Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Ijuí (RS)
2014
1
Ijuí (RS)
2014
2
Catalogação na Publicação
CDU: 91
911
COMISSÃO EXAMINADORA:
___________________________________________________
Profª Drª Helena Copetti Callai (Orientadora)
___________________________________________________
Profª Drª Adriana Maria Andreis
___________________________________________________
Profª Drª Maria Simone Vione Schwengber
AGRADECIMENTOS
(Friedrich Nietzsche)
7
RESUMO
ABSTRACT
This dissertation was the result of a bibliographical research work about the Geography
teacher's teaching in high school. Left of the challenges faced in the process of education and
consolidation of the movements and educational policies in Brazil. Present geography school
from the formation of professional Geography that develops skills and competencies to
interpret reality under the school of geography. I consider the school space as possibility of
teaching and learning. The theoretical analysis and documents based on the relationship of
geography education and formative process that subject proposes to the students of the high
school. This research work “geography in high school: the school geography”, aims to
consider education in Brazilian historical context, with their struggles and victories. In the
dissertation, I highlight the law of guidelines and Base (LDB) and other theoretical references
as documentation and Legal consolidation of education in Brazil. Present educational process
in geography as a subject in high school. On teacher's training, I understand that we need to
deepen the knowledge about geography theorists and thinkers of education.Seek the
geographical concepts I understand them from the perspective of the school. Thus the
acquired knowledge in practice strengthens the interests of the teacher and student through the
process of teaching and learning. From this perspective, I believe that, to read the reality, we
must provide some instruments produced by humanity and adopt a posture of researcher,
which requires a continuous training, in search of methodologies that help interpret a flexible
and complex society, both in its cultural and economic Constitution in the space in which it is
inserted.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 10
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 79
10
INTRODUÇÃO
1 A EDUCAÇÃO NO BRASIL
1
Ao longo do texto será utilizado a sigla PNEM para se referir ao Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
Médio. O Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio foi regulamentado pela Portaria Ministerial Nº
1.140, de 22 de novembro de 2013. Através dele, o Ministério da Educação e as secretarias estaduais e distrital
de educação assumem o compromisso pela valorização da formação continuada dos professores e coordenadores
pedagógicos que atual no ensino médio público, nas áreas rurais e urbanas. Um portal com informações e
materiais sobre o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio entrará no ar em alguns meses.
(http://portal.mec.gov.br/) acesso 09/09/2014.
14
desde a educação jesuítica, basicamente catequética até os dias atuais em que a população vai
sendo inserida de forma gradativa, principalmente a partir de 1930 com início da educação
pública.
Aceita-se a tese de que todo grupo étnico tem um modo de formar e educar (aprender e
ensinar). Os povos ameríndios que existiam no continente americano; também tinham seu
modo singular de educar, assim como os povos europeus que aqui chegaram.
Os indígenas praticavam uma educação assentada na sua cultura, uma educação
transmitida de forma oral e com base na sustentabilidade, e compreendida, muitas vezes, pelo
conhecimento que tinham da natureza. O aprendizado ocorria entre os sujeitos que
compunham o grupo indígena. Via de regra os mais velhos ensinavam os mais jovens. Os
ensinamentos eram transmitidos de forma oral (a transmissão se dava de forma oral por serem
povos agrafos, isto é, não usavam a escrita) tendo em vista que era sociedade ligada aos
recursos naturais e ao cultivo agrário.
Os jesuítas que chegaram ao território brasileiro em março de 1549 juntamente com o
primeiro governador-geral, Tome de Souza, iniciaram o processo de educação catequética,
isto é, substituir muitos elementos da cultura local pela fé e costumes europeus.
O objetivo dos jesuítas era a formação religiosa, com grande referência às famílias,
como afirma Ribeiro (2003, p. 28): “a importância social desses religiosos chegou a tal ponto,
que se tornaram a única força capaz de influir no domínio do senhor de engenho”. E continua
afirmando que “isso foi conseguido não só através dos colégios, como do confessionário, do
teatro e, particularmente, pelo terceiro filho, que deveria seguir a vida religiosa, sendo que o
primeiro seria herdeiro e o segundo letrado” (Idem).
A educação jesuítica tem grande influência em todo o processo de constituição da
educação e da escola no Brasil e mesmo após sua expulsão por Marquês de Pombal
permanecem influenciando a educação no país.
A educação jesuítica que se fez presente desde o início da colonização, no Império não
foi um modelo de educação de caráter popular, isto é, uma educação para todos. Esse modelo
de educação representou um início tímido da educação neste país. Era uma educação elitista
destinada a alguns poucos. Suas características predominantes podem ser observadas no O
Ato Adicional de 1834 que traz à Constituição (1824) alguns traços de federalismo. São
criadas as Assembleias Provinciais, que dividem com a Assembleia Geral a competência de
legislar em certas matérias, por exemplo, no caso da “instrução pública” (BRASIL, 2013, p.
6).
15
Conforme ainda “Somente a partir do Ato Adicional altera-se a feição dos estudos
secundários, até então fragmentados em aulas avulsas, à moda das aulas régias dos tempos da
Colônia” (BRASIL, 2013, p. 6), no caderno 1 do Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio.
O Colégio Pedro II2, no Rio de Janeiro, é a representação do tipo de escola criada para
a população elitizada do país. Mesmo sendo público, esse atendia a alta sociedade carioca,
“foi criado com o propósito de formar as elites nacionais, os altos quadros políticos,
administrativos e intelectuais do país” (BRASIL, 2013, p. 7). O colégio, com seu modelo de
educação, cumpriu o papel de escola de qualidade e para elite, onde “permaneceu, durante
todo o regime monárquico, como referência para a organização dos liceus provinciais e, após
a Proclamação da República, continuou a apresentar grande relevância na configuração dos
estudos secundários” (Idem).
Aos poucos que tinham condições de frequentar o Colégio Pedro II, foi dado também
o privilégio de uma formação continuada, através da possibilidade de formação em qualquer
faculdade presente no império.
Aos bacharéis em Letras pelo Colégio foi concedido direito à matrícula em qualquer
das faculdades do Império, independentemente de novas provas, direito que não foi
estendido aos estabelecimentos provinciais. O não reconhecimento dos graus,
títulos, estudos seriados e regulares conferidos pelos liceus provinciais definiu os
rumos do ensino secundário provincial (BRASIL, 2013, p. 7).
Essas foram as bases iniciais do ensino secundário no Brasil. Uma vez considerados
desnecessários à aprovação nos exames parcelados para os cursos superiores, eles
desapareceram gradativamente, cedendo lugar a um plano de ensino limitado às matérias
preparatórias para o sistema de estudos parcelados (BRASIL, 2013, p. 7).
2
Atualmente, possui 12.000 alunos nas suas 12 unidades escolares, situadas na cidade do Rio de Janeiro nos
bairros do Centro, São Cristóvão (3 unidades), Humaitá (2 unidades), Tijuca (2 unidades), Engenho Novo (2
unidades) e Realengo (2 unidades). Também possui uma unidade em Niterói e outra em Duque de Caxias.
(BRASIL, 2013, p. 7).
16
A escola no Brasil, sua construção e estruturação para chegar à condição que temos
hoje, passou por muitas lutas que aconteceram nos diversos tipos de governo vivenciados em
nosso país.
O que é possível ser visualizado é que o secundário não estava vinculado às inciativas
públicas, pelo contrário, achavam-se “entregues quase exclusivamente à iniciativa dos
particulares” (BRASIL, 2013, p. 7).
