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EXMO. DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA


COMARCA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL

TJRJ CAP FP03 201904083786 31/05/19 17:20:00135490 PROGER-VIRTUAL


PROCESSO ELETRÔNICO Nº. 0124330-03.2019.8.19.0001

Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO D EJANEIRO


1º Réu: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
2º Réu: ESTADO DO RIO DE JANEIRO

LUIZ ROBERTO CHARNAUX SERTÃ JUNIOR ,

Engenheiro pela UFRRJ, Master of Business and Environment pela

COPPE / UFRJ, Pós-Graduado em Georreferenciamento pela FEAMIG-

MG, membro do IBAPE/RJ - INSTITUTO DE ENGENHARIA LEGAL ,

Professor do Curso de Engenharia de Avaliações e Perícias Judiciais da

UFF/CREA, Professor de Perícia Ambiental do MBE – COPPE / UFRJ,

juntamente com a equipe multidisciplinar nomeada em DECISÃO de

Fl.227, composta pelos profissionais abaixo elencados, sendo JOÃO ANTÔNIO

PRADO SILVA, Geólogo pela UERJ, M.Sc. em Engenharia Mineral pela

UFOP, FÁBIO PERES DA SILVA, Geólogo pela UFRRJ, M.Sc. em

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Geotectônica, Petrologia e Recursos Minerais pela UERJ e Engenheiro de

Segurança do Trabalho pela UCAM, todos nomeados como Peritos do Juízo na

presente Ação, passam a apresentar seu LAUDO SUMÁRIO, na forma

que segue.

Sendo o que cabia para o momento, mais uma vez, agradece a honra

pela oportunidade, protestando por votos de elevada estima e consideração.

N. Termos, P. Deferimento

Rio de Janeiro, RJ, 31 de maio de 2019

_________________________________________
LUIZ ROBERTO CHARNAUX SERTÃ JUNIOR
Perito do Juízo
CREA-RJ 87-1-00693-7-D
IBAPE/RJ - INSTITUTO DE ENGENHARIA LEGAL no 1.075
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO no 820
CADASTRO NACIONAL DE AVALIADORES IMOBILIÁRIOS – CNAI no 12.960

FÁBIO PERES DA SILVA


Perito do Juízo
CREA-RJ 2008126340-D

JOÃO ANTÔNIO PRADO SILVA


Perito do Juízo
CREA-RJ 1990104107-D

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LAUDO SUMÁRIO

OBJETO DA LIDE: Verificação das condições de estabilidade dos taludes da


Avenida Niemeyer, s/nº, São Conrado / Vidigal, município do Rio de Janeiro - RJ

PERITO DO JUÍZO: Engo LUIZ ROBERTO CHARNAUX SERTÃ JUNIOR


CREA - RJ 87-1-00693-7-D
Master of Business and Environment - COPPE/UFRJ

PERITO DO JUÍZO: Geólogo JOÃO ANTÔNIO PRADO SILVA


CREA - RJ 1990104107-D
Mestre em Engenharia Mineral - UFOP/MG

PERITO DO JUÍZO: Geólogo FÁBIO PERES DA SILVA


CREA - RJ 2008126340-D
M.Sc. Geotectônica, Petrologia e Recursos Minerais - UERJ
Engenheiro de Segurança do Trabalho - UCAM

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DISPOSIÇÕES PRELIMINARES :

O presente Laudo Sumário foi elaborado resguardando os princípios éticos

que norteiam nossas atividades, não estando os honorários profissionais destes

Peritos, em nenhuma hipótese, subordinados às conclusões aqui apresentadas.

Os signatários deste trabalho declaram não guardar nenhum interesse

pessoal nos fatos ocorridos, nem nos bens avaliados, configurando-se

completamente imparcial no que tange aos resultados e conclusões obtidas.

