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ADMINISTRAÇÃO DE
CONTRATOS
CADERNOS TÉCNICOS DO IBDI C
SÉRIE: “ADMINISTRAÇÃO DE CONTRATOS”
2
Sumário
O IBDiC 7
Carta do Presidente 8
Apresentação dos Cadernos Técnicos 9
Homenagem 10
O IBDIC
CARTA DO PRESIDENTE
Prezados(as) Associados(as),
É com imensa satisfação que publicamos a primeira série dos Cadernos Técnicos do IBDiC,
tratando de temas relacionados à administração contratual, com artigos de autoria de
referências dos setores da construção e infraestrutura e relevantes apoiadores do Instituto.
Os Cadernos Técnicos do IBDiC são uma publicação de caráter técnico que procura abordar,
de forma prática e com linguagem simples e acessível, temas específicos de interesse de tais
setores.
Agradeço, em nome do IBDiC, pela imensa contribuição que os autores desta série dos
Cadernos Técnicos do IBDiC deram ao setor com seus artigos e espero que estes sejam úteis
aos nossos Associados(as).
Boa Leitura!
Esta série destina-se aos profissionais de quaisquer formações, que lidam com contratos de
construção e infraestrutura, especialmente ao profissional de engenharia incumbido da
administração contratual de obras públicas e privadas. Os temas aqui desenvolvidos aplicam-
se a empreendimentos de todos os tamanhos e a sistemas complexos, e tratam de aspectos
relativos tanto à parte Contratante como à Contratada. Em razão da amplitude e
complexidade dos temas aqui tratados, as opiniões contidas neste trabalho não
necessariamente representam a visão de todos os associados do IBDiC, mas refletem a grande
experiência prática dos autores nos setores de infraestrutura e construção.
Para ser útil aos leitores, os pontos de vista jurídico, administrativo, técnico, econômico e
financeiro são apresentados com enfoque prático, a partir da experiência profissional dos
autores, sem que isto signifique o abandono dos conceitos.
HOMENAGEM
CADERNO TÉCNICO 1
PANORAMA DA ADMINISTRAÇÃO CONTRATUAL EM
OBRAS E SERVIÇOS DE INFRAESTRUTURA
1. INTRODUÇÃO
1
Item 20 do Relatório do Acórdão Nº 1228/2021 - TCU – Plenário, proferido na Sessão do dia 26/5/2021,
Relator Ministro Vital do Rêgo.
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o ciclo de vida de um empreendimento, podendo ser aplicada com o uso de diferentes
softwares e cujo emprego deve ser avaliado para cada projeto.
2.1. Definição
Entende-se por Administração Contratual, o processo utilizado para estabelecer a
adequada relação entre as partes que celebram, em boa-fé, contrato com a finalidade de
executar um projeto de engenharia, e, também, entre outros agentes interessados, ao longo
da execução do contrato e até o seu encerramento.
A Administração Contratual se trata da mais importante função organizacional de
negociar e implementar os termos e condições de contratos de construção, obedecendo
políticas e procedimentos estabelecidos, diz o PMI - Project Management Institute (2016).
Diversos outros acontecimentos, de ocorrência simultânea, influem na modelagem do
relacionamento entre as partes que desejam contratar, destacando-se dentre eles:
• A escolha de parceiros estratégicos;
• O estudo das informações técnicas de engenharia, seja para detalhá-las, seja para
investigar a possibilidade de otimizá-las, gerando alternativas;
• A identificação e mobilização de recursos humanos com qualificação específica para
planejar e executar o empreendimento.
2.3. Objetivos
Os objetivos do processo de Administração Contratual visam a obtenção de bons
resultados consequentes do processo produtivo estabelecido em um contrato.
Não obstante a provável ocorrência de fatos imprevistos e imprevisíveis ao longo da
execução do contrato, as partes atuam para assegurar que o resultado econômico-financeiro
do contrato se verifique, na medida da sua expectativa original. Para isso, é necessário que a
parte Contratada:
• Cumpra com as obrigações assumidas em contrato, bem como exija da parte
compradora o cumprimento das suas;
• Exija o cumprimento das obrigações dos seus fornecedores subcontratados, bem como
cumpra as assumidas com eles;
• Solucione eventuais conflitos, o mais rapidamente possível, evitando que o contrato
sofra descontinuidade.
Tanto o cumprimento das obrigações próprias quanto o descumprimento dos deveres
alheios necessitam ser comprovados através de documentos, e os acontecimentos registrados
por meio de documentos, tais como registro em diário de obra (RDO), atas, correspondências
e relatórios técnicos e/ou fotográficos.
• Gestão financeira
- Controle dos fluxos de caixa da construção do empreendimento.
3.2. Atividades
A abordagem anterior permite concluir que o processo de Administração Contratual
exige trabalho coletivo, isto é, o esforço de todos os integrantes da equipe de gerenciamento
do projeto, sendo especialmente afetado por dois fatores interdependentes, cuja combinação
o condiciona e dirige: (i) legislação, doutrina e jurisprudência que disciplinam a matéria e a
execução de empreendimentos; e (ii) a cultura e características do ambiente onde o projeto é
executado.
As atividades constantes do processo de Administração Contratual são: planejamento;
controle; diligenciamento e coordenação de interfaces; informação; e registro.
a) Planejamento. Atividade desenvolvida primeiramente nas fases de licitação e
contratação do projeto, antecedentes à assinatura do contrato. Consiste na análise
crítica da minuta do contrato e das especificações técnicas do empreendimento.
Depois, num segundo momento, logo após a assinatura do instrumento de contrato
pelas partes, funda-se então na reanálise crítica dos documentos contratuais.
b) Controle. Atividade que compreende o conhecimento e acompanhamento das
obrigações assumidas e dos direitos decorrentes do contrato assinado entre as partes,
bem como das obrigações e direitos gerados por acordos suplementares, tais como os
celebrados junto a fornecedores, prestadores de serviços e instituições seguradoras.
