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Diagnóstico dos serviços de


abastecimento de água do município
de Tucurui-Pa e proposições de
melhorias

Lucas Rodrigues do Nascimento


UFPA

Vanessa Conceição dos Santos


UFPA

Lucas Nunes Franco


UFPA

Davi Edson Sales e Souza


UFPA

Carlos Eduardo Aguiar de Souza Costa


UFPA

Mayke Feitosa Progênio


UFPA

10.37885/210705533
RESUMO

Os serviços de abastecimento de água para abastecimento público compreendem vários


problemas, sejam no Brasil ou no mundo. A oferta de água é fundamental para atender
demandas da população, sendo um dos principais serviços de infraestrutura de um
município. A prestação desse serviço de forma inadequada pode ocasionar fatores pre-
judiciais para áreas como, saúde, economia e meio ambiente. Para análise da situação
desse serviço, existem atualmente cerca de 254 indicadores que auxiliam gestores na
tomada de decisões. Dentre eles, podem-se destacar os índices de perdas, atendimento
à população e consumo per capita como mais utilizados, devido sua praticidade à gestão
pública. O estudo traz uma avaliação da oferta de abastecimento público de água no mu-
nicípio de Tucuruí- PA, a fim de criar subsídios técnicos para propor melhorias ao sistema.
Foram utilizados dados disponibilizados pelo SNIS, COSANPA, IBGE, SIIS, Autarquia
Nossa água, além de visitas in loco ao sistema. Os indicadores selecionados para reali-
zação da pesquisa foram: Internações por doenças de veiculação hídrica, Atendimento
para população, consumo e produção per capita, perdas na distribuição e despesas com
energia elétrica, produção do m³ de água e volume de água perdido. O município obtém
resultados satisfatórios, atende cerca de 90% da população, apresenta consumo per
capita de 207,28 Litros/hab. dia. Os índices de perda de água foram altos, apresentando
cerca de 43%. Constatou-se necessidade de melhorias, quanto a continuidade do abaste-
cimento, redução de despesas com energia elétrica e qualidade da água disponibilizada.

Palavras-chave: Abastecimento Público, Indicadores de SAA, Consumo per Capita.

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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade - Volume 2
INTRODUÇÃO

Os sistemas de abastecimento de água (SAA) têm grande importância em atender a


demanda da população e contribuir para o desenvolvimento econômico. Essa técnica veio
sendo aprimorada há bastante tempo até chegar aos modelos conhecidos atualmente, estes,
propiciam conforto e segurança na distribuição de água. Tornando possível a garantia de um
direito determinado por Lei no Brasil, previsto na Lei 9.433/97 Art. 2° I que visa: “assegurar à
atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
adequados aos respectivos usos”.
Os SAA do Brasil, segundo estudos do Trata Brasil (2018), atendem cerca de 83,3%
dos brasileiros com água tratada. Apesar de um alto índice de atendimento, esse percentual
torna-se preocupante, haja vista que cerca de aproximadamente 35 milhões de brasileiros
ainda estão fora desse atendimento e, além disso, tendo como princípio que a disponibili-
dade desse recurso em quantidade e qualidade são condições básicas para a existência
da vida. De acordo com o SNIS (2016), a realidade no estado do Pará é ainda mais preo-
cupante, cerca de 43,47% da população total é atendida com abastecimento público de
água. Ao analisar-se a disponibilidade hídrica na região Norte é contraditório ver menos da
metade da população total paraense sendo atendida. A condição da infraestrutura também
está diretamente ligada a qualidade de oferta do serviço. Martins et al (2012) relatam que
poucos municípios desenvolveram suas atividades ligadas a estruturação correta dos sis-
temas de saneamento, o que pode explicar um déficit natural nas infraestruturas sanitárias
e, consequentemente, riscos à população.
A oferta de água bem como suas condições de potabilidade está diretamente ligada
a fatores de saúde e economia. Organização Mundial de Saúde (OMS) em parceria com o
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), fizeram um levantamento global em
2017 e informaram que o número de pessoas sem acesso a água potável em suas residências
é de 2,1 bilhões. Situações como essas influenciam diretamente no aumento das doenças
de veiculação hídrica por consumo de água sem procedência conhecida, além de diminuir o
índice de desenvolvimento humano (IDH). Estima-se que para cada R$ 1,00 investido pelo
governo brasileiro em água e saneamento, o sistema de saúde economiza R$ 9,00 no tra-
tamento de doenças causadas pela ausência de tratamento de água e esgoto. Essa análise
deixa clara a necessidade de investimentos para a adequada disponibilização dos serviços
de abastecimento de água e saneamento para a população, tal fator além de melhorar a
qualidade de vida em sociedade, pode contribuir para a diminuição de gastos para o governo.
Com base em todas as informações expostas e ressaltando a importância das aná-
lises dos indicadores nos SAA, visando seu perfeito funcionamento em disponibilidade e
qualidade do recurso, este trabalho traz a proposta para realização de um diagnóstico dos
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serviços de abastecimentos de água do município de Tucuruí no estado do Pará, com o
intuito de criar subsídios técnicos para a melhor gestão do abastecimento de água disponi-
bilizada a população.