A República foi proclamada no ano de 1889, mas o país só assumiu a condição de
nação republicana no decorrer dos anos, consolidando-se os critérios da nova república, tais
como a definição do papel da Igreja e do Estado, marcando assim o processo educacional
nesse período.
avançar mais em qualidade, melhorando diversos setores, tais como as estruturas didáticas e
pedagógicas e as condições de trabalho dos educadores.
Como afirma Celso Beisiegel (1974, p. 21-22), embora, no Brasil, não tenha se
constituído um “rígido padrão dualista de ensino” observado nos países europeus do
século XIX, percebe-se, mesmo assim, a existência de dois “sistemas” paralelos de
educação, um para o “povo” e o outro para as classes superiores, de nítidos
contornos no ensino posterior ao primário. Os alunos provenientes da escola
primária popular não tinham, também, acesso às escolas secundárias.
Aqui, a expressão educação “popular” se definiu em oposição ao ensino de tipo
secundário. Este ensino e a sua continuação natural nas escolas superiores apareciam
como a educação seletiva. Tudo o mais – o ensino público elementar e as poucas
escolas de preparação profissional – iriam a constituir o ensino do “povo” (BRASIL,
2013, p. 8-9).
É desejo de muitos pensadores da educação que todos tenham livre acesso à Educação
Superior, eliminando-se assim a necessidade de vestibular ou qualquer outro método seletivo.
Essa possibilidade ainda se faz distante. Por mais que as políticas públicas tenham avançado
em relação ao acesso ao ensino, não temos ainda no país espaços instituídos que possam
acolher todos que desejam ingressar na Educação Superior pelas universidades e outros
institutos, justificando, assim, a necessidade de seleção.
18
Para Ghiraldelli Jr. (2001, p. 19) “basicamente três correntes pedagógicas distintas
formaram o cenário das lutas políticas da Primeira República: a Pedagogia Tradicional, a
Pedagogia Nova e a Pedagogia Libertária”. Afirma Ghiraldelli Jr. (2001, p. 19) que “essas três
vertentes pedagógicas, grosso modo, podem ser vistas associadas a três diferentes setores
sociais”. As práticas pedagógicas, “pode-se dizer, esquematicamente, que a Pedagogia
Tradicional associava-se às aspirações dos intelectuais ligados às oligarquias dirigentes e
Igreja” (Idem).
A escola sempre esteve presente, historicamente, entre os mais favorecidos
economicamente. “A Pedagogia nova emergiu no interior de movimento da burguesia e das
classes médias que buscam a modernização do Estado e da sociedade e no Brasil”
(GHIRALDELLI Jr., 2001, p. 19). O processo pedagógico que se deu no meio burguês, não
foi uma proposta de pedagogia popular, ou seja, não foi direcionada para todos. Diferente das
duas propostas de pedagogia surge:
A Pedagogia Libertária, ao contrário das duas primeiras, não teve origem nas classes
dominantes; vinculou-se aos intelectuais ligados aos projetos dos movimentos
sociais populares, principalmente aos desejos de transformações social contidos nas
propostas do movimento operário de linha anarquista e anarco-sindicalista
(GHIRALDELLI Jr., 2001, p. 20).
exposição de motivos, Francisco Campos afirma ser o ensino secundário o mais importante
ramo do sistema educacional, em termos quantitativos e qualitativos” (BRASIL, 2013, p. 12).
Reformas sempre foram necessárias no processo educacional tendo como referência
toda educação básica. A citação a seguir reafirma esta ideia:
A modificação dessa situação no início dos anos 1950 foi interpretada na época
como uma “verdadeira revolução no ensino médio brasileiro”, pois abria a
possibilidade de os alunos dos cursos profissionais se transferirem para o curso
secundário. Além disso, facultava aos diplomados do segundo ciclo então existente o
direito de se candidatarem aos cursos superiores. Posteriormente, a Lei das
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, vai estabelecer a completa
equivalência dos cursos técnicos ao secundário, para efeito de ingresso em cursos
superiores (BRASIL, 2013, p. 18-19).
21
3
Conselho Federal de Educação foi criado e amparado pela Lei nº 4.024, de 20/12/1961, durando até a criação do
Conselho Nacional de Educação pela Lei nº 9.131/95) portal.mec.gov.br. acesso 09/09/2014.
22
uma Educação Tecnicista e profissionalizante, “as escolas poderiam montar um 2º grau com
habilitações em ‘Carne e Derivados’, ou em ‘Cervejaria e Refrigerante’, ou ‘Leite e
Derivados’” (Idem).
A Educação Tecnicista que foi criada e pensada no Brasil em plena Ditadura, tinha
como objetivo criar técnicos que pudessem operar de forma direta no processo de
mecanização crescente no Brasil. Proporcionando aos jovens um processo de Ensino e
aprendizagem pouco reflexivo e muito operacional. Sendo executando de maneira
generalizada nas escolas pública. “É óbvio que os colégios particulares (e os grandes
empresários do ensino sempre tiveram grande influencia no interior do CFE) souberam
desconsiderar toda essa parafernália ‘profissionalizante’” (GHIRALDELLI Jr., 2001, p. 182).
A pedagogia tecnicista busca atingir as massas menos favorecida, que frequentavam as
escolas públicas, espaço dos educandos de baixa renda, logo; “as escola particulares,
preocupadas em satisfazer os interesses de sua clientela, ou seja, em propiciar o acesso ao 3º
grau, desconsideraram (através de fraude, obviamente) tais habilitações e continuaram a
oferecer o curso colegial propedêutico à universidade” (GHIRALDELLI Jr., 2001, p. 182).
Como, acontece e aconteceu em diversos contextos envolvendo a educação “as escolas
públicas, obrigadas a cumprir a lei, foram desastrosamente descaracterizadas” (Idem).
A educação tecnicista foi um marco na proposta educacional nos governos Militares.
Regulamentou através da LDB (Lei 5.692/7) 1º e 2º Grau, hoje Ensino Fundamental e Ensino
Médio. “Mas o equívoco maior da Lei 5692/71 não foi ainda trazido a tona. Tendo
transformado todo o 2º grau em profissionalizante acabou desativando também a Escola
Normal, transformando o curso de formação de professores de 1ª a 4ª série na ‘Habilitação
Magistério’” (GHIRALDELLI Jr., 2001, p. 183).
A educação tecnicista propôs uma organização e preparação da sociedade,
principalmente, para os jovens, que atendesse a necessidade de mão de obra nas fábricas.
Atendendo de forma direta o capital presente nas mãos dos grandes empresários. É o aparato
governamental, assumindo a preparação dos jovens para o mercado do trabalho.
A educação tecnicista deixou marcas que perduram desde instauração desde a ditadura
militar no Brasil extrapolando o período da redemocratização política. O processo pensado de
uma maneira excludente, onde os menos favorecidos eram como massa de manobra para faze
funcionar o projeto, tendo uma formação cognitiva e crítica precária resultando na mudança
do 2º grau, hoje Ensino Médio.
23
4
Foi um geógrafo, político e militar brasileiro, tendo sido 30º Presidente do Brasil de 1979 a 1985 e o último
presidente do período do regime militar.
24
As Leis Orgânicas foram complementadas por Raul Leitão da Cunha, que o sucedeu
no Ministério após o término do Estado Novo, em 1945. Entre 1942 foram postos
em execução os seguintes decretos-Leis:
1. Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino Industrial.
2. Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942, cria o Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI) – outros decretos seguiram a este, completando a
regulamentação da matéria.
3. Decreto-lei 4.244, de abril de 1942, Lei Orgânica do Ensino Secundário.
4. Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, Lei Orgânica do Ensino
Comercial.
5. Decreto-lei 8.529 e 8. 530, de 2 de janeiro de 1946, Lei Orgânica do Ensino
Primário e Normal, respectivamente.
