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po brasil Colonial 205
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cscravidão
pe-ajs, tudo se alastrando pela parte. Revigorou-se no século XIV, c
,1,-in dos navios. Praticamcntc não sobretudo no XV, cm grande parte devido à
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avia médicos a bordo, apesar das disposições expansão ultramarina portuguesa, o que a fez
, Coroa para que cada navio da carreira da mudar de caráter e envergadura. Na legislação
jndo. por exemplo, levasse um médico portuguesa, a escravidão parece ter sido
alificado c um cirurgião com caixa de estimulada desde a autorização de resgate dos
•médios- Na prática, embarcava apenas um negros da Guiné”, feita cm carta do rei Afonso
4 «m cirurgião-barbeiro, como numa frota V, em 1448, que concedia a dízima do •
Je lM 3. que transportava três mil homens em comercio de escravos ao infante D. Henrique, o
quatro navios para a índia. Navegador, como governador das descobertas
Ainda no século XVI, ao contrário do que da Guiné, pelos bons serviços prestados a
.ileuns afirmam, os portugueses perceberam o Portugal. E, de fato, já se utilizava largamente a
valoranticscorbútico de frutas cítricas como escravidão africana no arquipélago da Madeira,
limões e laranjas, e trataram de abastecer as precursor do Brasil na produção do açúcar, com
naus com tais frutas. Mas o quadro geral era base no “resgate” de escravos na costa dÁfrica,
extremamente precário, combinando-se a falta sobretudo os oriundos do Sudão e do golfo da
de assistência médica com o excesso dc Guiné.
população nas naus, falta dc higiene c de A Igreja apoiou a escravidão. Através da bula
alimentação. Verdadeiros “mercados negros” dc papal Dum diversas, de 1452, o papado
medicamentos funcionavam nas viagens mais concedeu aos portugueses o direito de atacar,
longas c há relatos dramáticos sobre disputas conquistar e submeter pagãos c sarracenos,
entre marujos por ratos, que podiam alcançar tomando seus bens e reduzindo-os à escravidão
elevadas cotações nos navios. O escorbuto, perpetua. A bula Romanus pontifex, de 1455,
doença dos mares, exemplifica, com cores ampliou o território de atuação dos
trágicas, a insalubridade da navegação naquela portugueses, incluindo Marrocos c as índias.
época. (RV) Várias outras bulas ratificaram ou ampliaram os
poderes concedidos aos portugueses no sentido
Referências B ibliográfiiras de converter homens à fé católica, escravizá-los

BOXER, Ch. O império colonial português (1969). c comercializa-los. A fonte legal da escravidão
Trad- Lisboa, Edições 70, 1981; FRADA, J. J. L. moderna era o direito romano, mantido durante
a b°r(B ias naus na época moderna. Lisboa, a Idade Media, que fazia distinção tênue entre
Cosrnos’ W; HOLANDA, S. B. de. Visão do escravidão e servidão. Tanto e que a palavra

1959). 3* ed. São Paulo, Cia. Editora latina servi designava tanto os escravos como os
^’ac»onal, 1977. camponeses dependentes das relações feudais
e, mesmo na Época Moderna, escravidão e
servidão eram expressões intercambiáveis em
muitos textos. Mas a Igreja tendeu sempre a
r
tscravidão apoiar a instituição, ainda que desaprovasse as
formas extremadas de apresamento e
escravidn
n x•f condicionasse o cativeiro à cristianização.
desa g^ntc no império romano não
No Brasil, o processo de colonização, imciado
‘^dia CU n° ^c’^cntc durante a Idade
nos anos 1 5 30, foi marcado pelo apresamento
P rnanecendo residualmente cm toda

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206 ^DiCIOnâr|o * •* *•*>
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eutilizo dc índios co.no mao-de-o . inadaptabilidade do índio à escravid'


problema parece ter derivado da^e °
cn[3o chamados dc “negros da terra ou
“negros brasis" — assunto do livro class.co e dos homens, sobretudo entre

Alcrandcr Marchant.D» rs«»d’t« trabalhar nas lavouras, sendo esta u^’


