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ESCOLA DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINÉRIO DE OURO ALUVIONAR COM


O USO DO CONCENTRADOR FALCON

ARTHUR ANDRADE RICARDO

Belo Horizonte – MG

Agosto de 2020
ESCOLA DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS

CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINÉRIO DE OURO ALUVIONAR COM


O USO DO CONCENTRADOR FALCON

Autor: ARTHUR ANDRADE RICARDO

Orientadora: PROF.ª RÍSIA MAGRIOTIS PAPINI

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de
Engenharia de Minas da Universidade
Federal de Minas Geral como parte
obrigatória para obtenção do título de
bacharel.

Belo Horizonte - MG

Agosto de 2020
AGRADECIMENTOS

- Aos professores e técnicos de laboratórios do Departamento de Engenharia de


Minas da UFMG, principalmente à minha orientadora, pelo auxílio e sugestões para
o enriquecimento do trabalho

- Ao Bruno Augusto Cabral Góes pela coleta das amostras e discussões


enriquecedoras sobre o garimpo.

- À Metamat – Companhia Motogrossense de Mineração pelo apoio logístico na


coleta de amostras.

- À COOGAVEPE – Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto pelo


financiamento do trabalho.
RESUMO

O Brasil é um país que tem contato com o garimpo desde o seu descobrimento. Esta
atividade, no passado, além de não exigir uma pesquisa mineral, se feita de forma
ilegal, possui pouco planejamento, equipamentos mais simples, mão-de-obra não
especializada e baixo investimento, o que pode resultar em baixas taxas de
recuperação do ouro aluvionar. A concentração de ouro aluvionar geralmente inicia-
se utilizando a densidade como propriedade diferenciadora dos minerais na
concentração gravítica. Objetivou-se realizar a caracterização tecnológica de um
minério de ouro aluvionar de um garimpo no norte do estado do Mato Grosso, Brasil,
onde o minério aluvionar é alimentado numa calha concentradora simples e seu
rejeito com ouro mais fino é descartado. Sem haver cominuição, visto que seria
inviável na área do garimpo, as amostras de alimentação (AC) e descarga da calha
(DC) passaram pelo concentrador gravimétrico Falcon, havendo uma classificação
prévia por peneiramento em 1700µm na primeira etapa, cujo rejeito foi
posteriormente classificado em 837µm para a segunda etapa, a fim de verificar a
influência do tamanho das partículas na recuperação do ouro com o auxílio de
análises granuloquímicas, difração de raios-x, fluorescência de raios-x e fire assay.
Com teor de Au inicial de 0,02g/t, a amostra DC obteve o melhor resultado,
chegando a 3,83g/t após a primeira etapa do Falcon, representando uma
recuperação de ouro de 92,5%, enquanto os resultados da amostra AC não foram
muito expressivos (0,12g/t de Au e recuperação metalúrgica de apenas 14,5%),
indicando falta de representatividade da amostra. Estimou-se uma quantidade de
cerca de 34 até 51 kg de ouro perdido por ano na descarga da calha concentradora.
Assim, o concentrador Falcon mostrou-se promissor para o tratamento do rejeito da
calha, o qual é usualmente descartado, mas representa um potencial retorno
financeiro para o garimpo.

Palavras-chave: Minério de ouro, ouro aluvionar, calha concentradora, concentrador


Falcon.
ABSTRACT

Brazil is a country that has been in contact with artisanal mining since its discovery.
This activity, in the past, besides not requiring mineral research, if illegal, has little
planning, simpler equipment, non-specialized labor and low investment, which can
result low alluvial gold recovery rates. The concentration of alluvial gold usually
begins using density as the differentiating property of minerals, the gravitic
concentration. The objective is to perform a technological characterization of an
alluvial gold ore from an uptstate artisanal gold mine in the state of Mato Grosso,
Brazil, where alluvial ore is fed in sluice concentrator and its finer gold tailings are
discarded. Without comminution, since it would be unfeasible in the area of the
mining, the feeding samples (AC) and discharge of the sluice (DC) passed through
the Falcon gravitic concentrator, with a previous classification by sieving at 1700μm
in the first stage, whose tailings were subsequently classified at 837μm for the
second stage, to verify the influence of particle size on gold recovery with the aid of
granulochemical analyses, x-ray diffraction, x-ray fluorescence and fire assay. With
an initial Au grade of 0.02g/t, the DC sample obtained the best result, reaching
3.83g/t after the first stage of the Falcon, representing a gold recovery of 92.5%,
while the results of the AC sample were not very expressive (0.12g/t of Au and
14.5% gold recovery), indicating that the sample was not representative. It was
estimated an amount of about 34 to 51 kg of gold lost per year in the discharge of the
sluice. Thus, the Falcon concentrator proved promising for the treatment of tailings
from the sluice, which is usually discarded, but which represents a potential financial
return to the artisanal mining site.

Keywords: Gold ore, alluvial gold, sluice concentrator, Falcon concentrator.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 9
2. OBJETIVOS.................................................................................................................................11
2.1. Objetivo geral........................................................................................................................... 11
2.2. Objetivos específicos.............................................................................................................. 11
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................................12
3.1. Geologia....................................................................................................................................12
3.1.1. Depósitos tipo plácer.......................................................................................................... 12
3.1.2. Província Aurífera de Alta Floresta (PAAF).................................................................... 13
3.2. Concentração gravítica...........................................................................................................14
3.2.1. Concentração de minério de ouro aluvionar................................................................... 16
3.2.1.1. Calha simples...................................................................................................................17
3.2.1.2. Concentrador Falcon...................................................................................................... 20
3.3. Economia.................................................................................................................................. 23
4. MATERIAIS E MÉTODOS.........................................................................................................25
4.1. Amostras...................................................................................................................................25
4.2. Fluxograma de processos......................................................................................................28
4.3. Caracterização mineralógica e química...............................................................................29
4.4. Análise granulométrica........................................................................................................... 30
4.5. Densidade real da amostra por picnometria....................................................................... 30
4.6. Concentração gravítica...........................................................................................................31
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................................................. 34
5.1. Resultados caracterização mineralógica e química.......................................................... 34
5.2. Resultados análise granulométrica...................................................................................... 36
5.3. Resultados densidade real da amostra por picnometria...................................................37
5.4. Resultados concentração gravítica...................................................................................... 38
5.5. Estimativa da quantidade de ouro perdido pela calha concentradora............................40
6. CONCLUSÃO.............................................................................................................................. 42
7. SUGESTÔES PARA TRABALHOS FUTUROS....................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................45
ANEXOS...............................................................................................................................................48
ANEXO A – Resultados de DRX (Difratogramas)..........................................................................48
ANEXO B – Resultados da análise multielementar das amostras AC e DC.............................56
ANEXO C – Composição química da crosta média em ppm (g/t) (Ridley, 2013).....................57
ANEXO D – Concentração média de metais na crosta superior (Ridley, 2013).......................58
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Formação de plácer aluvionar.......................................................................... 12


Figura 2 - Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico e localização da PAAF
.................................................................................................................................................. 14
Figura 3 - Aplicabilidade de diferentes métodos de concentração gravítica em
função da granulometria....................................................................................................... 16
Figura 4 - Calha simples e esquema de rifles húngaro (normalmente empregado)..18
Figura 5 - Ação dos rifles na separação em uma calha simples.................................. 18
Figura 6 - Diagrama esquemático do concentrador Falcon de operação
semicontínua (esquerda) e contínua (direita)................................................................... 20
Figura 7 - Partículas densas retidas na parede interna do cone do Falcon de escala
laboratorial após operação...................................................................................................21
Figura 8 - Falcon industrial..................................................................................................22
Figura 9 - Preço do ouro nos últimos anos.......................................................................24
Figura 10 - Preço do ouro nos últimos seis meses......................................................... 24
Figura 11 - Frente de lavra no garimpo aluvionar em Mato Grosso.............................26
Figura 12 - Minério aluvionar in-situ...................................................................................26
Figura 13 - Amostras AC (esquerda) e DC (direita) após secagem.............................27
Figura 14 - Fluxograma de caracterização e concentração preliminar das amostras
AC e DC.................................................................................................................................. 28
Figura 15 - Divisor de rifles tipo Jones.............................................................................. 29
Figura 16 - Picnômetro segundo Gay-Lussac..................................................................30
Figura 17 - Concentrador Falcon “L40”............................................................................. 32
Figura 18 - Curvas granulométricas das amostras globais AC e DC...........................36
Figura 19 - Recuperações mássica e de ouro das amostras AC e DC....................... 39
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultados de DRX semi-quantitativo das amostras AC e DC.................. 34