6. Decreto-lei 8.621 e 8.622, de 10 de janeiro de 1946, cria o Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAI).
7. Decreto-lei 9.613, de agosto de 1946, Lei Orgânica do Ensino Agrícola (Idem, p.
26-27).
5
A LDB conhecida como: “Lei Darcy Ribeiro”, homenageando o importante educador e político do país. Darcy
Ribeiro foi um dos principais formuladores da LDB, que é uma lei dinâmica, pois vem sendo reformulada no
decorrer dos anos de acordo com necessidade e exigência educacional.
25
de forma sólida, orientando as constantes discussões e projetos que se fazem presentes nas
produções teóricas que buscam melhorar a educação. Produções teóricas, em muitos
momentos, fundamentam as inúmeras propostas construídas, pelas políticas de governo que
tentam dar respostas aos momentos de crise da educação.
A LDB, com suas inovações desde a Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 até a
Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996, tem papel importante na construção de uma
linguagem nacional entre os diversos momentos da educação interpretados e executados nas
redes federal, distrital, estaduais e municipais; salvaguardando, de forma legal, as escolas
públicas e privadas.
O processo de constituição da LDB (Lei de 20 de dezembro de 1996), não foi tarefa
fácil para tantos que pensam a educação nos diversos momentos em que foi colocada em
pauta na construção política e social do Brasil. Em relação ao processo de implantação da
LDB, afirma Roberto Geraldo de Paiva Dornas, “tratava-se de um documento nitidamente de
esquerda e corporativista que atendia apenas aos interesses de certos profissionais do ensino
público e não aos do sistema educacional do país” (DORNAS, 1997, p. 13). Mas mesmo
assim esse projeto tem seus méritos, pois provocou o debate em torno da necessidade de uma
LDB que atendesse aos interesses do conjunto da população brasileira.
Pela LDB, a educação e todo o sistema educacional devem ser compreendidos como
processos próximos e relacionados à convivência humana, como confirma o artigo 1º da lei:
“A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” (BRASIL, 2010, p.
10).
Sancionada pelo presidente da República, da época, Fernando Henrique Cardoso, a
LDB passou por um penoso e lento período de elaboração. Esse período teve início em
dezembro de 1988, acontecendo após a promulgação da Constituição Brasileira de 1988 (que
teve a denominação de Constituição Cidadã) vindo a ser concluída oito anos mais tarde.
A LDB abriga caminhos por meio de leis para reger a educação no país, afirma que A
educação, é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do Educando, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2010, p. 8).
Como se pode constatar, a LDB trouxe mudança no processo educacional do país. Esta
lei visa, entre outras questões, tornar a escola um espaço de participação social, valorizando, o
respeito, a pluralidade cultural e a formação do cidadão. A escola, os professores e os
26
Para que as políticas de educação funcionem realmente, as condições legais têm que se
fazerem conhecidas e executadas. A lei apresenta de forma clara as habilidades exigidas na
educação básica: “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-
lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para
progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 2010, p. 23). Assim:
27
A LDB também aponta quais são as responsabilidades dentro da gestão pública para o
bom andamento do processo educacional. O artigo 74 diz que:
A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com
as seguintes regras comuns:
I – a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um
mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos
exames finais, quando houver;
II – a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino
fundamental, pode ser feita:
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase
anterior, na própria escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela
escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita
sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo
sistema de ensino;
III – nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento
escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a sequência
do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino;
IV – poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com
níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas
estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares.
A avaliação acontece de modo permanente no processo de ensino e aprendizagem
aspirando a qualificação da Educação. Quanto a avaliação o referido artigo prevê os
seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período
letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
instituições de ensino em seus regimentos (BRASIL, 2010, p. 20-22).
28
Como uma produção teórica que aponta para o trabalho didático e pedagógico do
professor na atuação escolar, os “Parâmetros Curriculares Nacionais” são uma possibilidade
de qualificação para toda Educação Básica constituem um referencial na abordagem dos
conceitos e conteúdos no Ensino Médio. É necessário na construção educacional, pois aponta
meios para desenvolver o processo escolar.
da escola, possibilitando assim à própria escola uma constante e real inovação, como afirma o
próprio documento em sua introdução:
O projeto de reforma curricular do Ensino Médio teve como estrutura, desde sua
origem, um modelo cuja principal preocupação era proporcionar um diálogo
constante entre os dirigentes da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, a
equipe técnica coordenadora do projeto da reforma e os diversos setores da
sociedade civil, ligados direta ou indiretamente à educação. Definiu-se que, para a
formulação de uma nova concepção do Ensino Médio, seria fundamental a
participação de professores e técnicos de diferentes níveis de ensino (BRASIL,
2000, p. 7).
não foi só no Brasil que isso se deu. A História, a Sociologia, a Ciências Política, o
Direito, a Economia, a Psicologia e a Geografia de – esta última, a meio caminho
das Ciências Humanas e as Naturais – contribuíram por toda parte para a superação
das humanidades clássicas. Em sua contribuição, voltaram-se para o homem, não
com a preocupação de formá-lo, mas de compreendê-lo. Assim fazendo, passaram a
circundar em torno de um mesmo objeto principal: o humano, explorado em todas as
suas vertentes (BRASIL, 1999, p. 15).
Os documentos dos PCNs para o Ensino Médio mostram como deve ser a formação do
cidadão no processo de ensino e aprendizagem:
não apenas para os interesses das classes dominantes. “O Censo de 2010 (IBGE) mostra uma
queda no índice de analfabetismo em nosso país nos últimos dez anos (2000 a 2010). Em
2000, o número de analfabetos correspondia a 13,63% da população (15 anos ou mais de
idade)” (BRASIL, 2010).
Em se tratando de educação, quando o problema é difícil provavelmente a busca de
solução também vai ser difícil. E quando se envolvem os conhecimentos e o saber, é
importante conhecermos o que diz Freire (1996, p. 54): “ensinar não é transferir
conhecimento é fundamentalmente pensar certo, é postura exigente, difícil, às vezes penosa,
que temos de assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos, ante
nos mesmos”.
O processo educacional é a qualificação do ser humano que rompe constantemente
com sua história. Segundo Santos (1994, p. 5): “A história do homem sobre a Terra é a
história de uma ruptura progressiva entre o homem e o entorno”.
A escola nasce na comunidade e tem uma forte ligação com a história da comunidade;
com suas vitórias e seus fracassos. A escola cresce com a comunidade, que deve ser a
inspiradora da legislação. Para os PCNs: “É essencial a vinculação da escola com as questões
sociais e com os valores democráticos, não só do ponto de vista da seleção e tratamento dos
conteúdos, como também da própria organização escolar” (BRASIL, 1997, p. 48).
Os valores e desvalores podem ser construídos pelos homens e mulheres ou pelas
instituições. Torna-se, portanto, importante que o Estado promova leis que garantam a
manutenção dos valores. Nesta perspectiva, conforme os PCNs: “As normas de
funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem a atuação das pessoas na
escola são determinantes da qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa sobre a
formação dos alunos” (BRASIL, 1997, p. 48).
A escola trabalha com a cultura do saber, das relações de amizades, de troca de
conhecimento de aprendizagem, com as quais se constrói uma das maiores grandezas da
humanidade: a educação. Essa escola precisa ser dinâmica, autêntica, crítica, formadora de
alunos pensantes, capacitados a entender a realidade, e assim construir conhecimento.
Considera-se que diversos são os temas, conteúdos e vivências nos ambientes escolares que
influenciam na construção do processo de ensino e aprendizagem do cidadão.
A sociedade é inacabada. Educador e educando são sociedade, logo são inacabados. É
bom ter a consciência do inacabado, mas não do desaminado, compreendendo Freire (1996, p.
