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O ambiente em que nos encontramos inseridos, aquilo que nos é exterior, em maior ou

menor grau funciona como um estímulo e exerce uma influência sobre nós, originando um padrão
na forma como nos expressamos face àquilo que nos rodeia, a isso damos o nome de
comportamento. Essa internalização de hábitos e condutas às vezes tomadas por “naturais” é, na
verdade, consequência da nossa perceção e experiência diante das realidades a que somos
apresentados ao longo da nossa vivência. Essas realidades, por sua vez, são nos entregues e sempre
mediadas, “…daily order is produced by social actors who elect to comply with certain rules, fulfill
certain obligations, meet certain expectations, and make various deliberate social efforts. ” - AP-
PADURA.  

A vida comum é, portanto, muito mais sistematizada do que acreditamos ou queremos


admitir, e se analisada com proximidade conclui-se que é a partir dos contactos mais triviais, como
os que realizamos com diferentes objetos que é iniciada a produção de conceitos e sistemas, que
estruturam a vida em sociedade, e é devido a isso que se torna necessário atentarmo-nos as relações
entre Design e Comportamento. 
“Objects are not things; objects are designed things. Or more loosely, objects are things as humans
have brought them into the orbit of social life.” - APPADURAI 

Os objetos quando concebidos intencionam a priori as suas qualidades funcionais, o fator


que permite que se excedam essas qualidades e possam se desenvolver outros efeitos a nível social e
um dos fatores que permitem que essas qualidades sejam excedidas com a finalidade de ampliar os
seus efeitos. Neste caso um impacto a nível social, parte do caráter do design de aplicar linguagem
sobre as coisas: a partir de intenções de caráter subjetivo definidas por contextos socioculturais, o
design aplica símbolos sobre os objetos conectando-os com os seus utilizadores numa forma mais
pessoal, transmitindo significados e interpretações que se relacionam com as esferas culturais e
económicas que esses utilizadores habitam. O design controla e é responsável, então, pelo poder da
linguagem exercida pelos artefactos quotidianos sobre a nossa subjetividade, conferindo-lhe o poder
de instruir as relações entre indivíduos e indivíduos/ espaço.  
“they [objects] are cultural and conventional. And, as with language, our job is to find out how
these sets connect into larger sets and systems.” - APPADURAI 

O surgimento da UX (experiência do usuário), uma estratégia totalmente centrada no ser


humano, levou a conceção de projetos a requererem um pensamento empático em relação a quem
deles tira partido, ou seja, ao seu “usuário”, visando compreender as suas expectativas,
necessidades, capacidades e objetivos, conferindo aos elementos do projeto um papel altamente
significativo e relevante para quem o esta a utilizar. Com a evolução desta prática, surgiu o que
chamamos de design comportamental cujas metodologias se apropriam dos estudos das ciências
comportamentais e visam sistematizar as escolhas dos usuários por meio da implementação de
articulações que permitem que estes atinjam a finalidade desejada pelos idealizadores do projeto. 

Esta sistematização pode manifestar-se de maneira positiva, o poder e presença do design


torna-se cada vez mais notório na tentativa de resolução de problemas sociais, no incentivo de
iniciar uma mudança coletiva e arquitetar a trajetória dos indivíduos a um determinado fim,
contemplando as necessidades de um bem-estar coletivo e/ou individual. Um exemplo disso é a
formulação de produtos de design sustentável, que promovam hábitos ecologicamente conscientes e
saudáveis. “Currently, the idea is growing that to really effect change, sustainable design must be
capable of changing user behavior” - (VERBEEK), através de intervenções que induzam à
segurança e proteção de um espaço público ou do próprio indivíduo, guiando a comportamentos e
práticas desejáveis e afastando-o das condutas indesejadas. 