MÉTODOS UTILIZADOS :

O entendimento do contexto vivenciado nesta lide, teve como

Metodologia Básica a vistoria de campo e a análise dos documentos

disponíveis nos Autos. Composto o conjunto de dados, foi alcançado o necessário

convencimento dos Peritos do Juízo acerca das condições fáticas, ora passado ao

Juízo da 3ª Vara de Fazenda Pública do Rio de Janeiro, para subsídio ao

Magistrado Julgador, no processo decisório de interesse.

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1- HISTÓRICO e RELATO dos AUTOS PROCESSUAIS:

Figura como Autor o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO

RIO DE JANEIRO - MPERJ, como 1º Réu o MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO e,

como 2º Réu, o ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Trata-se de Ação Civil Pública, com pedido de Medida


Cautelar, onde o Autor - MPERJ, apresenta as seguintes alegações:

Que, houve instauração de inquérito civil pelo ora Autor, com o


objetivo de apurar informações sobre o avanço horizontal e vertical da Comunidade
do Vidigal, sobre a encosta do Morro Dois Irmãos, em direção ao Bairro da Rocinha.

Ainda, que as unidades residenciais que avançam sobre o referido


morro, foram construídas em desacordo com as normas edilícias e com os padrões
construtivos estabelecidos pela municipalidade.

Informa ainda que, na região de construção das unidades, há


relatos de risco geológico-geotécnico, o qual já ensejou a abertura de outras ações
na justiça estadual visando a realização de obras de contenção do citado risco.

Como agravante, informa que ocorreram recentes episódios de


deslizamentos da encosta do Morro Dois Irmãos, na face voltada para a Avenida
Niemeyer, reforçando a necessidade de serem adotadas medidas cautelares para
evitar novos acidentes.

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O 1º Réu por sua vez, tão somente se manifestou acerca da


interdição da via, tendo apresentado quesitação à Fl.262, a qual deixou de ser
respondida, em cumprimento do teor Decisão de Fl.227.

2- CRONOLOGIA PROCESSUAL:

Fls. 03/21  INICIAL.

Fls. 22/107  Documentos da Inicial

Fl. 277  DECISÃO com Nomeação

Fls. 240/242  Manifestação do 1º Réu

Fl. 262  Quesitos do 1º Réu

Fl. 288  Ato Ordinatório de Agendamento de Vistoria

3- VISTORIA PERICIAL :

Houve inspeção pessoal dos Peritos do Juízo, ao imóvel em tela, em


vistoria realizada no dia 30 de maio de 2019, tudo relatado conforme segue:

CONVOCADAS DAS PARTES :


- Pela Serventia desta Vara, conforme Ato Ordinatório de Fl. 288.

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PRESENTES NA VISTORIA
- O Perito do Juízo, Engo Luiz Roberto Charnaux Sertã Junior
- O Perito do Juízo, Geólogo Fábio Peres da Silva
- O assistente dos Peritos do Juízo, Biólogo Eduardo Shinji Togoro
- A assistente dos Peritos do Juízo, Estagiária Rosângela Santos da Costa
- O Auxiliar do Perito do Juízo, Sr. Renan José dos Santos
- O Assistente Técnico do MPE, Engo Alexandre Pingret
- A Assistente Técnica do MPE, Geóloga Adriana de Lima Silva
- O Assistente Técnico da PCRJ, Engo Ernani Pereira Guimarães
- O assistente da PCRJ – Geo-Rio, Engo Getécnico Luiz Otavio Martines Vieira
- O assistente da PCRJ – Geo-Rio, Geólogo Ricardo d’Orsi
- O assistente da PCRJ – Geo-Rio, Engo Ernesto Ferreira Mejido
- O assistente da PCRJ – Geo-Rio, Geólogo José Antônio Mendonça
- O assistente da PCRJ, Gerente da Sope Engenharia Adilson Pedro Rosário

4- LOCAIS VISTORIADOS :

Antes das recentes ocorrências na encosta da Av. Niemeyer, apenas para


ilustração comparativa deste trabalho, segue a imagem aérea do local.

