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ESTADO DO ACRE 0886


SECRETARIA DE ESTADO DA POLÍCIA CIVIL
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA TÉCNICO-CIENTÍFICA
INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA

LAUDO PERICIAL CRIMINAL


CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE.

* NATUREZA DA PERÍCIA: CONSTATAÇÃO DE DESMATAMENTO.

* OBJETO DA PERÍCIA: VEGETAÇÃO NATIVA.

* LOCAL DO EXAME: RAMAL DA CAPELA, RODOVIA AC-90


(TRANSACREANA), RIO BRANCO/AC.

* DATA E HORA DO EXAME: 11 DE AGOSTO DE 2016, A PARTIR DAS 10


HORAS E 00 MINUTO.

* SOLICITAÇÃO: MEM/SEPC/DEFLA/№ 838/2016, DATADO DE


22/05/2016, RECEBIDO EM 22/05/2016.

* AUTORIDADE REQUISITANTE: ANTONIO ALCESTE CALLIL DE CASTRO.


Delegado de Polícia Civil

* REFERÊNCIA: IPL № 687/2016.

* DESTINO DO LAUDO: PODER JUDICIÁRIO.

* PERITO DESIGNADO: THIAGO MARTINS E SILVA


Perito Criminal – Relator.

Laudo Pericial Criminal n°. 0886/2016


Perito Criminal Eng.º Florestal Esp. THIAGO MARTINS E SILVA – Mat. 92.14232-2
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1. HISTÓRICO
Para atender à solicitação de PERÍCIA CRIMINAL supracitada e cumprindo
determinação do Diretor deste Instituto de Criminalística, SR. ALEKSANDR LIRA
BARROS, em conformidade com a legislação e com os dispositivos regulamentares
vigentes, foi designado o Perito Criminal Eng.º Florestal Esp. THIAGO MARTINS E
SILVA, signatário do presente Laudo.
Os procedimentos periciais foram realizados no dia 11 de agosto de 2016,
quinta-feira, a partir das 10h00min no local em epígrafe, sito em área de mata nativa no
km 18 do Ramal da Capela, na margem Norte da rodovia AC-090, denominada Estrada
Transacreana, na zona rural do município de Rio Branco, onde foram efetuados os
exames que se faziam necessários.

2. OBJETIVO
O objetivo da perícia foi averiguar anormalidades existentes, assim como fazer
levantamentos do local onde supostamente houve Crime Contra o Meio Ambiente
(SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO NATIVA), para responder aos quesitos formulados
pela autoridade solicitante, a fim de instruir o IPL № 0687/2016 lavrado na Delegacia
Especializada de Flagrantes – DEFLA.
Findos os trabalhos de campo, o Perito Criminal passa a apresentar os
resultados dos procedimentos executados, à luz dos princípios técnico-legais do
Sistema Criminalístico.

3. DO LOCAL DOS EXAMES


O local supracitado (Imagem 011) foi palco dos exames periciais e se tratava de
área verde composta em sua maior parte por vegetação nativa do bioma amazônico,
com predominância de Floresta Aberta com Bambu. Inicialmente, a equipe pericial se

1
Imagem oriunda do programa computacional Google Earth, através do ponto 19L 0539663m-E /8928084m-S
medido com aparelho receptor GPS, configurado com o DATUM WGS84, e com precisão menor que 5,0m (cinco
metros).
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guiou pelas coordenadas indicadas na solicitação desta perícia. Chegando próximo ao
ponto indicado, constatou-se aglomerados de populares em instalações provisórias de
madeiras e lonas. Questionado quem seria o responsável pelo local, o Sr. JOSUÉ
SANTANA DA SILVA apresentou-se como parte da diretoria da Associação
responsável pelo acampamento e, juntamente com seu irmão, Sr. BENJAMIM
SANTANA DA SILVA, acompanhou a equipe pericial até o local de interesse dos
exames periciais (Fotografia 01). Registra-se a ausência de qualquer autoridade policial
ou representante dessa durante os exames periciais.

Ramal da Capela

Ramal Antimary

Rodovia AC-090

Imagem 1 - Mostra o local do acampamento, em destaque amarelo o local objeto dos exames periciais, o Ramal da Capela
em vermelho, o Ramal Antimary (acesso para o Ramal da Capela) e a rodovia AC-090 (Estrada Transacreana).

A partir do local apontado, o Perito percorreu e analisou toda a área circundante,


observando tudo o que poderia se caracterizar como crime ambiental.

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A partir do Ramal da Capela, o acesso ao local era livre, sem cerca ou qualquer
barreira física. Tempo bom (sem chuva) e iluminação satisfatória (luz natural) quando
dos exames.

Fotografia 1 - Mostra parte do local examinado.