Tabela 2 - Resultados de FRX das amostras AC e DC..................................................35
Tabela 3 – Resultado parcial da análise multielementar das amostras AC e DC...... 36
Tabela 4 - Tamanhos D50 e D80 das amostras AC e DC............................................. 37
Tabela 5 - Densidade real da amostra AC por picnometria........................................... 37
Tabela 6 - Balanço de massa das etapas no Falcon das amostras AC e DC............ 38
Tabela 7 - Estimativa da quantidade de ouro perdida na descarga da calha
concentradora.........................................................................................................................40
Tabela 8 - Estimativa da quantidade de ouro perdida por ano e seu valor de venda41
Tabela 9 - Modelos de concentradores Falcon................................................................ 41
9

1. INTRODUÇÃO

A mineração é uma indústria de base que, por meio da pesquisa mineral, explotação
de substâncias minerais e seu processamento, fornece ao mercado os insumos
indispensáveis para a manutenção da vida e desenvolvimento tecnológico da
sociedade atual, incluindo metais, água, gás natural e petróleo. Entre os metais mais
conhecidos está o ouro, amplamente utilizado na fabricação de ligas metálicas com
prata e cobre, moedas, joias e tecnologias avançadas, e também em áreas como a
medicina.

De forma simplificada, o ouro pode ser encontrado associado a minerais oxidados, a


minerais sulfetados e também como partículas liberadas. O último caso refere-se ao
ouro aluvionar, encontrado comumente em margens de rios, seus leitos e áreas
próximas, onde houve o arraste do minério de ouro e sua posterior deposição devido
a fatores como erosão e intemperismo físico do seu depósito original, como em
veios de quartzo. Misturado à argila e à areia, o ouro pode não estar completamente
liberado, sendo necessário ainda uma fragmentação. Sua explotação é geralmente
feita pela atividade garimpeira.

O Brasil é um país que tem contato com o garimpo desde o seu descobrimento,
atingindo um auge durante a corrida do ouro entre o fim do século XVII e primeira
metade do século XVIII. Esta atividade de extração de substâncias minerais pode
ser feita de forma autônoma ou em cooperativa, quando indivíduos com objetivo
comum se unem para alcançá-lo. Ambas as formas devem ser regulamentadas
legalmente com supervisão da Agência Nacional de Mineração (ANM).

O garimpo, por ser uma atividade mineira em que a pesquisa mineral não é
obrigatória, se feito de forma ilegal, possui pouco planejamento, equipamentos e
ferramentas mais simples, mão-de-obra não especializada e baixo investimento, o
que muitas vezes resulta em problemas ambientais, como o assoreamento do leito e
drenagem dos rios, erosão do solo e contaminação por mercúrio, metal pesado
tóxico prejudicial ao meio ambiente e ao ser humano.

A concentração de ouro aluvionar é feita utilizando alguma propriedade


diferenciadora dos minerais para separá-los, como a densidade na concentração
gravítica. Esta técnica é aplicada em equipamentos como calhas, jigues e mesas
vibratórias, onde o ouro pode ser extraído após a remoção do solo que o recobre,
10

sendo desmontado por meio de jatos hidráulicos, ou até mesmo com o auxílio de
dragas quando o ouro encontra-se no leito de rios. Como o ouro possui densidade
de 19,30g/cm³, justifica-se o uso desta técnica de concentração, já que existe uma
grande diferença de densidade com os outros minerais associados. No caso de ouro
sulfetado, a flotação é utilizada para pré-concentrar o minério.

Entretanto, técnicas de concentração físicas não são suficientes para obter o ouro
puro, o que leva à utilização de técnicas de amalgamação e cianetação. A
amalgamação é um processo de concentração do ouro que usa da ligação
preferencial do ouro ao mercúrio quando na presença de água, ar e outros minerais
para a formação de uma liga, a qual é queimada, eliminando grande parte do
mercúrio. Entretanto, como resultado da Convenção de Minamata, um acordo global
para controlar o uso do mercúrio, promulgada em 2018 no Brasil, o país
comprometeu-se a eliminar o uso desta substância em minas e garimpos
regulamentados, visando diminuir impactos ambientais e à saúde. Já a cianetação
corresponde ao uso do cianeto no minério bruto, dissolvendo o ouro e retirando-o
em forma líquida, sendo posteriormente tratado.

De acordo com o Anuário Mineral Brasileiro (2019), o ouro teve 8,9% de participação
no valor da produção mineral de substâncias metálicas comercializada de 2018,
atrás apenas do ferro (69,9%) e do cobre (9,8%), correspondendo à uma produção
beneficiada de aproximadamente 85 toneladas do metal, quantidade que poderia ser
maior caso garimpos ilegais e sem fiscalização fossem contabilizados. Entre os
maiores estados produtores de ouro no Brasil está o Mato Grosso, onde está
localizada a segunda maior cooperativa em produção de ouro no país, a Cooperativa
de Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto (COOGAVEPE), localizada na cidade de
Peixoto de Azevedo, no norte do estado.

Assim, em função do cenário atual do ouro proveniente de garimpos e da pouca


informação sobre o minério nessas áreas, neste trabalho pretende-se obter a
caracterização tecnológica de um minério de ouro aluvionar de um garimpo
legalizado do Mato Grosso, localizado em Peixoto de Azevedo, buscando identificar
a possibilidade de aumento na recuperação de ouro.
11

2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo fazer a caracterização tecnológica de um


minério de ouro aluvionar de um garimpo de Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso.

2.2. Objetivos específicos

Objetiva-se realizar os seguintes testes para a caracterização do minério:

 Difração de raios-x (DRX);


 Fluorescência de raios-x (FRX);
 Análise granulométrica;
 Densidade por picnometria;
 Fire assay;
 Ensaios de concentração gravítica no concentrador Falcon;
 Estimar a quantidade de ouro descartada pelo garimpo na descarga da calha
concentradora.
12

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Geologia
3.1.1. Depósitos tipo plácer

O ouro ocorre na sua forma nativa (elementar) como um metal denso, porém
maleável, e é estável em córregos e rios onde ele tende a acumular em áreas de
correntes fracas, produzindo os depósitos plácer (Arndt et al., 2017). O plácer é um
depósito em que minerais densos são concentrados durante a deposição de
sedimentos, sendo uma importante classe de depósitos que contém uma variedade
de minerais e metais, incluindo o ouro, uranita, diamante, cassiterita, ilmenita, rutilo e
zircão (Robb, 2005).

Os minerais concentrados neste tipo de depósito devem primeiramente ser liberados


da rocha de origem, possuir alta densidade, resistência química ao intemperismo e
durabilidade mecânica, uma vez que seu sistema de transporte e deposição é
complexo, envolvendo fatores como erosão, chuvas e o vento. Devido à facilidade
de extração do plácer aluvionar, que foi transportado para mais longe da rocha de
origem e depositado em correntes e leitos de rios, faz com que este tipo de depósito
seja ainda muito procurado (Robb, 2005; Evans, 1997).

Figura 1 - Formação de plácer aluvionar

Fonte adaptada: 1999 Encyclopedua Britannica, Inc.


13

Depósitos tipo plácer foram formados ao longo do tempo geológico, entretanto


muitos são recentes. A maioria destes depósitos é pequena e frequentemente
efêmera, visto que são formados em áreas superficiais, sendo removidos por erosão
antes de haver a sua concentração local. Muitos possuem minerais de baixo teor,
mas são explorados por estarem mais liberados, por serem materiais de fácil
manuseio que não requerem britagem e pela possibilidade de uso de plantas de
mineração semimóveis e baratas (Evans, 1997).

