Outra diferença gritante é o
número proporcional de agentes para cada presa, muito maior do que em um presídio
masculino. Isso deve proporcionar um clima de maior segurança e estabilidade nos
presídios femininos, com muito mais agentes nos plantões das mulheres comparados aos
dos homens.
Segundo algumas mulheres agentes existem mais riscos e perigos para os agentes
homens que trabalham com presos, pois o preso é mais perigoso do que a presa. Quase
sempre nas ruas os egressos andam armados e as egressas não. Já as presas são mais
carentes, demandam atenção e cuidados o tempo todo. Aspectos de gênero moldam a visão
que as agentes têm da mulher presa: "é mais chata de você lidar no dia a dia", "mais
pidona", "exige mais atenção". As agentes também avaliam que a mulher que trabalha em
uma unidade masculina é mais protegida ou "paparicada" pelos colegas agentes, indicando
uma visão masculina sobre o gênero feminino no espaço profissional.
Em Campos dos Goytacazes as mulheres agentes, bem mais que os homens,
denunciaram um problema específico que causa sofrimento que é a sua lotação. O concurso
é estadual e por esse motivo, agentes que moram no município do Rio de Janeiro e são
lotados em Campos precisam viajar cerca de 300 km para exercerem suas atividades, o que
causa muito desgaste físico, mental, afastamento dos familiares e às vezes até acidentes na
estrada. As agentes sugerem a realização de concurso regional para que participem as
pessoas já moradoras do município e arredores, o que facilitaria a lotação desses servidores.
O fato de esse problema afligir mais as mulheres que os homens pode também estar
relacionado com a importância das obrigações e tarefas domésticas para elas, pois longe do
lar, seu papel de cuidadora da família fica enfraquecido.
Essas informações oriundas da abordagem qualitativa permitiram compreender
melhor as diferenças nas atividades desenvolvidas pelos agentes homens e mulheres.
148

Embora quantitativamente não haja diferença nos níveis de sofrimento psíquico e estresse,
pode-se compreender que há especificidades em seus trabalhos que merecem ser mais
investigadas em pesquisas futuras. O ambiente prisional predominantemente masculino
leva as mulheres a enfrentarem desafios específicos em seu trabalho nessas instituições
(BEZERRA, ASSIS e CONSTANTINO, 2016). As pressões adicionais no local de trabalho
relacionadas ao gênero certamente existem, como se dá em toda profissão tradicionalmente
exercida por homens (BEZERRA, MINAYO e CONSTANTINO, 2012). Essas agentes
relatam, pois percebem em sua rotina de trabalho o preconceito, a discriminação e o assédio
sofridos, no entanto também são apontados fatores positivos ou de proteção para a mulher
que trabalha no ambiente prisional, como a proteção dos colegas/homens/agentes e o fato
da “clientela”, ou seja, da mulher presa ser menos perigosa que o homem preso. Outro fator
de proteção é que a superlotação em presídios femininos existe, mas em índices muito mais
baixos que os masculinos, tanto que as agentes não se referiram a ela. Assim também a falta
de recursos humanos (principalmente nas turmas dos plantões) não aparece como um
problema entre as mulheres agentes, pois há muito mais agentes mulheres para custodiar as
mulheres presas do que homens agentes para custodiar os homens presos. Conclui-se que os
aspectos positivos da atividade compensam outros negativos, e nesse sentido, elas se
adaptam ao ambiente muito mais do que o ambiente se adapta a elas (SCHAUFELI e
PEETERS, 2000).
Entre as limitações da tese aponta-se a não utilização de escala específica para aferir
estresse no trabalho, assim, também a necessidade de restringir as unidades pesquisadas é
uma limitação, pois não permite extrapolar os dados para todo o sistema prisional do
Estado. A restrição de tempo e a ausência de equipe para a pesquisa impediu de analisar
todos os dados obtidos através do questionário e entrevistas: por exemplo, os dados sobre
violência que serão analisados posteriormente em outro artigo.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa os agentes penitenciários mostraram que têm consciência de sua


fragilidade em relação à sua saúde mental, devido às características negativas do ambiente
prisional. Mesmo assim, quase 80% deles consideram-se muito satisfeitos ou satisfeitos em
149

relação à sua saúde (dados não apresentados). O grande número de licenças para tratamento
de saúde indica a necessidade de se aprofundarem os estudos sobre o tema e de se
utilizarem esses conhecimentos para gerar ações que se traduzam em melhores condições
de trabalho e que possam prevenir os agravos à saúde desses trabalhadores. Essa foi uma
reivindicação dos agentes durante a pesquisa: serem informados sobre seu resultado, assim
como seus superiores, a fim de serem tomadas medidas positivas para a melhoria das
condições em seu cotidiano laboral. Embora esses profissionais relacionem suas condições
de saúde ao ambiente prisional também fica evidente que eles gostam do que fazem e se
orgulham de seu trabalho, por isso concordaram em participar desse estudo e declararam
sua esperança em ações efetivas de melhoria das condições de trabalho.
Embora as relações entre os colegas no interior das unidades sejam colaborativas,
respeitosas e muitas vezes de amizade, o reconhecimento - capaz de transformar o
sofrimento do trabalho em prazer e fortalecer a identidade do trabalhador (DEJOURS;
BENGUÈ, 2010), quase nunca está presente no cotidiano dos agentes penitenciários, ao
contrário, são lembrados apenas quando há qualquer irregularidade ou distúrbio. Isso não
quer dizer que não existam “maus funcionários”, eles existem em todas as profissões.
Também não se está “protegendo” a categoria ou mostrando “ingenuidade” na análise de
sua atividade. Segundo Lourenço (2012) fica patente que existem problemas relacionados à
criminalidade entre trabalhadores que atuam dentro das prisões (nao só os agentes). No
entanto, nesta pesquisa o foco não é esse, focaliza-se a saúde do trabalhador.
Entende-se que mesmo os agentes que não desenvolveram sintomas ou não
adoeceram estão cotidianamente submetidos às pressões e exigências das tarefas que
realizam. Como lembra Dejours (1992), o sofrimento no trabalho é um estado compatível
com a normalidade, ou seja, ele não configura uma doença mental, mas é vivenciado pelo
trabalhador por meio de mecanismos adaptativos. Ou seja, muitos trabalhadores buscam
prazer e fuga do sofrimento e tentam se autodesenvolver, tornando as adversidades, mesmo
nos empregos mais difíceis, uma fonte de criatividade (DEJOURS, 1992; AMADOR,
2002), outros a partir desse sofrimento desenvolvem doenças, estresse ou depressão.
Mesmo com péssimas condições de trabalho percebe-se no discurso dos agentes
penitenciários do Rio de Janeiro alguma melhoria das condições de trabalho distribuída ao
longo dos anos, mas que precisam ainda melhorar muito. O salário não foi uma questão
reivindicada durante a pesquisa de campo. Nesta profissão, como em tantas outras, se
150

percebe que as decisões ficam restritas a um pequeno grupo, esperando da maioria a


execução das atividades delegadas, existindo, portanto, uma divisão entre quem planeja e
quem executa (MATOS; PIRES, 2006), no entanto é preciso que o trabalhador atue na
busca por condições mais saudáveis de trabalho, com participação na organização e
decisões no processo de trabalho (MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997). Eles
nunca ou quase nunca são ouvidos sobre como a “cadeia” deveria funcionar o que para eles
evidencia o desconhecimento e desvalorização por parte das autoridades em relação a quem
trabalha cotidianamente em prisões (LOURENÇO, 2012). Seu conhecimento é construído
através da observação e relacionamento constantes com os apenados e por isso deve ser
mais valorizado.
Em alguns casos houve certo receio de dar entrevista, pois ao que parece, a
desconfiança é uma característica da profissão: devido ao ambiente tenso, repleto de
ameaças reais e imaginárias, eles precisam se preservar e expor o mínimo possível suas
opiniões, ideias, sentimentos e intimidades. No entanto em várias entrevistas notou-se o
interesse e a aceitação, gerando reflexão e elaboração de entendimentos sobre questões
pessoais. Pelas próprias características do ambiente prisional faltam espaços para
desabafarem, compartilharem experiências, sentimentos e sofrimentos.
Em relação à função ressocializadora "esperada" da prisão e consequentemente de
seus profissionais, Minayo e Constantino (2015, p.238) concluem que essa questão é muito
mais profunda e depende da integração de diversos setores: “a integração dos ex-presos
numa sociedade não é apenas uma ação setorial do sistema carcerário, mas é parte da
construção de um processo democrático em que os direitos econômicos, sociais, culturais e
educacionais dos jovens pobres, negros e pardos são, na prática, os mesmos dos filhos de
pais abastados e poderosos”.
Para os futuros pesquisadores sobre o tema é bom deixar registrado que sem a
abordagem qualitativa (entrevistas e observação) não seria possível a compreensão desse
universo tão complexo, com características de violência e insalubridade. Escutar esses
homens e mulheres trabalhadores ajuda a dar mais sentido aos resultados encontrados em
uma pesquisa.
O estudo corrobora uma certeza já existente entre todos os funcionários do
sistema: seu ambiente de trabalho é insalubre e existe a premente necessidade de
investimento em ações de prevenção que possam minimizar os efeitos do estresse laboral
151

na saúde do agente penitenciário. Há necessidade de algumas mudanças gerenciais e


organizacionais como, por exemplo, a melhor distribuição dos agentes nas diferentes
funções, para que as turmas tenham mais agentes e mais segurança para todos.
152

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160

APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA
QUESTIONÁRIO

Prezado/a Agente/a Penitenciário/a,

Você é convidado/a a participar da pesquisa “Estudo das Condições de Saúde e


Qualidade de Vida dos Presos e das Condições Ambientais das Unidades
Prisionais do Estado do Rio de Janeiro”. Nesta fase da pesquisa o objetivo é
investigar sobre as condições de trabalho e saúde no seu exercício profissional,
assim como suas consequências em sua vida laboral e familiar. Você foi
selecionado/a porque está atuando na SEAP, lotado em uma Unidade Prisional e
acreditamos que pode contribuir para nossa pesquisa.
Sua participação é voluntária, você tem plena autonomia para decidir se quer ou
não participar, bem como para desistir de fazê-lo a qualquer momento. Sua recusa
não trará nenhum prejuízo para você ou para as instituições envolvidas. Seu
anonimato será mantido e o questionário não deve ser identificado com seu nome.
Não haverá coleta de exames e você não correrá riscos biológicos. O benefício
relacionado à sua participação é a possibilidade que você terá de colocar suas
opiniões e posições frente as suas condições de trabalho e saúde. Sua participação
consistirá em responder o questionário que aborda questões sobre seu o processo
de trabalho, saúde e qualidade de vida. O questionário é composto por 88 questões
e você gastará, aproximadamente, 40 minutos para respondê-lo. Serão feitas
algumas perguntas de ordem pessoal como, por exemplo, idade, estado civil e
religião. Os dados serão analisados em conjunto, sem citar seu local de
trabalho/lotação. Informações pessoais serão omitidas. Os dados coletados nesta
pesquisa serão publicados na forma de uma dissertação de mestrado e artigo
científico.
Você receberá uma cópia deste termo de consentimento, onde consta o telefone
e o endereço eletrônico do pesquisador, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto
e sua participação.
O Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca -
161

CEP/ENSP, também se encontra à disposição para eventuais esclarecimentos. E-


mail:cep@ensp.fiocruz.br Telefone e fax: (21) 2598-2863. Endereço: Rua
Leopoldo Bulhões, 1.480 – Térreo – Manguinhos/RJ.
______________________________________________________________
Maria Cecília de Souza Minayo
Coordenadora Científica do Centro Latino Americano de Estudos de Violência e
Saúde/Claves, da Escola Nacional de Saúde Pública/ENSP, da Fundação Oswaldo
Cruz/Fiocruz

Eu, abaixo rubricado/a, declaro ter entendido os fins da pesquisa e consentir de


livre e espontânea vontade em participar deste estudo, uma vez que minha
identidade jamais será revelada.