Visa ao alerta antecipado a respeito dessas obrigações e direitos, para serem atendidos
tempestivamente.
c) Diligenciamento e coordenação de interfaces. Trata-se de acionar os mecanismos
contratuais, para que as coisas aconteçam. Coordenar interfaces significa promover a
integração dos diversos processos de gerenciamento necessários à execução do
projeto. Algumas interfaces são reguladas de forma explícita no contrato principal e
nos contratos acessórios que dele derivam; outras necessitam ser detectadas e
tratadas.
d) Informação. Atividade de gerenciamento da informação, compreendendo em especial
o fluxo, espécie e forma do seu fornecimento e registro, quer a informação de caráter
obrigatório, quer a proveniente de solicitações pontuais, endereçadas (i) às partes, (ii)
à equipe interna de cada uma das partes, (iii) a terceiros subcontratados, e (iv) a
interessados externos ao projeto.
e) Registro. Registro, documentação e arquivo de informações sobre fatos relevantes,
ocorridos durante a execução do contrato ou nele influentes, notadamente os
relativos a alterações contratuais. Na Administração Contratual, a comunicação escrita
inclui, dentre outros meios, diário de obras, atas de reunião, cartas, mensagens
eletrônicas e relatórios. Ao registro seguem-se ações visando assegurar direitos e até
mesmo otimizar oportunidades, podendo levar à apresentação de reivindicações por
qualquer uma das partes.
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4. CONTRATO
6. IMPLANTAÇÃO E PRÁTICA
7. REVISÕES CONTRATUAIS
8. CONCLUSÃO
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COORDENADORA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
AUTORIA:
Jorge Pinheiro Jobim (In memoriam).
Roberto Ricardino, engenheiro civil pela Escola de Engenharia da Universidade
Mackenzie – São Paulo. Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, com especialidade em Gerenciamento de Empresas e
Empreendimentos de Construção Civil. Experiência em projetos públicos e privados de
infraestrutura e construção pesada, no Brasil e no exterior, nos setores de Energia
(geração, transmissão e distribuição), Edificações e Construção Civil, Plantas
Industriais, Transportes (aeroportuário e metroviário), Meio Ambiente e Saneamento.
Atuação no planejamento e licitação de contratações, análise do risco, negociação de
contratos, administração contratual, gerenciamento de reivindicações. Atuação como
Árbitro, Mediador, Perito de Engenharia e Assistente Técnico em procedimentos de
disputas contratuais, sobretudo Dispute Boards. Membro do Instituto de Engenharia.
Membro e integrante do Conselho Deliberativo do IBIDiC – Instituto Brasileiro de
Direito da Construção. Sócio-diretor de Roberto Ricardino Consultoria S/S Ltda.
COLABORADORES:
André Dabus
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
Luís Otávio Pasquale Rosa
Marlon Shigueru Ushiro Ieiri
Solange Majella Jones
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CADERNO TÉCNICO 2
INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS E SEU IMPACTO NA
ANÁLISE DE RISCOS DO EMPREENDIMENTO
1. INTRODUÇÃO
2
DINSMORE, p.192. Consultar também o exemplo de Estrutura Analítica de Risco apresentada no Guia PMBOK
– 6ª edição, 2017, p. 406, e a Norma ABNT NBR ISO 31000:2018 - Gestão de Riscos – Princípios e diretrizes.
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• Riscos residuais: são aqueles que devem ser considerados no registro de riscos e
deverão ser objeto de análise qualitativa e quantitativa, para que seja elaborado o
necessário planejamento do gerenciamento de riscos.
A análise qualitativa dos riscos é destinada à identificação dos principais riscos
individuais do projeto, ou seja, daqueles que possuem alto nível de criticidade, explicitando
as probabilidades de ocorrência e os respectivos impactos sobre os objetivos do projeto, de
modo a permitir que sejam concentrados esforços em riscos considerados de alta prioridade.
A análise quantitativa consiste na utilização de valores numéricos para representar as
consequências e probabilidades dos riscos identificados.
A adequada análise de riscos constitui elemento fundamental para que seja elaborado
o Plano de Gestão de Riscos do negócio, que deverá estabelecer a abordagem, os
componentes de gestão e os recursos a serem aplicados durante todo o processo de
gerenciamento de riscos no curso do contrato.
O processo de Gestão de Riscos, a ser implementado ao longo da execução do
contrato, traz inegáveis benefícios às partes contratantes, que se revelam nos princípios
elencados na Norma ABNT NBR ISO 31000:2018 (Gestão de Riscos – Princípios e diretrizes),
dentre os quais merecem destaque a criação e proteção de valores e a tomada de decisões:
3
De acordo com a Recomendação n. 10S-90 da AACE Internacional – Terminologia de Engenharia de Custos
(Cost Engineering Terminology) – contingência é um montante adicionado a uma estimativa de custos para
fazer frente a itens, condições ou eventos, cujo estado, ocorrência ou efeito é incerto e que a experiência
demonstra que sua ocorrência irá provavelmente resultar, no agregado, em custos adicionais.
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2.2.4. Definições
No processo de análise do contrato as definições são geralmente relegadas a segundo
plano pelos profissionais que não são da área jurídica. Percebidas, equivocadamente, como
mera retórica, muitas vezes elas vão além de uma simples descrição, trazendo em seu bojo
condições contratuais de extrema relevância. Cita-se, como exemplo, uma definição de
“Projeto”, descrito como sendo o objeto contratual, bem como “tudo o mais que se fizer
necessário ao perfeito cumprimento do contrato”.