MÉTODO

Caracterização da Área

O presente estudo foi realizado no município de Tucuruí localizado no sudoeste pa-


raense (Figura 1), situado a 39 metros de altitude, tendo suas coordenadas geográficas em:
Latitude: 3° 46’ 10’’ Sul, Longitude: 49° 40’ 27’’ Oeste. O município abrange área de 2.086,2
km², com cerca de 110 habitantes, ordenados em 41 bairros (IBGE, 2018). A cidade se loca-
liza as margens do lago artificial causado pela construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí
(UHET). Por ser uma região próxima a linha do equador e região amazônica, apresenta
clima úmido tropical. Possuí abundância nos recursos hídricos, como os igarapés Santos e
Santana que cortam a área urbana e possibilitam abastecimento de água.

Figura 1. Mapa de Localização, município de Tucuruí-PA.

Fonte: Autores (2019).

Coleta de Dados e Pesquisa Documental

Para desenvolvimento da pesquisa, foi realizado um levantamento de informações


de dados baseados em fontes como: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS), Sistema de Informações
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de Indicadores Sociais do Estado do Pará (SIIS), Companhia de Saneamento do Pará
(COSANPA) e Prefeitura municipal de Tucuruí, representada pela Autarquia Municipal de
Água e Esgoto Nossa Água. Além das fontes utilizadas, foi realizado o estudo em campo
nas estações elevatórias existentes no município, a fim de comprovar e conhecer o funcio-
namento real das mesmas. Para a levantamento da pesquisa documental, obteve-se dados
junto à Autarquia municipal, a fim de organizar informações para compreensão do processo
de funcionamento e administração das estações elevatórias do município.

Pesquisa de Campo

Foram realizadas visitas nas estações de abastecimento de água do município, tendo


como objetivo efetuar o registro fotográfico, observação direta analisando os padrões de
funcionamento, descrição direta do sistema e levantamento de informações dispostas pelos
técnicos responsáveis. O abastecimento do município, com exceção da Vila Residencial da
Eletronorte, é realizado por três estações elevatórias, todas de responsabilidade da prefeitura
municipal de Tucuruí. A Figura 2 mostra a localização de cada setor de captação e elevação
de água existente na cidade.

Figura 2. Localização das estações elevatórias, Tucuruí-PA.

Fonte: Autores (2019).

O Setor 01 é a estação Sítio Deus é Grande, localizada na BR/422 – Km 68, que realiza
o abastecimento de 13 bairros completos e 2 bairros intercalados com o setor 04. A captação
ocorre no igarapé Goés, nesse setor é realizado apenas a adução de água bruta, sendo
encaminhada diretamente para a rede de distribuição. A vazão estimada recalcada por essa
elevatória é de 500m³/h. O Setor 03 é a estação Santa Mônica, que realiza o abastecimento
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de 1 bairro do município. A mesma coleta água do igarapé Santana e aduz até uma estação
de tratamento. Essa estação realiza o processo de filtração, floculação, decantação e clora-
ção, para assim encaminhar a água para a rede de distribuição do bairro. A vazão estimada
recalcada por essa elevatória é de 300m³/h. O Setor 04 é a estação Km 4, que realiza o
abastecimento de 25 bairros completos, 2 intercalados com o Setor 01, 1 loteamento e 1 vila
rural. A captação ocorre no igarapé Santos e aduz para uma estação de tratamento de água
a alguns metros acima da elevatória. O sistema de tratamento realiza o processo de filtração,
floculação, decantação e cloração, para posterior envio a rede distribuição de abastecimento
de água. A vazão estimada recalcada por essa elevatória é de 1000m³/h (dados obtidos em
forma física diretamente com Autarquia Municipal de Água e Esgoto - Nossa Água, 2018).

