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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE POLÍTICA, ECONOMIA E NEGÓCIOS


DEPARTAMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Estevão Alves Sousa Assunção Aragão
164.510
1º Termo – Integral

Com a família fugida da França, em razão da perseguição religiosa vivenciada,


nasce, em Genebra no ano de 1712, Jean Jacques-Rousseau, o último dos filósofos
contratualistas desta série de fichamentos e, quiçá, o mais influente dentre eles.
Nesse sentido, é fundamental ter-se o conhecimento acerca da sua biografia para
compreender suas propostas filosóficas e políticas.
Assim, cabe destacar, inicialmente, que, com a morte da mãe pouco tempo
após seu nascimento e a pouca atenção recebida pelo seu pai, Rousseau esteve lan-
çado à própria sorte desde muito novo. Por conta disso, inclusive, não teve acesso à
educação formal até por volta de seus dezesseis, quando, fugindo de Genebra, fica
aos cuidados da Madame de Warens, que morava na França e manda instruir protes-
tantes que buscavam conversão, a qual Rousseau passa a nutrir um amor filial.
Além de possibilitar a ordenação, Madama de Warens foi também responsável
por permitir não só um maior acesso à educação formal – podendo Rousseau dedicar-
se aos estudos da literatura, do latim, da história, da matemática, dentre outros cam-
pos –, mas também o contato direto com pensadores contemporâneos a ele.
Nesse período, a Europa vivenciava o Iluminismo, movimento social, filosófico,
político, econômico etc. que preconizava a razão como base e instrumento para o
progresso da humanidade. Apesar de estar inserido neste contexto, Rousseau apre-
senta uma concepção histórica distintas dos demais pensadores, na qual, segundo
Nascimento (2011): as ciências e as artes são a causa da corrupção humana, ao
mesmo tempo que não necessárias para conter o avanço dessa corrupção. Dessa
maneira, Rousseau garante uma ênfase maior às emoções e vontades do que à razão
pura, afirmando que o que até então era considerado progresso pelos iluministas, se-
ria, ao contrário, a gênese da corrupção humana.
Nessa conjuntura, Rousseau inicia seu pensamento acerca do estado de natu-
reza humana e a gênese da sociedade civil, destacando a existência de três estágios.
No primeiro, que pode ser entendido como uma espécie de pré-civilizado, o homem
encontra-se próximo da sua condição animal e é reconhecido dessa forma pelos

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outros animais, distante de preceitos morais, seguindo as leis da natureza por instinto
e vivendo “sozinho, desocupado e sempre próximo do perigo” (ROUSSEAU, AAAA,
p. BBBB). Além disso, é nesse momento que as características que distinguem o ho-
mem dos demais seres surge: a qualidade de agente livre, isto é, concordar ou aceitar
com as leis naturais, e a perfectibilidade, a capacidade de aperfeiçoar-se.
Já o segundo estágio, o qual seria atingido por meio dos sentimentos, realiza-
se quando o homem sente piedade e empatia pelos seus semelhantes. Para o autor,
tais sentimentos são mais do que espontâneos, mas intrínseco da natureza como um
todo, é uma “virtude tanto mais universal e tanto mais útil ao homem por preceder nele
o uso de toda reflexão e tão natural que os próprios animais dão às vezes sinais sen-
síveis dela” (ROUSSEAU, AAAA, p. BBBB). Sob essa lógica, a piedade atua como um
instrumento próprio de conservação das espécies, é o impulso entre os seres de aju-
darem os seus semelhantes.
Por fim, o terceiro estágio é o momento de fixação dos seres humanos, no qual
surgem os primeiros bandos e, em seguida, pequenos núcleos familiares. Nessa pers-
pectiva, segundo Santos (1998), ocorre não só a primeira revolução do estado de
natureza, como também a primeira divisão do trabalho entre homens e mulheres, em
que estas seriam responsáveis por cuidar das cabanas e aqueles, por prover a sub-
sistência. Contudo, ainda que vivessem em grupos, ainda não existia uma ideia de
coesão, vivendo relativamente independentes uns dos outros com uma comunicação
restrita às necessidades concretas.
Ainda que esse estágio seja de considerável estabilidade, sem grandes confli-
tos entre os homens, “o primeiro que, ao cercar um terreno, teve a audácia de dizer
isto é meu e encontrou gente bastante simples para acreditar nele foi o verdadeiro
fundador da sociedade civil” (ROUSSEAU – segundo discurso, AAAA, p. BBBB).
Nesse sentido, observa-se que Rousseau, ao contrário dos demais contratualistas,
não acredita que a gênese da sociedade parte essencialmente do estabelecimento de
um pacto social, mas de um movimento de exclusão entre os homens.
Contudo, isso não significa, de acordo com o autor, que um contrato social não
deva ser efetivado, muito menos recusa sua necessidade em razão do progresso da
humanidade. Isto porque, em decorrência do advento da propriedade e dos constan-
tes obstáculos da natureza à preservação humana, os homens, que não podem