59), que diz: “gosto de ser gente, porque inacabado sei que sou um ser condicionado, mas
consciente do inacabado, sei que posso ir mais além dele”. Pensando a educação como um
35
processo inacabado, Boufleuer (1991, p. 20), no contexto de uma reflexão de Freire, diz que
“o inacabamento caracteriza o homem como um ser em busca, em construção. A tomada de
consciência disso constitui a raiz da própria educação. E é também sob esse aspecto que o
homem se distingue dos animais”.
O perfazer-se, ou seja, fazer-se sempre novamente, deve ser uma atitude constante no
processo de ensino e aprendizagem engendrado pela escola. O sentido do inacabado na
pesquisa, quando bem entendido, é incentivo à atitude dialética e inovadora no trabalho de
estudantes e pesquisadores.
Comungando da ideia de Gramsci, Marques (1996, p. 78) afirma que “a escola
vincula-se às experiências pregressas e as experiências vividas no âmbito de uma cultura do
cotidiano, no afã de inseri-la na cultura elaborada, para o enriquecimento reciproco”.
A identidade dos sujeitos e da escola se dá nas várias inserções durante a sua
existência. Nenhuma experiência vivida, que se vivencia ou que se vivenciará, teve que ser
diferenciada em seus valores e na importância no crescimento das experiências. As sociedades
que colaboraram com a formação em tempos de outrora são tão importantes como os grupos
sociais que colaboram no presente.
A Educação é um processo de ação da sociedade, por isso é preciso buscar condições
para que os alunos sejam críticos conscientes, responsáveis e que lutem pela solidariedade
entre as pessoas, que busquem integrar os povos, respeitando as características individuais e
permitindo o desenvolvimento de todos.
É por isso que se considera a educação importante para o desenvolvimento de um país.
É aumentando o conhecimento dos sujeitos que uma nação cresce, aumenta a sua renda e a
qualidade de vida dos cidadãos. Embora nas últimas décadas o Brasil tenha avançado, muito
ainda pode ser feito nas escolas (Ensino Fundamental e Médio) e nas universidades: espaços
de ascensão intelectual para toda a sociedade.
Entre as muitas dificuldades inerentes à sociedade, o processo educacional é um dos
que requer atenção primordial, pois, justamente pela sua importância, a educação é palco de
discussões acirradas nos diversos campos: político, econômico e social.
Assim, no âmbito governamental, tanto federal quanto estadual municipal, buscam-se
recursos para enfrentar a problemática da educação em suas diversas etapas. Diante das tantas
dificuldades que a educação apresenta no Brasil, pode-se argumentar com as palavras de
Santos (2002, p. 168):
36
Você é treinado, mas não educado. A produção do cidadão, não deve ser só do
cidadão. Deve resultar de uma dupla formada pela cidadania completa e pela
individualidade forte, com a listagem de direitos a igualdade efetiva, e não
puramente essencial. Estamos chegando a todos os limites.
A Geografia, que tem no espaço o seu campo de estudo, tem no estudo do espaço,
diversos modos de conceber e buscar os fragmentos do mesmo. Essa maneira de a Geografia
atuar não nos permite entender que existam várias Geografias. A Geografia é uma só, pois
pensar fisicamente ou politicamente a Geografia não faz dela duas ciências.
Com o processo de globalização acelerado, a partir da década de 1990, a Geografia
assumiu um novo papel, uma nova postura. Faz-se uma leitura do mundo a partir da produção
e do fluxo, afirma Santos (2006, p. 181):
passa por conhecer Geografia, conhecer o mundo, os demais países, continentes e mercados
regionais, e até mesmo os nossos problemas e potenciais” (VESENTINI, 2009, p. 72). A
Geografia não trata só do social, mas também do cultural, econômico que compõem o espaço
e se faz presente na construção e formação. O espaço é a sociedade em movimento.
6
Estudo no local.
40
região que não dependa do mundial, do global, sendo este último mais do que a mera soma
dos inúmeros lugares” (Idem).
Compreender o espaço tecnicamente, localizando-se e orientando-se não fere a
possibilidade de se pensar o espaço de forma política, econômica, social e cultural. Daí não
ser preciso brigar sobre a posição da Geografia como ciência social ou da natureza.
A Geografia no Brasil, assim como muitas ciências, deve ter uma ampla compreensão
dos ramos que a compõem para que não haja divergências desnecessárias para o crescimento
dessa ciência do mundo, das licenciaturas e dos bacharelados. Na França, associações de
geógrafos e professores, “se encaram como inimigas e possuem concepções diversas do que
seria Geografia: ora uma ciência humana, ora uma geociência (logo, uma ciência natural), ou
às vezes até uma espécie de ramo das matemáticas ou das engenharias (para algumas mais
ligadas aos SIGs7 e à cartografia)” (VESENTINI, 2009, p. 76).
A explicitação da prática das associações de geógrafos e de professores na França, “as
que representam o chamado ‘geógrafo profissional’ (aquele que trabalha em planejamento,
análise ambiental ou SIGs), frequentemente revelam um profundo e explícito desprezo pela
atividade educativa” (VESENTINI, 2009, p. 76). Acentuada por intensas disputas, a
Geografia corre o risco no Brasil, e em qualquer parte do mundo, de ficar desarticulada.
Assim, ela transmite “para a sociedade a imagem de uma ciência e de uma disciplina escolar
que não sabe ao certo o que é ou qual é a sua utilidade, que não conseguem, enfim, ter um
mínimo de coesão ou mesmo de coerência” (Idem). Nesse sentido, uma formação para o
ensino qualificado da geografia na escola.
Para compreender o espaço, sem o risco de apresentarmos uma leitura espacial
fragmentada, é necessário fazer leituras contextualizadas para uma compreensão ampla na
organização e transformação do espaço. Como afirma Vesentini (2009, p. 76) “Conhecer
Geografia também é importante para os negócios, para a guerra e para a paz, para as relações
internacionais enfim”.
Qualquer relação social, política e econômica exige uma boa informação e formação
de Geografia para ser bem sucedida. Os descasos com a ciência geografia, bem como, com a
formação do professor de geografia pode produzir o fenômeno do analfabetismo geográfico.
Nos exemplos a seguir Vesentini (2009, p. 80-81) ilustra as consequências deste.
7
SIG’s = Sistemas de Informações Geográficas, ou Geographical Information Systems (GIS) em inglês.
43
Não é salutar se aproximar de uma realidade sem procurar conhecer sua condição
social e cultural. Para Freire (1996, p. 76), “Outro saber fundamental à experiência educativa
é o que diz respeito a sua natureza”. Continua afirmando o pesquisador: “Como professor
preciso me mover com clareza na minha prática. preciso conhecer as diferentes dimensões
que caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais seguro no meu próprio
desempenho” (Idem). Neste sentido, saber Geografia é importante, pois permite conhecer o
lugar onde se vive e construir as alternativas e possibilidades, no caso da geografia escolar,
ela assume sentido quando os alunos compreendem a realidade em que vivem.
Mas para conhecer o lugar na escola e fora do espaço escolar, é preciso considerar,
segundo Vesentini (2004, p. 227) “que a própria Geografia tradicional conheceu várias fases e
nuanças e nunca foi um bloco monolítico”, e continua dizendo que:
Para analisar esse tema e refletir sobre o ensino de Geografia, tenho partido de
alguns pressupostos: na relação cognitiva de crianças, jovens e adultos com o
mundo, o raciocínio espacial é necessário, pois as práticas sociais cotidianas têm
uma dimensão espacial, o que confere importância ao ensino de Geografia na escola;
os alunos que estudam essa disciplina já possuem conhecimentos geográficos
oriundos de sua relação direta e cotidiana com o espaço vivido; o desenvolvimento
de um raciocínio espacial conceitual pelos alunos depende, embora não
exclusivamente, de uma relação intersubjetiva no contexto escolar e de uma
mediação semiótica (CAVALCANTI, 2005, p. 198).