Indicadores do sistema de Abastecimento de água

Para realização dos cálculos que viessem representar a atual situação do sistema, foi
feita uma análise nos dados de informações obtidos, logo, foi possível levantar um diagnóstico
do período de 2010 à 2016 de Tucuruí, além disso, foi feito um comparativo com resultados
do estado do Pará. Os dados foram dispostos e organizados em formas de gráficos para
melhor interpretação. As equações utilizadas foram determinadas, conforme o manual de
diagnóstico dos serviços de Água e Esgoto do SNIS, mediante as últimas atualizações pu-
blicadas em 2016. Os dados analisados foram: Volume de Água Produzido (VAP); Volume
de Água Consumido (VAC); População Atendida com Abastecimento (PAA); População
Urbana Abastecida (PUA), População Urbana Total (PUT), População Total (PT), número
de economias, despesas e indicadores sobre saúde.
Os índices de atendimento à população serão calculados para o município de Tucuruí
e para o estado do Pará através da Equação 01. Mostrando a situação do município com
relação ao percentual da população atendida e comparando com informações com o índice
de abastecimento de água do estado.

Equação 01

Onde:
PAA: População Atendida com Abastecimento
PT: População Total
Para a realização do cálculo de consumo per capita faz-se necessário determinar a
População com Acesso à Rede, esse parâmetro foi estimado por informações do SNIS. O nú-
mero de economias residenciais ativas de água foi disponibilizado pela Autarquia Municipal
de água e esgoto Nossa Água.
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Equação 02

Onde:
PAR: População com Acesso a Rede
VAC: Volume de Água Consumido
Para determinar-se a produção per capita de água, serão utilizados os dados re-
ferentes ao volume de água produzidos pelas estações (VAP), sobre a população com
acesso à rede (PAR).

Equação 03

Onde:
PAR: População com Acesso a Rede
VAP: Volume de Água Produzido
Para a determinação das perdas nos sistemas de abastecimento do município, foram
levados em consideração os fatores: o volume de água consumido (VAC) e o volume de
água perdido na distribuição (VAPE).

Equação 04

Equação 05

Onde:
IPDE: Índice de Perdas na Distribuição
VAC: Volume de Água Consumido
VAP: Volume de Água Produzido
Com o valor de VAC (Volume de água produzido) é possível determinar o volume de
água perdido no sistema através da equação 6.

Equação 06

Onde:
VAC: Volume de Água Consumido
VAP: Volume de Água Produzido
VAPE: Volume de Água Perdido na distribuição
Para análise e comparação de dados sobre o VAPE, foi utilizada a Tabela 8, confor-
me estimado por Carlos Alberto Rosito (Saint Gobain Canalização LTDA) e publicada em
resumo pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES) em 2013.

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Tabela 1.Estimativas de ganhos brutos com redução de perdas de água.
Perdas
Cenários Perdas (2009) Redução (%) Ganhos Potencial (R$ Bilhões)
(2025)
Cenário 1 - Otimista 37,4% 18,7% 50% 37,27
Cenário 2 - Base 37,4% 23,2% 38% 29,93
Cenário 3 - Conservador 37,4% 27,9% 25% 20,91
Fonte: Adaptado de apresentação de Carlos Rosito no âmbito do Grupo de Economia da Infraestrutura & Soluções Ambientais apud
ABES (2013).

