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INTRODUÇÃO
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 96-108, ago. 2014
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[...] a mídia é/está presente na vida contemporânea dos sujeitos e inegavelmente os discursos
diários apresentados pelo universo midiático são a principal base informativa/formativa das pes-
soas na sociedade. Principalmente no que diz respeito ao universo esportivo, é a partir da mídia
que hoje a maioria dos sujeitos se relaciona com alguns tipos de práticas esportivas mesmo sem
praticá-las (SANTOS; MEZZAROBA, 2011, p. 12).
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Apesar de o atletismo ser considerado esporte base para várias outras moda-
lidades, de fácil aprendizagem e possível de ser ensinado em espaços físicos adapta-
dos e com materiais alternativos, quando abordado nas escolas, tem sido introdu-
zido de forma precária (MATTHIESEN, 2005; COICEIRO, 2005). Segundo Kirsch e
Koch (1984), no que concerne à prática dessa modalidade, uma minoria de escolas
consegue oferecer a seus alunos a mínima infraestrutura necessária para a realização
das provas de pista (corridas) e de campo (saltos, arremesso e lançamentos). Gran-
de parte das escolas (notadamente as públicas) dispõe de quadras, que, geralmente,
possuem dimensões reduzidas e limitantes para o ensino do esporte. Dimensões
estas que não são adequadas para as necessidades do atletismo, o que talvez seja,
em primeira análise, um dos fatores explicativos para sua pouca ministração.
Independentemente da estrutura disponível, seria ideal que o atletismo fosse
ensinado nas escolas, de acordo com as possibilidades espaciais, cercado pelos cui-
dados com segurança, adaptação de materiais, em um clima livre de pressões, res-
peitando o limite subjetivo de cada aprendiz, ou seja, mais centrado em seus ele-
mentos básicos (correr, saltar e arremessar/lançar), sem preocupar-se com questões
de rendimento, como é destacado pela mídia. Sugere-se que seja ensinado por meio
de práticas pedagógicas construídas por formas lúdicas, composto por atividades
diversificadas, como jogos e brincadeiras envoltas por um contexto de possibilidades
de sucesso e prazer (MARIANO, 2012; OLIVEIRA, 2006).
Nessa direção, o presente estudo justifica-se pela necessidade de averiguar a
presença do atletismo nas aulas de Educação Física e de provocar uma discussão
sobre em que condições, e sob qual mobilização os professores devem e podem
ensinar o atletismo na escola. Sabe-se que o ambiente escolar é o local onde se
manifesta o fenômeno da prática esportiva, no qual a grande massa popular possui
a oportunidade de conhecer melhor o atletismo e praticá-lo. Cabe, a priori, ao
professor oportunizar a aprendizagem desse conteúdo, pois a interação entre a
teoria e a prática das diversas habilidades motoras e físicas proporcionadas por
esse esporte pode ser introduzida e realizada na escola (MARIANO, 2012; MAT-
THIESEN, 2009; OLIVEIRA, 2006; MATTHIESEN, 2005; COICEIRO, 2005; CALVO
et al., 2003).
Esta pesquisa visou contribuir para reflexões sobre a necessidade de uma in-
clusão mais sistemática do atletismo nas aulas de Educação Física, uma vez que
estudos recentes, como Coceiro (2005), Matthiesen (2009), Mariano (2012) apon-
tam a existência de importantes recursos e estratégias pedagógicas para ensiná-lo,
por meio dos jogos pré-desportivos e utilização de materiais adaptados. É válido
registrar que Abreu e Mazetto (apud TACCA, 2006, p. 47) entendem estratégias
pedagógicas como “[...] meios que o professor utiliza na sala de aula para facilitar a
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aprendizagem dos alunos, ou seja, para conduzi-los em direção aos objetivos da-
quela aula, daquele conjunto de aulas ou daquele curso”. De modo geral, apesar de
todos os impasses e justificativas contrárias, constata-se, conjuntamente com outras
pesquisas, que é possível ensinar o atletismo na escola (OLIVEIRA, 2006; FAGA-
NELLO; MATTHIESEN, 2007).
