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IMPACTO DA CULTURA ORGANIZACIONAL NA GESTÃO DE PROJETOS


PÚBLICOS

Andressa Rachel Pêgo Pena1


Cecília Montibeller Oliveira2

1. INTRODUÇÃO

A Administração Pública é um campo complexo e desafiador, que envolve a


gestão de recursos, a tomada de decisões estratégicas e a busca pela eficiência na
prestação de serviços à sociedade. No contexto da Administração Pública, os projetos
são elementos-chaves na implementação de políticas públicas, no desenvolvimento
de infraestrutura e na melhoria dos serviços oferecidos aos cidadãos. No entanto, a
gestão de projetos no ambiente governamental enfrenta desafios específicos, e um
deles é o impacto da cultura organizacional.
A gestão de projetos desempenha um papel fundamental no âmbito da
Administração Pública, permitindo a implementação de iniciativas estratégicas e
alcance de resultados para as demandas da sociedade. Nesse contexto, a cultura
organizacional exerce um impacto significativo na gestão de projetos, influenciando
as práticas, os processos e consequentemente os resultados obtidos.
Para Chiavenato (2022), cultura organizacional pode ser definida como um
conjunto de padrões compartilhados adquiridos ao longo do tempo por um grupo, a
fim de superar desafios de integração interna e adaptação externa. Esses padrões
são considerados válidos e desejáveis a ponto de serem transmitidos aos novos
membros como a forma correta de percepção, pensamento e sentimento em relação
a esses desafios.
Diante deste panorama, o presente trabalho pretende analisar o impacto da
cultura organizacional na gestão de projetos na esfera da Administração Pública
Estadual. Será analisado como a cultura organizacional afeta a forma como os
projetos são gerenciados, incluindo o planejamento, a alocação de recursos, a

1Graduanda em Administração pela Faculdade Multivix Serra-EAD.


2Mestre em Engenharia Urbana pela PUC RIO, Graduação em Engenharia Civil pela Faculdade
Multivix Vitória – Professora da Faculdade Multivix Serra-EAD.
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comunicação e a tomada de decisões. Será enfatizado o papel da cultura


organizacional na eficácia e no sucesso dos projetos públicos.

1.1. JUSTIFICATIVA DO TEMA

A gestão de projetos no contexto da Administração Pública brasileira tem um


papel importante na implementação de políticas públicas e no alcance de resultados
efetivos para a sociedade. No entanto, diversos desafios são enfrentados nesse
cenário, como restrições orçamentárias, complexidade das demandas sociais,
burocracia e constantes mudanças no ambiente governamental. Nesse contexto,
compreender o impacto da cultura organizacional na gestão de projetos se torna
essencial para promover práticas eficientes e condizentes com os objetivos
estratégicos do setor público.
Embora existam estudos sobre a gestão de projetos e sobre a cultura
organizacional em diversos contextos, ainda há uma lacuna de conhecimento no que
diz respeito à interseção desses dois temas no contexto específico da Administração
Pública.
Compreender o impacto da cultura organizacional na gestão de projetos nesse
ambiente pode levar a reflexões e práticas que podem contribuir para a melhoria dos
processos e resultados dos projetos públicos.

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

O presente estudo tem como objetivo analisar o impacto da cultura


organizacional na gestão de projetos em um órgão da Administração Pública Estadual
do Espírito Santo.
A pesquisa será realizada em um órgão da Administração Pública Estadual do
Estado do Espírito Santo, com o intuito de investigar as características da cultura
organizacional presente na instituição e como elas afetam a gestão de projetos. Será
considerada a perspectiva dos gestores, servidores e demais envolvidos nos projetos,
a fim de obter uma compreensão abrangente dos aspectos culturais e o impacto disso
na gestão de projetos.
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Serão analisados atitudes e comportamentos que emergem da cultura


organizacional e sua influência nos resultados e na evolução dos projetos no âmbito
do órgão da Administração Pública Estadual.
No entanto, é importante mencionar que este estudo será limitado a um único
órgão da Administração Pública Estadual, o que implica que os resultados obtidos
podem não ser generalizáveis para outras instituições. Além disso, o estudo não
abrangerá a implementação de medidas ou intervenções para modificar a cultura
organizacional, mas sim a compreensão do seu impacto nas práticas de gestão de
projetos.