No dia da Vistoria Pericial, foram identificados os seguintes locais de


interesse deste trabalho, correspondentes às coordenadas geodésicas abaixo, para
efeito de correto posicionamento geográfico.

PONTO 1: 23K 679686 PONTO 2: 23K 679525 PONTO 3: 23K 679011


7455543 7455522 7455581
PONTO 4: 23K 678943 PONTO 5: 23K 678835 PONTO 6: 23K 680029
7455588 7455597 7455408

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Figura 1 - Morro Dois Irmãos na encosta voltada para a Av. Niemeyer, ANTES DAS OCORRÊNCIAS

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Figura 2- Avenida Niemeyer - Divulgação / Mário Moscatelli

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5- ALEGAÇÕES DO MPE (Autor) :

O Ministério Público Estadual-MPE, questionou o avanço horizontal e vertical


da Comunidade do Vidigal sobre o Morro Dois Irmãos em direção ao bairro da
Rocinha.
Pondera o MPE que as unidades residenciais existentes foram construídas em
desacordo com as normas edilícias e com os padrões construtivos estabelecidos
pela municipalidade.
Coloca que existem relatos de risco geológico-geotécnico, o qual já ensejou a
abertura de outras ações na justiça buscando a realização de obras de contenção
no local.
O MPE requereu de forma liminar o fechamento da via, sob alegação de
proteção da população, evitando-se assim novos acidentes.

6- ALEGAÇÕES DA PREFEITURA (1ª. Ré) :

Observado o contido nos Autos Processuais e também, os relatos e


ponderações dos técnicos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, no dia da
vistoria pericial, segue o resumo das alegações da municipalidade.
A Parte Ré informa que desde o início dos fatos trágicos ocorridos, vem se
mobilizando e atuando com eficiência para garantir a segurança da população e
devolver à cidade do Rio de Janeiro melhores condições do trânsito viário.
Foi informado no dia da vistoria, segundo a ótica dos técnicos da prefeitura e da
Geo-Rio, que a área está sob monitoramento constante para acompanhamento de
eventuais ocorrências, enquanto transcorrem os trabalhos para desmonte de blocos
de rochas e matacões.
Foi apresentado também aos Peritos do Juízo, por e-mail encaminhado em
30/5/2019 às 16:29hs., pelo Assistente Técnico da PCRJ, Eng. Ernani Pereira
Guimarães, a alteração dos índices pluviométricos críticos para a interdição da Av.
Niemeyer, como segue abaixo:

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“ALTERAÇÃO DOS ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS CRÍTICOS PARA A INTERDIÇÃO DA


AV. NIEMEYER EM FUNÇÃO DE EVENTOS PLUVIOMÉTRICOS, DURANTE O PERÍODO
DE EXECUÇÃO DAS OBRAS DE ESTABILIZAÇÃO EMERGENCIAIS
30/05/2019

Considerando:
1) As avaliações geológico-geotécnicas mais recentes efetuadas pela Geo-Rio no trecho de
encosta com ocorrência de múltiplas cicatrizes de deslizamentos ao longo da Av. Niemeyer,
avaliações estas viabilizadas por sobrevoo de helicóptero, levantamento fotográfico
efetuado por drone e levantamento de campo executado por equipe geotécnica, após a
implantação de melhorias de acesso ao trecho de encosta em apreço e
2) A ocorrência de carreamento de lama na pista da Av. Niemeyer em ponto imediatamente
jusante de cicatriz de escorregamento*, quando a pluviometria registrada era de 15mm/h e
35mm/24h.

* Movimento de massa deflagrado no evento de chuva intensa de 8 de abril de 2019


A Fundação Geo-Rio, objetivando aumentar ainda mais as condições de garantia de segurança
para o tráfego naquela via, indica a seguinte REVISÃO para o Protocolo de interdição da Av.
Niemeyer:

PROTOCOLO ANTERIOR

PROTOCOLO REVISADO
(VÁLIDO APENAS PARA O PERÍODO DE EXECUÇÃO DAS OBRAS EMERGENCIAIS)

Desta forma, requer o município Réu a liberação da Av. Niemeyer para o


trânsito de veículos, uma vez controlado o acesso conforme os índices
pluviométricos, na forma acima indicada, enquanto permanecerem os trabalhos de
recuperação daquelas encostas.

