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O ALVO DA MISSÃO DA IGREJA: UM OLHAR CONTEMPORÂNEO

DE MATEUS 25:31-46

Vitor Júlio de Almeida (a) 1

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal promover uma reflexão
sobre o que a Igreja tem adotado hoje no cumprimento de seu papel na sociedade e
qual deve ser realmente o alvo da sua missão a partir de Cristo. A pesquisa, buscar
analisar o Evangelho de Mateus em seu capitulo 25:31-46, conduzindo o leitor a
uma nova reflexão do comportamento da Igreja cristã frente àqueles que ainda
carecem do cuidado e do seu amor. Procura-se promover nesse estudo uma
abordagem interna da Igreja, enfatizando como ela tem desenvolvido suas ações
para que o Evangelho genuíno alcance os povos conforme o desejo de Cristo. A
partir de um olhar contemporâneo no Evangelho de Jesus segundo Mateus, na
perspectiva de uma teologia prática, procuramos fornecer aqui uma nova ferramenta
para apontar o alvo da missão da Igreja para a atualidade. O artigo se propõe a
abordar que é fundamental ao cristão ter a consciência de que em seu coração foi
plantada a lei do amor quando do seu nascimento, haja vista que o Evangelista
Mateus mostra que qualquer pessoa consegue aprender de forma prática, contudo é
necessário saber quais caminhos, que direção, que tipo de serviço a Igreja tem
prestado para seus membros e para a sociedade contemporânea. O método de
trabalho utilizado nesse estudo foi uma revisão bibliográfica a partir da visão de
teóricos que apresentam importantes contribuições acerca da temática abordada.
Pretende-se com este artigo aprimorar os estudos sobre o tema e,
consequentemente, destacar que Cristo tem o desejo de que sua Igreja se desfaça
de sua religiosidade, que ao longo da sua história foi absorvendo, ignorando
princípios do amor, da comunhão e do compromisso com a verdade com Jesus
Cristo.

Palavras-Chaves: Igreja, Alvo, Missão, Cristo, Serviços, Amor.

ABSTRACT: The main purpose of this article is to promote a reflection on what the
church has adopted today in the fulfillment of its role in society and which should
really be the target of its mission from Christ. The research seeks to analyze the
Gospel of Matthew in its chapter 25: 31-46, leading the reader to a new reflection on
the behavior of the Christian Church in the face of those who still lack care and love.
It seeks to promote in this study an internal approach of the Church, emphasizing
how it has developed its actions so that the genuine Gospel reaches the people
according to the desire of Christ. From a contemporary perspective in the Gospel of
Jesus according to Matthew, in the perspective of a practical theology, we try to
provide here a new tool to point the goal of the mission of the Church to the present.
1
Vitor Júlio de Almeida é discente da Faculdade Batista do Paraná do curso de Especialização em
Ciências da Religião em Curitiba-PR. E-mail: vitor.iba7@gmail.com
The article proposes that it is fundamental for the Christian to be aware that in his
heart the law of love was planted at his birth, since the Evangelist Matthew shows
that anyone can learn in a practical way, however it is necessary to know what paths,
what direction, what kind of service the Church has provided for its members and for
contemporary society. The work method used in this study was a bibliographical
review based on the view of theorists who present important contributions on the
subject. The purpose of this article is to refine the studies on the theme and,
consequently, to point out that Christ desires his Church to rid itself of its religiosity,
which throughout its history has been absorbing, ignoring principles of love,
communion and commitment to the truth with Jesus Chris.

Key-words: Church, Target, Mission, Christ, Services, Love.

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, nota-se que a missão da Igreja Evangélica exerce uma grande