Com base nesse contexto, o presente estudo definiu a seguinte questão nor-
teadora: como professores de Educação Física, de escolas públicas, de Belo Hori-
zonte, inserem o conteúdo atletismo nos planos de ensino e quais são as estratégias
pedagógicas desenvolvidas para a aprendizagem da modalidade? Tendo em vista as
possibilidades de ensinar o atletismo na escola, bem como as diferentes formas de
abordá-lo na Educação Física escolar, o objetivo central foi verificar se os professores
de Educação Física de escolas Estaduais da Região Noroeste de Belo Horizonte/MG
inserem o atletismo nas aulas de Educação Física, e analisar quais os conteúdos, a
saber: correr, saltar e arremessar\lançar, estão presentes nessas aulas. Por fim, re-
fletir sobre os fatores condicionantes de tais situações.
MÉTODO DE PESQUISA
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ANÁLISES DE RESULTADOS
[...] deve ter em seu roteiro de construção a sua identificação (ou cabeçalho) e conter os ele-
mentos básicos referentes à realidade sobre a qual se realizou o planejamento: nome da institui-
ção, nome do professor, disciplina, série, data e duração (BARBOSA, 2010, p. 61-62).
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Outros seis (24%) disseram que seus planejamentos eram feitos apenas na
“cabeça”, no campo das ideias, na intuição, “bom, sei de tudo que vou realizar du-
rante a semana, não tenho o plano de ensino aqui comigo, porque tenho costume
de deixá-lo em casa” (Entrevistado 16). “Faço as anotações depois que dou aula,
pois, sabe como é, a gente pensa em algo e, muitas vezes, somos ‘limitados’ pelas
condições materiais, mas não estou com elas aqui” (Entrevistado 21). O Entrevis-
tado 14 afirmou: “apesar de possuir diário, não faço os registros diariamente porque
sempre mudo os conteúdos. Aqui é complicado porque a quadra não é coberta,
assim, quando o sol esquenta de mais e quando chove preciso trocar o que planejei.
Então para não rasurar, anoto depois”.
Um deles relatou que os planos de ensino solicitados pela Direção da escola
eram apenas semanais e, por isso, não precisava tê-los descritos, uma vez que já
sabia o que iria ensinar aos seus alunos “semana tal era recreação e a cada semana
era uma brincadeira diferente” (Entrevistado 8). Após os relatos, percebeu-se que
apesar de ser pertinente a elaboração do plano de ensino, os entrevistados sentiam-se
confortáveis por não apresentá-los.
Por meio do questionário, apurou-se que: 18 (72%) dos professores não minis-
travam o atletismo durante as aulas de Educação Física, ao passo que 7 (28%) minis-
travam; entre eles, os entrevistados 8, 16, 17, 19, 21, 23 e 25. Apesar de a minoria de
professores (7 docentes) relatarem que ensinam o atletismo nas aulas, esses afirmam
que o conteúdo faz parte constante de seus planejamentos e desenvolvem a moda-
lidade por meio de jogos e brincadeiras como: corridas, pega-pega, estafetas e tiro
ao alvo, envolvendo as habilidades motoras básicas de marchar, correr, saltar, lançar
e arremessar.
Segundo Oliveira (2006, p. 10), “os alunos podem experimentar a modalidade
de atletismo através de jogos e brincadeiras” por meio de movimentos corporais
que fazem parte de suas atividades cotidianas, sendo esse recurso importante aliado
nos processos pedagógicos da modalidade. De acordo com o Entrevistado 23, “os
alunos podem aproveitar as brincadeiras para o conhecimento e aprendizagem da
modalidade esportiva durante as aulas de Educação Física”. O Entrevistado 21 enfa-
tizou que “quando propõe atividade de tiro ao alvo para os alunos do 9º ano, der-
rubando garrafas pet”, está ministrando a prova de arremesso do atletismo. Dessa
forma, ele avalia que o atletismo está presente em suas aulas. Além disso, segundo
o Entrevistado 17, “no Ensino Fundamental anos finais, atividades, como estafetas,
são um ótimo recurso para trabalhar provas de velocidade e resistência no atletismo”.
Dessa forma, “o Atletismo jogado e brincado aproxima-se da atividade cultural da
criança, o que torna a aprendizagem mais significativa, relacionando o movimento
com a realidade concreta vivida”, tornando-o mais interessante e prazeroso para
aprender (MARIANO, 2012, p. 39).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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Contato Tramitação
Flávia Temponi Góes Recebido em 26 de fevereiro de 2012
E-mail: flaviatemponi@hotmail.com Aceito em 24 de julho de 2013
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