Quando o plácer é mais velho, a litificação provavelmente já aconteceu, ou seja, os


sedimentos foram convertidos em rocha consolidada após a ação de um conjunto
complexo de processos, o depósito pode estar inclinado e parcialmente ou
completamente embaixo de outras rochas também já litificadas. Portanto os custos
de exploração são mais altos, sendo economicamente viável se for um depósito de
alto teor ou conter minerais valiosos como o ouro (Evans, 1997).

Plácers aluvionares de sedimentos arenosos a seixos em canais fluviais de


cascalhos mais velhos, mas não-consolidados, foram muitas vezes na história a
mais importante fonte de obtenção de ouro em diversas partes do mundo, e continua
sendo, porém em escala menor (Ridley, 2013). A mineração destes depósitos
contribui com menos de 20% da produção mundial de ouro, possuindo ainda um
impacto ambiental desproporcionalmente grande (Arndt et al., 2017).

3.1.2. Província Aurífera de Alta Floresta (PAAF)

Localizada na porção sul do Cráton Amazônico, a Província Aurífera de Alta Floresta


(PAAF) encontra-se entre os limites da província geocronológica Ventuari-Tapajós
(1,9 – 1,8 Ga) até áreas da província Rio Negro-Juruena (1,8 – 1,55 Ga), as quais
representam regiões de crosta continental juvenil provenientes de rochas do manto,
estendida por meio de arcos magmáticos sucessivos gerados por subducção de
litosfera oceânica sob a Província Amazônica Central (> 2,3 Ga), seguido de
colisões de massas continentais (Tassinari e Macambira, 1999).
14

Figura 2 - Províncias geocronológicas do Cráton Amazônico e localização da PAAF.

Fonte: Tassinari e Macambira, 1999.

A mineralização mais importante desta província é representada pelo ouro, seguida


de metais básicos. Mineralizações de ouro aluvionares e primárias são distribuídas
ao longo da província, por mais de 500 km, o que causou a descoberta do mineral
por garimpeiros em 1966, no Rio Juruena (Dardenne e Schobbenhaus, 2001). Na
região de Peixoto de Azevedo, local onde foram recolhidas amostras para o estudo
deste trabalho, a produção de ouro por meio de garimpo nos limites da PAAF foi da
ordem de 160 toneladas entre 1980 e 1999, extraído a uma profundidade média de
20 a 50 metros, evidenciando como a atividade garimpeira de ouro aluvionar no
Cráton Amazônico foi a fonte principal do metal precioso no Brasil nas décadas
passadas (Santos et al., 2001; Paes de Barros, 2007; Barburena, 2009).

3.2. Concentração gravítica

Na mineração, tratando da concentração de minérios, é necessário que haja uma


propriedade diferenciadora entre os minerais de interesse e os minerais de ganga
(sem valor econômico) para que a sua separação seja induzida por algum método.
Quando esta propriedade diferenciadora são as diferentes densidades das partículas
presentes no minério, utilizam-se métodos de concentração gravítica por ação de
15

força de gravidade ou por forças centrífugas, considerando ainda o tamanho e forma


destas partículas (Lins, 2010).

Na concentração gravítica, o movimento de partículas em um fluido, sendo a água o


meio mais usado, é de grande importância teórica e prática. A quantificação deste
movimento é feita considerando a velocidade com que as partículas presentes no
minério atravessam o meio fluido (Carrisso e Chaves, 2001).

Os principais mecanismos identificados como responsáveis por promover a


concentração gravítica são a aceleração diferencial, a sedimentação retardada, a
consolidação intersticial, o potencial de energia, a ação de forças cisalhantes e a
velocidade diferencial em escoamento laminar (Kelly e Spottiswood, 1982).

Devido às suas altas capacidades, baixos custos de operação e impacto ambiental


limitado, os equipamentos de concentração gravítica podem ser os mais adequados
em situações onde existe um intervalo amplo de tamanhos de partículas,
competindo com a catação manual quando na separação de partículas grossas, e
com a separação magnética, flotação e lixiviação em intervalos intermediários e
finos, sendo os dois últimos muito utilizados quando necessita-se de recuperações
muito altas em minérios de teor baixo (Sampaio e Tavares, 2005).

Dessa forma, existem diversos equipamentos gravimétricos disponíveis no mercado,


como a calha simples, a calha estranguladora, o concentrador Reichert, a mesa
plana, o jigue, a mesa oscilatória, o concentrador espiral e os concentradores
centrífugos do tipo Knelson e do tipo Falcon, entre outros. A escolha do
equipamento é feita de acordo com o tipo de minério trabalhado, analisando a
granulometria do material, a capacidade requerida, a eficiência desejada e o custo.
No caso de minérios de aluvião, equipamentos gravimétricos comumente utilizados
são a calha, os jigues e os concentradores centrífugos (Sampaio e Tavares, 2005;
Lins, 2010).

Uma vantagem da concentração gravítica em relação a outros processos de


beneficiamento é a sua ampla faixa de intervalos de tamanhos para aplicação dos
equipamentos, conforme mostra a Figura 3 (Sampaio e Tavares, 2005). Devido à
dificuldades associadas à pequena massa e quantidade de movimento da partícula e
aumento das forças intermoleculares, o limite inferior de aplicabilidade de
16

equipamentos de concentração gravítica é ao redor de 5 µm, o que pode resultar em


recobrimento coloidal e na heterocoagulação (Klassen, 1963).

Figura 3 - Aplicabilidade de diferentes métodos de concentração gravítica em


função da granulometria.

Fonte: Sampaio e Tavares (2005).

3.2.1. Concentração de minério de ouro aluvionar

Ouro em depósitos aluvionares comumente ocorre na forma de grandes pepitas,


frequentemente visíveis e em material inconsolidado (MacDonald, 1983; Youngson e
Craw, 1995). Esta condição torna o ouro aluvionar relativamente fácil de encontrar e
recuperar utilizando uma tecnologia simples e barata. Usualmente não é necessária
a fragmentação ou desmonte com explosivos, nem a necessidade de escavar túneis
ou remover grande quantidade de estéril para acessar o minério contendo o ouro
(Teschner et al., 2017).
17

Geralmente na forma de ouro livre, ou seja, ouro que não está quimicamente ou
fisicamente ligado a outros materiais, o uso de processos sofisticados de cominuição
e ustulação a fim de liberar o ouro dos minerais de ganga e atingir recuperações
rentáveis não se mostra essencial. Assim, garimpeiros desenvolveram métodos de
avaliar os depósitos e testar a eficiência de métodos de recuperação do ouro, como
por meio da calha concentradora (Teschner et al., 2017; MacDonald, 1983).

Entretanto, com o esgotamento dos minérios de ouro de mais fácil lavra e extração,
surgiu o desafio de concentrar minérios de ouro cada vez mais finos ou associados a
sulfetos, em que técnicas de concentração gravítica e amalgamação com mercúrio
sozinhas não eram eficientes. Assim, a técnica de lixiviação por cianeto ou
cianetação emergiu como alternativa para continuar a concentração destes minérios
e atingir as especificações de mercado exigidas (Ciminelli, 2002).

Assim, será analisado um equipamento que pode ser utilizado nas amostras de
minério de ouro aluvionar deste trabalho a fim de gerar um pré-concentrado.

3.2.1.1. Calha simples

A calha concentradora é um equipamento onde a separação gravítica é realizada


pelo escoamento da polpa sobre uma superfície inclinada a velocidade constante. É
um processo que utiliza apenas a força da gravidade para auxiliar na separação, a
qual é baseada na sedimentação de partículas, sendo amplamente difundida ao
redor do mundo no tratamento de minérios aluvionares, principalmente em áreas de
garimpo, devido ao seu baixo custo de investimento e operação, alta capacidade e
recuperação, além da facilidade de operação e instalação (Lins, 2010; Sampaio e
Tavares, 2005).

