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Personagens:
divertimentos. Tinha ouro e saúde, que mais lhe faltava? Contraiu algumas
dívidas, mas isso não tinha problema...
Não tinha problema, até que certo, durante o inverno, Dom Diego foi
verificar as últimas arcas de ouro que ainda restavam e encontrou-as vazias!
Ladrões!!! Bradou! Mas não havia ladrão algum... Se o ouro sumiu, foi
porque o próprio Dom Diego o havia gastado.
E isto, ele logo compreendeu!
DD - Ah... desgraça! Acabou-se o ouro! Bem que meu pai podia ter deixado mais! Ah!
Acabaram-se as festas! Há meses que não há mais bailes neste salão. Servos egoístas e
interesseiros! Foram-se todos embora, só porque eu não tinha mais dinheiro para pagá-los. Só
ficou o meu fiel José... (senta-se, levanta-se, pensa um pouco e grita:)
DD - José! José!
Jo - Sim, senhor!
DD - Meu bom José, você sabe que eu estou ficando pobre e endividado. Já tive que me
desfazer de quase todo os meus bois. E agora terei que vender mais uma parte... Quantos bois
ainda tenho?
Jo - (Sem jeito) Senhor... só haviam seis bois! Três, foram vendidos há 10 dias para pagar os
últimos pastores que se foram, os outros... morreram esta semana, de uma doença
desconhecida...
DD - Que lástima! Que lástima! Se pelos menos houvesse alguns camponeses, poderiam
talvez colher o trigo nas poucas terras que ainda me restam...
Jo - Senhor... no último verão a seca arruinou toda a plantação e... aliás, o senhor já vendeu as
últimas terras que o senhor possuía...
DD - E do dinheiro desta venda? Não sobrou nada?
Jo - Senhor, mal deu para pagar as dívidas...
DD - Sou um desgraçado... que mais me pode acontecer?! José, é bom você ficar sabendo... o
próprio castelo, praticamente já não é mais meu, tive que deixá-lo para os banqueiros de
Toledo, para assegurar de que eu pagarei as minhas dívidas!
[José fica espantado e com pena de D. Diego. Cai numa poltrona inteiramente
desanimado e derrama num copo um restinho de vinho que há numa garrafa.]
Cortar a Música
DD - (Chuta a brasa da lareira) - Nem fogo tem mais na minha lareira... esta é a minha
história... eu sou agora menos que um pedaço de lenha queimada...
DD - (Pega uma corda) - Que saída há para mim? (Olha para a corda, olha para uma trave no
teto, subentende-se que pensa no suicídio)
DD - (Começa a fazer um nó de forca) - Há muito tempo que penso nisso...é a única fuga para
minha desgraça!!!
[Quando se prepara para jogar a corda por cima da trave, entra falando alto José]
Corta a Música
Jo - Senhor! Senhor! (assustado D. Diego esconde a corda) - Aqui fora há um homem que
quer falar com o senhor!
DD - Quem é?
Jo - Ele disse que se chama Isaac Cyrilus.
DD - Ah! É o velho mestre Isaac, o comerciante de pedras preciosas... Que azar! - será que
devo também a este homem também?! Não é possível... não o vejo desde menino... Bem,
vamos, faço-o entrar!
(José retira-se e faz mestre Isaac)
MI - (Inclina-se numa reverência um tanto fingida, sem ser cômica) - Salve, nobre D. Diego,
senhor de Biscaia! Há muitos anos não lhe vejo, e senti que hoje lhe deveria fazer uma visita...
DD - (Entre indiferente e um pouco incomodado) - Boa noite, Mestre Isaac. Não sei o que
você quer de mim. Não o vejo desde que você vinha tratar com meu falecido pai...
MI - É verdade. Muitas vezes negociei com seu pai. Era um homem muito sério. Comprava
minhas pedras, mas nunca quis dar ouvido aos meus conselhos... Talvez você... senhor barão,
queira me ouvir agora...
DD - (Um pouco intrigado) Não sei bem o que você quer dizer... E na verdade... estou
precisando de outras coisas e não de conselhos!
MI - Eh, eh, eh... bem sei, bem sei nobre cavaleiro... você está tremendamente atormentado,
vítima de uma atroz situação da qual não saída; as suas antigas alegrias se foram, e tal é a sua
situação, que nem mesmo este grande castelo, a bem dizer, não pertence mais a você!
DD - (Surpreso e um tanto indignado) - Como você sabe disso?! É um segredo que só eu e os
banqueiros de Toledo conhecemos!
[Diego faz sinal para que saia José. - Mestre Isaac tira uma bolsinha do cinto e joga-a
sobre a mesa, de maneira que se espalham algumas moedas]
MI- Pois bem... o que eu peço é... que você se esqueça do Sinal da Cruz! Prometa que nunca
mais há de te benzer! Você deve tirar esse velho símbolo do teu castelo (apontando para o
crucifixo), e ainda os outros que possam existir aqui. Então, você terá as suas mãos cheias de
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ouro... se andar como eu quero... Voltarei daqui a seis meses, para que você assine um
documento. Depois, você terá novas instruções... você será rico e poderoso... até o fim de sua
vida...
N - Só que desta vez, vinha junto uma carta que dizia o seguinte:
[Cena do assassinato]
MI- Salve, oh nobre barão (olhando em redor) vejo que o salão esta novo e bem decorado...
nada como levar uma vida boa e despreocupada... (mudando de tom e ficando sério) Dom
Diego, você sabe muito bem porque vim aqui hoje!
