Você está na página 1de 46

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai

www.etnolinguistica.org

JURGE HUlt LEYj


lo urupy

(Terceiro capitulo, inddito, do livro ftOS SERTÕES DO OURUPY, publicado em 1928)

..
..
••

'· •

P~MOTCHÓ - A.PIUAGÉ
Rio Tocantins

N sT 1T u T o o. M A eE oo eo s T A
-
19 ,,.,.,


Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org

JORGE HURI ,EY


- -- --

1
--,.
~

...,,

I
~

• I

io Ciurupy
{Terceiro capitulo, inéllito, do livro NOS SERTÕES DO GURUPY, pnblicano r,m1928)


P A R A - i3ELEM

Offlclnas Graphieas do Instituto i>. i'\:aceôo Co-sta


(Es.:ola Profissíonl\l do E~t ad oJ



..í• •

•1
;· ,.
' i"

..

1

RIO G UR OJDY
Suas nascentes~ seus affluentes da margem esquerda
<pa1,aense); seus affluentes da margem direita
(111aranhense): suas eachoeiras e ilhas; sttas mi-
nas de ouro. Povoações de pretos (antigos mo-
cambos) e aldeiament os indigenas ~ seu:> selva-
gens ' ' tembés", ' ' tymbiras .. , " guajás.. errantetF,
(( a111a11agés'' e "'urubús". e

,
'

• -
• -

bel lo e encachoeiraclo r jo G urupy, corr e sob r e um


O
• leito de o uro sepa ra ndo o ber ço de Go nça lve s
Dias d a t er ra qu erida d e Santa }1ele na Ma gno .
·············· ······· ····· ·········· ··~······ · ········ · ········· · · · ····

«E) o Pa rá liLnitado ao Nort e p elo Oceano


Alla ntico e pelas Guay anas, fra nceza, ho lla n -
dezn e i ngleza; pelo Estado de Matt o G rosso
pelos n1ontes G radaús e p elos r ios Fr esco e
C ar ay, qu e se l a n çan1 no Tapaj ós : do MA RA-
NHAO E' SAPARAOO PELO R I O GURU·
PY, etc. «As reg iões An1 azo oicas» - Estu dos
cl1orogra pl1icos dos Est ados cio Grfto ·Pará e
An1azonas- ·Ba rão d e Mar aj ó-Ca p. I) pag. 7».
***
«GU RU PY.-Corren d o a prin cip io n a d i·
r ecção de N . E. e rnais tarde na d e Sul a N o r-
t e, est e rio vae dese m boccar no Atla n tico,
ser vindo de limite ás duas p rovinc ias ·- Pa rá e
Ma ra nhão ».
«1'e Ln d e con1p ri 1n e nto un s 300 kilome-
t ros e é de rouca largu ra. Offe rece navega-
ção fr a nca para os vapo res na inetade in fe r io r,
11avendo na outra n1e ta de cachoei ras q ue o bs-
t ru e m -n 'o : e do t e rritorio paraense recebe di-
versos t rib uta ri os> .
«Da villa de Vize u p a ra ci1na as ina rgens
d o G urupy,- são altas.-« Peq·iten a Choro![ra-
p hia da Provincia tio Pará»-- Pag. 23. - Pro-
t fesso r cor onel R ay1n undo Cy1·iaco Alves àa
Cu nha , 1887.
***
GU R U PY, c uj o lei to sepc:tra os do is
« . •. O
Estado s, Pa rá e Maran hão, não é con hec ido
s i não con10 ri o li n1 it roph e . .. «Estados Unidos
do Brasil. G eog·r aphia E t hn,og·rap !iia, E sta·
tistica» , po r Eli sée Reclus.-Trad. R.an1i z Gal·
vão, etc . Pag. 153>) .
« ... entre outros, desembocando nas ba-
hias de eguaes nomes: Gitrttpy, q1te separa o
Estado do Pará do Maranhão ».-« A Terra
Brasileira» - Virgílio Cardoso. - Pará - pagi-
na 125.
* **
Antonio Ladislau M ontei ro Bae11a, no seu·
excellente livro «Ensai o C horogrnphico sol)re
a l=>rovíncia do P ará» dá uma vaga nott'cia do
rio Gur1J;py affirmando que en1 seu leito e
s uas m argens, ba pedras de amolar e talco,
o bra cita da, paginas 28 e 30. Nada tnais diz a
raspeito d o Gurupy» .

***
«Ü G U RUPY que separa o Pará do Ma-
ranhão, e cuja origem, segundo uns, é o T it·
Oil-tmandiua e segundo outros, o Cajuapára, r e -
cebe no P ará diversos tri butari os, taes como
o Branco, Tucumandiua, Pitne ntal, P anema,
Coracy-paratá, Itapur itiua. Jararaca, 1-ucunar é·
quára, Gurupy-una, Ara pa ratiua, Assitiua, Gu·
rupy - miry, SurubiJú, P o run ga, Apuhy, _t\ pa ra
e outros.
Apezar ele estreito, pois sua largura não
vae além de 400 metros, é este rio de :onsi-
deravel importancia pela riqueza do territorio
fertii que atravessa e d e tal modo aitrife1~0
qt,ie em seu leito as areias vern constante-
m ente misturadas co m palhetas de ouro que
os 11atut·aes explo1·am ai1ida q1,ie rotineira-
mente.
A' marge m esque rda deste rio fica111 fl po-
voação do Gurup)' e a villa de Vize u, a 26 kilo-
metros da fóz, no Oceano.-«Chorographia
do B rasil» de M oreira P into, pag. 58.
***
«A séde do muni cípi o é Vi-reit , á MAR-
G EM ESQUERDA DO RlO GURUPY, que é
a linha de limite deste Estado com o do Mara-
nhão, a vinte e sete kilotnetros da foz do Oce-
~ no e a duzentos e quarenta e cinco kilometros
de Belem. E ste ri o é inte rceptado por trinta ~
5

duas cachoeiras, sendo a ultima de pedras de


amolar, que sao exportadas para outros pontos
do Estado ... «0 PARA' E~1 1900», publicação
com memorativa feita pelo Governo do Estado,

• editada por occasião das festas do quarto cen·


teoario do descobrimento do Brasil.-Geogra-
pl1ia Política do Estado do Pará.-Dr. Ignacio
Moura».
***
Eis a litteratura que se conhece até hoje, sobre o
Gurupy,,,...
que bem
. podia
. . .. ser cl1an1ado o rio do ouro,
. .
t<les sao a~ minas riqu1ss1n1as que possue nas proxt1n1·
dades de suas inargens, inexploradas, e sob as pedras
de suas li ndas cachoei ras.
l)ão ligeira noticia da existencia de Gurupy, o Ba-
rão de Marajó, dr. Virgílio Cardoso, Antonio Lad islau
Mondeiro Baena e Elisée Reclus.
Demoraram-se m-Bis urn pouco quando, em seus im·
portantes e uteis trabalhos, o noticiaran1, os professo-
res C31riaco da Cunha e Igoacio Moura, que J alam nas
suas pedras de ninolar e tratam de seu cu rso, calculado,
escnssan1ente, em C')OO kilo1netros.
O illustre ch0rographo Alfreoo Moreira Pinto, que
ten1 a h onra de ser lido e decorado nas escolas e gym-
nnsi os do Brasil inteiro, servindo sua aChorographia
do Brasi l», de documento official s0bre o nosso paiz,
fornece informações mais minuciosas acêrca do Guru·
p)r, n1as, es5as infortnações deve1n se r recebidas pelos
estudiosos con10 inexistentes, en1 parte, attendcndo-se
a que e llas se não a1npararn na \-'erdude; antes expoern
o Gurupy a uma situação falsa: ora transferindo os seu s
rios tributarias JARARACA e GURlJPY·UNA do Ma-
t
• ranhão para o Pará) ora levantando duvidas sobre suas
nascentes~ que colloca na Acaiuapára ou Tucurnandiua
e faz, cousa inacreditavel, do Tucumandiua, a seguir,
tributari a do Gurupy! Ou bem que é a vertente, o ramo
inicial do rio , ou é seu affluente !
***
Na descripção da costa do Brasil, isto é, nos mappas
do cosmographo portuguez João Teixeira, o rganizados
em 1640, encontra-se apenas assignalada a foz do Gu-
rupy, ao levaotarnento do rio nada mais alli se vê. Creio
que o pri1neiro levantan1ento do Gurupy foi feito em
1813 pelo 2 ° te nente do Corpo de Artilhnria do Pará,



'6


Ser aphitn José Lopes que organizou a «Carta Geral das
Gapitanias do Grão Pará e tvlaranh ão», por ordem do
Brigadei ro Manoel Marqu es . Nessa «Carta», que é fe ita
á mão e perten ce á Bibliotheca Publica do Estado do
Pará, se encon tra o rio Gurupy, esboçado e m esquele-
to, m ostrando d ois aftluentes na margem di reita e seis
na margem esquerda e indicando que, o rio, nas n as-
centes, se bi-parte .
Parece qu e esse rnappa não ha sido consultado
pelos que se têm dedicado á geograpl1ia do Estado, es-
pecia l1nente, pelos que se entregan1 ao paciente ser-
viço de copiar, a rtistican1ente em itnpecavel pintura,
o mappa do Estado do Pará, pois, só assim se póde jus·
tificar o grave erro em que se deixara1n cahir com r e-
lação ao rio Piriá, que está sendo lezado em mai s de
cem l{ilometros no seu curso, até n1esmo no excelle nte
mappa do estudioso cho rographo e belletrista dr, The-
odoro Braga, or ga nizado e 19r8 ! Na «Carta> de Sera-
phim Lopes o Piriá se não mostra t ão reduzido ...
***
A necessidade de exan1inar, de visu, as cachoei-
r as do rio Gurupy Q.ue servem de cHminl10, no verão,
ao selvagens urubú~, do 1'1aranhão l)ara as te rras do
Estad o do Pará, obrigou-111e a conhecer tamben1 o
alto Gurupy desde se u atlluente Uruain1 até á foz .
D e tudo e que v i e do q ue, com cuidado e habi-
lidade, n1e info rm ei dos selvagens tem bés da alde ia
Uruai111 e dos cear enses Joaqui1n Paz Sobrinho, João
Clemente de Queir oz, R icardo Francisco dos Santos e
m aranhen ses, fi lhos e.lo Grajahú, Verissirno Antonio

de Oli vei ra e R ayrnundo B er c11la no Pinto, antigos
moradores do alto Acaiú-apára, do Gurupy-mi r; do 1

1g. Gurup3r, rio Tu cun1ant eua e rio Branco, r ecolhi


as notas que aba ixo dou á esta1npa visando prestar um
pequeno serviço á n1ocidade b rasilei ra.

MARGEM ESQUERDA (Estado do Pará).

O RIO GUR UPY nasce nas abas da Serrêl dos


Corôados, no Estado do Maranl1ão. com o non1 e de
ACAI U '-APA'RA (cajú torto) e ve m c1esce ndo com
esse nome até receber, na margem esquerda, as aguas
do Ig . G urupy que vem da «Serra G urupy » (vasilha
7

d o a le m ), ainda no Ma ra nhão , o nde perde o n o n1e p r i-


mitivo e re c e be o d e GURU PY.
São seu s a ffluentes d a MA R GEM ESQUERDA
( parae nse ) o s s egu inte s rios e igarapés :
Rio ·ruc un1a nteua. Nasce n a s cabeceiras d e u 1n
braço (affluent e) do rio C :1pi n1. T e m n1ais de vin t e e
c in co leguas de cur so e é navegave l en1 batelões, m on-
tari as e cascos a té q ui nze dias de viagen1. Suas agu as
são c la ra s e é in uit o p iscoso. Ha e n1. s uas 1nargens se-
rin gaes e copahybaes v irg e ns.
R io Suritbzj'ú - Nas ce nas c ontra-vert e n te s d e utn
a fflu ente do rio Capi n1. Te1u v inte leguas de c urso . E'
navegavel p o r bate lões e p e quen as c an ô a s até d e z d ias
d e vi a gen1. P ossue se rin gaes e copah y baes p o u co ex-
plorados.
Rio G1tr 14.PJ' -111iry-N asce n as c abece iras d o Rio
C a ndirú, t ri butaria do rio Capim . T e n1 s eg uran1en t e
trin ta e ci nco leguas de c urso. E' p o v o a d o até do is
dias de viage n1 e po r elle se navega, franc an1ente, du-
r a n te 10 d ia s e co rtand o cerra d os n1a 1s r o d ias; io t o d o ,
se p óde nave ga r 2 0 dias. Poss ue g randes se r ingaes e
cop ah ybaes. .
lgarap ti T apaiu11 a-q1tá ra - Vae faze r ca b ecei ras
co 1n as nascen tes do iga rélpé Ar8pa r y zinho, afTluente
d a n1a rg e rn dire ita do rio Pime nta l. S e u c urso é d e 15
legu as . Ten1 se r i og aes e c opa hybaes.
R io Pimerital.-Nasce nas rn esn1ns v e rte nte s d o
ri o U r uain1, a lf lue nte d o Gurupy , e na co nt ra -ve rte n t e
d o ri o Cand irú, trib uta ri a d o C a pin1. T e m ina is de
35 legu as d e curso e é navC:'gavel até 25 di ns el e v ia-
g e D1 . T e n1 se ri ngaes e co pn b:y ba cs .
l i{. C1111 hãta11-r[ c n1 n1 ai s <le o ito lcguas el e curso.
Nase e na s s e r r ns e nt re as aguns d o Pi m en t8 l e as do
U rua in1 . S e us scr ingae s f6ra n1 e xplorados p e lo c e a re n -
se Jo sé Nepon1uce no , assHss in ad o alli, e1n 19 r7, em
le giti n1a deresa, por un1 selvagen1 'f c m bé.
u• Ig. C1"ty -te1ta-Tem mai s de seis le gua s de c u rs o .
N asce nas cabecei ras do I g . Cunhãta n, na d ivisão d as
a gu a s do P im e nta l c otn as d o Gruain1 . T cn:l serin g aes
e C0}1ah y haes.
Jg . Arini11gal-Possue n1 a is de (15) qui nze le guas
d e curso . Faz ca heceiras co m as n asc e nte s d o l g . l o ha n -
g apy e co1n a s aguas do ig. Agua f 'ri a . S e u s se ringae s
h ão s ido e xpl o ra dos p e lo s r. Le o cadi o Bogéa·s, fi lho da
c idade d e J 111 p e ratr iz, r io T o cantin s, i10 I'vla ra n h ão.