A fim de avaliar a sustentabilidade econômica do sistema de abastecimento de água e


determinar os custos gerados à prefeitura, foi realizada uma análise sobre algumas informa-
ções inseridas na plataforma do SNIS com relação as despesas e custos para a produção
de água no município, os fatores levados em consideração foram: despesas com energia
elétrica, custo para produção do m³ de água (CPM), custo para o volume de agua perdido
na distribuição (CVAPE).
Para a determinação do CPM foram levadas em consideração informações como:
despesas totais com serviços (DTS) (despesas com pessoal próprio, despesas com pro-
dutos químicos, despesas com energia elétrica, despesas com serviços de terceiros) e o
(VAP). Mediante a análise determinou-se o custo para produção do m³ de água (CPM), e
logo após o custo para o volume de água perdido (CVAPE), conforme as equações 7 e 8,
respectivamente.

Equação 07

Onde:
CPM: Custo para Produção do m³ de água
DTS: Despesas Totais com Serviços
VAP: Volume de Água Produzido

Equação 08

Onde:
CPM: Custo para Produção do m³ de água
CVAPE: Custo para o Volume de Água Perdido
VAPE: Volume de Água Perdido na distribuição

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise do sistema de abastecimento Municipal

A pesquisa documental juntamente com a coleta de dados possibilitaram a identificação


e avaliação de particularidades do sistema de abastecimento de água do município. Em rela-
ção a estrutura de atendimento para recepcionar as reclamações e solicitações de serviços
realizados pela população, a Autarquia responsável por esses processos, informou que não
disponibiliza de um sistema de ouvidoria, mas recepciona todas as reclamações e solicitações
em seu escritório, durante o horário comercial, com uma frequência semanal (não informada
a quantidade) de requisições. Dentre as principais reclamações, apesar do grande volume
de água produzido, destaca-se a descontinuidade no abastecimento à população, ocasio-
nando transtorno, devido aos horários de atendimento que, por vezes, ocorre apenas pelo
período da madrugada em alguns bairros. Para atendimento às reclamações, a Autarquia
emite ordens de serviços, estas são repassadas a equipe de campo responsável pela ma-
nutenção do sistema de abastecimento, após a conclusão do processo, essas informações
são arquivadas em sistema documental da própria Autarquia.

Indicadores de doenças de veiculação hídrica nos SAA do município

Para avaliação de indicadores de saúde foram selecionados indicadores como número


de notificações de diarreias agudas, assim como casos de internações por doenças infec-
ciosas e parasitárias. E apesar de não ter sido realizada a análise dos índices de qualidade
da água (IQA) neste estudo, é notório a necessidade de melhorias nos sistemas de abaste-
cimento do município, com referência a esse fator. De acordo com o SIIS (2010) houveram
217 internações por doenças infecciosas e parasitárias no município, sendo responsável
pela terceira maior causa de morbidade. Por meio do Ministério da Saúde (2018) é possível
verificar o número de notificações por doença diarreica aguda dos municípios. A Figura 3
mostra o número de casos de notificações por diarreia aguda de Tucuruí e estado.

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Figura 3. Índices de atendimento com abastecimento de água.

Fonte: Autores (2019).

Vale ressaltar ainda que, o Setor 01 Sítio Deus é grande, realiza apenas a distribuição
de água bruta, sem qualquer tratamento prévio, não estando assim em conformidade com
o que estabelece a Portaria de Consolidação Nº 5 do MS, Anexo XX (2017), com referência
a água destinada ao consumo humano. De acordo com Uhr et al. (2016) o acesso a água
de qualidade é importante na redução de casos de diarreia, além disso, o simples acesso
a água canalizada tem um grande papel na promoção de higiene pessoal, ocasionando
avanços na saúde pública.
Um estudo realizado na cidade de Canindé no sertão central do Ceará (JOVENTINO
et al. 2010), comprovou algumas medidas preventivas de saúde com referência a doenças
infecciosas parasitárias. A pesquisa mostra que 93% das formas de abastecimento alter-
nativas apresentaram coliformes fecais acima do padrão permitido, provocando relato de
internação por doenças infecciosas parasitárias em 43,3% dos entrevistados. O estudo apre-
sentou como medida mitigatória a implantação de cisternas, juntamente com o tratamento
da água coletada para a eventual distribuição para consumo dos entrevistados, com isso o
percentual inicial de internações, caiu para 17,37%.

Diagnóstico dos Índices de Atendimento com abastecimento de água à população

A Figura 4 mostra a análise entre o atendimento do município de Tucuruí e do estado,


com referência ao abastecimento de água durante os anos de 2010 a 2016. Os cálculos
realizados para a obtenção do Gráfico abaixo, foram feitos conforme a Equação 1.

