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Barra do Garças – MT
Abril – 2023
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Barra do Garças – MT
Abril – 2023
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UNICATHEDRAL
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATHEDRAL
CURSO DE DIREITO
BANCA AVALIADORA
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Prof. Ma. Thaís Assunção Nunes
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(Assinatura por extenso do Membro Convidado)
Barra do Garças – MT
Abril – 2023
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RESUMO: Este estudo versa sobre o trabalho escravo contemporâneo à luz do ordenamento
jurídico brasileiro, visa compreender como os órgãos fiscalizadores poderão estar atuando
para erradicar o trabalho escravo contemporâneo no Brasil. Para tanto utilizou-se uma
pesquisa básica, com abordagem qualitativa; e procedimento técnico bibliográfico. Para
fundamentar este estudo foram essenciais a Constituição Federal de 1988, textos, artigos e
teses, além dos doutrinadores como Trevisam (2015), Delgado (2009), Figueireda (2004),
entre outros. Foi possível concluir que um dos maiores desafios dessas fiscalizações é
combater as violações dos princípios e direitos fundamentais no trabalho, entre os quais está o
enfrentamento ao trabalho escravo. Em que pese a quantidade de normativas que abrangem a
matéria e a histórica luta para abolição do trabalho escravo ou análogo a escravo, a situação
ainda é uma realidade no Brasil e merece a atenção devida com base numa fiscalização
atuante, criação e desenvolvimento de políticas públicas e punições rigorosas dos envolvidos,
tanto na esfera trabalhista fazendo uso de condenações monetárias (de natureza remuneratória
e indenizatória) e medidas de obrigação de fazer, quanto pela seara penal, por meio da
aplicação de pena pela prática de crime.
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Acadêmica do curso de Direito, do UniCathedral – Centro Universitário Cathedral. E-mail:
alessandra- ssd@hotmail.com
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Mestre em Direito Constitucional Econômico pelo Centro Universitário Alves Faria-Unialfa.
Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Docente do Curso de Direito do
Unicathefral- Centro Universitário Cathedral. E-mail: thais.assuncao@unicathedral.edu.br
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1 INTRODUÇÃO
Há 134 anos a escravatura foi abolida do Brasil. A Lei nº 3.353, de maio de 1888, foi
decretada e assinada pela princesa Isabel. Esta lei concedeu liberdade total aos escravos que
existiam no Brasil naquela época. Em decorrência disso, presumiu-se que o trabalho escravo
estava extinto, porém, em pleno século XXI ainda é possível encontrar trabalhadores em
condições análogas àquelas vividas no período colonial.
Neste ano no Brasil, uma média de 500 (quinhentos) trabalhadores foram resgatados
de condições de trabalho análogo ao de escravo. Embora haja prescrição jurídica da
escravidão, isso não foi suficiente para impedir a exploração do trabalho análogo ao de
escravo.
Embora o Brasil seja considerado um dos países mais avançados em esforços
governamentais e não governamentais para erradicação do trabalho análogo à escravidão,
ainda há uma grande quantidade de trabalhadores escravizados no país. Por isso, é
imprescindível discutir e dar visibilidade as condições de trabalho análogo à escravidão, para
que haja conscientização de que o trabalho decente é um direito fundamental inquestionável.
Nesse contexto, o artigo tem como tema o trabalho escravo contemporâneo à luz do
ordenamento jurídico brasileiro, com vistas a compreender o seguinte problema: como os
órgãos de fiscalização podem atuar para erradicar o trabalho escravo contemporâneo no
Brasil?
Diante disso, este trabalhou buscou compreender como os órgãos fiscalizadores
poderão estar atuando para erradicar o trabalho escravo contemporâneo no Brasil.
Para alcançar tal objetivo, entendeu-se necessário a utilização de uma pesquisa
básica, cuja finalidade será a de contribuir com informações a respeito das possíveis formas
de combate ao trabalho análogo à escravidão no Brasil nos dias atuais e, diante das
indagações acerca do assunto, a forma de abordagem foi a qualitativa, buscando expor os
fenômenos que contribuem para incidência dessa prática.
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Empregou-se uma pesquisa exploratória, posto que o intuito era a familiarização com
o tema proposto. Para tanto, foram analisados dados a partir de casos práticos julgados no
Brasil. A pesquisa bibliográfica foi fundamental para a realização deste artigo, e teve como
ponto de partida a consulta em obras relacionadas ao tema proposto, consulta à Constituição
Federal de 1988, textos, artigos, teses, além de doutrinas, jurisprudência e demais fontes
necessárias que contribuíram grandemente para o desenvolvimento do tema.