Veja-se que, no exemplo acima, a definição de projeto traz uma disposição genérica
que tem por consequência a maior abrangência do escopo contratual.
Assim sendo, uma das mais relevantes regras de interpretação dos contratos é a
avaliação do sentido conferido pela redação dada, à luz da boa-fé, conforme dispõe caput do
artigo 113 e o inciso III do parágrafo 1º do Código Civil:
4
Observe-se que o termo “conclusão” se refere, neste caso, à celebração do contrato, quando é concluída sua
formação.
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sob o ponto de vista legal, contratual e ético. Ou seja, uma conduta plenamente identificável,
com vistas ao adimplemento contratual e que corresponde aos padrões aceitos pela
sociedade.
A consideração da boa-fé na interpretação das disposições contratuais vem sendo cada
vez mais importante e valorizada aqui no Brasil, tal qual é valorizada nos ordenamentos
jurídicos de inúmeros outros países. Infelizmente, porém, quando surgem controvérsias
verifica-se, com frequência, a tentativa de distorção da interpretação de dispositivos
contratuais para favorecimento de uma parte em detrimento dos direitos da outra, em
flagrante afronta à boa-fé contratual.
Um cuidado específico, quanto à boa-fé, diz respeito ao fato de, em muitos regimes
jurídicos da common law, ela não ser um comando jurídico automático, mas sim, depender de
expressa disposição contratual. Por tal razão, se, durante a negociação contratual, as partes
escolherem um regime jurídico diferente do brasileiro, o que acontece em muitos projetos
com empresas estrangeiras, verifique se, no seu caso concreto, não será prudente criar
obrigação expressa de adoção de boa-fé contratual.
3.6. Usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio (art. 113, § 1º, II)
Além da observância dos usos do local da celebração do contrato, a lei também
estabelece que se considere na interpretação dos contratos os usos, costumes e práticas do
mercado relativas o tipo de negócio.
3.8. Sentido mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo (art. 113, § 1º, IV)
O legislador se preocupou em conferir alguma proteção à parte que não foi a autora
da redação do dispositivo contratual, diante de alguma dúvida quanto à respectiva
interpretação. Trata-se de um mecanismo que vem privilegiar a boa-fé na interpretação do
contrato e, sem dúvida alguma, presta-se a coibir a utilização proposital de redações ambíguas
ou obscuras em detrimento dos direitos da outra parte:
Esta regra figura dentre aquelas introduzidas pela Lei de Liberdade Econômica e, pode-
se dizer, veio socorrer as empresas contratadas para a execução de serviços, nas situações em
que firmam um contrato cuja minuta já foi disponibilizada pelo contratante, sem chances de
negociar seus termos.
Muitas vezes, a complexidade do contrato e o grande volume de anexos dão ensejo a
dúvidas de interpretação, em relação às quais poderá ser observada a regra acima,
juntamente com as demais regras de interpretação aplicáveis ao caso.
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3.9. Sentido que corresponder à razoável negociação sobre a questão discutida (art. 113,
§ 1º, V)
O inciso V do parágrafo 1º do artigo 113 assim dispõe:
Verifica-se, pelo texto acima, que foi permitido às partes criarem regras específicas de
interpretação do contrato. Ressalta-se, porém, que essa liberdade de pactuação não é
ilimitada; há obrigatoriedade de respeito à lei. Assim sendo, não é possível, por exemplo,
pactuar que para fins de interpretação do contrato não será considerada a boa-fé das partes.
Na área da construção, particularmente em contratos de maior porte, esse dispositivo
legal acima transcrito é largamente utilizado pelas partes. São comuns, assim, regras
específicas de interpretação, que não estão expressamente previstas na lei, tais como:
• Estabelecimento de ordem de prevalência entre documentos;
• Desvinculação entre o conteúdo das disposições contratuais e os títulos e subtítulos
das respectivas cláusulas;
• Uso de expressões grafadas no singular que também incluem o plural;
• Referências a pessoas que também compreendem pessoas físicas ou jurídicas,
associações ou outros entes.
Assim sendo, é muito importante que, além do conhecimento das regras legais de
interpretação dos contratos, os operadores da administração contratual atentem para as
regras específicas contratualmente estipuladas.
Cabe, ainda, alertar quanto ao risco de, algumas vezes, as regras de interpretação
extrapolarem esta finalidade para abranger conceitos e definições que impactam a alocação
de riscos. Embora seja uma impropriedade questionável do ponto de vista técnico, esta prática
tem sido adotada em contratos mais complexos. Cita-se, a título de exemplo, o trecho de uma
cláusula contratual, que estabelece a seguinte regra de interpretação:
Qualquer menção a escopo da Contratada, será havida por menção aos serviços
descritos no presente contrato e na declaração de escopo, bem como a quaisquer
outros serviços que se façam necessários, ainda que não expressamente relacionados
no contrato e em seus anexos.
Observa-se que a disposição acima não traz, na verdade, uma regra de interpretação,
mas sim uma disposição contratual que diz respeito à abrangência do objeto do contrato,
influindo diretamente na alocação de riscos do negócio. Sua inserção na cláusula que trata da
interpretação do contrato é perigosa, e pode passar despercebida aos olhos de profissionais
que, sem formação jurídica, têm por hábito desprezar disposições relativas à interpretação
contratual.
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3.11. Interpretação extensiva e restritiva
O art. 114 do Código Civil traz uma regra que diz respeito ao que se denomina de
interpretação restritiva dos contratos, ou seja, aquela que se restringe ao que está
expressamente previsto na redação, sem possibilidade de ser estendida a outros aspectos:
4. CONCLUSÃO
Por tudo o que foi acima explanado, ficou claro que a interpretação de contratos não
se resume à simples leitura dos respectivos instrumentos. Muito pelo contrário, a literalidade
das cláusulas não pode ser privilegiada em detrimento de outros tantos aspectos de máxima
relevância, cujo exame permitirá a correta interpretação da vontade declarada pelas partes.