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7- ALEGAÇÕES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (2o. Réu) :

O Estado não se manifestou nos Autos, nem tampouco se fez representar na


diligência pericial.

8- RESULTADOS ALCANÇADOS :

Iniciados os trabalhos de campo, a equipe multidisciplinar dos Peritos


nomeados, devidamente acompanhados pelos técnicos acima indicados, tanto do
Ministério Público Estadual, quanto da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
e Geo-Rio, promoveram uma incursão no maior ponto de deslizamento, localizado
geograficamente pelas coordenadas UTM 23K 679686 e 7455543, denominado
Ponto 1 para efeito deste trabalho.

Figura 3- Vista frontal do Ponto 1

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INCURSÃO NO PONTO 1:

Dinâmica e contexto da incursão

Inicialmente, a equipe pretendeu promover um vôo de Veículo Aéreo Não


Tripulado-VANT, doravante referenciado apenas como drone, para
reconhecimento do local, a partir da Av. Niemeyer, em frente ao deslizamento
(Ponto 1). Na sequência, considerando as informações prestadas pelos
engenheiros alocados na obra de recuperação / proteções emergenciais, em curso,
considerando que neste ponto da diligência na qual foi informado que haveriam
alguns locais (platôs) ao longo da área do deslizamento, nos quais poder-se-ia ter
uma posição mais adequada para o sobrevôo de drone, os Peritos nomeados
decidiram iniciar a subida pelo cerne do deslizamento, de forma a se obter um
melhor posicionamento para a decolagem pretendida para o drone.
Assim se sucedeu. Iniciada a subida, sendo terreno instável, foi de pronto
percebido o acúmulo de material coluvionar, constituído por material terroso e
blocos de rocha, tendo sido encontradas partes do terreno mais secas e partes com
maior umidade. Foi percebido e registrado com fotografias digitais, a presença
abundante de lixo doméstico misturado à parte terrosa do terreno.
Já nesta primeira fase do trabalho, estando a equipe no terço inferior da área
afetada, pôde-se perceber com clareza que a crista do talude coincide com o local
onde começa a ocupação por casas da comunidade.
Neste ponto, terço inferior do deslizamento, pôde-se observar de forma clara,
em vários pontos a montante, que parte do solo que recobria o maciço rochoso se
desprendeu ocasionando a movimentação de massa, que restou retida no terço
inferior do maciço.
Então, na pretensão de promover o vôo do drone o mais perto possível do
ponto de origem do deslizamento, qual seja, no sopé das casas da comunidade
existente a montante, bem como produzir fotografias de melhor qualidade, a equipe

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destes Peritos continuou a adentrar “morro acima” caminhando nos talvegues


deixados pelo arraste de terra. Foi possível caminhar até um ponto distante cerca
de 100 metros da crista do deslizamento, próximo à casa existente, cujos pilares de
sustentação mostraram-se visíveis e aparentemente descobertos de solo. A partir
deste ponto, por motivos de segurança da equipe, foi de entendimento comum não
mais avançar na direção da crista do talude.