Uma calha é simplesmente uma canaleta inclinada, fabricada usualmente em


madeira e de seção transversal retangular (Figura 4). No fundo dela são instalados
ressaltos ou obstáculos (rifles), arranjados de forma que permitem a deposição das
partículas densas através do leito, enquanto as leves são arrastadas pelo fluido e
correspondem ao rejeito (Figura 5). Os obstáculos podem ser substituídos por um
carpete, borracha natural ou tecido grosso, revestido por uma tela metálica
expandida com a função de obstáculo (Lins, 2010; Sampaio e Tavares, 2005).
18

Figura 4 - Calha simples e esquema de rifles húngaro (normalmente empregado).

Fonte: Lins (2010)

Figura 5 - Ação dos rifles na separação em uma calha simples.

Fonte: Sampaio e Tavares (2005)

Representando grande importância no processo, os rifles têm os objetivos de:


retardar o mineral mais denso (valioso), que sedimenta até o fundo da corrente de
polpa; formar uma cavidade para retê-lo; promover certo turbilhonamento da polpa a
fim de haver melhor eficiência na separação dos minerais com diferentes
densidades (Lins, 2010).

Com faixa de aplicação que varia de 100 µm a 5 mm, a operação das calhas é de
maneira semicontínua, em que a alimentação em forma de polpa é feita
continuamente e, após algum tempo de operação, que pode variar de horas até
semanas, interrompe-se a alimentação e coleta-se o material retido pelos rifles, em
geral manualmente (Lins, 2010; Sampaio e Tavares, 2005).
19

Como usualmente as calhas são feitas sob encomenda, suas variáveis possuem
grande importância, como o comprimento, a profundidade, a largura, a inclinação e
as características dos rifles. A vazão de água também é uma variável de operação a
ser considerada. As dimensões usuais de calhas variam de 1 a 2 m no comprimento,
de 0,3 a 0,5 m na largura, 0,2 a 0,3 m na altura e uma inclinação típica que varia de
5 a 15º em relação à horizontal (Subanshinghe, 1993). Para a recuperação de ouro
fino, é recomendado um fluxo de alimentação menor, implicando em calhas mais
largas, a fim de obter melhor eficiência de concentração (Lins, 2010).

No Brasil, o uso de calhas simples é mais difundido em garimpos. Em barcaças e


dragas, pré-concentradores flutuantes, é comum o emprego de calhas denominadas
“cobra fumando”, sendo operadas na região amazônica. Não são muitos utilizadas
em empresas de mineração, limitando sua aplicação geralmente para o tratamento
de rejeitos da concentração gravítica, a fim de obter uma possível recuperação
adicional de ouro (Lins, 2010; Sampaio e Tavares, 2005).

Teschner et al. (2017) desenvolveram um estudo em um garimpo de ouro aluvionar


nas Guianas a fim de avaliar a recuperação do ouro utilizando a calha simples.
Amostras foram colhidas antes e depois do minério passar pela calha e elas foram
divididas em três faixas granulométricas (< 75 µm, 75-500 µm e > 500 µm), as quais
foram analisadas quimicamente. Os resultados indicaram que a calha capturou 91%
do ouro alimentado no sistema, enquanto a distribuição granulométrica das
partículas de ouro sugeriram que o método de amalgamação com mercúrio utilizado
pelos garimpeiros após a calha é eficiente também. Além disso, a maior parte do
ouro encontrava-se na faixa de tamanho mais fina, mesmo sendo a faixa com menor
participação em massa. O método, mesmo que simples, fornece uma maneira dos
garimpeiros avaliarem a eficiência dos seus processos e também propor o uso de
tecnologias de processamento alternativas, especialmente os que procuram reduzir
o uso de mercúrio em garimpos.
20

3.2.1.2. Concentrador Falcon

Equipamentos de concentração centrífuga permitem que se trabalhe em faixas de


tamanho mais finas, além de apresentarem boa eficiência, maiores capacidades e
custos de manutenção e operação relativamente baixos. Através da força centrífuga,
são capazes de processar partículas finas e ultrafinas, uma vez que a ação dos
mecanismos de separação que operam utilizando apenas a ação da força da
gravidade são intensificados. Como principais exemplos, tem-se os concentradores
Knelson, Falcon, jigue centrífugo e o Multi-Gravity Separator (MGS) (Carriso e
Chaves, 2002; Sampaio e Tavares, 2005).

O concentrador centrífugo Falcon é composto de uma cesta cilíndrico-cônica


alinhada verticalmente que gira a alta velocidade no interior de cilindro fixo externo,
conforme mostrado na Figura 6.

Figura 6 - Diagrama esquemático do concentrador Falcon de operação


semicontínua (esquerda) e contínua (direita).

Fonte: Sampaio e Tavares (2005).

A velocidade da cesta pode ser ajustada, gerando aceleração centrífuga que pode
chegar até 300 G. A polpa é alimentada no fundo do cone em rotação e, devido à
sua configuração, as partículas movem-se progressivamente até a parte superior.
21

Durante este movimento, ocorre a diminuição da espessura da camada de partículas,


onde as mais leves se soltam pelo movimento rápido do fluxo de água e então
retornam à polpa, constituindo o rejeito. As partículas densas ficam retidas na
parede interna do cone (Carriso e Chaves, 2002; Sampaio e Tavares, 2005),
conforme exemplificado na Figura 7. O Falcon é indicado em casos onde deseja-se
recuperar uma pequena fração de material fino e pesado e um descarte significativo
da massa alimentada (Silva et al., 1998).

Figura 7 - Partículas densas retidas na parede interna do cone do Falcon de escala


laboratorial após operação.

Fonte: 911 Metallurgist.

Semelhante ao concentrador Knelson, o Falcon possui faixa granulométrica de


aplicação de 5 µm a 6 mm e consegue atingir acelerações centrífugas até cinco
vezes maiores, visto que sua cesta não apresenta anéis ou orifícios como as do
Knelson (Sampaio e Tavares, 2005). Já suas variáveis operacionais são a taxa de
alimentação, a porcentagem de sólidos na alimentação e a granulometria do minério
(Carriso e Chaves, 2002).
22

De acordo com a Sepro Mineral Systems, a fabricante do equipamento, o Falcon em


escala industrial (Figura 8), dependendo do modelo, oferece uma capacidade de até
400 t/h, disponibilidade mecânica acima de 95%, custo de operação baixo e as
maiores forças gravitacionais na indústria de beneficiamento mineral, podendo
operar de 50 até 200 G’s. Além disso, o concentrador Falcon opera em um sistema
de semi-batelada, visto que pode continuamente ser alimentado durante o ciclo de
operação, mas produz concentrado apenas durante as paradas de enxágue, que
usualmente duram menos de um minuto por serem automatizadas. Já seu tempo de
operação pode ser de 5 minutos à muitas horas, dependendo da aplicação.

Figura 8 - Falcon industrial.

Fonte: Sepro Mineral Systems – Adaptado.


23

3.3. Economia

Períodos de contágio na economia, ou seja, a propagação de crises financeiras, têm


evidentemente aumentado o risco de títulos (Vychytilova, 2018), que são
instrumentos financeiros negociáveis, como ações, e retornado o interesse no ouro
como instrumento financeiro alternativo, já que o ouro é historicamente tratado como
um padrão de alto valor. A série de crises financeiras mundiais tem aumentado a
convicção de que o ouro pode fornecer proteção de investimento e servir como
instrumento de gerenciamento de riscos (Gaspareniene et al., 2018).

Valor de refúgio, em tempos de instabilidades nos mercados financeiros, é definido


como um ativo que não está correlacionado ou está correlacionado de forma
negativa com outro ativo tendo em vista o seu preço. Assim, este refúgio, como o
ouro, oferece segurança a investidores em condições de mercado extremas (Baur e
Lucey, 2010).