1.3 PROBLEMA DA PESQUISA

O problema da pesquisa estará em compreender como a cultura organizacional


influencia a gestão de projetos em um órgão da Administração Pública Estadual do
Estado do Espírito Santo, considerando suas características e particularidades.
Pretende-se analisar de que forma a cultura organizacional afeta o planejamento, a
execução e o controle dos projetos, bem como seus resultados. Esta pesquisa
pretende responder à seguinte pergunta: Qual é o impacto da cultura organizacional
na gestão de projetos em um órgão da Administração Pública Estadual?
Buscar-se-á identificar os elementos culturais presentes no órgão e sua
influência nos processos de gestão de projetos, levando em consideração os padrões
do gerenciamento de projetos definidos no Guia PMBOK (2021).

1.4 HIPÓTESE

Com base na análise do impacto da cultura organizacional na gestão de


projetos no contexto da Administração Pública, a hipótese levantada é a seguinte: a
cultura organizacional tem um impacto significativo na gestão de projetos em um órgão
da Administração Pública Estadual, afetando os processos de planejamento,
execução e controle, assim como os resultados e acompanhamento dos projetos.
Essa hipótese sugere que os elementos culturais presentes na organização,
como crenças, valores, normas e práticas compartilhadas, influenciam a forma como
os projetos são executados e os resultados alcançados. A cultura organizacional
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molda a maneira como os servidores se envolvem, se comunicam, tomam decisões e


alocam recursos (não necessariamente financeiros) nos projetos.
Acredita-se que uma cultura organizacional alinhada com os objetivos
estratégicos da Administração Pública Estadual e com as boas práticas de gestão de
projetos resultará em uma maior eficiência e eficácia na execução dos projetos,
colaborando para o alcance dos resultados desejados.
No entanto, é necessário realizar uma pesquisa e analisar os dados coletados
para confirmar ou refutar essa hipótese. Por meio da investigação da cultura
organizacional e sua relação com a gestão de projetos em um órgão da Administração
Pública Estadual, será possível obter evidências e insights que ajudarão a
compreender o papel da cultura organizacional nesse contexto específico.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Objetivo Geral

Analisar o impacto da cultura organizacional na gestão de projetos no contexto


da Administração Pública Estadual, buscando compreender como os elementos
culturais e práticas organizacionais influenciam o desempenho e os resultados dos
projetos desenvolvidos.

1.5.2 Objetivos Específicos

• Identificar os principais elementos da cultura organizacional presentes na


Administração Pública que impactam a gestão de projetos.
• Analisar a relação entre a cultura organizacional e o desempenho dos
projetos na Administração Pública Estadual.
• Investigar as práticas e valores organizacionais que influenciam
positivamente ou afetam a execução e entrega dos projetos.
• Propor recomendações para alinhar a cultura organizacional aos objetivos
estratégicos e às boas práticas de gestão de projetos, visando melhorar a
eficiência e a eficácia na execução dos projetos no âmbito da
Administração Pública Estadual.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Cultura Organizacional na Administração Pública

