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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

CURSO DE FILOSOFIA

DISCIPLINA DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA


Prof. Dr. Vanderlei Carbonara

KAUANA MACHADO NUNES

RESENHA DE OBRA FILOSÓFICA:


A Mulher de Santa Edith Stein

CAXIAS DO SUL
2022
Santa Edith Stein, uma mulher judia convertida católica e posteriormente
mártir, desde sempre muito dada aos estudos, fora a primeira mulher a defender
uma tese de filosofia na Alemanha, fora também discípula de Edmund Husserl. Por
fim, se tornara filósofa, teóloga, professora e pedagoga. Mais tarde se tornou uma
carmelita descalça. Em seu estudo, suas filiações eram, além da fenomenologia, a
escolástica. Dentro do seu contexto acadêmico e período filosófico, Edith Stein
incorpora bem o que se vê no livro a ser resenhado: a harmonia, sua harmonia pode
ser vista quando ela está consciente e ao mesmo tempo adere às tendências de seu
tempo e vai de contramão de forma deliberada, resgatando estrategicamente
conceitos e métodos da escolástica. Pode-se atestar estas e demais características
steinianas na obra A Mulher, uma coletânea de oito ensaios sobre um dos seus
principais objetos de estudo: a mulher.
Nesta obra o leitor é apresentado de forma leve a um retrato de todo sistema
steiniano e ao seu pioneirismo quanto ao objeto de estudo, tendo um panorama
sobre toda a doutrina de Edith Stein, da sua antropologia humana e feminina
concomitantemente. O livro é separado em oito capítulos, cada um é um ensaio.
Logo no primeiro ensaio o leitor é apresentado a fortes pontos característicos
da filósofa: a questão da natureza imutável e das variáveis individualizantes do
mundo sensível, isso está no contexto do ethos profissional, entretanto,
eventualmente ao longo do livro e capítulos esse assunto será retomado em outras
perspectivas e melhor explanado.Neste, a autora apresenta a distinção dos
gêneros, suas tendências e preferências e de que modo isso reflete nas profissões.
Eis outro ponto steiniano: ela sempre demonstra como o âmbito metafísico e
espiritual se comporta na vida concreta cotidiana. Isto serve para retomar a
harmonia em seu pensamento onde mesmo trazendo algo além do físico, ela
compreende os objetos em sua realidade atual e desenvolvimento histórico. Todas
as faces do objeto são consideradas para uma análise integral a fim de atingir o
pleno desenvolvimento. Portanto, assim se manifesta a fenomenologia em Edith
Stein.
No caso das profissões, ela define o ethos, nesta definição temos a questão
da alma, hábitos e formação em conjunto, ele é algo intrínseco já do ser humano ou
mesmo pode ser desenvolvido e no âmbito feminino há um conjunto de constantes
da alma da mulher que formam o ethos das profissões femininas. A primeira vista
isso pode ser um determinante limitante para a mulher, mas Edith o apresenta para
mostrar como a atitude feminina é essencial, fundamental, basilar e comunicável,
como a mulher pode se expandir, exercer todas as profissões, ocupar todas as
áreas, isso é possível graças a uma atitude feminina de que tem vista o
pessoal-vivente e visar o todo. A mulher sempre está olhando o todo para todos,
nunca a si própria e se interessa pelo inanimado na medida que este serve o
animado, isto é, os seres. Daí seguem-se exemplos, casos e demonstra como isso
se aplica em certas circunstâncias, por exemplo, como a feminilidade pode ser útil
num ambiente puramente masculino e como a mulher pode usar desses meios para
tratar de desvios de virtude, para educar a vontade, para quebrar maus hábitos que
podem ser tendências em conjunto a natureza feminina. E relembra, sempre, de
tendências e inclinações individuais ou pessoais que podem ir contra as tendências,
isto nunca é apresentado negativamente. Por fim, ela trata do assunto de modo
descritivo e normativo. Descreve a realidade, apresenta a problemática e trás uma
solução, o problema pode ser da realidade mesmo ou como um dilema debatido, e
então ela se posiciona. Na parte normativa trata da parte religiosa, como teóloga,
apresenta sua resposta a um dilema através de auctoritas, esclarecendo a questão.
É conhecer o metafísico da natureza para extrair consequências práticas na
realidade.
No segundo capítulo — ou ensaio — olha a mulher na perspectiva teológica e
religiosa, a autora trata da queda e sua relação com o conhecimento, as
consequências advindas do acontecimento e como isso reflete nos papéis de
gênero, além do mais, relata a estrutura familiar religiosa com ênfase sobre a
