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Caça floresta e os animais é revelado nesses muitos

TEORIA E CULTURA
Podemos dizer que etnografar encantamentos, histórias e canções.
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a caça amazônica é se debruçar sobre um quase Neste jogo entre presa e predador todo cuidado
acontecimento¹. Sua concretização sempre estará é pouco. Por isso é comum encontrarmos diversas
no campo de uma possibilidade de sucesso. referências sobre a contenção ou mudança
A baixa densidade populacional da fauna e nas palavras quando as pessoas conversam
grande dispersão de espécies, aliadas aos hábitos sobre a caça. Diversos povos (na Amazônia e
noturnos e/ou arborícolas de grande parte dos fora dela) se utilizam de verbos como “soprar”
mamíferos faz com que “a caça na região seja uma como no caso de caça com zarabatana “andar”,
atividade repleta de complexidade e desafios, cujo “ver”, dentre outros, que escondam a verdadeira
resultado é sempre imprevisível” (ALBERT, 2016 intenção predatória da empreitada (DESCOLA,
p.320). Para as caçadas é realizado um grande 1988 p.32; GARCIA, 2010; WILLERSLEV,
investimento em caminhar, ouvir, silenciar, 2012). Isso nos leva para a figura do caçador,
imitar, não se amedrontar, sonhar certo, comer essa espécie de Guerreiro Zen que deve a todo
adequadamente, cumprir resguardos, sentir o tempo praticar o autocontrole. Mais uma vez,
frio nas madrugadas de espera, machucar-se Descola enumera dois “preceitos incontestáveis”
constantemente em subidas de árvores e corridas para os povos amazônicos: “a condenação da
às cegas atrás de - por exemplo - porcos dentro avareza e o controle de si” (DESCOLA, 1988
de espinheiros, contrair doenças por males- p.33). E são justamente tais princípios que devem
encontros (com espíritos protetores e outras ser encarnados em todo bom caçador, no que
almas da floresta), ser atacado por feitiços/e podemos chamar de generosidade e resolução.
vinganças animais, e diversas outras fatalidades Se a generosidade é visível nas situações de
que acompanham a vida de caçadores e partilha da carne, ou quando se caça para alguém
caçadoras. Toda caçada gravita em um campo de (como um parente próximo ou um amigo), a
incerteza que, na falta de visão na floresta densa resolução (o autocontrole) está, por exemplo, na
e úmida, só é garantido segundos antes da morte “abstinência sexual, a valorização da frugalidade,
do animal que, por incrível que possa parecer, da aptidão para a vigília e da resistência física, a
encontram inúmeras possibilidades de fuga. prática da flagelação e de banhos em água gelada,
Diversos autores (na Amazônia e fora dela) ou o uso de purgantes e eméticos” (DESCOLA,
defendem que as estratégias de captura não 1998, p.33). E, ao menos para a caça, o resultado
são puramente predatórias e confrontativas, e dessa autocontenção é um estado de calma,
outros elementos são incorporados em uma extremamente importante. A capacidade de
caçada bem-sucedida como a atração e o engano, não se desesperar e se voltar contra os seus
que em muitas etnografias aparecem sob a próximos, controlar o medo em todas as
ideia de “sedução”. Desta maneira, no caso da situações, e jamais levantar a voz em situações
caça Achuar, os caçadores precisam cuidar de de perigo ou embaraço fazem parte desse estado
suas relações com determinadas espécies não de calma. Todo o problema está em equacionar
matando demais e mantendo uma boa relação esse autocontrole, essa calma, com as caçadas,
com indivíduos daquela espécie que cuidam atividades carregadas de violência e tensão
dos outros animais chamados amana, descritos permanente. É isso que separa jovens caçadores
como o “chefe”, acessíveis apenas com cantos e dos caçadores experientes; e uma das principais
encantamentos certos (DESCOLA, 1986, p. 321). diferenças entre um caçador atrapalhado - ou
Trabalhos como esse são ricos em apresentar que esteja momentaneamente azarado -, daquele
algo encontrado em boa parte dos relatos sobre virtuoso, estoico.