A cultura organizacional na Administração Pública Brasileira é um elemento


crucial que molda a maneira como as instituições públicas operam e servem à
sociedade.
Para Chiavenato (2020), a cultura organizacional é um conjunto de valores,
normas e práticas compartilhadas que orientam o comportamento dos membros de
uma organização. É a combinação dos elementos visíveis e invisíveis que moldam a
identidade e o ambiente de trabalho de uma empresa.
Schein (2022), especialista em cultura organizacional define cultura desta
forma:
A cultura de um grupo pode ser definida como sua aprendizagem acumulada
e compartilhada à medida que esse grupo soluciona problemas de adaptação
externa e de integração interna, que tem funcionado bem o suficiente para
ser considerada válida e, consequentemente, ensinada aos novos membros
como a maneira correta de perceber, pensar, sentir e se comportar em
relação a esses problemas. (SCHEIN, 2022)
A cultura organizacional influencia a forma como as pessoas interagem umas
com as outras, como tomam decisões, como lidam com problemas e como realizam
seu trabalho. Ela descreve o “modus operandi”, o "modo como as coisas sempre foram
feitas aqui" e pode ser entendida como uma espécie de personalidade da organização.
No contexto da Administração Pública, a cultura organizacional pode influenciar
a forma como as políticas públicas são integradas, como os serviços são prestados e
como os servidores interagem entre si e com o público.
A cultura organizacional na Administração Pública Brasileira pode variar de
acordo com os órgãos e entidades específicas, bem como com as diferentes esferas
de governo (federal, estadual e municipal). No entanto, existem algumas
características comuns que podem ser observadas:
Um dos principais elementos que caracterizam a cultura organizacional na
Administração Pública Brasileira é a burocracia. Os Princípios Constitucionais
(legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), tidos como uma
inovação da Constituição de 1988, segundo Di Pietro (2023), acabam por escalonar a
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burocracia, pois exigem um alto grau de formalidade e muitas regras e procedimentos


a serem seguidos pela Administração Pública.
A estabilidade dos servidores públicos é outro fator que impacta a cultura
organizacional na Administração Pública Brasileira. Segundo Bresser Pereira (1996),
a estabilidade do servidor público brasileiro dificulta a adequação dos quadros de
servidores às reais necessidades do serviço, ao mesmo tempo que inviabiliza a
implantação de um sistema de Administração Pública eficiente.
A estabilidade no emprego, garantida pela Constituição Federal de 1988, pode
promover uma cultura de complacência e resistência à mudança. No entanto, também
pode promover uma cultura de comprometimento e dedicação ao serviço público, uma
vez que os servidores têm segurança no emprego e podem se concentrar em suas
funções sem o medo constante de exoneração.
A estabilidade e a burocracia são características que contribuem para
resistência à mudança e consequentemente podem impactar a adoção de novas
tecnologias, inovações ou métodos mais eficientes de trabalho.
Fatores históricos, sociais e políticos também influenciam a cultura
organizacional na Administração Pública brasileira. Por exemplo, a história de
corrupção e ineficiência na Administração Pública levou a uma cultura de
desconfiança e ceticismo tanto dentro das organizações públicas quanto entre o
público em geral. Isso pode dificultar a implementação de mudanças e a promoção de
uma cultura de transparência e responsabilidade.
Finalmente, a cultura organizacional na Administração Pública brasileira é
influenciada pelo ambiente político e social mais amplo. As mudanças políticas podem
ter um impacto significativo na cultura organizacional, pois podem levar a mudanças
na liderança, nas prioridades estratégicas e nos recursos disponíveis.
É importante notar que a cultura organizacional na Administração Pública não
é estática, mas está sempre evoluindo e mudando, ora positivamente, ora
negativamente, mas em constante mudança. A compreensão e a gestão eficaz da
cultura organizacional podem exercer um papel determinante na melhoria do
desempenho e da eficácia da Administração Pública. Contribuindo assim para o pleno
atendimento dos Princípios Constitucionais previstos no artigo 37 da Constituição
Federal Brasileira.