______________________________________________________________
162

APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA
ENTREVISTA

Prezado/a Agente/a Penitenciário/a,

Você é convidado/a a participar da pesquisa “Estudo das Condições de Saúde e


Qualidade de Vida dos Presos e das Condições Ambientais das Unidades
Prisionais do Estado do Rio de Janeiro”. Nesta fase da pesquisa o objetivo é
investigar sobre as condições de trabalho e saúde no seu exercício profissional,
assim como suas consequências em sua vida laboral e familiar. Você foi
selecionado/a porque está atuando na SEAP, lotado em uma Unidade Prisional e
acreditamos que pode contribuir para nossa pesquisa.
Sua participação é voluntária, você tem plena autonomia para decidir se quer ou
não participar, bem como para desistir de fazê-lo a qualquer momento. Sua recusa
não trará nenhum prejuízo para você ou para as instituições envolvidas.
Não haverá coleta de exames e você não correrá riscos biológicos. O benefício
relacionado à sua participação é a possibilidade que você terá de colocar suas
opiniões e posições frente as suas condições de trabalho e saúde. Sua participação
será na entrevista individual sobre o tema da pesquisa, com duração prevista de 40
minutos. Sua entrevista será gravada, se você permitir. Códigos serão atribuídos a
cada entrevistado/a para preservar o sigilo das informações e dessa forma, seu
anonimato será mantido. Os dados serão analisados em conjunto, sem citar seu
local de trabalho/lotação, informações pessoais serão omitidas. As entrevistas
gravadas serão transcritas e apenas a entrevistadora terá acesso ao material
gravado. Os dados coletados nesta pesquisa serão publicados na forma de uma
dissertação de mestrado e artigo científico.
Você receberá uma cópia deste termo de consentimento, onde consta o telefone
e o endereço eletrônico do pesquisador, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto
e sua participação.
O Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca -
CEP/ENSP, também se encontra à disposição para eventuais esclarecimentos. E-
163

mail:cep@ensp.fiocruz.br Telefone e fax: (21) 2598-2863. Endereço: Rua


Leopoldo Bulhões, 1.480 – Térreo – Manguinhos/RJ.
______________________________________________________________
Maria Cecília de Souza Minayo
Coordenadora Científica do Centro Latino Americano de Estudos de Violência e
Saúde/Claves, da Escola Nacional de Saúde Pública/ENSP, da Fundação Oswaldo
Cruz/Fiocruz

Eu, abaixo rubricado/a, declaro ter entendido os fins da pesquisa e consentir de


livre e espontânea vontade em participar deste estudo, uma vez que minha
identidade jamais será revelada.
______________________________________________________________
164

APÊNDICE C
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM AGENTES PENITENCIÁRIOS

Foco: processo de trabalho e saúde mental: se tem sofrimento psíquico, relação com o
processo de trabalho, quais as causas, consequências e estratégias para lidar com ele.

1. Caracterização
Anotar os seguintes dados: idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade, tempo de
trabalho.
2. Como foi a sua entrada e adaptação como agente/a penitenciário? (investigar
motivações, formação inicial, planos de mudança)
3. Qual é a sua função? Me fale sobre a sua rotina de trabalho. (como vê esse trabalho,
valorização pessoal, reconhecimento social, familiar.)
4. Como avalia suas condições de trabalho nesta unidade? (investigar infraestrutura,
carga horária, remuneração, alojamento, alimentação)
5. Como são as relações aqui no seu trabalho? (com colegas, com presos, com chefia,
diretor)
6. Como você avalia seu estado de saúde física atualmente? Já foi diagnosticado com
alguma doença crônica (diabetes, colesterol alto, hipertensão, outra)?Tem plano de
saúde?
7. Como você avalia seu estado de saúde mental atualmente? Você acha que as
condições/rotina de trabalho no sistema penitenciário podem afetar a saúde mental
do agente? De que forma? Causas consequências, estratégias para lidar.
8. Já recebeu ou recebe algum tratamento psicológico ou psiquiátrico, ou já teve
vontade de procurar? (verificar porque não procurou e o que pensa sobre isso)
9. Você acha que na rotina de um agente penitenciário acontecem experiências de
violência, sofrida ou perpetrada?
10. Em sua opinião, o trabalho que realiza atualmente gera estresse? O que é mais
estressante no seu trabalho?
11. O que tem de positivo no seu trabalho?
12. Como é a sua rotina de vida fora da SEAP? (outro trabalho, atividades de lazer,
estudo, religião etc.)
165

13. Como é o seu relacionamento com a sua família? O trabalho interfere nessa relação?
(qualidade dos vínculos familiares)
14. Percebe diferenças no trabalho de um homem agente e de uma mulher agentea?
(investigar adequações para o trabalho feminino, discriminações, assédio)
15. Qual a sua relação com o seu sindicato? O que pensa sobre a sua atuação? Tem
sugestões para melhorar sua atuação?
16. Você tem sugestões para melhorar as atuais condições de trabalho?
Ministério da Saúde
Fundação Oswaldo Cruz
Escola Nacional de Saúde Pública

ESTE CAMPO SÓ DEVE SER PREENCHIDO PELO APLICADOR


Nome da Unidade: ________________________________Aplicador: ___________________ _________
Digitador: |____|____|____| Codificador: |____|____|____|

Pesquisa
“Estudo das Condições de Trabalho e Saúde Mental dos
Inspetores Penitenciários do Estado do Rio de Janeiro”

Caro/a Inspetor/a,

A Fundação Oswaldo Cruz agradece a sua participação. As informações que você irá
fornecer servirão para conhecer e retratar melhor as diferentes realidades do trabalho de
inspetores penitenciários.
O questionário é anônimo, não há como identificar quem o respondeu. Eles serão
enviados diretamente para a Fundação Oswaldo Cruz e apenas a equipe da pesquisa terá
acesso a eles.
Não existem respostas certas ou erradas para as questões, por isso a sua
sinceridade é muito importante. Leia com atenção cada pergunta e suas opções de
resposta. Não deixe de responder a nenhuma questão.
Se você marcar errado alguma questão, escreva “nulo” ao lado e assinale a opção
correta.
Antes de entregar o questionário, por favor, faça uma revisão para ver se não
deixou nenhuma resposta em branco.
Agradecemos sua colaboração!

BLOCO 1
Informações gerais sobre dados pessoais como ocupação, moradia, rendimentos e
outros.

1.Qual é o seu sexo?


1. FEMININO 2. MASCULINO

2.Qual é a sua idade?


1. ATÉ 25 ANOS 4 DE 36 A 40 ANOS 6. DE 46 A 50 ANOS
2. DE 26 A 30 ANOS 5. DE 41 A 45 ANOS 7. 51 ANOS OU MAIS
3. DE 31 A 35 ANOS

3.Qual a cor da sua pele?


1. BRANCA 3. PARDA
2. PRETA 4. AMARELA / INDÍGENA

1
4.Qual é a sua situação conjugal atual (não necessariamente estado
civil)?
1. SOLTEIRO(A) 3. VIÚVO(A)
2. CASADO(A)/COMPANHEIRO(A) 4. SEPARADO(A)/DIVORCIADO(A)

5.Tem filhos?
1. SIM. QUANTOS? |____|____| 2. NÃO

6.Você pratica alguma religião?


1. SIM, FREQUENTEMENTE 2. SIM, ÀS VEZES 3. NÃO

7.Qual a sua escolaridade?

1.1 O
GRAU INCOMPLETO 4.2 O
GRAU COMPLETO 7. PÓS-GRADUAÇÃO

2. 1 O
GRAU COMPLETO 5. S UPERIOR INCOMPLETO 8. OUTRA. QUAL? ____________________

3. 2 O
GRAU INCOMPLETO 6. S UPERIOR COMPLETO

8. Qual é a sua função atual na Unidade onde trabalha?


1.  Diretor
2.  Administrador
3.  Chefe de seção. Qual?________________________
4.  Trabalha no “expediente”. Qual seção?__________________________
5.  Chefe de turma
6.  Plantonista. Qual posto trabalha?____________________________
7. Outra. Qual?_____________________________________
9. Há quanto tempo está na função atual?
1. ATÉ 1 ANO 3. 6 A 9 ANOS
2. DE 2 A 5 ANOS 4. 10 ANOS OU MAIS

10. Quanto tempo você tem de serviço na SEAP?


1. ATÉ 5 ANOS 3. DE 11 A 15 ANOS 5. DE 21 A 25 ANOS
2. DE 6 A 10 ANOS 4. DE 16 A 20 ANOS 6. 26 ANOS OU MAIS

11.Qual o seu horário atual de trabalho na SEAP?


1. Escala de 24 por 72 hs
1. Expediente de 40 horas semanais
2. Outro. Qual?__________________________________

12.Qual foi aproximadamente sua renda líquida como inspetor no último


pagamento, incluindo gratificações regulares?
1. ATÉ 2.600,00 3. DE R$ 3.500 A 5.000
2. DE R$ 2.600,00 A 3.500 4. MAIS DE R$ 5.000

13.Seu salário como inspetor tem algum tipo de desconto (empréstimo,


pensão alimentícia ou outro)?
1. NÃO 2. SIM. QUAL?

2
14.Qual foi aproximadamente sua renda familiar no último mês, somando o
rendimento de todas as pessoas que moram com você?
1. ATÉ 2.600 3. DE R$ 3.500 A 5.000 5. MAIS DE 7.000
2. DE R$ 2.600 A 3.500 4. DE 5.000 A 7.000

BLOCO 2
Informações sobre sua qualidade de vida: sua casa, seu bairro, o transporte,
o lazer, suas relações familiares e de amizade.

15.A casa em que você mora é:


1. PRÓPRIA QUITADA 3. ALUGADA
2. PRÓPRIA FINANCIADA 4. “DE FAVOR” 5. OUTRA

16.A casa em que você mora tem quantos cômodos? |____|____|


(preencha com o número de cômodos, contando sala, quarto, banheiro e cozinha)

17.Na casa em que você mora vivem quantas pessoas no total? |____|____|

18.Você trabalha relativamente próximo à sua residência?


1. SIM 2. NÃO

19.Quantotempo você gasta normalmente em transporte por dia, para ir e voltar


do trabalho?(somando a ida e a volta do trabalho)
1. A TÉ 1 HORA 2. E NTRE 1 E 2 HORAS 3. E NTRE 2 E 3 HORAS 4. M AIS DE 3 HORAS

20.Você usa computador?


SIM NÃO
20.a. No trabalho para acessar dados da rede interna
da SEAP?
1. 2.
1. 2.
20.b. No trabalho para acessar a Internet?

20.c. Em casa para acessar a internet?  


21.O que costuma fazer quando está de folga?
SIM NÃO
21.a.Viajar
1. 2.
1. 2.
21.b.Ler

1. 2.
21.c.Ir ao cinema

1. 2.
21.d.Passear

1. 2.
21.e.Ver TV

1. 2.
21.f.Ir a bares

1. 2.
21.g.Ir a clubes

1. 2.
21.h.Ir a festas

1. 2.
21.i.Ir à igreja

1. 2.
21.j.Praticar esportes

1. 2.
21.k.Encontrar os amigos

1. 2.
21.l.Ficar em casa com a família

1. 2.
21.m.Ficar sozinho

1. 2.
21.n.Namorar

1. 2.
21.o.Dormir

3
21.p.Descansar
1. 2.
1. 2.
21.q.Exercer outra atividade remunerada

22.Indique seu grau de satisfação para cada um dos itens abaixo:


MUITO NEM SATISFEITO, MUITO
SATISFEITO INSATISFEITO
SATISFEITO NEM INSATISFEITO INSATISFEITO
22.a.O bairro em que vive
1. 2. 3. 4. 5.
1. 2. 3. 4. 5.
22.b.Sua vida social
22.c.O tempo disponível para o
lazer 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


22.d.A educação que recebeu

1. 2. 3. 4. 5.


22.e.Seu círculo familiar

1. 2. 3. 4. 5.


22.f.Sua vida afetiva

1. 2. 3. 4. 5.


22.g.Sua vida sexual

1. 2. 3. 4. 5.


22.h.Sua vida espiritual
22.i.Seu padrão de vida (o que
você pode comprar ou fazer) 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


22.j.Sua realização profissional

1. 2. 3. 4. 5.


22.k.Sua saúde

1. 2. 3. 4. 5.


22.l.Suas capacidades/habilidades
22.m.Sua capacidade de reagir a
situações difíceis 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


22.n.Sua felicidade

1. 2. 3. 4. 5.


22.o.A felicidade de seus familiares

1. 2. 3. 4. 5.


22.p.Sua vida como um todo

23.Se você precisar, com que frequência conta com alguém:


SEMPRE QUASE SEMPRE ÀS VEZES RARAMENTE NUNCA
23.a.Que o ajude, se ficar de cama? 1. 2. 3. 4. 5.
1. 2. 3. 4. 5.
23.b.Para lhe ouvir, quando você
precisa falar?
1. 2. 3. 4. 5.
23.c.Para lhe dar bons conselhos em uma
situação de crise?
23.d.Para levá-lo ao médico? 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


23.e.Que demonstre amor e afeto por
você?
23.f.Para se divertir junto? 1. 2. 3. 4. 5.
23.g.Para lhe dar informação que o
ajude a compreender uma determinada 1.  2.  3.  4.  5. 
situação?
23.h.Em quem confiar ou para falar de
você ou sobre seus problemas? 1. 2. 3. 4. 5.
23.i.Que lhe dê um abraço? 1. 2. 3. 4. 5.
23.j.Com quem relaxar? 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


23.k.Para preparar suas refeições, se
você não puder prepará-las?
1. 2. 3. 4. 5.
23.l.De quem você realmente quer
conselhos?
23.m.Com quem distrair a cabeça? 1. 2. 3. 4. 5.

4
23.n.Para ajudá-lo nas tarefas diárias,
se você ficar doente? 1. 2. 3. 4. 5.
1. 2. 3. 4. 5.
23.o.Para compartilhar suas
preocupações e medos mais íntimos?

