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MULHERES NA FILOSOFIA: UMA REFLEXÃO SOBRE A

CONTRIBUIÇÃO FEMININA NA FILOSOFIA DA IDADE ANTIGA


ATÉ A MODERNIDADE.
Gabriela Freire Queiroz¹
Joice Mara Cesar Bizerro²

¹ Universidade Estadual do Ceará- campus FECLI, gabi.queiroz@aluno.uece.br


² Universidade Estadual do Ceará- campus FECLI, joice.mara@uece.br

RESUMO. Este trabalho tem por objetivo refletir sobre as contribuições


protagonizadas por mulheres no campo da Filosofia, destacando os períodos
históricos: Idade Antiga, Idade Média e Modernidade. O interesse surgiu da
experiência enquanto Monitora da Disciplina de Filosofia da Educação I e II do
curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu da
Universidade Estadual do Ceará (FECLI/UECE). A pesquisa de natureza
qualitativa e bibliográfica, ressalta a importância de resgatar as histórias de
mulheres que apresentaram reflexões e inquietações em seu tempo. A partir da
vivência na bolsa de monitoria, foram realizadas algumas intervenções em sala de
aula com a finalidade de trazer essa discussão para a disciplina
Palavras-chave: Filosofia. Mulher. Educação

1.INTRODUÇÃO
Na história da humanidade a mulher sempre se fez presente, no entanto, podemos
considerar que ao longo do tempo, a concepção que foi sendo criada sobre a pessoa da mulher
tende a colocá-la constantemente, em uma posição de subordinação e inferioridade,
especialmente quando comparadas ao homem. A exclusão da mulher vem sendo expressada
em diversas camadas sociais, sobretudo, nos espaços em que as capacidades intelectuais são
exercidas, onde as mulheres, constantemente são colocadas à prova. O discurso filosófico
ocidental, ainda hoje é dominantemente constituído por filósofos homens, manifestando
assim, a desigualdade de gênero, próprias do sistema patriarcal, quando observamos por
exemplo, o conteúdo curricular estudado nas escolas e universidades, onde prevalece ainda
uma perspectiva androcêntrica em que a presença de mulheres intelectuais é quase inexistente.
Nas ultimas décadas, com a efervescência do movimento feminista, alguns estudos
desepenhados por mulheres, tem buscado realizar revisões teóricas, a fim de investigar e
identificar as principais contribuições femininas para a história. Ferreira, ressalta a
importância do resgate bibliográfico dessas mulheres, quando afirma:
restituir a voz das filósofas do passado, dando-lhes visibilidade e mostrando o
impacto que tiveram. Habitualmente catalogadas como discípulas deste ou daquele
nome sonante, começa-se a reconhecer nelas um pensamento autónomo, expresso
através dos meios em que lhes era possível divulgá-lo, quer se trate de ensaios, de
tratados, ou simplesmente de cartas. (FERREIRA, 2009 p. 28)

O silenciamento dessas mulheres está enraizado em nosso cotidiano, quando


observamos por exemplo, o conteúdo curricular estudado nas escolas e universidades, onde
prevalece ainda uma perspectiva androcêntrica em que a presença de mulheres intelectuais
ainda é escassa ou quase inexistente.
Com base nisso, durante minha experiência enquanto bolsista do Programa de
Monitoria Acadêmica (PROMAC) na Disciplina de Filosofia da Educação I e II, no curso de
Pedagogia da FECLI/UECE, vivenciei algumas inquietações acerca dos conteúdos
programados na Ementa da Disciplina, composta majoritariamente por homens. Percebi a
urgência em trazer essa discussão à sala de aula com a intenção de sensibilizar a turma acerca
dessa temática. Nesse sentido, mediante a investigação sobre mulheres na Filosofia ao longo
da história, idealizei e planejei junto com a Professora Coordenadora da bolsa Ma. Joice
Mara, algumas intervenções em sala de aula a fim de destacar a contribuição de mulheres na
Filosofia desde a Idade Antiga até a Idade Moderna. Este trabalho tem por objetivo refletir
sobre a importância do resgate histórico da vida e obra de mulheres na Filosofia a partir das
intervenções realizadas e discussões geradas em sala de aula.

