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Noite na taverna

Laura LOPES1
Maria Eduarda do Nascimento SAMPAIO2

A presente resenha visa discutir e analisar a importância da obra “Noite na


Taverna”, novela de 99 páginas, publicada em 1855, três anos após o falecimento de seu
autor Álvares de Azevedo (1831-1852), patrono da cadeira 2 da Academia de Letras
(ABL,2022) e escritor da segunda geração do Romantismo no Brasil (1836-1881); Manoel
Antônio Álvares de Azevedo, nascido em São Paulo, dedica sua breve vida à escrita
literária e à faculdade de direito, inspirado no poéta inglês Byron, retrata em sua obra
“Noite na Taverna” temas mórbidos que cercavam a sociedade do Brasil, na época já
independênte de Portugal, no século XVIII após revoluções na europa que mudam o
contexto mundial, fato esse que mostra a importância desse exemplar para a cultura
brasileira. (BOSI, 2017)
O Romantismo está intimamente ligado ao período pós-revolução francesa, quando
os descontentamentos dos prejudicados e menos favorecidos com o caos dos conflitos
começam a refletir nas expressões artísticas os sentimentos de nacionalismo e morte. Já
no Brasil chega em momento emancipátorio político, o que aumenta o alcance de novas
ideias e favorece o desenvolvimento da literatura nacional, cuja antes era oriunda da
colonização explorátoria portuguesa (DCL,2019). Azevedo, está presente na categoria de
poesía-lírica amorosa a qual abordou temas como a existência, o amor e a morte em uma
estética de aspecto gótico.
O livro de Manoel discutido no trabalho vigente “Noite na taverna”,é estruturado em
8 partes. O primeiro capítulo é nomeado de “Noite do século”, que se inicia descrevendo a
taverna onde os homens se encontravam, com muita fumaça, vinho e mulheres dormindo
ao chão, demonstrando o ambiente cáotico onde acredita-se retratar os lugares
frequentados pelos boêmios da época. É interessante citar aqui o comportamento dos
homens, desde o início, em relação às mulheres, ao notar como um dos personagens
trata a taverneira, quando refere-se à ela com grosseria e comparando ela á um demônio,
por não ser como uma “donzela”. Por fim, para entrar no clima de bebedeira do local, eles
decidem contar histórias sanguinolentas e contos fantásticos, logo um dos personagens
se voluntaria para começar a narrar algo que aconteceu em sua vida. (AZEVEDO, 1988)
Assim, segue Solfieri, que narra a história de como conheceu uma moça chorosa,

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Graduanda em Letras Hab. Portugês/Inglês pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
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Graduanda em Letras Hab. Português/Inglês pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
de pele pálida, muito bonita, com vestes brancas, características fortes essas dentro da
escrita de Azevedo, a qual ele se apaixona e não consegue mais esquece-la. Está, que
depois de outra noite em orgias e bêbado, ele encontra dentro de um caixão em uma
capela. Solfieri então abusa dela, e logo após se dá conta de que ela estava cometida
pela catalepsia, doença onde a pessoa não consegue se mover e pode ser até dada
como morta, ele então resolve pega-la e leva-la com ele. Após dois dias ela morre e
abusando dela uma última vez, ele resolve abrir uma sepultura no seu próprio quarto e
colocar sua cama por cima. Assim ele termina de descrever com detalhes os dias em que
cometeu estupros e necrofilia. (AZEVEDO,1988)
O conto acima e os que seguem no livro, são narrados em primeira pessoa, onde
os demais homens: Bertram, Gennaro, Claudius e Johann narram suas terríveis vivências
onde aconteceram, desonra de donzelas, abortos, sequestros, estupros, assassinatos e
incesto, respectivamente. Estes rapazes, viveram assim como Solfieri, sentimentos
intensos, paixões avassaladoras e obssesões que ultrapassam a integridade humana.
Os contos de Manoel Antônio possuem muitas características em comum. As
tenebrosas vivências narradas, revelam passados sujos e carregados de crimes e atos
imorais, revelando a morbidez do romantismo passada nas obras da época, ainda na
sociedade contemporânea, como necrofilia, canibalismo, estupros, assassinatos,
sequestros e incesto em ambientes escuros e sombrios fato que aproxima a obra dos
escritos de Lord Byron (FERREIRA e ARAÚJO 2022), além das descrições das
características físicas e psicológicas do feminino, personagens importantes nas histórias.
O desejo profundo pela figura da mulher, acompanha a 2ª geração do
Romantismo, esta construída através de uma binomia, confirmada em suas ações,
quando primeiramente a mulher é angelical e delicada e após passar pela sexualidade ou
amor desmoralizado, adquire maldade e loucura como características marcantes, estas
ideias trazem para o texto uma visão erotizada do feminino ao retratar a virgindade
intocada da moça nos primeiros momentos de beleza e graciosidade e nas páginas
seguintes ressalta sua maldade tratando-a como pecaminosa, aspectos opostos que
coexistem na mesma pessoa, mostrando que desde o século XVIII, as mulheres são
vistas e relatadas de forma equivocada e complexa, sendo julgadas por qualquer que seja
sua ação.( FERREIRA e ARAÚJO, 2022)
Outro aspecto visível no enredo de Álvares de Azevedo é as vivências de excesso,
em temas tratados com finalidade de abranger a natureza humana em todas as suas
obscuridades, onde os personagens ultrapassam a moralidade da sociedade, apostando
em seu instinto mais animal ao se aproximar da morte, à profanação dos corpos
femininos, e à uma erotização muitas vezes obssessiva, configurando o excesso como a
perda dos limites , possuindo profundas relações com o feitio do “homem fatal”, que
predomina a literatura da época, e traz para a mulher o belo e o horrendo, a vida e a
morte. (MAURO, 2016)
Logo, conclui-se que Azevedo, traz para sua obra os mais diversos sentimentos,
desde o amor até o ódio, em sua profundidade. O autor mostra nos seus atos de caráter
gótico um sentimentalismo que pertencia a ele, para tratar temas julgados necessários à
discussões para a sociedade que surgia na época romancista, estes responsavéis por
desenvolver e amadurecer a literatura brasileira.

REFERÊNCIAS
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL)
AZEVEDO, Álvares de. Noite na taverna. 3.ed. Rio de Janeiro : Francisco Alves, 1988.

FERREIRA, Juliana Almeida e ARAÚJO, Márcia Maria de Melo. A dualidade feminina


em Álvares de Azevedo. V. 16 n. 2 (2021) Revista Mediação, 2022.

Mauro, T. C. O amor, o instinto e a morte: experiências de excesso em "Noite na


taverna", de Álvares de Azevedo. Opiniães, 4(6-7), 34-49, 2016.

DCL- Difusão Cultural do Livro. Curso preparatório ENEM e vestibulares, teoria e


exercícios. São Paulo, 2019.

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