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Figura 4. Índices de atendimento com abastecimento de água.

Fonte: Autores (2019).

Pode-se observar que apesar de um decréscimo de 5,2% do abastecimento entre 2010


e 2016 no município de Tucuruí, o mesmo apresentou ainda no ano de 2016 o percentual
53,15% superior ao atendimento do estado. A cobertura de atendimento no município apre-
sentara valores satisfatórios com cerca de 90% da população urbana atendida, ao se com-
parar esse percentual, segundo o Instituto Trata Brasil (2018), apenas 83,3% dos brasileiros
possuem esse atendimento, na região norte esse índice cai para 55,37% e para o estado
do Pará, apenas 36,85% da população é atendida.
Apesar do percentual de atendimento ser considerado satisfatório, chegando próximo
ao da melhor região do país nesse quesito, a sudeste com 91,24% (SNIS 2016), vale a pena
ressaltar que para esse indicador não se leva em consideração, por exemplo, padrões de
potabilidade e a distribuição contínua do abastecimento, que tem sido alguns dos problemas
enfrentados pela Autarquia Municipal.

Diagnóstico do Consumo e Produção Per Capta

A Figura 5 mostra uma comparação entre a produção e o consumo per capta do muni-
cípio durante o período de 2010 a 2016, estes resultados foram obtidos pelos cálculos rea-
lizados conforme as equações 2 e 3, baseados nas informações disponibilizadas pelo SNIS.

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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade - Volume 2
Figura 5. Produção e Consumo per capta.

Fonte: Autores (2019).

Analisando o último ano disponibilizado pelo SNIS o consumo per capita de Tucuruí
é de 207,28 Litros/hab.dia e sua produção per capita de 362,31 Litros/hab.dia. O valor de
produção excede 155 Litros/hab.dia a mais que o consumo da população. Vale lembrar que a
Autarquia apresenta problemas quanto a continuidade de distribuição, dando interpretação a
excessivas perdas de água até chegar ao usuário. Os resultados obtidos foram satisfatórios
em relação ao previsto pela OMS (2018) de 110 Litros/hab.dia, sendo superior em torno de
97,38 Litros/hab.dia ao determinado pela organização, porém ficou abaixo do previsto de
250 Litros/ hab.dia pela FUNASA (2007), cerca de 42,72 litros a menos.

Diagnóstico das Perdas no sistema de abastecimento de água

A Figura 6 mostra os resultados para o município com relação ao volume de água


perdido e o seu percentual de representatividade.

Figura 6. Volume de água perdido nos SAA, Tucuruí-PA.

Fonte: Autores (2019).

No ano de 2016 o município produziu 12.960.000m³ de água e deste valor, por meio
da Equação 6, foi estimado um percentual de volume perdido de aproximadamente 43% do
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total produzido nos processos dos sistemas de abastecimento de água do município, essa
parcela resultou, de acordo com a Equação 8, em um prejuízo de R$ 1.797.141,83.
De acordo com o Instituto Trata Brasil (2018) as perdas são parâmetros para avaliação da
eficiência dos sistemas de abastecimento de água, através deles são possíveis identificações
de melhorias/ manutenção no sistema, planejamento e atividades operacionais.
Ainda de acordo com o Instituto, não há possibilidade de não haver perdas na distri-
buição de água, defendendo que há um limite quanto a redução das perdas que são tecni-
camente e economicamente viáveis.
Embora as perdas possam ser naturais do sistema, o índice de perda de água estimado
para o município ficou acima do que seria considerado um cenário conservador (27,9%) para
perdas de água em SAA conforme a Tabela 3, esse fator proporcionaria ao município a meta
de redução de perdas em um percentual de 15,1% até 2025, para atingir a perspectiva mais
baixa aferida pela análise, que seria o cenário conservador para perdas de água em SAA.

Despesas com energia elétrica

A Figura 7 mostra uma relação entre as despesas com energia elétrica nos sistemas
de abastecimento de água do município de Tucuruí, com uma média ponderada das des-
pesas representadas para o estado do Pará com dados disponibilizados pelo SNIS, no
período de 2013 a 2016.