hierarquia. Disserta também sobre a relação da mulher com a criação, isto para que
no próximo ensaio a autora relate, então, a vida cristã da mulher, com questões
sobre a alma feminina, a sua formação e as vocações. Nestas partes Edith toca em
assuntos como a mudança de como se dava a salvação feminina, seu papel na
mensagem da redenção e por fim, forma o imperativo de como a educação tem um
papel fundamental para refrear e ordenar as consequências da queda, além do
compromisso com as próximas gerações. Para completar, a filósofa aproveita para
fazer uma análise do desenvolvimento histórico do mundo e no tocante da relação
da mulher com o desenvolvimento da tecnologia que ela mesma presenciara.
Quando Edith Stein trata da vida da mulher cristã nos deparamos com uma
filosofia mais existencialista, ela cita casos de mulheres retratadas na literatura e
relaciona suas histórias com as virtudes cristãs e as apresenta como exemplos a
serem seguidos ou não. Vemos então, mulheres na existência com seus dilemas,
Edith faz uma análise profunda dos casos, puramente existencial, utilizando termos
heidegerrianos, também temos fortes tendências fenomenológicas, a saber: a
relação da mulher com seu corpo, perspectivismo e também grande raiz aristotélica
com conceitos como formação da alma, potência e filosofia da ação.
Nos capítulos seguintes — centrados no tema da formação feminina —
temos um caráter muito mais normativo. Ela relata a realidade de seu tempo,
circunstâncias das quais as mulheres de seu período histórico estavam começando
a lidar, como por exemplo, a jornada dupla de trabalho, a mulher neste período não
estava pronta e estava sendo demandada fora de casa, um novo fenômeno onde a
mulher não estava pronta para tal. Por isso, Santa Edith Stein junta toda sua
bagagem da fundamentação de uma antropologia, a influência do misticismo
católico, o repertório judaico-cristão, o tomismo fenomenológico e forma seu
imperativo da formação feminina. A filósofa argumenta que a mulher não deve
somente ser inserida nas instituições de ensino, mas ter a sua própria, a mulher
deve ser formada por uma outra mulher completa, segue-se deste ponto que ela
apresenta a problemática da precariedade do preparo de docentes femininas. Uma
gritante sobre quando a pensadora trata do assunto da formação é no tocante da
individualidade, há sempre a ressalva da individualidade do ser que pode se dar por
um conjunto de fatores, isto é forte característica do seu personalismo.
No método steiniano, quando a mulher é investigada, limites epistemológicos
são traçados. Edith trás um panorama das maneiras cuja a mulher já fora
apresentada e com isso ela delimita o que é aceitável ou não, como por exemplo,
que não é justo comparar uma mulher ideal com as da realidade concreta, nem o
inverso. Para concluir, a mulher na Igreja, Edith compreende a Igreja num evoluir
histórico, como um fato que está na realidade e não a parte dele, portanto, anda em
conjunto com o desdobrar da história universal o que é importante pois abre
margem para mudanças, fugindo da visão caricata do dogmatismo religioso.
Por se tratar de uma coletânea de ensaios esta obra contém um riquíssimo
panorama de quem é Edith Stein, se se possui um conhecimento da pensadora
pode-se, então, captar boas referências, todavia, quem não o tem, pode ser um bom
meio de entrada ao rico universo steiniano. É um conteúdo amplo, harmonioso, um
sistema complexo sem fios soltos, uma teia que capta o ser humano da maneira
mais minuciosa e o delinea de maneira delicada. Na forma de Stein conduzir seus
estudos se vê uma epistemologia do feminino, características da alma da mulher,
vide, a expansividade, o cuidado, acolhimento e abertura. É sútil e delicada, onde
somente um olhar cuidadoso e sensível é capaz de apreender a sua magnitude.
O pensamento steiniano deve ser entendido conforme a proposta de Edith
Stein mesmo, ela oferece e dita os mecanismos usados para lê-la como ser humano
e pensadora, caso não se efetive, muito irá se perder. Mas ainda sim é aberto a
todos, qualquer um poderá ler estes textos, alguns terão maior capacidade de
apreensão e relações, outros mesmo com certa dificuldade, — dado o repertório
filosófico, histórico, teológico e antropológico contidos na obra — compreenderão a
tese central do que se quer dizer.

BIBLIOGRAFIA

Stein, E. (2020). A Mulher: sua Missão Segundo a Natureza e a Graça: sua Missão
Segundo a Natureza e a Graça (1ª edição ed.). Ecclesiae.

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