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RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO
Desde o ano de 1947, o Brasil integra Forças Internacionais de Paz sob a égide
da Organização das Nações Unidas (ONU), seja pelo envio de observadores militares
desarmados ou pela inserção de tropas levemente armadas em áreas conflagradas. Com
isso, contribui para a manutenção da paz e da segurança internacionais, bem como
“intensifica a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em
processos decisórios internacionais” (ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, 2014, p. 17).
A participação mais expressiva de tropas do Brasil em Operações de Paz teve
como cenário o Haiti, país banhado pelo Mar das Caraíbas, que ocupa a porção
ocidental da Ilha de Hispaniola, no Arquipélago das Grandes Antilhas3.
Em 1º de junho de 2004, por meio da resolução nº 1542 do Conselho de
Segurança das Nações Unidas, foi criada a Missão das Nações Unidas para a
Estabilização no Haiti (MINUSTAH4), tendo a finalidade de garantir a segurança do
povo haitiano e de restaurar a ordem democrática no país, após um período conturbado
e a deposição de seu então presidente Jean-Bertrand Aristide. Desse modo, a Missão
englobava estabelecer um ambiente seguro e estável; desenvolver um processo político;
fortalecer as instituições do Governo haitiano; apoiar o estabelecimento de um Estado
de Direito; e proteger os direitos humanos.
A MINUSTAH caracterizou-se como a operação mais robusta realizada no
Haiti, sendo ramificada pelos componentes militar, civil e policial. Foi organizada em
uma estrutura de seções e departamentos, especializados em diferentes áreas, com suas
devidas interligações e subordinações. A pedido da ONU, o Brasil exerceu o comando
do Componente Militar da MINUSTAH, do início ao fim da operação, da qual o
Contingente Brasileiro fez parte como o maior contribuinte de tropas, sendo constituído
pelo Batalhão Brasileiro de Força de Paz (BRABAT) e pela Companhia de Engenharia
de Força de Paz – Haiti (BRAENGCOY 5), compostos por militares do Exército
Brasileiro majoritariamente6.
2. METODOLOGIA
3. REFERENCIAL TEÓRICO
15 "O estudo de caso não pode ser considerado uma técnica que realiza a análise do indivíduo em toda
sua unicidade, mas é uma tentativa de abranger as características mais importantes do tema que se está
pesquisando, bem como seu processo de desenvolvimento" Disponível em: <https://books.google.com.br/
books?id=72nMi8qNRJsC&pg=PA74&dq=estudo+de+caso+metodologia>. Acesso em: 12 de nov. 2019.
16 Ressalta-se que foi a partir deste 19º contingente da Companhia de Engenharia Brasileira que a nova
marca BRAENGCOY foi instituída.
7
Para o desenvolvimento deste capítulo, optou-se por explanar sobre marca e sua
representação perante o público-alvo sob as óticas de Rafael Sampaio e de Kotler. Em
função disso, pode-se afirmar que, atualmente, a marca é percebida na sociedade não só
por seu visual como, também, por diversos atributos que não são tangíveis ou visíveis
mas estão, de certa maneira, implícitos, sendo fundamentais na escolha de qualquer
produto ou serviço. Definitivamente, compra-se determinado produto ou adquire-se um
serviço pela representação que a marca evoca. Deste modo, toda marca carrega valores
intangíveis que lhe atribuem um significado, uma percepção.
De acordo com Sampaio (2002), a marca representa um conglomerado de fatos,
sentimentos, atitudes, crenças e valores que se relacionam diretamente àquele conjunto
de nome(s) e símbolo(s). O pesquisador afirma, ainda, que “a marca é a síntese da
experiência de valor, vivida pelos consumidores em relação a cada um dos inúmeros
produtos, serviços, empresas, instituições ou, mesmo, pessoas com as quais eles se
relacionam” (SAMPAIO, 2002, p. 26).
A American Marketing Association, entidade dedicada a congregar profissionais
para o desenvolvimento das atividades relacionadas ao marketing, destaca que
“determinada marca pode ser caracterizada como um sinal, nome, símbolo, termo,
desenho ou uma junção dos mesmos para que um vendedor faça uma construção eficaz
de uma marca organizacional” (PINHO, 1988, p. 14). A identificação de determinado
produto, como meio diferenciador, por intermédio de uma característica visual é a base
desta definição.