1. 2. 3. 4. 5.


23.p.Para dar sugestões sobre como
lidar com um problema pessoal?
23.q.Com quem fazer coisas agradáveis? 1. 2. 3. 4. 5.
23.r.Que compreenda seus problemas? 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


23.s.Que você ame e faça você se sentir
querido?

BLOCO 3
Informações sobre suas condições de trabalho: formação e capacitação, meios e
instrumentos necessários, reconhecimento profissional, dificuldades, riscos e
sua satisfação pessoal com o trabalho.

24.Você considera que, depois de entrar para a SEAP, sua vida:


1. M ELHOROU 2. CONTINUA IGUAL 3. P IOROU

25.Vocêconsidera que a condição de trabalho do inspetor penitenciário ao


longo do tempo:
1. M ELHOROU 2. CONTINUA IGUAL 3. P IOROU

26.Se pudesse começar de novo sua vida profissional, você escolheria:


1.E XATAMENTE A MESMA CARREIRA

2. A MESMA CARREIRA DESDE QUE ELA POSSIBILITASSE MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO

3. U MA ATIVIDADE PARECIDA, MAS FORA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO

4. O UTRA CARREIRA COMPLETAMENTE DIFERENTE

27.Em relação à carreira de inspetor penitenciário, indique seu grau de


satisfação para cada um dos itens abaixo:
MUITO NEM SATISFEITO, MUITO
SATISFEITO INSATISFEITO
SATISFEITO NEM INSATISFEITO INSATISFEITO
27.a.Relacionamento com o diretor
da Unidade 1. 2. 3. 4. 5.
27.b.Relacionamento com seu chefe
imediato 1. 2. 3. 4. 5.
27.c.Relacionamento com seus
colegas inspetores 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


27.d.Relacionamento com os presos
27.e.Quantidade de horas de
trabalho 1. 2. 3. 4. 5.

1. 2. 3. 4. 5.


27.f.Funções que desempenha

28.Na sua opinião, como foi a formação inicial oferecida para você ao entrar
na SEAP? marque nas opções (a), (b) e (c).
(a) Tempo (b) Adequação
28.a.Não tive formação inicial
MARQUE AQUI ( )
28.b.Atividades
teóricas (leis,
1.S UFICIENTE 1.A DEQUADAS

2. I 2. I
regulamentos, procedimentos, etc)
NSUFICIENTE NADEQUADAS

1. S 1. A
28.c.Atividades
práticas (por
UFICIENTE DEQUADAS

2. I 2. I
exemplo: autodefesa,abordagem em
relação ao preso) NSUFICIENTE NADEQUADAS

5
29.Depois da formação inicial, outras capacitações foram oferecidas?
1. SEMPRE SÃO OFERECIDAS 3. POUCAS VEZES FORAM OFERECIDAS
2. MUITAS VEZES FORAM OFERECIDAS 4. NUNCA FORAM OFERECIDAS

30.Quais os temas que você já estudou durante sua formação inicial ou


capacitação posterior oferecidas pela SEAP?
SIM NÃO
30.a.Lei de Execução Penal(LEP) 1. 2.
30.b.Regulamento do Sistema Penitenciário (RPERJ) 1. 2.

1. 2.
30.c.Estatuto do Servidor Público

1. 2.
30.d.Direitos humanos/ética

1. 2.
30.e.O trabalho na Classificação

1. 2.
30.f.Técnicas de abordagem/custódia

1. 2.
30.g.Noções de informática

1. 2.
30.h.Comunicações

1. 2.
30.i.Relacionamento com a população carcerária

1. 2.
30.j.Segurança pública

1. 2.
30.k.Saúde, higiene e psicologia

1. 2.
30.l.Negociação de conflito

1. 2.
30.m.Defesa pessoal

31.Você fez ou está fazendo algum curso fora, por conta própria, visando
melhorar sua formação profissional?
FIZ OU
NUNCA FIZ
ESTOU FAZENDO
31.a.Curso universitário
1. 2.
31.b.Curso de pós-graduação
1. 2.
31.c.Curso de curta duração.
1. 2.
Quais?___________________________________________
31.d.Outro. Qual? _________________________
1. 2.

32.O trabalho que você exerce é aquele para o qual foi treinado?
1. SIM 2. NÃO 3. NÃO FUI TREINADO

33.Nosúltimos meses, você trabalhou na SEAP além do seu horário estabelecido,


sem remuneração adicional?
1. S IM, MUITAS VEZES 2. S IM, ALGUMAS VEZES 3. S IM, POUCAS VEZES 4. N ÃO

34.Considerando os últimos seis meses, qual o principal motivo que o levou a


trabalhar, na SEAP,sem remuneração adicional, além de seu horário
estabelecido?
1.P ARA CONCLUIR, POR VONTADE PRÓPRIA, UMA TAREFA IMPORTANTE 3.P OR OUTRO MOTIVO

2. C ONVOCADO POR ORDEM SUPERIOR 4. N ÃO TRABALHEI ALÉM DO MEU HORÁRIO

35.Durantequanto tempo você já trabalhou em horário noturno na SEAP (entre


18:00 e 06:00 horas)?
1.N UNCA TRABALHEI 3.D E 2 A 6 MESES 5.D 1 E A 5 ANOS

2. C ERCA DE 1 MÊS 4. D E 7 A 11 MESES 6. M AIS DE 5 ANOS

6
36.Écomum você sair de um serviço e realizar outra atividade ligada à
segurança, imediatamente, sem descanso algum (dentro ou fora da SEAP)?
1.S EMPRE ACONTECE 3.À S VEZES ACONTECE 5. N UNCA ACONTECE

2. M UITAS VEZES ACONTECE 4. POUCAS VEZES ACONTECE

37.Quando você tirou férias na SEAP pela última vez?


1. H Á ATÉ 1 ANO ATRÁS 2. HÁ 2 ANOS ATRÁS 3. H Á 3 ANOS OU MAIS 4. N UNCA TIREI

38.Alémde trabalhar na SEAP, você exerce outra atividade remunerada, com ou


sem vínculo empregatício?
1. S IM 2. N ÃO

39.Qual é o ramo dessa atividade?


1.P RESTO SERVIÇO DE SEGURANÇA PARTICULAR 3.D IRIJO TÁXI 5. N ÃO TENHO OUTRA ATIVIDADE

2. T RABALHO COMO COMERCIANTE 4. O UTRO. QUAL____________

40.Quantas horas por semana, em média, você dedica a essa outra atividade?
1. A TÉ 10 HORAS 2. D E 11 A 20 HORAS 3. M AIS DE 20 HORAS 4. N ÃO TENHO OUTRA ATIVIDADE

41.Essa atividade é exercida em que período do dia?


1. PERÍODO DIURNO (6:00 ÀS 18:00 HORAS) 3. HORÁRIOS DIURNOS E NOTURNOS, ALTERNANDO SEGUNDO O DIA DA SEMANA

2. PERÍODO NOTURNO (DE 18:00 ÀS 6:00 HORAS) 4. N ÃO TENHO OUTRA ATIVIDADE

42.Dê uma nota de 0 a 10 para o estado dos seguintes equipamentos de trabalho


utilizados por você atualmente:
NÃO
NOTA UTILIZO
42.a.Instalações físicas(estruturas, higiene, 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
etc.)
42.b.Computadores 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.c.Linhas telefônicas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.d.Banco de dados 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.e.Tipo ou modelo de arma de fogo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.f.Qualidade da arma de fogo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.g.Outros equipamentos (bastão, algema, etc.) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.h.Quantidade de munição 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.i.Qualidade da munição 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.j.Coletes 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.k.Viaturas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.l.Rádios 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.m.Walk-talk 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
42.n.Uniforme 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

43.Dê uma nota de 0 a 10 para o seu grau de satisfação no trabalho em relação


a:
NOTA
43.a.Volume de trabalho 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
43.b.Salário 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
43.c.Localização 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
43.d.Horário de trabalho 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
43.e.Tipo de atividade que executa 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

7
43.f.Nível de responsabilidade assumida na sua 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
atividade/função
43.g.Perspectivas de promoção 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
43.h.Reconhecimento de seu mérito por parte da 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
instituição
43.i.Reconhecimento de seu trabalho por parte da 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
população
43.j.Reconhecimento de seu trabalho por parte de 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
seus colegas

44.Vocêjulga que as tarefas que executa no dia-a-dia são adequadas a sua


atividade/função?
1. S IM 2. N EM SEMPRE 3. N
UNCA 4. N ÃO SEI RESPONDER

45.Você recebe diretrizes/comandos claros para realizar suas atividades?


1. S IM 2. N EM SEMPRE 3. N
UNCA

46.Comque frequência você precisa, no seu dia-a-dia, modificar as ordens que


recebe, para conseguir realizá-las?
1.S EMPRE 3.À S VEZES 5. N UNCA

2. Q UASE SEMPRE 4. R ARAMENTE

47.Sinalize com um (x) os sintomas que tem apresentado nas ÚLTIMAS 24 HORAS.
1.M ÃOS E PÉS FRIOS

2. B S OCA ECA

3. N Ó NO ESTÔMAGO

4. AUMENTO DE SUDORESE (MUITO SUOR, SUADEIRA)

5. T ENSÃO MUSCULAR

6. A PERTO DE MANDÍBULA / RANGER OS DENTES

7.  D IARRÉIA PASSAGEIRA

8. I (D
NSÔNIA IFICULDADE PARA DORMIR)

9. T AQUICARDIA (BATEDEIRA NO PEITO)

10. H IPERVENTILAÇÃO (RESPIRAR OFEGANTE, RÁPIDO)

11. H IPERTENSÃO ARTERIAL SÚBITA E PASSAGEIRA (PRESSÃO ALTA)

12. M UDANÇA DE APETITE

13. A UMENTO SÚBITO DE MOTIVAÇÃO

14. E NTUSIASMO SÚBITO

15. V ONTADE SÚBITA DE INICIAR NOVOS PROJETOS

48.Sinalize com um (x) os sintomas que tem apresentado na ÚLTIMA SEMANA.


1.P ROBLEMAS COM A MEMÓRIA

2. MAL-ESTAR GENERALIZADO, SEM CAUSA ESPECÍFICA

3. F ORMIGAMENTO DAS EXTREMIDADES

8
4. S ENSAÇÃO DE DESGASTE FÍSICO CONSTANTE

5. MUDANÇA DE APETITE

6. APARECIMENTO DE PROBLEMAS DERMATOLÓGICOS (PROBLEMAS DE PELE)

7.  H
IPERTENSÃO ARTERIAL (PRESSÃO ALTA)

8. C ANSAÇO CONSTANTE

9. APARECIMENTO DE ÚLCERA

10. TONTURA / SENSAÇÃO DE ESTAR FLUTUANDO

11. SENSIBILIDADE EMOTIVA EXCESSIVA (ESTAR MUITO NERVOSO)

12. D ÚVIDA QUANTO A SI PRÓPRIO

13. PENSAR CONSTANTEMENTE EM UM SÓ ASSUNTO

14. IRRITABILIDADE EXCESSIVA

15. D IMINUIÇÃO DA LIBIDO (SEM VONTADE DE SEXO)

49.Sinalize com um (x) os sintomas que tem apresentado no ÚLTIMO MÊS.


1. D IARRÉIA FREQUENTE

2. DIFICULDADES SEXUAIS

3. I
NSÔNIA (DIFICULDADE PARA DORMIR)

4. NÁUSEA

5. TIQUES

6. HIPERTENSÃO ARTERIAL CONTINUADA (PRESSÃO ALTA)

7.  PROBLEMAS DERMATOLÓGICOS PROLONGADOS (PROBLEMAS DE PELE)

8. M UDANÇA EXTREMA DE APETITE

9. EXCESSO DE GASES

10. TONTURA FREQUENTE

11. Ú LCERA

12. ENFARTE

13. IMPOSSIBILIDADE DE TRABALHAR

14. PESADELOS

15. SENSAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA EM TODAS AS TAREFAS

16. V ONTADE DE FUGIR DE TUDO

17. A PATIA, DEPRESSÃO OU RAIVA PROLONGADA

18. CANSAÇO EXCESSIVO

19. PENSAR / FALAR CONSTANTEMENTE EM UM SÓ ASSUNTO

20. IRRITABILIDADE SEM CAUSA APARENTE

9
21.A NGÚSTIA / ANSIEDADE DIÁRIA

22. H IPERSENSIBILIDADE EMOTIVA

23. P ERDA DO SENSO DE HUMOR

50.Como você analisa o risco que corre na sua atividade atual na SEAP?
1. R ISCO CONSTANTE 2. R
ISCO EVENTUAL 3. N
ÃO HÁ RISCO

51.Comovocê analisa o risco que sua família corre por causa de sua atividade
atual na SEAP?
1. R ISCO CONSTANTE 2. R
ISCO EVENTUAL 3. N
ÃO HÁ RISCO

52.Quais os riscos que você corre no seu exercício profissional?