Mesmo que não exista um modelo teórico que explique por que o ouro é utilizado
como valor de refúgio, uma possível explicação é que este metal estava entre as
primeiras formas de dinheiro e era utilizado como cobertura de inflação (Baur e
Lucey, 2010), apresentando assim um duplo sentido no capitalismo, servindo como
matéria-prima ou como moeda universal de troca (Marx, 1867).

Atualmente o preço do ouro encontra-se mais alto em relação aos anos anteriores,
principalmente nos meses onde há o começo de uma crise econômica global devido
à pandemia de coronavírus em 2020, conforme mostrado nas Figuras 9 e 10.
24

Figura 9 - Preço do ouro nos últimos 5 anos.

Fonte: InfoMine.

Figura 10 - Preço do ouro nos últimos seis meses.

Fonte: InfoMine.
25

É estimado que cerca de 16 milhões de garimpeiros, em mais de 70 países em


desenvolvimento, produzam entre 337 e 447 toneladas de ouro por ano ou
aproximadamente 12-15% da produção de ouro mundial anual (Seccatore et al.,
2014).

No Brasil, de acordo com o Anuário Mineral Brasileiro de 2019, a produção bruta de


ouro (ROM) de 2018 foi de aproximadamente 121 milhões de toneladas,
representando 67 toneladas de ouro contido e um teor médio de 0,55 g/t. Entretanto,
estes dados não incluem a produção de ouro originária de áreas de garimpo,
portanto uma produção subestimada. Já na produção beneficiada existem dados
referentes ao garimpos, correspondendo à uma produção beneficiada total em 2018
de 85 toneladas de ouro, onde o estado do Mato Grosso encontra-se em 3º lugar no
ranking de produção.

Em escala mundial, de acordo com o World Gold Council e a Metal Focus (2019), o
Brasil encontra-se na 10ª colocação dos maiores países produtores de ouro. É
esperado que as exportações aumentem devido ao medo de uma recessão global
em 2020, portanto vê-se a preocupação dos países de ter mais ouro em seus
bancos centrais como valor de refúgio, podendo impulsionar a sua produção no
território nacional.

4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. Amostras

No garimpo legalizado do Mato Grosso, localizado próximo das cidades de Matupá e


Peixoto de Azevedo, onde o cascalho aluvionar tem espessura aproximada de 1
metro e está a uma profundidade de 10 a 12 metros, o decapeamento é feito com o
auxílio de trator de esteiras e escavadeiras hidráulicas até a exposição do cascalho
aurífero (Figuras 11 e 12). Com auxílio de monitores hidráulicos, o material
desagregado em polpa é então dragado até uma calha concentradora (Largura:
3m – Comprimento: 10m – Inclinação: 20º) localizada a cerca de 150 metros de
distância e acima de 10 metros da frente de lavra.
26

Figura 11 - Frente de lavra no garimpo aluvionar em Mato Grosso.

Fonte: Arquivo Bruno Augusto Cabral Góes.

Figura 12 - Minério aluvionar in-situ.

Fonte: Arquivo Bruno Augusto Cabral Góes.


27

Como 85% da produção deste garimpo vem do cascalho aluvionar, foram coletadas
duas amostras para análise (Figura 13):

 Polpa da alimentação da calha concentradora – Amostra AC


 Polpa da descarga da calha concentradora – Amostra DC

Estas amostras foram enviadas ao Laboratório de Tratamento de Minérios da UFMG


e após a secagem, as amostras AC e DC apresentaram massas de 7,7kg e 9,2kg,
respectivamente. Com este material, seria possível analisar se há perda de ouro
mais fino na descarga da calha concentradora e avaliar seu teor.

Figura 13 - Amostras AC (esquerda) e DC (direita) após secagem.

Fonte: Arquivo autor.


28

4.2. Fluxograma de processos

Foi proposto um fluxograma de processos (Figura 14) para caracterizar as amostras


e realizar testes preliminares de processamento em escala laboratorial que
atendessem à realidade e restrições do garimpo, como por exemplo a não
cominuição do material, visto que um moinho não seria adequado em campo, pois
as frentes de lavras mudam rapidamente de localização, além do alto gasto
energético, podendo inviabilizar o processo.

Figura 14 - Fluxograma de caracterização e concentração preliminar das amostras


AC e DC.
29

4.3. Caracterização mineralógica e química

Utilizou-se dois divisores de rifles (Figura 15) para amostragem dos materiais, um
com rodízios (abertura de 30 a 90mm de acordo com a granulometria e quantidade
total de massa) e um de bancada (abertura de 6 a 20mm de acordo com a
granulometria e massa da amostra). A medida que o material foi quarteado, foram
separadas massas para a caracterização (DRX, FRX, análise granulométrica,
densidade e fire assay) e o restante foi utilizado na etapa de concentração gravítica.

Figura 15 - Divisor de rifles tipo Jones: com rodízios (esquerda) e de bancada


(direita)

Fonte: Dialmática - Equipamentos para Laboratório de Mineração.

A análise por difração de raios-x (DRX) permitirá a identificação dos minerais


presentes nas amostras através da caracterização das suas estruturas cristalinas,
enquanto a análise por fluorescência de raios-x (FRX) permitirá identificar os
elementos químicos das amostras (análise qualitativa), assim como quantificar a
proporção (concentração) em que cada elemento se encontra nas mesmas. As
análises foram feitas no Laboratório de Caracterização de Minérios e Materiais. Para
determinar o teor de ouro nas amostras, foi utilizado o método do fire assay,
realizado em laboratórios da ALS Global.
30

4.4. Análise granulométrica

Com as amostras previamente quarteadas, a análise granulométrica iniciou-se


realizando um corte a úmido em 38µm, a fim de limpar a superfície dos grãos
maiores que poderiam conter partículas menores, com vazão de água de 1L/min em
um agitador de peneiras durante 15 minutos, guardando o material passante em
polpa. As massas retidas e passantes na peneira foram secadas em estufa a 60ºC e
posteriormente pesadas. Em seguida, com o material maior que 38µm, foi realizada
a etapa a seco do peneiramento por 15 minutos utilizando a série Tyler de peneiras
(25400, 13395, 9472, 6698, 4736, 3349, 2368, 1674, 1184, 837, 592, 419, 296, 209,
148, 105, 75, 52, 38 µm) com 20cm de diâmetro. Após a pesagem do material retido
nas peneiras, cada amostra foi separada em três faixas granulométricas: -
25400+1700µm, -1700+837µm e -837+0µm, as quais são referência para a etapa de
concentração.

4.5. Densidade real da amostra por picnometria

Para a determinação da densidade real da amostra de minério de ouro aluvionar,


utilizou-se o picnômetro como instrumento de medição (Figura 16).

Figura 16 - Picnômetro segundo Gay-Lussac

Fonte: 3B Scientific.
31

O processo, com o objetivo de minimizar possíveis erros oriundos de falhas


operacionais, foi realizado em triplicata. Como a área de seção de entrada do
picnômetro é pequena, a amostra foi quarteada e cominuída previamente. O
procedimento consiste em pesar o picnômetro limpo e seco em uma balança de
precisão e posteriormente adicionar o minério seco dentro do recipiente, ocupando
cerca de um terço do volume, e então pesar o conjunto picnômetro + minério. Por
fim, preencher o volume com água e pesar o conjunto picnômetro + minério + água e
também o picnômetro contendo apenas água em todo o seu volume. Com essas
quatro massas, foi possível determinar a densidade da amostra de acordo com a
fórmula (1).

𝑀(𝑝+𝑚) −𝑀(𝑝)
𝑑= (1)
𝑀 𝑝+𝑎 + 𝑀 𝑝+𝑚 − 𝑀 𝑝 + 𝑀 𝑝+𝑚+𝑎

Onde:

d = Densidade do minério;

M(p) = Massa do picnômetro;

M(p+m) = Massa do picnômetro + minério;

M(p+m+a) = Massa do picnômetro + minério + água;

M(p+a) = Massa do picnômetro + água.

