Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O Programa Estratégico do Exército (PrgEE) Guarani consiste na implantação de
uma Nova Família de Blindados sobre Rodas (NFBR), concebida para transformar
a Infantaria Motorizada em Mecanizada e modernizar as Unidades de Cavalaria,
que empregam as Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal (VBTP) EE-11
Urutu desde 1974. Atualmente, o Programa vem contribuindo para o fomento
de novas capacitações, fortalecendo a indústria brasileira com a obtenção de
tecnologia de emprego dual (civil e militar). Diante do exposto, o presente
trabalho discorrerá sobre o alinhamento do Projeto Viaturas 6x6, Média Sobre
Rodas (MSR), com as orientações e diretrizes da minuta da Política Nacional
de Defesa (PND-END 2016), tendo como base as Estratégias de Defesa (ED),
que substituíram as diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa (END 2012).
Pretende-se, ao final, demonstrar que os benefícios gerados por este Programa
favorecem a consecução dos Objetivos Nacionais de Defesa (OND), contribuindo
para a Defesa Nacional, o desenvolvimento da Base Industrial de Defesa (BID) e
a soberania do Brasil.
Palavras-chave: Defesa Nacional; Documentos de Defesa; Guarani; Programas
Estratégicos.
THE NEW NATIONAL DEFENSE STRATEGY AND THE ALIGNMENT OF THE ARMY’S
STRATEGIC PROGRAM GUARANI
ABSTRACT
The Guarani Army’s Strategic Program consists of the implementation of a New
Family of Wheeled Armored Vehicles, designed to transform the Motorized
Infantry into Mechanized and modernize the Cavalry Units that employ the
174 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
Armored Personnel Carrier Vehicle (APC) EE-11 Urutu since 1974. Actually, the
Program is contributing to the promotion of new skills, strengthening the Brazilian
industry by the obtaining of dual employment technology (civil and military).
Thus, this paper will discuss the alignment of the Project Vehicles 6x6, average on
wheels, with the guidelines of the draft of the PND-END 2016’ draft, based on the
Defense Strategies, which replaced the Guidelines of the END 2012. It’s intended,
at the end, to demonstrate that the benefits generated by the Program GUARANI
favor the achievement of the National Defense Objectives, contributing to
National Defense, the development of the Industrial Defense Base and the Brazil’s
sovereignty.
Key words: National Defense; Defense Documents; GUARANI; Strategic Programs.
RESUMEN
El Programa Estratégico del Ejército PrgEE Guarani consiste en la implantación
de una Nueva Familia de Blindados sobre Ruedas, concebida para transformar la
Infantería Motorizada en Mecanizada y modernizar las Unidades de Caballería,
que emplean los Vehículos Blindados de Transporte de Personal EE-11 Urutu
desde 1974. Actualmente, el Programa está contribuyendo para el fomento de
nuevas capacidades, fortaleciendo la industria brasileña con la obtención de
tecnología de empleo dual (civil y militar). En el presente trabajo se discutirá
sobre la alineación del Proyecto Vehículos 6x6, Media sobre Ruedas, con las
orientaciones y directrices del borrador de la PND-END 2016, teniendo como
base las Estrategias de Defensa, que sustituyeron a las Directrices de la END 2012.
Se pretende, al final, demostrar que los beneficios generados por el Programa
Estratégico GUARANI favorecen la consecución de los Objetivos Nacionales de
Defensa, contribuyendo a la Defensa Nacional, el desarrollo de la Base Industrial
de Defensa y la soberanía de Brasil.
Palabras clave: Defensa Nacional; Documentos de Defensa; Guarani; Programas
Estratégicos.