No entanto, pode também ser aplicado de maneira abusiva retirando a autonomia e


constringindo quem dele faz uso a esferas controladas que alienam o indivíduo e fomentam a uma
estagnação da sociedade, isso é visível na atuação do design como um propulsor de condutas
excessivas em relação ao consumo, em que ele age como um estimulador de vícios e omissor de
estratégias maliciosas, vulnerabilizando os consumidores por meio de apelos estéticos e sensoriais
tornando-os inconscientes das manipulações efetuadas pelo mercado. Ainda pior, quando esta
ideologia é aplicada ao espaço urbano, a sua intervenção pode tornar-se opressiva, como
observamos no caso do design hostil que implementa objetos que limitam as liberdades do corpo
“filtrando” a ocupação de espaços públicos ao gosto de políticas higienistas. 

O poder de indução que pode ser desempenhado pelo design é algo que traz à superfície a
necessidade de compreensão do alcance dos efeitos que podem ser gerados quando uma estratégia
de design é empregada. Desta forma, tamanha é a influência exercida pelo design sobre a nossa
relação com o mundo, que a sua execução se torna decisiva no nosso desenvolvimento como
indivíduos e consequentemente em coletivo. O comportamento humano é uma manifestação
consciente e inconsciente das nossas experiências, e assim torna-se imprescindível a monitorização
da prática do design e dos seus efeitos, de forma a que estes sejam praticados tendo em conta a
relação entre o produto/objeto, o indivíduo e o seu comportamento, e consequentemente o resultado
desse mesmo comportamento, a nível pessoal e social.
“In this consideration, the relationship between individual and collective concerns plays a promi-
nent role.” - VERBEEK

Ao observar as relações entre Design e Comportamento, é visível a inexistência de uma


agência neutra do design, as implicações dos objetos produzidos abrangem domínios sociais,
culturais, psicológicos e económicos, que podem promover de pequenas a grandes alterações nas
organizações sociais. É necessário por parte dos designers estarem conscientes da sua
responsabilidade diante das consequências morais que objetos podem vir a refletir, tendo o cuido de
direcionar os projetos a valores pró-sociais.
“When designers do not pay attention to this mediating role of things, ethical reflection in the de-
sign process remains incomplete. Design ethics requires that artifacts be treated as members of the
moral community, conceived as the community in which morality assumes a shape. Things carry
morality because they shape the way in which people experience their world and organize their ex-
istence, regardless of whether this is done consciously and intentionally or not. The very fact that
they do this shaping charges designers with the responsibility to make sure that things do this in a
desirable way.” - Peter Paul Verbeek 
“Design is a form of enquiry, of power and of agency. Design creates knowledge and molds
society.” - BOELEN 

As propriedades subjetivas do Design foram objeto de análise, pela importância que têm
assumido na persecução do projeto do design, nomeadamente a abordagem das interações, dos
domínios sociais, culturais, psicológicos, metafísicos sensoriais, do design para o prazer, entre
outros, procurando a satisfação dos consumidores, para que desta forma possam projetar e construir
objetos de deleite competitivos nos diversos mercados.  
O objetivo deste trabalho prende-se com o destaque de se considerar, cada vez mais, o valor
interventivo do Design na nossa contemporaneidade. Considerando que o Design se organiza em
torno de uma perspetiva de possibilidades, denota-se a importância da observação de aspetos
sensoriais e estéticos, bem como de métodos já desenvolvidos na vivência do Design, que
possibilitam a avaliação e quantificação da informação recebida relativamente a acontecimentos e
propriedades apreendidas do produto.  

O processo do Design, deve intervir, desde o desenvolvimento do objeto em questão através


da otimização, criação, de padrões estéticos e, não menos importante, de processos
comportamentais. 
“Things carry morality because they shape the way in which people experience their world
and organize their existence, regardless of whether this is done consciously and intentionally or not.
The very fact that they do this shaping charges designers with the responsibility to make sure that
things do this in a desirable way.” - Peter Paul Verbeek  

“What will remain of human freedom and dignity if we voluntarily submit ourselves to rules
imposed by devices?” - u Peter Paul Verbeek on Achterhuis. 

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