Em relação às palavras afirma Vigotski (2009, p. 82) “Neste caso operam com a
palavra como um conceito, mas definem-no como complexo – forma de pensamento esta que
vacila entre o conceito e o complexo e que é característica e típica desta idade de transição”.
Também em relação ao conceito afirma que:
Hoje buscamos na escola formar educandos que sejam capazes de construir e escrever
o seu conhecimento no em que estão inseridos. O diálogo dos conceitos com a realidade,
certamente favorece uma construção. No caso de criança e adolescente quando o aproxima do
real, facilita a construção de significados com maior generalidade.
47
A geografia escolar vem ao encontro desses anseios nas escolas. De forma acadêmica
e escolar, a Geografia faz a sua leitura e interpretação da situação física e social que envolve o
espaço. Concordando com Callai (2011, p. 15) reitera-se que “fazer a educação geográfica
requer o esforço de superar o simples ensinar Geografia ‘passando conteúdos’, e procurar com
que os alunos consigam fazer as suas aprendizagens tornando significativos para suas vidas
esses conteúdos”.
A Geografia escolar aborda de forma didática e pedagógica as informações físicas e
sociais, ministradas no contexto da sala de aula para o educando interpretar e compreender a
realidade. Como afirma Callai (2011, p. 15):
Acrescenta ainda que “esse ensino foi gerado ou promovido pela primeira revolução
industrial, na época da construção dos Estados nacionais e da necessidade de desenvolver um
nacionalismo exacerbado” (VESENTINI, 2009, p. 69). Também “com o avanço do fordismo
e, em especial, com a crescente internacionalização da economia, principalmente após 1945,
essa disciplina escolar – que era chauvinista e essencialmente e voltada para a memorização –
sofreu muito e quase não sobrevive” (Idem).
A geografia se constitui como disciplina escolar apesar dos reveses que sofreu em sua
história. Vesentini (2009, p. 70-73) mostra como o ensino da Geografia veio sendo
constituído e as dificuldades que a geografia, como disciplina, enfrentou no Brasil e no
mundo. Analisa o que a disciplina enfrentou nos Estados Unidos, no Japão e outros países.
O autor mostra a dificuldade para se ensinar Geografia nos 90 nos Estados Unidos e
como ela foi tratada como disciplina nesse país. Os resultados, devido ao desprezo e descuido
com ensino da Geografia, não foram produtivos para as aprendizagens e geraram um
fenômeno que ficou conhecido como “Analfabetismo Geográfico” (VESENTINI, 2009, p.
75). A constatação do “analfabetismo Geográfico” levou as associações de geógrafos e
professores americanos a participar “de uma campanha em prol da Geografia entre a
população e estudantes” (VESENTINI, 2009, p. 75). O conhecimento geográfico possibilita
compreender a relação do homem com natureza e assim perceber que:
A ação do homem é tão poderosa que pode secar os pântanos e os lagos, a nivelar os
obstáculos que separam os diversos países, a modificar a repartir original das
espécies vegetais e animais, e por isso mesmo de importância decisiva nas
transformações sofridas pelo aspecto exterior do planeta. Pode embelezar a Terra
mas pode também desfeá-la; segundo o estado social e os costumes de cada povo,
ora contribui para degradar a natureza ora para transfigurá-la (POIRIER, 1998, p.
25).
8
Os norte-americanos criaram nos anos 1960, a expressão “analfabetismo geográfico” (geographic illiteracy).
VESENTINI, José William. Repensando a geografia escolar para o século XXI. São Paulo: Plêiade, 2009. p.
80.
49
A Geografia que se quer ensinar para o ensino Médio deve ser pensada no sentido de
formar um cidadão que conheça os diferentes fenômenos geográficos da atualidade
tendo em vista o processo de globalização e suas rupturas, dadas pela resistência dos
movimentos sociais e as contradições inerentes ao sistema capitalista, além de
privilegiar os diferentes cenários e atores sociais, políticos e econômicos em
diferentes momentos históricos.
Em segundo lugar, tivemos a campanha, iniciada desde pelo menos os anos 1960,
promovida pela mídia norte-americana e que contou com grande apoio e suporte das
associações de geógrafos e professores de Geografia daquele país, contra o
“analfabetismo geográfico” no seio da população em geral e até dos estudantes
universitários. Essa campanha foi intensa e contínua, tendo ocasionado uma
percepção na opinião pública – e todo Estado democrático é sensível a ela! – que o
norte-americano não deveria ser tão ignorante em Geografia.
Nos Estados Unidos, a partir do segundo fator apresentado por Vesentini, ou seja, a
participação dos professores e outros profissionais da educação no empenho e desejo de
mudança no modo de conceber o ensino da Geografia, fez com que o ensino da disciplina
começasse a resolver a situação da falta de conhecimento da população americana. Confirma-
se, assim, a importância do conhecimento na relação global, no desenvolvimento cultural e
econômico de qualquer nação.
51
9
SIG’s = Sistemas de Informações Geográficas, ou Geographical Information Systems (GIS) em inglês.
52
A Geografia escolar crítica vai muito além desses avanços que ocorreram na
Geografia tradicional – embora os assimilando à sua maneira – e preocupa-se
basicamente com o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da Criticidade
educando, com' a cidadania, afinal, que é ao mesmo tempo o resultado e a condição
da existência de cidadãos ativos e participantes, isto é, que questionam a realidade e
(re) constroem os direitos democráticos ou direitos do homem (inclusive os direitos
das minorias e o direito de ser diferente), direitos esses que hoje tendem a se
expandir para abarcar os não humanos (as árvores, os animais).
Pensar a Geografia escolar crítica significa “combate aos preconceitos; ênfase na ética,
no respeito aos direitos alheios e às diferenças; sociabilidade e inteligência emocional e
habilidades (raciocínio, aplicação/elaboração de conceitos, capacidade de observação e de
crítica etc.)” (VESENTINI, 2004, p. 228). Assim a escola pode contribui na compreensão da
realidade através do estudo crítico em sala de aula.
Para o estudo da Geografia nas escolas é importante considerar alguns critérios quanto
ao modo de abordar essa disciplina: “tão pouco se pode omitir o estudo da natureza, a
Geografia física. como. querem alguns” (VESENTINI, 2004, p. 228). Embora, muitas vezes
aconteçam constatações de diferentes realidades, abordas por diferentes autores, “não é
porque um ou outro geógrafo crítico ou radical famoso e importante aborda somente temas
sócio/econômicos que a Geografia escolar deve fazer o mesmo” (Idem, p. 227).
Sabendo que tudo se constrói socialmente, o mesmo pode ser afirmado sobre a
geografia.
A Geografia é a única disciplina escolar que une o social com o natural, isto é, a
sociedade humana (com sua produção e consumo, suas civilizações, seu perfil
demográfico, seus Estados com suas geopolíticas) com o mundo físico (a biosfera
com seus ecossistemas, a interação do clima com o relevo, com as águas, com os
solos, com a vegetação)..., a Geografia escolar foi a primeira disciplina a estudar, a
incorporar em seus livros e aulas, as temáticas do efeito-estufa, das alterações
climáticas – inclusive com explicações sobre micro-climas –, da crescente escassez
de água potável, dos tipos de poluição na cidade e no campo, da falta de
infraestrutura urbana em certas metrópoles, das mudanças demográficas
(crescimento, envelhecimento, tentativas de controle de natalidade ou de incentivos
a ela, migrações e preconceitos) etc. (VESENTINI, 2009, p. 81-82).
produção voltada unicamente para o lucro e sem nenhuma preocupação com o futuro da
biosfera” (VESENTINI, 2009, p. 83).