SIM NÃO
52.a.Ser tomado como refém
1. 2.
1. 2.
52.b.Ser atingido por arma de fogo

1. 2.
52.c.Ser ferido por arma branca

1. 2.
52.d.Sofrer agressão física

1. 2.
52.e.Sofrer violência sexual (assédio, estupro)

1. 2.
52.f.Sofrer violência psicológica (ameaças, humilhações)

1. 2.
52.g.Ser sequestrado

1. 2.
52.h.Envenenamento, intoxicação por gases ou fumaça
52.i.Sofrer danos de audição decorrentes de ruídos intensos
ou de explosão 1. 2.

1. 2.
52.j.Outro. Qual? _______________________________________

53.Quanto risco o inspetor corre nos seguintes momentos?


MUITO REGULAR POUCO NENHUM
53.a.No transporte coletivo ou particular (no
trajeto de ida e volta para o trabalho) 1. 2. 3. 4.
1. 2. 3. 4.
53.b.Nas folgas

1. 2. 3. 4.


53.c.No exercício de outras atividades profissionais

54.Na sua opinião, o quanto os problemas abaixo podem atrapalhar o bom


desempenho do inspetor penitenciário?
MUITO REGULAR POUCO NÃO ATRAPALHA
54.a.Falta de infraestrutura/
falta de equipamentos/recursos 1. 2. 3. 4.
54.b.Baixos salários 1. 2. 3. 4.
54.c.Falta de apoio da população 1. 2. 3. 4.

1. 2. 3. 4.


54.d.Abuso de autoridade por parte dos
superiores

1. 2. 3. 4.


54.e.Desvio de conduta por parte de certos
inspetores
54.f.Falta de apoio do Poder Público 1. 2. 3. 4.
54.g.Jornada de trabalho excessiva 1. 2. 3. 4.
54.h.Excesso de burocracia 1. 2. 3. 4.
54.i.Descontinuidade das políticas de governo 1. 2. 3. 4.

10
54.j.Legislação excessivamente branda 1. 2. 3. 4.
54.k.Legislação excessivamente dura 1. 2. 3. 4.

1. 2. 3. 4.


54.l.Baixa qualificação profissional do
inspetor
54.m.Falta de união dentro da SEAP 1. 2. 3. 4.

1. 2. 3. 4.


54.n.Distorção da imagem do inspetor
penitenciário pela mídia
54.o.Falta de diretrizes operacionais 1. 2. 3. 4.

1. 2. 3. 4.


54.p.Uso excessivo de violência por parte de
inspetores

55.Com que frequência cada uma das situações abaixo ocorre com você?
NUNCA OU
FREQUENTEMENTE ÀS VEZES RARAMENTE
QUASE NUNCA
55.a.Você tem que fazer suas tarefas de
trabalho com muita rapidez 1. 2. 3. 4.
55.b.Você tem que trabalhar intensamente
(isto é, produzir muito em pouco tempo) 1. 2. 3. 4.
55.c.Seu trabalho exige esforço demais de
você 1. 2. 3. 4.
55.d.Você tem tempo suficiente para
cumprir todas as tarefas de seu 1.  2.  3.  4. 
trabalho
55.e.O seu trabalho costuma lhe
apresentar exigências contraditórias ou 1.  2.  3.  4. 
discordantes
55.f.Você tem possibilidade de aprender
coisas novas através de seu trabalho 1. 2. 3. 4.
55.g.Seu trabalho exige muita habilidade
ou conhecimentos especializados 1. 2. 3. 4.
55.h.Seu tipo de trabalho exige que você
tome iniciativas 1. 2. 3. 4.
55.i.Você tem que repetir muitas vezes as
mesmas tarefas de seu trabalho 1. 2. 3. 4.
55.j.Você pode escolher COMO fazer o seu
trabalho 1. 2. 3. 4.
55.k.Você pode escolher O QUE fazer no
seu trabalho 1. 2. 3. 4.
59.l.Seu trabalho lhe causa estresse
intenso 1. 2. 3. 4.

56.Até que ponto você concorda ou discorda das seguintes afirmações a respeito
de seu ambiente de trabalho?
CONCORDO CONCORDO MAIS DISCORDO MAIS DO DISCORDO
TOTALMENTE DO QUE DISCORDO QUE CONCORDO TOTALMENTE
56.a.Existe um ambiente calmo e
agradável onde você trabalha 1. 2. 3. 4.
56.b.No trabalho, as pessoas se
relacionam bem umas com as outras 1. 2. 3. 4.
56.c.Você pode contar com o apoio dos
seus colegas de trabalho 1. 2. 3. 4.
56.d.Se você não estiver num bom dia,
seus colegas compreendem 1. 2. 3. 4.
56.e.No trabalho, você se relaciona
bem com seus superiores 1. 2. 3. 4.
56.f.Você gosta de trabalhar com seus
colegas 1. 2. 3. 4.

11
BLOCO 4
Informações sobre suas condições de saúde: atividades físicas, problemas de
saúde e utilização de serviços médicos e hospitalares.

57.Qual a sua altura (metros)? _____________________

58.Qual o seu peso (kg)? ___________________________

59.Algum médico ou outro profissional da área da saúde já lhe disse que seus
níveis de colesterol (gordura no sangue) estavam elevados?
1. SIM 2. NÃO

60.Algummédico ou outro profissional da área da saúde já lhe informou que


você era hipertenso ou tinha pressão alta?
1.S IM, APENAS UMA VEZ 3.S IM, APENAS DURANTE A GRAVIDEZ 5. NÃO SEI RESPONDER

2. S IM, MAIS DE UMA VEZ EM DIAS DIFERENTES 4. N ÃO, NUNCA TIVE PRESSÃO ALTA

61.Você pratica, com regularidade, atividades físicas específicas para


melhorar sua saúde, condicionamento físico ou para fins estéticos?
Atenção! Considere atividade física regular aquela praticada pelo menos
durante vinte (20) minutos de cada vez.
1. 4 OU + VEZES POR SEMANA 3. U MA VEZ POR SEMANA 5. P
OUCAS VEZES POR ANO

2. D E 2 A 3 VEZES POR SEMANA 4. D E 2 A 3 VEZES POR MÊS 6. NÃO PRATICO

62.Nos últimos 12 meses, quais das situações abaixo você sofreu durante seu
trabalho enquanto inspetor?
SIM NÃO
62.a.Lesões por atropelamento ou acidente com veículo motorizado
1. 2.
1. 2.
62.b.Queimaduras por fogo ou químicas
62.c.Explosão com lesões (combustíveis, bujão de gás, explosivos,
fogos, bomba, granada, etc.) 1. 2.

1. 2.
62.d.Envenenamento, intoxicação por gases ou fumaça

1. 2.
62.e.Perfuração por arma de fogo

1. 2.
62.f.Perfuração por arma branca

1. 2.
62.g.Sofreu agressão física

1. 2.
62.h.Sofreu agressão verbal

1. 2.
62.i.Sofreu assédio ou agressão sexual

1. 2.
62.j.Acidentes com animais usados no trabalho de inspetor (ex:cão)

1. 2.
62.k.Queda

1. 2.
62.l.Acidente por desmoronamento

1. 2.
62.m.Tentativa de suicídio

1. 2.
62.n.Sofreu tentativa de homicídio
62.o.Contaminação
por bactérias ou outros microorganismos
(risco biológico) 1. 2.

63.Em relação a lesões permanentes, quais das condições abaixo você apresenta?
SIM NÃO
63.a.Algum dedo ou membro amputado
1. 2.
1. 2.
63.b.Algum seio, rim ou pulmão retirado

12
63.c.Alguma paralisia permanente de qualquer tipo
1. 2.
63.d.Alguma deformidade permanente ou rigidez constante de
pé, perna ou coluna 1. 2.
63.e.Alguma deformidade permanente ou rigidez constante de
dedo, mão ou braço 1. 2.

1. 2.
63.f.Incapacidade para reter fezes ou urina

1. 2.
63.g.Qualquer outra incapacidade

64.Alguma dessas lesões permanentes foi causada pelo trabalho enquanto


inspetor?
1. S IM 2. N ÃO 3. N
ÃO TENHO LESÕES PERMANENTES

65.Nosúltimos 12 meses, você sofreu alguma incapacidade temporária decorrente


de seu trabalho?
1. S IM. POR |____|____| DIAS OU |____|____| MESES 2. NÃO

66.Dos sintomas físicos e mentais abaixo, quais ocorrem com você atualmente?
SIM NÃO
66.a.Tem dores de cabeça frequentemente
1. 2.
1. 2.
66.b.Tem falta de apetite

1. 2.
66.c.Dorme mal

1. 2.
66.d.Assusta-se com facilidade

1. 2.
66.e.Tem tremores na mão

1. 2.
66.f.Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou agitado(a)

1. 2.
66.g.Tem má digestão

1. 2.
66.h.Tem dificuldade de pensar com clareza

1. 2.
66.i.Tem se sentido triste ultimamente

1. 2.
66.j.Tem chorado mais do que de costume
66.k.Encontra dificuldade para realizar com satisfação suas
atividades diárias 1. 2.

1. 2.
66.l.Tem dificuldade para tomar decisões

66.m.Tem dificuldade no serviço (seu trabalho é penoso, lhe


causa sofrimento) 1. 2.

1. 2.
66.n.É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida

1. 2.
66.o.Tem perdido o interesse pelas coisas

1. 2.
66.p.Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo

1. 2.
66.q.Tem tido a idéia de acabar com a vida

1. 2.
66.r.Tem sensações desagradáveis no estômago

1. 2.
66.s.Sente-se cansado o tempo todo

1. 2.
66.t.Você se cansa com facilidade

67.Para receber atendimento de saúde de rotina, como consultas e exames, o que


você utiliza atualmente?
SIM NÃO
67.a.Ambulatório dentro da própria Unidade onde trabalha
1. 2.
1. 2.
67.b.Ambulatório de funcionários da SEAP

1. 2.
67.c.UPA do Complexo de Gericinó

13
67.d.Serviço da rede pública de saúde (UPA, postos de saúde,
hospitais gerais)
1. 2.
1. 2.
67.e.Seu plano privado de saúde

1. 2.
67.f.Serviço particular em que você paga pelo atendimento

68.Nos últimos 12 meses, quais dos tratamentos e técnicas terapêuticas abaixo


você utilizou?
SIM NÃO
68.a.Homeopatia
1. 2.
1. 2.
68.b.Acupuntura

1. 2.
68.c.Psicoterapia

1. 2.
68.d.Fisioterapia

1. 2.
68.e.Esclerose de varizes

69.Você, em alguma época de sua vida, já se consultou com um psicólogo ou


psiquiatra?
1.  SIM 2.  NÃO

70.Já fez tratamento regular de psicoterapia ou de psiquiatria?


1.  SIM 2.  NÃO

71.Você relaciona essa necessidade de tratamento psicológico ou psiquiátrico


ao trabalho que exerce como inspetor?
1.  SIM 2.  NÃO 3.  NUNCA RECEBI TRATAMENTO PSICOLÓGICO OU PSIQUIÁTRICO

72.Nos últimos 12 meses, quantas vezes você precisou ser atendido em um


serviço de emergência?
72.a.Em hospital da rede pública
1.|____|____| VEZES 2.N ENHUMA VEZ

2. N
72.b.Em hospital da rede privada
1.|____|____| VEZES ENHUMA VEZ

73.Nos últimos 12 meses, quantas vezes você foi internado (exceto em serviços
de emergência)?(Atenção! Considere internação a sua permanência num hospital ou
clínica, para observação médica, tratamento clínico ou cirúrgico ou exames
diagnósticos.)

73.a.Em hospital/clínica da rede pública


1.|____|____| VEZES 2.N ENHUMA VEZ

2. N
73.b.Em hospital/clínica da rede privada
1.|____|____| VEZES ENHUMA VEZ

74.Nos últimos 12 meses, a quantas cirurgias você foi submetido?


1. FUI SUBMETIDO A |____|____| CIRURGIAS 2. N ÃO FUI SUBMETIDO A NENHUMA CIRURGIA

BLOCO 5
Informações sobre o consumo de substâncias.

75.Você é ou já foi fumante?


1.N UNCA FUMEI 3.F UMO REGULARMENTE

2. P AREI DE FUMAR HÁ |____|____| ANOS OU |____|____| MESES 4. F UMO EVENTUALMENTE (SOMENTE CIGARRO DE AMIGOS)

76.Com que idade você passou a fumar com regularidade?


1. C OM |____|____| ANOS 2. NÃO SEI INFORMAR 3. N UNCA FUMEI REGULARMENTE 4. N UNCA FUMEI

14
77.De um mês para cá, você fumou algum cigarro?
1. S IM, FUMEI EM 20 DIAS OU MAIS 2. S IM, FUMEI DE 6 A 19 DIAS 3. S IM, FUMEI DE 1 A 5 DIAS 4. NÃO

78.Quantos cigarros você fuma ou fumava, em média, por dia?