DD - (Inseguro e um pouco contra feito) - Sim, eu sei. Você quer que eu assine um
documento, cujo conteúdo eu não conheço.
DD - Não... não posso... não posso assinar... não queria chegar a isso... não... não me peça
isso... não!!!
MI - (Malicioso) - Se você assinar agora, você terá riquezas e poder como nunca sonhou, e
prazeres sem conta, como eu prometi, até o fim da vida (irônico)... daqui a sete anos. (sério e
ameaçador) Se você não assinar... você perderá tudo o que tem! Você vai se tornar um
miserável, um pobre desgraçado! E mais - amanhã mesmo, todos saberão de seu crime, do
assassinato que você cometeu! E além da desonra você acabará numa forca!!!
MI - Estamos agora unidos por um destino comum! (pega e guarda o pergaminho com
satisfação) - Nada mais temos a tratar. Você receberá o ouro que prometi. Até mais Dom
Diego! Até daqui a sete anos... Ha, ha, ha, ha!
DD - (Afunda-se na poltrona, fica certo tempo em silêncio, depois diz:) - José, esta próximo o
fim de minha existência... daqui a sete dias termina o prazo fixado, eu sou um desgraçado...
não sei o que será de mim! (cobre o rosto com as mãos)
[Neste momento, toca ao longe um sino, repetidas e espaçadas vezes]
Jo - Senhor barão, no fundo do vale habita um santo monge, abade de um antigo mosteiro
cujos religiosos foram expulsos... pelo senhor... é... anos atrás... Ele porém se recusou a sair
dali, e desde então, vive nas ruínas do abandonado mosteiro, entre orações e penitências,
pedindo pela conversão dos... pecadores... Este sino que o senhor está escutando é,
certamente, ele que está tocando.
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Ab - A paz de Deus esteja convosco, meu filho... Mas antes que você fale qualquer coisa,
quero que você faça um sinal, que sei que há muito tempo você esqueceu e abandonou (dá
uma grande bênção com o crucifixo) In nomime de Patris e Filii et...
DD - Meu Deus... há quantos anos não sinto o que estou sentindo agora!!! Santo Abade, sou
um grande pecador, um condenado ao Inferno, o último e mais infame dos homens... (chora)
como um cavaleiro de Deus que você deverá enfrentar o poder das trevas! Eu deixarei com
você algumas coisas muito úteis e importantes:
Primeiro! esta relíquia de São Domingos! Que lutou inúmeras vezes contra o demônio e tinha
contra ele um terrível ódio!
Segundo! Vou te revestir com o manto protetor de Nossa Senhora, impondo em você o Santo
Escapulário de Nossa Senhora do Carmo, sinal certo de proteção e salvação!
Terceiro! Esta espada benta, forjada pelos antigos monges da Abadia de São Gabriel, com ela
enfrentarás o inimigo!
E ainda, vou dar para você um tesouro: o Santo Rosário! Ele foi entregue pela própria Mãe de
Deus a São Domingos em uma aparição! Ele é a maior arma contra os Infernos e a melhor
maneira de alcançar as graças para a salvação eterna!
Reafirmai a Fé que você abandonou rezando o “Creio em Deus Pai...”, mostrai dor pelos seus
pecados rezando o “Pai-nosso”, pedi um amor cheio de entusiasmo e confiança a Nossa
Senhora rezando a “Ave-Maria”, e peça forças para enfrentar a luta pronunciando as belas
palavras da “Salve-Rainha”!
[Batem à porta, forte e espaçadamente três vezes — Dom Diego encontra-se rezando o
terço]
[Salta sobre Mestre Isaac e crava-lhe no peito uma faca. O mesmo vacila, parecendo que
de fato vai morrer, mas se põe ereto novamente e solta uma pavorosa gargalhada]
Ab - Pare, servidor do mal! Fuja, agora, do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que abriu as portas do Céu! Foge, eterno derrotado! Foge do Imaculado Coração de
Maria, que com seu puríssimo calcanhar, esmagou a tua cabeça cheia de orgulho! Foge,
escravo das trevas! Foge em nome de Jesus e de Maria e dos três arcanjos São Miguel, São
Gabriel e São Rafael!
[Mestre Isaac cai pela janela gritando, estoura uma bomba de pólvora e relampejam
luzes vermelhas em meio à fumaça]
Ab - O demônio está expulso para sempre deste castelo! É necessário agora, cavaleiro,
completar a sua conversão! De hoje em diante, a sua vida será toda voltada para a maior
glória de Deus! De fato, você venderá tudo o que tem, e com uma parte do dinheiro, repararás
a todas as pessoas a quem fizestes o mal, sejam nobres ou plebeus, religiosos ou leigos. E com
a soma restante, armarás uma tropa, com a qual farás guerra aos inimigos da Igreja até o fim
do seus dias! Assim, estará resgatada a glória de Deus! E você também deve ser um grande
propagador da devoção do Santo Rosário!
[Dá uma bênção solene a Dom Diego e a José e retira-se. Dom Diego e José permanecem
ajoelhados]
DD - Meus amigos! Foi através da Confissão que obtive o perdão de meus pecados e foi
através do Santo Rosário que adquiri forças para perseverar na graça de Deus, no caminho do
bem, até o fim! Portanto, tenham confiança! E é por isso que sempre devemos pedir: Dai-nos,
ó Virgem pura: fé, pureza e bravura!