Como conhecedor do espaço político e econômico, o professor de geografia tem que
ter consciência de que formação/informação sobre a discussão ambiental é fundamental para
que se possa construir uma boa reflexão do espaço escolar.
No século XXI, a sociedade se diferencia das décadas passadas, não só na questão de
espaço e tempo, mas principalmente pelas suas atividades ligadas aos setores secundário e
terciário, isto é, indústria e comércio. Mesmo que ainda alguns grupos sociais guardem certos
aspectos uniformes dos tempos passados, a incorporação de novos elementos técnicos e
culturais é inevitável.
O desenvolvimento fez e faz surgir paisagens diversas na realidade espacial trazendo
nesse processo problemas de difícil solução (ecológico, a habitação, econômico etc.). É fácil
identificarmos no espaço duas realidades: a pobreza e a riqueza, e com elas as grandes
diferenças econômicas, sociais e culturais.
O importante é lembrar os diversos fatores que conduzem para a condição de favela
nas cidades grandes e também nas médias e pequenas; levando-as às condições precárias de
habitação, saneamento básico e outros relacionados à ausência de renda significativa da
população pobre. Compreender essa relação do homem como o espaço, com a natureza é
objeto de reflexão no espaço escolar.
A geografia, enquanto ciência e a geografia, como disciplina e instrumento de
pesquisa, é responsável pelo estudo da interação entre sociedade e natureza no espaço. O
professor de Geografia tem como objeto de estudo a espacialidade dos fenômenos
socioambientais. Para Santos (1986, p. 1) “o espaço está no centro nas preocupações dos mais
variados profissionais. Para alguns, objeto de conhecimento, para outros simples meio de
trabalho. Há desde os que veem como um produto histórico”. O espaço é o ponto de partida
de todos os empreendimentos da sociedade, “Poderíamos dizer que o espaço é o mais
interdisciplinar dos objetos concretos” (Idem).
Reconhece-se a importância da geografia ciência e, fundamentalmente, a contribuição
que a aprendizagem da geografia no âmbito da escola pode trazer a compreensão da realidade.
Ocupar-se da formação do professor de geografia, é sem dúvida, imprescindível para
qualificar as os conhecimentos pedagógicos a serem desenvolvidos na escola.
56
O geógrafo como profissional tem que dar conta de interpretar a realidade, fazendo
análise do espaço enquanto um resultado do trabalho do homem para perceber que
os problemas do território são mais que simples problemas do espaço, são questões
sociais (dos homens) que precisam ser compreendidas.
A dimensão pedagógica deve ser dada nessa perspectiva, buscando, pois, a formação
de um profissional que não pode prescindir de valores éticos e morais, os quais
juntamente com a competência técnica vão dar aos vários sujeitos a sua diferença no
acesso ao mercado de trabalho e sua permanência (CALLAI, 2013, p. 111).
59
Cabe a Geografia articular a leitura da escola no espaço em que ela está inserida e no
espaço social no qual está envolvida a vida do aluno. Assim, a partir das duas possibilidades,
pode-se construir conhecimento, como propõe Callai (2013). É importante o professor de
Geografia desenvolver “a função técnica e social”. Situar a escola no contexto histórico
ajudará o aluno a entender o presente da escola para ser protagonista de um futuro melhor
para si, e, para a escola, projetando nela a formação recebida em outros níveis de educação.
Nesse sentido o próprio curso de graduação deve permitir aos licenciados que
exercitem uma prática de sala de aula que não seja a mera repetição de conteúdos
transmitidos a cada semestre, mas com uma linha metodológica que articule o ensino
e a pesquisa. O professor da universidade deveria dar condições a que o próprio
aluno consiga transformar as informações, as leituras, as discussões e exposições em
sala de aula em um conhecimento organizado por ele próprio, isto é, que ele faça a
construção de sua aprendizagem, exatamente aquilo que será exigido dele em sala
aula dos Ensinos Fundamental e Médio (CALLAI, 2013, p. 121).
O professor é cada vez mais professor quando se abre ao relacionamento com outros
professores. A área das “Ciências Humanas” tem muito a contribuir na construção de um
diálogo entre todos os profissionais de educação. “A formação de um profissional que possa
dar conta de analisar o espaço como expressão de uma realidade social supõe, por certo, que
consiga desenvolver uma visão da totalidade do mundo da vida” (CALLAI, 2013, p. 123). O
professor que quer ser pesquisador e proporcionar ao aluno ser estudante e pesquisador deve
exercitar o ser estudante e pesquisador também com seus colegas professores.
Muitas faculdades e universidades são acusadas de não prepararem os professores para
a realidade das salas de aula. O preparo do professor se dá em conjunto com quem faz parte
da sociedade. O professor se desenvolverá cada vez mais como profissional de educação se
houver uma correlação entre docente, discente, família e toda a sociedade. Afirma Callai
(2013, p. 123):
ao saber é fundamental”, mas nos alerta mostrando como deve ocorrer essa formação. Afirma
que a formação é necessária, “porém não pode ser de uma forma elitista, segregando a
maioria, e mais ainda com uma seleção de conteúdos alheia à realidade da escola, dos alunos,
àquilo que a sociedade precisa e, acima de tudo, alheia ao próprio professor” (Idem, p. 154).
Afirma ainda que: “Este na maioria das vezes, pelas condições precárias de trabalho que tem,
abdica de pensar, de planejar, de ser inteligente e criativo. A escola transmite pura e
simplesmente um conhecimento muitas vezes sem sentido” (Ibidem).
A escola como espaço de socialização, aprimora a sua linguagem, pelos esforços de
inúmeros professores, que questionam e se deixam questionar pelos conceitos e conteúdos
escolares aplicados, “se olharmos, então, do ponto de vista do conteúdo, também podemos
fazer algumas discussões” (CALLAI, 2013, p. 154). No processo de aprendizagem, os
conteúdos são importantes. “Em qualquer nível de escolaridade existe pré-estabelecido um
determinado conteúdo de que se deve dar conta. Acontece que com os avanços do
conhecimento e a sua divulgação, o volume é cada vez maior” (Idem).
A escola participa de forma efetiva no processo de valorização do cidadão, mas no
decorrer da história nem sempre foi assim. Em relação à colaboração e promoção do futuro,
segundo Callai (2013, p. 154):
A Escola tem o papel de proporcionar leituras das diversas realidades a que compõem
o espaço, interpretando-as e facilitando a assimilação e a compreensão do aluno.
A escola com os seus professores e demais profissionais de educação que nela
participam colaboram na capacitação do educando. No processo de compreender e organizar o
espaço, é preciso ter o plano de estudos da Geografia muito bem organizado. Segundo Santos
(1988, p. 61) “todos os espaços são geográficos porque são determinados pelo movimento da
sociedade e da produção”, relacionando a paisagem e o espaço como resultado da influência
do homem. “Mas tanto a paisagem quanto o espaço é resultado de movimentos superficiais e
de fundo da sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações, de
formas, funções e sentidos” (Idem).