a caça amazônica, que é o artifício da atração (ou Pensando a caça através dessa figura do
sedução) das presas através de procedimentos, “caçador”, a participação das mulheres nessa
encantamentos, amuletos e cantos específicos atividade foi pouco descrita na região. Se para
para cada situação. O conhecimento sobre a muitos povos a atividade de caça é completamente

¹ Parafraseando a “morte como uma quase acontecimento” (VIVEIROS DE CASTRO, 2009).

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excluída às mulheres, há casos como uma todas as ideias de inferioridade e pureza ligadas alimentos como a carne de caça, além do peixe. nativos são recorrentes em diversas abordagens

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eventual caçada de porcos feita pelas mulheres a este termo. Sugerindo que povos caçadores são Os ameríndios são profundos conhecedores da etnologia nos mais variados lugares, sejam
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Yudjá (LIMA, 1996, p.22), até mesmo mulheres apenas sobreviventes e nada mais. da anatomia animal e de uma caça abatida são casos sul-americanos ou não. Seca e chuva,
que podem vir a confeccionar arcos, flechas e Entre 1940 e 1941, o então jovem etnógrafo separados meticulosamente quartos traseiros “inverno” e “verão”, produzem o exato contraste
mesmo utilizar espingardas como no caso dos Allan Holmberg parte rumo às florestas da de quartos dianteiros, costelas, cabeças (e suas entre caça e agricultura; roça e mata; doméstico e
Guajá do Maranhão (Garcia, no prelo), dentre Bolívia a fim de estudar os Sirionó. De acordo inúmeras partes), pés, coluna vertebral, e uma selvagem, que, se por um lado, a estrutura dessas
outros exemplos (MATOS, 2014, p.83). Uma ideia com Holmberg, um dos principais motivos infinidade de partes de acordo com o jeito de formas informam e continuarão a informar
genérica e exclusiva de mulheres indígenas como de sua escolha estava no fato dessas pessoas cada povo, compreendendo pés, mãos, pescoços, nossas análises (onde alguns povos são famosos
coletoras de frutos ou produtoras de farinha e serem um povo “seminômade” que vivia em gogó, cérebros, joelhos, nádegas e cotovelos. por plantarem, ou caçarem ou mesmo pescarem),
beiju, não expressa o forte comprometimento que, um estado de “escassez alimentar”, pois eram As formas de preparo e consumo também são sabemos da valorização da caça também em
por exemplo, as mulheres Guajá mantêm com a fundamentalmente caçadores. Seu objetivo, cujo muitas, indo de um moqueado (defumado) com povos que tem nas hortas, jardins e pesca suas
atividade de caça. Além disso, muito do que é resultado é uma minuciosa descrição etnográfica, a crosta caramelizada por gordura, passando atividades principais. Isso sugere que o contraste
coletado, é feito pelos homens, principalmente a era compreender como o tal estado de escassez por assados no espeto, saborosos guisados com entre caça, horticultura e pesca é menos radical
bacaba e o inajá, frutos que são pegos subindo em estava relacionado à “cultura”, e como se macaxeira, abóbora e outros legumes, chegando do que se defende, ou que – no mínimo - a
suas árvores, muitas vezes tendo como resultado organizava esse povo, tido como “o mais atrasado até um caldo de carne ralo que será comido caça aparece como um tema transversal em
cortes e escoriações profundas. Para povos como culturalmente dentre todos os povos do mundo” por muitos com farinha, ou mesmo a carne em diferentes coletivos. Por isso a importância da