importância na atualidade, haja vista que a sua função neste mundo está em ser
“boca de Deus”, sendo os braços, pernas, o abraço, o carinho e o cuidado que Deus
tem pelas pessoas. Entretanto, para que a Igreja consiga de fato alcançar isso é
preciso que ela leve uma vida totalmente voltada ao compromisso e a transformação
por Cristo, distribuindo amor para com o próximo e principalmente compreendendo
que a sua principal missão aqui na terra é servir.
É importante destacar que o texto de Mateus 25:31-46 é de suma
importância a reflexão, pois nessa passagem Jesus deixa bem claro a verdadeira
missão da Igreja Evangélica, missão esta que vem sendo relegada para segundo
plano pelos cristãos que atualmente tem se distanciado cada vez a sua vida dos
preceitos cristãos enfatizados por Mateus.
Nesse sentido, nota-se que a preocupação de Jesus não é com templos
religiosos, formação de instituição ou com costumes e culturas de determinados
grupos, ao contrário a sua preocupação é atender as necessidades básicas da vida,
uma vez que “Cristo veio para proclamar o Reino de Deus, se recebido e aceito,
amenizando as iniquidades e produzindo um sentimento de família e
responsabilidade mútua”. (SILVA, 2004)
Segundo o autor Berger (1998) vivemos atualmente em uma sociedade
secularizada, haja vista que a secularização se trata de um processo por meio do
qual diversos setores da sociedade e da cultura são infelizmente abatidos pela
dominação de diversas instituições e símbolos religiosos que tentam a todo custo
impor “verdades” aos cristãos, sem contudo incentivá-los a buscarem respostas para
as suas dúvidas e anseios na bíblia.
Dentro desse contexto, não podemos em hipótese alguma deixar de
considerar a força e a importância que a religião representa no mundo, tendo em
vista que se somarmos todos os adeptos das dez maiores religiões existentes na
humanidade obteríamos uma estimativa de 74,79 % da população mundial, sem
falar dos dados das diversas religiões existentes e restantes, muitas inclusive
desconhecidas da sociedade. (FERREIRA, 2006)
A escolha deste tema se deu por perceber na atualidade a proeminência
desta temática, pois embora seja um assunto bastante discutido e abordado em
vários estudos, sempre se faz necessário examiná-lo, dado a relevância de
aprimorar os estudos sobre o tema e, consequentemente, destacar a importância da
missão da Igreja a partir da perspectiva contemporânea de Mateus em seu capitulo
25:31-46.
O método de trabalho utilizado nesse artigo foi de caráter bibliográfico a
partir da visão de autores que apresenta importantes contribuições acerca da
temática abordada nesse estudo.
A presente pesquisa se justifica no atual cenário da Igreja cristã, haja vista
que um grande número considerável de denominações evangélicas tem enfrentado
a dificuldade em se chegar a um acordo em determinados pontos doutrinários, o que
tem acarretado diversos problemas advindos dessa diversidade de pensamento a
respeito do Evangelho e a dificuldade de se alcançar comunhão para atuar nos
serviços sociais.
O artigo se justifica-se também pelo fato de que ainda existe certa
dificuldade na Igreja no sentido de acolher as pessoas aqui e agora, mas apontando
um futuro recheado de esperança. A visão distorcida de muitas tarefas da Igreja
contemporânea tem gerado impactos consideráveis na comunhão dos seus
membros em comunidade e a sociedade acaba perdendo, portanto, é preciso que a
Igreja retome a missão para o qual foi chamada, para que não sejam atendidas
somente as demandas internas, mas de toda a sociedade.
A pesquisa tratou de analisar algumas distorções no alvo da missão da
Igreja da atualidade, por meio de uma análise no capítulo 25 do Evangelho de
Mateus, haja vista que dentro do mesmo surge a perspectiva da Teologia prática
que são novas ferramentas para apontar o alvo da missão da Igreja. Assim, faz-se
necessário a promoção de uma reflexão sobre como a Igreja tem sido útil na
sociedade hoje, de forma a conduzir a Igreja a avaliar os resultados, os frutos que
deveriam estar produzindo e as qualidades desses frutos na busca do verdadeiro
alvo da sua missão.
Sendo assim, o problema da pesquisa foi expresso no seguinte
questionamento: O que realmente é Igreja e sua missão Bíblica? Que distância ela
se encontra a partir do seu nascimento? O que a Igreja nos tempos bíblicos tinha e
que fazia a diferença e quais comportamentos foram abandonados e/ou trocados?
Qual tem sido o alvo da sua missão hoje? Qual deve ser o alvo da sua missão?
Em se tratando das hipóteses, a presente pesquisa aborda as seguintes
questões hipotéticas que conduziu o desenvolvimento dessa investigação: A Bíblia
nos apresenta como se deu o nascimento da Igreja, sendo assim que
comportamento tinham os primeiros cristãos, quais os desafios que enfrentavam
para anunciar o evangelho e como eles reagiam frente ás perseguições? Existem
alguns fatores de risco em teologias mais modernas quando busca transmitir um
evangelho distorcido, sem renuncias, muitas vezes até individualista que enriquece
em curto prazo. A Bíblia nos mostra como a Igreja deve servir, como deve ser o seu
pensamento a respeito do pecador e de si mesma. Há um anseio social por uma
igreja que atenda às necessidades reais na vida interior das pessoas. É
reconhecendo o verdadeiro alvo da sua missão que a Igreja da atualidade
continuará sendo o que Cristo espera que ela seja e dando os resultados que
agradam e atendam as expectativas daquele que pagou um preço imensurável pela
vida de todos.
O presente artigo tem como objetivo principal promover uma reflexão sobre
o que a Igreja tem adotado hoje no cumprimento de seu papel na sociedade e qual
deve ser realmente o alvo da sua missão a partir de Cristo. A pesquisa, buscar
analisar o Evangelho de Mateus em seu capitulo 25:31-46, conduzindo o leitor a
uma nova reflexão do comportamento da Igreja cristã frente àqueles que ainda
carecem do cuidado e do seu amor.
O artigo teve os seguintes objetivos específicos: Apresentar como se deu de
fato o nascimento da Igreja e em qual contexto ela nasce, seus desafios e reações,
bem como sua missão de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo; Apontar um
breve cenário da Igreja hoje, enfatizando o contexto denominacional existente e
quais as vantagens e desvantagens de se ter tanta “Igreja” com tanta diferença
doutrinária; Analisar o distanciamento que a Igreja alcançou no que se refere ao
alvo da sua missão desde o seu nascimento, aplicado ao texto de Mateus 25 e
conhecer o alvo da missão da Igreja a partir da teologia prática, identificando que
possíveis resultados para a sociedade como um todo pode ser alcançar na retomada
de sua verdadeira missão.

2. CONTEXTO HISTÓRICO DE NASCIMENTO DA IGREJA

Discorrer sobre o contexto histórico de nascimento da Igreja não é uma


tarefa fácil, haja vista que o seu nascimento se deu por meio de uma série de
acontecimentos que fizeram surgir o movimento protestante que foi um fato histórico
marcante para originar as doutrinas evangélicas.
Nesse sentido, discutir sobre o surgimento dessas doutrinas tem sido
extremamente importante, haja vista que elas são caracterizadas atualmente por
uma grande diversidade que ganharam musculatura ao longo do tempo, portanto
para se ter uma compreensão desse período é necessário analisar o Império
Romano, pois foi nesse contexto histórico que a Igreja se consolidou na sociedade
como uma doutrina evangélica voltada para a missão.
Segundo o autor Ferreira (2006) o nascimento da Igreja ocorreu no Império
Romano, haja vista que foi nesse período sob o governo de Pompeu no ano de 63
a.C que se efetivou o dominou da Palestina, o que colaborou para os romanos
ganharem força dominando um ano depois a Síria.
Mister reiterar que o verbo dominar nesse período histórico tinha uma
representação muito forte, principalmente quando se tratava de conquista militar que
era sempre realizada por meio de lutas armadas com bastante derramamento de
sangue, uma vez que os romanos tratavam os seus povos dominados induzindo os
a dominação e a crença na religião politeísta que era a existência de vários deuses
que deveriam ser adorados pelo povo, como afirma os autores Horsley & Hanson
(1995) que afirmam:

Na sua conquista inicial, e particularmente nas reconquistas subsequentes,


os romanos trataram os habitantes brutalmente a fim de induzir o povo à
submissão. Repetidamente, os exércitos romanos incendiaram e destruíram
completamente cidades e massacraram, crucificaram ou escravizaram as
suas populações” (HORSLEY; HANSON, 1995, p. 44).