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Como ressalvado, trata-se de atividade da mais alta complexidade, envolvendo a
aplicação de regras legais específicas, de acordo com a natureza jurídica e modalidade
contratual escolhida.
A não valorização da interpretação do contrato, seja na fase prévia de análise de riscos
do negócio, seja no curso da gestão contratual, pode acarretar vultosos prejuízos a uma ou a
ambas as partes, inclusive sujeitando-as à aplicação de penalidades e à rescisão do contrato.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1983. Dispõe sobre licitações e contratos da
administração pública.
BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro.
BRASIL. Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019. Dispõe sobre liberdade econômica.
BRASIL. Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Dispõe sobre licitações e contratos
administrativos.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais. 36ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
DINSMORE, Paul C. American Management Association. Manual de Gerenciamento de
Projetos. Rio de Janeiro: Brasport, 2009.
MARQUES NETO, Floriano; RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz; LEONARDO, Rodrigo
Xavier. Comentários à Lei da Liberdade Econômica. Rio de Janeiro: Revista dos
Tribunais, 2019.
PEREIRA, Caio Mário. Instituições de Direito Civil. Contratos. Vol. III. 23ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2019.
SCHREIBER, Anderson. Equilíbrio Contratual e Dever de Negociar. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
TEPEDINO, Gustavo. O papel da vontade na interpretação dos contratos. Revista
Interdisciplinar de Direito, [S.l.], v. 16, n. 1, p. 173-189, jun. 2018. ISSN 2447-4290.
Disponível em: <https://revistas.faa.edu.br/index.php/FDV/article/view/492>.
Acesso em: 20 nov. 2020.
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Manual de Gestão de Riscos. Segepres/Seplan.
Brasília: maio de 2018.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos
Contratos. Volume 2. 16ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2016.
COORDENADORA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
AUTORIA:
Solange Majella Jones, advogada, com LL.M em Direito Corporativo pelo IBMEC-RJ, e
pós-Graduação em Desenvolvimento Gerencial. Formação em mediação de conflitos e
práticas colaborativas pelo Mediare Diálogos e Processos Decisórios. Certificada para
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atuação em Dispute Boards e SCDR pela Dispute Resolution Board Foundation (DRBF).
Integrante do quadro de mediadores da Câmara Mediare – Diálogos, membro e
integrante da Diretoria do Instituto Brasileiro de Direito da Construção (IBDiC).
Experiência de 37 anos em advocacia empresarial na área de Direito da Construção,
com atuação em grandes contratos públicos e privados nos segmentos de óleo e gás,
infraestrutura, obras marítimas e plantas industriais.
COLABORADORES:
André Dabus
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
Jorge Pinheiro Jobim
Luís Otávio Pasquale Rosa
Marlon Shigueru Ushiro Ieiri
Roberto Ricardino
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CADERNO TÉCNICO 3
QUALIFICAÇÕES E CONDICIONAMENTOS DE PROPOSTAS
1. INTRODUÇÃO
A elaboração de propostas é questão da mais alta relevância no âmbito de qualquer
contratação e, em particular, naquelas relativas à área de Engenharia, pois a proposta é o
marco inicial da formação de um contrato, sendo o ponto de partida das negociações a serem
implementadas pelas partes.
A despeito da relevância do tema, a fase pré-contratual é com frequência
negligenciada, notadamente em empreendimentos de menor complexidade, nos quais as
propostas acabam sendo reduzidas à mera elaboração de orçamentos, sem maiores
considerações sobre outros aspectos de suma importância.
Este Caderno Técnico é, assim, dirigido a todos aqueles que lidam com contratações
na área de engenharia, e tem por objetivo despertar a atenção para aspectos relevantes a
serem rigorosamente observados quando da formulação de propostas.
Ressalta-se que os temas aqui desenvolvidos têm melhor aplicação às contratações de
infraestrutura e sistemas complexos, mas não são exaustivos e tampouco se limitam a esse
tipo de empreendimento. Portanto, as orientações adiante fornecidas são úteis para diversos
segmentos de negócios.
5
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
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diversos aspectos relativos a propostas, tais como o Código de Defesa do Consumidor e a
legislação sobre licitações e contratos administrativos. No presente caso, o foco está centrado
nas contratações da área de engenharia, tanto no setor público quanto no privado, razão pela
qual não serão efetuadas considerações atinentes a outros tipos de negócio.
4. ASPECTOS PRÁTICOS
5. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COORDENADORA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
AUTORIA:
Solange Majella Jones, advogada, com LL.M em Direito Corporativo pelo IBMEC-RJ, e
pós-Graduação em Desenvolvimento Gerencial. Formação em mediação de conflitos e
práticas colaborativas pelo Mediare Diálogos e Processos Decisórios. Certificada para
atuação em Dispute Boards e SCDR pela Dispute Resolution Board Foundation (DRBF).
Integrante do quadro de mediadores da Câmara Mediare – Diálogos, membro e
integrante da Diretoria do Instituto Brasileiro de Direito da Construção (IBDiC).
Experiência de 37 anos em advocacia empresarial na área de Direito da Construção,
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com atuação em grandes contratos públicos e privados nos segmentos de óleo e gás,
infraestrutura, obras marítimas e plantas industriais.