os Guajá, a relação entre caça e coleta, não está (HOLMBERG, 1969, p. 17). Nesta época, povos estado de maturação elevado, aproximando- caça ameríndia estaria menos conectada ao fato
diretamente condicionada aos sexos masculino e como os Sirionó, bem como diversos outros se do que consideraríamos “podre”. Complexo de se caçar muito (em muita quantidade, embora
feminino, tal como usualmente encontramos em da América do Sul, eram pensados a partir da também é o tema da partilha da carne, que varia isso seja fundamental), e mais ao “caçar sempre”,
textos sobre grupos caçadores, passíveis, porém, macro categoria “caçadores-coletores”, difundida de acordo com o tipo de animal, suas partes, que garante modos de relação particulares com
de uma necessária crítica. pela Ecologia Cultural de Julian Steward e seus o sexo da pessoa (há carnes que, por exemplo, os animais e o ambiente em geral. Para o caso
Essa crítica remete a outras dicotomias às colaboradores no Handbook of South American mulheres não devem comer), idade (idosos tem da caça na Amazônia em específico, os regimes
quais a caça foi relacionada como abundância Indians (STEWARD,1947; STEWARD & FARON, uma dieta menos restritiva do que, por exemplo, de chuva e seca determinam não apenas as
ou escassez; sedentarismo ou nomadismo; 1959). Tal imagem foi submetida a severas críticas moças jovens), fases da vida (se a pessoa estiver formas de ocupação do espaço e técnicas de
modernos ou tradicionais; técnicas fósseis ou nas décadas posteriores, irrigando até hoje um cumprindo algum tipo de resguardo), parentesco rastreio, mas a quantidade de gordura que será
engajamentos com o ambiente. Dicotomias que debate na arqueologia e na etnologia amazônica, (caso um caçador esteja “devendo” carne ingerida ao fim de cada caçada. A alternância
guiaram a forma como a caça nos povos indígenas muito mais complexo do que tratar a caça e a para a família de sua esposa ou outra pessoa), pluviométrica varia de acordo com a região, bem
na América do Sul foi pensada e as análises horticultura como fenômenos excludentes (para dentre outros motivos. O tema da produção e como as espécies vegetais em cada paisagem.
formuladas. Ainda assim, podemos dizer que, um balanço ver RIVAL, 1999). Na ampla maioria partilha de alimentos como símbolo da própria O que parece constante é que os períodos de
no imaginário popular, a caça contemporânea dos povos sul-americanos caça e roça são produção do social, sobretudo em coletivos que frutificação costumam ser a época de grande
muitas vezes é observada como um atestado de descritos como dois modos de relações distintos, se dedicam a caça, remonta a trabalhos pioneiros oferta proteica, quando se abatem animais mais
primitividade e atraso das populações que dela alimentando uma complexa e delicada rede que na antropologia amazônica, como os de Steward nutridos e saborosos. Os ameríndios no geral,
subsistem. Se os Sirionó, que resistem até os engloba caça, agricultura, ambiente, história, & Faron (1959), e foi amplamente discutido na tal como nós, adoram carnes gordurosas, e essas
dias atuais como um povo caçador na Bolívia espíritos e uma variedade de fenômenos que, antropologia social contemporânea em análises épocas costumam ser lembradas com nomes que
(BALÉE, 1999), eram tidos como atrasados, ao menos para a Amazônia, foi responsável por de autores como Ingold (2000), Bird-David evocam tal fartura2.
