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Fé ou troca de favores?
A religião, em nossos dias, se torna múltipla e dinâmica, lugar de crenças, práticas, de
cultos e de vida comunitária. Essas experiências de Deus na vida cotidiana podem ser tanto
negativas, de um Deus que ameaça e castiga, como positivas, de um Deus que é amor, que anima
e fortalece.
É muito comum Deus ser transmitido e assimilado como um ser que reprime e castiga. A
partir daí, a religião passa a ser encarada como uma troca de favores, na qual se negocia a
proteção de Deus e dos santos através de promessas e oferendas. Esta forma de viver a religião é
a mesma que legitima a opressão social, prometendo o céu aos pobres que sofrem com paciência
e resignação. Porém a verdadeira experiência de Deus é uma experiência de gratuidade e de
amor ao próximo. "Amar ao próximo significa superar a inveja, a competição e o espírito do
“toma-lá-dá-cá” pelo espírito de solidariedade e de alegria com a felicidade do próximo", diz o
teólogo Jung Mo Sung.
Com o surgimento das religiões neopentecostais, as que mais cresceram no Brasil nos últimos
anos (Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Internacional da Graça Divina, Igreja Renascer
em Cristo, Igreja Deus é Amor, entre outras) está havendo, na opinião do sociólogo Antônio
Flávio Pierucci, da USp, uma des-moralização de todas as religiões. Ou seja, "as religiões estão
deixando de dizer o que é certo ou errado e estão oferecendo serviços que, na linguagem da
sociologia da religião, se chamam serviços mágicos" (Jornal da Universidade, UFRGS, outubro de 1999).
Além desses serviços mágicos, para competir no mercado religioso, as religiões apresentam um
remédio milagroso capaz de aliviar dores e angústias, garantir prosperidade e alegria.
Outro aspecto que contribui com esta des-moralização é o excesso de exposição na mídia,
a igreja do espetáculo. Quando os agentes religiosos passam a disputar fiéis de todas as formas
possíveis, mais preocupados com o número de adeptos e com a sua performance no palco, as
religiões ficam cada vez menos exigentes, eticamente falando.
A exigência maior passa a ser do seguidor religioso (cliente), que procura uma religião que
funcione, ou seja, que atenda aos seus desejos e necessidades. Existe uma tendência de as pessoas
buscarem na religião uma experiência, um sentimento ou sensação religiosa, sem o peso da
doutrina e dos valores. Buscam uma religião fundamentada em falsas ideologias, conforme diz a
psicanalista Iracy Doile: "O indivíduo pensará que adora o Deus de amor, quando na verdade
cultua um ídolo que não passa da idealização dos seus objetivos espúrios, implícitos na
orientação cultural prevalente".
Neste contexto é fundamental a afirmação do monge Enzo Bianchi, de que "a diferença
não é mais entre pessoas religiosas e atéias, mas entre idólatras e não-idólatras".
Idolatria é a falsa maneira de vivenciar a religião baseada na tentação de buscar a
salvação por meios materiais: o poder, o sucesso, o dinheiro, sem se preocupar com o bem dos
outros. Nietsche ensinou que a idolatria distorce o sentido da existência, aprisionando a
liberdade, à medida que exige um número crescente de objetos para a satisfação dos desejos.
Adorar um ídolo é renunciar a sua liberdade interior. Por isso, completa o filósofo: "Não jogar
por terra o ídolo, mas livrar-se da idolatria. Esta será a tua coragem".
Na busca por uma espiritualidade que preencha seu vazio interior, muitos experimentam
falsos deuses que esvaziam sua cabeça e a enchem de falsas seguranças. A espiritualidade
verdadeira é o exercício de sair de si mesmo para se encontrar com os outros e com Deus. A
espiritualidade como profunda experiência de Deus exige uma atitude crítica contra modelos
desumanos de falsas espiritualidades que aprisionam o ser humano em vez de integrá-lo e
libertá-lo.
Mas os falsos deuses não se encontram apenas nas religiões. O consumismo, por exemplo,
é tentar satisfazer materialmente o que só tem satisfação no encontro com o transcendente ou
com valores que dão sentido à nossa vida. Hoje, conforme o economista Rubens Ricupero, "o
mercado é capaz de transformar em mercadoria tudo o que seja mais sagrado: a natureza, as
espécies biológicas ameaçadas, o corpo humano, seu sangue, seus órgãos, os genes, o princípio
mesmo da vida - tudo está à venda" (Folha de S. Paulo, 22/10/2000). Porém a fé imprime sentido à
vida, enquanto um produto cria apenas a ilusória sensação de que, graças a ele, temos mais valor
diante dos outros. Lembrando mais uma vez Nietsche, não precisamos jogar fora os ídolos, o
dinheiro, o carro, a televisão, mas colocá-los no seu devido lugar, ou seja, como obras e
instrumentos humanos.
SOUZA, Rui Antônio. JORNAL MUNDO JOVEM. Outubro de 2008.
Texto organizado por Marisa Rosa, pedagoga. Setembro/2015

Faça a análise e responda as questões fundamentadas a partir do texto:

1. “A religião, em nossos dias, se torna múltipla e dinâmica”. Comente esta expressão com base
no texto: a fé tem se afastado de suas raízes conforme as pessoas passam a vela como um sistema
de trocas, e procuram segurança em ideias alternativas de espiritualidade

2. Qual a imagem de Deus que aparece nas experiências de vida cotidiana atualmente?

É muito comum Deus ser transmitido e assimilado como um ser que reprime e castiga, ou um ser
benevolente que acolhe, ajuda e fortalece

3. O que caracteriza a religião encarada como uma troca de favores? o fato des as pessoas
entenderem que devem ceder seu tempo e seguir um padrão de bondade apenas para
continuarem sendo protegidas por deus e outros santos

4. Com base na resposta anterior, qual a repercussão na vida social? as pessoas que pensam
assim passam a se tornarem fracas, acreditando que deus vai agir por elas, passam a exigir
menos de si mesmas

5. O que caracteriza a verdadeira experiência de Deus? fé e confiança não apenas em deus mas
em você, da maneira que é e como quer se tornar
6. Na opinião do sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP, está havendo atualmente, uma
des-moralização de todas as religiões. Qual o fundamento deste fenômeno?
o excesso de exposição na mídia, a igreja do espetáculo. Quando os agentes religiosos
passam a disputar fiéis de todas as formas possíveis, mais preocupados com o número de adeptos
e com a sua performance

7. Qual a exigência maior das religiões atualmente na visão do autor do texto? portar o maior
numero de fieis

8. O que significa idolatria? O consumismo e a ideologia do “mercado” são considerados “falsos


deuses”, por quê?
Idolatria é a falsa maneira de vivenciar a religião baseada na tentação de buscar a
salvação por meios materiais
esvaziam sua cabeça e a enchem de falsas seguranças.

9. Conforme, Nietsche, “a idolatria distorce o sentido da existência, aprisionando a liberdade, à


medida que exige um número crescente de objetos para a satisfação dos desejos.” Comente esta
expressão com base no texto: as pessoas baseiam sua alegria e bem estar na quantidade de coisas
que tem, distanciando cada vez mais das ideias religiosas de saber julgar as prioridades

10. Em que se fundamenta a espiritualidade verdadeira? em algo no que o indivíduo possa


concentrar seu tempo e sua fé, podendo sentir paz

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