Verificações e caracterização do status quo encontrado

Foram verificadas algumas ocorrências e características de interesse:

1- Existência de duas linhas longitudinais ao deslizamento, uma à direita de quem


se posiciona de frente para a crista do talude, observador posicionado de costas
para o mar, e outra linha localizada à esquerda. A linha da direita toma a forma
de um talvegue clássico, enquanto a da esquerda forma uma linha mais aberta
sem conformação característica de talvegue. Ambas, mostram-se como um
caminhamento natural onde podem ocorrer eventuais novos escorregamentos.
Na linha da direita, percebe-se claramente a formação em “V” do talvegue, onde
a presença de material terroso é mais notada. Na linha da esquerda, nota-se um
plano de deslizamento, onde restou caracterizado o caminho percorrido pelo
escorregamento de material terroso e blocos soltos de rocha sobre o maciço
rochoso. Notou-se ainda ao longo desta linha a presença importante de blocos
de tamanhos diversos, soltos, muitos de tamanho e volume significativo,
formando um amontoado de blocos de rocha e alguns matacões. Este
amontoado de blocos e material terroso estão pousados sobre uma face com
alta inclinação do litotipo rochoso autóctone.

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Figura 4- Talvegue da direita

Figura 5- Linha de afloramento rochoso à esquerda do escorregamento

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2- Foi verificada também, a ocorrência de linhas d’água (filetes) em vários pontos


do deslizamento, notando-se que não se tratam mais, nestes pontos, de
drenagem natural de chuvas, dado o período sem ocorrências pluviométricas
verificado, em conformidade com o que se pôde apurar no site da prefeitura
Alerta Rio, Estação Metereológica do Vidigal, estando aquela região livre de
chuvas desde o dia 19 de maio de 2019, portanto há 13 dias, tendo sido o último
índice pluviométrico registrado igual a 2,4mm. Neste cenário, foi constatada
também, a existência de tubulação de esgotamento sanitário a montante da área
afetada, que acaba por contribuir para formação das citadas linhas d’água. Nesta
esteira, como elemento de confirmação, pôde-se verificar no local, tratar-se de
água com elevada turbidez, por análise visual, verificado também presença de
odores característicos de esgoto doméstico. Neste diapasão, restou
caracterizada a ocorrência de diversos pontos com saturação hídrica, conferindo
ao solo, nestes pontos vistoriados, indicação de baixa resistência a seu estado
natural de equilíbrio, enquanto em outros pontos não afetados pelas linhas
d’água, pôde ser observada uma gradação da consistência dos solos
sobrepostos à face do litotipo rochoso (rocha autóctone – augen gnaisse).

Figura 6- Filete de linha d'água

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3- Ainda, restou a ser observada a presença expressiva de lixo doméstico de toda


natureza, tais como garrafas PET, garrafas de vidro, pedaços de vidro de formas
variáveis, material de entulho de obra, pedaços de utensílios domésticos,
brinquedos infantis, plásticos inúmeros e de naturezas distintas e até mesmo
algumas carcaças de veículos automotores.

Figura 7 e 7A- Presença de lixo doméstico

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Observações técnicas para a área afetada

Foram verificados alguns elementos levantados na diligência, que indicam a


forma provável como se deram os fatos trágicos ocorridos, bem como alguns
elementos que indicam a possibilidade de novos escorregamentos, embora tais
fatores, possam eventualmente depender de determinadas condições e em alguns
casos, convergência simultânea dos mesmos, como segue:

1- Ocorrência de despejo de esgoto doméstico na área afetada, mantendo a


umidade em alguns pontos da área de escorregamento.

2- Existência de blocos de rocha soltos e matacões sobre o plano inclinado daquela


encosta formada por rocha autóctone, cuja inclinação é elevada.

3- Desprendimento entre a rocha autóctone e o solo de recobrimento desta


formação rochosa.

4- Ocorrência de capa de solo instável, em grande volume, acomodada sobre o


plano inclinado de rocha autóctone existente no local, com espessura variável de
1,0m a 3,0m, em locais aleatórios da área de escorregamento, tratando-se de
área com declividade acentuada que potencializa o efeito da gravidade,
notadamente em épocas chuvosas, sem que restem, porém, caracterizados
impedimentos à movimentação de material terroso/pedras em épocas de
estiagem.

5- Ausência de vegetação de cobertura no status atual, fato que maximiza o risco


de novas ocorrências.