ú942). A substituição da escravidão indígena feminina cm sua cultura. De tod

pela africana, que preponderou desde o século se hoje que a diminuição da escravi^0’
XVII cm várias áreas agroexportadoras, foi e sua substituição pela africana no fi^u
explicada por diversos ângulos. Historiadores século XVI foi processo ocorrido nolit
mais antigos, como Varnhagcn c Capistrano dc avanço para o interior, sobretudo nar, ‘
r I■ c‘ a° norte
Abreu, atribuíram à indolência indígena a opção implicou novas levas de escravização indí
pelos africanos. Gilberto Freyrc, por sua vez, ao longo do século XVII e parte do XVlH
registrou a inaptidão do índio para a vida As novas pesquisas ampliaram as percepções
sedentária da agricultura. Caio Prado ]i. alegou sobre a complexidade da dinâmica interna da
que o trabalho indígena seria pouco lucrativo, colônia no tocante ao fator trabalho, mas
considerando a baixa resistência física dos durante muito tempo pouco esclareceram sobre
nativos c sua aversão ao trabalho agrícola. as condições que, no interior da África,
Celso Furtado, embora tenha destacado que permitiram o fornecimento de escravos durante
fora o índio cativo a mão-de-obra essencial na longo tempo a custos relativamente baixos. No
montagem da economia açucareira entanto, pesquisas apoiadas na historiografia
quinhentista, destacou a inexistência de norte-americana têm criticado a imagem de uma
reservas dc população indígena que suprissem África passiva, vítima do colonialismo,
as necessidades de empresas rentáveis. Na apontando o papel-chave dos reinos africanos
década de 1970, Fernando Novais defendeu a na captura c revenda de escravos, no que
idéia de que a opção pelos africanos foi ampliavam práticas vigentes na África muito
motivada pelo sistema mercantilista de tempo antes da expansão marítima européia.
colonização, especialmente pelos lucros Seja como for, a escravidão africana
proporcionados pelo tráfico atlântico, “alavanca preponderou cm áreas mais ligadas à
fundamental da acumulação primitiva dc ‘ agroexportação, como no caso do nordeste
capital , segundo o autor. Residiria, portanto, açucareiro desde o século XVII, e na mineração
nos interesses do tráfico a principal explicação do século XVIII, embora a escravidão indígena
para a instauração da escravidão africana na tenha se mantido expressiva em outras áreas,
colônia. como no sudeste, até o século XVIII, e no
Diversas pesquisas demonstraram, norte, até o XIX. Por outro lado, há muita
posteriormente, que a escravidão indígena foi diferenças importantes quanto ao padrão
largamente utilizada e que foram vários os socioeconômico da escravidão colonial
fatores que levaram, em certos casos, à opção clássico o contraste entre a esenu idão ’
pelos africanos. Nesses trabalhos, explica-se a lavoura nordestina e a da região min • •
escolha pela dificuldade cada vez maior dc Gerais, como fez Celso Furtado (19
acesso aos índios, tanto pela diminuição de seu sugeriu haver mais concentração d< f ..j0
numero, provocada por guerras e doenças, escrava e rigidez na primeira, cm c
quanto pela sua migração para o interior, o que A mooi
às pequenas escravarias c a n« a
dificultava o apresamento. Quanto à social dos escravos na região min 3
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207
csrravidão E
uito contestada nas décadas seguintes. da agricultura escravista no século XVIII.
n\r outro lado, outras gradações no padrão De todo modo, é consenso, entre os
, r-lições escravistas têm sido apontadas, estudiosos, que a escravidão negra no Brasil era
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1 nisna-áreas agrícolas:
o contrastes entre dependente do tráfico africano, pois, se nas
in
uronianufatura do açudai, mais colônias meridionais inglesas da América do
ncentradora de escravos, e a modesta Norte, por exemplo, a população escrava
escravaria das lavouras de tabaco ou algodão; apresentou crescimento endógeno, o mesmo
.•entrastes entre a escravidão rural c a urbana, não ocorreu na América Portuguesa. Como o
e-tasini mais pulverizada; contrastes entre padrão demográfico do tráfico africano variou
re’iões conforme as conjunturas; ocorrência de pouco, sendo mais comum a entrada de homens
uma lavoura de subsistência controlada pelos adultos do que de mulheres e crianças, o
escravos, inclusive com direito à venda de resultado repercutiu na reprodução da
excedentes (a “brecha camponesa” do sistema escravaria. Sendo a escravidão transmitida pelo
escravista . Mas a maioria dos estudos sobre a ventre materno (parttis seqiutiir vcntrnn), era a
economia colonial está dedicada aos séculos quantidade de mulheres que determinava a
X\ III c XIX. Quanto ao nordeste açucareiro, possibilidade de reprodução da mão-de-obra
região de ponta da agroexportação escravista, o escrava. Nas áreas mais dinâmicas da economia
melhor estudo e o de Stuart Schwartz^^ra/oí colonial, a proporção de africanos homens
internos 1985 . dedicado «à Bahia. A mineração,
por sua vez, tem sido mais estudada, e muitos Abaixo: Dcbret, Engenho manual para espremer

