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A ÉTICA DO PERITO JUDICIAL

Antonio Carlos Vendrame


Considerado auxiliar da justiça, o Perito Judicial desenvolve relevante tarefa no Judiciário, especialmente quando o
magistrado não possui conhecimentos para opinar sobre questões técnicas. Também denominado como "os olhos e
os ouvidos do Juiz", o Perito ou expert, como ainda é chamado, atua nas mais diversas áreas do conhecimento
técnico, como medicina, contabilidade, agrimensura, grafologia, engenharia e tantas outras, desenvolvendo trabalhos
nos fóruns trabalhistas, cíveis, federais etc.
Como o próprio nome diz, o Perito deveria ser sapiente no assunto sobre o qual dará um parecer; no entanto,
discretas exceções ocorrem, o que resulta em sérios prejuízos a estes profissionais. Encontramos verdadeiros
aventureiros atuando como Peritos, que sequer possuem experiência sobre o assunto que periciam.
O Perito é profissional indicado pelo Juiz e da inteira confiança deste, não cabendo questionamentos sobre a escolha,
exceto nos casos de incapacidade técnica, quando este próprio deveria declinar de sua nomeação.
Deve o Perito honrar sua nomeação, dispensando todos os esforços para a satisfatória conclusão de seu trabalho,
com o máximo de imparcialidade e fidelidade aos fatos, não deixando que razões de ordem pessoal interfiram no
resultado. Da mesma forma, preconizamos que a pessoa do Perito Judicial jamais deve se manifestar em assuntos
que não sejam estritamente técnicos, devendo se abster de emitir opiniões de caráter pessoal, ou mesmo jurídico.
Muito comuns são as impugnações e pedidos de esclarecimentos pelas partes, algumas pautadas sobretudo pela boa
educação, respeito e ética, outras nem tanto; mas o Perito, em qualquer situação, se absterá de replicar as ofensas a
ele dirigidas, restringindo-se somente a responder às questões sob o plano técnico e científico. Compartilhamos da
opinião de que não são palavras ríspidas que mudarão a opinião do Perito, mas sim a demonstração inteligente de
que este se equivocou.
Outro ponto controvertido na vida do Perito, ainda é a questão dos honorários periciais. De um lado o Perito, como
qualquer outro profissional, deve receber uma justa paga pelo seu trabalho; de outro lado, não existe qualquer
dispositivo legal regulando o quantum destes honorários, exceto algumas tabelas propostas por associações, que
ainda não se enquadram a todos os tipos de perícia. Problema ainda maior ocorre no fórum trabalhista, onde o Perito
somente recebe seus honorários após a liquidação da sentença, o que em alguns casos chega a uma década, fazendo
com que o Perito, nos primeiros anos de trabalho, trabalhe com déficit de caixa. O início da carreira do Perito é
dificílimo, já que necessita fazer investimentos em equipamentos, e ao mesmo tempo possuir fôlego para trabalhar
alguns anos sobrevivendo somente com os honorários prévios.
Ainda quanto aos honorários, o pagamento destes cabe ao sucumbente; no entanto, como é comum na Justiça do
Trabalho, o reclamante raramente arca com os honorários, sempre alegando pobreza, quando não, pleiteia justiça
gratuita, colocando o Perito em situação desconfortável, pois se o reclamante não tiver razão, o Perito não receberá
seus honorários. Várias propostas em encontros de Peritos já foram sugeridas, como a criação de uma caixa ou
fundo, constituída dos próprios honorários, com função exclusiva de ressarcir, pelo menos, um honorário mínimo ao
Perito em caso de sucumbência do reclamante. Outra proposta, ainda pouco difundida em nosso meio, é a assunção
espontânea da responsabilidade dos honorários periciais pela reclamada, independente do resultado.
Quanto ao relacionamento com o assistente técnico, não deve o Perito olvidar que amanhã ele próprio poderá ser o
assistente, invertendo-se as posições. Faz parte da política de bom relacionamento comunicar a data e horário dos
trabalhos ao colega assistente, de preferência com alguma antecedência, para que este possa se agendar. Na
impossibilidade de execução da perícia conjuntamente, nada impede que as partes realizem suas vistorias
independentes, já que hoje inexiste o laudo unânime. Igualmente, se faz necessário que o Perito conduza os
trabalhos periciais da forma mais imparcial possível, especialmente quando acompanhada de assistente técnico das
partes, o qual, por sua própria função, tentará defender a parte que o patrocina, cabendo ao Perito evitar o conflito,
particularmente nas questões polêmicas.
Em consonância com o art. 429 do C.P.C. o Perito possui ampla liberdade em seus trabalhos, podendo inquirir
testemunhas, solicitar documentos e produzir fotografias, direitos que não devem ser negados pelas partes; no
entanto, cabe ao Expert bom senso em suas atitudes, especialmente a produção de prova fotográfica, a qual em
algumas situações pode estar expondo segredos industriais da reclamada. Outro cuidado é quanto às formulações de
produtos, que devem ser reveladas para constatação ou não de componentes insalubres; no entanto, deve ser
preservada a proporção estequiométrica da fórmula, lançando-se em laudo unicamente as matérias-primas.
A seguir apresentamos uma proposta do Código de Ética do Perito Judicial:
I- Recusar o assédio sob qualquer forma;
II - Silenciar sobre informações contidas nos autos;
III - Não revelar segredos aos quais teve acesso em razão de seu ofício;
IV - Não divulgar o resultado da perícia antes do protocolo do laudo em cartório;
V- Manter a máxima imparcialidade durante os trabalhos periciais;
VI - Abster-se de informações impertinentes e irrelevantes à perícia;
VII - Não encerrar os trabalhos periciais enquanto persistirem dúvidas acerca do objeto;
VIII - Observar com zelo os prazos da Justiça, honrando sua nomeação;
IX - Evitar envolvimento ou contendas pessoais, seja com as partes, advogados, funcionários da Justiça, seja
com os assistentes técnicos, dispensando tratamento cerimonioso e profissional para todos;
X- Não se prevalecer da função de perito exorbitando do poder.

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