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FATEB – Faculdade de Telêmaco Borba

Curso de Engenharia Química


Transferência de Quantidade de Movimento

INFLUÊNCIA DA VISCOSIDADE NO AMIDO/COLA


NO PROCESSO FABRICAÇÃO DE PAPEL E
PAPELÃO ONDULADO

Telêmaco Borba - PR
2007
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ACADÊMICOS:
Alexandre M. de Almeida
Alisson Pinheiro
Gilson Alexandre
Rodrigo da Silva
Roberson Carneiro
Pâmila H. de Melo

INFLUÊNCIA DA VISCOSIDADE NO AMIDO/COLA


NO PROCESSO FABRICAÇÃO DE PAPEL E
PAPELÃO ONDULADO

Trabalho apresentado para a disciplina de


Transferência de Quantidade de
Movimento, do 6° Período do Curso de
Engenharia Química, da Faculdade de
Telêmaco Borba, como requisito parcial
para aprovação desta disciplina.

Professora: RUBIANE G. MARQUES

Telêmaco Borba - PR
2007

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 05
2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ESTRUTURA DO GRÂNULO DE AMIDO----------------------------------- 06
2.1 AMILOSE ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 09
2.2 AMILOPECTINA -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 10
2.3 ESTRUTURA DO GRÂNULO DE AMIDO ------------------------------------------------------------------------ 11
3. CARACTERISTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO AMIDO--------------------------------------------------------- 12
3.1 BIRREFRIGÊNCIA ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
3.2 DILATÂNCIA ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12
3.2.1 IMPORTÂNCIA TECNOLOGICA DA DILATÂNCIA --------------------------------------------------------- 13
3.3 GELATINIZAÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 13
3.3.1 GELATINIZAÇÃO POR EFEITO TÉRMICO------------------------------------------------------------------- 15
3.3.1.1 PERDA DE BIRREFRINGÊNCIA------------------------------------------------------------------------------ 16
3.3.1.2 PODER DE INCHAMENTO ------------------------------------------------------------------------------------- 16
3.3.1.3 VISCOSIDADE DA PASTA DE AMIDO ---------------------------------------------------------------------- 16
3.3.2 IMPORTÂNCIA TECNOLOGICA DA GELATINIZAÇÃO --------------------------------------------------- 19
3.4 RETROGRADAÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------------------- 21
3.5 SUSCEPTIBILIDADE ENZIMÁTICA ------------------------------------------------------------------------------- 22
3.5.1 IMPORTANCIA TECNOLOGICA DE ENZIMAS AMILOLÍTICAS ----------------------------------------- 22
4. APLICAÇÃO DE AMIDO NA FABRICAÇÃO DE PAPÉIS ---------------------------------------------------- 22
4.1 QUÍMICA DA PARTE ÚMIDA E O AMIDO (“WET END”)------------------------------------------------------ 23
4.2 INTERAÇÃO DO AMIDO COM A CELULOSE------------------------------------------------------------------- 24
4.3 PRINCIPAIS AMIDOS APLICADOS EM CELULOSE E PAPEL --------------------------------------------- 25
4.3.1 AMIDOS NÃO MODIFICADOS (“IN NATURA”) --------------------------------------------------------------- 25
4.3.2 AMIDOS CATIÔNICOS--------------------------------------------------------------------------------------------- 25
4.3.3 AMIDOS ANFÓTEROS-------------------------------------------------------------------------------------------- 25
5. OS AMIDOS E SUAS APLICAÇÕES NO "WET END" -------------------------------------------------------- 26
5.1 AMIDO COMO AGENTE DE RETENÇÃO ------------------------------------------------------------------------ 26
5.2 AMIDO COMO AGENTE DE DRENAGEM ----------------------------------------------------------------------- 27
5.3 AMIDOS NÃO MODIFICADOS (“IN NATURA”) ----------------------------------------------------------------- 28
5.4 AMIDOS CATIÔNICOS/AMIDOS ANFÓTEROS --------------------------------------------------------------- 29
5.4.1 BENEFÍCIOS DOS AMIDOS CATIÔNICOS E/OU ANFÓTEROS --------------------------------------- 29
5.5 AMIDO NO INCREMENTO DA RESISTÊNCIA ---------------------------------------------------------------- 30
6. ESCOLHA DO PRODUTO -------------------------------------------------------------------------------------------- 30
6.1 AVALIAÇÃO DOS AMIDOS CATIÔNICOS E/OU ANFÓTEROS-------------------------------------------- 31
7. COLAGEM SUPERFICIAL E AS INTERAÇÕES COM O AMIDO ------------------------------------------ 32
7.1 PRENSA DE COLAGEM (SIZE PRESS) ------------------------------------------------------------------------- 32
7.2 BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DE AMIDO SUPERFICIAL -------------------------------------------------- 33
7.3 APLICAÇÃO DE AMIDO ---------------------------------------------------------------------------------------------- 33
7.4 PROPRIEDADES DOS AMIDOS SUPERFICIAIS -------------------------------------------------------------- 33
7.5 DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DE AMIDO NA COLAGEM SUPERFICIAL ----------------------- 34

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7.6 AMIDOS MODIFICADOS PARA COLAGEM SUPERFICIAL------------------------------------------------ 35


7.6.1 AMIDO CONVERTIDO “IN SITU”--------------------------------------------------------------------------------- 35
7.6.2 AMIDOS MODIFICADOS ------------------------------------------------------------------------------------------ 35
7.6.3 AMIDOS MODIFICADOS VIA ÁCIDA --------------------------------------------------------------------------- 35
7.6.4 AMIDOS OXIDADOS ----------------------------------------------------------------------------------------------- 36
7.6.5 AMIDOS ACETILADOS -------------------------------------------------------------------------------------------- 36
7.6.6 AMIDOS HIDROXIETILADOS ------------------------------------------------------------------------------------ 36
7.6.7 AMIDOS CATIÔNICOS--------------------------------------------------------------------------------------------- 36
8. CARACTERÍSTICAS DA SOLUÇÃO DE AMIDO - COZIMENTO ------------------------------------------ 36
8.1 FATORES QUE INFLUENCIAM NA QUALIDAE DO COZIMENTO --------------------------------------- 39
9. RESULTADOS PRÁTICOS EM UMA PLANTA DE FABRICAÇÃO DE PAPEL ------------------------- 40
9.1 AMIDO APLICADO NA MASSA ------------------------------------------------------------------------------------ 40
9.2 AMIDO APLICADO NA SUPERFÍCIE------------------------------------------------------------------------------ 40
10. ADESIVO PARA PAPELÃO ONDULADO E SUAS CARACTERISTICAS ------------------------------ 41
10.1 MECANISMO DE COLAGEM -------------------------------------------------------------------------------------- 41
10.2 AMIDO DE MILHO ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 42
10.3 HIDRÓXIDO DE SÓDIO (NAOH) --------------------------------------------------------------------------------- 42
10.4 BÓRAX (NA2B4O7.10H2O) ------------------------------------------------------------------------------------------ 43
10.5 FORMALDEÍDO ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 43
10.6 A PREPARAÇÃO DO ADESIVO STEIN-HALL----------------------------------------------------------------- 43
10.6.1 FORMULAÇÃO CONVENCIONAL - PROCESSO STEIN-HALL -------------------------------------- 44
10.7 ADESIVOS PARA PAPELÃO ONDULADO OUTROS PROCESSOS----------------------------------- 45
10.7.1 ADESIVO NO – CARRIER---------------------------------------------------------------------------------------- 45
10.7.2 HIGH SHEAR -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 46
10.8 PROBLEMAS MAIS FREQUENTES NA APLICAÇÃO DO AMIDO COLA ----------------------------- 47
10.8.1 ENCANOAMENTO (“WARP”) ----------------------------------------------------------------------------------- 47
10.8.2 ALTOS E BAIXOS (“HIGHS & LOWS”) ------------------------------------------------------------------------ 47
10.8.3 TÁBUA DE LAVADEIRA (“WASH BOARDING”) ------------------------------------------------------------ 48
10.8.4 LINHA BRANCA DE COLA (“WHITE GLUE LINE”)--------------------------------------------------------- 48
10.8.5 COLAGEM FRACA (“BRITTLE BOND”)----------------------------------------------------------------------- 48
10.8.6 ESPESSURA (“BOARD CALIPER”) --------------------------------------------------------------------------- 49
10.8.7 FAIXAS SECAS (“DRY STREAKS”) --------------------------------------------------------------------------- 49
10.8.8 EFEITO “CRACKER” ---------------------------------------------------------------------------------------------- 49
10.8.9 EFEITO “ZIPPER” -------------------------------------------------------------------------------------------------- 49
10.8.10 PROBLEMAS DE VISCOSIDADE---------------------------------------------------------------------------- 49
10.8.11 SISTEMA “STEIN HALL” CONVENCIONAL E “HIGH SHEAR” ---------------------------------------- 49
10.8.12 SISTEMA “NO CARRIER” -------------------------------------------------------------------------------------- 50
10.8.13 SISTEM “JET COOK” -------------------------------------------------------------------------------------------- 50
10.8.14 TODOS OS SISTEMAS ----------------------------------------------------------------------------------------- 50
10.8.15 PROBLEMAS COM O PONTO DE GELATINIZAÇÃO --------------------------------------------------- 51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------------------------------------------- 52

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1. INTRODUÇÃO

O conhecimento do amido e, de suas aplicações no preparo de alimentos e em lavanderia é


anterior á historia escrita. O termo “amylum”, de origem greco-latina, significa material
farináceo obtido através da moagem de tubérculos ou de outra fonte vegetal. No Brasil
existem os termos fécula e amido, para indicar se o material é proveniente de partes
subterrâneas ou áreas das plantas, respectivamente. Assim, as féculas seriam obtidas da
mandioca, batata, cará, araruta, etc, enquanto que os amidos seriam obtidos do arroz,
milho, sorgo, trigo, etc. Quantitativamente, o amido um dos principais componentes da
maioria dos vegetais.
A utilização do amido depende, em grande parte, de suas propriedades coloidais. Quando
uma dispersão de amido é aquecida, os grânulos absorvem água, incham e produzem
pastas viscosas que, ao se resfriarem formam géis. Estas propriedades dependem da
origem do amido e determinam seu aproveitamento em um processo especifico. O
comportamento do amido pode, entretanto, ser modificado através da introdução de certos
compostos na sua estrutura ou por meio de tratamentos físicos. Estas modificações
“moldam” o amido de acordo com a finalidade desejada e possibilitam o seu emprego nos
mais diversos setores industriais. As modificações químicas ou físicas no amido, em
conjunção com os métodos modernos de extração, tem aumentado consideravelmente a
gama de utilização deste composto.
No Brasil, o amido, principalmente de mandioca e milho, tem sido usados na industria
alimentícia, metalúrgica, mineração, construção civil, cosméticos, celulose e papel, têxtil,
etc.
Neste trabalho é abordado a influencia da viscosidade do amido como cola no processos de
fabricação de papel e ondulado, para tanto, se faz necessário o conhecimento da estrutura e
as interações químicas deste composto coloidal.