8

lf!. 11iha1ir;apJ1-Ten1 o curso cguol ao do ig. An-


nigal. F az cabeceiras co m um ig. affl uente do rio U ru-
ai lll. E' navegavel, no inverno, até cinco dias de \ ria -
gern. T e m seringaes e copa h:ybaes. F o i nesse ig. que
sahiu, ha an nos, o illustre dr. P1.lulo ele Queiroz, quan·
(lo procurava fazer o serviço d e estudos da Estrada de
Fe rro de Pirapóra.
Rio A raparyte1lct-Faz cabece iras com as nascen -
t es do ig. Potira-cáa (flor do matto), alilucote do Uru-
aai111, e com as do ig·. Anhanga ·pé (cnn1inho do diabo),
tributario do rio I=>iu1 enta l. Tetn 25 leguas d e cu rso. E'
navegave l no inverno até 8 dias de viagen1. 1"en1 se-
rin gaes e copah3rbaes virgens .
ltf. L ontra-Tem mfl is de 8 leguas de curso e faz
cabeceiras co m as nnscentes do ig. Pnyc usé (freira),
afflu en te do ri o .-\raparvteua . T e n1 serlngaes
~ - e copa-
l1ybaes virg·ens.
Ig. FJall ema -Tem 1nais d e 8 l eguas de curso e
faz cabecei ras co m ig. Apopêma (raiz ch ata), affluente
do U ruji n1. Tcn1 \'ar ios serin gacs explorHdos e g ra n·
Ll cs copél h _ybnes.
Ig. Uassú-Banba mais de 1 0 leguas d e t e rras.
N::isce nns vertente.; do ig. Panem a . E' explorado em
se~1s seringacs e copabybaes desde a roz até as cabe-
ce 1ras.
Rio Urztai1ri-Nascc n as contrav e rte ntes do rio
Ca ndirú, tributaria do ri o Ca pin1 . Poss ue vastos se-
ring~1es e copah ybaes. O s an tigos subian1 o U ruaim e.
tle suas cabecei rus passnvan1 suas canoas sobre os ro·
los , por t e rra, pa ra 8S aguas do Candirú e, llahi, des-
ce ndo, entravan1 a viajar nas ag·uns do ri o Capin1, por
onde vinhatn a Bele n1 con1 suas ca rgas de copahyba,
borracha, crave, salsa, o uro , ba unilha e cacau. Ka foz
deste ri o está a aldeia d e sel vngens te n1 bés « U ruai 111 »
e se encontra g r avado o tna rco do kilorn etro 93 <la pi·
cadél aberta en1 fevere iro c.le 1q 2 0 pelo bacl1a rel H en-
riqu e J o rge Hurl ey (a ucto r des te traba lho), D elegado
do Governo do Estado do Pa rá ju nto é.tos selvicolas do
G a n1á, Gurup}' e Capim, pi cad a aberta no seio da
floresta virgen1 e que ven1 co1n ru1no s uéste do alto
ri o Jupuúbri, tributa rio do ri o Guamá da n1 argen1 direita.
li[ . Grcinde-T e111 seis Jegu;1s de c urso. Nasce nas
«Se rros Manoel F elippe» e lança -se no Gurup)', a oito
kilon1etros abaixo d e ri o Uru nin1. E' rico d e copah31 -
bn e de seringaes. Atravessa ~' picada a berta pelo ba-

charel J o rge I-l ur1e)r, e111 fevereiro lie i 920, do al lo ju-


puúbél , affluente do Guarná, ao Gurupy, na foz do
Uru aitn.
Jg·. fejú-E' de pequena irnportancia. Ten1 cerca
de 4 leguas de curso . Possue seringaes e copal1ybaes
não explorados.
f g. Floriqno- l~ambe111 inspira pouca in1portan-
.cia . 1'e1n quatro leguas de curso . Faz cabeceiras co1n
as nascentes do ig-. Grand e. Seri nga es e copahybaes.
Ig. lgna.cio-Nasce t1as «Serras de Mé.lnoel Fclip-
pe », con1 o nome de «Couro do Vendo ». Atravessa a
picada aberta pelo auctor deste traba lh o do Jupuúba
ao Urnaim. 1-·em n1ais de 8 leguas ele curso. Possue
seringaes e capah)rbaes.
***
1 .a. cachoe ira-Itapéua-miry (pedra chata peque·
na)-Pequena quéda dagua en tre ped ras com duas cor-
redeiras. E' a prim ei ra passagen1, no alto ~urupy,
dos bravos selvagens intitulados urubús. 1
2 . . ª cach oei ra-A11lct"-ra aroaia/... cauda de n1uc ura)
-Não tetn gr3ode in1portancia, n1as, o cana l por onde
se passa é estreito e, por isso mes mo, perjgoso.
Ilha ] acaré- aeanga (cab~ça de jaca ré)- Fi ca um
pouco acirna da grande cach oei ra M1dcd 1,ta·1J.ass1t . En-
tre essa ilha e a n1 a rgem maranbense h n uin furo (ca-
n al) por ond e, nC1s enchentes do i nve roo, soben1 e des-
cem as canoas e bf.1 te loes, evj tand o passnr as cncho-
eiras Mucáuu-uassú , Magdalenn e Lavaàcira .
3.ª cachoeira- M1icáua-itass1t', ta 1n ben1 con11eci.
da por .J!fão dt~ 0 11,ça. 4.ª cachoei ra- t avadeira. 5. 0

cachoeira - lrlagdalena - Essas tres cachoe iras estão


q uasi li gadas, se o do a mais perigosa e n maior a Mtt ·
cáua-uasszt (espingarda grande ). ND entrada desta ca·
choeira ba unia pedía qoe exbi be, ern a lto 1 elevo, urna


g rande «mão de onça», obra da Natureza. Nun1a das pa-
redes da pedra está g rapbado em caracteres an ti gos o
seguinte: «G ervasio Garcia-1818 » : e n1ais e m baixo
apresenta un s alga rism os parecendo querer, com elles,
den1onstrar a lli po r perto a existencia d e algun1 the5o u-
ro en terrado ou a passngem de r en1otos bandeirantes.
Poção da P iranha.-Entrc as cac ho eiras Magda-
lena e n terriv el f acaré-aca nga, o rio se ala rga em
duas e nseudns frontei ras, etn qunsi doí~ tie mi-circulo~

forrna nLlo o c ha111ado ~ Poção Lla Piranha ». Di zetn, l e n·


da ri a1ne.n te, que h a, nesse pôção uma piranha de ta-
n1anho de un1 forno de cobre de n1exer farinha.
6a cacl1oeira-jaca1,..éacanga-Apresenta un1 bello
aspecto esta cachoe ira e é perigosissi111a.
7ª cachoeira-Tapyr-1tas)tt . 8ª cachoeira - G1trlt-
py- it1ia -Estas cachoeiras são tambem quas i l igadas.
Il a utn furo (ca nal) por onde se passa a e<Gurup)'·Llna~,
evitando 1nontar a «Ta pyr-uassú », a qual, con1 n1eia
gaua é n1eàonl1n e não 11a que1n por ella desça, pela
pancada ou pelo ca nal central. O canal da Gttr :4-py-ttna ,
por onde passamos, é perigoso por ser 1uui to cstre i to
e salpicado d e pedras. Ahi começa o littoral das ter ras
dos uru bús, inargem n1aranhense .
9ª cacboeira.-Canindé-1Jassz't- Passa1nos esta ca-

choeira pelo canal da n1a rgem maraobense. Alli vi1nos
a passage n1 dos urubí1s. O chão li1np o, o matto mar-
ginal quebrado de novo . Em deze n1 bro d o a nno pas-
sado, nesse logar os urubús fle charan1, na ca beça, o
indio te,nbé Manoelzinh o, piloto da canôa do s r. I.eoca·
dio Bogêas, co n1111e rc ian te no alto Gurupy.
lgarapé Canindé#ita.ssií,-Tein cêr ca de seis leg·uas
de curso . Nasce nas•varzeas do rio C oracy- paraná . Pos-
sue ser jngaes e copabybaes.
1 oa cachoe ira - Ca 1ii1idJ-mirJ1.- E' d e fac il passa·
gern e se parece com a <ltapé ua-ruiry».
Rio Coracy-pciraná.-Faz cabeceiras cotn as nas-
centes dos rios Piriá e J upuúba . E", e m volume d 'agua
e ta1u an h 0, inaio r qu e o rio Irituia, no valle do Rio
Guamá . Corta a picada aberta pelo autor deste traba ·
lho do alto rio Jupuúba á foz do rio U r uaim, no l{ilo-
n1etro 37, 1.endo nesse logar n1ais de 40 metros de lar·
gura. SUAS VARZEAS sAo PROPRIAS PARA A CULTURA DA CAN-
NA DE ASSUCAR E DR ARROZ. 'l"en1 vastissitnos seringaes e
copahybaes in e xplo rados. Na foz d o Corac:y fo i onde
e u vi, durante toda a i11inba \ 1 id a 1 o n1aior num ero de
bor bolêtas.
1 ! ª cacl1oei ra-1Vlcirúju,pêma-E' de faci l passage.m ;
ten1 apenas duas corredeiras um pouco perigosas e m
v irtude dos canaes ser e n1 estreitos.
fg . B{iixo do Marâ;·upênza. - V ein d as va rzens elo
r io CoraC\'· pnrnná, ten1 pouca juaportan cia e se u c urso
é de se is ·1cguas, n1ais o u n1cnos. ~r c n1 scringacs .
l l hLz l1' .4 nL a-En1 i 9 18 ç:;Leve essa ilha occ u pada
pulo coronel F o rtunato Ban deira, n1aranl1ense , filho
11

de In1peratriz, no Tocantin s, que montou na ilha un1a


serrar1 a.
As t a boas d e cedro d esc iam o Gurupy en1 janga-
das até V izeu e dahi era1n re1nettidas en1 barcos pnra
São luiz do tvlarnnhão.

Baixo do C11r1tpira.-E' for111ado d e pedras sol-
t ns, chatas e pontudas; navega·se po r elle con1 c uidado
devido á co rre nteza que <Jhi é muito forte.
Igarap é jacar é.-1'en"l. cinco leguas d e curso e faz
cabeceiras nas vertentes do igarapé Marajupen1a . .
fg·. Tapai1tni11ha.-Seu c ur5o é de oito leguas.
Nasce nDs varzcns do Coracy-paraná. T etn ser ingues e
c o pahyb ae ~.
Ig. Tapaiunaquára.-Faz cabecei ras con1 un1 iga ·
rape afflue nte do rio Cora c:y- paraná. Te111 n1ais d e 1 o
leg uas de curso. Possue seringaes e copahybaes.
1 2ª C8. ~ h oei ra . - Ta1tary-1tira .--E' bast:in te con1p ri·
ela~ essa cachoei ra, 111 <.1. ::> e de fucil pnssagen1.
l!J. Rol ini.-N e:1sce na s verteu tes de u n, i gara pe
affJuen te do igarape Guajnrá. 1'en1 quatro lcguas d e
cu rso. •
I);-. G11a;·ará. - Fnz cahecciras nas ''ertcntes de uo1
igaropé al'llucnte do _rio Pir iác 1'en1 oi t o leguas d e
c urso.
Ig-. R oriella.-Nnsce nn s vertentes d e u1n ign rnpé
ulllueute do i ga rnpé dns ~1l oç<.1s . Seu c urso é d e quü tro
l ~g u ns . O no n1 e rodella p roveiu de 1_1111 a g rnndc 1)e-
dra que ba en1 rrente á sua róz, que ten1 o fo rnJ nto de
uma rodella ele caGoa.
I g. L\l11ssú-q11ára. -E' de pequena in1po rtancia .
• T en1 pouco n1ê1iS de un1a lcgua de curso, n asce nos
outeiros «1'1u s~1'.1 quáral). Proxin10 desse igH rnpé finc o u
o sr. Guilher1ne Li nde un1 n1 nrco sen1 que se saiba o
que significu . O 111arco fi ca defrún te <.t o igc.1rnpé da
C ê rn.
13 0. cacb ocírc.l - l tap e11 n 11a ssú -Não é das 111ais fa ·
ce is de tr~nspor. Succede -l lle un1 baixo d e un1 k.ilo -
n1étro de ex tensão.
Jg·. I tope11auassú.-N < 1scc nas vertentes ele um
i gn rapé nlll uen te do igarn pé das Moças. 1"'en1 quatro
leguas de cu rso .
I lha ! tape uattllSS t't. - B i-pn rte a cacboe i ra desse
11on1e e pende n1ais para n n1arge1u n1aranhense con1 a
quül for1na un1 estreito canal. ... .
12
===---

! Lha Chatão-)Issn ilh a, ha annos, residiu o sr-.


Gu ilbcro1e 1.inde quando explorou o ouro de Nlontes
..t-\ureos, no Maranhão. Em frente á ilha, n1arge1u ma -
ranhense, fica a estrélda que vae ter aos «.iVIontes-
A ureos»-zona hoje occupada pelos uru bí1s, que por
al li vagueiam .
I 4ª cachoeira Tztctt1iaré.,q1tára-E' facil de tra -
11 s por; req u c r o c ui ddd o ern não desviar do cn nal, nn
corrcdei ra, que é un1 tanto violentn.