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Figura 8- Material terroso envolvendo uma carcaça de carro

Figura 9- Visão do escorregamento

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Figura 10- Acúmulo de material terroso e rochas soltas sobre a rocha autóctone

Figura 11- Matacão de rocha

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Figura 12- Visão clara de material terroso desagregado sobre a rocha autóctone

Figura 13- Funcionários da PCRJ realizando o desmonte de rochas

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Figura 14- Visão ampla do local do escorregamento

Figura 15- Vista frontal do deslizamento

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OUTROS PONTOS:

Os outros pontos de escorregamento ao longo da via, identificados como


Pontos 2, 3, 4, 5, 6, foram vistoriados pela equipe dos Peritos do Juízo, a partir da
Av. Niemeyer, tendo sido realizados vôos de drone e fotografias digitais, para
produção de material fotográfico, dispensada a incursão em cada um dos pontos,
em face da exiguidade de tempo para cumprimento da determinação judicial de
entrega do Laudo Sumário até as 17:30hs. do dia 31 de maio de 2019.

Além disto, tratam-se de causas assemelhadas para os escorregamentos


verificados, marcando-se, tão somente, como diferencial das causas do Ponto 1, o
fato de ausência de afetações por ocupação antrópica.

Figura 16- Vista geral do ponto 2, com blocos caídos no muro de contenção (seta vermelha). Nota-se a
presença de água lavando a interface com a rocha. Matacão de rocha aparentemente desprendido
devido a ação da contração e distensão da rocha (seta amarela).

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Figura 17- Escorregamentos 3 e 4

Figura 18- Detalhe da parte superior dos deslizamentos 3 e 4

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Figura 19- Detalhe do deslizamento 4 com material coluvionar (solo com blocos de rocha)
e estrutura de contenção do deslizamento.

Figura 20- Detalhe do deslizamento 5, com blocos soltos

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Figura 21- Contenção sendo feita no deslizamento 5

Figura 22- Vista geral dos deslizamentos 3, 4 e 5 da direita para esquerda

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9- HISTÓRICO da Av. NIEMEYER :

A Av. Niemeyer, considerada sua implantação nos idos de 1900, sempre foi
palco de ocorrências de mesma natureza das que ora são objeto deste Laudo
Pericial Sumário.
Assim, apenas para ilustração deste trabalho e também na busca de
contextualização histórica e vivência daquele logradouro, estes Peritos do Juízo
passam a destacar alguns pontos do trabalho elaborado no ano de 2003, da autoria
de Jeremias José Costa Correia, intitulado A GEOLOGIA DA AVENIDA NIEMEYER:
PASSADO E PRESENTE, sendo trabalho de conclusão de curso no Grupo de
Estudos em Petrologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Orientado
pelo Prof. Rubem Porto Jr. – GEP/DEGEOC/UFRuralRJ.
Consta que ainda em 1891 já se pretendia construir a Av. Niemeyer para
utilização como leito de via férrea, conforme fotos abaixo:

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Já naquela época foram identificadas as fragilidades da encosta como se


verificou no citado trabalho, especificamente no item 4.1 e Conclusão, o que
corrobora todo entendimento alcançado neste Laudo Pericial Sumário:

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10- CONCLUSÃO :

Os Peritos do Juízo, por tudo que verificou nos documentos

analisados e com fulcro nos elementos colhidos na vistoria pericial, sem

qualquer pretensão de julgamento, restrito à sua função técnica como a

“longa manus” do Julgador, vem explicitar a V.Exa. as constatações

alcançadas.

Trata-se de uma encosta instável por sua própria formação


geológica e características estruturais e geotécnicas. Esta instabilidade
é notória e comprovada, como tem sido verificado ao longo dos anos.

Desde sua construção a Av. Niemeyer vem sendo afetada por


recorrentes deslizamentos com diferentes graus de gravidade.