1.M AIS DE 20 CIGARROS POR DIA 3.D E 1 A 10 CIGARROS POR DIA N
5. UNCA FUMEI REGULARMENTE

2. D 11 E A 20 CIGARROS POR DIA 4. N ÃO SEI INFORMAR 6N UNCA FUMEI

79.Comque frequência você toma bebidas alcoólicas (cerveja, chopp, vinho,


pinga, “caipirinha”, aperitivos, sidra, etc.)?
1.D IARIAMENTE OU QUASE TODO DIA (4 OU MAIS VEZES POR SEMANA) 4.R ARAMENTE (MENOS DE 1 VEZ POR MÊS)

2. P ELO MENOS 1 VEZ POR SEMANA 5. P AREI DE BEBER

3. O CASIONALMENTE (PELO MENOS 1 VEZ POR MÊS) 6. N UNCA TOMEI BEBIDA ALCOÓLICA

80.De um mês para cá, você tomou alguma bebida alcoólica?


1. S IM, BEBI EM 20 DIAS OU MAIS 2. S IM, BEBI DE 6 A 19 DIAS 3. S IM, BEBI DE 1 A 5 DIAS 4. NÃO

81.Qualo tipo de bebida alcoólica que você costuma TOMAR COM MAIS FREQUÊNCIA?
(citar apenas uma)
1.C ERVEJA OU CHOPP 4.S IDRA OU CHAMPANHE 6.O UTRO. QUAL? __________________________

2. P INGA, UÍSQUE, VODKA OU CONHAQUE 5. V INHO 7. N ÃO COSTUMO BEBER

3. L ICOR

A figura abaixo mostra que as diferentes bebidas têm uma concentração de


álcool diferente e em geral são servidas em copos de tamanhos variados. Você
deve responder à questão seguinte levando em conta que:
1 dose significa

1 copo de
vodka ou = 1 cálice de
vinho do = 1 taça de
vinho de = 1 caneca de
chopp ou 1
pinga Porto ou mesa lata de
licores cerveja

82.Quantas doses você costuma beber de cada vez?


1. COSTUMO BEBER |____|____| DOSES 2. N ÃO COSTUMO BEBER

83.Deum mês para cá, você tomou alguma bebida alcoólica até se embriagar
(“porre”)?
1.S IM, BEBI ASSIM EM 20 DIAS OU MAIS 3.S IM, BEBI ASSIM DE 1 A 5 DIAS

2. S IM, BEBI ASSIM DE 6 A 19 DIAS 4. N ÃO

84.Nos últimos 12 meses, você utilizou alguma das seguintes substâncias?


SIM NÃO
84.a.Remédio para emagrecer ou ficar acordado (HIPOFAGIN, MODEREX,
GLUCOENERGAN, INIBEX, DESOBESI, REACTIVAN, PERVITIN, DASTEN, ISOMERID, MODERINE, DUALID
PRELUDIN, ETC. Não vale adoçante ou chá.)
OU
1.  2. 
84.b.Substância para sentir barato (LANÇA-PERFUME, LOLÓ, COLA, GASOLINA,
BENZINA, ACETONA, REMOVEDOR DE TINTA, THINNER, ÁGUA-RAZ, ÉTER, ESMALTE, TINTA, ARTANE,
ASMOSTERONA, BENTYL, AKINETON OU CHÁ DE LÍRIO, DOLANTINA, MEPERIDINA, DEMEROL, ALGAFAN,
TYLEX, HEROÍNA, MORFINA, ÓPIO, PAMBENYL, SETUX, TUSSIFLEX, GOTAS BINELLI, SILENTÓS, BELACODID 1.  2. 
OU ERITÓS, ETC.)

84.c.Maconha
1.  2. 
15
84.d.Tranquilizante, ansiolítico, calmante ou antidistônico
(DIAZEPAN, DIENPAX, LORIUM, LORAX, ROHYPNOL, PSICOSEDIN, SOMALIUM OU LEXOTAN, ETC.) 1.  2. 
84.e.Sedativo ou barbitúrico (OPTALIDON, FLORINAL, GARDENAL, TONOPAN, NEMBUTAL,
COMITAL OU PENTONAL, ETC.) 1.  2. 
84.f.Anabolizante para aumentar a musculatura (bomba) ou dar
força 1. 2.
1. 2.
84.g.Cocaína, crack ou pasta de coca

85.Dassubstâncias citadas neste questionário, você já usou alguma de forma


injetável?
1. S IM. QUAL? _______________________________ 2. N
ÃO

86.Depois de beber ou usar qualquer tipo de substância, você já:


SIM NÃO
86.a.Teve problema com a família
1. 2.
1. 2.
86.b.Teve problema de saúde

1. 2.
86.c.Teve dificuldade na relação sexual

1. 2.
86.d.Deixou de usar preservativo/camisinha nas relações sexuais

1. 2.
86.e.Teve problema emocional / “crise nervosa”

1. 2.
86.f.Teve problema de agressividade
86.g.Se envolveu em acidentes no trânsito (atropelamentos,
colisão, etc.) 1. 2.

1. 2.
86.h.Teve problema no trabalho

1. 2.
86.i.Faltou ao trabalho

87.Você já precisou ingerir bebida alcoólica ou outra substância em


decorrência do estresse gerado pela atividade de inspetor penitenciário?
1. F REQUENTEMENTE 2. ÀS VEZES 3. R
ARAMENTE 4. N UNCA

88.Você já tentou parar de usar álcool ou outra substância?


VERDADEIRO FALSO
88.a.Por conta própria
1. 2.
88.b.Em grupos de auto-ajuda como Alcoólicos Anônimos ou
Narcóticos Anônimos 1. 2.

1. 2.
88.c.Com ajuda de religião ou seita

1. 2.
88.d.Com médico / psicólogo / assistente social

1. 2.
88.e.Em hospital de emergência / desintoxicação

1. 2.
88.f.Nunca tentei parar

Prezado Inspetor(a) Penitenciário(a),


Utilize o espaço abaixo caso deseje comentar mais alguma coisa sobre o impacto
de suas condições de trabalho na sua saúde mental ou para expressar suas
opiniões e sentimentos. Obrigado por colaborar com a pesquisa.
__________________________________________________________________
___________________________________________________________ continua

16
182

ANEXO

Quadro 8: Sistematização dos artigos (n=53) sobre “estresse e sofrimento psíquico em agentes
penitenciários” pesquisados nas bases BVS, SCOPUS e WEB of SCIENCE, publicados entre os
anos de 2000 e 2016 e apresentados em ordem cronológica decrescente.

REFERÊNCIA OBJETIVOS MÉTODO RESULTADOS


VIOTTI, S. Work-related Identificar os fatores Qualitativo. A) Fatores intrínsecos relacionados ao
stress among correctional relacionados ao trabalho Realização de trabalho: contato com os prisioneiros, alto
officers: A qualitative study. e compreender como eles entrevistas. nível de responsabilidade, riscos para a
Work. 2016 Jan afetam negativamente a saúde, eventos críticos, falta de estimulação
25;53(4):871-84. saúde psicológica dos intelectual e social e valores conflitantes; B)
agentes do sistema penal Fatores relacionados ao tipo de contrato e à
italiano. organização do trabalho: tempo de trabalho
desafiador contrastado com o tempo social e
as transferências de local de trabalho; C)
Fatores sociais: relações com colegas e
hierarquia; D) Fatores organizacionais:
injustiça organizacional, E) Fatores externos:
imagem social negativa; F) Fatores físicos
ambientais: estrutura física da prisão.
LAW, F. M.; GUO, G. J. Explorar a correlação de Quantitativo. A esperança teve uma associação positiva
Correlation of Hope and esperança e autoeficácia Análise de significativa com a satisfação no trabalho e
Self-Efficacy With Job com a satisfação no regressão por uma associação negativa significativa com o
Satisfaction, Job Stress, and trabalho, estresse no mínimos quadrados estresse no trabalho. A autoeficácia teve uma
Organizational Commitment trabalho e compromisso ordinários. associação positiva significativa com
for Correctional Officers in organizacional para os satisfação no trabalho e compromisso
the Taiwan Prison System. agentes correcionais no organizacional. A satisfação no trabalho teve
Int. journal of offender sistema prisional de uma associação positiva significativa com
therapy and comp. Taiwan. compromisso organizacional.
Criminology. V.60, Ed.11,
P. 1257-1277, 2016.

PARK, J.; KIM, K. Mental Medir os níveis atuais de Quantitativo. Uso Agentes apresentaram maior pontuação de
Health status of Correctional status de saúde mental de escalas: Maslach burnout do que outras ocupações. O estresse
Officers in Correctional dos agentes correcionais Burnout Inventory, ocupacional médio também foi mais elevado
Institutions. Int. Journal of usando vários Korean para agentes. O escore médio de satisfação
neuropsychopharmacology. instrumentos. Occupational Stress no trabalho foi menor do que o das demais
V.19, S.1, P. 316-316, 2016. Scale, The Job ocupações. O nível de autoestima foi menor
Satisfaction Scale, do que o das outras ocupações. O estado de
The Korean version saúde mental dos agentes do sexo masculino
of Beck Depression foi pior do que das mulheres. Estado de
Inventory, and saúde mental do agente correcional é pior do
Rosenberg’s Self- que outras ocupações estudadas.
Esteem Scale.

BEZERRA, C. M.; ASSIS, Levantar a produção Revisão da Fatores de risco: sobrecarga de trabalho, falta
S. G.; CONSTANTINO, P. sobre sofrimento literatura. de recursos materiais e humanos, nível de
Sofrimento psíquico e psíquico e estresse no contato com os presos, superlotação,
estresse no trabalho de trabalho de agentes percepções sobre medo ou perigo, paradoxo
agentes penitenciários: uma penitenciários nos punir/reeducar, etc. Fatores protetivos: apoio
revisão da literatura. Ciência periódicos nacionais e social no trabalho. Estratégias de
183

e saúde coletiva, Rio de internacionais entre os enfrentamento: aprimoramento da formação


Janeiro, v. 21, n. 7, p. 2135- anos de 2000 e 2014. dos agentes, estímulo ao apoio social e oferta
2146, 2016. de atendimento psicológico.
SYGIT-KOWALKOWSKA, Examinar como o auto- Quantitativo. Um maior nível de bem-estar físico e mental
E.; WEBER-RAJEK, M.; controle, as estratégias Inquérito com foi acompanhado por um maior nível de
PORAZYNSKI, K.; GOCH, para lidar com o estresse questionários e coping declarado e um nível mais baixo na
A.; KRASZKIEWICZ, K.; e os fatores escalas. escala de desamparo, fuga (negação), voltar-
BULATOWICZ, I. sociodemográficos se para a religião e senso de humor. A
Emotional self-control, diferenciam o nível de análise de regressão mostrou que os níveis de
coping with stress and bem-estar psicológico e controle emocional, a estratégia contra o
psycho-physical well-being físico dos funcionários desamparo e busca de apoio são importantes
of prison officers. Med Pr. da prisão e o que é preditores de bem-estar físico da variável
66(3): 373-82, 2015. preditor de bem-estar dependente. No que diz respeito ao bem-
psicológico e físico. estar psicológico, preditores significativos
são: os níveis de controle emocional, senso
de humor e procura de apoio.
TSIRIGOTI, K.; Examinar a intensidade Quantitativo. Ambos os grupos (perigosos e não perigosos)
GRUSZCZYNSKI, W.; da ansiedade Inquérito com estavam dentro do intervalo de escores
PECZKOWSKI, S. Anxiety experimentada por questionários e médios para todas as variáveis estudadas. Os
and styles of coping with pessoas que trabalham escalas. oficiais que trabalham com prisioneiros
occupational stress resulting com prisioneiros "perigosos” obtiveram escores
from work with 'dangerous' "perigosos" e os estilos significativamente maiores na escala de
prisoners in prison service que adotam para lidar ansiedade-estado e no estilo orientado para a
officers. Acta com o estresse. emoção e escores mais baixos no Estilo
Neuropsychiatr; 27(5): 297- Orientado a Tarefas e Diversão social.
306, 2015.

HU, S.; WANG, J. N.; LIU, Explorar o impacto das Quantitativo. Escala Os oficiais correcionais chineses
L.; WU, H.; YANG, X.; características do Maslach Burnout experimentam um nível ligeiramente mais
WANG, Y.; WANG, L. The trabalho sobre o Inventory, Cross- alto de burnout no trabalho.
association between work- esgotamento do trabalho sectional survey. Forte esforço extrínseco e recompensa foram
related characteristic and job entre os funcionários Levantamento os mais poderosos preditores de burnout.
burnout among Chinese correcionais chineses em transversal.
correctional officers: a cross- prisões públicas.
sectional survey. Public
Health. 129(9):1172-8, 2015.