15 3 cachoeira - Cri111inosa -E' pequena essa ca -
c hoe ira, n1ns é perigosissin1a quando o rio está de
n1ei a enchente, porq oe as ped 1 as po ntudas fican1 en co-
bertns e o cnn;.11 é estreito e t êrn as ag·uas, alli, grande
velocidade. Ha annos nella se perdeu un1 batelão de
un1 rrancez de 0001e Lans (cap.) que neguciava com o
curo exlral1ido pelos pretos d o Mocan1bo, boje, I ta-
rnuuary. Nesse naufrngio morreran1 seis pessoas. ·
16ª cacboeira-l\1a11zoira. (rnan1ão dôce)-Fica en ·
tre du~s.:ilhas que ten1 o 1nesn10 non1c. A do lado do
fvlrlrnnhão, por ser t11nior, se charna «Man1·oírauassú, e
a do lado do Pnrá ccMan1oír.: - n1ir)'» . Pas~a -se essa ca-
choeira pe lo canal j'onto á n1arge 1n lll<lranhense forn1a
do pela « Mn moirat1 assú» .
l garapé das Lif oças.-I.nnça -se n o Gurupy, i10
furo forn1éldO pela ]lha «Man1oírn·n1iry e a a1a r-
gen1 pJraense. 1~etn 1nuis de oito leguas de curso e
l vae fazer Cclbeceira s crJn1 as vertentes de u1u igarapé
a111 u e n te d o ri o P i ri á .
17ª cacboeira-- Ita111a1tary-E' uma g rande cach o-
eira. Seu canal é cheio de r iscos, ta es são as voltas e
os obstaculos que offerec:e á n avegação. •
Ig. Cara112z,1gy.-E' o r eceptor das aguas dos ri-
bei ros que vtrn das minas de ouro do F>i riá.
flita I tarrzaztary.-E' uma g rande ilha de n1ais de
n1 eia legua de extensão por seiscentos n1etros de lar-
.guro. O rio passa do lado do Pará . •
P ovoação Í tan1a 1tary.- Defronte dessa ilha , na
rna rgem p:1 r::ieose, erg ue-se a povoação « I ta n1a ua ry»
con1 un1a egreja etn honra a São Benedicto e n1ais de
o i len ta casas, algu mns cobertas de tcJl1a. Sua po pula-
çã'o é p reta, na maio ria, descendentes dos escravos do
«Mocun1bo» a:ll i situadG,·e se dedica á ext1:acção do o uro
e á agricultura.
13

Vi algutnas mulheres te1nbés cohabitando n1ari -


t al1nente, com pretos, sendo de notar que se t o r nam,
fórn e,los costutnes indigen ns, excellcntes clonas de casa.
Il ha Aridorinha.-E' urntt g r ande pedra no t11eio
do rio a que as are ias se tên1 encostado for1nando . u1na
pequena praia onde poisa 111, e1n bando, as andorin h as.
1811 cachoeira-Bac1tr11• uira. 19a cacl1oei ra-Arro1
dôce, 20ª cacheei ra-I'anella. 21 ª cacheei ra-1VI ag1ta-

. ry. 22ª cacboeira-Sica1zLan, (breu) - Desse gru po de


cachoeiras se destncnn1 pel ~1 s diff1culdades que offere -
cen1 á passage n1, a NI aguar:y, que te1n duas q uédns
d'agun, e a g rande cachoeira Sicantan, que é 1nuito
perigosa e possue tres quédas d'agua seguidas de co r-
redeiras, a st1ber: ia, «SicantandeuZI»; 2a, «Toma ·vara.»,
e 3 ª , «M eangaua
, >~ .
23ª cachoeira - Peito de tnoça-E' L1e facil passa-
gen1 esta cnchoei ra . Erguen1-se dos lados do ca nal
duas pedras bel las, be1n po 1idas pelas aguas, si n1ilhan -
tes a dois seios tuinidos de virge1n.
. Ilha Piráfeua--Esta ilha ten1 cinco kilon~ ctros de
cotnprin)ento por un1 ki lon1etro d.e la rg·ura. I~a quatro
annos os t<uru b1'.1s», atravessnra rr., no verao, o furo
(cannl) do lndo do Nlé1 ranhão parn a ilha e assaltarnn1
um pequeno casco etn qu e viajavnn1 duas mulheres e
tres creanças, sendo uLna d e peito. As n1ulheres espa-
voridas, atirnra1n -se ao rio e ntrnvessara1n, a nDdo para
a marge1n P-' raen se; na trt1 ve$SÍé.1, os «uru bl'.1s>> conse -
guira n1 ftexnr 1even1ente, un1a dcllc1s, a n1ais n1oça. A
senho ra, que sabiu incolun1e, sal vou~se con1 uma cre·
ancinha de peito nos braços e é a esposa do agric ultor
Virgílio, filho do alto Capin1. As creançns , un1a de 6
• e outra de 4 ílnnos que ficara1n no casco, foran1 t 1·uc1-
·d ad CJs pelos sanguioa:ios «urubús» . Nessa ilha ha un1
lago n1uito piscoso n o centro de utna catnpjna . E' o
lago que dá norne a jJha por que pirateua, significa
lugar de pird, peixe e te11a: log;Jr de.
.. 24.ª cacboci ra-Pirate11a- E) µcuco j n1portan lc:
sun quéda d 'Dgua é pequena e de facil passagen1 .
lllia Taqttipéteua-Tcn1 esta ilha leg11a e meia de
extensão por n1eio kilon1etro de largura. [>ossue roças
de tnandióca pertencentes HO preto J ustiniano da Cos -
t a Ferreirê:1, pequen_o cornmerciante da povoação I tn-
n1auar:y-. T eo1, enl suas n1 nttas, grande abundancia de
arvores de '"f api qué, cuja casca quein1ada, r eduzida á
cinza , serve ao preparo do barro para o serviço e,l e
14

.oleiro. Baena chan1a essa n1adeira CARAIPE' e tam ..


bem affir1na que a cinza do casco do carumbé tem a
n1esma propriedade. No rio Guamá, essa a r vo re é co-
nhecida por CARI PE'.
lg. Taquipéteita-E' de r.1ouca itnpo rtancia. T en1
quatro leguas de curso. Nasce nas vertentes do ig. Mu-
rutucu rn. No inverno por elle se póde viajar d ois dias.
T e1n seri ngaes e copah ybaes. .
25.ª cachoeira-A~ib eira-E' utTia cachoeira que
está se1Tipre encapell ada. Ten1 duas vertiginosas cor-
r edei ras e seu canal é estreito e sin uoso . Succede·lbe
u n1 exte11so baixo de pedras, peri gosissi n10, e1n meia
• :igua, con10 navegan1os .
2 6. a cachee i r:1 - .Tu la!iyte1ta. 27 .ª cacl1oei ra- Ca-
caual-Essas duas cachoei ras são ligad as e de peque-
na i 111portancia. E' n ecessario , po rém, que o piloto te·
nha sen1 pr e 01 ui to c u idado, nas correde iras, para des -
vi a r tl en1 barcação da s pedr as n1ei O · su bn'.le rsas .
Il hCL ]utahyteua- Fi ca encostada á n1argem para ·
ense da qual se separa po r u1n estreito cana l. T em cêr-
ca de n1 e i<l legua de extensão p or meio ki lometro de
largura . Nelln já b(J;.uve r oçi.ls e 01 uitos n1oradores, os
quacs a abandonnratu, 11a uns dez annos, e m consequen-
c ia dos repetidos ataques dos <curubús)). Fora1n a esse
ten1 po, assassinados, por essa ter ri vel tri bu , o cea ~
r ense Joaquio1 San1pnio e sua an1asia Arr1elia de
tal. D epois do sangue pr ocederan1 80 saque de tudo
quanto lhes aprouve conduzi r.
Ig. M itr11t11c1111z ( espinho d e tucun1an )-Nasce nas
vertentes d e un1 igarapé tribularia do ig. Gurupy -tniry
de bni xo. Te1n i11ais de oi to leguas d e c urso. E' nave-
gavel, no i nverno, até tres dias de viagen1 . T e111 e m •
suas te rras se ringues, copabybaes e ancii r obaes.
lg . Bocca-torta- E' de pequena in1portancia . Ten1
c inco leguas de curso. Faz cabece iras con1 as vertentes
de un1 correge, afllue nte do ig. Murutucum.
Illta Ca c11alinho - -T en1 q ualrocentros n1 etros de
ex tensão por ce tn de la rgura e perten ce ao Pará. Já
teve n1oradores -que a d esp reza ra1n forçados p elos te ·
i11iveis «u ru b ús ». I-l a annos ahi, elles, flecharan1 uma
1nulher e e1n seguida pilharan1 o que havia na chou-
pana ela v icti1n a.
lllia do Pi1tto - I-Ioje des habitada devido ás a m ea -
ç_a s dos <curubús». Fi çg .proxin1a da 1nargen1 parae nse e
15

ten1 trezentos n1etros de extensão nor••


oite nta de largu-
ra. N el la n1orou o ceare nse Rayn1u ndo Pinto, casado,
ser ingue iro e agricultor.
Sitio Escitta-Na margem do Pará, sitio be111 tra-
• tado, cl1eio de arvores fructiferas, abandonado pelo pos -
se iro Mandory, caboclo parauára, que ahi 111orava com
seu irn1ão R ober to e se viu forçado a abandonar essas
te rras depois de u ma pil hagem que lbe fizerrun os ccuru ..
b ÚS» .
28a cacheei ra -- A 111J._f á-qitára- Esta c~cl1oe i ra é ele

pou ca impo rtaocia; d eve-se dize r que é urna sirnp les
corredeira facil de t ranspor.
I lha dos Pretos.- Fica proxin1a á margeLn rn a ra-
nhense e foi outr'ora, habitada pelo abo r igene te1n bé
Zé-Bento, que dahi se mudou con1 sua lan1ili a depois
de um ataque segujdo de roubo, que lhe fizeran1 os
«U r u bús». Zé- Bento e os seus atravessara 111 , a nado,
da ilha para a mnrgern paraense, ao sentirem que es-
tavarr. cercados pelos ccurubús» que ll1e roubaram, livre·
n1ente, tudo o que havia na tapzJ-i:r_a. •
I,q. 1'.tfaratican-Tem oito leguas de curso . Nasce
nas vertentes do ig. Gurupy- micy- de baixo e do Ig.
Murutucum. Nas cabeceiras do Maratican 11a grandes
-
caranazaes. '
ªJ. nruzaes e m urucyzaes e varzeas e ca rn p1·..
nas pr op ri.:ls para a creação de gado vaccun1 .
29. 0 cach oeira- Gz,t rnpy-miry -E' apenas un1a cor-
redeira, e ntre pedras, sem g ra ncle im po rtanc ia.
1.CJ· Gur1,1,py-miry-Nasce nas cabece ir as de um
br aço do rio Piriá. E' navegavel durante cinco dias de
viagern. Tem mais de 12 leguas de curso. Já t eve
alguns rnoradores em suas 111argens, que dellas se tnu-
• da r am acossados pelos cc u rubús» .
T apéra Cer te-ra.-E' u1n bello sitio, aba ndona do,
na m argen1 paraense. Vê.se alli, o claro de u1n a g ran ..
d e capoeira de cerca d e quinhentas braças d e e xte n·
são. Neste sitio m o ra \ra o capi tão Ba rauna, m aranhe n -
se. Ha cinco annos os cc urubús», ahi, tnatara m, d e s ur-
preza, na r óça, o lavra dor R ufin o R ôzo, natural d e V i·
zeu e aggrega do do ca pitão Baraun a. D epo i ~ desse cri·
tne fo i o sit io abandonado . H a, nessa tapér a, m uitas
ar vor es fruct iferas.
P ovoação C am iranga.-Fi ca n a m~rge n1 par3en·
se. Conta o p o voado m a is d e sessent a casas . A fo rça
d a pop ul ação é d e orige1n a fri cana e os m a is vell1os
vieran1 do Mar a nhão, onde n asceram, fu g idos ao chi-


16

cote do senho r, acossados pelo jugo in1n1oral da escra-


v idão . Vi a lgu nJas «tem bés» v i vendo n1arj taln1entc
com pre t os, sendo de notar qu e se n1ostr~n1, fóra llos
costu rr1es i ndig·enas, excelleotes Llonas (le casa . Fla ca -
f ezaes e cacauaes e hons sítios de arvores fructife ras .
T e1n un1a boa casa de con1n1ercio e un1a pequena igreja

cn1 h on ra a S. Benedicto . Seus J1ab jtantes d e dican1-se
á extracção do ou ro, nas n1inas «São Petiro», distant~­
da povoação un1 d ia de vingen1 p<:l ra o centro . ~· ·
t },1[ariana .- Estão , a lli ni n da de pé olgu n s esteio s
das c in co casas do p equeno povoado paraense .
A 's nove horas do d ia I 3 d e nove n1bro elo anno
de 19 19 os «urubús», atacara n1 essa p equena povoação
n1at ando, a flechadas, as seguintes pessoas : ./; ntonio
G e rn1ano Damascen o , d e o iten ta e d o is annos de ed~1 -
d e; Avelina Damasceno e quatro filh os n1enore!>, sen-
do um recen1-nasci do; Leon illn Dan1asc e no, irmã d e
S e bclstião Da n1asceno, que esc,lpOu po r ::;e ac har t raba-
lhando na roça, nri llora sinistr<:1 d o d laqu e ~ Satu rnin a._
d e quarentn an~os de edade e Virg·oJino P er~ira, h o -
n1etn de sessenta an nos e d oen t e . Os co rp os das victí -
rnas fora 1n enco n trad.J)s trespassados p or taq1táras corn
pontas d e aço, em (órn1éJ Lle lança .
Ain da fo ra n1 graven1ente feridas Ernestinri, a 1n asia
d e Se b astião D a111ascen0, que t e v e a cocha direita atra-
vessada por ut11 a taquár a e, assi n1 n1 es n10 feri da, _se
la nçou da riba n ceira do ri o a baixo, e a n1enina ~ a ría
dos R e1nedios que, r ecebeu un1a flechada ~o rosto·. que
inte ressou a v ista n1as, 11eroican1e nte sob a s d o r es h or -
ri veis d o fe ri 1nento, corajosa e caln1a, i11s pi r ada por
Deu s , subi u á urna cuieira, escond endo ·se alll , sob as
ramas . Os cada ver es foram i nhu i11ado s dentro das ca· D