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2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA E ESTRUTURA DO GRÂNULO DE AMIDO


O granulo de amido natural é essencialmente constituído de dois polissacarídeos: amilose e
amilopectina. A proporção destes polissacarídeos no grânulo é controlada geneticamente,
possibilitando o desenvolvimento de plantas com maior ou menor proporção de um destes
componentes. O amido de milho ceroso, com 100 % de amilopectina é um exemplo típico de
plantas manipuladas através de uma seleção genética.
Além destes polissacarídeos, o grânulo de amido contém compostos nitrogenados, lipídeos
e minerais que, apesar de estarem presentes em baixas concentrações, podem ter uma
influência marcante nas propriedades do amido. Por exemplo, o amido de batata contém
0,04 – 0,10 % de fósforo, presente como fosfato esterificado, cujas características aniônicas
afetam o comportamento coloidal do amido. Estes grupos fosfatos estão presentes quase
que exclusivamente na amilopectina. Muitos amidos, particularmente aqueles provenientes
de cereais, contem cerca de 0,6 % de lipídeos que podem complexar com a amilose
alterando as propriedades reológicas do amido. Outros componentes como proteínas,
nucleotídeos e varias substâncias inorgânicas são, geralmente, considerados como
impurezas, uma vez que não estão covalentemente ligados aos polissacarídeos que
compõe o grânulo de amido.
O amido é um carboidrato naturalmente encontrado na maioria das plantas. Ele participa de
vários processos vitais, sendo a mais importante fonte de energia para os animais e para os
seres humanos. Dois outros carboidratos estão presentes nas plantas são o açúcar e a
celulose, estes têm a mesma constituição química com fórmula geral Cn(H2O)n. Os três
carboidratos são sintetizados pelas plantas com o dióxido de carbono (CO2) do ar, água do
solo e energia luminosa do sol, a reação é catalisada pelo pigmento verde, a clorofila,
produzindo glicose, C6H12O6.

6CO C6H12O6 + 6O2

6H2
Figura 2.1 – Formação de Glicose.

6
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Dentre as fontes de amido economicamente viável para extração industrial podemos citar os
cereais (milho híbrido, milho “waxy”, trigo e arroz) e raízes (mandioca e batata).
A tabela a seguir apresenta a composição média presente no milho e na mandioca, onde se
observa uma maior quantidade de amido presente no milho.

Tabela 2.1 – Composição do Milho e da Mandioca.

Composição Milho Mandioca

Amido 60 % 22 %

Casca 6,5 % 4,5 %

Glúten 10 % 2%

Germe 8,5 % -

Fibras - 1,5 %

Água 15 % 70 %

Uma outra forma de diferenciação entre as diversas fontes amiláceas é o formato dos
grânulos quando observados ao microscópio. A seguir na Figura 2 é mostrado um esquema
do formato de grânulos de amido de algumas fontes amiláceas.

SAGU TRIGO MANDIOCA

MILHO

BATATA
ARROZ

Figura 2.2 – Formatos de grânulos de amido, ampliação 400 vezes.

A glicose é um monossacarídeo com o qual as plantas sintetizam diferentes polissacarídeos.


O amido mostrado na Figura 2.2 é quimicamente similar a celulose, a diferença está no tipo
de ligação de polimerização, enquanto no amido a ligação é α-glicose que ocorre entre os
átomos de carbono 1 e 4 na celulose ocorre a ligação β-glicose onde cada monossacarídeo
sofre uma rotação de 180° gerando uma estrutura mai s rígida e com menor solubilidade que
amido.

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CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH

O O O O
Amido

CH2OH CH2OH

O O O
Celulose
O

CH2OH CH2OH CH2OH

Figura 2.3 – Estrutura Química: Amido e Celulose.

O amido é insolúvel em água fria. Tratado com água quente, intumesce-se, dando um
líquido viscoso não redutor, que por resfriamento produz consistência gelatinosa.
Como as plantas possuem a capacidade de sintetizar e armazenar diferentes quantidades e
tipos de amido,é possível, através de controles durante o cultivo, obter cereais contendo
amidos com diferentes características. O amido não é um composto homogêneo, é formado
por dois polissacarídeos: amilose (ou β amilose ou granulose) e amilopectina (ou
eritroamilose ou ∝ amilose). Ambos são polímeros de glicose e por hidrólise obtêm-se
glicose ou maltose, porém diferem por suas propriedades e por sua estrutura.
Dependendo da matéria-prima original, a composição do amido pode variar quanto aos
teores de amilose e amilopectina.

Figura 2.4 – Composição físico-química do amido.

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2.1 AMILOSE
É um polímero formado por cadeias lineares através de ligações glucosídicas (∝ 1 → 4).
Possui uma conformação helicoidal, na forma cristalina. Esta estrutura helicoidal promove a
formação de um complexo de cor azul quando o iodo é colocado em contato com amido. O
mecanismo de formação deste complexo amilose-iodo envolve a inserção de uma cadeia
linear de iodo-iodeto no interior da hélice. Esta caracterização com iodo é normalmente
usada para identificar um amido. A amilose é responsável pela retrogradação do amido,
quando o mesmo é resfriado após sua gelatinização. Suas suspensões gelatinosas são
opalescentes e menos viscosas em relação a amilopectina.
Em soluções aquosas diluídas, as moléculas de amilose existem como segmentos
distendidos, com os turnos da hélice muito afastados uns dos outros, para permitir a
existência de pontes de hidrogênio entre ciclos subseqüentes da hélice.
Quando ácidos graxos ou álcoois de alto peso molecular são adicionados à soluções
diluídas de amilose, ocorre a formação de complexos insolúveis, nestes complexos, a parte
hidrofóbica do composto orgânico esta inserida no interior da hélice. A formação destes
complexos provoca um enrijecimento e compactação da hélice alterando o comportamento
da amilose em solução. A tendência à formação de complexos com amilose depende
principalmente do peso molecular e estrutura do ácido graxo. É evidente que para
monoglicerídeos com ácidos graxos saturados, a afinidade de formar complexos, em
amilose é máxima, quando a cadeia carbônica é formada por 16 carbonos.
Alem das reações mencionadas, a amilose em solução tem a tendência de formar
agregados cristalinos insolúveis. A formação destes complexos ocorre através da formação
de pontes de hidrogênio entre as moléculas adjacentes (intermolecular). Esta instabilidade
da amilose é de extrema importância tecnológica e depende do peso molecular do polímero,
viscosidade, pH, temperatura e composição do meio. Moléculas com 150-200 unidades são
bastante instáveis, enquanto que altas temperaturas e pH alcalinos evitam a formação de
complexos insolúveis. A adição de certos lipídeos também evita este tipo de associação
intermolecular. Supõe-se que os lipídeos, formando complexos rígidos com amilose,
impedem o rearranjo e super posicionamento necessário para uma associação
intermolecular. A Figura a seguir apresenta a estrutura molecular da amilose.

9
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Figura 2.5 – Estrutura da Amilose.

2.2 AMILOPECTINA
É um polímero formado por cadeias ramificadas através de ligações glucosídicas (∝ 1 → 6),
difícil de dispersar em água fria. Suas suspensões gelatinosas são ligeiramente
opalescentes e muito viscosas.
A amilopectina não apresenta a característica de retrogradar como a amilose, após o
resfriamento da solução cozida. A amilopectina produz com o iodo uma coloração menos
uniforme que a amilose, podendo ser púrpura, vermelho escuro ou roxo.
As cadeias externas da maioria das amilopectinas tem, em media 12 unidades de glicose.
Como em media, a cadeia total contem 20 unidades de glicose e cada cadeia é ramificada
apenas uma vez, o tamanho médio da cadeia no interior é de 8 unidades de glicose. Deve-
se lembrar, entretanto, que estes números para tamanho de cadeias, externas ou internas,
grau de ramificação, etc, representam a média dos valores encontrados. Assim, a estrutura
exata da amilopectina e sua dependência quanto ao peso molecular do polímero, grau de
maturidade da planta e origem, ainda não são conhecidas.

Figura 2.6 – Estrutura Amilopectina.

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2.3 ESTRUTURA DO GRÂNULO DE AMIDO


O grânulo de amido é constituído de moléculas de amilose e amilopectina associadas entre
si por pontes de hidrogênio, formando áreas cristalinas radialmente orientadas. Entre estas
áreas cristalinas existem regiões amorfas, nas quais as moléculas não tem uma orientação
particular. As áreas cristalinas mantém a estrutura do grânulo e controlam o comportamento
do amido na água. É por este motivo que o grânulo de amido exibe uma capacidade limitada
de absorção e água, embora seja constituído de polímeros solúveis ou parcialmente
solúveis neste liquido. O arranjo cristalino no grânulo de amido tem sido objeto de inúmeros
estudos. Entretanto, as características das áreas cristalinas, a nível molecular, ainda não
foram totalmente determinadas. A tabela a seguir mostra a comparação entre as
propriedades da amilopectina e da amilose e composição em fontes amilaceas.

Tabela 2.2 – Comparação entre teores e as propriedades da amilose e amilopectina.


Origem e propriedades Físico-químicas Amilose Amilopectina
Milho - (%) 27 73
Milho Ceroso (“Waxy”) – (%) 0 100
Mandioca – (%) 17 83
Batata – (%) 20 80
Arroz – (%) 17 83
Trigo – (%) 25 75
Reação com Iodo Azul intenso Vermelho violeta
Afinidade por Iodo 19 – 20 % 1%
Tipo de Polímero Linear Ramificado
5 6
Peso Molecular 10 – 10 107 – 108
Extensão da cadeia (numero médio de unidades de
2.000 ou mais 19 – 28
glicose por grupos redutores)
Extensão da cadeia externa (número de glicose médio) - 12 – 17
Extensão da cadeia interna (número de glicose médio) - 5–8
Análise de Raio-X Cristalino Amorfo
Solubilidade em água Variável Solúvel
Estabilidade em solução aquosa Retrograda Estável
Viscosidade Intrínseca (1) 1,8 – 2,2 1,8 – 2,0

(1)
A maior viscosidade da amilose em relação à amilopectina é devido a forma de bastão (reta) da amilose, em comparação
com a forma “globular” da amilopectina.

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3. CARACTERISTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO AMIDO


As principais características físico-químicas do amido que determinam sua aplicação
industrial são:
• Birrefringência;
• Dilatância;
• Gelatinização;
• Viscosidade da pasta de amido;
• Retrogradação;
• Susceptibilidade Enzimática.

3.1 BIRREFRNIGÊNCIA
As moléculas são capazes de formar ligações de hidrogênio sempre que se encontrarem
paralelas umas às outras. Devido a este fato aparecem regiões amorfas ou cristalinas.
O resultado é que os grânulos de amido são estruturas birrefringentes, apresentando uma
cruz quando examinados em microscópio sob luz polarizada.
A associação é fraca na área amorfa e mais forte nas áreas cristalinas. Após a perda da
birrefringência, começa a aumentar a transmitância ótica e a viscosidade.
A perda da birrefringência é uma das técnicas mais usadas para se medir o início da
gelatinização do amido.

3.2 DILATÂNCIA
O grânulo de amido no seu estado natural não é solúvel em água fria, e forma suspensões
com determinadas características reológicas. Suspensões concentradas de amido
(2)
comportam-se como fluidos Dilatantes , sendo difíceis de bombear e com fluxo irregular.
Em dutos com superfície lisa, o movimento da suspensão tem a tendência de proceder com
velocidade uniforme, exceto na camada em contato com a parede do duto. Entretanto,
quando esta suspensão passa por um bico ou constrição, existe uma tendência para a
quebra de continuidade do fluxo. O perfil do fluxo deixando o duto é, assim, alterado.
O fluxo de dispersões concentradas de amido é variável em função da pressão aplicada. À
baixas pressões a velocidade do material é, praticamente proporcional à pressão aplicada.
Entretanto, esta proporcionalidade diminui com o aumento da pressão e, em alguns casos
especiais, a velocidade é praticamente independente da pressão. Os aumentos excessivos
da pressão causam interrupção do fluxo.