povos como os Guajá do Maranhão são taxados formar verdadeiras “florestas culturais” (BALÉE, (1990), Willerslev (2007). O fato da caça ser a comida predileta de
pela opinião pública como “a tribo mais ameaçada 2013). O conhecimento etológico desenvolvido tantas populações fez com que, muitas vezes, ela
do mundo”, dada a suposta fragilidade que uma Mas, neste múltiplo quadro relacional, no por diversas populações produziu variadas fosse esquecida como um importante sistema de
dependência tão radical à caça traria. A ideia por que consistiria a caça indígena sul-americana? formas de caçar, comer e conhecer, e tal forma ação e uma forma de conhecimento privilegiada
trás de tal argumento é que dedicar-se a caça (e Talvez se perguntássemos isso para algum dos de conhecer é diretamente relacionada aos ciclos sobre o mundo físico. Para a Amazônia e outras
pesca), e não à horticultura, é uma questão de nossos interlocutores indígenas, uma resposta da floresta. De muitas maneiras, parafraseando o terras baixas sul-americanas (que eram vistas
falta de escolha. Apesar das ameaças que povos imediata poderia ser que “caça é comida”. A caso Achuar, o mais essencial da arte cinegética como universos puramente “naturais”), quando
como esses experimentam serem bastante reais, variedade é enorme, mamíferos de todo tipo, ameríndia não reside puramente na habilidade e o assunto era caça, as abordagens adaptacionistas
o fascínio deste ponto de vista reside em pensar aves, quelônios e mesmo répteis compõem o domínio de armas e técnicas, mas no profundo como as “Hipóteses Limitantes” e do “Forrageio
diversos povos ao redor do globo como resquícios cardápio. E as preferências do consumo de um conhecimento do comportamento animal Ótimo” baseadas em modelos de custo/benefício
vivos de algo que já fomos: caçadores-coletores ou outro animal também variam bastante sendo (DESCOLA, 1986, p.293). Desta forma, as (RIVAL, 1999, p.77) estiveram por muito tempo
(INGOLD, 2003). Como se viver de caça - e para difícil falar em proibições de maneira geral. variações sazonais como indicadores dos ciclos no centro da arena, dando ênfase, sobretudo
caça - transformasse povos sul-americanos como Gordura, vísceras, carnes, tutano, tudo aquilo ² Para os Achuar, essa época se inicia já começada a estação chuvosa, chamada de “gordura do macaco-barrigudo” (Des-
os Sirionó, Aché, Huaorani, Guajá, Hupda, dentre que faz um alimento gostoso e garante a boa cola, 1986 p.94). Para os Guajá, da mesma forma, a época do “guariba gordo” ocorre durante as chuvas, entre os meses
outros (LEE & DALY, 1999) em “selvagens” – com vida em diversas populações, está encarnado em de fevereiro e maio.

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na obtenção de proteínas (GROSS,1975; caça por parte das populações indígenas, vem fenômeno interessante na teoria amazônica DE CASTRO, 2002b, p.357).

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HAMES & VICKERS, 1983; HAWKES, HILL & ocorrendo cada vez menos devido a diversas contemporânea. Ao lado das técnicas e A caça, pensada sob o idioma da predação,
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O’CONNEL, 1982, dentre outros) e a adaptação ameaças no entorno desses territórios que, propriedades sensíveis, fenomenologicamente a como sabemos, é um modo de relação central
ao ambiente. A caça (e a pesca em menor escala) muitas vezes fragmentados, carecendo de uma caça como evento central a diversos povos sul- para os povos amazônicos, onde animais e
era o elemento central em diversas análises que área mínima para a reprodução de determinados americanos fornece um idioma que auxilia na plantas experimentam a “humanidade como
- se conseguiram avanços consideráveis “sobre mamíferos, podem tornar-se “florestas vazias” compreensão de temas como o xamanismo, ritual, uma condição” (DESCOLA, 1986, p.120). Desta