1 INTRODUÇÃO
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 175
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 177
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
(FRANKO-JONES, 1987, p. 42)1. Um grande diferencial dos seus produtos foi a famosa
suspensão bumerangue, cujo desempenho pode ser visualizado na Figura 1:
O sucesso do Cascavel e do Urutu fez com que a Engesa iniciasse, no final dos
anos 1970, o estudo de um blindado composto de um canhão de baixo recuo, que
pudesse ser acoplado a um veículo de pequeno porte de grande mobilidade estratégica,
velocidade e elevado raio de ação. Assim, surgiu o projeto do Veículo Caça-tanques
EE-17 Sucuri, o qual tomou como base o chassi da VBR Cascavel. (BASTOS, 2003).
O grande diferencial desse carro, o aumento de 1,10 m da distância entre os
eixos, permitiu acoplar um canhão de 105 mm. Seu reduzido peso (18.500 Kg), em
relação aos veículos de lagartas, fez do Sucuri “o caça tanque mais veloz do mundo,
podendo alcançar em estradas 110 km/h, com condições de enfrentar carros de
combate inimigos, a curta ou média distância [...]”. (BASTOS, 2007, p. 4).
Apesar do seu potencial, o uso da suspensão bumerangue não obteve o
mesmo resultado dos veículos anteriores, pois o Sucuri era um veículo estreito,
comprido e alto. Além disso, a torre FL-12 de fabricação francesa não apresentou
a inovação esperada, fazendo com que o desempenho geral do carro fosse
insatisfatório. (BASTOS, 2003).
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 179
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
O projeto teve a sua segunda chance entre 1986 e 1987, quando passou
a se chamar EE-18 Sucuri (II). A nova versão contou com o novo motor Scania
turbo 384 CV, que elevou a sua velocidade máxima de 110 Km/h para 115 km/h.
E a suspensão bumerangue substituída por uma suspensão hidropneumática,
menos volumosa; desenvolvendo-se uma nova torre pela empresa Engenheiros
Especializados S.A. (Engesa), que acoplou um canhão 105 mm da empresa
italiana Oto-Melara. Ademais, o veículo teve o seu perfil rebaixado e permitiu
o acréscimo de mais um homem na guarnição do Carro (4 militares). (LEXICAR
BRASIL, 2014).
Apesar dessas inovações, o caça-tanques Sucuri ficou ainda na fase de
protótipo, possivelmente pela falta de interesse do EB em avaliá-lo e a preferência
internacional por modelos sobre lagartas. Ao final, o protótipo foi “desmanchado e
vendido como ferro velho, sendo que seu canhão foi devolvido à Oto-Melara [...]”.
(BASTOS, 2003, p. 10).
A Engesa também inovou ao desenvolver o Veículo de Reconhecimento Leve 4x4
EE-3 Jararaca, como “mais um derivado do bem-sucedido Cascavel” (LEXICAR BRASIL,
2014, p. 5). Bastos (2006, p. 1) aborda que a concepção desse novo blindado teve
como objetivo “[...] substituir o velho jipe como veículo de exploração nas unidades de
cavalaria mecanizada, dada a sua vulnerabilidade e ausência total de blindagem”.
O Veículo foi projetado para ter grande mobilidade (até 100 Km/h), sendo
equipado com uma metralhadora externa (calibre 7,62 mm ou. 50), quatro
lançadores de granadas fumígenas e o aprovisionamento de até 1600 tiros de 7,62
mm. A baixa silhueta e a facilidade de manobra do Jararaca tornaram-no um veículo
extremamente operacional para a patrulha de áreas urbanas, em substituição à
plataforma 6x6, que, por vezes, tem o seu emprego limitado em Operações de
Pacificação, face às suas grandes dimensões.
O Jararaca também contava com a vantagem dos seus componentes mecânicos
serem oriundos da indústria automotiva nacional, usados em caminhões, o que
facilitava a logística de reposição de peças. O seu motor era o tradicional Mercedes
Benz OM-314A, com quatro cilindros em linha e alguns dos seus componentes
fabricados pela própria Engesa, a exemplo da caixa de descida e da caixa de
transmissão múltipla.