têm relativizado o traço exclusivamente a cana-de-açúcar, aquarela, século XIX, extraída


de I pittorfsqur tt bistorique aii Brúil.
mineradordas Gerais e destacado a importância

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amamentação de crianças brancas


leite negras ) danam prova da toleràn^'""4 c.
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„,lurr..b<áo1.u,oriuriJ.nrn..-m.1síulu1.1e dos portugueses, demonstrando o '
Jj„|,.,.l:mOTu>.íreJSccpK.1>.luvuunu "amolengamenio" das relações escravist
Brasil colonial, não obstante os I 1
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■Vnwto.ub»". sej... n.K|.K'U cn> que violência cventualmente registrados pe|a
sc equilibr.n-.un |'r.'|’or<õ.-s Jr ..I > u-.u.us c crônica e por outros documentos.
crioulos kescravos nascidos no Brasilas Nas décadas de 1950 e 196o, as teorias

diferenças de proporção entre os sexos Frcyrc foram implacavelmente questionadas


tornavam-se mais tênues, ainda que nelas o O pdtfhimilisnio, conceito central de seu |jVr
número de homens sempre losse superior. pioneiro, foi identificado como patcrnaliMno
Mas é no caráter da escravidão brasileira e em associado à sua tese ou mito da deinocrach
suas relações com o preconceito racial que racial existente no Brasil. Autores como Clóvj
reside uma das maiores polêmicas de nossa Moura ou Décio Freitas acentuaram os
historiografia. Em estudos clássicos sobre o rigores terrificantes da escravidão, com seus
Brasil, realizados desde lins do século XIX e tormentos e suplícios, bem como a ação de
preocupados com o problema da quilombolas e a resistência permanente dos
miscigenação/branqucamenio do povo escravos contra os senhores. Mas as
brasileiro, a escravidão em si era pouco principais críticas a Frcyre partiram dos
discutida, do ponto de vista histórico, Mas, estudiosos da chamada “escola sociológica
com a talvez solitária exceção de Manuel paulista”, liderada por Florestan Fernandes,
Bonfim. imperava certa convicção, herdeira da lnvertendo-se os argumentos de Frevre,
raciologia cientilicista do século XIX, acerca consolidou-se a idéia de que a escravidão no
da interioridade racial dos negros africanos. A Brasil tora tão dura e violenta que reduziu os
ruptura com esse tipo de enfoque deu-se negros a um estado de anomia. A violência da
sobretudo com Gilberto Frcyre, em Casii-grdiidt escravidão e suas consequências, e não mais
(sinala 195 5)> que pôs em xeque as seus caracteres raciais, teriam massacrado o
interpretações racistas predominantes, celebrou negro como ser humano, formando um grupo
a mestiçagem, destacou a influência africana na patologicamente comprometido, incapaz ate de
formação cultural brasileira e lançou a famosa forjar os laços básicos de todos os seres
tese de que no Brasil a escravidão tora amena e humanos — os laços familiares. A
adocicada. Sua interpretação baseia-se no “coisificação” ou reiiicação do escravo, incrcnu
argumento de que os portugueses não eram à própria instituição escravista, irrigaria
portadores de preconceitos raciais fortes em portanto todas as faces
decorrência da bicontinentalidade do próprio da escravidão, a psicologia do africano e de
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reino, sua formação histórica racial e seus descendentes.


