Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE D I RE I T O – C U RS O DE D I RE I T O
Fund am ento s de F ilo sof ia
Turma: A manhã
desigualdades, uma vez que não existiria nenhuma relação moral e nem de deveres
conhecidos, e ainda, “(...) nem tinham vícios nem virtudes (...)” (ROUSSEAU, 2001,
p. 24).
Ademais, Rousseau descreve o humano natural como um ser solitário, dotado
de compaixão entre os membros de sua espécie (pode ser visto como um
mecanismo genético de perpetuação da espécie), possuidor de instintos de
autopreservação, e possuindo uma razão potencial. Também, descreve o ser
humano, em seu estado primitivo, como alguém que vive o presente, robusto,
organizado, que não possui conhecimentos específicos, porém pode aprender todos
eles.
Por fim, o autor afirma que esse indivíduo não tem noção do bem e do mal, e
que possui duas características que diferencia essa espécie das demais, que são a
liberdade e a perfectibilidade. A última, é um neologismo criado por Rousseau que
transmite a ideia da capacidade do ser humano de aperfeiçoar-se.
Nesse sentido, Rousseau, após a distinção entre as duas desigualdades e a
conceitualização do humano natural, busca, na segunda parte do seu discurso,
descrever como se deu à passagem do estado natural para o estado social,
mostrando como surgiu a desigualdade entre os homens.
Ainda, J.J. Rousseau dizia que a única preocupação do homem natural era a
subsistência e, conforme as dificuldades do meio aumentavam, ele tentava superá-
las, se aprimorando. A partir desses empecilhos, por vezes, homens se associavam
a outros, seja para se defender ou para caçar, sendo essas associações sempre
aleatórias.
Dessa forma, surge, de acordo com Rousseau, a primeira revolução: a
construção de abrigos. A criação da moradia faz com que o homem natural
permaneça mais tempo em um mesmo local (passo importante para a transição do
nômade ao sedentário) e na companhia de outros da sua espécie, o que promoveu a
criação de famílias. Após isso, “O hábito de viver coletivamente fez nascer os mais
doces sentimentos conhecidos dos homens: o amor conjugal e o amor paternal.”
ROUSSEAU, 2001, p. 32).
É nesse estágio de vida que Rousseau pensa que o homem devia ter parado.
Na vivência da sociedade, o homem, com poucas necessidades e, com a condição
de atende-las, seria feliz. Contudo, a perfectibilidade (aspecto base da teoria de
transição de Rousseau) não permitiu que essa forma de vida se perpetuasse, pois,
com as relações interpessoais dentro da comunidade, os homens começaram a se
comparar uns com os outros, o que rendeu a criação de títulos, como: “O homem
mais forte”, “O melhor caçador” etc. que contribuiu para uma guerra de todos contra
todos a fim de obter esses “status”.
Paralelo a isso, surge, para Rousseau, a agricultura e a metalurgia, no qual ele
classifica como “A Grande Revolução”. Com esse marco, acabou por surgir novas
relações de trabalho, nessa ótica, as trocas se fizeram necessárias, uma vez que
cada indivíduo realizava uma tarefa diferente e apenas tinha o fruto do seu trabalho
como “moeda de troca”. Também, paralelo a essa revolução, a noção de
propriedade se torna mais evidente e passa a existir homens ricos e homens pobres
– os quais dependem um do outro.
É nessa situação caótica descrita anteriormente que homens tem a ideia de
estabelecer leis para se protegerem; seja para guardar suas propriedades ou para
se defenderem do autoritarismo dos mais poderosos.
“O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de dizer: Isto é meu, e
encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o verdadeiro fundador da
sociedade civil.” (ROUSSEAU, 2001, p. 29).
A partir dos pressupostos anteriores, é perceptível que Rousseau alega que o
marco da primeira desigualdade moral/política é a criação da sociedade civil através
da “A Grande Revolução”. Portanto, “(...) a desigualdade, sendo quase nula no
estado de natureza, tira a sua força e o seu crescimento do desenvolvimento das
nossas faculdades e dos progressos do espírito humano, tornando-se enfim estável
e legítima pelo estabelecimento da propriedade e das leis.” (ROUSSEAU, 2001, p.
46).
Outrossim, o autor conclui que o surgimento da propriedade divide os homens
em ricos e pobres; o surgimento de governos divide o povo em governantes (fortes)
e governados (fracos); e, por fim, o surgimento de estados despóticos divide as
pessoas em senhores e escravos.
Não fora da realidade brasileira atual, Rousseau pode nos ajudar a
compreender a tamanha desigualdade presente nos dias de hoje. Na esfera
educacional/racional, por exemplo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), o número de pessoas com 25 anos de idade ou mais com
ensino superior, no ano de 2017, era de 22,99% para brancos e apenas 9,3% para a
população preta e parda.
Tamanha desigualdade não se reflete apenas nas questões educacionais, mas,
sim, na grande parte da sociedade, como por exemplo a questão de renda e
oportunidade de emprego, uma vez que, segundo o IBGE, a taxa de desemprego no
2° semestre de 2021 estava em 14,1%.
REFERÊNCIAS
BARROS, Alexandre. Desemprego recua para 14,1% no 2° tri, mas ainda atinge
14,4 milhões de pessoas. Agência de Notícias IBGE. 31 de agosto de 2018.
Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-
agencia-de-noticias/noticias/31480-desemprego-recua-para-14-1-no-2-tri-mas-ainda-
atinge-14-4-milhoes-de-pessoas>. Acesso em: 13 de setembro de 2021.
NETO, João. Analfabetismo cai em 2017, mas segue em acima da meta para 2015.
Agência de Notícias IBGE. 18 de maio de 2018. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/21255-analfabetismo-cai-em-2017-mas-segue-acima-da-meta-para-
2015>. Acesso em: 13 de setembro de 2021.