sas q ue 11oje se rvem de ultin1a iuo rada aos p roprios


donos . Info rmaram-me, na povoação Zauárd·quára que,
quando os «u rubús chacinavan1 os habitantes d e <Ma -

rian a», o menino Casen1i ro de Britto, de sete para o ito
an n os de edade, filho do morado r P edro d e Britto, vi-
s inho das casas assaltadas} andou pelo ineio d os assas-
s inos co m u n1 cachorrinho pequ eno nas n1ãos. Os «uru-
btlS» a rrebataram o cãozinho de Casen1iro n1as, nada
fizeran1 ao inenin o .
Olti111ada a inatança d a "fa1nilia D a 1nasceno, e sob
os protestos d e Casemiro, foran1 á casa de P e dro Britto;
onde fizera111 go rda pilhage1u .
Conta111 i10 Gurupy, que h a dez annos: os paes e·


l'i

parentes das victimas de <.<Maria11a» sal1iran1 e1n perse-


guição dos (<urubús» e os encontrando a atravessar o
Gurupy, sobre as pedras da cachoeira «Canindé-miry»,
abriran1 renhido e certeiro fogo sobre elles, n1a t an-
• do-os e pondo-os em fuga. Nesse teLnpo, nem o sr .
Pedro Brito nem sua fan1ilia n1oravam en1 «Mariana» .
Crê- se, á vjsta desses factos e do inodo por que se por~
tara111 os «urubús », con1 relação ao rr1enor Caserniro
Britto que essa jncursão sangrenta foi jnspirada por
• u 111 a n tígo, terri vel e cruel senti n1en to ele vingança .
Jg. Sanlpaio--Tern seis leguas de cu rso. Nasce nas
virtentes de un1 jg. nffluente do igarapé Gurupy-111iry
de baixo. 1'en1 vari os scri ngaes.
lga1~apé beija-flor-Vem das nascentes do iga-
rt1 pé Sa1npaio. T em seis leguas de curso.
Sitío B ella Aurvra - Morada do sr. Guilhern1e
Linde, comn1erciante e extractor de ouro. I1:a um bar-
racão novo e duas casas, cobertas de telha. Esse sitio
é o antigo «I'ira Couro» .
lg. Limãode11a -E' de pequena im portant'ia. Te111
duas leguas de curso e nasce no seio da floresta .
Ig-. Ariramba, antigo ]acare-cáua (Gu"la de jn-
caré)-Tetn iuais de oito leguas d~ curso. Nasce nas
vertentes de urn jgarapé, affluente do rio Pirjá e do
igarapé T apyriteua, que corta a estrada do tio t elegra-
phico. Na n1argen1 direi ta desse igarapé está fincado
o segundo n1arco (de baixo), que ali deixou o sr. G ui·
lhern1e Li nde, i nex pressi vamente.
30.11 cachoeira - Ari1ta-curucá11.a (garganta d e
guari ba)-E' un1a pequena corredei ra que dispõe de
tres canaes navegaveis : um proximo á Lnargern rnnra-
nhense, outro, no n1eio do rio e outro entre a ilha Cu-
rucáua e a terra paraense.
Povoação C11rucá1ta-Essa bella povoação para ..
ense está situada e111 frente á povoação «Gloria) ' que
se ergue á 111argern direita. Ao centro, junto á n1argen1
esquerda, fica a ilha «Cu rucáua ~ .
• H a, nessa povoação cêrca de cen1 moradores e·

mais de vinte casas. O fio telegraphico atravessa o rio
Gurupy, nessa altura, servindo a ill1H de suporte a um
poste do fio.
lllia C1trttcd1ta-E' uma pequena ilha de cento e
ci ncoenta rr.etros de extensão por 60 i11etros de largura.
pertence ao Pará e; no rigor do in v·erno; a laga quasi
toda .


18

Esta il11a serve de r efugio ao pobre povo de «Cu-


ru cáun» durante o , ·erão. Ne1lc1, ellc se Yae acoberta r
das constnntes ameaças que l11es fnzen1 o c urubús»,
co m o succedeu ao anno passado, depois do v iolento
assalto á «Mnrjana ».
f..!f. Cryry.-1'en1 n1ais el e oito leg uas de cu rs o . •
Suns nascentes são as n1esn1 ns de u111 iga rnpé, uffluente
do igarapé <cAriran1ba».
Cryr:y· é o non1c de uo1n fructn do n1utto, do ta-
n1anho do « n1ucá» (goiabaranél). Os g urupyoá ras a
con1en1 e, co n1 ella, a tlráen1 á flor délg~1n os pacús, que
são mortos a flechadas .
31.n. cachoei ra-Sarito A riton.io-1\ão inspirn gran-
des cui dados a pnssage1n d esta cac h oe ira . No verão,
ag ua rela-se a n1aré para a tran spo r; no inve rn o, de
n1eia ench en t e p8 ra c i1na, a passnge1n é írancn.
l)ovoação São José elo G1tr11py-E' u1na gra ne.t e
v illa, ten1 n1ais casa s e n1ais gente que ns cidndes de
Chaves e Mazaga nopoli s e vi lia de Oure1n . l)oss ue cêr-
ca ele ducentas casas, sendo mais d e trintn, de telhas.
Sua população é ~uperior a quinhentas aln1as . Eslá li-
gada á Vizeu por un1a excellente linha te lephonica. De
pnss8getn , notei, cohl gra nele sn ti sfação, que, dep o i ::>
de io r /2 do ~lia, ainda íunccionava alli, con1 urnn so ~
berba frequeocia de mnis de quarenta nlua1nos, a es-
cola n1ista do Estado , regida por un1 a sen hora írünzin ~1,
de n1cia edade, a qual, cotn voz cla ra, revelando an1o r
p ela instrucção e con1petencia profissional, preleccio·
nava a inoc idade que, silenciosa e interessada, recolhia
aq ue lles doutos ensi oatnen tos.
A povoação ccSão José do Gu rupj'» t e111 varias ca-
sas de con11nercio que traosa ccionan1 co 111 Vizeu, Ca-
rutapé ra e 1~ ury - assú, e é séde de uo1a su b·pre fe itura
de poli c ia . Tem uina pequena egreja e no porto un1
cruzeiro arruinado.
Jg. Agita B ôa -Tem n1a is de 12 leguas de c u r so.
Vae fazer cabecei ras coin o ignrapé Tap)rriteua ; co rta
a linha telegraphica em va ri as ponto~, be 1n como bD·
nha v a rias can1pos e can1pinas povoados de gado vac~
cum. Seus moradores são os vaqueiros acon1pnnhados
d e suas farnilias.
Jg·. Ca1rialeão-Nasce nas v e rtentes de t1n1 iga-
rapé, tributaria do igarapé Tapyriteua . 'fen1 n1orndo-
res na foz e seu c urso é superi o r a oito leguél S.
P ovoação Zauára-qi1.d1·a (buraco d e cac borr<J) -
19

Tem esta pequena povoação paraense apenas r6 casas.


Vivem, seus ino r ado res: da lavoura da fa rinha e tam -
ben1 extrab em ou ro. Ten1 1 en1 obras, u1na bôa e es-
belta egreja en1 llonra ::t Santo Antonio.
• Jg . Pagão- Ven1 d as m ntlas e atravessa os can1- ·
pos elo «P agão». Nesses can1pos ha bastante g8do vac ·
cum, pertencente a Anton io Pedro da C:ruz, Severin o
Aug11 s to da Cruz e Ben ed icto de O li vei ra Cruz. T em,
cal cu ladamente, oito leguas de curso.
• 32. ª cacheei ra-C11.f i-tJvzí- ( co tia grande)-No i n·
verno é de faci l passag·en1 , po ré n1 , no ve rão, torna ·se
peri gosa, já se t endo, a hi, a lagad o varia~ canoas, na ·
descida.
Rio Gran,de llo Tapyriteua-Nascc nas verte ntes
de un1 ig. affluente do rio I:>iriá. Ten1 , en1 s uas n1ar-
ge ns, n1uitos n1oradores que se c1ediciln1 á agricu ltur,1 .
E' na veg,1vel por bateloes grn ndes. Ba n·ha v 2r ios ca 111-
pos de creaçâo de gado vaccun1, forn1 ando, nns de-
pressões, grn nd cs lagos inu i to piscosos. Atravessa ,
inais ele u n1a vez a estraLl a do fio. T e1n n1nis de" 15 le·
g t1as ele c urso .
Jg. Piri-te1ta-E' de pequeno curso. Nasce nos
ca1npos . E1n suas n1argens ha variils faz<:ndolus de gado
e t en1 , nas cabece iras, rnuitos 1noradorcs.
Jg" Can1o ci11i-Nasce nurn outeiro proxin10 tios
can1pos. Ten1 pouco ma is de duas leguas d e cu rso.
Seu s an ti gos ha bita ntes e ran1 ole iros .
Ig . 1\1arataú1ia (var~ pre~)- D e sce dos c e ntros
das n1attas e at ravessa os can1pos do «Ma ratá una .> . E'
navegavel até a estrada do fi o, que o co rta duas v e·zes;
seu curso é d e tres leguas.
ltf. Laranjal-Tem o curso superior a quatro l e- ..
g uas. Atravessa os campos de «Santo Ignac ioi> e a es-
trada do fio t e legraphico. ~E' navegavel a té os ca1npos,
co1n a e nchente da n1aré.
lg . Graride·- Ten1 esse igarapé mais de seis le--
guas d e curso. BRnl1a um longo trecho de n1atta e corta
a estrada do fio t el egra phi co. E' navegavel, co1n a m aré, ,
até á estrada do fi o .
CIDADE DE VIZEU --Peço per1ni ssão pa ra faze r
minh as as palavras d o illus trado d r. Pedro V ice nte d e
Azevedo, preside nte da Provincia d o Grão Pará, con-
tidas em seu R e latorio de 17 de janeiro de i 875, sobre
a e ntão povoação d e Vizeu : «VIZEU - E' a p-0vóação ·


20

mais orrenta1 da provi ncia; .está 5ituadn á i11argen1 es-


querda do Gurupy , perto d a foz deste ri o, no O ceano.
Fo i ao prin cipio n1orada de alguns particula r es,
d epoi s de t o n1 ada pelos hollandezes, e111 r 642, e 111uito
augmentada e1u 1663, e 111 que a sua séde foi transfe-
rida para as m a rgens do Cu eté, on d e hoje está Bra-

gança.
Ern 1756 su bstituiu o seu antigo n o n1e de Vera-
Cruz je Gurupy p.elo d e Vizeu , e en1 1856 foi por lei
provincial elevada á cathegori a de villa ; se us edificios •
pu blicos são so m e nte a peque na egreja d e Sao Sebas-
tião e a c~sa da can1ara.
A agricultura acha- se en1 g rande at r::iso. O con1-
mercio consi st e na exportação de un1 pouco _de algo-
d_ão , café, t abaco, oleo de copnbyba) algutnas cabeças
d e gado vaccum e cavallar, e co u ros.
Os meios de co1nn1 u nicação e transpo rte d e cargas
e passageiros são os barcos de vela e bar cos que na-
vegam n a costa e ao longo do Gurupy e de outros
rios do ~l unic i pio .
Suas n ecessidades mais urgentes, segundo informa
a Cama ra, são : as obras de concerto e reparos da
egreja matriz, a el~rução d o n1unicipio a tern1 0 con1
juiz fo rn1 ad o, li1npeza do furo Sumáun1a, que dá tr a n-
sito pa ra os rios Piriá e Emboraounga, facilitando as
viagens p ar a Bragança , abe rtura da estrada do Pjriá
ao Gua111á para v iagens e co111 tnunicações da v il la
para a capi t al e a conclusão de un1 aterro entre a ·villa
e a te rra fir1n e do Ca stanhal , na extensão de 150 b.,r aças .
. Na villa ha duas escolas pri1narias para a infancia,
u•ma do sexo mRsculi no e outra pBra o f~n1i nin o, e
n1ais tres en1 povoados do interior . São frequentadas
p_or ci ncoe nta e seis alumnos e dezoito al un1nas, fal- •
t ando, porén1, a estatística das tres inencionadas
escolas .
. A população da villa pode se r calculada_ ern dt1-
zêntos habitantes , a do inuni cipio é de 4.000.
Devo accrescentar a essas not as, não á parte 11is-

t orica, que jan1ais soffrerá contest ação ou r eforn1 a ,
111as, á descriptiva, o seguinte : Vizeu, boje, é séde
de districto de Bragançâ te1n calculadan1ente,
o itocentos h a bitan t es (na cj d ade) e sua população ·
complet a (oo município) vae. além de 8.c oo al-
mas, inçluindo os 1 .23 0 selvagens «t e111bés» e «ty1n-
biras>~ Tem urna · novâ egreja~ ir1n ã·-gen1ea da de



21

Curralinho, no Marajó, levantada por subscri pções


populi.1res, havendo concorrido p8 ra isso, o ~sp i ri t o
botn 0 p rogressist<t do dr. r\lfredo 1\nniba1 Ladislau,
ex-juiz de direito de Vizcu, hoj e aposentado e con -
• sagrado autor do ~Ter r.1 ln1111o tura» .
O porto de Vize u não é rra nco. A barra t en1 po u -
co vol u n1e d ' agua. São LTI ui to conhecidos dos mariti ·
1nos os bancos, restingas e os afan1ados baixos de
Gur u py, os q uaes se perden1, seguindo a costa, na-
• q uellns altu rns, até oi to 111 ilhas de penetração pa ra o
111ar .
TJ a, Dttenu<.1ndo esses perigos ina ritirnos, um ph a-
rol chnn1ndo-pharol do Gurz.t py, que esfá situado
:J. 15 n1ilhas de distunciH , mais ou n!enos, da foz do
Gurupy na ill1.t «Apéhu», fronteira á ilha cc Tu pécaia>)
(estei rn q uei n1ad ~1 ), onde cs pê rei 111aré para proseguir,
]Jela costa, a 1ni nha excursão, de retorno, via Bra-
ga nçn.
O pharol de Gurup;r corresponde á altura dJl n1ar-
gen1 esque rda do rjo Piriá e está n l egua e meia de
distnn .: ia d<l ilba 1'upccnia , ponta de oeste .

