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GUARDIÃO Cole
VAGNER

1'
ediçào
JANEIRO
RIo DE GONÇALVES ç
DA EXU ã
ALLAS 202l | o
2
reimpressåo CASA Or

DA
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SILVA
DO X
á
FuTURO s
duçãoTodos
15-24730 ed- SS79e Este
por os livro
Rio Sitlva, por direitos
bibliografia
ISBNInclui p.:17 qualquer
L.
Deusesda
cm.232 deExu SINDICATO
Vagner escrito segue Preparação
originaisde
Janeiro :o Fernandes
Gristina
Warth
978-83-347-0s30-I guardiäo reservados
Rua CIP-BRASIL da as Produção
Gonçalves meio regras Gaspar
EneidaD.
Frederico umbanda. :Pallas, editora, Mariana
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CDD:2 da sem de
Silva. RJ
escrito. vetada E
capa,
KG Portuguesa.
a
- permisso
. a
repro

4
EXu

PRODUTO 1
DESORDEM
0RDEM
EXU 3 EXu
5 NOMES
FACES
EXU
EXU
EXU AGRADECIMENTOS
$OBREO
AUTOR COMPADREEXU DE
BIBLIOGRAFIA
ÁFRICA APRESENTAÇÃO
BEMAE
MITOS
NACIONAL PADÉ
EXU DE ÁRIO
SUM
MOJUBÁ!
RITOS BRASILLAROIê! "
MAL

227 211 207 197 I53 136 o9


89 84 83 45 3 13
7
forma
o em
africana complexidade
abordar Abre cio No
papel ideia os aofinal
cada APRESENTAÇÃO
a projeto
eraorixás
os e da dar da
volume
fro-brasileira. década
damentos divindade aoapresentar cultuados de
do
leitor publicar
xás
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os de
subsídios
no mitos de nas 1990,
e A forma uma
conjunto dessas religiões a
receitos, obra do
Editora
coleção
para orixá objetiva
também crenças,
da afro-brasileiras. Pallas
compreender
abordado, de
os
cosmogonia a
símbolos reunindo riqueza e livros
deveria deu

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Vagner material várias ção como UmVagner po Gonçalves te Iroco, Nei Cléo
Euá, colaboração folhas
racteristicas
vantes seus doS e
Entre Lançamos
da O instrumentos
de dos da Lopes,
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afro-brasileiras vasta estudiosos do
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nacional,
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que cam USP. rele.
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2013), outros organizando um da igrejas, adeptos.
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livro Exu' meio e
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sobrereunido, sem livro um dessacampos Visto Exuigrejas
analisar
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que que para como foi pesquisador dele
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Dor eu reunia
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publicação
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EXU Exu
diferentes de o pude um um
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nunca lado nigeriano,
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Três
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Desenvolvimento
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do a leitor
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Filosofia,
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compartilhado que em isso
da graduação, a nomes intitulada São
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avaliou mãos Paulo, como e
Conselho Letrasfinalmente
enfim, orientandosde pela das
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Tecnológico agradeço
trabalho. Exu, em
aos pela o aos ajuda
pessoas uma e
o ao trabalho; o 2013.
Ciências de
senhorversão o
valor povo sacer Nacio troca mem livre
dire ma
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presente.
divinos. eprotege
possam
o nos passados solo pois nela que
nosso Finalmente,
plantamos é que todo
nela
destino, e
continuidades
Que em caminho
que
acuja os homenageio
leçào
rixás16 é
Encruzilhada reside
o passa
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que fazer cumeeira
a e
nos Casa
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torna penduramos
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livres,Guardião
que encruzilhada
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nossos se
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humanos o em
que nosso ensina
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do, los
dos. africana, quanto
à
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(FOGO,
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nas Exu. as
e
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Por
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rixás
17
transformado descoberto tratar
fertilidade,
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cultuadas
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de
provocado RESPEITOS)
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num pelos seu pelas
pelas seu entidade
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culto europeus
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de
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valortentar doparamorto plo,
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etc. tes que com crist, homogêneo. o
entre cas, divindade ascom
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(egum)
adeptos colonização
quemuitos inserido, sistemas
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as
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Resulta
negociações,
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múltiplas
ixás
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como
nossasportanto, da religiosos é
neopentecostalismo, um
umbanda, Além considerar catolica
de locais.
umbanda,
afro-brasileiro
candomblé
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suspendendo orixácultua do um
referências
e e,
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candomblé, imposições longo
mais
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seria
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que moral
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recentemente,
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processo seu
e a
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ba de seja de
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perguntando.
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que definirmos ou aelasoutras de ponto
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"do ser
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a veem outro crenças geral,
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dicotomias, e se vista
oleção
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estabelecermos
para o Exu típica no
"mal") sobrecomno sistema
deslocarmos
que só do
de de senso
um j£ terá nos
estes é se euma qual
sistema está
significam "divindades"
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divindade" seus e só comum
a uma Exureligiosas, tentarmos participamos.
Certamen
pergunta podemos
religião,
dada termos próprios
religioso nosso
resposta ou (ou ou
religioso de
este para
para "demônio",
qualquer "deus" todas
em
sobre antemão considerando
ou alguns alcancar escapar
sua olhar
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se quem outra devo deste
Exu não está "de "do Por do
no ve se o
vergonhado, dàdimento
um Exu, como goipeou
tou com para dors
2dquiriu sejoso sobrerel1gião centenas
Ou criterios.entidade
dada Como jå e"do
posiçao um
va una para desafiar
umn na religiäo
isso. bem"
uma aiguem nuca,de herege.
sobre oumachapeu um
professa.Aliäs, o de não
saber Um
admitiu
que cor confusão rei opara bode outras "doou
de e seria
ocupava o das rei de pois ao
ocorrido,esposas de
dferente elese chapéu que tudo
se e de seuS se
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religiöes mal
era tudo quatro o disse,
erro, em formou. mitos EXU
culpado branco.
do descrevendo bode que pröprio acredita deixa
relação
e
reais. cores visse tempo
o
seu olhos, os
Conta
que aquele
pois onipresente, a de
rei chapéu Quando O e seus Exu
nos
ou e naquilo
existem principio
bode lhe umque sentido,ter
aprendeu ele. a não, não sorrateiramente dois que
contasse. súditos
dependendo O já havia o na
ateu crê
prenderam então ensina
umalgo que
no
bode, que golpeador vestiu-se por
frente rei, para as uma
em
a enten faziam, mundo
a pois a
liçao cada con Exu, dada estes
en de
e

missão ritual no introduzir


tende-se
Sistematização
redutora, apenas Neste
nacionalmente naseu de de" Ou
vários vista quando até tecia de
quala umbanda, vista Neste que
culto sobre o seja,
e e
de as sentido, lados
Sol, ao a
por livro, verdade, cada as seumesmo
oralidade,
saberformas em no Exu, nuvensapesar
as meio (MAUPOIL,
Brasil, o grupo redor.
um
escrita longe entre duas mas que
ainda ele
cao dos de
tradicionais vasto a fornecer se Onão ainda passam
principalmente
denominações
de Ou
desempenham prática e,
as quais propõe grande, mito "
ori religiões
querer pessoa podia EXU
universo
inevitavelmente, I943, que
ás
entre
leitor, se termina
comunitária, alguns p.seja pode ver
2I de não
esgotar poderia temn
de I90). ele
aquisição mitico por é uma tudo
origem mais
no lados
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e ser
grande seunossos
meio o
o candomblé
caracterizar
conhecidas
só, obscurecido
e
olimitada e tema, ou que
religioso pode ponto
papel. e
segredo de
africana. pontos verda
trans olhos. acon
uma pre que
ter de
e
quebram
também ou
dinâmica,
res dos sempre conhecida
e
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míticos vingança.
tricksters, Legbá
em da
vistoregras
que primeiro
Africa entre ou
como que Isto ÁFRICA
BRASIL
Exu
geralmente Elegbara
e os
ao Ocidental,
ortamentos. designaporquerespeitada,
atuais
apaceiro, lugar
ás são
pessoas, Exu para povos
questionamn, a os
-
23 que
pertence divindade nomes
incalho, não iorubás
divindades deve
Por atrair
invertem pelos
isSo à ser
mensageira, e
categoria
confusão
esperto saudada fon-ewe, quais é
Exu ou
ou se
é
fertilidade, do em
cesso foi nosfertilidade ou
fermununos. catequizados
Amas presente
magico
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posteriormente A "descoberto"
mal.,
entre
imaginário altares malandro.
mercadose
associados igreja associação medieval no
Os do da
diabo da as qual e
nas Catolica ritos desordem públicos
cultuado, E
denúncia fora secularização quais a tido
quais das
aos pagãos, pode entre ao (aodivindade pelos nas
4
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estava,forçasmundo como
orgãos era na ser religiões encruzilhadas.
e localizados sob
o europeus, EXU
pelo
usode incluíam assim
reveladora culto da o
comum Europa ouantagônicas foi a
sobretudo, represso
pr-moderno cristão formasenhor
sexuais que associada
burocratização.
vistos ao na
o as e não iniciou-se
falus e Quandofrente de dos
uso entre sobre
cerimônias e muçulmano)
o da sexual um
masculinos
báculos
com e passaram ao processos
condenados de
pensamento
de (primitivo),
modernida imaginário das falo
os esse Exu umseu
emble povos no
pelo prO
culto casas.ereto.
pro e de
de o e, pe

assim vagantes disfarçados,


explorador tidas berta condenação
fertilidade, ou das
("voasse")
tidas católica a noIhes
supostamente
feiticeiras)
""voar"
pelos
usavam que asfaloum
de
dáveisalucinógenas
esfregados
feitiçaria pina ervas
de mitologia falo
a levou
descreve como deste outras fertilidade,
e de mulherescaminhos
para ou
diabólicos""
inglêsobscenas foi associado à muitas
"Priapo iorubá, Exu, (posteriormente de
origens
esta reeditada
como"falsos vårios cópula
ás
ão25 A. que
encontrou (acusadas de do
ssociaço: para entre mulheres a
B. negro",
e associadas lugares também
(VERGER,
EIlis, EXU
imaginário, com
repletas divindades que
na as
em cultuado
Africa
deuses" propiciando
campos,
sua pernas
o
instantaneamente. ele era demônio.serem
fins boca ou
na
de à correspondência
se bruxas
serem ou
1999, sexualidade usado, representação a
dogestos greco-romanas
com para
com outransportasse acusadas de
século p. Por
demônios
a vassoura)
saltar
135). segundo
"extra dançasdesco inson na
va
XIX, e
O ou
à A
te de conexoo frente
as cravos. cujo
Supõeamorosas, veis
eróticos outros
los mente raramente uma excitação
2olhandointeiro. Legba.
figura barro orgãoé vezes
para såo as O
culto
possuir acessorios
as
desproporcional. geralmente
humana,
E figura sozinho. casas. falo Elegba
Legba. provida é para sempre vermnelhosexual com se
oferendas
e feminina, sagrado
tamnbém
] seu a nas pode
espalha or
lecio
riás26 o são
por órgão [.]A imagemporm, ruas
corpo de
necessários representado e e ser Lekpa
atribuidos conta
consideradas seios representa
com cujo por
os imagem visto
e
cachorros [..] sexual,
[...] de nos
daSonhos principal
frequentemente, toda uma é
de longos freguência
pessoa Quando Legbå, espaços em
a suas [...] que de a
tododivindade
Costa
de
grosseiramen
Legbá, e Legbá
atributo para
Bodes
disposiçöes maispontudos é
durante cócoras
masculina, públicos, lugar,
extrema
feminina, nua dos
que aceit£ é quem fálica
e por feita em em
ga é Es
o se e e a

animais
dência" e ritos
porcos O Ellis
caráter ção
dele. cortejo defincada
quase que Média. paz como as
sono,
certos Aacrescenta crenças
estavam de das
a (ELLIS, das rudeenvolviam
seu Exu todos na (ELLIS, incubos Nisto,
erótico jovens com mentes
caráterforamn festivais, terra
representação em
associados
xâs
çao27 2007 grande os em talvez,
mulheres, o I890, tais
espaços do de e
demoniaco.vistos e falo outra súcubos
é lado demnônios
tenhamos EXU
o[I894], pompa
ornamentado p.
monges
sacrificio de 4
ao obra
da Elegba: 1)
diabo, como p. que públicos:
por de
65) e cabana umma que
apontado
dançam madeira e
noturnos
Na freiras uma
que mais de descricão perturbavam
Europa, e eé
bodes, chave
era uma levado
do na
ao na
ocasião vista atuando
pinta esses "evi cães redor falo ldade para
dire em em dos
é a
na chifres,
da círculo po" negro". do
Dicionário"demônio"
se cravos 174| Mina, esta
Também tetos sua islämica,
cipal alcorão tradução
Biblia, Africa nas
mantém aproximação ao
"tradução".
e de iorubás espirito gravuras
no
escrita (DOPAMU, ""vicioso"diabo Ourabo
na lblis e da
oruba-inglês Brasil, Antonio "lblis"
o
até
(PEIXOTO, lingua seja, e
palavra sangue
na
a como maligno patas como
hoje, partir uma é Exu
o Na com Europa.
foi
colec portuguesa
da e
termo de
inclusive 1990,
o criaturaShaitan'",
""demônio", dos
o "comia" um .EXu
ào Costa
da Obra Exu,
"Senhor(Shaitan), uso porco
Ràs (lbadan: I943,
p. Um
animais ser
"Leba""lingua tido
nova do
p. Peixoto, feita 20). antropomórfico ou
28 na setecentista na dos (recebia
ewe do em termo
de Segundo bode)
Universityprópria 32). é o de versão na
resultados que
traduzido (Exu
Ina). umque
E falada lingua Fogo" fogo versão em
esta publicada dos "Exu" "davam
"justificaria" ou
Africa. iorubá
a sacrifício)
pelos seus e
tradição um
Press), tradução ocorreu
geral o iorubá como desse (com
como prin cor
epi do cão
No es em de
o

taram
conversão existem.
"pecado",
no
por xidade ricas,conceitos critica j£ um cessidade
respeito
há um
deinglesa
termo.donário
mônio", como ou
termo
Esse que muitas Entretanto,
outro, antagonista foi
uma ganhou
aindaprocesso aoeste para"'adorador "eleso"
consagrada
"mal" muito "diabólico",
certas
obrigatória emprego divindades o
absorcão maior.novos não a
português
mais questão (que
ão de etc. existe que adversário
aracterísticas do a
Se, trocas,
interlocutores para de se às "mau'". Exu) se
do (politeismo), demônio","possuido
orix resultara por oponha religiões do refere
termos(LINK,
tolicismo
ás culturas pecado, seguiu é
estendido
um do traduzido
29
A
I998, a bem, versão à
lado, a
de na como monoteistas.
um pessoa
nas não domesma
e
ExU
demonização, ouma para "Deu_"
p. émal,
segundo trabalho se algo desse para o
"demônio",
quais 197). que
possibili pode ou
tradução
comple as que pelo
Am estes Daíúnico. Onde da inglêscultua
dicio
os da ter diz ne de
a
no
principios
homenstugues origem.
ciado cilitou
mensageiro.
uma prociamou
e ferenciar
segundo os cisamente,
Vale excelencia 2004.
é mediador geiro
considerado homens."Ninguémambiguamente protestantismo,
versão lembrar p. benfazejo. aos a
e
e Isso
132).Afinal, compreenso espanhol
seria Exu ao do santos Deus, cosmológicos
Jesus, de porque,
mnais catolicismo, Nesse
de que Deus, Menino
um a
versão Em como
segundo humanoe cristãos
leco
oriK
associadaElegu£ em de a
principe Cuba, sentido,
enviado segundo presença
agentes ao
Cuba chega Jesus anjos, EXU "
benfazeja de
ou contrari da
os Jesus
foi e Exu
que ao
Leguá. h£ divino, de exaltado Exu
evangelhos ao ao a
relacionado mediadores
santos entre os mitologia
uma Pai Cristo,
teologiaAtocha em no
dase perigo mundo
O o
também catolicismo
veste seno seu do
entidade. tendência
primeiro
mensageiro comno e
e ou, mártires, que
ao aspecto africana
ricamente. (João, por para (CABRERA,
cristã, mais
a foi
mal, eo ocorre
Elegu£ seria a
14:6).mim",salvar
maior mensa asso
por
di por Jesus pre de fa de

(santo as
arco-iris
to está monstra
do bémfazejo frequentadores
intensidade Bahia).
de "fiéis(Salvador, metade
feitas segunda
religiososaparecem, documento
dacom um
Antônio,
boas a quem No
associado São se de o
negro de polícia
pelaosa
novas e verificou a
Exu" demönio, Brasil,
Bartolomeu Exu Ihe visão
que sobretudo,
São em prestava afro-brasileiros,
que referência
do levacomparação a associado (FERNANDES, eram
GabrielOxumarê, negativa
1 deve ceu no jornais
dosEm como do
a do
água Brasil, chamados identificando-o XVIII,
(santo homenagens. frequentadores notícias
dos nasséculo século a EXU
sair aos (anjo
aos que vimos.
da como Exu
homens),
em orixá ainda
a se
anunciador
terra católicoCuba. santos I937,p. XIX, ou
primeiro representado pejorativamente
tinha Na
pelo que estes
I930,
anos no Legbá
para Mas essas
imprensa
Elecatólicos jornal de
São da14),
o que foi com entidade o perseguição
lugar
Benedito cu), lado o referências aparece
que também Alabama templos
associamenor que escrita
nas traz San tam ben
de de em
e
pode
25representa monio das demonio, homens
zar qualidades
fecha homens,
às 1955. teiro
126).procissoes
p.
bloqueadordemönios,
monização
colonial. Em
Argumernto
versões os legiöes
religiões voltar os suma, dos
(uso conceitos
Exu o compartilha
aoscaminhos.
de tidas ceus) para
não africanas
dos santos o o proprio
a bens
demônios Exu,
não afro-brasileiras.
mal hifen ser
é que. como (BASTIDE, que
o
"e"caminhos, absoluto. uma
do do
quando
fruto e como ele
o de
anjos por diabo, bem céu.
com
não "EXU.
entidade que é "do
diaboapenas Exu Mas do chova)
meio sinal que e abre
mostrandocatólicos, do
impedem bem". os 1978.
e como
Por se mal" santoS
o da
da desta fora mal,
diabo do Exu os
o
Mas p. São e
agência linguagemn isso, bem um sendo e caminhos
propulsor
expandem-se
que leitura) pÙde é 181;VALENTE
não oquandocatólicos Pedro
opor anjo comparado
acesso
""e"
católica essa Exu-De anjo
relativi
nunca meiocaído, (por.
Exu, ou dos dos lhes dos
de ou as

sidoreiros pela mo
suscetiveis
sobretudo,
terpretação, legitimidade
rada Ramos,
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o que: divindade e
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pesqul de manifeste
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Exu lide
em Exu sua com efei.
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iniciada
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Mavambo
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anos mas, jeje. 175:VERGER, por
de
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seu ele banto. nofora
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iniciado de um "orixá Bastide,
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por costume
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deSeu foi iniciado de (BASTI
muito vitima Edison
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muito considerados iniciados nomanteve


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(CORREA,
seus estigmatizada
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cristão.
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uma ser século
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que EXU
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rixás das entidade do
irretocável
descrição estudou de
"reorixalização" e
duas 1995),
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envolvidas
especial, ocorrida
de literatura intercâmbio
orixás os "descatoliciza
consagradas influenciado
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do Exu do
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contandointeligente, da
contradições.
VO, errado mas, cesso
preocupado, O
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se costumes. manhoso
a e tipo
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de não vai manter
fiscalizar é
habilidade umadora Exu
propósito. lhe ganhar, mentiras adora
insolente,
lráo
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interessar,tarefa, Sendo
caminho amoral. a divertir-se comer, um
robusto
amorososamigo, lá é vida "EXU.
e não brincalhão.
animado,
Mas,alegre, grande
costuma, com Nunca capaz desordeiro, e
por venal, dos obscenidades;
paga beber,
que Entretanto, e
o é certo principalmente
ou que capaz mais de outros, às incansável,
amigo
resolvedesanima, e suas
por
financeiros realizar custas dançar,
for; difícil tendo da
estas de indesejável.
moral que dívidas, dos
encrencaS, è fazer também
que com em torna-se do
razões, prestati nem ele rir,
prazeres cheio
com e outro,
fica
tudo seja; vista dos é quan fazer
sU pre
é cí É de

conhecido
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umbanda,
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dionisiaco
o contradição,
intensamente
tido,personalidade com
povo Como
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foram do uma de o "dono"
brasileiro se é
muito
como
romance brasileira. "modelo está tipo um
expressar
por certoum Mário de boa são vê.
criados, do os
sua Zé associadoalegre, de os (LEPINE,
mulherengo querido
rixas
eço 43
metáfora prazeres
legadas orixá,
jovialidade Dong
Pilintra, e suas filhos
Não sua ideal"
Andrade,
como fanfarrão, "
como e EXU"
Flor cultura, a aos da cabeças. de I981, popular.
ou épara quando Exue Exu contumaz
veremos e seus vida, o p.
e personagens
eseus toa à
alegria se malandro
boêmio, e gosto se 22)
"espirito Zé pode-se se se filhos. a Basta
que
pensar
este
Características
sensualidade
Carioca, dois trata parecem e
a por
festiva... seguir, maridos, entidades tipo Neste um
acrescentar
brasileiro" como dizer
a de desfrutar
de propria definir é muito
amante
com
Walt que uma sen ea da
MaVa da
o
Exu NoMES FACES

Segundo relatos orais, Exu é aclamado como Alake


tu, rei de Ketu. Pierre Verger (1999,p. I22) informa que

No Daomé, segundo Bernard Maupoil [1943,


p. 80], diz-se que (Exu] "era um homem que se
tornou Vodun em ljelu, na região de Ayo, a alguns
dias de distância de lle Ife, isto na Nigéria".
Trata-se, sem dúvida, de ljebu. Em ljebu, segun
do Onadele Epega [1931, cap. VIl], dizem que
ele foi posto no mundo, em lle Ife, por Oloja,

coleçao orixas 45
"EXU
" EXU

e se teria tornado o primeiro rei de Ketu (Ala


nor fleiras de búzios e de cuja cabeça pende para
Ketu) e ancestral do primeiro rei dos Egba. Em de pênis ou de
trás uma trança ou crista em forma
lle lfe. segundo Frobenius [l913, vol. I, p. 2321, uma lâmina de
faca.
acredita-se que ele tenha vindo do leste: nes.
Descriçöes de assentamentos (representaçöes
sa localidade far-se-ia uma distinção entre Esu, materiais) de Exu no Brasil, publicadas a partir do
fi
cujo culto se praticaria sobretudo no Norte, nal do século XIX, informam que este orixá
era cul
e Elegba, adivindade fålica do Sul, como qual tuado num bolo de argila amassada com sangue de
Esu teria tendência a identificar-se. Segundo o
aves, azeite de dendê e infusão de plantas, formando
padre Baudin [1884, p. 44], seu templo princi uma cabeça com os olhos e a boca feitos de
búzios.
pal situa-se em Woro, perto de Badagris. Elis Estátuas de madeira portando ogós e com cabeça
[I894. p.64], finalmente, indica que sua principal
em forma de falo também Ihe eram dedicadas.
residncia seria em lgbeti, em uma montanha Imagens fotográficas de altares, assentamentos e
perto do rio Niger, onde ele teria um palácio
peças de culto aos orixás começaram a aparecer
de cobre e numerosos servidores. Somente a partir nos anos 1930, ilustrando as pri
meiras etnografias dedicadas ao "folclore negro" e
Como personagem mítico ou divinizado, entre os
à "religiosidade popular". Nestas imagens de peças.
fon-iorubá Exu pode ser cultuado num pedaço de algumas provavelmente de origem africana, perce
pedra (laterita), num montículo de terra em forma
be-se a existência de um importante fluxo de im
de cabeça humana (com olhos,
nariz e boca feitos portação de obËetos rituais africanos para o Brasil
de büzios incrustados) do qual se projeta um
falo e a influência dos estilos da arte religiosa originaria
(ogo) ou numa estátua
antropomórfica enfeitada do Golfo de Benin e praticada no Brasil.