Nessa perspectiva, nota-se que o clima e a realidade na Palestina era


pautada na dominação dos povos romanos que decidiam todo o direcionamento da
sociedade, impondo, subjugando povos e usando a religião como um instrumento
para impor a sua dominação.
De acordo o autor Ferreira (2006) antes de se chegar aos escritos de
Mateus no ano de 85, houve vários Imperadores como: Calígula (37-41); Cláudio
(41-54); Nero (54-68); Galba, Otão, Vitélio (68-69); Vespasiano (69-79); Tito (79-81)
e, finalmente, Domiciano (81-96).
O governo de Otávio ou César Augusto como ficou também conhecido foi
um período muito importante para Roma, haja vista que esse Imperador alicerçou as
bases do que se pode chamar de Império Romano, estendendo o poder de seu
domínio pelo vasto Império. Isso, por que este Imperador era um estadista e tinha
como principal meta de seu governo promover uma reforma política no intuito de
conseguir alcançar um novo modo de taxação que seria um sistema totalmente
centralizado de tribunais com o papel de fiscalizar diretamente as cidades e
províncias, bem como o serviço postal.
Para o autor Ferreira (2006) o governo do Imperador César Augusto foi
decisivo para dar contornos a expansão de Roma, haja vista que esse Imperador
buscou colocar pessoas bastante inteligentes e experientes para ocupar cargos
importantes do Império, criando leis que visavam impedir os males sociais e morais
da sociedade Romana.
Tais interferências a este respeito podem ser apreciadas nos estudos do
autor Ferreira (2006) que afirma:

Otávio Augusto instalou as bases que ficaram conhecidas depois como Pax
Romana - se é que pode ser chamada de “paz” o que alguns historiadores,
dentre eles Tácito, chamaram de uma “paz toda manchada de sangue”, ou
seja, garantida pela força militar, pela imposição e pela guerra.
Com o Império Romano, começou também a se espalhar o modo de viver
dos romanos, tais como: ginásios, fontes, pórticos, templos, oficinas,
escolas. Além, é claro, da ideologia do dominador, uma vez que, para não
ter questionamentos e aceitar as suas imposições, era colocado o famoso
“Pão e Circo” - o alimento e a diversão para seus dominados não
“incomodarem” o poder central de Roma. (FERREIRA, 2006 p.21)

Comungando o pensamento do autor Ferreira (2006) Burns (1986) destaca


que desde os primórdios de origem da civilização, os romanos sempre tiveram mais
interesse pela autoridade e pela estabilidade política do que propriamente pela
liberdade e democracia que para eles era vista como algo desnecessário para a
população que precisava ser sempre dominada.
Sendo assim, nota-se que é impossível compreender a atitudes de Jesus e
os escritos de Mateus se não levarmos em consideração a realidade social pela qual
viveram sob o domínio dos Romanos. Isso, por que os cristãos evangélicos
consideram que a sua história começa de fato com a eternidade com Deus Pai, Filho
e Espírito Santo, sendo somente depois retomada essa eternidade com a esperança
futura de “novos céus e nova terra em que habita a justiça” que por sua vez
perpassa por todo o cristianismo bíblico. (BURNS, 1986)
Conforme aponta o autor Burns (1986) a Igreja de Jesus deve ser reunida a
ele por toda a eternidade, uma vez que a mesma faz parte de Cristo como o seu
corpo, do qual ele é a cabeça. Assim, é no seio da Trindade que o homem foi criado
a imagem e semelhança do Criador, pois o homem e a mulher foram criados com
características de Deus para viverem em completa intimidade com senhor e a Igreja
deve cumprir a sua missão que é servir, tendo uma vida compromissada e
transformada por Cristo, amando o próximo como a si mesmo.
Em seus estudos o autor Pinheiro (2018) destaca que os cristãos representa
na sociedade o produto da matéria e da energia, haja vista que eles são a divindade
suprema que é responsável pela produção de tudo que conhecermos no universo,
pois somos a criação de um Deus pessoal, como afirma o autor:

Ou somos produto da matéria e da energia segundo o acaso e o acidente, e


temos neles a divindade suprema que produziu tudo o que conhecemos e o
que não conhecemos no infinitamente grande do universo e no infinitamente
pequeno dos elementos do átmo; ou somos criação de um Deus pessoal
que a Si mesmo se deu a conhecer na pessoa de Jesus Cristo. Segundo as
evidências disponíveis e em fé assumimos de espírito, alma e corpo inteiros
a segunda opção e não consideramos sequer a primeira uma alternativa
válida. Há muita coisa que ainda não sabemos, existem muitas perguntas
em aberto; mas sabemos o suficiente para acreditar em Jesus Cristo e,
segundo o Seu ensino, em toda a Bíblia, como Palavra de Deus.
(PINHEIRO, 2018 p.15)

É importante destacar que os cristãos evangélicos consideram a bíblia como


um dos livros sagrados mais importantes, haja vista que este livro é digno de todo
crédito e verdade, pois possui em cada um de seus testamentos um princípio
histórico, sendo, portanto, o fundamento essencial da fé, da doutrina e da prática
dos cristãos que buscam exercer a sua missão de evangelização. Isso, por que a
bíblia foi totalmente inspirada e não ditada por Deus, o que faz com que o seu
conteúdo seja visto como verdade, pois são as palavras de Deus, nas palavras de
homens que o senhor utilizou para passar a mensagem.
Segundo o autor Burns (1986) embora exista na sociedade contemporânea
uma postura fundamentalista acerca das religiões, a mesma não pode servir em
hipótese alguma como sendo um tipo de intolerância ou de terrorismo, ao contrário o
respeito a diversidade de religiões deve ser garantida, pois todas elas independente
de seus princípios doutrinários apresentam um ponto em comum que é a busca
humana por Deus, como afirma o autor:

Temos uma posição claramente fundamentalista, embora esta posição não


possa nem deva ser de modo algum confundida com qualquer tipo de
intolerância e muito menos de terrorismo. Respeitamos todas as confissões
religiosas mas consideramos que todas elas são apenas a expressão
humana da busca de Deus, enquanto na Bíblia temos a revelação do
próprio Deus que em carne e osso se manifestou entre nós e no qual
conhecemos Deus de modo pessoal, sendo que através d’Ele recebemos a
presença do Espírito Santo em nós tornando-nos templos nos quais Ele
habita. Como revelação de Deus a Bíblia também nos dá uma panorâmica e
análise da busca do homem por Deus ao longo dos tempos que é, em si,
tantas vezes, resultado da negação do verdadeiro e genuíno ser divino.
Porque o homem recusa o Deus verdadeiro inventa para si ídolos que mais
não são do que a deificação da criação e nela de si mesmo. Na Bíblia Deus
não é confundido com a criação nem um ser longínquo, distante e
indiferente para com a humanidade que criou. No texto sagrado da Bíblia
Deus é pessoal, existente em três pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito
Santo. (BURNS, 1986 p. 114)