STEINER, B.; Examinar as influências Quantitativo. Fatores individuais como experiência de


WOOLDREDGE, J. do estresse no trabalho Modelo de vitimização e maiores demandas de trabalho
Individual and entre mais de 1.800 Demand-Control estavam relacionados a mais estresse,
Environmental Sources of funcionários de prisões (Support). enquanto o controle percebido sobre os
Work Stress Among Prison em Ohio e Kentucky. presos e o apoio de colegas de trabalho e
Officers. Criminal Justice supervisores estavam associados a menos
and Behavior, vol. 42, ed. 8 estresse. A violência nas unidades prisionais
p. 800-818, aug. 2015. também estava ligada a níveis mais altos de
estresse dos agentes nas prisões.
LAMBERT, E.G., KIM, B., Expandir a literatura Quantitativo. As diferentes formas de apoio social e as
KEENA, L.D., examinando se o apoio Resultados do Teste variáveis selecionadas do local de trabalho
CHEESEMAN, K.Testing a do supervisor, o apoio de Igualdade de apresentaram associações estatisticamente
gendered models of job dos pares e o apoio Coeficiente de semelhantes com o estresse no trabalho e a
satisfaction and work stress familiar, juntamente com Regressão. satisfação no trabalho entre os gêneros,
among correctional officers. outras variáveis do local exceto pelo estresse no papel na satisfação
Journal of crime and justice, de trabalho (problemas no trabalho.
2015. de função e
184

periculosidade do
trabalho), diferem nas
suas relações com o
estresse no trabalho e
satisfação no trabalho de
acordo com o sexo
ARMSTRONG, G. S.; Examinar o conflito Quantitativo. Itens Os resultados indicam que a tensão e o
ATKIN-PLUNK, C. A.; trabalho-família no que de escalas conflito trabalho-família baseados no
WELLS, J. The Relationship se refere ao estresse no anteriormente comportamento e o conflito entre família e
Between Work–Family trabalho e à satisfação no utilizados no estudo trabalho estavam significativamente
Conflict, Correctional trabalho. de Armstrong e relacionados com o estresse no trabalho e
Officer Job Stress, and Job Griffin (2004) com a satisfação no trabalho. O apoio
Satisfaction. Criminal familiar e de supervisão estava
Justice and Behavior, 2015. exclusivamente relacionado com o estresse
no trabalho, enquanto o apoio de supervisão,
educação e etnia estavam exclusivamente
relacionados com a satisfação no trabalho.
MENNOIAL, N. V.; Analisar as várias tarefas Qualitativo. Os agentes biológicos e o estresse
NAPOLI, P.; BATTAGLIA, do pessoal penitenciário; Realização de relacionado ao trabalho são os principais
A.; CANDURA, S. M. identificar os fatores de entrevistas. fatores de risco, como conseqüência da
Occupational risk factors and risco; e discutir as superpopulação carcerária, da escassez de
medical prevention in estratégias preventivas, pessoal e da complexidade da organização do
corrections officers. G Ital incluindo a formação e a trabalho.
Med Lav Ergon;36(4): 405- educação desses
9, 2014. trabalhadores.

KRISTINSDOTTIR, R.; Examinar se os agentes Quantitativo. Agentes correcionais islandeses apresentam


GUDMUNDSDOTTIR, S. correcionais islandeses Inventário de sintomas de burnout em todas as três
Burnout among Icelandic sofrem de esgotamento e Burnout de dimensões (exaustão emocional,
correctional officers: A study tentar esclarecer quais Maslach (MBI) e despersonalização e realização pessoal);
on burnout and work related fatores organizacionais e Escala de Estresse Menos em exaustão emocional e mais em
stress. Int. Journal of ocupacionais estão do Trabalho para sentimentos de realização pessoal diminuída.
Business Research, 2014. causando estresse. Oficiais A carga de trabalho, conflitos de papéis,
Correcionais ambiguidade de papéis, condições de
(WSSCO) usadas trabalho inadequadas, ameaças percebidas e
para medir fatores experiências negativas de comunicação com
organizacionais e prisioneiros tiveram correlação positiva
ocupacionais. significativa com exaustão emocional.
GARLAND, B.; Examinar os efeitos dos Quantitativo. Compromisso afetivo teve associação
LAMBERT, E. G.; HOGAN, compromissos afetivos e Inquéritos aplicados negativa com exaustão emocional,
N. L.; ET AL. The de continuação nas três em 160 despersonalização e sentimentos de
relationship of affective and dimensões do desgaste funcionários de realização reduzida. Compromisso de
continuance organizational do pessoal. uma prisão privada continuidade teve relação positiva com
commitment with para infratores de dimensões de burnout. A permanência teve
correctional staff 14 a 19 anos que associação positiva com exaustão emocional;
occupational burnout: a foram julgados idade teve relação negativa com
partial Replication and como adultos. despersonalização; e contato diário médio
Expansion Study. Criminal com os presos teve associação positiva com
justice and behavior, 2014. sentimentos de realização reduzida. Uma
estratégia sugerida é fortalecer os laços
afetivos e os sentimentos de lealdade para
com a organização, assim como tentar
diminuir percepções de que o empregado
está preso no trabalho.
HARVEY, J. Perceived Examinar a saúde física Quantitativo. Os agentes penitenciários relatam pobre
Physical Health, percebida, o sofrimento Inquérito com saúde física percebida e um alto nível de
185

Psychological Distress, and psicológico e o apoio questionários e sofrimento psíquico. Uma vez que a saúde
Social Support Among social entre os agentes escalas. The física percebida diminuiu, o sofrimento
Prison Officers. Prison J. penitenciários. General Health psicológico aumentou Houve alguma
2014 Jun; 94(2):242–59. Questionnaire evidência de que o apoio social de dentro da
(GHQ-12). prisão moderou a relação entre a percepção
de saúde física e estresse psicológico.
TSCHIEDEL, R. M., Identificar aspectos da Qualitativo.Oito Cumprir com suas obrigações, ter
MONTEIRO, J.K. Prazer e organização do trabalho entrevistas gratificação salarial e estabilidade no
sofrimento no trabalho das que produzem prazer e semiestruturadas. emprego são relatadas como vivências de
agentes de segurança sofrimento no trabalho prazer e a precariedade das condições de
penitenciária. Estud Psicol. de MULHERES agentes trabalho como elemento provocador de
Natal. 2013 09PY - de segurança sofrimento. Estratégias de defesa: negação e
2013;18(3):527–35. penitenciaria (ASP) e racionalização.
descrever as estratégias
defensivas (E.D.)
utilizadas.
ATKIN-PLUNK, C. A.; Verificar a correlação Quantitativo. Guardas que se percebem com níveis mais
ARMSTRONG, G. S. entre capacidade de Inquérito com altos de capacidade de liderança
Transformational Leadership liderança questionários e transformacional experimentam menos
Skills and Correlates of transformacional e escalas. estresse no trabalho. Apoio de colegas não
Prison Warden Job Stress. estresse ocupacional. se relacionou com estresse no trabalho, mas
Crim Justice Behav. com confiança. A maior amplitude de
2013;40(5):551–68. experiência em correções (mantendo
posições de tratamento e custódia) foi
relacionada a menos estresse.
HARTLEY, D. J, DAVILA, Avaliar o estresse no Quantitativo. Itens Medo de doença foi positivamente
M. A.; MARQUART, J. W.; trabalho, satisfação, de escalas correlacionado com estresse no trabalho e
MULLINGS, J. L. Fear is a segurança pessoal, e adaptados do estudo inversamente correlacionado com a
Disease: The Impact of Fear exposição a doenças de Cullen et al. satisfação no trabalho. A exposição à doença
and Exposure to Infectious infecciosas (HIV / AIDS, (1985) e Lindquist não conseguiu produzir efeitos significativos
Disease on Correctional hepatite e tuberculose) and Whitehead sobre o estresse no trabalho ou satisfação.
Officer Job Stress and em agentes (1986) Amostra Funcionários que achavam que seus
Satisfaction. Am J Crim penitenciários. aleatória de 2.999 supervisores os apoiavam no trabalho
Justice. 2013;38(2):323–40. oficiais de ambos relataram menos estresse e maiores níveis de
os sexos do estado satisfação, enquanto a periculosidade
do Texas/EUA. percebida do trabalho foi positivamente
correlacionada com o estresse no trabalho.
GOULD, D. D.; WATSON, Investigar a prevalência Quantitativo. 208 Embora na maioria das vezes agentes
S. L.; PRICE, S. R.; de burnout, de agentes em penitenciários usem estratégias adaptativas
VALLIANT, P. M. The enfrentamento e inquérito online de “coping” ainda assim relatam altos níveis
relationship between burnout mecanismos utilizados para medir burnout de burnout. Os resultados deste estudo
and coping in adult and para amenizar os efeitos ((Maslach Burnout sugerem que existem outras variáveis além
young offender center do burnout nos centros Inventory) e do “coping”, como sexo e tempo de
correctional officers: An correcionais. “coping” (HSSBrief experiência, que influenciam nos níveis de
exploratory investigation. Coping Orientation burnout, como observado em agentes
Psychol Serv. to Problems penitenciários.
2013;10(1):37–47. Experienced)
FINNEY, C.; Rever a literatura a fim Revisão sistemática As cinco categorias de estressores
STERGIOPOULOS, E.; de identificar a relação nas bases Medline, organizacionais entre agentes penitenciários
HENSEL, J.; BONATO, S.; entre estressores PsycINFO, são: inerentes ao cargo, função na
DEWA, C. S. Organizational organizacionais e Criminal Justice organização, recompensas no trabalho,
stressors associated with job estresse e burnout em Abstracts, and relações de supervisão no trabalho e
stress and burnout in agentes penitenciários Sociological estrutura organizacional/clima. A estrutura
correctional officers: a em estabelecimentos Abstracts: 8 organizacional e o clima demonstraram ter o
systematic review. BMC prisionais para adultos. preencheram os relacionamento mais consistente com o
Public Health. 2013 02PY - critérios de estresse e burnout no trabalho de agentes
186

2013; 13:82–82. avaliação, inclusão penitenciários.


e qualidade.
MISIS, M. et al. The impact Examinar a relação entre Quantitativo. Itens Pouco apoio de supervisores e percepções do
of correctional officer os níveis de estresse de adaptados de Cullen trabalho como sendo perigoso foram
perceptions of inmates on oficiais penitenciários e et al. (1985). associados com níveis mais elevados de
job stress. SAGE Open, v. 3, suas percepções sobre os Análise de estresse no trabalho. Agentes penitenciários,
n. 2, p. 1-13, 2013. presos. regressão múltipla que percebem os presos como intimidados
hierarquizada - (não arrogantes) e não manipulativos
amostra de 501 relataram níveis mais baixos de estresse no
agentes trabalho, enquanto os oficiais que
penitenciários no perceberam os presos como sendo hostis,
sistema prisional do antissociais e frios relataram os níveis mais
Sul dos EUA. altos de estresse.
MARTIN, J. L.; Identificar como agentes Qualitativo. 66 Oficiais nas prisões mais lotadas são mais
LICHTENSTEIN, B.; penitenciários estaduais agentes estressados e têm mais medo de detentos.
JENKOT, R. B.; FORDE D. do Alabama/EUA penitenciários em
R. “They can take us over experimentam a três prisões
any time they want”: “superlotação dos masculinas no
Correctional officers’ presídios” relacionada estado do
responses to prison com sua saúde e Alabama/EUA.
crowding. Prison J. segurança física e
2012;92(1):88–105. mental.

MOULIN V, SEVIN A-S. Analisar o sofrimento no Qualitativo. Modelo Os resultados mostram que,
Suffering at work in prison. trabalho e suas integrativo e independentemente da área de trabalho, o
Trav Hum. 2012;75(2):147– manifestações, vivido dinâmico - 72 quadro institucional parece enfraquecido
78. por agentes entrevistas para os agentes por causa de duas dimensões
penitenciários nas semidiretivas em principais: a organização arquitetônica de
prisões em um espaço três penitenciárias casas e as missões “paradoxais" atribuídas às
particular conhecido francesas. tarefas de vigilância.
como “local de
visitação”.
CHEESEMAN, K.A.; Analisar as relações entre Regressão múltipla Adesão à geração e estresse no trabalho
DOWNEY, R. A. Talking geração, estresse no hierarquizada. moldam significativamente as percepções
“bout my generation”: The trabalho e satisfação no dos policiais quanto à satisfação no trabalho.
effect of “generation” on trabalho de agentes
correctional employee penitenciários no sistema
perceptions of work stress prisional do sul dos
and job satisfaction. Prison EUA.
J. 2012;92(1):24–44.