Genericamente podem-se indicar diversas causas para as citadas


recorrências fáticas verificadas. Colaboram para os fatos, a ocupação
antrópica do local, bem como a característica
geológica/geotécnica/estrutural daquele maciço rochoso e aspectos de
relevo e topografia local, além do agravamento, por assim dizer, do
regime de chuvas atual, afetado em grande medida, pelo aquecimento
global, crescimento urbano desordenado e mudança climática.

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Neste sentido, com foco no objeto deste trabalho, para avaliação


da viabilidade de liberação da Av. Niemeyer, estes Peritos do Juízo
grifam, nesta oportunidade, que o julgamento é atribuição do
Magistrado Julgador, valendo este Laudo Sumário apenas como
subsídio técnico, em auxílio à 3ª. Vara de Fazenda Pública da
Comarca da Capital do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro.

Neste contexto, considerando as características locais,


observadas as possibilidades de novos deslizamentos, notadamente,
com possibilidade de ocorrência de novas chuvas, estes Peritos do
Juízo entendem como não recomendável a liberação da via neste
momento.

No entanto, não se pode deixar de lado a observação do plano da


Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, de manter os trabalhos de
limpeza da área, desmonte de rochas e estabilização de todos os
escorregamentos verificados ao longo da via, para posterior execução
de obras de contenção necessárias. Deve ser observado também o
plano de controle e monitoramento, 24 horas, de eventos
pluviométricos, para restrição de uso daquele logradouro, grifando por
fim, que deveria caber ao município, neste caso, a responsabilidade
destas operações executivas e de controle, pelos riscos existentes,
caso assumido este procedimento.

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Neste sentido da responsabilidade comentada, não se pode


relevar a possibilidade eventual de que por acidente, ocorram
desprendimentos de pedaços de rocha, que por força da gravidade
possam atingir pessoas ou veículos passantes na via, ainda que não
ocorra um novo escorregamento clássico de qualquer uma das
encostas em recuperação.

Por outro lado, também não se deve esquecer, que os históricos


deslizamentos na encosta em comento, por onde passa a Av. Niemeyer,
carrega um peso pela recorrência vivenciada, não tendo tido as
administrações municipais anteriores, nem tampouco a atual,
responsabilidade sobre os deslizamentos naturais também ocorridos. É
fato, que os deslizamentos secundários identificados neste trabalho
como os de números 2,3,4,5,6, ocorreram em terreno natural, em
locais livres de antropização, sem que para isto tenham colaborado
quaisquer ausências de ação da municipalidade.

Por fim, concluem os Peritos do Juízo, observadas as


possibilidades de novos deslizamentos, notadamente, com
possibilidade de ocorrência de novas chuvas, não recomendável a
liberação da via neste momento, tratando-se, necessariamente, de
julgamento atribuído ao Juízo desta Vara.

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Neste sentido, sem terem sido considerados os aspectos Jurídicos e de

Direito, afetos ao julgamento equilibrado do Magistrado Julgador, vem o

Perito do Juízo, adstrito às questões técnicas de sua função, no melhor espírito

de colaboração, encerrar suas conclusões do Laudo Pericial Sumário.

11- ENCERRAMENTO :
E tendo concluído o presente LAUDO PERICIAL, em 33 folhas, tudo firmado
e carimbado pelos Peritos do Juízo, requer juntada aos autos.

E. DEFERIMENTO

Rio de Janeiro, 31 de maio de 2019

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LUIZ ROBERTO CHARNAUX SERTÃ JUNIOR
Perito do Juízo
CRECI-RJ 064087-O
CREA-RJ 87-1-00693-7-D
IBAPE/RJ - INSTITUTO DE ENGENHARIA LEGAL no 1.075
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO no 820
CADASTRO NACIONAL DE AVALIADORES IMOBILIÁRIOS – CNAI no 12.960

JOÃO ANTÔNIO PRADO SILVA


FÁBIO PERES DA SILVA Perito do Juízo
Perito do Juízo CREA-RJ 1990104107-D
CREA-RJ 2008126340-D

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