COLABORADORES:
André Dabus
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
Jorge Pinheiro Jobim
Luís Otávio Pasquale Rosa
Marlon Shigueru Ushiro Ieiri
Roberto Ricardino
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CADERNO TÉCNICO 4
MELHORES PRÁTICAS PARA CONTRATAÇÃO DE SEGUROS E
GARANTIAS EM PROJETOS DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
Este caderno técnico do IBDiC, que aborda as melhores práticas para contratação de
seguros e garantias em projetos de engenharia e construção, tem como objetivo oferecer ao
leitor uma visão abrangente dos principais elementos que precisam ser observados antes,
durante e após a contratação de um programa de seguros para obras públicas ou privadas,
visando proporcionar ao construtor (Contratado), ou ao proprietário (Contratante), segurança
e tranquilidade na execução do contrato.
Para tanto, será necessário harmonizar o conhecimento sobre conceitos básicos do
mercado de seguros antes de iniciar nossa jornada rumo ao desenvolvimento do processo de
contratação das apólices de seguros em projetos de engenharia e construção.
Assim como no ambiente jurídico e de engenharia, o mercado segurador possui
conceitos próprios, que precisam ser compreendidos para dar sustentabilidade à
interpretação das cláusulas constantes nas apólices de seguros, exigindo do leitor uma análise
minuciosa para evitar falhas de entendimento. A grande maioria das apólices de seguros
aplicáveis aos empreendimentos de engenharia e construção foram traduzidas de clausulados
adotados em outros países, os quais possuem características próprias e ambiente de
contratação de obras e serviços distintos do Brasil, e que nem sempre foram “tropicalizadas”
adequadamente para o nosso ambiente.
Como exemplo citamos o erro cometido pelo projetista durante a realização dos
cálculos de uma determinada estrutura, que sofra um colapso durante sua execução.
Os danos físicos à obra poderão estar cobertos, excluindo-se os custos que seriam
suportados pelo segurado para corrigir o defeito original (It-self), desde que a apólice
de seguros de riscos de engenharia tenha sido contratada com a cobertura adicional
de danos físicos acidentais em consequência de erro de projeto e o segurado não tenha
participado, direta ou indiretamente, na elaboração dos projetos. Considera-se erro de
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SÉRIE: “ADMINISTRAÇÃO DE CONTRATOS”
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projeto o erro de concepção, caracterizado como desobediência ao estado de arte ou
ao nível de conhecimento científico prevalecente na data em que o projeto foi
concebido. Uma vez efetivado o pagamento da indenização, o segurador poderá entrar
com ação de regresso contra o projetista. Caso o projetista tenha contratado a apólice
de seguros de E&O, estará protegido até o valor da importância segurada definida na
sua apólice.
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COORDENADORA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
AUTORIA:
André Dabus, Corretor de Seguros habilitado pela SUSEP; Diretor de Infraestrutura da
Marsh Corretora de Seguros com atuação no desenvolvimento e implantação de
programas de gestão de riscos, seguros e garantias pra os segmentos de Infraestrutura
CADERNOS TÉCNICOS DO IBDI C
SÉRIE: “ADMINISTRAÇÃO DE CONTRATOS”
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(Engenharia, Concessões e PPPs) e Energia (Geração, Transmissão e Distribuição).
Professor do MBA de Gestão Jurídica do Seguro e Resseguro da ENS – Escola Nacional
de Seguros; Professor do MBA de PPPs e Concessões da LSE/FESP. Professor MBA
Concessões e PPPs PUCMG. Coordenador e Professor do Curso de Seguros e Garantias
para Infraestrutura na ABDIB (Associação Brasileira de Infraestrutura e Industria de
Base). Advogado formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUCSP). Pós-graduado
em Direito da Infraestrutura pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV
LAW). Certificação Internacional CP3P-F (APMG Internacional). MBA Executivo em
Gestão de Empresas pela Fundação Dom Cabral. Membro do Conselho Consultivo da
ABDIB – Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base; IBDiC - Instituto
Brasileiro de Direito da Construção; AIDA - Associação Internacional de Direito de
Seguros; Conselho Superior da Infraestrutura - COINFRA – FIESP. Membro INFRA
BRASIL 2038.
COLABORADORES:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
Jorge Pinheiro Jobim
Luís Otávio Pasquale Rosa
Marlon Shigueru Ushiro Ieiri
Roberto Ricardino
Solange Majella Jones
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CADERNO TÉCNICO 5
ADMINISTRAÇÃO CONTRATUAL DURANTE A
EXECUÇÃO DO CONTRATO
1. INTRODUÇÃO
6
Disponível em: <https://www.pmi.org/-/media/pmi/documents/public/pdf/learning/thought-
leadership/pulse/pulse-all-comparison-reports-final.pdf?v=dd7afb39-1fe0-4063-923f-11410463244d>.
Acesso em 10/01/2021.
7
Para maiores detalhes acerca da análise dos riscos de um empreendimento, por meio da interpretação
contratual, vide Caderno Técnico 2 desta série.
CADERNOS TÉCNICOS DO IBDI C
SÉRIE: “ADMINISTRAÇÃO DE CONTRATOS”
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Realidade Virtual 8 (ou Virtual Reality em inglês), Realidade Aumentada 9 (ou Augmented
Reality em inglês), Big Data 10, Inteligência Artificial 11 e Metodologia Ágil 12 entre os mais
relevantes.
Por fim, dar-se-á ênfase à conduta proativa, e calcada na boa-fé de ambas as partes,
para a prevenção e solução dos litígios decorrentes dos contratos de construção, como visto
no Caderno Técnico 6 desta série.
8
Realidade Virtual é um ambiente virtual no qual a pessoa pode visualizar, interagir e se movimentar, com
efeitos sonoros em imersão.
9
Realidade Aumentada é a integração do mundo real com elementos virtuais através de uma câmera.
10
Big Data é a coleta e análise de grandes volumes de informações digitais.