GHADDAR, A.; RONDA, Verificar como a Quantitativo. Os resultados sugerem que os riscos
E.; NOLASCO, A.; exposição de Copenhagen psicossociais foram maiores entre os guardas
ÚLVARES, N.; MATEO, I. trabalhadores aos riscos Psychosocial que têm mais contato com os presos.
Exposure to psychosocial psicossociais (demanda, Questionnaire entre
risks at work in prisons: controle e suporte social) 164 trabalhadores
Does contact with inmates varia de acordo com os de prisão na
matter? A pilot study among seus grupos de trabalho e Espanha.
prison workers in Spain. seu contato com os
Stress Health. presos.
2011;27(2):170–6.
187

RUMIN, C. R.; BARROS, Apresentar Qualitativo. Relato A partir de um espaço para o acolhimento
G. I. F.; CARDOZO, W. R.; características do de experiências desses trabalhadores, pôde-se apreender: o
CAVALHERO, R.; sofrimento psíquico profissionais. esvaziamento do sentido do trabalho, a
ATELLI, R. O sofrimento vivenciado por agentes sensação de enclausuramento em algumas
Psíquico no trabalho de de segurança funções, a temerosidade em relação à
vigilância em prisões. Psicol penitenciária e delimitar segurança e a representação social pejorativa
Ciênc Prof. 2011, elementos desse trabalho.
31(1):188–99. psicodinâmicos que
emergem no trabalho de
vigilância prisional.
BOUDOUKHA, A. H.; Avaliar o impacto da Quantitativo. Variáveis demográficas (idade, sexo, nível
HAUTEKEETE, M.; vitimização sobre o Formulário francês de estudo) não têm efeito significativo nos
ABDELAOUI, S.; GROUX, burnout entre guardas do Maslach níveis de burnout; tempo de trabalho e tipo
W.; GARAY, D. Burnout nas prisões francesas. Burnout Inventory de pena da prisão sim. Guardas que
and victimization: Impact of (MBI). trabalham com presos encarcerados por mais
inmate’s aggression towards Participaram 235 de 5 anos relatam mais burnout do que seus
prison guards. Encephale. guardas prisionais, homólogos trabalhando com detidos sem
2011; 37(4):284–92. 46 mulheres e 188 condenação. Vitimizações também têm
homens, variando efeito significativo nos níveis de burnout.
de 22 a 56 anos. Guardas com agressões físicas ou armadas
relatam níveis globais de estresse maiores do
que os guardas da prisão sem agressões.
Guardas de prisão com agressões físicas ou
armadas relatam mais burnout do que
guardas com agressões verbais. As
características da prisão e dos presos estão
relacionadas com o burnout entre os guardas
da prisão, em segundo lugar, as vitimizações
levam ao burnout.
PRATI, G., BOLDRIN, S. Analisar os preditores de Quantitativo. Nem variáveis demográficas (sexo e idade),
Organizational stressors, burnout e bem-estar 188 agentes nem nível de contato com detentos e tempo
exposure to critical incidents psicológico em agentes penitenciários (138 de serviço relacionaram-se com cansaço e
and organizational well- penitenciários italianos. homens e 33 bem-estar psicológico. Exaustão emocional
being among correctional mulheres) relacionou-se com: exposição a situações
officers. G Ital Med Lav empregados em emocionalmente estressantes; censuras
Ergon. 2011 00PY - quatro injustas; supervisores punitivos e que
2011;33(3 Suppl B):B33–9. penitenciárias demonstram pouco apoio; conflito trabalho-
localizadas no família; trabalho extra; exposição a insultos;
noroeste da Itália. ameaças; e episódios de comportamentos
auto-prejudiciais dos reclusos.
Despersonalização relacionou-se com
adequação de pessoal e ameaças dos
detentos. Realização pessoal relacionou-se
com carga de trabalho e risco de ser atacado.
Bem-estar psicológico foi relacionado com
os supervisores que demonstram pouco
apoio, trabalho- família conflito, ameaças
dos detentos e comportamentos auto -
prejudiciais.
DIAL, K. C.; DOWNEY, R. Examinar o impacto do Quantitativo. Itens Gênero é um fator significativo sobre o
A.; GOODLIN, W. E. The gênero e geração no adaptados do estudo stress relacionado com o trabalho, mais do
job in the joint: The impact estresse no trabalho. de Cullen et al. que qualquer outra variável demográfica,
of generation and gender on (1985) embora geração tivesse um pequeno impacto
work stress in prison. J Crim sobre o estresse no trabalho. Geração e
Justice. 2010; 38(4):609–15. gênero explicam uma porção minúscula de
variância do estresse no trabalho
188

GONÇALO, H.; RUI Analisar o estresse Quantitativo. Resultados de burnout apontaram para uma
GOMES, A.; BARBOSA, ocupacional em dois Medidas de estresse frequência notável de exaustão emocional,
F.; AFONSO, J. grupos de agentes de (Nível Global de seguida de despersonalização (cynicism) e
Occupational stress forces in segurança: um no Estresse), baixa eficácia profissional. A análise
security: A comparative trabalho em um contexto esgotamento, comparativa entre os grupos mostrou que
study. Anal Psicol. público (n = 95) e outro comprometimento agentes penitenciários tiveram experiências
2010;28(1):165–78. que trabalha em um organizacional, de trabalho mais negativas.
contexto prisional (n = satisfação com a
237). vida, satisfação
profissional e
desejo de deixar a
profissão.
SUMMERLIN, Z.; Elaborar projeto de Quantitativo. Diferenças significativas no estresse no
OEHME, K.; STERN, N.; prevenção à violência Resultados da trabalho reportadas por agentes
VALENTINE, C. Disparate doméstica envolvendo análise de regressão penitenciários da Flórida, quando
levels of stress in police and oficiais. por mínimos comparadas aos policiais, em particular,
correctional officers: quadrados diferenças relacionadas à escassez de
Preliminary evidence from a ordinários. pessoal e de recursos e atitudes sobre a
pilot study on domestic liderança.
violence. J Hum Behav Soc
Environ. 2010;20(6):762–
77.
MCCRATY, R.; Investigar o impacto de Quantitativo. Houve melhora significativa do grupo
ATKINSON, M.; um novo programa de Medidas de estresse experimental em colesterol, glicemia,
LIPSENTHAL, L.; gerenciamento de fisiológico, cortisol, frequência cardíaca, pressão arterial e
ARGUELLES, L. New hope estresse e risco à saúde DHEA, colesterol, perspectivas positivas e significativas em
for correctional officers: An (fatores fisiológicos e triglicérides, relação a reduções em sofrimento psíquico
innovative program for psicológicos) de agentes glicemia de jejum, em geral. Houve aumentos significativos de
reducing stress and health penitenciários. eletrocardiograma produtividade, motivação, clareza de metas e
risks. Appl Psychophysiol de repouso, apoio percebido.
Biofeedback. variabilidade da
2009;34(4):251–72. frequência cardíaca,
pressão arterial.
Três questionários
psicológicos:
estresse emocional
e variáveis
relacionadas ao
trabalho.
GHADDAR, A.; MATEO, Explorar a associação Quantitativo. Na análise de regressão linear, baixos
I.; SANCHEZ, P. entre os riscos Questionário auto escores foram obtidos para a saúde mental,
Occupational stress and psicossociais no trabalho administrado - 164 altas pontuações foram obtidas para
mental health among e saúde mental dos agentes. Medidas: demandas psicológicas, baixa autoestima e
correctional officers: A agentes penitenciários saúde mental e baixo controle; e influência e escores
cross-sectional study. J em centro penitenciário aversão. moderados para baixo apoio social, dupla
Occup Health. espanhol. Copenhagen exposição, e insegurança no trabalho.
2008;50(1):92–8. Psychosocial Demandas psicológicas (mais alto impacto),
Questionnaire foi baixo controle e influência, e dupla
utilizado para medir exposição teve associações inversas
a exposição a significativas com a saúde mental.
condições
psicossociais no
local de trabalho.
SWENSON, D. X.; Investigar o estresse de Revisão de Compreendendo-se as mudanças na vida das
WASELESKI, D.; HARTL, mudança de turno entre literatura. pessoas que o trabalho em turnos introduz,
R. Shift work and agentes penitenciários. administradores, funcionários e suas famílias
189

correctional officers: Effects podem estar mais bem preparados para lidar
and strategies for com o estresse de turno. São descritos e
adjustment. J Correct Health recomendados ajustes organizacionais,
Care, 2008; 14(4):299-310. familiares e pessoais em relação a mudanças
de turno.

CASTLE, T. L. Satisfied in Investigar os preditores Quantitativo. 373 Menor nível de educação, maior apoio e
the jail? Exploring the de satisfação no trabalho participantes. supervisão, menor estresse no trabalho e
predictors of job satisfaction entre agentes Modelos de menor estresse geral foram preditores
among jail officers. Crim penitenciários de uma “Importation- significativos de maior satisfação no
Justice Rev. 2008;33(1):48– prisão no Nordeste dos Differential trabalho.
63. EUA. Experiences" and
"Work-Role
Prisonization".
BROUGH, P.; BIGGS, A. Identificar os preditores Dados Preditores de reivindicação incluem: papel
Predictors of Work Cover de reivindicações organizacionais de específico do agente penitenciário , nível de
occupational stress claims relacionadas ao estresse 163 reivindicações segurança do centro de detenção, níveis de
by correctional officers. J. ocupacional apresentadas por absentismo e a apresentação de queixa
Occup Health Saf - Aust N recentemente agentes contra os agentes de segurança. Implicações
Z. 2007;23(1):43–52. apresentadas por agentes penitenciários em destes resultados, em termos de intervenções
penitenciários um estado organizacionais subsequentes orientadas
australianos. australiano. para reduzir o estresse organizacional vivida
por agentes penitenciários, são discutidas.
BROUGH, P.; WILLIAMS, Avaliar a capacidade da Quantitativo. Job Uma medida específica de demandas de
J. Managing occupational escala de estresse Content trabalho prevê o resultado psicológico
stress in a high-risk industry: ocupacional - Demand Questionnaire (satisfação no trabalho) em maior medida do
Measuring the job demands Control - Suporte (KARASEK, 1985) que uma medida genérica (JDCS). A
of correctional officers. modelo Job (JDCS) para Modelo demanda, capacidade de apoio dos supervisores para
Crim Justice Behav. prever a tensão de 132 controle e suporte. moderar as consequências dessas demandas
2007;34(4):555–67. agentes penitenciários de trabalho também é demonstrada e tem
australianos. implicações para a formação de supervisores
correcionais. Argumentos para a inclusão de
medidas específicas de cada amostra de
exigências do trabalho são discutidos
BOURBONNAIS, R.; Apresentar as mudanças Quantitativo. Job Na ausência de intervenção organizacional
JAUVIN, N.; DUSSAULT, ocorridas entre 2002 e Content específica destinada a melhorar a situação de
J.; VÉZINA, M. 2004 na prevalência de Questionnaire trabalho nocivo, a exposição à baixa latitude
Psychosocial work limitações psicossociais de decisão manteve-se semelhante entre
(KARASEK, 1985)
environment, interpersonal e violência interpessoal 2002 e 2004, enquanto que a exposição a
violence at work and mental no trabalho entre os Modelo demanda, altas demandas psicológicas melhorou para
health among correctional oficiais que trabalham controle e suporte. homens e mulheres. Sofrimento psicológico
officers. Int J Law em estabelecimentos Psychiatric se mostrou maior quando a recompensa no
Psychiatry. 2007;30(4- prisionais em Quebec. Symptom Index, trabalho era escassa e quando houve
5):355–68. (PSI) (Ilfeld, 1976). desequilíbrio entre esforço e recompensa no
trabalho. Em 2004 o sofrimento psíquico
entre agentes penitenciários foi também
associado à intimidação e assédio moral no
trabalho.
RUMIN, C.R. Sofrimento na Caracterizar as condições Qualitativo. 30 Situações ansiogênicas: risco constante de
vigilância prisional: o de trabalho dos agentes entrevistas exposição à violência física no cotidiano
trabalho e a atenção em de segurança semidirigidas prisional, temor em relação à segurança de
saúde mental. Psicol Ciênc penitenciária no individuais com seus familiares, exposição a doenças como
Prof. 2006 00PY - RS/Brasil. agentes de unidade tuberculose, hepatite C e HIV, percepção da
2006;26(4):570–81. prisional de regime degradação da saúde mental, trabalho
fechado. monótono e sensação de enclausuramento
em algumas funções, representação social
190