culturalmente híbrida, um pouco européia, /•
Como decorrência dessas análises, di\cr.
outro tanto africana. Ao centrar sua análise na autores defenderam a ideia de qut a
casa-grande. Frcyre sugeriu que as relações humanidade do negro só transpariuia qi
doméstuas e familiares ah estabelecidas entre os escravos resistiam claramenti tonf
senhores c escravos (partieularmente a relação • 4 ein
instituição escravista: organizam. *
sexual entre senhores e escravas e o hábito de quilombos, revoltando-se, matande
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escravidão E
■ -jdando-seou.de maneira mais
socialmcntc coercitivo, porem passível de i
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cotidianamente ao trabalho,
j] resn> adequações, resistências, acomodações,
'"11PT duebra de instrumentos, negociações e pactos sociais.
a infanticídios, morosidade e
mtoniuolN'1 • I■•a Essas abordagens não ficaram sem resposta.
atos lesivos aos interesses senhoriais. A Nos meios acadêmicos, no início da década de
1 tiní -in entre os sexos, característica do
JcsproP0^ 1990, a polemica se reacendeu e houve quem
' Ífíco. teria sido a principal responsável pela apontasse que se estariam recuperando os
cihilidade de formação de família regular argumentos de Freyre sobre a benevolência da
iinP0SÍ .,
.^jveiro. Argumentou-sc, também, que a cscravídao brasileira. O principal expoente
ulher negra fora vítima da violência dos dessa réplica foi Gorender, que emd escravidão
apetites voluptuosos de senhores, seus reabilitada (1990) criticou minuciosamente
funiliarcs e demais homens brancos, muitos desses trabalhos, a começar pelo livro
Cnfatizando-se a promiscuidade como o Ser escravo no Brasil, de Kátia Mattoso (1978),
comportamento comum de homens e, um dos primeiros a relativizar a questão
principalmentc, mulheres no cativeiro. paternalismo/violência e a propor um equilíbrio
A partir dos anos 1980, pesquisas sobre o entre essas práticas como padrão do sistema.
necro c a escravidão se multiplicaram nos De todo modo, a escravidão é tema clássico de
O
cursos de pós-graduação em História. Novas nossa história e historiografia e um campo
fontes foram pesquisadas, bem como outros sempre aberto à investigação. (SCF/RV)
enfoques foram dados «às íontes conhecidas.
Sob a influência principalmente de estudos Referências Bibliográficas
norte-americanos, tanto antropológicos quanto BOXER, Ch. Relações raciais no império colonial

historiográficos, foram questionados, dessa português. 1 rad. Rio de Janeiro, Tempo

vez, os estudos e argumentos da escola Brasileiro, 1967; FREYRE, G. Casa-grande e

sociológica paulista. Contrariamente à idéia de senzala (19? 3). Rio de Janeiro, José Olympio.
1987; GORENDER, J. O escravismo colonial.
que a maior quantidade de africanos homens
inviabilizava a família escrava, trabalhos ligados São Paulo, Editora Ática, 1978; ------------• d
escravidão reabilitada. São Paulo, Ática, 1990,
à demografia histórica comprovaram a
LARA, S. H. Campos da violência. Rio de
existência de famílias escravas em proporções
Janeiro, Paz c Terra, 1988; MARCHANT, A.
consideráveis em diversas regiões, do que se
Do escambo à escravidão (1942). 21 ed. Sao Paulo,
inclui que, embora difícil para muitos, o
lnatrimônio Cia. Editora Nacional, 1980; MATTOSO, K.
e a família eram instituições
Ser escravo no Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1982;
presentes entre os cativos. Argumentou-se que
SCHWARTZ, S. Segredos internos: engenhos e escravos
as escolhas matrimoniais faziam parte da
,,a sociedade colonial (1985)- Trad. São Paulo,
^eranÇa cultural dos negros e de sua condição
Companhia 1 •das
j c lLetras,
nrras 1988;
uo , VAlNFAS. R.
escravos. Demonstrou-se, assim, que os
Ideologia e escravidão: os letrados e a sociedade esm
Sr°s escravizados não teriam sido passivos
01
no Brasil colonial. Petrópolis, Vozes. 1986.
muito menos massacrados pela escravidão,
c | escravos, criaram e recriaram laços
rais próprios, vários deles herdados de
fo‘ 3lZes a‘ricanas. Dessa forma, a escravidão
ntcrprctada como um sistema