A Capitão17 do Exército Karla Moreira, oficial que integrou a equipe de
Comunicação Social do 19º Contingente da BRAENGCOY e foi a idealizadora da
marca definitiva desta Organização Militar, ressalta que era imprescindível a construção
de uma representação/marca única para a Companhia de Engenharia, devido às muitas
representações visuais que surgiam, ao longo da MINUSTAH, e impediam a
assimilação e fixação da BRAENGCOY como sendo um símbolo das ações da
Engenharia do Exército Brasileiro na Missão. Ao tratar sobre o processo de construção
da marca, a oficial Karla Moreira percebeu, portanto, que faltava uma identidade que
impulsionasse tal percepção associativa e, ao mesmo tempo, simbolizasse a Companhia
de Engenharia.
Kotler (2012), ao tratar em seus estudos sobre a importância da marca, faz uma
pequena alusão ao modelo de memória de rede associativa, dizendo:
3.2. BRANDING
Segundo Martins (2006), o branding é muito mais do que apenas uma marca, faz
parte da cultura de uma comunidade. De acordo com o objeto de estudo deste artigo, a
marca BRAENGCOY seria considerada um branding porque, com suas ações de
Engenharia, citadas anteriormente, influenciou e impactou, de forma positiva, a
comunidade haitiana ao longo dos treze anos da MINUSTAH, conforme afirma a
Capitão Karla Moreira.
Hiller (2012) destaca que o conceito de branding é como uma gestão filosófica
que colocaria a marca no centro das decisões da empresa. Em sua obra, o autor propõe
que tudo que cerca a empresa, comunicando-a com o meio, envolve o processo de
branding, podendo citar as cores, as forma de atendimento dos funcionários, seus
uniformes, as salas de espera, entre outros. Na mesma linha de pensamento, Guimarães
(2003) garante que o foco do branding é o valor e que as empresas devem monitorar
tudo aquilo que possa ampliar ou ameaçar tal valor.
Com base na visão de Hiller (2012), pode-se dizer que a BRAENGCOY, por ser
uma Companhia subordinada ao Exército Brasileiro, carrega seus mesmos valores e
atributos, construídos e solidificados há mais de um século, usufruindo, portanto, tal
aspecto positivo. O Exército Brasileiro, por sua vez, insere-se no contexto da percepção
das Forças Armadas como detentoras de alta credibilidade no Brasil. É o que afirma o
Instituto de Pesquisas Datafolha, em estudo recente sobre o grau de confiança dos
brasileiros nas instituições do País, o qual apurou que as Forças Armadas são
consideradas a instituição de maior credibilidade entre dez pesquisadas (como
Ministério Público, Poder Judiciário, grandes empresas nacionais, imprensa, Justiça
Eleitoral, dentre outras), atingindo o índice de confiança de 78% dos entrevistados18.
Com a implantação da nova marca da BRAENGCOY, seguiram-se várias ações
de Comunicação Institucional no intuito de fortalecer essa nova representação, para que
fosse gerado, também, um branding, associando-a, de forma definitiva, à Companhia de
Engenharia Brasileira e ao Exército Brasileiro.
devem se tornar meros enfeites em quadros nas paredes ou preencher cartões de visitas,
mas, sim, devem ser adotadas como filosofias e ser respeitadas.
Além disto, Valsani (2006) argumenta que, após conseguir que a filosofia da
Instituição seja conhecida por seus públicos de interesse, a missão dos responsáveis pela
comunicação é de modificar as mensagens e veículos de comunicação em itens
criativos, que chamem a atenção e que sejam lembradas, auxiliando no processo
eficiência da Comunicação Institucional da organização.
Kunsch (2003) propõe que, para que as mensagens ganhem destaque entre seus
destinatários, a Comunicação Institucional da organização deve se utilizar de algumas
ferramentas de comunicação, sendo estas: as relações públicas, o jornalismo
empresarial, a assessoria de imprensa, a publicidade e propaganda, imagem e identidade
corporativa, o marketing social e cultural, além da editoração multimídia. Cada área
dessas contribuindo com um papel peculiar. Conquanto, a autora faz uma observação
sobre a técnica, ressaltando que a mesma é essencial para caucionar a perenidade da
instituição, os instrumentos de comunicação adequados podem preservar e disseminar
seus valores. Entretanto, a Comunicação Institucional somente irá ocorrer se as pessoas
que formam a instituição incorporarem tais valores, sem os quais, sua razão de existir
perde o sentido.
19 “A Semiótica é a ciência dos signos, é a ciência que tem por objeto de investigação todas as
linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer
fenômeno de produção de significação e de sentido.” (SANTAELLA, 1983, p.13)
20 Na definição de Peirce (2005), signo é tudo aquilo que, sob certos aspectos e em alguma medida,
substitui outra coisa, representando-a para alguém.