11
Inteligência Artificial é um sistema ou software capaz de realizar atividades humanas de maneira autônoma,
com uso de programação e algoritmos.
12
Metodologia Ágil é um conjunto de práticas aplicadas à gestão de projetos visando garantir maior rapidez aos
processos e criar um fluxo de trabalho mais flexível, retirando obstáculos e viabilizando maior colaboração.
13
Segundo o PMI, gerenciamento de projeto “é a aplicação de conhecimentos, habilidades, ferramentas e
técnicas às atividades do projeto a fim de cumprir os seus requisitos” (PMI, Op. Cit., p. 10).
14
PMI, Op. Cit., p. 492. O próprio PMI ressalta que “devido ao aspecto legal, muitas organizações tratam a
administração de contratos como uma função organizacional separada do projeto. Embora possa haver um
administrador de aquisições na equipe do projeto, esse indivíduo, em geral, se reporta a um supervisor de
outro departamento” (PMI, Op. Cit., p. 494).
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conforme apropriado e encerrar contratos. O principal benefício desse
processo é que garante que o desempenho, tanto do vendedor quanto
do comprador, cumpre os requisitos do projeto de acordo com os
termos do acordo legal.
Feita esta breve introdução, passa-se a discorrer acerca dos princípios indispensáveis
para que a Administração Contratual atinja os seus objetivos.
15
De acordo com COSTA FILHO, BLAK e QUALHARINI, a “metodologia de Administração Contratual representa
o total conhecimento e entendimento do contrato, suas cláusulas e sua representatividade enquanto
ferramenta. Além disso, o profissional que se dedica à prática desta metodologia, deve ter a devida
competência e liderança para estruturar procedimentos de difícil cumprimento durante a execução dos
serviços (período em que as equipes enfrentam constante pressão psicológica), bem como identificar
oportunidades ou problemas que possam geram compensações futuras.” (COSTA FILHO, Lysio Séllos; BLAK,
Gisele; QUALHARINI, Eduardo Linhares. Gestão contratual – conclusões de estudo de caso aplicado a
construção civil. Rio de Janeiro: SEGRAC/UFRJ, 2000, p. 2, apud SCHWARTZ, Julio; CAMARGO, Álvaro. Manual
de projetos de infraestrutura e engenharia. São Paulo: Ed. Do Autor, 2014, p. 267).
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69
16
Alguns contratos padrões, como modelos FIDIC, preveem a obrigação da parte reivindicante de notificar a
outra parte dentro de um prazo determinado acerca da ocorrência de algum evento que cause aumento de
custos ou extensão de prazo. A falta desta notificação, ou a inobservância do prazo previsto, nestes casos,
poderá resultar na rejeição do pleito - fato que deve sempre ser analisado em conformidade com a legislação
aplicável aos prazos prescricionais.
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3. REGISTROS
Como visto acima, o registro dos acontecimentos que podem impactar a execução do
contrato é uma das funções primordiais da Administração Contratual. Sem registros, não há
como comprovar o cumprimento de obrigações assumidas nem sustentar, refutar ou
contestar um possível pleito.
Nos tópicos abaixo, veremos os principais cuidados que a equipe de Administração
Contratual deve ter ao efetuar os registros, bem como algumas dicas práticas que podem
maximizar o seu valor.
17
Exemplificativamente, podemos citar cartas, e-mails, atas de reunião, RDO, relatórios de progresso (semanais
ou mensais), notas fiscais, compras, recebimentos, transportes, certificados de inspeções, resultados de
ensaios, cronogramas, notificações, solicitações de serviços adicionais ou extracontratuais, comprovantes de
eventos, entre inúmeros outros.
18
Vide Resolução nº 1.094/2017 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia – CONFEA.
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de reunião de planejamento para tratar de cronograma; (iv) matriz de risco para discutir os
riscos assumidos e/ou alocados às partes no contrato, entre diversos outros.
Contudo, e não obstante a “lógica” ora apresentada, deve-se ter em mente que a
prerrogativa contida no primeiro parágrafo deste tópico vale para as situações nas quais não
há um documento apropriado para efetuar determinado registro ou mesmo para os casos em
que é necessário formalizar, por exemplo, uma conversa telefônica havida entre os
representantes das partes. Nestas situações, vale o registro por e-mail, mensagem eletrônica,
carta ou qualquer outro meio escrito ou mesmo audiovisual – conversas por áudio, vídeo ou
filmagens.
Nestas situações, portanto, devem prevalecer o registro e o conteúdo em detrimento
da forma. Nos demais casos, onde possível, deve-se primar pelos registros de forma ordenada
e categorizada.
Vale mencionar ainda que a tecnologia pode trazer inúmeros benefícios à
Administração Contratual. Recomenda-se, desta forma, fazer fotografias e vídeos
frequentemente, com as respectivas datas, especialmente com as facilidades atuais de
celulares, câmeras 360º, tablets e drones, de modo a documentar o avanço dos serviços,
inspeções, marcos contratuais, pendências, pontos de atenção ou problemas e, sobretudo, as
intercorrências. A organização dos registros visuais é fundamental, incluindo quem foi
responsável, de modo que possam ser encontrados por data e local.
Por fim, destaca-se que a crescente utilização de projetos BIM demanda a elaboração
de um Plano de Execução BIM, que deve ser acordado entre as partes e fornecedores de
projeto e ser incluído como documentação contratual. O plano de execução BIM estabelece
as definições de níveis de desenvolvimento (LOD – Level of Development), os modelos e seus
usos, prazos, metas, marcos, procedimentos de colaboração, fluxos de comunicação,
autorizações e privilégios para revisões, entre outros elementos.