Em que pese as suas especificações, não se considerou o Jararaca o melhor
veículo concebido pela ENGESA. Sua produção foi totalmente exportada “para
países como Uruguai (16), Guiné (10), Gabão (12), Equador (10) e Chipre (15)
[...]”. (BASTOS, 2006, p. 4) e o Iraque, que teria exportado cerca de 300 unidades.
(SMANIOTTO, 1997 apud STRACHMAN; DEGL’LESPOSTI, 2010).
O sucesso da Engesa, impulsionado pela Guerra entre o Irã e o Iraque (1979-
88), estimulou as exportações brasileiras de material bélico ao redor do mundo. Nessa
ocasião, exportaram-se cerca de 1.070 blindados para o Iraque, correspondendo à
metade da Força Terrestre iraquiana. O reflexo dessa parceria fez com que a Engesa
180 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 181
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
Fonte: O AUTOR, com base na Estrutura Analítica do Programa GUARANI (EPEx, 2018a).
182 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 183
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
2 Instituição privada sem fins lucrativos, de apoio ao Instituto Militar de Engenharia (IME).
184 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 185
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
Os benefícios gerados pelo Prg EE Guarani vão além dos OEE e se estendem aos
ONP elencados na PND 2016. Para que esses objetivos sejam atingidos e mantidos,
a END 2016 estabeleceu as ED que representam “o vínculo entre o posicionamento
do País nas questões de defesa e as ações necessárias para efetivamente dotar o
Estado da capacidade para preservar os seus valores fundamentais”. (BRASIL, 2016a,
p. 32). Essas capacidades decorrem do contínuo processo de transformação, que se
sustentam nas características doutrinárias do FAMES.
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 187
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
188 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
3 São revestimentos projetados para veículos militares feitos de materiais absorventes de energia,
que protegem a tripulação embarcada em blindados contra fragmentos de metal decorrentes de
ataques inimigos.
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 189
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
190 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
5 O PIS e a COFINS são siglas de dois tributos pertencentes à Constituição Federal nos artigos 195
e 239, que significam: PIS - Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do
Servidor Público – PIS/PASEP; e COFINS: Contribuição para Financiamento da Seguridade Social.
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 191
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A nova Estratégia Nacional de Defesa de 2016 estabelece as orientações e
diretrizes gerais para todos os segmentos da sociedade brasileira. É a forma de
maximizar o Poder Nacional para que, superando os óbices, sejam alcançados os
objetivos nacionais de mais alto nível do País.
192 Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018
A Nova Estratég. Nac. de Defesa e o Alinhamento do Progr. Estratég. Guarani do Exército Brasileiro
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 193
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
REFERÊNCIAS
______. Livro Branco de Defesa Nacional [minuta]. Brasília, DF: Casa Civil, 2016b.
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 195
Luciano Luiz Goulart Silva Dias / Alzeir Costa dos Santos / Carlos Eduardo De Franciscis Ramos
GIL, A. C. (2002). Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2002. 175p.
MINISTÉRIO DA DEFESA. Base Industrial de Defesa (BID). Brasília, DF: Casa Civil,
2017. Disponível em: http://www.defesa.gov.br/industria-de-defesa/base-
industrial-de-defesa. Acesso em: 27 abr. 2018.
PLANO BRAZIL. Iveco Guarani faz sua estreia nas Forças Armadas do Líbano, 2017.
Disponível em: http://www.planobrazil.com/iveco-Guarani-faz-sua-estreia-nas-
forcas-armadas-do-libano. Acesso em 14 mai. 2018.
SERAPIÃO, Fábio. Armas do crime vêm de Paraguai e EUA e rota é pela Tríplice
Fronteira, diz PF. Folha de S. Paulo, São Paulo, 9 jan. 2018. Disponível em: https://
brasil.estadao.com.br/noticias/geral,armas-do-crime-vem-de-paraguai-e-eua-e-
rota-e-pela-triplice-fronteira-diz-pf,70002143559. Acesso em 20 jul. 2018.
Revista da Escola Superior de Guerra, v. 33, n. 69, p. 174-197, set./dez. 2018 197