(olecào orxàs A6 coleçào orixás 47


EXU
" EXU

As etnografias dos anos 1930 a 1960 revelam que Ao ver que Exu cumprira o resguardo do sacrificio,
os assentamentos feitos de argila em formato de Olodumare determinou que ele tivesse a primazia
cabeça aos poucos ganharam a forma de um corpo entre os demais orixás (SANTOS, 1977, p. 176-180).
humano pela metade ou por inteiro. Inúmeros mitos de Exu mostram a cabeça como
Vale lembrar que esse diálogo também se manifes parte central do corpo na produção e manutenção
ta nas cabeças feitas de cimento dos Exus (Eleguás) do axé (energia vital).
cubanos que exibem uma pequena haste pontiaguda Outro mito narra que um sacerdote de lIfå perdeu
(geralmente feita com um prego) saindo da testa. todas as boas coisas que tinha. Exu recomenda a ele
A existência da faca ou pena na cabeça de Exu
que revele os desejos de seu coração ao seu Ori (ca
remete ao fato de ser ele um mensageiro especial beça). que é o único que pode realizá-los e salvá-lo. O
que não deve levar fardos comuns sobre ela. Alguns
sacerdote confia no seu Ori e recupera assim as boas
mitos mencionam esse atributo, Num deles, Exu con
coisas perdidas (ABIMBOLA, 1976. p. 144).
sulta o babalaó para saber o que deve fazer a fim de Embora a cabeça seja a sede do culto de Exu,
ter a primazia entre os orixás. Foi-lhe seus assentamentos também exibem estátuas re
prescrito que
sacrificasse o ecodidé (pássaro de penas presentando-o de corpo inteiro. Inicialmente, eram
das) e que não levasse nada sobre a
avermelha
cabeça durante de madeira esculpida, seguindo uma forte tradição
tres meses. Ele fez o sacrificio e na África Ocidental que nas Américas pouco se de
cumpriu o preceito.
Nesse periodo, Olodumare, deus supremo, chamou senvolveu. No Brasil, a imagem de Exu com chifres,
todos os orixás à sua presença. rabo e segurando um cetro em forma de lança em
Todos eles foram e
levaram sobre a cabeça seus vez de cabaças ou ogô foi a que mais se popularizou,
carregos (oferendas),
exceto Exu, que levava apenas uma provavelmente a partir das primeiras décadas do sé
pena do ekodide.

let coleção orixás 49


48
" EXU

culo XX. Edison Carneiro publicou, em 1937, o aue Muitos estudiosos e adeptos consideram que este
talvez seja a foto mais antiga de uma destas estátuas. cetro é influência do tridente, garfo ou arpéu das re
Nessa foto, na lança de sete pontas (representan presentações do diabo europeu. Seguindo as pistas de
do os sete caminhos), há um revólver pendurado. A Mariano Carneiro da Cunha (1983). penso que este
presença desta arma de fogo pode indicar a função tridente, ainda que possa ter adquirido o significado do
de guardião da ordem e dos espaços (uma espécie
tridente diabólico, é também uma variaço do"pentea
de policial), mas também de promotor da desordem, do" fálico de Exue do chifre como sinal de força na
podendo estar relacionado ao mundo da rua, da cri tradição africana. Representações de Exus com forma
minalidade, da subversão e do perigo. humana, mas com chifres e rabos, também são encon
Com o passar do tempo, o corpo
antropomórfi trados na Africa Ocidental, ao menos desde a primeira
co de ExU assumiua forma
cilindrica, numa provavel metade do século XIX (PARRINDER, I949, p. 81), es
referenciaao falo, e o cetro, a forma de um
garto tando associadas aos símbolos de poder e fecundidade.
de tres pontas (tridente) para o
ExU masculino e de Exu movimenta-se no tempo e no espaço rapida
duas pontas para a sua versão feminina, mente por meio do ogó que ele usa também para
chamada de
PombagiraVale

lembrar que a versão feminina de Exu atrair objetos distantes (VERGER, 1999, p. 136). A
existia na Africa Ocidental, e no encruzilhada, por ser o encontro dos caminhos, e
Brasil era comum,
durante as primeiras décadas do
ràr nos
século XX, encon um dos espaços preferenciais para a realização de
de
assentamentos de Exu uma
boneca vestida suas oferendas. Na umbanda, costuma-se afirmar
vermelho (CARNEIRO, 1937,fig. 6). Essas que as encruzilhadas em forma de "X" (com quatro
de Exu
proliferaram nos terreiros, estátuas pontas) são destinadas a Exu e as em"T" (com três
mais conhecidas tornando-se as
dentro e fora da religião pontas), à Pombagira.
atualmente.
olecao orIKas 50 colecào orisàs 51
tolica
mitologiasexpressar, linha.
ceira segunda
a das garfosgênero.aludem do
parece
Penis variaço
encruzilhadas tridente A
de ênfase
e linha. (de Na ao ter
Exu chifres
queportanto, dos três figura corpo
ao
esido mitica
s52
lecao
utilizam corposNotem dos
Diabo.,
e
reelaborada
postos abaixo,
(em duas
não
humanolugares na
que
a masculino formapontas) simbologia "
linguagem mas
apenas sobre EXU.
elas apresento
em de
o estão de nas
sua
oferenda,
encontro a a e X" na formas do
subjugação
do cabeça diterenciação
femininoter na deprimeira as
baixo e
variações falo
acordo em
destas
geométricae
cujas e
podem
cor "T") da
linha
ca com linhae vaGine
na dos por
e

outras
tridente dasemblema, para
pólvora umbanda.poram
mar sobrepedaço e
pelos nacionais sínteses
ferramnentas.
Os
mitos poral
transformação.
pessoas. o
sexualidade, Os
a ele
linhas ponto",
realização em"pontos
Exus garfos que e
fornece ou de das da
os acendem
Normalmente do
giz ideias
s£o presença
seus para vinculam
de
Sejapapéis Exus orixá, se
visa(calcário) riscados"
ao
3 traçadas. oqual de filhos, se tornaram pontas
de
podem,
padrãocontendo a
velas. vistos
operações
construir
for encontro,
identificarem poder, Ou EXU
sobretudo
são triplas
Este o os em ausência
básico o por
seu Exus emblemas
potentes
objetivo, os
um ato, seus oucorpo,
mágicas.
exemplo, transição,
apedidos chamadopontoriscam nas
centro pontos duplas, nele
partir quando símbolos
a sexualidade do
forma Sobre nosessões
elaborados
queimar
doescritos de com riscados passagem por falo
de
chão
qual força incor trans serem
do
este "fir um de nos
e e
" EXU
"EXU"

ou do "tra
As ferramentas' poderiam ser vistas como uma geralmente do trabalho pesado, braçal,
mal), reflete
versão em ferro dos motivos presentes nos dese balho sujo" (feitiços relacionados ao
nhos dos pontos riscados. Sao feitas para compor imaginário brasileiro, no
um aspecto importante do
os assentamentos da divindade cultuada enm altares qual trabalho braçalévisto como uma tarefa des
individuais ou coletivos. qualificante, destinada preferencialmente às classes
As ferramentas expressam cosmologias comple baixas, em geral às populações negras e pobres. Na
xas. Exu, enquanto intermediário, serve como forca condição de escravo, Exu é o "pau-mandado", o ca
dinämica dos próprios orixás e dos homens. Por pataz, o serviçal, aquele que cumpre ordens. Porém,
esta razão, cada orixá ou ser humano tem um Exu como marginal, ele é também potencialmente um
que Ihe serve, o que leva muitos adeptos a ver Exu sujeito da revolta e da insubordinação. Exu, tal como
como "criado" ou "escravo dos orixás". as classes subalternas, precisa ser contido, e sua for
Experièncias sociais expressam-se nessas ferra ça, controlada. Assim, cadeados são colocados nos
mentas por meio do cruzamento de assentamentos de Exu ou na porta da casa onde
cosmogonias
e do compartilhamento de contextos estão seus assentamentos para que, no movimento
históricos.
A concepção de Exu como de abrir ou fechar destes cadeados, sua força seja
"diabo" e "escravo" e
certamente tributária da viso católica sobre a liberada ou controlada. Alguns nomes pelos quais
religiosidade africana e a escravido. E mais: a con ele é conhecido, como "Exu Abre-Caminhos", "Exu
Cepçao de Exu relacionado ao mundo do Tranca-Ruas", "Exu Porteira" e, mais recentemente,
trabalho, "Exu Sete Cadeados", assim como referências ao
erraerta
deter muadG orá onome pelo qual se seu poder de quebrar barreiras, presente no reper
Que santetizam seus conhecem os ferros de um
para Oxoss o
riderte para Exu et atributos. como o arco e Tiece tório dos c§nticos de Exu na umbanda, como vere

54
colec ao orixas55
"EXU EXu

mos adiante, enfatizam esta dimensão


incontrolável
malandros, contraventores, prostitutas, criminosos
da entidade. etc.Aquilo que Fernando Giobellina e Elda Martinez
No final do século XIX, com o fim da escravidão
(1991) definiram como a "marginália sagrada". Nas
eo advento da República, aservidão que prendia o sessões de umbanda, a função do culto a estes es
escravo à ordem senhorial foi formalmente abolida, píritos épromover sua evolução espiritual. Muitos
dando lugar ao trabalho livre, que supostamente inclusive conseguem evoluir, deixando a condição de
permitiria uma maior mobilidade social do trabalha "Exus pagãos"" para se tornarem "Exus batizados".
dor na nova ordem econômica e social.A umbanda. Aos Exus pode-se pedir, para si ou para os outros,
religião afro-brasileira de influência kardecista, nas sucesso oufracasso, saúde ou doença, mas, em troca
cida no åmbito dessa ideologia do progresso social do atendimento, o consulente deverádar-Ihes ofe
nas primeiras decadas do século XX, traduziu para rendas como bebidas alcoilicas, charutos, sacrifícios
o plano espiritual os anseios de mobilidade das clas de animais e dinheiro. Acima dos Exus, estão os
ses rurais e urbanas. caboclos e os pretos-velhos, que representam, res
Assim, por influência da teoria de evolução espiri pectivamente, os espíritos das populações indigenas
tualkardecista, a umbanda organizou suas entidades brasileiras e africanas escravizadas. Estes espíritos,
em grupos ou "linhas", hierarquizando-as segundo por terem tido uma vida na terra marcada pelo so
estágios evolutivos.A categoria dos Exus frimento e pela expiação, estariam em uma categoria
então o degrau mais baixo dessa
representa
hierarquia, e dela intermediária, e geralmente só realizam trabalhos
fazen parte os espiritos condenados para o bem. Os orixás e os santos católicos situam
ao reino das
trevas e das sombras porque na se nos patamares mais altos desta escala, que tem no
terra tiveram uma
vida desregrada. São os topo a santissima trindade do cristianismo.
bbados, viciados, bandidos,
coleção orixás -57
EXU
EXU

Na ideologia religiosa da umbanda, o trabalho umbanda, sintetizaro como apanágio de um mundo


passou a ser uma palavra-chave. Não é sem razâo em transformação.
que a principal misso da umbanda é trabalhar pre. A caracteristica mais polêmica de Exu no Brasil é.
ferencialmente por meio do transe mediúnico que portanto, aquela em que ele se apresenta como um
ocorre nas giras, em prol do progressO espiritual ser saído do reino dos infernos, seja com nomes de
dos vivos (os médiuns e o público consulente) e possiveis avatares do Exu africano (Exu Tiriri, Exu
dos mortos (espiritos desencarnados). Trabalho, de Marabô, Exu Lodêetc.), seja assumindo os próprios
um lado, e caridade, de outro, seriam os caminhos
nomes dos demônios mencionados na Bíblia (Exu
para os homens e os espiritos desencarnados alcan
Belzebu, Exu Lúcifer etc.).As estáuas de gesso des
çarem novos estágios de desenvolvimento na terra tes Exus, encontradas em grande quantidade nos
(2stral iferior) ou em outros níveis da existência
altares dos terreiros, são um bom exemplo deste
(2stral superior). Os Exus tornam-se
personagens imaginário. Essas estátuas reproduzem no Brasil
centrais nesse sistema, pois apossibilidadede sua contemporâneo uma confluência entre as represen
mobilidade (do "Exu-Demônio" ou "Exu pagão" tações do diabo presentes nas gravuras europeias
parz o "Exu batizado") demonstra a
eficácia simbó da ldade Médiae a visão europeia do Exu africano
lica do Sistema ao capacitar os que se
encontram que foi elaborada desde a época do contato e atra
no patarmar mais baixo da
ordem social ou mítica (o vessou o Atlântico em direção à América.
mundo d2s trevas.
ir para O primitivismo ou
mundo da luz, por meio doescravidão) para
No século XX, por influência de um imaginário
constituído por histórias de mistério, terror e até
O
trabalho como ideologia do trabalho livre. vampirismo, esses Exus passaram a expressar. por
Ou
espiritual sera uma das facetasprogresso material meio de suas imagens, o lúgubre e o macabro. Nas
que os Exus, na

coleçao orixas59
" EXU EXU

giras de Exu, que ocorrem nos terreiros geralmente função desta relação. Conta um mito que, quando
Dor volta da meia-noite de segunda ou sexta-feira. é Olodumare enviou os orixás à terra (aiê), designou
possivel ver este imaginrio em ação: Exus vestidos um Odu de Ifá (signo do destino) e um Exu para
com cartola e capa preta, bebendo, fumando, sol acompanhar cada um deles e ajudá-los em suas ta
tando grunhidos amedrontadores e usando expres refas.Assim, é por meio do axé de Exu que os orixás
sões que denotam o seu grau de evolução espiritual:
dinamizam seu poder. Outro mito narra que Olo
quanto mais desbocados, ofensivos e obscenos, me dumare, ao criar o universo, deu a Exu Odara uma
nos evoluidos demonstram ser. E, por isso mesmo,
cópia do axé, da força divina, com a qual construiu
podem ser procurados pelos consulentes em busca o mundo. Exu seria também o senhor do agbára
de soluções radicais para seus problemas.
(poder neutro) e, nesta condição de Elegbára, é re
No candomblé de tradição fon-iorubå, Exu
pode presentado por uma cabaça que contém o poder de
ser invOcado sob inúmeros nomes ou avatares realização. Como Osije-Ebo, é ele quem transporta
(também chamados de "qualidades", no Brasil, ou o carrego, o ebo. Na condição de Enugbagiro, repre
"caminhos", em Cuba). Mesmo sem haver consen senta a boca coletiva que tudo come e devolve ao
so sobre aiguns dos seus
que estes nomes ou
significados, pode-se dizer orum. Exu é, assim, o vigia e lider dos orixás, a quem
avatares fazem referncia a competiria abrir as portas do orum, o Olopá Orun,
epitetos,titulos. funções, atributos
esfera de regencia etc. Cada ser míticos, lugares,
porteiro e mensageiro divino (SANTOS, SANTOS,
197lb; SANTOS, I977; ABIMBOLA, 1975;VERGER,
proprio Exu, chamado Exu Bara,humano poSsui seu
o Senhor que
traz 1981; BARRETTI, 2010). Vejamos alguns destes no
movimento ao corpo. Os orixás mes e atribuições:
Seus Exus também possuem
particuares, que são
identificados em

coleçao orixás . 61
" EXU
" EXU

" Exu Agba ou Oba - O Senhor Ancestral, Rei da


Exu Enugbarijo - Senhor da Boca Coletiva
Existncia Exu ldena Exu de Eteko (orixá)
-Exu AgbÏ ou Ologbó - Senhor do Ogó (Pênis),
" Exu lgba Keta - Senhor da Terceira Cabaça
da Fertilidade
(aquele que foi criado em terceiro lugar)
- Exu Agbage - Exu de Obatalá
" Exu ljarmu -Exu de Oxóssi
" Exu Agbire- Exu de Oxum
" Exu ljelu ou Jelu - Senhor do Elu (planta que
" Exu Akessan - Senhor do Mercado, da Comuni
cação. das Trocas
produz o waji, tintura azul de iniciação)
" Exu lkagunda - Exude Oranife (orixá)
Exu Alafia - Senhor da Paz, do Bem-estar, da
" Exu llare - ExXu de Ossaim
Sat1sfação " Exu Ina(n) Senhor do Fogo
" Exu Aaketo - Senhor Rei de Ketu
Exu Itoke - Exu de Nanã
- Exu Batba Shiguidi - Senhor da Vingança
Exu lwori Mejeeji - Exu de lemanjá
" Exu Bara - Senthor do Corpo
Exu lworiwodi - Exu de Oko
" bxu Bara Baba Ebó - Senhor Pai do Ebó
" Exu Laalu - Senhor que vem e
" Exu Bode protege
-Exu de Egungun " Exu Laròye - Senhor da Controvérsia, Senhor
Exu Elebo ou Eleru - Senhor das
Dádivas, das da Honra
Oferendas, dos Carregos " Exu Lonan ou On - Senhor dos Caminhos
Exu Elegbara - Senhor da Realização, da Trans Exu Oba Baba Exu - Senhor Rei e Pai Coletivo
mutaçao, Exu de Ogum dos Exus
Exu Eleru - Senhor dos
Ritos (eru) Exu Obara-Otua Exu de Obaluaiè
Exu Emere - Exu de
Oxumare Exu Obasin Exu de Odudua e Orunmila

coleçào orixás 6}
EXU " EXU"

. Exu Odara - Senhor da Beleza, da Felicidade. conhecido como Aluvaiá, Gongobira, Bombojira,
das Coisas Boas Pambojila, Unjira, Unjila, Nzila, Mavambo, Mavile.
Exu Oduso - Senhor Vigia dos Odus Jiramavambo, Paven, Mancuce, Quitungueiro, Cara
Exu Ofun Meji - Exu de Oke coci, Cariapemba, entre outros nomes (CARNEIRCO.
Exu Okanran Meji - Exu de Xangô 1937; SANTANA, 1984). Nesta nação ele também
- Exu Okoto - Senhor do Caracol desempenha o papel de mensageiro divino, repre
Exu Olobé - Senhor da Faca sentado pela encruzilhada, de protetor das casas
" Exu Olopi Orun -Senhor Porteiro do Orum e intermediário entre os homens e o mundo dos
. Exu Olorun Sara - Exu de Oia ancestrais e outras divindades.
" Exu Orifin -Exu de Oro Na umbanda, os Exus que não se
apresentam com
" Exu Oro-igi - Exu de Iroko nomes africanos ou de demônios cristãos permitem
" Exu Orun ou Exu Nile Olodumnare - Exu da uma análise do diálogo entre as concepções com as
casa de Olodumare, Exu de Oxagui quais entraram em contato. Não é necessårio re

Exu Osije-Ebo - Senhor do Transporte do Ebó. produzir aqui a grandee crescente quantidade e va
Senhor da Reparação riedade destes nomes: basta citar alguns, como Exu
Exu Oturu Ponwonrin - Exu de Obalufon Sete Encruzilhadas, Exu Porteira, Exu Tranca-Ruas,
"Exu Tiriri - Senhor Valoroso Exu Destranca-Ruas, ExXu Catacumba, Exu Caveira,
" Exu Yangi - Senhor da Laterita Vermelha Exu Cemitério, Exu Lorde da Morte, Exu Matança,
Exu Meia-Noite, Exu do Lodo, Exu Duas Cabeças.
No Exu Morcego, Exu Capa Preta, entre outros. Esses
candomblé de tradição banta (angola e congo).
o correspondente ao orixá Exu é o inquice Exus "brasileiros" revelam a dinâmica dos processos
(NkisI)

coleç ào orix ás b5
ulecae utixàs4
EXU EXU

cognitivos decorrentes da elaboração da cosmolo marca o fim de um dia e o começo de outro, e o


gia africana de Exu e do seu imaginário na diáspora meio-dia é o divisor que separa a manhã da tarde).
afro-americana. Como se percebe, os nomes fazem Os pontos cantados nas giras dos Exus e a for
referncia a pontos de passagem ou limítrofes (en ma pela qual se apresentam quando se manifestam
cruzilhada. porteira, rua). a espaços ou estados de no corpo dos seus filhos ou médiuns também per
intercessäo entre o mundo dos vivos e dos mortos mitem entender o que so estas divindades, o que
(cemitério, catacumba, caveira), a estados interme regem e o que trazemn ao mundo terreno.
diarios entre a matéria sólida e liquida (lodo, lama), a Conforme indica o ponto abaxo (SANTOS, 201|),
estados intermediários de incidência de luz (sombra, Exu pode ser uma entidade do bem e trabalhar por
madrugada). aos seres hibridos (meio humano, meio caridade e amor, buscando ajudar os homens. João
animal). à duplicidade e àalternância das coisas (duas Caveira, por exemplo, éum "espírito de luz'", filho de
cabeças. capa preta de um lado, mas vermelha do Obaluaiê, orixá da saúde, que oferece seus serviços
outro, como o barrete bicolor que EXU usa segundo quem necessitar. (Impossivel não notar o curioso e
Seus mitos) e a mudanças dos periodos do tempo aparente paradoxo entre sua condição de""caveira" ou
(meia-noite. alvorada). Sobre este último aspecto, o de morto e a de promotor do bem-estar dos
vivos).
da e o horário escolhidos para as sessões de Exu,
segunda e sexta-feira à meia-noite, reafirmam esse Moço, vou lhe apresentar,
Simbolismo. pos trata-se de dias de passagenm en Vou lhe apresentar,
tre a jornada semanal de trabalho e o periodo de Um espirito de luz,
lazer do fim de semana (sexta-feira e Para Ihe ajudar,
e horarios de transiço dos segunda-feira) Oi moço, vou Ihe
apresentar,
periodos (a meia-noite

oleo orixs bb coleça0 orixas 67


"EXU"
EXU

Vou Ihe apresentar,


Mas não é porque um Exu faz o bem que ele não
Um espirito de luz,
pode fazer o nmal, ou seja, atacar e fazer demandas
Para Ihe gjudar.
(feitiços), em vez de proteger e ajudar, como procla
Ele é Joðo Coveira, ma Exu Rei, o maioral.
Ele é filho de Omolu,
Quem quiser falar com ele, Exu Rei éo maioral,
Alubande, Exu. Exu Rei é o maioral,
(Ponto de Exu João Caveira) Ele vem fazer o bem,
E também fazer o mal.
O mesmo acontece com Exu Sete Encruzilhadas, (Ponto de Exu Rei)
que só "trabalha por amor e caridade'":

Exatamente por serem senhores das passagens,


A bananeira que eu plantei à meia-noite, os Exus são muito requisitados para abrir caminhos.
Foi Oxalá quem mandou,
ajudar na ascenso material ou espiritual (pois mo
Para Sete Encruzilhadas trabalhar, ram na "ladeira'")."abrir porteira","arrebentar por
Eo caridode no mundo ele prestar. tão de ferro", decidir que caminho seguir quando
Mos ele é Sete Encruzilhadas, se está numa "encruzilhada da vida", ou vigiar uma
EJe é rei, sim, senhor,
pessoa e defend-la contra seus inimigos: enfim, aju
Trabalho por caridade, dar na passagem de uma situação negativa para uma
Trobalha sópor amor. situação positiva:
(Ponto de Exu Sete
Encruzilhadas)
olecàe orixás 68 coleçao orixás 69
"EXU
" EXU"

Exu pequenininho, Oinimigo está invadindo a porteira do curral.