,
l


.. •




..


-.-
: .

-
"i


3
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org

MARGEM DIREITA
....
ESTADO DO MARANHAO



--
• .
, _.. . -


.

ÃO SEUS TRIBUTAR LOS DA M t\RGEM DI-


• S REI1'A (n1nranl1ense), os segu intes rios e i'g~rapés:; :
Ig. Garrarão-V e m i as bandas das fraldas d:a
Serra dLl Desordem . Tem n1ais de r2 leguas de curso
e é navegavel durante seis dias de viagem . Dizeín
que em suas cabeceiras ha 1ni nas de ou ro , o que
nao duvido . · -
Rio Caranande1ta-Ven1 das abas da Serra da
D r~ ~orde1n e te1u n1ais d e v inte leguas de c urso. H a
co pn bybaes e alguns se ri nga es (ser inguei ras verme-
1ba s) e pouco explora do t e:n sido. Sua ílorac e -sua
fa u nr1 são ri q u issi 1uas. ~ ·
R io A pár a (torto )- 0 no1ne está indi cando que
é un1 ri o mu ito sinuoso. D e fac to Aão ha rio que dis··
ponha de n1ais cu rvas ; algun1as quasi de 3000. Seu
c urso é s uperior ü 30 lcguas; suns v e rtentes es-
t ão ao pé da ,)erra dq Tira cam bú, que co m A Serra
da ·Desord e m rorman1 a bacia que ger a o poetico 'fu -
ry-as~l'.L, c uj ns aguas, con10 as de Gurupy, se vão pu-
rificar no O ceu n o.
Ten1 3e riogaes e copahybaes, n1as, n ão possue hLl·
bitantes.
R io Bocca Fitnda-Nasce nus n1attns, perto da
• Serra Tiracanibú. Tem 15 leguas de curso . Não é
explorado.
lg. Irir~v ( espurna) -E' de . p o uca in1po rta ncia .
T em calcuL.1d nn1eote seis leguas de curso e ven1 do
seio das m a ttas .
Ig . Ita q1tar ate1ta -E' r ico_ d e copahybaes. I-la
minas de o uro eLn suas nascen tes, que se avisiohan1
da Serra T iracan-ibií. Se u cu rso é de 15 leguns. E '
p ouco e xplora d o . ·
lg. Bonito - Tem suas i1a<;ce ntes na fl o resta na
base do oute iro G t7-to da, S erra. Tla vari os se ri ngaes,
alguns exp lo rados . Se u · cnr so é d e i 6 le·guas. .
l g. Cunha 1n1tcú(111eni-nn n10Çu)- O s «ten1bés» e·i.n ·
prega1n o vocnhulo nizt.cú ou pitcú co n1 a n1estna: · si ..


26

gn ificação- co1np rid a, alta, etc. Esse ig. te1n inai s de


d ez leguas de curso. E' pouco explorado .
Ig. São João-E' pequeno, tem pouco mais de
quatro leguns de curso. E' o igarnpé dos pacús. ..\lli
vão os indios «tembés» e «tyn1biras» flechar os pacús,
..
cban1ando-os á supcrficie ora corr1 a fru c ta do catigy
o ra con1 a fru cta crirJ'.
Rio Arapat·itetta-'fên1 cerca d e 16 leguns ~te
curso. E' pouco explorado.
Ig. Pin,dobal-Nasce na floresta. Seu curso é de
oito leguas. T em sido pouco explorado.
Rio Gra1ide-T en1 , seguran1ente, vinte legu as de
.curso. E) muito piscoso. No verão por elle nnvegan1
_os serin g·ueiros que vão a1li fabricar borracha. I-la
tarn bem a lg u ns copc1bybaes.
Ig. Ana;'á-te1ta-Veu1 das 1nattas e tc1n calculada ·
inente, 12 leguRs . de curso . Não é explorado.
Rio Tres Irmão s- T e1n perto de vinte leguas de
cur so . t?ua s nasçentes não são ainda conhec idas . T e1l.1
alguns cop1:1bybaes e seringaes proxin1os â sua foz .
It[. Araçatez-ta-1'ein 15 lcguas de curso. E' pouco
conh eci d o. e.
Rio Ass z't-Se u curso é superior a v inte e cinco
l eguas. Suas cabeceiras não são co11hecidas e é utn ri o
ainda por explorar.
.. f.ct[. ú bini:ral ---Possue 12 leguas de curso. T en1
alguns serio gae~ já explorado~. No verão e povoado
p o r audaciosos seringuei ros que se não t e111en1 dos
<urubús ». Estão nas n1nttas suas v~rtentes.
Rio ]araráca-Nas cabeceiras deste rio, que tem
n1a is de 20 l eguas de Ctlrso, 11ouve nntigan1ente, al-
d eias de «urubús; foi, essa, certnmente , a razão que
levou o j lluslre capitão de engenheiros do Exe rcito,
dr. Pedro D a ntas, a fu o dar tres esti rões aci n1n de sua
foz, o posto federal «F elippe Cnmarão», co111 u1n a es -
co la do sexo n1nsculino e vari os instrun1entos agrico·
la s na intenção d e, pelo trt:1balho e pela instrucção,
chan1ar á civilização os s~lvagens ninda err:tr1tes i1a
fl o resta e habituar no trabalbo rnethodico, que digni -
fica, e bo1nen1 filh o dns sei vas e já n1eio civi l izado.
E' encarregado desse posto o cidadão J oão cre
Aragão M endes~ filh o de Vianna , oo Maranhão, _qL~e
alli, adn~ ini stra 36 adultos e 40 tnenores, todo s «_terQ-
bés». E' un1 bon1 ho111en1, mci.s não nasceu para ague lle
~ ?e rv1_ço ~


'27

O posto « Fe li ppe C a,n1a rão >> le n1brêl o ind io n orle-


ri ogrande nse d e nom inad o l)ot ygua r, d esce nde nte d e
tu pynao1bás que, em 1646, já t o r na do n obre pela co-
• rôa d e P ortuga l, e ntrinch e irado co n1 650 h o tne ns
junto a o ri o Gttajú , q ue sepa ra a P o t; rguara n ia da
Pa ra b ~yba (agua r ui m , má : ou ri o m a u ), com d e nodo e
he ro isn10, fez r ecuar o con1n1an dante Re inbe rg ·e o
co nsell1e iro Baas, q ue ca p itaneava n1 i11 il hollandezes
e i ndios- Ephe c11er id es Brasile iras d o B a rãp d o Rio
• Bra n co .

A 14 de 111:1i o d e 1633 co nced e u, o Rei el e Portu-
ga l a A n toni o Fe lippe C a n1a rão o uso d e b rasão de
a rn1as , e o titulo de capitão-m ó r e o co rnn1ando d e
t o d os o s <t i ndi osi~ d o B rasil co m o sold o de s ua J.1ate nte.
Essa h o rn e nagen1 p restada p elo d este n1ido e d is-
tin cto serta n ista pa trício dr. P edro D a ntas, ou pelo
gove rn o d a R e publica, n as suas info r maçoes s e nsa t as
jo s pirad o , á in e n1 ori a do h e roico 1111tr1tbixa ba C ara-
gu a taj u hH, n o rte -ri ogr a ndense, lá o nde o M'1ra n hão
te r ru i na e a A n1azon ia u he rrí ma con1 eça, t e Ln sua ra -
.. zão d e ser em f undame nto h i : > tori co .
A ccei tando a abalizada o piniã<• d o fe stejado Jitte-
rato e h isto r iograph o pa rn cnsL: dr. ;\rthur Vi a nn a a ff'ir·
n1 0, ao l ê r a R elação d o p ac.1 rc J uiz Fj g ueir a, d a Co u1 -
paohi a d e Jes us, q ue, F elippc Cê.1 n1urâo (o ind io pot)·-
g ua r) , a o l udo d e P edr o Te ixe ira, ·v ;Jlê nte G i n len1c:-
rato cab o d0 g·Ll errrt po rtug ucz e d o cnpitão l)edr u d a
Costa, o leão µc rn a111b uc:n no, fu i un1a d as i11 n is c ll'i c i·
c n tes ca u sa~ d a e xpulsão dos h o l la ndezes e i n g lezes
da n1 a rg e n1 csq ue rda d o A 111azonas.
O p ríncipe dos a bo r ig e nes, veiu, at ravés d os ser-
• tões , até ns t e rras d oces d o Grão P ará, de on d e , c n1
can ôa, ch e fi o u 111ur1tbixabas ke rimbattas par aoáras
en1 prol da roça lat ina, qu e p re fe r iu a qu 8lqu er o utrél.
l)íz Lui z Fi g ue ira :-<cN est u occasiâo se ass ign ala ·
r ão alg u ns l nd ios n1u yto 111ostrnndo g rnnde valor nas
escara n1·uças; e nt re os qun es 11un1 chan1ado Carag 11a -
t a_j1tba P ot 1:,t.;11ar lf o riu /{ r a ndc in cl u a lflll assalto ,
ve nda n o ri o Ire.> ca11 ô,rs (ri CJ Sun tc.111nc.1, ou n1el ll0 r
can a l d e Sa nta nnn, Jvl acnpá) Llu~ 1ndi ü!> n a l ur ai ~ ul lia ·
d os c o111 o ~ Ola 11de1.es. T O fl1 ...\ I-IU A ES F> ..t\ D..-\. NA
BOCA , E L ANÇA - SE :\ NADO E AS FO l AL AGA NDO H UA .'\ HUA, SA -
l'NDO E~l TERR .'\. AS FRECHADAS i\TA'l'OU 1\TU YTOS DELLES. Elll
ou tro e ncon tro Ct) ll1 o s O innd eze::i, \ri o es te n10s n1 0 Ju -
d io 11uLn dcll t!s Ll ~ bo n1 gc ito , a r ren1 ~ tc a eJle par,t (>


- - -

traser vivo nos bracos e setn du vidc1 o trouxera se lhe


~

não acudirão outros quatro ou cinco Olandezes, que


lho impedirão as cutjladas, dos quaes t odos se defen -
• deo co tn hua r ódella et c.» ... E sses factos se passa raru :
a 2 r d e outu bro de 1629 e J\rthur Vi nnna etn seus .
co mmentarios á R elação--Figu ejra, a pag ina 23 do r. º ·
volume d os Annaes d a Bi bliotl1eca d o Pnrá refe rê :
« Pot igua r, como se sabe, era o non1 e de Feli ppe
C antarão. No t exto acin1u se diz: «entre os qu,ais
ltit.m chamado CARA GUATA]UB.r1 l)OTIGUAR

DO RIO GR_-1.N DE I 1V DO A 17.UJJ 11SSALTO
et c. A phrase rio grande não se refe re de ce rto
ao Amazonas, pois logo en1 seguid a, é c itatlo este .
Bem se vê q ue é alcunha. Se se l eva r e n1 linha
de conta que e m doc umentos conten1por a neos já
aquelle nome designava a patri a de Fel ip pe Ca-
ma rão (o Rio Gra nde do Norte) sotnos tentados
a cr ê r que o fan1 oso h e róe da resistenc ia aos hol~
lan c0zes t am beu1 t erçou suas arrnas nas ~guas e .
nas paragens an1azon icas. Con1 effei to, só elle; ·
p a rece, pudera obrar as façanhas que o padre Luiz -
..
Fi g ue ira r elat a tldrn irado ».
Ig. Cavallo-Nasce nas rnattas roa ran henses. E'.
d e potica in1port a ncia . Fnz cabeceirH~ 0111 lLlll pequeno
igara pé a [flu e nte ~to Ri o JarD raca. 1"'en1 quatro l egu é\~
de curso.
lt;-. da Porca - Te tn as ve rtentes na n1es n1a fo nte
do ig. Cavallo . Lança- se no Gu ritpy p roxin10 ao Si-
tio N ovo . Con1tnunicando-se com sua margem direita.
Ha, no inverno, u1n lago e nesse sitio se enco ntra
uma campina a rtificia l, que foi Hberta pelo cear ense
Dionysio Anastacio dos Santos. O . _) itio Novo, actua l·
rn e nte, pe rte nce a J oaquin1 Paz Sobrinho, n1o ra dor na
aldeia [ ] r1ta i m, cear ense branco e casado segundo as
le is ela aldeia . Nesse sitie ha urn ca fezal qu d produz).
em cad G1 sa fra, n1a is de 30 ar robas de ca fé.
Tg. T imbira--Tern a fóz fronteira á do l íf. Tgna -
cio (t11arge rn paraeose) . Seu c urso é supe ri o r a 12 le ·
guas. Suas verten t es muito se npp roxi1nan1 das cabe· .
c:e.i ras de u rn iga ra11é tributa rio el o Rio .! araraca . - ·
Jg· . das P eliras-Ve111 da ·fl o resta. E' de peq ue no. -.-
cu rso . A 100 bracas da su a fóz t cn1 u n1a cach é>c i ra de ·
>

pedras ele an1olar. 1\fli r n1a1n que e L11 se u leilo já se


t e m enco ntrado alg n1nas pe dras e ra vadas de o uro.