2.2. Gestão de Projetos - Conceitos e Guia PMBOK


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O Project Management Institute (PMI), define Projeto como "um esforço


temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único." (PMBOK,
2021)
Ricardo Vargas (2009) define assim um projeto:
Empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma sequência clara e
lógica de eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um objetivo
claro e definido, sendo conduzido por pessoas dentro de parâmetros
predefinidos de tempo, custo, recursos envolvidos e qualidade. (VARGAS,
2009)
Observa-se que a natureza temporária dos projetos indica que eles têm um
início e um fim definido. O fim é alcançado quando os objetivos do projeto são
alcançados, ou quando fica claro que os objetivos do projeto não serão ou não
poderão ser alcançados, ou quando a necessidade do projeto não existe mais e o
projeto é encerrado.
O PMI (PMBOK, 2021) define o Gerenciamento de Projetos como “a aplicação
de conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto para
cumprir os requisitos definidos". O gerenciamento de projetos busca orientar a
execução do projeto para entregar os resultados pretendidos.”
Vargas (2009) ressalta que o gerenciamento de projetos é uma ferramenta
eficaz que pode ser aplicada a empreendimentos de qualquer tamanho, complexidade
e orçamento, oferecendo várias vantagens. Entre elas, destaca-se a prevenção de
surpresas durante a execução do projeto, o desenvolvimento de diferenças
competitivas, a antecipação de situações adversas, a adaptação ao mercado e ao
cliente, e a disponibilização de orçamentos antes do início dos gastos. Além disso,
facilita a tomada de decisões, aumenta o controle gerencial, orienta a revisão do
projeto, otimiza a alocação de recursos e documenta estimativas para projetos futuros.
PMBOK (2021), é a abreviação de Project Management Body of Knowledge
(Corpo de Conhecimento em Gerenciamento de Projetos, em tradução livre), é uma
publicação do Project Management Institute (PMI) e é considerado um padrão global
para o gerenciamento de projetos. Ele fornece as práticas fundamentais necessárias
para alcançar resultados organizacionais e excelência na prática de gerenciamento
de projetos.
As edições anteriores do Guia PMBOK apresentavam um conjunto de dez
áreas de conhecimento que abrangiam os principais aspectos envolvidos no
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gerenciamento de projetos. Essas áreas de conhecimento são integração, escopo,


cronograma, custos, qualidade, recursos, comunicação, riscos, aquisições e partes
interessadas. Que em suma tinham essas abordagens:
• Integração: aborda a coordenação e integração de todos os elementos do
projeto.
• Escopo: define e controla o que está incluído e excluído do projeto.
• Cronograma: planeja e gerencia o tempo necessário para concluir o projeto.
• Custos: envolve o planejamento, estimativa e controle dos custos do
projeto.
• Qualidade: estabelece os padrões e processos para garantir a qualidade
do projeto.
• Recursos: gerencia os recursos humanos, materiais e financeiros
necessários para o projeto.
• Comunicação: estabelece os processos de comunicação eficazes entre as
partes interessadas do projeto.
• Riscos: identifica, analisa e responde aos riscos que podem impactar o
projeto.
• Aquisições: planeja, executa e controla as aquisições necessárias para o
projeto.
• Partes Interessadas: antecipa e identifica possíveis interessados no projeto
para entender seus papéis, especificidades e necessidades individuais.
Em vez de se concentrar em processos, entradas e saídas, a sétima edição do
Guia PMBOK (2021) adota uma abordagem baseada em princípios e desempenho.
Ele introduz os conceitos de "valor de entrega" e "sistema de valor de entrega" para
enfatizar que o objetivo do gerenciamento de projetos é entregar resultados que
fornecem valor.
Esta última edição do PMBOK trouxe ainda a identificação de 12 princípios que
são essenciais para uma entrega eficaz de valor. Esses princípios são orientadores e
se aplicam a todos os projetos, independentemente do tamanho do projeto ou do
método de entrega. São estes os princípios:
1. “Seja um administrador diligente, respeitoso e atencioso”;
2. “Crie um ambiente colaborativo para a equipe de projeto”;
3. “Envolva-se de fato com as partes interessadas”;
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4. “Enfoque no valor”;
5. “Reconheça, avalie e reaja às interações do sistema”;
6. “Demonstre bons comportamentos de liderança”;
7. “Faça a adaptação de acordo com o contexto”;
8. “Inclua qualidade nos processos e nas entregas”;
9. (Avalie e navegue na) “complexidade”;
10. “Otimize as respostas aos riscos”;
11. “Adote a capacidade de adaptação e resiliência”;
12. “Aceite a mudança para alcançar o futuro estado previsto”.
Além disso, a sétima edição do Guia PMBOK apresenta oito áreas de domínio
de desempenho de projetos, que são, resumidamente, um conjunto de atividades
correlatas que são necessárias para a entrega eficiente dos resultados do projeto, são
áreas críticas para a entrega eficaz de valor. Essas áreas de desempenho são: partes
interessadas, equipe, abordagem de desenvolvimento e ciclo de vida do projeto,
planejamento, trabalho do projeto, entrega, medição de desempenho e incerteza.