Dele não faça pouco, Bota as mãos nas suas armas, vai guerrear.
Olha lá que ele é Exu, Bota o inimigo pra fora, para nunca mais voltar.
Ele é o Exu do Lodo.
(Ponto de Exu Tranca-Ruas)
Oi Exu do Lodo,
Você não é brincadeira,
Portão de ferro,
Exu do Lodo,
cadeado de madeira.
Vocêmora na ladeira,
Quem manda no cemitério
Acopa para Exu,
éo Exu Porteira.
Que eu mondei fazer,
(Ponto de Exu Porteira)
Não era para Exu,
Épara Barå Lode. Exu da Meia-Noite,
Oi ocopo para Exu, Exu da Encruzilhada,
Que eu mandei fazer,
No terreiro de umbanda,
Oi não era paraExu, Sem Exu não se faz nada.
E para Bará Lodê. (Bis)
Comigo ninguém pode,
(Ponto de Exu do Lodo) Mas eu posso com tudo,
Na minha encruzilhada,
Estova dormindo na beira do mar. Eu sou Exu Veludo.
Quando os almos Ihe chamaram pra trabalhar. (Ponto de Exu Veludo)
Acordo Tranco-Ruas, vai vigior.

olecae orixás 70 coleçao orixás 71


"EXu

Com Exu nÙo se brinco


ponto firme na tronqueira da Kalunga (que na tradição
Exu é ganga de là banta éo mundo de baixo ou dos antepassados). Ou
Ele abre e tronca os camninhos
seja, se do alto (o céu cristão?) ele foi expulso (talvez
Exu é rei, é tatá
como diabo), soube encontrar sua força entre os mor
(Ponto de Exu) tos (antepassados africanos) para falar aos vivos.

Ló ng encruza um bode preto Lalu era anjo do céu,


Deu um berro
E do céu foi despejado.
Estourou portão de oço Na tronqueira da Kalunga,
Rebentou portõo de ferro Tem seu ponto confirmado.
(Ponto de Exu Porteira) O seu ponto é firme, ele é Exu,
O seu ponto é firme, ele é Exu Lalu.
Ló ng porteira
(Ponto de Exu Lalu)
Eu deixei meu sentinela,
Eu deixei o Meio-Noite O movimento e o
mistério de Exu tambm se ex
Tomando conta da cancela. pressarm quando ele é cantado como "tranca-ruas"
(Ponto de soudoção oos Exus) que "abre a gira" e "corre o mundo".

O sino da
Na cantiga a seguir, ocaráter ambiguo de
Exuéenal igrejinha
Faz belém, blém... blóm...
tecido. pois e desse mistério que a entidade
retira sua
força Ele é anjo despejado do céu Deu meia-noite,
(caído), mas tem o
colecào orixàs 72 colecào orixás 73
.FXU: EXU

Ogolo ja cantou. Por fim, num interessante ponto (abaixo), Exu é


Seu Tranco-Ruas
saudado como aquele que traz em si a mnarca da
que e o dono da gira, própria formação do povo brasileiro: tem nome
Oi corre gira
africano (Tiriri), é criado em Nazaré (cidade onde
que Ogum mandou. Jesus viveu), é filho de indigena brasileiro ("xavan
Seu Tranco-Ruas
te") e neto de portugueses ("navegante"). E acaba
que é o dono da gira. sendo proclamado "rei".
Segura a gira
que Ogum mondou. Ele se chama Tiriri,
(Ponto de Tronco-Ruas) Se criou em Nazaré,
Éfilho de um xavonte,
Ou quando afirma, por meio de um enigma, seu Neto de um novegante,
poder de vida e morte. de libertar ou confinar, ao Rei Tiriri ele é.
fazer uma casa sem porta e sem janela (um E um rei é. é um rei é,
caixão?)
e procurar um morador para ela. É um rei é, é um rei é.

(Ponto de Exu Tiriri)


Exu fez umo cosa,
Sem porteira e sem jonela, Devido a esta condição de mediação entre distin
Aindo nôo ochou, tos universos miticos e sociais, algumas imagens de
Morodor pra moror nela. Exu mostram-no como um "ser duplo" que traz em
(Ponto de Tronco-Ruas) si as partes mediadas.

4 coleçao orixás . 75
EXU EXU

Entre os iorub£s, Exu é uma entidade freguen uma caracteristica de Exu que não se deixa restringir
temente masculina. Entretanto, conforme informa àdivisão de gênero, ainda que sua sexualidade seja
A. B. Ellis (1890. p. 4|), Exu pode ser representado retratada visualmente por meio de um falo ereto.
por uma fgura feminina, provida de seios longos e pon Entre os mitos encontrados, porém, apenas um des
tudos e outros dcessórios necessários.
creve Exu como mulher (GUNDIPE, 1978, p. 178).
Wande Abimbola (1975, p. 27) afirma que em Segundo esta narrativa, Ifå nasce e os babalaôs pro
alguns mitos é a mulher de Exu, chamada Agberu, fetizam que ele serámuito conhecido e importante.
quem tem a obrigação de coletar os sacrifícios e os Mas seu passatempo é ficar parado, vendo as pessoas
entregar ao marido: passarem, e conversar com elas. Torna-se muito po
pular. pois sempre escuta a todos e tem conselhos
A posiç£o de Exu é central no sacrifício para ou opiniões a dar. Entretanto, não consegue aprender
a adivinhação de Ifá. Exu é o poder responsável nenhuma profissão nem quer casar. Numa encruzi
por levar todos os sacrificios para as divinda Ihada, encontra urna mulher bonita e intrigante, que
des.Alguns mitos afirmam que a esposa de Exu, causa inveja e, por isso, as pessoas passam a evitaro
conhecida como Agberu (a coletora dos sacrifi casal. Ifå cai no ostracismo. Amulhero leva para a
cios), é quem de fato aceita todos os sacrifícios floresta, onde lhe ensina o valor medicinal das plantas
e os entrega ao seu marido, e como adivinhar com frutos de palmeira. Por grati
dão, Ifå promete que, em todo sacrificio prescrito, ela
Esse caráter de duplo sexo, ou sem um sexo deverå receber a primeira parte, e seu retrato devera
defini
do, foiinterpretado por muitos autores (OGUNDIPE, sempre estar no tabuleiro de adivinhação. Essa mu
1978. p. l63: SANTOS, Iher é Exu.
SANTOS, 197Ib, p. 9|) como
coleçào orixás77
coleçao orixás 76
EXU
EXU

No Brasil, Exu é tambem uma entidade masculina.


por oposição (BARROS, 2010). A vagina encontra
porém a categoria dos Exus, sobretudo na umbanda seu lugar no corpo feminino da mesma forma que
abriga inúmeras outras entidades, como baianos., ci. o pênis que faz par com ela encontra seu lugar no
ganos, Zé Pilintra e Pombagira. Esta seria um trickster corpo masculino, como lembra o mito a seguir.
feminino que desafia a ordem patriarcal da sociedade Quando Mawu (ser supremo) criou as mulheres,
bra_ileira por meio da não aceitação da subordina não sabia onde colocar a vagina. Depois de mui
ção da mulher aos papéis domésticos tradicionais de tas tentativas (na orelha, no nariz), fixou-a sobre
esposa e mãe. Embora ela possa também ser vista as axilas, porém não era um bom lugar, pois seu
como mãe, é como "mulher da rua", e não "da casa". cheiro ofendia o nariz e as mulheres passaram a
que a Pombagira assume o estereótipo da prostituta. levantar o braço para exibi-la. Exu, que nessa épo
Nesse sentido, seu poder decorre do dominio que ca também não tinha um sexo, resolveu ajudá-la.
manifesta sobre seu corpo e sua vontade, ainda que Após consultar Ifáe realizar o sacrificio necessário,
isso lhe custe uma reputação social estigmatizada. recorreu à Minona. Esta recomendou que a vagina
Ela se utiliza da diferença anatômica (pênis e
vagina). fosse colocada entre as pernas, e assim foi feito.
associada ao sexo biológico (macho e fêmea) e aos Exu, por ter realizado o sacrifício, arroga-se desde
papéis de gênero (masculinoe feminino), para ques ento o direito de andar com o pênis adquirido à
tionar por meio da jocosidade e da
licenciosidade o mostra, para que todos lembrem que foi ele quem
poder social que instaura relações de
partir destes marcadores sociais da
dominação a ajudou a encontrar o lugar certo para a vagina
diferença. (MAUPOIL, 1943, p. 507).
Essa diferença entre os corpos
ninos parece surgir por
masculinos e femi De qualquer modo, os Exus, segundo a iconogra
complementaridade e não fia das imagens umbandistas, såo representações de

coleçao orixas 75 coleção orixás 79


"EXU
" EXU

homens de corpos viris, seminus, de cor de pele


diz respeito também àpossibilidade de oposiço à
"'marrom" e em muitos casos de fenótipo negro dominação pela aceitação inicial dos estereótipos,
-africano e feição ameaçadora. Trata-se, sem dúvida. para em seguida uså-los a fim de criticar a ordem
de representações associadas ao corpo do africano social que os gerou.A mulher feita prostituta "acei
escravizado e de seus descendentes mestiços, vistos
ta" a prostituiço para depois rir e escandalizar a
como seres dotados de uma sexualidade exacer
sociedade que a gerou.
bada. O mesmo se pode afirmar sobre a Pomba A demonização do Exu e a orixalização do de
gira. que representaria principalmente mulheres mônio, ou suas mediações, expressariam, assim, as
de comportamento moral ou sexual tido como
leituras reciprocas de universos culturais em conta
reprovivel. Quando incorporadas, manifestam ges to, no contexto dos quais foi imputada aos corpos
tos expansivos e eróticos, utilizam "palavrões" ou
submetidos (o negro, a mulata) a responsabilidade
expressões jocosas e de duplo sentido, consomem pelo desejo despertado.
bebida alcoólicae fumamn. Este imaginário, em mui
A mestiçagem não apenas gera seres "hibridos"
tos casos. reproduz, no plano mitico, o poder de biologicamente, mas também os faz "hibridos" cul
sedução atribuido às mulheres negras e mulatas, turalmente. Desejo, repulsa, fascinio pelo exótico e
cuja sexualidade e erotização foram medo do feitiço eram alguns sentimentos que es
apanágios
da
viso deturpada impingida pela sociedade brasileira tes "corpos hibridos" passaram a despertar na sua
2s mulheres africanas e
posteriormente mestiças condição simultânea de marginais sociais (como o
no regime escravocrata e no contexto urbano pos Z Pilintra e a Pombagira) e de reconhecidos agen
-abolição. Entretanto, quero enfatizar que, para alem tes da transformaço do mundo por meio de um
destes estereotipos, a livre expressão Suposto e privilegiado manuseio de "ferramentas
destes corpoS
coleçáo orixàs 81
EXU

mágicas". Imagens de seres "mistos" fornecem. nor Exu MITOs RITOS


anto. uma boa metáfora de uma sociedade que se
vÁ como resultante do trânsito transatlântico de
corpos e culturas que modelaram um mundo unido
e dividido, único e múltiplo. E, pois, na capacidade de
interagir ou dividir, de provocar o consenso ou o
dissenso. de juntar os opostos ou separar os pares,
de obedecer ou subverter as regras, que Exu, em
suas inumeras faces, exprinme o seu poder no Brasil.

Quais são os temas recorrentes na mitologia fon


-iorubá e afro-americana de Exu? Quais são seus
significados socioestruturais? Considerando seu pa
pel, sobretudo nos mitos de origem, Exu alude aos
princípios fundadores da vida social, na medida em
que compete a ele manipular e dinamizar os siste
mas classificatórios que atribuem significados à vida
dos homens em sociedade. Ou seja, os mitos de Exu
parecem revelar os impasses e contradições da pró
pria aquisição da cultura pelo homem, ocorrida com

coleção orixás - 83
colecae orixás 82
EXU EXU

os
a elaboração dos sistemas sociais de trocas de bens. Da laterita (pedra) ao tridente falico brasileiro,
de aquisição da linguagem e de elaboração do paren assentamentos de Exu exibem diferentes arranjos
tesco, entre outros. Vejamos alguns destes aspectos. destas concepções. Pode ser um monte de terra
localizado na entrada do terreiro, sobre o qual se
COMPADRE DE EXU fazem as oferendas de sangue de animal (entre os
quais, bodes, aves e ibi, espécie de caramujo), azeite
No Brasil, Exu é cultuado no chão, geralmernte na de dendê, moedas etc.

entrada dos terreiros, na forma de um assentamento Na África, de acordo com Maupoil (1943), o Exu
coletivo ao ar livre e de assentamentos individuais da porta é uma proteção contra forças negativas
privativos localizados em um cômodo isolado, cuja vindas de fora, e o Exu dos aposentos, uma prote
porta fica permanentemente trancada para restrin ção contra possiveis ações malficas originadas no
gir o acesso e também para que o deus trickster, interior do pröprio grupo. No Brasil, estas funções
segundo as diferentes crenças, não fuja e espalhe de foram associadas a diferentes graus de periculosida
sordem pelo mundo (BASTIDE, 1978, p. 71). Como de. O Exu da entrada é considerado mais "maléfico"
vimos, cadeados e chaves são mencionados em suas ou perigoso em relação ao dos aposentos, que é
cantigas na umbanda e podem ser colocados nos mais protetor, e por isso chamado de "compadre"
seus assentamentos, em referência a essa força que (CARNEIRO, I937, p. 42; BASTIDE, 1978, p. I80).
precisa ser controlada. Exu também é assentado A dicotomia afro-brasileira do Exu de dentro (da
atrás da porta dos barracões, onde se realizam as casa) versus Exu de fora (do portão ou da rua) ou.
festas publicas, ou dos pejis. Em ambos os casos, ele nos termos da umbanda, Exu batizado versus Exu pa
desempenha o papel de guardião e protetor da casa. gão, expressa, com metáforas de lugar (próximo-dis

coleçao orixás 84 coleção orixas 85


EXU EXU

(batizado-pagão), as dicotomias "confusão" de devo


tante) e converso Ou seja, não se trata de uma
estudadas por Roberto DaMatta em sua análise sO da vela
Cões, como se percebe pela escolha da cor
bre o caráter relacional da sociedade brasileira, na e do lugar adequado para acendê-la. A
prescrição
de
qual a "casa" (mundo das relações pessoais famili popular de não se acender vela colorida dentro
res) e a "rua" (mundo das relações impessoais dos estes dois
casa expressa os risCos de "misturar"
cidados) sâo as duas inståncias ideais das relações campos de significado, "poluindo-os" pela aproxima
sociais. "No fundo", diz ele, "vivemos numa socie ção perigosa entre lögicas universais e domésticas,
dade onde existe uma espécie de combate entre o públicase privadas, noções legitimas e espúrias de
mundo público das leis universais e do mercado e o sagrado. O Exu compadre é, portanto, aquele que
universo privado da família, dos compadres, paren pode ajudar em momentos de dificuldade porque é
tes e amigos" (DAMATTA, I985, p. 72). um "quase-parente" e está próximo da familia e da
Exu simboliza esta tensão presente nas relações casa. O "Exu do portão" seria, então, o conhecedor
de troca estabelecidas por meio das oferendas. dos meandros das ruas, que atende aos pedidos sem
Um aforismo popular recomenda "acender uma julgamentos de valo, impessoalmente, seguindo a lei
vela para Deus e outra para o Diabo" guando se universalista das trocas, do "toma lá, dá c£". Faz o
precisa de ajuda a qualquer custo. Recomenda-se, que lhe mandam em troca de dinheiro, cachaça, car
entretanto, acender vela branca para Deus, prefe ne ou sacrifício de sangue, pois, afinal,"santo de casa
rencialmente no interior das igrejas e casas, e vela não faz milagre".
colorida (preta elou vermelha) para o"Diabo" pre Essas concepções também são observadas em
ferencialmente em ruas, encruzilhadas e"cruzeiros" outros pontos da diáspora africana. Em Cuba, o ca
(local destinado ao culto das almas no ráter dual entre o Exu da casa e o do portão ex
cemitério).
coleção orixás.87
coleçao orixás. 86
EXU EXU"

pressa-se por mneio do par Elegu£-Exu. Conformne potencial ordem e


do mundo aberto das ruas e a
explica Natália Aróstegui (1990, p. 36): da casa. Por isso, espera-se que
segurança do mundo
o "Exu da porta" seja uma espécie de
"sentinela"
um
O par Eleguá-Exu constitui a expressão mí tomando conta da porteira, como vimos em
tica da relação inevitável entre o positivo e o de seus pontos. Já o EXU-compadre sugeriria uma
negativo. Para os iorubás, a casa significa o re relação mais complexa, pois pode representar pri
fügio por excelência, o lugar privilegiado contra mordialmente a proteção dos de "dentro"" contra
as vicissitudes do destino. Em sua porta está os de fora", mas, também, a proteção dos da casa
Eleguá, marcando com sua presença a fronteira em relação uns aos outros.
entre dois mundos: o interno, de segurança, e Enfim, o Exu gue se deixa batizar e se torna com
o externo, de perigo. Mas não pode haver se padre dos homens, mas ainda se mantém como ser
gurança sem perigo, ou sossego sem preocupa da sexualidade ordenadora e desordenadora da fa
ço, e, por isso, o par Exu-Eleguá é inseparável, milia, da sociedade e da religião, transitando da rua
apesar de sua oposição. Eleguá protege a casa e, para a casa e vice-versa, parece refletir no imaginä
quando nela aparecem os problemas, é porque rio afro-brasileiro as várias dimensões destas lógi
Exu, o vagabundo, a invadiu. [Tradução minha] cas que formam a '"nação brasileira".

A domesticação do Exu "perigoso", que vive no EXUORDEM DESORDEM


portão e deve ser mantido preso por cadeados,
pode sugerir, assim, os riscos dessa '"oposição indis Segundo Dennet (1910, p. 18), o mundo na tradição
soluvel" entre a potencial desordem e iorubá foi criado por uma mulher, Yemuhu (Odudua).
insegurança

colecao oriás 88 coleçao orixás 89


EXU"
EXU

Okun
e por um homem, Orixalå (Obaba Arugbo), que vie. No início não havia terra. Havia apenas
ram àterra acompanhados de Ajajuno, uma pessoa (ou Olokun), o oceano, e a água se estendia
Olorum,
que agia como mensageiro e chefe de guerra. De. sobre todas as coisas. Acima, havia
Dois de criaremo mundo, se encantaramn e viraram o orixá do céu, e Olokun, o orixá do mar, os
pedra. Essa narrativa ficou pouco conhecida. Coube quais eram contemporâneos. Eles continham
a Leo Frobenius publicar, em 1913, a narrativa ioru (ou possuíam) tudo o que havia. Olorun tinha
b£ sobre a criação do mundo, segundo o formato dois filhos. O primeiro chamava-se Orishalla (o
que se tornou mais divulgado posteriormente. Nela mesmo que Otaballa, também chamado sim
aparecem três versões do mito. Na primeira e na plesmente de Orixá), e o mais jovem, Odudua.
segunda, Olorum encarrega Obatalá de criar o mun Olorun convocou Oxalå e deu-lhe um pouco
do, mas este se embriaga e a tarefa fica por conta de de terra, uma galinha com cinco dedos (Adje
Odudua (agora um ser masculino). Na terceira ver -Alesse-manu) e disse-Ihe:"Desça (ou:Vá para a
sâo, Olorum em pessoa vem à terra e cria o mundo terra) e faça terra sobre Okun." Oxaláfoi. No
a partir da cidade sagrada de llê Ifé (localizada na caminho, encontrou vinho de palma e bebeu até
Nigéria atual). Pede para Exu sentar-se atrás dele, embriagarrse e dormir. Olorun viu isso, chamou
Ogum à sua direita, Oxalá à sua frente e os demais Odudua e disse-lhe:"Teu irmão (mais velho) se
orixás ao seu redor. E planta no meio da ilha três embriagou pelo caminho.Vá, você. pegue a areia
e a galinha com cinco dedos e faca a terra so
palmeiras,. por meio das quais os homens podero
conhecer o futuro. Eis o relato da primeira versão: bre Okun" Odudua foi, tomou a areia, desceu e
colocou-a sobre o mar. E colocou a galinha com
cinco dedos sobre a areia. A galinha começou

coleçao oFixás 90 coleçao orixs 91


EXU

Elbein do
ciscar e espalhar a areia, forçando a água para Em outra narrativa, publicada por Juana
os lados. llêIfê foi o local onde isto ocorreu Santos (I977, p. 58-59), Exu aparece como o primei
de
e ao redor do qual, num primeiro momento, ro ser criado (Yangui ou Yangi) ou um principio
o mar ainda corria. Odudua governou a terra existência individualizada:
de llê lfê como seu primeiro rei. (FROBENIUS,
1913, vol. I,p. 284, tradução minha) Nos primórdios existia nada além de ar;
Olorum era uma massa infinita de ar; quando