12
outras coisas. Por exemplo, a “cor vermelha” é um signo que não está associado a
nenhum objeto e produz uma sensação primária.
A Secundidade, que abrange o Sin-signo, o Índice e o Dicisigno, traz a relação
da qualidade com um segundo elemento, que pode ser outra qualidade, um objeto ou
uma palavra. Seguindo a mesma linha do exemplo anterior, pode-se explorar, nesta fase,
a relação entre a “cor vermelha” e o “desenho de um coração”, uma associação mental
que se faz entre uma qualidade e um objeto.
A Terceiridade, que cobre o campo do Legi-signo, Símbolo e Argumento, pode
ser percebida como a ação do signo pós-relação fenomenológica 21, ou seja, a análise que
a mente faz de dois elementos, sendo capaz de adicionar um terceiro elemento. Este
novo componente da relação é geralmente um signo proveniente da própria mente do
indivíduo, gerado por uma experiência passada ao nível da Primeiridade, da
Secundidade ou mesmo da Terceiridade. Trata-se de uma convenção cultural, com força
de lei, que expressa uma ideia. Por exemplo, a percepção que se pode ter da presença do
amor a partir da representação de um “coração vermelho”.
No que se refere à Primeira Tricotomia (signo em relação a ele mesmo), Peirce
(2005) explica que, no Quali-signo, o signo é uma qualidade, ou seja, está relacionado à
propriedade que determina a essência ou a natureza de algo; o Sin-signo é o que existe e
é real, sendo coisa ou evento; e, no Legi-signo, o signo é uma lei, sobre a qual há uma
concordância ou convenção a despeito do que é e o que representa.
Na Segunda Tricotomia (signo em relação ao objeto), o Ícone é a representação,
por semelhança, de qualquer coisa, sendo a mesma tangível ou não; o Índice é o signo
afetado ou modificado pelo objeto, é a representação pela indicação; e o Símbolo é
interpretado por uma associação de ideias, convencionada culturalmente ou por leis,
sendo, também, um Legi-signo (ibidem).
No contexto da Terceira Tricotomia (signo em relação ao interpretante), o Rema
é um signo de possibilidade qualitativa, uma hipótese de sentido, que proporciona uma
informação ainda não interpretada; o Dicissigno é um signo de existência real, que
exprime ideias passíveis de julgamento e que envolve o Rema; e o Argumento está
presente em constatações que envolvem conclusões maduras, definições precisas e
previsões acertadas (ibidem).
4. A BRAENGCOY
4.1. HISTÓRICO
(a) (b)
Fonte: Imagens retiradas do livro Engenharia: história, fatos e ícones.
4.3. MARCAS ANTIGAS DA BRAENGCOY
23 Símbolo instituído oficialmente por meio do Decreto nº 22.817, de 12 de Junho de 1933, do Governo
Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil.
24 Informação extraída da página eletrônica da BRAENGCOY. Disponível em: <http://braengcoy-haiti.
eb.mil.br/index.php/historico>. Acessado em 10 set. 2019.
25 (a) Torre de Vigia; (b) Castelo da Arma de Engenharia.
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28 De acordo com a Cap Karla Moreira, o preparo da BRAENGCOY fica a cargo do Departamento de
Engenharia de Construção (DEC) e é realizado em seis fases: núcleo de comando e seleção, estágios
descentralizados, estágios centralizados, nivelamento, Exercício Básico de Operações de Paz (EBOP) e
Exercício Avançado de Operações de Paz (EAOP). Os oficiais da equipe de Comunicação Social do 19º
Contingente faziam parte do seu núcleo de comando e de seleção, portanto atuaram seis meses antes da
partida da tropa brasileira para o Haiti naquele rodízio.
29 Órgão responsável pelo emprego efetivo e regular da Engenharia Militar em benefício do Exército e
do Estado Brasileiro, realizando a gestão de Obras, Patrimônio, Meio Ambiente, Material e Operações de
Engenharia. Disponível em: <http://www.dec.eb.mil.br/index.php/en/missao-e-visao-de-futuro>. Acesso
em: 29 nov. 19.
30 (a) Versão horizontal; (b) Versão vertical.