Figura 7. Despesas com energia elétrica.

Fonte: SNIS (2016).

No ano de 2016 as despesas com energia elétrica informadas para Tucuruí represen-
taram 44,82% das despesas totais com serviços de abastecimento de água, com um custo
para o município de R$ 1.882.480,80. O município apresentou resultados preocupantes
nesse quesito, ficando 76,95% acima da média do estado quanto a esse tipo de despe-
sa. As despesas com energia elétrica tiveram um aumento significativo no percentual dos
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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade - Volume 2
resultados para as despesas totais. Analisando os valores de 2013 a 2016, esse percentual
aumentou 128,11% nesse período de 4 anos, o que acarretou em um acréscimo de custo
de R$ 1.057,238,80 aos cofres do município. Esse aumento pode ser parcialmente justifi-
cado, levando em consideração o crescimento populacional ocorrido no município com o
surgimento de novos loteamentos, invasões e aumento populacional em alguns bairros que
acarretaram em um déficit ao abastecimento, pois as estações necessitam abastecer um
maior contingente populacional com a mesma capacidade de produção.
Segundo informações disponibilizadas pela Autarquia Municipal, as estações trabalham
24 horas por dia para atender de forma intercalada os bairros do município, o que inviabiliza,
por exemplo, a aplicação de estratégias para otimização da eficiência energética tais como
readequação da bandeira tarifária em horário de ponta e fora de ponta e que, consequente-
mente, poderiam acarretar na amenização de custos. Para suprir a demanda populacional, foi
firmado um convênio de cooperação mutua entre a Eletronorte e o Município, com o objetivo
de implementar uma nova estação elevatória localizada na Vila Residencial Permanente,
juntamente com as adutoras e a construção de uma estação de tratamento de água de
água para complementar esse processo, porém essas construções se encontram em fase
de acabamento, com perspectiva de conclusão para os próximos anos.

Custos para produção do m³ de água

A Figura 8 mostra a relação entre os custos para produção do m³ de água nos sistemas
de abastecimento do município de Tucuruí, com uma média ponderada dos custos para o
estado do Pará, no período de 2010 a 2016. O Gráfico foi obtido por meio da Equação 7.

Figura 8. Custos para a produção do m³ de água.

Fonte: Autores (2019).

O Gráfico apresentou resultados bastante satisfatórios para o município com relação


ao estado do Pará. No ano de 2016, o custo para a produção do m³ de água do município
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ficou 84,83% mais barato que a média do estado, esse valor representou uma economia
na produção de aproximadamente R$ 2 milhões por ano, se comparado a média estima-
da para o estado.
Um estudo realizado em um ponto de captação da Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (SABESP), por Mierzwa et al. (2008), analisou a viabilidade eco-
nômica para produção do m³ de água, comparando sistemas com tratamento convencional,
tratamento convencional com carvão ativado e sistemas de ultrafiltração. Os resultados com
custos foram respectivamente: R$ 0,63/m3, R$ 1,24/m3 e R$ 1,15/m3, para um período
de retorno de 1 ano. Os resultados de Tucuruí com relação a esse quesito de despesa,
apresentaram-se dentro do esperado, obtendo-se custos até mais baratos se compara-
dos as despesas do estado e ao estudo mencionado. Porém apesar dos bons resultados
é perceptível o aumento dos custos para produção de água do município, podendo esse
fator estar diretamente associado as causas que levaram ao aumento das despesas com
energia elétrica.

Custos para o volume de água perdido

Para análise de gastos com perdas físicas do sistema, foram determinados os custos
para o volume de água perdido através da Equação 8 no período de 2013 a 2016 para o
estado e município, representados na Figura 9.

Figura 9. Custos para o volume de água perdido.

Fonte: Autores (2019).