As várias versões dos mitos de origem iorubá começou a mover-se lentamente, a respirar,

publicadas posteriormente apresentam, apesar das uma parte do ar transformou-se em massa de


variações, uma síntese: a criação do mundo resultou água, originando Oxalá, o grande Orixá-Funfun,
da ação de um grupo de divindades primordiais que orixádo branco. O ar e as águas moveram-se
habitavamo orum (espaço paralelo e invisível) e es conjuntamente e uma parte deles mesmos se
tavam relacionadas à cor branca (funfun). Foi o ser transformou em lama. Dessa lama originou-se
supremo, Olodumare ou Olorum, quem criou pri uma bolha ou montículo, a primeira matéria
meiramente este grupo de divindades e o encarre dotada de forma, um rochedo avermelhado e
gou de criar tudo que existe, Entre estas divindades lamacento. Olorum admirou aquela forma e
estavam Oduduá, criador do aiê ou espaço visivel, Soprou sobre o montículo, insuflando-Ihe seu
Oxalá ou Obatalá, que após fracassar na criaçaão do hálito e dando-lhe vida. Essa forma, a primeira
mundo recebeu de Olorum a tarefa de criar os ho dotada de existência individual, um rochedo de
mens, e Orunmilá, responsável pelo laterita, era Exu, ou melhor, o proto-Exu, Exu
ou do destino. oráculo de Ia
Yangi. [..] Exu é o primeiro nascido da exis

coleçáo orixás - 92 coleço orixás 93


" EXU

tência e, como tal, o simbolo por excelência de explica-se a origem do


Na tradição fon-ewe,
elemento procriado. par primordial da
mundo pela ação de MawWu-Lisa, o
quais nasceram
criacão, que teve cincO partos, dos
Essa relação primordial entre Oxalá e Exu for. Sogbo; os gêmeos
os gêmeos Dada Zodji e Ananu;
nasceu
neceu um dos principios organizacionais do culto Agbe e Naéte; Aguê e Gu. Do sexto parto
aos
aos orixás no Brasil. O xirê, por exemplo, que é a apenas o ar da atmosfera, que permitiu dar vida
sequência de louvação aos orixás durante as festas homens. Para os dois primeiros filhos, os pais deram
públicas ou cerimônias privadas, sempre se faz numa o comando da terra. Para Sogbo foi dado o céu. Para
ordem que começa com Exu e termina com Oxalá. os gêmeos seguintes foram reservados o mar e o
Tambm a distribuição espacial dos assentamentos controle da água. Aguê ficou com as matas, onde
dos orixás num terreiro respeita os atributos destes se tornou caçador. Para Gu, que havia nascido com
deuses, pois Oxalá estáparao branco, o ar ou a água uma espada no lugar da cabeça, foi dado o poder
(frio, calmo), assim como Exu está para o vermelho, de produzir ferramentas e armas. Cada um recebeu
o preto e o fogo (quente, agitado). As pedras (otás uma linguagem própria, relativa ao seu respectivo
ou ocUtás) em que estes deuses são assentados re dominio. Da sétima e última gestação nasceu Legbå,
presentam sinteses destes atributos, pois, geralmen que por este motivo foi preterido, não recebendo
te, as do primeiro deus são lisas e de cor branca nenhum domínio. Em compensação, foi-lhe permi
(representando a ordem, opolido)e as do segundo tido atuar sobre todos eles e representar Mawu
são pretas ou avermelhadas e porosas (como a late sempre que necessário. A ele também foi destinado
rita).
representando a própria transformação ou o O papel de "tradutor" dos deuses e dos homens.
movimento de ordem/desordem (o rústico). Por isso todos devem se dirigir a Legbá em primei

colecao orixás 94 coleçào orix as 95


" EXU.
EXU

ro lugar, se quiserem ser entendidos (HERSKOVITS outros emis


a importância de Legb£. Mawu enviou
1938, v. 2. p. I29-13|). jogar os
sários, que ensinaram aos homens como
Este papel de tradutor possibilita a Exu exercer o carocos de palma e traçar oito linhas na terra para
que talvez seja a sua mais importante
prerrogativa, saber seu destino. Ensinaram também que era ne
desempenhada no culto de Ifå (Fá) ou do destino, cessário cultuar Legbánum templo do lado de fora
pois teria sido ele quem teria trazido aos homens e
e na entrada de cada aldeia, da mesma forma que
aos deuses este culto, além de atuar como interme ele era cultuado na entrada da casa de Mawu no
diário no recebimento das oferendas dos homens e
céu. Eque Legbádeveria ser informado sempre em
sua entrega aos deuses.
primeiro lugar sobre todos os desejos e atividades
Segundo o mito, Mawu, depois de criar o mundo, dos homens, pois assim como todos os rios cami
enviou emissários para ensinar aos homens a im nham para o mar e os homens podem cultuar mui
portáncia do cuito. Os emissários disseram que cada tos deuses, deve-se reconhecer que foram Mawu e
pessoa tinha seu Fá (destino) e que este destino era Legbå que deram a eles todos os deuses existentes
conhecido somente por Legbá, o único que assistia (HERSKOVITS, I938, v. 2, p. 203).
Mawu em seu trabalho. Sabendo seu Fá, os homens A explicação para este poder divinatório, além do
poderiam saber como eles tinham sido feitos, qual fato de Legbá ter testemunhado a criaço, é
apre
deus deveriam cultuar, suas escolhas na terra e o sentada em outro mito. Få habitava o topo de uma
que seria propicio a eles fazer. Mawu diz a Legbá, a palmeira no céu, de onde via tudo com seus de
cada dia, quem deve viver ou morrer, ter boa ou má zesseis olhos. Legbá, seu irmão, era
encarregado de
sorte e, querendo, Legb£ pode mudar este destino. subir todos os dias para abrir-lhe os olhos. A mãe
Com o tempo, de Få, Mawu, deu-lhe então a chave
entretanto, os homens esqueceram que abria as de

colecao orixas 96 colecào orixas 97


EXU

coloca como uma ra


zesseis portas da casa do futuro, e assim os homens A questão do sacrifício se
zão e uma consequência da
invenção do oráculo.
quando queriam saber sobre o futuro ou qual de.
encontrada sobre
ciso tomar. podiam jogar os dezesseis caroços de Segundo a versão mais antiga jå
publicada por
palma, que abriam os olhos de F£ e as portas da casa a relação entre oráculo e sacrifício,
do futuro. Num periodo de guerra e catástrofes na Baudin (1885, p. 33-35), no princípio os humanos
recebiam sa
terra, Mawu envioupara cáos filhos de Fá, liderados eram poucos e os orixás quase não
por Legbá, para ensinarem aos homens o que havia crifícios, sendo obrigados a trabalhar. Ifá era pes

por trás de cada porta da casa do futuro. Assim, os cador. Cansado e com fome, recorreu a Exu para
saber como receber mais sacrificios dos homens.
homens aprenderam os segredos do oráculo. passa
Exu o aconselhou a recolher noz de cola do chefe
ram a viver melhor, e o culto de Fáse espalhou pelo
mundo. Aqui se vê que os dezesseis olhos de Fá, as dos homens (Orungan). pois por meio dela o en
dezesseis portas da casa do futuro ou os filhos de sinaria a prever o futuro. Ifá aprendeu e ensinou a
Få enviados referem-se aos dezesseis Odus princi Orungan, que, muito feliz, passou a retribuir a lfá
pais (signos) do jogo do opele Ifá. Também no jogo fazendo sacrificios. Uma parte de todos os sacri
de búzios sâo usados dezesseis búzios. ficios, porém, deveria ser reportado primeiramen
Na tradição fon-iorubá, Exu e Ifá ou Legbáe Fá te a Exu. Em 1949, Frobenius (p. 228-230) publica
uma verso mais complexa desse mito na qual, para
s£o divindades inseparáveis, seja como amigos seja
acabar com a fome dos orixás, Exu perambula pela
como inimigos. Na maioria dos mitos, é Exu quem
ensina o oráculo de Ifá para Orunmilá(o deus adi
terra em busca de solução. Chega à casa de Orun
vinho),. mas em outros é o contrário: Exu aprende gan, que o aconselha a recolher dezesseis coquinhos
da palmeira. EXu o faz, Dorém não sabe o que fazer
com Orunmilá (CABRERA, 2012, p. 100).

coleçao orixas 99
eolecao orixas 98
" EX

com os coguinhos. Os macacos, então, o instruem : ficou impossibilitado


reu, mas perdeu os dedos e
sair pelas dezesseis regiões do mundo recolhendo substituindo o anterior, o
de jogar. Exu então criou,
em cada uma delas, um oráculo. Depois de obter jogo de opele, constituido por uma corrente
na qual
os oráculos, Exu ensina aos homens como prever o atirada ao
são presas oito metades de coco e que é
futuro e saber a vontade dos deuses. Para evitar os
solo. If£ podia, assim, manusear o jogo mesmo sem
infortúnios e alcançar a bonança, os homens voltam os dedos. Quando Exu deixou a terra, seu altar foi
a sacrificar aos orixás.
mantido em frente ao de Ifá (OGUNDIPE, 1978, v.
Dada a importância da adivinhação e o status de 2, p. 100-101).
quem a domina, os deuses entram constantemente Em outra narrativa, Oxum dorme com Exu só para
em conflito pela posse e pelo conhecimento dos ter acesso ao jogo do opele (COURLANDER, I973,
métodos de consultar o destino. Jogos de morte, p. 67-69). Até lemanjä, esposa de Orunmilá, aprovei
intriga e sedução são verificados nas tramas míti ta a ausência do marido, embriaga Exu, que ficara
cas. Numa delas, Exu ensina a få como adivinhar
responsável por zelar pelo jogo, e se apodera dele
por meio do jogo de ikin (joga-se com coquinhos (MARTINS, 2005, p. 128). Entretanto, como o aces
de dendezeiro que são manuseados de uma mão So das divindades femnininas ao opele Ifá é restrito,
para a outra), e por isso este jogo se tornou muito pois se trata de um jogo exclusivamente masculino,
importante, por fazer a comunicação entre os ho coube a elas um jogo "mais simples", de quatro ou
mens e os deuses. Os orixás da terra ficaram com dezesseis búzios, do qual Exu também é regente.
inveja de Ifå, mas não podiam atacá-lo sem atrair a
Outra importante prerrogativa de Exu é a de ser
vingança de Exu. Um dia em que Exu viajou, os espl agente ou guardião dos destinos, dependendo da exe
ritos mandaram lepra para Orunmilá, que não cução ou não dos sacrificios necessários. Esse papel
mor

olecào orixas O0 coleço orixás 10


quem
galoporemtransforma da
merhomens Quemristicas dos todos
a t£o. oficar como
quias. das vegetaise ele
animais Na Exu. oficio Entre
fazanimais para seu ao atividades, desempenha
submissO condiçãodestinando qUe restringe o
o queveneno que Oxalá guardião de lado os
Chão
sacrificiais cavalo mortos, a asdefinirão
vão esculpir deuses,
de ate
IO2
olecào
lebre
maltratam; de visitar COxala atribui
ou e"seres
ao ser as (BASCOM, a e o junto
agente, ele colocoU-0 os foiamplia Vento.
homem; mais em e cobras os
por por seres. uma Oxalá homens. por ele.qualidades, fenomenológicos" "
alimento animais,
deuses,aos EXU
cabe dezesseis
excelencia;importante issO quem para
as Como
quem I980, partedevem por
atuações
Entre a na
a
elensina que ele
Oxala
encruzilhada.Assim.
p. dos exemplo,
faz para vive os
101-102).
se atribuir pagar estabelece
guardio,
presentes designou-o, anos homens,
quem do do a animais, desses
rindo; protejam
os
bode que hiena um e o da
ajuda homens;
a caracte aprender
vaca, quem a é tributo participa
natureza,
e leva
único sereshierar,
do co dos Exu
o en
a

inundações sobre dida"Quando EXu Entre 1976; filhostambém eeste nascer zade daEntre BASCOM, GA, sapatotransforma as gato
aos pessoas; enquanto a
garante IBIE,
debaixo possa dos I995: ;
suas pela os cabelo orixás; os ao vencer
Olocum faz se outros pato e o o
a terra
águas, seres 1986; vegetais,SÀLÁMI , 1969;
fim o transformar
da o branco quem cupim tigre o
inhame vegetais
finalmente tigre
orixas
leçaoI03
de que equilibrio
mandou (Mar) SÁLÁM0,
da terra (MAUPOIL, é
OGUNDIPE,
defende RIBEIRO, é em
corndenado e
nos Exu a .
submergir galinha a natureza,
se (CABRERA, e EXU
e quem rei se
o em filhos faz quem
grandes revoltou entre RIBEIRO, e
de amendoim a depois tornar
a roupas dele 2011). då a
terra cinco os o do árvore faz
I943;ANGARICA, 1978; viver
papel um do patas
ondas, domínios por 1954;ABIMBOLA, 20 algodão em animal
e dedos para obi IBIE,
tudo ter regulador I). terem deus; Iroco em na
provocando os uma comida selva;
sido 1986: forma doméstico
que espalhou criados. homens; para quem da
"inva muitos quem
nela inimioferen |955. para
de que faz EPE de
florescia. Os
Que levasse umhomens
.EXU

a ele que pedido deproCuraranm,


sOcorro então, Exu,
ao cêu, e foi Dara
cum Orunmila usOu seu poder para gracas com Obatalá, que deveria ter oferecido uma cabaca

(COURLANDER,
Muitas
por
1973. 21-22). acalmar OlO
caracteristicas dos orixás
p. com sal para Exu, mas recusou-se a fazê-lo ÀDoi.
te, enquanto ele dormia, Exu pegou uma cabaça e
Exu, como o poder foram atribuídas a fixou nas costas dele. Quando Obatalá acordou,
Reza a tradição que sobre o fogo de Xangô e Oiá. viu que estava corcunda. Disse então Exu a Obatalá:
do rei de Xangô era o
satisfeito, pediu poderoso
Oió. Não e "Você se recusou a oferecer uma cabaça, por iisso
temi
capaz de a
Exu uma magia será corcunda. (Eépor isso que existem corcundas
aumnentar
rou-lhe uma poção
ainda mais seu
poder. Exu prepa até hoje.) Você se recusou a oferecer um pouco de
encantada que
boca.A esposa de Xango, faz fogo sair
pela
sal, portanto, jamais poderá comê-lo. (Oxalá está
Oiá, proibido de comer comidas com sal)" (VERGER,
O
preparado, experimentou-o eencarregada de buscar
1995, p. 95).
baredas quando falava. Xangô, começou lançar la
a
Considerando essa ampla mitologia, que não será
mulher. que fugiu enfurecido, perseguiu a
raio sobre ela. enquanto ele atirava suas pedras de obviamente explorada aqui em todos os seus sen
não
conseguiu
Finalmente, quando tomou a poção, ele tidos, podemos nos restringir a algumas questöes:
controlar o
fogo em Quais seriam então os principais motivos que fazem
diando palácio real e a cidade ao sua boca, incen
o
de Exu o primaz, mensageiro e guardião por exce
tornaren essa poção. Oi£ e redor. Depois de lência? De onde vêm sua importância, sua fama, sua
em orxás Xangô se
Em outro (COURLANDER, transformaram
1973, p. 79-82). força e seu poder, que se retroalimentam? Verifico
mito, Exu que a fonte deste poder ou destes papéis pode ser
estabelece
cumprem o sacrificio,interditos
xás gue não aos ori
compreendida a partir de pelo menos cinco caracte
como aconteceu
risticas, discutidas a seguir.
cole àe
orAAs - O4

colec£o orixás 105


EXU"
"EXU

)AS OUALIDADES INATAS DE EXU COMO AGENTE DA ODnn. ORACUILAR


SISTEMA
COM O
DE EXU
ARELACÃO
INTÉRPRETE
ATUAÇÃO COMO
ESUA
Alem dos exemplos presentes nas
narrativas ante. jogo de
riores, este aspecto fica evidente quando Exu ou foi graças a ele queo
Como também vimos, homens
Elegba vence os desafios propostoS: ele é o único tornou-se o principal método para os
Ifá
filho de Mawu capaz de dançar e tocar, ao receberem oferendas
mesmo saberemofuturo e os deuses deuses
os
tempo, um gongo, um sino, um tambor e uma flau
e seremn
alimentados. Mas no inicio eram
sacrificio dos
ta, e por isso tornou-seo chefe dos outros deuses que andavam famintos e precisavam de
contrário. Exu é quem
(HERSKOVITS, I938, v. 2, p. 257). Quando Olorum homens para viver, e nãoo
mandou chover dezesseis portas da
os poderes na terra para que cada possui as chaves que abrem as
quem sabe que
orixa pegasse o que pudesse e assim eles tivessem casa do futuro, mas, sobretudo, é
diferentes habilidades, foi Exu, que já era o mais agil relações
estar na encruzilhada significa estabelecer
e forte e não temia para os lados
empurrar ninguem, quem conse de ida e vinda, para cima, para baixo e
guiu apanhar a maior parte deles. esquerdo e direito, enfim, olhar o mundo também
Nesses casos, seus
dons inatos se somam aos dons que
odquiridos. Como o de ponta-cabeça. Ser intérprete, no sentido em
feiticeiro de Lvi-Strauss (1970), ele
vence e seduz Exu o , significa aceitar a parcialidade das
visões
porque éforte, e ele é forte porque em contato.
vence e seduz. das coisas e dos seres que entram

oleç ao orixás I06


coleção orixás 107
EXU
EXU

Exu.
continuava pobre.
iA REGENCIA DE EXU NAS TRANSFORMAÇOES DO DESTIY ele mesmo
blemas, porém chorar no pa
o
aconselhoU a ir
amigo, um olho
oue era seu disse ao rei que
Exu então
Os motivos que levam os deuses e homens a Fy, l5cio de Olofim. o outro,
lacrimejando sangue e
se referem àtransformação da vida, à possibilidade de Orunmilá estava caissem no solo.
de alterar as condições desfavoraveis por meio do esse sangue e essa água
água, e se morreria. Teme
uso de sua força dinämica. Estas condições podenm desapareceria e seu rei
uma cidade Orunmilá.
milhes de búzios a
envolver temas como saúde, doença, fortuna, ri roso, o rei då oito guardar todo este
uma casa onde
qUez2 casamento. fertilidade, nascimento e morte. mas ele nem tem
Orunmilá a chorar nova
entre outros.A vida terrena (aie) se reproduz como dinheiro. Exu aconselha
uma casa para Orun
se o opeie ifa (tabuleiro da adivinhação) fosse um mente no palácio e pede ao rei
O rei lhe dá uma casa
espelho do que e (ou foi ou está sendo) a vida no milå poder guardar o dinheiro.
sozinho
orum. Consultar o oráculo, no qual Exu tem um pa com dezesseis quartos. Mas Orunmilávivia
choro, o rei e
pel fundamental, é buscar por uma
solução dos pro nela. Novamente, sob a ameaça do
Orunmilá. Mas
biemas atuais baseada na solucão
encontrada para incitado a dar dezesseis esposas para
então
problemas semelhantes que ocorreram nos
temp0S nenhuma delas dá filhos a Orunmilá. O rei
miticos. Vejamos um mito exemplar oferece
desse "jogo de aconselha Orunmilå a cultuar lfå. Orunmilá
espelhos" muitos filhos e
uma cabra para lfá, torna-se pai de
Na Cidade de 20ID).
Olofim havia muitos desde então louva Exu (SÀLÁMI, RIBEIRO,
mulheres engravidavam, havia problemas: as
não
Os problemas da cidade são, em síntese,
as des
seca e fome intrigas, guerras, Orunmilä.
Orunmila era adivinho de Olofim e. venturas humanas na terra resolvidas por
com seus ebos, ajudou
a resolver todos estes pro. Entretanto, h£ na retribuição do rei a Orunmilå uma

colecao oriN A I09


"EXU
" EXU

metafora do próprio jogo de opele ifá como qual o aos dons (saúde. fertilidade.
do qual ele teve acesso
adivinho acessa a solução dos problemas. orum para a terra. E como
riqueza, paz) trazidos do
Esse jogo consiste num colar com oito metades de auxílio de Exu. ele
manipulador deste oráculo, com o
coco. Quando suspenso pelo meio e atirado ao solo. destas riquezas e dons
agora pode propiciar o fluxo
ocolar apresenta duas colunas de quatro cocos. Con do orum ao aie e
vice-versa.
siderando a posição de queda destas metades (com Exu é também aquele que com astúcia e
esperte
a parte côncava para cima ou para baixo) é possiyel lcu em inúmeros
za enfrenta a morte, chamada de
obter dezesseis combinações. Quando uma coluna
mitos.As três narrativas seguintes são esclarecedo
e igual à outra, esses signos são chamados de odus
ras deste aspecto.
principais. De certo modo, a quantidade de búzios Orunmilá ecoloca
O agente da morte vem buScar
recebida por Orunmilá faz referência aos oito cocos
o caixão em frente à sua casa. Orunmilá havia feito
deste colar ("oito milhões"). A casa com dezesseis
o sacrificio devido a lIfa. Exu, que estava la, convence
quartos faz referência ao próprio colar e ao opon
então o agente da morte a levar ratos e påssaros no
ifa. tabuleiro que recebe as marcas destas
quedas.As lugar de Orunmilá. Quandooagente sai carregando
dezesseis esposas referem-se ao fato de que destes
na cabeça o caixão repleto destes animais, Exu joga
dezesseis odus principais épossivel obter (eles"pro
Ihe uma maldição para que ele nunca mais possa
criam") outras 240 combinações possiveis,
chamadas colocar no chão o caixão, que fica grudado em sua
de "odus filhos". Enfim,
Orunmilå recebe como re cabeça (ABIMBOLA, I976, p. 212-215).Vale lembrar
compensa as dadivas terrenas (do aie) numa quan pássaros da
que os ratos so dedicados a Exu e os
tidade (oito milhões, dezesseis sentido,
quartos, dezesseis morte, às grandes mães feiticeiras. Neste
esposas) que referencia o jogo do opele por meio animais.
Exu manipula e engana a morte com esses

coleçao orixás 111


EXU
"EXU

Orunmila seduziu a esposa da Morte, que, come talvez seja


Mudar o destino diante da morte
vingança. jurou mata-lo. Ao chegar perto da casa de intrigantes das histórias de
um dos temas mais
Orunmil£.a Morte encontrou Exu, que a cumprimen enganá
Exu, pois sua estratégia é sempre tentar
tou e serviu-Ihe comida. Quando ela ficou sabendo agentes, será
-Ja. Entretanto, a Morte, Com seus
Que a comida era de Orunmila, desistiu de sua próprio Exu
vingan sempre a vencedora no final. Nem o
ça. pois não se pode comer a comida de uma pessoa um
conseguiu mudar isso quando foi desafiado a
e depois matá-la (ABIMBOLA, I976. p. 190).
duelo com a Morte. Segundo o mito, isto se deu
Todos os orixás estavam
sobrecarregados com porque lcu não temia Exu e não concordava que
seus afazeres e Olofin precisava decidir
quem cui ele ficasse molestando as pessoas impunemente.
daria do destino dos homens. Chamou
Orunmilá Exu, convencido do seu poder imbatível, aceitou
e lcu (Morte) para uma disputa:
quem ficasse três o desafio. No dia da disputa, eles se enfrentaram
dias sem se alimentar seria o
vencedor; Exu se lançando palavras de desafio um ao outro. A luta
ria o fiscal e juiz Exu era
amigo de Orunmilå e foi acirrada, mas lcu conseguiu retirar o porrete
armou uma armadilha. AsSsou uma galinha e
fingiu das mãos de Exu e ia matá-lo, quando Orunmilá
Que elee Orunmilá a estavam
comendo, Entretan interveio e salvou o amigo. Por isso hoje todos
to, só Exu de fato comia:
Orunmilá apenas suja dizem: "Ninguém pode tirar a vida da Morte"
va 2s måos para fingir
que comia. lcu, vendo isso, (COURLANDER, I973, p. 63-65).
quis participar do
banquete e. ao comer a galinha,
perdeu 2 aposta. Orunmila,
o orientador dos
vitorioso, tornou-se
destinos dos seres humanos
(MARTINS, 2005. p. 29).

colecao uriaas coleçao orixás 13


"EXU

4)AS QUALIDADES INATAS DE EXU rituais. já no òna-òrun.