(2)
Um fluido é denominado dilatante quando, independente do tempo, exibe um aumento na resistência do fluxo com aumento
na força de cisalhamento ( τ ).

12
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3.2.1 IMPORTÂNCIA TECNOLOGICA DA DILATÂNCIA


O comportamento reológico das dispersões de amido é bastante importante na industria de
celulose e papel e na industria de extração. Nesta ultima, a concentração e lavagem do
amido são feitas com auxilio de centrífugas contínuas e/ou hidrociclones. Nestes
equipamentos, a dispersão de amido concentrado é continuamente descarregada através de
bicos ou orifícios. Geralmente para melhor eficiência no processo, a concentração do amido
é a mais alta possível, em contudo apresentar propriedades dilatantes.
Outros fatores como a temperatura e concentração de íons podem ter influencia na
concentração limite para ocorrência da dilatância. Como a dilatância depende da
porcentagem de volume da fase sólida e não da quantidade de matéria seca, os fatores que
alteram o volume das partículas determinam a concentração limite para a dilatância.
A absorção de água pelo grânulo do amido natural e, consequentemente o seu volume,
depende da temperatura do meio (abaixo da temperatura de gelatinização). Para
temperaturas abaixo da temperatura de gelatinização, o grânulo de amido tem um
coeficiente negativo de expansão, ou seja, o volume do grânulo à temperatura do meio são
inversamente proporcionais. A tabela abaixo mostra este fenômeno.

Tabela 3.1 – Efeito da temperatura no volume do grânulo do amido de batata.

Temperatura Volume Específico (cm3/g)


0 1,10
25 1,03
45 0,97

3.3 GELATINIZAÇÃO
Uma suspensão aquosa de amido sob a influência do calor ou de produtos químicos
adequados, tem o seu sistema molecular enfraquecido através do rompimento das ligações
de hidrogênio.
Portanto, a gelatinização é atribuída à afinidade do amido (particularmente o grupo hidroxila)
pelo solvente e trata-se de um processo irreversível.
O grânulo de amido natural tem uma capacidade limitada de absorver água fria. Esta
capacidade é controlada pela estrutura cristalina do grânulo que, por sua vez, depende do
grau de associação e arranjo molecular dos componentes do amido.
O aquecimento de uma suspensão aquosa de amido provoca a quebra de pontes de
hidrogênio, que mantém o arranjo molecular dentro do grânulo de amido. Os grupos
hidroxilas das unidades de glicose que participavam das áreas cristalinas são hidratados e o

13
14

grânulo de amido incha. A figura abaixo mostra o comportamento do amido durante o seu
cozimento.

Inicial 60° 70° 80° 95°


CC C C CC

Figura 3.1 – Microscopia mostrando a mudança da estrutura granular do amido durante o


cozimento.
Fundamentalmente,a gelatinização do amido em vários meios é atribuída à afinidade
química dos componentes do amido, particularmente os grupos hidroxilas, pelo solvente. A
quebra das pontes de hidrogênio e o conseqüente intumescimento pode, assim, ser
conseguida por agentes químicos, como por exemplo NaOH, NH4OH, etc.
Quando uma suspensão de amido é aquecida, os grânulos não mudam de aparência até
que uma temperatura crítica seja alcançada. Nesta temperatura, o grânulo começa a
intumescer e simultaneamente perde suas características de birrefringência, indicando
alterações na estrutura cristalina. Devido às características individuais, nem todos os
grânulos começam a inchar na mesma temperatura. Este processo geralmente ocorre em
uma faixa de temperatura de 10 °C. A baixo (Figura 3.2) apresentamos o comportamento
físico de uma suspensão de amido quando submetido ao aumento de temperatura.
Aumento da Viscosidade

Aumento da Temperatura
Figura 3.2 – Curva típica de gelatinização.

14
15

3.3.1 GELATINIZAÇÃO POR EFEITO TÉRMICO


Amido crú tem limitada capacidade de absorção de água. Uma suspensão de amido quando
submetida ao aquecimento a uma determinada faixa de temperatura (intervalo de
gelatinização), que varia dependendo da fonte amilácea, é iniciado o processo de
intumescimento dos grânulos por absorção de água e rompimento das ligações de
hidrogênio no seu interior, durante este processo poderá ser absorvido um volume de até
vinte vezes seu peso.
Podemos observar durante este processo o aumento da viscosidade e transmitância óptica
da solução, e em microscópio sob luz polarizada (aumento de 400 vezes) a perda da
birrefringência (cruz de malta).
No estudo de Kotler, a gelatinização é definida como a perda da cruz que aparece no interior
do grânulo de amido sob luz polarizada e a temperatura de gelatinização, é por definição, o
ponto no qual esta transformação ocorre. A tabela a seguir mostra as faixas de temperaturas
de gelatinização de vários amidos.

Tabela 3.2 – Faixa de temperaturas de gelatinização de alguns amidos.


Faixa de Temperatura de
Origem do Amido
Gelatinização (°C)
Batata (tubérculo) 56 – 66
Mandioca (cereal) 58 – 70
Milho (cereal) 62 – 72
Milho Waxy 63 – 72
Trigo (cereal) 52 – 63
Arroz (cereal) 61 – 77

O comportamento do amido em absorção de fase líquida, sugere que o grânulo deve conter
poros microscópicos e portanto atua como “peneiras moleculares”. Acredita-se que a
gelatinização inicia-se na área intermiscelar, mais acessível e amorfa do grânulo onde as
ligações químicas são mais fracas.
Após a faixa de gelatinização, as pontes de hidrogênio continuam a ser rompidas, os
grânulos incham, e a amilose começa a ser lixiviada do grânulo. Como conseqüência direta
do intumescimento, ocorre um aumento na solubilidade do amido, da claridade e
viscosidade da pasta. O intumescimento dos grânulos continua até que estes sejam
rompidos, e a estrutura granular deixe de existir. Com o rompimento dos grânulos, a
viscosidade decresce abruptamente.

15
16

O comportamento do amido em água, quando aquecida, pode ser avaliado através de vários
métodos. Entre os mais usados destacam-se:
• Perda de birrefringência;
• Poder de inchamento;
• Viscosidade da pasta.

3.3.1.1 PERDA DE BIRREFRINGÊNCIA


Este método consiste em observar no microscópio, com luz polarizada, as transformações
no grânulo enquanto estes são aquecidos em presença de água.
A perda de birrefringência é devida à destruição das áreas cristalinas no grânulo. Entre
todos os métodos mencionados, a perda de birrefringência é o mais preciso para a
determinação da faixa de gelatinização.

3.3.1.2 PODER DE INCHAMENTO


O poder de inchamento é dado pela seguinte razão:

peso do se dim ento após aquecimento


de uma dispersão de amido em água
poder de inchamento =
peso do amido sec o
Para se obter informações fundamentais sobre o inchamento do grânulo é necessário que a
gelatinização do amido seja conduzida em excesso de água, permitindo que os grânulos
possam inchar livremente e sem desintegração mecânica.

3.3.1.3 VISCOSIDADE DA PASTA DE AMIDO


Existem vários métodos para se determinar a viscosidade de uma pasta de amido.
Entretanto, a seleção do método mais apropriado depende do propósito da medida. O
amilógrafo Brabender é o equipamento mais conhecido e usado para estudos sobre o
comportamento reológico de uma pasta de amido.
O amilógrafo Brabender registra continuamente as variações de viscosidade de uma
dispersão de amido aquecida gradualmente (1,5 °C/mi n). Durante o processo, a pasta é
continuamente agitada. A transição de uma suspensão de amido em água para pasta,
quando o calor é aplicado é acompanhado por um grande aumento de viscosidade.
Alterações de viscosidade também acompanham a formação de gel pelo resfriamento das
mesmas. Essas variações de viscosidade das pastas de amido são medidas em
viscoamilógrafo, que registra a alteração da viscosidade de um sistema amido-água, sobre
agitação, em relação a temperatura e tempo.

16
17

O amido de mandioca é de alta expansão porque seus grânulos sofrem grande inchamento
quando aquecidos em água, porém as forças associativas internas tornam-se frágeis com
agitação mecânica fazendo com que o viscograma ou amilograma Brabender apresente um
pico de viscosidade, seguido de uma acentuada queda durante o cozimento.
A exploração depende do conhecimento de suas propriedades quanto a estrutura, forma,
cor, absorção de água, solubilidade, inchamento e viscosidade.
Algumas das avaliações importantes são:
• Calorimetria diferencial de varredura (DSC);
• Visicosidade Brabender;
• Viscoelasticidade;
• Cor;
• Transparência;
• Consistência do gel.

Retrogradação
Viscosidade Brabender (BU)

Pico de
Viscosidade Dispersão Total

Temperatura de Gelatinização

60 110 150
Temperatura (°C)

Figura 3.3 – Amilograma típico do amido durante o cozimento.

A interpretação do amilograma requer um conhecimento dos eventos que ocorreram durante


a gelatinização. Quando uma dispersão de amido é aquecida, os grânulos incham e
virtualmente absorvem toda a água disponível. Como resultado, os grânulos inchados
tornam-se mais susceptíveis á desintegração mecânica. Nestas condições, as forças que
mantém a estrutura do grânulo também são enfraquecidas, contribuindo para a fragilidade
do grânulo. No inicio da gelatinização, os componentes solúveis do grânulo difundem para o
meio líquido. Entretanto, quando os grânulos incham suficientemente e ocupam todo o
volume, é possível que estes solúveis voltem para o seu interior. Neste sistema, os grânulos
e fragmentos destes aderem uns aos outros, formando uma matriz mantida por pontes de
hidrogênio. Assim, a viscosidade registrada é causada pelos grânulos inchados, pelos

17
18

solúveis e pela interação ou coesão entre os grânulos. A Figura 3.4 ilustra um amilograma
típico. A viscosidade no inicio aumenta rapidamente até um máximo e, então, decresce.

800
B

700

600

500
Viscosidade (U.B)

C E

400

300 D

200

100

A
0
40 60 80 100 120 140
Temperatura (°C)

Figura 3.4 – Amilograma em unidades brabender, obtido com amido de mandioca a 4,5 %.

A temperatura onde a viscosidade começa a crescer (A) é denominada temperatura de


pasta, e não deve ser confundida com temperatura de gelatinização (temperatura onde tem
inicio a perda de birrefringência). A gelatinização da pasta, contrariamente á temperatura de
gelatinização, só ocorre após um inchamento inicial e, usualmente neste estagio, os
grânulos já perderam toda a birrefringência. Quando a concentração se amido aumenta,
pequenas variações no tamanho do grânulo são mais facilmente detectadas. Assim, a
temperatura da pasta é inversamente proporcional à concentração. Entre os pontos (A) e (B)
existe uma situação dinâmica na qual, enquanto alguns grânulos estão inchando, outros
estão se desintegrando devido à agitação. O aumento da viscosidade reflete, assim, uma
preponderância do inchamento sobre o rompimento. A viscosidade máxima (B), por outro
lado, caracteriza um equilíbrio entre o aumento de viscosidade devido ao inchamento, e o
decréscimo de viscosidade, causada pela fragmentação. Após o ponto (B),a desintegração
prevalece e a viscosidade decresce. O aumento da viscosidade com o resfriamento (pontos
D a E) é devido à associação entre os componentes da dispersão. A seguir é apresentado
uma tabela com as viscosidades de alguns amidos industrias aplicados na industria de
celulose e papel.