2.3. Impacto da Cultura Organizacional na Gestão de Projetos

Apesar do evidente impacto da cultura organizacional na gestão de projetos na


Administração Pública, existem lacunas de conhecimento que requerem uma
investigação mais aprofundada. Essas lacunas podem incluir a falta de estudos
específicos para o contexto da Administração Pública, a necessidade de abordagens
metodológicas mais integradas e ausência de estratégias práticas para alinhar a
cultura organizacional às melhores práticas de gerenciamento de projetos.
Em artigo publicado na Revista de Administração Pública, Moutinho e
Rabechini Jr (2020) trazem que a gestão de projetos na Administração Pública difere
significativamente daquela no setor privado, com características e desafios únicos. A
implementação de práticas de gestão de projetos na Administração Pública apresenta
particularidades que a diferenciam do setor privado. A transposição direta de
estratégias do setor privado pode não ser adequada sem uma análise criteriosa de
sua aplicabilidade. A gestão de partes interessadas, por exemplo, pode exigir uma
estratégia distinta. O papel dos gerentes de projetos é essencial em projetos públicos,
e a adoção de práticas de gestão de projetos pode promover eficiência e inovação,
além de desenvolver habilidades organizacionais. A formalização de Escritórios de
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Gerenciamento de Projetos (PMOs) evidencia a raiz dos projetos nas organizações


governamentais e está associada a um maior grau de maturidade em gestão de
projetos.
A gestão de projetos na Administração Pública enfrenta desafios específicos
devido à complexidade do setor público, como a burocracia, a rigidez das regras e
regulamentações, a interferência política e a falta de continuidade administrativa.
Turner e Müller (2003) argumentam que projetos no setor público são de natureza
temporária e podem enfrentar resistência à mudança, o que exige uma abordagem
especializada para lidar com esses desafios.
No contexto da Administração Pública, a gestão de projetos é uma ferramenta
essencial para a implementação de políticas públicas e a prestação de serviços à
sociedade. A gestão de projetos no setor público deve levar em consideração uma
série de fatores específicos, como a necessidade de transparência, a prestação de
contas e a gestão de recursos públicos.
Os desafios enfrentados na pesquisa sobre cultura organizacional e gestão de
projetos na Administração Pública incluem a complexidade do ambiente
governamental, a diversidade de organizações e setores, a resistência à mudança e
a necessidade de considerar diferentes níveis de análise, como indivíduos, equipes e
organizações. Superar esses desafios requer uma abordagem multidisciplinar e
colaborativa, integrando conhecimentos de administração, política, Direito, psicologia
organizacional e gestão de projetos.
A cultura organizacional influencia a gestão de projetos na Administração
Pública, afetando aspectos como comunicação, tomada de decisão, colaboração e
engajamento dos membros da equipe. Martins e Terblanche (2003) destacam que
uma cultura organizacional que estimula a criatividade e a inovação pode contribuir
para o sucesso dos projetos, enquanto uma cultura resistente à inovação pode
representar obstáculos.
Para otimizar a gestão de projetos na Administração Pública, é necessário
alinhar a cultura organizacional às melhores práticas de gerenciamento de projetos.
Isso envolve promover uma cultura de apoio à gestão de projetos, investir em
capacitação e treinamento, e estabelecer processos e estruturas organizacionais
colaborativas. É crucial a existência de uma cultura organizacional que preze pela
transparência, responsabilidade e aprendizado contínuo.
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Harold Kerzner (2020), o “pai” da gestão de projetos, é taxativo da influência da