Nessa perspectiva, nota-se que o Criador de todas as coisas não foi em


hipótese alguma pegado de surpresa com a desobediência do homem, uma vez que
desde a eternidade o plano de redenção do ser humano já se encontrava totalmente
definido e desenhado. Isso, por que desde o jardim do Éden Deus em sua infinita
bondade já tinha mostrado o pronto evangelho de que da semente da mulher
deveria nascer aquele que por sua vez iria ferir a cabeça da serpente.
Sendo assim, nota-se que a história da salvação que se encontra contida no
Velho Testamento representa por sua vez a história da Igreja Cristã Evangélica, haja
vista que Deus escolheu em Abrão um povo do qual deveria nascer o Salvador e
Deus o fez assim escolhendo um patriarca para promover as benções de todas as
nações da terra.
O autor Pinheiros (2018) salienta que a Igreja de Jesus Cristo é totalmente
composta de homens e mulheres de todas as nações, de vários povos e
principalmente de uma grande diversidade de línguas, haja vista que a mesma
atualmente é multicultural, por possuir uma grande diversidade e especificidades
próprias que a faz ser denominada de Altíssimo.
Vale destacar que desde o período da Mesopotâmia, perpassando pelo
Egito e atravessando por sua vez os imensos impérios babilônico, Persa, Medo-
Persa, Grego e Romano e chegando a Palestina por volta de dois mil anos atrás que
os anjos anunciaram um fato histórico marcante na história da humanidade que foi o
nascimento de Jesus Cristo que é o responsável pela fundação e edificação da
Igreja no mundo. Assim, é sobre esta pedra que na verdade é ele mesmo que a
Igreja e o seu corpo está sendo construída na contemporaneidade, tendo em vista
que Jesus Cristo é o cerne da bíblia e é em torno dele que se pauta todo o processo
da história, bem como as expectativas bíblicas.
Tais interferências a este respeito podem ser apreciadas nos estudos do
autor Pinheiro (2018) que afirma:

Jesus Cristo é Deus entre nós. Deus invadiu a História e habitou neste
planeta como criatura. O Criador assumiu a forma da criação e viveu entre
ela sentindo todo o peso da sua queda e dando a conhecer todo o seu
esplendor em obediência e dependência do Pai, na unção e no poder do
Espírito Santo. Este é um mistério singular. Esta é a substância do
evangelho. O próprio Deus que na Sua essência estabelece o bem e o mal,
o certo e o errado, a verdade e a mentira, a vida e a morte, a santidade e o
pecado; que determinou as consequências da queda; veio como homem,
vivendo como humano, obedecendo em tudo até à morte e morte de cruz à
vontade do Pai e aí satisfez a justiça de Deus para que o homem fosse
perdoado. Na cruz se beijaram o amor e a justiça de forma absoluta. Todo o
amor de Deus e toda a justiça de Deus estão reunidas e expressas na cruz
de Jesus Cristo. Jesus Cristo, o Verbo, o Logos, o Filho de Deus encarnou,
viveu entre os homens, morreu, ressuscitou, ascendeu aos céus e prometeu
que voltaria uma segunda vez para encerrar definitivamente esta era e dar
início a “novos céus e nova terra em que habitará a justiça para sempre.
(PINHEIROS, 2018 p. 54)

Nesse sentido, nota-se que os desafios e a missão da Igreja na atualidade é


disseminar e se infiltrar no mundo, tornando conhecido o plano de Deus e,
consequentemente, promovendo as boas novas do evangelho “que é o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê”, repreendendo os homens e fazendo
eles se reconciliarem com o Senhor, de modo que possa ter uma vida pautada na
obediência aos mandamentos que Deus determinou.
É preciso lembrar que a exigência a uma vida perfeita em comunhão com
Deus é extremamente importante para todos os cristãos, haja vista que a história da
Igreja possui diversas nuances, sendo totalmente repleta de uma imensa
diversidade doutrinária que embora tenha singularidades próprias, possui uma
unidade na Palavra e no Espírito. (PINHEIROS, 2008)
A Igreja de Jesus nasceu no contexto de uma intensa oposição e
perseguição, não possuindo, portanto, nenhum poder político e nem religioso, o que
fez a Igreja aumentar o seu crescimento que foi se estendendo paulatinamente
pautado no mandamento da Grande Comissão que deveria ser entregue pelo
Salvador. Assim, o poder do Espírito Santo passou a vencer todas as oposições,
derrubando consequentemente todas os obstáculos que pudessem atrapalhar o
desenvolvimento e o progresso do evangelho no mundo.
Por outro lado, apesar das dificuldades que começaram a aparecer no intuito
de atrapalhar a pureza da doutrina e da identidade divina com Jesus Cristo, a
verdade por ele mostrada na bíblia que é o maior livro sagrado a todos os cristãos
sempre acabou se prevalecendo na sociedade, mesmo em face dos constantes
ataques, como afirma o autor Pinheiros (2008):

A Igreja de Jesus surgiu no meio de uma profunda oposição e perseguição,


sem nenhuma conotação com o poder religioso e político. A Igreja cresceu e
estendeu-se segundo o mandamento da Grande Comissão entregue pelo
Salvador. O poder do Espírito Santo vence toda e qualquer oposição e uma
a uma vão caindo todas as barreiras e obstáculos ao progresso do
Evangelho. Levantam-se dificuldades internas que procuram minar a pureza
da doutrina principalmente no que diz respeito à natureza triúna de Deus e
da identidade divina de Jesus Cristo. Segundo a supervisão do Espírito
Santo a verdade por Ele revelada na Bíblia prevalece contra todos os
ataques. A constantinização da Igreja tornando-a refém do poder político e
mais tarde procurando controlar o poder político e viver na dependência das
suas benesses económicas, acaba por subverter a sua essência. Em vez
das marcas da humildade e do serviço, passamos a encontrar a
sobranceria, a opulência, a corrupção, a sede do poder, a prepotência e a
violência. Em vez de uma genuína e autêntica conversão do coração a
Jesus, o cristianismo torna-se nominal, cultural, mera referência sociológica.
Em vez do novo nascimento em que pelo poder do Espírito se é
transformado numa nova criação, em filho de Deus, passamos a ter uma
adesão a uma organização de onde se pode obter vantagens económico-
sociais, ou onde se escapa ao ostracismo senão mesmo a discriminação
social. (PINHEIROS, 2008 p. 117)