18
19

Tabela 3.4 – Viscosidade de vários tipos de amidos aplicados industrialmente.


Amido Base Natureza Iônica Grau de Substituição Viscosidade ** (cps)
Mandioca Anfótero 0,020 a 0,024 750
Milho Cationico 0,024 a 0,028 1000
Milho Cationico 0,032 a 0,036 1000
Milho Anfótero 0,025 a 0,029 750
Waxy Cationico 0,033 a 0,040 1800
Waxy Anfótero 0,028 a 0,032 1500
Mandioca Cationico 0,025 a 0,031 2400
Mandioca Cationico 0,031 a 0,037 3000
Mandioca Cationico 0,025 a 0,030 8000
Mandioca Cationico 0,028 a 0,032 250
Mandioca Anfótero 0,025 a 0,030 250
Mandioca Anfótero 0,018 a 0,022 1000
Mandioca Anfótero 0,020 a 0,024 1000
Mandioca Anfótero 0,03 1000
Mandioca Anfótero 0,038 1000
Mandioca Cationico 0,016 1500
Mandioca Cationico 0,02 1500
Mandioca Cationico 0,02 2000
Mandioca Cationico 0,02 2800
Mandioca Cationico 0,034 14000 a 22%
Mandioca Cationico 0,028 10000 a 22%
Viscosidade ** - Brookfield - spindle#2, 20 rpm, 70 °C

3.3.2 IMPORTÂNCIA TECNOLOGICA DA GELATINIZAÇÃO


As propriedades da pasta de amido são de particular interesse das aplicações industriais.
Na pratica, o amido de mandioca é preferido, pois a faixa de temperatura de gelatinização
deste é de 58 – 70 °C (tabela 3.2) sendo, portanto, compatível com a temperatura atingida
no interior do embutido durante a cocção (72 °C).
A eficiência da hidrólise enzimática também depende da temperatura de gelatinização do
amido. Como a suscetibilidade do grânulo aumenta consideravelmente com a gelatinização,
procura-se hidrolisar o amido a uma temperatura acima da temperatura de gelatinização.
Entretanto, o aumento da temperatura pode desnaturar a enzima, inibindo sua ação no
grânulo. Assim, existe um compromisso entre a temperatura de gelatinização do amido e a
resistência térmica da enzima.
O poder de inchamento é geralmente relacionado com a estabilidade da viscosidade. A
Figura abaixo ilustra amilogramas obtidos com vários amidos em condições padronizadas.

19
20

1600
36 gramas de amido (base seca)
1400 mais água = 490 gramas total.
Aquecer rapidamente até 50°C,
Unidades de Brabender

1200 após 1,5°C por minuto até 95°C, Milho


manter para 20 minutos.
Esfriar 1,5°C por minuto até 30°C.
1000 Batata

800 Mandioca
600 Trigo
Híbrido
400 (Waxy)

200

0
0 20 40 60 80 100

Tempo (Minutos)

Figura 3.5 – Amilograma de amido de milho, batata, mandioca, trigo e híbrido (waxy).

Observando a Figura 3.5, nota-se que os grânulos mais inchados (mandioca, batata, hibrido
waxy) – são mais frágeis e suscetíveis à ruptura com o aquecimento prolongado e/ou
agitação mecânica. O amido de milho, por outro lado, gelatiniza-se mais lentamente e incha
menos, produzindo pastas com viscosidade menor e mais estáveis que a mandioca, batata
ou hibrido waxy.
A resistência à ruptura por ação mecânica é uma característica importante para pastas
submetidas à agitação, ou que são bombeadas de uma etapa para outra do processamento.
Neste caso pode ocorrer a fragmentação dos grânulos provocando variação na viscosidade
e o comportamento de todo o processo.
O comportamento do amido gelatinizado pode, entretanto ser modificado de modo a atender
determinadas necessidades tecnológicas. Modificações químicas ou físicas podem ser
efetuadas no grânulo de amido, tornando-o menos viscoso, mais resistente à ação
mecânica, etc.
A Figura 3.6 mostra amilogramas de amidos modificados quimicamente.

20
21

sorgo ceroso - 7,7%


sorgo ceroso com ligação cruzada - 6,2%

Viscosidade (U.B)

Temperatura (°C)

Figura 3.6 – Amilograma de amidos modificados quimicamente.

3.4 RETROGRADAÇÃO
Retrogradação é o termo dado às transformações que ocorrem durante o resfriamento e
armazenamento de pastas de amido gelatinizado. Soluções com baixa concentração de
amido tornam-se progressivamente turvas, devido à agregação e conseqüente
insolubilização de moléculas de amido. Pastas com altas concentrações formam géis, que
se tornam mais rígidos e opacos com o tempo. Frequentemente, a evolução da
retrogradação é acompanhada de exudação de umidade do gel (fenômeno denominado de
sinérese). A retrogradação é, basicamente, um processo de cristalização das moléculas de
amido. Esta cristalização ocorre pela forte tendência de formação de pontes de hidrogênio
entre as moléculas adjacentes. A associação das moléculas do amido propicia o
desenvolvimento de uma “rede” tridimensional, mantida coesa pelas áreas cristalinas. Esta
rede é formada por grânulos de amido parcialmente inchados e componentes do amido em
solução. A formação desta rede durante o resfriamento resulta na formação de géis.

Figura 3.7 – Esquema da retrogradação.

21
22

Na pratica, as primeiras indicações da ocorrência da retrogradação são o aumento de


firmeza e opacidade, resistência à hidrolise acida ou enzimática, baixa solubilidade em
água ou perda da habilidade de formar complexos azuis com iodo. De uma maneira geral,
todas estas transformações podem ser usadas para avaliação da extensão ou velocidade da
retrogradação. A velocidade de retrogradação de pastas de amido depende de fatores
inerentes ao grânulo ou seus componentes. Entre estes fatores salientam-se: tipo de amido,
peso molecular, e linearidade.
De uma maneira geral, as moléculas retas tem maior tendência à retrogradação. Entretanto,
esta tendência depende do peso melecular. Para a amilose, a tendência máxima ocorre
para pesos moleculares intermediários. Moléculas muito grandes tem dificuldade em
assumir uma orientação propicia para a retrogradação. Por outro lado, moléculas muito
pequenas, devido ao rápido movimento Browniano, tem dificuldade em se associar. Alem,
destes fatores, a retrogradação depende dos seguintes parâmetros: umidade, temperatura,
e pH. Geralmente, a velocidade de retrogradação é máxima para géis com cerca de 30 – 40
% de umidade, conservados ao redor de -4 °C e cujo pH foi ajustado para 5 após a
gelatinização. Altas temperaturas ou temperaturas abaixo de -4°C inibem a retrogradação.

3.5 SUSCEPTIBILIDADE ENZIMÁTICA


As plantas que sintetizam amido para uso futuro e os organismos que dependem da
digestão do amido contem varias enzimas capazes de converter amido em glicose. Embora
estes sistemas enzimáticos sejam capazes de hidrolisar o amido no seu estado natural
(granular), a susceptibilidade do grânulo a ação enzimática é consideravelmente aumentada
quando este está na forma gelatinizada. Entre as enzimas amilolíticas, as mais importantes
são: α amilase, β amilase, glucoamilase, isoamilase e plulonase.

3.5.1 IMPORTANCIA TECNOLOGICA DE ENZIMAS AMILOLÍTICAS


De uma maneira geral, podemos afirmar que as enzimas amilolíticas podem ser usadas
sempre que seja necessária uma hidrolise parcial ou total do amido. A escolha de uma
enzima amilolítica para determinado processamento depende da velocidade de aumento da
temperatura, concentração de amido e enzima, temperatura de gelatinização,
termoestabilidade da enzima e finamente, da presença de outros compostos do meio.

4. APLICAÇÃO DE AMIDO NA FABRICAÇÃO DE PAPÉIS


O amido e seus derivados são largamente utilizados na indústria papeleira, com o principal
objetivo de melhorar as propriedades físicas do papel, tais como: Mullen, Tração,
Resistência Superficial (IGT e Denninson). Mediante modificações químicas, além de atuar

22
23

positivamente na resistência física dos papéis, podem contribuir para a melhora da retenção
e drenagem do sistema.
O amido é uma das mais importantes matérias-primas para esta indústria, dentre as várias
razões que contribuíram para isto, destacam-se:
• Aumento dos níveis de carga dos papéis (substituição de fibra por carga mineral),
que diminui a resistência do papel e, para compensar este enfraquecimento
demanda a adição de um agente de resistência a seco.
• Aumento do uso de fibras recicladas e de alto rendimento.
• Aumento da velocidade nas máquinas.
Há vários fatores que determinam a escolha do amido mais adequado, destacando-se:
• Tipo de papel - (propriedades físicas requeridas);
• Capacidade e condição de refinação;
• Composição fibrosa;
• Tipo de máquina;
• Econômicos.
De um modo geral, o amido ideal seria aquele que possibilitaria o máximo de resistência
final, melhoria da aparência, com o máximo de retenção e o mínimo custo. Vale destacar
que nenhum amido cumpre todos esses requisitos, mas a maioria atende às necessidades
inerentes a cada processo.
O amido pode ser utilizado na forma “in natura” ou sofrer modificações químicas e/ou físicas
de forma a adequá-los às necessidades tecnológicas.

4.1 QUÍMICA DA PARTE ÚMIDA E O AMIDO (“WET END”)


A complexa composição química da fabricação do papel promove relacionamento físico
químico entre os diversos componentes no sistema de preparação de massa e durante a
formação da folha de papel o que tem grande influencia sobre a aplicação do amido, alem
destes podemos citar outros fatores que também influenciam a sua aplicação, dentre outros:
• Influencia das cargas elétricas entre: fibras, finos, carga mineral, etc.
• Características físicas: grau de refino, hidratação das fibras, etc.
• Características da polpa: relação de hemicelulose, vasos, etc.
• Aditivos: agentes de colagem, retentor, sulfato de alumínio, etc.
A química da fabricação de papel pode ser considerada como a química de superfície
coloidal dos componentes (fibras + aditivos) de um sistema pertinente a uma determinada
máquina, estando relacionada a uma série de variáveis interligadas:

23
24

• Repulsão de partículas;
• Água de hidratação;
• Área superficial de seus diversos componentes;
• Repulsão de finos;
Como já foi mencionado a química da parte úmida está diretamente relacionada com a
superfície coloidal de seus aditivos.
O efeito da adição de amido pode ser melhor explicado quando consideremos:
• Forças de atração entre o amido solubilizado e sólidos (fibras e carga mineral).
Forças de van der Waals e pontes de hidrogênio nas regiões não iônicas do amido,
atração eletrostática mais pontes de hidrogênio nas regiões catiônicas do amido.
• Absorção do amido sobre a superfície das partículas sólidas. Floculação dos finos e
cargas mineral pelo amido catiônico.
• Aumento da força de atração das partículas sólidas durante o processo de drenagem
e secagem do papel.

4.2 INTERAÇÃO DO AMIDO COM A CELULOSE


Sob certas condições específicas, um átomo de H (hidrogênio) é atraído por duas forças de
dois átomos simultaneamente, ao invés de apenas um, passando a atuar como uma ponte
entre eles.
Reconhece-se que a “ponte de hidrogênio” possui um caráter fracamente iônico, e é
formada entre os átomos fortemente eletronegativos como o F, O e N. Atua também em
menor proporção e sob condições específicas, entre os átomos menos eletronegativos,
como o C e o Cl. Na associação através da água, pode ser representado, como a seguir:

CH2OH CH2OH CH2OH

O O O
Celulose O
O
CH2OH OH
CH2OH - OH CH2OH +

H⊕
O
H⊕

CH2OH
- -
CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH

Amido
O O O O O

Figura 4.1 – Esquema da ligação por Ponte de Hidrogênio

24
25

4.3 PRINCIPAIS AMIDOS APLICADOS EM CELULOSE E PAPEL


4.3.1 AMIDOS NÃO MODIFICADOS (“IN NATURA”)
São aqueles obtidos do próprio cereal e/ou raiz através de processo de extração
específicos, os quais mantém as suas características físico-químicas originais.