Antes de encerrar as discussões sobre a formação do profissional de geografia,
considero pertinente fazer referência o que os documentos oficiais falam sobre o ensino da
geografia. Diferente da escola tradicional, onde o ensino da geografia se tratava da
memorização de conteúdos, na perspectiva de uma geografia crítica e de uma perspectiva
crítica de ensino da geografia, esta se volta à aprendizagem de conceitos. Conforme Brasil
(2002, p. 55):
Assim, ao professor que ensina a geografia cabe assegurar que o aluno aprenda,
construa um conjunto de conhecimentos que possibilitam compreender a realidade do ponto
de vista geográfico. Nesse sentido, torna-se fundamental a compreensão profunda de seu
componente curricular, os conceitos, o desdobramento dos conteúdos e de possíveis
estratégias metodológicas que possam facilitar o processo das aprendizagens.
O objeto da Geografia escolar não deve ser apenas repassar informações. Deve,
também, desafiar o educando a pesquisar. Hoje o profissional (de Geografia) não se fechar
nas diversas gavetas que se tenta criar ao redor da Geografia. O geógrafo especialista na
“Geografia física”, por exemplo, não está alheio à Geografia política. Essa postura nos faz ser
dinâmicos, nos especializar e não sermos alienados quanto ao dinamismo do espaço.
O objeto da Geografia estudado de forma crítica possibilita adquirirmos uma boa base
para elaborar uma reflexão pessoal e coletiva do que é a Geografia na nossa formação e
também no futuro das nossas atividades profissionais. Para Vesentini (2009, p. 130-131):
Não nego que existe hoje – como já existia no passado, cabe ressaltar, talvez até
numa proporção maior – um “analfabetismo geográfico” entre os alunos e mesmo
entre a população brasileira em geral. Mas isso é consequência da queda de
qualidade da escola e também da nossa mídia, além do modo de vida “moderno” da
população tida como alfabetizada, que hoje assiste a novelas todos os dias, a
péssimos programas de TV todos os domingos etc. Ou seja, lê pouco e tem um lazer
com mais atividades passivas e que não exigem participação nem reflexão.
Muitas escolas públicas não têm dado conta de situações básicas e essenciais para o
processo de aprendizagem, por exemplo, as habilidades de ler, escrever e interpretar. Ouve-se
constantemente professores reclamando da falta de atenção dos alunos às atividades escolares.
“Mas, por que existe esse crescente desinteresse dos alunos pela disciplina e essa crescente
desilusão do professorado com a profissão?” questiona Vesentini (2009). E acrescenta:
“Alguns geógrafos e professores fazem uma averiguação em escolas, e, como não podia
deixar de ser, constatam a desilusão dos professores com a carreira e com o ensino da
Geografia, além do desinteresse dos alunos” (Idem, p. 131). Na história da educação no
Brasil:
Há o fato inegável de que, no mínimo desde o final dos anos 1960 – portanto, bem
antes do professorado brasileiro começar a falar numa Geografia crítica, algo que
por aqui começou timidamente nos anos 1980 e se expandiu a partir dos anos 1990
–, existe uma crescente insatisfação dos docentes em geral (e não apenas dos de
68
A explicação para isso, de forma resumida – pois o tema seria material para
pesquisas detalhadas e várias teses nas áreas de pedagogia, psicologia e sociologia
da educação –, encontra-se, a nosso ver, em dois fatores ou complexos de fatores
principais.
Primeiro, na desvalorização do ensino e da carreira docente no Brasil. Segundo, nas
mudanças na vida social e, em particular, no papel dos jovens, isto é, das crianças e
principalmente dos adolescentes.
A educação há várias décadas que não tem sido prioridade nem dos governos e,
infelizmente, salvo raras exceções, tampouco das famílias. Nas últimas décadas,
ocorreu uma enorme expansão quantitativa de escolas no Brasil, com visível perda
de qualidade de ensino. É por isso que nas (raras) escolas dos anos 1950 ou 1960,
em geral, o aluno tinha melhores professores, docentes que ganhavam
proporcionalmente bem mais do que hoje, liam mais e dispunham de um tempo
maior para preparar aulas ou corrigir trabalhos e provas. Hoje, o professor ganha
muito pouco e trabalha bastante, mais que no passado, tendo um maior número de
classes e de alunos por turma, e um maior número de aulas por semana
(VESENTINI, 2009, p. 133).
sempre atento à sua formação, individual e coletiva, pois o trabalho de forma ampla nas
escolas e em todos os institutos de educação se dá de maneira complexa.
Hoje o processo educacional está em constantes mudanças no Brasil, no Rio Grande
do Sul. O atual secretário de Educação do Estado diz que “o Ensino Médio, como etapa final
da educação Básica, tem sido o foco permanente de discussões, reflexões e problematizações
no âmbito da mídia, dos círculos acadêmicos, das organizações econômicas e em diversos
espaços da sociedade” (AZEVEDO; REIS, 2013, p. 26). Continua o gestor de educação a
abordar a questão afirmando que, “isso se deve, em grande parte, ao histórico quadro de
fracasso escolar que essa etapa da educação formal tem conservado ao longo das últimas
décadas”. As dificuldades da educação não estão presentes em uma realidade apenas da
sociedade. “Os problemas do Ensino Médio, historicamente constatados, são hoje um dos
principais desafios para as políticas educacionais, em função das perdas materiais e humanas,
determinadas pelos baixos resultados alcançados” (Idem). Ainda sobre educação afirmam os
autores: “Sua colocação como etapa obrigatória da Educação Básica, dos 15 aos 17 anos,
torna ainda mais complexa a constituição de políticas necessárias como resposta as sua
demanda” (Ibidem).
Como já afirmado anteriormente a educação está inserida no tempo histórico, nas
marcas do passado e do presente. E tem como compromisso no presente projetar o futuro, não
como uma máquina de certeza, mas como proposta de construção. Para Marques (1993, p.
103) “Reconstruir a educação exigida pelos tempos mudados é o desafio maior que se impõe
ao coletivo dos educadores profissionalmente empenhados no compromisso que
solidariamente assumem com seus concidadãos”.
A tarefa educativa precisa sempre ser pensada em sua complexidade, não por um setor
apenas da sociedade, mas por toda a sociedade. Segundo Marques (1993, p. 104) “Reconstruir
a educação que responda às exigências dos tempos atuais não significa o abandono do
passado, o esquecimento da tradição, mas uma releitura dela à luz do presente que temos e do
futuro que queremos”.
No dinamismo de ensinar e aprender, a escola necessita saber navegar, e, no mar de
mudanças históricas, balançar, mas não afundar. Para isso, “requer a dialética da história que
se superem os caminhos andados, mas refazendo-os”. Na afirmação de Marques (1993, p.
104) “Reconstruir não significa ignorar o passado que, na cultura e em cada homem, continua
presente e ativo, vivo e operante; mas impõe que nele penetrem e atuem novas formas que o
transformem e introduzam na novidade de outro momento histórico e outros lugares sociais”.
70
não terão efeito no processo educacional se não forem contextualizados com a realidade.
Nesse contexto, o exercício de ensinar e aprender geografia acontece a partir do momento em
que educando e o educador tomam consciência dos conceitos da disciplina, transformando e
construindo com base no conhecimento, levando para sala de aula os efeitos das mudanças
sociais.
A diferença de conhecimento presente na escola e na experiência dos professores
constitui-se uma riqueza na complexidade do processo de ensino e aprendizagem. A união e a
reflexão das áreas do conhecimento nas escolas hoje ajudarão na construção de uma escola
eficiente amanhã. No caso da Geografia no Ensino Médio, entende-se que ela tem o
compromisso de construir propostas, mesmo que não hegemônicas para criar possibilidade de
uma escola aberta e crítica diante das constantes mudanças do dia a dia.
Assim, a Geografia dialoga com as transformações provocadas pelas inovações
tecnológicas que pedem novas interpretações demandadas pela própria sociedade. O
conhecimento geográfico se dá no encontro e na reflexão. A escola é o palco onde as
realidades podem mudar. Isso faz da educação um processo crítico diante das necessidades e
desafios que se apresentam.