19
A culpa (em sentido amplo, abrangendo tanto o dolo quanto a culpa em sentido estrito, isto é, a negligência
e a imprudência) não é um pressuposto indispensável à caracterização da responsabilidade civil, uma vez que
há casos em que esta é objetiva, ou seja, incide independentemente da comprovação da culpa de uma parte.
É o caso, por exemplo, do parágrafo único do art. 927 do Código Civil: “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.” (grifamos)
20
A responsabilidade civil extracontratual pode ser encontrada no art. 186 do Código Civil: “Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.” É o caso, por exemplo, de um acidente entre dois automóveis. O
motorista causador da batida deverá ressarcir os prejuízos sofridos pelo outro condutor, mesmo não havendo
um vínculo contratual entre eles.
21
Como exemplo de inadimplemento contratual, citamos a hipótese de uma Contratante não pagar na data de
vencimento uma medição devidamente aprovada.
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Desta forma, havendo um descumprimento contratual de uma parte, que gere um
prejuízo efetivo à outra parte – e existindo uma relação de causalidade entre essa conduta e
o dano causado – será permitido à parte prejudicada buscar a reparação do resultado danoso.
22
Disponível em: <http://brasil-aacei.org/wp-content/uploads/2018/08/29R-03-Analise-Investigativa-de-
Cronograma-1.pdf>. Acesso em 07/11/2020.
23
Disponível em:
<https://www.scl.org.uk/sites/default/files/documents/SCL_Delay_Protocol_2nd_Edition_Final.pdf>.
Acesso em 07/11/2020.
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5. CONCLUSÃO
As estatísticas do Project Management Institute apontam que, no Brasil, em certas
condições, como observado anteriormente, 50% dos contratos cumprem com os prazos
previstos e 55% permanecem dentro do orçamento inicial 25.
Estes números ressaltam a importância da Administração Contratual como ferramenta
apta a permitir a consecução dos objetivos almejados pelas partes em um contrato de
construção: a entrega da obra no preço e no prazo previstos e a obtenção dos resultados
financeiros esperados.
Como visto, por meio da adequada administração do contrato é possível acompanhar
o progresso das obras, medir o seu desempenho conforme o planejamento feito à época da
celebração do instrumento contratual e, caso necessário, implementar as ações corretivas
visando à conclusão da obra em conformidade com os propósitos de cada parte.
Além do conhecimento do contrato, é fundamental que a equipe de gestão contratual
aja de forma proativa, registrando as ocorrências de forma contemporânea, antecipando-se
aos inúmeros eventos que possam ocorrer durante a execução dos trabalhos na tentativa de
mitigar os impactos ao contrato.
24
As principais formas de solução de disputas nos projetos de construção e infraestrutura são tratadas com
maiores detalhes no Caderno Técnico 6.
25
Conforme a pesquisa “Pulse of the Profession 2020”. Disponível em: <https://www.pmi.org/-
/media/pmi/documents/public/pdf/learning/thought-leadership/pulse/pulse-all-comparison-reports-
final.pdf?v=dd7afb39-1fe0-4063-923f-11410463244d>. Acesso em 10/01/2021.
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A Administração Contratual, portanto, exercida nestes moldes, favorece a colaboração
entre as partes visando a conclusão satisfatória do contrato.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COORDENADORA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
AUTORIA:
Luís Otávio Pasquale Rosa, engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP, com
especializações em administração contábil pela FGV-EAESP e planejamento estratégico
pela FAAP-SP. Diretor administrativo do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias –
IBAPE-SP 20/21. Membro da Academia Brasileira de Estudos Estratégicos – ABRAEE,
Association for the Advancement of Cost Engineering - AACE, Comitê Brasileiro de
Arbitragem – CBAr, The Dispute Resolution Board Foundation – DRBF, Instituto
Brasileiro do Direito da Construção - IBDiC e Ordem dos Engenheiros de Portugal,
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atuando em arbitragem, dispute board, perícias e avaliações desde 1980 e nos setores
de Energia (geração, transmissão e distribuição), Óleo&Gás, Edificações e Construção
Civil, Plantas Industriais, Transportes (rodoviário, ferroviário e metroviário), Meio
Ambiente e Saneamento, entre outros. Sócio de Tarobá Engenharia e Negócios Ltda.
Marlon Shigueru Ushiro Ieiri, bacharel em Direito pela Universidade Estadual de
Londrina. Master em Direito da União Europeia pela Universidad Carlos III de Madrid
e Master em Direito do Comércio Internacional pela Université Paris X. Possui
certificação PMP pelo Project Management Institute (PMI). É Fellow do Chartered
Institute of Arbitrators (CIArb). Atua em projetos públicos e privados de engenharia,
construção e infraestrutura. Destaque na categoria Future Leaders, da WWL
Construction 2019 e 2020 e citado pelo Anuário Análise 500 2018 e 2019 entre os
advogados mais admirados na área de Construção. É Diretor-Presidente do Projeto
Infra2038 e faz parte da Diretoria da AACE Seção Brasil e da Diretoria do CIArb Brazil
Branch.
COLABORADORES:
André Dabus
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
Jorge Pinheiro Jobim
Roberto Ricardino
Solange Majella Jones
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CADERNO TÉCNICO 6
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
1. INTRODUÇÃO
2. NEGOCIAÇÃO
A partir dos últimos anos do século XX e início do século seguinte, diversas escolas de
Negociação surgiram no mundo com o objetivo de transformar as formas de negociar em algo
que fosse produtivo para ambas as partes. Percebeu-se que, anteriormente, as negociações
aconteciam a partir de duas posturas principais, a primeira, permissiva, que aceitava tudo, e
a segunda, agressiva, que procurava impor seus interesses. A Escola de Harvard trouxe ao
mundo corporativo uma terceira maneira de negociar, em que o foco era o mérito da questão
e não a queda de braço entre os negociadores.