18
(a) (b)
as cores da marca;
o castelo e os as palavras da
as linhas e curvas; e
tijolos marca
as letras
Dicissignos:
Sin-signos: Índices: a sigla
o uso conjunto das linha externa do "BRAENGCOY” e
SECUNDIDADE cores do Brasil; o castelo da a sentença
desenho do castelo; BRAENGCOY e a “Brazilian
os tijolos textura de tijolos Engineering
Company”
Legi-signos:
a percepção da
nacionalidade Argumentos:
brasileira; a relação da marca
Símbolo:
a associação do às atividades da
TERCEIRIDADE o castelo da
castelo à Arma de Engenharia Militar
BRAENGCOY
Engenharia; e a do Exército
associação da Brasileiro
textura de tijolos à
área de construção
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
para construir sua identidade e posicioná-la nos cenários haitiano e internacional, bem
como frente aos diversos públicos da Companhia de Engenharia Brasileira. Isto porque
a Capitão Karla afirma que, em função das ações de Comunicação Institucional
mencionadas neste trabalho, ao final dos seis meses de emprego do 19º Contingente da
BRAENGCOY, a nova marca já se encontrava fixada entre os componentes civil e
militar da MINUSTAH e entre os demais públicos, nacionais e internacionais, que se
relacionavam com a Companhia, incluindo os haitianos.
Ainda de acordo com a oficial, no que se refere à percepção do público interno –
a tropa de Engenharia e os funcionários civis haitianos – o uso da marca revitalizada da
BRAENGCOY gerou, entre esses integrantes, um sentimento maior de pertencimento,
por aprovarem e se identificarem com a nova identidade da Companhia.
Por outro lado, em razão do reconhecimento pelos trabalhos desenvolvidos pela
BRAENGCOY no decorrer da MINUSTAH, especialmente no que tange aos momentos
críticos de apoio à defesa civil, a Capitão Karla percebeu, também, entre o público
externo, que havia uma transferência dos valores dessa atuação de sucesso para o
processo de assimilação da nova marca, “ao ponto de fortalecê-la com uma reputação
baseada em seriedade, credibilidade e competência”. Valores esses reforçados pela
origem da tropa, também representada na marca, por ser constituída por militares do
Exército Brasileiro, Instituição que, segundo a oficial de comunicação, já possuía uma
imagem muito bem posicionada, tanto no ambiente operacional do Haiti como diante da
comunidade internacional. Constatação essa que corrobora com o Argumento avaliado
na Terceira Tricotomia de Peirce, na fase da Terceiridade, última categoria universal de
fenômeno (vide Tabela 2): a relação da marca às atividades da Engenharia Militar do
Exército Brasileiro.
Em virtude do que foi exposto, avalia-se que, na gestão de branding, realizada
pela equipe de Comunicação Social da BRAENGCOY 19, a Organização Militar
adotou, claramente, uma linha de ação que permitiu obter uma importante dinâmica de
relacionamento, afeta a todos os seus públicos, quanto à associação da marca à atuação
de sucesso da Engenharia Militar do Brasil na MINUSTAH, bem como quanto à
credibilidade e tradição do Exército Brasileiro. Entretanto, configurou-se, na época, em
um produto de ações de comunicação que necessitariam ser estimuladas pelos
contingentes posteriores, para que fosse possível administrar e fortalecer ainda mais tal
interação em benefício dos objetivos almejados pela Companhia.
23
REFERÊNCIAS
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Editora
Atlas S.A., 2007.
GUIMARÃES, Ricardo. Branding: Uma nova filosofia de gestão, IN: Revista ESPM,
São Paulo: v. 10, a. 9, p. 86 – 103 mar./abr. 2003.
HILLER, Marcos. Branding: A arte de construir marcas. São Paulo: Trevisan, 2012.
KOTLER, Philip. Keller, Kevin Lane. Administração de marketing – 14. ed. – São
Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.
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ANEXO A
ENTREVISTA
Entrevistada: Capitão do Exército Karla Roberta Holanda Gomes Moreira, oficial que
integrou a equipe de Comunicação Social do 19º Contingente da Companhia de
Engenharia Brasileira, idealizadora da marca definitiva da BRAENGCOY.
4. Além da criação da nova marca, o que mais se fez para resolver a questão da
identidade da BRAENGCOY?
Desenvolvemos algumas ações de Comunicação Institucional. Primeiro, criamos
um manual de uso da marca, para padronizar sua aplicação, quanto ao formato, tipo de
fundo, uso variado de cores, com e sem slogan etc., para facilitar o emprego da marca
por contingentes futuros. No período da BRAENGCOY 19, produzimos diversos
materiais gráficos e de divulgação, personalizados, voltados para os públicos externo e
interno. Padronizamos até os materiais áudio-visuais com a nova marca (vídeos e
apresentações). Tudo isso para fixá-la e fortalecer a associação de ideias que
pretendíamos.