Mister ainda reiterar que se a sociedade coloca desafios para a Igreja, a


mesma por sua vez não tem deixado de interpretar o seu tempo com os desafios e
anseios do tempo presente da pessoa de Jesus Cristo e do Evangelho. Assim, é
isso que vemos com frequência na contemporaneidade e na pós-modernidade,
principalmente com a Reforma Protestante e com seu constante avivamento
pentecostal que motiva os cristãos a manterem uma caminhada de comunhão com
Cristo, buscando servir e evangelizar sempre.
Desse modo, nota-se que os perigos continuam a atingir a Igreja na
atualidade com o seu processo de identificação com Jesus Cristo, haja vista que os
desafios da Igreja hoje são muitos, sendo o mais importante deles manter o respeito
a bíblia como palavra de Deus.
Portanto, nota-se que embora o liberalismo teológico vem buscando
desmistificar a bíblia, enfatizando que a mesma se trata de um mito que se pauta na
manifestação sobrenatural que contraria o fundamentalismo que defende a verdade
bíblica, o relato bíblico da criação do homem a imagem e semelhança de Deus, a
desobediência do homem em face do pecado cometido que corrompeu a natureza
humana, do nascimento de Jesus Cristo e da sua morte e ressureição, a bíblia
representa uma importância fundamental, pois é a partir dela que os cristãos
seguem a sua principal missão na humanidade que é servir e ajudar o próximo com
amor, cuidado, carinho e atenção.

3. ANALISANDO O EVANGELHO DE MATEUS 25:31-46

Fazer uma análise sobre o evangelho de Mateus 25:31-46 é muito


importante, haja vista que esse Evangelho é uma tentativa de mostrar que Jesus
veio com o intuito e a missão de cumprir as profecias na terra, o que fica
devidamente claro em todos os escritos de Mateus que estão sempre interligados
com as diversas passagens deixadas pelo Antigo Testamento.
Segundo o autor Saldarini (2000) Mateus representa o mais judaico dos
evangelhos, uma vez que possui diversas tradições passiveis de várias
interpretações, o que faz o seu evangelho ser o mais crítico em torno das formas do
judaísmo, principalmente por que no seu cap. 23 ele descreve paulatinamente e faz
várias críticas e ataques.
De acordo o autor Saldarini (2000) para a comunidade judaico-cristã o
Evangelho de Mateus representa uma grande importância, pois se trata de um
evangelho bastante rico, recheado de mensagens que muito contribui para o
aprimoramento mental e espiritual do indivíduo, como afirma:

Jesus como um judeu informado e observante, que protesta contra certas


práticas e interpretações, e propõe algumas mudanças de atitude e prática a
fim de promover maior fidelidade a Deus e ao ensinamento de Deus na
Bíblia” Jesus não é contra a lei e, sim, contra certas práticas e
interpretações. Na verdade, ele veio para dar plenitude à lei (torá).
(SALDARINI, 2000, p. 208).

Nessa perspectiva, nota-se que segundo Mateus Jesus representa o


Messias, o filho de Deus, portanto nesse evangelho Mateus buscou mostrar uma
ponte e ao mesmo tempo evitar consequentemente uma ruptura, contudo pelo que
nos relata a bíblia ele acabou não obtendo êxito nessa proeza. Isso, por que está
ruptura que Mateus cita em seu evangelho seria o judaísmo e o cristianismo, haja
vista que foi somente a partir do século II que o seu evangelho passou a ser visto
como uma obra cristã relevante, não judaica, porém de grande valor por buscar
explicar a intrínseca relação do Cristianismo com as origens judaicas. (SALDARINI,
2000)
É importante destacar que Mateus enfatiza a relação entre a comunidade
judaico-cristã, destacando o seu ambiente original, de modo a conseguir
compreender melhor essa passagem, tendo em vista que segundo ele o que está
em discussão é o contexto social e histórico do século I e não os debates e opiniões
que começaram a surgir posterior a este período, bem como a ruptura que teve
entre judaísmo com cristianismo. (SALDARINI, 2000)
Conforme aponta o autor Saldarini (2000) que é uma grande referência, o
objetivo do evangelho de Mateus é buscar compreender como os judeu-cristãos que
se converteram ao cristianismo viveram a mensagem de Jesus Cristo que foi por sua
vez escrita em seu evangelho (MT 25,31-46).
O autor Segundo (1997) afirma que é necessário primeiramente se debruçar
em análises no intuito de se conhecer as condições pelas quais as pessoas viviam e
se diziam ser “cristãs”, independente de ser judeus, gentios, pagãos, helênicos e
outros, conhecer este período do evangelho de Mateus é essencial para se formar
uma pensamento coeso dessa época, como afirma o autor:

Com a guerra judaica (66-73), porém, de um modo especial, no ano 70,


aconteceu o que já era esperado, ou seja, “[...] o Templo foi destruído. Tal
acontecimento constituiu-se num verdadeiro desastre para o judaísmo. Além
de um golpe político, isso significava a destruição do centro cultural e
religioso dos judeus. Talvez, poderia até ser dito que esse acontecimento
resultou
na perda da própria identidade, enquanto povo organizado politicamente
falando, já que o Templo era o centro de toda a vida judaica. Não tinham
mais como oferecer os sacrifícios, as liturgias, a parte social, já que ele era
também um órgão social. O sistema financeiro também foi destruído, já que
funcionava também como banco. Devido à destruição do Templo, em
Jerusalém, muitos judeus saíram de Israel e foram para a Síria e outras
regiões. Aprofundando a comunidade de Mateus, a partir de agora, será
denominada de “comunidade cristã ou cristãos”, independentemente de
serem judeus, helenistas, pagãos e outros. (SEGUNDO, 1997 p. 58)