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cio no Brami. Colonial
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' . _______ tráfico negreiro
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F. & CHAUDHURI,
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’ Amérlca: ali
1 imres 199S. v. 1; DIAS, C. M. História da
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, naríiiíiifsa do/>ra.u7. Porto, 1921-24. '-li«res e„Irc porLgu„s c 1S
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costu'™™ «o continente. Os mercados
& Tráfico negreiro
escravIStas que integravam as instituições de
muitas comunidades da África funcionaram
0 tráfico atlântico de escravos negros
como mecanismos fundamentais dc
resultou da expansão marítima portuguesa e
recrutamento de mão-de-obra, primeiramente
recebeu pleno beneplácito papal desde o
para o arquipélago da Madeira, onde os
século XV, por meio das bulas Dum diversas
portugueses desenvolveram a exploração da
11452\ Romanus Pontifex (1455) c Inter coetcra
cana-de-açúcar, depois para a América. Ao
1456), as quais, entre outras disposições, lado da exploração de um comércio escravista
autorizaram o cativeiro de iníiéis e pagãos ja existente na África negra (sul-saariana), as
como meio de converte-los ao cristianismo. guerras intertribais tiveram papel central no
Praticado sob chancela da Igreja, o tráfico fornecimento de escravos.
seria fundamental para o funcionamento da Por outro lado, foi o sistema dc feitorias que
empresa escravista da América Portuguesa: se tornou a base mais rentável e duradoura
cerca de 40% do contingente importado para para os negócios negreiros portugueses. Em
a América em todo o período de vigência do 1448, foi criada a primeira feitoria, cm
tráfico dirigiu-se ao Brasil, seguido do Caribe Arguim (ao sul do cabo Branco), dez anos
britânico, que recebeu pouco menos de 20%. mais tarde transformada cm castelo, onde os
Acosta da África ocidental, genericamente portugueses trocavam cavalos, tecidos,
designada como Guiné nos séculos XV e objetos de cobre c trigo por ouro em pó,
XVI, passou a ser objeto da ação portuguesa escravos e marfim. O armazenamento de
partir da tomada de Ceuta aos mouros, cm escravos e demais produtos num ponto
HI5. Foram então obtidas informações mais fortificado mostrou-se por demais vantajoso:

precisas sobre as terras do Alto Níger e do os navios poderiam ser carregados

Senegal, onde se acreditava estar o “ouro da rapidamente, evitando estadias prolongadas c

Guiné — na realidade, o ouro do Sudão. não raro fatais. As mercadorias destinadas ao

Tudo indica, porém, que já na altura de comércio com os chefes africanos foram
jj43 ✓ principalmcnte armas dc logo c tecidos, alem
** o comércio de escravos tornou-se
de miçangas, pérolas, conchas e búzios,
^portante para o financiamento dos custos
exPedições
barras c manilhas de cobre, espelhos, objetos
organizadas pelo infante
de vidro, utensílios dc ferro e pólvora. A
Henrique, o Navegador. Inicialmente, os
_ aguardente dc cana do Brasil — e o
x°s provinham de ataques diretos dos
uguescs
“tabaco foram os últimos produtos a entrar
1 às aldeias do litoral saariano e da
nesse processo, transformando-se na maior
° Senegalcsa.
Após os primeiros contatos
C°m nc * moeda para adquirir escravos no século
populações da Sencgâmbia e da Alta
vjuiné rn ô XVIII Tais mercadorias, lembram alguns
ontou-se o esquema de comércio »

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554 Dicionário ho bRaS|| ColoMâl
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Ao fado: R ugendas. negros no porão do navio,


historiadores, não representavam só bens
litogr.iíí.i. século XIX.
materiais, mas portavam uma carga simbólica
inerente ao poder nos reinos aíricanos. Nos
anos 1470. os portugueses atingiram o ponto do reino c pelo aportuguesamento das

do litoral africano designado como costa da instituições de governo. Os chefes de