4.3.2 AMIDOS CATIÔNICOS


Os amidos catiônicos são amidos regulares “in natura” tratados quimicamente com
reagentes que possuem um íon carregado positivamente. A ligação química pode ser um
éster ou um éter embora a ligação éter seja preferida por ser mais estável. Os reagentes
típicos usados para a preparação destes produtos são os sais de amônio quaternário. Sua
configuração básica é mostrada abaixo:

CH2OH CH2OH

O O
H H
OH
OH H
H OH H
H
O

H H OH

O-CH2-CHOH-CH2-N(CH3)3Cl

Figura 4.2 – Esquema básico de Éter de Amido.

4.3.3 AMIDOS ANFÓTEROS


Os amidos anfóteros são amidos catiônicos que, além dos íons carregados positivamente,
possuem também, ligados à molécula de amido, radicais carregados negativamente (grupos
aniônicos).
Geralmente estes grupos aniônicos estão presentes na forma de fosfatos.

CH2OH
-
CH2O-PO3

O O
H H
OH
OH H
H OH H
H
O

H H OH

O-CH2-CHOH-CH2-N(CH3)3Cl

Figura 4.3 – Esquema básico do Éter de Amido Anfótero.

25
26

O principal fator que diferencia os amidos catiônicos e/ou anfóteros é o grau de


cationicidade, que é avaliado medindo-se o grau de substituição (D.S.) do amido.
A determinação do D.S. é feita quantificando-se o número de moles de nitrogênio que foi
ligado à molécula de amido no decorrer da reação de cationização, uma vez que o reagente
utilizado contém nitrogênio.
A variação do grau de substituição (D.S.), resultará na variação do grau de cationicidade dos
produtos que, normalmente classificam-se em: baixo, médio ou alto grau de substituição.

5. OS AMIDOS E SUAS PRINCIPAIS APLICAÇÕES NO “WET END”


5.1 AMIDO COMO AGENTE DE RETENÇÃO
Para a aplicação de retenção e drenagem podem ser usados os amidos catiônicos, que são
aqueles amidos comuns modificados quimicamente com reagentes que possuem um íon
carregado positivamente. A ligação química pode ser um éster ou éter (o mais preferido por
sua estabilidade). Normalmente prepara-se com uso de sais de amônio quaternário.
Amidos Anfóteros são aqueles amidos catiônicos que, além dos íons positivos possuem
radicais aniônicos (fosfatos).
A principal diferença entre o amido catiônico e anfótero é o grau de cationicidade, o qual é
avaliado pelo grau de substituição (D.S.) do amido. Determina-se o D.S. pelo n.º de moles
de nitrogênio ligado a molécula de amido durante a cationização. O grau de cationização
pode ser avaliado como baixo, médio ou alto.
Os amidos catiônicos/anfóteros interagem com as fibras por mecanismos de “coagulação“ e
“neutralização”, influenciando a formação, retenção, drenagem e produtividade da máquina
de papel como mostrado na Figura abaixo.

Resistência Física
Retenção de Carga (%)
Resistência Física

Retenção de Carga Mineral

Dosagem de Amido na Massa


Figura 5.1 – Influencia da adição de amido no andamento de máquina.

26
27

Quando é usado individualmente, provavelmente aumenta a drenagem em primeira


instância porque agrega finos sobre a superfície das fibras. Os flocos formados pelo amido
catiônico tendem a ser de pequeno a médio tamanho e não ficam vinculados fortemente a
água. O amido catiônico é também um importante componente de alguns sistemas
microparticulados.
Amidos catiônicos e/ou anfóteros atuam na retenção de três componentes básicos: finos,
carga mineral e, do próprio amido. Quando estes amidos são adicionados somente visando
retenção, geralmente não são econômicos. A seleção de um agente de retenção apropriado
pode ser mais vantajosa. Entretanto, é comum e benéfico complementar o uso de um
agente de retenção com o de um amido catiônico e/ou anfótero para se manter ou melhorar
a formação e/ou prevenir uma possível queda de resistência que está sempre associada ao
aumento de cinzas e finos na folha de papel.

5.2 AMIDO COMO AGENTE DE DRENAGEM


Na indústria de papel, agentes de drenagem são aditivos químicos que melhorarão o
desaguamento da folha em algum ponto do processo. Isto significa que um material poderia
não afetar a drenagem livre, mas ter um efeito significativo sobre a drenagem a vácuo ou
resposta na prensagem. Vários benefícios potenciais advém do uso de agentes de
drenagem, tais como:
• Aumento da taxa de produção;
• Melhora a formação;
• Reduz consumo de vapor na secagem;
• Auxilia na redução de consistência na caixa de entrada (o que leva a diminuir a
floculação e melhora a distribuição das fibras na folha formada).
A melhora na drenagem da máquina pode ser um fator significante na seleção do amido
catiônico e/ou anfótero, pois sua aplicação contribui para o aumento do teor seco da folha
que entra na seção das prensas, podendo propiciar um aumento na velocidade de máquina.
Quando se decide trabalhar com amidos catiônicos e/ou anfóteros, considerações devem
ser feitas sobre a performance do produto, se é uma simples substituição ou um novo
aditivo. Deve-se assegurar que os melhores benefícios sejam obtidos e, é recomendado que
todas as ferramentas e recursos disponíveis sejam utilizados na seleção, destacando-se os
seguintes procedimentos:
• Caracterização do processo de fabricação
Antes de quaisquer alterações, a máquina e o processo deve ser monitorados de modo a se
estabelecer valores históricos e critérios para a avaliação.
• Avaliação laboratorial

27
28

Uma das ferramenta mais importantes que auxilia a seleção do amido catiônico e/ou
anfótero é o D.D.J. (Dynamic Drainage Jar), que permite determinar a adequada taxa de
aplicação de amido, o que contribui para a maximização dos valores de retenção e/ou
drenagem.
Outra possibilidade é utilizar um formador de folha manual que possibilita a avaliação da
resistência, retenção total e de cargas.
Uma série de testes devem ser realizados, entretanto, o mais importante é determinar, da
melhor forma possível, o produto mais indicado para se alcançar os objetivos pretendidos,
tendo em vista que a máquina de papel é um importante instrumento de produção e não de
pesquisa.
Com os dados da avaliação laboratorial, torna-se possível selecionar, com maior precisão, o
tipo adequado de amido. Importância deve ser dada à cationicidade e a taxa de aplicação do
produto. De posse dessas informações, será possível propor mudanças no sistema, sem
que haja transtornos significativos na máquina.
Outros equipamentos/análises que podem auxiliar na seleção são: Zeta Potencial e a
Titulação Coloidal (demanda aniônica e catiônica).

5.3 AMIDOS NÃO MODIFICADOS (“IN NATURA”)


Este tipo de amido, por possuir estrutura molecular e carga iônica similar à celulose,
apresenta carga levemente aniônica que desenvolve ligações fibra - amido - fibra muito
fracas (Pontes de Hidrogênio) que são rompidas por forças de cisalhamento geradas no
sistema de preparação de massa.
Polímero

Fibra

Amido Carga
Mineral

Figura 5.2 – Mecanismo de reação do amido com a massa celulósica.

28
29

Com isso, sua retenção é muito baixa, o que requer a utilização de altas taxas de aplicação
do mesmo (30 a 60 kg/t de fibra) para compensar a perda para a água branca e possibilitar
incrementos na resistência física do papel em que é aplicado. Neste tipo de aplicação o
amido deve ser utilizado gelatinizado, à baixa concentração, na faixa de 1 a 3% de sólidos,
de modo a proporcionar uma dispersão homogênea na massa.
Os inconvenientes da utilização do amido regular na massa são os seguintes:
• Baixa retenção do mesmo;
• Necessidade de altas taxas de aplicação para obtenção de bons resultados;
• Aumento do D.B.O..

5.4 AMIDOS CATIÔNICOS/AMIDOS ANFÓTEROS


Os amidos catiônicos e/ou anfóteros são importantes no processo de fabricação de papel,
por influenciar diretamente a qualidade final de quase todos os tipos de papéis,
proporcionando benefícios relacionados com a resistência física do papel tais como rigidez,
lisura, resistências interna e superficial, dentre outras. Em função de sua carga elétrica
positiva, interagem com a carga negativa das fibras e cargas minerais, ajudando a equilibrar
o complexo balanço de cargas elétricas na parte úmida da fabricação de papel, o “wet end”.
Este balanço entre “coagulação” e “dispersão” influencia a formação, retenção, drenagem e
produtividade da máquina de papel.

5.4.1 BENEFÍCIOS DOS AMIDOS CATIÔNICOS E / OU ANFÓTEROS


Geralmente os amidos modificados são utilizados para melhoria das resistências físicas,
retenção ou ambos. Em alguns casos pode ser utilizado aumento da velocidade por
intermédio da melhoria da drenagem e secagem.
Podemos enumerar vários benefícios que podem ser obtidos com a utilização dos amidos
catiônicos e/ou anfóteros, destacando-se:
• Aumento da retenção total (carga mineral, finos e do amido);
• Melhora das resistências interna e superficial (Tração, Mullen, CMT, Denninson e
IGT);
• Melhora da resistência à dobras;
• Melhora da colagem interna;
• Auxilia na drenagem da máquina;
• Melhora da formação da folha;
• Aumento da resistência à úmido;

29
30

• Redução do D.B.O.;
• Redução da porosidade;
• Auxílio no equilíbrio de carga do sistema.

5.5 AMIDO NO INCREMENTO DA RESISTÊNCIA


A resistência dos papéis atribuída a utilização de amidos está em geral, diretamente
relacionada com sua quantidade aplicada em relação a fibra.
Os amidos iônicamente carregados, devido às suas características, desenvolvem ligações
interfibras muito fortes, comparadas com sistemas sem amido, o que demonstra que,
geralmente, sua auto retenção é elevada, resultando em uma melhora nas propriedades
relacionadas com resistência. Esta melhora de qualidade, compensa à utilização de fibras
menos nobres (pastas e aparas), e reduz a necessidade de refino contribuindo para a
redução no consumo de energia e melhora na drenagem. Além disso, a utilização do amido
pode compensar a queda de resistência, normalmente associada ao maior teor de cinzas.

6. ESCOLHA DO PRODUTO
Para a seleção do tipo de amido a ser utilizado deve-se inicialmente definir qual o objetivo
de sua utilização. Usualmente para eleger qual o melhor produto é utilizado a atividade
catiônica do amido conjugado com a finalidade de sua utilização, porém devemos ressaltar
trata-se de recomendações iniciais o melhor produto só será obtido após avaliações
industriais.
Tabela 6.1 – Atividade catiônica em função do objetivo.

Objetivo Atividade Catiônica


Retenção de Carga Alta

Retenção de Finos Média


Resistência Baixa

Outros fatores que influenciam sobre os resultados é o ponto de aplicação e sua


concentração, abaixo está apresentada regras básicas, porem o melhor ponto só é definido
a partir de avaliações industriais.