4. DA CONSTATAÇÃO
Pela falta de isolamento, não se pode aferir até onde os elementos constitutivos
do local possam ter sido alterados antes da chegada do Perito. De imediato, constatou-
se que havia ocorrido um incêndio de alguma forma de construção, tipo barracão ou
semelhante, sendo possível identificar alguns materiais plásticos (Fotografia 02).
A Oeste, constatou-se igarapé perene (Fotografia 03) com largura variando entre
1,0m (um metro) e 6,0m (seis metros). Ao lado Leste da área examinada, constataram-
se vestígios de outra benfeitoria em construção (Fotografia 04). Foram constatados
troncos de árvores serradas (Fotografias 05 e 06) por toda a área examinada. Registra-
se que foram observados vestígios de desmate e queima (Fotografias 05 e 06) por toda
essa área examinada. Esse local, mostrado em destaque amarelo na Imagem 01, tinha

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o perímetro de 456,0m (quatrocentos e cinquenta e seis metros) com área total de
1,19ha (um hectare e dezenove ares). Constatou-se ainda o plantio recente de
espécies alimentícias, mais especificamente 03 (três) bananeiras (Fotografia 07).

Fotografia 2 - Mostra parte dos vestígios plásticos queimados constatados.

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Fotografia 3 - Mostra trecho do igarapé a Oeste da área desmatada.

Fotografia 4 - Mostra benfeitoria em construção no lado Leste da área desmatada.

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Fotografia 5 - Mostra evidências do desmate e queima da área.

Fotografia 6 - Mostra evidências do desmate e queima da área.

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Fotografia 7 - Mostra o plantio recente de bananeiras.

Registra-se de interesse pericial que, ao longo de todo o Ramal da Capela, em


ambas as margens, foram constatados desmatamentos e queimas de vegetação.
Sendo ainda constatado plaqueamento (Fotografia 08) de áreas recém desmatadas e
queimadas, típico de loteamento de grande propriedade em início de processo.

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Fotografia 8 - Mostra algumas das identificações das áreas desmatadas e queimadas ao longo do Ramal da Capela.

5. DAS CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS


Detendo-se em criterioso exame macroscópico, no local na busca de vestígios
que levassem às respostas dos quesitos formulados e às constatações supracitadas,
pode ser verificado parte da degradação sofrida no local indicado pela requisição, sem,
contudo, ser o único local com crime ambiental notório na região. Ante à complexidade
dos quesitos formulados, e sem a definição específica da extensão da região de
interesse pericial, considerações técnicas mais detalhadas serão descritas nas
respectivas respostas aos mesmos, no item 6.

6. DOS QUESITOS FORMULADOS E RESPOSTAS


Tendo em vista a formulação de quesitos por parte da Autoridade Policial, o
Perito, ante as características do evento, os transcreve e passa a respondê-los.

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6.1. Há sinais de crime ambiental?
Sim.

6.2. Em que consistem esses sinais?


Considera-se Área de Preservação Permanente – APP, em zonas urbanas ou rurais, as
faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene ou intermitente, excluídos os
efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de 30m (trinta
metros) para os cursos d’água de menos de 10m (dez metros) de largura. Assim,
grande parte do desmate e queima supracitados neste Laudo, encontram-se em área
reservada legalmente à preservação permanente de recurso hídrico, não sendo legal
qualquer supressão de vegetação em tal área, mesmo se houvesse alguma autorização
de desmate. Para supressão de APP não há licenciamento, sendo aberto exceção
quando referente à obra de grande interesse público, o que não é o caso. A APP deve
ser mantida apenas com vegetação nativa, não podendo haver manejo dessa
vegetação por tratar-se de área de grande importância ecológica destinada
exclusivamente para manter a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Quando dos
exames, toda e qualquer autorização de queima no Estado do Acre se encontrava
suspensa, sendo certamente as queimadas constatadas crimes ambientais. Além disso,
os desmates na área mostrada nas Fotografias 01, 05, 06 e 07 e ao longo de todo o
Ramal da Capela (Fotografia 08) certamente se tratam de desmatamento ilegal, pois
não havia qualquer benfeitoria, criação de semoventes ou plantio silvícola ou agrícola
que justificasse tal atividade com possível autorização do órgão competente.
6.3. Seu aspecto indica terem sido eles produzidos recentemente?
Sim. Ainda se constatou a queima acontecendo em parte do Ramal da Capela
(Fotografia 09). Quanto à outra área desmatada e queimada, vide corpo do Laudo
Pericial.

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Fotografia 9 - Mostra queima acontecendo quando dos exames periciais.

7. DA ILUSTRAÇÃO E FECHAMENTO
Ilustram os exames acima descritos 01 (uma) imagem de satélite e 09 (nove)
fotografias que se encontram inseridas no corpo do presente Laudo Pericial.
Nada mais havendo de interesse Pericial, encerrou-se o Laudo, constituído por
10 (dez) páginas numeradas impressas somente no anverso.

Instituto de Criminalística-Rio Branco, 09 de setembro de 2016.

THIAGO MARTINS E SILVA


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RELATOR

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