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Rousseau foi um filósofo político e social do século XVIII, nascido em 1712, em

Genebra. Apesar de ser cotado como um filósofo iluminista, principalmente pela sua
participação no redirigimento da enciclopédia, é mais correto apontar que Rousseau apenas
participou do movimento, já que era um crítico desse movimento. Além disso, o filósofo
influenciou profundamente a Revolução Francesa, que se apropriou das ideias de
Rousseau como símbolo da luta burguesa, mesmo o autor criticando os emblemas dessa
classe, como o trabalho e a apropriação de riqueza.
Segundo Marilena Chaves, a vida de Rousseau é estreitamente interligada com a
sua obra. Isso pode ser visto pelas longas caminhadas na natureza que o autor apreciava,
algo que influenciou ele a entender o estado de natureza, como uma imagem dos primeiros
tempos. É a partir de uma de suas obras principais, “Discurso sobre a origem da
desigualdade”, que Rousseau se aprofunda nesse quesito do estado de natureza e como o
homem nesse estágio primitivo passou a viver num sistema tão desigualitário.
Primeiramente, para analisar isso, Rousseau tece uma crítica aos autores, como por
exemplo Hobbes, que formularam a ideia de que a visão da sociedade atual seria na
verdade a nossa real natureza humana. Para ele, era um erro supor com base na sociedae
atual que “o homem age ruim, então ele é naturalmente assim”, visto que, segundo o
filósofo, os progressos negativos e as circunstâncias já teriam o modificado há muito tempo.
Desse modo, Rousseau analisa o homem primitivo e seu progresso negativo
baseando-se na ideia do mito do bom selvagem, ou seja, inicialmente o ser humano era
doce e puro, mas a sociedade foi responsável por incutir nele valores e hábitos que o
conduziram ao conflito e à desigualdade. No início, também, existia uma bondade original e
um instinto de piedade e conservação, sendo que, a piedade contribuiu para a conservação
mútua de toda a espécie, já que é ela que nos leva sem reflexão em socorro daqueles que
vemos sofrer, e é ela que, no estado de natureza, ocupa o lugar das leis, dos costumes e
das virtudes.
Segundo o autor, é um erro julgarmos superior aos animais, visto que, antigamente o
homem selvagem era similar a eles, e possuem várias vantagens que os homens hoje em
dia perderam, como por exemplo, a suficiência do instinto. Sendo o corpo do homem
selvagem o único instrumento que conhece, emprega-o em diversos usos, para os quais,
por falta de exercício, os nossos são incapazes, principalmente por conta da indústria que
nos tira a força e a agilidade necessária. Além disso, enquanto o homem social possui
necessidades incessantemente renovadas, progresso intelectual, linguagem e divisão de
terras, os animais não possuem desejos ou imaginação, apenas vivem intensamente no
momento presente.
Foi com a passagem desse estado de natureza para o estado civil que ocorre a
substituição do instinto pela justiça e dá as suas ações a moralidade que antes lhes faltava,
já que o homem até então levava em consideração apenas a sua pessoa, e agora passa a
consultar a razão antes de ouvir suas inclinações. segundo Rousseau, foi a partir desse
momento, com a origem da sociedade e da racionalidade das leis, que a liberdade natural
foi destruída, dando novos problemas ao fraco e novas forças ao rico, fixando para sempre
a lei da propriedade e da desigualdade e sujeitando para o futuro todo o gênero humano ao
trabalho, à servidão e à miséria.
A desigualdade, que aconteceu pouco a pouco, passou a ser diferenciada em duas
espécies: a desigualdade natural (ou física) e a desigualdade moral (ou política). A primeira,
proveniente da natureza e que faz um homem ser mais forte ou mais alto, possui menor
importância. Entre as diferenças que distinguem os homens, muitas passam por naturais,
quando são unicamente a obra do hábito e dos diversos gêneros de vida adotados pelos
homens na sociedade. É a desigualdade moral ou política, que provém da forma como se
consideram e se estabelecem as relações entre os homens, que seria a desigualdade
responsável por todas as mazelas humanas.
Observando a desigualdade e as novas necessidades criada pelo capitalismo de sua
época, Rousseau critica a propriedade e a divisão do trabalho, que criou uma relação
desigual de dependência entre os homens. segundo ele, o verdadeiro fundador da
sociedade civil foi aquele que tendo cercado um terreno, encontrou pessoas bastantes
simples para acreditar que aquilo era uma propriedade privada. Essa ideia, nascida depois
de muitos anos de “progresso”, marcou o ápice da desigualdade e de sua evolução, e
consequentemente concedeu espaço para o surgimento do trabalho como uma
necessidade. E, com a criação da divisão do trabalho, a escravidão também se
desenvolveu, não por questão de uma tendencia natural, mas sim por uma questão de
obediencia. A divisão do trabalho é a simples aparência de uma suposta liberdade, quando
na verdade só causa ainda mais dependência entre os homens e acentua o uso da riqueza
para dominar os outros.
Essa perda de liberdade, segundo Rousseau, é proporcionada também pelos
governantes, já que os vícios da sociedade pertenceriam “não tanto ao homem, mas ao
homem mal governado". As várias formas de governo somente variam no grau de
desigualdade, com o lucro de um (monarquia), de alguns (aristocracia), ou de uma maioria
(democracia).
A partir também das novas exigências do capitalismo, o autor declara que o homem
torna-se escravo de suas necessidades, se entregando a excessos que lhes ocasionam a
febre e a morte. Um exemplo disso é a necessidade do homem atual de medicamentos,
quando na verdade as doenças se tornaram social, como a extrema desigualdade na
maneira de viver que gera o excesso de ociosidade de uns, o excesso de trabalho de
outros, os alimentos muito requintados dos ricos, que os afligem com indigestões, a má
nutrição dos pobres e etc. A maior parte dos nossos males são nossa própria obra e de que
poderíamos evitá-los quase todos conservando a maneira de viver simples, uniforme e
solitária, que nos foi prescrita pela natureza.
Por fim, como forma de diminuir as injustiças que resultam da desigualdade social,
Rousseau Indica assim alguns caminhos a serem tomados:

1.º - igualdade de direitos e deveres políticos ou o respeito por uma "vontade geral";

2.º - educação pública para todas as crianças baseadas na devoção pela pátria e
austeridade moral.

3.º - um sistema econômico e financeiro combinados com os recursos da


propriedade pública com taxas sobre as heranças e o fausto.

Além disso, na medida que as ciências e as artes avançaram, os costumes se


depravaram. Rousseau sustenta que as sociedades artística e cientificamente menos
desenvolvidas seriam moralmente superiores às mais desenvolvidas. O avanço cultural teria
favorecido a decadência das grandes civilizações em parte porque as ciências são
produzidas e controladas por grupos e pessoas que desfrutam do privilégio do ócio. As
artes, por sua vez, seriam alimentadas pelas vaidades que fazem prosperar o luxo e os
vícios na sociedade.

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