30
31

Tabela 6.2 – Ponto de aplicação de amidos e a influência na qualidade.

Sólidos da solução de
Objetivo Ponto de Aplicação
amido
Retenção Baixa consistência 1%
Resistência Tanque de Massa, após a refinação 2a3%

O processo de refinação das fibras celulósicas danificam a cadeia do amido que reduz sua
eficiência.

6.1 AVALIAÇÃO DOS AMIDOS CATIÔNICOS E/OU ANFÓTEROS


Quando um amido catiônico e/ou anfótero é aplicado em um sistema, sua performance deve
ser totalmente monitorada. Deve ser dado tempo suficiente para que o sistema atinja um
equilíbrio de cargas. O tempo requerido, dependerá do tipo e grau de cationicidade do
produto selecionado.
Deverão ser monitoradas todas as variáveis que venham a interferir direta ou indiretamente
na performance do sistema, tais como:
• Ponto de Aplicação
Esta variável é definida mediante os benefícios desejados com a aplicação do amido
catiônico e/ou anfótero. Quando adicionamos o amido à massa nos pontos de alta
consistência, daremos ênfase às propriedades relacionadas à resistência física do papel.
Nos pontos de baixa consistência, próximos à caixa de entrada, propriedades relacionadas à
retenção/drenagem serão realçadas. Na sucção da bomba de mistura, valores relacionados
com resistência e retenção serão favorecidos, porém, ambos com menor intensidade.
Outro método possível, é dividir a aplicação em dois pontos, aplicando cerca de 20 a 30%
do amido na região de baixa consistência e, o restante, na região de alta consistência (do
tanque de mistura em diante).
No caso de Sistemas Alcalinos, o amido catiônico atua também como um colóide protetor
para o agente de colagem AKD (Alkilketene dimers) e como veículo, no caso do sistema
ASA (Alkenil Succinic Anhydride). São adicionados total ou parcialmente junto com o agente
de colagem. Abaixo segue a seqüência de aplicação de amido catiônico na Fabricação de
Papéis Alcalinos:

31
32

Cola ASA ou AKD

Amido Catiônico

CaCO 3

Corantes Catiônicos Diretos

Agente de Retenção

Figura 6.1 – seqüência de adição química na fabricação de papeis alcalinos.

• Taxa de Aplicação
Esta variável está também relacionada com os benefícios a serem alcançados. Quando
objetivamos ganhos de resistência física do papel, recomenda-se trabalhar com quantidades
maiores de amidos, quantidades estas que serão mais elevadas, quanto maior for o
benefício requerido. Há, no entanto, um limite para estas quantidades que será norteado por
fatores relacionados com o balanço de cargas elétricas do sistema, assim como, os
econômicos. Quanto maior a cationicidade do amido, este estará sujeito à taxas de
aplicação menores, tendo em vista a interferência no equilíbrio de cargas do sistema.

7. COLAGEM SUPERFICIAL E AS INTERAÇÕES COM O AMIDO


7.1 PRENSA DE COLAGEM (SIZE PRESS)
Aproximadamente entre 70 e 75% de todo amido usado na indústria de papel diretamente, é
destinado para colagem superficial e/ou como ligante para pigmentos em aplicações pré –
“coating”.
A Prensa de Colagem é um equipamento que basicamente consiste em um par de rolos,
entre os quais passa a folha de papel já formada, com aproximadamente de 5 à 15% de
umidade.
A solução de amido é retida no NIP da prensa de colagem e é aplicado sobre a folha de
papel na forma de um filme contínuo em todo seu perfil, este processo é denominado de
colagem superficial. Esse processo é mostrado na Figura abaixo.

32
33

Figura 7.1 – Foto da aplicação de amido superficial na Size-press.

7.2 BENEFÍCIOS DA APLICAÇÃO DE AMIDO SUPERFICIAL


Tem como função a melhoria das seguintes propriedades:
• Printabilidade;
• Resistência superficial (redução do nível de pó);
• Controle de absorção de tintas, óleos e solventes;
• Melhorar as características mecânicas do papel.

7.3 APLICAÇÃO DE AMIDO


A aplicação da solução de amido é função de diversos fatores, a saber:
- Relacionados ao papel:
• Porosidade;
• Densidade;
• Teor de carga mineral;
• Colagem interna;
• Teor de umidade.
- Relacionados ao equipamento:
• Diâmetro dos rolos da prensa;
• Dureza dos rolos;
• Pressão dos rolos no NIP;
• Velocidade de máquina.
- Relacionados à solução de amido:
• Teor de sólidos;

33
34

• Viscosidade;
• Temperatura;
• Aditivo;
• Tipo de amido
.
7.4 PROPRIEDADES DOS AMIDOS SUPERFICIAIS
- Convertidos pelo papeleiro:
• Processo térmico;
• Processo enzimático;
• Processo oxidativo – peróxido [H2O2/CuSO4]/persulfato de amônia [(NH4)2S2O8].
- Pré-modificados:
• Amidos acidulados – pré convertidos via ácida;
• Amidos oxidados ;
• Éteres e esteres de amido - etilados, propilados, acetilados.
A tabela abaixo mostra as principais propriedades dos amidos superficiais aplicados:
Tabela 7.1 – Propriedades dos amidos superficiais.

Tipo de Modificação Propriedades do Amido


Alta conversão de açucares
Conversão pelo fabricante

Térmica Baixo rendimento


Baixa estabilidade
Alta conversão de açucares
de papel

Enzimático Baixa estabilidade


Necessidade de manuseio de enzimas
Baixa estabilidade
Baixa alvura
Oxidação
Boa resistência superficial
Manuseio de oxidantes
Baixa estabilidade
Acidificação Filme superficial desuniforme
Mnor custo
Boa estabilidade
Pré-Modificadios

Oxidação Boa formação de filme superficial


Menor custo operacional
Excelente estabilidade
Excelente formação de filme superficial
Eterificação Maior compatibilidade com outros aditivos
Maior custo
Promove maior resistência a penetração de líquidos
Maior estabilidade de viscosidade
Cationiozação Melhor ancoramento superficial
Maior custo

34
35

7.5 DESVANTAGENS DA UTILIZAÇÃO DE AMIDO NA COLAGEM


SUPERFICIAL
Abaixo relacionamos algumas desvantagem na utilização de amido na colagem:
• Aproximadamente 20% do consumo do vapor necessário para secagem total do
papel com tratamento em prensa é usado na remoção da água, incorporada à folha
na prensa, redução da velocidade da máquina de papel;
• Amido é mais difícil de secar que a fibra. E é agravado quando o amido é muito
convertido (baixa viscosidade);
• A quantidade de amido aplicada pode ter influência sobre a opacidade da folha de
papel.

7.6 AMIDOS MODIFICADOS PARA COLAGEM SUPERFICIAL


Como já vimos anteriormente, existem várias modificações de amidos, buscando
propriedades que possibilitem seus usos específicos.

7.6.1 AMIDO CONVERTIDO “IN SITU”


O processo de conversão ocorre nas instalações da industria de papel e pode ser via
enzimática, por oxidação ou conversão termo – química.
Considerações sobre este tipo de amido:
- Vantagens:
• Na conversão é utilizado o amido regular industrial mais barato do mercado;
• Oferece flexibilidade na formulação, variando-se o grau de conversão, obtém-se
diferentes viscosidades.
- Desvantagens:
• Necessidade controles de pH, temperatura, conversão, interrupção de reação
(enzimático), etc.;
• Formação de açúcares solúveis e cadeias com baixo peso molecular, prejudicam a
formação de filme e baixa tem adesividade. Além de comprometer a estabilidade
dimensional da folha de papel;

• Apesar de muitas fábricas de papel utilizam com sucesso um destes processos de


conversão “in situ”, com resultados excelentes e considerados idênticos a muitos dos
amidos pré – modificados, o processo de conversão termo - mecânica, o produto
resultante é altamente sensível à variações de temperatura com conseqüentes
variações de viscosidades.

35
36

7.6.2 AMIDOS MODIFICADOS


Estes produtos são convertidos no fornecedor de amido e tem especificações de
viscosidade e grau de substituição fixos e adaptados para cada aplicação.

7.6.3 AMIDOS MODIFICADOS VIA ÁCIDA


É o mais barato entre os modificados; porém apresenta baixa resistência de filme e tende a
retrogradar;

7.6.4 AMIDOS OXIDADOS


Apresentam como característica o fato de ser excelente formador de filme, forte adesividade
tanto à folha de papel como de pigmentos para tinta de revestimento, baixa tendência à
retrogradação. Tendo sido largamente utilizado no passado, hoje, no entanto, seu uso tem
decaído frente sua propriedade em agir como dispersante de cargas;

7.6.5 AMIDOS ACETILADOS


Tem grande estabilidade, flexibilidade de filme, excelente adesivo para pigmentos de tinta
de revestimento. Tem, porém, sua limitação em formulações alcalinas, já que em meio
alcalino perde sua função acetil.

7.6.6 AMIDOS HIDROXIETILADOS


É considerado por muitos papeleiros como um dos melhores amidos para uso em prensa de
colagem. Tem grande estabilidade, bom formador de filme - resistente, flexível e
transparente. Não é sensível à variações de pH nas formulações para Prensa, além de ser
altamente compatível com Álcool Polivinílico.

7.6.7 AMIDOS CATIÔNICOS


Podemos afirmar que este seja o melhor entre os modificados para prensa. Frente suas
propriedades de alta estabilidade, aplicação mínima e controlada, excelente adesividade e
principalmente por ser o amido que apresenta a mais baixa carga poluente no efluente da
fábrica de papel.

8. CARACTERÍSTICAS DA SOLUÇÃO DE AMIDO - COZIMENTO


A concentração do banho da prensa varia entre 2-12%, e, em alguns casos até 15%, com
viscosidades em geral abaixo de 50 cps, à 65-70 oC, porem estes valores podem variar

36
37

dependendo das necessidades de cada tipo de papel e máquina.


Os amidos, em geral, devem ser bem cozidos para a liberação dos polímeros em dispersão
que são os responsáveis pelo aumento de resistência no papel.
Os processos de cozimento tradicionais são divididos em duas categorias como mostrado
abaixo:

• Batelada: Tanque com agitação moderada; serpentina de vapor/vapor direto;


aquecimento até 90 - 95 °C; tempo cozimento de 20 à 30 min.
A seguir é mostrado um diagrama de um processo de cozimento de amido Batch (por
batelada):

AMIDO

ÁGUA
TANQUE DE
PREPARO E
COZIMENTO

TI
VAPOR

TANQUE DE
ESTOCAGEM DE
AMIDO COZIDO

TI

SC AMIDO COZIDO

BOMBA DE
DOSAGEM

Figura 8.1 – Diagrama de um cozinhador Batch de amido.

37
38

• Contínuo: Vasos pressurizados; vapor injetado na câmara/válvula; aquecimento até


100-130 °C; tempo cozimento - 3 à 180 s.
Abaixo é mostrado um esquema de processo de cozimento de amido continuo:

10-12% •Sólidos 3%
de AMIDO •Viscosidade 140cPs
umidade
250 m3 •Temperatura 78ºC
•pH 6

LSLL

FE

FCV
dPT

VAPOR
ÁGUA SUSPENSÃO
DE AMIDO TANQUE DE
SUSPENSÃO
A 30% TT

LT
JET
COOKER

FT FCV

SC FT
SERPENTINA DE
BOMBA DE RETENÇÃO
AMIDO
ÁGUA

BOMBA DE
ÁGUA FT

BPV

FCV

MISTURADOR
ESTÁTICO

TANQUE DE
ESTOCAGEM DE ESGOTO
AMIDO COZIDO

VAPOR

TT

SC AMIDO COZIDO
BOMBA DE
DOSAGEM

Figura 8.2 – Diagrama de um cozinhador de amido contínuo.