Nesse contexto, nota-se que é dentro do evangelho de Mateus que as


multidões passaram a seguir Jesus, uma vez que esse grupo de seguidores
representava um grupo de pessoas de classes totalmente inferior, sendo composto
portanto, de camponeses e artesãos que não possuíam nenhum conhecimento, não
tinha nenhuma possibilidade de ascensão social e muito menos acesso ao poder,
contudo tinha um elemento em comum entre eles que era acreditar na palavra de
Deus que era difundida na sociedade por Jesus.
Segundo o autor Stegemann (2004) em Israel praticamente quase 90 % da
população era pobre, tendo uma vida voltada exclusivamente para o campo, onde a
agricultura era a principal atividade econômica, ao contrário da minoria da população
que se enquadrava na categoria de uma elite, desfrutando de vários benefícios e de
uma boa qualidade de vida na sociedade.
Sendo assim, fica notório que tanto na época de Jesus Cristo, como no
período que foi escrito o evangelho de Mateus as condições de vida dos
camponeses na sociedade eram bastante precárias. Entre a imensa diversidade de
textos de Mateus, um dos que mais chama a atenção e a passagem do Juízo Final
(MT 25:31-46) que se trata de uma mensagem que Mateus busca mostrar como
devem ser as relações solidárias de partilhas dos bens para as pessoas pobres que
são as que mais precisam e necessitam. (STEGEMANN, 2004)
Vale destacar que o evangelho de Mateus faz de forma singela um grande
apelo dramático a solidariedade, uma vez que segundo esse evangelho a partilha
dos bens para com as pessoas pobres representa uma atitude muito importante de
generosidade para com o próximo.
Para o autor Saldarini (2000) um dos pontos principais do evangelho de
Mateus diz respeito às suas “boas obras” para com a população pobre, embora ele
trate também em seu último versículo sobre uma possível conclusão apocalíptica,
onde ele apresenta diversas nuances possíveis.
Entre as possíveis indagações acerca do evangelho de Mateus que é um
importante versículo, pode-se destacar: Por que Mateus escreveu o seu texto
utilizando uma parte de fundo sobre a questão apocalíptica? Por que ao discutir
sobre o juízo final que se trata do futuro ele se baseou no tempo presente? Estas
indagações são importantes para que se possa ter uma maior compressão da
mensagem que Mateus quis passar para as pessoas, haja vista que é preciso ter
uma noção do que vem a ser apocalíptica, bem como qual a sua relevância no
contexto de Jesus e Mateus, pois é somente assim que podemos compreender por
que Mateus buscou utilizar critérios do juízo final do tempo presente e não do futuro.
Tais interferências a este respeito na literatura apocalíptica podem ser
apreciadas nos estudos do autor Ferreira (2006) que afirma:

Antes de entrar na questão da literatura apocalíptica, é preciso entender as


circunstâncias e o momento histórico que gerou esse movimento de
resistência. Embora já existam alguns escritos que foram denominados
apocalípticos, tanto em Isaías, como em Zacarias, o fato é que há um certo
consenso de que “o escrito apocalíptico mais antigo foi transmitido sob o
nome de Daniel. Com a reforma helenizante de Antíoco IV Epífanes a partir
do ano 170 a.C., os judeus vivenciaram uma intensa crise enquanto povo e
identidade. Detalhes dessa reforma se encontram no 1 Macabeus.
(FERREIRA, 2006 p.30)
Outro contributo a destacar é que o texto do juízo final de Mateus 25:31-46
contém diversos elementos apocalípticos e escatológicos em seus versículos,
principalmente nesse que ele afirma “E quando vier o Filho do homem em sua glória,
e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono da sua glória, onde irá
reunir todas as nações”. (FERREIRA, 2006)
Segundo o autor Ferreira (2006) os motivos que levaram Mateus utilizar
vários gêneros literários em suas versículos se deu pelo fato da necessidade de
chamar a atenção das pessoas acerca da difícil situação pela qual vivia as
comunidades, haja vista que o apocalíptico incutia nas pessoas curiosidade,
despertava medo e servia sobremaneira como um sinal de alerta para a população
resistir as tribulações do mundo e ao mesmo buscar a solidariedade, como afirma o
autor:

De acordo com o Texto, o Filho do Homem é o encarregado do julgamento,


aquele que então dará o Reino de Deus aos que forem justos e praticarem
as obras de justiça e misericórdia, e também irão para o “fogo eterno” os
que prati Jesus Cristo se identifica como sendo o “Filho do Homem”,
atribuindo a si mesmo tal título que aparece trinta vezes no Evangelho de
Mateus. Ocorre que, no texto do Juízo Final, este Filho do Homem é
identificado ainda mais como sendo o próprio Jesus Cristo, ao dizer. Então
dirá o rei aos da sua direita: Vinde, benditos do meu Pai, herdai o reino
preparado para vós desde a criação do mundo”. A expressão “benditos do
meu Pai” transparece claramente Jesus como o Filho de Deus carem o mal
e não praticarem as obras de justiça e misericórdia aos “pequeninos.
(FERREIRA, 2006 p.34)

Nesse sentido, nota-se que embora o Juízo Final de Mateus apresente um


caráter totalmente futuro por se referir ao final dos tempos, merece destaque as
obras de misericórdia que por sua vez são realizadas em face das pessoas pobres
mais necessitadas do tempo presente.
É importante destacar que o estilo apocalíptico foi uma solução que Mateus
utilizou para chamar a atenção de sua comunidade sobre a relevância de se
promover a partilha, haja vista que o mais importante não é o juízo final que pode
ocorrer em um futuro próximo, mas sim as “boas obras” de misericórdia e a justiça
que o indivíduo exerce no tempo presente, pois são essas ações que vai levá-lo
consequentemente para o julgamento final.
Segundo o autor Ferreira (2006) o evangelho de Mateus busca dar todas a
respostas para os problemas, obstáculos e perseguições que o indivíduo enfrenta no
tempo presente, fornecendo uma esperança para todos aqueles que
permanecessem justos, haja vista que estes conseguirão a sua recompensa que é a
posse do Reino de Deus, sendo chamados de “benditos”, enquanto os malvados e
perseguidores, os que dominam, exploram e matam, irão para o “Fogo Eterno”
preparado pelo diabo e serão chamados de “malditos”.
De acordo o autor Saldarini (2000) desde o seu nascimento a Igreja atual
tem distanciado cada vez mais o alvo de sua missão do texto de Mateus 25:31-46,
haja vista que a partilha e as “boas obras” presentes nesse evangelho não tem sido
seguidas pela maioria dos cristãos da atualidade que se preocupam cada vez mais
com a sua fé, porém esquece um dos mandamentos mais importantes de Mateus
que é as “boas obras” para com o próximo, como afirma o autor:

