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Aluno: Luiz Gustavo de Oliveira Lins

KRAKAUER, Sigfried. De Caligari a Hitler. Uma história psicológica do cinema alemão. Rio de
Janeiro: Editora Zahar, 1988.

Durante o texto Krakauer desnuda o filme Caligari com a intenção de demostrar a


intencionalidade de Janowits e Mayer em retratarem através do cinema uma estrutura
autoritária alemã, inclusive que parece ser um presságio de tudo que a Alemanha e o mundo
passaria com a ascensão do Nazismo e de Hitler anos depois.

“Como indica Janowitz, ele e Carl Mayer semi-intencionalmente estigmatizaram a onipotência


de uma autoridade estatal que se manifestava através do serviço militar obrigatório e das
declarações de guerra. O governo de guerra alemão parecia, para os autores, o protótipo de
tal autoridade voraz. Súditos da monarquia austro-húngara, eles estavam em melhor posição
do que a maioria dos cidadãos do Reich para perceberem as fatais tendências inerentes ao
sistema alemão. O caráter de Caligari engloba essas tendências; ele exemplifica uma
autoridade ilimitada que idolatra o poder como tal e que, para satisfazer sua avidez pela
dominação, viola cruelmente todos os direitos e valores humanos” p. 82

“De acordo com o pacifista Janowitz, eles criaram Cesare com o obscuro desejo de retÍatar o
homem comum que, sob a pressão do serviço militar compulsório, é treinado para mataÍ e ser
morto”, p. 82

“[...] Caligari é o psiquiatra; a Razão ultrapassa o poder irracional, a autoridade insana é


simbolicamente abolida.” p. 82

“Como naqueles primeiros dias do pós-guerra prevalecia a convicção de que os mercados


extemos só poderiam ser conquistados por produções artísticas, a indústria cinematográfica
alemã”. p. 82

“Para realizar está transformação, o corpo da estória original é colocado dentro de outra
estória-moldura”. p. 83

“Janowitz e Mayer sabiam por que se insurgiram contra a estória-moldura: ela perverteu, se
não reverteu, suas intenções intrínsecas. Enquanto a estória original expunha a loucura
inerente à autoridade, o Caligari de Wiene glorificava a autoridade e condenava seu
antagonista à loucura”. p. 84

“Um filme revolucionário foi assim transformado em um filme conformista [...] Esta mudança
sem dúvida não foi resultado da predileção pessoal de Wiene, mas de sua instintiva submissão
às necessidades do cinema”. p. 84

“Esta mudança sem dúvida não foi resultado da predileção pessoal de Wiene, mas de sua
instintiva submissão às necessidades do cinema; filmes, pelo menos filmes comerciais, são
obrigados a responder aos desejos das massas. Em sua forma modificada, Caligari não mais era
um produto que expressava, do melhor modo, sentimentos característicos ila intelectualidade,
mas um filme supostamente adequado a se harmonizar com o que os menos cultos sentiam e
de que gostavam.” p. 84
“O filme reflete este duplo aspecto da vida alemã, ao acopla uma realidade, na qual a
autoridade de Caligari triunfa, a uma alucinação em que esta mesma autoridade é derrubada”.
p. 84

“[...] filmes, pelo menos filmes comerciais, são obrigados a responder aos desejos das massas.
Em sua forma modificada, Caligari não era mais era um produto que expressava, do melhor
modo, sentimentos característicos da intelectualidade, mas um filme supostamente adequado
a se harmonizar com o que os menos cultos sentiam e de que gostavam.” p. 84

“A derrota de Caligari agora fazia parte das experiências psicológicas. Neste sentido, o filme de
Wieae sugere que, ao se voltarem para dentro de si mesmos, os alemães foram impulsionados
a reconsiderar sua crença tradicional na autoridade.” p. 84

“O filme reflete este duplo aspecto dâ vida alemã, ao acoplar uma realidade, na qual a
autoridade de Caligari triunfa, a uma alucinação em que esta mesma autoridade é derrubada.”
p. 84

“Para um povo revolucionado, o expressionismo parecia combinar a negação das tradições


burguesas com a confiança no poder do homem de moldar livremente a sociedade e a
natureza.” p. 85

“[...] o sistema ornamental em Caligari expandiu-se através do espaço, anulando seu aspecto
convencional por meio de sombras pintadas em desarmonia com os efeitos de luz, e
delineações em ziguezague desenhadas para apagar todas as regras de perspectivas. O espaço
ora se tornava numa superfície plana reduzida, ora aumentava suas dimensões para so tornar
o que um escritor chamou de um "universo estereoscópio.” p. 86

“Se a Decla tivesse escolhido deixar a estória original de Mayer e Janowitz, esses desenhos que
adquiriam vida teriam-na contado de modo perfeito. Como abstrações expressionistas, eles
eram animados pelo mesmo espírito revolucionário que impelira os dois roteiristas a acusar a
autoridade, a espécie de autoridade reverenciada na Alemanha.” p. 86

“Durante os anos do pós-guerra, o expressionismo frequentemente foi considerado uma


expressão de sensações e experiências primitivas. Carl, o irmão de Gerhart Hauptmann, um
escritor famoso e poeta com inclinações expressionistas.” p. 8

“Enquanto a linguagem moderna, salientava, é muito pervertia para servir a este propósito, o
cinema, ou o bioscópio, como o chamava oferece uma oportunidade única de externar a
fermentação da vida interior.” p. 87

“Os pontos de vista de Carl Hauptmann elucidam o estilo expressionista de Caligari. Ele tinha a
função de caracterizar o fenômeno da alma, uma função que ofusca seu significado
revolucionário . Ao tornar o filme uma projeção externa de eventos psicológicos, a
representação expressionista simbolizou, de maneira muito mais espantosa do que o recurso à
estória-moldura, o encolhimento geral para dentro de uma concha que ocorreu na Alemanha
do pós-guerra.” p. 87

“Caligari como o primeiro trabalho de arte da tela , a Vorwarts, o principal órgão do Partido
Social Democrata, distinguiu-se pelo total absurdo.” p. 88

“Em vez de reconhecer que o ataque de Francis contra uma odiosa autoridade se harmonizava
com a própria doutrina antiautoritária do partido, Vorwiitls preferiu considerar a própria
autoridade um modelo de virtudes progressistas.” p. 88
“Enquanto os alemães estavam muito próximos de Caligari para elogiar leu valor sintomático,
os franceses perceberam que eram mais que um filme excepcional. Cunharam o termo
‘Caligarismo’ e o aplicaram ao mundo do pós-guerra que parecia completamente de cabeça
para baixo.” p. 88

“[...] como modelo para tentativas artísticas, ‘o filme mais amplamente discutido da época’
nunca influenciou seriamente o cinema norte-americano ou o francês. Ele permaneceu
solitário, como um monólito.” p. 88

“Enquanto a liberdade parece um rio, o caos parece um redemoinho. Esquecida de si mesma,


uma pessoa pode mergulhar no caos; não pode se mover nele. O fato de os dois autores terem
selecionado um parque e suas liberdades em contraste às opressões de Caligari revela o
furacão de suas aspirações revolucionárias.” p. 90

“Mas é preciso que se diga que o parque sem dúvida refletia as caóticas contradições da
Alemanha do pós-guerra. Intencionalmente ou não, Caligari expõe a alma se movimentando
entre tirania e caos, e enfrentado uma situação desesperada: qualquer fuga da tirania parece
jogá-lo num estado de confusão absoluta.” p. 90

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