38
39

8.1 FATORES QUE INFLUENCIAM NA QUALIDAE DO COZIMENTO


• Disponibilidade de água;
• Disponibilidade de cisalhamento (agitação/pressão interna);
• Fonte e qualidade do amido;
• Temperatura de cozimento;
• Tempo de cozimento;
• pH.
Abaixo encontra-se o gráfico da influencia da rotação do agitador do tanque de preparo de
amido em função da viscosidade da pasta:
210

180 100 r.p.m.

150

120

90
200 r.p.m.

60

30

0
3 6 9 12 15 18 21

Tempo (Minutos)

Figura 8.3 – Viscosidade da pasta em função do tempo e velocidade de agitação.

Em seguida é apresentado o gráfico da viscosidade da pasta de amido em função da


variação de pH:

210

180 7,0 pH

4,0 pH
150
10,0 pH
120

90

60
2,5 pH

30

0
0 3 6 9 12 15
Tempo (Minutos)

Figura 8.4 – Viscosidade da pasta de amido em função do tempo e pH.

39
40

9. RESULTADOS PRÁTICOS EM UMA PLANTA DE FABRICAÇÃO DE


PAPEL
9.1 AMIDO APLICADO NA MASSA
Teste industrial – Máquina de papel a 500 m/min.
• Amido A (100% milho) – pH (cru) de 3,2 a 3,8;
• Amido B (100% Mandioca) – pH (cru) de 3,2 a 3,8;
• Amido C (100% Mandioca) – pH (cru) de 3,9 a 4,1.
Segue abaixo as condições de cozimento dos amidos aplicados em planta:
Tabela 9.1 – Condições após cozimento dos amidos, media dos períodos.

Amostras de Amido Amido (A) Amido (B) Amido (C)

Concentração (%) 4,0 4,0 4,0


Viscosidade, copo Ford (seg) 42,9 33,8 61,6
pH 4,3 4,4 5,1
Temperatura (°C) 32,6 32,0 34,4

Os gráficos abaixo mostram a influencia da qualidade dos amidos aplicados, na retenção


total e na retenção de cargas dos papeis Offset 120 e 180 g/m2:
Ret. Total, % Ret. Carga, % Ret. Total, % Ret. Carga, %

96,0 84,0 97,5 89,0


Papel Offset 120 g/m2 Papel Offset 180 g/m2 88,0
95,0 82,0 97,0
87,0
80,0
94,0 96,5
86,0
78,0
93,0 96,0 85,0
76,0
84,0
92,0 95,5
74,0
83,0
91,0 72,0 95,0
82,0

90,0 70,0 94,5 81,0


A B C A B C

Figura 9.1 – Aplicação dos amidos nas condições A, B e C e a influencia nas retenções.

9.2 AMIDO APLICADO NA SUPERFÍCIE


Teste industrial – Máquina a 300 m/min e gramatura produzido 63 g/m2.
• Amido de milho acidificado (Viscosidade 15 s CF / 9% sólidos);
• Fécula de mandioca oxidado (Viscosidade 11 s CF / 9% sólidos).
Os gráficos abaixo mostram os resultados de dois testes de resistência em função da
dosagem de amido de milho e mandioca:

40
Figura 9.2 – Resultados de Denninson e Scott Bond em função da aplicação de amido de milho
e mandioca.

10. ADESIVO PARA PAPELÃO ONDULADO E SUAS CARACTERISTICAS


10.1 MECANISMO DE COLAGEM

Os estágios chaves na formação da colagem são apresentados. São eles:

1º Estágio: Aplicação do adesivo no topo das ondas


O adesivo é uniformemente controlado no rolo aplicador, de tal
modo que seja transferido para o topo das ondas sem
problemas de desperdício ou de formação de fios.

2° Estágio : Penetração do Adesivo na onda do miolo


De maneira ideal o adesivo deveria penetrar cerca de 25% da
espessura do papel. Se a penetração for insuficiente, o poder
de ancoramento às fibras será reduzido. Em contrapartida se o
adesivo tiver uma penetração muito grande, restará pouco
adesivo na superfície para a colagem da capa.

3º Estágio: Junção da Onda e a Capa


A pega do adesivo deverá ser suficiente para colar firmemente
a capa aos topos das ondas, tão logo se dê o contato.

4º Estágio: Penetração do Adesivo na Capa


O grau de penetração na capa deverá ser de 25% da
espessura da mesma. Se a penetração exceder este valor,
42

restará pouco adesivo entre os dois papéis, tornando a ligação


papel/papel muito fraca. Se houve pouca penetração o
ancoramento às fibras será reduzido.

5° Estágio : Desenvolvimento da Liga


Como a água do adesivo é absorvida pelo papel, a
concentração aumenta. Consequentemente o adesivo se torna
mais viscoso, começa a aderir, e a ligação começa a se formar.
Em adesivos a base de amido, um aumento da temperatura
acima do ponto conhecido como temperatura de gelatinização,
causará um aumento da viscosidade e poder de colagem. A
colagem neste estágio é chamada frequentemente de colagem
a verde.

6° Estágio : Fixação Final da Cola


A perda de água através do papel e então por evaporação para
o ar, continua até a colagem seca final ser formada.

10.2 AMIDO DE MILHO


É a principal matéria-prima das formulações de adesivos para papelão ondulado.
Normalmente são utilizados os amidos regulares de milho.
O amido de milho é um polissacarídeos de glicose de fórmula básica: (C6H10O5).
É constituído de duas formas poliméricas básicas, a amilose e a amilopectina,
respectivamente cadeias lineares e cadeias ramificadas. A distribuição média destas duas
formas poliméricas é de 27% para a amilose e 73% para a amilopectina.

10.3 HIDRÓXIDO DE SÓDIO (NaOH)


Conhecido industrialmente pelo nome de soda caústica. É adicionado ao amido em
suspensão para abaixar a temperatura de gelatinização da ordem de 72°C, que é bastante
elevada para máquinas corrugadoras velozes. Quanto maior for a velocidade da máquina
corrugadora, menor será o tempo de residência do papel na seção de aquecimento.
A temperatura na máquina é da ordem de 200°C, mas c omo o papel oferece resistência a
transmissão de calor, a temperatura na linha de colagem não atinge valores elevados, daí
ser necessário dimensionar a formulação para que os grânulos de amido gelatinizem ao

42
43

redor de 63°C ou menos. O abaixamento da temperatur a de gelatinização do amido é


facilmente obtido pela adição de soda caústica. Outros álcalis, tais como, hidróxido de
cálcio, carbonato de sódio, etc., também abaixam a temperatura de gelatinização do amido,
mas nenhum deles mostrou ser tão eficiente como hidróxido de sódio.
O hidróxido de sódio também ajuda umedecer a superfície do papel e habilitar o adesivo a
penetrar e reforçar a colagem.

10.4 BÓRAX (Na2B4O7.10H2O)


Bórax reage com as moléculas do amido auxiliando a retenção de água no adesivo
permitindo deste modo maior uniformidade na gelatinização do amido.
Atua como um buffer e protege a porção de amido não-gelatinizado do adesivo do hidróxido
de sódio durante a preparação. Reage prontamente com o amido gelatinizado na linha de
cola produzindo elevação da viscosidade do sistema. O bórax também promove a agente de
colagem “tack” que é muito importante na área de colagem entre onda e capa.
Bórax pode ser usado tanto na forma deca como na penta-hidratado.

10.5 FORMALDEÍDO
Conhecido pelo nome de formol, é adicionado ao adesivo simplesmente para protegê-lo
contra possível contaminação bacteriológica, quando o adesivo preparado tem que ser
armazenado por tempo superior a 24 horas. Esse tempo é uma função das condições de
higiene dos tanques de preparação e armazenagem, os quais devem estar sempre limpos.
É importante saber que o preservativo não tem ação sobre a colagem. Ele apenas protege o
adesivo líquido ou, seu filme seco, contra o ataque de microrganismos.
Se a contaminação já tiver se iniciado, o emprego de um preservativo não a eliminará,
somente diminuirá sua velocidade de propagação.

10.6 A PREPARAÇÃO DO ADESIVO STEIN-HALL


O adesivo Stein-Hall para papelão ondulado é composto de duas frações, a primeira,
denominada veículo, é formada por amido gelatinizado e a segunda, denominada
suspensão, é formada por amido crú, isto é, amido não gelatinizado. A composição
qualitativa da primeira fração é:
• Água;
• Amido de Milho;
• Hidróxido de sódio (soda cáustica).
Esses componentes são misturados e aquecidos em um tanque, denominado tanque
primário, equipado com agitador e vapor direto, a fim de se obter uma “goma” que na
indústria de papelão ondulado é conhecida com “veículo”. A composição qualitativa da

43
44

segunda fração é:
• Água;
• Amido de Milho;
• Bórax;
• Veículo;
• Formaldeído.
Esses componentes são misturados em outro tanque, denominado tanque secundário,
equipado com agitador. Após completada a mistura das duas frações, o adesivo está pronto
para ser enviado à máquina corrugadora.
Uma formulação típica é dada a seguir:

10.6.1 FORMULAÇÃO CONVENCIONAL - PROCESSO STEIN-HALL


- Tanque primário:

Água 300 litros


Amido de Milho 50 kg
Soda Cáustica 7,5 kg
Aquecer até 70 °C
Manter 15 minutos
Água para Resfriamento 150 litros

- Tanque secundário:

Água 750 litros


Amido de Milho 250 kg
Bórax decahidratado 4,5 kg

- Características finais do adesivo:

Viscosidade Stein Hall 45-55 Segundos


Temperatura final 38-42 °C
Ponto de gelatinização 58-62 °C
Sólidos (b.c.) 20,56 %

44
45

10.7 ADESIVOS PARA PAPELÃO ONDULADO OUTROS PROCESSOS


10.7.1 ADESIVO NO – CARRIER
Em 1968, a CPC introduziu o processo No-Carrier, projeto este resultado de muitas
pesquisas e investimentos que proporcionaram a preparação automática de adesivos para
papelão ondulado. O processo No-Carrier consiste em adicionar uma solução de soda
cáustica, a uma determinada temperatura, na suspensão de amido crú. Há um viscosímetro
contínuo, Nor-Cross, instalado no tanque de preparação, que impede a continuidade da
reação química pois quando é atingida a viscosidade pré-fixada, é adicionado ácido bórico
evitando assim o total intumescimento dos grânulos de amido pela alcalinidade.
Esse processo possui as seguintes características:
• Operação Automática:
Embora o sistema “No Carrier” opere de uma forma quase que totalmente automática, sua
flexibilidade em se obter adesivos de viscosidades diferentes é muito grande. Alguns ajustes
bastante simples no equipamento, possibilitam a obtenção de adesivos com diferentes
teores de sólidos, viscosidade e temperatura de gelatinização.
• Viscosidade uniforme e estável:
A viscosidade do adesivo produzido através do equipamento “No-Carrier” é
excepcionalemente uniforme e estável quando armazenada. Praticamente não há queda de
viscosidade quando do bombeamento e retorno da máquina corrugadora, pois no sistema
não há amido gelatinizado para sofrer esta quebra.
• Economia de homens/hora:
O sistema “No-Carrier” economiza muitos homens hora no tempo de preparação do adesivo,
reduzindo os custos dos mesmo.
• Menor tempo de preparação:
O processo No-Carrier segue a seguinte formulação:
Tanque Primário:
Água 1400 L
Aquecer até 38 °C
Amido de Milho 500 Kg
Tanque de Diluição Soda:
Água 380 L
Soda Cáustica(50%) 23 L
Aquecer até 45 °C
Ácido Bórico 6 Kg
Tempo de Reação 10 minutos