4.6. Concentração gravítica

Devido às restrições operacionais no garimpo, optou-se por fazer a classificação do


material por meio do peneiramento a fim de obter a especificação granulométrica
limite para a o operação do concentrador gravimétrico Falcon (Figura 17), o qual foi
a escolha para recuperar o ouro de ambas as amostras, já que este metal é mais
denso em relação aos outros presentes.
32

Figura 17 - Concentrador Falcon “L40”.

Fonte: Sepro Mineral Systems.

O material passante da primeira peneira de 1700µm seguiu para a primeira etapa no


concentrador Falcon, respeitando o seu limite superior para operação em escala
laboratorial. Com o auxílio de um alimentador vibratório e com um fluxo de material
que não fosse sobrecarregar a operação, as amostras AC e DC foram
continuamente molhadas por um jato de água de lavagem na parte superior do
Falcon para que não ficassem acumuladas ou presas. O concentrador operou com
55,3Hz de vibração, taxa de 5L/min de água de lavagem interna e modo de
operação “Prog5”; parâmetros verificados no manual do equipamento. O
concentrado (material mais denso) e o rejeito (material mais fino) foram secados e
pesados. O rejeito continuou o processo e passou por uma peneira de 837µm, onde
o material passante alimentou a segunda etapa no concentrador Falcon utilizando os
mesmos parâmetros operacionais do primeiro, finalizando o processo. Os
concentrados e rejeitos das duas etapas no concentrador Falcon foram quarteados e
levados para análise química (DRX, FRX e fire assay) a fim de avaliar recuperações
mássica e de ouro, calculadas por meio das seguintes fórmulas:
33

C
𝑅𝑚á𝑠𝑠𝑖𝑐𝑎 = (2)
A

Onde:

Rmássica = Recuperação mássica do concentrado/rejeito;

C = Massa de concentrado/rejeito;

A = Massa da alimentação do Falcon.

C.c
𝑅𝐴𝑢 = (3)
A.a

Onde:

RAu = Recuperação de ouro no concentrado;

C = Massa de concentrado;

C = Teor de ouro no concentrado;

A = Massa da alimentação do Falcon;

A = Teor de ouro na alimentação do Falcon.

Os resultados de caracterização e concentração preliminar encontram-se no próximo


capítulo.
34

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1. Resultados caracterização mineralógica e química

Testes de DRX indicaram que as amostras AC e DC são compostas


predominantemente de quartzo e uma porcentagem menor de feldspatos. Ao
separar em três faixas granulométricas, à medida que há a diminuição de tamanho,
há também a diminuição de quartzo e o aumento de feldspato, chegando a mais de
20% nas faixas mais finas (-837+0µm), como visto na Tabela 1. Os difratogramas
encontram-se no Anexo A.

Tabela 1 - Resultados de DRX semi-quantitativo das amostras AC e DC

Minerais (%)
Amostra
Quartzo Feldspato Hematita

AC (amostra cabeça) 98,4 1,6 -


DC (amostra cabeça) 98,8 1,2 -
AC.AQG1(-25400+2368µm) 99 1 -
AC.AQG2(-2368+837µm) 93,2 6,8 -
AC.AQG3(-837+0µm) 78,5 21,2 0,3
DC.AGQ1(-25400+2368µm)] 96 4 -
DC.AGQ2(-2368+837µm)] 90 10 -
DC.AGQ3(-837+0µm)] 79,8 20,2 -
AC: Alimentação da Calha; DC: Descarga da Calha; AGQ: Análise Granuloquímica

Nos resultados do concentrador centrífugo Falcon, a análise qualitativa de DRX dos


concentrados e rejeitos das amostras AC e DC mostrou a presença de silicatos
como quartzo, plagioclásio, microclina e mica; e caulinita, um argilo-mineral de
alumínio hidratado. Além disso, foi detectada também a hematita, um óxido de ferro
com maior densidade que os outros minerais detectados pelo DRX, entretanto
apenas nos concentrados, o que era esperado, visto que o Falcon tem a função de
concentrar estes minerais mais densos, como o ouro, o qual será detectado pela
análise de fire assay. Os difratogramas dos concentrados e rejeitos do Falcon
também encontram-se no Anexo A.
35

Complementando o DRX, os resultados de FRX para as amostras mostram que


ambas apresentam porcentagens similares dos óxidos analisados, com uma média
de cerca de 90,63% de SiO2, 4,05% de Al2O3, menos de 3% de Fe2O3 e quantidades
muito baixas de outros óxidos, como visto na Tabela 2.

Tabela 2 - Resultados de FRX das amostras AC e DC

FRX Amostra AC (%) Amostra DC (%)

SiO2 90,68 90,58

Al2O3 4,24 3,86


Fe2O3 1,78 1,98
K2O 1,42 1,27
CaO 0,40 0,41
TiO2 0,28 0,66
Cr2O3 0,08 0,07
MnO 0,05 0,09
P2O5 0,03 0,09
MgO < 0,1 < 0,1
Na2O < 0,1 < 0,1
PPC (1000°C) 0,85 0,76

Estes resultados corroboram a origem do ouro no local, associado à veios de


quartzo que, ao sofrerem ações do intemperismo, desprenderam-se da rocha
original e foram transportados pela ação dos ventos e rios, formando os aluviões.

Os resultados parciais da análise multielementar feita nas amostras (pré-


concentração) AC e DC (Tabela 3), quando comparados com a concentração média
de elementos na crosta terrestre nos Anexos C e D de acordo com Ridley (2013),
indicam quantidades maiores de cromo, chumbo, tungstênio, estanho, molibdênio e
também elementos de terras raras (ETR), como o cério e lantânio, além do tório,
elemento radioativo cuja ocorrência é usual em ETRs. Estudos futuros podem ser
pertinentes na região para verificar o seu potencial em terras raras na tentativa de
36

produção de um pré-concentrado, uma vez que o Brasil não tem participação


relevante, utilizando mais da importação para o suprimento necessário. O resultado
completo da análise multielementar encontra-se no Anexo B.

Tabela 3 – Resultado parcial da análise multielementar das amostras AC e DC

Amostra AC Amostra DC
Elemento Unidade
Teor Teor
Cr ppm 131 154
Ce ppm 81,8 237
La ppm 40,4 119
Th ppm 30,6 88,8
Pb ppm 11,5 18,7
W ppm 4,92 6,09
Sn ppm 2,6 6,7
Mo ppm 1,96 2,46
Au ppm <0,02 <0,02

5.2. Resultados análise granulométrica

As curvas granulométricas das amostras AC e DC encontram-se na figura 18:

Figura 18 - Curvas granulométricas das amostras globais AC e DC

Alguns tamanhos podem ser destacados após análise visual das curvas.
37

Tabela 4 - Tamanhos D50 e D80 das amostras AC e DC

Amostra D50 (µm) D80 (µm)

AC 1150 2400

DC 1200 2900

Percebe-se que o D80 da amostra DC é maior que o da AC, mas não há uma
diferença de tamanho muito marcante entre as amostras abaixo de 1200µm. A
diferença maior será vista após a análise dos concentrados das etapas no Falcon,
onde será possível ver em qual amostra terá maior quantidade de ouro fino
recuperado.

5.3. Resultados densidade real da amostra por picnometria

Para a determinação da densidade real da amostra AC, a qual não passou por
nenhum método de concentração, realizou-se o teste de picnometria em triplicata,
onde o resultado encontra-se na Tabela 5. Este resultado auxiliará no cálculo da
porcentagem de sólidos na polpa que alimenta a calha concentradora.

Tabela 5 - Densidade real da amostra AC por picnometria

Picnômetro Densidade (g/cm³)

1 2,527
2 2,611
3 2,649

Média 2,596

A amostra apresenta densidade de 2,596g/cm³, valor condizente com os resultados


de DRX e FRX que apontam a presença predominante de quartzo, cuja densidade é
2,65g/cm³, e também a presença de outros minerais, como plagioclásio, microclina,
mica e hematita, que justificam a pequena diferença entre os valores. Como o ouro
38

possui densidade de 19,30g/cm³, diferencia-se muito da densidade do quartzo no


minério, justificando a separação por concentração gravítica.