A realidade presente é que muitas pessoas estão passando por


necessidades
que as podem levar à morte. Nesse caso, “elas têm fome e sede, vestem
apenas farrapos, encontram-se desprovidas de moradia e esperança.
Dependem da ajuda de outros para o indispensável à vida”. As obras de
justiça e misericórdia se referem ao cotidiano das pessoas e de suas
necessidades biológicas básicas, quando o Juiz vai interrogar a todos e
perguntar sobre a solidariedade para com os mais “pequeninos”. Tudo gira
em torno destas obras: "Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e
me destes de beber, era estrangeiro e me recebestes. Nu e me vestistes,
estive doente e me visitastes, preso e viestes ver-me". (FERREIRA, 2006 p.
35).

Nessa perspectiva, nota-se que o evangelho de Mateus buscar fazer um


apelo dramático para todos os cristãos para a prática das “boas obras”. Estas, por
sua vez tratam de situações bastante difíceis ao indivíduo, como a fome a saciar, a
sede a suprir, o estrangeiro a acolher, a nudez a vestir, o doente e o prisioneiro a
visitar, sendo, portanto, obras que corresponde a piedade que se deve ter ao ser
humano no mundo, estando intrinsicamente presentes no judaísmo e no Novo
Testamento. (GENDRON, 1999).
Segundo o autor Ferreira (2006) o evangelho de Mateus mostra claramente
um povo bastante sofrido contraído de dividas e fome, atrelado a enfermidades
como a paralisia física e social que dificultava a vida dessas pessoas que era
marcada por constantes desesperos. Assim, as “boas obras” mencionadas por
Mateus de misericórdia e justiça são fundamentais para aplicar na missão da Igreja
e na vida dos cristãos da atualidade, pois estas obras representa muito mais do que
um ato de solidariedade, mas sim uma manutenção de uma vida digna para diversas
pessoas que se encontram a margem da sociedade.
Diante disso, nota-se que o evangelho de Mateus 25:31-46 se trata de um
apelo a conversão ao amor para com o próximo, amor este que não se baseia
exclusivamente a um sentimento ou uma ação do indivíduo, mas sim ao
desenvolvimento de práticas econômicas na sociedade que se paute no perdão de
dívidas aos necessitados e na partilha mutua de bens aos pobres que se encontram
em condições degradantes.
Há de se lembrar que Mateus deixa bem enfático em seu evangelho que a
palavra de Deus não é teórica ou algo bonita, ela precisa intrinsicamente ser vivida
pelos cristãos diariamente, haja vista que a Igreja e os cristãos só irá de fato cumprir
a sua missão quando passar a desenvolver obras de misericórdia e justiça que são
essenciais para se construir o Reino de Deus.

4. A MISSÃO DA IGREJA NOS DIAS ATUAIS

Promover uma discussão sobre a missão da Igreja nos dias atuais é


extremamente importante, haja vista que a sua missão neste mundo é ser “boca de
Deus”, ou seja, propagar o evangelho para as pessoas, de modo que as mesmas
possam ter uma vida de compromisso com Deus, transformada por Cristo, amando o
próximo, mas cumprindo o seu principal dever que é servir.
Segundo o autor Silva (2004) Jesus deixa bem claro no texto de Mateus
25:31-46 qual seria a missão da Igreja, contudo o que se percebe na
contemporaneidade é que os cristãos estão cada vez mais se afastando dessa
missão de servir ao próximo e amar a ele como a si mesmo.
Nesse sentido, nota-se que ao fazermos uma análise comparativa da missão
da Igreja Evangélica com base no evangelho de Mateus 25:31-46 o que percebemos
claramente é que Jesus tem mostrado que as necessidades básicas do ser humano
vem sendo ignoradas e a Igreja tem se de distanciado cada vez mais do alvo de sua
missão que é servir ao próximo, matando a fome, saciando a sede, aparando os
desabrigados e lutando em prol do enfermos, como afirma os autores Ciciliato e
Moreira (2014) que afirma:

Percebe-se Jesus também demonstrando que necessidades básicas estão


sendo ignoradas. E é aqui que surge a pergunta: “A Igreja Evangélica atual
está fazendo seu papel na sociedade”? Ao mesmo tempo em que se veem
milhares de cidadãos comuns saindo às ruas gritando de fome, sim de
fome, como John Stott (2003) comenta em seu livro “Tive Fome”: “fome de
um sistema que garanta educação de qualidade para todos; fome de saúde
de qualidade; fome de justiça social; fome de respeito às instituições, a
começar pela cidadania”. E não se pode deixar que a Igreja Evangélica
fique de braços cruzados sem estender a mão para o seu próximo.
(CICILIATO & MOREIRA, 2014 p. 68)

É importante destacar que ao invés da Igreja sair promovendo na atualidade


uma crença nas pessoas já tradicional de “Marcha para Jesus”, deveria realizar uma
marcha cotidiana para os hospitais, asilos, creches, favelas, presídios, estádios,
praças, ruas, escolas evocando para as pessoas necessitadas a sua crença, de
modo que elas possam sentir o agir do amor de Jesus que é um amor incondicional
que não busca nenhuma recompensa em troca.
De acordo com os autores Ciciliato e Moreira (2014) para que a Igreja
consiga promover em sua vida esta transformação, cumprindo de fato a sua
verdadeira missão é necessário ela se nutrir do evangelho que gera vários
resultados positivos de reforma para as pessoas que passa a se espelhar na missão
da Igreja, mudando o seu comportamento e suas ações na sociedade. Isso, por que
o evangelho da Igreja exerce uma importância muito grande na vida do homem, haja
vista que satisfaz todas as suas necessidades e, consegue mudar
consequentemente, o quadro social e político do mundo.
Tais interferências sobre a missão da Igreja na atualidade podem ser
apreciadas nos estudos do autor Caetano (2018) que afirma:

A missão da igreja tem uma dimensão ampla. Jesus disse: “Ide por todo o
mundo” (Mc 16. 15). A primeira coisa que aprendemos aqui é que a missão
da igreja, além de ter uma dimensão ampla, é também uma obra imperativa
e urgente. O ide não é uma questão opcional, mas uma ordem. A igreja
deve pregar não por opção, mas por obediência. A igreja foi chamada do
mundo para ser enviada de volta ao mundo, a fim de anunciar a boa nova
do evangelho ao mundo. Ela não nasceu para ficar confinada dentro de um
grande edifício. Ela precisa sair ao mundo. Sua missão é para fora. Seu
labor deve ser concentrado para fora das paredes do templo. O seu campo
de atuação não é a catedral, mas o mundo. Ela precisa proclamar o
evangelho nos campos e nas cidades, nas grandes metrópoles e nos
pequenos povoados, nas nações populosas e nas pequenas tribos. A igreja
sabe que a proclamação do evangelho é sua missão. Porém, nunca é
demais rememorar as palavras daquele que tem convocado o seu povo
para a sublime tarefa de evangelizar. Marcos, o evangelista, escreve em
seu Evangelho as palavras do Senhor de modo direto, enfático e objetivo.
Ele registra que Jesus dirigiu-se aos seus discípulos da seguinte forma: “Ide
por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16. 15). O
registro de Marcos nos traz três ensinos preciosos quanto à missão de
evangelizar. (CAETANO, 2018 p. 45)

Desse modo, nota-se que a missão da Igreja representa um conteúdo


exclusivo muito importante para os cristãos, pois a sua missão não é ficar restrita
dentro de um templo, mas sim sair desse templo em busca de proclamar o
evangelho no campo, nas cidades, nos povoados, nas tribos e nos diversos lugares,
onde as pessoas não conhecem a palavra de Deus. Isso, por que a Igreja possui
uma mensagem que não pode em hipótese alguma ter o seu conteúdo modificado,
ela precisa proclamar o seu evangelho com base na sua missão de proliferar a
verdade, pois ela vós libertará, como afirma o autor Caetano (2018):

Diríamos que o evangelho é a boa notícia do céu para a terra. O evangelho


é a mensagem gloriosa de Deus para ser comunicada aos homens. Deus
tem uma maravilhosa notícia para os homens. Ele deseja que os homens
saibam que o seu grande amor foi demonstrado por intermédio de seu Filho
na cruz do calvário. Como igreja precisamos testemunhar “que Cristo
morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Co 15. 3, 4). E depois
afirmar: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu
coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm
10. 9). Portanto, o evangelho é a boa nova de salvação, o qual deve ser
anunciado “quer seja oportuno, quer não” (2Tm 4. 2). (CAETANO, 2018 p.
48)

Vale destacar que atualmente no Brasil existem diversos grupos evangélicos


que acreditam que é preciso ter um presidente evangélico para se ter uma mudança
radical na estrutura social do país, haja vista que a influência de valores cristãos
faria este presidente promover o desenvolvimento econômico do país, inibindo
consequentemente a corrupção.
Entretanto, nota-se que a Igreja não é um partido político, portanto, não deve
em hipótese alguma ser submetida a nenhum pleito de voto para nenhum cargo
público, a sua missão é evangelizar para as pessoas, ensinando a importância do
amor e da generosidade para com o próximo.
Para o autor Caetano (2018) a Igreja não pode ter nenhum interesse na
manipulação de massas, para cumprir o alvo de sua missão ela necessita nutrir dos
valores do Reino de Deus, proliferando amor e justiça para com as pessoas, tanto
no aspecto pessoal, como comunitário, este deve ser a sua principal missão aqui na
terra servir e ajudar o próximo.
Diante do exposto, nota-se que para a Igreja cumprir a sua missão é preciso
que ela tenha um mover na justiça social, de forma a viver o evangelho em sua
plenitude, pois quando a Igreja vive de fato o amor de Jesus Cristo todas as suas
ações sociais no amor são realizadas com êxito, haja vista que a missão da Igreja
na atualidade e ver o ser humano como a plenitude da vida, plenitude esta que deve
estar sempre pautada na satisfação de suas necessidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo teve como objetivo principal promover uma reflexão sobre
o que a Igreja tem adotado hoje no cumprimento de seu papel na sociedade e qual
deve ser realmente o alvo da sua missão a partir de Cristo.
Por meio desse estudo, pode-se perceber que o evangelho de Mateus
25:31-46 é extremamente importante por se uma fonte inspiradora de reflexão para
todos os cristãos, pois neste evangelho ele chama a atenção das pessoas para as
práticas das “boas obras”. Utilizando uma linguagem apocalíptica ele busca mostrar
o quanto a solidariedade é relevante na sociedade e como é preciso resistir as
tentações e perseguições deste mundo para se manter justo, uma vez que a história
não termina aqui, existe um outro mundo no qual só irá ser habitado pelos justos,
pois Deus está atento as práticas dos ímpios.
Nesse sentido, nota-se que a missão da Igreja nos dias atuais deve ter um
alvo bastante definido, haja vista que o evangelho deve ser levado para o mundo
todo, independente da condição social, intelectual e a matriz racial do indivíduo o
evangelho precisa ser difundido para todas as pessoas. Isso, por que a meta
principal da Igreja e fazer com que o cristão compreenda o seu papel e a sua
responsabilidade no mundo de se capacitar para que o Espírito Santo possa lhe usar
para promover ações que venha modificar a vida das pessoas.
Desse modo, para que haja de fato uma aplicabilidade do evangelho de
Mateus na Igreja e uma inclusão social é preciso que se tenha uma conversão, ou
seja, uma mudança de vida no comportamento dos cristãos, haja vista que uma
grande maioria deles se diz serem “cristãos”, mas não prática as “boas obras” e
muito menos buscam ajudar e servir ao próximo que é a missão principal da Igreja.
Portanto, nota-se que é tempo de mudança, de repensar conceitos e valores
para que as “boas obras” possam de fato ser realizadas pelos cristãos, obras estas
escritas no evangelho de Mateus, mas que infelizmente vem sendo esquecidas
pelos cristãos atuais que vem se preocupando mais com os seus templos do que em
servir e ajudar próximo.

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