O método de abordagem foi o dedutivo, o qual partiu de análise de teorias e leis,
como a Constituição Federal e a Consolidação das Leis do Trabalho, para a ocorrência de
fenômenos particulares.
Por fim, como método de procedimento, o método monográfico foi o que melhor se
adequou, por se tratar de um estudo que tem um valor representativo para o meio social.
No campo doutrinário, foi fundamental o estudo de autores como Trevisam (2015),
Delgado (2009), Figueireda (2004), entre outros.
A princípio, foi necessário conhecer o histórico do trabalho escravo no Brasil, a fim
de compreender como surgiu e se desenvolveu essa prática no país. Foi necessário também
apresentar o conceito de trabalho escravo contemporâneo, bem como, relacionar o princípio
da dignidade da pessoa humana com o trabalho análogo à escravidão. Posteriormente,
analisou-se a atuação dos órgãos de fiscalização para erradicar o trabalho escravo no Brasil.
Nessa perspectiva, é sabido que essa questão é de suma importância, uma vez que o
cerne da temática não é só o direito à liberdade, mas também a dignidade da pessoa humana.
fiscalizadores, sanções e outros direitos, representando a seriedade com que o tema é tratado
no Brasil.
Porém, ao observarmos as práticas humanas ao longo da história podemos perceber
que a escravidão vem de longa data. Contudo, com o decorrer dos anos muitas coisas
mudaram. Conforme diz Elisaide Trevisam (2015), “é de grande dificuldade tentar precisar o
exato momento da história mundial quando se iniciou o regime escravocrata, uma vez que tal
prática é tão anciã quanto à própria humanidade.”
Na antiguidade povos como os assírios, egípcios, babilônios, hebreus, gregos e
romanos tinham a escravidão como prática. Em cada uma dessas regiões a escravidão tomou
contornos específicos e foi se transformando ao longo do tempo. Algumas das regiões como a
romana, a mão de obra escrava era utilizada em grande escala, enquanto em outras áreas isso
acontecia em menores proporções.
De forma geral, os escravos exerciam funções em campos, minas, cidades, comércio
e até mesmo no serviço militar. Alguns desfrutavam de regalias mínimas, como poder juntar
valores para comprar sua liberdade, mas como a maioria vivia sob condições extremamente
precárias, conseguir a liberdade era uma realidade distante. Grande parte dos escravos eram
prisioneiros de guerras ou indivíduos endividados que trabalhavam para pagar essas dívidas.
Já durante a idade moderna, no mesmo período que ocorreram as grandes
navegações, a escravidão ganhou contornos muito mais específicos. Nesse contexto, a
montagem do sistema colonial inserido na ideia mercantilista tornou a escravidão uma
atividade muito rentável. Com o novo panorama histórico a questão racial foi introduzida para
justificar a escravização de africanos. A partir daí a escravidão foi adotada em termos
continentais e milhões de escravos foram trazidos para as três américas. Estima-se que um
total de 12 milhões de escravos, dos quais 4 milhões vieram para o Brasil. Houve modelos de
trabalhos compulsórios como mita3 e a encomienda4 na américa espanhola através das quais
se explorava a mão de obra dos povos indígenas.
No caso da américa portuguesa, ou seja, no Brasil, a escravidão concentrava-se
também na mão de obra dos indígenas. A escravização dos indígenas aconteceu
principalmente na extração do pau-brasil e a partir do momento que a produção de açúcar se
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Os indígenas eram escalados através de um sorteio para trabalhar nas minas por um período de tempo,
como forma de trabalho compulsório.
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Era o direito dado ao colono espanhol de explorar o trabalho indígena nas minas, plantações e
fazendas. Em troca, o colono devia pagar tributos à metrópole espanhola e ensinar-lhes a religião
católica.
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tornou o principal produto econômico da colônia ocorreu a transição para utilização da mão
de obra escravo africano. Para explicar este processo, ocorreu uma redução demográfica
gigantesca por causa de doenças que dizimavam a população nativa, as fugas e principalmente
a rentabilidade do tráfico interatlântico de escravos africanos. Na costa africana, os traficantes
trocavam os escravos por produtos como fumo ou armas de fogo. Vale frisar que a escravidão
era uma instituição presente nas sociedades africanas, mas não tinham fins comerciais e
representavam dominação e poder do mais forte sobre o mais fraco, ou seja, era uma lógica
completamente diferente da estabelecida com o sistema colonial.