29

Ig. T1,t c 1tm1al-Seu cu rso é calc ul a do e1n oito le -


guas. Nasce nas mattas, na base de um serro te . E' pou-
co conhec ido.
. lg. MtJ,Cttra-aroaia-Pouca i tn portancia t en1 . Não
vae alén1 d e tres legu ns seu c urso. Dese n1boca no Gu-
ru py, n as ag uas da cachoe ira do tnes mo non1e, 1'n1tCU·
r a·aroaia (cauda de mucura) .
Rio G1tr1,t pyu1ia-E' um g rane.te ri o, po rtador de
conside ra vel volume llaguns. Suas nasce nte$ são as
• n1e~ n1 as do Ma1"acassitmé e as de utn tributario do
Rio P inda·r é. S uas aguas tem a côr esc ura, d'a hi lhe
·vindo o non1 e 1tnc1, (preto). Seu curso é s uperior a 30
leguas e s u 2.s aguas, no inverno, augmentatn extrao r -
dinariamente pelos ílflluentes que lhe vêm da
S erra Grartde. As marge ns do Gur1,ty ·1t1ia servem .
d e ba bi taculo aos 1tritbt.'ts .
rq. Serra Grande-E' o uni co igarapé qu e, vindo
da Serra Gra1zde, não vne rende r botnenagens ao so·
berbo G1trupy-urta , pois qu e se la nça sem i nte r n1e-
1

di a ri o ~, ao Gurupy. Nasce na serra alludida ~n1 du a:;


leg uas de curso e é descon b ecid o .
l g . C ocal1inho -Ven1 das 111a ttas. f'az cn becei rns
con1 aJ:rlu e nte ·do Rio Gt-t1·1tpy-1t"1,a n1t1rge1n di reit8;
te n1 tres leguas de c urso.
Jg·. A11zr ajitptS11ia- -Nascc nns vor1.cn t es do if{tira-
pé lia. Ai ina. T e1n. cinco leguas d e e Llrso . E' p ouco
c<Jnhccido .
lg . da M ina.-Faz cabece iras co m as v e rte ntes de
un1 ir1 butario do Rio Gur1tjJy -una e co 111 as de um
outro i gti rnpé aflJ uen te do Rio J.1aracassu 1n é. E 1 voz
corr e nte qu e, nas suas ·v ertentes, V<l rios i nd i vi duos en-
• t re o s quH e s un1 ex trangeiro d e non1c J o rge r\n1ir Co-
cli n ou Cokrane, sub-chefe ou c he fe d os .'tr1thús ex-
ploran), co1u inuit<.t facilidade, ouro, d e prcfe renc ia no
verão, pois, baixando as nguas, o serviço de pesquiza
se 1.orna muito mais facil . T e m oi to leguas lle curso.
:{_!!,-. i lha d'Anta-Suas cabec<'i ras nãv são ainda
c.on l1ccidas. Calcula-se qu e seu cu rso é su pe rior a dez
leguas . Lança-se no R ío GttrttPJ' defronte d a I lha
ct' Anta .
. Ig·. l 'abocal- N asce nas ve rtent es do fg arapé ,
Issic(lntari (breu). Pos~ue n1ais de dez leguas de c urso;
é po uco explor ado.
Ig . ,'>apocaia- T en1 sé is legua:, ll c curso e ns 1n0s-

n1n:, cabecei ras do ig·arapé Ta bacal.
30

Ig . C êra-Seu curso não v ae alé1n d e du8 s le?,uas.


Nasce , nas mattas; sua fóz fica fron tei ra á d o Ig . .:.'1l1ts-
sitquara.
Ig. T1t c1t1iaré-qitara-Faz cabi.:..cei ras con1 as ver-
tentes de um igarapé tributaria t10 1garapé I s sican-
tan. Não foi explorado ainda . ..
Ig . Albino-Nasce n a flores ta. E. d e p e qu e no
c urso.
· Ig. Issicaritan (breu)-I>ossue n1ais d e leguas
20
de curso . Vecn da s cabeceiras do 1\1aracass1t1rlé e das

d o G1,ir1tpy-1tna. E' navegavel até oito leguas. E' pou-
co explo r ado .
Ig. Pirate1ta, -Ten1 cerca de quinze leguas de
cu r so. Faz cabeceiras con1 as vertente s de un1 ig8r aµé
affJue nte d o Rio M aracass;t1nrJ. A quatro leguas da
fóz elle se r epart e e m do is ra1nos : o que vem do Sul

traz o nome de Sac1,tita, e o que vem de Suéste se cha·
ma Pirate1ta -y.
Ig. l"órco G raride -Su as ve rtentes vêm das cabe-
ceiras d e um affiuente do igar apé Pirate1ta. T e m, se ·
gura1ne nte, quatro Iesuas d e cu rso.
lg . Ca ca tt lll -E111 suê1s n1 argcns, pe rto da fóz ha
un1 caca ua l aba ndona d o. li a tan1betn, a Jl i n1ui tas nrvu-
rcs fru c tife ras . Foi nn ti go esta be lecin1c11to dos frades ,
J..if. Cane lla -Faz ca becei rns con1 as ve rten tes do
'it{arap é P iráte 1t a-J1. T en1 d ez leguas d e c u r~: u.
Jg·. A 11.1t;'áq u ara - 1' e n1 quin ze Jeg uas de c urso .
Atrave ~sa a estrada da linh a teleg raphi ca e nasce nas
cabeceiras de un1 atíl uente do Rio M ·a r acass1t1Jzé.
I f! . Matto Grosso -Com oito leguas de cu rs o .
N a~ c e nas cabece iras do ig. Tuc1tnaréquara. Está po r
explora r.
I f!. Su1Jl áttfna - T e n1 as verte ntes nas cabece iras
d o Ig. Gatharina. Atravessa a estrada do fi o t e legra-
phico e nesse pon to, á s ua n1argen1 esq ue rda, h a un1a
colonir. d e no1n i nada O sor io; n essa co lon i n te n1 u tn 1
posto tele phon ico que se co 111 n1 u n icél con1 \/ i1e11 - v i a
Povoação . .)ão José tiv G11rupy e con1 Jl ara1.:asszt11te. •

Golonia 1~Jilitar -E ' n1ilita r són1eutc in n o n1ine.


Outr'ora e ra un1 post u de r ep res5àO HO$ di sturbi os d0s
quilonzbos e 1noca1nbos. I-l oje, é uni g ra nde po ,.ro;:ido
rnarnn he nse co nhecido por «Colooia », t e n1 i11nj s d e
60 casíls co b e rtas el e ubin1 e, ulgutn;.1s ha c ujos t e-
c tos são d e t el l1a.

31

Possuc un1a egreja de pouca csthetica e regular


tamanho , consagrada a São Pedro de Alcantara .
D essa pO\'Oação vae·se ao Pin lieiro, cid.ade do
sert ão n1aran bense, en1 ci nco dias de v iagetn , a p é,
• pela es trada do fio do t elegrap ho nélcional .
E' por essa estra da que ven1 o gado que se abate
en1 Bragança, Ourern e ás vezes nté en1 São Mi guel
elo G uan1á . IJa, un1 pouco acin1n da pequena povoa-
ção Gloria fronte ira ao pov oado Curucáua, un1a
• ..
n1anga ou cniçura por oo c1e o gado vaccun1 ntrn,rcs5a
en1 bo indas, o rio G'A-rttpy, d o Maran hão pa r a o Par<:Í .
Passei n noite ele 18 de fevereiro d e 1920 no bar·
r acão do étgri culto r e co111merciante cea re nse José Ao·
t on io de Aln1eídn o qual fica duzentos n1etros ac ima da
CotoJZia e qu e n1udou-se con1 sua num e rosa fan1ilia
e nggrega clos do I tamauar)', povoação parne nse on de
sern rre con1rnerciou co m os pret o5 extractores de
otiro elas minas do Pará (região d o Piriá), por in1 po-
sição do sr. Gu il beTm e Li nde, que se fez senh o r de
t odas as n1inas de ouro a lli descob ertas pe leis pretos.
O s r. José Antonio de Almeida é propri e la ri o etn Vi-
zeu, sendo qu e é deJle a casa o nde fun cciona a I nte n ·
d c n c ia Muni cipa l. •
l-l on1e 1n prudente e bon1, ca lmo e de sent in1entos
anti-be lli cosos, preferit1 se transfe rir con1 o seu povo
para a rnarge n1 do Maranhão que ab rir lucta co n1 o in-
truso despota-n1iry d3qu e lla infeliz zona, tão rica d~
ouro e tão pobre de l1o n1 ens (le acção.
Está o sr. Aln1 e ida rasgando urna grand e clareirn
en1 volta d o sitio o nde, prov isori an1e nte, se i n ~ tallou,
para Hssin1 , possuir á Juz tio sol, 1111i ca11ipo de tiro
di s posto á defPza quando, pelos 1tr1tbits fô r atacado . .
No dia seguin te, pel.:t n1anhãzinha, momentos an -
tes de ernbarcar encon trei-m e~ perto do barranco do
po rto, ccn1 o sr . J osé Bapti~ta do :Nascitnento, serta ·
nejo gu r up:yoára, baixo, torto, acag ibado, e escrofu-

• loso d e qu ern se falava mu ito no alto Gu ru p)' , sobre


um encontro qu e ti véra, «cara a cara», cotn os per-
v e r sos 11r7Lbi'ts .
Fo i un1 achado! Eu, que vinha roga ndo aos Céos
para e ncontrar-nJe com esse quasi lendario persona-
ge1n não pude esconder o ineu contenta~1ento : ma·
ni fes t e i·o p ubli ça 111ent e e abordando, acto contin uo, o
sr. Nascin1ento que, n1 e io intrigado, o r a mirava, estu··
pidan1en te, as 3guas que d esciatn para o Ma r ora vo l-

32

via 'o olhar desconfiado e fu rti vo para a estrada do


Pinheir o, sob 3 pressão delicada e expansi' 'ª das mi-
nhas p erguntas, respondeu-1ne: «que en1 Liezembro
proxi mo passado, indo ele M aracass1,t mé, ou de esta·
va trabalhando na Con1panl1ia Noruegueza do R-edon-
do, na extracção de n1adeiras, fazer uma caçadn na
matta, perto do igarapé do P eixe, 111 eio dia de via ·
ge1n (seis leguas) do Redondo, foi surprehendido
por um ext.rangei ro barbado, oll1os azues, baixo, bar-
rigudo, de tanga, chapéo de carnauba quebrado na •

frt:nt e e en feitado con1 tres pennas de ararás : duas
encarnadas e un1a azu l, no centro; q ne foi i tn1nediatA·
m ente cercado por assobios de cdndios>, ouvjndo ain-
da o ru1n or extranl10 de suas vozes por todos os lados;
que o citado extra ngei ro disse-ll1e que nada ten1e~se
d'aquillo, pois elle era o chefe dos «i11dios» e pedia-
lhe que fosse ao posto F elippe Camarão, no Rio Ja-
raraca, e dissesse ao encarregado que coo tinuasse a
deixa r nas n1attas, brindes para os 11.rt-tbzís, co1n0 an -
ti gan1enté fazia o governo federal; que os 1,1,r1,t bús se
qu eriam approximar da civilização n1as, q_ue repudia-
vam os pretos e est't era a razão de andarem se1npre
en1 lucta por aquellas paragens; que, quando se visse
cercado pelos ur1,1,bús batesse tres vezes com a mão
direi ta aberta sobre o dorso da n1ão esquerda techada
• gritando a seguir as palavras Jorge Amir) que os 1J.1'"U·
b1ís o deixariam en1 paz».
Nascimento estava arlnado co1n um rifle oo\ro e
disse-me que o extrangeiro, a que alludiu, possuin
t ambe1n um bom ri fle de pouco uso.
Essa historia (passada em dezembro de 1919) pa·
rece ter servido de modelo a uma supposta entrevista
tida em começo de fevereiro do a nno corrente entre o
sr . Guilherme ·Linde e o sub-chefe dos ur1Jbús, e publi-
cada no «Estado do P ará» de 25 de fevereiro, pelo digo.o
correspondente desse conceituado o rga n1 em Bragança
que, a respeito, ouviu o proprio sr. Linde. ·
S itio A rapir anga -Povoado maranhense. Tem
dez casas e pouco 1nais de quarenta habitantes que
trabalha1n em roças. E1n fren te ao Arapiranga ha, n a
margem paraense, uma linda praia e dunas de areia
fina , alvissi1nas, que lembram os lençóes de areia das
praias atlanti cas.
Pov oado Camp inho-Possue doze casas com cin·
coenta e sete moradores esse povoac,l o do Maran hão .
33

~~ a unia casa d e comme rcio pe rtencen te ao sr. Theo -


do ro Machado. A uma hora de viagerr1, para o centro,
te n1 utna e ngenhoca pe rtencent e ao co tnn1 ercü1nte João
Si lva , q ue fabrica n1el e rapad ura.
P ovoação Gloria - E' fron teira á povoação pa ra-
e nse C 111' t-tcaua; esses dois povoados se fun de n1 i1un1
só povo, tnes são os laços de frate rnal a n1 izad 0 q ue os
p re nd e. .
P e rn o ite i n noi t e d e T9 na Gloria, en1 casa do
• di st in c to cid adão i11 ara nhe nse J1ja io r Bra uli o Bur·jack
dri Si l \' eÍ r é1, n<1sciclo alli n1es1110, hon1en1 v ersad o· no
lnt inori o dn n1i ssf\ e ele sesse nta annos el e ec.lad e.
l)o r occ,1s ião do janta r, t ra tn n1 os d ,1 i 11 sc ri pção
«G ervasio G a reia 1818» qu e e u o bse rvá ra g ravad a na
ped ra 1\1ão de Oriça, ci nco e nta n1 et ros ac i n1 n da g ra n-
de cach oe i rn 1\!f itca11,a-1tassú (espi oga rda gra nd e) e o
velho Braul io, que fa lava de cho rrilh o, d i sse o se-
guinte :
<cMc u pae, ba 2.n nos, recebeu u ma ca rtn de d o na
R osal ia Garcia, inulber de G e r vasio G a rcia . •escripta
de Barcell ona, I-Iespan ha, con v idando·o a ir a té lá bu s-
ca r, p e5.s oaln1 ~ r.te, o ·R oteiro qi.t ~ Gervas io poss1./.ia
in.dicarid o un1 thesonro de 900 : 000$000 que se acha
ent errado nas pr ox i1nidades da Mao d e 0 1,zça. Dona
R osalia, na ca rta, dizia que se u 1na rid o se nchava pre-
so e q ue não di spunha de m eios para se tra nsporta r
ao G uru py a fin1 de r etira r das e ntra nhas da terra esse
th cso'J ro. P ro mptifica va- se a, n1 edia nte contracto, di-
' ' idi r, 111eio a meio, essa vultuosa so1ntna qu e está re-
pr esent ada e nJ ouro antig o, extrahi do do p roprj o Gu-
ru p}' ». Depois da mor te d o vel ho Burj ack, o sr. Braulio
ainda guardou essa carta por muitos a nn o s, a té q ue as
labias de un1 tal ca pitão R ocha a surr upiara 1n pa ra nun -
ca tnais. Ahi fica o fio d a meada pa ra os ave ntu rei ros
• qu e de recu rsos di s puzere m pa ra essas cavações e ex-

cavacões•
.
l g . f ussaral-Faz cabecei ras con1 as vertentes de
un1 iga rapé afTiuente do ig·ar apé Catharina . 1' e m inais
d e oito leguas de cu rso e é navegavel, no inv e r no, até
t re.; dias de v iagem .
1,q. Cath ar ina- Seu c urso é de 1 2 leguas. Suas
v er ten tes v ên1 das a g~as do Mar acass1J,mé. P or elle
se póde na vega r d ura nte tres d ias seguidos. D'ahi para
cin1a n in gu ~ n1 t e m subido po r cau sa dos tl rt,t bús que,
p e rto de su as ca beceiras t ên1 uma alde ia.