Mina, onde ergueram a fortaleza ou castelo província passaram a ser denominados


de São Jorge da Mina, importante entreposto condes, marqueses e duques, e filhos da elite
do fornecimento de escravos para o congolcsa foram encaminhados para estudar
arquipélago da Madeira c, postei 101 mente, cm Portugal. Apesar de ser antigo o comércio
para a América. No linal do século XV, a de escravos na região, ele se intensificou após
o contato com os portugueses, passando a
•/

costa ocidental africana — a Guiné — era ja


melhor delimitada, tanto que, no inicio do monopólio real, com redes comerciais que
XVI, a antiga Guiné genérica era definida chegavam à ilha de São I orne, centro
em duas grandes unidades territoriais: de um estratégico do tráfico proveniente da África
lado, a costa ocidental, destacando-se a costa ocidental. Os escravos provenientes da
da Mina, os arquipélagos de Cabo Verde e o capital do Congo, rebatizada com o nome de
reino do Benin; de outro, a costa centro- São Salvador pelos portugueses, eram
ocidental, incluindo Congo e Angola. enviados a partir dos portos de Mpinda, na
O reino do Congo foi atingido pelos foz do rio Zaire, e de Ambriz, ao norte de
portugueses em 1483, por Diogo Cão, mas Luanda, mas desde as primeiras décadas de
somente na década seguinte se estabeleceriam contato os portugueses buscaram fugir do
contatos regulares com o reino. O reino do monopólio do rei congolcs, dirigindo-se para
Manicongo, como era conhecido, era a região do Ndongo (futura Angola).
composto de extensa área dividida cm A chegada dos portugueses a Angola ocorrera
províncias, algumas administradas por uma por volta de 1480, mas foi somente a partir
nobreza local c outras por chefes escolhidos da fundação da cidade de São Paulo de
pelo rei dentre a nobreza da capital. Relações Luanda, em 1575, que aumentaram os
comerciais ligavam as províncias, compostas contatos dos portugueses na região. Em
por cidades (mbcuiza) e aldeias (Jubata), todas I6l7, foi fundada a cidade de Benguela,
dependentes da capital, Mban^a Kongo. Nas também importante porto angolano
ei dade s, os nobres controlavam a produção, exportador de escravos. Foi nessa extensa
resultado do trabalho escravo, que ali vigia região congo-angolana, composta
sob duas formas: I) a doméstica ou de basicamente de populações de um mesmo
linhagem, na qual o cativeiro era resultado da tronco linguístico — o banto —, que se
guerra ou de sanções sociais, integrando-se o concentraria a atenção portuguesa, cada vez
escravo à linhagem do senhor; 2) a escravidão mais vinculada à região de Angola, e menos
comercial, ligada à produção agrícola ou à ao Congo, depois de I 5 50. A partir de então,
exploração de minas. Os portugueses as relações entre lusos c congoleses se
encontraram no Congo um rei acessível à
deterioraram até o embate frontal de
cristianização. Na linhagem dos reis cristãos Ambuíla, cm 1665, vencido pelos lusitanos.
congoleses, o principal foi D. Afonso I
O Co ngo ingressaria num processo intenso
( I 506-43). responsável pela cristianização
de guerra civil e fragmentação política. Os

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portugueses concentrariam de vez seus dois milhões, no XVII; dois milhões, no


interesses cm Angola, sobretudo depois de XVIII; c, finalmente, 1.500.000, na primeira
serem expulsos os holandeses de Luanda — metade do século XIX. Há consenso, porém,
que dominaram a praça entre I 641 e I 648 de que o maior volume de entrada de
— e da aliança com a rainha Nzinga, africanos se deu na primeira metade do
guerreira jaga, na segunda metade do século XIX, mesmo após a ilegalidade do
«

seiscentos. Foi procedente de Angola, tráfico, decretada em 1831, ou


sobretudo nos séculos XVII e XVIII, a maior provavelmente por causa dela. As estimativas
Parte dos escravos entrados no Brasil no do tráfico incluem somente os que chegaram
Período colonial. ao Brasil, sem considerar os mortos cm
0 volume exato de escravos levados ao Brasil viagem. As perdas sempre foram muito
e difícil de avaliar. Os estudiosos arriscam elevadas, mas calcula-se que foram mais altas
stlmativas tomando por base números nos primeiros anos a mortalidade na travessia
rí,1IS°s encontrados na documentação chegando a oscilar entre 15% e 25%. As
I°nial e apresentam resultados díspares, chances de morrer estavam relacionadas à
C Os
mais acanhados, que fixam cm extensão c à duração das viagens, o que talvez
° o tota] c]c cscravos traficados, até desse ao Brasil condições mais favoráveis do
OS F)] 31 ç . 1 que a outras áreas da América, como o Caribe
exagerados, que projetam o tráfico
ç tO Indhões de africanos. Robcrt e a América do Norte. Por outro lado, a
transformação do africano cativo cm escravo
d, cni análise detalhada, afirma que o
v°Iurned- • poderia demorar vários anos. Calcula-se em
p lXc escar situado entre os extremos,

pôe o número do tráfico para o Brasil oito meses o período entre a captura do J
assim rl’ -i r
africano e seu embarque para a América. Ate
atribuído: 100 mil, no século XVI;