5.4. Resultados concentração gravítica

Por meio dos testes de fire assay, obteve-se teor de ouro de 0,01 e 0,02g/t para as
amostras globais de AC e DC, respectivamente. Após a primeira classificação na
peneira de 1700µm, em que o passante corresponde a mais de 60% das amostras,
o teor alimentado no Falcon foi alterado, o qual foi calculado por meio das massas e
teores de ouro do concentrado e rejeito (Tabela 5).

Tabela 6 - Balanço de massa das etapas no Falcon das amostras AC e DC

1ª Etapa Falcon 2ª Etapa Falcon

Amostra Teor Rec. Rec. Massa Teor Rec. Rec.


Massa
(g) Au Mass. Au (g) Au Mass. Au
(g/t) (%) (%) (g/t) (%) (%)

Alimentação AC* 4352,7 0,055 100 100 2147,7 0,013 100 100

Concentrado AC 287,2 0,12 6,6 14,5 89,6 0,07 4,2 23,4

Rejeito AC 4065,5 0,05 93,4 85,5 2058,1 0,01 95,8 76,6

Alimentação DC* 4746,9 0,128 100 100 2711,2 0,065 100 100

Concentrado DC 147,2 3,83 3,1 92,5 91,4 1,07 3,4 55,4

Rejeito DC 4599,7 0,01 96,9 7,5 2619,8 0,03 96,6 44,6

*Alimentação recalculada

É perceptível que os resultados mais expressivos foram os da amostra DC, material


mais fino inicialmente descartado pelo garimpo, apresentando teor de Au no
concentrado de 3,83g/t (92,5% de recuperação Au e 3,1% de recuperação mássica)
na primeira etapa do Falcon e 1,07g/t (55,4% de recuperação Au e 3,4% de
recuperação mássica) na segunda etapa do Falcon, valores superiores aos da
amostra AC, que obteve 0,12 e 0,07g/t de Au na primeira e segunda etapa do Falcon,
39

respectivamente. Tal resultado evidencia o uso deste tipo de concentrador centrífugo


para amostras onde deseja-se recuperar uma pequena fração de material pesado
com recuperação mássica baixa, respeitando o tamanho da faixa de aplicação,
como pode ser visto na Figura 19.

Figura 19 - Recuperações mássica e de ouro das amostras AC e DC

Observa-se que, mesmo possuindo curvas granulométricas parecidas abaixo de


1700µm, a amostra DC tem maior quantidade de ouro em relação à amostra AC
nesta faixa de tamanho, comprovado pelo teste fire assay. Entretanto, esperava-se
um resultado melhor para a amostra AC, uma vez que ela não passou pela calha
concentradora, o que pode indicar que esta não foi uma amostra representativa.

Além disto, os dados retornam que existe uma grande influência na classificação
granulométrica prévia à concentração gravítica. A inclusão de uma etapa de
classificação e posterior concentração gravítica, seja com a utilização de calhas
simples ou concentradores centrífugos, por faixa de tamanho pode resultar em
ganhos na recuperação dos atuais sistemas. No entanto, para uma afirmação
definitiva sobre a influência granulométrica na recuperação gravítica no sentido de
uma proposição de novos circuitos de concentração, será necessária uma análise
com amostras de maior volume de forma a ter maior representatividade.
40

5.5. Estimativa da quantidade de ouro perdido pela calha concentradora

Decidiu-se estimar a quantidade de ouro que o garimpo estaria perdendo com base
nos resultados dos testes realizados e com informações passadas após a visita ao
garimpo, onde houve a coleta das amostras. Com a estimativa de dados de taxa de
alimentação da calha concentradora, sua recuperação mássica e a densidade da
polpa, calculou-se a quantidade de ouro que chegaria no concentrado da primeira
etapa do Falcon, baseado nos resultados da amostra DC (Tabela 7). Portanto foi
uma simulação considerando o minério descartado pelo garimpo.

Tabela 7 - Estimativa da quantidade de ouro perdida na descarga da calha


concentradora

Dados Valor Unidade

Taxa de alimentação da calha concentradora 350 m³/h

Densidade da polpa 1,279 t/m³


Massa da polpa de alimentação da calha
447,7 t/h
concentradora
Densidade do minério 2,596 t/m³
% Sólidos da polpa 35,5 %
Massa de alimentação da calha concentradora 158,8 t/h
Recuperação mássica estimada da calha
2 %
concentradora
Massa de descarga da calha concentradora
155,7 t/h
(Alimentação da peneira pré-Falcon)

% Passante na peneira pré-Falcon (< 1700 µm) 63,7 %


Massa de alimentação 1ª Etapa Falcon 99,2 t/h
Recuperação mássica 1ª Etapa Falcon 3,10 %
Massa de concentrado 1ª Etapa Falcon 3,07 t/h

Teor de Au do concentrado 1ª Etapa Falcon 3,8 g/t


Quantidade de ouro no concentrado 1ª Etapa
11,8 g/h
Falcon
*Estimativa considerando parâmetros observados na visita ao garimpo
41

Foi estimado uma quantidade de 11,8g/h de ouro sendo descartada que o Falcon
conseguiria recuperar. Dessa forma, foram comparados cinco cenários distintos de
operação no garimpo, que variam de 8 até 12h de trabalho por dia, na tentativa de
quantificar quantos quilogramas de ouro estariam sendo descartados por ano e o
retorno financeiro que isso daria ao garimpo, considerando a cotação do ouro do dia
da análise (Tabela 8).

Tabela 8 - Estimativa da quantidade de ouro perdida por ano e seu valor de venda

Cenários: Horas Massa de Massa de


Massa de Venda do ouro
de operação no ouro ouro
ouro (g/dia) (USD/ano)*
garimpo por dia (g/mês) (kg/ano)
8h 94,2 2825,5 33,9 $ 1.959.383,10

9h 106,0 3178,7 38,1 $ 2.204.305,99


10h 117,7 3531,9 42,4 $ 2.449.228,87
11h 129,5 3885,1 46,6 $ 2.694.151,76
12h 141,3 4238,3 50,9 $ 2.939.074,65
*Considerando cotação do ouro de 16/07/20: 1797,42 USD/ozt
*1 ozt = 31,10 g

Considerando 8h de operação por dia, estimou-se que o garimpo teria um retorno de


quase 2 milhões de dólares anualmente, caso o concentrador Falcon fosse utilizado
para recuperar o ouro que não fica retido na calha concentradora. Assim, baseado
em dados do preço de alguns modelos de Falcon da Sepro Mineral Systems (Tabela
9), verifica-se a possibilidade de investimento neste tipo de tecnologia, cujo retorno
financeiro chegaria rapidamente e haveria um melhor aproveitamento do ouro,
aumentando a produção.

Tabela 9 - Modelos de concentradores Falcon

Capacidade máxima de
Modelo de Falcon Preço (USD)
polpa (m³/h)
SB750 100 $ 80.000,00

SB1350 200 $ 110.000,00


SB5200 450 $ 165.000,00
*SB: Semi-batelada
42

A cotação dos preços do Falcon pode variar dependendo de fatores como a


possibilidade de uma planta completa da empresa e a automação dos processos,
uma vez que cada operação tem suas especificidades. Dados mais detalhados
destes modelos do equipamento na Tabela 9, além de outros, podem ser vistos no
catálogo da Sepro Mineral Systems.