34
=-

Jg-. Ta11i11at dte ua. - Nnsce nas ·v ertcn tcs de u n1


igarapé affluente do Calharina. E' de pequeno curso.
Vern banhando os can1pos povoado de gado vaccu1n e
cavallar pertencentes a puraenses moradores da povoa-.
ç.ão São José do Gitrupy.
Ig. Poção-Tem mais de oito leguas de c urso e
v~e fazer cabeceiras nas vertentes do 'ig·arapé Catha-
1
1 1 rz11a.
f-la dez a nnos passados, 11as vi si n ha nças deste iga-
rapé, os itrt/tbús assassinaram o lavrador Antonio Car·
doso, marnnl1ense, agricultor, levando tudo o que a
victima possuiu em casa.
Jg·. 1\1ana11s-M ais d e 10 leguas pos~ue de curso.
Suas vertentes são as mesmas de um iga rapé aftluente
do ri o 1\Ja1·acass1t111é e co1n as de un1 o utro trihutario
• do i;;-arapé Catharina. I-1ouvc, antigan1ente, rnorado-
r es nesse igarapé os quaes se inudaran1, tc111endo nrn
ataque dos 11r11bús, que já os tinham an1eaçado.
PoíJOação Man.aus- Fica abaixo d o igara;1é desse
'
non1e, o..3111 hraças. Te1n dez casas com cincoenta ba-
bjtantes, que se empregam nn extracção de taboados
de cedr o e andiroba.
Jg. Cara1ian,de~ta-E' de curso pequen o, nasce na
floresta e banha os campos do Ca1·anti1ide11a.
P o'l1onção Ca1·ana1zdezta-E· formada por 20 casas
cobertas de ubim. Sua população, que sóbe a pouco
mais de 60 pessô:Js, se dedica á lavoura. 1'em un1a
111i na de ouro denominada «Ca 1n pos do Centro».
J.qarapé Sao Bento-E' de pouca in1portancia e
não ten1 moradores.
Jg·arapé úassú·te11ti (logar grande)-Possue mais
de dez leguas de curso .Suas cabeceiras não são conhe-
cidas.
A MARE. sóbe, no ve rão, até á Colon,ia Militar
e no inverno, em consequ e ncia da reacção do rio, não
vae além da Povoação de São José do Gitru,py. Des-
ses dois pontos para baixo vem ella influindo no fluxo

e no refluxo, em todos os affiuentes do Gurup3r, quer
na margem paraense, quer na maranhense.
Deve haver, ·mas, creio que ainda não está publi-
cado um excellente levantamento do Guru py· feito en1
1893 pelo dr. Arrojado Lisboa , que, por determinação
do Barão de Capanema, fez um serviço de demarcação
alli e foi até as cabeceiras do Acaíú-Apá-ra, na Serra
dos Corôados, que são vertentes do Gurupy. D'ahi


35
'
la prin1ci ra volta do ri o cban1ada ]11ira, coutou o dr.
Arrojado Lis bôa 2.48q estirões até á fóz, al iá s confir-
ma n d o , es~a pacien t e contagen1 , o que observou o dr.
,
J osé M a ria de Bernes que tan1ben1 por a lli andára .
Des preznndo·se a fracção 89 e tomando-se por
bnse. para cada estirão 1neio kilon1e tro , podem os cl1e-
ga r á conclusão d e que o Gurup)T t en1 r . 200 l(il or11e-
tros de c urso .
E' possível, tan1ben1, que no arcbivo do distíncto
engenhei ro dr. P a ulo de Que1roz. t ão precoce e vio-
l e ntainen te a rreba tado ás le ttras do Pa rá e ao Paiz, se
cncon tre tn precipsas notas sob re o Gurup_y.
POPU LA ÇAO ABOR fGENE. se lv,1gens !eni bes L __
..........
- São os / r 11tbés , os ce are ns es e o s 111H rcJn hcn ses fi-
lh o s d o G raj ahl.'.1, que dão \·ida á s t c r rn s elos se rtões d o
lvl a ra n hão e LJará, desde a regia o bn n hada pelo J-1caizí- •
apara, onde don1i na a Serra dos Corôaclos, que é o
llivorti1111i aquar·11m (i,f[GCJ') das aguas d o Pinda ré .
Rio Gu ru P}' e ele dois ri os tributa ri os elo R io Tocan-
l i11s~ a té ás pri n1e irns ag uas d0 Rio Capi11i , ..tIU e vêm
da 1n esn1u origcn1.
D escendentes legitin1os dos Tupinambás ou d o
tupy su pe ri o r, fa ]an1 os te11ibés a 'i ingua geral viciada
pelos n eologisD1os o riundos do po rtu guez e da liog ua
congolezn , vocabulos que para alli foram lev ados, a in-
da no t en1po da escravidão, pelos pre tos fugidos qt1e
en tre os índios achavarn a libe rdade, que lhes fôra a r-
reba tada nos sertões africanos .
Os t enibés vi ven1 reunidos sob a nc.1n1i n istracão >
prin1itiva, r otineira e preju dicial de t11chá1tas. I-la, na
n1argem paraense, as seguintes a ld eias :
r .ª-URUAI!YI : t1tchdua Caetano Ribeiro da Si 1va_,
casado con1 duas 01ulhe r cs, sendo que uma aind a não

attirigi1,t á p1tberdade ! Estão sob os domíni os d esse
r egulo 44 índi os, dos quaes 23 são a dultos e 21 sao
m e n o res.
Nessa aldeia, l11esclados a lguns con1 os tenibés
n1oram os seguintes sertanejos cea renses e 111aréln hen·
ses :
Fabiano Monte Cruz, co n11ner.:iante e dono de
seri ngaes e copahybaes; João Cl e tne nte de Queiroz,
casado, con1 quatro filhos, dois 1n e nores; Joaqu im Paz
Sobrinho, a tnas ia e dois filhos, Ra~yLn u n do I-1 e rcula no
Pinto, a n1asia e t1 m filho; Ricardo Francisco dos San-
tos, Jo rge Cardoso, Damas io Cardoso, Verissi mo An~
36

tonio de Olivei r8, amasiado con1 u1na india e que já


t en1 prole nun1erosa. N essa aldeia, tive occasião de ,
vêr índias l e111bés folando portuguez com o su taque
cearense e e mpregando a phrase muito con1tnun1 no
Nordeste: nãv faça isso ·n ão lJ'ic lii11lio , reíer indo-se
a un1 filh o IT:enor. Fica sitund.a na n1argen1 esq uerda
do Gurupy e na fóz do Ur11,ai11i . - •
2. n -BoA VISTA : i1tchá1Ja 1'1arco1i no José, que fin-
ge ad1ninistrar r9 índios: 5 ad ultos e r4 1n e nores. E'
nêl n1argen1 do G11r1tpy.
4
· 3.ª-ÜLllOD.A<~UA: tuchá11a Edu ardo Manlto. Adul-
tos 39 e 38 n1 enores. Mnrgc1n do Gu rupy .
4.ª - B OA E SPERANÇA : tttch.á11a En1)·gdio Sarn1ento.
J.\dultos 28 e 111enores 29. Marg·e n1 d o Gurup31.
5. ª - NAZARETH : tucháua. Alexandre lYlathias da
Silva . Adultos 67 e n1eno res 73. Marge111 do Gurupy.
6.9 -GURU P YM lRY : t u c}iáu.a C a millo .B"'r ancisco de
P aula. E' situada na m orgen1 esquerd a do Rio Gt,tr1J,-
py-mirJJ, n1 eia hora de viagen1 da fóz. Adultos 34 e
n1 cnores~ 49.
7.ª-BoA VrsT,, no P ANE>lA: t11cháu a Rapha e1 Go·
01 es . A d ultos r 9 e.;.Jnenores 24; é situado acin1a da
fóz do Rio G14r1tpy .n1iry, un1a hora de viage n1, na
tna rgem do Gurupy. .
8.ª-BAcAnA : f1tcháua Theodoro dos San tos. Adul-
tos 8 e 1nenores 1 r . Ma rgen1 do rio .
9.a-SuROBIJu' : t1tchá1ta P a ulo Mu cura . Adultos
13 e n1enores 20. Ma rgen1 do rio.
Na t11argen1 mar:-:lohense co ntnn1 - se as aldeias se-
guintes :
r .n-FELIPPE CAJ\1ARÃO : Posto fed e ral de protecção.
E' administrador o sr. J oão de Aragão Me ndes . Adul-
tos 36 e menores 40. Está situada trcs estirões aciLna ..
• da 1óz do Rio Jararaca .
2. ª- JA"RARACA : titcháua Firmino Pantojn. Adultos
12 e tnenores 15. E' situad:i na íóz do Rio Jararaca .
3. 3 - APOHY : t1tcltáita A ugusl o Mucura. Adul tos
2 1 e n1eno res 24. E' situada á i11arge111 do rio.
4. 8 -BACURY : t11chá11a Affonso M u cu ra. Adultos
49 e n1enores 95. Ma rgeiu do Gurupy.
5 . n- 1\ CA1u' -APARA : tu.cháu,a T boroaz Japu. Adul-
tos 9 e 111enor es 14. Margen1 do r io de_s se nome.
6.a -·· T AU ARY : tuchá11a Rayn1 undo T ap)rra. Adul-
tos 40 n1 e no res 65. MRrgen1 do Gurup:y.
37

7.ª·-J APOAT.AZINHO: t u cháita Mao oel ~1 ocaen1. Adu l-


tos 1 2 e t11enfJres 13; prete ndiam 1n uda1·- se para o
post o Felippe C a1nar ão .
s. ~ -G ROTA : t /,t e háua Joaq ui n1 C a ri na. Adultos 44
• e n1e no res 64. E' a alde ia ina is distan te do post o fe ..
d eral e a nni ca q ue fica no cen tro da flo resta, a dois
d i8s de v iage 1n da n1ar·gem do Gu ru p3r.
Ess es indios , como nos t e n1 pos co loniaes ,.. v iv e m
d a pe scn e dn CflÇR ; alg un s ha q L1 e e xtrúe n1 oleo d e
copa hyba e t odos têm peq uen as r oçAf' o nde cultiva m
a 1na11 ió.::a ( far inha, pão ela casn) o rn il ho e o a rroz.
Não co n11ecen1 outro d ire i lo senão o i us consue-
tudi na r io aborí ge ne, que ven1 nt ravess~ndo os nossos
seculos ele civilização, intn cto t nl qual nasce u, naquella
r egião . O costu n1e e os l1abitos se lvage ns de se us maio-
r es são a base d e sua legislação 1nat er.
D e t udo o que se t en1 p ubl icad o sobre os t)Jmbi-
1,.a s ai nda não se poder á a rfirn1a r de onde são elles o r i-
gi na r ios; sabe -se, po ré1n, que e ll es a inda exi ~e n1 no
P a rá , nas cabeceiras d os Rios (Ju r·t tpy e Cap i m.
P o is be111, u111a vez q ue n1 e refe ri a esses t a p 1iyus
passo a n1ostr~ r n estati sti ca de ll€s no Gurupy :
NlARGEM PARA ENSE- I ND IOS T Y M BlRAS:
ALDEIA A RA.PA RITEUA tt,ichá 1/ta Matl1eu s Carrem. Adultos
30 e n1enores I J . M a rge n1 esqu er da do G uru py, aci ri1a
do ig(:lrapé Araµa rite ua e di st a q ua tro leguas do post o
fe cleral «F eli ppe Ca tu a rão}) .
MARGEM MA R f\ N l l ENSE- ..\ LDElA B ACABAL tu-
chá·u a 1'.uiz Ara purr{l.- .-\dultos 2q e n1e no r es 36

*
**
P o r essas no tas est::tti sticas se pócle con cluir qu e

o s ty mbir as não são natur,1es de ssa r egião e, pe netran-
do nn sel va colo nia l de nos sa h isto ri a, prova rei que
essa tribtf. nos ' ro iu e n1 ig radn e.los sertões Pinul1v e
Ma r anh.ã o . ~
D esd e t 7 3 2 vi nh am se nd o p e rseguidos en1 seus
habitaculos nos centros do P ia ul1y e Maranhão os Gua·
jajáras e. os Ty mbLr as.
O padr e d . J o ão d a Cunha, Presbítero do habito de
São Pedr.o , p edi nd o pa ra se r mi ssiooar io no sertão do
n o rte d o Bras il, di zja t e r co11ve rtido á fé catho lica o s
índios Çlos sertões d a B abia, P ern ambuco, Maranhão,
Pi aulrv., e Pa rá !