alizar suas obrigações
COMO AGENTE DA DESORDEM de Éso. Este.
caminho, Obàtálà passou diante
transportador de sa
o grande controlador e
Este aspecto è a face mais
conhecida de Exu, em crifícios que domina os caminhos, perguntou
função da popularidade que sua figura como tricks
ter Ihe se já tinha feito as oferendas propiciatórias.
assumiu na mitologia
transatlântica dos orixás. Sem se deter, Obàtálà respondeu-Ihe que não
Nesse papel, cabe a ele,
a
paradoxalmente,
introduzir tinha feito nada e seguiu seu caminho sem dar
instabilidade
ou propiciar a
mudança mesma
na mais importância àquestão. E foi assim que Eso
obra ou ordem que ele
ajudara a criar. E o mito mais sentenciou que nada do que ele se propunha
difund1do de Exu sob este aspecto é o de empreender seria realizado. Em efeito, enquan
sua ação
para impedir que
Obatalá cumprisse misso de
a to Obàtálà seguia seu caminho, começou a ter
criar a terra.
Voltemos, pois, aos tempos da criaçao, sede. Passou perto de um rio, mas não parou.
agora com a
interferência de Exu: Passou por uma aldeia onde Ihe ofereceram
Ouando leite, mas ele não aceitou. Continuou andan
Olórun decidiu criar a
Obatála., entregou-lhe o "'saco daterra, chamou do. Sua sede aumentava e era insuportável. De
apo iwà, e existência",
deu-Ihe as instruções repente, viu diante de si uma palmeira Igi-Ope
para a
realização da magna necessárias
tarefa. Obàtálà reu
e, sem se pode conter, plantou no
tronco da
bebeu
niu todos os orisa e arvore seu cajado ritual, o opa-sóró, e
de tempo. De saida,preparoU-se, sem perda a seiva (vinho de palmeira). Bebeu
insaciavel

que Ihe disse que so encontrou-se com Odoa. abandonaram, até


mente até que suas forças o
o
acompanharia após re. perder os sentidos, e ficou estendido no
meio

coleço orix as I15


"EXU
EXU

do caminho. Nesse meio-tempo, Odua, que foi criaço foi publicada pela
Fsta versão do mito da possivel
consultar Ifa,fazia suas oferendassa Esu. e até onde foi
Seguin- primeira vez (em portugues
do os conselhos dos Babalawos, ele trouxera Santos (1976), que alega
pesquisar) por Juana E. dos
åiyé, tal qual é re
cinco galinhas, das que têm cinco dedos em rê-la recolhido do "Itan igba-ndá
(conjunto
cada pata, cinco pombos, um camaleão, dois mil velada pelo odu-Ifá Otúrúpòn-Owónrin"
elos de cadeia e todos os outros elementos no foi possivel lo
de textos oraculares, os quais
autores que
que acompanham o sacrifício. Esù apanhou es calizar). Foi reproduzida por inúmeros
tes últimos e uma pena da cabeça de cada ave afro-ameri
escreveram sobre a mitologia africana e
e devolveu a Odua a cadeia, as aves e o camaleo
cana, inclusive por Pierre Verger, que publicou duas
vivos. Odua consultou outra vez os Babaláwos. interferência
versões para este mito: sem e com a
que Ihe indicaram ser necessário, agora, efetuar e
de Exu (respectivamente: VERGER, 1995, p. 191:
um ebo, isto é, um sacrificio, aos pés de Olórun,
VERGER, 1980, p. 23 1; 1981, p. 252; 1985, p. 83-87).
de duzentos igbin, os caracóis que
contêmn o Entre |910 e 2013, encontramos ao menos doze pu
"sangue branco","a água que apazigua", omi-èrò
blicações nacionais e estrangeiras que reproduzem
(SANTOS. 1977. p. 61). o mito da criação do mundo sem a interferência
de

Como se ve, Exu Exu e, após a publicação do texto de I976 acima, ao


atrapalha Obatalá, que não fez menos sete publicações seguiram esta verso, a qual,
sacrificio. propiciando a transferência de sua tarefa
para Odua, que fez sacrificio. E Exu, aliás, tem sido a mais divulgada na tradição oral do
vai à frente, guiando o
inclusive, quem povo de santo atualmente.
caminho dos orixás em dire
cão a terra. Curioso é que, antes de Exu atrapalhar a criação
do mundo na mitologia fon-iorubá, parece que ele já

colecdo orixàs
"EXU:

viagens
andava embriagando Obatala e atrapalhando a cria. fim do século XIX, por conta das
nartir do realizadas Dor
cão dos homens na mitologia da santeria cubana do Atlantico
entre as duas margens mediadores
Um mito (ANGARICA, 1955, p. 72) narra artistas e outros
que Oba religiosos, academicos,
talá recebe de Olofim grande poder para 2005). Assim, parece que
ajudá-lo desse processo (MATORY, aconte
na criação do mundo e dos seres, porem ele
se tor. em certos mitos,
quando "coisas erradas"
mito
na prepotente e passa a tratar com desdém todos uma nova versão do
cem sem a mão de Exu,
ao seu redor. Exu queixa-se para Olofim, que pune personagem, principal
poderá trazer à tona este com
Obatalá desorganizando suas obras. Os homens estão relacionadas
mente quando estas coisas
que ele fabricava ficavam personagem tricks
inacabados: pernas para a possibilidade de atuação de um
um lado, cabeça para outro, e Martins (2005),
assim por diante. EXu, ter. O livro Lendas de Exu, de Adilson
vendo Obatalá tão foram coleta
arrependido e abatido, intervém é um bom exemplo. Muitas narrativas
junto a Olofim, que perdoa o orix£ e lhe
restitui das de outras publicações nas quais não aparece a
opoder de criação.
Agradecido, Obaralá proclama figura de Exu como o pivô das confusões. Pode-se
que doravante, em tudoo que ele criar ou em que evidentemente considerar que se trata de um pro
tiver de intervir, Exu teråa
Este caso
primazia. cesso de "fragmentação" anterior (em decorrência
exemplifica existncia
a de uma "rede das condições da diáspora africana do passado) e de
mitica transatlantica", na qual as versões dos
mitos "reunificação" no presente da mitologia fon-iorubá
dialogam entre si nos contextos locais e
nais,e que interliga paises transnacio (em decorrência da globalização da religião dos ori
te pelo culto às conectados religiosamen x£s e da crescente ação de "recuperação oracular"
divindades africanas trazidas para as dos exegetas das tradições de Ifå, tanto na Africa
Américas, inicialmente devido à escravidão, mas. a como nas Américas).

coleçao orixs - I18


coleçao orixás I19
"EXU . EXU

mito, Olocum
Os mitoS em que Exu garante
ordem são tão noite. a terra com o mar. Segundo o
a a
numerosos quanto aqueles em que sua açaão é dele (Lua) tinham cada qual
(Mar), Orum (Sol) e Oxu Oxu
téria. Deve-se a ele. por exemplo, a separação entre universo. Olocum vivia nas águas.
Sua morada no onde
o ceu e a terra Ocorrida na época em que estes do toda noite e para
vivia no céu, de onde saia
minios eram contiguos e os seres transitavam de um quando ento Orum se
voltava ao raiar do dia. Era
lado para o outro. Segundo a ao cair da noite.
narrativa, Mawu vivia levantava de sua casa, Só voltando
no ceu, que estava pertinho da morada de cada um era
terra, o que permitia Exu convenceu-os de que a
que ela vigiasse constantemente seu todos mu
filho, Legbá. Para melhor do que a do outro e fez com que
se livrar caminhar
vigilância da mãe, o orixá aconselha uma dassem de casa. Quando Oxalá viu a Lua
velha a jogar água suja para cima. Mawu, furiosa, vai durante o dia, o Sol vagar à noite e o Mar habitar
deslocando o ceu cada vez mais para longe da terra, oS montes e as matas da terra, ordenou que cada
deixando Legbá para trás, um voltasse para a morada que ele havia designado a
de encarregando-o, porem,
reportar a ela, toda noite, tudo o que eles. Xapan, por ordem de Oxalá com a ajuda de
durante o dia. Por isso, Legbå está em aconteceu Orum, pune Exu, fustigando-o com seu xaxará (vas
todo
(HERSKOVITS, 1938, v. 2, p. 224). Aqui vê-se quelugara soura com a qual ele transmite a varíola). Exu banha
poluição (água suja) representa a própria no rio para aliviar-se de suas cicatrizes e, como
provocada por Legbå, que resulta na desordem, vingança, determina que todos os homens que se la
mundos na retirada da
e separação dos
Não satisfeito com divindade suprema da terra. varem naquelas águas se contaminem com a doença
essa separação
a le mar), Exu entre ceu e ter
ainda tentou fazer com de Xaparnã (FROBENIUS, I913, v. I.p. 236-240).
separadas trocassem de lugar, que as coisas Novamente Exu usa a água poluída (agora com
confundindo o dia com doenças)) ou fora do seu lugar (não formando o mar,

colecáe orisàs 12o


coleção orixás 121
"EXU
EXU

mas caminhando pela terra), a troca do dia entre estes dois


pela nei da contradiçao
brio ou até mesmo
te e da luz pela escuridão para embaralhar a orde parece ser o caos, e
pois a origem da ordem
polos, da ordem
das coisas criadas por Oxalá. caos só o éem
razo da existência
o
Roger Bastide (1978. p. 195), referindo-se a este provavelmente o mais conhe
Um famoso mito, este
mito, argumentouque, apesar de Exuser apresenta. atuais, ajuda a entender
cido de Exu nos dias
do como desordenador, este aspecto provocar o desenten
apenas enfatj aspecto. Exu, por inveja, quer
za seu zelo pela ordem. inseparaveis, e passa en
dimento entre dois amigos
de duas cores, uma de
tre eles vestindo um barrete
Tais mitos tendem, pois, a confirmar a funcão barrete, os amigos
cada lado. Ao comentar sobre o
de Exu como regulador do cosmos, aquele que começam a brigar,
não se entendem sobre a cor e
abre as barreiras, que traça os do outro com um
caminhos. Em até que um deles quebra a cabeça
suma, como o deus da ordem.[...] Se, contraria machado. Este mito foi publicado pela primeira vez
mente à sua finalidade essencial, parece em 1885 por Baudin (p. 51-52) e, tal comno a
pró
algumas
vezes introduzir a desordem, as brigas, a des pria cor do chapéu de Exu, possui um conjunto bem
ventura no mundo divino ou humano, isto não variado de versões (há pelo menos 24 publicações
passa do reverso de um
equilibrio sobre o qual que o reproduzem de forma diferente).
vela com tanto cuidado. clas
De qualquer forma, embaralhando os critérios
sificatórios (cor, posição, direção, ponto de vista etc.),
Entretanto, os mitos de Exu não me Exu parece querer noS dizer que
estes critérios são
tados para a afirmação da ordem peloparecem vol confu
seu avesso, relativos e que ele pode dissipar ou instaurar
mas sim para mostrar a força Gostaria, então,
dinmica do deseauili. são manipulando estas classificações.

olec áo orxas 22 coleção orixás 123


. EXU
"EXU

abandonada
de procurar uma rainha
aprofundar os aspectos ou
condições das ot. [Exu] foi
e Ihe disse:
Exu se vale para tempo por seu marido
provocar ou resolver conflitos e nro já há algum e cor
da barba do rei
blemas relacionados ao mundo das classificacões Traga-me alguns fios amuleto
O esta faca. Eu Ihe farei um
primeiro aspecto decorre da sua condicão te-os com marido." Em se
de tradutor-intérprete. Exu provoca volta o seu
que lhe trará de
confusões por filho da rainha, que era
meio, sobretudo, da fala ou da lingua (usada na
comu. guida, Exu foi à casa do residência
nicação como veiculo de transmissão de herdeiro. Ele vivia numa
verdades o principe
palácio do rei. O
ou mentiras). No
candomblé, a fofoca tem um papel situada fora dos limites do
fim de prevenir
importante como forma de controle moral e disse costume assim o determinava, a
de um soberano
minação de informações (AMARAL, 2002). Cito duas toda tentativa de assassinato
subir ao trono.
narrativas que envolvem este aspecto. Na primeira, por um principe impaciente por
Oxalá pediu a Exu que lhe servisse, disse-Ihe ele,
como refeição, "O rei vai partir para a guerra",
a noite ao
melhor coisa do mundo. Exu foi ao
mercado, com "e pede o seu comparecimento esta
prou lingua bovina,
preparou-a e deu ao orixá. Farto palácio, acompanhado de seus guerreiros." Fi
de tanto comer, Oxalá rainha,
aprovou escolha e, para o
a nalmente, Exu foi ao rei e disse-Ihe:"A
dia seguinte, solicitou que lhe
fosse dada para comer magoada pela sua frieza, deseja matá-lo para se
a pior coisa do mundo. veio. O
Novamente Exu preparou vingar. Cuidado esta noite." E a noite
Ihe lingua bovina.
do prato até que
Oxalá não entendeu a repetição rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois,
ouviu explicação de Exu:
a
a lin a rainha aproximar uma faca de sua garganta.
gua pode ser boa ou
ruim, dependendo do seu uso O que ela queria era cortar um
fio da barba
(MARTINS. 2005. p. 39).Em outro mito, do rei, mas ele julgou que desejava assassiná-lo.

coleçao orixas 24
coleçao orixás " 125
"EXU
EXU "

faca paracortar
O rei desarmoU-a e nao usoua Nesse
ambOs lutaram. Ouseja, Exu.
fazendo eacrificiosa Exu, votivo de
animalmetaforicamentecomo
grande algazarra. Oprincipe, que algum
chegava
palácio com seus guerreirOs, escutOu gritos Dotao o
pescoço de
linguapode
ser vista
afiada", que pro
caso, a "lingua
aposentos do rei e correu para là. Vendo "corta",ou lingua e
que movimento.A
o rei
uma língua dissensões oU
com uma faca na mao, o principe pensou que metáforas
voca rupturas, sacrifício) são, portanto,
ele queria matar sua mae. Por seu lado, o rei (usadano cabeca
sede a
a faca ambas têm como
a0 ver o seu filho penetrar nos seus aposen outra. E usa no
uma da "pênis-faca" que Exu
tos, no meio da noite, armado e seguido por boca eo
(a língua na mito gira, portanto, em torno
da
seus guerreiros, acreditou que eles desejavam O
topo da cabeça). um fio de barba que
assassiná-lo. Gritou por socorro. A sua guarda Exu pede
metáfora da cabeça: o príncipe
acudiu e houve então uma grande luta, segui cortado com uma faca.A faca faz
deve ser acredita que
da de massacre generalizado. (VERGER, 1995, ser£ morta, e o rei
achar que sua mãe cabeça.
1999,p. 125) coroa que ele carrega na
o príncipe quer a
utilização do fogo como
segundo aspecto éa
O Mencionei seu
Neste último mito, Exu armou a atuação de Exu.
intriga usando meio recorrente da
apenas a lingua (afirmações), mas é Fogo), e são inúme
a história se
significativo que epíteto de Exu Ina (Senhor do
inicie com uma faca que ele elemento aparece. EXu
entrega a ros os mitos em que este
esposa do rei para que ela corte um sacri
do marido (e não do
fio da barba provoca incêndios para punir quem não faz os
cabelo, talvez devido à proxi ficios (VERGER, I995) ou cabe a ele dar para
Xango
midade da barba com o
pescoço). O mito o fogo, roubado por Oiá. Um mito é
exemplar de
lembrando que tudo ocorreu porque o rei finaliza
n£o fez como EXu usa o fogo para mostrar ou expandir seu

coleçãe orixas 126


coleçao orixás 127
EXU .
. EXU

poder e tornar-se rei de ljebu. casa para


Orunmilá nada tinha em
dade. ExU se hospeda na casa de um Chegando
rico
a esta ci- Morte e
Doença,
mas sabia dorisco que corria.
Durante a noite, incendeia a casa sem quemercader oferecer ås visitas,
mulher que corresse
ao merca
veja e reclama a perda de uma ninguém então pediu àsua
comprasse comidas
grande fortuna no seus pertences e
incendio. Não havendo na cidade riqueza do, vendesse mesma
entreter seus visitantes. Da
suficiente e bebidas para
para pagar o suposto prejuizo, o rei cede sua estava sendo perseguido
a Exu e todos os
coroa forma, quando um homem foi
habitantes tornam-se seus súditos espíritos da Morte, da Doença e Perda, Exu
pelos
(VERGER, I999). socorre-lo colocando farinha de
mandioca na boca
O terceiro aspecto, mandibulase causan
vinculado de certa forma destes espiritos, travando suas
ao anterior, refere-se ao uso dos alimentos (ABIMBOLA, I976).
(comi do-Ihes a morte ou a doença
das e bebidas) que estão
também relacionadas ao
sacrificio, seja na forma do sangue que s) A RELAÇÃO DE EXUCOM OS
FUNDAMENTOS
verte do
animal sacrificado, seja na forma do DA VIDA HUMANA: DAR, RECEBER E
RETRIBUIR
corpo deste (a
carne ou parte dela), que é servido em
oferenda aos
orixás. Vimos no mito da criação que é A relação de Exu com a comida ou sua "fome" insa
por meio
da bebida que Exu
atrapalha ciável é um tema recorrente em sua mitologia. Em
mundo e dos homens. E a Obatalá criação do
na
mundo"
principal estratégia de muitos terreiros se diz que ele é a "boca do
Exu para
enganar lcu (a morte) é fazê-la ou que ele"'come tudo o que a boca come".No
Bra
comida de quem deseja matar, comer a
levar adiante seu impedindo-a assim de sil, onde o verbo "comer" tem um duplo significado
intento. Vários outros mitos (o de se alimentar e o de manter relações sexuais),
dam este aspecto. abor
Quando recebeu as visitas de Exu. esse tema aparece duplamente, como fome por
ali

coleçao orixasnB
colecåo orixás. 129
EXU
EXU

de aves
todas as especies
comeu
mentos (representada pela boca aves e cantava:"Visto que
onivora) e como
apetite sexual (representada por seu caráter falical
dia. pediu
Enquanto isso sua mãe
duzentas
aue bavia, acorda e usa
Na interpretação afro-brasileira deste tema, hå uma filho, o que
consegui ter um continue a comer."
No
diferentes, Filho,
aproximação mediada por Exu entre os sistemas de Vestimentas
carne e devorou
todos
classificação alimentar e de parentesco. Dois mitos Exu quis comer
quarto dia, cachorros, por
fornecem elementos importantes para analisarmos quadrúpedes ofertados:
os animais etc. No quinto dia,
ainda
ovelhas, cavalos
essa aproximação. No primeiro, publicado por Juana cos, cabras, "Mãe, mãe. Eu quero
Elbein dos Santos (1971b, 1977), Orunmilá queria chorando de fome, Exu diz:
come, come. Filho,
muito ter um filho e foi procurar Oxalá, mas este comê-la."A mãe, cantando "Filho,
devorar por ele. Orunmilá,
informou que ainda não havia acabado de criar os come, come", deixa-se que ele
que recomenda
seres; havia apenas Exu, que ficava à porta de sua aflito, consulta o babalaô,
espada, um bode e 14 mil
casa. Orunmilá insistiu e Oxalá então mandou que faça uma oferta de uma
volta para o
ele colocasse a mão sobre
Exu, e promneteu que, búzios. No sexto dia, quando Exu se
com a espada na
quando voltasseà terra, sua mulher Yébiirú, daria à pai querendo comê lo, Orunmilá,
Quando
luz. O menino que nasceu foi chamado
Elegbaráe mão, sai em perseguição ao filho que foge.
pedaçOs,
veio ao mundo com uma grande fome. Sua
primeira ele é apanhado, Orunmilá o corta em 20l
(pedra), menos
frase foi:"Mae, mãe, eu quero
comer preás." O pai os quais se transformam em Yangi
foi àcaça e trouxe
inúmeros preás, que foram de a ducentésima primeira parte que se transforma
vorados avidamente pelo filho. No dia no proprio Exu, que se levantae continua
a correr.
seguinte, Exu
pediu peixes. Comeu então todos os Orunmilá novamente captura o filho e o corta em
peixes frescos,
defumados e secos que o pai Ihe serviu. No terceiro 201 pedaços, dos quais duzentos se
transformam

(oleào orix ás 130 coleçâo orixás " 131


"EXU

EXU

os homens e tudo
pararia.Comeria
que Exu não
mesnmo a
em Yangui eo que restou se transforma em Fxu chegando
sua frente,
å
que continua a correr. Essa operação se sucede que estivesse então a Ogum
que con
Ordenou
Delos nove oruns (cèus), que vão sendo povoados comer o céu. conseguir
irmão a qualquer custo. Para
de Yangi. Aperseguição só tem fim quando, no úl tivesse o matar Exu, a fim
de
obrigado a
timo orum, Exu propõe um acordo. Orunmilá dei. isto, Ogum foi pai (Odudua)
por seu
xaria de persegui-lo e, em troca, todos os Yangi se preservar a terra criada morte de
humanos. Mas depois da
transformariam em representantes de Exu na terra e os seres
rios,
pastos, as årvores, os
e executariam os trabalhos que Orunmilá desejasse, Exu, a natureza, os
tambm, pois sem Exu
como se fossem seus filhos. Por fim, o orixá aceita tudo começou a morrer
ventos não sopravam, o
devolver a própria måe e tudo o que comera (SAN as águas não corriam, os
não germinavamn,
TOS, 1971b. p. 3|-49; 1977. p. 135-138). sol não se punha, as senmentes
Em outra versão deste mito, recolhida por Rita a vida ia se acabando por
estase. Um babala
Amaral (2000. p. I),a história se repete: (representante de Orunmilá na terra) alertou
Orunmilá de que o espirito de Exu sentia fome
Exu (filho
primogênito de lemanjå, a orixá dos e desejava ser saciado, ameaçando provocar
mares, com Orunmilá, o ancião orixá da adivi tambm a discórdia entre os povos Como Vin
nhação, e irmão de Ogum, Xangoe Oxóssi), era gança pelo que Orunmilá e Ogum lhe haviam
Voraz e insaciável. Conseguiu
comer todos os feito. Orunmiládeterminou, então, que em toda
animais da aldeia em que vivia. Depois
disso, pas e qualquer oferenda que fosse feita pelos ho
Sou a comer as arvores, os
pastos e tudo o que mens a um orixå houvesse uma parte substan
via até chegar ao mar.
Orunmilá previu, então, cial oferecida a Exu; e que esta parte Ihe seria
manter mentos cåo
um pròpria
dasem pois daissolitativo.
No comer
tudo, Ao
rantir mito oindistintamente, Esses
dadiva papel dos ordem foi comer,
e servida
desenvolvimento retribuirrecebe assim
o nos
as sacrificado. pôs dois
da sistemas
classificação
importante regras
controle
("dar-receber-retribuir"), e fala,
vida ou garantia em mitos possibilitasse para antes
(doador). talvez,
da risco do que
social retira culturais.
Exu condição narram de
sobre reciprocidade ponto
a se
neste que da
da qualquer
(MAUSS, do se sobrevivencia mantivesse EXU"
sua
do Portanto, comunicação.
necessidade
as34 mito, mundo torna estão
E de que a
processo. o concórdia.
fome sacrificio
que vista
sua IS974). apenas na Exu, um,
(a"parte" rompe tudo e o
quantitativo
punição base os tornou sempre orix
um do por
o um significados humana Nesse
dos oque desempenha da mundo comer
tomador, ou
por triângulo constitui o satisfeit
querer funda deseja, sentido.zelador homem
não de e etudo
por qua
da ga

parte la docuia na mar em comer


o que
envolvidos, aqual meiro
Estabelece-se conclui
ameaçou narra estes, (tomador), aiudá-lo
que parte pétrea) os rerra,
todo missão em
inúmeras
é Exu lugar. para inicialmente homens
retribuidores o
do com Ou na
ofertado se å a "filhos" "todo")
dom Exue qual é
homens O a
sacrificio torna quebra
Exu seja,tarefa
que edição fazer partes,
pressupõe mito todas doadores se é
ecáo
35 e que de de de
o toda da o as ter
recebido e que celebra de transforma
um que EXU "
deuses, "sacrificio esta de
as nascimento
regra bênçãos oferendas realizar
Orunmilá,
de seu
um é oferendaoutras uma ser
"'sacrificada" deve
da
acabamproprio
deve assim regra oferendas que o
contradom, nunca do
ser submeter.
devem se vida aoscircularem, emdestino
ser sacrificio", o deve de quer comprometidos por
se servida máxima homens.
e um
do
múltiplos corpo
retribuido.esqueçam para pacto
conter aos tudo dos se
que deus
que isto final em (cláusUmundo, deuses
O tornan transfordividido
tudo parahomens
de os e, no pri
uma gue mito seres
e e si em
" EXs EXU