certas dimensões quantitativas das práticas (REDFORD, 1992; MORAN, 2010). e até mesmo parentesco (onde várias formas de forma, a confrontação da caça experimenta duas
de subsistência ameríndias” (VIVEIROS DE Nos dias atuais, em toda Amazônia a serviço da noiva na América do Sul são pagas situações em paralelo para caçadores e presas, e
CASTRO, 2002ª, p.326), reforçaram o paradigma incorporação de armas de fogo (centenária em através da caça). Os eventos são muitos: cantos onde uns enxergam caça outros veem a guerra,
da escassez de proteína animal como uma das alguns contextos) modificou drasticamente a caça que evocam caçadas; sonhos que restauram como já foi discutido por diversos autores. Isso
principais limitações à adaptação humana na (HAMES,1979). O ganho que essas populações antigos eventos ou propiciam novas buscas; nos leva para uma questão fundamental da
floresta (LATHRAP, 1970; DENEVAN, 1971, tiveram com a introdução das espingardas trouxe curas xamânicas contra vinganças animais, caça amazônica (e da caça em geral) que é da
1976; CARNEIRO, 1970; ROSS, 1971; BOND, uma economia de tempo e esforço que, de fato, narrativas (cerimoniais ou não) sobre caçadas; impossibilidade de reduzi-la a um simples ato
1971; HARRIS, 1974; GROSS, 1975; ROSS, 1976 reconfigurou a caça na região, ao mesmo tempo rituais diversos onde caçadas são encenadas de predação animal, uma vez que os animais
apud ROSS, 1978). Tais trabalhos, chamados que “encareceu” a atividade pois, em muitas com inversões de papéis; caçadas coletivas também estão “engajados em atos predatórios
criticamente por alguns de “etnologia da comunidades, se “investe” o pouco dinheiro como preparação ritual; captura de filhotes de contra o caçador humano” (WILLERSLEY, 2012;
miséria” (CLASTRES, 2004 [1976]), colocavam que há, em munição. O silêncio, que é uma animais para serem criados nas aldeias; donos ver também LIMA, 1996; GARCIA, 2012).
esses povos em um estado de penúria extrema, importante estratégia de caça, teve que conviver e mestres de animais que, mediante pedidos Se o paralelismo entre caça e guerra foi
como se suas questões existenciais se limitassem com o barulho dos tiros, cujo efeito muitas mágicos, doam seus bichos para os caçadores na amplamente discutido e ganhou uma elegante
à sobrevivência, e ignoravam seus sofisticados vezes pode ser espantar outras caças (YOST & mata; feitiços para ver e ouvir melhor, e outros formulação no texto de Lima sobre a caçada
engajamentos com o ambiente. E não à toa foram KELLEY, 1983, p.191). Enquanto em algumas exemplos são amplos em atestar uma verdadeira de porcos Yudjá (LIMA, 1996), há um outro
posteriormente problematizados em trabalhos regiões, espingardas com calibres variados estética da caça sul-americana. Encontramos um paralelismo não menos fundamental, presente
de ecologia humana (BECKERMAN, 1994; substituíram definitivamente os arcos, flechas e ou mais desses elementos em (podemos afirmar) no perspectivismo amazônico, que deve ser
MORAN, 1993). zarabatanas, em outras, elas convivem com os todas as monografias recentes da etnologia mais investigado. Refiro-me à relação entre
Se, no âmbito da ecologia humana, a caça arsenais indígenas3. Encontramos atualmente americanista. São justamente fenômenos como caça e xamanismo4. E, invertendo o tropo
revela formas de manejos e conhecimentos entre os povos ameríndios, uma rica e diversa esses que consagram a caça como um modo de perspectivista, podemos afirmar: ideologia
botânicos sofisticados, no plano político, os variedade de técnicas e instrumentos venatórios relação que fornece elementos para uma crítica de xamãs, esta é sobretudo uma ideologia de
territórios tradicionais estão sob diversas pressões que abrangem arcos dos mais variados tamanhos contundente à oposição Natureza e Cultura, e caçadores5. Talvez a caça (como um sistema de