2.METODOLOGIA

Esta pesquisa possui uma abordagem qualitativa tendo em vista a necessidade de


desenvolver uma análise mais crítica e subjetiva, que descreva os fenômenos e tenha em vista
buscar os seus significados. Para a fundamentação teórica desta pesquisa, foi realizado o
procedimento de pesquisa bibliográfica. Segundo Lakatos e Marconi, ”A pesquisa
bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de
importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o
tema” (2003, p.158). Ao levar a pesquisa em apresentações expositivas, abriu-se o espaço
para diálogos e reflexões na sala de aula, portanto, na coleta de dados, a técnica considerada
adequada para o tema proposto, foi através de questionários aplicados após as apresentações
onde a turma poderia relatar suas impressões.

3.ANÁLISE E DISCUSSÃO

Quando analisamos a presença de mulheres intelectuais nos principais períodos


históricos, observa-se que poucos registros foram conservados, geralmente, quando citadas,
são representadas pelo olhar de filósofos homens. O autor, Gilles Ménage apud Gatell (2009,
p. 12) defende que, “não é que não tenham existido mulheres que filosofaram. É que os
filósofos tenham preferido esquecê-las, talvez depois de terem se apropriado de suas ideias”.
Dessarte, na Idade Antiga, considerei destacar Safos de Lesbos e Aspásia de Mileto.
Safos de Lesbos (630 a.C) foi uma grande poetisa que viveu em um contexto onde a
Mitologia entrava em declínio com os primeiros filósofos pré-socráticos. As poesias de Safos,
traziam inquietações acerca do pensamento, o que nos leva a discussão do intercâmbio entre
a Poesia e a Filosofia Clássica. Em seus escritos, Safos transcorreu as possibilidades do ser e
do pensamento, diferente da tradição mitológica de seu tempo, buscou refletir sobre sua
realidade e suas próprias experiências (SILVA 2016, p.24). Aspásia de Mileto (470 a.C) era
uma mulher muito influente em Atenas, viveu na época de grande desenvolvimento cultural.
Por ser estrangeira, tinha contato direto com políticos e filósofos, portanto, acredita-se que
tenha contribuído com o pensamento filosófico de sua época. Aspásia é citada em “Vida de
Péricles”, de Plutarco e no diálogo "Menexeno” de Platão onde ele ressalta a capacidade de
Aspásia na Retórica e sua influência em discursos fúnebres .
No Período Medieval, o Teocentrismo fundamentava toda a sua produção teórica, por
conta disso, a Filosofia Medieval buscava se conectar com a Religião. A compreensão da
pessoa da mulher se concebe através da interpretação Bíblica, considerada como “pecado
maior” por causa de Eva, com isso, ainda compartilhavam um local de subserviência e
tinham como exemplo a ser seguido Maria, mãe de Jesus Cristo. Duas mulheres se destacam
nesse período, Hildegarda de Bingen e Christine de Pizan. Hildegarda (1098-1179) Pertencia
à uma família nobre da Alemanha, tendo acesso aos estudos desde muito nova. Em seus
escritos, trouxe discussões sobre a figura da mulher, falando sobre a saúde e o prazer
feminino. Christine de Pizan (1364-1430) defendia a educação pelas mulheres e em suas
obras abordou sobre a moral e conduta de acordo com o contexto religioso no qual pertencia,
além de retratar em seus escritos, diversas realidades vivenciadas por mulheres e idealizou
uma sociedade mais justa.
Na Idade Moderna, marcada pelas Revoluções Burguesas, por mais que existissem
diálogos em torno de uma possível educação para as mulheres, elas ainda permaneciam
direcionadas ao ambiente doméstico. Os principais filósofos humanistas da época, como
Rousseau acreditava que “Ao homem, com seus músculos e cérebro maior, pertenceria o
espaço político, o trabalho e a vida intelectual; e à mulher, perfeita para as funções maternas e
domésticas, caberia o espaço privado.” (LAQUEUR, 2001). Mary Astell e Mary
Wollstonecraf foram duas mulheres que se destacaram na Modernidade, pois refletiram sobre
o papel da mulher na nova sociedade que se estabelecia. Mary Astell (1666-1731), por ser
uma mulher protestante, defendeu a capacidade de racionalizar da mulher e exigia uma
educação para mulheres a fim de aprimorar suas capacidades para servir melhor a Deus. Mary
Wollstonecraft (1759-1797), foi uma ativista dos direitos da mulher, em sua obra sua obra
"Reivindicação dos direitos da mulher" em 1792, questionava as opressões vivenciadas pela
mulher principalmente no ambiente familiar e matrimonial. Para ela, as ideias iluministas
deveriam abranger as mulheres, além do acesso à educação formal.
Ao direcionar essa pesquisa para uma turma de Filosofia da Educação em algumas
exposições, a turma correspondeu com interesse pela temática. Ao final, considerei que a
turma compartilhasse sobre as suas impressões individuais acerca do tema e também
expressarem a relevância do assunto para a formação acadêmica através de questionários com
perguntas abertas. Pude dividir as impressões da turmas em dois grupos: (1) aqueles que
imaginavam não existir nenhuma contribuição de mulheres nesse período; e (2) aqueles que
acreditavam nessa possibilidade, porém nunca tiveram acesso nem oportunidade de conhecer
a história dessas mulheres. A turma apontou diversas reflexões acerca das opressões