PADÉ DE EXU comparecerem å festa, ou


para
chamando os orixas não perturbe
para que este, satisfeito,
Exu sempre recebe uma agradar Exu, personalidade zombeteira.
parte das oferendas (ea. os crabalhos, dada sua
crificios) dedicadas aos oUtros orixås, padé. O mais simples é realiza
pode ser diretamente
mas elo Hádois tipos de da festa do orixá.
saudado por meio de ritoe do imediatamente antes do inicio
próprios. O pade (ou lpadÁ) é o seu rito mais centro
uma duração menor e é público. No
co. possui
nhecido. O termo iorubå lpòdé significa reunião ou depositados uma tigela com fari
do barracão são
encontro, demonstrando que o objetivo principal branca e outra com fari
nha de mandioca (farofa)
do rito é pedir a azeite de dendê, um
Exu que reúna ou
propicie o nha amarelada pela adição de
encontro das partes que se acham separadas ou recipiente com bebida alcoólica (cachaça,
gim etc.)
distantes: o leste do oeste, o norte do sul, a terra acesa e alguma outra
e outro com água, uma vela
visivel (aiê) da invisivel (orum), os cola) ou
homens dos ori oferenda que se queira, como obi (noz de
xás, os vivos doS enrolada em
mortos. acaçå (comida feita de milho branco,
Por este motivo, o pade é Come
realizado no inicio da forma triangular numa folha de bananeira).
festa de candomblé, quando os os
à terra por
orixás são chamados ça-se o rito tocando e cantando para ExXu, com
meio de musica, dança, oferen
cantigas, louva adeptos dançando em circulo ao redor das
ções e toques dos
tambores.O pade também é co
nhecido por"despacho de Exu", nome das. Geralmente os ritmos executados so rápidos
ilu ou vamunha
um duplo que pode ter e agitados, como aguere, batá ligeiro,
sentido: enviar o orixá (AMARAL, SILVA, 2014).As cantigas, em geral, reve
"correro mundoe voltar trazendomensageiro para
as energias dis renciamn ("mojuba'") os principais avatares de Exu:
tantes e benéficas para perto dos
homens, inclusive Ina, Agbo, Elegbara, On, Tiriri, Ob.
oleçao orixás 136 coleçao orixas 137
EXU
EXu

do mundo
externo
Ina, Ina é mojubd ê dentro e de fora, do terreiro e
de
da natureza e das
forças indivi
Emojubå ds forcas genéricas
Ing, Ina é mojubá nos adeptos em forma
incorporar
dualizadas que vo
Xire pode prosseguir com
de orixás.Após este ato, o
Exu Agbo orixas, de Ogum a Oxalá.
os cantos para os demais
Agbo mojub£ também é realizado no dia
O outro tipo de pade
Egbara Agbo ao final da
da festa de orix, porem ocorre sempre
Agbo mojubá tarde (crepúsculo). Tem uma duração maior e em geral
Elegbara Exu Lon é restrito aos membros do terreiro e alguns convida
dos mais próximos. As oferendas alimentares são pra
Bara Obebe
ticamente as mesmas (farinha de mandioca, azeite de
Tiriri Lon
dend, água, bebida alcoólica, sal, acaçá). Neste rito são
Exu Tiriri
Bara Obebe
invocados, além de Exu, alguns orixás associados à vida
e å morte, os espiritos ancestrais (eguns) do terreiro
Tiriri Lon
(ou esas) e as lyami Oxorongå que representam as
Ao final das ancestrais femininas ou grandes mães feiticeiras. Por se
cantigas, o pai de santo designa dois ou
rês membros mais tratar de entidades potencialmente perigosas não

rados para levar as


graduados ou previamente prepa forem cultuadas adequadamente, este rito é executa
ro, de onde såo
oferendas at o portão do terrei do de forma solene e compenetrada. Edirigido pelo
atiradas emdireçãoà rua, numa
à
necessidade de Exu fazer a ponte entre os aluso babalorix£ ou pela iyalaxé (mãe do axé) da casa, as
dominios sessorados por duas mulheres: a iyadagan e a iyamoro.

coleçho orixás 139


EXu. EXU

A primeira é Mavambo.Apaven
responsável por misturar as oferendae meio de seus inúmeros
avatares:
numa cabaça, entre outros.
mantendo-se de joelhos e com os coto Bombogira, Aluvaia,
velos apoiados num apoti
(pequeno
danca para Exu e leva as oferendas banco).A segunda
os locais onde serão rapidamente para E
mavile mavile
depositados no terreiro. As ofe. Movambo
rendas de lyami Oxorongå, por exemplo, podem ser
depositadas num ajubó (altar) ao pe de uma jaqueira. Recompenso a
A comunidade, durante todo o transcorrer do ato.
deve ficar ajoelhada com a cabeça no chão em
sinal de Exu Apaven
respeito. Somente ao final da cerimönia todos
pode Exu Apaveno
råo se levantar e dançar com alegria, por
saber que as Sua aldeig guê
oferendas foram entregues e as forças potencialmente Sug moroda quê
perigosas, controladas. Este tipo de pade, em que Exu
é homenageado ao lado de outras
entidades, só é rea Bombogira jamu kongue
lizado em terreiros que pOssuem altares
adequados às Ará o rÇ rê
invocações (Egun, lyami Oxorongá etc.). Bombogira jamu kongue
Nos candomblés bantos (angola e
congo), o ritual Ará o rà re
do pade possui
basicamente a mesma estrutura do
primeiro rito descrito
anteriormente. Nesste caso, Aluvaiå vem tomnó xoxo
entretanto, homenageia-se o inquice mensageiro Aluvaiá vem tomó xoxô
desta nação, que tambem é referido nas
cantigas por
colecáo orIXás 40 colecao orixas 141
" EXU.
. EXU

Nesta tradição, após o despacho do padê na rua preferen


cor escura,
etc.) de
executa-se a"limpeza" do ambiente com pemba (oá (galos. galinhas, bodes ofertados carne
de giz branco). que é cialmente pretos.A ele também são
soprada nos quatro cantos do pimenta,
pretas e vermelhas, moedas e
barracão do terreiro, ou ainda ateando fogo a crua, velas
um farofa, da bebida alcoólica e do azeite de
punhado de pólvora para que as chamas além da
produzidas umbanda costuma-se ain
"queimem" as energias negativas: dendê já mencionados. Na
e alguns
oferecer-lhe fumo (charutos e cigarros)
figado e coração,
Okipemb, órgãos internos de animais, como
dinamismo do corpo
O kipembà ewiza por estarem relacionados ao
a manutenção
Kossange ewiza edesempenharem funções vitais para
D'angolo da vida. Já as Pombagiras preferem oferendas de be
O kipembà bidas doces (champanhe), flores e perfumes.
conside
Somba d'angola As folhas consagradas a ExXu são aquelas
radas "quentes" ou "folhas do fogo" (ewé inón), em
Pembo eu akassange apogondê geral urticantes, algumas ruinosas e provenientes
Pemba eu okassange apogonde de plantas que possuem acúleos (estruturas pon
Pemba eu akassonge apogondê tiagudas e rigidas) ou espinhos. Entre as folhas mais
Oi kipembé usuais estão: urtiga-branca, urtiga-vermelha, picão,
perpétua, tiririca, alfavaca, corredeira, aroeira, bel
Além do pade, Exu é droega, pau-de-cunan, mamona e arruda. Algumas
de homenageado ou cultuado
diversas formas. Recebe folhas ou plantas dedicadas a Exu fazem referencia
oferendas de animais em seu nome aos seus elementos, cores ou mesmo

coleção otNs 142


coleçao orixás 143
. EXU
"EXU

assentamento do Bará
enterrado o
encontra
ao imaginário cristo associado a este orixá:figo-do. li se
teito, segundo uns, pelos africa
-inferno. palmatória-do-diabo, comigo-ninguém-po que teria sido ou.
(Exu)
construiram o mercado no século XIX,
de. olho-de-gato, olho-de-cabra, arrebenta-cavalo nos que nobre
outros, por Principe Custódio, um
(juá-vermelho), facheiro-preto, jurema-preta, folha segundo
Porto Alegre no mesmo
de-fogo etc.As folhas para Exu podem ser usadas de africano que se exilara em
principe exercia gran
múltiplas formas, inteiras ou maceradas, em sacudi periodo. Reza a lenda que o
também
mentos ou ebós (ritos de limpeza espiritual), ou em meio religioso da época e
de influência no
membros da elite, inclusive
banhos e preparos (omi-ero, amaci, abô etc.). era amigo de políticos e
Medeiros, razão pela qual
Os locais públicos, alm dos altares no interior do governador Borges de
próprio pa
dos terreiros onde suas oferendas podem ser de teria feito um assentamento de Baráno
assentamento
positadas, geralmente são encruzilhadas, cemité lácio do governo, para protege-lo. O
quatro ala
rios, estradas, mercados, pórticos e outros locais do mercado foi feito no cruzamento das
de
de passagem, reafirmando sua condição de men medas internas que interligam as quatro portas
quadrilátero formado
sageiro e mediador entre os mundos. Afinal, como acesso, uma em cada face do
está
dizem os africanos: ninguém vive sem
passar por pelo predio. Dizem que cada porta do Mercado
do
uma encruzilhada.. dedicada a um orixá.A que ficava situada do lado
orixás das
No Brasil, talvez o caso mais
conhecido de culto Rio Guaiba pertence a lemanjá e Oxum,
público de Exu seja o do Mercado Püblico Municipal águas.A situada em frente ao corpo de bombeiros é
de Porto Alegre. Este dedicada a Ogum, orixá do fogo. A que då acesso a
do batuque (nome pelo
mercado, para os praticantes a lans. ori
qual o culto aos orixás é uma antiga rua de meretricio é dedicada
conhecido regionalmente), é um lugar
sagrado, pois xá da sensualidade. Ea situada em frente à prefeitura

colecáo urxás coleção orixás 145


é de EXU
Xangô, orixå que fora rei.
liga todos
estes dominios, ou No centro, Exu inter.
entre os deuses do
fogo melhor,
faz a
os da £gua (lans, Xangô emediacn soas pelos quatro caminhos que ali se encontram e
(lemanjá e Ogum) e se separam. A história desse famoso Bará tem sido
um açougue
com balcãoOxum). Havia, antigamente. preservada e narrada inclusive pelo Centro de Me.
do circular situado no centro mória do Mercado, instalado no local para receber
cruzamento das
adeptos do batuquealamedas,
e era
sob ele que os turistas, visitantes e pesquisadores.
Bará antes de deixavam moedas para saudar Por ter poucos filhos, as festas de iniciação (ou saí
comprarem os
existentes no Mercado.produtos
da de iaô) para Exu no candombl
nas lojas religiosos são sempre muito

passou por uma Quando o edificio concorridas e assumem diversas formas de acordo
foi removido e reforma, nos anos T990, o açougue com as interpretações desta entidade em cada ter
houve uma escavaço no reiro. A forma de paramentá-lo nestes eventos é
deveria estar o local onde
assentamento de Exu, mas teria também bastante vari£vel. Uma saida de iao de Exu,
sido
encontrado. Este fato, em si, não causounadagrande Ocorrida em I98| no terreiro de mãe Aligo (can
celeumna entre osreligiosos, pois muitos alegaram domblé originário da umbanda), em São Paulo, foi
que o
assentamento de Bará, sendo de assim descrita por um ex-membro desse terreiro:
tempo poderia ter se misturado ao terra, com o
Mercado. Hoje, neste local, foi próprio solo do Em tal ambiente, o Exu era apenas a reprodu
colocada uma placa
diferenciada de cerâmica para sinalizar a morada de ção de séculos de mitologia crist, isto é, era o
Exu no solo. E sobre próprio Belzebu, o Diabo. Em consequência, ao
ela os guardas ou
mercado costumamn se posicionar para vigias do contrário de todo mundo, ele ficou recolhido
desse ponto de vista inspecionar, no quarto de Exu e não no roncó, o erê era um
privilegiado, o fluxo das pes exu-mirim, na tradição do diabinho. Na saida [de

cole ào oixás 146


coleçao orixas 147
" EXU EXU

uma
iaô], ele foi vestido de brocado mesmo tempo, inclusive
preto e coisas ao de
Usava na

um ainda mais
mão um ridiculo
tridente e vermelcabecaho;
na
CRr muitas
inversão dos rituais.
algumas delas: o iaô
Vejamos
ron
ridiculo adorno com chifres., quarto de Exu e não no
recolhido no
espécie de chapéu. Outra coisa de que me uma Eyu ficoU
reservado para as iniciacões
bro: apagaram quase todas as luzes na
lem. có (quarto geralmente primeira
hora da orixás). O iniciado
não teve a
saida, para dar um ar de inferno å aos demais que
casa, eu acho saída pública dedicada Oxalá, orixá da criação
Não me lembro se ele teve eo último a ser sau
saida
de Oxalá, a pri se veste de branco e
geralmente
meira saida de todo iao, quando se tem
usava branco na ordem de referência aos orixás. Oxalá
total. O Oswaldo [nome do dado
iniciado para Exu]) (de Exu) e geralmente não
como tabu a cor vermelha
morreria pouco depois, de infarto.. ele qualquer animal,
fumava recebe em sacrificio o sangue de
muito. Ultima coisa que me lembro: a saida foi tem o "'sangue bran
apenas o do ibi, um caracol que
concorridissima, com muitos pais e mães de san co", nem oferendas com azeite de
dende e álcool.
to visitantes, e todos mortos de inveja de um tal sacrificio sempre
Ao contrário, Exu deve receber o
Edmundo, o escolhido para tirar o nome do iao. E oferendas prediletas
o velho Justino, em primeiro luga, e entre suas
bisavô (de santo) de todo mundo, dendê e o ålcool. Como
estao o sangue,o azeite de
quando soube da saída, mandou carta da Demônio-Jesus podem
Bahia se vê, os pares Exu-Oxalá e
reclamando nesse tom: "Você tirou (iniciou] o relações entre Exu
Diabo e não mandou me chamar?" ser acionados para descrever as
mencionada, o
eo Demônio. Além disso, na iniciação
acompanha o orixå) era um
er (espírito infantil que
Percebe-se que hå um mistério na figura de como uma
que atrai as Exu Exu-mirim (entidade que se comporta
pessoas exatamente porque ele se fez no escu
pode crianca bastante travessa) e sua saida

colecáo orixá 148


coleç do orixás 149
EXU
" EXU

em aue
menosprezada, na medida
ro (com as luzes do barracão Ser
apagadas),,numa cito nao deve
divulgam imagens que vêm
as trevas e ao inferno. alusão
Curiosamente, oiao morreria por
meio de
Suas obras,
indiretamenre
e
promovendo
algum tempo depois, assinalando para os ee tornando
canonicas
regional.
um adeptos entre pråticas em
âmbito
destino marcado pelo vicio. uma articulação foros de
internacional. Neste sentido, as
Exu pode ser ainda paramentado com pacional ou
tiras de documentandoo modo de paramentar
pano e correntes penduradas pelo corpo, numa con. Pierre Verger muitos
servido de inspiração para
cepção de Exu como"escravo do orixa" (aquele que Exu na Africa, têm
para Exu.
obedece ou executa as tarefas dos orixás). Essa per. terreiros em suas iniciações
Segundo me relatou Leonor, uma filha de EXu ini
cepção pode se sobrepor ao imaginário do escravo
as formas de apre
acorrentado e simultaneamente ao poder que emana ciada em São Paulo nos anos I980,
própria teve seu ExU
dele de quebrar estes grilhões e abrir os cadeados, sentá-lo variaram bastante. Ela
correntes. Mas hoje
ou mesmo de usar a força destes elOS da
paramentado com tiras de pano e
corrente
descrita anteriormente.
para impor seu poder de fechar portas e caminhos. ele é paramentado da forma
Exu com tecidos
Hoje em dia, entretanto, é mais usual parament£-lo Outra inovação tem sido vestir
com umn gorro e matérias-primas que não façam
referência apenas
cônico, uma saia de tiras vermelhas e
utilização de tecidos
pretas, bordadas com búzios, e o bastão fålico na mão. å sua concepção "rústica" (a
por exem
O uso de indumentárias e insignias que têm simples de algodo cru e palha-da-costa,
por base com roupas
o rito africano tem sido comum nos plo).V-se, nos barracões, Exus vestidos
terreiroS que de rendas
procuram uma sofisticadas e luxuOsas (com a utilização
concepção menos "abrasileirada" de bordados com pedrarias). Esta
Exu.A contribuição de pesquisadores (religiosos e tecidos brilhantes
ou Eleguá
não) e artistas nesse processo indumentária aproxima-se da forma pela qual
de"reformatacão" do
coleção orixás151
colecáo orixas 150
EXU

é vestido segundo a santeria cubana, que o concebe Exu PRODUTO NACIONAL


como um "rico principe". 4
Esse proOcesso transtormativo tambem pode ser
identificado nas danças e coreografias executadas
Dor Exu. No terreiro de mãe lya Sessu, em São Paulo
Dresenciei um filho de Exu incorporado que dancava
segurando um bastäo falico erguido acima da cabeca
como se fosse um eixo em torno do qual seu corpo
girava. Esse movimento de rotação era acompanhado
por um movimento de translação em torno do cen
tro do barracão, oari-ax. Essa coreografia, conforme
me foi ditoposteriormente, mostrava que Exu e"se
nhor do circulo",que"voa" entre os espaços Entre os símbolos ou icones mais lembrados da cul
usando
a força e o mistério deste b£culo tura brasileira, dentro e fora do pais, é inevitável
fålico.Nesse caso,
os atributos miticos de Exu citar, entre outros: samba, carnaval, futebol, feijoada,
de
expressam-se por meio caipirinha, mulata, capoeira, candomblé etc. Estes
uma nova linguagem gestual
exibida no barracão
alem das coreografias mais simbolos têm, em geral, uma relação direta com a
orixá. Rito e mito se
conhecidas da dança do
sociabilidade de origem negro-africana que tem no
complementam. terreiro um centro irradiador fundamental.
Até as primeiras décadas do século XX, elemen
tos associados à cultura negro-africana não eram
vistos como legítimos para representar o Brasil: o
coleçao orkas 152
coleçào orixás 153
EXU
"EXU:

samba era considerado música lasciva.


para representar o Bra
a capoeira,

uma expresso da violencia fisica dos"negros maan. escolhidos e transformados


Nesse periodo, com a ajuda das politicas públicas,
dros".e o candomble e a umbanda eram tidos come sil. em
o Estado transformou oficialmente a capoeira
feitiçaria. curandeirismo e"magia negra". Sambistas desfiles carnavalesCos, e
nacional, apoiou os
caDoeiristas e o povo de santo tiveram suas práticas esporte
como a música de integração
criminalizadas e muitos sofreram com a fiscalizacåo o samba foi destacado
o fim dos conflitos
e repressão de seus ensaios, apresentações e festas nacional. Mas isto não significou
davam mais em termos
religiosas. A feijoada nasce como comida associada (e das negociações). que se
força de lei ou decla
negativamente ao escravo antes de ter seu status de práticas locais do que por
elevado à categoria de "prato nacional", rações do governo federal.
reforçar
A passagem destes simbolos de origem No exterior, Carmem Miranda ajudou a
negro de "baiana"
-africana para simbolos nacionais glorificados pelo esta imagem cantando samba vestida
candombl».
Estado e pelo povo em geral foi um processo de um traje estilizado das mães de santo do
conflito e negociação ocorrido em vários contextos Tambémo famoso desenhista e criador Walt Disney.
históricos, economicos e politicos. No ámbito das quando esteve no Rio de Janeiro na década de 1940,
classes populares e tambèm das elites, esse com ficou seduzido pela imagem de um pais que lhe pare
ceu festivo, exótico, sensual e amante das cores vivas e
partilhamento de valores entre os diferentes grupos
etnicos jå existia, mas foi somente a partir dos das comidas apimentadas. Produziu, para representar
anos
1930, sob governo de o Brasil, o "losé Carioca" ou "Zé Carioca", um papa
Getúlio Vargas,
época enm pregu0
que o Rio de Janeiro era a capital gaio verde e amarelo, falante e alegre, porm
federal, que muj
tos destes simbolos urbanos Çoso e expert na arte de encontrar um jeitinho" de
compartilhados foram sobreviver sem trabalhar- o próprio estereotipo do
colecae orxas 154
coleção orixás I55
" EXs .EXU

usando
terra, ganhou a vida
"malandro carioca" ou, mais precisamente,
uma perso- rante seu
periodo na sobrevivência: pode
nificação ingenua do que seria este"malandro" meio de
malandragem como mesmo
A
a contraventor,cafetão ou
umbanda que se desenvolvia nesse perio. rer sido
capoeirista,
direitas e casadas"
do, principalmente nas zonas urbanas do sudeste de "mulheres
ter vivido àcusta morrendo de
também produziu uma versão religiosa deste ma. apaixonaram. Acabou
que por ele se com faca, navalha
ou
landro: o "Z Pilintra", uma entidade da linha de assassinado
"morte matada": outro
Exu tida como boêmio, amante da noite e da rua briga por mulher, divida de jogo ou
ciro numa tido ori
As semelhanças entre os dois "losés" não se res. qualquer. Zé Pilintra, embora possa ter
vicio como
nordestino, tornou-se famoso
tringem, portanto, aos nomes de ambos usados em gem no catimbó
urbano" das zonas portuárias
Sua forma popular:"Zé". Seus sobrenomes também uma espécie de "Exu Pombagi
indicam uma genealogia comum. "Pilintra" (sujeito meretricio, assim como as
e das åreas de
"paletó e gravata",
vaidoso e sem escrúpulos) pode estar relacionado ras. Veste-se de modo formal, de
décadas do século XX.
com "Pilantra" (sujeito esperto e golpista), e"Cario como era moda nas primeiras
ca" é referncia à pessoa natural do Rio de O paletó, as calças e os
sapatos brancos contrastam,
Janeiro,
lenço vermelhos. O
estado onde esse estereótipo do malandro teria se entretanto, comn a gravata e o
na convivencia,
originado ou, ao menos, teria se popularizado em contraste das cores nos faz pensar
ves
termos de divulgação nacional. em sua imagem, da ordem e da desordem. Sua
ludibriar sua
Na umbanda, o espirito desse
"malandro divino" timenta impecável seria uma forma de
(AUGRAS, 1997;LIGIÉRO, 2004), quando se manifes condição de marginal social e chamar atenção para si
ta no corpo dos seus
filhos, gosta de beber, cantar como sujeito que não tem propriamente um lugar na
e cortejar as
mulheres. Geralmente narra que, du estrutura excludente da sociedade brasileira.

oleçãu otixas 156 coleçào orixas 157


EXU

" EXU

maneiro
um cara
Num terreiro de umbanda de São Paulo, para en. fato é
Malandro de
só mulher
fhtizar a relação da entidade com a malandragem amarra em uma
agira de Zé Pilintra, chamada de gira dos malan. E não se
desconsiderado
dros", assumiu uma forma inusitada. Mesinhas e homem
Mané é um aprender
cadeiras como as que encontramos em bares ou
tem muto que
E da vida ele
botecos populares são colocadas no barracão do
terreiro os Zés Pilintras, quando incorporados, Pilintra é, portanto,ooposto do
O malandro Zé dinheiro, mu
sentam-se ao redor das mesas, bebem (geralmente
pois "sabe das coisas", tem
Zé Mané, moral. Curio
cerveja ou pinga) e comem petiscos enquanto dão com a vida e tem sua
Iheres, aprendeu uma conduta
consultas espirituais ao poblico. Durante a gira, pon termo"moral" aqui significa
so é queo
tos de umbanda dedicados à entidade se misturam sobrevivência adaptado às
adequada a um estilo de oque
às músicas, tocadas em aparelhos de £udio, de pago
condições da vida. Ou seja, malandro é
reais o
deiros e sambistas que fazem referência ao mundo condições adversas e retira
aprende com estas
da malandragem ou da religião, como Bezerra da oportunidades, visando a sua
Silva cantando seu sucesso
"Malandro é malandro máximo das poucas
obtenção de presti
e Mané é Mané" (NEGUINHO, 2000), cuja letra diz: ascensåo social ou ao menos à
gio entre seus iguais.
umban
Em muitos outros terreiros, sobretudo de
os pon
Molandro é o coro que sabe dos coisos da, é possivel assistir a giras de Exu em que
alguns inclusive
Molandro é Gquele que sabe o que quer tos são cantados ao ritmo do samba,
mna
Malandro é o cara que tó com
dinheiro no estilo de sambas-enredos. A triade "samba,

coleçao orixas 155 colecàu orixás 159


- EXU
" EXU

landro Exu" (especialmente na linha Ze e etc.


