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Hernani Donato
“Em que consiste o tempo?” perguntou Santo Agostinho nas Cofissões. Tentando
responder, aprofundou a pergunta: “Quem poderia explica-lo de maneira fácil e
breve? Quem poderia formar, mesmo em pensamento, noção suficientemente distinta
do tempo para em seguida traduzi-la em palavras? Todavia existirá em nossas
conversações uma ideia que seja mais familiar e melhor conhecida do que a ideia do
tempo?” “Que é o tempo? Quando ninguém me pergunta, eu o sei: mas quando se
trata de explicá-lo, não o sei mais”.
Os primeiros homens a se preocuparem com o tempo, viam e semtiam a sua
“existência” e sofriam o não poder explica-lo. Amigo? Inimigo? Bom? Mau? Podia
ser tudo isso. Surdo ao medo e aos rogos apagava o sol, extendia anoite, trazia a frio,
o desconforto. Mas depois, infalivelmente, afastava a noite , acendia o sol, propiciava
a alegria do calor, da luz. Não vaia força, poder maior. Aquilo a quem nem mesmo
sabiam dar nome mostrava-se dominador, senhor, deus.
O melhor que o homem conseguiria fazer era estar de bem com esse poder, gozar das
suas graças, obter que as noites, as chuvas, as nevascas, as secas fossem mais curtas,
menos danosas. Um pouco mais a ideia da convivência foi substituída pela do
controle, domínio. Ora dominar é medir, dividir, regulamentar. Em relação ao tempo,
calendarizar, dito com certa liberdade.
Poder tirar conclusões da extensão da sombra projetada pelo gnómom, observar areia
fugindo na ampulheta, ou água escorrendo pela clepsidra significou ultrapassar o
limite do mistério, domar o tempo.
“Mas é exatamente o contrário!” protestam alguns. O tempo é que escraviza o
homem. E a cada passo que este pensa avançar em qualquer atividade, mais se
submete ao rigor daquela submissão.
Imaginemos o que sucederia em nosso viver 1990 se apenas por uma hora fosse
ignorada a trama do tempo, suspensa a sua medição. É um bom exercício.
Imaginação mais ágil não alcança estabelecer os limites do caos então criado.