45
46

• Características do adesivo NO-CARRIER:

Viscosidade STEIN HALL 30-35 segundos


Sólidos (b.c.) 22,55 %
Ponto de gelatinização 60-63 °C

10.7.2 HIGH SHEAR


O seu princípio baseia-se no alto cisalhamento do grânulo de amido permitindo que se
produza adesivos com diferentes características de sólidos, tendo como objetivo
desempenho de máquina com aumento de velocidade e produtividade.
Os mais conhecidos são o Vortamix da Vort’x United e Multimix da Ringwood Co. As
características desse processo são definidas a seguir:
• Formulação Básica para “High Shear Vortamix”
- Primeira Fase:
Água 334 litros
Temperatura 40 °C
Amido de Milho 30 Kg
Soda Líquida 50% 9,2 Kg
Tempo de mistura 60 segundos
Adição Bórax Pentahidratado 3,9 Kg
Tempo de Mistura 200 segundos

- Segunda Fase

Água 290 litros


Amido de Milho 196 Kg
Tempo de Mistura 160 segundos

• Características do Adesivo

Sólidos (B.C) 27,17 %


Viscosidade STEIN-HALL 40-50 segundo
Temperatura 38-42 °C
Ponto de Gelatinização 60-63 °C

46
47

10.8 PROBLEMAS MAIS FREQUENTES NA APLICAÇÃO DO AMIDO


COLA
Para podermos ajustar uma fórmula de adesivo, que melhor atenda as necessidades da
máquina corrugadora, normalmente temos que examinar alguns defeitos em uma amostra
da chapa, que podem ou não refletir as características do adesivo.
Alguns defeitos são os seguintes:

10.8.1 ENCANOAMENTO (“WARP”)


Definido como uma distorção do plano horizontal do cartão. A principal causa dessa
distorção é um desbalanceamento da umidade, que produz uma expansão ou contratação
desigual entre os lados da chapa. Quando o ondulado é simples, ao qual o adesivo é
aplicado na unidade de cola, encontra a capa nas mesas quentes na forradeira, estes dois
componentes são combinados debaixo de grande calor e média pressão. Se no momento
em que a ligação é feita, existe uma diferença apreciável na umidade da capa e forro, então
o papel que por exemplo tiver índice de umidade mais baixo irá consequentemente absorver
mais umidade ou desprender menos umidade para o ar circunvizinho que o outro. Isto
mostra o encanoamento no sentido perpendicular da máquina.O encanoamento “S” no
sentido perpendicular da máquina é devido a excessivos riscos secos ou molhados em um
dos papéis e particularmente na capa, já que o forro foi submetido a vapor e calor, o qual
deve Ter nivelado diferenças de umidade que estavam no início na forma de riscos secos ou
molhados, por exemplo, causar que a capa seja mais molhada que o forro em uma parte e
mais seca que o forro em outra parte, o que significa que o encanoamento resultante em
uma parte da chapa será reversa que a outra.
O encanoamento na direção da máquina é causado pela tensão não balanceada da capa e
forro. Isto envolve principalmente a tensão da capa, razão pela qual o ondulado simples não
pode sob condições normais ser demais tensionada. A explicação sobre este tipo de
encanoamento é simples: Se a capa é submetida a uma tensão excessiva através de
breque dos portas bobinas, ela estará com excesso de alongamento. A união então será
feita enquanto a capa está sobre uma tensão indevida e quando a chapa sai da máquina, e
a tensão é solta, ésta capa capa esticada irá contrair causando um encurvamento na capa
com a capa do lado côncavo. A umidade do adesivo pode ser um dos muitos fatores que
contribuem para causar essa distorção.

10.8.2 ALTOS E BAIXOS (“Highs & Lows”)


Esse defeito normalmente é produzido devido a problemas mecânicos ou de papel. Na
fabricação de papelão parede dupla, torna-se evidente na linha de cola onde as ondas
baixas não entram em contato com o rolo aplicador e resultam em uma falta de cola neste

47
48

ponto. Para correção dos defeitos apresentados deverão ser observados os seguintes
pontos:
• Ajustes dos dedos também baixos, sujos gastos;
• Pressão incorreta nos rolos corrugadores;
• Miolo não condicionado corretamente, úmido
• Excesso de arraste sobre o miolo;
• Baixa espessura do miolo;
• Temperatura superficial do miolo também alta.

10.8.3 TÁBUA DE LAVADEIRA (“WASH BOARDING”)


O adesivo escorre um pouco do topo da onda, e quando seca, puxa a capa (liner) em volta
do topo da onda. Ocorre normalmente em capas de baixa resistência e causa problemas na
impressão.
• A tábua de lavadeira é causada por uma aplicação excessiva de adesivo;
• Baixa viscosidade do adesivo;
• Baixo sólidos do adesivo;
• Papel úmido;
• Rolo aplicador de cola com velocidade diferente da velocidade do papel.

10.8.4 LINHA BRANCA DE COLA (“WHITE GLUE LINE”)


Esse defeito é uma indicação de que o amido cru no adesivo não foi totalmente gelatinizado.
Existem duas possíveis causas: A primeira é que a temperatura de gelatinização está alta e
juntamente com uma alta velocidade de máquina não dá tempo para gelatinizar o amido. A
segunda e mais provável é a que a água foi absorvida do adesivo para o papel tão
rapidamente deixando uma quantidade de umidade insuficiente para a gelatinização. Este
problema pode ser resolvido com uma viscosidade mais alta e mais soda na formulação.
• Temperatura incorreta no rolo de pressão, corrugador ou placas quentes;
• Baixa viscosidade;
• Papel úmido.

10.8.5 COLAGEM FRACA (“BRITTLE BOND”)


Esse problema é evidenciado por uma colagem que delamina arrancando poucas fibras
sendo que a linha de cola apresenta um aspecto vítreo.
Ao contrário da linha branca de cola, a colagem fraca apresenta uma pequena penetração
de adesivos no papel. Pode ser causada por alta viscosidade do adesivo, baixa porosidade
do papel, ou excessivo pré-aquecimento.

48
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10.8.6 ESPESSURA (“BOARD CALIPER”)


Normalmente suas causas são mecânicas, mas pode ser causado por uma excessiva
aplicação de adesivo que amolece as ondas tornado-as pouco resistentes à compressão.
Algumas indicações desse defeito seriam chapas úmidas ou tábua de lavadeira.

10.8.7 FAIXAS SECAS (“DRY STREAKS”)


Faixas na linha de cola onde o adesivo não foi aplicado. Pode ser causado por um ajuste
impróprio nos dedos, tração do feltro imprópria ou amido gelatinizado nos dedos que cria
uma falha no rolo de limpeza.
• Alta viscosidade do adesivo;
• Tensão sobre o miolo também alta;
• Ajuste lateral do rolo corrugador;
• Mal funcionamento da jaqueta d’água.

10.8.8 EFEITO “CRACKER”


A embalagem apresenta um aspecto “crocante” ao ser manuseada. Os fatos que devem
apresentar este efeito são:
• Leve aplicação do adesivo;
• Adesivo com baixo teor de sólidos;
• Miolo e Liners secos;
• Quantidade excessiva de bórax no adesivo.

10.8.9 EFEITO “ZIPPER”


A caixa delamina com facilidade com aspecto de falta de adesivo aplicado.
• Baixa aplicação do adesivo no Single Facer/Double backer;
• Baixa viscosidade do adesivo;
• Baixo sólidos do adesivo;
• Muito calor aplicado no Single Facer/Double Backer.

10.8.10 PROBLEMAS DE VISCOSIDADE


Observações que deverão ser feitas para um melhor rendimento da onduladeira.

10.8.11 SISTEMA “STEIN HALL” CONVENCIONAL E “HIGH SHEAR”


- Baixa viscosidade no mixer:
• Não há amido na porção cozida da receita de cola;

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• Também muita água na parte cozida da receita;


• Porção cozida também muito quente;
• Também muito cisalhamento na porção cozida;
• Substituição incorreta de bórax (penta/deca).

- Alta viscosidade no mixer:


• Pouco amido na porção cozida da receita;
• Também muito amido no mixer secundário;
• Pouca água na porção cozida no mixer;
• Porção cozida também fria.

10.8.12 SISTEMA “NO CARRIER”


- Baixa viscosidade no mixer:
• Viscosímetro Norcross com set point baixo;
• Muito tempo de agitação do adesivo.
- Alta viscosidade no mixer:
• Viscosímetro com set point alto;
• Tempo de reação extremamente rápido: Muita soda cáustica no tanque de diluição
ou temperatura alta do tanque de soda;
• Mal funcionamento da descarga do ácido bórico.

10.8.13 SISTEM “JET COOK”


- Baixa viscosidade no mixer:
• Set point da viscosidade também baixo;
• Tempo de mistura final muito longo.
- Viscosidade alta no mixer:
• Controlador set point de viscosidade também alto;
• Cozimento inadequado do amido.

10.8.14 TODOS OS SISTEMAS


- Baixa viscosidade no tanque de estocagem:
• Set point de temperatura do adesivo também alto;
• Agitadores dos tanque funcionando contínuamente;
• Cisalhamento do adesivo através de bombeamento;

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• Adesivo estocado por longo tempo;


• Adesivo com baixo teor de sólidos;
• Contaminação biológica.
- Alta viscosidade no tanque de estocagem:
• Alta viscosidade da parte vinda do mixer;
• Viscosidade aumenta no tanque de estocagem: Muita soda cáustica ou não há
bórax na receita;
• Adesivo frio;
• Agitação dos tanques não operam corretamente.
- Baixa viscosidade na máquina:
• Adesivo quente;
• Baixa viscosidade vinda dos tanques de estocagens;
• Cisalhamento do adesivo por bombeamento, cotovelos, bombas, etc.

10.8.15 PROBLEMAS COM O PONTO DE GELATINIZAÇÃO


- Alta temperatura de gelatinização:
• Não há soda suficiente no adesivo;
• Também muito bórax no adesivo;
• Também muito amido no adesivo;
• Substituição incorreta do bórax deca por penta;
• Bórax velho torna se mais concentrado;
• Soda cáustica também velha;
• Baixa concentração de soda;
• Adesivo estocado por longo tempo.
- Baixa temperatura de gelatinização:
• Também muita soda cáustica no adesivo;
• Bórax insuficiente no adesivo;
• Substituição incorreta do bórax (deca x penta x ácido);
• Soda cristalizada no tanque (alta concentração).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Francisco Ciaco, César & Cruz, Renato. Fabricação de Amido e sua
Utilização. Fundação Tropical de Pesquisas e Tecnologia – FTPT, São
Paulo - SP, 1986.

[2] Corn Products Brasil. Aplicação de Amido na Fabricação de Papel e


Ondulado.

[3] National Starch & Chemical. Aplicação de Amido na Industria Papeleira.


Propriedades, Preparo e Aplicação. 2006.

[4] Motta, Valter. Bioquímica Básica – Carboidratos. p. 130-132.

[5] Cardoso, Gilson da Silva. Química da Parte Úmida. SENAI – CETCEP.


p. 58-65.

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