portanto, algo que se manifesta Pilintra) e, gordura
levarpimenta,
imaginário da umbandaae do candomblé. Em
explicitamente Mas é
preciso

o terreiro de Pai Edu, Palacio de lemanja, é também Olinda, fui me


confessar
Uma vez eu
sede da "Escola do Ze". Trata-se de uma escola de perguntou
Eo padre Chico andava tão endiabrado
samba fundada pelo pai de santo em homenagem ao
Porque é que eu padre,
seu Zé Pilintra.
dissea ele: não sei, seu
Eu farofinhas
Esta semelhança certamente nos reconduz à por causa de umas
Talvez seja
própria origem do samba como estilo derivado comendo por a.
Que eu ando
da musicalidade deterreiro que marcou o desen
volvimento em geral da música popular brasileira misturada
Esta é a farofa
(AMARAL: SILVA, 2004). Desde os anos 1910, os
Muita força àgente dá,
primeiros sambas gravados já faziam referência ao Foz ficar endiabrado
feitiço, ao despacho eà farofa, elementos, entre ou
Eé comida com votopá.
tros, associados a Exu. Em 1915.o cantor Baiano
Imagine que depois disso,
gravou"Farofa" (TELES, I915), numa clara alusão ao Opodre coiu na farofo
prato preferido desta entidade:
[.
fazo per
De fazer uma farofa Afarofa feita com dendê e pimenta, que
força (axé)
Misturada com dendà sonagem da letra se sentir com muita
ou "endiabrado", acaba sendo comida inclusive pelo

coleçào orixás 160


colecao orisás - 16l
. EXU

.EXU

uma guia
de erva e
próprio padre, aludindo assim ao poder de Exue Unsbanhos
diälogo entre os campos religiosos referidos (
ofender Exu,
padre caiu na farofa"). desrespeitarou
despacho é destinados.
Referencias à farofa e ao despacho nas letras da Pisar num esquinas são
despachos nas
os música é punido
música popular brasileira têm sido usadas co a quem descrito na
autor do ato sob
meio de expressar valores concernentes aos cer Por issoo
ele aprecia e que está
que
portamentos de grupo, como na música "Pisei num perdendo tudo aquilo conquistar mulheres,
de
Exu:o dom de
despacho", de Geraldo Pereirae Elpídio Viana (1947): a regência de ritmo e
cadencia. A solu
dançar, ter
compor, cantar, ebós (oferen
santo e fazer
ção é procurar um pai de
Desde o dia em que passei
a sorte perdida.
das) para recuperar
Numa esquina e pisei num despacho podem ser usados para ex
Entro no samba meu corbo tó duro Farofa e despacho tam
campo religioso, mas
Bem que procuro a codência e não gcho pressar os embates no razão
universo dos sambistas, em
Meu samba e meu verso não fazem sucesso bém no próprio
sociais. O
e desigualdades
de diferenças étnicas
a entender os usos
Vou à gafieira, fico noite inteira samba "Feitiço da Vila" nos ajuda
contexto. Escrito por
No fim nõo dou sorte com
ninguém de Exu como metáfora neste
compositores de Vila
Noel Rosa e Vadico (1934),
para
Vou num pai de santo Isabel, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro,
região central,
Pedir qualquer dia se contrapor ao samba produzido na
terreiros e
Que me dà uns passes como a Praça XI, onde a influência dos

colecãe orixas 62 coleçao orixás 163


EXU

"EXU

libertação dos
lei de
assinoua produzir um
Isabel, que letra,
princesa a
das comunidades negras na produção musicl conseguiu, segundo seria feito
por
escravos), samba
intensa, "Feitiço da Vila" retira do termo decente".A Vila, cujo
"feitiço" a "feitico medo de
bamba",
questiona,
carga religiosa que ele contêm, indicando a necesi. não tem influência reli
"bacharel que papel da
dade de autonomia do campo musical em relacão àt metaforicamente, o possivel no
assim, mediação
suas supostas origens religiosas e étnicas. Exu) como a única musical
giosa (via universos religioso e
entrecruzamento dos crítica,
e "letrada". E faz uma
popular
LÏ em Vila Isabel quem é bacharel ou das culturas "decente", ao suposto
caráter
termo
Não tem medo de bomba, por meio do religiosa popular.
cultura
desregrado presente nesta mundo do can
[] oVila lsabel dá sambo.
critica, nesse caso, é dirigida ao
A ao redor
das tias baianas
dombl dos terreiros
AVila tem um feitiço sem farofa, onde
frequentados pelos sambistas e
Sem vela e sem vintém da Praça XI, carnavalescos
cordões
Que nos faz bem. teriam surgido os primeiros
(MOURA, I983: REIS, 1999).
Tendo o nome de princesa, do Rio de Janeiro
cantados no interior
Transformou o samba Pontos ou cantigas de Exu
gravados ou serviram
Num feitiço decente que prende 0 gente. dos terreiros também foram
que se tornaram
[.-] de inspiração para composições
Carvalho foi um
sucessos. Nos anos 1930, J. B. de
composição e de
Por livrar da farofa, da vela e do dos pioneiros neste estilo de
vintém, a
Vila Isabel, "tendo nome transposição da musicalidade dos terreiros para a
princesa" (referência

colecae orxás 164 coleção orixas " L65


" EXU EXU *

desenvolvimento nos
producão musical comercial. São dele músicas come longo de seu ainda hoje
consolidado ao
continuam inegáveis
"Cadê Viramundo?". de 1931 (CARVALHO, 1953 XXI, outros
séculos XX e os
terreiros e
a um dos umbilicais entre tiveram
que tem no próprio titulo referncia relacões
a sociabilidade que
mes de Exu: produção de quando
espaços de sobretudo
música e a dança,
por base a rua. Em
locais públicos como a
Õ, codê Viramundo, Pemba? se manifestam
em
que, antes de
Ta ng terrêra, Pemba escolas de samba, é inevitável
muitas sejam feitas
Com seu cambono, Pemba avenida por ocasião dos desfiles,
sair à afoxés e ma
mesmo ocorre em
Veodo no mato Corredor saudações a Exu. O realizado
ritual do pade é
Codê meu mano caçador? racatus. Nesses casos, o fundadores ou
Codê caboclo Ventania? por sacerdotes que, em geral, são
carnavalescas.
Esse caboclo é nosso guia frequentadores destas associações
Afoxé Filhos de Ghandi enm
Galinha de preta na encruzilhada O padê realizado pelo
sede no Pelourinho, é
Gato de preto de madrugada Salvador, antes de sair de sua
sua apresentação. As
um dos momentos altos de
Azeite de dende
na entrada
Farofa amarela
sentamentos de Exu são consagrados
Com tres vintém carnavalescas como se
das sedes dessas associações
Numa panela. sede do Afoxé
fossem terreiros, commo no caso da
Filhos de Ghandi.
De qualquer forma, ainda que a autonomia das E são muitas as escolas que, em seus sambas-en
diversas instituições da cultura popular tenha se
redos, homenageiam os orixás e outros elementos

culeçao orixas. 166


EXU
" EXU

de
MocidadeAlegre,
escola de samba orixás
da cultura afro-brasileira, mas sempre reservand. Em 2009, a samba-enredo dedicado aos
num passistas fantasia
um lugar de destaque para Exu. A escola de São Paulo, com
samba comissão de
frente considerando
Beija-Flor. no Rio Janeiro, causou grande polêmica fez uma apropriado,
Nada mais caminhos" da
no carnaval de I989 ao tentar colocar na Dasea dos de Exu. frente 'abre
os
comissão de
rela uma alegoria do Cristo Redentor vestido de que a
escola
passarela. por Mãe
mendigo, que foi vetada pela lgreja Católica. Para
Exu e sambaé narrado
reforçar o caráter contestador proposto pelo tema Um mito sobre Sexta-feira
(1997,p. 27). Numa
do desfile, que misturava luxo e pobreza, o samba Beata de lemanjá uma mulher que
(dia em que não havia festa),
-enredo (BETINHO, GLYVALDO, MARIA, OSMAR, Santa sua família, lan
preocupava com sua casa e
2012) fazia referências explícitas a Exu (aludindo à não se com Exu!
um desafio: dançaria nem que fosse
sua comida favorita, a farofa, ao ebó despacho çou da canma e aca
ouviu uma música, saiu
ou limpeza -e ao seu próprio nome na tradiçåo A meia-noite,
com um rapaz, o qual, ao
fon-ewe, Legbá ou Elegbara): bou numa festa. Ládançou
estrondo, revelou-se ser Exu.
final, com um grande
seguinte, desmaiada
A mulher foiencontrada no dia
mais foi a mesma nem
Formou a grande confusão numa encruzilhada, e nunca
Quol oreio no farofa pôde sambar.
que deve haver
[-J Esse mito parece querer mostrar
religiosas e lúdi
um equilibrio entre as obrigações
respeita
Ebó lebaró-laid-laió-ô cas, pois Exu tambm gosta de samba, mas
os preceitos. No caso, a mulher não respeitou a

olecao orIxàs 6A coleçao orixás i69


-6XL

fizesse um
consulente que o
"Ôme" ou
recomendava ao Exu (o inter
Sexta-feira Santa, que é tida como um dia velho encruzilhada para caso pedia a
de luto do
ou "grande energia negativa" (devido à mort trabalho na gravidade
poderosa.
a
"Homem'"),pois entidade mais
Cristo), quando, inclusive, muitos terreiros faze uma
vencão de
tuais dedicados a Exu.A musica tocada à meia-noite
suncêtá,
que
("hora grande" de Exu) foi uma artimanha do orixá do jeito
Ah môfio, ajudá.
para atrair a mulher e puni-la em seguida, que pode ti
Sóo ôme é
Mas não ésó de samba que vive ExXu. Em muitos marafo,
outros ritmos e movimentos musicais referências a um garrafa de
Suncêcompra
ele aparecem.Já foi cantado pelo mnovimento musical
da Jovem Guarda, como em "Feitiço Broto", de na incruziada,
Meia-noite suncê,
Carlos Imperial (1966), interpretada por Rosemary: chama o ôme
Distampa a garrafa e
escuta,
cantá, suncê
O galo vai hora.
Sexto-feira enluarada chão que tó na
Rêia tudo no
Bem na sua encruzilhada
noturno vem chegando,
E se guáda
Um feitiço novo eu vou botar vai andando.
Suncê óia pa ele que ele

Mas suncê [..]


Nos anos 1960, outro grande sucesso foi a mo
marido,
sica "Só o ôme" (RODRIGUES, I968), Tem sido mau fio mau
Noriel Vilela e cuja letra usava a
cantada por
linguagem tipica seu,
do
preto-velho dos terreiros. Nesse caso, o Fez candonga di cumpanheiro
preto
coleçào orixas 17
(olecao orixá
bilidade
'macumba valorização músicas
tólicas (1969), vente devÇ-se caráter
de consulente.
foqueiro.Ao
endossao preto-velho
Martinho Agora
E Ele
ele uma É que
interessante botou
e comafirmar ainda
como naque garrafaamoral seu só
afro-brasileiras, o
da a que
poderdo que caso ôme feitiço
com daqual,fazemrealização remeter ao
a
convivência Vila que deste,
o de é
o
solidariedade opondo-se recriminar pode em
galinha referência também poder
até acusado notar meia-noite à
marafo "homem
que o resolvê. suncê.
do o caso EXU:
ix ao guarda nesta
preta de
doméstica despacho! aceitará de
ás lado gravou
duas (cachaça).
Exu o
na
discriminação, à a das para ser
2 Exu,"Casa comportamento
e dor de letra
é
noturno encruzilhadas" Exu, mau
azeite exaltado o
valores
e
na de Nesta caso o a
marido
preto-velho atitude
de prticas importantes
alegria. de seria
em
dende") de Bamba" a
há música
socia coniponto troca e
Exu uma eo fo do do
ca

obviamente,
meiro,(1975) faz
Casa de
NaBamba
toestima
ladainha
Se ATem ...] [..] [..] Não
Tem [...]Macumba parte
[..] Todo Mas [.] Todo
tem ninguém minha
se mundo reza galinha canta
mundo alheio,
falado positiva. deste
tem alguém
bonitinha casa alguns
alguém preta, liga processo
canta, chora, [...] Em
173
áso aflito, pra dedicadopontos
e
azeite "Festa
cantando,
todo todo intriga
canjiquinha de
de de de
aconstrução
mundo mundo Exu
terreiro,
dende, Umbanda",
Tranca-Ruas.
dança sofre, pra
comer. sendo de
Martinho uma
o
pri au
suas
mina (incluindo regravou
algumas
ria verso to por
2009), Rita cantadas corre Tranco-Ruas
giraOi O Deu
Que Seu meig-noite Faz O
mandou.
OgumQue galo sino Festa
deixar Ribeiro, Gil, Músicas belém,
com várias religioso é de
João dono já
um com cantou igrejinha
blem, Umbanda
linhas:pontos de em
Bosco, da
"Canto ser, intérpretes
diversos
referências gira
afro-brasileiroTecnomacumba blõo
Pombagira, de abre
Zeca "
dominio (ponto EXU "
para o músicasao
trabalho associadas Pagodinho,
Oxalá". a
" Zé de
público e, Exu
(RIBEIRO; dominio
Pilintra têm
com como
entre Gilber
como
para
"Saudação" sido, público)
etc.) não JONGUI,
Exu outros. assim,
e pode
ter em uni

o i
o foGonhei quêquÇ é Exu
éApaven emExu oi Seu deu faz O Lalorê
mavangô
mavilê
cigoninha
girê que que de uma corre sino
a minha
Apaven, Tranco-Ruas
meia-noite, belém
cigana da Exu
é
pombo casa
é uma gira
dela meu
puerê, de
aldeia que
quem girà
iblgemrejinha Mojubá é
não é barraca Exu o
da pombo
o puerÅ, é ingá
Apovenð Ogum que golo blaum
meu cigana me
velha, é
é
já EXU -
75s
deu
puerá mandou. donocantou
da
gira
" EXU
EXU

Oh Ze! quando vier da lagoa


tem vintém
toma cuidado com o balanço da canog tem vel e
batuque de candomblé
Oh Z! faça tudo que quiser L] rock 'n'roll,
Zabé come Zumbi,
sÐ não matrate o coração dessa mulher
Zumbi come Zabé
Geral
Lá na porteira (.-] hip-hop, Vigório
tem reggae pop,
Fundo de Quintal
eu deixei meu sentinela
Capão Redondo, Candeal
eu deixeio Meig-Noite
tomando conta da cancela.
[-] funk, o feitiço indecente
que solto a gente

Por fim, Exu, na música popular, também tem


servido para representar os dilemas da sociedade Esta música uma "resposta" ao samba "Feitiço
nacional entre a incorporação dos valores culturais da Vila", mencionado anteriormente, no qual os
da herança africanaeaexclusão social dos negros e compositores fazem um elogio aos valores da mes
de sua religiosidade de origem, como parece indicar tiçagem cultural retornando às próprias fontes das
"Feitiço", de Caetano Veloso (2002), interpretada quais a música popular brasileira é grande tributária.
por ele e Jorge Mautner. Nesse caso, Zab (em referência àprincesa Isabel,
a Vila lsabel ou à "'cultura branca") "come" Zumbi
Nosso sambo (em referência ao herói do Quilombo de Palmares
tem feitiço, eà"cultura negra'") e vice-versa. Novamente Exu e
tem forofa, sua boca cheia de farofa, velas e vinténs, serve de

coleço orixás 176 coleçáo orixás 177


EXU
"EXU

metafora para representar abandonado à


cultural
suposta antropofagia
(afro-)brasileira que coloca em brasileiro ingenuo, "caipira",
inculto,
Brasil. Macunaima
rurais do
ferentes ritmos musicais (rock 'n' roll, contato
di. própria sorte nas áreas
mültiplas referências.
batuquede composto por
candomblé,,hip-hop, reggae etc.) e é um trickster indigena e no folclore
interConecta
locais de produção, periferias de cidades
seus Baseando-se na mitologia
compöe um
saido
personagem
mas que vivem exclusões semelhantes: distantes
Capo Re.
nacional, o autor
indigena" que vai para as
áreas urbanas
do "Brasil convertido em
dondo, em São Paulo, Vigário Geral, no Rio de do livro, acaba
Janei-
ro Candeal, em Salvador...Entim, exclusão e inclucao do litoral e, ao final
decantada fábu
estrela. Sua genealogia retoma a
feitas de violênciae abraços, Como o"nosso samba" constitutivas do povo brasileiro:
la das três raças
Esse aspecto carnavalizador e antropofágico de retinto" e depois se
filho de indios, nasce "preto
Exu é o que permite aproximá-lo na literatura de uma espécie de malan
torna branco. Macunaima é
(fazer sexo)
oUtro grande ícone de nosso "caráter nacional". ou dro indolente que vive para "brincar"
mostra seu
mais propriamente dito, da falta dele. Trata-se de enão gosta de responsabilidades, como
Macunaima, "herói sem nenhum caráter", descrito bordão principal: "Ai, que preguiça!" E um trickster
no livro de mesmo nome de Mario de Andrade., pu "euro-afro-indigena", que em suas andanças pelo
blicado em 1928 e tornado peça fundamental do Brasil nos faz ver com comicidade nossas próprias
movimento modernista brasileiro. mazelas e grandezas.
Macunaima é uma espécie de contraposição ao A aproximação do "anti-heroi" ao mundo dos

apático personagem Jeca Tatu, personagem do livro candomblés é descrita no capítulo "Macumba" no
Urupés, de Monteiro Lobato (1918), que nas primei qual ele visita o terreiro de Tia Ciata, por onde cir
culavam músicos, politicos, intelectuais e artistas
ras décadas do século XX foi um estereótipo do

colecão orixas 179


coleção orixás 178
creve
rio corporação
dade periodo talisma.umseu
Jurupari,
sofisticada A populares,
Nesta próprio cena inimigo,
religiao mãozinho tormento mas
[] -pato, dos valendo-se
Exu sobre
ser última Era bom léxicos e
comparação um erao no dominada
de Venceslau em
sobrenatural [..] Exu, que na
jananaíra porém qual a busca
um
(ANDRADE,
frase, o diabo-coxo,
sala eentidade do
jurupari viera construções a amplo Exu
uivando pra lingua basicamente Pietro de "EXu
Mario ali
malévolo
entre com fazer e que um
da imaginario
seguindo
escrita
mais um Mario Pietra,feitiço
mitologia I980, todos [..]
o de malvadezas, sintáticas
Andrade
Exu macanudo [..] Exu capiroto
p. reproduz um depela
africano 46-49) pra Era constituido que para
guarani. era Andrade figura lhe
macumbar Exu, populares: estilo
faz malvolo,
o enfrentar
roubara
daquela era a
Im euma opé-de varie literå da
o ro um nodes. in.

acham bebida tocunaima muito Exu, demônio sivel a dosvirgem seus querupari,zacões pelos ambos plicitamente,
divindade.da No aproximação
comum como a homens mitos havia sua
partir que do os
missionários,
inclusive de bem terreiro, da
experimenta
Exu, não veio o de Brasil,
demonização seres o
aos exploradas do
tradição (CASCUDO, descreve ele
e poderia as entre ser ao (Exu autor
começa
que Exus
terceiro á
alecao
orixás
181 semelhanças terra na
demônio FXU .
Macunaima cristã. Exu comparado época eesta
incorporados. apela pordeixar para como foi Jurupari)
termo e
comportamen
gargalhar,
primeira Mario Jurupari I988, das
de reformar filho consequênciacristão. aludindo
vai ser, entre a
entrar de de 420). p. do
Jesus, primeiras foram ao
vez foram só No
Os Andrade.tarmbém comparação,
Macunaima os Sol
é fato
no
presentes a compreen Neste e
pois dos caso
associados
cachaça, costumes evangeli de
transe
de um
riscos do
caso, uma que
Ma e o de lu
"EXU"
. EXU