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produzir novas forças, agregam-se para produzir uma soma de forças que os encami-
nha à resistência em comum acordo. (ROUSSEAU, 2014)
Nessa perspectiva, Rousseau reconhece que os homens encaram o seguinte
dilema: de que modo pode-se empregar as forças individuais para defender e proteger
as pessoas e os bens de cada membro, em que cada um obedeça somente a si pró-
prio e continue tão livre quanto estava no estado de natureza. Para resolver essa
questão, a proposta de Rousseau define-se pelo comando da vontade geral, realizada
justamente no pacto social. Nele, os homens perdem sua liberdade natural, mas, por
outro lado, recebem as liberdades moral e civil, sem as quais não conseguem alcançar
autonomia e soberania.
Convém destacar, assim, a importância da vontade geral para o pensamento
de Rousseau. Nesse sentido, a vontade geral seria a única responsável por dirigir as
forças do Estado, conduzindo para o bem comum, em que a inalienabilidade e indivi-
sibilidade são características fundamentais. Em relação ao primeiro atributo, o autor
considera que, pelo soberano ser um corpo coletivo realizado pela vontade geral, é
impossível alienar a vontade e “no instante em que houver um senhor, não mais ha-
verá soberano.” (ROUSSEAU, 2014, p. 42) Quanto à segunda qualidade, diz-se que
é indivisível pois “a vontade é geral ou não o é; é a vontade do povo ou apenas de
uma de suas partes.” (ROUSSEAU, 2014, p. 42)
Apesar de a vontade geral ser o aspecto mais importante da sua teoria política,
Rousseau não consegue defini-la precisamente, podendo ser entendida como um
amálgama das vontades individuais, em que todas são ao menos consideradas.
Dessa maneira, Rousseau mais uma vez traz um ineditismo em seu pensamento, uma
vez que é o primeiro a defender o sistema de governo democrático direto como ideal
– é possível que essa defesa seja influenciada pela sua origem simples e distante dos
núcleos de poder, sendo “sempre avesso aos salões e às cortes.” (NASCIMENTO,
2011, p. 191)
No entanto, e Rousseau dedica alguns capítulos para este tópico, a vontade
geral está susceptível a erros. Assim, de acordo com o autor, ainda que ela conduza
ao bem comum, por ser conduzida pelo povo, este pode – e muitas vezes é – enga-
nado, prevalecendo o interesse de particulares sobre a vontade geral. Para que a

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vontade geral possa prevalecer, o povo necessita estar bem-informado e o soberano
deve combater o surgimento de sociedades parciais.
Acerca do fim dos Estados, Rousseau defende que nenhum estado será eterno
e, assim como o homem, “começa a morrer desde o nascimento” (ROUSSEAU, 2014,
p. 107). Entretanto, a forma como cada Estado é estruturado define não só a força do
soberano, mas também os instrumentos de sua duração estável, por meio, por exem-
plo, da conservação das leis antigas – as quais, segundo o autor, fortalecem-se com
o tempo –, dos sistemas de governo – a menos que se torne incompatível com o bem
público – e da vontade geral – que, como dita previamente, deve ser livre e munida
de informações.
Para finalizar este fichamento, em seguida estão alguns trechos que receberam
destaque:
“Nossos males, em sua maior parte, são obra nossa e de que teríamos evitado
quase todos se conservássemos a maneira de viver simples, uniforme e solitária pres-
crita pela natureza” (ROUSSEAU, 2013, p. 33)

Sei que nos repetem incessantemente que nada teria sido tão miserável
como o homem nesse estado [...] No entanto, se entendo bem esse termo
miserável, trata-se de uma palavra que não tem sentido algum, ou que signi-
fica apenas uma privação dolorosa e o sofrimento do corpo ou da alma. Ora,
gostaria então que me explicassem qual pode ser o tipo de miséria de um ser
livre que está com o coração em paz e o corpo em saúde. Pergunto qual das
duas, a vida civil ou a natural, é a mais sujeita a tornar-se insuportável aos
que a vivem. (ROUSSEAU, 2013, p. 43)

“Não concluamos com Hobbes, principalmente, que, por não ter nenhuma ideia
da bondade, o homem é naturalmente mau, que é vicioso porque não conhece a vir-
tude e que recusa sempre a seus semelhantes serviços” (ROUSSEAU, 2013, p. 44)

Quantos crimes, guerras e assassinatos, quantas misérias e horrores teria


poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas e cobrindo o
fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Não escutem esse impostor! Es-
tarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos e a terra é de nin-
guém! (ROUSSEAU, 2013, p. 51)

“O homem nasceu livre e em toda parte se encontra sob ferros.” (ROUSSEAU,


2014, p. 19)

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“Sempre haverá grande diferença entre submeter uma multidão e reger uma
sociedade.” (ROUSSEAU, 2014, p. 28)

“O direito de cada particular sobre sua parte do terreno está sempre subordi-
nado ao direito da comunidade sobre o todo.” (ROUSSEAU, 2014, p. 38)

“O pacto fundamental, ao invés de destruir a igualdade natural, promove uma


igualdade moral e legítima.” (ROUSSEAU, 2014, p. 38)

“A vontade particular, por sua natureza, tende às preferências, e a vontade ge-


ral, à igualdade.” (ROUSSEAU, 2014, p. 41)

“Nunca se corrompe o povo, mas se o engana com frequência.” (ROUSSEAU,


2014, p. 44)

“O corpo político, bem como o corpo do homem, começa a morrer desde o


nascimento e contém em si mesmo as causas de sua destruição.” (ROUSSEAU, 2014,
p. 107)

“A constituição do homem é obra da natureza; a do Estado é obra de arte.”


(ROUSSEAU, 2014, p. 107)
“O que o colocará [Rousseau], no século XVIII, em lugar de destaque, [é] propor
o exercício da soberania pelo povo, como condição primeira para a sua libertação.”
(NASCIMENTO, 2011, p. 195)

Referências bibliográficas:

NASCIMENTO, Milton Meira do. Rousseau: da servidão à liberdade; in: , F.C. Clás-
sicos da política, 1. 14.ed. São Paulo: Ática, 2011.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desi-


gualdade entre os homens. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2013.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. 1ª ed. São Paulo: Hunter Books,


2014.

SANTOS, Gislene Aparecida dos. O estado de natureza em Rousseau. Espaço plu-


ral. Marechal Cândido Rondon, volume 12, nº 25, p. 11-25, 2012.

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