Os resultados encontrados para o município, apesar do aumento contínuo, apresenta-


ram valores abaixo da média do estado. Em 2016 o município ficou aproximadamente 34%
abaixo dos custos com volumes de água perdidos, se comparado a média do Pará. Apesar
dos resultados obtidos apresentarem perspectivas melhores que a do estado, é notável que
estes custos precisam passar por um processo de adequação. Da primeira referência de aná-
lise (2013) a última (2016) abordada no Gráfico para o município, ocorreu um aumento para
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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade - Volume 2
o volume perdido de 18%, representando em custos a perda de aproximadamente R$ 324
mil, valor bastante significativo em um intervalo curto de análise.
Vale ressaltar que esses custos foram estimados mediante ao índice de perdas do
estado e aplicados ao município. Portanto, a ideia é viabilizar o entendimento através de
uma realidade da região, para a necessidade de otimização de gastos objetivando atrelar
desempenho operacional e econômico com a diminuição das perdas de água nos sistemas,
que foram comprovadas através de estudos de campo, e consequentemente das despesas
para produção do volume perdido. Para tornar possível as melhorias nas perspectivas dos
custos para volumes de água perdidos para o município, seria necessário a implementação
de novos equipamentos de medição, operação e demais estruturas de controle, haja vista
inexistência de alguns equipamentos necessários e as condições dos sistemas existentes
encontrarem-se comprometidas devido à sobrecarga operacional para compensar o aten-
dimento à população.

CONCLUSÃO

Apesar dos indicadores estudados para o município não compreenderem uma totalidade
com referência a excelência da análise, foi possível verificar através do diagnóstico como
está a situação atual dos sistemas de abastecimento. Os indicadores de saúde apontaram
para a necessidade de melhorias nos sistemas de abastecimento do município, com relação
ao tratamento e qualidade da água para consumo humano, principalmente no setor 01, pois
este está realizando o abastecimento sem tratamento prévio, o que pode estar comprome-
tendo a saúde da população atendida.
Os índices de atendimento à população estão dentro do esperado, porém a descontinui-
dade do abastecimento tem ocasionado preocupações, mediante a esse quesito, espera-se
o término das obras em andamento da estação, localizada na Vila Residencial Permanente,
que irá complementar o abastecimento da cidade, visando melhorias consideráveis ao aten-
dimento da população. O consumo per capta proporcionou um resultado mediano com cerca
de 207 Litros/hab.dia, no ano de 2016, apesar de atender aos padrões mínimos estabelecidos
pela ONU, ainda ficou abaixo do que prevê a FUNASA para estabelecimentos domiciliares, o
que traz ao município a necessidade de melhorias nos sistemas de abastecimento de água
visando otimizar a distribuição para complementação do volume de água requerido para as
atividades diárias da população.
O índice de perdas foi estimado para o município baseado em uma média do estado, a
análise pode não compreender uma realidade total da situação das estações com referência
a esse quesito, porém traz como objetivo ressaltar a importância de um diagnóstico detalha-
do, pautado em aparatos técnicos, visando a implantação de equipamentos de medições e
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Desvendando a Engenharia: sua abrangência e multidisciplinaridade - Volume 2
manutenção nas redes de distribuição, haja vista que através de análises de campo foram
detectadas falhas na composição do sistema.
Com referência as despesas financeiras, as despesas com energia elétrica apontaram
para a necessidade de um novo dimensionamento e complementação de equipamentos,
principalmente com referência ao setor 03, que tem atuado com seus equipamentos 24 horas,
ocasionando a sobrecarga dos conjuntos motor-bomba, para a realização do atendimento
à população, e inviabilizando medidas técnicas para a implementação de estudos sobre efi-
ciência energética em SAA. O custo para a produção do m³ de água apresentou resultados
dentro do esperado e o custo para o volume de água perdido manteve-se abaixo da média
do estado, porém vale ressaltar que estes custos podem ser elevados devido a necessidade
de melhorias no sistema para que a água disponibilizada possa estar em conformidade com
a qualidade e continuidade do abastecimento.
Vale ressaltar que os dados do SNIS podem não compreender uma totalidade dos
resultados obtidos, haja vista as informações disponíveis no site serem fornecidas pelas
próprias companhias de água dos municípios, porém é valido o incentivo e as perspectivas
encontradas neste trabalho, no intuito de aprimorar os SAA de abastecimento do município
através de diagnósticos detalhados, baseados em aparatos técnicos, visando proporcionar
o correto funcionamento das estações e a distribuição de um recurso (água) de qualidade,
conforme as legislações vigentes no país.

REFERÊNCIAS
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