advindas dos desmatamentos e outros ilícitos e matérias-primas; zarabatanas; venenos de setas está, na base do próprio perspectivismo. Além ação, e não apenas a sua “valorização simbólica”)
comprometendo o rendimento da atividade e, por e flechas; pontas de flecha dos mais variados de uma “relação essencial com o xamanismo”, tenha tido menos espaço que o xamanismo
consequência, a saúde de diversas populações. formatos; técnicas de rastreio e emboscada este postula uma “valorização simbólica da caça” nessas análises justamente por uma carência de
Além disso, a caça também pode ser pensada, diversas; caças de espera e de varrição/varrida; (VIVEIROS DE CASTRO, 2002b). Nesse caso é material etnográfico qualificado, se comparado a
erroneamente, como uma atividade puramente armadilhas de captura, guilhotina, badogue/ possível perceber o quanto a caça na América do qualidade dos dados sobre xamanismo. Da mesma
predatória e insustentável para os atuais tempos trabuco; técnicas de captura e asfixia em buracos, Sul (mas não só), como um modo de relação e forma é produtivo pensar com o perspectivismo
de ecologia e preservação do meio ambiente. dentre tantas outras. Além dessas, é importante conhecimento privilegiado, extrapola qualquer que, sendo a relação humano-animal central na
Porém, sobre este último tópico, o maior perigo ressaltar a centralidade dos cães em muitos esquematismo adaptacionista e pode ser pensada Amazônia, e se o “animal é o protótipo extra-
estaria não na atividade de caça em si, mas na processos de caça (DESCOLA, 1986, p.284; etnograficamente como um fenômeno mais humano do Outro, mantendo uma relação
perda dos territórios tradicionais resultado de KOHN, 2013), e uma verdadeira fitoterapia, com abrangente: privilegiada com outras figuras prototípicas
sistemáticas ocupações e explorações ilegais. ervas, cascas e plantas dos mais variados tipos, é “horticultores aplicados como os Tukano ou da alteridade, como os afins” (VIVEIROS DE
Sabemos que nas caçadas de muitos povos investida na preparação dos cachorros de caça. os Juruna - que além disso são principalmente CASTRO, 2002b, p.357; DESCOLA, p. 329-
indígenas, a pressão sobre determinadas áreas pescadores - não diferem muito dos grandes 330), encontramos no xamanismo (tal como
durante um certo período de tempo, possibilitava Para além de um paradigma adaptacionista, caçadores do Canadá e Alasca, quanto ao peso ocorre com o sacrifício nos materiais siberianos,
que outras fossem ocupadas pelas espécies em a caça e seus “conflitos ontológicos” conectam cosmológico conferido à predação animal WILLERSLEV et al. 2014) a relação com o
perigo, permitindo a recuperação da fauna face os principais elementos sociocósmicos dos (venatória ou haliêutica), à subjetivação espiritual animal, em sua forma essencial, sem máscaras ou
às pressões venatórias (MORAN, 2010, p.54). Tal coletivos amazônicos (ameríndios e mesmo dos animais, e a teoria de que o universo é artifícios; a sua forma mais bem acabada. Nesse
processo, que sempre norteou a caça amazônica, outras populações tidas como “tradicionais” povoado de intencionalidades extra-humanas caso, o xamanismo (conjugado com a mitologia)
algo como uma rotação sazonal de áreas de [ALMEIDA, 2013]), despontando como um dotadas de perspectivas próprias (VIVEIROS em seu multinaturalismo característico, talvez
4
“A relação entre o xamanismo e a caça é uma questão clássica. Cf. Chaumeil 1983: 231-32 e Crocker 1985: 17-25” (VI-
³ Para determinadas situações, como na caça de mamíferos arborícolas, zarabatanas e flechas podem ser mais eficientes VEIROS DE CASTRO, 2002b, p. 3
5
do que armas de fogo (YOST & KELLEY, 1983). “Ideologia de caçadores, esta é também e sobretudo uma ideologia de xamãs” (VIVEIROS DE CASTRO, 2002b, p. 357).

