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O homem e o Tempo: quem domina quem?

Hernani Donato

O homem é hóspede da terra há mais de um milhão de anos. Desde o primeiro desses


muitos dias tenta compreender e dominar o tempo. E sofrendo em si, corpo e obras,
os agravos do mesmo tempo.
No final de 1976 alcançou o que supõe ser a maior vitória nesse confronto. Segundo
jornais, a técnica havia superado o mecanismos da natureza. O relógio atômico
atingira correção e uniformidade além da precisão natural. A frequência atômica
pudera flagrar a Terra se atrasando quatro décimos de segundo na viagem anula ao
redor do Sol.
Corrigindo a “atraso”, às 23h50’59”, horário de Greenwich (20h59’em Brasília), os
relógios forma mobilizados por um segundo. Instrumento e natureza sintonizavam-se
num reencontro que o homem buscara centenas de vezes ao largo de milênios.
Para chegar a esse instante os observadores caminharam estrada bem comprida.
Balisada por astros e convenções deles decorrentes: eras, estações, anos, meses,
semanas, dias, horas... O homem querendo dominar, aprisionar o tempo, com sua
inventividade. O tempo assinalando e apagando, ajudando e diluindo os propósitos do
homem. Quem dominou quem?

“Em que consiste o tempo?” perguntou Santo Agostinho nas Cofissões. Tentando
responder, aprofundou a pergunta: “Quem poderia explica-lo de maneira fácil e
breve? Quem poderia formar, mesmo em pensamento, noção suficientemente distinta
do tempo para em seguida traduzi-la em palavras? Todavia existirá em nossas
conversações uma ideia que seja mais familiar e melhor conhecida do que a ideia do
tempo?” “Que é o tempo? Quando ninguém me pergunta, eu o sei: mas quando se
trata de explicá-lo, não o sei mais”.
Os primeiros homens a se preocuparem com o tempo, viam e semtiam a sua
“existência” e sofriam o não poder explica-lo. Amigo? Inimigo? Bom? Mau? Podia
ser tudo isso. Surdo ao medo e aos rogos apagava o sol, extendia anoite, trazia a frio,
o desconforto. Mas depois, infalivelmente, afastava a noite , acendia o sol, propiciava
a alegria do calor, da luz. Não vaia força, poder maior. Aquilo a quem nem mesmo
sabiam dar nome mostrava-se dominador, senhor, deus.
O melhor que o homem conseguiria fazer era estar de bem com esse poder, gozar das
suas graças, obter que as noites, as chuvas, as nevascas, as secas fossem mais curtas,
menos danosas. Um pouco mais a ideia da convivência foi substituída pela do
controle, domínio. Ora dominar é medir, dividir, regulamentar. Em relação ao tempo,
calendarizar, dito com certa liberdade.
Poder tirar conclusões da extensão da sombra projetada pelo gnómom, observar areia
fugindo na ampulheta, ou água escorrendo pela clepsidra significou ultrapassar o
limite do mistério, domar o tempo.
“Mas é exatamente o contrário!” protestam alguns. O tempo é que escraviza o
homem. E a cada passo que este pensa avançar em qualquer atividade, mais se
submete ao rigor daquela submissão.
Imaginemos o que sucederia em nosso viver 1990 se apenas por uma hora fosse
ignorada a trama do tempo, suspensa a sua medição. É um bom exercício.
Imaginação mais ágil não alcança estabelecer os limites do caos então criado.

NOS ASTROS, O COMEÇO DE TUDO


Ainda bem que o Sol voltava, sempre. Depois da treva e do terror noturno, da
tempestade, do frio, ele trazia luz, calor, vida. Marcava a época disto e daquilo. De
forma segura. Interminavelmente.
Ainda bem qua a Lua voltava, sempre. Mesmo se mudada no aspecto com quatro
faces que lhe emprestaram, aos olhos masculinos, natureza dita feminina.
Ainda bem que as estrelas continuavam assinalando direção e períodos, indo,
voltando, propondo questões, animando a imaginação.
O Sol, a Lua, as Estrelas. Na origem da vida, do mundo. O homem do extremo
oriente idealizou o Criador Supremo – P’an Kou, trabalhando dezoito mil anos para
retirar o Sol, a Lua, a Terra do ventre do Caos. Os judaico-cristãos lêem no Gênesis
que “Deus chamou à luz dia, e as trevas noite. E fez-se tarde e manhã”. Disse também
Deus: “Sejam feitos luzeiros no firmamento do céu, e alumien a terra. E Deus fez
dois grandes luzeiros: o luzeiro maior que presidisse ao dia; e o luzeiro menor, que
presidisse a noite; e fez também as estrelas”. Para os islamitas, “Alá criou a Lua e
apontou para as suas casas, para que os homens pudessem conhecer o número dos
anos e a medida do tempo”. No Egito, por mais de 2500 anos a estrela Sotis _ a que
chamamos Sirius _ surgiu no céu para fazer crescerem as águas do Nilo, sinónimo de
húmus, pão, vida assegurada por mais um ano.
Dia = Sol, noite = Lua. Os estudados dirão que “dia solar é o período de determinado
pelas fases alternadas de claridade e escuridão”, as quais resultam do giro da terra em
torno do próprio eixo.

MEDINDO E DIVIDINDO O TEMPO


Essa espécie de religiosidade motivou esquemas. Em decorriencia, administradores
para esse esquema. Intérpretes. Esses foram os astrólogos, os “pedintes de chuva”, os
exorcistas, os nossos amigos os Reis magos, afinadíssimos com as indicações da
estrela do Belém...
Dai que pressentida a necessidade de nominar os dias, os nomes escolhidos fossem
tomados de empréstimos aos deuses que, coincidência (?) rotularam os planetas por
primeiro conhecidos. Já a palavra deus, requer análise. Na antiquíssima forma indo-
européia de que somos herdeiros, ela foi deiwos, resultando deivos, divu, e pela
variante dyeu em dies, dia. Deus = luminosidade = dia. Seria útil e bom para o
homem ganhar asboas graças dos céus invocando um deus a cada novo dia. Eis a
semana inglesa: monday, Lua; tuesday, Tyr, senhor da força guerreira, sinónimo de
Marte; wednesday, lembrando Wotan ou Odin; thurday, divindade ligada ao ceeu e
aos ribombos que este produz; Friday, Friga, Vienus; saturday, Saturno; sunday, o
Sol. Os deuses-planetas, com um ou outro nome estão em muitas e diferenciadas
semanas, antigas e modernas. O mais remoto hindu vivia a seguinte: ãdityava (dia do
Sol), sõmavara, da Lua; mangolavãra, do deus da guerra; budhãra, do deus do
comeercio, budaspativara, do rei dos deuses, Jupiter; sukravãra, de deusa da
formosura; sominvara, de Saturno. E também na semana dos franceses, espanhóis,
italianos: lundi, lunes, lunedi (dia da Lua); mardi, martes, martedi (de Marte);
mercredi, miercoles, mercoledi (de Mercúrio); jeudi, jueves, giovedi (de Jupiter),
vendredi, viernes, venerdi ( de Vênus); samedi, sábado, sabbato (de Saturno).
Verdade que o sábado pode se referir ao shabbath, o repouso santificado judaico,
termo e proposta remontantes ao babilônico shabathu – abstinência, propiciação.

POR QUE SEGUNDA-FEIRA E NÃO LUNEDIA?


Intriga verificar que os idiomas ocidentais, especialmente dos latinos, só no português
os dias da semana deixaram de recordar a Lua e os planetas-deuses. Por que?

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