cultura na gestão de projetos:
A gestão de projetos bem-sucedida pode ocorrer em qualquer
estrutura, independentemente de quão insuficiente a estrutura pareça
ser no papel, se a cultura da organização promover o trabalho em
equipe, a cooperação, a confiança e comunicações eficientes.
(KERZNER, 2020)
Para Kerzner (2015), a cultura de uma organização pode impactar a
implementação e aceitação do gerenciamento de projetos, e destaca os principais
fatores: a centralização da autoridade, a falta de patrocínio executivo real, a
importância da autoridade organizacional, leis impróprias e potencial para corrupção.
Para o autor em muitos países, a autoridade é centralizada nas mãos de poucos, o
que pode dificultar a descentralização necessária para o gerenciamento de projetos.
Além disso, o patrocínio executivo pode ser limitado devido à falta de conhecimento
sobre o projeto e ao medo de falhas. A hierarquia organizacional também pode ser
um obstáculo, pois pode alongar o processo de tomada de decisão. Leis impróprias e
a corrupção também podem afetar a gestão de projetos.
Vargas (2009) ressalta que não agredir a cultura da organização é um dos
quesitos para que um projeto seja considerado bem sucedido.

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa seguirá uma abordagem qualitativa, com o objetivo de


compreender o impacto da cultura organizacional na gestão de projetos no contexto
da Administração Pública Estadual. A metodologia adotada será baseada em
diferentes aspectos da metodologia científica.

3.1. NATUREZA DA PESQUISA

A pesquisa será classificada como aplicada, pois busca gerar conhecimentos


teóricos que possam ser aplicados na prática organizacional, com o objetivo de
contribuir para a solução de problemas específicos na área de estudo.

3.2. ABORDAGEM DO PROBLEMA


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A abordagem do problema será qualitativa, com o objetivo de explorar a


percepção e compreensão dos indivíduos envolvidos na Administração Pública em
relação à cultura organizacional e sua influência na gestão de projetos.

3.3. OBJETIVOS DO ESTUDO

O estudo será caracterizado como pesquisa exploratória, pois visa explorar e


compreender melhor o fenômeno da cultura organizacional e sua relação com a
gestão de projetos na Administração Pública Estadual. Além disso, busca-se
identificar os principais desafios enfrentados e possíveis estratégias de controle entre
a cultura organizacional e as melhores práticas de gerenciamento de projetos.

3.4. PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Serão adotados os seguintes procedimentos de pesquisa:


3.4.1 Pesquisa Bibliográfica: Será realizada uma pesquisa bibliográfica
abrangente, com base em livros, teses, dissertações e artigos científicos. Essa
etapa será fundamental para embasar teoricamente a pesquisa e contribuir
para a análise e interpretação dos resultados.
3.4.2 Pesquisa Documental: Será realizada uma pesquisa documental em
documentos oficiais, relatórios, normas e regulamentos relacionados à
Administração Pública e à gestão de projetos. Essa pesquisa permitirá a coleta
de dados relevantes sobre as práticas e políticas adotadas na área de estudo.
3.4.3. Entrevistas: Serão realizadas entrevistas com gestores e servidores. As
entrevistas serão semiestruturadas, permitindo a obtenção de informações
qualitativas sobre a percepção dos participantes em relação à cultura
organizacional e sua influência na gestão de projetos.