-38
--

A brindo a~ cle\ridas S)rndicn ncias, para i n forn1 ~r


ao Rei sobre a pretensão do µadre J oão da Cunha, J o -
seph V idaga l prestou a seguinte i nforn1e:1ção :
Don de o mais ve rosi n1i l h é, que a fil ha do Pri n-
ci pe (tucháua ). que diz o R eve rendo s u pplicante q u e
está recolh id a no co1r\•e nto ele San ta Clara na Bahia,
será algúa 1'npuia de que ou f,orra ou con10 cnptivD,
fez a lgú n1in1 0 a a lgún pare ntn 1-i're irn . Como tan1betn
não nos diz PARA QUE I;f Nl LEVO U AQU ELLES SE~SENTAS l~ YLV1- ••
B1Rr\ S PARA B AHIA; e po r isso ine fica a presunção, que t
o u forão 1nandados VENDER por Mnnoel A lv ares ou
a DEST.RUI R, pois não lia ALDEIA MANSA de TYMBIR.t\
M lJ l l~f\ BALA en1 s in1 a delles sim, ten1 havido .» Cor-
respondenci ~1 dos go\·e rnado res con1 a Metrcpole-
Cnrta de 28 ::le setet11 bro ele 1732.
Os Ty11ibiras são naturaes do Pi au ll}' , pelo n1enos
t: nnqucllas regiões ceotraes qu e de ll es n1ai.s se fala
nos Lcn1pos recuados dn co nqui sta; a carta de d. Diogo
de !\1cndonça Corte Real, datada do l")Hrá, de 3 de no-
vcn1bro• de 17 53-doc. que faz parte da co rrespo nclen-
cia dos governado res do Grão l?a rá con1 a n1etropo le,
en1 Lisbôa occiclental, publicad8 no ''ºl. II dos Annaes
dn l3il"liotheca Pubtica do Estado, pag. 9 2 e 93 , n1 ostra
que a co rôa de Portugal não l1avia auctorizado a gt1e r-
ra nos se rtões elo Piaub.J7 aos gentios A corôas e T_vrn -
biras, n1 8s son1eo te aos Gu êguês. Desse in1portante
documento, coovén1 transcrever o seguinte tr ec ho :
(1 Con10 aq uella Gue rra se fez nns elita s tres Na-
ções, e ntretanto, logo João do Rego Castello Branco
NA TERRA DOS TYMBIRAS, etn cuja nação se não tinha fa-
lado uma unic a palavra, i\l AT ANDO E CAPTJVANDO TODOS os
QUE ENCONTRAVA, e l1avendo eu de e xa minar as ordens
que havia para se fazer a dita g uerra, para dnr as pro-
videncias que o dito João do R ego n1e ped iu po r mo r~ ..
te do governado r da Capitania do ~1l aran h ão , v i n o co· •
nhecin1ento attentado que o dito R ego (Castello Bran-
co ) tinh a comruettido, fazendo guer ra a uni a Nação a
qnctn Sua Magestade não tinha decla rado e lhe orde-
nei que logo se abstivesse de cont inu ar aquella guerra
con tra os TYMBIRAS A QUEM ESTAVA PERSE ..
GU ! N DO» ...
Aliás, esse celeberrim o Castello Bran co, do Piauby,
foi e xon e rado do ca rgo de o uvidor geral devido á pes-
si n1a conducta que revelou, pa.ssando-se de Mouxa
- Caxi11g·ót11ba-por terra, para fl Bahia, aco111panhaclo


-
39
--.

de, cangaceiros, de lá 1n es n10, co ntinuou a es pun1ar in·


trigas e inve ncion ices. ora pa ra o Maranhã o, ora píl ra
Lí ::>bôa. Francisco Xavier d e :Vl endonça Fu rtado, o in-
signe defe n sor do selvage1n, e n1 s ua Cêlrta d e r 3 d e fe -
verej ro de 1759 para o R ei d e P o rtugal, chego u ao e x -
tremo de di ze r que Castello Branco era ins pirado pelo


• D emonio !
No e1ntanto, os infelizes Ty11ibiras fora m co1nba-
'
~ tidos no Piauhy , con10 se póde verificar da c a rt a d e 21
de fevere iro d e r 753 fi rn1ada pelo go\rernador M e n-
donça Furtado e nde r eçada á M e tropola, e n1 l ,isbôa, na
qual aque lle n o bre c oração am igo do Brasil se r e ve la
ter oppos to, dign a m ente , ao n1odo p o r que o gove rna-
dor do Maranhão querja corn pensar os que mais se di s-
tinguissem na GUERRA COXTRA os 1' Y ~lBIRAS E SECS SOC IOS.
Me~d onça Furtado, o irinão do Marq uez de P o n1bal,
ass1n1 se expressa :
«Não posso con v ir na fór1n a porque aq uelle gover-
nado r qu e r se fa ssa aquel la guerra, dztndo aos n1orado-
r es que se occupar en1 nella p o r pre1n io do seu trabalho,
e das despezas que fizer e m, os ln dios que se prisi o na-
rem por te1n po de auto ou cl e z an~os para intervirc n1
con1 elles» .
«Esta idcya q ue e111 ou tro t en1po quundo seuão pre ~
zenta vão as ci r c un s tancias e n1 qu e i1os acha m os q uiz
e u por e m prati ca, para lin1ita r a absoluta escr av idão,
nlé n1 de se r hun1a es pecí e de lln, co ntraria1n e nte oppo:,-
t<J á puri ssit11a le)' d e S. 1Ylagestade que decla r a 1i vrcs
a tod o~ os l ndios, ai nda que lh e não obstasse es te s o ·
lidí ssiino f undan1ento nun cn p<;dcri<.t p r od uzir utili dade
algum a áq uel lcs n1o radores, po r que curno os Jnd i os
qu e apan h assc1n na gue rra fi c<lYão n<i :, ~uas tc rrus,
logo fugiriã o d o J)Ode r d as pc~:,ôJ:, t1l1ucn1 (J!:> rcparti-
cen1, ao n1 c n o~ d enão os te r cn1 ~cn1 pre prc:zo~ , ~l· tn
p oderen1 tirar eis· co n\1 e nie n cia:, que e:::ipcrnvao d u ~e u
serviço e trabalho.»
E 'Jis ée R eclu s t a1ube tT1 c]a::,::, ific a os 1·)· n1birn:, un
fa n1iliJ e t hni ca d os Gés.
Os T yn1b irn!:>> batidos 110s ~ertOes d o Piau li,-, des-
ce ra11~ pni·a o No r te e ~e encrav,1 rn1n n a~ r cgié.)êS do
allo Capin) e cabeceira ~ d 0 Gurup)- oudt:, c1té 11oje,
v ivem , o rdei ros e cc1nsti tuidos c rn n1a lóca~.
Os GuAJÁs.- D os guajás, fi 1bos lias cabcce i ras do
Pina r é (R io do iYl cl rn1~l1ão, h oje c l1an1udo P indaré ) e
que an tign 111~nt~ s~ chan1avdm G u.aJa./dras, pouco o~L
40 , '

q uasi nada se sabe . Elles le111bram os Nlacús, os «110 ·


m a des da flo resta d os Andes a M a na us, fugi n do sem·
pre d os rios 11abitados q uer pelos civ ilizados; q uer p o r
t ribt1s selv agens , assi n1 co mo os Uit ot ós do alto /a·
pur á. Vivem os G tta;'ás, es condidos nas g ratas, i1as
furna s, e ntre as serras n o g rande r eta lh o de t erras
aberto ent re o T oca ntins , cabeceircls do Gurupy , alto
Capi n1 e alto Gua má , e rradi os sen1pre e ete rna n1e nte
inviziveis, se111 ponto certo, se m malóca s det e rn1 ína -
das . Nunca faze n1 u.n1 tapttt':r.a p a ra o abrigo, o u n10....
rada. d efinitiv a ...
Se u a li ment o predilecto é o n1el de abelha e o ja-
boty .
N ão t êrn roças nem lar ! Duas palmas d e assa h:r
a tadas co m ci pó titjca ao t ronco de u ma peq uena a r-
vo re eis seu r ancho . T o rratn os cach os d a p al1n eira
1n1J.1rtbáca n u 1ua casca d e sapocaia e depo is de piza-
d os os fruct os, na mes111a in1provisada panella, t ê m a
farin ha para as r e feições . Andam co n1plet an1en t e n ú s ,
como~ 1trttbús e aos casaes. Suas taq uá r as são fe itas
de nzara;'á e a ponta é un1 den te de porco. A lin1en·
t am-se tan1bem das fr uctas do inatto : cajuassú, n1assa-
ra ndu ba, ux iran a, ~a ra mu cy, a ngá e cast a nhas . So bem
ás arvo res e com em lá, no alto das ra m as, crú s, os
ovos dos passaros.
-} O s A.ma nagés. Não htlbitan1 o G urLlpy . Moran1 no ·
alto CapiLTI.

OS URUBÚS

D epois d e deco r ridos quasi dez a n no~, o ser vi ço


ele p rotecção aos n ossos selvagens do G uru py, att râ-
bindo h abilmente os uritbús aos postos avançados d a
civ ilisação, me fez n1uda r, raclicaln1ent e, de opi11ião, -à
r espei to de.sses 11onrados selvagens .
Isso 111es1no já r evelei no n1e·u longo artigo «À ·
Pacificação dos « l1idios Urti bús», p ublicado na r .ª
p agina d o O PAIZ, do Rio, illustrado con1 duas excel-
le ntes pbotographias de sse s a borigenes, do q ua l d es·
t aco, a bem da ve rdade , os seguint es t o picos :
A noici a que vou desfiar, linh as abaixo, é d'aquellas
que enchen1 de a lacre conten ta111~11to o coração d o p o v o
h rns ile iro, que sempre se n1ov irnenta c n1 louvor das
g randes obras nacion aes.
Os selvagens itrubt'ts, que nunca se h aviam a p ro ·


4l

x i n1ado da ci v il isação no proposi to de ad heri l-él, a tlrn-


b idos pela bondade engenhosa de R ayn1undo Cé.tetano,
Ca n uto Macl1ado, José de Aln1eida, Benediclc Ar<.1 uj o
e Mi guel Si1va, fu nccionarios dos postos Cn1na rao e
Canindéuassú, no Alto Gurup)r, vieram até nós, esta ·
belecendo, cn u tatnen te~ e:1s pr i111ei ras negociações (la
paz, que extingue porfi.osas pelejris seculares , en tre o
selvagetn brut o e o sertanejo h eroico.
Esses hun1ildes servidores da RepublicH acabun1 (le.
consolidar, no riqnissi1110 lindei ro Gurupy, a obra do
sertan is ta g~nera l Ca ndido Mari ano Ro ndon, <1 1i co n1e -
çada pe lo bravo e n1allogrado 111ajor ele eng·e nhe i 1·os
dr. Pedro Dantas .
lograratn J osé de Aln1eida, Be nedicto Araujo e
Rayn1undo Caetano um inemoravel e ntenc.litu e nto co111
os 1trttb1~s, cuja rebeldia póde ser nivel::Jda a dos fn -
1n osos parintintins do Rio Madeira, an1ansados e tn 1923
pe1o i nte 1uerato sertanista sr. Cu rt :N"i n1 nendajú.
E' que Ben edicto Araujo e Miguel Si 1va observa -
ra 111, se1n enxertos deforrnantes, as i nstrucçõ6s rese r-
\•adas dos drs. Vi rgilio e A rtbu r Bél ndei ra, i nspector
e ajudante do Serviço de Pro tecção aos Selvagens Na-
ciona es, no Pará . "'
Uma vingança remota seria, talv~z, a lrtidição ver·
rnelha que alin1entava o cclio dos 1ir1tbús <10 l11.)111en1
civilisado, atacado no Nl aranl1ão e 110 Pará nus Lnnrgen!:i • •
do Gu ru py e rios p roxin1os.
Va rias le ndas fantasiaran1 os liabilanles dcs~u~ lon·
gi nq uns reg·iões, sujeitas ás frequentes incursões desses
sel vngens .
Entre as leodas surgiu uma inte ressante invenção
do sr. Guilherme Linde, que na sua fecundissin1,1 i111a ·
g inação, gerou un1 tucháua francez para os urttblts,
de no Ln e «Jorge A n1 i r » . . .
O contacto con1 os selvagens 1tr11bús, <li nda que
li geiro e inicial, dá-nos a grata in1pressão de qu e esses
b ravos a borigenes se mn o te1n alheios n q ua lq uc r n1 es·
t içagem, que ll1es venha profana r a pu rêza da r<1ça.
O typ :) 11ritbú é um só.
Não ap re~entara1n a1nost rc1 de cru sa111cnto. Sua
linguagem é um dialGcto tup )r; é q uasi o li nguajar dos
tembés do Gua1ná e Gurupy.
O ro ubo, entre os ttritbús, cu rôc.1n Llu SL: US tragicCJs
assaltos - verda,ie iros go.lpes d 0 1não , ;!L ro1l1:1na - c ri..l
sin1plesn1ente , o exercicio de un1 direito.
42

Após a 1ucta, en1 que 111uitos cabôclos ton1bava111,


nada rnais justo e l icito, p ensavan1 elles, do qu e a pra-
tica do saque, nos d es pojos das victin1as a inda palpi-
tantes ...
O cri 111 e lh es e ra n r esu lta nte duma \ 7 Í ngan ça, ali-
n1en tada pe la tradição oral, nus grandes festas do m el,
e o roubo o pre n1io que os a ttrahia ás incursões san-
grentas
, O')S pagos dos hun1ildes 1avr<1dores g urupy -
oaras .

Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai


www.etnolinguistica.org
, •
' • '
\



..
' •

\
"
\

• \.
~

,,
.. \ \

... • ' '


' ""'
• ""'

'

,,
,
.. •

~
\

; it.
• •
~

••



"

... .,
<


-~ ..._,
~ _,,.- .... ~ ·.i ..,.
*'( •
. A

, .... "' •' t' .•


i-'l
~~
~
~

't
• Digital Curt• Nimuendajú -• Coleção Nicolai
Biblioteca • . 1


www.etnolinguistica.org



• • '\:

..

[a foto da capa nada• tem• a ver rcom o rio Gurupi] "
'
..
..

Você também pode gostar