6. CONCLUSÃO

As seguintes conclusões foram obtidas neste trabalho:

 Com o auxílio do FRX e DRX, viu-se que as amostras são compostas


predominantemente por silicatos e uma quantidade muito pequena de ferro, o
qual, após o uso do Falcon, foi detectado apenas nos concentrados.
 Por meio da análise multielementar, uma quantidade maior de elementos de
terras raras (ETR) foi detectada, o que é interessante para um estudo mais
aprofundado da região.
 A amostra de alimentação da calha concentradora (AC) tinha 0,01g/t de Au e,
na primeira etapa, obteve-se um teor de 0,12g/t no concentrado (14,5% de
recuperação metalúrgica do ouro), enquanto na etapa seguinte alimentada
pelo rejeito do primeiro Falcon peneirado em 837µm, obteve-se 0,07g/t
(23,4% de recuperação metalúrgica do ouro).
 Na amostra AC, o uso do Falcon não foi tão efetivo, o que não era esperado,
indicando que a amostra coletada não foi representativa.
 A amostra de descarga da calha (DC) tinha teor de ouro de 0,02g/t e obteve-
se teores de 3,83g/t (92,5% de recuperação metalúrgica do ouro) e 1,07g/t
(55,4% de recuperação metalúrgica do ouro) na primeira e segunda etapa do
processo, respectivamente, seguindo a mesma metodologia da amostra AC.
Em ambas as amostras houve uma baixa recuperação mássica, característico
do método de concentração utilizado.
 Para a amostra DC, material que já é descartado, justifica-se o uso do
equipamento Falcon, pois o mesmo recuperou o ouro mais fino que estava
sendo perdido no rejeito da calha.
 Ao estimar a quantidade de ouro descartada na descarga da calha
concentradora que o Falcon conseguiria recuperar, viu-se que cerca de 11,8
43

g/h são perdidas no processo e, simulando operações de 8 até 12h por dia,
esta quantidade de ouro poderia gerar ao redor de 2 até 3 milhões de dólares
por ano, o que varia visto que o preço de venda do ouro não é constante,
apresentando oscilações. Assim, o concentrador gravimétrico Falcon mostrou-
se promissor para o tratamento do rejeito da calha concentradora, podendo
trazer uma nova opção de retorno financeiro para o garimpo.
44

7. SUGESTÔES PARA TRABALHOS FUTUROS

Em função do tempo para a conclusão deste trabalho e da paralisação de


laboratórios devido à pandemia de coronavírus, sugere-se uma investigação maior
na caracterização do minério, como o DRX semi-quantitativo e FRX das amostras
após a concentração no Falcon e o uso da microscopia eletrônica de varredura
(MEV) na tentativa de encontrar o ouro no concentrado, assim como os minerais
associados.

Além disso, devido à quantidade limitada de amostras, os parâmetros de operação


utilizados para a peneira pré-concentração e para o Falcon foram apenas os
recomendados pelo manual e literatura, não sendo alterados. Com uma quantidade
maior de amostras, seria possível investigar qual seria o tamanho de corte ideal para
a peneira, mesmo que a peneira de 1700µm já tenha fornecido bons resultados, e a
melhor forma de operação do concentrador centrífugo a fim de obter melhores
recuperações do ouro, além de uma maior representatividade.

Outros tipos de concentradores centrífugos também podem ser testados, como o


Knelson e o iCON, avaliando qual deles teria um melhor desempenho para
recuperar o ouro da descarga da calha concentradora. Até mesmo uma análise de
viabilidade econômica minuciosa poderia ser realizada a fim de confirmar o retorno
financeiro deste tipo de equipamento. De qualquer forma, o material deste garimpo,
principalmente a descarga da calha concentradora, mostrou-se promissor neste
projeto inicial.
45

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48

ANEXOS

ANEXO A – Resultados de DRX (Difratogramas)

Amostra AC

Amostra DC
49

Amostra AC.AGQ1(-25400+2368µm)

Amostra AC.AGQ2(-2368+837µm)
50

Amostra AC.AGQ3(-837+0µm)

Amostra DC.AGQ1(-25400+2368µm)
51

Amostra DC.AGQ2(-2368+837µm)

Amostra DC.AGQ3(-837+0µm)
52

Amostra AC.CF1 (Concentrado Falcon 1)

Amostra AC.RF1 (Rejeito Falcon 1)


53

Amostra DC.CF1 (Concentrado Falcon 1)

Amostra DC.RF1 (Rejeito Falcon 1)


54

Amostra AC.CF2 (Concentrado Falcon 2)

Amostra AC.RF2 (Rejeito Falcon 2)


55

Amostra DC.CF2 (Concentrado Falcon 2)

Amostra DC.RF2 (Rejeito Falcon 2)


56

ANEXO B – Resultados da análise multielementar das amostras AC e DC

Amostra AC Amostra DC
Elemento Unidade
Teor Teor
P ppm 210 310
Mn ppm 172 187
Cr ppm 131 154
Ce ppm 81,8 237
Ba ppm 60 50
La ppm 40,4 119
Zn ppm 34 26
Th ppm 30,6 88,8
V ppm 19 25
Rb ppm 13,7 13,4
Pb ppm 11,5 18,7
Ni ppm 11,2 12,2
Cu ppm 10,7 13,9
Sr ppm 10,2 11,6
Y ppm 7,62 16,9
Zr ppm 7,4 10,8
W ppm 4,92 6,09
Co ppm 3,6 3,9
Sn ppm 2,6 6,7
Li ppm 2,3 2,4
Ga ppm 2,13 3,49
Mo ppm 1,96 2,46
As ppm 1,4 0,4
Sc ppm 1,4 1,9
U ppm 1,16 2,69
Be ppm 0,49 0,61
Nb ppm 0,27 0,34
Hf ppm 0,23 0,36
Cs ppm 0,22 0,22
Ge ppm 0,1 0,25
Tl ppm 0,1 0,11
Cd ppm 0,09 0,04
Bi ppm 0,07 0,11
Sb ppm 0,06 0,05
Ag ppm 0,05 0,07
Au ppm 0,01 0,02
In ppm 0,01 0,011
Te ppm 0,01 0,02
B ppm <10 <10
Se ppm <0,2 <,.2
Au ppm <0,02 <0,02
57

Amostra AC Amostra DC
Elemento Unidade
Teor Teor
Hg ppm <0,01 0,01
Ta ppm <0,01 <0,01
Re ppm <0,001 0,001
Fe % 0,91 1,2
Al % 0,37 0,39
K % 0,13 0,13
Mg % 0,13 0,12
Ca % 0,09 0,09
Ti % 0,04 0,052
Na % 0,02 0,01
S % 0,01 0,01

ANEXO C – Composição química da crosta média em ppm (g/t) (Ridley, 2013)

Elemento ppm Elemento ppm Elemento ppm


O 464000 La 30 Ge 2
Si 281500 Nd 28 Ho 1
Al 82300 Co 25 Eu 1
Fe 56300 Sc 22 Tb 0,9
Ca 41500 Nd 20 Tl 0,5
Na 23600 Li 20 Lu 0,5
Mg 23300 Nb 20 I 0,5
K 20900 Ga 15 Tm 0,5
Ti 5700 Pb 13 Sb 0,2
H 1400 B 10 Bi 0,2
P 1050 Th 10 Cd 0,2
Mn 950 Pr 8 In 0,1
F 625 Sm 6 Hg 0,08
Ba 425 Gd 5 Ag 0,07
Sr 375 Dy 3 Se 0,05
S 260 Hf 3 Ar 0,01
C 200 Cs 3 Pd 0,005
Zr 165 Yb 3 Pt 0,004
V 135 Er 3 Au 0,003
Ck 130 Br 3 He 0,002
Cr 100 U 3 Te 0,001
Rb 90 Be 3 Rh 0,001
Ni 75 As 2 Re 0,001
Zn 70 Sn 2 Ir 0,001
Ce 60 Ta 2 Os 0,001
Cu 55 W 2 Ru 0,001
Y 33 Mo 2
58

ANEXO D – Concentração média de metais na crosta superior (Ridley, 2013)

Metal Concentração média na crosta superior


Al 8%
Fe 5%
Ti 5700 ppm
Mn 950 ppm
Cr 100 ppm
Li 20 ppm
U 3 ppm
Sn 2 ppm
W 1,5 ppm
Ni 75 ppm
Zn 70 ppm
Cu 55 ppm
Pb 12 ppm
Mo 1,5 ppm
Ag 0,1 ppm
Hg 0,1 ppm
Au 0,004 ppm
Pt 0,002 ppm

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