3.5. POPULAÇÃO E/OU AMOSTRA

A população-alvo da pesquisa será composta por gestores e servidores


envolvidos na gestão de projetos na Administração Pública Estadual de um órgão
específico no Governo do Espírito Santo.
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3.6. COLETA DE DADOS

A coleta de dados será realizada por meio de diferentes técnicas, adequando-


se para cada etapa da pesquisa:
3.6.1 Questionários: os questionários conterão perguntas fechadas,
abrangendo aspectos relacionados à cultura organizacional e à gestão de
projetos. Os procedimentos serão aplicados de forma eletrônica, utilizando
plataformas online (Google Forms), garantindo assim a confidencialidade das
respostas.
3.6.2 Entrevistas semiestruturadas: Serão realizadas entrevistas individuais
com gestores e servidores selecionados da amostra. As entrevistas serão
guiadas por um roteiro previamente estruturado, permitindo a obtenção de
informações mais específicas e a exploração de aspectos específicos
relacionados à cultura organizacional e à gestão de projetos.

3.7. ANÁLISE DE DADOS

A análise de dados será conduzida de maneira sistemática e rigorosa. Serão


utilizadas técnicas específicas para cada tipo de dado coletado:
3.7.1 Análise quantitativa: Os dados dos experimentos serão tabulados e
analisados estatisticamente.
3.7.2 Análise qualitativa: Serão identificados categorias e temas mais
importantes, buscando compreender as opiniões e experiências dos
participantes em relação à cultura organizacional e à gestão de projetos.

3.8. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Serão respeitados todos os princípios éticos da pesquisa científica, garantindo


a confidencialidade e o anonimato dos participantes. Será solicitada autorização do
Secretário de Estado do órgão onde a pesquisa será realizada, bem como o
consentimento dos participantes antes da coleta de dados, esclarecendo os objetivos
da pesquisa e a utilização dos dados.

3.9. LIMITAÇÕES
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É importante destacar algumas possíveis limitações deste estudo.


Primeiramente, a pesquisa será realizada em um órgão específico da Administração
Pública Estadual, o que pode limitar a generalização dos resultados para outras
instituições públicas. Além disso, a abordagem qualitativa adotada implica em uma
amostra reduzida de participantes, o que pode impactar a representatividade dos
resultados. No entanto, as restrições serão devidamente consideradas e relatadas no
estudo.
Dessa forma, a metodologia proposta visa obter dados ricos e relevantes sobre
a relação entre cultura organizacional e gestão de projetos na Administração Pública.
A combinação de revisão bibliográfica e entrevistas permitirá uma compreensão
aprofundada do tema, contribuindo para o conhecimento e aprimoramento das
práticas de gestão no contexto organizacional.

4. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA

O período total de execução do projeto de pesquisa é estimado em 5 meses.


Vale ressaltar que os prazos mencionados são uma previsão inicial e poderão ser
ajustados ao longo do processo, de acordo com o efetivo andamento das atividades,
e imprevistos que possam ocorrer.

MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4 MÊS 5


ATIVIDADES
S1 S2 S3 S4 S1 S2 S3 S4 S1 S2 S3 S4 S1 S2 S3 S4 S1 S2 S3 S4

1. Levantamento
X X
Bibliográfico
2. Definição dos
objetivos e da X
Metodologia
3. Elaboração do
X X X X
Referencial Teórico
4. Coleta e Análise dos
X X X X X
Dados
5. Discussão dos
X X
Resultados
6. Redação do
X X X X X
Trabalho
7. Revisão e
X
Formatação

8. Entrega do Trabalho X
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5. REFERÊNCIAS

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VARGAS, Ricardo V. Gerenciamento de Projetos: Estabelecendo Diferenciais


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