A Geografia está presente na vida e nas construções empreendidas pelos homens.
Conforme Santos (1998) “todos os espaços são geográficos porque são determinados pelo
movimento da sociedade e da produção”. Em relação à paisagem, continua o autor: “(Mas)
tanto a paisagem quanto o espaço é resultado de movimentos superficiais e de fundo da
sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de relações, de formas,
funções e sentidos” (Idem, p. 61).
Afirma Callai (2011, p. 16) que “a escola é a instituição encarregada de fazer a
transmissão do conhecimento que interessa a sociedade na qual ela está inserida, para que as
várias gerações tenham acesso ao que a humanidade produziu ao longo do tempo”. A
Geografia deve oportunizar ao aluno a trabalhar as informações para melhor compreender o
espaço e o movimento da sociedade. Ainda conforme Callai (2011, p. 16) “pode-se aprender
de várias formas e em diversos lugares”. Destaca ainda que “no caso da escola, esta tem a
função de, ao trabalhar com os conteúdos, realizar a sua tarefa de transmitir o que a
humanidade produziu no decorrer da historia” (Idem).
O turismo é uma produção da humanidade. No movimento econômico da sociedade,
por exemplo, o turismo é hoje uma atividade bem mais expressiva do que em tempos de
outrora. Assim, a partir da atuação do turismo no espaço, a Geografia é convocada a analisar
72
Existe, assim, um enorme desgaste com todos esses fatores: o grande número de
alunos a cada ano letivo, o excessivo número de aulas que têm a ministrar para
ganhar um salário precário, além da falta de condições mínimas – inclusive, cada
vez mais, segurança – nas escolas. Pelo lado dos alunos, existem vários fatores.
Primeiro, o crescente ingresso de jovens no mercado de trabalho: nos anos 1960 era
raro o jovem de 14 a 17 anos trabalhar; hoje, praticamente já é regra geral. Depois, a
influência negativa da mídia de péssima qualidade (especialmente TV), que propaga
a ideia de que se “vence na vida” com esperteza e não com estudos. Isso, sem falar
na expansão dos traficantes (de ecstasy, cocaína, crack, heroína, maconha), que hoje
rondam ou estão dentro de quase todas as escolas, no novo estilo de vida na qual, em
geral, os jovens vão muito mais a festas, têm mais liberdade para voltar tarde da
noite para casa, para dormir na casa de amigos, para assistirem a TV ou ficarem
horas e horas navegando pela internet etc. São esses os fatores – complexos, que
precisam ser aprofundados em suas especificidades e interligações – que deveriam
ser estudados pelos que constatam a visível decepção dos docentes de Geografia
pela profissão e o desinteresse dos alunos pela disciplina. Mas refletir sobre esses
fatores exigiria um maior esforço intelectual. É mais cômodo adotar a atitude
simplista de culpar a Geografia crítica por essa situação, mesmo sabendo que essa
decepção não ocorre apenas entre os professores de Geografia e que esse
desinteresse dos alunos pelas aulas não ocorre somente com esta disciplina escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ficou evidente que temos que criar uma consciência crítica e estar prontos para
discernir o que é bom e verdadeiro para a educação em nosso município, em nosso Estado e
em nosso País.
Com base no processo de socialização, acredito que temos como desafio a proposta de
oferecer uma visão ampliada da Geografia, para além da apresentação de nomes de “rios,
países e formas de relevo”. Temos que apresentar para o aluno possibilidade de construir um
conhecimento geográfico que tenha significado para ele.
Como professor de Geografia, este estudo proporcionou-me uma grande experiência,
oferecendo-me a oportunidade de entender a estrutura e o funcionamento de uma escola a
partir do processo de ensino e aprendizagem da Geografia.
Apesar de todos os problemas, é gratificante, para os professores lutarem com
dignidade por uma educação de qualidade, com a qual a Geografia contribui. Enfim,
conseguir para os professores e para os alunos melhores condições de educação e de vida.
Esse trabalho me faz acreditar ainda mais no papel e importância da experiência.
O trabalho oportunizado a partir do projeto de pesquisa, melhorado e desenvolvido
com ajuda da orientadora Helena Copetti Callai e outros professores, permitiu-me responder
as perguntas e provocações feitas na problematização na construção da dissertação.
Muitas problematizações podem ser idealizadas dentro da sala de aula, e a partir delas,
como envolvimentos dos professores e alunos, torna-las concretas na realidade em que
estamos inseridos e no mundo. E para darmos uma resposta à sociedade, como Professor de
Geografia, temos que estar atentos às mudanças políticas, econômicas e culturais presentes
nos diversos recortes espaciais. Temos que valorizar o espaço, observar e estudar a sociedade
como fonte das preocupações geográficas e procurar entender a participação do homem na
transformação do meio.
A experiência que vivenciei com este trabalho de dissertação desafiei-me a desafiar os
educandos (meus alunos, hoje e no futuro) a descrever e compreender o mundo, expressando-
se de diferentes maneiras para que cresçam e desenvolvam a sua capacidade de observar, de
questionar e, a partir daí fazer uma análise crítica do que está ao seu redor.
Construí esta dissertação consciente das dificuldades das escolas (principalmente nas
Escolas Públicas) e dos educandos. Sei da escassez de recursos para educação, mas acredito
que a falta de recursos pode vir a ser uma possibilidade para criarem novas alternativas. Ao
ensinar Geografia temos que pensar que estamos ensinando algo dinâmico e complexo.
78
Com este estudo renovei a convicção de que a ação do profissional de Geografia exige
uma formação específica e continuada, que lhe permitirá os conhecimentos necessários para a
compreensão da estrutura social.
79
BIBLIOGRAFIA
BELLO, José Luiz de Paiva. Educação no Brasil: a história das rupturas. Pedagogia em Foco,
Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/ heb14.htm>.
Acesso em: 22/12/2012.
CALLAI, Helena Copetti. Educação geográfica: reflexão e prática. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2011.
CALLAI, Helena Copetti. Formação profissional da geografia. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2013.
CAMARGO, Ieda. Currículo escolar: propósito e práticas. Santa Cruz do Sul: EDUNISC,
1999.
80
DEMO, Pedro. A nova LDB: ranços e avanços. São Paulo: Papirus, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessário à prática educacional. 12. ed.
São Paulo: Paz e Terra S/A, 1996.
KANT, Emanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Martin Claret, 2009.
MARQUES, Mario Osorio. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. Ijuí: Ed. UNIJUÍ,
2000.
MARQUES, Mario Osorio. Pedagogia: a ciência do educador. 2. ed. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 1996.
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo: como se chega a ser o que se é. Universidade da Beira
Interior Covilhã, 2008. (Coleção Textos Clássicos de Filosofia).
POIRIER, Jean. Histórias dos costumes: os tempos, o espaço e os ritmos. Lisboa: Estampa,
1998.
81
RIBEIRO, Maria Luísa Santos. História da educação brasileira. São Paulo: Autores
Associados, 2003.
SANTIAGO, Ana Rosa Fontella (org.). Educação: pesquisas discentes 2003. Ijuí: Ed.
UNIJUÍ, 2004.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. São Paulo:
Ed. Universidade de São Paulo, 2006.
SCHNEIDER, Paulo Rudi. O outro pensar: sobre o que significa pensar? E a época da
imagem do mundo de Haidegger. Ijuí: Ed. UNIJUÍ, 2005.
VESENTINI, José William. O ensino da geografia no século XXI. São Paulo: Papirus,
2004.
VESENTINI, José William. Repensando a geografia escolar para o século XXI. São Paulo:
Plêiade, 2009.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
2010.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.