vivenciadas pelas mulheres em sociedade, enfatizaram que as poucas mulheres que tiveram
oportunidade de contribuir na Filosofia, pertenciam a famílias financeiramente privilegiadas e
eram ligadas aos grupos dominantes de seu período histórico. Isso nos leva a pensar que a
mulher se torna ainda mais excluída à medida que se encontra em grupos menos favorecidos
socialmente.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na história das sociedades patriarcais, os espaços determinados para o exercício das


capacidades mentais foram sendo ocupados exclusivamente por homens. A mulher, sobretudo
nos períodos históricos citados, foi afastada dos ambientes onde se desenvolvem as
habilidades intelectuais. Só a partir do século XX, a mulher foi ganhando espaço na Filosofia,
e fomos construindo referências, no entanto, nesta pesquisa, me deparei com diversas outras
mulheres que contribuíram de alguma maneira em outros períodos históricos, mas que não
foram e até hoje não são consideradas relevantes. Considerei destacar apenas estas pelo fato
de haver mais referências bibliográficas, mas não deixo de reconhecer a importância de tantas
outras que de alguma forma foram silenciadas e que não tiveram suas contribuições
preservadas. Com esta pesquisa, pode-se constatar que o estudo da Filosofia tende a se limitar
apenas às reflexões produzidas por homens, portanto, persistindo nesse campo a invalidação
das experiências filosóficas protagonizadas por mulheres ao longo do tempo.

5. REFERÊNCIAS

FERREIRA, Maria Luísa Ribeiro. As mulheres na filosofia. Lisboa: Edições Colibri, 2009.

MÉNAGE, GILLES. História de las mujeres filósofas. Barcelona: Herder Editorial, 2009.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia


científica. - 5. ed. São Paulo : Atlas, 2003.

LAQUEUR, Thomas Walter. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud, Rio
de Janeiro: Relume Dumará. 2001.

SILVA, Odi Alexander Rocha. Filósofas: A presença das mulheres na filosofia. [recurso
eletrônico] / Juliana Pacheco (Org.) --Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2016.

WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos direitos da mulher: Edição Comentada do


clássico feminista. Boitempo, 2016.

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