Os portugueses chegaram ao Brasil em 1500, neste período não só iniciaram a
colonização, mas também estabeleceram relações mercantis com os povos indígenas que aqui
viviam. Desse modo, no decorrer dos anos houve a expansão europeia na América e com isso
eles começaram a escravizar os nativos.
Porém, a tentativa de escravização dos índios não foi tão bem-sucedida quanto a
escravização dos negros.
De acordo com Elisaide Trevisam:
de tudo, a continuidade das fugas e das revoltas construíam um cenário de forte pressão sobre
o congresso e os escravocratas brasileiros, provocando um processo de abolição vagaroso.
Gradualmente, normas como a do Sexagenário, do Ventre Livre e a própria Lei
Áurea impetraram o fim do escravismo. Entretanto, anteriormente à Lei Áurea, diversos
escravos já se libertavam, em decorrência das compras de alforria por abolicionistas e pelas
próprias lutas.
Enfim, a escravidão no Brasil, seja de negros ou de nativos deixou sérios problemas
para o país. Pela forma como se enraizou na estrutura social e pela sua crueldade, indivíduos
sofrem com essas heranças até hoje, pois, legalmente a utilização de mão de obra escrava
chegou ao fim com a decretação da Lei Áurea, mas é possível notar, com os acontecimentos
midiáticos, que a escravização perdura até os dias atuais.
Consoante a redação do artigo 149 do Código Penal, conferida pela Lei n° 10.803, de
11 de dezembro de 2003, a definição de trabalho análogo à escravidão inclui o trabalho
forçado e as condições degradantes de trabalho. Além disso, o artigo estipula penalidades para
os indivíduos condenados pela prática de escravização e aliciamento de pessoas para trabalhos
forçados. Importante salientar que a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OIT
(Organização Internacional do Trabalho) reconhecem o conceito de trabalho escravo disposto
no Código Penal Brasileiro.
Vejamos o artigo 149 do Código Penal:
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Grupo Móvel é referência em termos de articulação interinstitucional por reunir diferentes instituições
com o propósito de fiscalizar conjuntamente denúncias de trabalho escravo. O grupo também tem por
pressuposto proceder à autuação de empregadores flagrados utilizando mão de obra escrava e prover,
na maior parte dos casos, uma reparação econômica imediata para os trabalhadores lesados, com a
recuperação das verbas rescisórias negadas durante a prestação dos serviços.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Esse assunto é de extrema relevância para a sociedade brasileira, haja vista que é
considerado formalmente ilegal desde a promulgação da Lei Áurea, porém verifica-se que
isso ainda é uma realidade atual, o que decorre da leitura dos dados fornecidos pelos Grupos
Especiais de Fiscalização Móvel, os quais comprovam que ainda existe trabalho escravo ou
análogo à escravidão tanto para trabalhadores urbanos, quanto rurais, com um perfil do
trabalhador na média de 30 anos ou mais, branco, homem e migrante, em sua maioria.
Conclui-se, portanto, em que pese à quantidade de normativas que abrangem a
matéria e a histórica luta para abolição do trabalho escravo ou análogo a escravo, a situação
ainda é uma realidade no Brasil e merece a atenção devida através de uma fiscalização
atuante, criação e desenvolvimento de políticas públicas e punições rigorosas dos envolvidos,
tanto na esfera trabalhista fazendo uso de condenações monetárias (de natureza remuneratória
e indenizatória) e medidas de obrigação de fazer (ex: anotação da carteira de trabalho) quanto
pela seara penal, por meio da aplicação de pena pela prática de crime (art. 149, CP).
REFERÊNCIAS
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2009, p 221.
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GORENDER, Jacob. Direitos Humanos: o que são ou devem ser. São Paulo: Senac, 2004.
SILVA, Angela Borges da; MADEIRA, Janaina Silveira Soares. O Trabalho escravo
contemporâneo no Brasil: um estudo sobre as consequências para os empregadores que
adotam a prática da escravidão moderna. In: Revista Fórum Trabalhista. Belo Horizonte, ano
10, n. 40, p. 123-143, jan/mar. 2021. p. 125