3. MEDIAÇÃO
26
Boa-fé é o reconhecimento mútuo das partes de que agem com lealdade, honestidade, respeito e confiança.
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SÉRIE: “ADMINISTRAÇÃO DE CONTRATOS”
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podendo fazê-lo diretamente, ou por intermédio de uma câmara ou de um Mediador
Ad Hoc. O Mediador deve ser alguém de confiança das partes.
b) Público com privado: a Mediação entre entes públicos e privados também pode ser
em câmaras e Ad Hoc. No entanto, é importante observar que alguns cuidados devem
ser tomados pelo Mediador nestes casos. O Mediador deve respeitar os tempos do
ente público, para que este tenha condições de avaliar e obter as devidas autorizações.
O Mediador deve promover um ambiente em que a informalidade e a oralidade sejam,
de fato, úteis às partes, sendo que se recomenda, nestes casos, considerar a
comediação, quando dois Mediadores atuam de forma colaborativa. Esta
recomendação tem por pano de fundo a necessidade que os entes públicos têm de
comparecer nas sessões de resolução de conflitos com muitos representantes, sejam
eles advogados, procuradores, gestores e assessores de diretoria.
4. DISPUTE BOARDS
Performance em Performance em
Cumprimento do Prazo Contratual
contratos com DB contratos sem DB
No tempo previsto ou adiantado 81% 56%
Atrasado 19% 44%
Atrasado mais que 3 meses 4% 26%
Fonte: Graeme M Peck Study May/2014 – DRBF Region 3 Australia and New Zealand
5. ARBITRAGEM
27
Direito Patrimonial Disponível é aquele que tem um valor econômico e que é possível ser transacionado
livremente pelas partes.
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Lembre-se que a escolha pela Arbitragem afasta a competência do Poder Judiciário e
que a decisão do Tribunal Arbitral é definitiva, não sendo admitidos recursos. A Sentença
Arbitral é título executivo e poderá ser considerada nula somente nos casos previstos na lei,
que são muito restritos. De qualquer forma, qualquer submissão de nulidade ao judiciário não
admite revisão de mérito.
A Arbitragem deve estar prevista em contrato (Cláusula Compromissória) ou ser
celebrada em convenção de arbitragem específica (Compromisso Arbitral), podendo ser
institucional ou Ad Hoc. A Arbitragem institucional é aquela em que acontece no âmbito de
uma câmara de arbitragem, segundo o seu regulamento, de forma que a câmara fica
responsável pela administração do procedimento. Na Arbitragem Ad Hoc, os Árbitros são
contratados diretamente pelas partes, sendo que a administração do procedimento é dos
Árbitros, e as regras devem estar muito bem descritas na convenção de arbitragem.
6. JUDICIÁRIO
7. ADJUDICAÇÃO
7.2. Comentários
A Adjudicação é muito utilizada na Inglaterra, porém, infelizmente, não é muito
conhecida e, por isso, pouco utilizada no Brasil. Sua utilização acontece em contratos de
qualquer valor e qualquer tipo de disputa, mas não é recomendável para contratos muito
complexos. É necessário dar acesso ao Adjudicador a quaisquer documentos, para que possa
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investigar a questão diretamente com as partes e também fazer visitas às obras. O
Adjudicador poderá contratar especialistas de quaisquer disciplinas se julgar necessário para
sua decisão. A decisão deverá ser emitida, normalmente, em 28 dias a partir da solicitação
pelas partes, e será sempre obrigatória e vinculante para elas, até que haja uma decisão final
por Juiz ou Árbitro.
A vantagem é o cumprimento imediato da decisão, garantindo a continuidade da obra,
mesmo que provisoriamente. É uma forma de resolução de conflitos de baixo custo, adequada
ao pequeno construtor, sendo que a análise e decisão pelo Adjudicador acontece em tempo
curtíssimo.
8. CONCLUSÃO
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COORDENADORA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa
AUTORIA:
Beatriz Vidigal Xavier da Silveira Rosa, engenheira de produção mecânica pelo
Instituto de Ensino de Engenharia Paulista – UNIP. MBA em “Tecnologia e Gestão de
Geração Distribuída e Cogeração” pela Escola Politécnica de São Paulo - USP e
especialização em “Engenharia de Defesa” pelo IME-Instituto Militar de Engenharia -
RJ. Árbitra, Mediadora, Perita de Engenharia de Tribunal Arbitral e Judicial, Assistente
Técnica de parte e membro de Dispute Boards no Brasil e no exterior. Atua em casos
judiciais e arbitrais nos setores de Energia (geração, transmissão e distribuição),
Nuclear, Óleo & Gás, Edificações e Construção Civil, Plantas Industriais, Transportes
(rodoviário, ferroviário e metroviário), Meio Ambiente e Saneamento, entre outros.
Experiência em indústrias no Brasil e no exterior, em projetos de infraestrutura.
Gerenciamento de contratos públicos e privados. Membro do Instituto de Engenharia,
Comitê Brasileiro de Arbitragem – CBAr, Conselho Nacional das Instituições de
Mediação e Arbitragem – CONIMA, The Dispute Resolution Board Foundation – DRBF,
CADERNOS TÉCNICOS DO IBDI C
SÉRIE: “ADMINISTRAÇÃO DE CONTRATOS”
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Instituto Brasileiro de Direito da Construção – IBDiC, Instituto Brasileiro de Estudos do
Direito da Energia - IBDE e Ordem dos Engenheiros de Portugal. Sócia de Tarobá
Engenharia e Negócios Ltda.
COLABORADORES:
André Dabus
Jorge Pinheiro Jobim
Luís Otávio Pasquale Rosa
Marlon Shigueru Ushiro Ieiri
Roberto Ricardino
Solange Majella Jones