O atendimento dado por Exu aos Consulenter fute. E Macunaíma


Macunaima o filho novo do
do terreiro e descrito por Mario de Andrade de
falou:
causa que
uma forma jocosa e interessante, por mostrar as -Venho pedir pra meu pai por
semelhanças entre Macunaima, o herói sem nenhum estou muito contrariado.
caräter, e Exu, o"maioral" que não age segundo os
Como se chama? perguntou Exu.
juIzos moral crist e que inclusive reconhece Ma. Macunaíma, o herÏi.
Cunaima como "fllho":
-Uhum... o maioral resmungou, nome prin
cipiado por Ma tem má-sina...
Depois que todos beijaram adoraram e se Mas recebeu com carinho o herói
e promne
benzeram muito, foi a hora dos pedidos e pro Macunaima
teu tudoo que ele pedisse porque
messas. Um carniceiro pediu pra todos com sofrer
era filho. Eo herói pediu que Exu fizesse
prarem a carne doente dele e EXU consentiu.
Venceslau Pietro Pietra que era o gigante Piai
Um fazerndeiro pediu pra não ter mais saúva
mã comedor de gente. (ANDRADE, 1980.p.49)
nem maleita no sítio dele e Exu se riu falan
do que isso não consentia não. Um namorista Exu então prende eu do gigante no corpo da
pediu pra pequena dele conseguir o lugar de médium que ele incorporara e Macunaíma fus
professora municipal pra casarem e Exu con tiga esse corpo para que o gigante sinta as dores
sentiu. Um médico fez um discurso provocadas. Novamente Exu aparece aqui como o
pedindo pra
escrever com muita elegância a fala portuguesa intermediário. Quando Macunaima se dá por vinga
e Exu não
consentiu.Assim.Afinal veio a vez de do, Exu v¡i embora, levando as marcas da sova do
corpo da médium que o incorporara. A reza feita

colecao orixás 182 coleção orixas 8


EXU
EXU

9 final da sessãoe uma inversao do pal-noSso crie


assim seja,
associa Ev. assim seja, amém.Pra sempre que
tio. Aqui também Mario de Andrade
Demonio; as missas ou simbolos a ele dedicadoe amém! (ANDRADE, 1980, p. 5 I)
de
segundo a crença popular, seriam uma inversâo
candomblé, ao final
cerimonias e dos simbolos cristãos: E como sempre acontece no
da sessão religiosa de Tia Ciata, houve festa com
samba, comida e bebida. E Mario de Andrade nomeia.
Tia Ciata veio maneira e principiou rezando a
entre os "macumbeiros" presentes, compositores e
reza maior do diabo. Era a reza sacrilega entre
poetas, numa clara alusão ao terreiro como espa
todas, que se errando uma palavra d£ morte. a
Ço de encontroe trocas culturais entre diferentes
reza do Padre Nosso Exu, e era assim:-Padre
grupos sociais, tal como as próprias trajetórias de
Exu achado nosso que voS estais no trezeno
mediadores culturais como Exu e Macunaima.
inferno da esquerda de baixo, nóis te queremo Outro importante escritor que valeu do can
muito, nóis tudo!-Quereremos! quereremos!
domblé, e em particular da capacidade de mediação
..O pai noSso Exu de cada dia nos dai hoje,
de Exu para expressar valores da mestiçagem na
seja feita voSsa vontade assim também no ter
cional, foi Jorge Amado, o mais popular autor bra
reiro da sanzala que pertence pro nosso padre sileiro do século XX, que escreveu a partir de sua
Exu, por todo o sempre que assim seja, amém!.. experiência de convivência com pessoas comuns do
Glória pra pátria gége de Exu! Glória pro fio povo baiano transformadas em personagens de seus
de Exu! Macunaima agradeceu.A tia acabou: romances. As referências ao mundo do candomblé
Chico-t-era um principe gege que virou nosso aparecem em vários livros do autor. Gostaria, en
padre Exu dos século seculóro pra sempre que tretanto, de mencionar aspectos relacionados a Exu

colecão orixás 184 coleção orixás 185


" EXU
. EXU

abordados pelo autor em dois dos seus romances batizado, os rituais são
No dia marcado para o
os quais considero relevantes para a
interpretacão Ogum venha. Entretan
de sua obra e da viso do Brasil que feitos no terreiro para que
esta promove. galinha-d'angola a ser
Os pastores da noite (AMADO, I964) reúne qua to, um imprevisto ocorre. A
pri
sacrificada para Exu, que deve ser saudado em
tro episódios com enredos independentes, porém a
meiro lugar, escapa, e a mãe de santo, para aplacar
com personagens comuns. Um deles, "Compadre de fúria do orixá, sacrifica três pombas brancas. Os ani
Ogum", aborda diretamente as estripulias de Exu.
mais para Exu em geral devem ser pretos. Pombas
O enredo narra inicialmente o dilema do negro
brancas costumavam ser para Oxalá, "seu oposto".
Massu, que naão consegue escolher, entre seus me
Tudo parece tranquilo. Ogum supostamente vem no
Ihores amigos, aquele que serå o padrinho de seu
corpo de seu filho e dança muito, se comportando
filho. Ogum ento aparece numa viso para Massu e
de modo atrevido. Quando a comitiva, tendo àfren
diz que ele próprio seráo padrinho da criança. Mas
te aquele"estranho" Ogum, chega à igreja, a farsa se
como seria isso? Um filho de santo de Ogum, Artur
revela, pois na verdade era Exu quem vinha monta
da Guima, fica encarregado de incorporar o orixå do em Artur da Guima. O orixá
aproveitou-se da
no dia do batizado, e assim o orixá poderá compa desfeita de não ter recebido seu alimento certo e
recer em "pessoa" ao batizado na lgreja do Rosário resolveu que ele seria o padrinho da criança. Mas, de
dos Homens Pretos no Pelourinho. Padre Gomes, repente, Padre Gomes tem um barravento (estre
um mulato vindo de familia de gente do candomble, mece) e acontece o inesperado: Ogum o
incorpora.
era o sacerdote desta igreja e era tolerante com os Ogum então, no corpo do padre, expulsa
Exu do
filhos de santo que a frequentavam. corpo de Artur da Guima e se apodera
deste.E é
assim que Massu se torna
compadre de Ogum.

colecào orixás 86 coleçào orixás 187


EXU "
"EXU .

Neste episódio. Jorge Amado, por meio pÙr


da marido. Cansada e para
de Exu, pretende mostrar o mundo
do figura dades e o desejo pelo
Dr. Teodoro
da própria sociedade candomblé e
brasileira permeados de bore fim a este sofrimento, casa-se como
puritano, trabalhador,
sidades, de"encruzilhadas" onde os Madureira, um farmacêutico
encontram: o humano e o divino se
vários planos se previdente, metódico e organizado,
cujo lema era
entrelaçam Dor "um lugar para cada coisa e
cada coisa em seu lugar".
relacões de compadrio, assim como brancos e ne.
quartas e aos sába
gros, catolicismo e candombl se mesclam. E, Dara Sexo, por exemplo, somente ás
um
autor do romance, um padre"dar santo" e um dos (nesse dia com direito a bis!). Satisfeita por
orivá
batizar uma criança na igreja catolica e se lado e insatisfeita por outro, Dona Flor vive a cha
tornar mar pelo outro marido, até que ele retorna do além.
compadre de gente não seriam em si "problema_"
Coloca-se então um dilema para Dona Flor: poderia
caso Exu, o senhor das passagens, tivesse recebido
ela ceder às investidas do espirito do marido morto
seus sacrificios cCorretamente.
sendo agora casada com outro homem? Ela deci
Em Dong Flor e seus dois maridos (AMADO, 2008), de, por fim, encomendar um ebó para despachar o
a personagem principal é uma cozinheira que då au
egum (espirito de morto) de Vadinho. Entretanto,
las em sua escola de culinária. Casa-se com Vadinho,
quando o ebó começa a fazer efeito e Vadinho co
um boêmio inveterado
que vive às suas custas, mas
meça a desaparecer, ela se arrepende. Uma batalha
Com quem ela tem uma vida intensa de amor e sexXo. entre orixás é travada. Exu se coloca ao lado de
Num domingo de carnaval, Vadinho, no momento Vadinho contra todo o restante do panteo do can
em que se divertia fantasiado de baiana, sofre um domble. Quando os dois estão prestes a ser der
infarto fatal e cai duro no chão. Dona Flor passa por rotados, Dona Flor intercede na guerra celeste e
um interminável luto, tentando controlar suas sau decide a disputa em favor do primeiro marido. Dona

coleção orixás. 188 coleção orixás 189


EXU .
" EXU

Flor passa a ter dois maridos: um seja,"opta


vivo (Exu), ou
e outro morto (Vadinho).
Fxiste uma correlaçao entre os
(Dr.Teodoro) quanto pelo
pornão optar".
dionisiaco Vadinho
Segundo DaMatta
(1997), Dona Flor
ou
sociedade brasileira
romance e os orixás do candomblépersonagens
do metáfora da
ceria uma boa
suas aptidöes culinarias, seu .Dona Flor, por do modo pelo
qual nos vemos a nòs mesmos.
De
dengue sua paixo re.
e
enxerga alegre e despreo
catada, seria Oxum.Vadinho, um lado, um povo que se
namorador,
brincalhão, irresponsåvel e malandro, seriacachaceiro. cupado e, de outro, uma
organização social estatal
um eaui. ressente de no se assentar
valente de Exu. O Dr. Teodoro, por sua que, muitas vezes, se
seriedade. seriedade.
compostura, austeridade e relação com a cura (era nas bases da disciplina e da
su
farmacêutico), seria Oxalá, ou, mais especificamente. Aprópria personagem de Dona Flor também
Oxaluf, um Oxalá velho (AMADO, 2008, p. 385). gere ou sintetiza essa ambiguidade: uma mulher co
No candomble, estes dois orixás medida e trabalhadora no ambiente público, mas que
representam
polos opostos. Exu estáassociado a fogo, azeite de no reservado da alcova manifesta seus desejos e sua
dendé, bebidas alcoölicas, "sangue vermelho", pi alegria de forma intensa e escancarada. Sua "opção
menta, cor preta e agilidade, enquanto Oxaluf está não optante" representa, portanto, ficar com o me
associado a ar, água, azeite doce, "sangue branco" Ihor dos dois mundos, como se nela fosse possivel
(assim como à cor branca em geral) e conciliar o "Exu da rua" (público) e o "Exu de casa"
lento. Dona Flor deve escolher,
movimento (doméstico), oBrasil"oficial" eo Brasil"não oficial".
portanto, entre dois
Ideais opostos que, a
principio, seriam mutuamente A
excludentes. Sua decisão, porém, é ficar com os dois. resposta de Dona Flor é que essas duas
Opta tanto pelo apolineo Dr. dimensões da vida são
necessárias e
Teodoro (Oxalufa). sivel ter as duas. Que elas, que poS e
como sabia Tocque
(olecae orixas 190
"EXU .
"EXU

ville, nao sao mutuamente proteção, os cui


sob a
exclusivas,
dimensões criticas da sociabilidade mas são Coloqueia fundaço
entregue ao seu
desvelo. Sob
uma fala do impulso individual humana, pois
para a
dados de Exu,
das três grandes raças que
se
e para a justiça, ao passo que a
outra igualdade a grande placa
misturaram, os indios, os
os brancos,
negros e
o caminho da
solidariedade e da aponta erguido diante da
Casa, Exu
que nos leva a concluir que a
reflexão compaicarnavali
xão. O a arte de Carybé,
Fundação, ali foi
preside o destino da
plantado
zadora de Jorge Amado vai ao centro do
dilema o fundamento na noite
de inauguração. (FUN
brasileiro e dos problemas que temos que en.
frentar para podermos modernizar o nosso naie DAÇÃO, 2014)
sem, entretanto, deixarmos de ser a entrada
sociedade Um assentamento deste orixá foi feito à
do carnaval. (DAMATTA, 1997, p. 134)
da Casa, local onde foi posta uma escultura de Exu.
EJorge Amado insistiu para que este assentamento
Para Jorge Amado, ExXu sintetiza a
importância da fosse consagrado logo que a Fundação foi constituí
cultura de origem africana na formação do
povo da. Sabedor dos preceitos, não queria arriscar que
brasileiro. Provavelmente, por esta razão, o
autor, o orixá ficasse contrariado, como
aconteceu em
a0 organizar a Fundação Casa de
Jorge Amado para Compadre de Ogum, e acabasse com a festa antes de
preservar sua obra, tenha escolhido este ela começar. Afinal, é o próprio Jorge
orix para
ser o"guardiao" dessa casa, Amado quem
localizada no largo do define Exu como um"amigo do bafafa":
Pelourinho, e tenha batizado com o nome de Exu a
revista editada pela Fundação. Assim
lorge Amado Exu come tudo que a boca
come, bebe cacha
justificou sua decisão: ça, é umcavaleiro andante e um menino
reinador.
coleça orixás 192
coleço orixás 193
. EXU

"EXU

dlegria.
Gosta de balburdia, senhor dos caminhos, mensa- rebuliçoe fé.
oeiro dos deuses, Correio dos
Sou boto;jogo e faço
orIxas, um capeta Rodo,tiro e
poeira.
Por tudo isso ventoe
sincretizaram-no comO diabo: em Sou nuvem, mulher.
homem e
verdade ele e apenas o orixa em movimento, ami. Quandoquero, maré.
g0 de um bafafa, de uma ContusaO mas, no fundo praias e do
Sou das
cantos;
excelente pessoa. (FUNDAÇÃO, 2014) Ocupo todos os
mnaluco até.
Sou menino, avô,
José.
O poema "Exu".? do escultor Mário Cravo Ir Posso ser João, Maria ou
(2000). dedicado a Jorge Amado, mostra bem as afi cruzamento.
Sou o ponto do
nidades entre o orixáeo escritor: Durmo acordado e ronco falando.
Corro, grito e pulo.
Não sou preto, branco ou vermelho;
Tenho as cores e formas que quiser.
Faço filho assobiando.
Sou argamassa, de sonho, carne e areia.
Não sou diabo nem santo, sou Exu!

Mando e desmando, traço e risco, faço e desfaço. Sou a gente sem bandeira.
Estou e nÙo vou. Tiro e não dou.
O espeto, meu bastão.
O assento? O vento!
Sou Exu!
Posso e cruzo. Traço, misturo e arrasto o pé. Sou do mundo, nem do campo, nem da
cidade.
Não tenho idade.
2 DevO um agradecimento especial a Mário Cravo l., por autorizar a
Recebo erespondo pelas pontas, pelos chifres da
reprodução deste poema, divulgado inicialmente no jornal A Tarde, em
1993, e mais recentemente no ensaio fotográfico Laróy, de seu filho
Sou Exu. Nação.
Mario Cravo Neto. publicado pela editora Aries (Salvador, 2000). Sou agito, vida, ação.

coleçao orixás 194


coleção orixás 195
" EXU

E
MAL
Sou os cornos da lua noVa; a barriga da lug cheia!
ExuBEM
5
Quer mais?
Não dou, não tô mais aqui.

especialmente
As décadas de 1970 e 1980 foram
importantes para a o apogeu da temática afro-bra
sileira na cultura nacional. Obras de Jorge Amado
foram adaptadas para o cinema e para a televisão,
o movimento musical conheceu grandes intérpre
tes de temas religiosos dos terreiros,
como Clara
Nunes, figuras como Mãe
Menininha se
conhecidas nacionalmente. Entretanto, tornaram
mo período, neste mes
como crescimento das igrejas
gélicas, sobretudo das evan
neopentecostais, verificou-se
coleção orixás 196 Colecio ori
EXU
" EXU

candomblé é o se
segredo do
um crescente movimento de rejeição das religiões O grande das
sacrificios sangrentos,
afro-brasileiras, com a retomada da deemonização guinte: por trás dos enfim,
banhos de ervas;
das entidades espirituais destas religiões, principal oferendas, comidas e
"obrigações", há um poder
mente de Exu e Pombagira (SILVA, 2007). por trás de todas as
O povo acredita
Na visão das igrejas neopentecostais, vivemos maligno e diabólico em ação.
não entende que
uma batalha do bem contra o mal, sendo os males que os orixás são deuses, mas
por
do mundo (doença, depressão, infelicidade conjugal, na realidade são forças do mal forcejando
desemprego, pobreza, azar nos negócios etc.) causa entrar em suas vidas a fim de as Controlar e
dos pela presença do demônio na terra.A identifica depois destruir.
ção destes demônios com o panteão afro-brasileiro
remonta a uma das primeiras igrejas fundadas no Esta linha de pensamento foi seguida por outros

Rio de Janeiro pelo pastor Robert McAlister, que pastores que se formaram na igreja de McAlister
Neste
escreveu um livro chamado Mãe de santo. e posteriormente fundaram suas próprias igrejas,
Irvro, o pastor narra como teria
convertido uma como Edir Macedo, que publicou um livro
com o
sacerdotisa dos cultos afro-brasileiros å sua igreja, mesmo teor intitulado Orixás, caboclos & guias:
deu
salvando-a das influencias nefastas dos "Exus e Ori ses ou demônios? Neste livro o
demônio, nunciar
autor pretende de
xas". que, para ele, eram manifestacões do
manifestas
devendo ser expulsos toda vez que se
as manobras
sem. Segundo McAlister (I983, p. 93): satânicas através do
da umbanda, do candomblé e outras kardecismo,
milares; coloca a seitas si
descoberto verdadeiras in
as

coleç ao orisás 1g8 coleçao orixàs 199


.EXU
"EXU

os
demônio revele
para queo pessoa. Em
tencões dos demonios que se fazem passar por entãopede daquela
O pastor causado àvida
orixás, exus, eres, e ensina a formula para oue
males que tem invocando o po
o expulsa,
a pessoa se liberte do seu dominio (MACEDO repreende e âmbito
seguida
Ou seja, se Exu, no
I996. p. 20) de Jesus. pedido
der do sangue um
mensageiro do
terreiros, tem sido
dos pelo paide santo,
Vejam que aqui há uma afirmação que procura orixás, intermediado
dos fiéis aos pastor assume
desqualificar especialmente as religiões afro-brasi. no âmbito das
igrejas pentecostais o
leiras e seu panteão de orixás.Assim tiveram início do pai de santo,
expulsando o Exu e se
a posiço
de atender
nas igrejas neopentecostais, as sessões de convo colocando como o intermediador capaz
cação e expulsão de demônios chamadas de "ses o fiel ao invocar aquele que, segundo a
concepço
sões de descarrego", muitas delas transmitidas em
daquela igreja, seria o único mensageiro capaz de
programas televisivos. Em geral, nestas sessões, os atender o pedido dos homens: lesus Cristo. Vimos
pastores seguram firmemente a cabeça dos adeptos que a correlação entre Leguá (Exu) e Jesus Cristo,
e pedem para que os demônios que neles se encon
por serem ambos mensageiros, é uma caracteris
trem se manifestem. Quando estes se manifestam,
tica da religião dos orixás em Cuba., sendo ambos
se identificam com nomes de Exus e Pombagiras
vistos como principios positivos. No
popularmente conhecidos nos terreiros de umban talismo, esta correlação também é neopentecOS
da. Seu comportamento também é semelhante ao estabelecida, mas
exatamente para negá-la, jå que um
dos transes dessas entidades nesses terreiros: cor o principio do
bem (esus) e o representaria
po curvado, mãos em forma de garra colocadas nas do mal (Exu). Por outro, o
principio
isso, o pastor,
coStas, vOz gutural, linguagem amedrontadora etc. deve subjugar Exu e o segundo sua otica,
expulsar. Se na umbanda ou
coleção orixás 200
coleção orixa
"EXU.
EXU

Exu Belzebu
no candomble ExU pode fazer o bem das trevas, como Exu Lúcifer,
e o mal, pois ao mundo como se
estes conceitOS muitas vezes sao entretanto, que os ExUs,
relativizados a etc. E bom enfatizar,
ser recebido nas igrejas umbanda com o diabo,
neopentecostais na forma viu, ainda que identificados na
de demonio, ele volta "evoluir" para o mundo
a
representar o mal absolu. podem escapar de Sua sina e
to,reeditando a visao eurocentrica dos primeiros Ou seja, mesmo na condi
da luz pela pråtica do bem.
condição
exploradores cristãos que se depararam com o ção de"demônios", podem se libertar de sua
culto de Exu na Africa Ocidental séculos atrás, A de "'anjos caidos'". Neste caso, podemos afirmar que,
diferençaé que agora sairia da boca do próprio Exu, paralelamente à demonização do Exu, realizada pelo
incorporado nestes fieis, o reconhecimento de que contato das religiões de origem africana com o catoli
ele é o demônio que o acusam de ser. cismo e, agora, com o neopentecostalismo, ocorre, em
O que causa estranhamento é o fato de que os sentido inverso, uma "exuzização" (ou relativização)
demônios nestas igrejas se apresentam sempre do demônio no âmbito das religiões afro-brasileiras,
como entidades das religiões afro-brasileiras. Nunca pois é somente no quadro destas religiões que estes
são vistos demônios se apresentando ou se com assim chamados demônios (Exus) podem deixar de ser
portando como divindades budistas ou xintoistas, o mal absoluto. No quadro da tradição
judaico-crist,
santos católicos, seres espirituais das cosmologias o demônio é imutável, pois neste
åmbito imperam o
indigenas sul-americanas ou deuses maias e astecas.. monoteismo e a crença em polos absolutistas: bem e
Para muitos adeptos e estudiosos do candombl, mal, certo e errado, falso e
verdadeiro.
teriam sido a umbanda e a quimbanda (que trabalha E aqui novamente os mitos de Exu sobre a re
sobretudo com a linha de Exu Ou da esquerda) as prin latividade da verdade podem nos ajudar a
das armadilhas do escapar
cipais responsáveis pela difusão desses Exus associados pensamento absolutista ou fun

(olecao orixás 202 coleçao orixàs 203


EXU

EXU

damentalista que temgerado no Brasil , outros


nos tem atingido
intolerância relultiigmioos-
anos, um crescente processo de também
Essa discriminaçao
sa contra adeptoS dos cultos afro-brasileiras, ainda que não
simbolos e práticas
intoleråncia se expressa na invasão deafro-brasileiros.
Esta diretamente ligadas hoje em
dia à cultura
religiosa.

terreiros,
destruição de imagens, coação, na discriminação. naena Éocaso da proibição
existente em algumas igre
ofensas etc.Até mesmo o ensino de da capoeira, da produção
história e cul jas evangélicas da prática
tura africana e afro-brasileira nas percussiva (de atabaques), da
escolas, matéri oU audição de música africana
origem
obrigatória por força de lei federal, tem sido coibido participação em grupos de dança de
de alimentos
porque familias evangelicas nao querem que seus fi. como escolas de samba, da ingestão
Ihos aprendam sobre as votivas aos orixás,
religiosidades trazidas pe que se originaram de comidas
los africanos e herdadas pelos seus
descendentes como o acarajé etc. Por outro lado, e paradoxal
no Brasil. O problema é que os
valores religiosos mente, algumas igrejas t¿m se apropriado destes
presentes nestas heranças não podem ser deixados símbolos e práicas, desvinculando-os da religiosida
de lado, ainda que o ensino nao tenha um caráter de afro-brasileira. É o caso do "'acarajé do Senhor"

proselitista, considerando que a escola é, ou deveria ou "bolinho de Jesus", produzido por baianas evan
ser, laica.Ou seja, não se pode glicas que não se apresentam como vinculadas aos
ensinar cultura grega
clássica sem falar de suas divindades, mas terreiros e, por isso, dizem que os acarajés vendidos
isso não
em seus tabuleiros são abençoados por Deus, en
quer dizer que se está tentando
converter quem quanto os outrOs sao do Demonio. O mesmo ocor
aprende a cultuar Mercúrio ou Hermes, deuses re com a"capoeira gospel" ou"capoeira evangélica",
mensageiros da cultura greco-romana, tal como xu na qual as cantigas não fazem referência aos santos
oé na cultura africana e
afro-brasileira. católicos, orixás ou valores que tradicionalmente se
toleçao orixás 204
coleção orixas 205
EXU

vinculam å capoeira organizada no Brasil em


virtu- MoJuBÁ!
de das fortes relações dos seus praticantes com
mundo dos terreiros (SlLVA, 2007).
Por fm.
concomitantemente a este processo de
intolerância, cresce, por meio da ação dos movi.
mentos sociais e religiosos organizados e das po
liticas públicas governamentais, um esforço visando
a valorizar as heranças africanas no Brasil. Terreiros
de candomblé são tombados pelos órgãos de pre
servacão cultural; manifestações e práticas como o
jongo, o samba de roda, a receita do acarajé, entre
outras, são inscritas como bens imateriais; povos e
comunidades de matriz africana são inscritos nos culto de Exu é
A complexidade e diversidade do
planos de apoio à manutenção de suas formas tradi fruto de um longo processo de contato, iniciado na
cionais de vida e de transmissão de conhecimento.
África Ocidental há séculos, entre as religiões de
Enfim, tal como Exu, a cultura religiosa de origem origem fon-iorubá e banta e o cristianismo. Esse
africana encontra-se, no Brasil de hoje, numa en contato se expandiu para as Américas, formando
cruzilhada: entre a valorização e a rejeição, entre o uma rede transatlântica que envolve atualmente
enaltecimento ea discriminação.. inúmeras tradições de culto praticadas em países
como Nigéria, República do Benim, Angola, Moçam
bique, Brasil, Cuba, Haiti e Estados Unidos.
de
como
oque, perda
descendentes, desordem,
taetc.). das para
que vimento,
Exu em dotrazemfazeraquele as
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ainda da de lado, ao
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coisas vital
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ou da que ordem,sevícia,
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da estå que escravocrata
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mediaçao, presente habitam possibili
violncia de
própria centel do
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da e
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conceito
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e cigenação
de ma afro-brasileiras
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oscilando
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-brasileiras
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criado das e
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inclusive, seus integração poder esferas
afro-brasileiras
ampla. ou (samba),
de e
feitos evangélicos legais
públicas, "mestiçagem
" radical. atributos,contra públicos, dos carnavalescas
de
9 certa no artisticas
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