pejorativa do trabalho pela comunidade,


baixa remuneração e restrição dos serviços
de saúde oferecidos aos agentes e seus
dependentes.
BOTHA, C.; PIENAAR, J. Determinar as dimensões Quantitativo. Os resultados indicaram que um locus de
South African correctional do estresse ocupacional Inventário de controle externo e afeto negativo contribuem
official occupational stress: de agentes penitenciários estresse para para a experiência de estresse ocupacional.
The role of psychological em uma área de gestão agentes Os estressores mais severos para os
strengths. J Crim Justice. da província Freestate da penitenciários-The funcionários prisionais têm a ver com a falta
2006;34(1):73–84. África do Sul e Correctional de recursos.
investigar o papel das Officer Stress
forças psicológicas - Inventor-(COSI).
work locus of control Escalas de work
and affect, na locus of control and
experiência de estresse affect foram
ocupacional. utilizadas.
ŞENOL-DURAK, E.; Analisar as propriedades Quantitativo. 109 Consistências internas e correlações item-
DURAK, M.; GENÇÖZ, T. psicométricas da Escala homens e 10 total foram aceitáveis tanto para toda a
Development of work stress de Estresse no Trabalho mulheres agentes escala quanto para as sub-escalas, ou seja,
scale for correctional para agentes penitenciários na sobrecarga de trabalho, conflito de papéis e
officers. J Occup Rehabil. penitenciários (WSSCO). Turquia. Work ambiguidade de papeis, inadequações nas
2006;16(1):157–68. Stress Scale for condições físicas de prisão, percepção de
Correctional ameaça e problemas gerais." A escala total e
Officers WSSCO, a maioria das sub-escalas foram
Inventário Beck de positivamente correlacionados com a
Ansiedade (BAI), depressão, ansiedade e desesperança, e
Escala de negativamente com a percepção de apoio
Desesperança de social. Além disso, todas as sub-escalas
Beck (BHS) e significativamente diferenciaram alta
Escala sintomatologia depressiva do grupo da baixa
Multidimensional sintomatologia depressiva.
de apoio social –
MSPSS.
GRIFFIN, M. L. Gender and Examinar a influência de Quantitativo. Itens Contrariando as expectativas, houve poucas
stress: A comparative gênero das múltiplas anteriormente diferenças entre os oficiais de ambos os
assessment of sources of variáveis ambientais utilizados por sexos e nos efeitos do estresse no local de
stress among correctional sobre o estresse no Crank, Regoli, trabalho sobre o seu nível de estresse no
officers. J Contemp Crim trabalho dos agentes Hewitt, and trabalho. Conflito trabalho - família provou
Justice. 2006;22(1):4–25 penitenciários. Culbertson (1995). ter o maior impacto sobre o estresse para
oficiais de ambos os sexos, ao passo que as
preocupações relativas ao apoio
organizacional para as políticas de igualdade
de tratamento afetaram o estresse só entre os
oficiais do sexo masculino.
OWEN S. S. Occupational Analisar o estresse Quantitativo e Níveis gerais de estresse são baixos. Relatos
stress among correctional ocupacional entre os qualitativo. 329 de níveis de estresse não variam segundo
supervisors. Prison J. 2006; supervisores supervisores gênero, raça, nível educacional e instituição.
86(2):164–81. correcionais. correcionais. The Três variáveis são preditores significativos
Perceived Stress de baixos níveis de estresse: altos níveis de
Scale (PSS). satisfação no trabalho, altos níveis de apoio
social e um locus de controle interno.
BOURBONNAIS, R.; Descrever características Quantitativo. Job Agentes são mais expostos a fatores
MALENFANT, R.; psicossociais do trabalho Content psicossociais adversos no trabalho do que
VÉZINA, M.; JAUVIN, N.; e saúde de agentes Questionnaire amostra comparável de trabalhadores de
BRISSON, I. Work penitenciários de (KARASEK, 1985) Quebec e relataram mais problemas de
characteristics and health of Quebec, para determinar Modelo demanda, saúde. As mesmas fontes de sofrimento
191

correctional officers. Rev os fatores de risco controle e suporte. psicológico afetam homens e mulheres, mas,
Epidemiol Sante Publique. ocupacional associados a Psychiatric em diferentes graus. Altas demandas
2005 07PY - distúrbios psíquicos Symptom Index, psicológicas, combinadas com latitude baixa
2005;53(2):127–42. menores. (PSI) (Ilfeld, 1976). ou alta de decisões e desequilíbrio esforço /
recompensa foram associados ao estresse
psicológico independentemente de
potenciais fatores de confusão. Fatores de
trabalho associados com alto sofrimento
psíquico foram: baixo apoio social no
trabalho, e conflitos com colegas e
superiores, entre outros.
DOWDEN, C.; TELLIER, Analisar os preditores de Revisão de As atitudes de trabalho (participação na
C. Predicting work-related estresse no trabalho em literatura. Vinte tomada de decisões, satisfação no trabalho,
stress in correctional agentes penitenciários e estudos foram comprometimento e intenção de
officers: A meta-analysis. J marcar a primeira meta- selecionados para rotatividade) e problemas específicos de
Crim Justice. 2004; análise deste tópico na inclusão. agentes penitenciários (periculosidade
32(1):31–47. área. percebida e dificuldades da função) geraram
relações preditivas mais fortes com o
estresse no trabalho. Atitudes favoráveis
(serviço humano orientação e
aconselhamento/ reabilitação) e
desfavoráveis (punitividade, orientação para
custódia, distância social e corrupção)
renderam relações moderadas com o estresse
no trabalho. Correlatos mais fracos de
estresse no trabalho foram: variáveis
demográficas e características do emprego
(por exemplo, nível de segurança).
MOON, B.; MAXWELL, S. Analisar o trabalho Quantitativo. As variáveis encontradas neste estudo com
R. The sources and correcional entre oficiais Itens de escalas agentes penitenciários sul coreanos
consequences of corrections da Coréia do Sul. adaptados do estudo coincidem com as encontradas na América,
officer’s stress: A South Questões relacionadas de Cullen et al. para explicar o estresse no trabalho,
Korean example. J Crim com o estresse descritas satisfação no trabalho e consequentes
(1985.)
Justice. 2004 em estudos anteriores problemas de saúde. Entre as variáveis:
Aug;32(4):359–70. foram examinadas para locais de trabalho perigosos, interações
avaliar sua relevância e negativas com colegas de trabalho,
aplicabilidade na frequência de contato com presos e
sociedade sul-coreana. sobrecarga de trabalho.
SAVICKI, V.; COOLEY, Examinar as experiências Quantitativo. Mulheres relataram significativamente mais
E.; GJESVOLD, J. e os efeitos do assédio Regressões assédio do que os homens; mulheres eram
Harassment as a Predictor of em agentes múltiplas separadas menos propensas a despersonalizar. Assédio
Job Burnout in Correctional penitenciários. foram realizadas contribuiu significativamente em cada
Officers. Crim Justice para cada gênero regressão para o sexo feminino; assédio foi
Behav. 2003;30(5):602–19. sobre burnout, significativo apenas na regressão do sexo
comprometimento masculino para o estresse percebido. Embora
organizacional e os homens e mulheres não difiram sobre
estresse percebido. burnout ou comprometimento
organizacional, o assédio foi forte
contribuinte entre mulheres. Em
estabelecimentos correcionais, o assédio
constitui um estressor de fundo afetando
diferencialmente mulheres.
FERNANDES, R. de C. P.; Identificar possíveis Quantitativo. Associados positivamente com distúrbios
SILVANY NETO, A. M.; associações entre Estudo psíquicos menores (DPM): ambiente de
SENA, G. de M.; LEAL, A. condições de trabalho e epidemiológico trabalho psicologicamente inadequado,
dos S.; CARNEIRO, C. A. saúde de agentes transversal/ amostra condições infraestruturais insuficientes, falta
192

P.; COSTA, F. P. M. penitenciários de de 311 agentes, de tempo para lazer, ausência de esporte,
Trabalho e cárcere: um Salvador, Bahia, Brasil. questionários auto- mais de 9 anos no Sistema Penitenciário
estudo com agentes aplicáveis: SRQ 20 (SP), dobra de turno, jornada de 48 horas
penitenciários da Região e Inventário de semanais e organização do trabalho
Metropolitana de Salvador, Sintoma de Estresse inadequada. Associados positivamente com
Brasil. Cad Saude Publica. de LIPP. estresse persistente: falta de treinamento,
2002 06PY - 2002; sexo feminino, jornada de 48horas semanais,
18(3):807–16. ambiente de trabalho psicologicamente
inadequado, falta de tempo para lazer e
ausência de esporte. Associados
positivamente com queixas de saúde: idade
(45anos), 9 anos no SP, dobra de turno,
ausência de esporte, ambiente de trabalho
psicologicamente inadequado, condições
infraestruturais e organizacionais
inadequadas e presença de DPM.
CIESLAK, R.; Investigar se estressores Quantitativo. Enfrentamento emocional positivamente
KORCZYNSKA, J.; de trabalho, estilos de Utilização de relacionado com exaustão emocional e
STRELAU, J.; “coping” e apoio social escalas. negativamente com realização pessoal.
KACZMAREK, M. Burnout relacionado com o Enfrentamento orientado à tarefa
predictors among prison trabalho podem prever positivamente relacionado com realização
officers: The moderating desgaste entre os agentes pessoal. Apoio social do trabalho
effect of temperamental penitenciários. negativamente relacionado com exaustão
endurance. Personal Individ emocional. Efeitos dos estressores do
Differ. 2008 Nov;45(7):666– trabalho no burnout mediados pelo apoio
72. social relacionado ao trabalho e pelo
enfrentamento emocional. Alguns desses
efeitos mediadores foram moderados pela
resistência. Suporte social relacionado ao
trabalho estava relacionado negativamente à
despersonalização apenas entre os
participantes com forte resistência. Alto
nível de estresse no trabalho previu um
enfrentamento emocional elevado somente
entre indivíduos com resistência fraca.
HERNANDEZ-MARTIN, Examinar a relação entre Quantitativo. 43,6% dos oficiais sofrem burnout severo. A
L. Burnout syndrome in a síndrome de burnout e Maslach Burnout análise fatorial suporta a estrutura
watchmen in a penitentiary variáveis Inventory (MBI) tridimensional do MBI: de exaustão
center. International Journal sociodemográficas para avaliar a emocional, realização pessoal, e
of Clinical and Health (idade, sexo, estado civil síndrome de despersonalização. Oficiais mais jovens
Psychology,. Int J Clin e educação), antiguidade burnout em uma apresentaram atitudes mais negativas em
Health Psychol. 2006 e nível de posição amostra de 133 relação a seus empregos (despersonalização)
Sep;6(3):599–611. (Security- 1 e Segurança agentes do que os mais velhos. As relações entre
-2 ) . penitenciários em outras variáveis sociodemográficas, como o
instituição nível de antiguidade e de posição, por um
penitenciária. lado, e as três dimensões do esgotamento do
outro, mostraram-se não significativas.
CARLSON, J. R; ANSON, Testar a relação entre Quantitativo. Ao contrário do que estudos anteriores de
R. H; THOMAS, G. gênero e burnout em Maslach Burnout estresse realizados na década de 1980, as
Correctional officer burnout uma prisão de segurança Inventory (MBI) mulheres agentes penitenciárias
and stress: Does gender máxima. para avaliar a demonstraram uma maior sensação de
matter? Prison J. 2003 síndrome de realização pessoal relacionada com o
Sep;83(3):277–88. burnout em amostra trabalho e satisfação do que suas
277 agentes contrapartes masculinas. Homens e mulheres
penitenciários. agentes penitenciários foram considerados
grupos homogêneos em exaustão emocional
193

e despersonalização.
LOUREL, M. Burnout: Sugerir uma análise Revisão da Burnout parece ter o foco principalmente
Theory and critical crítica do burnout. literatura. nos profissionais de saúde. Limites: baixo
approach. The value of número de publicações francesas atuais e a
exploratory research in solidez dos modelos teóricos que
prisons. Encephale. consideram a percepção cognitiva dos
2001;27(3):223–7. indivíduos para com organizações A análise
das questões teóricas confirma o déficit
considerável de estudos exploratórios com
agentes penitenciários.
MORGAN, R. D; VAN Examinar a relação entre Quantitativo. 250 Os resultados indicaram que os oficiais mais
HAVEREN, R. A; diversas variáveis que agentes velhos e mais educados relataram níveis
PEARSON, C. A. levaram a resultados penitenciários aumentados de realização pessoal, enquanto
Correctional officer burnout inconsistentes em Maslach Burnout oficiais menos experientes e oficiais com
- Further analyses. Crim estudos anteriores sobre Inventory Survey. responsabilidades crescentes de trabalho
Justice Behav. 2002 o estresse de agentes experimentaram níveis aumentados de
Apr;29(2):144–60. penitenciários. despersonalização e exaustão emocional e
níveis diminuídos de realização pessoal.
Comparações de gênero indicaram que
agentes penitenciários do sexo feminino
eram menos propensas a responder de forma
impessoal para os presos do que suas
contrapartes masculinas.
SCHAUFELI, W. B, Apresentar uma visão Revisão de A prevalência de várias reações de estresse
PEETERS, M. C. W. Job geral de estresse e literatura sobre entre os agentes penitenciários é discutida:
Stress and Burnout among burnout profissional em estresse as taxas de rotatividade e absenteísmo,
Correctional Officers: A instituições correcionais. ocupacional e doenças psicossomáticas e os níveis de
Literature Review. Int J burnout em insatisfação no trabalho e burnout.
Stress Manag 2000; 7(1):19- instituições Existência de 10 estressores específicos no
48. correcionais, com trabalho do agente: problemas de função,
base em 43 sobrecarga de trabalho, demanda de contatos
investigações de 9 sociais (com os presos, colegas e
Países . supervisores) e baixo status social. São
discutidas abordagens sobre orientações
individuais e organizacionais a fim de
reduzir o estresse no trabalho e o burnout
entre agentes. A melhoria da gestão dos
recursos humanos, a profissionalização do
trabalho do agente e a melhoria do ambiente
de trabalho parece ser um caminho
promissor para reduzir estresse no trabalho e
burnout em instituições correcionais.

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