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' - J. cérulo XV111, o tráfico atlântico do que I808 ou mesmo 1822, o


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t01 enfrer críticas de abolicionistas 1 stabelecimento da Corte portuguesa no Rio
meçou 501 ,
c° foi sobretudo no início do di Janeiro representou, cm vários sentidos, o
„ropcus’m
1 XIX que a Inglaterra centrou esforços fim do período colonial.

ra limitar o tráfico português. Nos C oncebida, desde o século XVII, como


paf j,< de 1810 entre a Inglaterra e solução de emergência cm situações de crise,
tratados ac
1 foram impostas clausulas restritivas a mudança da Corte para a América voltou a
- mércio negreiro, estabelecendo prazos ser considerada pelo anglóíilo Rodrigo de
ao com<- * v
eu término. Após1 a independência do Souza Coutinho às vésperas de sua demissão
para slu
Brasil, cm 1822, os ingleses recrudesceram a da pasta de secretário da Marinha e Ultramar,
pressão, obtendo do então império do Brasil cm l8O3, mas somente entrou na pauta

a lei de abolição do tráí ico de 18 3 I que, na governamental do dia quando sucessivas


prática, bem poucos resultados obteve. ameaças da França evidenciaram, a partir de
0 tráfico só veio a ser abolido, efetivamente, julho de 1807, a iminência da invasão de
em lS50. precipitando a crise do escravismo Portugal pelas tropas napoleônicas.
no Brasil. SCF Convencido de que a integridade da
monarquia somente estaria assegurada por
Referendas Bibliográficas meio da preservação dos domínios
CONRAD. R. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o americanos, cujos recursos naturais e
Brasil. Trad. São Paulo. Brasiliense, 1985; humanos superavam os do reino, D. João e a
CURTIN, P. The atlantic slave trade: A census. Corte partiram de Lisboa em 29 de
Madison, Wisconsin University Press. 1969; novembro de l8O7, compondo uma comitiva
FLORENTINO, M. G. Em costas negras. Rio de de cerca de 1 5 mil pessoas, incluindo apenas
Janeiro, Arquivo Nacional. 1995; MEDINA, J. & uma pequena parte da alta nobreza lusitana.
HENRIQUES, I. C. A rota dos escravos: A ngola e a rede A decisão atendia aos interesses do aliado
do comércio negreiro. Lisboa, Cegia, 1996; PAN I OJA, inglês, encurralado pelo bloqueio marítimo
S- & SARAIVA, J. F. S. (orgs.). Angola e Brasil nas que a França lhe impusera em relação aos
rctas do Atlântico sul. Rio de Janeiro, Bcrtrand do mercados europeus, mas articulava-se
Brasil, 1999; REIS, J. “Notas sobre a escravidão também com projeto de um império luso-
/
na África prc-colonial Rio de Janeiro, Revista brasileiro, exposto por D. Rodrigo por volta
Rio de Janeiro, n. 14: 5-21, 1992. de 1797-98. Alertado pela independência das
colônias inglesas (1776) e alarmado com os
rumos da Revolução Francesa, o ministro
enfatizava a mútua dependência dos
diferentes domínios da Coroa portuguesa e o
Transmigração da Corte
‘‘sacrossanto princípio” de sua unidade, mas
Emb propunha, ao mesmo tempo, uma serie de
3 a COnt>nuidade
c. institucional e
* 1 entre a época joanina no Brasil, a medidas para aliviar a dominação
regencia de D. P metropolitana. Sobretudo, dava-sc conta do
ed ro e o primeiro reinado
Sug*ra que iSj! _
poder das idéias e queria que “o português,
- a abdicação do
operador - nascido nas quatro partes do mundo, se julgue somente
* constitua ruptura mais
Slgn'ficativa português, e não se lembre senão da glória e grandeza
para a consolidação do novo país

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