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tenha vantagem sobre a caça para se pensar caça e as relações humano-animal são concebidas, compreensível que os caçadores amazônicos uma atividade cuja ação predatória, o confronto

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a “relação com o animal”. Porém, ou ainda em uma diferença entre “dádiva” e “predação”6. tenham adquirido não só um extenso e a morte muitas vezes são deixados de lado nas
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mais, é possível intuir que, etnograficamente, Além da “Sibéria”, uma outra região conhecimento sobre os sons da floresta desde análises. A caça aparece em muitos trabalhos,
a grande sugestão do perspectivismo está na etnográfica possui trabalhos importantes, com tenra idade, mas também que um concerto de mas ainda sabemos muito pouco sobre o que é o
impossibilidade de se pensar xamanismo e caça pistas interessantes para um diálogo com a sons animais que constantemente os rodeia caçar. Esse caçar é somente de ação. Não há fala
desvinculados um do outro. caça ameríndia, sobretudo em aspectos pouco informa de maneira profunda a linguagem e nem explicação, o silêncio é fundamental e os
Assim, a mesma relação entre caça e explorados aqui como a mimese sonora e uma cosmologia desses povos (ALBERT, 2016, p.320). sons emitidos são, quase sempre, intraduzíveis.
xamanismo retorna com todas as letras em a antropologia dos sentidos e da comunicação. Junto aos sons, encontramos odores, A linguagem da caça é uma espécie de linguagem
Queda do Céu de Davi Kopenawa e Bruce Albert Me refiro à Papua Nova Guiné, em trabalhos já movimentos, emoções, texturas e outras da mata, e tanto floresta quanto caçadores
(2015), e, aqui, caça e xamanismo aparecem de conhecidos como de Gell (1999), Feld (1982) e sensações que compõem um elaborado quadro precisam ser “poliglotas” (ALBERT, 2016).
maneira indissociável, além de radicalmente Weiner (1991). O fato de serem ambas regiões de conhecimento operado fundamentalmente
etnográficas. Davi Kopenawa apresenta como de floresta úmida faz com que suas populações pela caça na América do Sul Tropical (ver KOHN, Uirá Garcia*
as imagens xamânicas de ver e pensar se vivam experiências, em muitos sentidos, 2005). Sem me estender demais nesse aspecto, há
relacionam com capacidades cinegéticas onde análogas. Sem evocar qualquer determinismo algo para além da fala, cuja importância é central
os espíritos (de diversas tipos) se afeiçoam aos ecológico, encontramos nesses trabalhos uma para os povos com que trabalhamos, e muitas
bons caçadores, ensinando-os a caçar melhor; ou complicada relação entre “paisagem”, “cognição” vezes, nós antropólogos (preocupados em gravar
como o pó alucinógeno yãkoana potencializa (ou e “linguagem”. Com o campo de visão limitado, e e transcrever conversas e entrevistas), conferimos
mesmo propicia) que jovens caçadores matem a necessidade de não serem vistos, a espreita e a pouca importância. Para uma verdadeira
suas primeiras antas; ou as visões dos ancestrais escuta são formas extremamente eficazes à floresta etnografia da caça, somente uma gramática da
dos animais experimentadas em sonho são tropical. Nas palavras de Alfred Gell, “quem vive língua não será suficiente. Uma antropologia
fundamentais para a caça das mesmas espécies na densa e inquebrantável floresta, como os do silêncio, dos chamados, gemidos, imitações
na floresta; ou como enfeites de espíritos animais povos da Nova Guiné, a língua falada é rica em e outros aspectos não-verbais, é tão importante
dados pelos xamãs fazem parte do processo de símbolos sonoros, capaz de descrever e interagir quanto as muitas horas de narrativas míticas ou
transformar um jovem em um grande caçador, com o mundo não apenas com palavras” (GELL, discursos cerimoniais.
dentre outros tantos exemplos. Para Kopenawa, 1999). No caso amazônico, Eduardo Kohn (2005 Nos últimos anos, o esforço de diversos
a iniciação ao xamanismo é uma iniciação à p.190) reforça este argumento ao dizer que para trabalhos da etnologia americanista está em
caça, e o que se depreende de suas palavras é que, os Runa (povo de língua Quechua, do Equador), colocar a caça (e temas correlatos como a pesca
para os Yanomami, os xamãs são caçadores e o no ambiente da floresta, essa iconicidade faz e agricultura) no centro de seus interesses, pois
aprendizado de ambas as artes andam junto, de com que os aspectos sonoros sejam muito mais esses se constituem como sistemas de saberes
maneira inseparável (KOPENAWA & ALBERT, confiáveis do que os visuais. Ou como ressalta complexos, cujas práticas de conhecimento só
2015). Albert para o caso Yanomami (ALBERT, 2016), podem ser estudadas em ação. E, com algum
As muitas “relações assimétricas” por se tratar de uma paisagem impenetrável para cuidado, podemos dizer que o campo de
encontradas tanto na predação guerreira quanto os olhos, mesmo a curta distância, tudo o que etnografias interessadas explicitamente na caça
nos seres “donos da caça”, podem ser observadas, resta aos caçadores são vislumbres fugazes de amazônica ainda é carente, sem demérito para as
com alguma variação, em outras regiões como suas presas “após observarem possíveis pistas de excelentes análises que já nos revelaram bastante
na caça siberiana (ex. WILLERSLEV, 2007; suas presenças no solo”. Pistas que, muitas vezes, sobre o tema (DESCOLA, 1986; ERIKSON,1987;
WILLERSLEV et al., 2014). Essa mirada na são quase imperceptíveis, por se tratar de troncos TEIXEIRA-PINTO, 1997; CALAVIA SÁEZ
etnografia “siberiana”, cujo ar de família com os remexidos ou gotas de urina que modificam 2006; LIMA 1996). Se por um lado vemos o
materiais americanos é incontestável, vem sendo sutilmente o brilho de folhas arbustivas. Diversos rendimento conceitual da caça através das
empreendida pela etnologia sul-americana, aspectos que não podem ser apreendidos pela filosofias indígenas; da caça como o lócus de
principalmente naquilo que Fausto chamou de visão são revelados pelos sons da floresta. relação entre homens e animais; do paralelismo
“tradição xamânica sibero-americana” (2007, “(...), é sobretudo através da experiência de entre caça e guerra; da metáfora entre captura
p. 498), onde o principal contraste - um tanto ouvir o ambiente que as pessoas são capazes e casamento; do xamã muitas vezes como um
esquemático - entre as duas áreas (Sibéria e de detectar a presença ou movimento da caça domesticador amansador, e tantas outras imagens
Amazônia) está na maneira que a atividade de no mato ou nas copas das árvores. Por isso, é experimentadas pelos ameríndios (e mobilizadas
pelos antropólogos) que une caça e socialidades
6
Não entrarei em detalhes sobre esta ideia, que já foi bem discutida em Fausto (2007), apenas lembro que, para a caça, o diversas, por outro lado, estamos falando de
rendimento da comparação entre a Amazônia e as zonas do ártico e sub-ártico tem sido relativamente produtivo, a ponto
de ter desembocado na publicação “Animism in Rainforest and Tundra: Personhood, Animals, Plants and Things in Con-
*
temporary Amazonia and Siberia” (BRIGHTMAN et al., 2012), reunindo contribuições sobre cosmologia, xamanismo e Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo e Professor da Universidade Federal de São Paulo
caça de especialistas em ambas as regiões. (UNIFESP). Contato: uira.garcia@unifesp.br

132 Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFJF v. 11 n. 2 jul/dez. 2016 ISSN 2318-101x (on-line) ISSN 1809-5968 (print) Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFJF v. 11 n. 2 jul/dez. 2016 ISSN 2318-101x (on-line) ISSN 1809-5968 (print) 133
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Foto: Uirá Garcia

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